Você está na página 1de 15

Revista do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Saúde

Faculdade de Medicina – Universidade Federal do Rio Grande do Sul


DOI: https://doi.org/10.54909/sp.v7i2.134635
ISSN: E-2525-507X
https://seer.ufrgs.br/saberesplurais

ARTIGO ORIGINAL

A comunicação da equipe de saúde com o


paciente com câncer sob a ótica de familiares
Communication between the healthcare team and cancer
patients from the perspective of family members
La comunicación entre el equipo de salud y el paciente
oncológico desde la perspectiva de los familiares

João Pedro Silva Amaral*


Ana Cristina Rodrigues dos Santos**
Neuto Felipe Marques da Silva***
Franciele Roberta Cordeiro****

RESUMO
O objetivo deste estudo foi conhecer o processo de comunicação da equipe de
saúde com o paciente com câncer, sob a ótica de familiares. Uma pesquisa de
abordagem qualitativa foi realizada entre maio e junho de 2022, em uma Unidade
de Oncologia de um hospital do Sul do Brasil. Foram realizadas entrevistas semies-
truturadas com oito familiares de pacientes em tratamento quimioterápico. Os
dados foram gerenciados no programa Atlas.ti, versão cloud para estudantes, sub-
metidos à análise de conteúdo e interpretados com o conceito de comunicação.
Evidenciou-se, na percepção dos familiares, que os médicos utilizam uma lingua-
gem objetiva, simples e adequada para informar o paciente sobre a doença e o
tratamento. A equipe da Unidade de Oncologia que atua durante o tratamento,
sobretudo a de enfermagem, foi avaliada como acolhedora, que cuida dos pacien-
tes respeitando a singularidade, o tempo e o espaço de cada um. Conclui-se que
o processo de comunicação pode ser integrado como um elemento facilitador do
cuidado nos serviços de oncologia, pois a comunicação pode impactar positiva-
mente na experiência do adoecimento do paciente e dos familiares e na relação
com a equipe de saúde.
Palavras-chave: Relações Familiares. Oncologia. Comunicação em Saúde. Relações En-
fermeiro-Paciente. Relações Médico-Paciente. Pesquisa Qualitativa.

* Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Brasil. E-mail: joaopedros.amaral@gmail.com.


** Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Brasil. E-mail: anacristinarodriguesdossantos@gmail.com.
*** Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Brasil. E-mail: neuto.enf@gmail.com.
**** Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Brasil. E-mail: franciele.cordeiro@ufpel.edu.br.
Autora de correspondência: Franciele Roberta Cordeiro. E-mail: franciele.cordeiro@ufpel.edu.br

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 1


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

ABSTRACT
This study aimed to understand the process of communication between the healthcare
team and cancer patients from the perspective of family members. A qualitative research
approach was employed between May and June 2022 at an Oncology Unit in a hospital in
the Southern region of Brazil. Semi-structured interviews were conducted with eight family
members of patients undergoing chemotherapy treatment. Data were managed using the
Atlas.ti program, cloud version for students, subjected to content analysis and interpreted
within the framework of communication. According to the viewpoint of family members, it
became evident that physicians use clear, simple, and appropriate language to inform patients
about the illness and treatment. The Oncology Unit’s team involved in treatment, especially
the nursing staff, was assessed as being supportive, caring for patients while respecting their
individuality, time, and personal space. It can be concluded that the communication process
can be integrated as a facilitating element in oncology services, as it can have a positive
impact on the patient and family member’s illness experience and their relationship with the
healthcare team.
Keywords: Family Relationships. Oncology. Health Communication. Nurse-Patient Relations. Doc-
tor-Patient Relations. Qualitative Research.

RESUMEN
El objetivo de este estudio fue comprender el proceso de comunicación entre el equipo de
salud y los pacientes con cáncer desde la perspectiva de los familiares. Se empleó un enfo-
que de investigación cualitativa entre mayo y junio de 2022 en una Unidad de Oncología de
un hospital en la región sur de Brasil. Se realizaron entrevistas semiestructuradas con ocho
familiares de pacientes en tratamiento de quimioterapia. Los datos fueron gestionados uti-
lizando el programa Atlas.ti, versión en la nube para estudiantes, y se sometieron a análisis
de contenido, interpretándolos en el contexto de la comunicación. Según el punto de vista
de los familiares, quedó claro que los médicos utilizan un lenguaje claro, sencillo y apropiado
para informar a los pacientes sobre la enfermedad y el tratamiento. El equipo de la Unidad
de Oncología que participa en el tratamiento, especialmente el personal de enfermería, fue
evaluado como un equipo acogedor que cuida a los pacientes respetando su individualidad,
tiempo y espacio personal. Se puede concluir que el proceso de comunicación puede inte-
grarse como un elemento facilitador en los servicios de oncología, ya que puede tener un
impacto positivo en la experiencia de enfermedad del paciente y de los familiares, así como
en su relación con el equipo de salud.
Palabras clave: Relaciones Familiares. Oncología. Comunicación en Salud. Relaciones Enfermero-Pa-
ciente. Relaciones Médico-Paciente. Investigación Cualitativa.

INTRODUÇÃO
No Brasil, em 2021, foi criado o Estatuto da Pessoa com Câncer. Esse documento tem
como objetivo assegurar a promoção das condições de igualdade perante as etapas da doença,
como o direito ao diagnóstico precoce através dos cuidados promovidos pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), o acesso ao tratamento de qualidade, bem como a prevenção da enfermidade.
Além disso, apresenta como obrigatoriedade a transparência sobre as informações da doença
e do tratamento. Essa transparência também ocorre por meio das estratégias de comuni-
cação, processo base da relação médico-paciente/família, pela promoção do diálogo claro
e objetivo, pelo esclarecimento de dúvidas e explicação das etapas do adoecimento e pelo
acolhimento do paciente e sua família pela equipe e serviço de saúde (Brasil, 2021).

