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TECNOLOGIAS

EM SAÚDE

Gésica Graziela Julião


Telemedicina
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a origem da telemedicina.


„„ Identificar os procedimentos e protocolos de uso da telemedicina.
„„ Enumerar os prós e contras da utilização da telemedicina.

Introdução
Ao longo dos anos, a assistência médica passou a focar no paciente e
não mais na doença. Com isso, as tecnologias da informação e comu-
nicação se combinaram para formar a telemedicina, a fim de oferecer
assistência médica àqueles que a necessitam nos mais diferentes lugares.
A telemedicina é a prática realizada por meio da telecomunicação para
diagnóstico, monitorização e tratamento de pacientes em situações
em que não é possível realizar o atendimento de forma presencial. Essa
prática veio para facilitar o acesso dos pacientes aos recursos de cuidado
em saúde, permitindo aos médicos diagnosticar e tratar sem atrasos e
deslocamentos desnecessários.
Embora o conceito de telemedicina possa parecer muito recente,
essa forma de prestação de serviços de medicina a distância está em
funcionamento há algumas décadas. No início do século XIX, foram feitas
as primeiras tentativas de enviar imagens radiográficas por telegrafia.
Nos dias atuais, essas práticas foram concretizadas e já é possível fazer
consultas médicas em tempo real por meio de sistemas de câmeras e
microfones, além de realizar cirurgias por meio de robôs comandados
por um cirurgião especialista a quilômetros de distância.
Por essas razões, torna-se fundamental que os profissionais de saúde
conheçam essas possibilidades de assistência à saúde, pois somente
com a prática que a técnica é desenvolvida e divulgada. Em razão do
potencial oferecido pela telemedicina em assistência médica, educação a
distância e pesquisa científica, é imprescindível aprofundar sua definição,
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seu campo de ação, sua importância e a sua constante inovação, a fim


de oferecer cada vez mais benefícios para os profissionais e os pacientes.
Neste capítulo, você vai conhecer a origem da telemedicina, enten-
der os procedimentos e protocolos envolvidos e identificar os pontos
positivos e negativos de sua utilização.

Origem da telemedicina
Acredita-se que a ideia de transmitir informações a distância para fins médicos
surgiu logo após a invenção do telefone por Alexander Graham Bell, quando um
médico foi consultado sobre tratamentos e indicações de pacientes localizados
em áreas distantes. Na literatura, o registro de que o telefone foi utilizado
para transmitir imagens radiográficas data de 1950 e foi feito na Universidade
da Pensilvânia. Em 1959, na Universidade de Nebraska, foram unidos dois
equipamentos de televisão bidirecional com outras salas, transmitindo imagens
e sons que posteriormente foram utilizados em terapias de grupo. No início
dos anos 60, surgiu a transmissão radial de navios que, estando longe do
porto, precisavam de relatórios médicos de radiografias e eletrocardiogramas.
Em 1967, a Universidade de Miami e o Jackson Memorial Hospital tornaram-
-se os pioneiros na transmissão de eletrocardiogramas de unidades móveis de
bombeiros. Já em 1968, os primeiros sons de um estetoscópio, um microscópio
e um eletrocardiograma foram transmitidos no Hospital de Massachusetts
(COSOI, 2002).
Na atualidade, as tecnologias de informação e comunicação uniram-se
para criar a telemedicina com o objetivo de disponibilizar assistência médica
a quem necessita e se encontra em locais isolados, sem acesso à assistência
médica adequada. A telemedicina inclui a educação em saúde, as saúdes
pública e comunitária, o desenvolvimento de programas e políticas de saúde
e prevenção, os estudos epidemiológicos, entre outros. Entretanto, foi o cres-
cimento da internet que difundiu o serviço conhecido como e-health, que se
refere a toda prática de medicina realizada por meio dessa rede.
A telemedicina está direcionada a diversas áreas e atores da sociedade,
como: universidades, hospitais, atenção primária, secundária e terciária à saúde,
clínicas privadas, médicos, enfermeiros, paramédicos, população em geral,
entre outros setores. Pretende-se com essa prática conquistar mais respaldo
científico nas tomadas de decisão, diminuir a variabilidade clínica, atender às
expectativas dos pacientes e dos profissionais com relação à possibilidade de
atender a todos independentemente do local onde reside e que a qualidade da
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assistência seja similar àquela oferecida no atendimento tradicional (CABRAL;


