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Laurie Paige
UM CORAÇÃO ROUBADO...
Rory sabia que se conseguisse fazer a bela e teimosa Shannon confiar nele, apesar
do drama que estava vivendo, poderia ensinar-lhe muito mais do que simplesmente ir à
caixa de correio e voltar. Ele poderia mostrar-lhe o "para sempre"...
Digitalização: Polyana
qualquer forma.
Rua Paes Leme, 524 - IO2 andar CEP 05424-010 - São Paulo - Brasil
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
CAPÍTULO I
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Shannon percebeu que uma pessoa solteira e atraente como Rory Daniels era um
tipo estranho no meio de todas as famílias que assistiam aos eventos da cidade.
Acenando para as pessoas que participavam do desfile, ela sentiu uma espécie de
solidão, que atribuiu ao clima do Natal. Todos sentiam isso. Era comum nessa época.
Pensar em Brad Sennet, o advogado com quem saíra no último mês não a consolou.
Brad era inteligente, dedicado ao trabalho e interessante, entretanto não fazia seu coração
disparar e se enternecer.
Mas... E daí?
Amizade, segurança e respeito, essas eram as qualidades que ela queria em um
relacionamento, não o delírio, a perda de razão por uma paixão e muito menos á emoção
de um rosto bonito.
— Que tal aquela xícara de chocolate? — ele perguntou, apontando o café, onde
pequenas luzes piscavam na penumbra do crepúsculo.
Uma das professoras, outra amiga íntima, ouviu o convite e ergueu as sobrancelhas
como querendo lhe dar um sinal.
Shannon evitou sorrir. Um impulso a forçava a aceitar o convite. Isso logicamente
acarretaria fofocas na cidade. Entretanto, havia Brad. Precisava pensar nele. Não tinha o
hábito de brincar com o sentimento alheio.
— Obrigada, mas ainda estou em serviço.
— É verdade, também tenho o que fazer. Feliz Natal.
— Feliz Natal.
A curiosidade a fez olhar para ele quando subia na caminhonete. Seu coração estava
um pouco acelerado, o que a surpreendeu.
Talvez houvesse se precipitado ao recusar o chocolate com o conquistador de
corações da cidade. Talvez esse houvesse sido um ponto no destino de uma pessoa que,
se deixado escapar, nunca mais se repetiria.
Talvez deixara escapar o momento que a conduziria a uma grande paixão.
Dessa vez não riu e tratou de bloquear sua fértil imaginação.
O carro de bombeiros saiu, sinalizando o fim do desfile. Shannon acenou para os
bombeiros, removeu as placas de sinalização e as pôs na viatura, levando-as para a
garagem, pensando no encontro com Rory Daniels.
Seus olhos azuis e o sorriso maravilhoso faziam dele uma pessoa especial. Gostaria
de saber por que sempre o considerara arrogante e distante. Não fora assim que lhe
parecera essa noite.
Deixando esses pensamentos de lado, Shannon terminou de redigir um relatório e
disse boa-noite ao responsável em serviço. Ia para a fazenda da família, onde seu avô e
duas primas a esperavam.
Observando o combustível, percebeu que seria melhor parar em um posto de
gasolina. Seria muita estupidez ficar sem combustível em uma estrada vicinal às nove e
meia da noite, dois dias antes do Natal.
Entrou em um posto e viu, contrariada que a máquina de cartão de crédito não estava
funcionando. Teria que entrar na loja de conveniência do posto para pagar pela gasolina.
Erguendo a gola do casaco, para se abrigar melhor do frio e do vento que soprava
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
por todo o vale vindo das montanhas do oeste, Shannon entrou na loja. Flocos de neve
começaram a cair naquele exato momento.
Droga! Teria que dirigir cinco quilômetros em uma estrada coberta de gelo.
Empurrou a porta, tirou os óculos com a mão enluvada e dirigiu-se ao balcão,
segurando o cartão de crédito.
Só então percebeu duas coisas: o homem atrás do balcão parecia apavorado, e o
que estava à frente dele segurava um revólver apontado para ele. Shannon reagiu
instintivamente e levou a mão ao revólver que trazia consigo.
Abaixando-se para um lado, deixou cair o cartão de crédito e puxou a arma nove
milímetros automática do coldre.
— Polícia! — ela gritou. — Mãos para cima!
O homem praguejou.
O segundo seguinte passou como se estivesse em câmara lenta. Ela viu o brilho do
revólver e percebeu que o homem estava atirando nela. Ninguém atirara nela em vinte e
sete anos. Estava mais ultrajada do que apavorada. Havia sido treinada na academia de
polícia para reagir a situações como essas.
Atirou-se para trás de uma fileira de pães e massas e esperou pela reação do
bandido.
— Largue a arma e levante os braços.
O homem respondeu com outro tiro.
— Charley, abaixe-se! — Shannon gritou ao dono da loja.
Quando ele abaixou-se atrás do balcão, ela teve uma visão melhor da loja e puxou
o gatilho.
O ladrão gritou e uma mancha vermelha apareceu no seu ombro esquerdo. Ele girou
e caiu sobre o balcão. Fez-se um repentino silêncio.
Shannon cautelosamente saiu de detrás da prateleira de pão.
— Jogue a arma no chão. Ponha as mãos atrás da cabeça e não se vire — ela
ordenou, surpresa com a calma da sua voz, considerando que seu coração batia
furiosamente. Nunca atirara em um homem antes.
O homem se endireitou vagarosamente.
— Cuidado! — o dono da loja gritou, o rosto pálido aparecendo atrás da caixa
registradora.
Uma explosão de luz a cegou e um barulho alto suplantou todos os outros sons. Uma
névoa rosada tomou conta do ambiente e seu último pensamento foi que não queria morrer.
Tinha trabalho a fazer, um futuro planejado...
Rory Daniels desligou o telefone celular e resmungou. Seu pai e sua madrasta
sempre o visitavam em janeiro, depois de passarem o Natal com a mãe dela, em Phoenix.
Sentia-se contrariado, mas, é claro, não disse nada. Como um bom filho, disse que
os esperava para as festas.
Sua madrasta era uma mulher que procurava ascensão social. Tentara seduzí-lo no
verão em que ele completara catorze anos e já era suficientemente alto para parecer um
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
homem adulto. Esse fato o tinha deixado confuso, mas isso havia acontecido dezoito anos
atrás.
Levara algum tempo para perceber que mulheres de todas as idades sentiam-se
atraídas pela sua aparência, seu dinheiro e seu nome de família, um dos mais tradicionais
da cidade.
Para não magoar o pai, aprendera a manter distância da madrasta durante os anos
de convivência com ela e o pai, que era louco pela esposa.
Os anos em que cursara a faculdade tinham sido um alívio em comparação com a
vida no lar. Mas aprendera uma outra lição enquanto estivera lá.
Depois de se apaixonar por uma colega e pensar que ela também estava
apaixonada, Rory a ouvira contar a uma amiga que os cabelos pretos e os olhos azuis dele
faziam um par perfeito com seus cabelos loiros e olhos azuis e que eles formavam o par
mais bonito da faculdade. E que, com ele como parceiro, facilmente seria eleita a rainha do
Natal.
Suas palavras o tinham deixado furioso naquela época, mas agora superara tudo
isso e conseguira pôr a garota e a madrasta para fora da sua mente.
Fatigado e bocejando, entrou na caminhonete aquecida, pensando em tomar um
banho quente e ir para a cama. Tinha feito um parto muito difícil nas últimas três horas.
A égua era pequena demais para o tamanho do potro, mas conseguira salvar os
dois, ansioso por alegrar a garota de dez anos de idade que tudo observava. A garota lhe
dera um forte abraço quando ele terminara o parto.
Se pudesse encontrar uma mulher que olhasse para ele com admiração não pela
sua aparência, mas pelas suas qualidades, além do dinheiro e nome, casar-se-ia no mesmo
instante.
Até essa data, com trinta e dois anos, não encontrara ninguém.
Sabia bem o que queria: uma mulher meiga, inteligente e leal, tranqüila e gentil.
Também teria que ser uma boa mãe. Queria filhos, pelo menos três. Talvez uma
bibliotecária ou uma professora fossem adequadas.
A imagem de Shannon Bannock lhe veio à mente. Lembrou-se do sorriso dela
quando lidava com crianças ajudando-as a atravessar a rua e o modo como as crianças a
chamavam durante o desfile. Como policial, era muito competente. Era também uma mulher
forte e independente, mas não era propriamente a mulher dos seus sonhos. Por que então
a convidara para ir com ele ao café?
Certamente devido a um impulso, nascido de uma ilógica atração.
A maneira como ela olhava para um homem, como se julgasse seus pensamentos e
suas ações eram um desafio que qualquer homem com sangue nas veias não poderia
ignorar. Além de tudo isso era uma mulher muito bonita.
Olhando para o marcador de gasolina, viu que tinha menos de um quarto de tanque.
Seria bom encher o tanque para o caso de ter algum chamado de emergência nos feriados
de Natal. O dia seguinte seria véspera de Natal, e todo o comércio fecharia às cinco da
tarde para que seus proprietários pudessem ir para casa festejar com suas famílias. Nada
estaria aberto no dia de Natal.
Parou no posto de gasolina e abasteceu o carro. Ao pegar o cartão de crédito
percebeu a placa de "não funciona" pendurada na bomba.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
CAPÍTULO II
Shannon acordou completamente desorientada. Pôs uma das mãos sobre os olhos
e descobriu que estavam cobertos por ataduras. Alguém segurou sua mão.
— Cuidado com as ataduras — disse uma de suas primas, preocupada.
— Kate?
— Sim. Megan e eu estamos com você.
— O que aconteceu? Onde estou?
Falar era difícil e doloroso, como se ela não usasse a voz há muito tempo.
Percebeu que as ataduras cobriam sua mandíbula e parte do pescoço e circundavam
sua cabeça.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
o outro...
— Qual dos olhos? Qual?
— O olho esquerdo pode estar permanentemente afetado. A bala passou perto do
nervo ótico.
— Não posso perder a visão. Tenho planos. Meu curso de aperfeiçoamento, o futuro,
tudo...
Shannon pretendia ser PhD em Psicologia. Seu sonho era ajudar famílias a superar
problemas.
— Não... — Ela gemeu com a mão sobre as ataduras. — Não... Eu tenho que
enxergar... Tenho que enxergar.
Ela ouviu outra voz no quarto.
— Mantenham as mãos dela quietas — a pessoa disse.
Pequenos gritos acompanharam a voz como se a mulher estivesse carregando
camundongos dentro dos bolsos. Shannon lutava com as mãos que a seguravam.
— Ela ficará bem — suas primas falaram.
Aquelas palavras eram mentiras. Eram apenas para acalmá-la.
— Vocês não entendem... — Shannon murmurou. Estava tendo problemas para se
expressar, mas tinha que explicar, tinha que fazê-las entender...
Estava perturbada demais, e de repente os sons começaram a diminuir de
intensidade. Lutava contra a escuridão e percebeu que estavam lhe aplicando um sedativo.
— Não... — disse com a voz enfraquecida. — Eu preciso saber, descobrir... Oh, por
favor, não...
Shannon percebeu que estava implorando da mesma maneira que implorara
enquanto seu pai fazia as malas para ir embora. Também naquele dia seu pedido não fora
atendido. As lágrimas desceram pelo seu rosto, e tudo caiu novamente na escuridão.
Shannon acordou imersa na escuridão que a envolvia. O quarto, que de alguma
maneira ela sabia não ser o dela, cheirava a anti-séptico e a flores. Uma estranha
combinação. Tentou escutar algo, cada nervo alerta e tenso, mas o quarto parecia vazio.
O suave som de metal contra metal e o zumbido de um motor a alarmaram, mas de
repente lembrou-se de que estava em um hospital.
O piso fora limpo e polido na parte da manhã. Tinha sido esse o som que escutara.
Então devia ser depois do meio-dia, mas antes do crepúsculo.
Estivera sonhando... sonhos escuros, inquietos e perturbadores. Neles, via o ladrão
novamente e sentia dor outra vez.
Então alguém... um ser etéreo e frio e uma luz brilhante que não deixava que ela
visse quem era, aproximara-se e erguera-a, tentando subtraí-la da dor e da agonia que se
apoderara dela. Aquele ser a levara ao paraíso com seus braços fortes, porém de toque
delicado. Instintivamente, soube quem era. Era o anjo que a salvara.
Fora um sonho tolo. Nenhum anjo viera salvá-la. Era uma ilusão, conseqüência do
tiro que havia levado...
Shannon virou a cabeça e pôs as mãos sobre as ataduras que cobriam sua cabeça
e metade do seu rosto. Pressionou a têmpora esquerda e encontrou um ponto dolorido.
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Rory parou na porta do quarto 212. Olhou para o maço de flores que trouxera.
Pareciam desnecessárias agora, depois que havia conversado com a prima de Shannon
no estacionamento e fora informado que Shannon não podia enxergar. Seus olhos estavam
vendados por ataduras. Os médicos ainda não sabiam a extensão do ferimento, e ela corria
o risco de ficar cega.
Rory a imaginou no uniforme de policial, indo e vindo pelas ruas com agilidade,
orientando as crianças no trânsito, com carinho e simpatia. O quadro seguinte era Shannon
caída no chão em cima de uma poça de sangue. Esse quadro lhe parecia irreal.
Entrou no quarto e percebeu que outras pessoas também haviam lhe enviado flores.
Vasos e cestas estavam pelo chão, lotando o quarto de cores alegres que lembravam a
primavera.
A paciente dormia.
Ele pôs o vaso de flores no peitoril da janela e parou perto da cama, estudando o
rosto de Shannon. Embaixo das ataduras que cobriam sua cabeça como um turbante, ele
pôde ver ferimentos por todo o lado esquerdo da face. A parte visível estava muito pálida,
com exceção dos lábios, rosados.
Sua boca era muito bem desenhada e sensual a ponto de fazer com que ele tivesse
vontade de beijá-la. Por alguma razão que ele não sabia identificar tivera a mesma vontade
na noite do desfile.
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— Olá... — ele falou, dando um passo na direção da cama, usando o mesmo tom
artificial da enfermeira. — Como está se sentindo?
— Bem — ela respondeu polidamente. — Ahn... Pode me dizer quem é você? Ainda
não sou boa com vozes, excetuando-se as de Kate e Meg.
— Rory Daniels. Desculpe-me, eu deveria ter dito logo de início.
— Tudo bem, Rory.
Por um segundo ela pareceu decepcionada, mas logo sorriu mostrando na face duas
covinhas que a faziam parecer mais jovem e mais sensual.
— É muita gentileza sua vir me visitar e... Feliz Ano-Novo.
Rory sentiu uma pontada no peito.
A enfermeira apertou um botão, e a cama ergueu-se vagarosamente fazendo a
paciente sentar-se.
Quando a cama parou, Shannon virou o rosto na direção de Rory como se pudesse
vê-lo.
— Tenho que lhe agradecer por ter salvo minha vida. O paramédico disse que você
pediu ajuda e controlou a perda de sangue até eles chegarem. Um bom samaritano, sem
dúvida.
Shannon parou de falar, e o sorriso desapareceu. Os lábios tremeram, e ela tentou
sorrir novamente. Rory acrescentou autocontrole à lista das qualidades de Shannon.
— Não foi nada. Não pense nisso se essa recordação lhe faz mal.
— Não, eu quero me lembrar. Você poderia me contar tudo o que viu?
Ele relembrou a cena na loja de conveniência enquanto a enfermeira tirava um
roupão e um par de chinelos do guarda-roupa.
— Por que você não a acompanha ao solário? Ela está cansada dessas quatro
paredes.
— Claro.
Rory pegou o braço de Shannon e a ajudou a descer da cama.
A enfermeira sorriu ao vê-los sair e se pôs a arrumar o quarto, seus sapatos fazendo
um barulho curioso sobre o piso.
— Essa é a primeira vez que saio do quarto desde que cheguei aqui. Estou um pouco
nervosa — Shannon admitiu, andando vagarosamente através do largo corredor.
— Eu também estou nervoso.
— Você? Por quê?
— Gostaria de beijá-la.
Ela parou abruptamente, virou a cabeça para ele e então gemeu e pôs a mão na
têmpora.
— Desculpe-me — ele murmurou, resistindo ao desejo de passar o braço pelos
ombros dela. — Não quis assustá-la. Eu devia ter me contido.
Shannon sorriu.
— Bem, agora que você tem toda a minha atenção, o que realmente queria dizer?
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A falta de evidência e o fato de o dono da loja não se lembrar de nada fez com que
o xerife deixasse o suspeito ir embora depois de ter recebido alta do hospital com um leve
ferimento causado por arma de fogo. Sem enxergar, Shannon não podia identificar o
homem.
Olhando para as grossas ataduras, Rory pensou no futuro dela.
Ser ferido no cumprimento do dever era um triste fim de carreira, e ele ficou
imaginando o que Shannon iria fazer agora. .
— Leve-me de volta para o meu quarto, por favor — ela disse repentinamente,
levantando-se com as mãos trêmulas e amparando-se nele.
Rory sentiu-se culpado, como se ela houvesse adivinhado seus pensamentos sobre
o futuro dela.
Pegou-a pelo braço e a levou de volta ao quarto.
Sua prima Kate esperava por eles. Vendo-a, Rory lembrou-se do outro motivo da sua
visita. Tirou um cartão de crédito e um par de óculos do bolso e os entregou a Kate.
— O cartão estava no chão e encontrei os óculos na mão dela — ele explicou.
Kate abraçou-o.
— Obrigada por ter salvado a vida de Shannon, minha segunda prima favorita.
Os dois trocaram um olhar de conspiração.
— Ei, pensei que eu fosse a favorita, e Megan, a segunda — Shannon protestou.
O tom alegre dela surpreendeu Rory. Estudou o sorriso da policial, que parecia
cômico vindo de uma pessoa com a cabeça toda enfaixada. Rory novamente experimentou
uma sensação estranha.
Olhando para o relógio, ele notou que era tempo de voltar ao consultório.
— O dever me chama — ele afirmou. — Foi bom vê-la novamente, Kate. Cuide-se
policial.
Ele sorriu para Kate e olhou mais uma vez para Shannon, achando difícil reconhecer
naquela mulher de mãos trêmulas e passos hesitantes, a competente policial que tinha o
mundo em suas mãos. Ela mudara quando percebera que Kate estava no quarto, tornando-
se alegre e brincalhona. Fingira, para não preocupar a prima.
