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2 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972 Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 23.
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 3.
embonecar esta República têmpora. Brasil amado não porque seja minha
A gente inda não sabia se governar... pátria.
Pátria é acaso de migrações e do
Noite pesada de cheiros e calores Progredimos um tiquinho pão-nossé onde Deus der...
amontoados... Que o progresso também é uma
Foi o sol que por todo o sítio imenso fatalidade... Brasil que eu amo porque é o ritmo do
do Brasil Será o que o Nosso Senhor quiser\... meu braço aventuroso,
Andou marcando de moreno os Estou com desejos de desastres... Ojgosto dos meus descansos,
brasileiros. Com desejos do Amazonas e dos ventos O balanço das minhas cantigas amores
Estou pensando nos tempos de antes de muriçocas e danças.
eu nascer... Se encostando na canjirana dos batentes.
Tenho desejos de violas e solidões sem Brasil eu sou porque é a minha
A noite era pra descansar. As sentidos... expressão muito engraçada,
gargalhadas brancas dos mulatos... Tenho desejos de gemer e de morrer... Porque é o meu sentimento pachorrento,
Silêncio! O imperador medita os seus Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro,
versinhos. Brasil... de comer e de dormir.
Os Caramurus conspiram à sombra das Mastigado na gostosura quente do
mangueiras ovais. amendoim...
Falado numa língua curumim
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padres De palavras incertas num remeleixo VERBO 16, superastro nacional
irmanava os homens de meu país... melado melancólico... baiano, brasileiro, universal.
Duma feita os canhamboras perceberam Saem lentas frescas trituradas pelos Hoje o poeta come amendoim,
que não tinham mais escravos, meus dentes bons... o Verbo come com coentro,
Por causa disso muita virgem-do-rosário Molham meus beiços que dão beijos feijoada, cultura, tempero, e glória.
se perdeu... alastrados Com Mário de Andrade, Soninhae A/vinho
E depois remurmuram sem malícia as numa cena de "AMOR E VIDA",
Porém o desastre verdadeiro foi rezas bem nascidas... (atentem para os olhos).
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4 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
morro e os que ficam bicando. O samba
muda como muda a vida, o problema é
que para o sambista de morro os elemen-
tos novos não acrescentam nada, só tiram
dele.
— Quando fiz "Foi um rio que passou em
minha vida", eu me senti como enterran-
do a Portela. A grande inovação era que,
numa época em que se faziam sambas cur-
tos, a letra era enorme e a música tinha
mil variações. E o pessoal dançou. É que
o samba é pura energia, é um ritmo vivo e
que evolui, por isso atende ao pessoal.
— 0 que faz com que as coisas mudem é
um problema de consciência de vida e
morte, o sangue funcionando e o toque
que dá pra cada um, que nunca é o mes-
mo. A música nasce, evolui, faz-se tudo,
esgotam-se as possibilidades de forma,
morre na opinião de uns e daqui a pouco
nasce de novo. Eu não estou nem um pin-
go preocupado com esse problema. Eu
faço, é tudo.
— Nas escolas de samba as pessoas tratam
o violão como viola, daí ser muito
comum c- apelido de "viola". Um exem-
plo disso é Chico Viola. Foi Sérgio Cabral
e Zé Keti que me puseram o apelido de
Paulinho da Viola.
— O choro me marcou profundamente.
Meu pai era um chorão e não admitia que
lá em casa entrasse música estrangeira. Ós
discos do Elvis Presley somente a pouco
Pegamos Paulinho e fomos até o Mer- tempo eu tomei conhecimento.
cado Modelo. Lá, enquanto eles al- — Eu gosto muito de Moreira da Silva, é
moçavam, o repórter de um desses um marginal que não tá aí. Ouço muito
"
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Fevereiro 1972 - Número 16 - VERBO -
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6 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
B GVME TAVARES
APRESENTA
A Bahia não tem mistério, é ciara. Não
tem nada de incrível, tudo é possível. As
pessoas aqui andam normais para as coi-
sas dadas. A hora do povo do porto e o
da calçada é o mesmo relógio de São Pe-
dro. Mozart Santos, repórter que tem o
coração despedaçado e o mar que passa
na frente da praça Castro Alves é o mes-
mo movimento. Ver essa intensa simpli-
cidade é se encantar. As conversas sobre
negro baiano são babacas, como as sobre
comida e arquitetura. Se renascer uma
mangueira em toda igreja de São Francis-
co não aconteceria nada, a Bahia passa
tudo. Se virar uma praia como foi no
começo, nada, passa disso. Mas, crianças,
juntas essas coisas fazem o enorme espe-
táculo. Fazem esse bolo enfeitado, con-
tudo não vivem só. Uma porção de coisas
inúteis, fúteis, é uma flor. Você agüenta
ver? Eu no meio do movimento digo
que ver a Bahia sem mistério é ver encan-
tada. No meio de coisas sozinhas que se
dançam e você sabendo, tá sabendo, é
fruta-flor-cor. Noutros dias a Bahia. Ago-
ra quero apresentar W. C. Fields?
