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http://dx.doi.org/10.18512/1980-6477/rbms.

v14n2p182-195

CULTIVO DE SORGO EM SISTEMA


DE VAZANTE COM E SEM COBERTURA DO SOLO

EDUARDO JOSÉ BEZERRA DA COSTA1, EDUARDO SOARES DE SOUZA1,


GENIVAL BARROS JUNIOR1, JOSÉ NUNES FILHO2, JOSÉ ROMUALDO DE SOUZA3,
JOSÉ NILDO TABOSA2, MAURÍCIO LUIZ DE MELLO VIEIRA LEITE1

1
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/ UAST - Unidade Acadêmica de Serra Talhada – PE, ejbcosta@yahoo.
com.br, eduardo.ssouza@ufrpe.br, genival@uast.ufrpe.br, nopalea21@yahoo.com.br
2
Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, nunes.filho@ipa.br, nildo.tabosa@ipa.br
3
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/ UAG Unidade Acadêmica de Garanhuns, romualdo@uag.ufrpe.br

Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.14, n.2, p. 182-195, 2015

RESUMO - O sistema de vazante consiste em plantar nas margens dos reservatórios, em solos com declive suave,
enquanto o nível de água diminui progressivamente. Trata-se de uma alternativa de autossustento constantemente em-
pregada pelos agricultores nos períodos de estiagem no Semiárido. Objetivou-se, com esta pesquisa, avaliar o desem-
penho produtivo de quatro variedades de sorgo (IPA 2502, IPA 4202, IPA 467-42 e IPA SF-25) em sistema de vazante
com e sem cobertura morta no solo. A cobertura do solo foi a palhada de Taboa (Typha domingensis), escolhida por
ser abundante na região. Foram avaliadas a biometria das plantas e as produções de matéria verde (MV) e de matéria
seca (MS). O experimento foi em blocos ao acaso, no esquema fatorial 4 x 2, com 4 repetições. As maiores produções
de fitomassa foram obtidas com as cultivares IPA 467-42 e IPA SF-25. A variedade IPA SF-25, quando cultivada com
cobertura morta, aumentou em 62% a produção de MS. A produtividade média de MS de 12,85 t ha-1 do experimento
indica o sistema de vazante como uma excelente alternativa para produção de sorgo em períodos de seca.
Palavras-chave: Semiárido, Sorghum bicolor, taboa (Typha domingensis).

GROWING SORGHUM IN FLOOD RECESSION AGRICULTURE WITH


AND WITHOUT MULCHING

ABSTRACT - Flood recession agriculture consists of cropping the reservoirs margins, on slight slope, while the water
level progressively decreases. It is an alternative of self-support widely used by farmers in dry periods. The objective of
this research was to evaluate the performance of four sorghum varieties (IPA 2502, IPA 4202, IPA 467-42 and IPA SF-
25) on flood recession agriculture when subjected to two conditions of soil cover (with and without mulch). Southern
cattail straw (Typha domingensis) was used, for mulching because it is abundant in the region. Biometrics of plants and
the production of green matter (GM) and dry matter (DM) were evaluated. The experimental design was randomized
blocks, in a factorial 4 x 2, with four replications. The highest yields of biomass were obtained for the cultivars IPA
467-42 and IPA SF-25. DM yield increased 62% for the IPASF-25 variety grown with mulch. The average yield of
12.85 t DM ha-1 of the experiment indicates that the flood recession agriculture is an excellent alternative for sorghum
production in the dry season.
Key words: semi-arid; Sorghum bicolor; southern cattail (Typha domingensis).

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Cultivo de sorgo em sistema de vazante... 183

