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Recursos Computacionais no Ensino

de Matemática (MA36)
Victor Giraldo (UFRJ), Francisco Mattos (UERJ), Paulo
Caetano (UFSCar)
Concepção do Material
 De forma geral, o livro é estruturado por atividades
seguidas de discussão sobre essas atividades, enfocando:
• objetivos;
• conteúdos matemáticos tratados;
• papel do uso da tecnologia (vantagens e limitações).
 Essas discussões não são precedidas de textos teóricos de
educação matemática ou sobre tecnologias no ensino. Os
docentes responsáveis pela disciplina podem acrescentar
textos com essas características, quando considerarem
apropriados.
 Toda a reflexão sobre o uso de tecnologias digitais em sala de
aula de Matemática é organizada a partir das discussões
sobre as atividades propostas.
Concepção do Material
 As atividades são planejadas para execução, prioritariamente, em
softwares gratuitos. Os capítulos são organizados pelos tipos de
recursos empregados.
 Entretanto, o foco da discussão não está nos softwares ou nos
recursos computacionais específicos, e sim nas atividades
em si. Assim, muitas atividades podem ser feitas com diversos
softwares diferentes.
 O livro não é concebido para ser um manual de uso de softwares
educacionais, mas sim para aprofundar a reflexão dos
professores sobre o uso de tecnologias digitais em sala de
aula de Matemática.
 O objetivo é capacitar o professor para planejar a integração de
tecnologias digitais na sala de aula, escolhendo softwares e recursos
de acordo com as especificidades de cada contexto.
Concepção do Material
 Procuramos explorar não só as potencialidades técnicas dos
softwares, mas sobretudo suas limitações (erros de
arredondamento, interpolação, etc.).
 Os objetivos são:
• evitar que os alunos formem uma ideia sobre o computador
como “critério absoluto de validação de fatos matemáticos”,
mostrando que os resultados da máquina devem sempre ser
interpretados à luz de argumentos matemáticos (e não ao
contrário);
• aproveitar a exploração dessas limitações para aprofundar a
compreensão dos alunos da “Matemática que está por trás”.
Concepção do Material
 De forma geral, as atividades procuram conduzir a conclusões
e generalizações matemáticas, sem o apoio do
computador.
 Os professores devem ser orientados no sentido de que, em
sala de aula, as atividades com o computador devem, sempre
que possível, ser complementadas com discussões e
argumentações matemáticas, sem o uso de tecnologias.
 As abordagem pedagógica com o uso de tecnologias digitais
deve ser planejada de tal forma que a aprendizagem dos
conceitos matemáticos dos alunos não dependa
permanentemente do apoio dessas tecnologias.
Concepção do Material
 De forma geral, as atividades não são planejas para a aplicação
direta em sala de aula.
 O objetivo é capacitar o professor a refletir e avaliar o
uso de tecnologias e, a partir daí, criar suas próprias
atividades, de acordo com as especificidades de cada público
de alunos. Este deve ser o principal papel da disciplina.
 Muitas atividades estão em nível superior à Matemática dos
ensinos fundamental e médio, visando colocar o professor em
uma posição de aprendiz com o uso de tecnologias, com
estratégia para promover as reflexões acima.
Concepção do Material
 Visando as considerações feitas anteriormente, ao final de cada
grupo de atividades com objetivos (mais ou menos)
semelhantes são propostas atividades de fechamento do
tipo:
Concepção do Material
 Os professores-cursistas devem ser estimulados a fazer essas
atividades de fechamento e trazer suas propostas para
discussão em sala de aula, com os colegas e docente
responsável pela disciplina.
 Recomendamos também que as atividades de fechamento
sejam empregadas na avaliação da disciplina.
Concepção do Material
 O livro é estruturado em 8 capítulos, divididos em seções,
totalizando 24 seções.
 Na estrutura do PROFMAT, cada seção corresponde a uma
Unidade. Em cada semana de aulas, são abordadas 2
Unidades.
 Nesta oficina, discutiremos atividades dos 5 capítulos iniciais:
1. O Uso da Calculadora no Ensino de Matemática
2. Planilhas Eletrônicas
3. Ambientes Gráficos
4. Ambientes de Geometria Dinâmica
5. Sistemas de Computação Algébrica e Simbólica
Recursos Computacionais no Ensino de Matemática

Victor Giraldo (UFRJ)


Paulo Caetano (UFSCar)
Francisco Mattos (UERJ / CP2)

13 de Janeiro de 2012
Conteúdo

1 O Uso da Calculadora no Ensino de Matemática 5


1.1 Operações e Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Aproximações, Arredondamentos e Erros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Planilhas Eletrônicas 17
2.1 Simbologia Algébrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Tratamento da Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3 Ambientes Gráficos 31
3.1 Articulando Representações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2 Famı́lias de Funções Dependendo de Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Pontos de Vista e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.4 Mais Explorações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4 Ambientes de Geometria Dinâmica 63


4.1 Explorando a Geometria de Forma Dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2 Aprofundando a Exploração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.3 Articulando Geometria e Funções: Manipulando Gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4 Articulando Geometria e Funções: Novos Olhares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 Sistemas de Computação Algébrica e Simbólica 81


5.1 Explorando Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.2 Operando com Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.3 Conceitos Básicos do Cálculo Infinitesimal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.4 Explorações Aritméticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

6 Ensino a Distância 91
6.1 Ambientes Virtuais de Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
6.2 Aprendizagem Colaborativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
6.3 Projetos de Ensino a Distância – Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
6.4 Projetos de Ensino a Distância – Parte 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

7 Pesquisas Eletrônicas, Processadores de Texto e Hipertexto 99


7.1 Pesquisas Eletrônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
7.2 Processadores de Texto e Hipertexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

8 Critérios e Instrumentos para Avaliação de Softwares Educativos 115


8.1 Avaliação de Softwares Educativos – Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
8.2 Avaliação de Softwares Educativos – Parte 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

3
Capı́tulo 1

O Uso da Calculadora no Ensino de


Matemática

Introdução
A entrada das tecnologias digitais na sala de aula de Matemática, sobretudo nas últimas duas décadas,
foi acompanhada de um intenso debate sobre seus efeitos na aprendizagem. Inicialmente, este debate,
que não se restringiu ao Brasil e se espalhou por todos os paı́ses em que recursos computacionais foram
sistematicamente introduzidos na escola, concentrou-se na tentativa de responder à questão se tais
efeitos seriam “benéficos” ou “maléficos”. Por exemplo, especificamente sobre o uso de calculadoras
no ensino de Matemática, o pesquisador inglês David Tall [57] já observava há 10 anos passados:

O uso de calculadoras e computadores em Matemática nem sempre tem sido tão bem sucedido
quanto poderia ser. Na Inglaterra, o uso de calculadoras com crianças tem sido desencorajado na
esperança de que sua ausência permitiria que as crianças construissem relações aritméticas men-
tais. Talvez esta atitude tenha mais a ver com o mal uso da calculadora (para efetuar cálculos
sem ter que pensar) do que com qualquer falha inerente ao próprio aparato. Bem usada – para
encorajar reflexão sobre idéias matemáticas – a calculadora pode ser muito benéfica.
David Tall, 2001, p.212 (tradução nossa)

Neste sentido, temores iniciais de que o uso de calculadoras na sala de aula, por si só, atrofiaria
as habilidades aritméticas dos alunos eram, de certa forma, mal colocados. Os efeitos da ferramenta
na aprendizagem estão muito mais relacionados com a forma como ela é usada do que com suas
caracterı́sticas intrı́nsecas. De fato, esta constatação aplica-se a qualquer tecnologia usada no ensino,
seja esta de natureza computacional ou não. Hoje, as tecnologias digitais estão cada vez mais presentes
em praticamente todos os setores da atividade humana, portanto não faria sentido bani-las da sala de
aula – sob pena de tornar a escola tão anacrônica em relação à vida exterior a seus muros a ponto de ter
um efeito inócuo na formação dos alunos. Paralelamente a isso, a reflexão sobre os usos pedagógicos
dessas tecnologias vem amadurecendo. Assim, o foco do debate deslocou-se da questão de se as tecno-
logias digitais têm efeitos benéficos para a aprendizagem, para a questão de como usá-las de forma
que seus efeitos sejam benéficos para a aprendizagem.
As calculadoras são certamente as tecnologias digitais mais simples, baratas e de mais fácil uso.
Mesmo as calculadoras com menos recursos matemáticos podem ser usadas de forma a enriquecer signi-
ficativamente a abordagem. Seu uso como instrumento didático oferece ao contexto de sala de aula, em
situações especı́ficas, uma metodologia de ensino que permite ao professor dinamizar de modo simples
as aulas teóricas tratadas geralmente com metodologias tradicionais. O objetivo central deste primeiro

5
6 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Capı́tulo é discutir como é possı́vel desenvolver atividades pedagógicas 1 interessantes e enriquecedoras


mesmo quando se dispõe apenas de recursos computacionais mı́nimos. Por isso, todas as atividades
propostas podem ser feitas com a calculadoras simples (em geral chamadas calculadoras de bol-
so), que dispõem apenas das quatro operações elementares. Atividades de natureza mais complexa, que
demandariam mais recursos tecnológicos serão abordadas nos capı́tulos subsequentes. O Capı́tulo está
dividido em duas seções: na primeira, o foco das atividades estará mais na estrutura as operações e suas
propriedades; e na segunda nas caracterı́sticas da representação decimal, com ênfase em aproximações
e erros.

1.1 Operações e Propriedades


Nesta seção, propomos atividades com objetivo de utilizar a calculadora para enriquecer a aprendizagem
da estrutura das operações elementares (principalmente com números inteiros) e suas propriedades. Em
geral, essas propriedades são ensinadas como “regras”, enunciadas no quadro negro. Atividades com
a calculadora podem articular-se com a abordagem tradicional de sala de aula, oferecendo aos alunos
uma oportunidade de lidar com a estrutura das operações de forma mais concreta e dinâmica.
Para que esses objetivos sejam atingidos, é fundamental que os alunos sejam encorajados a in-
terpretar matematicamente os resultados da máquina e a desenvolver uma atitude crı́tica
em relação a estes – em lugar de simplesmente aceitá-los como verdades inquestionáveis. Assim,
o papel da calculadora em sala de aula não deve se limitar a apenas “conferir” resultados obtidos
manualmente. Seu uso é mais rico em situações cuja interpretação pelos alunos leve ao aprofundamento
da compreensão sobre as propriedades matemáticas envolvidas, por exemplo, por meio da exploração de
resultados inesperados ou aparentemente errados. Por este motivo, o papel do professor em planejar e
aplicar adequadamente as atividades é decisivo – não é a calculadora, por si só, que pode trazer efeitos
positivos (ou negativos) à aprendizagem, e sim a forma como ela é empregada em sala de aula.

Atividades

1. Considere os números: 49, 71 e 180. Com a ajuda da calculadora, construa exemplos de operações
(adição, subtração, multiplicação e divisão), que tenham cada um desses números como resulta-
dos.

(a) Primeiro, dê exemplos de operações envolvendo apenas números naturais.


(b) Agora, use quaisquer números (podendo ser inteiros, racionais ou irracionais).

2. Suponha que você queira fazer uma conta envolvendo números grandes, como por exemplo:
987123 × 110357. É bem provável que use uma calculadora para obter o resultado. Como
se tratam de números com muitos algarismos, mesmo com uma calculadora, não é impossı́vel
enganar-se ao digitar algum algarismo e obter um resultado errado.

(a) Suponha que depois de digitar os dados, tenha aparecido no visor o seguinte resultado:
989455911. Este resultado pode estar certo? Justifique a sua resposta.
(b) Constatando que o resultado anterior não estava correto, você apaga e digita novamente os
dados. Desta vez o visor mostra o seguinte: 108935822554. E este resultado, pode estar
certo? Justifique a sua resposta.
(c) Quantos algarismos você espera que o resultado tenha?
1
Grande parte as atividades propostas neste Capı́tulo foram inspiradas ou adaptadas diretamente de [46]. Agradecemos
o autor e amigo Carlos Mathias pelas ideias e conversas inspiradoras.
1.1. OPERAÇÕES E PROPRIEDADES 7

(d) Qual deve ser o último algarismo do resultado?


(e) Você seria capaz de descobrir que erros você cometeu nos ı́tens (a) e (b)?

3. Suponha que você queira saber o resultado da conta 7 × (581 + 399), com ajuda de uma calcu-
ladora. Você digita os dados e a máquina fornece o resultado 4466. O resultado está correto? O
que você acha que aconteceu?

As atividades iniciais 1 a 3 procuram explorar apenas as propriedades das operações elementares,


sendo apropriadas para alunos do 1o. segmento ou do inı́cio do 2o. segmento de ensino fundamental. A
atividade 1 tem por objetivo inverter a lógica usual de resolver contas e obter resultados, propondo que
os alunos inventem diferentes contas que levem a um mesmo resultado dado. O exercı́cio de inventar
contas pode ser explorado pelo professor para a reflexão sobre as propriedades das operações, além
de colaborar com a prática de cálculo mental, estimulando os estudantes a pensarem sobre a relação
entre as ordens de grandeza do resultado e dos operandos. Para isso, o professor pode ainda incluir na
atividade questões chave mais direcionadas, como por exemplo:

• Quantas multiplicações você consegue exibir, envolvendo apenas números naturais, cujo resultado
seja 49? E 71? E 180?
• Observando que 90 + 90 = 180, como você pode descobrir outras contas de adição que dêem o
mesmo resultado?
• Observando que 2 × 90 = 180, como você pode descobrir outras contas de multiplicação, apenas
com números inteiros, que dêem o mesmo resultado?
• Observando que 2 × 90 = 180, como você pode descobrir outras contas de multiplicação, com
números inteiros ou frações, que dêem o mesmo resultado?
• Pode existir uma adição, envolvendo apenas números naturais, cujo resultado seja 49 e uma das
parcelas seja 60?
• Pode existir uma adição, envolvendo números inteiros, cujo resultado seja 49 e uma das parcelas
seja 60?
• Pode existir uma multiplicação, envolvendo apenas números naturais, cujo resultado seja 49 e um
dos fatores seja 60?
• Pode existir uma multiplicação, envolvendo apenas números naturais, cujo resultado seja 49 e um
dos fatores seja 40?
• Pode existir uma multiplicação cujo resultado seja 49 e um dos fatores seja 60?
• Pode existir uma multiplicação cujo resultado seja 49 e um dos fatores seja 40?
• Em uma adição, quando você aumenta uma das parcelas, o que deve acontecer com a outra para
que o resultado não se altere?
• Em uma subtração, quando você aumenta um dos termos, o que deve acontecer com o outro
para que o resultado não se altere?
• Em uma multiplicação, quando você aumenta um dos fatores, o que deve acontecer com o outro
para que o resultado não se altere?
• Em uma divisão, quando você aumenta o dividendo, o que deve acontecer com o divisor para que
o resultado não se altere?
• Que propriedades das operações você empregou para chegar às conclusões acima?
8 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Questões como as exemplificadas acima podem contribuir com a compreensão de algumas proprie-
dades importantes das operações. Por exemplo, quando adicionamos um número a uma das parcelas
de uma soma, para manter o mesmo resultado, devemos subtrair o mesmo número da segunda parcela.
Verificações análogas podem ser propostas para as demais operações. Tais verificações podem favorecer
a exploração da relação entre as operações e sua respectivas inversas, além da relação entre as ordens
de grandeza do resultado e dos operandos. As questões podem ainda ser empregadas na exploração das
limitações das operações em cada um dos conjuntos numéricos. Em particular, é importante chamar
atenção para o fato de que a quantidade de multiplicações resultando em número dado está relacionada
com a quantidade de fatores primos deste número (por exemplo, no caso da atividade 1 proposta acima,
são dados um número primo e dois números compostos, sendo um quadrado de um primo e o outro com
diversos divisores distintos). Finalmente, o exercı́cio de procurar por um dos termos de uma operação,
dados o outro termo e o resultado, pode ser explorado como uma introdução à noção de equação.
Na atividade 1, o papel da calculadora é apenas o de dar mais agilidade aos cálculos, permitindo
que o aluno foque mais atenção na reflexão sobre o comportamento dos resultados e as propriedades
operatórias empregadas. É importante observar que a atividade não deve se resumir à mera
verificação de resultados com a calculadora. Seu desenvolvimento em sala de aula deve
sempre incluir as justificativas matemáticas desses resultados. Por outro lado, o uso da calcu-
ladora em sala de aula não precisa – e não deve – limitar-se simplesmente a facilitar ou conferir contas.
As atividades 2 e 3 enfocam a interpretação crı́tica de resultados produzidos por usos errôneos da
calculadora, visando estimular a formação de uma expectativa para os resultados, e o desenvolvimento
prática da verificação por meio de estimativas e cálculo mental.
Quando os alunos no ensino fundamental memorizam os algoritmos das operações, sem entender sua
estrutura, dificilmente eles desenvolverão qualquer noção das relações entre o resultado e os operandos.
Nestes casos, resultados provenientes de erros na aplicação dos algoritmos são aceitos, mesmo quando
claramente incompatı́veis com a conta efetuada. Se os cálculos são feitos com a calculadora, os resul-
tados são geralmente aceitos como corretos sem hesitação.
Na atividade 2, podemos verificar que os resultados dados nos ı́tens 2a e 2b são incompatı́veis com
os fatores da multiplicação. Uma estimativa simples fornece-nos uma ideia da ordem de grandeza dos
resultado da conta. Como 987123 > 9×105 e 110357 > 105 , então 987123×110357 > 9×105 ×105 =
9 × 1010 , isto é, 987123 × 110357 tem pelo menos 11 algarismos. Além disso, como os fatores terminam
com os algarismos 3 e 7, o último algarismo do produto deve ser necessariamente 1. Os resultados
989455911 e 108935822554 dos 2a e 2b são obtidos pela omissão ou troca de algarismos na conta.
Assim, 989455911 = 87123 × 11357 e 108935822554 = 987122 × 110357. De forma semelhante, na
atividade 3, percebemos que o resultado de 7 × (581 + 399) deve ser múltiplo de 10, portanto não pode
ser 4466. O erro decorre da omissão dos parênteses, isto é, 4466 = 7 × 581 + 399.
Há uma ampla gama de atividades com objetivos semelhantes a estes que podem ser propostas,
dependendo do ano escolar. As atividades anteriores constituem apenas alguns exemplos. Sugerimos
que você formule outras, levando em conta as especificidades de seu público de alunos.

Atividades
4. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 3.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da calculadora no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da calculadora nas atividades pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso da calculadora)?
1.1. OPERAÇÕES E PROPRIEDADES 9

5. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 3, que seja adequada para
as turmas em que você leciona. Que questões chave você incluiria na atividade, para ajudar a
direcionar a resolução dos alunos.

Reconhecendo Padrões e Regularidades


As atividades a seguir exploram o reconhecimento de padrões nos resultados de operações aritméticas.
Em livros didáticos do ensino fundamental, não é incomum encontrarmos exercı́cios do tipo “complete
a sequência”, que pedem que o aluno reconheça e generalize um padrão numérico ou geométrico em
uma sequência, a partir de um pequeno conjunto de termos dados. O reconhecimento de padrões é
sem dúvida uma habilidade fundamental para o desenvolvimento do pensamento matemático elementar.
Entretanto, é importante considerar que a regra de formação de uma sequência não pode ser inferida
tendo como base apenas a verificação de um conjunto finito de exemplos (uma sequência numérica não
precisa nem mesmo ter uma regra algébrica de formação).
Assim, as atividades que se seguem não visam apenas inferir o padrão a partir da verificação dos
exemplos dados e generalizá-lo para outros números quaisquer. O objetivo é reconhecer o padrão, jus-
tificá-lo matematicamente, e determinar para que outros números este pode ser generalizado. A busca
por essas justificativas matemáticas pode ajudar na compreensão dos algoritmos das operações e suas
relações com a estrutura do sistema de numeração decimal. As atividades propostas abordam padrões
nas representações decimais de números naturais (6 e 7) e de números racionais (8 e 9).

Atividades

6. Use a calculadora para fazer as seguintes contas de multiplicação por 11: 13 × 11, 24 × 11,
35 × 11. Observe que há um padrão nos resultados.

(a) Descreva o padrão observado.


(b) Explique o padrão, com base no algoritmo da multiplicação.
(c) Este padrão vale para qualquer multiplicação de um número de dois algarismos por 11?
Justifique sua resposta.
(d) O que acontece se multiplicamos um número com mais de dois algarismos por 11? Também
observaremos algum tipo de padrão? Justifique sua resposta.

7. Use a calculadora para fazer as seguintes contas: 21 × 202, 48 × 202, 35 × 202, 17 × 202.

(a) Descreva o padrão observado nos resultados.


(b) Explique o padrão, com base no algoritmo da multiplicação.
(c) Para que tipo de multiplicação esse padrão vale? Justifique sua resposta.

8. Use a calculadora para fazer as seguintes contas: 1 ÷ 9, 2 ÷ 9, . . ., 8 ÷ 9. Explique o padrão


observado nos resultados.

9. Use a calculadora para fazer as seguintes contas: 1 ÷ 99, 25 ÷ 9, 43 ÷ 9, 76 ÷ 9. Explique o


padrão observado nos resultados.

Na atividade 6, observamos que se um número natural n possui 2 algarismos quando representado


na forma decimal, então podemos escreve-lo na forma n = 10a + b, com a, b ∈ N, 0 6 a, b < 10. Logo:

11 n = 11 (10a + b) = 10 (10a + b) + (10a + b) = 100a + 10 (a + b) + b


10 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Observe que o desenvolvimento acima reproduz os passos do algoritmo usual da multiplicação. Por-
tanto, se n = 10a + b é um número com 2 algarismos, cuja soma é menor que 10, então a representação
decimal de 11 n tem três algarismos, sendo o das centenas a, o das dezenas a + b e o das unidades
b. Na atividade 7, o padrão observado pode ser justificado de forma análoga. O papel da calculadora
nessas atividades é justamente permitir que o aluno obtenha os resultados sem usar o algoritmo, para
posteriormente refletir sobre o mesmo com base no padrão observado.
Nas atividades 8 e 9, é interessante chamar a atenção dos alunos para a determinação da fração
geratriz de um dı́zima periódica como soma de uma progressão geométrica infinita.

Atividades

10. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 6 a 9.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da calculadora no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da calculadora nas atividades pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso da calculadora)?

11. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 6 a 9, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.

Aprofundando a Compreensão das Operações


Como já comentamos, existem muitas outras formas de explorar os recursos das calculadoras simples
para enriquecer a aprendizagem das operações elementares, sua estrutura e suas propriedades. A ideia
geral é aproveitar os recursos da calculadora para oferecer aos alunos uma visão das opera-
ções que seja diferente da abordagem usual de sala de aula, e que se articula e enriqueça
essa abordagem. Nas atividades a seguir, damos mais alguns exemplos. Porém leitor é fortemente
encorajado a elaborar outras, de acordo com as caracterı́sticas e dificuldades especı́ficas de seu público
de alunos (como vimos propondo). Atividades como as 14 a 17 podem ser aplicadas em forma de jogo
entre os alunos.

Atividades

12. (a) Digite 2 + 3 na calculadora. Em seguida, tecle o sinal de = várias vezes. Tome nota dos
números que vão aparecendo na tela. Que tipo de sequência esses números formam?
(b) Agora, faça a mesma experiência com a multiplicação: digite 2 × 3 na calculadora e, em
seguida, o sinal de = várias vezes. Que tipo de sequência esses números formam?

13. (a) Suponha que você tenha depositado R$150, 00 em uma caderneta de poupança que rende
0,7
0, 7% ao mês. Passado o primeiro mês, você terá R$150, 00+R$150, 00× 100 = R$150, 00×
1, 007 = R$151, 05. Quantos meses você deverá esperar (sem fazer nenhum saque ou novo
depósito) para obter 10% a mais da quantia aplicada?
Você poderá responder esta pergunta usando uma calculadora de bolso apenas com as quatro
operações elementares. Multiplique 150 por 1, 007 e aperte a tecla = sucessivamente, até
que o resultado mostrado na tela fique ultrapasse 150 × 1, 1 = 165. Conte o número de
vezes que a tecla = foi pressionada.
1.1. OPERAÇÕES E PROPRIEDADES 11

(b) Repita a experiência, supondo agora que você tenha aplicado R$350, 00 e queira obter um
lucro de 10% da quantia inicial.
(c) As respostas dos ı́tens anteriores dependem da quantia aplicada? Justifique sua respostas
com base em argumentos matemáticos.
14. Complete as espaços em branco nas expressões abaixo, com os sinais das quatro operações
elementares (+, −, × e ÷), de forma que as igualdades sejam válidas.

(a) (53  36)  15 = 1335 (b) 53  36  15 = 1923


(c) 17  (25  83) = −41 (d) 11  17  23 = 4301
(e) (14  66)  16 = 5 (f) 14  66  16 = 18, 125

15. Use uma calculadora para encontrar aproximações para os números a seguir, empregados apenas

as teclas numéricas e as teclas + , − , × , ÷ , e = (isto é, sem empregar a tecla de
potenciação a um expoente qualquer, se houver).

(a) 30,5 (b) 3−0,125 (c) 4
3 (d) 33,125

16. Em uma calculadora defeituosa, apenas as teclas 3 , 8 , + , − e = estão funcionando.


Você conseguiria obter todos os números naturais de 1 a 10 apenas usando essas teclas?
17. Em uma calculadora defeituosa, apenas as teclas 5 , + , − , × , ÷ e = estão funcionando.
Obtenha cada um dos números naturais de 1 a 10 apenas usando o menor número possı́vel de
teclas.
Na maior parte das calculadoras de bolso, quando pressionamos a tecla correspondente ao sinal de
igualdade seguidamente, a última operação realizada é repetida. Este recurso pode ser empregado no
ensino de diversas maneiras. As atividades 12 e 13 apresentam duas sugestões neste sentido.
Na atividade 14, em lugar de obter os resultados conhecendo os operandos e as operações, a proposta
é que os alunos descubram as operações conhecendo os operandos e os resultados. Para escolher os
sinais que tornam as igualdades verdadeiras, eles deverão avaliar as relações entre os operandos e os
resultados (tais como ordens de grandeza e caracterı́sticas da representação decimal), assim como nas
atividades 2 e 3.
A atividade 15 visa à exploração das propriedades de potenciação e radiciação, por meio da decom-
posição potências de diversos expoentes em raı́zes quadradas. De forma semelhante, na resolução das
atividades 16 e 17, os alunos deverão decompor números naturais de 1 a 10 de diferentes maneiras.
O exercı́cio de decompor números naturais de diferentes formas é importante para a compreensão dos
sistema de numeração decimal e das estruturas dos algoritmos das quatro operações.
Atividades
18. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 12 a 17.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da calculadora no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da calculadora nas atividades pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso da calculadora)?
19. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 12 a 17, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
12 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

1.2 Aproximações, Arredondamentos e Erros


Na seção 1.1, destacamos a importância do desenvolvimento de uma atitude de interpretação crı́tica
dos resultados produzidos pela calculadora por parte dos alunos. As atividades 2 e 3 daquela seção
visavam à formação dessa atitude crı́tica a partir de usos errôneos da máquina, isto é, erros cometidos
pelo próprio usuário. Entretanto, não são apenas erros de uso que provocam resultados aparentemente
errados ou inesperados – estes podem ser causados por limitações inerentes à própria máquina.
Tais resultados são produzidos, de forma geral, por erros de arredondamento: como uma calculadora
só tem capacidade para armazenar números com representação decimal finita, todos os números com
representação infinita (e mesmo aqueles com representação finita, porém superior a capacidade da
máquina) são aproximados por números com representação finita. Isto é, as calculadoras (pelo menos
as mais simples) não operam com números com representação decimal infinita, e sim com aproximações
para esses números. A imprecisão nos resultados de cálculos aproximados pode aumentar quando
os erros de arredondamento são propagados, isto é, quando resultados aproximados são usados em
novos cálculos, gerando aproximações sobre aproximações. Evidentemente, algumas máquinas possuem
capacidade de armazenamento superior a outras, podendo produzir resultados mais precisos, porém
todas têm capacidade finita. Portanto cálculos com decimais infinitos envolverão necessariamente
imprecisões e erros de alguma ordem.
Desta forma, a atitude de interpretação crı́tica dos resultados por parte dos alunos não se refere
apenas a seus próprios eventuais erros de uso, mas sobretudo ao funcionamento e às limitações da
máquina. A consciência das limitações da calculadora e do fato de que ela pode produzir resultados
imprecisos ou aparentemente errados é fundamental para a compreensão de que a máquina não
pode ser usada como critério de validação matemática. Os resultados da máquina devem ser
interpretados e avaliados com base em argumentos matemáticos (e não ao contrário). Este será o
enfoque desta seção.
Algumas das atividades propostas a seguir (1 a 3) visam especificamente chamar atenção para as
limitações da calculadora, por meio da interpretação de resultados aparentemente errados ou imprecisos.
As seguintes (6 a 10) abordam processos de aproximações sucessivas, que podem ser empregados como
introdução ao conceito de limite. A princı́pio, pode-se pensar que os erros de aproximação da máquina
constituem-se necessariamente em um obstáculo para a aprendizagem do conceito de limite. Porém,
justamente esses erros podem ser explorados pelo professor para introduzir de forma mais explı́cita
a natureza matemática da noção de limite: o conceito matemático de limite escapa da precisão da
máquina, por melhor que esta seja, ou de qualquer precisão finita.

Atividades
1. As figuras abaixo representam resultados de certas operações matemáticas feitas em uma cal-
culadora, mostrados no visor. Sem saber as operações que foram efetuadas, é possı́vel saber se
esses números são racionais ou não, apenas nos resultados do visor? Justifique sua resposta.
1.2. APROXIMAÇÕES, ARREDONDAMENTOS E ERROS 13

2. Ao usar uma calculadora de bolso para fazer uma conta cujo resultado não é um número inteiro,
o visor mostrará uma aproximação desse resultado, usando todas as casas decimais disponı́veis.
Levando isso, em conta, responda as perguntas a seguir, justificando suas respostas.

(a) Use a calculadora para fazer a conta 1 ÷ 3. Se você multiplicar o resultado mostrado no
visor por 3, você encontrará o número 1 novamente?

(b) Use a calculadora para fazer a conta 2. Se você elevar o resultado mostrado no visor a
quadrado, você encontrará o número 2 novamente?

3. Considere a conta 0, 0000111 × 9999456 ÷ 9999123. Como sabemos, podemos fazer efetuar
essa conta de diversas maneiras diferentes: (0, 0000111 × 9999456) ÷ 9999123, ou 0, 0000111 ×
(9999456 ÷ 9999123), ou ainda (0, 0000111 ÷ 9999123) × 9999456. As propriedades das ope-
rações de multiplicação e divisão garantem-nos que obteremos o mesmo resultado. Use uma
calculadora para fazer a conta dessas duas maneiras. Compare os resultados. Você pode explicar
o que aconteceu?

Muitos livros didáticos do ensino básico apresentam exercı́cios propondo a classificação de números
como racionais ou irracionais, com base em sua representação decimal. Entretanto, frequentemente
tais exercı́cios não incluem informações suficientes para a conclusão pedida. O objetivo da atividade
1 é mostrar que, apenas com uma amostra finita da representação decimal de um número real, não
é possı́vel concluir se este é racional ou não. Por exemplo, embora a expressão que aparece na tela
da esquerda possa sugerir a representação de um número irracional (pois os algarismos não repetem),
trata-se apenas de uma expressão decimal finita que pode representar uma aproximação, tanto para
1
um irracional quanto para um racional. De fato, a representação decimal da fração 19 é uma dı́zima
periódica cujo perı́odo tem 18 dı́gitos, sendo os 16 primeiros coincidentes com a expressão dada:

1
= 0, 052631578947368421 .
19
Em continuidade, as atividades 2 e 3 ilustram erros causados por arredondamentos. Para fazer a
experiência proposta na atividade 2, os alunos poderão anotar o resultado da primeira operação que
é mostrado na tela, limpar a memória da calculadora, digitar o mesmo resultado, efetuar a operação
inversa, verificando que não se retorna ao número original. A atividade 3 exemplifica uma situação em
que um erro de arredondamento pode fazer com que a calculadora forneça resultados diferentes para
uma mesma operação efetuada em ordens diferentes (dependendo da precisão da calculadora utilizada).
Observe que neste exemplo, essencialmente, estamos multiplicando um número próximo de 0 por um
número próximo de 1. Assim, se a divisão for efetuada primeiro, em uma calculadora com precisão
baixa, esse resultado parcial pode ser arredondado para 1, afetando o resultado final.

Atividades

4. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 3.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da calculadora no desenvolvimento das atividades?
(d) Faria sentido aplicar essas atividades sem o uso da calculadora?

5. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 3, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
14 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Aproximações e Limites
Nas atividades a seguir, lidamos com aproximações – ou em termos matemáticos formais, limites de
sequências de números reais. O conceito de limite é um dos mais importantes e centrais de toda a
Matemática, e mesmo não figurando explicitamente nos currı́culos, este pode (e deve) ser introduzido
informalmente no ensino básico, por meio da ideia intuitiva de aproximação. A calculadora pode ser
um recurso didático de grande ajuda para esta introdução.
Em particular, a ideia de aproximação é importante para o ensino do conceito de número irracional.
Em geral, a abordagem de números irracionais no ensino básico é bastante restrita. Usualmente, rece-
bem pouca ênfase as motivações para a própria necessidade de ampliação do conjuntos dos números
reais (isto é, de que problemas matemáticos os números racionais não dão conta), e as justificativas para
propriedades referentes à representação decimal de irracionais (tais como, um número é irracional se,
e somente se, sua expressão decimal é infinita e não periódica), ou mesmo para as expressões decimais
de exemplos especı́ficos de números irracionais. Aproximações para números irracionais, desenvolvidas
com ajuda da calculadora, pode enriquecer significativamente a abordagem de números irracionais, sua
representação decimal e localização na reta real.

Atividades

decimais para 2. Sabemos que 12 =
6. O objetivo desta atividade é determinar aproximações √
1 < 2 < 4 = 22 . Isto nos permite concluir que 1 < 2 < 2. De forma análoga, temos que
1, 42 = 1, 96 < 2 < 2, 25 = 1, 52 . Continuando este procedimento, use a calculadora√ (sem

empregar a tecla ) para completar a tabela abaixo, obtendo aproximações para 2 com n
casas decimais.

n 2∼
=
1
2
3
4
5


7. Conhecendo aproximações
√ com n casas decimais depois da vı́rgula para 2, podemos determinar
aproximações para 2 2 . Complete a tabela abaixo.

√ √
n 2∼= 2 2 ∼
=
1 1, 4
2 1, 41
3 1, 414
4 1, 4142
5 1, 41421

O procedimento
√ acima pode nos dar certeza do número da casas decimais exatas das aproximações
2
para 2 obtidas? Justifique sua resposta.