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 2


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

A comunicação faz parte da relação profissional-paciente, sendo considerada relevante


para o estabelecimento de vínculo entre eles, e entre os profissionais das instituições. Uma
comunicação satisfatória pode ser entendida como aquela que busca diminuir conflitos e
mal-entendidos a fim de alcançar metas para solucionar problemas detectados na interação
com os pacientes e familiares/cuidadores, proporcionando a qualidade do cuidado (Silva,
2003).
Os profissionais, no cuidado, devem fazer uso da comunicação verbal e da não verbal.
A verbal está relacionada à escrita e à fala, buscando compartilhar a informação dada com
clareza a fim de não confundir o interlocutor, podendo ser com o auxílio de expressões
linguísticas, como a verbalização de interesse em saber a opinião do ouvinte e a repetição
da mensagem passada para validar a sua compreensão (Silva, 2003). Na comunicação não
verbal, o uso de palavras é substituído ou somado aos gestos, expressões faciais, expressões
corporais e até mesmo expressões perante o ambiente. Como exemplo desse tipo de comu-
nicação estão o gesticular negativo ou positivo com a cabeça para discordar ou concordar
com algo; a demonstração de medo ao levantar as sobrancelhas e as pálpebras superiores,
tensionando as inferiores; o cruzamento de braços para não demonstrar abertura ao emissor;
e o posicionamento de algum objeto entre as partes para introduzir afastamento (Silva, 2003).
Compreende-se que a comunicação é de suma importância, pois a forma como o paciente
e a família recebem as informações determina, muitas vezes, a aceitação do diagnóstico e a
efetividade do tratamento (Calsavara; Scorsolini-Comin; Corsi, 2019). Há situações, entre-
tanto, em que a família opta por quais informações serão transmitidas ao paciente, como
uma forma de protegê-lo do sofrimento possível de ocorrer devido ao diagnóstico ou ao
prognóstico. Outro motivo seria o comportamento paternalista do cuidador principal, que
tende a se assumir como responsável pelo processo de informações e decisões (Begnini et al.,
2020).
Esse comportamento reflete no impacto do câncer na família, que pode ser físico,
emocional e financeiro, iniciando já na fase do diagnóstico, sendo vista como a principal,
devido ao choque e abalo emocional. Diante disso, o familiar tende a querer proteger a pessoa
adoecida, privando-lhe de informações (Figueiredo et al., 2017). É direito do paciente com
câncer ter sua autonomia enquanto indivíduo respeitada, devendo receber informações
transparentes sobre sua doença e tratamento, processos, prazos e fluxos (Brasil, 2021).
Mostra-se necessário, desse modo, compreender melhor o processo de comunicação
entre os atores envolvidos em oncologia, sob a perspectiva dos familiares, para identificar
estratégias qualificadoras da interação entre eles e do cuidado ofertado, minimizando
comportamentos paternalistas e favorecendo a coparticipação em processos decisórios.
Em 2017, a American Society Oncology (ASCO) publicou diretrizes sobre a comunicação
eficaz para otimizar as relações entre paciente-médico e família. O documento recomenda,
entre outras coisas, a revisão clínica do quadro do paciente para que o profissional entenda as
suas necessidades, o uso da percepção para entender a compreensão do paciente e familiares
a respeito da doença, o uso de empatia com eles e a promoção de confiança no contato entre
ambos, reforçando a importância do processo de comunicação em relação ao prognóstico da
doença (Gilligan et al., 2017).
A literatura apresenta estudos que abordam, sobretudo, a comunicação da equipe médica
com o paciente e/ou família (Banerjee et al., 2016; Barboza et al., 2020; Belim; Almeida, 2018;
Karkow et al., 2015). Há carência de estudos que compreendam o processo de comunicação
nesse contexto sob a perspectiva dos familiares, os quais são relevantes e presentes durante

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 3


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

todo o processo de adoecimento por câncer. Justifica-se, assim, a relevância da temática


explorada neste artigo.
Frente ao exposto, delineou-se como objetivo deste estudo conhecer o processo de comu-
nicação da equipe de saúde com o paciente com câncer, sob a ótica de familiares.

METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa qualitativa realizada em uma Unidade de Oncologia de hospital
público do Sul do Brasil. O serviço dispõe de consultórios e sala para triagem de sintomas da
Covid-19, recepção do ambulatório de quimioterapia, um salão para infusão com 11 poltronas
inclináveis para os pacientes, bem como uma adicional para o acompanhante, totalizando 20
assentos, e uma sala com quatro leitos e quatro poltronas, onde são acomodados os pacientes
que realizam protocolos de quimioterápicos de longa duração (Amaral, 2022).
Quanto aos profissionais, existe uma equipe de enfermagem composta por nove enfer-
meiros, seis técnicos de enfermagem e um auxiliar de enfermagem. Além deles, há médicos,
farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogos, psicólogos, terapeutas ocupacio-
nais e assistentes sociais (Amaral, 2022).
Os participantes foram familiares de pessoas com câncer em tratamento quimioterápico
que atenderam aos critérios de inclusão: ter 18 anos ou mais; ter capacidade cognitiva para
realizar entrevista; ser a pessoa da família que mais acompanha a pessoa em tratamento
quimioterápico durante a trajetória da doença; e a pessoa em tratamento ter realizado, pelo
menos, dois ciclos de quimioterapia. Os critérios de exclusão foram não falar o idioma portu-
guês e o familiar em tratamento estar realizando a última quimioterapia do último ciclo.
A amostragem foi do tipo intencional e a produção dos dados ocorreu entre maio e junho
de 2022. Nesse período, um dos pesquisadores realizava estágio curricular de graduação no
serviço, o que favoreceu o convite para as pessoas que estavam no critério de inclusão do
estudo. Para a produção de dados, o pesquisador dialogou com a equipe de enfermagem
sobre os possíveis familiares que atendiam aos critérios de inclusão, tendo levado em conta
a observação prévia do espaço e a vivência que a equipe possuía com os pacientes e seus
familiares.
A partir da seleção, realizou-se o convite aos possíveis participantes, após apresentação
de nome, curso, faculdade e finalidade da pesquisa. Ao final, oito familiares aceitaram
participar, sem haver nenhuma recusa. As entrevistas foram encerradas ao se atingir oito
participantes, considerando que houve a saturação dos dados pela repetição das informações
nas entrevistas. A amostragem por saturação pressupõe o encerramento do grupo amostral
quando, a partir de um certo número de entrevistas realizadas com um grupo homogêneo,
o conteúdo começa a apresentar repetição e o objetivo proposto foi atingido, permitindo a
compreensão do objeto de estudo (Turato, 2013).
Como técnica de produção de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada, as quais
foram realizadas em uma sala privativa do serviço, tendo duração variável entre dez e quinze
minutos e registradas somente em áudio. Os arquivos de áudio foram transcritos e arma-
zenados em pastas no Google Drive. Essas pastas foram compartilhadas com a orientadora
e responsável pela pesquisa, que revisou todas as transcrições antes do gerenciamento dos
dados no programa Atlas.ti, versão cloud de demonstração, programa utilizado para o geren-
ciamento dos dados.

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 4


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

A análise de dados foi norteada pelas seis etapas propostas por Creswell (2010). A primeira
diz respeito à organização dos dados, momento em que ocorreu a transcrição das entrevistas
e a organização/sistematização dos resultados. A segunda etapa compreende a leitura dos
materiais de modo a extrair as ideias principais e produzir outros questionamentos, os quais
podem indicar a necessidade de modificar as entrevistas ainda a serem realizadas (Creswell,
2010). Nesta pesquisa, essa etapa foi realizada concomitante à produção de dados, de forma a
aprimorar as entrevistas, e foi operacionalizada por meio da leitura e revisão das entrevistas
e discussão das mesmas entre os pesquisadores.
A terceira etapa compreende a codificação dos materiais empíricos, processo que pode
ser realizado com o auxílio de programas ou manualmente (Creswell, 2010). Nesta pesquisa
foi utilizado o programa Atlas.ti para implementar essa etapa. Destaca-se que não foi cons-
tituído um livro de códigos prévios, eles emergiram das falas dos participantes. A quarta
etapa é caracterizada pela descrição e síntese dos assuntos ou temas identificados por meio da
construção de unidades temáticas ou categorias (Creswell, 2010). Para essa etapa foi utilizado
também o Atlas.ti, além de ter sido construído um quadro para evidenciar o processo de
construção e aglutinação de códigos para a composição das unidades temáticas. No Atlas.
ti foram elaborados 13 códigos e selecionados 182 excertos, os quais constituíram duas
categorias – Categoria 1: A comunicação com o paciente diante do diagnóstico de câncer e
Categoria 2: A comunicação com o paciente durante o tratamento.
A quinta etapa compreende a apresentação dos resultados, que comumente ocorre de
forma narrativa na pesquisa qualitativa (Creswell, 2010). Foram utilizados excertos repre-
sentativos das ideias centrais que compuseram cada unidade temática. Por fim, a sexta
etapa é a interpretação dos resultados, a qual se constitui de um movimento reflexivo dos
pesquisadores em articulação com elementos da própria experiência, da cultura e vivência
dos participantes e cenário da pesquisa e também com teorias ou literatura inerente à área
de pesquisa (Creswell, 2010). Nesta pesquisa, a interpretação se deu em articulação com o
conceito de comunicação, na perspectiva abordada por Silva (2003).
A comunicação compreende a articulação entre signos visando a transmissão entre uma
pessoa e outra. É mediada por experiências, percepções, aspectos psicossociais e culturais
que determinam a intencionalidade e a tentativa de compreensão e convencimento sobre
uma mensagem emitida durante as relações que o sujeito tece consigo e com os demais nas
situações cotidianas (Silva, 2003).
Por fim, foram respeitados os preceitos éticos da Resolução nº 466 de dezembro de 2012,
tendo sido o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer nº 5.372.824. O
anonimato dos participantes foi mantido por meio do nome de cidade, por eles escolhido,
para identificá-los.

RESULTADOS
No Quadro 1 apresenta-se a caracterização dos oito familiares participantes do estudo,
seguindo a ordem de realização das entrevistas.

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 5


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

Quadro 1 – Caracterização dos participantes da pesquisa. Pelotas, RS, 2022.


Parentesco/ Localização do
Familiar Gênero Idade Município Ocupação
paciente câncer/paciente
Setor
Herval Masculino 30 Filho Pulmão Herval
agropecuário
Cuidador de
Passo Fundo Masculino 25 Filho Vulva e ânus Pelotas
idosos
São Lourenço Feminino 38 Esposa Intestino Pelotas Cabeleireira
Pelotas Masculino 70 Esposo Cólon e reto Pelotas Aposentado
Estância Feminino 27 Filha Pulmão Pelotas Psicóloga
Gramado Feminino 47 Irmã Mama Rio Grande Professora
Auxiliar de
Canguçu Masculino 28 Filho Cabeça e pescoço Pelotas
mecânico
Piratini Feminino 72 Irmã Pulmão Pelotas Aposentada
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

A comunicação com o paciente diante do diagnóstico de câncer


Nesta categoria são apresentados os aspectos envolvidos na comunicação no percurso
diagnóstico da doença, especialmente a relação da comunicação profissional referente ao
diagnóstico. Os participantes relataram que os médicos utilizaram estratégias de comuni-
cação do diagnóstico que facilitaram sua compreensão.

