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Teu Sorriso Sedutor

(When I See Your Face)

Laurie Paige

3º livro da Série Windraven Legacy


UMA VIDA SALVA...
Rory Daniels era o charmoso vizinho que tornava a escuridão mais suportável... O
estranho sensual cujos beijos ardentes faziam Shannon Bannock lembrar-se de como
desejara ardentemente ter um marido e uma família... Antes de ficar temporariamente cega
e perder seus sonhos...

UM CORAÇÃO ROUBADO...
Rory sabia que se conseguisse fazer a bela e teimosa Shannon confiar nele, apesar
do drama que estava vivendo, poderia ensinar-lhe muito mais do que simplesmente ir à
caixa de correio e voltar. Ele poderia mostrar-lhe o "para sempre"...

Digitalização: Polyana

Revisão: Simone Ribeiro


Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Copyright © 2001 by Olivia M. Hall

Originalmente publicado em 2001 pela Silhouette Books,

divisão da Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob

qualquer forma.

Esta edição é publicada através de contrato com a

Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá.

Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas

registradas da Harlequin Enterprises B.V.

Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas

terá sido mera coincidência.

Título original: When I See Your Face

Tradução: Dorothy Sobhie

Editora e Publisher: Janice Florido

Editora: Fernanda Cardoso

Editoras de Arte: Ana Suely Dobón, Mônica Maldonado

Paginação: Dany Editora Ltda.

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Rua Paes Leme, 524 - IO2 andar CEP 05424-010 - São Paulo - Brasil

Copyright para a língua portuguesa: 2002 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Impressão e Acabamento R.R. Donnelley América Latina

Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

CAPÍTULO I

Shannon Bannock acenou para as crianças que estavam no carro alegórico,


preparando-se para o desfile que aconteceria dentro em pouco. De pé, na interseção das
ruas, ela dirigia o trânsito e o desviava da rua principal de Wind River, Wyoming, onde o
Desfile das Luzes acontecia todos os anos, no domingo que antecedia o Natal.
Como policial, normalmente lidava com assuntos próprios do departamento de
polícia mas, nessa época do ano, todos os oficiais ficavam à disposição para ajudarem
onde era necessário.
Notando um grupo de crianças e um adulto aproximando-se da esquina, ela
rapidamente tirou as barreiras de madeira e ajudou as crianças e seu responsável a
atravessarem a rua e se dirigirem a um bom lugar para assistirem ao desfile.
— Feliz Natal — disse à filha de oito anos de uma amiga íntima.
Por um segundo ficou maravilhada pelo fato de que uma de suas melhores amigas
da faculdade já tivesse uma filha dessa idade. No próximo ano seria o décimo aniversário
de formatura da classe.
De todos os seus colegas, ela era a única que não havia se casado. Seus amigos
diziam que ela cuidava de todos, mas tinha medo de comprometer-se. Não era verdade.
Simplesmente não queria meter os pés pelas mãos.
Esperava encontrar alguém que achasse muito interessante... e havia conhecido o
novo advogado da cidade.
— Olá, senhora policial — uma voz de barítono a chamou.
Olhando sobre os ombros, ela viu brilhantes olhos azuis e um rosto que, de acordo
Marilee, do salão de beleza, merecia um monumento de todas as mulheres a um verdadeiro
espécime de beleza masculina. Rory Daniels o devastador de corações local.
Ele era um respeitado veterinário e se conheciam desde criança. Era cinco ou seis
anos mais velho do que ela e por isso não fazia parte do seu grupo de amigos. Vestia uma
jaqueta que realçava a cor dos seus olhos, seus cabelos caíam sobre a testa
displicentemente, e ela teve de admitir que ele era o homem mais bonito da cidade.
O fato de ele a irritar não diminuía o impacto causado por sua beleza.
Eles haviam discutido, em uma reunião da cidade, sobre o projeto que envolvia
policiais femininas. Ele achava que as policiais não deveriam ficar nas ruas, devendo fazer
apenas serviço interno. E ela achava que, assim, a capacidade das mulheres não era
utilizada em todo seu potencial.
Na opinião de Shannon, ele era teimoso e arrogante... De um modo charmoso. Riu
a esse pensamento. Ele era, com certeza, um homem que virava a cabeça de qualquer
mulher.
Mas não a dela, que tinha sua vida planejada e não pretendia se envolver com um
amigo da infância.
— Há alguma possibilidade de eu atravessar? — ele perguntou.
Vendo que o desfile já havia começado, Shannon meneou a cabeça negativamente.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sinto muito. A não ser que seja uma emergência.


Ele desceu da caminhonete e parou ao lado dela.
— Na verdade, não. Há uma égua para dar cria, e a família pediu para eu passar lá,
mas não é urgente.
— O desfile terminará em vinte minutos. Você pode também dirigir até a rua debaixo
e pegar a auto-estrada.
— Esperarei.
Ele pôs as mãos nos bolsos de trás e ali ficou, com as pernas afastadas, como um
homem que estivesse suportando o peso dos caprichos da vida. Quando ele sorriu para
algumas crianças que faziam parte da banda que liderava o desfile, Shannon notou o olhar
de admiração nos olhos delas.
Na verdade, seu nome era freqüentemente mencionado no jornal a respeito de
seminários que ele proferia nas escolas locais sobre animais de estimação e gado. Também
ajudava as crianças a organizarem a feira do município.
Com o cenho franzido, teve que admitir que isso não combinava com a opinião que
ela formara sobre ele: um arrogante conquistador de corações.
— Ei, oficial Bannock! Olhe para mim! Olhe para mim! Estou no desfile!
Shannon riu e acenou para a criança excitada que participava do desfile vestida com
uma roupa enfeitada por plumas.
Era uma noite muito fria, de acordo com o termômetro da farmácia da esquina.
Nuvens de tempestade cobriam o vale e os picos ao redor dele. De acordo com a previsão
do tempo a neve começaria a cair a qualquer momento.
— Essa é uma noite para chinelos e chocolate quente — Rory disse
inesperadamente.
Concordando, ela encontrou o olhar dele. Os olhos de Rory tinham linhas ao redor e
não eram olhos de um homem arrogante. Eram olhos fascinantes, que convidavam à
paixão, ao mistério e prazeres proibidos.
Surpresa por essa súbita fantasia, Shannon quase rompeu em risos.
Mantenha os pés no chão, avisou-lhe seu coração, que havia disparado por alguma
tola razão.
Shannon voltou aos seus deveres. Ele era um homem muito bonito, mas, e daí?
Quanto mais bonito, pior, como dizia sua velha tia.
E ela sabia disso por experiência própria. Seus pais haviam se divorciado quando
ela tinha dez anos. Sua mãe e ela haviam ficado em Wind River, perto da família, enquanto
seu pai fora embora para tentar encontrar a si mesmo. Durante anos, Shannon e ele apenas
haviam trocado cartões de Natal.
Não, ela definitivamente não se sentia atraída por tipos como aquele.
Um homem e uma mulher deveriam construir um futuro seguro para seus filhos. Isso
era a mais importante na vida para ela.
Meneando a cabeça, teve vontade de saber por que esses pensamentos haviam
surgido.
Era Natal e, por alguma razão estranha, o belo exemplar de homem ao lado dela,
assistia ao desfile com um sorriso nos lábios.

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Shannon percebeu que uma pessoa solteira e atraente como Rory Daniels era um
tipo estranho no meio de todas as famílias que assistiam aos eventos da cidade.
Acenando para as pessoas que participavam do desfile, ela sentiu uma espécie de
solidão, que atribuiu ao clima do Natal. Todos sentiam isso. Era comum nessa época.
Pensar em Brad Sennet, o advogado com quem saíra no último mês não a consolou.
Brad era inteligente, dedicado ao trabalho e interessante, entretanto não fazia seu coração
disparar e se enternecer.
Mas... E daí?
Amizade, segurança e respeito, essas eram as qualidades que ela queria em um
relacionamento, não o delírio, a perda de razão por uma paixão e muito menos á emoção
de um rosto bonito.
— Que tal aquela xícara de chocolate? — ele perguntou, apontando o café, onde
pequenas luzes piscavam na penumbra do crepúsculo.
Uma das professoras, outra amiga íntima, ouviu o convite e ergueu as sobrancelhas
como querendo lhe dar um sinal.
Shannon evitou sorrir. Um impulso a forçava a aceitar o convite. Isso logicamente
acarretaria fofocas na cidade. Entretanto, havia Brad. Precisava pensar nele. Não tinha o
hábito de brincar com o sentimento alheio.
— Obrigada, mas ainda estou em serviço.
— É verdade, também tenho o que fazer. Feliz Natal.
— Feliz Natal.
A curiosidade a fez olhar para ele quando subia na caminhonete. Seu coração estava
um pouco acelerado, o que a surpreendeu.
Talvez houvesse se precipitado ao recusar o chocolate com o conquistador de
corações da cidade. Talvez esse houvesse sido um ponto no destino de uma pessoa que,
se deixado escapar, nunca mais se repetiria.
Talvez deixara escapar o momento que a conduziria a uma grande paixão.
Dessa vez não riu e tratou de bloquear sua fértil imaginação.
O carro de bombeiros saiu, sinalizando o fim do desfile. Shannon acenou para os
bombeiros, removeu as placas de sinalização e as pôs na viatura, levando-as para a
garagem, pensando no encontro com Rory Daniels.
Seus olhos azuis e o sorriso maravilhoso faziam dele uma pessoa especial. Gostaria
de saber por que sempre o considerara arrogante e distante. Não fora assim que lhe
parecera essa noite.
Deixando esses pensamentos de lado, Shannon terminou de redigir um relatório e
disse boa-noite ao responsável em serviço. Ia para a fazenda da família, onde seu avô e
duas primas a esperavam.
Observando o combustível, percebeu que seria melhor parar em um posto de
gasolina. Seria muita estupidez ficar sem combustível em uma estrada vicinal às nove e
meia da noite, dois dias antes do Natal.
Entrou em um posto e viu, contrariada que a máquina de cartão de crédito não estava
funcionando. Teria que entrar na loja de conveniência do posto para pagar pela gasolina.
Erguendo a gola do casaco, para se abrigar melhor do frio e do vento que soprava

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por todo o vale vindo das montanhas do oeste, Shannon entrou na loja. Flocos de neve
começaram a cair naquele exato momento.
Droga! Teria que dirigir cinco quilômetros em uma estrada coberta de gelo.
Empurrou a porta, tirou os óculos com a mão enluvada e dirigiu-se ao balcão,
segurando o cartão de crédito.
Só então percebeu duas coisas: o homem atrás do balcão parecia apavorado, e o
que estava à frente dele segurava um revólver apontado para ele. Shannon reagiu
instintivamente e levou a mão ao revólver que trazia consigo.
Abaixando-se para um lado, deixou cair o cartão de crédito e puxou a arma nove
milímetros automática do coldre.
— Polícia! — ela gritou. — Mãos para cima!
O homem praguejou.
O segundo seguinte passou como se estivesse em câmara lenta. Ela viu o brilho do
revólver e percebeu que o homem estava atirando nela. Ninguém atirara nela em vinte e
sete anos. Estava mais ultrajada do que apavorada. Havia sido treinada na academia de
polícia para reagir a situações como essas.
Atirou-se para trás de uma fileira de pães e massas e esperou pela reação do
bandido.
— Largue a arma e levante os braços.
O homem respondeu com outro tiro.
— Charley, abaixe-se! — Shannon gritou ao dono da loja.
Quando ele abaixou-se atrás do balcão, ela teve uma visão melhor da loja e puxou
o gatilho.
O ladrão gritou e uma mancha vermelha apareceu no seu ombro esquerdo. Ele girou
e caiu sobre o balcão. Fez-se um repentino silêncio.
Shannon cautelosamente saiu de detrás da prateleira de pão.
— Jogue a arma no chão. Ponha as mãos atrás da cabeça e não se vire — ela
ordenou, surpresa com a calma da sua voz, considerando que seu coração batia
furiosamente. Nunca atirara em um homem antes.
O homem se endireitou vagarosamente.
— Cuidado! — o dono da loja gritou, o rosto pálido aparecendo atrás da caixa
registradora.
Uma explosão de luz a cegou e um barulho alto suplantou todos os outros sons. Uma
névoa rosada tomou conta do ambiente e seu último pensamento foi que não queria morrer.
Tinha trabalho a fazer, um futuro planejado...

Rory Daniels desligou o telefone celular e resmungou. Seu pai e sua madrasta
sempre o visitavam em janeiro, depois de passarem o Natal com a mãe dela, em Phoenix.
Sentia-se contrariado, mas, é claro, não disse nada. Como um bom filho, disse que
os esperava para as festas.
Sua madrasta era uma mulher que procurava ascensão social. Tentara seduzí-lo no
verão em que ele completara catorze anos e já era suficientemente alto para parecer um

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homem adulto. Esse fato o tinha deixado confuso, mas isso havia acontecido dezoito anos
atrás.
Levara algum tempo para perceber que mulheres de todas as idades sentiam-se
atraídas pela sua aparência, seu dinheiro e seu nome de família, um dos mais tradicionais
da cidade.
Para não magoar o pai, aprendera a manter distância da madrasta durante os anos
de convivência com ela e o pai, que era louco pela esposa.
Os anos em que cursara a faculdade tinham sido um alívio em comparação com a
vida no lar. Mas aprendera uma outra lição enquanto estivera lá.
Depois de se apaixonar por uma colega e pensar que ela também estava
apaixonada, Rory a ouvira contar a uma amiga que os cabelos pretos e os olhos azuis dele
faziam um par perfeito com seus cabelos loiros e olhos azuis e que eles formavam o par
mais bonito da faculdade. E que, com ele como parceiro, facilmente seria eleita a rainha do
Natal.
Suas palavras o tinham deixado furioso naquela época, mas agora superara tudo
isso e conseguira pôr a garota e a madrasta para fora da sua mente.
Fatigado e bocejando, entrou na caminhonete aquecida, pensando em tomar um
banho quente e ir para a cama. Tinha feito um parto muito difícil nas últimas três horas.
A égua era pequena demais para o tamanho do potro, mas conseguira salvar os
dois, ansioso por alegrar a garota de dez anos de idade que tudo observava. A garota lhe
dera um forte abraço quando ele terminara o parto.
Se pudesse encontrar uma mulher que olhasse para ele com admiração não pela
sua aparência, mas pelas suas qualidades, além do dinheiro e nome, casar-se-ia no mesmo
instante.
Até essa data, com trinta e dois anos, não encontrara ninguém.
Sabia bem o que queria: uma mulher meiga, inteligente e leal, tranqüila e gentil.
Também teria que ser uma boa mãe. Queria filhos, pelo menos três. Talvez uma
bibliotecária ou uma professora fossem adequadas.
A imagem de Shannon Bannock lhe veio à mente. Lembrou-se do sorriso dela
quando lidava com crianças ajudando-as a atravessar a rua e o modo como as crianças a
chamavam durante o desfile. Como policial, era muito competente. Era também uma mulher
forte e independente, mas não era propriamente a mulher dos seus sonhos. Por que então
a convidara para ir com ele ao café?
Certamente devido a um impulso, nascido de uma ilógica atração.
A maneira como ela olhava para um homem, como se julgasse seus pensamentos e
suas ações eram um desafio que qualquer homem com sangue nas veias não poderia
ignorar. Além de tudo isso era uma mulher muito bonita.
Olhando para o marcador de gasolina, viu que tinha menos de um quarto de tanque.
Seria bom encher o tanque para o caso de ter algum chamado de emergência nos feriados
de Natal. O dia seguinte seria véspera de Natal, e todo o comércio fecharia às cinco da
tarde para que seus proprietários pudessem ir para casa festejar com suas famílias. Nada
estaria aberto no dia de Natal.
Parou no posto de gasolina e abasteceu o carro. Ao pegar o cartão de crédito
percebeu a placa de "não funciona" pendurada na bomba.

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— Droga... — resmungou, dirigindo-se para a loja. — Mas o que é isso? — foram


suas palavras ao entrar na loja.
Parecia uma cena de filme de terror: corpos caídos sobre poças de sangue e
completo silêncio.
Ele sentiu um cheiro salgado e metálico entrando pelas suas narinas e sentiu
também cheiro de pólvora no ar.
Guardou a carteira e abaixou-se para examinar o primeiro corpo caído no chão.
Shannon Bannock, a policial em que estivera pensando minutos atrás estava deitada
de bruços, a cabeça virada de lado, o revólver em uma das mãos e os óculos na outra. Sua
expressão era serena como se estivesse dormindo.
Havia uma poça de sangue embaixo da cabeça dela. Não viu nenhum outro
ferimento.
Ela abriu os olhos enquanto ele a examinava.
— Eu sabia... que você viria — ela balbuciou e desmaiou novamente.
— Sim... — Rory disse enquanto procurava outros ferimentos.
Ele recentemente comprara um pedaço de terra vizinho à fazenda do avô de
Shannon. Provavelmente era para onde ela se dirigia quando parou no posto de gasolina.
Aliviado por ela não estar morta, Rory examinou rapidamente os outros dois corpos que
também estavam respirando. Depois de chamar a emergência pelo 911, pegou a maleta
médica da caminhonete e começou a prestar os primeiros socorros.
A policial era a mais seriamente ferida. Parecia que a bala entrara pela têmpora e
saíra pela mandíbula. Rory pensou o que uma bala daquelas poderia fazer no cérebro de
uma pessoa.
Algumas horas antes, essa mesma mulher dirigia o trânsito com eficiência e
confiança.
Olhou para a porta de vidro pensando por que motivo a ambulância demorava tanto.

CAPÍTULO II

Shannon acordou completamente desorientada. Pôs uma das mãos sobre os olhos
e descobriu que estavam cobertos por ataduras. Alguém segurou sua mão.
— Cuidado com as ataduras — disse uma de suas primas, preocupada.
— Kate?
— Sim. Megan e eu estamos com você.
— O que aconteceu? Onde estou?
Falar era difícil e doloroso, como se ela não usasse a voz há muito tempo.
Percebeu que as ataduras cobriam sua mandíbula e parte do pescoço e circundavam
sua cabeça.

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Por que seus olhos estavam cobertos?


Sentiu tontura, náuseas e medo, uma sensação que parecia familiar demais, embora
não pudesse se recordar de ter passado por isso anteriormente. Segurou a mão de Kate,
percebendo que estava terrivelmente fraca e frágil.
— Você está em um hospital. Teve sorte. Um cirurgião de Denver estava esquiando
com a família em uma estação de esqui e veio ao hospital quando ouviu as notícias...
— Que notícias?
— Que você fora alvejada por um tiro — Megan disse do outro lado da cama. -—
Não se lembra?
— Não. Espere... Sim — Shannon se esforçou para lembrar. — Lembro-me de que
ia a algum lugar... Sim, havia um homem armado. Ele atirou em mim. Isso realmente
aconteceu? Parece mais um pesadelo do que realidade.
— Você reviveu isso várias vezes durante o coma.
— Eu estive em coma?
Houve uma pequena pausa, e Shannon imaginou as duas primas olhando uma para
a outra, pensando em uma resposta.
— Durante quanto tempo estive em coma?
— Uma semana — disse Kate com delicadeza, mas firme, como se tudo estivesse
sob controle.
— Os médicos induziram o coma para dar tempo ao seu corpo de se recuperar. Você
ficou muito agitada depois do incidente.
Shannon tentava compreender mas era difícil, e ela lutava contra a vontade de voltar
para o lugar sereno e nublado onde estivera durante uma semana.
Concentrou-se, e a cena do incidente voltou à sua memória.
— O posto de gasolina... — ela murmurou. — Ele escapou?
— Quem?
— O ladrão. Eu surpreendi um assalto e tive de enfrentá-lo. Ele estava armado, atirou
em mim e... Oh! — Ela levou a mão novamente às ataduras. — Ele me atingiu... na cabeça?
— Shannon...
A hesitação na voz de Kate deixou Shannon nervosa.
— O que é? O que aconteceu comigo? Eu estou... Eu estou... Meus olhos? Há
alguma coisa errada com meus olhos? Por que estão cobertos?
Kate apertou a mão dela novamente.
— A bala entrou pela têmpora e saiu pela mandíbula, mas o osso não foi quebrado.
Você teve sorte.
Sorte? Levar um tiro na cabeça era ter sorte?
Shannon quase riu com a ironia da declaração, mas estava sentindo muita dor. Com
cautela, explorou a região coberta pelas ataduras.
— Meus olhos?
— Os médicos não sabem — Meg apressou-se a dizer. — Um olho foi afetado, mas

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o outro...
— Qual dos olhos? Qual?
— O olho esquerdo pode estar permanentemente afetado. A bala passou perto do
nervo ótico.
— Não posso perder a visão. Tenho planos. Meu curso de aperfeiçoamento, o futuro,
tudo...
Shannon pretendia ser PhD em Psicologia. Seu sonho era ajudar famílias a superar
problemas.
— Não... — Ela gemeu com a mão sobre as ataduras. — Não... Eu tenho que
enxergar... Tenho que enxergar.
Ela ouviu outra voz no quarto.
— Mantenham as mãos dela quietas — a pessoa disse.
Pequenos gritos acompanharam a voz como se a mulher estivesse carregando
camundongos dentro dos bolsos. Shannon lutava com as mãos que a seguravam.
— Ela ficará bem — suas primas falaram.
Aquelas palavras eram mentiras. Eram apenas para acalmá-la.
— Vocês não entendem... — Shannon murmurou. Estava tendo problemas para se
expressar, mas tinha que explicar, tinha que fazê-las entender...
Estava perturbada demais, e de repente os sons começaram a diminuir de
intensidade. Lutava contra a escuridão e percebeu que estavam lhe aplicando um sedativo.
— Não... — disse com a voz enfraquecida. — Eu preciso saber, descobrir... Oh, por
favor, não...
Shannon percebeu que estava implorando da mesma maneira que implorara
enquanto seu pai fazia as malas para ir embora. Também naquele dia seu pedido não fora
atendido. As lágrimas desceram pelo seu rosto, e tudo caiu novamente na escuridão.
Shannon acordou imersa na escuridão que a envolvia. O quarto, que de alguma
maneira ela sabia não ser o dela, cheirava a anti-séptico e a flores. Uma estranha
combinação. Tentou escutar algo, cada nervo alerta e tenso, mas o quarto parecia vazio.
O suave som de metal contra metal e o zumbido de um motor a alarmaram, mas de
repente lembrou-se de que estava em um hospital.
O piso fora limpo e polido na parte da manhã. Tinha sido esse o som que escutara.
Então devia ser depois do meio-dia, mas antes do crepúsculo.
Estivera sonhando... sonhos escuros, inquietos e perturbadores. Neles, via o ladrão
novamente e sentia dor outra vez.
Então alguém... um ser etéreo e frio e uma luz brilhante que não deixava que ela
visse quem era, aproximara-se e erguera-a, tentando subtraí-la da dor e da agonia que se
apoderara dela. Aquele ser a levara ao paraíso com seus braços fortes, porém de toque
delicado. Instintivamente, soube quem era. Era o anjo que a salvara.
Fora um sonho tolo. Nenhum anjo viera salvá-la. Era uma ilusão, conseqüência do
tiro que havia levado...
Shannon virou a cabeça e pôs as mãos sobre as ataduras que cobriam sua cabeça
e metade do seu rosto. Pressionou a têmpora esquerda e encontrou um ponto dolorido.

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Também encontrou um lugar ferido abaixo da mandíbula.


