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Sobre Reestruturação Do Mundo Do Trabalho
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Giovanni Alves1
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Ano V – Número 8 - 2011
Revista da RET
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vida pessoal à mero trabalho assalariado (o que trataremos mais adiante como sendo a
redução do trabalho vivo à força de trabalho como mercadoria).
Por outro lado, a incerteza e instabilidade das novas modalidades de contratação
salarial e a vigência da remuneração flexível alteram, do mesmo modo, a troca
metabólica entre o homem e os outros homens (a dimensão da sociabilidade); e entre o
homem e si-próprio (a dimensão da auto-referência pessoal). Deste modo, a
precarização do trabalho e a precarização do homem que trabalho implicam a abertura
de uma tríplice crise da subjetividade humana: a crise da vida pessoal, a crise de
sociabilidade e a crise de auto-referência pessoal.
A idéia de “crise” implica riscos e oportunidades de respostas (ou resistências)
capazes de obstaculizar o movimento do capital como sujeito abstrato. É importante
salientar que o processo de “precarização do trabalho” decorre da crise estrutural do
capital, que pode ser tratada tanto como (1) “processo crítico de formação de valor”
(crise de valorização do valor), o que explica, deste modo, o complexo reestruturativo
da produção do capital nas últimas décadas de capitalismo global, visando constituir
novas condições para a exploração da força de trabalho assalariado; e a vigência da
financeirização da riqueza capitalista com a presença hegemônica do capital
especulativo-parasitário; quanto (2) “processo crítico de (de)formação humano-social”
(crise do humano), com a incapacidade do sistema do capital realizar as promessas
civilizatórias contidas no desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social.
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de trabalho reestruturados com seu novo perfil etário-geracional, temos alterações das
relações de trabalho que contribuíram para mudanças substantivas no metabolismo
social do trabalho. Isto é, os novos operários e empregados dos locais de trabalho
reestruturados prostram-se diante da nova condição salarial que incorpora a adoção da
remuneração flexível (PLR), jornada de trabalho flexível (banco de horas), contrato de
trabalho flexível (contrato por tempo determinado e tempo parcial, além da
terceirização).
As novas relações flexíveis de trabalho promovem mudanças significativas no
metabolismo social do trabalho tendo em vista que alteram a relação “tempo de
vida/tempo de trabalho” e alteram os espectros da sociabilidade e auto-referência
pessoal, elementos compositivos essenciais do processo de formação do sujeito
humano-genêrico. São as relações flexíveis do trabalho que instauram a nova condição
salarial que põem novas determinações no processo de precarização do homem que
trabalha.
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seu, o que permitiu que sua força de trabalho sofresse maior exploração.” (CAPELAS,
NETO E MARQUES, 2010) Na verdade, a adoção de remuneração flexível justifica, no
plano legal, a busca de cumprimento de metas, condição necessária para a obtenção de
melhor desempenho das empresas. Torna-se um importante campo de investigação
sociológica a natureza da reverberação das novas implicações salariais discriminadas
acima (tempo de vida subsumido a tempo de trabalho e pressão para cumprimento de
metas) sobre a vida cotidiana dos novos empregados e operários. O aumento
significativo dos problemas psicossociais e de saúde do trabalhador na década de 2000
têm um nexo causal com a nova precariedade do trabalho descrita acima.
Além disso, o jovem operário e empregado do novo (e precário) mundo do
trabalho encontra um novo arcabouço legal de contratos de trabalho flexível que
expõem a exacerbação da intermitência da contingência salarial. Por exemplo, no Brasil,
as medidas de flexibilização das relações de trabalho na década de 1990 levaram a
criação do contrato de trabalho por tempo determinado, contrato de trabalho por tempo
parcial, além da lei da terceirização, colocando um menu de opções flexíveis para a
exploração da força de trabalho. Assim, cresce nos locais de trabalho das grandes
empresas, formas instáveis do salariato, isto é, novas modalidades especiais de contrato
de trabalho na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), com mudanças no plano dos
direitos e na forma de contratação do trabalho..