8. Digite um número positivo qualquer na calculadora. Em seguida, digite a tecla sucessivas
vezes. Em algum momento o visor mostrará o número 1. Explique o que aconteceu.
1.2. APROXIMAÇÕES, ARREDONDAMENTOS E ERROS 15

Em livros didáticos do ensino básico, as expressões decimais aproximadas para números irracio-
nais são quase sempre apresentadas como se fossem simplesmente dadas, sem quaisquer justificativas √
teóricas. Na atividade 6, propomos um processo para determinar aproximações decimais para 2,
usando apenas a potenciação números racionais. Por meio desse processo, √ podemos (pelo menos teo-
ricamente) determinar quantas casas decimais quisermos para o número 2. Atividades como esta são
muito importantes para que os alunos no final do ensino fundamental e no ensino médio formem uma
ideia mais concreta dos números irracionais e sua localização na reta real.
A atividade 7 tem como objetivo introduzir um significado intuitivo (e não formalizado) para a po-
tenciação de expoente irracional. A operação de potenciação é definida primeiramente para expoentes
naturais, e posteriormente generalizada para expoentes inteiros e naturais por meio de argumentos ba-
seados na preservação de certas propriedades aritméticas (por exemplo, devemos ter a 0 = 1 para a 6= 0,
pois caso contrário não valeria am an = am+n , para m, n ∈ Z). Entretanto, raramente encontramos em
livros didáticos alguma forma de conceituação para a potenciação com expoentes irracionais. Contra-
ditoriamente, alguns capı́tulos a frente, a função exponencial é definida com domı́nio em R, sem que
esta inconsistência seja sequer apontada. De fato, a extensão da operação de potenciação dos números
racionais para os irracionais não pode ser justificada apenas por meio de argumentos algébricos (como
as extensões anteriores), e requer necessariamente uma ideia de convergência, o que a torna a sua
formulação teórica de difı́cil compreensão, mesmo no ensino médio. Isto não é justificativa, no entanto,
para que este problema não seja tratado, mesmo que de forma intuitiva. Em geral, os estudantes no
ensino médio não têm maiores dificuldades em explicar√o que significam potenciações com expoentes
3
inteiros ou racionais (por exemplo, 2−3 = 213 , ou 2 4 = 23 ). Mas, é preciso também que eles atribuam
4

algum significado a expressões do tipo 2π – que número é esse? Uma introdução a esta discussão, que
pode ser feita com ajuda da calculadora, é o que propõe a atividade 7.
Nas atividades 6 e 7 é fundamental√ que fique
√ claro para os alunos que a expressões decimais obtidas
representam aproximações para os 2 e 2 2 . Os erros associados a cada uma dessas aproximações
podem ser feitos tão pequenos √ quanto
√ se queira, isto é, tratam-se de sequências de números reais
convergindo aos números 2 e 2 2 . Porém, essas aproximações jamais coincidirão com os números.
A atividade 8 envolve uma situação em que os arredondamentos
√ feitos pela máquina
√ geram um
resultado errôneo. Sabemos que, se a > 0 então lim n
a = 1, portanto o erro | a − 1| pode ser
n
n→+∞
feito tão pequeno quanto se queira, para n ∈ N suficientemente grande. Entretanto, não podemos ter

n
a = 1 para nenhum a 6= 1. A discussão proposta na atividade 8 pode ser usada para mostrar que, por
melhor que seja a √precisão de uma calculadora, é sempre possı́vel tomar n grande o suficiente para que
a diferença entre n a e 1√fique ainda menor que esta precisão.
√ Assim, pode-se ilustrar concretamente
o fato de que dizer que a tende a 1 significa dizer que | a − 1| fica menor que qualquer precisão
n n

finita.

Atividades

9. Use o mesmo procedimento da atividade 6, encontre aproximações para os números abaixo, com
erro menor que 0, 01.
√ √
3 2
(a) 3 (b) 2 (c) 3 3

10. Use o mesmo procedimento da atividade 7, encontre aproximações sucessivas para o número 10 π .

11. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 6 a 10.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
16 CAPÍTULO 1. O USO DA CALCULADORA NO ENSINO DE MATEMÁTICA

(c) Qual é o papel da calculadora no desenvolvimento das atividades?


(d) Que vantagens e desvantagens o uso da calculadora nas atividades pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso da calculadora)?

12. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 6 a 10, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
Capı́tulo 2

Planilhas Eletrônicas

Introdução
Os recursos disponı́veis nas planilhas eletrônicas possibilitam diversas aplicações no ensino de Matemá-
tica. Dentre esses recursos destacam-se:

• manipulação e operações com grandes quantidades de dados numéricos;


• articulação entre diversas formas de representação;
• ferramentas lógicas;
• ferramentas estatı́sticas.

Neste Capı́tulo, propomos atividades com planilhas eletrônicas, explorando os recursos acima em
dois campos do ensino de Matemática: simbologia algébrica, equações e funções; e tratamento da
informação.
Quando os alunos no ensino básico têm os primeiros contatos com a simbologia algébrica, não são
incomuns as dificuldades com os diferentes significados dos sı́mbolos (variáveis, incógnitas, constantes,
parâmetros) e com as regras sintáticas a que estão sujeitas esses sı́mbolos. As planilhas eletrônicas
possuem um sistema simbólico próprio. A própria experiência concreta de codificação e manipulação da
simbologia nesse sistema, especialmente a verificação de erros de codificação indicados pelo software,
pode ajudar os alunos a entenderem os significados e regras sintáticas dos sı́mbolos. No ensino de
funções, as planilhas eletrônicas possibilitam a articulação de diversas formas de representação,
que podem ser construı́das concretamente no software pelo próprio aluno, em cada situação. Essas
representações podem também ser utilizadas para a resolução numérica de equações, ou mesmo de
sistemas de equações, especialmente em situações que envolvam modelos aproximados, permitindo a
procura de soluções aproximadas em um determinado intervalo.
Na abordagem de tratamento da informação e Matemática Financeira, as planilhas podem ser em-
pregadas com dados extraı́dos de situações concretas, que podem ser coletados pelos próprios alunos.
As ferramentas estatı́sticas e gráficas disponı́veis nas planilhas eletrônicas possibilitam a representação
desses dados de diferentes formas numéricas e gráficas, e a análise, comparação e inter-
pretação dessas representações, visando à formulação de conclusões e hipóteses.

17
18 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

2.1 Simbologia Algébrica


Explorando Regularidades e Limites
Nesta seção, propomos atividades utilizando os recursos das planilhas eletrônicas para a exploração de
regularidades e limites de sequências numéricas. Atividades com objetivos semelhantes já foram propos-
tas no capı́tulo anterior. Entretanto, além das planilhas oferecem muito mais recursos e funções que as
calculadoras de bolso, seu uso em atividades desta natureza apresenta algumas diferenças importantes
do ponto de vista pedagógico, em relação ao uso da calculadora:

• De forma geral as planilhas possuem maior precisão que as calculadoras, portanto possibilitam a
visualização e o tratamento de dados numéricos com mais casas decimais.
• Os recursos das planilhas também oferecem a possibilidade de manusear os dados das atividade
de forma mais dinâmica e com menos uso de teclas, uma vez que as fórmulas e dados digitados
em uma célula podem ser generalizados para outras por meio do recurso de arrastar.
• Aa planilhas geram automaticamente um registro tanto das operações e funções matemáticas
empregadas no problema, quanto dos dados da solução. Para guardar tais registros com o uso
da calculadora, é preciso manter um controle paralelo em papel.
• Por outro lado, os sı́mbolos encontrados nas calculadoras de bolso são essencialmente os mesmos
e obedecem às mesmas regras com que os alunos estão acostumados a lidar desde a alfabetização
matemática nos anos inicias, enquanto as planilhas eletrônicas possuem simbologia e sintaxe
próprias, cuja aprendizagem por si só demanda maior maturidade por parte do aluno.

Essas caracterı́sticas podem ser mais ou menos aproveitadas, dependendo dos objetivos pedagógi-
cas da atividade em questão e do ano escolar dos alunos. Por exemplo, para explorar propriedades das
operações e propriedades aritméticas com alunos dos anos inicias do ensino fundamental, a calculadora
é possivelmente mais adequada, por possibilitar um foco mais especı́fico nesses objetivos. Por outro
lado, a planilha eletrônica pode ser adequada em anos escolares mais adiantados, contribuindo com uma
transição gradativa do trabalho com aritmética nos anos inicias, em direção ao pensamento algébrico-
simbólico, de natureza mais sofisticada e abstrata. A atividade 1 visa justamente comparar as vantagens
e desvantagens da realização das mesmas atividades com a calculadora e com a planilha.
O uso da planilha eletrônica para construir aproximações para números irracionais (como propõem
as atividades 1 a 4) pode enriquecer significativamente a abordagem desses números. Em geral, ex-
pansões decimais para números irracionais são apresentadas no ensino básico sem maiores justificativas
matemáticas e ou manipulações concretas. As aproximações construı́das em planilhas eletrônicas, em-
pregadas em uma abordagem cuidadosamente planejada pelo professor, podem promover uma maior
familiaridade dos alunos com as representações decimais para números irracionais e suas pro-
priedades, especialmente quando a programação é feita por eles próprios. Em particular, a experiência
com planilhas pode fornecer uma ideia mais concreta para o fato de que as aproximações decimais
finitas para um número real dado constituem os termos de uma sequência convergente, cujo limite é
este número. Entretanto, como no Capı́tulo 1, é importante observar ainda que devem ser exploradas
não são as potencialidades técnicas, como também as situações em que o software produz resultados
inesperados ou aparentemente errados.

Atividades
1. Repita as atividades 6 e 7 da seção 1.2 usando uma planilha eletrônica. Aumente o número de
casas decimais da aproximação. Que vantagens e desvantagens pedagógicas você vê no uso da
planilha, em relação ao uso da calculadora, para realizar esta atividade?
2.1. SIMBOLOGIA ALGÉBRICA 19

2. Digite o número 2 na célula A1 de uma planilha eletrônica. Na célula A2, digite =(A1+2/A1)/2.
Em seguida, selecione e arraste a célula A1 ao longo da coluna A. De que número os valores que
aparecem nessa coluna estão se aproximando? Justifique matematicamente a sua resposta.

3. Utilizando a mesma ideia da atividade 2, crie uma sequência de números reais que tenda a 3.

4. Digite o número 1 na célula A1 de uma planilha eletrônica. Na célula A2, digite =(A1+1)∧0,5.
Em seguida, selecione e arraste a célula A1 ao longo da coluna A.
De forma análoga à atividade 2, podemos concluir que o número para o qual os valores da coluna
A estão se aproximando
√ satisfaz√a equação x2 − x − 1 = 0. Esta equação possui duas raı́zes
1+ 5 1− 5
reais: x1 = e x2 = . Por que os valores que aparecem na planilha se aproximam
2 2
da primeira raiz, e não da segunda?

5. Um aluno estava estudando o comportamento de duas sequências numéricas infinitas, para tentar
descobrir para onde elas tendiam. Sem pistas para obter a resposta, ele decidiu recorre a uma
planilha eletrônica. Para programar essa planilha, o aluno procedeu da seguinte forma:

1. A coluna A foi numerada com números naturais em sequência de 1 a 1.


2. Nas posições correspondes à primeira linha das colunas B, C, D e E, ele escreveu, respec-
tivamente: =1/A1; =B1; =1/A1∧2; =D1.
3. Nas posições correspondes à segunda linha das colunas B, C, D e E, ele escreveu, respec-
tivamente: =1/A2; =C1+B2; =1/A2∧2; =E1+D2.
4. A primeira e a segunda linhas da tabela foram selecionadas e arrastadas até completar a
milésima linha.

A figura abaixo mostra um trecho da planilha programada por ele.


20 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

(a) Explique o comportamento dos valores mostrados nas colunas B, C, D e E da planilha.


(b) Na sua opinião, que sequências o aluno estava tentando estudar?
(c) Você considera que a planilha pode ajudá-lo a determinar os limites procurados?
(d) Se o aluno arrastasse até a milionésima linha, em lugar de parar na milésima, você acha que
ele teria mais pistas para a resposta do problema?
(e) Determine os limites.

Como já comentamos, um primeiro objetivo das atividades anteriores é o entendimento da própria
simbologia e regras sintáticas das planilhas eletrônicas, em particular, como as fórmulas inicial-
mente digitadas em uma célula se generalizam com a ferramenta de arrastar.
Na atividade 2, os valores que aparacem na coluna A correspondem aos termos da sequência de
números reais definida recursivamente da seguinte forma:
(
x1 = 2
xn + 2/xn (2.1)
xn+1 = ∀n > 1
2
Observando a planilha,
√ podemos perceber que os valores que aparecem na coluna A parecem se
aproximar do número 2. Para ter certeza da validade deste fato, devemos buscar uma justificativa
matemática. Empregando as operações aritméticas com limites observamos que, caso o limite da
sequência (xn )n∈N definida em 2.1 exista, teremos:
 
xn + 2/xn lim xn + 2/ lim xn
lim xn+1 = lim = .
2 2

Além disso, é claro que lim xn+1 = lim xn . Portanto, x = lim xn deverá satisfazer à equação:

x + 2/x
x= ,
2
que é equivalente a x2 = 2. Um argumento de indução finita garante-nos que, se começamos com
um termo inicial x1 > 0, então todos os demais termos da√sequência (xn ) definida em 2.1 serão todos
positivos. Isso nos leva a concluir que, de fato, lim xn = 2.
Entretanto, este argumento não está completo! Para que ele seja válido precisamos, de antemão,
ter certeza que o limite existe, pois caso contrário nenhuma das operações que foram feitas com ele
seria válida. Para demonstrar a existência do limite, começamos considerando a função real f : R → R
definida por:
x + 2/x
f (x) = .
2
√ √
A análise da√derivada de f nos diz que a função possui um mı́nimo absoluto no ponto ( 2, √ 2),
isto é, f (x) > 2 ∀ x √ > 0. Como xn+1 = f (xn ) e já√sabemos que xn √> 0 ∀ n ∈ N, então xn+1 > 2
∀ n > 1, isto é, xn > 2 ∀ n > 2.√ Como x1 = 2 > 2, então, xn > 2 ∀ n > 1. Logo, a sequência
(xn ) é limitada inferiormente por
√ 2.
Agora, observe que: xn > 2 ⇒ x2n > 2 ⇒ xn > x2n . Portanto:

xn + 2/xn xn + x n
xn+1 = 6 = xn ∀ n > 1.
2 2
Logo, (xn ) é monótona decrescente. Assim a sequência é limitada inferiormente e monótona de-
crescente, o que garante que (xn ) é convergente, isto é, existe o limite.
2.1. SIMBOLOGIA ALGÉBRICA 21

A atividade 3 pede uma adaptação da atividade 2.√ De forma mais geral, dados a ∈ R, a > 0, e k ∈
N, você poderá obter aproximações para o número a, utilizando a sequência definida recursivamente
k

da seguinte forma (verifique):


(
x1 = 1
(k − 1) xn + a/xn
xn+1 = ∀n > 1
k
A atividade 4 explora uma ideia semelhante à da atividade 2, para construir uma sequência conver-
gindo ao número áureo.
Na atividade 5, as colunas B, C, D e E da planilha representam, respectivamente, os termos das
seguintes sequências:
n
X n
X
1 1 1 1
an = sn = bn = 2 tn = .
n k n k2
k=1 k=1

Entretanto, uma análise pouco cuidadosa dos valores mostrados na planilha pode sugerir conclusões
errôneas sobre o comportamento das sequências. Sabemos que o comportamento de convergência
dessas sequências é como dado abaixo. Provas para estes fatos podem ser facilmente encontradas em
livros de análise real.
n
X Xn
1 1 1 1 π2
lim = lim 2 = 0 lim = +∞ lim 2
= .
n n k=1
k k=1
k 6
Assim, as sequências (an ) e (bn ) têm ambas limite 0. Porém, as colunas B e D da planilha (que
correspondem, respectivamente, a seus termos) parecem sugerir comportamentos distintos: os valores
mostrados nessas colunas parecem se estabilizar em 0, 001 e 0, respectivamente. Como a sequência
(an ) tende a 0, seus termos não podem se estabilizar em 0, 001; e embora (b n ) tenda a 0, seus termos
nunca atingem o valor 0. Isto ocorre porque (bn ) converge a 0 a uma taxa inferior que a de (an ).
Por outro lado, (sn ) e (tn ) têm comportamentos distintos: a primeira diverge a infinito, enquanto a
segunda converge a um valor finito. Porém, as colunas C e E podem sugerir o mesmo comportamento
para essas sequências: ambas parecem se estabilizar em valores finitos. Isto ocorre porque (s n ) tende
a +∞ a uma taxa de crescimento muito baixa.
Os exemplos da atividade 5 mostram que a simples verificação do comportamento dos termos de uma
sequência no computador pode sugerir conclusões errôneas sobre a existência ou não de seus limites.
Sem dúvida, a programação e manipulação de sequência de números reais em planilhas eletrônicas
propicia uma experiência concreta, que pode contribuir significativamente com a aprendizagem dos
alunos. Porém, como já observamos, as conclusões devem sempre ser sustentadas por argumentos
matemáticos.

Atividades
6. Na atividade 2, começamos digitando o número 2 na célula A1 da planilha. Isto significa que o
primeiro termo da sequência definida é 2.

(a) Aproveite a planilha que você construiu na atividade 2 e altere o valor da célula A1 para 1.
O valor do limite da sequência continua o mesmo?
(b) Experimente alterar a célula A1 para outros valores positivos. Observe o comportamento
da sequência.
(c) Agora, altere a célula A1 para valores negativos. Observe o comportamento da sequência.
(d) Investigue e justifique matematicamente o que você observou nos ı́tens anteriores.
22 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

7. Na atividade 2, a planilha eletrônica foi empregada para representar o comportamento de uma


sequência definida recursivamente. Frequentemente utilizamos as propriedades de operações com
limites para determinar o limite de sequências desse tipo. Entretanto, para isso, devemos ter
garantia de antemão da existência desses limites. Caso contrário, estaremos aplicando operações
sem validade, que podem levar a conclusões errôneas. Como exemplo desses erros, considere a
sequência de números reais (an )n∈N definida da seguinte forma:

a1 = 2
an+1 = 12 (a2n + 1), se n ≥ 1.

(a) Mostre que (an ) é crescente.


(b) Use uma planilha eletrônica para representar os termos de (a n ).
(c) Considere o seguinte argumento para determinar o limite de (a n ):
Temos que x = lim an+1 = lim an . Então, podemos tomar x = lim an+1 = lim an . Logo,
1 1 
an+1 = (a2n + 1) ⇒ lim an+1 = (lim an )2 + 1 ⇒
2 2
1 2 2
x = (x + 1) ⇒ x − 2x + 1 = 0 ⇒ x = 1
2
Logo, lim an = 1.
Este argumento está correto? Justifique sua resposta.
(d) O que você pode concluir sobre a convergência desta sequência? Justifique sua resposta.

Suponhamos que o limite da sequência (an ) da atividade 7 exista. Então este limite deve ser, por
um lado, maior ou igual a 2 (pois, pelo item 7a, (an ) é crescente e seu primeiro termo é 2), e por
outro, igual 1 (pelo argumento do item 7c). Logo, (an ) não é convergente. Por isso, a aplicação das
propriedades operatórias com o limite – que não existe – levam-nos a uma conclusão contraditória.
Nas atividades anteriores, observamos diferentes exemplos, em que as representações para as
sequências numéricas nas planilhas eletrônicas nem sempre sugerem, pelo menos a primeira
vista, comportamentos consistentes com o comportamento matemático. Desta forma, vimos
exemplos de: sequências convergentes e sequências divergentes a infinito cujo comportamento pode
ser facilmente observado nas planilhas, assim como sequências convergentes que parecem tender a um
limite diferente do verdadeiro e sequências divergentes a infinito que parecem convergir um limite finito
quando representadas nas planilhas. Ressaltamos que a busca pelas justificativas matemáticas
para essas aparentes diferenças de comportamento podem ser explorados pelo professor
para enriquecer a compreensão dos alunos sobre sequências e representação decimais de
números reais.
Atividades
8. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 7.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da planilha eletrônica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da planilha nas atividades pode trazer para a aprendi-
zagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais (isto
é, sem o uso de recursos computacionais)?
9. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 7, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
2.1. SIMBOLOGIA ALGÉBRICA 23

Articulando Representações
As atividades 10 a 13 propostas a seguir procuram explorar os recursos das planilhas eletrônicas para o
traçado de funções reais de variável real. Este tema será tratado em mais detalhes no Capı́tulo 3, em que
será discutido o uso de softwares desenhados especialmente para esse objetivo. Este não é o caso das
planilhas eletrônicas: o recurso que adaptamos para traçar gráficos de funções reais é originariamente
concebido para a representação de dados estatı́sticos em gráficos de linhas. Essa adaptação causa
algumas limitações para a realização das atividades.
Em primeiro lugar, os gráficos são obtidos pela interpolação de pontos por meio de segmentos de
reta. Assim, eles podem ter aspecto mais de poligonais do que de curvas suaves. Além disso, não é pos-
sı́vel ter controle do intervalo de visualização no eixo vertical, pois este é determinado automaticamente
pelo software a partir dos valores da variável. Em alguns casos, isso pode prejudicar a visualização
dos gráficos. Entretanto, estas limitações não inviabilizam o uso das planilhas eletrônicas para a abor-
dagem de gráficos de funções em sala de aula. Como já comentamos, as limitações técnicas dos
software podem ser exploradas como potencialidades pedagógicas, para motiva explorações
matemáticas. Por exemplo, as situações em que os gráficos adquirem o aspecto de poligonais podem
ser usadas para mostrar que o método de traçar gráficos simplesmente por meio de marcação e inter-
polação de pontos pode conduzir a erros. Esta discussão é proposta aos alunos nos ı́tens 10b e 11c.
Retomaremos e aprofundaremos essa questão no Capı́tulo 3.

Atividades
10. Nesta atividade, propomos a construção de gráficos de funções a partir de tabelas de valores.
Neste exemplo inicial, ficaremos restritos a curvas de grau menor ou igual a 2, descrevendo o
procedimento passo a passo.

1. Insira diferentes valores de entrada da função (elementos do domı́nio) na coluna A da


planilha.
2. Escreva a fórmula para a função escolhida na primeira célula da coluna B e arraste esta
célula para baixo ao longo da coluna, até o fim dos valores inseridos na coluna A.
3. Em seguida, selecione a coluna B e use o recurso do software para construir um gráfico com
os dados inseridos.
4. A figura abaixo exemplifica um tipo de saı́da possı́vel para uma parábola do tipo y =
ax2 + bx + c, com a = −1, b = −1 e c = 2.

(a) Atribua novas valores a, b e c e interprete o comportamento da função.


(b) Observe que o gráfico mostrado parece ser formado por pequenos segmentos de reta. Como
você explica esse comportamento?
24 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

11. (a) Numere a coluna A de uma planilha de −3 a 3, de 1 em 1. Escreva =A1∧2 na primeira


célula da coluna B e arraste esta célula para baixo ao longo da coluna, até o fim dos valores
inseridos na coluna A. Selecione a coluna B e use o recurso do software para construir
gráficos. Observe o gráfico traçado.
(b) Agora, repita a operação, numerando a coluna A de −3 a 3, de 0, 5 em 0, 5. Trace o gráfico
e compare com o aspecto do gráfico anterior.
(c) Qual dos gráficos melhor retrata a curva y = x2 ? Como você poderia melhorar mais o
aspecto desse gráfico?

12. Numere a coluna A de uma planilha de −3 a 3, de 0, 5 em 0, 5.

(a) Escreva =A1+1 na célula B1 e =B1+1 na célula C1. Em seguida, arraste as células B1
e C1 para baixo, até o fim dos valores inseridos na coluna A. Selecione as colunas B e C
use o recurso do software para construir gráficos. Qual é relação entre os gráficos traçados?
(b) Agora, altere a célula B1 para =A1∧2 e arraste esta célula para baixo ao longo da coluna
B, até o fim dos valores inseridos na coluna A, sem alterar a coluna C. Observe as mudanças
nos dois gráficos traçados. Qual é relação entre esses gráficos?
(c) Altere novamente a célula B1 para =SEN(A1) e repita a operação do item anterior: arraste
esta célula para baixo ao longo da coluna B, até o fim dos valores inseridos na coluna A,
sem alterar a coluna C. Qual é relação entre os gráficos traçados?

13. (a) Aproveitando a construção da atividade 12, insira =A1+1 na célula B1 e =ABS(B1) na
célula C1 e arraste estas células para baixo até o fim dos valores inseridos na coluna A.
Use o recurso do software para construir os gráficos correspondentes aos dados nessas duas
colunas. Explique a relação entre os gráficos traçados.
(b) Altere a célula B1 para =A1∧2-1 e arraste-a para baixo, até o fim dos valores inseridos na
coluna A. Observe as mudanças nos gráficos e explique a relação entre eles.
(c) Agora, altere a célula B1 para =SEN(A1) e arraste-a para baixo, até o fim dos valores
inseridos na coluna A. Mais uma vez, observe as mudanças nos gráficos e explique a relação
entre eles.
(d) Repita os ı́tens anteriores, alterando a célula C1 para B1∧2. Compare o comportamento
dos diferentes gráficos traçados.
(e) Faça novas alterações nas colunas B e C, sempre procurando explicar o comportamento dos
gráficos traçados.

As atividades 10 e 11 são de caráter introdutório e visam à familiarização com os recursos disponı́veis


em planilhas eletrônicas para o traçado de gráficos. Como comentamos no inı́cio desta seção, a própria
aprendizagem da simbologia e da sintaxe do software pode ser um exercı́cio enriquecedor por si só.
A representação e manipulação de objetos matemáticos na planilha eletrônica deve obedecer a regras
sintáticas especı́ficas – assim como a linguagem simbólica matemática usual. Porém, no caso do soft-
ware, a correção das regras é condição necessária para a obtenção de resultados, o que não ocorre
quando o aluno resolve problemas com papel e lápis. Assim, a experiência com a planilha pode
contribuir com aprendizagem da simbologia algébrica e com a transição do pensamento
puramente aritmético para o pensamento algébrico.
As atividades 12 e 13 exploram a idéia de composição de funções. A coluna B e C da planilha f
representam respectivamente os valores de uma função f e de uma função composta g ◦f . Na atividade
12, a função g é mantida fixa e a função f é alterada (figura 2.1). Na atividade 13, as funções f e g
2.1. SIMBOLOGIA ALGÉBRICA 25

são alteradas (figura 2.2). Os recursos do software permitem que as mudanças de comportamento nos
gráficos de f e de g ◦ f sejam visualizadas ao mesmo tempo que as funções são alteradas.
No ensino médio, em geral os exercı́cios sobre composições de funções reduzem-se a procedimentos
para determinar expressões algébricas das compostas, dada as expressões algébricas das funções origi-
nais. O uso do computador permite a comparação das propriedades das funções compostas com as
propriedades das funções originais, a partir da articulação das representações algébricas, numéricas e
gráficas.

Figura 2.1: Composição de funções em planilhas eletrônicas: os gráficos de y = g(x + 1), y = g(x 2 ) e
y = g( sen x), sendo g(x) = x + 1.

Figura 2.2: Composição de funções em planilhas eletrônicas: os gráficos de y = g(x + 1), y = g(x 2 ) e
y = g( sen x), sendo g(x) = |x|; e de y = g(x + 1), y = g(x2 ) e y = g( sen x), sendo g(x) = x2 .

Atividades

14. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 10 a 13.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da planilha eletrônica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da planilha nas atividades pode trazer para a aprendi-
zagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais (isto
é, sem o uso de recursos computacionais)?

15. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 10 a 13, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
26 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

2.2 Tratamento da Informação e Matemática Financeira


Os recursos tecnológicos disponı́veis, atualmente com amplo uso na sociedade, ampliaram as possibilida-
des de tratamento de dados de modo a transformá-los em informações com grande potencial de análise e
aplicação em diversos campos do conhecimento. Tais possibilidades têm sido cada vez mais aplicadas no
ensino básico de Matemática, mobilizando os conhecimentos desenvolvidos pelos alunos em estatı́stica
básica. Inclui-se aı́ a análise de dados obtidos em coletas empı́ricas que, mesmo quando em
grande volume, podem ser organizados e interpretados, por meio de gráficos de diversos tipos,
tabelas, e de medidas estatı́sticas de tendência central, como média, mediana e moda. Tais ferramentas
conceituais podem cumprir dupla finalidade. Por um lado, contribuem com a formação cidadã do
aluno, na medida em que oferecem acesso, de modo rápido, a diversificadas formas de apresentação
da informação, que possibilitam interpretações de situações e dão suporte a tomadas de decisões. Ao
mesmo tempo, permitem a utilização de contextos familiares do dia a dia para o aprendizado de
conceitos matemáticos e sua articulação com outros campos do conhecimento.
Assim, abordagem de tratamento da informação com apoio de recursos computacionais pode pro-
mover uma nova dinâmica à sala de aula. No ensino básico, espera-se que o trabalho com Estatı́stica
seja calcado em um processo investigativo, por meio do qual o estudante manuseie dados desde a
coleta até a interpretação, e formulação de conclusões finais.
Apresentamos a seguir algumas atividades que visam explorar o uso de planilhas eletrônicas para
apresentar a coleta, organização, interpretação e apresentação de dados numéricos em tabelas e gráficos.
Exploramos ainda o cálculo de medidas estatı́sticas como média, mediana, moda e seus significados.

Atividades
1. Solicite aos alunos da turma formem grupos de até seis componentes e construam uma tabela
que relacione a altura (em metro) com o tamanho do palmo (em centı́metros) de cada um dos
estudantes. Cada grupo deve anotar esses dados em uma planilha eletrônica e usar os recursos
disponı́veis para responder as questões a seguir.

(a) Determine os valores da média, moda e mediana para os dados de seu grupo.
(b) Explique o significado estatı́stico da média, da moda e da mediana. Podemos afirmar que
necessariamente existe um aluno da grupo cuja altura coincide exatamente com o valor da
média? E da mediana? E da moda? Justifique suas respostas.
(c) Construa uma tabela de frequência para cada uma das medidas: altura e palmo.
(d) Escolha uma representação conveniente e represente graficamente os dados: altura × palmo.
(e) Você considera que há alguma relação entre a altura e o tamanho do palmo dos colegas?
Justifique sua resposta.
(f) Anote os dados de cada um dos outros grupos e compare os dados tabelados e os valores
das medidas estatı́sticas calculadas no item 1a.
(g) Você considera que há alguma relação entre a média, da moda e da mediana das alturas e
dos tamanhos dos palmos dos diferentes grupos? Justifique sua resposta.

2. Formule uma atividade de coleta e organização de dados que possa ser aplicada em uma turma
de ensino médio.
(a) Escolha a melhor representação gráfica dentre as possibilidades da planilha eletrônica.
(b) Use as funções da planilha de cálculo e determine os valores da média, moda e mediana.
(c) Relate que conclusões você pode inferir sobre os dados coletados com base nas repre-
sentações gráficas e nas medidas?
2.2. TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E MATEMÁTICA FINANCEIRA 27

Outro campo em que a educação para a cidadania pode se articular com a aprendizagem de conceitos
matemáticos importantes é a Matemática Financeira. No estágio econômico por que passa o Brasil,
com grande parte da população tendo acesso a créditos e financiamentos em modelos diversificados,
cabe ao ensino básico de Matemática oferecer ao aluno uma formação sólida neste campo.
A Matemática Financeira aplicada aos diversos ramos da atividade econômica pode repre-
sentar importante instrumento para auxiliar em análises e decisões de ordem pessoal e social.
Assim, além de servir como aporte a conceitos de outros campos, o aprendizado de Matemática Fi-
nanceira instrumentaliza o cidadão a melhor entender, interpretar e escolher adequadamente dı́vidas,
crediários, descontos, reajustes salariais, aplicações financeiras. Dentre essas decisões, destacamos as
escolhas entre de propostas de financiamentos a longo, médio e curto prazo, relacionadas a experiências
do cotidiano.
A seguir apresentamos atividades que exploram análises de diferentes modos de composição de
financiamentos com pagamentos periódicos muito utilizados em créditos de longo prazo para aquisição
de veı́culos (carros, motos) e imóveis.

Atividade

3. Para a maioria das operações financeiras as taxas de juros compostos são aplicadas a cada perı́odo
sobre um capital aplicado ou a uma dı́vida contratada. Desse modo, se o perı́odo de capitalização
ou incidência dos juros difere do perı́odo da taxa de juros informada é necessário uma conversão
de modo a adequar o perı́odo à taxa. A tabela abaixo pode ser construı́da com as funções de
uma planilha de cálculo.

(a) Reproduza esta planilha para as conversões indicadas e proponha a conversão para outros
valores de taxas, considerando os perı́odos do exemplo.
(b) Apesar de não estar explı́cita, a conversão acontece para valores de taxas dadas ao ano e
que devem ser calculadas para valores ao mês. Que valores estariam nas células Q e R se a
taxa dada fosse calculada ao ano e as taxas aplicadas ao trimestre?
(c) Simule conversões para diferentes perı́odos (por exemplo: semestre para bimestre, etc).
(d) Observe a função referente à célula S3. Escreva uma justificativa matemática para esta
função. Que conceito matemático é empregado para encontrar os valores?
(e) Com esta mesma tabela de conversão, sem mudar a função, é possı́vel converter uma taxa
dada ao mês no sistema de juros compostos para o equivalente ao ano? Em caso afirmativo,
qual é a justificativa matemática para tal conversão?
28 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

O foco das atividades 4 a 7 a seguir está nos sistemas utilizados para financiamentos de longo prazo.
Nestes tipos de financiamentos, consideram-se sempre parcelas periódicas constituı́das por duas partes:
a amortização, que corresponde ao que é efetivamente abatido da dı́vida; e os juros, calculados sobre
o saldo devedor no perı́odo do pagamento. Há duas modalidades principais encontradas no mercado
para este tipo de financiamento:

• No sistema SAC (Sistema de Amortização Constante), um valor constante é amortizado a cada


parcela. Portanto, o valor das parcelas decresce com o tempo. Este sistema é muito usado em
financiamentos de casa própria.

• No sistema PRICE, as parcelas constantes são mantidas constantes. Este pode ser mais encon-
trado em financiamentos de veı́culos e bens duráveis. Muitas vezes, o sistema PRICE é informado
pelos vendedores como sendo sem juros, porém os juros totais são calculados e diluı́dos nas
parcelas fixas.

Podemos utilizar as funções estatı́sticas das planilhas eletrônicas para calcular valores para essas
modalidades de financiamento.

Atividades

4. O trecho da tabela abaixo representa um financiamento pelo sistema SAC, no valor de R$


50.000,00 para compra de um imóvel em um perı́odo de 300 meses, com taxa de 0,9% ao
mês.

(a) Reproduza esta tabela do Sistema SAC em uma planilha de cálculo.


Observe que para utilizar células que terão valor constante devemos utilizar o rótulo da
coluna sempre entre $. Por exemplo, toda vez que nesta tabela usar a taxa fixa de 0,9%
devo criar referência a $B$3. Os valores da coluna B, de B4 em diante são obtidos pela
subtração de 1 do valor antecessor: E5=E4-1.
2.2. TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E MATEMÁTICA FINANCEIRA 29

(b) Justifique matematicamente cada um dos valores numéricos presentes nas células da linha
4 (B4:F4).
(c) O que podemos observar relacionado a cada uma das colunas?
(d) Qual o comportamento das parcelas da prestação neste sistema? Justifique.
(e) Utilize o assistente de gráficos da planilha e em único sistema cartesiano represente os valores
das colunas C, D, E, e F com as parcelas da coluna B.
(f) Experimente variar os valores da quantidade de parcelas ou da taxa de juros. O que podemos
observar em cada caso?

