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RESUMO - Bromus auleticus Trinius é a wna gramínea nativa, perene, de produção hibernal; e
ocorre naturalmente em solos rasos e rochosos do Sul do Brasil, Uruguai e Argentina. Durante o
ano de 1990, a coleção de plantas individuais desta espécie, existente no Centro Nacional de Pes-
quisa de Ovinos (CNPO-EMBRAPA), foi cortada mensalmente, entre os meses de fevereiro e
setembro, e determinada a sua produção de matéria seca por planta. Com base nestas produções,
foram construídas as curvas de distribuição de forragem. Em amostras compostas, determinaram-
se os teores de proteína bruta e digestibilidade in vitro da matéria seca. Com base nos resultados
obtidos, na estabilidade de produção de forragem durante o outono e inverno, e na qualidade da
forragem produzida, B. auleticus é considerada como uma espécie de grande potencial para futuro
uso em cultivo, como pastagem para a estação fria
Termos para indexação: gran1ínea nativa, gramínea perene, matéria seca, proteína bruta, digesti-
bilidade.
ABSTRACT - Bromus auleticus is a native, perennial, \\'Ínter gro\\'Íng species of grass. His natu-
ral habitat is on shallow and stony soils of Southern Brazil, Uruguay and Argentina. ln 1990, the
collection ofindividual plants at the "Centro Nacional de Pesquisa de Ovinos" ofEMBRAPA was
cut between February and September and the yield of dry matter was evaluated. Based on these
data the curves of forage distribution were determined. ln adittion, the analysis of crude protein
and i11 vitro dry matter digestibility was made. Toe results show that this species has a good po-
tential for future use as a pasture grass during the \\inter.
lndex terms: native grass, perennial grass, dry matter, crude protein, digestibility.
planta característica do planalto meridional do de alguns deles de se adaptarem a solos com tex-
Brasil, onde apresenta ampla e descontínua dis- tura argilosa, e identificaram oito genótipos su-
persão, porém com inexpressivo número de indi- periores quanto à produção de matéria seca, e que
víduos, sendo encontrada principalmente em todos os genótipos avaliados apresentavam boa
campos secos com solos rasos e rochosos. Este qualidade de forragem, determinada pela per-
fato é confirmado por Longhi ( 1977). Esta espécie centagem de proteína bruta e digestibilidade in
também já foi encontrada na região da campanha vitro da matéria seca.
do Rio Grande do Sul, nos municípios de Livra- O presente trabalho teve como objetivo determi-
mento, Uruguaiana (Smith et ai. 1981) e Bagé nar a curva de distribuição da produção de maté-
(Gonçalves et ai. 1988). ria seca e a correspondente qualidade da forragem
Entre 1952 e 1962, na Estação Experimental de B. au/eticus produzida ao longo da estação de
de Vacaria, da Secretaria da Agricultura do Rio crescimento (março a setembro).
Grande do Sul, -foram realizados -.vários -experi-
mentos com esta espécie. Em 1952, efetuaram-se
ensaios de competição com espécies perenes de MATERIAL E MÉTODOS
inverno. Em 1953, ensaios de época de semea-
dura. Em 1954, experimentos de consociação com O estudo foi conduzido no banco ativo de germo-
cereais de inverno para a produção de grãos. Em plasma de forrageiras do Centro Nacional de Pesquisa
1956, ensaios de consociação· cóm leguminosas. de Ovinos, da EMBRAPA, localizado no município de
Bagé, Rio Grande do Sul. .
