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RESUMO
O trabalho teve como objetivo avaliar a variabilidade morfológica e agronômica e dimensionar as
relações fenotípicas entre oito populações de B. auleticus Trinius (cevadilha vacariana) coletadas em
municípios do Rio Grande do Sul. As populações avaliadas foram coletadas em Santana do Livramento
(A5, A6, A23, A26), Quaraí (A27), Uruguaiana (A7) e Júlio de Castilhos (A17, A8). As plantas foram
estabelecidas individualmente, com repetições variando de 4 a 10 plantas por população e avaliadas
durante dois anos. Não houve diferença significativa na produção de massa seca entre as populações,
que variou de 106,8 a 148,7 g MS/planta. Verificou-se maior variabilidade quanto à estatura na fase de
florescimento, comprimento de panículas, número de ramificações/panícula, número de antécios/
espigueta, pilosidade das folhas, cor das folhas e teores de fibra em detergente ácido (FDA), fibra em
detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB). A variação temporal ocorreu em nível de área basal,
estatura, massa seca, PB, FDA e FDN. A população A5 destacou-se pelo menor teor de FDA (25,7%) e
maior teor de PB (20,5%). As populações A8 e A17 apresentaram as folhas com menor pilosidade,
sendo que somente A8 apresentou rizomas.
Palavras-chave: Bromus auleticus, composição química, morfologia.
ABSTRACT
Morphological and agronomic variability in Bromus auleticus (“cevadilha vacariana”) populations
This work was aimed to evaluate the morphological and agronomic variability and also to measure
the phenotypic relationships of eight Bromus auleticus Trinius (“cevadilha vacariana”) populations
collected in Rio Grande do Sul. The populations were collected in Santana do Livramento (A5, A6,
A23, A26), Quaraí (A27), Uruguaiana (A7) and Júlio de Castilhos (A17, A8). The plants were established
individually, with replications ranging from four to ten plants by population and were evaluated during
two years. There was no significant differences in the production of dry mass among the populations,
which varied from 106,8 to 148,7 g DM/plant. The characters which presented a higher variability were
height at the flowering, length of panicles, number of ramifications by panicle, number of anthecium by
spikelet, leaf pubescence, acid detergent fiber (ADF), neutral detergent fiber (NDF), and crude protein
(CP). The temporal variation was found for the basal area level, height, dry mass, CP, ADF and NDF.
The A5 population showed the smallest ADF (25,7%) and highest CP (20,5%). The populations A8 and
A17 presented leaves with the smallest pubescence and only the A8 presented rhizomes.
Key words: Bromus auleticus, chemical composition, morphology.
B. auleticus. Com B. inermis, Ferdinandez e Coulman (2001) também se refere a essa característica em
(2001) e Traverso (2001) também verificaram varia- B. auleticus, o que proporcionaria a formação de
ção para tal caractere. Oliveira et al. (2001) verifica- touceiras mais ou menos expandidas segundo o com-
ram que os acessos de B. auleticus com pilosidade nas primento dos rizomas.
duas faces das folhas apresentaram florescimento mais Quanto à composição bromatológica (Tabela 5),
precoce, ao contrário dos glabros, tipicamente tar- os teores de PB mostraram uma amplitude de 8,5 pon-
dios, sugerindo possível relação entre a fenologia e a tos percentuais e estão de acordo com os valores obti-
morfologia foliar. dos por Moraes e Oliveira (1990), entre 18% e
25,95%, e de Dalagnol et al. (2001a), entre 11,4% e
Ano 2003 23,0%, para a espécie. Os maiores valores foram obti-
Na avaliação do segundo ano, não foi verificada dos nos cortes de inverno, assim como foi verificado
diferença para a produção de MS, com variação de 106 por Oliveira e Moraes (1993). Considerando-se a mé-
a 148 g MS/planta (Figura 2). No entanto, houve dife- dia dos quatro cortes, a população A5 destacou-se
rença significativa entre as épocas de avaliação para como o material com maior teor de PB e menor teor
a massa seca e a estatura (Figura 3). A estatura do de FDA. A determinação de tais parâmetros nu-
dossel vegetativo, representado pelo perfil de folhas e tricionais em espécies forrageiras é extremamente
colmos, teve uma redução de 23,6% cm entre o corte importante, pois segundo Van Soest et al. (1991), o
de emparelhamento e o último corte; já, a MS mos- meio mais simples de predizer o consumo e a di-