5. A tabela abaixo apresenta o mesmo financiamento da atividade 4, utilizando o sistema PRICE.

(a) O que podemos observar diferente nesta tabela? Justifique.


A figura abaixo ilustra a situação retratada pela tabela PRICE acima. Ou seja, temos um
valor principal e devemos encontrar as parcelas iguais, em modo composto, obtidas a partir
do VF. Cabe ressaltar que este valor pode ser obtido por meio das funções estatı́sticas da
planilha. Por exemplo o conteúdo obtido em K4 é dado por Cálculo da Prestação Constante:
=PGTO(i%; n; -VP; Vf; 0) em que:
• i é a tx de juros;
• n é a quantidade de perı́odos;
• VP é o valor do empréstimo;
• VF é usualmente zero;
• 0 indica que os pagamentos serão ao final do perı́odo.
30 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

(b) Justifique matematicamente cada um dos valores numéricos presentes nas células da linha
4 (J4:M4).
(c) Observe a função referente à célula S3. Escreva uma justificativa matemática para esta
função. Que conceito matemático é empregado?
(d) Qual o comportamento das parcelas da prestação neste sistema? Justifique.
(e) Utilize o assistente de gráficos da planilha e em único sistema cartesiano represente os valores
das colunas C, D, E, e F, com as parcelas da coluna B.
(f) Experimente variar os valores da quantidade de parcelas ou da taxa de juros. O que podemos
observar em cada caso?

6. Construa em uma mesma planilha as tabelas com os sistemas SAC e PRICE. Para cada um dos
casos, represente em eixos cartesianos a amortização, os juros, as prestações e saldo devedor.
Comente as vantagens e desvantagens de cada sistema.

7. Construa as tabelas análogas às anteriores, para o caso da taxa dada ao ano com perı́odos de
prestações mensais. Veja a figura abaixo, como uma sugestão para inserir a nova entrada com
taxa ao ano.

Fecharemos este Capı́tulo com uma atividade interessante (e talvez surpreendente) de Matemática
Financeira. Além do número π, o número irracional transcendente mais conhecido e importante da
Matemática é certamente a constante de Euler:

e = 2, 718281828459 . . .
Embora o número e tenha um papel importante em Matemática superior, além de inúmeras
aplicações na modelagem de problemas em diversas áreas, motivações para a sua introdução no ensino
básico não são muito difundidas – diferentemente do que ocorre com o número π, cuja definição como
razão entre o perı́metro e a diagonal do cı́rculo tem forte apelo geométrico. No caso da constante de
Euler, uma dificuldade está no fato de que, embora haja algumas formas equivalentes de definir este
número, todas envolvem de alguma forma o conceito de limite. Podemos definir e por meio do seguinte
limite, conhecido como Segundo Limite Fundamental do Cálculo:
 n
1
e = lim 1 + .
n→+∞ n

Uma das formas de motivar a definição da constante de Euler envolve uma situação de Matemática
Financeira, apresentada na atividade 8. Como observará, a planilha eletrônica tem um papel importante
2.2. TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E MATEMÁTICA FINANCEIRA 31

nessa atividade, pois são necessários muitos cálculos. Como nas atividades 1 a 6 da seção 2.1, para
aplicar esta atividade no ensino médio, não é necessário empregar linguagem de limites, mas apenas
fazer com que os alunos percebam intuitivamente o processo de aproximação, que pode ser usado como
preparação para a futura introdução ao conceito de limite.

Atividade
8. Em uma planilha eletrônica, considere as colunas A, B, e C. Nessas colunas realize as seguintes
operações:

1. Na coluna A, digite nas células A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9 e A10, respectiva-
mente, os valores 1, 2, 3, 4, 6, 12, 365, 8760, 525600 e 31536000.
2. Digite =1+1/A1 na célula B1 e =B1∧A1 na célula C1.
3. Arraste as células B1 e C1, ao longo das colunas B e C, até o final dos valores digitados
na coluna A.
n
(a) Na coluna C estamos calculado 1 + n1 para n igual a cada um dos valores digitados na
coluna A. O que você observa nestes cálculos?
n
(b) Como explicar que 1 + n1 aproxima-se de um número real à medida que n aumenta?
n
Uma explicação intuitiva para a convergência de 1 + n1 quando n aumenta indefinidamente está
na Matemática Financeira, mais precisamente nos juros pagos por uma caderneta de poupança. Pense
que você possui uma quantia Q0 aplicada na caderneta de poupança de um certo banco, que paga pela
aplicação dessa quantia uma taxa de rendimentos de 100% ao ano, e você ainda decide as datas para
a capitalização de sua aplicação.
Se você optar pela capitalização anual (uma vez ao ano), a cada ano o banco paga a você o saldo
integral (100% = 1) existente na capitalização anterior. Assim, após um ano você terá:

• capitalização anual: Q0 + Q0 = 2 Q0 .

Se você optar pela capitalização semestral (duas vezes ao ano), a cada seis meses o banco paga a
1
você metade (50% =  2 ) do saldo existente na capitalização
 anterior. Assim,
 após seis meses
 você
 terá
Q0 + 2 Q0 = 1 + 2 Q0 e após um ano você terá 1 + 12 Q0 + 12 1 + 12 Q0 = 1 + 12 1 + 12 Q0 de
1 1

saldo, ou seja:
2
• capitalização semestral: 1 + 21 Q0 = 2, 25 Q0 .

Se você optar pela capitalização quadrimestral (três vezes ao ano), a cada quatro meses o banco
paga a vocêum terço do saldo existente na capitalização
 anterior. Assim, após quatro meses seu saldo
1 1 2
será 1 + 3 Q0 , após oito meses seu saldo será 1 + 3 Q0 e após um ano seu saldo será:

1 3
• capitalização quadrimestral: 1 + 3
Q0 = 2, 370 Q0 .

Desta forma, o juro anual da aplicação é parcelado linearmente no perı́odos de capitalização, ou seja,
dividido em partes iguais pelo número de capitalizações anuais. Ao fim de cada perı́odo de capitalização,
este juro parcelado é aplicado sobre o saldo da capitalização existente ao fim do respectivo perı́odo.
Perceba que, ao final de um ano, os juros sobre juros vão aumentando seu rendimento inicial Q 0 à
medida que aumentamos o número de capitalizações anuais. Assim, se você optar pela capitalização
trimestral (4 vezes ao ano), bimestral (6 vezes ao ano), mensal (12 vezes ao ano), diária (356 vezes ao
ano), ao final do ano o saldo total da aplicação será cada vez maior:
32 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS

1 4
• capitalização trimestral: 1 + 4
Q0 = 2, 44140625 Q0.

1 6
• capitalização bimestral: 1 + 6
Q0 = (2, 521626 . . .) Q0 .

1 12
• capitalização mensal: 1 + 12
Q0 = (2, 613035 . . .) Q0 .

1 365
• capitalização diária: 1 + 365
Q0 = (2, 714567 . . .) Q0 .
Não há no mercado aplicações com prazo de capitalização inferior a um dia, mas se pudéssemos
aumentar indefinidamente o número de capitalizações anuais, diminuindo consequentemente o perı́odo
de capitalização, verificarı́amos que o saldo da aplicação ao final do ano continuaria aumentando.
Hipoteticamente, poderı́amos pensar por exemplo em capitalização horária (365 × 24 = 8760 vezes ao
ano), minuto a minuto (8760 × 60 = 525600 vezes ao ano) ou segundo a segundo (525600 × 60 =
31526000 vezes ao ano). Assim, terı́amos:
1
8756
• capitalização horária: 1 + 8756 Q0 = (2, 718127 . . .) Q0 .
1
525600
• capitalização minuto a minuto: 1 + 525600 Q0 = (2, 718279 . . .) Q0 .
1
315360006
• capitalização segundo a segundo: 1 + 31536000 Q0 = (2, 718282 . . .) Q0 .
Mas, será que o fato deste saldo final anual aumentar significa que ele aumenta ilimitadamente?
Isto é, podemos obter um saldo final tão grande quanto queiramos, tomando perı́odos de capitalização
suficientemente pequenos? Veremos que a resposta é não: o saldo final sempre aumenta, mas nunca
ultrapassa certa cota superior. Perceba que os valores calculados na planilha eletrônica na atividade
8 correspondem às taxas finais de rendimentos, (isto é, às razões entre cada saldo final anual obtido
e o respectivo valor aplicado inicialmente) correspondes aos perı́odos de aplicação relacionadas acima.
Esses valores parecem convergir para um número próximo de 2, 71828. Entretanto, para ter certeza
dessas respostas, precisamos abordar o problema matematicamente.
As taxas finais de rendimentos, para uma aplicação com n capitalizações anuais, são dadas pela
sequência de exponenciais:
 n
1
en = 1 + , n = 1, 2, 3, . . .
n
Evidentemente, a existência do limite dessa sequência, que determina a constante de Euler, precisa
ser demonstrada matematicamente. Essa demonstração passa por mostrar que a sequência de números
reais (en ) é estritamente crescente e limitada superiormente por 3. Demonstrado isso, a completude
dos números reais garante a existência do limite, que chamaremos de e. Observe inicialmente que a
potência en se expande em n + 1 parcelas, como abaixo:
 n
1 1 n(n − 1) 1 n(n − 1)(n − 2) 1 1 1
1+ =1+ n+ 2
+ 3
+ · · · + n n−1 + n .
n n 2 n 2! n n n
1
A (j + 1)-ésima parcela, do ponto de vista de , se escreve como
j!
n(n − 1)(n − 2) · · · (n − j + 1) 1 n(n − 1)(n − 2) · · · (n − j + 1) 1
=
j! nj nj j!
n n−1 n−j +1 1
= ···
n n n j!
    
1 2 j−1 1
= 1− 1− ··· 1−
n n n j!
2.2. TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E MATEMÁTICA FINANCEIRA 33

Como cada um dos parênteses acima aumenta de valor se trocarmos n por n+1, segue que e n < en+1
para todo n. Além disso, cada um desses parênteses é sempre menor do que 1, tornando a parcela em
1
questão menor do que . Assim:
j!
 n
1 1 1 1 1 1 1
en = 1 + < 1+ + + + + +···+
n 1! 2! 3! 4! 5! n!
8
A soma das quatro primeiras parcelas da desigualdade acima resulta em 3 . Para as demais parcelas
1 1
vamos usar que < n para todo n ≥ 4. Podemos então limitar en por
n! 2
 n
1 8 1 1 1
en = 1 + < + 4 + 5 +···+ n
n 3 2 2 2
 
8 1 1 1 1
< + 1+ + + +···
3 24 2 4 8
8 1 67
= + ·2= = 2, 7916 < 3
3 16 24
O número  n
1
e = lim 1 +
n→+∞ n
conhecido na matemática como a constante de Euler, é um valor que aparece naturalmente na mode-
lagem matemática de problemas reais, conforme já vimos no exemplo do rendimento da caderneta de
poupança.
Note que o que foi provado acima é que o limite da sequência e n existe e é um número real menor ou
igual a 3, que chamamos de e. Portanto, por enquanto sabemos apenas que 0 < e 6 3. A experiência
que realizamos com a planilha eletrônica fornece aproximações para o número e. Porém, apenas com
base nessa experiência, não há como saber quantos algarismos das aproximações geradas em cada passo
coincidem com as casas decimais exatas de e. Determinar com precisão as casas decimais de e é outro
problema, que demanda outras ferramentas matemáticas, como por exemplo polinômios de Taylor.
Cabe observar ainda que, evidentemente, juros de 100% ao ano não é uma situação realista. En-
tretanto, estabelecemos este valor apenas para facilitar as contas. Se, em lugar disso, fixássemos uma
taxa p de juros qualquer, as taxas finais de rendimentos, em função do número n de aplicações anuais,
seriam dadas por:  p n
1+ , n = 1, 2, 3, . . .
n
É possı́vel mostrar que a sequência acima converge para o número e p .
Atividades
9. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 8.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel da planilha eletrônica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso da planilha nas atividades pode trazer para a aprendi-
zagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais (isto
é, sem o uso de recursos computacionais)?
10. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 8, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
34 CAPÍTULO 2. PLANILHAS ELETRÔNICAS
Capı́tulo 3

Ambientes Gráficos

Introdução
No ensino básico, as principais formas de representação empregadas na abordagem de funções reais
de variável real são: algébricas (fórmulas), gráficas (gráficos) e numéricas (tabelas). Entretanto, de
forma geral, observa-se grande ênfase em fórmulas e procedimentos algébricos rotineiros executados
sem maiores reflexões, o que tende a favorecer a concepção de função simplesmente como fórmula. Em
conseqüência, não é incomum que os alunos passem a considerar função como tudo aquilo que tem
uma fórmula, negligenciando outros aspectos importantes do conceito, e confundindo-o com outras
idéias, especialmente a de equação. O modelo usado em grande parte dos exercı́cios com essas formas
principais de representação para funções segue o roteiro (ilustrado na figura 3.1):

1. partir de uma fórmula dada;


2. construir uma tabela por substituição de valores (em geral, inteiros positivos e negativos próximos
de 0);
3. marcar os pontos correspondentes no plano cartesiano e ligar esses pontos, obtendo um esboço
do gráfico.

Tabela

Fórmula Gráfico

Figura 3.1: Representações para funções na escola: relações limitadas.

Este é um modelo essencialmente quantitativo, pois se baseia apenas nos valores da função em um
número finito (e em geral pequeno) de elementos do domı́nio, com pouca reflexão matemática levando
em conta caracterı́sticas qualitativas especı́ficas da função. Tanto a escolha dos elementos do domı́nio
para compor tabelas quanto a interpolação de pontos para traçar gráficos são em geral feitas de forma
indiscriminada, o que, efetivamente, pouco contribui para uma melhor compreensão do comportamento
da função. Assim, esse modelo envolve relações limitadas entre as formas de representações.
É um objetivo importante para o ensino de funções procurar “completar” o diagrama da figura
3.1, como mostra a figura 3.2, enriquecendo a abordagem com atividades que promovam articulações
múltiplas entre diferentes formas de representação e, desta forma, contribuam para uma com-
preensão mais qualitativa sobre funções reais. Por exemplo, relacionar as caracterı́sticas geométricas do

35
36 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

gráfico de uma função diretamente com as propriedades algébricas de sua fórmula, sem a intermediação
de tabelas de valores.

Tabela

Fórmula Gráfico

Figura 3.2: Representações para funções na escola: completando articulações.

Existem alguns softwares disponı́veis que podem ajudar neste objetivo (por exemplo, [2, 7]). Es-
ses programas não requerem comandos ou sintaxe de programação especı́ficos e permitem manipular
gráficos de funções de forma integrada com representações algébricas e numéricas, usando essencial-
mente a mesma simbologia algébrica usual. Neste capı́tulo, exploraremos possibilidades de uso desse
tipo de software no ensino básico. Assim como no caso do capı́tulo 1, o objetivo central é destacar
a riqueza das explorações matemáticas que podem ser feitas com recursos tecnológicos relativamente
simples e acessı́veis. As atividades propostas podem ser feitas com os programas Graphmatica [2],
WinPlot [7] (que podem ser facilmente encontrados na internet), com outros equivalentes de sua pre-
ferência, ou ainda com planilhas eletrônicas que tenham recursos para traçar gráficos disponı́veis (como
veremos no capı́tulo 2, a seguir).

3.1 Articulando Representações


As atividades que seguem o modelo representado na figura 3.1 não são necessariamente ruins. Porém
para que contribuam de fato para a aprendizagem do conceito de função, é importante que tanto a
escolha dos valores na tabela quanto a construção do gráfico não sejam feitas de forma mecânica, e
levem em consideração as propriedades especı́ficas da função dada. Observe os exemplos da atividades
a seguir.

Atividades
1. Considere a função f1 : R → R dada por f1 (x) = 9x2 − 9x + 2.
(a) Construa uma tabela de valores e esboce o gráfico desta função com lápis e papel.
(b) Agora, construa o gráfico da função no computador.
(c) Qual é o menor valor atingido pela função?
(d) Que valores você escolheria para construir uma tabela, de forma a realmente ajudar a
entender o comportamento desta função?
(e) Como a reta y = 2 pode ajudar a entender este gráfico?
2. Considere a função f2 : R → R dada por f2 (x) = (x − 1) (4x − 1) (4x − 3).
(a) Construa uma tabela de valores e esboce o gráfico desta função com lápis e papel.
(b) Agora, construa o gráfico da função no computador.
(c) Determine para que valores de x a função é positiva e para que valores de x a função é
negativa.
(d) Que valores você escolheria para construir uma tabela, de forma a realmente ajudar a
entender o comportamento desta função?
3.1. ARTICULANDO REPRESENTAÇÕES 37

1 1
3. Considere a função f3 : R \ 2
→ R dada por f3 (x) = .
(2x − 1)

(a) Construa uma tabela de valores e esboce o gráfico desta função com lápis e papel.
(b) Agora, construa o gráfico da função no computador.
(c) Esta função está definida para todos os valores x ∈ R?
(d) Que valores você escolheria para construir uma tabela, de forma a realmente ajudar a
entender o comportamento desta função?
(e) Como a reta x = 12 pode ajudar a entender este gráfico?

As três atividades acima são variações da mesma idéia, mas com graus de dificuldade progressiva-
mente crescentes, pois envolvem exemplos de funções cada vez menos familiares aos alunos. Basica-
mente, a idéia básica é propor exercı́cios envolvendo construção de tabelas e esboço gráficos sem o uso
do computador, e em seguida usar a visualização dos gráficos no computador para questionar, por meio
de uma questão chave, as escolhas possivelmente feitas durante as resoluções. Nesses três exemplos,
se os valores escolhidos restringirem-se a números inteiros e os pontos correspondentes forem ligados
indiscriminadamente, então os esboços dos gráficos obtidos deixarão de captar aspectos importantes
do comportamento de cada uma das funções, que ocorrem para valores de x entre 0 e 1. Portanto, é
necessário escolher os valores e ligar os pontos convenientemente. O software Graphmatica dispõe de
um recurso que exibe uma tabela de valores determinada automaticamente de acordo com o intervalo
em que o gráfico é traçado. Este recurso pode ser usado para explorar a relação entre os valores da
tabela e o gráfico no próprio software.
Na atividade 1, é dada uma função polinomial do segundo grau, que deve ser familiar aos alunos
a partir do final do ensino fundamental. Portanto,  eles não devem ter dificuldades em perceber que
o ponto de mı́nimo da função ocorre em 21 , − 41 . A partir daı́, os alunos poderão constatar que a
estratégia de substituir apenas valores inteiros e ligar os pontos, sem levar em conta as propriedades da
função dada, pode não ser eficiente para traçar o gráfico (figura 3.3). Esta constatação pode ajudá-los
a questionar a estratégia também no caso de exemplos menos familiares, como nas atividades 2 e 3.

Figura 3.3: O gráfico de f1 (x) = 9x2 − 9x + 2 traçado no software Graphmatica, com uma tabela de
valores.
38 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

A função f2 da atividade 2 é polinomial do terceiro grau. Como a função já é dada na forma
fatorada, podemos determinar facilmente suas raı́zes: x1 = 14 , x2 = 34 e x3 = 1. Além disso, a análise
de sinais do produto permite concluir que f2 é:

• negativa para x < 14 ;


1
• positiva para 4
< x < 34 ;
3
• negativa para 4
< x < 1;
• positiva para x > 1.

Com base nessas informações


 (como f2 é contı́nua),
  é possı́vel concluir que f2 tem (pelo menos) um
máximo local em 14 , 34 e um mı́nimo local em 34 , 1 . Os gráficos de funções polinomiais de terceiro
grau não têm as mesmas propriedades de simetria das funções de segundo grau, portanto, não podemos
concluir, por exemplo, que esses pontos de máximo e mı́nimo ocorrem em pontos médios das raı́zes, ou
de valores de x para determinado valor dado de y. Para determinar sua localização analiticamente, seria
necessário recorrer a métodos do cálculo infinitesimal. Entretanto, uma tabela de valores pode ajudar
a encontrar sua posição aproximada e, assim, entender melhor o comportamento da função. Porém,
para este fim, a tabela deve incluir pontos entre 0 e 41 , entre 41 e 34 e entre 34 e 1 (ver figura 3.4). Neste
caso, a questão chave da atividade é: Determine para que valores de x a função é positiva e para que
valores de x a função é negativa.

Figura 3.4: O gráfico de f2 (x) = (x − 1) (4x − 1) (4x − 3) traçado no software Graphmatica, com uma
tabela de valores.

A função f3 da atividade 3 não está definida em x = 21 . Além disso, como o numerador de f3 é igual
a 1 e seu denominador se anula neste ponto, então, nos pontos próximos a x = 12 , a função assume
valores indefinidamente grandes em módulo (positivos do lado direito e negativos do lado esquerdo).
Em termos de limites, sabemos que:

lim+ f3 (x) = +∞ e lim− f3 (x) = −∞ .


x→ 12 x→ 12
3.1. ARTICULANDO REPRESENTAÇÕES 39

Entretanto, não é necessário recorrer a linguagem de limites para dar uma idéia intuitiva do compor-
tamento da função. Isto pode ser feito por meio da observação da relação entre o comportamento do
gráfico e os valores da função em pontos próximos x = 12 (ver figura 3.5). Como veremos na seção 2.1,
tabelas de valores (que podem ser feitas por meio de planilhas eletrônicas) podem ajudar a construir
uma idéia intuitiva do comportamento de limites infinitos e limites no infinito, sem que seja preciso
empregar linguagem de limites. Este comportamento não seria percebido se construı́ssemos uma tabela
apenas com valores inteiros de x e, especialmente, se ligássemos os pontos em considerar a interrupção
do gráfico em x = 21 . A questão chave neste caso é: Esta função está definida para todos os valores
x ∈ R?

1
Figura 3.5: O gráfico de f3 (x) = traçado no software Graphmatica, com uma tabela de
(2x − 1)
valores.

Cabem ainda algumas observações importantes sobre as atividades anteriores. Em primeiro lugar,
os valores para montar as tabelas devem ser calculados com a ajuda dos recursos do próprio software,
de outros softwares ou de uma calculadora. Estes cálculos podem ser trabalhosos, e o objetivo das
atividades não é treinar a destreza em contas e sim enfatizar as relações qualitativas entre
as propriedades da fórmula algébrica, o comportamento do gráfico e os valores da função.
Por este mesmo motivo, estas representações devem ser discutidas pelo professor de forma
articulada: quando cada uma delas for enfocada, é importante, sempre que possı́vel, fazer referência
às demais e explicitar as relações. O software pode ser um aliado importante para estabelecer mais
claramente estas articulações. Outra forma particularmente interessante de fazer isso é relacionar os
conceitos de função e equação, que em muitos casos aparecem separados nos currı́culos e livros didáticos
e são freqüentemente confundidos pelos alunos. Para traçar o gráfico de uma função f , é útil determinar
suas raı́zes, isto é, encontrar os valores de x no domı́nio de f tais que f (x) = 0. Para discutir mais
estas idéias, veja as atividades 6 a 7.
Além disso, é fundamental observar que a idéia não é simplesmente usar o software para
verificar o que está certo ou errado no gráfico da função. Em lugar disso, a visualização no
software deve ser explorada para motivar reflexões e conjecturas sobre as funções, que devem ser
verificadas posteriormente por meio de ferramentas matemáticas. Esta observação está alinhada com
o objetivo mais geral de usar o computador para promover aprendizagem matemática sólida o
40 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

suficiente para permanecer e se transferir para outras situações – mesmo sem o apoio da
máquina. Assim, para que o computador não se torne um critério absoluto de verdade matemática para
os alunos, é importante explorar situações envolvendo resultados inesperados ou aparentemente errados,
cuja interpretação exija a compreensão mais aprofundada dos conceitos matemáticos relacionados.
Neste sentido, veja as atividades 1 a 5, da seção 3.3.

Atividades

4. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 1, 2 e 3.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos dessas atividades?
(c) Qual é o papel das questões chave feitas em cada uma das atividades?
(d) Que outras perguntas você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos das ativida-
des?
(e) Que relações entre as representações das funções como fórmula, gráfico e tabela podem ser
exploradas com as atividades?
(f) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(g) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

5. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1, 2 e 3, que seja adequada para
as turmas em que você leciona. Procure incluir uma ou mais questões chave na atividade que
você elaborar, para ajudar a encaminhar a resolução dos alunos.

Funções e Equações
Observamos acima que a relação entre os conceitos de função e equação pode ser uma maneira inte-
ressante de articular diferentes representações. As noções de equação e de função são freqüentemente
abordadas por meio de procedimentos algébricos rotineiros, levando os alunos a desenvolverem uma
concepção confusa de equação e de função simplesmente como fórmula. Por isso, é muito importante
relacionar estas noções, de forma a deixar clara a diferença conceitual entre elas, e articular repre-
sentações numéricas, algébricas e gráficas na resolução de equações. Em geral, quando esboçamos o
gráfico de uma função f , procuramos resolver a equação f (x) = 0 (como abordamos no último item
da atividade 1). De forma mais geral, podemos procurar os elementos x do domı́nio de f cujas imagens
são iguais a um valor fixado a ∈ R, isto é, resolver a equação f (x) = a. Isto pode ajudar, por exemplo,
a explorar propriedades gráficas de simetria no caso das parábolas, como propõe a atividade 6.

Atividades

6. Considere a função g1 : R → R, g1 (x) = x2 − 4x + 3.

(a) Esboce o gráfico de g1 .


(b) Resolva as equações: g1 (x) = 0, g1 (x) = 3, g1 (x) = −1 e g1 (x) = −2.
(c) Qual é a relação entre as soluções das equações acima e o ponto x = 2?
(d) Represente as soluções das equações do item 6b graficamente.
3.1. ARTICULANDO REPRESENTAÇÕES 41

(e) Determine todos os valores de a ∈ R tais que a equação g 1 (x) = a tenha: duas soluções
reais distintas, uma única solução real, nenhuma solução real.
(f) De forma geral, qual é a relação entre as soluções das equações acima e o ponto x = 2?
(g) Relacione a resposta do item 6e com o gráfico de g1 .

7. Considere a função g2 : R → R, g2 (x) = (x + 1) (x − 1)2 .

(a) Esboce o gráfico de g2 .


(b) Resolva as equações g2 (x) = 0.
(c) Quantas soluções tem a equação g2 (x) = −1? Você saberia determinar o valor exato da
solução desta equação?
(d) Existe algum valor a ∈ R tal que g2 (x) = a tenha exatamente duas soluções reais distintas?
Justifique sua resposta.
(e) Existe algum valor a ∈ R tal que g2 (x) = a tenha exatamente três soluções reais distintas?
Justifique sua resposta.
(f) Existe algum valor a ∈ R tal que g2 (x) = a não tenha soluções reais? Justifique sua
resposta.
(g) Relacione as respostas dos ı́tens anteriores com o gráfico de g 2 .

A atividade 6 tem como objeto uma função polinomial do segundo grau, que deve ser familiar ao
alunos. Assim, eles deverão ser capazes de resolver as equações analiticamente e que estabelecer uma
interpretação gráfica para as soluções: as soluções das equações f (x) = a são dadas pelos pontos de
interseção entre o gráfico de f e a reta horizontal y = a (figura 3.6, à esquerda).

Figura 3.6: Os gráficos de g1 (x) = x2 − 4x + 3 e g2 (x) = (x + 1) (x − 1)2 , com soluções gráficas de


equações.

Assim, a atividade 6 pode preparar os alunos para a 7. Esta envolve uma função polinomial do
terceiro grau, que é menos familiar aos alunos e não pode ser manipulada algebricamente com as
ferramentas matemáticas usualmente ensinadas no ensino médio. Como a função é dada na forma
fatorada, os estudantes podem concluir que as soluções da equação g 2 (x) = 0 são −1 e 1. No entanto,
eles não terão ferramentas para determinar respostas analı́ticas exatas para as demais seguintes
propostas na atividade. Este é um aspecto determinante para esta atividade, pois é justamente isso
que pode levá-los a buscar as respostas por meio da interpretação do gráfico: a equação f (x) = −1
tem uma única solução real, existem valores a ∈ R tais que a equação f (x) = a tem duas (um dos
quais sendo a = 0) e três soluções reais, mas não existem valores a ∈ R tais que f (x) = a não tenha
soluções reais. Lembramos ainda que podemos elaborar atividades envolvendo valores aproximados para
soluções de equações, com calculadoras (ver capı́tulo 1) ou planilhas eletrônicas (ver capı́tulo 2).
42 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Atividades

8. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 6 e 7.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos dessas atividades?
(c) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(d) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

9. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 6 e 7, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.

3.2 Famı́lias de Funções Dependendo de Parâmetros


Em muitas situações de sala de aula, desejamos estudar a influência de determinados coeficientes nos
aspectos dos gráficos de certas famı́lias de funções. Por exemplo, sabemos que o coeficiente angular
de uma função polinomial de primeiro grau determina a inclinação de seu gráfico. A possibilidade de
articular representações gráficas e algébricas de forma dinâmica em ambientes computacionais gráficos
pode ajudar em explorações deste tipo, especialmente em casos não tão simples.

Funções Polinomiais do Segundo Grau


Quando estudamos funções polinomiais do segundo grau, sabemos que o coeficiente a está relacionado
com a concavidade da parábola, e o coeficiente c translada o gráfico verticalmente. Mas qual é a
influência do coeficiente b, do termo de primeiro grau, no aspecto da parábola? Observe as atividades
a seguir.

Atividades

1. Considere a famı́lia de parábolas y = 2 x2 + b x + 3, com b ∈ R.

(a) Esboce as parábolas desta famı́lia para b ∈ Z, −10 ≤ b ≤ 10.


(b) De que forma o parâmetro b influi o aspecto gráfico das curvas?
(c) Determine a equação do lugar geométrico do vértices da famı́lia de parábolas.

2. De forma mais geral, determine a equação do lugar geométrico dos vértices de uma famı́lia de
parábolas y = ax2 + bx + c, em que a e c são mantidos constantes e b ∈ R varia.

Na atividade 1, em primeiro lugar, pede-se que sejam esboçados os gráficos da famı́lia de parábolas
dada no computador (figura 3.7). Estes gráficos dão uma idéia intuitiva do movimento no plano que
a variação do coeficiente b provoca e sugerem que o lugar geométrico descritos pelos vértices é uma
curva com a forma semelhante a uma parábola.
3.2. FAMÍLIAS DE FUNÇÕES DEPENDENDO DE PARÂMETROS 43

Figura 3.7: A famı́lia de parábolas y = 2 x2 + b x + 3.

Assim, a visualização dos gráficos na tela pode indicar um caminho para resolução analı́tica do
problema. Para determinar analiticamente a equação deste lugar geométrico, devemos empregar as
fórmulas de coordenadas do vértice de uma parábola:

b ∆
xv = − e yv = − .
2a 4a
Portanto, no caso da nossa famı́lia de parábolas, temos:

b b2 − 24 b2
xv = − e yv = − = − +3.
4 8 8
Logo:

yv = −2 x2v + 3 .
Em seguida, podemos traçar o gráfico que a equação acima representa na mesma tela em que foram
traçados os gráficos da famı́lia de parábolas, ilustrando visualmente a conclusão obtida (figura 3.8).

Figura 3.8: A famı́lia de parábolas y = 2 x2 + b x + 3, e o lugar geométrico de seus vértices.


44 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

A atividade 2 pede a generalização da conclusão da da atividade 1. Observe que, nesta atividade,


o computador não é usado diretamente. O papel do software foi motivar a exploração inicial de um
exemplo particular para levar a uma conclusão geral. Novamente, tomamos as fórmulas de coordenadas
do vértice, considerando a e c como constantes e b como uma parâmetro variando em R:

b ∆
xv = − e yv = − .
2a 4a
Isto é:
b2 b2 − 4ac b2
x2v = e yv = − = − +c.
4a2 4a 4a
Logo:

yv = −a x2v + c .
Observe o encaminhamento das duas atividades anteriores, como proposto acima. Primeiro, par-
timos da exploração de um exemplo particular no ambiente gráfico, o que nos permitiu chegar a uma
conjectura sobre a solução do problema. Em um segundo momento, verificamos matematicamente a va-
lidade desta conjectura. Em seguida, voltamos ao computador para a interpretação gráfica do resultado.
Finalmente, generalizamos o resultado, por meio de argumentos matemáticos. Este encaminhamento
é ilustrado na figura 3.9.

computador verificação computador generalização


exploração inicial matemática interpretação matemática
conjecturas do problema da solução da solução
Figura 3.9: O papel do computador na exploração inicial e interpretação de resultados.

No exemplos destas atividades, o computador desempenha um papel importante ao permitir que um


grande número de gráficos seja traçado com facilidade. O objetivo das atividades não é desenvolver ou
avaliar da destreza dos alunos em traçar gráficos, e sim estimular a compreensão qualitativa do problema.
Provavelmente, sem o computador, o trabalho dos estudantes para traçar os gráficos seria tamanho,
que sua atenção ficaria focada nos aspectos técnicos, desviando-se dos objetivos das atividades. Além
disso, é importante destacar que, no encaminhamento proposto acima, não é papel do computador
converter-se em um critério para verificar ou confirmar a validade matemática da solução. O papel
fundamental do computador é o de motivar conjeturas e indicar caminhos para a solução do
problema e para a generalização desta solução, além de enriquecer a compreensão desta
solução por meio da articulação entre as representações algébrica e gráfica. A validade ou não
da solução devem ser baseadas exclusivamente em critérios de argumentação matemática.

Gráficos e Transformações no Plano


A seguir, propomos mais algumas atividades com estrutura semelhante à das anteriores. As resoluções
devem seguir essencialmente a mesma estrutura proposta acima. Por exemplo, no caso de funções
trigonométricas, podemos explorar os significados dos parâmetros a, b, c e d na famı́lia de funções
f : R → R, f (x) = c sen (d x + b) + a. É o que propomos nas atividades 3 a 5 a seguir. Para facilitar
o encaminhamento, analisamos separadamente os casos f (x) = sen (x + b) + a e f (x) = c sen (d x),
e em seguida combinamos as conclusões.
3.2. FAMÍLIAS DE FUNÇÕES DEPENDENDO DE PARÂMETROS 45

Atividades

3. Considere a famı́lia de funções f : R → R, f (x) = sen (x + b) + a, em que a e b são parâmetros


reais.

(a) Trace o gráfico de f para a = b = 0.


(b) Considere b = 0 e trace os gráficos de f para vários valores diferentes de a. Escolha valores
positivos e negativos para a. O que você observa no aspecto de gráfico de f em cada um
destes casos?
(c) Agora, considere a = 0 e trace os gráficos de f para vários valores diferentes de b. Escolha
valores positivos e negativos para b. O que você observa no aspecto de gráfico de f em
cada um destes casos?
(d) Trace os gráficos de f para vários valores, variando a e b simultaneamente.
(e) Qual é a influência dos parâmetros a e b no aspecto gráfico de f ?

