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"E, tendo um ano se passado, no ano de 988. Avançou Volodimir, com os soldados, sobre
Korsun, cidade grega, e encerrou-se o povo de Korsun na cidade. E deteve-se Volodimir
no outro lado da cidade, num esteiro, distante da cidade um tiro de flecha. E lutaram com
bravura os da cidade. Volodimir então cercou a cidade. Esgotou-se o povo na cidade. E
disse Volodimir aos cidadãos: 'Se não vos renderdes, eu (vos) sitiarei por três anos'. Eles,
porém, não o ouviram. Volodimir então dispôs seus exércitos, e ordenou que se fizesse
um talude na direção da cidade. Enquanto o escavavam, os de Korsun, socavando a
muralha da cidade, roubaram a terra escavada, e levaram para dentro da cidade,
despejando-a no meio da cidade. Os soldados, porém, amontoaram mais, e Volodimir
permaneceu. E eis que um homem de Korsun, de nome Anastácio, lançou uma flecha,
tendo escrito na flecha o seguinte: 'Os poços que ficam atrás de ti, ao leste: é de lá que
vem a água, por um cano; cavando, corta [a água]'. Tendo ouvido aquilo, Volodimir olhou
para os céus e disse: 'Se tal coisa se cumprir, hei de me batizar'. E, naquele mesmo
momento, ordenou que cavassem ao longo dos canos, e cortou a água. E o povo esgotou-
se pela falta de água, e entregou-se. E entrou Volodimir na cidade com sua drujina. E
Volodimir enviou (missão) aos imperadores, Basílio e Constantino, assim dizendo: 'Eis
que tomei vossa célebre cidade; ouvi ainda que tendes uma irmã, uma virgem; se não ma
derdes (em casamento), farei à vossa cidade como fiz a esta'. Tendo ouvido [aquilo], os
imperadores ficaram amargurados; e deram notícia, assim dizendo: 'Um cristão não deve
dar (uma mulher em casamento) a um pagão. Se tu te batizares, então ganharás aquilo, e
terás o reino dos céus, e serás nosso companheiro de fé; se não quiseres fazê-lo, não
poderemos dar-te nossa irmã'. Tendo ouvido aquilo, disse Volodimir aos enviados dos
imperadores: 'Dizei o seguinte aos imperadores: ‘Eu me batizarei, pois, antes destes dias,
verifiquei a vossa lei, e agradaram-me tanto a vossa fé como o serviço que me foram
relatados pelos homens que enviei’'. E tendo ouvido aquilo, os imperadores alegraram-
se, e rogaram à sua irmã, de nome Anna, e enviaram (missão) a Volodimir, dizendo:
'Batiza-te, mandar-te-emos então nossa irmã'. E disse Volodimir: 'Que aqueles que vierem
com a vossa irmã me batizem'. E concordaram os imperadores e enviaram sua irmã e
alguns maiorais e sacerdotes. Ela, porém, não queria ir: 'Pois que vou aos pagãos', disse;
'melhor seria a mim morrer aqui'. E seus irmãos lhe disseram: 'Talvez Deus conduza [por
ti] a terra russa ao arrependimento, e a terra grega terá sido libertada por ti de guerras
cruentas. Não vês quanto mal fizeram os russos aos gregos? E agora, se não fores, farão
o mesmo a nós'. E com esforço convenceram-na. Ela, pois, embarcou no navio, tendo
saudado a seus parentes, em prantos, e partiu através do mar. Chegou então a Korsun, e
saíram os de Korsun para saudá-la, e levaram-na à cidade, e puseram-na no palácio. E,
por intento de Deus, naquele tempo adoeceu Volodimir dos olhos, e não enxergava nada,
e tinha grande aflição, e não sabia o que fazer. E enviou-lhe a imperatriz (uma mensagem),
dizendo: 'Se queres livrar-te desta doença, então batiza-te depressa, do contrário, não te
livrarás dela'. Tendo ouvido aquilo, disse Volodimir: 'Se for verdade, então em verdade
grandioso é o Deus dos cristãos'. E ordenou que o batizassem. Então o bispo de Korsun,
com os padres da imperatriz, depois de instruí-lo na fé, batizou Volodimir. E então pôs
sobre ele a mão, e no mesmo instante ele voltou a ver. Tendo visto Volodimir aquela súbita
cura, louvou a Deus, dizendo: 'Agora conheci o verdadeiro Deus'. Ao ver aquilo, muitos
de sua drujina batizaram-se [...] Depois do batismo, tomou a imperatriz em casamento.
