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2 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972 Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 23.

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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 3.

embonecar esta República têmpora. Brasil amado não porque seja minha
A gente inda não sabia se governar... pátria.
Pátria é acaso de migrações e do
Noite pesada de cheiros e calores Progredimos um tiquinho pão-nossé onde Deus der...
amontoados... Que o progresso também é uma
Foi o sol que por todo o sítio imenso fatalidade... Brasil que eu amo porque é o ritmo do
do Brasil Será o que o Nosso Senhor quiser\... meu braço aventuroso,
Andou marcando de moreno os Estou com desejos de desastres... Ojgosto dos meus descansos,
brasileiros. Com desejos do Amazonas e dos ventos O balanço das minhas cantigas amores
Estou pensando nos tempos de antes de muriçocas e danças.
eu nascer... Se encostando na canjirana dos batentes.
Tenho desejos de violas e solidões sem Brasil eu sou porque é a minha
A noite era pra descansar. As sentidos... expressão muito engraçada,
gargalhadas brancas dos mulatos... Tenho desejos de gemer e de morrer... Porque é o meu sentimento pachorrento,
Silêncio! O imperador medita os seus Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro,
versinhos. Brasil... de comer e de dormir.
Os Caramurus conspiram à sombra das Mastigado na gostosura quente do
mangueiras ovais. amendoim...
Falado numa língua curumim
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padres De palavras incertas num remeleixo VERBO 16, superastro nacional
irmanava os homens de meu país... melado melancólico... baiano, brasileiro, universal.
Duma feita os canhamboras perceberam Saem lentas frescas trituradas pelos Hoje o poeta come amendoim,
que não tinham mais escravos, meus dentes bons... o Verbo come com coentro,
Por causa disso muita virgem-do-rosário Molham meus beiços que dão beijos feijoada, cultura, tempero, e glória.
se perdeu... alastrados Com Mário de Andrade, Soninhae A/vinho
E depois remurmuram sem malícia as numa cena de "AMOR E VIDA",
Porém o desastre verdadeiro foi rezas bem nascidas... (atentem para os olhos).

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4 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
morro e os que ficam bicando. O samba
muda como muda a vida, o problema é
que para o sambista de morro os elemen-
tos novos não acrescentam nada, só tiram
dele.
— Quando fiz "Foi um rio que passou em
minha vida", eu me senti como enterran-
do a Portela. A grande inovação era que,
numa época em que se faziam sambas cur-
tos, a letra era enorme e a música tinha
mil variações. E o pessoal dançou. É que
o samba é pura energia, é um ritmo vivo e
que evolui, por isso atende ao pessoal.
— 0 que faz com que as coisas mudem é
um problema de consciência de vida e
morte, o sangue funcionando e o toque
que dá pra cada um, que nunca é o mes-
mo. A música nasce, evolui, faz-se tudo,
esgotam-se as possibilidades de forma,
morre na opinião de uns e daqui a pouco
nasce de novo. Eu não estou nem um pin-
go preocupado com esse problema. Eu
faço, é tudo.
— Nas escolas de samba as pessoas tratam
o violão como viola, daí ser muito
comum c- apelido de "viola". Um exem-
plo disso é Chico Viola. Foi Sérgio Cabral
e Zé Keti que me puseram o apelido de
Paulinho da Viola.
— O choro me marcou profundamente.
Meu pai era um chorão e não admitia que
lá em casa entrasse música estrangeira. Ós
discos do Elvis Presley somente a pouco
Pegamos Paulinho e fomos até o Mer- tempo eu tomei conhecimento.
cado Modelo. Lá, enquanto eles al- — Eu gosto muito de Moreira da Silva, é
moçavam, o repórter de um desses um marginal que não tá aí. Ouço muito

PAULINHO DA VIOLA diários cochichava umas perguntas com


muito cuidado pra gente não ouvir. Che-
garam depois Paulinho do Camafeu, Cho-
todos os seus discos. Eu adorava Miguel
Gustavo que compunha pra o Moreira, ele
morreu recentemente.
colate e um pivete.- Queriam saber uma — Eu tou ligado em outras coisas, e não
porção de coisas e Da Viola respondia sei falar de Antônio Carlos & Jocáfi. Não
com calma. A gente com fome, mas sa- sei dizer apenas gosto ou não gosto, isto

COMA cando tudo.


Falou do susto que levou quando Viní-
cius, Toquinho e o Trio Mocotó entraram
sempre implica em outras coisas.
— Conheci Edu Lobo a pouco tempo,
acho seu disco, gravado nos Estados Uni-
de surpresa no palco durante a estréia do dos, muito bom. Não foi editado no
seu show. Nego falava como um corno, Brasil.
Falavam de problemas de TV, da entrevis- — A gente tenta analisar o comportamen-
ta do Sérgio Bitencu com os verbóis e vi- to de nossa geração, mas não existem me-

BOCA CHEIA DE DENDÊ raram o papo para os puxa-saco da mes-


ma. Paulinho costurava "isto é televisão
marron"
didas pra interpretá-lo.
— 0 que eu gosto mesmo é de ler, ouvir
muito som, futebol (Vasco da Gama)
— Existem duas classes de sambista, os de minha mulher e minhas filhas.
— Algumas pessoas guardam da gente uma
imagem que não corresponde a verdade,
ou melhor aos nossos anseios de trabalho.
Exigem compromissos e um comporta-
mento de acordo com aquela imagem fi-
xada e quando isso não acontece dizem
que não somos autênticos e alguns até nos
taxam de pretenciosos, exigem explica-
ções e nós, imprensados, sem outra alter-
nativa, somos obrigados a dá-las. Mas eu
só posso explicar num samba curto.
— Num samba curto (Paulinho da Viola)
Meu samba andou parado
até você aparecer
mudando tudo
lançando por terra o escudo
do meu coração em repouso
ontem numa rocha fria
hoje assim exposto
deixando entrar sem medo a vida
aquilo que eu não via
só agora eu reparei
que não vi seu rosto
e que você partiu
sem deixar seu nome
só me resta seguir
rumo ao futuro
certo de meu coração
mais puro
quem quiser que pense um pouco
eu não posso explicar meus encontros
ninguém pode explicar a vida
num samba curto.
Marco Antônio e José Cerqueira

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Fevereiro 1972 - Número 16 - VERBO -

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6 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

B GVME TAVARES
APRESENTA
A Bahia não tem mistério, é ciara. Não
tem nada de incrível, tudo é possível. As
pessoas aqui andam normais para as coi-
sas dadas. A hora do povo do porto e o
da calçada é o mesmo relógio de São Pe-
dro. Mozart Santos, repórter que tem o
coração despedaçado e o mar que passa
na frente da praça Castro Alves é o mes-
mo movimento. Ver essa intensa simpli-
cidade é se encantar. As conversas sobre
negro baiano são babacas, como as sobre
comida e arquitetura. Se renascer uma
mangueira em toda igreja de São Francis-
co não aconteceria nada, a Bahia passa
tudo. Se virar uma praia como foi no
começo, nada, passa disso. Mas, crianças,
juntas essas coisas fazem o enorme espe-
táculo. Fazem esse bolo enfeitado, con-
tudo não vivem só. Uma porção de coisas
inúteis, fúteis, é uma flor. Você agüenta
ver? Eu no meio do movimento digo
que ver a Bahia sem mistério é ver encan-
tada. No meio de coisas sozinhas que se
dançam e você sabendo, tá sabendo, é
fruta-flor-cor. Noutros dias a Bahia. Ago-
ra quero apresentar W. C. Fields?
EU NÃO DISSE QUE A CARNE ESTA
DURA.
EU DISSE QUE O CAVALO QUE FICA
NA PORTA SUMIU.

W. C. FIELDS

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Fevereiro.de 1972 - Número 16 - VERBO - 7.