Rory resmungou um palavrão. A vida podia ser muito cruel.
Shannon sentiu a preocupação de Rory, mas não aceitaria piedade de ninguém.
Mantendo o sorriso, ela agradeceu pelas flores e pela visita.
Depois que ele saiu, Shannon suspirou fundo. Ser sociável, especialmente com
Rory, não era confortável no momento. Além do mais, devia estar parecendo uma
sobrevivente de uma briga de fim de sábado.
A ironia de estar preocupada com a aparência a tocara quando ela voltava para a
cama, como se não houvesse nada mais com que se preocupar a não ser pentear os
cabelos e passar batom.
Depois de entregar o roupão a Kate e tirar os chinelos, deitou-se sobre os lençóis
frescos. Estava tão cansada quanto um peregrino retornando à casa depois de uma
perigosa viagem à Meca.
— Uau! — Kate. — Rory Daniels, o homem mais cobiçado da cidade. Que sorte a
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sua!
Shannon sorriu.
— E... Seria uma boa fofoca, não é mesmo?
— Fiquei sabendo que ele viria visitá-la, quando fui ao banco. Ele comprou flores e
a irmã de Betty, que trabalha na floricultura, havia me contado. Suspeito que a essa hora
ela já tenha contado ao resto da cidade.
Shannon riu do absurdo da situação. Rory nunca notara que ela existia até o dia do
incidente na loja de conveniência.
— Correio... — disse a enfermeira alegremente, colocando uma nova pilha de cartas
no colo de Shannon. — Oh, que bom vê-la sorrindo. Anotarei isso na sua ficha. O doutor
ficará muito satisfeito. Essa manhã ele disse que se você continuar melhorando poderá ir
para casa.
O medo tomou conta de Shannon.
— Eu posso ir para casa?
— Para a casa-grande — Kate apressou-se em esclarecer. — Megan e vovô a estão
esperando. Você pode ficar lá até tirar as ataduras, e então decidirá o que irá fazer.
Depois dessa afirmação, seguiu-se um silêncio constrangedor.
— Até sabermos se estou cega ou não — Shannon disse o que todos estavam
pensando.
Sentiu-se fraca novamente ao imaginar que tinha sido alvejada por um ladrão
qualquer em uma loja de conveniência, como uma cena de filme de terceira categoria.
— Não, não, nada disso, nada de tristeza — disse a enfermeira. — Há chances de
você estar bem. E preciso ter fé.
Shannon ouvia o barulho dos sapatos da enfermeira sobre o piso enquanto ela
arrumava a bandeja do almoço sobre a mesa de rodinhas. Depois que ela saiu, Kate
murmurou aborrecida:
— E um Feliz Ano-Novo para você, também.
Shannon concordou.
— Sei que ela tem boas intenções, apesar de ser irritante. Mas eu gosto dos
camundongos nos seus bolsos.
— O quê?! Eu não notei! — Kate exclamou.
Shannon explicou.
Ela estava agradecida pelo humor de Kate e por ela permitir que ela comesse
sozinha, sem ajuda, embora tomar um milk shake com um camidinho não exigisse muita
habilidade.
Kate leu as mensagens dos cartões que Shannon recebera.
— Pode me dizer de quem são as flores? — ela pediu. — Rory disse que o quarto
está repleto delas.
Quando Kate leu o nome de Brad em um cartão preso a um vaso de rosas, Shannon
sentiu-se mais animada.
Ele devia estar muito ocupado com algum caso difícil ou talvez tivesse ido visitar a
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família em St. Louis, embora nunca antes houvesse mencionado essa possibilidade.
Mas a realidade insistia em mostrar-lhe os fatos de outra maneira. Certas pessoas
não gostavam de ver indivíduos acidentados e feridos, e ela nem sabia como seria sua
aparência depois que estivesse curada.
Teria que enfrentar isso quando chegasse a hora. Mais tarde. Quando estivesse
sozinha e pudesse pensar.
— Pronto. Já li todas as mensagens e todos os cartões.
— Obrigada. — Shannon hesitou e disse: — Essa manhã, o médico disse que eu
deverei usar as ataduras durante duas semanas para que meus olhos descansem. Depois
disso então...
— Então saberemos — Kate completou.
— Sim.
— Megan e eu estaremos ao seu lado. Você sabe disso.
Shannon aquiesceu, sem coragem de encarar o futuro. E o medo tornou a tomar
conta dela.
Kate a manteve entretida com as novidades a respeito da nova filha adotiva,
Amanda, Mandy para a família, e Jeremy seu enteado.
Quando Kate mencionou Jess, seu marido havia três meses, seu tom de voz mudou,
tornando-se mais suave.
Enquanto ouvia Kate falar, Shannon pensou em Rory Daniels. Seria ele o anjo de
olhos azuis que salvara da escuridão ou ela criara essa imagem de vido à dor e ao delírio?
— Rory lhe disse que comprou a propriedade vizinha à nossa? — Kate perguntou,
ao levantar-se para ir embora.
— Não. Que lugar?
— A terra dos Mulholland.
Essa terra havia pertencido à mãe do primeiro marido de Kate, que crescera lá. Kris,
vários anos mais velho do que ela, era um veterano do Vietnã e sofria de problemas pós-
traumáticos. Em um momento estava bem e, no momento seguinte, ficava agitado e furioso
como um homem perdido na selva, com o inimigo se aproximando dele e de sua família. O
casamento terminara com o suicídio de Kris.
Kate merecia toda a felicidade que desfrutava agora.
— Rory vai morar na casa? — perguntou Shannon.
Estava curiosa, pois ele tinha comprado recentemente a cabana do antigo capataz
da Fazenda Windraven, na frente do rio que passava pela casa dos Mulholland, e a tinha
reformado e planejado mudar-se depois do Natal.
Subitamente, ela lembrou-se de que ia sair do seu apartamento da cidade depois do
Ano-Novo.
— Meu apartamento... — Shannon murmurou.
— Megan e eu terminamos de transferir suas coisas e fizemos a limpeza. Está tudo
em ordem, e seu carro já está na garagem. Desculpe não ter lhe dito antes, evitaria que se
preocupasse.
- Eu tinha me esquecido. Lembrei-me só agora.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
CAPÍTULO III
Shannon repetira sua história a todos que lhe telefonaram durante o resto do dia
como também no dia seguinte quando Gene Thompson, o xerife e seu patrão, vieram visitá-
la. Eles discutiram o caso.
— Não havia outro homem — ela disse. — O homem ferido era o ladrão.
Pelo silêncio que se seguiu, Shannon pôde perceber a impaciência do xerife diante
da sua teimosia.
— De acordo com a versão dele, havia outro homem, um freguês talvez, que entrou
na loja depois que você e o proprietário estavam inconscientes — Gene afirmou com
gentileza.
A altura e o porte do xerife lembravam a Shannon um grande urso. Mas sob aquela
aparência rude havia uma pessoa extremamente boa e carinhosa, que levava muito a sério
quando um dos seus assistentes era ferido.
— Eles lutaram e então o ladrão atirou nele e fugiu? — ela perguntou céptica.
— Sim.
Shannon ponderou a informação.
— Bem... — ela concluiu finalmente. — Espera que os buracos de bala mostrem que
o indivíduo que você soltou é o ladrão. Sei que atirei no ombro dele.
— Sim, também espero. Se não houver mais nenhuma evidência, o caso não poderá
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
ser solucionado.
Shannon bateu com a palma da mão sobre o braço da cadeira.
— Eu gostaria de ver o local, de examiná-lo... — Tarou de falar e ergueu os ombros
com impaciência, tentando controlar seu desespero.
— Não fique assim, querida — Gene disse com suavidade. — Você vai ficar bem.
Tudo tem solução.
— Será que tem mesmo?
— Tenho que acreditar nisso ou ficarei louco com a insanidade das pessoas que
atiraram em outras por causa de dinheiro. — Ele levantou-se. — Bem, preciso voltar ao
trabalho. Você vai para casa hoje?
— Sim, Megan virá me buscar assim que terminar o serviço. Ah, a enfermeira me
disse que você proibiu visitas que não fossem da família... E quanto a Rory Daniels?
Gene resmungou.
— Eu disse a todos que você só poderia receber visitas de Kate e Megan. Mas Rory
é um homem bonito, e as mulheres se derretem quando olham para ele. Isso deve ser muito
bom.
— Não sei não. Deve ser um inferno ter todas as mulheres apaixonadas por ele.
— Pode ser. Wind River pode não ser o paraíso — Gene disse, mudando
completamente de assunto.
— Mas ainda é um bom lugar para se viver. Não deixe esse incidente estragar sua
vida.
— Não deixarei — Shannon prometeu, pensando nas cartas, cartões e flores que
havia recebido.
Todas aquelas flores já haviam sido retiradas do quarto, que estava vazio para
receber o próximo paciente.
Shannon estava ansiosa por ir embora. Havia sido cansativo demais permanecer no
hospital por dez dias.
Ela manteve o sorriso até a última visita ir embora e depois se pôs a ponderar sobre
seu futuro. Dentro de nove dias as ataduras seriam removidas, e ela conheceria seu
destino.
Shannon ficou surpresa quando o médico e a enfermeira entraram no quarto,
algumas horas mais tarde.
— O que está acontecendo? — perguntou, alarmada com a inesperada visita.
— Vamos tirar as ataduras — respondeu o médico.
O coração de Shannon disparou.
— Agora?!
— Apenas as ataduras dos ferimentos, não as dos olhos. Não quero nenhum
estresse sobre eles nos próximos dias.
Quando as ataduras foram removidas, Shannon sentiu a cabeça esquisita.
Levou a mão para examinar os ferimentos e sentiu uma superfície áspera.
— Estou careca de um lado.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
O médico riu.
— Nem tanto — a enfermeira lhe assegurou.
Ela era uma pessoa eficiente que falava de um modo muito amigável. — Em poucas
semanas os cabelos curtos misturar-se-ão com os outros.
— Espero que sim.
Depois que eles saíram, Shannon achou a escova e escovou os cabelos. Queria
saber quando poderia tomar um banho. Devia estar horrível. Em um impulso, telefonou para
o salão de beleza.
Marilee disse que lavaria seus cabelos e os cortaria assim que ela pudesse ir ao
salão.
— Não se preocupe com os outros fregueses. Eles podem esperar.
Shannon sentiu-se melhor depois de desligar o telefone.
Amanhã... O mundo!
Riu ao perceber que estava prestes a chorar. Mas recusou-se a ser motivo de
preocupação para os outros, uma vez que o médico ainda não dissera nada de concreto.
Além disso, tudo iria ficar bem.
Quando Megan chegou, Shannon estava pronta para ir embora.
— Hum, o ar está fresco — Shannon disse.
Descobriu que poderia dizer onde estavam, usando os outros sentidos. Reconheceu
o ruído dos pneus sobre a velha ponte quando passaram sobre o riacho. Ouviu o mugido
das vacas de uma fazenda, e o cheiro dos cedros indicou que estavam perto de casa.
Quando chegaram, Shannon desceu ansiosamente da caminhonete e esperou pela
prima. Sentia-se vulnerável fora da segurança do hospital, mas agora queria liberdade sem
restrições e rotina.
— Nevou a noite passada, mas hoje o sol está brilhando — Megan afirmou. —
Espere por mim.
Apesar do sol, está muito frio hoje e essa noite será ainda mais fria.
Shannon esperou Megan pegar-lhe o braço e conduzi-la até a casa. Erguendo o
rosto para o sol, imaginou as montanhas, elegantes nos seus casacos feitos de neve.
Adorava as colinas e a sensação de acolhimento que sentia toda vez que voltava para a
fazenda. Suas raízes nesse solo eram profundas.
Com um aperto no coração, pensou que talvez nunca mais voltasse a ver aquela
paisagem. Sentiu uma onda de calor, como se alguém houvesse colocado um cobertor
sobre sua cabeça. Respirou profundamente e lutou para manter a compostura.
— Você pode carregar sua bagagem pessoal? Seu revólver está dentro da mochila.
Tenha cuidado, o chão está escorregadio.
Megan pôs uma mochila de plástico na mão de Shannon e a pegou pelo braço.
Shannon sentiu-se à beira do pânico. Caminhou sobre a neve até á porta lateral da
casa de dois andares, guiada pelo toque e pela voz da prima.
— Atenção, degraus. Suba... Isso, mais um. Deixe-me abrir a porta. Pronto. Vamos
entrar.
— Finalmente em casa! — Shannon exclamou, quando a porta se fechou atrás dela.
Projeto Revisoras
~ 21 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— E muito bom estar aqui. — Inalou o aroma de pinho e canela no ar. —Alguma coisa está
cheirando muito bem.
— Fiz chá de sidra antes de ir buscá-la. Kate mandou geléia de maçãs, e a sra.
Roddey, bolo de chocolate.
A sra. Roddey era a esposa do fazendeiro que arrendara a terra deles.
— Onde está vovô?
Shannon tirou as luvas e as colocou nos bolsos do casaco, que pendurou no
mancebo do vestíbulo, sem ajuda de ninguém.
— Foi descansar um pouco. Ele ficou muito perturbado com o que aconteceu a você.
Tem estado abatido.
— Talvez o Natal seja difícil para ele como é para muitas pessoas. Dá uma sensação
de solidão.
— Entre na sala de visitas enquanto eu acomodo a bagagem — Megan sugeriu.
Shannon tocou na porta com a mão direita e então, de memória, caminhou até a sala
de visitas, lugar onde a família se reunia.
O calor da lareira chegou até ela enquanto se sentava. Suspirou profundamente,
como se finalmente houvesse alcançado um porto seguro, depois de uma árdua viagem.
— Você se saiu muito bem — comentou uma voz masculina.
Shannon agarrou-se aos braços da cadeira.
— Brad?
— Desculpe desapontá-la — o homem disse com um tom de voz entre divertido e
sarcástico. — Rory Daniels. Vim examinar alguns dos pensionistas de Megan e aproveitei
para dar-lhe as boas-vindas.
— Oh, é verdade, o bom samaritano — ela repetiu, sorrindo. — Mais uma vez,
obrigada.
Ela percebeu que Rory devia estar na grande poltrona de couro onde seu avô
costumava sentar-se para contar, na véspera do Natal, histórias da Bíblia. Isso fora antes
do derrame que o deixara paralisado.
As coisas, o tempo e as pessoas mudam, e só os sábios conseguem aceitar esse
fato.
— Não agradeça. Como médico, dedico-me a curar qualquer tipo de animal que
cruze o meu caminho.
Seria impressão dela ou o tom de voz do veterinário não era tão caloroso com há
poucos segundos? Ela o teria ofendido, agradecendo sua ajuda?
— Isso é muito louvável — ela respondeu com o mesmo tom de voz que ele usara,
irritada, sem saber o motivo.
Houve um breve silêncio.
— Seus cabelos estão bonitos.
— Fui ao salão para cortá-los e lavá-los antes de vir para casa. Marilee disse que,
em poucos dias, eles estarão bem melhor.
— Já estão bonitos. É difícil perceber qual lado está mais curto.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Shannon não queria perguntar, mas havia uma coisa que queria saber. Achou que
ele lhe diria a verdade e arriscou:
— E quanto ao ferimento? Você pode ver onde a bala entrou ou... Alguma coisa
mais?
Odiava sua hesitação, como se tivesse medo de saber a verdade.
Esperou pela resposta.
Quando ele levantou-se da cadeira e se aproximou, ela sentiu seu hálito perfumado
perto do rosto. Sentiu um toque delicado pelo rosto até o queixo.
Ergueu a cabeça na direção onde julgava que ele estivesse e percebeu que ele
estava muito próximo. Sentiu a respiração dele antes de ouvir a resposta.
— A cicatriz da têmpora não será visível. Seus cabelos a cobrirão completamente
quando crescerem. Agora, sob o queixo...
Ela esperou, respirando com cuidado.
— Poderá ser notada se alguém procurar ou se estiver nesse nível e você inclinar a
cabeça. De outro modo não será notada. O cirurgião fez um excelente trabalho.
Shannon suspirou aliviada e tentou rir.
— Nada como ser tola — ela comentou.
— Todos são — Rory respondeu com suavidade —, até certo ponto. Ninguém gosta
de se sentir diferente dos outros.
O tom de voz dele era profundo e um pouco áspero. Shannon ficou surpresa e
perturbada.
Rory parecia divertido, cínico, mas também gentil e compreensivo. E tudo isso
realmente não condizia com a opinião que tinha sobre ele.
— Bem, essa é uma preocupação que você nunca teve.
— Você acha?
Shannon esticou a mão para tocar o rosto de Rory como se quisesse se certificar de
que se lembrava bem dele.
Começou a passar o dedo pelo rosto dele ate o queixo Ele tinha um perfil clássico,
a ossatura forte e máscula, o nariz reto, os lábios... Tentou dar uma definição para eles,
mas não conseguiu.
Os lábios dele eram quentes, firmes e macios. Quando se moveram levemente sob
o toque dela, um arrepio percorreu seu corpo.
Ela afastou-se, aturdida.
Seus toques haviam sido íntimos demais.
— Desculpe-me. Não sei o que me deu para tocá-lo dessa maneira.
Seu pulso foi agarrado, e Rory murmurou:
— Continue. Gosto de ser tocado por você.
Encorajada, correu o dedo pelo nariz dele, pelas sobrancelhas, testa e cabelos.
Shannon sabia que os cabelos de Rory eram pretos, como também os cílios e
sobrancelhas. Seus olhos eram de um azul-pálido inigualável. Era uma combinação
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
extremamente atraente.
Sua pele era lisa e estava fresca, como se ele houvesse acabado de tomar banho e
se barbeado. Imaginou como seria ser beijada por aquele homem.
— Você está bonito como sempre — ela afirmou, abandonando as mãos sobre o
colo, sentindo-se tola de um modo como não se sentia desde seu primeiro encontro de
amor.
Rory levantou-se e se afastou.
Shannon imaginou que ele se aproximara da lareira. Era estranho, mas sentiu que
alguma coisa o estava aborrecendo. Mas não conseguia imaginar o quê.
Rory era um homem que tinha beleza, dinheiro, respeito e a carreira que escolhera,
embora seu pai preferisse que ele fosse advogado.
