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Cálculo Integral

de uma Variável
Canal Matemática Universitária

O canal Matemática Universitária é um projeto sem fins lucrativos do


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Cálculo Integral
de uma Variável
Renan Edgard Brito de Lima
Professor do Departamento de Matemática
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA

Os vídeos deste livro estão organizados na página do QR code acima.


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lima, Renan Edgard Brito de


Cálculo integral de uma variável / Renan Edgard
Brito de Lima. -- São José dos Campos, SP : Ed. do
Autor, 2023.

ISBN 978-65-00-64239-1

1. Cálculo diferencial 2. Cálculo diferencial -


Estudo e ensino I. Título.

23-157367 CDD-515.3307
Índices para catálogo sistemático:

1. Cálculo diferencial : Matemática : Estudo e


ensino 515.3307

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253


À minha esposa, Mary.
À minha filha, Elisabeth.
Aos meus pais, Jorge e Fátima.
Sumário

Prefácio ix
Sobre o Conteúdo do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . x
1 Introdução ao Cálculo Integral 1
1.1 Arquimedes e o Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 A Visão da Física do Conceito de Integral . . . . . . . . 4
1.3 Integrais de Polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Apêndice do Capítulo 2 27
1.A Fermat e o Cálculo de Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2 Integrais 31
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2 Revisão de Cálculo Diferencial . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3 Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . 42
2.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição . . . 47
2.5 Integração por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.6 Integração de Funções Trigonométricas . . . . . . . . 62
2.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria . . . . . 71
2.8 Aplicações de Integral na Física . . . . . . . . . . . . . 84
2.9 Integrais Impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3 Discussão mais Avançada de Integrais 111
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.2 Definição de Funções por meio de Integrais . . . . . . 113
3.3 Frações Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
3.4 Substituições Especiais e Funções Hiperbólicas . . . 135
3.5 O Teorema de Liouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
3.A Integral - o Método de Darboux . . . . . . . . . . . . . . 160
3.B Integrabilidade por Riemann . . . . . . . . . . . . . . . 175
Índice Remissivo 185
Prefácio

Estrutura do Livro

O livro foi originalmente projetado para ser um e-book, em que é pos-


sível ter uma leitura confortável em tablets, computadores e celulares. Mas
com o tempo veio a ideia da criação do QR code abaixo que encaminha
para uma lista de vídeos no youtube:

Figura 1: QR code que direciona para todos os vídeos deste livro no Youtube.

Este livro conta com 74 videoaulas, produzidas pelo próprio autor, que
complementam a explicação. Tais vídeos estão disponíveis no Youtube via
o link www.youtube.com/c/MatematicaUniversitariaProfRenan. Este
canal do Youtube contém mais de 1.100 vídeos de vários assuntos de ma-
temática a nível universitário.

É possível adquirir a versão impressa em https://clubedeautores.


com.br/livros/autores/renan-lima. Está disponível as versões colo-
rida e preto e branco. Os recursos obtidos por estas vendas serão utiliza-
dos para compra de equipamentos para aumento de qualidade das vide-
oaulas no canal do youtube. Quem adquiriu a versão impressa, envia um
email para matematicauniversitariarenan@gmail.com de título @Livros-
Renan, que envia automaticamente o link do drive dos meus e-books.
Sugiro dar uma olhada em sites como Amazon, Submarino e mercado
livre para compra do livro físico. Algumas vezes aparece uma boa promo-
ção e, neste caso, recebo 20% do valor da venda. Provavelmente, nestes
sites, terão apenas a versão preto e branco. Quem lida com a logística do
livro físico é o Clube de Autores e eu apenas autorizo a disponibilização
do livro nestes sites.
Quem gostou do livro, peço que dê o máximo de estrelas e faça um
elogio e/ou comentário. Isso me ajuda muito no marketing.
Caso deseje ajudar financeiramente o projeto, abri a possibilidade de
ser membro do clube dos canais via uma assinatura mensal, cancelável a
qualquer momento por parte do usuário. No momento, temos a opção
de R$ 5,00, R$ 7,00 e R$ 15,00 por mês. Pretendo, para os membros bási-
cos do canal, postar alguns vídeos exclusivos, soluções de exercícios do(s)
meu(s) livro(s). Os membros intermediário e avançados terão maior inte-
ratividade comigo.
O motivo de construir um solucionário em uma área paga (e barata)
é por achar importante que o estudante tente resolver o exercício e, acre-
dito que, deixar a solução disponível gratuitamente pode desestimular o
estudante a tentar resolvê-los.
Por outro lado, há um grande número de bons estudantes que gos-
tariam de ter um solucionário para conferir um pouco a escrita e, quem
sabe, ter alguma nova solução. Neste sentido, acredito que R$ 5,00 em
um mês ou dois meses é um valor razoavelmente baixo e este valor é uma
mensagem com mais ênfase de tentar resolver o exercício antes de olhar a
solução.

Sobre o Conteúdo do Livro

Este livro contempla a parte de integração de funções de uma variável e é


interessante que o estudante tenha acesso ao primeiro livro que é chamado
Cálculo Diferencial I. É possível adquirir a versão impressa no site https:
//clubedeautores.com.br/livro/calculo-diferenciali, tendo a op-
ção de adquirir colorido ou preto e branco.
O motivo de ter escrito o livro de cálculo integral separado do cálculo
diferencial é que não é necessário ter conhecimento pleno de todo o con-
ceito de derivadas para trabalharmos com a integração e, no início dos
cursos de física mecânica, é comum mencionar o conceito de integração.
É possível adquirir este material em volume único, mas acredito que seja
mais agradável estudá-lo separadamente.
Renan Lima xi

Tomei a decisão de colocar, em cada seção, poucos exercícios para que


o estudante não fique muito tempo preso em um determinado assunto.
Acredito que, futuramente, pode-se acrescentar exercícios por outras mí-
dias, tais como um site específico ou pode-se utilizar as listas de exercícios
de uma faculdade. Pelo mesmo motivo, evitei colocar desafios nos capí-
tulos 1 e 2 e preferi que os exercícios sejam um guia para que o estudante
desenvolva a lógica matemática esperada da seção. Algumas seções do
capítulo 3 possuem alguns exercícios complicados.
Além das seções usuais, o livro conta com seções de apêndices dos
capítulos. Cada seção do apêndice é uma leitura opcional e tem caráter
informativo. Por esta razão, não acrescentamos exercícios no final dessas
seções.
Um fato curioso é que o cálculo integral tem uma história muito mais
rica que o cálculo diferencial. Para termos uma ideia, costuma-se, no cál-
culo diferencial, enfatizar o embate entre Newton e Leibniz sobre quem
seria o pai do cálculo... No cálculo integral, há uma maior discussão da
evolução das ideias matemáticas, até se chegar ao nível do cálculo atual.
Não é exagero falar que os avanços do cálculo integral começaram antes
de cristo, com o método da exaustão.
Existem algumas menções históricas no decorrer deste livro. Sinta-se
encorajado e incentivado a procurar na internet. Um bom ponto de partida
é o site da Wikipedia.
Além disso, eu incentivo (e muito!) o uso de softwares para verificar
respostas e auxiliar nos estudos. No caso da integral, costumo utilizar
a versão gratuita do Wolfram, que pode ser acessado em https://www.
wolframalpha.com/. Outro software bastante interessante é o Geogebra
CAS Calculator, disponível para android, mas também pode ser acessado
em https://www.geogebra.org/cas?lang=pt. CAS significa Computer
Algebra System e, ao contrário da solução numérica, o computador fornece
a solução simbólica. Por exemplo, f (x) = x2 é simbólico.
Renan Brito de Lima
Professor do Departamento de Matemática
Instituto Tecnológico da Aeronáutica
C APÍTULO

1 Introdução ao Cálculo
Integral

1.1 Arquimedes e o Cálculo de Área

O problema do cálculo das áreas foi objeto de estudo de grande inte-


resse pelos Gregos antigos. Eles sabiam trabalhar com o cálculo de área de
polígonos e círculos, mas era considerado insolúvel o cálculo de área de
outras figuras, tais como regiões parabólicas.

Figura 1.1: Arquimedes foi capaz de cálcular esta área com o método da exaustão.

Com a técnica conhecida como método da exaustão, Arquimedes foi ca-


paz de calcular algumas regiões mais gerais, mas por quase 2000 anos,
este método era um ato isolado desse grande gênio. Uma das aplicações
mais conhecidas é a estimativa do número π . Arquimedes notou que o
comprimento do círculo era um valor entre o perímetro do polígono regu-
lar inscrito e do polígono regular circunscrito ao círculo e, quanto maior o
número de lados, melhor seria a estimativa de π .

Arquimedes utilizou fórmulas de perímetro conhecidas na época, cal-


culou o perímetro dos polígonos inscritos e circunscritos de 96 lados e
chegou à notável aproximação

223 22
<π< .
71 7
2 Matemática Universitária

(a) 4 lados inscrito (b) 6 lados

(c) 12 lados (d) 24 lados

Figura 1.2: A área do polígono inscrito se aproxima da área do círculo.

Usando uma calculadora para efetuar as duas divisões, encontramos


as duas primeiras casas decimais de π , a saber π ' 3, 14. A princípio, pode
parecer que teríamos uma aproximação com mais casas decimais, mas o
nosso olho não consegue ver a diferença de um centésimo da área. Por
exemplo, na figura 1.2 letra (d), há 24 espaços em branco que, quando so-
madas suas áreas, e supondo o raio 1 cm, nos fornece o valor de 0, 03 cm2 .
Pegue este valor e divida por 24 e é por isso que nosso olho não consegue
perceber a diferença. Ao leitor que estiver com a versão e-book, sugerimos
dar um grande zoom para ver o espaçamento.

Além da aproximação de π , Arquimedes encontrou a área da região


delimitada pela parábola e a reta secante (ver figura 1.1).

Em torno de 1630, com o surgimento da geometria analítica, a comuni-


dade científica europeia, com destaque para Fermat e Pascal, continuaram
o desenvolvimento do método da exaustão a partir de onde Arquimedes
parou. Fermat encontrou um argumento elegante para calcular a área da
região delimitada pelo gráfico y = xn e as retas x = 0 e x = b, com b
Renan Lima 3

arbitrário (ver figura 1.3). A forma com que Fermat calculou esta área é
feita no apêndice deste capítulo.
y
y = xn

x
b

Figura 1.3: Área calculada por Fermat com um método bastante elegante.

Houve, no período de 1630 até 1680, muitas ideias pontuais para o


cálculo de área das mais diversas figuras. Coube a Leibniz e a Newton
a tarefa de recolher e unificar estas ideias em uma teoria. O principal re-
sultado é o que hoje chamamos de o teorema fundamental do cálculo, que
afirma que se uma área pode ser computada pelo método da exaustão,
então pode ser computada usando o processo de antiderivação ou, com o
nome mais conhecido, integração. Este teorema é um dos pilares da Teoria
do Cálculo.
Houve, literalmente, uma guerra entre Newton e Leibniz sobre quem
seria o grande inventor do Cálculo, com graves acusações de plágio. Atu-
almente, após muita investigação dos manuscritos, é de consenso entre os
historiadores que não houve plágio e, portanto, o Cálculo tem dois pais.
Newton foi quem descobriu o Cálculo primeiro, mas Leibniz foi o pri-
meiro a publicar os resultados.
4 Matemática Universitária

1.2 A Visão da Física do Conceito de Integral

Sugerimos a nossa videoaula Introdução com Física ao Conceito de In-


tegral. Convidamos o leitor a assistir duas vezes a esta aula, a primeira
antes de começar a leitura desta seção e a segunda após terminar a leitura,
pois as ideias apresentadas no vídeo são muito importantes, mas exigem
um tempo de reflexão.
Antes de falarmos do conceito de integral, faremos uma breve explica-
ção da notação sigma para somatórios. Dados números a1 , · · · , an , a sua
soma é denotada por
n
X
ai = a1 + a2 + . . . + an .
i=1

A letra grega Σ (sigma maiúsculo) corresponde à nossa letra S . A notação


acima se lê: o somatório de i = 1 até n de ai . A letra i é chamada de índice do
somatório, mas é apenas uma letra auxiliar e pode-se usar qualquer outra
letra. Por exemplo, a soma 1+2+3+4 pode ser representada pela notação
sigma nas seguintes formas:

4
X 4
X
i ou k.
i=1 k=1

Vamos fazer alguns exemplos e esperamos que o leitor entenda o padrão.

7
X
i2 = 12 + 22 + 32 + 42 + 52 + 62 + 72 ,
i=1
4
X 4
X
(k + 1)2 = 22 + 32 + 42 + 52 = (i + 1)2 ,
k=1 i=1
4
X k 1 2 3 4
= + + + ,
k=1
k+1 2 3 4 5
5
X
(−1)i = −1 + 1 − 1 + 1 − 1.
i=1

Não há necessidade de o índice começar pelo 1, por exemplo:

5
X 4
X
k 2 = 22 + 32 + 42 + 52 = (k + 1)2 .
k=2 k=1
Renan Lima 5

Voltando para o conceito de integral, considere um motorista dirigindo


o carro em linha reta e que este tenha apenas acesso ao velocímetro. Supo-
nha que o carro parta da posição de repouso, acelere até um certo ponto e
depois desacelere até parar. Desejamos encontrar um procedimento para
calcular a distância percorrida pelo veículo, supondo que temos um ma-
peamento preciso da velocidade em cada instante t em 0 a 60 segundos.
Para fixar as ideias, suponha que colocamos um sensor no velocímetro
t(60 − t)
e que a velocidade do veículo é modelada por v(t) = , em que t
30
é dado em segundos e v é dada por m/s. Observe que o veículo não anda
em movimento uniforme e nem em movimento uniformemente variado.
v(m/s)
~v
30
s0 st f
b b

t(s) ∆s
30 60
Figura 1.5: O veículo vai para a direita.
t(60 − t)
Figura 1.4: Gráfico de v(t) = .
30
Para resolvermos um problema dessa natureza, começamos com os
casos mais simples e, aos poucos, complexificamos o problema. Suponha
que o movimento do carro seja uniforme, isto é, com velocidade instantâ-
nea constante v. A distância percorrida ∆st0 →tf no intervalo de t0 a tf é
dada por
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(tf − t0 ) = v∆t.

Considere o referencial conforme a figura 1.5. Se v > 0, então s(tf ) se


encontra à direita de s(t0 ); se v < 0, então s(tf ) está à esquerda de s(t0 ).
A expressão |v|∆t é a área do retângulo de altura |v| e base de tamanho
∆t.
v(m/s) v(m/s)

v tf
t0
t(s)
t(s)
t0 tf
v

s(t0 ) s(tf ) s(tf ) s(t0 )

∆s > 0 ∆s < 0
(a) Caso v > 0. (b) Caso v < 0.

Figura 1.6: Estudo de casos pela fórmula ∆s = v∆t e a sua relação com a área sob o
gráfico.
6 Matemática Universitária

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme com velo-


cidade v1 nos instantes t0 até t1 e, no instante t1 , ganha um impulso, de
modo que de t1 até tf , tenha velocidade constante v2 . A distância percor-
rida é dada por

∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 ,

em que ∆t1 = t1 − t0 e ∆t2 = tf − t1 . Note que se v1 > 0 e v2 > 0, então


∆st0 →tf é a área da região entre o gráfico da velocidade e o eixo t, em que
quais t0 ≤ t ≤ tf .

v(m/s)

v2

v1

t(s)
t0 t1 tf

Figura 1.7: Movimento subdividido em dois movimentos retilíneos uniformes.

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme em 3 partes


distintas do trecho, com velocidade v1 entre t0 e t1 ; v2 entre t1 e t2 ; v3 entre
t2 e tf . A distância percorrida é dada por

∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 + v3 ∆t3 ,

em que ∆t1 = t1 − t0 , ∆t2 = t2 − t1 e ∆t3 = tf − t2 . A distância percorrida


é a área da região entre o gráfico da velocidade (caso v1 , v2 , v3 > 0) e o
eixo t, com t0 ≤ t ≤ tf .

v(m/s)

v2

v1
v3
t(s)
t0 t1 t2 tf

Figura 1.8: Movimento subdividido em três movimentos retilíneos uniformes.


Renan Lima 7

Consideremos agora um movimento não uniforme, em que v é uma


função qualquer de t. Para fixar as ideias, vamos supor que v(t) ≥ 0.
Imaginemos o intervalo [t0 , tf ] subdividido em um grande número de pe-
quenos intervalos [t0 , t1 ], [t1 , t2 ], · · · , [tn−1 , tf ]. Por exemplo, se n = 3,
dividimos o intervalo [t0 , tf ] em 3 subintervalos.

Em cada um dos intervalos [ti , ti+1 ], escolhemos ci , tal que v(ci ) seja o
representante marcado no velocímetro do carro. Daí, ∆sti−1 →ti ' v(ci )∆ti ,
em que ∆ti = ti − ti−1 , e, portanto,

∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →t3 + . . . + ∆stn−1 →tf
' v(c1 ) ∆t1 + v(c2 )∆t2 + v(c3 )∆t3 + . . . + v(cn )∆tn .

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 tf t0 t1 tf
(a) Gráfico genérico de v(t). (b) Caso tf = t2 .
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 tf t0 t1 t2 t3 tf
(c) Caso tf = t3 . (d) Caso tf = t4 .

Figura 1.9: A soma das áreas do retângulo para o caso que escolhemos ci = ti .

Passando para a notação sigma, temos

n
X
∆st0 →tf ' v(ci )∆ti .
i=1
8 Matemática Universitária

Se os subintervalos [ti−1 , ti ] forem suficientemente pequenos, pode-


mos supor que a velocidade do carro seja constante em cada um dos su-
bintervalos. Isto significa que, se olharmos o velocímetro por menos de
um segundo, parece que o velocímetro está parado.
Matematicamente, à medida que as subdivisões ∆ti ficam menores,
mais preciso será o valor do deslocamento total e espera-se, pelo método
de exaustão, que o somatório convirja para o valor real do deslocamento
total.

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(a) Divisão em 8 pedaços iguais. (b) Divisão em 16 pedaços iguais.
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(c) Divisão em 32 pedaços iguais. (d) Divisão em 64 pedaços iguais.

Figura 1.10: A soma das áreas dos retângulos se confunde com a área sob o gráfico
se as medidas dos subintervalos [ti−1 , ti ] forem "pequenas suficiente".

Utilizaremos, portanto, a seguinte notação, criada por Leibniz,


Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(t)dt.
t0
R
O símbolo de integral é uma deformação do S de soma.
Renan Lima 9

t(60 − t)
Voltemos ao nosso exemplo inicial v(t) = . As figuras abaixo
n
30
X
mostram o comportamento da expressão v(ci )∆ti conforme ∆ti for
i=1
diminuindo, em que o ci é o ponto médio do intervalo [ti−i , ti ].

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 60 t0 t1 t2 t3 60
c1 c2 c3 c1 c2 c3 c4
(a) Divisão em 3 pedaços iguais (b) Divisão em 4 pedaços iguais
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7
60 60
c1 c2 c3 c4 c5 c6 c7 c8
(d) Divisão em 64 pedaço iguais
(c) Divisão em 8 pedaços iguais

Figura 1.11: Escolhemos ci como sendo o ponto médio do intervalo [ti−1 , ti ].

Geometricamente, significa que o deslocamento total é a área da região


delimitada pelo gráfico de v , o eixo t e as retas t = t0 e t = tf . Veremos no
exemplo 1.3.13 que a resposta é 1.200 m.

No caso de a velocidade ficar negativa em um intervalo, podemos pen-


sar que o veículo está andando de marcha-ré, mas independentemente,
vale a fórmula
Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = v(t)dt.
t0

Geometricamente, a integral calcula a diferença entre a área de cima e


a área de baixo. A área é sempre um número positivo. A integral só tem
10 Matemática Universitária

a interpretação geométrica de área se a função v(t) satisfaz v(t) ≥ 0 para


todo t ∈ [t0 , tf ].
v(m/s)

tf
t(s)

Para frente Para frente


marcha-ré marcha-ré

Figura 1.12: Interpretação física da velocidade negativa

Pela mesma lógica, temos a seguinte relação entre a aceleração e a ve-


locidade Z tf
v(tf ) − v(t0 ) = a(t)dt.
t0

Uma pequena aplicação dessas ideias é resolver um exercício com mo-


vimento retilíneo uniformemente variado (sem aplicação de fórmula).
Exemplo 1.2.1: Suponha que um carro, partindo do repouso, se desloca
2
com aceleração constante de 2 m/s no intervalo 0 a 10 segundos. Qual
é o deslocamento total?
Lembremos que um veículo partir do repouso significa que v0 = 0.
Lembremos a fórmula aprendida no ensino médio de movimento reti-
líneo uniformemente acelerado
at2
s(t) = s0 + v0 t + = s0 + t2 .
2
Fazendo t = 10, temos que ∆s = s(10) − s0 = 100 metros. Vamos
encontrar a mesma resposta, mas aplicando as ideias desta seção.
Renan Lima 11

a 2
(m/s )

t(s)
t 10

Figura 1.13: Gráfico da aceleração com o tempo.

Como a(t) > 0, temos que ∆v0→t é a área da região delimitada pelo
gráfico de a(t) (em relação ao tempo) e pelas retas "t = 2", "t = t" e o
eixo t.
Daí, chegamos à fórmula ∆v0→t = 2t.
Como ∆v0→t = v(t) − v0 e v0 = 0, temos v(t) = 2t. Como v(t) ≥ 0
para todo t ∈ [0, 10], temos que ∆s0→10 é a área da região delimitada
pelo gráfico de v(t), o eixo t e as retas t = 0 e t = 10.

v(m/s)

20

t(s)
10
Figura 1.14: A reta v(t) = 2t.

b×h 10 × 20
Temos, portanto, que ∆s0→10 = = = 100 metros.
2 2
12 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre o valor da soma de cada um dos itens abaixo.

5
X 6
X 100
X
2 j
a) i b) 2 c) 3
i=1 j=1 k=1

10
X 151
X 100
X
n k
1 + (−1)k

d) (−1) e) (−1) f)
n=1 k=1 k=1

4
X 8
X 10
X
k 2
g) k h) i i) (−2)n−2
k=1 i=3 n=5

2. Passe os somatórios abaixo para a notação sigma.

a) 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 b) 1 − 3 + 5 − 7 + 9 − 11

c) 23 + 33 + 43 + 53 + . . . + 203 d) 24 + 25 + 26 + . . . + 215

1 1 1 1 1 3 5 7 9 11
e) + + + ... + f) + + + + +
2 3 4 10 1 2 3 4 5 6
1 1 1 1 1
g) − + − + h) 32 − 42 + 52 − 62 + 72 − 82
2 4 6 8 10

3. Suponha que um carro com velocidade de 10 m/s acelera por 5 segun-


dos com aceleração constante de 3 m/s2 . Qual o deslocamento total
neste intervalo?

4. Suponha que uma particula parte do repouso e com aceleração dada,


no SI, pela equação a(t) = 2t + 3. Encontre a velocidade da partícula
no instante em que t = 5 segundos.
Renan Lima 13

Respostas

Exercício 1

a) 55 b) 126 c) 300

d) 0 e) −1 f) 100

g) 288 h) 199 i) 168

Exercício 2

Nesta questão, há várias soluções possíveis. Vamos apresentar duas delas


em cada item.

6
X 5
X 6
X 5
X
k+1
a) (2k − 1); (2k + 1) b) (−1) (2k − 1); (−1)k (2k + 1)
k=1 k=0 k=1 k=0

19
X 20
X 12
X 15
X
c) (n + 1)3 ; n3 d) 2n+3 ; 2n
n=1 n=2 n=1 n=4

9 10 6 5
X 1 X1 X 2i − 1 X 2i + 1
e) ; f) ;
i=1
i + 1 i=2 i i=1
i i=0
i+1
5 6 5 6
X (−1)j+1 X (−1)j X X
g) ; h) (−1)j (j + 3)2 ; (−1)j+1 (j + 2)2
j=1
2j j=2
(2j − 2) j=0 j=1

Exercício 3
∆s = 87, 5 m

Exercício 4
v(5) = 40 m/s
14 Matemática Universitária

1.3 Integrais de Polinômios

Vimos, na seção anterior, uma motivação com a física para o cálculo


Z b
de integrais e introduzimos a notação de Leibniz f (t)dt. Neste caso,
a
a variável t é apenas uma letra auxiliar e pode ser mudada por qualquer
outra letra:
Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

Nesta seção, apresentaremos fórmulas para integrais polinomiais.

Teorema 1.3.1: Fórmulas Básicas

Sejam f, g : [a, b] → R funções polinomiais, então

Z b 
Z b Z b
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Z b 
Z b Z b
2. f (x) − g(x) dx = f (x) dx − g(x) dx.
a a a
Z b Z b
3. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.
a a
Z b
4. k dx = k(b − a).
a

b
bn+1 − an+1
Z
5. xn dx = , em que n ∈ N.
a n+1

Demonstração:
As provas dos itens 1 até 4 serão feitas com o devido rigor no capítulo 3.
Para o leitor se convencer da validade, verifique para o item 3 que
n
X n
X
kf (ci )∆xi = k f (ci )∆xi .
i=1 i=1

A demonstração do item 5 se encontra no apêndice deste capítulo.


Renan Lima 15

Para organização, no item 5, escrevemos


b
b
xn+1 bn+1 an+1
Z
n
x dx = = − .
a n+1 n+1 n+1
a

Z 2
Exemplo 1.3.2: Vamos calcular 2x2 dx.
1

2
 
2 2 3
 3 3
  
x =2 2 −1 7 14
Z Z
2x2 dx = 2 x2 dx = 2  =2 = .
1 1 3 3 3 3 3
1

Z 5
x2 − x dx.

Exemplo 1.3.3: Vamos calcular
0

Z 5 Z 5 Z 5
2 2

x − x dx = x dx − x dx
0 0 0
5 5
x3 x2 53 03 52 02
   
= − = − − −
3 2 3 3 2 2
0 0
125 25 175
= − = .
3 2 6

Definição 1.3.4: Primitivas de Polinômios

Seja f : R → R polinômio. Dizemos que o polinômio F é primitiva de


f se para todo a, b ∈ R, tem-se
Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a

xn+1
Exemplo 1.3.5: O polinômio F (x) = é uma primitiva da função
n+1
xn+1
f (x) = xn . Note que G(x) = + 1 é primitiva de f , pois vale
n+1
G(b) − G(a) = F (b) − F (a).
xn+1
Mais geralmente, todo polinômio da forma + C , com C ∈ R é
n+1
primitiva de f .
16 Matemática Universitária

Exemplo 1.3.6: O polinômio F (x) = x é primitiva do polinômio cons-


tante f (x) = 1. Todo polinômio da forma x + C é primitiva da f .

Exemplo 1.3.7: A função F (x) = x3 é primitiva da função f (x) = 3x2 .


Todo polinômio da forma x3 + C , com C ∈ R é primitiva de f .

Teorema 1.3.8: Propriedade das Primitivas

Sejam f, g polinômios e F, G as primitivas de f e g , respectivamente.


Então

1. F + G é primitiva de f + g .

2. kF é primitiva de kf , onde k ∈ R.

Demonstração:
1. Seja H(x) = F (x) + G(x). Queremos provar que
Z b 
f (x) + g(x) dx = H(b) − H(a).
a

Basta expandir as contas para a demonstração...


Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx
a a a
= F (b) − F (a) + G(b) − G(a)

= F (b) + G(b) − F (a) + G(a)
= H(b) − H(a).

2. Seja H(x) = kF (x), então


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx
a a
= k(F (b) − F (a))
= H(b) − H(a).

x3 x2
Exemplo 1.3.9: Todo polinômio da forma F (x) = − + C , com
3 2
C ∈ R, é primitiva de f (x) = x2 − x, feita no exemplo 1.3.3 (verifique!).
Renan Lima 17

É possível mostrar que se F (x) é uma primitiva da f , então todas as pri-


mitivas de f são da forma F (x) + C , com C ∈ R. ZVeremos no capítulo 2
a demonstração desse fato. Usaremos a notação f (x) dx para repre-
sentar todas as primitivas de f e a chamamos de integral indefinida de f .
Em outras palavras, temos
Z
f (x) dx = F (x) + C.

O teorema 1.3.8 diz que vale


Z Z Z

f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.

Este resultado pode ser generalizado para um número finito de termos,


isto é, dados f , g e h, temos que
Z Z Z Z

f (x) + g(x) + h(x) dx = f (x) dx + g(x) dx + h(x) dx.

Z b
Chamamos f (x) dx de integral definida de f .
a

Recomendamos a nossa videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas


- Polinômios. Neste vídeo, fazemos 4 exemplos de integração com polinô-
mios, em que vamos naturalizando o teorema 1.3.8. Colocaremos alguns
exemplos para que o leitor observe o padrão.
Exemplo 1.3.10:
xn+1
Z
1. xn dx = + C.
n+1
x4 x3
Z
x3 + x2 dx =

2. + + C.
4 3
x5 x4 x3
Z
5x4 −4x3 +3x2 dx = 5· −4· +3· +C = x5 −x4 +x3 +C .

3.
5 4 3

Como já dito no começo desta seção, quando colocamos os limites da


integração, a variável da função não tem importância, isto é,
Z b Z b Z b
f (t)dt = f (x)dx = f (u)du.
a a a
18 Matemática Universitária

Para integrais indefinidas, devemos manter a variável de integração.

t3
Z
t2 − 2t dt = − t2 + C,

1.
3
Z
4u3 − 3u2 + 2 du = u4 − u3 + 2u + C,

2.

2v 5
Z
2v 4 − 6v 2 + 6v − 1 dv = − 2v 3 + 3v 2 − v + C.

3.
5
y 4 2y 5 7y 2
Z
y 3 − 2y 5 + 7y dy =

4. − + +C
4 5 2

Exemplo 1.3.11: Considere uma partícula em movimento retilíneo uni-


forme como velocidade v e posição inicial s(0) = s0 . Temos que s(t) é
primitiva de v . Por outro lado, sabemos que
Z
v dt = vt + C.

Logo existe C ∈ R tal que s(t) = vt + C . Fazendo t = 0, temos que


s0 = s(0) = v · 0 + C = C e isso mostra que

s(t) = s0 + vt.

O próximo exemplo é feito na videoaula Aplicação de Integral - Movi-


mento Retilíneo.
Exemplo 1.3.12: Considere uma partícula andando em movimento re-
tilíneo uniformemente variado com s(0) = s0 , v(0) = v0 e aceleração
constante a. Temos que v(t) é primitiva de a. Por outro lado, sabemos
que Z
a dt = at + C.

Logo existe C ∈ R tal que v(t) = at + C . Fazendo t = 0, temos que


v0 = v(0) = a · 0 + C = C e isso mostra que

v(t) = v0 + at.

t2
Z

Integrando novamente, temos v0 + at dt = v0 t + a · + C.
2
Renan Lima 19

at2
Daí, s(t) = C + v0 t + para algum C ∈ R. Fazendo t = 0, temos que
2
C = s0 . Logo
at2
s(t) = s0 + v0 t + .
2

Exemplo 1.3.13: Suponha que a velocidade do veículo no intervalo de


t(60 − t)
[0, 60] seja dada pela função v(t) = , em que t é medido em
30
segundos e v é medida em m/s. O deslocamento total é dado por
60 60 60
t(60 − t) 1
Z Z Z
∆s = v(t) dt = dt = (60t − t2 ) dt
0 0 30 30 0

60
t2 t3 602 603
   
1 1
= 60 · − = 60 · −
30 2 3 30 2 3
0

603
   
1 1 1 2
= − = 2 × 60 = 1200.
30 2 3 6

Logo o veículo se deslocou 1.200 metros.


20 Matemática Universitária

Exercícios

1. Resolva cada uma das integrais definidas.


Z 3 Z 1 Z 4
2 3
a) 2x dx b) (4x + 2x + 3) dx c) (2x2 + 3x) dx
1 0 0
Z 4 Z 2 Z 2
d) (x3 − 2x) dx e) (v 4 − 2v + 1) dv f) (2x + 1)2 dx
2 1 −1

Z −1 Z 1 Z 3
g) (t2 + 1)2 dt h) (x5 − 2x3 + 3x) dx i) (u + 1)3 du
−2 −1 −2

2. Resolva cada uma das integrais indefinidas abaixo.


Z Z
a) (5x2 + 7x + 1) dx b) (x3 − 3x2 − 5x + 2) dx
Z Z
5 4 3
c) (t − t + 2t − 1) dt d) (3t3 + 2)2 dt
Z Z
e) (u2 − 1)3 du f) (w + 1)(w2 − w + 1) dw

3. Seja v(t) = (t + 1)(t + 2)(t + 3) a função que modela a velocidade de


uma partícula, em que t é dado em segundos e v em m/s.
a) Encontre o deslocamento total da partículo de t = 0 até t = 4 segun-
dos.
b) Encontre o deslocamento total da partícula de t = 1 até t = 3 segun-
dos.
c) Suponha que a posição inicial da partícula seja s0 = 5 m. Encontre a
equação geral do movimento da partícula.