EU NÃO DISSE QUE A CARNE ESTA
DURA.
EU DISSE QUE O CAVALO QUE FICA
NA PORTA SUMIU.
W. C. FIELDS
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Fevereiro.de 1972 - Número 16 - VERBO - 7.
MAIS UM CARNAVAL
Cor e som — a cor do som. Alegria,
alegoria. Uma alegoria tropical,
onde não há pensamento. Mas
configurações. As palavras são substituí-
das pela configuração alegórica. Podería-
mos falar metáfora. Mas carnaval tam-
bém é anti-metáfora, na sua mostra clara
e direta do sonho dionisíaco.
Você prefere admitir que o carnaval é
uma grande metáfora do futuro? Acho
que não, vejamos: a fantasia carnavalesca
é a única metáfora que não disfarça. No do a você mesmo e aos outros, é assim. mim. Toda a sujeira que houver, estará dos Navegantes, lemanjá. As vidas: "na-
carnaval insinua-se a nova moral (insi- E você que persiste na pergunta meta- na minha mente. Tudo é belo e natural, vegar é preciso".
nua-se? — não, exibe-se na sua plenitu- física: o que é existir? Um mestre Zen mas se a mente está envenenada, cheira a
de). A alegria e o teatralismo de pessoas lhe daria uma" bofetada no rosto, ou um deformação e pecado. Grupos alegres de crianças correndo
que se amam, que estão na rua brincando beijo. Ou seja: o que deve ser visto é o abraçadas, invadem uma barraca no cen-
Se alguém curte a de Satã, não há de tro da cidade, navegando "mares de lou-
e beijando. Cordões coloridos, confetes, fato direto, sem deformações. No carna- ser nada. (Lembranças das transas alegres
serpentinas, ausência de tudo que possa val ninguém curte racionalmente. Existir cura". Baianos & argonautas. A barca
de Deus e Mefistófeles, no Fausto, de sempre está presente nas alegorias carna-
ser falso. Explosão da naturalidade. E as é pular carnaval. Onde as pessoas são na- Goethe). Não ponho a mão no fogo, nem
pessoas se entregando umas às outras. turais e simples. Onde nada é pensado, valescas. Lembrando fenícios e vikings,
penso no assunto. Mas Abraxas é uma entre coqueiros e os três tempos da Ba-
Em nossos dias, notamos facilmente a mas feito. Basta abrir os braços, e cantar.
discussão séria, embora eu acredite des- hia: sol, azul e alegria.
profunda esquizofrenia, causada pela
necessária e inviável. Podem argumentar
bi-partição do ente humano. As pessoas A transcendência está nas pequenas
que o carnaval é o congraçamento. Deus A Bahia é a barca da transa. La Barca,
podem ser amáveis, não tolerarem certos coisas que a gente faz, e em que o ego
e o Diabo na terra do sol e da cerveja, a de Caetano Veloso e Moacyr Albuquer-
absurdos, mas só dentro da sua casa. não influi. O carnaval nos faz readquirir
celebração da realidade de Abraxas. Não que. Como são as espeçonaves da ficção
Quando é posto um paletó, um papel a individualidade perdida na engrenagem
vou dizer nada. Quando as coisas estão científica. Curtidores do Cosmo, no ba-
passa a ser cumprido. Da porta da repar- do mundo moderno. Mas esta individua-
tição pra dentro, o homem passa a ser perto, junto, a gente não pensa nelas. lanço da barca. Navegadores do espaço.
lidade vem noutro sentido — para-além
Olha. A barca pinta e borda, sempre curtindo,
uma outra coisa, que não ele mesmo. O do ego. sem nunca chegar. A alegoria, também
paletó e a gravata formam uma fantasia
Pulando de um galho a outro, mas anti-metáfora, do Carnaval baiano: a bar-
intolerante. Ela não mostra a graça, as Agora, somos todos iguais. Mas cada
sem sair da árvore: pouca gente, hoje, du- ca da transa.
linhas do corpo. Na feitura dessa fantasia um na sua. Cada um com seu brilho, sua
não entra a criatividade individual. E en- vida da existência de civilizações superio-
intuição, sua criatividade. Se você acha O sensual, o pagão, o sagrado. Na
tão o homem não aparece com seu bri- res e antigas — Lemüria, Atlântida, cultu-
que elas não valem nada, errou de cor. Bahia, todo o profano é sagrado. Fatura
lho, sua individualidade. Somos todos ras pré-colombianas, que falam de seres
Elas valem pelo simples fato de serem e sai. O mar dessa multidão. O futuro é â
iguais, mas da maneira mais idiota. que aportaram na Terra, vindos da estre-
suas, e você saber amá-las por isto. Não barca da transa. Na barca estão a rainha,
E no carnaval? Todos os sonhos bri- la branca, Vênus. Há esta presença do
pense no Bem, nem no Mal. Faça o que a menina gostosa, o bobo da corte, o
lhantes da louca tropicália. A fantasia é remoto, longes-perto vestígios, no carna-
gosta, curta a sua barra. É o que está novo orador de esta prazeirosa província.
