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2018
Resumo
"Não sou racista, mas..." Quantas expressões como essa permanecem no senso comum
da sociedade brasileira? Ritmada nos eufemismos de cada dia, criados para justificar a
negação do outro por meio da cor da pele, somos bombardeados por novas ondas
conservadoras discordantes do equilíbrio das oportunidades sociais e ações afirmativas.
De matriz histórica, o racismo no país está enraizado tanto no espaço privado como no
público. Os que acreditavam que o advento do século XXI remeteria a uma maior
conscientização da questão racial, após os traumas do século anterior, foram
surpreendidos com o aparecimento da internet e a conexão de centenas de milhares de
usuários emitindo suas opiniões sob os mais variados assuntos. A conclusão? O racismo
sobrevive e se transforma.
Sumário
Prefácio
Introdução ................................................................................................................................... 4
Notas ........................................................................................................................................... 4
PREFÁCIO
Eufemismo talvez seja uma das melhores expressões que encontramos para
sintetizar o assunto desta obra. À mão de qualquer dicionário da língua portuguesa, o
leitor poderá traduzir esta figura de linguagem como sendo uma ferramenta de
"suavização" de termos. Seu uso faz com que um termo forte, rude ou inapropriado,
ganhe feições mais amenizadas ao ser substituído por outra palavra. Entretanto, o
significado permanece o mesmo. É assim que o racismo é praticado em grande medida
no Brasil, incrustado a uma aparente suavidade e polimorfismos.
Chegamos ao século XXI com muitos problemas dos séculos anteriores, em
particular, problemas de aceitação enquanto nação. A permanência dos preconceitos
raciais emanados em novas formas de comunicação revela sintomas de uma sociedade
que ainda vive sob o véu das diferenças. Sem muito esforço, por meio de aparelhos
celulares, tablets ou computadores conectados à internet, qualquer indivíduo pode se
deparar com o volume de discursos de ódio que poluem as redes sociais ou fóruns dos
mais diversos segmentos. Uma variedade de argumentos é reproduzida, muitas vezes
sem nenhum conhecimento científico ou histórico, para justificar, por exemplo, a
negação de cotas, a generalização da cor negra como predisposta à criminalidade ou as
centenas de preconceitos maquiados em forma de humor que legitimam a desigualdade
social por meio do riso.
Queremos, com a presente proposta, efetuar um convite a essas e outras
reflexões. Em síntese, pensar alguns dos argumentos utilizados por uma parcela da
sociedade e identificar em sua essência as contradições e suas intencionalidades, é tentar
desnudar o porquê da reprodução de um senso comum conservador, o qual elege a cor
da pele como um dos seus principais aditivos. Os capítulos aqui reunidos compõem
alguns dos temas mais debatidos na internet em vista de notícias que tratam de
preconceitos, questões raciais ou equidade de cor e raça. Este convite à reflexão vai
muito além de elaborar um guia ou um manual de respostas prontas, haja vista que
pretende contribuir para uma atualidade em que a demanda dos argumentos e diálogos
virtuais constroem opiniões e posições sociais.
Quando falamos de internet, ciberespaços e redes sociais, não estamos propondo
unicamente um trabalho que seguirá as pegadas de publicações ou postagens aleatórias
para tentar examinar quem ou quais grupos são identificados como racistas. O motivo
de eleger o espaço virtual como argumento deve-se ao fato de este local ter se tornado
um dos principais ambientes de articulação e troca de ideias no novo século. No décimo
sétimo ano do século XXI, ao menos no Ocidente e, sobretudo, no Brasil, não
conseguimos mais separar nossas vidas dos computadores, da tecnologia e da internet.
Cada vez mais substituímos o "manual" pelo "maquinário".
Apesar de o livro estar pautado e amparado por referenciais acadêmicos e
rubricado por diversos historiadores e sociólogos, sua intenção é transpor os muros da
universidade e dialogar com os mais diversos grupos de leitores preocupados com o
tema em pauta. É, também, um pequeno esforço, no sentido de devolver para a
sociedade alguns dos temas discutidos nos meios universitários, com outra linguagem,
que pretende ser clara à medida que o público receptor também busca desvendar as
nuances do problema da manutenção dos discursos racistas no país.
Em um novo mundo a cada vez mais conectado, as pessoas de todo o planeta são
convidadas à interagir e a expor suas visões e opiniões. Esta ação maximiza o quadro de
conceitos e posições sobre os mais diversos temas abordados na internet. Se antes a
opinião se restringia aos grandes meios de comunicação que transmitiam a notícia
diretamente para a residência dos telespectadores, hoje o consumo da informação
assume outras possibilidades de interação. O público pode ler ou assistir uma notícia na
internet e ao mesmo tempo expor naqueles espaços as suas impressões e opiniões sobre
os mais variados assuntos.
Falecido em fevereiro de 2016, o famoso escritor italiano Umberto Eco ganharia
as páginas da internet no ano anterior ao afirmar que as redes sociais dariam direito à
palavra a uma "legião de imbecis". Elas teriam amplificado a noção da individualidade
dos comentários que antes permaneciam apenas em âmbito privado, ou restritos a
ambientes menores, como um bar ou uma padaria, por exemplo. Os espaços a que
Umberto Eco se refere evidenciam tanto opiniões tacanhas, como a força do racismo
presente na sociedade e seus eufemismos.
Assim, o espaço virtual tornou-se um meio de constatação das mais variadas
formas de preconceitos raciais. Basta que uma notícia envolvendo um negro ou uma
questão relativa à raça seja colocada ao público, surge um emaranhando de opiniões
destilando preconceitos relativamente à cor da pele. Longe de ser uma exceção, quando
o tema racial é posto em evidência, a frequência de comentários que elegem a cor como
principal estratégia de ofensas ou discriminação torna-se assustadora. Para diversos
indivíduos que naturalizaram e legitimaram o racismo como prática cotidiana, os
problemas de ordem socioeconômica não teriam relações com contextos históricos que
fomentaram desigualdades e hierarquias sociais pautada na divisão racial.
No lado oposto, o ponto alto da massificação virtual é a possibilidade em dar voz
ao oprimido. Muitos grupos sociais minoritários ou que nunca tiveram acessibilidade
aos grandes meios de comunicação podem expressar suas angústias, vontades e exigir
reformas por seus direitos negados ou negligenciados. De certa forma, pode-se dizer que
o acesso à internet democratizou os debates sobre convivências e preconceitos sociais.
Ao mesmo tempo, também se observa que a mesma internet multiplicou as
possibilidades de percepção dos discursos preconceituosos difundidos diariamente em
seus espaços.
As redes sociais são, talvez, um dos maiores exemplos de "pesquisa de campo"
da manutenção do discurso racista. Espaços virtuais como o Twitter, Facebook e
Youtube, são referenciais para situar os principais chavões que tentam deslegitimar o
lugar do negro na sociedade. Não pretendemos fazer uma análise da internet em si, mas
entender como atualmente ela é um dos principais canais que evidenciam tais práticas.
Não raro, celebridades, políticos, esportistas têm os holofotes em suas direções ao
sofrerem ataques por questões raciais. Da mesma forma, outros dessas categorias
ganham o noticiário quando emitem suas posições racistas, sendo amplificadas por suas
exposições na mídia. Em 2014, nos Estados Unidos, Donald Sterling, dono do time de
basquete Los Angeles Clippers, circulou nos noticiários ao ser banido da National
Basketball Association (NBA) por posições e afirmações racistas. No basquete, um
esporte cuja grande maioria é composta por indivíduos de cor negra, o episódio ocorreu
como um exemplo para pensarmos no fato de que nenhum local está seguro do discurso
de ódio racial.