4. Uma partícula tem a equação da aceleração dada por a(t) = 6t − 4.


Sabendo que v0 = 2 e s0 = 1, encontre a equação posição. Todas as
unidades estão em SI (Sistema Internacional - metros, segundos, etc).
Renan Lima 21

Respostas

Sugerimos o Geogebra CAS Calculator, disponível para android, mas tam-


bém pode ser acessado em https://www.geogebra.org/cas?lang=pt.
Exercício 1
52 200
a) b) 5 c)
3 3
21
d) 48 e) f) 21
5
178 255
g) h) 0 i)
15 4

Exercício 2

5x3 7x2 x4 5x2


a) + +x+C b) − x3 − + 2x + C
3 2 4 2
t6 t5 t4 9t7
c) − + −t+C d) + 3t4 + 4t + C
6 5 2 7
u7 3u5 w4
e) − + u3 − u + C f) +w+C
7 5 4

Exercício 3

a) s0→4 = 304 m

b) s1→3 = 128 m
t4 11t2
c) s(t) = + 2t3 + + 6t + 5
4 2

Exercício 4

s(t) = 1 + 2t − 2t2 + t3
22 Matemática Universitária

1.4 Cálculo de Área

Na seção 1.2, vimos que dado f : [a, b] → R, trabalhamos com a soma


n
X
f (ci )∆xi , onde {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de [a, b] em n
i=1
pedaços e ∆xi = xi − xi−1 .
Se para todo i, o tamanho ∆xi for cada vez menor, esperamos que
Z b
o somatório convirja para um valor real que denotamos por f (x) dx.
a
Mais ainda, se f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b], então f (ci )∆xi é a área do
retângulo de base ∆xi e altura f (ci ) e a soma destas áreas converge para
a área da região delimitada pelo gráfico de f , o eixo x e as retas x = a e
x = b.
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
60
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)

Figura 1.15: A soma das áreas dos retângulos.

O interessante da notação de Leibniz é que f (x) pode ser pensada


como altura do retângulo, enquanto dx como a medida da base, esta me-
dida pode ser interpretada como distância infinitesimal, que significa que é
tão pequena quanto se queira.
Sugerimos a nossa videoaula Exemplos de Cálculo de Área. Avisamos
que este vídeo tem um pequeno erro no terceiro exemplo.
Exemplo 1.4.1: Vamos encontrar a área da região delimitada pela pará-
bola y = x2 , o eixo x e as retas x = 1 e x = 3.
Renan Lima 23

y y

y = x2

x2
x x
1 3 1 dx 3
(a) Esboço da região. (b) Retângulo de "base infinitesimal".

Figura 1.16: A área de região e o retângulo infinitesimal.

É importante imaginarmos o retângulo com base infinitesimal. Vemos


que a altura é x2 e a base é dx. Temos que a área é dada por
3
3
x3 33 1 26
Z
2
x dx = = − = .
1 3 3 3 3
1

Exemplo 1.4.2: Vamos encontrar a área da região delimitada pela pará-


bola y = x2 e pela reta y = 4.

y y
y=4 y=4 dx
4 − x2

y = x2 y = x2

x x
−2 2 −2 2

(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura 4 − x2 .

Figura 1.17: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe na figura que a altura do retângulo é sempre a parte de cima


subtraída da parte de baixo, então a altura é dada por 4 − x2 e a base
é dx. Para encontrar os limites de integração, precisamos encontrar os
24 Matemática Universitária

pontos de interseção da parábola y = x2 e a reta y = 4 e, para isso,


basta igualar as duas expressões: y = x2 = 4, e daí, x = ±2. A área da
região é dada por

2 2
x3
Z 
2

4−x dx = 4x −
−2 3
−2
−8
   
8 16 16 32
= 8− − −8 − = + = .
3 3 3 3 3

Exemplo 1.4.3: Vamos determinar a área da região delimitada pela


curva y = x3 e pela reta y = x restrita ao 1º quadrante.

y y

dx

x − x3
y=x

−1 y = x3 −1
x x
1 x 1

(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x − x3 .

Figura 1.18: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe que a altura do retângulo é x − x3 e a base é dx. Para encontrar


os limites de integração, basta igualar x = x3 . Temos então que

x3 − x = 0 ⇒ x(x2 − 1) = 0.

As raízes são, portanto, x = 0, x = 1 e x = −1. Como x ≥ 0, vemos


que os limites de integração são x = 0 e x = 1. Temos que a área é
1
1
x2 x4
Z  
3
(x − x ) dx = −
0 2 4
0
12 14 02 04
   
1
= − − − = .
2 4 2 4 4
Renan Lima 25

Exemplo 1.4.4: Vamos encontrar a área da região delimitada pelo eixo


x e a parábola y = x2 − 1.

y y

dx
x x
1 1

1 − x2
−1 −1

y = x2 − 1 y = x2 − 1

−1 −1
(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x2 − 1.

Figura 1.19: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Pela figura, observe que o eixo x está acima da parábola e a equação


desta reta é dada por y = 0. Logo, a função de cima é y = 0, a função
de baixo é y = x2 − 1 e x varia de −1 até 1. Temos, portanto,
1
1 1
x3
Z Z  
2 2
 
0 − (x − 1) dx = 1 − x dx = x −
−1 −1 3
−1
(−1)3
   
1
= 1− − −1 −
3 3
2 2 4
= + = .
3 3 3
26 Matemática Universitária

Exercícios

1. Encontre a área das regiões descritas em cada um dos itens abaixo.

a) Região delimitada pelas retas y = 0, x = 2, x = 3 e pela parábola


dada pela equação y = 3x2 .

b) Região delimitada pelas retas y = 2x, y = −1 e x = 1.

c) Região delimitada pela parábola y = 2x2 + 1 e pela reta y = 3.

d) Região delimitada pela parábola y = x2 − 4x e o eixo x.

e) Região delimitada pelas parábolas y = x2 − 4 e y = −2x2 + 8

f) Região delimitada pela cúbica y = x3 e pelas retas x = 0, x = 1 e


y = −1.

Repostas

Exercício 1

a) 19 u.a.
9
b) u.a.
4
8
c) u.a.
3
32
d) u.a.
3
e) 32 u.a.
5
f) u.a.
4
Apêndice do Capítulo 2

27
28 Matemática Universitária

1.A Fermat e o Cálculo de Áreas

Esta seção pode ser melhor apreciada pelo leitor como uma segunda
leitura e deixamos como um apêndice do capítulo. Nesta seção, vamos
Z b
bk+1 ak+1
mostrar que vale a fórmula xk = − com as ideias de Fer-
a k+1 k+1
mat. Para termos uma visão histórica, Fermat nasceu em 1607 e faleceu
em 1667, enquanto Newton nasceu em 1642 e criou o cálculo aos 24 anos
de idade, em 1667.
O trabalho de Fermat foi tão impressionante, que muitos historiado-
res consideram que Fermat foi o pai da Geometria Analítica (ao invés de
Descartes) e também o verdadeiro criador do cálculo. Apesar do incrível
trabalho e de ter tido várias ideias fascinantes, Fermat não percebeu o te-
orema fundamental do cálculo, que foi descoberto, independentemente por
Leibniz e Newton.
A fórmula acima foi provada, historicamente, caso a caso com o valor
de k especificado. O caso k = 1 é a conhecida área do triângulo, enquanto
o caso k = 2 foi provado por Arquimedes, com o método da exaustão.
Cavalieri conseguiu demonstrá-la para os casos k = 3 até k = 9, mas era
um método geométrico extremamente trabalhoso que falhou para o caso
k = 10. Pascal demonstrou o caso geral.
Fermat conseguiu simplificar a demonstração desta fórmula, usando
apenas progressões geométricas. Vamos a esta demonstração interessante
em que começamos fazendo o caso em que a = 0.
Fixe um valor r tal que 0 < r < 1 e divida o intervalo (0, b] em infi-
nitos subintervalos da forma [rb, b], [r2 b, rb], . . . , [rn b, rn−1 b], . . .. Em cada
subintervalo In = [rn b, rn−1 b], seja Rn a área do retângulo de base In e
altura (rn b)k . As figuras abaixo mostram como a serão feitas as aproxima-
ções da área por retângulos para vários valores da razão.
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b R3R2 R1 b
(a) r = 0, 5 (b) r = 0, 7
Renan Lima 29

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b b
(c) r = 0, 9 (d) r = 0, 95

Figura 1.20: A soma das áreas dos retângulos se aproximam a área da região sob o
gráfico de y = xn à medida que r se aproxima de 1.

Para cada n, a área do retângulo Rn é dada pela expressão

1−r
   
n−1 n kn k n 1 kn k k+1
Rn = (r b − r b)r b = br −1 r b =b (rk+1 )n .
r r

Temos, portanto,
 
k+1 1−r
R1 +R2 +. . .+Rn +. . . = b [1+rk+1 +(rk+1 )2 +. . .+(rk+1 )n +. . .]
r

1
Lembrando a fórmula da soma infinita (1+q +q 2 +. . .+q n +. . .) = ,
1−q
se −1 < q < 1 e substituindo q por rk+1 , temos

bk+1 (1 − r)
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . =
r(1 − rk+1 )

A soma finita de uma progressão geométrica é dada por

rk+1 − 1 1 − rk+1
1 + r + r2 + . . . + rk = = ,
r−1 1−r

daí, temos que

bk+1
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . = .
r + r2 + r3 + r4 + . . . + rk+1

À medida que r se aproxima de 1, a soma das áreas dos retângulos se


aproxima melhor da área da região abaixo do gráfico da função f (x) = xk
30 Matemática Universitária

para x = 0 até x = b e, portanto, é razoável esperar que se substituirmos


r = 1 na expressão da soma da área, então
b
bk+1 bk+1
Z
xk dx = = .
0 1 + 12 + 13 + 14 + . . . + 1k+1 k+1

A fórmula do item 5 do teorema 1.3.8 pode ser deduzida por interpre-


tação geométrica. Por exemplo se 0 < a < b, temos que
b b a
bk+1 ak+1
Z Z Z
k k
x dx = x dx − xk dx = − .
a 0 0 k+1 k+1
O caso a < 0, deixamos como exercício ao leitor. Será necessário separar
os casos em que k é par e k é impar.

É importante observar que, com as devidas modificações, a demonstra-


ção de Fermat funciona para os casos em que k ∈ Q e k 6= −1.
1
Z
O caso k = −1 não funciona e o estudo da integral dx foi a princi-
x
pal motivação de estudar função logaritmo do ponto de vista do cálculo.
Caso o leitor se indague se Fermat tinha percebido que a sua demons-
tração funcionava para k ∈ Q e k 6= −1, a resposta é sim! Ele fez todos
os casos em um único artigo!
C APÍTULO

2 Integrais

2.1 Introdução

Vimos no capítulo 1 que se tivermos o gráfico da função velocidade


pelo tempo, então o cálculo da posição pode ser feita, essencialmente, por
cálculo de áreas da região delimitada entre o eixo t e o gráfico da função v .
Devemos apenas tomar cuidado com o sinal, dependendo se v(t) < 0 ou
v(t) ≥ 0. Por outro lado, se uma partícula tem a equação do movimento
dada pela função s(t), então a equação da velocidade v(t) é dada pela
derivada de s(t). Mais precisamente, vale a fórmula

ds
v(t) = .
dt
O interessante da notação de Leibniz é a possibilidade de pensar, infor-
ds
malmente, como fração e, portanto, a distância infinitesimal é dada por
dt

ds = v(t) dt.

Mais ainda, a soma dos deslocamentos infinitesimais é dada por


Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆s = v(t) dt.
t0

Por conta deste raciocínio, fica bastante intuitivo que áreas podem ser cal-
culadas via processo de antiderivação. Este é o teorema fundamental do
cálculo, percebido por Leibniz e Newton, independentemente!

Quando aprendemos a calcular derivadas, vimos as regras de derivação,


tais como a regra do produto e a regra da cadeia. No cálculo integral, essas
regras se transformam em técnicas de integração. Por conta disso, na seção
2.2, faremos uma revisão do cálculo diferencial, destacando as ideias e os
resultados principais que utilizaremos para o cálculo integral.
32 Matemática Universitária

Na seção 2.3, veremos com detalhe o teorema fundamental do cálculo.


A intuição dada pela física é muito importante, mas também é importante
entendermos quais são as hipóteses exigidas da função a ser integrada.
Nas seções 2.4 e 2.5 , aprenderemos a calcular diversas integrais, come-
çando com as primitivas elementares, seguindo para as técnicas de subs-
tituição e de integração por partes. A seção 2.6 é dedicada à integração,
utilizando as duas técnicas.
Nas seções 2.7 e 2.8, faremos algumas aplicações de integrais tais como
cálculo de comprimento de arco, volume de sólido de revolução, cálculo
de trabalho, massa e centro de massa. Finalmente, na seção 2.9, estende-
remos o conceito de integral e estudaremos as chamadas integrais impró-
prias.
Renan Lima 33

2.2 Revisão de Cálculo Diferencial

Nesta seção, revisaremos os conceitos de cálculo diferencial. Come-


çamos com conceito de continuidade, que está relacionado com o fato do
gráfico da função possuir saltos verticais.

Definição 2.2.1: Continuidade

Dada uma função f : [a, b] → R.

1. f é contínua em x0 ∈ (a, b) se lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

2. f é contínua em a se lim+ f (x) = f (a).


x→a

3. f é contínua em b se lim− f (x) = f (b).


x→b

Dizemos que f é contínua se ela é contínua em todos os pontos do seu


domínio.

Lista de funções contínuas

• Polinomiais • Exponenciais

• Raízes enésimas • Logarítmicas

• Trigonométricas • Trigonométricas inversas.

Teorema 2.2.2: Propriedades básicas de funções contínuas

Se f e g são funções contínuas, então

3. f ◦ g é contínua.
1. f + g é contínua.
f
2. f · g é contínua. 4. é contínua.
g
34 Matemática Universitária

2
Exemplo 2.2.3: A função h(x) = e−x é contínua pois é a composição
das funções f (x) = ex e g(x) = −x2 .
2
A função f (x) = ex cos x é contínua pois é composição e multiplicação
de funções contínuas.

1
Exemplo 2.2.4: A função f (x) = é uma função contínua, pois divisão
x
de funções contínuas é contínua. Note que x0 = 0 não pertence ao
domínio de f .

Para discutir a continuidade de f em um ponto x0 ∈ R é necessário


que x0 esteja no domínio de f . Sugerimos a videoaula Introdução ao
Conceito de Continuidade.

A importância do conceito de continuidade reside em dois teoremas, o


teorema do valor intermediário e o teorema de Weierstrass. Recomenda-
mos a videoaula Teorema de Bolzano e o Teorema do Valor Intermediário.

Teorema 2.2.5: Teorema de Weierstrass e o TVI

Seja f : [a, b] → R contínua.

1. (TVI) Fixe d pertencente ao intervalo aberto definido por f (a) e


f (b). Logo existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

2. (Weierstrass) f admite pontos de máximo e mínimo global em


[a, b]. Mais precisamente, existem xm , xM ∈ [a, b] tais que

f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ) para todo x ∈ [a, b].

Agora que sabemos que todas as funções elementares são contínuas,


vamos trabalhar com as funções derivadas. Dizemos que a função f é
f (x0 + h) − f (x0 )
derivável em x0 se existe o limite lim e, caso o limite
0
h→0 h
exista, denotamos por f (x0 ). Dizemos que f é derivável se ela for derivá-
vel em todos os pontos do seu domínio.

A tabela abaixo contém um resumo das fórmulas de derivação.


Renan Lima 35

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ R (f + g)0 = f 0 + g 0


(sen x)0 = cos x
(f − g)0 = f 0 − g 0
0
(cos x) = − sen x
(tg x)0 = sec2 x
(cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R
0
(sec x) = sec x tg x
(ex )0 = ex (f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1
(ln x)0 = (f · g)0 = f 0 · g + f · g 0
x
f 0 · g − g0 · f
 
1 f
(arctg x)0 = =
1 + x2 g g2

Com a tabela acima, podemos encontrar a derivada das mais diversas


funções.
Exemplo 2.2.6: A primeira fórmula de derivação é a famosa regra do
tombo, (xp )0 = pxp−1 . Recomendamos a videoaula Derivada da Soma
e Derivada de Polinômios.

1. Se f (x) = 5x = 5x1 , então f 0 (x) = 5x1−1 = 5x0 = 5.

2. Se f (x) = x2 , então f 0 (x) = 2x2−1 = 2x.

3. Se f (x) = x2 − 3x, então f 0 (x) = 2x − 3.

3x(3/2)−1 3x1/2
4. Se f (x) = x3/2 , então f 0 (x) = = .
2 2
√ 1 x−1/2 1
5. Se f (x) = x = x1/2 , então f 0 (x) = x(1/2)−1 = = √ .
2 2 2 x
1 −5
6. Se f (x) = 5
= x−5 , então f 0 (x) = −5x−6 = 6 .
x x
7. Se f (x) = xπ , então f 0 (x) = πxπ−1 .
√ 1
8. Se f (x) = 3
x = x1/3 , então f 0 (x) = x−2/3 = √
3
·
x2
36 Matemática Universitária

Exemplo 2.2.7: A derivada de f (x) = x3 ln x é, pela regra do produto,


dada por

df
= (x3 )0 ln x + x3 · (ln x)0
dx
1
= 3x2 · ln x + x3 · = 3x2 ln x + x2 .
x

Exemplo 2.2.8: A derivada da função f (x) = ex sen x é, pela regra do


produto,

df
= (ex )0 sen x + ex · (sen x)0
dx
= ex sen x + ex cos x.

Para mais exemplos com a regra do produto, sugerimos assistir às nos-


sas videoaulas Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas e
também Derivada das Funções Exponenciais e Logarítmicas.
A regra do quociente não será necessária para a integração. A regra da
cadeia costuma ser a regra de derivação mais complicada para aprender,
por isso, sugerimos a videoaula Regra da Cadeia - Enunciado e Exem-
plos. Para exemplos que misturam regra da cadeia e regra do produto,
sugerimos a aula Exemplos Utilizando Regra da Cadeia e também a aula
Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas Inversas. Vamos
fazer mais alguns exemplos.
Exemplo 2.2.9: Considere a função f (x) = (x2 + 3x + 1)3 .
Defina y = x2 + 3x + 1, então f (x) = y 3 e, pela regra da cadeia, temos

df df dy
= · = 3y 2 (2x + 3) = 3(x2 + 3x + 1)2 (2x + 3).
dx dy dx

Exemplo 2.2.10: Para derivarmos a função f (x) = arctg(x3 ), utiliza-


mos a regra da cadeia, com y = x3 e f (y) = arctg y.

df df dy 1
= · = · (3x2 )
dx dy dx 1 + y2
3x2 3x2
= = .
1 + (x3 )2 1 + x6
Renan Lima 37

3
Exemplo 2.2.11: Para derivarmos a função f (x) = xe−x , vamos traba-
lhar com a regra do produto e a regra da cadeia,

df 3 3 3 3
= (x)0 · e−x + x · (e−x )0 = e−x + x · (−3x2 e−x )
dx
3 3 3
= e−x − 3x3 e−x = (1 − 3x3 )e−x .

Geometricamente, f : (a, b) → R é derivável se cada ponto (x0 , f (x0 ))


do seu gráfico possui reta tangente. Destacamos dois casos possíveis para
que uma função não seja derivável em x0 ∈ (a, b).

1. Quando o gráfico de f salta em x0 .


lim f (x0 + h) 6= lim+ f (x0 + h).
h→0− h→0

2. Quando o gráfico de f possui um bico, isto é,


f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )
lim 6= lim+ .
h→0− h h→0 h

y y

x x
x0 x0

Figura 2.1: f é descontínua em x0 . Figura 2.2: o gráfico tem bico em x0 .

df
Dada uma função derivável f , a função derivada é denotada por .
dx
Esta notação foi introduzida por Leibniz por causa da seguinte expressão.
df ∆f f (x0 + ∆x) − f (x0 )
f 0 (x) = = lim = lim
dx ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
f (x0 + h) − f (x0 )
= lim .
h→0 h
Para problemas de modelagem de equação, é comum pensar df e dx
como incrementos infinitesimais. Recomendamos a nossa videoaula A Intui-
ção da Notação de Leibniz.
O teorema qualitativo para o conceito de derivadas é o teorema do
valor médio.
38 Matemática Universitária

Teorema 2.2.12: Teorema do Valor Médio

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b). Então existe


c ∈ R tal que
f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a

Seja s : [t0 , tf ] → R a função que descreve a posição de uma partí-


cula em movimento retilíneo e que não sofre colisão ou impulso durante
o intervalo considerado. A velocidade média da partícula é dada por

s(tf ) − s(t0 )
vm = .
tf − t0

O teorema do valor médio garante a existência de tc ∈ (t0 , tf ) tal que


vm = s0 (tc ). Em outras palavras, em algum momento a velocidade instan-
tânea é igual à velocidade média.
Geometricamente, f 0 (c) é o coeficiente angular da reta tangente ao grá-
fico de f no ponto (c, f (c)) e, conforme demonstrado pela videoaula Equa-
ção da Reta, o coeficiente angular da reta que passa pelos pontos (a, f (a))
f (b) − f (a)
e (b, f (b)) é dado por . O teorema do valor médio diz que
b−a
existe um ponto c ∈ (a, b) tal que a reta tangente ao gráfico de f em x = c
é paralela à reta secante que liga os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)).
y

f (a) b

f (b) b

x
a c b

Figura 2.3: Reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 ).

Finalizamos a seção com uma consequência do teorema do valor mé-


dio que vamos precisar para a integração.
Renan Lima 39

Corolário 2.2.13: Diferença constante

Sejam f, g : [a, b] → R funções contínuas em [a, b] e deriváveis em


(a, b) tais que f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b).
Então existe C ∈ R tal que f (x) = g(x) + C para todo x ∈ [a, b]. Em
particular, se f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b), então f é constante em
[a, b].

Demonstração:
Considere a função auxiliar h(x) = f (x) − g(x). Temos que h é contínua
em [a, b] e h0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b).
Fixe x ∈ (a, b]. Pelo teorema do valor médio, existe cx ∈ (a, x) tal que

h(x) − h(a) = h0 (cx )(x − a) = 0.

portanto, h(x) = h(a). Se escrevermos h(a) = C , provamos que h(x) = C


para todo x ∈ [a, b] e, portanto, f (x) = g(x) + C .
40 Matemática Universitária

Exercícios

1. Derive cada uma das funções abaixo.



a) f (x) = x2 sen x b) f (x) = 3 3 x + 2x3 − 2

4 5
c) f (x) = −√ d) f (x) = tg x · ln x
x x

e) f (x) = ex sec x f) f (x) = xex sen x

g) f (x) = ex + e−x h) f (x) = (3x + 2)5

i) f (x) = (x2 + 8x + 1)7 j) f (x) = sen(ln x)



k) f (x) = cos( x) l) f (x) = cos4 (x)

3
n) f (x) = e x
2
m) f (x) = e−x
q √ √
3
o) f (x) = x+ x p) f (x) = x3 + 1

q) f (x) = arctg(x2 ) r) f (x) = arctg( x)

2. Seja f : [a, b] → R contínua e sejam m e M o máximo e mínimo globais


de f , respectivamente. Mostre que Im f = [m, M ]. Em outras palavras,
mostre que para todo d ∈ [m, M ], existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = d.
Renan Lima 41

Respostas

Exercício 1
1
a) 2x sen x + x2 cos x b) √
3
+ 6x2
x 2

4 5 tg x
c) − + √ d) sec2 x · ln x +
x2 2x x x
e) ex sec x(1 + tg x) f) ex (sen x + x sen x + x cos x)

g) ex − e−x h) 15(3x + 2)4


cos(ln x)
i) 14(x + 4)(x2 + 8x + 1)6 j)
x

sen x)
k) − √ l) −4 cos3 (x) sen x
2 x
√3
2 e x
m) −2xe−x n) √
3 3 x2
x2
 
1 1
o) p √ · 1+ √ p) p
2 x+ x 2 x 3
(x3 + 1)2
2x 1
q) r) √
1 + x4 2 x(1 + x)
42 Matemática Universitária

2.3 Teorema Fundamental do Cálculo

Nesta seção, trataremos de um dos teoremas mais importantes: o teo-


rema fundamental do cálculo.
Seja f : [a, b] → R função contínua. Definimos
Z a
f (t)dt = 0.
a

Z x
Para cada x ∈ [a, b], considere a função A(x) = f (t) dt. Temos que
a
A(x) está bem definida, isto é, para cada x ∈ [a, b], é possível determinar
unicamente A(x). As figuras abaixo mostram a função A(x) para diversos
valores de x.
y y y
y = f (t) y = f (t) y = f (t)

A(x1 ) A(x2 ) A(b)

t t t
a x1 b a x2 b a b

Figura 2.4: A(x) coincide coma área sob a curva de y = f (t) se f (t) ≥ 0 para todo t.

y y y
y = f (t)
y = f (t) y = f (t)

área=A1 área=A1 área=A1

área=B área=A2

t x2 t t
a x1 b a b a b
área=A3

(a) A(x1 ) = A1 (b) A(x2 ) = A1 − B (c) A(b) = A1 − A2 + A3

Figura 2.5: O valor de A(x) é a área acima do eixo x menos a área de baixo.

Reforçamos que a função A(x) só tem intepretação geométrica de área


se f (x) ≥ 0. Caso f (x) seja a velocidade da partícula, então A(x) é a
posição da partícula no instante "x".
Renan Lima 43

Exemplo 2.3.1: Defina A(x) a área da região do plano y delimitada por


y = 0, y = t e a reta t = x. Na figura abaixo, vemos que A(x) é a área
do triângulo de base x e altura x.

y=t Portanto, A(x) é dada por


x
x2
Z
A(x) = t dt = .
0 2
A(x)
t
x

Recomendamos a nossa videoaula Teorema Fundamental do Cálculo


- Parte 1. A aula faz um bom resumo do que pretendemos fazer ao longo
do texto. Para termos interpretação geométrica de área, vamos supor que
f (t) ≥ 0 para todo t.
Fixe x ∈ (a, b). A ideia pensada por Leibniz foi considerar dx como
incremento infinitesimal e considerar o retângulo cuja base é o intervalo
[x, x + dx] e altura f (x).
y y
y = f (t) y = f (t)
f (x)

A(x)
dA

t t
a x b a xdx b
Figura 2.6: Interpretação geométrica que Leibniz teve para o teorema fundamental do
cálculo.

Considere dA a variação da área. Como a distância é infinitesimal,


podemos considerar f (t) constante igual à f (x) no intervalo [x, x + dx] e,
dA
portanto dA = f (x)dx. Com este pensamento, vemos que = f (x).
dx
Embora a ideia do parágrafo anterior esteja correta, há algumas im-
precisões na argumentação. Por exemplo, o leitor, se estiver desatento,
não percebe que foi utilizada a continuidade da função f .
44 Matemática Universitária

Teorema 2.3.2: 1º Teorema Fundamental do Cálculo

SuponhaZ que f : [a, b] → R é contínua e defina A : [a, b] → R por


x
dA
A(x) = f (t) dt. Então A(x) é derivável e vale = f (x).
a dx

Demonstração:
A demonstração deste resultado pode ser encontrada em Demonstração
do Teorema Fundamental do Cálculo. A demonstração acima utiliza um
resultado técnico que está na videoaula Teorema do Valor Médio para In-
tegrais.

Definição 2.3.3: Primitiva de uma Função

Seja f uma função contínua. Dizemos que F é primitiva de f , se vale


F 0 (x) = f (x) para todo x no domínio de f .

A definição acima é útil por conta do 2º teorema fundamental do cál-


culo e, portanto, recomendamos a videoaula 2◦ Teorema Fundamental do
Cálculo.

Teorema 2.3.4: 2º Teorema Fundamental do Cálculo

Se f é contínua em [a, b] e se F é qualquer primitiva de f , então


Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a

Demonstração:
Z x
Seja A(x) = f (t) dt. Pelo 1º teorema fundamental do cálculo, A(x) é
a
uma primitiva de f . Como F também é uma primitiva de f , temos que
F 0 (x) = A0 (x) para todo x ∈ (a, b) e, pelo corolário 2.2.13, existe C ∈ R
tal que F (x) = A(x) + C . Logo
Z b
F (b) − F (a) = (A(b) + C) − (A(a) + C) = A(b) = f (t) dt.
a
Renan Lima 45

Exemplo 2.3.5: Temos que sen x é primitiva de cos x e, portanto,

π
y
Z π
2
2 y = cos x
cos x dx = sen x
0 x
0
π π
sen − sen 0 = 1. 2
2

Finalizamos a seção calculando derivadas de funções definidas por in-


tegral e recomendamos a videoaula Derivando uma Função dada por In-
tegral.
Z x2
2
Exemplo 2.3.6: Considere A(x) = e−t dt. Para calcular A0 (x), de-
0
vemos utilizar o teorema fundamental do cálculo e a regra da cadeia.
2 2
Seja F (x) primitiva de e−x . Temos que F 0 (x) = e−x . Pelo 2º teorema
fundamental do cálculo, temos que
Z x2
2
A(x) = e−t dt = F (x2 ) − F (0).
0

Logo, fazendo y = x2 , temos, pela regra da cadeia,

dF dy 2 2 2
A0 (x) = · = e−y .2x = e−(x ) 2x.
dy dx
4
Arrumando as contas, temos que A0 (x) = 2xe−x .

√ Z x3
Exemplo 2.3.7: Seja A(x) = 1 − t2 dt e seja F (x) a primitiva de
√ √ x2

1 − x2 , isto é, F 0 (x) = 1 − x2 . Pelo 2º teorema fundamental do


cálculo,
A(x) = F (x3 ) − F (x2 ).
Se tomarmos y = x3 e z = x2 , então, pela regra da cadeia, concluímos
que

dF dy dF dz p √
A0 (x) = · − · = 1 − y 2 .2x − 1 − z 2 .3x2
dy dx dz dx
√ √
= 2x 1 − x4 − 3x2 1 − x6 .
46 Matemática Universitária

Exercícios

1. Derive cada uma das funções abaixo.


Z x Z x
a) A(x) = e−t dt b) A(x) = sen(t2 ) dt
2 π
1+x2
  x
1
Z Z
2
c) A(x) = sen dt d) A(x) = tet dt
1 t −x
Z x+1 √ cos x
1
Z
e) A(x) = √ 1 + t2 dt f) A(x) = dt
x sen x 1 − t2
Z x √ Z x
2
g) A(x) = x · (tg t) dt h) A(x) = e−t dt
0 −x

Respostas

Exercício 1

a) A0 (x) = e−x b) A0 (x) = sen(x2 )


 
1
c) A0 (x) = 2x sen d) A0 (x) = 0
1 + x2

0
√ 1+x
e) A (x) = + 2x + 2 − √
x2 f) A0 (x) = − sec x − cossec x
2 x

Z x √ 2
g) A0 (x) = x tg( x) + (tg t) dt h) A0 (x) = 2e−x
0
Renan Lima 47

2.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição

Na seção 2.3, vimos o teorema fundamental do cálculo, que estabelece


uma conexão entre o processo de antiderivação e o processo de cálculo de
área. A função resultante da antiderivação é chamada de primitiva. Mais
ainda, fixada uma função f contínua e se F é uma primitiva de f , então
todas primitivas são da forma F (x) + C com C ∈ R.
Z
Denotamos por f (x) dx para representar todas as primitivas de f e
recomendamos a videoaula Primitivas Imediatas para introdução do as-
sunto.
x2
Z
Exemplo 2.4.1: Temos que x dx = + C.
2
Z
Como (e ) = e , temos que ex dx = ex + C .
x 0 x

Tabela de Primitivas Imediatas

xp+1 p ∈ R, 1
Z Z
xp dx = + C , se dx = ln |x| + C
p+1 p 6= −1 x

1
Z Z
dx = arctg x + C ex dx = ex + C
1 + x2
Z Z
sen x dx = − cos x + C cos x dx = sen x + C
Z Z
2
sec x dx = tg x + C sec x tg x dx = sec x + C

Sugerimos a videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas - Polinô-


mios.
√ 1
Z
Exemplo 2.4.2: Vamos calcular x dx. Trabalharemos com p = na
2
tabela acima.
√ x(1/2)+1 x3/2 2x3/2
Z Z
x dx = x1/2 dx = +C = +C = + C.
(1/2) + 1 3/2 3

Destacamos duas propriedades para integrais indefinidas (ver seção


1.2).
48 Matemática Universitária

Z Z Z
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
Z Z
2. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.