No Semiárido brasileiro, as áreas dos va- ocorre o período de seca. A utilização de palhadas ou
les, baixadas ou baixios, e as áreas planas ou suave- restolhos de culturas como cobertura morta pode con-
mente onduladas que lhes são adjacentes, são as que tribuir para retenção da umidade no solo, garantindo a
têm maior potencial de produção agrícola, em função produção mais regular das plantas cultivadas no siste-
de uma maior disponibilidade hídrica. Para elas, con- ma de vazante. A presença de palhada na superfície do
vergem as águas das bacias, seja na forma dos riachos solo reduz a taxa de evapotranspiração das culturas,
intermitentes, do escoamento subterrâneo ou da re- sendo prática importante principalmente nas regiões
vência dos açudes. A agricultura de vazante consis- semiáridas, onde a demanda evapotranspirativa da
te em cultivar nestas bordas ou margens, em declive planta é aumentada em decorrência da alta incidência
suave, à medida que a água vai baixando. A cultura de radiação solar e baixa umidade do ar, concorrendo
utiliza apenas a água presente no solo para realizar para uma maior demanda hídrica (Santos et al., 2012).
o seu ciclo e produzir em plena época de estiagem. A espécie vegetal para a cobertura morta deve
A agricultura de vazante é sem dúvida uma das téc- ser escolhida em função da farta disponibilidade de
nicas mais baratas. Dadas as condições naturais de biomassa e que, de preferência, não se constitua como
fertilidade e de armazenamento de água encontradas fonte de alimento humano e/ou animal da região.
no solo, não necessita de tanta energia externa e de Neste contexto, a taboa (Typha domingensis), planta
equipamentos para o cultivo das plantas. Apesar de de regiões alagadas, típica de brejos e várzeas, e que
ser uma técnica bastante utilizada, é notória a ausên- se encontra espalhada por todo o mundo, apresenta
cia de estudos mais aprofundados sobre o cultivo de atributos relevantes para que seja empregada como
vazante, o que não possibilita uma avaliação das suas cobertura morta de solos.
potencialidades (Antonino et al., 2005). Diante do exposto, nesta pesquisa buscou-se
O sucesso do sistema de vazante está associa- avaliar a viabilidade e a produtividade de quatro cul-
do à capacidade dos solos armazenarem água por pe- tivares de sorgo em sistema de vazante, submetidos
ríodo de tempo satisfatório à finalização do ciclo da a duas condições de cobertura do solo (com e sem
cultura e à aptidão da cultura para suportar o estresse cobertura morta).
hídrico. O sorgo surge como alternativa para o cultivo
de vazante, pois se trata de planta capaz de sobreviver Material e Métodos
e produzir em condições de limitado suprimento de
água em períodos longos de seca. Devido a sua tole- O ensaio experimental foi conduzido no ano
rância ao estresse hídrico, o sorgo pode ocupar áreas agrícola de 2012, na Estação Experimental Dr. Lauro
onde a cultura do milho não apresenta desempenho Ramos Bezerra (07o 59’ 00’’ S, 38o 19’ 16’’ W.Gr. e
satisfatório. O seu uso se justifica por suas caracterís- 500m de altitude), pertencente ao Instituto Agronô-
ticas agronômicas que, entre outras, incluem elevada mico de Pernambuco (IPA), município de Serra Ta-
produtividade de biomassa (Tabosa et al., 2007). lhada, localizado na Zona Fisiográfica do Sertão, na
Embora os solos funcionem como um exce- Microrregião Alto Pajeú. Segundo Köppen, o clima
lente reservatório de água para o cultivo de vazante local é do tipo BSwh’. A precipitação pluvial média
existe uma considerável evaporação de água quando anual fica em torno de 632 mm, sendo que o perío-

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do mais chuvoso concentra-se nos meses de janeiro dry, 2001). No início do experimento, determinou-se
a abril e é responsável por 65% das chuvas anuais. a profundidade do lençol através de tradagens. No dia
As temperaturas do ar médias mensais oscilam entre 02/08/2012, foram instalados seis poços de obser-
23,6 e 27,7°C e as temperaturas mínimas entre 18,4 e vação na área experimental, para acompanhamento
21,6°C (Sectma, 2006). semanal do nível do lençol freático e verificação da
As temperaturas mais altas ocorrem durante os profundidade máxima do lençol ao final do ciclo da
meses de novembro, dezembro e janeiro, com valo- cultura. Os poços foram instalados com auxílio de um
res superiores a 32 °C. O solo da área experimental é trado tipo caneco, no centro das parcelas experimen-
classificado como Argissolo Vermelho Amarelo (San- tais, sendo constituídos por tubos de PVC de 75 mm
tos et al., 2006). de diâmetro e profundidade de 2,0 m.
Na Tabela 1, são apresentadas as proprieda- Com os valores de profundidades e da taxa de
des físicas do solo da vazante. A superfície do solo rebaixamento do lençol freático (Rd), determinou-se
é uniforme de textura franco-arenosa nos Blocos I e o turno de semeadura na vazante (Tv) para analisar
IV, enquanto que os Blocos II e III são mais arenosos a sua adequação ao ciclo da cultura do sorgo. O Rd é
(areia franca). Os valores são aproximados para as calculado por:
demais propriedades físicas (densidade do solo - rs, Rd = (LPmax – LPmin)/Dt (1)
densidade das partículas - rp, resistência a penetração sendo LPmax e LPmin as leituras dos níveis do lençol
– RP e conteúdo volumétrico de água no solo -θ). As freático máxima e mínima observadas para um deter-
medidas de densidade do solo foram realizadas com minado intervalo de tempo Dt. Neste caso, o Rd médio
cilindro tipo Uhland com 0,05 m de altura e diâmetro, foi obtido separando os poços mais próximos e mais
enquanto que as medidas de resistência mecânica à distantes da margem do açude.
penetração foram realizadas até 0,20 m de profundi- E, de acordo com Antonino & Audry (2001), o
dade com o penetrômetro de impacto modelo Stolf Tv pode ser identificado pela relação:
(Stolf et al., 1983). Estas avaliações foram realizadas Tv = (Pmax – Pmin)/Rd (2)
antes da instalação do experimento na área. onde: Tv = turno de semeadura de vazante; Pmax –
Para o manejo do cultivo de vazante, foram es- Pmin = diferenças entre a máxima e a mínima profun-
tabelecidos os valores mínimo (Pmin) e máximo (Pmax) didade do lençol freático e Rd = Taxa de rebaixamen-
de profundidade de lençol freático (Antonino & Au- to do lençol freático.