4. Considere a famı́lia de funções f : R → R, f (x) = c sen (d x), em que c e d são parâmetros


reais.

(a) Trace o gráfico de f para c = d = 1.


(b) Considere d = 1 e trace os gráficos de f para vários valores diferentes de c. Escolha valores
para c tais que |c| < 1 e |c| > 1. O que você observa no aspecto de gráfico de f em cada
um destes casos?
(c) Agora, considere c = 1 e trace os gráficos de f para vários valores diferentes de d. Escolha
valores para d tais que |d| < 1 e |d| > 1. O que você observa no aspecto de gráfico de f
em cada um destes casos?
(d) Trace os gráficos de f para vários valores, variando c e d simultaneamente.
(e) Qual é a influência dos parâmetros c e d no aspecto gráfico de f ?

5. Considere agora a famı́lia de funções f : R → R, f (x) = c sen (d x + b) + a, em que a, b, c e


d são parâmetros reais. Trace os gráficos de f para vários valores de a, b, c e d. Tenha certeza
de escolher valores para a e b positivos e negativos e para c e d com módulos menores e maiores
que 1.

Como nas atividades 3 a 5, o computador tem o papel de possibilitar as explorações inicias do pro-
blema, permitindo que sejam traçados um grande número de gráficos, e a interpretação das conclusões,
articulando diferentes representações. Neste caso, podemos concluir que:

• os parâmetros aditivos a e b determinam translações horizontais e verticais nos gráficos das


funções (figura 3.10);
• os parâmetros multiplicativos c e d determinam dilatações horizontais e verticais nos gráficos das
funções (figura 3.10).

No caso da atividade 3, não é difı́cil entender o que ocorre quando variamos o parâmetro aditivo a.
Como estamos somando uma mesma constante às ordenadas de cada um dos pontos pertencentes ao
gráfico, o resultado é um deslocamento vertical:

• no sentido positivo do eixo (para cima), se o valor do parâmetro for positivo;


• no sentido negativo do eixo (para baixo), se o valor do parâmetro for negativo.
46 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS


Figura 3.10: A função f (x) = sen x, suas translações f (x) = sen x + 1, f (x) = sen x − π4
e f (x) = sen x − π4 + 1 (à esquerda), e suas dilatações f (x) = 21 sen x, f (x) = sen (3 x) e
f (x) = 12 sen (3 x) (à direita).

No entanto, pode ser mais difı́cil para interpretar a influência do parâmetro b no gráfico. A soma
de uma constante positiva à variável independente da função (dentro dos parênteses) acarreta em um
movimento é para a esquerda, e não para a direita como poderia ser inicialmente esperado pelos alunos.
Neste caso, justamente porque definimos uma nova função somando b unidades à variável x, para que
um elemento do domı́nio da nova função tenha a mesma imagem que um elemento do domı́nio da
função original, este deve ser subtraı́do de b unidades. Isto provoca um deslocamento horizontal do
gráfico:

• no sentido positivo do eixo (para a direita), se o valor do parâmetro for negativo;


• no sentido negativo do eixo (para a esquerda), se o valor do parâmetro for positivo.

Uma tabela com valores conhecidos da função seno também podeajudar a entender o efeito de
deslocamento horizontal. Considere o exemplo de f (x) = sen x − π4 . Observe na tabela abaixo a
relação entre os valores da variável x, de x − π4 e da variável y. Compare esses valores com os gráficos
de f (x) = sen (x) e f (x) = sen x − π4 na figura 3.10.
π
x− 4
x y
π
0 4
0
π 3π
2 4
1

π 4
0
3π 7π
2 4
−1

2π 4
0
De forma semelhante, na atividade 3, podemos perceber que, ao multiplicarmos a função por c,
estamos multiplicando por um o parâmetro com valor positivo as ordenadas de cada um dos pontos
pertencentes ao gráfico. O resultado é uma dilatação vertical. Se o parâmetro tiver valor negativo,
além da dilatação, o gráfico sofre também uma reflexão em relação ao eixo horizontal. Assim, temos:

• um esticamento vertical se valor do parâmetro for maior que 1;


• um encolhimento vertical se valor do parâmetro estiver entre 0 e 1;
• um esticamento vertical composto com reflexão em relação ao eixo horizontal se valor do parâmetro
for menor que −1;
• um encolhimento vertical composto com reflexão em relação ao eixo horizontal se valor do
parâmetro estiver entre −1 e 0.
3.2. FAMÍLIAS DE FUNÇÕES DEPENDENDO DE PARÂMETROS 47

Resta entender o efeito do parâmetro d. Como construı́mos uma nova função multiplicando a
variável dependente por uma constante d, para que um elemento do domı́nio da nova função tenha
a mesma imagem que um elemento do domı́nio da função original, este deve ser dividido por d. Isto
provoca uma dilatação horizontal do gráfico, que será composta com uma reflexão em relação ao eixo
vertical, se o valor o parâmetro tiver valor negativo:
• um encolhimento horizontal se valor do parâmetro for maior que 1;
• um esticamento horizontal se valor do parâmetro estiver entre 0 e 1;
• um encolhimento horizontal composto com reflexão em relação ao eixo vertical se valor do
parâmetro for menor que −1;
• um esticamento composto com reflexão em relação ao eixo vertical se valor do parâmetro estiver
entre −1 e 0.
Como no caso das translações horizontais, uma tabela
 pode ajudar a entender o efeito de dilatação
horizontal. Considere o exemplo de f (x) = sen 21 x . A tabela abaixo relaciona os valores da variável
x, de 12 x e da variável y. Compare esses valores com os gráficos de f (x) = sen (x) e f (x) = sen 12 x
na figura 3.10.
1
2
x x y
0 0 0
π
2
π 1
π 2π 0

2
3 π −1
2π 4π 0
Escolhemos o exemplo da função seno nas atividades anteriores porque o formato de seu gráfico
facilita a visualização dos efeitos dos parâmetros. Porém, é claro que as conclusões obtidas são gerais,
e não exclusivas das funções trigonométricas Considere, por exemplo, as atividades 6 e 7 a seguir.
Observe que, na atividade 6, o objetivo é aplicar as conclusões obtidas com suporte da exploração
computacional, mas computador não é usado diretamente. Além disso, não é dada nenhuma
informação sobre a fórmula algébrica da função. Portanto, o aluno deve resolver o problema apenas
com os dados gráficos.

Atividades
6. Abaixo vemos os gráficos de duas funções q1 : R → R (à esquerda) e q1 : R → R (à direita).
Sabemos que na forma q1 (x) = p(a x + b) + c, em que a, b e c são constantes reais. Determine
os valores de a, b e c. Justifique sua resposta.
y
y 3

2 2

1 1
x x
−2 −1 1 2 −2 −1 1 2 3 4 5 6
−1 −1

−2 −2
48 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

7. Considere a função 1 : R → R, h(x) = |x2 − 1|. Esboce os gráficos de h e das funções definidas
por h1 (x) = h(x + 1) − 2, h2 (x) = 3 h(2 x) e h3 (x) = 21 h(3 x − 1) − 2.

Uma aplicação interessante de translações de gráficos é a obtenção das fórmulas de coordenadas


do vértices de uma parábola (que usamos nas atividades 1 e 2 desta seção) por meio de translações de
uma parábola com vértice em na origem. Primeiro, devemos escrever uma parábola y = a x 2 + b x + c
qualquer na chamada forma canônica, completando quadrados:

y = a x2 + b x + c =

2 b
= a x + x+ + c =
 a 
2 b b2 b2
= a x + x+ 2 − +c=
 a  4a 4a
2
b 4ac − b2
= a x+ + .
2a 4a
Portanto:
y = a (x − x0 )2 + y0 .
b 4ac − b2 ∆
em que: x0 = − e y0 = =− .
2a 4a 4a
Estas são as conhecidas fórmulas de coordenadas do vértice de uma parábola. Pelo que já estudamos
de translações, sabemos que a parábola acima é dada pela translação de y = a x 2 , de x0 unidades na
horizontal e y0 unidades na vertical. Assim, podemos deduzir a seguinte propriedade: qualquer parábola
é dada por uma translação de uma parábola com mesmo valor de a e vértices na origem. Decorre ainda
desta propriedade que quaisquer duas parábolas com mesmo valor de a são congruentes, isto é, uma
qualquer uma delas pode ser obtida a partir da outra por meio de uma translação. Da forma canônica,
podemos deduzir também outras propriedades importantes das parábolas, como a existência do eixo de
simetria vertical e a própria fórmula das raı́zes. Em sala de aula, esta discussão pode ser conduzida,
partindo-se de exemplos mais simples, até a conclusão geral. Este é o objetivo da atividade 8.

Atividades

8. Considere a função p : R → R, p(x) = 2 x2 . Esboce os gráficos de p e das funções definidas por


p1 (x) = p(x − 2), p2 (x) = p(x) + 1 e p3 (x) = p(x − 2) + 1. Qual é relação entre estes gráficos?

9. Determine a equação de uma parábola y = a x2 + b x + c, com a = 2 e vértice no ponto (−1, 3).

10. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 1 a 9 propostas nesta seção.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(d) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

11. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das propostas nesta seção, que seja adequada
para as turmas em que você leciona.
3.3. PONTOS DE VISTA E PERSPECTIVAS 49

3.3 Pontos de Vista e Perspectivas


Como salientamos anteriormente, é importante explorar pedagogicamente não só as potencia-
lidades como também as limitações técnicas do computador. A interpretação de resultados
aparentemente errados ou inesperados pode motivar explorações matemáticas, além de contribuir para
a formação de uma postura crı́tica dos estudantes. No caso de ambientes gráficos, este tipo de resultado
está relacionado principalmente com arredondamento de valores numéricos e interpolação de pontos
para traçar gráficos. Observe o exemplo da atividade a seguir.

Atividade

1. A figura ao lado representa o gráfico da


x
função h : R? → R, h(x) = , traçado
|x|
em um programa de computador. Você
consideraria este gráfico correto? Explique
por que o gráfico adquiriu este aspecto.
Para interpretar a figura da atividade acima, devemos entender a estrutura dos algoritmos mais
simples usados pelos programas computacionais para traçar gráficos, baseados essencialmente em subs-
tituição e interpolação: dada uma fórmula algébrica, montar uma tabela por substituição de valores (em
geral, em grande quantidade), interpolar os pontos correspondentes no plano cartesiano. É interessante
observar que este é basicamente o mesmo método do modelo de exercı́cios comentado no começo desta
seção (figura 3.1, p. 35). A diferença é que o computador tem capacidade de cálculo e precisão muito
maiores que as do ser humano, o que permite a construção de tabelas com muito mais valores.
Por outro lado, para traçar o gráfico da atividade 1, o software não levou em conta uma propri-
edade qualitativa importante da função1 : x = 0 não faz parte do domı́nio e há uma interrupção do
gráfico neste ponto. Este exemplo pode ser usado para mostrar aos estudantes que este método pode
conduzir a erros – mesmo com a capacidade de cálculos do computador – e que, portanto, evidenciar a
importância de levar em consideração propriedades qualitativas da função. As atividades 2 a 3 a seguir
também envolvem respostas do software cujas interpretações podem ser usadas para motivar exploração
matemática.
No desenvolvimento de atividades deste tipo, é recomendável que os alunos tenham liberdade
para manusear livremente o software, alterando janelas gráficas da forma que desejarem. Ao
mesmo tempo, eles devem ser estimulados a procurar entender o comportamento dos gráficos
e os aspectos adquiridos em diferentes janelas gráficas à luz de argumentos matemáticos.
Sem orientações especı́ficas do professor neste sentido, os alunos podem se perder na manipulação
do software e na mudança de janelas gráficas. Estas manipulações devem sempre ser orientadas pela
análise matemática dos dados do problema e das questões propostas, de forma a ajudar de fato na
compreensão do problema.

1
Há softwares com recursos mais sofisticados que permitem considerar propriedades qualitativas como a da atividade
1, como veremos no capı́tulo 5. Entretanto, neste capı́tulo, visamos enfocar o uso de softwares gráficos com recursos
mais limitados. O objetivo destas atividades não é discutir que programa possui recursos mais sofisticados, e sim destacar
justamente a possibilidade de empregar as próprias limitações dos softwares como potencialidades pedagógicas.
50 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Atividades

2. A figura ao lado representa o gráfico da função p :


1
R? → R definida por p(x) = x2 + 2 , traçado em
x
um programa de computador para −100 ≤ x ≤
100, 0 ≤ y ≤ 5000. Justifique suas respostas.

(a) O gráfico de p é uma parábola?


(b) A função p possui pontos de mı́nimo locais ou absolutos? Em caso afirmativo, que pontos
são estes?
(c) A função p possui assı́ntotas verticais ou horizontais?
(d) Discuta o aspecto do gráfico na figura, considerando as respostas dos ı́tens anteriores.

3. A figura ao lado √
representa o gráfico da função r :
R → R, r(x) = x2 + 1, traçado na janela gráfica
−1000 ≤ x ≤ 1000, 0 ≤ y ≤ 1000.
Explique porque o gráfico adquire este aspecto.

4. A figura ao lado representa o gráfico da função q :


R → R, q(x) = (5 x − 7)(x2 − 2).

(a) Quais são as raı́zes reais de q? Você consegue


visualizar estas raı́zes no gráfico ao lado?
(b) Encontre uma janela gráfica na qual seja
possı́vel visualizar todas as raı́zes de q.
1
5. Considere a função u : R → R, u(x) = .
x6 + 100

(a) Trace o gráfico de u na janela −10 ≤ x ≤ 10, −10 ≤ y ≤ 10. A função u é constante igual
a 0? Explique o ocorrido.
(b) Trace o gráfico de u na janela −0, 1 ≤ x ≤ 0, 1, −0, 1 ≤ y ≤ 0, 1. A função u é constante
igual a 0, 01? Explique o ocorrido.
(c) Qual o maior valor atingido por u? Escolha uma janela gráfica na qual seja possı́vel visualizar
o gráfico de u.

Na atividade 2, à figura com o gráfico da função sugere que a curva é uma parábola. No entanto,
esta impressão errônea se deve a escala em que o gráfico foi traçado. A inspeção da fórmula algébrica
da função mostra que esta não é polinomial do segundo grau, portanto o gráfico não pode ser uma
parábola. Além disso, x = 0 não é um ponto mı́nimo, como uma primeira olhada no gráfico poderia
sugerir. Este ponto nem mesmo pertence ao domı́nio de p e corresponde a uma assı́ntota vertical da
função. Uma mudança na janela gráfica revela melhor o comportamento de p na vizinhança de x = 0,
como monstra figura 3.11 (em que o gráfico de p é mostrado e azul e a parábola y = x 2 em cinza).
1
Verificamos que, para valores grandes da variável x, o termo 2 fica próximo de 0, portanto p(x) ≈ x2 .
x
3.3. PONTOS DE VISTA E PERSPECTIVAS 51

Por isso, o gráfico fica muito parecido com uma parábola em janelas com valores grandes de x. Porém,
1
para valores de x próximos de 0, é o termo x2 que fica próximo de 0, portanto p(x) ≈ 2 , cuja aparência
x
nada tem a ver com a de uma parábola. Em atividades deste tipo, os alunos devem ser estimulados
a observar a fórmula algébrica da função e alterar livremente as janelas no computador. Desta forma,
a articulação das representações gráfica e algébrica contribui para uma compreensão mais profunda do
comportamento da função.

1
Figura 3.11: O gráfico de p(x) = x2 + e a parábola y = x2 , para −10 ≤ x ≤ 10, −10 ≤ y ≤ 100.
x2

Como na atividade 2, o aspecto do gráfico exibido na atividade 3 é determinado pela ordem de


grandeza dos intervalos horizontal e vertical da janela gráfica. Quando aumentamos os valores de x,
a constante√1 tende a √ ficar desprezı́vel em relação ao termo x 2 . Assim, para valores grandes de x
temos que x2 + 1 ≈ x2 = |x|. Por isso, o gráfico tende a adquirir o aspecto da curva y = |x|.
É importante observar que esta aproximação só é razoável para valores grandes de x. A figura 3.12
mostra a janela gráfica −5 ≤ x ≤ 5, 0 ≤ y ≤ 5, em que se pode distinguir claramente o gráfico de r
(em azul) da curva y = |x| (em cinza).


Figura 3.12: O gráfico de r(x) = x2 + 1 e a curva modular y = |x|, para −5 ≤ x ≤ 5, 0 ≤ y ≤ 5.
52 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Como a função polinomial da atividade


√ 4 já é dada
√ na forma fatorada, podemos determinar sem
7
dificuldades suas raı́zes: x1 = 5 , x2 = 2 e x3 = − 2. Como os valores de x1 e x2 são próximos (sua
diferença é da ordem de centésimos), a escala em que o gráfico é mostrado não permite a distinção
destas raı́zes. Para distinguir x1 e x2 , é necessário alterar a janela gráfica para valores de x próximos
de 1, 4, e valores de y próximos de 0 (figura 3.13, à esquerda). Para distinguir as três raı́zes em uma
mesma janela, é necessário tomar para valores de x próximos do intervalo entre a menor raiz e a maior
raiz, e valores de y próximos de 0. (figura 3.13, à direita). Como na atividade anterior, uma observação
superficial do gráfico mostrado pode levar a uma conclusão errônea sobre a função, e uma análise mais
cuidadosa da fórmula algébrica é necessária.

Figura 3.13: O gráfico de q(x) = (5 x − 7)(x2 − 2), para 1, 39 ≤ x ≤ 1, 42, −0, 001 ≤ y ≤ 0, 001 e
com −1, 5 ≤ x ≤ 1, 5, −0, 001 ≤ y ≤ 0, 001, respectivamente.

Verificamos que a função u da atividade 5 é estritamente positiva e atinge um máximo absoluto


1 1
no ponto 0, 100 . Logo, a imagem da função é o intervalo 0, 100 . Então, se traçarmos o gráfico
para −10 ≤ x ≤ 10, −10 ≤ y ≤ 10, os valores da função serão muito pequenos em relação à escala
da janela, e o gráfico adquirirá um aspecto semelhante ao da reta horizontal y = 0 (figura 3.14, à
esquerda). Por outro lado, se reduzirmos muito os valores de x e de y, por exemplo −0, 1 ≤ x ≤ 0, 1,
1
−0, 1 ≤ y ≤ 0, 1, observaremos que o gráfico ficará semelhante à reta horizontal y = 100 (figura 3.14, à
6
direita). Isto ocorre por que, para valores pequenos de x, temos que x fica muito próximo de 0, então
1
u(x) ≈ 100 . A única maneira de visualizar a variação da função no gráfico é escolher escalas muito
diferentes para as duas variáveis: valores grandes para x, para que a variação de u(x) não fiquem muito
1
próximos de 100 ; e valores pequenos para y, para que os valores de u(x) não fiquem muito pequenos
em relação à escala do eixo vertical (figura 3.15).

1
Figura 3.14: O gráfico de u(x) = , para −10 ≤ x ≤ 10, −10 ≤ y ≤ 10 e −0, 1 ≤ x ≤ 0, 1,
x6 + 100
−0, 1 ≤ y ≤ 0, 1, respectivamente.
3.3. PONTOS DE VISTA E PERSPECTIVAS 53

1
Figura 3.15: O gráfico de u(x) = , para −5 ≤ x ≤ 5, −0, 005 ≤ y ≤ 0, 1.
x6 + 100

Em atividades desta natureza, em que os gráficos adquirem aspectos distintos conforme alteramos
as janelas gráficas, é importante que fique claro para os alunos que o que muda não é o gráfico
da função, mas apenas o seu aspecto. Isto é, quando alteramos a janela gráfica não passamos a
observar um gráfico diferente, nem o gráfico que estamos observando muda de comportamento. Apenas
o aspecto do gráfico é alterado, pois o estamos observando de outra janela gráfica, isto é, de outro
ponto de vista. Por exemplo, no caso da atividade 3, r não passa a ser uma função modular na janela
gráfica mostrada no enunciado da questão. A função continua sendo a mesma. O que ocorre é que,
em comparação à ordem de grandeza das variáveis na janela gráfica de observação, a diferença entre
o gráfico de r e o da função modular é tão pequena que não pode ser percebida. Quando alteramos
a janela gráfica na figura 3.12, em comparação aos valores da nova janela, esta mesma diferença não
é mais tão pequena, e pode ser claramente percebida. O mesmo ocorre na 2 com relação ao gráfico
de p e a parábola. Como os exemplos acima mostram, observar um mesmo gráfico de diferentes
pontos de vista pode ajudar a perceber propriedades da função e, portanto, a entender mais
profundamente o seu comportamento. Em alguns casos, os alunos estão acostumados à ideia de
que o gráfico de uma função tem “uma única cara”, e ideia que um mesmo gráfico possa ter aspectos
radicalmente distintos em janelas gráficas diferentes pode causar alguma resistência inicialmente.
Atividades
6. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 2 a 5.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados nas atividades?
(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos dessas atividades?
(c) Em cada uma das atividades, são propostas questões chave para ajudar na interpretar do
gráfico gerado pelo computador. Identifique essas questões.
(d) Que outras perguntas você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos das ativida-
des?
(e) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(f) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?
7. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 5, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
54 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Comportamento Assintótico de Funções Polinomiais e Racionais


Já sabemos que um mesmo gráfico pode adquirir aspectos bem distintos em janelas gráficas diferentes,
dependendo das escalas empregadas. Nas atividades a seguir, usaremos esta ideia para entender melhor
o comportamento assintótico (isto é, o comportamento da função quando a variável independente tende
a ±∞) de funções polinomiais e racionais.

Atividade

8. Considere as funções f, f1 , f2 : R → R, dadas respectivamente por f (x) = x2 + 10 x, f1 (x) = x2


e f2 (x) = 10 x.

(a) Trace, na janela −1 ≤ x ≤ 1, −1 ≤ y ≤ 1, os gráficos das três funções. Os gráficos de


duas das funções ficaram muito semelhantes. Que funções são estas?
(b) Mude a janela para −1000 ≤ x ≤ 1000, −10000 ≤ y ≤ 10000. Os gráficos de duas das
funções ficaram muito semelhantes. Que três funções são estas?
(c) Explique o observado nos ı́tens anteriores.

Como nas atividades da seção 3.2, o que está em jogo são as ordens de grandeza das janelas
gráficas empregadas. Quando traçamos os gráficos para −1 ≤ x ≤ 1, −1 ≤ y ≤ 1, o termo x 2
fica muito pequeno em comparação ao termo 10 x (figura 3.16, à esquerda). Então, neste caso temos
f (x) = x2 + 10 x ≈ 10 x = f2 (x). Por outro lado, para −1000 ≤ x ≤ 1000, −10000 ≤ y ≤ 10000,
é 10 x que fica muito pequeno em comparação a x2 (figura 3.16, à direita). Logo, temos f (x) =
x2 + 10 x ≈ x2 = f1 (x). Portanto, o gráfico de f fica muito parecido com o de f 2 na janela gráfica da
esquerda e com o de f1 na janela gráfica da direita. Para entender mais claramente essas aproximações,
é importante sugerir que os alunos substituam alguns valores para as três funções nos intervalos a cada
uma das janelas gráficas e comparem os resultados. Também é interessante propor aos alunos que
aumentem gradativamente a janela gráfica, e observem o gráfico de f “descolar” aos poucos de f 2 e
“colar” em f1 .
Ainda nesta atividade, podemos observar que, quanto mais aumentamos a janela gráfica, o gráfico
de f fica mais parecido com o de f1 . Isto ocorre porque, na função f (x) = x2 + 10 x, embora o
coeficiente do termo de grau 2 seja bem menor que o do termo de grau e 1 (1 e 10, respectivamente),
para valores de x suficientemente grandes, o termo de grau 1 fica desprezı́vel em relação ao de grau 2.
De fato, esses termos se igual quando x = 10 e, a partir daı́, x2 passa a crescer a uma taxa muito maior
que x: x2 passa a ser x vezes maior que 10 x e, para valores cada vez maiores de x, esta razão é cada
vez mais significativa. Portanto para valores grandes de x, o comportamento da função é dominado pelo
termo de maior grau x2 . Esta propriedade é válida em geral: o comportamento de função polinomial é
dominado pelo termo de maior, independente dos coeficientes de seus termos. Outros exemplos como
este podem ser usados para motivar esta conclusão genérica, que deve ser enunciada precisamente e
verificada formalmente.
Seja f : R → R, f (x) = an xn + . . . + a2 x2 + a1 x + a0 , com an , . . . , a0 ∈ R, uma função polinomial
real de grau n. Pondo o termo de maior grau em evidência, podemos escrever f da seguinte forma
(para x 6= 0):
 
n an−1 a1 a0
f (x) = an x 1+ ...+ + .
an x an xn−1 an xn
an−1 a1 a0
Seja g(x) = ...+ + . Então: lim g(x) = lim g(x) = 0.
an x an xn−1 an xn x→−∞ x→−∞
3.3. PONTOS DE VISTA E PERSPECTIVAS 55

Figura 3.16: Os gráficos de f (x) = x2 + 10 x, f1 (x) = x2 e f2 (x) = 10 x, para −1 ≤ x ≤ 1,


−1 ≤ y ≤ 1 e para −1000 ≤ x ≤ 1000, −10000 ≤ y ≤ 10000, respectivamente.

Uma primeira propriedade que podemos deduzir daı́ é que f (x) e a n xn têm o mesmo sinal para |x|
suficientemente grande. De fato, como g(x) fica tão pequeno pequeno queiramos, temos que g(x) < 1
para valores de x com módulo suficientemente grande. Para esses valores de x, teremos 1 + g(x) < 0,
portanto terão o mesmo sinal. Esta propriedade dá uma ideia inicial de que o termo a n xn domina o
comportamento assintótico de f , independente dos demais termos. Além disso, sabemos a n xn tende a
−∞ ou a +∞ quando x tende a −∞ ou a +∞ (dependendo do sinal de a n e da paridade de n). Daı́,
segue a propriedade mais forte:

lim f (x) = lim (an xn ) e lim f (x) = lim (an xn ) .


x→−∞ x→−∞ x→+∞ x→+∞

Podemos também usar mudanças de janelas gráficas para motivar o estudo do comportamento
assintótico de funções racionais, isto é funções dadas pela razão de duas funções polinomiais. Observe
as atividades a seguir.

Atividades
x2
9. Considere a função p1 : R → R definida por p1 (x) = .
x2 − 1
(a) Trace o gráfico de p1 na janela −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5.
(b) Amplie gradativamente a janela gráfica, aumentando o intervalo da variável x e mantendo o
intervalo da variável y fixo. Que aspecto adquire o gráfico de p 1 ? Explique o comportamento
observado.
x3
10. Considere a função p2 : R → R definida por p2 (x) = .
x2 − 1
(a) Trace o gráfico de p2 na janela −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5.
(b) Amplie gradativamente a janela gráfica, aumentando simultaneamente os intervalos das va-
riáveis x e y. Que aspecto adquire o gráfico de p2 ? Explique o comportamento observado.

x4
11. Considere a função p3 : R → R definida por p3 (x) = 2 .
x −1
(a) Trace o gráfico de p3 na janela −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5.
(b) Amplie gradativamente a janela gráfica, aumentando simultaneamente os intervalos das va-
riáveis x e y. Que aspecto adquire o gráfico de p3 ? Explique o comportamento observado.
56 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

x2
Figura 3.17: O gráfico de p1 (x) = 2 , para −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5 e para −100 ≤ x ≤ 100,
x −1
−5 ≤ y ≤ 5, respectivamente.

x3
Figura 3.18: O gráfico de p2 (x) = , para −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5 e para −100 ≤ x ≤ 100,
x2 − 1
−100 ≤ y ≤ 100, respectivamente.

x4
Figura 3.19: O gráfico de p3 (x) = , para −5 ≤ x ≤ 5, −5 ≤ y ≤ 5 e para −100 ≤ x ≤ 100,
x2 − 1
−1000 ≤ y ≤ 1000, respectivamente.

Nas três atividades acima, quando observamos os gráficos das funções em janelas com valores pe-
quenos das variáveis (figuras 3.17, 3.18 e 3.19, à esquerda), podemos observar algumas caracterı́sticas
das funções, tais como máximos e mı́nimos locais e assı́ntotas verticais nos pontos em que os denomi-
nadores se anulam. Quando aumentamos as janelas gráficas não somos mais capazes de enxergar essas
caracterı́sticas locais, porém outro tipo de comportamento é revelado: as funções p 1 , p2 e p3 ficam pa-
recidas com uma reta horizontal, com uma reta vertical e com uma parábola, respectivamente. (figuras
3.17, 3.18 e 3.19, à direita). Para entender o que está acontecendo, devemos observar que, quando
aumentamos os valores de x, a constante 1 no denominador tende a ficar desprezı́vel em relação aos
termos polinomiais. Portanto, para valores grandes de x, valem as aproximações a seguir,que explicam
o comportamentos dos gráficos:
3.3. PONTOS DE VISTA E PERSPECTIVAS 57

x2 x2 x3 x3 x4 x4
p1 (x) = ≈ = 1, p2 (x) = ≈ =x e p3 (x) = ≈ = x2 .
x2 − 1 x2 x2 − 1 x2 x2 − 1 x2
Como na atividade 8, podemos generalizar a conclusão para qualquer função racional. Seja q : D ⊂
f (x)
R → R uma definida por q(x) = , em que f (x) = am xm + . . . + a0 e g(x) = bn xn + . . . + b0 são
g(x)
dois polinômios. Em primeiro lugar, devemos observar que os limites de q quando x → ±∞ dependem
da relação entre os graus do numerador e do denominador. Uma maneira de determinar esses limites é
dividir o numerador e o denominador de q pelo termo de maior grau.

Caso 1. m < n
Neste caso, dividimos o numerador e o denominador de p por x n :
a m xm + . . . + a 0 am
xn−m
+ . . . + xan0
p(x) = = .
b n xn + . . . + b 0 bn + bn−1
x
+ . . . + b0
x n

Na expressão acima, o numerador tende a 0 e o denominador tende à constante b n 6= 0. Então,


concluı́mos que:
lim p(x) = lim p(x) = 0 .
x→−∞ x→+∞

Caso 2. m = n
Neste caso, dividimos o numerador e o denominador de p por x m = xn :
am−1 a0
a m xm + . . . + a 0 am + x
+...+ xn
p(x) = = bm−1
.
b m xm + . . . + b 0 bm + x
+...+ b0
xn

Na expressão acima, o numerador e o denominador tendem respectivamente às constante a m 6= 0


e bm 6= 0. Então, concluı́mos que:
am
lim p(x) = lim p(x) =
x→−∞ x→+∞ bm

Caso 3. m > n
Neste caso, dividimos o numerador e o denominador de p por x m :

a m xm + . . . + a 0 am + am−1
x
+...+ a0
xn
p(x) = = .
b n xn + . . . + b 0 bn
xm−n
+ . . . + xb0n

Na expressão acima, o numerador tende à constante am 6= 0 e o denominador tende a 0. Então,


concluı́mos que os limites lim p(x) e lim p(x) = 0 são ambos infinitos. Os sinal entre desses
x→−∞ x→+∞
limites depende da relação entre dos sinais de am e bn .

Em resumo, os limites no infinito de uma função racional são determinados pela relação entre as
taxas de crescimento do numerador e o denominador, que, por sua vez, depende de qual destes tem
o maior grau. Se o denominador tem grau maior, então a função tende a 0. Se o denominador e
numerador têm o mesmo grau, então a função tende a uma constante não nula. Se o numerador
tem grau maior, então a função tende a infinito. Este resultado é usualmente estudos em cursos de
cálculo em uma variável. A atividade 9 é um exemplo do caso 2 acima, enquanto as atividades 10 e 11
exemplificam o caso 3.
58 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Embora as atividades 10 e 11 representem o mesmo tipo de comportamento assintótico – tender a


infinito – a função p2 da atividade 10 fica parecida com uma reta e a função p 3 da atividade 11 com
um parábola. Essa diferença de comportamento – que em geral não é estudada nos cursos de cálculo
– corresponde a maior aprofundamento matemático do caso em que a função racional tende a infinito,
pois estabelece formas qualitativamente diferentes de tender a infinito. Com base nesses dois exemplos,
podemos intuir que o comportamento assintótico dessas funções seja determinado pela diferença entre
os graus do numerador e do denominador. Na verdade, podemos obter uma conclusão matemática
mais precisa que esta.
Como estamos tratando do caso em que ∂f > ∂g, pelo divisão polinomial, sabemos que existem
polinômios q e r (quociente e resto), com ∂r < ∂g tais que:

f (x) = q(x) g(x) + r(x) .

Logo:
f (x) r(x)
p(x) = = q(x) + .
g(x) g(x)
Como ∂r < ∂g, podemos concluir pelo caso 1 acima que:
r(x)
lim (p(x) − q(x)) = lim = 0.
x→±∞ x→±∞ g(x)
Assim, sempre que traçarmos o gráfico de um função racional, cujo numerador tem grau maior que
o denominador, e aumentarmos progressivamente a janela gráfica, observaremos este gráfico ficar cada
vez mais parecido com o do polinômio quociente entre o numerador e o denominador. Em particular o
gráfico da função racional adquirirá o aspecto de um polinômio cujo grau é diferença entre os graus do
numerador e do denominador. Voltando aos exemplos das atividades 10 e 11, se efetuarmos as divisões
polinomiais, concluiremos que:

x3 = x (x2 − 1) + x e x4 = (x2 + 1) (x2 − 1) + 1 .

Logo:

x3 x x4 2 1
p2 (x) = = x + e p3 (x) = = (x + 1) + .
(x2 − 1) (x2 − 1) (x2 − 1) (x2 − 1)

Portanto:
x  1
lim (p2 (x) − x) = lim 2
e lim p3 (x) − (x2 + 1) = lim .
x→±∞ x→±∞ (x − 1) x→±∞ x→±∞ (x2 − 1)

Como lim (p2 (x) − x), dizemos que a reta y = x é uma assı́ntota inclinada de p 2 : os valo-
x→±∞
res da função ficam muito
 próximos dos valores da reta, quando x cresce indefinidamente. Como
2 2
lim p3 (x) − (x + 1) , a parábola y = x + 1 tem esse mesmo papel em relação à função p3 . É
x→±∞
interessante fazer mais exemplos para observar desse comportamento no computador.
Observe que o computador tem um papel importante na argumentação para chegar a essa conclusão,
pois a partir da visualização dos diferentes gráficos na tela, podemos perceber essas diferentes formas de
tender a infinito. Não é absurdo supor que uma das razões pelas quais esse aprofundamento matemático
não é abordado em geral nos cursos de cálculo é o fato de que software gráficos ainda são pouco
explorados. É importante destacar ainda que o papel do computador aqui é o mesmo das atividades
anteriores neste capı́tulo: possibilitar uma exploração que sugere um fato matemático que deve ser
3.4. MAIS EXPLORAÇÕES 59

verificada por meio de argumentação dedutiva. Neste caso, passamos da ideia informa de aproximação
para a ideia formal de limite. No ensino básico, a ideia formal de limite não precisa ser tratada. Mesmo
assim, as atividades não podem ser reduzir à exploração no computador. As conclusões devem ser
sistematizadas por meio de argumentação dedutiva compatı́vel com cada nı́vel escolar.

Atividades
12. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 8 a 11.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados nas atividades?