Para os próximos exemplos, sugerimos a videoaula Primitivas não tão


Imediatas.
Z 2
x +1
Exemplo 2.4.3: Vamos calcular dx. Note que o integrando
x
não está na tabela acima e, portanto, precisamos modificar a expressão.
O truque é separar o numerador, isto é,

x2 + 1 x2 1 1
= + =x+ .
x x x x
1
Note que as funções f (x) = x e g(x) = estão na tabela acima e,
x
portanto,

x2 + 1 x2
Z  
1
Z
dx = x+ dx = + ln |x| + C.
x x 2

1
Z
O leitor pode está se perguntando o porquê de dx = ln |x| + C ao
x
invés de ln x + C . O motivo é que o domínio de ln x é (0, +∞), mas o
1
domínio de é R − {0}. Por exemplo, se o resultado da integral fosse
x
ln x, teríamos
Z −1 −1
1
dx = ln x = ln(−1) − ln(−2).
−2 x
−2

Isso é um absurdo!
d ln(−x) 1 1
Para x < 0, temos, pela regra da cadeia, = · (−1) = .
dx −x x
Z
Exemplo 2.4.4: Vamos calcular a integral tg2 x dx. Para tanto, preci-
samos aplicar a fórmula tg2 x = sec2 x − 1. Esta fórmula é específica e
pode ser interessante pensar na seguinte lógica

sen2 x 1 − cos2 x 1 cos2 x


tg2 x = = = − .
cos2 x cos2 x cos2 x cos2 x
Renan Lima 49

1
Como sec2 x = , temos que tg2 x = sec2 x − 1 e, portanto,
cos2 x
Z Z Z Z
2 2 2
tg x dx = (sec x − 1) dx = sec x dx − 1 dx = tg x − x + C.

Lembremos que, para as integrais definidas, a variável da função não


tem importância, isto é,
Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

Quando trabalhamos com integral indefinida, devemos manter a variá-


vel de integração.

Z
3t2 − 2t dt = t3 − t2 + C .

1.
Z
2. ev dv = ev + C .

Vimos, na seção 2.2, a regra da cadeia (f ◦ g(x))0 = f 0 (g(x)) · g 0 (x), e


temos, portanto, a seguinte fórmula
Z Z
f 0 (g(x)).g 0 (x) dx = (f ◦ g(x))0 dx = f ◦ g(x) + C.

A fórmula acima se chama técnica da substituição e a forma que opera-


mos é a seguinte: faça a substuição u = g(x), então du = g 0 (x) dx, escreva
a igualdade Z Z
f 0 (g(x)).g 0 (x) dx = f 0 (u) du

e integramos em relação à variável u. No final, devemos voltar para a


variável x. Recomendamos assistir à videoaula Introdução à Técnica de
Integração por Substituição para entender o procedimento.
Z
Exemplo 2.4.5: Vamos calcular e2x dx.
du
Façamos u = 2x, então du = 2 dx, ou seja, dx = e, daí, temos
2
du 1 1 e2x
Z Z Z
2x u
e dx = e = eu du = eu + C = + C.
2 2 2 2
50 Matemática Universitária

Z
Exemplo 2.4.6: Para calcular x cos(x2 ) dx, façamos u = x2 . Então
du
du = 2x dx, daí, temos que = x dx e, portanto,
2
du
Z Z Z
x cos(x2 ) dx = cos(x2 ) x dx = cos u

2
2
sen u sen(x )
= +C = + C.
2 2
ln x
Z
Exemplo 2.4.7: Para calcular a integral dx, façamos u = ln x.
x
1
Temos du = dx e, daí
x
ln x 1 u2 (ln x)2
Z Z Z
dx = ln x · dx = u du = +C = + C.
x x 2 2

Exemplo 2.4.8: Para integrarmos a função f (x) = 2x , devemos passar,


primeiramente, para a base e, isto é, 2x = ex ln 2 . Fazendo a substituição
u = x ln 2, temos du = (ln 2) dx. Daí,
du eu 2x
Z Z
2 dx = eu ·
x
= +C = + C.
ln 2 ln 2 ln 2

Recomendamos a videoaula Fazendo Substituição Linear para Resol-


ver Integrais e também Exemplos de Resolução de Integrais por Substitui-
ção.
Z
Exemplo 2.4.9: Vamos calcular tg x dx. Note que, a princípio, não
temos nenhuma substituição óbvia e, portanto, é interessante utilizar a
sen x
fórmula tg x = ·
cos x
Façamos u = cos x, então du = − sen x dx e, portanto,

1 1
Z Z Z
tg x dx = · sen x dx = − du
cos x u

= − ln |u| + C = − ln | cos x| + C.
1
Como vale ln(a−1 ) = − ln a e | cos x|−1 = = | sec x|, temos
| cos x|
Z
tg x = ln | sec x| + C.
Renan Lima 51

Teorema 2.4.10: Técnica da Substituição

dg
Suponha que f e g 0 (x) = sejam contínuas, então
dx
Z b Z g(b)
f (g(x))g 0 (x) dx = f (u) du.
a g(a)

Demonstração:
Seja F a primitiva de f , então F (g(x)) é a primitiva de f (g(x)).g 0 (x), daí,
pelo 2º teorema fundamental do cálculo, temos
b
Z b
0
f (g(x))g (x) dx = F (g(x)) = F (g(b)) − F (g(a))
a
a
g(b) Z g(b)
= F (u) = f (u) du.
g(a)
g(a)

Z 5 √
Exemplo 2.4.11: Vamos calcular 3x + 1 dx.
0

1
Façamos u = 3x + 1, então du = 3 dx e dx = du. Note que, quando
3
x = 0, temos que u = 1 e, quando x = 5, temos que u = 16. Daí,
Z 5 √ Z 16
√ 1 1
Z 16
3x + 1 dx = u· du = u1/2 du
0 1 3 3 1

16 16
1 u3/2 2
= · = u3/2
3 3 9
1 1
2
2  3/2  2
= 16 − 13/2 = · 63 = 14.
9 9
Z 5

No exemplo anterior, 3x + 1 dx é possível resolver primeiro a in-
0
Z

tegral indefinida 3x + 1 dx e, depois colocamos os limites de integra-
ção.
52 Matemática Universitária

Z 5

Exemplo 2.4.12: Considere 3x + 1 dx e trabalhemos com a inte-
0
Z

gral indefinida 3x + 1 dx

Façamos u = 3x + 1, temos que du = 3 dx e, portanto,


Z
√ Z
√ 1 1
Z
3x + 1 dx = u · du = u1/2 du
3 3

1 u3/2 2
= · + C = u3/2 + C
3 3 9
2
2
= (3x + 1)3/2 + C.
9
2
Escolhendo (3x + 1)3/2 como a primitiva, temos
9
5
Z 5 √ 2
3x + 1 dx = (3x + 1)3/2
0 9
0
2  3/2 3/2
 2
= 16 − 1 = · 63 = 14.
9 9
Renan Lima 53

Exercícios

1. Integre cada uma das funções abaixo.


Z √
1
Z
7
a) 3
x dx b) √ dx
3
x
√ √
Z  
1
Z
c) x + 2 dx d) x(1 + x) dx
x
Z 2
x + 3x − 1 1 + cos2 t
Z
e) dx f) dt
x3 cos2 t

2. Calcule cada uma das integrais definidas.


Z 5 Z −2
1 1
a) dx b) dx
4 x −3 x
Z 4 Z π/4
1+x 1 + cos2 t
c) √ d) dt
1 x 0 cos2 t
Z π/4 Z π/4
1 + cos2 x 1 + sen2 t
e) dx f) dt
0 cos2 x 0 cos2 t

3. Determine as integrais indefinidas. Use a técnica da substituição se


achar necessário.
ln2 x
Z Z
a) dx b) cos(2x) dx
x
Z Z √
3x+1
c) e dx d) x 1 − x2 dx

sen x
Z Z
e) √ dx f) x(1 + x)100 dx
x
1 x
Z Z
g) dx h) dx
4 + x2 1 + x2
x 1
Z Z
i) dx j) dx
1 + x4 x2 + 2x + 2
Z Z
k) 3x dx l) 3x ex dx
ex
Z Z
m) x tg(x2 ) dx n) dx
1 + e2x
54 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

7 7 x10 3√3
a) +C b) x2 + C
10 2
√ √
2 x3 1 2x x(3x + 5)
c) − +C d) +C
3 x 15
3 1
e) ln |x| − + 2 +C f) tg t + t + C
x 2x

Exercício 2
   
5 2
a) ln b) ln
4 3
20 4+π
c) d)
3 4
4+π 8−π
e) f)
4 4

Exercício 3
(ln x)3 sen(2x)
a) +C b) +C
3 2
p
e3x+1 (1 − x2 )3
c) +C d) − +C
3 3
√ (x + 1)102 (x + 1)101
e) −2 cos( x) + C f) − +C
102 101
1 x ln(1 + x2 )
g) · arctg +C h) +C
2 2 2
arctg(x2 )
i) +C j) arctg(x + 1) + C
2
3x 3x ex
k) +C l) +C
ln 3 1 + ln 3
ln | sec(x2 )|
m) +C n) arctg(ex ) + C
2
Renan Lima 55

2.5 Integração por Partes

Vimos na seção anterior que o processo inverso da regra da cadeia é


chamada de técnica da substituição. Nesta seção, vamos estudar o processo
inverso da regra do produto de derivadas, que chamamos de integração por
partes.
A ideia da dedução da fórmula é bem simples! Se f, g : [a, b] → R são
funções de classe C 1 , isto é, possuem derivadas contínuas, então a regra
do produto diz que

(f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x).

Observando que f ·g é primitiva de (f ·g)0 e integrando a igualdade acima,


temos
b
Z b Z b
0 0 0
[f (x) · g(x) + f (x) · g (x)] dx = (f · g) (x) dx = f (x)g(x) .
a a
a

Organizando a expressão acima, temos


b
Z b Z b
0
f (x) · g (x) dx = f (x)g(x) − f 0 (x) · g(x) dx.
a a
a

Teorema 2.5.1: Integração por Partes

Sejam f, g funções de classe C 1 , então


Z Z
f (x)g (x) dx = f (x).g(x) − f 0 (x)g(x) dx.
0

Recomendamos a nossa videoaula Introdução a Integração por Par-


tes para verificar os primeiros exemplos e entender como funcionam as
contas.
Se escrevermos u = f (x), v = g(x) e utilizarmos a notação de diferen-
cial du = f 0 (x) dx e dv = g 0 (x) dx, então a fórmula acima fica
Z Z
u dv = uv − v du.
56 Matemática Universitária

Z
Exemplo 2.5.2: Para integrar xex dx, devemos utilizar integração por
partes. Façamos u = x e dv = ex , temos que
Z u dv u v Z v du
u = x ⇒ du = dx, Daí, x
x e dx = x e −x
ex dx
v = ex ⇒ dv = ex dx.
= xex − ex + C.

Ao aplicar a integração por partes, deve-se checar que a nova integral


seja mais fácil de resolver que o primeiro caso. No exemplo anterior, se
escolhêssemos u = ex e dv = x, teríamos
v v
u dv u du
x x 2
u = e ⇒ du = e dx, x x x2 x
Z Z
x
x 2 e x dx = e − e dx.
v= ⇒ dv = xdx. 2 2
2
Neste caso, a nova integral é mais complicada de calcular que a primeira.

Z
Exemplo 2.5.3: Vamos calcular x2 cos x dx. Vamos utilizar integração
por partes.
u = x2 ⇒ du = 2x dx,
v = sen x ⇒ dv = cos x dx.
Z u dv u v Z v du
2 2
x cos x dx = x sen x − sen x · 2x dx.
Z
Note que 2x sen x dx não é primitiva elementar, mas aparenta ser
uma integral mais fácil de resolver. Vamos utilizar integração por par-
tes de novo.
u = 2x ⇒ du = 2 dx,
v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.
Z u dv u v Z v du

2x sen x dx = 2x (− cos x ) − (− cos x) · 2 dx.

Organizando as contas, temos


Z Z
2x sen x dx = −2x cos x + 2 cos x dx = −2x cos x + 2 sen x + C.
Renan Lima 57

Finalmente, temos que


Z Z 
2 2
x cos x dx = x sen x − 2x sen x dx

= x2 sen x − (−2x cos x + 2 sen x + C)


= x2 sen x + 2x cos x − 2 sen x − C.

A resposta acima está correta, mas, para manter o padrão, pode-se tro-
car −C por +C , obtendo
Z
x2 cos x dx = x2 sen x + 2x cos x − 2 sen x + C.

Z
Exemplo 2.5.4: Para calcular x2 ln x dx, vamos utilizar integração por
partes.
1
u = ln x ⇒ du = dx,
x
x3
v= ⇒ dv = x2 dx.
3 v v du
u dv u
3
x x3 1
Z Z
ln x x2 dx = ln x · − · dx.
3 3 x

x3 x2 x3 ln x x3
Z Z
2
Logo x ln x dx = ln x − dx = − + C.
3 3 3 9

Para mais exemplos, recomendamos a videoaula Exemplos de Integra-


ção por Partes.
Z
Exemplo 2.5.5: Vamos calcular arctg x dx. A ideia é derivar arctg x.

1
u = arctg x ⇒ du = dx,
1 + x2
v = x ⇒ dv = dx.
du
u dv u v Z v
1
Z
arctg x dx = arctg x · x − x· dx.
1 + x2

x
Z
Para a integral dx, façamos u = 1 + x2 . Daí du = 2x dx e,
1 + x2
58 Matemática Universitária

portanto,

x 1 ln |u| ln(1 + x2 )
Z Z
dx = du = +C = + C.
1 + x2 2u 2 2

É interessante notar que 1 + x2 > 0 para todo x e,daí, |1 + x2 | = 1 + x2 .


Logo

x ln(1 + x2 )
Z Z
arctg x dx = x arctg x − dx = x arctg x − − C.
1 + x2 2
A resposta acima está correta, mas é comum colocar como resposta final

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C.
2

O último estilo de exemplo é quando a nova integral é parecida com o


primeiro.
Z
Exemplo 2.5.6: Vamos calcular e2x sen x dx com a integração por par-
tes.

u = e2x ⇒ du = 2e2x dx,

v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.


Z u dv u v Z v du
2x 2x 2x
e sen x dx = e · (− cos x) − (− cos x) · 2e dx.

Melhorando a expressão acima, temos


Z Z
e sen x dx = −e cos x + 2 e2x cos x dx.
2x 2x

Vamos utilizar integração por partes de novo.

u = e2x ⇒ du = 2e2x dx,

v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z u dv u v Z v du
2x 2x 2x
e cos x dx = e · sen x − sen x · 2e dx.
Renan Lima 59

Z
Para facilitar a visualização, denote I = e2x sen x dx. Temos então
Z Z 
I= e2x sen x dx = −e2x cos x + 2 e2x cos x dx

= −e2x cos x + 2 e2x sen x − 2I




= −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I

Logo I = −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I . Isolando I , temos

5I = −e2x cos x + 2e2x sen x.

E, portanto,
−e2x cos x + 2e2x sen x
I= + C.
5

ln x
Z
Exemplo 2.5.7: No exemplo 2.4.7, calculamos dx usando a subs-
x
tituição u = ln x. Vamos resolvê-la utilizando integração por partes.

1
u = ln x ⇒ du = dx,
x
1
v = ln x ⇒ dv = dx.
x
dv du
u u v v
1 1
Z Z
ln x dx = ln x · ln x − ln x · dx
x x

ln x
Z
Façamos I = dx e, portanto, I = ln2 x − I. Isolando I e não
x
esquecendo de colocarmos +C na resposta final, concluímos que

ln x ln2 x
Z
dx = I = + C.
x 2
60 Matemática Universitária

Exercícios

1. Integre cada uma das funções a seguir.


Z Z
a) x cos x dx b) x2 cos x dx
Z Z
c) x sen(2x) dx d) ln(1 + x) dx
Z Z
e) ln(3x + 2) dx f) (ln x)2 dx
Z Z
x
g) e cos x dx h) e3x sen x dx
Z Z √
x
i) cos(ln x) dx j) e dx

2. Calcule as integrais definidas.


Z 1 Z e
a) xe−x dx b) ln x dx
0 1

π 2 /4 1

Z Z
c) cos x dx d) x2 arctg x dx
0 0
Z π/3 Z e2
e) cos(3x) · cos(4x) dx f) (ln x)3 dx
0 1
Renan Lima 61

Respostas

Exercício 1

a) x sen x + cos x + C b) (x2 − 2) sen x + 2x cos x + C


sen(2x) − 2x cos(2x)
c) +C d) (x + 1) ln(1 + x) − x + C
4
(3x + 2) ln(3x + 2)
e) −x+C f) x((ln x)2 − 2 ln x + 2) + C
3
ex sen x + ex cos x 3e3x sen x − e3x cos x
g) +C h) +C
2 10
x sen(ln x) + x cos(ln x) √ √
i) +C j) 2( x − 1)e x + C
2

Exercício 2
e−2
a) b) 1
e
π − 2 + 2 ln 2
c) π − 2 d)
12

2 3
e) f) 6 + 2e2
7
62 Matemática Universitária

2.6 Integração de Funções Trigonométricas

Como as funções trigonométricas possuem muitas fórmulas de sime-


trias, é natural que, ao integrarmos funções que sejam multiplicação de
funções trigonométricas, existirem várias formas de se resolver a integral.
Para relembrarmos de algumas fórmulas, sugerimos a nossa videoaula
[Revisão] - Funções Trigonométricas.

Fórmulas Trigonométricas com Senos e Cossenos


sen(α ± β) = sen α cos β ± sen β cos α sen 2x = 2 sen x cos x

cos(α ± β) = cos α cos β ∓ sen α sen β cos 2x = 2 cos2 x − 1 = 1 − 2 sen2 x

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β (cos kx)0 = −k sen kx

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α (sen kx)0 = k cos kx


Z
cos(kx)
cos(α + β) + cos(α − β) = 2 cos α cos β sen(kx) dx = − +C
k
Z
sen(kx)
cos(kx) dx = +C
k

Sugerimos ao leitor memorizar as fórmulas da direita da tabela, pois


são utilizadas com bastante frequência nas técnicas de integração. As in-
tegrais do seno e cosseno são fáceis de deduzir como antiderivadas, mas é
fácil se confundir o sinal, então preste bastante atenção.
Quanto à parte esquerda da tabela, são utilizados apenas em algumas
integrais específicas. Estas integrais específicas costumam ter uma reso-
lução alternativa via integração por partes. Além disso, reforçamos que
as fórmulas de prostaférese sempre sejam deduzidas, pois são fórmulas
fáceis de se errar o sinal. Por exemplo, no primeiro quadro, temos duas
fórmulas compactadas, a saber

sen(α + β) = sen α cos β + sen β cos α, (1)


sen(α − β) = sen α cos β − sen β cos α. (2)

Somando as equações (1) e (2), temos que

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β.

Da mesma forma, subtraindo as equações (1) e (2), temos

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α.


Renan Lima 63

Para resolução de várias integrais, recomendamos a videoaula Inte-


gração de Funções Trigonométricas - Senos e Cossenos. Vamos resolver
alguns exemplos para entendermos o procedimento.
Z
Exemplo 2.6.1: Vamos calcular cos3 x dx.

Escreva cos3 x = cos2 x · cos x = (1 − sen2 x) · cos x e faça a substituição


u = sen x, então du = cos x dx. Daí,
Z Z Z
cos x dx = (1 − sen x) cos x dx = (1 − u2 ) du
3 2

u3 sen3 x
=u− + C = sen x − + C.
3 3
Avisamos que é possível calcular a integral acima por partes. Mais pre-
cisamente,

u = cos2 x ⇒ du = −2 sen x cos x dx,

v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z u dv u v Z v du
2 2
cos x cos xdx = cos x · sen x − sen x · (−2 sen x cos x) dx
Z
= cos2 x · sen x + 2 sen2 x cos x dx.
Z
Façamos I = cos3 x e utilizamos a fórmula sen2 x = 1−cos2 x, temos
que
Z
2
I = cos x · sen x + 2 (1 − cos2 x) cos x dx
Z
2
= cos x · sen x + 2 cos x dx − 2I.

Concluímos daí que


Z
3I = cos2 x · sen x + 2 cos x dx.

Isso mostra que

cos2 x · sen x 2 sen x


I= + + C.
3 3
64 Matemática Universitária

Exemplo 2.6.2: Dado n ≥ 2, a fórmula de recorrência das integrais de


potências de seno é dada pela seguinte fórmula

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z Z
senn x dx = − + (sen x)n−2 dx.
n n
A demonstração deste resultado é via integração por partes.

u = senn−1 x ⇒ du = (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx,

v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.

Z u dv u v
n−1 n−1
sen x sen x dx = sen x · (− cos x)−
Z v du

− (− cos x) · (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx.

Arrumando as contas acima, temos


Z Z
senn x dx = −(sen x)n−1 · cos x + (n − 1) (sen x)n−2 cos2 x dx.

Z
2 2
Daí, utilizando que cos x = 1 − sen x e escrevendo In = senn x dx,
temos
In = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)(In−2 − In ).
Reorganizando as contas acima, temos que

nIn = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)In−2 .

Concluímos que

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z
In = − + (sen x)n−2 dx.
n n
Z
Exemplo 2.6.3: Para calcular a integral de sen2 x dx, basta utilizar a
fórmula acima para n = 2. Temos, portanto,

− sen x cos x 1 − sen x cos x + x


Z Z
sen2 x dx = + 1 dx = + C.
2 2 2
Renan Lima 65

Um método alternativo para a resolução da integral deste exemplo é


1 − cos 2x
utilizar a fórmula cos 2x = 1−2 sen2 x e, portanto, sen2 x = ·
2
Daí, Z  
1 cos 2x x sen 2x
Z
sen2 x dx = − dx = − + C.
2 2 2 4
Z
Exemplo 2.6.4: Vamos calcular sen6 x dx, com a fórmula de recorrên-
cia acima.
(sen x)5 cos x 5
Z Z
6
sen x dx = − + sen4 x dx
6 6

(sen x)5 cos x 5 (sen x)3 cos x 3


 Z 
2
=− + − + (sen x) dx
6 6 4 4

sen5 x cos x 5 sen3 x cos x 5


Z
=− − + sen2 x dx
6 24 8

sen5 x cos x 5 sen3 x cos x 5 sen x cos x 5x


=− − − + + C.
6 24 16 16
Z
Exemplo 2.6.5: Para integrarmos sen(5x) cos(4x) dx, usaremos a fór-
sen(9x) + sen(x)
mula de prostaférese que diz que sen(5x) cos(4x) = ·
2
Daí, temos
Z  
sen(9x) + (sen x)
Z
sen(5x) cos(4x) dx = dx
2
 
1 cos 9x
= − − cos x + C
2 9
cos 9x cos x
=− − + C.
18 2
Também é possível resolvermosZ a integral acima utilizando partes, nos
mesmos moldes que a integral e2x sen x dx, vista no exemplo 2.5.6.

Outras integrais com bastante simetrias são do tipo tg x e sec x. Reco-


mendamos as videoaulas Integrais de Funções Trigonométricas - Função
Secante e Integrais de Funções Trigonométricas - Função Tangente para
entender melhor os procedimentos
Z adotados. Na videoaula, explicamos a
dedução da fórmula de sec x dx = ln | sec x + tg x| + C .
66 Matemática Universitária

Para resolver essas integrais com tangente e secante, sugerimos deco-


rar as seguintes fórmulas:

sec2 x = 1 + tg2 x,
Z
sec2 x dx = tg x + C,
Z
sec x dx = ln | sec x + tg x| + C.
Z
Exemplo 2.6.6: Considere secn x dx com n > 2. Temos que

u = secn−2 x ⇒ du = (n − 2)(sec x)n−3 · (sec x · tg x) dx,

v = tg x ⇒ dv = sec2 x dx.
Z u dv u v
n−2 2 n−2
sec x sec x dx = sec x · tg x
Z v du

− tg x · (n − 2)(sec x)n−2 · tg x dx.

Arrumando as contas, temos


Z Z
secn x dx = (sec x)n−2 · tg x − (n − 2) (sec x)n−2 · tg2 x dx.
Z
2 2
Daí, utilizando que tg x = sec x − 1 e escrevendo In = secn x dx,
temos
In = (sec x)n−2 · tg x − (n − 2)(In − In−2 ).
Reorganizando as contas acima, temos que
(n − 1)In = (sec x)n−2 · tg x + (n − 2)In−2 .

(sec x)n−2 · tg x n − 2
Z
Concluímos que In = + (sec x)n−2 dx.
n−1 n−1
Z
Exemplo 2.6.7: Para resolvermos sec3 x dx, vamos utilizar fórmula
de recorrência acima para n = 3,

sec x · tg x 1
Z Z
sec3 x dx = + sec x dx
2 2
sec x · tg x 1
= + ln | sec x + tg x| + C.
2 2
Renan Lima 67

Z
Exemplo 2.6.8: Vamos resolver sec4 x dx de duas formas distintas; a
primeira forma é utilizarmos a fórmula de recorrência para n = 4,

sec2 x · tg x 2
Z Z
4
sec x dx = + sec2 x dx
3 3
sec2 x · tg x 2 tg x
= + + C.
3 3
A segunda resolução é utilizar a igualdade sec2 x = tg2 x + 1 e fazer a
substituição u = tg x, daí, du = sec2 x dx e, portanto,
Z Z Z
sec x dx = sec x sec xdx = (tg2 x + 1) · sec2 x dx
4 2 2

u3 tg3 x
Z
u2 + 1 du =

= +u+C = + tg x + C.
3 3

Para integrar as funções em que aparecem tangentes, em geral, uti-


sen x
lizamos uma das transformações tg x = ou tg2 x = sec2 x − 1.
cos x
Z
Exemplo 2.6.9: No exemplo 2.4.9, fizemos tg x dx. Vamos, neste
Z
exemplo, calcular tg3 x dx.

sen3 x sen2 x
Z Z Z
3
tg x dx = dx = sen x dx
cos3 x cos3 x
1 − cos2 x
Z
= · sen x dx.
cos3 x

Façamos a substituição u = cos x e, portanto, du = − sen x dx. Daí,

1 − u2
Z 2
u −1
Z Z
3
tg x dx = (−du) = du
u3 u3
Z  
1 1 1
= − du = ln |u| + 2 + C
u u3 2u
1 sec2 x
= ln | cos x| + + C = ln | cos x| + + C.
2 cos2 x 2
Z
A dedução da fórmula de recorrência de tgn x dx é um pouco mais
simples quando comparada com as fórmulas de recorrência das potências
68 Matemática Universitária

de seno e das potências de secante.


Z
Exemplo 2.6.10: Seja In = tgn x dx, em que n ≥ 2. Temos, portanto,
Z Z Z
In = tgn x dx = tgn−2 x · tg2 x d = tgn−2 x · (sec2 x − 1) dx
Z Z
= tgn−2 x sec2 x dx − tgn−2 x dx
Z
= tgn−2 x sec2 x dx − In−2 .

Para resolvermos a integral que falta, façamos u = tg x, temos que


du = sec2 x dx. Daí,

un−1
Z Z
tgn−2 x sec2 x dx = un−2 du = +C
n−1
tgn−1 x
= + C.
n−1
Concluimos, portanto, a fórmula de recorrência

tgn−1 x
Z Z
tgn x dx = − tgn−2 x dx.
n−1
Renan Lima 69

Exercícios

1. Calcule as integrais das funções trigonométricas abaixo.


Z Z
2
a) sen (3x) dx b) cos4 x dx
Z Z
c) cos x sen2 x dx d) sen2 x cos2 x dx
Z Z
2
e) tg x sec x dx f) tg2 x sec x dx

sec x
Z Z
3 2
g) tg x sec x dx h) dx
tg2 x

2. Mostre a seguinte fórmula de recorrência para os cossenos

cosn−1 x · sen x n − 1
Z Z
n
cos x dx = + cosn−2 x dx.
n n

3. Sejam m, n números inteiros não nulos, mostre as seguintes igual-


dades.
Z π
a) cos(mx) · cos(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
b) sen(mx) · sen(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
c) cos(mx) · cos(nx) dx = π , se n = m.
−π
Z π
d) sen(mx) · sen(nx) dx = π , se n = m.
−π
Z π
e) sen(mx) · cos(nx) dx = 0, para todo n, m ∈ N.
−π
70 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1
x sen(6x) 3x sen(2x) sen(4x)
a) − +C b) + + +C
2 12 8 4 32
(sen x)3 x sen(4x)
c) +C d) − +C
3 8 32
(tg x)2 (sec x) tg x − ln | sec x + tg x|
e) +C f) +C
2 2
(tg x)4
g) +C h) − cossec(x) + C
4
Renan Lima 71

2.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria

Vimos na seção 1.2 a importante soma de áreas de retângulos de bases


infinitesimais para o cálculo de área em regiões mais gerais. Esse pensa-
mento foi simplesmente revolucionário e algumas adaptações dessa ideia
geram aplicações muito interessantes. Começamos, portanto, revisitando
a soma de áreas de retângulos e a formulação de Riemann para uma fun-
ção integrável.
Considere f : [a, b] → R uma função real limitada, isto é, o gráfico
de f está contido em algum retângulo. Dividimos o intervalo [a, b] em n
pedaços iguais. Mais precisamente, considere uma partição

P = {x0 = a, x1 , x2 , · · · , xn−1 , xn = b}
i
de n + 1 pontos, com xi = a + (b − a) para i = 0, 1, 2, . . . , n. Para cada
n
i, escolha ci ∈ [xi−1 , xi ] e tome ∆xi = xi+1 − xi . Considere a soma
n
X
f (ci )∆xi = f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + . . . + f (cn )∆xn
i=1

f (c1 ) + . . . + f (cn ) (b − a)
= .
n

Definição 2.7.1: Integral de Riemann


n
X
Dizemos que f é integrável em [a, b] se lim f (ci )∆xi existe e
n→+∞
i=1
possui o mesmo valor independentemente da escolha de ci . Nesse
caso, denotamos, Z
b n
X
f (x) dx = lim f (ci )∆xi .
a n→+∞
i=1

A definição de soma de Riemann é complicada e é bastante trabalhoso


demonstrar, via definição, se uma determinada função é integrável ou não.
Discutiremos melhor essa parte técnica na seção 3.B. Precisamos apenas de
um resultado básico.
Teorema 2.7.2: Integrabilidade de Funções Contínuas

Toda função contínua em [a, b] é integrável.


72 Matemática Universitária

Do ponto de vista teórico, é interessante permitir que os comprimen-


tos ∆x1 , . . . ∆xn não sejam necessariamente de mesmo tamanho. Caso
exigíssemos o mesmo comprimento, teríamos dificuldades técnicas em
demonstrar que
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c

em que c é um ponto qualquer do intervalo (a, b). Lembremos que pre-


cisamos desse resultado para o teorema fundamental do cálculo. Em
contrapartida, com a flexibilização do tamanho dos intervalos, a defini-
ção de soma de Riemann fica um pouco mais sobrecarregada.

A importância geométrica da soma de Riemann é que ela é uma ex-


celente aproximação da área sob o gráfico de uma função à medida que
o termo ∆x for suficientemente pequeno. Além disso, as "medidas"f (x) e
dx podem ser pensadas como as medidasR da altura e da base, respectiva-
mente, de um retângulo e o símbolo pode ser pensado como um soma-
tório. As figuras abaixo nos fornecem a ideia de aproximação da área.

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) Área que queremos cal- (b) Subdivisão em 4 retân- (c) Subdivisão em 8 retân-
cular. gulos. gulos.
y y

y = f (x) y = f (x)
f (x)

x x
dx
(d) Subdivisão em 64 retângulos. (e) O retângulo infinitesimal.
Renan Lima 73

Modificando um pouco a integral de Riemann, podemos ter aplicações


geométricas bem interessantes. Imagine um retângulo ABCD dentro do
espaço e o rotacione em torno do eixo AB. A figura gerada será um cilindro
e é fácil calcular o seu volume. Para quem tiver dificuldade em visualizar,
sugerimos as figuras abaixo.

B B B B

A A A A

B B B

A A A

Figura 2.7: A rotação do retângulo gera o cilindro de altura igual o segmento AB.

Para uma exposição do cálculo de volume de sólidos de revolução,


recomendamos a videoaula Volume de Sólidos de Revolução - Método
dos Discos Cilíndricos. Considere uma função f : [a, b] → R contínua com
f ≥ 0. Desejamos calcular o volume do sólido de revolução do gráfico da
f em torno do eixo x. Ver figuras abaixo.
y y

y = f (x) y = f (x)

x x

Figura 2.8: O sólido obtido pela revolução do gráfico de f .


74 Matemática Universitária

Para encontrarmos o volume, considere o retângulo de base infinitesi-


mal dx e altura f (x). Rotacionando este retângulo em torno do eixo x, ele
se transforma em um cilindro de altura dx e raio f (x).
y y

f (x) y = f (x) y = f (x)

f (x)
x x
dx

dx

Figura 2.9: O retângulo infinitesimal se transformando em cilindro.