TABELA 1. Atributos físicos do solo da vazante do açude Saco.


rs rp RP q Areia Silte Argila Classe textural
Blocos
---------g cm --------- MPa
-3
cm cm --------------------%------------------
3 -3

I 1,51 2,49 1,95 0,07 81 7 12 Franco arenoso


II 1,54 2,50 2,38 0,05 83 7 10 Areia franca
III 1,49 2,49 2,05 0,03 82 8 10 Areia franca
IV 1,53 2,50 3,32 0,02 80 8 12 Franco arenoso
rs: densidade do solo; rp: densidade das partículas; RP: resistência a penetração; q: conteúdo de água no solo.

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As características agronômicas e a produtivi- (DAS), foi realizado o desbaste, deixando três plantas
dade do sorgo na presença e ausência de cobertura por cova.
morta foram avaliadas obedecendo a um delineamen- No dia 14/08/2012, foi realizada a adubação de
to experimental em blocos ao acaso, no esquema fato- cobertura na proporção de 91 kg de N e 117 kg de K2O
rial 4 x 2 (quatro cultivares de sorgo x duas condições por hectare, seguindo as recomendações de adubação do
de cobertura de solo), com quatro repetições. Para IPA para cultivares de sorgo (Cavalcanti, 1998), utilizan-
análise dos dados, utilizou-se o programa estatístico do a mistura 14-0-18 que, de acordo com os resultados
Sisvar (Ferreira, 2011) sendo empregado o teste de da análise de solo (Tabela 2), demandou uma aplicação
Tukey, em nível de 5% de probabilidade, para a com- de 0,78 kg da mistura para cada parcela experimental.
paração entre as médias de tratamentos. Após o desbaste das plantas e determinação do estande
As cultivares IPA 2502 (duplo propósito, por- inicial, foi colocada a cobertura morta. As plantas de ta-
te médio), IPA 4202 (Sudanense, porte médio), IPA boa foram cortadas, retirando-se todas as sementes para
467-42 e IPA SF 25 (forrageiro, porte alto) foram evitar propagação indesejável na área. Em seguida, a
cultivadas em duas condições de cobertura de solo palhada de taboa foi pesada no campo com uma balança
(presença e ausência de cobertura morta). Como co- portátil e levada para área experimental, utilizando-se 40
bertura morta, utilizou-se a palhada de taboa (Typha kg de material verde por parcela. Estes valores foram
domingensis), escolhida devido à abundância do ma- calculados para que o equivalente a cinco toneladas ha-1
terial próximo a área experimental, bem como por ser de matéria seca, com uma espessura de aproximada-
um material resistente, fibroso e com potencial para mente 0,05 m, fosse mantida dentro da parcela.
ser utilizado como cobertura. O estabelecimento do estande de plantas no
No dia 27/06/2012, realizou-se o semeio ma- campo foi avaliado por: i) Estande inicial (EI): por-
nual do sorgo, empregando-se o espaçamento de 0,15 centagem de plantas sobreviventes após o desbaste;
m entre covas e profundidade de 0,03 m. Utilizou-se ii) Estande final (EF): número de plantas que atin-
um gabarito de madeira para garantir covas de pro- giram o ponto de colheita aos 110 DAS. Aleatoria-
fundidades e espaçamentos uniformes. A parcela foi mente, foram amostradas cinco plantas da área útil de
constituída por três fileiras de 5,0 m de comprimento, cada parcela para avaliação da altura média das plan-
espaçadas por 0,80 m. Para fins de avaliação, foram tas, aos 30, 60, 90 e 110 DAS. Contou-se o número
considerados 3,0 m da fileira central, perfazendo uma de dias compreendido entre a data de semeadura até
área útil de 2,4 m2. Aos 28 dias após a semeadura o estágio de 50% do florescimento para cada cultivar.