escolhida com a função de mostrar a sen- val. Ao lado disto, o retrato cantado e
certo.
sualidade do corpo, realçar as suas linhas. dançado de novo homem. Confortável,
A atmosfera mágica da Bahia. Carna-
Forte dose criativa, que parte do fundo amante e curtidor. Laços de Bahia e
Afinal, não há paganismo na festa do val não é, estritamente, explosão do id. É
do ser. Participação do inconsciente no Atlântida.
bezerro de ouro. Deus é ouro. Mas o pa- um vislumbre louco do inconsciente, que
plano surreal e fantástico. Aqui, anun- libera o ego. Por isto, falei em fazer o
ciam-se os saques da nova consciência — po é outro: ouro, sim, mas não no seu O desprezo pela cultura, característi-
caráter competitivo, disciplinado, materi- eterno carnaval. É um caminho para o
ali the people living for today. O Aqui-e- co da nova consciência, encontra, no car-
alista. Ouro - festa, luz. As pedras pre- ser. Carnaval é intuição profética, e dedi-
-Agora metafísico. naval, a sua glorificação. Pinta a reação a
ciosas de todos os paraísos, e o poder cação apostólica. O salto no escuro, e a
máquina: o desbunde, a aventura, o sen-
Uma realidade ainda de três dias. Cur- arrebatador delas. Quando agente ama o sala iluminada. Os viajantes do espaço sa-
sualismo, a loucura, a magia. O pessoal
ouro, porque ama a natureza, porque o bem.
tida. Lembro-me de quando estudava curte em cima da tecnologia. Como o ar-
geografia, nos tempos do primária e gina- ouro é belo e brilhante, está afastada a tista pop, ao escolher, entre produtos da Diana, minha deusa, não se desespere.
sial. A professora repetia sempre — O essência "paga". Carnaval é ouro, mulata "era industrial", o que vai utilizar numa
é ouro, jóia. Venha pra Bahia, no carnaval. Aqui,
Brasil é o país do futuro. Muito certo. dimensão crítica. Cotidiano, bem pop, o Adonis topa qualquer transa, ao som da
Não duvidem, crianças. carnaval é um sarro. Eros brilhando so- orquestra dionisíaca. O trio elétrico é
Ecos do teatro grego — os deuses bre Tânatos. uma barca iluminada. A barca da transa,
Estas e outras revelações do carnaval. também têm seu dia de amor. Carnaval é navegando "no mar dessa multidão".
Ele assume heranças da idade média, alegria, amor. O povo alegre é profano? Roupas divinas, rainhas, mestres, fra-
num projeto de futuro. Alegórico, estra- Deus pode ser tudo, um estado mental. ses, a mostra do Nada. A destruição da Bahia politeista e pansexual. Estrelas
nho bestiário em que os signos devem ser Tristeza, luto e puritanismo são portas lógica e do utilitarismo competitivo. O de papel, o sol de Leão — segundo Aloí-
vistos na flor total da sua significação, e abertas pro baixo astral. lixo recriado, e amostras da cultura&civi- sio, um amigo meu e do Cerqueira — so-
não analisados dentro dos esquemas dis- lização penduradas no pescoço. Desfile bre o andrógino. Mick Jagger podia sair
secantes do rigor. Não se pode sacar o Os imbecis do rigor e do puritanismo das deusas da poesia concreta e do bar- de virgem ou ninfomaníaca. O carnaval
delírio dionisíaco, a partir de um ponto estabeleceram as regras do jogo. Mas fa- roco. Toques de humor metafísico. As baiano, um lugar pra Alice Cooper rebo-
de vista apolíneo. O carnaval também é a lam da boca pra fora. Ou, quando muito, mortalhas e carrascos rebolam alegre- lar adoidado, e gritar o que bem enten-
falência dos socráticos. Mas os motos, se esqueceram-se que seus mandamentos mente. desse.
quiserem, podem brincar. A gente em- são lógicos, humanos e limitados. Huma- A discurseira baiana abandona o so-
presta o pano pra uma roupa legal. no, no caso, implica no oposto. A lógica crático, é sagrada e profana. O reino de O fantástico, o surreal, o concreto, a
é consciente e, em cima, unilateral — ela Dionisius. pintura louca de Bosch e Bruegel, a ma-
Um novo Eros está sendo curtido. Na exclui e afirma, o que lhe impede uma gia, a Noite de Valpurga, das lendas ale-
gana, na lama e na cama. Eu podia falar compreensão-vislumbre da afirmação Há muito tempo atrás, Bahia de ou- mãs, as feiticeiras deMacbeth. Perfeito.
de Marcuse, mas ele ficou no meio do transcendental. É o que ensina o budis- trora, as barcas pintaram, indo para a se- Tudo livre e brilhante, nas ruas da Bahia.