Como o volume de um cilindro de altura h e raio r é dada por πr2 h, en-


tão o volume do cilindro da figura acima é dada por πf (x)2 dx. A mesma
ideia de soma de área de retângulos para encontrar a área sob o gráfico
funciona para a soma dos volumes dos cilindros para encontrarmos o vo-
lume do sólido de revolução e não é difícil de concluir que o volume do
Z b
sólido de revolução é dado por π [f (x)]2 dx.
a

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) 4 cilindros (b) 12 cilindros (c) 20 cilindros

Pensando em soma de Riemann, seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b}


partição do intervalo [a, b] em n pedaços iguais e escolha ci = xi . Consi-
dere o cilindro obtido pela revolução de um retângulo em torno do eixo x
de largura ∆xi e altura f (ci ). Temos que o volume deste cilindro é dado
por π[f (ci )]2 ∆xi . Somando o volume de todos estes cilindros, temos que
Renan Lima 75

n
X
π [f (ci )]2 ∆xi . Pela mesma explicação dada acima, a soma de Riemann
i=1
acima converge para o volume do sólido de revolução do gráfico da f em
torno do eixo x e temos, portanto,
Z b
V =π [f (x)]2 dx.
a

Exemplo 2.7.3: Para calcularmos o volume V da região do interior da


esfera de raio R, lembremos, da geometria analítica, que a equação do
círculo de centro (0, 0) e raio R é dada por x2 + y 2 = R2 . Em√
particular,
a parte de cima do círculo é o gráfico da função f (x) = y = R2 − x2 .
y y
p p
f (x) = R 2 − x2 f (x) = R 2 − x2

x x
−R R −R R

Figura 2.10: A esfera é gerada pela rotação do semicículo em torno do eixo x.

A esfera de raio R é o sólido de revolução do gráfico de f (x) em torno


do eixo x e, portanto,
Z R Z R
2
V =π [f (x)] dx = π (R2 − x2 ) dx
−R −R
R
x3 R3 R3 4πR3
     
2 3 3
=π R x− =π R − − −R + = .
3 3 3 3
−R

Exemplo 2.7.4: O volume V do cone reto de altura h e raio da base r


pode ser encontrado pela rotação, em torno do eixo x, da reta f (x) = ax
com 0 ≤ x ≤ h, com um parâmetro a adequado, de modo que o sólido
obtido pela revolução do gráfico de f em torno do eixo x seja um cone
de altura h e base r.
76 Matemática Universitária

y y
f (x) = ax f (x) = ax

ah = r ah = r
x x
h h

Figura 2.11: A geratriz do cone é a reta f (x) = ax.

r
Deve-se exigir que f (h) = ah = r e, portanto, a = . O volume V do
h
cone é dado por
h
h
r 2 x3 r2 h3 πr2 h
Z  rx 2  
V =π dx = π =π = .
0 h 3h2 3h2 3
0

É possível fazer várias modificações do problema de volumes de sólido


de revolução. Para volumes de sólido de revolução em uma região entre
dois gráficos, recomendamos a videoaula Volume de Sólido de Revolução
- Parte 2. Para a troca do eixo de rotação para outras retas, sugerimos a
videoaula Volume de Sólido de Revolução - Parte 3.
O cálculo de volume e de área não são as únicas aplicações geométri-
cas de integral. Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e desejamos
encontrar o comprimento da curva dada pelo gráfico da função f . Sugeri-
mos a videoaula Comprimento de Arco.
y
y = f (x)

Figura 2.12: A curva que queremos encontrar o comprimento.

A ideia para encontrar o comprimento da curva é dividir a curva em


Renan Lima 77

pedaços pequenos e aproximamos estes pedaços por segmentos de retas


e somamos os comprimentos dos segmentos de reta. As figuras abaixo
ilustram a ideia.
y y b
y
b

y = f (x) P1 y = f (x) P1
b
y = f (x)
P2
b b b

b
b b
P0 P0 b
P0 b

b
P2 P3
b
P2 b P5 P7
b P3
b
P7 P10
b

P1 P6 b

b P4 b b

P4 P5 P8
P3 b

P6 b

P9
x x x
x0 x1 x2 x3 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x 7 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8 x9 x10

(a) 3 segmentos. (b) 7 segmentos. (c) 10 segmentos.


y y
b b

b
b
y = f (x) y = f (x)
b
b

b
b b
b
b

b b
b
b
b b
b

b b

x x

(d) 20 segmentos. (e) 50 segmentos.

Figura 2.13: Em geral, softwares de plotagem de gráficos utilizam entre 50 a 500


segmentos.

À medida que subdividimos em segmentos menores espera-se que as


aproximações fiquem cada vez mais precisas de modo que, em um pro-
cesso limite, encontremos o comprimento da curva.
Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b]
em n pedaços iguais. Sejam Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva.
Temos que o comprimento Ci = Pi−1 Pi é dado por
q
Ci = (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2
q
= (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 .

A soma dos comprimentos é dada por


n
X n q
X
Ci = (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 )2 .
i=1 i=1
78 Matemática Universitária

Para transformar a soma acima em uma soma de Riemann, usaremos


o teorema do valor médio que diz que para cada i, existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal
que
f (xi ) − f (xi−1 ) = f 0 (ci )(xi − xi−1 ) = f 0 (ci )∆xi .
Daí,
n
X n q
X n q
X
Ci = (∆xi )2 + (f 0 (ci )∆xi )2 = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
i=1 i=1 i=1

Finalmente, o comprimento da curva é dado por


n q
X Z bq
C = lim 1 + f 0 (ci )2 ∆xi = 1 + [f 0 (x)]2 dx.
n→∞ a
i=1

Transformamos um problema de calcular comprimento em um pro-


blema de integração. Em geral, é bastante complicado integrar a função e
será necessário calcular a integral por métodos numéricos. Por exemplo,
se desejamos encontrar o comprimento do gráfico do seno de x = 0 até
x = 2π , devemos calcular a integral
Z 2π q
C= 1 + (cos x)2 dx.
0

Há métodos numéricos para integração muito mais eficazes que calcu-


lar via soma de Riemann, e, usando o Geogebra, temos que C ' 3, 8202.
Uma outra aplicação de integral é o cálculo da área lateral de uma
superfície de revolução. Para encontrarmos a fórmula, precisamos de um
resultado bem específico de geometria espacial que se considerarmos o
tronco circular reto de raio maior R, raio menor r e segmento lateral L,
(r + R)
então a sua área lateral é dada pela fórmula 2πL .
2
L
R


r

Figura 2.14: Tronco circular reto de segmento lateral L e de raios de tamanho r e R.


Renan Lima 79

A dedução desta fórmula de área lateral pode ser encontrada no final


da videoaula Área Lateral de Sólido de Revolução. O motivo de escrever-
r+R
mos r̄ = é que o segmento r̄ é o raio do círculo do meio do tronco.
2
Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e seja S a superfície de re-
volução obtida pelo rotação do gráfico de f em torno do eixo x. Desejamos
encontrar a fórmula de área lateral dessa superfície.

Faremos a aproximação do gráfico de f por segmentos Pi−1 Pi , con-


forme feito no comprimento de arco e rotacionamos Pi−1 Pi , obtendo vá-
rios troncos circulares retos. Calcularemos a soma das áreas laterais desses
troncos.
y y
y = f (x)
b
b

P0 b P3
b

P2
P1

x x

3 segmentos Rotação de 3 segmentos


y y y
b
y = f (x)
b P1 b
b

P0 b P7
b
P2 b P5
P4 b
P3
P6
x x x

7 segmentos Rotação de 7 segmentos Rotação de 20 segmentos


Figura 2.15: Quanto mais segmentos traçados, melhor é a aproximação para a área
lateral.

Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] em


n pedaços iguais. Seja Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva. Vimos
na dedução da fórmula de comprimento de arco que existe ci ∈ (xi−1 , xi )
tal que o comprimento Li de Pi−1 Pi é dado por
q
Li = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
80 Matemática Universitária

A área lateral do tronco gerado pelo segmento Pi−1 Pi é dada pela fór-
f (xi−1 ) + f (xi )
mula 2πLi e, como f é contínua, pelo teorema do valor
2
f (xi−1 ) + f (xi )
intermediário 2.2.5, existe di ∈ (xi−1 , xi ) tal que f (di ) = .
2
Finalmente, temos que a soma das áreas dos troncos é dada por
n n
X f (xi−1 ) + f (xi ) X q
2πLi = 2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
i=1
2 i=1

Apesar de a soma acima não ser uma soma de Riemann (pois há ci e


di na soma acima), é razoável esperar que a soma acima convirja para
Z b q
2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Infelizmente, há uma pequena imprecisão na parte do razoável e na ver-


dade a área lateral de uma superfície arbitrária tem que ser colocado como
definição e depois verificar se não há inconsistências com as fórmulas de
áreas de superfícies conhecidas.

Definição 2.7.5: Área Lateral de Sólido de Revolução

Se f for uma função de classe C 1 e não-negativa em [a, b], então a área


da superfície de revolução gerada pela rotação do gráfico de f entre
x = a e x = b em torno do eixo x é dada por
Z b q
S = 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Exemplo 2.7.6: Vamos calcular a área da superfície da esfera de raio R.


Lembremos, pelo exemplo
√ 2.7.3, que a superfície pode ser gerada pelo
gráfico de f (x) = R2 − x2 em torno do eixo x.
x x2
Como f 0 (x) = − √ , temos que (f 0 (x))2 = 2 e, portanto,
R 2 − x2 R − x2

x2 R2 R2
1 + (f 0 (x))2 = 1 + = = .
R 2 − x2 R 2 − x2 f (x)2
Renan Lima 81

Logo temos que


Z R q
S = 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx
−R
Z R s
R2
= 2π f (x) dx
−R f (x)2
Z R
= 2π R dx = 4πR2 .
−R

n
X q
A soma f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi converge para o mesmo valor in-
i=1
dependentemente das escolhas de ci , di ∈ (xi−1 , xi ). Este resultado é
demonstrado no teorema 3.B.9.
Mesmo mostrando este resultado, ainda sim, não é possível deduzir
com o devido rigor o conceito de área lateral e devemos se contentar
com a expressão é razoável.
Em cursos mais avançados de integral, é possível expor a área lateral
de uma superfície de revolução de forma rigorosa com o conceito de
integral de superfície.

Finalizamos a seção avisando que existe outro método para encontrar


volumes de sólido de revolução. Para o leitor interessado, recomendamos
as videoaulas Volume de Sólido - Método das Cascas Cilíndricas e também
Exemplos de Volumes de Sólidos de Revolução com Cascas Cilíndricas.
82 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule a área da região definida abaixo.


a) A região limitada pelos gráficos de f (x) = sen x e g(x) = cos x com
π
0≤x≤ .
4
b) A região limitada por f (x) = x3 − 2x2 + x + 2 e pela reta tangente
ao gráfico da função f em x = 0.

2. Calcule o volume do sólido de revolução em torno do eixo x das regiões


abaixo.
a) Da região limitada por y = x2 e y = 0, com 1 ≤ x ≤ 2.
b) Da região limitada por y = sen x e y = 0, com 0 ≤ x ≤ π .
c) Da região limitada por y = x2 e y = 4.

d) y = x − 2 com 2 ≤ x ≤ 4 e y ≥ 0.
π
e) Da região limitada por f (x) = sen x, g(x) = cos x com 0 ≤ x ≤ .
4

ex + e−x
3. Calcule o comprimento de arco do gráfico de cosh x = em
2
que 0 ≤ x ≤ 2.

4. Calcule, utilizando as fórmulas de integral desta seção, a área lateral do


cone circular reto de raio r e altura h.

5. Calcule a área lateral do sólido de revolução obtido pela rotação em


torno do eixo x da região abaixo do gráfico de y = x3 , com 0 ≤ x ≤ 1.
Renan Lima 83

Respostas

Exercício 1
√ 4
a) 2−1 b)
3
Exercício 2
31π π2 256π π
a) b) c) d) 2π e)
5 2 5 2
Exercício 3
e2 − e−2
2
Exercício 4

πr h2 + r2

Exercício 5

(10 10 − 1)π
27
84 Matemática Universitária

2.8 Aplicações de Integral na Física

Na seção 1.2, vimos uma aplicação de integral para descrever a equa-


ção do movimento retilíneo e, em particular, vimos no exemplo 1.3.12 da
seção 1.3 que a equação geral do movimento retilíneo uniformemente ace-
at2
lerado é dada por s(t) = s0 + v0 t + .
2
Veremos, nesta seção, outras aplicações e a importância em visualizar
as somas infinitesimais. Um dos conceitos bastante utilizado na física é o
conceito de trabalho.

Definição 2.8.1: Trabalho

Se uma força constante de magnitude F for aplicada na direção e sen-


tido do movimento de um objeto e se este objeto se desloca uma dis-
tância d, definimos o trabalho W realiza pela força sobre o objeto como
sendo
W = F · d.
Se uma força constante de magnitude F for aplicada na mesma di-
reção, mas em sentido contrário ao movimento de um objeto e este
objeto se desloca uma distância d, definimos o trabalho W realizado
pela força sobre o objeto como sendo

W = −F · d.

Como o sinal do trabalho depende se a força está freando ou acelerando


o objeto é, muitas vezes, interessante utilizar a linguagem vetorial.
~v ~v

F~ F~

(a) Trabalho W > 0 (b) Trabalho W < 0.

Figura 2.16: A força está acelerando o descolamento em (a) e freando em (b).

Em geral, a força não é constante e, neste sentido, precisamos estender


o conceito de trabalho para forças mais gerais. Pedimos para que o leitor
tenha em mente a Lei de Hooke: F ~ = −kx · x̂ para força massa mola, em
Renan Lima 85

que o nosso referencial está centrado no ponto de equilíbrio da mola. O si-


nal de negativo diz que a força da mola é sempre restauradora, apontando
sempre para o ponto de equilíbrio.

O
F~ x̂

O
x>0

F~

O
x<0
Figura 2.17: A força que a mola exerce sobre o bloco sempre aponta para o centro.

Nesta seção, estudaremos o conceito de trabalho apenas para partícu-


las em movimento unidimensional. Para o cálculo de trabalho de partícula
em movimento bidimensional, é necessário o conhecimento de integral de
linha que costuma ser ministrada em cursos de cálculo mais avançados.

Definição 2.8.2: Forças Conservativas

Em um movimento unidimensional, dizemos que uma força F ~ é con-


servativa, se ela depende apenas da posição da partícula. Mais preci-
samente, se F~ (x) = F (x) · x̂

Com um referencial fixado (e portanto com um sistema de coordena-


das), suponha que um objeto seja submetido a uma força F ~ (x) = F (x) · x̂.
~
Suponha, para simplificar as ideias, que F (x) aponta para a mesma dire-
ção e sentido do movimento e desejamos calcular o trabalho W = Wa→b
realizado por essa força sobre o objeto, quando este se move de x = a até
x = b.
Subdividiremos o intervalo [a, b] em pequenos pedaços de tal modo
que a força aplicada a este objeto pode ser pensada como constante. Sejam
P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} a partição de [a, b] em n pedaços iguais e
86 Matemática Universitária

ci ∈ (xi−1 , xi ) um representante de tal modo que Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi .


Temos que

Wa→b = Wx0 →x1 + Wx1 →x2 + . . . + Wxn−2 →xn−1 + Wxn−1 →xn


n
X Xn
= Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi .
i=1 i=1

Fazendo o limite, temos, portanto,


Z b
Wa→b = F (x) dx.
a

Exemplo 2.8.3: No nosso exemplo da figura de massa mola, o trabalho


realizado pela força F (x) = −kx · x̂ para deslocar de b até 0 é dado por
0
0
x2 kb2
Z
Wb→0 = −kx dx = −k · = .
b 2 2
b

O trabalho realizado por esta mesma força para deslocar de x = 0 até


x = b é dado por
b
kb2
Z
W0→b = −kx dx = − .
0 2
Logo, temos que W0→b + Wb→0 = 0, como era de se esperar!

~Res = m · ~a(t). No
Exemplo 2.8.4: Pela 3ª Lei de Newton, temos que F
caso do movimento unidimensional, que tem apenas a componente ho-
~Res = FRes · x̂.
rizontal, temos que F
Vamos calcular o trabalho realizado pela força resultante de uma par-
tícula se movendo em linha reta com equação do movimento s(t), po-
sição inicial s(t0 ) = a e posição final s(tf ) = b. Na integral abaixo,
faremos a mudança de variável x = s(t), então dx = s0 (t) dt = v(t) dt.
Daí,
Z b Z s(tf ) Z tf
W = FRes (x) dx = mv 0 (t) dx = mv 0 (t)v(t) dt
a s(t0 ) t0
tf
v 2 (t) mvf2 mv02
=m = − .
2 2 2
t0
Renan Lima 87

Por causa da fórmula acima, definimos a energia cinética do trabalho


mv 2
por K = . Sugerimos a videoaula Aplicação na Física - Trabalho e
2
Energia.
Se a força for conservativa, o teorema fundamental do cálculo diz que
F (x) possui primitiva e, portanto, existe uma função U (x) tal que
dU (x)
= −F (x).
dx
A função U (x) se chama energia potencial da força conservativa F . O
motivo do sinal ficará claro nos exemplos abaixo.
Na Física, costuma-se escolher um referencial para o qual a energia
potencial é 0. Por exemplo, a energia potencial 0 da mola costuma ser o
ponto de equilíbrio da mola.
Exemplo 2.8.5: A energia potencial da mola em x = b é dada por
b b
kb2
Z Z
−F (x) dx = kx dx = .
0 0 2

Uma das forças conhecidas é a força que a gravidade exerce sobre o


nosso corpo
F (x) = −mg · ŷ,
em que g ' 9, 8 m/s2 é a constante gravitacional e m é a massa do corpo.
Exemplo 2.8.6: Se considerarmos que a energia potencial 0 é dada na
altura 0, a energia potencial de um objeto na altura h (e na mesma linha
vertical) é dada por
Z h
mg dx = mgh.
0

O interessante de trabalharmos com a linguagem vetorial é que não


precisamos ficar analisando para onde está o movimento e, portanto, fica
mais fácil calcular o trabalho. Além disso, a linguagem vetorial é mais ade-
quada para entendermos, matematicamente, o porquê da força de atrito
não ser conservativa, conforme o próximo exemplo.
Exemplo 2.8.7: A força de atrito é uma força bastante complicada e o
modelo mais simples é a fórmula F ~at = ±µ|N | x̂, em que |N | é a mag-
nitude da reação normal de apoio e µ é uma constante que depende da
superfície e também do objeto. Em geral, este coeficiente µ é encontrado
experimentalmente.
88 Matemática Universitária

Neste modelo, a força de atrito, apesar da magnitude constante, não é


uma força conservativa! O motivo disso é que o sinal depende da ve-
locidade do objeto, isto é, se o objeto estiver se movendo para a direita,
temos que F~at = −µ|N | x̂. Se estiver se movendo para a esquerda,
~
então Fat = µ|N | x̂.

A função U (x) é chamada de energia potencial da força F . Considere

mvf2
Kf = , Uf = U (b) = U (s(tf )),
2
mv02
K0 = , U0 = U (a) = U (s(t0 ))
2
Temos,
Z b Z b
Kf − K0 = FRes dx = F (x) dx = −(Uf − U0 ).
a a

Isto mostra que


Kf + Uf = K0 + U0 .
Definimos, portanto, a energia mecânica do movimento como a soma da
energia cinética com a energia potencial, isto é, E = K + U e o resul-
tado acima diz que, se a força é conservativa, então a energia mecânica no
movimento unidimensional se conserva.
Uma outra aplicação interessante é o cálculo de massa e centro de
massa de um sistema de objetos. Sugerimos a nossa videoaula Massa e
Centro de Massa.
Considere um fio bem fino não homogêneo de comprimento L, isto é,
suponha que a massa não está equitativamente distribuída ao longo do
fio. Crie eixos de coordenadas, de modo que o fio se encontre na posição
horizontal e fique no intervalo [0, L], conforme a figura abaixo.

x
0 L

Seja m(x) a massa do fio de [0, x]. A densidade linear do fio ρ(x) no
ponto x é, por definição,

m(x + ∆x) − m(x)


ρ(x) = lim .
∆x→0 ∆x
Renan Lima 89

dm
Em notação de Leibniz, ρ = . Dizemos que o fio é homogêneo se a
dx
densidade linear for constante. Se a densidade linear do fio é ρ(x), a massa
total M é dada pela fórmula
Z L
M= ρ(x) dx.
0

Exemplo 2.8.8: Um fio de comprimento L tem densidade linear cons-


tante λ, então a sua massa é dada por
Z L
M= λ dx = λL.
0

Caso a densidade linear seja dada por ρ(x) = x, então a sua massa é
dada por
Z L
L2
M= x dx = ·
0 2

Para encontrar o centro de massa de um sistema de partículas, o caso


mais simples é uma alavanca com massa desprezível e suspensa por um
suporte (ver figura abaixo) em que colocamos dois objetos de massas dis-
tintas em cada extremidade da alavanca.

d1
d2
m1
m2

Figura 2.18: Alavanca em equilíbrio com dois blocos de massa em cada extremidade.

Supondo que o suporte seja móvel, queremos encontrar o ponto exato


em que a alavanca fique em equilíbrio na horizontal. É conhecido do en-
sino médio que o suporte tem que ser colocado em um ponto em que se
deve satisfazer a fórmula

m1 d1 = m2 d2 .

Criando um sistema de coordenadas, suponha que as massas m1 e m2


estejam localizadas em c1 e c2 , respectivamente, e considere xG a coor-
90 Matemática Universitária

denada x do centro de massa, que também é conhecido como centro de


gravidade. Temos, portanto,

m1 (xG − c1 ) = m2 (c2 − xG ),
m1 xG + m2 xG = m1 c1 + m2 c2 ,
m1 c1 + m2 c2
xG = .
m1 + m2

Suponha que temos dois blocos de massas m1 , m2 a uma distância d1


e d2 à esquerda em relação ao suporte e um bloco de massa m3 a uma
distância d3 à direita em relação ao suporte, conforme figura abaixo.

d1
d3
d2
m1
m2 m3

A alavanca estará em equilíbrio se m1 d1 + m2 d2 = m3 d3 . Criando


um sistema de coordenadas, suponha que as massas m1 , m2 e m3 estejam
localizadas em c1 , c2 e c3 , respectivamente, e considere xG a coordenada x
do centro de massa, então

m1 (xG − c1 ) + m2 (xG − c2 ) = m3 (c3 − xG ),

daí,
m1 xG + m2 xG + m3 xG = m1 c1 + m2 c2 + m3 c3 ,
isolando xG na expressão acima, temos
m1 c1 + m2 c2 + m3 c3
xG = .
m1 + m2 + m3

Se tivermos n partículas com massas m1 , m2 , · · · , mn localizadas, res-


pectivamente, em c1 , c2 , · · · , cn e se xG é o centro de massa, então com as
mesmas contas do caso anterior, temos que
n
X
mi ci
i=1
xG = n
.
X
mi
i=1
Renan Lima 91

Suponha que temos uma distribuição contínua de massa. Por exemplo,


suponha que a barra da alavanca não tenha massa desprezível e desejamos
encontrar o seu centro de massa.
xG
c1 c2 c3 c4 c5

∆m1 ∆m2 ∆m3 ∆m4 ∆m5

Seja m(x) a massa da alavanca do início da alavanca até o ponto x e


dm
seja ρ(x) = a densidade linear. Dividimos a alavanca em n pedaços
dx
iguais e cada pedaço tem massa ∆mi = ρ(ci )∆xi . Pelo que foi provado
na parte anterior do texto, temos que
n
X n
X
ci ∆mi ci ρ(ci )∆xi
i=1 i=1
xG ' n = n
,
X X
∆mi ρ(ci )∆xi
i=1 i=1

daí, fazendo mais um processo de limite em que podemos supor que cada
∆xi fique suficientemente pequeno, concluímos, portanto,
Z L
xρ(x) dx
xG = Z0 L
.
ρ(x) dx
0

Exemplo 2.8.9: Caso a densidade de uma corrente de comprimento L


seja constante λ, vimos no exemplo 2.8.8 que sua massa é dada por λL.
Para encontrarmos o centro de massa, podemos supor que a corrente
esteja posta de tal modo que fique sobre o eixo x no intervalo [0, L] e,
portanto,

L L
λL2
Z Z
xρ(x) dx = λx dx = .
0 0 2
92 Matemática Universitária

O seu centro de massa é


λL2
2 λL2 L
= = ,
λL 2λL 2
que é o resultado esperado! Isto é, o centro de massa se encontra na
metade da corrente!

Exemplo 2.8.10: Caso a função densidade de uma corrente de compri-


mento L seja dada por ρ(x) = x, vimos no exemplo 2.8.8 que sua massa
L2
é dada por . Para encontrarmos o centro de massa xG , calculamos,
2
primeiramente, a integral
L L
L3
Z Z
xρ(x) dx = x2 dx = .
0 0 3
Logo, temos que

L3
3 L3 2 2L
xG = = · 2 = .
L2 3 L 3
2

Exemplo 2.8.11: Considere um sistema de massas m1 , m2 e m3 , locali-


zadas em x1 , x2 e x3 , respectivamente. Considere M1 = m1 + m2 , seja
CG o centro de massa do sistema m1 e m2 . Seja xG o centro de massa
do sistema m1 , m2 e m3 .
Demonstraremos que o centro de massa do sistema (M1 , CG ) e (m3 , x3 )
é xG . Em outras palavras, é possível calcular o centro de massa do
sistema (m1 , x1 ), (m2 , x2 ) e (m3 , x3 ) via o sistema (M1 , CG ) e (m3 , x3 ).
Fisicamente, significa que os objetos de massa m1 e m2 são considera-
dos como um único objeto de massa M1 em que a massa está concen-
trada no ponto CG . Note que CG e xG são dados pela fórmula

x1 m1 + x2 m2 x1 m1 + x2 m2
CG = = ,
m1 + m2 M1

x1 m1 + x2 m2 + x3 m3
xG = .
M1 + m3
Renan Lima 93

Temos que o centro de massa do sistema M1 , m3 é dado por

x1 m1 + x2 m2
· M1 + x 3 m 3
C G M1 + x 3 m 3 M1
=
M 1 + m3 M1 + m3
x1 m1 + x2 m2 + x3 m3
= = xG .
m1 + m2 + m3

Considere agora um sistema de partículas m1 , . . . , mn localizadas, res-


pectivamente, nas coordenadas do plano (x1 , y1 ), (x2 , y2 ), · · · , (xn , yn ). O
centro de massa CG = (xG , yG ) do sistema é definido por

n
X n
X
xi m i yi mi
i=1 i=1
xG = n
, yG = n
.
X X
mi mi
i=1 i=1

Pretendemos estender as ideias do cálculo de centro de massa para re-


giões X do plano com densidade constante. Quando a densidade é cons-
tante, o centro de massa é chamado de centroide e também é conhecido
como o centro geométrico.

Utilizaremos a intuição de que o centroide do retângulo é exatamente


o centro do retângulo. É possível demonstrar este resultado com a defini-
ção acima e passar para o caso contínuo, mas acreditamos que o resultado
é suficientemente intuitivo e que não é tão difícil imaginar a sua demons-
tração. Em outras palavras, considere o retângulo

R = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}.

O centroide (xG , yG ) do retângulo R é dado por

a+b c+d
xG = , yG = .
2 2

Sejam f, g : [a, b] → R em que f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b] e seja


X a região entre os dois gráficos, isto é,

X = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}.


94 Matemática Universitária

y y

y = g(x) y = g(x)

g(ci )

X b

f (ci )
y = f (x) y = f (x)
x x
xi−1 xi

(a) Região X. (b) Centroide do retângulo Ri .

Para encontrar o centroide, utilizaremos o princípio do exemplo 2.8.11,


em que podemos subdividir em regiões e calcular o centro de massa sepa-
radamente.
Considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] e
xi−1 + xi
seja ci = o centroide do intervalo [xi−1 , xi ]. Seja Ri o retângulo
2
[xi−1 , xi ] × [f (ci ), g(ci )]. O centroide do retângulo Ri é dado pela fórmula
 
f (ci ) + g(ci )
CGi = ci , .
2

A massa do retângulo Ri é dada por ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi , em que ρ
é a densidade (superficial) da região X . O centroide (xn , yn ) da união dos
retângulos R1 , · · · , Rn é
n
X 
ci ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1
xn = n
,
X 
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1

n  
X f (ci ) + g(ci ) 
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1
2
yn = n
.
X 
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1

Finalmente, eliminando o ρ acima e fazendo o limite para n indo ao


infinito, concluímos que o centroide (xG , yG ) da região X é dado por
Z b
1 b
Z
[g(x)]2 − [f (x)]2 dx

x(g(x) − f (x)) dx
2 a
xG = Za b , yG = Z b .
 
g(x) − f (x) dx g(x) − f (x) dx
a a
Renan Lima 95

Z b 
Note que g(x) − f (x) dx é a área da região X .
a

Exemplo 2.8.12: Considere a região delimitada pela parábola y = x2 e


pela reta y = 1. Calcularemos as coordenadas do centroide.
y

x
−1 1

Figura 2.19: A região e o seu centroide.

Os pontos de interseção da parábola e reta são (−1, 1) e (1, 1). A área é


dada por
Z 1 1
2 x3 4
(1 − x ) dx = x − = .
−1 3 3
−1

Para encontrar o numerador de xG , devemos calcular a seguinte inte-


gral
1
1 1
x2 x4
Z Z
2 3
x(1 − x ) dx = (x − x ) dx = − = 0.
−1 −1 2 4
−1

Logo, xG = 0. Analogamente, para encontrar o numerador de yG , de-


vemos calcular a seguinte integral
1
1 1
x5
 
1 1 1 4
Z Z
2 2 2 4
(1 − (x ) ) dx = (1 − x ) dx = x− = .
2 −1 2 −1 2 5 5
−1

Logo,
4/5 4 3 3
yG = = · = .
4/3 5 4 5
 
3
Logo, o centroide é 0, .
5
96 Matemática Universitária

Exercícios

1. Sabendo que uma força é dada por f (x) · x̂, calcule o trabalho reali-
zado por essa força, sabendo que a partícula se desloca de x = a até
x = b dados em cada um dos itens abaixo (considere as unidades no
sistema internacional de medida).

a) f (x) = 2, a = 1, b = 3 b) f (x) = x2 , a = 6, b = 3
1
c) f (x) = ln x, a = 1, b = e d) f (x) = − , a = 2, b = 1
x2

2. Um corpo de massa m é lançado verticalmente. Suponha que a força


resultante que atua sobre o corpo é a gravitacional FRes = −g · ŷ, em
que g é uma constante dada por g ' 9, 8m/s2 . Sejam y(t) e v(t) a
altura e a velocidade, respectivamente, do corpo no instante t.

a) Mostre a relação de Torriceli [v(t)]2 = [v(0)]2 − 2g(y(t) − y(0)).

b) Calcule o maior valor possível de y(t) − y(0), em função da velo-


cidade inicial.

3. Suponha que um fio esteja sobre o eixo x com 0 ≤ x ≤ 4 e que sua


densidade linear seja ρ(x) = x3 . Encontre a coordenada do centro
de massa.

4. Encontre o centroide de cada uma das figuras abaixo.

a) X = {(x, y) ∈ R2 / 1 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ x2 }

b) X = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

c) X = {(x, y) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

d) X = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1}

5. Mostre que o centroide de um triângulo retângulo é o baricentro do


triângulo.

6. Mostre que o centroide do triângulo qualquer é o baricentro do tri-


ângulo.
Renan Lima 97

7. Sejam f, g : [a, b] → R contínuas e tais que f (x) ≤ g(x) para todo


x ∈ [a, b]. Seja X = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}.
O teorema de Pappus afirma que o volume do sólido de revolução
obtido pela rotação em torno do eixo x do conjunto X é igual o pro-
duto da área de X pelo comprimento da circunferência descrita pelo
centro de massa de X . Demonstre o teorema de Pappus!

8. Calcule o volume do sólido obtido pela rotação, em torno do eixo x,


do círculo x2 + (y − 2)2 = 1 em torno do eixo x.

Respostas

Exercício 1
a) 4J ( J = Joule, que corresponde o trabalho realizado por uma força de
1 Newton no deslocamento de 1 metro.)
1
b) −63J c) 1J d) J
2

Exercício 2
(v(0))2
b)
2g

Exercício 3
16
a) xG =
5

Exercício 4
     
45 93 4 2 2
a) , b) 0, c) , d) (0, 0)
28 70 3π 3π 3π

Exercício 8

4π 2
98 Matemática Universitária

2.9 Integrais Impróprias

Na definição de integrais, consideramos a função do integrando con-


tínua em um intervalo fechado e limitado. Iremos estender a definição de
integral para os seguintes casos

• Funções com intervalo do tipo [a, +∞), (−∞, b] ou (−∞, +∞).

• Funções que não são limitadas.

A integral imprópria é uma extensão natural das integrais próprias e


aparece naturalmente na física e no estudo de probabilidade e estatística.
Um exemplo na física é se considerarmos a Lei da Gravitação Universal
mM
F~ = −G 2 · r̂.
r
Se calcularmos a energia potencial gravitacional da Terra sobre uma
partícula de massa m a uma distância r1 da Terra, que tem massa M , e,
convencionando que a energia potencial é 0 para todas as partículas a uma
distância r0 da Terra, temos que
r1
r1
mM GmM
Z
U (r1 ) = − −G · 2 dr = −
r0 r r
r0
GmM GmM
= − .
r0 r1
Devido a natureza complicada de se escolher um referencial fixo para
GmM
ser o nível 0, costuma-se escolher o +∞ e, daí, temos U (r1 ) = − .
r1
Em outras palavras, foi calculado que
Z r1 Z +∞
mM mM mM
− G 2 dr = G 2 dr = −G .
+∞ r r1 r r1

Observação

Há duas complicações teóricas omitidas neste texto. A primeira é que


para as fórmulas acimas estarem devidamente justificadas, precisa-se
mostrar que as forças radiais são conservativas. Isso faz parte de um
curso de integrais de linha, que é normalmente dado no terceiro período
de uma graduação.
Renan Lima 99

A segunda complicação é mostrar que a atração gravitacional da Terra


sobre uma partícula externa de massa m fornece o mesmo resultado se
supormos que toda a massa M da Terra estivesse concentrada no seu
centro de massa.