TABELA 2. Atributos químicos do solo da vazante do açude Saco.


pH P Ca2+ Mg2+ Na+ K+ CTC
Blocos
H2O mg dm -3
---------------------------------cmolc dm ----------------------------------
-3

I 8,00 160 4,30 1,50 0,52 0,30 6,62


II 8,00 56 3,70 1,50 0,55 0,35 6,10
III 8,00 80 3,70 1,50 0,55 0,31 6,06
IV 7,70 135 5,00 1,50 0,46 0,35 7,31

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Nos dias 16 e 17/10/2012, por ocasião da co- aumento na profundidade do lençol freático de 0,63
lheita, quando todas as panículas estavam completa- m em média. Os poços P1, P3 e P5, devido a maior
mente abertas e os grãos de sorgo apresentavam-se proximidade ao açude, apresentaram níveis de lençol
no estádio pastoso, tendendo para farináceo, foi reali- freático mais superficiais, enquanto que os poços P2,
zada uma contagem das plantas para a determinação P4 e P6 apresentaram níveis mais profundos por es-
da densidade (número de plantas/área útil da parcela). tarem mais distantes. No dia 02/08/12, as médias de
Em seguida, foram cortadas (a 2,5 cm do solo) e pesa- profundidade do lençol freático foram iguais a 0,58
das para determinação da produção de matéria verde e 0,70 m para os poços próximos ao açude e os mais
(MV), sendo os valores extrapolados para t ha-1. distantes, respectivamente. No dia 15/10/12, as mé-
No momento da colheita, também foram cole- dias de profundidade do lençol freático aumentaram
tadas oito plantas ao acaso por parcela para quantifi- para 1,27 e 1,28 cm para os mesmos poços (Figura 1).
cação das partes integrantes da planta: colmo, folhas Os valores médios de profundidades do lençol
e panícula. Após a pesagem, o material foi colocado freático obtidos no intervalo de 74 dias e a taxa de re-
para secagem em estufa de circulação forçada a uma baixamento do lençol freático (Rd = {[(1,28 – 0,70)/74
temperatura de 65ºC, até atingirem peso constante. + (1,27 – 0,58)/74]/2}) foram de 8,58 mm dia-1 em
A partir do peso da biomassa colhida em cada área média, o que permitiu um turno de plantio para a va-
útil da parcela, obteve-se a produção de matéria seca zante de 133 dias, ao considerar as profundidades mí-
(MS) e depois se extrapolou esse valor para t ha-1. nima e máxima do lençol freático iguais a 0,15 e 1,28
m, respectivamente. Com base nesses cálculos, pôde-
Resultados e discussão se inferir que, mesmo no período de seca avaliado, o
solo da vazante do açude Saco apresentou segurança
No período de condução do experimento (27 hídrica para atender aos 110 dias do ciclo do sorgo.
de junho a 15 de outubro de 2012), a temperatura do
ar média foi de 24ºC e a precipitação pluvial foi de
24,4 mm. Esse valor é inferior à precipitação média
de 150 mm, registrada para o mesmo período, entre
os anos de 2008 a 2011 (INMET, 2010). Durante todo
o período do cultivo na vazante, de agosto a outubro
de 2012, os níveis do lençol freático apresentaram re-
baixamento constante em todos os piezômetros.
No início do cultivo do sorgo (27/06/12), foram
realizadas algumas perfurações no solo com auxílio
de um trado (tipo holandês) e constatou-se que a pro-
fundidade mínima do lençol freático foi de 0,15 m. FIGURA 1. Precipitação pluvial e variação do nível
Em seguida, de 02/08 a 15/10, quando a profundidade do lençol freático nos poços de observação obtidos
do lençol freático passou a ser monitorada por meio de durante o cultivo de sorgo na vazante do Açude Saco,
piezômetros (poços de observação), verificou-se um Serra Talhada-PE.