Shannon pensou qual seria o motivo de Rory nunca ter se casado. De acordo com
as fofocas locais, namorara várias mulheres, mas nunca durante muito tempo.
Para que se unir a uma se podia ter tantas?
Ouvindo os passos de Megan, Shannon ficou contente por ele ter se afastado. A
prima presenciaria um quadro estranho, ela explorando o rosto dele como se nunca
houvesse visto um homem antes. E ele... Encorajando-a.
Bem, coisas estranhas aconteciam o tempo todo.
— Por que não fica para o jantar? — Megan perguntou a Rory, ao entrar na sala. —
Vovô adoraria ter um convidado para conversar, para variar. Ele e eu vagamos pela casa
como duas almas penadas. Estou muito contente por Shannon estar aqui. Ela pode nos
entreter contando os fatos excitantes que acontecem na sua profissão.
— Obrigado, eu gostaria. Imagino que Shannon tenha mesmo fatos muito
interessantes para contar — disse Rory.
— Bem, nada tão excitante quanto assalto à mão armada — ela respondeu bem-
humorada.
Megan e Rory riram das histórias, principalmente das coisas estranhas que as
pessoas costumavam fazer em situações inesperadas, como o homem que tirara a caixa
registradora de sua loja que estava incendiando e a colocou no capo do carro também em
chamas.
Para surpresa de Shannon o tempo passou rapidamente, e ela conseguiu até relaxar
ouvindo Rory narrar histórias sobre animais de estimação e seus donos.
Ouviu a tudo com muito interesse. Havia nuanças nas vozes das pessoas que ela
nunca percebera antes, como, por exemplo, o tom sensual de uma voz masculina de
barítono.
Um ruído veio do vestíbulo.
—Aí está vovô — Megan anunciou, levantando-se.
— Rory ficará para jantar conosco — ela disse ao velho senhor. — Eu lhe disse que
você ficaria contente em tê-lo como companhia.
Shannon sentiu o beijo do avô no rosto e ouviu-o cumprimentar Rory com um som
gutural e indistinto.
Rory tinha uma conversa agradável e animada. Relatou vários casos sobre os
fazendeiros do vale, todas pessoas muito conhecidas. Sempre fora uma pessoa educada,
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
mesmo quando discutiam a respeito de problemas locais, mas agora Shannon percebia que
ele era também uma pessoa muito atenciosa.
Ele contou a respeito dos planos de criar uma raça de cavalo que pudesse ser
campeã olímpica.
— Estou sonhando alto — Rory admitiu, sorrindo
— Mas se é sonho tanto faz ser grande ou pequeno.
— Concordo — afirmou Megan.
— Qual é seu sonho? — Shannon perguntou. Ela e a prima, apenas um ano mais
nova, e sua melhor amiga, partilhavam tudo desde a adolescência. Mas, depois de adultas
já não discutiam tanto a respeito dos seus planos.
Megan riu.
— Quero cavalgar o cavalo campeão olímpico de Rory.
Shannon visualizou os dois trabalhando juntos em busca de um mesmo objetivo.
Provavelmente se apaixonariam e se casariam. E seus filhos seriam lindos...
A solidão tomou conta de si sem aviso prévio. Sentiu-se desolada e sozinha.
Ninguém iria querer casar-se com uma mulher cega.
Com esforço, conseguiu afastar esses pensamentos da cabeça, não queria sentir
autopiedade.
Pelo resto da noite, a conversa fluiu entre todos. O avô surpreendeu as duas primas
conseguindo fazer alguns comentários, o que era um bom progresso ao seu habitual
silêncio.
Ele usava cadeira de rodas havia dez anos e mal conseguia se comunicar. Mas
nunca chorara e nem se lastimara.
Naquele momento, Shannon fez um voto silencioso de encarar tudo que estava por
vir com coragem.
Depois do jantar, Rory insistiu em ajudar Megan a lavar a louça. Elas tinham uma
faxineira que vinha ocasionalmente, pois não possuíam recursos para manter uma
empregada em tempo integral.
A fazenda tinha um custo muito alto, e não dava muito lucro. Graças a Kate, a
fazenda não dava prejuízo, mas pouco tempo depois da morte de tio Sean, elas acharam
que acabariam por perdê-la.
Shannon estava preocupada em dar despesas extras, agora que ia morar ali durante
algum tempo. Precisava arranjar uma maneira de ganhar a vida. Outras pessoas haviam
conseguido. Por que ela não conseguiria?
Além do mais, poderia enxergar com o olho direito.
Tinha certeza disso.
Mas, se não viesse a enxergar, o que poderia fazer?
Enquanto a conversa prosseguia, ela se pôs a pensar no futuro. Uma psicóloga não
precisava enxergar. Poderia gravar as sessões e ditar observações. Seria mais difícil, mas
não impossível.
— Você não concorda, Shannon? — Megan perguntou.
— O quê? Desculpe-me. Eu estava distraída.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
afirmou.
— Nem para mim. Não estou inválida.
O relógio sobre a lareira bateu dez horas. Shannon não percebera que já era tão
tarde. Estava fatigada. Tinha sido um longo e estressante dia.
— Vovô está pronto para ir para o quarto — Megan anunciou. — Farei um chocolate
para nós e logo estarei de volta.
Shannon beijou o rosto do avô quando ele parou a cadeira e deu uma palmadinha
no seu joelho.
— Boa noite, querida — murmurou o patriarca, a voz cheia de amor.
— Por que está triste? — Rory perguntou quando ficaram sozinhos.
— Eu estava pensando no meu avô. Ele sobreviveu à esposa e três filhos. Deve ter
se sentido muito só e depois sofreu um derrame que o confinou a uma cadeira de rodas.
Isso me parece injusto.
— Sim. Realmente é cruel. Mas ele está aí... E você também.
— Não tenho certeza se tenho a força dele.
— Mas eu tenho certeza de que você tem.
— Escute, a respeito do programa de amanhã — ela fez uma pausa, tentando
escolher as palavras para dizer o que estava pensando. — Você não tem que... Cuidar de
mim. Quero dizer, você não tem nenhuma obrigação para comigo.
— Nunca pensei que tivesse.
— O que estou tentando dizer é que... Bem, eu sei que você me encontrou e salvou
a minha vida, mas não tem que se sentir responsável por mim. Afinal de contas, não sou
sua paciente.
Ele emitiu um som estranho e caiu na risada.
— Está bem. Já entendi o que você quis dizer. Não me sinto responsável por você.
Fique tranqüila.
Ela o ouviu mover-se e sentiu uma carícia no rosto. Ficou imóvel, e seu coração
disparou como se lhe estivesse enviando um alarme.
— Você tem a boca mais desejável que já vi — Rory murmurou, como se estivesse
falando consigo mesmo.
Shannon riu.
— Percebeu isso de repente? Conhecemo-nos há tanto tempo.
— E, às vezes, é necessário um incidente para mudar os fatos ou para enxergarmos
coisas que antes não havíamos reparado.
Ele tocou-lhe a têmpora e o olho esquerdo.
Shannon suspirou ao sentir o calor do rosto de Rory perto dos seus lábios, incapaz
de acreditar no que estava para acontecer.
Atônita, não conseguiu se mover e novamente se perguntou: por que sempre o
julgara uma pessoa fria? Seu toque era quente como o sol e aquecia todo seu corpo.
Shannon estava confusa.
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CAPÍTULO IV
Rory viu Shannon perto da cerca assim que chegou à fazenda, por volta do meio-
dia.
Megan estava treinando um jovem garanhão, cujo proprietário, em sua opinião, não
tinha competência para criar cavalos. O homem quase nunca estava na fazenda e era
totalmente inepto até para tratar de gado.
Depois de estacionar perto do estábulo, Rory pegou uma mochila que continha o
almoço.
Juntou-se a Shannon, perto da cerca.
— Bom dia. É Rory, não é?
Seu sorriso era brilhante embora parecesse um pouco insegura. Havia um leve
tremor em suas mãos enquanto ela brincava com o zíper da jaqueta. Seu coração estava
acelerado, fato que estava se tornando familiar toda vez que Rory estava por perto.
— Sim. Como percebeu?
— Primeiro pela sua caminhonete. Acho que reconheci o barulho do motor. Depois
seus passos. Você tem passadas largas. Sei que Megan está no estábulo, portanto você
era o primeiro suspeito.
Ele sorriu.
— Fala como um verdadeiro policial. Está pronta para uma cavalgada até o lago?
Shannon inclinou a cabeça.
— Não tenho certeza. Como vou saber onde está o cavalo?
Rory suspirou. Ela estava particularmente bonita, os raios de sol incidiam sobre seus
cabelos ruivos, que caíam em ondas graciosas sobre os ombros. Teve vontade de tocá-los.
— Pegue a rédea e dê um puxão — ele sugeriu. — Ele lhe indicará a posição.
— Não posso ter vantagem com um cavalo. O chute dele é mais forte do que o meu
— ela respondeu, rindo.
— Não vou deixar que tenha problemas — Rory prometeu. — Olá, Meg, está pronta?
Megan negou.
— Tinseltown Johnny está agitado. Não devemos confiar nele. Você e Shannon
podem ir. Vou selar seus cavalos. Eles estão do outro lado do estábulo.
— Você vai perder um ótimo almoço. Trouxe alguns sanduíches de carne assada.
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Shannon parou de sorrir e ficou pensativa, e ele a deixou imersa nos seus
pensamentos.
Talvez estivesse pensando que ele brincara ao dizer que estava encantado com ela,
mas não era brincadeira. Sua libido funcionava de um modo curioso quando se aproximava
dela. Desde muito jovem, Rory mantinha estrita disciplina nos seus relacionamentos com o
sexo oposto. Adultos deveriam ser capazes de controlar seus instintos mais básicos,
especialmente quando esses instintos o empurravam na direção de uma pessoa que não
era inteiramente interessante.
Rory estudou sua companheira.
— Você cavalga bem e senta-se de uma maneira muito natural — Rory a elogiou.
— Estou um pouco tensa. Tenho medo que o cavalo faça algum movimento para o
qual eu não esteja preparada.
— Não é cavalo, é égua. Você nunca foi jogada de um cavalo?
— Oh, já, e é a lembrança desse tombo que me torna cautelosa. Uma vez Megan
me pediu para praticar corrida de obstáculos com ela para que o cavalo dela se
acostumasse a pular e a conviver com multidões. Meu cavalo parou diante de um obstáculo,
e eu fui arremessada.
As covinhas do rosto delicado apareceram quando ela sorriu, e Rory sentiu-se
invadido por um forte calor, como se tivesse tomado um bom gole de uísque.
Olhando para baixo, ficou contente por ela não poder ver como ele estava excitado.
Se visse pensaria duas ou três vezes antes de sair para cavalgar sozinha com ele.
Na verdade, desde que se mudara para um consultório maior e comprara a fazenda
perto dali, ele não tinha tido tempo de pensar no sexo oposto. Portanto, sua reação o
surpreendeu.
— Estamos chegando ao portão — ele avisou ao chegaram ao final do pasto. — Vou
abri-lo e deixá-la passar para que então eu possa fechá-lo. Vamos fazer um piquenique
perto do lago.
— Ele não está congelado?
— Ainda não. Mas logo estará todo congelado se o frio continuar como tem estado
recentemente.
— Nós costumávamos patinar aqui. Kate, Megan e tia Bunny me ensinaram. Era
muito divertido.
— Bunny era a mãe de Megan, não era?
— Sim.
Shannon parecia triste enquanto ele abria e fechava o portão para eles. Sua tia se
afogara em um acidente de barco. Em silêncio, foram até a beira da água.
Havia um quiosque com uma mesa de piquenique perto do lago, e eles se dirigiram
para lá.
— Aqui estamos nós.
Ele apeou e amarrou a rédea do cavalo a uma ripa do quiosque.
Shannon desmontou antes que ele pudesse ajudá-la. Tateou, encontrou o quiosque
e também amarrou sua montaria.
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Sua admiração por ela cresceu. Esse sentimento não era novo para ele, que
respeitara muito sua mãe. E também respeitava Kate e Megan agora que as conhecia. E
algumas outras mulheres que o tratavam como uma pessoa em vez de um troféu.
Mesmo que Shannon ficasse cega, ela conseguiria fazer o que queria. As três primas
eram mulheres determinadas, mas Shannon tinha alguma coisa a mais. Um chama interna
muito forte.
Seus olhos eram azuis, ele fitou-os de repente. Com um leve tom acinzentado.
Sensuais.
Rory terminou sua soda e seu sanduíche e embrulhou os restos para jogar fora.
Precisava fazer algum exercício que o desviasse desses pensamentos.
— Que tal darmos um passeio pelo lago?
— Boa idéia. — Shannon levantou-se e esperou.
Ele a pegou pela mão e começou a caminhar. Entretanto dessa vez, esqueceu-se
de avisá-la sobre os degraus. Quando Shannon se desequilibrou, ele saltou e a agarrou
antes que ela caísse, segurando-a nos braços.
Assustada, Shannon agarrou-se às lapelas da jaqueta dele.
— Desculpe-me — ela murmurou.
— Foi culpa minha.
Rory não a soltou. Shannon estava dois degraus acima dele, as bocas no mesmo
nível. Tudo que precisava fazer era aproximar-se mais um pouco.
Sua consciência o advertiu para que não continuasse, mas ele não obedeceu.
Abaixando a cabeça, Rory a beijou. Os lábios de Shannon tremeram sob os dele que
intensificou o beijo, sendo correspondido. Era um desafio que ele não poderia ignorar.
Com a língua, desenhou os contornos dos lábios dela suavemente.
— Você tem lábios sensuais, suaves e muito femininos.
— Eu...
Mas ele não deixou que ela continuasse a frase, beijando-a mais intensamente.
Introduziu a língua dentro da boca de Shannon, e provou seu gosto incrivelmente doce.
Ela respirou profundamente, procurando estabilidade, pois estava trêmula e confusa.
O cheiro de Rory era como um bálsamo, mistura de loção após barba, cavalos e
couro, que a fez lembrar do ar frio de inverno e do brilho da neve sob os raios de sol.
Voltando no tempo, Shannon lembrou-se da última vez que se sentira assim. Fora
em alguma ocasião depois do tiro quando ela não enxergava nada e alguém a tinha tocado
com as mãos tão frias que acalmara a terrível dor que sentia na cabeça. Quando abrira os
olhos, vira apenas o brilho forte de uma luz envolvendo um homem, e caíra novamente na
escuridão. Vira também alguma coisa azul, profundamente azul.
Sentiu-se tomada de alegria. Ela conhecia esse toque. Era seu anjo da guarda. Era
Rory! Suspirando, aninhou-se nos braços dele. Necessitava do seu abraço. Pelo menos
com ele, estava salva.
Shannon passou os braços ao redor do pescoço de Rory e gemeu de prazer.
A imagem de uma casa e uma cama confortável invadiram a mente dele. Chocado
por pensar em ir para a cama apenas por causa de um beijo, tentou se controlar e afastou-
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
se.
Shannon franziu as sobrancelhas em protesto. Ela não queria parar, ainda não. Era
tão maravilhoso e tão suave, diferente de todos os beijos que trocara até então. Querendo
mais, ela puxou as lapelas da jaqueta de couro dele e beijou-o.
Com um suave gemido, ele retribuiu o abraço. Sua boca tornou-se mais exigente
sobre os lábios dela. Encostando-se nele, Shannon percebeu a forte evidência do desejo
dele. Sentiu-se invadida por uma onda de prazer. Não se imaginava uma mulher tão
sensual.
— Eu quero... — ela não sabia como dizer.
— Eu sei — ele murmurou.
Ele também estava dominado pelo desejo e pela paixão. E isso o deixou
maravilhado.
— Eu também quero — ele completou. — Mais do imaginei ser possível.
Shannon sentiu-se acariciada nas costas, nos cabelos e no pescoço, pelos dedos
nus de Rory. Ela também tirou uma das luvas e acariciou rosto másculo.
— Mas... Por quê? — ela perguntou confusa.
Ele beijou-lhe a têmpora e a orelha.
— Loucura — ele sussurrou. — Senti isso desde o momento em que a vi na rua.
Ela segurou-lhe a cabeça com as mãos sobre suas orelhas para aquecê-las.
— Você deveria usar um chapéu — Shannon disse ternamente.
— Odeio chapéus.
Ele abriu a jaqueta para que ela sentisse mais o seu calor.
Apesar do desejo, Rory novamente teve a impressão de que ela era muito frágil e
vulnerável, principalmente naquele momento.
Com esforço, acalmou-se e afastou-se com o cenho ligeiramente tenso. Ela o puxou
para mais perto. Rory apoiou o rosto nos cabelos dela e simplesmente a abraçou.
Shannon afastou-se e murmurou:
— Desculpe-me... Não sei o que me deu.
Ele sorriu. Era a primeira mulher que lhe pedia desculpas por desejá-lo.
— O mesmo que deu em mim. Acho que existe algo forte entre nós.
O tom de voz com que Rory pronunciou essas palavras deu a entender a Shannon
que ele decidira que isso não iria mais acontecer.
Ficaram juntos durante mais alguns momentos, como se fossem os únicos
sobreviventes de um terrível combate.
— E melhor darmos aquele passeio à beira do lago — ela disse sorrindo e pensando
que Rory, certamente, não queria envolver-se com ela.
E Shannon não queria se envolver com ninguém. Não nesse momento, em que não
sabia o que o futuro lhe reservava.
Suspirando, encarou os fatos. Nenhum homem no seu juízo perfeito iria querer
partilhar sua vida com uma mulher cega. Por um momento, perdida nos braços daquele
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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CAPÍTULO V
Projeto Revisoras
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Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
preocupado. — Carla, cerre as cortinas e apague a luz. Não quero que os olhos dela
recebam nenhum tipo de choque quando eu tirar a venda.
Shannon não havia percebido que a enfermeira entrara com o médico. Ouviu seus
passos atravessar a sala.
Mitch aproximou-se.
— Não fique alarmada se enxergar estrelas ou muito brilho. Seus olhos sofreram um
choque e podem reagir de várias maneiras quando a luz incidir sobre eles.
— Está bem.
Ele ergueu a venda.
Shannon abriu os olhos, piscou e tornou a abri-los. Escuridão total.
— Não estou vendo claridade alguma — ela informou com a voz trêmula.
Estava com tanto medo quanto no dia do tiroteio. Estava tão certa que... Tão certa...
— Tudo bem. Vou examinar seus olhos com uma luz — Mitch avisou.