Vimos na seção 2.7 que o comprimento de arco do gráfico de uma fun-


ção f : [a, b] → R de classe C 1 é dado por
Z bq
1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Para calcular o comprimento do semicírculo de raio x2 +y 2 = 1 com


√ y ≥ 0,
devemos considerar a função f : [−1, 1] → R dada por f (x) = 1 − x2 e
−x
daí, f 0 (x) = √ , portanto,
1 − x2
s
Z 1 Z 1r
x2 1
1+ dx = dx.
−1 1−x 2
−1 1 − x2
O comprimento do semicírculo é a área entre o eixo x e o gráfico da função
1
g(x) = √ .
1 − x2
A integral acima é arcsen x e é considerada uma primitiva imediata. É
possível, portanto, mostrar que é igual π . Há algumas tecnicalidades na
parte escrita, que será suprida nesta seção.
Sugerimos a nossa videoaula Um Exemplo Natural de Integrais Im-
próprias - Comprimento de Arco.
y

1
f (x) = √
1 − x2

x
−1 1

Figura 2.20: A área da região acima é π.

Começaremos definindo integral em intervalos ilimtados.


100 Matemática Universitária

Definição 2.9.1: Integral Imprópria - Caso 1

Seja f : [a, +∞) → R função integrável em [a, b] para todo b > a.


Definimos Z +∞ Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a b→+∞ a

Se g : (−∞, b] → R função integrável para todo [a, b] com a < b.


Definimos Z b Z b
g(x) dx = lim g(x) dx.
−∞ a→−∞ a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos


limites existem e são finitos. Caso contrário, dizemos que a integral é
divergente.

Caso a função f : [a, +∞) → R seja positiva, então temos a interpre-


tação geométrica de área de uma região ilimitada. Apesar da região ser
ilimitada, a área pode ser finita. Vamos resolver alguns exemplos para
entendermos a ideia.
Z +∞
dx
Exemplo 2.9.2: Vamos analisar . Temos que
1 x
+∞ Z b
1 dx
Z
dx = lim
1 x b→+∞ 1 x
= lim (ln |b| − ln |1|) = +∞.
b→+∞

+∞
dx
Z
Em particular, diverge.
1 x
y

1
f (x) =
x
x
1

Figura 2.21: A área da região é infinita.


Renan Lima 101

+∞
1
Z
Exemplo 2.9.3: Vamos analisar dx. Temos que
1 x2
+∞ Z b
dx dx
Z
2
= lim
1 x b→+∞ x2
1
−1

= lim + 1 = 1.
b→+∞ b
+∞
1
Z
Em particular, dx converge para o valor 1.
1 x2
y

1
f (x) =
x2
x
1

Figura 2.22: A área da região é finita.

Z 0
Exemplo 2.9.4: Vamos analisar cos x dx. Temos que
−∞

Z 0 Z 0
cos x dx = lim cos x dx = lim − sen a.
−∞ a→−∞ a a→−∞

Z 0
Como não existe lim − sen a, concluímos que cos x dx diverge.
a→−∞ −∞

+∞
1
Z
Exemplo 2.9.5: Vamos analisar a convergência de dx para todo
1 xp
p ∈ R. Mais precisamente, vamos mostrar que

Z +∞
1  1 , se p > 1,

dx = p−1
1 xp
+∞, se p ≤ 1.

Foi mostrado no exemplo 2.9.2 que se p = 1, então a integral diverge.


102 Matemática Universitária

Supomos que p 6= 1, então


b
+∞ b
1 1 −1
Z Z
dx = lim dx = lim
1 xp b→+∞ 1 x
p b→+∞ (p − 1)xp−1
1
 
1 1
= lim − .
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1
1
Finalmente, note que se p − 1 > 0, então lim = 0 e, portanto,
b→+∞ bp−1
 
1 1 1
lim − = .
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1 p−1
1
Se p < 1, então lim = lim b1−p = +∞. Isso mostra que se
b→+∞ bp−1 b→+∞
p < 1, então
 
1 1
lim − = +∞.
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1

Z +∞
O termo integral imprópria se deve ao fato de que f (x) dx pode
a
não estar bem definida, necessitando de uma análise cuidadosa para
discutir a sua existência ou, equivalentemente, a sua convergência.

Definição 2.9.6: Integral Imprópria - Caso 2

Seja f : (a, b] → R função contínua com lim+ f (x) = ±∞, definimos


x→a

Z b Z b
f (x) dx = lim+ f (x) dx.
a ε→0 a+ε

Se g : [a, b) → R função contínua com lim− g(x) = ±∞, definimos


x→b

Z b Z b−ε
g(x) dx = lim+ g(x) dx.
a ε→0 a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos


limites existem e são finitos. Caso contrário, dizemos que a integral
imprópria é divergente.
Renan Lima 103

1
1
Z
Exemplo 2.9.7: Vamos analisar dx. Temos que
0 x
1 1
1 1
Z Z

dx = lim+ dx = lim+ ln 1 − ln ε = +∞.
0 x ε→0 ε x ε→0

1
1
Z
Logo dx diverge.
0 x
y

1
f (x) =
x
x
1
Figura 2.23: A área da região é infinita.

1
1
Z
Exemplo 2.9.8: Vamos analisar √ dx. Temos que
0 x
1
1 1
1 1 √ √
Z Z
√ dx = lim+ √ dx = lim+ 2 x = lim+ (2 − 2 ε) = 2.
0 x ε→0 ε x ε→0 ε→0
ε

1
1
Z
Logo √ dx converge para 2.
0 x
y

1
f (x) = √
x
x
1
Figura 2.24: a Área da região é finita.

Finalmente, destacamos uma última definição de integral imprópria e


deixamos as outras adaptações para o leitor.
104 Matemática Universitária

Definição 2.9.9: Integral Imprópria - Caso 3

Se h : [a, c) ∪ (c, b] → R função contínua e ilimitada, definimos


Z b Z c Z c
h(x) dx = h(x) dx + h(x) dx,
a a b

Z b
onde cada uma das integrais são impróprias. Dizemos que h(x) dx
a
converge se cada uma das integrais da direita for finita.
Seja f : (a, +∞) → R função contínua com lim+ f (x) = ±∞. Defini-
x→a
mos
Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, c ∈ (a, +∞).
a a c

Dizemos que a integral imprópria converge se as duas integrais cor-


respondentes convergirem, independentemente da escolha de c > a.
Se g : R → R contínua, definimos
Z +∞ Z c Z +∞
g(x) dx = g(x) dx + g(x) dx.
−∞ −∞ c

Dizemos que a integral imprópria converge, se as duas integrais cor-


respondentes convergirem, independentemente da escolha de c ∈ R.

+∞
1
Z
Exemplo 2.9.10: Vamos analisar dx. Escolha c > 0, então
0 x2
+∞ Z c Z +∞
1 1 1
Z
2
dx = 2
dx + dx.
0 x 0 x c x2
Temos que
c
c c
−1
 
1 1 1 1
Z Z
dx = lim+ dx = lim+ = lim+ − = +∞.
0 x2 ε→0 ε x 2 ε→0 x ε→0 ε c
ε

+∞
1
Z
Logo dx diverge.
0 x2
Renan Lima 105

Em vários problemas, é bastante complicado dizer se uma integral im-


própria converge ou diverge e, caso convirja, é mais complicado ainda
encontrar o seu valor. O critério da comparação é um resultado bastante
útil para discutir a convergência de uma integral sem precisar calculá-la.
Teorema 2.9.11: Critério da Comparação

Sejam f, g : [a, +∞) → R funções positivas, integráveis em [a, b] para


todo b > a e com f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, +∞).

Z +∞ Z +∞
• Se f (x) dx diverge, então g(x) dx diverge.
a a
Z +∞ Z +∞
• Se g(x) dx converge, então f (x) dx converge.
a a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na nossa videoaula Demonstração do Cri-
tério da Comparação para Integrais Impróprias.

O teorema é bastante intuitivo se interpretarmos geometricamente o


conceito de integral como área, como pode ser visto pela figura 2.9
y

g(x)
f (x)
x
a
Se a área da região pintada for finita, então a área da região tracejada é finita.
Se a área da região tracejada é infinita, então a área da região pintada é infinita.

Devemos verificar que as funções f e g são positivas. A parte compli-


cada desse resultado é encontrar a função que faz a comparação. Suge-
rimos a videoaula Introdução ao Critério da Comparação para Integrais
Impróprias.
Para exemplos mais complicados, sugerimos a videoaula Exemplos
para Critério de Comparação para Integrais Impróprias.
106 Matemática Universitária

+∞
2 + sen x
Z
Exemplo 2.9.12: Analisemos a convergência de dx.
1 x2
Lembremos que −1 ≤ sen x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + sen x ≤ 3 e,
dividindo tudo por x2 , concluímos

1 2 + sen x 3
2
≤ 2
≤ 2.
x x x

+∞
3
Z
Sabendo que dx converge, então, para utilizar o critério da
1 x2
2 + sen x 3
comparação, devemos tomar f (x) = 2
e g(x) = 2 e, portanto,
x x
Z +∞
2 + sen x
converge.
1 x2
+∞
2 + cos x
Z
Exemplo 2.9.13: Analisemos a convergência de dx.
1 x
Lembremos que −1 ≤ cos x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + cos x ≤ 3 e,
dividindo tudo por x, concluímos

1 2 + cos x 3
≤ ≤ .
x x x

+∞
1
Z
Sabendo que dx diverge, então, para utilizar o critério da com-
1 x
1 2 + cos x
paração, devemos tomar f (x) = e g(x) = e, portanto,
x x
Z +∞
2 + cos x
diverge.
1 x
Z +∞
2
Exemplo 2.9.14: Considere a integral f (x) = e−x dx. Sabemos
0
u −u 1 1
que e ≥ 1 + u para todo u ≥ 0. Portanto, e = u
≤ para todo
e 1+u
2 1
u ≥ 0 e, daí, fazendo u = x2 , temos que e−x ≤ . Sabemos que
1 + x2
+∞
1 π
Z

2
dx = lim arctg(b) − arctg(0) = .
0 1+x b→+∞ 2
Renan Lima 107

+∞
1 1
Z
2
Como 2
dx converge e vale 0 < e−x ≤ , concluímos,
0 1+x 1 + x2
pelo teste da comparação, que
Z +∞
2
e−x dx converge.
0

Há um teste rápido para a divergência de uma integral imprópria.


Teorema 2.9.15: Teste de Divergência

Seja f : [a, +∞) → R integrável e suponha que lim f (x) = L tal


x→+∞
Z +∞
que L 6= 0 ou L = ±∞, então f (x) dx diverge.
a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na videoaula Demonstração do Teste da
Divergência. Vamos provar o caso em que lim f (x) = +∞. Como f
x→+∞
cresce indefinidamente, existe um ponto c tal que f (x) > 1 para todo
Z +∞
x ∈ [c, +∞). Como 1 dx = +∞, então, pelo critério da comparação,
Z +∞ c

f (x) dx diverge.
c

+∞
x−1
Z
Exemplo 2.9.16: A integral dx diverge pois, pela regra de
1 x−6
x−1
L’Hospital, lim = 1.
x→+∞ x − 6
Z +∞
1 1
A integral dx diverge, apesar de termos lim = 0.
1 x x→+∞ x

Para funções gerais, em que há uma oscilação do sinal, existe um teste


muito útil que é o teste do módulo. Sugerimos a videoaula Teste do Mó-
dulo para Integrais Impróprias.

Teorema 2.9.17: Teste do Módulo


Z +∞
Seja f : [a, +∞) → R integrável tal que f (x) dx converge.
Z +∞ a

Então f (x) dx converge.


a
108 Matemática Universitária

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Teste do Mó-
dulo. Vamos reproduzi-la aqui.
Z +∞
Como 0 ≤ f (x)+|f (x)| ≤ 2|f (x)| e 2 f (x) dx converge, então, pelo
Z +∞ a

critério da comparação, f (x) + |f (x)| dx converge. Daí,
a
Z +∞ Z +∞ 
Z +∞
f (x) dx = f (x) + |f (x)| dx − f (x) dx
a a a

converge, pois é a soma de integrais impróprias que convergem.

+∞
sen x
Z
Exemplo 2.9.18: A integral imprópria dx converge, pois,
1 x2
sen x | sen x| 1
para todo x ≥ 1, temos 2
= 2
≤ 2.
x x x
Z +∞ Z +∞
1 | sen x|
Como a integral 2
dx converge, então 2
dx converge,
1 x Z +∞ x
1
sen x
pelo teste da comparação. Concluímos que dx converge,
1 x2
pelo teste do módulo.

Observações

• Tomando f (x) = sen(x2 ), é possível demonstrar que a integral


Z +∞
f (x) dx converge, embora não exista lim f (x). Uma das
0 x→+∞
hipóteses do teorema 2.9.15 exige que lim f (x) = L, podendo
x→+∞
L ser finito ou infinito.
Z +∞
sen x
• É possível mostrar que se f (x) = , então f (x) dx é
Z +∞ x 1

convergente, mas f (x) dx é divergente. Logo, não existe


1
uma espécie de recíproca do teorema 2.9.17.

• É necessário utilizar a integração por partes para demonstrar as


observações anteriores. Para o leitor que tiver curioso, sugerimos
a videoaula Exemplos mais Complicados de Integrais Impróprias.
Renan Lima 109

Exercícios

1. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem e, caso convir-


jam, calcule o seu valor.
Z +∞ Z 1 Z +∞
−3x dx dx
a) e dx b) 5/6
c)
1 0 x e x ln x
Z +∞ Z +∞ Z +∞
dx
d) e) e−x sen x dx f) ex cos x dx
e x(ln x)2 0 0

2. Seja f : [a, +∞) → R uma função contínua. O valor médio de f em


Z t
1
[a, +∞) é definido por lim f (x) dx.
t→+∞ t − a a

a) Encontre o valor médio de f (x) = cos x em [0, +∞).

b) Encontre o valor médio de f (x) = arctg x no intervalo de [0, +∞).


Z +∞
c) Se f (x) dx converge, mostre que o valor médio de f é 0.
a

Z +∞
d) Se f (x) dx diverge e lim f (x) = L, mostre que o valor médio
a x→+∞
da função f é L.

3. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem.


Z +∞ Z ∞
dx 1
a) 4
b) √ dx
1 x +1 2 x −1
3

Z +∞ Z +∞
2 + cos x 2 + cos x
c) 2
dx d) dx
1 x 0 x2

4. O trompete de Gabriel é formado pela rotação ao redor do eixo x do


1
gráfico y = , com x ∈ [1, +∞). Mostre que a região delimitada pelo
x
trompete tem volume finito, mas área lateral infinita.

Conclusão: É fácil pintar a parte interna do trompete, basta encher de


tinta, mas é difícil pensar em um mecanismo para pintar a parte externa
do trompete.
110 Matemática Universitária

5. Sabendo que a transformada de Laplace da função f : [0, +∞) → R é


Z +∞
definida por F (s) = e−st f (t) dt, faça o que se pede em cada um
0
dos itens abaixo.

k
a) Mostre que F (s) = é a transformada de Laplace da função cons-
s
tante f (x) = k .

b) Encontre a transformada de Laplace da funções f (t) = e3t , g(t) = t


e h(t) = sen t.

c) Se existem M, k ∈ R tais que |f (t)| ≤ M ekt para todo t ≥ 0, então a


integral imprópria F (s) converge para todo s > k .
2
d) Mostre que não existe a transformada de Laplace de f (t) = et .

Respostas

Exercício 1
1
a) 3 b) 6 c) Diverge
3e
1
d) 1 e) f) Diverge
2

Exercício 2
π
a) 0 b)
2

Exercício 3

a) Converge b) Converge

c) Converge d) Diverge

Exercício 4
1 1 1
b) F (s) = , G(s) = e H(s) =
s−3 s 2 1 + s2
C APÍTULO

3 Discussão mais Avançada de


Integrais

3.1 Introdução

No capítulo 2, houve uma discussão mais ampla de integração, que


costumam ser utilizadas com bastante frequência em cursos de engenha-
ria, especialmente em disciplinas de física. As únicas exceções, com direito
a uma boa discussão, seriam as aplicações geométricas tais como volume
de sólido de revolução e também o critério de comparação para integrais
impróprias.
As aplicações geométricas são muito interessantes pois o leitor é con-
vidado a utilizar as ideias de soma de Riemann. Tais ideias são muito
utilizadas na física e na química com uma linguagem ligeiramente espe-
cífica para o assunto. Por exemplo, na seção 2.8, vimos exatamente as
mesmas ideias serem aplicadas para o cálculo de trabalho, massa e centro
de massa.
Talvez um pouco mais polêmico é o critério de comparação para in-
tegrais impróprias. A ideia de encontrar uma função comparadora e de,
certa forma, estudar a velocidade de decaimento de uma função do es-
1
tilo α quando x → +∞ para discutir se a integral associada converge ou
x
diverge são ideias idênticas para séries numéricas. Mais precisamente, ob-
servar, com certa intuição como as funções se comportam assintoticamente
é frequentemente utilizado em diversas áreas aplicadas. Além disto, o cri-
tério da comparação pode ser pensado como um dos resultados base para
encontrar uma família de funções que admitem a Transformada de Laplace,
que é uma técnica de resolução de equações diferenciais muito utilizadas
na Engenharia, com um bom destaque para a teoria do controle.
O critério da comparação é mais polêmico pelo fato de que é possível
encontrar uma família de funções que admite Transformada de Laplace
via uma exposição de uns 20 a 30 minutos, com a função comparadora
específica. Na parte de séries numéricas, o estudante é convidado a refletir
assintotaticamente de forma bastante natural. Por esta razão, o critério
112 Matemática Universitária

da comparação foi colocado, propositalmente, como o último assunto do


capítulo 2.
Finalmente, o objetivo deste capítulo é estudar assuntos mais específi-
cos do cálculo e que, provavelmente por tradição, estão na ementa da mai-
oria dos cursos de cálculo integral. A seção 3.2 estuda funções definidas
por integrais e fazemos uma breve digressãoZ x histórica para reconstrução
dt
da função logaritmo definida por ln x = . Com as mesmas ideias,
1 t
estudaremos a função gama.
Nas seções 3.3 e 3.4, estudaremos técnicas específicas de integração, a
saber, frações parciais e algumas substituições especiais, tais como a subs-
tituição trigonométrica, a substituição universal e a substituição por hiper-
bólicas. Essas técnicas aumentam a quantidade de funções que consegui-
mos integrar, mas são muito mais específicas e, em geral, menos utilizadas
que a substituição (geral) e a integração por partes.
A técnica de frações parciais é de natureza algébrica em que estuda
P (x)
funções racionais, isto é, funções do tipo f (x) = onde P e Q são
Q(x)
polinômios. Essa teoria algébrica é bastante utilizada na Transformada de
Laplace e também faz parte de algoritmos de computação simbólica para
o cálculo de integração.
As substituições especiais, principalmente a trigonométrica, são técni-
cas que
Z √resolvem muitos problemas na física, em que aparece integrais do
tipo R2 − x2 dx. Em geral, os livros de física conseguem "esconder"
tais integrais ao trabalhar diretamente com coordenadas polares na mode-
lagem do problema. Destacamos também a substituição hiperbólica pois
ela é equivalente à substituição trigonométrica.
O uso de software deve ser estimulado para os alunos e, acredito,
que seja interessante introduzir alguns resultados matemáticos que fazem
parte da base teórica para a implementação e criação destes softwares. Por
conta disso, a seção 3.5 é uma breve introdução a integrais Liouvillianas,
que é um dos resultados base para a implementação de algoritmo simbó-
lico para resolução de integrais.
Exemplos de softwares que resolvem simbolicamente as integrais, são
Wolfram, Geogebra, Sage e o pacote numpy do Python. Novamente, a
técnica de frações parciais tem um contexto interessante para esta imple-
mentação, especialmente o algoritmo de divisão de polinômios.
Renan Lima 113

3.2 Definição de Funções por meio de Integrais

Seja f : R → R função contínua e fixe a ∈ R, podemos construir uma


função F : R → R dada por
Z x
F (x) = f (t) dt.
a

Pelo teorema fundamental do cálculo, F é derivável e vale F 0 (x) = f (x).


Veremos na seção 3.5 que, com o processo de integração, é possível criar
novas funções de natureza diferente dos logaritmos, exponenciais, trigo-
nométricas ou polinomiais, isto é, cria-se uma função que não é elementar.
Nesta seção, vamos nos dedicar a dois tipos especiais de funções. A
primeira delas já é uma conhecida nossa, mas será estudada novamente
do ponto de vista histórico. A outra função é a que chamamos de função
gama e será uma extensão da função fatorial.
Em um curso de cálculo diferencial, começamos estudando a função
exponencial, depois definimos a função logaritmo como a inversa da fun-
ção exponencial e, para encontrar a fórmula de  derivadas, precisávamos
1 x

trabalhar com o número de Euler e = lim 1 + , sendo que uma
x→+∞ x
parte razoavelmente complicada é demonstrar que este limite existe. Este
caminho de construção do logaritmo como inversa da função exponencial
é devido a Euler no seu livro Introduction to the Analysis of the Infinite em
1748.
Historicamente, a função logaritmo foi criada antes da função expo-
nencial, via uma construção abstrata por John Napier em 1614. Em 1649,
Alfons de Sarasa, discípulo do jesuíta Grégorie de Saint-Vincent, relacio-
nou os logaritmos com a quadratura da hipérbole, em que mostrou que a
1
área A(t) sob o gráfico da hipérbole y = , de x = 1 até x = t satisfaz
x
A(st) = A(s) + A(t).

Devido a esta fórmula, Saint-Vincent nomeou tal função como loga-


ritmo hiperbólico. Apenas por curiosidade, Saint-Vincent resolveu o para-
doxo de Zenão sobre a corrida entre Aquiles e a Tartaruga, mostrando que
os intervalos temporais formavam uma progressão geométrica de razão
menor que 1 e, portanto, tinha soma finita.
Para situarmos historicamente o leitor, estamos em 1649 e a criação do
cálculo por Newton ocorreu em 1667, sendo que o grande divulgador, que
popularizou o cálculo, foi Leibniz em torno de 1680.
114 Matemática Universitária

1
Em 1668, Mercator percebeu que pode ser visto como a soma limite
x
de uma progressão geométrica com primeiro termo sendo o número 1 e a
razão sendo −(x − 1). Em outras palavras,

1 1
= = 1−(x−1)+(x−1)2 −(x−1)3 +. . .+(−1)n (x−1)n +. . .
x 1 + (x − 1)

e o cálculo da área funciona bem no intervalo (0, 2), pois |x − 1| < 1.


Com essa ideia, ele utilizou a fórmula da área sob a curva de y = xn ,
já conhecida e deduzida de forma brilhante por Fermat (ver seção 1.A) e
concluiu que a área centrada a partir de t = 1 é dada por uma série infinita

(t − 1)2 (t − 1)3 (t − 1)4 (t − 1)n+1


(t − 1) − + − + . . . + (−1)n + ...
2 3 4 n+1

E, com essa visão, ele percebeu que se t ∈ (0, 1), então o valor seria
negativo e, portanto, é interessante trabalhar com a área sob a hipérbole
com sinal.
Z t
1
Em notação atual, eles estudaram a função A(t) = dx. Euler
1 x
estudou a função e percebeu que o número e = 2, 71828... é o ponto que
faz a área ser 1. Ele chamou o logaritmo com esta base de logaritmo natural.
Um dos objetivos desta seção é, a partir da definição acima, provar to-
das as propriedades básicas do logaritmo natural. Vamos também aceitar
o fato que xr está bem definida para todo x > 0 e r ∈ Q. Mais ainda,
vamos considerar que sabemos derivar tais funções. Para convencer o lei-
tor que não é um grande pedido, recomendamos a videoaula [Revisão] -
Função Exponencial - Definindo nos Inteiros, a videoaula [Revisão] - Fun-
ção Exponencial - Definindo nos Racionais e também Demonstração da
Derivada de xp para p ∈ Q.

Definição 3.2.1: Logaritmo Natural

O logaritmo natural de x, denotado por ln x é definido por


Z x
1
ln x = dt, x > 0.
1 t
Renan Lima 115

x 1
1 1
Z Z
Usaremos a convenção que se 0 < x < 1, então dt = − dt e
Z 1 1 t x t
1
que ln 1 = = 0.
1 x

1
Como a função f (x) = é contínua em (0, +∞), então, pelo teorema
x
1
fundamental do cálculo, ln x é derivável e vale (ln x)0 = . Mais ainda,
x
como (ln x)0 > 0, então ln x é uma função estritamente crescente e, em
particular, f é injetiva.
Z 1
1
Como ln 1 = dt = 0 e ln x é uma função crescente, então, em
1 t
particular, ln x < 0 se 0 < x < 1 e ln x > 0 se x > 1.

Teorema 3.2.2: Propriedades Algébricas do Logaritmo

Sejam a, b > 0 e r ∈ Q, então valem as seguintes propriedades.

1. ln(a · b) = ln a + ln b,
b
2. ln = ln b − ln a,
a
3. ln ar = r ln a.

Demonstração:
1. Fixe a > 0 e considere a função f (x) = ln(ax), então, pela regra da
cadeia, temos que
1 1
f 0 (x) = ·a= .
ax x
1
Como f (x) e ln x são primitivas de , então existe C ∈ R tal que
x
f (x) = ln x + C . Daí, ln a = f (1) = ln 1 + C = C e, portanto,
f (x) = ln x + ln a. Substituindo x por b, temos a demonstração da
propriedade.

2. Pelo item 1, temos que ln(ax) − ln a = ln x para todo x ∈ (0, +∞).


b
Basta, portanto, substituir x = .
a
116 Matemática Universitária

3. Considere f (x) = ln xr , então, pela regra da cadeia, temos

1 r
f 0 (x) = · rxr−1 = = r(ln x)0 .
xr x
Logo existe C > 0 tal que f (x) = r ln x + C . Como f (1) = ln 1r = 0,
temos que C = 0. O resultado segue substituindo x por a.

Teorema 3.2.3: Proriedades do Logaritmo

1. lim ln x = +∞,
x→+∞

2. lim+ ln x = −∞,
x→0

3. A imagem de ln x é R.

Demonstração:
1. Como ln é crescente, basta mostrar que ln não é uma função limitada,
isto é, para todo M > 0, exibir um x > 0 tal que ln x > M .
Como ln 2 > 0, existe N ∈ N suficientemente grande tal que N · ln 2 >
M . Tome x = 2N , temos, portanto,

ln x = ln 2N = N · ln 2 > M.

Isso mostra que y = ln x não é uma função limitada.


1
2. Façamos a mudança de variável x = e quando x → 0+ , temos que
t
t → +∞. Daí,
 
1
lim+ ln x = lim ln = lim (ln 1 − ln t) = lim (− ln t) = −∞.
x→0 t→+∞ t t→+∞ t→+∞

3. Como ln x é contínua, pelos itens 1 e 2 e pelo teorema do valor interme-


diário, temos que, para todo y ∈ R, existe x ∈ (0, +∞) tal que ln x = y .
Para quem tiver dificuldade em entender esta argumentação, sugeri-
mos a videoaula Todo Polinômio de Grau Ímpar Possui Raiz Real.

Definição 3.2.4: Número de Euler

O número de Euler, denotado por e, é o único número real que satisfaz


ln e = 1.
Renan Lima 117

O teorema 3.2.3 diz que a função ln : (0, +∞) → R é bijetiva. Con-


sidere, portanto, a sua inversa exp : R → (0, +∞), que chamamos de
função exponencial. Logo, vale que ln(exp x) = x para todo x. Por conta
disso, é natural escrever exp x = ex , pois
ln ex = x ln e = x · 1 = x.
1
Como (ln x)0 = > 0, então, pelo teorema da função inversa, a função ex
x
é derivável e, pela regra da cadeia, temos
1 x 0
1 = (x)0 = (ln ex )0 = (e ) .
ex
Daí (ex )0 = ex .
Como ex é a inversa de ln x, temos também que eln x = x e, como temos
a fórmula ln ar = r ln a para todo r ∈ Q, temos que ar = er ln a . Podemos,
finalmente, definir a exponenciação de número real.

Definição 3.2.5: Função Exponencial

Seja a > 0 e r ∈ R, definimos ar por

ar = er ln a .

Deixaremos como exercício para o leitor a demonstração das proprie-


dades algébricas da função exponencial. Mais precisamente,
• ap aq = ap+q , • (ap )q = apq ,
ap
• = ap−q , • (ap ) · (bp ) = (ab)p .
aq
Para o leitor que estiver com dificuldades em demonstrar tais resulta-
dos, acreditamos que a aula [Revisão] - Função Logaritmo possa ajudar.
Nessa aula, provamos, por exemplo, a identidade ln(a.b) = ln a + ln b
baseada na fórmula ea+b = ea · eb . Só pensar de forma inversa.
Em particular, para todo r ∈ R, temos que a função f (x) = xr é deri-
vável e vale
r r
(xr )0 = (er ln x )0 = er ln x · = xr · = rxr−1 .
x x

A mesma ideia vale para a função f (x) = ax . Temos que


(ax )0 = (ex ln a )0 = ex ln a · ln a = ax · (ln a).
118 Matemática Universitária

Finalmente, pelo mesmo argumento, a função ax é injetiva e tem ima-


gem (0, +∞) e, portanto, é inversível. Definimos, então, loga x como a
função inversa de ax . Em particular, temos que loge x = ln x.
Esperamos que, com esta breve exposição, convencemos o leitor de
que é possível extrair propriedades e ter uma boa descrição de funções
definidas por integrais. Para encontrarmos valores, são necessários méto-
dos numéricos com auxílio de softwares.
Uma função bastante utilizada em Probabilidade e Estatística é a fun-
ção erro, denotado por erf(x). Ela é definida por
Z x
2 2
erf(x) = √ e−t dt.
π 0
Ela é uma função crescente e limitada (ver exemplo 2.9.14). A parte mais
complicada é demonstrar que lim erf(x) = 1.
x→+∞
y

−1

Figura 3.1: Gráfico da função erro.

Em estudos da difração das ondas de luz, Fresnel encontrou as seguin-


tes funções
Z x  2
πt
S(x) = sen dt,
0 2
Z x
πt2
 
C(x) = cos dt.
0 2
Estas funções, atualmente, são chamadas de funções seno e cosseno de Fres-
nel.
y y
S(x) C(x)

0.5 0.5

x x

−0.5 −0.5

(a) Função seno de Fresnel. (b) Função cosseno de Fresnel.

Figura 3.2: Gráfico das funções de Fresnel.


Renan Lima 119

Não é necessário que a variável x esteja no intervalo de integração.


Uma família de funções bastante utilizada na área de sinais (telecomuni-
cações) são as funções de Bessel. Por exemplo, uma das representações
possíveis para a função de Bessel de ordem 0, denotado por J0 (x), é
1 π
Z

J0 (x) = cos x sen θ dθ.
π 0
y
1.0

0.5

x
−28 −24 −20 −16 −12 −8 −4 4 8 12 16 20 24

−0.5

Figura 3.3: Função de Bessel de ordem 0. A escala dos eixos estão diferentes.

Outra função bem famosa definida por integrais é a função Gama Γ.

Definição 3.2.6: Função Gama

A função Gama é definida por


Z +∞
Γ(t) = xt−1 e−x dx.
0

A função gama é definida via uma integral imprópria e, portanto, de-


vemos tomar muito cuidado com a sua análise. Recomendamos a vide-
oaula Função Gama e a Extensão do Fatorial. Começamos encontrando
uma região em que Γ está bem definida.

Teorema 3.2.7: Domínio da Função Gama

Para todo t > 0, a integral imprópria Γ(t) converge.