MAIS UM CARNAVAL
Cor e som — a cor do som. Alegria,
alegoria. Uma alegoria tropical,
onde não há pensamento. Mas
configurações. As palavras são substituí-
das pela configuração alegórica. Podería-
mos falar metáfora. Mas carnaval tam-
bém é anti-metáfora, na sua mostra clara
e direta do sonho dionisíaco.
Você prefere admitir que o carnaval é
uma grande metáfora do futuro? Acho
que não, vejamos: a fantasia carnavalesca
é a única metáfora que não disfarça. No do a você mesmo e aos outros, é assim. mim. Toda a sujeira que houver, estará dos Navegantes, lemanjá. As vidas: "na-
carnaval insinua-se a nova moral (insi- E você que persiste na pergunta meta- na minha mente. Tudo é belo e natural, vegar é preciso".
nua-se? — não, exibe-se na sua plenitu- física: o que é existir? Um mestre Zen mas se a mente está envenenada, cheira a
de). A alegria e o teatralismo de pessoas lhe daria uma" bofetada no rosto, ou um deformação e pecado. Grupos alegres de crianças correndo
que se amam, que estão na rua brincando beijo. Ou seja: o que deve ser visto é o abraçadas, invadem uma barraca no cen-
Se alguém curte a de Satã, não há de tro da cidade, navegando "mares de lou-
e beijando. Cordões coloridos, confetes, fato direto, sem deformações. No carna- ser nada. (Lembranças das transas alegres
serpentinas, ausência de tudo que possa val ninguém curte racionalmente. Existir cura". Baianos & argonautas. A barca
de Deus e Mefistófeles, no Fausto, de sempre está presente nas alegorias carna-
ser falso. Explosão da naturalidade. E as é pular carnaval. Onde as pessoas são na- Goethe). Não ponho a mão no fogo, nem
pessoas se entregando umas às outras. turais e simples. Onde nada é pensado, valescas. Lembrando fenícios e vikings,
penso no assunto. Mas Abraxas é uma entre coqueiros e os três tempos da Ba-
Em nossos dias, notamos facilmente a mas feito. Basta abrir os braços, e cantar.
discussão séria, embora eu acredite des- hia: sol, azul e alegria.
profunda esquizofrenia, causada pela
necessária e inviável. Podem argumentar
bi-partição do ente humano. As pessoas A transcendência está nas pequenas
que o carnaval é o congraçamento. Deus A Bahia é a barca da transa. La Barca,
podem ser amáveis, não tolerarem certos coisas que a gente faz, e em que o ego
e o Diabo na terra do sol e da cerveja, a de Caetano Veloso e Moacyr Albuquer-
absurdos, mas só dentro da sua casa. não influi. O carnaval nos faz readquirir
celebração da realidade de Abraxas. Não que. Como são as espeçonaves da ficção
Quando é posto um paletó, um papel a individualidade perdida na engrenagem
vou dizer nada. Quando as coisas estão científica. Curtidores do Cosmo, no ba-
passa a ser cumprido. Da porta da repar- do mundo moderno. Mas esta individua-
tição pra dentro, o homem passa a ser perto, junto, a gente não pensa nelas. lanço da barca. Navegadores do espaço.
lidade vem noutro sentido — para-além
Olha. A barca pinta e borda, sempre curtindo,
uma outra coisa, que não ele mesmo. O do ego. sem nunca chegar. A alegoria, também
paletó e a gravata formam uma fantasia
Pulando de um galho a outro, mas anti-metáfora, do Carnaval baiano: a bar-
intolerante. Ela não mostra a graça, as Agora, somos todos iguais. Mas cada
sem sair da árvore: pouca gente, hoje, du- ca da transa.
linhas do corpo. Na feitura dessa fantasia um na sua. Cada um com seu brilho, sua
não entra a criatividade individual. E en- vida da existência de civilizações superio-
intuição, sua criatividade. Se você acha O sensual, o pagão, o sagrado. Na
tão o homem não aparece com seu bri- res e antigas — Lemüria, Atlântida, cultu-
que elas não valem nada, errou de cor. Bahia, todo o profano é sagrado. Fatura
lho, sua individualidade. Somos todos ras pré-colombianas, que falam de seres
Elas valem pelo simples fato de serem e sai. O mar dessa multidão. O futuro é â
iguais, mas da maneira mais idiota. que aportaram na Terra, vindos da estre-
suas, e você saber amá-las por isto. Não barca da transa. Na barca estão a rainha,
E no carnaval? Todos os sonhos bri- la branca, Vênus. Há esta presença do
pense no Bem, nem no Mal. Faça o que a menina gostosa, o bobo da corte, o
lhantes da louca tropicália. A fantasia é remoto, longes-perto vestígios, no carna-
gosta, curta a sua barra. É o que está novo orador de esta prazeirosa província.
escolhida com a função de mostrar a sen- val. Ao lado disto, o retrato cantado e
certo.
sualidade do corpo, realçar as suas linhas. dançado de novo homem. Confortável,
A atmosfera mágica da Bahia. Carna-
Forte dose criativa, que parte do fundo amante e curtidor. Laços de Bahia e
Afinal, não há paganismo na festa do val não é, estritamente, explosão do id. É
do ser. Participação do inconsciente no Atlântida.
bezerro de ouro. Deus é ouro. Mas o pa- um vislumbre louco do inconsciente, que
plano surreal e fantástico. Aqui, anun- libera o ego. Por isto, falei em fazer o
ciam-se os saques da nova consciência — po é outro: ouro, sim, mas não no seu O desprezo pela cultura, característi-
caráter competitivo, disciplinado, materi- eterno carnaval. É um caminho para o
ali the people living for today. O Aqui-e- co da nova consciência, encontra, no car-
alista. Ouro - festa, luz. As pedras pre- ser. Carnaval é intuição profética, e dedi-
-Agora metafísico. naval, a sua glorificação. Pinta a reação a
ciosas de todos os paraísos, e o poder cação apostólica. O salto no escuro, e a
máquina: o desbunde, a aventura, o sen-
Uma realidade ainda de três dias. Cur- arrebatador delas. Quando agente ama o sala iluminada. Os viajantes do espaço sa-
sualismo, a loucura, a magia. O pessoal
ouro, porque ama a natureza, porque o bem.
tida. Lembro-me de quando estudava curte em cima da tecnologia. Como o ar-
geografia, nos tempos do primária e gina- ouro é belo e brilhante, está afastada a tista pop, ao escolher, entre produtos da Diana, minha deusa, não se desespere.
sial. A professora repetia sempre — O essência "paga". Carnaval é ouro, mulata "era industrial", o que vai utilizar numa
é ouro, jóia. Venha pra Bahia, no carnaval. Aqui,
Brasil é o país do futuro. Muito certo. dimensão crítica. Cotidiano, bem pop, o Adonis topa qualquer transa, ao som da
Não duvidem, crianças. carnaval é um sarro. Eros brilhando so- orquestra dionisíaca. O trio elétrico é
Ecos do teatro grego — os deuses bre Tânatos. uma barca iluminada. A barca da transa,
Estas e outras revelações do carnaval. também têm seu dia de amor. Carnaval é navegando "no mar dessa multidão".
Ele assume heranças da idade média, alegria, amor. O povo alegre é profano? Roupas divinas, rainhas, mestres, fra-
num projeto de futuro. Alegórico, estra- Deus pode ser tudo, um estado mental. ses, a mostra do Nada. A destruição da Bahia politeista e pansexual. Estrelas
nho bestiário em que os signos devem ser Tristeza, luto e puritanismo são portas lógica e do utilitarismo competitivo. O de papel, o sol de Leão — segundo Aloí-
vistos na flor total da sua significação, e abertas pro baixo astral. lixo recriado, e amostras da cultura&civi- sio, um amigo meu e do Cerqueira — so-
não analisados dentro dos esquemas dis- lização penduradas no pescoço. Desfile bre o andrógino. Mick Jagger podia sair
secantes do rigor. Não se pode sacar o Os imbecis do rigor e do puritanismo das deusas da poesia concreta e do bar- de virgem ou ninfomaníaca. O carnaval
delírio dionisíaco, a partir de um ponto estabeleceram as regras do jogo. Mas fa- roco. Toques de humor metafísico. As baiano, um lugar pra Alice Cooper rebo-
de vista apolíneo. O carnaval também é a lam da boca pra fora. Ou, quando muito, mortalhas e carrascos rebolam alegre- lar adoidado, e gritar o que bem enten-
falência dos socráticos. Mas os motos, se esqueceram-se que seus mandamentos mente. desse.
quiserem, podem brincar. A gente em- são lógicos, humanos e limitados. Huma- A discurseira baiana abandona o so-
presta o pano pra uma roupa legal. no, no caso, implica no oposto. A lógica crático, é sagrada e profana. O reino de O fantástico, o surreal, o concreto, a
é consciente e, em cima, unilateral — ela Dionisius. pintura louca de Bosch e Bruegel, a ma-
Um novo Eros está sendo curtido. Na exclui e afirma, o que lhe impede uma gia, a Noite de Valpurga, das lendas ale-
gana, na lama e na cama. Eu podia falar compreensão-vislumbre da afirmação Há muito tempo atrás, Bahia de ou- mãs, as feiticeiras deMacbeth. Perfeito.
de Marcuse, mas ele ficou no meio do transcendental. É o que ensina o budis- trora, as barcas pintaram, indo para a se- Tudo livre e brilhante, nas ruas da Bahia.
caminho. O novo saque de Eros não exi- mo Zen. gunda-feira do Bonfim, em meio a lun-
ge apenas, dentro da linguagem marcu- dus e quadras satíricas, ou pana Santo O carnaval é a flor do espírito baiano.
siana, a abolição da mais-repressão. t= a Não há pecado. Corpo, sexo, beleza Amaro da Purificação. Surgia a barca da Cultivamos. Humor metafísico, transe
própria cultura que está checada. E não — isto é Deus. A sujeira só pinta, quan- transa, espalhando alegria, entre danças dionisíaco politeista e pansexual. Nin-
adianta chorar. O futuro-agora pinta no do há repressão. Quando as pessoas enca- indígenas, redesmembrações, e fortes guém pensa, faz.
carnaval. Você que está esperando, parta ram o acontecimento repressivamente. vestígios africanos. A barca da transa é a
pra outra. Faça o eterno carnaval. Aman- Ou seja: a barra é limpa, só depende de alma do povo baiano. As festas. Senhor Antônio Risério Filho.

