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Wellerson Mayrink de Paula Júnior1, Aline Maria Rizzon1, Carla Jorge Machado2
1
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil
2
Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte (MG), Brasil
equipe de origem, assim, precisa receber todas Estudos brasileiros ressaltam, entretanto,
as informações necessárias do médico dificuldades para garantir a atenção integral
especialista6. aos usuários com câncer na ABS. Destacam-se
capacitação contínua falha dos profissionais de
A Política Nacional de Atenção Oncológica saúde, escassez de recursos materiais e a
desenvolvida pelo Instituto Nacional do desarticulação dos serviços da rede6. Estudos
Câncer José Alencar (INCA) e instituída em canadenses também indicaram diálogo
2005 pelo Ministério da Saúde (Portaria insuficiente e precário entre médicos de
nº2.439/GM de 08/12/15) determina que os família e oncologistas após o tratamento do
cuidados ao paciente com câncer contemplem câncer, ocasionado pela falta de tempo,
dos níveis da atenção básica à atenção conhecimento limitado sobre a enfermidade e
especializada para que ocorram ações de ausência de clareza das funções dos médicos
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, na atenção continuada9. Atrasos na entrega e
reabilitação e cuidados paliativos. Entre esses recebimento de relatórios dos oncologistas e
componentes, destacam-se ações clínicas em falta de informações agrava a comunicação
nível de Estratégia de Saúde da Família (ESF) entre os profissionais da área10.
para seguimento desses pacientes, promoção
de educação permanente aos profissionais da A maioria dos oncologistas se mantém
saúde (entre eles, médicos de família) e envolvida no seguimento, mas uma minoria se
articulação intersetorial para maior efetividade comunica diretamente com o médico de
e eficiência7. família de alguns de seus pacientes e uma
parcela significante sequer se comunica4,9,10. A
Deram-se funções à Atenção Básica de Saúde abordagem conjunta dos profissionais é
(ABS) relacionadas a usuários com câncer no frequente apenas quando o paciente é tabagista
momento que a Política Nacional para a ou possui quadro depressivo4. Assim, percebe-
Prevenção e Controle do Câncer na Rede de se uma defasagem no envolvimento do
Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças oncologista com o cuidado continuado após o
Crônicas (2013) propôs que aquela ficaria tratamento. E é nesse momento que o sistema
encarregada da avaliação da vulnerabilidade e de contrarreferência deixa explícito suas
da autonomia da pessoa com câncer, falhas. De fato, em estudo sobre pacientes com
coordenação e manutenção dos cuidados após câncer, estudo brasileiro indicou percentual
referenciamento aos níveis secundário e/ou superior a 75% de desconhecimento, por parte
terciário, quais sejam, ambulatório de do profissional de saúde, se houve
especialidades e centro de tratamento contrarreferência do paciente à sua Unidade de
oncológico (inclusive com pagamento das Saúde da Família de origem. Outro estudo
despesas do paciente e acompanhante quando revela desvalorização da atenção primária pela
a assistência precisar ser feita fora do atenção especializada, que questiona a real
município de residência, sendo respeitada a necessidade desta contrarreferência. Assim,
restrição de regiões metropolitanas e distâncias conclui-se que é entre esses níveis de atenção
inferiores a 50 quilômetros)8, atendimento (terciário e primário) que a contrarreferência é
domiciliar e participação nos cuidados mais problemática.
paliativos em articulação com hospitais locais
e demais setores da rede7. Enfatiza-se que a A precariedade da comunicação se deve, em
disponibilidade de recursos nos níveis de certo nível, à escassez de papeis bem definidos
atenção é variável chave nesse processo, pois para os profissionais envolvidos no
determina o fluxo de pacientes atendidos e, atendimento do paciente9,10. Estudo que
portanto, a resolubilidade do próprio sistema avaliou a percepção de oncologistas,
de saúde. oncoradiologistas, cirurgiões oncológicos e
médicos de família sobre quais seriam as
atribuições destes profissionais no cuidado
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