Demonstração:
Fixemos t > 0. Observe que se t < 1, então a função xt−1 e−x não é
limitada próximo de 0 e, portanto, devemos separar em duas integrais.
120 Matemática Universitária

Z 1 Z +∞
t−1 −x
Escrevemos Γ(t) = x e dx + xt−1 e−x dx. Para a primeira
0 1
−x
integral, observe que e ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1], e, então, xt−1 e−x ≤ xt−1
para x ∈ [0, 1]. Como,
1
1
xt 1 1 1
Z
t−1
x dx = lim+ = − lim+ εt = .
0 ε→0 t t t ε→0 t
ε

Como t > 0, temos lim+ εt = 0, daí, pelo critério da comparação (ver


Z 1 ε→0
teorema 2.9.11), xt−1 e−x dx converge.
0
Z 1
Note que se t ≥ 1, a integral xt−1 e−x dx é própria e, portanto, um
0
número real, não haveria necessidade de ter feito esta análise.
Para a segunda integral imprópria, seja n ∈ N tal que n ≥ t + 1. Temos
xn xt+1 1 n!
que xn ≥ xt+1 para todo x ≥ 1. Como ex ≥ ≥ , então x ≤ t+1 .
n! n! e x
Daí,
xt−1 n!xt−1 n!
xt−1 e−x = x ≤ t+1 = 2 .
e x x
+∞ Z +∞
n!
Z
Como 2
dx converge, então xt−1 e−x dx converge, pelo crité-
1 x 1
rio da comparação. Isso mostra que Γ(t) converge para t > 0.

Teorema 3.2.8

A função Gama é uma extensão do fatorial. Mais precisamente,

1. Vale Γ(t + 1) = t · Γ(t) para todo t > 0.

2. Γ(n + 1) = n! para todo n ∈ N ∪ {0}.

Demonstração:
Z +∞ Z b
1. Observe que Γ(t + 1) = xt e−x dx = lim xt e−x . Integrando
0 b→+∞ 0
por partes, fazendo f (x) = xt , então f 0 (x) = tx t−1
e g(x) = −e−x , com
Renan Lima 121

g 0 (x) = e−x , temos


b
Z b Z b
t −x t −x
xe dx = −x e + txt−1 e−x dx
0 0
0
Z b
= bt e−b + t · xt−1 e−x dx.
0

Tome n > t + 1, então, seguindo o procedimento da demonstração


n!
do teorema 3.2.7, note que |bt e−b | < , portanto, pelo Teorema do
b
Confronto, lim |b e | = 0 e, daí, lim bt e−b = 0. Concluímos que
t −b
b→+∞ b→+∞

Z b Z b
t −x
Γ(t + 1) = lim xe dx = lim t xt−1 e−x dx = t · Γ(t).
b→+∞ 0 b→+∞ 0

Z +∞
2. Temos que Γ(1) = e−x dx = 1 = 0! e, utilizando a propriedade
0
do item 1), temos que Γ(n + 1) = n.Γ(n). Supomos, por indução que
Γ(k + 1) = k!, temos que

Γ(k + 2) = (k + 1)Γ(k + 1) = (k + 1).k! = (k + 1)!

e o item 3 está provado.

Teorema 3.2.9
  Z +∞
1 2
Vale a seguinte igualdade: Γ =2 e−x dx.
2 0

Demonstração:
  Z +∞ −x
1 e √
Como Γ = √ dx, fazemos a substituição u = x. Temos que
2 0 x
1
du = √ dx. Se x → 0, então u → 0 e se x → +∞, então u → +∞ e,
2 x
daí,
  Z +∞ Z +∞
1 dx 2
Γ = 2e−x √ = 2 e−u du.
2 0 2 x 0
122 Matemática Universitária


 
1
Aceitando o fato de que lim erf(x) = 1, temos que Γ = π.
x→+∞ 2
Uma outra aplicação de Integral imprópria é a Transformada de Laplace.
Dado uma função f : [0, +∞) → R contínua e com mais algumas restri-
ções, definimos a Transformada de Laplace de f , denotado por L(f (t)) por
Z +∞
L(f (t))(s) = e−st f (t) dt.
0

Essa transformada é muito utilizado pela Engenharia para resolver um


bom leque de sistemas de equações diferenciais. Para o leitor que gostaria
de ver como funciona o procedimento, sugerimos a videoaula Aplicação
de Integral Imprópria - Transformada de Laplace.
Renan Lima 123

Exercícios

ln x
1. Se a > 0, a 6= 1 e x ∈ (0, +∞), mostre que loga x = .
ln a

S(x), argumente que


2. Utilizando o gráfico da função do seno de Fresnel√
o máximo global de S(x) é atingido quando x = 2.

Z π Z π
3. Mostre que vale a igualdade cos(x sen θ) dx = cos(x cos θ) dx.
0 0

Z 1
4. Mostre que Γ(t) = (− ln x)t−1 dx.
0


     
1 3 7
5. Utilizando que Γ = π , encontre o valor de Γ eΓ .
2 2 2

6. Seja A : (0, +∞) → R função derivável tal que A(st) = A(s) + A(t)
para todo s, t > 0. Se A(x) não é a função nula, mostre que existe a > 0
tal que A(x) = loga x.

Respostas

Exercício 5
  √   √
3 π 7 15 π
Γ = eΓ =
2 2 2 8

Exercício 6

Dica: Derive em relação à t, encontrando uma nova equação entre s, t e


A0 . Faça uma escolha adequada para s.
124 Matemática Universitária

3.3 Frações Parciais

Nesta seção, discutiremos um procedimento algébrico que é conhecida


como frações parciais. Costuma-se usar essa técnica para a Transformada
de Laplace, que é estudada em cursos de Equações Diferenciais Ordiná-
rias. Por exemplo, é fácil verificar que
1 1 1
= −
(x − 1)(x − 2) x−2 x−1
e, portanto,
Z  
dx 1 1
Z
= − dx = ln |x − 1| − ln |x − 2| + C.
(x − 1)(x − 2) x−2 x−1
1
A questão é que se aparecer uma integral do tipo , é inte-
(2x − 3)(3x − 2)
ressante buscar métodos para separar o denominador. Em outras palavras,
queremos encontrar A, B ∈ R tais que
1 A B 2 3
= + , para todo x 6= , .
(2x − 3)(3x − 2) 2x − 3 3x − 2 3 2

Desenvolvendo a expressão da direita da equação acima, temos que


1 (3x − 2)A + (2x − 3)B
=
(2x − 3)(3x − 2) (3x − 2)(2x − 3)

(3A + 2B)x + (−2A − 3B)


= .
(3x − 2)(2x − 3)

Eliminando o denominador, queremos encontrar A, B ∈ R tais que


2 3
(3A + 2B)x + (−2A − 3B) = 1, para todo x 6= , .
3 2
Para os dois polinômios serem iguais, todos os coeficientes deve ser
iguais e, portanto,

3A + 2B = 0,
−2A − 3B = 1.
Para quem tiver dificuldades em resolver sistemas lineares, recomenda-
mos as vídeo-aulas Sistema Linear 2x2 e também Fórmula da Inversa de
2 3
Matriz 2x2. Resolvendo o sistema, temos A = e B = − e, portanto,
5 5
1 2 3
= − .
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)
Renan Lima 125

Concluímos que
Z  
dx 2 3
Z
= − dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)

ln |2x − 3| − ln |3x − 2|
= + C.
5
Para as duas últimas integrais, é necessário fazer a substituição u = 2x − 3
e também v = 3x − 2, deixamos os detalhes para o leitor.
Para uma introdução do assunto, sugerimos a nossa videoaula Intro-
dução a Frações Parciais. Alem dela, sugerimos a videoaula Frações Par-
ciais - Fazendo as Contas mais Rápidas, que será o tema desta seção. Di-
vidiremos a técnica de frações parciais em 3 casos.

Teorema 3.3.1: Frações Parciais - Caso 1

Sejam α1 , . . . , αn números reais distintos entre si e considere os po-


linômios Q(x) = (x − α1 )(x − α2 ) · . . . · (x − αn ) de grau n e P (x)
polinômio com grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . , An ∈ R
tais que

P (x) A1 A2 An
= + +. . .+ .
(x − α1 ) · (x − α2 ) · . . . · (x − αn ) x − α1 x − α2 x − αn

Mais ainda, temos que

(x − αi )P (x)
Ai = lim para i = 1, · · · , n.
x→αi Q(x)

dx
Z
Exemplo 3.3.2: Vamos calcular . Como o grau do
(2x − 3)(3x − 2)
numerador é 0 e o do denominador é 2, podemos aplicar o teorema
acima que diz que existem A, B ∈ R tais que

1 A B
= + .
(2x − 3)(3x − 2) 3x − 2 2x − 3

Temos que

1 3 1 2
A = lim2 =− , B = lim3 = .
x→ 3 2x − 3 5 x→ 2 3x − 2 5
126 Matemática Universitária

Concluímos que

−3
Z  
dx 2
Z
= + dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(3x − 2) 5(2x − 3)

− ln |3x − 2| + ln |2x − 3|
= + C.
5

x2 − 3x + 1
Z
Exemplo 3.3.3: Considere dx.
x(x − 1)(x − 2)
Como 2 = grau(P ) e 3 = grau(Q), podemos aplicar o teorema 3.3.1,
que diz que existem A, B, C ∈ R tais que

x2 − 3x + 1 A B C
= + + .
x(x − 1)(x − 2) x x−1 x−2
Temos que

x2 − 3x + 1 1
A = lim = ,
x→0 (x − 1)(x − 2) 2
2
x − 3x + 1
B = lim = 1,
x→1 x(x − 2)

x2 − 3x + 1 1
C = lim =− .
x→2 x(x − 1) 2

Daí, temos que

x2 − 3x + 1
Z  
1 1 1
Z
dx = + − dx
x(x − 1)(x − 2) 2x x − 1 2(x − 2)

ln |x| ln |x − 2|
= + ln |x − 1| − + C.
2 2

Não esqueça de checar a hipótese de que grau(P ) < grau(Q).

Além do caso 1, que trata com raízes reais de multiplicidade 1, temos


o segundo caso, que é um pouco mais geral. Sugerimos a nossa videoaula
Frações Parciais - Raízes com Multiplicidade
Renan Lima 127

Teorema 3.3.4: Frações Parciais - Caso 2

Sejam α ∈ R e m > 0 inteiro. Suponha que Q(x) = (x − α)m .Q1 (x)


com Q1 (α) 6= 0 e grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . , Am ∈ R
e um polinômio P1 (x) com grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) P (x) A1 A2 Am P1 (x)


= = + + ... + + .
Q(x) (x − α)m Q1 (x) x − α (x − α)2 (x − α)m Q1 (x)

Mais ainda, temos que

(x − α)m P (x) P (α)


Am = lim = .
x→α Q(x) Q1 (α)

2x + 3
Z
Exemplo 3.3.5: Vamos calcular a integral dx. Note
(x − 1)2 (x − 2)
que o grau do numerador é 1 e o grau do denominador é 3. Aplicando
o teorema 3.3.4, existem A, B, C ∈ R tais que

2x + 3 A B C
= + + . (3.1)
(x − 1)2 (x − 2) x − 1 (x − 1)2 (x − 2)

É possível achar com rapidez os coeficientes de B e C , utilizando a


fórmula do limite,

(x − 1)2 (2x + 3) 2x + 3
B = lim = lim = −5,
x→1 (x − 1) (x − 2)
2 x→1 x − 2

(x − 2)(2x + 3) 2x + 3
C = lim = lim = 7.
x→2 (x − 1)2 (x − 2) x→2 (x − 1)2

É possível encontrar o valor de A de duas formas. Uma delas é de-


senvolver o lado direito da equação 3.1 e depois igualar os coeficientes
como feito no início da seção

2x + 3 A(x − 1)(x − 2) − 5(x − 2) + 7(x − 1)2


= .
(x − 1)2 (x − 2) (x − 1)2 (x − 2)

Outra forma é substituir um valor para x na equação 3.1. Tomando


x = 0, temos
3 7
− = −A − 5 − ,
2 2
128 Matemática Universitária

Logo A = −7. Daí, substituindo os valores na equação 3.1, temos

2x + 3 −7 5 7
= − + .
(x − 1)2 (x − 2) x − 1 (x − 1)2 x − 2

Integrando ambos os lados, concluimos que

2x + 3 5
Z
dx = −7 ln |x − 1| + + 7 ln |x − 2| + C.
(x − 1) (x − 2)
2 x−1

Teorema 3.3.6: Frações parciais - Caso Raízes Complexas

Seja Q(x) = (x2 + ax + b)m · Q1 (x) em que x2 + ax + b não admite


raiz real e as raízes (complexas) de Q1 (x) são diferentes das raízes de
x2 + ax + b. Então existem A1 , B1 , A2 , B2 , · · · , Am , Bm ∈ R e um
polinômio P1 (x) com grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B2 Am x + B m P1 (x)
= 2 + +. . .+ 2 + .
Q(x) x + ax + b (x2 + ax + b)2 (x + ax + b)m Q1 (x)

Recomendamos a videoaula Frações Parciais - Caso Raízes Complexas


não-Reais e para entender as contas do próximo exemplo, sugerimos que
assista ao último exemplo da videoaula Fazendo Substituição Linear para
Resolver Integrais.
dx
Z
Exemplo 3.3.7: Vamos calcular . Pelo teorema 3.3.6,
x(x2 − 4x + 8)
temos que
1 A Bx + C
= + 2 ,
x(x2 − 4x + 8) x x − 4x + 8
x 1
em que A = lim = . Daí, temos
x→0 x(x2 − 4x + 8) 8

Bx + C 1 1 8 − (x2 − 4x + 8)
= − =
x2 − 4x + 8 x(x2 − 4x + 8) 8x 8x(x2 − 4x + 8)

−x2 + 4x −x + 4
= = .
8x(x − 4x + 8)
2 8(x − 4x + 8)
2

Eliminando o denominador, temos que 8Bx + 8C = −x + 4. Logo,


Renan Lima 129

1 4
B = − e C = . Temos, portanto, que
8 8
−x + 4
 
1 1 1
= + .
x(x2 − 4x + 8) 8 x x2 − 4x + 8
Daí,

−x + 4
Z 
dx 1 dx
Z Z
= + dx
x(x − 4x + 8)
2 8 x x − 4x + 8
2

−x + 4
 
1
Z
= ln |x| + dx .
8 x2 − 4x + 8

Para a última integral, observe que o vértice da parábola é o ponto (2, 4)


e, façamos a substituição u = x − 2 e du = dx. Temos que

−x + 4 −u + 2 u du 2 du
Z Z Z Z
dx = du = − + .
x − 4x + 8
2 2
u +4 2
u +4 u2 + 4

Para a primeira integral, fazemos a substituição y = u2 +4 e dy = 2u du.


Daí,

u du dy ln |y| ln(u2 + 4)
Z Z
− 2 =− =− + C1 = − + C1 .
u +4 2y 2 2
A segunda integral é resolvida via a substituição u = 2y e du = 2 dy .
Temos que

2 du 4 dy dy
Z Z Z
= =
u2 + 4 4y 2 + 4 y2 + 1
u
= arctg y + C2 = arctg + C2 .
2
Lembrando que u = x − 2, temos, finalmente, que
"  #
ln x2 − 4x + 8

x−2
Z
dx 1
= ln |x| − + arctg + C.
x(x2 − 4x + 8) 8 2 2

Ax + B
O caso para m 6= 1 é ainda mais complicado, mas é
(x2 + ax + b)m
possível resolver com uma fórmula de recorrência ou também via substi-
tuição trigonométrica que será um dos temas da seção 3.4. A fórmula e os
passos da fórmula serão deixados como exercício desta seção.
130 Matemática Universitária

O último caso que falta é quando o grau do numerador é maior que o


grau do denominador.

Teorema 3.3.8: Frações Parciais - Caso 4

Se grau(P ) ≥ grau(Q), então existem polinômios S(x) e r(x), com


grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) r(x)
= S(x) + .
Q(x) Q(x)

Apesar de o livro ter relatado como teorema, é apenas uma consequên-


cia direta da divisão Euclidiana para polinômios. Recomendamos a vide-
oaula [Revisão] - Divisão de Polinômios para lembrarmos como fazemos
a divisão e também a nossa videoaula Frações Parciais - Caso grau do Nu-
merador é maior ou igual ao do Denominador.
O algoritmo de divisão diz que é possível encontrar, de forma única,
polinômios S(x) e r(x) com grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) = S(x)Q(x) + r(x).

Chamamos de r(x) de resto da divisão. Dividimos a equação acima por


Q(x), temos que

P (x) S(x)Q(x) + r(x) r(x)


= = S(x) + .
Q(x) Q(x) Q(x)

Vamos aplicar o procedimento acima em um exemplo.


x3
Z
Exemplo 3.3.9: Vamos calcular dx. Utilizando o al-
(x − 1)(x − 2)
goritmo de divisão entre x3 e x2 − 3x + 2, temos que

x3 = (x + 3)(x2 − 3x + 2) + (7x − 6).

x3 7x − 6
Logo = x+3+ 2 . Utilizando a técnica de frações
x − 3x + 2
2 x − 3x + 2
parciais, temos

7x − 6 7x − 6 A B
= = + ,
x2 − 3x + 2 (x − 1)(x − 2) x−1 x−2
Renan Lima 131

7x − 6 7x − 6
em que A = lim = −1 e B = lim = 8 e, portanto,
x→1 x − 2 x→2 x − 1

x3 −1
Z  
8
Z Z
dx = (x + 3) dx + + dx
(x − 1)(x − 2) x−1 x−2
x2
= + 3x − ln |x − 1| + 8 ln |x − 2| + C.
2

Para o leitor interessado, a demonstração desses resultados de frações


parciais se encontram na videoaula Demonstração das Frações Parciais. A
demonstração é bem algébrica, mas usa apenas o algoritmo de divisão de
polinômios. Faremos uma demonstração alternativa na seção 3.5.
132 Matemática Universitária

Exercícios

1. Calcule as integrais.
dx x
Z Z
a) b) dx
x −x
2 x2 − 5x + 6
Z 2
x − 3x + 1 1
Z
c) dx d) dx
x3 − x x3 − x2
1 1
Z Z
e) dx f) dx
x (x − 1)
3 x2 (x − 1)2
1 4x
Z Z
g) dx h) dx
x(x − 1)2 (x − 2)2 (x + 1)(x2 + 1)
4x 2x + 3
Z Z
i) dx j) dx
(x + 1)2 (x2 + 1) x4 + x2
x x
Z Z
k) dx l) dx
(x + 1)(x2 + 4) (x + 1)(x2− 4x + 5)
1 x3
Z Z
m) dx n) dx
(x + 1)(x2 − 4x + 5)
2 (x − 1)(x + 3)
x4 + 1 x4 + 1
Z Z
o) dx p) dx
x(x2 + 1) x4 + x2

2. O objetivoZdeste exercício é deduzir fórmulas para integrarmos funções


Ax + B
da forma dx para m ≥ 2 em que ∆ = b2 − 4c < 0.
(x + bx + c)m
2

a) FazendoZ uma substituição linear, Zcomo no exemplo 3.3.7, transforme


Ax + B Eu + F
a integral dx em du, com E, F ∈ R.
(x2 + ax + b)m (u2 + 1)m

x
Z
b) Com uma substituição simples, resolva a integral dx.
(x + 1)m
2

1 (1 + x2 ) − x2 1 x2
c) Considere = = 2 − 2 .
(x2 + 1) m 2
(x + 1) m (x + 1) m−1 (x + 1)m

x2 dx x
Z
Integre por partes, em que f (x) = x e g 0 (x) = 2 .
(x2 + 1)m (x + 1)m
Renan Lima 133

dx
Z
Se Im = , conclua a fórmula de recorrência
(x2 + 1)m
x 2m − 3
Im = + · Im−1 .
2(m − 1)(x2 + 1)m−1 2m − 2

3. Integre as funções abaixo.


x+1 1
Z Z
a) dx b) dx
(x2 + 1)3 (x − 1)(x2− 2x + 5)2

Respostas

Exercício 1

a) ln |x − 1| − ln |x| + C

b) 3 ln |x − 3| − 2 ln |x − 2| + C
5 ln |x + 1| ln |x − 1|
c) − − ln |x| + C
2 2
1
d) ln |x − 1| − ln |x| + +C
x
1 1
e) ln |x − 1| − ln |x| + + 2 +C
x 2x
1 1
f) 2 ln |x| − 2 ln |x − 1| − − +C
x x−1
ln |x| 5 ln |x − 2| 1 1
g) + ln |x − 1| − − − +C
4 4 x − 1 2(x − 2)
h) −2 ln(x + 1) + ln(x2 + 1) + 2 arctg x + C
2
i) + 2 arctg(x) + C
x+1
3
j) − ln(x2 + 1) + 2 ln |x| − − 3 arctg(x) + C
x
ln(x2 + 4) ln |x + 1| 2 x
k) − + arctg +C
10 5 5 2
1
ln(x2 − 4x + 5) − 2 ln |x + 1| + 14 arctg(x − 2) + C

l)
20
134 Matemática Universitária

ln(x2 + 1) − ln(x2 − 4x + 5) arctg x + arctg(x − 2)


m) + +C
16 8
x2 − 4x ln |x − 1| + 27 ln |x + 3|
n) + +C
2 4
x2
o) − ln(x2 + 1) + ln |x| + C
2
1
p) x − − 2 arctg(x) + C
x

Exercício 3

3x3 + 5x − 2 3 arctg x
a) + +C
8(x2 + 1)2 8
1 ln |x − 1| ln(x2 − 2x + 5)
b) + − +C
8(x2 − 2x + 5) 16 32
Renan Lima 135

3.4 Substituições Especiais e Funções Hiperbólicas

Para encontrarmos a área do círculo Zde raio R, utilizando integrais,



devemos resolver uma integral da forma R2 − x2 dx. É uma integral
razoavelmente mais complicada e, para resolvermos, é importante utili-
zarmos a substituição x = R sen θ e, portanto, dx = R cos θ dθ e vemos a
mágica
√ √ √
R2 − x2 = R2 − R2 sen2 θ = R 1 − sen2 θ = R| cos θ|.

π π
Além disso, se θ varia de − até , então x varia de −R até R, que
√ 2 2
é o domínio da função R2 − x2 . Como cos θ ≥ 0, temos | cos θ| = cos θ.
Em resumo, temos que
Z √ Z Z
R − x dx = R cos θ · (R cos θ) dθ = R2 cos2 θ dθ.
2 2

Temos uma pequena sutileza noZ processo acima, por exemplo, se, por

algum motivo, desejamos calcular x R − x2 dx, faríamos a substitui-
2

ção u = R2 − x2 e, portanto, du = −2x dx. Daí,


Z √ √
u
Z
x R − x dx = −
2 2 du.
2

Note a diferença da substituição u = R2 − x2 (u = u(x)) e x = R sen θ


(x = x(θ)). Em geral, é possível fazer uma substituição da forma x = g(t),
desde que g seja uma função bijetiva e faremos a substituição inversa
Z Z
f (x) dx = f (g(t))g 0 (t) dt.

Nesta seção, trataremos de três substituições especiais: a substituição


trigonométrica, a substituição universal e a substituição hiperbólica.
Para a substituição trigonométrica, devemos escolher uma das três
substituições: x = sen θ, x = tg θ e x = sec θ. A escolha depende da ex-
pressão do integrando e exige um tempo de atenção do estudante. Além
disso, devemos escolher intervalos de θ de modo que a substituição acima
seja bijetiva.
Sugerimos que assista à videoaula Introdução à Substituição Trigono-
métrica.
136 Matemática Universitária

Expressão Id. trigonométrica Substituição


π π
R 2 − x2 cos2 θ = 1 − sen2 θ x = R sen θ, − ≤x≤
2 2
π π
R 2 + x2 sec2 θ = 1 + tg2 θ x = R tg θ, − < x <
2 2
π 3π
x2 − R 2 tg2 θ = sec2 θ − 1 x = R sec θ, 0 ≤ θ < ou π ≤ θ <
2 2

1
Z
Exemplo 3.4.1: Vamos calcular a primitiva imediata dx utili-
1 + x2
zando a substituição trigonométrica. Para tanto, considere x = tg θ e
dx = sec2 θ dθ. Daí,

dx sec2 θ dθ sec2 θ dθ
Z Z Z Z
= = = dθ = θ + C.
1 + x2 1 + tg2 θ sec2 θ
Como x = tg θ, temos que θ = arctg x e, portanto,

dx
Z
= arctg x + C.
1 + x2

A escolha dos intervalos de θ em cada uma das substituições acima é


para sumir o módulo na raiz quadrada. Por exemplo,
q √
1 + tg2 θ = sec2 θ = sec θ,
 π π
a última igualdade se deve ao fato de sec θ > 0 para todo θ ∈ − , .
2 2
Vamos ao exemplo do início da seção.
Z √
Exemplo 3.4.2: Para calcular R2 − x2 dx, façamos x = R sen θ e,
portanto, dx = R cos θ dθ e daí,
Z √ Z  
cos 2θ + 1
Z
R2 − x2 dx = R2 cos2 θ dθ = R2 dθ
2
 
2 sen 2θ θ
=R + +C
4 2
 
2 sen(2 arcsen x) arcsen x
=R + + C.
4 2
Renan Lima 137

É possível melhorar a expressão sen(2 arcsen


√ x) = sen√2θ. Observe
que cos θ = 1 − sen2 θ = 1 − x2 , pois
que sen 2θ = 2 sen θ cos θ e √
cos θ ≥ 0. Logo, sen 2θ = 2x 1 − x2 e, portanto,
Z √ √ 
R2 x 1 − x2 + arcsen x
R2 − x2 dx = + C.
2

Para encontrarmos a inversa, utilizamos o artifício de desenhar um


triângulo auxiliar. Por exemplo, se x = tg θ, então olhando o triângulo
1
auxiliar do meio da figura 3.4, então cos θ = √ . Para ajudar na
1 + x2
lógica da construção de cada um dos triângulos, sugerimos a videoaula
Substituição Trigonométrica - O Triângulo Auxiliar.

√ √
x R x R 2 + x2 x2 − R 2 x

θ θ θ

R2 − x2 R R
(a) x = R sen θ. (b) x = R tg θ. (c) x = R sec θ.

Figura 3.4: O triângulo auxiliar para cada uma das substituições.

1
Z
Exemplo 3.4.3: Vamos calcular √ dx. Para tanto, faremos
x2 4 + x2
a substituição trigonométrica x = 2 tg θ e, portanto, dx = 2 sec2 θ dθ.
Daí,
1 1
Z Z
√ dx = p · (2 sec2 θ) dθ
2
x 4+x 2
4 tg θ 4 + 4 tg2 θ
2

sec2 θ sec θ cos θ


Z Z Z
= 2 dθ = 2 dθ = dθ.
4 tg θ sec θ 4 tg θ 4 sen2 θ
Fazendo a substituição u = sen θ, temos que

cos θ du 1 1
Z Z
dθ = =− +C =− + C.
4 sen2 θ 4u2 4u 4 sen θ
138 Matemática Universitária

Utilizando o triângulo auxiliar, te-


x
mos que sen θ = √ e, por-
4 + x2
tanto, x

4 + x2

dx 4 + x2
Z
√ = − + C.
x2 4 + x2 4x θ

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exemplos com Substitui-


ção Trigonométricas não tão Diretas. Algumas vezes é necessário comple-
tar quadrado e sugerimos a nossa videoaula Substituição Trigonométrica -
Completamento de Quadrados. Façamos um exemplo para entendermos
o procedimento.
Z √
Exemplo 3.4.4: Vamos calcular x2 − 6x + 8 dx. O vértice da pará-
bola se encontra no ponto (3, −1) e, portanto, considere a substituição
u = x − 3 e du = dx e, portanto,
Z √ Z √
x − 6x + 8 dx =
2 u2 − 1 du.

Fazendo a substituição u = sec θ, temos que du = sec θ tg θ dθ e, daí,


Z √ Z Z
u2 − 1 du = tg θ · tg θ sec θ dθ = tg2 θ sec θ dθ

Utilizando
Z a igualdade tg2 θ = sec2 θ − 1 e a fórmula encontrada para
sec3 x dx no exemplo 2.6.7, temos que
Z Z Z Z
2 3 3
sec θ tg θ dθ = (sec θ − sec θ) dθ = sec θ dθ − sec θ dθ

sec θ · tg θ 1
Z Z
= + sec θ dθ − sec θ dθ
2 2

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
= − + C.
2 2
Passando para a variável u e utilizando o triângulo auxiliar, temos que
Renan Lima 139

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
Z p
u2 − 1 du = − +C
2 2

u2 − 1 u
√ √
u u2 − 1 ln |u + u2 − 1|
= − + C.
2 2 θ

Lembrando que u = x − 3, temos, finalmente que


√ √
− 2 − 6x + 8 ln x − 3 + x2 − 6x + 8
Zp
(x 3) x
x2 − 6x + 8 dx = − +C.
2 2

Em geral, a substituição trigonométrica transforma frações de polinô-


mios em integrais trigonométricas. O interessante que também é possí-
vel transformar integrais trigonométricas emZfrações de polinômios. Por
sen x
exemplo, supomos que desejamos integrar dx. Um
3 cos x + 4 sen x
método, bastante x engenhoso,
 descoberto por Weierstrass é fazer a subs-
tituição u = tg .
2
A ideia é notar que
x x x   x 
cos x = cos2 − sen2 = cos2 1 − tg2
2  2   2 2
2 x 2 x
1 − tg 1 − tg 2
= x2 = 2 = 1 − u .
x
sec2 1 + tg2 1 + u2
2 2
Analogamente, temos que
x
x x x x 2 tg 2u
sen x = 2 sen cos = 2 tg cos2 =  2x  = .
2 2 2 2 sec2 1 + u2
2
Além disso, note que
x
sec2 2
du = 2 dx = 1 + u dx ⇒ dx = 2 du .
2 2 1 + u2
x
A substituição u = tg é também conhecida como substituição univer-
2
sal.
140 Matemática Universitária

2
Z
Exemplo 3.4.5: Vamos calcular dx. Para isso, usa-
 x  2 − cos x + 2 sen x
remos a substituição u = tg . Temos que
2
Z Z
1 1 2du
dx = · 2
2 − cos x + 2 sen x 1 − u2 2u u +1
2− 2 +2· 2
u +1 u +1
Z
2 du
=
2u2 + 2 − 1 + u2 + 4u
Z
2 du
= 2
3u + 4u + 1
Z
2 du
=
(3u + 1)(u + 1)
Z  
3 1
= − du (por frações parciais)
3u + 1 u + 1

= ln |3u + 1| − ln |u + 1| + C
x x
= ln 3 tg + 1 − ln tg + 1 + C.
2 2

A última substituição especial que pretendemos falar nesta seção é


a que chamamos substituição hiperbólica. A ideia dessa substituição é
transformar frações de polinômios em funções exponenciais e, de certa
forma, imita bastante as integrações de funções trigonométricas.

Sugerimos a videoaula Funções Hiperbólicas - Por que o Nome Hiper-


bólicas? para o leitor interessado na nomenclatura de funções hiperbólicas.

Definição 3.4.6: Funções Hiperbólicas

As funções seno hiperbólico, cosseno hiperbólico, tangente hiperbó-


lico e secante hiperbólico são definidas por

ex − e−x senh x ex − e−x


senh x = , tanh x = = x ,
2 cosh x e + e−x
ex + e−x 1 2
cosh x = , sech x = = x .
2 cosh x e + e−x
Renan Lima 141

y y y

x x x

−1

(a) Gráfico de senh x. (b) Gráfico de cosh x. (c) Gráfico de tanh x.

Figura 3.5: Gráficos de algumas funções hiperbólicas.

As fórmulas algébricas das funções hiperbólicas são bem parecidas


com as fórmulas das funções trigonométricas. Vamos citar algumas de-
las.

Teorema 3.4.7: Identidades de Funções Hiperbólicas

Valem as seguintes identidades.


• cosh x + senh x = ex , • cosh x − senh x = e−x ,

• cosh2 x − senh2 x = 1, • sech2 x = 1 − tanh2 x,

• (senh x)0 = cosh x, • (cosh x)0 = senh x,

• (tanh x)0 = sech2 x, • (sech x)0 = − sech x·tanh x,

• senh(x + y) = senh x · cosh y + senh y · cosh x,

• cosh(x + y) = cosh x · cosh y + senh x · senh y .

Demonstração:
Faremos apenas a demonstração que (sech x)0 = − sech x · tanh x e o res-
tante será deixado como como exercício para o leitor.
1
Como sech x = e (cosh x)0 = senh x, temos, pela regra da cadeia,
cosh x
que

(cosh x)0 1 senh x


(sech x)0 = − 2
=− · = − tanh x · sech x.
(cosh x) cosh x cosh x
142 Matemática Universitária

Z
Exemplo 3.4.8: Vamos calcular tanh x dx. A resolução é bem pare-
Z
cida com a de tan x dx do exemplo 2.4.9. Basta fazer u = cosh x e,
portanto, du = senh x dx, daí,

senh x du
Z Z Z
tanh x dx = dx = = ln |u| + C
cosh x u
= ln | cosh x| + C = ln(cosh x) + C.
( pois cosh x ≥ 0, ∀x ∈ R.)

Como a função cosh : [0, +∞) → [1, +∞) é bijetora, então possui in-
versa, que denotamos por arccosh x. Vamos organizar em uma definição.

Definição 3.4.9: Funções Hiperbólicas Inversas

• Definimos arcsenh : R → R como a inversa de senh x.


• Definimos arccosh : [1, +∞) → [0, +∞) como a inversa de
cosh x.
• Definimos arctanh : (−1, 1) → R como a inversa de tanh x.

Temos expressões fechadas das funções arco hiperbólicas.