Se em sua história, os Estados Unidos são um país banhado de sangue pela
perseguição racial e com suas cicatrizes abertas quanto à questão da igualdade, o Brasil
apresenta marcas feitas à sua maneira. Mesmo não existindo explicitamente uma guerra
civil declarada entre brancos e negros, o preconceito encontrou formas de circular entre
a sociedade e, na maioria das vezes, se apropriar de camuflagens e eufemismos. Criou-
se, por exemplo, um "direito de ser preconceituoso", e contra qualquer oposição a este
"direito" pesa a acusação de censura da liberdade de expressão, como se o efeito da
"liberdade de expressão" se alargasse no direito de desumanizar o outro em prol de
opiniões ou ofensas. Nosso país vive uma crise conceitual da concepção de direitos e de
deveres e para quem eles devem ser expandidos.
Diante do cenário apresentado, o leitor pode estar se perguntando qual seria o
motivo que levaria uma legião de pessoas ou grupos a continuarem flertando com
posições racistas. Mais ainda, fundamentando seus argumentos com distorções
históricas como justificativas. A princípio, um dos elementos mais significativos do uso
da História como arma para a manutenção de discursos segregacionistas é a própria
incompreensão da sua utilização e de seus fundamentos. Fruto de uma má orientação
escolar ou de manipulação dos eventos históricos sem nenhum rigor e entendimento,
muitas vezes a distorção se dá de forma intencional. A incompreensão das ferramentas
da ciência dos homens no tempo1 sugere a História como "amorfa", em que cada um
poderia esculpi-la à sua maneira, criando assim, uma narrativa agradável. Esta seria uma
disciplina sem regras, métricas, métodos ou fontes.
Não foi alternativa aleatória que entre as opções de escrita, pensamos em
estruturar um livro recheado de outros estudos dedicados à questão de cor e raça no
Brasil, composto por pesquisas recentes e que oferecem uma percepção do quadro
histórico do país. A rigor, significa dizer que há uma "história do racismo no Brasil" e
os debates gerados na sociedade no presente, seus argumentos históricos, sociológicos e
antropológicos não são invenções de grupos ou ideias românticas de ativistas pró
igualdade racial. A negação dos estudos que envolvem o mapeamento da questão racial,
muito trabalhada no Brasil, é uma amostragem da manutenção das estruturas da
chamada "democracia racial", conceito impregnado na estrutura imaginária da
coletividade nacional. Portanto, este livro convida outros estudos a comporem suas
páginas, a fim de aproximar e afinar o leitor acerca dos escritos sobre o tema.
Acreditamos ser importante essa aproximação, deixando de lado o peso dos jargões e o
jogo conceitual acadêmico que frequentemente dificultam o manejo de obras para o
grande público. À luz da nossa sociedade, marcada por um crescente conservadorismo e
uma variedade de preconceitos de todas as ordens, é preciso expandir o entendimento de
quem somos/fomos enquanto sociedade.
O objetivo deste livro está longe de oferecer um ponto final nas discussões dos
capítulos, mas uma ampliação e projeção dos debates em voga no espaço virtual/social.
Em tempo, esta leitura pode ser proveitosa para os interessados pelos debates de
racismo no Brasil ou aqueles que pretendam repensar seus argumentos em vista das
discussões propostas. Este último, aliás, é um público almejado. Os capítulos foram
confeccionados e inspirados nos "núcleos" de debates em torno do racismo. Abordar a
temática do "vitimismo negro" ou do "orgulho branco", no último capítulo, tem a
intenção de reproduzir a força de expressões empregadas enquanto munição de um
discurso opressor. Há uma proposta de dialogar sobre o racismo e suas principais
pautas, que se esforçam cotidianamente para manter uma estrutura segregacionista nos
termos de cor e raça.
Procuraremos apresentar algumas ponderações, principalmente àqueles que
buscam por respostas para situações aparentemente incompreensíveis. Um curto
trabalho na tentativa de desmontar frágeis argumentos incrustados em espíritos
conservadores que se avolumam nas redes sociais. Fruto de uma sociedade provedora
em suas características da espoliação da terra e do homem; grupos selecionados por
razões raciais como negros e indígenas por vezes tornaram-se subprodutos e objetos
sujeitos à exploração. Por este raciocínio, é como se suas almas fossem ignoradas e seus
corpos tivessem como único objetivo produzir remessas de lucro para povos
"superiores", negando-os os direitos de pertencerem igualmente à mesma sociedade.
Mais que isso, tais grupos não passariam de propriedade privada de outros indivíduos.
Alguns poderão indagar o porquê de termos optado pelo uso do termo "negro"
ao invés de afro-brasileiro. Os motivos são diversos. De início, por se tratar de um livro
que leva como título "eufemismos", procuramos desarmar qualquer armadilha,
induzindo a escolha do termo como "sutileza" para dissertar sobre os conflitos raciais
envolvendo "negros” e "brancos". Felicitamos e concordamos com o uso do termo afro-
brasileiro, mas estaríamos fugindo da intencionalidade do livro se usássemos o termo
enquanto substitutivo, principalmente porque o problema dos racistas é com o "negro" e
todos os valores implícitos que as letras carregam em seu retrato histórico-social. Outro
motivo concerne aos dados que utilizo do IBGE e do Mapa da Violência, em que
comparecem as nomenclaturas "negros", "pardos" e "brancos". Poderíamos ter optado
também pelo termo "preto", pois esta é outra utilização cotidiana do racismo em suas
classificações de deslegitimação, mas por opção que converge com a bibliografia, o
"negro" é mais usual na distinção dos grupos.
Outra questão de suma importância diz respeito ao lugar de fala. Este livro
pretende contribuir com o debate sobre racismo no Brasil e apresenta um recorte, logo,
ele é incapaz de traduzir a dor do racismo e todo sentimento daqueles que vivenciaram
ou vivenciam a opressão. Estamos preocupados em oferecer uma perspectiva de estudo
sobre o tema e um despertar ainda maior para o problema.
Em suma, os capítulos foram pensados na possibilidade de refletir pontos
centrais utilizados na negação dos direitos raciais ou explicações contextuais para
demonstrar como o problema das relações raciais e sociais não é apenas fruto da
"imaginação de grupos minoritários". Usualmente, esta discussão nasce dos comentários
dos próprios usuários da internet, ao visualizarem uma notícia sobre a temática racial e
projetarem seus preconceitos a fim de deslegitimar o tema ou o noticiado. Sobretudo
quando o assunto propagado diz respeito à equiparação ou equilíbrio entre direitos
sociais, econômicos ou políticos balizados por reformas políticas e sociais em questões
de raça e cor.
Um adendo importante à leitura do livro é que apesar do seu recorte, visando a
temática das relações raciais, não desconsideramos ou generalizamos em hipótese
alguma as relações classistas, engrenagem partícipe das divisões desiguais.
Reconhecemos a interferência dos problemas de classe na conjuntura da sociedade
brasileira, na qual há brancos pobres e carentes de reformas socioeconômicas assim
como é com a população negra. O processo de reformas políticas de cunho social
abrange uma enorme gama de agentes sociais, entre eles, a condição socioeconômica e
histórica da comunidade dividida entre cor e raça.