[...] Entregou então Korsun aos gregos como dote, por vontade da imperatriz, e voltou ele
mesmo a Kiev. E, quando chegou, ordenou que os ídolos fossem derrubados: uns foram
cortados, e outros, entregues ao fogo. Ordenou então que Perun fosse amarrado à cauda
de um cavalo e arrastado do monte pelo Boritchev até o riacho. Colocou doze homens
para bater com varas, não porque a madeira sentisse algo, mas como afronta ao diabo que,
com aquela imagem, encantara os homens, para que recebesse a paga por parte dos
homens. [...] Quando o soltaram, passou pelas corredeiras, o vento jogou-o contra um
baixio, que até os dias de hoje é chamado de Baixio de Perun. [...] Na manhã seguinte,
saiu, pois, Volodimir com os padres da imperatriz e os de Korsun em direção ao Dnepr, e
desceu uma multidão incontável. E entraram na água, e uns ficaram até o pescoço,
enquanto outros, até o peito; os jovens, junto à margem, enquanto outros seguravam
crianças; e os adultos vadeavam, enquanto os padres, de pé, faziam orações. E foi visto
grande regozijo nos céus e na terra por tantas almas salvas; mas o diabo gemia, dizendo:
“Ai de mim, que fui expulso daqui! Pois tinha aqui uma morada, uma vez que aqui não
havia o ensinamento dos apóstolos, nem Deus era conhecido, antes me regozijava com a
adoração daqueles que me serviam. E eis que fui vencido pelos ignorantes, não por
apóstolos ou mártires, e já não reinarei sobre estas terras”. Tendo o povo se batizado,
partiu, pois, cada um à sua casa. Volodimir, então, alegrou-se, porque ele mesmo e seu
povo conheceram a Deus, e olhou para os céus e disse: “Ó Deus, criador dos céus e da
terra! Olha para este novo povo, deixa, Senhor, que eles te conheçam, o verdadeiro Deus,
como as terras cristãs conheceram; e confirma neles a fé, correta e inabalável, e ajuda-
me, ó Senhor, contra o inimigo que se me opuser, cujo ardil, esperando em ti e em teu
poder, hei de vencer”. E tendo assim falado, ordenou erigir igrejas (de madeira) e erguê-
las nos locais em que ficavam os ídolos; e ergueu a igreja de são Basílio sobre a colina
em que ficava o ídolo de Perun e outros, em que o príncipe e o povo traziam holocausto.
E começou a estabelecer, nas cidades, igrejas e popes, e a trazer o povo ao batismo em
todas as cidades e povoados. Mandou que reunissem os filhos das famílias ilustres e que
eles fossem entregues ao ensino dos livros; as mães de seus filhos, porém, choraram por
eles, pois ainda não estavam firmes na fé, antes choraram como se estivessem mortos.
Quando, pois, aqueles foram entregues ao estudo dos livros, cumpriu-se a profecia sobre
a terra russa, que dizia: “Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, clara será a
língua dos gagos”. Pois não haviam ouvido antes as palavras do livro, mas, pelo desígnio
de Deus e por sua misericórdia, Deus apiedou-se, como disse o profeta: “Terei
misericórdia de quem quiser ter misericórdia”. Teve, pois, misericórdia de nós “Mediante
o lavar regenerador e renovador do Espírito”, por virtude de Deus, e não por nossas ações.
Louvado seja o Senhor Jesus Cristo, que amou um novo povo, a terra russa, e iluminou-
o com o santo batismo. Assim, nós também nos prostramos diante dele, dizendo: “Senhor
Jesus Cristo! Que podemos dar-te por tudo que nos deste, pecadores que somos? Não
sabemos como retribuir teus presentes. ‘Pois grande és tu, e admiráveis são as tuas obras,
e a tua grandeza é insondável! De geração em geração louvaremos as tuas obras!’[...]
Volodimir foi ele mesmo iluminado, e seus filhos e sua terra. Pois tinha ele doze filhos:
Vycheslav, Iziaslav, Sviatopolk, Iaroslav, Vsevolod, Sviatoslav, Mstislav, Boris, Gleb,
Stanislav, Pozvizd, Sudislav. E colocou Vycheslav em Novgorod, e Iziaslav, em Polotsk,
e Sviatopolk, em Turov, e Iaroslav, em Rostov. Quando, pois, Vycheslav, o mais velho,
morreu em Novgorod, colocou Iaroslav em Novgorod, e Boris, em Rostov, e Gleb, em
Murom, Sviatoslav, entre os derevlianos, Vsevolod, em Volodimir, Mstislav em
Tmutorokan. E disse Volodimir: “Eis que não é bom haver poucas cidades ao redor de
Kiev”. E começou a erguer cidades ao longo do Desna, e do Oster, e do Trubej, e do Sula,
e do Stugna; e pôs-se a escolher os melhores homens dos eslavos, e dos crivitches, e dos
tchudes, e dos viatitches, e com eles povoou as cidades; pois havia guerra com os
petchenegues; e lutava com eles e os vencia."