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neas A. gayanus Kunth. B. decumbens Stapt, daquele usado por Thomas (1976) em Malawi (África),
B. humidicola Rendle (Schweickt), B. ruziziensis pois ao invés de carneiros, o pastejo foi realizado por
vacas da raça Gir. Dada a desuniformidade de estabele-
Germaira Evrard e P. maximuin Jacq.
cimento das gramíneas e visando permitir a ressemeadura
natural das espécies, não foi realizado pastejo no ano de
estabelecimento do experimento (1978179).
MATERIAIS E MÉTODOS
Nos anos seguintes, após cada amostragem (duas por
estação chuvosa), cada parcela era pastejada individual-
O experimento foi realizado no Centro de Pesquisa mente, com uma vaca por parcela. Os animais permane-
Agropecuária dos Cerrados (CPAC/EMBRAPA), 35 1cm ao ciam nas parcelas três a quatro dias, tempo suficiente para
norte de Brasília, latitude de 25 036 Sul, longitude de consumir a forragem disponível, deixando as plantas a
42042' Oeste, numa altitude de 1.000 m. A média de pre- uma altura de, aproximadamente, 10 cm. Após cada
cipitação anual (35 anos) é de 1.573 mm, dos quais apro- pastejo, era realizado um corte de nivelamento a 10 cm
ximadamente 90% ocorrem entre outubro a março inclusi- de altura. Este corte, realizado com uma roçadeira de par-
ve. A média anual de temperatura é de 21 °C. O solo na celas marca Graveuy, visava remover principalmente algu-
área experimental era um Latossolo Vermelho-Escuro mas hastes floríferas que restavam intactas após o pastejo.
com pH 4,5 (em água), 1 ppm de fósforo e com uma satu- Este material, que durante o corte era reduzido a partícu-
ração de alumínio em tomo de 70%. las pequenas, permanecia sobre a parcela. Quando a forra-
As cinco gramíneas avaliadas foram A. gayanus cv. gem atingia 40 50 cm de altura, era feita uma amostra-
Planaltina, P. maximum cv. Guinezinlio, B. decumbens gem aleatória para estimar a disponibilidade de forragem.
cv. Basilisk, B. hurnidicola (comum) e R. ivziziensis (co- Dois quadrados de 1 m2 foram cortados por parcela. A
mum). Estas gramíneas foram arranjadas fatorialmente altura de corte foi de 10 cm, e nas parcelas que continham
com mais dois tratamentos (presença e ausência de legu- leguminosas era feita a separação entre gramíneas e legu-
minosa). minosa. Estas amostras eram secadas em estufas a 600C
A leguminosa usada foi Stylosanthes suianenris durante 72 horas, pesadas e moídas. As provenientes de
(AubI.) 8w. cv . Cook. O delineamento experimental foi parcelas consorciadas eram compostas de partes moídas
o de blocos completamente casualizados com três repeti- de gramíneas e leguminosa, na mesma proporção da com-
ções, e o tamanho de cada parcela de 10 m x 10 m. posição botânica da parcela. Após isto, eram submetidas
A área de experimento, anteriormente com vegetação a análises químicas para nitrogênio, fósforo, cálcio e diges-
nativa do Cerrado, foi arada e gradeada em setembro de tibilidade "la vitro". No ano de estabelecimento (19781
1978. A semeadura foi feita em 21 de dezembro do mes- 79) não foi realizada a amostragem, dada a variação no
mo ano. As taxas de semeadura foram: A. gayanus estabelecimento das parcelas.
12 kg/ha, B. hurnidicola 10 kg/ha, e 6 kgftia para B.
ruziziensis, B. decum bens, P. maxirnum eS. guianensis.
No plantio foram aplicados 35 kg/ha de fósforo (como RESULTADOS
superfosfato simples), 50 kg/ha de potássio (como cloreto
de potássio), 2 kgfta de zinco (como sulfato de zinco) e As parcelas consorciadas tiveram uma produção
025 kg/ha de molibdénio (como molibdato de amônio). de matéria seca superior &s de gramíneas puras
Não foi aplicado calcário para correção do pH e redução (Tabela 1). O conteúdo de leguminosas, na maté-
de toxidez de alumínio. O superfosfato forneceu também ria seca, foi de 38% para A. gayanus, 39% para B.
48 kgJha de enxofre e 77 kg/ha de cálcio. Nos anos subse-
decurnbens, 58% para B. ruziziensis, 81% para B.