GALVÁN; CANE, 2008).
De acordo com Cabral, Gálvan e Cane (2008), os principais objetivos da
telemedicina são:

„„ prevenir, alertar, supervisionar e controlar a disseminação das doenças


transmissíveis e não transmissíveis, melhorando a vigilância epidemio-
lógica em saúde;
„„ contribuir para a integração dos serviços que compõem o sistema de
saúde, com qualidade, eficiência e equidade para benefício de todos,
especialmente daqueles que estão em maior vulnerabilidade social;
„„ promover a colaboração mútua entre governos, planejadores, profissio-
nais de saúde, sociedade civil e comunidades locais para criar um sistema
de informação e atenção de saúde confiável, oportuno e qualificado, por
meio da capacitação para investigação, prevenção e controle de doenças;
„„ agilizar a assistência prestada, por meio da definição de condutas em
tempo real, diminuição de encaminhamentos desnecessários, facilita-
ção de diagnósticos oportunos e tratamentos menos onerosos para a
população.

Assim como outras tecnologias, a telemedicina não tem uma definição


universalmente estabelecida. Por exemplo, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), trata-se da oferta de serviços ligados aos cuidados
com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico. Tais serviços
são providos por profissionais da área de saúde, por meio de tecnologias de
informação e de comunicação para diagnósticos, prevenção e tratamento de
doenças, para a contínua educação de profissionais de saúde, assim como
para fins de pesquisa e avaliações, em que o objetivo principal é melhorar a
saúde das pessoas e das comunidades (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004).
Essa definição da OMS contempla a oferta de serviços, a educação perma-
nente dos profissionais e a pesquisa. Já a definição da American Telemedicine
Association, além destas, inclui a educação para o paciente. A definição da
National Aeronautics and Space Administration (NASA) aborda a permanência
do homem no espaço. E a definição da Telemedicine Information Exchange
enfatiza a importância das tecnologias de comunicação na transferência de
dados. Dentro do contexto de definições, cabe aqui esclarecer alguns termos.
O termo telemedicina é utilizado para referir os serviços de saúde à distância,
com intuito de promoção de saúde, controle de doenças, instrução ao paciente
ou comunidade, dentre outras coisas. Já o termo telessaúde é utilizado quando
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a telemedicina está orientada ao campo da gestão da saúde pública (URTIGA;


LOUZADA; COSTA, 2004).

Procedimentos e protocolos de uso da


telemedicina
A telemedicina pode interagir com qualquer disciplina da medicina, desde a
cirurgia até a análise epidemiológica em zonas endêmicas, assim como ajuda
a otimizar a cobertura de saúde nas regiões remotas, estendendo o alcance
das especialidades médicas e melhorando a interação entre as instituições de
saúde e os pacientes. Essas contribuições podem ser enquadradas dentro de um
conjunto de serviços básicos, dentre eles a teleinformação, a teleassistência,
o telemonitoramento, entre outros.
A teleinformação, por exemplo, permite capacitar vários profissionais de
saúde de diferentes áreas e localidades, por meio de videoconferências com
um corpo docente altamente capacitado. Dessa forma, se resolvem problemas
ocasionados pela distância, pelos altos custos dos treinamentos presenciais
(CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008).
Já a teleassistência, ou teleconsulta, surgiu com a necessidade de reduzir
custos e desconfortos com deslocamentos, melhorar a atenção à saúde de
pacientes que precisam de revisões periódicas por tempo indeterminado,
como os portadores de doenças crônicas. Com essa tecnologia, a assistência
à saúde pode ser realizada com o paciente em sua casa, em seu trabalho ou
internado em outra instituição de saúde, por meio de uma conexão remota com
um profissional capacitado. A utilização de telemonitoramento por wearable
devices (dispositivos vestíveis que têm biossensores, por exemplo, relógios que
têm entre suas funções o monitoramento cardíaco e que por meio de aplicativos
conseguem armazenar tais informações), ajuda a controlar os sinais vitais do
paciente e armazenar a história clínica dele em uma base de dados que permite
que o profissional busque essas informações no momento do atendimento ao
paciente (CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008; MALDONADO; MARQUES;
CRUZ, 2016).
Segundo Cabral, Galván e Cane (2008) e González Fraga e Herrera
Rodríguez (2007), a telemedicina, portanto, pode ser classificada em cinco
tipos fundamentais. Veja a seguir.