Sendo assim, o capítulo inicial questionará um ponto seminal de qualquer livro
que se interesse pela pluralidade das relações entre Brasil e a compreensão de um povo
miscigenado e plural por excelência: O Brasil é um país racista? A interrogativa
mobilizou centenas de intelectuais no século passado, tanto no meio acadêmico, com
produções de livros, teses e dissertações, como de escritores, jornalistas, juristas,
médicos e a sociedade em geral. Projetos foram pensados e colocados em prática para
estudar o Brasil, contextos e signos de uma nacionalidade racial foram abordados. Não
temos a presunção de esgotar um tópico tão vasto, mas este é o primeiro labor
necessário para se pensar o país.
O segundo capítulo, intitulado O humor pode ser preconceituoso?, aborda a
confusa relação que estabelecemos com o riso. O humor tornou-se um instrumento de
opressão, com significados de brincadeira e de inocência. Mantido por grupos de
humoristas que povoam a mídia e as redes sociais, estes sustentam nas piadas
preconceituosas um trampolim de audiência para um público que gosta de rir da cor do
outro sem nenhuma reflexão ou culpa.
O capítulo seguinte situa o papel da história e seus contextos. Algumas
abordagens são chamadas à baila para explicar como os pesquisadores pensam os
contextos da história. Em suma, trata-se de reduzir simplismos, erros interpretativos,
anacronismos e muitas das ferramentas usadas por historiadores na análise dos seus
documentos, que por vezes são desconhecidos do grande público. É, por exemplo,
explicar porque em um determinado período um fato é compreendido de tal maneira, e
no outro ele assume interpretação diferenciada. Este mote objetiva o que se observa
constantemente em erros de avaliação para os propagadores do racismo. Inclusive,
ponderar acerca de livros autointitulados "guias" que prometem contar verdades
obscuras sobre a História do Brasil, mas seus autores, na verdade, oferecem uma vasta
incompreensão histórica. Resta saber se o fazem consciente ou inconscientemente, mas
de qualquer forma o diagnóstico é preocupante.
Abordaremos ainda o papel das cotas no Brasil e suas negações. Sendo assim,
uma parcela da sociedade tem dificuldade em compreender qual a necessidade de cotas
raciais. Atribuem tais propostas a uma espécie de "favorecimento do negro", enquanto
seu intuito é totalmente oposto. Pautados no discurso da chamada "meritocracia",
imaginam a sociedade ofertando as mesmas chances de igualdade para toda a
população, e desta forma, acreditam que dependeria exclusivamente dos esforços
individuais para todos os cidadãos atingirem seus os méritos e conquistas.
Teorias raciais e ciências são os temas centrais do quarto capítulo. Essas teorias
que consideravam os negros como inferiores aos brancos ou com menores capacidades
cognitivas mostram-se relevantes, pois foram aceitas por parte da sociedade no século
XIX e XX, e serviram de argumentos para conquistas imperialistas e opressões. Nesse
sentido, devemos discutir como ocorreu parte desse contexto, entender o motivo dessas
indagações, e qual o papel das ciências nesse espaço de circulação de saberes. Ademais,
quais as consequências interpretativas na atualidade.
O quinto capítulo delimita o lugar das religiões de matriz africana no Brasil.
Historicamente professada por uma maioria negra, oriunda da escravidão e erguida por
resistências constantes de sua população, assim como no passado, seus adeptos sofrem
ainda na atualidade constantes perseguições e preconceitos. As religiões cristãs
dominantes insistem em constituir uma sociedade baseada em seus dogmas, ignorando
completamente a existência e convivência com religiões minoritárias. Analisaremos
uma série de notícias recentes que mostram como a intolerância religiosa está longe de
desaparecer.
O sexto e último capítulo, intitulado de Questões sobre o racismo moderno, tem
como objetivo pinçar aleatoriamente alguns comentários na internet e em redes sociais e
trazê-los para o livro no esforço de respondê-los. Mais que isso, é um exercício para
mostrar ao leitor a variedade de eufemismos projetados no espaço virtual, de maneira
consciente ou não, revelando assim, a presença do discurso da desigualdade nas relações
raciais. Os comentários evidenciam o motivo pelo qual a "democracia racial brasileira"
é uma falácia.
As considerações finais compõem uma espécie de clichê para induzir a
continuidade da discussão do livro. Um adicional na constituição de mais um elo na
corrente antirracista, sobretudo, na observação do aumento do racismo no espaço
virtual. Não entendemos essa discussão como um fim, mas sim um balanço geral dos
argumentos propostos ao longo da leitura, para pensarmos sobre a condução dos debates
entre cor e raça projetados no Brasil nos espaços públicos e virtuais.
O livro, em suma, propõe um debate recorrente da História do Brasil, mas ao
mesmo tempo oferece uma perspectiva argumentativa para uma série de novas
indagações surgidas diariamente, na tentativa de reproduzir ou justificar práticas
racistas. À moda brasileira, o racismo cheio de eufemismos, sutilezas e quase
transparente, constitui-se como uma das formas de opressão de mais efetividade, uma
vez que as marcas não são somente físicas, mas também morais e sociais.
Mesmo na ausência de uma luta física velada, nas praças ou nas ruas, a
conjuntura social do racismo à brasileira permanece diariamente na retórica. Se nos for
permitido uma analogia, o racismo é como a águia, eleita por Zeus, na mitologia grega,
a todos os dias comer o fígado do Titã Prometeu. Este último, imortal, regeneraria
diariamente o órgão e repetindo seu flagelo e dor pela eternidade. Comparativamente, o
fígado é o direito, a moral e a dignidade daquele Prometeu representado pelo cidadão
vitimado pelo racismo e que se regenera diariamente na esperança de não ver mais a
águia no horizonte planando para mais um dia de tortura.
Capítulo 1
O Brasil é um país racista?
Sim, o Brasil é um país racista. Mas por que? Para responder a questão dois
elementos merecem tratamento reflexivo. O primeiro é compreender o significado do
termo "raça". O segundo consiste em desvendar o que consideramos um "país racista".
Raça e racismo geram múltiplas interpretações, dependendo da carga de compreensão
de quem reproduz os conceitos, permitindo uma certa flexibilidade na qual será ajustado
a partir de uma leitura de mundo. Isso ocorre também porque a pluralidade do termo
raça ganhou significados distintos na história do país.
Para muitos intelectuais, a raça poderia representar as características que
diferenciariam um ser humano de outro, não só pela cor da pele como também pelos
locais de nascimento. Por este motivo, nem sempre uma interpretação uníssona sobre o
conceito de raça se fez no Brasil. No início do século passado diversos intelectuais
divergiam no que consideravam "diferenças raciais". Muitas vezes, negavam as
diferenças de cor e em outros momentos ressaltavam a diferença, como prova da divisão
racial. Em vista dessa pluralidade interpretativa, existe a necessidade em pinçar grupos
ou indivíduos para analisar à parte as suas ideias em um tempo e espaço, especialmente
sua compreensão de raça.
Na esteira do cientificismo do XIX deu-se o nome de poligenismo para a
concepção do surgimento dos seres humanos em locais distintos. Diferentemente da sua
oposição, o monogenismo - tese explicativa da qual a humanidade era oriunda do
mesmo local e somente depois teria sido distribuída pelo mundo -, o poligenismo
ressaltava que diversos grupos humanos nasceram em regiões diferentes, dando origem
a dessemelhantes raças humanas. Isso explicaria o porquê em determinadas regiões
encontramos um padrão de "tipo humano" e em outras visualizamos outro "padrão".
