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All content following this page was uploaded by Douglas Wurz on 28 November 2021.
Organizadores:
Leo Rufato
José Luiz Marcon Filho
Alberto Fontanella Brighenti
Amauri Bogo
Aike Anneliese Kretzschmar
A Cultura da Videira:
Vitivinicultura de
Altitude
Série Fruticultura
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
Reitor
Dilmar Baretta
Vice-Reitor
Luiz Antonio Ferreira Coelho
Pró-Reitora de Administração
Marilha dos Santos
Pró-Reitor de Planejamento
Alex Onacli Moreira Fabrin
Pró-Reitor de Ensino
Nério Amboni
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade
Mayco Morais Nunes
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Letícia Sequinatto
EDITORA UDESC
As reproduções de textos e imagens nesta publicação tem o caráter pedagógico e científico e estão amparadas
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nome do autor e a origem da obra”. Desta forma as reproduções realizadas possuem amparo legal do
regime geral de direito de autor no Brasil.
A Cultura da Videira:
Vitivinicultura de
Altitude
Série Fruticultura
Organizadores:
Leo Rufato
José Luiz Marcon Filho
Alberto Fontanella Brighenti
Amauri Bogo
Aike Anneliese Kretzschmar
EDITORA
Revisores
Gilmar Arduino Marodin
Iris Schreiber
Capa/Projeto Gráfico/Diagramação
Mauro Tortato
C968 A cultura da videira: vitivinicultura de altitude / Organização Leo Rufato [et al.]. - Florianópolis: UDESC, 2021. (Série Fruticultura).
577 p. : il. 24cm.
ISBN: 9786588565353
ISBN-e: 9786588565360
Inclui Referências.
1. Vinho e vinificação. 2. Uva – cultivo. 3. Uva – Santa Catarina. I. Rufato, Leo. II. Marcon Filho, José Luiz. III. Brighenti,
Alberto Fontanella. IV. Bogo, Amauri. V. Kretzschmar, Aike Anneliese.
Airton dos Santos Alonço: Engenheiro Agrícola, Dr. em Engenharia Mecânica, Professor Associado
da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Sede.
E-mail: airtonalonco@gmail.com
Amauri Bogo: Engenheiro Agrônomo, Ph.D em Fitopatogia e Professor Titular do Programa de Pos-
Graduação em Produção Vegetal da universidade do estado de Santa Catarina, Udesc.
E-mail: amauri.bogo@udesc.br
André da Costa: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – IFC, Campus Rio do Sul/SC
E-mail: andrecosta.agro@hotmail.com
André Luiz Külkamp de Souza: Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Estação Experimental de Videira (Epagri – EEV).
E-mail: andresouza@epagri.sc.gov.br
Betina Pereira de Bem: Engenheira Agrônoma, MS.c., Doutoranda em Produção Vegetal do Centro
de Ciências Agroveterinárias de Lages – Universidade do Estado de Santa Catarina.
E-mail: betadebem@yahoo.com.br
Claudia Guimarães Camargo Campos: Meteorologista, Dra., Professora de Climatologia
e Meteorologia do Centro de Ciências Agroveterinárias de Lages – Universidade do Estado de Santa
Catarina.
E-mail: claudia.campos@udesc.br
Cristiano João Arioli: Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária
e Extensão Rural de Santa Catarina – Estação Experimental de São Joaquim (Epagri – EESJ).
E-mail: cristianoarioli@epagri.sc.gov.br
Douglas André Würz: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor de Fruticultura do Instituto Federal de
Santa Catarina – Campus Canoinhas/SC
E-mail: douglaswurz@hotmail.com
Edson Luiz de Souza: Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária
e Extensão Rural de Santa Catarina – Estação Experimental de Videira (Epagri – EEV).
E-mail: edsonluizdesouza@gmail.com
Fábio Antônio Pit: Engenheiro Agrônomo, Extensionista da Prefeitura Municipal de Chapecó, Santa
Catarina.
E-mail: pitnick2004@yahoo.com.br
Flávia Regina da Costa: Engenheira Agrônoma, Doutora, Universidade do Estado de Santa Catarina - Lages/
SC
E-mail: flav_regina@hotmail.com
Gabriella Vanderlinde: Engenheira Agrônoma, Mestre em Recursos Genéticos Vegetais.
E-mail: gvlinde@gmail.com
George Wellington Melo: Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador de Solos e Nutrição de Plantas
da Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS.
E-mail: wellington.melo@embrapa.br
Gilberto Nava: Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador de Solos e Nutrição de Plantas da Embrapa
Clima Temperado - Pelotas – RS.
E-mail: gilberto.nava@embrapa.br
Jackson Adriano Albuquerque: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor de Física do Solo do Centro
de Ciências Agroveterinárias de Lages – Universidade do Estado de Santa Catarina.
E-mail: albuquerque@pq.cnpq.br
Jean Carlos Bettoni: Dr, Pesquisador do The New Zealand Institute for Plant and Food Research
Limited, Batchelar Road 4410, Palmerston North, New Zealand; http://orcid.org/0000-0002-7515-9636;
E-mail: Jean.Bettoni@plantandfood.co.nz
Jocleita Peruzzo Ferrareze: Engenheira Agrônonma, Professora, Instituto Federal de Santa Catarina
- Lages/SC.
E-mail: jocleita.ferrareze@ifsc.edu.br
José Luiz Marcon Filho: Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal. Gerente Técnico
Vínicola Legado. Campo Largo/PR.
E-mail: marconfilho_jl@yahoo.com.br
Jovani Zalamena: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Câmpus Restinga/RS.
E-mail: jovanizalamena@yahoo.com.br
Larissa Villar: Engenheira Agrônoma, Dra., Pesquisadora do R&D Roullier Group, Saint Malo/
França.
E-mail: larissavillar.agro@gmail.com
Leonardo Cury da Silva: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor de Viticultura – Instituto Federal do
Rio Grande do Sul.
E-mail: leonardo.cury@bento.ifrs.edu.br
Marcos Botton: Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e Professor
Permanente do Curso de Pós-Graduação em Fitossanidade da Universidade Federal de Pelotas.
E-mail: marcos.botton@embrapa.br
Marlise Nara Ciotta: Engenheira Agrônoma, Dra., Agente Técnico de Formação Superior da Epagri
– Estação Experimental de São Joaquim, São Joaquim, SC.
E-mail: mciotta@gmail.com
Monica Canton: Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Ciência da Produção Vegetal, Università
di Padova, Pádova/Itália.
Email: monica.canton@phd.unipd.it
Nelson Pires Feldberg: Engenheiro Agrônomo, Analista da Embrapa Produtos e Mercado, Escritório de
Canoinhas-SC.
E-mail: nelson.feldberg@embrapa.br
Otávio Dias da Costa Machado: Engenheiro Agrônomo, Dr. em Engenharia Agrícola, Professor,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves.
E-mail: otavio.machado@bento.ifrs.edu.br
Paulo Cezar Cassol: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor de Fertilidade do solo, Biodegradação
de Resíduos Orgânicos do Centro de Ciências Agroveterinárias de Lages – Universidade do Estado de
Santa Catarina, Lages, SC.
E-mail: a2pc@cav.udesc.br
Rodrigo Vieira Luciano: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor de Topografia e Desenho Técnico
do Instituto Federal do Rio Grande do Sul – IFRS, Campus Bento Gonçalves/RS.
E-mail: rodrigo.luciano@bento.ifrs.edu.br
Tiago Afonso de Macedo: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor do Centro de Educação Profissional
Caetano Costa, CEDUP, São José do Cerrito/SC.
E-mail: macedoafonso@yahoo.com.br
Apresentação...............................................................................................................................................23
Prefácio........................................................................................................................................................25
1. Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina ................................................27
1.1 Introdução.........................................................................................................................................................................27
1.2 Sistemas atmosféricos atuantes em regiões de elevada altitude de Santa Catarina.........................................28
1.3 Principais elementos climáticos que influenciam o desenvolvimento da videira................................................30
1.3.1. Temperatura do ar...............................................................................................................................................30
1.3.2. Radiação ..............................................................................................................................................................31
1.3.3. Precipitação pluviométrica e umidade relativa.............................................................................................35
1.3.4. Geada....................................................................................................................................................................35
1.3.5. Vento.....................................................................................................................................................................36
1.4 Impacto das mudanças climáticas para a videira (Vitis vinifera L.) e o cenário agrícola atual e futuro no Estado
de Santa Catarina ............................................................................................................................................................37
1.5 Considerações Finais.......................................................................................................................................................44
1.6 Referências........................................................................................................................................................................44
2. Balanço de Carboidratos da Videira.....................................................................................................48
2.1 Carboidratos e produtividade........................................................................................................................................48
2.1.1. Carboidratos.........................................................................................................................................................50
2.2 Translocação de carboidratos........................................................................................................................................50
2.2.1. Transporte de carboidratos às folhas...............................................................................................................51
2.2.2. Transporte de carboidratos aos drenos .........................................................................................................51
2.2.3. Transporte de carboidratos aos órgãos meristemáticos..............................................................................52
2.2.4. Mecanismos de regulação do transporte de carboidratos.........................................................................52
2.3 Reservas.............................................................................................................................................................................52
2.3.1. Natureza e importância dos carboidratos......................................................................................................52
2.3.2. Localização na planta.........................................................................................................................................53
2.4 Evolução dos carboidratos em relação ao ciclo vegeto-produtivo.........................................................................54
2.4.1. Fluxo de carboidratos da brotação à floração...............................................................................................54
2.4.2. Fluxo de carboidratos da frutificação à virada de cor das bagas...............................................................54
2.4.3. Fluxo de carboidratos desde a virada de cor à colheita..............................................................................57
2.4.4. Fluxo de carboidratos em pós-colheita...........................................................................................................58
2.4.5. Balanço de carboidratos....................................................................................................................................58
2.5 Referências........................................................................................................................................................................59
3. Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catari-
na............................................................................................................................................................62
3.1 Introdução.........................................................................................................................................................................63
3.2 Dossel vegetativo.............................................................................................................................................................64
3.2.1. Área Foliar.............................................................................................................................................................64
3.3 Crescimento vegetativo dos ramos..............................................................................................................................67
3.4 Ontogenia das folhas......................................................................................................................................................69
3.5 Comportamento ecofisiológico da videira em região de elevada altitude do Estado de Santa Catarina......71
3.6 Agradecimentos...............................................................................................................................................................74
3.7 Referências........................................................................................................................................................................74
4. Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina.....78
4.1 Introdução.........................................................................................................................................................................78
4.2 Diferenciação e desenvolvimento das inflorescências.............................................................................................79
4.3 Floração, polinização e fecundação.............................................................................................................................79
4.4 Anatomia do cacho e da baga......................................................................................................................................81
4.5 Desenvolvimento e formação das bagas........................................................................................................................82
4.5.1. Crescimento das bagas......................................................................................................................................83
4.5.2. Composição das bagas......................................................................................................................................84
4.6 Maturação das bagas......................................................................................................................................................85
4.6.1. Açúcares e acidez...............................................................................................................................................85
4.6.2. Maturação fenólica.............................................................................................................................................86
4.6.3. Maturação das sementes...................................................................................................................................92
4.7 Agradecimentos...............................................................................................................................................................93
4.8 Referências........................................................................................................................................................................95
5. Variedades e Porta-enxertos..................................................................................................................99
5.1 Introdução.........................................................................................................................................................................99
5.2 Principais variedades viníferas cultivadas..................................................................................................................101
5.2.1. Variedades brancas...........................................................................................................................................101
5.2.2. Variedades tintas...............................................................................................................................................103
5.3 Variedades viníferas com potencial............................................................................................................................107
5.3.1. Variedades brancas...........................................................................................................................................107
5.3.2. Variedades tintas...............................................................................................................................................112
5.4 Considerações a respeito da escolha da variedade................................................................................................116
5.5 Variedades comuns para suco.....................................................................................................................................117
5.6 Porta-enxertos.................................................................................................................................................................125
5.6.1. Função dos porta-enxertos..............................................................................................................................125
5.6.2. A classificação dos porta-enxertos.................................................................................................................126
5.6.3. Considerações a respeito da escolha do porta-enxerto............................................................................128
5.7 Referências......................................................................................................................................................................129
6. Propagação da Videira.........................................................................................................................134
6.1 Introdução.......................................................................................................................................................................134
6.2 Propagação Sexuada ....................................................................................................................................................135
6.3 Propagação Assexuada.................................................................................................................................................136
6.3.1. Estaquia ..............................................................................................................................................................136
6.3.2. Mergulhia ...........................................................................................................................................................140
6.3.3. Alporquia ...........................................................................................................................................................140
6.3.4. Enxertia ...............................................................................................................................................................141
6.4 Micropropagação..........................................................................................................................................................146
6.4.1. Introdução..........................................................................................................................................................146
6.4.2. Manutenção das plantas matrizes..................................................................................................................147
6.4.3. Fonte de explantes............................................................................................................................................148
6.4.4. Assepsia dos explantes.....................................................................................................................................148
6.4.5. Meios de cultura e recipientes para o cultivo in vitro................................................................................149
6.4.6. Estabelecimento da cultura inicial..................................................................................................................150
6.4.7. Multibrotação....................................................................................................................................................150
6.4.8. Enraizamento.....................................................................................................................................................152
6.4.9. Aclimatização.....................................................................................................................................................152
6.4.10. Considerações sobre a micropropagação da videira..............................................................................153
6.5 Certificação de mudas..................................................................................................................................................154
6.5.1. Aspectos legais na produção de mudas de videira....................................................................................154
6.5.2. Conceituações relacionadas ao processo de produção de mudas (Lei Nº 10.711 de 05/08/2003;
Decreto Nº 5.153 de 23/07/2004 e Instrução normativa Nº 24 de 16/12/2005).............................155
6.5.3. Legislação consultada.......................................................................................................................................156
6.6 Referências......................................................................................................................................................................156
7. Implantação do Vinhedo.....................................................................................................................159
7.1 Considerações econômicas.........................................................................................................................................160
7.2 Escolha do local..............................................................................................................................................................160
7.2.1. Clima....................................................................................................................................................................160
7.2.2. Adversidades climáticas...................................................................................................................................161
7.2.3. Solos....................................................................................................................................................................163
7.2.4. Declividade........................................................................................................................................................163
7.2.5. Exposição do terreno........................................................................................................................................163
7.2.6. Disponibilidade de água..................................................................................................................................164
7.2.7. Mão-de-obra......................................................................................................................................................164
7.2.8. Histórico da área...............................................................................................................................................164
7.3 Preparo do solo e manejo do solo.............................................................................................................................164
7.3.1. Trabalhos de limpeza do solo.........................................................................................................................164
7.3.2. Mobilização do solo.........................................................................................................................................165
7.4 Manejo e conservação do solo...................................................................................................................................166
7.5 Plantio .............................................................................................................................................................................168
7.5.1. Orientação das fileiras......................................................................................................................................168
7.5.2. Densidade de plantio.......................................................................................................................................168
7.5.3. Demarcação das linhas de plantio.................................................................................................................169
7.5.4. Preparo das covas.............................................................................................................................................170
7.5.5. Época de plantio................................................................................................................................................170
7.5.6. Preparo das mudas...........................................................................................................................................170
7.6 Tipos de plantio..............................................................................................................................................................170
7.6.1. Estacas.................................................................................................................................................................170
7.6.2. Barbados (porta-enxertos enraizados)..........................................................................................................170
7.6.3. Mudas de raíz nua.............................................................................................................................................170
7.7 Tratos culturais durante o primeiro e segundo ano.................................................................................................171
7.7.1. Desfrancamento................................................................................................................................................171
7.7.2. Debrota...............................................................................................................................................................172
7.7.3. Tutoramento.......................................................................................................................................................172
7.7.4. Controle de formigas e doenças....................................................................................................................172
7.7.5. Adubação...........................................................................................................................................................172
7.7.6. Capina.................................................................................................................................................................172
7.7.7. Reposição de porta-enxerto............................................................................................................................172
7.7.8. Enxertia................................................................................................................................................................172
7.7.9. Reposição de mudas........................................................................................................................................172
7.7.10. Condução da muda........................................................................................................................................172
7.7.11. Poda de formação..........................................................................................................................................173
7.7.12. Irrigação ...........................................................................................................................................................173
7.8 Estruturas e sistemas de condução.............................................................................................................................173
7.8.1. Espaldeira............................................................................................................................................................173
7.8.2. Latada..................................................................................................................................................................174
7.8.3. Manjedoura ou Ipsilon ....................................................................................................................................175
7.8.4. Lira........................................................................................................................................................................176
7.8.5. Cortina Dupla de Geneva (Geneva Double Cortine - GDC)...................................................................176
7.9 Tratamento de postes de madeira .............................................................................................................................177
7.10 Utilização de postes de alvenaria e postes metálicos para instalação do sistema de condução.................178
7.11 Referências....................................................................................................................................................................178
8. Água no Solo........................................................................................................................................181
8.1 Atributos físicos do solo e disponibilidade de água em vinhedos de elevada altitude de Santa Catarina...181
8.2 Retenção e disponibilidade de água no solo............................................................................................................182
8.2.1. Material de origem............................................................................................................................................183
8.2.2. Mineralogia e granulometria...........................................................................................................................183
8.2.3. Matéria orgânica ..............................................................................................................................................186
8.2.4. Estrutura..............................................................................................................................................................186
8.2.5. Profundidade efetiva do solo e declividade.................................................................................................187
8.2.6. Drenagem do solo............................................................................................................................................187
8.2.7. Porosidade de aeração do solo......................................................................................................................188
8.2.8. Manejo do solo..................................................................................................................................................188
8.3 Disponibilidade de água no solo e necessidade hídrica da videira......................................................................190
8.4 Relação dos atributos do solo e a composição da uva pra vinificação...............................................................191
8.5 Solos de altitude para produção de uvas para vinhos finos em Santa Catarina................................................192
8.6 Referências .....................................................................................................................................................................198
9. Nutrição e Viticultura..........................................................................................................................207
9.1 Introdução.......................................................................................................................................................................207
9.2 Exigências nutricionais das uvas viníferas..................................................................................................................208
9.2.1. Os Nutrientes.....................................................................................................................................................208
9.2.2. Exigências nutricionais da videira e a dinâmica de absorção...................................................................208
9.2.3. Nitrogênio .........................................................................................................................................................209
9.2.4. Fósforo................................................................................................................................................................212
9.2.5. Potássio...............................................................................................................................................................212
9.2.6. Cálcio...................................................................................................................................................................213
9.2.7. Magnésio............................................................................................................................................................213
9.2.8. Enxofre.................................................................................................................................................................213
9.2.9. Micronutrientes.................................................................................................................................................213
9.3 Diagnose visual das deficiências e da toxidez dos elementos minerais..............................................................214
9.4 Implicações fisiológicas da adubação.......................................................................................................................221
9.5 Absorção, demanda de nutrientes, fisiologia e fases críticas................................................................................222
9.6 Fisiologia, fases críticas e recomendações de intervenção....................................................................................223
9.6.1. Nitrogênio...........................................................................................................................................................224
9.6.2. Fósforo................................................................................................................................................................226
9.6.3. Potássio...............................................................................................................................................................227
9.6.4. Cálcio...................................................................................................................................................................228
9.6.5. Magnésio............................................................................................................................................................228
9.6.6. Enxofre.................................................................................................................................................................228
9.6.7. Micronutrientes.................................................................................................................................................229
9.7 Dessecamento da ráquis..............................................................................................................................................230
9.8 Referências .....................................................................................................................................................................231
10. Adubação e Calagem na Videira.......................................................................................................237
10.1 Introdução.....................................................................................................................................................................237
10.2 Predição da disponibilidade de nutrientes no solo e no tecido.........................................................................238
10.2.1. Análise de solo................................................................................................................................................238
10.2.2. Análise foliar....................................................................................................................................................239
10.3 Calagem em vinhedos................................................................................................................................................242
10.3.1. Calagem antes da implantação de vinhedos.............................................................................................242
10.3.2. Calagem de manutenção..............................................................................................................................243
10.4 Adubação em vinhedos.............................................................................................................................................243
10.4.1. Adubação de correção..................................................................................................................................244
10.4.2. Adubação de Crescimento...........................................................................................................................245
10.4.3. Adubação de Manutenção...........................................................................................................................246
10.5 Adubação orgânica.....................................................................................................................................................249
10.6 Referências ...................................................................................................................................................................249
11. Manejo do Dossel..............................................................................................................................253
11.1 Introdução.....................................................................................................................................................................253
11.2 Produção x Qualidade................................................................................................................................................254
11.3 Sistemas de condução................................................................................................................................................256
11.3.1. Sistema de condução espaldeira.................................................................................................................257
11.3.2. Sistema de condução ípsilon ou manjedoura...........................................................................................257
11.4 Poda...............................................................................................................................................................................262
11.5 Poda verde ...................................................................................................................................................................280
11.5.1. Desbrota...........................................................................................................................................................280
11.5.2. Desponte..........................................................................................................................................................281
11.5.3. Desfolha...........................................................................................................................................................283
11.5.4. Raleio de cachos.............................................................................................................................................288
11.5.5. Incisão anelar...................................................................................................................................................291
11.5.6. Projeto do vinhedo.........................................................................................................................................292
11.5.7. Proporções trigonométricas.........................................................................................................................293
11.6 Referências ...................................................................................................................................................................294
12. Reguladores de Crescimento............................................................................................................307
12.1 Introdução.....................................................................................................................................................................307
12.2 Auxinas..........................................................................................................................................................................308
12.2.1. Transporte........................................................................................................................................................309
12.2.2. Mecanismos de Ação...................................................................................................................................309
12.2.3. Locais de Síntese............................................................................................................................................309
12.2.4. Funções.............................................................................................................................................................310
12.2.5. Aplicabilidade..................................................................................................................................................311
12.3 Giberelinas....................................................................................................................................................................313
12.3.1. Transporte .......................................................................................................................................................314
12.3.2. Mecanismos de ação.....................................................................................................................................314
12.3.3. Locais de síntese.............................................................................................................................................314
12.3.4. Funções ............................................................................................................................................................314
12.3.5. Aplicabilidade..................................................................................................................................................315
12.4 Citocininas.....................................................................................................................................................................323
12.4.1. Transporte........................................................................................................................................................324
12.4.2. Mecanismos de ação.....................................................................................................................................324
12.4.3. Locais de síntese.............................................................................................................................................324
12.4.4. Funções ............................................................................................................................................................324
12.4.5. Aplicabilidade..................................................................................................................................................325
12.5 Etileno............................................................................................................................................................................326
12.5.1. Transporte........................................................................................................................................................326
12.5.2. Mecanismo de ação.......................................................................................................................................326
12.5.3. Locais de síntese.............................................................................................................................................326
12.5.4. Funções.............................................................................................................................................................327
12.5.5. Fatores bióticos e abióticos...........................................................................................................................327
12.5.6. Aplicabilidade..................................................................................................................................................328
12.6 Ácido abscísico............................................................................................................................................................330
12.6.1. Transporte........................................................................................................................................................330
12.6.2. Mecanismos de ação.....................................................................................................................................330
12.6.3. Locais de síntese.............................................................................................................................................331
12.6.4. Funções.............................................................................................................................................................332
12.6.5. Aplicabilidade..................................................................................................................................................333
12.7 Brassinosteroides.........................................................................................................................................................336
12.7.1. Transporte e mecanismo de ação e biossíntese.......................................................................................338
12.7.2. Funções.............................................................................................................................................................338
12.7.3. Aplicabilidade..................................................................................................................................................339
12.8 Poliaminas.....................................................................................................................................................................340
12.8.1. Via de biossíntese ..........................................................................................................................................340
12.8.2. Funções.............................................................................................................................................................341
12.8.3. Aplicabilidade .................................................................................................................................................341
12.9 Ácido Jasmônico..........................................................................................................................................................342
12.9.1. Via de biossíntese...........................................................................................................................................342
12.9.2. Funções.............................................................................................................................................................342
12.9.3. Aplicabilidade..................................................................................................................................................342
12.10 Ácido salicílico...........................................................................................................................................................343
12.10.1. Via de síntese................................................................................................................................................344
12.10.2. Funções..........................................................................................................................................................345
12.10.3. Aplicabilidade................................................................................................................................................345
12.11 Cianamida hidrogenada..esse composto poderia ser discutido na quebra de dormência..além disso, está
muito defasado em referências...............................................................................................................................346
12.12 Rererências.................................................................................................................................................................347
13. Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos......................................................................................353
13.1 Introdução.....................................................................................................................................................................353
13.2 Convivência com plantas daninhas em ambientes agrícolas..............................................................................354
13.2.1. Interferência.....................................................................................................................................................354
13.2.2. Grau de interferência.....................................................................................................................................354
13.3 Controle de plantas daninhas em ambientes agrícolas........................................................................................356
13.3.1. Prevenção.........................................................................................................................................................356
13.3.2. Métodos de controle.....................................................................................................................................356
13.4 Manejo integrado de plantas daninhas...................................................................................................................358
13.4.1. Monitoramento de comunidades deplantas daninhas............................................................................358
13.4.2. Principais plantas daninhas em videiras de altitude.................................................................................358
13.4.3. Estratégias de manejo de plantas daninhas em videiras de altitude.....................................................361
13.4.4. Manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas em videiras de altitude....................................362
13.4.5. Problemas ocasionados por deriva de herbicidas....................................................................................363
13.5 Considerações Finais...................................................................................................................................................366
13.6 Referências....................................................................................................................................................................366
14. Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos..................................................................369
14.1 Aspectos positivos do uso de plantas de cobertura.............................................................................................370
14.1.1. Aspectos negativos do uso de plantas de cobertura e técnicas para solução...................................371
14.1.2. Manejo das plantas de cobertura................................................................................................................372
14.1.3. Manejo mecânico ..........................................................................................................................................372
14.1.4. Manejo químico..............................................................................................................................................372
14.1.5. Implantação de plantas de cobertura desde a implantação do vinhedo ...........................................372
14.1.6. Fase de implantação e crescimento da videira.........................................................................................372
14.1.7. Fase de produção da videira........................................................................................................................373
14.1.8. Espécies de plantas de cobertura indicadas..............................................................................................374
14.1.9. Espécies recomendadas para implantação em consórcio com a videira nas condições de clima e
solos de região de elevada altitude de Santa Catarina............................................................................375
14.2 Considerações finais e desafios................................................................................................................................376
14.3 Referências ...................................................................................................................................................................377
15. Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira .............................................................................379
15.1 Introdução.....................................................................................................................................................................379
15.2 Doenças causadas por fungos..................................................................................................................................380
15.2.1. Doenças foliares e de frutos.........................................................................................................................380
15.2.2. Doenças Vasculares.......................................................................................................................................389
15.2.3. Doenças Radiculares......................................................................................................................................390
15.3 Doenças causadas por nematóides.........................................................................................................................392
15.3.1. Aspectos gerais e importância econômica................................................................................................392
15.3.2. Agente causal, sintomatologia e epidemiologia.......................................................................................392
15.4 Doenças causadas por bactérias..............................................................................................................................392
15.4.1. Galhas da coroa..............................................................................................................................................392
15.4.2. Cancro bacteriano..........................................................................................................................................393
15.5 Doenças viróticas........................................................................................................................................................394
15.5.1. Complexo Rugoso da Videira – Viroses.....................................................................................................394
15.5.2. Intumescimento dos ramos da videira (Grapevine corky bark).............................................................395
15.5.3. Lenho rugoso...................................................................................................................................................396
15.5.4. Caneluras do tronco da videira ...................................................................................................................396
15.5.5. Necrose das nervuras....................................................................................................................................397
15.5.6. Manchas das nervuras...................................................................................................................................398
15.5.7. Degenerescência............................................................................................................................................398
15.5.8. Enrolamento da folha da videira (Grapevine leafroll)...............................................................................399
15.5.9. Técnicas de Diagnose....................................................................................................................................401
15.6 Controle de doenças da videira................................................................................................................................402
15.6.1. Controle de doenças fúngicas.....................................................................................................................402
15.6.2. Controle de doenças causadas por nematoides......................................................................................407
15.6.3. Controle de doenças causadas por bactérias...........................................................................................408
15.6.4. Métodos de controle das viroses.................................................................................................................408
15.7 Referências ...................................................................................................................................................................410
16. Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina............................415
16.1 Introdução..................................................................................................................................................................415
16.2 Pérola-da-terra: Eurhizococcus brasiliensis (Hempel,1922) (Hemiptera: Margarodidae)..............................416
16.2.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................416
16.2.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................416
16.2.3. Dispersão da pérola-da-terra........................................................................................................................418
16.2.4. Ocorrência e controle...................................................................................................................................418
16.3 Filoxera: Daktulosphaira vitifoliae (Fitch, 1856) (Hemiptera: Phylloxeridae)....................................................420
16.3.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................420
16.3.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................420
16.3.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................421
16.4 Traça dos cachos: Cryptoblabes gnidiella (Millière, 1864) (Lepidoptera: Pyralidae)......................................421
16.4.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................421
16.4.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................422
16.4.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................423
16.5 Lagarta-das-fruteiras: Argyrotaenia sphaleropa (Lepidoptera: Tortricidae).......................................................424
16.5.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................424
16.5.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................425
16.5.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................425
16.6 Besouro verde da videira Maecolaspis spp. (Coleoptera: Chrysomelidae) e Paralauca dives (Gemar, 1824)
(Coleoptera: Chrysomelidae)...................................................................................................................................425
16.6.4. Descrição e bioecologia................................................................................................................................425
16.6.5. Sintomas e danos............................................................................................................................................426
16.6.6. Monitoramento e controle............................................................................................................................426
16.7 Gorgulho-do-milho: Sitophilus zeamais (Motschlsky, 1855) (Coleoptera: Curculionidae)............................426
16.7.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................426
16.7.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................427
16.7.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................427
16.8 Mosca-das-frutas sul-americana: Anastrepha fraterculus (Wied) (Diptera: Tephritidae)................................428
16.8.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................428
16.8.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................429
16.8.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................429
16.9 Drosófila-da-asa-manchada: Drosophila suzukii (Matsumura, 1931) (Diptera: Drosophilidae)...................431
16.9.1. Descrição e bioecologia................................................................................................................................431
16.9.2. Sintomas e danos............................................................................................................................................432
16.9.3. Monitoramento e controle............................................................................................................................433
16.10 Ácaros..........................................................................................................................................................................434
16.10.1. Ácaro-da-ferrugem-da-videira: Calepitrimerus vitis (Nalepa 1905) (Acari: Eriophyidae)................435
16.10.2. Ácaro-rajado Tetranychus urticae (Acari: Tetranychidae).....................................................................436
16.10.3. Ácaro-vermelho-europeu Panonychus ulmi (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)...........................437
16.11 Vespas e abelhas.......................................................................................................................................................439
16.11.1. Descrição e bioecologia.............................................................................................................................439
16.11.2. Sintomas e danos..........................................................................................................................................439
16.11.3. Monitoramento e controle.........................................................................................................................440
16.12 Considerações finais.................................................................................................................................................441
16.13 Referências ................................................................................................................................................................441
17. Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras.........................................................451
17.1 Introdução.....................................................................................................................................................................451
17.2 Classificação técnica dos equipamentos................................................................................................................452
17.2.1. Classificação quanto à fonte de potência..................................................................................................452
17.2.2. Classificação quanto à fonte de potência..................................................................................................452
17.2.3. Classificação quanto à via de aplicação.....................................................................................................453
17.3 Aspectos técnicos para seleção de pulverizadores para videiras......................................................................454
17.3.1. Pulverizadores de tração humana...............................................................................................................454
17.3.2. Pulverizadores tratorizados...........................................................................................................................456
17.3.3. Seleção de pulverizadores para viticultura................................................................................................458
17.4 Componentes dos pulverizadores tratorizados.....................................................................................................461
17.4.1. Depósito...........................................................................................................................................................461
17.4.2. Bombas.............................................................................................................................................................463
17.4.3. Comando de pulverização............................................................................................................................466
17.4.4. Filtro de sucção...............................................................................................................................................466
17.4.5. Agitadores........................................................................................................................................................467
17.4.6. Circuito hidráulico..........................................................................................................................................467
17.4.7. Turbina..............................................................................................................................................................468
17.4.8. Defletores.........................................................................................................................................................469
17.5 Referências ...................................................................................................................................................................471
18. Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira................................................474
18.1 Introdução.....................................................................................................................................................................474
18.2 Caracterização da ciência tecnologia de aplicação.............................................................................................475
18.3 Fatores que afetam a utilização dos defensivos agrícolas....................................................................................476
18.3.1. Formas de aplicação de defensivos em videiras.......................................................................................479
18.3.2. Formulações de agrotóxicos e preparação da calda de pulverização.................................................479
18.4 Pontas e parâmetros de pulverização.....................................................................................................................485
18.4.1. Pontas de pulverização de jato tipo cone..................................................................................................485
18.4.2. Pontas de pulverização de jato tipo leque.................................................................................................486
18.4.3. Pontas de pulverização do tipo defletora..................................................................................................486
18.4.4. Identificação das pontas de pulverização..................................................................................................486
18.4.5. Especificação das gotas de pulverização...................................................................................................488
18.4.6. Relação entre gotas e perdas em pulverização........................................................................................491
18.4.7. Densidade de gotas e taxa de aplicação...................................................................................................492
18.4.8. Classificação e seleção das pontas de pulverização...............................................................................493
18.5 Regulagem e calibração de pulverizadores............................................................................................................494
18.5.1. Calibração de pulverizadores costais.........................................................................................................494
18.5.2. Calibração de pulverizadores de barras tratorizados..............................................................................499
18.5.3. Calibração de pulverizadores hidropneumáticos tratorizados..............................................................500
18.6 Referências ...................................................................................................................................................................503
19. Tecnologia Pós-colheita.....................................................................................................................506
19.1 Maturação e colheita da uva.....................................................................................................................................506
19.2 Paredes celulares.........................................................................................................................................................507
19.2.1. Composição das paredes celulares.............................................................................................................507
19.2.2. Mudanças durante a maturação..................................................................................................................508
19.2.3. Enzimas.............................................................................................................................................................508
19.2.4. Textura da uva.................................................................................................................................................509
19.2.5. Vitaminas..........................................................................................................................................................509
19.2.6. Respiração e etileno.......................................................................................................................................510
19.3 Colheita de uva destinadas à vinificação................................................................................................................510
19.4 Maturação da uva........................................................................................................................................................511
19.4.1. Maturação fisiológica das sementes...........................................................................................................511
19.4.2. Maturação fisiológica das bagas..................................................................................................................511
19.4.3. Maturação tecnológica..................................................................................................................................511
19.4.4. Maturação fenólica........................................................................................................................................512
19.5 Preparação da colheita para processamento em vinho.......................................................................................513
19.5.1. Volume da colheita e recebimento.............................................................................................................513
19.5.2. Amostragem de bagas para determinação da maturação......................................................................514
19.5.3. Índices de maturação.....................................................................................................................................515
19.6 Colheita de uvas destinadas ao processamento em suco ou vinho..................................................................519
19.6.1. Colheita manual..............................................................................................................................................519
19.6.2. Colheita mecânica..........................................................................................................................................520
19.6.3. Adaptabilidade da variedade e tempo de colheita..................................................................................521
19.6.4. Características do produto colhido.............................................................................................................522
19.6.5. Sanidade do vinhedo.....................................................................................................................................523
19.7 Referências ...................................................................................................................................................................523
20. Enologia..............................................................................................................................................527
20.1 Introdução...................................................................................................................................................................527
20.2 Colheita.........................................................................................................................................................................528
20.2.1. Ponto ideal de colheita .................................................................................................................................528
20.2.2. Recepção na vinícola.....................................................................................................................................529
20.3 Extração do mosto.......................................................................................................................................................529
20.3.1. Desengace e esmagamento.........................................................................................................................529
20.3.2. Mesa ou esteira de seleção..........................................................................................................................530
20.3.3. Prensagem........................................................................................................................................................530
20.4 Sulfitagem......................................................................................................................................................................530
20.5 Enzimagem....................................................................................................................................................................531
20.6 Transporte da uva, do mosto e dos vinhos.............................................................................................................532
20.7 Adição de leveduras....................................................................................................................................................532
20.7.1. Produtos secundários dafermentação alcoólica.......................................................................................534
20.8 Vinificação de vinhos tranquilos ..............................................................................................................................534
20.8.1. Vinificação em branco...................................................................................................................................534
20.8.2. Vinificação em tinto.......................................................................................................................................538
20.8.3. Resultados com vinho na altitude catarinense..........................................................................................540
20.9 Vinificação de espumantes........................................................................................................................................543
20.9.1. Métodos de elaboração de espumantes....................................................................................................545
20.9.2. Método Tradicional, Clássico ou Champenoise........................................................................................546
20.9.3. Método Charmat............................................................................................................................................548
20.9.4. Método Asti ou Moscatel Espumante Charmat........................................................................................549
20.9.5. Resultados com espumantes na altitude catarinense..............................................................................550
20.10 Referências ................................................................................................................................................................555
21. Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira.......................................................................558
21.1 Introdução.....................................................................................................................................................................558
21.2 Indicações Geográficas no Brasil.............................................................................................................................559
21.2.1. A conquista do Selo IG no Brasil ................................................................................................................562
21.2.2. Legislação Brasileira........................................................................................................................................562
21.3 Indicações geográficas na vitivinicultura.................................................................................................................563
21.3.1. Histórico...........................................................................................................................................................563
21.3.2. Princípios das Indicações Geográficas.......................................................................................................564
21.3.3. IG vitivinícolas no Brasil.................................................................................................................................564
21.3.4. IG vitivinícolas no Rio Grande do Sul.........................................................................................................564
21.3.5. IG vitivinícolas em Santa Catarina...............................................................................................................567
21.4 Conclusões/Considerações.......................................................................................................................................569
21.5 Referências ...................................................................................................................................................................570
Apresentação
A
tradicional Região Serrana Catarinense conhecida como um grande polo produtor de frutas
temperadas, com destaque na cultura da macieira, tem apresentado nos últimos anos uma nova
opção aos produtores e consumidores do Brasil e do exterior, os vinhos de altitude. Fruto de pio-
neiros visionários, da experiência e dedicação de muitos pesquisadores, técnicos e produtores,
a produção de uvas finas com características típicas de regiões temperadas tem propiciado a obtenção de
vinhos com características particulares a consumidores cada vez mais exigentes. Aliada a uma paisagem
e clima incomparáveis no mundo, a cada ano surgem novos rótulos, trazendo a centenas de produtores
novas opções de cultivo numa grande região do Sul do Brasil.
Todos os principais polos vitivinícolas do mundo associam uma série de fatores que compõem vinhos
com características específicas, reunindo desde as questões relativas ao solo, o clima, às tradicionais práticas
culturais, as experiência dos produtores incorporadas ao longo do tempo e que vão se consolidando no
mercado. O termo ´Terroir´ tem sido utilizado como se fora um carimbo aos vinhos de determinada região,
transferindo ao consumidor uma série de atributos aprimorados ao longo dos anos. A experiência reunida
na produção de uvas ao longo de mais de 30 anos na Serra Catarinense, o que pode ser considerado ainda
como uma jovem viticultura, já traz diversos traços que começam a ser reconhecidos em nível nacional.
O livro, com 21 capítulos reunindo inúmeros autores de renomada experiência, traz uma infinidade de
informações, fruto de extensas revisões e principalmente obtidas através de densos projetos de pesquisa
desenvolvidos pelas principais instituições públicas, capitaneada pela UDESC, em parceria com produtores
individuais ou associados, localizados na Região de Altitude mais tradicional na produção de uvas de Santa
Catarina. A identificação das melhores cultivares e as possíveis combinações de porta-enxertos, a definição
do manejo do dossel, a carga de gemas, o manejo da poda e os sistemas de condução para cada situação,
aliados a todas as questões relativas ao manejo o solo, da nutrição e adubação e a delicada e complexa
questão da fitossanidade, chegando na colheita e processamento, entre outros, exemplifica a importância
de todos capítulos desse grade livro.
A instalação de um polo vitivinícola implica em enormes custos, desde a implantação do vinhedo
até altos investimentos em infraestrutura e equipamentos nas cantinas, às vezes financiados por longos
anos; a decisão do que cultivar, da tecnologia entregada, da estrutura necessária, o aporte de mão-de obra,
entre outros itens, requer um minucioso projeto, onde as informações da área técnica são fundamentais
para tomada de decisão nos novos empreendimentos. Ratifico que as pesquisas locais relatando os prin-
cipais resultados, as dificuldades e particularidades aqui discutidas tornam-se aspectos estratégicos nesse
contexto. Sabe-se que o clima da região provoca mudanças na fisiologia, na fenologia e manejo, com
produção de uvas com características particulares, provocadas principalmente pelo ciclo mais longo e que
incorporam atributos diferenciados. Num futuro próximo, a indicação de procedência (IP), geográfica (IG)
e Denominação de origem (DO) dessa região vão reunir todas essas particularidades, dando visibilidade
a vinhos, espumantes e demais produtos em todo mundo. Esse livro certamente vai colaborar em muito
nessa conquista e incrementar a viticultura em nível local e nacional.
23
A
Prefácio
vitivinicultura das regiões de elevada
altitude de Santa Catarina, apesar de
relativamente recente, se destaca pela
alta qualidade dos vinhos elaborados.
A qualidade dos vinhos de altitude está associada às
características geográficas e edafoclimáticas como as
baixas temperaturas noturnas e a amplitude térmica.
Dentre as características das uvas e dos vinhos é
possível destacar o maior acúmulo de açúcar, a elevada
concentração de compostos fenólicos, assim como a
maior complexidade aromática.
É possível dizer que o trabalho de pesquisa em
viticultura nas regiões de altitude iniciou na década em
1991 quando a Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural do Estado de Santa Catarina (Epagri) deu
início a um projeto de pesquisa para identificar áreas do
estado com maior potencial para o cultivo da videira.
Este projeto era coordenado pelo engenheiro agrônomo
Cangussu Silveira Matos, que instalou uma coleção de
nove variedades de videira na Estação Experimental
da Epagri de São Joaquim. Passados alguns anos os
pesquisadores ficaram surpresos com a qualidade
das uvas, então colheram uma amostra de Cabernet
Sauvignon e levaram para a Estação Experimental da
Epagri de Videira, onde elas foram vinificadas pelo
enólogo Jean Pierre Rosier.
O vinho elaborado naquela microvinificação
surpreendeu os técnicos envolvidos. Os resultados
promissores alcançados com a variedade Cabernet
Sauvignon deram início aos primeiros investimentos
em vinhedos comerciais em São Joaquim a partir de
1999. Em decorrências disso, a região dos vinhos de
altitude passou, em um curto período de tempo, do
anonimato para uma referência na produção de vinhos
de qualidade diferenciada no cenário vitícola brasileiro.
Em 2006 a UDESC concluiu um curso de
especialização em Vitivinicultura, coordenado pela
prof. Aike Anneliese Kretzschmar, para técnicos da
região, visando a capacitação para o que estava por
vir, aprimorando o conhecimento para ampliar a
abrangência dos técnicos já experientes em pomáceas.
Desta forma, contribuindo de forma efetiva na busca
de informações que possibilitaram a difusão de forma
sustentável da cultura da videira em região de altitude
elevada.
25
Passados praticamente 20 anos desde os primeiros plantas e maturação das uvas; variedades e porta-
plantios comerciais, existem hoje mais de 500 hectares enxertos; propagação; implantação de vinhedos;
de vinhedos distribuídos em mais de 50 propriedades em nutrição, adubação e água no solo; poda e manejo do
13 municípios. É possível afirmar que a viticultura realizada dossel; reguladores de crescimento; manejo de plantas
nas regiões de altitude elevada de Santa Catarina é uma invasoras e de plantas de cobertura em vinhedos; pragas
atividade consolidada. Ao longo desse período, e doenças da videira; equipamentos e tecnologia de
praticamente todas as vinícolas da região já receberam aplicação de agroquímicos; tecnologia de pós-colheita;
prêmios em concursos e avaliações nacionais e enologia; indicações geográficas.
internacionais, e o enoturismo é um dos segmentos
que tem apresentado expressivo crescimento e Emilio Brighenti
desenvolvimento. Pesquisador da Epagri – Estação Experimental
Dada a importância dessa atividade e do de São Joaquim
intenso trabalho de pesquisa realizado ao longo dos
últimos anos por universidades e institutos de pesquisa,
chama a atenção a escassez de obras sobre o tema. A
concretização desta publicação marca uma iniciativa
inédita na área, que é a união de conhecimentos e
expertises de pesquisadores e professores de diversas
áreas e instituições, com um único fim. Os autores
acreditam que a viticultura prática é a aplicação de
um conjunto de técnicas para se obter a máxima
produtividade, combinada com a máxima qualidade
da uva para as exigências de determinado mercado,
com um mínimo custo. Estas técnicas derivam do
conhecimento científico sobre a biologia das plantas
com relação com o meio ambiente e com a sua
manipulação em qualquer condição ou lugar.
Dessa forma, o objetivo deste livro é preencher
esse espaço vazio com conhecimentos técnicos e
científicos baseados na experiência dos autores e em
uma extensa revisão bibliográfica, tanto da abundante
pesquisa vitícola desenvolvida em outros países, como
daquela realizada em Santa Catarina e no Sul do Brasil.
Nessa obra será enfatizada a produção de vinhos
finos, mas as informações poderão ser utilizadas para
a produção de uvas e vinhos de mesa assim como uvas
para suco. Espera-se com essa obra contribuir para o
desenvolvimento da viticultura, incorporando algumas
reflexões que possam servir de base e orientação para
futuras pesquisas em Santa Catarina e no Brasil.
Este livro é destinado a técnicos, produtores e
estudantes apresentando de forma didática e direta,
informações sobre diferentes temas de interesse para a
viticultura. O livro está organizado da seguinte maneira:
caracterização climática das regiões de altitude; fisiologia
da videira, balanço de carboidratos, crescimento das
26
1. Clima: Viticultura de
Elevada Altitude do Estado de
Santa Catarina
1.1 Introdução
F
atores modificadores do clima se contrastam entre as diferentes
regiões do Estado de Santa Catarina, favorecendo a existência
de características climáticas peculiares, tornando-as eficazes a
determinadas atividades econômicas. As áreas de altitude do
Estado de Santa Catarina, acima de 900 m em relação ao nível do
mar, propiciam melhor desenvolvimento vitícola. São áreas localizadas
entre as latitudes 26o a 28o S, clima subtropical úmido, do tipo Cfb
(clima temperado, verão ameno) e, segundo a classificação de Köppen,
com elevada variação térmica e distribuição regular das chuvas ao
longo do ano.
As condições climáticas que favorecem o grande impulso
para a produção de uvas finas, em regiões de elevada altitude de
Santa Catarina, localizam-se, principalmente, nos municípios de São
Joaquim, Água Doce, Caçador, Campo Belo do Sul, Campos Novos,
Urubici, Bom Retiro, Tangará e Videira, devido, em especial, à grande
variabilidade climática que caracteriza estas áreas pela sua posição
geográfica, suas configurações de relevo e à atuação de sistemas
meteorológicos distintos (ACAVITIS, 2014).
O estado de Santa Catarina possui uma elevada variação térmica
e uma distribuição regular de chuva durante o ano; porém, é importante
salientar que os padrões sazonais atmosféricos predominantes podem
ser alterados por fenômenos climáticos de caráter interanual, como
o El Niño-Oscilação Sul (ENSO) e por eventos extremos adversos
(CAMARGO et al., 2006; CAMARGO et al., 2011, SÁ et al., 2018).
Nas inúmeras regiões vitícolas, o clima é um fator natural
determinante do potencial regional para a adaptação de variedades, bem
como da qualidade e tipicidade da produção vitivinícola (MALINOVSKI,
2013; MALINOVSKI et al., 2016). Neste capítulo, serão abordados
os sistemas atmosféricos atuantes nas regiões de elevada altitude
27
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
28
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
esse bloqueio e se deslocam sobre a região, resultam Figura 1 (a) e (b). Isolinhas de média de pressão
em totais muito elevados de chuva. (hPa) ao nível médio do mar (NMM) no período de
Para a safra de 2006/2007, por exemplo, em 30 de março a 04 de abril (a) e de 09 a 13 de abril
São Joaquim e Bom Retiro, no mês de fevereiro, as de 2007 (b).
chuvas ocorreram de forma mais persistente devido Fonte: Pandolfo, 2010.
às frentes frias semiestacionárias que permaneceram
por vários dias consecutivos, entre Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Essas frentes frias foram intensi-
ficadas pelos jatos subtropicais. No mês de março,
os maiores valores de precipitação foram associados
às frentes frias que se deslocaram pelo litoral e rece-
beram fluxo de umidade e calor desde a Amazônia,
através dos jatos subtropicais.
Um bom exemplo do comportamento atmosféri-
co pode ser representado pelo período entre os dias 30
de março e 13 de abril de 2007, com permanência de
sistemas de alta pressão, como mostram as Figuras 1 (a) e
(b) de análise de pressão em nível médio do mar (NMM)
do Nacional Centers for Environmental Preditivo (NCEP)
e o Jato Subtropical na Figura 2 (a) que intensifica áreas de
baixa pressão com formação de frente fria passando por
Santa Catarina e Paraná na Figura 2 (b).
No verão, outro sistema atmosférico
apresenta semelhanças com a frente fria, o ca-
vado invertido, o qual também forma mais ne-
bulosidade. Há cobertura de nuvens, especial-
mente no período noturno e início da manhã,
horário em que normalmente ocorrem as tempe-
raturas mínimas, provocando redução da perda
radiativa e, em consequência, as temperaturas míni-
mas ficam mais elevadas (DE FINA, 1973).
Normalmente, há uma relação inversamente
proporcional entre frequência de ocorrência de ja-
tos subtropicais e precipitação acumulada. A ocor-
rência de jato subtropical aumenta a nebulosidade
em altos níveis, porém esse tipo de nebulosidade
não tem grande desenvolvimento e a quantidade
de vapor de água presente nessas nuvens não é
muito grande, sendo composto, basicamente, por
cristais de gelo, o que não favorece as precipita-
ções nas camadas mais baixas da atmosfera (PEZZI,
CAVALCANTI, 1994). A ocorrência de jatos subtro-
picais diminui o total de precipitação quando não
estão associados às frentes frias.
Os sistemas atmosféricos que ocorrem no
período da maturação até a colheita da videira,
29
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
1.3.1. Temperatura do ar
30
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de modo que cada elemento meteorológico, dentre as forte expansão vitícola, de acordo com a classificação
suas variações sazonais e espaciais, impacta a cultura e de Köppen, é do tipo Cfb (Temperado – mesotérmico
seu desenvolvimento vegetativo. A temperatura do ar, por úmido e verão ameno), onde a principal característica
exemplo, apresenta diferentes efeitos sobre a videira, sendo climática são as baixas temperaturas no inverno (os
fundamental para a ocorrência de diversos processos, termômetros já registraram -10°C em agosto de 1991)
entre eles o desenvolvimento fenológico, fisiológico e, e mais amenas no verão (Tabela 1 e 2).
principalmente, uma maturação adequada da uva. Assim, São Joaquim é considerado uma das
As regiões de elevada altitude do Estado de localidades mais frias do Brasil, com temperatura média
Santa Catarina são privilegiadas pelas temperaturas anual do ar de 13,3°C, sendo o mês de julho o mais
baixas do inverno, considerando que a videira é frio, com temperatura média em torno de 9,4°C, e o
bastante resistente às baixas temperaturas. O frio mês de janeiro o mais quente, com média de 17,1°C.
invernal é importante para a superação de dormência Os meses de maio a agosto também são caracterizados
das gemas, no sentido de assegurar uma brotação pelos eventuais períodos de temperaturas mais elevadas,
homogênea e adequada. Cada variedade apresenta comumente chamadas de “veranicos”. Nestes eventos,
uma necessidade particular de acúmulo de horas de frio as frentes frias são desviadas de sua trajetória habitual
para ideal superação de dormência. Por outro lado, do por Santa Catarina, deslocando-se em latitudes mais ao
mesmo modo que as variedades se favorecem do frio, sul, ocasionando dias consecutivos sem ocorrência de
extremos de temperatura do ar podem ser prejudiciais chuva e com temperaturas elevadas para a época do
ao desenvolvimento vegetativo quando há ocorrência ano. Em setembro, a condição é de transição do inverno
de geadas. para a primavera: começa, aos poucos, a atuação da
Nas Figuras 3 e 4 é possível observar que as massa de ar tropical, com dias de temperatura elevada,
regiões produtoras de uvas de elevada altitude do Estado mas ainda atuam intensas e frequentes massas de ar frio.
catarinense, apresentam temperaturas ideais para que Estas massas de ar frio na primavera podem ocosionar
a videira tenha um bom desenvolvimento fisiológico e registros de temperaturas inferiores a 0°C, quando têm
qualitativo dos frutos. Estas zonas vitícolas caracterizam- sido frequentes os casos de geadas tardias.
se pelas baixas temperaturas invernais, recomendáveis
para a superação de dormência; temperaturas mais 1.3.2. Radiação
elevadas entre primavera e verão, ideais para polinização e
desenvolvimento do fruto e, durante a maturação, as baixas Outro elemento climático de destaque para
temperaturas noturnas ativam o metabolismo secundário o desenvolvimento da videira é a radiação solar. Esse
para a formação dos compostos fenólicos nas uvas. fator está intimamente relacionado no processo da
De modo geral, as regiões vitivinícolas de fotossíntese, bem como no acúmulo de açúcares
elevada altitude catarinense apresentam amplitude contido nas uvas e, consequentemente, na sua
térmica próxima da 10oC (Tabela 1). A amplitude térmica qualidade (MARIANI, 2012), pois influencia diretamente
influencia o equilíbrio fotossintético/respiratório da no metabolismo secundário das plantas. Além disso, é
planta e, consequentemente, o acúmulo energético, um fator fundamental para a indução e a diferenciação
estando diretamente relacionada na biossíntese de das gemas de flor.
compostos fenólicos (GONZÁLEZ et al., 2007). Segundo Vieira et al. (2011) a disponibilidade e a
A temperatura do ar é inversamente proporcional intensidade da radiação solar global estão relacionadas
à altitude, assim, em regiões onde a altitude é maior, com a posição geográfica e a altitude do local. Assim,
observam-se menores temperaturas médias anuais estes autores registraram quantidade e intensidade de
(Tabela 1 e 2). Em geral, cada 100 metros de diferença radiação mais elevados na região de Campo Belo do
de altitude corresponde a uma diferença térmica de Sul (Planalto Catarinense) em relação à Pech Rouge
0,5oC (JACKSON, 2008). (França), sendo que este fator pode favorecer maior
As condições térmicas das regiões de elevada intensidade da coloração da uva. Malinovski et al.,
altitude, em específico a região de São Joaquim/SC, com (2012) em estudos na região do planalto catarinense,
31
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Tabela 1. Caracterização média anual do clima de algumas regiões de elevada altitude do Estado de
Santa Catarina.
Fonte: Epagri/Ciram, 2014.
Elemento Climático Água Doce Campo Belo do Sul Campos Novos Curitibanos São Joaquim Tangará
(1984-2013) (2004-2014) (1984-2012) (2008-2012) (1984-2014) (2011-2012)
Altitude da Estação Meteorológica 1329 m 978 m 965 m 1040 m 1294 m 1086 m
Média Anual
Tipo Climático (Koppen) Cfb - Temperado Cfb - Temperado Cfb - Temperado Cfb - Temperado Cfb - Temperado Cfb - Temperado
Temperatura Média (°C) 14,5 15,7 16,6 16,1 13,3 15,0
Temperatura Máxima (°C) 20,6 22,6 22,6 21,9 18,8 21,2
Temperatura Mínima (°C) 10,5 11,1 12,3 12,0 9,4 10,8
Precipitação (mm) 136,2 168,0 136,6 130,5 147,0 144,3
Umidade Relativa do Ar (%) 74,5 81,4 74,0 80,0 79,0 83,8
Radiação Média (W.m-2) 186,5 190,7 192,7 205,7 223,4 208,5
Vento Máximo (Km h ) -1
45,8 39,5 38,8 39,3 37,6 39,7
Valor Absoluto
Temperatura Mínima (°C) -7,3 -7,4 -5,6 -4,0 -10,0 -2,4
Temperatura Máxima (°C) 33,7 35,1+ 35,6 33,1 31,4 31,0
Precipitação Máxima - 24h (mm) 174,0 333,2 133,0 102,2 204,6 79,0
Vento Máximo (Km h ) -1
117,4 128,2 142,9 155,9 102,2 97,2
Soma Anual
Precipitação (mm) 1635,5 2027,0 1995,6 1447,5 1924,2 1731,7
32
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 2. Caracterização média mensal do clima de algumas regiões de elevada altitude do Estado de
Santa Catarina.
Fonte: Epagri/Ciram, 2014.
Água Doces (1984 2013) Campo Belo do Sul (2004 2014) Campos Novos (1984-2012)
T Méd.(°C) UR (%) Prec. (mm) T Méd. (°C) UR (%) Prec. (mm) T Méd. (°C) UR (%) Prec. (mm)
Jan 18,1 76,0 168,1 20,1 80,5 198,7 20,8 74,1 208,5
Fev 17,8 77,4 156,5 20,0 80,2 152,3 20,5 75,9 168,1
Mar 17,0 83,1 131,3 18,8 82,0 133,2 19,6 74,7 136,9
Abr 14,7 81,7 100,9 16,3 82,6 147,7 17,2 76,3 173,2
Mai 11,9 83,7 122,1 12,4 85,4 156,7 13,4 78,7 144,7
Jun 10,8 82,0 115,8 11,4 85,9 136,9 12,4 78,3 123,0
Jul 10,6 71,6 98,7 10,9 83,0 154,4 11,9 75,8 145,1
Ago 12,0 75,1 108,9 12,4 81,0 210,9 13,7 71,4 133,6
Set 13,1 79,7 155,6 13,7 81,4 221,8 14,4 74,0 205,7
Out 14,8 80,0 192,7 15,8 81,4 226,4 16,9 73,2 246,5
Nov 16,2 75,5 138,3 17,7 78,5 148,6 18,7 68,1 150,0
Dez 17,5 82,7 146,6 19,2 77,0 139,3 20,4 69,1 160,4
Média Anual 14,5 79,1 136,3 15,7 81,6 168,9 16,6 74,1 166,3
Curitibanos (2008-2012) São Joaquim (1984-2014) Tangará (2011-2012)
T Méd. (°C) UR (%) Prec. (mm) T Méd. (°C) UR (%) Prec. (mm) T Méd. (°C) UR (%) Prec. (mm)
Jan 20,1 79,9 126,6 17,2 81,5 186,0 18,0 84,5 218,5
Fev 20,9 80,7 97,0 17,3 82,6 187,5 19,9 83,1 167,7
Mar 19,0 79,7 105,6 16,4 82,8 139,5 17,6 78,8 46,5
Abr 16,7 77,9 112,9 14,1 81,8 111,1 15,1 86,5 165,4
Mai 13,7 81,7 76,7 10,6 82,1 137,9 12,3 89,8 62,8
Jun 11,4 82,6 130,4 10,4 80,6 139,2 11,4 89,1 144,7
Jul 12,2 80,3 126,8 9,4 77,0 162,7 10,3 86,5 128,8
Ago 13,8 78,0 103,1 11,1 73,4 148,2 12,3 90,8 97,8
Set 14,0 78,5 167,1 11,4 77,9 206,9 12,5 80,5 197,8
Out 16,1 79,9 170,0 13,7 79,6 196,2 15,3 81,7 212,3
Nov 18,3 76,7 124,9 14,9 77,5 159,2 15,6 81,8 103,4
Dez 19,7 76,9 106,3 16,4 78,2 150,0 17,3 77,8 186,0
Média Anual 16,3 79,4 120,6 13,6 79,6 160,4 14,8 84,2 144,3
33
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 3. Distribuição mensal das temperaturas médias do ar e da precipitação nos principais municípios
produtores de variedades Vitis vinifera L. das regiões elevada altitude de Santa Catarina
Fonte: Epagri/Ciram, 2014.
Figura 4. Distribuição mensal das temperaturas máximas e mínimas do ar nos principais municípios
produtores de variedades Vitis vinifera L. das regiões de altitude elevada de Santa Catarina
Fonte: Epagri/Ciram, 2014.
34
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
destacou que em Campo Belo do Sul a radiação Observa-se que os maiores períodos de
fotossinteticamente ativa (RFA) e radiação global (RG) precipitação ocorrem nos meses de setembro e
máximas encontradas foram durante a maturação das outubro, sendo os meses mais chuvosos do Estado
uvas apresentando 2278 µmolfotons m-2s-1 e 1086 de Santa Catarina. Na localidade de São Joaquim/
W.m-2, respectivamente. Segundo estes autores, isto SC, verificamos que durante os meses de janeiro e
demonstra que na região, tanto a RFA quando a RG fevereiro ocorrem elevados índices pluviométricos.
são suficientes para que a videira apresente atividade Nestes meses do verão, a intensidade do calor,
metabólica adequada para seu desenvolvimento. associada a altos índices de umidade do ar,
Em vinhedos localizados em São Joaquim/SC, favorecem a formação de convecção tropical,
por exemplo, posicionados no sentido norte-sul e em com nuvens do tipo cumulonimbus que resultam
altitude de 1294 m, é próximo das 10h que ocorre a em pancadas de chuva, especialmente no período
maior disponibilidade de radiação solar no período da vespertino.
manhã (363 W.m-2) e próximo das 16 h (290 W.m-2), no Para a viticultura, é desejável menor frequência
período da tarde. A máxima disponibilidade de radiação de precipitações na época da colheita, acarretando
solar global no topo do dossel é registrada próximo das melhor sanidade dos frutos e, quando associadas com
13h (612 W.m-2). A maior disponibilidade de radiação as temperaturas do ar mais amenas, proporcionam
solar global, nesta localidade, ocorre nos meses de maturação fenológica completa das uvas, contribuindo
novembro e dezembro, período que correspondeu ao para a qualidade dos vinhos produzidos.
maior crescimento dos ramos da videira (CAMARGO A variação da umidade relativa do ar apresenta
et al., 2013; CAMARGO et al., 2016). Isto também é uma oscilação média mensal entre 74 e 82%, com
observado para as demais regiões de elevada altitude mínimo diário de umidade do ar sendo registrados nos
catarinenses, sendo os valores suficientes à necessidade meses de inverno, em torno de 16%, quando atuam
de radiação solar para produção vitícola (Tabela 1). massas de ar polar. É a partir deste período que as
condições de clima começam a ser influenciadas por
1.3.3. Precipitação pluviométrica e umidade frequentes incursões de massas de ar frio em Santa
relativa Catarina, declinando acentuadamente a temperatura
do ar e mantendo condições de tempo mais secas.
Em alguns períodos fenológicos a precipitação Vinhedos localizados em áreas com umidade relativa do
pode prejudicar a videira. É o caso da precipitação na ar elevada estarão mais sujeitos à incidência de doenças
floração, onde as chuvas torrenciais podem dificultar fúngicas, em particular o míldio, em relação àqueles
a polinização e consequentemente fertilização, situados em condições com menor teor de umidade.
diminuindo a produção final da videira. Já no
crescimento vegetativo, a chuva em excesso pode 1.3.4. Geada
ocasionar infecções fúngicas, principalmente nas folhas,
devido ao aumento do molhamento foliar (KISHINO, A geada é o processo por meio do quais os
CARAMORI, 2007). Chuvas fortes perto da colheita cristais de gelo são depositados sobre uma superfície
podem causar rachadura nas bagas, diminuição nos exposta, consequência da temperatura em superfície
teores de açúcares e susceptibilidade a doenças. Isto diminuir até a temperatura do ponto de orvalho. Assim,
não só irá reduzir o rendimento, mas influenciará na ocorre a condensação do vapor d’água adjacente
qualidade de vinho. A elevada umidade também pode à superfície e, em seguida, seu congelamento. Os
favorecer a incidência de doenças fúngicas. danos dependem do número de dias consecutivos
A distribuição regular de precipitação ao longo com geadas, da intensidade das mesmas e do estádio
do ano é uma característica encontrada nas regiões fenológico que a videira se encontra. Em geral, quanto
de altitude do Estado de Santa Catarina. Na Figura 3, maior o número de dias e sua intensidade, maiores serão
podemos observar que no geral, o período de menor os prejuízos na produção agrícola (DOS SANTOS et
precipitação ocorre entre os meses de abril a junho. al., 2013).
35
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Na videira, as brotações e os órgãos reprodutivos eventos extremos ocorrer na fase vegetativa da videira o
são muito suscetíveis quando atingidos pela geada, risco de impactos negativos para a produção de uvas é
podendo sofrer danos irreversíveis (KISHINO, maior. O tal fenômeno tem ocorrido com maior frequência
CARAMORI, 2007). Por isso, é importante a escolha nos últimos anos nas regiões de altitude catarinense e
de variedades apropriadas para cada local, evitando, por com bastante intensidade, tais como os episódios de
exemplo, danos de uma geada tardia com variedades setembro de 2012 com perdas de 85% de produção
de brotações precoces. em algumas regiões (MARCON FILHO et al., 2015).
Nas regiões de elevada altitude de Santa
Catarina, são mais frequentes episódios de geada nos 1.3.5. Vento
meses de inverno, sendo que casos de geada forte
(e geada negra) têm sido observados também na O vento é um fenômeno meteorológico
primavera (Tabela 3). formado pelo movimento do ar na atmosfera, sendo
provocado através de fenômenos naturais como, por
Tabela 3. Média da ocorrência mensal de geadas (n) exemplo, os movimentos de rotação e translação do
nos últimos trintas anos nas regiões de São Joaquim planeta Terra (RAMOS et al., 2013).
(1400 metros de altitude) e Campos Novos (965 A região do Planalto Sul está mais exposta à
metros de altitude). ação dos ventos devido à sua localização na Serra
Fonte: Epagri/Ciram, 2014 Geral, onde são verificadas as maiores velocidades
de vento e a menor ocorrência de calmarias.
Meses São Joaquim Campos Novos Os ventos de NW e SE são as duas direções
Janeiro 0 0 preferênciais, em que a presença de escoamentos
de NW (21%) pode estar relacionada à fase de
Fevereiro 0 0
formação e intensificação de baixas em superfície
Março 0 0 e, também, a ciclones que estão próximos do litoral
Abril 1 1 catarinense. A ocorrência de ventos de SE está
associada aos ciclones que ficam mais afastados do
Maio 3 2
litoral. No caso de ciclones mais intensos, percebe-
Junho 5 4 se uma diminuição na ocorrência de ventos de
Julho 5 4 NW, aumentando a frequência de ventos de W e
Agosto 3 3 SE, sendo o W com maior intensidade.
Na região, não são frequentes fortes
Setembro 2 1
intensidades de vento (Tabela 1); no entanto, já
Outubro 1 0 foram registrados ventos máximos de até 100
Novembro 0 0 Km/h, como por exemplo, em novembro de 2013,
Dezembro 0 0 eventos associados à aproximação e passagem de
sistemas frontais (ciclones extratropicais). Neste
Total 20 15
caso, há uma intensificação dos ventos no pré-frontal
(antes da passagem da frente fria) e depois no pós-
frontal (depois da passagem da frente fria) devido
A geada negra é caracterizada como uma ao gradiente de pressão gerado por um sistema de
condição atmosférica que provoca o congelamento da alta pressão (massa de ar mais frio), que avança na
parte interna da planta (da seiva); devido ao frio intenso, retaguarda da frente fria.
a planta fica escura, queimada e morre. As condições As videiras que são cultivadas em áreas
para a formação deste fenômeno ocorrem quando propensas a rajadas de ventos, dependendo da
o ar é extremamente frio e seco e o vento tem uma velocidade, duração e frequência, podem ser
intensidade de moderada a forte. Se o registro destes prejudicadas em seu desenvolvimento vegetativo
36
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
37
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto haver redução da radiação solar em quase todo o
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (JOHNS et Estado.
al., 2003). O modelo ainda demonstra que haverá
Os graus-dias e a amplitude térmica foram redução do número de horas de frio abaixo de
calculados para o período médio da maturação à 7,2ºC (abril a setembro) de até 500 horas para os
colheita. Utilizaram-se as anomalias de temperaturas cenários 2050 e 2070 (Figura 9 e 10). As maiores
(ºC) mínima, médias e máximas provenientes do reduções serão observadas no Extremo Oeste, no
PRECIS para os anos de 2050 e 2070 e aplicados sobre Norte Catarinense em regiões próximas à divisa com
as equações de estimativa de temperaturas em função o Estado do Paraná, Região Serrana e áreas mais altas
das coordenadas geográficas e altitude do Estado de do Vale do Rio do Peixe. Nestas duas últimas regiões
Santa Catarina (MASSIGNAM, PANDOLFO, 2006), concentram-se as áreas plantadas com variedades
utilizando temperatura basal de 10ºC. de Vitis vinifera L. (PANDOLFO, 2010).
Há uma estreita ligação das temperaturas A redução das horas de frio nos cenários 2050
com os processos do metabolismo secundário, e 2070 terá um grande impacto na área potencial
responsáveis pelo acúmulo de antocianinas de cultivo considerando-se condições naturais de
e, consequentemente, na qualidade do vinho cultivo. A redução das horas de frio poderá ocasionar
(KENTARO, SUMAYA, GEMMA, 2005; ROUBELAKIS- problemas com brotação desuniforme e queda na
ANGELAKIS, KLIEWER, 1986). qualidade dos frutos.
Nas Figuras 5, 6, 7 podem ser observadas as O efeito de temperaturas elevadas durante
anomalias para as médias das temperaturas mínimas, o período de pós-dormência e pré-brotação pode
médias e máximas para os meses de fevereiro a antecipar a brotação. A antecipação da brotação
abril para os cenários 2050 e 2070 no Estado de para algumas variedades pode submeter à cultura
Santa Catarina. à maior incidência de geadas primaveris. Em outras
A amplitude térmica no cenário 2050 (Figura variedades pode favorecer uma brotação mais
8a) vai reduzir em quase todo o Estado. No cenário uniforme. Isto dependerá da varieadade e da região
2070 (Figura 8b) observa-se ampliação da área do onde é cultivada. A superação de dormência depende
Estado que apresentará diminuição da amplitude também do número de horas de frio abaixo de 7,2ºC
térmica, quando comparada ao cenário 2050. Haverá (abril a setembro) a qual é calculada em função das
um aumento da variabilidade da amplitude térmica temperaturas.
no Estado com os cenários projetados para 2050 e Com o aumento das temperaturas (mínimas e
2070. As projeções das temperaturas do modelo máximas) e consequente aumento da soma térmica,
PRECIS apontam para uma redução da amplitude o ciclo da cultura tenderá diminuir. Com isso, poderá
térmica, em termos médios para o Estado, com um ocorrer uma redução do total de radiação recebida
aumento da variabilidade espacial, isto é, algumas no período entre a maturação e a colheita e como
regiões vão aumentar a amplitude e outras vão consequência poderá impactar a qualidade da uva
diminuir. O regime da radiação também vai sofrer e vinho.
alterações, pois a radiação solar tem uma relação De uma forma geral, houve um aumento do
direta com a amplitude térmica (PANDOLFO, 2010). total dos graus-dias no período de fevereiro a abril
Massignam et al. (2007) testaram três modelos para para o Estado de Santa Catarina para os cenários
a estimativa da radiação solar diária em função da 2050 (Figura 11 a) e 2070 (Figura 11 b). Na maior
amplitude térmica e concluíram que esses modelos parte do Estado de Santa Catarina, o ciclo da cultura
são ferramentas adequadas para estimar a radiação tenderá a diminuir e com isso ocorrerá uma redução
em Santa Catarina, pois há aumento da radiação do total de radiação recebida no subperíodo entre a
com o aumento da amplitude térmica. Baseado na maturação à colheita, como consequência poderá ter
estimativa de redução da amplitude térmica, existe, impacto na qualidade da uva e vinho (PANDOLFO,
então, uma possibilidade de, nos cenários futuros, 2010). Outros autores (BINDI et al., 1996; JONES et
38
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 5. Anomalias das médias de temperatura mínima entre os meses de fevereiro e abril para os
cenários 2050 (a) e 2070 (b)
Fonte: Pandolfo, 2010.
Figura 6. Anomalias das médias de temperatura média entre os meses de fevereiro e abril para os
cenários 2050 (a) e 2070 (b)
Fonte: Pandolfo, 2010.
al., 2000) obtiveram resultados semelhantes quanto que eram classificados como cultivo recomendado
à qualidade do vinho trabalhando com modelos de e tolerado no cenário atual (Figura 12) passou a ser
simulação na Itália e nos Estados Unidos. classificados como cultivo não recomendado.
O zoneamento agrícola para variedades de Houve redução da área potencial de cultivo
Vitis vinifera L. em Santa Catarina para o cenário recomendado e tolerado de 75% e 97%, respecti-
atual (Figura 12) mostrou que existem trinta e dois vamente. Essa redução de área foi devida, princi-
municípios na classe “recomendada” e quarenta e palmente, à redução do número do total anual de
oito municípios na classe “tolerada” de cultivo. No horas de frio ≤7,2°C, causada pelo aumento das
zoneamento agrícola para o cenário 2050 (Figura 13) temperaturas mínimas. Por outro lado, o aumento
observa-se que um grande número de municípios, das temperaturas mínimas diminuiu a probabilidade
39
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 7. Anomalias das médias de temperatura máxima entre os meses de fevereiro e abril para os
cenários 2050 (a) e 2070 (b)
Fonte: Pandolfo, 2010.
Figura 8. Anomalias médias de amplitude térmica no período de fevereiro a abril para o Estado de Santa
Catarina os cenários 2050 (a) e 2070 (b).
Fonte: Pandolfo, 2010.
de ocorrência de geada e alguns municípios que Com o aumento das temperaturas mínimas
apresentavam restrição ao cultivo no cenário atual (cenários 2050 e 2070) o período vegetativo tenderá
devido à geada passaram a ser recomendados. a diminuir, pois o total das somas térmicas tende a
No zoneamento agrícola para o cenário 2070 ser alcançado em um menor período. Como conse-
(Figura 14) houve uma redução maior de municípios quência desta redução, ocorrerá uma antecipação
classificados como cultivo preferencial ou cultivo to- do subperíodo entre a maturação e a colheita em
lerado (Figura 12) (95% e 99%, respectivamente). En- decréscimo do total de radiação solar acumulada.
tretanto, essa redução foi maior na classe de cultivo Essa antecipação da data de colheita já foi observada
tolerado em relação ao zoneamento agrícola do cenário em Bordeaux-França. Jones et al. (2000) mostrou
de 2050 (Figura 13). um efeito na antecipação da data de colheita, no
período de 1952 a 1997, de registros de fenologia da
40
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 10.Total anual de horas de frio abaixo de 7,2ºC (abril a setembro) para o Estado de Santa
Catarina para os cenários 2050 (a) e 2070 (b)
Fonte: Pandolfo, 2010.
cultura da videira, das variedades para as Cabernet especificamente ao aquecimento global, seria observado
Sauvignon e Merlot. com mais propriedade nos vinhos tintos do que nos vinhos
O acúmulo de soma térmica tem efeito sobre o brancos, os quais possuem valores menores (KOMES et al.,
metabolismo fenólico. Os compostos fenólicos de uvas 2007) e poderiam ser beneficiados com uma maturação
e vinhos têm relação direta com as características intrín- tecnológica mais rápida.
secas dos vinhos e afetam, entre outros, o amargor, a Para regiões produtoras que estejam nos limites
adstringência e a cor, especialmente no vinho tinto. Os superiores do clima ideal, as mudanças climáticas
compostos fenólicos são os conservantes do vinho ao podem provocar a extrapolação a esses limites
longo do envelhecimento (WATERHOUSE, 2002). Por- provocando uma maturação dos frutos de forma
tanto, sendo os compostos fenólicos importantes para inadequada à produção de uva e/ou vinhos de alta
os vinhos tintos e de guarda, supõe-se que, referindo-se qualidade. As mudanças climáticas poderiam incentivar
41
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 11. Anomalias médias do total dos graus-dias no período de fevereiro a abril para o Estado de
Santa Catarina para os cenários 2050 (a) e 2070 (b).
Fonte: Pandolfo, 2010.
a1 b1
42
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
didas preventivas e propostas estratégicas devam Os impactos das mudanças climáticas pro-
ser construídas para garantir a produção de uvas de jetadas para 2050 e 2070 para o Estado de Santa
variedades de Vitis vinifera L. no Estado. Uma me- Catarina mostraram uma redução da área poten-
dida a ser adotada seria a adequação dos materiais cial de cultivo de variedades de Vitis vinifera L. –
genéticos existentes às diferentes regiões do Estado. de maior exigência de frio – e uma mudança na
Portanto, o planejamento desta cultura no Estado deve distribuição espacial da área potencial de cultivo
ponderar o estabelecimento de novos vinhedos em para regiões mais frias do cenário atual. Sendo o
função da previsão de aumento das temperaturas em zoneamento uma metodologia que modela a po-
Santa Catarina, combinando os locais com os materiais tencialidade climática em função de demandas de
genéticos existentes e as diferentes características do espécie, ressalta-se que é possível cultivar a videira,
fruto e vinho que se deseja obter. mesmo em áreas de cultivo tolerado, ajustando-se
43
Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
44
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Clima: Viticultura de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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47
2. Balanço de Carboidratos
da Videira
A
dos produtos fotoassimilados desde as fontes até
produtividade da videira está ligada à as- os órgãos e tecidos a serem colhidos (drenos). A
similação de carboidratos por hectare, re- distribuição desses carboidratos aos órgãos pro-
sultante da fotossíntese e constitui 90% da dutivos também é denominada de eficiência pro-
matéria seca total da planta. A fotossíntese dutiva (GIL, 2006). Na videira, aplica-se o índice
é dependente de inúmeros fatores, tais como tem- de incremento de colheita ou a proporção colhida
peratura, dióxido de carbono, atividade fotoquímica como fruta em detrimento ao dossel vegetativo
e bioquímica das folhas, estado hídrico da planta, total, que pode superar 70% da massa total pro-
concentração de nutrientes e pela demanda dos duzida no ciclo (GIL, 2006). A translocação de
drenos por fotoassimilados. Fundamentalmente, a carboidratos não depende somente da biossíntese,
fotossíntese depende da interceptação máxima de mas também da força atrativa do cacho pelo fotos-
luz ha-1 ano-1, no máximo volume de dossel vegetativo sintato (dreno). Essa “força” é dada, inicialmente,
iluminado ha-1, em um maior tempo possível (SMART pelo número de células e fitormônios durante a
& ROBINSON, 1991). floração e pegamento de frutos.
A interceptação da luz direta depende, no iní- Durante o desenvolvimento do fruto, a
cio da primavera, da velocidade de desenvolvimento translocação é influenciada pelos fitormônios sin-
do dossel vegetativo. Esse desenvolvimento deve tetizados nas sementes, pela temperatura e pela
alcançar o índice de área foliar (IAF) definitivo, que disponibilidade hídrica, necessários no período de
é dependente de disponibilidade hídrica, nutrientes máxima divisão e elongação celular. A taxa média
e de altas temperaturas. Da mesma forma, o desen- de crescimento do fruto é a principal causa de
volvimento da planta no próximo ciclo depende da variação no crescimento entre os distintos ciclos
persistência das folhas ao final do outono (vigor e produtivos. Contudo, o número de bagas por ca-
clima) e de todos os fatores que constituem a eficiên- cho é mais importante que o tamanho das bagas,
cia no uso da luz e da água (SILVA, 2011). quando se trata de rendimento. A capacidade
No início do ciclo vegetativo produtivo, a pro- competitiva por fotoassimilados entre os órgãos
dutividade depende fundamentalmente das reservas vegetais de uma planta perene ocorre da seguinte
de carboidratos nos tecidos. Após as folhas alcança- forma: Sementes > Frutos = Ápices, Brotações e
rem o pleno desenvolvimento fotossintético, passa Folhas Jovens > Folhas desenvolvidas > Câmbio >
a depender exclusivamente da fotossíntese total, Raízes > Órgãos de Armazenamento (SMART &
segundo a interceptação de luz direta nas folhas. Ini- ROBINSON, 1991).
cialmente, a respiração total da planta é baixa, devido Por esse motivo, em situações de desequilíbrio
à baixa área foliar. Contudo, quando o desenvolvi- nutricional e da relação crescimento vegetativo:
mento do dossel vegetativo é máximo, a respiração produtivo ou déficit hídrico, a videira exerce um
excessiva é um fator negativo ao desenvolvimento forte efeito depressivo no crescimento. O baixo
da planta, influenciando negativamente no ganho desenvolvimento ocorre especialmente nas raízes e, por
de massa seca (GIL, 2006). conseguinte, nas brotações do próximo ciclo. A baixa
48
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
49
Balanço de Carboidratos da Videira
competitividade das raízes em relação aos outros órgãos alcançar concentrações entre 1 e 2 g L-1. Caso ocorra
é consequência de sua maior distância em relação às alguma paralisação da fermentação, a frutose pode ser
folhas em comparação aos demais órgãos. Essa distância encontrada somada aos açúcares residuais. Além desses
interfere no aumento da resistência ao transporte de açúcares, existem outros em baixas concentrações como a
água e nutrientes e na competição por carboidratos galactose, melibiose (uma molécula de galactose e outra de
entre os órgãos durante o percurso (GIL, 2006). glicose), maltose (duas moléculas de glicose), rafinose (uma
O crescimento vegetativo é competitivamente molécula de galactose, uma de glicose e uma de frutose).
mais forte em relação às flores e aos frutos recentemente Também outros polissacarídeos podem ser encontrados,
fixados. Essa competição por carboidratos pode como estaquiose (duas moléculas de celulose, uma de
inclusive reduzir a taxa de crescimento e aumentar glicose e uma de frutose), ou açúcares complexos como
a taxa de abscisão das bagas. Os frutos, quando em celuloses e hemiceluloses (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
quantidade acima da capacidade de manutenção da
planta (desequilíbrio vegetativo: produtivo), competem 2.2 Translocação de carboidratos
entre si. Essa competição proporciona taxas reduzidas
de crescimento e de desenvolvimento dos frutos, A distribuição dos fotossintatos depende da força
deficiência na maturação tecnológica e fenólica das do centro produtor de carboidrato (fonte) e da força do
bagas, e também competem por carboidratos com as centro de atração por esses produtos (drenos), sejam
gemas em formação, inibindo a diferenciação floral consumidores ou armazenadores de carboidratos. O
(MART & ROBINSON, 1991). importante é diagnosticar qual desses fatores, fonte
ou dreno, é limitante durante todos os estádios de
2.1.1. Carboidratos desenvolvimento fenológico da videira. Deve-se levar
em consideração que, durante o desenvolvimento
Os açúcares da uva existem em formas solúveis da videira, os fluxos de carboidratos são alterados
ou associadas às paredes celulares (RUFFNER et al., naturalmente ou em resposta às práticas de manejo
1990). A glicose e a frutose (hexoses) constituem a aplicadas (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
maior parte na uva, de 12% a 27% da massa fresca e O ganho em biomassa de um órgão consumidor
99% dos sólidos solúveis totais na maturação de colheita (dreno), em divisão celular, quando ocorre o aumento
(RUFFNER et al. 1990). A relação glicose-frutose se de volume por número de células multiplicadas,
modifica durante a maturação. Essa relação pode está limitado pelo influxo de carboidratos. Por esse
encontrar-se entre quatro e cinco, em bagas imaturas; e motivo, o baixo rendimento produtivo está diretamente
inferior a um ao final da maturação tecnológica (DAVIES, ligado à escassa metabolização de fotoassimilados
ROBINSON, 1996). A maior proporção de frutose ou pelo transporte insuficiente até o órgão dreno.
influencia na percepção de doçura da uva ao fim da Posteriormente, quando o crescimento do órgão
maturação fisiológica. Esse aumento na sensação de se dá por expansão celular, a limitação inicial é
doçura não se deve somente à maior concentração resultante de outros fatores. Dentre eles estão a falta
de açúcares, mas também ao maior poder adoçante de nitrogênio, a baixa mobilização de reservas, a baixa
da frutose. absorção radicular e, por fim, uma possível debilidade
Na uva, também são encontrados açúcares de celular em expandir (baixas concentrações de auxinas
cinco carbonos (pentoses), como harabinose, xilose e e giberelinas), requerendo um rearranjo fisiológico
ribose. Esses açúcares não são fermentescíveis, contudo, específico. A regulação do transporte e da distribuição
em alguns casos podem servir como substrato para de carboidratos e minerais na videira está diretamente
bactérias. O ataque desses açúcares por bactérias origina relacionada à genética e ao manejo aplicado e ambos
diversos compostos que podem modificar a qualidade os fatores oferecem oportunidades para o aumento
dos vinhos. Nos vinhos, ao término da fermentação da produtividade e da qualidade das bagas (GIL,
alcoólica utilizando a glicose e frutose como substrato, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
as pentoses formam os açúcares residuais e podem
50
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Uma alta concentração dos produtos finais A atividade dos órgãos consumidores como
provenientes da fotossíntese, como a glicose e o bagas, pontos de crescimento, folhas novas, câmbio e
amido, causa a inibição do transporte de sacarose. raiz e denominados de drenos, apresenta relação direta
Esse acúmulo é resultante de uma demanda reduzida com o balanço dos fitormônios e com o transporte
dos drenos ou tecidos em desenvolvimento por de água via floema. Os frutos que apresentam baixo
fotoassimilados. Segundo Kriedemann e Wong (1984), potencial da água são favorecidos no influxo de uma
a taxa fotossintética é menor quando as plantas se alta concentração de nutrientes. A partir da virada
encontram em desequilíbrio vegetativo-produtivo, de cor, aumenta significativamente o influxo de
devido à alta relação folha-fruto. O mesmo foi água e carboidratos, via floema, às bagas (SILVA et
registrado por Silva et al. (2008) e Silva et al. (2009), que al. 2009). A atividade dos drenos inclui a descarga
observaram alterações no desenvolvimento do dossel de carboidratos do floema ao apoplasto, absorção
vegetativo-produtivo, resultado da baixa distribuição de através das membranas celulares e a metabolização
carboidratos, tanto com alta quanto com baixa relação ou armazenamento celular nos amiloplastos (GIL,
folha-fruto. PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
A disponibilidade de sacarose é o principal fator Sempre que aumenta a atividade de um órgão
que regula o transporte desse fotoassimilado desde considerado como dreno mais forte, a direção do
as folhas (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). Nesse transporte muda em seu próprio benefício. A direção
processo, a enzima sacarose-fosfato sintetase apresenta do fluxo depende da força dos drenos competidores
um papel importante no processo de transporte. A entre si nos distintos estádios de desenvolvimento
síntese enzimática é influenciada por fatores como fisiológico. Dessa forma, ocorrem várias mobilizações e
fotoperíodo crescente, presença de minerais, demanda remobilizações durante o ciclo vegetativo-produtivo. O
dos drenos, intermediação hormonal e presença do sentido do fluxo é resultante das mudanças nas forças
fósforo inorgânico. Essas condições edafoclimáticas de dreno de um mesmo órgão nos distintos estágios
e de manejo auxiliam indiretamente na formação de fenológicos, originando movimentos em sentidos
sacarose e amido e, dessa forma, na disponibilidade de opostos (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
fotossintatos para o transporte (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, A maior resistência ou menor condutividade
2007). encontra-se nos drenos, especialmente quando não
O fator que regula o transporte de açúcares existem elementos crivosos (floema) diferenciados
desde as folhas é a relação entre o amido e os açúcares ou quando os carboidratos passam pelo simplasto. O
solúveis. Os carboidratos solúveis presentes na célula e transporte via simplasto é significativamente aumentado
acumulados nas organelas são liberados ao citoplasma e quando há um aumento na concentração de cálcio
transportados dali via plasmodesmas até alcançarem as e calmodulina (DIETER, 1984). A distância entre a
células do floema, sendo todo o processo regulado pela fonte e o dreno apresenta importância significativa
força dos drenos. O transporte através da membrana em condição de baixa condutividade. Contudo, caso
celular ao floema é um processo ativo, com gasto o dreno seja de grande volume e fortemente atrativo,
energético e regulado pela ATPase da membrana, com a distância deixa de ser considerada.
um papel fundamental do potássio nesse processo. A A baga é suprida, em sua demanda inicial, pelas
concentração de nutrientes e carboidratos no floema folhas próximas aos cachos. A resistência do floema é
resulta das demandas dos centros consumidores um limitante ao transporte de carboidratos, pois caso
(drenos), respondendo aos sinais fitormonais e de ela seja reduzida, como no caso da exudação, o fluxo
turgescência (MART & ROBINSON, 1991). é aumentado. O aumento da condutividade é uma
resposta ao aumento na produtividade somado ao
aumento da atividade do dreno (GIL, PSZCZÓLKOWSKI,
2007).
51
Balanço de Carboidratos da Videira
2.2.3. Transporte de carboidratos aos órgãos para a atividade da uva, considera-se mais importante
meristemáticos a força gerada por transformações enzimáticas no
protoplasto pela quantidade de amiloplastos, pelo
Os meristemas têm seu crescimento limitado transporte através do tonoplasto e pelo acúmulo
pelo repasse de nutrientes e apresentam aumento em vacúolos, que pode ser superior a 200 mol
significativo diretamente proporcional ao aumento m-3 (BROWN, COOMBE, 1985). Nesses casos, o
na taxa fotossintética. Os frutos são drenos fortes, transporte através do tonoplasto, que é inverso ao
entretanto, possuem clorofila nas etapas iniciais de transporte do plasmalema, constitui um mecanismo
desenvolvimento e fotossintetizam em grande parte de controle do destino dos fotoassimilados. Na uva, é
dos estádios fenológicos (LEBON et al. 2008) (Figura proposto que o transporte através do tonoplasto aciona
15). Contudo, o acúmulo de fotoassimilados nos cachos os complexos enzimáticos da glocosefosfatoisomerase
é de pouca magnitude posto que as inflorescências e e da sacarosefosfatoisomerase (BROWN, COOMBE,
cachos verdes, se expostos à luz direta, podem reciclar 1985).
até 43% do carbono respirado (LEBON et al. 2008). O fluxo de substâncias fotoassimiladas
Apesar de não reciclar 100% do carboidrato respirado, visando ao resultado produtivo depende de alguns
essa fotossíntese nas bagas verdes é muito importante fatores críticos inerentes aos parâmetros citológicos
nas duas fases de seu crescimento. e histológicos. Ou seja, as taxas de produção e
exportação de carboidratos desde a fonte dependem
2.2.4. Mecanismos de regulação do transporte da atividade dos drenos, incluindo a condutividade
de carboidratos hidráulica do simplasto no tecido meristemático e do
transporte através do tonoplasto do órgão dreno em
O transporte de carboidratos às células das expansão ou em armazenamento. O estabelecimento
bagas da uva é promovido por uma baixa pressão da “força” dos órgãos dreno é resultado de uma
de turgescência celular resultante da extensibilidade complexa interação de fitormônios e do estado
da parede celular. A extensibilidade e o transporte nutricional da planta (GIL, PSZCZÓLKOWSKI,
são mediados por fitormônios, principalmente 2007).
auxinas e giberelinas, e na conversão de açúcares e
aminoácidos em forma de reserva. A temperatura 2.3 Reservas
do órgão considerado dreno favorece a atração de
carboidratos quando em um ambiente iluminado (GIL, 2.3.1. Natureza e importância dos
PSZCZÓLKOWSKI, 2007). A grande quantidade de carboidratos
nutrientes descarregada através do plasmalema do
floema ao apoplasto do órgão dreno é um processo Os carboidratos de reserva são aqueles que não
energético ativo (WANG et al. 2003). A descarga foram utilizados, nem na assimilação pelo órgão, nem
desde o apoplasto ao dreno é regulada por fitormônios na respiração entre os órgãos. Esses carboidratos foram
podendo ser reduzida com o aumento dos fitormônios armazenados em organelas especializadas nos diferentes
inibidores, como o ácido abscísico e o etileno e pela órgãos da videira em uma concentração superior a 1%
turgescência, reduzindo com o aumento ao final do da massa seca do tecido (GIL, PSZCZÓLKOWSKI,
ciclo. 2007).
O transporte de açúcares através do A sacarose é reconhecida como o principal
plasmalema das células para as células do órgão carboidrato solúvel da videira e normalmente encontrada
de dreno é regulado pela hidrólise extracelular do no floema. Da mesma forma, o amido é considerado
carboidrato. Essa hidrólise é catalisada por uma como o principal carboidrato insolúvel encontrado no
invertase ácida, estimulada por fitormônios como o xilema. Outros açúcares como glicose e frutose, entre
ácido abscísico e o etileno e pelo contra-transporte de os monossacarídeos e outros sólidos insolúveis, são
prótons e açúcares (WANG et al. 2003). Entretanto, de ocorrência comum. No total, os carboidratos de
52
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
reserva variam entre 20% e 40% do total de um órgão de amiloplastos. Essas células estabelecem rápida
ou tecido (GIL, 2006). associação com a água em sarmentos, troncos e raízes.
A importância das reservas para a manutenção A concentração de carboidratos é maior no floema em
da videira é clara, mesmo que os tecidos beneficiados comparação ao xilema; contudo, pela maior proporção
e o momento da utilização variem segundo o hábito de xilema, a quantidade total torna-se equivalente (GIL,
de desenvolvimento das cultivares e das condições PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
edafoclimáticas. As maiores concentrações de carboidratos
A sobrevivência hibernal, ou em qualquer de reserva se encontram nos tecidos da raiz. Nesse
período de recesso no crescimento, requer a presença órgão, os carboidratos são acumulados desde que
de açúcares. Esses carboidratos são utilizados para as brotações alcancem o desenvolvimento ótimo
aumentar a resistência da videira ao frio, como forma tornando-se autotróficas. O aumento na concentração
de substrato para a respiração, manutenção e para as torna-se linear após esse período, alcançando o máximo
mudanças bioquímicas e morfológicas que venham acúmulo próximo à maturação fisiológica dos frutos.
a ocorrer. A atividade do câmbio antes da brotação A partir desse estádio fenológico, a concentração
ou reinício da atividade depende desses carboidratos de fotoassimilados reduz, desde a maturação dos
de reserva. O primeiro crescimento dos sarmentos sarmentos até a queda das folhas. A fotossíntese,
e brotações ocorre sob a condição de carboidratos ao final do ciclo vegetativo-produtivo, é importante
de reserva como fonte energética. Em qualquer caso, para a formação das reservas, especialmente nas
o primeiro uso das reservas de fotoassimilados por raízes e gemas francas. Por esse motivo, o tempo de
uma fonte se dá desde um local próximo ao dreno e, permanência das folhas biologicamente ativas após a
sucessivamente, de outros locais mais distantes (GIL, colheita é de extrema importância. A maior atração das
PSZCZÓLKOWSKI, 2007). raízes por carboidratos se deve à maior atividade após
a redução do desenvolvimento do dossel e coincide
2.3.2. Localização na planta com o terceiro momento de crescimento radicular, em
pós-colheita (SMART & ROBINSON, 1991).
Os tecidos de reserva são aqueles que O transporte desde o dossel vegetativo até as raízes
possuem células vivas, principalmente o parênquima é realizado via floema, entretanto, quando é realizado
do floema, os elementos e as células companheiras desde as raízes em direção ao dossel, o transporte ocorre
e os raios parenquimáticos do xilema denominados principalmente via xilema e é muito importante para o
53
Balanço de Carboidratos da Videira
primeiro crescimento das brotações. Parte do carbono Segundo Yang e Hori (1979), a brotação
que é transportado das raízes até o dossel inclui, além de torna-se autossuficiente em carboidratos quando se
carboidratos solúveis, os aminoácidos e ácidos orgânicos. desenvolve uma área foliar referente a dez folhas, visto
O floema não serve como via de transporte durante a que o ápice de crescimento necessita de uma área
dormência. No momento da brotação, a seiva do xilema foliar correspondente a três folhas desenvolvidas para
contém carboidratos solúveis em baixa concentração, sua manutenção.
provenientes dos raios parenquimáticos (amiloplastos). A Entretanto, em situações de qualquer tipo de
pressão positiva inicial resultante do potencial osmótico no estresse que resulte na redução do crescimento, a
xilema e a transpiração nas gemas (mínima) e nas folhas, demanda da brotação por carboidratos aos 17 dias
enquanto em desenvolvimento, são forças motoras da após a brotação pode ser suprida com uma área foliar
água e carboidratos (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). de apenas 50 cm2 (YANG, HORI, 1979).
A taxa fotossintética das inflorescências
2.4 Evolução dos carboidratos em relação decresce, desde sua aparição até atingir a floração,
ao ciclo vegeto-produtivo devido à redução na concentração de clorofila
(PALLIOTTI, CARTECHINI, 2000). As inflorescências
2.4.1. Fluxo de carboidratos da brotação à importam carboidratos desde as reservas, na forma
floração de sacarose, que entra no cacho. A concentração de
carboidratos na seiva é reduzida a um terço próximo à
No início do desenvolvimento, entre duas a três floração, aumenta pouco mais que o dobro no início da
semanas após a brotação, os carboidratos provêm frutificação, decrescendo também a concentração de
das reservas presente em toda a parte estrutural da amido durante a floração (LEBON et al. 2008).
videira. As folhas primárias passam a ser fonte de
fotoassimilados somente quando ultrapassam 50% 2.4.2. Fluxo de carboidratos da frutificação à
do seu volume final (Figura 16). O transporte acrótono, virada de cor das bagas
direcionado ao ápice em crescimento ativo e às folhas
em desenvolvimento, ocorre a uma velocidade de 30 cm Desde a frutificação até a virada de cor das
h-1 (WILLIAMS, TROUT, 2005). Nessa etapa, a prática bagas, os carboidratos elaborados nas folhas medianas
de manejo da incisão anelar pode debilitar a brotação do sarmento dirigem-se de forma acrótona nutrindo o
ao evitar a chegada de carboidratos às brotações desde ápice e folhas em ativo desenvolvimento. Entretanto,
os sarmentos e tronco. as folhas da base do sarmento exportam o carboidrato
A demanda máxima por carboidratos ocorre de forma basípeta, direcionado ao próprio sarmento
quando a brotação apresenta uma média de oito folhas. e, de forma crescente, aos cachos. Essa logística de
Nesse estádio fenológico, a folha da videira é lenta na distribuição ocorre até que 70% dos carboidratos
assimilação do CO2 e na translocação dos carboidratos, sejam direcionados aos cachos e 30% ao sarmento.
registrando uma taxa de 5,1 µmol m-2 s-1 (WILLIAMS, Esse momento corresponde ao estádio fenológico 75
1996). (LORENZ et al. 1995), quando as bagas apresentam
Quando ao menos cinco folhas estão um diâmetro entre 8 a 10 mm (ervilha) (LEBON et al.,
completamente expandidas (EF15) (LORENZ 2008) (Figura 18).
et al. 1995), a folha mais desenvolvida e basal Nesse estádio fenológico, as partes terminais
inicia o processo de translocação de carboidratos do ápice do sarmento competem por carboidratos
no sarmento estabelecendo um movimento com os cachos. Pouco antes de EF75 (LORENZ et al.
bidirecional. Quanto mais o sarmento se desenvolve, 1995), recomenda-se o desponte como prática de
por conseguinte, mais folhas tornam-se fontes, os manejo em verde em plantas de baixo a médio vigor.
fotoassimilados são translocados bidirecionalmente Sob essas condições de vigor, preconiza-se realizar o
até alcançar o pleno florescimento (EF65) (LORENZ desponte entre os estádios fenológicos EF73, quando
et al. 1995) (Figura 17). as bagas apresentam um diâmetro entre 3 e 5 mm
54
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 16 (no alto). Desenvolvimento fenológico da videira X fluxo de carboidratos desde EF14 a EF18
segundo Lorenz et al. (1995).
Fonte: Smart, Robinson, 1991.
Figura 17 (acima) . Desenvolvimento fenológico da videira X fluxo de carboidratos desde EF10 a EF61
segundo Lorenz et al. (1995).
Fonte: Smart & Robinson, 1991.
55
Balanço de Carboidratos da Videira
Figura 18 (no alto). Desenvolvimento fenológico da videira X fluxo de carboidratos desde EF65 a EF75
segundo Lorenz et al. (1995).
Fonte: Smart, Robinson, 1991.
Figura 19 (acima). Desenho esquemático do desenvolvimento fenológico da videira X fluxo de
carboidratos (EF 75 a EF 91) (Lorenz et al. 1995).
Fonte: Smart, Robinson, 1991.
56
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
(chumbinho) e EF75, quando o diâmetro encontra- As folhas basais, nesses estádios fenológicos de
se entre 8 e 10 mm (ervilha). Caso a condição de desenvolvimento, apresentam uma taxa fotossintética
vigor das plantas seja excessiva, o desponte deve ser decrescente e um estado biológico dirigindo-se
realizado, preferencialmente, próximo à virada de cor à inatividade. Ao serem retiradas, outras folhas são
das bagas EF85. Ao adotar essa técnica de manejo, “forçadas” a realizar fotossíntese de forma mais efetiva.
ocorrerá uma translocação de carboidratos de forma Por serem folhas mais novas cronologicamente, e
temporária em direção a drenos que competem com biologicamente mais ativas, ocorre um aumento
o cacho por carboidratos. O redirecionamento do significativo na taxa fotossintética. Essa melhora
fluxo de carboidratos destinados ao desenvolvimento fotossintética também é resultante do aumento na
das feminelas ocorre em um momento em que o intensidade luminosa que chega às outras folhas do
maior dreno na planta é o cacho. Essa mudança na dossel vegetativo interno da videira, resultante da própria
relação fonte-dreno poderá resultar em um retardo desfolha.
na maturação das bagas; entretanto, sob essas
condições de vigor, caso o desponte seja realizado de 2.4.3. Fluxo de carboidratos desde a virada
forma antecipada, todos os problemas relacionados à de cor à colheita
qualidade enológica das bagas decorrentes do excesso
de vigor, serão potencializados (SMART & ROBINSON, Após a virada de cor, os carboidratos elaborados
1991). pelas folhas e parte das novas reservas armazenadas nos
O anelamento do tronco visando ao sarmentos e troncos se dirigem em grande proporção
aumento do diâmetro das bagas deve ser aplicado, aos cachos, podendo alcançar 40% do total produzido
preferencialmente, nos estádios fenológicos próximos (KOBELET et al. 1994). Nesse estádio fenológico, o
ao pegamento dos frutos (Fruit set) EF71 (LORENZ et movimento acrotônico de carboidratos às folhas e
al. 1995). Essa prática causa o cessamento do fluxo movimento basípeto em direção ao tronco e raízes é
basípeto de seiva elaborada a partir do corte realizado reduzido. O maior aporte de carboidratos aos cachos
no tronco. Ao eliminar a translocação de seiva elaborada ocorre ao se aproximar da maturação fisiológica.
aos órgãos inferiores da videira, temos como resultado Nesse estádio, as principais folhas a contribuírem para
a concentração temporária de carboidratos no dossel o enchimento das bagas encontram-se na região central
vegetativo. O aumento temporal na concentração de e apical dos sarmentos, incluindo as folhas de feminelas
fotoassimilados próximo às bagas promove um aumento quando devidamente iluminadas (Figura 19).
na divisão celular nas bagas e, consequentemente, um A produção de biomassa até a maturação
aumento no tamanho e massa do cacho no momento fisiológica das bagas varia conforme as condições
da colheita (Figura 18). edafoclimáticas da região de cultivo. Essa produção é
O influxo de carboidratos nos cachos é realizado, maior em regiões de altitude em comparação às regiões
preferencialmente, desde as folhas mais próximas a eles, quentes e secas. O cacho “importa” 80% do carbono
sejam distais ou basais. A desfolha realizada de forma “exportado” pelas folhas, mesmo participando com
excessiva e em estádios fenológicos não favoráveis apenas 25% da matéria seca produzida pela videira
ao desenvolvimento do cacho age de forma negativa (BOTA et al. 2004).
em relação à qualidade das bagas. Contudo, essa A última desfolha, realizada em média um
prática de poda em verde é necessária e, se realizada mês antes da colheita, resulta em um esgotamento
em estádios fenológicos específicos, é extremamente das reservas de carboidrato em brotações em Vitis
efetiva (SMART & ROBINSON, 1991). Recomenda-se vinifera. Essas reservas são parcialmente repostas pela
realizar a retirada das folhas basais entre os estádios fotossíntese de novas folhas formadas, incluindo folhas
fenológicos EF69 (fim da floração) e EF73, quando iluminadas de feminelas. Contudo, uma desfolha prévia
as bagas apresentam um diâmetro entre 3 e 5 mm à colheita apresenta efeitos não significativos sobre as
(chumbinho) (Figura 18). reservas das brotações (MARANGONI, et al. 1980).
57
Balanço de Carboidratos da Videira
58
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
As folhas apresentam o maior custo biológico DAVIES, C.; ROBINSON, S. P. Sugar accumula-
de produção alcançando 1,4 gramas de glicose/ tion in grape berries. Cloning of two putative
grama de biomassa -1 mantendo-se uniforme vacuolar invertase cDNAs and their expres-
durante o desenvolvimento da videira. Quando sion. In grapevine tissues. Plant Physiology.
analisado o custo biológico das bagas, essas n.111, 275-283, 1996.
apresentam um custo energético decrescente,
com uma média de 1,1 g de glicose g de DIETER, P. Calmodulin and calmodulin-medi-
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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61
3. Desenvolvimento Vegetativo
da Videira em Região de
Elevada Altitude do Estado de
Santa Catarina
Marcelo Borghezan
Monica Canton
Tatiane Carine da Silva
Larissa Villar
Aparecido Lima da Silva
62
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
3.1 Introdução
O
intervalo de tempo entre o início da brotação e a queda das folhas define o ci-
clo de desenvolvimento da videira, que pode ser dividido em vários estádios
fenológicos como o proposto por Baggiolini (BAILLOD, BAGGIOLINI, 1993;
FREGONI, 1999) e no modelo BBCH (LORENZ et al. 1995; MEYER, 2001).
O tempo em que as plantas permanecem sem crescimento visível ou em suspensão tem-
porária do crescimento de estruturas contendo meristemas define o período de repouso
vegetativo ou estádio de dormência (LANG, 1987; LAVEE, MAY, 1997).
O ciclo de desenvolvimento da videira também pode ser dividido em duas fases,
ciclo vegetativo e ciclo reprodutivo, como proposto por Fregoni (1999). O modelo de
Baggiolini divide o ciclo fenológico da videira em 16 fases, designadas pelas letras de A a
P (BAILLOD, BAGGIOLINI, 1993). A escala Biologische Bundesanstalt, Bundessortenamt
and Chemical Industry (BBCH), é um sistema que codifica de forma uniforme os estádios
fenológicos para várias espécies de plantas de interesse agrícola (monocotiledôneas e
dicotiledôneas). Este sistema está organizado em códigos decimais, dividindo os estádios em
principais e secundários, sendo de 0 a 9 em ambos os casos. Alguns dos princípios básicos
observados na elaboração desta escala são: a escala varia de 00 a 99; a identificação dos
estádios fenológicos é reconhecida por características morfológicas facilmente visualizadas;
os códigos decimais principais (0 a 9) identificam os estádios fenológicos principais; os
códigos decimais secundários (0 a 9) indicam a subdivisão dentro de cada estádio fenológico
principal (MEYER, 2001).
A determinação dos estádios fenológicos é realizada visualmente, sendo que o ciclo
pode ser dividido em três períodos principais, identificados quando 50% das gemas, das
flores ou das bagas alcançam cada evento (LEEUWEN et al. 2004; DUCHÊNE, SCHNEIDER,
2005).
A brotação é o início do desenvolvimento dos ramos, das folhas e das estruturas
florais, a partir da mobilização das reservas acumuladas nos ramos e raízes no ciclo anterior.
Neste período, as plantas iniciam as atividades fotossintéticas, transitando de uma fase
heterotrófica para autotrófica (DUCHÊNE, SCHNEIDER, 2005). A floração é uma segunda
importante fase do ciclo fenológico da videira. Após a polinização e a fixação dos frutos
(fruit set), a formação das bagas prossegue pelo aumento do tamanho, resultado da divisão
celular e do acúmulo de reservas (CONDE et al. 2007). A terceira fase é a maturação, que
inicia com o amolecimento das bagas (variedades brancas e tintas) e a mudança de cor das
bagas (variedades tintas), conhecida também pelo termo francês véraison, e se estende até
a colheita da uva madura. Nesta fase, ocorrem muitas transformações físicas e bioquímicas,
alterando a coloração, a consistência, o tamanho e a composição química e aromática das
bagas (COOMBE, MCCARTHY, 2000; ROBINSON, DAVIES, 2000; CONDE et al. 2007).
O acompanhamento dos estádios fenológicos da videira é uma dos metodos que
possibilita determinar a adaptação das plantas à região de cultivo (JONES, DAVIS, 2000).
Além disso, seu acompanhamento possibilita o planejamento das atividades de manejo, o
conhecimento da variação varietal, a comparação entre as regiões de produção e a estimativa
da data de colheita (FREGONI, 1999; DUCHÊNE; SCHNEIDER, 2005).
63
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
64
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A área foliar do ramo foi resultado da soma geral, as feminelas possuem menos de cinco folhas e se
da área das folhas dispostas no ramo principal desenvolvem até a 20ª e 30ª folha localizada no ramo
(cerca de 65%) e da área das folhas distribuídas nas principal. Em ambos os ciclos avaliados, observou-se
brotações laterais (feminelas), que representaram o mesmo padrão de desenvolvimento de expansão
aproximadamente 35% do total. Proporção das folhas (Figuras 20 e 21) e desenvolvimento das
semelhante entre a área foliar dos ramos principais e brotações laterais.
das feminelas também foi observada por Vasconcelos A manutenção do equilíbrio entre o
e Castagnoli (2000). Quanto à área foliar total crescimento vegetativo (folhas), a capacidade
por planta, existem trabalhos que relatam valores produtiva (cachos) e o acúmulo de reservas (ramos
semelhantes (ZOECKLEIN et al. 2008), inferiores e raízes) favorece os processos de formação e
(VASCONCELOS, CASTAGNOLI, 2000; PETRIE et maturação da uva (KLIEWER, DOKOOZLIAN,
al. 2003; BURIN et al. 2011) e superiores (HUNTER, 2005). Em situações de baixo vigor, o raleio dos
2000) aos observados neste estudo. cachos é uma prática realizada visando melhorar
a composição da uva e as características sensoriais
Tabela 5. Distribuição da área foliar para dos vinhos (CHAPMAN et al. 2004). Em condições
diferentes variedades de videira cultivadas em de elevado vigor, o manejo do dossel para controlar
São Joaquim/SC, Brasil. o excessivo crescimento vegetativo tem efeito
Fonte: Borghezan, 2010. significativo sobre a maturação das bagas (PONI,
2003) e na qualidade dos vinhos (KLIEWER,
Área foliar (m2/metro linear)* DOKOOZLIAN, 2005).
Variedade Brotações Quanto ao manejo, a manutenção de uma
Total Ramo principal laterais
carga de gemas por planta adequada apresenta efeito
Sauvignon Blanc 11,06 a 7,15 a 3,91 a definitivo na busca de ciclos vegetativos mais desejáveis,
Merlot 9,69 b 6,31 b 3,38 b sendo uma estratégia realizada na poda de inverno
(SANTOS, 2006). A regulação do equilíbrio das plantas,
Cabernet Sauvignon 8,11 c 5,20 c 2,91 c realizada através do desponte dos ramos é uma das
*Os valores representam a média observada nos ciclos 2005/2006 e práticas de manejo mais utilizadas em todas as regiões
2006/2007 (n=20). Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem vitícolas do mundo, durante o período vegetativo e
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade de erro. produtivo (PONI, 2003). Estes autores descrevem que
a época e a severidade desta prática afetam o processo
de maturação e a composição final da uva, sendo que
A análise da área de cada folha ao longo do ramo esta é uma prática paliativa na regulação do equilíbrio
da videira indica que, à exceção das três primeiras folhas das plantas.
basais, as maiores folhas se encontram no terço basal Muitos autores concordam que os valores
dos ramos, diminuindo gradativamente a partir da 15ª mais adequados de área foliar variam de 10 a 14
a 20ª folha dos ramos principais (Figuras 20 e 21). As cm2 por grama de uva (1,0 a 1,4 m2 kg -1) (SMART,
folhas mais apicais apresentam redução no tamanho 1985; HUNTER, 2000; PETRIE et al. 2003; PONI,
com o afastamento da base de inserção do ramo. 2003; KLIEWER, DOKOOZLIAN, 2005). Entretanto,
As feminelas são brotações laterais que se a maturação da uva e o acúmulo de açúcares
desenvolvem a partir de gemas secundárias, localizadas em níveis considerados adequados também
nas axilas das folhas distribuídas nos ramos principais, e foram observados com valores maiores que este
que vegetam no mesmo ciclo em que foram formadas referencial (INTRIERI, FILIPPETTI, 2007).
(MOTA et al. 2008). Em relação às brotações laterais nos Em estudo realizado no Planalto Serrano (Figura
ramos, observou-se, neste estudo, que o crescimento 22), Borghezan (2010) não observou alterações
das feminelas foi mais intenso na região basal dos importantes nos teores de sólidos solúveis totais, acidez
ramos (até próximo à 10ª folha). A partir desta, em total e valores de pH, durante a maturação das bagas
65
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 20. Área média de cada folha ao longo do ramo principal da videira cultivada em
São Joaquim/SC, durante o ciclo 2005/2006 (n=20).
Fonte: Borghezan, 2010.
Merlot
200,0 Sauvignon Blanc
Área da folha (cm2)
150,0
100,0
50,0
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39
Figura 21. Área média de cada folha ao longo do ramo principal da videira cultivada em
São Joaquim/SC, durante o ciclo 2006/2007 (n=20).
Fonte: Borghezan, 2010.
300,0
Cabernet Sauvignon
250,0 Merlot
Sauvignon Blanc
Área da folha (cm )
2
200,0
150,0
100,0
50,0
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38
para as variedades Merlot e Cabernet Sauvignon. Porém, que as plantas podem ser mantidas com valores de
diferenças significativas foram observadas nas análises área foliar entre 3,0 e 3,4 m2 kg de uva-1.
sensoriais dos vinhos, principalmente relacionados aos Segundo Valdivieso (2005), o manejo da
aromas frutados e vegetais. Valores intermediários de área foliar pode ser diferenciado de acordo com
área foliar (cerca de 2,0 a 2,5 m2 kg de uva-1) foram as a variedade, sendo que em média, o número de
condições mais adequadas neste estudo, não limitando folhas por ramo deve permanecer entre 14 e 16
a maturação das bagas e com a melhor avaliação na para possibilitar condições fotossintéticas mínimas
análise sensorial dos vinhos. Entretanto, estes índices e não comprometer a maturação das bagas. Outros
não podem ser considerados conclusivos em razão autores sugerem que este valor pode ser ainda
das limitações relacionadas com a reduzida produção menor, sendo que Poni (2003) recomenda que
por planta, observadas durante o desenvolvimento este número pode ser de 12 folhas por ramo sem
deste estudo. comprometer a taxa fotossintética e a composição
Em relação aos compostos fenólicos, Brighenti da uva. Santos (2006) sugere que se mantenha
et al. (2010) observaram alterações importantes em uma proporção entre 10 e 15 folhas/cacho para
relação ao manejo do dossel vegetativo, concluindo variedades viníferas.
66
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
67
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
de açúcares e de compostos fenólicos nas bagas semelhante do padrão de crescimento vegetativo foi
(CONDE et al. 2007), processo importante durante realizada por Fregoni (1999), sugerindo que a máxima
a maturação da uva. Entretanto, outros hormônios taxa de crescimento ocorre próximo a fase de antese.
estão associados e agem conjuntamente com o ABA Este autor também relata que diferenças no vigor
na regulação da maturação (CONDE et al. 2007). das plantas, fatores nutricionais e a disponibilidade
Tregoat et al. (2002) observaram efeito hídrica podem alterar o comprimento e a intensidade
significativo entre a precocidade de paralisação do do crescimento dos ramos.
crescimento vegetativo dos ramos e a concentração de Estes resultados relativos ao padrão de
ácido málico, antocianinas e polifenóis na composição crescimentos estão de acordo com Tregoat et al.
da uva. Desta forma, verifica-se a associação feita nas (2002) e Leeuwen et al. (2004) que consideraram
regiões onde a videira cessa o crescimento durante que os ramos cessaram o crescimento quando a
a maturação, com a qualidade das uvas e vinhos taxa de crescimento foi menor que 5 mm/dia. Em
produzidos. Sob estas condições, tanto o acúmulo de ambos os ciclos avaliados, a redução do fotoperíodo
açúcares como de compostos fenólicos são favorecidos, e a ocorrência de temperaturas mais baixas (<10ºC)
resultando em bagas com maior teor de sólidos foram os fatores determinantes para a induzir a
solúveis totais e vinhos com coloração e estrutura mais paralisação do crescimento dos ramos na região de
intensa. Estas descrições correspondem aos resultados São Joaquim. Os resultados observados neste estudo
observados na composição da uva produzida na região estão de acordo com os estabelecidos em ciclos
de São Joaquim, determinando alta intensidade de cor, anteriores (BORGHEZAN et al. 2012b).
de compostos fenólicos totais e de antocianinas na A partir do início da maturação das bagas, os
uva (FALCÃO et al. 2008; GRIS et al. 2010; BURIN et ramos iniciaram a lignificação, o ápice dos ramos e
al. 2011), sendo estas as principais características que as brotações laterais cessaram o crescimento e as
diferenciam os vinhos desta região (MIELE et al. 2010). folhas iniciaram o processo de senescência. Esta
Em estudo realizado em São Joaquim observação é compatível com a descrição de Victor
(BORGHEZAN et al. 2012a), o comprimento dos et al. (2010) sobre a ativação do mecanismo de
ramos foi ajustado segundo o modelo polinomial, entrada em dormência.
observando-se um período de crescimento mais O acompanhamento das plantas cultivadas
lento nas primeiras semanas após a brotação, com em São Joaquim, em diferentes ciclos vegetativos
aumento linear a partir dos 20 dias e redução no possibilitou observar pequenas variações em relação
desenvolvimento aproximadamente a partir dos 90 ao estádio fenológico e/ou data em que a paralisação
dias. Com o início da mudança de cor das bagas do crescimento dos ramos está ocorrendo. Neste
(próximo aos 130 dias após a brotação) verificou-se sentido também se tem observado que outras
a redução do desenvolvimento e a paralisação do variedades apresentam padrão semelhante de
crescimento dos ramos ao final de fevereiro/2012, desenvolvimento. Observou-se ainda, para variedades
período que coincidiu com a maturação das bagas mais precoces, uma restrita retomada no crescimento
(Figura 23). O comprimento médio dos ramos da dos ramos logo após a colheita.
variedade Merlot foi de 330 cm, sendo superior ao Outro aspecto importante se relaciona com
da Cabernet Sauvignon com 292 cm e Sauvignon as variações observadas em ramos com diferenças
Blanc com 214 cm. de vigor vegetativo. Os ramos com menor
A taxa de crescimento dos ramos seguiu o crescimento e, em geral, com menor diâmetro,
mesmo padrão para todas as variedades estudadas. apresentam redução da atividade meristemática
No início da brotação, os valores eram baixos com apical mais antecipada em relação aos demais
0,4 cm/dia, sendo que 45 dias após foi observada a ramos. Ramos extremamente longos e vigorosos
maior taxa de crescimento dos ramos, com 2,4 cm/ (podendo chegar a mais de 4 m de comprimento)
dia para a Sauvignon Blanc e valores acima de 3,5 cm/ podem manter-se em crescimento vegetativo por
dia para as variedades tintas (Figura 24). Descrição um período mais longo.