1. Telediagnóstico: envio de dados, sinais e imagens com finalidade


diagnóstica.
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2. Telemonitoramento: monitoramento remoto de parâmetros vitais com


finalidade de vigilância e identificação precoce em caso de alterações
que colocam a vida do paciente em risco.
3. Teleterapia: controle de equipamentos a distância.
4. Teledidática: uso de videoconferências para educação em saúde de
pacientes e capacitação de profissionais.
5. Telecomunicação: aplicação de recursos adaptados para pessoas surdas,
mudas, cegas, entre outras limitações, para que seja possível ofertar
assistência preventiva de agravos e promotora de saúde a essa população
também.

Nos últimos anos, empresas multinacionais têm investido muito na produção de


dispositivos tecnológicos que se utilizam da telemedicina para serem usufruídos
por profissionais e pacientes. Isso se deve ao grande desenvolvimento das teleco-
municações e dos softwares que são capazes de armazenar grande quantidade de
informações e transmiti-las em tempo real. Essa transmissão pode ser realizada por
meio de relatórios, de vídeo ou de som e a quilômetros de distância (COSOI, 2002).
Associados a esses dispositivos, são incorporados estetoscópios eletrônicos capazes
de transmitir sons do coração e do pulmão para um médico especialista avaliar de
forma remota e poder intervir na assistência quando necessário. Os sons transmitidos
pelo estetoscópio são semelhantes aos obtidos pela escuta direta do paciente e,
eventualmente, permitem o diagnóstico de pneumonia, derrame, sopro cardíaco,
entre outros agravos (COSOI, 2002).
Na dermatologia, também são utilizadas câmeras dermatoscópicas, que enviam
imagens de alta definição para serem avaliadas por dermatologistas. Dessa forma, é
possível realizar acompanhamento de lesões suspeitas ou encaminhamento quando
necessário. A utilização de um otoscópio e um escopo odontológico, assim como
a de um dermatoscópio, pode facilitar o diagnóstico de forma precisa e a distância
(COSOI, 2002).

Em cirurgia, a telemedicina pode ser empregada de diferentes formas, uma


delas é o ensino a distância, no qual as cirurgias podem ser transmitidas por
internet de alta velocidade em tempo real ou previamente gravadas. Assistir
as cirurgias em tempo real permite a discussão entre o cirurgião e demais
pessoas durante o acompanhamento das operações. Nesses casos, os aspectos
técnicos, as dificuldades e o processo decisório são compartilhados com a
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plateia, o que pode aumentar o nível de compreensão de todos os envolvidos e


interferir no processo decisório do cirurgião. As cirurgias gravadas, por outro
lado, não permitem que se vivenciem todos os momentos das operações, o que
pode limitar a amplitude do aprendizado. Porém, não impedem a discussão
entre plateia, cirurgião e demais pessoas e, ainda, utilizam menos tempo de
transmissão do que as cirurgias ao vivo, o que resulta em menores custos
(CUTAIT, 2001).
Do ponto de vista ético, as transmissões de cirurgia ao vivo ou gravadas
necessitam do consentimento do paciente, após explicar-lhe as implicações da
cirurgia ao vivo, bem como se deve preservar sua identidade. Do ponto de vista
legal, cabe relatar ao paciente quem o irá operar. Aspectos adicionais que estão
sendo ponderados dizem respeito ao acesso e à posse das informações geradas
pelo procedimento (CUTAIT, 2001). Por essas e outras questões, incluindo
as exigências tecnológicas, o uso da robótica e as habilidades necessárias aos
profissionais para atuarem com eficiência e segurança, é que a telecirurgia
tem muitas barreiras a serem superadas até atingir um nível de maturação
satisfatório (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004).
A telemedicina tem sido aplicada em muitas especialidades da medicina
convencional, entretanto, com níveis de maturação diferentes para cada área.
A radiologia e a patologia são duas especialidades muito desenvolvidas dentro
da telemedicina, em razão do fato de comumente os radiologistas e os patolo-
gistas não interagirem diretamente com o paciente, mas, na maioria das vezes,
apenas com o diagnóstico por meio de imagens. Sendo assim, a telemedicina
não alterou a forma com que esses profissionais estão habituados a trabalhar,
o que consequentemente contribui para a aceitabilidade dessas especialida-
des dentro da telemedicina. Cabe ressaltar que a maneira como as imagens
chegam a esses profissionais mudou com o advento da telemedicina, mas a
forma de interpretação diagnóstica das imagens, não (URTIGA; LOUZADA;
COSTA, 2004).
A dermatologia e a oftalmologia são especialidades em fase de maturação.
Acredita-se que essas áreas da medicina ainda não tenham alcançado maior
aceitação da telemedicina em razão da falta de padrões tecnológicos e de
protocolos clínicos testados e disseminados. Entretanto, a teledermatologia
tem um grande potencial para se desenvolver, porque a maioria das doenças
estão visíveis, tornando perfeitamente possível os diagnósticos por meio de
imagens. Da mesma forma, o uso da teleoftalmologia também se mostra
bastante apropriado, já que os dispositivos ópticos e de imagem proveem
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a base para a maioria das avaliações dos pacientes, permitindo ao médico