Foi a médica. [...] foi bem explicativo. Ela disse o que ele tinha, o tratamento que
seria feito, todo o passo a passo que a gente iria ter que percorrer durante esse
tempo. E tudo de uma forma bem delicada, bem sensível, demonstrou apoio com a
gente, o que foi bem importante nessa questão do pai aceitar o tratamento. [...] Foi
um momento que me deu esperança, porque ela mostrou que tinha várias manei-
ras da gente atacar a doença e tentar melhorar os sintomas. (Estância)

Foi o médico. Mas na verdade, quando ela pegou o resultado do exame, já viu que
era a doença, né?! Mas quem conversou depois melhor com a gente foi o médico,
na consulta. [...] Foi bem importante e acho que direito, né?! Ele sentou pra conver-
sar com a gente, ficamos uns bons minutos dele explicando do diagnóstico e como
seria o tratamento, qual seria a medicação, o que poderia causar. Então a gente
ficou bem preparado pro que ia vir… (Pelotas)

Foi o médico. [...] Ah, foi bom porque como eu disse me acalmou. Não só a mim,
né, a ele também, pelo menos eu acho e espero. Porque o médico explicou que
pegamos a doença no início, então tínhamos mais chances e tudo mais… explicou
como ia ser o tratamento, qual ia ser o remédio, se poderia dar alguma coisa ruim
nele, foi tipo essas coisas. Daí ele conseguiu nos acalmar. (Canguçu)

Ele [o médico] explicou sobre a quimio, sobre as reações que poderia dar, tipo
enjoo, e tal. Toda dúvida que a gente passou a ter depois do choque do diagnóstico
foi sanada e de uma forma simples, que deixou a gente entender e não aquele tipo
de conversa que te deixa mais confuso do que quando começou. [...] teve isso desde
o momento do diagnóstico e depois foi reforçado no primeiro ciclo e tudo mais.
Foi bem rápido, mas esclarecedor sobre as reações, o propósito e tal. (Passo Fundo)

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 6


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

Foi o médico. [...] mas o médico foi muito claro sobre o diagnóstico e sobre o tra-
tamento, explicou qual seria a medicação e quais os tipos de efeitos que poderia
causar no organismo dele, mas dizendo que também havia a possibilidade dele
passar bem, sem sentir nada muito ruim. (São Lourenço)

No momento, estávamos eu, ela e o médico responsável. [...] foi explicado o que era
a doença, mesmo a gente já conhecendo, foi mostrado qual foi o achado no exame
dela que indicou a presença dessa doença, qual seria o tratamento e os efeitos que
talvez causaria no corpo dela, né?! Em relação à perda de cabelo, por exemplo. En-
tão foi muito explicativo e informativo, e isso é importante nessa situação…o fato
do paciente entender tudo o que está vivenciando. (Gramado)

Quando questionados sobre a presença de outros profissionais durante o momento do


diagnóstico, todos os participantes relataram não haver nenhum outro profissional além do médico,
como mostram os seguintes excertos.

Não, era só a gente e o médico. (São Lourenço)

Foi só eu, ele e a doutora [médica]. (Estância)

Não, foi só ele mesmo. Mas acho que foi bom pra não ficar muita gente junto e ela
acabar se estressando, de ficar nervosa e acabar não entendendo o que o médico
falou, né... (Passo Fundo)

A comunicação com o paciente durante o tratamento


Nesta categoria será abordada a composição da rede familiar do paciente com câncer,
a comunicação envolvendo a participação do paciente no processo de tomada de decisão
e a avaliação dos familiares a respeito da comunicação da equipe de saúde no percurso do
tratamento.
A rede familiar do paciente se mostra como suporte para os momentos vivenciados no
tratamento da doença. Quando questionados sobre a composição da rede de apoio fami-
liar, além do próprio participante da pesquisa, os participantes destacaram as mulheres da
família.

Tem a minha mãe que tá sempre com a gente também, mas eu acompanho mais
ele aqui porque ela é sensível né pra ver ele meio fraco aqui fazendo remédio e tal.
Mas em casa, fora daqui ela ajuda muito e tá sempre com a gente. Sempre querendo
saber como ele tá, como foi a quimio, se tem alguma novidade e tal. A gente sempre
chega em casa e conta pra ela. (Canguçu)

Tem essa nossa outra irmã. O resto ou morreu ou tá pra longe. Mas essa outra irmã
que também tá com câncer a gente não costuma falar sobre tudo, tudo… porque
pensa, se ela tá mal e essa tá bem, fica uma situação chata, porque parece que uma
merece mais que a outra, sabe?! Então a gente filtra as coisas, mas ela sempre parti-
cipa. Somos um trio parada dura [risos]. (Piratini)

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 7


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

[Tem] a irmã dela, a minha tia… as duas irmãs dela, mas a que mora… a outra é
meio doente, sabe cara?! mas a que mora mais perto tá sempre em volta, juntos.
[...] A minha prima é enfermeira até inclusive, sabe?! Ela tá sempre explicando e
conversando com ela e tal. [...] Eu levo as crianças pra lá, eu tenho filhos também,
então ficam na volta dela, ela adora. (Herval)

Na comunicação com a equipe, os familiares relataram assumir, em conjunto com o


paciente, o papel de colaboradores na tomada de decisão. Evidenciaram, entretanto, o prota-
gonismo dado aos pacientes em relação à participação no processo.