SOLTEM O VERBO
Para ler antes, durante e depois do carnaval

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8 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

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Subindo a ladeira que nossas tias que nos


do Passo, numa acompanhavam queri-
casa das últimas, am o destaque para o
mora o homem que seu sobrinho e a gente
puxa o cordão dos ino- ali, perdido na bura-
centes em Progresso. queira (nunca tinha re-
Puxa o cordão no mo- parado como as ruas
do de dizer, porque ele de Salvador eram tão
puxa, estica e dá o nó, esburacadas) pra lá e
ele próprio se chamou pra cá, sem sacar direi-
de homem-forte do clube. De 1900 agora só não está sem sede porque desenha os croquis dos carros, ele tinho aquela delas, podes crer ami-
data este e o primeiro desfile com Tio Isidro alojou o clube em sua ca- me mostrando os desse ano, alegre zade, aquele incentivo. E lá se vão
carros -(desses que apesar de alegóri- sa. Não fora isso, a sede seria na de orgulhoso, me explicando. Aqui quinze anos de tempo. Mas era isso
cos, são caminhões na verdade, as rua, mas a rua é a grande sede, a fica a moçada sentada, é o acampa- a primavera. Do Campo Grande até
alegorias são as fantasias que se ima- mais autêntica, real, verdadeira. mento cigano, a rainha menina, um a Sé. Tem muita gente pedindo a
ginou para ilustrar o carnaval na rua Problemas de tutu, de ajuda, de ter- tripé, uma fogueira. Ele desenha os ele que reviva o desfile dessa festa
com temas de histórias infantis, reno, casa, lugar. O clube está para- detalhes, de vários ângulos, de cane- que se gosta muito de desfile e ele
contos de fadas e épocas de grande do completamente, mas não tão ta azul. O outro é o Ultimo Baluar- também gosta. De levar a distração
fausto e luxo). E como é que surgiu completamente porque o Inocentes te, aqui são as torres do castelo. Um à criança, de criança.
este cqrioso nome para um clube de conserva o seu barato de todo ano homem cuidadoso de detalhes. Por
carnaval? Ora, se foi pensando pen- sair com dois carros alegós, e todo exemplo, todo ano ele arma presé- Como bem se vê pela própria casa
sando. Lá pelo carnaval dos carna- mundo sabe e já espera na avenida a pios e já ganhou prêmios quando em que vive a morar. Numa ladeira
vais de transição do século, justa- hora que eles passem, que todo botava água correndo, luz piscando. da Bahia, de fachada rente na calça-
mente num sábado de início da mo- mundo quer ver. Nesses setenta e Ele me levou pra ver o Bronze da da, com sala de frente ligada a sala
mesca folia, numa pastelaria de dois anos em alguns não houve car- Vitória, pelo desfile de Ali-Babá em do fundo por corredor com portas
nome Fim de Século, na esquina da ros, em outros não houve concor- 1950, e quando abriu a porta da sa-
rua da Misericórdia com a Ladeira rentes e isso é coisa dos anos mais la, foi aquele choque com o depa- dando prós quartos. E a sala ampla
da Praça, na Praça Municipal, esta- próximos passados porque o Cruz rar-se com toda uma parede tomada dos fundos que é a sala de se fazer
vam em torno de cerveja, a conver- Vermelha e o Fantoches da Euterpe com uma tremenda armação de ca- refeições e que na direção do corre-
sar, o pai do Tio Isidro e outros, já não desfilam mais. No páreo, so- sinhas, bonequinhos, bibelôs e loici- dor se vai dar na cozinha e no ba-
todos eles a querer descobrir um zinho, o Inocentes. A Associação nhas e trequinhos e quejandos, um nheiro e que é uma saia muito ven-
nome legal para o clube que esta- Baiana dos Cronistas Carnavalescos mundo de baréis — Tio Isidro acen- tilada porque não tem construção
vam fundando. Como é como não convidou pediu quis que a Rainha de a luz — e luzezinhas e corzinhas.
é? E aí passam por ali, a brincar do Carnaval Baiano saísse desfilan- Outra curtição que ele adora e uma por trás e dá pra paisagem de telha-
tocando latas, três meninos. E o ve- do pela cidade no carro. Tio Isidro coisa que lançou no Brasil foi o des- dos. E nas paredes da casa, enfeites
lho Isidro (o pai do tio) despertou, me contou que isso é furo. Tá fura- file infantil saudando a primavera. e estatuinhas, e vasos e móveis de
taí, os inocentes em andança folia do. Claro gente, a rainha do Carna- Há cinco anos que não tem, mas es- jacarandá, a austeridade infantil, a
progresso, pum ba ta ta ra ta ta, val com o estandarte dos Inocentes, se ano volta a ter. Eu mesmo já saí sisudez da brincadeira, como se o
INOCENTES EM PROGRESSO. E coisa mais representativa, meta-car- de marinheiro, todo de branco, com carnaval fosse uma festa da prima-
daí teve existência e teve várias resi- navalesca, trans-momesca, mais que bonezinho e tudo num desfile desses vera.
dências, sedes. Teve sede no bairro essa, não tem, não tem, não pode e lembro que eu e outro garoto tro-
da Saúde, teve sede no Barbalho e ter. Tio Isidro é quem bola, cria, e cávamos de lugar a toda hora, por- Armindo Jorge Biõo

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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 9.
Em 1950 foi de arrancar rabo
— e assim falou Isidro —
eles se bateram
o tema foi Ali Babá e
os Quarenta Ladrões
e eram quarenta cavalos
e muita gente
e todos iluminados
com luzes na cabeça
eram pilhas elétricas
com fios descendo por dentro
por baixo da roupa
e isso tinha na cabeça
dos cavalos e das pessoas
e na rua foi aquela sensação
e alegria foi assim
que Tio Isidro contou
alegre e recordante
relembrando o desfile
que lhe deu a vitória
entre os clubes do desfile
de dos carros alegorias
festas folias glórias
pelo clube campeão
Inocentes em Progresso
o clube de Tio Isidro
e sua vida e alegria
e contando esse fato
e falando do clube:

EU AINDA SOU A CHAMA'

ondinfio
T.namsbundét
Vem
meu grande amor
Para
os braços meus
Eu não sei
viver
Sem os carinhos
teus (bis)
breque,
vem meu amor
Qil/CoB
Eu fiz esta ^Capinam
linda canção
Para você
' Macoie
se lembrar de mim
Ouça
com muita atenção
\W
A melodia
é assim
Laia,
laia, lá
lalalaiá,
laia, lá.
fria, lá í
(bis) f^ LQUCUPA:
Composição ^taoncad, com (/oocUrol)
de Zé Pretinho u/ni oaofo duplo
da Bahia
e Osvaldo G-iíberfoG-j —4
Nunes

Gravação àmi?0y'
CBS. f>or 2. ÇruA&irO$\\,
G-iL CF*NTs\: EXPRESSO 2Z22/%£%£1IOA,0£ % Vi
VEM oepoiè/o sòflMp; ACA-
BOU/ORIENTE '!'
V l

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10 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
A quem devo ao demo dar. Não tem mais do que meter-se Vendo-se já mascavado,
A Magano, e campará. Arrime-se a um bom Solar.
Quero agora que me devas
Dar-te a Deus, como quem cai; Seja ladrão descoberto, Por fiar em ser Fidalgo
©iE3l(g®íãa® Sendo que estás caída,
Que nem Deus te quererá.
É qual Água Imperial, Que com tanto se achará:
Tenha na unha o rapante, Se tiver Mulher bonita
E na vista o perspicaz. Gabe-a por onde se achar:
WÍÈ Adeus, povo da Bahia;
Digo canalha infernal: Compre a uns, e a outros venda; De virtuosa Ta/vez,
E não falo na Nobreza, Que eu lhe seguro o medrar: E de entendida outro tal:
Fábula em que se não dá: Seja velhaco notório, Introduza-se no burlesco
E tramoeiro fatal. Nas casas onde jantar:
Despede-se o autor da Cidade da
Bahia, na ocasião em que ia degre- Porque o Nbbre, enfim, é nobre Compre tudo, e pague nada: Que há Donzela de belisco,
dado para Angola de Potência, pelo Quem honra tem, honra dá Deva aqui, deva acolá: Que aos punhões se gastará.
Governador D. João de Alencastre. P/çaros dão picardias; A vergonha, e o pejo perca; E faça-lhe um galanteio
E ainda lhe fica que dar. E se casar, case mal. E um frete, que é o principal
Adeus praia, adeus cidade:
Agora me deveras, E tu, Cidade? és tão vil, Com Branca não, porque é pobre: Arrime-se a um Poderoso,
Velháca, o eu dar a Deus Que o que em té quiser campar, Trate de se mascavar: Que lhe alimente o Gargaz;
Que há pregadores na Terra,
Tão duros como no Mar.

A estes faça mesuras,


A título de agradar;
E conserve o afetuoso.
Confessando o desigual.

Intitule a Fidalguia;
Que eu creio que lhe crera,
Por que fique ela por ela
Quando lhe ouvir outro tal.

Vá visitar Amigos
No engenho de cada qual;
E comendo-os por um pé,
Nunca tire o pé de lá.

Que os brasileiros são bestas;


E estão sempre a trabalhar
Toda vida, por manter
Maganos de Portugal.

Como se vir homem rico,


Tenha cuidado em guardar;
Que aqui honram os Mo finos,
E mofam os liberais

No Brasil, a Fidalguia
No bom sangue nunca está;
Nem no bom procedimento:
Pois logo em que pode estar?

Consiste em muito dinheiro,


E consiste em o guardar:
Cada um guarde bem,
Para ter que gastar mal.

Consiste em dá-lo a Maganos,


Que o saibam lisonjear.
Dizendo que é Descendente
Da Casa de Vila Real.

Se guardar o seu dinheiro,


Onde quiser casará;
Que os Sogros não querem homens;
Querem caixas de guardar.

Não como o Genro, nem vista.


Será Genro Universal:
Todos o querem por Genro;
Genro de todos será.

Oh\ Veja eu assolada


Cidade tão suja e má.
Avessa de todo o Mundo;
Só direita em se entortar.

Terra que não se parece,


Neste Mapa universal,
Com outra: ou que são ruins todas.
Ou somente ela que é má.