diagnosticar, prescrever e tratar o paciente a distância, com base em imagens
do olho (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004).

Prós e contras da utilização da telemedicina

Prós
Existe acordo entre os pesquisadores sobre as evoluções da Telemedicina em
relação à segurança, efetividade, eficiência e satisfação. De maneira geral, os
pacientes e profissionais apresentam um alto grau de satisfação com o uso da
telemedicina por favorecer o acesso mais equitativo à população, preservando
a intimidade e a confidencialidade da informação transmitida, assim como
um interesse em criar e regulamentar as leis de proteção aos dados em saúde
(CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008).
Em um estudo realizado na Espanha por Chugani et al. (2009), os par-
ticipantes avaliaram os benefícios do uso da telemedicina na resolução de
diferentes problemas. Dentre as situações referidas como melhores após a
implementação da telemedicina, estão: a capacitação e a pesquisa em saúde,
a comunicação entre profissionais e serviços de diferentes especialidades e
níveis de assistência, a grande procura por consultas médicas, as listas de
espera por atendimentos e o excesso de tarefas burocráticas.
Problemas como dificuldade de acesso aos serviços de saúde ou a profis-
sionais especializados, tanto por motivos geográficos como por limitações
físicas ou segurança no deslocamento, no caso de pacientes em privação de
liberdade, também podem ser minimizados com a utilização da telemedicina.
Nas especialidades como psiquiatria e infectologia a possibilidade de atender
com qualidade sem expor o paciente à estigmatização da sociedade é outro
fator relevante (CHUGANI et al., 2009).
González Fraga e Herrera Rodríguez (2007) referem que estudos sobre
a eficácia da telemedicina em muitos países sugerem que é um recurso que
contribui expressivamente para a melhoria da qualidade da assistência médica,
para a redução do tempo entre o diagnóstico e o tratamento, assim como para
a extensão dos serviços médicos às localidades de difícil acesso. Além disso,
os custos com hospitalização, transporte e pessoal são reduzidos.
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A possibilidade de operar ou controlar uma cirurgia a distância constitui-se


em grande desafio científico e tecnológico, sendo uma conquista importante
para a medicina, reconhecida pela classe médica e pela população em geral.
Trata-se de uma prática de controle parcial dos instrumentos cirúrgicos a dis-
tância, sendo que o procedimento propriamente dito é realizado pelo cirurgião
local. Outra vantagem referida por Cutait (2001) é a troca de informações entre
os profissionais, em especial nos casos de maior complexidade, quando falta
experiência ou quando se pretende compartilhar responsabilidade. Um dos
exemplos de utilização dessa prática são os casos de urgência, pois em algumas
situações o plantonista não tem as qualificações necessárias para tomar as
melhores decisões. Assim, um campo enorme de atuação é nas cirurgias de
urgência, em que nem sempre o plantonista tem as credenciais apropriadas
para tomar as melhores decisões.
O aparecimento de novas tecnologias e inovações na medicina permitem
o desenvolvimento de muitas investigações e a divulgação de seus resultados,
o que resulta em conhecimentos mais concretos na área médica e oferece a
possibilidade de ampliar muitos serviços de saúde e aprimorar ferramentas de
apoio para diagnóstico, prevenção, promoção e emergências médicas (GON-
ZÁLEZ FRAGA; HERRERA RODRÍGUEZ, 2007).