(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos dessas atividades?
(c) Que ideias matemáticas podem ser motivadas por essas atividades, que não são em geral
tratadas abordagem convencional (isto é, sem o computador)?
(d) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

13. Seria possı́vel formular uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 8 a 11, que seja
adequada para as turmas em que você leciona? Justifique sua resposta.

3.4 Mais Explorações


Neste capı́tulo, foram propostas atividades com ambientes computacionais gráficos simples, isto é cujo
uso não requer a aprendizagem de comandos especı́ficos, visando expor aspectos dos conceitos ma-
temáticos que seriam difı́ceis de ser abordados com recursos e representações convencionais.
Além disso, procurou-se empregar potencialidades e, especialmente, limitações técnicas dos softwares
para motivar explorações das questões matemáticas envolvidas, além de incentivar o desenvolvimento
de uma postura crı́tica por parte dos estudantes em relação aos resultados mostrados na tela.
Nesta seção, apresentamos mais algumas atividades com esse espı́rito, em que relações e proprieda-
des entre funções que são usualmente tratados no ensino médio. Entretanto, o uso do software permite
que essas relações e propriedades sejam abordadas de um novo ponto de vista, e que as apliquemos a
exemplos de funções que normalmente não são estudados.

Atividades
1. Considere a função s : R → R definida por s(x) = x sen x.

(a) Esboce o gráfico de s, juntamente com as retas y = x e y = −x.


(b) Explique o comportamento do gráfico. Como as retas podem ajudar a entender esse com-
portamento?
(c) Você deve ser observado que as retas tangenciam o gráfico de s em certos pontos. Que
pontos são esses? Esses pontos correspondem a máximos e mı́nimos locais da função s?
Justifique suas respostas.
(d) Que propriedades da função seno você usou para responder às questões acima?
(e) Que aspecto você espera que tenha o gráfico de t(x) = x 2 sen x?

2. Considere a função u : R → R definida por u(x) = 2 sen x .


60 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

(a) Esboce o gráfico de u.


(b) Determine a imagem de u.
(c) A função u é periódica? Justifique sua resposta.
(d) Que propriedades das funções exponencial e seno você usou para responder às questões
acima?

3. Considere a função v : R → R definida por v(x) = sen (2x ).

(a) Esboce o gráfico de v.


(b) Determine a imagem de v.
(c) A função v é periódica? Justifique sua resposta.
(d) Que propriedades das funções exponencial e seno você usou para responder às questões
acima?

4. Considere a função ω : R → R definida por ω(x) = sen (log 10 x).

(a) Esboce o gráfico de ω, na janela gráfica 0 ≤ x ≤ 10, −2 ≤ y ≤ 2.


(b) Determine as raı́zes de ω. É possı́vel determinar a menor raiz de ω? E a menor? Justifique
suas respostas.

A função s da atividade 1 é dada pelo produto da função seno por x. Como a função seno varia
entre −1 e 1, então s varia entre −x e x (figura 3.20). De forma mais geral, podemos concluir que,
sempre que multiplicarmos a função seno pelo por outra função f , o resultado será uma função que varia
entre −f (x) e f (x). A pergunta do item 1d tem por objetivo ajudar o aluno a perceber a sistematizar
esta propriedade, e a pergunta do item 1e visa levá-los a perceber sua generalização.

Figura 3.20: O gráfico de s(x) = x sen x, com as retas y = −x e y = x.

Nos pontos em sen x = 1, temos que s(x) = x, nos pontos em sen x = −1, temos que s(x) = −x,
e nos demais pontos, temos −1 < s(x) < 1. Portanto, o gráfico de s a reta y = x para x = π2 + 2kπ,
e a reta y = −x para x = − π2 + 2kπ, com k ∈ Z. A imagem do gráfico mostrada na tela, além do fato
destes valores de x corresponderem a pontos de máximo e mı́nimo da função seno, pode sugerir que
esses sejam também máximos e mı́nimos de s. Entretanto, justamente o fato do gráfico tangenciar as
retas nesses pontos fornece um argumento para mostrar o contrário: em pontos de máximos e mı́nimo
3.4. MAIS EXPLORAÇÕES 61

a reta tangente (caso exista) são horizontais, porém nesse casos elas têm inclinação ±1. Assim, no
exemplo desta atividade o gráfico mostrado na tela pode sugerir uma ideia, que se revela falsa – e é a
justamente a exploração motivada pela visualização desse gráfico que pode indicar o caminho para o
argumento matemático para refutá-la.
Na atividade 2 (figura 3.21, à esquerda), o menor valor e o maior valor atingidos por u ocorrem para
os mesmos valores de x em que ocorrem o menor valor e o maior valor da função seno. Portanto, a
imagem de u é o intervalo 21 , 2 . É importante observar aqui que só podemos chegar a esta conclusão
porque a função exponencial é estritamente crescente. Isto é, a função u é uma composição u(x) =
f ( sen (x)), de uma função estritamente crescente com a função seno, portanto a ordem dos valores
da função seno é preservada ( sen x1 < sen x2 ⇒ 2 sen x1 < 2 sen x2 ). Não terı́amos esta garantia se
estivéssemos compondo uma função que não fosse crescente com a função seno (para fixar as ideias,
experimente esboçar o gráfico de y = ( sen x)2 , por exemplo). Além disso, temos que u é periódica, com
perı́odo 2 π. A justificativa para isto também está no fato de que u é a composição u(x) = f ( sen (x)):
como os valores da função seno repetem-se, os valores também se repetirão quando uma função f
qualquer é calculada sobre a função seno.
Na atividade 3 (figura 3.21,
 à esquerda), o valor máximo de v ocorre nos pontos em que sen (2 x ) =
π
1, isto é x = log2 2 + 2 k π , com k ∈ Z; e o valor mı́nimo nos pontos em que sen (2x ) = −1, isto
é x = log2 − π2 + 2 k π , com k ∈ Z. Portanto, a imagem de v é o intervalo [−1, 1]. Neste caso, a
função u é uma composta v(x) = sen (f (x)). Como −1 6 sen x 6 1, então −1 6 sen (f (x)) 6 1
qualquer que seja a função f .
Além disso, observamos que v oscila entre os valores −1 e 1, porém esta oscilação não ocorre em
intervalos regulares. Assim, embora a função seno seja periódica, v não será periódica, pois a função
exponencial não é. Na verdade, percebemos que a oscilação de v fica cada vez mais “intensa” (tanto
que ocorre um erro de interpolação no gráfico traçado pelo software), isto é, os intervalos entre dois
pontos de máximo (ou de mı́nimo) consecutivos ficam cada vez mais curtos. Esta propriedade está
relacionada com o crescimento acentuado da função exponencial. Para entender essa propriedade, 
podemos também voltar a observar as abscissas dos pontos de máximo: x k = log2 π2 + 2 k π , com
k ∈ Z. Como a função logarı́tmica é crescente (pois a derivada primeira log 2 é positiva), então xk é
crescente. Porém, como a taxa de crescimento da função logarı́tmica é cada vez menor (pois a derivada
segunda log2 é negativa), então a distância entre xk e xk+1 é cada vez menor.

Figura 3.21: Os gráficos de u(x) = 2 sen x e v(x) = sen (2x ).

Nas questões 1 a 3, incluı́mos uma questão chave: Que propriedades das funções você usou para
responder às questões acima? Com isso, procuramos direcionar a atenção dos estudantes para os argu-
mentos matemáticos que justificam as propriedades observadas na tela e suas possı́veis generalizações.
Nessas atividades lidamos essencialmente com operações entre funções (produto na atividade 1 e com-
posição nas atividades 2 e 3), que são tópicos usualmente presentes nos currı́culos e livros didáticos do
ensino médio. Porém, procuramos usar o ambiente computacional para olhar para esses tópicos
62 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

de um novo ponto de vista. Em geral, os exercı́cios envolvendo operações entre funções reduzem-
se a procedimentos rotineiros para determinar funções compostas e coisas assim. Aqui, procuramos
propor atividades em que as propriedades qualitativas da função produto ou composta sejam
estudadas à luz da análise das propriedades qualitativas das funções originais. Além disso,
buscamos ampliar o universo de funções familiares aos estudantes, empregamos exemplos cujos
gráficos em geral não são traçados no ensino básico. Traçar tais gráficos seria provavelmente uma
tarefa de difı́cil realização em sala de aula, sem o apoio do recurso computacional. É claro que a
abordagem com o computador não deve se reduzir a traçar esses gráficos, mas sobretudo motivar a
exploração matemática e a compreensão de suas propriedades.
Continuando para a atividade 4, a visualização do gráfico na janela indicada, pode sugerir que a
menor raiz da função ω seria x = 1 (figura 3.22). No entanto, as raı́zes de ω são os pontos x tais
que sen (log10 x) = 0, isto é, x = 10kπ , como k ∈ Z. Portanto, não existe uma maior raiz (pois o
conjunto das raı́zes não é limitado superiormente), nem uma menor raiz de ω (pois, embora o conjunto
das raı́zes seja limitado inferiormente, dada qualquer raiz, sempre podemos exibir outra menor que
esta). É interessante observar ao contrário do que ocorre com a função v da atividade 3, a oscilação
de ω é bastante “espaçada”. Mais precisamente, a razão entre duas raı́zes consecutivas é de 10 π , isto
é, cada raiz é mais de 1.000 vezes maior que imediatamente anterior. Em conseqüência, embora a
função tenha infinitas raı́zes, em cada intervalo escolhido para o eixo horizontal só é possı́vel visualizar
claramente uma delas, pois as demais ou são muito pequenas ou muito grandes para a janela. Além
disso, a diferença de ordens de grandeza das raı́zes faz com o gráfico adquira aspectos completamente
diferentes em cada nova janela (figura 3.23).

Figura 3.22: O gráfico de ω(x) = sen (log10 x).

Figura 3.23: O gráfico de ω(x) = sen (log10 x), em novas janelas.


3.4. MAIS EXPLORAÇÕES 63

Logaritmos e Escalas Logarı́tmicas


Alguns software (incluindo o Graphmatica [2]) possuem um recurso para traçar gráficos em sistemas de
eixos graduados em escalas logarı́tmicas. Em um eixo em escala logarı́tmica de base β > 1, as potências
inteiras de β são representadas em intervalos com um comprimento fixo (figura 3.24). Assim, conforme
caminhamos no sentido positivo do eixo, cada um desse intervalos corresponde a uma multiplicação
pela base (e não à soma de uma constante, como em um eixo linear convencional). Portanto, dado
x ∈ R+ , se x0 é a posição que representa x no eixo em escala logarı́tmica de base β, vale a seguinte
relação: x0 = logβ x.

... x0. . .
β −4 β −3 β −2 β −1 1 β β2 β3 β4
Figura 3.24: Um eixo em escala logarı́tmica de base b.

Atividades
5. As figuras abaixo representam as famı́lias de curvas y = k x (à esquerda) e y = x k (à direita),
ambas com k =, traçadas em um sistema de coordenadas logarı́tmicas decimais x 0 y 0 , na janela
gráfica 10−3 ≤ x ≤ 103 , 10−3 ≤ y ≤ 103 .

(a) Explique porque as curvas adquirem o aspecto de retas neste sistema de coordenadas.
(b) Caracterize todas as funções f : R+ → R+ cujos gráficos adquirem o aspecto de retas no
sistema de coordenadas logarı́tmicas decimais.

6. No exercı́cio anterior, os dois eixos do sistema de coordenadas são graduados em escalas logarı́t-
micas. Podemos também graduar apenas um dos eixos em escala logarı́tmica e manter o segundo
em escala linear convencional.

(a) Em um sistema de coordenadas xy 0 , em que apenas o eixo vertical é graduado em escala


logarı́tmica decimal, enquanto o eixo horizontal é mantido em escala linear convencional,
caracterize todas as funções f : R → R+ cujos gráficos adquirem o aspecto de retas.
(b) Em um sistema de coordenadas x0 y, em que apenas o eixo horizontal é graduado em es-
cala logarı́tmica decimal, enquanto o eixo vertical é mantido em escala linear convencional,
caracterize todas as funções f : R+ → R cujos gráficos adquirem o aspecto de retas.

7. Explique em que tipo de situações, envolvendo variação de grandezas, você considera que é con-
veniente empregar sistemas coordenadas com: ambos os eixos graduados em escalas logarı́tmicas;
com apenas o eixo vertical graduado em escala logarı́tmica; com apenas o eixo horizontal graduado
em escala logarı́tmica.
64 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS

Na atividade 5, o aluno deve ser estimulado a explorar livremente a visualização dos gráficos no
computador, em particular alterando a janela de visualização entre eixos em escalas logarı́tmicas e eixos
cartesianos convencionais. É importante observar que a alternação entre diferentes sistema de coorde-
nadas para visualização de uma famı́lia de curvas, e observação imediata das mudanças de aspecto nas
curvas, consiste em uma possibilidade de exploração oferecida pelo software, que dificilmente
poderia ser reproduzida sem recursos computacionais. Da mesma foram que sugerimos em di-
versas atividades anteriores, a exploração deve conduzir a alguma forma de sistematização matemática.
Este é o objetivo do item 5b. Um gráfico de função que tenha o aspecto de uma reta no sistema x 0 y 0
deve ter equação na forma y 0 = a x0 + b, com a, b ∈ R+ . Assim, teremos:

y 0 = a x0 + b ⇒ log10 y = a log10 x + b ⇒ y = 10a log10 x+b = 10b xa = c xa .

Portanto, as funções f : R+ → R+ cujos gráficos adquirem o aspecto de retas no sistema de


coordenadas logarı́tmicas decimais são aquelas na forma f (x) = c x a , com a, c ∈ R+ .
A abordagem do conceito de logaritmo no ensino médio com freqüência reduz-se a séries de exercı́cios
rotineiros envolvendo, por exemplo, empregar as propriedades algébricas dos logaritmos em resolução
de equações ou para a determinação de valores numéricos. Em exercı́cios deste tipo, há pouco enfoque
conceitual na ideia de logaritmo, suas relações com ordens de grandeza, ou o comportamento e a variação
das funções logarı́tmicas. Atividades envolvendo escalas logarı́tmicas, especialmente com o apoio de
ambientes gráficos, podem ser usadas para fornecer um novo olhar para o conceito de logaritmo. Em
escalas logarı́tmicas, representamos as ordens de grandeza dos números (em relação à uma base fixada),
em lugar de seus valores absolutos. Assim, sistemas de coordenadas logarı́tmicas são convenientes para
estudar fenômenos envolvendo amplas variações de ordens de grandeza, desde valores muito próximos
de 0 até valores muito grandes.
Por exemplo, voltemos à atividade 8 da seção 3.3. Foi observado que o gráfico de f (x) = x 2 +10 x é
aproximado por f2 (x) = 10 x, para valores de x muito próximos de 0; e por f1 (x) = x2 , para valores de
x muito grandes (figura 3.16). Entretanto, quando a janela é pequena o suficiente para distinguirmos
valores de x muito próximos de 0, os valores grandes ficam de fora; e quando aumentamos a janela para
incluir valores grandes de x, não podemos mais distinguir valores muito próximos de 0. Portanto, não
é possı́vel visualizar essas duas aproximações ao mesmo tempo em uma mesma janela gráfica – pelo
menos no sistema de coordenadas cartesianas convencional. Porém, quando mudamos o sistema de
eixos para coordenadas cartesianas passamos a enxergar não os valores das variáveis, mas suas ordens
de grandeza, e o gráfico de f adquire outro aspecto (figura 3.25, à esquerda). Podemos então visualizar
ao mesmo tempo, em uma mesma janela gráfica, as aproximações de f por f 2 (x) = 10 x, para valores
de x muito próximos de 0, e por f1 (x) = x2 para valores de x muito grandes (figura 3.25, à direita).

Figura 3.25: O gráfico de f (x) = x2 + 10 x e o gráfico de f (x) = x2 + 10 x com f1 (x) = x2 e f2 (x) =


10 x, traçado em um sistema de coordenadas logarı́tmicas, para −10 −3 ≤ x ≤ 105 , −10−3 ≤ y ≤ 105 .
3.4. MAIS EXPLORAÇÕES 65

De forma semelhante, se traçarmos o gráfico da função ω da atividade 4 em um sistema de coorde-


nadas em que o eixo horizontal é graduado em escala logarı́tmica e o vertical é mantido em escala linear
convencional, seremos capazes de visualizer diversas oscilações em uma mesma janela gráfica (figura
3.26).

Figura 3.26: O gráfico de ω(x) = sen (log10 x), traçado em um sistema de coordenadas com eixo
horizontal em escala logarı́tmica, para −10−7 ≤ x ≤ 107 , −2 ≤ y ≤ 2.

Atividades

8. Responda às perguntas a seguir, considerando as atividades 1 a 5.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os principais objetivos dessas atividades?
(c) Qual é o papel das questões chave feitas em cada uma das atividades?
(d) Que outras perguntas você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos das ativida-
des?
(e) Qual é o papel do software para o desenvolvimento das atividades? O que o uso do software
pode acrescentar para a aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação à abordagem
convencional (isto é, sem o computador)?
(f) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

9. (a) Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 5, que seja adequada
para as turmas em que você leciona.
(b) Que questões chave você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos da atividade
proposta?
66 CAPÍTULO 3. AMBIENTES GRÁFICOS
Capı́tulo 4

Ambientes de Geometria Dinâmica

Introdução
Segundo um conhecido dito popular, uma imagem vale mais do que mil palavras. Em ambientes de
geometria dinâmica, são utilizadas literalmente centenas de imagens sobrepostas, que se articulam entre
si e são manipuladas de forma interativa. Imagine, então, quantas ideias podem ser traduzidas, com o
auxı́lio da geometria dinâmica!
As ferramentas de geometria dinâmica permitem a construção de objetos geométricos de acordo
com propriedades ou relações estabelecidas. Estes podem então ser manipulados dinamicamente, de
tal maneira que as propriedades e relações sejam preservadas. Esse modo particular de construção
geométrica apresenta caracterı́sticas especiais, que podem ter consequências importantes para a apren-
dizagem. Quando um objeto geométrico é representado por meio de papel e lápis, em geral procura-se
empregar certas notações para indicar suas propriedades. Portanto, essas propriedades determinam a
maneira de se representar, e se fazem notar na representação. Entretanto, o processo de construir uma
representação para um objeto em ambientes de geometria dinâmica dispara outra qualidade de reflexão
sobre suas propriedades e relações matemáticas. Por exemplo, quando esboçamos um losango com pa-
pel e lápis (figura 4.1), comumente marcamos pequenos traços sobre cada um dos lados para indicar a
sua congruência. Porém, se construı́mos um losango em geometria dinâmica (figura 4.2), além de saber
que um losango é, por definição, um quadrilátero com todos os lados congruentes, somos impelidos a
refletir sobre como garantir, na própria construção, que esses lados sejam de fato congruentes.

Figura 4.1: A representação de um losango, com papel e lápis.

67
68 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Figura 4.2: A representação de um losango, em geometria dinâmica.

Assim, em uma representação feita com papel e lápis apenas (sem nenhum outro instrumento), as
propriedades dos objetos são indicadas apenas pela notação usada. Em geometria dinâmica, por outro
lado, a garantia de validade das propriedades e relações matemáticas do objeto representado
é incorporada concretamente no próprio processo de construção da representação. Desta
forma, as próprias experiências de construir representações em geometria dinâmica já constituem, por
si só, exercı́cios que demandam um maior nı́vel de conhecimento matemático dos objetos. Essas expe-
riências podem ainda fornecer pistas sobre outras propriedades e relações dos objetos construı́dos, além
daquelas que fazem parte de suas definições ou são dadas nos enunciados dos problemas, sugerindo
porque estas são válidas (ou não válidas) e indicando caminhos para sua dedução. Assim, o processo
de construção pode nos levar a perceber ou a conjecturar propriedades, que, evidentemente, deverão
ser confirmadas ou refutadas por argumentos matemáticos. No caso do losango dinâmico da figura 4.2,
podemos questionar, por exemplo as possı́veis relações entre congruência e paralelismo dos lados:

A congruência dos lados é suficiente para garantir seu paralelismo. Isto é, todo losango é
um paralelogramo.
Mas, será que a congruência dos lados é também necessária para garantir seu paralelismo?
Isto é, será todo paralelogramo um losango?

É claro que, em construções com de régua não graduada e compasso (fı́sicos) ou outros instrumentos
mecânicos de desenho, a validade das propriedades matemáticas também é incorporada no processo
de construção, como ocorre em geometria dinâmica. De fato, a concepção dos ambientes de geo-
metria dinâmica é primordialmente inspirada nas construções com régua não graduada e compasso
fı́sicos, os assim chamados instrumentos euclidianos. No entanto, uma diferença importante entre esses
ambientes e os instrumentos euclidianos está justamente no aspecto dinâmico das construções. Com
régua e compasso, uma construção geométrica, uma vez feita, é estática. Em geometria dinâmica,
as construções não apenas podem ser manipuladas, como também as condições que a determinaram
inicialmente são preservadas pela manipulação. O aspecto dinâmico dos ambientes pode indicar a
validade matemática das construções, e especialmente sua não validade. Voltando ao exemplo
da figura 4.2, para construir nosso losango em geometria dinâmica, nada nos impede de simplesmente
marcar quatro pontos que, visualmente pareçam formar um paralelogramo quando ligados. Entretanto, o
fato de que a construção não leva em conta garantias matemáticas para a congruência desses segmentos
ficará claro quando esses pontos forem arrastados.
Alguns pesquisadores em educação matemática (e.g. [15, 41]) destacam duas modalidades distintas
de concepção de imagens materiais de objetos matemáticos, do ponto de vista da aprendizagem: um
desenho, se a imagem é vista como representação particular de um objeto isolado; ou uma figura,
se a imagem é percebida como representação genérica de uma classe de objetos matemáticos, que
69

compartilham um conjunto comum de propriedades. Neste sentido, perceber a imagem material de


um losango como uma figura corresponde a entendê-la não apenas com um desenho isolado, mas
como um representante de um classe de quadriláteros, sendo desta forma capaz de incorporar todas as
propriedades matemáticas comuns a esta classe. As potencialidades destacadas anteriormente sugerem
que os ambientes de geometria dinâmica podem ser explorados para ajudar os estudantes a expandirem
sua concepção de uma representação geométrica de desenho para figura – o que constitui um passo de
abstração matemática. Tais potencialidades fornecem, portanto, um terreno vasto para a exploração
de objetos matemáticos e formulação de conjecturas sobre suas relações e propriedades, que deverão
ser comprovadas ou refutadas por meio de argumentos matemáticos formais.
Por outro lado, alguns autores (e.g. [61]) apontam uma preocupação com um possı́vel efeito inde-
sejável do uso de ambientes de geometria dinâmica no ensino: seus recursos, em particular a ferramenta
de arrastar, podem tornar as propriedades de objetos geométricos tão evidentes ao ponto de convencer
os estudantes de que demonstrá-las como teoremas matemáticos seria desnecessário. Uma forma de
prevenir esse efeito é também propor aos estudantes situações em que nem tudo transcorre como
o esperado, como aquelas envolvendo limitações dos ambientes de geometria dinâmica e resultados
surpreendentes ou contrários à sua intuição. Tais reflexões evidenciam, mais uma vez, que os efeitos
do uso de recursos computacionais no ensino de Matemática não são determinados unicamente por
suas caracterı́sticas intrı́nsecas, mas principalmente pela forma como eles são usados na abordagem
pedagógica. Portanto, destaca-se o papel central do professor, em planejar adequadamente a abordagem
com tecnologias computacionais.
Este capı́tulo abordará o uso de ambientes de geometria dinâmica no ensino de Matemática, em
dois campos principais: geometria euclidiana plana e funções. Em particular, como nos capı́tulos ante-
riores, serão exploradas não só as potencialidades, como também as limitações técnicas dos softwares
e situações em que são produzidos resultados inesperados ou aparentemente errados. Desta forma,
objetiva-se destacar a impossibilidade de tomar os resultados do computador como critério de verdade
matemática e enfatizar a necessidade de argumentos formais. No campo da geometria, serão propostas
atividades envolvendo construções geométricas elementares, com ênfase no estudo das propriedades das
figuras planas que permanecem invariantes nas construções geométricas dinâmicas.
Embora as aplicações dos ambientes de geometria dinâmica no ensino de geometria plana sejam
mais difundidas, seu uso também pode ser muito enriquecedor para o ensino de funções reais. Por
exemplo, podem ser exploradas relações entre as propriedades algébricas e o comportamento qualitativo
de gráficos de famı́lias de funções dependendo de parâmetros, de maneira semelhante às atividades
propostas no capı́tulo 3. Porém, tais explorações podem agora ser realizadas de forma dinâmica, isto
é, em lugar de digitar valores numéricos para os parâmetros, o aluno pode controlar esses valores por
meio da ferramenta de arrastar dos ambientes, observando em tempo real as mudanças de aspecto
provocadas nos gráficos.
Além disso, os ambientes de geometria dinâmica permitem a abordagem do conceito de função em
situações que usualmente são pouco exploradas no ensino básico, tais como relações de dependência
funcional em construções geométricas (isto é, situações em que certos elementos das construções
são funções de outros). De fato, em construções geométricas ocorrem naturalmente relações de de-
pendências entre objetos, que valem a pena ser exploradas. Se a construção é feita em geometria
dinâmica, essas relações, que muitas vezes podem passar despercebidas, tornam-se mais evidentes. Por
exemplo, se construı́mos um quadrado inscrito em um cı́rculo, então o lado e a área do quadrado são
funções do raio cı́rculo – ou podemos mesmo dizer que neste caso o próprio quadrado é função do
cı́rculo. Em geometria dinâmica, se alteramos o cı́rculo, podemos ver as alterações acarretadas no
quadrado inscrito; e se apagamos o cı́rculo, o quadrado inscrito (que dele é dependente) também desa-
parecerá. Situações como essa oferecem algumas possibilidades de exploração pedagógica que podem
ser muito enriquecedoras.
70 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

• É possı́vel estudar o comportamento de funções diretamente por meio da dinâmica do ambiente,


sem a mediação das representações usuais em sala de aula, especialmente a representação gráfica.
Isto é, o comportamento da função pode ser analisado ao se alterar um objeto no ambiente, e
observar as consequentes alterações nos objetos que são dependentes deste. Assim, a própria
dinâmica do ambiente converte-se em uma forma não convencional de representação.
• Além disso, pode-se ampliar o universo de funções familiares aos alunos, uma vez que são apresen-
tados exemplos de funções cujos domı́nios ou contradomı́nios não são números, e sim conjuntos
de objetos geométricos. Nos livros didáticos, em geral a abordagem de funções tem inı́cio com a
definição de função em contexto abstrato, como relação entre dois conjuntos genéricos. Entre-
tanto, quase todos os exemplos que se seguem são de funções entre conjuntos numéricos. Desta
forma, verifica-se lacuna brusca na abordagem – e a apresentação de exemplos de funções de
outra natureza é importante para preenche-la.
• Finalmente, como são construı́das funções entre objetos geométricos, essas situações estabele-
cem uma articulação entre geometria e funções, campos da Matemática que quase sempre são
abordados de forma dissociada no ensino básico.

Nas atividades propostas neste capı́tulo, teremos como referência os softwares GeoGebra [1] e
Tabulæ [6]. A razão para esta escolha deve-se apenas ao fato de que esses softwares podem ser encon-
trados facilmente e sem custo na internet. Entretanto, como já observamos, nosso foco não estará em
nenhum software especı́fico, e sim na discussão sobre as vantagens e limitações que o uso de ambientes
de geometria dinâmica em geral pode trazer para o ensino e a aprendizagem de conceitos matemáticos.

4.1 Explorando a Geometria de Forma Dinâmica


De forma geral, os ambientes de geometria dinâmica fornecem uma representação computacional para
o plano euclideano, e suas ferramentas básicas são concebidas para reproduzir régua não graduada e
compasso fı́sicos – os chamados instrumentos euclidianos. Esta estrutura permite a simulação de cons-
truções geométricas que podem ser feitas com os instrumentos euclidianos, sendo que nesses ambientes,
as construções tornam-se dinâmicas, isto é, podem ser manipuladas de forma que as propriedades e
relações dos objetos construı́dos sejam preservadas. A maior parte dos ambientes de geometria dinâmi-
ca incorpora ainda outros recursos, tais como traçado de lugares geométricos, representação de seções
cônicas, coordenadas cartesianas e medidas aproximadas para comprimentos e áreas.
Cabe ressaltar que, em virtude das limitações inerentes ao software, as representações computa-
cionais apresentam diferenças importantes em relação ao modelo matemático. De fato, no modelo
matemático teórico, o plano euclidiano constitui-se de infinitos pontos, é completo (isto é, desprovido
de “buracos”) e ilimitado. Nas representações em geometria dinâmica, por outro lado, lidamos sempre
com uma região retangular formada por uma quantidade muito grande, porém finita de pixels.
O objetivo das atividades a seguir é apresentar possibilidades de uso de ambientes de geometria
dinâmica no ensino de geometria euclidiana plana, tanto para a aprendizagem de conceitos geométricos
especı́ficos quanto para o desenvolvimento do raciocı́nio matemático dedutivo envolvido, buscando
sempre a forma mais geral e sólida possı́vel para que os conhecimentos adquiridos possam
ser reconhecidos e aplicados, mesmo sem o apoio do computador. As atividades iniciais (1 a 6)
visam a ambientação com os ambientes geometria dinâmica, que de um modo geral possuem ferramentas
semelhantes. Propomos construções relativamente simples e procuramos explorar a investigação dos
conceitos matemáticos envolvidos. As atividades propostas envolvem, principalmente, a investigação de
regularidades, a generalização de propriedades, a formulação de conjecturas, e como desdobramento, a
confirmação ou refutação dessas conjecturas por meio de argumentos matemáticos.
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 71

Atividades

1. Foi proposta a uma turma do ensino médio a tarefa de construir um triângulo equilátero de
lado AB dado, usando um ambiente de geometria dinâmica. Um dos alunos da turma propôs a
seguinte solução:

1. trace a mediatriz do segmento AB;


2. usando o recurso para traçar cı́rculos do ambiente, escolha o ponto A como centro e mova
o cursor até que o cı́rculo “encoste” no ponto B, marcando assim um ponto C, que define
o raio AC;
3. marque o ponto D, de interseção entre a mediatriz de AB e esse cı́rculo;
4. ligue os pontos, obtendo o triângulo ABD.

(a) Você considera que a construção está correta?


(b) Qual é o segmento que determina a medida do raio do cı́rculo construı́do? Este segmento
depende de AB?
(c) Usando a construção proposta pelo aluno, arraste o ponto C. O que acontece com o
triângulo construı́do?
(d) O que podemos garantir sobre esse triângulo, com base na construção do aluno? Isto é,
o que, de fato o aluno está construindo? Justifique sua resposta por meio de argumentos
matemáticos.
72 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

2. Para resolver a mesma tarefa da atividade 1, outro aluno da turma propôs a seguinte construção:
1. trace a mediatriz do segmento AB;
2. usando o recurso para traçar cı́rculos, escolha o ponto A como centro e mova o cursor até
que o cı́rculo “encoste” no ponto B, de forma que o ponto C, que define o raio AC, esteja
sobre a mediatriz de AB;
3. ligue os pontos, obtendo o triângulo ABC.
Responda às mesmas perguntas da atividade 1, para esta construção.

3. Descreva uma maneira correta de construir um triângulo equilátero de lado AB dado em um ambi-
ente de geometria dinâmica, isto é, uma construção de forma que a propriedade de ser equilátero
seja preservada quando quaisquer dos elementos da construção forem arrastados. Justifique a
validade de sua construção por meio de argumentos matemáticos.
4. Agora, o professor propôs a essa mesma a construção, em um ambiente de geometria dinâmica,
de um quadrado de lado AB dado. Um aluno propôs a seguinte solução:
1. trace um cı́rculo de centro em A e raio AB;
2. trace um cı́rculo de centro em B e raio AB;
3. marque um ponto C sobre o cı́rculo de centro A de tal forma que o segmento AC seja
visualmente perpendicular a AB, e um ponto D sobre o cı́rculo de centro B de tal forma
que o segmento BD seja visualmente perpendicular a AB;
4. ligue os pontos, obtendo o quadrado ABDC.
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 73

(a) Você considera que a construção está correta?


(b) O que garante a perpendicularidade dos lados do quadrilátero nesta construção?
(c) Usando a construção proposta pelo aluno, arraste o ponto C e, em seguida, o ponto D. O
que acontece com o quadrilátero?
(d) O que podemos garantir sobre esse quadrilátero, com base na construção do aluno? Isto é,
o que, de fato o aluno está construindo? Justifique sua resposta por meio de argumentos
matemáticos.

5. Questionando a solução do colega, outro aluno da turma propôs a seguinte construção para a
tarefa da atividade 4:

1. trace um cı́rculo de centro em A e raio AB;


2. trace um cı́rculo de centro em B e raio AB;
3. marque um ponto C sobre o cı́rculo de centro A de tal forma que o segmento AC seja
visualmente perpendicular a AB;
4. trace um cı́rculo de centro em C e raio CB;
5. marque o ponto, de interseção dos cı́rculos de centro B e de centros C;
6. ligue os pontos, obtendo o quadrado ABDC.

Responda às mesmas perguntas da atividade 4, para esta construção.


74 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

6. Descreva uma maneira correta de construir um quadrado de lado AB dado em um ambiente de


geometria dinâmica, isto é, uma construção de forma que a propriedade de ser quadrado seja
preservada quando quaisquer dos elementos da construção forem arrastados. Lembre-se de que,
para garantir que um quadrilátero seja um quadrado, precisamos garantir a congruência dos lados
e dos ângulos internos, pois uma não implica na outra, como ocorre no caso dos triângulos.
Justifique a validade de sua construção por meio de argumentos matemáticos.

As atividades anteriores envolvem construções em que não há garantias de que o objeto geométrico
obtido de fato satisfaz às condições dadas no problema. Estas atividades ilustram como os ambien-
tes de geometria dinâmica, em particular o recurso de arrastar, podem ser explorados para motivar a
distinção entre argumentos matematicamente válidos e argumentos empı́ricos ou indutivos,
que implicam logicamente nas propriedades desejadas. Para que estes objetivos sejam atingidos, é fun-
damental que as conclusões dos alunos sejam fundamentadas em argumentos matemáticos,
e não na simples visualização do software. Note que foram incluı́das questões chaves nas atividades,
com o papel de disparar essa discussão.
Por exemplo, no caso das atividades 1 e 2, só é possı́vel garantir que os triângulos construı́dos são
isósceles, mas não necessariamente equiláteros. Esta conclusão decorre, por um argumento baseado
em congruência de triângulos, do fato do vértice oposto ao lado AB estar sobre a mediatriz deste lado.
Na atividade 4 a construção só garante a congruência de três dos lados do quadrilátero, e na 5 de
todos os lados. Na atividade 5 obtemos apenas um quadrilátero equilátero, isto é, um losango, que não
necessariamente é equiângulo, portanto não necessariamente é um quadrado. Desta forma, pode-se
motivar uma discussão sobre as relações entre congruência dos lados e dos ângulos de um polı́gono:
apenas nos casos dos triângulos essas propriedades são equivalentes.
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 75

Observe que a maior parte dos principais softwares de geometria dinâmica preservam o registro das
construções efetuadas. Esses registros podem e devem ser explorados em sala de aula, pois ajudam a
estabelecer pontes entre as construções geométricas e os argumentos matemáticos que as justificam.