Sentia dor para mover a boca, para falar e comer. Ingerir os líquidos que davam a
ela também era difícil, mas não era tão ruim como no dia anterior e talvez o dia seguinte
fosse ainda melhor. Tentou sorrir. Também doía.
Deduziu que o Natal e o Dia de Ano-Novo já deviam ter passado. Era essa a primeira
vez que pensava com clareza, sem as drogas que haviam lhe ministrado durante todo o
tempo.
Ouvia todos os sons com perfeição.
Durante o dia, escutara passos e tentara adivinhar de quem eram. Percebera quando
Megan e Kate chegaram antes mesmo que elas falassem. E também a enfermeira, que
estava sempre alegre.
Os sapatos dela faziam um barulho esquisito quando ela andava ou se virava.
Não tinha mais camundongos nos bolsos. Shannon gostara daquela imagem.
Tinha aberto seus presentes de Natal no dia anterior, e suas primas tiveram que
descrevê-los para ela. Fingira felicidade para que elas não se preocupassem com seu
estado de espírito.
Ainda não sabia o que realmente acontecera, e tentava, à noite, verificar se seus
olhos abriam, mas as ataduras não permitiam. Talvez estivesse acordando de um pesadelo.
Tudo era negro. Dia e noite não faziam nenhuma diferença no mundo em que estava
encapsulada.
Sentiu medo e ondas de náuseas e lutou para manter o auto controle.
O oftalmologista falara que seu caso devia ser enfrentado com otimismo, embora
houvesse cinqüenta por cento de probabilidade de ela ficar cega não só de um olho, mas
dos dois.
Dissera também que o olho direito podia estar perfeito como sempre fora ou poderia
ter períodos de cegueira e gradualmente ir adquirindo a visão e que isso poderia acontecer
também com o olho ferido.
Portanto, não tinha nada a temer a não ser o próprio medo. Alguém muito importante
dissera essas palavras. Teria sido o presidente Roosevelt?
Sentiu-se aliviada por ao menos lembrar de fatos, dos nomes das pessoas, o que
aprendera na escola e incidentes do passado. Durante as visitas das primas, Shannon as
testava para que elas tivessem certeza de que sua memória estava perfeita.
Perder a consciência era uma coisa terrível.
Ninguém podia entender realmente o que isso significava. Um cérebro danificado era
mais terrível do que a cegueira. Felizmente sua mente parecia perfeita.
Fazia uma semana e dois dias que ela fora atingida pelo tiro. Se realmente perdesse
a visão...
Tentou imaginar, tentou ver-se lutando, tateando no escuro para poder mover-se
auxiliada por uma bengala. A escuridão era total, e ela poderia ser um fardo e dependente
dos outros pelo resto de sua vida.
Mas era cedo demais para pensar nisso, haviam assegurado os médicos. Havia
cinqüenta por cento de chance. Não era uma perspectiva ruim para alguém que levara um
tiro na cabeça.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e a molhar as ataduras. Ela as


enxugou. Chorar de nada adiantaria.
Ouvindo uma voz masculina no corredor, Shannon pensou por onde andaria Brad
que ainda não a visitara e nem telefonara.
Que homem em sã consciência iria querer ligar sua vida a uma mulher que corria o
risco de ficar cega? A parte cínica de Shannon assoprou isso no seu ouvido. Um homem
que realmente a ame. Foi a resposta.
Romântica inveterada, sempre acreditara que um casal que realmente se amasse
superaria qualquer tragédia, mesmo que isso exigisse força e dedicação de ambos.
Se ela e Brad estivessem casados, superariam uma crise como essa?
Talvez. Se eles se amassem.
Amor era a palavra chave.
Imaginara que isso seria possível com Brad, mas agora não tinha tanta certeza.
A expectativa transformou-se em uma névoa, como os sonhos que se vão quando
nasce a manhã.
Shannon foi tomada por uma sensação de vazio e uma profunda nostalgia. Sempre
esperara por um grande amor. Sem amor, a vida seria vazia.
Respirando com cuidado, como se o mais leve movimento pudesse parti-la ao meio,
ela pensou no seu anjo da guarda, o único que a havia confortado e aliviado seu medo. Ele
não era real, mas isso não a impedia de recorrer a ele. Talvez um dia encontrasse um
homem que seria como seu anjo da guarda.
Reconfortada no mundo escuro em que vivia agora, Shannon finalmente adormeceu
mais uma vez.

Rory parou na porta do quarto 212. Olhou para o maço de flores que trouxera.
Pareciam desnecessárias agora, depois que havia conversado com a prima de Shannon
no estacionamento e fora informado que Shannon não podia enxergar. Seus olhos estavam
vendados por ataduras. Os médicos ainda não sabiam a extensão do ferimento, e ela corria
o risco de ficar cega.
Rory a imaginou no uniforme de policial, indo e vindo pelas ruas com agilidade,
orientando as crianças no trânsito, com carinho e simpatia. O quadro seguinte era Shannon
caída no chão em cima de uma poça de sangue. Esse quadro lhe parecia irreal.
Entrou no quarto e percebeu que outras pessoas também haviam lhe enviado flores.
Vasos e cestas estavam pelo chão, lotando o quarto de cores alegres que lembravam a
primavera.
A paciente dormia.
Ele pôs o vaso de flores no peitoril da janela e parou perto da cama, estudando o
rosto de Shannon. Embaixo das ataduras que cobriam sua cabeça como um turbante, ele
pôde ver ferimentos por todo o lado esquerdo da face. A parte visível estava muito pálida,
com exceção dos lábios, rosados.
Sua boca era muito bem desenhada e sensual a ponto de fazer com que ele tivesse
vontade de beijá-la. Por alguma razão que ele não sabia identificar tivera a mesma vontade
na noite do desfile.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Franzindo as sobrancelhas, Rory se afastou da cama. Pretendia evitar experiências


com mulheres atraentes.
Percebeu, de repente, que havia alguma coisa diferente em Shannon que a tornava
particular. Talvez fosse por ela estar dormindo. Era natural que um homem a quisesse
despertar com um beijo.
Rory não pôde deixar de sorrir. Ele não era o Príncipe Encantado e não estava
vivendo um conto de fadas. Que pensamento infantil!
Shannon havia sido seriamente ferida e, se ele houvesse chegado alguns minutos
mais tarde, o resultado poderia ter sido muito diferente. A notícia causara uma comoção
local, embora não tivesse tido repercussão nacional.
As outras duas vítimas haviam deixado o hospital. O proprietário da loja de
conveniência não se lembrava do incidente e o freguês não conseguiu identificar o ladrão
que, segundo ele, usava luvas cirúrgicas e um capuz na cabeça.
Rory entrara na loja depois de Shannon e o proprietário terem sido alvejados pelo
meliante.
Não havia arma e nem digitais na cena do crime. Não havia nada que pudesse levar
ao bandido. Haviam sido detonadas seis balas, quatro do revólver do ladrão e duas do
revólver de Shannon. Se ela ficasse cega não seria capaz de identificar o ladrão, caso a
polícia o capturasse.
Rory não sabia se tudo que ouvira era verdade. Todas as informações haviam sido
dadas pelo jornal da cidade, em uma grande reportagem.
Parou de pensar ao ver que Shannon se mexia e murmurava. Embora apenas
cuidasse de animais, ele checou o pulso dela. Estava acelerado. Quando ela se tornou mais
agitada e começou a se debater como se estivesse tendo um pesadelo, ele tocou a
campainha para chamar a enfermeira e pediu que lhe fosse administrado um sedativo.
Enquanto a enfermeira hesitava, o sol saiu de detrás das nuvens e seus raios
atravessaram a janela, iluminando os cabelos de Shannon, esparramados sobre o
travesseiro. Fascinado, ficou admirando aqueles cabelos longos, avermelhados e
cacheados.
Rory enrolou uma mecha no seu dedo e ficou durante alguns instantes, admirando-
a.
— Lindos, não é mesmo? E a cor é natural. Pode-se perceber pela raiz — disse uma
enfermeira que entrou para verificar os sinais vitais da enferma e o nível de água da jarra
sobre a mesa-de-cabeceira. — Srta. Bannock, como se sente hoje? Quer se sentar um
pouco?
Rory se afastou para dar mais espaço para a enfermeira. Viu Shannon virar a cabeça
em direção do som da voz da enfermeira e tentou lembrar-se da cor dos seus olhos. Notou
a pequenez da mão de Shannon sobre o lençol.
Ela era uma mulher magra e alta, aproximadamente como sua prima Kate, que fora
sua colega de escola desde a época em que freqüentavam o jardim-de-infância até se
formarem na mesma universidade, embora estivesse um ano na frente dela. Depois do
segundo grau, ele fora para a faculdade, fazer o curso de Veterinária, e Kate casara-se.
— Você tem companhia hoje e não são suas primas, nem o xerife ou seus colegas
da polícia — a enfermeira disse para a paciente, em um tom de voz alegre demais para ser
real. — E um jovem bonito. — Ela olhou para Rory com admiração.

Projeto Revisoras
~ 13 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Olá... — ele falou, dando um passo na direção da cama, usando o mesmo tom
artificial da enfermeira. — Como está se sentindo?
— Bem — ela respondeu polidamente. — Ahn... Pode me dizer quem é você? Ainda
não sou boa com vozes, excetuando-se as de Kate e Meg.
— Rory Daniels. Desculpe-me, eu deveria ter dito logo de início.
— Tudo bem, Rory.
Por um segundo ela pareceu decepcionada, mas logo sorriu mostrando na face duas
covinhas que a faziam parecer mais jovem e mais sensual.
— É muita gentileza sua vir me visitar e... Feliz Ano-Novo.
Rory sentiu uma pontada no peito.
A enfermeira apertou um botão, e a cama ergueu-se vagarosamente fazendo a
paciente sentar-se.
Quando a cama parou, Shannon virou o rosto na direção de Rory como se pudesse
vê-lo.
— Tenho que lhe agradecer por ter salvo minha vida. O paramédico disse que você
pediu ajuda e controlou a perda de sangue até eles chegarem. Um bom samaritano, sem
dúvida.
Shannon parou de falar, e o sorriso desapareceu. Os lábios tremeram, e ela tentou
sorrir novamente. Rory acrescentou autocontrole à lista das qualidades de Shannon.
— Não foi nada. Não pense nisso se essa recordação lhe faz mal.
— Não, eu quero me lembrar. Você poderia me contar tudo o que viu?
Ele relembrou a cena na loja de conveniência enquanto a enfermeira tirava um
roupão e um par de chinelos do guarda-roupa.
— Por que você não a acompanha ao solário? Ela está cansada dessas quatro
paredes.
— Claro.
Rory pegou o braço de Shannon e a ajudou a descer da cama.
A enfermeira sorriu ao vê-los sair e se pôs a arrumar o quarto, seus sapatos fazendo
um barulho curioso sobre o piso.
— Essa é a primeira vez que saio do quarto desde que cheguei aqui. Estou um pouco
nervosa — Shannon admitiu, andando vagarosamente através do largo corredor.
— Eu também estou nervoso.
— Você? Por quê?
— Gostaria de beijá-la.
Ela parou abruptamente, virou a cabeça para ele e então gemeu e pôs a mão na
têmpora.
— Desculpe-me — ele murmurou, resistindo ao desejo de passar o braço pelos
ombros dela. — Não quis assustá-la. Eu devia ter me contido.
Shannon sorriu.
— Bem, agora que você tem toda a minha atenção, o que realmente queria dizer?

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~ 14 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ele riu aliviado pelo bom humor dela.


— Aqui estamos. Vire à esquerda — ele a orientou.
Os dois entraram em um aposento muito agradável, com várias janelas. O sol de
inverno brincava de esconde-esconde com tênues nuvens.
— Você se lembra como é o salão? — perguntou ele.
— Não muito. Creio que tem janelas e plantas.
Ele descreveu os vasos de plantas, o modo como a neve se depositara nos peitoris
das janelas e sobre os picos das montanhas que cercavam o vale.
— Eu lhe trouxe algumas flores, mas você já recebeu muitas delas. Há cestas e
vasos espalhados por todo o quarto. Deveríamos ter trazido algumas para cá.
— Boa idéia. Direi à enfermeira que faça isso.
Ele a fez sentar-se.
— Agora, conte-me o que viu ao entrar na loja de conveniência do posto de gasolina.
Primeiro, que tipo de veículos estavam parados do lado de fora?
— Foi isso que o marido de Kate perguntou — Rory a informou. — Ele queria saber
cada detalhe que eu pudesse me lembrar.
O primeiro casamento de Kate terminara em tragédia alguns anos atrás, e ela
recentemente se casara com um policial. Ele tinha um filho, e o casal estava adotando uma
garotinha. Quando os vira na cidade, Rory achara que eles formavam uma linda família.
Por um instante sentira uma estranha emoção, que pouco depois identificara como
inveja.
Realmente o Natal era uma época muito romântica.
Shannon meneou a cabeça.
— Jess está encarregado da investigação. Ele também me interrogou, além do
xerife. Comecei até a pensar ter sido eu a criminosa.
Ela fez uma careta que tornou as covinhas do seu rosto ainda mais profundas e
sensuais.
— Deixe-me ver. Havia o seu carro na bomba de gasolina na frente da minha
caminhonete — disse Rory, imaginando a cena novamente. — Outra caminhonete estava
parada ao lado do prédio, perto das mangueiras de água e ar. E acho que havia mais um
veículo perto da porta. Foi tudo o que vi.
— Não viu ninguém saindo do local quando você ligou?
— Não.
— Não percebeu sinais frescos de pneus na neve como se alguém houvesse
acabado de sair?
— Não. Naquele momento eu não pensava em observar sinais de um crime.
Pensava apenas em ir para casa dormir. Não notei nada até que entrei na loja e vi três
corpos caídos no chão.
— Eu disse ao xerife que não havia mais ninguém além do dono da loja, eu e o
ladrão. — Ela levou a mão às ataduras. — Mas ninguém acredita em mim.
Rory percebeu a frustração que ela sentia.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

A falta de evidência e o fato de o dono da loja não se lembrar de nada fez com que
o xerife deixasse o suspeito ir embora depois de ter recebido alta do hospital com um leve
ferimento causado por arma de fogo. Sem enxergar, Shannon não podia identificar o
homem.
Olhando para as grossas ataduras, Rory pensou no futuro dela.
Ser ferido no cumprimento do dever era um triste fim de carreira, e ele ficou
imaginando o que Shannon iria fazer agora. .
— Leve-me de volta para o meu quarto, por favor — ela disse repentinamente,
levantando-se com as mãos trêmulas e amparando-se nele.
Rory sentiu-se culpado, como se ela houvesse adivinhado seus pensamentos sobre
o futuro dela.
Pegou-a pelo braço e a levou de volta ao quarto.
Sua prima Kate esperava por eles. Vendo-a, Rory lembrou-se do outro motivo da sua
visita. Tirou um cartão de crédito e um par de óculos do bolso e os entregou a Kate.
— O cartão estava no chão e encontrei os óculos na mão dela — ele explicou.
Kate abraçou-o.
— Obrigada por ter salvado a vida de Shannon, minha segunda prima favorita.
Os dois trocaram um olhar de conspiração.
— Ei, pensei que eu fosse a favorita, e Megan, a segunda — Shannon protestou.
O tom alegre dela surpreendeu Rory. Estudou o sorriso da policial, que parecia
cômico vindo de uma pessoa com a cabeça toda enfaixada. Rory novamente experimentou
uma sensação estranha.
Olhando para o relógio, ele notou que era tempo de voltar ao consultório.
— O dever me chama — ele afirmou. — Foi bom vê-la novamente, Kate. Cuide-se
policial.
Ele sorriu para Kate e olhou mais uma vez para Shannon, achando difícil reconhecer
naquela mulher de mãos trêmulas e passos hesitantes, a competente policial que tinha o
mundo em suas mãos. Ela mudara quando percebera que Kate estava no quarto, tornando-
se alegre e brincalhona. Fingira, para não preocupar a prima.
Rory resmungou um palavrão. A vida podia ser muito cruel.
Shannon sentiu a preocupação de Rory, mas não aceitaria piedade de ninguém.
Mantendo o sorriso, ela agradeceu pelas flores e pela visita.
Depois que ele saiu, Shannon suspirou fundo. Ser sociável, especialmente com
Rory, não era confortável no momento. Além do mais, devia estar parecendo uma
sobrevivente de uma briga de fim de sábado.
A ironia de estar preocupada com a aparência a tocara quando ela voltava para a
cama, como se não houvesse nada mais com que se preocupar a não ser pentear os
cabelos e passar batom.
Depois de entregar o roupão a Kate e tirar os chinelos, deitou-se sobre os lençóis
frescos. Estava tão cansada quanto um peregrino retornando à casa depois de uma
perigosa viagem à Meca.
— Uau! — Kate. — Rory Daniels, o homem mais cobiçado da cidade. Que sorte a

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

sua!
Shannon sorriu.
— E... Seria uma boa fofoca, não é mesmo?
— Fiquei sabendo que ele viria visitá-la, quando fui ao banco. Ele comprou flores e
a irmã de Betty, que trabalha na floricultura, havia me contado. Suspeito que a essa hora
ela já tenha contado ao resto da cidade.
Shannon riu do absurdo da situação. Rory nunca notara que ela existia até o dia do
incidente na loja de conveniência.
— Correio... — disse a enfermeira alegremente, colocando uma nova pilha de cartas
no colo de Shannon. — Oh, que bom vê-la sorrindo. Anotarei isso na sua ficha. O doutor
ficará muito satisfeito. Essa manhã ele disse que se você continuar melhorando poderá ir
para casa.
O medo tomou conta de Shannon.
— Eu posso ir para casa?
— Para a casa-grande — Kate apressou-se em esclarecer. — Megan e vovô a estão
esperando. Você pode ficar lá até tirar as ataduras, e então decidirá o que irá fazer.
Depois dessa afirmação, seguiu-se um silêncio constrangedor.
— Até sabermos se estou cega ou não — Shannon disse o que todos estavam
pensando.
Sentiu-se fraca novamente ao imaginar que tinha sido alvejada por um ladrão
qualquer em uma loja de conveniência, como uma cena de filme de terceira categoria.
— Não, não, nada disso, nada de tristeza — disse a enfermeira. — Há chances de
você estar bem. E preciso ter fé.
Shannon ouvia o barulho dos sapatos da enfermeira sobre o piso enquanto ela
arrumava a bandeja do almoço sobre a mesa de rodinhas. Depois que ela saiu, Kate
murmurou aborrecida:
— E um Feliz Ano-Novo para você, também.
Shannon concordou.
— Sei que ela tem boas intenções, apesar de ser irritante. Mas eu gosto dos
camundongos nos seus bolsos.
— O quê?! Eu não notei! — Kate exclamou.
Shannon explicou.
Ela estava agradecida pelo humor de Kate e por ela permitir que ela comesse
sozinha, sem ajuda, embora tomar um milk shake com um camidinho não exigisse muita
habilidade.
Kate leu as mensagens dos cartões que Shannon recebera.
— Pode me dizer de quem são as flores? — ela pediu. — Rory disse que o quarto
está repleto delas.
Quando Kate leu o nome de Brad em um cartão preso a um vaso de rosas, Shannon
sentiu-se mais animada.
Ele devia estar muito ocupado com algum caso difícil ou talvez tivesse ido visitar a

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

família em St. Louis, embora nunca antes houvesse mencionado essa possibilidade.
Mas a realidade insistia em mostrar-lhe os fatos de outra maneira. Certas pessoas
não gostavam de ver indivíduos acidentados e feridos, e ela nem sabia como seria sua
aparência depois que estivesse curada.
Teria que enfrentar isso quando chegasse a hora. Mais tarde. Quando estivesse
sozinha e pudesse pensar.
— Pronto. Já li todas as mensagens e todos os cartões.
— Obrigada. — Shannon hesitou e disse: — Essa manhã, o médico disse que eu
deverei usar as ataduras durante duas semanas para que meus olhos descansem. Depois
disso então...
— Então saberemos — Kate completou.
— Sim.
— Megan e eu estaremos ao seu lado. Você sabe disso.
Shannon aquiesceu, sem coragem de encarar o futuro. E o medo tornou a tomar
conta dela.
Kate a manteve entretida com as novidades a respeito da nova filha adotiva,
Amanda, Mandy para a família, e Jeremy seu enteado.
Quando Kate mencionou Jess, seu marido havia três meses, seu tom de voz mudou,
tornando-se mais suave.
Enquanto ouvia Kate falar, Shannon pensou em Rory Daniels. Seria ele o anjo de
olhos azuis que salvara da escuridão ou ela criara essa imagem de vido à dor e ao delírio?
— Rory lhe disse que comprou a propriedade vizinha à nossa? — Kate perguntou,
ao levantar-se para ir embora.
— Não. Que lugar?
— A terra dos Mulholland.
Essa terra havia pertencido à mãe do primeiro marido de Kate, que crescera lá. Kris,
vários anos mais velho do que ela, era um veterano do Vietnã e sofria de problemas pós-
traumáticos. Em um momento estava bem e, no momento seguinte, ficava agitado e furioso
como um homem perdido na selva, com o inimigo se aproximando dele e de sua família. O
casamento terminara com o suicídio de Kris.
Kate merecia toda a felicidade que desfrutava agora.
— Rory vai morar na casa? — perguntou Shannon.
Estava curiosa, pois ele tinha comprado recentemente a cabana do antigo capataz
da Fazenda Windraven, na frente do rio que passava pela casa dos Mulholland, e a tinha
reformado e planejado mudar-se depois do Natal.
Subitamente, ela lembrou-se de que ia sair do seu apartamento da cidade depois do
Ano-Novo.
— Meu apartamento... — Shannon murmurou.
— Megan e eu terminamos de transferir suas coisas e fizemos a limpeza. Está tudo
em ordem, e seu carro já está na garagem. Desculpe não ter lhe dito antes, evitaria que se
preocupasse.
- Eu tinha me esquecido. Lembrei-me só agora.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Shannon levou a mão à cabeça.


Kate tocou-lhe o ombro e beijou-a no rosto.
— Sua mente está bem. Pare de se preocupar.
— Não estou preocupada com minha mente.
— Oh, querida! — Kate a abraçou com ternura, beijando-a novamente. — Só nos
resta esperar para saber os resultados. É difícil, eu sei, e você tem sido muito corajosa.
— Sim. Mas eu queria perguntar se mais alguém veio me visitar quando eu estava
inconsciente.
— Como um certo advogado novo da cidade? — Kate a provocou. — Não que eu
saiba, mas Jess disse que o xerife só permitiu visitas da família. E manteve um guarda na
sua porta durante vinte quatro horas por dia durante a semana em que você esteve em
coma.
— Acho que ele pensou que o ladrão poderia aparecer e acabar o serviço. —
Shannon tentou parecer despreocupada evitando pensar que apesar disso Rory a tinha
visitado.
Brad não podia ter encontrado um meio de visitá-la também?
Talvez. Se ele a amasse.
Havia muitas incógnitas na vida dela agora. Tinha que enfrentar a vida dia-a-dia. Mas
ficaria bem. Tinha certeza disso.

CAPÍTULO III

Shannon repetira sua história a todos que lhe telefonaram durante o resto do dia
como também no dia seguinte quando Gene Thompson, o xerife e seu patrão, vieram visitá-
la. Eles discutiram o caso.
— Não havia outro homem — ela disse. — O homem ferido era o ladrão.
Pelo silêncio que se seguiu, Shannon pôde perceber a impaciência do xerife diante
da sua teimosia.
— De acordo com a versão dele, havia outro homem, um freguês talvez, que entrou
na loja depois que você e o proprietário estavam inconscientes — Gene afirmou com
gentileza.
A altura e o porte do xerife lembravam a Shannon um grande urso. Mas sob aquela
aparência rude havia uma pessoa extremamente boa e carinhosa, que levava muito a sério
quando um dos seus assistentes era ferido.
— Eles lutaram e então o ladrão atirou nele e fugiu? — ela perguntou céptica.
— Sim.
Shannon ponderou a informação.
— Bem... — ela concluiu finalmente. — Espera que os buracos de bala mostrem que
o indivíduo que você soltou é o ladrão. Sei que atirei no ombro dele.
— Sim, também espero. Se não houver mais nenhuma evidência, o caso não poderá

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

ser solucionado.
Shannon bateu com a palma da mão sobre o braço da cadeira.
— Eu gostaria de ver o local, de examiná-lo... — Tarou de falar e ergueu os ombros
com impaciência, tentando controlar seu desespero.
— Não fique assim, querida — Gene disse com suavidade. — Você vai ficar bem.
Tudo tem solução.
— Será que tem mesmo?
— Tenho que acreditar nisso ou ficarei louco com a insanidade das pessoas que
atiraram em outras por causa de dinheiro. — Ele levantou-se. — Bem, preciso voltar ao
trabalho. Você vai para casa hoje?
— Sim, Megan virá me buscar assim que terminar o serviço. Ah, a enfermeira me
disse que você proibiu visitas que não fossem da família... E quanto a Rory Daniels?
Gene resmungou.
— Eu disse a todos que você só poderia receber visitas de Kate e Megan. Mas Rory
é um homem bonito, e as mulheres se derretem quando olham para ele. Isso deve ser muito
bom.
— Não sei não. Deve ser um inferno ter todas as mulheres apaixonadas por ele.
— Pode ser. Wind River pode não ser o paraíso — Gene disse, mudando
completamente de assunto.
— Mas ainda é um bom lugar para se viver. Não deixe esse incidente estragar sua
vida.
— Não deixarei — Shannon prometeu, pensando nas cartas, cartões e flores que
havia recebido.
Todas aquelas flores já haviam sido retiradas do quarto, que estava vazio para
receber o próximo paciente.
Shannon estava ansiosa por ir embora. Havia sido cansativo demais permanecer no
hospital por dez dias.
Ela manteve o sorriso até a última visita ir embora e depois se pôs a ponderar sobre
seu futuro. Dentro de nove dias as ataduras seriam removidas, e ela conheceria seu
destino.
Shannon ficou surpresa quando o médico e a enfermeira entraram no quarto,
algumas horas mais tarde.
— O que está acontecendo? — perguntou, alarmada com a inesperada visita.
— Vamos tirar as ataduras — respondeu o médico.
O coração de Shannon disparou.
— Agora?!
— Apenas as ataduras dos ferimentos, não as dos olhos. Não quero nenhum
estresse sobre eles nos próximos dias.
Quando as ataduras foram removidas, Shannon sentiu a cabeça esquisita.
Levou a mão para examinar os ferimentos e sentiu uma superfície áspera.
— Estou careca de um lado.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