Mesmo ele tendo ficado meio assim sem saber bem se iria querer fazer ou não, foi
ele que decidiu tudo. Ninguém nunca passou por cima dele e perguntou só pra
mim, deixando eu decidir, mesmo sendo filha, o que eu acho que é correto, porque
no final das contas o organismo é dele, o corpo é dele, quem vai passar por tudo é
ele. (Estância)

Ela sempre esteve junto em todas as conversas. A voz dela sempre prevaleceu, por-
que o corpo é dela, né?! Ela decide o que fazer com ele, então eu só aceito e concor-
do, porque sei que vai fazer bem pra ela. (Pelotas)

[...] ela [médica] chamava mais eu de canto, né cara? Pra conversar e depois eu
explicava pra ela. [...] Aí ela me explicou toda a situação do quadro dela, que era
extremamente necessário [radioterapia] pra tentar parar a doença, que era de al-
tíssimo risco a doença que ela tinha se ela não fizesse e aí eu concordei com tudo.
(Herval)

Tudo que é feito com o corpo dela é explicado e permitido, então ela sempre tem
controle de tudo que acontece. [...] Óbvio que eu fico sempre junto com ela, mas
nunca me meto, a não ser quando ela pergunta o que eu acho sobre tal coisa.
(Piratini)

Ela decide tudo. Ela é bem entendida de todo o quadro dela, então ela escolhe o
que vai ser feito. Eu só acompanho junto, as consultas, os procedimentos que posso
acompanhar, mas ela decide tudo. (Gramado)

Os participantes avaliaram como positivo o processo de comunicação da equipe no


serviço de saúde onde seus familiares faziam tratamento, descrevendo aspectos da comuni-
cação verbal e não verbal, que denotam o acolhimento ofertado pelos profissionais.

O carinho que essas enfermeiras, doutoras, têm com ela é uma loucura, o cara
fica abestado. Desde lá debaixo, das atendentes até aqui é assim, perfeito. E tão
sempre conversando com ela, explicando as coisas também de tratamento, e que-
rendo sempre saber como ela tá e isso é essencial pro paciente ficar bem e aceitar o
tratamento, né?! Além também do pessoal sempre reconhecer ela [se referindo ao
fato de os profissionais chamarem a familiar pelo nome], então não fica parecendo
que ela é “só mais uma paciente”, isso emociona, ela sai super bem e satisfeita. [...] a
relação é ótima, perfeita na verdade. (Pelotas)

Todo mundo é bem compreensível, gente boa, educados, carinhosos, pessoas re-
almente boas de comunicação, né?! Tão sempre querendo saber como o pai tá e
fazendo de tudo pra deixar ele o mais confortável possível, por exemplo, sempre
botam uma mantinha nele pra tapar do frio. E mesmo que isso pareça um gesto

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 8


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

pequeno, faz a diferença no fortalecimento do vínculo dele com o pessoal daqui,


então estão todos de parabéns. Nesse quesito toda equipe tá de parabéns porque
sempre explicam tudo certinho pra gente. (Estância)

O pessoal sempre fala tudo pra gente, combina tudo certinho. As enfermeiras sem-
pre explicam e pedem permissão pra poder fazer [...] é muito boa [a relação], bem
forte. Desde o primeiro dia, quando a enfermeira sentou com ele e deu as boas-
-vindas, explicou que ia pegar a veia pra fazer o remédio né, e falou que tinha que
tomar água pra melhorar e tudo mais. Explicou que ia fazer o remédio antes da
quimioterapia que era pra não ter reação, explicou quais eram e tudo mais. Então é
nessas situações que a gente percebe o carinho da equipe com ele. É ótimo ter um
pessoal bom pra nos ajudar a passar por isso. (Canguçu)

Tudo é bem explicado e acompanhado de uma forma muito compreensível, de


forma carinhosa. Por exemplo, se vai ser feito algum procedimento que o médico
pediu, a equipe daqui explica pra ela não só o procedimento, né, mas o motivo de
estar sendo feito e também se tem algum risco. [...] Eu sou do tipo de pessoa que
pensa que tudo na vida pode ser melhorado, mas a equipe aqui tem uma comuni-
cação muito boa com a minha irmã e nunca falhou, então acho que é só continuar
dessa forma. (Gramado)

De forma cuidadosa, carinhosa, clara. Sempre nos acalmando dando informações


sobre o que vão fazer, qual a medicação vai ser dada, querendo saber sempre se ele
tá bem. [...] Muito atenciosos, deixando ele sempre bem à vontade. A gente não
tem reclamação, nunca. Nenhuma, desde o começo, com todos os profissionais.
Quando a gente tem dúvida de alguma coisa, a gente vai e pergunta e a equipe
sempre nos acolhe e acolhe nossa dúvida. [...] As gurias da equipe aqui sempre re-
forçam que existem outros profissionais à disposição, tipo dentista, psicólogo. [...]
Eu acho que são pessoas muito bem capacitadas pro serviço, toda a equipe, desde o
princípio, até aqui a quimioterapia. (São Lourenço)