68
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 23. Crescimento do ramo principal (cm) das variedades Sauvignon Blanc, Merlot e Cabernet
Sauvignon cultivadas em São Joaquim/SC, durante o ciclo vegetativo 2011/2012 (n=20).
Fonte: Borghezan et al. 2012a.
350,0
Sauvignon Blanc
300,0 Merlot
Comprimento do
200,0
150,0
100,0
50,0
0,0
1
2
12
12
11
11
11
11
11
1
01
01
1
20
20
20
20
20
20
20
0
0
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/
/
2/
3/
/9
10
11
/1
/1
/2
/3
0
7/
6/
/1
/1
/1
/1
/1
20
10
24
21
20
4/
1/
18
15
29
13
27
Figura 24.Taxa de crescimento do ramo principal (cm/dia) das variedades Sauvignon Blanc, Merlot e
Cabernet Sauvignon cultivadas em São Joaquim/SC, durante o ciclo vegetativo 2011/2012 (n=20).
Fonte: Borghezan et al. 2012a.
3,5 Merlot
3,0 Cabernet Sauvignon
ramo (cm/dia)
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
1
2
12
12
11
11
11
11
11
1
01
01
1
20
20
20
20
20
20
20
0
0
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/
/
2/
3/
/9
10
11
/1
/1
/2
/3
0
7/
6/
/1
/1
/1
/1
/1
20
10
24
21
20
4/
1/
18
15
29
13
27
3.4 Ontogenia das folhas (PONI et al. 1994), resultado do avanço da senescência
foliar (Figura 25).
Cerca de 30 a 40 dias são necessários para A quantidade e distribuição das folhas no
a completa expansão do limbo foliar, alcançando o dossel e a interação com as condições meteorológicas
seu máximo tamanho. A taxa de assimilação segue o determinam o microclima gerado no vinhedo. A radiação
mesmo padrão, sendo inicialmente baixa (ponto de tende a decrescer no perfil do dossel, com o aumento
compensação próximo aos 8 dias ou 1/3 do tamanho das camadas de folhas a partir do exterior (SANTOS,
final) e entre os 35 e 40 dias atinge valores máximos 2006). A eficiência de interceptação depende, além da
(PONI et al. 1994; FREGONI, 1999; BERTAMINI, área foliar, do ângulo foliar e do nível de sombreamento
NEDUNCHEZHIAN, 2003). Aproximadamente a partir no interior da copa. A taxa de fotossíntese também
dos 60 dias, estes autores relatam que a taxa fotossintética varia de acordo com a idade e a posição das folhas ao
reduz lentamente durante o envelhecimento das folhas. longo dos ramos, sendo as folhas jovens mais ativas na
Os teores de clorofila aumentam até os 70-80 dias após produção de carboidratos (FREGONI, 1999).
a abertura da folha, reduzindo com o envelhecimento A paralisação do crescimento dos ramos está
delas e apresentando declínio significativo após 120 dias relacionada com a senescência da região apical (CHAO
69
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 25. Evolução da coloração das folhas durante o ciclo de crescimento da videira em São Joaquim, SC.
Acima, da esquerda para a direita: folhas maduras e folhas em estágio inicial e final de senescência. Abaixo,
ilustração de ramos em crescimento, em lignificação, em senescência e em dormência (queda completa
das folhas).
Fonte: Elaborado por Borghezan, M., 2019.
et al. 2007). A maior proporção de folhas adultas, em à eficiência fotossintética das plantas (BERTAMINI,
consequência da redução da relação entre folhas jovens NEDUNCHEZHIAN, 2003). A degradação dos
e adultas, e as condições climáticas desfavoráveis ao pigmentos foliares durante o avanço da senescência
crescimento (dias curtos e temperaturas amenas) das folhas reduz a taxa de fotossíntese nas fontes, o que
possibilitam o aumento da concentração de ácido altera a distribuição de fotoassimilados entre os drenos
abscísico (ABA) (FOURNIOUX, 1997). Este hormônio (BERTAMINI, NEDUNCHEZHIAN, 2003). As diferenças
está associado ao processo de dormência, diminuindo na coloração das folhas em diferentes estádios de
a atividade meristemática no ápice dos ramos desenvolvimento são ocasionadas pela concentração
(FOURNIOUX, 1997; CHAO et al. 2007; OLSEN, das clorofilas e pela presença e distribuição variável de
2010), além de estar relacionado com o processo de outros pigmentos associados, como os carotenoides
maturação das bagas (ROBINSON, DAVIES, 2000; (LASHBROOKE et al. 2010). A dinâmica de senescência
CONDE et al. 2007). das folhas sinaliza o avanço dos processos relacionados
As clorofilas são os pigmentos responsáveis com a entrada em dormência (GARRIS et al. 2009)
pela captação da radiação que posteriormente (Figura 25).
será convertida em energia química (compostos A avaliação da concentração de pigmentos
de Carbono) utilizada para o desenvolvimento das foliares para as principais variedades de videira cultivadas
plantas. Estes pigmentos estão diretamente relacionados em São Joaquim (SILVA et al. 2012) mostraram que
70
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
71
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 26. Evolução da concentração de pigmentos foliares observados durante o ciclo vegetativo
2011/2012 para variedade Cabernet Sauvignon cultivada em São Joaquim/SC (n=10).
Fonte: Silva et al. 2012.
Clorofila a
2,5 0,7
(mg/grama folha fresca)
Clorofila b
Carotenóides 0,5
1,5
fresca)
0,4
1,0 0,3
0,2
0,5
0,1
0,0 0,0
12
12
12
11
11
1
2
01
01
01
01
01
01
01
01
20
20
20
20
20
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
1/
2/
1/
3/
5/
12
/1
/2
/2
/3
/3
/4
/4
4/
8/
9/
/1
/1
18
15
29
14
26
11
23
7/
19
19
Figura 27. Relação entre a taxa de fotossíntese (µmol CO2 m-2 s-1) e os teores de pigmentos foliares
(µg mL-1) da variedade Cabernet Sauvignon cultivada em São Joaquim, SC, durante o ciclo vegetativo
2011/2012. (n=30).
Fonte: Villar et al. 2012a.
2
2,0 Clorofila Total y = 0,0966x - 0,2026 R = 0,95
Teor de pigmentos foliares
(mg/g de folha fresca)
1,0
0,5
0,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0
uva. O ciclo de desenvolvimento está demonstrado de floração, as folhas basais apresentam teor de
em relação aos principais estádios fenológicos e clorofila estabilizado e a capacidade fotossintética
também apresentado nos meses ao longo do ano. total da planta está em expansão.
A brotação ocorre durante o mês de O desenvolvimento das bagas, após a
setembro, com variações entre os ciclos devido floração, inicia uma fase competitiva entre os drenos
ao acúmulo de unidades de frio no inverno e à (meristemas de crescimento e cachos), apresentando
ocorrência de temperaturas acima da temperatura redução gradativa na taxa de crescimento dos ramos.
base (10ºC). A primeira fase de crescimento é A formação das bagas compreende as fases de
delimitada da brotação até a floração, onde se divisão e elongação celular, resultando no aumento
verifica o período de máxima taxa de crescimento do número e volume das células, e a diferenciação
dos ramos. Neste período, observa-se o início do celular, estruturando os tecidos da baga. Nas bagas
crescimento dos ramos e a expansão das folhas são acumulados compostos químicos originados
basais, e o desenvolvimento das inflorescências e do processo fotossintético (folhas) e translocados
o final de formação das flores. Próximo ao período até os cachos. Neste período, também se inicia o
72
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
desenvolvimento das sementes (verificar no capítulo dos ramos (paralisação do crescimento dos ramos,
sobre Desenvolvimento e Maturação). O início da lignificação dos ramos). Em geral, estes eventos
lignificação dos ramos e a degradação de clorofila ocorrem durante o mês de fevereiro, período este em
nas folhas basais também são observados durante que já se verifica redução significativa no fotoperíodo
este período (BORGHEZAN, 2016). e a ocorrência de temperaturas noturnas (mínimas)
A partir do início da maturação das bagas, abaixo de 10ºC. Quanto às características climáticas,
verificam-se alterações importantes na composição a partir de março observa-se redução nos níveis de
da uva (massa das bagas, teores de açúcares, ácidos precipitação pluvial, condição esta que possibilita
orgânicos e compostos fenólicos) e no crescimento o avanço da maturação das bagas. Nesta região,
73
Desenvolvimento Vegetativo da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
as bagas são expostas a temperaturas mais amenas melhor entendimento sobre o comportamento da
induzindo processos mais lentos de maturação. A videira nas condições climáticas desta recente região
Sauvignon Blanc apresenta colheita mais precoce vitícola brasileira.
em comparação às variedades tintas (Cabernet
Sauvignon e Merlot). A colheita da variedade branca 3.6 Agradecimentos
ocorre, geralmente, em meados de março, sendo
próxima ao período observado em que ocorre a À Villa Francioni Agronegócios S.A., por
paralisação do crescimento dos ramos. Já para as ceder parte de seus vinhedos para a realização
variedades tintas, a maturação das bagas pode se das coletas de campo. À CAPES - Coordenação de
estender até o mês de abril. A partir de março também Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo
se observa a redução no teor de clorofila e o avanço suporte financeiro e pela bolsa de pós-doutorado. Ao
do processo de senescência inicialmente nas folhas Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos
basais dos ramos (BORGHEZAN, 2016). Vegetais - CCA/UFSC, pelo vínculo institucional.
A partir de abril, as temperaturas são mais
baixas e observa-se eventualmente a ocorrência de 3.7 Referências
geadas. Neste período, os ramos estão completamente
lignificados, as folhas basais se encontram em estado BAILLOD, M.; BAGGIOLINI, M. Les stades repères de
avançado de senescência e as folhas mais apicais la vigne. Revue Suisse de Viticulture, Arboriculture et.
apresentam redução significativa de coloração verde. Horticulture, v. 25, n. 1, p. 7-9, 1993.
Com a evolução da maturação, diminui a demanda
nos drenos e a atividade nos órgãos fonte, havendo BERTAMINI, M.; NEDUNCHEZHIAN, N. Photosyn-
redução da fotossíntese e degradação de pigmentos thetic functioning of individual grapevine leaves (Vitis
fotossintéticos durante a senescência foliar. No período vinifera L. cv. Pinot noir) during ontogeny in the field.
entre meados de maio e início de junho observa-se a Vitis, v. 42, n. 1, p. 13-17, 2003.
queda total das folhas. A dormência se mantém até o
final do inverno, seguido pela brotação e reinício do BORGHEZAN, M. Comportamento ecofisio-
próximo ciclo de produção (BORGHEZAN, 2016). lógico da videira (Vitis vinifera L.) cultivada
Estes modelos não são rigorosamente em São Joaquim, Santa Catarina: área foliar,
apropriados para todas as variedades, apresentando crescimento vegetativo, composição da uva e
também variações entre os locais de cultivo, sistemas qualidade sensorial dos vinhos. Universidade
de produção e manejo, e mesmo entre os diferentes Federal de Santa Catarina - UFSC, Florianópolis,
ciclos produtivos. Diversos aspectos relativos ao 2010. 226p. Tese de Doutorado em Recursos
desenvolvimento vegetativo e a fisiologia das plantas Genéticos Vegetais.
ainda necessitam ser evidenciados, bem como muitos
eventos relacionados ao período de maturação da uva. BORGHEZAN, M. Comportamento da videira nas
A fase de dormência é outro período importante do regiões de altitude de Santa Catarina: Um dos com-
ciclo e que necessita de estudos. Estes conhecimentos ponentes distintivos ligados ao conceito de terroir.
poderão complementar estes modelos propostos e In: CARLS, S.; AREAS, P. O.; CUNHA, G. S. V. T. IV
possibilitar uma exposição mais adequada do ciclo Workshop Catarinense de Indicação Geográfica.
anual da videira, cultivada nas regiões mais altas de 2015. Anais... Joinville, p. 58-68, 2016.
Santa Catarina.
Este capítulo apresentou algumas características BORGHEZAN, M.; GAVIOLI, O.; PIT, F. A.; SILVA,
da adaptação ecológica e das alterações fisiológicas A. L. Modelos matemáticos para a estimativa da
relacionados com o desenvolvimento vegetativo da área foliar de variedades de videira a campo (Vitis
videira cultivada no Planalto Serrano Catarinense. Os vinifera L.). Ciência e Técnica Vitivinícola, Dois
resultados observados até o momento permitiram um Portos, v. 25, n. 1, p. 1-7, 2010.
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77
4. Desenvolvimento e
Maturação da Uva
em Região de Elevada
Altitude do Estado de
Santa Catarina
Marcelo Borghezan
Monica Canton
Tatiane Carine da Silva
Larissa Villar
Fábio Antônio Pit
João Felippeto
4.1 Introdução
N
este capítulo, serão revisados alguns
conceitos básicos para a compreensão da
estrutura anatômica da uva e dos processos
ecológicos, fisiológicos e bioquímicos
envolvidos na formação e maturação das bagas. O
enfoque utilizado foi estruturado para que sirva de
apoio na adoção ou ajuste das tecnologias e práticas
agronômicas, que visam a produção de uvas com a
maior qualidade nas condições particulares de cada
vinhedo e em cada safra.
A proposta deste capítulo é demonstrar
como a maturação das bagas está ligada aos demais
processos de desenvolvimento da planta e como
faz parte de um ciclo fenológico que envolve
crescimento vegetativo (folhas, ramos e raízes),
diferenciação de gemas (formação dos primórdios
para o próximo ciclo), desenvolvimento e formação
da uva (produção), a senescência foliar e o acúmulo
de reservas para o período de dormência.
Para esta exposição, resultados de
estudos realizados em vinhedos comerciais no
Planalto Serrano Catarinense são apresentados,
objetivando estimular o avanço dos conhecimentos
que possibilitem a expansão da atividade e o
aprimoramento da qualidade das uvas produzidas na
região.
78
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
79
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 31. Estrutura da inflorescência (a) e da flor (b) da videira, detalhe da abertura da flor e queda da
caliptra (c e d) e flor após a polinização (e).
Fonte: Borghezan & Silva, 2018.
a b
c d e
As flores de Vitis vinifera L. são hermafroditas ovário súpero, com dois carpelos contendo um saco
(perfeitas), apresentando órgãos masculinos e femininos embrionário e dois óvulos cada (totalizando quatro
funcionais em quase todas as variedades cultivadas óvulos) (MANZONI, 1971). Na base das flores, se
(FREGONI, 1999; DOKOOZLIAN, 2000) (Figura encontram cinco glândulas ou nectários, responsáveis
31b). A flor é composta por cinco estames (órgão pela secreção de compostos odoríferos para a atração
masculino - androceu), podendo variar de quatro a de insetos. No entanto, em muitas variedades de V.
oito, contendo as anteras onde se encontram os grãos vinifera, as substâncias produzidas aparentemente
de pólen, e um pistilo (órgão feminino) formado pelo resultam em pouca atratividade para polinizadores
ovário e pelo estigma, onde os grãos de pólen ficam (DOKOOZLIAN, 2000).
aderidos após a polinização. O gineceu é formado A abertura de uma flor individual é chamada de
por uma antera alargada, um estilete curto e pelo antese ou floração, sendo caracterizada pela queda da
80
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
caliptra, expondo os estames e o pistilo (Figura 31c e A fecundação é a união dos gametas masculino
31d). A antese ocorre cerca de seis a oito semanas após (n) e feminino (n) formando um zigoto (2n). Uma das
a brotação, apresentando duração de 8 a 14 dias entre o células generativas (gameta masculino) se desloca pelo
início da abertura das flores e a completa floração (queda tubo polínico, fertilizando a oosfera no saco embrionário,
de 100% das caliptras) (VASCONCELOS et al. 2009). originando o zigoto que formará o embrião. Ao mesmo
Este período é muito influenciado pela temperatura do tempo, ocorre uma segunda fecundação, onde a
ar, podendo alcançar até 21 dias (MANZONI, 1971) ou segunda célula generativa (n) une-se aos dois núcleos
mais de 30 dias em condições de elevada precipitação polares, dando origem ao endosperma (3n) (PRATT,
pluvial (VASCONCELOS et al. 2009). May (2000) relata 1971; FREGONI, 1999; VASCONCELOS et al. 2009).
que as flores variam em tamanho e em estágio de Normalmente, este processo ocorre de dois a três
formação de acordo com sua posição na inflorescência. dias após a polinização, dependendo das condições
A posição do ramo na planta e da inflorescência no ramo de temperatura (PRATT, 1971; VASCONCELOS et
influencia a progressão da floração (VASCONCELOS al. 2009).
et al. 2009). Estes últimos autores também descrevem Após o sucesso da polinização e da fecundação,
que, devido à complexidade da inflorescência da videira, inicia-se o desenvolvimento das sementes. Esta fase do
não é possível relacionar o tempo de floração com o ciclo é conhecida como fruitset (frutificação), sendo
tamanho ou a posição desta estrutura, sendo que estas definida quando as bagas apresentam diâmetro entre 1,6
diferenças de desenvolvimento refletem, em grande e 3,2 mm (DOKOOZLIAN, 2000). O desenvolvimento
parte, as variações na fenologia da videira. do embrião no interior da semente ativa os processos
A estrutura floral de V. vinifera favorece de divisão celular para a formação da baga (MANZONI,
a autopolinização, pois as anteras permanecem 1971). Cada baga pode conter até quatro sementes,
distribuídas ao redor e acima do estigma. Também sendo este número geralmente menor (FREGONI,
a abertura das anteras e a receptividade do estigma 1999; DOKOOZLIAN, 2000; OLLAT et al. 2002).
ocorrem ao mesmo tempo, sugerindo que agentes
polinizadores como insetos e o vento não sejam 4.4 Anatomia do cacho e da baga
necessários (MANZONI, 1971). Atualmente, a
interpretação mais aceita é que a autopolinização é Os cachos são unidos à planta pelo pedúnculo,
importante e ocorre após a queda da caliptra, e quando que se estende do ramo até a primeira bifurcação da
ocorre polinização cruzada, esta resulta em melhor ráquis (DOKOOZLIAN, 2000; MANZONI, 1971). O
formação das sementes (VASCONCELOS et al. 2009). eixo principal do cacho é chamado de ráquis e cada
A polinização é o processo em que ocorre flor é individualmente unida à ráquis pelo pedicelo
a aderência dos grãos de pólen ao estigma (Figura (Figuras 31a e 32b).
31e). Imediatamente após a abertura das flores, as A uva é um fruto simples, sendo a polpa formada a
anteras se abrem e liberam os grãos de pólen. O partir do desenvolvimento do ovário após a fecundação.
estigma receptivo secreta compostos químicos que Em algumas variedades apirenas (sem sementes), a
favorecem a aderência de muitos destes grãos de pólen fecundação não ocorre e as bagas se desenvolvem
(VASCONCELOS et al. 2009). A secreção do estigma por partenocarpia (PRATT, 1971). Também pode
é composta principalmente de açúcares, proteínas e ocorrer a formação por estenoespermocarpia, com
sais minerais, essenciais para a germinação dos grãos de sementes atrofiadas pelo abortamento do embrião após
pólen e o posterior desenvolvimento do tubo polínico a fecundação. No ápice da baga, oposto ao pedicelo,
(DOKOOZLIAN, 2000). Após a germinação, o tubo observa-se a presença do vestígio do estilete e do
polínico se alonga, penetrando o estigma e atravessando estigma (Figura 32a e 32b) (MANZONI, 1971).
o estilete até chegar ao ovário (MANZONI, 1971). A O fruto é constituído pelo exocarpo (casca), que
precipitação pluvial é um fator meteorológico que pode possui de 11 a 12 camadas de células, o mesocarpo
afetar negativamente a polinização (FREGONI, 1999), (polpa) que contém entre 25 e 30 camadas celulares
podendo resultar em baixa fertilização. e o endocarpo formado por uma fina camada de
81
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
células em contato com as sementes (OLLAT et al. de crescimento, separados por uma fase limitada de
2002). Externamente, as células da epiderme secretam ganho de massa (PAUL et al. 2012). Assim, as bagas
uma cutícula lipídica, recobrindo toda a superfície da apresentam três fases distintas durante a formação
baga. Acima da cutícula, pode-se observar um extrato (KENNEDY et al. 2000a), sendo a massa total, resultante
espesso visível, denominado pruína (MANZONI, do número de células e do volume celular.
1971). Essa substância cerosa é acumulada durante a A Figura 33 apresenta um modelo provável do
maturação das bagas, apresentando função protetora padrão de crescimento, da taxa respiratória e dos níveis
(redução da transpiração e como barreira física aos de diferentes grupos hormonais que agem durante
patógenos), estética (atratividade ao consumidor nas o desenvolvimento das bagas. Na primeira fase de
uvas de mesa) e enológica (mantendo leveduras e crescimento, os promotores de divisão e diferenciação
bactérias) (FREGONI, 1999). O acúmulo de compostos celular agem com maior importância, regulando o ciclo
na baga ocorre através dos feixes vasculares, contendo de formação das bagas (CONDE et al. 2007). A taxa
floema e xilema (COOMBE & MCCARTHY, 2000), que de respiração ilustra com melhor detalhe a redução no
transportam principalmente água, açúcares, outros ganho de massa entre as duas fases de crescimento.
compostos orgânicos, sais minerais e hormônios (Figura Na segunda fase de crescimento, a partir do véraison,
32c e 32d). os níveis de etileno, ácido abscísico e brassinosteroides
parecem regular de forma associada e mais intensa os
4.5 Desenvolvimento e formação das bagas eventos que resultam no acúmulo de açúcares e em
outras transformações bioquímicas durante a maturação
As transformações físicas e bioquímicas (CONDE et al. 2007; PAUL et al. 2012). Alterações
que ocorrem a partir da fecundação são: a divisão nas concentrações hormonais controlam cada fase do
celular acelerada, aumentando o número de desenvolvimento das bagas, sendo que todos os grupos
células; a diferenciação dos tecidos e o acúmulo de de hormônios vegetais estão envolvidos (ROBINSON,
compostos, resultando na expansão do volume celular DAVIES, 2000).
(FOUGÈRE-RITOF et al. 1997; COOMBE, MCCARTHY, Uma descrição detalhada sobre o processo
2000; OLLAT et al. 2002). A uva é uma fruta não de formação das bagas, o acúmulo e degradação
climatérica e apresenta um padrão duplo sigmóide de de compostos químicos e o controle hormonal nas
crescimento, resultando em dois estágios consecutivos diferentes fases de desenvolvimento está organizada na
82
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 34. Alterações físicas e estruturais durante revisão realizada por Conde et al. (2007). O processo
o desenvolvimento das bagas. de formação das sementes e sua relação com o
Fonte: Adaptado de Fregoni, 1999; Dokoozlian, 2000; Coombe e McCarty, desenvolvimento das bagas foi extensamente estudado
2000; Chatelet et al. 2008.
por Ristic e Iland no ano de 2005. Mudanças drásticas
na ativação genética ocorrem nas diferentes fases do
desenvolvimento das bagas, mas, a partir do véraison,
sugere-se um aumento coordenado na transcrição
(expressão) de genes (ROBINSON, DAVIES, 2000).
Um maior detalhamento dos processos de formação
e maturação das bagas será apresentado a seguir.
83
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
pequeno, consistência firme, elevada acidez da polpa et al. 2007). Os principais açúcares presentes na uva
(ROBINSON, DAVIES, 2000; CONDE et al. 2007), são glicose e frutose (OLLAT et al. 2002). Durante
coloração verde e preferencialmente o ácido málico a formação das bagas, grande parte dos açúcares é
como composto orgânico acumulado (COOMBE, metabolizada para a produção de energia, e somente
MCCARTHY, 2000). Nesta fase, uma divisão celular após o início da maturação ocorre seu acúmulo mais
acelerada é observada, estabelecendo quase a intenso nas células (OLLAT et al. 2002).
totalidade do número de células da baga até o final Dentre os principais ácidos encontrados nos
do período de maturação (PRATT, 1971). A maior parte frutos da videira, destacam-se os ácidos tartárico e
do crescimento das sementes ocorre nesta primeira fase málico (CONDE et al. 2007). Também o ácido cítrico
do desenvolvimento das bagas (PRATT, 1971; RISTIC, (HUNTER et al. 2004) e o ácido succínico (BURIN et al.
ILAND, 2005) (Figura 34). Esta etapa também é marcada 2011) são encontrados em menores concentrações na
pelo acúmulo de compostos fenólicos, precursores de composição desta fração orgânica da uva. Ao contrário
compostos voláteis, minerais e compostos aromáticos do que ocorre com os açúcares, o teor dos ácidos
nas bagas (CONDE et al. 2007) e pela biossíntese de diminui à medida que a maturação evolui (OLLAT et
polifenóis nas sementes (KENNEDY et al. 2000b). al. 2002). A avaliação da acidez total possibilita uma
A fase de redução significativa no análise mais ampla da relação açúcares/acidez, critério
crescimento das bagas também marca a transição este mais confiável na determinação da qualidade geral
no desenvolvimento das sementes, que atingem o da uva e do momento mais adequado de colheita
máximo peso fresco e seco, passando do estágio de (SCHALKWYK, ARCHER, 2000).
crescimento para a secagem e maturação (RISTIC, Na Figura 35, foram esquematizadas as
ILAND, 2005). Esta etapa é relativamente curta em principais alterações bioquímicas observadas durante
relação à fase anterior e também é caracterizada pelo o desenvolvimento das bagas. Nesta figura, fica
desenvolvimento do embrião e o endurecimento do evidente a primeira fase de acúmulo de compostos
tegumento (KENNEDY et al. 2000a). Nesta etapa, para o crescimento e a formação dos tecidos e, na
as sementes iniciam o processo de desidratação, fase de maturação, a transformação e/ou acúmulo de
reduzindo a massa fresca e os compostos fenólicos carboidratos simples e pigmentos. Após o véraison,
acumulados começam a ser oxidados, resultando em ocorrem as mais importantes mudanças na composição
alterações na coloração (KENNEDY et al. 2000b). Neste das bagas, com o acúmulo de carboidratos simples,
momento, ocorre, simultaneamente, a lignificação nas a redução nas concentrações de ácidos orgânicos
células do tegumento (ADAMS, 2006). (principalmente o ácido málico), o amolecimento
Na segunda fase de crescimento, que se inicia na das bagas e a pigmentação na película ou casca de
mudança de cor das bagas, ou com o amolecimento, variedades tintas (MPELASOKA et al. 2003). Além dos
para as variedades brancas, ocorrem o acúmulo de pigmentos (antocianinas), outros compostos fenólicos
compostos e grandes alterações na composição da são importantes constituintes e estão presentes em
baga (COOMBE, MCCARTHY, 2000; ROBINSON, todas as partes da baga (Figura 35).
DAVIES, 2000; OLLAT et al. 2002), resultando em um Os compostos fenólicos são divididos em
fruto com elevada concentração de açúcares, sabor dois grupos: primeiro os de natureza flavonoide,
doce, textura macia, aromático e com coloração intensa que incluem as proantocianidinas (taninos) que são
para as variedades tintas (CONDE et al. 2007). responsáveis pela adstringência, as antocianinas que
conferem a coloração das cascas, e os compostos
4.5.2. Composição das bagas flavan-3-ol monômeros (antocianidinas), com
destaque para as catequinas, encontrados também
Os açúcares são os produtos finais resultantes da na polpa e mais importantes para as uvas brancas
atividade fotossintética nos vegetais, sendo este, o único (CABRITA et al. 2003; CONDE et al. 2007). Entre
processo de importância biológica que possibilita o os compostos de natureza não-flavonoide, estão os
aproveitamento da energia a partir da luz solar (CONDE ácidos hidroxicinâmicos e benzoicos, encontrados
84
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
na polpa e nas cascas das bagas e outros compostos o reconhecimento de uma variedade ou uma região
químicos presentes em baixas concentrações, mas de produção.
também de grande importância (KENNEDY et al.
2006). 4.6 Maturação das bagas
Os compostos fenólicos apresentam funções
importantes na adaptação das plantas, principalmente às A maturação é um processo dinâmico, sendo
condições climáticas, e são responsáveis pela coloração, que as concentrações dos diferentes compostos
aromas e sabor da uva, afetando a cor, a estrutura e a químicos se alteram simultaneamente, modificando
adstringência dos vinhos (CABRITA et al. 2003; CONDE também as características físicas das bagas. Assim, as
et al. 2007). Eles são encontrados, preferencialmente, na relações entre as variáveis analisadas na uva podem
película das bagas (taninos e pigmentos) e nas sementes ser utilizadas como indicativos do nível de maturação
(taninos) (Figura 36), apresentando grande importância das bagas e para o estabelecimento do momento da
na composição dos vinhos (KENNEDY et al. 2000b; colheita (COOMBE, MCCARTHY, 2000; KENNEDY et
ADAMS, 2006; CONDE et al. 2007; ALI et al. 2010). al. 2000b; SCHALKWYK, ARCHER, 2000; OLLAT et
A figura 36 apresenta, também, o melhor momento al. 2002; RISTIC, ILAND, 2005).
para a colheita (maturação fenólica), quando os taninos Em relação à maturação, deve-se destacar que
das sementes se encontram maduros e os compostos os cachos são formados por um conjunto de frutos,
fenólicos das cascas mantêm-se em valores elevados, onde os processos bioquímicos não estão em total
contribuindo com as características de cor e estrutura, sincronia dependendo da posição das bagas nos cachos
que serão expressas nos vinhos. (JACKSON, LOMBARD, 1993; ROBINSON, DAVIES,
As características da uva no momento da colheita 2000; TARTER, KEUTER, 2005; PAGAY, CHENG, 2010).
são determinadas pelas variações nas concentrações Assim, uma amostragem adequada, coletando bagas
dos diferentes compostos orgânicos e minerais presentes em todas as posições dos cachos possibilita diminuir
nas bagas. Muitos desses compostos, que contribuem os erros e avaliar as alterações físicas e a composição
significativamente para os atributos sensoriais dos química de forma mais precisa (TARTER, KEUTER, 2005;
vinhos, são produzidos e transformados em uma fase PAGAY, CHENG, 2010).
pré-véraison e não apenas acumulados após o início
da maturação (KENNEDY et al. 2000b; ADAMS, 2006; 4.6.1. Açúcares e acidez
CONDE et al. 2007; KALUA, BOSS, 2010), indicando
que não só o período de maturação seja importante Os resultados apresentados abaixo são
para a qualidade final da uva. provenientes de estudos realizados em vinhedos
Além destes compostos do metabolismo primário localizados em São Joaquim/SC, em diferentes
e secundário, outros componentes são encontrados ciclos produtivos. Nestes trabalhos, apenas os dados
e apresentam grande importância na polpa da uva. referentes ao período de maturação (do véraison
Dentre estes, podem ser citados diferentes compostos a colheita) foram apresentados. Destaca-se que as
nitrogenados (aminoácidos), vitaminas, minerais relações entre as variáveis analisadas nas bagas foram
e concentrações variadas de diversos compostos elevadas. Os teores de sólidos solúveis totais e a acidez
aromáticos (LUND, BOHLMANN, 2006; CONDE et total titulável apresentaram correlação inversa (Figura
al. 2007). A composição formada pela diversidade e 37), enquanto que os teores de sólidos solúveis totais
concentração dos compostos citados acima e pelas e os valores de pH apresentaram correlação positiva
condições (clima, solo e manejo) durante a formação (Figura 38). A correlação entre os teores de acidez e os
e a maturação das bagas, determina a qualidade da valores de pH seguiram o mesmo padrão apresentado
uva e, após o processo de vinificação, as características na figura 37 (dados não apresentados).
sensoriais dos vinhos. O somatório destas distinções, Nos ciclos avaliados, a uva foi colhida com teores
em última análise, origina o que se conceitua como de sólidos solúveis totais acima de 21 ºBrix, atingindo
terroir, ou a “impressão” que fica registrada e possibilita valores superiores a 24 ºBrix, como observado para a
85
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
‘Cabernet Sauvignon’ na safra 2006 (Figuras 37 e 38). açúcares, ácidos orgânicos e compostos fenólicos) e a
Acidez total mais elevada (acima de 100 meq/l) foi evolução no ciclo fisiológico da planta (paralisação do
observada para todas as variedades, com exceção da crescimento dos ramos, lignificação dos ramos e ativação
‘Merlot’ na safra 2006. Comportamento semelhante dos processos de entrada em dormência) regulam
também foi observado para diferentes variedades e em o metabolismo e a distribuição dos fotoassimilados
outros produtores (GRIS et al. 2010; BORGHEZAN entre as fontes e os drenos (verificar no capítulo sobre
et al. 2011; MALINOVSKI et al. 2012). Desenvolvimento Vegetativo). Em geral, na região de
Em condições de temperatura mais amena São Joaquim/SC, estes eventos ocorrem durante o
durante o período de maturação, como ocorre em mês de fevereiro, favorecendo o desenvolvimento das
São Joaquim/SC, a acidez pode ser mais intensa plantas e a maturação das bagas.
devido à menor degradação principalmente do O acompanhamento da evolução nos teores
ácido málico, ocasionada pela menor atividade de açúcares e de ácidos orgânicos na polpa das bagas
da enzima malato desidrogenase (CONDE são os indicadores mais utilizados para estabelecer
et al. 2007) ou pela desregulação da enzima a data de colheita da uva. Porém, estas análises
fosfoenolpiruvato carboxilase (OLLAT et al. 2002). podem não expressar o ótimo ponto de maturação,
No entanto, os valores observados de acidez total sendo a avaliação dos teores de compostos fenólicos
para este vinhedo no momento da colheita estão (principalmente taninos) e de antocianinas também
dentro dos padrões considerados adequados para utilizadas para definir com maior precisão a época de
a elaboração de vinhos, como sugerido por Conde colheita (CONDE et al., 2007).
et al. (2007).
Na colheita, os valores de pH das variedades 4.6.2. Maturação fenólica
tintas se encontram próximos a 3,30 (Figura 38).
Resultados semelhantes também foram apresentados Os processos de maturação tecnológica
por Gris et al. (2010) para ‘Cabernet Franc’, ‘Sangiovese’ (relação açúcar/acidez), aromática (aromas
e ‘Syrah’. Valores entre 3,00 e 3,20 foram observados potenciais) e maturação fenólica são variáveis
para as variedades brancas (BORGHEZAN et al. 2011). independentes que devem ser levadas em
Durante o processo de maturação, a consideração para a análise da maturação
concentração de ácido tartárico nas bagas reduz enológica e a definição do momento da colheita.
muito pouco, enquanto que os níveis de ácido málico A maturação fenólica abrange não apenas a
aumentam até o início da maturação e a partir desta concentração das substâncias pertencentes a esta
fase reduzem de forma mais intensa (OLLAT et al. família de compostos, mas também a sua estrutura
2002; VOLSCHENK et al. 2006; BURIN et al. 2011). química e a sua evolução, alterando a capacidade
Em regiões com condições climáticas amenas, como é de extração nas diferentes partes da baga durante
o caso de São Joaquim/SC, as uvas podem apresentar o processo de vinificação (RIBÉREAU-GAYON et al.
maiores teores de acidez (principalmente do ácido 2006). A maturação fenólica pode ser conceituada
málico) e pH menor (JACKSON, LOMBARD, 1993). como a avaliação da diversidade e da concentração
Sob estas condições, a degradação das antocianinas dos compostos fenólicos durante o período de
pode ser reduzida e a qualidade dos vinhos tende a maturação das bagas.
ser favorecida em relação à coloração e estabilidade Os açúcares formados na fotossíntese
(CONDE et al. 2007), resultando em melhor qualidade podem seguir duas rotas distintas, a via dos
como sugerido por Jones (2012). Estas foram as metabólitos primários, para a respiração celular e
características que diferenciaram os vinhos produzidos produção de ATP, além da síntese de moléculas,
desta região dos produzidos em outras áreas no Brasil como os aminoácidos, carboidratos, lipídeos
(MIELE et al. 2010). ou nucleotídeos, utilizados para o crescimento,
A partir do início da maturação das bagas, as desenvolvimento e reprodução. Ou seguir uma via
alterações na composição da uva (massa, teores de alternativa, resultando na síntese de metabólicos
86
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
secundários específicos para cada grupo de adaptação às condições de estresse abiótico (ALI et
espécies, sendo que para a videira, a rota principal é al. 2010) ou às variações climáticas, como a radiação
a via do ácido chiquímico (ADAMS, 2006; CONDE solar (ADAMS, 2006). A literatura também relata
et al. 2007; ALI et al. 2010). intensa atividade antioxidante dos compostos fenólicos
Estes compostos apresentam importantes (CONDE et al. 2007), sendo que muitos fitoquímicos
funções na adaptação ecológica das plantas em um encontrados na videira apresentam ação bioativa com
determinado sistema de cultivo e estão principalmente efeitos benéficos à saúde humana (ALI et al. 2010).
relacionados com a defesa das plantas contra patógenos, Os polifenóis também podem afetar, em
herbívoros ou parasitas, na promoção dos processos conjunto com os compostos aromáticos, a percepção
reprodutivos (pigmentos e compostos atrativos) e na dos atributos sensoriais dos vinhos (HOLT et al. 2008;
87
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 37. Relação entre o teor de sólidos solúveis totais e a acidez titulável durante a formação e
maturação das bagas das variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc, Merlot e Cabernet Sauvignon,
cultivadas em São Joaquim, nas safras 2011, 2012 e 2013 (n=200).
Fonte: Elaborado por Borghezan, M., 2019.
400,0
(meq/l)
300,0
200,0
100,0
0,0
0,0 3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0
Sólidos Solúveis Totais (oBrix)
Figura 38. Relação entre o teor de sólidos solúveis totais e os valores de pH durante a formação e
maturação das bagas das variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc, Merlot e Cabernet Sauvignon,
cultivadas em São Joaquim, nas safras 2011, 2012 e 2013 (n=200).
Fonte: Elaborado por Borghezan, M., 2019.
3,40
y = 0,0447x + 2,1499
3,20
R2 = 0,8373 p <0,0000
3,00
2,80
pH
2,60
2,40
2,20
2,00
0,0 3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0
Sólidos Solúveis Totais (oBrix)
LUND et al. 2009). A avaliação dos compostos fenólicos Os fenólicos simples são uma classe de
possibilita, juntamente com o monitoramento dos teores compostos solúveis que apresentam um anel
de açúcares, da acidez e do pH, assegurar o ponto de aromático e muitos grupamentos hidroxil. São
máximo potencial qualitativo. derivados, principalmente, dos ácidos hidroxicinâmico
e hidroxibenzoico (ALI et al. 2010). Estão presentes
Compostos Fenólicos (Polifenóis Totais) no vacúolo de células abaixo da epiderme (cascas)
e no mesocarpo (polpa) (ADAMS, 2006; TEIXEIRA
A partir da fenilalanina (via do ácido chiquímico) et al. 2013). Eles contribuem para a redução da
são sintetizados muitos dos principais grupos de compostos oxidação e coloração dos vinhos brancos (CONDE
fenólicos que são encontrados na uva e nos vinhos (Figura et al. 2007). São exemplos destes compostos os
39) (fenólicos simples, antocianinas, flavonóis e estilbenos) ácidos cafeico, p-cumárico e ferrúlico (ácidos
(ADAMS, 2006; CONDE et al. 2007; ALI et al. 2010; hidroxicinâmicos), gálico, elágico, siríngico e vanílico
FLAMINI et al. 2013; TEIXEIRA et al. 2013). (ácidos hidroxibenzoicos).
88
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Os flavonoides estão presentes principalmente Os valores iniciais foram próximos a 600 mg/L
nas cascas e sementes, sendo que a este grupo na fase inicial da maturação (véraison), quando as
pertencem os flavonóis (quercitina, miricetina e bagas apresentavam alto teor de ácidos orgânicos
campferol), os flavan-3-ols ou flavanóis (catequinas, e baixo teor de sólidos solúveis totais (Figura 41).
epicatequinas e proantocianidinas) e as antocianinas Este é o período inicial da fase de maturação para
(cianidina, delfinidina, peonidina, petunidina e malvidina) as variedades Cabernet, Sauvignon e Merlot,
(CABRITA et al. 2007; ALI et al. 2010; TEIXEIRA et normalmente verificado no final do mês de janeiro
al. 2013). Neste grupo se encontram os compostos ou início de fevereiro, na região de São Joaquim/
responsáveis pela coloração nas variedades tintas e por SC. Em geral, nesta região, entre o final de março
diversas características sensoriais dos vinhos (ADAMS, e meados de abril, estas variedades são colhidas
2006; ALI et al. 2010). para a produção de vinhos tranquilos, sendo que os
Os estilbenos são moléculas em concentrações polifenóis estão sob a condição de extração relativa
muito baixas, encontradas principalmente nas cascas máxima. De acordo com Guerra e Zanuz (2003), a
(TEIXEIRA et al. 2013). Estes compostos são sintetizados extratibilidade das antocianinas e o teor de taninos
principalmente em resposta ao estresse biótico ou das cascas são tanto maiores quanto mais avançada
abiótico, sendo o resveratrol (forma monomérca) o estiver a maturação das bagas de uva. Entretanto, isso
mais descrito e estudado (ADAMS, 2006; ALI et al. não significa que a melhor uva seja aquela colhida
2010), além de outraformas poliméricas (viniferinas) em estágio de sobrematuração, pois há outros
(ALI et al. 2010; FLAMINI et al. 2013). compostos importantes para a qualidade, como
Nas condições do Planalto Serrano Catarinense, aromas e ácidos orgânicos, que podem perder-se
o teor de polifenóis totais, tanto para as uvas brancas com uma colheita realizada demasiadamente tarde.
como para as variedades tintas aumentou com a Outros estudos apontaram padrão semelhante
evolução da maturação, apresentando correlação com aos resultados apresentados acima para esta mesma
o teor de sólidos solúveis totais (Figura 40). Correlações região, como o de Falcão et al. (2008); Gris et al.
significativas também foram observadas entre os teores (2010); Burin et al. (2011) e em outras regiões,
de polifenóis totais nas cascas e outros índices de como o dos autores Ristic, e Iland, (2005). Uma
maturação (dados não apresentados). caracterização do perfil e a quantificação de
As concentrações destes compostos nas cascas compostos fenólicos das uvas colhidas foram
aumentaram com a evolução da maturação, sendo inicialmente realizadas por Panceri et al. (2013).
este padrão observado tanto para as variedades tintas Estes estudos sugerem a realização de pesquisas
como para as brancas (Figura 40). A Sauvignon Blanc mais detalhadas dos compostos fenólicos para
apresentou menores teores de compostos fenólicos uma melhor compreensão da evolução durante
em relação aos determinados para as variedades a maturação e para favorecer o processo de
tintas. A ausência de pigmentos nas cascas resulta vinificação.
nesta significativa variação entre estes grupos varietais
(ADAMS, 2006; CONDE et al. 2007). Taninos
Em geral, a análise gráfica da quantificação do
Índice de Polifenóis Totais (IPT), durante a fase de Os taninos presentes na uva e nos vinhos são
maturação das uvas, revela uma curva com tendência os taninos condensados, polímeros dos 3-flavanóis
inicial ascendente, seguida de estabilização e declínio (catequinas ou antocianidinas) e dos 3-4-flavanodiois
mais lento no final da maturação (Figura 36 e 41). (proantocianidinas) (Figura 39). Esta é a classe mais
Este comportamento da curva pode ser utilizado abundante de compostos fenólicos solúveis encontrados
como parâmetro para definir o ponto de colheita na uva, localizando-se nas camadas hipodérmicas das
das uvas, tendo em vista a característica do vinho cascas e no parênquima das sementes, entre a cutícula
a ser elaborado, além de servir de subsídio para a e o tegumento (ADAMS, 2006). Apresentam ação
decisão sobre o método de vinificação a ser adotado. fotoprotetora contra a radição UV-A e UV-B (FLAMINI
89
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
et al. 2013). Os taninos podem ser encontrados nas De acordo com Cabrita et al. (2003), há duas
formas de dímeros, trímeros ou poliméricos de suas categorias de taninos: condensados (não hidrolisáveis)
subunidades (flavan-3-ois). Existem diferenças entre e hidrolisáveis. Os taninos condensados, também
os taninos das cascas e os das sementes, sendo que chamados de procianidinas, são compostos formados
os primeiros apresentam maior tamanho e contêm pela polimerização de unidades de flavonoides.
subunidades de epigalopectina, carentes desta nas Como estes taninos podem frequentemente ser
sementes. Nas sementes, os taninos apresentam menor hidrolisados a antocianidinas por tratamento com
tamanho e maior proporção de subunidades de galato ácidos fortes, eles muitas vezes são denominados
de epicatequina em comparação com os encontrados proantocianidinas.
nas cascas (ADAMS, 2006). Os taninos hidrolisáveis são polímeros
Na uva, os teores de taninos dependem heterogêneos que contêm ácidos fenólicos,
da variedade, estádio de maturação e de fatores especialmente o ácido gálico, e um açúcar simples,
agronômicos e climáticos, como a luz e a temperatura geralmente a glucose. Eles não são encontrados
(FLAMINI et al. 2013). Até o início da maturação da naturalmente na uva, podendo aparecer nos vinhos
uva, o teor de taninos da baga alcança o máximo, envelhecidos em madeira (CABRITA et al. 2003).
diminuindo expressivamente a partir da mudança Várias pesquisas demonstram que os teores
de cor (ÁVILA, 2002; OBREQUE-SLIER et al. 2010). de polifenóis e, de modo especial, de taninos estão
É conhecida a propriedade dos taninos de se diretamente relacionados às condições climáticas
combinarem com outros polímeros como as proteínas dos locais de cultivo (ADAMS, 2006). Silva et al.
e os polissacarídeos, o que determina o seu poder (2009), estudando a concentração de taninos em
adstringente (CABRITA et al. 2003). uvas provenientes da região de São Joaquim/SC,
Figura 39. Estrutura química da fenilalanina e das diferentes classes de compostos fenólicos encontrados
na uva.
Fonte: Adaptado de Cabrita et al. 2003; Flamini et al. 2013.
90
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
verificaram concentrações máximas de 3,3 e 2,5 Também estão presentes nas folhas no final do
mg/g de mosto nas safras 2006 e 2007. Estes valores ciclo vegetativo (RIBÉREAU-GAYON et al, 2006).
estão de acordo com os observados por Obreque- São glicosídeos que apresentam açúcares ligados à
Slier et al. (2010). cadeia carbônica, sendo que quando estes açúcares
estão ausentes, estes compostos são conhecidos
Antocianinas como procianidinas (cianidinas) ou prodelfinidinas
(delfinidinas) (CABRITA et al. 2003).
As antocianinas constituem os pigmentos Existem cinco antocianinas presentes na uva:
roxos das uvas, localizadas essencialmente na película cianidina, peonidina, delfinidina, petunidina e malvidina,
e, excepcionalmente, na polpa (variedades tintórias). sendo esta última em maior concentração (OREGLIA,
Figura 40. Relação entre o teor de sólidos solúveis totais e os valores de polifenóis totais nas cascas durante a
maturação das variedades Sauvignon Blanc, Merlot e Cabernet Sauvignon, cultivadas em
São Joaquim, nas safras 2006 e 2007 (n=50).
Fonte: Adaptado de Borghezan, 2010.
y = 33,043x + 145,8
Cabernet Sauvignon e Merlot 2
R = 0,4934 p <0,0000
Polifenóis Totais (mg Eq. ácido
800,0
600,0
400,0
Figura 41. Evolução do IPT – Índice de Polifenóis Totais (mg eq. Ácido Gálico/L) durante a maturação das
variedades Merlot e Cabernet Sauvignon, cultivadas em São Joaquim/SC, na safra 2012.
Fonte: Elaborado por Borghezan, M., 2019.
1400
1200
ácido gálico/L)
1000
IPT (mg eq.
800
600
400 Merlot
0
31/1 7/2 14/2 21/2 28/2 7/3 14/3 21/3 28/3 4/4
Período de maturação
91
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
1978; RIBÉREAU-GAYON et al. 2006). Flamini et al. as uvas cultivadas em altitudes maiores. Temperaturas
(2013) também descrevem a presença da pelargonidina elevadas diminuem fortemente o acúmulo de
para V. vinifera. antocianinas e a falta ou o excesso de umidade
Nas uvas tintas, as antocianinas estão na forma também favorecem a diminuição do seu conteúdo.
de mono e diglicosídeos. Esta variação se dá pela A composição em antocianinas nas uvas depende
fixação da molécula de açúcar (glicose), que está na de vários fatores, entre os quais a variedade e as
posição 3 para os monoglicosídeos, e nas posições variações meteorológicas associadas ao ciclo
3 e 5 para os diglicosídeos. O monoglicosídeo (JACKSON, LOMBARD, 1993; CONDE et al. 2007),
de malvidina é o constituinte principal da matéria podendo o teor variar entre 500 mg.kg-1 e 3.000
corante das variedades de uvas tintas Vitis vinifera. O mg.kg-1 (FREGONI, 1999).
diglicosídeo de malvidina é encontrado somente nas
variedades de origem americanas (V. labrusca e outras 4.6.3. Maturação das sementes
espécies) e em alguns híbridos (OREGLIA, 1978).
A figura 42 apresenta a evolução dos teores de À medida que a maturação avança, a coloração
antocianinas totais durante a maturação da variedade das sementes se altera, sendo possível identificar o
Merlot cultivada em São Joaquim/SC. Observa-se o escurecimento a partir da avaliação visual (Figuras 43
aumento na concentração dos pigmentos nas cascas, e 44). A mudança de coloração das sementes durante
sendo que, ao final do período de maturação, se destaca a maturação das bagas é resultado da lignificação
uma pequena redução nestes compostos. Em outros dos tecidos e da oxidação dos compostos fenólicos,
estudos realizados nesta região, esta tendência também que ocorre no estágio final do período de maturação
foi observada (FALCÃO et al. 2008; GRIS et al. 2010; (KENNEDY et al. 2000b; CADOT et al. 2006).
BURIN et al. 2011; MALINOVSKI et al. 2012). A escala de coloração das sementes
As soluções de antocianinas apresentam cores estabelecida por Ristic e Iland (2005), define como
que estão diretamente relacionadas com o pH. Em verde-amarela (1-4) o estádio de formação das bagas,
meio ácido são vermelhas e se descolorem à medida amarela (5) o estádio próximo à mudança de cor das
que o pH aumenta e o amarelo aparece em meio bagas (véraison), marron-claro (6-9) para o período
neutro a alcalino (RIBÉREAU-GAYON et al. 2006). de maturação e marrom-escuro (10-12) para uma
O cultivo de uvas a baixas altitudes parece condição mais favorável à colheita. Estes autores
desfavorecer a biossíntese de antocianinas também verificaram correlação entre a coloração
monoglicolisadas nas cascas, se comparado com e a redução nos teores de taninos das sementes e
Figura 42. Evolução dos teores de sólidos solúveis totais e de antocianinas durante a maturação das
bagas da variedade Merlot cultivada em São Joaquim/SC, safra 2011.
Fonte: Elaborado por Borghezan, M., 2019.
18,0 1000,0
(oBrix)
16,0 800,0
14,0 600,0
12,0 400,0
10,0 200,0
8,0 0,0
0 5 12 18 26 32 43 47 54 58
Dias após o início da maturação (Véraison )
92
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
o aumento nas concentrações de antocianinas e de 2005/2006 também foi elevada (FALCÃO et al.
polifenóis totais nas cascas. Tanto a concentração 2008). Os resultados destas análises, realizadas nas
quanto a composição dos compostos fenólicos das bagas no momento da colheita, estão de acordo
sementes se alteram durante a maturação das bagas com os apresentados por Ristic e Iland (2005). Os
(KENNEDY et al. 2000a; KENNEDY et al. 2000b). resultados indicam que a coloração das sementes
O padrão de evolução da maturação fenólica nas apresenta evolução equilibrada durante a maturação,
cascas e sementes também apresenta variação entre podendo ser considerado um parâmetro auxiliar na
os diferentes tecidos, variedades e condições de determinação da data de colheita da uva.
cultivo (ADAMS, 2006; OBREQUE-SLIER et al. 2010). Este capítulo apresentou, de forma sintética,
Correlação positiva entre a coloração das uma revisão a respeito da estrutura anatômica do
sementes e o teor de sólidos solúveis totais foi cacho e do processo de ontogênese das bagas.
observada para diferentes variedades de videira Foram realizadas descrições, considerando-se várias
cultivadas em São Joaquim/SC (Figura 45). A dimensões do processo de formação e maturação da
coloração das sementes apresentou correlação com uva. Sempre que possível, foram utilizadas informações
os teores de antocianinas totais e polifenóis totais de estudos realizados na região de interesse. Destaca-
(Figura 46). Ambos os compostos aumentaram a se que uma melhor compreensão sobre os processos
concentração durante a maturação das bagas. bioquímicos envolvidos durante o desenvolvimento
Correlações significativas também foram das bagas e o efeito das condições climáticas poderá
observadas entre a coloração das sementes e os outros beneficiar os produtores na definição de técnicas mais
índices anteriormente citados (dados não apresentados). adequadas de manejo dos vinhedos e na identificação
Correlações significativas entre a coloração das das características que diferenciam a uva produzida
sementes e a maturação comercial (açúcares e acidez) nas regiões de altitude do Estado de Santa Catarina.
e entre a maturação fenólica também foram observadas
por Ristic e Iland, (2005) e por Fredes et al. (2010). 4.7 Agradecimentos
Avaliando a maturação fenólica da variedade
Cabernet Sauvignon em São Joaquim/SC, Falcão À Villa Francioni Agronegócios S.A. e à
et al., (2008) observaram concentrações similares Cooperativa Agrícola de São Joaquim – SANJO, que
aos deste estudo nos teores de polifenóis totais gentilmente cederam parte de seus vinhedos para
e de antocianinas nas bagas. A intensidade de as coletas de amostras. À CAPES - Coordenação de
cor destas uvas durante as safras 2004/2005 e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo
Figura 43. Escala de coloração das sementes de uva durante o desenvolvimento e maturação das bagas
(1 à 12).
Fonte: Borghezan, 2010; 2017.
93
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
b c
94
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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development: a review. Journal International des
97
Desenvolvimento e Maturação da Uva em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
98
5. Variedades e Porta-enxertos
Alberto Fontanella Brighenti
Gabriella Vanderlinde
Edson Luiz de Souza
Nelson Pires Feldberg
Emilio Brighenti
Aparecido Lima da Silva
5.1 Introdução
H
o j e em dia, estima-se que em torno de 10.000
variedades de uvas são cultivadas comercialmente,
porém análises de DNA sugerem que o número mais
preciso se encontre em torno de 5.000 (THIS et al.
2006). Muitas uvas cultivadas estão intimamente relacionadas
entre si e muitas são conhecidas por vários nomes ou mesmo
muitos sinônimos (diferentes nomes para a mesma variedade)
ou homônimos (nomes idênticos para diferentes variedades). A
grande maioria das variedades pertence à espécie V. vinifera, e
as análises do DNA contido nos cloroplastos sugerem que elas
podem ter se originado a partir de, pelo menos, duas populações
geograficamente distintas de V. sylvestris: uma no Oriente Próximo
e Oriente Médio e outra em uma região que compreende a
Península Ibérica, Europa Central e Norte da África (ARROYO-
GARCÍA et al. 2006).
Após vários milênios de cultivo e de seleção repetida de
mutações espontâneas e naturais, bem como cruzamentos intra e
interespecíficos feitos pelo homem, em muitas regiões diferentes,
há uma vasta gama de formas e de tipos de videiras cultivadas. Já
que milhares de variedades de uva são cultivadas comercialmente,
várias tentativas foram feitas para agrupá-las em famílias
ou tribos. Ao contrário de classificações botânicas, estes
grupos não são sempre baseados em diferenças fenotípicas
99
Variedades e Porta-enxertos
ou genotípicas (MAYR, 2001). Os métodos mais quando comparado a outras regiões vitícolas, logo,
comuns envolvem a classificação com base no local é fundamental para o êxito dessa nova atividade
ou clima de origem, características vitícolas, o uso econômica caracterizar regiões potenciais para a
final, ou características de vinificação. vitivinicultura e identificar variedades adaptadas às
A classificação também é possível em termos condições dessas regiões e que sejam capazes de
da aptidão das uvas (GALET, 2000), embora algumas produzir uvas e vinhos de alta qualidade.
variedades sejam utilizadas para diversos fins: Como acontece em novas regiões vitícolas
Uvas de mesa – bagas grandes, polpa carnosa no mundo todo, as variedades plantadas e avaliadas
ou suculenta, muitas vezes sem sementes, algumas inicialmente, com poucas exceções, são aquelas de
delas com aromas foxy ou moscatel. Exemplos renome internacional, originárias da França e, em
incluem Cardinal, Cinsaut, Chasselas e Muscat de menor escala, da Itália e de Portugal. Nos vinhedos de
Alexandria. altitude de Santa Catarina não é diferente, as principais
Uvas passas - predominantemente uvas sem variedades plantadas são a Cabernet Sauvignon, com
sementes. Por exemplo, Thompson Seedless, Flame a maior área, seguida por Merlot e Sauvignon Blanc,
Seedless, Black Corinth (Zante Currant) e Delight. além de outras em menor escala. Esta tendência vem
Uvas para suco - algumas variedades sendo observada em países do Novo Mundo e, também,
altamente aromáticas, especialmente nos Estados nos últimos anos, em países com tradição no cultivo da
Unidos. Exemplos incluem Concord e Niágara. videira e com grande riqueza de variedades autóctones
Uvas para vinho - muito doces, suculentas e (FELDBERG et al. 2011).
muitas vezes de baixo rendimento. Exemplos incluem Em muitos casos, a escolha de variedades com
Riesling, Chardonnay, Sémillon, Sauvignon Blanc, ênfase no ponto de vista comercial em detrimento do
Gewürztraminer, os Pinots e os Cabernets, Merlot, que poderia ser a melhor escolha de uvas para o clima
Tempranillo (Aragonez, Tinta Roriz), Nebbiolo e e o solo de uma região, diminui consideravelmente as
muitas outras. chances de produção do melhor produto enológico
Uvas para brandy (destilação) - Geralmente possível para uma localidade (FELDBERG et al. 2011).
uvas brancas que produzem vinhos ácidos e neutros. Com o intuito de identificar regiões e
Por exemplo, Ugni Blanc (Trebbiano), Colombard e variedades com potencial para a produção de vinhos
Folle Blanche. de qualidade, foi firmado, em 2006, um convênio
Obviamente, as divisões também podem ser entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão
feitas com base nas características dos vinhos, mas Rural de Santa Catarina (EPAGRI), a Universidade
este método é altamente influenciado pelo mercado Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Istituto Agrario
e pelas exigências dos consumidores: di San Michelle all’Adige - Fondazione Edmund
Composição da uva - Características básicas Mach (IASMA – FEM), da Província de Trento
(teor de açúcar, acidez, pH, taninos, sabores e na Itália e iniciado o Projeto “Tecnologias para o
aromas) importantes para a vinificação. Desenvolvimento da Vitivinicultura Catarinense”.
Aroma varietal - uvas brancas podem ser Este projeto teve a finalidade de introduzir e avaliar
aromáticas (por exemplo, Riesling, Gewürztraminer a adaptação de 36 variedades de uvas viníferas nos
e Moscatéis) ou não aromáticas (por exemplo, municípios de São Joaquim (1.400 m), Campos
Chardonnay, Sémillon e Sylvaner). Novos (973 m), Água Doce (1.300 m) e Tangará
Custos de produção - valor para vinificação (1.059 m) (PORRO et al. 2016).
refletido no vinho e na estrutura de preços da uva e Ao longo desse capítulo, serão apresentados
dos sistemas de denominação de origem. alguns resultados obtidos nesse projeto,
No estado de Santa Catarina, as regiões com principalmente no que se refere à adaptação das
altitude acima de 1.000 metros têm se destacado na variedades às diferentes faixas de altitude do estado
produção de uvas viníferas e vinhos finos. No entanto, e ainda a apresentação de variedades com potencial
o cultivo da videira nesses locais é muito recente para cultivo em Santa Catarina.
100
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
101
Variedades e Porta-enxertos
dos produtos obtidos (Tabela 7); contudo, seu cultivo É muito sensível à Plasmopara viticola,
é limitado pela sua brotação precoce (Tabela 6) que medianamente à Erysiphe necator e sensível à Botrytis
a deixa sujeita a danos causados por geadas tardias, cinerea e à podridão ácida (ANÔNIMO, 1995; GALET,
comuns nas regiões de altitude elevada (BRIGHENTI 1990), no entanto, é pouco sensível à Elsinoe ampelina
et al. 2013). (GALET, 1977). Na Califórnia é afetada por Xylella
fastidiosa, bactéria transmitida por muitos gêneros de
Sauvignon Blanc insetos Cicadellidae e Cercopidae (PERSON, GOHEEN,
1996; GALET, 1977). Sua suscetibilidade aos nematoides
A origem mais provável desta variedade é alta.
corresponde ao centro ou sudeste da França (GALET, A uva apresenta médio a elevado conteúdo de
1990). Um dos seus antepassados corresponde à açúcar e equilibrada acidez total e pH (ANÔNIMO,
antiga variedade Fié (Fiét), cultivada no vale do Loire 1995; VIÑEGRA et al. 1996). Com essa variedade
(ROBINSON, 1996). são elaborados vinhos brancos secos e doces naturais
É uma variedade de brotação média, (ANÔNIMO, 1995; KASIMATIS et al. 1979). É uma
muito vigorosa, com grande brotação de gemas variedade muito cultivada em diferentes localidades
secundárias. Suas gemas basais apresentam uma na França, uma das mais importantes é Sauternes
razoável fertilidade, mas as secundárias não, sendo (WINKLER et al. 1980). Os vinhos possuem sabor seco,
estas sensíveis a geadas da primavera (KASIMATIS et complexo e elegante, com boa acidez, sensação de
al.1979). A Sauvignon Blanc tem melhor adaptação toque aveludado, com uma intensidade média, que lhe
em climas secos, luminosos e com acúmulos térmicos confere uma sensação global de um vinho harmonioso
compreendidos entre 1.372 a 1.927 graus-dia e bem estruturado (VIÑEGRA et al. 1996). Seus aromas
(WINKLER et al., 1980), onde sua produtividade é possuem características cítricas e algo herbáceo de
mais elevada. Os solos adequados são os de baixa intensidade média. Também é usada para a produção
a média fertilidade, pedregosos, porém se adapta de vinhos tipo “colheita tardia”.
a variados tipos de solos (KASIMATIS et al. 1979; A Sauvignon Blanc é uma das variedades que
ANÔNIMO, 1995). O nível de produção é médio melhor se adaptou às condições de altitude acima de
e constante, quando mantida uma vegetação 900 metros de Santa Catarina. Com ela se produzem
equilibrada. Sua maturação é bastante precoce vinhos tranquilos varietais de elevada qualidade, acidez
e recomenda-se a colheita manual, devido a sua marcante e alta complexidade aromática (BRIGHENTI
vegetação densa e à fragilidade da película das bagas. et al. 2016). Além da qualidade obtida pelas uvas
102
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
produzidas (Tabela 7), pode-se comprovar a adaptação ser cortado com variedades de maior acidez (GALET,
dessa variedade pela duração de seu ciclo e a data de 1990). Seu vinho tem menor corpo e estrutura que o
ocorrência dos principais estádios fenológicos (Tabela Cabernet Sauvignon e possui taninos relativamente
6). Nas condições de Santa Catarina, a Sauvignon Blanc suaves (ANÔNIMO, 1995). Pode melhorar com um
possui brotação médio-tardia, maturidade médio- curto período armazenado na madeira (ANÔNIMO,
precoce e ciclo curto (Figura 48). 1995; VIÑEGRA et al. 1996), uma vez que, devido a sua
falta de acidez, não se recomenda um envelhecimento
5.2.2. Variedades tintas prolongado.
Seus vinhos têm cores leves. Os aromas são
Merlot complexos e elegantes quando sua intensidade é média,
se ela for muito alta, os aromas podem chegar a ser
Variedade originária da região de Bordeaux, pesados. Na boca apresenta boa estrutura, muita fruta
na França (ANÔNIMO, 1995). Antes do século XIX, e, às vezes, características herbáceas secas recordam a
era considerada uma cepa secundária em Bordeaux. passas (ANÔNIMO, 1995; VIÑEGRA et al. 1996). São
Recentes estudos, efetuados através de marcadores ricos em álcool, de sabor característico, ligeiramente
moleculares, estabeleceram que se trata de um frutado e herbáceo (ANÔNIMO, 1995).
cruzamento, provavelmente espontâneo, entre Pinot A variedade Merlot é a segunda mais cultivada
Noir e Gouais Blanc (BOWERS et al. 1999), o que nas regiões de altitude elevada de Santa Catarina.
corresponde a ancestrais comuns a Chardonnay e Neste local, ela possui brotação médio-tardia e
Gamay Noir. maturidade média (Tabela 6). Produz uvas de
Merlot é uma variedade de brotação média à
precoce, que é exposta a geadas de inverno e primavera
(GALET, 1990; ANÔNIMO, 1995). Vigorosa, muito fértil,
porém de produção irregular dada a sua tendência a
problemas de frutificação, que se acentuam com baixas
temperaturas durante a floração. Adapta-se melhor a
regiões com acúmulos térmicos compreendidos entre
1.372 e 1.927 graus-dia (WINKLER et al. 1980), suas
bagas, na maturação, são muito sensíveis ao calor e à
alta luminosidade. É sensível aos excessos de produção
e sua maturação é média à precoce. A colheita manual
é fácil, porque seu pedúnculo é longo e fácil de cortar e
suas bagas se desgranam com facilidade (ANÔNIMO,
1995).
É particularmente sensível à Plasmopora viticola
nas inflorescências e nos cachos, medianamente
sensível à Erysiphe necator e sensível à Elsinoë ampelina
(GALET, 1977). Também é sensível a enfermidades
do tronco (ANÔNIMO, 1995) e à Meloidogyne spp.
É medianamente sensível à Botrytis cinerea (GALET,
1977). Na França, apresenta grande sensibilidade a
cicadelídeos.
O mosto produzido possui alta concentração de
açúcar e apresenta acidez baixa à média. Na França, se
produzem grandes vinhos como o Pomerol. Geralmente Figura 49. Cacho e folha da variedade Merlot.
se trata de um vinho de consumo rápido, que pode Fonte: Rauscedo, 2007.
103
Variedades e Porta-enxertos
104
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
105
Variedades e Porta-enxertos
106
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Gewürztraminer
geralmente, apresenta pouca coloração e aromas
frutados doces intensos, notas de cereja e violeta. Seu Essa variedade é originada das montanhas de
conteúdo de taninos é baixo, assim como seu corpo e Termeno/Tramin, na província de Bolzano, no Sul Tirol
estrutura (Figura 52). italiano. Os vinhos são de cor amarelo palha com
O cultivo dessa variedade em Santa Catarina reflexos esverdeados e com aromas intensos de rosas
é limitado pela sua brotação precoce (Tabela 6) que (CALÒ et al. 2001).
a deixa sujeita a danos causados por geadas tardias. Em climas quentes, o aroma tende a ser mais
A elevada compacidade dos cachos também é um pesado e menos elegante (ANÔNIMO, 1995). O gosto
elemento desfavorável, tornando-os mais sensíveis às é frutado e fresco (VIÑEGRA et al. 1996), com um
podridões ácida e cinzenta. A qualidade da variedade ligeiro e agradável sabor amargo, um pouco ácido e
Pinot Noir produzida em Santa Catarina é variável picante (WINKLER et al. 1980).
(Tabela 7), contudo, vale ressaltar que os resultados Pode ser utilizada na elaboração de vinhos
apresentados são referentes ao clone SMA 201, que é tranquilos e licorosos. É uma das principais variedades
mais adaptado e utilizado na elaboração de espumantes das D.O.C. Alto Adige, Valle Isarco e Val Venosta. Nos
do que de vinhos tranquilos. locais onde ela se adapta melhor, produz vinhos do tipo
colheita tardia, obtidos de uvas em sobrematuração,
5.3 Variedades viníferas com potencial com as denominações Eiswein, Trockenbeerenauslese,
vendage tardive (RAUSCEDO, 2007).
5.3.1. Variedades brancas Nas regiões mais elevadas de Santa Catarina, sua
brotação é relativamente precoce, o que a deixa exposta
Garganega ao risco de danos causados por geadas tardias; e ela
possui sensibilidade às podridões de cacho. Contudo, os
É uma variedade muito antiga, provavelmente se vinhos produzidos, até o momento, apresentam elevada
origina da mesma família que a variedade Trebbiano. qualidade, acidez marcante, são muito aromáticos, com
Produz vinhos brancos de boa qualidade, com coloração predomínio de notas de lichia e rosa (Figura 53B).
amarelo palha, aromáticos, secos, ligeiramente
107
Variedades e Porta-enxertos
Tabela 6. Data de ocorrência média dos principais estádios fenológicos das principais variedades de uvas
viníferas cultivadas em diferentes faixas de altitude no estado de Santa Catarina.
Variedade Altitude Início Brotação Plena Florada Mud. Cor Bagas Maturidade Duração do Ciclo
(50%)
1.400 m 28/ago 14/nov 30/jan 31/mar 215
1.300 m 11/set 10/nov 17/jan 20/mar 190
Chardonnay
1.059 m 28/ago 20/out 04/jan 03/mar 187
973 m 28/ago 01/nov 04/jan 03/mar 187
1.400 m 16/set 20/nov 25/jan 23/mar 188
1.300 m 23/set 25/nov 05/fev 20/mar 178
Sauvignon Blanc
1.059 m 12/set 15/nov 18/jan 08/mar 177
973 m 01/set 30/out 02/jan 24/fev 176
1.400 m 14/set 23/nov 08/fev 12/abr 210
1.300 m 20/set 20/nov 02/fev 29/mar 190
Merlot
1.059 m 12/set 15/nov 11/jan 20/mar 189
973 m 05/set 26/out 10/jan 12/mar 188
1.400 m 21/set 29/nov 12/fev 27/abr 218
1.300 m 10/out 27/nov 05/fev 18/abr 190
Cabernet Sauvignon
1.059 m 21/set 21/nov 17/jan 28/mar 188
973 m 12/set 31/out 10/jan 17/mar 186
1.400 m 09/set 12/nov 30/jan 22/abr 225
1.300 m 12/set 15/nov 08/fev 05/abr 205
Sangiovese
1.059 m 24/ago 23/out 03/jan 15/mar 203
973 m 24/ago 17/out 09/jan 12/mar 200
1.400 m 02/set 16/nov 24/jan 28/mar 207
1.300 m 02/set 11/nov 20/jan 15/mar 194
Pinot Noir
1.059 m 30/ago 28/out 29/dez 08/mar 190
973 m 22/ago 20/out 21/dez 20/fev 182
108
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 7. Sólidos solúveis, acidez titulável e pH das principais variedades de uvas viníferas cultivadas em
diferentes faixas de altitude no estado de Santa Catarina.
109
Variedades e Porta-enxertos
A B C
Figura 53. Cachos das variedades Garganega (A), Gewürztraminer (B), Manzoni Bianco (C).
Fonte: Rauscedo, 2007.
110
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
111
Variedades e Porta-enxertos
A B C D
Figura 54. Cachos das variedades Glera (A),Verdicchio (B),Vermentino (C) e Viognier (D).
Fonte: Rauscedo, 2007.
novo mundo, como Austrália, Estados Unidos e Chile Produz um vinho varietal com muita cor e
(CALÒ et al. 2001). aroma, com taninos suaves. De um modo geral, busca-
A variedade Viognier apresentou melhor se uma maturação tal que evite aromas herbáceos
adaptação quando cultivada em zonas de altitudes e vegetais, que provocam certa dureza e amargor.
intermediárias e de maiores temperaturas ao longo A Malbec é utilizada, também, para produção de
do ciclo, como Tangará (1.059 m); nesse local, as vinhos “Blush’’ (rosados suaves), muito aromáticos.
plantas produzem de maneira regular, as uvas possuem Seus vinhos são aptos para o envelhecimento e
qualidade, e os vinhos têm aromas e sabores típicos apresentam um aroma muito agradável e típico, que
da variedade. Nos locais de altitude mais elevada e, recorda as violetas. (ANÔNIMO, 1995; GALET, 1990;
consequentemente, de menores temperaturas, apesar PSZCZÓLKWSKI, 1984).
do ciclo compatível e da qualidade das uvas produzidas A variedade Malbec possui, em Santa
(Tabelas 8 e 9), a produção das plantas é mais baixa e Catarina, brotação média e um ciclo médio,
irregular. Também necessita de poda longa, devido à apresenta elevada produtividade e, eventualmente,
baixa fertilidade das gemas basais. necessita de raleio para manter a qualidade da uva
(SILVA et al. 2008). Outra característica favorável
5.3.2. Variedades tintas dessa variedade é a reduzida compacidade de seus
cachos, que minimiza os problemas de podridões
Malbec durante a fase de maturação da uva.
112
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
persistência. Também pode ser vinificado em branco precoce (Tabela 10) (BRIGHENTI et al. 2015). Esta
para obtenção de vinhos rosados (RAUSCEDO, 2007) variedade também necessita de poda longa, devido
(Figura 55A). à baixa fertilidade das gemas basais.
Essa variedade de uva é utilizada exclusivamente A variedade Rebo originou vinhos
para vinificação, é incluída na D.O.C. Montepulciano caracterizados por notas florais, frutas vermelhas
d’Abruzzo e em algumas D.O.C. do Marche (Esino e especiarias (menta), ótima harmonia, estrutura
Rosso, Rosso Conero e Rosso Piceno) (CALÒ et al. equilibrada e redondos. (Figura 55C).
2001). O plantio dessa variedade está em expansão
na região sul da Itália, graças ao seu potencial de Sagrantino
envelhecimento, mas, nesse caso, sua produtividade
por planta deve ser limitada (RAUSCEDO, 2007). É uma variedade cultivada há muito tempo na
Montepulciano possui brotação e maturidade região da Úmbria. A zona típica de cultivo é Montefalco
tardia (Tabela 8) e, na zona de maior altitude (1.400 (Perugia) (CALÒ et al. 2001). O vinho produzido é
m), produziu uvas de maior qualidade (Tabela 11) e vermelho rubi muito intenso, com reflexos violáceos.
vinhos de maior destaque (BRIGHENTI et al. 2014). Tem um aroma persistente com notas típicas de amora,
Seus vinhos se caracterizam pela boa estrutura, notas ameixa e couro, que combinam perfeitamente com o
típicas de frutas vermelhas como cereja, notas florais aroma de baunilha acrescentado pela madeira. Seu
(violeta) e especiarias (menta). sabor é forte, suave e aveludado. Na Itália, os vinhos
de Sagrantino podem envelhecer por 10 a 15 anos.
Rebo Também pode ser usado como um vinho de sobremesa
(RAUSCEDO, 2007). (Figura 56A).
É uma variedade obtida nos anos 20 no programa O Sagrantino é de uso exclusivo para
de melhoramento da Estação Experimental Agrária de vinificação como varietal ou em cortes com outras
San Michele all’Adige, obra de Rebo Rigotti, que efetuou variedades (por exemplo, a Sangiovese). Faz parte
o cruzamento de Merlot x Teroldego. O cruzamento da D.O.C. Montefalco Rosso da D.O.C.G. Sagrantino
107-3 foi selecionado pela sua constância de produção, de Montefalco (CALÒ et al. 2001).
resistência a doenças e pelas boas características Essa variedade apresentou um ciclo compatível
quantitativas e qualitativas (CALÒ et al. 2001) (Figura 55B). com as condições dos locais estudados e produziu uvas
Desta variedade se obtém um vinho vermelho de qualidade em todas as faixas de altitude avaliadas
rubi, de aroma delicado, agradável e intenso, que (Tabelas 10 e 11); contudo os melhores vinhos foram
recorda a Marzemino: sabor suave, levemente tânico obtidos na faixa de altitude de 1.400 m. Nesse local
e harmônico. É indicada para substituir a Merlot nos a variedade Sagrantino pode ser uma opção quando
lugares onde esta apresenta problemas de baixa se pensa em produzir vinhos de guarda de elevada
frutificação efetiva e ataques de míldio e oídio. É qualidade (BRIGHENTI et al. 2014).
utilizada exclusivamente para vinificação, sobretudo Os vinhos produzidos com a variedade
na região do Trentino (CALÒ et al. 2001). Sagrantino apresentaram alta concentração de
Rebo é um caso de uma variedade que antocianinas e polifenóis (BRIGHENTI et al. 2014),
produziu uvas e vinhos de qualidade nas quatro zonas destacando-se pela sua coloração, pelas notas de
avaliadas (SOUZA et al. 2015) (Tabela 9); contudo, frutas vermelhas maduras e pela elegância dos taninos.
aqueles que foram mais bem avaliados foram obtidos
de uvas cultivadas em altitudes intermediárias (entre Cabernet Franc
1.000 e 1.300 m). Vale destacar que, apesar da
qualidade dos vinhos obtidos, seu cultivo nas regiões A Cabernet Franc é uma variedade de uva
mais elevadas (1.400 m) pode apresentar problemas originada do sudoeste da França (ANÔNIMO, 1995),
como danos causados por geadas tardias, visto que, das regiões de Graves e da Costa da Gironda (GALET,
nesses locais, sua brotação pode ser considerada 1990). É uma variedade de médio potencial em
113
Variedades e Porta-enxertos
Tabela 8. Data de ocorrência média dos principais estádios fenológicos de variedades de uvas viníferas
brancas com potencial para cultivo em diferentes faixas de altitude no estado de
Santa Catarina.
Variedade Altitude Início Brotação Plena Florada Mud. Cor Bagas Maturidade Duração do
(50%) Ciclo
1.400 m 29/set 08/dez 24/fev 26/abr 209
1.300 m 29/set 30/nov 15/fev 15/abr 198
Garganega
1.059 m 18/set 25/nov 21/jan 30/mar 193
973 m 08/set 07/nov 11/jan 13/mar 186
1.400 m 05/set 05/nov 14/jan 26/fev 174
1.300 m - - - - -
Gewürztraminer
1.059 m - - - - -
973 m - - - - -
1.400 m 14/set 24/nov 04/fev 28/mar 195
1.300 m 14/set 21/nov 02/fev 15/mar 182
Manzoni Bianco
1.059 m 05/set 14/nov 12/jan 28/fev 176
973 m 27/ago 26/out 30/dez 17/fev 174
1.400 m 19/ago 15/nov 08/fev 09/abr 233
1.300 m 19/ago 10/nov 26/jan 25/mar 218
Glera (Prosecco)
1.059 m 16/ago 20/out 10/jan 20/mar 216
973 m 14/ago 20/out 05/jan 10/mar 208
1.400 m 10/set 13/nov 02/fev 23/mar 194
1.300 m 10/set 17/nov 07/fev 21/mar 192
Verdicchio
1.059 m 03/set 10/nov 14/jan 13/mar 191
973 m 30/ago 31/out 13/jan 08/mar 190
1.400 m 18/set 01/dez 14/fev 12/abr 206
1.300 m 16/set 22/nov 03/fev 29/mar 194
Vermentino
1.059 m 10/set 17/nov 11/jan 21/mar 192
973 m 01/set 24/out 12/jan 10/mar 190
1.400 m 06/set 25/nov 09/fev 27/mar 202
1.300 m 06/set 10/nov 28/jan 20/mar 195
Viognier
1.059 m 01/set 05/nov 10/jan 10/mar 190
973 m 28/ago 25/out 06/jan 03/mar 187
114
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 9. Sólidos solúveis totais, acidez titulável e pH de variedades de uvas viníferas brancas com
potencial para cultivo em diferentes faixas de altitude no estado de Santa Catarina.
115
Variedades e Porta-enxertos
açúcar e acidez, com alto conteúdo de antocianinas condições locais e adotando de técnicas de manejo
e médio de taninos. Sua qualidade potencial adequadas, como a escolha do porta-enxerto, do
permite a elaboração de vinhos varietais e o uso sistema de condução, da poda de inverno, das
como componente de cortes, particularmente com podas verdes, da adubação, da data da colheita e
Cabernet Sauvignon (HUGLIN, 1986; HIDALGO, do controle de doenças.
1990; ANÔNIMO, 1995). (Figura 56B). Após anos de avaliações, é possível observar
Dela se obtém um vinho harmonioso, de as particularidades entre as diferentes zonas de
cor vermelho rubi intenso, ainda que menos tânico altitude elevada onde se cultiva a videira em Santa
e colorido que Cabernet Sauvignon (GALET, 1990; Catarina e mostrar que cada terroir específico possui
ROBINSON, 1996), aromático (ANÔNIMO, 1995), uma determinada aptidão vitícola. Por exemplo, há
recordando framboesas e violetas, de acordo com a um indicativo de uma aptidão especial das regiões
zona de produção (GALET, 1990). Apresenta, ainda, um mais frias e de maior altitude para a produção de
agradável e característico sabor herbáceo. Seu corpo é variedades brancas. Tal aptidão se justifica graças aos
médio e permite um envelhecimento mais rápido que elevados teores de sólidos solúveis, de acidez total
vinhos de Cabernet Sauvignon e ainda possui aromas e de compostos aromáticos obtidos nas uvas e nos
e sabores mais delicados (GALET, 1990). vinhos (BRIGHENTI et al. 2016; MARCON FILHO,
Nas regiões de altitude elevada de Santa 2016). Por sua vez, nas regiões mais quentes e de
Catarina (1.400 m), essa variedade apresenta menores altitudes (entre 900 e 1.200 m), há uma
brotação médio-precoce, maturidade médio-precoce aptidão especial para a produção de variedades tintas,
e duração média do ciclo de 214 dias (BRIGHENTI quando se consideram, principalmente, os aspectos
et al. 2013). Trabalhos anteriores, realizados em São relacionados à maturação tecnológica das uvas.
Joaquim, confirmam seu potencial para produção de Grande parte dos terroirs tradicionais
uvas e vinhos de qualidade (BRIGHENTI et al. 2013; apresenta uma grande variabilidade dentro de uma
MARCON FILHO et al. 2015). pequena área geográfica e tal realidade também
se faz presente nas regiões de altitude elevada de
5.4 Considerações a respeito da escolha Santa Catarina, inferindo-se que, possivelmente, as
da variedade variedades mais indicadas para um determinado
local não serão as mesmas para outras faixas de
Diversos trabalhos publicados anteriormente altitude do estado.
confirmam o potencial das regiões de altitude elevada Mudanças na paisagem, nos solos e nos
de Santa Catarina (acima de 900m) na produção mesoclimas ocorrem em pequenas distâncias, motivo
de uvas viníferas de qualidade (FALCÃO et al. pelo qual os terroirs devem ser estudados em detalhes,
2008; GRIS et al. 2010; MALINOVSKI et al. 2012; através do zoneamento vitícola, para aperfeiçoar a
BRIGHENTI et al. 2014; BRIGHENTI et al. 2016). No interação genótipo X ambiente, para caracterizar a
entanto, é importante ressaltar que tais regiões estão resposta das variedades às diferentes zonas de cultivo e
localizadas em áreas marginais para a viticultura, para fornecer bases adequadas à escolha das mesmas,
com condições edafoclimáticas muito particulares tanto em escala local quanto territorial.
e diferentes daquelas onde a videira é cultivada há Então, quando se pensa em criar uma
séculos, como a região mediterrânea. identidade vitícola para uma região, não se trata
Nas condições de elevada altitude, os apenas da mera escolha de uma ou mais variedades.
viticultores se deparam com adversidades como as Deve-se promover o conhecimento aprofundado
baixas produtividades, as geadas tardias e as elevadas das variedades e do ambiente onde serão cultivadas,
taxas de precipitação pluviométrica ao longo do ciclo. bem como pesquisar o desenvolvimento de práticas
Porém, ainda assim, é possível fazer uma viticultura de culturais e enológicas que otimizem o potencial das
qualidade em meio a essas dificuldades, escolhendo variedades escolhidas, de modo a obter vinhos que
variedades com duração de ciclo compatível com as são, em última análise, a expressão de um território.
116
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C
Figura 55. Cachos das variedades Malbec (A), Montepulciano (B) e Rebo (C).
Fonte: Rauscedo, 2007.
117
Variedades e Porta-enxertos
baixo teor de açúcar e tem dificuldades de adaptação geralmente na primeira quinzena de fevereiro (SOUZA
em regiões de clima quente (CAMARGO, MAIA, 2008). et al. 2013). Na região do Vale do Rio do Peixe (SC), os
Originária do Estado de Ohio, Estados Unidos, foi clones da uva Bordô, desenvolvidos pela EPAMIG, - ‘Paco’
selecionada por Henry Ives, a partir de uma sementeira e ‘Bocaina’ são os mais indicados para o plantio. Tais
estabelecida em 1840. Também é conhecida como clones apresentam as produtividades elevadas (acima
Ives ou Ives Seedling, nos Estados Unidos, como Terci de 20 toneladas por hectare), estabilidade de produção,
no Paraná, ou como Folha de Figo, em Minas Gerais e produzem uvas com qualidade adequada para a
(CAMARGO, MAIA, 2008). Foi introduzida no país por elaboração de vinhos e sucos (BRIGHENTI et al. 2018).
Tower Fogg, que a trouxe para o bairro do Morumbi Os sucos e vinhos produzidos com a variedade
em São Paulo, mas logo se difundiu pelo Rio Grande Bordô podem ser puros, mas sua principal utilização
do Sul, entre outras introduções posteriores (Figura é em cortes com as variedades Isabel e Concord
57B) (SOUSA, MARTINS, 2002). (CAMARGO, MAIA, 2008).
Apresenta boa adaptação em regiões
temperadas, mas é comum a ocorrência de desavinho, Concord
causando grande irregularidade na produção e baixa
produtividade média. Os principais fatores que vem Deve seu nome à cidade de origem, Concord,
sendo relacionados ao desavinho são condições no Estado de Massachusetts-EUA, onde foi obtida por
climáticas inadequadas durante a floração ou Ephraim W. Bull, em 1843, a partir de sementes de Vitis
desequilíbrio nutricional (CAMARGO, MAIA, 2008). labrusca selvagens. Foi a variedade mais cultivada nos
As plantas são vigorosas e com alta fertilidade Estados Unidos no final do século XIX e ainda hoje é
de gemas; os cachos são pequenos, cilíndricos e bastante importante na viticultura do Estado de New
compactos, com bagas de polpa mucilaginosa e muito York, para elaboração de sucos. Também é conhecida
tinta (SOUSA, MARTINS, 2002). como Bergerac, no Paraná; Francesa, na região Sul e
A produtividade varia entre 10 e 25 toneladas como Niágara Preta, em São Paulo e Minas Gerais
por hectare, com uvas cujo teor de açúcar se aproxima (Figura 57C) (SOUSA, MARTINS, 2002).
de 15°Brix e acidez total de 70 meq L-1. É uma das O suco da variedade Concord é referência de
variedades mais rústicas, com grande tolerância às qualidade no mercado internacional, principalmente
principais doenças como, míldio, antracnose e oídio por seu sabor e aroma. Em meados da década
(CAMARGO, MAIA, 2008; SOUZA et al. 2013). de 1970, houve crescimento do plantio na Serra
Em Videira-SC, inicia a brotação entre o final de Gaúcha, devido ao início da produção de suco
agosto e a primeira quinzena de setembro, com colheita de uva concentrado e, mais recentemente, vem
118
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
sendo observado crescimento de área plantada, no Em Santa Catarina, na altitude de 830 metros,
Oeste Catarinense e no Norte do Paraná, visando na região de Videira, mostrou ser altamente produtiva.
à produção de suco concentrado para exportação No entanto, por se tratar de uma variedade que inicia
(CAMARGO, MAIA, 2008). a brotação no final de agosto ou início de setembro
É uma variedade que se adapta bem às regiões (SOUZA et al. 2013), não é recomendada para áreas
de clima subtropical e temperado, alcançando com histórico de geadas tardias ou muito frias, que
produtividade ao redor de 20 a 30 toneladas por podem comprometer totalmente a sua produção.
hectare. Com essa produção, o teor de açúcar pode Com relação às doenças fúngicas, em Santa
variar entre 13 e 16°Brix e acidez total em torno de Catarina, a BRS Violeta apresentou susceptibilidade
60 meq L-1 (CAMARGO, MAIA, 2008). As plantas são ao míldio e antracnose e tolerância ao oídio (SOUZA
vigorosas e os cachos são de tamanho médio, alados, et al. 2013). Mesmo com os cachos soltos e ralos,
medianamente compactos, com bagas pretas e com em condições de elevada pluviosidade na colheita,
polpa deliquescente (SOUSA, MARTINS, 2002). ocorrem perdas consideráveis causadas pela podridão
O início da brotação das plantas pode ocorrer da uva madura.
desde a última semana de agosto até a primeira Por apresentar hábito de crescimento
quinzena de setembro, e a maturação, no final de prostrado, recomenda-se o sistema de condução
janeiro até o início de fevereiro, coincidindo com a latada, o Y ou os sistemas com vegetação descendente
colheita das variedades BRS Violeta, Bordô e Isabel como o GDC e a cortina simples. Para a região Sul,
Precoce (SOUZA et al., 2013). foi testada e validada sobre os porta-enxertos Paulsen
1103 e VR 043-43, com espaçamentos de 2,5 a 3,0
BRS Violeta metros entre as linhas e 1,5 a 2,0 metros entre as
plantas. Recomenda-se a poda mista, com varas de
Esta variedade foi lançada pela Embrapa Uva 6 a 8 gemas e esporões de 2 gemas (CAMARGO
e Vinho, em 2006, obtida de cruzamento realizado, et al. 2005).
em 1999, entre BRS Rúbea x IAC 1398-21, em Bento A BRS Violeta é recomendada para utilização
Gonçalves-RS. A BRS Violeta foi selecionada pela em cortes na produção de suco, devido à grande
intensa coloração e alto teor de açúcar de seu mosto, concentração de compostos fenólicos; dificilmente
além de alta produtividade. Suas plantas são de vigor o suco é apreciado quando elaborado puro. Para
moderado e alta fertilidade de gemas, com produção produção de sucos, agrega cor e açúcar aos produtos
de 2 cachos por ramo, normalmente. Os cachos são elaborados com as variedades Isabel Precoce e
soltos, de tamanho médio, com cerca de 150 gramas. Concord Clone 30, com maturação coincidente,
(Figura 57D). Apresenta sabor característico das uvas no final de janeiro ou início de fevereiro (CAMARGO
labruscas, apesar de ser um híbrido complexo; suas et al. 2005; MAIA et al. 2013; SOUZA et al. 2013).
bagas atingem, na maturação, teor de açúcar entre
19° a 21°Brix; acidez do mosto entre 50 e 60 meq L-1 Isabel Precoce
e pH entre 3,70 e 3,80, com produtividades entre 25
a 30 toneladas por hectare (CAMARGO et al. 2005). Teve origem na Linha Amadeu, em Farroupilha-
Apresenta ampla adaptação climática, tanto RS, na propriedade do Sr. Armindo Pozza, que
em regiões de clima tropical, quanto subtropical e identificou e propagou, em pequena escala, ramos
temperado. Foi testada com sucesso em Nova Mutum- de uma mutação somática espontânea da variedade
MT, Jales-SP e Bento Gonçalves-RS (CAMARGO et al. Isabel que apresentava características ampelográficas
2005) e, mais recentemente, vem sendo produzida e e agronômicas idênticas à variedade original, com
recomendada no polo de produção de uvas no Vale exceção da maturação antecipada de seus cachos
do Submédio do Rio São Francisco, em Petrolina-PE (Figura 58A). Em 1993, por indicação do Engenheiro
e Juazeiro-BA, para produção de suco (MAIA et al. Agrônomo Paulo Adolfo Tesser, foi coletado
2013). material propagativo para avaliação experimental
119
Variedades e Porta-enxertos
Tabela 10. Data de ocorrência média dos principais estádios fenológicos de variedades de uvas viníferas
tintas com potencial para cultivo em diferentes faixas de altitude no estado de
Santa Catarina.
Variedade Altitude Início Brotação Plena Florada Mud. Cor Bagas Maturidade Duração do Ciclo
(50%)
1.400 m 18/set 24/nov 07/fev 08/abr 202
1.300 m - - - - -
Malbec
1.059 m - - - - -
973 m - - - - -
1.400 m 24/set 06/dez 24/fev 29/abr 217
1.300 m 29/set 26/nov 10/fev 17/abr 200
Montepulciano
1.059 m 19/set 24/nov 28/jan 04/abr 197
973 m 12/set 07/nov 20/jan 26/mar 195
1.400 m 30/ago 20/nov 08/fev 11/abr 224
1.300 m 10/set 08/nov 29/jan 02/abr 204
Rebo
1.059 m 03/set 01/nov 04/jan 23/mar 201
973 m 25/ago 17/out 09/jan 10/mar 197
1.400 m 18/set 02/dez 10/fev 14/abr 208
1.300 m 18/set 28/nov 27/jan 31/mar 194
Sagrantino
1.059 m 13/set 23/nov 09/jan 24/mar 192
973 m 10/set 10/nov 12/jan 20/mar 191
1.400 m 13/set 21/nov 11/fev 18/abr 217
1.300 m - - - - -
Cabernet Franc
1.059 m - - - - -
973 m - - - - -
120
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 11. Sólidos solúveis totais, acidez titulável e pH de variedades de uvas viníferas tintas com
potencial para cultivo em diferentes faixas de altitude no estado de Santa Catarina.
121
Variedades e Porta-enxertos
A B C D
Figura 57. Cachos das variedades Isabel (A), Bordô (B), Concord (C) e BRS Violeta (D).
Fonte: Feldberg et al. 2011.
na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves-RS. et al. 2013). A precocidade da maturação faz com
Após a confirmação da precocidade em diversas que a colheita ocorra no mesmo período das
safras, a Isabel Precoce foi implantada em Jales-SP, variedades Bordô e BRS Violeta, na região Sul do
apresentando boa adaptação e produtividade em país, possibilitando a elaboração de vinhos e sucos
cinco anos de avaliação. Em 2001, foi enxertada em dessas variedades simultaneamente, visando melhorar
Nova Mutum-MT, onde apresentou bom desempenho a coloração do produto final (CAMARGO, 2004;
com duas colheitas anuais. A partir dos resultados CAMARGO et al. 2005; MAIA et al. 2013).
observados, foi lançada em 2003 (CAMARGO, 2004).
A variedade Isabel Precoce atinge plena BRS Carmem
maturação cerca de 33 dias antes da variedade Isabel,
sendo que a redução no ciclo vegetativo ocorre É uma variedade com maturação tardia, própria
entre o período de floração e início da maturação. para elaboração de suco e vinho tinto de mesa, lançada
Outra vantagem em relação à Isabel é a maturação pela Embrapa Uva e Vinho, em 2008 (Figura 58B). Foi
uniforme dos cachos, que reflete na qualidade dos obtida a partir de cruzamento entre Muscat Belly A x
produtos elaborados, pela maior intensidade de BRS Rúbea, selecionada inicialmente pela boa fertilidade,
coloração do mosto. Apresenta alta capacidade sabor e cor do mosto (CAMARGO et al. 2008).
produtiva, chegando a produzir 56 toneladas por As plantas de BRS Carmem são vigorosas e
hectare, mas com reflexos na redução da qualidade com alta fertilidade de gemas, normalmente com 2
das uvas. Por sua vez, com produtividade entre 25 cachos por ramo, com exceção das gemas basais, cuja
e 30 toneladas por hectare, o mosto apresenta teor fertilidade é menor. Atinge produtividades entre 25 e
de açúcar entre 18° e 20 °Brix, acidez total em torno 30 toneladas por hectare e produz cachos compactos,
de 57 meq L-1 e pH próximo de 3,22. Recomenda-se com cerca de 200 gramas, de formato cilíndrico e
a implantação de vinhedos desta variedade com os alado. As uvas, em plena maturação, apresentam teor
mesmos espaçamentos, sistemas de condução e porta- de açúcar em torno de 19°Brix, acidez total próxima
enxertos utilizados para Isabel (CAMARGO, 2004). de 70 meq L-1 e pH na faixa de 3,60 (CAMARGO
Em relação às doença s, apresenta et al. 2010).
comportamento idêntico à variedade Isabel (SOUZA
122
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Além da maturação tardia, outro aspecto é à sua dificuldade de adaptação às regiões tropicais
que a BRS Carmem brota na segunda quinzena de (CAMARGO, 2005).
setembro, na região de Videira-SC. A brotação tardia Apresenta brotação precoce para a região
diminui o risco de danos por geadas, já que a incidência de Videira-SC, que se estende da última semana
é menor durante esse período, em Santa Catarina. de agosto até a primeira quinzena de setembro,
Apresenta alta produtividade e tolerância ao míldio, dependendo da oferta de frio hibernal. A maturação
oídio e antracnose (SOUZA et al. 2013). Na Serra dos cachos se dá no mês de janeiro, sendo a primeira
Gaúcha, tem mostrado susceptibilidade à podridão variedade a ser colhida para elaboração de sucos
ácida, devido à compactação dos cachos (CAMARGO e vinhos de mesa. A colheita dos cachos pode
et al. 2010). coincidir com as variedades BRS Violeta, Bordô e
Recomenda-se a poda mista (varas de 6 a 8 Isabel Precoce (SOUZA et al. 2013).
gemas e esporões com 1 a 2 gemas) e aplicação de
cianamida hidrogenada, em regiões mais quentes BRS Cora
ou em anos com menor acúmulo de frio, devido à
característica intrínseca da variedade de dificuldade Lançada em 2004, a BRS Cora foi obtida por
de superação de dormência das gemas (CAMARGO cruzamento entre Muscat Belly A x H.65.9.14 (Bordô
et al. 2008). x Niagara Branca), realizado em 1992, pela Embrapa
Na Serra Gaúcha, é recomendado o cultivo Uva e Vinho de Bento Gonçalves-RS (Figura 59A).
sobre o porta-enxerto 101-14 Mgt, com 2,8 a 3 metros Foi selecionada pela boa capacidade produtiva, alto
entre linhas e 2 a 3 metros entre plantas, conduzidas teor de açúcar das uvas e intensa coloração do mosto
em latada. No Norte do Paraná, é recomendada a (CAMARGO, MAIA, 2004).
utilização do porta-enxerto ‘IAC 766’ (CAMARGO et As plantas dessa variedade apresentam médio
al. 2010). A variedade BRS Carmem pode ser usada vigor, o que dificulta a formação das plantas no
para elaboração de sucos e vinhos puros, ou também primeiro ano do plantio. Devido à alta fertilidade
para cortes, como por exemplo, com a variedade de gemas, com mais de 2 cachos por ramo, é
Isabel, já que suas colheitas podem ocorrer na mesma recomendado o controle de produção, ajustando
época (CAMARGO et al. 2010, SOUZA et al. 2013). a produtividade para no máximo 30 toneladas por
hectare, para que a qualidade das uvas não fique
Concord Clone 30 prejudicada. Durante o período de validação, chegou
a produzir em uma safra 72 toneladas por hectare, mas
Trata-se de um clone da variedade Concord, as uvas não atingiram a maturação completa e houve
com maturação mais precoce, lançado pela Embrapa perda significativa de qualidade. Adapta-se ao sistema
Uva e Vinho, em 2000 (Figura 58C). A planta inicial foi de poda curta ou mista; assim, tanto os sistemas
obtida pelo programa de seleção clonal, que prospectou de condução horizontais como os verticais podem
plantas em 21 vinhedos de 10 municípios da Encosta ser indicados para esta variedade. Recomenda-se a
Superior do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul. utilização de porta-enxertos vigorosos. Foram obtidos
Foram marcadas 234 plantas e, depois, propagadas 194 bons resultados com a variedade enxertada sobre
plantas para avaliação clonal. O clone 30 destacou-se o Paulsen 1103, para a região Sul, e o IAC 572 em
pela maturação precoce de seus cachos, que ocorre regiões tropicais (CAMARGO et al. 2010).
cerca de 15 dias antes da média dos outros clones de Seus cachos são de tamanho médio, com
Concord (CAMARGO et al. 2000). cerca de 150 gramas, de formato cilíndrico-cônico,
Apresenta desempenho agronômico alados e soltos. As uvas são de sabor tipicamente
semelhante à variedade Concord, não diferindo labrusca, com teor de açúcar entre 18 e 20°Brix,
também com relação à qualidade das uvas. Assim acidez total próxima de 100 meq L-1 e pH na faixa
como a variedade original, recomenda-se o cultivo de 3,45 (CAMARGO, MAIA, 2004). As plantas de
em regiões de clima temperado e subtropical, devido BRS Cora brotam na segunda quinzena de setembro
123
Variedades e Porta-enxertos
A B C
Figura 58. Cachos das variedades Isabel Precoce (A), BRS Carmem (B) e Concord Clone 30 (C).
Fonte: Feldberg et al., 2011.
e podem ser colhidas no mês de fevereiro, antes da Paulsen 1103, testados com sucesso na região da Serra
variedade Isabel e pouco depois da variedade BRS Gaúcha (CAMARGO et al. 2010).
Rúbea (SOUZA et al. 2013). Os cachos da variedade BRS Rúbea são
O controle do míldio deve ser feito como para a pequenos, com 100 gramas, cônicos, frequentemente
variedade Isabel, devido à sensibilidade semelhante. É alados, medianamente compactos a compactos. O
tolerante à antracnose e, em regiões tropicais, mostrou- sabor das uvas é foxado, típico de V. labrusca, com
se sensível à requeima e ferrugem. Por ser uma uva com cerca de 15°Brix e acidez total ao redor de 60 meq
alto potencial corante, é recomendada a mistura de 10 L-1 (CAMARGO, DIAS, 1999).
a 15% de seu suco ou vinho nos produtos elaborados Apresenta comportamento semelhante à
com a uva Isabel, melhorando a coloração final dos variedade Bordô, com relação ao míldio, antracnose,
mesmos (CAMARGO, MAIA, 2004). oídio e podridões de cacho, ou seja, é bastante rústica
(CAMARGO et al. 2010). Quanto à fenologia, é um
BRS Rúbea pouco mais tardia; brota na segunda quinzena de
setembro e amadurece no mês de fevereiro, entre as
Variedade da espécie Vitis labrusca, foi obtida variedades Concord e Isabel (SOUZA et al. 2013).
pelo cruzamento realizado em 1965 entre Niágara Sua principal qualidade está na intensa coloração do
Rosada x Bordô, na Estação Experimental de Caxias do mosto, contribuindo para melhoria do suco de uva e de
Sul-RS. Foi desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho em vinhos de mesa elaborados com as variedades Isabel
cooperação com o Instituto de Pesquisas Agronômicas e Concord (CAMARGO, 2005).
– IPAGRO e lançada em 1999 (CAMARGO, DIAS,
1999). RS Magna
É uma variedade vigorosa e com hábito de
crescimento prostrado. Apresenta fertilidade média, Esta variedade foi obtida pelo cruzamento
com 1 a 2 cachos por ramo e alcança produtividades entre BRS Rúbea x IAC 1398-21 (Traviú), realizado
entre 15 e 25 toneladas por hectare (Figura 59B). Para na Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves-
a região Sul, recomenda-se a poda mista e densidades RS. Foi selecionada em Jales-SP, devido ao bom
de plantio de, no máximo, 2000 plantas por hectare. potencial produtivo, sabor que lembra framboesas,
Pode ser cultivada em pé-franco, mas é recomendada alto teor de açúcar e matéria corante (Figura 59C).
a utilização de porta-enxertos, como o 101-14 Mgt e Posteriormente, foi avaliada também em Bento
124
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C
Figura 59. Cachos das variedades BRS Cora (A), BRS Rúbea (B) e BRS Magna (C).
Fonte: Feldberg et al. 2011.
125
Variedades e Porta-enxertos
na produtividade (MAIN et al. 2002; MCKENRY et al. uma espécie mais vigorosa, a Vitis rupestris, e para os
2004). Ao afetar o tamanho da baga e a composição híbridos V. riparia x V. rupestris, como o ‘Couderc 3309’
química da uva, como o conteúdo de açúcar, ácidos e o ‘101-14 Millardet et de Grasset’; então, se passou
orgânicos e antocianinas, os porta-enxertos podem aos híbridos V. berlandieri x V. riparia (161-49, 420A,
determinar a composição do vinho (REYNOLDS, Kobber 5BB), mais vigorosos, e que encontraram grande
WARDLE, 2001; OLLAT et al. 2003). Na maioria aceitação em muitas zonas vitícolas. Por último, foram
dos casos, é difícil estabelecer se mudanças na selecionados os híbridos V. berlandieri x V. rupestris
composição da uva se devem diretamente ao acúmulo (99 Ritcher, 140 Ruggeri, 1103 Paulsen), ainda mais
de metabólitos, ou indiretamente às diferenças de vigorosos, que estão difusos em zonas quente-áridas,
vigor, produtividade ou arquitetura da copa. Segundo por sua notável resistência à seca (FREGONI, 2005).
Jackson e Lombard (1993), os efeitos dos porta-enxertos
na composição da uva e da qualidade do vinho não 5.6.2. A classificação dos porta-enxertos
são conhecidos. Eles sugerem que esses efeitos são,
provavelmente, dependentes do vigor do porta-enxerto Os porta-enxertos utilizados pertencem ao sub-
e, consequentemente, sua influência na expansão da gênero Vitis. As principais espécies são V. riparia, V. rupestris,
copa e na exposição da uva. V. berlandieri e em menor escala V. monticola, V. aestivalis,
Há uma percepção comum de que os porta- V. arizonica e V. champini.
enxertos afetam a duração do ciclo de crescimento Vitis riparia – utilizado em terrenos pobres em
da copa e, consequentemente, adiantam ou atrasam calcário e em ambientes temperados; sua vantagem é
a maturação. Geralmente, se aceita que porta-enxertos o baixo vigor, que antecipa a brotação e a maturação.
vigorosos tendem a prolongar o período de crescimento Induz, porém, a produtividade levemente inferior, quando
vegetativo, e isso reduz o acúmulo de açúcar na uva, comparada com outros porta-enxertos (FREGONI, 2005).
enquanto que porta-enxertos de baixo vigor induzirão Vitis rupestris – A seleção ‘du Lot’ é bastante
a maturação mais precoce da baga. Pongrácz (1983) difundida. Caracteriza-se por um aparato radicular que
refere-se ao ‘Riparia Gloire’ e ao ‘101-14 Mgt’ como atinge grandes profundidades, tem boa afinidade com
porta-enxertos com ciclo vegetativo mais curto que os os enxertos, ótimo enraizamento de estacas, não é
demais. Entretanto, sabe-se que diante de situações de muito resistente a seca, mas tem grande capacidade
estresse, plantas sobre porta-enxertos de baixo vigor de absorção de microelementos. Seu problema é a
podem produzir uvas com menor concentração de sensibilidade a viroses, tanto que ‘Rupestris St. George’
açúcar na colheita, quando comparados com plantas é usada como planta teste (FREGONI, 2005).
equilibradas de maior vigor (WHITING, 2004). Vitis berlandieri – Essa espécie não é usada como
Um porta-enxerto vigoroso aumenta o ciclo tal, pela baixa capacidade de enraizamento de estacas.
vegetativo da planta e retarda o início da fase de Suas características positivas são a resistência à seca e ao
maturação (mudança de cor das bagas). Quando calcário (FREGONI, 2005).
a cultura é realizada em uma zona onde o período
de colheita é limitado por condições climáticas 1° Grupo: híbridos americanos
desfavoráveis, isso acaba resultando em uma barreira
para a maturação da uva e numa produção de baixa V. riparia x V. rupestris
qualidade, com alto teor de proteínas, pectina, taninos
herbáceos e elementos indesejáveis durante o processo Pertencem a esse grupo o 3306, 3309, 101-14
de vinificação (FREGONI, 2005). e o Schwarzmann. É um grupo de bons porta-enxertos,
Na evolução histórica, o primeiro porta-enxerto de vigor moderado, adaptados a terrenos de discreta
utilizado era da espécie Vitis riparia. Essa espécie fertilidade, onde se pode obter bons níveis qualitativos.
pura induz um vigor limitado a planta, permite uma Não se adaptam a regiões secas, mas não toleram
antecipação da maturação, o que é desejável em regiões umidade excessiva e compactação do solo. Induzem
mais frias. Sucessivamente, a escolha foi orientada para a antecipação da maturação (FREGONI, 2005).
126
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Couderc 3309 (3309C). Este porta-enxerto é sensível a viroses e não se adapta bem a terrenos
confere à planta vigor baixo a moderado; como secos (FREGONI, 2005).
outros porta-enxertos desse grupo, induz à maturação
precoce da uva (Tabela 12). Caracteriza-se por altas V. berlandieri x V. rupestris
produtividades e é recomendado para variedades
de baixa frutificação efetiva. A elevada frutificação São porta-enxertos híbridos, caracterizados pelo
induzida pelo porta-enxerto requer um ajuste na carga elevado vigor, boa resistência à seca (maior que os
dos frutos. O 3309C possui sistema radicular profundo grupos anteriores), mas apresentam dificuldades de
e bem ramificado. Seu desempenho é melhor quando enraizamento (FREGONI, 2005). Pode-se citar o 99
se encontra em solos profundos, bem drenados e Richter e o 110R (muito resistente a seca).
com bom suprimento de água. Possui tolerância à Paulsen 1103 (1103P). É um porta-enxerto
seca, de fraca a moderada. Como estratégia para muito vigoroso (Tabela 12), tem longo ciclo vegetativo
evitar a perda excessiva de água pela transpiração e retarda a maturação da uva. Seu sistema radicular é
nas estações mais quentes, o porta-enxerto 3309C profundo e altamente desenvolvido, é adaptado a uma
restringe sua área foliar da copa. Ele não é adequado ampla gama de condições de solo. É mais tolerante
para solos secos, rasos e compactados. Possui a à seca que 99R e 110R, mas assimila mal o potássio
tendência para induzir deficiência de potássio em (SHAFFER et al. 2004).
plantas jovens, submetidas a elevadas produtividades
(SHAFFER et al. 2004). 2° Grupo: híbridos americanos diversos e
101-14 Millardet et de Grasset (101-14 Mgt). complexos
É o porta-enxerto mais vigoroso do grupo V. riparia x V.
rupestris. Ao contrário do 3309C, esse porta-enxerto Entre os mais importantes se registram: Solonis x
induz menores produtividades e também influencia no Riparia 16-16 (introduzido nesse grupo pela presença de
amadurecimento precoce da uva. O 101-14 Mgt possui V. solonis); 16-13 (Solonis x Othelo) (Othelo é um híbrido
sistema radicular bem ramificado e bastante superficial. V. labrusca x V. riparia x V. vinifera), são ambos porta-
É mais indicado para solos profundos e sem problemas enxertos resistentes a nematoides. A hibridação 16-13 x
com seca. É um bom porta-enxerto para solos argilosos, Dogridge (seleção de V. champini) deu origem aos porta-
ainda que estes solos sejam mal drenados. Tem baixa enxertos Harmony e Freedom, ambos resistentes aos
tolerância à seca (Tabela 12) e não é indicado para solos nematoides do gênero Meloidogynae. São promissores
bem drenados sem irrigação. É sensível ao baixo pH para ambientes tropicais (FREGONI, 2005).
e não deve ser usado em solos ácidos sem aplicação
de calcário. Na África do Sul, ele apresenta problemas 3° Grupo: híbridos euro-americanos
de incompatibilidade com algumas variedades, como
Syrah e Chardonnay (SHAFFER et al. 2004). São resistentes a filoxera, mas não forneceram
resultados qualitativos satisfatórios. A V. vinifera trouxe a
V. berlandieri x V. riparia qualidade resistência ao calcário, à seca e à salinidade.
Enquanto que a espécie americana contribui com a
Esses porta-enxertos mostram maior afinidade produtividade e a resistência à filoxera (FREGONI,
de enxerto, quando comparados com os híbridos 2005).
anteriores, melhor resistência à seca e maior vigor. O
420A, criado por Millardet, tem como defeito a baixa V. vinifera x V. berlandieri
taxa de enraizamento de estacas, mas é interessante
pelo vigor reduzido e boa resistência à seca. O Kobber O 41B (Chasselas x V. berlandieri): caracteriza-se
5BB, obtido por Teleki e selecionado por Kobber, por uma notável resistência ao calcário e à seca, não é
resulta mais vigoroso, enraíza bem, produz muita tão vigoroso, mas tem baixa resistência a filoxera. É mais
matéria seca e induz altas produtividades. Porém, difuso na Espanha e na França. 333 EM (Cabernet S. x
127
Variedades e Porta-enxertos
V. berlandieri) é muito resistente ao calcário, dele deriva Em um trabalho recente, realizado nas
o Fercal (333 EM x BC1), que é considerado o porta- regiões de altitude elevada, Brighenti (2010) avaliou
enxerto mais resistente ao calcário ativo (FREGONI, o desempenho vitícola da variedade Cabernet
2005). Sauvignon, enxertada sobre 1103 P, 3309 C e 101-
14 Mgt e conduzida em espaldeira e manjedoura.
V. vinifera x V. rupestris Nesse trabalho, foi observada a importância da
busca pelo equilíbrio entre a parte vegetativa e a
É um grupo de importância secundária. Cita-se parte produtiva das plantas. Esse equilíbrio pode
o G1 (Aramon x V. rupestris Ganzin 1), que forneceu ser obtido ao combinar um porta-enxerto vigoroso,
resultados negativos no Vale do Napa e o Golia, híbrido como o 1103 P, com um sistema de condução que
de Pirovano com Carignan, V. riparia x V. rupestris favoreça o crescimento vegetativo da planta como
(FREGONI, 2005). a manjedoura.
Também foi observado que a combinação de
V. vinifera x V. rotundifolia porta-enxertos menos vigorosos, como o 101-14 Mgt
ou o 3309 C, em um sistema de condução como a
São porta-enxertos imunes ou resistentes a espaldeira, que limita o crescimento vegetativo da
algumas das mais importantes pragas e doenças da planta, influencia de maneira positiva na produtividade
videira, porém, porta-enxertos como o 043-43 são e na qualidade das uvas destinadas à produção de
sensíveis à filoxera e não toleram solos calcários. Cita-se vinhos finos (BRIGHENTI, et al. 2011).
os 39-16; 043-43; 44-4 (OLMO, 1971). Em trabalho posterior, Allebrandt (2014) avaliou
o desempenho viti-enológico da variedade Merlot
V. rufotomentosa x V. vinifera enxertada sobre 1103 P, 3309 C e 101-14 Mgt, no
muncípios de São Joaquim (28°14’S, 49°58’W e
Estes híbridos recentes não foram testados na 1.300m) e Urubici (27°56′S, 49°34′W e 1.150m),
Europa. Foram obtidos na América do Norte e são no Planalto Sul de Santa Catarina.
resistentes ao nematoide Xiphinema index, vetor do vírus Quando se compararam os porta-enxertos 3309
“fanleaf”. Cita-se o 171-6 (FREGONI, 2005). C e 101-14 Mgt com o porta-enxerto tradicionalmente
utilizado na região (1103 P), observou-se que estes
5.6.3. Considerações a respeito da escolha induziram uma antecipação na mudança de cor das
do porta-enxerto bagas, proporcionando um maior acúmulo de graus-
dia durante o período de maturação. Além disso, eles
Na prática, os porta-enxertos recomendados conferiram melhores índices de equilíbrio vegetativo-
pela pesquisa em Santa Catarina, com base em produtivo, através da redução do vigor e melhoria dos
resultados obtidos no Vale do Rio do Peixe, são do índices produtivos (ALLEBRANDT et al. 2015).
grupo V. berlandieri x V. rupestris, como Paulsen 1103 O porta-enxerto 101-14 Mgt conferiu um
e Ru 140, em função da sua resistência à fusariose. Em adiantamento da maturação tecnológica e fenólica
locais que apresentam problemas com a pérola-da-terra da variedade Merlot. As características cromáticas,
e o declínio da videira, recomendam-se os híbridos de relacionadas à cor das antocianinas, também foram
rotundifolia, como VR 039-16 e VR 043-43 (SCHUCK, maiores nos vinhos da combinação de Merlot com 101-
et al. 2001). 14 Mgt. O porta-enxerto 1103 P proporcionou bagas
Contudo, convém ressaltar que os porta- mais ácidas e com menores teores de antocianinas
enxertos originados de rotundifolia também causam (ALLEBRANDT, 2014).
um atraso na maturação da uva e induzem maior Os resultados encontrados por Allebrandt
vigor à copa, razão pela qual o espaçamento deve (2014) revelam que porta-enxertos que reduzem o
ser criteriosamente estudado para cada situação de vigor da copa podem levar a uma melhor adaptação da
plantio (SCHUCK, et al. 2001). videira no Planalto Sul de Santa Catarina, propiciando
128
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
melhores índices de maturação das uvas destinadas à ALVARENGA, A. A.; REGINA, M. D. A.; FRAGUAS,
elaboração de vinhos finos, especialmente quando se J. C.; SILVA, A. L. D.; CHALFUN, N. N. J. Aluminum
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Malègue
Schwarzmann
101-14 Mgt
420A Mgt
161-49 C
Gravesac
1103 P
140 Ru
3309 C
1616 C
Porta-enxerto
125AA
110R
5BB
99R
SO4
8B
5C
Caracteristica
44-53
Adaptação a solos argilosos, secos 1 3 2 1 3 2 1 - 3 3 1 2 4 3 3 1 2 2
e rasos
Adaptação a solos argilosos e 1 1 1 2 1 1 1 - 3 2 1 3 3 3 3 2 3 3
profundos
Adaptação a solos arenosos, secos 2 2 2 3 2 1 1 - 1 1 2 2 3 3 4 2 2 3
e profundos
Tolerância a solos alagados 3 3 3 - 2 2 3 - - - 2 1 3 3 2 3 3 3
Tolerância a solos ácidos 1 1 1 1 2 2 3 - 1 3 - 4 3 2 1 1 3 4
Aporte de nitrogênio 2 2 3 2 4 4 4 1 2 4 3 3 2 2 3 3 2 2
Vigor conferido à planta 1 2 3 1 3 3 3 2 3 4 3 3 2 4 3 3 1 2
Tolerância à seca 1 3 1 1 2 3 2 3 2 4 2 2 3 4 4 2 2 1
Resistência a Mesocrinema xenoplax 2 1 4 2 4 2 2 2 2 - - 2 3 1 2 - 2 1
Ciclo Vegetativo 1 2 1 1 2 2 2 3 3 4 2 4 1 4 2 4 2 2
Resistência à Filoxera 4 4 4 4 3 4 3 - 4 - - 4 4 4 4 2 3 -
Tendência ao enraizamento 2 3 3 3 2 2 2 - 3 - - 3 2 2 2 2 3 -
Afinidade com o enxerto 1 1 1 1 1 1 1 - 1 - - 3 3 3 3 - 3 -
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Variedades e Porta-enxertos
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6. Propagação
da Videira
Tiago Afonso de Macedo
Antonio Felippe Fagherazzi
Jean Carlos Bettoni
Nelson Pires Feldberg
Aike Anneliese Kretzschmar
6.1 Introdução
U
m dos principais fatores que garantem o sucesso na viticultura moderna
é a qualidade das mudas utilizadas pelo produtor, pois é nessa fase
inicial que será determinada a qualidade, o potencial produtivo e a
longevidade do vinhedo formado. Para produzir mudas de videiras
com eficiência e qualidade, devem-se levar em consideração alguns aspectos
importantes, como a forma de obtenção do material vegetativo, a sanidade das
plantas, o método de propagação e as técnicas de manejo adotadas, atendendo
à legislação vigente.