Ele segurou a pálpebra do olho direito e depois o esquerdo. Ela não percebeu a luz.
— Suas reações são normais — ele disse, mostrando satisfação. — Realmente, tudo
parece bem. Onde estão os óculos escuros?
Kate entregou os óculos, e Shannon os colocou.
— Pode abrir as cortinas e acender a luz — ele orientou a enfermeira. — Você deverá
usar esses óculos também dentro de casa. A visão voltará aos poucos ou de repente, em
um olho ou nos dois. Pode doer como se você saísse para o sol depois de ficar durante
muito tempo no escuro. Telefone se notar alguma modificação na visão ou se tiver dor de
cabeça.
— Telefonarei — ela prometeu. Cega.
A palavra a atingiu em cheio.
Ninguém mais iria querê-la.
Não teria um marido para compartilhar alegrias e tristezas, não teria bebês para
cuidar, nem netos para alegrar sua velhice. Nada do que considerava importante. Uma
pessoa cega era um fardo... A não ser que existisse alguém que a amasse muito.
Não podia pensar nisso agora. Havia pessoas perto dela. Tinha que ir para casa,
para seu quarto e então... Então poderia pensar.
Contendo a emoção, ela agradeceu Mitch por haver cuidado dela, enquanto ele
prescrevia uma receita, um colírio que iria manter seus olhos lubrificados. Novamente na
caminhonete, Shannon suspirou profundamente.
— Bem... — ela falou, forçando um sorriso. — Acho que não vou precisar dos meus
óculos novos em um futuro próximo.
— Não desista — Kate disse baixinho.
Shannon pôs a mão sobre a têmpora. A cicatriz era suave e não doía. As cicatrizes
físicas haviam sarado. O tempo curava tudo.
— Não vou desistir — ela respondeu sem muita convicção. — Percebi agora que eu
realmente esperava enxergar quando a venda fossem removidas. Paciência, prudência...
— ela repetiu as palavras que sua avó costumava dizer.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Isso mesmo.
O coração de Shannon encheu-se de amor. Kate esperara durante muito tempo pela
bênção de ter filhos e um casamento feliz. Agora tinha um marido amoroso, um enteado e
uma doce filhinha.
Tudo daria certo também para ela. Era questão de tempo.
— Vamos almoçar? Hoje Jess vai buscar Mandy na escola.
Shannon engoliu em seco. Teria que enfrentar a cidade, mais cedo ou mais tarde.
— Vamos.
Kate estacionou e deu a volta no veículo para ajudar Shannon a descer. Pegou-a
pelo braço e murmurou:
— Coragem, querida. Brad está entrando no restaurante. Está com o gerente novo.
Uma mulher.
— Estou bem — Shannon lhe assegurou, com a voz calma e fria.
Não tinha mais nenhuma expectativa em relação a Brad.
— Ele nos viu — Kate sussurrou. — Que gentil. Está segurando a porta para nós.
— Veja se pode fechá-la na cara dele — sugeriu Shannon. — De preferência no
nariz.
Kate conteve a risada.
Shannon soube quanto se aproximaram do casal. Reconheceu a colônia de Brad
imediatamente como também o aroma de um perfume caro.
— Olá, Brad — ela disse naturalmente. — Como vai?
— Eu... Ahn, bem — ele balbuciou como se não soubesse o que dizer.
Shannon virou a cabeça em direção ao perfume.
— Olá. Sou Shannon Bannock, uma das policiais locais. Você está na nova estância
perto do rio, certo?
A mulher pareceu hesitante. Provavelmente ouvira comentários sobre ela e Brad.
— Prazer em conhecê-la — Shannon prosseguiu. — Espero que goste de morar em
Wind River. E um lugar maravilhoso e sossegado... Os tiroteios por aqui são apenas
ocasionais, não é mesmo, Brad?
— Oh... Sim. Bem, nossa mesa está pronta. Estou contente em vê-la bem. Sei que
seus olhos... Bem... Você não está...
Shannon gostou da dificuldade que ele estava enfrentando para falar. Normalmente
Brad conversava com muita fluência.
— E muito cedo para dizer — Shannon aparteou, tentando parecer despreocupada.
— As ataduras foram removidas hoje.
— Oi, querida. — Uma familiar voz masculina se fez ouvir.
Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, Rory pegou-a pela mão e passou
o braço ao redor dos seus ombros, beijando sua boca, entreaberta pela surpresa.
— Desculpe-nos — ele falou e a conduziu para longe do casal, guiando-a através do
restaurante lotado. — Aqui estamos. Kate, sente-se naquele lado. Shannon sentará perto
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
de mim.
Ajudou Shannon a tirar o casaco e as luvas e acomodou-a na cadeira, colocando um
guardanapo sobre seu colo, mantendo uma conversação para que ela não tivesse tempo
de pensar.
Shannon franziu as sobrancelhas, sem saber se estava aborrecida ou agradecida.
— Achei que vocês viriam para cá, então fiquei esperando. Como foi a consulta?
Houve um momento de silêncio, e então Kate falou.
— Ainda não sabemos nada.
Rory pegou a mão de Shannon.
— Não vê luz em nenhum dos olhos? — ele perguntou bem perto da orelha dela.
Shannon se afastou um pouco, confusa pelas maneiras de Rory. Ele estava agindo
como se fosse seu namorado.
— Acorde, garota. — Ele beijou-lhe a têmpora.
— O que está fazendo? — ela perguntou. Ainda não estava satisfeito em ter feito
papel de seu namorado na frente de toda a cidade?
— Mostrando àquele advogado que idiota ele é — Rory informou bem perto do
ouvido dela. — Ele é um cretino. Você não teria sido feliz com ele. Você tem muito fogo e
muita energia para um cretino como ele.
— O que sabe a respeito do meu relacionamento com um homem? — ela perguntou,
disposta a colocá-lo no seu devido lugar.
— Conheço-a — ele sussurrou ainda com mais intimidade.
O som da voz de Rory provocou um arrepio na espinha de Shannon. Seu rosto
esquentou, e ela acabou sorrindo.
— Talvez você apenas pense que me conhece.
— Até um cego pode ver que existe alguma coisa entre nós. Especialmente depois
daqueles beijos — ele sussurrou no ouvido dela.
— Ahn... Eu quero um cheeseburger com tudo — Kate disse apressadamente. — A
salada da casa e um café, por favor.
— O peito de peru com salada parece bom — Rory disse a Shannon.
Ele passou o braço atrás do encosto da cadeira dela e encostou o peito no seu
ombro.
— Está bom para mim — ela decidiu, para ver se Rory se afastava dela. — Chá
quente com leite desnatado, por favor.
— Para mim bife com batatas fritas. Eu dividirei com você. Sei que gosta de batatas
fritas com ketchup.
— Como sabe disso?
— Lembro de uma briga entre você e Megan por causa de um vidro de ketchup em
uma ocasião em que estavam aqui com seu pessoal.
De repente ela também se lembrou. Tinha uns oito anos, e Megan sete. O vidro tinha
escapado da sua mão quando ela o puxara das mãos de Megan e voou por cima de duas
mesas acabando por cair no colo de uma senhora. Ela e Megan ficaram de castigo durante
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
um mês.
— Não foi um dos meus melhores momentos.
— Mas foi muito engraçado. Quase morri de tanto rir.
Kate e Rory riram tanto que Shannon acabou rindo também. Realmente, fora muito
engraçado.
De repente, a escuridão dos seus olhos parecia não ter a mesma importância de
quando saíra do consultório. Afinal de contas, estava almoçando com o homem mais bonito
e mais cobiçado da cidade.
Shannon ergueu o queixo ao lembrar-se de Brad e de sua companheira. Rory era
muito melhor do que o novo advogado.
— Em que está pensando? — Rory perguntou.
— Que, provavelmente, todas as mulheres que estão nesse restaurante, devem
estar com raiva. — Shannon sorriu largamente para ele.
Kate tentou disfarçar a risada tossindo, mas não obteve sucesso.
Rory também riu ao perguntar:
— Você está me usando? Talvez uma pequena recompensa por eu ter salvado sua
vida?
Ela pensou durante um segundo.
— Sim, talvez esteja. Mas você pediu por isso.
— É?
— Sim. Você é tão vaidoso que provavelmente pensa que Kate e eu deveríamos
estar honradas por estarmos sentadas na mesma mesa que você.
— Se eu fosse você, certamente me mandaria embora — ele disse com bom humor.
— Vocês, mulheres de Windraven, são muito difíceis.
— Sempre pensei que fôssemos as mais fascinantes mulheres da região — Kate
disse, unindo-se ao espírito do momento.
— Ah, mas vocês são — ele concordou.
Durante a refeição, Shannon riu e conversou com facilidade. O desespero
desaparecera, substituído pela esperança. Subitamente, sentiu-se charmosa e simpática.
Em certo momento, Rory pediu a Shannon que avisasse Megan de que ele iria à
fazenda para ver o cavalo. Ela o convidou para jantar com Megan e com o avô, e ele aceitou.
Mais tarde, enquanto Kate dirigia para a fazenda, Shannon pensou que, apesar de
ainda não enxergar, estava passando por bons momentos.
Rory Daniels, o ladrão de corações da cidade, era um enigma na vida dela, que não
precisava de mais situações alarmantes.
— Chegamos. O almoço estava divertido, não estava? — Kate perguntou, ao parar
a caminhonete.
— Rory sempre foi um dos meus amigos favoritos.
Shannon parou, com a mão na maçaneta da porta.
— Então por que vocês não namoraram anos atrás?
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— O quê? Namorar um rapaz que estava em uma classe anterior a minha? Nunca!
— Depois de um momento, Kate acrescentou: — Eu pensava nele com freqüência. Bonito
como é, não havia garota que não sonhasse com ele.
— E ele nunca a paquerou? Talvez ele seja tímido e contra o casamento, por razões
que desconhecemos.
— É verdade. Bem, é melhor salvar Jess. Mandy adora dar ordens e todos fazem o
que ela quer.
Shannon acenou para a prima e entrou em casa sozinha sem se atrapalhar com os
degraus. Era uma tarefa fácil, mas que lhe deu alegria. Depois de pendurar o casaco, entrou
na sala de visitas.
Pelos sons, percebeu que seu avô devia estar dormindo na cadeira de rodas.
Sentou-se em silêncio na cadeira dele e se pôs a pensar no futuro. Talvez fosse hora de
voltar para casa e aprender a cuidar de si mesma. Não poderia ficar ali, dependendo de
suas primas.
Juntou as mãos no colo e apoiou a cabeça no encosto da cadeira.
Teria de ficar sozinha em uma casa sem conseguir enxergar. E se acontecesse
alguma coisa? Tentou imaginar o que poderia acontecer. Incêndio, por ela ter deixado
alguma coisa no fogão? Alguém assaltando a casa?
A última hipótese era a pior. O fato de o ladrão ainda estar solto não lhe dava paz.
Mas vivera sozinha durante nove anos. Teria a mesma coragem sem enxergar?
Megan e Rory entraram pela porta lateral da cozinha, um pouco depois das seis da
tarde. Shannon sorriu na direção deles.
— O jantar está pronto — ela anunciou.
— Uau! Que bom! — Megan exclamou. — Você o preparou?
— Com a ajuda do vovô — ela respondeu, colocando fatias de tomate na travessa
de salada.
Sentiu que Rory se aproximava dela.
— O cheiro é ótimo — ele disse um segundo antes de passar a mão gelada nos
cabelos e na nuca de Shannon, causando-lhe um arrepio.
— Tonto — ela o repreendeu se afastando. — Pode levar as saladas para a mesa?
Megan, o frango está no forno. Eu levarei os legumes.
— Certo. O que é isso? — Rory perguntou, pegando as mãos dela.
Shannon tentou disfarçar.
— Nada.
— Uma queimadura. Duas. O que há sob o curativo?
— Um corte. Pequeno — ela acrescentou.
Ele examinou os ferimentos enquanto Shannon pensava que tinha sido mais difícil
do que ela imaginara. Se não fosse por seu avô teria desistido, mas precisava aprender a
fazer as coisas sozinhas se quisesse ser independente.
Afastando as mãos, ela ergueu com cuidado duas tigelas, uma de salada de batata
e outra de aspargos, e as entregou a Rory.
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Rory riu.
— Você estará perto de mim — ele afirmou com um tom de voz sensual.
— Bem, do outro lado do rio — ela o corrigiu. — Não é assim tão perto. Com o
bosque e o rio entre nós, não nos encontraremos com facilidade.
— Eu estava pensando em construir uma ponte sobre o rio.
Shannon ficou surpresa de como achara a idéia interessante.
— Por quê?
— Para estar mais perto. Para tornar mais fácil nossas idas e vindas. Eu não teria
que me preocupar com você tropeçando em uma pedra, caindo no rio e se afogando.
— Isso seria difícil. O rio é muito raso para isso.
— Mesmo assim eu me preocuparia.
Como Rory estava rindo, Shannon não o levou muito a sério.
— Além do mais, por que iríamos ir e vir? Estaremos ocupados com nossas próprias
vidas.
— Eu pensei que poderia ajudá-la na sua pesquisa e nas anotações e você me
pagaria cozinhando para nós. Você sabe que o estômago é o melhor caminho para o
coração de um homem.
Ela fechou a porta da lava-louças com força.
— Não estou procurando o caminho para o coração de homem algum.
— Nós estamos fingindo que somos namorados, lembra-se?
— E claro que não!
Rory estava muito perto dela. Perto demais.
— Mas podemos tornar isso verdadeiro.
Antes que Shannon pudesse responder, ele a tomou em seus braços.
— A louça...
— Já está pronta. Já limpei o balcão e o fogão. Está tudo em ordem. Não mereço
uma recompensa?
O calor dos braços dele abalou os sentidos de Shannon, e ela percebeu que queria
ser beijada. Queria muito. Seu sangue parecia ferver, e seu coração batia
descompassadamente.
— Não... — ela sussurrou.
— Não?
— Eu... Nós não deveríamos.
— Por quê?
O nariz dele tocou o dela que instintivamente inclinou a cabeça para um lado.
— Porque... — Ela não conseguia pensar em um bom motivo. — É... E ridículo.
— Talvez, mas considere isso: eu quero fazer amor com você e acho que você
também quer.
— Eu... Eu não acho que alguém iria querer...
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— Para quê?
— Para levá-la para casa. Megan vai a um leilão e presumo que você não vai querer
andar três quilômetros em uma estrada congelada.
— Kate...
— Ela tem uma família para cuidar. Não pode esperar que esteja a sua disposição o
tempo todo.
— Eu não... Você tem argumento toda vez que eu tento falar alguma coisa.
— Desculpe-me. Venho ou não?
Ignorando sua impaciência, ela pensou durante um instante.
— Está bem. Aceito sua oferta.
— Ótimo. Então, até amanhã. Obrigado pelo jantar, estava delicioso.
Depois que ele saiu, Shannon deixou-se ficar ali, encostada no balcão, como se
estivesse presa em uma armadilha.
Já na cama, lembrou-se de que estaria completamente sozinha na casa nova.
Tentou se acalmar. Conseguiria sobreviver.
CAPÍTULO VI
Empurrando a cadeira de rodas do avô, Shannon ergueu o rosto para o céu assim
que chegou à varanda.
— O sol está brilhante e quente — ela murmurou.
Quando a cadeira de rodas parou, ela ficou no mesmo lugar durante um momento,
sentindo o ar fresco da manhã. Então suspirou, sentou-se no banco atrás da mesa sobre a
qual apoiou os cotovelos. Ela e seu avô estavam sozinhos. Megan fora a um leilão, à
procura de éguas reprodutoras.
— Vivendo na cidade, esqueci como é quieto aqui na fazenda. Essa tranqüilidade
chega até a alma.
Seu avô resmungou algo que ela interpretou como aprovação. Estudou os sons ao
redor. O som distante dos animais, o mugido preguiçoso das vacas no pasto,
provavelmente chamando por seus bezerros, o tri-nado alegre dos pássaros que vinham
das árvores para perto da mesa à procura de alimento.
Sentiu uma emoção que não conseguiu definir.
Nostalgia?
Talvez, mas por quê?
Alguma lembrança do passado se aproveitava da sua fragilidade para voltar à
mente?
— Não sei o que é — ela murmurou.
Quisera tanta coisa, fizera tantos planos, tinha tantos objetivos e, agora, só havia
uma terrível insegurança quanto ao futuro.
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— Se ele ficar malvado e ferir alguém, terá que ser posto de lado. Megan acha essa
possibilidade muito provável.
— Muito...
Rory esperou com paciência que o avô encontrasse as palavras.
— Indomável — o velho senhor conseguir dizer.
— Sim, acho que o senhor está certo. Todas as piores características estão nesse
animal, mas ele é uma beleza, tanto de físico quanto de coloração.
Shannon sentiu a intensidade do olhar de Rory. Descrevia o cavalo com detalhes, a
cor da pelagem, as patas brancas, a estrela na testa e o comprimento do rabo.
— Muitas pessoas não sabem como o rabo é importante em um cavalo — ele
concluiu.
Shannon se pôs a rir, surpreendendo a si mesma. Terminou de comer e limpou a
boca com cuidado.
Ao lado dela, Rory também riu.
— Desculpe-me, não queria aborrecê-la com um discurso sobre cavalos.
— Tudo bem.
— Está pronta para ir para casa?
— Sim.
— Não tenha medo, estarei perto de você.
Ela ergueu o queixo como que para mostrar que não estava com medo.
— Garota corajosa. Sr. Windom, está pronto para entrar? Acho que preciso voltar
para casa para descansar um pouco. Estou de pé desde às duas da manhã na casa dos
Herriot. A égua premiada deles está doente.
Shannon não sabia se estava irritada ou não por Rory levar seu avô para dentro de
casa apressadamente e ela para a caminhonete, carregando sua mala enorme, uma
mochila embaixo de um dos braços e guiando-a com o outro. Já no banco da caminhonete,
apertou a bolsa e fechou o cinto de segurança.
— Lar doce lar — ele disse alguns minutos depois, parando a caminhonete.
Shannon sentiu medo naquele momento, mas não podia esmorecer. Ela conseguiria.
Se outras pessoas haviam aprendido e se adaptado, ela também poderia fazê-lo.
— Tenho que arrumar um cachorro — ela afirmou, descendo da caminhonete para
dirigir-se à porta da casa.