Teorema 3.4.10: Funções Hiperbólicas Inversas

Valem as seguintes igualdades



arcsenh x = ln(x + x2 + 1),

arccosh x = ln(x + x2 − 1),
 
1 1+x
arctanh x = · ln .
2 1−x

Demonstração:
Vamos provar apenas a fórmula do arcsenh x e deixamos o restante como
exercício.
ey − e−y
Seja y = arcsenh x, então x = senh y = . Daí,
2
ey − 2x − e−y = 0.
Renan Lima 143

Multiplicando a expressão por ey , temos que

e2y − 2xey − 1 = 0.

Façamos u = ey , temos, portanto, a equação quadrática

u2 − 2xu − 1 = 0.

Daí, pela fórmula quadrática, temos



y 2x ± 4x2 + 4 √
e =u= = x ± x2 + 1.
2

Como x − x2 + 1 < 0 e ey > 0, concluímos que

ey = x + x2 + 1.

Aplicando o logaritmo natural na equação acima, obtemos



y = ln ey = ln x + x2 + 1 .


Todas as integrais resolvíveis via substituição trigonométrica podem


ser resolvidas via substituição por funções hiperbólicas.
dx
Z
Exemplo 3.4.11: A integral √ pode ser resolvida via substitui-
1 + x2 √
ção x = tg θ, dx = sec2 θ dθ e também, sec θ = 1 + x2 . Daí,

1 sec2 θ dθ
Z Z Z
√ dx = = sec θ dθ
1 + x2 sec θ
= ln | sec θ + tan θ| + C
√ 
= ln x + 1 + x2 + C.

Outra forma é utilizandopx = senh u e, portanto, dx = cosh u du e,


lembrando que cosh u = 1 + senh2 u, temos

1 cosh u du
Z Z
√ dx = =u+C
1 + x2 cosh u
= arcsenh x + C
√ 
= ln x + 1 + x2 + C.
144 Matemática Universitária

Z √
Exemplo 3.4.12: Considere a integral x2 − 1 dx em que x ≥ 1.

Com a substituição trigonométrica, vimos a sua resolução no exemplo


3.4.4, após mudar para a variável u. Temos que
Z √
x√ 2 1 √
x2 − 1 dx = x − 1 − ln |x + x2 − 1| + C
2 2
x√ 2 1 √ 
= x − 1 − ln x + x2 − 1 + C. (pois x ≥ 1)
2 2

Usando as identidades das funções hiperbólicas,


√ façamos x = cosh u,
u ≥ 0, então dx = senh u du e, como x2 − 1 = senh u, temos
Z √ 2
eu − e−u
Z Z 
x2 − 1 dx = senh2 u du = du
2
1 1
Z
= (e2u − 2 + e−2u ) du = (e2u − 4u − e−2u ) + C.
4 8
Como cosh u + senh u = eu e cosh u − senh u = e−u , temos que
1 2u 1
(e − 4u − e−2u ) = (senh u + cosh u)2 − 4u − (cosh u − senh u)2

8 8
1  senh u cosh u u
= 4 senh u cosh u − 4u = − .
8 2 2
Concluímos que
Z √ √
x x2 − 1 1
x2 − 1 = − arccosh x + C
2 2

x x2 − 1 1 √
= − ln(x + x2 − 1) + C.
2 2
Z
É possível resolver a integral senh2 u du via integração por partes em
cosh u − 1
que f (u) = senh u = g 0 (u) ou via fórmula senh2 u = . Es-
Z 2
sencialmente, é a mesma forma que se resolve a integral sen2 u du.
Renan Lima 145

Exercícios

1. Calcule as integrais abaixo.


x2 dx x2 dx dx
Z Z Z
a) b) √ c)
(1 + x2 )3/2 1 − x2 (x2 + 4)2
dx dx dx
Z Z Z
d) e) √ f) √
(x2 − 1)3/2 x2 − 9 9x2 + 4
Z √
x dx dx
Z Z
g) √ h) i) x2 − 4x + 8 dx
x − 2x + 5
2 x(x2 + 4)
dx 5 dx
Z Z Z
j) k) l) sec x dx
3 − cos x 3 sen x + 4 cos x

2. Faça a substituição x = y n para n adequado.



dx dx x
Z Z Z
a) √ b) √ √ c) √ dx
1+ x3 4
x+ x 1+ 3x

Respostas

Exercício 1
√ x
a) ln(x + x2 + 1) − √ +C
x2+1

arcsen x − x 1 − x2
b) +C
2
  x 
1 2x
c) + arctg +C
16 x2 + 4 2
x
d) − √ +C
x2 − 1

e) ln |x + x2 − 9| + C
 
1 3x
f) arcsenh +C
3 2
√ x−1
 
g) x2 − 2x + 5 + arcsenh +C
2
146 Matemática Universitária

ln |x| ln(x2 + 4)
h) − +C
4 8

(x − 2) x2 − 4x + 8 x−2
 
i) + 2 arcsenh +C
2 2
√ √
2  x 
j) · arctg 2 tg +C
2 2
x x
k) ln 1 + 2 tg − ln tg −2 +C
2 2
x
tg +1
l) ln 2
x +C
tg −1
2

Exercício 2

3x2/3 √ √
a) − 3 3 x + 3 ln | 3 x + 1| + C
2
√ √ √
b) 2 x − 4 4 x + 4 ln( 4 x + 1) + C
√ √
6x 6 x 6 6 x5 √ √ √
c) − + 2 x − 6 6 x + 6 arctg( 6 x) + C
7 5
Renan Lima 147

3.5 O Teorema de Liouville

Com as técnicas de integração desenvolvidas nas seções anteriores, o


leitor deve ter reparado alguns pequenos padrões na resposta final, tais
como, se integrarmos uma função do tipo P (x)ex , com P polinômio, então
espera-se que a resposta final deve ser da forma Q(x).ex + C , em que
Q(x) é outro polinômio. Da mesma forma, se integrarmos funções que
aparecem senos e cossenos, espera-se que a integral também tenha senos
e cossenos na sua expressão. Vimos no exemplo 2.5.6 que

−e2x cos x + 2e2x sen x


Z
e2x sen x dx = + C.
5

Vamos fazer mais um exemplo e de certa forma verificar que temos


algum padrão na fórmula de integral.
Z
Exemplo 3.5.1: Vamos calcular x sen(ln x) dx. Considere a substitui-
1
ção u = ln x, então du = dx e, portanto, dx = x du = eu du. Daí,
x
Z Z Z
x sen(ln x) dx = e (sen u) e du = e2u sen u du
u u

−e2u cos u + 2e2u sen u


= +C
5
−x2 cos(ln x) + 2x2 sen(ln x)
= + C.
5

Note que na fórmula final aparecem as expressões trigonométricas,


com o mesmo argumento ln x, e multiplicadas por polinômios. Note ainda
que a resolução da integral acima não é óbvia, onde utilizamos uma subs-
tituição mágica.
Avisamos que também é possível resolver o exemplo acima utilizando
apenas integral por partes.

Antes de continuar a leitura, propomos que o leitor tente resolver dois


exercícios de integração, a saber.

x−1 x
Z Z  
−x2
1. e dx, 2. e dx.
x2
148 Matemática Universitária

O primeiro exemplo é uma pequena adaptação da Integral Gaussiana,


que também é conhecida como a Integral de Euler-Poisson. Esta in-
tegral aparece com frequência na área de estatística e probabilidade e,
portanto, é bastante aplicada na Mecânica Quântica e Mecânica Estatís-
tica.
O segundo exemplo é artificial e está sendo usado apenas para fins di-
dáticos.

Recomendamos a nossa videoaula Funções que não possuem Primiti-


vas Elementares. Neste vídeo, há uma pequena imprecisão para os objeti-
vos desta seção, pois funções definidas por partes não serão consideradas
funções elementares.
Uma função é dita racional se ela pode ser escrita como fração de po-
linômios. Dizemos que uma função possui expressão algébrica se ela pode
ser obtida via operações de soma, subtração, multiplicação, divisão, com-
posição e raízes enésimas de polinômios. Por exemplo, todas as funções
abaixo possuem expressões algébricas.

√ x2 + 3x − 2 x+1
f (x) = x2 + 1, f (x) = , f (x) = √ .
x4 + 2 3
x3 + 2

Sabemos que se f (x) admite expressão algébrica, então a sua derivada


f 0 (x) possui expressão algébrica, mas não vale a recíproca. Por exemplo,

x ln(x2 + 1)
Z
dx = + C.
x2 + 1 2

Uma função é dita ter expressão elementar se ela pode ser obtida via
adição, multiplicação, divisão e composição de funções algébricas, trigo-
nométricas e suas inversas, exponenciais e logarítmicas. São exemplos de
funções com expressão elementar

ln x 4
x cos x · esen x
f (x) = arctg(ln x), f (x) = , f (x) = √ .
sen2 (ex ) 3
x2 + 1

O enunciado geral do teorema de Liouville está fora do escopo do livro


e enunciaremos um caso particular. Como a demonstração utiliza estrutu-
ras algébricas tais como extensão de corpos, a demonstração deste teorema
será omitida neste livro.
Renan Lima 149

Teorema 3.5.2: Teorema de Liouville

Seja f (x) = P (x)eQ(x) , em que P e Q são funções racionais. Se f (x) é


uma função que possui primitiva elementar, então existe R(x) função
racional tal que
Z
P (x)eQ(x) dx = R(x)eQ(x) + C.

Para aplicar o teorema 3.5.2, precisaremos, extensivamente, do algo-


ritmo de divisão de polinômios. Faremos uma breve revisão de polinô-
mios e recomendamos assistir à nossa videoaula [Revisão] - Divisão de
Polinômios.
Um polinômio P (x) de grau n é dado pela expressão
P (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , em que an 6= 0.
Dizemos que P (x) é um polinômio mônico se an = 1.

Teorema de D’Alembert

Se P (x) um polinômio de grau n e α é raiz de P (x), então existe um


polinômio Q(x) de grau n − 1 tal que P (x) = (x − α) · Q(x).

O teorema de D’Alembert é um teorema de álgebra/algoritmo de com-


putação, então é válido para α ∈ C, mas exige apenas que Q(x) pos-
sua coeficientes complexos. Se P (x) é polinômio com coeficientes reais
e α ∈ C − R é raiz de P (x), então α é raiz de P (x). Ao aplicarmos duas
vezes o teorema de D’Alembert, obtemos P (x) = (x − α)(x − α)Q(x).

Escreva α = a + bi com a, b ∈ R e i = −1 a unidade imaginária.
Temos que α = a − bi, e, portanto,
P (x) = (x − α)(x − α)Q(x) = x2 − 2ax + (a2 + b2 ) Q(x).


Mais ainda, pelo algoritmo de divisão, temos que Q(x) tem coeficien-
tes reais.
Seja α ∈ C raiz de P (x). Dizemos que α é raiz de multiplicidade r se
existe um polinômio Q(x), com Q(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r Q(x). O
teorema fundamental da álgebra diz que se P (x) tem grau n, então P (x)
admite exatamente n raízes complexas, contadas com multiplicidade. Va-
mos precisar de alguns resultados básicos.
150 Matemática Universitária

Teorema 3.5.3: Consequências da Divisão de Polinômios

Sejam P (x) e Q(x) polinômios com coeficientes reais e α ∈ C uma


raiz de multiplicidade r do polinômio P (x), então

  
1. grau P (x) · Q(x) = grau P (x) + grau Q(x) .

2. α é raiz de multiplicidade de r − 1 do polinômio P 0 (x).

3. Existem R(x) e S(x) polinômios com coeficientes reais, sem raí-


P (x) R(x)
zes em comum, com S(x) mônico, tais que = .
Q(x) S(x)

Demonstração:
1. Escreva

P (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0


Q(x) = bm xm + bm−1 xm−1 + · · · + b0

com an , bm 6= 0. Multiplicando os dois polinômios, temos que

P (x) · Q(x) = an bm xn+m + termos de grau ≤ n + m − 1 .




Como an bm 6= 0, temos que


  
grau P (x) · Q(x) = n + m = grau P (x) + grau Q(x) .

2. Seja α raiz de multiplicidade r de P (x). Então, por definição, existe


R(x) polinômio com R(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r R(x). Deri-
vando, utilizando a regra do produto, temos

P 0 (x) = r(x − α)r−1 R(x) + (x − α)r R0 (x)


= (x − α)r−1 rR(x) + (x − α)R0 (x)


= (x − α)r−1 S(x),

onde S(x) = rR(x) + (x − α)R0 (x). Note que S(α) = rR(α) 6= 0 e isso
mostra que P 0 (x) possui α com raiz de multiplicidade r − 1.
Renan Lima 151

3. Suponha que P (x) e Q(x) possuem uma raiz em comum α. Se α é real,


podemos escrever P (x) = (x − α)P1 (x) e Q(x) = (x − α)Q1 (x). Logo
P (x) P1 (x)
= . Se α for complexa não real, então α é outra raiz de
Q(x) Q1 (x)
P (x) e, portanto,
P (x) = (x − α)(x − α)P1 (x)
Q(x) = (x − α)(x − α)Q1 (x)

P (x) P1 (x)
e temos que = . Em ambos os casos, construímos polinô-
Q(x) Q1 (x)
mios P1 e Q1 com coeficientes reais e com grau menor que P e Q tais
P (x) P1 (x)
que = .
Q(x) Q1 (x)
Se P1 (x) e Q1 (x) não possuem raiz em comum, então finalizamos o al-
goritmo. Caso contrário, repetimos o argumento do parágrafo anterior
e encontramos polinômios P2 (x) e Q2 (x) de graus menores que P1 e
P1 (x) P2 (x)
Q1 , respectivamente, e com coeficientes reais tais que = .
Q1 (x) Q2 (x)
Como o número de raízes em comum dos polinômios é finito, em al-
gum momento o algoritmo termina e encontramos polinômios R1 (x) e
P (x) R1 (x)
S1 (x) tais que = .
Q(x) S1 (x)
Escolha um número real k tal que S(x) = kS1 (x) seja um polinômio
P (x) R(x)
mônico e considere R(x) = kR1 (x). Temos, portanto, = .
Q(x) S(x)

O objetivo do próximo exemplo é para que o leitor verifique que a


solução da integral se torna praticamente um algoritmo. Fazer as devidas
comparações com grau de polinômio costuma ser uma tarefa tediosa e é
fácil errar alguma conta.
x−1 x
Z  
Exemplo 3.5.4: Considere e dx. Se a integral possui primi-
x2
tiva elementar, pelo teorema de Liouville e pelo teorema 3.5.3, existem
P (x) e Q(x) polinômios sem raízes em comum e Q(x) mônico, tais que
0
P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) x P (x) x
  
x−1 P (x) x
ex = e = ·e + ·e
x2 Q(x) (Q(x))2 Q(x)

P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x) x


= ·e .
(Q(x))2
152 Matemática Universitária

Logo, temos que

(x − 1)Q2 (x) = x2 (P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x)).

Passando as expressões com Q(x) para o lado esquerdo da equação


acima, obtemos

Q(x) (x − 1)Q(x) − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −x2 P (x)Q0 (x).



(3.2)

Suponha que Q(x) admita uma raiz α ∈ C tal que α 6= 0 e seja r sua
multiplicidade. Então α é raiz com multiplicidade pelo menos r do
polinômio do lado esquerdo da equação 3.2. Pelo item 2 do teorema
3.5.3 e, pelo fato de P (α) 6= 0, temos que α é raiz de multiplicidade
r − 1 de −x2 P (x)Q0 (x), que é o lado direito da equação 3.2. Absurdo!
Isto mostra que α = 0 é o único candidato a raiz de Q(x). Pelo fato de
Q(x) ser mônico, temos que Q(x) = xn para algum n ≥ 0. Substituindo
na equação 3.2, temos

xn (x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −nxn+1 P (x).




Portanto,

(x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −nxP (x). (3.3)

Como P (0) 6= 0, temos que α = 0 é raiz de −xP (x) com multiplici-


dade 1. Olhando a parte esquerda da equação 3.3, concluímos imedia-
tamente que n = 1. Finalmente, dividindo a equação 3.2 por x, temos

x − 1 − xP 0 (x) − xP (x) = −P (x).

Daí,
P (x)(x − 1) = x − 1 − xP 0 (x). (3.4)
Suponha que grau(P (x)) = n ≥ 1, então o lado esquerdo da equação
3.4 tem grau n + 1 e o lado direito tem grau n. Um absurdo.
Logo P (x) tem grau 0 e, portanto, é constante igual a k . Substituindo
P (x) = k na equação 3.4, temos k(x − 1) = x − 1 e, portanto, k = 1.
Provamos que P (x) = 1, Q(x) = x e, daí,

x−1 x ex
Z  
e dx = + C.
x2 x
Renan Lima 153

Sugerimos o leitor utilizar softwares para o cálculo da integral acima


e, caso o software permita, solicite a solução passo a passo.

Teorema 3.5.5
Z
Seja p(x) um polinômio de grau ≥ 2, então ep(x) dx não possui ex-
pressão elementar.

Demonstração:
Z
Suponha que ep(x) dx possua expressão elementar, então, pelo teorema
de Liouville, existem polinômios R(x) e S(x), sem raízes em comum e
S(x) mônico tais que
 0
R(x) p(x)
ep(x) = e .
S(x)

Derivando a expressão da direita, temos que

R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) p(x) R(x) 0


ep(x) = e + · p (x)ep(x) .
S 2 (x) S(x)

Eliminando o termo de ep(x) e desenvolvendo as contas, temos que

S 2 (x) = R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) + R(x)S(x)p0 (x).

Reorganizando os termos que aparece S(x) em um lado, temos que

S(x) · R0 (x) + R(x)p0 (x) − S(x) = R(x)S 0 (x).



(3.5)

Suponha que grau(S(x)) > 0, então, pelo teorema fundamental da álge-


bra, S(x) possui raiz α ∈ C de multiplicidade r > 0. Por outro lado, α
não é raiz R(x) e α é raiz de S 0 (x) de multiplicidade r − 1. Analisando a
equação 3.5, concluímos que α é raiz do polinômio à direita da igualdade
com multiplicidade r − 1 e α é raiz com multiplicidade pelo menos r do
lado esquerdo da igualdade.
Isso mostra que grau (S(x)) = 0 e, portanto, S(x) é uma função cons-
tante. Como S(x) é mônico, então S(x) = 1 para todo x. Substituindo na
154 Matemática Universitária

equação 3.5, temos que

R(x)p0 (x) = −1 − R0 (x).

E a igualdade é impossível, pois

grau(R(x)p0 (x)) = grau(R(x)) + grau (p0 (x)) > grau(1 − R0 (x)).

Na última desigualdade, precisamos utilizar que grau p0 (x) ≥ 1 para




evitar o caso em que R(x) é constante.Z Temos, portanto, uma contradi-


ção. Logo, a única possibilidade é que ep(x) dx não é uma função com
expressão elementar!

O teorema afirma, em Zparticular, que não existe expressão elementar


x
2
para a Integral Gaussiana e−t dt.
0

A função Integral Gaussiana está bem definida! Ela é a função área sob
2
a curva da função f (t) = e−t . O que foi provado é que esta função não
possui expressão elementar. Em outras palavras, é uma nova fórmula!

O teorema de Liouville (caso geral) é importante para a implementa-


ção de sistema de computação simbólica para a resolução de integrais. O
resultado mais robusto que temos hoje é o método de Risch, que é um
algoritmo de tomada de decisão se uma determinada função possui (ou
não) primitiva elementar e fornece a resposta final.
A implementação deste método é bastante complicada e é usado em
vários aplicativos, tais como Wolfram, ZMaple, WxMaxima, Sage (com o
x−1 x ex
 
pacote Simpy). Todos encontraram que e dx = + C.
x2 x
É possível ainda enganar o computador com substituições complica-
das. Dependendo do software utilizado, ele pode não resolver
Z q
(x cos x + sen x) 1 + (x sen x)2 dx,

tal integral é resolvida com a substituição u = x sen x.


Reiteramos que o teorema de Liouville é muito mais geral que con-
tado aqui e é um resultado que utiliza argumentos algébricos
√ e, portanto,
é interessante que trabalhe em C ao invés de R. Seja i = −1 a unidade
Renan Lima 155

imaginária, então para todo x ∈ R, temos as seguintes identidades, desco-


bertas por Euler:

eix − e−ix
eix = sen x + i cos x, sen x = ,
2i
eix + e−ix
 
1 1 + ix
cos x = , arctg x = ln .
2 2i 1 − ix
1 1 1
Note que = + , e, portanto, a fórmula abaixo
1+x 2 2(1 + ix) 2(1 − ix)
nos fornece algum padrão que não pode ser visto se olharmos apenas para
o conjunto dos números reais.

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C.
2


Z Z
Como i = −1 é constante, temos if (x) dx = i f (x) dx.
Z
Exemplo 3.5.6: Vamos calcular e2x sen x dx com as fórmulas de Euler.
Temos
ix −ix
2x e − e 1
Z Z Z
2x
e(2+i)x − e(2−i)x dx

e sen x dx = e · dx =
2i 2i
 (2+i)x
e(2−i)x

1 e
= − +C
2i 2 + i 2−i
e2x (2 − i)eix − (2 + i)e−ix
 
= +C
2i 5
e2x  ix
· 2(e − e−ix ) − i(eix + e−ix ) + C

=
10i
e2x
= · [4i sen x − 2i cos x] + C
10i
2e2x sen x − e2x cos x
= + C.
5

Esperamos que o leitor note a similaridade entre as funções hiperbóli-


cas vistas na seção 3.4 e as funções trigonométricas. Finalizamos a seção
aproveitando o teorema 3.5.3 e provamos o teorema das frações parciais.
156 Matemática Universitária

Teorema 3.5.7: Frações Parciais

Sejam P (x) e Q1 (x) polinômios com coeficientes complexos e α ∈ C


satisfazendo Q1 (α) 6= 0. Então existem A1 , · · · , Am ∈ C e um polinô-
mio P1 (x) tais que

P (x) A1 Am P1 (x)
= + ··· + + . (3.6)
(x − α) Q1 (x)
m x−α (x − α) m Q1 (x)

Se os polinômios P e Q1 tenham coeficientes reais e α ∈ R, então


Ai ∈ R e P1 (x) tem coeficientes reais.

Demonstração:
A demonstração do resultado geral se encontra na videoaula Demonstra-
ção das Frações Parciais. Vamos fazer uma demonstração alternativa.
P (α)
Seja Am = e defina F (x) = P (x) − Am · Q1 (x).
Q1 (α)
Temos que F (α) = 0 e pelo teorema de D’Alembert, existe um polinômio
Pm (x) tal que F (x) = Pm (x).(x − α). Daí,

P (x) = Am · Q1 (x) + F (x) = Am · Q1 (x) + Pm (x)(x − α).

Daí,
P (x) Am Q1 (x) Pm (x)(x − α)
= +
(x − α) Q1 (x)
m (x − α) Q1 (x) (x − α)m Q1 (x)
m

Am Pm (x)
= + .
(x − α) m (x − α)m−1 Q1 (x)
Note que se P (x), Q1 (x) possuem coeficientes reais e se α ∈ R, então
Am ∈ R e Pm (x) possui coeficientes reais. Utilizando o mesmo argumento
Pm (x)
para a fração , encontramos Am−1 ∈ C e um polinômio
(x − α)m−1 Q1 (x)
Pm−1 (x) tais que

Pm (x) Am−1 Pm−1 (x)


= + .
(x − α) m−1 Q1 (x) (x − α) m−1 (x − α)m−2 Q1 (x)
Daí,
P (x) Am−1 Am Pm−1 (x)
= + + .
(x − α)m Q1 (x) (x − α)m−1 (x − α)m (x − α)m−2 Q1 (x)
Renan Lima 157

Novamente, se tudo estiver no domínio dos reais, então Am−1 ∈ R e


Pm−1 (x) possui coeficientes reais. Com um simples argumento de indu-
ção, encontramos A1 , · · · , Am e um polinômio P1 (x) tais que
P (x) A1 Am P1 (x)
= + ··· + + .
(x − α)m Q1 (x) x−α (x − α)m Q1 (x)

Corolário 3.5.8

Na notação do teorema 3.5.7, se grau(P (x)) < m+ grau(Q1 (x)), então


grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).

Demonstração:
Suponha que grau(P1 (x)) ≥ grau(Q1 (x)), então multiplicando a equação
3.6 por (x − α)m · Q1 (x), temos que

P (x) = A1 (x − α)m−1 Q1 (x) + A2 (x − α)m−2 Q1 (x) + . . . +


+ Am .Q1 (x) + (x − α)m P1 (x).

Como grau((x − α)m P1 (x)) = m + grau(P1 (x)) ≥ m + grau(Q(x)) e


como os outros polinômios que aparecem no lado direito do somatório
acima tem grau, no máximo, (m − 1) + grau(Q1 (x)), concluimos que

grau(P (x)) ≥ m + grau(Q1 (x)).

Uma contradição. Logo grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).

Corolário 3.5.9

Na notação do teorema 3.5.7, se P (x) e Q1 (x) são polinômios com


coeficientes reais e suponha que as duas raízes de x2 + ax + b, com
a, b ∈ R sejam raízes complexas e não reais. Então existem A, B ∈ R e
polinômio P1 (x) com coeficientes reais tais que
P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x + ax + b) Q1 (x)
158 Matemática Universitária

Demonstração:
Escreva x2 + ax + b = (x − α)(x − α), em que α ∈ C − R. Aplicando
duas vezes o teorema 3.5.7, existem C, D ∈ C e um polinômio P1 (x) com
coeficientes complexos tais que

P (x) C D P1 (x)
= + +
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x − α) (x − α) Q1 (x)
C(x − α) + D(x − α) P1 (x)
= + .
x2 + ax + b Q1 (x)

Multiplicando a equação acima por

(x2 + ax + b)Q1 (x) = (x − α).(x − α)Q1 (x),

temos a seguinte igualdade entre polinômios,

P (x) = C(x − α)Q1 (x) + D(x − α)Q1 (x) + (x2 + ax + b)P1 (x).

P (α)
Fazendo x = α, temos que C = e, analogamente, temos
(α − α)Q1 (α)
P (α)
que D = = C . A última igualdade decorre do fato de os
(α − α)Q1 (α)
polinômios P (x) e Q1 (x) possuírem coeficientes reais.
Finalmente, tome A = C + C e B = −C · α − C · α. Utilizando as
propriedades de números complexos, temos que A = A e B = B . Logo
A, B ∈ R e, portanto,

P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) x + ax + b Q1 (x)

Não é difícil concluir que P1 (x) possui coeficientes reais.

O caso geral, em que o denominador é da forma (x2 + ax + b)m Q1 (x),


não é uma consequência direta do teorema 3.5.7, mas é possível também
adaptar a argumentação da demostração desse teorema e provar esse
caso. Outro jeito é utilizar o resultado da videoaula Demonstração das
Frações Parciais, combinado com a divisão Euclidiana.
Renan Lima 159

Exercícios

1. Encontre a primitiva das funções abaixo.


Z −x
x + 1 −x e (−2x2 + x + 6)
Z
a) e dx b) dx
x2 x3
2
(−8x3 + 10x2 + 5)e−x
Z Z
−x2 3 2
c) e (−2x − 6x + 3) dx d) dx
x2

(x − k)ex
Z
2. Se k 6= 1, mostre que dx não possui primitiva elementar.
x2

Z
3. Se P (x) e Q(x) são polinômios e se P (x)eQ(x) dx possui expressão
elementar, então ela é da forma R(x)eQ(x) , Zem que R(x) é polinômio.
Conclua que se grau (Q) ≥ grau (P ), então P (x)eQ(x) dx não possui
expressão elementar.

ex
Z
4. Se P (x) é um polinômio não constante, mostre que dx não pos-
P (x)
sui primitiva elementar.

dx
Z Z Z
ex
5. Mostre que as integrais e dx, e ex ln x dx não possuem
ln x
primitivas elementares.


6. Sejam a, b, ∈ R e P (x) polinômio com grau P (x) < 2m e de coefici-
entes reais. Mostre que existem A1 , B1 , · · · , Am , Bm ∈ R tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B 2 Am x + B m
= 2 + 2 +. . .+ 2 .
(x2 + ax + b)m x + ax + b (x + ax + b) 2 (x + ax + b)m

Respostas

Sugerimos o uso de softwares para a verificação de suas respostas.


160 Matemática Universitária

3.A Integral - o Método de Darboux

Nesta seção, será exposto, de forma rigorosa, a definição de integral


como o limite de um somatório. Vimos na seção 2.7 uma definição sim-
plificada de Soma de Riemann em que subdividimos os intervalos em
pedaços iguais. É possível desenvolver a teoria de integração via soma
de Riemann, mas vamos abordar um método mais simplificado, devido a
Darboux, sobre a definição de integral. A motivação do método de Dar-
boux pode ser encontrada na aula Introdução com Física ao Conceito de
Integral.
Apesar disso, é bastante provável que o excesso de notação traga bas-
tante dificuldades a alunos em primeiro contato com a versão rigorosa de
integral e não há problema algum em entender apenas as duas primeiras
páginas e aceitar os resultados básicos desta seção (por exemplo, integral
da soma é a soma da integral). Pode ser interessante também estudar a
seção seguinte, que acreditamos ser mais amigável.
Para evitarmos algumas tecnicalidades, supomos que f : [a, b] → R
é contínua, mas deixamos claro que toda parte básica da definição pode
ser obtida supondo que f é uma função limitada e não necessariamente
contínua.

Definição 3.A.1: Partição

Uma partição P em n pedaços do intervalo [a, b] é um conjunto de


n + 1 pontos, no qual um deles é o ponto a e o outro deles é o ponto b.

Escrevemos P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} em que x0 < x1 < . . . < xn


e ∆xi = xi − xi−1 . A partição P define n subintervalos Ri = [xi−1 , xi ]
e o comprimento do intervalo Ri é ∆xi . Dizemos que a partição P de n
b−a
pedaços é regular se ∆xi = para todo i = 1, · · · , n.
n
Do ponto de vista teórico, apesar da notação ficar bem mais carregada,
é interessante que a partição não seja necessariamente regular. Por exem-
plo, dados f : [a, b] → R e c ∈ (a, b), a igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c

fica bem mais simples de ser demonstrada a ponto de valer a pena esse
esforço inicial.
Renan Lima 161

Definição 3.A.2: Soma Superior e Soma Inferior

Sejam f : [a, b] → R função contínua e P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b}


partição de [a, b].
Para cada intervalo Ri = [xi−1 , xi ], sejam mi e Mi o menor e o maior
valor, respectivamente, de f em Ri . A soma superior S(f, P) e a soma
inferior s(f, P) são definidas por
n
X n
X
S(f, P) = Mi ∆xi , s(f, P) = mi ∆xi ,
i=1 i=1

em que ∆xi = xi − xi−1 .

Note que o teorema de Weierstrass (ver teorema 2.2.5) garante as exis-


tências de Mi e mi . Além disso, como mi ∆xi ≤ Mi ∆xi para todo i, temos
que s(f, P) ≤ S(f, P). Precisaremos de um refinamento dessa desigual-
dade.

Teorema 3.A.3

Na notação desta seção, se P ⊆ Q, então

s(f, P) ≤ s(f, Q) e S(f, P) ≥ S(f, Q).

Em particular, se P ⊆ Q, então S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P).

Demonstração:
Vamos provar que s(f, P) ≤ s(f, Q). A outra desigualdade é análoga.
Faremos, inicialmente, o caso em que Q contém apenas um ponto a mais
e tal ponto esteja entre xk−1 e xk , isto é,

P = {x0 = a, x1 , · · · , xn },
Q = {x0 = a, x1 , · · · , xk−1 , t, xk , · · · , xn }.

Sejam m0 e m00 o mínimo global de f nos intervalos [xk−1 , t] e [t, xk ], res-


pectivamente. Como mk é o mínimo global de f em [xk−1 , xk ], então, te-
mos que mk ≤ m0 e mk ≤ m00 . Daí,

mk ∆xk = mk (xk − xk−1 ) = mk (xk − t) + mk (t − xk−1 )


≤ m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 ).
162 Matemática Universitária

Como s(f, Q) − s(f, P) = m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 ) − mk ∆xk ≥ 0,


concluímos que s(f, Q) ≥ s(f, P).
Para o caso geral, supomos que Q − P = {t1 , · · · , tk }, isto é, Q possui k
elementos a mais que P . Defina P1 = P ∪ {t1 }, P2 = P1 ∪ {t2 } e assim
sucessivamente, até termos Pk = Q.
Criamos uma sequência de partições P, P1 , P2 , · · · , Pk = Q em que Pj+1
possui um ponto a mais de Pj . Pelo que foi provado no item anterior,
temos
s(f, P) ≤ s(f, P1 ) ≤ s(f, P2 ) ≤ . . . ≤ s(f, Q).

Para a desigualdade S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P), basta ver que
 
S(f, P)−s(f, P) − S(f, Q)−s(f, Q) = [S(f, P)−S(f, Q)]+[s(f, Q)−s(f, P)]

e perceber que os termos dentro dos colchetes da igualdade da direita são


positivos.