Pensando tais diferenças, o Brasil seria privilegiado pela sua miscigenação, da
qual caracterizaria sua identidade enquanto nação. Com os grupos nativos filhos desta
terra, a vinda dos brancos europeus e, posteriormente, a mão de obra africana
escravizada no país, possibilitou o entrelaçamento de variedades hereditárias em que o
resultado foi o brasileiro. Além disso, a imigração europeia que viria na segunda metade
do século XIX transformaria a mescla em algo ainda maior. Trocando por miúdos,
temos uma composição tão vasta de "tipos humanos" que seria impossível nos
adequarmos a uma suposta "raça pura", por exemplo. O que nos torna brasileiros é a
antítese da dita pureza racial.
Muitos intelectuais defendiam que a característica da pluralidade racial
constituía nossa representação no mundo. Assim, o brasileiro seria, por excelência,
caracterizado pela miscigenação que o gerara. Qualquer discurso que flertasse com
alguma raça pura no Brasil estaria cometendo um deslize interpretativo na compreensão
da própria formação do povo brasileiro. Desde holandeses, alemães até aos japoneses,
da mistura com populações indígenas e africanas das mais variadas, a representação do
brasileiro organizou-se em volta de um laboratório racial.
Entretanto, muitos acreditavam em uma mudança na condução hereditária, e,
dessa forma, o país caminharia rumo a um ideal de raça pura e branca. O professor
Oliveira Vianna, imortalizado na Academia Brasileira de Letras, diria nas décadas
iniciais do século XX que a partir de um plano condicionado de casamentos assistidos, o
Brasil poderia embranquecer gradativamente os seus habitantes. Ao contrário de
Vianna, o jurista e político Alberto Torres não concordava com a tese da substituição da
nossa nacionalidade por "tipos racialmente idealizados", como o branco europeu. Para
Torres, seria uma fantasia nutrir essas crenças. O médico e eugenista Renato Kehl, por
sua vez, acreditava na eficácia da proibição ou controle do casamento entre brancos e
negros para o controle racial. Sendo assim, em um espaço de tempo, o branco
prevaleceria e o negro seria extinto. De toda forma, estes são exemplos das diferentes
perspectivas que dialogavam no pensamento social brasileiro do país.
Em vista de tais concepções, particularmente a de Vianna e Kehl, estavam
assentadas na idealização da cor branca como superior a qualquer outra, principalmente
por tomar o europeu como referência de civilização adiantada em comparação aos
demais povos. Era comum observar a Europa como centro da evolução material e
intelectual, produzindo revoluções, pensamentos, maquinários e avanços considerados
superiores àqueles realizados em qualquer outro território do planeta. Por esta lógica,
bastava os europeus povoarem outras regiões para que elas, naturalmente, se
desenvolvessem de maneira semelhante.
Embora a miscigenação estivesse na base da nação brasileira, muitos defendiam
a ideia de que a mistura racial era imprópria para o desenvolvimento do país, uma vez
que afastava o ideal de "tipos humanos" homogêneos. Em síntese, a mistura não
representaria nem uma coisa, nem outra, mas significaria uma anulação da
potencialidade humana.
O termo raça compreenderia as características físicas e intelectuais que
distinguiam os indivíduos, tais peculiaridades representariam o grau de moralidade de
cada grupo. Não foi à toa que muitos adeptos das diferenças raciais atribuíam condutas
morais aos traços físicos. Um exemplo esteve na relação entre o negro e o intelecto. Na
concepção de alguns teóricos raciais, a inteligência do negro estaria degraus abaixo
quando comparada à capacidade intelectual do branco.
Este argumento tornou-se presente ao longo da história do Brasil para questionar
a ausência de negros ocupando posições intelectuais de prestígio. A carência de
intelectuais negros era, para muitos racialistas, resultado da sua própria incapacidade
intelectual. Entretanto, a formação intelectual brasileira advém, em sua maioria, de
condições econômicas e sociais, especialmente representada por indivíduos pertencentes
a famílias privilegiadas - e consequentemente brancas. Isto porque o negro ficou à
margem da hierarquia social, subjulgado desde o processo de escravização, como
ferramenta de trabalho do homem branco. Por este contexto, parece impensável um
cenário em que um escravo negro ou liberto assumisse a condição e aceitação na
intelectualidade da época. Embora existissem as exceções, havia uma diferença latente
entre os filhos de brancos formados em Coimbra ou escolas europeias, e os escravizados
e libertados tomados como força de trabalho. À época, a conclusão parecia óbvia na
leitura das capacidades raciais, cristalizando-se o pensamento de que "o negro era
intelectualmente inferior ao branco". Futuramente abordaremos a questão com mais
propriedade.
Em meio a um cenário em que qualquer cidadão poderia observar a disparidade
de características físicas por meio da observação racial, ocorre o enraizamento das
diferenças de raça, especialmente justificadas por uma carga histórica de hierarquização
de grupos. Nessa compreensão que entendemos o sentido de raça, como se diferenciam
as características físicas e mentais dos seres humanos. Esta questão pode ser percebida
em termos de "unidade nacional", à medida que diferentes grupos disputam o mesmo
espaço nacional.
Ao colocarmos à mesa a questão da nacionalidade, compete agora expor as
concepções que levam à leitura da imagem de um "país racista". Embora o assunto já
tenha se desenhado nas linhas anteriores, é preciso diferenciar os aspectos individuais
que nos caracterizam, o nosso "estilo racista" em comparação com outros. Este é um
exercício importante para diferenciarmos o modus operandi do racismo à brasileira.
Pode-se tomar o próprio continente americano como modelo para notar
semelhanças e diferenças nas relações raciais. Os Estados Unidos são um país que
possui a marca da divisão racial e tem em sua contemporaneidade a permanência de
tensões sociais envolvendo grupos brancos e negros. Em comparação ao Brasil, os
estadunidenses viveram em sua história a experiência do uso exploratório da mão de
obra negra como escravizada e contribuíram para o sentido hierarquizante das
diferenças raciais. Nesse mesmo país também foram gestadas e importadas uma gama
de explicações teóricas das diferenças raciais entre brancos e negros. Em um sentido
prático, perseguições tornaram-se rotineiras a grupos negros. Exclusões e separatismos
fomentaram um quadro de insustentável convivência, motivado por diferenças raciais.
Nos Estados Unidos, o conflito tornou-se público e gerou embate de direitos e, não
raramente, conflitos violentos à luz da sociedade.
A história do racismo em um país como os Estados Unidos não findou com o
término da escravidão, e pelo contrário, percorre todo o século XX e toma novos
contornos no XXI. Vale lembrar que aquele país foi um dos maiores propagandistas e
adeptos de resoluções práticas eugênicas, da qual a comunidade negra tornou-se um
alvo corrente. Além deste, outros grupos passaram a ser vistos como "indesejáveis",
sendo abarcados nas políticas eugênicas, por exemplo os mendigos, deficientes físicos e
mentais e indígenas. Pregava-se a segregação e esterilização para evitar a reprodução
destes indivíduos.
Os debates em torno dos direitos da população negra permaneceram durante
todo o século XX, culminando, então, em movimentos organizados nos anos seguintes à
Segunda Guerra Mundial. Entre as décadas de 1950 e 1960, lideranças do movimento
negro exigiam equidade nos direitos em vista da transformação social. Era preciso lutar
contra o preconceito racial, para que houvessem competições igualitárias no âmbito
social por empregos, escolas e moradias.