O médico riu.
— Nem tanto — a enfermeira lhe assegurou.
Ela era uma pessoa eficiente que falava de um modo muito amigável. — Em poucas
semanas os cabelos curtos misturar-se-ão com os outros.
— Espero que sim.
Depois que eles saíram, Shannon achou a escova e escovou os cabelos. Queria
saber quando poderia tomar um banho. Devia estar horrível. Em um impulso, telefonou para
o salão de beleza.
Marilee disse que lavaria seus cabelos e os cortaria assim que ela pudesse ir ao
salão.
— Não se preocupe com os outros fregueses. Eles podem esperar.
Shannon sentiu-se melhor depois de desligar o telefone.
Amanhã... O mundo!
Riu ao perceber que estava prestes a chorar. Mas recusou-se a ser motivo de
preocupação para os outros, uma vez que o médico ainda não dissera nada de concreto.
Além disso, tudo iria ficar bem.
Quando Megan chegou, Shannon estava pronta para ir embora.
— Hum, o ar está fresco — Shannon disse.
Descobriu que poderia dizer onde estavam, usando os outros sentidos. Reconheceu
o ruído dos pneus sobre a velha ponte quando passaram sobre o riacho. Ouviu o mugido
das vacas de uma fazenda, e o cheiro dos cedros indicou que estavam perto de casa.
Quando chegaram, Shannon desceu ansiosamente da caminhonete e esperou pela
prima. Sentia-se vulnerável fora da segurança do hospital, mas agora queria liberdade sem
restrições e rotina.
— Nevou a noite passada, mas hoje o sol está brilhando — Megan afirmou. —
Espere por mim.
Apesar do sol, está muito frio hoje e essa noite será ainda mais fria.
Shannon esperou Megan pegar-lhe o braço e conduzi-la até a casa. Erguendo o
rosto para o sol, imaginou as montanhas, elegantes nos seus casacos feitos de neve.
Adorava as colinas e a sensação de acolhimento que sentia toda vez que voltava para a
fazenda. Suas raízes nesse solo eram profundas.
Com um aperto no coração, pensou que talvez nunca mais voltasse a ver aquela
paisagem. Sentiu uma onda de calor, como se alguém houvesse colocado um cobertor
sobre sua cabeça. Respirou profundamente e lutou para manter a compostura.
— Você pode carregar sua bagagem pessoal? Seu revólver está dentro da mochila.
Tenha cuidado, o chão está escorregadio.
Megan pôs uma mochila de plástico na mão de Shannon e a pegou pelo braço.
Shannon sentiu-se à beira do pânico. Caminhou sobre a neve até á porta lateral da
casa de dois andares, guiada pelo toque e pela voz da prima.
— Atenção, degraus. Suba... Isso, mais um. Deixe-me abrir a porta. Pronto. Vamos
entrar.
— Finalmente em casa! — Shannon exclamou, quando a porta se fechou atrás dela.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— E muito bom estar aqui. — Inalou o aroma de pinho e canela no ar. —Alguma coisa está
cheirando muito bem.
— Fiz chá de sidra antes de ir buscá-la. Kate mandou geléia de maçãs, e a sra.
Roddey, bolo de chocolate.
A sra. Roddey era a esposa do fazendeiro que arrendara a terra deles.
— Onde está vovô?
Shannon tirou as luvas e as colocou nos bolsos do casaco, que pendurou no
mancebo do vestíbulo, sem ajuda de ninguém.
— Foi descansar um pouco. Ele ficou muito perturbado com o que aconteceu a você.
Tem estado abatido.
— Talvez o Natal seja difícil para ele como é para muitas pessoas. Dá uma sensação
de solidão.
— Entre na sala de visitas enquanto eu acomodo a bagagem — Megan sugeriu.
Shannon tocou na porta com a mão direita e então, de memória, caminhou até a sala
de visitas, lugar onde a família se reunia.
O calor da lareira chegou até ela enquanto se sentava. Suspirou profundamente,
como se finalmente houvesse alcançado um porto seguro, depois de uma árdua viagem.
— Você se saiu muito bem — comentou uma voz masculina.
Shannon agarrou-se aos braços da cadeira.
— Brad?
— Desculpe desapontá-la — o homem disse com um tom de voz entre divertido e
sarcástico. — Rory Daniels. Vim examinar alguns dos pensionistas de Megan e aproveitei
para dar-lhe as boas-vindas.
— Oh, é verdade, o bom samaritano — ela repetiu, sorrindo. — Mais uma vez,
obrigada.
Ela percebeu que Rory devia estar na grande poltrona de couro onde seu avô
costumava sentar-se para contar, na véspera do Natal, histórias da Bíblia. Isso fora antes
do derrame que o deixara paralisado.
As coisas, o tempo e as pessoas mudam, e só os sábios conseguem aceitar esse
fato.
— Não agradeça. Como médico, dedico-me a curar qualquer tipo de animal que
cruze o meu caminho.
Seria impressão dela ou o tom de voz do veterinário não era tão caloroso com há
poucos segundos? Ela o teria ofendido, agradecendo sua ajuda?
— Isso é muito louvável — ela respondeu com o mesmo tom de voz que ele usara,
irritada, sem saber o motivo.
Houve um breve silêncio.
— Seus cabelos estão bonitos.
— Fui ao salão para cortá-los e lavá-los antes de vir para casa. Marilee disse que,
em poucos dias, eles estarão bem melhor.
— Já estão bonitos. É difícil perceber qual lado está mais curto.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Shannon não queria perguntar, mas havia uma coisa que queria saber. Achou que
ele lhe diria a verdade e arriscou:
— E quanto ao ferimento? Você pode ver onde a bala entrou ou... Alguma coisa
mais?
Odiava sua hesitação, como se tivesse medo de saber a verdade.
Esperou pela resposta.
Quando ele levantou-se da cadeira e se aproximou, ela sentiu seu hálito perfumado
perto do rosto. Sentiu um toque delicado pelo rosto até o queixo.
Ergueu a cabeça na direção onde julgava que ele estivesse e percebeu que ele
estava muito próximo. Sentiu a respiração dele antes de ouvir a resposta.
— A cicatriz da têmpora não será visível. Seus cabelos a cobrirão completamente
quando crescerem. Agora, sob o queixo...
Ela esperou, respirando com cuidado.
— Poderá ser notada se alguém procurar ou se estiver nesse nível e você inclinar a
cabeça. De outro modo não será notada. O cirurgião fez um excelente trabalho.
Shannon suspirou aliviada e tentou rir.
— Nada como ser tola — ela comentou.
— Todos são — Rory respondeu com suavidade —, até certo ponto. Ninguém gosta
de se sentir diferente dos outros.
O tom de voz dele era profundo e um pouco áspero. Shannon ficou surpresa e
perturbada.
Rory parecia divertido, cínico, mas também gentil e compreensivo. E tudo isso
realmente não condizia com a opinião que tinha sobre ele.
— Bem, essa é uma preocupação que você nunca teve.
— Você acha?
Shannon esticou a mão para tocar o rosto de Rory como se quisesse se certificar de
que se lembrava bem dele.
Começou a passar o dedo pelo rosto dele ate o queixo Ele tinha um perfil clássico,
a ossatura forte e máscula, o nariz reto, os lábios... Tentou dar uma definição para eles,
mas não conseguiu.
Os lábios dele eram quentes, firmes e macios. Quando se moveram levemente sob
o toque dela, um arrepio percorreu seu corpo.
Ela afastou-se, aturdida.
Seus toques haviam sido íntimos demais.
— Desculpe-me. Não sei o que me deu para tocá-lo dessa maneira.
Seu pulso foi agarrado, e Rory murmurou:
— Continue. Gosto de ser tocado por você.
Encorajada, correu o dedo pelo nariz dele, pelas sobrancelhas, testa e cabelos.
Shannon sabia que os cabelos de Rory eram pretos, como também os cílios e
sobrancelhas. Seus olhos eram de um azul-pálido inigualável. Era uma combinação

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

extremamente atraente.
Sua pele era lisa e estava fresca, como se ele houvesse acabado de tomar banho e
se barbeado. Imaginou como seria ser beijada por aquele homem.
— Você está bonito como sempre — ela afirmou, abandonando as mãos sobre o
colo, sentindo-se tola de um modo como não se sentia desde seu primeiro encontro de
amor.
Rory levantou-se e se afastou.
Shannon imaginou que ele se aproximara da lareira. Era estranho, mas sentiu que
alguma coisa o estava aborrecendo. Mas não conseguia imaginar o quê.
Rory era um homem que tinha beleza, dinheiro, respeito e a carreira que escolhera,
embora seu pai preferisse que ele fosse advogado.
Shannon pensou qual seria o motivo de Rory nunca ter se casado. De acordo com
as fofocas locais, namorara várias mulheres, mas nunca durante muito tempo.
Para que se unir a uma se podia ter tantas?
Ouvindo os passos de Megan, Shannon ficou contente por ele ter se afastado. A
prima presenciaria um quadro estranho, ela explorando o rosto dele como se nunca
houvesse visto um homem antes. E ele... Encorajando-a.
Bem, coisas estranhas aconteciam o tempo todo.
— Por que não fica para o jantar? — Megan perguntou a Rory, ao entrar na sala. —
Vovô adoraria ter um convidado para conversar, para variar. Ele e eu vagamos pela casa
como duas almas penadas. Estou muito contente por Shannon estar aqui. Ela pode nos
entreter contando os fatos excitantes que acontecem na sua profissão.
— Obrigado, eu gostaria. Imagino que Shannon tenha mesmo fatos muito
interessantes para contar — disse Rory.
— Bem, nada tão excitante quanto assalto à mão armada — ela respondeu bem-
humorada.
Megan e Rory riram das histórias, principalmente das coisas estranhas que as
pessoas costumavam fazer em situações inesperadas, como o homem que tirara a caixa
registradora de sua loja que estava incendiando e a colocou no capo do carro também em
chamas.
Para surpresa de Shannon o tempo passou rapidamente, e ela conseguiu até relaxar
ouvindo Rory narrar histórias sobre animais de estimação e seus donos.
Ouviu a tudo com muito interesse. Havia nuanças nas vozes das pessoas que ela
nunca percebera antes, como, por exemplo, o tom sensual de uma voz masculina de
barítono.
Um ruído veio do vestíbulo.
—Aí está vovô — Megan anunciou, levantando-se.
— Rory ficará para jantar conosco — ela disse ao velho senhor. — Eu lhe disse que
você ficaria contente em tê-lo como companhia.
Shannon sentiu o beijo do avô no rosto e ouviu-o cumprimentar Rory com um som
gutural e indistinto.
Rory tinha uma conversa agradável e animada. Relatou vários casos sobre os
fazendeiros do vale, todas pessoas muito conhecidas. Sempre fora uma pessoa educada,

Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

mesmo quando discutiam a respeito de problemas locais, mas agora Shannon percebia que
ele era também uma pessoa muito atenciosa.
Ele contou a respeito dos planos de criar uma raça de cavalo que pudesse ser
campeã olímpica.
— Estou sonhando alto — Rory admitiu, sorrindo
— Mas se é sonho tanto faz ser grande ou pequeno.
— Concordo — afirmou Megan.
— Qual é seu sonho? — Shannon perguntou. Ela e a prima, apenas um ano mais
nova, e sua melhor amiga, partilhavam tudo desde a adolescência. Mas, depois de adultas
já não discutiam tanto a respeito dos seus planos.
Megan riu.
— Quero cavalgar o cavalo campeão olímpico de Rory.
Shannon visualizou os dois trabalhando juntos em busca de um mesmo objetivo.
Provavelmente se apaixonariam e se casariam. E seus filhos seriam lindos...
A solidão tomou conta de si sem aviso prévio. Sentiu-se desolada e sozinha.
Ninguém iria querer casar-se com uma mulher cega.
Com esforço, conseguiu afastar esses pensamentos da cabeça, não queria sentir
autopiedade.
Pelo resto da noite, a conversa fluiu entre todos. O avô surpreendeu as duas primas
conseguindo fazer alguns comentários, o que era um bom progresso ao seu habitual
silêncio.
Ele usava cadeira de rodas havia dez anos e mal conseguia se comunicar. Mas
nunca chorara e nem se lastimara.
Naquele momento, Shannon fez um voto silencioso de encarar tudo que estava por
vir com coragem.
Depois do jantar, Rory insistiu em ajudar Megan a lavar a louça. Elas tinham uma
faxineira que vinha ocasionalmente, pois não possuíam recursos para manter uma
empregada em tempo integral.
A fazenda tinha um custo muito alto, e não dava muito lucro. Graças a Kate, a
fazenda não dava prejuízo, mas pouco tempo depois da morte de tio Sean, elas acharam
que acabariam por perdê-la.
Shannon estava preocupada em dar despesas extras, agora que ia morar ali durante
algum tempo. Precisava arranjar uma maneira de ganhar a vida. Outras pessoas haviam
conseguido. Por que ela não conseguiria?
Além do mais, poderia enxergar com o olho direito.
Tinha certeza disso.
Mas, se não viesse a enxergar, o que poderia fazer?
Enquanto a conversa prosseguia, ela se pôs a pensar no futuro. Uma psicóloga não
precisava enxergar. Poderia gravar as sessões e ditar observações. Seria mais difícil, mas
não impossível.
— Você não concorda, Shannon? — Megan perguntou.
— O quê? Desculpe-me. Eu estava distraída.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Escutou uma risada do seu lado direito e ouviu Rory dizer:


— Megan e eu estávamos discutindo uma possível sociedade. Achamos que é viável
combinarmos nossos esforços para criarmos cavalos de raça.
— Para produzir o campeão olímpico? — ela perguntou.
— Sim — ele respondeu, sem o mínimo embaraço em revelar seus sonhos para o
futuro.
Shannon pôs de lado suas próprias preocupações e considerou o fato.
Rory poderia ser bom para Megan. Sua prima passara muito tempo sozinha ou com
as crianças para as quais lecionava, como também com o avô.
— Parece uma boa idéia. Vocês dois entendem muito de cavalos e não precisarão
gastar dinheiro com veterinário.
Ao dizer isso, Shannon percebeu que seu tom de voz era um tanto agressivo.
Ele riu como se houvesse adorado a observação ácida de Shannon.
— Bem, então estamos combinados. Já temos a aprovação do departamento de
polícia.
Em um rasgo de memória, Shannon lembrou-se de uma voz. Uma voz profunda e
segura. Alguém, um homem, tinha-a examinado com tanta gentileza que ela quisera ver
seu rosto. Seu toque era frio sobre sua testa e têmporas em brasas. Abrira os olhos para
poder vê-lo, mas uma luz brilhante o envolvia como se fosse um halo, cegando-a.
— Amanhã o tempo deverá ser bom — Rory continuou. — Vamos cavalgar? A égua
que está com as pernas inflamadas precisa de exercício, e eu quero ver como ela se
comporta ao lado de outros animais.
Silêncio.
Shannon concluiu que Megan estava pensando a respeito. Subitamente, uma mão
segurou-lhe o pulso.
— Ei, está dormindo? — ele perguntou.
— Você está falando comigo?
— Sim. Sei que Megan quer ir. E você?
— Eu... Eu não sei. Não tinha pensado nisso.
— Você precisa sair um pouco — Rory disse decididamente. — Não se preocupe,
nós cuidaremos de você.
Shannon ouviu Megan suspirar.
— Rory — ela o admoestou. — Precisamos saber se Shannon não ficará com medo
ou talvez ela não confie em nós para cuidar dela.
— Cavalgo desde que comecei a andar. Nunca tive medo, especialmente se Megan
estiver comigo.
Essa afirmação deixaria claro que ela confiava na prima e não no homem bonito e
charmoso que as acompanharia.
— Ótimo. Estarei aqui por volta do meio-dia ou quando terminar meu serviço na
clínica. — Ele fez uma pausa. — Ela pode cavalgar?
— Bem, o médico não fez restrição alguma. Pelo menos não a mim — Megan

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

afirmou.
— Nem para mim. Não estou inválida.
O relógio sobre a lareira bateu dez horas. Shannon não percebera que já era tão
tarde. Estava fatigada. Tinha sido um longo e estressante dia.
— Vovô está pronto para ir para o quarto — Megan anunciou. — Farei um chocolate
para nós e logo estarei de volta.
Shannon beijou o rosto do avô quando ele parou a cadeira e deu uma palmadinha
no seu joelho.
— Boa noite, querida — murmurou o patriarca, a voz cheia de amor.
— Por que está triste? — Rory perguntou quando ficaram sozinhos.
— Eu estava pensando no meu avô. Ele sobreviveu à esposa e três filhos. Deve ter
se sentido muito só e depois sofreu um derrame que o confinou a uma cadeira de rodas.
Isso me parece injusto.
— Sim. Realmente é cruel. Mas ele está aí... E você também.
— Não tenho certeza se tenho a força dele.
— Mas eu tenho certeza de que você tem.
— Escute, a respeito do programa de amanhã — ela fez uma pausa, tentando
escolher as palavras para dizer o que estava pensando. — Você não tem que... Cuidar de
mim. Quero dizer, você não tem nenhuma obrigação para comigo.
— Nunca pensei que tivesse.
— O que estou tentando dizer é que... Bem, eu sei que você me encontrou e salvou
a minha vida, mas não tem que se sentir responsável por mim. Afinal de contas, não sou
sua paciente.
Ele emitiu um som estranho e caiu na risada.
— Está bem. Já entendi o que você quis dizer. Não me sinto responsável por você.
Fique tranqüila.
Ela o ouviu mover-se e sentiu uma carícia no rosto. Ficou imóvel, e seu coração
disparou como se lhe estivesse enviando um alarme.
— Você tem a boca mais desejável que já vi — Rory murmurou, como se estivesse
falando consigo mesmo.
Shannon riu.
— Percebeu isso de repente? Conhecemo-nos há tanto tempo.
— E, às vezes, é necessário um incidente para mudar os fatos ou para enxergarmos
coisas que antes não havíamos reparado.
Ele tocou-lhe a têmpora e o olho esquerdo.
Shannon suspirou ao sentir o calor do rosto de Rory perto dos seus lábios, incapaz
de acreditar no que estava para acontecer.
Atônita, não conseguiu se mover e novamente se perguntou: por que sempre o
julgara uma pessoa fria? Seu toque era quente como o sol e aquecia todo seu corpo.
Shannon estava confusa.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Não faça isso — ela sussurrou.


— Não posso evitar. Seus lábios são tentadores demais.
Rory beijou-a e passou as mãos nos cabelos macios. Shannon hesitou, mas retribuiu
o beijo, necessitada do seu toque e do seu calor.
— Não — ela insistiu, esforçando-se para se afastar dele.
— Foi apenas uma experiência — ele disse finalmente.
— Para provar o quê?
— Para verificar se era desejo ou necessidade.
— E o que foi?
— Ambos.
Quando Rory se afastou, ela sentiu-se aliviada e decepcionada também.
— Megan está vindo — ela disse, ouvindo os passos da prima no vestíbulo.
— Salva na hora "H"... — ele murmurou.
O aroma do chocolate quente precedeu Megan.
— Está realmente frio essa noite — ela disse. — Você poderia aquecer sua
caminhonete antes de entrar nela para ir embora.
— Não há necessidade. Moro perto e o chocolate me aquecerá.
Shannon sentiu o rosto quente. Havia nuanças no tom de voz de Rory, que a fizeram
pensar que ele se referia a alguma coisa além do chocolate.
Quando ele terminou e se preparou para ir embora, Shannon também se levantou.
— Acho que vou para a cama. Ficarei no meu quarto habitual?
— Sim. Precisa de ajuda? Kate me disse para deixá-la à vontade, para que você
tente fazer as coisas sozinha. Estou tentando não atrapalhar.
— Está se saindo muito bem — Shannon riu. — Posso ir para a cama sozinha, sim.
Já no seu quarto, depois de lavar-se e vestir um pijama de flanela, Shannon sentou-
se na cama, tensa demais para dormir.
A cama já estava arrumada, e Shannon sentiu que a luz estava acesa.
Apagou a desnecessária luz, pegou o telefone na mesa-de-cabeceira e depois de
uma breve hesitação, vagarosamente discou um número.
Preparava-se para desligar quando uma voz masculina atendeu.
— Alô? — Brad disse em um tom de voz irritado.
— Quem é? — alguém perguntou ao lado dele. Era uma voz feminina.
Shannon desligou e ficou imóvel, sentada na cama, naquela noite fria de inverno.
Queria acreditar que discara o número errado, mas sabia que não devia se iludir.
Brad poderia ter telefonado para saber como ela estava e casualmente lhe dizer que
encontrara uma velha amiga para informá-la de que havia outro alguém em sua vida.
Imersa na escuridão, ficou sentada durante um longo tempo, refletindo. Logo
constatou que o namoro entre ela e Brad fora sem calor e sem amor.
Deitando-se, puxou as cobertas até o queixo e tentou pensar no futuro. Era

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

assustador ficar sozinha.


Suas primas a julgavam corajosa, mas ela não era. Apenas Rory parecia sentir seus
momentos de desespero. Isso a fez sorrir.
A lembrança do beijo dele a aqueceu, e ela passou os dedos sobre os lábios.
A escuridão pareceu diminuir, e Shannon sentiu-se confortada. Era uma sensação
estranha.

CAPÍTULO IV

Rory viu Shannon perto da cerca assim que chegou à fazenda, por volta do meio-
dia.
Megan estava treinando um jovem garanhão, cujo proprietário, em sua opinião, não
tinha competência para criar cavalos. O homem quase nunca estava na fazenda e era
totalmente inepto até para tratar de gado.
Depois de estacionar perto do estábulo, Rory pegou uma mochila que continha o
almoço.
Juntou-se a Shannon, perto da cerca.
— Bom dia. É Rory, não é?
Seu sorriso era brilhante embora parecesse um pouco insegura. Havia um leve
tremor em suas mãos enquanto ela brincava com o zíper da jaqueta. Seu coração estava
acelerado, fato que estava se tornando familiar toda vez que Rory estava por perto.
— Sim. Como percebeu?
— Primeiro pela sua caminhonete. Acho que reconheci o barulho do motor. Depois
seus passos. Você tem passadas largas. Sei que Megan está no estábulo, portanto você
era o primeiro suspeito.
Ele sorriu.
— Fala como um verdadeiro policial. Está pronta para uma cavalgada até o lago?
Shannon inclinou a cabeça.
— Não tenho certeza. Como vou saber onde está o cavalo?
Rory suspirou. Ela estava particularmente bonita, os raios de sol incidiam sobre seus
cabelos ruivos, que caíam em ondas graciosas sobre os ombros. Teve vontade de tocá-los.
— Pegue a rédea e dê um puxão — ele sugeriu. — Ele lhe indicará a posição.
— Não posso ter vantagem com um cavalo. O chute dele é mais forte do que o meu
— ela respondeu, rindo.
— Não vou deixar que tenha problemas — Rory prometeu. — Olá, Meg, está pronta?
Megan negou.
— Tinseltown Johnny está agitado. Não devemos confiar nele. Você e Shannon
podem ir. Vou selar seus cavalos. Eles estão do outro lado do estábulo.
— Você vai perder um ótimo almoço. Trouxe alguns sanduíches de carne assada.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

O jovem garanhão relinchava e erguia as patas dianteiras. Seis meses de


treinamento não poderiam ser realizados em apenas seis semanas. O ricaço não
conseguiria cavalgá-lo, embora o garanhão tivesse boa conformação e fosse de excelente
estirpe.
— Você está pronta? — Rory perguntou a Shannon.
— Talvez devêssemos ir outro dia — ela sugeriu.
Rory percebeu que ela estava realmente nervosa e, nessa manhã, particularmente
agitada. Muito mais que na noite anterior. Teria sido por causa do beijo?
— Não se preocupe. Não vou atacá-la sem aviso prévio — ele brincou.
Olhando para ela, encostada na cerca, Rory desejou beijá-la novamente.
Precisava conter sua libido. Esse não era um encontro amoroso.
— Vamos. Nada de discussões.
Rory conduziu Shannon pela cintura e ficou surpreso ao constatar como era fina.
Novamente, como no hospital, sentiu que ela estava muito vulnerável. Ficou confuso e a
ergueu, dominando o desejo de segurá-la de encontro ao peito.
Inadvertidamente, ela bateu a mão no nariz dele.
— Oh, desculpe-me. Eu o machuquei?
— Não foi culpa sua. Eu devia tê-la avisado em vez de ficar olhando para você
encantado.
Shannon olhou como se pudesse vê-lo através das ataduras.
— Você é estranho — falou com severidade.
— Se você soubesse como são sensuais essas vendas nos olhos, não diria isso.
Beijar uma mulher policial é tão excitante quanto beijar uma mulher pirata.
— E mesmo? Mas é melhor que se comporte ou eu o algemarei a um poste e o
abandonarei.
— Tentarei. Minha palavra é meu tesouro, madame, assim não vou prometer nada
que não tenha certeza de poder cumprir.
Depois de uma pausa, ela riu para demonstrar que não o estava levando a sério.
Do outro lado do estábulo, encontraram um cavalo malhado e uma égua, ambos
selados, prontos para serem montados.
— Vou erguê-la, mas, por favor, não vá me socar o nariz novamente.
— Tentarei me controlar.
Dessa vez, a risada de Shannon soou mais natural. Talvez tivesse decidido confiar
nele.
Quando estavam a caminho, ela na égua que convalescia da perna, Rory percebeu
que a cabeça de Shannon estava inclinada para um lado, como se tentasse escutar alguma
coisa.
— Estamos cavalgando para o sul em direção ao lago — ele lhe informou. — Acho
que ficaremos ensopados de suor debaixo desse sol.
— E não há vento — ela completou. — Isso é bom. É maravilhoso poder estar em
contato com a natureza novamente.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Shannon parou de sorrir e ficou pensativa, e ele a deixou imersa nos seus
pensamentos.
Talvez estivesse pensando que ele brincara ao dizer que estava encantado com ela,
mas não era brincadeira. Sua libido funcionava de um modo curioso quando se aproximava
dela. Desde muito jovem, Rory mantinha estrita disciplina nos seus relacionamentos com o
sexo oposto. Adultos deveriam ser capazes de controlar seus instintos mais básicos,
especialmente quando esses instintos o empurravam na direção de uma pessoa que não
era inteiramente interessante.
Rory estudou sua companheira.
— Você cavalga bem e senta-se de uma maneira muito natural — Rory a elogiou.
— Estou um pouco tensa. Tenho medo que o cavalo faça algum movimento para o
qual eu não esteja preparada.
— Não é cavalo, é égua. Você nunca foi jogada de um cavalo?
— Oh, já, e é a lembrança desse tombo que me torna cautelosa. Uma vez Megan
me pediu para praticar corrida de obstáculos com ela para que o cavalo dela se
acostumasse a pular e a conviver com multidões. Meu cavalo parou diante de um obstáculo,
e eu fui arremessada.
As covinhas do rosto delicado apareceram quando ela sorriu, e Rory sentiu-se
invadido por um forte calor, como se tivesse tomado um bom gole de uísque.
Olhando para baixo, ficou contente por ela não poder ver como ele estava excitado.
Se visse pensaria duas ou três vezes antes de sair para cavalgar sozinha com ele.
Na verdade, desde que se mudara para um consultório maior e comprara a fazenda
perto dali, ele não tinha tido tempo de pensar no sexo oposto. Portanto, sua reação o
surpreendeu.
— Estamos chegando ao portão — ele avisou ao chegaram ao final do pasto. — Vou
abri-lo e deixá-la passar para que então eu possa fechá-lo. Vamos fazer um piquenique
perto do lago.
— Ele não está congelado?
— Ainda não. Mas logo estará todo congelado se o frio continuar como tem estado
recentemente.
— Nós costumávamos patinar aqui. Kate, Megan e tia Bunny me ensinaram. Era
muito divertido.
— Bunny era a mãe de Megan, não era?
— Sim.
Shannon parecia triste enquanto ele abria e fechava o portão para eles. Sua tia se
afogara em um acidente de barco. Em silêncio, foram até a beira da água.
Havia um quiosque com uma mesa de piquenique perto do lago, e eles se dirigiram
para lá.
— Aqui estamos nós.
Ele apeou e amarrou a rédea do cavalo a uma ripa do quiosque.
Shannon desmontou antes que ele pudesse ajudá-la. Tateou, encontrou o quiosque
e também amarrou sua montaria.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

—Você fez isso muito bem — ele disse com alegria.