Em todas estas avaliações, B. au/eticus mostrou
O solo pertence à Unidade de Mapeamento Bexi-
produções semelhantes às obtidas com as espécies goso, um Brunizém raso, de textura argilosa, relevo
tradicionalmente cultivadas (Secretaria da ondulado e substrato de granito. Quimicamente, são
Agricultura, 1952, 1953, 1954, 1956). Em 1958, solos áci<los, com saturação de bases média a alta, sem
foram estabelecidos potreiros em cultivo extreme, problemas de AI trocável nos horizontes superficiais e
com a avaliação estendendo-se até 1962. Neste relativamente pobres em nutrientes disponíveis. Os
experimento, os animais em pastejo nestas áreas teores de matéria orgânica são baixos a médios, situ-
durante os meses de julho a outubro ganharam, ando-se entre 2,0 e 2,5% (Macedo 1984 ).
O clima da região é mesotérmico i;ubtropical, da
em média, 876 g/dia (Secretaria da Agricultura,
classe Cfa na classificação de Kõppen. A precipitação
1958 e 1962).
média anual é de 1.300 mm, com chuvas regularmente
Na Fazenda Experimental de Criação "Cinco distribuídas durante o ano. A temperatura média anual
Cruzes", em Bagé, RS, hoje Centro Nacional de é de I 7,6"C. As temperaturas extremas situam-se entre
Pesquisa de Ovinos - CNPO/EMBRAPA -, duran- -4"C e 41°C, ocorrendo formação de geadas principal-
mente nos meses de junho a agosto.
te o ano de 1965 (Brasil, 1966), comparando-se
espécies e ecótipos de Bromus spp., concluiu-se O material avaliado faz parte de uma coleção de 45
que a cevadilha vacariana foi superior aos dois acessos de Bromus auleticus, identificados pelo Código
ecótipos de B. catharticus avaliados. Nacional Numérico utilizado pelo Centro Nacional de
Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia
Formoso & Allegri ( 1984), estudando o com- (CENARGEN). Estes acessos estão no campo, na
portamento de espécies perenes de inverno em forma de plantas individuais, sem repetição.
solos arenosos, pesados e hidromórficos do norte As plantas foram cortadas a cada 28 dias, sendo o
do Uruguai, constataram que apenas neste último primeiro corte em 23.02.90, e o último, em 10.09.90,
a cevadilha vacarina não apresentou comporta- num total de oito cortes. A altura de corte foi de 3 cm
mento satisfatório; em solos arenosos, a produção do nível do solo. O material colhido foi pesado e colo-
outonal foi significativamente superior à das de- cado em estufa de ar forçado a 60°C, até peso cons-
tante.
mais espécies. No oeste do Uruguai, Millot et ai.
Após a realização de todos os cortes, foram calcu-
(1990) obtiveram produções de matéria seca de ladas as médias da prodJ.ição de matéria seca, proteína
2.850 kg/ha com um corte, 2.820 kg/ha com dois bruta e digestibilidade in vitro da matéria seca para
cortes, e 4.510 kg/ha com três cortes. Moraes & cada um dos cortes de todos os 45 acessos que com-
Oliveira (1990), avaliando uma coleção de 54 põem a coleção. Também foram calculadas as médias
acessos desta espécie, confirmaram a capacidade de cada uma das características medidas para os cinco
g/PLANTA
35~-----------------------------,
32,3
30
25
20
15
11,2
10 7,9
7,4 7,5
TABELA 1. Médias mensais da produção de matéria seca de Brom,,s auletú:us em gramas por planta.
g/PLANTA
70
62,5
60
50
40
30 2 ,5
20 17,8 ·
14,1
10
o
FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET.
maior uniformidade na distribuição de forragem elo reprodutivo aproxima-se das produções apre-
entre o verão e o outono e produções médias mais sentadas nas cuIYas anteriores (Fig. 4). Em com-
altas, uma vez que se trata de plantas escolhidas paração com a Fig. 3. há um aumento na média
por suas produções. A quantidade de MS colhida de produção de matéria seca nos meses de junho e
no outono representa 58.61% da soma das quanti- julho. Isto. no entanto. não reverte a tendência de
dades de outono mais a de inverno (Tabela l). uma pequena superioridade na produção do outo-
Na Fig. 3 está representada a curva de produ- no em relação à de inverno (57,61%), conforme
ção dos dez acessos selecionados por Moraes & se vê na Tabela 1.