O pesquisador estadunidense George Andrews tem dedicado parte da sua vida
nos estudos sobre a questão racial no Brasil e nos Estados Unidos. Para ele, mesmo com
os avanços do movimento negro posteriores à morte do icônico símbolo de luta, o pastor
protestante Martin Luther King, as décadas seguintes representaram um processo de
estagnação de direitos, sobretudo pelo fato de o racismo haver se tornado de mais difícil
detecção. O trecho a seguir ilustra a situação:
Os anos 70 também testemunharam uma retomada crescente do
ressentimento e do ódio dos brancos contra os programas
governamentais que presumivelmente favoreciam os negros. Esse
movimento encontrou sua expressão política a nível nacional na
eleição de Ronald Reagan em 1968, que chegou à presidência
prometendo eliminar os programas de igualdade de oportunidade e
reduzir a ajuda governamental aos pobres, que, em grande número,
são negros.2
Este excerto demonstra como a luta por direitos tem uma demanda de conflitos
visíveis entre grupos raciais. A tensão social ainda é latente nos Estados Unidos nos dias
atuais. Em 2014, a cidade de Ferguson, localizada no estado de Missouri, foi manchete
no noticiário global por conta do assassinato cometido pelas forças policias, cuja vítima
foi um jovem negro, tendo este sido dado por motivos confusos e indecifráveis. O
episódio acarretou em uma série de convulsões civis, desencadeando um conflito direto
com a política, e a reflexão da atuação da instituição policial, na maneira como se
portavam com a comunidade negra. No caso em pauta, podemos traçar paralelos com a
realidade brasileira à medida que "grupos perigosos" - um eufemismo para negros e
pobres - são alvos frequentes da polícia e do Estado. Há, e com recorrência alarmante,
um número exponencial de execuções de negros sob as armas da polícia, sem qualquer
justificativa plausível.
Tomando o contexto brasileiro, vale lembrar o estudo da antropóloga Lilia
Schwarcz ao mencionar sobre a ação da cultura policial em conflitos raciais. Para a
pesquisadora, é comum eleger culpados sob a suspeita da cor da pele. O desfecho do
caso de uma chacina no Bar Bodega sugere como a noção da "cultura policial" possui
sua forma operante por critérios raciais:
Após acionarmos o contexto da questão racial nos Estados Unidos, uma última
consideração deve ser feita antes de voltarmos ao cenário brasileiro: a forma como as
tensões raciais foram tratadas pelos estadunidenses. A indicação de Andrews nos mostra
a dificuldade após os anos de 1970 na identificação de práticas racistas. Elas são
polimorfas. Essas práticas coexistentes no Brasil têm uma prevalência ainda maior,
como mostramos no fragmento da antropóloga brasileira.
O racismo no Brasil tem entre suas características a ênfase na sutileza e nos
eufemismos, esta perspectiva contribui para que o tema racial brasileiro seja tratado
com descaso e falta de seriedade por parte da população. Forjou-se a ideia do racismo
como algo mitológico no país, uma espécie de invenção de grupos sociais para alcançar
privilégios. No entanto, este diagnóstico não é novidade, ele tem um histórico na
organização social brasileira.
No século passado, houve uma diversidade de pesquisas, estas realizadas para
demonstrar as permanências e as características do racismo à brasileira. Ele não seria
uma miragem, mas parte das relações de poder pertencentes ao jogo social. A ideia do
racismo como construção imaginativa na coletividade ocorreu tanto no Brasil, como em
outros países. Um dos pilares dessa crença encontra-se nos acontecimentos do final da
Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, o mundo vivenciava uma série de
incertezas, uma vez que foi flagelado pela guerra e experimentou grandes traumas,
como a bomba atômica ou o holocausto de Adolf Hitler e da Alemanha Nazista. Era
preciso repensar novas estratégias para negar o argumento das "raças perfeitas", para
que um novo holocausto não batesse às portas no futuro.
Um dos esforços do pós-guerra foi materializado na criação da United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization, popularmente conhecida como
UNESCO. Nos objetivos da organização constaria o esforço em fomentar produções
intelectuais e eventos acerca da igualdade racial. No turbilhão dos acontecimentos, o
Brasil foi um dos países eleitos para os trabalhos da UNESCO, especialmente porque
acreditava-se que o país era exemplar na condução da igualdade racial e poderia ser um
modelo para o mundo. Nessa perspectiva percebe-se uma leitura de Brasil como uma
região harmoniosa em suas relações raciais4.
Tal "harmonia racial" recebeu um nome de "democracia racial". Intelectuais
como Florestan Fernandes, professor da Universidade de São Paulo, no período após a
segunda grande guerra e fomentado pela UNESCO, produziram estudos que
demonstravam a falseabilidade da dita "democracia racial". Fernandes acreditava que
este era um argumento histórico e oriundo do período colonial, refletindo na ideia
equivocada de que no Brasil não havia racismo. O conceito virou um mito justamente
por estudos como o de Florestan Fernandes sustentarem os desníveis da sociedade
brasileira, tanto nas relações socioeconômicas, como nas dificuldades estruturais da
sociedade dos negros se ascenderem ao chamado "mundo dos brancos".
Uma constelação de estudos surgiu na tentativa de subsidiar o jogo social das
cores e em quais camadas sociais os preconceitos eram edificados. A cada novo estudo
o Brasil se despia da roupagem de um país harmonioso, sem conflitos raciais e sociais, e
mostrava ao mundo a sua forma peculiar de hierarquização social.
Entre os pesquisadores que procuraram este retrato de Brasil racial está Luiz de
Aguiar Costa Pinto, sociólogo brasileiro, que desenvolveu um estudo sobre o negro no
Rio de Janeiro. Costa Pinto notou os desníveis na sociedade brasileira sob os critérios de
cor e raça. De outro modo, ele percebeu que posições específicas no mundo do trabalho
ou na vida social eram regidas pela questão racial. Podemos ilustrar melhor a questão
com alguns de seus quadros quantitativos da década de 1940. Neles é possível entender
como o argumento do Brasil racista se sustenta e como a trajetória do negro foi
construída na relativização da sua cor e raça.
5
Além das informações do quadro, é preciso notar que se trata de uma pesquisa
com quase oitenta anos, uma evidência da longa duração da manutenção das estruturas
de diferenciação racial. É como ouvir parte do grande público dizer que o único período
de desigualdade racial aconteceu na época da escravidão. Por esta lógica, acreditam que
os escravizados libertos a partir de 1888 conseguiram uma igualdade em todas as
esferas sociais e passaram a competir igualmente com branco e a massa imigratória.
Apesar de a abolição formal ter ocorrido, a memória social não apagou as relações
raciais advindas da escravidão e permaneceu com a imagem de inferioridade do negro e
na condição de subproduto humano. Embora livre, o negro continuaria dependente das
condições socioeconômicas impostas pela massa branca. A consequência da
manutenção dessa prática, como expressa no quadro de Costa Pinto, é que mesmo
depois de cinquenta anos do fim da escravidão o desnivelamento racial foi uma
constante.
Os dados sobre Proporção da população alfabetizada de 10 anos e mais,
segundo a cor. Distrito Federal - 1940, são sintomáticos para a percepção dos debates
em torno do sistema educacional brasileiro e quais as possibilidades de ascensão social
pela escolaridade de populações pobres, brancas e negras. A rigor, a questão era tratada
há algum tempo, e sociólogos e historiadores demonstravam assaz preocupação. As
referências de Costa Pinto sugerem quais cores dominavam a balança da escolarização e
quem eram seus beneficiados.