trou um decréscimo acentuado entre o primeiro e o gestibilidade das mesmas é através da análise da FDN
terceiro corte, ainda no outono, mas com aumento na e FDA, respectivamente. A variação temporal para tais
produção a partir de julho, demonstrando uma boa re- parâmetros está mostrada na Figura 5, na qual se ob-
cuperação, mesmo sob condições de seca e tempera- serva a melhoria da qualidade da forragem ao longo
turas baixas. Os dados obtidos por Rosa (2001), com do tempo, uma vez que houve redução nos teores de
outras populações de B. auleticus, foram similares aos FDN e FDA, assim como aumento na PB. Destaca-se
verificados no presente trabalho, sendo que o autor o reduzido valor de FDA, com valores entre 23,6
verificou uma redução na produção de MS ao longo e 35,7%, similares aos obtidos por Ferdinandez
do tempo, variando entre 40,8 g MS/planta no primei- e Coulman (2001), com híbridos de B. riparius e
ro corte e 18,6 g MS/planta no quarto corte, com um B. inermis, entre 17,8 e 21,4%. A importância da de-
total de 245 g MS/planta, na soma dos cortes, o que terminação da FDA é a sua vinculação com o aprovei-
foi superior aos resultados deste estudo, cuja maior tamento da forragem pelo animal, ou seja, sua estreita
produção foi de 148,7 g MS/planta (Figura 2). Olivei- associação com a digestibilidade. As variações na
ra e Moraes (1993), em Bagé, ao compararem 45 aces- composição química das populações não mostraram
sos de B. auleticus, estimaram produções de entre 10 aparente correlação com a cor das folhas, como foi
e 28 g MS/planta/corte, após o corte de emparelha- observado por Sleper e Drolsom (1974). No entanto,
mento. Os autores verificaram redução entre março e esses autores correlacionaram a cor das folhas com o
agosto e aumento da produção de MS em setembro. desaparecimento da massa seca e esse parâmetro não
Para as características relativas à dimensão das foi avaliado no presente trabalho, indicando, porém,
touceiras (Figura 4), verificou-se diferença significa- que isso deve ser mensurado em futuras avaliações.
tiva entre as populações, com destaque para as popu- Pela matriz de distâncias de Mahalanobis verifi-
lações A8 e A7, que apresentaram maior área basal. cou-se que os genótipos mais distantes foram as popula-
Todas as populações tiveram sua área basal aumenta- ções A8 (Júlio de Castilhos) e A26 (Santana do Livra-
da no decorrer do período, indicando ativo processo mento), ao passo que os mais similares foram A5 e A6,
de produção de caules basilares. Numa observação ambos provenientes de Santana do Livramento (Tabe-
realizada ao final deste estudo, foi verificado que a la 6). O fato desses dois últimos serem provenientes
população A8 apresentou rizomas, o que pode ser a do mesmo local pode explicar a elevada similaridade.
causa da sua maior área basal em relação às demais Quanto à contribuição relativa dos caracteres para
populações. Os rizomas são caules com pontos de cres- divergência, a massa seca obtida no primeiro corte
cimento que podem originar novos afilhos, sendo que após o emparelhamento contribuiu com 26,35% (Ta-
para Vegetti (1997), a presença de rizomas simpodiais bela 7). A soma das contribuições das variáveis relati-
nessa espécie determina que os afilhos mais velhos vas à massa seca foi de 99,83%, indicando a impor-
estejam próximos ao eixo primário, induzindo a for- tância das mesmas para mostrar a divergência entre as
mação de touceiras periféricas à planta-mãe. Millot populações.
Finalmente, é importante enfatizar que houve uma OLIVEIRA, J. C. P.; MORAES, C. O. C. Distribuição da produ-
excelente persistência das populações avaliadas, não ção e qualidade de forragem de Bromus auleticus Trinius. Pes-
quisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 28, n. 3, p. 391-398,
ocorrendo nenhuma morte de plantas, o que comprova 1993.
ainda mais o potencial e o valor do Bromus auleticus OLIVEIRA, J. C. P.; SILVEIRA, L. R. M.; MORAES, C. O. M.;
como forrageira perene de estação fria. As confirma- SARMENTO, M. B.; XAVIER, H. C. Determinação do modo de
ções das diferenças entre as populações, assim como reprodução de Bromus auleticus Trinius ex Nees. In: Los recur-
seu desempenho em linhas ou parcelas cheias é im- sos fitogeneticos del genero Bromus en el Cono Sur.
prescindível para a seleção e/ou descarte de genótipos, Montevideo: PROCISUR. 2001. p. 39-43. (Dialogo, 56).