Oliveira (1990). Ela se assemelha às encontradas Em todos os gráficos apresentados, observa-se
nas Fig. 1 e 2. As diferenças no valor médio de que no mês de agosto houve uma tendência de to-
produção de matéria seca devem-se à superiori- dos os acessos terem uma produção muito similar.
dade dos acessos selecionados e à entrada de mais Isto pode ser explicado pelo período de estiagem
cinco acessos no cálculo da média deste grupo. que ocorreu nos meses de junho a agosto (Fig. 5).
Confirma-se a tendência de uma produção de ou- Outro detalhe importante é a tolerância que a
tono maior que no inverno (56,69%) (Tabela 1). espécie apresenta ao frio, com crescimento mesmo
A distribuição da produção de forragem dos no período em que ocorreram geadas. Observou-
quinze acessos escolhidos por sua produção e ci- se. nas condições de campo. que mesmo o rebrote
g/PLANTA
60
52,1
50
40
30
20 1,9
14,2
9,6 ~,2
10
o
FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET.
g/PLANTA
60
53,4
50
40
30
20
14,3
10
10 ª·4
o
FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET.
25
400
20
300
15
200
10
100
5
o
FEV. MAR. ABR. MAIO JUN. JUL. AGO. SET.
de alguns dias de idade não foi queimado pelas PB como os de DIVMS foram bastante altos. No
geadas. outono, os teores de PB variaram de 13,25 a
20,69%, e a disgestibilidade ficou entre 48, 70 e
70,56%. Já no inverno, os valores de PB e diges-
Qualidade de forragem tibilidade ficaram entre 22,43 e 29,54% e 64,87 e
80,68%, respectivamente. Estes valores são bem
Na Tabela 2 são apresentadas as percentagens superiores aos encontrados por Coelho et ai.
médias de proteína bruta (PB) e digestibilidade in ( 1987) em outras espécies de gramíneas perenes
vitro da MS (DIVMS) obtidas nas diferentes épo- de estação fria, e por Moraes & Oliveira ( 1990)
cas do ano. em B. au/eticus. Berreta et ai. ( 1990), também em
Quanto à percentagem de PB, observa-se que, B. au/eticus, encontraram percentagens de PB
independentemente do número de acessos toma- entre 15 e 16% em cortes realizados entre abril e
dos para o cálculo das médias, existe um aumento setembro, com uma acentuada queda no início do
gradual à medida que vão transcorrendo as épocas verão(6%).
do ano; a mesma tendência é mostrada com A melhoria na qualidade de forragem obser-
relação à digestibilidade. vada do outono para o inverno ocorreu, prova-
O corte de verão é o que proporcionou forra- velmente, porque durante o andamento do traba-
gem de qualidade mais baixa, variando, nesta lho as plantas modificaram o seu hábito de cres-
época do ano, de 7,25 a 14,40% de PB e 25.l 7 a cimento. Nos cortes do outono, as plantas atingi-
56,64% para digestibilidde in vitro da MS. A am uma altura do rebrote em média de 37,5 cm.
causa provável disto é que o corte foi realizado enquanto durante o inverno esta média foi de
após um período muito longo de tempo e com a 22, 7 cm, com um maior perfilhamento das plan-
presença de grande quantidade de colmos e folhas tas. trazendo, como conseqüência, maior quanti-
velhas. Este corte pode ser encarado como um dade de folhas em relação ao período anterior.
corte de limpeza ou emparelhamento. Na avaliação feita do ataque por lebres, onze
Nas outras épocas do ano, tanto os teores de genótipos foram considerados como não consumi-
TABELA 2. Médias da percentagem de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria seca
(DIVMS) por estação do ano em Bromus auleticus.