Em meio à pesquisa, Costa Pinto constatou o desnivelamento da alfabetização
quando relacionada às cores da população e sua quantidade de alfabetizados. Somando
os números absolutos, nota-se que em um universo de mais de um milhão de brancos do
Rio de Janeiro naquela década, uma porcentagem de mais de 87%, era alfabetizada. Ao
destacar a população negra, apenas pouco mais da metade era alfabetizada.
Para enfatizar a dinâmica das relações de cor, o sociólogo observou as chamadas
"favelas", onde verificou que 71% da sua composição era de negros e a quota dos
alfabetizados era baixíssima. Ele relata que de cada cem "favelados", 61,91% eram
analfabetos.6
Mas afinal, qual a importância do estudo da década 1940 para o debate da
discussão racial atual se estamos a quase oitenta anos daquele período? Seria um
exagero buscar um trabalho referente à alfabetização da primeira metade do século XX
para justificar a desigualdade e carência de escolarização entre brancos e negros
atualmente? Evidentemente que a sociedade atual apresenta uma nova configuração
quando comparada àquela década. No entanto, ao utilizarmos os estudos de Costa Pinto,
podemos verificar a presença de uma história da desigualdade social por meio da cor. O
quadro nos faz pensar acerca da continuidade de um processo de desigualdade que se
manteve décadas após a escravidão. Se pensarmos na contemporaneidade, a presença de
tais estudos oferece amostras de manutenção da desigualdade racial até os dias atuais,
uma vez que há um elemento de sobrevivência do racismo. Isto está inserido nas
constantes práticas de negação a existência do racismo e das alternativas de reequilibrar
a balança.
Trazendo a questão ao presente, podemos pensar os efeitos das condições de
equidade em nosso sistema educacional, seja no ensino de base ou no ensino superior.
Podemos questionar, por exemplo, qual seria a proporção de negros em comparação aos
brancos nas principais escolas privadas do país? Como são distribuídas na mesma
proporção a divisão de vagas nos cursos de medicina e direito nas universidades
públicas do Brasil? Apesar dos avanços nas últimas décadas no que diz respeito ao
acesso à universidade pública, sobretudo com a inclusão de políticas públicas, a abertura
de novos cursos e universidades e o empenho do governo em promover ações
inclusivas, ainda é possível constatar sociologicamente as "cores" dos cursos. Vale
ressaltar que desde o ano de 2005 o governo brasileiro triplicou os gastou com educação
e democratizou o acesso tanto em universidades particulares - a partir da isenção fiscal -
como na criação de novas universidades públicas7.
Os estudos de Costa Pinto e Florestan Fernandes não foram exceções no mundo
acadêmico. As pesquisas visando o estudo das relações raciais no Brasil encontraram
lugar privilegiado para acadêmicos brasileiros e brasilianistas. Atualmente pode ser
encontrada no mercado editorial, nas bibliotecas universitárias e nas lojas virtuais uma
ampla bibliografia centrada na tentativa de compreender as tensões das relações raciais
à brasileira. Há também uma variedade em espaço tempo, na qual o leitor pode apreciar
estudos desde a Diáspora Africana até estudos mais recentes de racismo no século XIX,
permitindo observar rupturas e continuidades. Carl Degler, Donald Pierson, Roger
Bastide, Octávio Ianni, Oracy Nogueira, Clóvis Moura, Kabenguele Munanga, Thomas
Skidmore, George Andrews, Carlos Hasenbalg, Lilia Moritz Schwarcz, Marcos Chor
Maio e Ricardo Ventura Santos são alguns dos incontáveis pesquisadores que
contribuíram na interpretação das relações raciais no Brasil.
Um olhar cuidadoso para a história da historiografia das relações raciais no
Brasil permite ao leitor identificar os esforços que nos levam a discordar da
"democracia racial" e colocá-la na estante das mitologias fabricadas. Entretanto, a
"democracia racial" é um mito duradouro e persistente, pois mesmo sob efeito do rolo
compressor de estudos justificando a sua condição de mito, ainda se idealiza o formato
de um país igualitário, no qual todos possuem as mesmas chances e condições. A
meritocracia urge como apêndice de sobrevivência desse mito.
O mito costuma ser alimentando, em grande medida, por parte da sociedade que
não percebe ou intencionalmente ignora as práticas de desigualdade social existentes no
Brasil. Talvez, um elemento que explique esse comportamento seja a ausência de
conflitos latentes - como guerras civis - por meio da questão racial. O Brasil vive uma
realidade diferente nesse sentido, se comparado aos Estados Unidos. Como não ocorreu
uma espécie de Apartheid "institucionalizado", ignora-se o fato das outras estruturas
conjecturais forneceram de diferentes maneiras, modelos parecidos de segregação. O
suposto pacifismo brasileiro proporcionou argumentos para o senso comum negar as
tensões sociais e raciais, tratando apenas a escravidão como momento histórico das
diferenças. Passada a escravidão, parte da sociedade entende que todas as formas de
opressão racial foram abolidas. Este é um antigo dilema para a manutenção do mito da
democracia racial, no qual é necessário um conflito bem definido - como a estrutura da
escravidão - para transparecer graus de espoliação.
Entretanto, o cenário atual brasileiro tem mostrado a força da sobrevivência do
mito da democracia racial. Um dos principais órgãos de verificação do Brasil, o
Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), tem sido uma bússola ignorada
pelos defensores da democracia racial na aceitação da desigualdade pela cor:
Comentário 1: "Preta Gil é gorda e a Hebe é velha, todo mundo vai rir
sempre".
Comentário 2: "Estamos colocando de volta o pensamento que já
existe".
Comentário 3: "O único critério da escolha da piada é ser engraçada".
Comentário 4: "Não tem que ter responsabilidade, tem que divertir".
Comentário 5: "Minha pretensão com a comédia é só destruir mesmo".
Capítulo 3
A História, os contextos, e os esforços em
deslegitimar a igualdade racial.
Com grande repercussão no século XIX e XX, as teorias raciais podem ser
datadas desde pelo menos o século XVIII. Embora exista controvérsia sobre a
apropriação do termo raça na história da humanidade, a antropóloga Lilia Schwarcz
sublinha que no início do Oitocentos o termo "raça" ganhou significado com "[...] a
ideia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos"25.
A discussão do primeiro capítulo sobre o poligenismo faz parte do entendimento das
diferenciações raciais. Enquanto o seu rival, o monogenismo, afirmava que a
humanidade partiria de um tipo primitivo único, o poligenismo acreditava no
surgimento da humanidade envolveria múltiplos processos, partindo de diferentes
lugares.
Compreender o significado de raça envolve situar a importância dos contextos.
Não é possível tratar o termo de forma única, uma vez que respondeu a diferentes
interpretações ao longo dos séculos. Dessa forma, nosso objetivo é tratar algumas
peculiaridades do termo raça e sua negociação com as teorias raciais debatidas no
Brasil. O esforço consiste em perceber como o termo raça ganha força como elemento
de diferenciação humana.