®®(g& ®® 3Mi?ÍEím®
:^í '!: poeta baiano do século XVII

"
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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 11.

a r i st i d e sa I ve s e luciomendes
Ficha Técnica

LUCIANO DINIZ, CARLOS RIBAS, DANIELE, MARQUINHO,


ARESTIDES FILHO, LÚCIO MENDES, DIÓGENES REBOUÇAS,
JESUS VIVAS e ELIZINHO.
um palhaço
o perna de pau
a lucidez é a minha única esperança qual é a sua eu não tenho
esperança nenhuma eu não acredito eu creio e rezo para que as
ELIUCIDEZ
PRODUÇÃO - LÚCIA DlSANTIS co-produz coisas não faltem com certeza e absoluta dúvida de que a única coisa
que pode acontecer é o imprevisível e o inevitável e o cotidiano
DIREÇÃO - ATHENODORO RIBEIRO estravagância é respirar o que eu não gosto é da falta de colorido que
as pessoas que ficam em casa custumam desbotar nas suas caras e
TEXTO - EDGAR ALLAN POE adaptação de Ribas. coitadinhas não conseguem colocar uma coroa na cabeça porque não
têm pescoço,
APRESENTAÇÃO - TEATRO CASTRO ALVES, dias 10/11/12 de o perna de pau?
MARÇO. o palhaço

21 horas. Atenodoro Athenodoro Antenas Atenas Atila Ataca outra vez


África

Eladormenas calçadas ela dorme nas calçadas ela dorme nas calçadas
treiler Ela não dorme ela está com o sono ela continua com o sono trucida-
do ela se aplica prá dormir e é deitada aplicada na calçada que ela
não passa de uma
um POE na sua cabeça
11 homens e nenhum destino
SUPERISTÉRICA
transei iucidez
Fazer teatro é o FIM
um espetáculo sem espírito de espetáculo que não é show de assom-
bração é exposição

lucianodiniz a I u c i a n ad o d ea n i z -j

éle ú cidez
lucidez ácida

um louco não é necessariamente um maluco


não é não é não é não é não é não é não é não é não é não é não é
éééééééééééééééééééééééééééééééééééééééé
teatro é o não é piada de salão

carlosribas

éle ú cidez
o poeço o poço de poe e edgar allan bates na porta do teatraça
castro casto alves em março

dió' genes é o teu sobrenome diógenes rebouças


e
da n ie I e irmão irmãg r i mmmmmmmmmmmmmmmmmrnrn

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm arquinhos

roupas de nú confecções
ah ter que dizer tudo de novo ah
lúcia dos santos coproduz em popscolor

e I s i n h o elistréia eleéstar eleestá eleé ú cidez

monálogo — cadê a minha fantasia de índio ou de cabocla que eu


de — vou interpretar para vocês um desconcerto para san-
i e s u s — fona chamado ventos de arembepe

d i á I p g_o— reducto ad absurdum! ad absurdum? ad reducto!


de — pior do que uma gata é outra bicha num teto de zinco
quente

ATA ^^^^^

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20 21 22 23 24 25 26 27 2í
12 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.
Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 13.

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mw* m
.*/•«;!
kv*v.'-*Y'-> em cima da minha mala
«S me excita, uma ' hora
na cama. A porta entre- destas eu pego a minha
A porta entreabriu-se abriu-se novamente e eu pistola e lhe dou um ti-
de repente e um revol- pude ver a réstia de luz ro na cuca. Você só fala
K ■>3 ver disparou contra a do quarto refletindo na sobre coisas do passado
xa minha cabeça e eu en- parede escura. O revól-
r>*1!
e esta falta de perspecti-
trei num túnel tonto de ver era eu mesmo. O ga- va no seu olho mostra
frSV.iffi tanta luz até a morte. tilho meu dedo.
-.^i-»»
RC$
íVJ
que você ainda não sa-
R Depois despertei esta- II cou o filme do qual você
va deitado com.os pés Você me irrita, você ê atriz principal, a star-

?&■••'•

'&?:

let, a praia. ferido e flechado.


&K
}&£*• '
De manhã eu acordo, hora da extrema-unção.
Você só chega atrasa- Na hora que era pra vo-
#«"-'»wÊ2S3
vejo o mar, a tarde, á da no estúdio, na filma-

noite, a cena da man- cê chorar você começou
gem e nunca põe tomate
V./.-V gueira, na beira do mar, a vomitar e o público
no rosto, mas êle sabe não vai entender esta
no meio da tribo, dos jer um bom ator e todo
índios, do peixe na mesa. confusão. Nome do fil-
verão pinta com um sor- me: cortar a cabeça da
#2 O cinema mora ao lado riso moço nas telas e pe-
í-V'3
do sexo de marilym artista.
ga o coração por baixo e
'■•Í-3EÜV"'.-.
monroe, doce coração beija a moça na boca na
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Jorge Salomão - Brasil 72
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10 11 12 13 14 15 16 17 li 19 20 21 22 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56
14 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

no Dicionário Underground. Ele vem de Lon- Athenodoro Ribeiro, Alvinho Guimarães, Anta-
dres, fez os shows com Caetano. Verbo morria zinha, Nego Nisio, quase todo o Verbo foi. Fal-
de saudades de Macaié e Giselda. Como esperava
tou luz, mas Ricardinho Lisboa fez as fotos) Ma-
alegrou-se com a beleza de Macalelda. Macaié,
lento, súbito, músico, lindo. Macaié rodeado pe- caié da praia de Londres dos palcos da rua para o
los entrevistadores (G. Melo, Moleque Pereira, Verbo.

M DE MACALE
MOLEQUE É o que eu queria ser e não sou. leve. Não é isso? É passando. Não
sei, é música.

MISSA Eu não ia à missa há mais de . . . É a santíssima cidade.


quanto tempo? há mais de dez anos.
Ml NI-MISTER IO
No Natal assisti uma. Entrei, fui até o
fim, me comunguei, que coisa boa MICK JAGGER É uma barra pesada, 6 isso, uma barra
que eu senti, rapaz. O ritual é muito muito pesada.
bonito, estranho, há muito tempo eu
não ia.
MICKTAYLOR Boneca maravilhosa, fantástico.

MÚSICA Não se divide. É assim passando, de MAR É tão bonito.

MODERNIDADE O cara que toca rabeca na banda de


pífanos de Bom Jardim. Que barra AS CIGARRAS
pesada, o cidadão representa a mo-
dernidade. Ele gosta de tocar, não sa-
be tocar, mas entrou na banda. Ins-
trumentalmente, musicalmente, é MARIA Ah, bonita, legal, maravilhosa, conti-
muito bom. nuo apaixonado por ela, com calma.
BETHANIA

MEDO Que soltem a bomba atômica. Tenho


Tem tanta mulher de verdade. São um medo retado. Já marquei com al-
MULHER guns amigos, qualquer problema a
tão bonitas. Tem umas que eu nem
conheço mas são maravilhosas, que gente vai ver o maior espetáculo da
são maravilhosas, são. terra, que é a aurora boreal, no polo
sul. Quando pintar sujeira a gente vai.
Há os que gostam. Eu não gosto. Te-
nho medo.
MOVIMENTO POP Foi bom.

MOVIMENTO Não sou eu quem vai ficar esperando. MANDINGA Já quebrei sete espelhos. Sete vezes
Nãocurto sete, quarenta e nove anos de azar.
DOS BARCOS -
ha, ha, ha!

MARAVILHA Maravilha é a capa do O Cruzeiro de


Carnaval. Já viu? Uma bandeira ma- MACUMBA Por incrível que pareça, rapaz, ma-
ravilhosa. Fantasias premiadas, pedra- cumba eu curto de forma diferente,
rias, uma loucura o que essas pessoas eu curto. Queria curtir de verdade,
curtem no carnaval. Os nomes das mas não tanto assim inda não. Fui
fantasias, umas bandeiras. criado naquele negócio de católico fe-
chadão, terrível. Vou curtir, quero sa-
MALDAD E Essa caretice em cima da gente. ber o lado importante. ^ I

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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 15.
MQRTE É a rainha que reina sozinha, não é marchinha, que caetano também can-
não? ta no seu show. Entrevistadores mara-
vilhosos.
MILESDAVIS Ah o Miles tem um sopro no jazz, af
pegou o que tinha que ser aproveita-
do no pop e mandou ficha. Foi isso,
tinha que ser aproveitado mesmo. Os MCARTNEY Ah, não sei. Sabe que eu nunca mais
três discos novos são assim. O JJ ouvi. Aliás, ouvi. A última coisa foi
Johnson é onde ele está mais claro. "the long and winding road". Eu pos-
so não gostar, mentira, ele fez muita
coisa boa, depois passa a ser uma pes-
MALUQUICE É o que Giselda vive dizendo que eu
soa esquisita. John Lennon briga com
faço e eu vivo dizendo que ela é que
faz é o que a gal diz que eu faço e eu ele de carta aberta no Melody Maker,
na Inglaterra. Pede pra ser chamado
digo que ela é quem faz. É o que o gil
diz que eu faço e eu digo que eu faço de John Yoko Ono Lennon, que não
e eu digo que ele é quem faz. E assim o chateiem mais com o tal do dinhei-
sucessivamente, sucessivamente. ro da apple, que ele não quer saber de
nada disso. E xinga e tudo. E o paul
responde que bebe chorão é a mãe,
que o john é isso e aquilo.
MARILYN Saiu uma foto dela no Verbo? não,
foi na intervalo, com Chico Xavier
MONROE (gargalhada geral) Coitadinha. O que MORADA Eu não tenho onde morar, é mes-
é que eu vou dizer dela. E Ia tá lá, tão mo, agora eu já não tenho.
direita, fez tudo que devia.