%PB %DIVMS
dos ou pouco consumidos. Apenas um destes, o BURKART, A Flora i\ustrada de Entre Rios
acesso BRA 000761, está presente nos grupos de (Argentina). Colección Científica dei INTA, v.6,
dez ou quinze acessos. Os restantes foram muito n.2, 1969.
ou completamente consumidos. O teste acidental COELHO, R.W.; GIRARDI-DEIRO, A.M.; ACEVE-
realizado com lebres sugere que o mesmo deva ser 00, AS.; MORAES, e.o.e.; GONÇALVES,
repetido com ruminantes. Quanto a este aspecto, J.O.N.; GONZAGA, S.S. Avaliação, produção e
na Estação Experimental de Vacaria, em 1962, penistência de gramíneas de estação fria sub-
animais em pastejo em áreas de cultivo extreme metidas a pastejo. Bagé: EMBRAPA-CNPO,
1987. v.1, p.451-458. Coletânea de Pesquisas.
de B. auleticus, nos meses de julho a outubro, ga-
nharam, em média, 876 g/dia (Secretaria da FORMOSO, F.A.; ALLEGRI, M.A. Estudio compa-
Agricultura 1962). rativo de gramíneas perennes invemales en
suelos arenosos, pesados e hidromórficos.
CONCLUSÕES Montevideo: Centro de Investigaciones Agrícolas
"Alberto Boerger", Estación Eiq>erimental Agro-
pecuaria dei Norte, 1984. (Miscelánea, 56).
1. Bomus auleticus é uma espécie que apre-
senta grande potencial para uso futuro em cultivo GONÇALVES, J.O.N.; GIRARDI-DEIRO, A.M.;
como forrageira perene de estação fria, por sua GONZAGA, S.S. Campos naturais ocorrentes
distribuição uniforme de produção de forragem nos diferentes tipos de solo no município de
durante o período critico de produção do campo Bagé, RS. 1. Caracterização, locafüação e prin-
cipais componentes da vegetação. Bagé: EM-
nativo e pela qualidade que apresenta. BRAPA-CNPO, 1988. 28p. (EMBRAPA-CNPO.
2. No entanto, ainda são necessários estudos Boletim de Pesquisa, 12).
para que esta espécie possa ser utilizada.
LONGID, H.M. O gênero Bromus L. (Gramineae) no
Rio Grande do Sul. ln: CONGRESSO NACIO-
REFERÊNCIAS NAL DE BOTÂNICA, 26., 1975, Rio de Janeiro.
BERRETA, E.J.; FORMOSO, D.; CARBAJAL, C.M.; Anais... Rio de Janeiro: Academia Brasileira de
FERNANDEZ, J.; GABACHUTIO, I.R. Produc- Ciências, 1977. p.333-342.
ción y calidad de diferentes especies forrajeras
nativas en condiciones de campo. ln: SEMINA- MACEDO, W. Levantamento de reconhecimento dos
RIO NACIONAL DE CAMPO NATURAL, 2., solos do município de Bagé, RS. Brasília: EM-
1990, Tacuarembó. Anais ... Montevideo: Hemis- BRAPA-UEPAE de Bagé, 1984. 69p.
ferio Sur, 1990. p.49-62. (EMBRAPA-UEPAE de Bagé. Documentos, 1).
BRASIL. Ministério da Agricultura, Departamento MILLOT, J.C.; MAJÓ, G.; CARRIQUIRY, E.;
Nacional de Pesquisa Agropecuária, Instituto de ACQUISTAPACE, M. Diversidad genética en la
Pesquisa e Experimentação do Sul, Fazenda Ex- producción de semillas de Bromus auleticus. ln:
perimental de Criação "Cinco Cruzes". (Bagé, SEMINARIO NACIONAL DE CAMPO NATU-
RS). Relatório Anual de Atividades, Bagé, RAL, 2., 1990, Tacuarembó. Anais ... Montevi-
1966. deo: Hemisferio Sur, 1990. p.95-104.