— Espere! — Rory a segurou pelo braço. — Está indo para o lugar errado.
Shannon se virou, precisando ficar sozinha para se acostumar com a sua incerteza.
Seus olhos ardiam. Movendo-se às cegas e rápido demais, ela deu um encontrão nele,
batendo-lhe a cabeça no nariz.
— Desculpe-me — disse, afastando-se e tropeçando em uma pedra.
Rory a agarrou.
— Não se desculpe... Calma.
Usando a raiva para encobrir seus verdadeiros sentimentos e emoções, ela esperou.
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Ele se virou e olhou para Shannon, que estava particularmente bonita sob a claridade
que entrava pelas janelas abertas.
— Vamos dar uma volta pela casa — Rory sugeriu. — Vou ajudá-la com o resto da
bagagem.
— Posso fazer isso sozinha.
O sorriso frio se fora, e ele percebeu que preferia a raiva dela à ironia. Não queria
ser tratado educadamente como se fosse um estranho. Qual seria o motivo de tudo isso?
Desejou que a voz interior que insistia em falar com ele se calasse. Não queria tirar
vantagem da situação dela e nem da atração que existia entre os dois.
Refletindo, concluiu que tinha de readquirir a confiança de Shannon para que os dois
se relacionassem bem. Não queria despertar gratidão nem medo. Queria paixão, apenas
paixão.
Xingou mentalmente a reação do seu corpo ao imaginar os dois juntos, amando-se.
— Está bem — concordou, parando na frente dela e desejando ver seus olhos por
detrás dos óculos escuros. — Manterei distância... Por agora. Você precisa de uma
oportunidade para ver quais são suas capacidades sem a interferência do que existe entre
nós.
— Não há nada entre nós — Shannon respondeu indignada.
— Não engane a você mesma.
Rory tocou-lhe o rosto e acariciou seus belos cabelos ruivos que caíam em cachos
sobre os ombros. Tensa, ela prendeu a respiração.
— Vê? — ele perguntou, satisfeito com a reação de Shannon.
Ela empurrou a mão dele que ansiava por acariciar o corpo feminino, frustrando a
atração que existia entre os dois. Rory desconfiava que ela nunca sentira isso antes. E nem
ele.
Além da atração, ele tinha sentimentos indefinidos.
Piedade? Talvez.
Necessidade de protegê-la? Podia ser.
Preocupação? Certamente.
Entretanto, apesar de ter sido o primeiro a socorrê-la, não era responsável por ela
que, por sua vez, não queria piedade de ninguém. Por isso insistira em trazê-la para casa.
Shannon não precisava que seus parentes a tratassem como se fosse uma inválida antes
que ela pudesse medir suas forças e capacidades.
A visão de Shannon de uniforme, dirigindo o tráfego, o mundo sob seu comando,
formou-se na sua imaginação. Queria ver aquela mulher novamente. E ia ver, mesmo que
demorasse muito tempo.
Depois de murmurar um adeus, ele deixou a casa de Shannon.
Atravessando o riacho, deu-se conta de que precisava fazer muita coisa na casa
onde vivia agora, para tornar-se acolhedora e bonita.
Precisava contar com uma opinião feminina para ajudá-lo a escolher cores e objetos
de decoração.
A quem recorreria?
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Talvez à bibliotecária?
Não pôde deixar de rir com ironia.
Assim que tirasse Shannon Bannock da cabeça, começaria a procurar pela mulher
dos seus sonhos. Sabia muito bem que tinha de bani-la dos seus pensamentos. Naquele
momento nada poderia haver entre os dois, ela estava vulnerável demais.
Sentiu um aperto no coração ao pensar na coragem de Shannon. Sim, acima de tudo
queria ser honesto com ela.
Shannon ficou imersa no silêncio, depois que a porta da frente se fechou com uma
moderada batida, indicando que Rory já tinha se autocontrolado e partido.
Teve de admitir que não entendia o que havia entre ela e seu vizinho.
Desejo?
Sim, ele a atraía como nunca acontecera antes com outro homem. Não com essa
intensidade.
Pressionando a têmpora com uma das mãos, procurou pela cicatriz. Talvez o
incidente a houvesse deixado mais suscetível e com menos controle sobre suas emoções.
Por outro lado, por que não sentira a mesma coisa por Brad quando ele a beijara?
Tocou os lábios com a mão, sentindo a intensidade dos beijos de Rory e, mais uma
vez, associou o fato ao incidente. Tudo devia ser conseqüência da compaixão e do senso
de responsabilidade dele.
Ela engoliu em seco. Sua garganta doía. Não queria piedade. Queria... Não sabia o
que queria.
Apenas duas semanas atrás, pensara em ter um lar e um marido para compartilhá-
lo. Agora só via solidão e um caminho escuro em direção do futuro. Quem iria partilhar uma
vida com ela?
A imagem de Rory, como o vira na noite do desfile, veio à sua mente. Sentiu-se
invadida por uma onde de calor. Ele a tinha convidado para tomar um chocolate quente.
Podia ser que estivesse interessado nela naquele momento e esse interesse crescera nas
semanas seguintes, transformando-se em paixão. Em uma incontrolável paixão.
Sorriu, embora sem alegria, e isso a ajudou a superar o silêncio ameaçador que a
cercava. Erguendo as duas mãos com cautela Shannon começou a tatear para explorar o
lugar. Chegou até a cama, abriu a mala e começou a tirar as roupas sem dificuldade.
Mantinha os mesmos itens nas mesmas gavetas desde que morava sozinha. As roupas no
closet também mantinham a mesma ordem habitual, e ela reconheceu a maioria das peças.
Pôs os objetos de higiene pessoal no banheiro, ainda sendo guiada pela memória.
Continuando a explorar o aposento, encontrou um vaso com flores sobre uma
mesinha, ao lado do diva, perto da janela. Tocou os vidros frios da janela em contraste com
o calor do sol. Imaginou o gramado e as montanhas, o pequeno riacho, as árvores e a casa
onde Rory morava.
Evitando pensar nele, caminhou pelos outros aposentos para reavivar a lembrança
que tinha da mobília, dos quadros e das cores. Foi à sala de visitas e à velha despensa que
pretendia transformar em escritório. Foi ao quarto de hóspedes, revestido de papel de
parede e, em seguida, dirigiu-se à cozinha.
Explorou a geladeira que estava vazia a não ser por alguns vidros de condimentos e
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CAPITULO VII
Assim que chegou em casa, à noite, Rory foi até a janela, olhar a casa vizinha. Estava
tudo escuro.
Uma pessoa cega não tinha necessidade de luz, mas assim mesmo ficou
preocupado. Uma casa tinha que ter alguma iluminação mesmo que fosse apenas para que
possíveis ladrões não imaginassem que a casa estava vazia.
Tomou banho, vestiu um suéter azul-marinho, calça e meias de lã e foi à janela olhar
para a casa de Shannon, tentando perceber algum sinal de movimento.
Nada. Nem uma sombra na janela. A casa parecia deserta. Convite a qualquer
vagabundo entrar para passar a noite e se abrigar do frio.
Sua preocupação aumentou. Tentou ignorar seu temor, enquanto esquentava uma
lata de sopa e fazia um sanduíche. Hesitou e fez dois sanduíches.
Desgostoso consigo mesmo, calçou os sapatos e um casaco, pôs os dois
sanduíches em um prato, pegou uma caixa de leite e foi até a casa vizinha.
Bateu à porta de Shannon.
— Shannon?
— Sim?
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A voz dela estava assustada e próxima. Shannon estava parada perto da pia,
iluminada apenas pela claridade da lua.
— Sou eu. Trouxe alguma coisa para você comer.
— Por quê?
— Porque achei que você poderia estar com fome — ele respondeu com sarcasmo.
Ela apontou para o fogão e ergueu o queixo.
— Fiz sopa.
— Bem, trouxe leite e sanduíches — ele disse, pondo as coisas sobre a mesa.
— Megan trouxe leite, pão e alguns legumes depois que veio do leilão — ela informou
com um tom de desdém na voz.
Rory franziu as sobrancelhas, irritado por ela parecer tão auto-suficiente.
— Não havia nenhuma luz na casa quando cheguei.
— Eu deveria acender a luz para você?
— Estou me referindo à luz da sua casa.
— Está tudo apagado?
— Sim.
— Oh... — ela murmurou levando a mão aos óculos. — É esquisito não diferenciar
o dia e a noite. Como você acha que uma pessoa cega pode aprender a diferença?
Vendo a expressão do rosto de Shannon, a raiva de Rory esvaiu-se de imediato.
Instintivamente, aproximou-se dela e tocou no seu braço.
— Eu não sei, Shannon.
Ela se afastou, com as mãos à frente para evitar que ele se aproximasse mais.
Ele parou. Olhando para o relógio, disse:
— Você tem um relógio sobre a lareira. Ele não bate as horas?
— Costumava bater. Eu o parei para que não me acordasse durante o dia.
— Vou verificar.
Ele acendeu a luz e abriu a porta de vidro do relógio. Encontrou uma chave e deu
corda no mecanismo do carrilhão. Em um segundo, o relógio começou a badalar
alegremente.
— Pronto, está trabalhando — ele disse, quando a viu parada à porta, olhando para
ele, como se observasse todos os seus movimentos.
Sorriu ao lembrar-se de que ela não podia vê-lo. E, pela primeira vez, ocorreu-lhe
que não poderia usar com Shannon o olhar e sorriso que encantavam todas as mulheres.
O mesmo charme que usara com a recepcionista do hospital para que o deixasse entrar
quando fora visitá-la.
— Gostaria de tomar um prato de sopa? — ela perguntou polidamente. — É uma
sopa de carne, legumes e feijão que encontrei na despensa. Abri a lata de feijão pensando
ser de massa de tomate. Coisas frescas posso identificar pela forma, mas latas... — Ela
ergueu os ombros.
— Entendo. Isso é realmente um problema. A sopa está cheirando bem. Vou tomar
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um pouco.
Surpreendentemente, Shannon sorriu.
— Sanduíches e sopa? Comida reconfortante. Minha mãe costumava fazer isso
quando eu tinha dor de garganta.
Rory segurou-a pelo braço e convidou:
— O jantar está servido, madame. Podemos jantar?
— Com muita honra. — Shannon ergueu o queixo, como se fosse alguma matrona
da alta sociedade, deixando-se conduzir até a mesa.
Ele serviu a sopa, um copo de leite, pegou guardanapos e talheres e sentou-se na
frente dela.
Enquanto comiam, a noite desceu.
Rory conversou sobre seus pacientes e sua preocupação com a égua da fazenda
dos Herriot. Durante uma pausa, sentiu a paz da casa tomar conta de si e, observando
Shannon enquanto ela limpava a boca, desejou que ela fosse a sua bibliotecária, quieta e
tranqüila.
Pensamento estranho. Shannon Bannock, viva e independente, era tudo menos
tranqüila. Mas era adorável e desejável.
Um homem de respeito não podia se aproveitar de uma mulher naquela situação,
mas, quando ela recuperasse a visão, a história entre eles seria diferente.
Talvez então não tivesse que voltar para casa depois do jantar e pudesse passar a
noite com ela.
— Trarei dois timers para que suas lâmpadas acendam às cinco horas e apaguem
às dez. Desse modo, ninguém pensará que a casa está vazia.
— Oh... Eu não havia pensado nisso. Obrigada.
— Você deve manter suas portas trancadas também. — Rory avisou.
— Tudo bem.
Surpreso com a rápida aquiescência, ele foi embora. Já em casa, ficou surpreso com
seus sentimentos, misto de atração e irritação.
Riu da sua própria confusão, não era mais um garoto. Conhecia muito bem as
mulheres e reconhecia que, quando pensava em Shannon, seus sentimentos eram muito
fortes.
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tomaram conta de sua mente, Shannon chegou à conclusão de que gostaria de dormir nos
braços dele, principalmente nas noites frias de inverno.
Tivera um namorado firme na faculdade, mas à medida que se envolvia cada vez
mais nos estudos, ela o via cada vez menos e, quando ele cobrara um compromisso mais
sério, Shannon terminou o namoro. Com Brad, chegara a pensar em casamento, mas agora
percebia que não gostava dele o suficiente para incluí-lo em seus planos.
Shannon se conhecia o suficiente para saber que teria de confiar em um homem
para partilhar seu coração e conseqüentemente seu corpo. Mas nenhum homem a fizera
querer dar esse passo decisivo.
Exceto Rory Daniels.
Franziu as sobrancelhas. Havia muita sensualidade entre eles, mas nenhum deles
se deixaria envolver. Além do mais, nenhum homem iria querer envolver-se profundamente
com uma mulher como ela, alguém que poderia ser um fardo para o resto da vida.
Levantou-se da mesa e lavou a louça, decidindo limpar a casa. Tirou o pó de tudo,
quase quebrou um abajur e um vaso, mas conseguiu poupá-los.
Depois disso, lavou o banheiro.
Pegou alguns objetos de decoração de um móvel que fora de sua mãe. Não podia
vê-los, mas queria que as pessoas que viessem à sua casa encontrassem um ambiente
agradável.
Pensava no que faria em seguida quando o telefone tocou. Não estava acostumada
a ter tempo livre.
Conversou com uma amiga a respeito dos comentários do povo sobre o incidente da
loja de conveniência. Todos estavam ainda revoltados devido à fuga do ladrão. Depois de
se despedirem, Shannon se pôs a pensar se um homem saberia como lidar com problemas
domésticos.
Pensando nisso, lembrou-se do pai. Ele não fora capaz de enfrentar esse tipo de
problema. Tio Sean e tia Bunny eram perdidamente apaixonados um pelo outro e mesmo
assim alguma coisa dera errado no casamento deles.
Ficou agradecida quando o telefone tocou novamente, interrompendo esses
pensamentos. Conversou com outra amiga, depois outra e depois com o xerife. Finalmente,
Jess, o marido de Kate telefonou. Não havia novidade alguma a respeito do caso dela.
Depois do almoço, dormiu um pouco no sofá ouvindo Debussy. Mais tarde, outra vez
inquieta, vestiu roupas quentes e aventurou-se a sair de casa.
Sentiu-se culpada ao abrir a porta dos fundos. Esquecera-se de trancá-la na noite
passada. E Rory também, ao sair.
Inalou o ar puro e frio, desceu os degraus da varanda com cuidado e sentiu o
gramado sob seus pés. Essa manhã, o homem do tempo anunciara neve. Amava olhar a
neve caindo em flocos do céu. Quando criança achava que era uma mágica.
Suspirou. Não era mais uma criança e tinha de enfrentar a vida. Se havia cinqüenta
por cento de chance de voltar a enxergar, havia também cinqüenta por cento de chance de
isso não acontecer. Essa era a realidade.
Deu alguns passos, sempre em linha reta. Quando chegou às árvores do bosque
achou que deveria voltar, mas continuou, guiando-se através das mãos espalmadas para
frente. Queria vencer o medo. Tinha de se acostumar a estar sozinha.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Rory estacionou sua caminhonete e entrou em casa. Megan lhe dissera que
telefonara a Shannon e ninguém atendera.
Foi à janela e olhou para a casa vizinha.
Shannon a tinha pintado no último outono. O banheiro fora reformado, bem como a
velha cozinha. Com plantas e quadros de flores, a casa tinha um ar muito alegre. Parecia
receber todos bem, mas talvez não a ele.
Com um meio sorriso, atravessou o pequeno riacho e parou à porta de trás. A porta
não estava trancada, assim ele a abriu e entrou.
Olhou em todos os aposentos, mas não havia ninguém. Onde ela estaria?
Havia um xale sobre o sofá e as almofadas mostravam que ela estivera deitara.
Provavelmente dormia quando Megan telefonou.
Mas onde estaria nesse momento?
Sentiu um arrepio pelo corpo ao considerar as possibilidades. Certamente não teria
sido estúpida a ponto de se arriscar a sair de casa. Até mesmo caçadores que conheciam
a área, costumavam-se perder nesse bosque.
Saiu, olhou o quintal e rodeou a casa. Voltou ao quintal é examinou as pegadas.
Shannon era alta, mas leve. Finalmente viu uma pegada que seguia para dentro do bosque.
A pegada era pequena e fresca.
— Shannon! — ele gritou o mais alto que pôde.
Mas só ouviu o som do vento que soprava das montanhas. Uma tempestade se
anunciava, vinda do oeste.
Chamou novamente, mas a única resposta foi o grito de um corvo perto do riacho.
Arrependeu-se de tê-la encorajado a sair da casa do avô para viver sozinha. Se
alguma coisa acontecesse, se ela se ferisse, ele não se perdoaria.
Ansioso, tentou seguir a trilha no meio do bosque e começou a andar em ziguezague.
— Shannon! — gritou, sentindo o primeiro floco de neve cair sobre os cabelos. A
tempestade havia chegado.
Shannon bateu a testa em uma árvore. Pôs a mão na testa e percebeu que se ferira.
Seu vizinho ia ficar muito bravo. Virou-se para seguir outra direção, mas bateu em outra
árvore.
Tentou de novo e deparou-se com mais uma árvore. Tateou procurando alguma
passagem, mas só encontrou árvores.
De repente, tudo que conseguia ouvir era o som do seu coração batendo forte e o
som do vento através dos altos pinheiros. Percebeu que estava perdida no meio do bosque,
sem noção de onde ficava sua casa.
— Acalme-se e pense — disse a si mesma. — Pense...
Sem saber o que fazer, rodeada pelo silêncio do bosque, sentou-se sobre um tronco,
tirou uma das luvas e ergueu a mão para tentar perceber de que lado o sol estava. Poderia
então caminhar na sua direção e tentar encontrar sua casa ou pelo menos a estrada.
Um floco de neve caiu na sua mão.
Estava nevando!
Sentiu-se invadida pelo medo. Ninguém sabia onde ela estava, nem mesmo ela.
Projeto Revisoras
~ 58 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Quase riu da ironia, mas a situação tornara-se muito perigosa. Com o sol atrás das nuvens,
sua esperança de se orientar por ele estava descartada.
Ouvia o vento soprar no topo das árvores e neve caindo sobre as folhas. A
temperatura estava caindo.
Vestindo a luva novamente, deu alguns passos frente. Não... Não era esse o
caminho. O vento provavelmente soprava do oeste. Virou-se para andar na direção oposta
antes de tocar em uma árvore.
O bosque tornara-se denso e ameaçador, aprisionando-a por todos os lados.