MÁGICA João Gilberto. Muito estranho, rapaz,


MARTA ROXA Não conheço, (as pessoas descrevem, mas o que dizer, é mágico.
contam casos) Deve ser linda.

MORRISON.JIM Não ouvi. Ouço pouquíssima coisa de

I MORAIS
E GALVÀO
Maravilhosos. Morais está cantando
tão bem, músicas tão bonitas (come-
ça a tocar "preta pretinha" música
dos novos baianos para carnaval, uma
pop, assim de ouvir mesmo. Que coi-
sa estranha, the doors. Eu ouço o
cream, jimi hendrix, beatles, o resto
era jazz, coltrane e rolling stones.de-

pois. Nunca ouvia. Quer dizer, ouvia, lux. Uma vedete fantástica, coristete.
mas não ouvia, ouvia.
MARIA FELIX Sonho total, incrível, maravilhosa. Eu
MA VIE Vai indo, indo, indo, indo, indo. via na tv de repente, em cor. Eu não
queria sair dali. É tão bonita a tv co-
MACROBIÓTICA Sou contra. A não ser que adaptem a lorida o pessoal me arrastando para o
macrobiótica a esse país. Alguma coi- aeroporto pegar o avião. Tão bonita.
sa que continue provocando a longa Fiquei apaixonado por ela.
vida. Porque vê o chinês, carrega sé-
culos, tradição, cultura, comendo ar-
roz. Aí tem que arrumar um jeitinho MOISÉS Passe pra outra.
aqui. Talvez surja uma coisa com ou-
Eu tenno
tro nome, inclusive, no mercado. MÃE duas igual a complexo de
édipo duplo. Meu problema é mais
grave, tem alguma gravidade.
MICRO A moda como é, legal, sobe e desce.
Vive subindo e descendo.
MARIA CALLAS Grande cantante, ex-onassis, apaixo-
MITO O Minotauro. Só. E alguns outros. nada por um tutuzinho.

MACALÉ. Esse
- ■ ■ é forte
- Ê" bacana.
MÍNIMO As pessoas viverem.

MÁXIMO As pessoas viverem, claro. MANIA Fuma'' e gravar tudo, tudo, mas tudo
mesmo.
MARILIA PÊRA Não sei, eu li. Ela é legal, né. Está
fazendo Carmem Miranda lá no Rio. MARGINAL É o que está a margem. A definição
Queria vir. Vi um pedacinho na tv. É não é essa mesma; acho que todos es-
gozado. Deve ser fantástico. tamos à margem.
««■«Ma MARA RUDIA Assistia muito os espetáculos to-ne- MAQUIAVEL Maquiavélico.

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16 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

mentos usados nos dias de Car-


FILHOS DE GANDHI naval são: atabaque, agogô, caxi-
xis, e cabaças. Eles só saem no
Mahtma Gandhi foi um gran- primeiro e no terceiro dia, quan-
de estadista Indiano, que lutava do então se apresentam por qua-
pela paz e amor para o seu povo, se toda a cidade, principalmente
que muito lhe adorava. Ele mor- nos bairros, onde são bem queri-
reu e a sua figura de um bom dos.
homem virou lenda. Como fa-
zem há 22 Carnavais, mais uma "Tudo que nós fazemos, tem
vez vão desfilar para o melhor fundamento", diz Betinho. Para
Carnaval de rua do Brasil, "Os uma pessoa sair com "Os Filhos
Fiihos de Gandhi", grupo Afoxé, de Gandhi" é necessário que te-
de caráter Afro. nha sido apresentado por um só-
Por volta de 1949, um grupo cio, que responderá por ela. Tor-
de baianos, que seguiam ao pé da nando-se associado, nos dias de
letra, a política de Mahtma Gan- desfile, quase sempre é prudente,
dhi, resolveu criar um bloco para ser orientado por Helena, a Mãe
o Carnaval, baseado em sua pes- de Santo do bloco, que dá uns
soa. Seu presidente ' é Alberto "sacudimentos" no sujeito, li-
Anastácio da Cruz, o conhecido vrando-o dos maus espíritos. Um
Betinho. Os "Filhos de Gandhi" banho de Tolha depois, não é
são caracterizados pela sua alego- nada mau, principalmente para
ria e muita curiosidade está de- os que figuram com destaque.
positada no seu batuque de Can-
domblé. As quartas e aos domingos
são os dias preferidos para os
O papo com Betinho foi na
Sutursa. Ele falou que houve ri -.,? ■ "IM~
ensaios, que são realizados na
sede, situada na Avenida Vasco
ocasião em que 700 pessoas des-
da Gama, no Caminho de Den-
filavam nos "Filhos de Gandhi".
tro. Betinho gosta de falar da
"Quantidade não representa qua-
lidade, e fomos botando muita
Tf lEf O CÀRNJkVALESÇa amizade que existe entre os Fi-
lhos de Gandhi daqui, com os do
gente que não prestava prá fo- mos sete". Quem diz isto é Tou- prefere não revelar, ou melhor, Depois acrescentou que lá tem Rio. São ,como irmãos. Quando
ra", disse. Atualmente eles desfi- rinho. Diretor da Sutursa, pre- pedir prá não colocar no jornal. do engraxate ao médico, com os um baixa no "terreiro" do outro
lam com 150 figurantes, que são sente ao local da conversa. Beti- Nos "Filhos de Gandhi" des- mesmos privilégios. é sempre muito bem tratato. Afi-
sempre bem aplaudidos nas ruas, nho voltou a falar. Comentou a filam até estrangeiros. É só que- Apesar de sair com vestimen- nal, todos são "Filhos de Gan-
em dias de Carnaval. Todos dão alegoria ao vivo que será apresen- rer. Mas a sua maior parte é for- tas e manias indianas, os "Filhos dhi", e estão aí, no Carnaval do
passagem para o bloco passar. tada este ano. Vai ter até cabra mada por negros. Betinho expli- de Gandhi" são de característi- Brasil.
'Todo Afoxé é* válido. A viva, desfilando na avenida. Mui- ca porque: "o negro se liga mais cas africanas, destacando-se o ba-
Bahia precisa de Afoxéis. Só te- ta coisa é surpresa, por isso ele ao Candomblé, é este o motivo". tuque do Candomblé. Os instru- Nelson Rocha

Você <s?M,.,
^RESTAURANTE- ~E e*s§
6
CASA NOVA ESPORTE

nem imagina DRINKS A POLO


do que a Sadia R MIGUEL CALMON 3, 1^AND
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aqui dentro.
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(titã de porte, bondade e arte

restaurante),
maria de são pedro
SADIA

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2 3 4 20 21 22 23 24 25 26 27 2í
Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 17.

rasaria©!
Na grande Avenida Sete da Ba- blema resolvido.
hia no coração bem batido no
centro de Salvador, confronte Para sacar melhor, viajar é
em frente in front of de cara sempre quente. E de presente
com cara com o Mosteiro do de férias, Adnniran Andrade
São Bento, é quase já na ladei- Cunha vai ver melhor como é
ra do São Bento: avenida Sete que é que são as transas e as
de Setembro, número 23, se- transas por Portugal, Lisboa,
gundo andar, sala 301. Está lo- Madri, Paris, Roma, Londres.
calizado. O que? Pisque os Sob o patrocínio da TAP, SA-
olhos, olhe o passarinho:ATE- DIA e AIR FRANCE ele vai.
LIÊR FOTO ART/STICO Boa Viagem.
SAO LÁZARO. O melhor da
Bahia de Retratos, fotos, todo Voltou ao seu lugar, a ocupar
tipo tamanho barato que você a cadeira depois de um passeio
este/a procurando no setor. pela feira. E já está no posto
A TELIER FOTO AR TISTICO seu naquele edifício todo ver-
SAO LÁZARO do Valdomiro de de vidro do BANEB, o se-
Pereira Marques, simpatia pró- nhor cara gente Carlos Arthur
xima de familiar da gente que Catucy.
lhe procura lá para realizar o : : ::