DISCUSSÃO
Com base no apresentado, percebeu-se a satisfação dos familiares em relação à comuni-
cação da equipe de saúde com o familiar acometido pelo câncer. Eles a qualificaram como
esclarecedora e objetiva. Apontaram a sutileza utilizada pelos profissionais ao transmitirem o
diagnóstico, demonstrando apoio e segurança. Tal achado evidencia que nesse processo rela-
cional os profissionais atingem a finalidade máxima da comunicação, que é a compreensão e
a transformação de determinada realidade (Silva, 2003).
Nesse sentido, utilizar linguagem simples em relação aos termos técnicos para explicar
a doença e seus estágios é importante nas relações entre médico, paciente e familiares, pois
estimula a compreensão, validação e aceitação da mensagem por quem a recebe (Barboza et
al., 2020).
A comunicação é elemento crucial para a aceitação da terapêutica e o prognóstico da
doença. Dentre as estratégias recomendadas para melhorar essa ação, que convergem com
as identificadas no presente estudo, estão: o uso adequado do tempo cedido para a conversa,
o uso da empatia e escuta terapêutica para com os envolvidos, o uso de termos comuns que
buscam atingir o conhecimento de cada ouvinte e o esclarecimento de dúvidas sobre todo o
conteúdo acerca do processo do câncer (Gilligan et al., 2017).

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 9


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

Ainda que possa ser recomendada a presença de outros profissionais durante a comu-
nicação do diagnóstico (Campos; Silva; Silva, 2019), esse acompanhamento deve ser
ponderado junto a cada paciente e família. Isso porque, conforme evidenciado nos achados
desta pesquisa, a presença de mais profissionais pode repercutir em estresse, nervosismo
e até mesmo vergonha. Dessa forma, faz-se necessário analisar cada caso, buscando saber
do próprio paciente se é da vontade dele ter à sua disposição uma equipe multiprofissional
no momento do diagnóstico, de modo a proporcionar conforto e tranquilidade para a
compreensão do momento de forma a refletir positivamente no percurso de sua trajetória.
A rede de apoio familiar identificada nesta pesquisa se mostrou importante por servir
de apoio e suporte ao paciente no processo de decisão acerca do tratamento e também para
o enfrentamento da doença. Tal resultado converge com os achados de um estudo realizado
com pessoas com câncer, que evidenciou a importância de familiares no suporte emocional,
financeiro, na execução de tarefas domésticas, no transporte aos atendimentos e na adaptabi-
lidade ao diagnóstico e ao tratamento (Santos et al., 2021).
Em relação ao tratamento, especificamente à tomada de decisão, processo no qual
a comunicação é central, recomenda-se que seja feita de forma mutualista, envolvendo os
profissionais de saúde, pacientes e familiares, sobretudo, evidenciando a autonomia da pessoa
que receberá as intervenções sobre seu corpo (Vidal et al., 2022).
Nesse sentido, a noção de autonomia e as escolhas dos pacientes dependem do contexto
clínico, da perspectiva prognóstica e dos riscos de cada terapêutica proposta. A autonomia e
a compreensão dos pacientes são influenciadas pelos aspectos não verbais da comunicação
e os referenciais socioculturais dos pacientes, os quais dão sentido à mensagem informada e
aos significados produzidos por quem a recebe (Forte; Kawai; Cohen, 2018).
Um dos aspectos que interferem na autonomia de pessoas adoecidas, com câncer ou não,
são os silêncios produzidos na relação da família com o paciente. A conspiração do silêncio,
como é denominada essa prática, emerge do comportamento protecionista dos familiares,
na tentativa de esconder sentimentos negativos, como medo da perda, incerteza diante do
desconhecido e dor frente ao inaceitável (Neves et al., 2017; Volles; Bussoletto; Rodacoski,
2012).
Na presente pesquisa, o resultado se mostrou divergente da literatura, pois os partici-
pantes perceberam respeito por parte dos profissionais em relação à autonomia na tomada
de decisão, ao mesmo tempo em que também respeitaram, enquanto familiares, os desejos e
vontades da pessoa doente, colocando-a como protagonista nos momentos de consulta, por
exemplo. Tais ações convergem com o preconizado no Estatuto da Pessoa com Câncer, no que
concerne ao direito à acompanhante nos atendimentos, ao mesmo tempo em que assegura ao
paciente o direito ao acesso às informações transparentes e objetivas relativas à doença e ao
seu tratamento, viabilizando o respeito à sua dignidade e autonomia (Brasil, 2021).
No que tange à comunicação da equipe que assiste ao paciente durante o tratamento no
ambulatório de quimioterapia, os participantes reconheceram a valorização da individuali-
dade, o respeito pelo paciente e pela família, além do acolhimento. Esse acolhimento por parte
das equipes oncológicas também foi identificado em estudo brasileiro no qual os pacientes
destacaram a abordagem acolhedora dos profissionais de saúde, os quais estabeleciam com
eles relação na qual a escuta, a empatia e o uso de linguagem acessível eram valorizados
(Santos et al., 2021).
A comunicação estabelecida com os pacientes pela equipe do serviço cenário desta
pesquisa vai ao encontro do indicado na literatura, que recomenda haver clareza na