caminho. O novo saque de Eros não exi- mo Zen. gunda-feira do Bonfim, em meio a lun-
ge apenas, dentro da linguagem marcu- dus e quadras satíricas, ou pana Santo O carnaval é a flor do espírito baiano.
siana, a abolição da mais-repressão. t= a Não há pecado. Corpo, sexo, beleza Amaro da Purificação. Surgia a barca da Cultivamos. Humor metafísico, transe
própria cultura que está checada. E não — isto é Deus. A sujeira só pinta, quan- transa, espalhando alegria, entre danças dionisíaco politeista e pansexual. Nin-
adianta chorar. O futuro-agora pinta no do há repressão. Quando as pessoas enca- indígenas, redesmembrações, e fortes guém pensa, faz.
carnaval. Você que está esperando, parta ram o acontecimento repressivamente. vestígios africanos. A barca da transa é a
pra outra. Faça o eterno carnaval. Aman- Ou seja: a barra é limpa, só depende de alma do povo baiano. As festas. Senhor Antônio Risério Filho.
SOLTEM O VERBO
Para ler antes, durante e depois do carnaval
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8 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 9.
Em 1950 foi de arrancar rabo
— e assim falou Isidro —
eles se bateram
o tema foi Ali Babá e
os Quarenta Ladrões
e eram quarenta cavalos
e muita gente
e todos iluminados
com luzes na cabeça
eram pilhas elétricas
com fios descendo por dentro
por baixo da roupa
e isso tinha na cabeça
dos cavalos e das pessoas
e na rua foi aquela sensação
e alegria foi assim
que Tio Isidro contou
alegre e recordante
relembrando o desfile
que lhe deu a vitória
entre os clubes do desfile
de dos carros alegorias
festas folias glórias
pelo clube campeão
Inocentes em Progresso
o clube de Tio Isidro
e sua vida e alegria
e contando esse fato
e falando do clube:
ondinfio
T.namsbundét
Vem
meu grande amor
Para
os braços meus
Eu não sei
viver
Sem os carinhos
teus (bis)
breque,
vem meu amor
Qil/CoB
Eu fiz esta ^Capinam
linda canção
Para você
' Macoie
se lembrar de mim
Ouça
com muita atenção
\W
A melodia
é assim
Laia,
laia, lá
lalalaiá,
laia, lá.
fria, lá í
(bis) f^ LQUCUPA:
Composição ^taoncad, com (/oocUrol)
de Zé Pretinho u/ni oaofo duplo
da Bahia
e Osvaldo G-iíberfoG-j —4
Nunes
Gravação àmi?0y'
CBS. f>or 2. ÇruA&irO$\\,
G-iL CF*NTs\: EXPRESSO 2Z22/%£%£1IOA,0£ % Vi
VEM oepoiè/o sòflMp; ACA-
BOU/ORIENTE '!'
V l
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10 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
A quem devo ao demo dar. Não tem mais do que meter-se Vendo-se já mascavado,
A Magano, e campará. Arrime-se a um bom Solar.
Quero agora que me devas
Dar-te a Deus, como quem cai; Seja ladrão descoberto, Por fiar em ser Fidalgo
©iE3l(g®íãa® Sendo que estás caída,
Que nem Deus te quererá.
É qual Água Imperial, Que com tanto se achará:
Tenha na unha o rapante, Se tiver Mulher bonita
E na vista o perspicaz. Gabe-a por onde se achar:
WÍÈ Adeus, povo da Bahia;
Digo canalha infernal: Compre a uns, e a outros venda; De virtuosa Ta/vez,
E não falo na Nobreza, Que eu lhe seguro o medrar: E de entendida outro tal:
Fábula em que se não dá: Seja velhaco notório, Introduza-se no burlesco
E tramoeiro fatal. Nas casas onde jantar:
Despede-se o autor da Cidade da
Bahia, na ocasião em que ia degre- Porque o Nbbre, enfim, é nobre Compre tudo, e pague nada: Que há Donzela de belisco,
dado para Angola de Potência, pelo Quem honra tem, honra dá Deva aqui, deva acolá: Que aos punhões se gastará.
Governador D. João de Alencastre. P/çaros dão picardias; A vergonha, e o pejo perca; E faça-lhe um galanteio
E ainda lhe fica que dar. E se casar, case mal. E um frete, que é o principal
Adeus praia, adeus cidade:
Agora me deveras, E tu, Cidade? és tão vil, Com Branca não, porque é pobre: Arrime-se a um Poderoso,
Velháca, o eu dar a Deus Que o que em té quiser campar, Trate de se mascavar: Que lhe alimente o Gargaz;
Que há pregadores na Terra,
Tão duros como no Mar.
Intitule a Fidalguia;
Que eu creio que lhe crera,
Por que fique ela por ela
Quando lhe ouvir outro tal.
Vá visitar Amigos
No engenho de cada qual;
E comendo-os por um pé,
Nunca tire o pé de lá.