— Lembro-me bem desse lugar. Nós vínhamos aqui com freqüência quando éramos
crianças. Era o nosso forte, nosso teatro, palco e barco. Megan e eu costumávamos
encenar espetáculos terríveis. Dançávamos e cantávamos nossas próprias canções. Kate
era nossa espectadora.
— Eu gostaria de ter participado disso. Talvez você cante para mim depois do
almoço.
— Nem pensar. Eu emitia sons piores do que um sapo com um bicho na boca. Em
nossa família é Megan quem sabe cantar. Provavelmente ela o faria se estivesse aqui.
— Eu não sabia disso. — Ele a guiou até a mesa.
— Três degraus. Vou gelar nossas bebidas.
Ele fez dois montes de neve e pôs duas latas de soda para gelar. Em seguida pôs
os sanduíches e as batatinhas sobre a mesa.
— Hum, os sanduíches têm picles. Adoro.
— Como sabe?
— Pelo cheiro — Shannon desembrulhou os sanduíches. — Sabe que é verdade
que quando falta um dos sentidos os outros se desenvolvem? Acho que a concentração é
maior. Desde o acidente eu ouço com mais acuidade e sinto mais os aromas.
— Eu também — ele murmurou, pensando nela.
— Identifico muitas pessoas pelos seus movimentos e pelos passos, coisa que eu
não percebia antes. Pergunto-me se isso perdurará depois que tirarem as vendas dos meus
olhos.
Quando eu enxergar novamente, era o pensamento não verbalizado.
— O que fará se não conseguir enxergar? — Rory perguntou.
Os lábios de Shannon tremeram, e ela os cerrou. Rory sentiu uma grande
necessidade de apertá-la em seus braços para fazer mais do que simplesmente confortá-
la.
— Bem... — ela começou a falar insegura. — Espero começar minha tese.
— Tese?
— Sobre aconselhamento familiar. Preciso fazer um trabalho para conseguir o título
de PhD em Psicologia. Já tenho todas as anotações em ordem. — Ela fez uma pausa. —
Supondo-se que as pessoas queiram se consultar comigo — ela sorriu timidamente.
— Você precisará de alguém para ler suas anotações. Poderia contratar uma
adolescente por um preço razoável, para trabalhar no período da tarde. Adolescentes
adoram ganhar um dinheiro extra, especialmente se o trabalho for fácil.
— Sim. É uma boa idéia, se eu precisar de ajuda. Há uma chance de cinqüenta por
cento de... De que eu possa enxergar.
— Sim, foi o que Kate me disse.
Eles comeram em silêncio durante alguns minutos.
Rory notou que ela limpava a boca com freqüência. Talvez o sanduíche de carne
assada não houvesse sido uma boa idéia na situação dela. Mas Shannon estava se saindo
bem.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Sua admiração por ela cresceu. Esse sentimento não era novo para ele, que
respeitara muito sua mãe. E também respeitava Kate e Megan agora que as conhecia. E
algumas outras mulheres que o tratavam como uma pessoa em vez de um troféu.
Mesmo que Shannon ficasse cega, ela conseguiria fazer o que queria. As três primas
eram mulheres determinadas, mas Shannon tinha alguma coisa a mais. Um chama interna
muito forte.
Seus olhos eram azuis, ele fitou-os de repente. Com um leve tom acinzentado.
Sensuais.
Rory terminou sua soda e seu sanduíche e embrulhou os restos para jogar fora.
Precisava fazer algum exercício que o desviasse desses pensamentos.
— Que tal darmos um passeio pelo lago?
— Boa idéia. — Shannon levantou-se e esperou.
Ele a pegou pela mão e começou a caminhar. Entretanto dessa vez, esqueceu-se
de avisá-la sobre os degraus. Quando Shannon se desequilibrou, ele saltou e a agarrou
antes que ela caísse, segurando-a nos braços.
Assustada, Shannon agarrou-se às lapelas da jaqueta dele.
— Desculpe-me — ela murmurou.
— Foi culpa minha.
Rory não a soltou. Shannon estava dois degraus acima dele, as bocas no mesmo
nível. Tudo que precisava fazer era aproximar-se mais um pouco.
Sua consciência o advertiu para que não continuasse, mas ele não obedeceu.
Abaixando a cabeça, Rory a beijou. Os lábios de Shannon tremeram sob os dele que
intensificou o beijo, sendo correspondido. Era um desafio que ele não poderia ignorar.
Com a língua, desenhou os contornos dos lábios dela suavemente.
— Você tem lábios sensuais, suaves e muito femininos.
— Eu...
Mas ele não deixou que ela continuasse a frase, beijando-a mais intensamente.
Introduziu a língua dentro da boca de Shannon, e provou seu gosto incrivelmente doce.
Ela respirou profundamente, procurando estabilidade, pois estava trêmula e confusa.
O cheiro de Rory era como um bálsamo, mistura de loção após barba, cavalos e
couro, que a fez lembrar do ar frio de inverno e do brilho da neve sob os raios de sol.
Voltando no tempo, Shannon lembrou-se da última vez que se sentira assim. Fora
em alguma ocasião depois do tiro quando ela não enxergava nada e alguém a tinha tocado
com as mãos tão frias que acalmara a terrível dor que sentia na cabeça. Quando abrira os
olhos, vira apenas o brilho forte de uma luz envolvendo um homem, e caíra novamente na
escuridão. Vira também alguma coisa azul, profundamente azul.
Sentiu-se tomada de alegria. Ela conhecia esse toque. Era seu anjo da guarda. Era
Rory! Suspirando, aninhou-se nos braços dele. Necessitava do seu abraço. Pelo menos
com ele, estava salva.
Shannon passou os braços ao redor do pescoço de Rory e gemeu de prazer.
A imagem de uma casa e uma cama confortável invadiram a mente dele. Chocado
por pensar em ir para a cama apenas por causa de um beijo, tentou se controlar e afastou-

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

se.
Shannon franziu as sobrancelhas em protesto. Ela não queria parar, ainda não. Era
tão maravilhoso e tão suave, diferente de todos os beijos que trocara até então. Querendo
mais, ela puxou as lapelas da jaqueta de couro dele e beijou-o.
Com um suave gemido, ele retribuiu o abraço. Sua boca tornou-se mais exigente
sobre os lábios dela. Encostando-se nele, Shannon percebeu a forte evidência do desejo
dele. Sentiu-se invadida por uma onda de prazer. Não se imaginava uma mulher tão
sensual.
— Eu quero... — ela não sabia como dizer.
— Eu sei — ele murmurou.
Ele também estava dominado pelo desejo e pela paixão. E isso o deixou
maravilhado.
— Eu também quero — ele completou. — Mais do imaginei ser possível.
Shannon sentiu-se acariciada nas costas, nos cabelos e no pescoço, pelos dedos
nus de Rory. Ela também tirou uma das luvas e acariciou rosto másculo.
— Mas... Por quê? — ela perguntou confusa.
Ele beijou-lhe a têmpora e a orelha.
— Loucura — ele sussurrou. — Senti isso desde o momento em que a vi na rua.
Ela segurou-lhe a cabeça com as mãos sobre suas orelhas para aquecê-las.
— Você deveria usar um chapéu — Shannon disse ternamente.
— Odeio chapéus.
Ele abriu a jaqueta para que ela sentisse mais o seu calor.
Apesar do desejo, Rory novamente teve a impressão de que ela era muito frágil e
vulnerável, principalmente naquele momento.
Com esforço, acalmou-se e afastou-se com o cenho ligeiramente tenso. Ela o puxou
para mais perto. Rory apoiou o rosto nos cabelos dela e simplesmente a abraçou.
Shannon afastou-se e murmurou:
— Desculpe-me... Não sei o que me deu.
Ele sorriu. Era a primeira mulher que lhe pedia desculpas por desejá-lo.
— O mesmo que deu em mim. Acho que existe algo forte entre nós.
O tom de voz com que Rory pronunciou essas palavras deu a entender a Shannon
que ele decidira que isso não iria mais acontecer.
Ficaram juntos durante mais alguns momentos, como se fossem os únicos
sobreviventes de um terrível combate.
— E melhor darmos aquele passeio à beira do lago — ela disse sorrindo e pensando
que Rory, certamente, não queria envolver-se com ela.
E Shannon não queria se envolver com ninguém. Não nesse momento, em que não
sabia o que o futuro lhe reservava.
Suspirando, encarou os fatos. Nenhum homem no seu juízo perfeito iria querer
partilhar sua vida com uma mulher cega. Por um momento, perdida nos braços daquele

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

homem, esquecera-se disso, mas agora estava bem consciente.


— Certo — Rory concordou. — Não costumo abordar mulheres sem aviso prévio.
Desculpe-me.
— Você sempre avisa? Mesmo depois de uma paquera? — Shannon perguntou,
rindo.
Seu sorriso, seu humor e sua coragem fizeram com que Rory quisesse beijá-la
novamente. Ele franziu as sobrancelhas, bravo consigo mesmo. Ela estava totalmente aos
seus cuidados e completamente indefesa, embora parecesse não ter se dado conta.
Que tipo de homem tiraria vantagens de uma mulher nessa situação?, pensou Rory.

— Você está quieta — disse Megan no jantar.


Shannon colocou o garfo sobre o prato lentamente.
— Acho que estou cansada. Creio que todo aquele ar fresco e o frio de uma tarde
de inverno me cansaram.
— Ou a excitação de estar com Rory — Megan a provocou.
— Oh, bem, pode ser...
Shannon engoliu em seco para tentar desmanchar a bola que parecia haver se
formado na sua garganta. Tentara toda a tarde explicar o episódio entre os dois à beira do
lago e, toda vez que se lembrava dos beijos, sentia-se dominada pelo desejo.
Ainda mais estranho era o desejo que ele sentira por ela.
Desejo de um homem que era cobiçado por todas as mulheres da cidade, um homem
que poderia ter a mulher que quisesse.
Será que sentia pena dela?
E ela? Teria reagido incitada pela gratidão pelo homem que salvara sua vida?
— Como se comportou a égua? — Megan perguntou depois de um minuto.
— Bem. Rory lhe dará detalhes mais precisos.
— Queria falar com ele, mas ele tirou as selas dos cavalos, levou-os para o pasto e
se foi antes que eu tivesse chance de falar com ele. Devia estar atrasado para as consultas
da tarde.
— Provavelmente — Shannon concordou e disse ao avô: — Vamos ouvir o CD do
"Fantasma da Ópera" essa noite? Se me lembro bem é um dos seus favoritos.
— E seu também — Megan disse. — Vocês dois vão para a sala de visitas, eu porei
o CD e lavarei a louça.
— Posso ajudá-la.
— Não seja tola. O médico disse para você descansar por mais alguns dias.
O médico recomendara repouso de oito dias lembrava-se Shannon, pondo a mão
sobre as ataduras. Um arrepio lhe percorreu a espinha, e ela foi dominada pelo medo de
enfrentar o que estava por vir.
Segurando-se na cadeira de rodas do avô, ela o empurrou para a sala de visitas.
Megan já havia acendido o fogo da lareira, e o ambiente estava bem aquecido.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Megan pensa em tudo — ela observou. — E Kate também.


— Você também — assegurou-lhe o avô no tom gutural tão diferente da voz
masculina e poderosa da qual ela se lembrava.
Voltando à infância, Shannon pensou na voz do avô que ela achava parecida com a
voz de Deus ou bem próxima disso.
Sorriu ao lembrar-se das fantasias da infância. Tanta coisa mudara desde aqueles
dias que ela considerava perfeitos. Com exceção do terceiro ano escolar. A professora era
uma bruxa até que seu pai foi falar com ela. A partir daí ela passou a ser agradável até o
final do ano. Então viera o quarto ano. O ano em que seu pai se fora. Reviveu a decepção
e a tristeza daquela época. Seria bom que ela se lembrasse disso quando Rory viesse vê-
la novamente.
— Fale-me da sua infância — ela pediu ao avô. — Você voava como o vento ao
cavalgar? Mamãe dizia que você era o melhor cavaleiro da fazenda e que os animais se
acalmavam a um simples toque seu... — A expressão de Shannon era sonhadora.
— Isso foi há muito tempo — ele disse com palavras vagarosas e hesitantes, como
se tivesse que pensar antes de proferir cada palavra.
Talvez ele não quisesse lembrar-se daqueles dias, quando era jovem e livre, quando
podia cavalgar pelas terras que amava. Shannon sentiu muita pena do avô. A vida podia
ser cruel.
Mais tarde, quando o velho foi para a cama e ela e Megan estavam sozinhas,
Shannon disse:
— Às vezes me pergunto por que vovô não se casou de novo depois da morte de
vovó. Ele ainda era novo. Quantos anos ele tinha, quarenta e cinco ou quarenta e seis?
— Quarenta e seis. Talvez por ainda estar apaixonado pela esposa de Sunny Herriot.
Shannon ouviu Megan pôr mais lenha na lareira.
— Nunca acreditei nisso. Vovó era uma pessoa maravilhosa. Por que ele iria querer
outra mulher?
Megan sentou-se na poltrona de couro antes de responder.
— Eu ouvi alguém falar sobre isso depois do enterro do meu pai. Perdera seu
primeiro amor para Herriot, eles eram noivos, você sabe. Isso fez com que vovô os odiasse
para sempre, segundo a história.
— Que triste — Shannon murmurou, sentindo muita pena do avô.
Ele devia ter sofrido muito. Desde seu acidente, ela estava mais suscetível aos
sentimentos dos outros.
— Bem... Conte-me a respeito de seu passeio com Rory. Vocês ficaram fora durante
bastante tempo. Aonde foram?
— Fomos ao lago. Almoçamos no quiosque, lembra-se dele?
— Claro que me lembro, fazíamos nossos espetáculos lá — Megan disse, rindo.
— Nós achávamos que éramos artistas.
— Kate costumava sofrer assistindo e batendo palmas depois de cada canção.
— Às vezes ela se juntava a nós — Shannon lembrou-se, suspirando. — Era tão
idílico, não era?

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~ 36 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sim — Megan respondeu abruptamente. — Shannon, estou me lembrando...


— De quê? — Shannon permaneceu muito quieta para não perturbar as lembranças
da prima.
Megan não se lembrava de nada dos seus onze primeiros anos de vida. Perdera
totalmente a memória por ocasião da morte da mãe, no acidente de barco.
— Apenas que dançávamos e compúnhamos canções tolas. Gostaria de lembrar-
me de tudo. Mesmo que as recordações sejam tristes, é melhor saber.
Shannon tocou o braço da prima.
— Sim, sempre é melhor saber.
— Oh, Shannon, sinto muito. Não quis me referir...
— Aos meus ferimentos — Shannon completou. — Está tudo bem. Temos que
encarar a vida de frente. Não há outro modo.
— Você tem sido muito corajosa. Eu sempre penso que não me lembro de nada
anterior ao funeral da minha mãe por ser covarde ou por ter visto alguma coisa muito terrível
que não quero lembrar.
— Seu pai não maltratou tia Bunny — Shannon assegurou. — Ele era um homem
muito gentil.
Shannon sabia, que algumas pessoas diziam que tio Sean encontrara a esposa com
outro homem no barco, matara os dois e forjara um acidente.
— Ele e vovô discutiam muito naquele tempo. Papai não era gentil e disso eu me
lembro bem.
— Pais e filhos — Shannon falou, com se isso explicasse as discussões. — Eles
freqüentemente têm idéias diferentes.
E homens e mulheres, ela pensou mais tarde, já na sua cama, ouvindo o gemido do
vento.
O que Rory teria pensado ao beijá-la? E o pensara a respeito do beijo que ela
retribuíra?
A idéia de um caso entre os dois era ridícula. Meneou a cabeça, sentindo-se
desesperançada e presa ao seu destino.
Mais oito dias.
Seria o destino bondoso com ela?

CAPÍTULO V

— Mandy está gostando da pré-escola? — perguntou Shannon.


— Está adorando — Kate respondeu. — Ela acha que a escola existe apenas para
entretê-la. E boa em artes e trabalhos manuais. E Jess e Jeremy lhe ensinam o alfabeto e
a contar até cem, então ela se sente mais adiantada que seus colegas e tenta ensiná-los.
Shannon riu, deliciada com as peripécias da nova priminha, o que foi bom para
abaixar um pouco sua tensão. Evitava pensar no que estava por vir. Kate dirigia para o

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~ 37 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

consultório do médico. Logo as ataduras seriam retiradas.


Shannon suspirou, tentando se convencer de que deveria aceitar o destino. Mesmo
que não estivesse enxergando no presente, poderia readquirir a visão com o passar do
tempo.
E se isso não acontecesse? O que faria então?
Ainda poderia trabalhar e se sustentar. Saíra-se muito bem cuidando de si mesma
durante os nove dias que passara na casa-grande. Fizera sanduíches quando Megan
atrasara-se para o almoço e apenas se cortara uma vez.
— Chegamos — informou Kate.
Shannon abriu a porta do carro assim que Kate desligou o motor. Desceu e esperou
pela prima para conduzi-la, e entraram na clínica.
— Olá, Shannon — cumprimentou-a a recepcionista.
Era uma de suas amigas mais antigas, mãe da garotinha de oito anos que estivera
no desfile.
— Acho que a enfermeira a está esperando. Sim, ali vem ela.
Shannon sentiu-se como uma mercadoria que estava sendo entregue quando Kate
a deixou aos cuidados da enfermeira, que a pesou e mediu sua pressão arterial.
— Ótimo — a enfermeira anunciou ao terminar, e encaminhou-as ao primeiro
consultório do corredor. — O médico estará aqui em alguns segundos.
— Há nuvens ao redor das montanhas — Kate comentou. — Deve nevar essa noite
ou amanhã. Acho que teremos mais neve do que no ano passado.
— Sim. As estações de esqui devem estar lotadas, depois de vários invernos com
pouca neve.
— Eu acho que...
O médico abriu a porta e entrou, interrompendo a conversa.
O coração de Shannon disparou.
— Olá... — disse o médico. Mitch Burleson tinha a idade de Kate e era neto de Tom,
um dos mais velhos moradores da cidade, que achava que tinha de controlar a vida de
todos e dizer-lhes se o que estavam fazendo era certo ou errado.
— Olá, Mitch — Shannon o cumprimentou, tentando mais uma vez se controlar.
— Vamos acabar logo com isso — ele sugeriu. — Você trouxe os óculos de sol? Não
quero que fique sem eles durante os próximos dias, nem mesmo dentro de casa.
— Sim, trouxemos — informou Kate.
Shannon percebeu que sua prima estava tensa, o que não era comum em Kate.
— Pronta? — Mitch perguntou.
Shannon meneou a cabeça em afirmação. Sua boca estava seca, e ela começou a
sentir a tesoura cortando as ataduras que prendiam a gase. Mitch pôs a mão sobre elas
para mantê-las firmes no lugar, mas Shannon sentia que elas iam ficando soltas.
— Pensei que as vendas tivessem linhas que as prendessem atrás da cabeça —
Shannon observou, tentando parecer calma.
— Assim as ataduras ficam mais seguras — Mitch murmurou, parecendo

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~ 38 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

preocupado. — Carla, cerre as cortinas e apague a luz. Não quero que os olhos dela
recebam nenhum tipo de choque quando eu tirar a venda.
Shannon não havia percebido que a enfermeira entrara com o médico. Ouviu seus
passos atravessar a sala.
Mitch aproximou-se.
— Não fique alarmada se enxergar estrelas ou muito brilho. Seus olhos sofreram um
choque e podem reagir de várias maneiras quando a luz incidir sobre eles.
— Está bem.
Ele ergueu a venda.
Shannon abriu os olhos, piscou e tornou a abri-los. Escuridão total.
— Não estou vendo claridade alguma — ela informou com a voz trêmula.
Estava com tanto medo quanto no dia do tiroteio. Estava tão certa que... Tão certa...
— Tudo bem. Vou examinar seus olhos com uma luz — Mitch avisou.
Ele segurou a pálpebra do olho direito e depois o esquerdo. Ela não percebeu a luz.
— Suas reações são normais — ele disse, mostrando satisfação. — Realmente, tudo
parece bem. Onde estão os óculos escuros?
Kate entregou os óculos, e Shannon os colocou.
— Pode abrir as cortinas e acender a luz — ele orientou a enfermeira. — Você deverá
usar esses óculos também dentro de casa. A visão voltará aos poucos ou de repente, em
um olho ou nos dois. Pode doer como se você saísse para o sol depois de ficar durante
muito tempo no escuro. Telefone se notar alguma modificação na visão ou se tiver dor de
cabeça.
— Telefonarei — ela prometeu. Cega.
A palavra a atingiu em cheio.
Ninguém mais iria querê-la.
Não teria um marido para compartilhar alegrias e tristezas, não teria bebês para
cuidar, nem netos para alegrar sua velhice. Nada do que considerava importante. Uma
pessoa cega era um fardo... A não ser que existisse alguém que a amasse muito.
Não podia pensar nisso agora. Havia pessoas perto dela. Tinha que ir para casa,
para seu quarto e então... Então poderia pensar.
Contendo a emoção, ela agradeceu Mitch por haver cuidado dela, enquanto ele
prescrevia uma receita, um colírio que iria manter seus olhos lubrificados. Novamente na
caminhonete, Shannon suspirou profundamente.
— Bem... — ela falou, forçando um sorriso. — Acho que não vou precisar dos meus
óculos novos em um futuro próximo.
— Não desista — Kate disse baixinho.
Shannon pôs a mão sobre a têmpora. A cicatriz era suave e não doía. As cicatrizes
físicas haviam sarado. O tempo curava tudo.
— Não vou desistir — ela respondeu sem muita convicção. — Percebi agora que eu
realmente esperava enxergar quando a venda fossem removidas. Paciência, prudência...
— ela repetiu as palavras que sua avó costumava dizer.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Isso mesmo.
O coração de Shannon encheu-se de amor. Kate esperara durante muito tempo pela
bênção de ter filhos e um casamento feliz. Agora tinha um marido amoroso, um enteado e
uma doce filhinha.
Tudo daria certo também para ela. Era questão de tempo.
— Vamos almoçar? Hoje Jess vai buscar Mandy na escola.
Shannon engoliu em seco. Teria que enfrentar a cidade, mais cedo ou mais tarde.
— Vamos.
Kate estacionou e deu a volta no veículo para ajudar Shannon a descer. Pegou-a
pelo braço e murmurou:
— Coragem, querida. Brad está entrando no restaurante. Está com o gerente novo.
Uma mulher.
— Estou bem — Shannon lhe assegurou, com a voz calma e fria.
Não tinha mais nenhuma expectativa em relação a Brad.
— Ele nos viu — Kate sussurrou. — Que gentil. Está segurando a porta para nós.
— Veja se pode fechá-la na cara dele — sugeriu Shannon. — De preferência no
nariz.
Kate conteve a risada.
Shannon soube quanto se aproximaram do casal. Reconheceu a colônia de Brad
imediatamente como também o aroma de um perfume caro.
— Olá, Brad — ela disse naturalmente. — Como vai?
— Eu... Ahn, bem — ele balbuciou como se não soubesse o que dizer.
Shannon virou a cabeça em direção ao perfume.
— Olá. Sou Shannon Bannock, uma das policiais locais. Você está na nova estância
perto do rio, certo?
A mulher pareceu hesitante. Provavelmente ouvira comentários sobre ela e Brad.
— Prazer em conhecê-la — Shannon prosseguiu. — Espero que goste de morar em
Wind River. E um lugar maravilhoso e sossegado... Os tiroteios por aqui são apenas
ocasionais, não é mesmo, Brad?
— Oh... Sim. Bem, nossa mesa está pronta. Estou contente em vê-la bem. Sei que
seus olhos... Bem... Você não está...
Shannon gostou da dificuldade que ele estava enfrentando para falar. Normalmente
Brad conversava com muita fluência.
— E muito cedo para dizer — Shannon aparteou, tentando parecer despreocupada.
— As ataduras foram removidas hoje.
— Oi, querida. — Uma familiar voz masculina se fez ouvir.
Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, Rory pegou-a pela mão e passou
o braço ao redor dos seus ombros, beijando sua boca, entreaberta pela surpresa.
— Desculpe-nos — ele falou e a conduziu para longe do casal, guiando-a através do
restaurante lotado. — Aqui estamos. Kate, sente-se naquele lado. Shannon sentará perto