Continuou tentando manter o vento às suas costas, lutando contra os galhos, a neve caindo
sobre seu rosto em grandes flocos.
Depois de muito tempo, descansou, encostada em uma árvore.
Odiava preocupar suas primas. Elas tentariam esconder do avô o que estava
acontecendo até que não fosse mais possível e ele tivesse que comparecer ao seu funeral.
Um espinho entrou na sua perna, e ela caiu no chão. Ficou deitada sobre as folhas,
sem ânimo de tentar outra coisa. O que mais poderia fazer?
De repente, pareceu-lhe mais fácil ficar ali, deitada. Estava muito cansada.
Ouviu um som, uma voz fraca trazida pelo vento.
Seria sua imaginação?
Ouviu novamente. Sentou-se.
— Alô — ela gritou. — Alô-o-o...
— Shannon...
Alarmada, ela virava a cabeça em todas as direções, tentando perceber de onde
vinha a voz.
— Sim, sou eu... — ela gritou com mais força.
— Continue gritando para que eu possa me orientar.
— Alô... — ela gritava entre pequenos intervalos. Depois de segundos, que
pareceram a ela uma eternidade, perguntou aos gritos:
— Pode me ouvir?
— Sim... Continue gritando. Sou eu... Rory.
— Isso eu já sabia — ela murmurou. Aliviada, Shannon recuperou a energia.
— Não a estou escutando mais — ele gritou. Ela continuou gritando, e logo ouviu o
som de folhas sendo pisadas.
— Aqui...
— Estou vendo-a...
Ela levantou-se e, rindo, tentou tirar o espinho que entrara na sua perna.
— O que há de engraçado? — Rory parou ao lado dela, ajudando-a a tirar o espinho.
— Você estar bravo comigo — ela explicou, rindo e tremendo. — Obrigado por ter
vindo — murmurou, apoiando as mãos no peito dele. — Dessa vez achei que não haveria
salvação para mim.
Shannon ficou na ponta dos pés e beijou os lábios de Rory delicadamente.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Projeto Revisoras
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CAPÍTULO VIII
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
vestiu meias de lã antes de descer até a cozinha. Ouviu o som de vozes masculinas. Notou
que o sol estava alto, assim que abriu a porta.
— O que está acontecendo? — perguntou irritada, com a certeza de que se tratava
de Rory e que ela, provavelmente, não iria gostar.
Sentiu uma lufada de ar frio assim que deu um passo para fora.
— Olá, Shannon, sou eu, Richie.
Ela relaxou. Richie era o filho do xerife. Shannon passou os dedos pelos cabelos.
— O que está acontecendo?
— Bom dia — uma outra voz disse perto dela.
— O bom vizinho — ela disse, querendo demonstrar uma despreocupação que não
estava sentindo. Passara a noite anterior dividida entre o desejo de ir até ele e a
necessidade de proteger-se contra esperanças tolas.
— Ei, preste atenção! Homens também têm sentimentos, sabia?
— O que vocês dois estão fazendo?
— Na verdade somos quatro: Richie, Jess, Kyle Herriot e eu. Gene virá mais tarde
com mais dois homens.
— Por quê?!
— Para terminar a ponte sobre o riacho. Coloquei os suportes no início da semana.
Vamos fazer uma trilha entre sua porta dos fundos e a minha. Gene vai trazer uma
escavadeira. Desse modo você poderá caminhar sem se perder.
Shannon arrependera-se muito da estupidez do dia anterior.
— Isso não é necessário. Não me perderei novamente. Pode ficar tranqüilo.
— Não fique contrariada. E algo que podemos fazer por você para recompensá-la
pelo atentado que sofreu. Você ajuda muitas pessoas, agora nos deixe fazer alguma coisa
por você. Seja cortês.
Shannon não sabia se ficava furiosa ou, como ele sugerira, demonstrava
cordialidade. Seu orgulho queria mandar que todos fossem embora, mas sua cortesia era
inata e acabou prevalecendo.
— Que tal fazer o almoço? — Rory perguntou.
— Que horas são?
— Passa um pouco das oito. Kate também virá, depois que pegar a filha na escola
maternal. Estaremos prontos para almoçar nesse horário. E... ahn... Seria bom se vestir.
Não que esse pijama cor-de-rosa seja inconveniente, mas faz-me pensar em noite, cama,
dormir... Esse tipo de coisa.
A voz dele ficava mais baixa a cada palavra que proferia, fazendo com que Shannon
sentisse sua pele arrepiar-se.
Entrou rapidamente.
Depois de se vestir e prender os cabelos atrás da nuca, lembrou-se dos óculos
escuros. Parou na frente do espelho do banheiro e lembrou-se do momento em que
despertara. Tinha havido alguma coisa...
Piscou e olhou fixamente para o espelho mais uma vez. Nada. Nenhuma luz. Pôs os
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
óculos, suspirando, arrumou a cama e foi para a cozinha para tomar o café da manhã e,
em seguida, começar a preparar o almoço.
Um guisado de carne seria conveniente para os homens que estavam trabalhando
no frio. Misturou os ingredientes em uma panela e a pôs sobre o fogão, lembrando-se da
receita da sua mãe.
Havia uma torta de cereja no congelador, provavelmente quase vencida.
Depois de vestir a jaqueta e as luvas, pegou a bolsa e saiu.
— Richie?
— Estou aqui.
Shannon caminhou em sua direção e foi ofuscada por uma claridade momentânea.
Pôs a mão sobre a têmpora no momento em que sentia uma tontura. Mas tudo aconteceu
em uma fração de segundo, e ninguém percebeu.
— Diga o que quer — disse o adolescente, dessa vez bem perto dela.
— Você já tem sua carteira de motorista?
— Não, mas tenho permissão para dirigir até a carteira ficar pronta.
— Ótimo. Que tal me levar à cidade? Preciso comprar algumas coisas.
— Claro, mas é melhor que eu peça a meu pai. Ei, papai, posso levar Shannon à
cidade? Ela precisa fazer compras.
— Pode, mas sem correr — advertiu-lhe o pai.
— Prometo — Richie disse, rindo. — Está pronta, Shannon?
— Sim. — Ela lhe entregou as chaves do carro.
— Você terá que me guiar.
— Não tem problema — ele afirmou, pegando as chaves e segurando-a pelo braço.
— Não esqueça o degrau.
Na cidade, ele a ajudou alegremente a comprar rosquinhas e tortinhas de maçã na
padaria.
— Uau, esses pães de canela cheiram muito bem! — exclamou Richie.
— Uma dúzia de pãezinhos de canela — Shannon disse a Melissa, outra amiga, que
agora ajudava os pais na padaria.
Na mercearia, as pessoas todas vinham abraçá-la e perguntar por sua saúde.
— Estou bem — ela disse. — Muito bem. Descobriu que podia identificar a todos
pela voz, e isso a deixou mais confiante.
Orientou Richie a pegar leite, café, chá, pão e biscoitos.
— Vou comprar hambúrguer... — ela acrescentou.
— Alguma noite dessas farei chili. Acho melhor pegar mais algumas latas de tomates
e também feijão.
— Certo.
No caixa pagou com cartão de crédito.
— Guie minha mão para que eu assine o recibo — ela brincou com a caixa, uma
professora de inglês aposentada, que insistira muito para que Shannon melhorasse sua
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Pegando o cabo da esquerda, você irá até a garagem. Pegando o cabo da direita você irá
até a ponte e à porta dos fundos da minha casa.
— A cerca também está quase pronta — informou Jess.
— Vocês devem ir embora antes da tempestade — Shannon aconselhou,
preocupada com a neve e o vento gelado e todos os fatores que poderiam causar
hipotermia a uma pessoa, sem que ela percebesse. — Asseguro a vocês que eu não me
aventuraria a sair com esse tempo. Aprendi minha lição.
— Que lição? — quis saber Kate.
Shannon percebeu que a prima não sabia sobre o que acontecera no dia anterior.
Sem saber o que responder, ela hesitou e voltou o rosto na direção de Rory.
— Ela se aventurou a dar uma caminhada e entrou no bosque — ele explicou
casualmente. — Por sorte me ouviu chamando-a.
Shannon sentiu-se culpada e meneou a cabeça.
— Sim. Fui estúpida. Quando Rory não me encontrou em casa, foi me procurar e...
Ele salvou a minha vida. Novamente.
— Na verdade, vim aqui esperando ser convidado para o jantar. Ela cozinha melhor
do que eu.
— Papai frita batatas, mas queima... — anunciou Mandy indignada.
Essa afirmação despertou protestos de Jess e risadas dos outros. Depois de
comerem a torta, os homens saíram para terminar o serviço. As três mulheres ficaram para
lavar a louça e arrumar a cozinha. Mandy ajudou a pôr os talheres na máquina de lavar
louça.
— Foi divertido — Megan disse. — É muito bom ter família e amigos, não é?
— Sim — concordou Shannon.
— Mandy e eu temos de ir. Ela começa as aulas de piano esta tarde, e não podemos
chegar atrasadas logo na primeira aula.
Kate e Mandy despediram-se com beijos.
— Como está vovô? — Shannon perguntou quando Megan e ela ficaram sozinhas.
— Não muito bem. Está perdendo peso, e sua pressão está alta novamente.
— Espero que ele não tenha outro derrame. Lembra-se de como ficávamos
assustadas quando o deixávamos nervoso?
— Sim. Ele era genioso, mas nunca ficou bravo conosco. Não sei por que tínhamos
tanto medo.
Conversaram sobre o passado e então Megan teve que ir embora para as aulas de
equitação do período da tarde.
Shannon vestiu o casaco e as luvas e saiu. Encontrou os dois postes na varanda.
Pegou o cabo da esquerda e andou até a garagem. Kate e Jess já haviam guardado o carro
para ela. Satisfeita, voltou e pegou o cabo da direita.
Seguindo o outro caminho, ouviu o barulho de cascalhos sob seus pés. No final do
caminho de cascamos, descobriu a ponte de madeira sobre o riacho, ladeada por cercas.
Atravessou a ponte e achou o cabo novamente no final da ponte e continuou a andar.
Hesitou, sabendo que esse caminho levava diretamente à casa de Rory.
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olhos, ele as agarrou pelos pulsos e as colocou atrás das costas, prendendo-as. Seus tórax
se tocaram quando ele se curvou sobre ela, seu silêncio exigindo uma resposta e seu toque
gentil, porém firme, avisando que ela não poderia escapar.
— Olhe — ele disse suavemente.
Um clique e o clarão, outro clique e outro clarão. Depois, mais nada.
— O que viu?
Shannon suspirou.
— Um clarão, como uma lâmpada de rua através da neblina, uma neblina muito
densa. Mas não durou muito tempo.
— Mas irá durar — ele murmurou, a boca perto da dela. — Irá durar — ele repetiu
como se desafiasse alguém a negar.
Rory abaixou a cabeça para beijá-la. Ela virou a cabeça, querendo escapar para
pensar, para controlar suas confusas emoções, para chorar...
Mas não na frente dele.
Mantendo as mãos dela atrás do corpo com uma das mãos, ele usou a outra mão
para virar o rosto de Shannon e então a beijou, sem ternura ou piedade, apenas dominado
por um desejo incontrolável.
Ela movia o rosto de um lado para o outro não em protesto, mas... Nem sabia o
porquê. Era como se estivesse participando de um combate mortal. Ele acompanhava seus
movimentos, recusando-se a soltá-la.
Rory emitiu um som quase inaudível, e ela entendeu que também ele lutava contra
o poder do desejo que os consumia.
Com um suspiro, desistiu de lutar e se rendeu.
Rory sabia que deveria sair dali, que ela estava muito vulnerável e que ele não devia
tirar vantagem da situação, mas naquele momento nada importava, a não ser sentir o corpo
de Shannon bem perto do seu.
Shannon retribuiu o beijo sem mais lutar contra o poder dos sentimentos que os
dominava.
Quando ficou sem ar nos pulmões, Rory parou de beijá-la. Respirou fundo e
descansou a cabeça contra a dela, tentando pensar em outras coisas, para acalmar o fervor
do seu sangue.
— Isso é loucura — ela sussurrou em desespero. Abrindo os olhos, ele viu o marido
de Kate os observando da janela, com expressão contrariada.
— É hora de enfrentar a realidade — murmurou Rory.
— Que realidade?
Rory percebeu que ela ainda estava perdida no fogo da paixão. Afastou-se um pouco
e observou o rosto de Shannon. Ela não podia vê-lo, mas ele sorriu como se alguma coisa
nova e frágil estivesse tomando conta dos seus sentidos. Não se lembrava de ter sentido
tanta ternura por outra mulher, e isso o preocupou.
— É hora de voltar ao trabalho.
Ele a soltou, e Shannon apoiou as mãos no balcão. Encontrou os óculos e colocou-
os. Rory notou que ela estava trêmula e percebeu que queria fazer amor com ela até que
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Projeto Revisoras
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CAPÍTULO IX
Projeto Revisoras
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Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Gosto de azul.
Shannon franziu o nariz.
— É a cor favorita dos homens, mas acho que é fria demais para uma casa. Gosto
de cores mais quentes.
— Passional... — ele murmurou.
— O que disse?
Rory tocou os cabelos dela.
— Suas cores são vermelho e ouro. Fogo e metal precioso. Mas você usou uma
nuança de creme e verde em sua casa. Pensei que verde fosse uma cor fria.
— Verde é uma cor neutra, e eu a escolhi por causa das trepadeiras. Gosto do modo
como elas se desenvolvem, mesmo em condições adversas.
— São tenazes. Assim como você.
O cumprimento aqueceu o coração de Shannon, levando-a a uma confissão.
— Eu quis desistir de tudo quando levei o tiro. Foi o seu toque que me tirou da
escuridão. A dor era grande demais, então você chegou, calmo e brilhante, como um anjo...
— Ela se calou embaraçada.
Rory não disse nada.
O silêncio que se seguiu fez com que Shannon se arrependesse de ter aberto a boca
para dizer todas aquelas tolices.
— Coma — ele disse finalmente, em um tom suave.
Ela pegou o garfo e fez o que ele ordenara. Depois de alguns minutos, Rory começou
a contar como fora o seu dia na instituição em que trabalhava duas vezes por mês, do velho
touro que morrera e do velho fazendeiro que chorara a morte do animal.
— Os antigos fazendeiros estão desaparecendo. Os jovens não gostam da dureza
da vida em uma fazenda.
— E do isolamento. A vida na cidade é mais fácil e mais animada.
— Então por que você desistiu de ganhar a vida na cidade?
— Loucura, não? Senti que precisava de mais espaço, de um lugar calmo no final do
dia. Planejei trabalhar na cidade, mas terminar o dia aqui.
— Nós precisamos começar a fazer anotações sobre seu trabalho de pós-graduação.
— Nós... Quem somos nós? Se me recordo bem, esse é trabalho meu.
— Você precisará de ajuda. Eu lerei as anotações para você.
— Minha letra é péssima, difícil de entender. Mas assim mesmo agradeço sua boa
intenção.
Ele apertou a mão dela.
— Não adiantará nada recusar.
Ela começou a contestar, mas ouviu o barulho de um motor. Prestou atenção.
— O que foi? — perguntou Rory,
— Aquela caminhonete outra vez. E a mesma pessoa que parou em casa hoje,
procurando emprego. No mês de janeiro, imagine!
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Ela ouviu o barulho da cadeira de Rory sendo afastada e sentiu uma corrente de ar
frio quando a porta foi aberta. Ele voltou alguns minutos depois.
— É uma caminhonete preta ou azul-escura, não deu para distinguir. A placa é do
Colorado. Ele parou na sua casa?
— Sim — ela riu. — E eu imediatamente achei que ele podia ser o indivíduo do posto
de gasolina, para descobrir se eu teria condições de identificá-lo. — Shannon riu
novamente, fingindo que achava tolice o que imaginara. Mas Rory não riu.
— Você pode estar certa. Mencionarei isso ao Jess e verificarei junto aos outros
policiais se há estranhos na cidade.
— Acho que não será necessário. Não precisa alarmar Kate. Provavelmente não é
nada. Por favor, preferia que não dissesse nada.
— Certo — ele concordou com relutância. — Você sabe o número do meu telefone?
Memorize-o. Telefone se... Não, espere, tenho uma idéia melhor. Vou fazer uma ligação da
minha casa na sua. Tudo que terá de fazer será apertar um botão, e eu irei correndo.. —
Dessa vez ele riu. — Correndo mesmo, querida.
— Não é necessário — Shannon refutou exasperada. — Sei discar o 911 se eu
precisar de ajuda.
— Eu estou mais perto. Se você teimar, terei que ir à sua casa todas as noites para
me certificar que não há algum marginal rondando.
— De jeito nenhum.
A conversa estava ficando tensa. Ela tinha consciência da presença máscula à sua
direita e do fato de que seus pés se tocavam embaixo da mesa.
Lembrou-se dos beijos dele. Quando a provocara chamando-a de "querida", ela não
respondera. Sabia que não significava nada íntimo, que era apenas força de expressão.
A vida com ele seria engraçada se os dois se amassem. Gelou, horrorizada com a
idéia.
Rory era dez vezes mais atraente do que qualquer homem que conhecera, cem
vezes mais perigoso, e poderia ter qualquer mulher que quisesse.
Nesse momento, havia paixão entre eles, mas isso não significava que poderiam
partilhar um amor duradouro.
Na realidade, o interesse de Rory por ela era devido ao acidente e por ele tê-la
salvado. O perigo une as pessoas, e ele a estava protegendo.
Embora estivesse muito atraída por ele, uma mulher inteligente deveria salvaguardar
seu coração e resistir às tentações da carne. E era exatamente o que pretendia fazer.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
CAPÍTULO X
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Ela piscou, surpresa com a idéia de vê-lo cercado de crianças, brincando com elas
e ensinando-as a cuidar de animais de estimação.
— Você não? — ele insistiu.
— Eu... Planejo trabalhar com crianças e suas famílias quando tiver obtido minha
licença.
— Mas e quanto a uma família?
— Você acha que isso acontecerá? Quem iria querer uma... — Shannon fez uma
pausa — ...mulher cega?
Rory aproximou-se dela, suas pernas encostando-se.
— Eu. Eu a quero.
Isso era impossível, pensou Shannon, tentando-se afastar dele. Conseguiu dar uma
risada de desdém.
— Você é mesmo estranho.