A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar a espécie de
forma controlada. Seu objetivo é a multiplicação vegetal, garantindo a manutenção
das características genéticas da planta original ou matriz (propagação assexuada), ou
gerar variação genética com o objetivo de obter novos materiais para o melhoramento
genético (propagação sexuada).
A propagação da videira é tão antiga quanto sua história. Graças a esta
técnica de multiplicação de plantas, possibilitou-se que desbravadores e imi-
grantes disseminassem esta espécie a longas distâncias, tornando-a conhecida
e produzida nas regiões mais remotas do mundo.
A partir da chegada da filoxera (Phylloxera vastatrix), principalmente
em países da Europa, novos critérios e tecnologias tiveram que ser adotados
na propagação da videira. Já não era mais suficiente propagar as plantas da
variedade copa de forma direta (pé-franco); necessitava-se do auxilio de plantas
que fossem tolerantes a esta praga.
Produtores de uva das regiões atacadas pela filoxera perceberam que
plantas de origem americana, as quais haviam sido importadas para aportarem maior
resistência ao míldio, eram também resistentes a filoxera. A partir desta observação,
iniciou-se a utilização desta espécie como porta-enxerto para as variedades copas,
denominadas de Vitis vinifera, as quais eram suscetíveis ao ataque da filoxera.
A propagação da videira é realizada principalmente por dois métodos, a
estaquia e enxertia das plantas, mas também podem ser utilizados outros métodos
de multiplicação, como a alporquia, megulhia, micropropagação e propagação
sexuada.
134
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A
6.2 Propagação Sexuada
135
Propagação da Videira
136
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
eliminando-se gavinhas, pecíolos e folhas, cortando responsáveis pela formação de raízes adventícias.
os ramos em estacas do tamanho desejado. As estacas, Dependendo da variedade, para aumentar a taxa de
preferencialmente, devem possuir um tamanho de 35 enraizamento, pode-se fazer a imersão da base de
a 50 centímetros e diâmetro superior a 10 milímetros, estacas, por 10 segundos, em solução líquida de 1500
contendo no mínimo 3 gemas (Figura 61A). mg L-1 de ácido indol-3-butírico (AIB). Após realizar esta
Depois de obtidas as estacas, elas podem ser etapa, as estacas podem ser plantadas em recipientes,
armazenadas, por um período em torno de um mês, em canteiros no solo ou em local definitivo a ser
em local fresco, escuro e úmido, mantendo a base das decidido pelo produtor ou viveirista.
estacas enterradas em areia ou serragem úmida, para Após a aplicação de AIB, as estacas são
que não ocorra a desidratação. Em grandes quantidades, acondicionadas em leito de areia, em casa-de-vegetação
podem ser armazenadas em câmaras frigoríficas, com condições de umidade e temperatura controladas,
previamente desinfetadas com hipoclorito de sódio enterradas em torno de 3 cm, para que toda a região
2,5 %, com temperatura em torno de 1-3 °C e umidade onde foram feitas as lesões fique no substrato poroso e,
relativa do ar em 80 %. Em pequenas quantidades, depois de enraizadas, podem ser plantadas no campo,
a armazenagem pode ser feita em refrigeradores ou enxertadas (no caso de porta-enxerto). As estacas
domésticos, isolando o material em jornais ou toalhas podem também ser plantadas em local definitivo, onde o
úmidas. produtor irá instalar o vinhedo, já com os espaçamentos
Após esse período, na base de cada estaca é adequados para receber o enxerto da variedade copa.
realizado um corte transversal, 0,5 cm abaixo da última Contudo, esse procedimento apresenta menores taxas
gema; e no ápice, um corte em bisel, 3 cm acima da de sobrevivência e certa desuniformidade das plantas,
última gema. Na parte basal de cada estaca, podem ser sendo necessária a reposição das plantas mortas.
feitas duas lesões (Figura 61B) em sentido longitudinal, A melhor alternativa é realizar o enraizamento
com aproximadamente 3 cm de comprimento, com o sob controle de umidade e temperatura e, depois de
objetivo de expor as células do periciclo (Figura 61C), enraizadas, plantar as estacas no campo, em um viveiro,
Figura 61. Estaca lenhosa padrão para propagação (A), lesões em sentido longitudinal na base de estacas
lenhosas de videira (B) e formação de raízes adventícias originadas de células do periciclo (C).
Fonte: Bettoni, C. J., 2014.
A B C
137
Propagação da Videira
Figura 62.Viveiro de porta-enxertos de videira forçagem. Nesse método, antes mesmo dos
em estação de crescimento vegetativo (A) e no por ta-enxer tos estarem enraizados, fa z- se
período invernal (B). a enxertia da variedade copa. Os materiais
Fonte: Bettoni, C.J., 2014. de porta-enxerto e copa devem ter diâmetro
semelhante; após a enxertia é feita a proteção
da região do enxer to com parafina ou fita
específica para enxertia, e o armazenamento
em caixas plásticas, contendo água ou serragem
umedecida para que ocorra a estratificação do
enxerto. As caixas são cobertas com plástico
e mantidas em ambientes com temperatura
de 25 ºC e umidade relativa em torno de 90 a
95 %. O período de estratificação é variável,
mas, geralmente, em torno de 30 dias. O que
determina o tempo dessa fase é a cicatrização
do enxerto. Após a formação do calo para
cic atri zação do enxer to, recomenda- se a
permanência da caixa por um ou dois dias na
A sala de estratificação, com as luzes ligadas e
a caixa descoberta, enrijecendo as células do
calo formado em torno do enxerto. Na base
da estaca, já é possível visualizar calos para
formação das raízes, e a gemas da variedade
copa iniciando a brotação. Nesta fase, são
descartadas as estacas em que se verificam
problema s de má soldadura. Em seguida,
realiza- se a aplicação de AIB na base das
estacas e estas são transplantadas em canteiros
no viveiro, onde receberão todos os manejos
adequados para que, no próximo inverno,
ela s possam ser arrancada s e preparada s
para comercialização. A grande vantagem do
B método é que em apenas um ano é possível
obter uma muda enxertada para ser plantada
em local definitivo.
Para os canteiros, recomenda- se o
em canteiros com sistema de irrigação e fertirrigação, revestimento com filme de polietileno preto, para que
com espaçamento de 15 cm entre estaca e 50 cm não se tenham problemas de plantas invasoras e para
entre fileira (Figura 62). Elas permanecerão por um que o solo mantenha temperaturas mais elevadas,
período de nove meses a um ano no viveiro e, então, favorecendo o crescimento radicular (Figura 63).
serão arrancadas e preparadas para comercialização.
O u t ro p ro ce d i m e n to q u e p o d e s e r Estacas semi-lenhosas
adotado para a formação de mudas de videira,
mas exige mão-de -obra mais capacitada, é As estacas semi-lenhosas são coletadas no final do
a fo r m a ç ã o d e e n xe r to s , o u e s t a c a s d e verão e início do outono, quando as videiras encerraram o
porta-enxertos enxertadas pelo processo de crescimento vegetativo e estão entrando em dormência.
138
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 63. Mudas de videira originadas pelo é pouco utilizado na viticultura devido aos custos
método de forçagem plantadas em canteiro de produção, que são mais elevados.
revestidos com filme de polietileno preto.
Fonte: Bettoni, C.J., 2014. Estacas herbáceas
139
Propagação da Videira
Figura 64. Mergulhia realizada para repor plantas (A) e aumentar a densidade do vinhedo (B)
implantado em ‘pé franco’.
Fonte: Macedo, A.T., 2014.
A B
140
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C
141
Propagação da Videira
Figura 66. Detalhe do encaixe do garfo com a fenda no porta-enxerto (D), enxerto amarrado com
elástico e posteriormente recoberto com fita plástica própria para enxertia (E) e enxerto coberto com
saco plástico preenchido com serragem umedecida (F).
.Fonte: Fagherazzi, F. A. & Macedo, A. T., 2014
A B C
A B
com uma ou duas gemas e, paralelamente a gema ambas as partes. Quando o diâmetro do garfo for
basal, realizam-se dois cortes em bisel em ambos os inferior ao da cepa, deve-se priorizar um dos lados da
lados (Figura 65B e 65C). O garfo deve ser feito com o fenda para o contato do córtex. Imediatamente,
mesmo comprimento do corte (fenda) que foi realizado prossegue - se com a f ixação do enxer to,
na cepa do porta-enxerto. podendo-se utilizar fitas plásticas, borrachas,
Uma vez preparado o garfo, o enxerto deve ser sisal e até mesmo fibras de vime. Posteriormente,
realizado imediatamente, evitando assim a desidratação pode-se recobrir a região de enxertia com fita
e oxidação do material. Encaixa-se o garfo na fenda plástica biodegradável, própria para enxertia
(Figura 66D), priorizando o contato do córtex de (Figura 66E), sacos plásticos preenchidos com
142
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C D
serragem umedecida (Figura 66F) e/ou realizar elevado custo inicial para aquisição de equipamentos
um amontoado de terra em volta do enxerto. e construção de câmaras quente e fria. No entanto,
o rendimento de produção é superior quando
Inglês complicado ou dupla fenda comparado à enxertia a campo, além de possibilitar a
comercialização da muda em um período de um ano.
Enxertia geralmente utilizada no campo, em A coleta de material do porta-enxerto e da
porta-enxertos já estabelecidos, ou mesmo como variedade copa para a realização da enxertia de mesa
enxertia de mesa, com estacas e/ou porta-enxertos já tipo ômega deve ser realizado durante o período de
enraizados em viveiro, podendo ser feita com auxílio repouso vegetativo das plantas. Devem-se coletar ramos
de máquina, ou mesmo com canivete de enxertia. Para do ano com boa qualidade fitossanitária, evitando
realizar esta enxertia, faz-se necessário o uso de ramos ramos ladrões, oriundos do tronco ou de ramos de
equivalentes em diâmetro. ano, pois possuem a característica menos produtiva
O garfo será confeccionado com uma ou duas quando enxertados. Após a coleta, os ramos devem
gemas, faz-se um corte raso e angular ao lado oposto a ser preparados em feixes e devidamente identificados;
cerca de 5 mm abaixo da gema basal, com comprimento procuram-se coletar ramos com diâmetro de 7 a 12 mm.
de 2,5 cm de comprimento (Figura 67A). Um corte no Após o preparo, o material deve ser armazenado
sentido oposto do garfo é realizado a cerca de dois em câmara frigorífica com temperatura em torno de 2
terços da ponta, com isso se formará a ‘lingueta’ (Figura a 4 ºC, com umidade superior a 90 %. No momento da
67B). Posteriormente, faz-se a mesma sequência de enxertia, as estacas do porta-enxerto devem ser cortadas
cortes no porta-enxerto para receber o garfo. Após, com 28 a 30 cm de comprimento; o corte na base deve
faz-se o alinhamento e encaixe das partes (Figura 67C). ser realizado logo abaixo da gema e também devem ser
A união pode ser presa com fita de enxertia e/ou outro eliminadas todas as gemas da estaca; os enxertos devem
material apropriado. ser cortados com uma gema, deixando em torno de 5
cm de entrenó abaixo da gema (Figura 68B); deve-se
Ômega evitar a desidratação das estacas e, quando necessário,
hidratá-las 24 horas antes da enxertia.
Este tipo de enxertia é utilizado geralmente Com o auxílio da máquina com corte tipo ômega
por médios a grandes viveiristas, tendo em vista o (Figura 68A), realiza-se o corte do enxerto e logo após,
143
Propagação da Videira
A B C D E
144
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C D
estão com aproximadamente trinta centímetros de do vinhedo no primeiro ano. Pode ser realizada
comprimento, pode-se realizar a enxertia. Quanto mais em fenda cheia ou inglês complicado, a campo ou
cedo ela for realizada, melhor será o resultado, pois o ambiente protegido. Além disto, pode diminuir o tempo
enxerto terá maior tempo de crescimento. necessário para a produção de mudas. A partir de
Para a formação do escudo, faz-se um corte com estacas enraizadas de forma herbáceas ou lenhosas,
1 a 2 cm acima da gema, prolongando-o no mesmo realizando posterior a enxertia verde nos ramos de
comprimento para baixo da mesma; posteriormente, crescimento ‘do ano’, diminui-se o tempo de obtenção
com um corte em ‘bisel’ (Figura 69C), libera-se o da muda em até um ano.
escudo do ramo (Figura 69D). Os escudos (Figura 69E) Para tal procedimento, recomenda-se a
podem ser armazenados em recipientes com água e, realização da enxertia verde nos meses de novembro e
se necessário, guardados em câmara fria para utilização dezembro, pois neste período já ocorreu o crescimento
no dia posterior. adequado do porta-enxerto, assim como haverá
No tronco da planta, onde se realizará o enxerto, tempo suficiente para o enxerto obter um crescimento
fazem-se dois cortes, originando a forma de ‘T’, podendo satisfatório e lignificação adequada dos ramos. Esse
ser normal ou invertido (Figura 70A). O corte que método é normalmente utilizado para variedades
corresponde à parte superior do ‘T’ deve ter o dobro que apresentam dificuldade de pegamento quando
da largura do escudo. O corte que representa a parte realizado em outra época.
inferior do ‘T’ deve ter um comprimento equivalente No início da brotação dos porta-enxertos, deve-
ao do escudo (2 a 4 cm). No ponto onde se encontram se selecionar 2 a 3 ramos (Figura 71A) bem posicionados,
os dois cortes, abre-se o córtex (Figura 70B), encaixa- e estes devem ser conduzidos adequadamente através
se o escudo na parte basal, onde foi feito o ‘chanfro’, de amarrações periódicas no tutor, com retiradas
deslizando-o até encaixar completamente (Figura 70C). frequentes das feminelas. No momento da enxertia,
Aperta-se o córtex e, com o auxílio de fita plástica, de os porta-enxertos estão em torno de 5 mm de diâmetro,
baixo para cima, inicia-se a amarração, deixando livre e os garfos da variedade de interesse para a enxertia
ou não a gema do escudo, dependendo do tipo de devem ser coletados, preferencialmente, da região
material que se utilizará para amarração. mediana do ramo, possibilitando a coleta do material
em condições herbáceas, porém rígido. Estes devem ser
Enxertia Verde armazenados em recipientes que evitem a desidratação;
uma forma prática é o enrolamento do material em
A enxertia verde pode ser utilizada para repor jornal úmido e acondicionado em caixas de isopor. A
falhas da enxertia lenhosa, possibilitando a formação enxertia deve ser feita em torno de 20 a 30 cm do solo,
145
Propagação da Videira
Figura 71. Brotações selecionadas do porta- deixando-se de 2 a 3 folhas abaixo dela; deve ser feita
enxerto (A), enxertia do garfo no porta-enxerto em fenda cheia em um dos ramos (Figura 71B e C),
(B), encaixe do garfo no porta-enxerto (C) protegendo a região de enxertia até o ápice do garfo
retirada das feminelas nos ramos pulmões (D) e com fita biodegradável.
tutoramento do enxerto (E). Os demais ramos (1 ou 2) são voltados para o solo,
Fonte: Pirolu, C., 2014. formando ramos “pulmão”, devendo ser monitorados
rotineiramente com a retirada das feminelas, de modo
A B que os brotos originados das mesmas não venham a
competir com o broto originado do enxerto (Figura
71D). A brotação originária do enxerto deve ser tutorada
de forma a evitar a quebra do novo ramo. No período
de repouso vegetativo, devem ser eliminados os dois
ramos “pulmão”, deixando-se somente a região onde
foi feita a enxertia (Figura 71E).
6.4 Micropropagação
C D
6.4.1. Introdução
146
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
extremamente difícil, como as videiras de origem Figura 72. Plantas matrizes de videiras
muscadíneas (Vitis rotundifolia) (LEE, WETZSTEIN, fornecedoras de explantes, mantidas em casa
1990). de vegetação com condições controladas
Na produção comercial de mudas, todas as de umidade e temperatura.
vantagens do método de micropropagação são válidas, Fonte: Bettoni, C.J., 2014.
desde que os genótipos de interesse para multiplicação
ou conservação apresentem qualidade fitossanitária
comprovada e sejam isentos de viroses. Na atualidade,
as viroses constituem o principal problema fitossanitário
das plantas cultivadas, com estimativa anual de perda
de US$ 1,5 bilhão nos Estados Unidos (KOMAR et
al. 2007). Para tanto, é imprescindível a indexação
das plantas, permitindo atestar a sanidade do material
multiplicado via cultura de tecidos. Dentre os métodos
com essa finalidade, estão a análise sorológica por
ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), métodos
moleculares (PCR e RT-PCR) e indexagens biológicas.
Dentre as técnicas utilizadas na micropropagação
da videira, a mais comum é a organogênese, que
envolve o cultivo de estruturas organizadas, como ápices
caulinares, cultura de meristemas e segmentos nodais.
O sucesso dos protocolos de micropropagação
está ligado a vários fatores, desde as condições Um método interessante para manutenção das
fisiológicas da planta matriz, até as características do plantas matrizes e obtenção de explantes é baseado na
ambiente em que as plantas estão mantidas, assepsia propagação de genótipos de interesse por estaquia ou
dos explantes, do manipulador e do meio nutritivo, enxertia e manutenção das mudas em casa de vegetação,
entre outros fatores que serão abordados no decorrer com condições controladas, especialmente de umidade
desse capítulo. (Figura 72). A irrigação deve evitar o molhamento da
parte aérea, pois nessa situação criam-se condições
6.4.2. Manutenção das plantas matrizes favoráveis para a proliferação de fungos, dificultando a
desinfestação de explantes e aumentando as chances
As plantas matrizes de interesse devem de contaminação das culturas in vitro.
ser selecionadas de forma que, se o objetivo for a A coleta do material vegetal para formação das
multiplicação massal de mudas, a indexação de viroses mudas fornecedoras de explantes é realizada na estação
deve ser realizada com frequência. de repouso vegetativo. Estacas com aproximadamente
Antes mesmo do cultivo in vitro, a escolha do 30 cm de comprimento devem ser submetidas à
ambiente adequado para a manutenção das plantas estratificação em câmara de resfriamento, com uma
matrizes que irão fornecer explantes continuamente temperatura média de 2 ºC por 10 dias. Após esse
é o passo que, normalmente, determina o sucesso no período, na base de cada estaca é realizado um corte
estabelecimento e multiplicação das culturas. transversal, 0,5 cm abaixo da última gema, e no ápice
As plantas matrizes podem fornecer explantes é feito um corte em bisel, 3 cm acima da última gema.
diretamente no campo; no entanto, as condições Na parte basal de cada estaca, devem-se fazer duas
ambientais em que as plantas estão inseridas podem ser lesões em sentido longitudinal, com aproximadamente
um fator determinante na multiplicação, visto que, muitas 3 cm de comprimento. Dependendo da variedade,
vezes, o ambiente é propício para a contaminação para aumentar a taxa de enraizamento, pode-se fazer a
(REUSTLE et al. 1988). imersão da base de estacas por 10 segundos em solução
147
Propagação da Videira
líquida de 1500 mg L-1 de ácido indol-3-butírico, e então forma, os explantes devem ser, preferencialmente,
as estacas são acondicionadas em substrato poroso. excisados de plantas em ambiente controlado, a fim
Outra metodologia que pode ser utilizada para de fornecer materiais de boa qualidade.
fornecimento contínuo de explantes é a proposta por
Goussard (1981), onde estacas lenhosas são coletadas 6.4.4. Assepsia dos explantes
de plantas dormentes e armazenadas em câmara fria
a 3 ºC; quando houver necessidade de explantes, Um dos primeiros problemas que podem ser
as estacas são colocadas em recipiente com água e constatados no cultivo in vitro é a contaminação do
iluminação artificial e as brotações utilizadas como meio de cultura por fungos e bactérias. A fonte de
fonte de explantes. contaminação pode ser externa, como consequência
São várias as maneiras para a manutenção das do ambiente em que as plantas matrizes estavam no
plantas matrizes com finaldade de fornecer material momento da coleta dos explantes, ou interna, inerente
vegetal para uso na micropropagação, no entanto, ao material vegetal. O objetivo dessa fase é a eliminação
deve-se dar preferência às que propiciam menor risco de microorganismos exógenos, a fim de obter a maior
de contaminação e que preservam o material por um taxa possível de estabelecimento de culturas in vitro.
bom período.
Figura 73. Em destaque (vermelho) segmento
6.4.3. Fonte de explantes nodal de videira composto por uma gema e porção
dos tecidos do caule e pecíolo.
Os materiais vegetais utilizados como fonte Fonte: Bettoni, C.J., 2014.
de explantes, normalmente, são segmentos nodais,
ápices meristemáticos e meristemas. Quando o
objetivo não é relacionado com a eliminação de viroses,
normalmente, utilizam-se como fonte de explantes
segmentos nodais, pela sua facilidade na dissecação
quando comparado com os ápices meristemáticos
(0,5 e 1,5 mm) e meristemas (0,5 mm) que possuem
dimensões minúsculas.
Os segmentos nodais são constituídos de
pequenas estacas que podem possuir uma gema ou
mais, compostos de uma pequena porção dos tecidos
do caule e do pecíolo, com comprimento que varia de 8
a 25 mm (Figura 14). De acordo com Biasi et al. (1998),
a posição em que o segmento nodal se encontra na
brotação, no momento da coleta, exerce influência no
desenvolvimento do material in vitro: segmentos nodais
mais próximos à base apresentam maiores reservas
nutricionais para o crescimento das gemas axilares.
O estado nutricional da planta matriz e a fase de
desenvolvimento vegetativo interferem nas respostas
morfogênicas do explante, de forma que plantas com
equilíbrio nutricional adequado, bom vigor e em um
estágio mais juvenil, propiciam melhores respostas
in vitro. Grande parte das condições fisiológicas e
fitossanitárias das plantas matrizes é determinada pelas
condições do ambiente em que são cultivadas. Dessa
148
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Em câmara de fluxo laminar, os explantes tubos de ensaio (110 mm x 23 mm) são os recipientes
são embebidos em álcool, 70% por 30 segundos; ideais, pois, se ocorrerem perdas por contaminação, os
em seguida, são realizadas três lavagens em água explantes estão individualizados (Figura 74A).
destilada, previamente esterilizada, e os segmentos Nas fases posteriores, que compreendem a
são transferidos para solução de hipoclorito de sódio, formação de parte aérea e o enraizamento, devem
2 % (p/v), com adição de agente umectante Tween ser utilizados recipientes que possibilitem o cultivo de
20® a uma concentração de 0,1 % (v/v), durante 15 maior número de explantes e com maiores aberturas
minutos, seguido por três lavagens em água destilada, que facilitem a manipulação. Os frascos de vidro (120
previamente esterilizada. mm x 55 mm) são recipientes adequados para esses
Os desinfetantes penetram nos tecidos processos porque podem ser reutilizados por várias
vegetais através da superfície dos cortes, ocasionando vezes, desde que lavados e esterilizados (Figura 74A).
descoloração das extremidades dos propágulos; dessa Devem ser observadas as características
forma, antes da introdução dos explantes em meio de do microambiente dos recipientes utilizados para a
cultura, devem ser eliminados 5 mm das extremidades micropropagação, como tipo de vedação utilizada. São
do material exposto a desinfestação, para evitar a vários os materiais utilizados para vedação de tubos
oxidação e necrose dos tecidos. de ensaio e frascos de vidros, dentre os quais tampa
de polipropileno com e sem aberturas, tampão de
6.4.5. Meios de cultura e recipientes para o
cultivo in vitro Figura 74. Recipientes utilizados na micropropaga-
ção, frascos de vidro e tubos de ensaio (A) e tampas
Os meios de cultura utilizados na de polietileno utilizadas para fechar os frascos, com
micropropagação fornecem os nutrientes essenciais abertura e sem abertura na tampa (B).
para o desenvolvimento do material vegetal in vitro Fonte: Bettoni, C.J., 2014.
e podem representar até 15% do custo total desse
procedimento. A composição dos meios de cultura é A
baseada em sais minerais (macro e micronutrientes),
carboidratos (sacarose), vitaminas, água, agente
de gelificação (ágar) e, dependendo do objetivo,
reguladores de crescimento vegetal.
Diferentes meios de cultura, tais como MS
(MURASHIGE, SKOOG,1962), C2D (CHÉE, POOL,
1983), WPM (LLOYD, MCCOWN, 1986), Galzy (GALZY
et al., 1990), Roubelakis (ROUBELAKIS-ANGELAKIS,
ZIVANOVITIC, 1991), DSD1 (SILVA, DOAZN, 1995),
Zlenko (ZLENKO et al., 1995) e suas variações são
utilizados com sucesso na micropropagação da videira B
(Tabela 13).
A formulação do meio nutritivo MS é a mais
utilizada em trabalhos de micropropagação de videira,
seguido por suas modificações, principalmente as
relacionadas à redução de concentrações de macro e
micronutrientes e alterações de compostos orgânicos.
Os recipientes de cultivo in vitro são variáveis e são
definidos de acordo com a fase da cultura. Uma das etapas
mais passíveis de contaminação por microorganismos é
a fase de estabelecimento de explantes, dessa forma, os
149
Propagação da Videira
algodão não absorvente, papel alumínio, filme de PVC. Figura 75. Estabelecimento inicial de videira livre
As tampas de polipropileno com aberturas têm sido o de contaminação por microorganismos em meio de
material mais utilizado; elas possibilitam trocas gasosas cultura Zlenko sem reguladores de crescimento.
com o ambiente externo, facilitam e agilizam a prática Fonte: Bettoni, C.J., 2014.
da micropropagação (Figura 74 B).
6.4.7. Multibrotação
Nessa fase, o objetivo principal é a produção do São diversos os trabalhos que reportam à
maior número de brotos por explante em um menor eficiência da utilização de citocinina na multiplicação
período de tempo, utilizando-se, para isso, reguladores de genótipos de videira, com repostas diferenciadas
de crescimento que promovam a divisão celular e entre as variedades, principalmente em relação às
auxiliem no processo de multibrotação (Figura 76). As concentrações que, quando muito elevadas, tornam-
citocininas induzem uma maior taxa de replicação dos se prejudiciais. Dessa forma, as concentrações de BAP
explantes, sendo a mais utilizada e a mais efetiva para devem ser otimizadas para cada genótipo, a fim de obter
a maioria das variedades a 6-benzilaminopurina (BAP). novas brotações de qualidade adequada, facilitando
150
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 13. Composição de meios de cultura utilizados para micropropagação de variedades de videira.
Meios de Cultura
Componentes
MS WPM Galzy DSD1 Roubelakis C2D Zlenko
Macroelementos mg L-1
CaCl2 2H20 440 96 - - 200 - 440
Ca(NO3)2.4H2O - 556 500 500 - 709 -
NH4NO3 1.650 400 160 100 500 1.650 308
KNO3 1.900 - 1.000 1.000 1.000 1.900 922
KH2PO4 170 170 125 100 100 170 122
MgSO4.7H2O 370 370 125 180 180 370 597
K2SO4 - 990 - - - - -
Microelementos mg L-1
MnSO4.H2O 16,9 22,3 0,6 1,2 3,0 0,64 8,45
Kl 0,83 - 0,25 - 0,50 - 0,415
NiCl2 6H2O - - 0,025 - - - -
Na2MoO4.2H2O 0,25 0,25 0,025 - - 0,25 0,125
ZnSO4.7H2O 8,6 8,6 0,06 1,0 1,0 8,6 4,3
H3BO3 6,2 6,2 0,025 1,0 1,0 6,2 3,1
CuSO4.5H2O 0,025 0,25 0,025 0,025 0,01 0,025 0,0125
CoCl2.6H2O 0,025 - 0,025 0,025 0,01 0,025 0,0125
FeEDTA mg L-1
FeSO4.7H2O 27,8 27,8 27,8 27,8 27,8 27,8 13,9
Na2EDTA.2H2O 37,3 37,3 37,3 37,3 37,3 37,3 18,65
Vitaminas mg L-1
Ácido nicotínico 0,5 0,5 1,0 1,0 5,0 1,0 0,5
Piridoxina-HCl 0,5 0,5 1,0 1,0 5,0 1,0 0,2
Tiamina-HCl 0,1 1,0 1,0 1,0 5,0 1,0 0,1
Glicina 2,0 2,0 - - - - -
Biotina - - 0,01 - 0,1 - -
Pantetonato de Ca - - 1,0 - 5,0 - -
Mioinositol 100,0 100,0 10,0 10,0 100,0 10,0 20,0
Sacarose 30.000 20.000 30.000 20.000 20.000 30.000 10.000
Reguladores de Crescimento mg L-1
AIA - - - - - - 0,1
Reguladores de Crescimento µM
ANA - - - - - 0,5 -
BAP - - - - - 5,0 -
pH 5,7-5,8 5,8 6,5 6,3-6,4 6,4 5,7-5,8 5,7-5,8
151
Propagação da Videira
152
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 77. Raízes originadas de segmentos nodais até o momento do transplante; esse intervalo de tempo
de videira em meio de cultura Roubelakis sem a deve ser o menor possível.
presença de regulador de crescimento. Uma das formas de aclimatização de videiras
Fonte: Bettoni, C.J., 2014. micropropagadas é a utilização de bandejas alveoladas
contendo substrato previamente umedecido, as quais
são acondicionadas dentro de caixas plásticas (Figura
78A). Após o transplante, é realizada irrigação com água
destilada para retirar os bolsões de ar do substrato, e por
fim as caixas plásticas são fechadas com uma lâmina
de vidro ou de plástico. Isso manterá o ambiente
de cultivo das mudas com alta umidade do ar.
As bandejas então podem ser mantidas em sala
de crescimento com fotoperíodo de 16 horas de
luz e temperatura de 25 ± 2ºC. Após um período
de 30 dias, com a emissão de novas folhas e o
enraizamento completo, a cobertura de vidro ou
plástico da caixa deve ser aberta gradativamente,
para a adaptação das plantas ao ambiente sem
saturação de umidade (Figura 78B).
consequência, ocorre baixa taxa de respiração. Contudo, A última etapa compreende a transferência
quando ocorre a transferência das plantas para um dessas plantas para área externa, com nebulização
ambiente com alta luminosidade e baixa umidade intermitente ou apenas um telado. Em torno de 15 dias
relativa, a taxa de respiração aumenta, provocando após a transferência ao ambiente externo as plantas
um déficit hídrico nas plantas. estão aptas para transferência para embalagens maiores
Outro fator que influencia a taxa de sobrevivência, (Figura 79).
o crescimento e o desenvolvimento das plantas
aclimatizadas é a qualidade do substrato utilizado. 6.4.10. Considerações sobre a
Deve-se dar preferência a materiais esterilizados, pois micropropagação da videira
a presença de fungos e bactérias pode causar a morte
das plantas. Dentre as características importantes do Apesar de todos os anos de pesquisas
substrato está a capacidade de retenção de água e a relacionadas a micropropagação da videira, as
porosidade. Normalmente, a matriz que forma um aplicações das técnicas de cultura de tecidos na
determinado substrato não é somente uma única viticultura estão limitadas, no Brasil, a instituições de
fonte, mas a mistura de vários materiais. Há substratos pesquisa. Entre as principais barreiras para a adoção
comerciais que são compostos de diversas matrizes de generalizada dessa biotecnologia está o alto custo de
produtos, dentre eles o Plantmax® HT, composto por produção, quando comparado a métodos tradicionais
casca de pinus, turfa, vermiculita expandida e carvão de multiplicação vegetativa.
moído (SCHUCK et al., 2012). Nos últimos anos, técnicas de cultura de tecidos
Os recipientes utilizados para aclimatização estão ganhando a devida importância, principalmente
são variáveis. A escolha vai depender da quantidade no que se refere à produção de matrizes clonais livres de
de plantas micropropagadas. contaminação por fungos, bactérias e, principalmente,
As plantas devem ser retiradas dos frascos de viroses, que constituem o principal problema da
vidro com uma pinça, e as raízes devem ser lavadas viticultura mundial.
em água corrente para retirada do meio de cultura e As pesquisas biotecnológicas são fundamentais
cortadas com 3 cm de comprimento. Em seguida, as para superar problemas inerentes ao setor produtivo,
plantas são acondicionadas em recipientes com água visando a otimização, estabilidade e rentabilidade no
153
Propagação da Videira
agronegócio da uva. Dessa forma, deve-se investir no Figura 78. Bandejas alveoladas com 72 células
aprimoramento de técnicas de cultura de tecidos e no (100 mL) acondicionadas em caixas plásticas com
desenvolvimento de tecnologias eficazes na formação plantas de videira transplantadas (A) e plantas de
de plantas de qualidade, a fim de garantir maior videira 30 dias após o transplante (B).
rentabilidade e sustentabilidade à cadeia produtiva Fonte: Bettoni, C.J., 2014.
da uva.
A B
6.5 Certificação de mudas
6.5.1. Aspectos legais na produção de mudas
de videira
154
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
155
Propagação da Videira
156
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
157
Propagação da Videira
158
7. Implantação do
Vinhedo
Douglas André Würz
José Luiz Marcon Filho
Leo Rufato
A
Implantação do vinhedo
consiste em uma série de
atividades que vão desde
a análise da viabilidade
econômica da cultura e escolha da
área, até a formação das plantas. O
planejamento inicial das atividades
e a tomada de decisões antes da
implantação da cultura são fatores
determinantes no sucesso de qualquer
atividade agrícola.
Hoje, a viticultura deve ser vista
como um negócio e, assim, todas as
etapas que envolvem questões técnicas,
econômicas e ecológicas devem ser
consideradas antes da decisão de
plantar, pois os custos são elevados, os
mercados são exigentes em qualidade
e muito competitivos. Portanto, todos
os riscos devem ser calculados e
analisados antes do plantio do vinhedo
(FACHINELLO et al. 2008).
Antes de plantar um vinhedo
em um novo local, várias questões
devem ser consideradas: - O novo
vinhedo será economicamente viável?
— O clima é adequado para variedade?
— O solo poderá suportar um vinhedo
sadio? — Há água suficiente e de boa
qualidade para os tratos fitossanitários e
talvez irrigação no primeiro ano? — As
culturas anteriores neste local obtiveram
sucesso? — Existem problemas
de ordem biológica neste local?
(GIOVANINNI, 2014).
159
Implantação do Vinhedo
160
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
161
Implantação do Vinhedo
afirmam que, apesar do retorno econômico do liberada pela mudança da fase líquida da água para
pomar ser levemente reduzido pelo investimento a fase sólida (gelo), que é de 80 cal g-1, e aqui se
do uso da tela, a decisão quanto ao seu uso fica enquadra o uso da irrigação por aspersão. Outro
atrelada a aspectos de segurança de mercado ou método visa evitar a perda de calor noturno através
de disponibilidade de investimento financeiro. O do uso de neblina. Um terceiro visa quebrar a camada
aspecto do mercado evidencia-se, uma vez que o uso de inversão de temperatura na atmosfera, que se
da tela anti-granizo evita as oscilações na produção, forma durante a noite, através do uso de ventiladores.
vindo o produtor a dispor de frutos de boa qualidade O controle de geadas é caro, pois implica
todos os anos. em introduzir energia para esquentar o ar ou para
secar o ar frio, por isso, na escolha da área, deve-se
Geada considerar, um local com baixo risco de geada (GIL,
PSZCZÒLKOWSKI, 2007).
Durante o período de repouso da videira, a Segundo Giovaninni (2014), os meios para
ocorrência de geadas não apresenta danos. Porém, reduzir os riscos de geada são o aquecimento
durante o período vegetativo, os danos são graves. do ar e o turbilhonamento do ar, a fim de evitar
Segundo Anchordoguy et al., (1987), têm sido que o ar frio se deposite e impedir que o ar
feitos tratamentos para conferir tolerância ao frio com perca calor.
produtos químicos (crioprotetores: Dimetil sulfóxido,
etileno Glicol e Glicerol), que baixam o ponto de Ventos
congelamento e interagem com os fosfolipídios das
membranas. Ventos fortes tornam-se prejudiciais à videira,
Nas noites claras, calmas e com fortes perdas pois podem quebrar ramos novos, e podem aumentar
de calor por radiação, ocorre um esfriamento do ar a ocorrência de doenças. Para evitar os riscos com
da superfície do solo. O ar denso e frio que forma ventos, devem-se implantar quebra-ventos, a fim de
ocupa o fundo do vale, obrigando o ar quente subir deter os ventos predominantes. Os quebra-ventos
e se perder com a altura. Assim, em noites de geadas mais eficientes são aqueles rarefeitos, que permitem
se origina uma inversão térmica que favorece as a passagem de certa porção de vento e protegem
plantas situadas em encostas. (Figura 80). áreas bem mais extensas.
Outras alternativas podem ser utilizadas para Segundo Fachinello e Marodin (2004),
minimizar os danos por geadas. Segundo Fachinello recomenda-se os quebra-ventos em forma de L.
et. al. (2008), um deles visa suprir a perda de calor Normalmente um quebra-vento protege uma área
através do aquecimento ou pela utilização da energia anterior do pomar, 4 a 5 vezes maior do que sua
162
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
altura, e uma área posterior de até 15 vezes. Assim, razões: drenagem, erosão, facilidade de mecanização
se as plantas do quebra-vento tiverem 20 metros e circulação de ar.
de altura, a proteção chegará a 100 metros. Na Itália e na Europa, a tradição preferiu a
Também devem apresentar crescimento imagem da colina cultivada com a videira, onde além
rápido, boa ramificação, folhas perenes, sistema de fornecer produtos de qualidade, era um elemento
radicular pouco agressivo e disposição em filas de embelezamento da paisagem e, portanto, uma
duplas ou triplas para fornecer uma melhor proteção atração turística. Economicamente, no entanto,
(FACHINELLO, MARODIN, 2004). essas áreas vitícolas não são mais competitivas,
porque, além das reduções de produção e seu
7.2.3. Solos envelhecimento, encostas íngremes exigem uma
pesada carga de trabalho, em condições difíceis e
A videira pode crescer em vários tipos de solo, desgastantes (FREGONI, 2005).
embora possua alguns parâmetros fundamentais Para completar, o alto custo de manutenção
para um bom desenvolvimento. Dentre estes, desse sistema, aliado ao alto custo de produção,
podem-se citar: boa drenagem, pH adequado, induz ao viticultor a abandonar a viticultura de colina,
fertilidade moderada e profundidade razoável para e preferir áreas mais planas.
enraizamento. Não é recomendado implantar vinhedos em
A videira apresenta uma notável plasticidade áreas com declividade superior a 20%, pelas dificuldades
edáfica, pois prospera em quase todos os tipos que estas apresentam quanto à conservação do
de solo. No entanto, os melhores resultados quali- solo e tratos culturais. (EMPASC/ACARESC, 1989;
quantitativos exigem a exclusão de certos solos e a FACHINELLO et. al. 2008; KUHN et al. 1996).
combinação adequada entre suas características e
os objetivos do vinhedo. Diz-se, em geral, que em 7.2.5. Exposição do terreno
solos pobres têm-se vinhos ricos (FREGONI, 2005).
O solo ideal para a videira é aquele com Em solos planos, a exposição do terreno não
textura mediana, com bom teor de matéria orgânica tem importância, porém, em solos mais inclinados,
(argila entre 20-30% e matéria orgânica entre 1 e deve-se escolher a exposição norte, devido à
5%). No entanto, solos muitos férteis levam a grandes melhor insolação e à menor incidência de vento
rendimentos, o que, geralmente, corresponde a uma (FACHINELLO et al. 2008).
diminuição na qualidade da uva, quando comparada Segundo Melo (2003), a exposição do vinhedo
a solos de menor fertilidade. Portanto, o excesso de para o norte permite que as plantas recebam os raios
vigor vegetativo, induzido pela alta fertilidade dos solares por mais tempo e ainda fiquem protegidas dos
solos, reduz a qualidade tanto da uva quanto do ventos frios do sul. A radiação solar absorvida pela
vinho (CIRAMI, 1996; KUHN et al. 1996). cultura interfere no ciclo vegetativo da videira e no
Na implantação do vinhedo, sem dúvida, uma período de desenvolvimento do fruto. Onde não for
das prioridades é conhecer a composição mineral possível a exposição Norte, deve-se dar preferência
e as características físico-mecânicas do solo onde o a outras exposições como Nordeste, Noroeste ou
mesmo será plantado, haja vista que o comportamento Leste (KUHN et al. 1996).
das variedades que serão cultivadas e, acima de tudo, Devem ser evitadas as áreas de baixadas,
dos porta-enxertos serão influenciados por esses devido aos riscos de ocorrência de geadas durante
constituintes (FREGONI, 2005). o ciclo vegetativo da videira. Áreas de meia encosta,
aptas à mecanização, próximas à fonte de águas para
7.2.4. Declividade a irrigação devem ser preferidas uma vez que, quase
sempre, apresentam boa drenagem e são menos
A inclinação do terreno para a implantação do sujeitas às geadas tardias, quando comparadas com
vinhedo pode ser muito importante por uma série de terrenos de baixada (MAIA et al. 2003).
163
Implantação do Vinhedo
7.2.6. Disponibilidade de água condições que possam expressar todo o seu potencial
produtivo. Este pode ser feito através de operações
Deve-se considerar a disponibilidade de de roçagem, destocamento, subsolagem, aração,
água para facilitar a realização dos tratamentos gradagem e abertura das covas ou sulcamento.
fitossanitários. Além disso, é necessário considerar Além de todas as atividades acima citadas,
a disponibilidade de água de boa qualidade para a a preparação do solo é a oportunidade para a
eventual necessidade de irrigação do vinhedo, e para instalação do sistema de drenagem do vinhedo, caso
o consumo humano. seja necessário.
Podemos separar as atividades de preparo do
7.2.7. Mão-de-obra solo em: trabalhos de limpeza do solo (desmatamento,
destocamento, retirada de pedras e roçada) e
As práticas realizadas no vinhedo necessitam trabalhos de mobilização do solo (subsolagem, aração
de mão-de-obra qualificada e em grande quantidade. e gradagem).
Normalmente são necessários de um a três homens
por hectare, pois, praticamente, todas as atividades 7.3.1. Trabalhos de limpeza do solo
que envolvem o manejo da planta são realizadas
manualmente. Para tanto, é necessário que se faça Desmatamento
uma pesquisa com antecedência da disponibilidade
de mão-de-obra na região, com isso evitam-se Consiste na eliminação da vegetação existente
prejuízos devido a não realização de uma atividade na área, podendo ser mata virgem ou, ainda, culturas
por falta de pessoal, ou mesmo a má realização desta perenes ou semi-perenes.
devido à falta de experiência. Segundo Anjos et al. (2009), o desmatamento
pode ser realizado por meio de uso de tratores,
7.2.8. Histórico da área normalmente de esteiras, equipados com lâminas
cortadoras ou anguláveis, destocadores com
O histórico da área deve ser considerado, para aríete frontal, correntões e rolo-faca, entre outros
evitar futuros problemas após a implantação do vinhedo. dispositivos. O desmatamento também pode ser
Deve-se evitar o plantio em áreas onde realizado de forma manual, em pequenas áreas com
já se registrou a ocorrência de pérola da terra vegetação tipo capoeira.
(Eurhizococcus brasiliensis) ou fusariose (Fusarium
oxysporum) (EMPASC/ACARESC, 1989; KUHN et Destocamento
al. 1996). Além da presença de nematóides, de pé-
preto, etc. (GIOVANINNI, 2014). Após a derrubada da vegetação, recomenda-se
executar o destocamento, caso a vegetação apresente
7.3 Preparo do solo e manejo do solo sistema radicular mais desenvolvido. Esta prática visa à
extirpação de tocos maiores, que devem ser retirados,
O preparo do solo visa melhorar as suas facilitando os demais trabalhos (GIOVANINNI, 2014).
condições físicas para o crescimento das raízes,
mediante o aumento da aeração, da infiltração de água e Retirada de pedras
da redução da resistência do solo à expansão das raízes,
assumindo assim grande importância, pois influenciará Simultaneamente ao destocamento, pode-se
profundamente o vigor no início de desenvolvimento realizar a retirada de pedras, visando facilitar futuros
das mudas (EPAGRI, 2005). É a única oportunidade trabalhos de preparo do solo. Além disso, a presença
que se tem para trabalhar bem o solo. de pedras pode dificultar a mecanização, bem como
O preparo da área tem por finalidade assegurar resultar em quebra de implementos agrícolas.
que as mudas de videira sejam plantadas em
164
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
As pedras retiradas podem ser utilizadas pobres em matéria orgânica, esta prática é muito
para construções de muros de taipas e podem ser benéfica para o desenvolvimento das mudas no
utilizadas para a instalação dos drenos. período inicial.
A prática da subsolagem é muito onerosa,
Roçada porém, o não rompimento das camadas compactadas
do solo representa uma sensível diminuição da
Consiste na eliminação da vegetação produção para a maioria das culturas comerciais,
existente. Esta prática pode ser executada gerando prejuízo para os agricultores.
manualmente ou com tratores. Em ambos os casos,
não se aconselha a queima da vegetação, apenas Aração
retiram-se os arbustos e galhos maiores, sendo o
restante incorporado na mobilização do solo. A aração é uma operação que visa à quebra de
torrões, quando realizadas após a subsolagem, bem
7.3.2. Mobilização do solo como a incorporação de restos oriundos da cultura
anterior, para incorporação de matéria orgânica no
Essa etapa de preparo do solo compreende as solo (ANJOS et al. 2009).
operações de movimentação de solo agrícola, para A profundidade a ser atingida depende do tipo
melhorar as condições físicas, tais como: estrutura, de solo e dos trabalhos anteriormente executados,
aeração e uniformidade de agregados (torrões), a mas o ideal é atingir entre 20 — 25 cm.
fim de torna-lo apto para a instalação do vinhedo.
Além das operações consideradas normais, tais Gradagem
como: aração, gradagem, distribuição de corretivos,
aberturas de valas para drenagem, pode ser incluída a Esta prática visa nivelar o terreno que foi
operação de subsolagem, sempre que for constatada revolvido. Este nivelamento permite a distribuição
a presença de compactação do solo (TERRA et al. mais uniforme dos adubos e facilita a demarcação
1998). das covas para plantio (MANDELLI, MIELE, 2003).
Segundo Anjos et al. (2009), a função da
Subsolagem gradagem é complementar ao preparo do solo
realizado pelo arado, no sentido de desagregar os
A videira apresenta um sistema radicular que torrões e nivelar a superfície do solo. Para Giovaninni
se concentra numa faixa de 0 a 40 cm, entretanto (2014), essa prática pode ser dispensada quando o
é possível que algumas espécies atinjam até alguns solo estiver em boas condições após a lavração, sem
metros de profundidade. O solo, portanto, deve ser a presença de torrões de solo.
profundo, bem drenado e conter nutrientes e água
em quantidades adequadas para que a planta alcance Drenagem
um bom desenvolvimento (FACHINELLO et al. 2008).
A subsolagem é uma operação efetuada Após finalizar os trabalhos de mobilização
para quebrar as camadas de solo endurecidas do solo, verifica-se se há ou não a necessidade da
(compactadas e/ou adensadas) que prejudicam instalação de drenos.
o desenvolvimento do sistema radicular da videira Através desta prática, é possível eliminar ou
(ANJOS et al. 2009). reduzir os efeitos associados a fatores de clima e solo
A profundidade que esta operação relacionados ao excesso de umidade. É possível fazer a
deve atingir varia com as características do solo. drenagem através da construção de um sistema de valas
Normalmente, é feita em todo o terreno, atingindo que eliminam o excesso de umidade (FREGONI, 2005).
40-50 cm. Dispondo de tratores de esteiras, é possível Nos locais em que o lençol freático é muito
atingir até 60 cm. Para terrenos argilosos e compactos, superficial, é recomendável que se faça uma
165
Implantação do Vinhedo
drenagem. A drenagem poderá ser feita com o uso A manutenção da fertilidade do solo é
de canos de PVC envolvidos por manta asfáltica, obtida pelo correto manejo das adubações e pelas
com feixes de taquara (Bambusa spp.) recobertos por correções químicas. Para tal, devem ser realizadas
cobertura plástica, ou com o uso de pedras retiradas análises periódicas do solo e executadas as adições
da área onde será implantado o vinhedo (IACONO, de nutrientes recomendadas (GIOVANINNI, 2014).
1988; EMPASC/ACARESC, 1989; FACCHINI, A existência de uma camada adensada pode
FALCETTI, 1990; MORANDO, 1994). dificultar o crescimento das raízes, a compactação
é mais prejudicial na fase inicial do desenvolvimento
Distribuição de corretivos da videira. Essa descompactação pode ser realizada
através do uso do escarificar ou subsolador na
A distribuição de corretivos pode ser realizada implantação vinhedo, ou, então, pode-se adotar, a
logo após a aração, utilizando distribuidores em linhas ruptura mecânica, com equipamentos e condições
ou a lanço. Neste caso, a operação deve ser feita em adequadas, no período de repouso vegetativo da
condições de vento fraco, ou deve-se adotar medidas videira.
para evitar o arraste do material corretivo, enquanto Uma das principais causas de compactação
a sua incorporação deve ser realizada com o uso da durante o cultivo da videira é causado pelo tráfego
gradagem, a fim de que o corretivo seja incorporado de tratores, utilizados para tratamentos fitossanitários,
de maneira uniforme na superfície e na profundidade roçada, adubações, entre outras atividades
adequada ao perfil do solo (ANJOS et al. 2009). mecanizadas.
Para as atividades de correções do solo, Segundo Balastreire (1987), o grau de
Giovaninni (2014) organiza os trabalhos atividades compactação do solo depende do tipo de rodado
da seguinte forma: calagem (50%) subsolagem (até (pneus ou esteiras) do trator, rodados com esteiras
60 cm) aração (até 40 cm) calagem (50%) gradagem apresentam uma menor compactação do solo.
adubação corretiva (100%) gradagem. Entretanto, outros fatores podem influenciar,
como: classe do solo, teor de umidade do solo no
7.4 Manejo e conservação do solo momento do tráfego de máquinas e espaçamento
entre as fileiras inadequado às bitolas dos tratores/
Um bom manejo do solo é aquele que implementos agrícolas.
propicia boa produtividade no tempo presente A erosão dos solos pode representar um
e que, também, possibilita a manutenção de sua grave problema em locais de alta pluviosidade e
fertilidade e capacidade produtiva, garantindo a declividade. Existem várias maneiras de se trabalhar
produção agrícola no futuro. o solo, visando manter uma produtividade boa
Pode-se afirmar que, assim como todos os do vinhedo, sem haver riscos de erosão e, com
produtores agropecuários, o viticultor que não isso, de assoreamento dos cursos d’água e sua
cuida do solo, inviabiliza, a médio e longo prazo, contaminação com agroquímicos. A escolha
sua própria fonte de renda. dependerá do tipo de solo, da topografia do vinhedo
O manejo do solo deve ser o mais eficiente e do período em que ocorrem as precipitações
possível quanto ao controle da erosão, regulação pluviométricas (LOVATEL, 1980).
da disponibilidade de água, manutenção de Segundo Giovaninni (2014), algumas
um bom nível de matéria orgânica, redução da práticas de controle de erosão que podem ser
competição com plantas espontâneas, manutenção adotadas desde a implantação do vinhedo são:
da fertilidade do solo, facilidade no trânsito do • Terraceamento (em declives superiores a 20%);
homem e máquinas no vinhedo; para tal, é preciso • Sulcos de proteção;
considerar fatores econômicos, equipamentos e • Muretas de pedras (taipas) em nível;
máquinas disponíveis na propriedade (FACHINELLO • Canais de escoamento de água na
et al. 2008). parte superior do vinhedo;
166
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
• Capinas alternadas nas fileiras do vinhedo; De acordo com Anjos et al. (2009), é
• Cobertura morta do solo; importante estar atento para que não ocorra
• Entrelinhas permanentemente competição entre as plantas de cobertura e a
vegetadas (roçadas). cultura da videira, principalmente daquelas espécies
plantadas nas proximidades da videira.
Figura 81. Sistemas de Manejo do Solo. Em locais declivosos, em climas chuvosos,
Fonte: (FACHINELLO et al. 2008) este tipo de manejo pode ser empregado, pois as
perdas para a vegetação serão menores do que
aquelas causadas pela erosão. No entanto, esta
vegetação deve ser mantida roçada periodicamente,
a cada 40 dias, no mínimo (GIOVANINNI, 2014).
Já o sistema de técnicas mistas visa à
utilização de vários sistemas de manejo do solo,
desde cobertura permanente/uso de herbicida e
cultivo do solo/cobertura plástica.
O solo coberto (mulch) é uma prática que
propicia bons resultados. Há uma série de coberturas
do solo que podem ser utilizadas, desde vegetação
nativa, a semeadura de espécies de gramíneas e
leguminosas, e o emprego de cobertura morta.
Segundo Calegari e Costa (2010), nas áreas
mantidas sem cultivo ou vegetação, as perdas dos
nutrientes por lixiviação são maiores; ou mesmo
por sedimentos ou por água em suspensão, através
das enxurradas, são bem maiores em relação à área
com cultivo. Além disso, a cobertura vegetal propicia
vantagens, tais como:
• Diminuição da erosão pelo
Na Figura 81, observam-se os sistemas básicos impacto das gotas de chuva;
de Manejo do Solo; o solo limpo/sem vegetação é • Diminuição da erosão por
a forma que possibilita o maior desenvolvimento às escoamento superficial;
videiras, porém somente é possível em situações • Reciclagem e mobilização de nutrientes;
não sujeitas à erosão. Locais planos e irrigados por • Aumento da biodiversidade de
gotejamento podem adotar esse sistema de manejo, microrganismos no solo.
sendo possível adicionar à água de irrigação os
fertilizantes e mesmo os herbicidas (GIOVANINNI, Outra prática consiste em manter uma
2014). cobertura do solo através da utilização de cobertura
O solo permanentemente coberto com morta, ou seja, manter a cobertura do solo com
vegetação (nativa ou artificial) apresenta uma situação resíduos de plantas trazidas de fora do vinhedo ou
de competição entre a videira e a vegetação. Segundo cultivado e controlado no próprio local. Tal prática
Dalbó et al. (1989), quando há uma cobertura vegetal apresenta como vantagens: controle da erosão,
sobre o solo, caso o manejo não seja adequado, diminuição da infestação de plantas espontâneas,
pode ocorrer competição com a videira, levando conservação da umidade do solo e aumento do teor
a indisponibilidade de nutrientes e prejuízos no de matéria orgânica (CALEGARI e COSTA, 2010).
rendimento. A manutenção da estrutura original do solo
vem sendo preconizada na Europa, em função da
167
Implantação do Vinhedo
168
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de gemas por planta, aliado a pouca produção por Outro ponto a ser considerado é que, entre
planta, ainda é a fórmula para obter um produto de os talhões, sejam feitas estradas, a fim de facilitar a
qualidade (FREGONI, 2005). circulação de pessoas que irão trabalhar no vinhedo,
Pelo contrário, a densidade deve ser menor além de tratores.
em regiões que utilizam irrigação, regiões mais Depois de separada a área em talhões, faz-
quentes, na qual se deseja obter vinhos com menos se o balizamento e demarcam-se as cabeceiras
álcool, com maior acidez e menor concentração de cada fila. A demarcação pode ser feita com
de polifenóis. Isso é especialmente verdadeiro para estacas de madeira ou bambu. Demarcadas todas
vinhos espumantes, onde a maioria exige elevada as cabeceiras, estica-se uma linha para demarcar o
acidez, com aromas e polifenóis não oxidáveis local de colocação dos postes que ficarão dentro
(FREGONI, 2005). da linha de cultivo. Essa demarcação pode ser
A tendência para a produção de vinhos de qualidade feita com estacas de madeira ou bambu, também.
é considerar distâncias que resultem em densidades de As demarcações do local de plantio das mudas
aproximadamente 4.000 plantas por hectare. podem ser feitas de diversas maneiras. Uma delas é
a colocação de uma linha entre as estacas de cada
7.5.3. Demarcação das linhas de plantio fileira, ao longo da qual, serão colocadas as estacas
no lugar de cada muda, respeitando o espaçamento
A demarcação do terreno inicia-se com a entre plantas previamente escolhido.
divisão da área em talhões, conforme a conveniência Ou, então, essa demarcação pode ser feita
de cada caso. É recomendado que as dimensões apenas na hora do plantio. Confecciona-se uma
dos talhões no sentido das linhas de plantio não régua de madeira, ou de alumínio do tamanho da
sejam exageradamente grandes, para facilitar os distância entre moirões. Na régua é feita a marcação
tratos culturais, diminuindo o custo de mão-de-obra do espaçamento entre plantas, e ela será utilizada
e máquinas, principalmente quando o sistema de para a demarcação do local de preparação da cova
condução adotado for espaldeira ou similar. e plantio de cada muda.
Área Foliar pouco expandida Pequena Expansão Área Foliar Elevada Expansão Área Foliar
Baixíssima produção por planta Baixa produção por planta Elevada produção por planta
169
Implantação do Vinhedo
7.5.4. Preparo das covas Depois de feita a poda das raízes, deve-se
fazer a hidratação dessas mudas. A hidratação é
A abertura das covas, quando não for possível feita colocando as mudas dentro de um recipiente
a mecanização, em muitos casos é feita manualmente, com água durante 24 horas. É conveniente fazer uma
com o uso de enxadões ou picaretas e não traz muitas mistura adicionando-se um fungicida com a água,
dificuldades em solos corretamente preparados. Em de modo que, além da hidratação, se faça também
solos bem preparados, não há a necessidade de uma desinfecção das mudas.
abrir covas tão grandes. Uma abertura que possa
acomodar as raízes pode ser suficiente para o plantio 7.6 Tipos de plantio
de mudas enraizadas.
Quando as covas são abertas por perfuratrizes 7.6.1. Estacas
tratorizadas, elas têm um formato cilíndrico que deve
ser desfeito com cortes de pá, para evitar que as É feito o plantio das estacas, com o objetivo
raízes fiquem confinadas àquele espaço. de fazer a enxertia a campo no ano posterior.
Com relação à profundidade de plantio, O plantio das estacas nas covas é efetuado
normalmente, as mudas devem ser plantadas a durante os meses de junho a setembro (desde que
profundidades próximas das que estavam no viveiro. as gemas ainda não tenham iniciado a brotação),
São abertas covas de 0,4 x 0,4 x 0,6 m. devendo-se colocar duas estacas por cova (a
menos vigorosa delas será descartada na época
7.5.5. Época de plantio da enxertia do ano posterior). As estacas deverão
ficar em perfeito contato com o solo e bem firmes,
A época ideal para o plantio é entre o final do devendo ficar duas gemas acima da superfície do
inverno e início da primavera, pois assim as mudas terão solo (GIOVANINNI, 2014).
um período maior para seu desenvolvimento vegetativo. Após o plantio, deve ser providenciada uma
Porém, em regiões com frequente ocorrência rega. As estacas serão cobertas com uma camada
de geadas de primavera, deve-se retardar o plantio de terra solta, a fim de protegê-las dos raios solares,
para a época em que esse risco é nulo ou, então, das geadas tardias, e para reduzir a compactação
muito baixo, a fim de evitar a morte da parte aérea causada pelas chuvas.
das plantas recém-brotadas.
7.6.2. Barbados (porta-enxertos enraizados)
7.5.6. Preparo das mudas
No plantio de barbados, acomodam-
Para obtenção de sucesso no plantio das mudas, se as raízes na cova e coloca-se a terra de volta,
alguns cuidados devem ser tomados. Mudas dormentes, compactando-a para firmarem-se bem as raízes.
com raiz nua, podem ser armazenadas em câmaras frias Planta-se apenas um barbado por cova, pois há
para serem plantadas posteriormente, ou porque as poucas falhas com esse tipo de material.
condições de solo para plantio não estão prontas, ou, Após o plantio, faz-se necessária a irrigação
ainda, para quebra de dormência das gemas e melhor abundante e, por fim, a proteção com terra, tal como
brotação após o plantio no campo. no plantio de estacas.
Antes do plantio das mudas, deve ser feita a
poda das raízes ou toalete, a fim de cortar o excesso 7.6.3. Mudas de raíz nua
de raízes e eliminar aquelas quebradas no transporte,
dobradas, enroladas ou torcidas que dificultarão o No plantio de mudas, utilizam-se aquelas
desenvolvimento e a ramificação do sistema radicular produzidas em viveiro, selecionando as que
da planta. apresentam sistema radicular com, no mínimo, três
raízes principais e bem distribuídas. Sendo mudas
170
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
enxertadas, é necessário que tenham uma boa plantio das mudas. Devem ser eliminadas
soldadura do enxerto. as raízes ou ramos danificados;
Deve-se deixar uma haste com apenas • As mudas devem ser plantadas
duas gemas e o sistema radicular com 5 a 10 cm um pouco mais profundas, e a
de comprimento. No caso de muda enxertada, é profundidade ajustada, puxando as
indicado que a região do enxerto fique de 10 a 15 mudas para cima, para evitar que
cm acima do nível do solo, para evitar o enraizamento raízes fiquem voltadas para cima.
do porta-enxerto.
Cuidados a serem tomados em relação as 7.7 Tratos culturais durante o primeiro e
mudas: segundo ano
• O transporte de mudas, quando a
duração da viagem é superior a 4 horas, O objetivo principal, nos dois primeiros anos
deve ser feito em caminhão frigorífico, após o plantio da muda de videira, é a formação das
em temperaturas abaixo de 6 ºC; plantas, de forma que propiciem a elas condições
• As mudas, no destino, podem ser de terem um bom desenvolvimento vegetativo,
armazenadas à sombra, por 1-2 dias, em uma boa sanidade, e um bom desenvolvimento
pé, com as raízes cobertas com areia radicular.
lavada, ou serragem de pinus, fresca Para que o desenvolvimento ocorra em condi-
e úmida, não tratada quimicamente; ções ideais, é preciso evitar competições com pragas,
• Mudas dormentes podem ser doenças e plantas espontâneas, fornecendo um suporte
armazenadas em câmaras frias, para à planta em períodos de seca, deficiências nutricionais
quebra de dormência das gemas e e estresses durante a sua formação. Através de um
melhor brotação após o plantio. O ideal manejo adequado, é possível que a videira entre em
é armazenar em temperaturas inferiores produção no terceiro ano.
a 6 ºC e com umidade de 95%; Durante o primeiro ano, pode-se citar como
• Irrigação frequente nas mudas manejos a serem realizados: desfrancamento, desbrota,
após o plantio, em caso de altas tutoramento, controle de formigas e doenças, adubação
temperaturas e baixa umidade; e capina.
• O excesso de água também No segundo ano de formação das mudas, o ma-
é prejudicial à planta; nejo da videira continua centrado no desenvolvimento
• No viveiro, geralmente, as mudas vegetativo da planta. Continuam os manejos realizados
recebem os primeiros tratamentos. no primeiro ano, acrescentando a poda e a condução
Em função dos cortes de raízes de ramos que já apresentem um bom crescimento.
durante o transplante, o ideal é que Além disso, durante o segundo ano, pode-se citar
sejam mantidos os tratamentos; como manejos específicos: reposição de porta-enxertos,
• O arranquio, transporte, armazenamento enxertia e reposição de mudas.
e plantio das mudas é um processo que
propicia estresse e danos mecânicos 7.7.1. Desfrancamento
na parte aérea e nas raízes. Estes danos
favorecem a ocorrência de doenças. Consiste em eliminar as raízes que venham
Deve-se evitar ao máximo ocasionar a ser emitidas pelo enxerto (pelo garfo da cultivar
ferimentos, tanto nas raízes quanto na produtora). Deve ser feito com canivete ou tesoura
parte aérea. É conveniente a aplicação durante um dia de chuva ou céu nublado para evitar
de fungicidas que protejam contra o o ressecamento do calo de enxertia. Normalmente é
ataque de organismos propiciadores feito em outubro ou novembro (GIOVANINNI, 2014).
da formação de cancros, logo após o
171
Implantação do Vinhedo
172
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Deve ser escolhido o broto mais vigoroso A instalação do sistema de condução é muito
para ser conduzido. O broto a ser conduzido importante, não só porque pode ser o maior custo
deve ser tutorado e, ao atingir a altura do arame, na implantação do vinhedo, mas também porque
pode ser amarrado e conduzido, ou então, pode pode influenciar significantemente a produtividade e
ser despontado em torno de 10 cm abaixo do a qualidade da videira a longo prazo.
arame, para formar os braços de condução da Por questões de custos de implantação, a
videira. instalação do sistema de condução não precisa ser
O segundo e o terceiro ano da formação das realizada obrigatoriamente no primeiro ano. Pode-se,
plantas são muito importantes, pois é nesse período por exemplo, na implantação, fazer a colocação dos
que será feita a poda e a condução das plantas nos postes e, no segundo e terceiro ano, respectivamente,
fios de arame dos sistemas de condução. fazer a instalação do arame de condução do braço de
Quando os ramos apresentam pouco produção da videira e dos arames de sustentação dos
crescimento, é preferível retardar a condução das ramos, quando a planta está em seu desenvolvimento
plantas, fazendo uma poda, aliada a uma adubação vegetativo.
nitrogenada, com o objetivo de aumentar o vigor No Brasil, os principais sistemas de condução da
e o desenvolvimento vegetativo do broto que será videira são: espaldeira, manjedoura e latada.
utilizado para condução da videira.
7.8.1. Espaldeira
7.7.11. Poda de formação
A espaldeira é o sistema de condução mais adequado
A poda de formação tem por finalidade dar para as variedades que exigem uma poda curta para
forma adequada a planta, de acordo com o sistema produção. É um sistema, no qual os ramos de produção da
de sustentação adotado. videira ficam expostos de forma vertical.
Ao final do segundo ano (durante o inverno), O sistema de espaldeira é o mais indicado para
será feita a poda de formação da planta. Normalmente, uvas destinadas à produção de vinhos de qualidade.
essa poda é concluída até o terceiro ano. A poda de Além de ser um sistema de menor custo de implantação,
formação adequada proporciona maior facilidade propicia uma melhor insolação e ventilação ao vinhedo.
para a realização da poda de frutificação. (Figura 82)
Nas espaldeiras, os postes são colocados seguindo
7.7.12. Irrigação as linhas de plantio e espaçados, geralmente, entre 5 e
6 metros, sendo que os postes da cabeceira possuem
As plantas em formação estão mais sujeitas diâmetro maior que os postes internos. Neles serão fixados
a estresse por falta de água, porque possuem um os arames, que sustentarão a vegetação e a produção.
sistema radicular superficial. Sendo assim, faz-se Os postes de cabeceira devem ter 2,50 m de
necessário monitorar a umidade e a temperatura; comprimento e de 12 a 14 cm de diâmetro; são colocados
em situações de alta temperatura e baixa umidade, nas extremidades das fileiras. Já os postes internos podem
é necessário fazer a irrigação, para evitar a morte ter de 2,00 a 2,20 m de comprimento e diâmetro de 7
das plantas por falta de água. a 10 cm.
Nos postes de cabeceira devem ser colocadas
7.8 Estruturas e sistemas de condução escoras. Estas devem medir 1,20 m, ser colocadas em
cada extremidade das fileiras e sua colocação pode ser
A escolha do sistema de condução varia de externa ao sistema de sustentação, em posição oblíqua e
acordo com o hábito de frutificação da variedade afastando-se da cabeceira; ou interna, oblíqua e escorando
que vai ser cultivada, o clima local, capacidade de as cabeceiras das fileiras. As escoras têm como função dar
investimento e com os objetivos do viticultor. uma sustentação aos postes das cabeceiras, mantendo os
arames perfeitamente esticados.
173
Implantação do Vinhedo
174
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de mesa (POMMER, 2003). O sistema é constituído, Por fim, os fios simples são colocados
basicamente, por posteamento e aramado. O paralelamente as fileiras e perpendicularmente aos
posteamento é formado por cantoneiras, postes cordões primários e secundários. O primeiro fio é
externos, postes internos e escoras (Figura 83). colocado sobre a linha das plantas e os quatro outros,
As cantoneiras são postes mais reforçados, dois de cada lado, a 50 cm do primeiro. Eles são
colocados nas quatro extremidades do vinhedo, e amarrados pelas extremidades aos cordões primários
tem como função suportar a pressão exercida sobre e, internamente, aos cordões secundários, passando
os cordões da latada. Podem ser utilizados postes por cima deste (MANDELLI, MIELE, 2003).
de concreto, madeira, com comprimento de 2,70 a A quantidade de material para a formação do
3,00 m e diâmetro de 25 a 30 cm. vinhedo é variável, conforme o desenho do vinhedo.
Os postes externos precisam ser reforçados Mandelli e Miele (2003) descrevem as seguintes
também, com comprimento de 2,50 m e diâmetro quantidades de materiais para a instalação de um
em torno de 15 a 18 cm. Geralmente são inclinados vinhedo de 1 ha, com distância entre fileiras de 2,5
para o lado externo do vinhedo. Segundo Mandelli m e entre plantas de 1,5 m; distância entre postes
e Miele (2003), o espaçamento dos postes externos externos de 5,0 m e entre postes internos de 5,0 m:
é determinado, num sentido, pela distância entre • Cantoneiras (270 cm x 20 cm x 20 cm): 4
fileiras, e no outro, são distanciados de 5,0 a 6,0 m • Postes externos (250 cm x
um do outro. 10 cm x 10 cm): 116
As escoras são postes menores, em torno • Rabichos (120 cm x 15 cm x 15 cm): 124
de 1,20 m, podendo ser do mesmo material dos • Postes internos (220 cm x
demais postes e são fixados externamente à latada, 8 cm x 8 cm): 741
em torno de 2 m de distância dos postes externos • Tutores: 2.666
e das cantoneiras, e que são atados a extremidade • Arame 14 x 16, galvanizado: ~ 27.000 m
superior destes, com um cordão feito com três fios
de arame, com a finalidade de manter o aramado A latada é um sistema de elevado custo, em
esticado. cuja implantação, não se pode prescindir do uso de
Os postes internos, com comprimento de materiais de boa qualidade, resistentes e duráveis,
2,20 a 2,50 m e diâmetro em torno de 10 cm, visto que é um sistema de condução contínuo e
tem a finalidade de sustentar o peso das plantas, a ela cabe sustentar elevada carga, representada
sua produção e a rede de arames da latada. São não só pelo peso da videira, mas também por toda
colocados no cruzamento dos cordões secundários a produção da área por ela abrangida (POMMER,
com as linhas das plantas distanciados 5,0 m um do 2003).
outro (MANDELLI, MIELE, 2003).
O aramado é formado por cordões secundários 7.8.3. Manjedoura ou Ipsilon
e primários e fios simples, devendo manter uma altura
livre em torno de 2 m em relação à superfície do solo. A manjedoura é um sistema de condução que
Segundo Mandelli e Miele (2003), os cordões propicia grande expansão vegetativa das videiras.
primários são dois, interligando as cabeceiras de cada Assim como a latada possui um custo de implantação
extremidade do vinhedo com os postes externos elevado.
situados entre elas. Geralmente, são formados por Nesse sistema de condução, as plantas
sete fios 14 x 16 (2,11 x 1,65 mm), revestidos por uma são posicionadas no plano oblíquo, sendo
camada de alumínio e enrolados helicoidalmente. um sistema de condução intermediário à
Já os cordões secundários são colocados latada e à espaldeira. A produção média é de
paralelamente aos cordões primários, amarrados aproximadamente 12 toneladas por hectare,
aos postes externos e apoiados aos postes internos. sendo um sistema indicado para produção de
São formados por dois fios 14 x 16 (2,11 x 1,65 mm). uvas para vinho, suco e mesa.
175
Implantação do Vinhedo
7.8.4. Lira
176
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
177
Implantação do Vinhedo
nas cavidades da madeira. O banho frio, por sua vez, extremidades dos postes, cortando em uma ou
provocará uma rápida contração do ar aquecido. Isso duas águas, deverá ser feito antes do tratamento
ocasionará vácuo e forçará mais absorção e maior (GALVÃO et al. 2004).
penetração do preservativo (GALVÃO et al. 2004).
No processo de difusão, são utilizados 7.10 Utilização de postes de alvenaria e
compostos de boro, produtos à base de fluoreto de postes metálicos para instalação do siste-
sódio, ou então uma mistura de compostos de boro ma de condução
com fluoretos. O preservativo na forma de pasta é
aplicado na superfície dos postes de madeira que são Atualmente, o material mais utilizado no
empilhados de forma compactada e cobertas com lona Brasil para a instalação dos sistemas de condução
plástica por um período de 30 dias. das videiras é a madeira. Porém há a possiblidade da
Para postes roliços, o método mais indicado utilização de outros materiais, como por exemplo,
de tratamento é o processo de substituição de seiva postes de alvenaria e postes metálicos.
Os postes metálicos estão se tornando uma
Tabela 15. Ingredientes necessários para a boa alternativa aos postes de madeira, devido ao
formulação de uma solução preservativa de CCB custo benefício em longo prazo. A vantagem é que os
a 2,5% em peso para o processo de substituição de postes metálicos podem ser fabricados com materiais
seiva. reaproveitados, podendo ser reciclados; além disso,
Fonte: Adaptado de Galvão et al. (2004). sua instalação é fácil.
Um dos inconvenientes dos postes metálicos é
Ingrediente Quantidade que ele pode dobrar ao ser atingido por uma máquina
ou implemento agrícola. Há também a preocupação
Dicromato de Potássio 1000 gramas
com a possibilidade de os postes enferrujarem. Para
Ácido Bórico 650 gramas evitar esse problema, tem-se optado pela utilização
Sulfato de Cobre 880 gramas
de materiais galvanizados.
Outro material que pode ser utilizado são os
Ácido Acético Glacial 25 mililitros postes de concreto, que são resistentes à umidade,
Água 100 litros
aos fungos e podem durar até 30 anos.
Portanto, para definir a melhor escolha na
instalação dos postes de sustentação, deve ser feita
uma análise verificando o custo de cada material, a
ou transporte radial. Segundo Galvão et al. (2004), a durabilidade, a facilidade de instalação e, assim, optar
madeira deve ser cortada, descascada e tratada ainda pelo material capaz de satisfazer às necessidades
verde, no máximo 24 horas após o corte. O método do viticultor.
perde a eficácia se ocorrer evaporação de água da
seiva. Os preservativos indicados são solúveis em água, 7.11 Referências
ou hidrossolúveis, como o Osmose CCB (Tabela 15).
Para o tratamento, os postes são colocados ANCHORDOGUY, T. J. et al. Modes of interaction
verticalmente na vasilha, ficando suas bases mergulhadas of cryoprotectants with membrane phospholipids
na solução preservativa. A seguir, coloca-se o óleo during freezing. Cryobiology, v. 24, p.324-331,
queimado em quantidade suficiente para formar uma 1987.
fina camada sobre o líquido preservativo, cuja finalidade
é impedir a evaporação da água da solução. ANJOS, J. B et al. Mecanização Agrícola, Manejo e
Após o tratamento, os postes não deverão Conservação do Solo. In: LEÃO, P. C., SOARES, J. M.
sofrer entalhes ou qualquer tipo de acabamento A Vitivinicultura no Semiárido Brasileiro. Petrolina:
que implique em cortes. Acabamentos nas Embrapa Semiárido, 2009. cap. 6, p.217-253.
178
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
179
Implantação do Vinhedo
KISHINO, A. et al. Viticultura Tropical: o sistema MORANDO, A. Materiali e tecniche per l’impianto
de produção do Paraná. Londrina: Instituto del vigneto. Calosso: Vit.En., 1994. 174p.
Agrônomico do Paraná IAC, 2007. 363 p.
POMMER, C. V. Uva: tecnologia de produção,
KREUZ, C. L. et al. Viabilidade econômica do pós-colheita, mercado. Porto Alegre: Cinco
uso de tela anti-granizo em pomares de pera- Continentes, 2003. 777 p.
japonesa. Revista Brasileira de Fruticultura, v.24,
p.416-419, 2002. ROSIER, J. P. Novas regiões: vinhos de altitude
no sul do Brasil. CONGRESSO BRASILEIRO DE
KUHN, G. B. et al. O cultivo da videira VITICULTURA E ENOLOGIA, 10, 2003, Bento
informações básicas. Bento Gonçalves: Embrapa- Gonçalves, RS. Anais... Bento Gonçalves, RS:
Cnpuv, 1996. 60p. (Circular Técnica, 10). Embrapa Uva e Vinho, 2003, 229 p.
180
8. Água no Solo
P
ara o desenvolvimento das videiras e maturação
das uvas são necessárias condições adequadas de
luz solar e temperatura, além de disponibilidade de
água e nutrientes. O solo atua em alguns desses
processos ao interferir no regime térmico, bem como no
armazenamento e fornecimento de água e nutrientes às
plantas. Nesse sentido, a disponibilidade de água no solo
tem sido frequentemente relacionada à produtividade
e à composição da uva para vinificação, sendo variável
conforme as condições climáticas e do solo cultivado. Logo,
considerando a elevada diversidade de solos, a variabilidade
espacial e as diferenças nos seus atributos químicos, físicos
e biológicos, é importante a descrição e mapeamento dos
solos nas regiões recomendadas para o cultivo da videira e,
principalmente, o entendimento das relações que ocorrem
entre os atributos dos solos, a produção das videiras, a
composição das uvas e a qualidade dos vinhos.
É conhecida a capacidade das videiras alcançarem
altos rendimentos com recursos escassos, mas, apesar dessa
capacidade, existem algumas condições que limitam a
produtividade e afetam a composição da uva, como a região
de cultivo, o sistema de produção, as práticas de manejo
e o tipo de solo. Segundo Letey (1985), a produtividade
das culturas é afetada de forma direta pela água, aeração,
temperatura e resistência do solo ao crescimento das raízes;
e, de forma indireta, pela granulometria, estrutura, densidade,
porosidade e horizontes do solo. Alguns desses atributos
podem ser modificados pelas práticas agrícolas, enquanto
outros não.
Neste capítulo, objetiva-se discorrer sobre os atributos
edáficos que influenciam a retenção e a disponibilidade de
181
Água no Solo
água no solo e sobre os atributos dos solos nas 8.2 Retenção e disponibilidade de água
regiões de altitude de Santa Catarina, onde estão no solo
sendo produzidos vinhos finos, bem como auxiliar
na escolha de locais com solos adequados ao cultivo A retenção de água no solo ocorre pelos
da videira. A escolha do solo é importante, pois, em fenômenos de capilaridade e adsorção, os quais
conjunto com os demais fatores, determina o sucesso são dependentes do diâmetro e continuidade dos
ou o fracasso do investimento. poros e de interações que ocorrem na superfície
Para muitas atividades, o entendimento do de suas partículas minerais e orgânicas. Assim, a
que é o solo, da sua formação e da sua constituição retenção de água é influenciada pela granulometria,
auxilia na compreensão dos processos que ocorrem e mineralogia, matéria orgânica, estrutura, cargas
que interferem na quantidade e qualidade de grãos, de superfície, entre outros atributos do solo, os
forragem, frutos e madeira produzidos. quais são muito variáveis no espaço e no tempo
Existem diversas definições de solo, as quais (REICHARDT, TIMM, 2004; LUCIANO et al. 2014;
estão relacionadas com o seu uso. O solo pode ser BORTOLINI & ALBUQUERQUE, 2018; WARMLING
definido como: a) “material mineral e/ou orgânico não et al. 2018) e possíveis de serem modificados por
consolidado na superfície da terra que serve como um práticas de manejo do solo. Toda essa dinâmica tem
meio natural para o crescimento e desenvolvimento de consequências na disponibilidade de água às plantas
plantas terrestres” (CURI et al. 1993), sendo um sistema (COSTA et al. 2003; SILVA et al. 2016).
heterogêneo, polifásico, particulado, disperso e poroso; A disponibilidade de água é a diferença entre o
b) corpo natural que participa de interações dinâmicas armazenamento de água na capacidade de campo e no
com a atmosfera acima e com o extrato abaixo, ponto de murcha permanente. A capacidade de campo
influencia o clima do planeta e o ciclo hidrológico e é definida como o teor de água retida no solo após seu
serve como meio de crescimento para uma comunidade excesso ter drenado (VEIHMEYER, HENDRICKSON,
versátil de organismos vivos (HILLEL, 1998); c) um leito 1931; REICHARDT, TIMM, 2004), enquanto o ponto de
de semeadura e de crescimento radicular para plantas murcha permanente é o teor de água retida no solo, no
cultivadas; entre outras definições. qual as folhas de uma planta, que nele cresce, atingem
Os fatores de formação do solo (material de um murchamento irrecuperável, mesmo quando
origem, tempo, clima, relevo e organismos vivos) atuam colocada em uma atmosfera saturada com vapor de
com diferentes intensidades e modificam os processos água (BRIGGS, SHANTZ, 1912; REICHARDT, TIMM,
de formação do solo (JENNY, 1941). Muitas vezes, 2004). Portanto, de forma simplificada, o conceito de
pequenas variações em um fator alteram sensivelmente água disponível expressa uma faixa ou uma quantidade
a intensidade dos processos de formação e, assim, de água que é armazenada no solo e está disponível às
modificam os atributos do solo. Um exemplo disso plantas (VEIHMEYER, HENDRICKSON, 1928). Dessa
são os diferentes solos observados em toposequências forma, é considerado um importante atributo para
devido a diferentes condições de drenagem (STRECK avaliar a qualidade física do solo e as condições para
et al. 2018). o crescimento das plantas (REYNOLDS et al. 2002;
A constituição e a estrutura do solo interferem REICHERT et al. 2003); e tem sido frequentemente
na sua funcionalidade no ambiente, pois modificam as calculado como a água retida no solo entre as tensões
taxas dos processos de aeração, retenção e fluxo de de 10 e 1.500 kPa (REICHARDT, TIMM, 2004).
água e de nutrientes, resistência do solo à penetração A retenção e a disponibilidade de água variam
de raízes, erodibilidade e atividade biológica. Desses, a muito entre os solos em função da composição
retenção e disponibilidade de água (HAMBLIN, 1985) mineral, orgânica e estrutura dos mesmos. Essa relação
e a aeração (GUPTA, LARSON, 1982) são de grande foi objeto de estudos recentes realizados no sul do
importância para a determinação da aptidão dos solos Brasil, como os de Reichert et al. (2009), Costa et al.
para a viticultura (NORTHCOTE, 1988) e, por isso, serão (2013a) e Bortolini & Albuquerque (2018). Esses autores
enfatizados a seguir. relataram que a granulometria, a mineralogia e o teor
182
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de matéria orgânica explicam grande parte da variação disso é o vinho Chablis, originário da uva Chardonnay
na retenção e disponibilidade de água no solo. Além cultivada em solos calcários na França (VAN LEEUWEN,
desses estudos, a revisão realizada por Braida et al. SEGUIN, 2006).
(2011) enfatiza a relação entre a disponibilidade de Muitos vinhos de elevada qualidade são
água para as plantas e o teor de matéria orgânica do produzidos em solos que se formaram de materiais de
solo. Segundo Bayer et al. (2000) a granulometria e a origem diversas, bem como em solos muito diferentes,
mineralogia são atributos estáveis enquanto o teor de formados a partir do mesmo material de origem. Isso
matéria orgânica e a estrutura podem ser alterados ocorre porque, além do material de origem, os demais
com o manejo. fatores de formação do solo atuam com diferentes
A seguir são discutidos atributos ou variáveis que intensidades e modificam os processos de formação,
afetam a retenção e a disponibilidade de água no solo. dando origem a uma diversidade de solos.
Costa et al. (2013b) relacionaram o material Muitas propriedades dos solos são afetadas pela
de origem com a retenção de água em solos de Santa sua mineralogia (SCHULZE, 1989). Os argilominerais
Catarina. Os autores observaram que os solos derivados (minerais da fração argila do solo) de maior importância
de diferentes materiais de origem retêm quantidades no solo podem ser agrupados em duas categorias
diferentes de água, separando-os em três grupos: devido à diferença no tipo de cargas negativas (Tabela
a) alta retenção - observada nos solos derivados de 16): permanentes e dependentes de pH. As cargas
rochas ígneas extrusivas da Formação Serra Geral negativas permanentes ocorrem principalmente na
(Andesito Basalto, Basalto, Basalto Amidalóide, Dacito, vermiculita, montmorilonita e ilita (MCBRIDE, 1989),
Riodacito), as quais originam solos com classe textural enquanto as cargas negativas dependentes do pH
argilosa; rochas metamórficas (Granada Muscovita ocorrem, principalmente, na caulinita e óxidos (e
Xisto, Granulito Máfico, Migmatito, Parametamórfica); também na matéria orgânica do solo), sendo originadas
rochas ígneas intrusivas (Hornblendito, exceto Granito); pela elevação do pH e consequente dissociação dos
e rochas sedimentares de textura fina (Folhelhos ou prótons (H+) de grupos com hidroxilas (OH-), expostos
Siltitos), dando origem aos solos com textura média; na superfície das partículas do solo (STEVENSON, 1982;
b) média retenção - observada nos solos derivados de SPOSITO, 1989).
rochas sedimentares, as quais originaram solos com No pH natural dos solos tropicais e subtropicais
textura média e diferenciam-se do grupo anterior pelo do Brasil, a matéria orgânica e os argilominerais possuem
menor teor de matéria orgânica (35 g kg-1); c) baixa carga líquida negativa, enquanto os óxidos possuem
retenção - observada nos solos formados de rochas carga líquida positiva. Com isso, os óxidos atuam como
ou depósitos sedimentares ricos em quartzo (Arenito um policátion e se ligam às cargas negativas da caulinita.
Botucatu, Depósitos Aluvionares Recentes), as quais Esse fato, juntamente com a elevada área superficial
originaram solos com textura arenosa; e granito, o qual específica (ASE) dos óxidos (Tabela 16), confere uma
originou solos com textura arenosa (fração areia grossa) melhor estruturação e maior porosidade aos solos ricos
e com elevado teor de cascalho. em óxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al) (RÖMKENS et al.,
Portanto, o material de origem tem relação direta 1977). Em estudo realizado na Califórnia, Le Bissonnais
com a retenção de água, pois afeta a granulometria e & Singer (1993) observaram que solos com maior teor
a mineralogia dos solos formados. Entretanto, alguns de matéria orgânica e de óxidos de Fe e Al tiveram
poucos estudos mostraram a relação do material de maior taxa de infiltração de água no solo. Dessa forma,
origem com a composição da uva. Regina et al. (2006) a interação dos argilominerais com a fração orgânica do
relatam que solos calcários são conhecidos por produzir solo afeta a retenção de água através da estruturação
vinhos de qualidade geralmente elevada, com alto teor e formação de poros capilares e, também, porque
alcóolico, baixa acidez e buquê acentuado. Exemplo esses constituintes possuem maior adsorção de água
183
Água no Solo
na superfície de suas partículas, especialmente pela existe grande amplitude dentro de cada classe textural,
maior ASE (BORTOLINI & ALBUQUERQUE, 2018). como, por exemplo, para 60 solos com classe franca, a
Assim como a mineralogia, a granulometria disponibilidade de água variou de 0,04 a 0,32 m3 m‑3.
é um atributo importante para o entendimento dos Essa grande amplitude no teor de água disponível
processos que determinam a retenção de água no em cada classe textural foi atribuída às diferenças nos
solo. A análise granulométrica quantifica os teores teores de matéria orgânica, na proporção entre areia
de areia, silte e argila da fração terra fina (partículas fina e areia grossa, bem como na mineralogia e na
menores que 2,0 mm de diâmetro). De maneira geral, estrutura dos solos. Solos com maior relação silte/argila,
solos de granulometria mais fina são os que retêm menos intemperizados e com maior quantidade de
mais água, tanto na capacidade de campo (CC) como argilominerais do grupo das esmectitas tiveram maior
no ponto de murcha permanente (PMP), sendo esse retenção e disponibilidade de água. Segundo Gaiser et
comportamento observado em solos dos Estados al. (2000), solos com predominância de argilominerais
Unidos (RAWLS et al. 1982), França (AL MAJOU et al. do tipo 2:1 (esmectitas e montmorilonitas) apresentam
2008), Brasil e Nigéria (GAISER et al. 2000). Entretanto, maior retenção e disponibilidade de água em relação
como nesses solos aumenta tanto a retenção de água a solos caulínicos, especialmente em função de sua
na CC como no PMP, nem sempre eles disponibilizam maior ASE, como pode ser observado na Tabela 16.
mais água para as plantas (AL MAJOU et al. 2008;
REICHERT et al. 2009; COSTA et al. 2013b). A Tabela 16. Área superficial específica (ASE) e
maior retenção de água está relacionada a maiores capacidade de troca de cátions (CTC) de quatro
capilaridade e ASE, bem como à maior reatividade argilominerais e três óxidos comuns em solos.
da superfície das partículas de menor diâmetro. Fonte: Modificado de: (1)Stevenson, 1982; (2)Schwertmann & Taylor, 1989; (3)
Além disso, geralmente solos de granulometria mais Varadachari et al. 1997.
fina têm maior teor de matéria orgânica (DIECKOW
et al. 2009), especialmente nas regiões mais frias ASE CTC
Argilomineirais e óxidos
e úmidas (DALMOLIN et al. 2006; LUTZOW et al. m2 g-1 cmolc kg-1
2006), havendo um efeito aditivo dos teores de argila Vermiculita 600-800(1) 100-150(1)
e matéria orgânica na retenção de água (RAWLS et Montmorilonita 600-800(1) 80-150(1)
al. 2003; BORTOLINI & ALBUQUERQUE, 2018). Ilita 65-100(1) 10-40(1)
Portanto, a retenção e a disponibilidade de água
no solo dependem da interação de vários fatores, os Caulinita 7-30(1) 3-15(1)
quais possuem efeitos diretos e/ou indiretos, como Hematita 50-120(2); 46(3)
a distribuição das precipitações, a mineralogia, a Goethita 60-200(2); 51(3)
granulometria, o teor de matéria orgânica, dentre
outros atributos do solo (REICHARDT, TIMM, 2004; Gibbsita 32(3)
BORTOLINI & ALBUQUERQUE, 2018). Assim, a
avaliação dessas relações necessita da condução de
estudos específicos. Em solos de Santa Catarina, Costa et al. (2013b)
Para solos do Rio Grande do Sul (RS), Reichert relataram que os solos com maior teor de argila retêm
et al. (2009) concluíram que a granulometria e o teor mais água (Figura 87) enquanto os solos com maior
de matéria orgânica do solo têm relação direta com teor de areia retêm menos água (Figura 87b). O teor
a retenção de água. Nesse trabalho, o teor médio de médio de água disponível nos horizontes superficiais
água disponível variou de 0,09 m3 m-3 (classe textural (O, A, AB e suas subdivisões) variou de 0,09 m3 m‑3
areia) a 0,19 m3 m-3 (classe textural argilo-siltosa), ou na classe textural areia a 0,17 m3 m‑3 na classe textural
seja, a disponibilidade de água às plantas foi menor franco argilo-siltosa (Figura 88). Na Pensilvânia, Petersen
nos solos arenosos e maior nos solos mais siltosos e et al. (1968) também concluíram que há maior
menos intemperizados. Os autores ressaltaram que disponibilidade de água em solos siltosos. Além disso,
184
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Costa et al. (2013b) e Bortolini & Albuquerque (2018), (2006), o predomínio da fração argila no solo influencia
também observaram grande amplitude no teor de água positivamente a produção das uvas. Fregoni (2005)
disponível dentro de cada classe textural. Na classe relata que solos argilosos originam vinhos com boa
argila, por exemplo, o teor de água disponível variou coloração (tintos), macios, de boa acidez e com maior
de 0,06 a 0,16 m3 m-3 (Costa et al. 2013b). tempo de conservação, enquanto solos arenosos
Os efeitos diretos da granulometria do solo originam vinhos finos, porém fracos em extrato seco
na qualidade de vinhos não estão bem definidos. e albuminas. De acordo com Regina et al. (2006), os
No entanto, os efeitos indiretos desses atributos solos arenosos produzem vinhos com características
sobre a hidrologia (KURTURAL, 2006) e sobre mais florais em relação aos solos argilosos. Esses
atributos químicos do solo (COIPEL et al. 2006) são resultados, provavelmente, possuem relação com o fato
comprovadamente importantes. Segundo Mota et al. de solos argilosos e francos terem maior potencial para
o desenvolvimento radicular das videiras, bem como
Figura 87. Dispersão dos valores de capacidade adequada capacidade de retenção de água, enquanto os
de campo (CC) e ponto de murcha permanente solos arenosos têm drenagem adequada, mas possuem
(PMP) com os teores de argila (a) e areia total (b) baixa capacidade de retenção de nutrientes e água, com
nos horizontes superficiais de solos do estado de risco de déficit hídrico para a videira.
Santa Catarina. Além da classe textural ou classe de solo, é
Fonte: Modificado de Costa et al. 2013a. importante considerar o sistema de manejo utilizado
e as práticas complementares de cultivo, pois alteram
(a)
a eficiência de uso da água e nutrientes pelas culturas
0,8
Umidade volumetrica (m3 m-3)
0,6
0,8 (b)
Umidade volumetrica (m3 m-3)
0,5 CC
CC Água disponível (AD)
0,6 PMP 0,4
0,3
0,4
0,2 PMP
Água indisponível
0,1
0,2
0,0
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185
Água no Solo
186
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
formato colunar, prismático e laminar e de tamanho Em estudo realizado em solo arenoso e sem
médio a muito grande são as que proporcionam maior impedimento mecânico na região do Vale do São Francisco,
acúmulo de água no solo. Por essas características, Bassoi et al. (2002) avaliaram diferentes práticas de manejo
a estrutura do solo deve ser avaliada nos diversos do solo e da água e concluíram que a profundidade efetiva
horizontes que compõem o perfil dos solos, pois em de crescimento radicular de vários porta-enxertos de
algumas situações o horizonte A pode ter estrutura videira é de 0,6 m. Entretanto, em Cambissolo Húmico e
que favorece a drenagem (por exemplo, possuir blocos Cambissolo Háplico da região do Planalto Serrano de Santa
subangulares), mas o horizonte B pode ter estrutura que Catarina, Luciano (2012) relatou que raízes de Cabernet
dificulte o movimento da água (por exemplo, possuir Sauvignon, cultivada sobre o porta-enxerto Paulsen 1103,
estrutura prismática) (REICHERT et al. 2011). cresceram principalmente na camada de 0-30 cm (Figura
Outro atributo que merece atenção é a 90), pois abaixo dessa camada ocorrem restrições químicas
estabilidade da estrutura. Solos que possuem agregados pelo excesso de acidez.
com maior estabilidade são os que possuem melhor
qualidade física (ALBUQUERQUE et al. 2011) e, como 8.2.6. Drenagem do solo
esse é um atributo modificado pelo manejo, as práticas
adotadas no cultivo devem preservar ou aumentar a Durante e após eventos de precipitação e/
estabilidade dos agregados. Portanto, um solo bem ou irrigação, a água pode escoar superficialmente ou
estruturado é aquele com distribuição de tamanho infiltrar no solo. A água que infiltra pode drenar para o
dos poros que proporcionam taxas adequadas aos lençol freático ou ser armazenada no solo. Para a videira,
fluxos de ar e água. principalmente em regiões de elevada precipitação, esse
atributo deve ser considerado com especial atenção,
8.2.5. Profundidade efetiva do solo e pois, juntamente com outros atributos do solo, determina
declividade a disponibilidade de água para as plantas e as condições
de aeração e de excesso de água.
A profundidade efetiva do solo é a máxima Os solos são classificados em oito classes de
profundidade que as raízes penetram livremente, sem drenagem, sendo elas: excessivamente drenado;
impedimentos, proporcionando as plantas suporte fortemente drenado; acentuadamente drenado; bem
físico e condições adequadas para absorção de água drenado; moderadamente drenado; imperfeitamente
e nutrientes (CURI et al. 1993). Os solos com maior drenado; mal drenado; e muito mal drenado (SANTOS
profundidade efetiva, desde que não tenham limitações et al. 2015). Solos classificados nas quatro primeiras
químicas, são os que têm o maior potencial para o classes são mais adequados ao cultivo da videira,
desenvolvimento radicular da videira, pois quanto maior enquanto os solos classificados nas demais classes
o volume de solo explorado pelo sistema radicular, de drenagem não são adequados ou necessitam de
menor é a possibilidade de as plantas sofrerem com sistemas de drenagem. Entretanto, esses sistemas
estresse hídrico. Solos com menor profundidade efetiva aumentam os custos de produção e podem não ser
estão sujeitos a encharcamento e são menos adequados efetivos em todos os períodos do ano.
à produção de vinhos de qualidade devido à baixa A classificação das classes de drenagem considera a
graduação alcoólica, alta acidez e riqueza em albumina presença de água saturando o solo, bem como a presença
(VAN LEEUWEN, SEGUIN, 2006). e a quantidade de mosqueados (cores variadas na massa
Além da profundidade, outro fator que influencia de solo). Como exemplo, Santos et al., (2015) relatam
o movimento da água no solo é a declividade. Áreas de que o solo moderadamente drenado apresenta camada
maior declividade favorecem a drenagem lateral da água de permeabilidade lenta no solum (horizonte A mais o B)
através do potencial gravitacional (REICHARDT, TIMM, ou imediatamente abaixo desse, ou seja, o lençol freático
2004); entretanto, quando muito declivosas, dificultam acha-se imediatamente abaixo do solum ou afetando a
as operações mecanizadas e podem ocasionar erosão parte inferior do horizonte B. Com isso, o solo apresenta
hídrica em taxas elevadas (COGO et al. 2003). mosqueados de redução (falta de oxigênio no solo) na
187
Água no Solo
Figura 90. Sistema radicular da videira Cabernet Sauvignon, enxertada sobre Paulsen 1103, cultivada em
Cambissolo Háplico. São Joaquim, Santa Catarina.
Fonte: Rodrigo Vieira Luciano.
parte inferior do horizonte B, ou no seu topo, associado maior intensidade. Entretanto, quando a porosidade
à diferença textural acentuada entre os horizontes A e B. de aeração for menor que 10%, especialmente por
Embora essa descrição seja relativamente fácil de executar, períodos prolongados, ocorre acúmulo de etileno
recomenda-se que ela seja realizada por profissional no solo e a inibição do desenvolvimento da videira
qualificado, para evitar a implantação de vinhedos em (JACKSON, 1985). Portanto, a compactação e o excesso
áreas inadequadas. de água diminuem a porosidade de aeração e as trocas
gasosas no solo (XU et al. 1992), prejudicam o sistema
8.2.7. Porosidade de aeração do solo radicular por limitar o crescimento e a sobrevivência das
raízes (KOBAYASHI et al. 1963; IWASAKI et al. 1966).
A porosidade de aeração é o volume de poros O excesso de água no solo depende do volume
que estão livres de água e, portanto, preenchidos das chuvas, da declividade da área, da profundidade
com ar. É um atributo que varia com a constituição, efetiva do perfil, da infiltração e drenagem interna do
a estrutura e a drenagem do perfil do solo. Os poros solo, e da profundidade do lençol freático (FITZPATRICK
com diâmetro maior que 30 µm são os principais et al. 1993), enquanto a porosidade de aeração é
responsáveis pela drenagem da água e pelas trocas dependente da granulometria, da mineralogia e do
gasosas, principalmente entre o dióxido carbono (CO2) teor de matéria orgânica, constituintes que modificam
do solo e o oxigênio (O2) da atmosfera. Esses processos a gênese dos agregados e a estrutura do solo.
dependem também da continuidade de poros ao longo
do perfil (HILLEL, 1998; BRADY, WEILL, 2008), sendo 8.2.8. Manejo do solo
que a quantidade de macroporos é maior em solos
arenosos, ou naqueles argilosos bem estruturados, os A estrutura do solo é influenciada de forma
quais possuem também boa continuidade de poros. marcante pelos constituintes e pelo uso e manejo que
Nos períodos com porosidade de aeração lhe são dados; portanto, ela deve ser considerada na
superior a 10%, a respiração das raízes das videiras escolha tanto da área a ser cultivada como do sistema de
(LANYON et al. 2004) e as trocas de O2 e CO2 do manejo do solo. O manejo do solo envolve as operações
solo com a atmosfera (XU et al. 1992) ocorrem com de cultivo, práticas culturais, fertilização e correção
188
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
conduzidas ou nele aplicadas, visando à produção al. 2013). Em um pomar de maçã cultivado em um
de plantas (CURI et al. 1993). As forças mecânicas Nitossolo Háplico em sistema convencional no Rio
originárias da pressão proporcionada pelo rodado de Grande do Sul, Ribeiro (2003) relatou que a entrelinha
tratores e implementos agrícolas, sobre e dentro do teve densidade do solo 9% maior (1,31 g cm-3) que nas
solo, durante a execução das operações de manejo, linhas de plantio (1,20 g cm‑3). Em um vinhedo cultivado
são a principal causa da degradação da estrutura e do no Rio Grande do Sul em um Cambissolo Háplico, Dalla
aumento da densidade do solo (KLEIN, LIBARDI, 2002). Rosa et al. (2013) também relataram maior densidade
Assim, para preservá-lo dos processos de desagregação do solo na entrelinha (1,29 g cm-3) comparada à linha
e compactação, é recomendado o uso de sistemas de plantio (1,12 g cm-3), comprovando o aumento
conservacionistas, os quais envolvem práticas como da densidade (17%) ocasionado pelo tráfego de
o cultivo em faixas e em nível, construção de terraços, máquinas. Em outro estudo realizado na Argentina
manutenção de resíduos vegetais na superfície, baixa com uvas viníferas cultivadas em um Aridisol (U.S. Soil
mobilização do solo, entre outras (BERTOL et al. 2013). Taxonomy), Apcarian et al. (2006) observaram que a
Logo, o sistema de manejo adotado pelo profundidade, a espessura e a resistência à penetração
agricultor modifica sensivelmente a distribuição de do solo de camadas compactadas afetaram a produção,
tamanho dos poros do solo e sua funcionalidade. com maior influência nos atributos de rendimento do
Em estudo que avaliou sistemas de manejo do que nos atributos de composição das uvas. Também
solo para a produção de grãos, Kaiser (2010) relatou na Argentina, Echenique et al. (2007) estudaram três
que nos sistemas que ocasionam maior compactação, cultivares viníferas em solos siltosos e constataram
a microporosidade aumenta, enquanto a porosidade que a área foliar, a massa dos ramos podados e a
total, a macroporosidade, a aeração e os fluxos de água produtividade por planta diminuíram quando os solos
e ar diminuem. Como consequência, ocorre menor tinham horizontes com resistência superior a 3,0 MPa
disponibilidade de oxigênio, maior concentração na camada de 0 a 35 cm de profundidade. Portanto,
de gás carbônico, maior resistência mecânica e, essa maior resistência à penetração caracteriza esses
consequentemente, menor crescimento de raízes solos como de baixo potencial vitícola.
(REINERT et al. 2008; KAISER et al. 2009). Nesse sentido, Outras práticas de manejo também podem
embora a retenção de água seja maior em solos mais afetar a qualidade das uvas para vinificação. Em
compactados, a disponibilidade de água, geralmente, estudo realizado em um Cambissolo Húmico de Santa
é maior em solos não compactados, com maior teor Catarina, Zalamena et al. (2013) observaram que o
de matéria orgânica e melhor estruturados (SILVA et manejo das plantas de cobertura (roçada, dessecação
al. 2016). Portanto, as modificações causadas pela com herbicidas e a implantação de consórcios de
compactação, a qual é mais intensa em sistemas com plantas de cobertura) modificou a produtividade
uso de máquinas e equipamentos que causam pressões da uva Cabernet Sauvignon e que as videiras
maiores do que os solos podem suportar sem deformar, consorciadas com Festuca (Festuca arundinacea
prejudicam o metabolismo do sistema radicular das S.) produziram vinhos mais encorpados pela maior
plantas (BORU et al. 2003) e devem ser evitadas. concentração de antocianinas e polifenóis. Esses
Nas lavouras de produção de grãos, a efeitos podem estar relacionados com a competição
compactação pode ser detectada em toda a área de por água e nutrientes entre as plantas de cobertura
cultivo, enquanto que em pomares e vinhedos ela é e a videira. Já no estudo de Dalla Rosa et al. (2013),
detectada entre as linhas de plantio, pois é a região a produtividade da uva foi afetada pelas diferentes
onde as máquinas transitam para realizar o controle de plantas de cobertura (vegetação espontânea; aveia
doenças, pragas e plantas daninhas, além das operações preta; e consórcio de trevo branco + trevo vermelho +
de colheita. A compactação localizada acarreta menor azevém) somente em anos com distribuição irregular
prejuízo para as culturas, pois as raízes podem se ou excesso de precipitações.
desenvolver normalmente no solo não compactado Portanto, a composição da uva e a qualidade
(RIBEIRO, 2003; LUCIANO, 2012; DALLA ROSA et do vinho também podem ser modificadas pelas
189
Água no Solo
práticas de manejo adotadas devido sua interferência (WINKLER et al. 1974). Em Petrolina, no estado de
em atributos físicos do solo. Pernambuco (clima semiárido), foram obtidos valores
de evapotranspiração da videira de 2,8, 7,0 e 4,4 mm
8.3 Disponibilidade de água no solo e ne- dia-1, respectivamente, aos 18, 94 e 117 dias após a
cessidade hídrica da videira poda, sendo que o consumo hídrico da cultura ao
longo do ciclo produtivo foi de 503 mm (TEIXEIRA et al.
A retenção e a disponibilidade de água para 1999). Ainda em Pernambuco, mas também na Bahia, a
as plantas dependem, num primeiro momento, do variedade Syrah teve um requerimento hídrico entre 2,7
fornecimento de água ao solo, o qual varia com a e 3,6 mm dia-1, variável em função da época do ano em
frequência, intensidade e duração das precipitações que ocorreu o crescimento vegetativo e reprodutivo; e o
naturais e/ou irrigação, bem como da oscilação do consumo hídrico no ciclo produtivo variou de 352 a 403
lençol freático. A água das precipitações, após infiltrar mm (TEIXEIRA et al. 2012). Segundo Gobbato (1940), a
no solo, pode ficar retida ou ser drenada, e a magnitude videira necessita de aproximadamente 384 mm de água
desses processos dependem da granulometria, teor de da brotação até a maturação da uva, em quantidades
matéria orgânica, agregação, distribuição e continuidade variáveis conforme o estádio de desenvolvimento.
de poros, sequência de horizontes e profundidade Assim, no sul do Brasil, as precipitações anuais ocorrem
efetiva, ou seja, de atributos que determinam a condição acima das necessidades hídricas da videira. No Rio
estrutural do perfil do solo (HILLEL, 1998; BRADY, Grande do Sul a precipitação varia de 1.200 a 2.200
WEILL, 2008). Da água retida no solo, parte pode ser mm/ano-1 (WESTPHALEN, MALUF, 2000), enquanto
utilizada pelas plantas no processo de transpiração. A no Planalto Sul Catarinense as precipitações variam de
quantidade de água transpirada pelas plantas depende 1.360 a 2.000 mm/ano-1 (EPAGRI, 2002).
do volume de solo explorado pelo sistema radicular, Além da diferença na precipitação, entre as
do estado energético que a água se encontra no solo, regiões e também entre os anos, os solos apresentam
da condutividade hidráulica do solo não saturado grande variabilidade nos seus atributos, como
e do déficit de vapor na atmosfera (HILLEL, 1998; discutido anteriormente, tornando muito variável
REICHARDT & TIMM, 2004; TAIZ, ZEIGER, 2013). o armazenamento de água no espaço e no tempo
A demanda hídrica (evapotranspiração máxima) (TURATTI, REICHARDT, 1991; ROCHA et al. 2005;
é associada às demandas energéticas do meio (radiação MORETI et al. 2007; ZANETTI et al. 2007; VIEIRA et
solar global, balanço de energia e temperatura), à al. 2010; WARMLING, 2017). Na região do Planalto
umidade do ar e ao vento (DOORENBOS, PRUITT, Sul Catarinense, o estudo realizado por Luciano et
1975; MOTA et al. 2009; VIEIRA et al. 2011). Assim, al. (2014) mostra a grande variabilidade espacial e
as necessidades estabelecidas pelos indicadores temporal da umidade de um Cambissolo Húmico e de
pluviométricos têm valores locais ou regionais, não um Cambissolo Háplico. No estudo de Dalla Rosa et
podendo ser generalizados (WESTPHALEN, MALUF, al. (2013), os autores relataram, ainda, prejuízos para
2000). Entretanto, a videira se adapta desde regiões a cultura da videira cultivada em Cambissolo Háplico
onde o regime pluviométrico é inferior a 200 mm ano-1 do Rio Grande do Sul nos anos em que a distribuição
até aquelas com regimes pluviométricos superiores a da precipitação foi irregular. Essas conclusões foram
1.000 mm ano-1, dependendo do porta-enxerto e da corroboradas por Warmling et al. (2018).
variedade (POMMER, 2003). Alguns estudos relatam que a falta e,
Publicações que objetivam servir de guia principalmente, o excesso de água afeta a produtividade,
para planejar, projetar e operar sistemas de irrigação a composição da uva e a qualidade do vinho (SEGUIN,
sugerem que a evapotranspiração da videira varia entre 1986; MYBURGH, MOOLMAN, 1991; BRAMLEY,
650 e 1.000 mm (DOORENBOS, PRUITT, 1977) ou 2001, 2003; DALLA ROSA et al. 2013; LUCIANO et
entre 500 e 1.200 mm (DOORENBOS, KASSAM, al. 2013; WARMLING et al. 2018). Portanto, o excesso
1979). Na Califórnia, o consumo hídrico da videira, de precipitação e sua frequência afetam a videira nas
durante todo o seu ciclo, varia de 405 a 1.370 mm diferentes fases do seu ciclo reprodutivo. Na floração,
190
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
favorecem a incidência de doenças (antracnose físicos do solo e a composição da uva para produção
Elsionoe ampelinae e míldio Plasmopara viticola) e no de vinhos.
amadurecimento das bagas, causam rupturas da película O crescimento da planta e a composição
e aumento da incidência de infecções por podridões da baga da uva estão intimamente relacionados à
(principalmente Botrytis cinerea), as quais prejudicam disponibilidade de água para a videira (MATTHEWS
a maturação e, consequentemente, a qualidade dos et al. 1990; VAN LEEUWEN, SEGUIN, 1994; VAN
vinhos (WESTPHALEN, MALUF, 2000). Além disso, LEEUWEN et al. 2004). Alguns estudos relatam que a
o excesso de precipitação diminui a concentração de ocorrência de déficit hídrico entre leve e moderado tem
sólidos solúveis totais (LUCIANO et al. 2013). Estudos efeito positivo na composição da uva e do vinho (ZSÓFI
demonstram os efeitos do cultivo protegido na cultura et al. 2011). Segundo Roby et al. (2004), Castellarin et
da videira, pois altera a radiação solar e principalmente al. (2007) e Van Leeuwen et al. (2009), a concentração
a disponibilidade hídrica do solo (MOTA et al. 2009). de compostos fenólicos (antocianinas e taninos) na baga
Considerando esses aspectos e a elevada da uva é maior se as videiras estiverem expostas a um
precipitação que ocorre nas regiões produtoras de déficit hídrico leve ou moderado. O baixo fornecimento
uva para produção de vinhos finos da Serra Catarinense de água também altera as características sensoriais do
(LUCIANO et al. 2014; WARMLING et al. 2018), vinho (ZSÓFI et al. 2009) e a concentração de açúcar
recomenda-se a implantação dos vinhedos em solos na baga da uva (VAN LEEUWEN et al. 2009; LUCIANO,
bem drenados. 2012; WARMLING et al. 2018), pois o déficit hídrico
reduz a competição por carboidratos entre as bagas
8.4 Relação dos atributos do solo e a com- e a parte aérea, o que permite maior porcentagem de
posição da uva pra vinificação açúcares produzidos por fotossíntese, os quais ficam
disponíveis para o amadurecimento da uva (LEBON et
A disponibilidade de água e de nutrientes para al. 2006). Por isso, o déficit hídrico moderado estimula
a videira varia em curtas distâncias, dependendo o amadurecimento da uva e restringe o tamanho das
dos atributos do solo e do relevo (LUCIANO et al. bagas.
2014; WARMLING, 2017). O entendimento desta No trabalho de Van Leeuwen et al. (2009), em
variabilidade permite, não somente a escolha de três tipos de solos das ordens Neossolo e Argissolo,
uma determinada região ou solo para a implantação na região de Saint-Émilion na França, entre as safras
do vinhedo, mas também a seleção de áreas com de 2004 e 2007, os autores concluíram que nos solos
características específicas dentro de uma determinada mais rasos e com menor disponibilidade de água e
região ou gleba de terra (CHONE et al. 2001; LUCIANO, de nitrogênio, o crescimento e rendimento da videira
2012; WARMLING et al. 2018). foram menores, porém, a composição das uvas foi mais
Considerando a variabilidade que ocorre no adequada para a produção de vinhos.
solo e seus efeitos na produtividade e na composição No estudo conduzido por Van Leeuwen et
da uva para produção de vinhos finos, Van Leeuwen & al. (2004), esses autores observaram que a massa, a
Seguin (2006) demonstraram a importância do solo na concentração de açúcar, o teor de antocianinas e a acidez
definição do terroir. O termo terroir pode ser definido titulável das bagas têm influência direta na qualidade
como uma entidade espacial e temporal, que é descrita do vinho. Por sua vez, os parâmetros da uva estão
por características homogêneas ou dominantes e que relacionados com o solo, sendo que, nesse trabalho,
são de significância para uvas e/ou para o vinho, isto a massa da baga foi influenciada, principalmente, pela
é, solo, paisagem e clima, para uma dada escala de classe de solo, seguido pela variedade; a concentração
tempo, dentro de um território que tem sido baseado de açúcar na baga foi relacionada com a variedade, a
numa experiência social e histórica e escolhas de classe de solo e com as condições meteorológicas na
técnicas relacionadas ao genótipo (VAUDOUR, 2003). safra avaliada; o teor de antocianinas foi influenciado,
Considerando essas relações, a seguir serão comentados principalmente, pelas condições meteorológicas e tipo
alguns trabalhos que avaliaram a relação entre atributos de solo; e a acidez titulável e o pH do mosto foram
191
Água no Solo
dependentes das condições meteorológicas e, em Esse autor afirma que, apesar do solo influenciar em
menor proporção, da variedade e da classe de solo. menor grau a produção e composição da uva Cabernet
Estudando os efeitos das condições Sauvignon, é imprescindível a escolha do tipo e da
meteorológicas de três safras em dois Latossolos da posição do solo na toposeqüência para locar novos
região da Catalunha na Espanha, Ubalde et al. (2010) vinhedos, uma vez que a videira é uma cultura perene
observaram que o clima afetou os compostos fenólicos e erros na implantação influenciam a composição da
(antocianinas e taninos) e os sólidos solúveis totais da uva, podendo acarretar perdas no rendimento por vários
variedade Cabernet Sauvignon, porém não afetou a anos, ou, até mesmo, diminuir a vida útil do vinhedo.
massa das bagas. Entretanto, esses autores concluíram Assim, a avaliação dos efeitos das condições
que a classe de solo afetou a massa das bagas, a meteorológicas e da classe de solo na composição da
velocidade de maturação das uvas e a composição uva é importante para a escolha de regiões e locais
do vinho. adequados à produção de uvas viníferas.
A influência das condições meteorológicas
na qualidade da uva para vinificação também foi 8.5 Solos de altitude para
avaliada em Santa Catarina, na região do Planalto Sul produção de uvas para vinhos finos em
Catarinense, onde as condições meteorológicas e a Santa Catarina
classe de solo afetaram as características físico-químicas
da uva Cabernet Sauvignon, sendo mais pronunciado As atuais áreas de produção de uvas para
o efeito das condições meteorológicas do que o da vinhos finos, em Santa Catarina, estão localizadas
classe de solo (LUCIANO et al. 2013; WARMLING nas regiões do Planalto Serrado e Meio Oeste, em
et al. 2018). De acordo com esses estudos, menores solos que se situam em altitudes variando de 950
precipitações e maiores amplitudes térmicas favorecem até 1.400 m (ACAVITIS, 2014). Entre os principais
o acúmulo de sólidos solúveis na uva, enquanto maiores municípios produtores, São Joaquim, na região do
precipitações favorecem o aumento da acidez do mosto. Planalto Sul Catarinense, destaca-se com maior
Em estudo realizado nessa mesma região, Borghezan et concentração de vinhedos e vinícolas produtoras de
al. (2011) afirmaram que Cabernet Sauvignon, Merlot vinhos finos, com 15 vinícolas em funcionamento.
e Sauvignon Blanc apresentaram elevada qualidade da Outros municípios Catarinenses que se destacam
uva na colheita. Ao comparar dois locais, Soccol et al. na produção de vinhos finos de altitude são Campo
(2008) constataram que as uvas da Cabernet Sauvignon Belo do Sul, Urubici e Urupema, localizados no
produzidas em São Joaquim, Santa Catarina, em Planalto Serrano, além de Água Doce, Campos
comparação às produzidas em Lages, Santa Catarina, Novos, Monte Carlo, Salto Veloso, Tangará e Videira,
tiveram uma maturação fenólica mais completa, localizados na região Meio Oeste. Em cada um
característica que origina vinhos mais encorpados e desses municípios, funcionam de uma a duas
com maior intensidade de cor. Essas diferenças foram vinícolas. Além dessas regiões, há a possibilidade
atribuídas às condições climáticas (maior amplitude de implantação de novos vinhedos de altitude em
térmica e menor precipitação pluviométrica na época outros municípios de Santa Catarina, pois existem
da colheita) em São Joaquim na safra avaliada. várias áreas com altitudes superiores a 950 m.