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~ 40 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

de mim.
Ajudou Shannon a tirar o casaco e as luvas e acomodou-a na cadeira, colocando um
guardanapo sobre seu colo, mantendo uma conversação para que ela não tivesse tempo
de pensar.
Shannon franziu as sobrancelhas, sem saber se estava aborrecida ou agradecida.
— Achei que vocês viriam para cá, então fiquei esperando. Como foi a consulta?
Houve um momento de silêncio, e então Kate falou.
— Ainda não sabemos nada.
Rory pegou a mão de Shannon.
— Não vê luz em nenhum dos olhos? — ele perguntou bem perto da orelha dela.
Shannon se afastou um pouco, confusa pelas maneiras de Rory. Ele estava agindo
como se fosse seu namorado.
— Acorde, garota. — Ele beijou-lhe a têmpora.
— O que está fazendo? — ela perguntou. Ainda não estava satisfeito em ter feito
papel de seu namorado na frente de toda a cidade?
— Mostrando àquele advogado que idiota ele é — Rory informou bem perto do
ouvido dela. — Ele é um cretino. Você não teria sido feliz com ele. Você tem muito fogo e
muita energia para um cretino como ele.
— O que sabe a respeito do meu relacionamento com um homem? — ela perguntou,
disposta a colocá-lo no seu devido lugar.
— Conheço-a — ele sussurrou ainda com mais intimidade.
O som da voz de Rory provocou um arrepio na espinha de Shannon. Seu rosto
esquentou, e ela acabou sorrindo.
— Talvez você apenas pense que me conhece.
— Até um cego pode ver que existe alguma coisa entre nós. Especialmente depois
daqueles beijos — ele sussurrou no ouvido dela.
— Ahn... Eu quero um cheeseburger com tudo — Kate disse apressadamente. — A
salada da casa e um café, por favor.
— O peito de peru com salada parece bom — Rory disse a Shannon.
Ele passou o braço atrás do encosto da cadeira dela e encostou o peito no seu
ombro.
— Está bom para mim — ela decidiu, para ver se Rory se afastava dela. — Chá
quente com leite desnatado, por favor.
— Para mim bife com batatas fritas. Eu dividirei com você. Sei que gosta de batatas
fritas com ketchup.
— Como sabe disso?
— Lembro de uma briga entre você e Megan por causa de um vidro de ketchup em
uma ocasião em que estavam aqui com seu pessoal.
De repente ela também se lembrou. Tinha uns oito anos, e Megan sete. O vidro tinha
escapado da sua mão quando ela o puxara das mãos de Megan e voou por cima de duas
mesas acabando por cair no colo de uma senhora. Ela e Megan ficaram de castigo durante

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

um mês.
— Não foi um dos meus melhores momentos.
— Mas foi muito engraçado. Quase morri de tanto rir.
Kate e Rory riram tanto que Shannon acabou rindo também. Realmente, fora muito
engraçado.
De repente, a escuridão dos seus olhos parecia não ter a mesma importância de
quando saíra do consultório. Afinal de contas, estava almoçando com o homem mais bonito
e mais cobiçado da cidade.
Shannon ergueu o queixo ao lembrar-se de Brad e de sua companheira. Rory era
muito melhor do que o novo advogado.
— Em que está pensando? — Rory perguntou.
— Que, provavelmente, todas as mulheres que estão nesse restaurante, devem
estar com raiva. — Shannon sorriu largamente para ele.
Kate tentou disfarçar a risada tossindo, mas não obteve sucesso.
Rory também riu ao perguntar:
— Você está me usando? Talvez uma pequena recompensa por eu ter salvado sua
vida?
Ela pensou durante um segundo.
— Sim, talvez esteja. Mas você pediu por isso.
— É?
— Sim. Você é tão vaidoso que provavelmente pensa que Kate e eu deveríamos
estar honradas por estarmos sentadas na mesma mesa que você.
— Se eu fosse você, certamente me mandaria embora — ele disse com bom humor.
— Vocês, mulheres de Windraven, são muito difíceis.
— Sempre pensei que fôssemos as mais fascinantes mulheres da região — Kate
disse, unindo-se ao espírito do momento.
— Ah, mas vocês são — ele concordou.
Durante a refeição, Shannon riu e conversou com facilidade. O desespero
desaparecera, substituído pela esperança. Subitamente, sentiu-se charmosa e simpática.
Em certo momento, Rory pediu a Shannon que avisasse Megan de que ele iria à
fazenda para ver o cavalo. Ela o convidou para jantar com Megan e com o avô, e ele aceitou.
Mais tarde, enquanto Kate dirigia para a fazenda, Shannon pensou que, apesar de
ainda não enxergar, estava passando por bons momentos.
Rory Daniels, o ladrão de corações da cidade, era um enigma na vida dela, que não
precisava de mais situações alarmantes.
— Chegamos. O almoço estava divertido, não estava? — Kate perguntou, ao parar
a caminhonete.
— Rory sempre foi um dos meus amigos favoritos.
Shannon parou, com a mão na maçaneta da porta.
— Então por que vocês não namoraram anos atrás?

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— O quê? Namorar um rapaz que estava em uma classe anterior a minha? Nunca!
— Depois de um momento, Kate acrescentou: — Eu pensava nele com freqüência. Bonito
como é, não havia garota que não sonhasse com ele.
— E ele nunca a paquerou? Talvez ele seja tímido e contra o casamento, por razões
que desconhecemos.
— É verdade. Bem, é melhor salvar Jess. Mandy adora dar ordens e todos fazem o
que ela quer.
Shannon acenou para a prima e entrou em casa sozinha sem se atrapalhar com os
degraus. Era uma tarefa fácil, mas que lhe deu alegria. Depois de pendurar o casaco, entrou
na sala de visitas.
Pelos sons, percebeu que seu avô devia estar dormindo na cadeira de rodas.
Sentou-se em silêncio na cadeira dele e se pôs a pensar no futuro. Talvez fosse hora de
voltar para casa e aprender a cuidar de si mesma. Não poderia ficar ali, dependendo de
suas primas.
Juntou as mãos no colo e apoiou a cabeça no encosto da cadeira.
Teria de ficar sozinha em uma casa sem conseguir enxergar. E se acontecesse
alguma coisa? Tentou imaginar o que poderia acontecer. Incêndio, por ela ter deixado
alguma coisa no fogão? Alguém assaltando a casa?
A última hipótese era a pior. O fato de o ladrão ainda estar solto não lhe dava paz.
Mas vivera sozinha durante nove anos. Teria a mesma coragem sem enxergar?

Megan e Rory entraram pela porta lateral da cozinha, um pouco depois das seis da
tarde. Shannon sorriu na direção deles.
— O jantar está pronto — ela anunciou.
— Uau! Que bom! — Megan exclamou. — Você o preparou?
— Com a ajuda do vovô — ela respondeu, colocando fatias de tomate na travessa
de salada.
Sentiu que Rory se aproximava dela.
— O cheiro é ótimo — ele disse um segundo antes de passar a mão gelada nos
cabelos e na nuca de Shannon, causando-lhe um arrepio.
— Tonto — ela o repreendeu se afastando. — Pode levar as saladas para a mesa?
Megan, o frango está no forno. Eu levarei os legumes.
— Certo. O que é isso? — Rory perguntou, pegando as mãos dela.
Shannon tentou disfarçar.
— Nada.
— Uma queimadura. Duas. O que há sob o curativo?
— Um corte. Pequeno — ela acrescentou.
Ele examinou os ferimentos enquanto Shannon pensava que tinha sido mais difícil
do que ela imaginara. Se não fosse por seu avô teria desistido, mas precisava aprender a
fazer as coisas sozinhas se quisesse ser independente.
Afastando as mãos, ela ergueu com cuidado duas tigelas, uma de salada de batata
e outra de aspargos, e as entregou a Rory.

Projeto Revisoras
~ 43 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Pegue. Faça alguma coisa útil.


Ele obedeceu, e Shannon sentiu um calor lhe percorrer o corpo ao sentir à camisa
dele encostar nos seus braços.
— Você não deveria ter se preocupado com isso — Megan comentou, preocupada.
— Eu quis praticar. — Ela virou-se na direção da prima. — Creio que é tempo de eu
ir para casa.
— Oh, mas você ainda não pode...
— Eu acho excelente idéia — Rory opinou. — Você não disse que tem um trabalho
para fazer?
— Sim. Preciso terminar uma dissertação para poder iniciar minha clínica de
aconselhamento familiar.
— Isso é muito bom — Rory concordou.
Shannon ouviu o som da cadeira de rodas do avô.
— Ela precisa... ficar aqui — ele disse, movendo-se em direção da sala de jantar.
No silêncio tenso que se seguiu, Shannon pôde imaginar Megan e o avô com o cenho
franzido olhando para o convidado que sorria desafiadoramente.
De repente, lembrou-se do tiroteio.
Quando abrira os olhos, depois de ser alvejada, amparada pelo seu anjo da guarda,
ela tinha visto uma forte luz azul. Ela teria olhado nos olhos de Rory naquele momento?
Depois do tiro?
Muito excitada, Shannon concluiu que, se tivesse visto os olhos dele depois do tiro,
mesmo que por um breve segundo, então ela não estava completamente cega.
— Em que está pensando? — Rory perguntou.
Ela não estava preparada para divulgar o que acabara de concluir.
— E melhor comermos antes que a comida esfrie. Alguém, por favor, pode pegar o
frango no forno? Já briguei com o forno duas vezes hoje, e ele venceu por dois a zero.
Durante a hora que se seguiu, conversaram sobre a fazenda. Sorrindo, Shannon
aceitou cumprimentos pela comida e notou que estava muito cansada.
— Eu lavarei a louça — ela disse ao terminarem de comer.
Precisava mostrar à sua família que podia fazer tudo sozinha.
— Eu levarei os pratos — Rory se ofereceu. — Você os coloca na máquina de lavar
louça. Meg, você teve um dia cheio. Ponha mais lenha na lareira e descanse.
Shannon sentiu a insegurança da prima pela pausa que se seguiu às ordens.
Quando ela e o avô saíram da sala de jantar, Shannon pegou alguns pratos e
percebeu que Rory fazia o mesmo. Ele a seguiu até a cozinha.
— Ande com suas próprias pernas — ele disse, depois de trazer os últimos pratos.
Shannon passava água nos pratos e nos talheres e os colocava na máquina.
— O que quer dizer com isso?
— Mude-se para a sua casa.
— Oh, sim. Pretendo fazer isso.

Projeto Revisoras
~ 44 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Rory riu.
— Você estará perto de mim — ele afirmou com um tom de voz sensual.
— Bem, do outro lado do rio — ela o corrigiu. — Não é assim tão perto. Com o
bosque e o rio entre nós, não nos encontraremos com facilidade.
— Eu estava pensando em construir uma ponte sobre o rio.
Shannon ficou surpresa de como achara a idéia interessante.
— Por quê?
— Para estar mais perto. Para tornar mais fácil nossas idas e vindas. Eu não teria
que me preocupar com você tropeçando em uma pedra, caindo no rio e se afogando.
— Isso seria difícil. O rio é muito raso para isso.
— Mesmo assim eu me preocuparia.
Como Rory estava rindo, Shannon não o levou muito a sério.
— Além do mais, por que iríamos ir e vir? Estaremos ocupados com nossas próprias
vidas.
— Eu pensei que poderia ajudá-la na sua pesquisa e nas anotações e você me
pagaria cozinhando para nós. Você sabe que o estômago é o melhor caminho para o
coração de um homem.
Ela fechou a porta da lava-louças com força.
— Não estou procurando o caminho para o coração de homem algum.
— Nós estamos fingindo que somos namorados, lembra-se?
— E claro que não!
Rory estava muito perto dela. Perto demais.
— Mas podemos tornar isso verdadeiro.
Antes que Shannon pudesse responder, ele a tomou em seus braços.
— A louça...
— Já está pronta. Já limpei o balcão e o fogão. Está tudo em ordem. Não mereço
uma recompensa?
O calor dos braços dele abalou os sentidos de Shannon, e ela percebeu que queria
ser beijada. Queria muito. Seu sangue parecia ferver, e seu coração batia
descompassadamente.
— Não... — ela sussurrou.
— Não?
— Eu... Nós não deveríamos.
— Por quê?
O nariz dele tocou o dela que instintivamente inclinou a cabeça para um lado.
— Porque... — Ela não conseguia pensar em um bom motivo. — É... E ridículo.
— Talvez, mas considere isso: eu quero fazer amor com você e acho que você
também quer.
— Eu... Eu não acho que alguém iria querer...

Projeto Revisoras
~ 45 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ela não queria a piedade dele.


— Alguém bonita como você? — ele terminou por ela. — Você me deixa excitado,
senhorita policial. Sabe disso, não sabe?
Essas palavras venceram Shannon, que não queria ficar nem mais um segundo
longe dele.
Deu um pequeno passo para frente e encontrou seus lábios. Beijaram-se, e ela
sentiu que precisava dele. O desejo a consumia como fogo.
Encostada no balcão, apenas os lábios dele a tocavam, mas ela tinha plena
consciência de todo o seu corpo, alto e forte. Tinha apenas que retribuir , o beijo. Mas não
o fez.
— Beije-me — ele ordenou. — Preciso dos seus beijos.
— Rory...
— Não discuta.
Shannon precisava pensar. Um deles precisava pensar.
— Isso não é inteligente. Você não entende? Eu... Eu posso nunca mais enxergar...
— Fique quieta e beije-me.
Quando ela ergueu as mãos em direção do peito dele, com a intenção de afastá-lo,
percebeu seu engano imediatamente. Sentiu o calor do corpo de Rory se fundir ao calor do
seu próprio corpo.
Pela primeira vez na sua vida, não queria pensar em nada. Queria paixão e prazer.
— Não... — ela sussurrou. — Não... Não...
— Sim — ele afirmou com segurança.
Rory ergueu a cabeça dela e ficou ali, sem se mexer, por um espaço de tempo que
Shannon julgou o mais longo de sua vida, uma eternidade. Sabia que ele olhava para ela,
podia sentir a força do seu olhar.
— Por quê? — ele murmurou. — Por que não?
Ela meneou a cabeça sem saber o que responder. Quando ele suspirou, Shannon
sentiu seu hálito quente. Meneou a cabeça novamente, confusa com tudo o que estava
sentindo.
— É tão estranho — ela murmurou.
Rory deu um passo para trás, e Shannon escutou uma voz interior lhe dizer que
parasse de resistir a algo tão maravilhoso.
— O que é estranho? Um homem e uma mulher se desejarem? Você nunca sentiu
isso antes?
— Não.
Até o tiroteio, sua vida tinha sido serena. Planejada.
Rory acariciou-lhe a têmpora.
— Então precisa aprender, oficial Bannock.
Shannon estremeceu.
— Posso vir aqui amanhã na hora do almoço?

Projeto Revisoras
~ 46 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Para quê?
— Para levá-la para casa. Megan vai a um leilão e presumo que você não vai querer
andar três quilômetros em uma estrada congelada.
— Kate...
— Ela tem uma família para cuidar. Não pode esperar que esteja a sua disposição o
tempo todo.
— Eu não... Você tem argumento toda vez que eu tento falar alguma coisa.
— Desculpe-me. Venho ou não?
Ignorando sua impaciência, ela pensou durante um instante.
— Está bem. Aceito sua oferta.
— Ótimo. Então, até amanhã. Obrigado pelo jantar, estava delicioso.
Depois que ele saiu, Shannon deixou-se ficar ali, encostada no balcão, como se
estivesse presa em uma armadilha.
Já na cama, lembrou-se de que estaria completamente sozinha na casa nova.
Tentou se acalmar. Conseguiria sobreviver.

CAPÍTULO VI

Empurrando a cadeira de rodas do avô, Shannon ergueu o rosto para o céu assim
que chegou à varanda.
— O sol está brilhante e quente — ela murmurou.
Quando a cadeira de rodas parou, ela ficou no mesmo lugar durante um momento,
sentindo o ar fresco da manhã. Então suspirou, sentou-se no banco atrás da mesa sobre a
qual apoiou os cotovelos. Ela e seu avô estavam sozinhos. Megan fora a um leilão, à
procura de éguas reprodutoras.
— Vivendo na cidade, esqueci como é quieto aqui na fazenda. Essa tranqüilidade
chega até a alma.
Seu avô resmungou algo que ela interpretou como aprovação. Estudou os sons ao
redor. O som distante dos animais, o mugido preguiçoso das vacas no pasto,
provavelmente chamando por seus bezerros, o tri-nado alegre dos pássaros que vinham
das árvores para perto da mesa à procura de alimento.
Sentiu uma emoção que não conseguiu definir.
Nostalgia?
Talvez, mas por quê?
Alguma lembrança do passado se aproveitava da sua fragilidade para voltar à
mente?
— Não sei o que é — ela murmurou.
Quisera tanta coisa, fizera tantos planos, tinha tantos objetivos e, agora, só havia
uma terrível insegurança quanto ao futuro.

Projeto Revisoras
~ 47 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Um corvo emitiu um som descontente, perturbando o canto suave dos pássaros.


— Os corvos — ela disse, lembrando-se das lendas de Windraven a respeito deles.
Segundo a lenda, corvos previam desastres.
— O que mais poderia acontecer à nossa família? — murmurou.
Ninguém respondeu à sua pergunta. Um leve ronco avisou que seu avô tinha
adormecido.
Suspirou novamente perguntando-se como ele suportara tantos anos de sofrimento,
com tanta valentia, incapacitado e em silêncio. Ele não conseguia expressar-se direito,
procurava por palavras que não mais conhecia, mas tudo sem reclamar.
— Às vezes tenho vontade de gritar diante de tanta injustiça — disse para si mesma,
contendo as lágrimas. — E às vezes preciso chorar.
Não apenas pela perda da visão, mas pelas esperanças que nutrira, por tudo que
parecia bom e verdadeiro e que havia mudado completamente.
O corvo tornou a gritar, dessa vez mais perto.
— Algum desastre se aproxima — sussurrou, os pêlos dos braços arrepiados. — E
o legado de Windraven.
Parecia um legado de decepção e de dor, de amores perdidos e sonhos esquecidos.
Um som estranho chamou sua atenção. Escutou com atenção. Seu avô suspirou.
Percebeu que ele não estava dormindo.
Aproximou-se do avô, tocou no seu braço e pegou-lhe a mão, que ele apertou
levemente.
Um sentimento de culpa substituiu a nostalgia. Ele estava havia anos preso a uma
cadeira de rodas, e ela se ocupava em se lamentar em vez de confortá-lo.
— Desculpe, não quis aborrecê-lo, vovô.
— Não... Você não me aborrece — ele balbuciou. — A vida, os velhos erros... não
podem... desfeitos.
Ela apertou a mão do avô.
— Eu sei. Não se pode voltar atrás. Não podemos parar o relógio e fazer as coisas
acontecerem do modo como gostaríamos. Lembro-me de quando tio Sean morreu, como
foi terrível.
— Meu último...
— Sim, todos os seus filhos se foram antes de você. Minha mãe me disse, certa vez,
que a herança de Windom eram a miséria e o infortúnio.
— Humano. Errar...
— Errar é humano, perdoar é divino?
Ele emitiu um som, querendo dizer que concordava.
Shannon gostaria de saber sobre ele e seu primeiro amor. Teria alguém se colocado
entre os dois, fazendo com que não confiassem um no outro? Seria esse o motivo de sua
noiva ter fugido com outro homem e se casado um mês antes da data em que deveria ter
se casado com seu avô?
Seus olhos encheram-se de lágrimas. Tudo era muito triste.

Projeto Revisoras
~ 48 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Humanos. Nós mesmos fazemos nossa infelicidade.


A porta do pátio se abriu ao mesmo tempo em que ela ouviu o barulho de uma
caminhonete na estrada.
— O dr. Daniels está aqui — disse a sra. Roddey, aproximando-se da mesa.
O marido e filho da sra. Roddey haviam arrendado os pastos para criar gado de corte
durante o verão. No outono, eles vendiam os bezerros e alimentavam apenas os
reprodutores durante o inverno. A esposa ajudava na fazenda, sempre que precisavam de
alguém.
— Eu ouvi o som da caminhonete dele.
— Irei embora daqui a pouco. Já preparei o almoço, o doutor vai almoçar com vocês?
— perguntou a sra. Roddey.
— Acho que sim.
Shannon não tinha certeza de querer a companhia de Rory nesse momento. Estava
deprimida e sem vontade de ouvir as brincadeiras dele.
— Vou pôr mais um prato na mesa.
Shannon concordou e tomou consciência do aroma de pão de canela e do cheiro de
bife assado. Ouviu a sra. Roddey pôr uma travessa na mesa e, em seguida, o barulho das
botas de Rory, aproximando-se da varanda.
— Olá — ela disse, virando-se na direção do som.
— Olá — ele respondeu.
Shannon foi percorrida por um tremor e sentiu como se todos os seus nervos
estivessem tencionados.
Apontando para a mesa para convidá-lo a almoçar com eles, derrubou uma xícara.
— Oh... — Shannon murmurou, percebendo que o líquido entornara.
— Cuidado, está quente — ele a advertiu, agarrando a mão dela.
— O que eu fiz?
— Derramou um pouco de chá. Nada demais. Um pouco na bandeja e um pouco no
pires. Está cheirando bem. Quer mais um pouco?
— Sim. A sra. Roddey está lhe trazendo outra xícara.
— Olá, sr. Windom. Está um tempo ótimo hoje. Posso mover esse banco para que o
senhor se aproxime da mesa?
Seu avô deve ter concordado, pois ela ouviu o barulho do banco sendo arrastado.
Em seguida sentiu que Rory sentara-se ao lado dela. Ele falou com a sra. Roddey quando
ela voltou e serviu Shannon e, presumivelmente, seu avô, considerando os sons que ela
ouvia como também os comentários dele.
— Coma — ele a encorajou. — Este bife está delicioso!
Ela pegou o garfo depois de ter colocado o guardanapo no colo. Começou a comer,
sabendo que, se movesse um pouco os quadris, encostar-se-ia a Rory. Manteve-se imóvel
até que ele começou a falar.
Contou sobre o que fizera na parte da manha e os pacientes que visitara. Falou a
respeito das preocupações com o cavalo que Megan estava adestrando para o ricaço.

Projeto Revisoras
~ 49 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Se ele ficar malvado e ferir alguém, terá que ser posto de lado. Megan acha essa
possibilidade muito provável.
— Muito...
Rory esperou com paciência que o avô encontrasse as palavras.
— Indomável — o velho senhor conseguir dizer.
— Sim, acho que o senhor está certo. Todas as piores características estão nesse
animal, mas ele é uma beleza, tanto de físico quanto de coloração.
Shannon sentiu a intensidade do olhar de Rory. Descrevia o cavalo com detalhes, a
cor da pelagem, as patas brancas, a estrela na testa e o comprimento do rabo.
— Muitas pessoas não sabem como o rabo é importante em um cavalo — ele
concluiu.
Shannon se pôs a rir, surpreendendo a si mesma. Terminou de comer e limpou a
boca com cuidado.
Ao lado dela, Rory também riu.
— Desculpe-me, não queria aborrecê-la com um discurso sobre cavalos.
— Tudo bem.
— Está pronta para ir para casa?
— Sim.
— Não tenha medo, estarei perto de você.
Ela ergueu o queixo como que para mostrar que não estava com medo.
— Garota corajosa. Sr. Windom, está pronto para entrar? Acho que preciso voltar
para casa para descansar um pouco. Estou de pé desde às duas da manhã na casa dos
Herriot. A égua premiada deles está doente.
Shannon não sabia se estava irritada ou não por Rory levar seu avô para dentro de
casa apressadamente e ela para a caminhonete, carregando sua mala enorme, uma
mochila embaixo de um dos braços e guiando-a com o outro. Já no banco da caminhonete,
apertou a bolsa e fechou o cinto de segurança.
— Lar doce lar — ele disse alguns minutos depois, parando a caminhonete.
Shannon sentiu medo naquele momento, mas não podia esmorecer. Ela conseguiria.
Se outras pessoas haviam aprendido e se adaptado, ela também poderia fazê-lo.
— Tenho que arrumar um cachorro — ela afirmou, descendo da caminhonete para
dirigir-se à porta da casa.
— Espere! — Rory a segurou pelo braço. — Está indo para o lugar errado.
Shannon se virou, precisando ficar sozinha para se acostumar com a sua incerteza.
Seus olhos ardiam. Movendo-se às cegas e rápido demais, ela deu um encontrão nele,
batendo-lhe a cabeça no nariz.
— Desculpe-me — disse, afastando-se e tropeçando em uma pedra.
Rory a agarrou.
— Não se desculpe... Calma.
Usando a raiva para encobrir seus verdadeiros sentimentos e emoções, ela esperou.