Contras
Todas as vezes em que surge uma novidade em tecnologia na medicina, seguida
de sua incorporação, iniciam-se os processos de avaliação dos riscos e dos
benefícios que tal inovação pode trazer, conforme exemplificado no Quadro 1.
Os benefícios já foram citados aqui, cabe a partir de agora elencarmos alguns
pontos negativos da telemedicina.
Nos casos de cirurgias transmitidas em tempo real por meio de recursos
televisuais que permitem a interação entre o cirurgião e a plateia, composta
por um público desconhecido e espalhado pelo mundo afora, assim como pode
haver interferência positiva na conduta do profissional em atuação, pode acon-
tecer de essa interferência prejudicar o discernimento e o processo decisório
do cirurgião, prejudicando o paciente. Além do alto custo dessa técnica, em
razão do tempo prolongado de transmissão e do fato de que os médicos, pelas
condições de trabalho, têm cada vez menos tempo para se capacitar, muitos
podem preferir assistir apenas aos “melhores momentos” (CUTAIT, 2001).
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Com relação aos recursos humanos, trata-se da resistência de aderir novas


tecnologias por parte de alguns profissionais, que, por vezes, estão acomodados
e não têm características como comprometimento, inovação e forças de von-
tade. Uma vez que o sucesso de novas técnicas em medicina está diretamente
relacionado à motivação do profissional que a executa. Uma técnica que é
imposta por uma administração sem o devido suporte aos profissionais e a
capacitação destes sobre a sua importância tem poucas chances de motivá-
-los. Além do mais, a boa relação entre a administração e os trabalhadores é
fundamental para a o progresso da instituição.
Há ainda aspectos relacionados à falta de visão do futuro da maioria dos
gestores, o que provoca o surgimento de uma série de barreiras diretamente
relacionadas com a dificuldade de mudança e inovação. O setor da saúde é
considerado difícil de modificar em razão da divisão e da falta de conexão
existente em seu modelo organizacional (CHUGANI et al., 2009).
Com relação aos riscos após a implantação de um programa de telemedicina,
também estão relacionados o comprometimento e o envolvimento das pessoas
nesse processo, uma vez que as atividades de telemedicina que dependem
exclusivamente desses valores apresentam um alto risco de não alcançar a
sustentabilidade. Complementar a isso, é extremamente necessário manter os
profissionais interessados para evitar que projetos sejam abandonados em razão
da falta de comprometimento do pessoal envolvido (CHUGANI et al., 2009).
A aceitação dos usuários dos serviços de saúde também pode ser um fator
prejudicial, quando se trata da interpretação da população de que a telemedicina
pode prejudicar a relação médico-paciente. Para minimizar essa situação,
é preciso uma nova forma de oferecer serviço em algo, normal e natural,
mesmo que a sua implantação requeira mudanças organizacionais importantes.
Uma mudança na cultura e na organização do trabalho pode ser necessária
no processo de adaptação (CHUGANI et al., 2009).
A equidade proporcionada com a implantação da telemedicina pode não ser
bem aceita quando essa tecnologia é implantada em apenas determinados locais
e não em outros, sem considerar outras regiões com necessidades similares.
As desigualdades podem afetar a disponibilidade de ferramentas de suporte
disponíveis para profissionais de saúde, quando não acessíveis a todos.
Outro fator relevante é a sustentabilidade tecnológica, visto que o atual
desenvolvimento tecnológico permite implantar vários programas de teleme-
dicina, todavia, existem limitações decorrentes do próprio uso dessa inovação
que podem dificultar sua implantação e seu funcionamento normalizado.
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De um lado, problemas relacionados aos sistemas incompatíveis e falhas na