Estudando a variedade Cabernet Sauvignon No estado de Santa Catarina,
em diferentes propriedades vinícolas de São Joaquim, independentemente da atual ou potencial região
Mafra (2009) constatou que altos teores de matéria de vinhedos de altitude, os solos são, em sua maioria,
orgânica do solo estão associados com uma maior derivados de rochas efusivas básicas, intermediárias
incidência de doenças no cacho, com maior acidez e ácidas (basalto, riodacitos ou riolitos) da Formação
total e menor teor de sólidos solúveis na uva. Luciano Serra Geral que, pela atuação dos fatores e processos
(2012), avaliando dois Cambissolos, em São Joaquim, de formação, resultaram na gênese de solos com
observou que o solo com menor teor de matéria textura variando de argilosa a muito argilosa, com
orgânica produziu uvas com mais sólidos solúveis totais. profundidade variável, em função de sua posição
192
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
193
Água no Solo
Santa Catarina, aplicam-se algumas restrições, embora duas classes de Cambissolos, geralmente, apresentam
a produção de uvas também seja possível nesses solos. baixa percolação da água no perfil, pois o horizonte B
Como o clima do estado é úmido e com temperaturas incipiente pode ter drenagem de moderada a imperfeita
amenas, nas regiões de maior altitude, costumam (EMBRAPA, 2004). Essa característica dificulta a
ocorrer variações na distribuição das precipitações ao drenagem de água no solo durante períodos chuvosos e,
longo dos meses, especialmente no verão. Desse modo, consequentemente, afeta as trocas gasosas para as raízes
no caso dos vinhedos implantados em Neossolos das videiras. Cambissolos também são mais suscetíveis
Litólicos, a precipitação pode proporcionar excesso à erosão que Nitossolos e Latossolos. Entretanto, nas
de água, quando o perfil não for bem drenado e/ou regiões de maior altitude, acima dos 1.200 m, onde é
se encontra em área plana, com prejuízos ao sistema menos comum a presença de Nitossolos e Latossolos,
radicular das videiras e à qualidade da uva (LUCIANO os vinhedos podem ser implantados em locais com
et al. 2013; 2014; WARMLING et al. 2018). Outro predominância de Cambissolos Háplicos, pois essa classe
extremo pode ocorrer nas condições de déficit hídrico, de solo possui menores teores de matéria orgânica e
pois a maioria dos Neossolos Litólicos localizados maiores teores de argila em relação às demais classes
nas regiões de maior altitude são rasos, possuindo de Cambissolos, o que resulta em menor disponibilidade
menos de 60 cm de espessura até a rocha (EMBRAPA, de água. Essa menor disponibilidade de água para as
2004), característica que reduz a disponibilidade de videiras torna-se vantajosa na fase de maturação da uva,
água por capilaridade, em períodos de estiagem mais para garantir sua qualidade, especialmente em anos com
prolongados, podendo ocasionar perdas dos cachos, distribuição normal ou com excesso de chuvas.
devido à antecipação da dormência das plantas No caso dos Organossolos e Gleissolos, não
(LUCIANO, 2012). é recomendado o cultivo de videiras porque essa
Os Cambissolos Hísticos e Cambissolos Húmicos espécie não é adaptada a ambientes hidromórficos
não são preferenciais para a implantação de vinhedos, (POMMER, 2003).
pois a qualidade das uvas produzidas pode ser baixa No estudo realizado por Luciano (2012), o
devido à elevada disponibilidade de água, especialmente qual avaliou a influência de solos e suas propriedades
se essa ocorrer na fase de maturação da uva. Essas físico-hídricas na produção e qualidade de uvas
194
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
para vinhos finos em São Joaquim, Santa Catarina, sólidos solúveis e de taninos e menor acidez titulável e
o autor observou elevada umidade na capacidade pH do mosto, diferenças que podem estar associadas
de campo (CC) e no ponto de murcha permanente ao menor volume de água disponível para as plantas
(PMP) nos solos de duas áreas de vinhedos (Tabela nesse solo. A menor qualidade das uvas no vinhedo
17). No vinhedo implantado sobre uma associação de implantado sobre a associação de Cambissolo Húmico
Cambissolo Húmico e Neossolo Litólico, o teor médio e Neossolo Litólico pode ser atribuída à grande
de água disponível (AD) na camada de 0 a 30 cm foi variação no volume de água armazenada no solo,
de 0,10 m3 m-3, enquanto para o vinhedo implantado principalmente para as videiras implantadas sobre
sobre um Cambissolo Háplico esse valor foi de apenas o Neossolo Litólico. Em épocas de alta precipitação
0,08 m3 m-3. É importante destacar que existe uma pluviométrica, grande volume de água foi armazenado,
elevada variabilidade espacial da CC, PMP e AD nos por longos períodos no solo, devido a sua drenagem
vinhedos estudados (0,35 ha cada), o que resultou deficiente, prejudicando as trocas gasosas das raízes
em teores de AD variando entre 0,07 a 0,14 m3 m-3 da videira; já nas épocas de menor precipitação
no Cambissolo Húmico e entre 0,04 a 0,11 m3 m-3 no houve déficit hídrico (Figura 92), o que diminuiu o
Cambissolo Háplico. rendimento das videiras. Além disso, quando o déficit
hídrico ocorreu por períodos prolongados, houve a
Tabela 17. Umidade do solo na capacidade de perda dos cachos devido à senescência antecipada
campo (CC) e no ponto de murcha permanente das videiras.
(PMP), e teor de água disponível (AD) na A retenção e disponibilidade de água para as
camada de 0-30 cm de profundidade em dois plantas em outras classes de solos e locais de Santa
vinhedos com uvas da variedade Cabernet Catarina foram estudados por Costa et al., (2013a),
Sauvignon, enxertada sobre Paulsen 1103, que avaliaram 44 perfis de solos no estado, sendo
em São Joaquim (Santa Catarina), 2011. dez desses perfis localizados em altitude superior
Fonte: Modificado de Luciano, 2012. a 950 m (Tabela 18), ou seja, locais com potencial
para produção de uvas para vinhos finos. Os autores
CC PMP AD observaram que, nas regiões de maior altitude
Parâmetro*
------------------ m3 m-3 ------------------- do estado, são encontrados os solos com maior
Vinhedo 1: Cambissolo Húmico + Neossolo Litólico capacidade de retenção e disponibilidade de água.
Média 0,53 0,43 0,10 Isso ocorre devido a interação entre elevados teores
de argila e de matéria orgânica que ocorrem nesses
Desvio padrão 0,04 0,04 0,02
solos (EMBRAPA, 2004), com teores médios de argila
Limite superior 0,61 0,53 0,14 entre 350 e 700 g kg-1 (classe textural argilosa ou
Limite inferior 0,42 0,34 0,07 muito argilosa) e teores médios de matéria orgânica
nos horizontes superficiais (variando de 30 a 150 g
Vinhedo 2: Cambissolo Háplico
kg-1), valores superiores a de outras regiões do estado
Média 0,50 0,42 0,08 com menor altitude.
Desvio padrão 0,04 0,03 0,01 Acessando o banco de dados criado por
Limite superior 0,55 0,48 0,11
Costa et al. (2013a), foram separados os dados
dos dez perfis de solo com altitude superior a 950
Limite inferior 0,40 0,33 0,04 m, os quais são apresentados na Tabela 18. Eles
mostram a retenção e disponibilidade de água até
os 50 cm de profundidade no perfil de algumas
Nesse mesmo trabalho, foi observado que classes de solo que ainda não possuem dados de
o Cambissolo Háplico produz uva com melhor pesquisas com vinhedos comerciais para vinhos finos
composição (variedade Cabernet Sauvignon, de altitude. Embora a retenção e disponibilidade de
enxertada sobre Paulsen 1103), com maior teor de água sejam afetadas pelo uso e manejo do solo,
195
Figura 92.Videira Cabernet Sauvignon cultivada na associação Cambissolo Húmico + Neossolo
Litólico após período de déficit hídrico que ocasionou queda de folhas e cachos de uva.
São Joaquim, Santa Catarina.
Fonte: Rodrigo Vieira Luciano.
Tabela 18. Umidade do solo na capacidade de campo (CC) e no ponto de murcha permanente (PMP), e
teor de água disponível (AD) na camada de 0-50 cm de profundidade para alguns solos localizados em
altitudes superiores a 950 metros no estado de Santa Catarina.
Fonte: Adaptado de Costa, 2012.
Altitude CC PMP AD
Classe de Solo Município Uso atual
m -- m3 m-3 --
Nitossolo Bruno Lebon Régis Mata 1.010 0,46 0,36 0,10
Nitossolo Bruno Curitibanos Pastagem 1.022 0,46 0,35 0,11
Latossolo Bruno Vargeão Pastagem 1.043 0,61 0,43 0,19
Nitossolo Bruno Ponte Serrada Pastagem 1.046 0,46 0,36 0,10
Nitossolo Bruno Santa Cecília Florestamento 1.075 0,40 0,33 0,07
Nitossolo Bruno Painel Pastagem 1.150 0,45 0,36 0,09
Nitossolo Bruno Água Doce Pastagem 1.205 0,50 0,36 0,14
Cambissolo Húmico Água Doce Pastagem 1.245 0,59 0,42 0,17
Cambissolo Húmico Bom Jardim da Serra Pastagem 1.372 0,68 0,49 0,20
Neossolo Litólico* São Joaquim Pastagem 1.373 0,50 0,30 0,19
196
Figura 93. Efeito da altitude (alt) nos teores de argila e de matéria orgânica (MO) (a); e na capacidade
de campo (CC), no ponto de murcha permanente (PMP) e no teor de água disponível (AD) (b) em dez
solos de altitude com potencial de produção de uvas para vinhos finos no estado de Santa Catarina. *
TFSA – terra fina seca ao ar.
Fonte: Adaptado de Costa, 2012.
os locais avaliados servem como referência para a matéria orgânica sobre a retenção e disponibilida-
cultura da videira, pois na época da avaliação eram de de água nos solos de altitude de Santa Catarina
utilizados com culturas perenes. destinados à produção de uvas para vinhos finos,
Utilizando os dados desses dez solos de al- além de analisar esses efeitos na composição da
titude de Santa Catarina, também foram avaliadas uva produzida.
as relações entre a altitude e os teores de matéria Portanto, os solos de altitude de Santa Ca-
orgânica, argila, umidade na CC, umidade no PMP tarina, especialmente em áreas de produção de
e teor de AD (Figura 93). Observou-se decréscimo uvas para vinhos finos, carecem de mais estudos
dos teores de argila e acréscimo nos teores de ma- relacionados às características físico-hídricas dos
téria orgânica com o aumento da altitude (Figura solos e suas influências na produção e composi-
93a). A interação desses dois fatores resulta em ção dessas uvas para vinificação, visto a diversida-
maior aumento da umidade na CC em relação ao de de solos e a quantidade de vinícolas em funcio-
aumento da umidade no PMP, o que resulta em namento atualmente no estado.
aumento do teor de AD com o aumento da altitu- Os estudos existentes, até o momento, indicam
de do solo (Figura 93b). que na região de altitude (acima de 950 m) do estado
Ao avaliar a relação entre os atributos do de Santa Catarina existem solos adequados para a
solo e a disponibilidade de água desses solos de produção de vinhos, enquanto outros são menos
altitude de Santa Catarina, observou-se que o adequados ou não recomendados. Os solos mais
teor de AD diminui em solos mais argilosos (Figu- adequados são os que apresentam melhor drenagem
ra 93c) e aumenta em solos com maior teor de e/ou menor teor de água disponível para as videiras,
matéria orgânica. Esse aumento ocorre até aproxi- constatação que se deve ao fato de que, nas áreas onde
madamente 70 g kg-1 de matéria orgânica no solo elas estão sendo cultivadas, geralmente, a precipitação
e a partir desse limite o teor de AD se mantém está acima das necessidades hídricas dessa cultura
próximo de 0,20 m3 m-3 (Figura 93 d). Entretanto, (LUCIANO et al. 2013; 2014; WARMLING et al.
são necessários estudos adicionais para o melhor 2018). Dessa forma, como o excesso de umidade do
entendimento dos efeitos dos teores de argila e de solo interfere na composição da uva para vinificação,
197
Água no Solo
Figura 94. Relação entre a capacidade de campo (CC), ponto de murcha permanente (PMP) e teor de
água disponível (AD) com os teores de argila (a) e com os teores de matéria orgânica (MO) (b) de dez
solos com potencial de produção de uvas para vinhos finos de altitude no Estado de Santa Catarina.
Fonte: Adaptado de Costa, 2012.
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206
9. Nutrição e Viticultura
Duilio Porro
Alberto Fontanella Brighenti
9.1 Introdução
O
sucesso de uma produção de qual-
idade é resultado da integração
de informações relativas ao cresci-
mento, desenvolvimento das plan-
tas e à gestão de práticas culturais relacionadas à nu-
trição mineral. Muitos fatores ligados ao ambiente e a
práticas agrícolas podem interferir na produção, mas a
nutrição mineral, certamente, desempenha um papel
importante no controle desse complexo mecanismo
interferindo, diretamente, na produtividade e na qual-
idade da produção e, indiretamente, na manifestação
de outros fatores.
Ainda que o conceito de qualidade da uva
esteja em constante mudança, considera-se que o
parâmetro qualitativo de maior interesse econômico
que permanece até hoje é o teor de açúcar, embora
possa ser observado que, ao longo do tempo, apenas
esse parâmetro não é suficiente para alcançar obje-
tivos de elevado valor enológico. O teor de açúcar é o
resultado de um processo fotossintético eficiente, que
está intimamente relacionado com alguns dos compo-
nentes mais importantes do mosto; quanto maior a sua
síntese, maior será a concentração em termos de aro-
mas, vitaminas e polifenóis, porque tais compostos são
sintetizados a partir de precursores comuns no ciclo
do ácido tricarboxílico.
A obtenção de produções ótimas do ponto de
vista quantitativo e qualitivo na videira, assim como em
outras culturas, só é possível a partir de plantas equil-
ibradas, abastecidas adequadamente com todos os
nutrientes requeridos para executar, da melhor forma
possível, as diferentes funções fisiológicas necessárias
para cada estágio específico do seu desenvolvimento
(PORRO, IACONO, 1999).
207
Nutrição e Viticultura
9.2 Exigências nutricionais das uvas açúcares, dos ácidos, dos aromas e dos pigmentos
viníferas dos cachos. Já os microelementos são necessários
em quantidades menores, atuando como cofatores
9.2.1. Os Nutrientes enzimáticos (MARSCHNER, 1995; PORRO, IACONO,
1999).
A nutrição é o fornecimento, a absorção e a Mesmo outros elementos menores, geralmente
utilização de elementos químicos do ambiente, em chamados de benéficos, como sódio, cloro, silício,
particular do ar e do solo, e a utilização subsequente cobalto, cromo, níquel, iodo, selênio, bário, cádmio,
desses elementos para o metabolismo da planta e o chumbo e alumínio (Na, Cl , Si, Co, Cr, Ni, I, Se, Ba, Cd,
seu crescimento. Pb e Al), bem como lantanídeos e actinídeos (chamados
Os nutrientes, ou elementos essenciais, são “terra rara”) podem assumir funções secundárias, como
componentes intrínsecos da estrutura dos vegetais, estimular o crescimento e substituir certos elementos
estão envolvidos no metabolismo das plantas em funções específicas (Cr, Co e Ni, por exemplo,
(como componentes de metabólitos ou necessários podem compensar para a falta de Fe e Mg, enquanto
para a ativação de enzimas) e são classificados em Cd, Ba e Pb podem substituir K, Ca e Na) (FAURE, 1992;
macronutrientes e micronutrientes em relação a sua KABATA-PENDIAS, 2001; BLOOM, 2010).
concentração nos tecidos. Nas Tabela 19 e 20 são apresentadas algumas
Nas folhas da videira, órgãos comumente considerações sobre macronutrientes, micronutrientes
utilizados para fins de diagnóstico, os macronutrientes e elementos benéficos.
(nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre
– N, P, K, Ca, Mg e S) estão presentes em concentrações 9.2.2. Exigências nutricionais da videira e a
variáveis de 0,1% a 5% na matéria seca; enquanto os dinâmica de absorção
micronutrientes (ferro, manganês, boro, zinco, cobre
e molibdênio – Fe, Mn, B, Zn, Cu e Mo) apresentam Na maioria das situações, a redução do
concentrações inferiores ou em torno de 0,1% e, em aporte de fertilizantes nos vinhedos acompanha
todo caso, na ordem de umas poucas partes por milhão. o desenvolvimento de uma viticultura destinada a
Macro e micronutrientes não podem ser ganhos de qualidade. Diante de práticas agronômicas
substituídos por outros elementos, de modo que as adequadas, a carga produtiva limitada e a ausência de
plantas não podem completar seu desenvolvimento em problemas específicos, a quantidade de fertilizantes
sua ausência. Uma deficiência grave provoca a morte aplicadas nos vinhedos foram drasticamente reduzidas
das plantas ou as impedem de completar seu ciclo vital. em comparação com aquelas sugeridas pela literatura
As deficiências são específicas para cada elemento, visto (WINKLER et al., 1978, CHRISTENSEN et al., 1978;
que um nutriente não pode ser substituído por outro. CONRADIE, 1980; CONRADIE, 1981; FREGONI,
Os elementos essenciais podem ser absorvidos 1984).
na forma de íons (ânions ou cátions) ou como compostos, A partir da remoção de folhas, pecíolos, cachos,
contendo os nutrientes que serão subsequentemente ramos e troncos permanentes, foi observado que o
metabolizados, para liberar os elementos que deverão consumo anual de macro e micronutrientes pelas
ser incorporados em moléculas orgânicas. Deve ser videiras, com produção média entre 7 e 25 toneladas
enfatizado que é o elemento em si, essencial para a por hectare, foram na ordem dos seguintes valores
planta, e não o composto absorvido. mínimos e máximos (kg ha-1): nitrogênio 22-84; fósforo
Os macroelementos, geralmente, assumem um 2,3-15; potássio 34-123; cálcio 20-146; magnésio
papel estrutural “plástico”, ao participar de processos 4-16; ferro 0,29-1,12; boro 0,037-0,228; manganês
bioquímicos (fotossíntese, regulação do potencial 0,049-0,787; zinco 0,110-0,585 e cobre 0,064-0,910
osmótico e do turgor celular) e se tornar parte integrante (FREGONI, 1998).
das moléculas químicas que intervêm na construção O consumo total é considerado pela
das diversas estruturas dos diferentes órgãos, dos somatória do conteúdo de diversos nutrientes
208
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
para cada órgão, descontando as perdas por de dados multi-espectrais fornecidos por satélite
lixiviação, insolubilização e erosão. Estas últimas ou instrumentos, como o GreenSeeker (DRISSI et
são determinadas através do uso de lisímetros e al. 2009).
pela análise da água percolada. Fregoni (1998), Este último equipamento fornece uma imagem
relata que as perdas de nutrientes assumem os em tempo real do vigor e, consequentemente,
seguintes valores (expressos em kg ha-1): nitrogênio do estado nutricional da planta no vinhedo. O
15-90; fósforo 0-10; potássio 20-70; cálcio 200-600; GreenSeeker, montado em um trator equipado
magnésio 15-100; boro 0,020-0,050; manganês com GPS, avalia, através de sensores óticos, o
0,020-0,040; zinco 0,040-0,065 e cobre 0,030- desenvolvimento da biomassa, a sua variabilidade
0,060. Adicionando-se ao consumo as perdas, no interior do vinhedo e fornece, imediatamente,
obtem-se a dose regular de retorno estimado. No um mapeamento da biomassa indexada.
entanto, este cálculo ignora o estado nutricional A racionalização do aporte de fertilizantes,
real, originado a partir da análise do solo, da através da calibração do modo e época de intervenção
diagnose foliar e da quantidade de material não em relação aos diferentes contextos ambientais e
efetivamente removido do vinhedo. pedológicos dos vinhedos, deve ser baseada no
Dessa forma, hoje se observa a tendência de consumo anual da planta e nos conhecimentos sobre
racionalizar o aporte de nutrientes em função de um a função fisiológica específica dos diferentes nutrientes,
objetivo enológico pré-fixado, com a pesquisa de para a obtenção de produções de maior qualidade
fertilizações mais eficientes que reduzam o impacto (BATES et al. 2002; BRUNETTO et al. 2005; PONI et
ambiental e os custos de produção. No entanto, é al. 2003; ZAPATA et al. 2004).
importante recordar que produções ótimas, do ponto
de vista quantitativo e qualitativo, podem ser obtidas 9.2.3. Nitrogênio
apenas em plantas equilibradas.
Para definir planos de fertilização mais As formas mais comuns de nitrogênio,
racionais e eficazes, é preciso basear-se em diferentes presentes no solo e disponíveis para as plantas,
ferramentas de diagnóstico. são representadas pelos íons de amônia e de ácido
Uma vez que a fertilidade do solo não é nítrico e, em pequenas quantidades, de aminoácidos
alterada rapidamente em relação aos principais e de ureia. Ele é absorvido do solo como nitrato
nutrientes, análises de solo seriam necessárias e amônia e, subsequentemente, é convertido em
apenas a cada 5-10 anos. Já um panorama do estado aminoácidos para a formação de proteínas e enzimas.
nutricional real do vinhedo pode ser obtido através O nitrato é considerado a principal forma de absorção
de análise foliar ou pecíolar, índice SPAD (PORRO de nitrogênio pelas raízes, também por causa da
et al. 2001a) e/ou sensoriamento remoto. Para a sua maior concentração no solo em relação à de
produção destinada a vinhos de maior qualidade, amônia, que é rapidamente convertida em nitrato
seria necessária a execução deste diagnóstico pelo por microorganismos do solo, através do processo
menos uma vez a cada ano. de nitrificação. Porém, este processo é reduzido em
Experiências mais inovadoras na racionalização solos ácidos e frios. O íon nítrico não é retido pelo
do aporte nutricional foram propostas em algumas poder absorvente do solo e, por conseguinte, em
regiões vitícolas do novo mundo, como na Austrália função da precipitação, pode estar sujeito à lixiviação.
e na Califórnia (LAMB, 2000; JOHNSON et al. Em situações caracterizadas por fortes chuvas
2001), assim como no velho mundo, na França, de primavera, comum nas áreas de cultivo do sul do
principalmente na região de Bordeaux (OLLAT et al., Brasil, o nitrogênio pode ser facilmente lixiviado e,
1998) e na Itália (BRANCADORO et al. 2006), onde a portanto, seria recomendado fornecer o elemento na
adubação é realizada de modo automático, baseado forma “protegida” (nitrogênio de liberação lenta), de
em mapas de vigor ou nutricionais, derivados de modo que ele possa ser utilizado de forma limitada,
estudos de zoneamento, de caracterização territorial, de acordo com as necessidades da planta, sem a
209
Nutrição e Viticultura
Tabela 19. Macronutrientes#, micronutrientes§ e elementos benéficos* para a videira: papel fisiológico.
Fonte: adaptado de Champagnol, 1984; Fregoni, 1998; Porro et al. 1999; Rom, 1994; Bertoldi et al. 2011.
É absorvido no solo como NO3 e NH4 é sucessivamente convertido em aminoácidos que constituirão as proteínas e as enzimas. É parte da constituição
da clorofila com 4 átomos, dessa forma participa diretamente da fotossíntese. Cerca de 70-85% do nitrogênio foliar é utilizado pela Rubisco, a enzima
Nitrogênio# N que permite a absorção do CO2 do ar, dividí-lo e incorporá-lo em precursores de açúcares no processo fotossintético.
Constitui também os ácidos nucleicos, as lecitinas, as vitaminas e os alcalóides. Estimula o crescimento vegetativo e a produção, uma vez que favorece
a formação de gemas e a frutificação efetiva.
É muito móvel e dirige-se para as áreas de maior atividade metabólica e exposição à luz.
É absorvido em várias formas de fosfato que sucessivamente serão ligadas a ésteres ou reduzidas para serem utilizadas em reações de transferência de energia
Fósforo# P (ATP). É um constituinte essencial das membranas celulares, lecitinas, nucleoproteínas e fosfoproteínas.
Atua na respiração celular, no metabolismo dos açúcares e na manutenção do pH celular em valores metabólicos durante as reações químicas. Tal como o
nitrogênio é muito móvel para áreas de intensa atividade metabólica.
Absorvido na forma iônica é encontrado nessa forma nas plantas. É um ativador de enzimas e proteínas utilizadas no metabolismo e na síntese de proteínas
Potássio# K e carboidratos. Como íon atua como um neutralizador dos ácidos orgânicos. É um agente osmótico muito importante na troca iônica e em especial na
transpiração, uma vez que controla a abertura das células guarda dos estômatos.
É muito móvel via xilemática e via floemática. Os cachos representam um forte dreno para o potássio.
Enxofre# S É absorvido pelas raízes como sulfato. Atua na manutenção da estrutura celular (aminoácidos de enxofre) e constitui vitaminas e coenzimas. Assume papel
importante nos processos de acúmulo e transporte de energia.
É absorvido sobretudo por raízes novas na forma de íon, enquanto é transportado via xilema através de movimentos passivos, seguindo o fluxo da transpiração,
na forma de íon ou ligado a moléculas orgânicas.
Cálcio# Ca Pode agir sob controle hormonal, que o direciona aos tecidos para a divisão e expansão da parede celular, onde atua diretamente na constituição das pectinas.
É usado principalmente por folhas, ramos e raízes (crescimento e lignificação), enquanto que os cachos têm menor capacidade de absorção. Facilita o transporte
e o acúmulo de glicídeos e a hidrólise do amido.
Atua como catalisador na síntese da clorofila e também está envolvido na conversão da energia química como Ferredoxina. A forma metabolicamente ativa na
Ferro§ Fe planta é a enzimática (catalase, peroxidase, citocromo-oxidase), que atua nas reações de óxido-redução, no processo da fotossíntese, respiração, metabolismo dos
carboidratos e redução dos nitratos.
Faz parte da molécula de clorofila, que apresenta um átomo de Mg na posição central, portanto intervém diretamente na fotossíntese. Atua na formação
Magnésio# Mg de substâncias pécticas, açúcares, proteínas, vitaminas, xantofilas e carotenóides. Intervém no metabolismo do N, do P e na absorção da água. É absorvido e
transportado na forma iônica e atua como ativador de enzimas do metabolismo protéico e glucídico. É muito móvel através da via xilemática.
Manganês§ Mn Constitui a membrana do cloroplasto, ativa a proteína que forma a clorofila e assume um papel importante no transporte de elétrons. Portanto, está envolvido
diretamente no processo fotossíntético. Também intervém na redução do nitrato e é absorvido na forma iônica.
Cobre§ Cu Ativador específico de determinadas enzimas como tirosinase, lacase, ácido ascórbico-oxidase, mono e diamino-oxidase. Estabiliza a clorofila e participa do
metabolismo de proteínas e carboidratos. Catalisa a síntese de antocianinas.
Zinco§ Zn Desempenha função catalítica no metabolismo protéico e dos carboidratos. Está envolvido na regulação do pH celular e na síntese de RNA e triptofano
(necessário na elaboração de auxinas). Reduz a transpiração da planta.
Ativador da síntese da clorofila e da produção de açúcares. Participa do processo de frutificação e do pegamento de frutos através do desenvolvimento do tubo
Boro§ B polínico. Intervém no mecanismo de ação das giberelinas, na síntese do ácido indolacético (auxina) e no seu transporte. É altamente necessário para a lignifi-
cação e diferenciação do xilema, para a respiração, para a integridade das membranas celulares e para o metabolismo do RNA e dos fenóis. Atua no transporte
dos açúcares e do cálcio. É praticamente imóvel e é transportado passivamente através do fluxo transpiratório.
Cloro* Cl Absorvido como íon, desenvolve ações de equilíbrio entre cátions e ânions. Atua diretamente na primeira fase das reações de óxido-redução do processo
fotossíntético.
Sódio* Na Também é absorvido como íon e possui um papel importante no equilíbrio osmótico.
210
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 20. Macronutrientes#, micronutrientes§ e elementos benéficos* para a videira: necessidade anual,
fase de maior requerimento no decorrer do desenvolvimento vegetativo e valores críticos em lâminas
foliares e pecíolos.
Fonte: adaptado de Champagnol, 1984; Fregoni, 1998; Porro et al. 1999; Rom, 1994 e Bertoldi et al. 2011.
Níveis críticos
Requerimento Fase fenológica de (Valores expressos em matéria seca)
Elemento (Kg/hectare/ano) Maior requerimento
Deficiência Excesso
Brotação
Nitrogênio# 40-60 (120) Pós-frutificação Folha < 1,5 % Folha > 3,5%
Pós-colheita de variedades ou Pecíolo < 0,5% Pecíolo > 1,2%
regiões de colheita precoce
Manganês§ 0,5 Brotação Folha < 15 ppm Folha > 300 ppm
Floração-Frutificação Pecíolo < 20 ppm Pecíolo > 500 ppm
Boro§ 0,2 Floração Folha < 10 ppm Folha > 200 ppm
Frutificação-Maturação Pecíolo < 15 ppm Pecíolo > 100 ppm
Cobre§ 0,5 Frutificação Folha < 4 ppm Folha > 1000 ppm
Pecíolo < 2 ppm Pecíolo > 500 ppm
Molibdênio§ 0,01 Crescimento vegetativo Folha 0,1 ppm Folha > 1,5 ppm
Frutificação Pecíolo – Pecíolo –
211
Nutrição e Viticultura
ocorrência do fenômeno de lixiviação, que é inútil é mais facilmente absorvido pelas plantas se encontram
para a absorção e prejudicial do ponto de vista no intervalo entre 6 e 7. Quando os valores são inferiores
ambiental. a 6, muito comum na viticultura brasileira, o elemento
A absorção da amônia, no entanto, parece ser pode estar presente sob a forma não disponível como
favorecida pelo baixo pH (inferior a 6,5) e por altas resultado das reações de salificação com o ferro solúvel,
temperaturas (temperatura ótima de 27°C), enquanto o alumínio ou o manganês e seus hidróxidos. Por sua vez,
que, em solos alcalinos, poderia ser assimilado como em valores de pH maiores do que 7, ocorre a combinação
hidróxido de amônio (LYCKLAMA, 1963); isso do elemento com cátions de cálcio e de magnésio para
inibe a absorção de nitratos devido à concentração torná-lo indisponível.
amoniacal que é criada no citoplasma das células. Elevados níveis de fósforo no solo podem resultar
A amônia é a principal forma inorgânica de na menor disponibilidade de zinco e de cobre, à medida
nitrogênio envolvida na síntese e no catabolismo que se formam fosfatos, dificilmente absorvíveis destes
do nitrogênio orgânico, mas resulta potencialmente elementos.
tóxica e de difícil compartimentação e, portanto,
precisa ser desintoxicada. 9.2.5. Potássio
A desintoxicação de amônia, um processo
essencial para permitir o desenvolvimento adequado Algumas vezes, registram-se sintomas de
da planta, tem lugar dentro da planta e depende deficiência de potássio nos vinhedos, mas ela não é
indiretamente do fornecimento de fotoassimilados. atribuída à indisponibilidade do elemento em si, e sim
Tanto a amônia derivada da redução do nitrato quanto devido à cota realmente assimilável, aquela debilmente
aquela absorvida do solo na célula, são imediatamente adsorvida nos coloides argilosos, capaz de ser liberada
inseridas, no nível da raiz, em compostos orgânicos de forma facilmente absorvível. Quando as condições
como aminoácidos e amidas para, então, serem hídricas do solo são bastante reduzidas, o potássio
transportados através do sistema vascular (xilema fixa-se de forma não prontamente assimilável, o que
e floema). Os aminoácidos são os primeiros facilita a entrada da planta em estresse, manifestando
produtos da assimilação da amônia, constituintes fenômenos de deficiência de potássio.
fundamentais das proteínas, que desempenham um Sem dúvida, os diferentes tipos de solo
papel importante na regulação do metabolismo, (principalmente aqueles com a presença de argila)
transporte e armazenamento de nitrogênio. influenciam de forma marcante o grau de absorção
Inversamente, o nitrato é inofensivo e de potássio pela videira. Solos com maior capacidade
sua assimilação é regulada pela oxidação dos de troca de cátions (CTC) e caracterizados por argilas
carboidratos; e está associada com a produção de “mais velhas” são capazes de fixar cátions de potássio,
ácidos orgânicos. Pode, portanto, ser acumulado em aprisionando-os de forma irreversível (TAGLIAVINI et
altas concentrações. al. 1996).
Enquanto potássio e fósforo são pouco móveis
9.2.4. Fósforo no solo, eles devem ser fornecidos com antecedência,
através de adubações via solo a longo prazo (no outono
O fósforo está presente no solo, em várias formas, ou início da primavera), ou por meio de fertirrigação
como um componente de certos minerais, da matéria e/ou adubação foliar, disponibilizando-os durante os
orgânica, de íons de fosfato, de compostos orgânicos períodos de pico de demanda da planta. O potássio,
solúveis na solução circulante, ou em partículas adsorvidas por exemplo, associado a doses adequadas de água,
nos coloides de argila. Os compostos orgânicos do deverá ser gradualmente disponível para as plantas,
elemento (fosfatos) são muito móveis no interior do perfil com concentrações crescentes no início da estação
do solo, mas são facilmente fixados em solos de pH baixo. de crescimento até o momento da maturação, quando
A disponibilidade de fósforo é muito influenciada seu valor será 10 vezes maior do que aquele aplicado
pelo pH do solo; os valores ótimos em que o elemento na fase inicial do ciclo.
212
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Mesmo que o cálcio esteja presente em O ferro está presente no solo em grandes
concentrações muito elevadas no solo, o sistema quantidades, sob a forma de silicatos, fosfatos e
radicular da videira encontra dificuldades em ab- sesquióxidos. A clorose férrica manifesta-se no solo
sorvê-lo. Isto ocorre porque o elemento no solo quando a forma do ferro presente se torna insolúvel. A
compete com outros, como potássio, magnésio e absorção de ferro é regulada pelo pH do solo, valores
amônia, que são capazes de reduzir rapidamente elevados conduzem à sua insolubilização, enquanto que
a absorção de cálcio pelas raízes. A manutenção os valores mais baixos permitem uma maior solubilidade.
de uma umidade adequada no solo pode permitir a Uma outra possível causa de manifestação da clorose
sua absorção mais rápida. O excesso de cálcio, no férrica pode ser relacionada ao frequente trabalho do
entanto, provoca a clorose férrica. solo, que provoca a oxidação do ferro (forma insolúvel).
No que diz respeito ao zinco, deve-se notar que
9.2.7. Magnésio a sua presença no solo está ligada a vários fatores, entre
eles, a fração solúvel em água da solução em circulação,
O magnésio pode estar presente no solo que se encontra presente na matéria orgânica, e aquela
como um constituinte dos minerais ou como íons menos disponível relacionada às argilas. Normalmente,
ou compostos hidrossolúveis na solução circulante. nos solos, a fração indisponível abrange cerca de 70%. A
A sua absorção pela planta é, em primeiro lugar, do solubilidade do elemento é mais limitada em solos com
tipo passivo, isto é, a planta o absorve da solução pH básico, especialmente quando estes são ricos em
circundante, quando a sua concentração é relativa- calcário. A maior presença do elemento é encontrada
mente elevada; e apenas em condições de baixas em solos ricos em matéria orgânica.
concentrações no solo, sua absorção transforma-se A presença de boro na solução do solo ocorre,
no tipo ativo. predominantemente, como um monômero do ácido
No solo, o magnésio não está sujeito à lixi- ortobórico [B(OH)3]; depende, principalmente, das
viação e, portanto, poderá ser aplicado em diferen- condições de hidratação do solo; em condições de seca
tes momentos, tendo em mente que a videira o uti- relativa, é mais fácil de detectá-lo em concentrações
liza principalmente na primeira fase do crescimento mais elevadas. O boro é, normalmente, adsorvido por
vegetativo, sendo, então, capaz de translocá-lo aos colóides de argila dos hidróxidos metálicos e da matéria
cachos durante crescimento-maturação, a partir orgânica, mas também pode ser co-precipitado com o
das folhas. Solos alcalinos são capazes de torná-lo carbonato de cálcio. Em solos com baixo teor de boro,
disponível, enquanto solos muito ricos em cálcio ou a principal fração total desse elemento está relacionada
potássio podem inibir a sua disponibilidade. com a matéria orgânica. O elemento é liberado na
solução circulante através da mineralização da matéria
9.2.8. Enxofre orgânica e se torna absorvível pelas plantas (PERYEA,
1994). Uma vez que o boro se move passivamente
Os principais fatores que regulam a disponi- no fluxo transpiratório, seu acúmulo nas plantas se
bilidade do enxofre são a matéria orgânica e a ati- torna maior com o aumento da temperatura e, por
vidade biológica de certas bactérias do solo. O en- conseguinte, situações de temperaturas baixas reduzem
xofre é absorvido pela videira sob a forma de íons a sua disponibilidade no solo.
sulfato, amplamente presentes no solo, ao mesmo O manganês está presente no solo, em formas
tempo em que são facilmente lixiviáveis; a máxima relacionadas principalmente com a matéria orgânica.
eficiência de absorção ocorre na fase de mais inten- Sua deficiência é, na maioria das vezes, insignificante,
so crescimento radicular. enquanto são frequentes os casos de toxicidade deste
elemento (concentrações foliares da ordem de 200-300
ppm). Esta situação ocorre facilmente em solos de pH
213
Nutrição e Viticultura
ácido, como os solos brasileiros, ou naqueles sujeitos observação, ou seja, para saber algo é preciso partir,
a adubação potássica. primeiramente, do objeto a ser conhecido antes de
optar pela aplicação de ideias pré-concebidas ou
9.3 Diagnose visual das deficiências e da fórmulas “miraculosas” e válidas para qualquer situação.
toxidez dos elementos minerais O princípio acima mencionado é a base de
qualquer fenômeno humano do conhecimento; é
A manifestação do máximo potencial qualitativo particularmente adequado para a compreensão de
das plantas só é possível sob condições nutricionais aspectos relacionados com a nutrição das plantas,
ótimas. Consequentemente um estado nutricional uma vez que a observação (diagnóstico visual) é a
adequado é a base de qualquer empreendimento na primeira ferramenta para o reconhecimento adequado
área agronômica. Portanto, conhecer e identificar se as de quaisquer desequilíbrios nutricionais.
plantas se encontram ou não em um estado de equilíbrio Dessa forma, a Tabela 21 pode ser útil para a
nutricional, é uma questão de suma importância para detecção de desequilíbrios nutricionais agudos, a partir
definir planos de adubação ou intervenções orientadas dos principais sintomas visuais.
para a racionalização da fertilização. Para tanto, é necessário primeiro verificar se os
A resposta das plantas, tanto em termos de sintomas aparecem nas folhas mais jovens (apicais), ou
produção quanto de qualidade do produto em relação nas folhas adultas, ou senescentes (medianas e basais);
ao aporte de determinado nutriente, segue dinâmica se o fenômeno se estende por toda a lâmina de folha,
conhecida, caracterizada por três diferentes estados ou se é limitado; se ocorre de maneira uniforme, ou
nutricionais, designados pelos termos deficiente, apenas entre as nervuras; qual é a cor das folhas, se o
adequado e tóxico. A curva que descreve este desequilíbrio assume formas cloróticas (descoloração),
fenômeno, mostrada esquematicamente na Figura 95, ou necróticas (descoloração com dessecamento) e, até
identifica para cada elemento três regiões diferentes: mesmo, se há alterações no tipo e na forma da folha.
a área de deficiência, em que há um aumento do Se o amarelecimento é uniforme e ocorre nas
crescimento em correspondência com o aumento folhas mais velhas, há deficiência de N e S (Figura 96).
da disponibilidade do nutriente; o intervalo ótimo, No entanto, ainda em folhas mais velhas, se for
em que o aumento da disponibilidade de nutriente observado o amarelecimento (variedades brancas) ou
não corresponde a uma melhoria em termos de avermelhamento (variedades tintas) entre as nervuras,
crescimento da planta; e a área da toxicidade, em que com o aparecimento de manchas, há deficiência de
o aumento da disponibilidade leva a uma redução do magnésio (Figura 97). Esta deficiência é muito frequente,
crescimento ou da qualidade da produção.
A ausência e/ou a alta presença de apenas Figura 95. Modelo de interpretação de análises
um elemento indispensável ou essencial para a planta foliares.
pode resultar em manifestações de deficiência ou de Fonte: Porro, D.
toxicidade, características do elemento envolvido,
visível principalmente nas folhas.
Uma breve consideração metodológica pode
ser útil para entender melhor como se pode identificar
visualmente deficiências e excessos. Alexis Carrel
(Prêmio Nobel de Medicina) afirmava em um de seus
escritos: “Pouca observação e muito raciocínio conduz
ao erro; muita observação e pouco raciocínio conduz
à verdade.” A ideia por trás desta frase aparentemente
óbvia é, por vezes, omitida ou ignorada, ao impor um
raciocínio diante de qualquer realidade, esquecendo-
se de que o primeiro princípio do conhecimento é a
214
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Dessecamento Margens K
Internerval Mg (Mn)
215
Nutrição e Viticultura
A B C
A B C
a deficiência de K pode ser confundida com o vírus do (Figura 101). Essa deficiência pode ser observada com
enrolamento da folha da videira. maior frequência após pesadas adubações nitrogenadas.
No primeiro caso, os contornos da descoloração O amarelecimento uniforme que mantém as
causados pelo mal-de-esca assumem limites muito nervuras das folhas verdes e ocorre em folhas mais
acentuados, em correspondência com uma perda jovens é o sintoma típico da deficiência de Fe (Figura
parcial de consistência ou a ruptura do tecido das 102). Tal sintomatologia é chamada de clorose férrica.
lâminas foliares, o que não ocorre em situações de Quando folhas jovens apresentam manchas
deficiência de Mg (Figura 100 A e B). No segundo amareladas entre as nervuras, associam-se esses
caso, vírus do enrolamento da folha da videira resulta sintomas à deficiência de zinco (Figura 103A) ou
na curvatura do tecido da lâmina foliar para baixo, manganês (Figura 103B). As duas deficiências são
ao contrário do que ocorre na deficiência de K, que comuns em anos frios e úmidos. A deficiência
tende, em vez disso, para dobrar as folhas para cima de zinco, ao contrário daquela de manganês,
(Figura 100 C e D). apresenta um amarelecimento “transversal” entre
A deficiência de fósforo pode ser descrita com o as nervuras. Em situações onde a deficiência de
avermelhamento ou bronzeamento dos tecidos da folha zinco é severa, as consequências podem ser visíveis
216
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B
nos cachos, onde se manifesta a má formação das (Figura 105). Em casos graves, as bagas podem
bagas (Figura 103C). apresentar deformações e romper-se, semelhante a
Em algumas situações, as folhas apicais, podem danos mecânicos causados pelo granizo (Figura 106). A
apresentar amarelecimento ou avermelhamento com deficiência de boro é mais comum em anos quentes e
dessecamento de parte do tecido. Tais sintomas são secos e em condições de solos arenosos e pH elevado.
causados pela deficiência de B, Cu ou Ca. A deficiência Por vezes, a falta e o excesso de boro podem
de cálcio é similar à deficiência de ferro e ocorre com apresentar sintomas semelhantes. É importante
maior frequência em solos caracterizados por baixo mencionar que os limiares de deficiência e de
pH. Deve-se notar que, entre os macronutrientes, o excesso desse elemento são muito próximos, por
Ca é o único que apresenta sintomas de deficiência isso, sempre que forem realizadas intervenções com
em tecidos mais novos. produtos específicos para sua correção, as mesmas
As folhas velhas são, normalmente, um indicador devem ser efetuadas com especial cuidado para as
mais sensível da deficiência de elementos móveis em dosagens recomendadas.
nível floemático, como N, P, K e Mg. Já as folhas novas No caso de toxidez causada pelo excesso de
são melhores indicadores de deficiência de elementos boro, assim como em todos os casos de toxidez, os
pouco móveis como Ca, B, Fe, Zn e S. A deficiência sintomas são mais visíveis nas folhas medianas ou
de cobre manifesta-se pela clorose marginal das folhas basais (folhas adultas). O dessecamento marginal é
jovens com manchas castanhas. um sintoma típico de toxidez causada por boro, cloro
A deficiência de boro manifesta-se de diversas e sódio (excesso de sal). Já manifestações puntiformes
formas (Figura 104 e Figura 105), mas a diagnose visual ou manchas castanhas, são causadas por boro ou por
da necessidade desse elemento não é de fácil realização. manganês.
As folhas podem apresentar um tamanho reduzido e Em condições de alta salinidade ou em áreas
deformações (Figura 104). Quando a deficiência é próximas ao mar, é possível verificar sintomas de excesso
mais aguda, pode resultar em severo abortamento de de sal (Figura 107). Em condições de pH ácido, pode
bagas (desavinho) ou na má formação das mesmas ocorrer toxidez por molibdênio com queimaduras
217
Nutrição e Viticultura
A B C
A B C
localizadas predominantemente na margem do limbo portanto, será apropriado realizar uma inspecção visual
foliar. nos estádios iniciais do ciclo fenológico. Quanto mais
A absorção radicular da videira apresenta dois um viticultor, ou um técnico, for capaz de observar o
picos de atividade, um no início da primavera e outro que a planta está dizendo em determinado momento,
próximo à colheita, quando as condições do hídricas mais ele se aproximará de um diagnóstico correto e
do solo são totalmente satisfeitas. Nesses períodos, poderá fazer as escolhas mais adequadas.
os elementos devem estar prontamente disponíveis e Vale ressaltar que os diversos nutrientes
prontos para serem absorvidos; caso contrário, haverá apresentam um intervalo nutricional ótimo, muito
um cenário favorável a desequilíbrios nutricionais que diferente em amplitude; por exemplo, os limiares de
podem conduzir a situações de difícil recuperação, toxicidade e de deficiência podem ser muito próximos,
se não forem tomadas medidas corretivas imediatas. como para B, ou muito distantes, como para Fe e Mn.
Uma vez que a maioria dos nutrientes minerais Para quantificar os níveis de aporte para
é utilizada a partir do início do crescimento vegetativo reequilibrar situações de deficiência é preciso levar
até a fase de crescimento mais intenso, é fácil verificar em conta que a resposta das plantas ao fornecimento
precocemente fenômenos relacionados à deficiência e, do nutriente é altamente variável em relação ao próprio
218
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B A B
nutriente. A queda da curva na área da deficiência fúngicas (mal-de -esca), ataques de insetos
assume valores muito baixos no caso de N, médios para (cigarrinhas, tripes), estresses abióticos (danos
P e K, e muito elevados para micronutrientes. por frio, estresse hídrico), danos mecânicos ou
Em alguns casos, é imediatamente possível atribuíveis a pulverizações podem apresentar
recomendar o tipo e a quantidade de fertilizantes a sintomas semelhantes aos causados por desequilíbrios
serem usados para corrigir estados de desequilíbrio, nutricionais dificultando o diagnóstico.
partindo unicamente dos sintomas visuais. Por exemplo, Neste caso, basta lembrar que os desequilíbrios
tratamentos foliares a base de Mg ou de microelementos nutricionais, ao contrário daqueles acima mencionados,
como Zn, Mn, B e, por vezes, Fe. sempre apresentam um comportamento simétrico
As deficiências de nutrientes diferentes podem típico, folhas da mesma idade ou em posição
dar origem a sintomas semelhantes, por exemplo, a semelhante mostram os mesmos sintomas, de modo
escassez de Mg pode ser confundida com aquela de Mn que há uma certa gradação no desenvolvimento dos
ou K; a deficiência de Mn pode ser confundida com a de sintomas, passando das folhas velhas para as jovens.
Fe; o excesso e a deficiência de Boro podem apresentar Já nos outros casos, o evento pode ocorrer de uma
sintomas bastante semelhantes. O diagnóstico pode ser forma mais casual, sem assumir um comportamento
bastante complexo quando existem, simultaneamente, progressivo, em função da idade das folhas.
condições de deficiência de vários elementos ou Porém, nem sempre a deficiência de um
deficiência de um elemento e toxicidade de outro. elemento na planta pode ser atribuída à falta do mesmo
Na verdade, as deficiências e os excessos de no solo, mas pode ser atribuída a interações antagonistas
diferentes elementos podem resultar em sintomas que ocorrem entre os próprios elementos. A fim de ter
convergentes, um exemplo prático pode ser visto em um diagnóstico visual mais preciso, é essencial adquirir
solos ácidos com água estagnada, onde podem coexistir mais informações relacionadas à fertilidade do solo, às
toxicidade em Mn com deficiências de Mg. condições climáticas do ano, ao status hídrico do solo,
Como já foi mencionado, vírus e doenças bem como às práticas culturais efetuadas, incluindo
semelhantes a vírus (complexo do enrolamento da as intervenções feitas com fertilizantes, fungicidas e
folha, flavescência dourada da videira), doenças inseticidas.
219
Nutrição e Viticultura
220
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
produtivo podem ser extremamente importantes para modificar o gradiente de distribuição dos compostos
a identificação e correção de eventuais desequilíbrios orgânicos processados em favor do ápice vegetativo,
nutricionais. Na verdade, em especial para culturas que resulta em vigor excessivo, ou a favor dos cachos,
arbóreas, a competição que se estabelece entre os frutos garantindo a qualidade da produção através de um
e as folhas na absorção de nutrientes pode ser prevista acúmulo adequado de açúcar e outras substâncias.
e corrigida. Uma carga elevada de frutos, geralmente, Os macro e microelementos, de fato, modificam
diminui o nível de K foliar, devido à sua translocação variados processos fisiológicos e bioquímicos,
das folhas para os frutos, enquanto uma baixa carga influenciam na síntese de hormônios promotores do
produtiva pode resultar em níveis foliares de N próximos desenvolvimento vegetativo, ou atuam através daqueles
à escassez. que regulam o armazenamento de carboidratos na baga.
Em todos os casos em que não se pode resolver Deve ser reconhecido que o sistema radicular
o problema do diagnóstico de deficiências e excessos apresenta um ciclo anual caracterizado por dois picos: o
através da análise visual, será necessário recorrer ao auxílio pico principal segue imediatamente à fase de “choro da
da análise foliar ou do solo, a fim de acessar informações videira”, enquanto que o segundo pico de absorção, no
relevantes para a resolução do problema, visto que final da estação, permite que a videira acumule reservas,
deficiências e excessos podem causar prejuízos qualitativos antes de entrar no período de dormência. Contudo, a
e quantitativos à produção, mesmo que os sintomas não atividade máxima do sistema radicular não coincidide
sejam reconhecíveis visualmente. com os períodos críticos dos estádios fenológicos mais
A análise de solo, prática muito bem exigentes do ponto de vista nutricional. Na verdade, o
fundamentada, serve para racionalizar a adubação; máximo crescimento vegetativo ocorre após o primeiro
se baseia no conhecimento da fertilidade real do solo pico de atividade radicular, após o “choro da videira”,
em termos de presença dos elementos, permitindo a e um mês após a floração.
identificação de nutrientes deficientes ou em execesso, Enquanto na videira ocorrem simultaneamente
capazes de limitar a produção agrícola. O diagnóstico de tais estádios fenológicos, extremamente exigentes dos
deficiências nutricionais e de toxicidade pode, portanto, pontos de vista energéticos e nutricionais, se prepara
utilizar, além da abordagem visual, o suporte da análise o ciclo de produção de frutos para o próximo ano,
do solo e das folhas. através da diferenciação das gemas, o que requer
grandes quantidades de carboidratos. No mesmo
9.4 Implicações fisiológicas da adubação período, ocorre o crescimento da baga, caracterizada
por uma curva dupla sigmóide, durante a última fase da
Analisando a Figura 108, é possível observar que maturação, em conjunto com a maturação dos ramos,
a videira se caracteriza por um aparato fundamental verifica-se pouca absorção radicular.
de síntese dos compostos orgânicos representado Do ponto de vista estritamente nutricional, o
pelas folhas (B). Estes compostos são utilizados por ciclo biológico anual pode ser dividido em duas partes:
muitos centros (definidos na literatura por “drenos” a primeira a partir da brotação até meados de fevereiro
ou sinks): o ápice vegetativo (A) utiliza essa fonte para (crescimento dos ramos e bagas), com uso considerável
o crescimento, os cachos para o desenvolvimento e de substâncias de reserva e consumo de elementos
armazenamento de fotoassimilados (C), os órgãos minerais, em particular de nitrogênio; a segunda, do
perenes, como a tronco (D) ou as raízes (E), utlizam a final do crescimento dos ramos até a queda das folhas,
fonte como reservas, sob a forma de amido. quando diminui o consumo de elementos minerais e
Uma nutrição mineral adequada ajuda a manter substâncias de reserva.
o equilíbrio fisiológico da videira, entre os dois principais A videira, durante a primeira metade do ciclo
drenos que utilizam os fotoassimilados originados biológico anual (primavera), utiliza, principalmente,
nas folhas, os ápices vegetativos em crescimento e os elementos absorvidos do solo no outono, durante
os cachos em fase de desenvolvimento e maturação. a temporada anterior e acumulados como substância
Estes drenos competem entre si, e a adubação pode de reserva.
221
Nutrição e Viticultura
222
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
demanda para cada nutriente (fase fenológica e crescimento das bagas, período
quantidades por hectare, como relatado na Tabela 22), de translocação máxima de
e a maneira pela qual os nutrientes são mais facilmente fotoassimilados, de alta absorção de
assimilados pela planta. K e S; este último é particularmente
A maioria dos nutrientes minerais é utilizada importante como um precursor de
imediatamente, a partir do início do crescimento compostos aromáticos;
vegetativo até a fase mais intensa de crescimento; • A pós-colheita, outro período em
depois disso, sofrem uma estase para que sejam mais que se observa um pico de absorção
demandados na fase de maior crescimento das bagas radicular, particularmente elevado
e durante a maturação das uvas. para N, que será transformado nas
Nitrogênio, fósforo e potássio são muito móveis raízes em arginina e armazenados nos
no floema e podem ser translocados para os órgãos órgãos permanentes para a reutilização
capazes de armazená-los ou para partes reprodutoras durante a primavera seguinte, para P, K,
com percentuais constantes; por conseguinte, é possível Fe e B.
levantar a hipótese de uma modelagem de acúmulo,
ao passo que, para os elementos na mobilidade As recomendações técnicas para adubação
intermediária, como o magnésio, não se pode executar de manutenção da videira devem ser efetuadas
modelos preditivos confiáveis. diferenciando as doses em relação ao objetivo
enológico determinado para as variedades tintas e
9.6 Fisiologia, fases críticas e recomenda- brancas (Tabela 22). A adubação de manutenção
ções de intervenção planeja manter estáveis ao longo do tempo, os níveis
de nutrientes presentes no solo, evitar o esgotamento
Elementos pouco móveis como o Ca e B, ou de progressivo que ocorre após o consumo anual
mobilidade intermediária como Zn e Mn, são assimilados e fenômenos naturais, tais como a lixiviação, a
regularmente até o final da estação de crescimento, ao volatilização, a insolubilização, a erosão e etc.
contrário de outros, mais móveis no floema, como N, P, Procede-se, portanto, fornecendo ao solo,
K e Mg (que é moderadamente móvel), que apresentam as quantidades de nutrientes retirados anualmente
uma demanda constante ou decrescente no decorrer do pela videira (princípio da restituição ou antecipação),
ciclo vegetativo, e também diferentes picos de absorção. sem considerar as perdas normais que ocorrem na
Cada nutriente apresenta picos de absorção e picos de natureza, a fim de aumentar o grau de fertilidade
demanda que não coincidem, necessariamente, com química. Como mencionado, pode-se aportar as
o tempo (Tabela 23). quantidades totais necessárias, fracionando em
No entanto, N e K são necessários para a videira mais momentos as dosagens; tal abordagem é mais
ao longo de todo o ciclo da planta. O maior dreno (órgão adequada para cobrir as necessidades nutricionais nas
que requer a maior parte de um determinado nutriente fases de máxima demanda, fornecendo os nutrientes
mineral) para o N são as folhas, até a frutificação. A partir às videiras, com maior rapidez, nas diferentes fases
da frutificação, os maiores drenos são as folhas e os do ciclo fisiológico.
cachos, ao passo que para a K é o cacho (WILLIAMS, A adubação de implantação e de formação
BISCAY, 1991). são, respectivamente, executadas antes do plantio, nos
• As fases mais críticas são primeiros anos de vida do vinhedo e, também, na fase
principalmente: adulta das plantas, para aumentar o grau de fertilidade
• A brotação, para micronutrientes; química do solo (COLUGNATI et al. 2001).
• A pré-floração, período em que a Normalmente, aportam-se quantidades
atividade radicular é alta e o consumo substanciais de elementos nutritivos, a fim de constituir
de nutrientes é máximo; um patrimônio substancial de nutrientes na zona do solo
• A compactação dos cachos e mais explorada pelas raízes; isto permite-lhes criar uma
223
Nutrição e Viticultura
reserva de elementos menos móveis (P, K, Mg), para fertilização radicular, mas deve ser mantido em mente
corrigir eventuais anomalias do solo (pH, excesso de também, no caso específico da fertirrigação.
calcário, alta salinidade), e para aportar matéria orgânica, No que diz respeito à adubação foliar, é possível
de modo a melhorar a estrutura do solo. encontrar aprofundamentos em trabalhos específicos
Para esta fertilização específica, geralmente, (PORRO et al. 2009a; PORRO et al. 2009b).
se utilizam adubos orgânicos, mas é possível utilizar
outros tipos de adubo, minerais ou organo-minerais. 9.6.1. Nitrogênio
Antes de efetuar esse tipo de adubação, é preciso
basear-se nos resultados das análises físico-químicas A planta tem uma grande necessidade, tanto no
do solo. início do crescimento vegetativo, através do consumo
A disponibilidade de elementos minerais no das reservas armazenadas no ano anterior, quanto
solo e a mobilidade relativa dos mesmos (Tabela 24) imediatamente após a fase de frutificação, momento em
dependem muito da relação entre a textura e o pH quenecessitarádoelemento prontamente disponível na
do solo, como foi descrito anteriormente. Este último forma de nitrato, para atender às demandas crescentes.
parâmetro é a característica que causa as maiores Anualmente, a exigência de nitrogênio para a videira é
alterações na absorção. Isto se aplica, em geral, para a de cerca de 40-60 kg por hectare.
224
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tranquillo Base espumante Estruturado com envelhecimento em Tranquillo Estruturado com envelhecimento em
carvalho carvalho
O nitrogênio que é utilizado para o crescimento Tabela 24. Mobilidade dos nutrientes no solo e na planta.
da planta pode ter diferentes origens: além dos Fonte: Porro, D.
fertilizantes e da mineralização da matéria orgânica do
solo, um aporte significativo também pode derivar de Mobilidade Solo Planta
eventos atmosféricos, mas, especialmente, do nitrogênio
NO - , S, B
armazenado no interior das próprias plantas, através Muito móvel Sujeitos 3 a lixiviação N, P, K, Mg
do ciclo interno. Nas folhas e nos ramos, o nitrogênio NH4+,(temporariamente imóvel)
possui um elevado turnover, de modo que estes órgãos Moderadamente K, Ca, Mg, Mo S, Cu, Fe, Mn,
móvel Formas quelatadas de Cu, Fe, Mn e Zn Mo, Zn
podem funcionar como reservas momentâneas de Móveis e resistentes a lixiviação
nitrogênio entre as raízes e as bagas (CONRADIE, 1986;
CONRADIE, 2001); o teor de nitrogênio nos ramos e nas Imóvel N orgânico, P, Cu, Fe, Mn, Zn B, Ca
folhas é mobilizado para as bagas durante a maturação
da uva. Durante o verão, as folhas tornam-se, também,
o principal local para a armazenagem de nitrogênio no início da temporada. O ciclo interno do nitrogênio
e, assim, na fase de senescência da copa, aquela que atinge a sua máxima eficiência quando ocorre o nível
fecha o ciclo anual, certa quantidade de nitrogênio é máximo de retorno do nitrogênio das folhas senescentes
translocada para ser armazenada novamente durante antes de sua queda.
o inverno (MILLARD, 1993). Esse nitrogênio será remobilizado, mais tarde,
Normalmente, como relatado por Titus & na primavera, antes da retomada do crescimento
Kang (1982), o nitrogênio é armazenado na casca vegetativo, para utilização sucessiva ao crescimento
dos ramos e do tronco, durante o inverno, na forma foliar; este fenômeno ocorre antes que haja a absorção
de aminoácidos e, nas raízes, sob a forma de proteínas pelas raízes.
ricas em arginina (MILLARD, PROE, 1991). Neste De fato, antes da abertura das gemas, não há
sentido, é possível entender como as aplicações de uma absorção significativa de nitrogênio. Durante a
fertilizantes nitrogenados, imediatamente antes ou floração, há uma baixa demanda por nitrogênio pela
após a colheita, podem influenciar a taxa de nitrogênio videira. O nível máximo é atingido cerca de quatro
que será armazenada, porque é mais provável que o semanas após a floração, quando são absorvidos
nitrogênio que alcança as folhas no final da estação em média 1,5-1,6 kg de nitrogênio por hectare por
seja o remobilizado e não aquele que alcança as folhas dia, com picos que atingem valores de 1,8; outro
225
Nutrição e Viticultura
pico de absorção ocorre imediatamente após a Este tipo de produção pode ser obtida em plantas
colheita, com 1,0 kg de nitrogênio por hectare capazes de impedir a intensa atividade vegetativa, no
absorvido diariamente. A distribuição do nitrogênio, período entre frutificação e mudança de cor das bagas,
em uma planta equilibrada, deve ser de 26% nas para conduzir os fotoassimilados em direção aos drenos
estruturas permanentes (raízes, tronco, ramos produtivos. Neste sentido, os aportes nitrogenados
permanentes), 41% nas folhas e ramos e 33% nos devem ser geridos de forma inteligente, para evitar a
cachos (CONRADIE, 1991). aplicação de grandes quantidades de nitrogênio no
Baseado no que foi dito anteriormente, é início da primavera e distribuí-lo em doses parceladas
estratégico que a aplicação de fertilizantes nitrogenados em várias etapas, em quantidades anuais de 50 unidades
seja realizada nos momentos oportunos para gerir por hectare.
a videira de forma a maximizar o ciclo interno do Uma possível solução seria a seguinte: 35% da
nitrogênio. dose de nitrogênio no período de outono com produtos
Uma vez que o teor de nitrogênio foliar está de liberação lenta; 40% imediatamente após a brotação,
altamente correlacionado com o rendimento, o vigor sempre com produtos minerais ou organo-minerais
das plantas e os principais índices qualitativos do mosto de liberação lenta; e os 25% restantes 15 dias após
(açúcar, acidez titulável, ácido málico, potássio e pH), a frutificação com nitrogênio na forma de nitrato,
sobretudo durante a frutificação, não será necessário prontamente disponível.
aplicar fertilizantes nitrogenados no início da estação No caso de vinhos destinados a objetivos
de crescimento (PORRO et al. 1995). enológicos diversos, tais como vinhos base espumante
Os melhores momentos para aplicação de ou a produção de vinhos para consumo corrente, as
nitrogênio são aqueles entre a floração e a mudança quantidades por hectare podem ser aumentadas até
de cor das bagas, ou aqueles imediatamente após 80 unidades por hectare ou mais. Para a produção
a colheita; o fornecimento de nitrogênio não é de vinhos base espumante, deve-se observar que
recomendado durante a dormência ou na abertura as doses mais elevadas de N são destinadas a uvas
das gemas. cultivadas em sistemas diferentes da espaldeira. Para
A fertilização nitrogenada aumenta o vigor das Chardonnay e, em geral, para todas as variedades
plantas deslocando, substancialmente, o equilíbrio brancas utilizadas para espumantes, doses de N
vegetativo-produtivo para a produção excessiva de são superiores às indicadas para Pinot Noir, onde as
vegetação (IACONO et al. 1994). Quando não se quantidades propostas devem ser reduzidas, para não
modificam os teores de açúcar, o aumento do vigor predispor as bagas ao ataque de podridões. No que diz
das plantas influencia as condições microclimáticas, respeito à distribuição das intervenções de adubação,
aumentando os riscos de sombreamento excessivo, elas podem ser concentradas na fase de brotação
que torna a degradação do ácido málico mais lenta. completa (60%) e na pós-frutificação (40%), com a
As mudanças qualitativas observadas nas uvas têm um utilização de fertilizantes minerais convencionais ou de
impacto sobre as características organolépticas dos liberação controlada, especialmente durante a primeira
vinhos, mostrando que a adubação nitrogenada favorece época de intervenção.
neles o desenvolvimento de notas fermentativas (BELL, Se as condições da safra forem predisponentes
HENSCHKE, 2005). para baixos teores de acidez, será apropriado intervir
Para a produção de vinhos estruturados, ou com adubação foliar a base de nitrogênio no verão.
destinados a um processo de envelhecimento mais ou
menos prolongado, deverão ser buscados acúmulos 9.6.2. Fósforo
de açúcares mais elevados, acompanhados pela
acumulação substancial de compostos aromáticos e/ As quantidades de fósforo exigidas pela videira
ou fenólicos. A obtenção de tais produções é possível são bastante limitadas (20-30 kg por hectare em termos
graças a um processo de maturação completa das uvas, de P2O5), podem ser encontradas deficiências de
causada por um forte equilíbrio vegetativo-produtivo. fosfato em casos de adubação nitrogenada pesada, que
226
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
suprimem os níveis deste elemento nas folhas. Destas Os cachos são fortes centros de acúmulo de potássio
quantidades, no entanto, cerca de metade poderia ser e, neste sentido, quando existem cargas produtivas
permanentemente translocada nos cachos e nas formas elevadas, quantidades substanciais do elemento são
indisponíveis incorporadas dentro da planta, enquanto exigidas pela planta.
a outra metade é reciclada pelo sistema produtivo. A A escassez temporária, precisamente no
necessidade de fósforo é maior no período próximo estádio fenológico da maturação, pode ocorrer
a abertura das gemas; posteriormente, sua demanda simultaneamente a situações de estresse hídrico mais
reduz proporcionalmente. ou menos prolongado. O potássio é, em qualquer caso,
O fóforo é necessário para a síntese das resistente a perdas por lixiviação e precisamente por
substâncias que originarão o aroma do vinho, a esta razão, seu aporte é realizado em períodos de pós-
concentração de álcool e a sensação de maciez. colheita ou no final do inverno. Em termos de resposta
As doses propostas de P2O5 serão superiores para no rendimento e no crescimento vegetativo, a adubação
produzir uvas destinadas a vinhos que passarão por potássica tem um efeito melhor em solos mais soltos e
envelhecimento em barricas de carvalho. expostos à deficiência de potássio.
É possível optar pelas diferentes formas de Também deve ser lembrado que o teor de potássio
fosfato disponíveis no mercado, sem qualquer distinção é superior após períodos de maior disponibilidade de
em particular. água (PORRO et al., 2001b) e, portanto, no sul do
Este elemento tem um papel importante Brasil, onde o volume de precipitação é considerável,
em muitos processos fisiológicos da planta e na é mais difícil de detectar fenômenos de deficiência
expressão dos vinhos finos. Especialmente em deste elemento.
situações relacionadas a fenômenos de estresse, a Sempre que for observada deficiência
videira necessita de fontes de energia prontamente de potássio, é preciso determinar a causa desse
disponíveis, como a de fósforo, para executar as fenômeno, antes de decidir sobre o tipo de intervenção
principais funções metabólicas relacionadas à a ser adotado. Se a deficiência estiver relacionada
fotossíntese e respiração, com efeitos positivos sobre ao estresse hídrico temporário, recomenda-se a
a regulação do processo de maturação das bagas e intervenção através da irrigação. Ao contrário, se a
biossíntese das substâncias fenólicas. Mesmo nestas deficiência é prolongada, relacionada ao déficit no
situações, podem ser recomendadas a aplicação de solo ou pela falha na assimilação do elemento pelas
2 ou 3 doses foliares, à base de fósforo, no período raízes, a ação corretiva deve incluir a aplicação de
entre a pré-compactação do cacho e a mudança de altas doses de sulfato de potássio em dose única,
cor das bagas. uma vez que o elemento é fixado rapidamente pelas
partículas do solo.
9.6.3. Potássio Ainda no que diz respeito ao potássio, é
necessário intervir de forma diferenciada em relação
A necessidade da videira em termos de ao objetivo enológico desejado. Em particular, na
potássio, único íon monovalente essencial para a produção de vinhos base espumante, o aporte deve
planta, é bastante elevada. Em média, a absorção ser reduzido a 50 unidades por hectare, para evitar
de potássio (expresso como K2O) pela videira é de elevações nos valores de pH e de K+ nos mostos com a
cerca de 80-120 kg por hectare. Da quantidade perda relativa de acidez. Para outros tipos de vinificação,
total requerida pela videira, cerca de 40% pode ser as quantidades podem chegar a 80-100 unidades por
permanentemente removida do vinhedo, anualmente, hectare. A distribuição poderá ser feita no outono ou
pela produção. no início do crescimento vegetativo, em uma única
O elemento é necessário na primeira fase do dose, de preferência sob a forma de sulfato.
ciclo vegetativo e, também, é particularmente requerido A fim de promover a melhor acúmulo de açúcar,
pelos cachos durante o período de maturação, sendo podem ser utilizados fertilizantes à base de K por meio
que, nessa fase, ele deverá estar amplamente disponível. de aporte direto via foliar.
227
Nutrição e Viticultura
228
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 25.Valores limite da relação K/Mg, K/ Em alguns anos, caracterizados por primaveras
Ca e K/Ca+Mg, para identificação de possíveis frias e chuvosas, a videira pode apresentar fenômenos
deficiências de magnésio ou potássio, em lâminas da clorose bastante evidentes. Depois de excluir que
foliares durante a frutificação e pecíolos durante a tais sintomas estejam relacionados a fatores climáticos
mudança de cor das bagas. exclusivos e reversíveis, será apropriado avaliar a
Fonte, Champagnol, 1984; Fregoni, 1998. necessidade ou não da intervenção com produtos
à base de ferro. As aplicações foliares de ferro na
K/Mg K/Ca K/Ca+Mg Deficiência primavera, tanto na forma de quelatos, quanto em outras
formas (PORRO et al. 2013), são uma alternativa válida
>7 > 0,45 > 0,40 Magnésio
Lâmina foliar para reequilibrar as videiras, devolvendo-as a situações
frutificação
<1 < 0,45 < 0,30 Potássio nutricionais ótimas, para atravessar a fase vegetativa
sem inconvenientes e sem alterações na expressão do
> 15 >2 > 1,3 Magnésio
Pecíolo mudança desempenho qualitativo-quantitativo.
cor bagas
< 0,15 < 1,2 < 0,7 Potássio Mesmo o boro pode apresentar fenômenos de
deficiência, quando ocorrem determinadas condições
climáticas, como secas no período de outono-inverno da
temporada anterior ou temperaturas baixas associadas
aromáticas em conjunto com o nitrogênio (BIGOT et a solos úmidos e frios durante a primavera. Como a
al. 2009). mobilidade do elemento é praticamente inexistente,
é apropriado intervir com uma aplicação foliar na
9.6.7. Micronutrientes pré-floração. Deve ser lembrado, porém, que a
administração de boro requer um longo período até
A exigência da videira relativa aos micronutrientes que haja um efeito positivo na eficiência das plantas, e
é bastante limitada pelas demandas do metabolismo das que esta estratégia de correção deve ser relacionada ao
plantas. A demanda máxima é predominante no início conteúdo real de boro no solo, para evitar fenômenos de
do crescimento vegetativo, visto que os micronutrientes fitotoxidez devido a possíveis excedentes do elemento.
estão envolvidos nos processos metabólicos associados As aplicações foliares a base de boro, realizadas
com o desenvolvimento dos meristemas, a expansão na pré-floração, podem assegurar a uniformidade da
celular e a maturação dos órgãos reprodutivos. frutificação e um desenvolvimento equilibrado da parte
São diagnosticadas necessidades que variam de aérea da planta.
alguns gramas a 1 kg. A carência deve ser verificada Mesmo quando não existem sintomas evidentes
visualmente, ou através da análise foliar, de forma que de micro-deficiências, mas a produção das plantas
as intervenções foliares sejam realizadas apenas em é inferior ao seu potencial, o aporte de alguns
casos confirmados de deficiências. microelementos resulta em respostas positivas em
As deficiências de alguns micronutrientes são termos de produtividade. Aplicações foliares a base
bastante frequentes, seja de forma explícita ou de forma de zinco, especialmente na forma de quelatos, resultam
latente, entre elas as mais difundidas são de ferro e boro. em bons resultados para a melhoria da produtividade e
Na prática normal de defesa da videira contra da qualidade da produção (ALEXANDER, WOODHAM,
fungos patogênicos, são usados fungicidas à base de 1964; NEILSEN, NEILSEN, 1994; PORRO et al. 1999).
manganês, zinco e cobre que podem ser mais do que Baixos níveis de zinco são, geralmente,
suficientes para garantir as necessidades nutricionais encontrados em solos arenosos ou com altos níveis
da videira. de pH e de fósforo; similarmente solos argilosos
Em alguns solos, podem ser encontradas com alto teor de magnésio podem manifestar um
situações preocupantes de excesso de cobre, devido ao baixo teor de zinco disponível. Nestes casos, a
acúmulo desse elemento ao longo dos anos, relacionado aplicação foliar de produtos à base de zinco entre
à possível deriva de tratamentos a base de cobre. os estádios fenológicos de abertura das gemas
229
Nutrição e Viticultura
230
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B C
Do ponto de vista da nutrição mineral, existem formulada por Stefanini et al. (1994), de que este
evidências inconsistentes, embora muitos testes elemento, ao nível do solo, passa por um processo
experimentais realizados na Europa verificaram que de imobilização, favorecendo uma maior absorção
uma elevada relação de potássio sobre magnésio e/ou de potássio pelas raízes, com efeitos negativos para o
cálcio aumentaria o problema, enquanto a adubação com equilíbrio dos dois cátions.
magnésio e/ou cálcio poderia reduzi-lo significativamente A possibilidade de intervenção precoce,
(DEGANO et al. 2013). Ao contrário, na Califórnia, a antes da mudança de cor das bagas, quando
adubação com magnésio e cálcio não resultou em melhoria os primeiros sinais do dessecamento de ráquis
da situação que piorava com aplicações de nitrogênio podem ser observados, pode ser estratégico
(CAPPS, WOLF, 2000; CHRISTENSEN, BOGGERO, 1995; para intervir com eventuais adubações foliares.
MORRISON, IODI, 1990). Resultados recentes indicam que, para conter
Normalmente, procura-se manter baixa a relação de modo eficaz o dessecamento de ráquis, é
entre K e Mg nas folhas ou pecíolos (FREGONI, 1998). possível intervir, especialmente, com produtos à
Neste sentido, intervenções de prevenção e tratamento base de magnésio, ou combinando os cátions K,
são, normalmente, efetuadas na mudança de cor das Mg e Ca entre eles, mantendo elevados valores,
bagas, em intervalos de 10-15 dias, especialmente respectivamente, de relação Ca/Mg na ráquis e
em variedades suscetíveis e em anos com baixas baixos na relação K/Mg nas folhas, pecíolos e
temperaturas na floração, associadas à umidade relativa ráquis (PORRO et al., 2014).
do ar elevada; com produtos para aplicação foliar à
base de sulfato de magnésio (com 16% de MgO) a 9.8 Referências
uma concentração de 5%, ou com produtos quelatos
para uma melhor eficácia e resposta imediata. ALEXANDER, D. McE.; WOODHAM, R. C.
Após este aporte, são encontradas reduções Yield responses to applications of zinc and
no nível da relação potássio/magnésio e potássio/ superphosphate. Aust.J. of Exp. Agric. and Animal
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235
236
10. Adubação e
Calagem na Videira
Paulo Cezar Cassol
Gustavo Brunetto
George Wellington Melo
Jovani Zalamena
Marlise Nara Ciotta
Gilberto Nava
10.1 Introdução
A
videira sintetiza compostos orgânicos
através da fotossíntese, que é um pro-
cesso bioquímico para a produção de
glicose a partir de água e dióxido de
carbono. Nesse processo, a energia solar é cap-
tada nas folhas e utilizada na transformação de
carbono (C) do CO2 atmosférico, em compostos
orgânicos com diferentes combinações com ou-
tros elementos essenciais (BARKER, PILBEAM,
2006). O C e oxigênio (O), que é retirado princi-
palmente da água, são os elementos majoritários
dos vegetais, sendo cada um responsável por
cerca de %45 da matéria seca e, juntamente com
o hidrogênio (H), que participa com aproximada-
mente 6%, compreendem em torno de 96% do
peso seco dos vegetais (MARSCHNER, 2012).
Os demais elementos necessários à nu-
trição vegetal são retirados, principalmente, do
solo. Entre eles, destacam-se o nitrogênio (N),
fósforo (P) e potássio (K) que, juntamente com
cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) inte-
gram o grupo dos macronutrientes, porque, ge-
ralmente, são exigidos em quantidades entre 20 e
150 kg ha-1 ano-1. Já, o boro, (B), cloro (Cl), cobre
(Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio
(Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn) são exigidos em
quantidade pequena, desde alguns gramas até 5
kg ha-1 e, por isso, são classificados como micro-
nutrientes (BARKER, PILBEAM, 2006;
237
Adubação e Calagem na Videira
238
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
por uma amostra de solo, composta pela mistura de cuidado especial para não perder o solo da camada
10 a 20 subamostras (média de 15). As subamostras mais superficial, onde normalmente são observados
devem ser coletadas na camada de 0-20 cm, de forma os maiores teores de matéria orgânica e nutrientes.
aleatória e representativa em toda a área, percorrendo-a Após a homogeneização das subamostras, toma-se
em zigue-zague (CQFS RS/SC, 2016). aproximadamente 500 g de solo que deve ser seco
A amostragem de solo de vinhedos em produção ao ar, para diminuição da sua umidade (CQFS RS/SC,
deve ser realizada após a colheita da uva e também 2016). Em seguida, acondicionado em saco plástico
abranger a camada de 0-20 cm. Quando os fertilizantes limpo, para ser entregue num laboratório de análise,
são distribuídos na faixa da linha de plantio, a coleta preferencialmente vinculado a alguma Rede Oficial
deve ser feita somente nesse local. Porém, quando a de Laboratórios de Análise do Solo, no caso do RS e
distribuição é realizada em área total (linha + entrelinha), SC, da Rede Oficial de Laboratórios de Análise do Solo
a coleta das subamostras deve ser realizada em toda a (ROLAS) dos dois estados. As análises devem abranger
área, seguindo o procedimento da amostragem para tanto os macronutrientes (Ca, Mg, P e K), quanto os
implantação de vinhedos (CQFS RS/SC, 2016). micronutrientes (B, Cu e Zn), além do valor de pH
Em plantios de videiras em áreas de vinhedo em H2O, Índice SMP e teores de Al, matéria orgânica
antigo erradicado, a amostragem do solo deve e argila, bem como, as estimativas da capacidade de
considerar os diferentes sistemas de produção, troca de cátions (CTC), da saturação por bases e por
separando-se áreas distintas. Assim, áreas de vinhedos Al (CQFS RS/SC, 2016).
destinados à produção de uvas de mesa, para suco, Os teores de macronutrientes e boro disponíveis
destinadas à elaboração de vinho devem ser amostradas indicam a capacidade do solo para fornecê-los às
separadamente, pois, a produtividade é diferente e, plantas. O teor de matéria orgânica indica a capacidade
consequentemente, a quantidade de nutrientes do solo para fornecer N; e o pH o nível de acidez,
exportados também, o que aumenta a heterogeneidade enquanto o índice SMP permite a estimativa da dose
do teor de nutrientes no solo (BRUNETTO et al. 2011). de calcário necessário para elevar o pH do solo ao
Com a amostragem, análise do solo e correção de cada valor desejado (CQFS RS/SC, 2016). Os teores de Cu
área em separado, a implantação do novo vinhedo se e Zn também são importantes, principalmente para
dará em solo com condições químicas semelhantes em conhecer o potencial de toxidez dos dois elementos
toda a área, permitindo que as novas amostragens de às plantas e de contaminação de águas, pois vinhedos
solo durante o período produtivo, sejam realizadas de em produção durante vários anos, normalmente
forma global, desconsiderando o histórico (CQFS RS/ possuem longo histórico de aplicação de fungicidas
SC, 2016). Entretanto, caso sejam observadas zonas foliares que possuem estes elementos na composição
com diferenças no desenvolvimento das videiras, (AMBROSINI et al. 2016). O teor de argila e a CTC do
novas amostragens do solo em separado deverão ser solo são necessários para enquadrar o solo nas classes
realizadas. de interpretação dos teores de P e K, respectivamente
Em áreas declivosas,.... (CQFS RS/SC, 2016).
como ocorre em algumas regiões da Serra
Gaúcha do RS e Planalto Serrano de SC, o relevo pode 10.2.2. Análise foliar
ser sistematizado com a construção de terraços tipo
patamar. A construção destes terraços causa mistura A análise de tecido da videira permite avaliar os
da camada superficial, mais fértil, com camadas mais teores de nutrientes que também são utilizados para
profundas que são menos férteis. Nessas situações, a orientar a adubação na fase produtiva. A diagnose
amostragem inicial do solo deve sempre ser realizada nutricional, através da análise de tecido, pode ter
após a sistematização do terreno. os seguintes objetivos: a) diagnosticar problemas
As principais ferramentas para amostragem do nutricionais que não se manifestam visualmente; b)
solo são pá-de-corte, trado holandês, trado calador identificar a causa de sintomas visuais observados no
e trado de rosca. A coleta realizada com trado exige campo; c) mapear áreas com suprimento inadequado
239
Adubação e Calagem na Videira
240
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 26. Interpretação dos teores de macronutrientes em pecíolos e folhas inteiras de videira.
Fonte: CQFS-RS/SC, 2004.
Macronutrientes
Material Interpretação N P K Ca Mg Rel. K/Mg
-------------------------------- % --------------------------------
Insuficiente < 0,4 < 0,09 < 0,8 < 0,5 < 0,15 <1
Abaixo do normal 0,4-0,65 0,09-0,15 0,8-1,5 0,5-1,0 0,15-0,25 1-3
Pecíolos Normal 0,66-0,95 0,16-0,25 1,51-2,5 1,01-2,0 0,26-0,50 4-7
Acima do normal 0,96-1,25 0,26-0,40 2,51-3,5 2,01-3,0 0,51-0,70 8-10
Excessivo > 1,25 > 0,40 > 3,5 > 3,0 > 0,70 > 10
Abaixo do normal < 1,6 < 0,12 < 0,8 < 1,6 < 0,2 -
Folhas completas Normal 1,6-2,4 0,12-0,40 0,8-1,6 1,6-2,4 0,2-0,6 -
Acima do normal > 2,4 > 0,4 > 1,6 > 2,4 > 0,6 -
Tabela 27. Interpretação dos teores de micronutrientes em pecíolos e folhas inteiras de videira.
Fonte: CQFS-RS/SC, 2004.
Micronutrientes
Material Interpretação B Fe Mn Zn
--------------------------------mg/kg --------------------------------
Insuficiente < 15 < 15 < 20 < 15
Abaixo do normal 15-22 15-30 20-35 15-30
Pecíolos Normal 23-60 31-150 36-900 31-50
Acima do normal 61-100 151-300 901-1500 51-100
Excessivo > 100 > 300 > 1500 > 100
Abaixo do normal < 30 < 60 < 20 < 25
Folhas completas Normal 30-65 60-180 20-300 25-60
Acima do normal > 65 > 180 > 300 > 60
cerca de 50% delas atinge a cor final, coletando-se as a superfície do limbo tende a ser maior, o que poderá
folhas inteiras localizadas na posição oposta ao primeiro superestimar o teor de nutrientes, especialmente se
cacho de um ramo frutífero. Na opção pelo pecíolo, as folhas não forem lavadas depois da coleta; c) evitar
a coleta também deve ocorrer na mudança de cor a coleta de tecido em plantas com ataque de pragas
da baga, porém colhendo-se folhas recém-maduras e doenças; d) coletar, separadamente, o tecido das
de ramos frutíferos, ou seja, aquelas mais novas que plantas com e sem sintomatologia de deficiência ou
já completaram o crescimento (CQFS RS/SC, 2016). toxidez nutricional (EMBRAPA, 2009).
A amostragem de folhas completas ou pecíolos exige A análise de pecíolos é mais sensível para
cuidados especiais, como: a) não coletar amostras a avaliação dos teores de P e K, enquanto a de
durante 15 dias após a aplicação de fertilizantes foliares, folhas completas têm maior sensibilidade para as
ou aplicação de fungicidas, ou de inseticidas na planta; avaliações dos teores de N e B. As folhas cole-
b) não coletar amostras em videiras localizadas próximas tadas, sempre que possível a campo, devem ser
a estradas, pois a deposição de partículas de solos sobre lavadas com água destilada ou com detergente
241
Adubação e Calagem na Videira
neutro. Em seguida, devem ser secas ao ar e, logo com videiras ou em vinhedos em produção (CQFS
depois, acondicionadas em sacos de papel devi- RS/SC, 2016). A aplicação do corretivo da acidez do
damente identificados. Caso não seja possível a solo, normalmente o calcário, promove a elevação
lavagem das folhas a campo, preferencialmente, do valor de pH do solo até valores pré-estabelecidos
elas devem ser coletadas sem deposição de resí- e desejáveis, complexação e precipitação do Al,
duos de fungicidas ou partículas de solo. No la- o que favorece a atividade dos micro-organismos
boratório, a massa das folhas completas ou dos do solo e aumenta os valores da CTC, favorecendo
pecíolos deve ser seca em estufa com circulação a disponibilidade de nutrientes. Outro benefício
forçada de ar a 65oC, até massa constante. Em importante da calagem é o aporte de Ca e Mg ao solo
seguida, o material deve ser moído e submeti- (ERNANI, 2016).
do aos métodos de análise química, que iniciam
pela abertura das amostras, com posterior deter- 10.3.1. Calagem antes da implantação de
minação dos nutrientes. A abertura das amostras vinhedos
pode ser realizada através da digestão com H2O2
+ H2SO4 concentrados, adicionados de mistura A recomendação da necessidade e dose do
de digestão, com posterior determinação do teor corretivo da acidez em solos a serem cultivados
de nutrientes, como o N, P, K. A digestão com com videiras nos estados do RS e SC é realizada
HNO3 + HClO4 permite a determinação do teor com base no Índice SMP, visando elevar o pH em
de micronutrientes, como Zn, Cu, Mn e Fe. Já, a água até 6,0 (CQFS RS/SC, 2016) (Tabela 28).
queima via seca é indicada para a determinação No mercado, são encontrados calcários
de B e Mo (TEDESCO et al. 1995; CARMO et do tipo dolomítico (> %12,0 MgO), magnesiano
al. 2000; CQFS RS/SC, 2016). Maiores detalhes (entre 5,1 e %12,0 de MgO) e calcítico (< %5,0 de
sobre o procedimento da análise de tecido po- MgO). Deve-se dar preferência aos materiais que
dem ser obtidos em Tedesco et al. (1995) e em contenham Ca e também Mg, como o dolomítico,
Embrapa, (2009) ou em outras referências espe- para evitar desequilíbrios entre os nutrientes (CQFS
cializadas sobre o assunto. RS/SC, 2016).
Alguns viticultores das regiões de altitude no
10.3 Calagem em vinhedos estado de Santa Catarina, por vezes, questionam a
calagem, desejando evitar o vigor excessivo da vi-
As características do material de origem deira, já que resultados de pesquisa realizada em
e do seu grau de intemperismo, bem como os São Joaquim (SC) mostram que a calagem aumen-
processos de perda das bases por lixiviação ta o vigor da videira, expresso pelo diâmetro do
determinam que a maioria dos solos da região tronco e pela produção de matéria seca da poda
Sul do Brasil são naturalmente ácidos e com a hibernal. Porém, os benefícios da calagem superam
presença de Al trocável, que é tóxico. Em geral, esse inconveniente e a falta de calcário após a im-
quanto menor o percentual da CTC ocupada por plantação do vinhedo é de difícil reparação. Assim,
cátions básicos, como Ca, Mg e K, mais ácido é o o vigor deve ser equilibrado, mas isso pode ser obti-
solo. Portanto, a acidificação do solo é resultado, do com outras práticas culturais, como o cultivo de
principalmente, da remoção desses cátions da plantas de cobertura verde do solo e de manejo da
CTC que são substituídos por Al trocável e íons planta (ZALAMENA et al. 2013). Entretanto, quan-
hidrogênio (ERNANI, 2016). do o porta-enxerto apresenta, comprovadamente,
A acidez e suas consequências causam tolerância ao Al e menor exigência de saturação
limitações no crescimento de raízes, o que se reflete por bases, a exemplo do Paulsen 1103 (FRAGUAS,
negativamente no crescimento vegetativo e na 1999), em solos altamente tamponados, pode-se
produtividade. Por isso, a correção da acidez do solo fazer a calagem, visando atingir valor de pH em
é uma prática necessária em solos a serem cultivados água em torno de 5,5 que corresponde a uma dose
242
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 28. Quantidades de calcário necessárias para elevar o pH em água a 6,0, estimadas pelo Índice
SMP, para solos de vinhedos do RS e SC.
Fonte: Adaptado da CQFS RS/SC, 2016.
243
Adubação e Calagem na Videira
como, por exemplo a fotossíntese, é preciso que os extraível, a intepretação revela teor baixo de P disponível.
nutrientes estejam disponíveis tanto em quantidade, Nesse caso, conforme consta na tabela 30, a dose de
quanto no momento adequado. Além disso, a adubação P a ser aplicada em correção será de 80 kg de P2O5
deve causar o mínimo de impacto negativo sobre o ha-1 (CQFS RS/SC, 2016).
solo e águas. Como fonte de P, normalmente recomendam-
A adubação do vinhedo é realizada em se os fosfatos solúveis, como o superfosfato simples
conformidade com as três fases distintas do cultivo. Assim, ou o superfosfato triplo, que podem ser aplicados e
temos a adubação de correção, concomitante à calagem; incorporados juntamente com o calcário. Também
adubação de crescimento e de manutenção. podem ser utilizados os fosfatos naturais, desde
que tenham reatividade comprovada e sejam,
10.4.1. Adubação de correção preferencialmente, aplicados com antecedência
de dois a três meses em relação à calagem.
A adubação de correção visa corrigir os teores de
nutrientes que se encontram abaixo do recomendado Disponibilidade e recomendações de potássio
e, assim como a calagem, deve ser realizada antes do
plantio dos porta-enxertos ou das mudas. Para maior A absorção de quantidade adequada de K pela
eficácia dessa adubação, deve-se observar todos os videira contribui para o adequado amadurecimento da
cuidados relacionados com a amostragem do solo. uva e aumenta a sua concentração de açúcares e dos
A partir da interpretação dos resultados da análise do constituintes de cores e aromas (CONDE et al. 2007),
solo, são estabelecidas a necessidade e a dose dos contribuindo, decisivamente, na composição da uva
fertilizantes a serem aplicados na sua correção. e do seu mosto. Assim, a demanda deste nutriente
ocorre, principalmente, nas bagas e cachos, os quais
Disponibilidade e recomendações de fósforo representam grande exportação de K por ocasião da
colheita.
Apesar da videira ser pouco exigente em P A concentração de K nas folhas da videira situa-
(DALBÓ, 1989), este nutriente tem importância na se entre 15 e 25 g kg-1 de K (BARKER & PILBEAM, 2006),
formação da copa, na frutificação, no desenvolvimento sendo que a planta absorve cerca de 6 kg de K2O para
das raízes, além de favorecer a fermentação do mosto de cada 1000 kg de frutos produzidos (MELO, 2003).
viníferas (SOUSA, 1996), acentuar o aroma e o sabor dos A adubação de correção em pré-plantio
vinhos (REGINA et al. 2006). com K objetiva a adequação do teor no solo, ao
A concentração normal de P em folhas completas estabelecimento e crescimento inicial das mudas de
da videira varia de 1,5 a 2,5 g kg-1 e a planta absorve cerca de videira, até o início da produção de cachos. A dose
1,4 kg de P2O5 para cada 1000 kg de uva produzida (MELO, a ser aplicada é definida com base na interpretação
2003). Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente do teor inicial do K, extraído do solo pelo método de
deficientes em P, não se tem observado sintomatologia visual Mehlich-1, combinado com a CTCpH7,0. Assim, as faixas
de deficiência deste nutriente em videiras (MELO, 2003). de interpretação dos teores de K consideram a CTC
Porém, considerando que o P é pouco móvel no solo, a do solo, a pH 7,0, conforme consta na tabela 29, e
implantação do vinhedo é a melhor época para a aplicação a dose a ser aplicada segue a tabela 30. Os adubos
dos fertilizantes fosfatados. Nesta fase, esses adubos podem potássicos devem ser aplicados junto com a calagem
ser adequadamente incorporados ao solo, permitindo a e incorporados.
elevação dos teores do nutriente em profundidade, o que
favorece o crescimento de raízes. Recomendações de boro, cobre e zinco
O P disponível no solo é interpretado com base
no teor extraído pelo método de Mehlich-1, combinado Alguns solos apresentam teores de B abaixo do
com o teor de argila. Conforme consta na tabela 29, preconizado à videira. O teor de B nos solos para cultivo da
em um solo com 50% de argila e com 5 mg dm-3 de P videira deve ser de no mínimo 1,0 mg dm-3, porém, geralmente,
244
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 29. Interpretação dos teores de P e K extraídos no solo pelo método Mehlich-1.
Fonte: Adaptado da CQFS RS/SC, 2016.
Tabela 30. Doses de fósforo, na forma de P2O5 e de potássio, na forma de K2O recomendados na
adubação de correção do solo.
Fonte: CQFS RS/SC, 2016.
Médio 40 30
é menor que 0,4 mg kg-1. Nesses casos, recomenda-se a 10.4.2. Adubação de Crescimento
aplicação de fonte que contenha B na adubação de correção,
em dose de 10 kg de B ha-1, que deve ser distribuído em área A adubação, na fase de crescimento, tem por
total e incorporado (CQFS RS/SC, 2004). finalidade garantir a nutrição adequada e estimular
Em solos cultivados por longo tempo com a o crescimento das raízes e parte aérea das videiras.
videira, os teores de Zn e, principalmente, Cu são A duração dessa fase pode ser de 3 anos, quando é
muito altos, por exemplo, >50 mg kg-1 de Cu. Isso realizado o transplantio de porta-enxertos, ou de 2 anos,
acontece devido ao longo histórico de aplicações de quando são transplantadas videiras já enxertadas (CQFS
fungicidas que possuem os dois metais pesados na RS/SC, 2016). O N é o único nutriente recomendado
composição e, em menor quantidade, derivados de na adubação de crescimento, com doses variando de
resíduos orgânicos aplicados no solo como fonte de 10 a 50 kg ha-1 de N, conforme consta na tabela 31. No
nutriente (AMBROSINI et al. 2016). Nessa situação, a primeiro ano, são usadas doses menores e no terceiro
calagem deve, preferencialmente, ser dimensionada ano as doses maiores.
para se elevar o pH em água do solo até no mínimo O uso de composto orgânico na fase de
6,0 e máximo 6,5, como estratégia para minimizar a crescimento pode possibilitar desenvolvimento mais
toxidez dos metais às videiras transplantadas ou mesmo homogêneo das plantas (LARCHEVEQUE et al. 2006).
as espécies de plantas de cobertura do solo intercalares Esses autores observaram que o composto contribui
nos vinhedos (AMBROSINI et al. 2016). para o crescimento mais regular das plantas em solos
com baixo teor de matéria orgânica. Destaca-se que,
245
Adubação e Calagem na Videira
Fase da cultura
Teor de matéria orgânica do solo
1º ano (1)
2º ano 3º ano
246
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 32. Dose de N recomendada na adubação de manutenção para videiras em fase produtiva, em
função da produtividade e interpretação dos teores de N no tecido.
Fonte: Adaptado da CQFS RS/SC, 2004.
247
Adubação e Calagem na Videira
Tabela 34.Teor de P no tecido e doses a serem aplicadas durante a fase produtiva da videira.
Fonte: Adaptado da CQFS RS/SC, 2004.
Tabela 35. Interpretação do teor de K no tecido, produtividade esperada e doses a serem aplicada em
videiras.
Fonte: Adaptado da CQFS RS/SC, 2004.
248
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
249
Adubação e Calagem na Videira
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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251
252
11. Manejo do Dossel
José Luiz Marcon Filho
Deivid Silva de Souza
André Luiz Külkamp de Souza
Douglas Würz
Nelson Pires Feldberg
Leo Rufato
11.1 Introdução
A
produção de vinho de qualidade inicia pela
obtenção de uvas maduras, sadias e com bom
equilíbrio entre seus constituintes, capazes de
proporcionar à bebida informações gustativas que
expressem as condições em que foram produzidas. Aliados aos
fatores genéticos e edafoclimáticos, a maturação e a qualidade
da uva dependem, fundamentalmente, do manejo adotado
no vinhedo.
Após a definição da variedade, porta-enxerto e local
de implantação, o manejo das plantas buscando o equilíbrio
entre o crescimento vegetativo e produtivo torna-se o principal
foco do viticultor, a fim de se obter uvas adequadas para a
elaboração de vinhos.
O termo manejo do dossel inclui todas as técnicas que
podem ser aplicadas no vinhedo que alteram a posição ou
quantidade das folhas, ramos e frutos na videira. Estas técnicas
incluem a poda de inverno e de verão, o posicionamento dos
ramos, a remoção foliar, o raleio de cachos e o controle do vigor.
Um dos principais objetivos do manejo do dossel é
produzir uma copa que permita uma quantidade adequada de
luz no seu interior (SMART et al. 1990), pois copas sombreadas
podem causar redução na produtividade e qualidade dos cachos.
Quando o microclima do dossel é alterado por meio
de técnicas de manejo da copa, não é apenas a incidência de
luz solar que se altera. Temperatura, umidade, velocidade do
vento e evaporação também são modificadas (SMART, 1985). A
mudança nestes parâmetros tem grande impacto na incidência
de doenças fúngicas e pode alterar as relações térmicas das bagas
com implicações na sua composição. Portanto, as técnicas de
manejo do dossel podem ser usadas para melhorar a produção
e/ou qualidade do vinho, reduzir a incidência de doenças e
facilitar a mecanização (SMART et al. 1990).
253
Manejo do Dossel
254
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
relação área foliar total e produção por planta de 3,7 a a partir de folhas de videira que, significativamente, con-
8,4 m² kg-1 de uva para todas as variedades, o que indica tribuem para o crescimento, eliminando as folhas jovens,
desequilíbrio na distribuição dos fotoassimilados. Silva velhas, e fortemente sombreadas. Quando os dados
et al. (2009) observaram valores de índice de Ravaz de diferentes sistemas são comparados, diferenças na
entre 3 e 6 para um vinhedo da variedade Syrah, sob proporção de folhas do exterior e interior do dossel
as mesmas condições de cultivo. Em outro estudo com devem ser levadas em consideração (JACKSON, 2008).
a variedade Merlot, cultivada em São Joaquim, SC, O objetivo principal de todas as técnicas de
foi observado 4,5 m2 kg‑1 de uva nas plantas que não manejo é tentar ajustar a produção e o crescimento
receberam desponte (BRIGHENTI et al. 2010). vegetativo, visando a uma maior qualidade da uva pro-
Esses resultados mostram que os fotoassimilados duzida. Em Vitis vinifera, assim como na maioria das
foram distribuídos, preferencialmente, para as estrutu- espécies frutíferas, o balanço entre a demanda por
ras de crescimento, o que favoreceu o crescimento fotoassimilados (dreno) e a área foliar adequadamente
vegetativo, enquanto que a carga existente torna-se iluminada (fonte) é determinante na quantidade e na
sombreada, suscetível a doenças e com maturação qualidade da produção. Segundo Gonzáles-Neves et al.
lenta, incompleta e não uniforme (JACKSON, 2008). (2003), toda e qualquer técnica de manejo do vinhedo
A relação entre a área foliar e a produção muito acima que modifica as relações entre fonte e dreno refletem
dos limites considerados adequados demonstra que diretamente na qualidade da uva.
há crescimento vegetativo excessivo e, portanto, há Vinhedos de altitude apresentam, habitual-
a necessidade de ajuste do manejo do dossel para mente, um grande crescimento vegetativo, devido
promover o equilíbrio do vinhedo. às condições edafoclimáticas locais, tendo por agra-
A relação área foliar/massa fruto está relacionada vante comum o uso de porta-enxertos vigorosos.
com a capacidade da planta em completar a maturação Esse desequilíbrio afeta negativamente a composi-
das uvas, já que foca diretamente na relação entre o ção do fruto e pode causar produção de vinhos de
suprimento e demanda de energia e carbono orgânico baixa qualidade. Nesses casos, o manejo da copa é
na planta (JACKSON, 2008). A determinação da área a alternativa para melhorar a composição do fruto,
foliar permite inferir na atividade fotossintética, nas con- por meio de práticas como poda, raleio de cachos,
dições de luminosidade no dossel, no balanço hídrico remoção de folhas e desponte.
das plantas e relacioná-las com as práticas culturais mais Um ponto interessante a ser considerado no
adequadas para cada vinhedo (BESLIC et al. 2010). equilíbrio da planta é o seu efeito nos aromas e sabores
A aplicação da relação de área foliar é limi- dos vinhos. Nas regiões de altitude, o clima é extrema-
tada pela ausência de um rápido e simples método mente variável entre os anos, tornando a produção
de determinação a campo, principalmente devido à de vinhos premiados um desafio. Um dos problemas
complexidade do dossel vegetativo. Outra limitação encontrados nos vinhos, principalmente derivados da
de tais métodos é que eles não abordam diretamente variedade Cabernet Sauvignon, é a presença de carac-
processos fisiológicos que estão envolvidos. Compli- terísticas herbáceas em excesso, principalmente, em
cações podem incluir os efeitos de nutrientes e dis- vinhedos de maior altitude (FALCÃO et al. 2007). Isto
ponibilidade hídrica, temperatura e as condições de também é agravado em cachos sombreados, plantas
luz, a pressão de doenças, e os sistemas de formação com crescimento vigoroso e estações de crescimento
sobre eficiência fotossintética e desvio de carboidratos curtas (LAKSO, SACKS, 2009).
durante a safra e a resposta da cultivar (JAKSON, 2008; A característica herbácea dos vinhos, principal-
LAKSO, SACKS, 2009). Esses fatores podem explicar a mente com as notas de pimentão, está associada com
diversidade da relação área foliar/produção obtida, e o os compostos dos grupos de metoxipirazinas. O vigor e
manejo necessário para atingir a maturação completa equilíbrio da planta são considerados importantes nos
(0,7 e 1,4 m² kg-1). níveis de pirazinas na uva. As pesquisas relatam que
Na determinação da área foliar, para um uso mais uvas derivadas de plantas com excessivo crescimento
eficaz, os valores devem incorporar os dados, somente vegetativo geralmente possuem maior metoxipirazinas
255
Manejo do Dossel
e maiores notas herbáceas (CHAPMAM et al. 2004; da videira devem buscar manter o equilíbrio da planta,
RYONA et al. 2008; LAKSO, SACKS, 2009). para favorecer o desenvolvimento vegetativo e produ-
Trabalho realizado por Borghezan et al. (2011b), tivo adaptado às condições edafoclimáticas de cada
mostrou que o manejo do dossel vegetativo propiciou região, a fim de permitir uma colheita com uvas de
melhora na qualidade sensorial dos vinhos nas condi- boa sanidade e com índices de maturação adequados
ções avaliadas. Neste estudo, o nível intermediário de (SANZ et al. 2010).
área foliar (16F – 2,3 m2 kg-1) foi a intensidade de manejo Os sistemas de condução, além de influencia-
mais adequada para a qualidade sensorial dos vinhos. rem na ecofisiologia da planta (FAVERO et al. 2010;
Os princípios de manejo da copa têm sido esta- NISHIOKA, MIZUNAGA, 2011), podem afetar a produ-
belecidos com o objetivo de aperfeiçoar a interceptação tividade do vinhedo (HERNANDES et al. 2013; PEDRO
da luz solar, capacidade fotossintética e microclima JUNIOR et al. 2015), a qualidade da uva (MOTA et al.
do dossel para melhorar o rendimento e a qualidade 2011; PALLIOTTI, 2012) e as características sensoriais e
do vinho, particularmente em vinhedos vigorosos e fenólicas dos vinhos (SEGADE et al. 2009; FRAGASSO
sombreados (SMART et al. 1990). et al. 2012). A influência do sistema de condução nestas
A videira é uma planta complexa e tem uma características está relacionada à altura e a largura do
grande capacidade de se adaptar a diferentes condi- dossel vegetativo, à divisão do dossel em cortinas, ao
ções edafoclimáticas. Assim, não existe uma relação posicionamento das gemas e dos frutos, à carga de
universal entre a produção por planta e a qualidade gemas por hectare e ao espaçamento entre fileiras e
da uva (vinho). A questão importante não é estabele- entre plantas (NORBERTO et al. 2008).
cer alguma relação rendimento/área ideal, mas sim o Toda esta alteração na forma e estrutura das plan-
tamanho de copa capaz de nutrir adequadamente a tas pode, em vários momentos, afetar a epidemiologia
planta, proporcionando maturação adequada. de doenças, como o míldio (Plasmopara viticola (Berk.
A busca pela melhor relação produção x qualidade & Curt) Berl. & de Toni), antracnose (Elsinoe ampelina
nem sempre é fácil, ainda mais nas condições locais, onde (de Bary) Schear) e podridões do cacho (GARRIDO
o clima úmido e solo fértil tornam o controle do crescimen- et al. 2004; NAVES et al. 2006; INTRIERI et al. 2011;
to um desafio. No entanto, quando é desenvolvida uma BEM et al. 2015).
relação AE/F funcional apropriada, a produção de frutos A escolha do sistema de condução deve estar, obri-
e qualidade do vinho podem ser melhoradas. gatoriamente, associada ao tipo de produção requerida,
levando em consideração a facilidade de manejo, os custos
11.3 Sistemas de condução e a capacidade da mão de obra de compreender o sistema.
Este tema tem sido amplamente discutido e avaliado nas
No que diz respeito às variedades copas, a videi- diferentes regiões vitícolas do mundo (WOLF et al. 2003;
ra apresenta uma grande diversidade de arquitetura de BAEZA et al. 2005; BORDELON et al. 2008; BATES, 2008;
seu dossel vegetativo e das partes perenes. A distribui- GONZÁLEZ-NEVES; FERRER 2008; BERNIZZONI et al.
ção espacial desse dossel, do tronco e dos sarmentos, 2009; NORBERTO et al. 2009;). Devido à gama de trabalhos
juntamente com o sistema de sustentação, constitui o sobre sistema de condução, é importante considerar que
sistema de condução da videira (MIELE, MANDELLI, não existe um sistema de condução ótimo, mas vários com
2008). Enquanto poda é considerada como a inter- diferentes características que podem possuir o mesmo nível
venção necessária para a manutenção desta forma, de eficiência, dependendo das condições particulares de
controlando a produção e crescimento (GRAINGER, cada vinhedo (REYNOLDS, HEUVEL 2009).
TATTERSALL, 2005). Embora as perspectivas para expansão do cultivo
O sistema de condução determina a disposição de uvas europeias nas regiões de altitude de Santa Cata-
espacial das folhas e racimos e modifica o microclima rina sejam boas, é importante destacar que são poucas
do vinhedo. Isto reflete diretamente sobre a fisiologia as informações técnico-científicas disponíveis no que diz
da planta (SMART, 1985; REYNOLDS, HEUVEL, 2009; respeito ao comportamento vitícola-enológico das varie-
PEDRO JUNIOR et al. 2013). A condução e a poda dades de videira sobre diferentes sistemas de condução.
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
257
Manejo do Dossel
A B
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 36. Efeito dos sistemas de condução ípsilon (Y) e espaldeira nas variáveis produtivas de videira
Vitis vinifera L. var. Sauvignon Blanc em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra 2013, 2014 e
2015.
Fonte: MARCON FILHO, J. L. (2010).
1300 m), com plantas enxertadas sobre porta-enxerto no Y. O incremento de produção observado nos dois
Paulsen 1103. Os vinhedos foram implantados em sistemas de 2013 a 2015 se deve ao desenvolvimento das
2004, com espaçamento de 3,0 m entre linhas e 1,5 plantas no vinhedo, tendo em vista que as avaliações foram
m entre plantas. iniciadas a partir do quarto ano de plantio (Tabela 36).
Em ambos os experimentos os tratamentos Esta produção foi maior do que os 2,7 kg planta-1
consistiram nos sistemas de condução ípsilon (Y) e relatados por Borghezan et al. (2011), quando avaliou
espaldeira, conduzidos em cordão esporonado. A o comportamento produtivo da Sauvignon Blanc em
poda foi realizada em duas gemas para o sistema região de altitude. Por mais que os trabalhos tenham sido
espaldeira e de duas a quatro gemas para o sistema Y, realizados na mesma região de cultivo, esta diferença
permanecendo em média 45 e 74 gemas por planta, em produção deve-se às condições particulares de
respectivamente. cada vinhedo.
De acordo com o autor, este estudo permitiu As plantas no sistema Y foram em média 93%
concluir que o sistema de condução utilizado influencia mais produtivas do que o sistema espaldeira com uma
a relação entre crescimento vegetativo e produção, produtividade acumulada nas três safras de 59,1 t ha-1,
sendo que, nas duas variedades do experimento, a enquanto o sistema espaldeira acumulou 30,5 t ha-1.
produtividade foi superior no sistema de condução Quanto à maturação tecnológica e fenólica das bagas
ípsilon. Os resultados deste estudo evidenciam que da variedade Sauvignon Blanc, na colheita, não foi
o sistema de condução Y é uma boa alternativa de influenciada para as concentrações de sólidos solúveis
utilização nas regiões de altitude de Santa Catarina (SS), acidez total (AT), pH do mosto e polifenois totais
por proporcionar aumento da produtividade da da casca entre os sistemas de condução, para todas as
variedade Sauvignon Blanc e Cabernet Sauvignon sem safras avaliadas (Tabela 37).
comprometer a composição das uvas e do vinho, em Em relação à concentração de sólidos solúveis e
relação à utilização do sistema espaldeira. acidez do mosto, observa-se que para os dois sistemas
Segundo este estudo, a produção variou de 3,1 os valores foram similares para a safra 2013 e 2014,
a 6,0 kg planta-1 na espaldeira e de 6,7 a 12 kg planta-1 em torno de 20 ºBrix e 106 meq L-1, respectivamente.
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Manejo do Dossel
Tabela 37. Efeito dos sistemas de condução ípsilon (Y) e espaldeira na maturação tecnológica e fenólica das
bagas de videira Vitis vinifera L. var. Sauvignon Blanc em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra
2013, 2014 e 2015.
Fonte: MARCON FILHO, J. L. (2010)
* = significativo. ns = não significativo. Média ± desvio padrão. (1) Dados não avaliados
Tabela 38. Efeito dos sistemas de condução ípsilon (Y) e espaldeira nas variáveis produtivas de
videira Vitis vinifera L. var. Cabernet Sauvignon em região de altitude elevada de Santa Catarina.
Safra 2012, 2013, 2014 e 2015.
Fonte: MARCON FILHO, J. L.(2010)
2012 38 ± 7 25 ± 4 *
Número de cachos 2013 57 ± 4 36 ± 4 *
(cachos planta-1) 2014 36 ± 2 38 ± 5 ns
2015 63 ± 9 47 ± 5 *
Média 48 ± 14 37 ± 9 *
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 39. Efeito dos sistemas de condução ípsilon (Y) e espaldeira na maturação tecnológica e
fenólica das bagas de videira Vitis vinifera L. var. Cabernet Sauvignon em região de altitude elevada de
Santa Catarina. Safra 2012, 2013, 2014 e 2015.
Fonte: MARCON FILHO, J. L.(2010).
* = significativo. ns = não significativo. Média ± desvio padrão. (1) Dados não avaliados
Porém, os valores mais baixos de SS e elevada AT para a devem à diversidade de fatores que afetam a produção
safra 2015 foram devido à ocorrência de granizo no da videira, como genéticos, condições edafoclimáticas
vinhedo, que ocasionou injúrias nas plantas, forçando e tratos culturais.
a empresa a realizar a colheita antecipada das uvas. Quanto à maturação tecnológica para o estudo
No entanto, é importante enfatizar que, nos dois com Cabernet Sauvignon, os SS e AT das bagas não
primeiros anos avaliados, os níveis de SS e AT foram diferiram estatisticamente entre si, pelo teste “F”, ao
apropriados para a elaboração de vinhos de qualidade. nível de 5%, na comparação dos sistemas de condução.
Destaca-se que, devido ao clima frio destas regiões, Já em relação ao pH do mosto, foram observados
a degradação dos ácidos será sempre mais lenta e, valores maiores para as uvas de plantas em espaldeira
como consequência, a acidez titulável é elevada no (Tabela 39).
momento da colheita. Pedro Junior et al. (2015) também não
Para a variedade Cabernet Sauvignon, sistema Y, observaram diferenças para a maturação comercial
resultou num incremento de produtividade em relação da uva Cabernet Sauvignon em sistemas de
ao espaldeira de 42 % para São Joaquim (Tabela 38). formação Y e espaldeira. Ainda neste estudo,
Plantas de videiras conduzidas em Y possuem uma carga Marcon Filho (2016) também concluiu que os
de gemas maior comparadas às plantas conduzidas em sistemas de condução não alteraram a maturação
espaldeiras, o que explica o fato de o sistema Y ter um fenólica das bagas para as variedades Sauvignon
número maior de cachos por planta. Blanc e Cabernet Sauvignon.
Segundo Jackson (2014), a variação na Observando estes dados, pode-se concluir que,
produtividade entre safra e local, tanto como a diferença e apesar do aumento da produtividade do vinhedo, as
de rendimento entre as variedades Sauvignon Blanc características de maturação tecnológica das bagas
e Cabernet Sauvignon, nas condições de altitude, se não apresentam diferenças, indicando que existe a
261
Manejo do Dossel
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Manejo do Dossel
Tabela 40. Fertilidade de gemas basais, medianas e apicais (%) de variedades de uvas viníferas cultivadas
em São Joaquim, SC, na safra 2016/2017.
Fonte: WÜRZ et al. (2019).
*Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro.
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
- Poda de renovação
Figura 119. Poda de frutificação realizada Este tipo de poda se faz em plantas envelhe-
no inverno (poda seca). cidas, quando o vigor vegetativo está baixo, geran-
Fonte: YOUNG, B. (2019). do baixo crescimento, deficiência floral e excesso
de madeira improdutiva. Trata-se da retirada das
partes envelhecidas e de baixa produção, estimu-
lando a brotação de partes novas. Normalmente,
é feito o rebaixamento intenso da planta, o que
estimula o vigor dela, disponibilizando as reservas
acumuladas nas raízes e tronco para um número
menor de gemas, que foram deixadas na poda. De-
269
Manejo do Dossel
vido a isto, as gemas deixadas irão brotar em sua ras) e o ciclo das variedades, começando pelas de
totalidade, além da brotação de gemas casqueiras ciclo vegetativo curto, e depois as de ciclo longo.
e latentes, originando o desenvolvimento de ramos Quando esta poda é realizada no outono, pe-
ladrões. Na primavera, são selecionados os ramos ríodo em que as substâncias produzidas nas folhas
melhor posicionados para renovar e voltar a formar estão sendo transferidas para as zonas de reserva da
a planta. planta (braço, tronco, raízes), preparando-se para pas-
Quando se renova a planta inteira, utiliza-se sar o inverno em repouso, ela tem um efeito debilitan-
um broto do tronco principal mais próximo ao nível te à planta, que ainda não completou o processo de
do solo, que será conduzido para substituir a parte acúmulo nas zonas de reservas das substâncias pro-
velha, que é retirada durante a poda no inverno. duzidas nos sarmentos, além de normalmente atrasar
Esta poda apresenta inconvenientes porque a brotação, sendo afetada por este efeito (ALIQUÓ et
produz grandes ferimentos na planta, que podem al. 2010; GIL & PSZCZÓLKOWSKI, 2007). No entan-
ser portas de entrada de patógenos (podendo ser to, em plantas que apresentam vigor excessivo, este
prevenidos com o uso de tinta ou cola, adicionados processo pode ser benéfico.
a fungicida), e diminuição da produção no ciclo em No inverno, a atividade metabólica da
que ela é realizada. Quando não observada, a nu- planta é mínima, com as reservas acumuladas nas
trição da planta pode ter um efeito negativo, debi- zonas destinadas a isso, resultando que a poda
litando a planta, já que uma poda intensa diminui a realizada nessa época estimula o vigor nas plan-
área foliar, consequentemente diminuindo a produ- tas, sendo benéficos para a brotação e, principal-
ção de substâncias nutritivas para planta. Porém, se mente, para plantas de vigor médio ou baixo.
realizada corretamente, pode prolongar seu tempo Entre o fim do inverno e início da primave-
de vida produtiva. ra, pouco antes da brotação ou quando as primei-
Ainda existe a poda de reconversão, na qual se ras gemas brotaram, a poda tem efeito retardador
deixa somente o tronco, para que neste haja a enxer- na brotação. É uma tática interessante para locais
tia da variedade que irá substituir a antiga; e a poda onde existem riscos de geadas tardias e fenôme-
de transplante, quando se retira uma planta já desen- nos climáticos que afetem estádios fenológicos im-
volvida no solo, e se realiza uma poda severa na parte portantes da planta, como a floração de variedades
aérea, para compensar a perda radicular que a planta precoces. Se a poda é efetuada no início da prima-
sofreu, ao ser retirada do solo. vera, quando as reservas já foram consumidas, a
brotação sofre um efeito depressivo, o que é bené-
A brotação da videira em relação à época de poda fico em plantas com vigor vegetativo excessivo (GIL
& PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
- Poda invernal (seca) Brighenti et al. (2017) estudaram o efeito da
época de poda na cultivar Chardonnay. O experi-
Realizada após a queda de folhas e antes da mento foi realizado em vinhedo comercial na cida-
brotação, quando a planta se encontra em dormên- de de Água Doce – SC (26°43’92”S, 51°30’72”O,
cia, ou seja, não há fluxo significativo de carboidra- altitude 1,350 m), em videiras no sistema de espal-
tos dos sarmentos para a raiz. O floema está inativo deira, com espaçamento de 2,9 x 1,5 m, utilizando
durante o repouso e os vasos crivados são cobertos as seguintes datas de poda invernal: 25 de agosto
por calosidades. Nesta poda, são retirados madeira (controle), 31 de agosto, 8 de setembro e 15 de
de ano (sarmentos) e madeira de dois ou mais anos setembro. A fenologia das plantas foi acompanha-
(esporões e varas do ano anterior, braços, troncos). da até o estádio de inflorescência totalmente visí-
Inicialmente, a poda invernal pode ser realiza- vel, com os componentes produtivos avaliados na
da em qualquer momento do período de dormência, colheita.
porém deve-se observar o clima (perigos de geada, O estudo mostrou que, em geral, o atraso
exposição do tecido vegetativo a baixas temperatu- na poda desta cultivar atrasou os estádios feno-
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 41. Estádios fenológicos inicias da variedade Chardonnay podada em diferentes épocas.