trabalho profissional, que é o Serviços gráficos legais de bem


mais quente, que é o mais feitos em conta de bem transa- OS 1.900 AMIGOS DO BARÃO 2.001 Luana, sabe, eu soube, recebeu em Paris usando
quente, que é o mais quente e dos você pode mui bem enco- a mortalha do Barão. Custa cem contos, é ven-
que no lugar central que fica, lá lá lá lá lá lá - bis dida nas principais boutiques da Rua Augusta.
mendar de descansado na Au-
você é sensacional Vivemos financeiramente vendendo as nossas
não lhe é difícil ir ou encon- tográfica de Orlando, na La- lá lá lá lá lá lá - bis mortalhas. Criação André Sá. O bloco só tem 5
trar. E você bote as mãos nas deira do Pax. Pax imprex pi- aninhos mas vem passando, já, de geração a ge-
cadeiras e mexe e remexe que rex. ração.
Danusa Leão Erlon Chaves Denner
eu quero ver você dizer que o
Brigitte Bardot Chacrinha Luana
trabalho que o Valdomiro faz Barzão bar bonzão na Boca do
Rio sem número restaurante 1.900 1.900 1.900 1.900 1.900 1.900 1.900
com sua equipe no ATELIER
quem gosta de samba 1.900 1.900 1.900 1.900 1.900
SÃO LÁZARO não é o mais bem bom de esfuziante, do-
e tremenda animação
quente. mara disse que garante, ela es- Eles não chegam até o palanque. Voltam do
sai no carnaval
teve lá com parentes e curtiu no bloco do barão Guarani. Quem falou foi Ciro Coim. Que disse
Se você em sua casa usa, ou tá de bem lembrar o p/ace local também que a bateria é a do Corpo de Bombei-
situation. E o Barão de Mocofofos sai de jipe ros e o carro alegórico dos Fantoches da Euter-
precisando de basculhantes,
cantando assim: pe. As mulheres não precisam de mortalha. Ain-
portões, portas, qualquer tipo O carnaval na Dique Ho use es- da bem? 0 bloco sai do Campo Grande, ali nas
de trabalho em serralheria bem tá a cem cruzeiros a mesa com imediações da casa do Cardeal. No sábado de
barão é o bloco do amor
trabalhado, bem curtido com direito a garrafa de whisky. Carnaval hasteiam até bandeira no Hotel da
onde a tristeza não cabe Bahia. E entregam ao cara que não consegue
atenção e cortesia, visite seu Lugar bom de aconchegantezi- curtindo sempre assim arrumar mulher a Faixa do Biela. Interessante.
mestre serralheiro Miro, Wal- nho e defronte o Dique do To- viemos prá lá de normal
demiro. Escoteiro na ladeira roró pra você se refrescar com a vida só é ruim Os irmãos Macedos são sérios concorrentes ao
da nossa padroeira Conceição, a visão ou mesmo com a água prá quem não sabe repeteco. Foram entregues por da Graça, Coim
gostar de carnaval e Pinto.
n. 8. Pode chegar, pode vir, quando você estiver quente de
podis ir qui serás, verás o pro- se derretendo. O nível da glória dos amigos do Barão Barão, Barão, Barão , .e 2.000 e fi m.

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18 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

No canto, no lado, na esquina, crito o seu nome: Fenix. E tira-gos-


barraca da ponta, a primeira, esse é to, lambreta, ostrinha, coisa de sal
o lugar de ponto, balcão aonde fica. pra acompanhar a birita, ele foi o
Fenix, o mago rei nobre da aristo- primeiro a vender, ainda no antigo
cracia elite da batida. O que ganhou Mercado Modelo, há quinze anos, a
o 1o. Festival em São Paulo no So- primeira lambreta do Mercado foi
lar de Amigos, vice-campeão, com a ele quem trouxe. E caviar amarelo
batida de limão de sua criação. Õ ova de peixe grande também tem a
Fenix, por que seu nome é Fenix, venda na barraca. Todo 31 de de-
ou melhor, como é seu nome? Fe- tarde em que passamos lá. Nos passou a cavalo e bem naquele tron- zembro tem festa, ele oferece uma
nix mesmo, que foi minha tia quem trouxe a batida das mais estranhas, co árvore amarrou o seu cavalo? salada de bacalhau e batida, depois
botou, tia Edwiges Duarte de Oli- a própria Escada. E caviar, ova de Histórias istórias estórias que se do meio dia, para o povo. Qual é a
veira, porque em Cachoeira tinha peixe, que não é muito conhecido, contam. O que se sabe ao certo é cachaça que você usa? É Saborosa,
um alemão que tinha uma fábrica com pimenta. Fenix, um mago al- que quando se partiu para fazer a é saborosa e Jacaré, que no fim tu-
de cadeados de marca Fenix. Por químico cara rei das batidas. Deu linha de bonde por ali, a ordem foi do dá no mesmo, na batida, do Fe-
isso meu nome é Fenix, o outro é água a quem chegou e pediu, a nega que se desviasse a linha mas que não nix.
igual ao do vizinho, sou xará de um veia que sempre encontramos lá -no se derrubasse a árvore. E lá está. O
vizinho de barraca aqui no Merca- Mercado. E cerveja a outra pessoa tamarineiro, entre a praça e o mer- Armindo Jorge Bião
do. No 2o. Festival levei a Escada que também passou, e falou. cado. Lá dentro 204 barracas in-
de Macaco, que não deixaram mos- Entre o mar e a marinha, a praça cluindo duas que não são porque
trar, « a batida vencedora ninguém e a milícia, a rampa e a farmácia, no são restaurantes e outra que é lan-
MERCADO MAGO
meio da mássia, populácia, cidade chonete. Mas ainda tem barraca va-
sentiu o gosto. Quantas variedades
baixa, perto demais, com muita gra- zia que são 270 no total e as outras
de batidas você faz? Mais de qua-
ça, ponto referência, como o má- estão se arrumando. E do mais va- Mercado Modelo,modelo diante
renta variedades, eu mesmo faço a
ximo próximo e alto monumalto, riado que bem se sabe que mercado dos mil mercados feiras da cidade —
dosagem, misturo as coisas. Você
elevador ou monumento, muito tem variedade. E varia, de gente, de amor. O antigo, o primeiro pegou
bebe? Eu tenho que provar pra sa-
prédio e movimento. No reinado do transa, de produto, consumo, mer- fogo, já era, isso em 69, tragédia to-,
ber se tá boa. O que é que mais tal, disastri, a cidade de luto, como
procuram de batida aqui pra be- Sr. D. Pedro II se construio este edi- cado, preço. Balangandans de prata
no tempo do incêndio da água de
ber? É a batida Fenix e a Escada de fício d'Alfândega, o que! ficou con- tem o maior dinheiro pra se com-
Macaco. Quais são as coisas que tem cluído no anno de 1861. Isto está prar pela quantia de mil e duzentos. meninos. O bonito tá na sua arqui-
tetura di um tempo di sempre. Ago-
dentro, o que é que tem na batida escrito inscrito sobrescrito na entra- E uma santa de madeira, a nossa
ra ele funciona, existe no antigo
do Macaco por exemplo? Tem ca- da da porta principal. Na rua da santa, padroeira da Bahia que lá
prédio da alfândega fundado por or-
tuaba e pau de resposta, as raízes porta principal teni uma árvore. A tem em imagem no Mercado de
dem de D. Pedro segundo em 1861
afrodisíacas, tem ovos de codorna, árvore tem uma história. Ela está ali guardiã e pra vender pelo preço de
na formosa praça Cairu, aonde fica
com casca, também afrodisíaco, são e dali não pode sair que ninguém mil e oitocentos cruzeiros em ma- o momumento arte, de Mario Cra-
sete preparos, mas os outros eu não lhe tira, e não tira porque não pode, deira trabalhada a mãos, é a peça vo, a rampa, lugar de todas as tran-
posso derrubar senão vão fazer em ela é tombada. Tombada, mas não mais cara, a coisa mais valiosa, o ob- sações: verduras, artesanato de bar-
meu lugar. Ê casado, sou e tenho caída, é um pé de árvore em pé. E jeto mais santificado, bela, linda e ro, de madeira, vindos das ilhas di
uma filha só, uma menina chamada sabe-se que não se pode derrubá-la. preciosa. barcos, jangadas, saveiros.
Helenice. Há quanto tempo você Porque é tombada pelo Patrimônio Quanto é a dose? Pra se pagar é um O modelo mercado feira tem 5 en-
faz e vende? Há quinze anos. Co- Histórico. E isto porque quando o cruzeiro. A garrafa é dez cruzeiros. tradas, parece um imenso barracão
mecei no antigo Mercado Modelo, imperador D. Pedro (de Alcântara Fenix está ali, por dentro por fora livre, todo ele dividido em função
passei pelo Popular e agora estou Bibiano, Rafael, ele mesmo) II este- por trás do balcão, aonde, na testa das barracas, qui lhe serve de: folhas
aqui. E estava quando fomos, na ve aqui e neste sítio andou trotou da barraca ou frontespício, tem es- de banho de limpesa, a tudo de pos-

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Fevereiro de 1972 - Número 16 - VERBO - 19.

sível, de imaginário e inimaginável, tos caros. Sua sorte por um conto,


venha, vá e verás: no sábado, seu dia um cruscifixo de latão de madeira
mais quente um bilhão de pessoas, de zinco de prata de ouro, pendura-
de cabeças, de bocas bebendo, bei- dos nas barracas, organizadas com
jando se esfregando. O maior acon- administrador e tudo. Ê a imagem
tecimento, fato-festa do dia, uma perfeita, imperfeita de uma feira
mistura bem misturada de tudo e egípcia vista nos cenários de Roliú-
tudo desse tudo, a maioria é artesa- de. Tudo é realmente oriental ma-
nato com arte, poderíamos dizer, li- gic, tranqüilo sereno, o mercado vi-
vre, não só a arte, como as pessoas ve, sua vida de maneiras, qui você
que vivem lá e transam. Logo di iní- liberando a vossa imaginação, tudo
cio, chegando encontramos Fenix, encontrarás para o seu decor. Ou se-
Paulinho, leda. Chocolate, figuras, ja decoração de ambiente, como
marco do lugar, da situação, além manda o figurino livre, free moda
de ser, gente, gente do melhor bri- hipister. No mais tudo é lance, é vi-
lho baiano. £ muito simples com- são, curtição, miséria, mendigos, bê-
prar, se embe/esar a você, sua casa bados, loucos, também sambas de
seu apartamento, seu ilê, com as roda, capoeiras e turistas, em busca
coisas vendidas no mercado, cesto do precioso, do nunca visto, do inu-
de vime, de palha, empalhado, bo- sitado, da surpresa, da preciosidade
necas-baianas, de baianas do merca- da fonte da juventude, do pó santo
do mago. Tudo diferente, a comida curador, da aventura, da mistura
de folhas, de efó, de azeite, maris- misturada.
cos, pratos leves, simplis — compli-
cados, exotéricos, esotéricos, bara- Nego Nízio.