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~ 50 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Se você me indicar a porta da frente, tenho certeza de que conseguirei.


— Talvez — ele murmurou.
Shannon ouviu quando ele pegava a bagagem. Em seguida, segurou-a pelo braço e
ela deixou que a conduzisse para seu novo lar, um lugar tão desconhecido quanto um hotel
em uma cidade estranha, embora houvesse remodelado e decorado a casa nos dias de
suas folgas.
Uma coisa de cada vez, ela pensou.
— Oh! — ela exclamou, tropeçando novamente.
— Desculpe-me, esqueci de mencionar o degrau.
Ele também parecia estar com raiva. Shannon subiu o degrau e, tateando, encontrou
a maçaneta da porta. Ficou aliviada ao perceber que a porta não estava trancada, pois não
se lembrava de onde tinha deixado as chaves. Entrou e sentiu-se mais segura ao chegar à
cozinha e encontrar o balcão, no qual pôs a bolsa.
— Obrigado por me trazer para casa. Pode pôr a bagagem em qualquer lugar, eu a
levarei para o quarto mais tarde.
Shannon percebeu que seu tom era o mesmo de um indivíduo sendo preso por um
policial.
— Qual é o problema? — Rory perguntou, surpreso com o tom frio com que ela lhe
agradecera.
Era óbvio que estava irritada com ele. E isso era demais depois da noite e da manhã
que ele enfrentara. Tivera que reorganizar seu horário para poder ir buscá-la. Estava irritado
com a ingratidão dela e não entendia o motivo.
— Não é nada — Shannon respondeu de um modo que aumentou a raiva dele.
Rory queria beijar aquele sorriso frio que via nos lábios de Shannon mas afastou-se,
deixando-a desorientada e inquieta.
Tão inquieta quanto ele?
Talvez sim.
Meneando a cabeça, Rory se pôs a pensar o que estaria errado com ele.
Considerando o estado de sua libido, poderia identificar pelo menos um dos seus
problemas.
— Qual é o seu quarto? — ele perguntou.
— O dos fundos.
Rory se dirigiu para lá, consciente de que Shannon o estava seguindo. Diminuiu os
passos para que ela pudesse ficar mais perto dele. O quarto era o último à direita.
A cama era antiga e de metal, havia uma cômoda branca de vime e, na outra parede,
um diva coberto de almofadas, sob janelas duplas.
Pondo a grande mala sobre a colcha cor-de-rosa, ele olhou pela janela. Pôde ver
sua casa através dos pequenos pés de algodão que ladeavam o riacho. Era mais perto do
que ele imaginava. A janela do quarto dele também dava para o riacho. As duas janelas
eram praticamente em frente uma da outra. Rory sentiu gotas de suor sobre o lábio superior
e, de repente, desejou não ter insistido em ser um vizinho atencioso. Agora desejava uma
mulher cega e não sabia até que ponto isso poderia ser prejudicial a ela.

Projeto Revisoras
~ 51 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ele se virou e olhou para Shannon, que estava particularmente bonita sob a claridade
que entrava pelas janelas abertas.
— Vamos dar uma volta pela casa — Rory sugeriu. — Vou ajudá-la com o resto da
bagagem.
— Posso fazer isso sozinha.
O sorriso frio se fora, e ele percebeu que preferia a raiva dela à ironia. Não queria
ser tratado educadamente como se fosse um estranho. Qual seria o motivo de tudo isso?
Desejou que a voz interior que insistia em falar com ele se calasse. Não queria tirar
vantagem da situação dela e nem da atração que existia entre os dois.
Refletindo, concluiu que tinha de readquirir a confiança de Shannon para que os dois
se relacionassem bem. Não queria despertar gratidão nem medo. Queria paixão, apenas
paixão.
Xingou mentalmente a reação do seu corpo ao imaginar os dois juntos, amando-se.
— Está bem — concordou, parando na frente dela e desejando ver seus olhos por
detrás dos óculos escuros. — Manterei distância... Por agora. Você precisa de uma
oportunidade para ver quais são suas capacidades sem a interferência do que existe entre
nós.
— Não há nada entre nós — Shannon respondeu indignada.
— Não engane a você mesma.
Rory tocou-lhe o rosto e acariciou seus belos cabelos ruivos que caíam em cachos
sobre os ombros. Tensa, ela prendeu a respiração.
— Vê? — ele perguntou, satisfeito com a reação de Shannon.
Ela empurrou a mão dele que ansiava por acariciar o corpo feminino, frustrando a
atração que existia entre os dois. Rory desconfiava que ela nunca sentira isso antes. E nem
ele.
Além da atração, ele tinha sentimentos indefinidos.
Piedade? Talvez.
Necessidade de protegê-la? Podia ser.
Preocupação? Certamente.
Entretanto, apesar de ter sido o primeiro a socorrê-la, não era responsável por ela
que, por sua vez, não queria piedade de ninguém. Por isso insistira em trazê-la para casa.
Shannon não precisava que seus parentes a tratassem como se fosse uma inválida antes
que ela pudesse medir suas forças e capacidades.
A visão de Shannon de uniforme, dirigindo o tráfego, o mundo sob seu comando,
formou-se na sua imaginação. Queria ver aquela mulher novamente. E ia ver, mesmo que
demorasse muito tempo.
Depois de murmurar um adeus, ele deixou a casa de Shannon.
Atravessando o riacho, deu-se conta de que precisava fazer muita coisa na casa
onde vivia agora, para tornar-se acolhedora e bonita.
Precisava contar com uma opinião feminina para ajudá-lo a escolher cores e objetos
de decoração.
A quem recorreria?

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~ 52 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Talvez à bibliotecária?
Não pôde deixar de rir com ironia.
Assim que tirasse Shannon Bannock da cabeça, começaria a procurar pela mulher
dos seus sonhos. Sabia muito bem que tinha de bani-la dos seus pensamentos. Naquele
momento nada poderia haver entre os dois, ela estava vulnerável demais.
Sentiu um aperto no coração ao pensar na coragem de Shannon. Sim, acima de tudo
queria ser honesto com ela.

Shannon ficou imersa no silêncio, depois que a porta da frente se fechou com uma
moderada batida, indicando que Rory já tinha se autocontrolado e partido.
Teve de admitir que não entendia o que havia entre ela e seu vizinho.
Desejo?
Sim, ele a atraía como nunca acontecera antes com outro homem. Não com essa
intensidade.
Pressionando a têmpora com uma das mãos, procurou pela cicatriz. Talvez o
incidente a houvesse deixado mais suscetível e com menos controle sobre suas emoções.
Por outro lado, por que não sentira a mesma coisa por Brad quando ele a beijara?
Tocou os lábios com a mão, sentindo a intensidade dos beijos de Rory e, mais uma
vez, associou o fato ao incidente. Tudo devia ser conseqüência da compaixão e do senso
de responsabilidade dele.
Ela engoliu em seco. Sua garganta doía. Não queria piedade. Queria... Não sabia o
que queria.
Apenas duas semanas atrás, pensara em ter um lar e um marido para compartilhá-
lo. Agora só via solidão e um caminho escuro em direção do futuro. Quem iria partilhar uma
vida com ela?
A imagem de Rory, como o vira na noite do desfile, veio à sua mente. Sentiu-se
invadida por uma onde de calor. Ele a tinha convidado para tomar um chocolate quente.
Podia ser que estivesse interessado nela naquele momento e esse interesse crescera nas
semanas seguintes, transformando-se em paixão. Em uma incontrolável paixão.
Sorriu, embora sem alegria, e isso a ajudou a superar o silêncio ameaçador que a
cercava. Erguendo as duas mãos com cautela Shannon começou a tatear para explorar o
lugar. Chegou até a cama, abriu a mala e começou a tirar as roupas sem dificuldade.
Mantinha os mesmos itens nas mesmas gavetas desde que morava sozinha. As roupas no
closet também mantinham a mesma ordem habitual, e ela reconheceu a maioria das peças.
Pôs os objetos de higiene pessoal no banheiro, ainda sendo guiada pela memória.
Continuando a explorar o aposento, encontrou um vaso com flores sobre uma
mesinha, ao lado do diva, perto da janela. Tocou os vidros frios da janela em contraste com
o calor do sol. Imaginou o gramado e as montanhas, o pequeno riacho, as árvores e a casa
onde Rory morava.
Evitando pensar nele, caminhou pelos outros aposentos para reavivar a lembrança
que tinha da mobília, dos quadros e das cores. Foi à sala de visitas e à velha despensa que
pretendia transformar em escritório. Foi ao quarto de hóspedes, revestido de papel de
parede e, em seguida, dirigiu-se à cozinha.
Explorou a geladeira que estava vazia a não ser por alguns vidros de condimentos e

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~ 53 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

picles. Sentou-se à mesa da cozinha sem saber o que faria em seguida.


Do lado de fora, os passarinhos cantavam, mas dentro de casa reinava o silêncio.
Tirou os óculos e esfregou os olhos. Em seguida tentou visualizar alguma sombra,
talvez da geladeira, da janela ou outra coisa qualquer.
Nada. Absolutamente nada.
Exalou um profundo suspiro, lembrando-se das palavras do médico e das primas.
Não podia perder a esperança. Poderia voltar a enxergar a qualquer momento.
Sem ninguém para observá-la, descobriu que era difícil sorrir. Apoiou os braços
sobre a mesa e escondeu o rosto entre eles, deixando a incerteza tomar conta dela.
Lembrou-se das fantasias que haviam povoado sua infância, dos sonhos que
abrigara em seu coração e, finalmente, pensou no futuro incerto que se descortinava à sua
frente.
Começou a chorar, levantou-se e tornou a colocar os óculos. Encontraria novos
sonhos, ainda melhores, e recomeçaria sua vida. Assoou o nariz e decidiu que era hora de
preparar uma refeição.
Achou alguns pedaços de carne no freezer, temperou-os com alho, pimenta e sal e
decidiu fazer uma.sopa para o jantar. Talvez não fosse muita coisa, mas era um começo.
Sorriu.
Hoje, uma sopa, amanhã...
Deixaria o amanhã para amanhã.

CAPITULO VII

Assim que chegou em casa, à noite, Rory foi até a janela, olhar a casa vizinha. Estava
tudo escuro.
Uma pessoa cega não tinha necessidade de luz, mas assim mesmo ficou
preocupado. Uma casa tinha que ter alguma iluminação mesmo que fosse apenas para que
possíveis ladrões não imaginassem que a casa estava vazia.
Tomou banho, vestiu um suéter azul-marinho, calça e meias de lã e foi à janela olhar
para a casa de Shannon, tentando perceber algum sinal de movimento.
Nada. Nem uma sombra na janela. A casa parecia deserta. Convite a qualquer
vagabundo entrar para passar a noite e se abrigar do frio.
Sua preocupação aumentou. Tentou ignorar seu temor, enquanto esquentava uma
lata de sopa e fazia um sanduíche. Hesitou e fez dois sanduíches.
Desgostoso consigo mesmo, calçou os sapatos e um casaco, pôs os dois
sanduíches em um prato, pegou uma caixa de leite e foi até a casa vizinha.
Bateu à porta de Shannon.
— Shannon?
— Sim?

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

A voz dela estava assustada e próxima. Shannon estava parada perto da pia,
iluminada apenas pela claridade da lua.
— Sou eu. Trouxe alguma coisa para você comer.
— Por quê?
— Porque achei que você poderia estar com fome — ele respondeu com sarcasmo.
Ela apontou para o fogão e ergueu o queixo.
— Fiz sopa.
— Bem, trouxe leite e sanduíches — ele disse, pondo as coisas sobre a mesa.
— Megan trouxe leite, pão e alguns legumes depois que veio do leilão — ela informou
com um tom de desdém na voz.
Rory franziu as sobrancelhas, irritado por ela parecer tão auto-suficiente.
— Não havia nenhuma luz na casa quando cheguei.
— Eu deveria acender a luz para você?
— Estou me referindo à luz da sua casa.
— Está tudo apagado?
— Sim.
— Oh... — ela murmurou levando a mão aos óculos. — É esquisito não diferenciar
o dia e a noite. Como você acha que uma pessoa cega pode aprender a diferença?
Vendo a expressão do rosto de Shannon, a raiva de Rory esvaiu-se de imediato.
Instintivamente, aproximou-se dela e tocou no seu braço.
— Eu não sei, Shannon.
Ela se afastou, com as mãos à frente para evitar que ele se aproximasse mais.
Ele parou. Olhando para o relógio, disse:
— Você tem um relógio sobre a lareira. Ele não bate as horas?
— Costumava bater. Eu o parei para que não me acordasse durante o dia.
— Vou verificar.
Ele acendeu a luz e abriu a porta de vidro do relógio. Encontrou uma chave e deu
corda no mecanismo do carrilhão. Em um segundo, o relógio começou a badalar
alegremente.
— Pronto, está trabalhando — ele disse, quando a viu parada à porta, olhando para
ele, como se observasse todos os seus movimentos.
Sorriu ao lembrar-se de que ela não podia vê-lo. E, pela primeira vez, ocorreu-lhe
que não poderia usar com Shannon o olhar e sorriso que encantavam todas as mulheres.
O mesmo charme que usara com a recepcionista do hospital para que o deixasse entrar
quando fora visitá-la.
— Gostaria de tomar um prato de sopa? — ela perguntou polidamente. — É uma
sopa de carne, legumes e feijão que encontrei na despensa. Abri a lata de feijão pensando
ser de massa de tomate. Coisas frescas posso identificar pela forma, mas latas... — Ela
ergueu os ombros.
— Entendo. Isso é realmente um problema. A sopa está cheirando bem. Vou tomar

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~ 55 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

um pouco.
Surpreendentemente, Shannon sorriu.
— Sanduíches e sopa? Comida reconfortante. Minha mãe costumava fazer isso
quando eu tinha dor de garganta.
Rory segurou-a pelo braço e convidou:
— O jantar está servido, madame. Podemos jantar?
— Com muita honra. — Shannon ergueu o queixo, como se fosse alguma matrona
da alta sociedade, deixando-se conduzir até a mesa.
Ele serviu a sopa, um copo de leite, pegou guardanapos e talheres e sentou-se na
frente dela.
Enquanto comiam, a noite desceu.
Rory conversou sobre seus pacientes e sua preocupação com a égua da fazenda
dos Herriot. Durante uma pausa, sentiu a paz da casa tomar conta de si e, observando
Shannon enquanto ela limpava a boca, desejou que ela fosse a sua bibliotecária, quieta e
tranqüila.
Pensamento estranho. Shannon Bannock, viva e independente, era tudo menos
tranqüila. Mas era adorável e desejável.
Um homem de respeito não podia se aproveitar de uma mulher naquela situação,
mas, quando ela recuperasse a visão, a história entre eles seria diferente.
Talvez então não tivesse que voltar para casa depois do jantar e pudesse passar a
noite com ela.
— Trarei dois timers para que suas lâmpadas acendam às cinco horas e apaguem
às dez. Desse modo, ninguém pensará que a casa está vazia.
— Oh... Eu não havia pensado nisso. Obrigada.
— Você deve manter suas portas trancadas também. — Rory avisou.
— Tudo bem.
Surpreso com a rápida aquiescência, ele foi embora. Já em casa, ficou surpreso com
seus sentimentos, misto de atração e irritação.
Riu da sua própria confusão, não era mais um garoto. Conhecia muito bem as
mulheres e reconhecia que, quando pensava em Shannon, seus sentimentos eram muito
fortes.

Shannon ouviu o relógio bater seis horas. Espreguiçou-se e bocejou, sentindo-se


muito bem.
Depois do jantar com seu vizinho sexy e bonito, na noite anterior, ela se obrigou a ir
para a cama depois do noticiário das dez horas.
Já havia se passado um dia e uma noite e sentia-se mais confiante e capaz de se
cuidar sozinha.
Depois do banho, vestiu-se e preparou uma tigela de cereais. Lembrando-se dos
avisos de Rory, acendeu a luz falando baixinho "pronto, espero que esteja satisfeito".
Sentou-se e começou a comer os cereais. Gostaria de saber se ele já tinha levantado e
como se vestia para dormir. Usaria pijama ou dormiria nu? Perturbada pelas imagens que

Projeto Revisoras
~ 56 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

tomaram conta de sua mente, Shannon chegou à conclusão de que gostaria de dormir nos
braços dele, principalmente nas noites frias de inverno.
Tivera um namorado firme na faculdade, mas à medida que se envolvia cada vez
mais nos estudos, ela o via cada vez menos e, quando ele cobrara um compromisso mais
sério, Shannon terminou o namoro. Com Brad, chegara a pensar em casamento, mas agora
percebia que não gostava dele o suficiente para incluí-lo em seus planos.
Shannon se conhecia o suficiente para saber que teria de confiar em um homem
para partilhar seu coração e conseqüentemente seu corpo. Mas nenhum homem a fizera
querer dar esse passo decisivo.
Exceto Rory Daniels.
Franziu as sobrancelhas. Havia muita sensualidade entre eles, mas nenhum deles
se deixaria envolver. Além do mais, nenhum homem iria querer envolver-se profundamente
com uma mulher como ela, alguém que poderia ser um fardo para o resto da vida.
Levantou-se da mesa e lavou a louça, decidindo limpar a casa. Tirou o pó de tudo,
quase quebrou um abajur e um vaso, mas conseguiu poupá-los.
Depois disso, lavou o banheiro.
Pegou alguns objetos de decoração de um móvel que fora de sua mãe. Não podia
vê-los, mas queria que as pessoas que viessem à sua casa encontrassem um ambiente
agradável.
Pensava no que faria em seguida quando o telefone tocou. Não estava acostumada
a ter tempo livre.
Conversou com uma amiga a respeito dos comentários do povo sobre o incidente da
loja de conveniência. Todos estavam ainda revoltados devido à fuga do ladrão. Depois de
se despedirem, Shannon se pôs a pensar se um homem saberia como lidar com problemas
domésticos.
Pensando nisso, lembrou-se do pai. Ele não fora capaz de enfrentar esse tipo de
problema. Tio Sean e tia Bunny eram perdidamente apaixonados um pelo outro e mesmo
assim alguma coisa dera errado no casamento deles.
Ficou agradecida quando o telefone tocou novamente, interrompendo esses
pensamentos. Conversou com outra amiga, depois outra e depois com o xerife. Finalmente,
Jess, o marido de Kate telefonou. Não havia novidade alguma a respeito do caso dela.
Depois do almoço, dormiu um pouco no sofá ouvindo Debussy. Mais tarde, outra vez
inquieta, vestiu roupas quentes e aventurou-se a sair de casa.
Sentiu-se culpada ao abrir a porta dos fundos. Esquecera-se de trancá-la na noite
passada. E Rory também, ao sair.
Inalou o ar puro e frio, desceu os degraus da varanda com cuidado e sentiu o
gramado sob seus pés. Essa manhã, o homem do tempo anunciara neve. Amava olhar a
neve caindo em flocos do céu. Quando criança achava que era uma mágica.
Suspirou. Não era mais uma criança e tinha de enfrentar a vida. Se havia cinqüenta
por cento de chance de voltar a enxergar, havia também cinqüenta por cento de chance de
isso não acontecer. Essa era a realidade.
Deu alguns passos, sempre em linha reta. Quando chegou às árvores do bosque
achou que deveria voltar, mas continuou, guiando-se através das mãos espalmadas para
frente. Queria vencer o medo. Tinha de se acostumar a estar sozinha.

Projeto Revisoras
~ 57 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Rory estacionou sua caminhonete e entrou em casa. Megan lhe dissera que
telefonara a Shannon e ninguém atendera.
Foi à janela e olhou para a casa vizinha.
Shannon a tinha pintado no último outono. O banheiro fora reformado, bem como a
velha cozinha. Com plantas e quadros de flores, a casa tinha um ar muito alegre. Parecia
receber todos bem, mas talvez não a ele.
Com um meio sorriso, atravessou o pequeno riacho e parou à porta de trás. A porta
não estava trancada, assim ele a abriu e entrou.
Olhou em todos os aposentos, mas não havia ninguém. Onde ela estaria?
Havia um xale sobre o sofá e as almofadas mostravam que ela estivera deitara.
Provavelmente dormia quando Megan telefonou.
Mas onde estaria nesse momento?
Sentiu um arrepio pelo corpo ao considerar as possibilidades. Certamente não teria
sido estúpida a ponto de se arriscar a sair de casa. Até mesmo caçadores que conheciam
a área, costumavam-se perder nesse bosque.
Saiu, olhou o quintal e rodeou a casa. Voltou ao quintal é examinou as pegadas.
Shannon era alta, mas leve. Finalmente viu uma pegada que seguia para dentro do bosque.
A pegada era pequena e fresca.
— Shannon! — ele gritou o mais alto que pôde.
Mas só ouviu o som do vento que soprava das montanhas. Uma tempestade se
anunciava, vinda do oeste.
Chamou novamente, mas a única resposta foi o grito de um corvo perto do riacho.
Arrependeu-se de tê-la encorajado a sair da casa do avô para viver sozinha. Se
alguma coisa acontecesse, se ela se ferisse, ele não se perdoaria.
Ansioso, tentou seguir a trilha no meio do bosque e começou a andar em ziguezague.
— Shannon! — gritou, sentindo o primeiro floco de neve cair sobre os cabelos. A
tempestade havia chegado.
Shannon bateu a testa em uma árvore. Pôs a mão na testa e percebeu que se ferira.
Seu vizinho ia ficar muito bravo. Virou-se para seguir outra direção, mas bateu em outra
árvore.
Tentou de novo e deparou-se com mais uma árvore. Tateou procurando alguma
passagem, mas só encontrou árvores.
De repente, tudo que conseguia ouvir era o som do seu coração batendo forte e o
som do vento através dos altos pinheiros. Percebeu que estava perdida no meio do bosque,
sem noção de onde ficava sua casa.
— Acalme-se e pense — disse a si mesma. — Pense...
Sem saber o que fazer, rodeada pelo silêncio do bosque, sentou-se sobre um tronco,
tirou uma das luvas e ergueu a mão para tentar perceber de que lado o sol estava. Poderia
então caminhar na sua direção e tentar encontrar sua casa ou pelo menos a estrada.
Um floco de neve caiu na sua mão.
Estava nevando!
Sentiu-se invadida pelo medo. Ninguém sabia onde ela estava, nem mesmo ela.

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~ 58 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Quase riu da ironia, mas a situação tornara-se muito perigosa. Com o sol atrás das nuvens,
sua esperança de se orientar por ele estava descartada.
Ouvia o vento soprar no topo das árvores e neve caindo sobre as folhas. A
temperatura estava caindo.
Vestindo a luva novamente, deu alguns passos frente. Não... Não era esse o
caminho. O vento provavelmente soprava do oeste. Virou-se para andar na direção oposta
antes de tocar em uma árvore.
O bosque tornara-se denso e ameaçador, aprisionando-a por todos os lados.
Continuou tentando manter o vento às suas costas, lutando contra os galhos, a neve caindo
sobre seu rosto em grandes flocos.
Depois de muito tempo, descansou, encostada em uma árvore.
Odiava preocupar suas primas. Elas tentariam esconder do avô o que estava
acontecendo até que não fosse mais possível e ele tivesse que comparecer ao seu funeral.
Um espinho entrou na sua perna, e ela caiu no chão. Ficou deitada sobre as folhas,
sem ânimo de tentar outra coisa. O que mais poderia fazer?
De repente, pareceu-lhe mais fácil ficar ali, deitada. Estava muito cansada.
Ouviu um som, uma voz fraca trazida pelo vento.
Seria sua imaginação?
Ouviu novamente. Sentou-se.
— Alô — ela gritou. — Alô-o-o...
— Shannon...
Alarmada, ela virava a cabeça em todas as direções, tentando perceber de onde
vinha a voz.
— Sim, sou eu... — ela gritou com mais força.
— Continue gritando para que eu possa me orientar.
— Alô... — ela gritava entre pequenos intervalos. Depois de segundos, que
pareceram a ela uma eternidade, perguntou aos gritos:
— Pode me ouvir?
— Sim... Continue gritando. Sou eu... Rory.
— Isso eu já sabia — ela murmurou. Aliviada, Shannon recuperou a energia.
— Não a estou escutando mais — ele gritou. Ela continuou gritando, e logo ouviu o
som de folhas sendo pisadas.
— Aqui...
— Estou vendo-a...
Ela levantou-se e, rindo, tentou tirar o espinho que entrara na sua perna.
— O que há de engraçado? — Rory parou ao lado dela, ajudando-a a tirar o espinho.
— Você estar bravo comigo — ela explicou, rindo e tremendo. — Obrigado por ter
vindo — murmurou, apoiando as mãos no peito dele. — Dessa vez achei que não haveria
salvação para mim.
Shannon ficou na ponta dos pés e beijou os lábios de Rory delicadamente.

Projeto Revisoras
~ 59 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ele permaneceu imóvel.