Partindo do campo intelectual, a célebre obra A origem das espécies, do
naturalista britânico Charles Darwin, teve grande impacto no mundo cientificista ao
demonstrar as diferenças por meio da seleção natural entre as espécies. A leitura
proporcionou diversas interpretações sobre a constituição e modificação das espécies ao
longo do tempo, inclusive nas diferenças raciais humanas. A discussão sobre espécies
mais capazes versus as menos capazes foi sugerida para explicar as relações sociais
humanas, especialmente no que envolve a raça. Muitos movimentos imperialistas foram
explicados sobre essa perspectiva, uma vez que se tratava da conquista do mais apto sob
o menos apto. Uma sociobiologia se tornaria chave explicativa para a identificação dos
chamados "tipos humanos".
É possível tratar com mais prioridade a relação política e de expansionismo
econômico do século XIX com as propostas de diferenciação humana. A prosperidade
econômica e política que viviam países europeus, especialmente entre 1848 a 1875, foi
lembrada por Hobsbawm ao grifar que "[...] nunca brancos de origem européia
dominaram com menos oposição, pois o mundo da economia e do poder capitalista
incluía pelo menos um Estado não europeu, ou melhor, uma federação, os Estados
Unidos da América"26. Em tal contexto, diversos países acreditavam terem o legítimo
direito em conquistar outros povos. Além da latente necessidade econômica do período,
havia a interpretação científica de que as conquistas eram compreensíveis à medida que
determinados povos eram materialmente e intelectualmente superiores a outros.
Parte da intelectualidade europeia acreditava que negros, nativos e amarelos
estariam em um degrau a menos na escala evolutiva quando comparado aos brancos.
Sendo assim, projetavam civilizações com conquistas materiais diferentes como
inferiores. Isto porque tomavam a sua cultura como parâmetro civilizatório. Em outras
palavras, partindo da sociedade inglesa, consideravam sua ciência, artes,
industrialização, maquinários e intelectualidade como topo civilizatório. Este aspecto
era mais visível quando entravam em contato com outras culturas. Por exemplo, em
contato com um grupo nativo ou autóctone, a forma de viver, conquistar alimentos,
religião, compreensão de mundo era adversa aos valores europeus. Do ponto de vista
imperialista, acreditavam que essas populações eram incapazes de atingir materialmente
e intelectualmente o mesmo nível de suas civilizações. A visão de "superiores" e
"inferiores" ajudava a forjar a forma como observavam outros povos.
Entre os intelectuais que contribuíram para este pensamento está o viajante
francês Arthur Gobineau - também conhecido como conde de Gobineau -, um dos mais
importantes adeptos e entusiastas das diferenças humanas do século XIX. Em sua
perspectiva, um dos grandes problemas do atraso intelectual e material estaria na
miscigenação das raças, pois a mistura entre o "diferente" acarretaria na diluição da
pureza e caminharia para a degeneração humana. Este autor considerava, por exemplo,
que a cultura material dos arianos era superior à dos nativos da América. Nos estudos
do antropólogo da Universidade Estadual Paulista, Andreas Hofbauer, Gobineau
visualizava o negro como de "caráter animal" e tinha o instinto de matar pelo prazer de
matar27.
Ainda na França, o médico Paul Broca, um dos pioneiros da antropologia física,
ficou conhecido por estudos relacionados a examinar e medir crânios e traçando padrões
morais e físicos. Por meio das suas pesquisas, ele chegou a conclusão da inferioridade
de negros e mulheres:
No entanto, é preciso salientar que crer em uma religião fora das "permitidas"
trazia como consequência a intolerância. Se as estratégias de sobrevivência se
reinventaram ao longo do tempo, as formas de perseguição também se rearranjaram.
Mesmo quando foram consideradas oficialmente livres, as religiões sofriam
perseguições às escuras. O histórico da religião é marcado por repressão dos senhores,
policiais e, mais atualmente, de fanáticos de outras religiões que atuam como agentes
repressivos.
Entre os signos das repressões na atualidade, uma das alternativas de coibir o
avanço dos direitos das religiões afro-brasileiras está na constante prática de
demonização. Isto é, mostrar a religião de matriz africana como opositora da religião
dominante. Apoiados no maniqueísmo, alguns líderes procuram tratar essas religiões
como "culto ao Diabo", a antítese do bem e do Deus cristão. Essa constante luta entre o
Bem versus o Mal faz com que se acumule o ódio às religiões afro-brasileiras,
entendidas como a personificação do mal. A incapacidade de compreender a liturgia e
os processos de culto das religiões de matriz africana foi um dos aspectos facilitadores
para a sua recusa. Ao projetarem nessas religiões o medo, conseguem angariar mais
fiéis e se afastarem de qualquer aproximação ecumênica.
Não à toa, religiões como o candomblé e umbanda, fazem parte do imaginário
coletivo de religiosos católicos e evangélicos como sinônimo de negatividade ou
práticas diabólicas. Dessa forma, o som dos atabaques, uma mãe de santo em suas
vestimentas ou a indicação de um terreiro, soa como aspectos negativos e repudiados. A
figura do "negro macumbeiro" passa a coexistir no jogo social dos estereótipos
culturais, representando o adorador do "demônio cristão".
A intolerância religiosa constitui outro exemplo do racismo à brasileira, uma vez
que a religião de matriz africana se torna alvo de perseguição e ataques físicos e morais.
Por meio da sua autoridade religiosa, líderes de religiões dominantes convulsionam as
massas, para reprimirem e negarem qualquer símbolo ou manifestação afro-brasileira.
No tópico seguinte, ilustraremos alguns casos que diagnosticam o problema da
intolerância religiosa no Brasil, especialmente em vista da negação do discurso afro-
brasileiro.
A Bíblia Sagrada nos ensina que não devemos adorar outros deuses e
quando realizamos um trabalho desses estamos compactuando com a
idéia de que outros deuses existem e isso fere as nossas crenças no
Deus único.44
A força da resistência
3- "Hoje em dia tudo é racismo, o mundo ficou sem graça, querem censurar
até o humor"
Em paralelo ao segundo capítulo, esta tem sido uma das mais famosas frases das
redes sociais. Quando alguém se revolta contra uma piada racista, sexista ou
homofóbica, surgem grupos em defesa do direito de oprimir. A defesa desse argumento
expõe a faceta dos seus defensores, normalmente pessoas que se sentem à vontade com
comentários preconceituosos.
Há duas formas de observar a questão. Em primeiro lugar há um lado positivo,
uma vez que o racista se revela. Nesse momento notamos grupos contra o preconceito
se manifestando e lutando pelo fim das discriminações. Era comum a vítima permanecer
em silêncio enquanto o opressor destilava o seu racismo. Com as redes sociais parece
haver uma união coletiva, na qual os oprimidos se mobilizam em uma forma de reação.
Em outras palavras é dar voz a quem não a tinha.
Por outro lado, o polo negativo está no alto índice de indivíduos que não
percebem o problema em rir da cor. A afirmação de que o mundo estaria sem graça sem
a opressão racial revela como são postadas as relações de cor e raça entre brancos e
negros. Tais indivíduos parecem se preocupar com as consequências do humor racista,
correndo o risco de serem identificados e expostos publicamente.
Há casos registrados de indivíduos que perderam seus empregos por exporem
conteúdo racista no espaço virtual. Pela lógica, os empregados são uma extensão da
empresa, o que pode gerar associações entre o pensamento do indivíduo e da marca.
Todavia, esses são casos isolados, pois a grande massa adepta ao racismo permanece às
sombras da punição.
Expressões como "mulher no fogão", "loira burra", "bicha louca" e "negro
bandido" são frequentes no riso opressor. A manutenção desses termos torna-se
importante para um público que só se encontra no humor opressivo. Sem ele, parte da
diversão deixa de existir. A ideia das minorias como elemento de riso da maioria é um
dispositivo que sustenta a manutenção da desigualdade social e racial.