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Na Tabela 3, não foram detectadas diferen- vado porcentual de sobrevivência das cultivares
ças significativas para todas as variáveis observa- de sorgo justifica a sua utilização como excelente
das em cada cultivar, no que se refere ao manejo material para produção de forragem.
com e sem cobertura. Noutro contexto, observam- O número de plantas por hectare obtido nas
se diferenças significativas para os estandes ini- condições de vazante alcançou valores entre 200 a
cial (EI) e final (EF) de plantas inferior às demais 232 mil plantas por hectare (Tabela 3). Oliveira et al.
cultivares. (2005), estudando o comportamento agronômico de
Na vazante do açude Saco, todas as cultiva- quatro cultivares de sorgo, encontraram valores de
res de sorgo, independente da condição de manejo produção de biomassa similares aos deste experimen-
do solo, (com e sem cobertura), obtiveram por- to com uma densidade de plantio variando de 167 a
centual de sobrevivência superior a 80% (Tabela 212 mil plantas por hectare.
3). A taxa de sobrevivência das plantas apresentou Os resultados obtidos referentes ao início do
diferença somente para a cultivar IPA 2502, com florescimento indicam que a cultivar IPA 2502 pode
valor inferior às demais cultivares. No início do ser considerada de ciclo intermediário, pois atingiu
experimento, o valor médio da condutividade elé- % de florescimento com cerca de 70 DAS. A cultivar
trica (CE) do extrato de saturação no solo da va- IPA 4202 foi a mais precoce, atingindo a floração em
zante foi de 1743±190 mS cm -1, alcançando no fi- pouco menos de 60 DAS. Kenga et al. (2006) veri-
nal valores de CE iguais a 1801±340 e 2367±130 ficaram que a floração precoce está associada com a
mS cm-1 nos solos, com e sem cobertura, respec- estatura da planta. Cultivares de sorgo de porte bai-
tivamente. A água do açude apresentou uma CE xo atingem, em geral, a floração mais precocemen-
de 948 mS cm-1, no dia 22/06/2012, e em seguida, te. Neste experimento, esse fato foi evidenciado nas
no dia 18/09/2012, a CE aumentou para 1123 mS cultivares de menor porte, IPA 2502 e IPA 4202, pois
cm-1. Nesse mesmo dia (18/09/2012), a água do atingiram mais rapidamente a floração, diferindo das
lençol freático apresentou uma CE de 5525 mS demais cultivares de maior porte, IPA 467-42 e IPA
cm-1. Como não foi detectada nenhuma diferença SF-25. Quando comparado o início do florescimento,
importante entre os atributos físicos e químicos na presença e na ausência de cobertura morta no solo,
do solo, este cenário de progressão da salinização percebe-se que não houve diferença entre esses genó-
com o passar do tempo contribuiu para a dimi- tipos (Tabela 3).
nuição da taxa de sobrevivência da cultivar IPA A análise de variância para altura de plantas
2502, já que este efeito é dependente do fato deste das cultivares de sorgo mostrou diferença ao nível de
genótipo ser menos tolerante ao estresse salino, 5% de probabilidade pelo teste de Tukey (Figura 3).
quando comparado com as demais cultivares ava- De 30 a 90 DAS, não houve diferença para altura de
liadas. Cunha & Lima (2010) encontraram valo- plantas entre as quatro cultivares, tanto na ausência,
res de sobrevivência média de plantas de 90,1%, quanto na presença de cobertura morta. Aos 90 DAS,
sendo os maiores valores para IPA 467-42 e SF-25 na presença de cobertura morta, a cultivar IPA SF-25
que tiveram porcentual máximo (100%) de sobre- apresentou porte de 2,35 m, diferindo das cultivares
vivência. Estes autores afirmaram ainda que o ele- IPA 2502 e IPA 4202 para a mesma condição. Esse

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TABELA
188 3. Estande inicial (EI), estande final (EF),
Costa et al.taxa de sobrevivência (S), número de plantas

porTABELA
hectare 3.e período de floração das cultivares de sorgo sob cultivo de vazante, Serra Talhada-PE.
Estande inicial (EI), estande final (EF), taxa de sobrevivência (S), número de plantas por hectare
e período de floração das cultivares de sorgo sob cultivo de vazante, Serra Talhada-PE.

Cultivares
Condições de
cobertura do solo IPA 2502 IPA 4202 IPA 467-42 IPA SF-25
EI (Nº de plantas·área útil-1 )
com cobertura 47,25 b 56,25 a 56,25 a 56,25 a
sem cobertura 47,25 b 54,50 a 54,00 a 57,00 a
CV (%) = 5,27
EF (Nº de plantas·área útil-1)
com cobertura 38,50 b 51,00 a 51,50 a 52,50 a
sem cobertura 38,00 b 48,25 a 49,25 a 51,75 a
CV (%) = 8,36
S (sobrevivência de plantas) (%)
com cobertura 81,51 b 90,65 a 91,57 a 92,91 a
sem cobertura 80,05 b 88,50 a 90,87 a 91,23 a
CV (%) = 5,96
(Nº de Plantas·ha-1) x 1000
com cobertura 203,79 b 226,63 a 228,92 a 232,29 a
sem cobertura 200,13 b 221,25 a 227,17 a 228,08 a
CV (%) = 4,38
50% Floração (DAS)
com cobertura 72,75 b 57,75 c 94,00 a 96,50 a
sem cobertura 73,25 b 57,00 c 94,75 a 96,25 a
CV (%) = 2,67
Médias seguidas por letras iguais, minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o teste de Tukey (p<0,05). Para
o manejo não foram observadas diferenças significativas, para todas as variáveis em cada uma das cultivares. Área útil = 2,4 m2. DAS
Médias
= Diasseguidas por letras iguais, minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o teste de Tukey
Após a Semeadura.
(p<0,05). Para o manejo não foram observadas diferenças significativas, para todas as variáveis em cada uma das
cultivares. Área útil = 2,4 m2.Revista
DAS =Brasileira
Dias Apósde aMilho
Semeadura.
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Os resultados obtidos referentes ao início do florescimento indicam que a cultivar IPA 2502
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mesmo comportamento foi observado na ausência de mantendo a umidade nessas parcelas por mais tempo.
cobertura morta (Figura 2). Na colheita, a cultivar IPA SF-25 sem cober-
Boer et al. (2007) e Torres et al. (2008) demons- tura morta atingiu uma altura de 2,65 m, porém a
traram os efeitos benéficos da cobertura morta nas pro- mesma cultivar com cobertura teve um aumento no
priedades do solo, bem como na produção das cultu- porte da planta, apresentando altura de 2,91 m. A
ras. De acordo com esses autores, a palhada, além de cultivar IPA 467-42 também diferiu conforme a pre-
aumentar a estabilidade estrutural e proteger contra a sença e ausência de cobertura morta, apresentando
erosão hídrica, reduz também a evaporação da água, alturas de 2,45 e 2,20 m, respectivamente (Figura 2).