qüentes, a cada início de estação chuvosa foram aplica-
dos 10 kg/ha de fósforo (como superfosfato simples). humidicola e 73% P. nw.ximuni, no período de
No início da segunda estação chuvosa após o ano de esta- 1979180, A leguminosa (5. guianensis cv. Cook)
belecimento, a leguminosa desapareceu das parcelas em desapareceu das parcelas no início de 1980181 em
virtude de um severo ataque de antracnose (Coileto (ri- virtude de um forte ataque de antracnose. Entre-
chuta glocosportoides). Entretanto, era visualmejite evi-
tanto, em face do efeito residual da leguminosa
dente, pela cor e pela quantidade de forragem existente
nas parcelas anteriormente consorciadas, que existia um naquelas parcelas, houve um incremento de produ-
efeito residual da leguminosa. No intuito de quantificar ção de matéria seca da ordem de 63% em relação
este efeito, não foi realizada nenhum adubação nitrogena- âs parcelas de gramínea pura. Houve também uma
da naquele ano. No início da terceira estação chuvosa diferença significativa entre as produções das gra-
após o ano de estabelecimento, este efeito havia desapa-
míneas, sendo o capim-andropógon o de maior
recido, e 40 kg/ha de nitrogênio (como sulfato de amô-
nio) foram aplicados nas parcelas que anteriomen- produção, e a B. humidicola, a de menor. Na úl-
te continham leguminosa. Uma estação chuvosa, quando foram aplicados
O método de pastejo utilizado foi uma modificação 40 kg/ha de nitrogênio, a tendência na produção
TABELA 1. Produtividade de cinco gramíneas e o efeito TABELA 2. Digestibilidade da matéria seca das conr-
principal da inclusão de leguminosa (ou N). ciações de cinco gramíneas comS. guianensis
cv. Cook e da gramínea pura (Estação diu-
Produção de matéria seca (t/ha) vosa 1979180).
Gram (nea
1979-80 1980-81 1981-82 Digestibilidade da matéria seca (%)
A. gayanus 4,34 Aa 4,69 Aa 4,73 Aa Gramíneas Consorciàçãoes com Gramínea pura
cv. Planaltina S. guianensis
8. decumbens 5,30 Aa 3,22 Bb 2,96 Bb cv. Cook
cv. Basilisk
A.9ayanus 56,15 51,55
8. ruzíziensis 5,32 Au 3,28 Bb 2,26 BCb cv. Planaltina
8. humidic&a 3,99 Aa 1,64 Cb 1,71 Db 8. decumbens 55,55 53,15
P. maxímum 4,79 Aa 3,35 Bb 2,42 COb cv. Basilisk
cv. Guinezinho 8. ruziziensis 61,57 54,01
EPM 0,54 0,23 0,20
Com leguminosa 8. humidicola 58,43 63,65
(ou N) 5,48 A 4,00 A 3,49 A P. maximum 56,72 52,92
Sem leguminosa cv. Guinezinho
(ou N) 4,01 A 2,45 8 2,14 B
Média 57,48 53,01
Obs.: Teste de Ducan P < 0,05
Média de duas amostragens durante a estação chuvosa.
Letras maiisculas referem-se a comparações dentro das
colunas, e letras minúsculas referem-se a comparações
dentro das linhas. TABELA 3. Composição química das consorciações de
cinco gramíneas com S. guianensis cv. Cook
e das gramíneas puras (Estação chuvosa
de matéria seca entre as gramíneas avaliadas foi 1979/80).
semelhante â observada no ano anterior. Entre
anos, somente o capim-andropógon manteve cons- Consorciações com
tante a produção (Tabela 1). O efeito de interação Gramínea S. gu,anensis
Gramínea pura
cv. Cook
entre as gramíneas avaliadas e a presença ou ausên-
N% Ca% P% N% Ca% P%
cia da leguminosa (nitrogênio em 81/82) não foi
significativo em nenhum dos anos do experimento. A.gayanus 1,55 0,57 0,12 1,01 0,27 0,10
A digestibilidade in vítra na primeira estação chu- cv. Planaltjna
vosa após o ano de estabelecimento, quando a le- S. decumbens 1,40 0,59 0,11 0,96 0,24 0,10
guminosa ainda estava presente nas parcelas, foi cv. Basilisk
maior nas parcelas consorciadas do que nas de gra- 8, ruziziensis 1,66 0,73 0,13 0.85 0,36 0,11
mínea pura (Tabela 2). O capian-andropógon foi 8.hurnidjcoja 2,14 0,57 0,13 1,28 0,50 0,10
o que apresentou a menor digestibilidade entre P. maximurn 1,89 0,76 0,14 1,30 0,30 0,13
as esp&ies avaliadas. Nesta mesma estação, com a cv. Guinezinho
leguminosa ainda presente, os teores de N e Ca fo- Média 1,73 0,64 0,13 1,08 0,33 0,11
ram maiores nas parcelas consorciadas do que nas
de gramínea pura. As gramíneas diferiram entre si Média de duas amostragens durante estação chuvosa
nos teores de N e Ca. A variação do teor de P foi
mínimo com e sem consorciação e mesmo entre as Os conteúdos e as produções de N nas gramí-
gramíneas. O capim-andropógon apresentou teores neas avaliadas em 1980181, quando foi observado
de N e Ca menores que os de B. ruziziensis, B. Im- um acentuado efeito residual da leguminosa, foram
mídicola e P. maximum. Essa diferença foi tam- superiores nas parcelas que anteriormente conti-
bém observada nos anos seguintes (Tabela 3). nham leguminosa (Tabela 4).