Por fim, é preciso interpretar as reações de grupos oprimidos como uma forma
de resistência contra o opressor. O mundo deixou de ser "engraçado", ao menos em
alguns momentos, para quem oprime. As consequências negativas para quem se
apropria do humor racista devem ser comemoradas por toda a população como forma de
resposta.
Embora esta parte represente o fechamento do livro, há ainda muita coisa a ser
debatida. O "descobrimento" da internet revelou um novo ecossistema, uma terra muitas
vezes sem leis na qual o preconceito mostra sua força e sobrevivência. Mesmo no
século XXI, as redes sociais confirmam a manutenção das práticas racistas e ao mesmo
tempo a persistência da falsa tese da democracia racial brasileira. Protegidos por
computadores e celulares conectados à internet, o racista se sente protegido para revelar
a essência da sociedade brasileira sobre a questão racial. A curto prazo, o cenário é
pessimista, pois pouca coisa pode ser feita e os instrumentos de identificação e punição
tem se mostrado ineficientes.
A potencialidade dos discursos racistas atingiu novos patamares de percepção
com as redes sociais. Se fosse vivo hoje, Florestan Fernandes talvez tivesse menos
trabalho em confirmar suas teses sobre o mito da democracia racial de décadas atrás.
Bastaria acessar as notícias sobre racismo e ler os comentários dos usuários na internet.
Independente do momento histórico, o racismo vem sofrendo metamorfoses e se
adaptando a cada nova década ou novo século. Sua manifestação no humor, nas ideias
provenientes das teorias raciais, na política, no cotidiano, nas abordagens policiais e nos
estereótipos culturais, mostram como a luta ainda está apenas no começo.
Diante o quadro pessimista, qual a solução? A saída não parece ser outra, senão a
luta e a denúncia constante do racismo em todas as suas formas. A mobilização social
exigindo as políticas públicas de equidade racial, bem como o fortalecimento de
movimentos e instituições que buscam dialogar e representar a questão racial. O maior
temor do discurso da democracia racial é a tarja de mito. Sua estrutura se mantém
convencendo a população que o racismo é uma imaginação de grupos negros e o país
vive em plena harmonia.
Para revelar a verdadeira face do discurso de democracia racial é preciso
desvendar seus eufemismos, revelando suas principais estratégias de ação e
sobrevivência. Os eufemismos têm o poder de adoçar a amargura, distribuído uma nova
roupagem para algo negativo, deixando mais atraente e receptivo. O humor racista
talvez seja a sua faceta mais sombria.
Por fim, é preciso insistir no debate sobre a questão racial e resistir as investidas
daqueles que tentam dizer que "está tudo bem". Na agenda da luta contra o racismo
deve entrar a democratização racial das universidades, na qual as cotas passem a existir
como regra e não exceção. Outro ponto consiste no aparelhamento dos mecanismos de
identificação do racismo na internet e redes sociais. Somente com uma vigilância
constante é que podemos intimidar aqueles que ainda pensam que podem oprimir.
,
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628-645.
ZINK, Rui. Da bondade dos estereótipos. In: LUSTOSA, Isabel (org.). Imprensa,
humor e caricatura: A questão dos estereótipos culturais. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2011.
1
Definição do historiador Marc Bloch ao pensar o tempo histórico. BLOCH, 2002, p. 55.
2
ANDREWS, 1985.
3
SCHWARCZ, 2012, p. 117
4
Recomenda-se a leitura dos textos de Marcos Chor Maio sobre o projeto UNESCO e sua atuação no
Brasil.
5
Quadro de Costa Pinto, p. 153.
6
Idem., p. 155.
7
ANDERSON, 2011, p. 29-30.
8
Recomenda-se a consulta em: IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida
da população brasileira. Rio de Janeiro : IBGE, 2015. Disponível em: http://ibge.gov.br/ (Acesso em
10/07/2016).
9
Idem.
10
RIBEIRO, 1995, p. 226.
11
BRECHT, 2000 p. 80.
12
WEINMANN; CULAU, 2014, p. 631.
13
GRUDA, 2014.
14
PROPP, 1992, p. 32.
15
BERGSON, 1993, p. 31-32.
16
DELIGNE, Alain, 2011, p. 36.
17
EVOLA, 1895 apud BAUMAN, 1998, p.44.
18
FERNANDES, 2008, p. 166.
19
ZINK, 2011, p. 49.
20
Ver: SECRETARIA GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA; SECRETARIA NACIONAL DE
JUVENTUDE; MINISTÉRIO DA JUSTIÇA; FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA.
Índice de vulnerabilidade juvenil à violência e desigualdade racial 2014. Brasília: Presidência da
República, 2015, p. 34.
21
LAVILLE, Christian, 1999, p. 133-134.
22
COLLINS; PINCH, 2003, p. 197.
23
Ver: FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Três vezes Zumbi: a
construção de um mito brasileiro. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
24
MUNGANA, 1987, p. 53.
25
SCHWARCZ, 1993, p. 63.
26
HOBSBAWM, 2014, p. 213.
27
HOFBAUER, 2006, p. 126.
28
GOULD, 1999, p. 76.
29
LOMBROSO 1911b APUD, CARVALHO, 2014, p. 10.
30
SANTOS, 2010, p. 86.
31
Para uma leitura mais aprofundada recomenda-se: DE LUCA, Tania Regina. A Revista do Brasil: um
diagnóstico para a (N)ação. São Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1999.
32
STEPAN, 2005, p. 54.
33
KEHL, 1929, p. 188.
34
STEPAN, 2005, p. 37-39.
35
https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53 (Acesso em 02/12/2016).
36
SHAW, 1916 apud COSTA PINTO, 1988, p. 169.
37
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm (Acesso em
11/03/2016).
38
SILVA, 1994, p. 34-35
39
PARÉS, 2007, p.126.
40
SEVCENKO, 1983, p.33.
41
VERGER, 2000, p. 23.
42
http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/comissao-de-direitos-humanos-aprova-autorizacao-para-
cura-gay.html. (Acesso em 10/08/2016).
43
http://g1.globo.com/bahia/noticia/2012/02/lei-do-pai-nosso-comeca-ser-praticada-nas-escolas-de-ilheus-
ba.html. (Acesso em 10/08/2016).
44
http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/11/evangelicos-se-recusam-apresentar-projeto-sobre-
cultura-africana-no-am.html. (Acesso em 10/08/2016).
45
http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/09/03/rj-aluno-e-impedido-de-frequentar-escola-com-guias-
de-candomble.htm. (Acesso em 10/08/2016).
46
http://extra.globo.com/casos-de-policia/vitima-de-intolerancia-religiosa-menina-de-11-anos-apedrejada-
na-cabeca-apos-festa-de-candomble-16456208.html. (Acesso em 10/08/2016).
47
http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,terreiro-de-candomble-e-incendiado-na-baixada-
fluminense,1519654. (Acesso em 10/08/2016).
48
PRANDI, 2009, p. 51.
49
Ver: www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf. (Acesso em 07/07/2016).
50
www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf, p. 83-84. (Acesso em 07/07/2016).
51
https://esportes.yahoo.com/blogs/jorge-nicola/desempregado-aranha-diz-que-%C3%A9-chamado-de-
branca-120342362.html (Acesso em 15/10/2016).