Ela beijou-o novamente. Precisava dele. Contornou os lábios dele com a ponta da
língua. Precisava dele desesperadamente.
— Droga — Rory resmungou, abraçando-a. Shannon sentiu o abraço como se fosse
uma bênção.
— Eu estava apavorada...
— Eu também — ele sussurrou, beijando-a.
Ela esqueceu a neve e o frio, o perigo que correra e o infortúnio de ser cega.
O calor dos beijos quase os sufocou até que ele se afastou.
— Devo estar tão louco quanto você. — Rory pegou-a pelo braço.— Vamos, preciso
tirá-la daqui antes que escureça.
Ele caminhava com segurança, guiando-a através de árvores e arbustos.
— Não acredito que andei para tão longe — Shannon disse surpresa.
— O que estava fazendo fora de casa?
— Achei que poderia andar pelo quintal sem problema algum. — Ela fez uma pausa.
— Achei que perceberia quando entrasse no bosque, mas não consegui me orientar e
voltar.
— Ninguém anda em linha reta dentro de um bosque.
— Por isso não me preocupei. Achei que conseguiria voltar para casa ou, ao menos,
para a estrada.
Rory resmungou palavras ininteligíveis. Se ele não a houvesse encontrado...
— Desculpe-me. Fui uma estúpida.
— Se você não fosse tão teimosa e determinada a não pedir nada a ninguém, teria
esperado por companhia em vez de se aventurar sozinha em direção ao desconhecido.
— Andei por esse bosque durante toda a minha vida.
— Não nos últimos dez anos — ele a corrigiu. — As coisas mudam, as árvores
crescem.
— Você tem razão. Fui irresponsável, muito... muito estúpida e...
— Oh, por favor, cale-se! — Rory exclamou com raiva.
Caminhando, Shannon tentou recuperar o equilíbrio, mas o chão parecia cheio de
armadilhas. Engoliu em seco e seguiu a orientação dele.
— Chegamos. Estamos em casa! — Rory anunciou. — Cuidado com o degrau.
Quando entraram em casa, o relógio bateu cinco horas. Chocada, Shannon
percebeu que ficara no bosque durante quase três horas.
— Isso é o pior — ela disse, tirando as luvas e o casaco e pendurando-o no mancebo
perto da porta.
— Não tenho mais noção do tempo. Estou completamente desorientada.
— É... Acho que está.
O tom de voz dele era mais suave, ela pensou. Ele ia perdoar-lhe.

Projeto Revisoras
~ 60 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Sentiu que Rory se aproximava.


Um segundo depois, foi envolvida pelos braços fortes. Sentiu-se percorrida por um
calafrio e percebeu que ele estava muito excitado.
Agarrou-se a ele sem reservas. Precisava de Rory. Passou as mãos pelos cabelos
dele, ainda frios e beijou-o com maior intensidade.
Rory a ergueu do chão e a girou, encostando-a ao balcão da cozinha.
Shannon foi envolvida por uma onda de desejo que nunca sentira por homem algum.
— Preciso de você — ela sussurrou — Quero você...
— Quanto? Até onde?
Ela beijou-lhe a face e foi descendo até o pescoço.
— Não sei. Não tenho essas respostas.
— Nem eu. Apenas perguntas e, subitamente, elas parecem não ter mais
importância.
Rory tentava desabotoar-lhe a camisa, e ela fez o mesmo, seguindo-lhe o exemplo.
Houve puro êxtase quando as peles se tocaram.
Pela primeira vez, Shannon sentia o que era partilhar a paixão... Era um sentimento
mútuo, uma necessidade de prazer na mesma intensidade.
Ele empurrou a camisa pelos ombros dela e deixou-a cair no chão.
Quando a boca de Rory tocou-lhe a pele, logo acima do sutiã, Shannon achou que
ia desfalecer.
Com delicadeza, ele puxou o sutiã para baixo e continuou a explorar seu corpo.
— Ohhh — ela gemeu.
— Sim... É muito forte... Nunca experimentei uma sensação como essa.
— Mas por quê?
Ele a ergueu sobre o balcão, deixando um espaço entre as pernas dela.
— Porque... Dê-me sua boca. Preciso dela depois do susto que você me pregou.
— Isso está ficando perigoso... Muito perigoso.
— Sim... Mas é bom. Assustadoramente bom.
Rory beijava-lhe os seios e apertava seus mamilos túrgidos.
— Tire o sutiã.
Ela obedeceu e, quando o peito dele tocou os seios dela, o desejo apoderou-se dos
dois impiedosamente.
— Rory...
— Não fale. Agora não.
Ele parecia desesperado. Beijava-lhe a orelha, o pescoço, queria parecer devorá-la.
Shannon prendeu a respiração ao perceber que ele ia beijar-lhe com maior
intimidade.
Foi o que ele fez. Beijou-lhe os seios delicadamente e depois de um minuto circundou

Projeto Revisoras
~ 61 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

um mamilo com a boca e sugou-o.


— Nunca senti essa paixão, essa necessidade urgente — Shannon murmurou.
— Nem eu. Quero você... Quero que seja minha.
— Por favor — ela gemeu. — Por favor...
O desejo crescia de forma avassaladora. De repente, ele parou e ficou quieto.
— Ou terminamos o que começamos ou paramos agora — ele murmurou. — O que
faremos?
Ela apoiou a cabeça no peito dele, ouvindo as batidas furiosas do seu coração.
— Quero tudo.
— Tem certeza?
Shannon não queria pensar. Ele era seu parceiro nessa estranha paixão que
compartilhavam. Para que pensar em uma hora dessas? Eram ambos adultos e solteiros,
não tinham compromisso com ninguém.
Shannon olhava para ele e, subitamente, achou que vislumbrara o azul do céu.
Moveu a cabeça lentamente. Não, não era o céu, era uma sombra azulada.
— Vamos continuar? Ou vamos recuperar nosso equilíbrio e parar?
— Acho... Acho que temos de parar.
Rory se afastou.
Lágrimas desciam dos olhos de Shannon.
— Sinto muito — ela sussurrou.
— Não se desculpe. Haverá outras oportunidades.
Ele tocou-lhe o queixo e ergueu sua cabeça.
— Cuide-se — disse com uma voz rouca. — Você está ferida na testa.
Ela ouviu seus passos e cobriu os seios nus com os braços.
Ele abriu porta.
— Na próxima vez nós... Nós não pararemos — prometeu ao sair.
Shannon tentava conter as lágrimas. Tocou seus olhos com a ponta dos dedos.
Lembrou-se da última vez que vira aquela sombra azulada. Fora quando o anjo a
erguera do chão com as mãos frias, tentando trazê-la de volta à vida. Ele a salvara.
Vira o azul e logo em seguida mergulhara na escuridão.
Os olhos dele. Ela tinha visto os olhos dele.
Tremendo, encontrou a camisa e vestiu-a, perturbada com o que acabara de
acontecer. Fora tão assustador quanto se perder no bosque.

CAPÍTULO VIII

O som de uma martelada despertou Shannon na manhã seguinte. Ela levantou-se e

Projeto Revisoras
~ 62 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

vestiu meias de lã antes de descer até a cozinha. Ouviu o som de vozes masculinas. Notou
que o sol estava alto, assim que abriu a porta.
— O que está acontecendo? — perguntou irritada, com a certeza de que se tratava
de Rory e que ela, provavelmente, não iria gostar.
Sentiu uma lufada de ar frio assim que deu um passo para fora.
— Olá, Shannon, sou eu, Richie.
Ela relaxou. Richie era o filho do xerife. Shannon passou os dedos pelos cabelos.
— O que está acontecendo?
— Bom dia — uma outra voz disse perto dela.
— O bom vizinho — ela disse, querendo demonstrar uma despreocupação que não
estava sentindo. Passara a noite anterior dividida entre o desejo de ir até ele e a
necessidade de proteger-se contra esperanças tolas.
— Ei, preste atenção! Homens também têm sentimentos, sabia?
— O que vocês dois estão fazendo?
— Na verdade somos quatro: Richie, Jess, Kyle Herriot e eu. Gene virá mais tarde
com mais dois homens.
— Por quê?!
— Para terminar a ponte sobre o riacho. Coloquei os suportes no início da semana.
Vamos fazer uma trilha entre sua porta dos fundos e a minha. Gene vai trazer uma
escavadeira. Desse modo você poderá caminhar sem se perder.
Shannon arrependera-se muito da estupidez do dia anterior.
— Isso não é necessário. Não me perderei novamente. Pode ficar tranqüilo.
— Não fique contrariada. E algo que podemos fazer por você para recompensá-la
pelo atentado que sofreu. Você ajuda muitas pessoas, agora nos deixe fazer alguma coisa
por você. Seja cortês.
Shannon não sabia se ficava furiosa ou, como ele sugerira, demonstrava
cordialidade. Seu orgulho queria mandar que todos fossem embora, mas sua cortesia era
inata e acabou prevalecendo.
— Que tal fazer o almoço? — Rory perguntou.
— Que horas são?
— Passa um pouco das oito. Kate também virá, depois que pegar a filha na escola
maternal. Estaremos prontos para almoçar nesse horário. E... ahn... Seria bom se vestir.
Não que esse pijama cor-de-rosa seja inconveniente, mas faz-me pensar em noite, cama,
dormir... Esse tipo de coisa.
A voz dele ficava mais baixa a cada palavra que proferia, fazendo com que Shannon
sentisse sua pele arrepiar-se.
Entrou rapidamente.
Depois de se vestir e prender os cabelos atrás da nuca, lembrou-se dos óculos
escuros. Parou na frente do espelho do banheiro e lembrou-se do momento em que
despertara. Tinha havido alguma coisa...
Piscou e olhou fixamente para o espelho mais uma vez. Nada. Nenhuma luz. Pôs os

Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

óculos, suspirando, arrumou a cama e foi para a cozinha para tomar o café da manhã e,
em seguida, começar a preparar o almoço.
Um guisado de carne seria conveniente para os homens que estavam trabalhando
no frio. Misturou os ingredientes em uma panela e a pôs sobre o fogão, lembrando-se da
receita da sua mãe.
Havia uma torta de cereja no congelador, provavelmente quase vencida.
Depois de vestir a jaqueta e as luvas, pegou a bolsa e saiu.
— Richie?
— Estou aqui.
Shannon caminhou em sua direção e foi ofuscada por uma claridade momentânea.
Pôs a mão sobre a têmpora no momento em que sentia uma tontura. Mas tudo aconteceu
em uma fração de segundo, e ninguém percebeu.
— Diga o que quer — disse o adolescente, dessa vez bem perto dela.
— Você já tem sua carteira de motorista?
— Não, mas tenho permissão para dirigir até a carteira ficar pronta.
— Ótimo. Que tal me levar à cidade? Preciso comprar algumas coisas.
— Claro, mas é melhor que eu peça a meu pai. Ei, papai, posso levar Shannon à
cidade? Ela precisa fazer compras.
— Pode, mas sem correr — advertiu-lhe o pai.
— Prometo — Richie disse, rindo. — Está pronta, Shannon?
— Sim. — Ela lhe entregou as chaves do carro.
— Você terá que me guiar.
— Não tem problema — ele afirmou, pegando as chaves e segurando-a pelo braço.
— Não esqueça o degrau.
Na cidade, ele a ajudou alegremente a comprar rosquinhas e tortinhas de maçã na
padaria.
— Uau, esses pães de canela cheiram muito bem! — exclamou Richie.
— Uma dúzia de pãezinhos de canela — Shannon disse a Melissa, outra amiga, que
agora ajudava os pais na padaria.
Na mercearia, as pessoas todas vinham abraçá-la e perguntar por sua saúde.
— Estou bem — ela disse. — Muito bem. Descobriu que podia identificar a todos
pela voz, e isso a deixou mais confiante.
Orientou Richie a pegar leite, café, chá, pão e biscoitos.
— Vou comprar hambúrguer... — ela acrescentou.
— Alguma noite dessas farei chili. Acho melhor pegar mais algumas latas de tomates
e também feijão.
— Certo.
No caixa pagou com cartão de crédito.
— Guie minha mão para que eu assine o recibo — ela brincou com a caixa, uma
professora de inglês aposentada, que insistira muito para que Shannon melhorasse sua

Projeto Revisoras
~ 64 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

letra a fim de torná-la legível.


— Se eu olhar a sua assinatura, você terá que ficar no canto da classe durante quinze
minutos — a mulher ameaçou.
Rindo, Shannon pegou a sacola, apoiou-se no braço de Richie e voltaram para o
carro.
— É bom saber que as pessoas se preocupam com a gente — ela afirmou.
— Sim, é bom.
— Quanto temos de neve?
— Menos de uma polegada. A tempestade mais forte está prevista para hoje à noite
ou amanha.
— Então a de ontem foi apenas uma amostra? — ela perguntou, pensando no tolo
passeio que fizera no dia anterior.
Rory a achara tão irresponsável que convocara os homens para tornar a área ao
redor da sua casa mais segura.
Se ele não a houvesse encontrado, se houvesse chamado o resgate, sua família,
provavelmente, tê-la-ia trancafiado em casa. E com razão! Não tinha o direito de colocar os
outros em perigo devido à sua irresponsabilidade. De agora em diante seria mais
cuidadosa.
Entretanto, não queria ser tratada como uma inválida.
Suspirou... A vida estava se tornando complicada. E ela creditava isso à adrenalina
que fazia seu sangue ferver toda vez que ouvia a voz de Rory.
Chegando a casa, Richie ajudou-a a pôr as compras no balcão da cozinha, voltando
em seguida ao seu serviço.
Gene a saudou alegremente, sendo acompanhado por mais dois homens que ela
reconheceu pela voz. Todos lhe disseram que a cerca estava quase pronta. Ela ouvia o
barulho da escavadeira e das marteladas.
Depois de guardar as compras, fez café e fritou bolinhos.
— Café... — gritou aos homens, da porta da cozinha.
— Que bom... Estaremos aí em dois minutos — Rory respondeu, também gritando.
Os homens entraram na cozinha, serviram-se e se aqueceram. Ela encostou-se no
balcão e tomou café, contente com o momento que estava vivendo.
— O que vai fazer para o almoço? — Rory perguntou, aproximando-se dela.
— Guisado de carne. O almoço será ao meio-dia — anunciou a todo o grupo.
Depois que os homens saíram, Shannon fatiou pão e passou manteiga sobre as
fatias, ferindo-se apenas uma vez. Pôs as fatias em uma assadeira e colocou-a perto do
fogão.
Mexeu o guisado com um garfo e pôs a torta de cereja no forno.
Kate e Mandy, muito animadas, chegaram um pouco antes do meio-dia.
— Adivinhe, Shannon — Mandy disse assim que entrou.
— O quê?

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~ 65 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Ganhei estrelas pela minha tarefa. Quer ver?


Shannon sentiu papéis sendo colocados em sua mão.
— Mandy, Shannon não pode ver, lembra-se? —
Kate disse à filha.
— Tudo bem — disse Shannon. Sentou-se à mesa e pegou os papéis.
— Venha, sente-se no meu colo e explique-me cada um dos exercícios. Quero saber
tudo o que minha prima favorita está fazendo.
— Ei, eu sou sua prima favorita! — protestou Kate.
— Não é não. A favorita sou eu — insistiu Megan acabando de chegar, deixando
entrar uma rajada de vento gelado na cozinha aquecida. — Humm... O que está cheirando
tão bem?
— Guisado de carne — respondeu Shannon.
— E torta — Kate acrescentou. — Verifique o forno, enquanto eu ponho a mesa.
Enquanto as duas primas terminavam os preparativos para o almoço, Mandy e
Shannon examinavam os papéis. Shannon adorava o cheiro de xampu para crianças e de
talco, que sentira assim que pusera Mandy no colo.
Depois que a menina explicou seus desenhos, cantou a música do alfabeto.
Shannon abraçou a prima.
— Eu soube que você era inteligente no primeiro momento em que a vi.
Kate juntou os papéis.
— Tive muita sorte quando prima Shannon trouxe você para minha casa.
— Você achava que não queria uma garotinha, não é mesmo? — Mandy perguntou,
olhando severamente para a nova mãe.
— Sim, mas naquela época eu não sabia o quanto você era especial — afirmou Kate.
— Conhecê-la é amá-la — Shannon disse, beijando a garotinha de quatro anos de
idade.
Percebeu que a porta se abria e que os homens entravam depressa para escapar
do frio.
Virou a cabeça e percebeu um raio de luz no canto de um olho. Admirada, olhou na
direção da luz, mas o brilho não se repetiu.
— Vamos, Mandy, é hora de se lavar — disse Jess à filha, pegando-a do colo de
Shannon.
Todos se reuniram ao redor da mesa.
— Sente-se aqui — Rory a puxou e a fez sentar-se tão perto dele, que suas pernas
se tocaram.
Kate estava à sua esquerda e Shannon ouvia a conversa sem tomar parte. Os
homens estavam com pressa para terminar o trabalho antes da tempestade.
— O tempo está ruim — disse um dos homens. — As nuvens estão pesadas. Vai
nevar antes de escurecer.
— A ponte já está pronta — Rory avisou. — Há dois postes do lado da varanda.

Projeto Revisoras
~ 66 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Pegando o cabo da esquerda, você irá até a garagem. Pegando o cabo da direita você irá
até a ponte e à porta dos fundos da minha casa.
— A cerca também está quase pronta — informou Jess.
— Vocês devem ir embora antes da tempestade — Shannon aconselhou,
preocupada com a neve e o vento gelado e todos os fatores que poderiam causar
hipotermia a uma pessoa, sem que ela percebesse. — Asseguro a vocês que eu não me
aventuraria a sair com esse tempo. Aprendi minha lição.
— Que lição? — quis saber Kate.
Shannon percebeu que a prima não sabia sobre o que acontecera no dia anterior.
Sem saber o que responder, ela hesitou e voltou o rosto na direção de Rory.
— Ela se aventurou a dar uma caminhada e entrou no bosque — ele explicou
casualmente. — Por sorte me ouviu chamando-a.
Shannon sentiu-se culpada e meneou a cabeça.
— Sim. Fui estúpida. Quando Rory não me encontrou em casa, foi me procurar e...
Ele salvou a minha vida. Novamente.
— Na verdade, vim aqui esperando ser convidado para o jantar. Ela cozinha melhor
do que eu.
— Papai frita batatas, mas queima... — anunciou Mandy indignada.
Essa afirmação despertou protestos de Jess e risadas dos outros. Depois de
comerem a torta, os homens saíram para terminar o serviço. As três mulheres ficaram para
lavar a louça e arrumar a cozinha. Mandy ajudou a pôr os talheres na máquina de lavar
louça.
— Foi divertido — Megan disse. — É muito bom ter família e amigos, não é?
— Sim — concordou Shannon.
— Mandy e eu temos de ir. Ela começa as aulas de piano esta tarde, e não podemos
chegar atrasadas logo na primeira aula.
Kate e Mandy despediram-se com beijos.
— Como está vovô? — Shannon perguntou quando Megan e ela ficaram sozinhas.
— Não muito bem. Está perdendo peso, e sua pressão está alta novamente.
— Espero que ele não tenha outro derrame. Lembra-se de como ficávamos
assustadas quando o deixávamos nervoso?
— Sim. Ele era genioso, mas nunca ficou bravo conosco. Não sei por que tínhamos
tanto medo.
Conversaram sobre o passado e então Megan teve que ir embora para as aulas de
equitação do período da tarde.
Shannon vestiu o casaco e as luvas e saiu. Encontrou os dois postes na varanda.
Pegou o cabo da esquerda e andou até a garagem. Kate e Jess já haviam guardado o carro
para ela. Satisfeita, voltou e pegou o cabo da direita.
Seguindo o outro caminho, ouviu o barulho de cascalhos sob seus pés. No final do
caminho de cascamos, descobriu a ponte de madeira sobre o riacho, ladeada por cercas.
Atravessou a ponte e achou o cabo novamente no final da ponte e continuou a andar.
Hesitou, sabendo que esse caminho levava diretamente à casa de Rory.

Projeto Revisoras
~ 67 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Parou, respirou fundo, sentindo o ar frio das montanhas e o cheiro da tempestade


que se aproximava. Então, sentiu calor no rosto, deduzindo que o sol devia ter saído de
detrás das nuvens.
Recordando a claridade que vira de manhã, tirou os óculos e olhou na direção do
calor.
Piscou e fechou os olhos sentindo dor, o mesmo tipo de dor que se sente ao sair de
um ambiente escuro e mergulhar na claridade total. Viu também um flash azul novamente.
Tremeu, com medo de criar esperança com o que poderia ser apenas um fenômeno de
corrente elétrica no nervo óptico.
Pôs os óculos novamente e, agarrando o cabo, voltou para sua casa
apressadamente. Dentro de casa, jogou os óculos no balcão e pressionou os olhos com as
mãos.
A porta abriu e fechou quase sem fazer barulho.
Ela abaixou as mãos e arregalou os olhos, querendo enxergar.
— O que foi? — Rory perguntou. — O que aconteceu lá na ponte, alguns momentos
atrás?
Insegura de querer partilhar o incidente por temer que pudesse ser fruto de sua
imaginação, ela perguntou bruscamente:
— Você estava me espionando?
— Não, estava apenas olhando. Alguma coisa aconteceu com seus olhos, não é
mesmo? O que foi?
Ela virou de costas e nada respondeu até achar os óculos novamente.
— Não sei. Acho que nada.
Shannon sentia o calor do corpo de Rory e tentou disfarçar a perturbação que
sempre sentia perto dele. Olhou para ele como se pudesse enxergar, mas tudo era
escuridão.
— Pensei ver alguma coisa... Um clarão azul — ela finalmente admitiu, encostando-
se ao balcão. — Já vi isso anteriormente, mas nada mais acontece. Tudo continua escuro.
— Entendo.
Shannon não percebeu nada na voz dele. Nem piedade, nem simpatia. Nada.
Rory segurou-a pelo pescoço e com os polegares sob seu queixo inclinou a cabeça
dela para trás. Tirou-lhe os óculos. Ela sentia-se exposta sem eles.
Rory se aproximou mais e ordenou:
— Olhe para mim!
Ela olhou para o ponto de onde vinha a voz dele e tentou não demonstrar nem
esperança e nem surpresa. E muito menos medo.
Ele se moveu, e ela ouviu um clique. Piscou e viu um súbito brilho. Outro clique, e o
brilho desapareceu.
— O que você viu?
— Eu... Eu não sei.
— Sim, sabe. Conte-me — ele insistiu. Quando ela pressionou as mãos sobre os

Projeto Revisoras
~ 68 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

olhos, ele as agarrou pelos pulsos e as colocou atrás das costas, prendendo-as. Seus tórax
se tocaram quando ele se curvou sobre ela, seu silêncio exigindo uma resposta e seu toque
gentil, porém firme, avisando que ela não poderia escapar.
— Olhe — ele disse suavemente.
Um clique e o clarão, outro clique e outro clarão. Depois, mais nada.
— O que viu?
Shannon suspirou.
— Um clarão, como uma lâmpada de rua através da neblina, uma neblina muito
densa. Mas não durou muito tempo.
— Mas irá durar — ele murmurou, a boca perto da dela. — Irá durar — ele repetiu
como se desafiasse alguém a negar.
Rory abaixou a cabeça para beijá-la. Ela virou a cabeça, querendo escapar para
pensar, para controlar suas confusas emoções, para chorar...
Mas não na frente dele.
Mantendo as mãos dela atrás do corpo com uma das mãos, ele usou a outra mão
para virar o rosto de Shannon e então a beijou, sem ternura ou piedade, apenas dominado
por um desejo incontrolável.
Ela movia o rosto de um lado para o outro não em protesto, mas... Nem sabia o
porquê. Era como se estivesse participando de um combate mortal. Ele acompanhava seus
movimentos, recusando-se a soltá-la.
Rory emitiu um som quase inaudível, e ela entendeu que também ele lutava contra
o poder do desejo que os consumia.
Com um suspiro, desistiu de lutar e se rendeu.
Rory sabia que deveria sair dali, que ela estava muito vulnerável e que ele não devia
tirar vantagem da situação, mas naquele momento nada importava, a não ser sentir o corpo
de Shannon bem perto do seu.
Shannon retribuiu o beijo sem mais lutar contra o poder dos sentimentos que os
dominava.
Quando ficou sem ar nos pulmões, Rory parou de beijá-la. Respirou fundo e
descansou a cabeça contra a dela, tentando pensar em outras coisas, para acalmar o fervor
do seu sangue.
— Isso é loucura — ela sussurrou em desespero. Abrindo os olhos, ele viu o marido
de Kate os observando da janela, com expressão contrariada.
— É hora de enfrentar a realidade — murmurou Rory.
— Que realidade?
Rory percebeu que ela ainda estava perdida no fogo da paixão. Afastou-se um pouco
e observou o rosto de Shannon. Ela não podia vê-lo, mas ele sorriu como se alguma coisa
nova e frágil estivesse tomando conta dos seus sentidos. Não se lembrava de ter sentido
tanta ternura por outra mulher, e isso o preocupou.
— É hora de voltar ao trabalho.
Ele a soltou, e Shannon apoiou as mãos no balcão. Encontrou os óculos e colocou-
os. Rory notou que ela estava trêmula e percebeu que queria fazer amor com ela até que

Projeto Revisoras
~ 69 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

ambos ficassem saciados.