Fonte: Brighenti et al. (2017).
Data da Poda Gema Dormente Botão Lanoso Brotação Folhas Abertas Inflorescência Visível
25/ago (contr.) 25/ago 02/Set 09/set 15/set 22/set
31/ago 31/ago 09/set 15/set 22/set 30/set
08/set 08/set 22/set 30/set 07/out 15/out
15/set 15/set 30/set 07/out 15/out 20/out
Data da Poda Produtividade (T ha-1) Sólidos solúveis (ºBrix) Acidez total (Meq L-1) pH
25/ago (contr.) 6,66 a 16,7 a 121,33 a 3,05 a
31/ago 5,16 b 16,6 a 142,89 b 3,05 a
08/set 3,70 c 16,0 b 168,33 c 2,97 b
15/set 2,77 c 15,6 c 178,22 d 2,94 c
CV (%) 24,69 1,54 6,59 0,99
*Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro.
lógicos da planta e, consequentemente, a matu- dos, ramos ladrões, etc.) e folhas, desde o início da
ração dos cachos (Tabela 41). Uma poda muito brotação até o início da maturação dos cachos.
tardia implica a alocação de grande parte das
reservas utilizadas no início da brotação, em es- Determinação da carga
truturas que serão retiradas, resultando em uma
insuficiência de carboidratos para o período de Dentre as diversas maneiras de controlar o dossel
floração (FRIEND & TROUGHT, 2007). vegetativo e o rendimento das videiras, o ajuste do
Quando realizada em até 7 dias após a número de gemas na poda invernal da videira é uma
data controle, tem efeito benéfico em locais com ferramenta para este controle (SMART; ROBINSON,
risco de geadas tardias. Contudo, a partir de uma 1991). A poda invernal é uma prática realizada
semana após o controle, a poda pode resultar em anualmente, em regiões de clima temperado, com
até 58% de perda na produtividade do vinhedo o principal objetivo de regular a produção temporal
(Tabela 42). da videira (MIELE; MANDELLI, 2012). Sendo assim, a
produtividade do vinhedo se correlaciona positivamente
- Poda em verde com o número de gemas deixadas por planta, ainda
que, em geral, essa relação não seja linear (MIELE;
Poda complementar a anterior, que facilita a RIZZON, 2013).
poda invernal do ano seguinte. Também utilizada A importância da poda equilibrada foi
na poda de renovação, com a retirada de brotações reconhecida há muito tempo (RAVAZ, 1911; SHAULIS;
indesejadas, despontes, etc. É realizada durante o OBERLE, 1948). O número de gemas que permanecem
ciclo vegetativo da planta, sendo realizada em bro- nos sarmentos ou nos esporões após a poda determinará
tações jovens (brotos indesejáveis, mal posiciona- a dimensão da área foliar e o número de cachos de
271
Manejo do Dossel
uvas. Vários estudos relataram diferenças, em função sugeriram que o número de gemas pode afetar a taxa
da intensidade e tipo de poda, no vigor vegetativo e de crescimento apical dos sarmentos. Dixon (2009),
composição final das bagas de uvas tanto para consumo estudando a variedade Sauvignon Blanc, observou
in natura (CHRISTENSEN et al. 1994; AHMAD et al. que plantas podadas com 24 gemas floresciam mais
2004), quanto para vinificação (KURTURAL et al. 2006; cedo que vinhas podadas com 48 gemas. Jackson et al.
BINDON et al. 2008; O’DANIEL et al. 2012). (1984) descreveram que o número de gemas variando
Deve ser considerado, ainda, que o manejo de 40 a 150 por planta, em cinco cultivares, apresentou
da copa, em função do tipo e intensidade da poda, um comportamento curvilíneo, onde o aumento de
exerce efeito sobre a produção no ciclo seguinte, 43 para 86 gemas por planta dobrou a produção; no
devido ao seu impacto sobre o conteúdo de reserva entanto, ao aumentar o número de gemas para 150
acumulado e à fertilidade das gemas (VASCONCELOS por planta, o aumento da produção foi de apenas 12%
et al. 2009; PELLEGRINO et al. 2014). Nas regiões em relação a 86 gemas por planta.
de altitude tem-se empregado poda curta para a Em estudo realizado por Wurz et al. (2017), com
maioria das variedades, resultando em variações nas a variedade Cabernet Franc, observou-se redução da
produtividades, sempre abaixo do potencial produtivo incidência de antracnose em sarmentos e folhas para
das plantas e, nesse contexto, a elevação da carga de as plantas podadas com 15 e 30 gemas, enquanto
gemas torna-se uma prática de manejo com potencial o aumento do número de gemas deixadas na poda
para aumentar a produtividade e melhorar o equilíbrio resultou em incremento da incidência da doença nos
vegeto-produtivo do vinhedo. Contudo, ressalta-se que o sarmentos. Por sua vez, para a antracnose nas folhas,
aumento da carga de gemas poderá propiciar um dossel os autores observaram que nas plantas podadas com
vegetativo mais denso e sombreado, resultando em um 50 e 75 gemas, houve a maior incidência da doença,
microclima mais favorável à ocorrência de doenças ocorrendo o oposto nas plantas podadas com 15 gemas,
fúngicas (WÜRZ, 2018). nas quais houve menor severidade de antracnose (2,7%).
Os processos adaptativos, pelos quais as Resultados semelhantes foram observados por Basu
videiras respondem ao aumento do número de gemas, (2014), que verificou uma redução no número de folhas
incluem redução do crescimento vegetativo, redução e sarmentos, resultando em um menor adensamento
da fertilidade de gemas, sarmentos mais curtos com do dossel vegetativo, o que propiciou diminuição da
entrenós mais curtos, maior produtividade e maior incidência e da severidade da antracnose.
número de cachos por planta, além de apresentarem Entretanto, este manejo depende também de
cachos mais longos e com bagas menores (SOMMER et características intrínsecas da videira, como a fertilidade,
al. 1995; CLINGELEFFER, 2009). A mudança do número e de gemas que a planta expressa no local de cultivo. A
de gemas pode ter efeito em longo prazo, como por fertilidade é uma característica genética das variedades
exemplo, redução do tamanho de crescimento dos de videira, significa a capacidade de diferenciação de
sarmentos, podendo, inclusive, resultar em redução gemas vegetativas em frutíferas, determinantes de
na produtividade. Portanto, o aumento do número de sua produtividade (LOPEZ-MIRANDA et al. 2001).
gemas pode diminuir o vigor, em relação àquelas podas A carga de gemas sofre influência da fertilidade das
com número menor de gemas (GREVEN et al. 2014). mesmas, já que o sistema de poda depende, também,
Um número adequado, mantendo uma quantidade da localização das gemas férteis ao longo do sarmento.
fixa de gemas por unidade de massa de poda, pode ser Em estudo realizado por Würz (2018), avaliaram-
determinante para a colheita de uvas de boa qualidade. se 4 cargas de gemas na poda invernal em plantas de
Howell et al. (2001), estudando a cultivar Sauvignon Blanc, enxertadas sobre Paulsen 1103, em
Vignoles, verificaram que, para cada 15 gemas, a um vinhedo comercial em São Joaquim – SC (28°17’39”
massa de poda de inverno de 0,45 kg permitiu uma S e 49°55’56” O, 1230 m). O vinhedo caracteriza-se
maturação adequada das uvas, além de propiciar um por apresentar plantas espaçadas de 3,0 x 1,5m, em filas
dossel vegetativo suficiente para acumular reservas dispostas no sentido N-S, conduzidas em espaldeira,
para o ciclo seguinte. Trought & Bennet (2009), podadas em cordão esporonado duplo, a 1,2m de
272
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 43. Efeito da carga de gemas nas variáveis produtivas e vegetativas da videira Sauvignon Blanc
(Vitis vinífera L.) em região de elevada altitude de Santa Catarina. Safra 2017 e 2018.
Fonte: Würz (2018).
Carga de Gemas/planta CV
15 30 50 75 (%)
2017
Número de Sarmentos 17 d 30 c 49 b 67 a 2,1
Brotação (%) 114 a 102 b 98 c 89 d 2,8
Comprimento de Ramo (cm) 242,0 a 216,7 b 185,0 c 208,0 b 16,3
Número de Cachos 11 d 28 c 44 b 60 a 10,8
Produtividade (ton ha-1) 2,2 d 6,5 c 10,1 b 14,7 a 12,7
Índice de Fertilidade 0,78 b 0,90 a 0,91 a 0,89 a 12,7
Índice de Ravaz 0,6 a 1,9 b 3,0 bc 4,3 c 24,5
Área Foliar/Produção (cm2 g-1) 77,0 a 42,7 b 38,5 b 43,4 b 23,8
2018
Número de Sarmentos 17 d 30 c 48 b 67 a 3,3
Brotação (%) 113 a 102 b 96 bc 89 c 4,8
Comprimento de Ramo (cm) 246 a 207 ab 195 b 175c 8,5
Número de Cachos 10 c 21 b 27 b 49 a 11,7
Produtividade (ton ha-1) 1,7 d 3,1 c 4,5 b 7,3 a 11,6
Índice de Fertilidade 0,59 ns 0,68 0,57 0,73 14,6
Índice de Ravaz 0,40 c 0,93 c 1,55 b 3,0 a 16,7
Área Foliar/Produção (cm2 g-1) 112,4 a 90,2 ab 82,0 ab 80,2 b 15,4
*Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela análise
de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
Tabela 44. Efeito da carga de gemas na maturação tecnológica e coloração das bagas da videira
Sauvignon Blanc (Vitis vinífera L.) em região de elevada altitude de Santa Catarina. Safra 2017 e 2018.
Fonte: Würz (2018).
Carga de Gemas/planta CV
15 30 50 75 (%)
2017
Sódios solúveis (ºBrix) 21,3 ns 21,6 21,4 21,1 1,3
Acidez Total (meq L-1) 101,6 ns 98,6 98,9 93,6 4,5
pH 3,14 ns 3,17 3,18 3,19 0,9
2018
Sódios solúveis (ºBrix) 20, 6 ns 20,8 20,5 20,8 0,9
Acidez Total (meq L-1) 67,5 a 61,6 ab 60,6 b 60,4 b 4,6
pH 3,11 b 3,11 b 3,17 a 3,18 a 0,5
*Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela análise
de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
273
Manejo do Dossel
274
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
275
Manejo do Dossel
Tabela 45. Componentes produtivos e de vigor vegetativo da variedade ‘Nebbiolo’ sob diferentes sistemas de
poda, São Joaquim – SC.
Fonte: Allebrandt et al. (2017).
Sistema de poda
Variável Ciclo
Guyot Guyot Arch Cazenave Cordão esporonado
2012 1,8±0 a 2,2±0,4 a 1,7±0,7 a 0,00±0 b
Produtividade por planta (Kg)
2015 2,1±0 a 1,9±0,4 a 2,4±0,5 a 0,06±0,1 b
2012 11±1 a 12±1 a 9±2 a 0,0±0 b
Número de Cachos
2015 15±2 a 10±2 b 16±3 a 0,4±0,5 c
2012 177,8±8,1 a 185,3±40,6 a 187,2±56,5 a 0,0±0 b
Peso de cachos (g)
2015 136,1±17,2 ab 181,6±28,0 a 155,8±22,2 ab 108,8±15,9 b
2012 1,3±0,2 a 1,4±0,4 a 1,1±0,3 a 0,0±0 b
Índice de Ravaz**
2015 2,1±0,7 a 1,9±0,7 a 1,7±0,5 a 0,1±0,1 b
2012 - - - -
Área Foliar/Produção (cm2 g-1)
2015 15,7±2 b 19±5 b 20±5 b 299±6 a
*Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela análise
de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro. **Produtividade/peso de poda por planta.
276
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
277
Manejo do Dossel
O elemento de poda utilizado é a vara, onde Marcon Filho et al. (2016) realizaram um
sarmentos com 4 a 12 gemas são deixados na planta. estudo similar, utilizando a variedade ‘Chardonnay’,
Sua diferença para a poda mista é que a função tanto enxertadas sobre ‘Paulsen 1103’, na região de altitude
é de frutificação, como de produzir sarmentos para a de Santa Catarina. Os sistemas de poda utilizados
renovação no ano seguinte, são das varas deixadas, e foram: Cordão esporonado, Sylvoz, Cazenave, Guyot
não de esporões (Figura 123 e 124). Normalmente, na simples e Guyot duplo.
poda de inverno se retira a vara que teve a frutificação, Observando a tabela 46, os sistemas de poda
sendo esta renovada por um sarmento originado nesta mista são uma alternativa para aumentar a produção
mesma vara, preferencialmente o sarmento mais da variedade ‘Chardonnay’, sendo que neste estudo,
próximo da base. Como exemplo desta poda, temos os sistemas Cazenave e Guyot duplo se destacaram
o sistema Sylvoz. (MARCON FILHO et al. 2016). Mesmo o sistema
Allebrandt et al. (2017) desenvolveram um Sylvoz tendo um desempenho similar ao Cazenave e
estudo onde foi avaliado o efeito de diferentes sistemas Guyot duplo, não é recomendado para as condições
de poda na produtividade e potencial fenológico da do estudo, devido à ocorrência de geadas tardias que,
variedade ‘Nebbiolo’, em um vinhedo na região de inclusive, foi o fator que diminuiu a produção na segunda
altitude de Santa Catarina. Foram avaliadas as safras safra avaliada neste estudo.
2011/2012 e 2014/2015, aonde os tratamentos Os sistemas Sylvoz, Cazenave e Guyot duplo
consistiram dos seguintes sistemas de poda: Guyot, sofreram menor dano com a ocorrência de geada
Guyot Arch, Cazenave (sistemas em poda mista) e tardia, já que algumas gemas não haviam brotado
cordão esporonado (sistema em poda curta). quando houve a ocorrência deste evento climático.
Através da tabela 45, pode-se concluir que o Assim, sistemas de poda que mantenham uma maior
sistema de poda de cordão esporonado (poda curta) carga de gemas pode ser uma alternativa em anos
não é indicado para esta variedade, pois a produção com risco de ocorrência de geadas tardias, pois auxilia
por planta é insignificante, assim como os cachos na recuperação e melhora o desempenho de plantas
produzidos possuem peso menor do que os produzidos equilibradas (Figura 125). No entanto, o sistema Sylvoz
nos sistemas de poda mista (Figura 126). utiliza as varas arqueadas de uma maneira que propicia
278
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
um maior efeito da umidade do solo e da ocorrência A poda deve ser executada sobre a última
de geadas tardias, de modo que não é indicado nessas gema afetada pela geada, seja no esporão ou vara,
condições climáticas. estimulando assim a brotação das gemas cegas que
não foram danificadas pela geada, podendo estas
Poda de videiras afetadas por geadas gemas serem férteis ou não, dependendo da cultivar.
Gemas casqueiras também irão sofrer este estímulo
Esta poda depende do estádio fenológico em de brotação, gerando sarmentos que podem ser
que a planta está e da intensidade do dano causado pela utilizados com elementos de poda no ciclo posterior.
geada. Quando a geada ocorre no início da brotação, Contudo, como esta poda é efetuada de forma tardia
com os brotos pequenos, e algumas gemas ainda e diminui a carga de gemas da planta, causa um
não brotaram, o indicado é que o produtor espere a atraso no desenvolvimento fenológico e diminuição
evolução das gemas já brotadas (ALIQUÓ, et al. 2010). na quantidade de carboidratos disponíveis, afetando a
A poda, então, é realizada quando houve a brotação de colheita do ano seguinte, com menores rendimentos
boa parte das gemas, ou sua totalidade, com formação (PELAEZ & NAZRALA, 1969).
de inflorescências, onde os danos podem ser parciais De acordo com Aliquó et al. (2010), dependendo
ou totais. da região, ainda o melhor a se fazer é não podar após
279
Manejo do Dossel
280
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tempranillo não foram observadas diferenças significativas folhas, o que indica que o vigor dos brotos e deveria
na qualidade físico-química dos cachos ao reduzir a área ser contido por outras medidas.
foliar do dossel vegetativo no início da maturação das O desponte realizado no período de mudança
bagas, em ambas as safras avaliadas. de cor das bagas promove diminuição do crescimento
Portanto, o manejo da retirada das brotações de feminelas (consumidoras de fotoassimilados),
laterais não deve ser encarado como uma prática restando apenas algumas na região apical que auxiliam
obrigatória no vinhedo. Deve-se levar em consideração no aporte de nutrientes para a maturação final da uva
o objetivo desta atividade, bem como a cultivar e as (MARTINEZ DE TODA, 1982). Quando é feito antes
condições edafoclimáticas da região (MACEDO et da mudança de cor das bagas, pode funcionar bem
al. 2015). com 10-12 nós para Syrah (PETERSON, SMART, 1975)
e Gewürztraminer (SMART, 1984). O desponte mais
11.5.2. Desponte intenso de plantas vigorosas de Cabernet Sauvignon
atrasou a maturação de colheita na Califórnia, porém
O desponte é caracterizado pela supressão não afetou a composição da uva nem o rendimento e
das extremidades dos ramos e é uma prática comum ainda diminuiu a incidência de podridões por Botrytis
em uvas viníferas, cujo vigor não foi controlado por cinerea (KLIEWER, BLEDSOE, 1987). Em vinhedos
outras práticas de manejo, para conter a copa em suas vigorosos, melhorou o microclima luminoso e o vinho
dimensões pré-estabelecidas e manter a iluminação. produzido, porém com atraso na maturação da uva e na
O desponte estimula o desenvolvimento de feminelas lignificação dos brotos (PSZCZÓLKOWSKI et al. 1985).
em todo o ramo, muitas vezes prejudicando o Em zonas frias, se recomenda o desponte precoce
microclima da copa. Além disso, com a realização para melhorar o microclima dos cachos e induzir o
do desponte há uma diminuição na dominância surgimento de novas folhas (KOBLET, 1984, 1987).
apical, que favorece a maturação das gemas basais Brighenti et al. (2010) estudaram diferentes
e equilíbrio da vegetação. níveis de desponte na variedade Merlot, em região de
O usual é fazer o desponte quando os ramos altitude elevada de Santa Catarina, com os seguintes
ultrapassam os fios do sistema de condução, que pode tratamentos: testemunha, sem realização de desponte,
ser mecanizado (IANNINI, 1982; BALDINI, INTRIERI, mantendo uma área foliar de 4,5 m2 kg-1 de uva (Figura
1984; INTRIERI, 1988; INTRIERI, PONI, 1995; INTRIERI 127A); desponte no quarto arame do sistema de
et al. 1995), deixando o número adequado de nós com condução, a 1,25 m do cordão esporonado, mantendo-
Figura 127. Representação dos diferentes manejos do dossel vegetativo. Testemunha, sem realização de
desponte (A), desponte no quarto arame do sistema de condução, a 1,25 m do cordão esporonado (B),
desponte na metade do terceiro arame, a 1,03 m do cordão esporonado (C), desponte no terceiro arame,
a 0,8 m do cordão esporonado (D).
Fonte: Brighenti et al., (2010).
281
Manejo do Dossel
se uma área foliar de 2,5 m2 kg-1 de uva (Figura 127B); maior do que em ramos de médio a reduzido vigor,
desponte na metade do terceiro arame, a 1,03 m do nos quais há maior equilíbrio entre fotossíntese e
cordão esporonado, mantendo-se uma área foliar de respiração. Plantas mais equilibradas acumulam
2,0 m2 kg-1 de uva (Figura 127C) e desponte no terceiro nas bagas maiores quantidades de carboidratos,
arame, a 0,8 m do cordão esporonado, com uma área que são precursores das antocianinas. Enquanto
foliar de 1,5 m2 kg-1 de uva (Figura 127D). ramos vigorosos produzem maiores quantidades
Nesse trabalho, os autores concluíram que é de carboidratos, também os consomem em maior
possível aumentar o conteúdo de açúcar nas bagas e quantidade, para manter o crescimento vegetativo
o conteúdo de antocianinas, por meio de um desponte (FREGONI, 1998; GIL & PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
moderado, que conserve uma área foliar de 3,4 m2 kg-1 Cabe recordar que as folhas são consumidoras
de uva para as plantas enxertadas sobre ‘Paulsen 1103’ enquanto crescem, por duas semanas, mas depois se
e 3,0 m2 kg-1 de uva para ‘Couderc 3309’ (Figuras 128 tornam exportadoras de produtos fotossintetizados
e 129). e contribuem para a maturação do cacho. Por essa
De acordo com os autores, o vigor estimula, prática ser debilitante, deve ser evitada em vinhedos
de maneira considerável, a competição entre fracos (HERNÁNDEZ, 1971; MARTINEZ DE TODA,
a atividade vegetativa e a atividade reprodutiva 1985). Outro objetivo do desponte é induzir o
da planta. Na videira, há uma fonte de síntese, crescimento de feminelas para produzir sombra,
que é a folha e dois drenos principais, o ápice quando ela é necessária para evitar queimaduras
vegetativo e os cachos. É possível observar que nos frutos por insolação. Se realizado quando o
o desponte equilibrou a relação fonte-dreno da cacho está maduro, facilita a colheita mecânica e
planta, direcionando os fotoassimilados para os não debilita a planta.
cachos. Ainda em relação às antocianinas, o vigor
influencia de maneira notável na respiração. Um 11.5.3. Desfolha
ramo vigoroso possui atividade respiratória muito
elevada, de modo que o consumo de energia é A desfolha é uma técnica empregada por
282
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
viticultores e vinícolas de diferentes regiões vitícolas prejuízos, pela menor acumulação de açúcares nos
mundiais com o objetivo de obter uvas de maior frutos, maturação incompleta dos ramos e a ocorrência
qualidade. Assume maior importância em vinhedos de escaldaduras ou queimaduras de sol nas bagas.
vigorosos que apresentam desequilíbrios em Os danos provocados pelo sol são mais comuns
consequência da heterogeneidade da vegetação, em variedades brancas, fazendo com que as bagas
sobreposição foliar e sombreamento dos cachos apresentem escurecimento (Figura 131), depreciando a
(CASTRO et al. 2006). Os vinhedos localizados qualidade dos cachos e, consequentemente, do vinho.
em regiões de altitude no estado de Santa Catarina Para que não ocorra esse problema, pode-se
apresentam como característica alto vigor vegetativo, realizar uma desfolha parcial, deixando parte das folhas
que pode ser explicado pelo uso de porta-enxertos da face mais exposta ao sol, fazendo com que haja certo
vigorosos, alta fertilidade dos solos e características grau de sombra nesses cachos. No caso de variedades
climáticas propícias ao crescimento vegetativo. Essa tintas a desfolha deve ser mais acentuada, retirando-se
característica prejudica a aeração e insolação dos cachos as primeiras cinco a seis folhas ou todas elas da base
e diminui a eficiência dos tratamentos fitossanitários. dos ramos até a altura dos cachos.
Uma das técnicas utilizadas para reverter esse quadro A época mais comum de realização dessa prática
é a retirada das folhas localizadas próximas aos cachos. é a virada de cor ou “verasion”, ou seja, quando se inicia
Essa prática tem como objetivo aumentar a a mudança da cor das bagas. A desfolha, nessa época,
temperatura, radiação solar e aeração na região dos apresenta resultados benéficos quando comparada a
cachos, visando a melhorar a coloração e a maturação não realização da mesma, porém, nos últimos anos,
das bagas e reduzir a incidência das podridões do cacho há uma tendência mundial de realizar a desfolha de
(SMART et al. 1990; DISEGNA et al. 2005). Em termos forma antecipada, para que esses benefícios sejam
gerais visa equilibrar a relação folha/fruto. ainda maiores.
Por outro lado, a operação da desfolha deve ser Disegna et al. (2005) constataram que, quando
realizada com cuidado, respeitando as condições locais feita no estádio fenológico de grão “ervilha”, a desfolha é
do vinhedo, pois uma desfolha exagerada poderá trazer mais eficiente do que na virada de cor, para os efeitos de
283
Manejo do Dossel
284
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 47. Efeito das épocas de desfolha na fertilidade de gemas e na maturação tecnológica dos cachos
de videira Vitis vinifera L. var. Cabernet Sauvignon em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra
2015 e 2016.
Fonte: Wurz et al. (2017a).
*Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Scott Knott a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela
análise de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
285
Manejo do Dossel
Tabela 48. Efeito das épocas de desfolha na maturação fenólica dos cachos de videira Vitis vinifera L. var.
Cabernet Sauvignon em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra 2015 e 2016.
Fonte: Wurz et al. (2017).
Tabela 49. Efeito das épocas de desfolha na maturação tecnológica dos cachos da videira Vitis vinifera L.
var. Sauvignon Blanc em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra 2015 e 2016.
Fonte: Wurz et al. (2018).
consequência da exposição direta da baga à luz solar, ervilha” resultaram em valores superiores de polifenóis
e isto aumenta a temperatura nos cachos que, por sua totais. Uma uva tinta de qualidade deve conter uma
vez, aumenta a taxa de respiração celular, causando grande quantidade de compostos fenólicos e, nesse
degradação do ácido málico (CONDE et al. 2007). sentido, a desfolha tem sido um importante manejo
Para a maturação fenólica da variedade do dossel da videira para melhorar a quantidade
Cabernet Sauvignon (Tabela 48), submetida a e qualidade dos compostos fenólicos das bagas
diferentes épocas de desfolha, não houve efeito (MORENO et al., 2014), sendo a época de desfolha
no conteúdo de polifenóis totais na safra 2015, no um importante fator no acúmulo desses compostos
entanto, na safra 2016, as desfolhas realizadas nos (GATTI et al. 2012). Em estudo realizado por
estádios fenológicos “baga chumbinho” e “baga Moreno et al. (2014), foi observado que a desfolha
286
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 50. Efeito das épocas de desfolha no conteúdo de polifenóis totais e cor dos cachos da videira Vitis
vinifera L. var. Sauvignon Blanc em região de altitude elevada de Santa Catarina. Safra 2015 e 2016.
Fonte: Wurz et al. (2018).
Polifenóis Totais (mg L-1 ácido gálico) Cor (Abs 420 nm)
Época de Desfolha
2015 2016 2015 2016
Plena Florada 233,7 c 248,5 d 0,30 b 0,28 b
Grão Chumbinho 192,0 b 340,2 f 0,33 b 0,29 b
Grão Ervilha 203,8 b 275,6 e 0,32 b 0,33 b
Virada de Cor 205,0 b 218,4 c 0,33 b 0,28 b
15 dias após Virada de Cor 165,4 b 146,8 a 0,25 a 0,19 a
Sem Desfolha 127,2 a 178,3 b 0,21 a 0,21 a
CV (%) 7,2 4,3 8,1 7,4
*Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Scott Knott a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela
análise de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
287
Manejo do Dossel
das bagas tem mais influência no aumento da coloração Estudos realizados por WURZ et al. (2017b),
do que a luz (SPAYD et al. 2002; MORI et al. 2005); sobre o efeito de diferentes épocas de desfolha na
com isso, a desfolha propicia aumento da temperatura dinâmica temporal de B. cinerea na variedade Cabernet
na casca das bagas de Sauvignon Blanc, promovendo Sauvignon, demonstraram a eficiência do manejo da
aumento da coloração. desfolha na redução das variáveis epidemiológicas da
Outro benefício importante do manejo da podridão cinzenta nos cachos da videira, conforme
desfolha está relacionado com a redução da ocorrência apresentado na Tabela 51.
de podridões de cacho. Um dos principais fatores que Os resultados desse estudo evidenciam a
limitam a produção de uva é a ocorrência da podridão influência do manejo da desfolha da videira na
cinzenta ou podridão de Botrytis, causada pelo fungo incidência e severidade da podridão de B. cinerea, cujas
Botryotinia fuckeliana (de Bary) Whetzel, forma sexuada desfolhas precoces, aquelas realizadas nos estádios
de Botrytis cinerea Persoon ex Fries (ELLIS, 1971). fenológicos plena florada, grão chumbinho e grão
Atualmente, o controle de B. cinerea ervilha, apresentam-se como uma eficiente estratégia
baseia-se na aplicação de produtos químicos. No de redução da incidência e severidade. Além disso,
entanto, a dependência única a esse método de desfolhas precoces resultam em redução dos valores
controle não é sustentável, devido ao surgimento de AACPID (área abaixo da curva de incidência da
de resistência aos fungicidas nas populações de doença) e AACPSD (área abaixo da curva de progresso
B. cinerea nos vinhedos (LEROCH et al. 2011) e da doença), sendo um método eficiente de prevenção
aos efeitos adversos dos agrotóxicos sobre a saúde do desenvolvimento da doença na videira Cabernet
ambiental e humana (KOMAREK et al. 2010). Uma Sauvignon. As desfolhas precoces, nas duas safras
vez que o uso de agrotóxicos deve ser reduzido avaliadas reduziram a intensidade de B. cinerea na
no manejo integrado de doenças, alternativas não variedade Cabernet Sauvignon cultivada nas regiões
químicas, que reduzam a epidemia de doenças, de elevada altitude de Santa Catarina (WURZ et al.
estão ganhando importância (SHTIENBERG, 2007). 2017b).
Portanto, uma série de medidas de manejo do
dossel vegetativo se torna fundamental para 11.5.4. Raleio de cachos
aumentar a eficiência do controle de B. cinerea,
em especial o manejo da desfolha da videira, Dentro do manejo da planta, que pode in-
reduzindo o número de aplicações de fungicidas fluenciar na qualidade da uva, do mosto e dos vinhos,
para controle do patógeno. encontra-se o raleio ou a remoção dos cachos (PUER-
Além de propiciar uma melhor maturação TAS, 2003). O raleio de cachos tem por objetivo eli-
da uva, a desfolha é um importante método para minar o excesso de produção, o que favorece a qua-
o controle de B. cinerea. O desenvolvimento de B. lidade e reduz a heterogeneidade de maturação das
cinerea é fortemente influenciado pelo microclima na bagas, em situações onde a brotação da videira não
zona dos cachos que, através da desfolha, pode ser é regular (REGINA et al. 2006). O raleio de cachos
modificado, permitindo melhor aplicação de produtos pode ser considerado como uma correção do exces-
fitossanitários, menor período de molhamento foliar e so de carga deixada na poda, visto que cada planta ou
aumento da camada epiticular das bagas, de modo cultivar não deve suportar uma carga excessiva, e que
a reduzir o desenvolvimento da podridão cinzenta. possa interferir sobre a qualidade e o desenvolvimen-
(MOSSETTI et al. 2016; ZOECKLEIN et al. 1992). A to compatíveis com o seu vigor (HIDALGO, 1993).
remoção de folhas em torno dos cachos aumenta o Para uvas viníferas, a época mais adequada
potencial evaporativo nessa zona, reduzindo a umidade para realizar o raleio de cachos é a de virada de cor
e tornando o microclima menos propício para o das bagas (TARDÁGUILA, BERTAMINI, 1993). A vira-
desenvolvimento de doenças fúngicas (ENGLISH et da de cor ou “véraison” corresponde a uma variação
al. 1990), particularmente B. cinerea (GUBLER et al. brusca e importante de carboidratos nas bagas. Este
1987; ZOECKLEIN et al. 1992). enriquecimento rápido é resultado de uma modifica-
288
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 51. Incidência máxima (Imáx) (%), severidade máxima (Smáx) (%), área abaixo da curva de incidência
da doença (AACPID) e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPSD) na videira Cabernet
Sauvignon cultivada em regiões de elevada altitude de Santa Catarina durante as safras 2015 e 2016.
Fonte: Wurz et al. (2017b).
*Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Scott Knott a 5% de probabilidade de erro. ns = não significativo pela
análise de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
ção fonte-dreno, já que os produtos da fotossíntese (GIOVANINNI, MANFROI, 2009), porém com au-
cessam temporariamente sua circulação descendente mento de qualidade (FREGONI, 1998).
às partes arbóreas e se translocam, predominante- Em termos fisiológicos, o raleio de cachos
mente, aos cachos (drenos) (STOEV, IVANTCHEV, produz uma série de mudanças bioquímicas e fo-
1977). toquímicas nas plantas e seus cachos. O raleio de
O raleio de cachos é realizado visando ade- cachos realizados na virada de cor no cv. Cabernet
quar-se a carga de uvas à capacidade produtiva da Sauvignon tem demonstrado diminuição da fotos-
planta, para que esta possa amadurecer cachos síntese líquida por dois dias, porém a fotossíntese
de máxima qualidade, dentro do objetivo visado. total aumentou a concentração de açúcares nos ca-
Quanto à época de realização desta prática agro- chos ao diminuir o número de “drenos” por planta
nômica, existem inúmeras recomendações, as quais (IACONO et al. 1995).
vão desde a época anterior à antese até o momen- A eliminação do excesso de cachos tem a
to de virada de cor (CAHOON et al. 1990; TARDÁ- mesma função de uma poda, que é a de concen-
GUILA, BERTAMINI, 1993; IACONO et al. 1995; trar as atividades metabólicas nos órgãos que fo-
SCHALKWYK et al. 1996). No entanto, a época ram mantidos na planta; entretanto, ao contrário da
mais efetiva para a retirada dos cachos, no caso de poda dos ramos, o raleio não reduz a área foliar,
uvas para vinho (especialmente tintos), é a partir da aumentando a relação folha/fruto, de forma que
mudança de cor das bagas (TARDÁGUILA, BERTA- os cachos remanescentes sejam mais bem nutridos
MINI, 1993), quando ocorre uma diminuição no (LEÃO, RODRIGUES, 2009).
crescimento vegetativo da planta e os ápices dos O aumento da relação folha/fruto tem um
sarmentos não estão ativos, de forma que os car- efeito favorável sobre a disponibilidade e distri-
boidratos sintetizados pelas folhas serão destinados buição de nutrientes, aumenta o vigor da videi-
aos cachos (PUERTAS et al. 2003). Após a virada de ra e, por consequência, a fertilidade das gemas
cor, a uva não terá capacidade de divisão celular, (CHAMPAGNOL, 1984). Gil & Pszczolkowski
portanto não terá como aumentar o tamanho das (2007), concluem que, para melhorar a qualida-
bagas. Haverá uma diminuição na produtividade, de da uva, se deve manipular a relação folha/
em função do menor número de cachos que ficam fruto nas plantas realizando a poda, o desbrote
289
Manejo do Dossel
290
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 52. Índice de Ravaz (IR);Teor de sólidos solúveis (ºBrix) (SS), Acidez total (meq L-1) (AT) e
Potencial hidrogeniônico (pH) do mosto na safra 2009/10 e 2010/11; Polifenóis totais da casca (D.O.760)
(mg L-1 equivalente de ácido gálico) na safra 2010/11 (PT), realizados no momento da vindima da cv
‘Cabernet Franc’, segundo os níveis de raleio de cachos, ajustados na virada de cor, em 0%, 25%, 50% e
75%. São Joaquim/2012.
Fonte: Marcon Filho et al. (2015).
*Valores com sobrescritos minúsculos distintos em uma mesma coluna e maiúsculos em uma mesma linha são estatisticamente diferentes, de acordo
com ANOVA (P<0,05) e pelo teste de Tukey (P<0,05), respectivamente.
291
Manejo do Dossel
crescimento das bagas; e, finalmente, antecipar a plantados no sentido Norte-Sul (Figura 133) (GIL &
maturação (ROBERTO et al. 2002). Quando se visa PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
a este último objetivo, a técnica deve ser realizada A geometria tem o mesmo impacto na
durante a “véraison”, fase esta que corresponde ao intercepção de radiação solar do vinhedo que a
início do amolecimento das bagas nas variedades distância entre fileiras possui. Plantas que possuem
brancas, ou ao início da formação de cor nas bagas copas verticais tem maior interceptação na sua forma
das variedades de uvas rosadas ou pretas (CARREÑO retangular, se olhadas por cima, com a interceptação
et al., 1998; TERRA et al. 1998). Isso se deve ao fato sendo intermediária em copas de formato trapezoidal
de que, a partir desta fase fenológica, se observa um (base maior do que a parte de cima) e sendo menor
massivo acúmulo de açúcares nas bagas (MULLINS para copas de formato triangular (Figura 132).
et al. 1994). A antecipação da maturação pode ser Copas de formato horizontal de pouca
interessante em regiões de altitude elevada, onde o profundidade interceptam mais radiação do que copas
ciclo da planta é mais longo, iniciando a brotação verticais de mesmo volume, em condições de solo iguais
de forma antecipada e a maturação de forma (PALMER et al. 1987). Ao mesmo tempo, copas verticais
atrasada, quando comparada a regiões de menores permitem uma maior exposição de sua superfície.
altitudes. Nessas condições, existem variedades que As fileiras causam sombreamento nas outras, em
apresentam dificuldade de completar a maturação, alguns momentos do dia, principalmente na parte mais
podendo essa técnica ser útil, viabilizando o plantio basal da copa, piorando a situação de copas de forma
dessas variedades. retangular em relação a copas triangulares, tanto para luz
Alguns autores descrevem que o duplo direta como para a luz difusa (SMART, 1973; JACKSON,
anelamento, ou seja, quando o anelamento é realizado 1980). Copas verticais que economizem o espaço
após a fixação dos frutos e durante o véraison, pode entre fileiras (cortina dupla, por exemplo) aumentam a
trazer benefícios maiores quanto ao acúmulo de sólidos interceptação de radiação solar. O espaço entre fileiras
solúveis do que apenas quando aplicado uma só vez; deve ser reduzido ao mínimo necessário, para que haja
mas a resposta na antecipação da maturação depende maior interceptação de radiação solar (Figura 134). Os
da cultivar empregada (Carreño et al. 1998). efeitos do tamanho e da forma da copa se mantêm em
Roberto et al. (2002) observram que o anelamento latitudes entre 12,5º e 43º (SMART, 1973).
do tronco, realizado três semanas após o florescimento, Quanto à orientação, as fileiras orientadas Norte-
bem como o realizado durante o véraison, antecipam a Sul (N-S) recebem maior interceptação de radiação em
maturação, resultando em incrementos diários superiores baixas latitudes (menores do que 40º), o sombreamento
de açúcares em relação às plantas não aneladas. O tem menor importância e a distância entre fileiras deve
anelamento, independentemente de quando realizado, ser a menor possível (CAIN, 1972; SMART, 1973;
não altera o padrão de decréscimo da acidez total titulável JACKSON, 1997). Por sua vez, fileiras orientadas oeste-
das bagas. O duplo anelamento não apresenta efeito leste (O-L) tem sua maior porcentagem de interceptação
positivo na antecipação da maturação; e não resulta em de radiação a latitudes altas. A orientação N-S também
alterações nas características físicas dos cachos. proporciona uma interceptação de radiação igual
para os dois lados da copa. Para a orientação O-L, o
11.5.6. Projeto do vinhedo lado direcionado ao a linha do Equador terá a maior
interceptação, variando de entre 60% (latitude 23º)
O projeto do vinhedo tem interferência direta e 94% (latitude 54º), condição essa que pode ser
em fatores como a interceptação de luz no dossel, assim amenizada adotando copas de pequeno porte.
como o seu índice de área foliar. A interceptação de A densidade da copa também afeta a
radiação solar aumenta com o tamanho das plantas interceptação de radiação. Copas onde a área foliar
(altura e largura) em relação à distância entre copas, se mantém, mesmo aumentando a altura de copa,
ou seja, a interceptação aumenta com a diminuição distribuem melhor a luminosidade, devido aos espaços
da distância entre linhas de plantio, em vinhedos existentes nesse dossel (Figura 135). De acordo com
292
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
293
Manejo do Dossel
latitude, é necessário que se aumente o espaçamento Logo, quanto menor é a altura da copa, menor
entre as fileiras quando a latitude passa de 45º, de modo a diferença no cálculo de fileiras nos dois sentidos.
que a base da fileira tenha uma hora a mais de luz por Diminuindo a latitude, as filas devem estar mais próximas,
incremento de 5º de latitude, o que equivale a um avance porém as fileiras no sentido O-L vão perdendo exposição
da posição do sol em um ângulo de 15º (tg λ, aumento da zona baixa da copa, o que se torna inconveniente em
de 0,27) (Figura 137 B): latitudes menores a 25º.
Latitude 40º, D = h .(1-[0,27/2]) = 1,00 x 0,865 = 0,865 m ALMANZA, P. M. et al. Physicochemical charac-
294
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Fígura 137. Ângulo do raio solar (λ) ao meio dia, na primavera ou outono, em latitude de 45º entre duas
fileiras orientadas no sentido O-L , que determina uma distância entre copas (Dc) de 1,25 m segundo
a altura da copa (h) de 1,25 m (Dc = h. tg. λ). Neste exemplo, a largura de copa é de 0,5 m. (A) . Copa
orientada no sentido N-S em latitude de 45º, com 0,33 m de largura da copa em uma distância entre
filas igual à altura da planta. Por exemplo, com um a planta com 1 m de altura, deve-se agregar a largura
da copa, considerando 1,33 m a distância entre plantas. Com a latitude maior em 5º (50º, A), deve-se
aumentar a distância em 0,27 m, que corresponde a tangente maior em 15º do ângulo (λ), para que haja
uma hora de luz adicional; a menor latitude (40º, B) se diminui 0,13 m, que corresponde a metade da
tangente do ângulo de 15º. (B)
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12. Reguladores de
Crescimento
Leo Rufato
Cristiane A Rota
Adrielen Tamiris Canossa
Douglas André Würz
12.1 Introdução
O
s reguladores de crescimento são
substâncias químicas, naturais ou
sintéticas que estão envolvidas
em todos os processos do crescimento e
desenvolvimento das plantas. A resposta
fisiológica é específica e se dá através de
uma série de eventos coordenados, no
âmbito das células, por um sistema de sinais,
produzindo alterações sincronizadas no
crescimento e/ou metabolismo celular, em
diferentes partes da planta. (BARRUETO,
2005). São sinais produzidos em uma célula
que modulam processos celulares em
outra célula (TAIZ, 2013). Os fitormônios
vegetais estão diretamente relacionados
com as alterações morfológicas e fisiológicas
das plantas, agindo na germinação, no
crescimento no desenvolvimento e nas fases
de reprodução, de senescência e abscisão
das mesmas (VIEIRA et al., 2010). À medida
que os reguladores foram sendo estudados,
observou-se o comportamento, a sintetização
e as rotas realizadas por essas substâncias.
Os cinco grupos mais estudados de
fitormônios e reguladores de crescimento
(sintéticos), porém com um número
de experimentos reduzido em videiras,
compõem-se de: auxinas, citocininas,
giberelinas, etileno e ácido abscísico. Em
estudos mais recentes, outros grupos de
307
Reguladores de Crescimento
(1) Auxina, Giberelina, Citocinina e Ácido Abscísico-origem provável: endógena (bagas) e exógena (órgãos vegetativos)
(2) Etileno origem endógena (bagas).
(3) D= divisão celular; EC= expansão celular; A= alongamento do broto; SF= senescência foliar; QF= queda foliar; E= enraizamento; + (positivo),
- (negativo).
308
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
309
Reguladores de Crescimento
mento e, depois, à região central das lâminas – essa A auxina está, diretamente, envolvida em ou-
mudança ocorre devido à correlação com a sequência tros processos importantes do crescimento da célula,
basípeta de maturação foliar e de diferenciação vascular como: aumento na absorção de solutos osmóticos e
(KERBAUY, 2017). atividade de enzimas relacionadas à biossíntese de
polissacarídeos de parede.
12.2.4. Funções
Diferenciação celular
A formação e o desenvolvimento da planta de-
pendem da capacidade de cada célula de se dividir e A ação da auxina está envolvida no controle
se diferenciar, constituindo a formação de tecidos. A da diferenciação celular. Novos tecidos vasculares
divisão celular depende de inúmeros fatores da capaci- diferenciam-se abaixo das gemas em desenvolvi-
dade de percepção de determinados sinais, tais como mento e de folhas jovens em crescimento (TAIZ,
os níveis hormonais, assimilação de nutrientes, luz, ZEIGER, 2013). Essa diferenciação vascular, que
temperatura, dentre outros (KERBAUY, 2017). ocorre nos eixos caulinares em função dos níveis
de auxina produzida nas folhas jovens, é um exemplo
Expansão Celular da ação desse hormônio, sendo possível observar
que a continuidade do tecido xilemático ao longo
No processo de expansão celular, as auxinas do vegetal resulta do transporte polar da auxina – do
participam aumentando a flexibilidade da parede ápice para as raízes. É o nível endógeno do hormônio
celular, permitindo a entrada de água na célula (WEA- que controla a diferenciação de elementos vasculares
VER, 1974). O suprimento constante de auxina levado (KERBAUY, 2017).
até à região subapical do caule ou do coleóptilo, é No caso de tecidos injuriados por ação mecâ-
indispensável ao alongamento contínuo das células nica, ocorre a rediferenciação de células do parên-
(TAIZ, ZEIGER, 2017). No caso da produção de quima em elementos condutores vasculares (xilema
auxina endógena no nível ótimo nessa região de e floema) (KERBAUY, 2017).
expansão, a aspersão de auxina exógena vai acarre-
tar um modesto e breve crescimento. Caso a fonte Dominância apical ou Inibição correlativa
endógena de auxina seja removida pela retirada das
regiões contendo as zonas de alongamento, a taxa O domínio da gema apical inibe o crescimento
de crescimento cai a um baixíssimo nível basal. Na das gemas laterais (axilares), mesmo essas apresentan-
maioria dos casos, essas regiões retiradas respon- do potencial de desenvolvimento. A ação de retirada
dem prontamente à auxina exógena, aumentando da gema apical (desponte) permite o desenvolvimen-
o crescimento aos níveis apresentados pela planta to das gemas axilares. O fenômeno de dominância
intacta (TAIZ, ZEIGER, 2017). apical está relacionado com a ação polar do AIA.
As células vegetais podem aumentar seu volume A auxina transportada em direção basípeta, a partir
de 10 até 100 vezes, sem que percam a integridade do ápice, inibe o crescimento das gemas laterais;
mecânica. Esse aumento ocorre pela entrada de água e essa dominância da gema apical pode ser inter-
e é um processo regulado pelo vacúolo. Para que haja rompida pela aplicação direta de citocinina sobre a
a expansão da parede celular, que é rígida, é essen- gema lateral. Estudos demonstram correlação entre
cial que a mesma seja afrouxada. Tal mecanismo de a inibição do crescimento da gema axilar e o teor de
afrouxamento e extensibilidade seria explicado pela ácido abscísico (ABA) na gema (KERBAUY, 2017).
acidificação da parece celular, provocada pela ação Deve-se compreender que a dominância
da auxina, que estimula a célula a excretar prótons. O apical é um processo no qual se deve considerar
abaixamento do pH ativa uma ou mais enzimas, com o balanço hormonal endógeno entre auxinas/cito-
pH ácido ótimo, que causariam o afrouxamento da cininas e ABA/citocininas e suas concentrações no
parece celular (KERBAUY, 2017). tecido vegetal.
310
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
311
Reguladores de Crescimento
B1 B2
naftalenoacético) provocaram atrasos na brotação. Quando utilizados 200 mg L-1, em 2012, foram neces-
Weaver (1976), avaliou doses de 100 a 200 mg L-1 de sários 32 dias para brotação e, ao utilizar 250 mg L-1,
ANA. Concentrações de 1000 mg L-1 foram testadas em 2013, 40 dias. Com a aplicação de 400 mg L-1 de
por Qrunfleh & Read (2013), resultando em nove dias ANA, em 2012, as estacas atingiram 50% de brotação
de atraso na brotação. Em 2014, Loseke confirmou aos 34 dias após tratamento, e com o uso de 500 mg
os resultados mencionados com igual metodologia e L-1, em 2012, 39 dias (Figura 138).
resultado (VILLAR, 2015). Em 2012 e 2013 um experi- Em São Joaquim, com a aplicação de ANA via
mento testado por Larissa Villar, avaliou o uso do ácido lanolina nas concentrações de 1000 e 2000 mg L-1 , no
naftalenoacético na variedade Chardonnay, cultivada na ciclo 2013/2014, foram observados, em média, 9 e 11 dias
região da Serra Catarinense. A pesquisadora confrontou de atraso da brotação em relação à testemunha, respec-
diferentes acúmulos de horas de frio e diferentes con- tivamente. Porém, na avaliação do percentual de gemas
centrações de ANA. Na safra de 2012 no experimento mortas, pode-se observar pela primeira vez a informação
em que as concentrações de ANA variaram de 50 mg L de que danos por fitotoxicidez foram causados por ANA
-1
a 400 mg L-1, obteve-se a tendência de maior atraso na (Figura 139). Gemas primárias mortas foram encontradas
brotação com o aumento da concentração do regulador após a aplicação de ambas as concentrações desta au-
de crescimento. Da mesma forma, ocorreu em 2013, xina sintética, enquanto plantas de videira testemunhas
quando se aumentou o número de horas de frio e as não apresentaram este problema, mostrando 100% de
concentrações de ANA, variando de 500 mg L-1 a 4000 gemas brotadas no momento da amostragem. A perda de
mg L-1 ; as respostas mostraram que o número de dias gemas, portanto, não está relacionada apenas à duração
de atraso na brotação aumentou com o aumento das do atraso da brotação ou ao longo período de avaliação
concentrações (VILLAR, 2015). (VILLAR, 2015).
Em relação ao experimento realizado em 2012, No grupo das auxinas sintéticas mais utilizadas na
em São Joaquim/SC, houve certa similaridade entre videira, encontra-se também o ácido indol-3-butírico. A
tratamentos com faixas próximas de ANA. Testemunhas sua aplicação promove não só o aumento do número
levaram, em ambos os anos, 19 dias para brotação. de raízes como também melhora a qualidade daquelas
312
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
313
Reguladores de Crescimento
se abrindo e a GA4 detectável na frutificação (GIL, São sintetizadas em locais onde há maior intensi-
PSZCZÓLKOWSKI, 2015). dade de divisão celular, como no ápice em crescimento,
As plantas possuem, em média, 10 ou mais gi- ápice de novas raízes, folhas jovens e sementes de fru-
berelinas diferentes, sendo que estas sofrem constantes tas, onde são encontradas em maiores concentrações
variações nos tipos predominantes dessas substâncias (PETRI et al. 2016), também são encontradas na seiva
entre as espécies vegetais (KERBAUY, 2017). durante a primavera, nos estames no momento da
floração, nos ovários das variedades partenocárpicas
12.3.1. Transporte (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2015).
As giberelinas são quimicamente complexas, per-
Algumas pesquisas demonstram que as gibe- tencentes aos diterpenóides tetracíclicos, constituídos por
relinas são produzidas nos próprios locais de ação ou quatro isoprenóides (KERBAUY, 2017). A via biossintética
próximos a eles. Porém, uma linha forte de evidências deste hormônio, na maioria das plantas, é dividida em três
sugere que o transporte de giberelinas ocorre dentro fases, sendo separadas em relação a compartimentação
de diferentes tecidos vegetais (KERBAUY, 2017). Verifi- subcelular dos compostos envolvidos, como as enzinas
cou-se que diferentes fases da biossíntese de AG ocor- e os substratos (KERBAUY, 2013).
riam em locais distintos do embrião; e outros estudos
corroboraram a existência de transporte de giberelinas 12.3.4. Funções
entre os tecidos vegetais. Hipóteses sugerem que inter-
mediários da biossíntese de AG possam ser transporta- Esses hormônios vegetais possuem papéis im-
dos dos tecidos meristemáticos caulinares apicais para portantes em todos os estágios de desenvolvimento das
as folhas e ali serem convertidos em giberelinas ativas plantas e, assim como os demais hormônios, sua ação
(KERBAUY, 2017). está integrada a outros hormônios vegetais.
As giberelinas estão relacionadas a inúmeros
12.3.2. Mecanismos de ação processos de crescimento no desenvolvimento vege-
tal, tais como: divisão celular, crescimento, inibição da
O pesquisador Ueguchi-Tanaka (2005) identi- indução floral e o retardo do processo de senescência
ficou o receptor de giberelina em arroz (GID1 – GA (PETRI et al. 2016); também influenciam o crescimento
Insensitive DWARFI), elucidando a cascata de sinali- caulinar, a quebra de dormência e a indução de par-
zação desse hormônio. A sinalização das giberelinas tenocarpia (BARRUETO CID, 2005). Além disso, têm
se dá por meio de um sistema de desrepressão da a função de estimular a produção de auxina, evitando
expressão de genes de respostas a AG, o qual é de- sua degradação (FREGONI, 1998).
pendente da ligação da molécula do hormônio ao
receptor de GID1, sendo modulado por proteínas Germinação de Sementes e Quebra de Dormência
nucleares denominadas de proteínas DELLA (KER-
BAUY, 2017). São as proteínas DELLA que atuam As giberelinas agem de forma antagônica ao
como repressores da sinalização de giberelinas, e a ácido abscísico (ABA) no que diz respeito à dormên-
inativação e degradação dessas proteínas pode ser cia de sementes. Estudos propõem que as giberelinas
o desencadeamento da sinalização de giberelinas não estariam envolvidas, diretamente, no processo de
(KERBAUY, 2017). dormência, mas sim no controle da germinação. Em
combinação com as citocininas, a GA pode substituir a
12.3.3. Locais de síntese necessidade de vários sinais ambientais para promover
a germinação, minimizando os efeitos de inibição do
Os principais sítios de biossíntese de giberelinas ABA (KERBAUY, 2017).
são as sementes, frutos em desenvolvimento e tecidos As funções principais das giberelinas, durante
em rápido crescimento. Nas raízes, a distribuição é mais a germinação, estão relacionadas à superação da bar-
efetiva nas regiões mais jovens. reira mecânica conferida pelas camadas da casca da
314
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
315
Reguladores de Crescimento
nha, para 58,95% nos ramos tratados com cycocel rosas de Cabernet Sauvignon não substitui a prática
a 2.500mg L-1. O efeito do cycocel de aumentar a de desponte (MARCHI et al. 2015).
fertilidade de gemas nas videiras é dado pela redução A aplicação de giberelinas na concentração
do crescimento vegetativo, evitando o sombreamento de 100 ppm na pós floração, promove também au-
das gemas, e pela inibição da síntese de giberelina mento nos entrenós, no peso das inflorescências,
endógena, o que aumenta a relação citocinina/gibere- número e peso das bagas e alongamento da ráquis,
lina endógena (Reddy, Shikhamany,1989). O cycocel o que contribui para a formação de inflorescências
também aumentou de forma linear a proporção com distribuição das bagas de forma mais adequada
de gemas férteis entre a 1ª e a 5ª gema basal, com (GIL; PSZCZÓLKOWSKI, 2015; CASTRO et al. 1974).
aumento de 22,4% na testemunha, para 31,6% em Porém, uma maior concentração pode provocar
ramos tratados com cycocel a 2.500mg.L-1. Em con- clorose pela nutrição inadequada e crescimento
trapartida, nas variedades Vitis vinifera, as giberelinas acelerado (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2015). A ação
possuem efeitos controversos. O ácido giberélico, das giberelinas se dá pela absorção das paredes do
quando aplicado em plena floração, pode promover ovário (FREGONI, 1998).
menor pegamento de flores e o alongamento da rá- Dentre os inibidores da síntese de giberelina,
quis, deixando os cachos mais soltos (RODRIGUES, cita-se o cloreto de cloroclina, conhecido comercial-
2008). Se aplicado 15 dias após o florescimento, ou mente pela nomenclatura de Chlormequat, Cycocel
quando as bagas alcançarem 3-5 mm de diâmetro, ou CCC. A molécula química age como retardador
ele pode aumentar o tamanho das mesmas (PIRES, de crescimento pela ação inibitória da síntese de gi-
BOTELHO, 2001), sendo esta alternativa indesejada berelina endógena. O fitorregulador Prohexadiona de
para as variedades V. vinifera destinadas à elaboração Cálcio (ProCa) também é um inibidor da biossíntese
de vinhos finos, devido à redução da relação casca/ de giberelinas que reduz o crescimento vegetativo
polpa. Uma possibilidade sobre o mecanismo de e pode ser uma alternativa de rápida resposta para
expansão celular é a hidrólise do amido, resultante da equilibrar o vigor de plantas de videira. A Prohexadio-
produção da α-amilase gerada pelas giberelinas, que na de Cálcio atua na hidroxilação 3-ß da GA20 para
pode incrementar a produção de açúcares, elevando GA1. Seu principal efeito é o aumento nos níveis de
a pressão osmótica no suco celular e expandindo a GA20, forma inativa e móvel e a redução da GA1, que
célula pela entrada de água (PIRES, 1998). é biologicamente ativa e imóvel (EVANS et al. 1999).
Estudos demonstram que o uso de inibidores A aplicação de ProCa em videiras tem sido testa-
na ação das giberelinas é utilizado para controle do da em alguns países do hemisfério Norte. Em Portugal,
vigor vegetativo. Em regiões, como a Serra Catari- Mota et al. (2010) verificaram para a uva Alvarinho (Vitis
nense, que possuem como obstáculo o excesso de vinífera L.), que a aplicação de ProCa na dose de 1,5kg
vigor, é interessante observar os resultados referentes ha-1 do produto comercial, no estádio de inflorescência
a esses estudos para buscar alternativas adequadas a separadas e início da floração ocasiona redução do
essa realidade e, assim, garantir a qualidade enológi- crescimento vegetativo, sem perda de produtivida-
ca. Na avaliação de um experimento com Cabernet de e qualidade do mosto. Nos Estados Unidos, em
Sauvignon na Serra Gaúcha, pode-se observar que trabalho realizado por Lo Giudice et al., (2003), com
doses isoladas de Prohexadiona de Cálcio (Viviful®), aplicações de ProCa (250 mg L-1) antes e depois da
e Etiltrinexapac (Moddus®), de 250 e 500 mg i.a.L-1 florada, obtiveram redução do crescimento primário
na floração, e a aplicação da dose de 250 mg i.a.L-1 dos ramos de Cabernet Sauvignon, mas esta redução
em duas vezes na floração e 15 dias após a floração não foi persistente e a realização de desponte dos ramos
e três vezes - floração, 15 e 30 dias após floração e foi necessária. Em outro estudo, Lo Giudice et al. (2003)
controles de desponte. Os resultados apontaram que obtiveram significativa redução na produtividade da
não houve diferença entre os produtos com relação uva ‘Cabernet Sauvignon’.
às características físico-químicas e, de maneira geral, Em contrapartida, em estudo realizado no Brasil,
o uso de inibidores de giberelinas em plantas vigo- verificou-se maior produtividade desta variedade quan-
316
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 54. Doses e épocas de aplicação de Prohexadiona de Cálcio, na cultura da videira Cabernet
Sauvignon, em São Joaquim, durante o ciclo 2014/2015.
Fonte: UDESC/CAV, 2014.
1 Controle 0
3 ProCA 250 Plena floração (PF)
4 ProCA 250 30 dias após Plena Floração (DAPF)
250 PF
8 ProCA
250 30 dias APF
Tratamento Dose (mg.L-1) Época Comprimento Entre Nó (cm) Produtividade (t ha-1) Cachos. Planta-1
do se aplicou ProCa na plena florada e 45 dias após Floração (PF) e 30 dias após Plena Floração (DAPF).
a florada, ambas na dose de 250 mg L-1 (Mario et al., (Tabela 54)
2012). Villar et al., (2011) também observaram maior Os resultados obtidos com a aplicação de Prohe-
produtividade na uva Grano D’Oro (Vitis labrusca L.), xadiona de cálcio (ProCa) aos 30 (DAPF), na dose de 250
com a utilização da mesma dose do fitorregulador, mas mg L-1 e a aplicação da dupla dose (250 PF+250 30DAPF)
com apenas uma aplicação na plena florada. proporcionaram os menores incrementos no crescimento
Em região de altitude, foram conduzidos dois dos ramos da videira Cabernet Sauvignon, na ordem de
experimentos em São Joaquim, SC (28°17’38” S e 21 e 41%, respectivamente (Figura 140). Em plantas sem
49°55’54” W, altitude 1.250 m) com a variedade Ca- aplicação, observou-se um incremento de 82%.
bernet Sauvignon enxertada sobre Paulsen 1103. O As plantas do tratamento controle expressaram o
produto utilizado foi o Viviful® com 27,5% de Prohe- maior crescimento de entre nós dos ramos (Figura 142),
xadiona de cálcio. chegando ao final do ciclo com uma média de 7,4 cm
Foram realizados dois experimentos com os de entre nó (Tabela 55). Os tratamentos 250 mg L-1PF
seguintes tratamentos: e 250 mg L-130 DAPF proporcionaram redução de 16 e
No experimento 1, foram aplicadas doses de 250 18% no comprimento entre nó, respectivamente (Figura
mg/L -1 em dois períodos fenológicos distintos: Plena 141). A aplicação de ProCa na plena florada não foi
317
Reguladores de Crescimento
Figura 140. Incremento (%) no comprimento na produtividade. Este paralelo entre produtividade e
médio dos ramos da videira ‘Cabernet Sauvignon’ comprimento entre nó, indica que as plantas subme-
submetida à aplicação de Prohexadiona de Cálcio, tidas à aplicação de Prohexadiona de cálcio estavam
em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, em maior equilíbrio nas relações fonte-dreno, quando
ciclo 2014/2015. comparadas ao controle.
Fonte: UDESC/CAV, 2014/15. A produtividade do vinhedo pode ser explicada
pelo número de cachos por planta e pela massa média
do cacho. O número de cachos por planta não diferiu
significativamente entre os tratamentos (Tabela 55), porém
o tratamento de Prohexadiona de cálcio proporcionou a
maior massa de cacho, o que explica a maior produtividade
observada neste tratamento (Tabela 56).
Dentre as características dos cachos, todos
os tratamentos com ProCa proporcionaram maior
número de bagas em relação ao controle. A apli-
cação feita na plena florada aumentou em 54% o
número de bagas por cacho, em comparação com o
tratamento controle. Além disso, observou-se efeito
da ProCa na diminuição da massa das bagas em
relação ao controle. O tratamento de dupla dose
(PF=Plena Floração; 30DAPF=30 Dias Após a Plena Floração). conferiu a maior redução na massa das bagas, que
*
Médias seguidas de letras minúsculas distintas diferem entre si pelo teste
de comparação de médias de Duncan, ao nível de 5% de significância. foi de 28% menor em relação ao tratamento controle.
Esta redução pode explicar a baixa produtividade
deste tratamento.
efetiva na redução do incremento no crescimento dos Sobre as variáveis de maturação tecnológica
ramos, porém apresentou menor comprimento entre das bagas, não houve efeito dos tratamentos (Tabela
nó (6,2 cm) indicando a presença de maior número de 57). Todavia, constata-se que, mesmo com os efeitos
gemas. Além disso, propiciou um incremento de 23% na redução de características de vigor e aumento da
Tabela 56. Características físicas dos cachos da videira ‘Cabernet Sauvignon’ submetida à aplicação de
prohexadiona de cálcio, em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, ciclo 2014/2015. (PF=Plena
Florada; 30DAPF=30 Dias Após a Plena Florada).
Fonte: UDESC/CAV, 2015.
Dose (mg.L-1) Época Massa Cacho (g) Ráquis/Cacho (%) Bagas. Cacho-1 Compactação Diâmetro baga (cm) Massa de Baga (g)
318
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
produtividade, a maturação das bagas se manteve se- Neste segundo experimento, os tratamentos
melhante, o que leva à consideração de que as plantas foram subdivididos em doses maiores, aplicados em
atingiram seu equilíbrio ou que é possível aumentar diferentes fases fenológicas. (Tabela 58)
ainda mais a produtividade do vinhedo. Esta observação Os resultados relacionados ao vigor vegetativo
vale mais para o teor de sólidos solúveis, que depende podem ser observados na Tabela 59. Observou-se
mais da competição por fotoassimilados com os ápices redução no crescimento de ramo com a aplicação de
dos ramos do que para o pH e a acidez, que apresentam Prohexadiona de Cálcio. As plantas com aplicações
maior tendência de variar seus teores de acordo com no estádio fenológico de inflorescência separada
o ambiente em que as uvas são produzidas. apresentaram menor crescimento de ramos ao final
Tabela 57. Maturação tecnológica de bagas da videira ‘Cabernet Sauvignon’ submetida à aplicação de
prohexadiona de cálcio, em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, ciclo 2014/2015. (PF=Plena
Floração; 30DAPF=30 Dias Após a Plena Floração).
Fonte: UDESC/CAV, 2014.
Tabela 58. Doses e épocas de aplicação de Prohexadiona de Cálcio, na cultura da videira Cabernet
Sauvignon, em São Joaquim, durante o ciclo 2014/2015.
Fonte: UDESC/CAV, 2014.
319
Reguladores de Crescimento
Sem P- Ca Com P- Ca
Sem P- Ca Com P- Ca
do ciclo em relação à testemunha, tanto na dose de das plantas em relação à testemunha, exceto
500 mg L-1, ou então com dose parcelada de 250 para as aplicações de 500 mg L -1 em 15 DAPF e
mg L-1 na inflorescência separada + 250 mg L-1 no 250+250 (IS+PF).
estádio de plena floração. Os índices produtivos da variedade Cabernet
Com relação ao comprimento do entre Sauvignon, exceto o número de cachos por planta,
nó, observou-se redução para os tratamentos foram afetados pela aplicação de Prohexadiona de
de 500 mg L -1 aplicados, tanto na inflorescência Cálcio (Tabela 60). Observou-se uma redução da pro-
separada quanto na plena floração, bem como dutividade dos diferentes tratamentos em relação ao
o tratamento combinado de 250 mg L -1 + 250 controle, exceto nos tratamentos com aplicação de
mg L -1 aplicados na plena florada e 15 dias após 500 mg L-1 de ProCa 15 (DAPF) e na aplicação com-
a plena florada. A aplicação de Prohexadiona binada de 250 mg L-1 de ProCa no estádio fenológico
de Cálcio propiciou uma redução na área foliar de Inflorescência separada + 15 (DAPF).
320
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 59. Crescimento vegetativo da videira ‘Cabernet Sauvignon’ submetida à aplicação de Prohexadiona
de cálcio, em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, ciclo 2014/2015. (IS=Inflorescência Separada;
PF=Plena Florada; 15DAPF=15 Dias Após a Plena Florada).
Fonte: UDESC/CAV, 2014/15.
Tratamento Doses (mg L-1) Épocas Incremento (%) Comprimento entre nó (cm) Área foliar/planta (m²)
1 0 - 155.5 a 6.0 a 8.3 a
2 500 IS 98.5 b 5.2 b 5.5 b
3 500 PF 156.6 a 5.0b 5.2 b
4 500 15 DAPF 103.9 b 6.5 a 7.2a
5 250+250 IS + PF 127.4 b 6.0 a 8.6 a
6 250+250 IS + 15 DAPF 113.8 b 5.3 b 5.8 b
7 250+250 PF + 15 DAPF 142.6 a 6.3 a 6.8 b
CV (%) 9,80 9,7 14,0
p-value 0,0054 0,006 0,000
*Médias seguidas por letras minúsculas distintas na coluna diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.
Tratamento Doses (mg L-1) Épocas Produtividade (t ha-1) Cachos. Planta-1 Área foliar (cm² g-1)
1 0 - 7.4 a 29 a 30.8 b
2 500 IS 4.6 b 32 a 34.6 b
3 500 PF 5.1 b 28 a 27.0 b
4 500 15 DAPF 6.4 a 30 a 29.4 b
5 250+250 IS + PF 6.0 a 27 a 42.2 a
6 250+250 IS + 15 DAPF 3.5 c 23 a 47.5 a
7 250+250 PF + 15 DAPF 4.8 b 30 a 39.3 a
CV (%) 20,9 15,5 15,4
p-value 0,012 0,104 0,000
*Médias seguidas por letras minúsculas distintas na coluna diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.
Esse comportamento pode ser explicado pela apresentou maior número de bagas/cacho, o que
redução da massa de bagas e consequentemente resultou em uma maior massa de bagas em relação
na massa de cachos dos tratamentos submetidos às demais aplicações de ProCa, apresentando, assim,
à aplicação de ProCa. Já para os tratamentos 500 uma maior produtividade. Além disso, as plantas
mg L-1 de ProCa aplicado 15 (DAPF) e a aplicação submetidas à aplicação de 500 mg L-1 15 (DAPF) e
combinada de 250 mg L-1 de ProCa no estádio fe- os tratamentos combinados de ProCa resultaram em
nológico de Inflorescência separada + 15 (DAPF) menor diâmetro de bagas.
321
Reguladores de Crescimento
A relação entre área foliar e produção por planta aplicação de Prohexadiona de Cálcio nos metabólitos
foi menor para o tratamento controle e nas aplicações primários da uva.
isoladas de ProCa. As aplicações combinadas de ProCa De maneira geral, a aplicação de Prohexadiona
resultaram em plantas com maior relação área foliar de Cálcio na dose de 250 mg L-1, realizada na fase de
x produção por planta. O balanço da videira é, geral- PF, aumentou em 23% a produtividade da variedade
mente, expresso pela relação entre a área foliar (cm2) Cabernet Sauvignon. Este aumento da produtividade
e a massa dos frutos (g) e é importante a determina- esteve relacionado com a maior massa de cacho e com
ção destes parâmetros, a fim de facilitar as tomadas o maior número de bagas por cacho. A Prohexadiona
de decisão no manejo do vinhedo. A literatura tem de Cálcio, aplicada na fase de inflorescência, separa-
relatado um intervalo de 7 a 14 cm² g-1 para alcançar a da, reduz o crescimento dos ramos. Porém, devido às
maturação da uva. Os resultados obtidos indicam que condições de excesso de vigor do vinhedo, a redução
a produção de uvas com qualidade para a produção no crescimento não eliminou a necessidade da rea-
de vinhos finos está assegurada por uma área foliar lização do desponte dos ramos. Houve redução na
adequada (Figura 61). No entanto, verifica-se que a massa da baga da variedade Cabernet Sauvignon, com
relação entre a área foliar e a produção está muito a aplicação de Prohexadiona de Cálcio, característica
acima dos limites considerados adequados, o que de- positiva na elaboração de vinhos tintos. A aplicação de
monstra haver um crescimento vegetativo excessivo e, Prohexadiona de Cálcio, nas doses e épocas utilizadas
portanto, a necessidade de ajuste do manejo do dossel, em ambos os ensaios, não influenciaram na maturação
para promover o equilíbrio dos vinhedos de altitude em tecnológica (Sólidos solúveis, Acidez e pH) da uva
todos os tratamentos. Cabernet Sauvignon.
As diferentes concentrações e épocas de apli- Fagherazzi et al. (2017) conduziram experi-
cação de Prohexadiona de Cálcio não interferiram na mentos com o uso de diferentes doses do fitoregu-
maturação tecnológica (Sólidos Solúveis, pH e Acidez) lador Stimulate®, composto de 0,009% de cinetina
das uvas produzidas (Tabela 62). Resultados seme- (citocinina), 0,005% de ácido giberélico (giberelina) e
lhantes foram obtidos por Lo Giudice et al. (2003) e 0,005% de ácido indolbutírico (auxina). O experimento
por Villar et al. (2011), que não observaram efeitos da foi realizado no município de Muitos Capões - RS, na
Tabela 61. Características dos cachos da videira ‘Cabernet Sauvignon’ submetida à aplicação
de Prohexadiona de cálcio, em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, ciclo 2014/2015.
(IS=Inflorescência Separada; PF=Plena Florada; 15 DAPF=15 Dias Após a Plena Florada).
Fonte: UDESC/CAV, 2015.
Tratamento Doses (mg L-1) Épocas Massa Cacho (g) Bagas.Cacho-1 Diâmetro baga (cm) Massa baga (g)
1 0 - 93.3 a 62 b 1.4 a 1.6 a
2 500 IS 55.3c 58 b 1.4 a 1.4 b
3 500 PF 72.6 b 67 b 1.4 a 1.4b
4 500 15 DAPF 80.0 b 77 a 1.3 b 1.3 b
5 250+250 IS + PF 80.9 b 83 a 1.3 b 1.4 b
6 250+250 IS + 15 DAPF 58.7 c 60 b 1.3 b 1.3 b
7 250+250 PF + 15 DAPF 59.1 c 62 b 1.3 b 1.4 b
CV (%) 13,0 11,5 3,0 4,0
p-value 0,000 0,011 0,015 0,000
*Médias seguidas por letras minúsculas distintas na coluna diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro. *
322
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 62. Composição das bagas da videira ‘Cabernet Sauvignon’ submetida à aplicação de prohexadiona
de cálcio, em doses e épocas diferentes, em São Joaquim-SC, ciclo 2014/2015. (IS=Inflorescência Separada;
PF=Plena Florada; 15DAPF=15 Dias Após a Plena Florada).
Fonte: UDESC/CAV, 2015.
Tratamento Doses (mg L-1) Épocas Sólidos Solúveis (°Brix) Acidez Titulável (meq.L-1) pH Polifenois totais (mg.L-1 ácido
gálico)
1 0 - 17.9 a 174.5 a 3.05 a 190.5 a
2 500 IS 17.3 a 164.9 a 3.06 a 156.9 b
3 500 PF 18.2 a 173.0 a 3.10 a 143.8 b
4 500 15 DAPF 18.2 a 153.6 a 3.12 a 165.3 b
5 250+250 IS + PF 17.7 a 173.7 a 3.05 a 165.5 b
6 250+250 IS + 15 DAPF 17.9 a 175.3 a 3.06 a 188.2 a
7 250+250 PF + 15 17.9 a 173.3 a 3.04 a 156.1 b
DAPF
CV (%) 3,3 8,7 1,2 10,05
p-value 0,588 0,546 0,156 0,04
* Médias seguidas por letras minúsculas distintas na coluna diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade de erro.
323
Reguladores de Crescimento
324
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
qual a ação das Cks é primordial, é a diferenciação celular, riamente que tanto as auxinas quanto as citocininas,
sobretudo na formação das gemas caulinares. O início da quando aplicadas em concentrações elevadas, apre-
atividade das gemas está relacionado com o aumento sentam efeito marcante de inibição do crescimento de
dos níveis de citocininas (Cks) (máximo) na brotação e órgãos vegetais. E essa ação inibitória é desencadeada
de giberelinas (AG) na seiva bruta e nas gemas (GIL & pela atuação de outro hormônio, o etileno. As Cks e o
PSZCZÓLKOWSKI, 2015). Para que as gemas caulinares etileno agem de modo sinérgico ou aditivo na inibição
sejam formadas, é indispensável um aporte adequado de do alongamento caulinar; contrariamente, quanto ao
nutrientes, pois esses brotos possuem a função de drenos efeito senescente, esses hormônios comportam-se an-
da planta. E, nesse processo, as citocininas estão diretamen- tagonicamente: as citocininas são um forte inibidor e o
te envolvidas em, pelo menos, duas proteínas (invertase e etileno, um eficiente promotor desse evento fisiológico
transportador de hexoses), atuantes no descarregamento (KERBAUY, 2017).
apoplástico do floema. O mecanismo funciona com a As citocininas inibem a dominância apical pelo
invertase, que diminui o potencial químico da sacarose, fa- provável efeito na divisão celular e na diferenciação
vorecendo a chegada contínua de nutrientes e, ao mesmo do xilema e floema na gema lateral que iniciou o cres-
tempo, o transportador de hexose é necessário para que os cimento. Porém, promovem o crescimento de gemas
açúcares entrem nas células do dreno (KERBAUY, 2017). laterais (BARRUETO CID, 2005).
Sabe-se que grande parte das divisões celulares As citocininas (que determinam a brotação) favo-
de uma planta adulta ocorre nos meristemas. Nesse recem, assim como o ABA (ácido abscísico), a lignificação,
sentido as Cks possuem uma função notória na proli- ou seja, a maturação do broto, além de estimular a pro-
feração de células do meristema apical da parte aérea; dução das auxinas do ápice e de giberelinas das folhas.
porém, a redução dos seus níveis endógenos, pela supe- (FREGONI, 1998). Na forma comercial, é muito utilizada
rexpressão da citocinina oxidase, resulta em atraso do a benzi adenina (BA) (6-benzil-adenina) que induz a di-
desenvolvimento da parte aérea, devido à diminuição no visão celular, com efeito de abscisão de frutos, atuando
tamanho do meristema apical do caule (WERNER et al. no raleio pós-floração, aumento da formação de gemas
2001). Além disso, a perda da percepção de citocinina floríferas, reduzindo alternância de produção, aumento
e a diminuição no tamanho do meristema apical do no tamanho de frutos, indução da formação de ramos
caule levam à redução no crescimento da parte aérea (PETRI, et al. 2016).
e a pouca ou nenhuma produção de flores (HIGUCHI
et al. 2004; NISHIMURA et al. 2004). 12.4.5. Aplicabilidade
Outro mecanismo importante controlado pelas
citocininas é a fotomorfogênese; o mecanismo que Os estudos voltados para a aplicabilidade das
regula a resposta da via de sinalização das Cks, regu- citocininas nas variedades Vitis spp. são escassos. Dentre
lador ARR4, impediria a reversão da forma ativa do os estudos encontrados, pode-se citar o experimento
fitocromo B (PhyB), ou seja, a forma que absorve luz, realizado por Ayub et al. em que avaliaram os meios
a faixa do vermelho extremo, para a forma inativa, a MS e GZ completos ou com metade da concentração
qual absorve na faixa do vermelho. Sendo assim, as de sais, acrescidos de BAP (Benzilaminopurina) com
Cks mantêm o fitocromo B na forma ativa e pode ser concentrações de 0; 2,5; 5,0 e 10 [micro]M para indu-
que alguns dos seus efeitos sejam mediados pelo PhyB ção de multibrotação em videira da cv. Bordô.
(KERBAUY, 2017). Para todos os parâmetros avaliados, houve
Na interação das demais classes hormonais, a interação significativa entre os meios de cultura e as
auxina é a que possui maior interface com as citocininas, concentrações de BAP testadas. Os maiores valores
sobretudo no sinergismo para estimular a divisão celular. de número de brotos por micro estaca foram obtidos
Porém, auxina e citocininas atuam antagonisticamente no meio MS com 5 micro molar de BAP. Chee e Pool
no controle da iniciação de ramos e raízes em cultura (1985) já haviam observado maior produção de brotos
de tecidos (SKKOG, MILLER, 1957), bem como no na concentração de 2,5 micro molar de BAP para o
estabelecimento da dominância apical. Sabe-se noto- hibrido ‘Remaily Seedless’.
325
Reguladores de Crescimento
326
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
condições ambientais (temperatura, luz, oxigênio, gás transporte ou da ação de substâncias promotoras desses
carbônico, etc), interação com outras classes hormo- processos celulares (KERBAUY, 2017), além de ser um
nais, além de estímulos físicos e químicos. O etileno hormônio ligado ao processo de abscisão - responsável
não sofre somente interação com os hormônios ve- pela queda de folhas, frutos, flores e outros órgãos
getais existentes, como também possui compostos vegetais. Sua ação ocorre na camada de abscisão, que
inibidores de síntese ou da sua ação. Os compostos sofre alterações morfológicas e bioquímicas durante o
aminoetóxi-vinil-glicina (AVG) e o ácido aminoxiacético desenvolvimento do órgão (TAIZ, ZEIGER, 2013). Os
(AOA) são bloqueadores da conversão do AdoMet estudos mostram que o etileno parece ser o principal
em ACC e reconhecidos como inibidores de enzimas regulador nesse processo, juntamente com a auxina,
que utilizam o cofator piridoxal fosfato, incluindo a que atua como regulador supressor do efeito do etileno.
ACC sintase. O ácido α-aminoisobutírico (AIBA) e o Porém, quando utilizada em concentrações elevadas, a
íon cobalto também são inibidores da rota de síntese auxina estimula a produção de etileno, podendo servir,
do etileno, além de bloquear a conversão do ACC em também, como desfolhantes (TAIZ, ZEIGER, 2013).
etileno (KERBAUY, 2017). O etileno possui a capacidade de interação
com quase todas as demais classes hormonais, porém,
12.5.4. Funções significativamente, com as classes das auxinas e dos
jasmonatos. No caso das auxinas, com efeito indutor
A ação do etileno envolve diversas etapas do na síntese de etileno e como o efeito do etileno no
desenvolvimento e fisiologia das plantas, sendo deter- transporte de auxinas. Com relação aos jasmonatos,
minante nos processos de divisão e expansão celular, principalmente o ácido jasmônico, o metil-jasmonato
sobretudo o que tange ao retardamento e, até, à inibição e o etileno, são hormônios envolvidos nos processos
da divisão celular (KERBAUY, 2017), além da reorga- de modulação das respostas de defesa das plantas ao
nização dos microtúbulos e microfibrilas de celulose ataque de patógenos (KERBAUY, 2017).
da parede celular, promovendo a redução do alonga-
mento longitudinal e incremento na expansão lateral 12.5.5. Fatores bióticos e abióticos
das células, deixando o caule com menor tamanho
e maior espessura (KERBAUY, 2017). O etileno está O etileno sofre influência de diversos compo-
ligado na coordenação e regulação de numerosos nentes internos e externos. Segundo Kerbauy (2017),
processos em vegetais relacionados aos últimos estágios a temperatura tem efeito na produção de etileno, sen-
de desenvolvimento das plantas, como senescência, do cerca de 30ºC a temperatura ótima de produção;
abscisão e desenvolvimento dos frutos e, também, à em temperaturas elevadas, a enzima ACC oxidase é
resposta do crescimento, em condições ambientais rapidamente inativada e, temperaturas extremas, tanto
desfavoráveis (BARRUETO CID, 2005). Com relação baixas quanto elevadas, podem gerar estresse, levando
aos frutos, o etileno atua nos frutos climatéricos, au- à síntese de etileno.
mentando a respiração dos mesmos, antes da fase de A luz é outro fator bastante relevante na sínte-
amadurecimento. Frutos tratados com o fitorregulador se desse regulador; sua influência está relacionada à
são induzidos a produzir mais etileno, num processo qualidade e à quantidade luminosa e, também, dos
autocatalítico que pode ocorrer em dois sistemas de tecidos vegetais envolvidos, podendo resultar em pro-
produção do hormônio (TAIZ, ZEIGER, 2013): moção, inibição ou nenhuma resposta sobre a síntese
- Sistema 1: age no tecido vegetal, no qual o do hormônio (KERBAUY, 2017). Os gases oxigênio e
etileno inibe sua própria síntese; carbônico também estão envolvidos nos processos de
- Sistema 2: ocorre no amadurecimento do fruto síntese do etileno, sobretudo no que diz respeito à ação
climatérico, na senescência de pétalas em algumas es- das enzimas envolvidas nesse processo e no aumento
pécies, na qual o etileno estimula a própria biossíntese. ou diminuição da atividade respiratória.
A atuação do etileno também se dá na inibição Processos estressantes como alagamentos, im-
do crescimento, como consequência de alterações no possibilitam que as plantas realizem as trocas gasosas
327
Reguladores de Crescimento
das raízes com o solo, provocando o aumento da síntese O etefom (ácido 2-cloroetilfosfônico) libera etile-
de etileno, assim como as plantas que são submetidas à no intracelular quando na dose de 100-400 ppm, três a
seca, apresentam teores mais elevados de etileno. Por quatro semanas antes da floração, permite o desenvol-
fim, os ferimentos mecânicos também desencadeiam vimento dos óvulos e, posterior formação de sementes
o aumento da produção de etileno. (KERBAUY, 2017). viáveis (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2015). O etileno nem
sempre é transportado, podendo produzir alterações
12.5.6. Aplicabilidade no mesmo tecido onde é sintetizado (FREGONI, 1998).
O etefon é utilizado para aumentar a coloração
Estudos que avaliaram o uso do etileno demons- de bagas, mas seu efeito não é consistente, podendo
traram sua influência em muitos processos fisiológicos provocar o amolecimento da baga (PEPPI et al. 2007).
das plantas. O etefon, princípio ativo utilizado em expe- Em videiras, influencia no aumento da fertilidade au-
rimentos, mostrou-se eficiente no aumento do número mentando a produtividade, também sendo eficaz no
de brotação de gemas e, em aplicações sucessivas em aumento do crescimento e diâmetro dos ramos e no
videiras, provocam o aumento da fertilidade e do estímu- aumento do comprimento, largura e peso dos cachos
lo de brotação de gemas, aumentando a produtividade (FRACARO, PEREIRA, 2004).
(ALBUQUERQUE, DANTAS, 2002; FRACARO et al. Em trabalho realizado com aplicações dos regu-
2004). Além disso, a aplicação foliar de etefon pode ladores de crescimento ácido naftaleno acético (ANA)
influenciar o aumento, o crescimento e o diâmetro na concentração de 5mg.L-1 e etefom (Ethrel®) na
de ramos em videiras (FRACARO, PEREIRA, 2004) e, concentração de 300 mg.L-1 , na variedade Cabernet
ainda, no aumento, comprimento e peso dos cachos. Sauvignon, aplicados em diverentes estágios vegetativos.
No experimento conduzido por Schenato et al. Para a avaliação da fertilidade de gemas, foram
(2006/2007), em casa de vegetação, avaliou-se a ação coletados 15 ramos de um ano de cada variedade, na
do etefon (10mL de solução, sendo 72mg/L-1 do ingre- saída da dormência da safra 2015. Os ramos foram
diente ativo) em plantas do porta-enxerto SO4 (Vitis cortados e suas gemas separadas nas posições de 1 a
berladieri x V. riparia) em estacas cultivadas em vasos, 10. Cada segmento do ramo foi colocado em bandejas
com solo Argissolo Vermelho-Amarelo, comparadas de isopor com espuma fenólica hidratada, e disposto
a plantas sem aplicação de etefon. Os resultados de- em ordem de 1 a 10 segundo a posição da gema. As
monstraram que as plantas que receberam o tratamento gemas foram classificadas em férteis ou vegetativas, de
com etefon obtiveram concentração e quantidade acordo com a presença ou ausência da inflorescência
menores de nitrogênio, o que pode significar que o (Tabela 63)
regulador de crescimento favoreceu a redistribuição Além de promover o aumento da fertilidade de
de nitrogênio das folhas para as raízes; além disso, o gemas da videira Cabernet Sauvignon, as aplicações dos
tratamento aumentou a concentração e a quantidade reguladores de crescimento melhoraram a maturação
de amido nas folhas, em relação às plantas que não tecnológica das uvas. As aplicações, 300 mg.L-1 Ethrel®
receberam o tratamento. Esse trabalho ratificou que o no grão ervilha, 300 mg.L-1 Ethrel® no grão ervilha +
etefon apresenta influência no metabolismo de reser- 10 dias após grão ervilha + 20 dias após grão ervilha e
vas foliares, acelerando a mobilização de nitrogênio e a aplicação de 5 mg.L-1 ANA, promoveram aumento
restringindo o fluxo de carboidratos, pelo processo de do conteúdo de sólidos solúveis da variedade Cabernet
senescência; e que, no ciclo seguinte ao tratamento, o Sauvignon. Contudo, as aplicações dos reguladores de
etefon estimulou a brotação de gemas, uma vez que crescimento não alteraram acidez total titulável e o pH
ele influencia na paradormência, reduzindo a domi- das uvas da variedade Cabernet Sauvignon, cultivadas
nância apical e estimulando a brotação das gemas na regiões de elevada altitude (Tabela 64).
laterais. Porém, restringiu o vigor de crescimento de Em geral, para a elaboração de vinhos tintos de
folhas e ramos sem grandes influências na dinâmica qualidade, recomendam-se para o mosto, teores de
de nutrientes, exceto pelo aumento na concentração sólidos solúveis acima de 20 °Brix, acidez total menor
foliar de nitrogênio e magnésio, e nitrogênio radicular. que 135 meq L-1 e pH menor que 3,5 (JACKSON, 2014).
328
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 63. Fertilidade de gemas (%) da videira Cabernet Sauvignon submetida à aplicação de ácido
naftaleno acético (ANA) e Etefom (Ethrel®), em doses e épocas diferentes, em São Joaquim, safra 2015.
(GE=grão ervilha; 10DAGE =10 dias após grão ervilha; 20DAGE= 20 dias após grão ervilha).
Fonte: Canossa et al., 2017.
Tabela 64. Conteúdo de sólidos solúveis (Brix), acidez total titulável (meq L-1) e pH da videira Cabernet
Sauvignon submetida à aplicação de ácido naftaleno acético (ANA) e Etefom (Ethrel®), em doses e
épocas diferentes, em São Joaquim, safra 2015. (GE=grão ervilha; 10DAGE =10 dias após grão ervilha;
20DAGE= 20 dias após grão ervilha).
Fonte: Canossa et al., 2017.
Tratamento Dose Época de aplicação Sólidos Solúveis (°Brix) Acidez Total (meqL-1) pH
1 Controle - 19,4 b 123,36 ns 3,22 ns
2 300 mg.L-1 Ethrel® GE 20,2 a 132,54 3,24
3 300 mg.L-1 Ethrel® GE + 10 DAGE 19,7 b 129,86 3,21
4 300 mg.L-1 Ethrel® GE + 10 DAGE + 20 20,2 a 123,36 3,26
DAGE
5 5 mg.L-1 ANA GE 20,0 a 127,71 3,24
6 5 mg.L-1 ANA GE + 10 DAGE 19,6 b 132,63 3,22
CV (%) 1,7 4,30 0,9
*Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Scott knott a 5% de probabilidade de erro.
ns = não significativo pela análise de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
Com a aplicação dos reguladores de crescimento, foi estão de acordo com as recomendações técnicas para
possível atingir os índices adequados para a elabora- a elaboração de vinhos tintos de qualidade.
ção de vinhos tintos de qualidade. Observou-se que o A aplicação dos reguladores de crescimento
tratamento controle, além das aplicações, 300 mg.L-1 ácido naftaleno acético (ANA) e Etefom (Ethrel®) é
Ethrel® no grão ervilha + 10 dias após o grão ervilha e uma alternativa viável para o aumento da fertilidade de
a aplicação 5 mg.L-1 ANA no grão ervilha + 10 dias após gemas da videira Cabernet Sauvignon e, consequen-
o grão ervilha, não atingiram o índice de sólidos solúveis temente, aumento da produtividade, pois de acordo
recomendado, enquanto as variáveis acidez total e pH com Motoyke (1994), uma das principais causas das
329
Reguladores de Crescimento
330
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
331
Reguladores de Crescimento
na comunicação entre folhas e frutos em crescimento, ABA pode ser produzido, seja pelo embrião, seja pelo
quando é transportado dentro do floema até as raízes tecido materno, sendo que ambas as fontes atuam em
e, depois, retorna aos brotos e as folhas pelo xilema momentos e processos distintos durante a formação
(BARRUETO CID, 2005). da semente (KERBAUY, 2017). Na fase final de desen-
volvimento embrionário, o pico de ABA provém do
12.6.4. Funções tecido materno, o embrião passa crescer apenas por
expansão celular e essa concentração do hormônio,
O ácido abscísico é o hormônio vegetal que está nesse período, é fundamental para inibir a germinação
relacionado a inúmeros processos fisiológicos da planta, precoce do embrião em frutos ligados à planta mãe.
sendo os mais conhecidos, germinação de sementes, É ainda nessa fase que o ABA produzido pelo tecido
fechamento estomático; e na inibição do crescimento e materno irá estimular o acúmulo de substâncias de
seus efeitos, geralmente, estão relacionados à atividade reserva (KERBAUY, 2017). Na fase de maturação da
de outros hormônios, principalmente as giberelinas, ci- semente, ocorre um segundo pico de produção de
tocininas, etileno e brassinosteróides (KERBAUY, 2017). ABA, produzida pelo embrião e considerada crítica
Entre suas principais funções, sabe-se que o para a sinalização dos processos característicos dessa
ABA possui ação na dormência, afetando a indução e fase (síntese de proteínas LEA, inibição da germinação,
a manutenção desta, em sementes e gemas associadas etc) (KERBAUY, 2017).
(BARRUETO CID, 2005). Além disso, o ácido abscísi-
co regula a transpiração, agindo como sinalizador de Proteção ao estresse hídrico
redução da disponibilidade de água, contribuindo na
conservação de água na planta, diminuindo o cresci- Estudos demonstram a atuação do ácido abs-
mento e mediando respostas adaptativas (BARRUETO císico quando a planta é submetida a um estresse
CID, 2005), com aumento em condições de frio, déficit hídrico. Kerbauy (2017), cita os trabalhos liderados
hídrico e radiação ultravioleta; porém, diminuindo por W.J. Davies, o qual constatou que, em plantas
em condições de altas temperaturas (GIL & PSZCZÓ- sob estresse hídrico, o ABA era transportado da raiz
LKOWSKI, 2015). para a parte aérea através do xilema, sendo o sistema
radicular o responsável pela percepção do déficit
Dormência de sementes hídrico, o qual estimula a síntese de ABA nesses ór-
gãos. Como consequência, mais ABA era transportado
A germinação das sementes é um processo fi- para a parte aérea através da corrente transpiratória
siológico de retomada do crescimento do embrião da do xilema, promovendo o fechamento estomático e,
semente madura, condicionado por fatores ambien- assim, reduzindo a perda de água por transpiração.
tais, tais como, oxigênio, água, temperatura adequada Nesse processo, as raízes mais profundas mantêm a
e ausência de substâncias inibidoras (TAIZ, ZEIGER, absorção de água do solo, preservando a turgescência
2013). Há casos que sementes viáveis não irão ger- celular (KERBAUY, 2017).
minar, mesmo se todas as condições ambientais para
seu crescimento forem satisfeitas – fenômeno chama- Senescência
do dormência da semente. A dormência provoca um
retardo temporal no desenvolvimento da semente, Inicialmente, o ácido abscísico foi isolado como um
acrescentando um tempo adicional para a dispersão fator causador de abscisão (TAIZ, ZEIGER, 2013), porém,
por distâncias geográficas maiores. posteriormente, estudos demonstraram que o etileno é o
A dormência da semente pode ocorrer imposta principal hormônio de abscisão. A participação efetiva do
pela testa e por tecidos circundantes, como endosper- ABA na senescência vegetal não está estabelecida, sobre-
ma, pericarpo ou órgãos extraflorais e, nesse caso, as tudo no que diz respeito à interação desse hormônio com
sementes irão germinar rapidamente na presença de as demais classes hormonais, como citocininas e etileno.
água e oxigênio (TAIZ, ZEIGER, 2013). Na semente o Alguns estudos mostram que existe efeito promotor do
332
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
ABA na senescência, outros apontam que não há cor- biosintética da antocianina da uva tinta (JEONG et al.
relação direta entre o hormônio e esse processo. Essas 2004). Em estudo realizado por Koyama et al. (2014),
divergências podem estar relacionadas ao balanço variável verifica-se a ação de S-ABA sobre a melhoria no teor
entre substâncias promotoras e inibitórias da senescência de antocianinas das bagas e do suco da uva ‘Isabel’,
nos tecidos, em diferentes estágios de desenvolvimento principalmente na dose de 400 mg L-1, aos 7 dias após
(KERBAUY, 2017). o veraison + 10 dias antes da colheita.
Em trabalho realizado por Lerin (2014), o autor
Inibição de produção de enzimas induzida pelo GA observou que o ABA promoveu o incremento do teor
de Polifenóis totais nas cascas e no vinho produzido a
A relação ABA-GA é antagônica em alguns pro- partir da variedade Cabernet Sauvignon, implantado
cessos fisiológicos da planta; além da dormência da no município de Bento Gonçalves – RS. Ao aplicar
semente ser afetada, o ABA inibe a síntese, induzida cinco concentrações de ácido abscísico (0; 200; 400;
pelo ácido giberélico de enzimas hidrolíticas, que são 600 e 800 ppm) observou comportamento linear no
fundamentais para o processo de quebra de reservas incremento do teor de Polifenois, totais, uma única vez,
armazenadas nas sementes em germinação (TAIZ, na virada de cor (veraison).
ZEIGER, 2013). Esse mesmo procedimento, quando aplicado no
município de Vacaria – RS, a 971 metros de altitude,
12.6.5. Aplicabilidade embora não tenha apresentado diferença estatística
significativa na quantidade de antocianinas, polifenóis
A aplicabilidade do ácido abscísico não é, ainda, totais e intensidade da cor das bagas e do vinho da
tão atuante como a das demais classes hormonais. Isso ‘Cabernet Sauvignon’, apresentou um incremento do
pode ser devido ao ABA apresentar rápido metabolismo potencial hidrogeniônico (pH), que contribui para
e fotodestruição. Porém, alguns compostos análogos a estabilidade e manutenção das antocianinas, cuja
foram obtidos acrescentando um carbono ligado à característica principal nos vinhos é a coloração (RI-
posição 8’ da molécula do ABA. São os compostos BÉREAU-GAYON et al. 2006).
8’-acetileno-ABA e 8’-metileno-ABA, que possuem vida Em experimento, realizado com cindo diferentes
média longa e efeitos semelhantes ao ácido abscísico na doses de ácido abscísico (0; 200; 400; 600 e 800 mg
proteção ao estresse, na dormência e na germinação L-1 de ABA), no município de São Joaquim – SC, região
de sementes (KERBAUY, 2017). de 1.400m altitude, observou-se que a aplicação de
A aplicação exógena de ácido abscísico também diferentes concentrações de ABA não interfere na massa
favorece a expressão das antocianinas, pela indução das bagas e nas variáveis relacionadas à maturação tec-
do fator de transmissão MYB1A, uma proteína que nológica (pH, sólidos solúveis e acidez total), na cultivar
regula a transmissão de genes que compõem a rota Cabernet Sauvignon (GARDIN et al. 2012) (Tabela 65).
Tabela 65. Efeito de diferentes concentrações de ácido abscísico na massa de 50 bagas e na maturação
tecnológica (pH, sólidos solúveis totais e acidez total titulável) da cultivar Cabernet Sauvignon. Safra
2015. São Joaquim/SC.
Ácido Abscísico (mg L-1) Massa 50 Bagas (g) pH Sólidos Solúveis (°Brix) Acidez Total (meq L-1)
0 77,6 ns 3,20 ns 21,0 ns 112,1 ns
200 79,1 3,15 20,5 113,0
400 76,8 3,16 21,2 105,0
600 78,3 3,16 20,7 116,0
800 75,9 3,15 21,0 113,0
ns = não significativo pela análise de variância (ANOVA) a 5% de probabilidade de erro.
333
Reguladores de Crescimento
Entretanto, houve uma relação entre o aumento Testemunha – Água; 2. 400 mg L-1 de ácido abscísico
da concentração de ácido abscísico aplicado e um au- (ABA); 3. 300 mg L-1 de Ethrel® (Etefom) na virada de
mento das concentrações de antocianinas (Figura 143) cor. Os resultados, expressos de acordo com a tabela
nas bagas da cultivar Cabernet Sauvignon, principal 66, demonstram que a Rebo apresenta uma matura-
composto responsável pela cor dos vinhos. Além disso, ção tecnológica mais adequada para a elaboração de
a relação entre antocianinas e compostos fenólicos vinhos, apresentando média de 25,2 °Brix, pH de 3,15
sobre a qualidade do vinho é de extrema importância, e acidez total titulável de 93,85 meq L-1. As variedades
especialmente em vinhos com potencial de envelheci- Sagrantino e Malvasia Nero, apesar de apresentarem
mento e amadurecimento (TARDAGUILA et al. 2010). elevado teor de sólidos solúveis, apresentaram uma alta
Além disso, observou-se que há um aumento sig- acidez titulável. Quanto à aplicação dos reguladores
nificativo no conteúdo de polifenóis totais na Cabernet de crescimento, ácido abscísico e etefom (Ethrel®),
Sauvignon (Figura 144), cultivada em São Joaquim – SC, estes não alteraram o teor de sólidos solúveis e pH
com o aumento gradual da dose de ácido abscísico. nas três variedades avaliadas. Porém, na acidez total,
Os polifenóis desempenham um papel significativo houve efeito dos reguladores nas variedades Malvasia
na qualidade dos vinhos, uma vez que influenciam na Nera e Rebo.
cor, na estrutura, na sensação na boca e no potencial O conteúdo de polifenóis totais foi influenciado
antioxidante (CHEYNIER, 2005). Outros pesquisadores pela aplicação dos reguladores de crescimento. Para
também verificaram que aplicações exógenas de ABA a variedade Sagrantino, tanto a aplicação de ácido
contribuíram para um maior acúmulo de compostos abscísico quanto a de etefom (Ethrel®) resultaram em
fenólicos nas bagas de diferentes variedades, como aumento do conteúdo de polifenóis. Já, para a variedade
Cabernet Sauvignon, Isabel, Malbec e Rubi (GARDIN Rebo, apenas a aplicação de etefom (Ethrel®) resultou
et al. 2012; KOYAMA et al. 2014; BERLI et al. 2015; aumento do conteúdo de polifenóis totais. Apenas
KRETZSCHMAR et al. 2016). para a variedade Malvasia Nera, não se observou in-
Em variedades italianas Sagrantino, Malvasia cremento do conteúdo de polifenóis totais (Tabela 67).
Nero e Rebo, cultivadas em regiões de elevada altitude, Evidenciou-se comportamento similar para a variável
avaliaram-se os efeitos da aplicação de ácido abscísico antocianinas totais, onde não foi observado efeito dos
e Etefom sobre a maturação tecnológica e fenólica reguladores de crescimento para a variedade Malvasia
da uva. Para tanto, os tratamentos utilizados foram 1. Nera; no entanto, ressalta-se que, na comparação entre
Figura 143. Efeito de diferentes concentrações de Figura 144. Efeito de diferentes concentrações
ácido abscísico no teor de antocianinas totais da de ácido abscísico no teor de polifenóis totais da
variedade Cabernet Sauvignon. Safra 2015. variedade Cabernet Sauvignon. Safra 2015.
São Joaquim/SC. São Joaquim/SC.
Fonte: Wurz et al. 2018. Fonte: Wurz et al. 2018.
334
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 66. Sólidos solúveis totais, pH e acidez total titulável das variedades Sagrantino, Malvasia Nera e
Rebo submetidas à aplicação de ácido abscísico e Ethrel®, safra 2015, São Joaquim/SC.
as três variedades avaliadas, a Malvasia Nera é a que de), foram avaliadas as variedades Malbec e Primitivo,
apresenta o maior conteúdo de antocianinas e, conse- nas safras 2015/2016 e 2016/2017. Os tratamentos
quentemente, não apresentou resposta pela aplicação aplicados à variedade Primitivo foram os seguintes: 1)
dos reguladores de crescimento. Já para as variedades testemunha (sem tratamento); 2) desfolha manual no
Sagrantino e Rebo, observou-se efeito da aplicação do início da maturação (DIM); 3) desfolha manual quinze
ácido abscísico e etefom (Ethrel®), ocorrendo aumento dias após a primeira desfolha (D15); 4) S-ABA 200
de conteúdo de antocianinas totais, com a aplicação dos mg L-1 (ABA200); 5) S-ABA 400 mg L-1 (ABA400);
reguladores de crescimento (Tabela 67). Ressalta-se que 6) S-ABA 600 mg L-1 29 (ABA600). As aplicações de
a variedade Rebo foi a que apresentou o maior aumento soluções aquosas de S-ABA (Valent BioSciences Cor-
no conteúdo de antocianinas totais pela aplicação de poration, Libertyville, IL, EUA) foram realizadas no início
etefom (Ethrel®). da maturação dos cachos (fase de pintor). A desfolha
De modo geral, verifica-se que a aplicação de foi realizada no início da maturação e 15 dias após a
ácido abscísico e etefom (Ethrel®) melhora a maturação data da primeira desfolha até altura dos cachos, sendo
tecnológica e fenólica de uvas viníferas em regiões de retiradas até 6 folhas por ramo. Para a variedade Malbec
elevada altitude. Os reguladores de crescimento altera- os tratamentos realizados foram: 1) testemunha (sem
ram a maturação tecnológica e fenólica das variedades tratamento); 2) desfolha manual no início da maturação
Malvasia Nera e Rebo, enquanto para a variedade Sa- (DIM); 3) desfolha manual 15 dias após a primeira
grantino, eles melhoraram a maturação fenólica, não desfolha (D15); 4) S-ABA 200 mg L-1 (ABA200); 5)
alterando a maturação tecnológica desta variedade. S-ABA 400 mg L-1 (ABA400); 6) S-ABA 600 mg L-1
Em experimentos realizados por Pessenti, (2017), (ABA600). As aplicações de soluções aquosas de S-ABA
em vinhedo comercial, localizado na região de Água (Valent BioSciences Corporation, Libertyville, IL, EUA)
Doce/SC (26º43’53”S e 51º30’26”O e 1.300m altitu- foram realizadas no início da maturação dos cachos
335
Reguladores de Crescimento
Tabela 67. Conteúdo de polifenóis totais e antocianinas totais das variedades Sagrantino, Malvasia Nera e
Rebo submetidas à aplicação de ácido abscísico e Ethrel®, na safra 2015, São Joaquim/SC.
(fase de pintor). A desfolha manual foi realizada no à porcentagem de clorose foliar, os tratamentos ABA
início da maturação e 15 dias após a data da primeira 400 e 600mg.L-1 aumentam os percentuais nas folhas.
desfolha até altura dos cachos, sendo retiradas até 6 Os paremetros químicos de sólidos solúveis,
folhas por ramo. pH, acidez titulável o mosto da variedade Malbec não
Como resultados, para a variedade Primitivo, po- foram afetados pelos tratamentos. Para a relação SS/
de-se observar que o tratamento com a dsfolha após AT, ABA 200mg.L-1 é mais efetivo somente no segundo
15 dias da primeira desfolha e a aplicação de 600mg.L-1 ciclo de avaliação.
foram superiores aos demais, com maior diâmetro de Na avaliação da maturação fenólica, o teor de
ramos; para o parâmetro da massa média dos cachos. A antocianinas no ciclo 2015/2016 foi maior no trata-
desfolha após 15 dias da primeira desfolha e a aplicação mento ABA 400mg.L-1 e no ciclo 2016/2017 os trata-
de ABA na concentração de 600mg.L-1 foram os melhores mentos ABA 200, 400 e 600mg.L-1 foram superiores a
resultados. As aplicações de ABA provocaram leve clorose testemunha. O teor de polifenóis totais apresentou o
nas plantas, em maior ou menor grau. maior valor no tratamento ABA 200mg.L-1 no seguido
Com relação aos parâmetros físico-químicos, por DIM. Pode-se concluir que a aplicação exógena
para o teor de sólidos solúveis, pH diâmetro de bagas de S-ABA proporciona maiores níveis de polifenóis
e massa dos cachos não foram influenciados, o trata- totais, antocianinas, flavonoides e intensidade de cor,
mamento com 400mg.L-1 de ABA mantem a acidez tanto na uva ‘Primitivo’, quanto na ‘Malbec’ e no vinho.
mais elevada Na avaliação dos teores de antocianinas (Figura 146)
totais e polifenóis totais, no ciclo a aplicação de ABA
200, 400 e 600mg.L-1 aumentam as concentrações. 12.7 Brassinosteroides
(Figura 145)
Na avaliação dos parâmetros da cultivar Mal- Na década de 1960, estudos apontaram a pre-
bec, para o diâmetro de ramos, a testemunha e ABA sença de novos compostos que influenciam o cresci-
200mg.L-1 tem efeito no aumento do diâmetro. Para o mento e o desenvolvimento vegetal. Tais compostos
segundo ciclo, os tratamentos não apresentaram diferen- classificam-se, apesar das dúvidas, como hormônios
ças significativas. As aplicçòes de ABA 400 e 600mg.L-1 vegetais (KERBAUY, 2017). Estudos realizados por J. W.
reduzem o numero de folhas por ramo. Com relação Mitchell mostraram que extratos do pólen de canola
336
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 145. Acidez titulável (% ácido tartárico) (a) e relação SS/AT(b) para o ciclo 2015/2016 e acidez
titulável (% ácido tratárico) (c) e relação SS/AT (d) para o ciclo de 2016/2017 do mosto de uvas cv.
Primitivo.TEST: testemunha; DIM: desfolha manual no início da maturação; D15: desfolha manual quinze
dias após a primeira desfolha; ABA200; SABA 200mgL-1; ABA400 mg. L-1; ABA600; S-ABA600 mg. L-1.
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si plo teste de Tukey à 5% de probalilidade de erro.
Barras verticais representam o desvio padrão (n=4).
Fonte: Pessenti, 2017.
Figura 146.Teor de antocianinas (mg100g-1) (a), polifenóis totais (mg equivalente de ácido gálico L-1)
(b) para o ciclo 2015/2016 e teor de antocianinas (mg 100g-1) (c) e polifenois totais (mg eag L-1) (d)
para o ciclo 2016/2017 da casca de uvas cv Malbec.TEST: testemunha DIM: desfolha manual no início
da maturação; D15: desfolha manual quinze dias após a primeira desfolha ABA200; S-ABA 200mgL-1;
ABA400 mg. L-1; ABA600; S-ABA 600 mg. L-1. GERVÃO: extrato de gervão 10% C. LIMÃO: extrato vegetal
vegetalde capim limão 10%. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si plo teste de Tukey à
5% de probalilidade de erro. Barras verticais representam o desvio padrão (n=4).
Fonte: Pessenti, 2017
337
Reguladores de Crescimento
(Brassica napus L.) apresentavam maior atividade na Os brassinosteroides, assim como as gibe-
estimulação do crescimento. Os compostos ativos não relinas e o ácido abscísico, são sintetizados como
identificados no pólen da canola foram denominados uma ramificação da rota dos terpenos, através da
de brassinas (Mitchell et al., 1970 In: TAIZ, ZEIGER, polimerização de dois farnesil difosfatos, até a
2013). Mesmo em baixas concentrações, as brassinas formação do triterpeno esqualeno C30. Essa classe
provocam mudanças no crescimento e na diferencia- hormonal, diferindo pelas substituições alquila
ção; por isso, os estudiosos propuseram que esse novo C-24, são sintetizados a partir de campesterol,
composto constituísse uma nova família de hormônios sitosterol e colesterol. Nas células vegetais, os três
vegetais (TAIZ, ZEIGER, 2013). esteróis são metabolizados em grande número de
Em estudos posteriores, o pólen da canola teve intermediários, mas poucos possuem atividade
purificado o composto brassina mais bioativo, sendo metabólica (Clouse e Sasse, 1998; Sakurai, 1999
denominado de brassinolídeo, composto esteroide poli- In: TAIZ, ZEIGER, 2013). O campesterol é reduzi-
-hidroxilado, semelhante aos hormônios esteroides dos do a campestenol e este, por sua vez, é oxidado
animais (TAIZ, ZEIGER, 2013). Finalmente, na metade a catasterona e a teasterona, os precursores do
da década de 1990, estudos confirmaram que os bras- brassinolídeo (KERBAUY, 2017).
sinosteroides (BRs) são autênticos hormônios vegetais,
participando com outros hormônios na regulação de 12.7.2. Funções
fenômenos fisiológicos do desenvolvimento vegetal,
tais como crescimento da parte aérea, crescimento da Desde a descoberta dos brassinosteroides, mui-
raiz, diferenciação vascular, germinação de sementes tos estudos buscam elucidar qual o verdadeiro papel fi-
(Clouse e Sasse, 1998 In: TAIZ, ZEIGER, 2013). siológico desses hormônios no desenvolvimento vegetal.
Atualmente, os BRs estão identificados em 27 Sabe-se que os BRs estão envolvidos no desenvolvimen-
famílias de espermatófitas, sendo que nas angiosper- to de raízes laterais, manutenção da dominância apical,
mas, são encontrados em quantidades baixas no pólen, diferenciação vascular e crescimento do tubo polínico
anteras, sementes, folhas, caules, raízes, flores e tecidos (TAIZ, ZEIGER, 2013). Segundo Taiz e Zeiger (2013),
vegetativos (TAIZ, ZEIGER, 2013). os BRs estão envolvidos ainda: na expansão e divisão
celulares em partes aéreas, na promoção e inibição do
12.7.1. Transporte e mecanismo de ação e crescimento da raiz, na diferenciação do xilema durante
biossíntese o desenvolvimento vascular, no crescimento do tubo
polínico e na germinação das sementes.
A resposta hormonal é determinada, em geral,
pela extensão e pela taxa de transporte do hormônio Expansão e divisão celulares em partes aéreas
do local de síntese até o local de ação. O brassi-
nosteroide 24-epibrassinolídeo, quando aplicado O efeito provocado pelos brassinosteroides é
exogenamente, é transportado desde a raiz até a visualizado na aceleração do alongamento e da divisão
parte aérea; porém, quando o hormônio é aplica- celulares. A percepção efetiva dos BRs no crescimento
do na superfície de folhas jovens, é rapidamente é mais pronunciada em tecidos de partes aéreas jovens
absorvido, mas, lentamente transportado para e em crescimento. Apesar dos efeitos dos BRs e das
fora da folha. Tendo em vista que o transporte auxinas serem similares, sua ação na planta é diferente:
via xilema é unidirecional, o 24-epibrassinolídeo enquanto o AIA estimula, o BR apresenta efeito inibitó-
aplicado exogenamente pode sair da folha somen- rio sobre o crescimento das raízes (KERBAUY, 2017).
te via floema. Com relação aos BRs endógenos, O processo de expansão celular envolve o rela-
estudos sugerem que estes atuam localmente nas xamento da parede celular e o transporte osmótico da
regiões de síntese ou perto delas, e cada órgão água para o interior da célula (turgor e síntese de parede
sintetiza e responde aos seus próprios BRs ativos celular). Supõe-se que os BRs promovam a absorção
(TAIZ, ZEIGER, 2013). de água por meio das aquaporinas e do afrouxamento
338
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
celular, além de induzir a expressão de enzimas que do tubo polínico ocorre desde o estigma, ao longo
alteram a parede da célula. do estilete, até o saco embrionário (Mussing, 2005 In:
TAIZ, ZEIGER, 2013).
Promoção e inibição do crescimento da raiz
Germinação de sementes
A aplicação exógena de brassinosteroides pode
ter efeito negativo ou positivo no crescimento das raízes, Assim como os grãos de pólen, as sementes
dependendo da sua concentração. Quando aplicado possuem níveis elevados de BRs, sendo estes respon-
em baixas concentrações, promovem o crescimento; sáveis pela germinação de sementes. A ação desses
quando aplicado em altas concentrações, o inibe. A reguladores de crescimento se dá pela interação com
ação dos BRs no crescimento do sistema radicular é os demais hormônios vegetais. É notório que o ácido
independente da ação dos hormônios auxina e cito- giberélico (GA) e o ácido abscísico (ABA) possuem
cinina (TAIZ, ZEIGER, 2013). papéis positivo e negativo, respectivamente, na estimu-
Sabe-se que em concentrações menores os BRs lação da germinação de sementes. Os BRs também são
promovem a formação de raízes laterais (Bao et al., 2004 necessários para superar o efeito de inibição do ABA e
In: TAIZ, ZEIGER, 2013). Atualmente, o modelo vigente acredita-se que eles facilitam a germinação por estimula-
sugere que os brassinosteroides agem parcialmente no ção do crescimento do embrião (TAIZ, ZEIGER, 2013).
desenvolvimento parcial da raiz lateral por influência
do transporte polar da auxina, pois o tratamento com 12.7.3. Aplicabilidade
BR promove o transporte acrópeto desse hormônio,
necessário para o desenvolvimento de raízes laterais. A Estudos, ao longo dos últimos 20 anos, têm
aplicação de BRs também promove respostas de gra- demonstrado que os efeitos do uso dos BR, seja em
vitropismo, efeito associado ao aumento da expressão pequena ou em grande escala, podem fornecer respos-
do transportador PIN2 de efluxo de auxina na região tas promissoras desse composto. Alguns experimentos
de alongamento da raiz (TAIZ, ZEIGER, 2013). demonstraram que o uso dos BRs tem efeitos variáveis,
de acordo com o grau de estresse da planta. Em cul-
Diferenciação do xilema durante o turas sob condições ótimas, os efeitos observados da
desenvolvimento vascular aplicação dos BRs foram pouco relevantes, já em cul-
turas sob condições de estresse, mostraram-se bastante
Os efeitos provocados pelos BRs no desenvol- eficientes, com aumento significativo da produtividade
vimento vascular desempenham papel importante, (TAIZ, ZEIGER, 2013).
sobretudo, por promover a diferenciação do xilema O experimento realizado por Sozim (2011),
e inibir a do floema. Em experimentos com células de para a avaliação do grau de maturação da variedade
Zinnia elegans, cultivadas em meio de cultura no escuro, Niágara Rosada, demonstrou resultados interessan-
elas se diferenciaram em elementos traqueais após 2 a tes, com o uso de um análogo de brassinosteroide
3 dias de cultura. Durante a diferenciação do xilema, os – BIOBRAS-16 (BB-16). Na dosagem de 5,0mg.L-1 , o
BRs são ativamente sintetizados em células semelhantes BB-16 promoveu a antecipação da pigmentação das
a procâmbio e são essenciais para a diferenciação destas bagas em 5 dias, nas safras de 2009/2010 e 2010/2011,
células em elementos traqueais (TAIZ, ZEIGER, 2013). além de proporcionar maior porcentagem de bagas
coloridas e menor luminosidade das bagas em estádios
Crescimento do tubo polínico iniciais de maturação, indicando uma maior produção
de antocianinas. Nessa mesma concentração, o BB-16
Sabe-se que o pólen é uma fonte abundante aumentou o diâmetro, o comprimento e a massa das
de BRs; consequentemente, eles são importantes na bagas, na safra avaliada em 2010, além de aumentar
fertilização masculina. Estudos têm demonstrado que os teores de sólidos solúveis, relação SS/AT e possível
a participação dos brassinosteroides no crescimento antecipação da colheita.
339
Reguladores de Crescimento
340
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
luz em quase todos os tecidos. As sintases catalisam as Essas substâncias podem afetar a iniciação floral, sendo
reações de conversão da putrescina em espermidina importantes para o desenvolvimento de flores normais.
e da espermidina em espermina. Em ambos os casos, Estão envolvidas na embriogênese somática, observan-
as enzimas transferem um grupo aminopropil da S-a- do-se aumento na atividade da enzima ADC e elevação
denosilmetionina descarboxilada (dSAM) para seus no teor de espermidina. Tal constatação é possível devi-
respectivos substratos. A dSAM é obtida pela ação da do à aplicação de inibidores da biossíntese de PAs, que
descarxilase da SAM , que converte SAM (AdoMet) bloqueiam a embriogênese, sugerindo o envolvimento
em dSAM (KERBAUY, 2017). das mesmas nesse processo (KERBAUY, 2017).