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CVHEMA

CAVALC\«fi

psicologia dos personagens. De maneira nenhu- meu cotidiano vulgar nem com uma reflexão
A GREVE ma se pense que se trata de uma aproximação sobre isso: "Além da imaginação" "Times Squa-
2a. — cenas na casa de parente do diretor;
crianças brincando, pessoas jogando buraco,
teórica da "realidade espanhola", pois que todo re", "Masculino/Feminino". A novidade de "O a empregada passando roupa (plano fixo de
S. Einsenstein - 1924
esses "dados"encontram sua evidência na ma- Bandido da Luz Vermelha" era, pra mim, como uns 3 minutos), retratos de família. Tudo
neira como o diálogo se desenvolve, por isso a que a de ser o primeiro filme que misturava sem som.
cartilha para amantes de cinema versão espanhola do filme (que não passou no
amador das formas cinematográficas: tudo isso e fazia do bolo uma certa atitude cul-
Brasil) é fundamental para a ligação do especta-
documentário de uma fábrica crítica (em crise) dor com o drama. Pode-se até dizer que é esta tural também, mas a surpresa pra mim estava 3a. — a família do barulho propriamente di-
"alma espanhola" que é o eixo em que a ficção vindo com "A Família do Barulho", foi real- ta: Helena, Guará, Kléber, Grande Otelo,
intriga policial, chuva de espiões mente como se eu visse o primeiro filme brasi- Maria Gládys. Ficção, comédia debochada,
se sustenta, pois que em Tristana, como na
super-close de olho atento aos menores movi- leiro que me satisfazia absolutamente; na cons- novas relações familiares, carnaval, Oswald
maioria dos filmes de Bunuel, não há apelos
mentos trução da estrutura de montagem do temas, si- de Andrade. Da segunda parte, apenas, as
dramáticos organizados no nível da direção de
atores, nem de montagem, nem de mixagem. tuações, planos (quase todos gerais de frente, fotografias retornam de vez em quando nos
na seqüência de suspense dos perseguidos
intervalos de ações do barulho.
entrevistos e refletidos através de espelhos, como em televisão), dos diálogos (sketchs de
Tristana é dramaticamente linear e o diálogo, a
dança de mendigos barris de mendigos programa humorístico ou filme chanchada), ou
partir de um primeiro fio, traça a rede de fic- Ah! E de repente a Gladys como Odalisca
caricatura de burgueses com humor de Keaton ção. Não é que os outros efeitos em nenhum o João Gilberto cantando Trevo de 4 folhas pra
dançando ou a Helena passando de um lado
(e há uma seqüência da apresentação dos es- momento apareçam, mas sempre como que uti- Helena Inês dançar sob um coqueiro.
ao outro da tela rebolando com a linguinha.
piões que atendem pelos nomes de macaco, co- lizados sem muito comprometimento estético.
ruja raposa em que na imagem dos animais se vou contar pra vocês como é que o filme, mais 4a. — close-up dos três membros da família
Isto é, pra Bunuel, o cinema propriamente dito,
fundem as caras dos seus semelhantes) metali- ou menos, se organiza: Ia. parte —plano de uma do barulho, um de cada vez, sérios olhando
como de Einsenstein, não tem função normati-
guagem; fotos vivas como janelas de policiais o ponte em Nova Iorque filmado de um carro pra tela por minutos inteiros, com um som
va na construção de seus filmes, a gramática
casebre operário e a família com fome e a crian- em movimento; repetição do mesmo plano de efeito pesadamente dramático. O último
cinematográfica é apenas um instrumento para
ça suja sorrindo, lambendo e brincando o chão que originalmente foi filmado em 8 mm pe- olhar é de Helena e o sangue por fim lhe sai
a exploração das ambigüidades da língua, se
do pai desesperado: cinema verdade. lo diretor então com 12 anos de idade. pela boca.
bem que todo esse despojamento não impeça
cavaleiros assassinos por sobre multidões e edi- que uma camera deslize por uma parede até en-
f feios contrar um relógio de estação de trem, que uma
geométricos nos planos
camera se movimente por sobre ruínas a procu-
Griffith desde o princípio mais bang bang anô- ra de casal acabando uma conversa mal-entendi-
nimo da. Talvez seja essa atitude livre diante do "ci-
nema" que faça com que Bunuel seja sempre
(e na seqüência final, montado paralelamente genial e ainda maldito.
ao fuzilamento em massa dos operários em gre-
ve, um animal sendo sangrado pelo pescoço) o D. Lope, Lope, Lopito — o pai, o avô, o amigo,
cinema é um parque de diversões; nesse jogo, o tutor ou o marido de TRISTANA.
uma pluralidade de dados e dedos.

TRISTANA A FAMÍLIA

(Bunuel - 1970) 35mm - cor DO BARULHO


um filme como se fosse o primeiro e como se a
história do cinema não tivesse nenhuma impor- (Júlio Bressane - 1970)
tância didática. Os mesmos sapatos, os mesmos 35mm — preto/branco
sinos, os mesmos padres, nobreza arruinada e
catolicismo, honra e socialismo, as mesmas rela-
fui _criado acostumado a assistir televisão e
ções familiares. Mas desta vez todo esse material
quando comecei a gostar de cinema foi mesmo
recupera sua significação original, porque trista-
de Godard e o cinema brasileiro para mim era
na foi rodada em Toledo e a língua nunca foi
tão importante, e os personagens nunca foram uma coisa que valia mais por ser uma atitude
tão espanhóis. Mais do que em Viridiana, esta diante da cultura brasjleira do que pelos filmes
volta de Bunuel à Espanha leva-o a raizes ainda eles próprios. Tinham a dignidade de obras im-
mais profundas: na sociologia da situação ou na portanttes mas não tinham nada que ver com

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Antes do fim ainda Helena roça algumas ve- Voz off — "seria o aranha um agente do capita- Gladys (atriz genial, não percam "Cuidado Ma- Por fim o caçula da 7a. arte entre nós; o
zes a tela. lismo internacional..." dame") passando por detraz e dizendo sem pa- cinema underground, representado principal-
rar: "Ah eu tenho fome, ah eu tenho fo- mente pelas produções em Super; 8 da qual se
acho que esse foi um dos filmes mais lindos que o filme é composto de plano-sequênciás de 11 me destaca um filme longametragem como "Nosfe-
eu já vi. minutos (tempo de duração máxima do "maga-
E Rogério filma com uma liberdade que poucos ratu no Brasil", que, no dizer efe colega Waly
zine" da éclair 16). A fotografia é linda, feita Sailormoon, é um filme de um jovem "na-idade
tem. Entende mesmo, e isso tudo está desde o
pelo Edison Santos que operou camera na mão de ouro da poesia como descoberta das coisas
praticamente o tempo todo (atentem pra uma "Bandido da Luz Vermelha". Eu gostaria de ver
SEM ESSA ARANHA seqüência nos camarins de um teatro em que a mais vezes o "Aranha" que nunca viu: sexo, vampiros e escorpiões".

camera segue Zé Bonitinho por corredores de E muito mais ainda é nosso crojifrta, com sua
(Rogério Sganzerla — 1970) O MODERNO pluralidade, punjança, invenção todo que essas
luz variada — deve ser um dos plano-sequências
16 mm — cor cucas maravilhosas produziram, produzem e vão
mais bonitos já feitos).
CINEMA BRASILEIRO produzir. E não se diga que o i iijjpliii brasileiro
quando, mesmo antes de ver o filme, eu soube Outro dia eu vi a Silvana e a Carmem Costa não prestigia nossa grande literatura! Posso até
que Zé Bonitinho (o perigote das garotas) era cantando juntas no programa do Chacrinha e Já mais de uma década completa nosso novo provar que desde 1906 filmamos nossas melho-
ator principal, já comecei a rir. Podes ver tudo parecia que estava vendo uma seqüência de cinema. Iniciativa de jovens conscientes das di- res obras: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa,
aquilo que ele fazia na televisão de novo mais o "Sem essa Aranha". O Rogério é incrível e foi o versas realidades brasileiras, nossa modernidade Carlos Drumond, Dias Gomes e lijuitos outros.
humor dos textos do Rogério mais ver ouvir o primeiro diretor de cinema brasileiro que apren- se caracteriza pela criatividade no tratamento
Luiz Gonzaga cantando Asa Branca ao mesmo deu esse lado da sensibilidade brasileira. dos temas, os mais diversos, dentro das mais Vivemos um mundo conflituado e um tem-
tempo mais um show de boite de 3a. com mu- adversas condições técnicas ou na abundância po tempestuoso onde os valores mais puros e
Seqüência na piscina da casa do Aranha enri-
lheres cobras e boleros, tem até o Morengueira de nossa indústria cinematográfica nascente. nobres somente por um esforço tóbrehumano
quecido:
cantando James Bond! podem subsistir. Nosso mérito está em sempre
Aranha fazendo discursos eloqüentes sobre a si- Desde o lirismo social urbano de um "Rio podermos nos renovar e manterwo-nos fiéis a
Aranha — "eu preciso alimentar 80 milhões de tuação internacional do café brasileiro (ou qual- 40 graus", da poesia selvagem de um "Barraven- estes valores, esta sempre foi s característica
brasileiros" quer coisa assim), e, ao mesmo tempo, a Maria to", da secura estilística reveladora da realidade fundamentai de nossas artes. 0 cinema é flor de
nordestina de um "Vidas Secas", do realismo todas elas. Pra sempre jovens!
épico de um "Deus e o Diabo na terra do Sol",
a mesma originalidade e invenção que se conser- Machado Penumbra
va nas mais recentes realizações, o delírio barro-
co político de um 'Terra em Transe", a visão
estrutural orgânica desencadeada por um "A P.S. eu gostaria mesmo era de entender de cine-
Falecida", fome febre amor e loucura num "Fo- ma e de fazer filmes como o Francois Truffaut.
me de Amor", o amor antropofágico de um
"Macunaima", a justeza histórico-racional de
um "Os Herdeiros", ou um "Bandido da Luz
Vermelha" que determinou um novo marco di-
visor na história de nosso cinema introduzindo
o "elemento americano em nossa cultura cine-
matográfica, realismo suburbano, crítica con-
tundente ao culturalismo francês" no dizer do
colega Jorge Mautner. Tudo isso e ainda não
falamos das realizações recentíssimas; o lirismo :KOí
trágico urbano sofisticado de um "Matou a fa-
mília e foi ao cinema", a retomada de fios dei-
xados por Terra em Transe num "Copacabana G)
Desvairada" ou mais ainda num "Sem essa ara-
nha", o filme visto e feito como linguagem es-
trutura pela primeira vez bem sucedido num "A
OC-JC^vW lAv WOA
família do Barulho", o culto do cinema. Mais
ou menos paralelamente a esta novíssima fase,
assistimos também ao brotas do grande cinema Machado Penumbra: pseudônimo de Oswald de
industrial , os filmes de época;. "Capitú", "Pin- Andrade.
dorama" ou a sátira moderna e inteligente de Prefácio de João Miramar. Oswald esculhamba
um "Capitão Bandeira contra o Colírio M. Bra- com Oswald. Machado Penumbra de novo se
sil". manifesta, coma atualidade de 22.