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 10


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

mensagem transmitida. Esta comunicação deve ser intencionada de forma a proporcionar


uma recepção positiva para que o paciente sinta que será oferecida assistência de qualidade,
denotando a importância desse indivíduo no processo de sua doença, ou seja, afastando o
conceito de cuidar somente da doença e não do paciente (Silva, 2003).
Um cuidado referente à comunicação diz respeito à solicitação de permissão requisitada
pelos profissionais na hora do cuidado. Essa ação é uma forma de estabelecer vínculo com
o paciente, rompendo aquilo que é denominado de “bolha invisível” e que o cerca (Silva,
2003). Entende-se que essa bolha é a proteção que o indivíduo necessita ter, tanto no início do
processo da doença quanto nas outras etapas, para que se sinta seguro e promova a si mesmo
um campo confortável, na medida do possível, para o enfrentamento da doença (Silva, 2003).
Logo, o respeito demonstrado pela equipe para adentrar a esse meio é de relevância para
aceitação e abertura advinda do paciente em criar uma relação com vínculo entre ambas as
partes.
O cuidado baseado na afetividade, ou seja, com o uso de características específicas durante
a comunicação, como o abraço e o sorriso, permite que a relação profissional e paciente
seja aprofundada em nível mais íntimo que a de apenas provedor e receptor de cuidado
oncológico, promovendo confiança na relação e segurança para que o paciente projete seus
sentimentos na vivência com a equipe, fazendo com que os profissionais consigam intervir
em momentos de desalento, por exemplo, buscando o bem-estar do indivíduo (Paiva et al.,
2019).
Esse cuidado também foi reconhecido pelos familiares pela forma da equipe se preocupar
com o bem-estar do paciente, por exemplo, quando ofertam cobertor para os pacientes se
protegerem do frio, interpretando que essa preocupação em deixar o paciente confortável é
essencial para a aceitação do tratamento. Por fim, houve valorização da equipe por fazer, a
partir de sua comunicação verbal e não verbal, com que os pacientes não se sintam apenas
mais um entre tantos.
Ratificando o identificado na presente pesquisa, um estudo que avaliou o acolhimento de
um serviço de oncologia de Brasília, na ótica de pacientes, evidenciou satisfação com a equipe
multiprofissional, justificada pela postura educada, esclarecimento de dúvidas e orientação
recorrente dos profissionais (Souza, H.; Souza, J., 2017).
Quanto ao reconhecimento da singularidade dos pacientes, ela se relaciona diretamente
à promoção da segurança pessoal. Isto é, o paciente que se sente acolhido pela equipe que
o trata, de forma a ser reconhecido e não se sentir como apenas mais um prontuário da
instituição, internaliza segurança e confiança nos profissionais presentes na rotina de seu
cuidado (Silva, 2003).
Rennó e Campos (2014) evidenciam que uma relação entre equipe e paciente e familiar só
se torna acolhedora quando é baseada em empatia, compreensão, afeto, respeito e confiança.
Analisam, ainda, que o profissional que está presente na administração de medicamentos do
paciente com câncer deve estar ciente de todos os aspectos negativos presentes nesse quesito,
promovendo momentos positivos para que os contrários sejam minimizados na relação entre
ambos e, assim, seja possível uma assistência humanizada e de qualidade.
Como limitação, os autores destacam a realização da pesquisa em uma única Unidade de
Oncologia, além da pequena amostra, o que requer relativização dos resultados e discussões
para o cenário em questão. Apesar disso, os aspectos positivos da comunicação avaliados
pelos familiares e descritos neste artigo podem contribuir com o aporte para o desenvolvi-
mento de estratégias semelhantes em outros serviços.

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 11


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu conhecer o processo de comunicação da equipe de saúde com o
paciente com câncer sob a ótica de familiares. A comunicação demonstrou ser uma impor-
tante competência dos profissionais da Unidade de Oncologia, viabilizando o acolhimento e
o estabelecimento de vínculo na assistência ofertada.
Evidenciou-se a valorização do paciente pela equipe de saúde. Embora a família repre-
sente fonte de apoio emocional e social e deva ser cuidada e ouvida no processo de tomada
de decisão, é essencial que o corpo daqueles que recebem o tratamento e o cuidado sejam
o centro da assistência da equipe oncológica. Tal aspecto foi destacado pelos familiares,
demonstrando que tanto eles quanto os profissionais respeitam ao máximo o direito à auto-
nomia estabelecido em políticas públicas nacionais.
Percebeu-se que os profissionais, por meio da comunicação verbal e não verbal, são
elementos-chave na humanização do cuidado em oncologia, pois configuram-se enquanto
facilitadores da compreensão da doença e suas repercussões, podendo, assim, desmistificar
estigmas que provocam medo e angústia aos pacientes e familiares diante do diagnóstico e
tratamento, facilitando e sendo apoio durante todas as etapas do adoecer por câncer.

Referências
AMARAL, J. P. A comunicação da equipe de saúde com o paciente oncológico na ótica de familiares. 2022. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Enfermagem) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2022.
BANERJEE, S. C. et al. Oncology nurses’ communication challenges with patients and families: a qualitative study.
Nurse Education in Practice, Edinburgh, v. 16, n. 1, p. 193-201, Jan. 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.
gov/26278636/. Acesso em: 27 out. 2021.
BARBOZA, M. C. N. et al. Comunicação do diagnóstico de câncer colorretal à pessoa e família e/ou cuidador. Journal
Health NPEPS, [s. l.], v. 5, n. 2, p. 226-239, 2020. Disponível em: https://periodicos.unemat.br/index.php/jhnpeps/article/
view/4585/3837. Acesso em: 31 jan. 2022.
BEGNINI, D. et al. Experiência de famílias convivendo com neoplasia avançada: um olhar à população rural. Revista
Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 73, n. 4, e20180895, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/
Zq37WCg4rPRLwVDfTKPVhZx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 set. 2021.
BELIM, C.; ALMEIDA, C. V. de. Communication competences are the key! A model of communication for the health
professional to optimize the health literacy – assertiveness, clear language and positivity. Journal of Healthcare
Communications, London, v. 3, n. 3, p. 1-13, 2018. Disponível em: https://www.primescholars.com/articles/
communication-competences-are-the-keya-model-of-communication-for-the-healthprofessional-to-optimize-the-
health-literacy-96326.html. Acesso em: 4 dez. 2021.
BRASIL. Lei n° 14.238 de 19 de novembro de 2021. Institui o Estatuto da Pessoa com Câncer. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, p. 2, 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14238.
htm. Acesso em: 22 set. 2023.
CALSAVARA, V. J.; SCORSOLINI-COMIN, F.; CORSI, C. A. C. A comunicação de más notícias em saúde: aproximações
com a abordagem centrada na pessoa. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 15, n. 1, p. 92-102, 2019. Disponível
em: pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v25n1/v25n1a10.pdf. Acesso em: 30 out. 2021.
CAMPOS, V. F.; SILVA, J. M. da; SILVA, J. J. da. Comunicação em cuidados paliativos: equipe, paciente e
família. Revista Bioética, Brasília, v. 27, n. 4, p. 711-718, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/
v9HwSfW8gLGNZHWqfmtcZKf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 7 dez. 2021.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
FIGUEIREDO, T. et al. Como posso ajudar? Sentimentos e experiências do familiar cuidador de pacientes
oncológicos. ABCS Health Sciences, Santo André, v. 42, n. 1, p. 34-39, 2017. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/
biblioref/2021/04/833093/947-pt.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
FORTE, D. N.; KAWAI, F.; COHEN, C. A bioethical framework to guide the decision-making process in the care of
seriously ill patients. BMC Med Ethics, London, v. 19, n. 78, p. 1-8, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12910-
018-0317-y. Acesso em: 22 set. 2023.