A biossíntese das PAs ocorre na presença de As poliaminas apresentam declínio na sua con-
outras classes hormonais, tais como auxinas, citocininas centração, conforme a planta inicia seu processo de
e giberelinas, enquanto o etileno pode exercer papel senescência; portanto, a aplicação de PAs, em baixas
oposto, regulando a atividade da enzina descarboxilase concentrações, nas folhas da planta, pode retardar ou
da arginina. As poliaminas são responsáveis pela inibição prevenir os processos relacionados com a senescência,
do etileno, tendo em vista que bloqueiam a conversão como declínio da clorofila, proteínas e RNA. Por fim, as
de ACC ao gás etileno. Essa ação antagônica pode ser PAs estão relacionadas aos processos de maturação dos
explicada pelo uso mútuo do precursor S-adenosil- frutos e do grão de pólen, na formação adventícia de ramos
metionina (SAM ou AdoMet) entre as poliaminas e o e de raízes e na diferenciação vascular (KERBAUY, 2017).
etileno. (KERBAUY, 2017). Lima et al. (1999) classificaram as poliaminas
como reguladores vegetais. É possível observar que,
12.8.2. Funções com a adição exógena de poliaminas em frutas, ocor-
re o aumento na firmeza destas. Esse processo pode
Como mencionado anteriormente, as poliaminas ser atribuído à ligação cruzada destes compostos a
podem ser encontradas em várias partes das células grupos carboxílicos de substâncias pécticas na pare-
vegetais, como vacúolos, mitocôndrias, cloroplastos de celular, resultando na rigidez, detectável logo após
e, sobretudo, associadas à parede celular, tanto nas o tratamento, retardando, dessa forma, a função do
formas livres quanto nas formas conjugadas com ácidos etileno (MORET et al. 2005 In: LEITE, GRAZIANNY
fenólicos (ácidos cinâmicos, ferúlico ou p-cumárico). et al. 2012). A ação senescente desempenhada pelas
Eventualmente, os conjugados podem constituir até poliaminas pode estar relacionada à união destas com
90% do total das PAs nas células. No caso de poliaminas a membrana, impedindo, dessa forma, a peroxidação
policatiônicas, o pH celular é afetado e elas podem se dos lipídeos e os ataques proteolíticos, inibindo a sín-
ligar ao DNA ou RNA, fosfolipídeos e proteínas ácidas e tese de etileno, hormônio responsável pelo processo
a grupos aniônicos de membranas e da parede celular. de senescência. Outra observação importante está
As PAs ainda são capazes de estabilizar a dupla hélice relacionada ao acúmulo de poliaminas, principalmente
de estrutura do DNA e as membranas, criando uma putrescina, em processo de estresse pelos quais a planta
interação com os resíduos de fósforo e, assim, alterando é submetida. Em situações de temperatura elevada,
a atividade das enzimas das membranas. As alterações presença de ozônio, as poliaminas podem atuar no
na fluidez e na estrutura das membranas podem ser processo de senescência como varredores de radicais
medidas pelas poliaminas (KERBAUY, 2017). livres e estabilizadores das membranas celulares (In:
Além disso, as PAs também podem ser estimulantes LEITE, GRAZIANNY et al. 2012).
da síntese de macromoléculas, como proteínas e, ainda,
estimular a síntese de cinases e da frutose-1,6-bifosfato. 12.8.3. Aplicabilidade
As funções das poliaminas se estendem nos
processos de divisão e alongamento celulares, no enrai- Estudos voltados ao uso das poliaminas ainda
zamento e na formação de tubérculos. As PAs também são escassos, mas tratamentos para bloquear a ação
podem substituir o uso das auxinas, sugerindo uma do etileno e evitar a senescência do fruto têm sido
atividade como mensageiras dessa classe hormonal. aplicados em algumas espécies de frutos. O uso de PAs
341
Reguladores de Crescimento
exógenas em alguns frutos, para aumentar a firmeza enzimas AOS (aleno óxido sintase) e AOC (aleno óxido
da polpa, como maçãs, morangos, pêssegos, ameixas ciclase) produzem o ácido 12-oxo-fitodienóico, por
e nectarinas é um tratamento utilizado no pós-colheita meio da ciclização do anel ciclopentanona e reações de
para garantir maior tempo de prateleira e maior quali- β-oxidações que encurtam a cadeia lateral, formando o
dade (KRAMMER et al. 1991; PONAPPA et al. 1993; ácido jasmônico (KERBAUY, 2017), que será convertido
PEREZ-VICENTE et al. 2002; BREGOLI et al. 2006 In: pela enzima JAMT (ácido metil jasmonato transferase)
LEITE, GRAZIANNY et al. 2012). para MeJa (metil jasmonato) (CREELMAN E MULLET,
1997 In: DEUNER, CRISTIANE et al. 2015).
12.9 Ácido Jasmônico
12.9.2. Funções
As plantas são capazes de desencadear meca-
nismos de proteção, quando submetidas a situações de Os processos regulados pelo ácido jasmônico
estresse. Diante de situações drásticas, como oscilações de estão ligados à senescência, germinação de sementes,
temperatura, estresse hídrico, umidade, ataque de pragas inibidor do crescimento, abscisão de folhas e indução
e patógenos, elas são capazes de modular suas respostas do amadurecimento de frutos.
alterando a constituição de compostos moleculares como O nível de AJ depende da função do tecido,
um mecanismo de resposta, de defesa e de proteção (DE do tipo de célula, da fase de desenvolvimento e da
WINT, 2007 In: DEUNER, CRISTIANE et al. 2015). resposta a estímulos ambientais (WEILER et al. 1993
Uma cascata hormonal sinaliza as alterações de- In: DEUENR, CRISTIANE et al. 2015). A aplicação de
sencadeadas pelo estresse, envolvendo moléculas dos AJ inibe o crescimento de raízes e de caules, além da
compostos ácido jasmônico (AJ) e seu metil éster, metil inibição do alongamento de coleóptiles que pode es-
jasmonato (MeJa), ácido salicílico (AS), ácido abscísico tar associada ao bloqueio na incorporação de glicose
(ABA) e o etileno (ET), capazes de induzir a expressão nos polissacarídeos das paredes celulares (KERBAUY,
de muitos genes de defesa por meio de diversas rotas 2017). Os efeitos do ácido jasmônico influenciam a
(PERVIEUX et al. 2004; CAO et al., 2011 In: DEUNER, taxa fotossintética, reduzindo a expressão de genes
CRISTIANE et al. 2015). situados no núcleo e nos cloroplastos, além de causar
A rota metabólica de defesa mais relevante é a a degradação de clorofilas em folhas. O uso do AJ
chamada rota octadecanoide, que culmina com a for- estimula a formação de tubérculos, induz o amadure-
mação do ácido jasmônico, fitormônio relacionado ao cimento de frutos e a formação de pigmentos, através
estresse vegetal, capaz de ativar mecanismos de defesa do aumento na produção da oxidase do ACC, causan-
da planta (SOARES E MACHADO, 2007 In: DEUNER, do a conversão do ACC (ácido 1-aminociclopropano
CRISTIANE et al. 2015). 1-carboxílico) a etileno.
O ácido jasmônico é uma classe de compostos Estudos recentes demonstraram que o AJ pode-
relacionados ao crescimento vegetal, tendo sido isolado ria agir como antifúngico e, além disso, seria responsável
pela primeira vez em 1962, a partir do óleo essencial pela síntese de proteínas antidigestivas, como as proteí-
de Jasminum grandiflorum L. e de Rosmarimus officinalis nas que bloqueiam a ação das enzimas proteolíticas no
L. (DEMOLE et al. 1962 In: DEUNER, CRISTIANE et al. trato digestivo dos herbívoros (KERBAUY, 2017). Porém,
2015). Os jasmonatos são compostos derivados qui- para resultados mais contundentes, são necessários
micamente de estruturas chamadas ciclopentanonas. mais experimentos e um maior número de pesquisas.
A rota de síntese do ácido jasmônico depende Como mencionado anteriormente, o ácido jas-
da ação sequencial de várias enzimas. A lipoxigenase mônico precisa ter um maior número de pesquisas que
promove a oxigenação do ácido linolênico até a forma- o norteie. As publicações a respeito de seus efeitos são
ção do ácido 13-hidroperoxilinolênico. Na sequência, as escassas, sobretudo quando aplicado em videiras. Um
342
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
trabalho recente, desenvolvido em Portugal, com a oxide cyclase (AOC), allene oxide synthase (AOS) e o
variedade Loureiro infectada pela Flavescência Doura- aumento dos níveis do JA após a inoculação com P.
da (FD) e plantas sadias, objetivou avaliar o efeito do viticola (POLESANI et al. 2010), bem como o aumento
metil jasmonato na indução de mecanismos de defesa do ácido α – linolénico após a inoculação com P. viticola.
(DE LEMOS, 2017). A FD é uma das mais importantes (ALI et al. 2012). Em estudos recentes, Figueiredo et al.
doenças de fitoplasma da videira. Seu vetor é o inseto (2015) observaram uma discreta elevação da atividade
S. titanus, que se alimenta dos vasos condutores das da (AOS) e um aumento considerável na allene oxide
folhas, provocando alteração da coloração e enrolamen- synthase (AOC) allene oxide synthase, apenas 6 horas
to da folha, manchas e amarelecimento das mesmas, após a inoculação do P. viticola, o que evidencia o
causando a necrose e, podendo provocar, mais tardia- reconhecimento do fungo pela cultivar ‘Regent’; e re-
mente, a necrose das gemas laterais e apicais. Segundo portaram que a expressão da AOC e oxophytodienoate
Bidabadi et al. (2013), a aplicação exógena de MeJA redutase 3 (OPR3) foi, significativamente, elevada nas
em videira contribuiu positivamente para a eficiência 6 horas após a inoculação na cultivar resistente.
fotoquímica da planta, na medida em que se verificou Sabe-se que o ácido jasmônico e o ácido salicí-
uma recuperação da fluorescência da clorofila foliar. lico estão diretamente relacionados aos processos de
Um tratamento de pré-colheita com 10 mM de MeJA sinalização contra patógenos em plantas. Enquanto o AJ
demonstrou melhorar os níveis de flavonóides em uvas está envolvido na ativação da resposta de defesa contra
(RUIZ-GARCÍA et al. 2012) e o nível de resveratrol em fungos biotróficos, o AS está associado à defesa contra
determinadas cultivares de videira (ESNA-ASHARI & estes fungos, tendo relação com a ativação da morte
MAHMOODI POUR, 2011) (In: DE LEMOS, 2017). celular programada e o estabelecimento da resposta de
Os resultados apresentados neste trabalho de- hipersensibilidade (HR) (ANTICO et al., 2012.
monstraram que a infecção por FD afeta a síntese de Na avaliação das respostas de defesa media-
saponinas (metabólito secundário ativado com mecanismo das pelo ácido salicílico, a enzima AtMYB44 regula a
de defesa ao ataque por patógeno), porém, o tratamento ativação do PR1 e suprime os genes defesa mediados
com solvente e com 12,5 mM de metil jasmonato (MeJa) pelo AJ. Nas respostas de defesa mediadas pelo ácido
induziu o aumento da produção de saponinas. As plan- jasmônico, atua como regulador negativo para ajustar
tas sadias responderam de forma positiva ao tratamento o sinal do AJ (LIU et al. 2004; SHIM et al. 2013 In: MAR-
com 25 mM de MeJa, aumentando, substancialmente, a QUES, 2015). Dessa forma, a supressão desse gene na
concentração de pigmentos foliares em relação às plantas cultivar ‘Regent’, pode estar associada com o aumento
infectadas. Em resposta à avaliação genética observou-se nos níveis do AJ nas primeiras horas de interação com
que 6h depois da aplicação de 12,5 mM e 25 mM de o fungo P. viticola (MARQUES, 2015).
MeJA, ao pintor, provocou um aumento da expressão do Pelos resultados obtidos com o experimento,
gene que codifica PBSP em plantas infetadas.Também se (Figura 148) pode-se observar que, nas primeiras horas
constatou que 6h após aplicação de 12,5 mM de 25 mM de interação da planta com o P. viticola, ocorre à ex-
de MeJA diminuiu a expressão dos genes que codificam pressão dos genes envolvidos nas rotas de sinalização
STS, CHIT4c, PIN PGIP e GLU em plantas infetadas. do AJ e do AS e um incremento dos níveis endógenos
No trabalho, desenvolvido em Lisboa, por Mar- de ambos, o que sugere uma interação de ambas as
ques avaliou-se a sinalização por AJ e a resistência ao rotas metabólicas dos fitormônios nesse contato inicial
fungo Plasmopara viticola (míldio), nas variedades “Re- (MARQUES, 2015).
gent” (resistente) e “Trincadeira” (suscetível). A sinali-
zação por ácido jasmônico foi associada à resposta de 12.10 Ácido salicílico
resistência contra o P. viticola. Os resultados de alguns
trabalhos apresentaram o aumento da expressão da O ácido salicílico (AS) possui papel de hormô-
enzima lipoxigenase (LOX) e dos genes de respostas nio vegetal multifuncional, faz parte do amplo grupo
ao AJ (HAMIDUZZAMAN et al. 2005 In: MARQUES, de compostos fenólicos e possui em sua estrutu-
2015), além da sobre expressão das enzimas allene ra química o grupo hidroxila unido a um anel aro-
343
Reguladores de Crescimento
Figura 148. Representação do processo de sinalização na cultivar resistente ‘Regent’ (aumento de ROS e da
peroxidação lipídica), acompanhada pela biossíntese do ácido jasmónico e da sua forma bioactiva a partir
do ácido-linolénico (C18:3), da sinalização por JA e SA. AtMYB44, MYB domain protein 44; COI1, coronatine
insensitive 1; complexo SCF, complexo Skp1-Cullin1-F-box protein; JA, ácido jasmónico; JA-Ile, ácido jasmónico
ligado à isoleucina; JAR1, jasmonate-amido synthetase; JAZs, Jasmonate ZIM domain proteins; MYC2, basic
helix-loop-helix Leu zipper transcription factor; NPR1, Nonexpresser genes PR1; PR1, pathogenesis related gene
1; PR10, pathogenesis related gene 10; ROS, espécies reativas de oxigénio; SA, ácido salicílico; WRKY70, WRKY
DNA-Binding protein 70.
Fonte: Marques, 2015.
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
mediárias antes de formar o ácido benzoico. O ácido Em experimento, realizado por Amborabé et
benzoico, por meio da enzima benzóico-2-hidroxi- al. (2002), foi avaliado o efeito do AS como antifúngi-
lase, é convertido em ácido salicílico, que pode ser co no combate a Eutypa lata, fungo responsável pelo
conjugado à glicose pela ação da salicilato glucosil declínio da videira. Os primeiros sinais e sintomas sur-
transferase, formando o ácido β-O-D glucosilsalicílico gem com o atrofiamento dos ramos com internódios
(GSA) (KERBAUY, 2017). curtos, folhas cloróticas e pequenas, com a margem
necrótica e a morte do tecido entre as nervuras. Os
12.10.2. Funções sintomas foliares aparecem, principalmente, durante
a primavera. A maioria das flores seca antes de abrir,
Os efeitos da aplicação do ácido salicílico e as bagas que se desenvolvem a partir dos ramos
estão relacionados a vários processos fisiológicos infectados são menores e deformadas. Após a in-
das plantas. O AS pode ser responsável pela inibi- fecção dos ferimentos da poda e colonização dos
ção da germinação e do crescimento vegetal, pela vasos condutores dos ramos, necroses marrons, em
interferência na absorção das raízes, pela redução da forma de cunha se desenvolvem – podridão mole
transpiração e até pode causar a abscisão foliar, bem (GARRIDO, 2015).
como alterar o transporte de íons, induzindo uma Neste trabalho, o ácido salicílico (AS) inibiu o
rápida despolarização das membranas, provocando crescimento micelial de Eutypa lata (Pers. Fr.), tanto
um colapso no potencial eletroquímico (KERBAUY, em meio sólido como em meio de cultura líquido,
2017). A floração também pode ser induzida pela de um modo dependente da concentração, sendo o
aplicação do AS em plantas termogênicas. O aque- valor limiar de 0,1 mM. Em condições que imitam o
cimento é associado a um aumento acentuado da ambiente da planta (em particular, um pH 5,5), AS
via de transporte de elétrons na respiração resistente 1 mM mostrou apenas propriedades fungistáticas.
a cianeto nas mitocôndrias. Entretanto, modificações foram observadas na organi-
O ácido salicílico também funciona como me- zação estrutural do micélio, em vários níveis (parede,
canismo de defesa das plantas contra o ataque de mitocôndria, vacúolo e núcleo). Foi obtido um efeito
microrganismos, como fungos, bactérias e vírus. Ob- fungicida a 2 mM, ou concentrações mais elevadas
servou-se que, próximo às lesões ocasionadas pelos e, após este tratamento, os filamentos de fungos apa-
microrganismos, houve aumento na concentração de receram vazios. A eficiência antifúngica da molécula
AS livre. Os ácidos, salicílico e acetilsalicílico podem foi aumentada quando o pH experimental foi elevado
induzir a produção de alguns grupos de proteínas rela- a valores mais ácidos (pH 4) (Figura 149). Esta obser-
cionadas à patogenicidade, tais como a chiquinase e a vação foi correlacionada ao aumento da capacidade
β-1,3 glucanase, mesmo sem a presença do patógeno. de absorção de compostos pelo fungo (AMBORABÉ
A infecção é restrita a pequenas áreas, onde as células et al. 2002). A pH 4,3 e a concentração elevada de
hipersensíveis promovem a aquisição de resistência AS (2,0 mM a 10, 0 mM) promoveu a inibição com-
sistêmica, promovendo maior proteção a ataques sub- pleta do crescimento do fungo e as células formaram
sequentes (KERBAUY, 2017). pequenos agregados no meio de cultura e doze dias
depois esses agregados de células fúngicas foram
12.10.3. Aplicabilidade realocados em novo meio de cultura em ausência
de ácido salicílico, não houve crescimento micelar,
Devido à descoberta recente desse composto demonstrando que o AS em elevadas concentrações
e sua ação nas plantas, as pesquisas e os experimentos apresenta propriedades fungicidas, enquanto, segundo
para o estudo dos efeitos do ácido salicílico na videira o experimento, doses de 1,0mM apresentam apenas
ainda são escassos. Sabe-se que a sua via de ativação propriedades fungistáticas, uma vez que o crescimento
funciona como mecanismo de defesa da planta, porém do micélio foi restaurado. Numa avaliação posterior,
faz-se necessário que estudos voltados para a ação do a pH 5,5, percebeu-se que o crescimento micelial foi
AS sejam aprofundados. mais rápido nessa condição (Figura 150).
345
Reguladores de Crescimento
Figura 149. Efeito do SA aplicado em várias do o fluxo de elétrons da via do citocromo para a via
concentrações no decurso do tempo do alternativa resistente ao cianeto e, em terceiro lugar, a
crescimento micelial de E. lata em meio de cultura ligação específica de SA a uma proteína mostrada como
líquido tamponado a pH 4,3 (peso inicial do sendo uma catalase 5 reduz a atividade da enzima,
inóculo: 25 mg). Concentrações de 1 mM (•) e 10 promovendo uma acumulação de H2O2, que é tóxica
mM (▴) foram aplicadas no início do experimento. para muitas funções celulares (AMBORABÉ, 2002).
Fonte: Amborabé, 2002. Uma dificuldade pode surgir do fato de que AS
pode ser tóxico para células vegetais, tendo em mente
suas propriedades gerais como inibidor metabólico.
Portanto, em nossas perspectivas curativas, temos que
encontrar uma forma conjugada de AS que possa ser
aplicada à planta, não ser tóxica às células vegetais,
e transportadas pela planta conduzindo tecidos em
direção ao fungo invasor. Este conjugado tem que ser
absorvido pelo fungo, em uma ótima hipótese e, através
de portadores específicos, depois, dissociado para
produzir sua ação máxima in situ (AMBORABÉ, 2002).
346
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 150. Alterações progressivas dos filamentos a aplicação (OR et al. 2002). A cianamida retarda a
miceliais de E. lata crescidos em meio líquido de brotação da videira quando é aplicada tardiamente,
cultura tamponado a pH 5,5 na presença de SA uma semana antes da brotação normal (JENSEN, BET-
aplicado em várias condições: (A) controle; (B) TIGER, 1984), possivelmente pela toxicidade na gema
tratamento com 10 d com SA 1 mM; (C) tratamento que já se encontra em atividade pós dormência (GIL
com 2 d com 10 mM de SA; (D) tratamento com & PSZCZÓLKOWSKI, 2015). Nas cultivares que não
10 d com SA 10 mM. gr, grana; m, mitocôndrias; N, possuem problema de brotação, o uso da Cianamida
núcleo; pe, zona parietal externa; pi, zona parietal Hidrogenada 1 a 2%, pode antecipar a maturação em
interna;V, vacúolo; parede;Wb, corpo de Woronine; *, até 30 dias, pois antecipa a brotação e floração, tendo
vesículas densas perto de plasmalemma e tonoplast; maior efeito quanto mais distante do início da brotação
seta, espaço periplasmático aumentado; ponta de for realizada a aplicação (PETRI et al. 1996).
seta, parede alterada; barra = 1 μm. Lamela et al. (2016), analisaram a brotação da
Fonte: Amborabé, 2002. Cabernet Sauvignon cultivada em Pinheiro Machado,
na Serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, com o uso
de diferentes doses de Cianamida Hidrogenada. Para
tanto, foram coletadas mini estacas de videira Cabernet
Sauvignon as quais receberam diferentes concentrações
de cianamida hidrogenada : 0% (testemunha), 2% (20
ml.l-1), 3% (30 ml.l-1), 4% (40 ml.l-1) e 5% (50 ml.l-1),
utilizando o produto comercial Dormex®. As estacas,
com uma gema cada, receberam diferentes doses do
produto e ficaram condicionadas em BOD a 21°C com
12 horas de luz e 12 horas escuro
A avaliação da uniformidade de brotação foi
realizada a partir de contagens aos 15, 20, 25 e 30 dias
após a instalação. Foi verificado que, para o número de
gemas brotadas aos 15 dias, houve acréscimos acima
de 200% para as doses de 3 e 4%, quando comparadas
com o tratamento controle (0%). Pode-se concluir que
a dose de 3% de cianamida hidrogenada apresentou
resultados satisfatórios quanto à uniformidade da brota-
ção das gemas de videira da cv. ‘Cabernet Sauvignon’
cultivada em Pinheiro Machado – RS. Entretanto, vale
ressaltar que há variações da resposta em função da
época de aplicação, cultivar e à quantidade de frio acu-
mulada, podendo ser essa resposta diferente, quando
realizada em regiões de elevada altitude.
12.12 Rererências
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352
13. Manejo de
Plantas Daninhas em
Vinhedos
Leonardo Bianco de Carvalho
Jocleita Peruzzo Ferrareze
Flávia Regina da Costa
13.1 Introdução
353
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
13.2 Convivência com plantas daninhas A alelopatia é a interação entre plantas em que,
em ambientes agrícolas ao menos, um dos indivíduos envolvidos é prejudicado,
enquanto o outro pode se beneficiar ou não da interação.
13.2.1. Interferência Nesse sentido, entende-se que uma planta produz
e libera no ambiente algum metabólito secundário
Os prejuízos causados pelas plantas daninhas (denominado aleloquímico) que exercerá algum efeito
decorrem de uma série de fatores condicionantes inibidor no crescimento e no desenvolvimento de outra
do ambiente em função de sua presença nas áreas planta (CARVALHO, 2013b).
agrícolas. O somatório desses fatores é denominado Os metabólitos secundários são produzidos por
interferência, ou seja, “o conjunto de ações negativas diferentes partes da planta, dependendo, inclusive, da
que recebe determinado cultivo agrícola em decorrência espécie em questão. Normalmente, os metabólitos
da presença de plantas daninhas em determinado secundários com potencial alelopático (aleloquímicos)
ambiente” (PITELLI, 1985). Os principais fatores são produzidos em maior quantidade nas folhas. A
componentes da interferência das plantas daninhas quantidade de aleloquímicos produzida varia em
em áreas de cultivo agrícola são: competição, alelopatia função da espécie e é influenciada por fatores bióticos e
e hospedagem de agentes fitopatogênicos. abióticos. Há espécies em que algum fator de estresse,
A competição é a interação entre plantas em biótico ou abiótico, pode estimular a produção de
que há prejuízo para ambos os indivíduos envolvidos determinado composto; porém, em outra espécie,
devido à limitação de algum recurso ambiental exigido pode ocorrer inibição na produção do composto
para o crescimento e desenvolvimento das plantas. (CARVALHO, 2013b).
Portanto, a competição somente vai ocorrer quando,
ao menos, um recurso estiver limitado no meio. Caso 13.2.2. Grau de interferência
o meio forneça o recurso em quantidade suficiente
para atender a demanda de ambos os indivíduos, o O somatório percentual desses efeitos sobre
simples fato de estarem convivendo não garante que a produtividade de determinada cultura agrícola é
a competição irá se estabelecer (CARVALHO, 2013b). denominado grau de interferência, ou seja, “a redução
Os principais recursos passíveis de competição percentual da produção econômica de determinada
são: água, nutrientes, luz e espaço; podendo haver, cultura provocada pela interferência de plantas
ainda, limitação de gases (CO2 e O2, principalmente). daninhas” (PITELLI, 1985). O grau de interferência
É importante ressaltar que a ocupação do espaço é influenciado por fatores bióticos e abióticos do
(limitação de espaço, especificamente), está diretamente ambiente, os quais, por sua vez, são condicionados
relacionada à competição por água, nutrientes e por fatores edafoclimáticos. Pitelli (1985), também
luz, ou seja, quando a planta ocupa mais espaço, destaca quatro componentes do grau de interferência
consequentemente, pode alocar mais recursos do meio. em ambientes agrícolas: comunidade infestante, cultura
A competição é considerada a principal causa agrícola, manejo da área e período de convivência
de redução de produtividade em cultivos agrícolas, pois das plantas daninhas com as culturas agrícolas. Esses
as plantas daninhas requerem, para seu crescimento quatro fatores, por sua vez, são todos influenciados e
e desenvolvimento, sempre os mesmos recursos condicionados por fatores de solo e clima.
que as plantas cultivadas. Porém, de maneira geral, é Os fatores que compõem os efeitos derivados da
praticamente impossível separar, no campo, os efeitos comunidade infestante sobre o grau de interferência são:
oriundos da competição e da alelopatia. Considerando, a composição específica (há espécies mais competitivas
portanto, o termo interferência mais adequado para que outras), a densidade de plantas (em geral, densidades
descrever os efeitos negativos que ocorrem quando mais altas promovem maior interferência, até o limite
plantas daninhas convivem e causam reduções de da interferência intraespecífica) e pela distribuição das
produtividade em culturas agrícolas (CARVALHO, plantas na área (distribuições aleatórias, ou mais próximas
2013b). à uniforme, promovem maior interferência).
354
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Os fatores que compõem os efeitos derivados causada por temperaturas baixas) e estende-se até o
da cultura agrícola sobre o grau de interferência são: momento em que as necessidades das plantas daninhas
o genótipo (há espécies que são mais competitivas, e cultivadas suplantam a quantidade de recursos
assim como, dento da mesma espécie, há cultivares disponível no ambiente, estabelecendo-se, portanto,
mais competitivos que outros, que crescem mais o início da interferência. Tal período é denominado
rápido e fecham a entrelinha rapidamente), a de Período Anterior à Interferência (PAI) (PITELLI,
população e o arranjo de plantas (em geral, quanto DURIGAN, 1984).
menor o espaçamento entrelinhas, mais rapidamente Há um período em que, teoricamente, a ação
o dossel sombreia a entrelinha e inibe a germinação residual dos herbicidas aplicados ao solo deve cobrir
e/ou crescimento das plantas daninhas, assim até o momento em que a própria cultura, por si só,
como, densidades mais altas promovem, em geral, seja capaz de inibir a emergência e/ou o crescimento
maior capacidade competitiva; além de que plantas das plantas daninhas (por sombrear as entrelinhas,
distribuídas mais uniformemente podem aproveitar geralmente). Esse período inicia-se no mesmo momento
melhor os recursos para seu crescimento) (PITELLI, do PAI e estende-se até o momento descrito acima
1985). (sombreamento das entrelinhas, normalmente). Tal
Todo manejo empregado na área vai influenciar período é denominado de Período Total de Prevenção
tanto plantas cultivadas quanto plantas daninhas. à Interferência (PTPI). Portanto, o PTPI compreende o
Adubações, por exemplo, favorecem o crescimento de PAI e mais um período, como descrito a seguir (PITELLI,
ambas; assim, plantas daninhas que alocam quantidades DURIGAN, 1984).
grandes de recursos podem inibir mais rapidamente Há um período do ciclo da cultura que se inicia
e intensamente o crescimento da cultura. O controle no final do PAI e se estende até o final do PTPI, em
fitossanitário também influencia ambas as plantas, que a presença de plantas daninhas, efetivamente,
daninhas e cultivadas. Por isso, o controle das plantas acarreta interferência sobre a produtividade das
daninhas deve ser eficiente para que essa vegetação culturas e, portanto, deve ser controlada para prevenir
não usufrua melhor do manejo da área que as plantas à interferência. Tal período é denominado de Período
cultivadas. Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI). O controle,
O período de convivência entre plantas daninhas de modo geral, deve ser feito durante todo esse período.
e as culturas agrícolas é um dos principais fatores que Todos os fatores descritos acima são, de maneira
compõem o grau de interferência. De maneira geral, direta ou indireta, influenciados por condições de solo e
quanto mais longo o tempo de convivência, mais clima. Locais com condições de solo e clima diferentes
intenso poderá ser o grau de interferência. Porém, tendem a apresentar comunidades de plantas daninhas
não somente o tempo de convivência, mas também de composição distinta devido à adaptação das espécies.
a época em que ocorre a convivência é importante Além disso, a composição pode até ser a mesma, mas
(CARVALHO, 2013). Sabe-se que no início e final a importância relativa das espécies pode ser diferente,
do ciclo da cultura, a presença das plantas daninhas também devido à adaptação das mesmas. Portanto,
pode não acarretar interferência. Em função disso, três mesmo que comunidades infestantes semelhantes se
períodos de interferência foram propostos por Pitelli e estabeleçam em dois locais de condições distintas de
Durigan (1984): o período anterior à interferência (PAI), solo e clima, o grau de interferência exercido por elas
o período total de prevenção à interferência (PTPI) e em uma mesma cultura pode ser diferente CARVALHO,
o período crítico de prevenção à interferência (PCPI). 2013b).
Há um período, no início do ciclo, em que a O comportamento dos herbicidas no ambiente é
convivência não acarreta interferência, pois a quantidade diferente quando se compara solos de texturas diferentes
de recursos do ambiente é suficiente para suprir as e mesmo condições de clima diferenciadas. Clima mais
necessidades tanto das plantas daninhas quanto das ameno tende a ter menos perdas por volatilização. Solo
plantas cultivadas. Esse período inicia-se no plantio mais argiloso tende a reter mais herbicida, enquanto
(ou após a dormência fisiológica de culturas perenes, solo mais arenoso tende a lixiviar mais herbicida
355
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
(dependendo das propriedades dos herbicidas). O sejam disseminadas pela água de irrigação;e (vi) manter
comportamento das culturas também é influenciado, animais em quarentena, pois podem trazer sementes de
de modo que culturas mais adaptadas à determinada plantas daninhas no seu aparelho digestório (inclusive,
região se desenvolvem melhor nessa região ou em quebrando sua dormência no trato gastrointestinal)
regiões com condições edafoclimáticas semelhantes (CARVALHO, 2013b).
(CARVALHO, 2013b).
Dessa maneira, diz-se que condições 13.3.2. Métodos de controle
edafoclimáticas condicionam os demais fatores que
compõem o grau de interferência (plantas daninhas, O controle de plantas daninhas em ambientes
planta cultivada, período de convivência e manejo), agrícolas pode ser feito por meio de diversos métodos.
sendo, também, um fator que influencia o grau de Os métodos possíveis de serem utilizados são: cultural,
interferência. mecânico, físico e químico (CARVALHO, 2013b).
O método de controle cultural baseia-se no
13.3 Controle de plantas daninhas em uso do manejo da própria cultura para controlar as
ambientes agrícolas plantas daninhas. Dentro do método de controle cultural
existem diversas práticas de controle, destacando-se:
13.3.1. Prevenção (i) uso de variedades mais competitivas; (ii) uso de
espaçamento mais estreito; (iii) uso de densidade de
A prevenção envolve o uso de práticas que visam plantio mais alta; (iv) uso de cobertura verde (culturas de
reduzir ou não aumentar o banco de dissemínulos cobertura), entre outras. Esse método é de baixo custo
das plantas daninhas em determinado ambiente. A e pode ser utilizado em qualquer área de produção,
prevenção pode envolver o uso de outros métodos sem restrições (CARVALHO, 2013b).
de controle para prevenir a ocorrência das plantas O método de controle mecânico baseia-se
daninhas e sua disseminação nas áreas, envolvendo no uso de algum instrumento que arranque ou
três situações básicas: (i) limitação da entrada de corte as plantas daninhas. Dentro do método de
estruturas reprodutivas de espécies plantas daninhas controle mecânico existem diversas práticas de
de outras áreas que não ocorrem na área em questão: controle, destacando-se: (i) monda (arranquio
(ii) limitação da entrada de estruturas reprodutivas de ou corte das plantas daninhas utilizando as
espécies de plantas daninhas presentes na área, oriundas mãos como instrumento de controle); (ii) capina
de outras áreas; e (iii) limitação da disseminação de (arranquio ou corte manual das plantas daninhas
espécies de plantas daninhas presentes na própria área utilizando instrumentos de controle como enxada,
(CARVALHO, 2013b). enxadão, picão, enxada-rotativa, rolo-faca etc.);
Diversas são as práticas de prevenção utilizadas (iii) roçada (corte das plantas daninhas utilizando
no manejo de plantas daninhas, destacando-se: (i) instrumentos de controle como roçadeiras
limpeza de equipamentos, ferramentas, implementos elétricas ou motorizadas, foices, roçadeiras
e máquinas agrícolas utilizadas no manejo das culturas, tratorizadas, rolo-faca etc.); e (iv) cultivo ou cultivo
principalmente quando são deslocados de uma área do solo (arranquio das plantas daninhas através do
para outra; (ii) limpeza de roupas, sapatos e EPIs antes revolvimento do solo realizado por implementos
da entrada no vinhedo; (iii) uso de mudas certificadas, agrícolas cultivadores (arado de disco, arado de
para garantir que não haja contaminação das mudas aivecas, subsoladores etc.). Esse é o método mais
com estruturas reprodutivas de plantas daninhas; oneroso e de menor rendimento, havendo limitação
(iv) uso de esterco muito bem fermentado, pois, no em áreas muito declivosas sempre que envolve o
processo de fermentação, as sementes das plantas uso de máquinas agrícolas (CARVALHO, 2013b).
daninhas podem ser deterioradas; (v) limpeza dos O método de controle físico baseia-se no uso
canais de irrigação, para evitar que as plantas daninhas de alguma prática que exerça influência física sobre as
proliferem-se na beira desses locais e que, em seguida, plantas daninhas. Dentro do método de controle físico,
356
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
existem diversas práticas, destacando-se: (i) cobertura iv) Inibidores do FSI –são herbicidas de
morta (uso de palha ou outro resíduo vegetal) e (ii) ação total utilizados essencialmente
solarização (uso de filme de polietileno). Esse método em pós-emergência. Paraquat e diquat
é relativamente oneroso e limitado a pequenas áreas são os herbicidas desse mecanismo de
(CARVALHO, 2013b). ação;
O método de controle químico baseia-se no v) Inibidores da PROTOX – são herbicidas
uso de produtos químicos (herbicidas) visando matar aplicados em pós-emergência, mas
plantas daninhas. É o método mais difundido e sua alguns têm ação no solo, para
aceitação decorre de: (i) apresentar menor dependência controle de dico e monocotiledôneas.
de mão de obra, que é cada vez mais cara e difícil Destacam-se: fomezafen, lactofen,
de ser encontrada; (ii) ser rápido, prático e eficiente; oxyfluorfen, flumioxazin, oxadiazon,
(iii) apresentar controle eficiente, mesmo em épocas carfentrazone-ethyl, sulfentrazone
chuvosas; (iv) poder ser usado com eficiência mesmo etc;
na linha de plantio, sem danificar o sistema radicular da vi) Inibidores da HPPD – são
cultura; (v) permitir o cultivo mínimo ou plantio direto; recomendados para aplicação
(vi) poder controlar plantas daninhas de reprodução nas folhas para controle de mono
vegetativa (SILVA, SILVA, 2007). e dicotiledôneas. Destacam-se:
Os herbicidas disponíveis para uso agrícola no mesotrione, utilizado em pré-
Brasil (BRASIL, 2013) são de diversos grupos químicos emergência para controle de mono e
pertencentes a 15 mecanismos de ação distintos. Por dicotiledôneas. Destaca-se o herbicida
mecanismo de ação, entende-se o primeiro evento clomazone;
metabólico (sítio de ação) das plantas onde o herbicida vii) Inibidores da EPSPs – aplicado
atua. Os principais herbicidas utilizados no Brasil essencialmente em pós-emergência
apresentam os seguintes mecanismos de ação: para controle não-seletivo (exceto
i) Inibidores da ACCase – são herbicidas culturas transgênicas). Destaca-se o
aplicados em pós-emergência para herbicida glyphosate;
controle de gramíneas. Destacam-se: viii) Inibidores da GS – aplicado
clodinafop-propargyl, haloxyfop-p- essencialmente em pós-emergência
ethyl, fluazifop-p-buthyl, clethodim, para controle não-seletivo (exceto
sethoxydim etc; culturas transgênicas). Destaca-se o
ii) Inibidores da ALS – são herbicidas herbicida glufosinate-ammonium;
aplicados em pós-emergência (com ix) Inibidores do arranjo de microtúbulos
boa ação no solo). Controlam mono e – aplicados essencialmente em
dicotiledôneas, mas há variação entre pré-emergência para controle de
os grupos químicos. Destacam-se: gramíneas. Destacam-se os herbicidas:
chlorimuron-ethyl, metsulfuron-methyl, trifluralin e pendimethalin;
nicosulfuron, imazethapyr, cloransulam- x) Inibidores da biossíntese de ácidos
methyl, diclosulam, flumetsulam, graxos de cadeira muito longa –
pyritiobac-sodium etc; destacam-se os herbicidas alachlor e
iii) Inibidores do FSII – são herbicidas metolachlor;
aplicados no solo (mas têm boa ação xi) Inibidores da biossíntese de lipídeos
foliar) para controle de dicotiledôneas, (não-ACCase) – são aplicados
preferencialmente. Destacam-se: essencialmente em pré-emergência
atrazine, metribuzin, amicarbazone, para controle de gramíneas.
bentazon, diuron, linuron, tebuthiuron, Destacam-se os herbicidas molinate e
propanil etc; thiobencarbe;
357
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
358
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Nome Comum Sítio de Ação/1 Aplicação/2 Ação Marca Comercial Dose de PC/3
diuron/4 FSII PRE, POS ou POSd Sistêmica (PRE) Diuron (Nortox) 2 a 6 L/ha
Contato (POS)
/1
FSII e FSI correspondem aos herbicidas inibidores do fluxo de elétrons nos fotossistemas II e I, respectivamente; e GS e EPSPS correspondem aos
herbicidas inibidores das enzimas glutamina sintetase e 5-fosfoenolpiruvil-chiquimato-3-fosfato sintase.
/2
PRE, POS e POSd correspondem a épocas de aplicação, sendo: PRE, pré-emergência das plantas daninhas (normalmente na entrelinha da cultura;
POS, pós-emergência das plantas daninhas (normalmente na entrelinha com proteção, denominada de pós-dirigida = POSd).
/3
PC corresponde a produto comercial; a variação da dose depende do tipo de solo, da espécie, do estádio de crescimento das plantas daninhas,
entre outros fatores, sendo que a determinação da dose correta a ser utilizada deve ser feita por profissional qualificado.
/4
Recomendado para aplicação no início do outono para controle de plantas daninhas anuais e algumas perenes, ou, em alguns casos, em aplicações
em pós-emergência, mantendo certo residual no solo.
/5
recomendado para aplicação em pós-emergência dirigida, em plantas recém-emergidas, de preferência, para controle de plantas daninhas anuais e
algumas perenes.
/6
recomendado para aplicação em pós-emergência dirigida para controle de plantas daninhas gramíneas anuais e perenes e eudicotiledôneas.
/7
recomendado para aplicação em pós-emergência dirigida, em plantas recém-emergidas, de preferência, para controle de plantas daninhas anuais e
algumas perenes.
/8
recomendado para aplicação em pós-emergência dirigida para controle de plantas daninhas anuais e algumas perenes, mantendo certo residual no
solo.
Fonte: Adaptado de Derr, 2013 e MAPA, 2013.
359
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
Tabela 69. Características de plantas daninhas de ocorrência em regiões produtoras de videiras de altitude.
Fonte: Adaptado de Kissmann, 1997, Kissmann e Groth, 1999; 2000, e Lorenzi, 2000.
Cynodon dactylon grama-seda África, Europa herbácea perene sementes, rizomas e estolões
e Ásia
Cyperus difformis Europa anual sementes
Cyperus esculentus América perene sementes e tubérculos
Cyperus ferax tiririca América herbácea perene ou anual sementes e tubérculos
Cyperus meyenianus América perene sementes
Cyperus rotundus India perene tubérculos e sementes
Digitaria horizontalis milhã América herbácea anual sementes e enraizamento de nós
Digitaria sanguinalis Europa sementes
Echinochloa colona Índia
Echinochloa crus-galli capim-arroz Europa e Ásia herbácea anual sementes
Echinochloa crus-pavonis Europa e Ásia
Eleusine indica capim-pé-de-galinha Ásia herbácea anual ou perene sementes
Euphorbia heterophylla leiteiro América herbácea anual sementes
Eryngium elegans caraguatá América herbácea perene sementes e rizomas
Hypochaeris brasiliensis almeirão-do-campo América herbácea anual ou bianual sementes e rebrota de raízes
Hypochaeris radicata Europa perene sementes
Hypoxis decumbens falsa-tiririca América herbácea perene sementes e rizomas
Hyptis mutabilis betônica América herbácea anual sementes
Hyptis suaveolens
Ipomoea grandifolia
Ipomoea hederifolia corda-de-viola América trepadeira anual sementes
Ipomoea nil
Lolium multiflorum azevém Europa herbácea anual ou bianual sementes
Panicum maximum sempre-verde África herbácea perene sementes e rizomas
Parthenium hysterophorus losna-branca América herbácea anual sementes
Pennisetum clandestinum capim-quicuio África herbácea perene rizomas e estolões
Physalis angulata bucho-de-rã América herbácea anual sementes
Plantago major tanchagem Europa herbácea perene sementes e gemas de raiz
360
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 69. Características de plantas daninhas de ocorrência em regiões produtoras de videiras de altitude.
(Continuação)
Fonte: Adaptado de Kissmann, 1997, Kissmann e Groth, 1999; 2000, e Lorenzi, 2000.
Dentre todas essas espécies de plantas daninhas, a videira, já o Gramoxone não. Porém, produtos similares
que mais preocupa os produtores de uva, principalmente ao Gramoxone, à base de paraquat, estão registrados
no Estado do Rio Grande do Sul, é o azevém devido à para uso em videira (vide Tabela 69). No entanto, esses
presença de biótipos resistentes ao herbicida glyphosate. produtos não são seletivos para a videira e devem ser
Como alternativa de controle químico desses biótipos, empregados de maneira cuidadosa, com proteção e em
Mariani et al. (2013) destacam a possibilidade de jato dirigido, para não atingirem e ocasionarem danos às
aplicação de herbicidas graminicidas, como os inibidores folhas da videira, com possíveis reflexos no crescimento
da ACCase (Fusilade, Verdict-R, Gallant, Shogun, Furore, e na produtividade da cultura.
Podium, Iloxan, Select e Poast) e inibidor da ALS (Hussar),
além de herbicidas de ação total, como inibidores 13.4.3. Estratégias de manejo de plantas
do FSI (Gramoxone) e da GS (Finale). Os herbicidas daninhas em videiras de altitude
graminicidas indicados são seletivos para a videira, no
entanto não estão registrados junto ao MAPA para uso As principais estratégias que podem ser
na cultura. O herbicida Finale está registrado para uso em adotadas para reduzir a infestação das plantas
361
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
daninhas antes da implantação do pomar, segundo Rosada’, assim como dois outros produtos não
Vargas e Oliveira (2002), são: usar áreas livres ou com registrados, simazine e dichlobenil. Os autores relataram
baixa infestação de plantas daninhas ou, ainda, áreas que todos os produtos controlaram muito bem caruru
com espécies de fácil controle; eliminar as espécies (Amaranthus hybridus), guanxuma (Sida spp.) e picão-
daninhas estabelecidas com uso de preparo do solo preto (Bidens pilosa); além disso, dichlobenil controlou
ou de herbicidas totais; utilizar práticas capazes de bem capim-colchão (Digitaria horizontalis) e leiteiro
induzir a germinação das sementes e a emergência (Euphorbia heterophylla), e diuron controlou bem o
das plântulas, reduzindo o banco de dissemínulos, e leiteiro. Neves et al. (2012) relatam a opção pelo uso de
controlar estas, mecanicamente ou com herbicidas haloxifop (graminicida não registrado, sem ação sobre
antes da implantação da cultura; e implantar espécies a videira), no controle de azevém. Em outros países,
como azevém e/ou aveia para formar cobertura morta. além dos herbicidas registrados no Brasil, produtos
Já após a implantação do pomar, o uso da roçadeira como flumioxazin, isoxaben, napropamide, norflurazon,
reduz a infestação de plantas daninhas nas entrelinhas, oryzalin, oxyfluorfen, pendimethalin, pronamide,
mas não daquelas localizadas na linha da cultura. O rimsulfuron, trifluralin, carfentrazone, clethodim,
controle das plantas daninhas existentes na linha pode diquat, fluazifop e sethoxydim também são utilizados
ser feito com uso de roçadeira manual e/ou cobertura de maneira eficaz no controle das plantas daninhas
morta e com uso de herbicidas, dependendo do sistema em videiras. A maioria desses herbicidas é registrado
de produção utilizado. no Brasil para uso em outras culturas.
A cobertura vegetal, seja cobertura verde ou Além disso, em geral, herbicidas de contato
morta, é de grande importância no manejo de plantas (como o paraquat e o glufosinate) são mais seguros
daninhas em videira, principalmente no outono-inverno, quando a cultura não está em período de dormência
em que o azevém pode infestar intensamente as áreas e com brotações no porta-enxerto. De maneira geral, é
de produção. No entanto, a cobertura deve estar comum os produtores não usarem herbicidas sistêmicos
limitada à entrelinha de cultivo, caso contrário pode (como o glyphosate) quando existem brotações,
competir com a cultura por recursos do ambiente. Dessa pois aplicações acidentais ou mesmo deriva podem,
maneira, o manejo da cobertura vegetal é de extrema segundo eles, se translocar pela planta e matá-la. No
importância no controle de plantas daninhas em videira. entanto, é pouco provável que essa exposição acarrete
O uso de herbicidas está entre as práticas de morte da planta, apesar de poder causar reduções
controle mais utilizadas, juntamente com a roçada de produtividade ou mesmo alteração na qualidade
mecânica. Normalmente, a aplicação de herbicidas do produto colhido. Porém, não há estudos que
está limitada à linha de plantio associada à roçada da comprovem tais relatos em videira.
vegetação na entrelinha, com proteção para não atingir
as plantas da cultura (cujos efeitos podem ser diversos, 13.4.4. Manejo de plantas daninhas resistentes
conforme será apresentado a seguir) ou mesmo em a herbicidas em videiras de altitude
área total. No entanto, as opções de produtos químicos
para controle de plantas daninhas são limitadas, sendo Por resistência entende-se: “a capacidade
que a maioria dos produtos registrados é à base de adquirida por um grupo de indivíduos dentro de uma
glyphosate (21 produtos comerciais), que é um produto população (biótipo) em sobreviver e se reproduzir
não-seletivo de ação total, ou mesmo herbicidas não- após a exposição ao herbicida que controla outros
seletivos (BRASIL, 2013). indivíduos da mesma espécies”; diferindo-se de
Resultados de pesquisa são escassos sobre tolerância que é “a capacidade inata da espécie em
controle de plantas daninhas em videiras. Alguns sobreviver e se reproduzir após exposição ao herbicida”
relatam o uso de coberturas mortas, porém, no caso (CHRISTOFFOLETI et al. 2008). Assim, pode-se
do controle químico, pouco se conhece a respeito dizer que quando uma planta daninha é tolerante
dos produtos a serem utilizados. Paulo et al. (1997), a determinado herbicida, qualquer indivíduo dessa
destacam a seletividade do diuron a uvas ‘Niagara espécie, seja onde for, também será tolerante ao
362
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
produto; no entanto, quando uma planta daninha é mantêm o solo coberto e limita os recursos para as
resistente, um ou mais grupos de plantas, em um local plantas daninhas; e o uso de MIPD, que associa vários
ou vários locais, apresentam indivíduos que não morrem métodos e práticas de controle, que aumenta a eficácia
e se reproduzem normalmente, deixando descendentes de controle de diferentes tipos de plantas daninhas.
após serem expostos ao herbicida, enquanto outros Assim, de maneira geral, quanto mais estratégias de
grupos de plantas da mesma espécie morrem após a controle e manejo forem usadas, menor o risco de
exposição ao produto (CARVALHO, 2013a, b). evolução e melhor o controle de plantas daninhas
Não há registros oficiais de plantas daninhas resistentes. No intuito de avaliar o risco de evolução
resistentes a herbicidas em áreas de produção de de populações resistentes, Christoffoleti et al. (2008)
uvas de altitude. No entanto, alguns relatos sugerem a descrevem opções de manejo e formas de avaliação
presença de azevém e buva resistentes a glyphosate. pertinentes, encontrados na Tabela 70.
Outras plantas de difícil controle, como o nabo e a Nas áreas de produção de videiras de altitude,
corda-de-viola, também ocorrem em áreas de cultivo duas plantas daninhas são as mais problemáticas quanto
de uvas de altitude. à resistência a glyphosate, a buva e o azevém. No
O problema da resistência pode evoluir mais entanto, dentre as opções de controle químico, com
seriamente, uma vez que outras espécies de plantas execção do glyphosate, os demais herbicidas podem
daninhas já foram registradas como resistentes em ser usados no controle dessas espécies, mesmo com
vários países e também ocorrem no Brasil, como: capim- a presença de plantas resistentes na comunidade.
arroz (Echinochloa spp.), losna-branca (Parthenium Associado à aplicação dos herbicidas, é recomendável
hysterophorus) e tanchagem (Plantago lanceolata), o uso de cobertura verde, principalmente no outono-
resistentes a inibidores de EPSPs; cardo (Senecio vulgaris) inverno (para controle de azevém), evitando áreas
resistente a inibidores de FSII; e caruru (Amaranthus em pousio. Na primavera-verão, o cuidado especial
spp.) resistente a inibidores de FSII e EPSPs. Além disso, deve ser com a buva, procurando controlar essa planta
já foram registrados casos de resistência de azevém a daninha, sempre em estádios iniciais de crescimento,
inibidores de ACCase e ALS (inclusive no Brasil), FSII pois os herbicidas, de maneira geral, não são eficazes
e FSI, e buva resistente a inibidores de ALS (no Brasil) no controle de plantas adultas. Além disso, é importante
e FSI (HEAP, 2013). o controle antes do florescimento, pois a buva pode
Para prevenir a evolução de populações de produzir mais de 500.000 sementes por planta, com
plantas daninhas resistentes a herbicidas e para manejar diversos mecanismos de dormência, o que permite
populações resistentes, recomendam-se algumas sua permanência no banco de dissemínulos por muito
estratégias de manejo específicas, visando diminuir tempo e garante a infestação da área nos anos seguintes.
a pressão de seleção exercida pelo uso contínuo de
um único método de controle, principalmente se for 13.4.5. Problemas ocasionados por deriva de
a aplicação frequente e repetida do mesmo herbicida herbicidas
ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação.
Uma das mais importantes recomendações é a Culturas perenes, em geral, estão predispostas à
rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de deriva de herbicidas, devido ao uso comum de produtos
ação. Como o número de produtos é limitado para uso pós-emergentes na linha de cultivo, com proteção, ou
em videiras, no Brasil, o risco de evolução de populações não, da barra de pulverização, integrado com a roçada
resistentes é maior. Outras recomendações importantes mecânica da vegetação na entrelinha. Nesse sistema de
são: o uso de misturas formuladas de herbicidas, que controle, as plantas podem ficar expostas, também, a
melhora a eficiência de controle; o controle das plantas aplicações acidentais, quando não há proteção da barra,
daninhas em estágio vegetativo, antes da produção principalmente, o que é mais problemático que a deriva.
de estruturas vegetativas, para diminuição do banco No entanto, o uso de herbicidas não deve ser descartado,
de dissemínulos e manutenção de baixos níveis pois pode contribuir para aumentar a produção das plantas
de infestação; o uso de culturas de cobertura, que cultivadas, apesar do perigo da exposição das plantas, que
363
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
Tabela 70. Avaliação de risco de evolução de populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas.
Fonte: Adaptado de Christoffoleti et al., 2008.
Risco
Opções de manejo
Baixo Médio Alto
Mistura ou rotação de herbicidas > 2 mecanismos de ação 2 mecanismos de ação 1 mecanismo de ação
Métodos de controle utilizados Cultural, mecânico e químico Cultural e químico Químico
Uso de igual mecanismo de ação por ciclo Uma vez Mais de uma vez Muitas vezes
Sistema de cultivo/1 Rotação plena Rotação limitada Sem rotação
Resistência relativa ao mecanismo de ação Desconhecida Limitada Comum
Nível de infestação Baixo Médio Alto
Controle nos últimos 3 anos Bom Decrescente Baixo
/1
praticamente sem rotação para culturas perenes, por isso a importância de culturas de cobertura.
pode resultar em injúrias ocasionais a culturas suscetíveis translocados do local de absorção (folhas ou raízes)
que estiverem próximas ao local de aplicação. para os pontos de crescimento.
O uso indiscriminado de herbicidas tornou-se Herbicidas hormonais alteram o equilíbrio
problemático a parreirais na região norte do Estado hormonal nas células em crescimento (KADIR et al.,
do Rio Grande do Sul. Alguns produtos altamente 2003), além de influenciar o balanço energético das plantas
voláteis, como o 2,4-D éster, têm atingido videiras de e a relação fonte-dreno. Oliveira (2007), estudando o
propriedades rurais a até um quilômetro de distância, efeito de subdoses de 2,4-D na produtividade de uva
causando prejuízos por safras seguidas e impedindo “Itália” e a suscetibilidade da cultura em função de seu
que alguns produtores conseguissem ter produções estádio de desenvolvimento, observou que, 24 horas
satisfatórias, mantendo, portanto, estado de alerta a após a aplicação das subdoses de 2,4-D, os sintomas já
respeito do uso desses produtos em suas áreas de cultivo eram evidentes em muitas plantas e caracterizavam-se,
(FERREIRA, 2011). principalmente, pelo alongamento das gavinhas, epinastia
Pomares de videiras estão, com certa das folhas e deformações de ramos jovens e de folhas.
frequência, localizados próximos a áreas de cultivo Tais sintomas foram, predominantemente, evidenciados
de grãos. Dessa maneira, herbicidas utilizados nas nas partes novas em crescimento (folhas e ramos verdes).
lavouras anuais podem sofrer deriva, atingir os pomares À medida que as subdoses e a severidade dos sintomas
e causar perdas significativas. A escala dos danos aumentaram, a fitointoxicação observada progrediu
causados por deriva de herbicidas na videira depende para necrose, queda de folhas e surgimento de raízes
de vários fatores, incluindo a formulação do herbicida, adventícias nos ramos. Tão ou mais importantes que os
a variedade da videira, o estágio de crescimento e o efeitos observados nas folhas são os efeitos observados
vigor da planta, condições ambientais, tamanho da nos ramos. Quando as injúrias nos ramos são significativas,
gota e a altura da barra de pulverização. Herbicidas além de haver efeito direto na redução da translocação
hormonais, tais como 2,4-D, 2,4-DB, MCPA, MCPB, de reservas para os cachos em formação, é possível que
mecoprop, dicamba, clopyralid, triclopyr, fluroxipyr, haja necessidade de uma poda mais severa, logo após a
picloram e quinclorac são usados para controlar colheita, para a recuperação do ramo produtivo. Nesses
plantas de folhas largas em muitos sistemas de cultivo. casos, comprometem-se, no mínimo, duas safras depois
No entanto, alguns desses herbicidas são propensos da poda realizada imediatamente após a colheita.
à deriva que pode causar danos graves às videiras. A videira é considerada uma das culturas mais
Tais produtos são altamente fitotóxicos e rapidamente susceptíveis ao 2,4-D (KADIR et al., 2003). Segundo
364
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Vargas, Oliveira (2013), deve-se evitar aplicações nas a abscisão). Esses frutos, em geral, apresentaram
proximidades da videira de herbicidas a base de 2,4-D, sintomas característicos de amarelecimento e
pois esta cultura é altamente sensível a este produto em necrose, principalmente, na região atingida pelo
determinados estádios vegetativos. Quando o herbicida herbicida. No entanto, o autor destaca que a queda
é aplicado perto de um vinhedo em condições de dos frutos ocorreu, principalmente, devido ao contato
vento forte ou de alta temperatura, há potencial para direto com a calda pulverizada do glyphosate e não
danos, podendo ocasionar a perda total da produção devido à translocação. Por fim, o autor relata que a
e mesmo das videiras. Segundo Kadir et al. (2003), um qualidade tecnológica dos frutos que permaneceram
mínimo de cinco anos ou seis pode ser necessário para na planta, e estavam na região atingida pelo herbicida,
restabelecer a produção total do pomar. não foi afetada.
Um dos herbicidas mais utilizados na fruticultura Cordero-Bueso et al. (2011), em estudo realizado
é o glyphosato. Esse produto é recomendado em em vinhedos de Madrid, relatam que a presença de
culturas como citros, macieira, videira, ameixeira, herbicidas tem pouco impacto sobre a diversidade
nectarineira, pessegueiro, bananeira, cacaueiro de comunidades de leveduras associadas às bagas.
e pereira (AMARANTE JÚNIOR et al., 2002). Na Além disso, o uso de herbicidas, como o glyphosate,
videira, o glyphosate é usado para eliminar as plantas pode ter estimulado a ocorrência de populações de
daninhas debaixo das linhas de videiras e para reduzir leveduras (incluindo as estirpes fermentativas), já
o crescimento da cobertura vegetal entre as plantas, que as leveduras poderiam ter utilizado o glyphosate
para que a potencial competição por água e nutrientes como substrato energético. Assim, quando se fala
seja reduzido (LANDRY et al., 2005). O glyphosate é em leveduras fermentativas, como as do gênero
um herbicida de amplo espectro e não-seletivo, ou Saccharomyces, em ambientes quentes e áridos, onde
seja, controla mono e eudicotiledôneas, além de não o revolvimento provoca a degradação do solo, a melhor
ser seletivo para a videira. recomendação seria a manutenção do solo nu, com
O glyphosate é o mais importante herbicida a utilização de herbicidas. Culturas de cobertura no
a afetar a síntese de metabólitos secundários devido vinhedo, por outro lado, poderiam concorrer com a
ao bloqueio da rota do ácido chiquímico, com muitas videira por recursos do meio, como nutrientes e água, e
implicações ecológicas (LYDON, DUKE, 1988). poderiam favorecer o aumento da população de fungos
Doses não-letais do glyphosate inibem a produção de capazes de competir com as populações de leveduras
fitoalexinas derivadas da rota chiquímica de algumas de estirpes fermentativas, reduzindo sua quantidade e
plantas, aumentando a susceptibilidade a patógenos. biodiversidade no pomar.
As fitoalexinas são compostos antimicrobianos O uso de herbicidas nos vinhedos pode ter
sintetizados pelas plantas em resposta à infecção consequências para plantas nativas ou não-alvo, e isso
microbiana, limitando a propagação do patógeno pode afetar o equilíbrio natural do ambiente resultando
(PASCHOLATI, LEITE, 1995). Vargas e Oliveira (2013) em danos ao pomar. Kjaer et al. (2006) estudaram
relatam que, quando for usar o glyphosate em um as consequências da aplicação de metsulfuron em
vinhedo, se deve ter o cuidado em fazer a desbrota pilriteiro (Crataegus monogyna), uma planta que não
antecipada de brotos no toco do porta-enxerto, para é utilizada comercialmente, mas é importante como
evitar fitointoxicação das plantas.Efeitos negativos do alimento para a fauna e manutenção da biodiversidade
glyphosate foram observados por Gravena (2006), locais; os autores constataram que pulverizações de
em que todas as doses de glyphosate testadas em campos agrícolas podem reduzir a quantidade de frutas
seu experimento causaram queda de frutos de disponíveis para aves frugívoras e essas aves podem
laranja ‘Pera’ (Citrus sinensis) presentes na região passar a causar estragos nas áreas de cultivo próximas,
atingida pela pulverização. O autor discute que o devido a falta de alimento.
glyphosate promove a queda de frutos, em fase final Outro herbicida bastante utilizado em viticultura
de desenvolvimento, devido à produção de etileno na França (TOMLIN, 2000), mas não registrado no Brasil,
nos frutos em fase final de maturação (causando é o flumioxazin, um herbicida altamente eficiente para
365
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
controle de plantas daninhas, tanto em pré-emergência também a qualidade do vinho produzido a partir das
quanto em pós-emergência, em diversas culturas, como plantas expostas ao produto.
a videira, algodão, amendoim ou soja (DECOIN, 1999;
NIEKAMP et al. 1999; SCOTT et al. 2001; ASKEW 13.5 Considerações Finais
et al. 2002). Resultados obtidos por Saladin et al.
(2003) sugerem que a aplicação de flumioxazin no A presença de plantas daninhas em áreas de
solo induziu estresse em videiras, levando à proteólise cultivo de videiras de altitude, assim como os métodos
da folha. No entanto, este estresse foi parcialmente utilizados para seu controle, pode ocasionar problemas
recuperado três semanas após a aplicação do herbicida. no crescimento, desenvolvimento e produção da cultura.
Porém, na vinha, os efeitos de flumioxazin ainda eram Além disso, efeitos indiretos sobre a qualidade das frutas
significativos cinco meses após o tratamento, em e, consequentemente, dos produtos derivados, tais como
particular na cultivar Chardonnay. Estes efeitos incluíram sucos e vinhos, podem ocorrer, principalmente, devido à
diminuição da percentagem de peso seco de folhas má utilização da tecnologia de aplicação e da aplicação
e o conteúdo de hidratos de carbono solúveis, bem de herbicidas em condições ambientais inadequadas.
como aumento do potencial osmótico nas folhas. A Por isso, é essencial o uso racional dos herbicidas e de
diminuição de carboidratos solúveis foliares pode ter outros métodos de controle, principalmente de maneira
consequências drásticas para o crescimento da baga integrada, visando aumentar a eficiência de controle
e a constituição de reserva. Além disso, as plantas das plantas daninhas de um modo seguro, tanto para
tratadas foram caracterizadas por diminuição do teor a cultura quanto para o trabalhador, o produtor e o
de aminoácidos livres e uma acumulação de amônio, consumidor de uvas e derivados.
enquanto o nível de proteínas não aumentou de forma
significativa, sugerindo degradação de aminoácidos, o 13.6 Referências
que poderia afetar a qualidade dos vinhos produzidos
a partir dessas uvas. AMARANTE J. O. P.; SANTOS, T. C. R.; BRITO, N.
A alteração do balanço de carbono e nitrogênio, M; RIBEIRO, M. L. Glifosato: propriedades, toxici-
após o tratamento com herbicida, pode afetar o vigor dade, usos e legislação. Química Nova, v. 25, n. 4,
de uma videira em longo prazo. O uso de herbicidas p. 589-593, 2002.
pode contaminar águas superficiais e subterrâneas
por lixiviação e pode, também, contaminar os frutos, ASKEW, S. D; WILCUT, J. W; CRAMER, J. R. Cot-
através da deriva durante a aplicação. Além disso, ton (Gossypium hirsutum) and weed response to
resíduos de herbicidas no solo podem também lesar flumioxazin applied preplant and postemergence
as vinhas e/ou reduzir o rendimento e, por conseguinte, directed. Weed Technology, v. 16, n. 2, p. 184-
potencialmente, podem afetar qualidade do vinho e 190, 2002.
entrar na cadeia alimentar. A taxa de dissipação de
uma substância química na superfície da baga depende CARVALHO, L. B. Estudos ecológicos de plan-
de muitos fatores, tais como a capacidade inerente do tas daninhas em agroecossistemas. Jaboticabal:
produto químico para aderir à superfície, propriedades Edição do Autor, 2011. 58 p.
físico-químicas da substância, a textura da superfície
da baga, incluindo ceras e as condições climáticas CARVALHO, L. B. Herbicidas. Lages: Edição do
(YING, WILLIAMS, 2000). Esses mesmos autores citam, Autor, 2013a. 62 p.
ainda de forma curiosa, que as uvas brancas reteriam
mais herbicidas em suas superfícies comparadas às CARVALHO, L. B. Plantas daninhas. Lages: Edição
uvas tintas. Isso poderia ocorrer devido a diferente do Autor, 2013b. 82 p.
composição e espessura da cera na superfície das bagas
de uvas brancas e tintas. Portanto, os herbicidas podem CARVALHO, L. B.; ALVES, P. L. C. A.; DUKE, S.
afetar, não somente o crescimento das videiras, mas O. Hormesis with glyphosate depends on coffee
366
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
367
Manejo de Plantas Daninhas em Vinhedos
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368
14. Manejo de Plantas de
Cobertura do Solo em
Vinhedos
Jovani Zalamena
George Wellington Melo
A
preservação do solo agrícola como um recurso natural deve
ser uma meta a se buscar constantemente na propriedade
agrícola. Assim, é necessário desenvolver e incentivar o uso
de técnicas de manejo de solo com menor impacto negativo
sobre o meio ambiente.
O uso de plantas de cobertura em áreas cultivadas com videira
deve ser incentivado, pois pode reduzir a erosão superficial, conservar e
melhorar a fertilidade do solo, proteger o solo do impacto de máquinas
e equipamentos, reduzir as perdas de nutrientes por percolação, auxiliar
na reciclagem de nutrientes, reduzir a incidência de pragas e doenças
e diminuir os custos de produção.
Por outro lado, a manutenção do solo descoberto, isto é, sem
vegetação, contribui para redução da matéria orgânica, aumento
da densidade e degradação da estrutura do solo. Assim, favorece a
redução da fertilidade natural, a diminuição da produtividade e da
qualidade das colheitas.
Vários resultados de pesquisas têm demonstrado o papel
benéfico das plantas de cobertura para o ambiente vitícola, tais como a
redução do vigor vegetativo e produtividade, aumento da concentração
de açúcares e antocianinas, diminuição da ocorrência de pragas e
doenças. Isso traduz a importância da difusão de informações sobre
os benefícios diretos e indiretos das plantas de cobertura para uma
viticultura mais preocupada com o meio ambiente, buscando manter
ou melhorar a qualidade do solo, que é a responsável pela manutenção
da produtividade das plantas e, ao mesmo tempo, reduz o impacto
negativo das atividades agrícolas, podendo, também, contribuir para
a saúde da população.
Com o cultivo de plantas de cobertura, consorciadas com a
videira, encontra-se uma forma de preservar e até mesmo de recuperar
a qualidade dos solos, com ênfase no aumento do teor de matéria
orgânica, melhorando características físicas, químicas e biológicas do
solo. A seguir serão abordados os principais benefícios das plantas de
cobertura e algumas implicações do seu uso.
369
Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos
14.1 Aspectos positivos do uso de plantas do solo, principalmente o nitrato (NO3-), poderão ser
de cobertura perdidos por lixiviação, caso não existam outras plantas
que possam absorver os nutrientes ali disponíveis. Na
As plantas de cobertura possuem papel tabela 71 podem ser observados os teores de nutrientes
importante no controle da erosão dos solos, acumulados por algumas espécies que foram cultivadas
principalmente naquelas regiões mais declivosas, em vinhedo no município de São Joaquim-SC. As plantas
como se observa nas regiões vitícolas do sul do Brasil de azevém (Lolium multiflorum) e aveia branca (Avena
(Figura 151). Elas impedem o impacto direto das gotas sativa), cultivadas no período de inverno, acumularam
de água das chuvas na superfície do solo, evitando por hectare, respectivamente, 43,2 e 49,3 kg de N, 10,7
desta forma a desagregação e o transporte de solo e e 12,8 kg de P, 85,3 e 95,7 kg de K, além de Ca e Mg.
nutrientes, o que poderia causar assoreamento dos rios As plantas cultivadas no verão, como o trigo mourisco
e aumentar os teores de nutrientes nas águas, causando (Fagopyrum esculentum) e moha (Setaria itálica) tiveram
um desequilíbrio ambiental. menor produção de massa seca e nutriente. Vale a pena
lembrar que as espécies de verão são cultivadas sobre
Figura 151. Região vitícola na época do outono as de inverno e, por isso, a quantidade de nutrientes
mostrando um solo suscetível preparado para a deve ser somada (ZALAMENA, 2012).
instalação de vinhedo. A planta festuca (Festuca arundinacea) tem
Fonte: Produção dos autores, 2014. produção de massa seca e acúmulo de nutrientes
semelhante à aveia e azevém. Porém, por se tratar de
uma espécie perene, tem a produção distribuída ao longo
do ano. Para isso, é necessário que, periodicamente,
sejam realizadas roçadas ou cortes. As quantidades
de nutrientes mencionadas estão no tecido vegetal
dessas plantas de cobertura, mas, após o corte ou
morte dessas, são liberados ao solo, de forma gradual,
durante a decomposição, tornando-os disponíveis
para absorção pela videira. Além das espécies citadas,
existem outras que adicionam quantidade maior de
N, que são aquelas da família das leguminosas, como
por exemplo, a ervilhaca (Vicia spp.), que adiciona até
187 kg ha-1 de N (Quantidade produzida em parcelas
experimentais de vinhedos na Embrapa Uva e Vinho
As características físicas, como densidade e no ano de 2013 - Dados não publicados).
estrutura do solo só são melhoradas com a adição As plantas de cobertura podem diminuir e
de carbono, que é feito com o uso contínuo das também aumentar o vigor de frutíferas, nas condições
plantas cobrindo o solo, onde as raízes que crescem de clima temperado, no Sul do Brasil (RUFATO et
e morrem anualmente liberam substâncias agregantes al. 2007; PELIZZA et al. 2009; ZALAMENA, 2012).
das partículas do solo e aumentam a atividade da biota, Esta capacidade das plantas de coberturas para
melhorando a penetração de água e de raízes. Tudo modificar o vigor pode ser considerada como uma
isso, sendo beneficiado pela descompactação do solo característica positiva ou negativa, dependendo da
ocasionada pelas plantas de cobertura. idade do vinhedo e das características das plantas
As plantas de cobertura também contribuem de cobertura. Nos vinhedos novos, por exemplo,
para diminuir as perdas de nutrientes do sistema. a videira ainda não está com o sistema radicular
Durante o inverno, a videira fica em dormência e a desenvolvido, demandando, desta forma, que as
demanda por nutrientes é baixa ou quase nula; e neste plantas de cobertura sejam monitoradas, sendo
período, os nutrientes que estão disponíveis na solução necessário fazer o coroamento ao redor delas, para
370
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 71. Massa seca (MS) produzida e teor de nutrientes adicionado ao solo pelas diferentes plantas de
cobertura cultivadas em vinhedo comercial da Vinícola Suzin, São Joaquim-SC, durante ano agrícola 2009/2010.
Fonte: adaptado de Zalamena, 2012.
MS N P K Ca Mg
Período de crescimento Plantas de cobertura
-------------------------------- Kg ha-1 --------------------------------
Azevém 3569 43,2 10,7 85,3 8,9 5,4
Inverno
Aveia branca 4253 49,3 12,8 95,7 7,2 4,3
evitar a competição, o que demandaria um tempo precipitação. Esta interferência é maior nos vinhedos
maior para o início de produção. novos, de até três anos de idade, cujo sistema radicular
Quando os vinhedos já estão em produção e ainda não está bem desenvolvido. Mas este problema
são observadas boas condições de vigor, as plantas de pode ser corrigido, facilmente, através da eliminação
cobertura podem ser utilizadas sem necessitar controle das plantas de cobertura ao redor da videira, ou seja,
muito rigoroso no seu manejo, apenas observando as fazendo o coroamento através de capina ou dessecação.
necessidades técnicas para o manejo e tratos culturais Ou, ainda, cultivando as plantas de cobertura apenas
da videira. nas entrelinhas, onde a quantidade de raízes de videira
Outro benefício importante das plantas de é menor.
cobertura é o aumento da biomassa microbiana e Em vinhedos com sistema de condução em
carbono orgânico do solo (STEENWERTH, BELINA, espaldeira, as plantas de cobertura, normalmente
2008), que atuam como fonte de energia e de carbono aquelas de porte mais elevado, podem formar um
para os microrganismos, além de favorecer a diminuição microclima úmido na região do fio mais próximo do
da variação térmica e umidade do solo (FERREIRA et solo, o que pode favorecer a ocorrência de doenças.
al. 2000). Outro ponto negativo das plantas de cobertura é a
Naqueles solos em que os níveis de cobre (Cu) dificuldade de realização dos tratos culturais da videira,
estão altos, em função do uso demasiado de fungicidas como podas e pulverizações e, até mesmo, na estética
cúpricos para prevenção e/ou controle de doenças, do vinhedo, que apresenta aparência de descuido do
as plantas de cobertura consorciadas com a videira produtor e favorece, também, o surgimento de animais
também apresentam um papel importante, reduzindo perigosos como cobras, lagartos, aranhas, etc. Mas tudo
a toxidez de Cu às videiras (MELO et al. 2015). isso pode ser resolvido, simplesmente com manejo
adequado, através do corte das plantas de coberturas
14.1.1. Aspectos negativos do uso de plantas com roçadas periódicas, eliminando totalmente os
de cobertura e técnicas para solução problemas mencionados.
Como se pode ver, o uso de plantas de cobertura
As plantas de cobertura diminuem a proporciona mais vantagens do que desvantagens ao
disponibilidade de água e nutrientes no solo, competindo solo e à videira. Além de que, os motivos considerados
com a videira (WHEELER et al. 2005; LOPES et al. problemas são passíveis de serem corrigidos com
2008), o que pode ser considerado problema naqueles pequenas práticas de manejo, aumentando a vida útil
solos com baixa profundidade efetiva e com baixa e tornando o vinhedo sustentável.
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Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos
14.1.2. Manejo das plantas de cobertura Já, a transferência do resíduo das plantas
produzidas na linha para a entrelinha permite diminuir
O manejo das plantas de cobertura se torna a disponibilidade de nutrientes para a videira, como
necessário sempre que elas estiverem interferindo foi observado por Zalamena et al. (2013), os quais
negativamente no vinhedo. Durante o período identificaram que a concentração de nitrogênio
vegetativo e principalmente produtivo da videira, se nas folhas de videira foi menor sob este manejo de
faz necessário ter uma boa aeração no vinhedo, visando transferência. É importante realizar esta transferência
evitar condições de umidade, favoráveis ao surgimento naqueles solos com alta fertilidade e que se deseja
de doenças que afetam a videira. Neste caso, deve-se diminuir o vigor da videira.
realizar o manejo das plantas de cobertura.
Durante o período de dormência da videira, 14.1.4. Manejo químico
não é necessário fazer o manejo, deixando a planta
completar seu ciclo naturalmente, a não ser que se faça O manejo químico deve ser realizado com
o manejo com roçada, para proporcionar novo rebrote prudência. Pode ser usado naquele período em que
e aumentar a produção vegetativa das espécies de se constata déficit hídrico no solo, com prejuízos de
cobertura. O manejo pode ser realizado pelos métodos fornecimento de água e/ou nutrientes para a videira.
mecânicos e químicos: Neste caso, a dessecação das plantas de cobertura
eliminaria a competição com a videira. É importante
14.1.3. Manejo mecânico naqueles solos rasos e com baixa precipitação,
principalmente entre o período de floração e maturação,
O manejo mecânico, através da capina ou quando a demanda de água e nutrientes é maior. É
aração das plantas, que envolve revolvimento do solo, importante lembrar que o produto a ser usado para
devem ser evitadas, pois tornarão o solo suscetível aos dessecação deve ser autorizado e liberado para a
processos erosivos, conforme já relatados anteriormente. cultura.
Exceptuam-se, em momentos específicos, como, por
exemplo, utilizar a capina para fazer o coroamento 14.1.5. Implantação de plantas de cobertura
ao redor da videira em vinhedos novos, evitando a desde a implantação do vinhedo
competição com as plantas de cobertura.
O manejo mecânico, aqui descrito, baseia-se, De forma resumida, será apresentado na
exclusivamente, na roçada das plantas de cobertura, sequência um sistema de implantação de plantas de
seja ela realizada de forma manual ou mecanizada. cobertura em consórcio com a videira, partindo da
O manejo através de roçagem permite que a maior implantação do vinhedo até o período de produção.
parte das plantas rebrote novamente, desde que seja
realizado antes da sua floração. 14.1.6. Fase de implantação e crescimento da
Após a roçada, é possível fazer outras duas formas videira
de manejo com os resíduos das plantas de cobertura.
Eles podem ser transferidos da linha para a entrelinha Na instalação de um vinhedo, são necessárias
do vinhedo, ou vice-versa, dependendo do objetivo. A várias operações com máquinas agrícolas que,
transferência para a linha permite que os resíduos sejam dependendo do tipo de solo e declividade do terreno,
decompostos e seus nutrientes liberados ao solo, no podem alterar drasticamente a paisagem. Na figura
espaço onde se concentra a maior quantidade de raízes 152 se observa grande quantidade de terra removida
da videira, permitindo que as mesmas os absorvam. Esta de um local para outro com o objetivo de tornar o
prática também reduz o impacto da gota de chuva na terreno mais plano e, assim, permitir maior uso de
superfície do solo, aumenta a infiltração de água em mecanização. A amostragem de solo, com fins de
função da manutenção da macroporosidade do solo análise nutricional, só deve ser feita após o término
e, ainda, diminui a evaporação da água do solo. desse movimento de terra, porque se a amostra for
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos
Figura 155 (no alto). Proteção da videira com 14.1.8. Espécies de plantas de cobertura
material de papelão para evitar o crescimento de indicadas
plantas espontâneas junto às videiras.
Fonte: Produção dos autores, 2014. Em diversas partes do mundo, está sendo
Figura 156 (acima).Vista de vinhedo na época de estudado o cultivo de plantas de cobertura consorciada
queda das folhas mostrando o solo com plantas de com a videira, mas cada qual com seus objetivos
cobertura em início de crescimento. adequados às necessidades locais. Um dos critérios
Fonte: Produção dos autores, 2012. para a escolha da espécie é considerar a profundidade
Figura 157 (no alto à direita).Vista de vinhedo efetiva do solo e a precipitação pluviométrica do
durante o período de inverno com o solo local, já que eles são determinantes para definir o
totalmente coberto por plantas de cobertura. espaço de concentração das raízes da videira. A
Fonte: Produção dos autores, 2012. declividade do relevo, níveis de fertilidade do solo,
assim como a altura das plantas e sua adaptação
ao consórcio com a videira são importantes para
escolha das espécies.
Outro fator importante e que pode definir a
espécie é sua adaptação ao sistema de condução da
videira. Se a condução for o sistema de espaldeira,
não existem restrições de espécies para implantação,
pois, neste sistema, o sombreamento que a videira
pode causar é pequeno, sem interferência nas plantas
374
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de cobertura. Já, a condução da videira pelo sistema entrelinhas das videiras (ZALAMENA, 2012). Quando
latada vai oferecer algumas restrições, por causa do cultivada sozinha, nesta mesma região, produz entre
sombreamento imposto pelo sistema. 5500 a 7000 kg ha-1, desde que sejam realizados cortes
ao longo do ciclo (ROSA et al. 2008).
14.1.9. Espécies recomendadas para Centeio (Secale cereale): é uma gramínea
implantação em consórcio com a videira precoce, muito tolerante ao frio e produz em média
nas condições de clima e solos de região de 3800 kg ha-1, quando cultivada sozinha (ROSA et al.
elevada altitude de Santa Catarina 2008). Possui boa rusticidade, adaptação a solos pobres
e sistema radicular profundo.
Serão descritas aqui apenas as espécies Ervilhaca (Vicia spp): é espécie leguminosa
de plantas de cobertura adaptadas nesta região e, de ciclo anual, que apresenta um crescimento inicial
comumente, utilizadas em consórcio com a videira. lento, mas aumenta com o passar do tempo. Possui
As espécies citadas são cultivadas durante o período alta capacidade de fixação de nitrogênio da atmosfera
de outono/inverno. e é muito importante na ciclagem de nutrientes,
Aveia preta (Avena strigosa): A aveia preta é principalmente o nitrogênio. É uma planta que se adapta
uma gramínea de clima temperado, ciclo anual, de bem nas condições de clima temperado, tolerando
hábito ereto, com desenvolvimento uniforme e bom temperaturas baixas e solos com características diversas,
perfilhamento. Apresenta boa tolerância às baixas desde que sejam bem drenados. Esta espécie pode ser
temperaturas, sendo cultivada no período de inverno. utilizada sozinha ou em consórcio com uma gramínea,
O cultivo da aveia preta, em vinhedos da Serra Gaúcha, como a aveia, por exemplo. A consorciação de espécies
produz, anualmente, entre 2700 a 5800 kg ha-1 de massa leguminosas com gramíneas permite que a palha
seca (DALLA ROSA et al. 2009) e, quando cultivada perdure por mais tempo sobre o solo, além de fornecer
sozinha, no Planalto Catarinense, produz entre 3300 resíduos com características diferentes, que favorecem
a 7000 kg ha-1 (ROSA et al. 2008). a decomposição pelos microrganismos, melhorando
Aveia branca (Avena sativa): Apresenta as características químicas do solo (PEREIRA DOS
características semelhantes à aveia preta. Entretanto é SANTOS et al. 2012).
uma planta menos rústica, mais exigente em fertilidade Trevo Branco (Trifolium repens L.): É uma
de solo e com menor resistência a períodos de estiagem. leguminosa que se pereniza por ressemeadura natural;
No Planalto Catarinense, a aveia branca produz em torno de crescimento prostrado, caule estolonífero, com
de 2400 kg ha-1 de massa seca, quando cultivada na raízes pivotantes de até 0,30 m e em grande número,
linha; aumenta para 4200 kg ha-1, quando cultivada nas originadas em cada nó do estolão. O caule atinge altura
entrelinhas das videiras (ZALAMENA, 2012). Quando aproximada de 0,20 m. O trevo branco é uma planta
cultivada sozinha, nesta mesma região, produz entre que se adapta à maioria dos solos, desde úmidos ou
2600 a 4570 kg ha-1, anualmente (ROSA et al. 2008). sujeitos a regime de precipitações pluviais adequados.
Azevém (Lolium multiflorum): O azevém é uma É indicado que o pH seja superior a 6,0 (FONTANELI,
gramínea de ciclo anual, possui boa capacidade de FONTANELI, SANTOS, 2012).
perfilhamento, rebrote e rusticidade. Uma vez realizada Trevo Vermelho (Trifolium pratense): É
a semeadura do azevém e mantendo-o até completar considerado uma leguminosa bienal ou perene de
seu ciclo para produção de semente, vai apresentar curta duração, mas, com verões secos, torna-se
ressemeadura natural no ano seguinte, sem necessidade anual. Normalmente, suporta geada, preferindo
de nova implantação. Esta é uma característica positiva outono e inverno frios e verões amenos para melhor
do azevém, pois evita custos de implantação, além desenvolvimento. É exigente em fertilidade, requerendo
de ganhar precocidade na germinação. No Planalto pH entre 6,0 e 7,0 e solos bem drenados (FONTANELI,
Catarinense, o azevém produz em torno de 2000 kg FONTANELI, SANTOS, 2012).
ha-1 de massa seca por ano, quando cultivado na linha Nabo forrageiro (Raphanus sativus): é uma planta
e aumenta pra 3500 kg ha-1, quando cultivado nas crucífera, anual de inverno, com grande rusticidade.
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Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos
Apresenta boa adaptação às condições de clima frio e A maior biodiversidade do sistema tem efeito
úmido, com ressemeadura natural. É uma planta muito positivo direto nos atributos químicos e físicos do solo.
vigorosa, com sistema radicular pivotante e agressivo, Ela, normalmente, contribui para a adição de matéria
capaz de romper camadas de solo extremamente orgânica ao solo, aumenta a eficiência das adubações
adensadas e/ou compactadas, a profundidades maiores. e a ciclagem de nutrientes. No entanto, os produtores
Possui alta capacidade de reciclagem de nutrientes do tendem a deixar o solo totalmente limpo, pois temem
solo, principalmente do fósforo e nitrogênio. Porém, a ocorrência de competição, por água e por nutrientes
o seu uso em vinhedos precisa ser melhor avaliado, entre as plantas espontâneas e a videira, o que poderia
devido ao seu possível efeito alelopático, identificado interferir negativamente no crescimento da videira.
em plantas de pessegueiro (RUFATO et al. 2006). Hoje, já se sabe que a possibilidade de
Festuca (Festuca arundinacea): É uma gramínea concorrência entre as plantas se dá nos três anos
perene, que tolera muito bem o frio e umidade. A iniciais de crescimento da videira, ou em anos em que
produção de massa seca no Planalto Catarinense é a distribuição de chuvas está muito abaixo do normal.
distribuída ao longo do ano, com produção anual média Como dito anteriormente, neste caso, há necessidade
de 5000 kg ha-1, independentemente de ser ela cultivada de, ao menos, fazer o coroamento das plantas.
sozinha ou em consórcio com a videira (ROSA et al.
2008; ZALAMENA, 2012). 14.2 Considerações finais e desafios
Plantas Espontâneas: Essas plantas crescem no
ambiente vitícola sem que o produtor precise fazer Na região de altitude do Planalto Catarinense,
a semeadura. Normalmente, são observadas várias onde os vinhedos estão implantados, a maior parte dos
espécies de plantas, as quais também apresentam solos cultivados apresenta declividade acentuada. Nesta
grande diversidade de hábitos, de crescimento e de situação, as plantas de cobertura do solo têm um papel
sistemas radiculares. Assim, segundo Paoletti (1999), o importante na minimização dos processos erosivos, por
aumento da biodiversidade é um indicativo da melhoria meio de cobertura (viva ou morta) permanente do solo,
do sistema de produção, tanto que hoje é comum o aumentando, desta forma, a conservação do mesmo.
uso de bioindicadores para avaliar a sustentabilidade As plantas de cobertura, além de absorver os
de atividades agrícolas. nutrientes da solução do solo, de impedir suas possíveis
Nesse sentido, existem vários relatos de que a perdas, durante o período de dormência da videira,
diversificação vegetal também aumenta a biodiversidade, poderão fixar o nitrogênio atmosférico, no caso de
favorecendo a diversidade e atividade de outros espécies leguminosas, e incorporar o nutriente no sistema.
organismos (ALTIERI, 1999; SANGUANKEO, 2009; Após a morte das plantas, seja pela senescência ou pelo
THOMSON, PENFOLD, 2012). Segundo Bengtsson et manejo dado, os nutrientes absorvidos serão mineralizados
al. (2005), que analisaram vários estudos comparativos e disponibilizados gradualmente para a videira. Desta
entre produção orgânica e convencional, maior forma, grande parte dos nutrientes necessários para a
biodiversidade, observada nos sistemas orgânicos videira, já serão fornecidos, naturalmente, pelas plantas
proporciona aumento na população de inimigos de cobertura.
naturais, o que contribui para o controle de pragas O maior desafio, neste momento, será o de
nos sistemas orgânicos de produção. A diversificação encontrar espécies de plantas de cobertura de ciclo anual
também estimula a população de bactérias benéficas, de verão, com características mais agressivas, adaptadas
que contribuem para que as plantas tenham mais às condições de altitude do Planalto Catarinense e que se
resistência contra patógenos. desenvolvam no período que coincide com a maturação
Este mecanismo de feedback indireto de solo da uva. Por conseguinte, a espécie de cobertura estará
pode contribuir para a relação positiva entre a competindo com a videira pela absorção de água, já
diversidade de plantas, produtividade e, também, que nesse período não é desejável água em abundância
ajudar o desenvolvimento de estratégias de manejo à videira e, assim, a uva terá características melhores para
agrícola mais sustentável (LATZ et al. 2012). a produção de um vinho com mais qualidade.
376
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
377
Manejo de Plantas de Cobertura do Solo em Vinhedos
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15. Epidemiologia e
Manejo de Doenças
da Videira
Betina Pereira de Bem
Amauri Bogo
15.1 Introdução
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B
abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) aeração do dossel, como espaldeira, auxiliam na
de 50 %, em relação ao sistema em espaldeira redução da AACPD, facilitando o manejo e controle
(DE BEM et al. 2015). O sistema em Y, apesar de do patógeno (DE BEM, et al. 2016).
favorecer a ocorrência do míldio, é recomendado
para regiões de altitude como São Joaquim (SC), Oídio
em que as plantas apresentam excesso de vigor,
devido a condições edafoclimáticas específicas. Aspectos gerais e Importância Econômica
Esse sistema apresenta as vantagens de um maior
número de gemas e de ramos, maior área foliar e O oídio é uma doença muito severa,
aumento da produtividade, o que possibilita um principalmente nos países viticultores europeus.
melhor equilíbrio vegeto-produtivo das videiras, sem Na região Sul do Brasil, a doença não tem grande
perdas na qualidade da uva (MARCON FILHO, 2016; importância, a não ser em anos secos, em regiões
MARCON FILHO et al. 2017). Contudo, o sistema onde predominam variedades brancas. Em regiões
Y favorece demasiadamente o desenvolvimento de clima semiárido como o nordeste brasileiro
do dossel vegetativo, e isso dificulta a aeração e pode-se considerá-la como a principal doença
insolação. Técnicas de manejo como desponte, fúngica da parte aérea da videira. Nesses locais,
desfolha, desbrota e seleção de ramos devem ser a ocorrência da infecção, antes ou logo após a
adotadas para melhorar o microclima do dossel no florada, interfere no desenvolvimento dos frutos,
sistema Y e, assim, desfavorecer o desenvolvimento causando manchas irreversíveis, o que os torna
do míldio. Essas técnicas acarretam aumento de mão- impróprios para a comercialização, além de reduzir
de-obra, que deve ser devidamente analisada, de significativamente a produtividade do vinhedo
acordo com a condição socioeconômica específica (HAMADA et al., 2015).
de cada produtor.
Dentre os sistemas de sustentação mais Agente causal, sintomatologia e epidemiologia
utilizados, como GDC, espaldeira, latada descontínua
e cortina simples, os que mais apresentam dossel A doença é causada pelo fungo Uncinula necator
vegetativo denso são o GDC e a latada descontínua; [(Schweinf.) Burrill], forma perfeita de Oidium tuckeri
e são os mesmos, que mostraram as maiores (Berk.). A fase perfeita pertence à Classe Ascomycetes,
intensidades de míldio nas variedades Merlot e Ordem Erysiphales e cuja característica principal é a
Cabernet Sauvignon, nas regiões de altitude de formação de asca em frutificações do tipo cleistotécio.
SC. Os sistemas de condução que permitem maior A fase imperfeita pertence à Classe Deuteromicetes
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A B
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Escoriose
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Podridão cinzenta
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
nitrogenada favorece a infecção e o desenvolvimento concêntricos até envolver toda a baga (Figura 165). Em
do fungo, podendo ocorrer em todos os estádios condições de alta umidade relativa do ar, acima de 90%,
de desenvolvimento do fruto. Em bagas jovens, a surgem pontuações escuras, que são as estruturas do
hifa penetra na cutícula e permanece latente até a fungo. Os frutos infectados podem enrugar e mumificar. O
maturação da uva, quando então os sintomas tornam- fungo impede o fluxo de seiva pela ráquis, o que provoca a
se visíveis (CHOWDAPPA et al. 2009). seca e enrugamento das bagas, que caem precocemente.
As condições ideais para o desenvolvimento da doença
Podridão amarga são temperatura em torno de 28°C e umidade relativa do
ar acima de 90%. O fungo sobrevive em restos culturais,
Aspectos gerais e Importância Econômica cascas velhas de ramos, frutos mumificados e em bagas
caídas ao solo. O excesso de nitrogênio favorece a infecção
Conhecida como podridão amarga, devido e o desenvolvimento do fungo (LONGLAND & SUTTON,
ao gosto amargo que transmite a uva, impedindo a 2008).
comercialização tanto para mesa como para vinificação.
Podridão ácida
Agente causal, sintomatologia e epidemiologia
Aspectos gerais e Importância Econômica
A doença é causada pelo fungo Greeneria
uvicola (Berk. & M.A. Curtis) Punith, sinônimo de Ocorre em períodos quentes e chuvosos,
Melanconium fuligineum (Scribn. & Viala) Cavara. quando a concentração de açúcar nas bagas está acima
As infecções primárias iniciam-se após a floração e de 8%. O aparecimento da doença pode ocorrer a
permanecem latentes até a maturação da uva, quando partir do início da maturação, com maior intensidade
o fungo se desenvolve através do pedicelo e penetra no período de maturação-colheita. A maior intensidade
nas bagas, provocando seu apodrecimento e queda da doença se concentra nos meses de dezembro e
(LONGLAND & SUTTON, 2008). janeiro, nas regiões de elevada altitude, no estado de
Os sintomas são evidentes nas bagas durante a Santa Catarina (KUHN & FAJARDO, 2009).
maturação da uva. Inicialmente, observa-se uma lesão
aquosa e marrom que vai aumentando em forma de anéis Agente causal, sintomatologia e epidemiologia
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
sobre substrato orgânico. A temperatura ótima para Xiphinema causam apenas inchamentos nas pontas
o desenvolvimento da doença é de 14°C a 17°C, e das radicelas, porém, são importantes pelo fato de
solos ácidos (MANSOORI & DOROSTKAR, 2008). transmitir vírus de uma planta doente para outra
sadia. Na parte aérea da planta, os sintomas são
15.3 Doenças causadas por nematóides pouco perceptíveis, mostrando apenas uma aparência
clorótica nas folhas, ou seja, um verde menos intenso,
15.3.1. Aspectos gerais e importância apresentando como maior reflexo do parasitismo a
econômica queda na produtividade (VILLATE et al. 2012).
Nos vinhedos brasileiros, já foram relatados 15.4 Doenças causadas por bactérias
nove gêneros de nematóides, estando, também,
associados ao declínio em videira: Aorolaimus No Brasil, as doenças bacterianas não têm
(Sin. Peltamigratus), Aphelenchus, Longidorus, causado maiores preocupações aos viticultores,
Meloidogyne, Mesocriconema, Pratylenchus, ocorrendo de forma esporádica, especialmente, a
Rot ylenchulus, Tylenchulus e Xiphinema. bactéria Agrobacterium vitis, que afeta, principalmente,
Os gêneros Meloidogyne e Xiphinema são os mudas novas ou viveiros. Entretanto, recentemente, foi
mais relacionados com a cultura da videira. Os identificada na região do Submédio do Vale do São
nematóides do gênero Meloidogyne causam danos Francisco, polo vitícola que abrange os municípios de
diretos ao sistema radicular, penetrando nas raízes Petrolina-PE e Juazeiro-BA, a bactéria Xanthomonas
para se alimentarem, enquanto os do gênero campestris pv. Viticola, causando uma severa doença
Xiphinema, vetores de vírus, migram de planta a denominada “Cancro Bacteriano” (GARRIDO et al.
planta alimentando-se da parte terminal das raízes. 2008).
Entre as espécies de Meloidogyne consideradas
de maior impacto econômico para a videira estão 15.4.1. Galhas da coroa
M. incognita, M. javanica e M. arenaria, as quais
ocorrem de forma generalizada nas diversas áreas Agente causal, sintomatologia e epidemiologia
vitícolas do mundo, porém, apenas M. incognita,
M. javanica já foram relatadas no Brasil. Dentro do A doença é causada pela bactéria Agrobacterium
gênero Xiphinema, quatro espécies ocorrem em vitis. Possui três biovares, sendo o biovar 3 predominante
videira no Brasil, X. index, X. americanum (Sin. X. na videira e que, anteriormente, era denominado A.
brevicolle), X. brasiliensis e X. krugi, sendo que as tumefasciens. Esta bactéria afeta inúmeras plantas
duas primeiras podem transmitir vírus, possuindo, frutíferas, além da videira. A disseminação do patógeno
desta forma, maior importância. No Brasil, são pode ocorrer por meio de material propagativo
muito limitadas as informações sobre as espécies infectado (estacas, mudas), tesoura de poda e água
destes dois gêneros que parasitam a videira, não do solo. A colonização dos tecidos da planta se dá a
sendo conhecidos os níveis reais de danos que elas partir de ferimentos causados pela poda, desbrota e
podem causar (GARRIDO et al. 2008). outros tratos culturais.
A galha é o sintoma mais característico da
15.3.2. Agente causal, sintomatologia e doença, de ocorrência mais comum na parte basal
epidemiologia do tronco, próximo à linha do solo, embora possa se
desenvolver, também, logo abaixo da superfície do solo
As espécies do gênero Meloidogyne provocam e na parte aérea da planta (Figura 171). São constituídas
a formação de galhas ou nodosidades, devido às por tecidos desorganizados do sistema vascular e do
secreções liberadas pelas larvas e pelos neumatóides parênquima, apresentando, quando jovens, a superfície
adultos, ao se alimentarem, provocando hiperplasia macia e clara, tornando-se áspera e escurecida, à medida
e hipertrofia das células. As espécies do gênero que aumentam de tamanho (BINI et al. 2008).
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
pedicelos, ocorre murcha das bagas. Os sintomas variam por uma bactéria e um fitoplasma, respectivamente. Dois
em intensidade, dependendo da variedade afetada. No fatos marcaram decisivamente o avanço na pesquisa
Submédio do Vale do São Francisco, a variedade Red das viroses da videira. Inicialmente a descoberta de
Globe e algumas sem sementes, principalmente aquelas que o vírus responsável pela degenerescência da
originadas de Thompson Seedless, têm se mostrado videira (fanleaf ou court-noué) era transmitido através
mais sensíveis, apresentando alta incidência em alguns do solo pelo nematóide X. index e, posteriormente, a
vinhedos (CASSELLS, 2012). transmissão mecânica de diversos vírus da videira para
plantas herbáceas (CASSELLS, 2012).
15.5 Doenças viróticas Atualmente, com o aperfeiçoamento das
técnicas utilizadas em virologia vegetal para a
Doenças causadas por vírus, em videira, têm transmissão, purificação, caracterização e diagnose de
sido mencionadas nos países de tradição vitícola há vírus, são conhecidas, na videira, cerca de 50 doenças
mais de um século, porém o estudo desse patógeno consideradas de origem viral. Muitas destas viroses estão
somente evoluiu nos últimos 40 anos. Até 1960, eram bem identificadas e caracterizadas; outras, embora
mencionadas na literatura apenas oito anomalias, consideradas viroses, não têm, ainda, uma definição
consideradas de origem viral. Dentre essas, estavam exata da natureza do patógeno, se vírus, fitoplasma,
as doenças denominadas de “Pierce’s disease” e viróide, etc. Sabe-se apenas que são perpetuadas pelo
“Flavescence dorée”, as quais, sabe-se hoje, são causadas material vegetativo e por enxertia, condição mínima para
que uma doença seja incluída no grupo das viroses.
Dentro desse grande grupo de viroses da videira, existe
um grupo de grande relevância econômica para a
viticultura, razão pela qual são objeto de constante
atenção nos programas de seleção sanitária dos diversos
países vitícolas. Dessas viroses, já foram identificadas,
no Brasil, quatro das mais importantes - “enrolamento
da folha” (leafroll), “intumescimento dos ramos”
(corky bark), “caneluras do tronco” (stem grooving,
stem pitting) e “degenerescência da videira” (fanleaf)
- e, outras duas de menor relevância econômica, que
ocorrem de forma latente na maioria das variedades
comerciais - “necrose das nervuras” (vein necrosis) e
“manchas das nervuras” (fleck). No presente capítulo,
apresentamos um breve relato sobre estas doenças,
abrangendo etiologia, sintomatologia, epidemiologia,
diagnose e controle. Dentre elas, Enrolamento da folha
da videira (Grapevine leafroll), Complexo rugoso da
videira, Degenerescência da videira, (Grapevine fanleaf),
Necrose das nervuras da videira (Grapevine vein
necrosis) e Manchas das nervuras da videira (Grapevine
fleck) são as mais relevantes (BASSO et al., 2017).
Figura 171. Sintoma de Galhas da coroa na região 15.5.1. Complexo Rugoso da Videira – Viroses
da enxertia (A) e na base da raiz (B).
Fonte: Kuhn & Fajardo, 2003. Quatro viroses constituem o complexo rugoso
Fonte: Kuhn, (2009). da videira (“Grapevine rugose wood complex”),
causando alterações no lenho de plantas infectadas.
394
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Essas quatro são, o intumescimento dos ramos (“Corky das folhas próximas às regiões afetadas dos ramos. Com
bark”) e as caneluras do tronco que, por sua vez, estão o crescimento do ramo, o tecido da região intumescida
associadas às viroses “Rupestris stem pitting”, “Kober morre e fica com um aspecto corticoso (Figura 173). Os
stem grooving” e “LN33 stem grooving”. Estas viroses ramos afetados tendem a se curvar para baixo, sendo
podem ser separadas através de testes biológicos, com destacados da planta com facilidade, principalmente
variedades indicadoras (Rupestris du Lot, Kober 5BB e quando há formação de tecido corticoso na região de sua
LN33) específicas para cada vírus (BASSO et al., 2017). inserção. A maturação do ramo é irregular e, normalmente
seca, total ou parcialmente, no período de repouso da
15.5.2. Intumescimento dos ramos da videira planta. Nas plantas muito afetadas, a brotação é retardada
(Grapevine corky bark) e fraca. As folhas tendem a enrolar os bordos para baixo,
além de caírem mais tardiamente, no outono. A uva não
Aspectos gerais e importância econômica completa a maturação e a planta definha, gradativamente,
com a seca parcial ou total dos ramos afetados, podendo
Esta virose foi descrita pela primeira vez na morrer em poucos anos (CASSELLS, 2012).
Califórnia com o nome de “grapevine rough bark” Em algumas variedades viníferas e híbridas
e, posteriormente, foi denominada “grapevine corky tintas, pode ser observado o avermelhamento das
bark”. No Brasil, a doença foi descrita em São Paulo, folhas, que se evidencia no outono; por sua vez, na
Rio Grande do Sul e Vale do São Francisco (PE/ planta sadia, as folhas permanecem com a coloração
BA). Até o momento, o único hospedeiro natural normal. A coloração anormal abrange toda a área
conhecido para o vírus é a videira (BASSO et al. foliar, inclusive os tecidos, ao longo das nervuras. No
2017).
395
Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
entrenó da base do ramo do ano, ocorrem fissuras e Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o
a formação de tecido corticoso na região de inserção. vírus afeta severamente variedades americanas
Outro sintoma associado à presença do vírus é o como a Isabel, Niágara Rosada e Niágara Branca.
engrossamento na região da enxertia, principalmente, Nestas variedades, causa a queda progressiva de
em mudas de 1 a 3 anos. Forma-se um volume produtividade, a uva não completa a maturação
excessivo de tecido de consistência esponjosa, na (queda no teor de açúcar) e a planta pode morrer
região e acima da enxertia. O tecido, quando maduro, parcial ou totalmente em poucos anos. Nas
adquire aspecto corticoso e apresenta fendilhamento variedades de V. vinfera, o vírus associado ao
longitudinal (BASSO et al. 2017). sintoma de engrossamento na região da enxertia,
O vírus é transmitido através do material causa a morte de mudas nos primeiros 2-3 anos
vegetativo, seja pela multiplicação por estacas de desenvolvimento (CASSELLS, 2012).
ou gemas, enxertia e por meio das cochonilhas
Planococcus ficus, P. citri, Pseudococcus affinis e 15.5.3. Lenho rugoso
P. longispinus. Não há nenhuma constatação de
contaminação de plantas através de ferramentas e O lenho rugoso da videira é um complexo de
tesoura de poda. A virose do intumescimento dos quatro viroses que causam alterações no lenho das
ramos é conhecida na maioria dos países vitícolas. plantas. Essas quatro viroses são: Intumescimento
A doença afeta muitas variedades comerciais dos ramos (Grapevine virus B, GVB), Acanaladura
e porta-enxertos sem que estas apresentem do lenho de Kober (GVA), Caneluras do tronco de
sintomas aparentes. No Brasil, a doença tem Rupestris (Rupestris stem pitting-associated virus,
sido constatada nas principais regiões vitícolas, RSPaV) e Acanaladura do lenho de LN33 (vírus não
embora a sua incidência não seja muito grande identificado). Na prática, a doença é conhecida por
(GARRIDO et al. 2004). caneluras do tronco e é causada pela presença dos
Quanto aos prejuízos causados, em três últimos vírus mencionados (BASSO et al. 2017).
variedades suscetíveis, o vírus induz à redução
do vigor, queda na produção e definhamento 15.5.4. Caneluras do tronco da videira
de ramos da planta. Nas regiões vitícolas do
Aspectos gerais e importância econômica
396
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Grapevine virus A (GVA), respectivamente (CAMARGO viníferas tintas podem apresentar avermelhamento
et al. 2011). em plantas muito afetadas em função da formação
Recentemente foi caracterizado o RSPaV, deficiente dos vasos condutores nessa região; já em
pertencente ao gênero Foveavirus, e possuindo partículas planta sem caneluras, as folhas permanecem normais
alongadas e flexuosas, com cerca de 800 nm de (BASSO et al. 2017).
comprimento, RNA fita simples com, aproximadamente, O GVA é transmissível para hospedeiros
8700 nucleotídeos e proteína capsidial de 28 kDa. herbáceos (Chenopodium quinoa e Nicotiana
Este vírus tem sido identificado como agente causal de spp.). Possui partículas alongadas, com cerca de
caneluras em tronco de videiras, em particular, aquelas 800 nm de comprimento, e RNA fita simples com
induzidas na indicadora Rupestris. Não é transmitido aproximadamente 7400 nucleotídeos. As subunidades
mecanicamente, via inoculação com extrato foliar. da capa protéica têm 22,5 kDa de peso molecular.
Os sintomas da doença em variedades sensíveis são A disseminação de longa distância das caneluras do
observados com certa facilidade quando se retira a tronco ocorre pelo material vegetativo contaminado
casca do tronco da videira. Verifica-se, sobre a superfície e a transmissão através de enxertia. Demonstrou-
do lenho, a formação de reentrâncias longitudinais se que GVA pode ser transmitido entre videiras ou
(caneluras), que correspondem ao local onde a para hospedeiras herbáceas pelas cochonilhas da
casca penetra no lenho do tronco, prejudicando a família Pseudococcidade; Pseudococcus longispinus,
formação dos vasos condutores da seiva. O número P affinis, Planococcus citri e P. ficus, havendo ainda um
de caneluras, bem como seu comprimento e largura, relato de transmissão por Neopulvinaria innumerabilis
varia muito, possivelmente, devido à sensibilidade da (Coccidae). Em relação ao RSPaV, não há vetor
variedade afetada e às estirpes do patógeno (Figura relatado para este vírus. Também não se tem registro
174) (CASSELLS, 2012). da transmissão das caneluras do tronco de uma videira
As plantas doentes, em geral, diminuem o a outra através de ferramentas ou tesoura de poda
vigor e há retardo na brotação das gemas de uma a (CASSELLS, 2012).
duas semanas. A casca do tronco é mais grossa e de A doença da caneluras do tronco é conhecida
aspecto corticoso. Em algumas combinações enxerto/ na maioria das áreas vitícolas do mundo. No Brasil,
porta-enxerto, os sintomas podem se limitar a um dos embora não se tenha levantamento em todas as regiões
componentes, quando o outro é tolerante. Os porta- vitícolas do país, a ocorrência de sintomas da virose
enxertos, normalmente, mostram sintomas nítidos da tem sido verificada na maioria das regiões produtoras.
doença. Muitas variedades copa europeias e americanas A severidade dos prejuízos da doença está relacionada
também se têm mostrado altamente suscetíveis. à combinação copa/porta-enxerto, suscetibilidade de
As caneluras podem ser observadas até nas raízes, variedades viníferas e virulência da estirpe do vírus. Nas
especialmente, em variedades muito suscetíveis, como combinações mais sensíveis, a doença causa o declínio
é o caso do porta-enxerto Rupestris du Lot. Também e subsequente morte da planta, que pode ocorrer
pode ocorrer na região da enxertia uma diferença de aos 7-8 anos após a infecção. O declínio sempre é
diâmetro entre o enxerto e o porta-enxerto (CAMARGO acompanhado de uma progressiva redução da colheita
et al. 2011). até a improdutividade total da planta (BASSO et al.
As folhas das variedades tintas podem apresentar 2017).
avermelhamento em plantas muito afetadas em função
da formação deficiente dos vasos condutores na região 15.5.5. Necrose das nervuras
afetada. A morte de plantas, normalmente, ocorre entre
6 e 10 anos de idade, e até mais cedo, quando ambas as Aspectos gerais e importância econômica
variedades – porta-enxerto e enxerto são muito sensíveis.
Em muitas variedades, a doença permanece em estado A doença é considerada de origem viral
latente, ou seja, as plantas são portadoras da doença, e conhecida nas principais regiões vitícolas do
mas não mostram sintomas. As folhas de variedades mundo, além de afetar ampla gama de variedades.
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
As plantas afetadas pela doença apresentam severos tornam-se totalmente definhadas (KUHN &
sintomas que variam com as condições climáticas, FAJARDO, 2009).
época do ano, fertilidade do solo, estirpe do vírus e O sintoma mais comum em cachos de
variedade. São facilmente reconhecíveis em variedades variedades viníferas tintas é a maturação irregular e
sensíveis, em fim de ciclo vegetativo, antes da queda das retardada da uva, chegando até a não se completar.
folhas. Em plantas muito afetadas, os sintomas podem Em plantas com estágio de infecção mais avançado,
começar a se pronunciar a partir da floração, porém, o número e o tamanho dos cachos são menores
o mais comum é próximo à maturação da uva. Ao e um dossel enfraquecido, que dá à planta um
contrário do que se verifica em relação às viníferas aspecto nítido de definhamento. Sintomas de
infectadas, onde os bordos das folhas enrolam para avermelhamento ou amarelamento das folhas,
baixo, as videiras americanas e híbridas não mostram os semelhantes aos causados pelas viroses, podem ser
sintomas característicos da doença. Pode ser observado, induzidos por outras causas como: deficiência de
em variedades como Niagara Branca, Niagara Rosada e potássio, magnésio ou boro; ataque de cigarrinhas
Concord, leve enrolamento e, às vezes, “queimadura” e ácaros; excesso de água; infecção por outros
entre as nervuras principais, bem como redução no vírus, fitoplasmas e fungos radiculares; efeito
desenvolvimento da planta. Na variedade Isabel, a fitotóxico de pesticidas, além de outras causas
redução no crescimento é o sintoma mais evidente. que interrompam a circulação normal da seiva na
As variedades de porta-enxertos não mostram qualquer planta. A disseminação natural do enrolamento nos
sintoma nas folhas quando infectadas pelo vírus, o vinhedos, por vetores, começou a ser considerada,
que torna impossível a distinção entre plantas sadias e a partir da década de 80 e, atualmente, já há
doentes pela simples observação (KUHN & FAJARDO, comprovação científica de que GLRaV-1 e -3
2009). são transmitidos de videira para videira pelas
O sintoma mais característico da doença cochonilhas algodonosas Planococcus ficus, P. citri,
é o enrolamento dos bordos da folha para baixo, Pseudococcus longispinus, P. calceolariae, P. affinis
observado com relativa facilidade nas variedades (= P. viburni), Heliococcus bohemicus e Phenacoccus
europeias tintas e brancas, embora possa ocorrer aceris, além de cochonilhas de carapaça Pulvinaria
infecção sem ocorrer enrolamento dos bordos. Nas vitis e Parthenolecanium corni (KUHN & FAJARDO,
viníferas tintas, o limbo toma uma coloração vermelha- 2009).
violácea, permanecendo o tecido ao longo das nervuras A virose do enrolamento causa sérios
principais com a cor verde normal (Figura 177). Nas prejuízos à videira, afetando o número, peso e
viníferas brancas infectadas, o limbo toma uma leve tamanho dos cachos, além de diminuir o teor de
coloração amarelo-pálida, às vezes mais pronunciada açúcar da uva, longevidade da planta e a qualidade
no tecido ao longo das nervuras principais. Plantas do vinho. Os danos causados pela virose variam em
com infecção severa são facilmente identificadas. função da suscetibilidade varietal, estirpe do vírus e
Mudas com um ou dois anos já mostram os sintomas intensidade da infecção. No Estado do Rio Grande
característicos da doença em comparação com mudas do Sul, variedade viníferas tinta como Cabernet
sadias. No caso de estirpes menos agressivas, ocorre Franc, sofreram aproximadamente uma redução
apenas leve enrolamento das folhas e clorose entre as de 40% no número de cachos; de 60% no peso
nervuras principais. Nas variedades viníferas, brancas da produção; de 65% no vigor, expresso pelo peso
e tintas, as folhas apresentam o limbo com aspecto da poda hibernal, além de 2,7°Brix ou 25,6 g/L
rugoso, quebradiço e de consistência mais grossa. Os no teor de açúcares redutores da uva. No vinho
sintomas, independentemente da variedade, aparecem elaborado com uvas da mesma variedade, afetadas
sempre a partir da base dos ramos, evoluindo para as pela virose, foi verificada uma perda de 15% no teor
demais folhas da extremidade. Dependendo do nível alcoólico e diminuição acentuada na intensidade
de infecção, os sintomas podem se restringir às folhas da cor do vinho (KUHN & FAJARDO, 2009).
da base dos ramos, porém as plantas com sintomas
400
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
401
Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
tornam a hibridação molecular pouco adequada para o Os fungicidas que têm ação de profundidade são mais
diagnóstico rápido em grande número de amostras; sendo eficazes quando aplicados preventivamente. Embora
no entanto, ferramenta importante no exame de material sejam mais eficazes que os fungicidas de contato, os
de elite (KUHN & FAJARDO, 2009). fungicidas sistêmicos, por serem mais específicos,
não devem ser utilizados em mais de duas ou três
15.6 Controle de doenças da videira aplicações por ciclo vegetativo, pois aumenta os
riscos do aparecimento de raças resistentes do fungo.
15.6.1. Controle de doenças fúngicas Deve ser adotado um programa de tratamentos com
alternância de produtos com diferentes modos de
Míldio ação e grupos químicos, aplicando-se fungicidas
sistêmicos nos estádios de maior sensibilidade da
O controle preventivo do míldio deve ser iniciado videira, ou seja, nos períodos de pré-floração e
com a escolha do local adequado para instalação do frutificação (CASSELLS, 2012).
vinhedo, evitando-se áreas de baixada ou com face Os fungicidas a base de cobre não devem
sul. Medidas que melhorem a aeração da copa, como ser usados durante o florescimento e maturação,
espaçamento adequado, boa disposição espacial dos pois podem causar fitotoxicidade. Sua utilização é
ramos e poda verde (desbrota, desfolha, desponte, recomendada entre os estádios de ‘chumbinho’ até o
etc.), bem como o correto sistema de condução e poda amolecimento das bagas, e logo após a colheita. Entre
devem ser adotadas, objetivando diminuir o tempo de os estádios de ervilha até a compactação dos cachos,
molhamento foliar (GARRIDO et al. 2008). a melhor formulação que deve ser usada é a GrDA
No controle químico, devem ser utilizados (granulado dispersível) de hidróxido de cobre, pois
fungicidas registrados para a cultura no Ministério evita as manchas na uva.
da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). No período chuvoso, quando as condições são
Esses produtos podem ter ação protetora ou de mais favoráveis ao desenvolvimento do míldio, pode-se
contato, ação de profundidade ou ação sistêmica. adotar a seguinte estratégia de tratamentos durante o
Os produtos de contato só protegem a superfície ciclo (CASSELLS, 2012):
atingida pela aplicação e não têm ação sobre o • Do estádio de duas a três folhas separa-
fungo no interior dos tecidos. Os produtos com das, até três dias antes do florescimen-
ação de profundidade ou translaminar, podem to, aplicar produtos de contato, exceto
atuar com ação fungitóxica ou fungistática no à base de cobre;
interior das folhas, até 2 dias após a infecção, • Um a dois dias antes do florescimento,
porém, apenas nas partes as quais foram aplicados. aplicar sistêmicos como metalaxil ou fe-
Já, os produtos sistêmicos, devido a sua capacidade namidone, repetindo de acordo com o
de translocação, podem atuar em partes da planta efeito residual do produto ou surgimen-
que não foram atingidas na aplicação. to de novo período de infecção. Após
Os fungicidas protetores do grupo dos a segunda aplicação de fungicidas sistê-
ditiocarbamatos como ziram, zinebe e mancozebe são micos, aplicar oxicloreto de cobre inter-
efetivos no controle de míldio. Entretanto, têm pouca calado com outros produtos de contato
persistência na planta e são facilmente decompostos até o estádio de ‘ervilha’;
por altas temperaturas, radiação solar e chuvas, • Entre os estádios ‘ervilha’ até a compac-
condições presentes nas regiões produtoras de uvas tação dos cachos, aplicar hidróxido de
finas no Brasil. Esses produtos podem ser misturados cobre intercalado com outros produtos
aos cúpricos, não apresentando fitotoxicidade às de contato à base de mancozebe na for-
plantas e requerem aplicações a cada 3 a 4 dias, no mulação SC (suspensão concentrada),
período chuvoso. Caso ocorram chuvas fortes, acima que não mancham a uva.
de 25 mm, há necessidade de repetir a pulverização. • Após a colheita, aplicar calda bordalesa
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
a 1% alternada com mancozebe a cada plantas, além de dados sobre as condições climáticas
10 dias, objetivando manter a folhagem da região.
sadia para recompor as reservas das Atualmente, para o controle das principais
plantas. doenças da videira, são utilizadas grandes quantidades
• No período seco, o mais indicado é o de agrotóxicos, o que é altamente prejudicial ao meio
acompanhamento das condições me- ambiente e à saúde dos produtores. O elevado consumo
teorológicas, para verificar se há ou não de agrotóxicos aumenta o custo de produção e causa
a necessidade de algum tratamento em uma desvalorização do produto final pelo consumidor
função da presença de água livre nas que, cada vez mais, tem se preocupado com sistemas
folhas (período de infecção), fator con- de cultivo dos produtos agrícolas e com contaminações
dicionante da infecção. de resíduos de agrotóxicos nos alimentos e seus
• Em termos gerais, para definir um ca- subprodutos (SÔNEGO & GARRIDO, 2003; BASSO
lendário de tratamentos para míldio et al. 2017). Diante desse fator, uma ferramenta
deve-se levar em consideração alguns altamente promissora para o controle do míldio,
aspectos básicos: está no uso de variedades com resistência genética
• O míldio só infecta os tecidos verdes se ao patógeno. Espécies do gênero Vitis, originadas na
tiver água livre; Ásia e na América, foram descritas como, parcial ou
• Os produtos de contato só atuam pre- totalmente, resistentes a diversos patógenos (STAUDT,
ventivamente e só protegem as superfí- KASSEMEYER, 1995; CADLE-DAVIDSON, 2008). O
cies aplicadas, não combatendo o fun- melhoramento genético, através do cruzamento de
go no interior dos tecidos; espécies do gênero Vitis (V. labrusca, V. rotundifolia) com
• Os produtos que têm ação de profundi- espécies de V. vinifera, gerou variedades que podem
dade/translaminar só têm efeito na área apresentar tanto a resistência às doenças como o
aplicada por um período de 5 a 7 dias. alto potencial enológico. Três locus com os principais
Sua eficácia será tanto maior quanto efeitos a resistência ao míldio foram identificados, após
mais próximo de 100% de área foliar for o mapeamento genético comparativo, e nomeados
coberta pelos produtos. Esses produtos como “Resistance to P. viticola”: Rpv1, Rpv2 e Rpv3
matam o fungo dentro das folhas, se (WELTER et al., 2007). Em algumas regiões do velho
aplicado até dois dias após a infecção. mundo, como Itália e Alemanha, estas variedades
• Os produtos sistêmicos protegem por resistentes denominadas PIWI (sigla Alemã da palavra
cerca de sete dias, e seu uso deve ser ‘Pilzwiderstandsfähig’, que significa resistente a fungos),
restrito a duas aplicações no ciclo de já estão sendo utilizadas em cultivos comerciais,
produção. Esses produtos matam o fun- favorecendo a vitivinicultura local e viabilizando
go no interior da folha quando aplicado a produção de vinhos de alta qualidade. Pesquisas
até três dias após a infecção e se trans- conduzidas por De Bem et al. (2016) e Zanghelini
locam para outras partes da planta. (2018), comprovaram a maior resistência ao míldio das
variedades PIWI Bronner, Cabernet Cortis e Regent,
No Brasil, o controle do míldio da videira é feito em relação à variedades viníferas tradicionalmente
basicamente através de medidas preventivas. O ideal cultivadas no sul do Brasil. Os autores comprovaram
seria o conhecimento prévio dos períodos em que que a AACPD foi reduzida, em até 95%, nas variedades
ocorrem as infestações, para que os tratamentos possam PIWI, em relação a variedades viníferas. Em ensaios, com
ser feitos nas épocas mais adequadas. Deste modo, condições controladas, a variedade vinífera Chardonnay
gastos desnecessários, bem como o comprometimento mostrou uma maior formação de esporangióforos em
da flora e da fauna seriam evitados. Para que este discos foliares, quando comparada às variedades PIWI,
objetivo seja alcançado, é necessário um profundo que retardaram e evitaram o processo de infecção nas
conhecimento da biologia do fungo, da fenologia das folhas.