operacionalidade; por outro lado, persistem dúvidas sobre as ferramentas téc-
nicas para garantir a confidencialidade e a segurança de informações sensíveis
e pessoais, a fim de evitar problemas éticos e legais (CHUGANI et al., 2009).
Muitas implantações de programas de telemedicina são financiadas com
recursos provenientes de projetos de investigação que exigem o envolvimento
da administração para garantir que o financiamento seja suficiente e estável,
a fim de manter recursos humanos e técnicos para realizar a atividade. Além
disso, é necessário incluir no orçamento recursos suficientes para avaliar os
diferentes aspectos relacionados a cada programa de telemedicina (CHUGANI
et al., 2009). O alto custo dos recursos requer que, desde o início, a incorpo-
ração de novas tecnologias seja acompanhada por uma avaliação sistemática
de seus benefícios. As críticas com relação ao alto custo e os benefícios das
novas tecnologias tornam os cuidados à saúde mais caros. É necessário realizar
os estudos avaliativos pertinentes, para certificar sua eficácia e eficiência
e os aspectos éticos do uso da tecnologia médica (GONZÁLEZ FRAGA;
HERRERA RODRÍGUEZ, 2007).
Além disso, a revolução tecnológica produziu um crescente interesse pelas
questões de saúde, transformando os problemas de saúde pública e, em par-
ticular, os cuidados médicos em assuntos de natureza tecnológica e política.
Dessa forma, é preciso uma reflexão sobre os aspectos éticos e bioéticos
implícitos nas atividades de telemedicina, ao passo que a ciência e a tecnologia
juntas permitem aumentar a capacidade de intervir diretamente na vida de
pessoas e comunidades. No entanto, também é essencial que a implantação da
telemedicina seja independente das possíveis mudanças políticas (CHUGANI
et al., 2009).
A telemedicina provoca consequências quando usada de forma indevida,
como o consumo excessivo, podendo ocasionar desvios de recursos, que
prejudicam a atenção de outras necessidades primárias em saúde. Por isso,
é necessário que, antes de incorporar novas tecnologias, sejam analisadas
algumas questões: se seu uso é justificado, se é melhor do que a tecnologia já
utilizada, se existe pessoal qualificado para sua exploração, qual a possibili-
dade de estar disponível para toda a população ou se será usada apenas por
alguns. É preciso definir os riscos que sua aplicação implica e determinar os
controles necessários para sua aceitação e também que tipo de consentimento
deve ser obtido do paciente em quem será aplicado (GONZÁLEZ FRAGA;
HERRERA RODRÍGUEZ, 2007).
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Quadro 1. Aspectos envolvidos na utilização da telemedicina

Prós Contras

Acesso à assistência à saúde Maior distanciamento da relação


entre médico e paciente

Melhora da equidade Maior distanciamento da relação


entre profissionais de saúde

Melhora da qualidade de assistência Dificuldades organizacionais


e burocráticas

Facilidade nas pesquisas de saúde Capacitação de pessoal

Troca de informações Desenvolvimento de protocolos


entre profissionais

Assistência à saúde de forma remota Dúvidas sobre a qualidade


do atendimento

— Altos custos

— Dificuldade de adesão dos


profissionais e dos pacientes

Portanto, a grande vantagem da telemedicina é a transformação na dis-


tribuição da educação em saúde e na prática da medicina, pelo simples fato
de eliminar a distância, especialmente na assistência prestada a populações
isoladas, sobretudo no Brasil, um país que agrega grande dimensão territorial
e distribuição pouco uniforme dos serviços de saúde. Por exemplo, em casos
específicos de indivíduos que vivem acamados ou idosos com dificuldades
de locomoção, é impossível ter disponível todos os especialistas necessários
para analisá-los (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004).
No entanto, uma grande barreira a ser transposta pela telemedicina é, com
certeza, o financiamento para investir em equipamentos e treinamentos de
pessoal até que ela possa gerar sua própria receita operacional. Em razão de a
prática da telemedicina ser diferente da interação presencial entre paciente e
médico, os princípios éticos merecem ser respeitados pelos profissionais que
se dispõem a utilizar essa prática. Porém, no que se refere às experiências
na implantação de telemedicina, inúmeras possibilidades ainda estão por vir
(URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004).
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Leituras recomendadas
JORGE FERNÁNDEZ, M.; MÉRIDA HERNÁNDEZ, R. Telemedicina: futuro o presente.
Revista Habanera de Ciencias Médicas, v. 9, n. 1, p. 127−139, 2010. Disponível em: http://
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