— Louco — ele a corrigiu. — Louco por você.
Rory riu e se afastou, para permitir que ela respirasse mais livremente.
Shannon suspirou.
— Terminou? Estou cansada e gostaria de voltar para casa.
Ele pediu a conta.
No caminho de volta, Shannon sentou-se o mais perto possível da porta da
caminhonete, deixando um espaço entre eles no qual caberia facilmente outra pessoa.
Quando Rory parou, ela ouviu a porta da garagem se abrindo. Estavam na casa dele.
Shannon estava tensa, e ele a conduziu para a porta da cozinha.
— Vou fazer café — ele disse.
— Não para mim. Vou para casa.
— Fique — ele disse, segurando-a pelos braços. Era quase uma ordem, mas ele não
estava sendo ríspido.
Shannon foi percorrida por um tremor e uma corrente de desejo, de necessidade e
de paixão.
— Não posso — ela sussurrou. — Por favor. Não posso.
Rory acariciou seus ombros.
— Está com medo. Por quê?
Ela apertou os lábios e meneou a cabeça.
— É confuso demais para explicar.
Silêncio.
Shannon esperou, ansiando por ser beijada. Mas ele suspirou e se afastou.
— Vou acompanhá-la até sua casa.
— Não é necessário.
— Claro que é, senhorita.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Shannon deixou-se acompanhar, entrou em casa, e ele esperou que ela trancasse
a porta para então se afastar.
Sozinha, encostou-se no balcão da cozinha e cruzou os braços sobre o peito,
sentindo-se cansada e arrependida de não ter ficado com ele.
Ficaria com ele a noite toda?
Sim... Sim!
Fechou os olhos, desesperada. Temia fazer o que tinha se proposto a não fazer:
apaixonar-se pelo belo vizinho.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Você vai passar o resto da noite aqui — ele afirmou, esperando que ela
contestasse.
Mas Shannon concordou, depois de uma breve hesitação, e Rory a encaminhou para
o quarto dele.
— Essa é a única cama da casa. Mas não se preocupe, estará a salvo.
— Eu não estava preocupada.
Rory ergueu-lhe o queixo com uma das mãos e, em seguida, contornou o rosto dela
com a ponta do dedo.
— Onde você dormirá?
— No sofá. Se precisar qualquer coisa é só gritar.
— Eu quero que você... fique.
As palavras foram proferidas tão suavemente que eram quase inaudíveis.
— Não posso. Não posso prometer nada se ficar ao seu lado.
— Fique.
Ele fechou os olhos e tentou pensar em coisas nobres: honra, respeito,
companheirismo... Mas não funcionou. Deu um passo à frente e abriu os olhos ao sentir os
braços de Shannon ao redor de sua cintura. Sentada, ela apoiou a cabeça em seu peito e
passou as mãos vagarosamente pelas suas costas.
— Não posso prometer uma noite platônica se você continuar com isso.
Sem dizer uma palavra, ela tirou as botas, levantou-se da cama e tirou o roupão. O
coração de Rory batia furiosamente. Ela parou, a cabeça inclinada para o lado, como se
prestasse atenção nos movimentos dele. Começou a desabotoar o pijama.
— Deixe que eu faço isso — ele pediu, a voz rouca de desejo.
Shannon deixou os braços caírem ao lado do corpo em um convite para que ele
terminasse a tarefa. Rory ficou contente por ela não poder ver como seus dedos tremiam.
Tirou a parte de cima do pijama e a jogou sobre uma cadeira.
— Espere... — pediu, embora Shannon não estivesse se movendo.
Tirou a camiseta e as meias.
— Agora... — ele murmurou, desamarrando a calça do pijama dela, que deslizou
para o chão.
Shannon deu um passo para se desvencilhar do pijama e abriu os braços para ele.
Isso era mais do que um pobre mortal podia agüentar, e ele não tinha intenção de
ser santo. Deu um passo à frente e sentiu o calor de Shannon ao longo do seu próprio
corpo.
— Você é linda! Tão linda que me deixa sem respiração.
— Isso parece letra de música — ela respondeu suavemente, pressionando os dedos
no pescoço dele.
Rory sentiu um calor intenso percorrer-lhe o corpo.
Antes de levá-la para a cama fez mais uma pergunta:
— Não vai se arrepender pela manhã?
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
CAPÍTULO XI
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
alguma.
Ele sentou-se na cama e esperou que ela falasse mais.
— Quando acordei vi a claridade da janela e pensei que fosse mais um daqueles
flashes, mais impressão do que realidade, mas dessa vez a luz não desapareceu quando
eu pisquei. — Shannon cobriu o rosto com as mãos. — Tive tanto medo!
Ele a abraçou.
— Isso é apenas o início do milagre, minha querida.
Ao sentir o tecido da camiseta dele na pele é que Shannon percebeu que estava
nua.
— Meu pijama... — Lembrou-se da noite que os dois haviam compartilhado e de tudo
que sentira.
Rory não estava surpreso de que o milagre da visão tivesse acontecido nessa
manhã. Parecia estar em sintonia com a noite de amor maravilhosa que tinham vivido. Ela
ter recuperado a visão nessa manhã parecia tão natural quanto o amanhecer de todos os
dias.
— Vou pegá-lo, mas primeiro você precisa de um banho.
Conforme se levantou com ela nos braços, ele notou os lençóis manchados de
sangue e, mais uma vez, foi invadido por uma ternura imensa. Teimosa, orgulhosa,
independente e... virgem.
Ele deveria ter desconfiado. A hesitação e a incerteza dela tinham sido sinais que
evidenciavam uma mulher sexualmente inexperiente. Temeu ter exigido demais dela em
uma só noite, mas a exigência não fora apenas dele. O desejo dela havia sido tão intenso
quanto o dele.
Respirou profundamente. Aquele não era o momento adequado para paixão.
Carregou-a até o banheiro, despiu-se rapidamente e entrou com ela sob o jato quente do
chuveiro. Começou a dar-lhe banho, ignorando a risada de Shannon e o seu
enrubescimento quando ele tocou suas partes mais íntimas.
— Não há uma só parte de você que eu não conheça.
Pôs xampu nos cabelos dela e conteve seu desejo. Deu-lhe um rápido beijo, também
tomou um rápido banho, enxugou-a e a colocou na frente do espelho.
— Olhe-se — ele sugeriu e acendeu a fileira de lâmpadas de cada lado do espelho.
Shannon piscou e aproximou-se do espelho. Pôde perceber duas sombras. A dela e
a dele. Continuou olhando, esperando ver mais, muito feliz em poder reconhecer sombras
e formas, enquanto Rory lhe secava os cabelos com um secador.
— Escova de dente — ele disse, pondo uma nas mãos dela.
Shannon olhou para a escova e murmurou:
— É um milagre...
— Não, é apenas uma escova de dente. Foi inventada há muito tempo.
Shannon sorriu, sabendo que ele lhe estava dando tempo para acostumar-se em ver
o mundo novamente, embora ainda sem muita nitidez.
Quando os dois estavam vestidos, ela com o pijama cor-de-rosa e o roupão, Rory a
levou até a cozinha.
Projeto Revisoras
~ 88 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— O café da manhã está quase pronto. Ovos com bacon e torradas, está bom?
— Sim, está ótimo.
— Café. — Ele pôs duas canecas sobre a mesa.
— A mesa é branca? — ela perguntou.
— Sim, mas pretendo lixá-la. Ela é de carvalho e quero que volte à cor natural.
A risada de Rory era contagiante, e Shannon ficou admirando-o fritar os ovos e
passar manteiga nas torradas. Em poucos minutos tudo estava pronto, e ele veio até a
mesa com dois pratos e talheres.
Ela estremeceu quando ele lhe tocou o braço.
— Coma — Rory ordenou carinhosamente.
Shannon obedeceu. Estava com um apetite voraz.
Comia, consciente da presença dele, nunca se sentira assim em relação a homem
nenhum. Sempre fora tão ocupada perseguindo seus objetivos, que nunca dera muita
importância a outras sensações.
A cegueira a fizera perceber que havia outras coisas na vida, como o perfume das
rosas e o significado das palavras. Recordando a paixão da noite anterior, teve vontade de
fazer amor com ele novamente, mas a manhã trazia-lhe outros problemas.
— Arrependimentos?
— Não — ela respondeu com firmeza. — Não exatamente. — Suspirou. — A manhã
trouxe uma nova luz à situação.
— Por você estar enxergando?
— Não. Porque a noite passada complicou as coisas entre nós. Sexo é ou pode ser,
uma forma de união. Você já ouviu falar a respeito da síndrome de Estocolmo?
— Não.
— Bem, resumindo, é o que acontece quando os seqüestrados se identificam com
os seqüestradores. Aqui nos Estados Unidos tivemos um exemplo disso com Patty Hearst.
E uma tática de sobrevivência: ficar como os outros para conseguir sobreviver. Dessa forma
não se é punido ou torturado.
— Se a noite passada foi uma tortura, querida... Quero ser torturado novamente.
Shannon sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, mas conseguiu continuar sua
explicação.
— Coisa semelhante pode acontecer quando a pessoa passa por um evento
traumático ou quando salva a vida de outra. Uma ligação é estabelecida, não precisa ser
uma ligação má, mas pode levar a complicações. Mais tarde, essa ligação pode ser difícil
de ser interrompida, mesmo quando a pessoa se conscientiza de que está incorrendo em
erro.
Depois de um longo momento, Rory perguntou:
— Quem eu sou... O seqüestrador ou o seqüestrado?
Ele sorriu cinicamente, e ela percebeu.
— Acho que ambos fomos pegos em circunstâncias que escaparam do nosso
controle. O tiro que me feriu, o fato de você ter me encontrado, a perda de minha visão,
Projeto Revisoras
~ 89 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
nossa vizinhança, minha preocupação com o homem da caminhonete. Tudo isso somado...
— A noite passada também?
Shannon concordou.
— Você é uma pessoa naturalmente protecionista e carinhosa.
— Poupe-me da psicanálise. A noite passada foi desencadeada pelas
circunstâncias, mas o que aconteceu foi construído durante dias, desde que você saiu do
hospital.
— Mas não era real... Você não vê?
— Mais do que você pensa.
Havia um tom amargo na voz dele. Shannon tentou analisar, mas eram impressões
demais sobre ele e sobre a noite de amor povoando sua mente.
— A paixão e todo o resto... É tudo muito confuso — ela suspirou. — Gostaria que
fôssemos amigos.
— Mas não amantes — ele concluiu.
Shannon se obrigou a concordar.
— Podemos tentar.
Ele não parecia sincero, como se não acreditasse que pudessem ser apenas amigos.
Olhando para os retângulos de luz, ela refletiu sobre o milagre da visão e do amor.
Eram dádivas que as pessoas freqüentemente recebiam. Lágrimas encheram os olhos de
Shannon antes que ela pudesse evitar. Abaixando a cabeça, terminou rapidamente o
desjejum e agradeceu a hospitalidade.
— Preciso ir para casa para que você possa se aprontar para ir trabalhar. É sexta-
feira, não é?
Ela levantou-se e percebeu que estava descalça.
— Minhas botas — murmurou, tentando lembrar-se de onde as deixara.
— Vou pegá-las para você.
Rory ajudou-a a calçar as botas e a acompanhou até em casa. Verificou se estava
tudo em ordem, ela agradeceu e esperou que ele se afastasse. Estava muito perturbada e
queria ficar sozinha para pensar o que faria. Não conseguia pensar com ele perto.
— Conheço um oftalmologista em Denver — Rory disse, já perto da porta, relutando
em sair. — Você deve fazer um check up. Se quiser posso marcar uma consulta e
acompanhá-la até lá.
Shannon hesitou e perguntou:
— Podemos esperar? Gostaria de observar o que vai acontecer.
— Tudo bem. Avise-me quando decidir.
Voltando para casa, Rory refletiu sobre a ironia da vida. Tentara não tirar vantagem
de Shannon, tentara ser honrado, mas na noite passada, quando ela viera até ele, o desejo
fora intenso demais para ambos. Essa manhã ela recobrara a visão e viera com aquela
história de síndrome. Não era bem isso o que ele esperava.
Mas quando uma bela policial fazia o que se esperava dela?
Projeto Revisoras
~ 90 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Bem, seus problemas teriam que esperar até o momento certo, até o momento em
que ficassem sozinhos novamente.
Suspirou, pôs a carteira no bolso, deixou um bilhete para seu pai e madrasta, e se
apressou para o trabalho. Se tivesse sorte, eles não ficariam por mais do que um final de
semana.
Mas ele nunca tinha esse tipo de sorte.
Shannon vestiu-se e logo telefonou a Megan e Kate para dizer-lhes que sua visão
estava retornando.
— É como caminhar no crepúsculo sem luzes acesas, na penumbra.
— Temos de celebrar — Kate declarou. — Venha jantar conosco essa noite.
Abriremos um champanhe. Mandarei Jess buscá-la. Oh, Shannon, que boa notícia!
Sorrindo pensativa, Shannon despediu-se sentindo-se muito melhor depois de falar
com as primas. Pegou um catálogo e examinou-o, mas não conseguiu ler. Sabia que suas
expectativas eram exageradas, mas tinha que tentar.
Lembrou-se da noite anterior, com Rory.
Ele tinha sido tão maravilhoso, tão apaixonado e carinhoso. Ele era tudo que uma
mulher podia desejar. E ela queria mais. Disso tinha certeza.
Mais o quê?
Era uma pergunta que não estava pronta para responder. Ainda não.
Havia muita coisa em sua vida que ela precisava repensar. Uma delas era o milagre
dessa manhã. Iria durar? E se não persistisse?
Tinha muito medo de que a escuridão voltasse.
Vagou pela casa, capaz de discernir cada peça de mobília. Lembrando-se de que o
médico não queria que seus olhos sofressem nenhuma agressão, colocou os óculos
escuros. Pareceu-lhe quê a visão se fora. Em pânico, tirou os óculos.
Não... Ainda estava enxergando.
Pôs os óculos no bolso da camisa e decidiu usá-los apenas quando saísse.
Cheia de energia, limpou toda a casa e poliu a mobília, atitude estranha, pois serviço
de casa não era uma de suas prioridades. Mas quando terminou, sentiu-se
verdadeiramente em sua nova casa.
Cochilava no sofá, à tarde, quando acordou com o ruído de um veículo na estrada.
Tensa, percebeu que não era um som familiar. A pessoa diminuiu a velocidade e se dirigiu
à casa de Rory.
Provavelmente um fazendeiro com um cachorro doente. Veterinários eram tão
requisitados quanto médicos.
Curiosa, caminhou até a janela. O sol a fez fechar os olhos. Pôs os óculos. Havia um
carro na casa dele, mas ela não viu ninguém. Esperou.
Tirou os óculos e pôs a palma da mão sobre os olhos. Olhou o mais fixamente que
pôde. Alguém caminhava da casa para o carro. Agora voltava para a casa. Outra pessoa
encontrou a primeira e ambos entraram na casa.
Seu coração se acelerou, ela procurou o número do telefone do consultório de Rory,
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Também preciso ir. Desculpe pela confusão, sra. Daniels e espero que aproveite
sua estada aqui.
Virou-se e deu de cara com Rory que fechou os braços ao redor dela.
— Calma... — ele murmurou.
— Você deveria olhar por onde anda — sugeriu a sra. Daniels.
Shannon enrubesceu e tentou se afastar de Rory, mas ele não a soltou.
— Ela deveria, mas é cega como um morcego.
Shannon sentiu nas entrelinhas que ele estava bravo com a outra mulher.
— Onde estão seus óculos, querida? — ele continuou. — Você não deve deixar de
usá-los até a sua próxima consulta. Ela recuperou parte da visão — Rory explicou aos pais,
tirando os óculos do bolso de Shannon e colocando-o no rosto dela. — Tive uma idéia. Por
que não vamos todos jantar fora essa noite?
Shannon meneou a cabeça.
— Eu já havia feito planos. Kate virá me buscar.
— E ela não me incluiu? Terei que falar com ela a esse respeito. Vamos, vou levá-la
até sua casa e depois voltarei para o consultório. Estarei de volta em um segundo — ele
disse aos pais.
Pegou a mão de Shannon e a conduziu para casa.
— Desculpe-me — Shannon tornou a pedir ao atravessarem a ponte. — Deixei sua
mãe contrariada.
— Minha madrasta. Não me importo com a reação dela.
— Vocês não se dão bem?
— Mais ou menos. Apenas nos suportamos. Meu pai a ama, e ela parece fazê-lo
feliz. Isso é o que importa para mim. Olhe o degrau.
Eles estavam na varanda. Relutando, Rory parou, mas sabia que precisava voltar,
tinha hóspedes.
— Obrigado por se preocupar comigo.
— Desculpe. Não deve ter sido nada agradável chamar a polícia para dar as boas-
vindas a seus pais.
Ele riu. Subitamente, o dia parecia mais bonito.
— Vou dormir muito melhor sabendo que minha vizinha é uma policial. E claro que
eu me sentiria mais seguro se a tivesse na minha cama, mas...
Shannon permaneceu séria.
— Que tal jantarmos juntos amanhã? Seria uma compensação pelo dia de hoje. E
não vou aceitar uma recusa.
Shannon riu, vencida.
— Isso não me dá alternativa, mas se é para compensar o tumulto de hoje, aceito.
Incapaz de resistir, ele curvou-se e beijou-lhe os lábios.
— Gostaria que estivéssemos sozinhos. Vejo-a mais tarde.
— Amanhã — ela o corrigiu.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Sim, amanhã.
Catherine esperava por ele à porta.
— Seu pai e eu resolvemos deitar um pouco para descansarmos — ela informou no
habitual tom de voz impessoal. — Há apenas uma cama, então vou acomodá-lo no sofá.
Rory praguejou. Esquecera-se da cama.
— Colocarei uma cama no quarto de hóspedes. Planejava ter feito isso ontem, mas
houve alguns imprevistos.
Foi ao quarto de hóspedes, seguido pela madrasta. Pôs uma cama e voltou ao quarto
para pegar os lençóis.
— Os novos móveis que comprei ainda não chegaram — ele explicou, gostando da
expressão de desaprovação que via no rosto de Catherine.
Ela parecia estar engolindo um mosquito, e ele evitou sorrir diante de tal
pensamento.
— Você parece ser íntimo da sua vizinha — ela afirmou, tentando conseguir alguma
informação.