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Epidemiologia e Manejo de Doenças da Videira
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
sempre que as condições climáticas forem favoráveis cm de comprimento e repetir a cada 8 a 10 dias até a
ao desenvolvimento do oídio com alta temperatura e formação dos frutos;
baixa umidade relativa do ar, em intervalos de 10 dias, b) Clorotalonil mais tiofanato metílico - dose de
ou quando o nível de infecção da doença nas folhas, 200ml/100 L água;
brotos e cachos se aproximar de 5% (SÔNEGO & c) Tiofanato metílico - dose de 70g/100 L água
GARRIDO, 2003; BASSO et al., 2017). com uma calda de 30 a 40 L/ha;
Da mesma forma que o melhoramento genético d) Mancozebe - dose de 250g/100 L água
desenvolveu as variedades resistentes ao míldio, com uma calda de 1000 L/ha iniciando antes do
detectaram-se genes de resistência ao oídio (Run 1, florescimento e repetindo a cada 7 a 10 dias;
Run 2, Ren 1 ao Ren 7), que foram inseridos em algumas e) Difeconazole - dose de 8ml/100 L de água,
das variedades PIWI. Essas variedades se tornam uma iniciando as aplicações quando as plantas estiverem
alternativa e ferramenta de grande importância para o em pleno florescimento ou quando houver condições
controle do patógeno, principalmente em locais com favoráveis para a doença (também efetivo para o oídio).
baixa umidade reltiva do ar, onde a pressão do inóculo Repetir as aplicações em intervalos de 14 dias, ou
é maior, evitando o uso excessivo de agrotóxicos. A sempre que houver condições favoráveis às doenças.
durabilidade e eficiência da resistência genética está Realizar no máximo seis aplicações por ciclo;
baseada na importância do melhoramento, através g) Ditianon - também efetivo para controle
da piramidação de diferentes genes de resistência a do míldio (mesma dose e forma de aplicação
uma mesma doença, ou a doenças diferentes (como citado no controle do míldio).
o míldio e oídio), dentro de uma mesma variedade A utilização de variedades resistentes
(PERESSOTI et al., 2010). à antracnose também vem se tornando uma
ferramenta de controle eficiente, como Bacco 22A,
Antracnose V. riparia, Seibel 4986, Seibel 5213, Seibel 5437,
Seibel 5455. São variedades mais restritas para o
Para o controle da antracnose, devem ser estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul e Santa
adotada medidas preventivas, tais como tratos culturais Catarina, não há ainda variedades desenvolvidas
e tratamentos com fungicidas. As medidas preventivas para resistência à antracnose, as variedades PIWI
recomendam a não implantação dos vinhedos em atualmente em fase de estudo no sul do Brasil, têm
baixadas úmidas e expostas a ventos frios do sul. Os se mostrado suscetíveis à doença (BONIN, 2017).
tratos culturais mais importantes são realizados no
período de repouso das plantas, visando reduzir as Escoriose
fontes iniciais de inóculo: - realizar poda no inverno
(agosto-setembro), eliminando o máximo possível de Quando a doença já está presente nas plantas,
ramos com cancros. Esses ramos devem ser enterrados recomenda-se a redução do inóculo pela remoção e
ou queimados; retirar as cascas velhas e pulverizar com destruição dos ramos atacados, durante a poda ou
calda sulfocálcica ou calda bordalesa (tratamento de tratamento químico de inverno, com calda sulfocálcica,
inverno). No decorrer do ciclo vegetativo, os maiores após a poda e antes do início brotação. Na primavera,
cuidados devem ser tomados na primavera, quando há o controle químico deve ser realizado no início da
um intenso crescimento vegetativo e os tecidos são mais brotação, quando a planta se encontra nos estádios de
tenros e suscetíveis. O programa de pulverização inclui o maior suscetibilidade e, também, porque as condições
uso de fungicidas (WINE GRAPE PEST MANAGEMENT climáticas são mais favoráveis. Os tratamentos químicos
STRATEGIC PLAN – Virginia and North Carolina, adotados para o controle do míldio e da antracnose
2012): também são eficientes para o controle da escoriose,
a) Oxicloreto de cobre mais mancozebe - dose porém os produtos mais recomendados e específicos
de 350g/100 L água com uma calda de 500 a 1500 L/ de acordo com Wine Grape Pest Management Strategic
ha, iniciando quando os brotos estiverem com 5 a 10 Plan – Virginia and North Carolina, 2012, são:
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controle, em áreas contaminadas ou duvidosas, o caso positivo, erradicar e queimar o material suspeito.
uso de porta-enxertos que apresentam algum nível Em região de ocorrência do cancro bacteriano, o
de resistência ao nematóide das galhas, como: SO4, manejo da doença deve ser feito, principalmente,
Kober 5BB, 1103 P, 101-14 Mgt, R99 e 3309 C. Em no período seco, época desfavorável à infecção.
regiões muito afetadas por estes parasitas, utilizam-se Entre as principais medidas, podem-se citar: a poda
outros porta-enxertos, como Salt Creek, Dog Ridge e de ramos infectados; a poda drástica ou poda de
Harmony. Quanto ao controle químico, somente é viável recepa; a eliminação de plantas com altos níveis de
economicamente em pequenas áreas, especialmente infecção; a desinfestação de tesouras e de canivetes;
em viveiros. Em áreas com infestação recomenda-se a queima de restos de cultura, principalmente aqueles
fazer rotação de cultura plantando cereais ou outras resultantes da poda de ramos, de cachos infectados
gramíneas por mais de dois anos para, posteriormente, e da eliminação de plantas doentes.
implantar o vinhedo utilizando porta-enxerto resistente. No Brasil, ainda não há produtos registrados
para o controle do cancro bacteriano em videira.
15.6.3. Controle de doenças causadas por Entretanto, produtos à base de cobre têm sido utilizados
bactérias em pulverizações e pincelamentos. Na avaliação
da resistência de vários materiais, observou-se, em
Galha da coroa condições de campo, que V. vinifera é altamente
suscetível à doença, enquanto V. labrusca apresenta
As plantas contaminadas devem ser arrancadas certa resistência (SÔNEGO & GARRIDO, 2003; BASSO
com o máximo possível de raízes e queimadas. Em et al. 2017).
áreas que já apresentaram plantas contaminadas,
fazer rotação de cultura, por alguns anos, antes de 15.6.4. Métodos de controle das viroses
se utilizar a área novamente para o cultivo de videira.
Utilizar material propagativo sadio e evitar ferimentos, A sanidade do material vegetativo destinado à
principalmente, nas raízes e no colo das plantas. multiplicação da videira, ou seja, à produção de mudas,
de estacas e de gemas, tem sido uma das principais
Cancro bacteriano preocupações dos países vitícolas nas últimas décadas.
Isso é plenamente justificável, tendo-se em conta as
O controle mais eficiente da doença está na constantes descobertas de novas doenças que se
utilização de mudas e material propagativo sadio, de propagam através do material vegetativo, especialmente
modo a evitar a introdução da doença no vinhedo. as viroses. A multiplicação vegetativo/agâmica da
Especialmente, em regiões onde a doença não é videira, além de facilitar a disseminação dos vírus,
conhecida, os cuidados devem ser redobrados, propicia o seu acúmulo no material propagativo ao
evitando-se a introdução de material propagativo longo do tempo, levando ao surgimento de doenças
das regiões onde a doença já foi detectada. Além do complexas e degenerescência das plantas no decorrer
material propagativo, deve-se controlar, também, a dos anos (KUHN & FAJARDO, 2003).
introdução de uva nas cantinas, especialmente para Nos vinhedos, o único meio viável de se
vinificação, pois a bactéria pode contaminar os cachos controlar doenças causadas por vírus é através da
(pedúnculo, engaço). A medida seria exigir sempre seleção sanitária e da eliminação de vetores. Após a
o certificado de sanidade, quando da aquisição de infecção, é impossível curar a planta no campo, pelos
mudas ou qualquer material propagativo (SÔNEGO métodos tradicionais. Na Embrapa Uva e Vinho, de
& GARRIDO, 2003; BASSO et al. 2017). Bento Gonçalves, por exemplo, a metodologia de
No caso de se constatar sintomas duvidosos controle das viroses se assemelha à desenvolvida nos
em regiões onde a doença não seja conhecida, deve- principais países vitícolas do mundo (SÔNEGO &
se de imediato isolar a área ou plantas, comunicar os GARRIDO, 2003; BASSO et al. 2017):
órgãos oficiais, que irão confirmar a identificação e, em
408
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
409
A importância do uso de mudas de qualidade high altitude regions of southern Brazil. Bio Web
of Conferences, v. 9, p. 01017, 2017.
Conforme GROHS, et al (2013), a mentalidade
do viticultor ainda continua retrógrada no que diz BASSO, M. F.; FAJARDO, T. V. M.; SALDARELLI,
respeito ao desconhecimento da importância das P. Grapevine virus diseases: economic impact
mudas dentro do empreendimento agrícola. Esta and current advances in viral prospection and
mentalidade deve ser revista com urgência pois a management. Revista Brasileira Fruticultura, v.
utilização de mudas de baixa qualidade, nos quesitos 39, n. 1, p. 1-22, 2017.
sanitário e genético, tem provocado a disseminação
de inúmeras doenças para locais até então isentas CASSELLS, A. C. Pathogen and biological con-
de enfermidades. Ademais, vem provocando gastos tamination management in plant tissue culture:
desnecessários para a manutenção e reposição, Phytopathogens, vitro pathogens, and vitro
onde videiras jovens são eliminadas e substituídas pests. Methods Moleular Biology, v. 877, p. 57-
em períodos inferiores aos previstos, retardando o 80, 2012.
retorno financeiro do agricultor e trazendo sérias
dificuldades de manejo. Segundo os mesmos autores CAMARGO, U. A.; TONIETTO, J.; HOFFMANN,
qualquer matriz de produção agrícola voltada à A. Progressos na viticultura brasileira. Revista
modernização e qualificação dos sistemas deve Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 33, n.
iniciar com preocupação na origem do material 1, p. 144-149, 2011.
de propagação. No caso das mudas de videira,
necessariamente estas devem ser obtidas a partir DE BEM, B. P. Intensidade de míldio da videira
de plantas matrizes desenvolvidas sob um alto padrão em folha e podridão cinzenta em cacho em
sanitário e genético, mas este padrão não existe no variedades viníferas sob diferentes sistemas de
mercado nacional. sustentação. Lages, 2014. 162p. Dissertação
Até o ano de 2013, existiam muitos problemas (Mestrado em Produção Vegetal) – Centro de
relacionados a questões genéticas, agronômicas e Ciências Agroveterinárias, Universidade do Esta-
fitossanitárias das mudas que eram comercializadas do de Santa Catarina. Lages, 2014.
pelos viveiristas brasileiros. Em levantamento realizado
por pesquisadores da EMBRAPA Uva e Vinho, pode-se DE BEM, B. P.; BOGO, A.; EVERHART, S.; CASA,
perceber que as matrizes utilizadas para propagação R. T.; GONÇALVES, M. J.; MARCON FILHO, J.
apresentavam algum tipo de infecção virótica, com L.; DA CUNHA, I. C. Effect of Y-trellis and verti-
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413
414
D
16. Pragas da Videira em
Região de Elevada Altitude
do Estado de Santa
Catarina
Cristiano João Arioli
Marcos Botton
Joatan Machado da Rosa
Dahise Brilinger
16.1 Introdução
415
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
16.2 Pérola-da-terra: Eurhizococcus bra- coloração é branca (Figura 179). Neste cisto é onde
siliensis (Hempel,1922) (Hemiptera: Mar- os ovos são depositados pela fêmea. Desses, eclodem
garodidae) as ninfas móveis de primeiro instar (Figura 179) que
pressionam e rompem as paredes frágeis do cisto. A
16.2.1. Descrição e bioecologia ninfa de primeiro instar é móvel e pode se deslocar até
as raízes onde se fixa para alimentação (GALLOTTI,
A pérola-da-terra é uma cochonilha subter- 1976; FOLDI, 1990; HICKEL, 1994; BOTTON et al.,
rânea que infesta as raízes de seus hospedeiros. O 2000; SORIA, DAL CONTE, 2000). Na troca de instar,
termo “pérola-da-terra” deriva da similaridade do estas perdem as pernas e antenas e já estando fixas
inseto (Figura 178) com as pérolas verdadeiras, produ- nas raízes, encerram-se no interior de sua própria
zidas por alguns moluscos marinhos (FOLDI, 2005). cutícula, assumindo um formato esférico (Figura 178).
A espécie é polífaga, com sobrevivência constata- A ninfa de terceiro instar, também imóvel, atinge o
da em pelo menos 83 espécies de plantas (SORIA, seu máximo crescimento, nos meses de outubro e
GALLOTTI, 1986; KALVELAGE, 1987; BOTTON et novembro, possuindo formato globoso e coloração
al. 2004a; EFROM et al. 2012). amarelada, completando o ciclo assexuado (FOLDI,
A pérola-da-terra encontra-se distribuída por 2005; BOTTON et al. 2010).
várias regiões do Brasil. A espécie é nativa da região Sul, O completo desenvolvimento das ninfas ori-
no entanto sua presença já foi constatada em vinhedos gina fêmeas que podem morrer dentro do próprio
de São Paulo, Bahia e Pernambuco (FIGUEIRA JÚNIOR, cisto (reprodução assexuada) por ocasião da postura
1970; GALLOTTI, 1976; NOVO, 1978; LOURENÇÃO ou então rompê-lo e subir à superfície como fêmea
et al. 1989; HAJI, ALENCAR, 2000; HAJI et al. 2004). No móvel para um eventual acasalamento (reprodução
Estado de Santa Catarina, já foram encontrados insetos sexuada). O macho, que por sua vez é alado e tam-
se alimentando na cultura da videira em praticamente bém desprovido de aparelho bucal, tem apenas a
todas as regiões vitícolas (MILANEZ, 2001). Atualmen- função reprodutiva. Poucas informações encontram-
te, a pérola-da-terra é considerada um dos principais -se disponíveis sobre o que ocorre com as fêmeas
agentes associados ao Declínio e Morte de Plantas de móveis após a fecundação, bem como os fatores
Videira (DMV), sendo responsável pelo abandono de que levam ao aparecimento de machos na espécie
muitos vinhedos comerciais no sul do Brasil (DAL BÓ (BOTTON el al. 2000; HICKEL et al. 2009).
et al. 2007 e 2013).
A cochonilha desenvolve-se nas raízes e, so- 16.2.2. Sintomas e danos
mente, é prejudicial no primeiro, segundo e terceiro
ínstares, visto que os adultos são desprovidos de Durante muito tempo, acreditou-se que o
aparelho bucal. definhamento de videiras atacadas por pérola-da-
A cochonilha reproduz-se tanto na forma -terra se devia à sucção e/ou ação tóxicogênica,
sexuada como assexuada que, nas condições am- em decorrência da incompatibilidade bioquímica
bientais do sul do Brasil, ocorre principalmente por entre o inseto e a planta (BOTTON et al. 2000). Esta
partenogênese telítoca, onde as fêmeas produzem argumentação estava amparada principalmente em
somente fêmeas (SORIA, GALLOTTI, 1986; SORIA, função das diferentes origens da praga (América
DAL CONTE, 2005). A espécie é considerada univol- do Sul) (FOLDI, 2005) e das principais espécies de
tina (Figura 179), no entanto, a observação de todas videiras comerciais (Europa e América do Norte)
as fases (ovo, ninfa e adulto), em diversos períodos presentes do Brasil (GIOVANNINI, 2008). No entan-
do ano, pressupõe que exista alteração neste ciclo to, Zart (2012) realizou uma série de experimentos
(DAL BÓ et al. 2007). para avaliar contrastes nas características químicas,
O ciclo assexuado inicia-se no estádio de físicas e biológicas de plantas de videira com e sem
cisto, o qual apresenta coloração amarelada, mas, a presença da pérola no sistema radicular. Nesse
geralmente, antes de se romper e liberar os ovos, a trabalho, o autor observou que as plantas de videira
416
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
417
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
418
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
encontrando colonizando raízes em até 1 metro de al. 2007; BOTTON, DALLA COLLETA, 2010; Broetto
profundidade, porém a maior parte dos cistos estão et al. 2011). Em Santa Catarina, Dal Bó et al. (2013)
presentes na faixa entre 5 e 30 cm de profundidade avaliaram alguns porta-enxertos, com e sem controle
e até 20 cm da raiz principal, estando em maior con- químico da pérola-da-terra, em áreas onde já haviam
centração em raízes com maior diâmetro (ao redor sido observados graves problemas de mortalidade
de 8 mm) (PANIZZI, NOAL, 1971; FOLDI, SORIA, por DMV. O controle químico da pérola-da-terra,
1989; SCHMIDT, 2012). com uso de inseticidas neonicotinóides, resultou
Em áreas em que a presença do inseto ainda na ausência de plantas mortas ou com sintomas
não foi constatada, como nos vinhedos comerciais de DMV (Tabela 72). Já, na ausência de controle
da região do Planalto Sul Catarinense, recomenda-se químico, as diferenças entre porta-enxertos foram
adotar as seguintes medidas para evitar a introdução significativas. Os porta-enxertos tradicionais, como
da praga na região: 420A Mgt, 101-14 Mgt e Paulsen 1103 foram os mais
• Evitar a introdução de mudas de plan- sensíveis, com elevada presença de plantas mortas
tas hospedeiras com presença de solo, ou com sintomas de DMV. Os porta-enxertos Dog
ainda mais se forem provenientes de Ridge e híbridos de V. rotundifolia (VR 043-43 e VR
regiões comprovadamente infestadas 039-16) apresentaram uma incidência intermediária
pela cochonilha. de plantas sintomáticas ou mortas. Não houve dife-
• Promover a lavagem do sistema radicu- renças significativas entre porta-enxertos quanto ao
lar no momento da compra das mudas, número de cistos nas raízes, indicando que a forma
as quais devem ser preferencialmente, de resistência à pérola-da-terra nestes porta-enxer-
de raiz nua. Em caso de dúvida quanto tos, manifestou-se mais por tolerância aos efeitos
à procedência das mudas (de áreas in- secundários do ataque da praga do que por limitar
festadas ou não), estas devem ser trata- o estabelecimento da mesma.
das com inseticida. Os inseticidas neonicotinóides, pela sua ação
• Não utilizar equipamentos e máquinas sistêmica, devem ser aplicados no solo, quando as
agrícolas provenientes de locais onde plantas estão em plena atividade vegetativa. Como
o inseto encontra-se presente. Não ha- a eficiência de controle da praga diminui conforme
vendo alternativa, providenciar a limpe- o aumento da idade das plantas, é fundamental es-
za dos mesmos antes de utilizá-los na tabelecer um programa de controle do inseto na
propriedade. propriedade, já a partir do primeiro ano de plantio.
Em situações de alta infestação, devem ser realizadas
Atualmente, o manejo da pérola-da-terra em duas aplicações: a primeira em novembro, momento
áreas infestadas está baseado no uso dos inseticidas em que ocorre o início do ataque das ninfas às raízes
neonicotinóides thiametoxan e imidacloprid, os quais da videira; e a segunda em pós-colheita, para evitar
devem ser aplicados no sistema radicular no momen- a presença de resíduos de inseticidas nos frutos (HI-
to do plantio/replantio, nas áreas infestadas; no uso CKEL et al. 2010). O inseticida thiametoxan também
de adubos orgânicos e manejo de cobertura verde na é eficiente no controle da formiga doceira L. micans,
área (BOTTON, DALLA COLLETA, 2010; BOTTON et o que pode reduzir, substancialmente, a dispersão
al. 2010). No entanto, a obtenção de porta-enxertos da pérola pelo parreiral.
resistentes/tolerantes é a solução ideal para contornar Na implantação de um vinhedo em área in-
o problema, mas pouco ainda se sabe sobre possíveis festada, se recomenda a drenagem dos locais com
fontes de resistência ao ataque da pérola-da-terra. problema de solo encharcado e, também, o plantio
Algumas observações preliminares nos Estados do das mudas em camalhão (elevação do solo na linha
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná salientam de plantio), dando-se preferência para escolha de
que híbridos da espécie Vitis rotundifolia apresentam material vegetativo comprovadamente sadio (DAL
tolerância à infestação de pérola-da-terra (DAL BÓ et BÓ et al. 2007).
419
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Tabela 72. Porcentagem média de plantas de galícolas, radículas e fêmeas com reprodução sexual
videira mortas ou com sintomas de declínio e partenogenética, que surgem em função da tem-
em função do porta-enxerto e da aplicação de peratura, umidade e susceptibilidade da planta hos-
inseticida para controle da pérola-da-terra. pedeira. A ocorrência de todas essas formas ocorre,
Fonte: Adaptado de Dal Bó et al., 2013. principalmente, em videiras americanas. Em videiras
de origem europeia (Vitis vinifera), geralmente, não
Porta-enxerto Com inseticida (%) Sem inseticida (%) é comum a presença da fase galícola.
420A Mgt 4 88 De uma forma geral, no Brasil, observa-se
facilmente, na parte aérea, a forma galícola; e nas
Pausen 1103 8 80
raízes, a forma radícula. Dessa forma, o ciclo ini-
101-14 Mgt 0 64
cia-se já na brotação da videira. Nas estruturas
Richter 99 4 68 da parte aérea formam-se galhas (Figura 182A),
VR 043-43 4 60 onde cada fêmea partenogenética pode ovipositar
VR 039-16 0 21 de 500 a 600 ovos. Desses, podem surgir novas
Dog Ridge 0 48 fêmeas galícolas, que irão completar entre quatro
IAC 572 0 0 a seis gerações ao ano. Desses, também podem
IAC 766 0 0
surgir fêmeas radículas, que migram para o solo,
na direção das raízes, onde, pela sucção da seiva,
IAC 571-6 0 0
provocam nodosidades e tuberosidades nas raízes
IAC 313 0 0
(Figura 182B).
420
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
421
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Tabela 73. Índice de resistência de espécies de Vitis possuem hábitos de alimentação, acasalamento e
e Híbridos à forma radicular da Daktulosphaira oviposição nos períodos de menor luminosidade.
vitifoliae. Cada fêmea oviposita aproximadamente 100 ovos
Fonte: Adaptado de Ravaz, 1897. durante o período de oviposição (RINGENBERG et
al., 2006); os ovos são depositados de forma isolada
Espécie/híbrido (porta-enxerto) Índice de resistência nos pecíolos das folhas e na superfície dos frutos.
Vitis rotundifolia 20 O ciclo biológico (ovo-adulto) tem duração
Vitis berlandieri (genótipo 1) 19 média de 37 dias a 25ºC, sendo as fases de ovo,
lagarta e pupa, de 4, 26 e 7 dias, respectivamente.
Vitis cordifolia 19
Os ovos, inicialmente, são de coloração branca e
Vitis riparia 19 adquirem coloração alaranjada, à medida que ocorre
Vitis riparia “Grand Glabra” 19 o desenvolvimento embrionário. Apresentam for-
Vitis rupestris 19 mato de disco tendo diâmetro próximo de 0,5 mm,
Vitis berlandieri x Vitis riparia (420A Mgt) 19 os quais dificilmente são percebidos a olho nu. As
lagartas (Figura 183B) têm coloração escura e, quan-
Vitis cordifolia x Vitis rupestris 19
do completamente desenvolvidas (quinto instar),
Vitis riparia x Vitis rupestris (3306 C) 19 atingem cerca de 10 mm de comprimento. Estas,
Vitis riparia x Vitis rupestris (3309 C) 19 logo após a eclosão, apresentam coloração laranja
Vitis berlandieri(genótipo 2) 18 claro, modificando para cinza. Apresentam duas
Vitis cinérea 18 listras longitudinais pretas bem distintas, salpicadas
por pequenas zonas claras (SWAILEM, ISMAIL,1972;
Vitis riparia x Vitis berlandieri (34-E) 18
RINGENBERG et al. 2005).
Vitis aestivalis 17
Vitis monticola 17 16.4.2. Sintomas e danos
Vitis riparia x Vitis rupestris (101-14 Mgt) 17
Vitis rupestris du Lot 16 A praga é prejudicial durante o estágio de
lagarta. Em geral, a presença de teia e excrementos
Vitis berlandieri (41-B) x Chasselas 16
no interior dos cachos, entre as bagas é a forma
Vitis rupestris (nº 1) x Aramon 16 mais fácil para identificar a presença desta praga no
Vitis rupestris (1202) x Mourvèdre 16 vinhedo (Figura 184). Os danos iniciais podem ser
Vitis riparia x Vitis berlandieri (33) 15 observados desde as inflorescências, no entanto são
Vitis solonis 15
mais facilmente visualizados em cachos com bagas
verdes. Nesses, as lagartas alimentam-se da casca
Vitis candicans 14
nas regiões da ráquis e dos frutos. De acordo com
Jacquez 13 o local de ataque, ocasionam o murchamento dos
Herbemont 12 cachos ou parte destes e também a queda prematura
Vialla 12 dos frutos. Quando o ataque se dá em pré-colhei-
ta, o consumo da casca gera o extravasamento do
Noah 11
suco pelo cacho, o que possibilita a proliferação de
Clinton 10 organismos causadores da podridão ácida, que pre-
Othelo 10 judicam a qualidade dos cachos para a produção de
Vitis californica 5 vinhos ou mesmo para o comércio in natura (GALLO
Vitis labrusca 5 et al. 2002; BOTTON et al. 2013). Além disso, esse
dano também favorece a proliferação dos fungos
Espécies Asiáticas 2
Aspergillus carbonarius, A. niger e Penicillium sp.,
Vitis vinifera 0 responsáveis pela produção de ocratoxina A nos
422
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A B
423
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
Figura 185. Armadilha modelo Delta utiliza no Figura 186. Adulto da lagarta-das-fruteiras
monitoramento da traça-dos-cachos (Criptoblabes (Argyrotaenia sphaleropa).
gnidiella). Fonte: Botton et al. 2004c.
Fonte: Ringenberg, R., 2002.
424
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 187. Cacho danificado pelo ataque da rando-o. Lagartas de tamanho maior se alojam entre
lagarta-das-fruteiras (Argyrotaenia sphaleropa). No as bagas, alimentando-se superficialmente das mes-
detalhe, a presença da praga é evidenciada pela mas, sendo sua presença evidenciada por filamentos
ocorrência de filamentos sedosos e excrementos sedosos e excrementos entre as bagas (Figura 187)
entre as bagas. (BOTTON et al. 2004c)
Fonte: Botton. M.,2003.
16.5.3. Monitoramento e controle
425
Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
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a 25%, que, por muito tempo, foi considerado o indicarem a presença da praga. Aplica-se diretamente
atrativo padrão para monitoramento de mosca-das- sobre os ramos e folhas das plantas, em gotas grossas,
-frutas, não deve ser recomendado como substância numa faixa de um metro de largura, gastando-se 50
atrativa, principalmente pela variação ocorrente em ml/planta ou 100 a 200 L de isca por hectare (HI-
diferentes lotes do produto, que pode gerar resultados CKEL et al. 2010). Aplica-se em intervalos de três a
insatisfatórios como a incidência de danos no vinhedo sete dias, ou logo após períodos de precipitação. A
e a ausência de moscas-das-frutas capturadas nas isca tóxica também pode ser aplicada nas bordas do
armadilhas (ZART et al. 2009). vinhedo, nos quebra-ventos ou na vegetação nativa
Os frascos caça-moscas devem ser instalados circundante.
nas bordas do vinhedo na proporção de quatro fras- No controle químico, a utilização de iscas
cos por hectare. As inspeções devem ser realizadas, tóxicas para o controle da mosca-das-frutas é a forma
quando também se renova o atrativo, semanalmente menos impactante ao meio ambiente por reduzir a
(HICKEL et al. 2010); exceto no uso do atrativo Ce- quantidade de agrotóxicos empregados por unida-
raTrap®, que tem maior estabilidade, apresentando de de área, quando comparado à pulverização em
durabilidade nas armadilhas instaladas nos vinhedos. cobertura (ZART et al. 2009, NAVARRO-LLOPIS et
O acompanhamento e o conhecimento do al. 2012).
número de moscas-das-frutas capturadas nas arma- Deve-se tomar cuidado com o atrativo utiliza-
dilhas servem para embasar a tomada de decisão em do, principalmente àqueles à base de melaço-de-cana,
relação ao controle ou não desses insetos, uma vez que podem atrair insetos benéficos como abelhas
interpretado no nível de dano econômico (CARVA- polinizadoras, parasitoides e predadores, que são de
LHO, 2005; HICKEL, 2008). grande importância para o equilíbrio ecológico e para
Como as informações sobre o manejo de a manutenção da diversidade no agroecossistema.
controle de mosca-das-frutas em vinhedos são escas- Dessa forma, proteínas específicas para aplica-
sas, adotam-se, normalmente, as mesmas medidas e ção em forma de isca tóxicas já podem ser encontra-
tecnologias geradas para o controle deste inseto em das no mercado como o Biofruit® e o Succes ®, que
outras frutíferas de clima temperado. Primeiramente, servem como substituto ao melaço. Além disso, pode
se recomenda o monitoramento, que permite a cons- ser utilizado o atrativo ANAMED® que tem como base
tatação e aferição da população da praga no vinhedo. a tecnologia SPLAT® (Specialized Pheromone & Lure
Assim que constatadas as primeiras capturas Application Technology); contém extratos vegetais
no vinhedo, deve-se iniciar a aplicação de isca tó- de frutas e estimulantes de alimentação, devendo ser
xica para o controle da mosca. Dentre os métodos associado a um inseticida registrado para a cultura
de controle preconizados pelo Manejo Integrado alvo no momento da aplicação, atuando como atrai
de Pragas (MIP) para o controle da mosca-das-fru- e mata (ARIOLI et al. 2017).
tas, o emprego de iscas tóxicas tem sido a principal Experimentos de laboratório, semi-campo e
estratégia utilizada para o manejo desta praga, em campo, demonstraram que o ANAMED® apresenta
diferentes regiões e diferentes frutíferas (STARK et maior resistência à remoção pela chuva e a degra-
al. 2004; CHUECA et al. 2007; RUIZ et al. 2008). O dação pela radiação ultravioleta, proporcionando
princípio da tecnologia é o emprego de um atrativo maior eficácia que as formulações tradicionais de
alimentar, associado a um inseticida que mata os iscas tóxicas, principalmente em locais com elevada
insetos, quando estes entram em contato ou ingerem precipitação pluvial como é o caso da Região Sul
o produto associado à isca, num sistema de atrai e do Brasil (BORGES, 2011, BOTTON et al. 2012). O
mata (SALLES, 1995; KOVALESKI, RIBEIRO, 2003; emprego destas novas formulações de iscas tóxicas
HÄRTER et al. 2010). como auxiliar no manejo da mosca das frutas deve
Na aplicação de isca, devem-se privilegiar ser ampliado nos próximos anos visando melhorar
os setores onde, historicamente, incide a maior po- o controle da praga nos cultivos.
pulação de moscas e onde os frascos caça-moscas
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O controle inicia-se a partir do reconhecimen- Suzukii Trap® e das leveduras testadas em vinhe-
to da praga nos vinhedos, preconizando a utilização dos comerciais. Já, em estudo realizado em po-
do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Ainda não há mar comercial de framboesa, o produto comercial
estudos realizados em vinhedos comerciais no Brasil, Scentry® e o atrativo fermento biológico, foram
que apresentem um nível de controle para a praga. eficientes para captura drosofila-da-asa-manchada
Dentre os métodos culturais para o controle e, quando misturados numa mesma armadilha, a
da praga, podemos destacar algumas práticas, como: eficiência era elevada (SANTOS et al. 2016). O
a colheita ser realizada na época ideal, mantendo a atrativo alimentar Suzukii Trap®, foi o mais eficiente
fruta sadia fora do alcance da praga; retirar os restos para a captura de D. suzukii, na cultura do pesse-
de frutos que sobrarem nos vinhedos, para que não gueiro, de acordo com Bortoncello et al. (2016).
sejam uma fonte de nutrição e abrigo para as fases O controle biológico é uma das ferramentas
imaturas da praga (SCHLESENER et al. 2015; FUNES aliadas no controle de pragas, entre os vários agentes
et al. 2018); evitar o tráfego de caixas e equipamentos que poderiam ser utilizados como ferramentas para
de áreas infestadas para áreas sadias. Caso isto não regular a população de drosofila-da-asa-manchada.
seja possível, é necessário realizar uma boa limpeza Estudos com fungos entomopatogênicos mostram
dos mesmos, já que podem servir para transportar que os mesmos reduzem a população da praga no
a praga de um lugar para o outro. Por se tratar de campo. Algumas vespas parasitoides (Hymenoptera)
uma praga altamente polífaga, o manejo e monito- já foram estudadas, mas sem apresentar resultados
ramento em plantas hospedeiras que estejam pró- promissores; porém, atualmente, tem-se o conheci-
ximas às áreas de cultivo também é uma estratégia mento de mais de 50 espécies de parasitoides ca-
recomendada. pazes de atacar a família Drosophilidae (FLEURY et
Uma técnica importante para o controle de al. 2009). Para o sucesso do controle biológico é
D. suzukii é a captura em massa, utilizando uma alta necessário conhecer as espécies endêmicas, inimigas
densidade de armadilhas. Testes realizados na Suíça naturais da praga.
mostraram uma redução significativa nas populações A utilização do controle químico é uma das
da praga, em cultivos de framboesa, por um período principais ferramentas utilizada na Europa e nos EUA,
de três semanas, utilizando-se uma densidade de 200 no manejo de D. suzukii. Produtos que são eficien-
armadilhas/ha, em locais sombreados na altura dos tes para moscas pertencentes à família Tephritidae
frutos (BAROFFIO et al. 2015). Em nível de Brasil, como os organofosforados, piretroides, espinosinas
estas técnicas ainda carecem de validação para serem e diamidas, apresentam resultados promissores no
incluídas dentro de um plano de manejo da praga. controle da praga (FUNES et al. 2018). Neonicotinoi-
Estudos recentes revelam que a drosófila-da- des e organofosforados sistêmicos apresentam ação
-asa-manchada é atraída por cores que variam entre ovicida, capaz de controlar as larvas no interior dos
o vermelho e o preto, capturando um maior número frutos (SCHLESENER et al. 2015). Porém, no Brasil,
de adultos quando comparados a dispositivos trans- ainda não há recomendações de produtos químicos
parentes, que utilizam a mesma isca (RENKEMA et para o controle de insetos pertencentes à família
al. 2014). A utilização de uma faixa horizontal preta Drosophilidae, justamente pelo fato da D. suzukii ser
em armadilhas vermelhas e uma faixa vermelha em uma praga que vem causando prejuízos de forma
armadilhas pretas, aumentam significativamente a recente no país. A grande implicação deste método
captura, quando comparado a armadilhas só pretas está na carga de resíduos que os produtos deixam nos
ou vermelhas (BASOALTO et al. 2013). frutos e que, posteriormente, serão comercializados.
No Brasil, a eficiência de atrativos para a
utilização na captura de D. suzukii já foi estudada, 16.10 Ácaros
de forma preliminar, por Padilha et al. (2016), onde
verificaram que o atrativo Droskidrink® capturou Os ácaros que atacam a videira são mais pre-
maior número de adultos, mas não diferindo de judiciais em regiões tropicais onde o clima é seco, o
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que favorece a sua multiplicação. Algumas espécies C vitis ataca, exclusivamente, a videira (WAL-
de ácaros podem ser encontradas em vinhedos, TON et al. 2007). No Brasil, durante o inverno, as fê-
entretanto, poucas atingem a situação de praga, meas normalmente ficam protegidas nas reentrâncias
exigindo a adoção de medidas de controle (BOT- dos sarmentos (SIQUEIRA et al. 2011) e, raramente,
TON et al, 2003). no interior das brácteas das gemas (JOHANN et al.
Nos últimos anos, devido à expansão de culti- 2009). Na primavera, a partir do inchamento das
vos para novos polos produtores, na região sul, e às gemas, as fêmeas retomam a atividade, migrando
diferentes formas de manejo dos vinhedos, têm-se para as folhas novas, onde se estabelecem e se mul-
observado um aumento na incidência de ácaros tiplicam durante a safra. No início do desenvolvimen-
fitófagos causando prejuízos, havendo necessidade to da cultura, o ácaro localiza-se nas folhas novas;
de se ampliar os cuidados sobre o monitoramento porém, com o desenvolvimento das plantas, ocorre
e manejo das espécies nos vinhedos. Na região de a migração para as folhas mais velhas. C. vitis locali-
altitude de Santa Catarina, duas famílias Tetranychi- za-se, principalmente, na página inferior das folhas. A
dae e Eriophyidae podem apresentar importância primavera e o verão são os períodos mais favoráveis
econômica ao desenvolvimento da espécie, quando surgem as
fêmeas protogíneas e machos morfologicamente
16.10.1. Ácaro-da-ferrugem-da-videira: Ca- semelhantes, que se reproduzem de forma sexuada
lepitrimerus vitis (Nalepa 1905) (Acari: Erio- (SIQUEIRA et al. 2011).
phyidae) O crescimento populacional de C. vitis no
vinhedo varia conforme as condições climáticas, com
Descrição e bioecologia a composição e quantidade de ácaros predadores e,
ainda, com os tratamentos fitossanitários realizados
O ácaro-da-ferrugem-da-videira, ou microá- no vinhedo (DUSO, VETTORAZZO, 1999).
caro-das-folhas Calepitrimerus vitis (NALEPA, 1905)
pertence à subclasse Acari, ordem Prostigmata, fa- Sintomas e danos
mília Eriophyidae (CARMONA, DIAS, 1996). Este
ácaro foi relatado, pela primeira vez no Brasil, no O ácaro-da-ferrugem-da-videira é uma espécie
Rio Grande do Sul, em 1951, causando o raquitismo monófaga, atacando somente o gênero Vitis (CAR-
das plantas, redução de crescimento das bagas. Os MONA, DIAS, 1996), ou mais especificamente V.
adultos possuem de 0,15 a 0,20 mm de comprimento
e 0,04 mm de largura, são vermiformes, alongados
e achatados, com o corpo fortemente segmentado,
apresentando dois pares de pernas e um par de
filamentos caudais (RODRÍGUEZ et al. 2008).
A dispersão natural de C. vitis ocorre, prin-
cipalmente, através do vento, quando os ácaros se
acumulam na posição vertical, num processo deno-
minado “encadeamento”, principalmente no verão,
permitindo a dispersão da espécie a longa distância,
por correntes aéreas (DUFFNER et al. 2001), ou
através da utilização de sarmentos, ou gemas obtidas
de plantas infestadas (RODRÍGUEZ et al. 2008). A
dispersão a curta distância ocorre pela água das Figura 198. Sinais do ataque de Calepitrimerus vitis
chuvas, além da dispersão ativa entre as folhas da em folhas de videira.
planta (CARMONA, DIAS, 1996). Fonte: Ciro Pavan, 2000.
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vinifera L (WALTON et al. 2007), o que, entretanto, C. vitis é facilmente controlado com acaricidas
diverge das observações de Keifer (1942), que veri- sintéticos e enxofre, aplicados em pulverização, du-
ficou a presença de C. vitis em videiras nativas nos rante o período vegetativo da cultura. Recomenda-se,
Estados Unidos. também, retirar do vinhedo os sarmentos provenien-
Os sintomas do ataque variam conforme a tes da poda, os quais devem ser queimados para
densidade populacional do ácaro (Figura 198). Em não servirem de abrigo às fêmeas em hibernação
condições de alta infestação, é possível observar (HICKEL et al. 2010).
necroses em escamas protetoras do primórdio ve- Acredita-se que a pouca expressão deste ácaro
getativo e, em casos extremos, a morte das gemas como pragas da videira no Brasil decorra, entre outros
(RODRÍGUEZ et al. 2008). Estes ácaros perfuram fatores, da presença de vários agentes de controle
as células da epiderme das folhas e alimentam-se biológico. Como a aplicação de inseticidas no cultivo
do conteúdo intracelular, resultando em manchas da videira não é intenso no período vegetativo, as
de coloração pardacenta. Em altas infestações, ob- populações de inimigos naturais podem manter-se
servam-se sintomas de bronzeamento nas folhas, as nos vinhedos (HICKEL et al. 2010). Destacam-se, no
quais secam e apresentam um aspecto coriáceo, com controle biológico, os ácaros da família Phytoseiidae
a parte inferior acinzentada. A severidade dos danos que possuem a capacidade de suprimir as populações
pode ser maior em anos quentes e secos. de ácaros fitófagos no agroecossistema a um nível
de equilíbrio que não seja necessária a intervenção
Monitoramento e controle com outro método de controle.
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
que tecem teias, sendo esta, uma característica peculiar das folhas, próximos das nervuras. O maior número
da família Tetranychidae. A ausência de chuva, aliada às de ovos é observado nas folhas novas da videira. Os
altas temperaturas favorecem o crescimento populacional adultos estão presentes tanto na face abaxial quanto
das populações (BOTTON et al. 2003). na face adaxial das folhas (FERLA, BOTTON, 2008).
Após a colonização das plantas, o ácaro-rajado A dispersão de P. ulmi pode ser resultante da
tece na face inferior das folhas, um entrelaçado de fios proximidade da cultura da maçã com os vinhedos
de seda que, posteriormente, apresenta característica de na região da serra catarinense. Não se descarta a
uma teia. Sobre essa teia, a fêmea realiza a oviposição, hipótese de que o uso de produtos químicos nos
podendo também depositar seus ovos diretamente so- vinhedos, com destaque para fungicidas não-
bre a superfície foliar (MORAES, FLECHTMANN, 2008). seletivos, tenha reduzido a população de inimigos
naturais, permitindo a proliferação do ácaro vermelho
16.10.3. Ácaro-vermelho-europeu Panony- no cultivo (FERLA, BOTTON, 2008). Além disso, é
chus ulmi (Koch, 1836) (Acari:Tetranychi- importante que os técnicos reconheçam a presença
dae) dessa espécie nos vinhedos, diferenciando-o de T.
urticae (ácaro rajado), para fins de definição das
Descrição e bioecologia estratégias de controle.
A B
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Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
resulta em brotações e floração deficientes no próxi- sado pela aplicação de inseticidas para o controle das
mo ciclo vegetativo, além de uma maior propensão pragas primárias, a racionalização do emprego destes
para expressão de sintomas de declínio (FLAHERTY insumos deve ser prioritária (HICKEL et al. 2010).
et al. 1992; DAL BÓ et al. 2007). O monitoramento das pragas primárias: uso
racional de inseticidas, visando preservar os inimigos
Monitoramento e controle naturais; aplicações de inseticidas, somente quando
as populações atingem o nível de controle; e redução
Ainda não existe nível de ação estabelecido do uso de adubos nitrogenados são práticas que
para o controle de ácaros tetraniquídeos, em vinhe- contribuem para uma menor incidência de ácaros
dos no sul do Brasil (HICKEL et al. 2010). Desta forma, fitófagos. A manutenção de plantas de cobertura na
recomenda-se realizar, com auxílio de lupa (aumento entrelinha da cultura também contribui para reduzir
de 10 vezes), inspeções regulares no vinhedo, prin- as infestações, pois servem como abrigo para inimigos
cipalmente na ocorrência de condições climáticas naturais, auxiliando no controle biológico natural
favoráveis aos ácaros. (HICKEL et al. 2010).
A incidência de ácaros fitófagos é maior em Naturalmente, diversas espécies de ácaros
períodos de temperaturas elevadas e baixa pluviosi- predadores ocorrem nos vinhedos, principalmente
dade. No entanto, considerando a incidência natural os da família Phytoseiidae que são eficientes na pre-
de ácaros predadores nos vinhedos, além de outros dação de ácaros fitófagos. Comercialmente, Neoseiu-
inimigos naturais, considera-se que o desequilíbrio lus californicus, Phytoseiulus longipes e Phytoseiulus
causado pela aplicação intensa de inseticidas não macropilis podem ser empregados para o controle
seletivos para o controle de outras pragas é um dos das duas espécies de ácaros fitófagos. N. californicus
principais fatores que contribuem para o aumento apresenta potencial de predação, principalmente,
populacional de ácaros fitófagos nos vinhedos. Os do ácaro-rajado, consumindo ovos, larvas, ninfas e
inseticidas aplicados, principalmente os piretróides adultos. Multiplica-se rapidamente no campo e na
e fosforados são prejudiciais aos ácaros predadores, ausência de ácaro-rajado alimenta-se de pequenos
resultando indiretamente no incremento populacional insetos e do pólen das plantas. Além disso, estudos
das espécies fitófagas (HICKEL et al. 2010). demonstraram a tolerância desta espécie a vários
Diversas formas de controle podem ser reco- produtos químicos (POLETTI et al. 2008, SATO et
mendadas para suprimir as populações de ácaros nos al. 2002).
vinhedos. Considerando que o aumento populacional P. longipes é um predador especialista que
de ácaros fitófagos é resultado do desequilíbrio cau- se alimenta apenas de ácaros-do gênero Tetrany-
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
chus. Quando se alimenta de T. urticae e T. evansi, spinipes, vulgarmente conhecida como abelha-ca-
apresenta alto potencial reprodutivo (FERRERO et chorro ou irapuá. Possivelmente, T. spinipes seja uma
al. 2007; FURTADO et al. 2007). P. macropilis tam- das poucas espécies de abelha capaz de cortar a
bém é especialista e alimenta-se principalmente do casca da uva (HICKEL E SCHUCK, 1995). No entan-
ácaro-rajado. No entanto, este último predador deve to, além desta, outras espécies são observadas em
ser usado apenas em altas infestações, pois quando cachos de uva em Santa Catarina como Apis melli-
há baixa disponibilidade de alimento ele migra para fera (abelha-comum), Tetragonisca angustula fiebrigi
outras áreas. (alemãzinha), Bombus atratus (mamangava) e uma
Os ácaros predadores são comercializados em espécie de abelha-mirim da subfamília meliponinae
potes contendo casca de arroz como veículo para não identificada (HICKEL, SCHUCK, 1995).
liberá-los no pomar. A liberação de N. californicus e P.
longipes deve ser realizada no início da infestação, em 16.11.2. Sintomas e danos
densidades médias de pelo menos 10.000 a 30.000
indivíduos/ha. O monitoramento deve ser continuado O principal fator que tem ocasionado o ataque
e assim que a população de ácaros fitófagos voltar de vespas e abelhas aos cachos de uva é a falta de
a aumentar deve ser realizada nova liberação de alimento (pólen e néctar) a estas espécies entre ja-
predadores (Muller et al. 2013). neiro e abril (período de maturação da uva) (HICKEL;
O controle químico ainda é o método de SCHUCK, 1995; BOTTON et al. 2003; HICKEL et al.
controle mais utilizado para reduzir a população 2010). Segundo Salomé e Orth, (2004) na mesor-
de ácaros fitófagos, mesmo as várias dificuldades região Oeste de Santa Catarina o florescimento do
do seu emprego, dado o número escasso de pro- maior número de espécies de plantas de interesse
dutos registrados para a videira. A alternância de apícola ocorre entre os meses de agosto e novembro,
ingredientes ativos entre uma aplicação e outra é onde cerca de 35% das espécies estão em floresci-
sempre recomendável, tendo em vista a facilidade mento. A partir daí, ocorre um declínio, sendo que
com que surgem indivíduos resistentes aos produtos entre os meses de janeiro e março, apenas 5% das
seguidamente aplicados (Muller et al. 2013). espécies de interesse apícola estão florescendo.
Os relatos de viticultores, aliados a informa-
16.11 Vespas e abelhas ções de literatura, mencionam perdas que podem
chegar a 80% da produção. Embora as observações
16.11.1. Descrição e bioecologia de viticultores afirmem que abelhas possam ser res-
ponsáveis pelos danos, já se sabe que são apenas
Além das espécies de insetos, já citados como oportunistas (HICKEL, SCHUCK, 1995). De uma
prejudiciais por danificarem as bagas, as vespas e abe- forma geral, o rompimento da película das bagas,
lhas (Insecta: Hymenoptera) também tem ocasionado seja pela ação de pássaros frugívoros, como o tico-
danos significativos à cultura da videira. Estes insetos, -tico (Zonotrichia capensis), o azulinho (Cyanoloxia
de uma forma geral, são benéficos ao homem, uma glaucocaerulea), o sabiá (Turdus rufiventris rufiventris)
vez que as vespas são predadoras de insetos-praga e fungos que, ocorrendo de forma associada, pro-
e as abelhas, por atuarem como polinizadoras e pela movem o extravasamento do suco, potencializando
produção de mel, cera e própolis. o ataque de outros insetos e pássaros
Em Santa Catarina, na região do Alto Vale do A partir do dano inicial, uma série de insetos
Rio do Peixe, foram encontradas as seguintes espécies (principalmente abelhas e vespas) têm acesso ao
de vespas, sobre o cultivo da videira: Synoeca cyanea suco que escorre pelo cacho. Dessa forma, o dano
(vespa-azul), Polistes spp. (vespa-amarela), Polybia ocasionado é exponencialmente multiplicado pelo
ignobilis (marimbondo comum) e Polybia scutellaris comportamento agressivo de alimentação das abe-
(marimbondo-camoatin) (HICKEL, SCHUCK, 1995). lhas, as quais afugentam as vespas das bagas rompi-
Dentre as abelhas, a espécie mais danosa é Trigona das, levando-as a romper novas bagas sucessivamente
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Pragas da Videira em Região de Elevada Altitude do Estado de Santa Catarina
(Figura 202). Além disso, este comportamento das Para o controle destes himenópteros, as me-
abelhas acaba por facilitar a disseminação de pa- didas de controle devem ser sempre preventivas. O
tógenos por todo o cacho, o qual acaba por secar controle de vespas e abelhas através da aplicação
completamente (HICKEL, SCHUCK, 1995). Não de inseticidas não é recomendado, uma vez que se
bastassem estes problemas, outra dificuldade imposta coloca em risco toda a cadeia produtiva, pois, além
pela situação é o risco de picadas aos trabalhadores de ocasionar a morte de insetos benéficos (vespas
durante o manuseio dos cachos, por ocasião da predadoras e abelhas), compromete os produtos
colheita da uva, levando, inclusive, a internação de finais de produção (o vinho e o mel) pelo risco de
funcionários por alergias. deixar resíduos tóxicos.
Tanto vespas quanto abelhas dão preferência a
16.11.3. Monitoramento e controle néctar de flores a qualquer outro exsudado (sucos de
frutas, por exemplo). Assim, entre as alternativas para
afastar estes insetos dos cachos de uva no momento
da colheita está o plantio, em áreas adjacentes, de
espécies de plantas floríferas que forneçam tanto
pólen quanto néctar.
Hickel e Schuck (1995), destacam que o plan-
tio de áreas marginais com plantas que forneçam
flores em abundância e por prolongados períodos
durante o verão pode ser uma alternativa imediata
para suprir alimento às abelhas, diminuindo a sua
incidência na cultura da videira. Entre as alternati-
vas, os autores citam o plantio de trigo mourisco
Fagopyrum tataricum, uma planta pouco exigente
em tratos culturais, que proporciona uma florada
abundante e prolongada, muito atrativa às abelhas,
pode suprir com abundância a flora apícola nos meses
de janeiro a março, vindo a minimizar o ataque aos
cachos de uva.
Várias substâncias têm sido estudadas como
possíveis repelentes de abelhas A. mellifera. No en-
tanto, devido à alta volatilidade destes compostos,
o efeito é breve e não gera resultados satisfatórios.
Figura 202. Ataque de abelha-cachorro ou irapuá O extrato piroleinhoso se mostrou eficiente como
(Trigona spinipes) em um cacho de uva. repelente uma vez que proporcionou uma redução
Fonte: Arioli, C. J., 2012. significativa do número de bagas danificadas por
vespas e abelhas quando aplicado a cada 5 ou 7 dias
no vinhedo (HICKEL, SCHUCK, 2005). No entanto,
O ataque de vespas e abelhas deve ser per- pelo fato deste produto apresentar alcatrão em sua
manentemente monitorado. De maneira geral, varie- composição e, também, por deixar odor estranho
dades de uvas brancas, extremamente aromáticas, nos vinhos, teve seu uso proibido e não aceito pelo
são mais atacadas, em comparação com outras va- setor produtivo. Uma alternativa que tem apresentado
riedades. Além disso, anos de excesso de chuva no bom resultado é o uso de óleo de nim. Este óleo é
período da colheita favorecem a maior incidência extraído de uma planta Azaractina indica e apresenta
desses insetos pela maior ocorrência de podridões características de produto repelente a insetos. Sua
de cacho (pelo maior rompimento das bagas). aplicação numa dose de 2L/ha da formulação co-
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
mercial Azamax tem demonstrado bons resultados ALMANÇA, M. A. K.; ABREU, C. M.; SCOPEL, F.
em vinhedos no Planalto sul de Santa Catarina. B.; BENEDETTI, M.; HALLEEN, F.; CAVALCANTI,
Outra medida para evitar o ataque de vespas e F. R. Evidências Morfológicas da Ocorrência de
abelhas, viável apenas em pequenos parreirais, consiste Phaeomoniella chlamydospora em Videiras no
em ensacar os cachos de uva, quando se aproxima a Estado do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves:
época da colheita, ou cobrir a zona dos cachos com Embrapa-CNPUV, 2013. 5 p. (Comunicado Técni-
uma rede de proteção, que impede/dificulta o acesso co, 134).
dos insetos aos cachos. A destruição dos ninhos de
vespas e abelhas deve ser encarada com muito critério, ANDREAZZA, F.; BARONIO, C. A.; BOTTON, M.;
pois estes insetos são valiosos auxiliares na predação VALGAS, R. A.; RITSCHEL, P. S.; MAIA, J. D. G.;
de pragas e polinização de culturas. NAVA, D. E. Suscetibilidade de bagas de genótipos
de videira pela infestação por Drosophila suzukii
16.12 Considerações finais (Diptera: Drosophilidae). Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 51, n. 5, p. 599-606, 2016.
Recentemente o cultivo da videira se expandiu
para as regiões de elevada altitude no Estado de Santa ARIOLI, C. J.; BOTTON, M.; MAFRA-NETO, A.;
Catarina, onde as condições edafoclimáticas são fa- MOLINARI, F.; BORGES, R.; PASTORI, P. L. Fero-
voráveis para a obtenção de uvas de alta qualidade. mônios sexuais no manejo de insetos-pragas na
Nestas condições, diversos problemas de ordem fruticultura de clima temperado. Florianópolis:
fitossanitária preocupam os viticultores catarinenses, Epagri, 2013. 58p. (Boletim Técnico, 159).
em especial, a ocorrência de insetos e ácaros-pragas.
Além dos prejuízos diretos, decorrentes do ataque ARIOLI, C. J.; BOTTON, M.; DOS SANTOS, J.P.;
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NPUV, 1986. 22 p. (Embrapa-CNPUV. Circular
Técnica, 13).
449
450
17. Equipamentos
para Aplicação de
Agroquímicos em
Videiras
17.1 Introdução
A
videira recebe alta carga de agro-
tóxicos, como forma tradicional de
garantir o retorno econômico da
cultura. Neste contexto, é importante
que o princípio ativo que está sendo aplicado
atinja o local designado como alvo biológico,
o que pode não ocorrer para a maior parte
da calda aplicada. Segundo Santos (2002), ao
comentar os aspectos do tratamento fitossani-
tário na agricultura brasileira em geral, destaca
que suas experiências são de que o recobri-
mento em culturas arbustivas “raramente” é
acima de 20% do que é aplicado, ao passo
que nas aplicações em culturas anuais atingiria
50%. Essas afirmativas são corroboradas por
Balan et al. (2008), os quais declararam que as
perdas podem chegar a 70%, adicionando, ain-
da, que muita atenção é dada para o produto a
ser aplicado e pouca para os aspectos técnicos
da máquina e da pulverização.
Os equipamentos mais comumente uti-
lizados para a proteção fitossanitária da videira
são pulverizadores hidropneumáticos ou atomi-
zadores, de turbinas axiais, nos quais são utiliza-
dos os princípios do fracionamento de gotas por
pontas hidráulicas e transporte por uma corrente
de ar. Entretanto, os pulverizadores hidráulicos
que não possuem corrente de ar e os pulveriza-
dores pneumáticos de turbinas que não utilizam
pontas de pulverização também são utilizados.
451
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
452
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Vento atmosférico
Força centrífuga Pulverizador centrífugo
Corrente de ar
Figura 204. Pulverizadores de arrasto (esquerda) e Tabela 74.Vias de aplicação de defensivos agrícolas.
semi-montado (direita). Fonte: Adaptado de Márquez, 2010.
Fonte: Adaptado de Rocha, (2016).
quanto ao tipo de acoplamento em: montados (Figura dos. As vias de aplicação são caracterizadas pelo
203), semi-montados e de arrasto (Figura 204). veículo utilizado para diluição do princípio ativo,
O acoplamento montado permite a aproxi- permitindo a sua distribuição na área a ser tratada.
mação da turbina em relação ao dossel, o que pode As vias de aplicação, o transporte do princípio ativo
melhorar a penetração da corrente de ar em videiras e as denominações dos equipamentos, de acordo
com o sistema de condução em latada (dossel vegeta- com Márquez (2010), encontram-se detalhados na
tivo na posição horizontal superior). O acoplamento Tabela 74.
de arrasto permite maiores volumes do depósito dos A aplicação com pulverizadores hidráulicos
pulverizadores, enquanto o semi-montado, além de será restrita, devido à menor penetração no dos-
permitir isso, também agrega componentes para re- sel da videira, em especial naqueles com maiores
dução do raio de giro. São utilizados dois sistemas: densidades. Os pulverizadores hidropneumáticos
pela articulação dos rodados traseiros, acionada pela predominam no tratamento da videira, devido a sua
mudança do ângulo dos braços inferiores do sistema utilização já tradicional e amplamente aceita pelos
hidráulico, ou por um ponto de articulação entre o produtores, bem como pela disponibilidade, no mer-
cabeçalho e o chassi dos pulverizadores (MACHADO cado brasileiro, de equipamentos de diversos fabri-
et al. 2005; BALASTREIRE, 2005). cantes. Os demais tipos de equipamentos, tal como
os pneumáticos, possuem, ainda, pouca utilização
17.2.3. Classificação quanto à via de no tratamento da videira no Brasil; ou estão em fase
aplicação de expansão, como os eletrostáticos (BALAN et al.
2008; MATTHEWS et al. 2015).
Os defensivos agrícolas são aplicados nas
formas gasosa, sólida e líquida, sendo esta última a
mais usual, todas podendo ser utilizadas em vinhe-
453
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
1 A citação de marcas e modelos comerciais não implica em recomendação dos mesmos por parte dos autores.
454
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
455
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
Pulverizadores hidráulicos
456
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tipo de defletor
Critério de seleção Média
Interno Em “V” Torre
457
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
das são muito finas e o espectro é menos variável. transmitem energia cinética expressiva para as gotas,
Essa característica, somada ao posicionamento dos o pulverizador pneumático com pontas hidráulicas
bocais próximos do dossel vegetativo, visa aumentar necessita do mesmo sistema de bombeamento dos
a capacidade de penetração e recobrimento. equipamentos hidráulicos e hidropneumáticos. Por
Os pulverizadores pneumáticos são ampla- esse motivo, podem ser obtidas maiores vazões em
mente recomendados para o tratamento da videira relação aos pneumáticos com injetores, bem como
em diversos países. No mercado brasileiro, um des- mais variações no tamanho das gotas pela seleção
ses equipamentos é fabricado pela Pulsfog, modelo das pontas. É importante ressaltar que a utilização
Smart 400 UBV, equipado com seis bocais de pul- desse equipamento deve levar em consideração
verização (Figura 214). Cada unidade pode aplicar que este projeto de condução de ar é destinado
de 0,77 a 2 L min-1, conforme a seleção de diferen- ao transporte de gotas muito finas, podendo haver
tes injetores. Além desse modelo, são fornecidos dificuldade no transporte de gotas maiores, com
equipamentos com 2, 6 ou 12 bocais e, segundo o comprometimento da qualidade da pulverização
fabricante, as taxas de aplicação variam de 5 a 100 (ORTIZ-CAÑAVATE, 1995).
L ha-1 (PULSFOG, 2016).
Alguns modelos de pulverizadores pneumáti- 17.3.3. Seleção de pulverizadores para
cos possuem circuitos hidráulicos convencionais, com viticultura
utilização de pontas de pulverização de jato cônico.
Os bocais projetam a corrente de ar paralelamente Seleção de pulverizadores de tração humana
ao jato de pulverização, estando as pontas em sua
extremidade, conforme detalhado na Figura 215. Para a seleção desses equipamentos, o pri-
O equipamento tomado como exemplo, da marca meiro ponto a ser considerado é que desenvolvem
Montana, modelo Twister Mãozinha, possui 8 bocais limitada capacidade operacional (ha h-1), ou seja, são
que utilizam de 3 ou 5 pontas, mas o fabricante capazes de cobrir apenas áreas reduzidas durante o
dispõe de outras configurações, podendo atender tempo disponível para a operação. Os equipamentos
aos diferentes sistemas de condução da videira (BER- com bombeamento intermitente manual causam
THOUVAN, 2016). maior fadiga ao operador, pois estão condicionados
Enquanto os pulverizadores pneumáticos não à intensidade de acionamento exercida para atingir
necessitam bombas de altas vazão e pressão, pois não a pressão de trabalho desejada. Para exemplificar
Figura 213. Bocal de pulverização pneumático. Figura 214. Pulverizador pneumático tratorizado.
Fonte: Adaptado de Cima, 2016. Fonte: Pulsfog, 2017.
458
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
459
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
até 2 L nos equipamentos pneumáticos e 0,8 L nos hi- manutenção e tempos do operador, inclusos descan-
dráulicos. Esse critério também demonstra vantagem so, alimentação e outros. Por exemplo, um operador
na autonomia para os pulverizadores pneumáticos, deslocando-se a 1 m s-1, obtendo uma velocidade de
sem atingir os valores mais elevados de massa total. 3,6 km h-1; aplicando em um vinhedo com condução
Após a verificação da adequação dos tipos de em espaldeira de 2,8 m de entrelinha e em apenas um
pulverizadores aos diferentes tratamentos fitossanitários dos lados, o que determina uma largura de trabalho de
a serem realizados no vinhedo e a ponderação sobre as 1,4 m; com 60% de eficiência operacional (em 40%
características técnicas apresentadas, a próxima etapa do tempo de campo estão ocorrendo abastecimen-
consiste na análise operacional. Esse procedimento tos e outros), desenvolve capacidade operacional de
tem como resultado a relação entre a área a ser pulve- 0,3 ha h-1 o que não atenderia a demanda calculada
rizada e o tempo disponível, para que a pulverização na análise operacional exemplificada, de 0,75 ha h-1.
seja feita sem prejuízo à qualidade do trabalho (ha h-1). Caso a capacidade operacional não seja suficiente
Deve, também, ser respeitado o tempo necessário ao para atender à aplicação no vinhedo, de acordo com
descanso do operador e à manutenção dos equipa- a análise operacional, então esta máquina não estará
mentos, entre outros. O resultado indica a demanda adequadamente selecionada, mesmo que os princípios
de trabalho que será exigida. técnicos da adequação das gotas de pulverização ao
Por exemplo, considerando um dia útil, o tempo alvo tenham sido respeitados (BALASTREIRE, 2005).
máximo para ser realizada a pulverização completa de
um vinhedo de 3 ha, em que um dia proporciona o Seleção de pulverizadores tratorizados
tempo de operação de 4 horas, devido às limitações
climáticas, a análise operacional determinaria a deman- Para a seleção dos pulverizadores tratorizados
da por um equipamento com capacidade operacional hidráulicos, é estimada a vazão que cada ponta irá
de 0,75 ha h-1 (BALASTREIRE, 2005). utilizar, tendo em vista o tamanho de gotas adequado
Segundo Alonço (1999), para verificar se os para os alvos biológico e químico. A partir de tabelas
equipamentos atendem à demanda, é calculada a ca- de vazão das pontas, é estimada a pressão de trabalho
pacidade operacional pela Equação 1. e o número de pontas a ser utilizado (vide capítulo
sobre tecnologia de aplicação). Os equipamentos hi-
𝐿 × 𝑣 × 𝐸𝑓
𝐶𝑂 = , 𝑜𝑛𝑑𝑒: dráulicos serão mais adequados nas fases iniciais do
10
ciclo da videira, onde gotas não assistidas por corrente
CO: Capacidade operacional (ha h-1); de ar terão maior capacidade de penetração, devido
v: Velocidade (km h-1); a menor densidade do dossel vegetativo nessa fase
L: Largura de trabalho (m); (MACHADO et al. 2005).
Ef: Eficiência operacional (decimal). Quando a opção for pelos equipamentos hi-
dropneumáticos, o mesmo conceito de adequação do
A velocidade deve ser constante durante a apli- tamanho de gotas será aplicado, também com a defi-
cação, para que seja mantida a taxa de aplicação, sendo nição do número de pontas. Além disso, a seleção dos
necessário um treinamento para garantir a cadência das mesmos deverá levar em consideração as características
passadas durante os trajetos. Para estimar a velocidade das turbinas e defletores. As turbinas se diferenciam pelo
do operador, são necessários testes de campo, nos quais diâmetro, que é proporcional ao volume e velocidade
é aferido o tempo de deslocamento em uma distância do ar produzido. Os defletores são escolhidos com
de aplicação conhecida (ALONÇO, 1999). A eficiência base no tipo de condução da videira, existindo as mais
operacional a ser utilizada no cálculo em decimal é variadas opções no mercado (ALONÇO et al. 2015).
a porcentagem do tempo total utilizada em trabalho Especificações técnicas dos pulverizadores
útil. Os tempos que não consistem em aplicação são hidropneumáticos com turbinas axiais e pneumáti-
denominados perdas de tempo, sendo necessárias cos com turbinas radiais do mercado brasileiro são
para a operação; compreendem os abastecimentos, apresentadas na Tabela 77.
460
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
461
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
Marca Modelo Tipo Acionamento Vazão Max. (L Pressão Máx. Dep. (L) Comb.(L) Cilind.(cm³)
min-1) (KPa)
Guarany 10L1 Hidráulico Manual 0,6 480 10 NA NA
Guarany SP16 Hidráulico Manual 0,6 500 16 NA NA
Kawashima PEM20 Hidráulico Manual ou 2,9 450 20 NA NA
elétrico
Yamaho FT16 Hidráulico Elétrico 4 400 16 NA NA
Nakashi F260M Hidráulico Motorizado 11,5 4.000 25 0,6 25,6
Yamaho LS937 Hidráulico Motorizado 8 2.068 25 0,8 23
Yamaho FT828A Hidráulico Motorizado 8 2.758 25 0,8 23
Husqvarna 325S25 Hidráulico Motorizado 4,8 3.500 25 0,6 25,4
Stihl SR420 Pneumático Motorizado ND ND 13 1,5 56,5
Stihl SR450 Pneumático Motorizado ND ND 14 1,7 63,3
Guarany 11L Pneumático Motorizado 2,5 ND 11 2 64,7
Guarany UBVBV Pneumático Motorizado 0,6 ND 11 2 64,7
Nota: Informações coletadas em 05/03/2016. ¹Compressão prévia. NA: não aplicável; ND: não disponível no site do fabricante.
*pré bombeamento. Acionam.: Acionamento do equipamento. Dep.: Volume do depósito de calda. Comb.: Volume do reservatório de combustível. Cilind.:
Cilindrada do motor de combustão interna.
Bomba Turbina
Marca Modelo Acoplamento Tipo de turbina Diâmetro
Vazão L/min) Pressão (Bar) (mm) Vazão (m³/h) Vel. (km/h)
Acefibras 200L Montado Axial 53,9 4000 ND 32.000 86,4
Jacto Arbus 200 Montado Axial 42 2.068 550 12.960 ND
FMCopling 300R Arrasto Axial 60 ND 560 ND ND
Jacto Arbus 400 Montado Axial 75 2.068 850 39.600 ND
Polvirama 500 Autopropelido Axial ND ND ND ND ND
Cattoni 600L Para trator de rabiças4 Axial 41 ND 550 ND ND
KO Caçulão 500 Para trator de rabiças4 Axial 45 ND ND 20.000 84,0
Polvirama GBS1000 Autopropelido4 Axial 71,3 ND ND ND ND
KO A1.500 Arrasto Axial 150 2.068 ND ND ND
Acefibras 2100L Semi-montado Axial 53,9 4.000 ND 59.700 99,7
Pulsfog Agrofog 400F 1
Montado Radial 2 ND ND ND ND
Montana Twister Arrasto Radial 90 ND 500 ND ND
Mãozinha2
Herbicat Topspray3 Arrasto Radial ND ND ND ND ND
Nota: 1 Disponível com 2, 6 ou 12 bocais de aplicação. 2 Disponível nas versões latada com 4 bocais de 5 pontas hidráulicas, latada com 6 bocais de 3 pontas
e 2 bocais de 5 pontas hidráulicas e espaldeira com 8 bocais de 5 pontas hidráulicas. 3 Equipamento indicado para citrus, verificar customização para videira.
4 Não há acoplamento nesses casos. ND: Não disponível nos sites consultados. Observação: Vel.: Velocidade da corrente de ar da turbina.
462
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
463
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
na camisa, abrindo a válvula e liberando o fluxo para a suficiente, desde que realizada a substituição das
saída. Concomitantemente, a pressão fecha a válvula membranas, em períodos adequados. Essa bomba
de entrada, que será acionada quando invertido o apresenta ainda, segundo Ortiz-Cañavate (1995),
sentido de deslocamento do pistão (MACHADO vazões de 40 a 80 L min-1, com pressões conside-
et al. 2005). radas médias 1.000 a 2.000 kPa (145 a 290 lb pol-
Conforme Márquez (2004), a pressão das 2
), chegando até 4.000 kPa (580 lb pol-2). O autor
bombas de pistão ultrapassa, normalmente, os 5.000 destaca as bombas de diafragma como as de maior
kPa (725,2 lb pol-2) e a vazão é superior a 100 L rendimento mecânico-hidráulico.
min-1, sendo a mesma dependente do número de As bombas centrífugas podem operar com
pistões utilizados. Ortiz-Cañavate (1995) afirma que insumos abrasivos, tendo ainda como vantagem a
podem operar de 15 a 200 L min-1, possuem custo simplicidade. Possuem um ou mais rotores, caracteri-
mais elevado que os demais tipos e podem ser uti- zados por discos metálicos com aletas que impactam
lizadas com qualquer tipo de calda. Machado et al. a calda, expulsando-a do corpo da bomba pela ação
(2005) recomendam esta bomba quando a pressão da força centrífuga, de acordo com o demonstrado
for elevada, devido ao alto custo em relação a sua na Figura 218. Sua rotação operacional varia entre
capacidade. 1.000 e 4.000 rpm e são ideais para aplicações a altos
As bombas de diafragma (Figura 217), tam- volumes, com vazões acima de 500 L min-1 e baixas
bém conhecidas como pistão-membrana, recebem pressões (MACHADO et al. 2005). Márquez (2004),
o movimento de um conjunto de pistões dispostos afirma que essas bombas não são volumétricas, o
radialmente a um eixo de manivelas, estando cada seja, sua vazão é decorrente da pressão de trabalho
pistão associado a um diafragma, uma câmara e e rotação do rotor, e que de acordo com seu projeto
duas válvulas - de entrada e de saída. A impulsão do podem eliminar as válvulas de entrada e de saída.
diafragma promove o aumento da pressão na câmara Já as bombas de engrenagens e de roletes,
e a expulsão da calda pela válvula de saída. Segundo segundo Márquez (2004), são menos utilizadas,
Machado et al. (2005), possuem manutenção mínima, pois possuem desgaste excessivo dos componentes,
pois não há contato da calda com as partes móveis. o que afetará a vazão que as mesmas promovem.
Márquez (2004) recomenda a utilização das As bombas de engrenagens possuem dois desses
bombas de diafragma em pulverizadores pequenos e elementos com movimento contrário, coletando
médios, pois as pressões são normalmente menores a calda restringida entre a carcaça da bomba e os
que 2.000 kPa (290 lb pol-2). O autor afirma ainda dentes de uma engrenagem que após o assentamento
que possuem menor custo, ausência de necessida- do dente oponente da outra engrenagem, expulsa a
des de manutenções expressivas e confiabilidade calda no sentido da tubulação de saída. É semelhan-
464
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Marca Modelo Tipo N° de órgãos Vazão máxima Pressão Máxima Potência requerida Rotação (rpm)
ativos (Lmin-1) (KPa) (kW)
Jacto JP 75 Pistão 3 75 2.200 3,68 540
Jacto JP 100 Pistão 3 100 2.200 4,41 540
Jacto JP 150 Pistão 3 150 3.500 9,71 540
Comet APS 31 Membrana 3 25 4.000 1,99 550
Comet APS 51 Membrana 3 50,7 4.000 3,82 550
Comet APS 96 Membrana 4 89 4.000 6,99 550
Comet APS 145 Membrana 4 145 5.000 10,89 550
te às bombas de óleo dos motores. As bombas de do equipamento e reduz o retorno para o tanque.
roletes possuem um rotor alojado em uma câmara, Para pulverizadores com agitadores hidráulicos e
com funcionamento semelhante, restringindo a calda mecânicos conjugados, mais utilizados quando os
entre os roletes e a carcaça da bomba e expulsando-a depósitos possuem maiores volumes, essa reserva
no sentido da tubulação de saída. deve ser de 5% da vazão total de pulverização. O
Informações técnicas de sete bombas utili- autor apresenta a equação 2 para a estimativa da
zadas em equipamentos de fabricação brasileira vazão mínima das bombas:
encontram-se detalhadas na Tabela 78.
𝑄 = 𝑞 ∗ 𝑛 + 0,10 ∗ 𝐶
De acordo com Márquez (2004), a vazão das
bombas é definida pelo volume aplicado por ponta, , onde:
número de pontas, velocidade utilizada na opera- Q: Vazão mínima da bomba (L min-1);
ção e da vazão do retorno. Para os pulverizadores q: Vazão das pontas (L min-1);
pequenos e médios com agitadores hidráulicos, o n: Número total de pontas;
retorno deve ser de 5 a 10% da capacidade do de- C: Capacidade do depósito (L)
pósito por minuto. O autor afirma ainda que devem
ser consideradas as pontas com maiores vazões a
serem utilizadas, pois isso aumenta a vazão total
465
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
Regulador de pressão
Manômetro
Controlam o fluxo para ambos os ramais ou Tem a função de separar impurezas da cal-
para cada um deles separadamente, de acordo com a da de pulverização, sem que ocorra a retenção do
466
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
17.4.5. Agitadores
467
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
17.4.7. Turbina
468
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
de latão ou aço inoxidável, fibra de vidro reforçada densidade e disposição do dossel vegetativo da videi-
com resina de poliéster ou polietileno rotomoldado ra. Não é desejável que o fluxo ultrapasse o dossel,
(TRÁS-OS-MONTES, ALTO DOURO, 2015). Quanto aumentando as perdas por deriva e reduzindo a
à potencia de acionamento das turbinas axiais, se- quantidade de agrotóxico depositada no alvo, o que
gundo Moya (2003), é de 10 a 30 kW e as vazões reduz sua eficácia.
são de 4 a 10 m³ s -1.
A turbina demonstrada possui um conjunto 17.4.8. Defletores
defletor, posicionado junto ao cone defletor inter-
no, cujas pás são reguláveis, permitindo adequar a São dispositivos para a condução da corrente
direção da corrente de ar em relação ao dossel das de ar. As turbinas axiais possuem um defletor interno
plantas. Além dessas pás defletoras, um conjunto em formato de cone, cuja função é alterar em 90°
de pás fixas tem por objetivo criar uma turbulência a corrente de ar que é admitida paralelamente ao
em vórtice na corrente de ar, visando aumentar a eixo do rotor. Para o controle do fluxo na periferia
penetração da calda no dossel vegetativo. do rotor, são utilizados defletores externos de pás
As turbinas radiais possuem rotores com pás reguláveis, defletores internos de placas e defletores
dispostas em sua periferia (Figura 225), direcionando do tipo torre (ORTIZ-CAÑAVATE, 1995). Exemplos
o ar por uma carcaça helicoidal, sem alteração do dos defletores de pás e de placas internas estão dis-
sentido do fluxo. Não há necessidade do defletor postos na Figura 227.
interno para o direcionamento, como nas turbinas Os defletores do tipo torre distribuem a cor-
axiais. A corrente de ar possui menor turbulência, rente de ar verticalmente, com variações nas formas e
maior velocidade e menor vazão, comparativamente angulações das saídas de ar, conforme demonstrado
às turbinas axiais. na Figura 228. Esses defletores e suas variações são
A ação das turbinas, segundo Ramos, Pio adequados para sistemas de condução vertical da
(2008), é baseada na troca do ar seco, existente videira.
dentro da folhagem, por um volume de ar saturado Outra opção associada às turbinas axiais é
com a calda, conforme demonstrado na Figura 226. uma passagem de ar na seção inferior, evitando a
A escolha da turbina depende de quatro fa- interrupção do fluxo de ar, pois esse tipo de turbina
tores: vazão, velocidade de trabalho a ser utilizada, possui um fechamento na periferia inferior do cone
469
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
470
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
471
Equipamentos para Aplicação de Agroquímicos em Videiras
472
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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473
18. Tecnologia de
Aplicação para a
Proteção Fitossanitária
da Videira
Otávio Dias da Costa Machado
Airton dos Santos Alonço
18.1 Introdução
A
tecnologia de aplicação é uma ciência multidisci-
plinar, pois engloba conceitos de diversas áreas
para orientar as pulverizações agrícolas. Desde
as características das pragas e doenças até os
agrotóxicos e os equipamentos de pulverização, todos
esses conhecimentos deverão ser de domínio pleno da
equipe que planeja e executa o tratamento fitossanitário
da videira. Sem essa capacitação, dificilmente se obtém a
correta deposição do princípio ativo, no local desejado;
e mesmo selecionar adequadamente um produto biolo-
gicamente ativo, ou definir sua quantidade necessária,
exige capacitação. A pulverização, sob os conceitos da
tecnologia de aplicação, deve garantir, ainda, o mínimo
de contaminação de áreas adjacentes, o isolamento de
áreas protegidas e os limites de viabilidade econômica
para as aplicações (MATTHEWS et al. 2016).
Entretanto, os conhecimentos da tecnologia de
aplicação não ganham o devido espaço na prática dos
tratamentos fitossanitários de uma forma geral. Segundo
Landers (2015), essas operações possuem eficácia baixa,
de modo que apenas 29 a 56% do que é aplicado atinge
o local pretendido, enquanto 30 a 50% do que é aplicado
atinge o solo, 10 a 15% é carreado para fora das áreas
tratadas e 4 a 6% das gotas evaporam antes do alvo. Já, de
acordo com Santos (2017), a eficácia da pulverização de
culturas arbustivas raramente é maior que 20%, enquanto
as pulverizações em culturas rasteiras atingem 50%.
Esse capítulo visa apresentar os conceitos de
tecnologia de aplicação para a correta utilização dos
equipamentos e seus componentes no tratamento fitos-
sanitário da videira.
474
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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18.2 Caracterização da ciência tecnologia de texto vise explorar aspectos relacionados ao manejo
aplicação das máquinas, gotas e outros assuntos correlatos, é
primordial de que o gerente dos tratamentos fitossa-
A tecnologia de aplicação é caracterizada nitários do vinhedo se cerque das demais informações
como uma ciência multidisciplinar, pois envolve con- pertinentes às outras áreas correlatas da tecnologia
ceitos da Agronomia, Ecologia, Química, Biologia, de aplicação.
dentre outros. Sem a correta aplicação dos mesmos, Orientações sobre os aspectos das ciências
é passível do tratamento fitossanitário não obter su- correlatas que formam a tecnologia de aplicação são
cesso. A importância dessa afirmativa é fundamental, encontradas em Matthews et al. (2016), conforme
mas no campo, os agricultores desconhecem muitos a Figura 231.
princípios da tecnologia de aplicação. Embora este
475
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
18.3 Fatores que afetam a utilização dos Para o monitoramento, antes e durante a apli-
defensivos agrícolas cação, um recurso versátil são as estações meteoro-
lógicas portáteis. Estas agrupam diferentes funções,
A utilização de defensivos agrícolas é influen- tais como velocidade do vento instantânea, média
ciada por fatores como o clima, o hospedeiro, o alvo e máxima; temperatura, umidade relativa, pressão
biológico, o ingrediente ativo e o veículo utilizado barométrica, dentre outros. O modelo apresentado
(Balastreire, 1987), devendo também ser considerado na Figura 232 apresenta acurácia de 1 a 5% nas
o alvo químico (RAMOS, PIO, 2008). aferições.
476
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
7 a 10 km/h Vento leve Folhas e ramos finos em Recomendável apenas com técnica de
constante movimento redução de deriva
Movimento de galhos.
10 a 15 km/h Vento moderado Poeira e pedaços de papel são Impróprio para pulverização
levados
não fornecem energia de carreamento suficiente no evitar a deriva (ventos entre 7km h-1 e 10km h-1). A
interior do dossel, aumentando o tempo de voo e o temperatura, embora esteja prevista abaixo do limite
risco de evaporação antes de atingir o alvo. Ventos máximo, indica períodos mais quentes do dia em que
leves (>7km h-1) exigem técnicas de mitigação da demandariam a troca pontas de pulverização, para
deriva, incluindo-se também o uso de gotas maiores a geração de gotas maiores (CNPTEC/INPE, 2017).
(ANDEF, 2013). Os meteogramas podem ser consultados em
Para a realização de previsões climáticas para fontes como o site do Centro de Previsões de Tempo
planejar os tratamentos, uma das principais ferramen- e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesqui-
tas é o meteograma (Figura 234). sas Espaciais (CPTEC/INPE). Sua obtenção é realizada
A observação dos meteogramas indica dias ou através de modelos de previsão do tempo de alta
momentos específicos, com condições ambientais complexidade, operados por sistemas potentes de
restritivas, permitindo que sejam planejados o início e computação, e abastecidos por uma rede específica
interrupção da pulverização, bem como adequações de monitoramento.
tais como tamanhos de gotas e taxas de aplicação. Apesar de sua utilidade, como os meteogra-
O exemplo apresentado possui identificação 00Z mas são elementos de previsão, sua utilização deve
(inicia às 00h de Greenwich, 21:00h de Brasília). ser complementada pelo acompanhamento das con-
Esse meteograma prevê ocorrência de precipitação dições ambientais em tempo real.
com início às 10:30h de 19/10/2017 até 14:30h
de 20/10/2017, permitindo a previsão de aproxi- Hospedeiro, alvo biológico e alvo químico
madamente 9,8mm e intensidade de 0,5 a 3,8mm
h-1. Há a previsão de momentos impróprios devido Na agropecuária, hospedeiro é o termo que
à velocidade do vento maior que o limite máximo designa a planta alvo do ataque de pragas e doen-
recomendado (ventos acima de acima de 10km h-1), ças. Já, o alvo biológico é o agente causador de
além de períodos restritivos que exigem medidas para danos, sejam doenças, pragas, plantas espontâneas
477
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
478
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
essas superfícies onde as gotas devem penetrar são As formas líquidas são as mais utilizadas no
diminutas, gotas muito finas podem alcançar esses tratamento fitossanitário da videira. Os métodos de
locais. Gotas grandes, devido às características de aplicação na forma líquida são: nebulização a frio,
tensão superficial, poderão ficar suspensas sobre com gotas extremamente finas de 1 a 50µm de diâme-
essas superfícies e sofrer evaporação, sem contato tro, transportadas em forma de aerosóis; nebulização
efetivo com o alvo (MATTHEWS, 2016; RAMOS, a quente, onde a propagação da aplicação se dá em
PIO, 2008). forma de névoa que se condensa na superfície apli-
Já, o alvo químico, normalmente, é toda a cada; atomização, com gotas de 50 a 100µm para
planta ou uma determinada área onde se encon- aplicação em baixo (BV – 5 a 50 L ha-1) e ultrabaixo
tra o alvo biológico. Com as tecnologias existentes, volume (UBV – 0,5 a 5,0 L ha-1); pulverização, com
não é possível atingir somente uma parte da planta pontas hidráulicas, onde as gotas são quebradas pela
representada pelo alvo biológico; por exemplo, um energia cinética transferida ao líquido pelas bombas
inseto no interior do dossel (RAMOS, PIO, 2008). dos pulverizadores, formando gotas com diâmetros
Para o tratamento do míldio (Plasmopara viticola) de 101 a 400µm em sua maioria, podendo ou não
com fungicidas protetores, o alvo biológico é a face utilizar auxílio de corrente de ar; injeção, aplicação no
inferior das folhas, onde se deve inibir a proliferação tronco com equipamentos especiais, por gravidade
do patógeno. Entretanto, o dossel é o alvo químico, ou pressão; imersão, para desinfecção de mudas e
pois é totalmente pulverizado. As condições de apli- estacas de videiras; e pincelamento, utilizado nos
cação selecionadas quanto ao tamanho de gotas e cortes das podas de ramos e, em outras partes da
pontas de pulverização serão adequadas pela análise planta, onde há uma porta de entrada mais signifi-
do recobrimento do alvo biológico (face inferior cativa para patógenos (MACHADO et al. 2005).
das folhas). A forma líquida por pulverização com trans-
porte por corrente de ar é a mais utilizada em videiras,
Ingrediente ativo e veículo sendo o tamanho da gota um dos mais importantes
fatores para a eficácia do controle. O tamanho da
Ingrediente ativo é o produto que efetiva- gota aplicada é diretamente relacionado à penetração
mente controla o alvo biológico. Via de regra é do produto, à uniformidade de distribuição e à efeti-
diluído com o objetivo de obter sua distribuição vidade de deposição, dentre outros fatores. A seleção
uniforme sobre a superfície a ser tratada. Porém, de tamanhos de gotas para as pragas e doenças da
existem alguns produtos que são utilizados na videira deve ser específica e atentamente avaliada,
forma pura em aplicações a ultrabaixo volume para a realização da pulverização.
(UBV), em taxas de aplicação extremamente baixas.
Veículo é o material inerte ao qual é misturado o 18.3.2. Formulações de agrotóxicos e pre-
ingrediente ativo para a formulação do produto paração da calda de pulverização
comercial. Os veículos podem ser líquidos (água,
óleo, etc.) ou sólidos (talco, gesso, argila, etc.) Os agrotóxicos são utilizados em uma apre-
(MATTHEWS et al. 2016). sentação denominada produto comercial, contendo
a formulação. As formulações de agrotóxicos são
18.3.1. Formas de aplicação de defensivos as formas como os mesmos são preparados para a
em videiras correta diluição em via de aplicação líquida, quando
se obtém a denominada calda de aplicação (formu-
O tratamento fitossanitário da videira pode lação dissolvida em água). As formulações contêm
ser realizado nas formas sólida, líquida e gasosa. As o ingrediente ativo, substâncias inertes não reativas,
formas gasosa e sólida são utilizadas, na maioria das para permitir uma mensuração adequada do pro-
vezes, no combate de formigas, além de controle de duto comercial e adjuvantes. A concentração do
pragas de solos. ingrediente ativo no produto comercial é informada
479
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
por gramas ou mililitros em função de massa ou Tabela 80. Características das formulações de
volume, de acordo com a apresentação. Os adju- agrotóxicos mais utilizadas.
vantes servem a diferentes propósitos, dentre eles Fonte: Adaptado de Azevedo e Freire, 2006.
melhorar a solubilidade do ingrediente ativo, facili-
tar sua mistura na calda e garantir sua estabilidade, Formulação Necessidades
em especial quando o produto comercial possui
Boa suspensibilidade e dispersão em água;
duas ou mais substâncias ativas (MATTHEWS et Pó Molhável (WP) Boa granulação e partículas muito pequenas;
O pó deve misturar-se rapidamente com a água;
al. 2016; RAETANO, 2017). Pequena formação de espuma.
A seleção da formulação para a pulverização
Concentrado Emulsio- Emulsificação espontânea em água;
deve levar em conta o custo, modo de aplicação, nável (EC) Emulsão estável e homogênea;
facilidade de manuseio e dosagem, solubilidade, Aspecto leitoso.
estabilidade física durante a estocagem, segurança Pó Solúvel (SP) Dissociação rápida e formação de uma solução
no transporte, uso e aplicação (toxicidade e exposi- aquosa sem resíduos.
ção do aplicador), além da fitotoxicidade, risco ao Formação de uma solução límpida em água;
Concentrado Solúvel Formação homogênea para diluição em água;
meio ambiente, região de utilização e eficiência do (SL) Solução verdadeira dos ingredientes ativos.
produto (RAETANO, 2017).
Para a preparação da calda de pulverização, Suspensão Concentrada
(SC)
Dispersão espontânea em mistura com água;
Suspensão estável do ingrediente ativo.
deve ser do conhecimento do executor da operação
os procedimentos corretos para cada tipo de formu- Pó Seco (DP) Boas propriedades para polvilhamento com boa
fluidez e sem grumos.
lação, visando garantir a estabilidade e homogenei-
dade da mistura ou dispersão. Devido à natureza Boa fluidez sem formação de pó;
Granulado dispersível Liberação rápida do ingrediente ativo em presença
dos agrotóxico, são formadas misturas diferentes, (WG) de água; Diâmetro das partículas deve ser o mais
e que exigem diferentes cuidados no momento da uniforme possível.
diluição e da aplicação. As principais caracteristicas Ultra Baixo Volume (UBV) Baixa volatilidade; Baixa viscosidade;
Não deve conter substâncias sólidas em suspensão.
das formulações mais utilizadas encontram-se des-
critas na Tabela 80.
Quanto aos tipos de misturas, ao selecionar
agrotóxicos para os tratamentos fitossanitários da vi- quanto à diluição e também quanto à estabilidade.
deira deve-se estar atento a alguns aspectos: soluções Soma mais de 50% dos produtos registrados para
verdadeiras não permitem a dissociação visual entre o o controle de doenças na videira. Este tipo de for-
soluto (formulação) e o solvente (água), sendo menos mulação, diluída em água, forma uma suspensão,
suscetíveis à segregação e tendo maior estabilidade. caracterizada por partículas sólidas, dispersas em
Exemplos de soluções verdadeiras são as obtidas com meio líquido e, por esse motivo, passível de sofrer
os concentrados solúveis (SL) e os granulados solúveis sedimentação. As partículas devem ter um tamanho
(SG). Já as suspensões são extremamente suscetíveis muito pequeno, para facilitar a mistura, melhorar a
à decantação do ingrediente ativo. As mesmas são estabilidade, e para evitar sua retenção no filtro de
caracterizadas por mistura não verdadeira, onde sucção da bomba do pulverizador. A correta escolha
partículas sólidas estão dispersas em meio líquido, da malha do filtro é essencial, para evitar a retenção
tendo como principal exemplo os pós molháveis do agrotóxico. Também deve ser observado se o
(PM) (RAETANO, 2017). produto forma pouca espuma, o que dependerá da
Algumas características e cuidados exigidos qualidade dos elementos associados na formulação
para manuseio, diluição e aplicação das principais (MATTHEWS et al. 2016; SOUZA & DUTRA, 2003;
formulações devem ser atentamente analisados para SILVEIRA et al. 2015).
sua aplicação: Segundo Souza e Dutra (2003), o ingrediente
Pó molhável (WP): É a formulação predo- ativo dos pós molháveis é adsorvido a um veículo ar-
minante e que deve receber a maior preocupação gila. Estas partículas provocam desgastes acentuados
480
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
nos componentes dos pulverizadores, principalmente agrotóxico. Essa formulação evita inalação de pó,
quando possuírem dureza elevada. além de facilitar a adição de agentes dispersantes
De acordo com Matthews et al. (2016), as no processo de granulação, por isso sua mistura tem
formulações pó molhável não são compatíveis com mais estabilidade (SOUZA, DUTRA, 2003).
os outros tipos de formulação, podendo formar flo- Concentrado emulsionável (EC): É líquido e
culação ou sedimentação, pela reação com agentes possui adjuvantes para permitir a formação de uma
tensoativos de concentrados emulsionáveis (CE), emulsão na calda de pulverização, pois, do contrá-
apesar de algumas dessas formulações terem sido rio, essa mistura poderia separar-se em fases. Possui
desenvolvidas para essa mistura. Os autores destacam maior concentração, o que pode ocasionar maiores
que uma pequena quantidade de um concentrado erros de dosagem. Sua dosificação é facilitada por
emulsionável pode ser adicionada a um pó molhável, ser líquida e não entope as pontas de pulverização.
já diluído, mas a compatibilidade deve ser sempre A estabilidade de uma calda de pulverização com a
verificada antes de preparar a mistura no campo. formulação “concentrado emulsionável” se deve aos
Para a diluição dos agrotóxicos de formulação agentes tensoativos. Segundo Matthews et al. (2016),
pó molhável, deve ser feita uma pré-mistura, adicio- essa estabilidade é visivelmente quebrada, quando
nando a dose correspondente ao tanque do pulve- se percebe uma “nata” na superfície da calda, ou
rizador, em um balde com água, homogeneizando separações na mistura, o que é evitado pela agitação
este conteúdo até formar uma pasta. Essa mistura constante da calda de pulverização.
deve ser adicionada ao tanque do pulverizador, com Para realizar a seleção de formulações de
metade de seu volume total e com o sistema de agi- agrotóxicos para a videira, uma das recomendações
tação ligado, completando-se em seguida o restante é a consulta ao “sistema de controle de agrotóxicos
da água e mantendo a agitação do tanque acionada brasileiro”, observando-se, primeiramente, a esco-
até que toda a calda seja aplicada. lha de produtos registrados. Essa consulta pode ser
Suspensão Concentrada (SC): Foi desenvol- realizada no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários
vida para melhorar aspectos de dificuldade de ma- (Agrofit). Este recurso on-line permite a pesquisa de
nuseio e diluição dos pós-molháveis. Souza e Dutra todas as informações disponíveis na bula dos agro-
(2003) afirmam que facilita a medida, em relação tóxicos (http://agrofit.agricultura.gov.br). Devem ser
ao manuseio de produto comercial em pó (utilizam atentamente observados os procedimentos deta-
medidores volumétricos), não necessitam preparação lhados para diluição de cada uma das formulações,
de pasta ou pré-mistura e podem ser misturadas dire- evitando problemas na aplicação.
tamente no tanque do pulverizador com a agitação São encontrados, atualmente, 242 produtos
ligada. Além disso, evitam o desgaste e entupimento comerciais registrados para a videira, dentre fungici-
de pontas (não há argila como veículo sólido de das, inseticidas, acaricidas, adjuvantes, feromônios,
diluição no produto comercial) e não apresentam o agentes biológicos e reguladores de crescimento, den-
perigo de inalação. As partículas sólidas insolúveis tre outros. Os produtos comerciais mais frequentes
dessa formulação são dispersas em uma mistura são os fungicidas, havendo 137 produtos registrados,
do tipo suspensão em água, com adjuvantes, para seguidos dos inseticidas, com 45 registros (AGROFIT,
manter a estabilidade da mistura. Deve-se tomar cui- 2017). Alguns produtos comerciais são encontrados
dado, quando observada segregação no recipiente em mais de uma formulação, permitindo escolher
do produto, pois as partículas não mais se misturam. aqueles que possam evitar dificuldades de manuseio
Granulado dispersível (WG): Tem as mesmas e aplicação, quando necessário.
características da anterior; entretanto, se apresenta Além dos cuidados pertinentes às diferentes
na forma de grânulos que se dispersam para formar a formulações, é recomendado, atualmente, a adoção
solução. São mais concentrados em sua formulação de programas de boas práticas de produção, que
e podem apresentar-se em embalagens hidrosso- vêm ganhando espaço em diferentes cadeias da
lúveis, o que evita o contato do aplicador com o fruticultura brasileira, sendo uma alternativa para a
481
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
482
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 82. Frequência das diferentes classes toxicológicas dos fungicidas da PIUP.
Fonte: Adaptado de Silveira et al. 2015 e OPAS, 1997.
Tabela 83. Frequência dos diferentes modos de ação dos fungicidas da PIUP.
Fonte: Adaptado de Silveira et al. 2015.
Contato 65 58,56
Sistêmico 32 28,83
Sistêmico + Contato 14 12,61
Total 111 100
Tabela 84. Frequência dos registros para as diferentes doenças da videira na PIUP.
Fonte: Adaptado de Silveira et al. 2015.
Doenças Registros %
Míldio 70 34,83
Antracnose 41 20,40
Oídio 26 12,94
Podridão da uva madura 19 9,45
Podridão cinzenta 17 8,46
Mancha das folhas 15 7,46
Podridão amarga 7 3,48
Ferrugem 4 1,99
Escoriose 2 1,00
Total 201 100
483
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
Formulação Núm. %
EC Concentrado emulsionável 13 41,94
WG Granulado dispersível 7 22,58
SC Suspensão concentrada 5 16,13
WP Pó molhável 2 9,68
SL Concentrado solúvel 1 3,23
EW Emulsão de óleo em água 1 3,23
SG Granulado solúvel 1 3,23
Total 31 100
Tabela 86. Frequência dos diferentes modos de ação dos inseticidas da PIUP.
Fonte: Adaptado de Silveira et al. 2015.
Sistêmico 8 25,81
Contato 7 22,58
Ingestão 2 6,45
Translaminar 1 3,23
Total 31 100
Tabela 87. Frequência das diferentes classes toxicológicas dos inseticidas da PIUP.
Fonte: Adaptado de Silveira et al. 2015.
Classificação Toxicológica
Núm. %
Classe Descrição Cor
I Extremamente tóxico Vermelho 5 16,13
II Altamente tóxico Amarelo 7 22,58
III Medianamente tóxico Azul 12 38,71
IV Pouco tóxico Verde 7 22,58
Total 31 100
484
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
para os inseticidas da grade de agrotóxicos da PIUP Figura 236. Ponta do tipo cone vazio tradicional.
(Tabela 87). Fonte: Alonço, 1998.
485
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
e vazões são obtidas por diferentes tamanhos de Opera a baixa pressão de 103,4 a 310,3kPa (15
orifícios de saída. As pressões de operação são em a 45 lbf pol-2) e forma gotas maiores que 500µm,
média de 275,8 a 2.068,4kPa (40 a 300lbf pol-2), sendo indicado para aplicação de herbicidas, onde
podendo ser encontradas em ângulos de jato de a deriva deva ser evitada. O padrão de distribuição
40, 60, 80 ou 90° (Figura 237). São recomendadas de gotas deste tipo de ponta é semelhante à do tipo
para aplicação de fungicidas, inseticidas e adubos cone cheio e seu espectro de gotas é um dos mais
foliares, para os quais a boa distribuição, penetração homogêneos (ALONÇO, 1998).
no interior da copa das plantas e a cobertura da
superfície foliar são importantes (ALONÇO, 1998; 18.4.4. Identificação das pontas de
MAGNOJET, 2017; TEEJET, 2011). pulverização
O padrão de distribuição volumétrico das
pontas cônicas de jato vazio tem uma leve concen- As pontas hidráulicas podem ser identifica-
tração na periferia devido às características do jato das por suas numerações (Figura 242). Assim, a
(Figura 238). especificação da ponta TEEJET 110-04, de jato em
leque, indica que ele possui um ângulo de 110º
18.4.2. Pontas de pulverização de jato tipo e uma vazão de 0,4gal min-1 (galões americanos
leque por minuto) aproximadamente, 1,51L min-1 ope-
rando em 275,8kPa (40lbf pol-2) (ALONÇO, 1998;
Outro tipo de ponta de pulverização im- TEEJET, 2011).
portante é a do tipo leque, na videira, estando As pontas do tipo cone tradicionais com
praticamente restrita à aplicação de herbicidas. difusor e disco em componentes separados, tam-
O jato produzido é plano e não rotacionado, por- bém conhecidos como série D, são identificadas
tanto não necessitando de elementos difusores ou pelo número do disco separadamente do difusor,
canais periféricos. O orifício de saída tem forma indicando, respectivamente, o diâmetro do orifí-
elíptica, o que confere o mesmo formato à seção cio e o tamanho das gotas. Por exemplo, em uma
de impacto das gotas (Figura 239). O leque de ponta D2-13, o número 13 significa a produção
pulverização é formado pelo escoamento atra- de gotas pequenas. Difusores com identificação
vés do orifício de saída, com pressão de 206,8 a 23 ou 25 indicam formação de gotas médias e
413,7kPa (30 a 60lbf pol-2) e gera gotas de 300 a menos sujeitas à deriva. Os números impressos
500µm. O padrão de distribuição de gotas desse na ponta (2, 3, 4) indicam o diâmetro do orifício
tipo de ponta é semelhante ao da ponta tipo cone em fração de polegada. No exemplo proposto
cheio e a do tipo defletor (Figura 240) (ALONÇO, (D2-13), o diâmetro do orifício é de 2/64 (1/32)
1998; MAGNOJET, 2017; TEEJET, 2011). de polegada (ALONÇO, 1998).
Pontas de jato tipo cone, com design mo-
18.4.3. Pontas de pulverização do tipo derno, possuem identificação pelo ângulo do jato
defletora e vazão; por exemplo, 8002 correspondendo a
um ângulo de 80° e uma vazão de 0,2gal min-1.
As pontas defletoras são montadas no sentido Outras indústrias fazem a diferenciação somente
horizontal, ou seja, o corpo do bico está voltado por meio de cores. Tanto o ângulo do jato como
para a parte posterior do pulverizador, permitindo a vazão dada em uma determinada ponta, pelo
o impacto e deflexão do leque no sentido do solo. seu número, só tem validade sob uma pressão de
De forma semelhante à ponta leque, as defletoras 275,8kPa (40lbf pol-2). A vazão, o ângulo de depo-
são mais utilizadas para a aplicação de herbicidas. sição e o espectro de gotas, em todos os tipos de
A calda passa por um orifício de grande dimensão pontas, mudam em função da pressão (ALONÇO,
e, por impacto em uma superfície lisa, de inclinação 1998; MAGNOJET, 2017; TEEJET, 2011).
bastante acentuada, produz um leque (Figura 241).
486
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 237. Ponta de jato cônico vazio com design Figura 238. Padrão de distribuição de gotas típico
atualizado. de uma ponta do tipo cone vazio.
Fonte: Adaptado de Teejet, 2011. Fonte: Velloso et al. 1984.
Figura 239. Ponta do tipo jato leque. Figura 240. Padrão de distribuição típico de pontas
Fonte: Alonço, 1998. de jato leque, cone cheio e defletor.
Fonte: Velloso et al. 1984.
Figura 241. Esquema de funcionamento de uma Figura 242. Identificação numérica de uma ponta
ponta defletora. hidráulica.
Fonte: Velloso et al. 1984. Fonte: Alonço, 1998.
487
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
18.4.5. Especificação das gotas de Tabela 88. DMV das classes de gotas de pulverização.
pulverização Fonte: Adaptado de Mathews et al. 2016.
488
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
min-1 – 275,8kPa ou 40lbf pol-²), são obtidas gotas Além de os alvos foliares, quando sobrepostos,
finas para a ponta XR, grossas para a ponta TTJ60 e prejudicarem o acesso das gotas e a penetração da
muito grossas para as pontas AIXR e AITTJ60 (TEE- calda, exigindo gotas menores para maior penetração,
JET, 2011). outros, como o racimo floral, poderão, também, exigir
Para a seleção do tamanho de gotas o primeiro gotas menores. Essas estruturas, devido às superfícies
critério a ser utilizado é o tipo de equipamento e vo- diminutas, exigem gotas finas e muito finas. Caso
lume de aplicação. De maneira geral, assume-se que utilizadas gotas maiores, a tensão superficial pode
gotas menores que 100 µm são ideais para aplicação manter a gota sobre as estruturas florais sem contato
a baixo volume (BV – 5 a 50L ha-1) e ultrabaixo vo- efetivo, podendo ocorrer a evaporação da calda, sem
lume (UBV – 0,5 a 5,0L ha-1), que são realizadas a correta deposição do agrotóxico (ANDEF, 2013).
com equipamentos pulverizadores pneumáticos e Em condições em que ocorre a exigência de
nebulizadores, dentre outros. Já para os pulveriza- gotas muito finas e finas, pode ser preferível não
dores hidropneumáticos, gotas entre 100 e 200µm realizar a aplicação, caso as condições ambientais
permitem uma ótima cobertura da superfície da não permitam o uso dessas classes de gotas sem
planta, enquanto que as maiores que 400µm podem que se mantenha um nível de deriva e evaporação
ser adotadas para a redução da deriva, desde que não aceitáveis (ANDEF, 2013).
comprometam a qualidade da pulverização quanto A redução do tamanho de gotas também é uma
à penetração e permitam atingir o alvo biológico estratégia para a melhoria da distribuição das mesmas
(MACHADO et al., 2005). no alvo, tendo em vista que aumenta a população de
Segundo Katsurayama, Palladini (1986), gotas
de 10 a 50µm são ideais para controlar insetos em Figura 245. Obtenção de gotas mediante reduções
voo; as de 30 a 50µm, para controlar insetos no dos- sucessivas de 50% em diâmetro.
sel vegetativo, as de 40 a 100µm para aplicação na Fonte: Hardi, (2003).
superfície foliar, e as de 250 a 500 µm para quando
se desejar evitar a deriva.
De uma forma geral, a redução do tamanho das
gotas de pulverização melhora o resultado da aplicação,
mas aumenta o risco de perda da calda por deriva e
evaporação (Tabela 89). Para a execução do tratamento
fitossanitário, deve-se levar em consideração o dossel
da videira quanto ao seu sistema de condução e quanto
ao manejo (poda seca e poda verde), que determinam
sua permeabilidade. Por isso, os produtores deverão ter
diversos conjuntos de ponta para substituição, atingindo
o tamanho de gotas desejado e que promova a menor
perda possível por deriva, evaporação e escorrimento.
489
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
gotas. Segundo a Figura 245, ao reduzir o tamanho de As variações de espectro poderão aumentar a
gota pela metade, a partir de uma gota de 400µm, são participação de gotas com alto potencial de deriva.
obtidas 8 gotas de 200µm, 64 gotas de 100µm ou 512 Nessa pressão, Cunha et al. (2004) verificaram que a
gotas de 50µm (HARDI, 2003). ponta vermelha concentrou aproximadamente 60%
As alterações de pressão, sem as devidas con- de gotas abaixo de 100µm, comparativamente à
siderações ao tamanho de gotas, entretanto, são fre- marrom com 36%. Caso as menores gotas atinjam o
quentemente encontradas na produção de videiras na alvo mais facilmente (situação de exigência de maior
Serra Gaúcha (MACHADO et al. 2015), além de outros penetração - faces não expostas, racimos florais, etc),
estados (BALAN et al. 2006). Os agricultores, muitas a cobertura será maior; entretanto, se submetidas a
vezes, tendem a aumentar a pressão com a intenção condições ambientais adversas, a maior parte delas
de aumentar a deposição de gotas nos alvos. É notável estará sujeita à deriva e evaporação, pois 100µm é
a necessidade de os agricultores evoluírem quanto ao um limite técnico para definir o aumento do risco de
conhecimento sobre os tamanhos de gotas na pulve- perdas por deriva na pulverização.
rização, bem como a calibração dos pulverizadores. Em suma, pontas com menores vazões dentro
Quanto ao espectro de gotas, que é o padrão de uma mesma série de um fabricante, concentram
da variedade de diâmetros de gotas de uma ponta, mais a população de gotas em torno do DMV, o que
na Figura 246, é demonstrado o comportamento de tende a padronizá-las. Isso pode ser positivo, quando
duas pontas marca Albuz, série ATR de jato cônico se conhece bem o tamanho de gotas que se adaptam
vazio, avaliadas por Cunha et al. (2004). Segundo os melhor ao alvo. Entretanto, o desconhecimento desse
resultados do autor, aponta de cor marrom apresentou detalhe que pode evitar as perdas relacionando a
vazão de 0,52L min-1 e a vermelha de 1,50L min-1, na informação às condições ambientais compromete a
pressão operacional de 600kPa (87lb pol2). Ambas as eficácia do tratamento (CUNHA et al. 2004).
pontas produziram gotas desde 18 a 500µm, mas o O fato de as gotas menores obterem maior
espectro entre as mesmas foi distinto. A ponta mar- penetração se dá pelo comportamento aerodinâmico
rom concentrou a formação de gotas próximas do seu dos alvos. Enquanto gotas mais pesadas (grossas e
DMV (aspecto de pico da curva), enquanto a vermelha médias) mantêm uma trajetória mais retilínea, chocan-
distribuiu os tamanhos de gota ao longo das aferições do-se frontalmente aos alvos, gotas menores (finas)
realizadas (curva com aspecto achatado). conseguem aproveitar o transporte por movimentos
convectivos do ar em torno do alvo, atingindo partes
Figura 246.Tamanhos de gota de pontas da série dos não expostas das folhas (Figura 247) (SANTOS, 2017).
bicos para pulverizadores ATR em função da pressão
operacional da bomba acoplada ao pulverizador. Figura 247. Direção e deposição de diferentes
Fonte: Adaptado de Cunha et al. 2004. tamanhos de gotas em um alvo.
Fonte: Santos, 2017.
490
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
491
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
Tabela 91. Diâmetro, densidade de gotas e taxa de aplicação para o tratamento da videira.
Fonte: Adaptado de Santos, 2006.
Agrotóxicos e modos de ação DMV (µm) Densidade (gotas cm-2) Taxa de aplicação (L ha-1)
Herbicidas pós-emergentes
Convencionais 130 a 150 40 a 60 100 a 200
Sistêmicos 120 a 150 30 a 50 100 a 200
Fungicidas
Contato 110 a 120 60 a 70 300 a 800
Sistêmicos/Translaminares 110 a 130 40 a 60 300 a 800
Inseticidas
Emulsionados 110 a 120 Mínima 40 400 a 800
18.4.7. Densidade de gotas e taxa de aplica- ve o DMV, densidade de gotas e taxa de aplicação.
ção Na prática, é extremamente importante que testes
práticos sejam realizados, para o acompanhamento
Durante o planejamento da pulverização, deve dos resultados da pulverização.
ser definida a cobertura exigida pelo alvo, determina- A cobertura dos alvos pode ser eficazmente
da pela densidade de gotas (gotas cm-2); e também avaliada por cartões hidrossensíveis, que são trata-
o volume de calda a ser aplicado, denominado taxa dos quimicamente, para a marcação das gotas de
de aplicação (L ha-1). Esses critérios são pouco pa- pulverização. Para o recobrimento, pode-se realizar
dronizados do ponto de vista das recomendações uma simples contagem no campo, em uma área do
dos fabricantes de agrotóxicos, pois os rótulos dos cartão de um centímetro quadrado (a maioria dos
produtos não costumam apontar esses valores com cartões possuem 7,6 x 2,6cm). Para se obter dados
clareza. Na maioria dos casos estas definições ficam mais aprofundados da pulverização, a partir dos
por conta dos agricultores (SOUZA, DUTRA, 2003). cartões, programas computacionais podem fornecer,
Segundo as recomendações de Santos (2006), além da contagem de gotas, outras variáveis, como
as pulverizações poderão ser planejadas de acordo diâmetros das gotas.
com os critérios expostos na Tabela 91, onde descre-
492
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Já, quanto à adequação da taxa de aplicação, (ASABE). A adoção de uma das normas é facultada
sabendo-se que esta não poderá provocar escorri- ao fabricante (MATTHEWS et al. 2016).
mento, devem ser conduzidos testes práticos com A classificação de pontas pela ISO é regida pela
diferentes vazões a fim de determinar a máxima norma 10625. As vazões das pontas são classificadas em
capacidade de retenção das plantas. 9 categorias, diferenciadas pelas cores em que deverão
Atualmente, há a tendência de redução das ser fabricadas as pontas (Tabela 93). As vazões para as
taxas de aplicação, com a melhoria do controle so- pontas de uma série se dão em função do tamanho do
bre as gotas de pulverização (Mathews et al., 2016). orifício de saída, devendo ser mantido o ângulo do jato
Para conceituar as taxas de aplicação no tratamento entre as mesmas. Para isso a norma adota o padrão de
fitossanitário da videira, podem ser utilizadas as re- pressão operacional para esta classificação de 275,8kPa
ferências apresentadas na Tabela 92. (40lbf pol-2) (TEIXEIRA, 2000).
Tabela 92. Classificação das taxas de aplicação na Tabela 93. Classificação de cores e vazões padrão
pulverização da videira. ISSO.
Fonte: Adaptado de Mathews et al. 2016. Fonte: Matthews et al. 2016.
493
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
para utilização no vinhedo. Dessa maneira, será possí- devem acompanhar a preparação da pulverização
vel realizar adequações conforme as necessidades de são as tabelas técnicas das pontas de pulverização.
vazão, que irão variar devido às alterações do dossel Para exemplificar a consulta na tabela uma série,
ao longo do ciclo da videira, além de variarem os um exemplo de pontas do tipo cone vazio está des-
tamanhos de gotas, devido às condições ambientais, crito na Tabela 95. Esta ponta da marca Magnojet,
alvo biológico, recobrimento, agrotóxicos utilizados, série MAG, classificada de acordo com a norma
dentre outros. ISO 10.625, é fabricada nos ângulos de projeção do
Os critérios para a seleção das pontas devem jato de 40, 60 e 90° (independentes do ângulo são
estar embasados nos conhecimentos multidiscipli- mantidas as vazões) (MAGNOJET, 2017).
nares da tecnologia de aplicação de agrotóxicos, Quando o padrão de ponta adotado for o
descrita no início do capítulo. da norma ASABE S572.1, a seleção do tamanho
Para organizar um conjunto de pontas para a de gota se dará pela cor da ponta. Uma tabela para
pulverização da videira, deve-se, primeiramente, con- exemplificar a fonte para consulta de informações
siderar as variações de DMV, permitindo a variação por essa norma está descrita na Tabela 96.
do tamanho de gotas de forma apropriada. Já para
cada categoria de tamanho planejada para utilização, 18.5 Regulagem e calibração de
diferentes vazões deverão ter disponibilidade no pulverizadores
conjunto de pontas em estoque.