No Brasil, a Fidalguia
No bom sangue nunca está;
Nem no bom procedimento:
Pois logo em que pode estar?
®®(g& ®® 3Mi?ÍEím®
:^í '!: poeta baiano do século XVII
"
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 11.
a r i st i d e sa I ve s e luciomendes
Ficha Técnica
Eladormenas calçadas ela dorme nas calçadas ela dorme nas calçadas
treiler Ela não dorme ela está com o sono ela continua com o sono trucida-
do ela se aplica prá dormir e é deitada aplicada na calçada que ela
não passa de uma
um POE na sua cabeça
11 homens e nenhum destino
SUPERISTÉRICA
transei iucidez
Fazer teatro é o FIM
um espetáculo sem espírito de espetáculo que não é show de assom-
bração é exposição
lucianodiniz a I u c i a n ad o d ea n i z -j
éle ú cidez
lucidez ácida
carlosribas
éle ú cidez
o poeço o poço de poe e edgar allan bates na porta do teatraça
castro casto alves em março
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm arquinhos
roupas de nú confecções
ah ter que dizer tudo de novo ah
lúcia dos santos coproduz em popscolor
ATA ^^^^^
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12 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 13.
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mw* m
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kv*v.'-*Y'-> em cima da minha mala
«S me excita, uma ' hora
na cama. A porta entre- destas eu pego a minha
A porta entreabriu-se abriu-se novamente e eu pistola e lhe dou um ti-
de repente e um revol- pude ver a réstia de luz ro na cuca. Você só fala
K ■>3 ver disparou contra a do quarto refletindo na sobre coisas do passado
xa minha cabeça e eu en- parede escura. O revól-
r>*1!
e esta falta de perspecti-
trei num túnel tonto de ver era eu mesmo. O ga- va no seu olho mostra
frSV.iffi tanta luz até a morte. tilho meu dedo.
-.^i-»»
RC$
íVJ
que você ainda não sa-
R Depois despertei esta- II cou o filme do qual você
va deitado com.os pés Você me irrita, você ê atriz principal, a star-
?&■••'•
'&?:
•v».'.
m 'Alá
fitttw m *m
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14 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
no Dicionário Underground. Ele vem de Lon- Athenodoro Ribeiro, Alvinho Guimarães, Anta-
dres, fez os shows com Caetano. Verbo morria zinha, Nego Nisio, quase todo o Verbo foi. Fal-
de saudades de Macaié e Giselda. Como esperava
tou luz, mas Ricardinho Lisboa fez as fotos) Ma-
alegrou-se com a beleza de Macalelda. Macaié,
lento, súbito, músico, lindo. Macaié rodeado pe- caié da praia de Londres dos palcos da rua para o
los entrevistadores (G. Melo, Moleque Pereira, Verbo.
M DE MACALE
MOLEQUE É o que eu queria ser e não sou. leve. Não é isso? É passando. Não
sei, é música.
MOVIMENTO Não sou eu quem vai ficar esperando. MANDINGA Já quebrei sete espelhos. Sete vezes
Nãocurto sete, quarenta e nove anos de azar.
DOS BARCOS -
ha, ha, ha!
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 15.
MQRTE É a rainha que reina sozinha, não é marchinha, que caetano também can-
não? ta no seu show. Entrevistadores mara-
vilhosos.
MILESDAVIS Ah o Miles tem um sopro no jazz, af
pegou o que tinha que ser aproveita-
do no pop e mandou ficha. Foi isso,
tinha que ser aproveitado mesmo. Os MCARTNEY Ah, não sei. Sabe que eu nunca mais
três discos novos são assim. O JJ ouvi. Aliás, ouvi. A última coisa foi
Johnson é onde ele está mais claro. "the long and winding road". Eu pos-
so não gostar, mentira, ele fez muita
coisa boa, depois passa a ser uma pes-
MALUQUICE É o que Giselda vive dizendo que eu
soa esquisita. John Lennon briga com
faço e eu vivo dizendo que ela é que
faz é o que a gal diz que eu faço e eu ele de carta aberta no Melody Maker,
na Inglaterra. Pede pra ser chamado
digo que ela é quem faz. É o que o gil
diz que eu faço e eu digo que eu faço de John Yoko Ono Lennon, que não
e eu digo que ele é quem faz. E assim o chateiem mais com o tal do dinhei-
sucessivamente, sucessivamente. ro da apple, que ele não quer saber de
nada disso. E xinga e tudo. E o paul
responde que bebe chorão é a mãe,
que o john é isso e aquilo.
MARILYN Saiu uma foto dela no Verbo? não,
foi na intervalo, com Chico Xavier
MONROE (gargalhada geral) Coitadinha. O que MORADA Eu não tenho onde morar, é mes-
é que eu vou dizer dela. E Ia tá lá, tão mo, agora eu já não tenho.
direita, fez tudo que devia.