Rory sorriu inocentemente para a madrasta que era catorze anos mais velha do que
ele e vinte anos mais nova do que seu pai.
— Shannon. Sim, ela é minha noiva, embora ainda não tenhamos anunciado o
noivado. Ela quer dizer à sua família primeiro. Mas acho que você e papai podem saber.
— Noiva?
Ele gostou do choque que havia provocado na madrasta. Ela era uma mulher bem-
apessoada, seu conjunto de calça e blazer era muito elegante e provavelmente custara
mais do que todo o guarda roupa dele. Ou de Shannon.
— Sim. Decidimos a noite passada, e você é a primeira pessoa a saber.
— Não me lembro de você tê-la mencionado antes. Já refletiu como será a vida ao
lado de uma pessoa cega?
Rory ficou furioso, mas conteve-se.
— Não, mas pensei que será muito bom viver ao lado de Shannon.
O olhar que ele lhe endereçou deve ter sido muito convincente porque ela
recapitulou.
— Suponho que você saiba o que está fazendo — ela disse, indo para a sala de
visitas para dizer ao marido que a cama estava pronta.
Rory dominou a raiva e caminhou até sua caminhonete. Precisava voltar à clínica
onde faria, nessa tarde, duas cirurgias. Queria dar uma boa caminhada antes de enfrentar
o jantar com os pais.
Quando chegou ao consultório, pegou o telefone e discou para Shannon.
— Olá — ele disse quando ela respondeu. — Achei melhor avisá-la. Ficamos noivos
a noite passada. Tive que confessar tudo para a minha madrasta. Ela suspeitou que éramos
mais do que simples amigos, então satisfiz sua curiosidade.
Rory sorriu esperando pela resposta.
— Você é louco?
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Projeto Revisoras
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Projeto Revisoras
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CAPÍTULO XII
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
fosse baleado. Pelo menos você sabe se defender. — Ele sorriu para Shannon.
— Está pronta? — Rory perguntou, pegando-lhe a mão e mudando de assunto.
Pediu os casacos enquanto pagava a conta.
No caminho para casa, Shannon permaneceu em silêncio, como também Rory que
passara o braço ao redor do seu ombro. Ela tinha consciência absoluta do corpo dele, como
se houvesse um radar monitorando cada movimento do noivo.
Em certo momento Rory curvou a cabeça e beijou-lhe a face. Shannon viu naqueles
belos olhos toda a intensidade que virá algumas horas atrás.
Rory olhou para frente, tornou a olhar para ela e, sorrindo, mais uma vez a beijou.
Sorriu novamente e a fez descansar a cabeça no seu ombro.
Shannon ficou pensando no que aconteceria se ela agisse realmente como uma
noiva. Estava assustada com tantas emoções e decidiu que, por aquela noite, era o máximo
que poderia suportar.
Shannon e Rory entraram na cozinha, e ele parou abruptamente.
— O que significa isso? — ele quase gritou. Ela olhou ao redor e viu que sua casa
fora invadida e saqueada. Todas as gavetas estavam no chão e os conteúdos espalhados.
— Minha nossa! — exclamou o sr. Daniels.
— Alguém invadiu o lugar — Shannon afirmou. — Por favor, fiquem onde estão e
não toquem em nada. Rory, chame Jess. Ele precisa investigar.
Rory obedeceu e em menos de dez minutos Jess chegou, seguido de uma dupla de
detetives como também de um especialista em impressões digitais. Encontraram algumas
digitais parciais, mas nada que pudesse ser estudado para elucidar o caso. A porta da frente
fora arrombada.
— Tudo bem — Jess afirmou uma hora mais tarde. — Terminamos e gostaríamos
que você verificasse seus pertences para ver se falta alguma coisa. Preciso desse dado no
meu relatório.
O sr. Daniels notou a falta de quinhentos dólares e uma corrente de ouro com um
pendente de diamante. O relógio que deixara sobre a cômoda também havia desaparecido.
Shannon sentiu-se culpada por não ter protegido suas propriedades. O culpado
poderia ser o ladrão que atirara nela.
— É meia-noite — disse-lhe Rory. — Venha, vou levá-la para casa.
— Vou com vocês — Jess afirmou. — Fiquem por aqui mais alguns minutos — ele
disse ao outro detetive.
Shannon sentiu seus pêlos se arrepiarem quando cheguei à sua casa e viu a
situação da sua cozinha. Também estava tudo revirado.
— Vou buscar o material das digitais — disse o especialista.
— Não posso acreditar nisso. Nunca tivemos esse tipo de problema na fazenda. É
tão longe da vista de ladrões.
Exceto para o ladrão que a alvejara. Ele sabia onde ela morava. Shannon foi
percorrida por um tremor como se sentisse uma força malévola cercando o ambiente e
estendendo-se à casa vizinha.
Era estranho, mas apenas a cozinha fora vandalizada e, segundo Shannon, nada
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
desaparecera.
— Você não quer ficar conosco? — perguntou-lhe Jess. — Não gosto da idéia de
você ficar aqui sozinha.
Shannon pensou em Kate, Jeremy e Mandy. Não queria expor seus parentes em
perigo. Meneou a cabeça, recusando.
— Estarei bem e preciso trabalhar. Além disso, um raio não cai duas vezes no
mesmo lugar.
— Ela não ficará sozinha. Shannon pode ficar em minha casa.
Houve um momento de silêncio e então Shannon sorriu na direção dele.
— E muita gentileza sua, mas você já tem companhia suficiente.
— Você tem razão. Ficarei aqui.
— Ótimo — concluiu Jess.
Shannon decidiu não discutir na frente dos policiais. Parecendo satisfeito com o
arranjo Jess deu boa-noite e se foi.
Sozinhos, ela disse a Rory:
— Você não precisa ficar. Estarei bem.
Ele ignorou o comentário.
— Vou acompanhar meus pais e pregar a porta da frente. Teria sido mais fácil ter
deixado a porta aberta — Rory disse, sorrindo.
Ele se referia à casa dela. Shannon esquecera-se de trancar a porta.
— É. Evita-se que tenha de ser arrombada. Rory você realmente não tem que...
— Sim, tenho.
Mais uma vez, ela não discutiu. Já conhecia suficientemente sua natureza protetora
e sua teimosia também.
Shannon estava arrumando a última gaveta quando Rory chegou.
— Já arrumei minha casa, e tudo voltou ao normal.
— Exceto pelo dinheiro e o que foi levado.
— Foi um preço pequeno. Deixe-me fazer isso — ele falou, pegando a gaveta das
mãos dela e recolocando-a no lugar.
— Que tal uma caneca de chocolate? Estou muito excitado para dormir.
Ela também estava. Depois de pôr duas canecas de leite no microondas, pegou um
jogo de lençol e foi até o quarto de hóspedes. Ele a seguiu.
— Precisamos de outra cama? — ele perguntou.
— Não sei...
— Não nego que a quero, mas não vou forçá-la — ele interrompeu-a, suavemente.
Atravessou o quarto, mas passou por ela sem tocá-la.
Shannon pensou na manhã e nos arrependimentos que haviam se seguido.
— Você é um perigo para minha paz de espírito — ela murmurou, pressionando uma
das mãos sobre a têmpora, sentindo a pequena cicatriz que lhe lembrou que as cicatrizes
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CAPÍTULO XIII
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Projeto Revisoras
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Ele não perdeu tempo fazendo perguntas e as conduziu à porta lateral do consultório.
Ligou para a delegacia. Jess não estava, e ele falou com o xerife.
— Gene quer saber se você pode fazer uma identificação positiva.
Shannon concordou.
— Sim, posso.
— Certo — Rory disse ao telefone, escutou e se despediu.
— Vamos à delegacia. Quando chegarmos, ele já terá o indivíduo sob custódia.
— Coitado, não terá tempo de terminar o almoço. A truta estava deliciosa.
Rory desatou a rir.
— Você é demais — ele disse, beijando levemente os lábios dela.
Sorrindo, os três se dirigiram à delegacia. Depois de quinze minutos de espera, Gene
pediu que Shannon identificasse o meliante na fila de suspeitos.
— Preciso de binóculos ou terei que enfrentá-lo cara a cara.
Com os binóculos na mão, ela identificou o homem facilmente.
Ele insistiu que ela estava confusa.
— Ela nem enxerga direito — o meliante gritou ao policial que o algemava.
— Ela recuperou a visão — disse o xerife, sem nenhum traço de simpatia. — Tire as
impressões digitais, prenda-o e leia os direitos dele.
O homem gritou obscenidades a Shannon, assim que o levaram para a cela. Rory
agarrou o braço de Shannon.
— Ainda bem que ele está sendo preso, do contrário eu esmagaria a cara dele.
Gene riu.
— Tenho o mesmo desejo. Está pronta para assinar a declaração? — ele perguntou
a Shannon.
— Sim. — Ela seguiu Gene até seu escritório para cumprir os trâmites legais.
— Até a noite — Rory disse a Shannon na calçada defronte à delegacia.
— Hoje à noite? — Shannon tentou lembrar-se se combinara um jantar ou outra
coisa.
Embora Rory houvesse dormido no quarto de hóspedes durante as quatro noites
anteriores, quando ela acordava ele já tinha ido embora. O máximo que faziam juntos era
tomar uma caneca de chocolate quando ele chegava à noite, obviamente cansado.
E cada noite ela tinha que lutar para não ir até ele.
Se ele a amasse, suas vidas poderiam ser diferentes, porque ela o amava. Como
poderia não amá-lo? Ele era tudo com que ela sempre sonhara em um homem.
— Sim, eu chegarei cedo. Então conversaremos — ele acrescentou.
Depois que Megan a deixou em casa, Shannon guardou as compras e ficou
pensando sobre o que Rory queria conversar com ela.
Talvez seus pais estivessem de partida, e ele quisesse terminar o noivado e ter o
anel da mãe de volta.
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
Rory franziu o cenho ao ver o carro estranho que bloqueava sua entrada na garagem.
Mais companhia?
Desceu da caminhonete e parou por um instante, sentindo o vento frio atingir seus
músculos cansados.
Tinha tido que sacrificar a égua dos Herriot nessa tarde, tarefa sempre muito difícil,
mas dessa vez fora pior porque Kyle era seu amigo mais antigo. Conviviam desde o jardim-
de-infância e passaram juntos por uma série de tristezas, como a morte dos pais de Kyle,
a perda dos primeiros amores... Da inocência... Dos sonhos...
Oh céus, estava mórbido essa noite.
Precisava ver Shannon. Sempre se sentia melhor quando estava com ela.
Precisava?
Sim, precisava.
Pegou as compras que trouxera para o jantar e se dirigiu a casa, curioso para saber
quem era o proprietário do carro estacionado à sua porta.
— Rory — disse sua madrasta. — Venha até a sala. Você nunca adivinhará quem
eu encontrei hoje na cidade.
Rory deixou as compras na cozinha e entrou na sala de visitas.
— Bem... Alô — Ele sorriu. — Realmente, estou surpreso.
— Rory! — Sandra Wheeler exclamou, levantando-se e dirigindo-se até ele.
Eles haviam namorado por um breve tempo quando estavam no colegial e então ela
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
não conhecia e que lhe foi apresentada por Catherine, como filha de uma velha colega de
escola.
— Sandra e Rory foram namorados. Acho que ela foi seu primeiro amor — Catherine
fez questão de frisar.
— Na verdade, Kate, a prima de Shannon, foi meu primeiro amor — Rory a corrigiu.
— Eu estava no jardim-de-infância e ela na primeira série. Era uma mulher mais velha —
completou, sorrindo.
No transcorrer da noite, ficou claro que Catherine escolhera a filha da amiga para ser
sua enteada e que a moça também estava interessada em Rory. Shannon foi sentindo-se
intimidada e, finalmente, as duas mulheres dominaram a conversa. Ela permaneceu em
silêncio.
Às nove horas, levantou-se.
— Se me dão licença... Não, não precisa se levantar. Posso fazer isso sozinha. —
Ela olhou para Rory.
— Vou levá-la para casa — ele disse com firmeza. Mas enquanto ele pegou o casaco
e despediu-se da visita, Shannon saiu pela porta de trás.
Agarrando o cabo porque a noite estava muito escura, ela correu para casa,
desejando ficar sozinha com suas emoções. Estava quase chorando, por nenhuma razão
que pudesse determinar. Tudo lhe parecia confuso.
— Shannon — ele a chamou, assim que ela pôs os pés na varanda.
Sem olhar para trás, ela entrou em casa e fechou a porta como se, fazendo isso,
pudesse se esconder dele.
Quando ele bateu na porta, Shannon deu um passo para trás.
Rory entrou, fechou a porta e trancou-a.
Shannon tirou o casaco e as botas.
— Eu... Ahn... Estou cansada.
— O que está pensando? — ele perguntou, ignorando a tentativa dela de ficar
sozinha.
Tirou a jaqueta, que jogou sobre o casaco dela.
— Nada. Tive uma bela noite. — Ela fez uma pausa. — Sua amiga é muito atraente
e...
— Não tem nada a ver comigo. Não há nada que minha madrasta ou qualquer outra
pessoa possa dizer para me fazer questionar o que sinto por você. Entendeu?
Shannon meneou a cabeça, confirmando.
— Catherine decidiu que é a mãe perfeita e que eu sou um enteado ingrato. Declarou
que está pensando nos meus interesses. Eu discordo. Na realidade, disse-lhe que não me
importo com a opinião dela. Sou cortês com ela por causa do meu pai, mas é o único
relacionamento que podemos ter. E devo isso a você.
— A mim?
— Agora minha madrasta entende que estou apaixonado por minha noiva e que só
há lugar para uma mulher no meu coração.
— Você lhe disse isso?
Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
— Sim.
— E quanto à sua convidada?
— Uma vez que ela estava presente quando eu disse tudo isso a Catherine, creio
que também entendeu. Na realidade isso não tem importância alguma.
De repente, os dois estavam muito perto. Shannon deu um passo e encostou-se ao
balcão da cozinha, olhando confusa para seu noivo. Os olhos dele, aqueles lindos olhos
azuis, enviavam-lhe mensagens, mas ela não tinha certeza se as estava entendendo bem.
Engoliu em seco, odiando a incerteza que crescia dentro do seu peito juntamente
com a sensação de que o mundo, além do lugar onde se encontravam, desaparecera.
— Você é a mulher mais difícil de interpretar que eu já conheci — ele reclamou. —
Quero saber de você e dos seus sentimentos. Dê-me uma pista, senhorita policial. Preciso
desesperadamente de respostas.
— O que está querendo dizer?
Rory se inclinou sobre ela, os lábios perigosamente próximos.
Shannon queria jogar seus braços ao redor dele, abraçá-lo com força e exigir que
ele a amasse...
Inclinou a cabeça para frente, apoiando-a no peito musculoso, para que ele não
conseguisse ler o que devia estar evidente no seu olhar.
— Você acha que poderia continuar com esse noivado? — Rory sussurrou em um
tom que enviou ondas de desejo até ela.
Shannon olhou-o fixamente, e duas lágrimas brotaram dos seus olhos e escorreram
pelo seu rosto. Ele as enxugou com os dedos.
— Dê-me uma chance de fazer com que você se apaixone por mim.
Shannon parecia não poder respirar e sentiu uma espécie de vertigem.
Depois de um segundo, ele afastou-se um pouco, com um sorriso resignado.
— Não quer, não é mesmo?
Pegou a jaqueta enquanto ela permanecia parada, incapaz de se mover.
— É irônico, não é? — Rory continuou. — Encontro a mulher dos meus sonhos e
não sou capaz de conquistá-la. Como se costuma dizer: são coisas da vida.
Ele chegou à porta, mas ela agarrou-o pelo braço.
— Que mulher? — Shannon perguntou de repente, conseguindo respirar novamente.
— Que sonho? O que está dizendo?
Rory olhou da mão para o rosto de Shannon e estudou-a durante alguns segundos.
— Esta mulher.
Ele tocou seu queixo com um dedo.
— Este sonho.
Tomou-lhe uma das mãos e a colocou sobre seu peito.
— Por favor, seja específico — Shannon murmurou.
— Está bem.
Apoiou as duas mãos sobre os ombros dela e a puxou para perto.
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)
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ela acrescentou.
Rory sorriu para ela.
— Podemos fazer isso — ele lhe assegurou.
— Sejamos sempre honestos um com o outro a respeito de nossos sentimentos e
do que precisamos, mesmo que às vezes isso possa parecer difícil e penoso.
— Sempre — ele jurou. — Você sabe, eu nunca quis ter compromissos antes. Agora
acho isso fácil, mas só porque é com você. Quero lhe dar a lua, as estrelas e tudo que você
quiser.
— Isso também é fácil. É você que eu quero. Você, duas crianças e um cachorro.
— Dois gatos e alguns bezerros.
—E um campeão olímpico — ela acrescentou, lembrando-se do sonho dele. —
Diretamente dos estábulos famosos de Windraven.
Beijaram-se e perceberam que queriam mais.
— Você... — Shannon sussurrou. — Eu o quero agora.
Rory a abraçou, deitando-a no sofá, seus corações batendo como se fossem apenas
um.
— Você me tem, senhorita policial. Apaixonei-me desde o dia em que a vi conduzindo
um bando de crianças na rua.
Ela piscou.
— Mas aquilo foi antes do Natal.
— Sim. Não sei por que demorei tanto a descobrir. Você sempre esteve perto de
mim.
Shannon não pôde evitar uma risada.
— Que sorte eu ter sido baleada e você ter me encontrado, hein?
— Sim, foi sorte.
Por um segundo, Shannon imaginou um futuro sem poder enxergar e nem isso a
assustava mais. Tinha Rory ao seu lado.
Suspirou e ergueu o rosto para que ele a beijasse.
Às vezes deve-se aceitar as coisas pela fé, mesmo sem entendê-las. Como a atração
entre homem e mulher, como o amor.
— Eu a amo — ele murmurou. — Nunca duvide disso.
— Não duvidarei. Eu o amo. Nunca se esqueça.
— Nunca — ele disse. — E isso é um compromisso.
Shannon percebeu que esse amor era verdadeiro.
Era um amor seguro porque era mútuo. Com esse homem, ela encontrara o paraíso
e um porto seguro.
— Meu amor — ela sussurrou.
E os dois riram felizes e apaixonados, agradecidos pela dádiva que haviam recebido
de Deus.
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