FIGURA 2. Altura de plantas de sorgo aos 30, 60, 90 e 110 dias após o semeio, em função da cobertura de
solo, Serra Talhada, 2012.

Colunas com letras iguais, maiúsculas, não diferem estatisticamente de acordo com a presença ou ausência de cobertura morta, para
uma mesma cultivar. Colunas com letras iguais, minúsculas, não diferem estatisticamente entre cultivares, no mesmo DAS, pelo teste
de Tukey (p < 0,05).

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190 Costa et al.

Tabosa et al. (2002), em experimento com sor- Na Tabela 4, são apresentados os dados de pro-
go no mesmo ambiente de Serra Talhada, no ano agrí- dução de fitomassa das quatro cultivares de sorgo.
cola de 2000, observaram altura média de planta de As cultivares de porte alto, IPA 467-42 e IPA SF-25,
3,04 m. Nesse caso, a precipitação pluvial ocorrida apresentaram melhores rendimentos forrageiros (MV
durante o cultivo de sorgo foi de 196,2 mm, superior e MS). A presença de cobertura morta proporcionou
aos 19,0 mm registrados em 2012, quando a produção um aumento (p < 0,05) na produção de MS de 62%
de sorgo dependeu exclusivamente da vazante. para a cultivar IPA SF-25.
TABELA 4. Produção de matéria verde (MV), matéria seca (MS) e teor de matéria seca (% MS) de
TABELA 4. Produção de matéria verde (MV), matéria seca (MS) e teor de matéria seca (% MS) de quatro
quatro cultivares de sorgo, com e sem cobertura morta, Serra Talhada-PE.
cultivares de sorgo, com e sem cobertura morta, Serra Talhada-PE.
Condições de Cultivares
cobertura do solo IPA 2502 IPA 4202 IPA 467-42 IPA SF-25
MV (t ha-1 corte-1)

Com cobertura 26,98 Ab 24,31 Ab 44,02 Aa 42,52 Aa

Sem cobertura 24,54 Abc 20,69 Ac 39,41 Aa 32,17 Bab

CV (%) = 15,06

MS (t ha-1 corte-1)

Com cobertura 10,29 Aa 10,63 Aa 17,56 Aa 19,97 Aa

Sem cobertura 9,84 Aa 7,85 Aa 14,33 Aa 12,34 Ba

CV (%) = 19,38

(%) MS

Com cobertura 39,84 Aa 43,65 Aa 39,99 Aa 47,11 Aa

Sem cobertura 38,10 Aa 38,09 Aa 36,19 Aa 37,43 Ba

CV (%) = 16,28
Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o teste
Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de
de Tukey (p<0,05).
acordo com o teste de Tukey (p<0,05).
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Os resultados obtidos neste experimento para produção de MV estão próximos aos valores
Cultivo de sorgo em sistema de vazante... 191