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22 - VERBO - Número 16 - Fevereiro de 1972.

Este artigo foi escrito pelo


jornalista russo Guenri Kochin,
da Agência de Noticias Nóvosti,
X
investindo contra
a posição de Pequim durante
a guerra India-Paquistão.
TRIPS Ê uma tentativa
de mostrar as contradições
da posição chinesa,
dentro do seu "internacionalismo
INTERNACIONAL proletário ", estabelecendo
as semelhanças existentes
entre a tática da China e
os interesses norte americanos.
Tudo isso visto através
da perspectiva e dos interesses
de Moscou, claro.

DE QUE LADO ESTÁ PEQUIM?


O representante de Mao contra a índia. Durante o confli- tão Oriental. Pequim silenciou o
Tsé-Tung na ONÜ se pôs aberta- to militar entre eles, em setem- fato de que a população do Pa-
mente ao lado dos Estados Uni- bro de 1965, Pequim provocava quistão Oriental apoiou unani-
dos na questão do conflito béli- por todos os meios conflitos memente o Partido Liga Popular
co indo-paquistanês. Tergiversan- fronteiriços no Himalaia, envian- nas eleições realizadas em de-
do intencionalmente a essência e do ultimatus ao governo hindu, zembro de 1970, e não disse
as causas principais do atual con- com o objetivo de irritar a situa- uma palavra a respeito do movi-
flito, Pequim e Washington enca- ção e desencandear uma grande mento de massas da população
minharam-se no sentido de man- guerra na região e, deste modo, do Paquistão Oriental pela auto-
ter o foco de tensão na pen ínsu- conseguir amarrar o Paquistão. 0 nomia, pelos elementares direi-
la do Indostão. governo da China foi quase o tos humanos e pela liberdade.
A posição de Pequim não é único que recebeu uma das có- Pequim silenciou completamente
casual. Ela emana tanto da polí- pias da Declaração de Tashkent, sobre o fato de terem as autori-
tica da direção chinesa, em seu que colocou as bases para o ajus- dades militares do Paquistão
conjunto, como de seus objeti- te do conflito indo-paquistanês. frustrado as negociações com os
vos com respeito ao Indostão, Não será demais recordar que líderes da Liga Popular, a prisão
em particular. Não é a primeira com sua política de provocação, do Xeque Rahman e de outros
vez que Oa?g/upo chauvinista de Pequim procurava então desviar dirigentes da Liga, as represálias
Mao Tsé-Tung tenta valer-se das acontecimentos no Paquistão tanês esperava fornecimento de
a atenção da opinião pública e o terror em massa contra a po-
contradições nacionais e religio- Oriental, a propaganda chinesa armas e munições da China para
mundial da agressão norte-ameri- pulação do Paquistão Oriental.
tomou o caminho de justificar as duas divisões situadas no Paquis-
sas existentes entre distintos po- cana no Vietnã. Em outras pala-
É um paradoxo: os maoístas represálias e o terror em massa tão Oriental, destinadas à luta
vos e dos litígios territoriais, vras, atuava, objetivamente, em
traíram até seus partidários no contra a população do Paquistão contra o movimento de Liberta-
com o propósito de, atiçando interesse do imperialismo, con-
Paquistão Oriental. Entre os par- Oriental. "Pelo visto, dizia a res- ção Nacional, encabeçado pela
uns povos ou países contra os tribuindo para consolidar as po-
ticipantes do movimento pela peito o semanário hindu "New Liga Popular. A 10 de setembro
outros, arrastá-los ao círculo de sições dos círculos reacionários
autonomia do Paquistão Orien- Age" — aos olhos de Pequim a foi celebrada a cerimônia de en-
sua influência. nos países da Ásia e provocando
tal, como se sabe, haviam aque- degola em massa e a desolação é trega das primeiras amostras de
Especulando com as contradi- um detrimento direto às forças
les que cairam sobre a influencia um ato revolucionário". produção de fábrica de guerra,
ções indo-paquistanesas, a dire- progressistas.
de Pequim. Os maoistas não só situada em Dacca, construída
ção chinesa há muito que deposi- lhes apontaram a espada, como A propaganda chinesa se com a ajuda e o crédito da Repú-
Na atualidade, o fingimento
ta suas esperanças no Paquistão, também aconselharam o governo preocupou em inverter os papéis: blica Popular da China. Em prin-
dos "ultra-revolucionários" chi'"
acatando? |j$|k vontade e atiran- os verdadeiros representantes da cípios de novembro, a convite de
neses se manifestou com especial do Paquistão a "utilizar as armas
do-o contra a índia. população do Paquistão Oriental Pequim, viajou uma delegação,
força. Quantas declarações fize- chegadas da China, para extermi-
Desde o início dos anos ses- ram os maoístas com o fim de nar a população civil". Era o que foram apresentados como "frag- encabeçada pelo então Vice-Pri-
senta, Pequim começou a conce- aparecer como "os defensores dizia, textualmente, no telegra- mentistas paquistaneses",, e meiro—Ministro Bhutto. Na mes-
der créditos e ajuda militar ao mais conseqüentes da luta dos ma que Bhashani, líder do Parti- aqueles que levaram a cabo as re- ma época, o Presidente do Pa-
Paquistão, assim como fortalecer povos pela liberdade e pela inde- do Popular Nacional, enviou a presálias e o terror, como "inter- quistão declarava que "os chine-
seu exército. Já nessa época, pendência? " Mas, não foi dita Mao Tsé-Tung. pretes dos interesses de todo o ses prometeram prestar ajuda ao
Mao Tsé-Tung e seu grupo insti- uma só palavra acerca do que Quando se tornou impossível povo paquistanês". O represen- Paquistão com armas e muni-
gavam o Paquistão à agressão ocorria ultimamente no Paquis- continuar silenciando sobre os tante de Mao Tsé-Tung na ONU, ções". No dia 15 de novembro, o
unindo-se ao grupo de países en- New York Times publicou a no-
cabeçados pelos Estados Unidos, tícia de que Pequim havia inicia-
se manifestou contra a proposta do o fornecimento de armas ao
de que fossem convidados ao Paquistão. Falava ainda sobre o
Conselho de Segurança represen- envio de 200 instrutores chineses
tantes do Movimento Nacional- ao Paquistão, para "ensinar os
Libertador do Paquistão Orien- métodos de luta contra os guerri-
tal. Com essa atitude Pequim lheiros". E, por último, observa-
mostrou que lhe eram totalmen- dores internacionais chamaram a
te indiferentes os interesses do atenção para a circunstância de
Movimento e a trágica sorte dos que a advertência feita pelo Pa-
dez milhões de refugiados do Pa- quistão sobre o possível começo
quistão Oriental. da guerra havia coincidido com a
chegada de uma delegação chine-
Pequim subordina sua políti- sa ao Paquistão. O prazo expirou
ca com respeito ao Paquistão à no dia 3 de dezembro . No dia 4,
Obtenção de seus próprios inte- a aviação paquistanesa bombar-
resses egoístas, fazendo finca pé deava os aeródromos da índia.
na prestação de ajuda militar.
Assim, em maio de 1971, Pe- A direção chinesa continua
quim recebeu uma delegação mi- tentando apresentar sua política
litar tfçiPaqüistão. Nesse mesmo como anti-imperialista. Entretan-
mês, toeÈs os jornais paquistane- to, os passos práticos de Pequim
ses anunciaram que em adição fazem o jogo para as forças im-
aos 200 milhões de dólares pro- perialistas, que tendem cindir o
metidos por Pequim ao Paquis- movimento anti-imperialista.
tão, em novembro de 1970, a Mas, na realidade, no conflito
China lhe havia oferecido ajuda indo-paquistanês, Pequim está
complementar. Em junho, a do lado daqueles que anseiam
France Press, fazendo referência desbaratar o movimento de liber-
a círculos militares do Paquistão, tação nacional dos povos, está de
anunciou que o exército paquis- mãos dadas com Washington.

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