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Ficha de trabalho 3

Gramática

Nome ____________________________________________ Ano ___________Turma __________ N.o _________

Lê o seguinte texto.

O que distingue um amigo verdadeiro


Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem
apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas
pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode
passar e a atenção que se pode dar – todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não
5 chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com
eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.
Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter
tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade.
O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo
10 de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser
amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso
ser-se inimigo de quem se gosta.
Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo,
nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto,
15 existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um
«amigo». Todos conhecemos o género – é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o
«amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas,
compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c.
Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não
20 nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e
passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para
mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e
os inimigos da outra pessoa. É fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue
um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço,
25 em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele,
mas tenho de reconhecer que ele é um sacana». Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos
são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos
não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil
ser inteiramente leal, mas tem de se ser.
Miguel Esteves Cardoso, «O que distingue os meus amigos verdadeiros», in Os Meus Problemas, Porto, Porto Editora, 2016.

Para responderes a cada um dos itens de 1 a 6, seleciona a opção correta.

1. A modalidade expressa na frase «Não se pode ter muitos amigos» (l. 1) é


(A) epistémica, com valor de certeza.

(B) epistémica, com valor de probabilidade.


(C) deôntica, com valor de obrigação.
(D) deôntica, com valor de permissão.
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2. A modalidade expressa no segmento «todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas» (l. 4) é
(A) epistémica, com valor de certeza.

(B) epistémica, com valor de probabilidade.

(C) deôntica, com valor de obrigação.

(D) deôntica, com valor de permissão.

3. Os elementos destacados na frase «Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de
quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos» (l. 1) contribuem para a coesão
(A) frásica.

(B) interfrásica.

(C) referencial.

(D) temporal.

4. Os elementos destacados na frase «Os amigos não podem ser maus» (ll. 27-28) contribuem para
a coesão
(A) frásica.

(B) interfrásica.

(C) referencial.

(D) temporal.

5. A função sintática desempenhada pelo pronome pessoal em «Pode custar-nos não ter tempo
nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta» (ll. 7-8) é a de
(A) complemento oblíquo.

(B) complemento indireto.

(C) complemento direto.

(D) sujeito.

6. A frase «A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade» (l. 28) expressa o seguinte
valor aspetual
(A) valor perfetivo.

(B) situação iterativa.

(C) situação genérica.

(D) situação habitual.

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