Atividades

7. (a) Mostre que um triângulo é equilátero se, e somente se, é equiângulo.


(b) Mostre que a propriedade do item anterior não vale para polı́gonos com número de lados
maior ou igual a 4.

8. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 6.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Qual é o papel das questões chave feitas em cada uma das atividades?
(e) Que outras perguntas você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos das ativida-
des?
(f) Na sua opinião, que discussões sobre propriedades de triângulos e quadriláteros podem ser
motivadas pela resolução das atividades?
(g) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(h) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

9. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 6, que seja adequada para as
turmas em que você leciona. Procure incluir uma ou mais questões chave na atividade que você
elaborar, para ajudar a encaminhar a resolução dos alunos.

Nas atividades a seguir, damos continuidade à apresentação de situações de geometria plana com
apoio de ambientes de geometria dinâmica, enfocando as possibilidades de exploração dos ambientes
para a formulação de conjecturas sobre as propriedades geométricas dos objetos.

Atividades

10. (Adaptado de [11])

(a) Em um ambiente de geometria dinâmica, construa polı́gonos de n lados, com n = 3, 4, 5, 6.


Use os recursos do software para medir a soma dos ângulos internos de cada um desses
polı́gonos. Arraste os vértices dos polı́gonos e observe o que acontece. O valor da soma dos
ângulos internos varia?
(b) Deduza um fórmula para a soma dos ângulos internos de um polı́gono, em função do número
de lados.
(c) Agora, use os polı́gonos que você construiu para calcular a soma dos ângulos externos (isto
é, os complementares dos ângulos internos) dos polı́gonos.
(d) Deduza um fórmula para a soma dos ângulos externos de um polı́gono, em função do número
de lados.
76 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

11. (Adaptado de [11]) O objetivo desta questão é investigar, com apoio de um ambiente de geome-
tria dinâmica, sob que condições dois triângulos, com um grupo de elementos (lados e ângulos)
congruentes, são congruentes.

(a) Dado um triângulo ABC, construa outro triângulo DEF , satisfazendo: DE = AB e


Ab = D.b Arraste os vértices desses triângulos e investigue a relação entre eles.
(b) Dado um triângulo ABC, construa outro triângulo DEF , satisfazendo: DE = AB, A b=D
b
eB b = E. b Arraste os vértices desses triângulos e investigue a relação entre eles.
(c) É possı́vel construir um triângulo DEF com um lado e dois ângulos congruentes a um lado e
dois ângulos de ABC, mas que não seja congruentes a ABC. Em caso afirmativo, construa
este triângulo. Caso contrário, justifique sua resposta.
(d) Quantos lados e ângulos não congruentes podem ser encontrados nos triângulos não con-
gruentes construı́dos no item anterior?
(e) É possı́vel construir um par de triângulos não congruentes, com cinco pares de elementos
correspondes congruentes? Em caso afirmativo, construa estes triângulos. Caso contrário,
justifique sua resposta.
(f) É possı́vel construir um par de triângulos não congruentes, com seis pares de elementos
correspondes congruentes? Em caso afirmativo, construa estes triângulos. Caso contrário,
justifique sua resposta.

12. (a) Em um ambiente de geometria dinâmica, construa um trapézio ABCD qualquer, de forma
que as posições de todos os vértices possam ser alteradas, preservando o paralelismo das
bases.
(b) Construa as diagonais de ABCD e chame de G seu ponto de interseção. Em seguida, trace
uma paralela às bases por G e chame de F e E, seus pontos de interseção com os lados
AD e BC, respectivamente.
(c) Agora, arraste os vértices do trapézio e observe os triângulos EGD e GCF . O que você
pode afirmar sobre a relação entre essas áreas?
(d) Justifique matematicamente a propriedade que você observou no item anterior.
(e) Como as propriedades dinâmicas do software ajudou a formular a conjectura?
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 77

13. O objetivo desta atividade é demonstrar a existência dos chamados pontos notáveis de um
triângulo qualquer. Esses pontos são definidos da seguinte forma:

• incentro: interseção das bissetrizes relativas a cada um dos ângulos internos de um triângulo;
• circuncentro: interseção das mediatrizes relativas a cada um dos lados de um triângulo;
• baricentro: interseção das medianas relativas a cada um dos lados de um triângulo;
• ortocentro: interseção das alturas relativas a cada um dos lados de um triângulo.

Portanto, demonstrar a existência desses pontos corresponde a provar que cada uma das linhas
notáveis (bissetriz, mediatriz, mediana e altura) se interceptam em um único ponto. Para entender
claramente as definições acima, você deverá recordar as definições de bissetriz, mediatriz, mediana
e altura.

(a) Em um ambiente de geometria dinâmica, construa uma representação para cada uma das
situações propostas neste problema. Arraste os vértices dos triângulos e verifique o que
ocorre com os pontos notáveis.
(b) Demonstre formalmente a existência do incentro e do circuncentro. Essas provas decorrem
diretamente das definições de bissetriz e mediatriz, respectivamente.
(c) Demonstre formalmente a existência do baricentro. A dica é tomar o ponto de intercessão
entre duas das medianas (que certamente existe) e determinar as razões entre as medidas
dos segmentos determinados por este ponto em cada uma das duas medianas.
(d) Demonstre formalmente a existência do ortocentro. Esta prova é provavelmente mais difı́cil
das quatro. Neste caso, a dica é a seguinte. Dado um triângulo ABC, construa um triângulo
DEF de tal forma que cada um dos lados de DEF contenha um dos vértices de ABC e
seja paralelo ao lado ABC oposto a este vértice. Qual é a relação entre as alturas de ABC
e o triângulo DEF ? Faça esta construção no ambiente de geometria dinâmica e escreva a
prova formal.
(e) Com ajuda do ambiente de geometria dinâmica, investigue quais dos pontos notáveis são
sempre interiores ao triângulo. Justifique suas conclusões por meio de argumentos formais.
(f) Verifique se as demonstrações que você escreveu no ı́tens 13b, 13c e 13d continuam valendo
no caso dos pontos serem exteriores ao triângulo.
(g) A razão para os nomes incentro e circuncentro está nos seguintes teoremas:
• O incentro de um triângulo é o centro do cı́rculo inscrito neste este triângulo.
• O circuncentro de um triângulo é o centro do cı́rculo circunscrito a este triângulo.
Represente estes enunciados no ambiente de geometria dinâmica e justifique-os formalmente.

14. Considere o seguinte problema:

Dados uma circunferência C, de centro O e raio r, e uma reta a, construir todos os


cı́rculos simultaneamente tangentes a C e a a, passando por um ponto P ∈ a fixado.

O objetivo desta atividade é analisar as soluções do problema, levando em conta todas as diferentes
possibilidades para as posições relativas entre o cı́rculo C e a reta a. Suponha, inicialmente, que
a não corte C.

(a) Quantas soluções tem o problema? Isto é, existem quantos cı́rculos simultaneamente tan-
gentes a C e a a, e passando por P ?
78 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

(b) Em um ambiente de geometria dinâmica, faça a seguinte construção.


1. Trace a reta b, perpendicular a a que passa por P .
2. Sobre a reta b, marque os pontos C e D tais que AP = BP = r.
3. Trace as mediatrizes dos segmentos OA e OB.
4. Marque os pontos M e N de interseção dessas mediatrizes com a reta b.

Mostre que M e N são os centros dos cı́rculos tangentes procurados. Construa os cı́rcu-
los tangentes, com centros em M e em N e raios em M P e em N P , respectivamente.
Para completar, construa as retas M P e N P e marque os pontos de tangência S e T ,
respectivamente.
(c) A construção do item 14b também vale no caso em que a é secante a C?
(d) O que acontece quando a é tangente a C?
(e) Existe algum caso em que o problema tenha menos de duas soluções? E mais de duas
soluções? A construção do item 14b também vale nestes casos?
(f) Agora, suponha que você uma pequena alteração no final da construção do item 14b.
Proceda da mesma forma até obter os pontos M e N . Em seguida, construa primeiro as
retas M P e N P e marque os pontos de tangência S e T . Depois, construa os cı́rculos
tangentes, com centros em M e em N e raios em M S e em N T .
As construções são equivalentes?
Arraste a reta a até que ela seja secante a C. A construção é preservada? Explique o
observado.

15. Na Matemática da Grécia antiga, os problemas de determinação de áreas de figuras planas eram
chamados problemas de quadraturas. Isto por que esses problemas não eram interpretados como
de medições numéricas, como fazemos hoje, e sim como construções geométricas (realizadas com
os instrumentos euclidianos). Assim, para os gregos, determinar uma área significava construir,
com régua não graduada e compasso, um quadrado com mesma área da figura dada. Considere o
seguinte problema a seguir. Com ajuda de um ambiente de geometria dinâmica, vamos resolvê-lo
da forma como os gregos antigos fariam.
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 79

Dado um pentágono qualquer, construir um quadrado com mesma área.

(a) A resolução deste problema pode ser facilitada com algumas construções auxiliares. Faça as
seguintes construções em um ambiente de geometria dinâmica:
i. construir um retângulo com mesma área de um triângulo qualquer dado;
ii. construir um quadrado com mesma área de um retângulo qualquer dado;
iii. construir um quadrado cuja área seja igual a soma das áreas de dois outros quadrados
dados.
(b) Como você pode usar as construções do item anterior para resolver o problema proposto?

16. As homotetias são transformações no plano que correspondem a ampliações ou reduções. Assim,
as homotetias preservam medidas angulares e multiplicam todas as medidas lineares por uma razão
constante k ∈ R. Portanto, podemos também chamar as homotetias de transformações de seme-
lhança, pois as figuras transformadas são sempre semelhantes às originais. Diversas construções
geométricas e demonstrações podem ser resolvidas com a ajuda de homotetias. A construção de
homotetias em ambientes de geometria dinâmica pode ajudar os alunos a perceberem os efeitos
dessas transformações de maneira mais concreta. Considere o seguinte problema:

Dados uma circunferência C e um segmento de reta AB, inscrever na circunferência,


um triângulo equilátero que tenha um lado paralelo ao segmento AB.

(a) Inicialmente descreva as idéias e conceitos matemáticos que podem ajudar na solução do
problema.
(b) Construa no ambiente de geometria dinâmica os elementos enunciado do problema.
(c) Como o conceito de homotetia pode ajudar na solução?
(d) Agora que a construção está concluı́da, apresente uma prova formal para a sua solução
envolvendo transformações de homotetia.

17. (Adaptado de [53]) Considere o seguinte problema:

Dado um triângulo ABC qualquer, inscrever um quadrado QRST neste triângulo.

(a) Identifique os dados do problema e as condições iniciais do problema.


(b) O que é desconhecido neste problema?
(c) Quais as condições para a construção da solução?
(d) É possı́vel resolver este problema? Use um ambiente de geometria dinâmica para investigar
as possibilidades de solução.

Caso a solução não lhe pareça trivial, uma possı́vel estratégia é pensar em um problema similar,
com menos hipóteses. Observe que, para que QRST esteja inscrito em ABC, é preciso que todos
os vértices de QRST estejam sobre os lados de ABC. Assim, podemos propor, por exemplo o
seguinte problema:

Dado um triângulo ABC qualquer, construir um quadrado QRST que tenha três de
seus vértices sobre os lados de ABC.

Quando diminuem-se as exigências de um problema, é natural que sua solução torne-se mais
simples.
80 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

(e) Experimente construir com um ambiente de geometria dinâmica uma figura que satisfaça
às condições deste problema.
(f) Como as propriedades dinâmicas do ambiente podem ajudar a relacionar este novo problema
com o proposto originalmente?
(g) Utilize as propriedades dinâmicas do ambiente para investigar a localização do quarto vértice.
(h) Escreva uma prova matemática para o resultado obtido.

As atividades 10 e 11 foram desenhadas para provocar sensações de surpresa ou incerteza nos alunos
(ver [31]). Como observamos na introdução deste capı́tulo, situações em que o computador produz
resultados inesperados ou aparentemente errados são importantes para evidenciar aos estudantes a
necessidade de construir argumentos matemáticos, e evitar que eles atribuam ao computador
um estatuto de verdade matemática. As atividades 11 e 10 são apenas exemplos. Evidentemente,
a escolha do tipo de questões que podem ter este efeito depende do público de alunos, seu ano escolar
e sua bagagem de conteúdos.
Na atividade 11, observamos que a soma dos ângulos internos de um polı́gono convexo, dada por
Sn = 180◦ (n − 2), depende do número de lados, e cresce com esse número. Como cada ângulo ex-
terno depende do ângulo interno correspondente, isto pode sugerir que a soma dos ângulos externos
também varia com o número de lados do polı́gono. No entanto, a soma dos ângulos externos de
um polı́gono convexo é constante, igual a 360◦ . Além disso, como o cálculo de valores numéricos dos
ambientes de geometria dinâmica envolve arredondamentos, este pode produzir resultados aproximados,
que podem inclusive mudar de aluno para aluno. A discussão sobre as razões matemáticas destes erros
de arredondamento pode, mais uma vez, ser usada para evidenciar a necessidade de buscar argumentos
matemáticos.
A atividade 10 envolve várias situações investigativas, em que a exploração no computador pode
ser duvidosa ou inconclusiva. Algumas das situações propostas serão mais familiares aos alunos, e
outras menos. Assim, o professor pode conduzir a atividade para a necessidade de buscar argumentos
matemáticos para decidir que condições garante a congruência. Esta investigação pode levar ainda à
discussão sobre o que significa enunciar os chamados “casos de congruência de triângulos”: estabelecer
condições suficientes para a congruência, isto é condições que impliquem na congruência.
Note que, nos enunciados das atividades 12, 13 e 15, empregamos os termos “trapézio qualquer”,
“triângulo qualquer” e “pentágono qualquer”. Nosso objetivo com isto é chamar atenção para a
importância da generalidade das construções no ambiente. Isto é, estas devem corresponder exatamente
às condições estabelecidas nos enunciados dos problemas, sem propriedades que tornem os objetos
representados mais particulares ou mais gerais. Por exemplo, a construção feita na atividade 12 não
pode gerar apenas trapézios isósceles, por um lado, nem quadriláteros que deixem de ser trapézios, por
outro – deve ser construı́do um trapézio genérico. Portanto, a única suposição que pode ser usada é
o paralelismo das bases. A propriedade dinâmica do ambiente ajuda a verificar a generalidade dessa
construção, uma vez que as alterações sofridas pelo polı́gono podem ser observadas quando seus vértices
são arrastados.
Um aspecto importante no desenvolvimento do pensamento dedutivo em Matemática é a compreen-
são de que, em uma demonstração não podem ser usadas suposições diferentes daquelas estabelecidas
pelas hipóteses dadas. Quando fazemos uma representação estática (isto é, em papel e lápis) para um
objeto geométrico, somos quase que inevitavelmente obrigados a incorporar na representação carac-
terı́sticas mais particulares que as hipóteses dadas. Por exemplo, quando temos a intenção de desenhar
um triângulo qualquer, quase sempre representamos nosso triângulo com base na posição “horizontal” e
todos os ângulos agudos. Em alguns casos, as particularizações nas representações podem levar a parti-
cularizações indevidas nos argumentos matemáticos. Por outro lado, o uso de representações dinâmicas,
especialmente por meio da ferramenta de arrastar, pode ajudar a tornar mais evidente o fato de que
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 81

devemos pensar em uma figura como uma representação genérica, que incorpora todas as
relações e propriedades comuns à classe de objetos matemáticos representada. Um dos obje-
tivos da atividade 13, especialmente nos ı́tens 13e e 13f, é explorar a relação entre a generalidade das
representações e a generalidade dos argumentos matemáticos.
Na atividade 14, a construção é válida em geral se a não intercepta C. De fato (figura 4.3, à
esquerda), pelo caso lado-ângulo-lado de congruência de triângulos, temos que ACM ≡ OCM , logo
AM ≡ OM . Como, por construção OS = P A = r, então M S ≡ M P . Daı́, decorre o fato de o
cı́rculo de centro M e raio M S = M P é tangente a C e a a (por que?). Analogamente (figura 4.3, à
direita), temos que BDN ≡ ODN , logo BN ≡ ON , Como, por construção OS = P A = r, então
N T ≡ N P . Segue que o cı́rculo de centro N e raio N T = N P é tangente a C e a a (por que?).

Figura 4.3: Construção dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, passando por um ponto
P ∈ a fixado, no caso a exterior a C.

Se a é secante a C, a construção vale, a não ser no caso em que P está sobre o cı́rculo C. Se P 6∈ C,
a justificativa da construção vem das congruências de triângulos ACM ≡ OCM e BDN ≡ ODN ,
como acima (figura 4.4). Entretanto, no caso em que P ∈ C, temos que OP = r. Como além disso,
por construção, P A = P B = r, então, P A ≡ OP e P B ≡ OP . Portanto, P está nas mediatrizes
dos segmentos P A e P B, logo P é o ponto de interseção destas mediatrizes com a reta a. Por isso,
M e N coincidirão com P . Assim, não é possı́vel construir os cı́rculos tangentes. De fato, neste caso
o problema não tem solução, isto é, não existe nenhum cı́rculo tangente a C e a a, passando por P .

Figura 4.4: Construção dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, passando por um ponto
P ∈ a fixado, no caso a secante a C.
82 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Finalmente, vejamos o que acontece se a é tangente a C. Se a 6∈ C, podemos repetir a construção,


porém uma das mediatrizes traçadas é paralela a a (figura 4.5). Portanto, só conseguimos obter um
cı́rculo tangente a C e a a. De fato, o problema tem uma única solução. No caso em que P ∈ C (isto
é, P é o próprio ponto de tangência entre C e a), ambas as mediatrizes seriam paralelas a a. Portanto,
não conseguirı́amos construir nenhum cı́rculo tangente. De fato, neste caso, o problema tem infinitas
soluções, isto é, existem infinitos cı́rculos tangentes a C e a a, passando por P .

Figura 4.5: Construção dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, passando por um ponto
P ∈ a fixado, no caso a tangente a C.

A tabela 4.1 resume o número de soluções do problema proposto na atividade 14, para todos os
casos possı́veis. Existem vários outros problemas envolvendo tangência a objetos geométricos, cuja
diversidade de soluções torna a investigação enriquecedora. Nestes casos, os ambientes de geome-
tria dinâmica podem dar um suporte importante às explorações dos aluno, desde que estas
sejam acompanhadas dos devidos argumentos matemáticos.

número de soluções
P 6∈ C P ∈ C
a exterior a C 2 —
a secante a C 2 0
a tangente a C 1 ∞

Tabela 4.1: Número de soluções do problema de construção dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a
uma reta a, passando por um ponto P ∈ a fixado.

Neste sentido, o item 14f exemplifica uma situação em que a dinâmica do ambiente torna evidente
a importância de cada escolha feita em uma construção – ou, em outras palavras, a importância de
precisão com que cada objeto é definido na generalidade de um argumento matemático.
Com a “pequena” alteração proposta na construção, observamos que esta não se preserva para o caso
em que a reta a é secante a C, pois um dos cı́rculos construı́dos passa a ser tangente apenas a a, mas
não a C (figura 4.6). Como entender por que isto ocorre?
Observe que, a diferença fundamental entre as construções propostas nos ı́tens 14b e 14f está na
definição dos raios dos cı́rculos tangentes: estes são definidos como M P e N P em 14b, e como M S
4.1. EXPLORANDO A GEOMETRIA DE FORMA DINÂMICA 83

e N T em 14f. Os pontos S e T , por sua vez, são definidos pelas interseções entre a reta OM e C
e entre a reta ON e C. Porém, cada uma destas retas possui dois pontos de interseção com C, mas
somente um de cada dois são os pontos de tangência procurados. Portanto, em 14f o raio dos cı́rculos
construı́dos são definidos tendo como base não os pontos de tangência, mas sim pontos de C que podem
ou não coincidir com os pontos de tangência. Por isso, a construção não é estável, ou seja quando os
elementos são movidos, os cı́rculos construı́dos podem deixar de ser tangentes.

Figura 4.6: Por que a construção não se preserva?

Desta forma, a exploração no ambiente de geometria dinâmica de uma escolha inadequada (pois não
vale para todos os casos que a construção deve contemplar) permite o aprofundamento da compreensão
da própria construção geométrica e dos conceitos matemáticos envolvidos. Sem o recurso dinâmico do
ambiente, a diferença entre as escolhas e suas consequências para a construção poderiam facilmente
passar despercebidas. Portanto, como nas atividades 10 e 11, a incerteza que esta situação pode causar
nos alunos pode ser aproveitada pelo professor para motivar a exploração matemática de aspectos pouco
evidentes do problema.
A atividade 15 explora a ideia de determinar a área de uma figura geométrica por meio de composição
e decomposição em figuras mais simples. Na matemática grega, estas eram ideias fundamentais na abor-
dagem dos problemas de quadraturas, expressas por duas das noções comuns (ou axiomas) enunciadas
por Euclides:

Se iguais são somados a iguais, então os todos são iguais.


Se iguais são subtraı́dos de iguais, então os restos são iguais.

No ensino básico, a abordagem de áreas (e também de volumes) frequentemente reduz-se a um


repertório de fórmulas, apresentadas sem justificativas, que devem ser memorizadas pelos alunos. Iro-
nicamente, isto faz com que a abordagem de geometria na escola seja mais algébrica ou numérica
do que geométrica! Em geral, os alunos têm pouca oportunidade de explorar relações e propriedades
geométricas em um contexto puramente geométrico, antes da apresentação de fórmulas. Por exemplo,
é fundamental para a aprendizagem da noção de área explorá-la e percebê-la antes de mais nada como
um atributo de natureza geométrica das figuras planas, ao qual, eventualmente, podem-se atribuir
medidas numéricas (uma vez fixada uma unidade) e que – em certos casos muito particulares – pode
ser representado por fórmulas algébricas. Assim, o resgate da abordagem de áreas por composição
e decomposição é muito importante, e os ambientes de geometria dinâmica podem ser grande ajuda
84 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

em atividades desse tipo. No caso da atividade 15, a ideia é decompor o pentágono em triângulos
(figura 4.7) e usar equivalências de áreas dos triângulos para obter a quadrado com mesmo área que o
pentágono (figura 4.8).

Figura 4.7: Um pentágono decomposto em triângulos.

Figura 4.8: Um retângulo com mesma área de um triângulo dado; um quadrado com mesma área de
um retângulo dado; e um quadrado cuja área é a soma de dois quadrados dados.

Na atividade 16, a ideia é usar o fato de que, uma vez que as homotetias preservar ângulos, em
particular, preservam paralelismo (figura 4.9). O ambiente de geometria dinâmica oferece uma repre-
sentação mais concreta da transformação: os alunos podem efetivamente ver e manipular sua
ação em figuras geométricas.

Figura 4.9: Aplicando uma transformação de homotetia para resolver uma construção geométrica.
4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 85

O encaminhamento da atividade 17 é inspirado na abordagem de Pólya 1 para a resolução de proble-


mas. A estratégia empregada para resolver um problema relativamente difı́cil é pensar primeiro em um
problema semelhante, com condições mais simples. Por sua própria natureza, este tipo de estratégia
envolve a investigação livre de diversos casos e, possivelmente, a formulação e verificação de diversas
conjecturas intermediárias. Para esse processo, os ambientes de geometria dinâmica podem ser de
grande ajuda.

Atividades

18. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 10 a 17.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que questões chave você proporia para ajudar os alunos no desenvolvimentos das atividades?
(e) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(f) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

19. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 10 a 17, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.

4.2 Aprofundando a Exploração Geométrica


Existem incontáveis maneiras de aproveitar os recursos dos ambientes de geometria dinâmica no ensino.
Na seção anterior, selecionamos algumas atividades como exemplos, com o objetivo principal de discutir
alguns aspectos relevantes para o planejamento da abordagem de geometria euclidiana plana com
apoio desses ambientes. Nesta seção, apresentamos mais algumas sugestões de atividades, enfocando
conteúdos um pouco mais avançados.

Lugares Geométricos
A maior parte dos ambientes de geometria dinâmica dispõem de ferramentas de lugar geométrico 2 ou
rastro, que geram representações geométricas para o conjunto descrito por um ou mais pontos de uma
construção, quando um de seus elementos é variado. Essas ferramentas acrescentam aos recursos
dinâmicos de arrastar, os registros geométricos das variações consequentes. Isto é, além de
observar essas variações, pode-se obter um registro concreto para elas. Desta forma, é possı́vel revelar
novas relações entre os elementos de uma construção (que não são percebidas em uma primeira análise),
1
György Pólya (1887-1985) foi um matemático húngaro. Além de ter contribuı́do em diversos campos da pesquisa em
Matemática, seu importante trabalho em Ensino de Matemática tornou-se uma referência para a pesquisa em resolução
de problemas.
2
Do ponto de vista matemático, o termo lugar geométrico nada mais é que um sinônimo do conceito de conjunto,
empregado no contexto particular da geometria plana ou espacial. Alguns autores criticam o uso do termo, argumentando
que isto pode causar a impressão de que se tratam de conceitos matemáticos diferentes. Neste texto, optamos por manter
o termo lugar geométrico, não apenas por ele ser usado na maioria dos softwares de geometria dinâmica, como também
por julgar que, do ponto de vista pedagógico, seu uso enfatiza a ideia de definir conjunto de pontos do plano que
compartilham uma propriedade em comum.
86 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

visualizar os lugares geométricos descritos pela variação desses elementos e explorar suas propriedades –
levando a resultados às vezes surpreendentes. As atividades 1 e 2 a seguir apresentam alguns exemplos
de exploração dessas ferramentas.

Atividades

1. O objetivo desta atividade é utilizar a ferramenta de lugar geométrico do ambiente de geometria


dinâmica para construir a imagem de um objeto por uma transformação no plano. Neste caso,
usamos o exemplo da construção da imagem de um cı́rculo por uma homotetia.
Considere um ponto H e um número real k > 0 fixados (por exemplo, tome k = 1, 5). Construa
um cı́rculo C, de centro O e raio r > 0 qualquer (considere inicialmente H exterior a C). Marque
um ponto P sobre C. Construa o ponto P 0 na reta que contém H e P , tal que P ∈ HP 0 e:

HP 0
= k.
HP
(a) Temos que P 0 é a imagem de P pela homotetia de centro H e razão k. Justifique esta
afirmação.
(b) Arraste o ponto P ao longo do cı́rculo C e observe o comportamento de P 0 . O que você
verifica?
(c) Use os recursos de ambiente para traçar o lugar geométrico de P 0 quando P percorre C.
Este lugar geométrico corresponde à imagem de C pela homotetia de centro H e razão k.
Mostre que este lugar geométrico também é um cı́rculo.
(d) Qual é a medida do raio do cı́rculo construı́do no item 1c? Como se pode construir o centro
desse cı́rculo?
(e) Se construirmos outra figura geométrica, como por exemplo um quadrado, qual seria a
imagem dessa figura pela homotetia?
(f) Mova o ponto O até que H fique interior a C. Em seguida, mova O até que ele coincida
com H. Justifique matematicamente o que você observa.
(g) Agora, repita toda a construção acima, alterando a razão de homotetia k para um número
menor que 1 (tome, por exemplo, k = 0, 5). Justifique matematicamente o que você
observa.

2. Aproveite as telas que você construiu na atividade 14 da seção 4.1 para traçar os lugares geomé-
tricos dos centros dos cı́rculos simultaneamente tangentes a uma reta e um cı́rculo dados.

(a) Para isso, use o recurso do ambiente geometria dinâmica para gerar os lugares geométricos
dos centros dos cı́rculos tangentes ao cı́rculo C e à reta a, quando o ponto P varia sobre a.
Considere os casos: a exterior a C, a secante a C e a tangente a C.
(b) Que tipo de subconjuntos dos planos são esses lugares geométricos? Justifique sua respostas
com argumentos matemáticos.

As ferramentas de lugar geométrico e rastro dos ambientes de geometria dinâmica propiciam um


novo nı́vel de análise das construções geométricas. Como exploramos em diversas situações na seção
anterior, ferramentas como a de arrastar permitem observar de forma dinâmica as alterações em uma
construção quando um de seus elementos varia. As ferramentas de lugar geométrico acrescentam a
esse recurso a possibilidade de gerar registros concretos de tais alterações. Esses registros podem então
ser percebidos e estudados como objetos geométricos em si – cujas alterações também podem ser
4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 87

observadas dinamicamente de acordo com a variação de elementos da construção. Assim, é


possı́vel analisar propriedades comuns a um ou mais pontos de uma construção geométrica
e suas relações com a variação das condições iniciais da construção, do ponto de vista dos
subconjuntos do plano euclidiano formados por esses pontos.
Por exemplo, na atividade 1, pode-se construir primeiro a imagem pela transformação de homotetia
de um ponto P fixado no cı́rculo C. Em seguida, pode-se construir o conjunto formado pelas imagens
de todos os pontos P ∈ C, isto é, a imagem de C (figura 4.10). Em em segundo nı́vel de análise,
pode-se observar o que acontece com esse conjunto imagem quando são alteradas as condições iniciais
da construção, tais como a posição relativa entre o centro de homotetia e o centro do cı́rculo (figura
4.11), ou a razão de homotetia (figura 4.12).

Figura 4.10: A imagem de um cı́rculo por uma transformação de homotetia.

Figura 4.11: O que acontece quando a posição relativa entre o centro de homotetia e o centro do
cı́rculo é alterada.

Figura 4.12: O que acontece quando a razão de homotetia é alterada.


88 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Na atividade 2, no caso em que a é exterior a C, a visualização no ambiente de geometria dinâ-


mica sugere que o lugar geométrico dos centros dos cı́rculos simultaneamente tangentes a C e a a é
união de duas parábolas (figura 4.13). Para provar matematicamente este fato, observamos que um
ponto X no plano é centro de um cı́rculo simultaneamente tangente a C e a a se, e somente se,
d(X, O) = d(X, a) + r (este é o caso do ponto M na figura) ou d(X, O) = d(X, a) − r (este é o caso
do ponto N na figura). Assim, essas parábolas têm focos em O e diretrizes nas retas paralelas a a que
distam r unidades de a.

Figura 4.13: O lugar geométrico dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, no caso a
exterior a C.

No caso em que a é secante a C (figura 4.14), a posição de uma das parábolas inverte-se. O lugar
geométrico é formado pelas duas parábolas, excluı́dos os pontos de interseção entre C e a. De fato, o
argumento acima continua válido, mas esses pontos não são centros de nenhum cı́rculo tangente a C e
a a. Analogamente, no caso em que a é tangente a C (figura 4.15), o lugar geométrico é formado por
uma única parábola, da qual é excluı́do o (único) ponto de interseção entre C e a.

Figura 4.14: O lugar geométrico dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, no caso a
secante a C.
4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 89

Figura 4.15: O lugar geométrico dos cı́rculos tangentes a um cı́rculo C e a uma reta a, no caso a
tangente a C.

Atividades

3. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 e 2.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

4. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 1 e 2, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.

Geometria Espacial
Podemos empregar representações em geometria dinâmica para a geometria especial da mesma forma
que fazemos quando usamos papel e lápis: usamos representações planas para representar objetos tri-
dimensionais. Assim, podemos aproveitar os recursos e funcionalidades dos ambientes de geometria
dinâmica para explorar o espaço, assim como fazemos com a geometria plana, como discutimos na
seção anterior. No caso da geometria especial, essas funcionalidades permitem alterar o ponto de vista
de observação de um objeto tridimensional de forma dinâmica, contribuindo com a exploração do espaço
e com o desenvolvimento da visualização espacial.
Entretanto, é importante lembrar sempre que ainda lidamos com representações planas para objetos
tridimensionais. Esta limitação na forma de representar é sem dúvida um obstáculo para o ensino de
geometria espacial, que não é sanado pelo uso de ambientes de geometria dinâmica. Da que maneira
que fazemos esboços de objetos tridimensionais em papel e lápis, ao construir representações para desses
90 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

objetos em geometria dinâmica, buscamos retratar aspectos relacionados à visualização, mas abrimos
mão da preservação das propriedades métricas. Por exemplo, a representação do cubo da atividade
6 deve ser de tal forma que os movimentos no ambiente não distorçam as interseções entre arestas e
faces.
Poderı́amos obter representações um pouco mais precisas usando, por exemplo, conceitos da geome-
tria projetiva. Porém, nas atividades a seguir, optamos por propor representações simples, respeitando
principalmente as relações de incidência e paralelismo entre os elementos, sem levar em conta as pro-
priedades métricas dos objetos originais. Acreditamos que esta opção é suficiente para os objetos
pedagógicos das atividades.
Atividades
5. Seja ABCD um tetraedro regular. Considere R e S os pontos médios de BC e de AD, respecti-
vamente. Utilize o ambiente de geometria dinâmica para investigar se as afirmações a seguir são
verdadeiras ou falsas. Dê uma justificativa formal para cada um de suas conclusões.

(a) O segmento AR é altura do triângulo ABC.


(b) O segmento RS é altura do triângulo ARD.
(c) O segmento RS é mediana do triângulo BSC.
(d) O triângulo BSC é isósceles.
(e) O triângulo ARD é equilátero.

6. (Adaptado de Provão/2000) Considere um cubo, em que CC 0 é uma aresta e ABCD e A0 B 0 C 0 D 0


são faces opostas. O plano que contém o vértice C 0 e os pontos médios das arestas AB e AD
determina no cubo uma seção.

(a) Então, essa seção é um:


i. triângulo isósceles;
ii. triângulo retângulo;
iii. quadrilátero;
iv. pentágono;
v. hexágono.
Justifique sua resposta.
4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 91

(b) Construa uma representação para este cubo e a seção em um ambiente de geometria dinâ-
mica. Examine novamente a resposta do item 6a?
(c) Como o ambiente de geometria dinâmica ajudo a responder 6a?

Como já observamos, as representações para objetos tridimensionais nas atividades propostas devem
respeitar principalmente a incidência e o paralelismo entre os elementos. Por exemplo, para construir
o cubo da atividade 6a, podemos partir do quadrado frontal BCB 0 C 0 e construir as demais arestas
de forma que o paralelismo entre as demais arestas seja respeitado. Assim, para que a dinâmica da
construção preserve a visualização do objeto geométrico tridimensional, podemos tomar como base as
seguintes relações espaciais (figura 4.16):

• A reta determinada pelos pontos M e N está contida no plano superior ABCD. Portanto, o
ponto I1 , de interseção entre as retas M N e BC pertence ao mesmo plano.
• Como a reta BC também está contida no plano BCB 0 C 0 , então I1 também pertence a este
plano. Assim, a reta determinada por I1 e C 0 está contida no plano BCB 0 C 0 e necessariamente
intercepta a aresta BB 0 . Chamamos de R o ponto de interseção entre as retas I1 C 0 e BB 0 .
• Como I1 pertence à reta M N (por construção) e esta reta está contida no plano C 0 M N , então
I1 pertence a este plano. Como C 0 também pertence ao plano C 0 M N , então a reta I1 C 0 está
contida neste plano. Isto garante que o ponto R pertence ao plano C 0 M N .
• Analogamente, tomamos o ponto I2 , de interseção entre as retas M N e CD, definimos S o
ponto de interseção entre as retas I2 C 0 e DD 0 , e temos a garantia de que S pertence ao plano
C 0M N .