no Rio Os resultados
Grande obtidos neste
do Norte. experimento
No entanto, para em condições
a porcentagem de MSdeé sequeiro no Rio Grande
mais influente do Norte.da
na qualidade
produção de MV estão próximos aos valores obser- No entanto, a porcentagem de MS é mais influente na
forragem e varia com a idade da planta. Neste experimento, a MS variou de 36,19% a 47,11%.
vados em cultivo convencional por Neumann et al. qualidade da forragem e varia com a idade da planta.
Na Tabela 5, são apresentadas as proporções de matéria seca dos constituintes da planta. De
(2002), que encontraram valores entre 22,7 e 39,5 Neste experimento, a MS variou de 36,19% a 47,11%.
modo
t ha-1 geral, as cultivares
para cultivares afetaram
de sorgo a porcentagem
forrageiro e de duplo de MS de colmo
Na Tabela (p apresentadas
5, são < 0,05), queas variou entre
proporções
58,19 e 80,59%
propósito. do total
Por outro lado,datodas
planta.
as cultivares apre- de matéria seca dos constituintes da planta. De modo
sentaram produtividades de MV inferiores ao valor geral, as cultivares afetaram a porcentagem de MS de
médio de 46,7 t ha-1 observado por Cunha & Lima colmo (p < 0,05), que variou entre 58,19 e 80,59% do
TABELA 5. Proporção
(2010) ao avaliarem da matéria
29 cultivares de sorgoseca de colmo
forrageiro total[(%) MS Colmo], folha [(%) MS Folha] e
da planta.
panícula [(%) MS Panícula] em relação à matéria seca total das plantas da parcela, Serra Talhada-
TABELA 5. Proporção da matéria seca de colmo [(%) MS Colmo], folha [(%) MS Folha] e panícula [(%) MS
PE.
Panícula] em relação à matéria seca total das plantas da parcela, Serra Talhada-PE.
Condições de Cultivares
cobertura do solo IPA 2502 IPA 4202 IPA 467-42 IPA SF-25

------------(%) MS Colmo------------

Com cobertura 66,21 Abc 62,37 Ac 74,52 Aab 80,59 Aa

Sem cobertura 66,50 Abc 58,19 Ac 74,47 Aa 72,78 Bab

CV (%) = 6,08

-------------(%) MS Folha-----------

Com cobertura 20,81 Aa 12,51 Bb 14,18 Ab 13,27 Ab

Sem cobertura 23,42 Aa 18,05 Aab 16,27 Ab 16,49 Ab

CV (%) = 17,40

-------------(%) MS Panícula------------

Com cobertura 12,98 Ab 25,12 Aa 11,30 Ab 6,14 Ab

Sem cobertura 10,08 Ab 23,76 Aa 8,26 Ab 10,73Ab

CV (%) = 30,49
Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o teste
de Tukey (p<0,05). 15

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192 Costa et al.

Novamente a cultivar IPA SF-25, com cober- inferiores aos encontrados neste experimento (12,51 a
tura morta, obteve a maior porcentagem de colmos. 23,42%).
Esses valores, entretanto, diferiram da cultivar IPA Com relação à porcentagem de MS de paní-
4202, independente da cobertura do solo. Os meno- cula, a cultivar IPA 4202 apresentou os maiores va-
res valores de porcentagem de MS de colmo foram lores nas duas condições de cobertura do solo, di-
observados nas cultivares IPA 2502 e IPA 4202, ferindo das demais cultivares. Não houve diferença
com e sem cobertura morta. Esse comportamento do teor de MS de panícula para as condições de co-
deve-se a uma característica genética dessas cul- bertura do solo avaliadas. Por se tratar de uma cul-
tivares de apresentar porte inferior ao das demais, tivar mais precoce (Tabela 3), a IPA 4202 se adap-
com menor comprimento de colmo, o que explica tou às condições hídricas da vazante definidas pelo
o menor porcentual de MS de colmo dessas culti- regime de rebaixamento do lençol freático, pela efi-
vares. ciência da ascensão capilar e pelo crescimento do
Nas condições experimentais da vazante, foram seu sistema radicular. O bom funcionamento hídri-
encontradas proporções de colmo variando de 58,19 co da vazante disponibilizou água em todas as fa-
a 80,59% na MS. Oliveira et al. (2005), ao estudarem ses do desenvolvimento dessa cultivar, ou seja, da
o comportamento agronômico de quatro cultivares de germinação até o enchimento dos grãos, indepen-
sorgo forrageiro, encontraram proporção de colmo dente da cobertura do solo. A taxa de crescimento
variando de 17,1 a 72,8% na MS. De acordo com Ma- da panícula nos genótipos de ciclos intermediário
chado & Valle (2012), a maior participação do colmo (IPA 2502) e tardio (IPA 467-42 e IPA SF-25) não
pode comprometer o valor nutritivo da forragem por foi prejudicada enquanto existiu fornecimento de
ser a fração que apresenta menores coeficientes de di- água do lençol freático por ascensão capilar para as
gestibilidade no sorgo. raízes. Quando não houve mais o acompanhamento
A maior porcentagem de colmos está associada do rebaixamento do lençol freático pelas raízes e
ao maior porte das cultivares. Isso foi verificado com a ascensão capilar foi interrompida, a fase de ma-
a cultivar IPA SF-25 na presença de cobertura do solo turação fisiológica (preenchimento dos grãos) foi
que apresentou os maiores valores de alturas de plan- comprometida nessas cultivares.
ta (Figura 2), semelhante ao verificado por Silva et al. Oliveira et al. (2005) encontraram proporção
(2005) e Santos et al. (2013). de panícula na planta de sorgo forrageiro variando
Na análise da porcentagem de MS de folha, veri- de 5,2 a 64,6%, enquanto Dalla Chiesa et al. (2008)
ficou-se que os maiores valores foram obtidos pela cul- observaram variação de 1,57 a 6,95% para essa
tivar IPA 2502. Na ausência de cobertura morta, com característica. Von Pinho et al. (2007) obtiveram
exceção da IPA 4202, a IPA 2502 diferiu das demais 29,8% de MS de panícula para materiais de duplo
cultivares. Esse comportamento também é atribuído a propósito e 17,7% em cultivares de sorgo forrageiro.
característica genética dessas cultivares, pois a maior Nas condições experimentais da vazante, foram en-
proporção de folha é consequência do menor compri- contradas proporções de panícula de 6,14 a 25,12%.
mento de colmo. Oliveira et al. (2005) encontraram Essa característica agronômica da IPA 4202,
variação de 11,53 a 13,56% de MS de folhas, valores de maior porcentagem de MS de panícula, é muito