Corolário 3.A.4

Se P e R são duas partições de [a, b], então s(f, P) ≤ S(f, R).

Demonstração:
Seja Q = P ∪ R. Como P ⊆ Q e R ⊆ Q, então, pelo teorema 3.A.3, temos
que
s(f, P) ≤ s(f, Q) ≤ S(f, Q) ≤ S(f, R).

No próximo teorema, usaremos que se P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b}


n
X
é partição de [a, b] e ∆xi = xi − xi−1 , então ∆xi = (b − a).
i=1

Teorema 3.A.5

Sejam f : [a, b] → R função e m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para


todo x ∈ [a, b]. Se P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de
[a, b], então

m(b − a) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ M (b − a).


Renan Lima 163

Demonstração:
n
X
Escreva s(f, P) = mi ∆xi , onde mi é o menor valor de f em [xi−1 , xi ] e
i=1
∆xi = xi − xi−1 . Temos, por hipótese que m ≤ mi para todo i e, portanto,
n
X n
X n
X
m(b − a) = m · ∆xi = m∆xi ≤ mi ∆xi = s(f, P).
i=1 i=1 i=1

A demonstração S(f, P) ≤ M (b−a) é análoga e deixamos como exercício.

Considere X = {s(f, P) / P partição de [a, b]}. Pelo teorema 3.A.5,


X é um conjunto limitado superiormente e, portanto, admite o supremo
sup X (sugerimos a videoaula Axioma do Supremo). Analogamente, o
conjunto Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]} é limitado inferiormente e,
portanto, existe inf Y . Sugerimos a videoaula Axioma do Ínfimo.

A construção da teoria de integração via o método de Darboux pode ser


feita supondo que f : [a, b] → R seja apenas uma função limitada, com
n
X Xn
S(f, P) = Mi ∆xi e s(f, P) = mi ∆xi , em que
i=1 i−1

Mi = sup{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]},


mi = inf{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]}.

Definição 3.A.6: Integral Superior e Inferior

Seja f : [a, b] → R função limitada. Definimos a integral superior por


Z b 
f (x) dx = inf S(f, P) / P partição de [a, b]
a

Analogamente, a integral inferior é o supremo da soma inferior, isto é,


Z b 
f (x) dx = sup s(f, P) / P partição de [a, b]
a
164 Matemática Universitária

Definição 3.A.7: Funções Integráveis


Z b Z b
Dizemos que f é integrável se f (x) dx = f (x) dx. Neste caso,
a a
denotamos
Z b Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = f (x) dx.
a a a

Se f é integrável, então para toda partição P de [a, b], temos


Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P),
a

Z b
mais ainda f (x) dx é o único número com tal propriedade.
a

Com a definição de integral superior e integral inferior, as proprieda-


des de integrais são consequências diretas de estudos iniciais de um curso
padrão de análise na reta. Para alguns exercícios iniciais do Axioma do
Supremo, sugerimos a videoaula Exercícios Teóricos do Axioma do Su-
premo.

Teorema 3.A.8

Sejam X, Y ⊆ R conjuntos limitados não vazios tais que para todo


x ∈ X e para todo y ∈ Y , tem-se x ≤ y , então sup X ≤ inf Y .

Demonstração:
Se provarmos que b = inf Y é uma cota superior do conjunto X , então
como sup X é a menor cota superior, temos que sup X ≤ inf Y .
Supomos que b não é cota superior de X . Então existe x ∈ X tal que b < x.
Como b = inf Y é a maior cota inferior de Y , então x não é conta inferior
de Y e, portanto, existe y ∈ Y tal que y < x.
Isto contraria a hipótese dos conjuntos X e Y .
Renan Lima 165

Corolário 3.A.9
Z b Z b
Se f : [a, b] → R função limitada, então f (x) dx ≤ f (x) dx.
a a

Demonstração:
Defina os conjuntos X e Y por

X = s(f, P) / P partição de [a, b] ,

Y = S(f, P) / P partição de [a, b] .

temos que X e Y são não vazios, o corolário 3.A.4 diz que para todo x ∈ X
e y ∈ Y , tem-se x ≤ y e pelo teorema 3.A.8, temos
Z b Z b
f (x) dx = sup X ≤ inf Y = f (x) dx.
a a

Teorema 3.A.10

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios tais que para todo x ∈ X e


todo y ∈ Y , tem-se x ≤ y . São equivalentes

1. sup X = inf Y .

2. Para todo ε > 0, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que y − x < ε.

Demonstração:
ε
(1. ⇒ 2.) Supomos que sup X = inf Y = b. Dado ε > 0, então b − não é
2
ε
cota superior de X e, portanto, existe x ∈ X tal que b − < x.
2
ε
Analogamente, b + não é cota inferior de Y e, portanto, existe y ∈ Y tal
2
ε
.
que y < b + Logo temos que
2
ε ε
b− <x≤y <b+ .
2 2
166 Matemática Universitária

Daí,  ε  ε
y−x< b+ − b− = ε.
2 2

(2. ⇒ 1.) Pelo teorema 3.A.8, tem-se sup X ≤ inf Y . Supomos, por ab-
surdo, que sup X < inf Y e tome ε = inf Y − sup X > 0. Então dados
x ∈ X e y ∈ Y , temos que x ≤ sup X < inf Y ≤ y . Daí,

y − x ≥ inf Y − sup X = ε,

contrariando a hipótese de (2). Isso mostra que sup X = inf Y .

Corolário 3.A.11: Critério de Darboux para Integrabilidade

Seja f : [a, b] → R função limitada, então f é uma função integrável


em [a, b] se e somente para todo ε > 0, existe uma partição P de [a, b]
tal que
S(f, P) − s(f, P) < ε.

Demonstração:
Defina os conjuntos X e Y por

X = s(f, P) / P partição de [a, b] ,

Y = S(f, P) / P partição de [a, b] .

Suponha que f é integrável em [a, b], isto é, sup X = inf Y .


Dado ε > 0. Como x ≤ y para todo x ∈ X e y ∈ Y , pelo teorema 3.A.10,
existem partições Q e R do intervalo [a, b] tais que x = s(f, Q) ∈ X e
y = S(f, R) ∈ Y satisfazendo que y − x < ε. Tome P = Q ∪ R, então
Q ⊆ P e R ⊆ P . Pelo teorema 3.A.3, temos que

s(f, Q) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ S(f, R).

Daí,
S(f, P) − s(f, P) ≤ S(f, R) − s(f, Q) < ε.

Reciprocamente, suponha que para todo ε > 0, existam x = s(f, P) ∈ X


e y = S(f, P) ∈ Y tais que y − x < ε. Então, pelo teorema 3.A.10, temos
que sup X = inf Y e, portanto, f é integrável.
Renan Lima 167

Teorema 3.A.12

Suponha que A e X são conjuntos não vazios, limitados e A ⊆ X ,


então inf X ≤ inf A ≤ sup A ≤ sup X .
Além disso, suponha que para todo x ∈ X , exista a ∈ A tal que a ≥ x.
Então sup A = sup X .
Analogamente, se para todo x ∈ x, existe a ∈ A tal que a ≤ x, então
inf X = inf Y .

Demonstração:
Para demonstrar que inf X ≤ inf A, basta mostrar que β = inf X é cota
inferior de A.
Dado a ∈ A. Como A ⊆ X , temos que a ∈ X . Como β é cota inferior de
X , temos que β ≤ a e isso mostra que β é cota inferior de A.
Analogamente, é possível mostrar que sup X é cota superior de A.
Suponha que, além de A ⊆ X , tem-se também que para todo x ∈ X , existe
a ∈ A tal que a ≤ x. Seja β = inf X e dado ε > 0, vamos demonstrar que
β + ε não é cota inferior de A.
Como β + ε não é cota inferior de X , existe x ∈ X tal que x < β + ε. Por
hipótese, existe a ∈ A tal que a ≤ x e, portanto, β + ε não é cota inferior
de A. Utilizando que β é cota inferior de A, concluímos, por definição de
ínfimo, que β = inf A.
Se A ⊆ X e que para todo x ∈ X , existe a ∈ A com a ≥ x é possível
demonstrar de forma análoga que sup X = sup A.

Corolário 3.A.13

Sejam f : [a, b] → R função limitada e c ∈ (a, b). Defina



X = s(f, P) /P partição de [a, b]

A = s(f, P) / P partição de [a, b] com c ∈ P .

Então sup A = sup X .


O enunciado é análogo para as somas superiores.
168 Matemática Universitária

Demonstração:
Claramente temos que A ⊆ X . Além disso, dado x = s(f, P) ∈ X ,
considere Q = P ∪ {c} e a = s(f, Q) ∈ A, então, pelo teorema 3.A.3,
temos que x < a e, pelo teorema 3.A.12, concluímos que sup A = sup X .

Teorema 3.A.14

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios e defina

X + Y = {x + y /x ∈ X e y ∈ Y }.

Então X + Y é limitado e vale

sup(X + Y ) = sup X + sup Y


inf(X + Y ) = inf X + inf Y.

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada em Exercício 1 envolvendo o Su-
premo. Vamos reproduzi-la aqui.
Seja a = sup X e b = sup Y . Dado z ∈ X + Y , então, pela definição de
X + Y , existem x ∈ X e y ∈ Y tais que z = x + y . Como x ≤ a e y ≤ b,
temos que z ≤ a + b e isso mostra que a + b é cota superior de X + Y .
Precisamos provar que a + b é a menor cota superior de X + Y . Dado
ε ε
ε > 0, então a − e b − não são, respectivamente, cotas superiores de
2 2
X e Y e, portanto, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que
ε
a− < x ≤ a,
2
ε
b − < y ≤ b.
2
Somando as duas, temos que a + b − ε < x + y e, como x + y ∈ X + Y ,
temos que a + b − ε não é cota superior. Logo a + b é o supremo de X + Y ,
como queríamos demonstrar.
A demonstração que inf(X + Y ) = inf X + inf Y é análoga e é deixada
como exercício para o leitor.
Renan Lima 169

Corolário 3.A.15

Sejam f : [a, b] → R e c ∈ (a, b). Então f é integrável em [a, b] se e


somente se f é integrável [a, c] e em [c, b]. Mais ainda, vale a seguinte
igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Demonstração:
Se P1 e P2 são partições de [a, c] e [c, b] respectivamente, então P = P1 ∪P2
é partição de [a, b] e vale

s(f, P) = s(f, P1 ) + s(f, P2 )


S(f, P) = S(f, P1 ) + S(f, P2 ).

Defina os conjuntos X e Y por

X = {s(f, P1 ) / P1 partição de [a, c]},


Y = {s(f, P2 ) / P2 partição de [c, b]}.

Então X + Y = {s(f, P) / P é partição de [a, b] com c ∈ P}. Pelo corolário


3.A.13, temos Z b
sup(X + Y ) = f (x) dx.
a

Pelo teorema 3.A.14, concluímos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Analogamente, temos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Suponha que f é integrável em [a, b]. Então, pelas igualdades acimas, te-
mos
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c a c
170 Matemática Universitária

Z c Z c Z b Z b
Como f (x) dx ≤ f (x) dx e f (x) dx ≤ f (x) dx, a igualdade
a a c c
acima só é possível se f é integrável em ambos os intervalos [a, c] e [c, b].
Portanto, vale a fórmula
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Reciprocamente, se f é integrável em [a, c] e em [c, b], então


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c
Z c Z b Z b
= f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx.
a c a

Isto mostra que f é integrável em [a, b].

Por conta deste teorema, é interessante definir


Z a Z b
f (x) dx = − f (x) dx.
b a

Z b Z c Z b
Com esta definição, vale que f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c
mesmo para c > b ou c < a, desde que f seja integrável em todos os
intervalos considerados.

Teorema 3.A.16

Suponha que X ⊆ R é um conjunto limitado e não vazio e seja k ∈ R.


Defina kX = {kx / x ∈ X}, então

• Se k ≥ 0, então inf(kX) = k inf X e sup(kX) = k sup X .

• Se k < 0, então inf kX = k sup X e sup(kX) = k inf X .

Demonstração:
Vamos demonstrar apenas o caso que inf kX = k sup X se k < 0 e deixa-
remos os outros como exercício. Seja b = sup X . Vamos mostrar, primei-
ramente, que kb é cota inferior do conjunto kX .
Renan Lima 171

Dado y ∈ kX , então existe x ∈ X tal que y = kx. Como b é cota superior


de X , tem-se x ≤ b. Além disso, como k < 0, então y = kx ≥ kb e,
portanto, kb é cota inferior de kX .
Dado ε > 0. Vamos mostrar que kb + ε não é cota inferior de kX . Como
ε
k < 0, temos que b + < b não é cota superior de X e, portanto, existe
k
ε
x ∈ X tal que b + < x. Daí, kb + ε > kx e kx ∈ kX .
k

Corolário 3.A.17

Seja f : [a, b] → R função integrável e k ∈ R, então vale


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx.
a a

Demonstração:
Faremos apenas o caso k < 0 e deixaremos o caso k ≥ 0 como exercício.
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} partição do intervalo [a, b] e tome
mi = inf{f (x) /x ∈ [xi−1 , xi ]}. Então pelo teorema 3.A.16, temos que

kmi = sup{kf (x) / x ∈ [xi−1 , xi ]}.

Logo
S(kf, P) = ks(f, P).
Como esta igualdade é válida para qualquer partição P , concluímos, pelo
teorema 3.A.16
Z b Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx.
a a a

Z b Z b Z b
Analogamente, temos kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx. Logo
a a a

Z b Z b Z b
kf (x) dx = kf (x) dx = k f (x) dx.
a a a
172 Matemática Universitária

Teorema 3.A.18: Integrabilidade da Soma

Sejam f, g : [a, b] → R funções integráveis em [a, b], então f + g é


integrável em [a, b] e vale
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a

Demonstração:
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b] e defina

mi = inf{f (x) + g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },


m0i = inf{f (x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },
m00i = inf{g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi }.

Defina, da mesma forma, os valores de Mi , Mi0 e Mi00 . É fácil se convencer


que

mi ≥ m0i + m00i e Mi ≤ Mi0 + Mi00 .

O motivo de não valer necessariamente a igualdade é porque não temos


garantia que os mínimos de f e de g ocorrem exatamente no mesmo ponto
x0 . Portanto, temos que

s(f, P) + s(g, P) ≤ s(f + g, P),


S(f, P) + S(g, P) ≥ S(f + g, P).

Vamos organizar a escrita para aplicar os resultados anteriores da seção.


Defina:

X = s(f, P) / P partição de [a, b] ,

Y = s(g, P) / P partição de [a, b] ,

Z = s(f + g, P) / P partição de [a, b] .

Foi provado que para cada a ∈ X + Y , existe um z ∈ Z tal que a ≤ z . É


fácil concluir que
sup(X + Y ) ≤ sup Z.
Renan Lima 173

Finalmente, pelo teorema 3.A.14, temos que


Z b Z b Z b 
f (x) dx + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx.
a a a

Analogamente, prova-se que


Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a

Escreva Z b Z b
I= f (x) dx + g(x) dx.
a a

Como f e g são funções integráveis, provamos que


Z b 
Z b 
I≤ f (x) + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx ≤ I.
a a

Logo,
Z b 
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a a
174 Matemática Universitária

Exercícios

1. Seja X ⊂ R conjunto não vazio e limitado superiormente. Defina


−X = {−x; x ∈ X}. Mostre que −X é limitado inferiormente e vale
sup X = − inf(−X).

2. Seja f : [a, b] → R função c. Mostre na definição que f é integrável e


vale Z b
c dx = c(b − a).
a

3. Mostre que a função



0, se x ∈ Q
f (x) =
1, se x 6∈ Q

não é integrável em [0, 1].

4. Mostre na definição que a função f (x) = x é integrável em [2, 4] e vale


Z 4
x dx = 6.
2
Renan Lima 175

3.B Integrabilidade por Riemann

Nesta seção, continuaremos com a discussão de funções integráveis.


Mostraremos que toda função contínua é integrável e, além disso, caso a
função possua um número finito de descontinuidades, então ela é integrá-
vel. Após isso, definiremos com precisão a soma de Riemann e a integral
via soma de Riemann e provaremos que se a função é contínua, então o
critério de Darboux e o método de Riemann chegam ao mesmo resultado.
Além disso, provaremos o teorema fundamental do cálculo e vários
outros resultados menores, mas interessantes, de integração. O resultado
chave que será utilizado é conhecido como continuidade uniforme.

Teorema 3.B.1: Continuidade Uniforme

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então f é uniformemente contí-


nua, isto é, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b],
com |x − y| < δ , tem-se |f (x) − f (y)| < ε.

Demonstração:
Dado ε > 0. Para fixar as ideias, façamos a seguinte definição. Dizemos
que f é ε-admissível no intervalo I , se existe δ > 0 tal que para todo
x, y ∈ I ,
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < ε.
Considere X = {c ∈ [a, b] / f é ε-admissível em [a, c]}. Claramente X é
um conjunto limitado e a ∈ X . Além disso, note que se c ∈ X e dado
c1 com a < c1 < c, então c1 ∈ X . Em particular, se β = sup X , então
β − δ ∈ X para todo δ > 0 com β − δ ≥ a. O objetivo é demonstrar que
β ∈ X e que β = b.
Suponha que β ∈ / X , então, como f é contínua em β , existe δ1 > 0 tal
ε
que se |x − β| < δ1 , então |f (x) − f (β)| < . Logo, se |x − β| < δ1 e
2
|y − β| < δ1 , então

|f (x) − f (y)| = |(f (x) − f (β)) − (f (y) − f (β))|


≤ |f (x) − f (β)| + |f (y) − f (β)|
ε ε
< + = ε.
2 2
176 Matemática Universitária

Portanto, f é ε-admissível em (β − δ1 , β + δ1 ).
 
δ1 δ1
Como β − < β , temos que f éε-admissível em J = a, β − . Logo
2 2
existe δ2 > 0 tal que se x, y ∈ J com |x − y| < δ2 , então |f (x) − f (y)| < ε.
 
δ1
Tome δ = min , δ2 . Dados x, y ∈ [a, β + δ1 ) com |x − y| < δ . Para
2
fixar as ideias, supomos que y < x. Vamos mostrar que |f (x) − f (y)| < ε.
Temos duas possibilidades para y .

• Se y ∈ (β − δ1 , β + δ1 ), como x > y , temos que x ∈ (β − δ1 , β + δ1 )


e, portanto, pelo que foi provado no início, |f (x) − f (y)| < ε.
 
δ1
• Supomos que y ∈ a, β − ⊆ X . Se x ∈
/ X , então x ≥ β e, como
2
δ1 δ1
x−y <δ ≤ concluímos que y > β − , o que é absurdo. Logo
2 2
x ∈ X . Como y ∈ X e δ ≤ δ2 , então |f (x) − f (y)| < ε.

δ1
Isso mostra que f é ε-admissível em [a, β+δ1 ) e, em particular, β+ ∈ X,
2
o que é absurdo, pois β = sup X .
Falta provar que β = b. Supomos que β < b, então repetindo o argumento
anterior, existe δ > 0, tal que β +δ < b e que f é ε-admissível em [a, β +δ).
δ
Em particular, β + ∈ X e contradiz que β é uma cota superior de X .
2

O conceito de continuidade uniforme é um resultado bem técnico e


bem sutil de entender. Esperamos que a demonstração do próximo teo-
rema explique a necessidade do conceito de continuidade uniforme.

Teorema 3.B.2: Toda Função Contínua é Integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua, então f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Dado ε > 0. Construiremos uma partição P tal que, na notação da se-
ção anterior, tem-se S(f, P) − s(f, P) < ε e a integrabilidade é uma con-
sequência direta do critério de Darboux para integrabilidade, ver corolário
3.A.11.
Renan Lima 177

Pelo teorema 3.B.1, temos que f é uniformemente contínua em [a, b] e,


portanto, existe δ > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b], tem-se
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
1
Seja n ∈ N tal que < δ e considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b}
n
uma partição regular de n pedaços. Pelo teorema de Weierstrass, temos,
para cada i, existem αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais que f (αi ) = mi e f (βi ) = Mi ,
em que mi e Mi são, respectivamente, o mínimo e máximo global de f
1
em [xi−1 , xi ]. Note que como xi − xi−1 = < δ , então |αi − βi | < δ e,
n
portanto,
Xn Xn
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
i=1
b−a b − a i=1

Corolário 3.B.3

Seja f : [a, b] → R função limitada, mas descontínua apenas em b.


Então f é integrável em [a, b]. O mesmo enunciado é válido se f for
limitada e descontínua apenas em a.

Demonstração:
Como f é limitada, existem m, M
 satisfazendo m ≤ f (x) ≤ M para todo
ε
x ∈ [a, b]. Dado ε > 0 com b − > a. O motivo deste
2(M − m)
refinamento para ε será melhor explicado abaixo.
A ideia é construir uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b}
de [a, b] de tal modo que xn−1 esteja suficientemente próximo de b para
ε
que (M − m)∆xn < . Feita essa escolha de xn−1 , utilizamos que f é
2
contínua em [a, xn−1 ] e, portanto, integrável em [a, xn−1 ] para escolher os
pontos x1 , . . . xn−2 de modo que S(f, P) − s(f, P) < ε.
ε
Defina, portanto, c = b − . A exigência de ε ser pequeno su-
2(M − m)
ficiente implica que c > a. Como f é contínua em [a, c], então pelo teo-
rema 3.B.2, existe uma partição Q = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 = c} tal que
ε
S(f, Q) − s(f, Q) < .
2
178 Matemática Universitária

Defina P = Q ∪ {b}, então P é partição de [a, b] e vale

S(f, P) − s(f, P) = [S(f, Q) − s(f, Q)] + (Mn − mn )∆xn ,

em que b = xn e Mn e mn são, respectivamente, o supremo e o ínfimo de


f em [xn−1 , xn ]. Daí,
ε ε ε
S(f, P) − s(f, P) < + (M − m)(b − c) < + = ε.
2 2 2
Logo, pelo critério de integrabilidade de Darboux, f é integrável em [a, b].

Corolário 3.B.4

Seja f : [a, b] → R função limitada com um número finito de descon-


tinuidades, então f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Sejam ci , com i = 1, · · · , n e ci < ci+1 , os pontos de descontinuidade
da f . Pelo corolário 3.B.3, f é integrável em [a, c1 ], [c1 , c2 ], · · · , [cn , b] e,
aplicando o corolário 3.A.15 diversas vezes, temos que f é integrável em
[a, b].

Em resumo, funções descontínuas podem ser integráveis. O próximo


teorema diz que funções definidas por integrais são sempre contínuas.
Lembremos que toda a construção de f ser integrável depende de f ser
limitada.

Teorema 3.B.5: Função Definida por Integral é Contínua


Z x
Se f : [a, b] → R é integrável em [a, b], então F (x) = f (t) dt é
a
contínua em [a, b].

Demonstração:

Seja x0 ∈ (a, b). Devemos provar que lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Como f é limitada, existem m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo


Renan Lima 179

x ∈ [a, b]. Utilizando a observação após o corolário 3.A.15, temos que


Z x Z x0 Z x
F (x) − F (x0 ) = f (x) dx − f (x) dx = f (x) dx.
a a x0

Pelo teorema 3.A.5, temos

m(x − x0 ) ≤ F (x) − F (x0 ) ≤ M (x − x0 ).

Como lim m(x − x0 ) = lim M (x − x0 ) = 0, o teorema do confronto


x→x0 x→x0

garante que lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Com uma pequena adaptação da demonstração do teorema 3.B.5, pro-


vamos o teorema fundamental do cálculo.

Teorema 3.B.6: Teorema Fundamental do Cálculo


Z x
Seja f : [a, b] → R função contínua, então F (x) = f (t) dt é derivá-
a
vel e vale que F 0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b].

Demonstração:
Fixemos x ∈ [a, b) e seja h > 0, suficientemente pequeno. Vamos estimar o
F (x + h) − F (x)
valor de . Temos que
h
Z x+h Z x !
F (x + h) − F (x) 1 1 x+h
Z
= f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
h h a a h x

Pelo teorema de Weierstrass, f : [x, x + h] → R possui mínimo e máximo


global e escrevemos f (ch ) = mh e f (Ch ) = Mh , respectivamente, em que
ch , Ch ∈ [x, x + h]. Como mh ≤ f (t) ≤ Mh para todo t ∈ [x, x + h], então
pelo teorema 3.A.5,
Z x+h
mh · h ≤ f (t) dt ≤ Mh · h.
x

Daí,
F (x + h) − F (x)
f (ch ) ≤ ≤ f (Ch ).
h
180 Matemática Universitária

Como f é contínua, temos que lim+ ch = lim+ f (Ch ) = f (x) e, pelo teo-
h→0 h→0
rema do confronto, concluímos que
x+h
F (x + h) − F (x) 1
Z
lim+ = lim+ f (t) dt = f (x).
h→0 h h→0 h x

De forma análoga, se x ∈ (a, b], temos que


x
F (x + h) − F (x) −1
Z
lim− = lim− f (t) dt = f (x).
h→0 h h→0 h x+h

Como os limites laterais existem e são iguais, concluímos que

F (x + h) − F (x)
F 0 (x) = lim = f (x).
h→0 h

Encerraremos a seção falando um pouco da soma de Riemann e um


pouco de sua equivalência com o critério de Darboux na definição de in-
tegração e, no final, faremos uma pequena aplicação teórica do método da
demonstração da soma de Riemann. Sugerimos que o leitor assista nova-
mente à nossa videoaula Soma de Riemann.
Lembremos que uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} de [a, b]
em n pedaços não é necessariamente regular, isto é, ∆xi = xi − xi−1 pode
depender do i. Neste sentido, precisaremos medir o tamanho dos interva-
los para que possamos usar a expressão a partição P é suficientemente fina.

Definição 3.B.7: Norma de uma Partição

Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição do intervalo [a, b]. A


norma da partição P denotada por P é o maior comprimento dos
seus subintervalos ∆xi . Mais precisamente,

P = max{∆x1 , ∆x2 , · · · , ∆xn }

Em particular, temos que P < δ se e somente se ∆xi < δ para todo i.


Seja f : [a, b] → R integrável e P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição
de [a, b]. Para todo ci ∈ [xi−1 , xi ], tem-se
n
X
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P).
i=1
Renan Lima 181

O interessante de trabalhar com a integral de Riemann é a ideia de


que se os tamanhos dos intervalos forem suficientemente pequenos, então
espera-se que tenhamos uma aproximação adequada da integral, indepen-
dentemente da escolha dos pontos de ci .

Teorema 3.B.8: Riemann integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então para todo ε > 0, existe


δ > 0 tal que para toda partição P = {x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] com
P| < δ , tem-se
n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε,
i=1 a

independentemente da escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ].

Demonstração:
A demonstração é bem semelhante com a do teorema 3.B.2 que diz que
toda função contínua é integrável. Dado ε > 0. Pela continuidade uni-
forme de f em [a, b], existe δ > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b], temos
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
Seja P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b] com |P| < δ e seja
ci ∈ [xi−1 , xi ]. Pelo teorema de Weierstrass, temos, para cada i, pontos
αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais que f (αi ) = mi e f (βi ) = Mi , em que mi e Mi
são o mínimo e máximo global, respectivamente, de f em [xi−1 , xi ]. Como
xi − xi−1 < δ , então |αi − βi | < δ e, portanto,
n
X n
X
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
i=1
b−a b−a i=1

Como mi ≤ f (ci ) ≤ Mi para todo i, temos que


Xn
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P),
i=1
Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P).
a
182 Matemática Universitária

Com as desigualdades acima, temos finalmente que


n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < S(f, P) − s(f, P) < ε.
i=1 a

Na seção 2.7, ao deduzir a fórmula da área lateral de uma superfície de


revolução gerada pelo gráfico da função f de classe C 1 em torno do eixo x
e limitada ao intervalo [a, b] vimos que apareceu uma adaptação da soma
de Riemann
X n q
2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi ,
i=1

em que ci , di ∈ [xi−1 , xi ] para todo i e fizemos a observação que o somató-


Z b q
rio acima converge para 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx, independentemente
a
das escolhas de ci e di .
Provaremos este resultado técnico no próximo teorema.

Teorema 3.B.9

Sejam f, g : [a, b] → R funções contínuas. Então para todo ε > 0,


existe δ > 0 tal que para toda partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b}
de [a, b] com |P| < δ e para qualquer conjuntos de pontos ci , di ∈
[xi−1 , xi ], tem-se
n
X Z b
f (ci )g(di )∆xi − f (x)g(x) dx < ε.
i=1 a

Demonstração:
Dado ε > 0. Como f é contínua, então existe M > 0 tal que |f (x)| ≤ M
para todo x ∈ [a, b]. Como g é uniformemente contínua em [a, b], existe
δ1 > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b], temos que
ε
se |x − y| < δ1 , então |g(x) − g(y)| < .
2M (b − a)

Como f · g é contínua, então pelo teorema 3.B.8, existe δ2 > 0 tal que para
toda partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} com |P| < δ2 e para qualquer
Renan Lima 183

escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ], tem-se


n b
ε
X Z
f (ci )g(ci )∆xi − f (x)g(x) dx < .
i=1 a 2

Tome δ = min{δ1 , δ2 }.
Seja P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} partição de [a, b] com |P| < δ e sejam
ci , di ∈ [xi−1 , xi ] temos que
n
X n
X n
X
f (ci )g(ci )∆xi − f (ci )g(di )∆xi ≤ f (ci ) · (g(ci ) − g(di )) ∆xi
i=1 i=1 i=1
n
X ε ε
< M. ∆xi = .
i=1
2M (b − a) 2

Sejam A, B, C ∈ R definidos por


n
X
A= f (ci )g(di ) ∆xi ,
i=1
Xn
B= f (ci )g(ci ) ∆xi ,
i=1
Z b
C= f (x)g(x)dx.
a

Temos, pela desigualdade triangular,


ε ε
|A − C| = |(A − B) + (B − C)| ≤ |A − B| + |B − C| < + = ε.
2 2
184 Matemática Universitária

Exercícios

1. Seja f : [a, b] → R função limitada integrável e dado c ∈ [a, b]. Suponha


que g e uma função definida em [a, b] tal que f (x) = g(x) se x 6= c.
Mostre que g é limitada e integrável em [a, b] e vale
Z b Z b
f (x) dx = g(x) dx.
a a

2. Seja f : [a, b] → R função limitada e integrável em [a, b] e suponha que


g : [a, b] → R é uma função que coincide com f a menos de um número
finito de pontos. Mostre que g é limitada e integrável em [a, b] e vale
Z b Z b
f (x) dx = g(x) dx.
a a

Z x
3. Seja f : [a, b] → R função integrável e seja F (x) = f (t) dt. Mostre
a
que existe k > 0 tal que para todo x, y ∈ [a, b], tem-se

|F (x) − F (y)| ≤ k|x − y|.

4. Sejam P e Q partições de [a, b] com P ⊆ Q. Mostre que |Q| ≤ |P|.


Z b
5. Seja f : [a, b] → R contínua tal que f (x)g(x) dx = 0 para toda
a
função g : [a, b] → R contínua. Mostre que f é identicamente nula.

6. Se f, g : [a, b] → R integráveis com f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b].


Z b Z b
Mostre que f (x) dx ≤ g(x) dx.
a a

7. Suponha que f : [a, b] → R é contínua em [a, b) e limitada em [a, b].


Mostre que para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que para toda partição
P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} de [a, b] com P| < δ , tem-se
n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε,
i=1 a

independentemente da escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ].


Índice Remissivo

A erro, 118
aplicação de integral exponencial, 117
área, 22 gama, 119
área lateal de sólido de hiperbólica, 140
revolução, 80 hiperbólica inversa, 142
centro de massa, 91 logaritmo natural, 114
comprimento de arco, 76
massa, 89 I
movimento retilíneo, 18 integral
trabalho, 86 imprópria, 100
volume de sólido de revolução, Darboux, 164
73 indefinida, 17, 47
Arquimedes, 1 Riemann, 71, 181

C M
centro Mercator, 113
de gravidade, 90
de massa, 90 N
geométrico, 93 número de Euler, 117
centroide, 93
continuidade, 33 P
continuidade uniforme, 175 partição
definição, 160
E norma, 180
energia primitiva de uma função, 15, 44
cinêtica, 87
mecânica, 88 S
potencial, 87 soma
Euler, 113 de Riemann, 71
inferior, 161
F superior, 161
fórmula de recorrência somatório, 4
cosseno, 69
secante, 66 T
seno, 64 técnica de integração
tangente, 68 frações parciais, 125, 156
Fermat, 28 partes, 55
função substituição, 49
algébrica, 148 substituição hiperbólica, 143
Bessel de ordem 0, 119 substituição trigonométrica, 135
elementar, 148 substituição universal, 139
186 Matemática Universitária

teorema D’Alembert, 149


1º fundamental do cálculo, 44, decomposição em frações
179 parciais, 156
valor intermediário, 34 Liouville, 149
2º fundamental do cálculo, 44 Pappus, 97
valor médio, 38 transformada de Laplace, 109
Weierstrass, 34 trompete de Gabriel, 109

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