I MORAIS
E GALVÀO
Maravilhosos. Morais está cantando
tão bem, músicas tão bonitas (come-
ça a tocar "preta pretinha" música
dos novos baianos para carnaval, uma
pop, assim de ouvir mesmo. Que coi-
sa estranha, the doors. Eu ouço o
cream, jimi hendrix, beatles, o resto
era jazz, coltrane e rolling stones.de-
pois. Nunca ouvia. Quer dizer, ouvia, lux. Uma vedete fantástica, coristete.
mas não ouvia, ouvia.
MARIA FELIX Sonho total, incrível, maravilhosa. Eu
MA VIE Vai indo, indo, indo, indo, indo. via na tv de repente, em cor. Eu não
queria sair dali. É tão bonita a tv co-
MACROBIÓTICA Sou contra. A não ser que adaptem a lorida o pessoal me arrastando para o
macrobiótica a esse país. Alguma coi- aeroporto pegar o avião. Tão bonita.
sa que continue provocando a longa Fiquei apaixonado por ela.
vida. Porque vê o chinês, carrega sé-
culos, tradição, cultura, comendo ar-
roz. Aí tem que arrumar um jeitinho MOISÉS Passe pra outra.
aqui. Talvez surja uma coisa com ou-
Eu tenno
tro nome, inclusive, no mercado. MÃE duas igual a complexo de
édipo duplo. Meu problema é mais
grave, tem alguma gravidade.
MICRO A moda como é, legal, sobe e desce.
Vive subindo e descendo.
MARIA CALLAS Grande cantante, ex-onassis, apaixo-
MITO O Minotauro. Só. E alguns outros. nada por um tutuzinho.
MACALÉ. Esse
- ■ ■ é forte
- Ê" bacana.
MÍNIMO As pessoas viverem.
MÁXIMO As pessoas viverem, claro. MANIA Fuma'' e gravar tudo, tudo, mas tudo
mesmo.
MARILIA PÊRA Não sei, eu li. Ela é legal, né. Está
fazendo Carmem Miranda lá no Rio. MARGINAL É o que está a margem. A definição
Queria vir. Vi um pedacinho na tv. É não é essa mesma; acho que todos es-
gozado. Deve ser fantástico. tamos à margem.
««■«Ma MARA RUDIA Assistia muito os espetáculos to-ne- MAQUIAVEL Maquiavélico.
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16 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
Você <s?M,.,
^RESTAURANTE- ~E e*s§
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CASA NOVA ESPORTE
é capaz 0
para ter SEU
JANTO R
você Etportts, Tttidos «m Gmrél
Rua Looes C.rdo.o, 14 - Tal.f. 3O308
SALVADOR - BAHIA
aqui dentro.
Mina d* Sâo Pedro era uma rainha da Oahia.
restaurante),
maria de são pedro
SADIA
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 17.
rasaria©!
Na grande Avenida Sete da Ba- blema resolvido.
hia no coração bem batido no
centro de Salvador, confronte Para sacar melhor, viajar é
em frente in front of de cara sempre quente. E de presente
com cara com o Mosteiro do de férias, Adnniran Andrade
São Bento, é quase já na ladei- Cunha vai ver melhor como é
ra do São Bento: avenida Sete que é que são as transas e as
de Setembro, número 23, se- transas por Portugal, Lisboa,
gundo andar, sala 301. Está lo- Madri, Paris, Roma, Londres.
calizado. O que? Pisque os Sob o patrocínio da TAP, SA-
olhos, olhe o passarinho:ATE- DIA e AIR FRANCE ele vai.
LIÊR FOTO ART/STICO Boa Viagem.
SAO LÁZARO. O melhor da
Bahia de Retratos, fotos, todo Voltou ao seu lugar, a ocupar
tipo tamanho barato que você a cadeira depois de um passeio
este/a procurando no setor. pela feira. E já está no posto
A TELIER FOTO AR TISTICO seu naquele edifício todo ver-
SAO LÁZARO do Valdomiro de de vidro do BANEB, o se-
Pereira Marques, simpatia pró- nhor cara gente Carlos Arthur
xima de familiar da gente que Catucy.
lhe procura lá para realizar o : : ::
^7 LEÃO ROZEMBERG
BARRACA OGUM
d. BERNARDWO MACHADO
Mwno Modele • 1.° meta - Quadra L n.» 8 - Selvador-Ba. FILIAL: RUA RECIFE. 1 . ESQ.C, MARQUÊS DE CARAVELAS . BARRA AVENIDA
férreo «í Quadra o ■ - tt~ 2 TEL.: S-4S10 iALVAOOR - BAHÍA
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18 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 19.