Este novo e precário mundo do trabalho no Brasil que se amplia no decorrer da
década de 2000, é perceptível nos locais de trabalho reestruturados das grandes
empresas que foram transfigurados com a inserção de operários e empregados
subsumidos às novas condições salariais descritas acima no tocante a remuneração
salarial, jornada de trabalho e alguns deles vinculados a novas modalidades especiais de
contrato de trabalho na CLT (com implicações, é claro, no plano da negociação coletiva
de cada categoria assalariada). Além disso, como destacamos, os jovens operários e
empregados estão subsumidos aos novos padrões de produção, organização do trabalho
e métodos de gestão e da própria perspectiva de carreira e de inserção no mercado de
trabalho, em virtude do desemprego aberto que embora na década de 2000 tenha
observado uma curva descendentes, mantém-se em patamares elevados nas metrópoles,
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A vigência das relações de trabalho flexíveis instaura uma nova condição salarial
caracterizada pela mudança abrupta da relação tempo de vida/tempo de trabalho
(jornada de trabalho flexível); relação tempo presente/tempo futuro com a ascensão das
incertezas pessoais (novas formas de contratação flexível) e estratégias de envolvimento
do self (remuneração flexível). Este novo metabolismo social do trabalho transfigura a
troca metabólica entre o homem e outros homens (relações sociais de trabalho e
sociabilidade) e entre o homem e ele mesmo (auto-estima e auto-referência pessoal).
Podemos identificar alguns traços cruciais da nova morfologia social do trabalho
que surge sob o capitalismo global. Eles constituem um processo de conformação do
sujeito humano que trabalha, caracterizado pela quebra dos coletivos de trabalho,
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1. Dessubjetivação de classe
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Si mesmo (ing. self) é um termo que tem uma longa história na psicologia. William James, em seu livro
intitulado Psychology: The briefer course, de 1892, distingue entre o "eu" (ego), como a instância interna
conhecedora (I as knower), e o "si mesmo" (self), como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si
próprio (self as known).
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Disse-nos William Shakespeare, por meio de seu personagem Laertes, em Hamlet: “Pois a natureza não
nos faz crescer apenas em forças e tamanho. À medida que este templo se amplia, se amplia dentro dele o
espaço reservado pra alma e pra inteligência.” (Shakespeare, 1988)
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um estilo de vida e nada escapa a essa imaterialização que tomou conta do social...a
cultura tornou-se peça central na máquina reprodutiva do capitalismo, a sua nova mola
propulsora.” (ARANTES, 1998 Apud FONTENELLE, 2002).
É importante salientar que, no caso do fordismo, o nexo psicofisico era
constituído, segundo Gramsci, pela ideologia puritana e pela repressão sexual. No caso
do toyotismo, o nexo psicofísico se constitui pela disseminação dos valores-fetiches,
expectativas e utopias de mercado e pela liberação dos instintos, ao mesmo tempo que
preserva a disciplina da vida industrial (o que é um poderoso agente estressor). Talvez o
estressamento da corporalidade viva seja estratégia defensiva das individualidades de
classe cindidas à exaustão pelos novos processos de subjetivação do capital..
O discurso da “subjetividade” tende a ocultar a dimensão profunda da “captura”:
a desefetivação do ser genérico do homem. Isto é, a “captura” da subjetividade não é
apenas controle/manipulação das instâncias psíquicas do sujeito burguês, apreendido
como mônoda social, mas corrosão/inversão/perversão do ser genérico do homem.
Não podemos conceber o sujeito sem a teia de relações sociais nas quais ele está
inserido. Como salientamos acima, a “captura” da subjetividade é a “captura” da
intersubjetividade, das relações sociais constitutivas do ser genérico do homem. O que
explica, portanto, o movimento levado a cabo pelo capital, de dissolução de coletivos e
reconstituição de novos coletivos/equipes colaborativos com as idéias da empresa.
Ora, o Eu não é sujeito, mas é constituído sujeito por meio de uma relação
constitutiva com o Eu-Outro. Eis o principio de uma análise materialista da
subjetividade-intersubjetividade. O que significa que as relações sociais são
imprescindíveis para a constituição do sujeito que trabalha, já que para se constituir
precisa ser o outro de si mesmo. Por isso, o homem que trabalha é uma individualidade
intrinsecamente social. O homem enquanto ser genérico se constitui por meio de um
processo de reconhecimento do outro enquanto eu alheio nas relações sociais, e o
reconhecimento do outro enquanto eu próprio, na conversão das relações
interpsicológicas em relações intrapsicológicas. Nesta conversão, que não é mera
reprodução, mas reconstituição de todo o processo envolvido, há o reconhecimento do
eu alheio e do eu próprio e, também, o conhecimento enquanto autoconhecimento e o
conhecimento do outro enquanto diferente de mim.
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[s] [o]
[objetivação]
[s] [o]
[exteriorização]
[s]’ X
[exteriorização da interioridade]
“espaço interior”
do individuo
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