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26 POETAS

HOJE
antologia

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26 POETAS
HOJE
antologia

6ª edição

Organização
Heloisa Buarque de Hollanda

Participam
Francisco Alvim
Carlos Saldanha
Antonio Carlos de Brito
Roberto Piva
Torquato Neto
José Carlos Capinan
Roberto Schwarz
Zulmira Ribeiro Tavares
Afonso Henriques Neto
Vera Pedrosa
Antonio Carlos Secchin
Flávio Aguiar
Ana Cristina Cesar
Geraldo Eduardo Carneiro
João Carlos Pádua
Luiz Olavo Fontes
Eudoro Augusto
Waly Sailormoon
Ricardo G. Ramos
Leomar Fróes
Isabel Câmara
Chacal
Charles
Bernardo Vilhena
Leila Miccolis
Adauto de Souza Santos

2007

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Copyright © 1998 poetas participantes da antologia ou herdeiros

V789 26 poetas hoje


Organização de Heloisa Buarque de Hollanda
6a ed. - Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2007.
272 p.; 11,5 X 18 cm.
I. Hollanda, Heloisa Buarque de, org. 1. Poesia
brasileira. 2. Antologia brasileira

ISBN 978-85-86579-04-2

Capa
Victor Burton

Projeto Gráfico
Cadu Gomes

Revisão
Andréia do Espírito Santo
Maria Guimarães
Shahira Mahmud A. Daoud

Todos os direitos reservados


Aeroplano Editora e Consultoria Ltda.
Av. Ataulfo de Paiva, 658 / sala 402
Leblon - Rio de Janeiro - RJ
CEP: 22440-030
Tel: (21) 2529-6974
Telefax: (21) 2239-7399
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www.aeroplanoeditora.com.br

Apoio:
CNPq

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Modéstia à parte

Exagerado em matéria de ironia e em


matéria de matéria moderado

Cacaso

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LEILA MICCOLIS

PENA DE MORTE

Eram bastante bons


aqueles tempos de ódio,
em que planejávamos nossos assassinatos,
pelo simples prazer de nos vingarmos:
eu te via com os dedos na tomada,
tu me vias sufocada pelo gás.
Tempos em que sorrias ao atravessar a rua,
e eu achava graça em ser atropelada;
tempos em que queríamos fazer um filho
para espancarmos juntos,
nos dias de ócio,
em que eu te servia de escarradeira,
em vez de cozinheira e passadeira.
Depois veio o amor,
que é como um lenço em que se assoa,
ou mãe que chicoteia e nos perdoa.
Hoje afago-te as corcovas
e lustro-te as botas novas.

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MODA

Eu queria te ver,
coxas de fora,
(como de fora vejo teus pêlos do peito
pela camisa de seda),
a andares na rua,
entre assobios e apalpadelas,
o olhar disperso
como quem nada percebe,
e mostrando ao sentares,
subindo-te a roupa,
a cueca combinando com a gravata.

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

Esqueço meu desejo de vingança,


e a mágoa recalcada esqueço até,
se ponho a te afagar o membro flácido
com as pontas dos artelhos
do meu pé.

EU TE DOU OS MELHORES ANOS DE MINHA VIDA

Coso a alça de um vestido descosido,


enquanto pregas um prego
numa madeira bichada,
dou chiclete a nosso filho

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para parar de gritar,
te mostro a casa cheirando
a pinho e desodorante,
me sorris agradecendo.
E certo que não quero recompensa.
Mas te beijo tua boca vomitada
que tem gosto de fome
e de torrada.

SÉTIMO CÉU

Tudo acabado entre nós


Deus é testemunha
que na flor da idade
chorei por ti lágrimas de sangue
e que te amei
com todas as forças do meu ser;
mas a ilusão durou pouco:
a triste realidade dissipou
os meus sonhos e esperança,
assim como o mar desfaz
todo castelo de areia;
com tua perfídia me enganaste;
como um cão vadio me enxotaste;
na rua da amargura me lançaste.
Agora teu olhar me corta
como lâmina fria;
vago como morta viva
sendo a sombra do que fui,
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a lembrar de um passado feliz
que não volta mais,
imersa em dor, tormento e padecer,
mas sabendo que este mundo
não comporta o meu sofrer.

TRÊS NÚMEROS DE MÁGICA

O espetáculo começa:
faço sair da cartola
televisão a cores,
automóveis,
e imóveis no Leme
a pagar em 180 prestações.
Depois te serro ao meio no caixão,
para salvar-te a seguir:
surges inteiro e pareces tão ileso
que nem dá para notar a castração.
Por último me cubro – abracadabra! –
e volto aos tempos de menina,
tirando da vagina objetos contundentes
que fizeram a minha vida
e o meu hímem complacentes.

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LAÇOS INDISSOLÚVEIS

Refaço nós do capacho:


por um fio me escapas,
por um laço te prendo;
tranço um fio – me queres –
tranço outro – me odeias.
Por diversão lavo o filho até conseguir dar brilho,
enxaguo tua barba de bombril
com mil e uma utilidades,
colho batatas grelhadas
da raiz do teu cabelo
para de noite jantar,
e no fim da noite gozo,
te chupando o calcanhar.

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PITADA DE AÇÚCAR

Quero ver onde vai dar teu jogo


de esconder o feto no forno,
o macarrão no banheiro da empregada,
a cerveja na bexiga cheia.
Teu jogo de esconder
o desejado
no sorriso cordial,
e nas festas galantes de sempre.
Esconder tua voz de cio,
teus pêlos enroscados
entre a coxa aberta,
o medo de perder a virgindade
e o teu recato de homem.

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