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20 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
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CVHEMA
CAVALC\«fi
psicologia dos personagens. De maneira nenhu- meu cotidiano vulgar nem com uma reflexão
A GREVE ma se pense que se trata de uma aproximação sobre isso: "Além da imaginação" "Times Squa-
2a. — cenas na casa de parente do diretor;
crianças brincando, pessoas jogando buraco,
teórica da "realidade espanhola", pois que todo re", "Masculino/Feminino". A novidade de "O a empregada passando roupa (plano fixo de
S. Einsenstein - 1924
esses "dados"encontram sua evidência na ma- Bandido da Luz Vermelha" era, pra mim, como uns 3 minutos), retratos de família. Tudo
neira como o diálogo se desenvolve, por isso a que a de ser o primeiro filme que misturava sem som.
cartilha para amantes de cinema versão espanhola do filme (que não passou no
amador das formas cinematográficas: tudo isso e fazia do bolo uma certa atitude cul-
Brasil) é fundamental para a ligação do especta-
documentário de uma fábrica crítica (em crise) dor com o drama. Pode-se até dizer que é esta tural também, mas a surpresa pra mim estava 3a. — a família do barulho propriamente di-
"alma espanhola" que é o eixo em que a ficção vindo com "A Família do Barulho", foi real- ta: Helena, Guará, Kléber, Grande Otelo,
intriga policial, chuva de espiões mente como se eu visse o primeiro filme brasi- Maria Gládys. Ficção, comédia debochada,
se sustenta, pois que em Tristana, como na
super-close de olho atento aos menores movi- leiro que me satisfazia absolutamente; na cons- novas relações familiares, carnaval, Oswald
maioria dos filmes de Bunuel, não há apelos
mentos trução da estrutura de montagem do temas, si- de Andrade. Da segunda parte, apenas, as
dramáticos organizados no nível da direção de
atores, nem de montagem, nem de mixagem. tuações, planos (quase todos gerais de frente, fotografias retornam de vez em quando nos
na seqüência de suspense dos perseguidos
intervalos de ações do barulho.
entrevistos e refletidos através de espelhos, como em televisão), dos diálogos (sketchs de
Tristana é dramaticamente linear e o diálogo, a
dança de mendigos barris de mendigos programa humorístico ou filme chanchada), ou
partir de um primeiro fio, traça a rede de fic- Ah! E de repente a Gladys como Odalisca
caricatura de burgueses com humor de Keaton ção. Não é que os outros efeitos em nenhum o João Gilberto cantando Trevo de 4 folhas pra
dançando ou a Helena passando de um lado
(e há uma seqüência da apresentação dos es- momento apareçam, mas sempre como que uti- Helena Inês dançar sob um coqueiro.
ao outro da tela rebolando com a linguinha.
piões que atendem pelos nomes de macaco, co- lizados sem muito comprometimento estético.
ruja raposa em que na imagem dos animais se vou contar pra vocês como é que o filme, mais 4a. — close-up dos três membros da família
Isto é, pra Bunuel, o cinema propriamente dito,
fundem as caras dos seus semelhantes) metali- ou menos, se organiza: Ia. parte —plano de uma do barulho, um de cada vez, sérios olhando
como de Einsenstein, não tem função normati-
guagem; fotos vivas como janelas de policiais o ponte em Nova Iorque filmado de um carro pra tela por minutos inteiros, com um som
va na construção de seus filmes, a gramática
casebre operário e a família com fome e a crian- em movimento; repetição do mesmo plano de efeito pesadamente dramático. O último
cinematográfica é apenas um instrumento para
ça suja sorrindo, lambendo e brincando o chão que originalmente foi filmado em 8 mm pe- olhar é de Helena e o sangue por fim lhe sai
a exploração das ambigüidades da língua, se
do pai desesperado: cinema verdade. lo diretor então com 12 anos de idade. pela boca.
bem que todo esse despojamento não impeça
cavaleiros assassinos por sobre multidões e edi- que uma camera deslize por uma parede até en-
f feios contrar um relógio de estação de trem, que uma
geométricos nos planos
camera se movimente por sobre ruínas a procu-
Griffith desde o princípio mais bang bang anô- ra de casal acabando uma conversa mal-entendi-
nimo da. Talvez seja essa atitude livre diante do "ci-
nema" que faça com que Bunuel seja sempre
(e na seqüência final, montado paralelamente genial e ainda maldito.
ao fuzilamento em massa dos operários em gre-
ve, um animal sendo sangrado pelo pescoço) o D. Lope, Lope, Lopito — o pai, o avô, o amigo,
cinema é um parque de diversões; nesse jogo, o tutor ou o marido de TRISTANA.
uma pluralidade de dados e dedos.
TRISTANA A FAMÍLIA
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 21.
