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O que é? O que é?
Leitura de “Prosa (I)”, de Ana Martins Marques
São Paulo
Junho de 2023
Prosa (I)
35. Na livraria
36. quando pergunto
37. sobre a estante de poesia
38. o livreiro aponta
39. e diz
40. os livros de poemas ficam ali
41. perto do chão
(MARQUES, Ana Martins. “Prosa (I)”. Em: Risque esta palavra. São Paulo:
poesia.
fato de o poema ser intitulado como “Prosa (I)”, o que, a priori, tende a direcionar o
texto.
enjambement, a prosa, por sua vez, se difere por ser um texto corrido, sem se
pp.142-148).
entre o formato do poema em contraste com seu conteúdo, por conseguinte, uma
confusão ao tentar pontuar algum tipo de definição literária para o objeto da análise
criação parece ter sido feito – como exposto pelo poeta Manuel Bandeira -
(BANDEIRA,1975, pp.27-39).
estabelecer a sua identidade: O que o faz poema? O que o confunde com prosa? Se
é um poema, por que carrega “Prosa” em seu título? A dificuldade com que se
depara o leitor para identificar tanto os elementos que o constituem como poema
quanto os que o confundem, pode ser explicada pela visão dicotômica que permeia
Entretanto, sob um olhar que transcende a oposição - “A” versus “B”, por
exemplo - e abre espaço para a dialética (GONZALEZ, 2020, pp. 248-250), esse
poema pode não se definir somente como um ou somente como outro, mas se
das coisas pela oposição: o poema é o que a prosa não é, e vice-versa, mas, em
linguagem simbólica.
da prosa:
com a tese central do poema de Ana Martins – o poema se faz irreconhecível – tal
poema para a tradicionalidade, como a de Antônio Candido, uma vez que, este
último, concebe o poema e a sua leitura como sendo passíveis de uma síntese
analítica final (CANDIDO, 2006, pp. 27-36) - uma leitura última – e tornando,
Migrando para uma análise das partes que constituem o todo, as estrofes do
poema estão divididas de acordo com o que seria a divisão dos parágrafos do texto
verso, podendo ter relação - além do lugar que se refere o eu lírico (“num evento
literário”; “num ensaio”; “numa entrevista”; “na livraria”) - com a fusão do poema e da
prosa, representada pela união de “em” + “um (a)” = “num (a)” e “em” + “a” = “na”.
poema, elas são divididas pela mudança de verso e cada mudança representa o que
seria uma pontuação (ponto final, travessão, vírgula, dois pontos) na prosa, como,
por exemplo, nos versos 3-7, onde a primeira passagem (do verso 3 para o 4) seria
marcada por dois pontos, após a palavra “poeta”, indicando abertura para a fala da
romancista, a segunda passagem (do verso 4 para o 5), por travessão, depois de
passagem (verso 5 para o 6), também marcada pelo travessão, posicionado após
“diz”, a quarta passagem (verso 6 para o 7), marcada pela vírgula, depois de
“tempo”, e assim por diante. A fim de ilustrar a análise descrita nesse parágrafo,
concebe-se o trecho citado do poema (verso 3-7) de acordo com esta hipótese:
[...]
[...]
Em se tratando da relação semântica, as estrofes 1, 2, 3 e 4 tentam descrever
algumas impressões que se podem ter do (s) poema (s) e da poesia em sua
poemas de exprimir muitos sentidos com poucos signos, sendo esse conceito
estava a trabalhar a romancista, com a rápida e ágil fluidez que seu ex-marido,
inteiro, trabalhou nele, todos os dias, o poeta conseguiu, em uma viagem curta,
sua instabilidade, cuja interpretação pode ser extraída dos versos 20 e 21, pois,
afinal, o que exatamente pode perder, algo que não sabe ao certo o que o constitui
essencialmente? Mostra-se, além do mais, como é vista a poesia pelos que buscam
ser cercada de limites, anulando seu caráter de multiplicidade, como exposto nos
onde se faz experimentações – de forma metalinguística – tanto para si, quanto para
olhar diferente sobre a poesia, mostrando que há lugar para esta dentro da literatura,
mais baixo dentro de uma pirâmide de hierarquia da literatura, sendo esse lugar,
porém, uma base de apoio para os gêneros que se estabelecem no topo. Torna-se
em tensão: pode-se depreender que a instituição propõe uma falsa integração das
formas do fazer literário que não atendem à tradicionalidade, mas, como destino, a
marginalização destas diante dos valores que a regem (PEREIRA, 2022, pp. 28-51).
provocada pela leitura do título – afinal, isto é um poema que se confunde em prosa
estrofe, faz-se pertinente a reflexão de Agamben ao suscitar que existe o que ele
- Mas o poema do qual você fala, você divaga, nunca foi nomeado assim,
nem tão arbitrariamente. - Você acaba de dizê-lo. Coisa que seria preciso
demonstrar. Lembre-se da questão: "O que é..." (ti esti; tias ist..., istoria,
episteme, phzlosophzá). "O que é ...?" chora o desaparecimento do poema -
uma outra catástrofe. Anunciando o que é tal como é, uma questão saúda o
nascimento da prosa (DERRIDA, 1988, 113-116).
absoluto.
Bibliografia:
AGAMBEN, Giorgio. “O fim do poema”. Trad. Sérgio Alcides. In: Cacto, n.1. S. Paulo,
2002, pp.142-148
DERRIDA, Jacques. “Che cos’è la poesia?” (1988). Trad. Tatiana Rios e Marcos
DURKHEIM, Emile. Que é fato social. In Fato Social e Divisão do Trabalho. PP.13-
Rios e Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2020. 376 p. pp.248-250.
MARQUES, Ana Martins. “Prosa (I)”. Em: Risque esta palavra. São Paulo:
PAZ, Octavio. "A imagem". In: O arco e a lira. São Paulo: Perspectiva, 1972, pp.119-
138.
estética de base afrodiaspórica na literatura brasileira. São Paulo: Fósforo, 2022, pp.
28-51.