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Cultivo de sorgo em sistema de vazante... 193

importante tanto para produção de grãos, como para de alta energia. A principal característica buscada
produção de silagem, em virtude de apresentar uma nas silagens é a elevada concentração de energia na
maior concentração de carboidratos solúveis, substrato massa das plantas, para que se possa reduzir signifi-
para produção de ácidos orgânicos, notadamente o lá- cativamente a utilização de concentrados e com isso
tico, essencial para propiciar um bom padrão fermen- diminuir custos, mantendo elevado potencial de de-
tativo no processo de ensilagem. Neste último caso, a sempenho animal.
maior porcentagem de panículas com grãos favorece Segundo Neumann et al. (2002), a panícula é o
a compactação da silagem, contribuindo com a rápida componente da planta de sorgo que define a qualidade
exaustão do oxigênio no interior do silo, propicia um da silagem, por apresentar os maiores teores de MS,
adequado processo fermentativo (Andrade et al., 2010) proteína bruta e digestibilidade in vitro da matéria
e contribui para elevar o valor nutricional da silagem seca e menores teores de fibra em detergente neutro,
(Neumann et al., 2002; Oliveira et al., 2005). fibra em detergente ácido, celulose, lignina, compa-
Salienta-se que o bom suprimento de água rado ao conjunto colmo e lâmina foliar. Entretanto,
propiciado pelo cultivo de vazante, durante o de- ressalta-se que, para o efetivo aproveitamento do grão
senvolvimento da cultura, principalmente no flores- de sorgo, é necessário que este seja desintegrado ou
cimento e no enchimento dos grãos, é fundamen- pelo menos quebrado no processo de picagem da for-
tal para incrementos de carboidratos nos grãos das ragem.
panículas do sorgo. Diante das diversas características agronômi-
A precocidade da IPA 4202 e as condições de cas apresentadas pelas cultivares de sorgo, deve-se
alimentação hídrica da vazante permitiram um bom atentar para a finalidade do uso da cultura. Tais as-
fornecimento de água durante todas as fases do desen- pectos influenciam a indicação de cultivares para uti-
volvimento da cultivar, incluindo as fases de embor- lização em pastejo direto, corte verde, silagem, feno
rachamento, emissão das panículas e granação, inde- ou outro uso.
pendente da cobertura do solo. O mesmo não aconte-
ceu com as cultivares IPA 2502, IPA 467-42 e IPA SF- Conclusões
25, que, por apresentarem ciclos mais tardios (Tabela
3), tiveram bom fornecimento de água até a fase de As cultivares IPA 467-42 e IPA SF-25 apre-
emborrachamento, comprometendo a granação, nas sentam maior potencial de produção de fitomassa,
duas condições de cobertura do solo. Desse modo, o sob condições de cultivo de vazante, podendo ser re-
efeito esperado da cobertura do solo no armazenamen- comendadas para produção de forragem. A presença
to de água disponível para as raízes não foi suficiente de cobertura morta proporciona um incremento de
para propiciar uma adequada maturação dos grãos. 62% de matéria seca para a cultivar IPA SF-25. As
Nesses períodos, os órgãos reprodutivos são os cultivares IPA 2502 e IPA 4202 apresentam carac-
principais drenos e a água participa efetivamente da terísticas agronômicas favoráveis para produção de
fotossíntese e da absorção de nutrientes. silagem. O cultivo de vazante mostra-se uma alter-
Para Flaresso et al. (2000), a panícula é o com- nativa viável para produção de sorgo no Semiárido
ponente mais importante para a produção de silagem pernambucano.

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