Figura 4.16: Representando de um objeto tridimensional em geometria dinâmica.


92 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Com esta construção, garantimos que os pontos C 0 , M , N , R e S, que são os vértices do pentágono
são, de fato, coplanares. Experimente movimentar os pontos livres da construção do cubo. Você deverá
verificar que, apesar de qualquer deformação visual (ou mudança do ponto de vista) que o movimento
possa produzir na representação do cubo, sempre teremos a imagem de um pentágono (figura 4.17).
Observe ainda que existe uma posição que o pentágono é visto como um segmento de reta. O que isto
significa?

Figura 4.17: Movimentando um objeto tridimensional em geometria dinâmica.

Atividades
7. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 5 e 6.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

8. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 5 e 6, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.

Haberdasher’s Puzzle
Existem diversos quebra-cabeças matemáticos que podem ser usados para a exploração lúdica de relações
entre figuras geométricas bidimensionais e tridimensionais. Alguns desses quebra-cabeças podem ter
peças suas construı́das em ambientes de geometria dinâmica.
Apresentamos a seguir uma proposta de uso do GeoGebra para explorar a dinâmica de um quebra-
cabeças geométrico criado por Henry Dudeney3 em 1902: o Haberdasher’s Puzzle. Este quebra-cabeça
consiste em fazer cortes retilı́neos em um triângulo equilátero para montar um retângulo com os pedaços
recortados (figura 4.18).
3
Henry Ernest Dudeney (1857-1930) foi um matemático inglês autor de diversos jogos e quebra-cabeças matemáticos.
4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 93

[foto:http://es.wikipedia.org/wiki/Henry Dudeney]

Figura 4.18: Ilustração do Haberdasher’s Puzzle.

No Haberdasher’s Puzzle, para se obter pedaços com quatro ângulos retos compatı́veis com a mon-
tagem de um retângulo são suficientes três cortes retilı́neos. Esses cortes dividem o triângulo equilátero
em três pedaços quadrangulares e um pedaço triangular:

• o primeiro corte deve partir de um ponto F na base do triângulo equilátero, a uma distância x
(menor do que a metade do lado do triângulo) de um dos vértices, e chegar no ponto médio do
lado oposto a este vértice;
• o segundo corte deve ser perpendicular ao primeiro corte e partir de um segundo ponto G na base
do triângulo equilátero, a uma distância do primeiro ponto igual à metade do lado do triângulo;
• o terceiro corte também deve ser perpendicular ao primeiro corte a partir do ponto médio E do
único lado do triângulo equilátero que não foi seccionado pelos outros dois cortes.

Para montar o quadrado basta fixar o primeiro pedaço quadrangular, dar um giro de 180 ◦ nos outros
dois pedaços quadrangulares e transladar o pedaço triangular.
A seguir apresentamos uma sequência de expressões (figura 4.2) que, após digitadas no campo de
Entrada do GeoGebra, produzem o Haberdasher’s Puzzle em geometria dinâmica (figura 4.19). Nesta
construção, toda a geometria dinâmica do Haberdasher’s Puzzle é determinada pela posição do ponto
F , que pode arrastado ao longo do lado AB do triângulo equilátero, entre o vértice A e o ponto médio
deste lado. Os pontos D e F são os médios dos lados BC e CA, respectivamente. O ponto G se
move de forma que F G = 21 AB, e os pontos H e I se movem de forma que os segmentos GH e EI
sejam ambos perpendiculares a F D. Os pedaços do triângulo ficam reposicionados, numa configuração
retangular II 0 LH 0 que depende da distância x do ponto F ao vértice A.
Com a dinâmica do Haberdasher’s Puzzle, podemos perceber que é possı́vel encontrar uma posição
do ponto F de tal forma que II 0 LH 0 seja um quadrado. Assim, é natural propor o seguinte problema.

Qual é a distância x do ponto F ao vértice A que corresponde a configuração quadrada na


geometria dinâmica do Haberdasher’s Puzzle?

Se a pergunta acima fosse de múltipla escolha provavelmente a alternativa x = 14 AB seria a mais


escolhida. Porém, por mais provável que se pareça, essa alternativa não é a correta. A atividade 9 a
seguir fornece um roteiro para encontrar a resposta correta para esse problema.
94 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

1. A = (0, 0)
2. B = (6, 0)
3. C = girar[B, 60◦ , A]

Observação: o sı́mbolo da unidade graus deve ser selecionado na caixa de escolha logo ao lado do campo
Entrada.
4. a = Segmento[B, C]
5. b = Segmento[A, C]
6. c = Segmento[A, B]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos a, b e c.
7. D = PontoMédio[B, C]
8. E = PontoMédio[A, C]
9. F = Ponto[Segmento[A, PontoMédio[A, B]]]
Observação: provavelmente esse ponto será criado sobre o vértice A: movimente-o para um lugar próximo a
este vértice.
10. G = F + Vetor[A, B]/2
11. corte1 = Segmento[F, D]
12. H = Interseção[corte1, Perpendicular[G, corte1]]
13. corte2 = Segmento[G, H]
14. I = Interseção[corte1, Perpendicular[E, corte1]]
15. corte3 = Segmento[E, I]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos corte1, corte2 e corte3.
16. pedaço1 = Polı́gono[C, D, I, E]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos criados.
17. pedaço2 = Girar[Polı́gono[A, E, I, F ], 180 ◦ , E]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos criados e dos pontos A 0 e E 0 .
18. pedaço3 = Girar[Polı́gono[B, D, H, G], −180 ◦ , D]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos criados e dos pontos B 0 e D0 .
19. pedaço4 = Transladar[Transladar[Polı́gono[F, G, H], Vetor[F, C]], Vetor[F, A]]
Observação: desabilitar a exibição dos rótulos dos segmentos e dos pontos criados.

Tabela 4.2: Construção do Haberdasher’s Puzzle em geometria dinâmica.


4.2. APROFUNDANDO A EXPLORAÇÃO GEOMÉTRICA 95

Figura 4.19: Geometria dinâmica do Haberdasher’s Puzzle.

Atividades
9. O objetivo desta atividade é determinar a medida da distância x de tal forma que o retângulo
formado no Haberdasher’s Puzzle seja um quadrado.
(a) Mostre que a região retangular formada é bem definida, isto é, os pontos F 0 , C e G0 estão
alinhados.
(b) Mostre que o segundo e o terceiro cortes têm a mesma medida, ou seja, GH = EI.
(c) Mostre que as medidas dos lados do retângulo formado são dadas pelo primeiro corte e pelo
dobro do segundo corte, isto é, DF e 2 · GH.
(d) Da equivalência entre as áreas do triângulo inicial e do retângulo formado, conclua que

3 2
DF · GH = · AB .
8
(e) Mostre que o retângulo formado será um quadrado quando

4
3
DF = · AB .
2
(f) Das relações métricas do triângulo BF D, conclua que o retângulo formado será um quadrado
quando p √
3− 4 3−3
x= · AB .
4
Observamos que o número
p √
3− 4 3−3
' 0, 25450761671624 . . .
4
é construtı́vel com régua e compasso.
10. Explore a geometria dinâmica do Haberdasher’s Puzzle para um triângulo qualquer, refazendo
sua construção com C = (3, 5) e movimentando, além do ponto F , os pontos A, B e C. Faça
conjecturas sobre as condições para a existência de configurações retangulares e quadradas.
11. Idealize uma sequência didática com o Haberdasher’s Puzzle em uma aula de 50 minutos. Quais
conceitos geométricos podem ser explorados? De que forma esses conceitos podem ser explora-
dos?
96 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

4.3 Articulando Geometria e Funções: Gráficos Dinâmicos


Esta seção e a seguinte abordarão o uso de ambientes de geometria dinâmica no ensino de funções.
Embora esses ambientes sejam mais largamente usados no ensino de geometria plana, seu uso também
pode contribuir com aspectos importantes da aprendizagem de funções, não apenas no que diz
respeito às diferentes representações de funções e das relações entre elas, como também ao
próprio conceito de função. Além disso, as atividades envolvendo funções em ambientes de geometria
dinâmica promovem naturalmente a articulação entre funções e geometria – campos da Matemática
que em geral são apresentados de forma estanque nos livros didáticos e currı́culos do ensino básico. Tal
articulação se dá fundamentalmente em dois sentidos: por um lado, quando gráficos de funções
reais são construı́dos em geometria dinâmica, é necessário aplicar diversos conceitos da
geometria plana; e por outro lado, os recursos dinâmicos dos ambientes permitem reconhecer
e explorar concretamente relações funcionais entre objetos geométricos.
Nesta seção, enfocaremos a construção de gráficos de funções reais de uma variável real em am-
bientes de geometria dinâmica. A própria construção de gráficos em geometria dinâmica é, por si só,
um exercı́cio interessante, que mobiliza e articula diversos conceitos geométricos de funções. Além
disso, é possı́vel explorar relações entre as propriedades algébricas e o comportamento qualitativo de
gráficos de famı́lias de funções dependendo de parâmetros. Atividades dessa natureza com ambientes
computacionais gráficos já foram discutidas no capı́tulo 3. No entanto, os ambientes de geometria
dinâmica acrescentam aos recursos gráficos usuais a possibilidade de controlar os valores numéricos dos
parâmetros por meio da ferramenta de arrastar, propiciando uma nova perspectiva de exploração de
funções.

Dança com Gráficos


O software GeoGebra é concebido para integrar recursos geométricos e algébricos em um só ambiente
(daı́ vem o seu nome). Com isso, podemos facilmente gerar gráficos de funções reais elementares a
partir de suas expressões algébricas, como propõe a atividade 1. Além disso, é possı́vel introduzir um ou
mais parâmetros reais nos gráficos traçados, gerando-se assim famı́lias de funções reais, como propõem
as atividades 2 em diante. A variação dinâmica desses parâmetros modifica o gráfico original da função
em um movimento contı́nuo, como em uma dança. Cada parâmetro, quando alterado dinamicamente,
conduz o gráfico nesta dança com um passo caracterı́stico, em um movimento especı́fico. Neste baile das
funções elementares, a aprendizagem dos conceitos envolvidos pode se tornar muito mais significativa
com o auxı́lio da geometria dinâmica.

Atividades

1. Use o software GeoGebra para gerar gráficos de várias funções reais elementares à sua escolha.
Para isto, basta digitar as expressões algébricas das funções no campo Entrada, como mostra a
figura abaixo. Compare esta atividade com as que você realizou no capı́tulo 3. Você vê alguma
vantagem no uso do ambiente de geometria dinâmica?

2. Use agora o GeoGebra para representar famı́lias de funções reais dependendo de parâmetros, por
meio de gráficos dinâmicos. Como exemplo, consideremos as funções f : R → R definidas por
f (x) = a cos(b x + c), com a, b, c ∈ R. Exploraremos o movimento gráfico de f , a partir da
mudança dinâmica nos valores dos parâmetros.
4.3. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: GRÁFICOS DINÂMICOS 97

(a) Primeiro, você deverá definir os seletores de valores para os parâmetros a, b e c. Para
definir cada um deles, escolha a opção Seletor na barra de ferramentas superior (como
mostra a figura abaixo) e, em seguida, clique na área de trabalho para marcar a posição
em que o respectivo seletor aparecerá. Depois, digite f (x) = a cos(b x + c) e, em seguida,
g(x) = cos(x) no campo Entrada. Os valores dos parâmetros podem ser controlados ar-
rastando os seletores que aparecem na tela. Assim, você poderá observar as mudanças no
gráfico dinâmico, comparando-as com o gráfico de g, que é fixado como referência.
(b) Que questões você pode propor aos seus alunos com esta atividade?

3. Como já comentamos, muitas das atividades com ambientes computacionais gráficos propostas
no capı́tulo 3 também podem ser realizadas em geometria dinâmica. Em alguns casos, os recursos
dinâmicos podem trazer vantagens pedagógicas a estas atividades.
Por exemplo, repita a atividade 1 da seção 3.2 usando o ferramenta Seletor do GeoGebra para
definir os parâmetros. Que vantagens e desvantagens pedagógicas você vê no uso do ambiente
de geometria dinâmica, em relação ao ambiente gráfico, para realizar esta atividade?

4. Crie um roteiro para ajudar seus alunos a responderem as questões propostas nas atividades 6 e
7 da seção 3.2, com apoio de um ambiente de geometria dinâmica.

5. Crie um roteiro para ajudar seus alunos a responderem as questões propostas nas atividades 8 e
9 da seção 3.2, com apoio de um ambiente de geometria dinâmica.
98 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

6. Considere a famı́lia de funções polinomiais h : R+ → R definida por h(x) = xk , com k ∈ R. Use


o GeoGebra para criar um gráfico dinâmico representando essa famı́lia.

(a) Explique o comportamento dos gráficos, considerando os casos em que k < 0, 0 6 k < 1 e
k > 1.
(b) Você observará que para alguns valores de k o programa mostra um trecho do gráfico para
x < 0. Que valores são esses? Explique por que isso ocorre.

7. Considere a famı́lia de funções polinomiais do terceiro grau p : R → R definida por p(x) =


x (x − 1) (x − a), com a ∈ R. Use o GeoGebra para criar um gráfico dinâmico representando
essa famı́lia.

(a) Varie a e observe as mudanças no gráfico de p.


(b) Para que valores reais de a a função admite três raı́zes reais distintas? Quantas raı́zes reais
tem p para os demais valores de a? Justifique sua resposta.

8. Considere a famı́lia de funções polinomiais do terceiro grau q : R → R definida por q(x) =


x (x2 − a), com a ∈ R. Use o GeoGebra para criar um gráfico dinâmico representando essa
famı́lia.

(a) Varie a e observe as mudanças no gráfico de p.


(b) Para que valores reais de a a função admite três raı́zes reais distintas? Quantas raı́zes reais
tem p para os demais valores de a? Justifique sua resposta.
(c) Você observará que, quando os valores positivos de a aumentam, o gráfico parece adquirir
o aspecto de uma reta. Por que isso ocorre?

A atividade 1 visa simplesmente à familiarização com os recursos de GeoGebra para o traçado de


gráficos de funções reais. Como o enunciado da atividade sugere, procure comparar o uso de ambientes
gráficos com o uso de ambientes de geometria dinâmica para gerar gráficos de funções reais elementares.
As vantagens dos ambientes de geometria dinâmica no ensino de funções reais tornam-se
mais significativas quando seus recursos são explorados para gerar gráficos dinâmicos. Por
exemplo, no caso da atividade 3, é possı́vel mover dinamicamente a parábola e observar o movimento
do vértice ao longo do lugar geométrico descrito por y = −2 x 2 + 3 (figura 4.20).

Figura 4.20: Gráfico dinâmico da famı́lia de parábolas y = 2 x 2 + b x + 3.


4.3. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: GRÁFICOS DINÂMICOS 99

Assim como na atividade 2, as atividades 4 e 5 envolvem a aplicação de transformações em gráficos


de funções (figura 4.21). Como sabemos (ver capı́tulo 3):
• os parâmetros aditivos determinam translações horizontais e verticais nos gráficos;
• os parâmetros multiplicativos determinam dilatações horizontais e verticais nos gráficos.
Com os recursos do ambiente de geometria dinâmica, é possı́vel criar seletores para controlar os
valores dos parâmetros por meio da ferramenta de arrastar, que permitem manipular dinamicamente e
visualizar os efeitos das transformações de translação e dilatação nos gráficos.

Figura 4.21: O efeito dinâmico de transformações de translação e dilatação em gráficos de funções


reais.
As atividades 6 a 8 exploram a variação dinâmica de parâmetros em funções polinomiais. De forma
semelhante ao que já discutimos no capı́tulo 3, atividades desta natureza podem contribuir para a
aprendizagem de funções reais em pelo menos dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, os
recursos do ambiente computacional permitem a exploração das propriedades qualitativas das
funções, articulando representações algébricas e gráficas de forma dinâmica. Isto é, o aluno
pode manipular dinamicamente os valores dos parâmetros e observar, ao mesmo tempo, as alterações
consequentes nos gráficos. Em segundo lugar, torna-se mais acessı́vel o estudo de tipos de funções cuja
abordagem no ensino básico apenas com recursos usuais seria difı́cil (tais como funções polinomiais de
grau maior que 2). Este aspecto possibilita a expansão do repertório de funções reais familiares
aos alunos – que muitas vezes são levados a desenvolver uma imagem bastante limitada, por terem
sido apresentados apenas a funções polinomiais de grau menor ou igual a 2.

Atividades
9. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 1 a 8.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para
a aprendizagem dos conceitos enfocados, em comparação com abordagens com recursos
convencionais (isto é, sem o uso de recursos computacionais), e com ambientes gráficos
simples (como aqueles discutidos no capı́tulo 3)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?
10. Para cada um dos ı́tens a seguir, elabore uma atividade usando gráficos dinâmicos de funções
dependendo de parâmetros, com os mesmos objetivos das atividades 1 a 8, que seja adequada
para as turmas em que você leciona. Formule também uma sequência didática para aplicação de
cada uma das atividades que você elaborar em uma aula de 50 minutos. Especifique os objetivos,
os conceitos matemáticos explorados e de que maneiras esses conceitos podem ser explorados.
100 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

(a) funções polinomiais;


(b) funções trigonométricas;
(c) funções exponenciais e logarı́tmicas.

Construindo Gráficos Como Lugares Geométricos


Nesta seção, estamos enfocando a construção de gráficos de funções reais em ambientes de geometria
dinâmica. Até aqui, lançamos mão, para este fim, dos recursos especı́ficos incorporados no GeoGe-
bra: eixos cartesianos, digitação direta de expressões algébricas no campo Entrada, uso de Seletores
para controlar valores de parâmetros (se quisermos usar gráficos dinâmicos para representar famı́lias de
funções). Tais recursos não estão disponı́veis em todos os softwares de geometria dinâmica. Entretanto,
mesmo naqueles que não os oferecem, também é possı́vel gerar gráficos de funções. Nesses casos, porém,
é preciso construir do inı́cio toda a estrutura matemática necessária para representar esses gráficos –
isto é, deve-se munir o plano euclidiano sintético com um sistema de coordenadas cartesianas.
Evidentemente, quando o objetivo está em ensinar tópicos especı́ficos sobre funções reais e o com-
portamento de seus gráficos, não há motivo para desprezar os recursos do software que tornam seu
estudo mais acessı́vel. Por outro lado, o exercı́cio de construir um sistema de coordenadas cartesianas
em um ambiente de geometria dinâmica pode ser muito enriquecedor para a aprendizagem dos con-
ceitos que fundamentam a geometria analı́tica. Por exemplo, ao se construir o sistema cartesiano, é
necessário pensar em como estabelecer precisamente, com as ferramentas disponı́veis no software, a
unidade linear, a orientação dos eixos, sua perpendicularidade (se for o caso), e assim por diante. O
próprio processo de construção ressalta a importância teórica desses conceitos, que são tão
elementares que seu papel constituinte na teoria é em geral esquecido. Além disso, uma vez
estabelecido o sistema cartesiano, para construir o gráfico de uma função, emprega-se basicamente a
ferramenta de lugar geométrico do ambiente. O uso dessa ferramenta tem como base o próprio conceito
matemático de gráfico: o lugar geométrico dos pontos do plano cartesiano cujas coordenadas verificam
a lei de formação da função. Em geral, os alunos aprendem tantos procedimentos para traçar gráficos
em casos particulares, que essa noção fundamental fica em segundo plano. Em suma, quanto me-
nos ferramentas prontas estão disponı́veis para a construção, mais conceitos matemáticos
elementares são mobilizados.
Outro aspecto importante dessas construções é a integração de diversos conceitos da geometria
euclidiana no estudo de geometria analı́tica, funções reais e gráficos. Além da própria idéia de lugar
geométrico são explorados os conceitos de paralelismo, perpendicularidade, razão entre medidas, trans-
formações no plano (homotetias). Assim, é possı́vel explicitar na abordagem pedagógica as múltiplas
relações de um mesmo conceito a diversos campos da Matemática, em lugar de atrelá-lo a uma forma
especı́fica de representação.
As atividades a seguir constituem um roteiro para a construção de um sistema de coordenadas
cartesianas e de gráficos de funções reais em ambientes de geometria dinâmica que não possuem
essas ferramentas especı́ficas incorporadas. Ao longo das atividades, procuraremos ressaltar elementos
geométricos e conceitos relacionados com cada construção. Teremos como referência o software Tabulæ.
Esse roteiro será organizado em três etapas, mas ou menos independentes, a saber:

• construção do sistema de coordenadas cartesianas, a partir de um tela em branco (atividade 11);


• construção de gráficos de funções reais como lugares geométricos, a partir de uma tela com
sistema cartesiano previamente construı́do (atividade 12);
• definição de parâmetros e construção de gráficos dinâmicos, representando famı́lias de funções
(atividade 13).
4.3. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: GRÁFICOS DINÂMICOS 101

Atividades

11. (Adaptado de [27]) O roteiro a seguir visa à construção de um sistema de coordenadas cartesianas
em geometria dinâmica.

1. Construa uma reta livre de referência (preferencialmente em posição visualmente horizontal).


Construa uma reta paralela e uma reta perpendicular à reta de referência. Chame essas
duas retas de ox e oy, respectivamente. Chame de O o ponto de interseção entre ox e oy.
Esconda a reta de referência.
2. Marque um ponto Ux na reta ox, à direita do ponto O. Construa um cı́rculo de centro O
e raio OUx . Chame de Uy o ponto de interseção entre esse cı́rculo e a reta oy, que está
acima do ponto O. Esconda o cı́rculo construı́do.
3. Marque um ponto livre X sobre o eixo ox, e um ponto livre Y sobre o eixo oy. Use a
OX OY
ferramenta Razão por 3 pontos para definir as razões x = OU e y = OU .
x y

4. Trace as retas perpendiculares a ox passado por X e a oy passando por Y , e chame de P o


ponto de interseção destas retas. Se quiser, você poderá esconder essas retas em seguida.

(a) No primeiro passo, foi construı́da uma reta de referência, que depois foi escondida. Qual é
a vantagem de construir essa reta? Por que não construir diretamente os eixos horizontal e
vertical?
(b) No sistema cartesiano construı́do, qual é o papel dos pontos U x e Uy ?
OX OY
(c) Qual é o significado das razões x = OU e y = OU calculadas? Arraste os pontos X e Y
x y
ao longo dos eixos e observe a variação desses valores.
(d) Observe que, a partir de certo ponto da construção, passamos a usar a palavra eixo em lugar
de reta. Por que esta palavra não foi usada desde o começo?
(e) Arraste o ponto Ux ao longo do eixo horizontal, mantendo os pontos X e Y parados.
Observe o que acontece com os valores de x e y enquanto você arrasta U x . Interprete esses
resultados nos casos em que:
i. Ux está entre O e X;
ii. X está entre O e Ux ;
iii. O está entre X e Ux .
(f) Suponha que você faça a seguinte alteração na construção proposta: em lugar de marcar o
ponto Uy como interseção do cı́rculo com o eixo oy, marque U y como um ponto livro nesse
eixo. Assim, você poderá mover os pontos Ux e Uy independentemente. Que diferença esta
alteração representa no sistema de eixos construı́do?
102 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

12. (Adaptado de [27]) O roteiro a seguir visa à construção do gráfico de uma função real em geome-
tria dinâmica, a partir de um sistema de coordenadas cartesianas previamente construı́do. Assim,
comece com uma tela com um sistema de eixos cartesianos construı́do.

1. Como na atividade anterior, marque um ponto livre X sobre o eixo ox, e use a ferramenta
OX
Razão por 3 pontos para definir a razão x = OU x
.
2. Use a ferramenta Calculadora para inserir a expressão algébrica da função cujo gráfico você
deseja traçar. Neste exemplo, traçamos o gráfico de y = x 2 − 4x + 3. Para inserir a expres-
são na calculadora, você deverá selecionar x na própria tela e digitar os números e sinais no
teclado da calculadora que aparecerá na tela. Chame de y o valor gerado.

3. Para marcar o ponto Y no eixo vertical cuja ordenada é y = x 2 − 4x + 3, você deverá usar
a ferramenta Homotetia. Construa a imagem do ponto Uy pela homotetia de centro O e
razão y.
4. Trace as retas perpendiculares a ox passado por X e a oy passando por Y , e chame de P
o ponto de interseção destas retas.
5. Agora você poderá representar o gráfico de y = x2 − 4x + 3, usando as ferramentas Rastro
de objetos ou Locus (lugar geométrico). Para usar a ferramenta Rastro de objetos, você
deverá marcar o ponto P e, em seguida, selecionar a ferramenta. Para usar a ferramenta
Locus, você deverá marcar o ponto P e, em seguida, selecionar a ferramenta. Para usar
a ferramenta Locus, selecione a ferramenta e, em seguida marque os pontos P e X: com
isso, o software representará o lugar geométrico de P quando X varia.
4.3. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: GRÁFICOS DINÂMICOS 103

(a) Justifique o uso da transformação de homotetia, incluindo a escolha de y e O como razão


e centro de homotetia, para determinar o ponto no eixo oy que corresponde à ordenada do
ponto P .
(b) Discuta como o uso das ferramentas Rastro e Locus nesta atividade pode contribuir com a
aprendizagem do conceito de função. Compare o uso dessas duas ferramentas, do ponto de
vista pedagógico.
(c) Arraste o ponto Ux ao longo do eixo horizontal, mantendo os pontos X e Y parados.
Observe e explique as mudanças sofridas pelo gráfico.
(d) Explique por que a parábola sempre passa pelo ponto OU x , quanto arrastamos os pontos X
e Ux . Qual deve ser a relação entre os segmentos OX e OUx para que o ponto P coincida
com o outro ponto em que a parábola intercepta o eixo horizontal? Justifique sua resposta.
(e) Qual deve ser a relação entre os segmentos OX e OUx para que o ponto P coincida com
o vértice da parábola? Justifique sua resposta.

13. (Adaptado de [27]) O roteiro a seguir visa à construção de um gráfico dinâmico para representar
uma famı́lia de funções reais dependendo de um ou mais parâmetros, a partir de um sistema de
coordenadas cartesianas previamente construı́do. Como na atividade anterior, comece com uma
tela com um sistema de eixos cartesianos construı́do.

1. Como nas atividades anteriores, comece marcando um ponto livre X sobre o eixo ox, e use
OX
a ferramenta Razão por 3 pontos para definir a razão x = OU x
.
2. Para definir os parâmetros, você deverá proceder de forma semelhante à construção das
coordenadas x e y na atividade 11. Primeiro, trace uma reta r, sobre esta marque dois
pontos Oa e Ua . Esta reta servirá como eixo de variação do parâmetro, e os pontos O a e
Ua servirão para marcar o zero e a unidade. Agora, marque um ponto livre A sobre a reta
OA
r e use a ferramenta Razão por 3 pontos para definir a razão a = OU .
a
Por meio desse procedimento, você poderá definir quantos parâmetros quiser.

A partir daı́, a construção segue como a anterior.

3. Usar a ferramenta Calculadora para inserir uma expressão algébrica. Neste exemplo, traçamos
a famı́lia de parábolas y = a x2 + b x + c, com a, b, c ∈ R. Construa os parâmetros a, b e
c. Para inserção na calculadora, selecione x, a, b e c na própria tela. Chame de y o valor
gerado.
104 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

4. Use a ferramenta Homotetia para marcar o ponto Y no eixo vertical cuja ordenada é y =
a x2 + b x + c.
5. Trace as retas perpendiculares a ox passado por X e a oy passando por Y , e chame de P
o ponto de interseção destas retas.
6. Crie um gráfico dinâmico para representar a famı́lia y = a x 2 + b x + c com a ferramenta
Locus.

(a) Altere os valores dos parâmetros. Observe e explique as mudanças no gráfico.


(b) Observe que nesta construção não nos preocupamos em garantir que as unidades dos di-
ferentes parâmetros fossem iguais. Ao definir mais de um parâmetro em uma construção
como esta, é necessário que haja algum tipo de relação entre as unidades fixadas para cada
um deles? Justifique sua resposta.
(c) Compare esta atividade as anteriores desta seção, e com aquelas do capı́tulo 3 que envolvem
funções dependendo de parâmetros. Discuta as vantagens e desvantagens pedagógicas.

Observe que com a ferramenta Calculadora disponı́vel no Tabulæ, é possı́vel definir funções polino-
miais, trigonométricas, exponenciais, logarı́tmicas e combinações destas. Procure pensar em atividades
semelhantes abordando diferentes tipos de funções reais e compare-as com as desta seção e as do
capı́tulo 3. Estes processos de construção exercitam a compreensão de conceitos sobre quais em geral
não se reflete quando são empregados software com mais recursos prontos.
4.3. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: GRÁFICOS DINÂMICOS 105

Por exemplo, os ı́tens 11e, 11f e 12c tratam dos efeitos de mudanças de coordenadas em pontos
e em subconjuntos do plano cartesiano (no caso, gráficos de funções). Cabem algumas observações
importantes a esse respeito. Nos ı́tens 11e e 11f, arrastar os pontos U x e Uy corresponde a alterar
as escalas dos eixos coordenados. Quando essas escalas são alteradas, a posição de P permanece
fixa, porém os valores de suas coordenadas mudam. De fato, o ponto P é construı́do de maneira
independente dos pontos Ux e Uy , entretanto suas coordenadas x e y dependem de Ux e Uy , pois são
definidas como razões:

OUx OUy
x= y= (4.1)
OX OY
Assim, arrastar os pontos Ux e Uy corresponde a observar as alterações dos valores das coordenadas
de um ponto fixo, enquanto são aplicadas mudanças no sistema de coordenadas do plano. No caso, as
mudanças de coordenadas em questão correspondem simplesmente a alterações de escala, porém essas
não são as únicas formas possı́veis de mudanças de coordenadas no plano (ver atividade 15).
Na atividade 12, como o objetivo não é construir pontos X e Y independentes, mas estabelecer
uma dependência funcional entre eles, a construção é feita de forma diferente. As relações 4.1 também
são verdadeiras, porém a ordem da construção é diferente. Para entender bem essas diferenças e seus
significados matemáticos, você deverá percorrer atentamente os passos da construção. Exatamente
como em 11, o ponto X é construı́do de maneira independente de U x e Uy ; e, em seguida, a coordenada
x é definida como razão entre OX e OUx . Entretanto, a diferença está na construção da coordenada
vertical: a coordenada y é definida primeiro, como função da coordenada x; e o ponto Y é construı́do
em seguida, como imagem de Uy pela homotetia de centro O e razão y. Assim, Y depende de y, que,
por sua vez, é função de x. Isto é, o ponto Y e o valor de y não são arbitrários, e sim funções de
x. A relação y = OU OY
y
é válida, mas neste caso não é a definição da coordenada y (como em 11), e
sim uma consequência da construção do ponto Y como imagem por uma homotetia. Em consequência
dessa construção, no item 12c, quanto Ux é arrastado, a posição do ponto X permanece fixa, mas a
de Y muda. Ou seja, quando as escalas são alteradas, tanto a posição de P quanto os valores de suas
coordenadas mudam.
Além disso, em 12c, quando o ponto Ux é arrastado, o aspecto do gráfico da função também
se altera. Isto ocorre porque a equação que define o lugar geométrico permanece fixa, enquanto a
escala dos dois eixos é alterada. Ou seja, a parábola visualizada permanece sendo o conjunto {(x, y) ∈
R2 | y = x2 − 4x + 3}, porém a escala dos eixos muda. Portanto, arrastar o ponto U x corresponde a
ampliar ou reduzir a escala de visualização deste conjunto. Os ı́tens 12e e 12d podem ajudar a entender
este aspecto: quando X ou Ux são arrastados, o efeito é o mesmo se a relação entre esses pontos (isto
é, a razão entre os segmentos OX e OUx ) for mantida.
É importante observar ainda que, no item 11e, as escala dos dois eixos coordenados estão vinculadas
entre si. Portanto, as mudanças de coordenadas em questão consistem da aplicação de uma transfor-
mação por homotetia. Por outro lado, no item 11f as escala dos eixos não estão vinculadas, isto é, é
possı́vel alterá-las independentemente.
Compare essas atividades com as da seção 3.3 que envolve mudanças de escala. Por exemplo, nas
atividades 4 e 5 daquela seção (p. 50), é preciso usar escalas muito diferentes nos eixos para entender
o comportamento das funções.

Atividades

14. Proponha um roteiro para a construção de gráficos de funções, de forma que seja possı́vel alterar
as escalas dos eixos coordenados independentemente (como no item 11f).
106 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

15. Evidentemente, existem outras formas de mudanças de coordenadas no plano, além daquelas
discutidas nas atividades 11 e 12. De fato, qualquer transformação invertı́vel R 2 → R2 pode
ser vista como uma mudança de coordenadas (e o mesmo vale em R 3 , bem como em dimensões
superiores). Como exemplo, proponha um roteiro para uma construção que permita visualizar os
efeitos das mudanças de coordenadas dadas por rotações no plano cartesiano.

16. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 11, 12 e 13.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Como se pode usar essas atividades para promover a articulação entre conceitos de geometria
euclidiana, geometria analı́tica e funções em sala de aula?
(d) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula? Que estratégias você adotaria para superar esses obstáculos.

4.4 Articulando Geometria e Funções: Novas Formas de Olhar


Na seção anterior, apontamos dois aspectos importantes do uso de ambientes de geometria dinâmica
no ensino de funções reais (p. 99): articular representações algébricas e gráficas dinamicamente, e
expandir o repertório de exemplos familiares aos alunos. Entretanto, as potencialidades de aplicação
desses ambientes no ensino de funções vão ainda mais além. Por exemplo, é possı́vel empregar outras
formas de representação para funções reais, diferentes daquelas usualmente presentes em sala de
aula no ensino básico (tipicamente, algébricas e gráficas). Esta é a proposta do aplicativo apresentado
na tabela 4.3 e das atividades 2 a 8, a seguir. Além disso, é possı́vel estudar o comportamento de
funções reais sem a mediação das representações usuais, por meio da exploração dinâmica
da dependência funcional entre objetos em uma construção geométrica, como propõem as
atividades 10 a 14.
Tais aplicações ainda dizem respeito ao campo das funções reais – porém a geometria dinâmica
oferece caminhos interessantes para se explorar além desse território. Os recursos dinâmicos permitem
a experiência concreta com funções cujos domı́nios e contradomı́nios não são conjuntos
numéricos. Por exemplo, as atividades 17 a 20 enfocam transformações no plano. Assim, além de
apresentar novas representações e expandir o repertório de exemplos de funções reais apenas, é possı́vel
ampliar o próprio universo de funções abordadas, articulando os campos de geometria plana
e funções e aproximando mais a abordagem pedagógica da generalidade matemática do
conceito de função.