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 12


Assistência pré-natal como ferramenta profilática de intercorrências obstétricas: uma revisão integrativa

GILLIGAN, T. et al. Patient-Clinician Communication: American Society of Clinical Oncology Consensus Guideline.
Journal of Clinical Oncology, New York, v. 35, n. 31, 2017. Disponível em: https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/
JCO.2017.75.2311. Acesso em: 8 fev. 2022.
KARKOW, M. C. et al. Experiência de famílias frente à revelação do diagnóstico de câncer em um de seus integrantes.
Revista Mineira de Enfermagem, Belo Horizonte, v. 19, n. 3, p. 741-746, 2015. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.
link/reme.org.br/pdf/v19n3a16.pdf. Acesso em: 28 out. 2021.
NEVES, F. B. et al. Decisões contraditórias: motivos que levam o familiar cuidador a omitir o diagnóstico de câncer.
Revista de Enfermagem UFPE, Recife, v. 11, n. 2, p. 591-600, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/
revistaenfermagem/article/viewFile/11978/14530. Acesso em: 17 out. 2021.
PAIVA, A. C. P. C. et al. Vivência do homem diante do adoecimento pelo câncer: implicações para o cuidado em saúde.
Revista de Enfermagem da UFSM, Santa Maria, v. 9, p. 1-19, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/
article/view/35009/pdf. Acesso em: 30 jun. 2022.
RENNÓ, C. S. N.; CAMPOS, C. J. G. Comunicação interpessoal: valorização pelo paciente oncológico em uma unidade
de alta complexidade em oncologia. Revista Mineira de Enfermagem, Belo Horizonte, v. 18, n. 1, p. 106-115, 2014.
Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/reme.org.br/pdf/v18n1a09.pdf. Acesso em: 28 jun. 2022.
SANTOS, W. M. S. et al. O relacionamento em redes no campo oncológico na perspectiva dos usuários. Revista Brasileira
de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, e-021119, 2021. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/
article/view/1119. Acesso em: 22 set. 2023.
SILVA, M. J. P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 2. ed. São Paulo: Gente,
2003.
SOUZA, H. P. de; SOUZA, J. R. Percepção do paciente sobre o protocolo de acolhimento realizado no serviço de oncologia
do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Tempus – Actas de Saúde Coletiva, Brasília, v. 11, n. 1, p. 187-205, 2017.
Disponível em: https://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/2226. Acesso em: 22 set. 2023.
TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão
comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
VIDAL, E. I. de O. et al. Posicionamento da ANCP e SBGG sobre tomada de decisão compartilhada em cuidados
paliativos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 38, n. 9, e00130022, 2022.
VOLLES, C. C.; BUSSOLETTO, G. M.; RODACOSKI, G. A conspiração do silêncio no ambiente hospitalar: quando o não
falar faz barulho. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 212-231, jun. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582012000100012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 22 set. 2023.

Fonte de financiamento
Financiamento próprio.

Contribuição dos autores


João Pedro Silva Amaral - elaboração do texto, coleta e análise dos dados, revisão do conteú-
do e aprovação da versão final do manuscrito.
Ana Cristina Rodrigues dos Santos - revisão do conteúdo e aprovação da versão final do
manuscrito.
Neuto Felipe Marques da Silva - revisão do conteúdo e aprovação da versão final do
manuscrito.
Franciele Roberta Cordeiro - elaboração do texto, coleta e análise dos dados, revisão do con-
teúdo, aprovação da versão final do manuscrito e responsabilidade pública pelo conteúdo do
artigo.

Conflito de interesses
Os autores declaram que não há conflito de interesses.

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 13


A comunicação da equipe de saúde com o paciente com câncer sob a ótica de familiares

Responsabilidade editorial
Ramona Fernanda Ceriotti Toassi, Mariangela Kraemer Lenz Ziede
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil

Recebido em: 08/08/2023


Aceito em: 12/10/2023
Publicado em: 26/10/2023

Saberes Plur., v. 7, n. 2, e134635, jul./dez. 2023 14


Copyright of Saberes Plurais is the property of Saberes Plurais and its content may not be
copied or emailed to multiple sites or posted to a listserv without the copyright holder's
express written permission. However, users may print, download, or email articles for
individual use.

Você também pode gostar