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Bromus auleticus coletadas no Rio Grande do Sul, es- RIVAS, M. El cultivar “Potrillo” de Bromus auleticus Trinius ex
pecialmente quanto à estatura na fase de floresci- Nees. In: Los recursos fitogenéticos del género Bromus en el
mento, comprimento de panículas, número de ramifi- Cono Sur. Montevideo: PROCISUR. 2001. p. 105-108. (Diálo-
cações por panícula, número de antécios por espigueta, go, 56).
pilosidade, cor das folhas e teor de fibra em detergen- ROSA, J. L. Produção de forragem de Bromus auleticus no Pla-
te ácido, fibra em detergente neutro e proteína bruta. nalto de Santa Catarina. In: REUNIÃO TEMÁTICA INTERNA-
A coleção avaliada representa uma importante fonte de CIONAL SOBRE O GÊNERO Bromus, 2000, Bagé. Anais...
Bagé: Embrapa-CPPSul, 2001. p. 16-17.
germoplasma para seleção e desenvolvimento de cul-
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TABELA 3 – Características morfológicas de folhas de populações TABELA 5 – Teores médios de proteína bruta (PB), fibra em
de Bromus auleticus detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) de
populações de Bromus auleticus
Pilosidade Largura
Populações Cor Verde
Abaxial Adaxial média (cm) Populações PB (%) FDN (%) FDA (%)
A5 Claro Forte Forte 4 A5 20,5 a 65,2 ab 25,7 c
A6 Acinzentado Forte Forte 5 A6 19,9 a 67,6 a 27,9 abc
A7 Escuro Forte Forte 5 A7 17,2 abc 63,9 ab 28,8 abc
A8 Claro Fraca Fraca 5 A8 16,8 c 62,1 b 29,4 ab
A17 Claro Fraca Fraca 4 A17 16,9 bc 61,2 b 28,1 abc
A23 Claro Forte Forte 4 A23 19,5 abc 66,9 ab 28,1 abc
A26 Escuro Forte Forte 3 A26 19,8 ab 66,3 ab 26,5 bc
A27 Claro Forte Forte 5 A27 16,9 bc 65,2 ab 30,5 a
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
TABELA 7 – Contribuição relativa dos caracteres para divergência 25 TMP TMN PTM PTN 250
genética em populações de Bromus auleticus
20 200
Contribuição
Precipitação (mm)
Temperatura (ºC)
Variáveis
(%) 15 150
Antécios/espigueta 0,0027
10 100
Área basal do quarto corte 0,0060
Área basal do quinto corte 0,0007 5 50
Área basal do terceiro corte 0,0001
0 0
Circunferência do quarto corte 0,0028 Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro
Circunferência do quinto corte 0,0002 Meses (2003)
Circunferência do terceiro corte 0,0009
Fig. 1. Temperatura média (T) e precipitação mensais (P) do período
Comprimento da panícula 0,0007 da realização dos cortes no segundo ano (TMP; PTM) e das normais
(TMN; PTN). Passo Fundo, RS. Fonte: Embrapa-Trigo
Comprimento de espiqueta 0,0155 (www.cnpt.embrapa.br).
Espiguetas/panícula 0,0001
Estatura do primeiro corte 0,0020
160 148,7 142,8
Estatura do quarto corte 0,0004 130,1ns 135,1 134,5 135,2
Massa seca (g/planta)
50 50
Estatura (cm)
350 315 a
300
250
Área basal (cm2) 201 ab
188 b
200 170 b 164 b
162 b 163 b
143 b
150
100
50
0
A5 A6 A7 A8 A17 A23 A26 A27
Populações
PB FDN FDA
80 75,4 a 40
70,7 b
65,5 c 62,8 cd
70 60,5 d 35
35,7 a
60 30
PB e FDA (%)
32,4 b
30,2 c
FDN (%)
50 25
26,7 d
40 23,6 e 20
30 19,5 a
15
16,0 b 18,9 a 18,7 a
20 13,5 c 10
10 5
0 0
18/mar 02/mai 16/jun 28/jul 15/set
Data dos cortes
Fig. 5. Variação temporal dos teores médios de proteína bruta (PB), fibra em
detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN) de populações de
Bromus auleticus. Médias seguidas de mesma letra, para cada variável, não
diferem pelo teste de Tukey (P > 0,05).