Desenrolando o Seno
Ensinar o conceito de radiano não é uma tarefa fácil. Muitos alunos saem do ensino médio sem qualquer
percepção intuitiva de medidas angulares em radianos. Esse fato pode ser verificado, solicitando aos
alunos que representem medidas angulares em graus e em radianos por meio de aberturas com os
braços: provavelmente, eles não terão dificuldades para representar uma abertura de 60 ◦ , por exemplo,
mas não terão ideia de como abrir os braços para indicar 1 rad.
Apresentaremos a seguir o aplicativo Desenrolando o Seno, que permite relacionar graus com radia-
nos e, de quebra, desenrolar arcos no eixo horizontal para traçar o gráfico da função seno (figura 4.22).
Os passos da construção desse aplicativo no GeoGebra são dados na tabela 4.3. A geometria dinâmica
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 107

do aplicativo Desenrolando o Seno dá-se pelo movimento do ponto P sobre o eixo horizontal, desde a
origem O até o ponto A de abscissa igual a π. Diversos aspectos interessantes da trigonometria podem
ser explorados observando o desenrolar do arco de circunferência no eixo horizontal, juntamente com o
traçado do gráfico do seno.

Figura 4.22: Aplicativo GeoGebra: Desenrolando o Seno.


108 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

1. O = (0, 0)
Propriedades desse ponto: na aba básico habilitar a opção Fixar Objeto.
2. C = (−1, 0)
Propriedades desse ponto: na aba básico habilitar a opção Fixar Objeto.
3. c = Cı́rculo[C, O]
Propriedades desse cı́rculo: na aba básico desabilitar Exibição de Rótulo, na aba estilo mudar o estilo da linha
para tracejado.
4. A = (2pi, 0)
Propriedades desse ponto: na aba básico habilitar a opção Fixar Objeto.
5. P = Ponto[Segmento[O, A]]
Propriedades desse ponto: na aba cor escolher vermelho, na aba estilo escolher Espessura da Linha 5;
movimente esse ponto sobre o eixo horizontal até a abscissa 1.
6. radiano = Segmento[O, P ]
Propriedades desse segmento: na aba básico em Exibir Rótulo escolher a opção Valor, na aba cor escolher
verde escuro, na aba estilo escolher Espessura da Linha 9.
7. Q = Girar[O, radiano, C]
Propriedades desse ponto: na aba cor escolher vermelho.
8. grau = Ângulo[O, C, Q]
Propriedades desse ângulo: na aba básico em Exibir Rótulo escolher a opção Valor, na aba estilo escolher
Tamanho 50.
9. cc = Arco[c, Q, O]
Propriedades desse arco: na aba básico desabilitar Exibir de Rótulo, na aba cor escolher verde escuro, na aba
estilo escolher Espessura da Linha 9.
10. h = Reta[Q, EixoX]
Propriedades dessa reta: na aba básico desabilitar Exibir de Rótulo, na aba estilo escolher Estilo da Linha
pontilhado.
11. v = Perpendicular[P, EixoX]
Propriedades dessa reta: na aba básico desabilitar Exibição de Rótulo, na aba estilo escolher Estilo da Linha
pontilhado.
12. seno = Função[sin(x), x(O), x(A)]
Propriedades desse gráfico: na aba cor escolher vermelho, na aba estilo escolher Espessura da Linha 9.

Tabela 4.3: Construção do aplicativo Desenrolando o Seno.

Atividade

1. Elabore uma sequência didática com a utilização do aplicativo Desenrolando o Seno, apresentado
na tabela 4.3 em uma aula de 50 minutos. Quais conceitos trigonométricos podem ser explorados?
De que forma esses conceitos podem ser explorados?
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 109

Eixos Paralelos
As atividades 2 a 8 a seguir apresentam uma forma diferente de analisar o comportamento de funções
reais em geometria dinâmica: as variáveis independente e dependente são representadas em um sistema
de eixos paralelos, em lugar de perpendiculares. Assim, quando o ponto X que representa a variável
independente em um dois eixos é arrastado, o ponto Y que representa a variável dependente no segundo
eixo move-se de acordo com os valores correspondentes da função. Se os pontos XY são ligados por
um segmento de reta, o comportamento da função pode ser mais claramente percebido por meio da
observação do movimento do segmento XY . O exercı́cio de compreender o comportamento de uma
função real, a partir da interpretação de uma forma de representação diferente das mais familiares, pode
ser enriquecedor para os alunos. Nas construções a seguir, teremos como referência o GeoGebra.
Atividades
2. (Adaptado de [35]) A seguir, apresentamos um roteiro para construção de um sistema de eixos
paralelos para representar funções reais no GeoGebra. Neste roteiro, construı́mos eixos paralelos
horizontais. Porém, esta escolha é arbitrária, uma vez que a posição dos eixos não tem qualquer
papel no desenvolvimento das atividades.
1. Marque os pontos Ox = (0, 0), Ux = (1, 0), Ox = (0, 2), Ux = (1, 2). A maneira mais
fácil de fazê-lo é digitar diretamente no campo Entrada. Selecione a opção Fixar Objeto nas
Propriedades de cada um destes pontos.
2. Trace as retas ox, passando por Ox e Ux , e oy, passando por Oy e Uy .
3. Marque um ponto livre X na reta ox.
Os pontos Ox e Oy representarão as origens dos eixos ox e oy, respectivamente, e os segmentos
Ox Ux e Oy Uy as unidades desses eixos. Observe que na construção acima a distância entre os
eixos ox e oy é igual 2, porém esta distância é arbitrária e você poderá escolhê-la como quiser.

Agora, você poderá usar esse sistema de eixos paralelos para representar o comportamento de
uma função real. Para isso, siga o roteiro abaixo, em que damos o exemplo da função f : R → R,
f (x) = x2 .
1. No campo Entrada, defina k =RazãoAfim[Ox , Ux , X].
2. No campo Entrada, defina o ponto Y = (k 2 , 2) (basta escrever Y=(k^2,2)).
3. Construa um segmento ligando os pontos X e Y .
110 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

O número k corresponde à coordenada do ponto X em relação ao eixo ox. Usamos a letra k,


em lugar de x, porque x é um “sı́mbolo reservado” no GeoGebra, isto é, tem um significado
especı́fico.

(a) Justifique cada passo da construção acima.


(b) Arraste o ponto X ao longo do eixo de ox e observe o movimento do segmento XY .
Explique esse comportamento.

3. (Adaptado de [35]) Você poderá usar o roteiro proposto na atividade 2 para representar diversas
funções reais. Para isso, basta alterar a definição do ponto Y , entrando nas Propriedades do
ponto. Verifique as funções disponı́veis no GeoGebra no campo localizado logo à direita de
Entrada.
1
Como exemplo, represente em eixos paralelos a função f : R ? → R, f (x) = . Arraste o ponto
x
X ao longo do eixo de ox e observe o movimento do segmento XY .

(a) Explique o comportamento do segmento XY quando você aproxima o ponto X de O x . Por


que o ponto Y parece “sumir” e “reaparecer” do outro lado?
(b) Explique o comportamento do segmento XY quando você afasta o ponto X de O x .

4. Represente em eixos paralelos a função f : R → R, que, a cada x ∈ R associa a parte inteira


de x. Para isto, use a função floor do GeoGebra. Arraste o ponto X ao longo do eixo de ox
e observe o movimento do segmento XY . O segmento XY parece dar pequenos “saltos”. Por
que isto ocorre?

5. Também é possı́vel usar o sistema de eixos paralelos para representar mais de uma função simul-
taneamente. Por exemplo, a figura abaixo mostra a representação das funções f 1 , f2 : R → R,
dadas por f1 (x) = x2 e f2 (x) = x3 .

(a) Faça essa construção, adaptando o roteiro proposto na atividade 2. Para fazer esta adaptação,
você deverá definir um ponto Y1 , da mesma forma que o ponto Y foi definido na atividade 2,
e definir um segundo ponto Y2 no eixo oy. Como este segundo ponto deve ser construı́do?
(b) Arraste o ponto X ao longo do eixo de ox e explique o comportamento dos segmento XY 1
e XY2 .

6. Você poderá ainda usar eixos paralelos para representar operações entre funções, tais como soma,
produto ou composição. Por exemplo, a figura abaixo representa as funções f 1 , f2 : R → R,
dadas por f1 (x) = x2 e f2 (x) = f1 (x) + 1.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 111

(a) Faça essa construção, adaptando o roteiro proposto na atividade 2. Para fazer esta adaptação,
você deverá definir p =RazãoAfim[Oy , Uy , Y1 ], por meio do campo Entrada. Em seguida,
defina o ponto Y2 = (p + 1, 2).
(b) Arraste o ponto X ao longo do eixo de ox e explique o comportamento dos segmento XY 1
e XY2 .

Como as atividades anteriores ilustram, diversos aspectos interessantes sobre o comportamento de


funções reais podem ser explorados por meio de sistemas de eixos paralelos. Observe que, nas ativi-
dades 3 e 4, foram incluı́das questões chave para ajudar seu desenvolvimento pelos alunos. No caso
da atividade 3, essas questões procuram encaminhar a análise dos limites infinitos e no infinito da
função. Assim, o “sumir e reaparecer do outro lado” corresponde à existência de um assı́ntota vertical
em x = 0. Na atividade 4, os “pequenos saltos” correspondem aos infinitos pontos de descontinui-
dade da função. Questões como essas, se convenientemente formuladas, podem ajudar a entender as
propriedades particulares de cada exemplo abordado.

Atividades

7. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 2 a 6, que seja adequada para as
turmas em que você leciona. Procure incluir questões chave (como as propostas nas atividades
3 e 4).

8. Outra possibilidade de exploração de representação de funções em eixos paralelos é fornecer


construções prontas e pedir para que os alunos tentem adivinhar a função representada. Elabore
uma atividade desta natureza, que seja adequada para as turmas em que você leciona. Inclua
questões chave que ajudem os alunos a chegarem à resposta.

9. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 2 a 8.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados? Que questões conceituais podem
ser exploradas quando utilizamos os eixos paralelos para representar funções?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Como você considera que atividades como essas podem contribuir com a aprendizagem de
funções reais no ensino básico?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?
112 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Relações de Dependência entre Grandezas Geométricas


O objetivo das atividades 10 a 14 a seguir é investigar relações de dependência funcional entre grandezas
geométricas (basicamente, comprimentos e áreas), com o apoio de ambientes de geometria dinâmica.
Essas atividades (que têm como referência o software GeoGebra) são organizadas de acordo com a
seguinte estrutura:

• Em primeiro lugar, procura-se investigar as relações de dependência sem a mediação de represen-


tações algébricas e gráficas, explorando-se apenas a construção geométrica dinâmica.
• Em seguida, a variação dos valores das funções é explorada por meio de pontos variáveis sobre
um eixo.
• Somente depois dessa exploração inicial, é construı́do o gráfico da função, ainda se empregando
os recursos do software. Propõe-se então que as perguntas feitas em cada problema sejam res-
pondidas por meio de métodos analı́ticos.

Esta estrutura visa incentivar uma percepção intuitiva da variação das funções reais, antes de analisá-
las por meio de representações algébricas e gráficas. Tais representações são muito poderosas para a
resolução de problemas modelados por funções reais e, por isso, são as mais largamente empregadas
em sala de aula. Entretanto, justamente devido a esse grande poder de resolução, as representações
algébricas e gráficas são muitas vezes abordadas de forma mecanizada e com pouca reflexão, o que pode
comprometer seriamente o desenvolvimento da ideia intuitiva de variação. A investigação de relações
dependência entre grandezas geométricas constituem uma oportunidade para recuperar a
percepção intuitiva da ideia de variação, e os ambientes de geometria dinâmica podem fornecer
um apoio importante para esse objetivo.

Atividades
10. (Adaptado de [10]) O objetivo desta atividade é investigar a variação da área de um retângulo,
quando um de seus lados é mantido fixo e o segundo varia. Em um ambiente de geometria
dinâmica, construa um retângulo ABCD de lados AB = CD = 4 e BC = DA = 3. Marque
um ponto livre X ∈ AB e um ponto Y ∈ CD tal que XY ⊥ AB.

(a) Use os recursos do software para exibir o comprimento de AX e a área do retângulo AXY D.
Arraste o ponto X ao longo de AB e observe a variação da área de AXY D. Como você
caracterizaria essa variação?
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 113

(b) Construa um eixo para representar a variação da área de AXY D. Para fazer isso no Geo-
Gebra, você poderá seguir o roteiro abaixo. Neste roteiro, construı́mos um eixo vertical,
porém esta é uma escolha arbitrária e você poderá construı́-lo na posição que desejar.
1. Marque os pontos O = (0, 0), U = (0, 1), por meio do campo Entrada, e selecione a
opção Fixar Objeto nas Propriedades de cada um destes pontos.
2. Trace a reta ox passando por O e U .
3. Defina S=Área[A,X,Y ,D], digitando esta expressão no campo Entrada. Com isso,
você criará uma variável numérica S, cujo valor é a área de AXY D.
4. Marque o ponto P = (0, S), pelo campo Entrada. Portanto, este ponto variará sobre
a reta determinada por O e U .
Arraste X ao longo de AB e observe o movimento do ponto P .

(c) Agora construa, no ambiente de geometria dinâmica, o gráfico que representa a área de
AXY D em função do lado AX. Para fazer isso no GeoGebra, você poderá seguir o roteiro:
1. Selecione a opção Exibir Eixos no menu.
2. Defina k=Comprimento[Vetor[A,X]], pelo campo Entrada.
3. Defina S=Área[A,X,Y ,D], pelo campo Entrada.
4. Marque o ponto P = (k, S), pelo campo Entrada.
Antes de completar a construção, arraste X ao longo de AB e observe o movimento do
ponto P . É o caminho deste ponto que descreve o gráfico de S.
5. Construa o lugar geométrico do ponto P = (k, S), quando X varia sobre AB.
(d) Defina a função S que a cada k = AX associa a área do retângulo AXY D, especificando
seu domı́nio e seu contradomı́nio. Qual é a imagem desta função?

11. (Adaptado de [10]) Suponha que agora você pretenda investigar a variação da área de um triângulo
retângulo, quando um de seus lados varia. Nesta atividade, a investigação será conduzida seguindo
os mesmos passos da atividade 10. Construa em um ambiente de geometria dinâmica um triângulo
retângulo ABC de catetos AB = 4 e BC = 3. Marque um ponto livre X ∈ AB e um ponto
Z ∈ BC tal que XZ ⊥ AB.
114 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

(a) Exiba o comprimento de AX e a área do triângulo AXZ no ambiente geometria dinâmica.


Arraste o ponto X ao longo de AB e observe a variação da área de AXZ. Como você
caracterizaria essa variação?
(b) Construa um eixo para representar a variação da área de AXZ, adaptando o roteiro dado no
item 10b. Arraste X ao longo de AB e observe o movimento do ponto P que você construiu
sobre o eixo. Você considera que esta exploração pode ajudar a entender a variação da área
do triângulo AXZ?
(c) Construa, no ambiente de geometria dinâmica, o gráfico que representa a área de AXZ em
função do lado AX adaptando o roteiro de 10c. Antes de completar a construção, arraste
X ao longo de AB e observe o movimento do ponto P .
(d) Defina a função S1 que a cada k = AX associa a área do triângulo AXZ, especificando
seu domı́nio e seu contradomı́nio. Qual é a imagem desta função?

12. (Adaptado de [10]) Considere uma alteração no problema proposto na atividade 11. Com o
mesmo enunciado, agora você investigará a variação da área do trapézio retângulo BXZC, em
função dos valores de XB. Repetiremos os passos das atividades 10 e 11.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 115

(a) Exiba o comprimento de BX e a área do trapézio BXZC. Arraste X ao longo de AB e


observe a variação da área de BXZC. Como você caracterizaria essa variação?
(b) Construa um eixo para representar a variação da área de BXZC, adaptando o roteiro dado
no item 10b. Arraste X ao longo de AB e observe o movimento do ponto P . Você considera
que esta exploração pode ajudar a entender a variação da área?
(c) Construa, no ambiente de geometria dinâmica, o gráfico que representa a área de BXZC
em função do lado XB adaptando o roteiro de 10c. Antes de completar a construção,
arraste X ao longo de AB e observe o movimento do ponto P .
(d) Defina a função S2 que a cada k = XB associa a área de BXZC, especificando seu
domı́nio e seu contradomı́nio. Qual é a imagem desta função?
(e) Qual é a relação entre as funções S (definida na atividade 10), S 1 (definida na atividade
11) e S2 (definida nesta atividade)?

13. (Adaptado de [11]) Considere o seguinte problema.

Dentre todos os triângulos isósceles ABC com AB = AC = a fixos, determine aquele


que tem a maior área.

Para investigar a solução deste problema, seguiremos os mesmos passos das atividades anteriores.

(a) Em um ambiente de geometria dinâmica, construa um triângulo ABC tal que os compri-
mentos AB = AC = 1 sejam fixos e o comprimento de BC seja variável. Use os recursos
do software para exibir os valores do comprimento de BC e da área de ABC. Arraste os
pontos B e C e observe a variação da área do triângulo ABC.
(b) Como a existência do ponto de máximo procurado pode ser justificada, apenas com base
nas condições geométricas do problema? Como a exploração feita no item anterior pode
ajudar a responder esta questão?
(c) Construa um eixo para representar a variação da área de ABC, adaptando o roteiro dado no
item 10b. Arraste os pontos B e C e observe o movimento do ponto P e o seu valor máximo.
Com base nesta exploração, você é capaz de ter uma idéia de que triângulo isósceles tem a
maior área?
(d) Construa, no ambiente de geometria dinâmica, o gráfico que representa a área de ABC em
função do lado BC adaptando o roteiro de 10c. Antes de completar a construção, arraste
B e C e observe o movimento do ponto P .
(e) Defina a função S que a cada k = BC associa a área de ABC, especificando seu domı́nio
e seu contradomı́nio. Qual é a imagem desta função?
(f) Determine analiticamente o ponto de máximo absoluto da função S.
116 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

14. (Adaptado de [27]) Considere o seguinte problema.

Dentre todos os retângulos com perı́metro p fixo, determine aquele com a maior área.

Para investigar a solução deste problema, seguiremos os mesmos passos das atividades anteriores.

(a) Em um ambiente de geometria dinâmica, construa um retângulo ABCD, cujos lados possam
ser alterados mantendo-se fixo o perı́metro. Uma maneira de fazer essa construção no Geo-
Gebra é dada no roteiro a seguir. Nesta construção, fixamos o perı́metro do retângulo em
20 unidades, mas esta é um escolha arbitrária.
1. Marque um ponto A qualquer. Defina o ponto W = A + (10, 0), pelo campo Entrada.
Trace o segmento AW . Marque um ponto livre B no segmento AW . Esta construção
garante que o ponto B nunca poderá ficar a uma distância de A superior a 10 unidades.
Em seguida, esconda o ponto W e o segmento AW .
2. Defina a=Comprimento[Vetor[A,B]], pelo campo Entrada.
3. Defina b = 10 − a, pelo campo Entrada.
4. Defina C = B + (0, b) e D = A + (0, b), pelo campo Entrada.
5. Ligue os pontos A, B, C e D por segmentos de reta, e defina o polı́gono ABCD.
Agora, use os recursos do software para exibir os valores do comprimento de BC e da área
de ABCD. Arraste o vértice B do retângulo e observe a variação da área de ABCD.
(b) Como a existência do ponto de máximo procurado pode ser justificada, apenas com base
nas condições geométricas do problema? Como a exploração feita no item anterior pode
ajudar a responder esta questão?
(c) Construa um eixo para representar a variação da área do retângulo ABCD em função da
variação de AB, adaptando o roteiro dado no item 10b. Arraste o vértice B e observe o
movimento do ponto P e o seu valor máximo. Com base nesta exploração, você é capaz de
ter uma idéia de que retângulo tem a maior área?
(d) Construa, no ambiente de geometria dinâmica, o gráfico que representa a área de ABCD
em função do lado AB adaptando o roteiro de 10c. Antes de completar a construção,
arraste o ponto B e observe o movimento do ponto P .
(e) Defina a função S que a cada k = AB associa a área de ABCD, especificando seu domı́nio
e seu contradomı́nio. Qual é a imagem desta função?
(f) Determine analiticamente o ponto de máximo absoluto da função S.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 117

No problema proposto na atividade 10, é possı́vel verificar que acréscimos iguais no lado variável
do retângulo implicam em acréscimos iguais em sua área. Isto pode ser constatado, observando que
a medida do lado XY permanece constante enquanto a medida de AX varia. Este tipo de variação
caracteriza as funções afins, o que é confirmado pelo traçado do gráfico da função S (figura 4.23) e
por sua definição:

S : [0, 4] → R , S(x) = 3 x .

Figura 4.23: O gráfico da função área do retângulo, construı́do em geometria dinâmica.

Já nos problemas das atividades 11 e 12, verifica-se que os acréscimos nos valores nas funções não
dependem apenas dos acréscimos nas variáveis independentes. É claro que tanto a área do triângulo
quanto a área do trapézio crescem quando os respectivos lados variáveis aumentam. Isto é, as funções
S1 e S2 são ambas crescentes. Entretanto, os acréscimos da função S 1 crescem, enquanto que os da
função S2 decrescem quando os lados aumentam. Esses acréscimos nas áreas do triângulo e do trapézio
podem ser observados por meio das variações nas medidas dos lados XZ de cada um dos polı́gonos,
enquanto as medidas dos lados AX e XB, respectivamente, variam. Em termos de cálculo diferencial,
isto equivale a dizer que tanto S1 quanto S2 têm derivadas positivas, porém S1 tem derivada segunda
positiva e S2 tem derivada segunda negativa (ver, por exemplo [48]). Assim, as medidas dos lados XZ
representam “acréscimos infinitesimais” nas funções área.
Finalmente, podemos construir os gráficos das funções S 1 e S2 no ambiente de geometria dinâmica
(figuras 4.24 e 4.25) e escrever suas definições:
 
3 2 1 3 3
S1 , S2 : [0, 4] → R , S1 (x) = x , S2 (x) = x 6 − x = 3 x − x2 .
8 2 4 8
118 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Figura 4.24: O gráfico da função área do triângulo, construı́do em geometria dinâmica.

Figura 4.25: O gráfico da função área do trapézio, construı́do em geometria dinâmica.

Assim, é possı́vel verificar que, para cada valor de x, vale a relação:

S(x) = S1 (x) + S2 (x) .


Esta relação pode ser interpretada geometricamente de forma simples, que também pode ser repre-
sentada em geometria dinâmica, como mostra a figura 4.26.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 119

Figura 4.26: A relação entre as áreas, representada em geometria dinâmica.

Na atividade 13, a exploração da construção geométrica dinâmica no ambiente pode ajudar a


perceber a justificativa geométrica para a existência da solução do problema. De fato, nos casos em
que B = C e em que BC = 2 AB, o triângulo se degenera em segmentos de reta, e a área vale 0.
Como a área assume apenas valores positivos e varia continuamente, então esta assume um máximo
absoluto para algum valor de BC entre 0 e 2 AB. Em termos do cálculo diferencial, esta conclusão
é consequência do Teorema de Weierstrass (ver, por exemplo [48]). A princı́pio, a intuição pode nos
sugerir que a solução do problema esteja no ponto médio de 0 e 2 AB, isto é, que o triângulo isósceles
de maior área possı́vel seja o triângulo equilátero. Entretanto, o gráfico que representa a área (figura
4.27) sugere que a solução não é essa. Tomando AB = AC = a, temos que a função área é definida
da seguinte forma:
1 √ 2
S : [0, 2 a] → R , x 4 a − x2 .
S(x) =
4
Para determinar analiticamente o ponto de máximo a partir dessa função, precisamos de métodos
do cálculo. Determinando a derivada de S, obtemos:

2 a 2 − x2
S 0 (x) = √
2 4 a 2 − x2

Como a solução da equação S 0 (x) = 0 é x = a 2 , podemos concluir que este é o ponto de
máximo de S. Portanto, o triângulo isósceles de maior área possı́vel é o triângulo retângulo isósceles.
Assim, a solução do problema é “metade de um quadrado”. Esta observação nos lembra um problema
equivalente, cuja solução é mais intuitiva: Dentre todos os losangos com lado fixo, aquele que tem a
maior área é quadrado.
120 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Figura 4.27: O gráfico da função área do triângulo isósceles, construı́do em geometria dinâmica.

p
De maneira análoga, na atividade 14, observamos que, se AB = 0 ou AB = , o retângulo se
2
degenera em segmentos de reta, e a área vale 0. Então, como a área é positiva e contı́nua, podemos
p
concluir que a área assume um máximo absoluto para algum valor de AB entre 0 e . A figura 4.28
2
mostra o gráfico que representa a área traçado em um ambiente de geometria dinâmica. A função área
é definida por:
h pi p 
S : 0, →R, S(x) = x −x .
2 2
p
Portanto, a solução do problema é a quadrado de lado .
4
Atividades
15. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 10 a 14.
(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?
(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos estudados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?
16. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 10 a 14, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 121

Figura 4.28: O gráfico da função área de um retângulo com perı́metro fixo, construı́do em geometria
dinâmica.

Transformações no Plano
A partir de agora, apresentamos alguns exemplos de atividades em ambientes de geometria dinâmica
que envolvem funções cujos domı́nios e contradomı́nios não são conjuntos de números reais, visando à
ampliação do universo de funções exploradas pelos alunos no ensino básico.
Transformações no plano podem ser vistas como funções R 2 → R2 . A maioria dos ambientes de
geometria dinâmica, incluindo o GeoGebra e o Tabulæ, dispõem de recursos prontos que permitem a
construção direta e a exploração das propriedades dos principais tipos de transformações no plano, tais
como homotetias, reflexões, rotações, translações e inversões. Por outro lado, construções de trans-
formações no plano em geometria dinâmica desde o começo, sem que esses recursos prontos sejam
utilizados (como propõe as atividades 18 a 19), também podem ser exercı́cios interessante, pois mobi-
lizam os elementos e propriedades fundamentais que servem para definir cada tipo de transformação.
O objetivo dessas atividades é justamente aprofundar o conhecimento sobre as definições das trans-
formações. Já no caso da atividade 20, em que se pede que seja usado o recurso pronto disponı́vel no
GeoGebra, o objetivo é usar a dinâmica do ambiente para explorar as propriedades da transformação e,
posteriormente, justificar sua validade com base na definição formal.

Atividades

17. Reveja as atividades 16 da seção 4.1 e 1 da seção 4.2, que enfocam propriedades das trans-
formações de homotetia. Responda às perguntas a seguir, justificando as suas respostas. Lembre-
se que, para que uma homotetia fique bem definida é preciso que sejam conhecidos seu centro
(um ponto no plano) e sua razão (um número real).

(a) Escreva a definição de homotetia.


122 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

(b) Homotetias são funções injetivas?


(c) Homotetias são funções sobrejetivas?
(d) Seja C um cı́rculo de centro O e raio r. Mostre que a imagem de C também é um cı́rculo.
Como se pode encontrar o centro e o raio do cı́rculo imagem a partir do centro e do raio do
cı́rculo original?
(e) Se A é um subconjunto qualquer do plano, explique a relação entre A e seu conjunto
imagem por uma homotetia.

18. Existem dois tipos principais de reflexões ortogonais no plano: as centrais (em relação a um
ponto) e as axiais (em relação a uma reta). Uma reflexão axial pode ser definida da seguinte
forma.

Seja r uma reta fixada no plano.


A reflexão ortogonal em relação a r é definida como a função R : R 2 → R2 que a cada
ponto P no plano associa o (único) ponto P 0 6= P tal que:
(i) P P 0 é perpendicular a r;
(ii) se Q é o ponto de interseção entre P P 0 e r, então P Q ≡ P 0 Q.

(a) Com base na definição acima, elabore um roteiro para construção da reflexão de um ponto
P em relação a uma reta em um ambiente de geometria dinâmica.
(b) Use a ferramenta Lugar geométrico do ambiente para obter as imagens de uma reta e de
um cı́rculo pela reflexão que você construiu.
(c) Seja R : R2 → R2 uma reflexão ortogonal em relação a uma reta. Se P é um ponto e A é
um subconjunto no plano, o que se pode afirmar sobre R(R(P )) e R(R(A))? Justifique a
sua resposta.

19. Repita a atividade 18 para reflexões centrais.


20. As inversões são tipos de transformações do plano, definidas da seguinte forma.

Seja C um cı́rculo, de centro O e raio r, fixado no plano.


A inversão em relação a C é definida como a função que a cada ponto P no plano
−→
associa o (único) ponto P 0 pertence à semi-reta OP tal que:
OP · OP 0 = r 2 .

Use os recursos do GeoGebra para fazer a seguinte construção.

1. Construa um cı́rculo C de centro O.


2. Marque um ponto livre P . Use o recurso do software para marcar o ponto P 0 , dado pela
imagem de P pela transformação de inversão em relação ao cı́rculo C.
3. Construa uma reta r e marque um ponto livre A sobre r. Marque A 0 , imagem de A pela
inversão em relação a C. Use a ferramenta Locus para construir o lugar geométrico de A 0
quanto A varia sobre r. Esse conjunto corresponde à imagem da reta r pela transformação
de inversão.
4. Construa um cı́rculo K de centro C e marque um ponto livre B sobre K. Marque B 0 ,
imagem de B pela inversão em relação a C. Use a ferramenta Locus para construir o lugar
geométrico de B 0 quanto B varia sobre K. Esse conjunto corresponde à imagem da reta K
pela transformação de inversão.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 123

(a) Mova livremente o ponto P . Observe o que acontece com P 0 , nos casos em que P : é
exterior a C; é interior a C; está sobre a circunferência de C. O que acontece quando P se
aproxima de O? E quanto P se afasta muito de O?
(b) Você observará que a imagem da reta r pela transformação de inversão é um cı́rculo, que
chamaremos de r 0 . Mova livremente a reta r. Observe o que acontece com o cı́rculo r 0 , nos
casos em que r é: exterior a C; secante a C; tangente a C. O cı́rculo r 0 sempre passa pelo
centro de C?
(c) Você observará que a imagem do cı́rculo K pela inversão também é um cı́rculo, que chama-
remos de K0 . Mova livremente o cı́rculo K. Observe o que acontece com K 0 , considerando
as diferentes posições relativas entre K e C. O que acontece quando os centros de K e de
C coincidem? Existe alguma situação em que o cı́rculo K 0 passe pelo centro de C?
(d) Demonstre rigorosamente todas as propriedades observadas nos ı́tens anteriores, com base
na definição de inversão.

21. Responda as perguntas a seguir considerando as atividades 17 a 20.

(a) Quais são os principais conceitos matemáticos enfocados?


(b) Quais são, na sua opinião, os objetivos das atividades?
(c) Qual é o papel do ambiente de geometria dinâmica no desenvolvimento das atividades?
(d) Que vantagens e desvantagens o uso do ambiente de geometria dinâmica pode trazer para a
aprendizagem dos conceitos enfocados, em relação a abordagens com recursos convencionais
(isto é, sem o uso de recursos computacionais)?
(e) Que obstáculos e desvantagens você considera que seriam enfrentados na aplicação dessas
atividades em sala de aula?

22. Elabore uma atividade, com os mesmos objetivos das atividades 17 a 20, que seja adequada para
as turmas em que você leciona.
124 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

Anexo: Utilizando o GeoGebra


O GeoGebra [1] é um software livre de matemática dinâmica idealizado para professores e alunos de
todos os nı́veis educacionais. Disponibilizado gratuitamente na internet, o GeoGebra reúne recursos de
geometria dinâmica, álgebra e cálculo em um mesmo programa, e com o mesmo grau de importância.
Do ponto de vista da geometria, ı́cones em uma barra de ferramentas localizada na parte superior do
aplicativo permitem a construção dinâmica de diversos objetos geométricos por meio da manipulação do
mouse do computador. Do ponto de vista da álgebra, um campo de entrada localizado na parte inferior
do aplicativo permite a digitação de equações e coordenadas para a construção desses mesmos objetos
geométricos. No GeoGebra, uma expressão na janela de álgebra a esquerda do aplicativo corresponde
a um objeto na janela de visualização geométrica a direita do aplicativo, e vice-versa.

Figura 4.29: Aplicativo GeoGebra.

Por exemplo, na figura 4.29 vemos um triângulo e sua circunferência circunscrita. Para fazer
essa construção via barra de ferramentas geométricas, na parte superior do aplicativo, basta realizar a
seguinte sequência de ações:

1. habilitar a opção Polı́gono:

clicar em três locais distintos na janela de visualização geométrica para definir os vértices do
triângulo; clicar novamente no primeiro vértice para fechar o ciclo de vértices do triângulo.
2. habilitar a opção Mediatriz:

selecionar um lado ou dois vértices para construir uma primeira mediatriz; selecionar outro lado
ou outros dois vértices para construir uma segunda mediatriz.
4.4. ARTICULANDO GEOMETRIA E FUNÇ ÕES: NOVAS FORMAS DE OLHAR 125

3. habilitar a opção Interseção de Dois Objetos:

selecionar as mediatrizes construı́das para construir o ponto onde elas se cruzam.


4. habilitar a opção Cı́rculo definido pelo centro e um de seus pontos:

selecionar o encontro das mediatrizes e um vértice do triângulo para construir a circunferência


circunscrita.
5. habilitar a opção Mover:

usar o mouse para movimentar qualquer um dos vértices do triângulo; você irá vivenciar o poder
da geometria dinâmica.

Para fazer essa mesma construção via campo de entradas algébricas, na parte inferior do aplicativo,
basta digitar no campo Entrada a seguinte sequência de expressões e comandos:

1.

2.

3.

4.
5.
6.
7.

Além das construções via campo de entrada ou barra de ferramentas, o GeoGebra permite a ma-
nipulação e formatação dos objetos construı́dos. A seguir listamos algumas dicas que podem ser úteis
durante uma construção geométrica no GeoGebra. Com esse software, você pode:

• usar os ı́cones Desfazer e Refazer no lado direito da barra de ferramentas para desfazer ou refazer
a(s) última(s) construção(ções);
• esconder objetos clicando sobre eles com o botão direito do mouse e escolhendo Exibir objeto
para desativar ou reativar a exibição;
• alterar a aparência dos objetos (nome, cores, espessura, etc), clicando sobre eles com o botão
direito do mouse e escolhendo Propriedades para habilitar a caixa de diálogo especı́fica para esse
fim;
• arrastar a janela de visualização com o mouse habilitando o ı́cone Deslocar Eixos na barra de
ferramentas;
• escolher letras gregas e comandos algébricos diversos ao lado do campo de entrada;
• ativar ou desativar a exibição de muitos objetos e elementos gráficos na opção de menu Exibir;
• alterar muitas coisas na opção de menu Opções.
126 CAPÍTULO 4. AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA
Bibliografia

Softwares e Recursos Computacionais


[1] GeoGebra, versão 3.0. http://www.geogebra.org/

[2] Graphmatica, versão 2.0f for Win32. Disponı́vel em: http://www8.pair.com/ksoft/

[3] Maxima, versão 5.17.0. Disponı́vel em: http://maxima.sourceforge.net/

[4] Moodle, versão 2.0.2+. Disponı́vel em: http://www.moodle.org.br/

[5] BrOffice, versão 3.3.1. Disponı́vel em: http://www.broffice.org/

[6] Tabulæ Colaborativo, versão 1.2.1.35b. Disponı́vel em: http://tabulae.net/

[7] WintPlot, versão 32z. Disponı́vel em: http://math.exeter.edu/rparris/winplot.html

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