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Antes do fim ainda Helena roça algumas ve- Voz off — "seria o aranha um agente do capita- Gladys (atriz genial, não percam "Cuidado Ma- Por fim o caçula da 7a. arte entre nós; o
zes a tela. lismo internacional..." dame") passando por detraz e dizendo sem pa- cinema underground, representado principal-
rar: "Ah eu tenho fome, ah eu tenho fo- mente pelas produções em Super; 8 da qual se
acho que esse foi um dos filmes mais lindos que o filme é composto de plano-sequênciás de 11 me destaca um filme longametragem como "Nosfe-
eu já vi. minutos (tempo de duração máxima do "maga-
E Rogério filma com uma liberdade que poucos ratu no Brasil", que, no dizer efe colega Waly
zine" da éclair 16). A fotografia é linda, feita Sailormoon, é um filme de um jovem "na-idade
tem. Entende mesmo, e isso tudo está desde o
pelo Edison Santos que operou camera na mão de ouro da poesia como descoberta das coisas
praticamente o tempo todo (atentem pra uma "Bandido da Luz Vermelha". Eu gostaria de ver
SEM ESSA ARANHA seqüência nos camarins de um teatro em que a mais vezes o "Aranha" que nunca viu: sexo, vampiros e escorpiões".
camera segue Zé Bonitinho por corredores de E muito mais ainda é nosso crojifrta, com sua
(Rogério Sganzerla — 1970) O MODERNO pluralidade, punjança, invenção todo que essas
luz variada — deve ser um dos plano-sequências
16 mm — cor cucas maravilhosas produziram, produzem e vão
mais bonitos já feitos).
CINEMA BRASILEIRO produzir. E não se diga que o i iijjpliii brasileiro
quando, mesmo antes de ver o filme, eu soube Outro dia eu vi a Silvana e a Carmem Costa não prestigia nossa grande literatura! Posso até
que Zé Bonitinho (o perigote das garotas) era cantando juntas no programa do Chacrinha e Já mais de uma década completa nosso novo provar que desde 1906 filmamos nossas melho-
ator principal, já comecei a rir. Podes ver tudo parecia que estava vendo uma seqüência de cinema. Iniciativa de jovens conscientes das di- res obras: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa,
aquilo que ele fazia na televisão de novo mais o "Sem essa Aranha". O Rogério é incrível e foi o versas realidades brasileiras, nossa modernidade Carlos Drumond, Dias Gomes e lijuitos outros.
humor dos textos do Rogério mais ver ouvir o primeiro diretor de cinema brasileiro que apren- se caracteriza pela criatividade no tratamento
Luiz Gonzaga cantando Asa Branca ao mesmo deu esse lado da sensibilidade brasileira. dos temas, os mais diversos, dentro das mais Vivemos um mundo conflituado e um tem-
tempo mais um show de boite de 3a. com mu- adversas condições técnicas ou na abundância po tempestuoso onde os valores mais puros e
Seqüência na piscina da casa do Aranha enri-
lheres cobras e boleros, tem até o Morengueira de nossa indústria cinematográfica nascente. nobres somente por um esforço tóbrehumano
quecido:
cantando James Bond! podem subsistir. Nosso mérito está em sempre
Aranha fazendo discursos eloqüentes sobre a si- Desde o lirismo social urbano de um "Rio podermos nos renovar e manterwo-nos fiéis a
Aranha — "eu preciso alimentar 80 milhões de tuação internacional do café brasileiro (ou qual- 40 graus", da poesia selvagem de um "Barraven- estes valores, esta sempre foi s característica
brasileiros" quer coisa assim), e, ao mesmo tempo, a Maria to", da secura estilística reveladora da realidade fundamentai de nossas artes. 0 cinema é flor de
nordestina de um "Vidas Secas", do realismo todas elas. Pra sempre jovens!
épico de um "Deus e o Diabo na terra do Sol",
a mesma originalidade e invenção que se conser- Machado Penumbra
va nas mais recentes realizações, o delírio barro-
co político de um 'Terra em Transe", a visão
estrutural orgânica desencadeada por um "A P.S. eu gostaria mesmo era de entender de cine-
Falecida", fome febre amor e loucura num "Fo- ma e de fazer filmes como o Francois Truffaut.
me de Amor", o amor antropofágico de um
"Macunaima", a justeza histórico-racional de
um "Os Herdeiros", ou um "Bandido da Luz
Vermelha" que determinou um novo marco di-
visor na história de nosso cinema introduzindo
o "elemento americano em nossa cultura cine-
matográfica, realismo suburbano, crítica con-
tundente ao culturalismo francês" no dizer do
colega Jorge Mautner. Tudo isso e ainda não
falamos das realizações recentíssimas; o lirismo :KOí
trágico urbano sofisticado de um "Matou a fa-
mília e foi ao cinema", a retomada de fios dei-
xados por Terra em Transe num "Copacabana G)
Desvairada" ou mais ainda num "Sem essa ara-
nha", o filme visto e feito como linguagem es-
trutura pela primeira vez bem sucedido num "A
OC-JC^vW lAv WOA
família do Barulho", o culto do cinema. Mais
ou menos paralelamente a esta novíssima fase,
assistimos também ao brotas do grande cinema Machado Penumbra: pseudônimo de Oswald de
industrial , os filmes de época;. "Capitú", "Pin- Andrade.
dorama" ou a sátira moderna e inteligente de Prefácio de João Miramar. Oswald esculhamba
um "Capitão Bandeira contra o Colírio M. Bra- com Oswald. Machado Penumbra de novo se
sil". manifesta, coma atualidade de 22.
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