Além disso, recomenda-se fortemente que 18.5.1. Calibração de pulverizadores costais
para cada cor de ponta seja adquirido um número
maior do que as necessárias para a montagem no Existem vários métodos de calibração de pul-
pulverizador. Isso irá permitir que, ao ocorrerem en- verizadores costais; porém, a grande parte desses
tupimentos, o operador tenha em mãos uma ponta métodos exigem memorização de fórmulas comple-
para substituir, evitando atrasos na operação para xas, motivo pelo qual será apresentado um método
desentupimento. simples de calibração com aplicação de regra de três
Além do estoque de pontas, os viticultores (ALONÇO, 1998).
deverão ter em mãos os demais suplementos exigidos Procedimentos:
para a pulverização, tais como diferentes filtros de • Montar a ponta na lança de pulveriza-
sucção e filtros de pontas. Subsídios importantes que ção;
494
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Pressão operacional
Código da ponta DMV Vazão (L min-1)
bar Lbf pol-²
2,7 40 VF 0,39
3,8 55 VF 0,45
4,8 70 VF 0,50
MGA01 6,9 100 VF 0,59
10,4 150 VF 0,68
13,8 200 VF 0,82
20,7 300 VF 0,88
2,7 40 VF 0,57
3,8 55 VF 0,67
4,8 70 VF 0,75
MGA015 6,9 100 VF 0,90
10,4 150 VF 1,05
13,8 200 VF 1,25
20,7 300 VF 1,53
2,7 40 F 0,75
3,8 55 VF 0,87
4,8 70 VF 1,00
MGA02 6,9 100 VF 1,20
10,4 150 VF 1,42
13,8 200 VF 1,65
20,7 300 VF 2,03
2,7 40 F 0,95
3,8 55 VF 1,10
4,8 70 VF 1,25
MGA025 6,9 100 VF 1,50
10,4 150 VF 1,81
13,8 200 VF 2,08
20,7 300 VF 2,52
2,7 40 F 1,15
3,8 55 F 1,33
4,8 70 VF 1,50
MGA03 6,9 100 VF 1,80
10,4 150 VF 2,20
13,8 200 VF 2,50
20,7 300 VF 3,00
495
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
Pressão operacional
Código da ponta DMV Vazão (L min-1)
bar Lbf pol-²
2,7 40 F 1,30
3,8 55 F 1,54
4,8 70 F 1,76
MGA035 6,9 100 VF 2,10
10,4 150 VF 2,60
13,8 200 VF 2,97
20,7 300 VF 3,65
2,7 40 F 1,61
3,8 55 F 1,88
4,8 70 F 2,10
MGA04 6,9 100 F 2,55
10,4 150 VF 3,10
13,8 200 VF 3,50
20,7 300 VF 4,30
2,7 40 F 1,96
3,8 55 F 2,28
4,8 70 F 2,55
MGA05 6,9 100 F 3,00
10,4 150 VF 3,70
13,8 200 VF 4,28
20,7 300 VF 5,20
2,7 40 F 2,34
3,8 55 F 2,75
4,8 70 F 2,95
MGA06 6,9 100 F 3,65
10,4 150 VF 4,42
13,8 200 VF 5,15
20,7 300 VF 6,25
496
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
497
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
498
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
•Com água limpa, encher o depósito até unitária das pontas para a comparação com o valor
sua capacidade nominal; calculado, realizar as etapas (ALONÇO, 1998):
• Demarcar, em superfície plana, uma • Demarcar a faixa a ser pulverizada:
área onde será realizado o teste (por quanto mais longa ela for, maior será a
exemplo: 5m x 10m, perfazendo uma precisão da calibração (por exemplo:
área de 50 m2); 50m);
• Realizar a pulverização da área demar- • Abastecer o tanque do pulverizador
cada com a mesma velocidade de cami- somente com água limpa, devendo ser
nhamento que será usada na aplicação realizada previamente limpeza e retira-
de campo, mantendo uniforme a altu- da de todos resíduos de produtos utili-
ra de trabalho da ponta (em torno de zados em operações anteriores;
0,5m do chão); • Escolher a marcha do trator mais indica-
• A fim de quantificar o volume gasto na da para a realização do trabalho;
área de 50 m2, completar o depósito do • Ligar a tomada de potência (TDP) do
pulverizador até atingir sua capacidade trator;
nominal (por exemplo: 15 litros); • Acelerar o motor até que a TDP atinja e
Com esses dados, a primeira regra de três estabilize-se em 540rpm;
poderá ser montada: Se foram gastos 2,5 litros em • Iniciar o movimento, no mínimo, cinco
50m2, em 10.000m2 (1ha), serão gastos X. metros antes do ponto marcado (ponto
inicial da distância, descrita no primeiro
2,5 litros --------------- 50m2 item);
X -------------------------10.000m2 • Marcar o tempo necessário para o con-
X = 500 litros. junto percorrer a distância demarcada
(50 metros estabelecidos no exemplo);
No cálculo da diluição do produto que será • Repetir a operação, no mínimo, por
aplicado, outra regra de três é utilizada. Por exemplo: quatro vezes, a fim de obter valores mé-
supondo-se que a dosagem recomendada para o dios;
produto seja de 500ml ha-1 (0,50 L) e que a capaci- • Com o trator parado na aceleração uti-
dade do tanque seja de 15 litros, então: lizada para percorrer a distância demar-
cada (50 metros do exemplo), abrir o
0,50 litro --------------- 500L ha-1 fluxo dos ramais e regular uma pressão
Y ----------------------- 15 litros inicial de acordo com as recomenda-
Y = 0,015 litros, ou 15 ml do produto comercial ções do fabricante (normalmente 20 a
devem ser colocados dentro do depósito do pulve- 60lbf pol-2 para pontas de jato tipo le-
rizador costal. que).
• Coletar o volume escoado pela ponta
18.5.2. Calibração de pulverizadores de no tempo de um minuto e comparar
barras tratorizados com o valor meta calculado. Varie a
pressão, repetindo a operação até coin-
Bastante semelhante ao método descrito para cidir com o valor meta;
os pulverizadores costais, a calibração de pulveriza-
dores tratorizados pode ser realizada por regras de Observações
três. Neste método, a partir de uma taxa de aplica-
ção pretendida, calcula-se uma vazão unitária das • Caso o volume obtido apresente-se
pontas, devendo esta vazão ser a mesma coletada abaixo do calculado, aumentar a pres-
no pulverizador. Para a coleta que definirá a vazão são. Caso atinja a pressão máxima para
499
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
as pontas instaladas sem igualar os va- verão ser aplicados 200 litros, em um
lores, trocar as pontas por outras de minuto deverão ser coletados Y litros:
maior vazão ou diminuir a velocidade
de deslocamento, recalculando o volu- 133,3 minutos --------------- 200 litros
me meta a ser coletado em um minuto; Um minuto -------------------- Y litros
• Caso o volume obtido apresente-se Y = 1,5 litros a ser coletado em uma ponta, após os
acima do desejado, reduzir a pressão. ajustes necessários.
Caso atinja a pressão mínima sem obter
o valor desejado, trocar a ponta de pul- 18.5.3. Calibração de pulverizadores
verização ou aumentar a velocidade do hidropneumáticos tratorizados
trator e recalcular a coleta.
• Caso seja necessário aumentar ou di- Para realizar a calibração, assim como nos
minuir a velocidade, trocar de marcha, pulverizadores de barras, alguns requisitos técnicos
sem jamais alterar a aceleração do mo- devem ser observados (ALONÇO, 1998):
tor correspondente a 540rpm na TDP. • Controle de pressão: o indicador da
pressão de trabalho da bomba (manô-
Para realizar o cálculo do volume a ser coleta- metro) deve funcionar perfeitamente e
do em uma ponta em um minuto, de forma a obter a oferecer fácil leitura;
taxa de aplicação desejada, bem como a quantidade • Estes equipamentos são projetados
de produtos químicos a serem colocados no tanque, para operar a 540rpm, obtidas através
tomemos o exemplo a seguir (ALONÇO, 1998): da TDP dos tratores agrícolas; essa velo-
Determinar o volume de aplicação a ser co- cidade de rotação da TDP é importante
letado em uma ponta e a quantidade de produto para os pulverizadores hidropneumá-
comercial a ser colocada em um tanque de 450 litros ticos, porque os giros do ventilador,
de um pulverizador de barras, com pontas espaçadas e, por consequência, o volume de ar
de 50 centímetros. Sabe-se que a taxa de aplicação produzido, dependem diretamente da
desejada será de 200L ha-1, que foi aferido o tempo rotação imprimida pela TDP. O tacôme-
de 20 segundos para o deslocamento em 50 metros tro do trator, portanto, deve apresentar
e a dosagem do produto deverá ser de 2L ha-1. plenas condições de funcionamento. O
• Distância percorrida para pulverizar um trator deve possuir acelerador manual,
hectare com uma ponta (corresponde com o objetivo de manter constante a
a uma faixa de aplicação de 50 centí- rotação;
metros de largura e área de 10.000m2): • É de vital importância a determinação
distância percorrida por uma ponta = da velocidade de deslocamento
10.000 / 0,50m = 20.000m; do conjunto trator e pulverizador
• Tempo para pulverizar um hectare em em condições de campo durante a
minutos: Se em 50 metros foram gastos calibração. Para tanto, com tanque
20 segundos, na distância de um hecta- cheio de água limpa e o ventilador
re (20.000m) serão gastos X segundos; funcionando, com as pontas fechadas
e com a TDP estabilizada em 540rpm,
50 metros ----------------- 20 segundos é medido o tempo necessário para
20.000 metros ----------- X segundos percorrer a distância previamente
X = 8.000 segundos ou 133,3 minutos para pulverizar demarcada para o teste. Este teste, caso
um hectare com uma ponta. seja realizado em todas as marchas à
frente utilizáveis do trator, armazenará
• Coleta teste: Se em 133,3 minutos de- dados para futuras calibrações.
500
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
501
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
502
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
por pontas de menor vazão, recalculan- Para a diluição dos agrotóxicos no tanque
do o valor da coleta teste; do pulverizador, aferir os seguintes valores e em
• Quando o recobrimento definido como seguida calcular a dose de produto para o tanque do
parâmetro para a operação não for atingi- pulverizador ou para o volume de calda desejado:
do, aumentar a pressão, aumentar a vazão
e/ou reduzir o tamanho de gota, melhoran- • Taxa de aplicação: 500L ha-1;
do a penetração. Recalcule a coleta teste; • Dose do agrotóxico 1,5kg ha-1;
• O valor meta deve ser conferido em • Volume do tanque do pulverizador:
diversas pontas de pulverização e deve 270 litros.
ser feita uma média, para evitar interfe-
rências entre variações das pontas. 500 litros ------------------ 1,5 kg
270 litros ------------------ X kg
Quando forem necessárias alterações nas X = 0,81kg ou 810 gramas de agrotóxico para um
condições do equipamento para que seja otimiza- tanque de 270 litros de calda.
da a pulverização, atingindo o nível planejado de
cobertura, penetração, redução de deriva, etc, um 18.6 Referências
método alternativo deverá ser empreendido para que
se conheça a nova taxa de aplicação. Somente a partir AGROFIT. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário,
do valor da taxa é que será possível realizar a diluição consulta aberta. Disponível em: <http://agrofit.
correta do agrotóxico no tanque do pulverizador. agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_
Seguir o exemplo abaixo (MACHADO et al. 2012): cons>. Acesso em 12 de outubro 2017.
Considerando-se que foi observado escorri-
mento com a taxa original de aplicação (500L ha-1 ALBUZ. Ponta de pulverização ATR. Disponível
no exemplo) e foi reduzida a pressão até otimizar em: <http://www.albuz-spray.com/en/category/
a pulverização (com penetração adequada, corre- documents>. Acesso em 12 de outubro de 2017.
to recobrimento do alvo e sem escorrimento), um
novo teste de vazão indicou que cada ponta está ALONÇO, A. dos S. Equipamentos e tecnologia de
pulverizando 2,25 litros por minuto. A nova taxa de aplicação de defensivos. In.: MEDEIROS, C. A. B.;
aplicação será calculada da seguinte forma: RASEIRA, M. do C. B. A cultura do pessegueiro.
• Vazão unitária medida = 2,25 L min-1 x Brasília,DF: Embrapa SPI, 1998. p. 296-317.
24,7 minutos x 8 pontas = 444,6 litros
ou aproximadamente 445L ha-1 estarão ANDEF. Manual de Tecnologia de Aplicação.
sendo aplicados na nova condição. 2013. Disponível em http://www.andefedu.
hospedagemdesites.ws/publicacoes/manuais>.
Todo o processo de calibração deve ser referen- Acesso em 04 de abril de 2016.
ciado das tabelas de vazão do fabricante das pontas.
Por exemplo, caso se deseje selecionar uma ponta AZEVEDO, F. R.; FREIRE, F. das C. O. Tecnologia
marca Magnojet série MGA com produção de DMV de aplicação de defensivos agrícolas. Fortaleza :
de gotas muito finas e finas na vazão do exemplo (2,25 Embrapa Agroindústria Tropical, 2006. 48 p. (Embrapa
L min-1), respectivamente, seriam selecionadas as pontas Agroindústria Tropical – Documentos 102).
MGA03 (azul), com vazão de 2,20 litros por minuto,
que produzirá gotas finas em 150lbf pol-2 e MGA05 BALAN, M.G.; ABI SAAB, O. J. G.; SASAKI, E. H.
(marrom) na vazão de 2,28 litros por minuto, com gotas Distribuição da calda na Cultura da videira por
finas na pressão de 55lbf pol-2, sendo realizados ajustes turboatomizador com diferentes configurações de
na pressão para a obtenção da vazão exata pretendida pontas. Ciência Rural. v. 35, n. 3, p.731-738, 2006.
(MAGNOJET, 2017).
503
Tecnologia de Aplicação para a Proteção Fitossanitária da Videira
504
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
505
19. Tecnologia
Pós-colheita
A
fase da maturação da uva tem início na virada de
cor, no início da última etapa de crescimento (início
da segunda sigmoide), findando com a senescência
de um fruto não climatérico, possivelmente induzida
pelo ácido abscísico que se acumula pouco antes da virada de
cor e que é promovida pela sua aplicação exógena (GAGNÉ
et al. 2006). A maior ou menor heterogeneidade da virada de
cor explica a diferença de maturação das bagas de um cacho
no momento da colheita, o que dificulta a amostragem para
determinar a maturação média para a colheita. Essa situação
é atenuada quando a brotação é uniforme (poda em guyot,
quantidade de frio requerida para a superação da dormência,
uso ou não de estimuladores de brotação), ou submetendo os
cachos a um período mais prolongado em sobrematuração. Em
nenhum caso a sobrematuração deve prolongar-se em demasia
(senescência avançada), em que os compostos fenólicos
degradam-se com facilidade em exposição à luz solar e às
altas temperaturas (SILVA et al. 2008; SILVA et al. 2009a),
ou com desenvolvimento de fungos, os quais decompõem
a película e a polpa e permitem a liberação de mosto (GIL,
PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
Na fase de maturação e início de sobrematuração das
bagas, ocorrem muitas mudanças morfológicas e bioquímicas
(BLOUIN e GUIMBERTEAU, 2000) (Figura 249).
Em efeito, a baga aumenta significativamente seu
volume devido à elongação celular e acumula substâncias,
particularmente carboidratos e compostos fenólicos (cor,
aroma e sabor) sintatos resultantes dos metabolismos primário
e secundário e carreados pela água. É importante considerar a
redução da acidez, de clorofilas, de taninos e da firmeza das
bagas. Logo, a baga começa a desidratar-se, marcando o início
da sobrematuração, da concentração de seus constituintes e
do desenvolvimento de processos físico-químicos complexos.
506
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 249. Diagrama representativo das partes da baga, da localização e da concentração dos principais
compostos acumulados até a maturação fisiológica das bagas.
Fonte: Adaptado de Kennedy, 2002.
507
Tecnologia Pós-colheita
As pectinas complexas insolúveis encontram- Durante a virada de cor das bagas, o grau de
-se metiladas em maior proporção na baga da uva, estratificação é reduzido, porém, após este período,
em comparação aos outros frutos, variando entre ele se estabiliza. (NUNAN et al. 1998). Na maturação
43% e 70% (ISHII, YOKOTSUKA, 1973). Além dessas fisiológica, o ácido galacturônico é a principal pectina
pectinas descritas, existem as substâncias pécticas da baga de uva madura que é repassada ao mosto,
neutras ou gomas. Dentre elas, encontram-se as arabi- afetando alguns processos de vinificação, como a
nanas, caracterizadas por cadeias de arabinose, com clarificação e a filtração. O ácido com a ligação 4
ramificações de arabinose; os galactanos, formados (4-GalAp) não esterificado aumenta desde a virada
por polímeros de galactose; as arabinogalactonas I de 10% até 20% (NUNAN et al. 1998).
(AGI), compostas por galactanos com cadeias de
arabinose e as arabinogalactonas II (AGII), constituí- 19.2.3. Enzimas
das de galactose, arabinose, manose, glicose, xilose
e ácidos urônicos (SAULNIER et al. 1988). A atividade da protopectinase pectinmeti-
lesterase (PME), que auxilia na desmetilação e na
19.2.2. Mudanças durante a maturação liberação do metanol, ocorre em maior proporção
nas cultivares tintas em comparação às brancas. Da
As maiores mudanças na composição das mesma forma, a atividade dessa enzima é maior e em
paredes celulares, desde a virada de cor, podem ser Vitis labrusca que em Vitis vinifera principalmente sob
descritas segundo duas vias. A primeira, a redução na pH entre 7,1 e 7,5. Em geral, sua atividade aumenta
concentração da arabinogalactona tipo I das cadeias significativamente com o avanço no processo de
laterais dos polímeros, de 20% do total da parede maturação (LEE et al. 1979).
para 4% ao fim da maturação, e a redução na con- A pectinase poligalacturonase (PG) é ativada
centração do sacarídeo simples 4-galacturopiranosil durante a maturação sob um pH entre 4,5 e 4,7;
(4-Galp) de 19% para 1%. A segunda, o acúmulo contudo, as mudanças na baga não são significa-
proteico com hidroxiprolina, glicoproteína extensiva tivas, mesmo que contribuam na solubilização das
acumulando desde 7% na virada de cor até 12% na galacturonanas (NUNAN et al. 1998). A atividade
maturação fisiológica, e um aumento da galactana- da PG, tanto na forma exo (hidrolisa as extremidades
na de 26% para 41%, não ocorrendo um aumento de cadeias curtas), como a forma endo (hidrolisa
significativo na concentração de celulose (HUANG o interior de cadeias longas), é maior na polpa em
et al. 2005). Entretanto, há um aumento significativo comparação com a película. Sua concentração au-
na concentração de xiloglucanas, acarretando um es- menta, desde a virada de cor, em uma correlação
pessamento da parede celular (HUANG et al. 2005). direta com o aumento de poliaminas (DEYTIEUX et
Estas mudanças não correspondem ao amole- al. 2005) e de ácido abscísico (DEYTIEUX et al. 2007).
cimento típico da maturação, mas auxiliam na capaci- A atividade das poligalacturonases é inversamente
dade de extensão das paredes celulares, favorecendo proporcional à concentração de cálcio nas bagas
o crescimento em volume das células da baga. A (CABANNE, DONÈCHE, 2001).
celulose é reduzida durante a divisão celular, pela Além das pectinas naturais da baga, encon-
participação da celulase; contudo, desde a virada tram-se as produzidas por fungos, particularmente,
de cor, permanece estável na película e reduz sua por Botrytis cinerea, que possuem enzimas de
concentração no mesocarpo e endocarpo (CHAR- atividade poligalacturonase (CABANNE, DONÈ-
DONNET et al. 1994). As substâncias pécticas totais CHE, 2001), inibida por proteínas produzidas nas
reduzem durante a maturação (Robertson et al., bagas (JOUBERT et al. 2006). Esse fungo também
1980); mas, a concentração dos polímeros solúveis participa da transformação das substâncias péc-
aumenta (SILACCI, MORRISON, 1990), interferindo ticas contidas no mosto originando β-glucano,
na extração do mosto durante a prensagem das bagas formado por inúmeras unidades de glicose. Essa
favorecendo a clarificação (ROBERTSON et al. 1980). transformação dificulta a clarificação e a hidrólise
508
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 250. Universal Testing Machines (UTM) (A) e gráfico representativo da análise da resistência da
película em bagas da cultivar Nebbiolo utilizando a sonda Needle com velocidade de teste de 1 mm s-1 e
penetração de 3 mm.
Fonte: Porro, 2010.
deste polissacarídeo não amiláceo e só ocorre deformação ou ruptura é determinada pelo cálculo
com a participação da enzima β-glucanase (Du- da área da curva força - deformação, em um gráfico
bourdieu et al. 1981). Paralelamente, o Botrytis (energia ou trabalho e a relação entre eles (Universal
cinerea secreta uma série de heteropolissacarídeos Testing Machines (UTM)) (Figura 250). Ao interpretar
que têm a propriedade de inibir o metabolismo o coeficiente força - deformação, em geral, valores
das leveduras, durante a fermentação alcoólica, altos estão associados à textura firme, exceto quando
favorecendo o aparecimento de produtos secun- analisada a deformação separadamente.
dários, como o glicerol e o ácido acético (GIL, A percepção sensorial da firmeza das bagas
PSZCZÓLKOWSKI, 2007). também tem sido correlacionada com a utilização do
instrumento Durofel 10, que tem permitido separar
19.2.4. Textura da uva as bagas moles (leituras menores que 40), médias
(entre 40 e 48) e bagas firmes (acima de 48) (ZO-
As características da parede celular deter- FFOLI, RODRÍGUEZ, 2000). Sobretudo, a melhora
minam a textura da baga (SATO et al. 2004) e são da textura, ou o aumento da firmeza da baga se
variáveis importantes para uvas de mesa, em que relaciona, diretamente, com a turgescência das cé-
componentes como firmeza, elasticidade e fragilidade lulas, e intimamente, dependente da quantidade de
são difíceis de mensurar. água. A falta de turgor, ou aumento da flacidez, é
A força necessária para produzir o rompimen- resultante das perdas de água da baga por desidra-
to da baga não é adequada, porque está intimamente tação (PORRO, 2010).
relacionada à película e, por esse motivo, recorre-se
a outros parâmetros avaliativos (SATO et al. 1997; 19.2.5. Vitaminas
PORRO, 2010). A deformação pela força aplicada
à baga (distância percorrida por uma sonda até a Durante a maturação, ocorre um aumento
ruptura) é expressa, proporcionalmente, ao diâme- na concentração de vitaminas nas bagas. No mosto,
tro da baga. A força necessária para produzir uma encontram-se concentrações significativas de tiamina
509
Tecnologia Pós-colheita
(B1), piridoxina (B6), vitamina B12, ácido ascórbico 19.3 Colheita de uva destinadas à
(vitamina C), nicotinamida (PP), ácido pantotênico, vinificação
riboflavina (B2), biotina (H), mesoinositol, dentre
outros (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). A qualidade dos vinhos está estritamente liga-
O β-caroteno, que se encontra nas bagas da da à qualidade da uva, e essa, diretamente relacionada
uva na forma de provitamina A, tem sua concentração à maturação tecnológica e fenólica adequadas. O
reduzida durante a maturação (SCHNEYDER, 1965), processo e o tipo de maturação são predefinidos
assim como o tocoferol (vitamina E), na semente. em função do tipo de vinho que se quer elaborar.
Entretanto, há um aumento na concentração de to- Por esse motivo, a maturação da uva deve ser acom-
cotrianóis no endosperma (HORVATH et al. 2006). panhada, considerando alguns princípios básicos
A atividade das leveduras e bactérias, durante como o estado sanitário, a maturação completa e
os processos fermentativos, afeta a concentração de homogênea (leve sobrematuração) e, sobretudo,
algumas vitaminas reduzindo, principalmente, a con- realizada de forma lenta e gradual.
centração da tiamina, ácido ascórbico e riboflavina. A sanidade da uva deve ser entendida como
Contudo, a concentração da vitamina P se mantém a sanidade total de cada órgão da videira, incluindo
praticamente constante em relação ao mosto inicial, raízes, estruturas permanentes, brotações, dossel
e dessa forma torna-se a mais importante no vinho. vegetativo, cachos e bagas. Os fatores bióticos e
A presença de Botrytis cinerea nas uvas reduz, signi- abióticos que determinam a sanidade da videira e
ficativamente, o conteúdo de tiamina no mosto (GIL, seus cachos influenciam e modificam o equilíbrio
PSZCZÓLKOWSKI, 2007). vegetativo - produtivo da videira. Esses fatores desen-
cadeiam reações anormais, que afetam a qualidade
19.2.6. Respiração e etileno da uva (DRY et al. 2005). Dessa forma, uma desfolha
precoce, acarretada pelo ataque fúngico, afeta a
A respiração dos frutos e a produção de etile- maturação das bagas por reduzir a capacidade fo-
no, durante a maturação, são muito baixas, sendo a tossintética das folhas e consequentemente ocasiona
uva um fruto não climatérico (ALLEWELDT, KOCH, um decréscimo na qualidade dos vinhos.
1977). O etileno encontra-se em baixa concentração Em viticultura, o que se busca com a máxima
nas etapas I e II da curva de crescimento das bagas, exatidão é a maturação fisiológica das bagas, ou seja,
e máxima, 20 dias antes da virada de cor (CHERVIN quando a baga alcança o maior volume e, consequen-
et al. 2006). O etileno interno produzido nas bagas temente, a maior massa (GIL, PSZCZÓLKOWSKI,
apresenta um pequeno aumento em sua concentra- 2007). Entretanto, a maturação fisiológica da baga
ção, aos 45 dias após a floração, alcançando 0,4 µL pode não coincidir com a maturação enológica ou
L-1 (ALLEWELDT, KOCH, 1977) e uma produção de seja, a relação desejada entre maturação tecnológica
0,5 mL Kg-1 dia-1 (WEAVER, SINGH, 1978). e fenólica. Em uvas, destinadas ao processamento
Esse fitormônio é importante nas mudanças em vinho fino tinto seco tranquilo, a maturação eno-
bioquímicas da maturação (ALLEWELDT, KOCH, lógica é aquela que garante “o melhor vinho”. Isso
1977). O etileno é necessário para induzir o reiní- implica uma leve desidratação das bagas, ou seja,
cio do crescimento da baga, e iniciar o acúmulo de conduzir a maturação até que essa inicie o processo
antocianinas na etapa III da curva do crescimento de sobrematuração. O processo de sobrematuração
das bagas. A aplicação de etileno exógeno (fitorre- é favorecido com altas temperaturas, alta luminosi-
gulador), no início da fase II da curva de crescimento dade, baixa umidade relativa do ar, alta velocidade
das bagas, adianta a virada de cor e acumula mais do vento e com déficits hídricos moderados no solo
carboidratos e polifenóis totais nas bagas (GIL, PS- (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). Condições climáti-
ZCZÓLKOWSKI, 2007). cas contrárias, somadas às condições de excesso de
vigor proporcionadas por solos férteis e profundos,
desfavorecem o processo de sobrematuração.
510
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
511
Tecnologia Pós-colheita
pluviométrica na colheita. Em zonas quentes, depen- a evolução na concentração das antocianinas e po-
dendo da acidez (ácido málico) e de outros com- lifenóis totais, assim como as variações na estrutura
ponentes da maturação, algumas cultivares podem dos cachos, tanto na película, quanto nas sementes
alcançar a maturação ótima com maior ou menor das bagas (SILVA, et al. 2008; SILVA et al. 2009a).
concentração glucométrica. A relação açúcar-acidez A análise integral de fenóis, utilizando um leitor de
é um critério importante, mesmo quando, bioquimi- microplaca, foi proposta por Heredia, et al. (2006)
camente, o aumento na concentração de açúcares de forma a simplificar as metodologias que utilizam
não seja correlacionado, de forma inversa, à redução a espectrofotometria.
na concentração dos ácidos. Quando o aumento na A maturação fenólica é baseada no princípio
concentração dos açúcares não é acompanhado de da solubilização e incorporação dos fenóis acumu-
uma redução na concentração dos ácidos, a relação lados na película e na polpa ao mosto, durante o
açúcar-acidez pode ser complementada por outros processo de vinificação. As variações médias na
critérios. Dentre eles, utilizam-se o “Terroir”, a sanida- concentração antociânica e tânica são características
de e a massa de bagas, a concentração de potássio de cada cultivar; entretanto, as variações em um
e compostos fenólicos e os compostos aromáticos vinhedo são irregulares (BLOUIN, GUIMBERTEAU,
(Du PLESSIS, 1983). 2000). Essas variações são afetadas pelo manejo do
No vinhedo, pode se estabelecer o estado dossel, condições climáticas, presença de fungos
de maturação da uva que assegure um vinho de fitopatogênicos (PSZCZÓLKOWSKI et al. 2001), mé-
qualidade, utilizando um ou dois parâmetros. Em todo de amostragem e métodos analíticos (BORDEU,
geral, se as bagas se desenvolveram em uma situação GONZALES, 2004). Não há uma relação direta entre
de equilíbrio vegetativo-produtivo, o momento da o álcool provável (concentração glucométrica) e a
colheita corresponde ao da maturação fisiológica. maturação fenólica (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
Entretanto, caso desenvolvam-se sob condições de A análise e a quantificação dos taninos requer
desequilíbrio, e as concentrações de aromas, açú- mão de obra capacitada, reagentes específicos e
cares e antocianinas estejam abaixo do esperado, a condições laboratoriais padronizadas, enquanto a
qualidade pode ser melhorada com o manejo. Dentro determinação das antocianinas e fenóis totais são mais
dos limites fisiológicos, pode-se melhorar a qualidade simples. Estas últimas variáveis podem ser correlacio-
das bagas retardando a colheita, para que aumente nadas aos fatores de qualidade, principalmente em
a concentração das moléculas desejadas devido à metodologias de pesquisa, visto que ainda é pouco
desidratação (COOMBE, MCCARTHY, 2000). utilizada na produção comercial de vinhos.
Em bagas sadias de cultivares tintas, as an-
19.4.4. Maturação fenólica tocianinas se acumulam durante a maturação até
o momento em que a funcionalidade dos vasos do
O conceito de maturação fenólica foi proposto floema é perdida. A partir deste momento, a concen-
por Augustin & Glories (1992), e complementado tração antociânica começa a reduzir (Figura 251).
posteriormente, adicionando-se outras metodologias, A velocidade de degradação fenólica depende
ou modificando-as (De MONTMOLLIN, DUPRAZ, das condições edafoclimáticas, do avanço no estádio
2003). Este conceito é baseado na premissa de que a de sobrematuração e de desidratação das bagas
proporção entre a intensidade corante e a intensidade (De MONTMOLLIN, DUPRAZ, 2003; SILVA et al.
tânica está diretamente relacionada à qualidade de 2008; SILVA et al. 2009a). Durante o processo de
um vinho tinto fino seco. senescência das bagas, estas perdas são consideradas
Existem modelos matemáticos que correlacio- extremas (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
nam a concentração fenólica e tânica da película e No estádio de senescência, as bagas podem
da semente com os “índices de maturação”, assim ser atacadas por fungos, e alguns desses, como o
como a extratibilidade desses fenóis. Através dos Botrytis cinerea, facilitam a liberação e a degrada-
métodos espectrofotométricos pode-se acompanhar ção de fenóis (DUPUCH, 1998). Essa liberação é
512
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
513
Tecnologia Pós-colheita
no decorrer da maturação tornam a determinação maturação pode-se determinar a massa média das
da data de colheita muito complexa (BOOYSEN, bagas (De MONTMOLLIM, DUPRAZ, 2003). Essa
MARTIN, 1985). variável apresenta uma clara inflexão entre o aumento
Para estabelecer o volume de colheita, é ne- em massa, durante a etapa de maturação, e sua re-
cessário considerar a superfície total a ser colhida dução, durante a etapa posterior - a sobrematuração.
e, através desta, determinar o volume. Posterior- Nesse estádio de desenvolvimento, a amostragem
mente, para estabelecer a produção por unidade passa a ser relevante para o acompanhamento da
de superfície, são aplicadas técnicas quantitativas. maturação.
Dentre estas, estão o número de plantas existentes, o A maturação de colheita, dependendo da
número de gemas por planta deixadas após a poda, cultivar, está compreendida entre o máximo tama-
a porcentagem de brotação (número de sarmentos nho da baga e o início da senescência da mesma. O
por planta), o coeficiente de fertilidade (número de avanço no estádio de senescência é caracterizado
inflorescências por brotação), o tamanho das inflo- pela morte da película, pela redução na concentra-
rescências, o número de bagas após o pegamento de ção de polifenóis e pelo aparecimento de fungos.
frutos e o tamanho das bagas (CARBONNEAU et al. Por esses motivos deve-se evitar que os frutos sejam
1991). Pode-se realizar a amostragem de gemas para mantidos na planta por muito tempo, avançando
determinar o número de inflorescências, a fertilidade excessivamente no estádio sobremaduro, devido a
potencial e o número de cachos por planta após o suas consequências irreparáveis sobre a qualidade
processo de “anlage”, antes do início da brotação do vinho produzido (PSZCZÓLKOWSKI et al. 2001).
(WISDON et al. 2004). A “maturação ótima” de colheita implica, de-
As práticas para previsão de safra, realiza- pendendo da cultivar, uma leve desidratação favore-
das mais próximas à colheita, são mais precisas e cida por um clima seco e de média-alta temperatura
permitem uma melhor planificação. Por definição, durante a maturação; entretanto, que não adentre,
o rendimento de um vinhedo está condicionado excessivamente no período de senescência. A degus-
pelo número e massa de cachos. Do ponto de vista tação de bagas permite avaliar as diferenças entre as
prático, é útil determinar a produtividade média de bagas que ainda aumentam em volume e aquelas que
um vinhedo (massa média de cachos), mesmo saben- se encontram em fase de sobrematuração. Contudo,
do-se que essa depende da combinação de eventos não permite diferenciar as bagas que se encontram
climáticos e vitivinícolas. Dessa forma, tem-se uma em estágio de sobrematuração (BORDEU, GONZÁ-
média histórica de referência para efetuar o cálculo LEZ, 2004), quando as análises químicas devem ser
do volume de colheita. Entretanto, a colheita anual de utilizadas com maior frequência.
um vinhedo pode apresentar alterações produtivas de Na amostragem de bagas, devem-se conside-
até 30% entre os anos. Por esse motivo, é preferível rar algumas metodologias de forma aleatorizada em
utilizar métodos baseados nas variáveis biológicas um vinhedo ou setor de um vinhedo, aparentemente
que participam nos componentes do rendimento. homogêneo. Eleger linhas de plantio ao acaso, amos-
Dentre eles, encontram-se o número de cachos por trando em ambos os lados das fileiras (insolação
planta, de bagas por cachos e a massa de bagas ou da manhã e da tarde), evitando amostrar plantas
de cachos. Essas variáveis devem ser condicionadas dos extremos das fileiras (bordaduras). Devem ser
às particularidades edafoclimáticas que atuem no amostradas ao menos 20 plantas em cada passada
ciclo produtivo. cobrindo em média 50% do vinhedo, e as amostra-
gens devem ser realizadas, preferencialmente, pela
19.5.2. Amostragem de bagas para de- mesma pessoa.
terminação da maturação Deve-se considerar que a maturação das bagas
nos ombros e extremidades dos cachos, voltadas à
Em ciclos vegetativo-produtivos com baixa sombra do dossel vegetativo é retardada. O terço
incidência de precipitação pluviométrica durante a médio e proximal do cacho, expostos à radiação
514
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
solar direta, apresentam-se em estado de maturação criar gráficos de maturação (GIL, PSZCZÓLKOWSKI,
tecnológica mais avançada com maior concentração 2007). Utiliza-se o ponto em que o modelo das cur-
de carboidratos e menor de ácidos orgânicos. Por vas de acúmulo de SST e de degradação dos ácidos
fim, que as bagas na posição distal do cacho apresen- se cruzam. A escala gráfica utilizada considera as
tam-se em estado de maturação tecnológica menos ordenadas de 0,1 meq L-1 para a acidez total titulável
avançada, devido ao menor influxo de água no terço e as abscissas de 0,1 g L-1 para os SST. Esse ponto é
distal do cacho. Recomenda-se amostrar, em cachos interessante para prever a data de colheita, em média
aleatórios, uma baga do ombro proximal sombreado, de três semanas após este ponto, dependendo das
uma baga do ombro proximal exposto à radiação condições climáticas do ciclo vegetativo:produtivo
direta, uma baga da parte mediana sombreada, uma (BARILLÈRE et al. 1988).
baga da parte mediana dos cachos expostos à radia- Diversos índices de colheita tem sido propos-
ção solar e uma baga da extremidade distal do cacho tos com o objetivo de prever a qualidade “ótima”.
(SILVA et al. 2008; SILVA et al. 2009a). Esses podem ser agrupados em índices de carac-
É necessário amostrar ao menos 250 bagas, terísticas gerais externas dos frutos, índices físicos,
200 quando se deseja somente precisar a concentra- índices químicos e índices fisiológicos de maturação.
ção de sólidos solúveis totais e acidez total titulável Os índices de características gerais externas
(FOULONNEAU et al. 1978); e de 300 bagas segundo de maturação são os mais antigos. Correspondem
metodologia proposta por Rizzon e Miele (2002). A ao conceito de “colher quando a uva está madura”,
amostragem de bagas também apresenta limitantes segundo características subjetivas de maturação
segundo a cultivar avaliada. Os resultados mais repre- (BORDEU, GONZÁLES, 2004). Dentre essas carac-
sentativos são observados em cultivares de cachos terísticas destacam-se a aparência flácida das bagas
laxos em comparação as de cachos compactos por e do cacho maduro frente à rigidez de um cacho
ser impossível amostrar bagas inteiras. imaturo. Avalia-se também o grau de lignificação dos
A amostragem realizada em plantas inteiras é o sarmentos e do ráquis, a facilidade de desprendimen-
método mais impreciso devido ao pequeno número to das bagas do pedicelo e a degustação de bagas
de plantas amostradas. A amostragem de cachos, (ROUSSEAU, 2001). O aroma da baga, característico
teoricamente integra na amostra a grande diversi- de cada cultivar, a facilidade de desprendimento
dade morfológica e de maturação existente entre as do sarcocarpo (polpa) da película, a facilidade de
bagas. Entretanto, também está limitada ao número separação das sementes da polpa e a coloração das
de cachos que devem ser amostrados, ao menos sementes também são avaliados.
20, oriundos de plantas distintas (CARBONNEAU Os índices físicos de maturação determinam
et al. 1991). A amostragem de partes de cachos que as características próprias da maturação de forma
se encontram na parte central dos carregadores na quantitativa. Dentre as características destacam-se a
planta até completar uma amostra de 250 a 300 coloração das bagas, a massa e o volume dos cachos
bagas aparece como uma solução (CARBONNEAU ou das bagas, a resistência ao desprendimento da
et al. 1991). Essa metodologia obtém uma boa apro- baga do pedicelo, a firmeza da polpa e da película
ximação na concentração de sólidos solúveis totais, e o rendimento e densidade do mosto. Todas as
acidez total titulável, ácidos málico e tartárico, con- características das variáveis descritas são estimadas
tudo, um erro maior para massa de bagas e para a por equipamentos específicos. A concentração de
concentração de polifenóis totais. açúcares no mosto é determinada pelo método re-
fratométrico ou através da densidade do mosto. A
19.5.3. Índices de maturação porcentagem de sólidos solúveis totais pode ser ex-
pressa de diferentes formas, sobre diferentes escalas
As metodologias utilizadas para determinar os como as escalas de °Brix, °Balling, °Beaumé, Simón
sólidos solúveis totais (SST) e a acidez total titulável (°Echsle), °Babo (densitometria) ou grau de álcool
(AT) podem ser utilizadas, até certos limites, para provável (Tabela 97).
515
Tecnologia Pós-colheita
Açúcares (g L-1) SS (% - °Brix) Beaumé Babo (% - massa) Echsle (D – 1000) Álcool Provável
1% = 16,66 g L-1 g L-1 açúcar
100 11,83 6,61 10,06 48 6,0
110 12,78 7,13 10,86 52 6,6
120 13,73 7,65 11,67 56 7,2
130 14,66 8,17 12,46 60 7,7
140 15,60 8,68 13,26 64 8,4
150 16,50 9,19 14,02 68 9,0
160 17,32 9,65 14,75 72 9,6
170 18,24 10,15 15,50 76 10,3
180 19,15 10,65 16,27 80 10,9
190 20,05 11,13 17,03 84 11,5
200 20,90 11,60 17,75 88 12,1
210 21,75 12,10 18,50 92 12,7
220 22,66 12,58 19,27 96 13,3
230 23,60 13,05 20,0 100 13,9
240 24,45 13,55 20,8 104 14,4
O critério mais utilizado para a determinação meio grau. O mostímetro deve estar limpo ao ser in-
da maturação é a medida da concentração de açúcar serido ao mosto, pois as impurezas alteram o valor da
no suco ou no mosto. Segundo Gil e Pszczólkowski medição. A amostra deve ser homogênea, de forma
(2007), são necessários 16,66 g L-1 de açúcar no que a medição não seja sub ou superestimada (GIL,
mosto para a obtenção de 1% de álcool. No Brasil, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). Recomenda-se misturar a
os açúcares da uva são medidos em escala de graus amostra em uma proveta com haste de vidro até al-
Babo ou graus Brix. A escala em °Babo representa cançar a homogeneização. Após estabilizar a solução
a porcentagem de açúcar existente em uma amos- na proveta (método estático), inserir o densímetro
tra de mosto utilizando o método densitométrico. com um leve movimento rotatório. Deve-se tomar o
Enquanto a escala em °Brix representa o teor de cuidado de não encostar o mostímetro nas paredes
sólidos solúveis totais da amostra e 99% de açúcares ou no fundo da proveta, realizando a leitura na altura
(glicose e frutose), quando medido na uva madura do menisco. No caso de termo-densímetro armazenar
(RUFFNER et al. 1990). o instrumento na posição vertical de forma a prevenir
O instrumento destinado para medir o teor que a coluna de líquido se separe. Ao medir a den-
de açúcar no mosto de uva, pelo método densito- sidade do mosto, verificar a temperatura do mesmo
métrico (densidade do mosto), é denominado de e realizar a correção da medição conforme a Tabela
mostímetro de °Babo. A escala dos mostímetros de 98 (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
°Babo varia de 0 até 32 graus, com subdivisões de
516
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 98.Valores equivalentes de correção das leituras ou manuais, os digitais, de bancada (refratômetro de
realizadas em densímetro (mostímetro°Babo) segundo Abbe) e os chamados refratômetros em linha (GIL,
as distintas temperaturas do mosto de uvas. PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
Fonte: Gil, Pszczólkowski, 2007. A temperatura apresenta influência direta na
medição do índice de refração. Portanto, a tempera-
Temperatura (°C) Diferença de Leitura (correção) tura do prisma e a temperatura da amostra devem ser
12 - 0,4 as mesmas e preferencialmente a uma temperatura
de 20°C. O controle da temperatura no refratômetro
14 - 0,3 deve assegurar que a variação na temperatura da
16 - 0,2 amostra seja mínima e suficiente para que não cause
18 - 0,1 uma alteração na refração (RIBEREAU-GAYON et al.
1998). Caso haja diferenças entre as temperaturas,
20 0,0
devem-se realizar as devidas correções nos valores
22 + 0,1 avaliados, com auxílio da Tabela 99. Caso a tempe-
24 + 0,2 ratura do mosto encontre-se no intervalo de 10°C a
19°C, o valor tabelado referente à temperatura do
26 + 0,3
mosto e sua fração em % (°Brix) deve ser subtraído
28 + 0,4 do valor lido no refratômetro (Tabela 99). Em contra-
30 + 0,5 partida, se a temperatura do mosto se encontra no
32 + 0,6 intervalo de 21°C a 30°C, o valor tabelado referente à
temperatura do mosto e sua fração em % (°Brix) deve
34 + 0,7 ser somado ao valor lido no refratômetro (Tabela 99).
36 + 0,8 O índice de refração de uma determinada
38 + 0,9 amostra varia em quase todos os materiais para com-
primentos de onda diferentes. A relação de dispersão
40 + 1,0
é característica para todos os materiais, e em um
intervalo de comprimento de onda visível é observada
uma redução do índice de refração e quase nenhuma
A medição da concentração de SST pode absorção. Nos comprimentos de onda referentes ao
ser realizada diretamente no vinhedo com o auxílio infravermelho, aparecem vários picos de absorção
de um refratômetro portátil. O refratômetro é um e grandes flutuações no índice de refração. Nos re-
instrumento óptico, utilizado para medir o índice de fratômetros modernos, o comprimento de onda é
refração de uma substância translúcida. O aparelho sintonizado para uma largura de banda de 0.2 nm,
faz uso do princípio do ângulo crítico ou ângulo para assegurar resultados corretos em amostras com
limite de reflexão total, e esse tem relação com al- dispersões distintas (RIBEREAU-GAYON et al. 1998).
guma propriedade do material analisado. A luz que Os índices químicos de maturação baseiam-se
passa de um meio ao outro sofre refração e uma em determinações analíticas, utilizando diferentes
mudança do ângulo de incidência que, medido, pode metodologias para determinar a concentração de
revelar características próprias da amostra analisada açúcares e de ácidos. Estes índices são propostos
e correlacionada com a concentração de SST (RIBE- e calculados por fórmulas empíricas. Em estado de
REAU-GAYON et al. 1998). sobrematuração, mostram valores praticamente cons-
Uma gota do mosto, resultante da amostragem tantes, até antes que seja alcançada a senescência
é colocada sobre o prisma do aparelho que muda o avançada (maturação enológica). Por isso, é neces-
índice de refração em função da concentração de sário avaliar com certa periodicidade. Inicialmente,
sólidos solúveis totais presentes no mesmo. Existem deve-se avaliar em períodos de cinco a sete dias e,
quatro tipos principais de refratômetro, os tradicionais ao final, próximo à maturação desejada, períodos
517
Tecnologia Pós-colheita
Fração em % (°Brix)
Temperatura (°C) 0 5 10 15 20 25 30 35
10 0,52 0,58 0,59 0,81 0,84 0,87 0,89 0,71
11 0,48 0,51 0,54 0,55 0,58 0,61 0,63 0,65
12 0,44 0,47 0,49 0,50 0,52 0,55 0,57 0,58
13 0,39 0,42 0,43 0,44 0,45 0,49 0,50 0,51
14 0,35 0,37 0,38 0,39 0,40 0,42 0,43 0,44
15 0,29 0,31 0,32 0,33 0,34 0,35 0,36 0,37
16 0,24 0,25 0,26 0,27 0,28 0,28 0,29 0,30
17 0,18 0,19 0,20 0,20 0,21 0,21 0,22 0,22
18 0,12 0,13 0,13 0,14 0,14 0,14 0,15 0,15
19 0,06 0,06 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07 0,08
21 0,06 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07 0,08 0,08
22 0,13 0,14 0,14 0,14 0,14 0,15 0,15 0,16
23 0,20 0,21 0,21 0,22 0,22 0,23 0,23 0,23
24 0,27 0,28 0,29 0,29 0,30 0,30 0,31 0,31
25 0,34 0,35 0,36 0,37 0,38 0,38 0,39 0,39
26 0,42 0,43 0,44 0,45 0,46 0,46 0,47 0,47
27 0,50 0,51 0,52 0,53 0,54 0,55 0,55 0,56
28 0,58 0,59 0,60 0,61 0,62 0,63 0,64 0,64
29 0,66 0,67 0,68 0,69 0,70 0,71 0,72 0,73
30 0,74 0,75 0,77 0,78 0,79 0,80 0,81 0,81
reduzidos de dois a três dias (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, ser determinada. A síntese celular de CO2 (respiração)
2007). decresce ao término do período herbáceo das bagas,
Os índices fisiológicos de acompanhamento quando não há mais divisão celular. A respiração é
da maturação das bagas baseiam-se em determi- incrementada, novamente, na fase de maturação,
nações analíticas dos compostos sintetizados, esta- quando os compostos de aromas, sabores e cores
bilizados ou utilizados no processo de maturação. são formados, e decresce outra vez nas fases de
Trata-se de métodos não exatos, contudo adequados, sobrematuração e senescência. Outro índice é o
quando utilizados para complementar outros méto- coeficiente respiratório (QR), que corresponde à
dos e índices de maturação. Dentre esses índices, relação existente entre o volume de CO2 despren-
destacam-se os métodos analíticos de avaliação da dido e o volume de O2 consumido nos processos
decomposição da clorofila. A taxa respiratória, deter- respiratórios. Essa taxa é reduzida, paulatinamente,
minada pelo desprendimento de CO2, também pode durante a maturação, alcançando valores unitários na
518
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
maturação tecnológica, com altas concentrações de Botrytis cinerea, Glomerella singulata e podridão ácida
açúcares e baixas concentrações de ácidos orgânicos dos cachos (vários agentes causais). Recomenda-se a
(GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007). colheita nas primeiras horas da manhã, com ausência
Por fim, podem-se considerar os índices cli- de água livre nos cachos, até próximo ao meio dia,
matológicos, que relacionam o desenvolvimento da evitando a ação da alta temperatura. Em situações
maturação da uva com os graus dias acumulados até extremas, a colheita noturna é recomendada, o que
o momento (WINKLER, 1948; MORRIS et al. 1980). melhora significativamente a condição qualitativa dos
A correlação desse índice é dificultada em condições cachos (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
subtropicais e de clima temperado, quando o índice Segundo Gil & Pszczólkowski (2007), para
pluviométrico é elevado dificultando sua utilização. alcançar a integridade da uva na colheita e minimizar
as perdas por ruptura das bagas, devem-se preconizar
19.6 Colheita de uvas destinadas ao pro- alguns aspectos referentes ao manejo de colheita:
cessamento em suco ou vinho 1) Efetuar a colheita de forma manual, para
que seja preservada a integridade física da uva. De-
19.6.1. Colheita manual ve-se efetuar a seleção da uva a ser colhida de modo
a vinificar lotes semelhantes e sem problemas de
A determinação do início da colheita, antes podridão ou desuniformidade de maturação;
de qualquer outra condição, está na sanidade da 2) A uva deve ser colhida em caixas plásticas
uva e, por este motivo, é fundamental considerar as especiais, com capacidade máxima de 20Kg, produ-
condições climáticas locais no ciclo produtivo, que zidas com materiais neutros, que não reajam com
possam afetar a qualidade das bagas. Segundo Blouin o mosto das uvas, de fácil higienização e, preferen-
e Guimberteau (2000), quando as condições de clima cialmente, perfuradas na base;
são estáveis (clima seco, radiação solar direta, tempe- 3) Acondicionar adequadamente as caixas
raturas médias máximas altas e irrigados), as chances plásticas de transporte empilhando-as de forma que
de sucesso na produção de vinhos de qualidade não haja o esmagamento da uva colhida;
aumentam significativamente. Em situação contrária, 4) Evitar que impurezas oriundas do campo e
sob alta nebulosidade e alta incidência de chuvas, resultantes da colheita (pó, pedras, terra, sarmentos,
principalmente durante a maturação das bagas, as folhas, insetos, pequenos animais, ou resíduo de
incertezas em relação ao sucesso aumentam. Por este defensivos agrícolas) sejam agregados aos cachos
motivo, deve-se privilegiar sempre a sanidade da uva selecionados;
em detrimento da maturação (PSZCZÓLKOWSKI, 5) Realizar os ciclos de transporte de carga,
2004). Cabe ao enólogo a tomada de decisão sobre transporte, descarga e retorno o mais curto possível.
correções e manejos de elaboração que possam Para estabelecer a logística de transporte, deve-se
“corrigir” os efeitos da falta de maturação tecnoló- considerar a capacidade de recepção da vinícola.
gica e fenólica. A capacidade deve ser superior à capacidade de
Uma vez quantificado o volume de colheita, transporte, e essa, por sua vez, deve ser superior
estabelecido o tempo máximo em que esta será rea- à capacidade de colheita pelo pessoal de campo;
lizada, e determinada a data, com base na maturação 6) Encaminhar a uva à unidade beneficiadora
“ótima”, é necessário considerar o transporte desde imediatamente após a colheita. A condição ideal é ini-
a colheita até a cantina. Os cachos devem chegar o ciar o processamento em, no máximo, 12 horas após
mais intacto possível, particularmente, as cultivares a colheita (sob condições de baixas temperaturas);
brancas, para evitar as perdas de mosto, o início 7) Se possível, resfriar rapidamente a uva na
prematuro da fermentação alcoólica e os proces- vinícola, antes do desengace e prensagem. Esse
sos oxidativos não controlados. A porcentagem de procedimento apresenta a vantagem de reduzir a
ruptura das bagas é aumentada, diretamente, com o atividade enzimática oxidativa, nesta fase do proces-
avanço no processo de maturação, com o ataque de samento. O resfriamento também auxilia na redução
519
Tecnologia Pós-colheita
Figura 252. Colhedora com sistema de vibração horizontal do dossel vegetativo. Autopropelida (A) e
Tratorizada (B).
Fonte: Gil, Pszczolkowski, 2007.
520
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 253. Colhedora com sistema de vibração vertical do dossel vegetativo.Autopropelida (A) eTratorizada (B).
Fonte: Gil, Pszczolkowski, 2007.
521
Tecnologia Pós-colheita
Figura 255. Sistema integrado de mecanização vitivinícola (TRINOVA II) incluindo colhedora, despontadora
e desfolhadora.
Fonte: Intrieri et al. 1995.
e ‘Riesling’, média adaptação ‘Carignan’, ‘Cinsaut’, sarmento, folhas, ráquis, pecíolos (principalmente
‘Granacha’, ‘Syrah’ e ‘Semillon’ e má adaptação ‘Pinot em Carmènére), pedaços de cordões produtivos
Noir’, ‘Pinot Gris’ e ‘Pinot Blanc’ (GIL, PSZCZÓ- e lascas de madeira proveniente dos postes (GIL,
LKOWSKI, 2007). PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
Caso haja dificuldade de degrane dos cachos, A perda oculta de mosto é aumentada em
a colheita pode ser facilitada com a aplicação de colhedoras com sistema de vibração horizontal do
Ethephon uma semana antecedente à colheita. Esse dossel vegetativo (BALDINI et al. 1984). Quando
manejo proporciona uma redução na força de ade- bem reguladas, as perdas dessas máquinas encon-
são entre o pedicelo e a baga (EL-ZEFTAWI, 1982), tram-se entre 10% e 13%, enquanto as colhedoras
facilitando a colheita. A colheita mecânica substitui com sistema de vibração vertical encontram-se entre
em média 37 horas homem-1, quando comparada à 5% e 8% (GIL, PSZCZÓLKOWSKI, 2007).
colheita manual (BALDINI et al., 1984). As máquinas devem ser reguladas de forma
a minimizar a trituração de ráquis, folhas e pecíolos,
19.6.4. Características do produto colhido que conferem sabor herbáceo e aumentam a con-
centração de taninos. Os ventiladores acoplados às
A colheita mecânica produz maiores perdas colhedoras devem retirar corpos estranhos; contudo,
de mosto e a porcentagem de cachos colhidos é quando mal regulados esses podem aumentar as per-
menor nos cachos localizados próximos aos postes das resultante da queda de bagas ao solo. O tempo
(PANDOLFI et al. 2000). Essas perdas estão sendo de transporte desde o local da colheita até a vinícola
minimizadas com a utilização de sensores que regu- deve ser encurtado, de modo a evitar a oxidação e a
lam a ação dos batedores ao aproximar-se aos postes deterioração das bagas e do mosto colhido. Deve-se
(AUBERT, 2000). Uma máquina bem regulada e evitar a maceração das bagas (mosto) juntamente
trabalhando nas rotações da TDP e em velocidades com os corpos estranhos e/ou infectados por Bo-
recomendadas deixa menos cachos sobre as plan- trytis cinerea (ação da enzima PDOR). A oxidação
tas, com boa estrutura de bagas e registra menores do mosto colhido pode ser reduzida (oxidações)
perdas de bagas ao solo (BALDINI et al. 1984). O utilizando gases inertes no tanque (nitrogênio), o
produto de bagas colhido pode conter pedaços de que causa um maior controle da ação enzimática.
522
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
523
Tecnologia Pós-colheita
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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526
20.1 Introdução
a
gi A
elaboração de vinhos é, com
527
Tecnologia Pós-colheita
tranquilos jovens, brancos e rosés e grandes vinhos A colheita deve ser efetuada, preferencialmen-
de guarda brancos e tintos. Esse capítulo não tem a te, em dias secos e nublados ou ao raiar do dia, pois
pretensão de explanar sobre todas as práticas enoló- nesse momento a uva encontra-se fresca. Algumas
gicas, somente visa apresentar as principais, utilizadas vinícolas inclusive realizam colheitas noturnas, visan-
na enologia de altitude, desde a colheita até o envase do um maior frescor das uvas. Além disso, esse é o
final dos vinhos e apresentar alguns estudos que momento de menor incidência de insetos no vinhedo,
foram feitos nesse ainda pouco explorado terroir. como abelhas, marimbondos e vespas.
528
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
para determinar a concentração total de ácidos da dispostas em câmaras frias para o resfriamento, antes
uva; esses ácidos diminuem a partir da mudança de da extração do mosto.
cor das bagas, até teores que variam entre 66,5 e 20.3 Extração do mosto
133,3 meq L-1.
Os dois principais critérios de avaliação para A extração do mosto tem por finalidade sepa-
determinar o estágio de maturação de uvas diferem rar as bagas do cacho (engace e baga) e extrair o suco
conforme o produto que se deseja elaborar; se for das bagas que, dependendo do tipo de vinificação
um vinho tranquilo, um espumante, ou mesmo (em branco ou em tinto), realizam-se de diferentes
um vinho de guarda, sendo que de uvas com ma- maneiras (GIOVANNINI, MANFROI, 2009). Na vi-
turação intermediária podem-se produzir vinhos nificação em branco, em geral, extrai-se o mosto
tranquilos menos complexos e mais frutados, ao sem o contato com casca, mas, em alguns casos,
passo que uvas com maturação plena produzem mantêm-se o mosto por um diminuto tempo em
vinhos mais complexos, com possibilidade para contato com a casca, a temperaturas de 12-20 ºC,
guarda. Para elaboração de espumantes, é dese- ou criomaceração - um estágio em contato com as
jável acidez total mais pronunciada, entre 105,0 cascas e baixa temperatura de 0-4ºC, ambos visando
e 130 meq L-1 e menor concentração de sólidos uma maior extração dos aromas da casca e um maior
solúveis (CALIARI, 2014). volume em boca dos vinhos. Na vinificação em tinto,
Outros parâmetros mais refinados também mantém-se a parte líquida em conjunto com a parte
podem ser avaliados, como a cor das uvas, a concen- sólida, durante os primeiros dias da fermentação
tração de compostos fenólicos focada na maturação tumultuosa (HERNÁNDEZ, 2004).
fenólica, a composição nitrogenada, os ácidos orgâ-
nicos e os precursores de aromas, que podem ser 20.3.1. Desengace e esmagamento
realizados em laboratórios de prestação de serviços,
universidades e institutos de pesquisa. Usualmente, utilizam-se desengaçadeiras
Mas, acima de tudo, o importante é possuir, esmagadoras horizontais (Figura 256). Nesse equi-
no momento da colheita, o melhor equilíbrio possível pamento, as bagas são desprendidas e separadas
entre os componentes essenciais, como a sanidade pela grade perfurada, enquanto a porção verde é
da uva, com base no tipo de vinho a ser produzido eliminada. Ao cair nos rolos, que são revestidos por
e as condições edafoclimáticas da região. borrachas, as bagas são levemente esmagadas for-
mando o mosto. Porém, em algumas vinícolas, os téc-
20.2.2. Recepção na vinícola nicos optam pela seleção de bagas, posteriormente
ao desengace e esmagamento, após a seleção por
Após a colheita e transporte das uvas na ação mecânica ou maceração carbônica.
recepção do local de vinificação, é efetuada a A principal função da desengaçadeira é separar o
identificação da variedade, do produtor (caso engace ou ráquis das bagas; e a função complementar
o vinhedo não seja próprio); se o vinhedo for desta operação unitária é, também, separar as bagas
próprio identifica-se o talhão em que a uva foi de todas as partículas verdes presentes, pois a maté-
colhida. Em seguida, as uvas são pesadas, conforme ria verde transmite ao vinho adstringência excessiva e
metodologia de cada empresa, por caixa, por facilita o processo oxidativo indesejável. Dessa forma,
vagoneta por caminhão, etc. fator importante das desengaçadeiras é de manter a
A pesagem das uvas permite o planejamento do integridade das bagas, para posterior esmagamento, ou
volume de mosto que será extraído e o fermentador, seleção em esteira ou mesa seletora. Tanto as esteiras
ao qual será destinado, bem como as dosagens de como as mesas seletoras têm por objetivo a retirada de
SO2, enzimas e leveduras. bagas com podridões e qualquer material estranho ao
Em algumas empresas, em boa parte das uvas processo (GIOVANNINI, MANFROI, 2009).
de altitude, principalmente nas brancas, as uvas são 20.3.2. Mesa ou esteira de seleção
529
Tecnologia Pós-colheita
Figura 256. Desengaçadeira e esmagadeira. Figura 257. Mesa seletora após o desengace.
Fonte: EnoBrasil, 2016. Fonte: O Autor, 2016.
530
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
531
Tecnologia Pós-colheita
532
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
533
Tecnologia Pós-colheita
teriza-se pelo intenso metabolismo celular, grande Ácidos fumárico e succínico: pode ocorrer
quantidade de produtos de excreção celular, meta- também a carboxilação do ácido pirúvico (reação
bólitos secundários e intermediários. de Wood-Werman), conduzindo à formação de áci-
Fase Estacionária - nessa fase, ocorre o es- do oxalacético. Este ácido pode ser transformado
gotamento dos nutrientes do meio, como açúcares, em ácido málico. Finalmente, o ácido málico, ten-
aminoácidos, entre outros, e o acúmulo de compos- do como intermediário o ácido fumárico, fornece
tos tóxicos, como o etanol, sendo que o número de ácido succínico, sendo um dos principais produtos
células geradas é proporcional ao número de células secundários da fermentação alcoólica. Este mesmo
que morrem. mecanismo conduz também ao ácido propiônico,
Fase de declínio e morte - quando o número sempre presente em estado de traços nos vinhos
de células que morrem excede ao número de novas (MORENO-ARRIBAS, POLO, 2009).
células.
20.8 Vinificação de vinhos tranquilos
20.7.1. Produtos secundários da
fermentação alcoólica 20.8.1. Vinificação em branco
Glicerol: vinhos contêm em torno de 8 gra- Os vinhos brancos, em geral, são vinhos mais
mas de glicerol por 100 gramas de etanol; durante fácilmente degustados; em geral são frutados, frescos
a fermentação do mosto cerca de 8% das moléculas e ácidos, fator que, em países quentes como no Brasil,
de açúcar seguem a fermentação gliceropirúvica e favorece muito o seu consumo.
92% a fermentação alcoólica; a fermentação dos Existe uma afirmação de que a qualidade de
primeiros 100 gramas de açúcar forma a maior parte um vinho branco está ligada em torno de 50% à
do glicerol, depois a produção diminui. O glicerol é uva e 50% à intervenção tecnológica, porque as
benéfico para o vinho, devido aos atributos adoci- intervenções tecnológicas aplicáveis às uvas e aos
cados e de maciez que atribui ao mesmo. mostos de uvas brancas são maiores. Não significa
Ácido lático: pode ser gerado a partir da re- que, com essa explicação, devamos esquecer a in-
dução de ácido pirúvico produzindo, o máximo de fluência de variedade, condições edafoclimáticas e
400 mg L-1. sanidade, fatores imprescindíveis para a elaboração
Etanal: também denominado acetaldeído, é de um bom vinho.
um intermediário da fermentação alcoólica, obtido Uma das principais características dos vi-
da descarboxilação do piruvato; é praticamente todo nhos brancos é que são obtidos, em sua maioria,
reduzido a etanol. Tem aroma característico de vinho pela fermentação dos mostos, sem a presença ou
oxidado. Também pode ser produzido a partir do maceração das partes sólidas que compõem a uva,
etanol, pela oxidação biológica ou química; alguns principalmente a película, por tempos prolongados.
vinhos como Fino e Manzanilla de Jerez apresentam Na elaboração dos vinhos brancos, a extração
altas concentrações de etanal. do mosto e os vários graus de clarificação que
DiacetIl, acetoína e 2,3-butanediol: a con- precedem a fermentação alcoólica e a ausência
densação de duas moléculas de ácido pirúvico, de contato entre a película e a fase alcóolica são
acompanhada de uma descarboxilação, conduz à fatores que distinguem os vinhos brancos dos tintos
formação de acetoína (acetilmetil carbinol) que, e, não necessariamente, a cor da uva, pois vinhos
por sua vez, pode dar origem, por redução ao brancos podem ser elaborados com variedades
butanodiol-2,3 ou por oxidação, ao diacetil. O tintas, como é o caso dos blanc de noirs de Cham-
início da fermentação gera Diacetil, o final da fer- pagne que são elaborados com variedades Pinot
mentação gera acetoína e 2,3-butanediol (através (RIBEREAU-GAYON et al. 2006a).
do contato com as borras). Também não podemos considerar que na
vinificação em branco não exista maceração; em
534
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
535
Tecnologia Pós-colheita
536
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
2%, visando o fornecimento de nutrientes para a tem vinícolas, em parceria com instituições de pesqui-
fermentação e metabólitos de aromas primários. Os sa e universidades, buscando leveduras autóctones,
aromas primários, comumente, apresentam maior com características enológicas adequadas para os
concentração nos vinhos obtidos por maceração vinhos de altitude.
pelicular, com temperaturas controladas. Em geral, nos vinhos de altitude não é neces-
Após a clarificação, o mosto é encaminha- sária a chaptalização, considerando-se que as uvas
do para o tanque de fermentação, sendo que um apresentam, normalmente, elevada maturação e
dos gargalos da fermentação é o controle de tem- sanidade. Após a fermentação, procede-se a estabili-
peratura; em geral, utilizam-se temperaturas em zação do vinho, clarificação e filtração, podendo ser
torno de 16 a 20ºC, dependendo do objetivo do levado para barricas ou não (Figura 262).
enólogo; vinhos mais frutados e de consumo mais Corriqueiramente, os vinhos de Sauvignon
rápido, ou vinhos mais encorpados e de guarda, Blanc não passam por barricas de carvalho, enquanto
respectivamente. os vinhos elaborados com Chardonnay em algumas
A utilização de leveduras selecionadas é uma vinícolas tem como característica a permanência de
prática comum nos vinhos de altitude, porém já exis- 4 a 12 meses em barricas de carvalho de média a
537
Tecnologia Pós-colheita
538
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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Tecnologia Pós-colheita
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
considerando que os aromas são constituintes de elaboração de vinhos tintos. Por se tratar de uma
extrema importância para a aceitação sensorial de variedade pouco difundida, o conhecimento acerca
qualquer vinho (BURIN et al. 2011; SARTOR et al. da composição volátil dos vinhos elaborados com
2017; PANCERI et al. 2016). uvas Rebo ainda é incipiente (CALIARI et al. 2016).
Nesse primeiro trabalho, o desenvolvimento O objetivo deste estudo foi determinar o perfil
de uma técnica de análises utilizando MHS-SPME-G- de voláteis e quantificar os principais compostos de
C-MS com a variedade Merlot das regiões de altitude interesse para o aroma de vinhos tintos Rebo pro-
(ARCARI et al. 2017), demonstram as características duzidos na região do Planalto Catarinense. Foram
de aromas florais e frutais dos vinhos elaborados com identificados 108 compostos voláteis, dos quais 41
a variedade Merlot (Figura 264). foram quantificados (Figura 265). Os componentes
Outro estudo interessante foi realizado com majoritários foram os álcoois 2-feniletanol, 1-butanol,
a variedade Rebo, que é uma uva tinta de aroma 1-propanol, sec-butanol; os ésteres lactato de etila,
delicado e agradável, utilizada exclusivamente para succinato de dietila, acetato de etila e isovalerato
vinificação, em especial na região do Trentino-Alto de etila; os ácidos graxos ácido isobutírico, ácido
Ádige, nordeste da Itália. No estado de Santa Cata- isovalérico, ácido octanoico e ácido caproico; a
rina, esta variedade foi recentemente implantada no lactona γ-nonalactona e o C13-norisoprenoide β-da-
Planalto Catarinense, apresentando potencial para mascenona. Os valores de odor ativo evidenciaram
541
Tecnologia Pós-colheita
Figura 264. Perfil aromático de vinhos Merlot produzidos em região de altitude de Santa Catarina.
Fonte: Arcari et al. 2017.
os compostos de maior contribuição para o aroma -MS. O valor de odor ativo foi calculado a partir do
dos vinhos analisados, sendo eles β-damascenona, limiar de percepção para cada composto avaliado.
isovalerato de etila, ácido isovalérico, octanoato de Foram identificados e quantificados 32 voláteis nas
etila, α-ionona, γ-nonalactona, 2-metilbutanoato de amostras analisadas.
etila, 2-feniletanol e hexanoato de etila (Figura 266). Os componentes majoritários foram os álcoois
Este trabalho demonstrou que os principais 2-feniletanol (6,42 mg L-1) e 1-propanol (9,93 mg L-1);
descritores de aroma dos vinhos tintos da variedade os ésteres lactato de etila (11,50 mg L-1), succinato
Rebo produzidos em Santa Catarina são maçã cozida, de dietila (7,61 mg L-1) e acetato de etila (16,76 mg
maçã verde, abacaxi, pera, framboesa, coco, pêssego, L-1); os ácidos graxos ácido isobutírico (2,50 mg L-1),
morango, violeta, rosas, queijo, especiarias e anis. ácido octanoico (1,82 mg L-1) e ácido hexanoico
Outro estudo realizado com a variedade Te- (1,69 mg L-1); e o composto da classe C6, 1-hexanol
roldego, nas mesmas regiões apresentou resultados, (4,32 mg L-1). Os valores de odor ativo evidencia-
também, interessantes com relação ao perfil aromá- ram os compostos de maior contribuição para o
tico (Figuras 267 e 268). Teroldego é uma variedade aroma dos vinhos analisados, com destaque para
de uva tinta de origem italiana, de aroma delicado, isovalerato de etila (OAV 34,38), 1-hexanol (OAV
ela dá origem a vinhos de coloração rubi intensa, de 13,41), hexanoato de etila (OAV 9,22), cinamato de
boa estrutura e acidez, apresentando potencial para etila (OAV 8,62), isobutanoato de etila (OAV 5,59),
envelhecimento. β-damascenona (OAV 5,15), ácido hexanoico (OAV
O objetivo do estudo foi identificar e quan- 4,03), ácido octanoico (OAV 3,64) e acetato de
tificar os principais compostos de interesse para o isoamila (OAV 3,01).
aroma de vinhos tintos Teroldego, produzidos na Estes resultados evidenciaram o caráter de aro-
Serra de Marari, região do Planalto Catarinense, no ma dos vinhos catarinenses da variedade Teroldego,
Sul do Brasil. Amostras das safras 2012 e 2014, ela- com destaque para aromas frutados de maçã, maçã
boradas por microvinificação, foram analisadas em verde, morango, ameixa e banana; aroma herbáceo
triplicata. A determinação dos compostos voláteis de grama cortada; aroma floral de violeta; além de
foi realizada através da técnica de MHS-SPME-GC- aroma adocicado, de queijo, canela e anis.
542
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 265. Perfil aromático de vinhos da variedade Rebo produzidos em região de altitude de Santa Catarina.
Fonte: Caliari et al. 2016.
543
Tecnologia Pós-colheita
Figura 266.Valor de Odor Ativo de vinhos da variedade Rebo produzidos em região de altitude de Santa Catarina.
Fonte: Caliari et al. 2016.
Figura 267. Perfil aromático de vinhos da variedadeTeroldego produzidos em região de altitude de Santa Catarina.
Fonte: Caliari et al. (2016).
544
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Figura 268.Valor de Odor Ativo de vinhos da variedade Teroldego produzidos em região de altitude de
Santa Catarina.
Fonte: Caliari et al. 2016.
sofreu uma segunda fermentação e tornou-se espu- cional, método Charmat, método qualificado de
mante. Em 1662, Christopher Merret relatou a Royal ancestral ou tipo Asti (no Brasil conhecido como
Society que a adição de açúcar ao vinho promovia a moscatel espumante), método de Transferência iso-
efervescência do mesmo (JACKSON, 2008). barométrica e método Contínuo (FLANZY, 2000).
Contudo, a determinação da concentração Os três primeiros são os métodos utilizados no Brasil,
ideal de açúcar a ser adicionado levou quase um conforme a Lei 10.970 de 12 de Novembro de 2004,
século. O papel de Dom Pérignon, que ficou bastante para elaboração de espumantes.
conhecido como o idealizador do vinho espumante, Conforme a legislação, o produto Espumante
foi o de desenvolver os cuvees ou misturas de dife- ou Espumante Natural é o vinho cujo anidrido car-
rentes vinhos para obtenção de melhores resultados, bônico provém exclusivamente de uma segunda
o controle da fermentação e também na forma de fermentação alcoólica do vinho em garrafas (mé-
eliminar os sedimentos das leveduras após a segunda todo Champenoise, Clássico ou Tradicional) ou em
fermentação (JACKSON, 2008). No Brasil, a elabo- grandes recipientes (método Chaussepied/Charmat),
ração de espumantes teve início em Garibaldi (RS), com uma pressão mínima de 4 (quatro) atmosferas
Serra Gaúcha no início do século XX. a 20ºC (vinte graus Celsius) e com teor alcoólico de
10% (dez por cento) a 13% (treze por cento) em
20.9.1. Métodos de elaboração de espu- volume, classificado conforme a concentração de
mantes açúcar (Tabela 100).
O vinho Moscato Espumante ou Moscatel
A definição legal de espumantes é bastante Espumante é o vinho cujo anidrido carbônico provém
restritiva, variando de país para país, segundo suas da fermentação em recipiente fechado, de mosto ou
denominações de origem e indicações geográficas de mosto conservado de uva moscatel, com uma pres-
de procedência. Contudo, sua elaboração decorre são mínima de 4 (quatro) atmosferas a 20ºC (vinte
essencialmente de cinco processos: método Tradi- graus Celsius), e com um teor alcoólico de 7% (sete
545
Tecnologia Pós-colheita
por cento) a 10% (dez por cento) em volume, e no outros países como França, Itália e Estados Unidos, se
mínimo 20 (vinte) gramas de açúcar remanescente observa que a colheita de uvas, em geral, é realizada
(BRASIL, 2004). de forma mecanizada, porém com prejuízos quanto
à qualidade do mosto, devido ao número de bagas
Tabela 100. Classificação dos espumantes segundo rompidas, sendo que para vinhos e espumantes de
a concentração de açúcares g.L-1 maior qualidade a colheita é essencialmente manual
Fonte: BRASIL, 2004. (FLANZY, 2000).
Após a colheita das uvas, aquelas com gran-
Classificação Máximo g L-1 Mínimo g L-1 de sanidade e qualidade são prensadas com cacho
inteiro sem desengace. Já, para as uvas de menor
Extra-brut 6,0 0 qualidade é efetuado o desengace logo após a co-
Brut 15 6,1 lheita sem esmagamento, evitando o rompimento das
bagas. As prensas mais utilizadas são as hidráulicas
Seco ou sec 20,0 15,1
e as pneumáticas e o mosto produzido é separado
Meio-doce ou demi-sec 60,0 20,1 em frações correspondentes à prensagem utilizada,
Doce 100,0 60,1
sendo que a primeira fração com pequeno volume
é, em geral, desprezada por conter poeira e resí-
duos e encontra-se geralmente oxidada. A próxima
fração com maior volume, é denominada cuvée e
20.9.2. Método Tradicional, Clássico ou as últimas taille.
Champenoise A cuveé, que é obtida logo após o descarte do
início da prensagem, extrai um mosto com equilíbrio
O método de elaboração de vinho espumante entre a acidez em ácido tartárico e a alta concen-
Tradicional, fermentação na garrafa, também conhe- tração de açúcares, pois extrai, principalmente, a
cido como Clássico ou Champenoise, foi desenvol- região central da polpa da baga. Já, a região mais
vido na região de Champagne, França e também é próxima das sementes apresenta elevada acidez em
utilizado em outras regiões vitivinícolas do mundo ácido málico e baixa concentração de açúcares, e a
(MORENO-ARRIBAS, POLO, 2009). parte mais próxima da casca, considerada a menos
O vinho base é, geralmente, elaborado com nobre, apresenta elevada concentração de açúca-
uvas Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay. De res, porém baixa acidez devido aos sais orgânicos
acordo com a região, pode ser elaborado com outras encontrarem-se salificados. Ambas são extraídas no
variedades. Na Espanha, são utilizadas as variedades final da prensagem formando o taille (FLANZY, 2000;
Parellada, Xarello e Macabeo (JACKSON, 2008). ZOECKLEIN 2002; RIBEREAU-GAYON, 2006a).
O processo de elaboração envolve as etapas A adição de dióxido de enxofre é efetuada
descritas na Tabela 101. Os parâmetros importantes no momento que o mosto escorre da prensa, não
devem ser controlados para a colheita das uvas, diretamente no interior da prensa para evitar a ex-
como a maturação da uva, que deve ter ponto de tração de compostos fenólicos que podem provocar
maturação diferente do que para vinhos tranquilos o escurecimento do mosto. As doses preconizadas,
com um potencial alcoólico de 11,0 - 11,5% v/v, adicionadas às primeiras frações de mosto, são em
aproximadamente 18 a 19,5°Brix. A acidez, prefe- torno de 40 a 50 mg L-1 para o Cuveé e 50 a 80 mg L-1
rencialmente, deve ser em torno de 100 meq L-1. para os tailles. Para evitar a fermentação malolática,
A colheita pode ser realizada de forma me- a dosagem deve ser aumentada em 20 a 30 mg L-1.
cânica ou manual. No Brasil, a colheita mecanizada Alguns métodos preconizam a adição de dióxido de
é muito pouco utilizada devido à topografia dos enxofre somente após a clarificação (debourbagem),
vinhedos, à mão de obra menos onerosa e a vinhe- pois essa técnica permite oxidar durante a clarificação
dos relativamente pequenos. Quando comparados a uma parte da matéria corante (RIBEREAU-GAYON,
546
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Fermentação Etapas
Colheita das uvas
Desengace e prensagem das uvas para obtenção do mosto
Adição de Dióxido de enxofre
Clarificação
Adição de leveduras selecionadas
Primeira fermentação /produção do vinho base Fermentação a temperatura controlada (15-18°C)
Adição de coadjuvante de clarificação
Estabilização tartárica
Elaboração de Cuvvé (blend de diferentes vinhos base de diferentes vinhedos, safras e etc)
Filtração
Envase
Adição do licor de tiragem (sacarose, leveduras selecionadas, nutriente e clarificante) ao vinho base
Envelhecimento na garrafa (autólise das leveduras)
Remuage (giro de ¼ da garrafa em pupitre e inclinação do mesmo para facilitar sedimentação das
Segunda fermentação leveduras para o gargalo da garrafa)
Degola (remoção das leveduras da garrafa)
Adição de licor de expedição
Rolhamento, engaiolamento e embalagem final
547
Tecnologia Pós-colheita
do licor de tirage, o espumante é envasado. A seguir, dias, esse processo também pode ser mecanizado
coloca-se um opérculo plástico na garrafa (bidule) com auxílio de equipamentos apropriados para tal
como invólucro para a sedimentação das leveduras fim (JACKSON, 2008).
durante a remuage. Fecha-se com a tampa corona O dégorgement ou degola e adição de licor
(tampinha de metal). A fermentação na garrafa é de expedição consiste em após a decantação dos
denominada de segunda fermentação. A primeira é a sedimentos, retirar cuidadosamente as garrafas dos
fermentação alcoólica que deu origem ao vinho base. pupitres; colocar em caixas com o bico para baixo;
A segunda fermentação confere pressão ao congelar o pescoço da garrafa em um congelador
espumante, cerca de 1,5% de álcool a mais que o de bicos; retirar a tampinha de metal que, em função
teor existente no vinho base e dióxido de carbono da pressão interna da garrafa, expele o bloco de gelo
responsável pela perlage e coroa do espumante. contendo os sedimentos que se formaram no bico
As garrafas devem ser armazenadas em tempera- em conjunto com o opérculo (bidule); imediatamen-
tura menor que 15ºC, durante aproximadamente te, adiciona-se o licor de expedição (álcool vínico,
60 dias, até concluir a fermentação. Terminada essa brandy, vinhos diversos ou pelo próprio espumante
etapa, a garrafa apresenta uma pressão interna de e açúcar, em quantidade específica para determinar
aproximadamente 6 atm e o espumante fica turvo o tipo de produto). Fecha-se a garrafa com rolha
devido aos sedimentos das leveduras que realizaram de cortiça e gaiola de arame; por fim, rotula-se e
a fermentação (ZOECKLEIN, 2002). embala-se para expedição. Para estabilizar a pressão
Após a segunda fermentação, as garrafas são dentro da garrafa, é importante deixá-la, pelo me-
colocadas em estivas, pilhas de garrafas deitadas nos, um mês em repouso antes da comercialização
umas sobre as outras e separadas por ripas de madei- (ZOECKLEIN, 2002).
ra. Essa etapa é realizada na faixa de temperatura en-
tre 15 e 18ºC. As leveduras que sedimentam entram 20.9.3. Método Charmat
em processo de autólise e vão liberando substâncias
ao meio, principalmente compostos nitrogenados, O método Charmat ou Chaussepiedé é um
sendo responsáveis pela qualidade característica método caracterizado pela segunda fermentação,
desse tipo de espumante. realizada em tanques de inox que suportam alta
O tempo necessário para o envelhecimento pressão, também denominados autoclaves ou tan-
e a autólise são regulamentados pela legislação do ques de pressão. O princípio de elaboração deste
país ou pelas normas de denominação de origem. espumante é o mesmo do método Tradicional, pois o
Na Espanha, o tempo mínimo para as Cavas é de 9 vinho base, fermentado em ambiente fechado produz
meses (Council Regulation (EC), 1493/1999). Para pressão por meio do dióxido de carbono, liberado
os espumantes italianos com denominação de ori- na fermentação pelas leveduras, as principais etapas
gem de Trento no mínimo 15 meses para o branco do método (Tabela 102).
comum e 24 meses para o reserva (CHEMOLLI et As etapas realizadas na primeira fermentação
al., 2011). Os Champagnes franceses para serem são similares ao método clássico. Porém, em geral,
considerados non vintage, no mínimo 15 meses e utilizam-se uvas com menor qualidade para a elabo-
vintage no mínimo 36 meses de envelhecimento. ração pelo método Charmat do que pelo método
O remuage ou rotação da garrafa é realizada Tradicional, devido ao menor tempo de envelheci-
após a autólise das leveduras e o envelhecimento mento em contato com a borra para promoção da
do espumante. As garrafas são colocadas com o autólise das leveduras (RIBEREAU-GAYON, 2006a).
bico para baixo, em estruturas chamadas pupitres, A segunda fermentação é realizada em tan-
que permitem a decantação dos sedimentos. Esse ques de pressão de grandes volumes adaptados com
período dura aproximadamente vinte dias mas pode agitadores, que promovem a suspensão das leveduras
estender-se até 8 semanas. As garrafas são giradas – para auxiliar na autólise das mesmas. Alguns autores
aproximadamente ¼ de volta – uma a uma, todos os sugerem a utilização de uma lise térmica, subme-
548
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Fermentação Etapa
Desengace e prensagem das uvas para obtenção do mosto
Adição de Dióxido de enxofre
Clarificação
Adição de leveduras selecionadas
Primeira fermentação / produção do vinho base Fermentação a temperatura controlada (15-18°C)
Adição de coadjuvante de clarificação
Estabilização tartárica
Elaboração de Cuveé (blend de diferentes vinhos base de diferentes vinhedos, safras e etc)
Filtração
Adição do licor de tirage (sacarose, leveduras selecionadas, nutrientes e clarificante) ao vinho base
Fermentação em tanques de pressão (tomada de espuma)
Adição de licor de expedição
Segunda fermentação
Filtração
Envase
Rolhamento, engaiolamento e embalagem final
549
Tecnologia Pós-colheita
Fermentação Etapas
Colheita das uvas
Desengace e prensagem das uvas para obtenção do mosto
Adição de Dióxido de enxofre
Armazenamento a baixa temperatura
Clarificação com avaliação e diminuição dos teores de Nitrogênio
Filtração
Adição de leveduras selecionadas
Fermentação e produção do
espumante
Fermentação a temperatura controlada (15-18°C) em tanque aberto até a graduação alcoólica de 6,0 6,5%
Fechamento do tanque
Tomada de espuma
Resfriamento e filtração
Repouso e filtração final
Envase isobarométrico
Rolhamento, engaiolamento e embalagem final
Gaúcha (RS-BR). No Vale do São Francisco (PE-BR), produto doce e com baixo teor alcoólico. Este tipo
elabora-se espumante moscatel utilizando o mosto de vinho espumante deve ser consumido jovem,
obtido diretamente da colheita da uva, consideran- de preferência no mesmo ano de sua elaboração,
do a possibilidade de programação das colheitas para conservar seu aroma floral e frutado (RIZZON
da uva durante o ano inteiro (RIZZON et al. 2005; et al. 2005).
FLANZY, 2000).
Uma vez iniciada a fermentação alcoólica à 20.9.5. Resultados com espumantes na
temperatura de 10ºC, deixa-se o tanque de pressão altitude catarinense
aberto até o mosto atingir, aproximadamente, 6% de
etanol. A seguir, é fechado e inicia-se a tomada de Uma série de trabalhos já foram desenvolvidos
espuma para incorporação do dióxido de carbono. sobre a elaboração de espumantes com uvas de
Terminada essa fase, a pressão encontra-se em torno altitude, em Santa Catarina, caracterizando produ-
de 6 atm, e 7,5% de etanol. Esfria-se bruscamente tos, avaliando métodos de elaboração e tempos de
o mosto, até -3ºC, interrompendo a fermentação envelhecimento com borras, entre outros. A seguir,
alcoólica. Esta temperatura é mantida por aproxima- apresentaremos uma pequena parcela dos resultados
damente 15 dias, para ocorrer a precipitação quase já obtidos (CALIARI et al. 2014; CALIARI et al. 2016).
total das leveduras. Após esse período, o espumante No primeiro trabalho foram avaliadas e ca-
é filtrado, em condições isobáricas, e mantido em racterizadas variedades clássicas e inovadoras para
repouso até ser filtrado e engarrafado. Como a fer- a elaboração de espumantes pelo método tradicional
mentação alcoólica não é completa, resulta em um (Tabela 104) (CALIARI et al. 2014).
550
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Neste estudo, verificou-se que a variedade foram a classe predominante dentre os compostos
de uva tem um forte efeito na elaboração de vinhos voláteis analisados, seguidos de ácidos graxos, és-
espumantes. Os vinhos espumantes produzidos teres, lactonas e terpenos. Os álcoois majoritários
com variedades inovadoras continham uma alta foram o 2-feniletanol, o n-butanol e o sec-butanol. Os
concentração de ésteres, particularmente, no caso ácidos graxos encontrados em maior concentração
de Moscato Embrapa e Villenave, onde acetato de foram o ácido isobutírico, ácido isovalérico e ácido
isoamila, hexanoato de etila, octanoato de etila, li- octanoico. O succinato de dietila, acetato de etila,
nalol, ácido octanóico e ácido hexanóico possuíam octanoato de etila, e decanoato de etila foram os
elevados OAVs. ésteres predominantes, enquanto a γ-nonalactona
Também demonstrou a aptidão das varieda- foi a lactona encontrada em maior concentração
des clássicas com aromas que remetem à fineza de nas amostras analisadas (Figura 269).
espumantes de Champagne, quando comparados Com base no valor de odor ativo, os com-
com a literatura. postos de maior contribuição para o aroma dos
Outro estudo, desenvolvido com a varieda- espumantes Vermentino são o octanoato de etila,
de Vermentino, é descrito a seguir, onde os álcoois isovalerato de etila, hexanoato de etila, isobutanoato
551
Tecnologia Pós-colheita
Tabela 104. Perfil volátil de Espumantes elaborados com variedades clássicas e inovadoras.
Fonte: Caliari, 2014.
Variedades Clássicas
Sauvignon Blanc Riesling Renano Pinot Gris PinotNoir Chardon-nay
Esters
Acetato de Isoamila 60.5±10.9 a 36.0 ±3.4 a 112.9 ±16.1ab 37.1±9.7 a 67.9±12.1 b
Etil-hexanoato 192.8±16.1a 434.8±24.6c 306.8±18.9b 154.1±17.0a 417.8±12.6 c
Etil octanoato 221.6±8.2b 655.2±7.2 d 472.3±15.7 c 59.8±6.9a 674.4±11.5d
Etil decanoato 58.4±2.5bc 76.4±7.1de 51.1±2.2b 14.2±2.3a 81.9±7.5e
2-Fenil etil acetato 15.6±1.5bc 13.3±2.4 b 24.0±3.6c 2.2±1.3 a 43.1±1.8d
Soma Ésters 548.5 1214.7 967.4 267.4 1285.1
Terpenos
Linalool Óxido A (trans-furano) 4.3±0.3 e 3.1±0.2 c 3.7±0.2d 0.7±0.1a 1.7±0.1b
Linalool Óxido B (cis-furano) 3.7±0.6 b 5.0±0.3 b 4.3±0.1 b 2.0±0.2 a 3.6±0.2 a
Linalool Óxido C (cis-pirano) 0.8±0.1 a 2.5±0.5 bc 1.3±0.2 a 0.9±0.1 a 1.6±0.4 b
Linalool Óxido D(trans-pirano) 0.8±0.2ab 0.9±0.1ab 0.5±0.1 a 0.3±0.1 a 1.7±0.2bc
Linalol 184.3±17.3 e 209.1±19.8 f 179.2±15.6 e 42.2±2.7a 111.3±9.8 d
Hotrienol 39.4±2.6bc 113.0±3.8f 36.5±2.9 b 10.5±1.03 a 40.9±2.8bc
α-Terpineol 24.9±2.1 b 66.6±7.9 d 51.0±5.3b 9.5±1.5 a 30.6±2.3 b
Citronelol 10.7±1.2c 5.9±1.1ab 6.9±1.3b 5.4±1.0ab 5.1±1.3ab
Nerol 63.2±2.3e 51.8±3.6d 41.5±4.2 d 15.5±2.5 a 41.8±2.6c
Geraniol 9.1±3.1 a 43.8±6.2c 11.3±2.5 a 11.1±3.6 a 53.1±2.8d
Soma Terpenos 341.2 501.7 336.2 98.1 191.4
Álcoois
Álcool Benzílico 40.8±8.6b 51.6±3.6b 39.1±5.4b 33.5±4.8ab 48.0±3.5b
2-Feniletanol 19178±156.4g 14415.9±165.2f 12592.5±123.1e 2990.5±163.8a 10048.8±123.5cd
Hexan-1-ol 364.0±16.9bc 387.8±19.2cd 1116.4±46.1g 644.8±17.5f 507.6±71.7de
trans-3-Hexenol 20.2±2.2c 50.1±3.6e 34.1±1.4d 3.8±1.2a 10.4±1.6abc
cis-3-Hexenol 18.2±1.5abc 14.2±1.5ab 15.4±2.4ab 3.5±0.4a 18.2±2.3abc
Soma Álcoois 19621.2f 14919.7e 13798d 3676.6a 10632.4bc
Ácidos
Ácido Octanóico 1.252.00±80b 3359.3±87.8e 2613.4±82.1d 377.5±60.2a 3536.3±78.6f
Ácido Hexanóico 737.9±80.3a 2168.2±132d 1534.6±68.3c 927.4±75.2a 2191.7±124.3d
Ácido Decanóico 213.5±15.6ab 324.0±21.5h 225.7±12.4abc 62.9±10.5 400.3±19.5f
Sum Acids 2203.4b 5851e 4372.7d 1367.8 a 6127e
Other
Metionol 65.9±8.9cd 89.6±11.3e 71.0±9.7cd 18.1±6.3 a 131.4±14.6f
Os resultados são expressos como médias ± desvio padrão com três repetições para cada uma das duas garrafas de amostra de vinho espumante. Letras diferentes indicam
diferenças significativas (p <0,05) entre as amostras. * Referência a partir da qual o valor foi utilizado está entre parênteses. (1) A matriz foi uma solução a 10% de
552
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Variedades Inovadoras
Manzoni Bianco Villenave Moscato Embrapa Niágara Goethe Descritor Aroma OT (µg×L-1)*
água / etanol (Guth, 1997); (2) A matriz era uma solução de 11% de água / etanol contendo 7 g.L-1 de glicerol e 5 g de ácido tartárico-L-1, com o pH ajustado para
3,4 com NaOH 1 M (Ferreira et al. 2000); (3) A matriz era uma solução a 10% de água / etanol a pH 3,2 (Ferreira et al., 2002); (4) (Ribéreau-Gayon et al. 2006b).
553
Tecnologia Pós-colheita
Métodos de Produção
Traditional Charmat Asti Descritores de aroma OT (µg L-1)*
Esters
Isoamil Acetate 443.0±21.0b 252.9±15.0a 219.0±23.0a Frutado (Banana) 30.0(1)
Etil-hexanoato 748.2±10.0c 616.4±10.0b 376.9±8.0a Frutado (maçã verde) Floral 14.0(2)
Etil octanoato 1229.2±35.0c 690.2±19.0b 514.1±10.0a Frutado (Abacaxi) 5.0(2)
Etil decanoato 88.2±5.0c 67.9±5.0a 73.3±3.0b Oleoso Frutado (Uva) 200.0(2)
2-Fenil etil acetato 97.1±2.0c 57.7±1.9b 48.1±2.0a Rosa 250.0(2)
Soma Ésters 2614.7c 1687.6b 1261.9a
Terpenos
Linalool Óxido A (trans-furano) 86.4±1.5b 35.6±5.0a 173.4±8.0c Floral 65.000(3)
Linalool Óxido B (cis-furano) 47.2±8.0b 19.3±4.0a 74.7±5.0c Floral 7.000(3)
Linalool Óxido C (cis-pirano) 103.6±3.2b 72.0±2.3a 72.2±2.5a Floral n.f.
Linalool Óxido D(trans-pirano) 22.7±2.5ab 17.8±1.5a 51.1±1.5b Floral n.f.
Linalol 1732.9±7.3c 1306.1±10.5b 862.5±3.4a Floral/Frutado/Muscat 25.0(2)
Hotrienol 383.5±12.0b 928.7±20.3c 278.0±8.5a Facino 110.0(5)
α-Terpineol 1211.4±11.5c 1008.1±10.4a 1109.7±12.3b óleo, anis 250.0(2)
Citronelol 44.8±8.5a 28.4±12.0a 20.4±9.5a Citronella, Tília 18(5)
Nerol 26.3±2.5a 29.9±2.8a 27.5±3.5a Doce/Floral 400(5)
Geraniol 46.0±2.5a 36.8±8.5a 31.2±4.3a Gerânio 30(2)
Soma Terpenos 3659.8 b 3437.7 b 2655.6 a
Álcoois
Álcool Benzílico 244.5±11.2b 32.5±2.5a 252.9±9.9b Frutado (Frutas negras) 620(4)
2-Feniletanol 8226.6±12.6c 8009.8±24.3b 6118.1±22.1a Mel/Floral/ Madeira 14000(3)
Hexan-1-ol 309.4±6.2b 627.2±4.4c 229.3±2.1a Vegetal/ Grama cortada 8000.0(1)
trans-3-Hexenol 24.2±2.1a 22.7±2.2a 19.5±1.8a Herbáceo n.f.
cis-3-Hexenol 164.3±2.6b 160.2±4.4b 112.7±2.1a Herbaceo 400.0(1)
Soma Álcoois 8949.0b 8832.4b 6712.5a
Ácidos
Ácido Octanóico 3461.8±12.3b 3513.8±12.3b 2150.4±9.5a Queijo 500.0(1)
Ácido Hexanóico 5920.9±6.8c 5244.8±9.5b 3575.3±12.3a Rancidez 420.0(1)
Ácido Decanóico 610.9±8.4c 335.2±7.3b 159.3±6.3a Rancidez 1000.0(1)
Sum Acids 9980.5c 9052.5b 5910.4a
554
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 105. Perfil aromático de espumantes elaborados por diferentes métodos (continuação).
Fonte: Caliari et al. 2016.
Métodos de Produção
Traditional Charmat Asti Descritores de aroma OT (µg L-1)*
Other
Metionol 79.3±3.5b 93.4±2.8c 35.6±1.6a Batata cozida 1500.0
Os resultados são expressos como médias ± desvio padrão com três repetições para cada uma das duas garrafas de amostra de vinho espumante. Letras
diferentes indicam diferenças significativas (pb 0,05) entre samples.n.f. não encontrado na literatura.Referência a partir da qual o valor foi tomado é
entre parênteses. (1) A matriz foi uma solução a 10% de água / etanol (Guth, 1997); (2) a matriz era uma solução a 11% de água / etanol contendo
7 g de L-1 de glicerol e 5 g de ácido tartárico L-1, com o pH ajustado para 3,4 com NaOH 1 M (Ferreira et al. 2000); (3) a matriz era uma solução
a 10% de água / etanol a pH 3,2 (Ferreira et al. 2002); (4) (Perestrelo et al. 2006).
555
Tecnologia Pós-colheita
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A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
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557
21. Indicações
Geográficas na
Vitivinicultura
Brasileira
Jaqueline Nogueira Muniz
Suzeli Simon
Aparecido Lima da Silva
21. Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
21.1 Introdução
558
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
559
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
Tabela 106: Produtos e serviços brasileiros registrados na modalidade de Denominação de Origem através
do INPI.
Fonte: INPI, 2015.
Região Pedra Carijó Rio de Janeiro Gnaisse fitado milonítico de coloração branca e pontos vermelhos. 2012 RJ
Região Pedra Madeira Rio de Janeiro Gnaisse milonítico de coloração clara com quatro variedades de cor: 2012 RJ
branca, rosa, verde e amarela.
Região Pedra Cinza Rio de Janeiro Gnaisse milonítico de coloração cinza possuindo três variedades: “olho 2012 RJ
de pombo”, “pinta rosa” e “granito fino”.
Manguezais de Alagoas Própolis vermelha e extrato de própolis vermelha 2012 AL
Vale dos Vinhedos Vinho tinto, branco e espumante 2012 RS
Região do Cerrado Mineiro Café verde em grão e café industrializado torrado em grão ou moído 2013 MG
Tabela 107. Produtos e serviços brasileiros registrados na modalidade de Indicação de Procedência através
do INPI.
Fonte: INPI, 2015.
560
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
Tabela 107. Produtos e serviços brasileiros registrados na modalidade de Indicação de Procedência através
do INPI (continuação).
Fonte: INPI, 2015.
561
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
A Lei nº 9.279 regula direitos e obrigações A Lei nº 9.279, de 14/05/96, que regula os di-
relativos à propriedade industrial, e nela as indicações reitos e obrigações relativas à Propriedade Industrial,
geográficas no Brasil foram conceituadas, tendo sido inovou ao rever que o Instituto Nacional da Proprie-
facilitado o reconhecimento e a proteção legal, tanto dade Industrial (INPI), estabelecesse as condições
de indicações geográficas próprias, como daquelas de registro das Indicações Geográficas. É, sobretudo
de outros países. Com esses dispositivos legais, o país um instrumento de desenvolvimento econômico que
avança no sentido de poder reconhecer e qualificar convém ser preservado e protegido, a Indicação Geo-
indicações geográficas próprias. Segundo a LPI (Arti- gráfica é um bem público, um patrimônio nacional,
go 176), constitui indicações geográficas a Indicação cujo uso é restrito aos produtores e prestadores de
de Procedência ou Denominação de Origem. serviço estabelecidos no local.
562
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
As Indicações Geográficas abrangem os se- primeiros a estabelecer leis para controlar as origens
guintes artigos da Lei nº 9.279, anteriormente citada: e proteger os nomes dos vinhos. Os antigos Romanos
Art. 176 – Constitui indicações geográficas definiram regiões de produção para dezenas de vi-
a indicação de procedência ou a denominação de nhos. Somente no final do século XIX, é que surgiram,
origem. na França, ações efetivas para um reconhecimento
Art. 177 – Considera-se indicação de proce- legal dos vinhos. Isto ocorreu pelo desenvolvimento
dência o nome geográfico de país, cidade, região intenso do comércio interno e externo, sobretudo,
ou localidade de seu território, que se tenha tornado após a destruição quase total dos vinhedos franceses
conhecido como centro de atração, produção ou pela praga filoxera, em 1870. Assim, pela lei de 1°
fabricação de determinado produto ou de prestação de agosto de 1905, as zonas de produções puderam
de determinado serviço. se beneficiar de uma “Denominação de Origem”.
Art. 178 – Considera-se denominação de ori- No aperfeiçoando deste processo de qualifica-
gem o nome geográfico de país, cidade, região ou ção, em 30 de julho de 1935, os franceses instituíram
localidade de seu território, que designe produto ou as Denominações de Origem Controlada (DOC),
serviços cujas qualidades ou característica devam ex- determinando que os vinhos DOC deveriam apre-
clusivamente ou essencialmente ao meio geográfico, sentar características e qualidades organolépticas
incluídos fatores naturais e humanos. particulares, que são a expressão dos fatores natu-
Art. 179 – A proteção estender-se-á à repre- rais e humanos. Nesta época, também foi criado o
sentação gráfica ou figurativa da indicação geográ- reputado organismo controlador das denominações
fica, bem como à representação geográfica de país, francesas, o INAO (Institut National d’Apellation
cidade, região ou localidade de seu território cujo d’Origine).
nome seja indicação geográfica. Posteriormente, na Itália, outro grande país
Art. 180 – Quando o nome geográfico se hou- vitivinícola, ocorreu um controle rigoroso, em es-
ver tornado de uso comum, designando produto ou cala nacional, sobre os vinhos: em 12 de julho de
serviço, não será considerado indicação geográfica. 1963, foram criados as normas e os regulamentos
Art. 181 – O nome geográfico que não cons- que tutelam as DOC Italianas. Atualmente, na Itália,
titua indicação de procedência ou denominação existem mais de 300 regiões DOC, todas delimitadas
de origem poderá servir de elemento característico geograficamente, desde a classificação dos cinco
de marca para produto ou serviço, desde que não primeiros vinhos de origem: Barbaresco, Barolo, Bru-
induza falsa procedência. nello di Montalcino, Vino Nobili di Montepulciano e
Art. 182 – O uso da indicação geográfica Chianti – até a mais recente “DOCG” (Denominação
é restrito aos produtores e prestadores de serviço de Origem Controlada “Garantida”). Estas denomi-
estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em rela- nações se expandiram cobrindo todas as regiões
ção às denominações de origem, o atendimento de vitícolas através do país, zonas locais onde os vinhos
requisitos de qualidade. devem atingir os padrões de tipologia e de qualidade
Parágrafo Único: O INPI estabelecerá as con- rigorosas definidas por comissões de especialistas.
dições de registro das indicações geográficas. Desta forma, nos principais países vitícolas
da Europa a Denominação de Origem Controlada
21.3 Indicações geográficas na (DOC) é um elemento de grande importância na
vitivinicultura distinção, identificação, qualificação e valorização
dos vinhos, com destaque para o mais famoso vinho
21.3.1. Histórico branco espumante: o “Champagne”, do norte da
França; os grandes vinhos de “Bordeaux”, nos seus
No decorrer dos séculos, a história mostra reputados terroirs; os qualificados vinhos tintos de “la
que o hábito de diferenciar produtos pelo nome de Rioja” na Espanha; e o renomado vinho do “Porto”,
origem é muito antigo. Os povos europeus foram os de produção em área delimitada de Portugal. Todos
563
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
estes países têm como objetivo garantir a qualidade Cabe ressaltar que a Indicação de Procedên-
dos vinhos originários destas regiões, o que contribui cia (IP) “Vale dos Vinhedos” foi o primeiro passo
para a manutenção e ampliação de sua participação para a conquista da Denominação de Origem (DO)
no mercado mundial de vinhos. em 2012 (IG no. 201008, INPI). As IG são muito
importantes na medida em que podem oferecer ao
21.3.2. Princípios das Indicações Geográficas consumidor nacional ou estrangeiro, a garantia de
um produto que expressa à região, e foi elaborado
O Office International de la Vigne et du Vin dentro de padrões oficiais de controle.
(OIV) estabeleceu, no ano de 1947, o conjunto de Para a vitivinicultura, segundo Silva et al.
princípios ou de condições mínimas que as Denomi- (2012), Valente et al. (2012) e EMBRAPA (2013),
nações de Origem deveriam satisfazer. Princípios que as indicações geográficas resultam no fortalecimento
norteiam os processos até os dias de hoje, que são: do vinho brasileiro, consolidando o setor com uma
1. Uma Denominação de Origem deve estar verdadeira identidade nacional e regional, buscando o
consagrada pelo seu uso e por um comprovado renome; aumento de competitividade no mercado nacional e
2. Esse renome deve ser consequência das internacional. Atualmente o Brasil possui 5 Indicações
características qualitativas do produto, determinadas Geográficas com produtos da vitivinicultura, sendo
por dois tipos de influências ou fatores: a) fatores 1 Denominação de Origem (DO) e 4 Indicações de
naturais, cujo papel deve ser preponderante (clima, Procedência (IP), conforme as Tabelas 106 e 107,
solo, variedades, etc.), que permitam delimitar uma todas localizadas na Região Sul, especificamente,
área de produção; b) fatores relacionados à inter- nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
venção do homem, cuja influência é de maior ou Além disso, a IP “Vale do Submédio São Fran-
menor importância (sistemas de cultivo, métodos cisco” obteve o registro em 07/julho/2009 (INPI, no.
de vinificação, etc.). 200701) para a produção de Uvas de Mesa e Manga
3. Todo o produto vitícola com Denominação de no Vale do Rio São Francisco, entre os Estados de Per-
Origem deve ser proveniente de uma área de produção nambuco e Bahia na Região do Nordeste brasileira.
delimitada e de variedades de videira determinadas.
21.3.4. IG vitivinícolas no Rio Grande do Sul
21.3.3. IG vitivinícolas no Brasil
O Vale dos Vinhedos, localizado entre os
Na vitivinicultura brasileira têm ocorrido ini- municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte
ciativas para a qualificação e certificação de vinhos. Belo do Sul, foi a primeira Indicação Geográfica do
Estas têm buscado, prioritariamente, a melhoria da Brasil. A região obteve a Indicação de Procedência
qualidade e o reconhecimento dos produtos no mer- de seus vinhos finos. Em 2002 o Instituto Nacional
cado, através de sinais distintivos e selos oficiais de da Propriedade Industrial - INPI, do Ministério do
qualidade. Neste sentido, em 14 de maio de 1996, a Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Lei Federal de Propriedade Industrial estabeleceu as assinou o Registro de Indicação Geográfica n° IG
condições de registros das Indicações Geográficas, 200002, reconhecendo a denominação “Vale dos
constituindo a Indicação de Procedência (IP) ou a Vinhedos” como Indicação Geográfica (Indicação
Denominação de Origem (DO). de Procedência) para vinhos tintos, brancos e espu-
Assim, surgiu oficialmente em 2002 (IG no. mantes. Esta indicação geográfica tem como titular
20002, INPI) na vitivinicultura brasileira, a Indicação a APROVALE - Associação dos Produtores de Vinhos
de Procedência “Vale dos Vinhedos”, localizado Finos do Vale dos Vinhedos. Nela funciona o Conse-
entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e lho Regulador da Indicação Geográfica.
Monte Belo do Sul, sob coordenação da APROVALE A Aprovale conta com 29 vinícolas associa-
(Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale das e 35 empreendimentos de apoio ao turismo. A
dos Vinhedos), criada em 1995. entidade foi fundada em 21 de fevereiro de 1995 e
564
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
tem como missão promover o desenvolvimento sus- e para fomentar a busca contínua pela excelência
tentável do Vale dos Vinhedos através do enoturismo, em produtos e serviços.
da integração entre os associados e a comunidade,
Número: G201008
Requerente: Assoc. Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos –
http://www.valedosvinhedos.com.br
565
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
Número: IG200803
Requerente: Associação dos Produtores de Vinhos Finos de Pinto
Bandeira -
http://www.asprovinho.com.br/
Número: BR402012000002-0
Requerente: Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes -
http://www.apromontes.com.br/
566
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
A região de Pinto Bandeira recebeu o reco- de 5.176 hectares implantados em regiões típicas
nhecimento por parte do INPI da Indicação de Pro- de origem, tradições e cultura italianas, tais como:
cedência em 2010. Os vinhos produzidos refletem a Carbonífera no Sul (Urussanga, Pedras Grandes);
as características da geografia e do saber-fazer local. a Vale do Rio do Peixe no Meio Oeste (Videira, Pi-
O INPI reconheceu a denominação “Pinto Bandeira” nheiro Preto, Tangará, Iomerê) e as recentes regiões
como Indicação Geográfica – Indicação de Procedên- de altitude do Planalto Catarinense (São Joaquim,
cia, sendo a ASPROVINHO - Associação dos Produ- Campos Novos e Caçador).
tores de Vinhos de Pinto Bandeira a titular desta IG. O Estado de Santa Catarina em 2012 produziu
A ASPROVINHO foi criada em 29 de junho 15,7 milhões de litros de vinhos (finos e de mesa),
de 2001, e tem como missão proteger a natureza, a apresentando aumento de 9,8% na produção em
cultura local, os produtores de vinho e, sobretudo, relação a 2011. Em extensão de área plantada, é
preservar a qualidade e afirmar a identidade dos classificado em 5o lugar entre os Estados brasileiros,
vinhos e espumantes produzidos no local. A associa- com aproximadamente 5 mil hectares (MELLO, 2013)
ção conta hoje com seis vinícolas associadas e uma e ocupa a segunda posição como maior produtor de
área total de 81,38 Km2 de vinhedos, sendo 91% em vinhos finos (CARVALHO-JUNIOR, MOSSINI, 2011).
Bento Gonçalves e 9% em Farroupilha. A noção de indicações geográficas está muito
O município de Altos Montes, na Serra Gaú- próxima ao conceito de terroir, pois estabelece uma
cha, é a mais nova Indicação Geográfica (IG) de vi- ligação entre qualidade e território. Os vinhos e seus
nhos finos tranquilos e espumantes do País. A IP Altos derivados possuem características organolépticas
Montes abrange uma área de 173,84 Km2 (66,6% que são a expressão dos fatores naturais e dos fatores
dos quais em Flores da Cunha e 33,4% em Nova humanos que concorrem para a produção da uva e
Pádua). Inclui, fazendo jus ao seu nome, as áreas na elaboração do vinho.
de uso vitícola mais altas da Serra Gaúcha, sendo Vinhos de diferentes regiões que são elabora-
sua altitude média de 678 metros, com montes que dos com a mesma tecnologia apresentam-se distintos,
chegam a 885 metros de altitude. com características próprias, trazendo assim a impor-
A Apromontes - Associação de Produtores tância do conceito de denominação de origem, que
dos Vinhos dos Altos Montes titular da Indicação valoriza as peculiaridades das diferentes regiões de
de Procedência foi fundada em 2002, e conta com produção e a originalidade dos produtos.
onze vinícolas associadas localizadas nos municípios Uma alternativa para a valorização dos ter-
de Flores da Cunha e Nova Pádua. ritórios e respectivo aumento da competitividade
do vinho refere-se à possibilidade da produção de
21.3.5. IG vitivinícolas em Santa Catarina vinhos de qualidade em regiões demarcadas, pela
implementação da indicação geográfica.
Para Santa Catarina, os produtos típicos de A partir da fundação da Associação PRO-
origem a partir da incorporação de uma identidade GOETHE, vários estudos, pesquisas e trabalhos
regional e cultural, constituem uma alternativa de voltados ao vinho Goethe começaram a ser desen-
grande potencial socioeconômico para o Estado. volvidos. A trajetória da PROGOETHE é marcada
De maneira concreta, significa valorizar os recursos pela execução de um projeto em parceria com o
de que o Estado dispõe. Conhecer os potenciais de Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
clima-solo “terroirs”, e reconhecer as tradições e os (SEBRAE), a Empresa de Pesquisa Agropecuária
conhecimentos locais “savoir-faire”, associando-os, a e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a
partir daí, ao conhecimento científico necessário à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
plena expressão do potencial regional ou territorial. Unidos através da Associação dos Produtores de
Neste sentido, a vitivinicultura catarinense Uva e do Vinho Goethe - PROGOETHE, as vinícolas
se enquadra adequadamente no processo de quali- desde o ano de 2005 trabalharam para a finalidade
ficação e certificação de seus produtos. Composta de identificar, definir e registrar a procedência de
567
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
Número: BR402012000006-3
Requerente: Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul
Número: G201009
Requerente: Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe –
PROGOETHE -
http://www.progoethe.com.br
568
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
seu vinho. Quando, em 2012, recebeu o reconhe- pesquisas e, principalmente, pelos excelentes vinhos
cimento pelo INPI da Indicação de Procedência produzidos.
Vales da Uva Goethe. Os atuais produtores de vinhos de altitude
A IP Vales da Uva Goethe constitui a classe de estão reunidos em uma associação denominada
Vinhos Brasileiros com Procedência reconhecida. Ela Vinhos de Altitude. As diferentes vinícolas já estão
é a primeira IG catarinense sustentada, não somente produzindo e comercializando seus vinhos com muito
na questão da produção territorial, mas fundamen- sucesso recebendo elogios e prêmios da imprensa
talmente em um vinho que há mais de um século nacional. A Vinhos de Altitude, sediada em São Joa-
é elaborado no território de abrangência da IP com quim, tem como objetivo defender os interesses dos
uma variedade exclusivamente presente na região produtores de uvas e vinhos de altitude de Santa
de Urussanga e municípios vizinhos, denominado Catarina, dar apoio às políticas públicas, viabilizar
de território dos Vales da Uva Goethe. Um produto a qualificação e certificação dos produtos dos asso-
que tradicionalmente é elaborado pelo produtor ciados, e conquistar novos mercados para os vinhos
imigrante italiano deste território, assim autêntico, finos de altitude. Esta associação conta hoje com
emblemático dos Vales da Uva Goethe, e por isto a participação de 19 vinícolas. As variedades mais
único no Brasil e no Mundo. Os Vinhos Goethe dos cultivadas são Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot
Vales da uva Goethe são elaborados com os clones da Noir, Cabernet Franc, Sangiovese, Montepulciano,
variedade Goethe deste território “Goethe Clássica” Malbec, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
e “Goethe Primo” originários e adaptados a mais de Assim, a vitivinicultura é uma atividade não
100 anos nesta região. somente ligada às condições climáticas, geográfi-
Os Vales da Uva Goethe estão localizados cas, ambientais de determinada região, mas tam-
entre as encostas da Serra Geral e o Litoral Sul Ca- bém manifesta suas raízes na cultura e na tradição
tarinense, abrangendo os municípios de Urussanga, dos povos e, geralmente, encontra-se fortemente
Pedras Grandes, Cocal do Sul, Morro da Fumaça e ligada à história de cada região. O que qualifica um
Treze de Maio. Possuem uma área total de 46.000 produto como o vinho. E, portanto, o que garante
hectares, sendo 70 hectares destinados aos vinhe- a sua tipicidade, não é somente a influência físi-
dos. A PROGOETHE conta com sete vinícolas e 25 co-química e biológica do ambiente, mas também
produtores associados. a história, a cultura e socioeconômica da região
A Indicação de Procedência Vales da Uva de produção.
Goethe pelo seu caráter pioneiro em Santa Catarina Embora os vinhos da região de elevada altitude
e no Brasil serve de exemplo para o aprimoramento do Estado de Santa Catarina venham apresentando
da produção de vinhos no Brasil, como também para excelentes resultados, a vitivinicultura nessa região
o conjunto de produtos agrícolas, pecuários, e de é ainda recente, o que ressalta a importância em
gêneros que apresentam potencial para se integrarem se caracterizar o clima-solo-variedades “terroir” e a
ao sistema das indicações geográficas. cultura “savoir-faire” da região, e criar com base sólida
uma Indicação Geográfica. Estudos técnicos de solo
Projeto da IG Vinhos de Altitude e clima, das variedades e vinhos, e que incluam seus
aspectos sociais, culturais e ambientais, permitem
Nas regiões de elevada altitude, a vitivini- formular promissoras expectativas para o novo ciclo
cultura vem conquistando forte espaço no cenário da economia do Planalto Catarinense, contribuindo
catarinense e nacional, onde se tem observado alto para o desenvolvimento sustentável local.
potencial para a produção de vinhos finos. O po-
tencial desta região para a produção de variedades 21.4 Conclusões/Considerações
viníferas (Vitis vinifera L.), devido principalmente a
fatores diferenciados como o clima, solo e adaptação A Indicação Geográfica é ferramenta de di-
de variedades, vem sendo comprovado através de ferenciação, qualificação e promoção de produtos
569
Indicações Geográficas na Vitivinicultura Brasileira
e regiões. O sistema produtivo deve evoluir para BRUCH, K. L. Indicações geográficas para o Bra-
atender às demandas, e o setor agropecuário também sil: problemas e perspectivas. Propriedade inte-
segue essa tendência, buscando segurança alimentar, lectual: gestão do conhecimento, inovação tecno-
respeito aos aspectos ambientais, culturais e sociais lógica no agronegócio e cidadania. 1º ed. MAPA.
e produtos diferenciados. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2008.
No Brasil, a Indicação Geográfica continua
sendo recente se comparada com sua utilização na CARVALHO JUNIOR, L. C. C.; MOSSINI, M. A
Europa, sendo que o país está em um processo de cadeia produtiva de uvas e vinhos de Santa Catari-
difusão dessa ferramenta entre os produtores. Algu- na: uma análise das transformações entre os seus
mas entidades que atuam no setor agropecuário já segmentos. Revista Textos de Economia- UFSC, v.
desenvolvem ações de Indicação Geográfica, como 14, n. 1, 2011.
o Ministério da Agricultura, a Embrapa, o Sebrae,
algumas universidades e centros de pesquisa. CERDAN, C; BRUCH, K. L.; DA SILVA, A. L.; CO-
O Brasil conta com inúmeras regiões que são PETTI, M.; FÁVERO, K. C.; LOCATELLI, L. Curso
potenciais para registro de IG. Cada IG registrada de propriedade intelectual & inovação no agro-
representa um tipo de ganho ao produtor brasileiro. negócio: Módulo II, indicação geográfica / Minis-
O Vale dos Vinhedos obteve reconhecimento na tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
União Europeia, as terras foram valorizadas em 200 organização Claire Marie Cerdan, Kelly Lissandra
a 500% e o turismo cresceu na região. Os produtores Bruch e Aparecido Lima da Silva. – 2ª ed. – Brasília
sentem-se motivados pelo trabalho que executam. : MAPA, Florianópolis : SEaD/UFSC/FAPEU, 2010.
Os alambiqueiros de Paraty melhoraram a qualidade 376 p.
da cachaça, respeitando a legislação sanitária para a
bebida. Outros projetos como por exemplo, a gas- CROSS, R.; PLANTINGA, A. J.; STAVINS, R. N.
tronomia sustentável foi desenvolvida na área. A IG The Value of Terroir: Hedonic Estimation of Vine-
do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional atraiu yard Sale Prices. January 2011, Washington, DC
investimentos de organizações não-governamentais 20036202-328-5000.
internacionais para a conservação da biodiversida-
de da região, além da preservação da tradição dos DIAS, J. F. V. R. A construção institucional da
hábitos gaúchos. qualidade em produtos tradicionais. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento Agricultura e So-
21.5 Referências ciedade). Rio de Janeiro: UFRRJ, 2005.
APROVALE - Associação dos Produtores de Vi- INPI- Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
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de novembro de 2013.
INPI (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
ASPROVINHO - Associação dos Produtores de INDUSTRIAL); SEBRAE (SERVIÇO BRASILEIRO
Vinhos de Pinto Bandeira. Disponível em: <http:// DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS).
www.asprovinho.com.br/>, acesso em 21 de no- Guia de implementação de indicações geográficas
vembro de 2013. para produtos: orientações para o desenvolvimen-
570
A Cultura da Videira – Vitivinicultura de Altitude
to de projetos para o reconhecimento de uma SILVA, F. N.; DOS ANJOS, F. S.; CALDAS, N. V.;
indicação geográfica no INPI. Brasília, 2011, 86p. POLLNOW, G. E. Desafios à institucionalização
das indicações geográficas no Brasil. DRd-Desen-
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SEBRAE (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS). Indicações
geográficas brasileiras: vinho = Brazilian
geographical indications: wine = Indicaciones
geográficas brasileñas: vino / Hulda Oliveira
Giesbrecht, Raquel Beatriz Almeida de Minas
(Coordenadoras)– 2. ed. – Brasília: Sebrae, INPI,
2016. 73 p.
571
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