M.S.
ton/ha S. guianensis Cook
7
e
5
1
o
SemN ComN SernN ComN SemN ComN SemN ComN SemN CoraN
Andropógon P. maximum S. decumbens 8. ruziziensis 8. humidicola
cv. Planaltina guinezinho
FIG. 1. Produção de cinco gramíneas, consorciadas ou não com leguminosas.
míneas apresentaram respostas crescentes com até espécies de leguminosas (Thomas et ai. 1981) po-
200 e 400 kg/ha/ano de N, respectivamente. A deria, aparentemente, compensar este baixo valor
mineralização de quantidades acima de 50 kg/ha nutritivo.
de N em Latossolo Vermelho-Escuro (LE) nos O S. guianensis cv. Cook foi citado por Paladi-
Cerrados, a cada início da estação chuvosa (Em- nes et aI. (1974) como a cultivar mais resistente a
presa Brasileira de Pesquisa Agropecuhia 1981), antracnose, dentre as cultivares comerciais austra-
e a melhor eficiência do capini-andropógon em lianas e brasileiras, nas condições da Colômbia.
utilizar o nitrogênio, podem explicar a estabili- Porém, não só este experimento mas também
dade de sua produção mesmo sem leguminosas outros do CPAC têm mostrado que esta cultivar é
ou adubação nitrogenada (Fig. 1). susceptível a antracnose e não persiste na pastagem
Através do método de subtração (Thomas por mais de dois anos.
1976), foi estimado que a fixação líquida de ni-
trogênio pela leguminosa na estação chuvosa
REFERÊNCIAS
1979180 variou entre 35 e 74 kg/ha. Na estação
seguinte, apesar do desaparecimento da legusnino- ÁNDRADE, R.P. de & THOMAS, D. Pesquisas em avalia-
sa, houve um efeito residual bastante pronuncia- ção de pastagens e produçâb de sementes de forragei-
ras no Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerra-
do nas parcelas que anteriormente estavam con- dos. Planaltina, EMBRAPA-CPAC, 1982. 19p.
sorciadas. As gramíneas, nestas parcelas, apresen- (EMBRAPA-CFAC. Boletim de pesquisa,11).
tavam um teor de N mais alto que as em estande BODGAN, A.V. Tropical pasture and fodder plants.
puro. Nas diferentes gramíneas que estavam con- London, Longxnan, 1977. 475p.
sorciadas, a utilização deste N simbiótico residual CENTRO INTERNACIONAL DE AGRICULTURA TRO-
variou de 14 a 25 lcg/ha. PICAL,Cali,Colombia. Annual Report. Beef Propam
1978. Cali, 1979.
O desempenho da B. humidicola foi particular-
CONSENZA, G.W. Rgsistancc ia grasses to the pastures
mente desapontador, pois já na segunda e terceira spittlebug, (Deois flavopicta STÀL, 1854). Planal-
estação chuvosa esta gramínea apresentou os mais tina, EMBRAPA-CPAC, 1982. iSp. (EMBRAPA-
baixos níveis de produção de matéria seca das gra- CPAC. Bcletim de pesquisa, 10).
míneas avaliadas. Esta espécie parece ser mais pro- EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECIJÁ-
dutiva em regiões com maior precipitação e com RIA. Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados,
Planaltina, DF. Relatório técnico anual dos Cena.
uma estação seca menor que aquelas da região dos dos 1979/80. v.5, 1981.
Cerrados. Isto, provavelmente, é devido ao fato de JONES, C.A. The potential of Andropogon gayanlis
que a B. humidicola é originária de regiões relati- KUNTH, ia the oxisol and ultisol savannas of tropi-
vamente úmidas do leste e sudeste da África cal America. Herb. Abstr., 49:1-8, 1979.
(Bodgan 1977). Apesar da baixa produtividade NOBRE, D. & ANDRÂDE, S.O. Relação entre fotossen-
sibilizaçâo em bovinos jovens e a gramínea Brachia-
de matéria seca da B. humidicola, esta é uma re- ria decumbens STAPF. O Biológico, 42:249-58,
gião especialmente adequada para produção de 1976.
sementes desta gramínea. Andrade & Thomas ?ALADINES, O.; ALARCON, E.; HUTTON, J.; SPAIN,
(1982), no CPAC, obtiveram, em área de segundo J.M.; GROF, B. & PEREZ, R. Development of a
pasture program ia tbe tropical savanna of Colombia.
ano, produções de até 500 lcg/ha de sementes Proc. bit. Grassld. Cong., 3(1):388-401, 1974.
puras. THOMAS, D. Effects of dose grazing on the productivity
Jones (1979) descreveu o A.gayanus como uma and persistence of tropical legumes with Rhodes
espécie de baixo a médio valor nutritivo. A digesti- gxass ia Malawi. Trop. Agric., 53(4):321-27, 1976.
bilidade e a composição química do capim-andro- THOMAS, D.; ANDRADE, R.P. de; COUTO, W.; RO-
pógon, medidas neste experimento, concordam CHA, C.M.C. da & MOORE, P. Andropogon gaya-
nus var. bisquanwlatus cv. Planaltina: principais ca-
com essa descrição. Por outro lado, a compatibili- racterísticas forrageiras. Pesq. agropec. bras., Brasí-
dade dessa gramínea com um grande número de lia, 16(3):347-55,maio/jun. 1981.