Mas não nesse momento.
— Até mais tarde — despediu-se, saindo da cozinha. O marido de Kate estava
esperando por ele do lado de fora.
— O que está acontecendo? — Jess perguntou. — Presenciei um beijo mútuo ou
você a forçou?
— O que acha?
— Acho que no início ela lutou e depois creio que decidiu participar. Não quero
bancar o pai irado de uma adolescente, mas...
— Shannon não me rejeitou.
Jess ficou em silêncio por um longo momento. Com expressão preocupada, olhou
para Gene, o xerife, fincando uma ripa de madeira no final da ponte.
— Shannon está muito vulnerável.
— Eu esperaria se tivesse a certeza de que ela irá enxergar novamente — Rory
respondeu. — Ela está vendo flashes de luz, mas não tem certeza se é uma visão ou outra
coisa qualquer.
— Isso torna mais importante a necessidade de deixá-la sozinha. Ela não precisa de
outro problema e muito menos de sexo.
Rory franziu as sobrancelhas.
— Como sabe do que ela precisa?
— Eu não sei e nem você sabe. Dê-lhe oportunidade de descobrir seu próprio
caminho. Kate e Megan estão preocupadas.
— A cidade toda tem opinião formada sobre o assunto?
— Provavelmente — Jess respondeu, rindo. — Você iniciou a demonstração naquele
dia, no restaurante. Toda a cidade ficou sabendo, em questão de horas.
— Aquele advogado cretino.
Rory teve vontade de estrangular o sujeito.
— Concordo. Ela realmente não precisa dele. Não a faça precisar de você para
depois abandoná-la.
Rory olhou o xerife e o filho juntando as ferramentas e olhando para o céu, totalmente
coberto por nuvens carregadas.
— Eu não quero magoá-la — Rory afirmou.
— Está certo. Acredito em você.
Os homens se aproximaram, despediram-se de Shannon e de Rory e se foram antes
que a tempestade começasse.
Rory verificou o serviço. Estava tudo muito bem-feito e seguro. Olhou para a casa de
Shannon durante um longo momento, em seguida atravessou a ponte.
A neve começava a cair.

Projeto Revisoras
~ 70 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

CAPÍTULO IX

Shannon ouviu baterem na porta. Desligou o aparelho de som, interrompendo a


versão de um livro que estava escutando.
Bateram novamente. Levantou-se do sofá e foi até a porta. Lá, hesitou. Apenas um
estranho bateria na porta da frente. Amigos e família entrariam diretamente pela porta da
cozinha.
Percebendo que estava nervosa por lidar com o desconhecido, controlou-se e abriu
a porta algumas polegadas, mantendo o pé firme atrás da porta para evitar que a pessoa
pudesse empurrar a porta sem que ela pudesse reagir.
— Sim?
— Desculpe-me, madame — disse uma voz masculina. — Eu queria saber... Bem,
estou procurando trabalho e queria saber se a senhora tem algum serviço que eu possa
fazer, ou se pode me recomendar a algum fazendeiro que precise de ajuda.
Shannon analisou o pedido. Parecia razoável apesar de ser muito difícil trabalho em
pleno inverno. Todo o gado estava confinado e desse modo o trabalho de alimentá-los podia
ser feito por apenas um ou dois homens. E seria assim até o começo da primavera.
— Sinto muito, mas não sei de ninguém que precise de ajuda agora. Tente no
começo da primavera. — Ela tentou sorrir. — Boa sorte.
— Obrigado e desculpe-me por incomodá-la.
— Sem problema.
Shannon fechou a porta, passou o trinco de segurança e ficou ali, parada, ouvindo o
barulho da partida do veículo e ele se afastando. Imaginou que devia ser uma caminhonete
com barulho de válvula batendo.
Nervosa e agitada por nenhuma razão que pudesse definir, Shannon trancou a porta
dos fundos.
Sentada no sofá, não voltou ao livro que estava escutando, mas deixou-se ali ficar
imóvel, perdida nos seus pensamentos. Como policial sabia que, quando o instinto avisava
existir alguma coisa estranha a respeito de uma pessoa, geralmente havia. Sempre era
bom confiar no instinto. Foi isso que sentira a respeito do homem que acabara de bater à
sua porta. Procurava por serviço em pleno mês de janeiro? Em Wyoming? Vaqueiros
sabiam muito bem quando havia serviço nas fazendas.
Portanto, o que ele estaria realmente procurando?
Havia uma pessoa que poderia estar interessada nela. O homem do posto de
gasolina. E se ele quisesse se certificar se ela estava realmente cega? Pelas reportagens
dos jornais, ele deveria saber que sim, mas poderia querer se certificar, principalmente se
tinha intenção de continuar na região. Não iria querer correr o risco de ser identificado,
Seria aquela insegurança, excesso de imaginação?
Riu de si mesma, sentindo-se tola por ter medo.
Afinal de contas, não tinha um vizinho que assumira a responsabilidade de cuidar
dela diariamente?
Mas na noite anterior ele não o fizera. Ouvira sua caminhonete chegar por volta das

Projeto Revisoras
~ 71 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

sete horas da noite depois de ter saído às seis e meia da manhã.


A prometida tempestade tinha chegado na noite de segunda-feira. Nevara toda a
terça-feira, e as estradas estavam perigosas com o excesso de neve. Trabalhando e
enfrentando o mau tempo, ele devia ter chegado em casa exausto. Nessa manhã, Rory
saíra por volta das sete horas e não regressara para o almoço.
Não que ela se importasse. Era apenas uma observação. Seu coração bateu mais
rápido, como se estivesse negando a si mesma essa conclusão. O relógio bateu lembrando-
a de que tinha colocado uma caçarola no forno, uma hora atrás.
Desligou o forno e pôs uma tampa na caçarola para que a comida não queimasse.
Estava cheirando bem. Se ela conhecesse o vaqueiro que batera à sua porta, tê-lo-ia
convidado para comer com ela.
Ouvindo outro veículo se aproximar, ficou atenta e logo reconheceu a caminhonete
de Rory.
Ele não deveria ter tido tempo para preparar o jantar, e ela estava em débito com ele
por tê-la encontrado no bosque, e pela ponte que haviam construído.
Pensou durante mais um minuto, calçou as botas, vestiu a jaqueta e as luvas e, com
a caçarola dentro de uma cesta, saiu e pegou no cabo que conduzia à casa de Rory.
Era um desafio segurar a cesta em uma das mãos e o cabo com a outra, e caminhar
com a neve até os tornozelos. Ainda bem que suas botas iam até o joelho.
Já na ponte, relaxou. Estava a meio do caminho. De repente seu pé escorregou e
ela caiu de costas, resmungando uma expressão nada feminina.
Com o cenho franzido, sentou-se na neve e tentou se acalmar.
Conseguiu levantar-se. Não se ferira. Agarrou-se na balaustrada da ponte e
prosseguiu.
Depois de alguns passos, percebeu que a neve havia sido nivelada nesse lado do
caminho e, por isso, caminhar ficou mais fácil. Chegou à porta da cozinha e bateu.
Não ouviu resposta alguma. Bem, ele poderia estar na garagem fazendo algum
serviço. Ou tomando banho. Poderia entrar, deixar a caçarola e voltar rapidamente para
casa. Estava com medo de enfrentá-lo? E claro que não.
Bem... Talvez. Seus beijos eram poderosos. Resmungando de impaciência, tentou
abrir a porta. Estava destrancada. Ele a alertava para deixar a porta sempre trancada, mas
não fazia o mesmo. Entrou tateando, achou o fogão, abriu o forno, pôs a comida dentro e
virou-se na intenção de ir-se embora antes que ele a descobrisse. Afinal de contas, não
fora convidada...
— O cheiro é bom. O que é?
— Oh! — Ela pôs uma das mãos sobre o coração. — Você me assustou.
Ele riu de uma maneira que provocava arrepios.
— Não tanto quanto você, entrando sorrateiramente na casa de um homem, como
se fosse um ladrão. Ainda bem que eu a tinha visto através da janela do quarto.
Esquecera-se completamente da janela que dava para a casa dela.
— Você viu? — Shannon perguntou, envergonhada.
— O tombo? Sim. E posso dizer que foi uma queda graciosa.

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~ 72 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Há alguma coisa que você não veja?


A risada de Rory era deliciosa, doce como uma carícia, uma promessa de carinho.
— Talvez. Felizmente você não pode retribuir o favor.
— Por quê?
— Havia acabado de sair do chuveiro quando a notei na ponte.
Visões perturbaram a mente de Shannon.
— Você... Você não está...?
— Não, não estou — ele disse, ainda rindo.
Shannon sentiu-se enrubescer.
— Estou indo. Assim você pode vestir-se e comer, antes que a comida esfrie.
— Covarde — ele murmurou. — Fique e jante comigo. Você ainda não me disse o
que fez.
— Uma caçarola mexicana. É feita com hambúrguer e milho, um tipo de chili, mas...
— Ela estava perto da porta. — Eu realmente deveria estar em casa antes de escurecer —
acrescentou, percebendo como era ridículo o que acabara de dizer, como se claridade
fizesse diferença para ela.
Mas não conseguiu chegar à porta. Foi impedida pela mão de Rory no seu braço,
antes que conseguisse dar mais do que dois passos.
— Fique.
Sentindo seu calor, Shannon tocou-lhe a pele nua, suspirou e afastou-se.
— Não se preocupe. Estou decente.
Ele levou a mão dela até o cós da calça.
— Está de calça?
— Sim.
Ela suspirou, e Rory riu novamente.
— Medrosa.
— Absolutamente. Apenas acredito em autopreservação.
— Sente-se. Vou vestir uma camisa e arrumar a mesa. Cerveja ou leite?
— Leite.
Antes que pudesse pensar em uma razão para sair dali, encontrou-se sentada à
mesa já sem o casaco e as luvas. Ouviu os passos de Rory no corredor e, em menos de
um minuto, ele já estava de volta. Ouviu-o movimentar-se pela cozinha até que ele também
se sentou.
— Fiz uma salada para nós. O copo de leite está à direita do seu prato.
— Obrigada. Conte-me como é sua cozinha.
— É velha e fora de moda. Depois de ver o que você fez na sua casa, decidi trocar
os armários e modernizá-la.
— Bom projeto. Você deveria pedir idéias a Kate. Ela é muito boa em decoração.
Mas primeiro deve decidir a cor.

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~ 73 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Gosto de azul.
Shannon franziu o nariz.
— É a cor favorita dos homens, mas acho que é fria demais para uma casa. Gosto
de cores mais quentes.
— Passional... — ele murmurou.
— O que disse?
Rory tocou os cabelos dela.
— Suas cores são vermelho e ouro. Fogo e metal precioso. Mas você usou uma
nuança de creme e verde em sua casa. Pensei que verde fosse uma cor fria.
— Verde é uma cor neutra, e eu a escolhi por causa das trepadeiras. Gosto do modo
como elas se desenvolvem, mesmo em condições adversas.
— São tenazes. Assim como você.
O cumprimento aqueceu o coração de Shannon, levando-a a uma confissão.
— Eu quis desistir de tudo quando levei o tiro. Foi o seu toque que me tirou da
escuridão. A dor era grande demais, então você chegou, calmo e brilhante, como um anjo...
— Ela se calou embaraçada.
Rory não disse nada.
O silêncio que se seguiu fez com que Shannon se arrependesse de ter aberto a boca
para dizer todas aquelas tolices.
— Coma — ele disse finalmente, em um tom suave.
Ela pegou o garfo e fez o que ele ordenara. Depois de alguns minutos, Rory começou
a contar como fora o seu dia na instituição em que trabalhava duas vezes por mês, do velho
touro que morrera e do velho fazendeiro que chorara a morte do animal.
— Os antigos fazendeiros estão desaparecendo. Os jovens não gostam da dureza
da vida em uma fazenda.
— E do isolamento. A vida na cidade é mais fácil e mais animada.
— Então por que você desistiu de ganhar a vida na cidade?
— Loucura, não? Senti que precisava de mais espaço, de um lugar calmo no final do
dia. Planejei trabalhar na cidade, mas terminar o dia aqui.
— Nós precisamos começar a fazer anotações sobre seu trabalho de pós-graduação.
— Nós... Quem somos nós? Se me recordo bem, esse é trabalho meu.
— Você precisará de ajuda. Eu lerei as anotações para você.
— Minha letra é péssima, difícil de entender. Mas assim mesmo agradeço sua boa
intenção.
Ele apertou a mão dela.
— Não adiantará nada recusar.
Ela começou a contestar, mas ouviu o barulho de um motor. Prestou atenção.
— O que foi? — perguntou Rory,
— Aquela caminhonete outra vez. E a mesma pessoa que parou em casa hoje,
procurando emprego. No mês de janeiro, imagine!

Projeto Revisoras
~ 74 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ela ouviu o barulho da cadeira de Rory sendo afastada e sentiu uma corrente de ar
frio quando a porta foi aberta. Ele voltou alguns minutos depois.
— É uma caminhonete preta ou azul-escura, não deu para distinguir. A placa é do
Colorado. Ele parou na sua casa?
— Sim — ela riu. — E eu imediatamente achei que ele podia ser o indivíduo do posto
de gasolina, para descobrir se eu teria condições de identificá-lo. — Shannon riu
novamente, fingindo que achava tolice o que imaginara. Mas Rory não riu.
— Você pode estar certa. Mencionarei isso ao Jess e verificarei junto aos outros
policiais se há estranhos na cidade.
— Acho que não será necessário. Não precisa alarmar Kate. Provavelmente não é
nada. Por favor, preferia que não dissesse nada.
— Certo — ele concordou com relutância. — Você sabe o número do meu telefone?
Memorize-o. Telefone se... Não, espere, tenho uma idéia melhor. Vou fazer uma ligação da
minha casa na sua. Tudo que terá de fazer será apertar um botão, e eu irei correndo.. —
Dessa vez ele riu. — Correndo mesmo, querida.
— Não é necessário — Shannon refutou exasperada. — Sei discar o 911 se eu
precisar de ajuda.
— Eu estou mais perto. Se você teimar, terei que ir à sua casa todas as noites para
me certificar que não há algum marginal rondando.
— De jeito nenhum.
A conversa estava ficando tensa. Ela tinha consciência da presença máscula à sua
direita e do fato de que seus pés se tocavam embaixo da mesa.
Lembrou-se dos beijos dele. Quando a provocara chamando-a de "querida", ela não
respondera. Sabia que não significava nada íntimo, que era apenas força de expressão.
A vida com ele seria engraçada se os dois se amassem. Gelou, horrorizada com a
idéia.
Rory era dez vezes mais atraente do que qualquer homem que conhecera, cem
vezes mais perigoso, e poderia ter qualquer mulher que quisesse.
Nesse momento, havia paixão entre eles, mas isso não significava que poderiam
partilhar um amor duradouro.
Na realidade, o interesse de Rory por ela era devido ao acidente e por ele tê-la
salvado. O perigo une as pessoas, e ele a estava protegendo.
Embora estivesse muito atraída por ele, uma mulher inteligente deveria salvaguardar
seu coração e resistir às tentações da carne. E era exatamente o que pretendia fazer.

— Então, o que você acha? — Rory perguntou a Jess Fargo, o chefe de


investigações do xerife e primo de Shannon por ter se casado com Kate.
— Não posso prender um homem por estar procurando emprego ou por andar nas
vias públicas — Jess respondeu. Seu olhar denotava preocupação. — Espere um minuto.
Rory esperou enquanto Jess ia a um arquivo e voltava com uma pasta. Dentro da
pasta havia fotos da cena do crime que Rory testemunhara: os três corpos no chão no meio
do sangue.
— Olhe isso — disse Jess. — Reconhece esse homem?

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~ 75 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— É o homem do posto de gasolina.


— Se o vir rondando a casa de Shannon, avise-me.
Rory devolveu a fotografia.
— E isso é tudo que pode fazer?
Jess confirmou.
— Shannon acha que não havia outro homem, mas a arma desapareceu. Não há
mais nenhuma evidência, a não ser que ela ou o dono da loja possam identificar o outro
indivíduo como o ladrão.
— O homem poderia ter ficado consciente tempo suficiente para esconder a arma.
Você olhou no lixo?
Jess endereçou-lhe um olhar enviesado.
— Certo, certo, estou apenas perguntando.
Rory levantou-se.
— Tenho que voltar ao consultório para as consultas da tarde. Depois irei para casa
e quero dormir durante doze horas. Qualquer pessoa que me acordar estará procurando
encrenca.
— Eu também gostaria. Tivemos um arrombamento por volta da meia-noite. Alguns
adolescentes deram o alarme. Se estivessem em casa, em vez de ficarem gazeteando pela
cidade, ninguém teria visto a porta arrombada, e nós teríamos podido dormir a noite toda.
Rory riu e deixou o policial no escritório.
Trabalhou a tarde toda sem ser mordido e nem chutado por nenhum paciente e nem
pelos seus donos. Isso significava que tivera um bom dia.
Pouco depois das cinco dirigiu-se para casa. Novas nuvens haviam se formado sobre
o pico das montanhas do oeste, mas ele podia dizer que os dias estavam ficando mais
longos pelos traços de luz no céu. Logo seria primavera novamente.
Os bezerros chegariam, os pintinhos nasceriam.
Uma nova vida romperia em todos os lugares, nas árvores, nas colinas, nos lagos e
nos riachos.
Haveria agitação em todos os lugares, com exceção da sua casa. Precisava casar-
se e encher a casa de filhos. Faria isso assim que encontrasse a mulher certa.
A bibliotecária ou a professora?
Sentiu o coração disparar.
Primeiro teria que afastar Shannon da sua mente.

Shannon amarrara um barbante na moldura da porta e ia esticá-lo até a caixa do


correio. Rory, Kate e Megan haviam lhe trazido a correspondência nos dias anteriores, mas
já era tempo de ela se arranjar sozinha.
Chegou à estrada sem se enganar, mas encontrou a caixa de correio jogada no chão.
Vândalos, ela supôs, ou alguém que fizera a curva com muita pressa e perdera a direção.
Segurando o barbante nos dentes, recolocou o poste da caixa postal no lugar e
socou o chão ao redor com o pé. Ao terminar, a caixa se inclinou em um ângulo de quarenta

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~ 76 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

graus. Precisava de uma pá.


Voltou para casa e foi à garagem. Sempre segurando o barbante, encontrou a pá.
Pegou também a enxada e voltou à estrada. Tirou as luvas e juntou algumas pedras,
reposicionando o poste. Socou a terra, deixando o lugar bem firme.
Seu coração se acelerou quando ouviu um veículo se aproximando, vindo da cidade.
Quando diminuiu a velocidade, ela percebeu que não era Rory. Parou e prestou atenção.
Era a caminhonete com o barulho de válvula batendo.
O estranho parou.
Ela o ouviu sair e bater a porta.
— Alô — ela disse, segurando a pá com ambas as mãos.
— Alô — ele respondeu. — Estou perdido e gostaria que me ajudasse.
Ela concordou com um gesto de cabeça, sua suspeita aumentando com o tom
amigável da voz dele e com o fato de ele não mencionar que estivera por ali a procura de
emprego, apenas dois dias atrás.
— Eu estava procurando pela estrada que leva a Mulholland. Um amigo, Bob
Robertson, mora lá, mas não estou conseguindo encontrar o lugar.
— Robertson — ela repetiu pensativa. — Você está na estrada certa, mas não há
ninguém lá com esse nome. Sinto muito.
— Bem, obrigado de qualquer modo.
Ela esperou que ele partisse, mas ele não o fez.
— Acho que você está precisando de ajuda.
— Posso fazer isso sozinha, não se preocupe — ela respondeu rapidamente.
— Posso colocar mais um pouco de pedra para firmar o buraco. Há pedras de bom
tamanho por aqui. Eu as colocarei de cada lado do poste para que ele fique mais firme.
— Está bem, eu agradeço.
Ele pôs mais pedras no buraco e depois socou com a enxada.
— Você pode pegar aquelas pedras menores e trazê-las até aqui?
— Eu não enxergo.
— Oh... — ele disse como se estivesse surpreso. — Desculpe-me, madame, não
percebi... Então é por isso que usa óculos escuros? Sinto muito, mesmo.
— Está tudo bem, não precisa se preocupar.
— Bem... Está terminado.
Ele devolveu as ferramentas a ela.
— As pedras farão o poste ficar mais firme e estável. Há mais alguma coisa que eu
possa fazer?
Ela mostrou o barbante.
— Poderia prender o barbante ao poste e depois cortá-lo?
— Claro. Pronto. Está feito.
Ele pôs o barbante na mão dela.

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~ 77 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Obrigada por sua ajuda. Espero que encontre seu amigo.


Ela ergueu a pá e a enxada e voltou para casa. Parou perto da porta, até escutar o
veículo se distanciando.
Depois de guardar as ferramentas na garagem, trancou a porta e tirou o jantar do
forno. Lembrou-se de acender a luz e sentou-se sozinha para comer.
Surpreendeu-se, concentrando-se na casa vizinha. Finalmente, ouviu a caminhonete
de Rory chegando, a porta da garagem sendo aberta e fechada depois de alguns segundos.
Shannon ficou pensando se ele viria vê-la. Mas não estava a fim de lhe oferecer
comida e nem de ter que lidar com a libido dele e... A dela também, admitiu.
A campainha do telefone a assustou. Correu para atender, ali mesmo na cozinha.
— Alô?
— Olá, sou eu. Está pronta para jantar?
— Acabei de jantar nesse momento.
Houve um breve silêncio.
— Tudo bem, você comerá a sobremesa enquanto eu janto. Que tal a churrascaria
na divisa do Estado?
— Levaria uma hora para chegarmos lá.
— É verdade — Rory concorlou. — Gastarei quinze minutos para tomar banho e me
vestir. Você levará mais tempo?
Ela ia recusar quando pensou no estranho.
— Está bem. Estarei pronta. Devo ir até aí?
— Claro. A porta de trás estará aberta.
Ele desligou, e Shannon ficou pensando que talvez, a noite pudesse ser muito
interessante.
Tocou na cicatriz da têmpora. Era uma tola, mas iria com ele.
Foi para o quarto, vestiu uma calça preta combinando com uma jaqueta também
preta sobre uma blusa de lã vermelha, de gola alta. Calçou botas mais finas, prendeu uma
pequena bolsa na cintura e... Estava pronta. Escovou os cabelos e deixou-os soltos. Passou
apenas batom, sem coragem de se arriscar a se maquilar.
Pegou luvas, pôs o casaco sobre os ombros e foi para a casa de Rory.
A neve também havia sido tirada ao redor de sua casa. Onde ele encontrava tempo
para fazer tudo isso?
— Rory, estou aqui — Shannon disse, entrando na cozinha.
— Estarei com você em um segundo.
A voz vinha do quarto. A casa pertencera à sogra de Kate e Shannon tinha estado
ali algumas vezes, muito tempo atrás. Tinha três ou quatro quartos, uma grande cozinha,
sala de jantar, sala de visitas e uma sala íntima.
Na cozinha havia uma grande despensa, se sua memória não estivesse falhando.
Um segundo banheiro havia sido acrescentado ao quarto maior, transformando-o em uma
suíte.

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~ 78 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Era casa para abrigar uma família: marido, esposa e filhos.


Shannon se pôs a pensar quem seria a mulher que o ajudaria a redecorar a casa.
Sentiu uma pontada na cabeça. Isso não era da sua conta.
Não seria ela essa mulher, com certeza. Não iria se apaixonar por Rory Daniels para
depois sofrer quando ele a deixasse a procura de outras companhias.
Ela era inteligente demais para fazer uma bobagem dessa. Com certeza.
Definitivamente.

CAPÍTULO X

Está nevando? Esqueci de pegar a correspondência.


— Não, o céu está claro e pode-se ver milhões de estrelas — disse Rory. — A lua
está alta como uma grande moeda de um dólar pendurada no céu. Ainda não é lua cheia,
mas quase.
— Dever estar lindo.
— Sim, está.
Um calafrio irradiou-se por todos os nervos de Shannon. Sabia o que isso significava.
Apoiou as mãos no colo e nada disse.
— A neve está grossa nas árvores — ele continuou —, fazendo o mundo parecer
uma terra de conto de fadas. Os abetos parecem senhoritas vestidas para um baile.
Shannon sorriu, imaginando a cena.
— Estamos quase no limite do Estado, a estrada é reta e clara e o tráfego é leve.
Máquinas de neve trabalharam durante toda noite passada.
Rory continuou a fazer comentários durante toda a viagem, e Shannon relaxou,
aproveitando o monólogo descritivo. Ao chegar ao restaurante, ele lhe disse para esperar
e deu a volta na caminhonete para abrir a porta. Pegou-a pelo braço e entraram.
Havia música abafando todos os outros sons. Shannon apertou o braço de Rory,
nervosa com o barulho. Ele apertou-lhe a mão.
— Está tudo bem. Não há com o que se preocupar.
Ele pegou o casaco e as luvas dela e, quando ela se acomodou em uma cadeira,
pediu licença e se afastou.
Shannon engoliu em seco, inexplicavelmente temerosa de que ele a pudesse
abandonar.
Ficou atenta aos sons, tentando agir normalmente. De repente a música ficou mais
baixa, e ela pôde detectar a presença de outras pessoas nas mesas ao redor, o som de
talheres, vozes, e até a passagem de um casal que se dirigia a uma mesa próxima.
Rory voltou e sentou-se ao lado dela.
— Assim está muito melhor.
— Você pediu que eles abaixassem o volume da música?

Projeto Revisoras
~ 79 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sim. Estava alta demais.


— Obrigada.
Ele acariciou seus cabelos e seu ombro.
— Tudo para a minha garota — Rory sussurrou naquele tom de voz que prometia o
mundo, a lua e as estrelas. Prometia tudo.
— Vinho? — ele perguntou.
— Sim, tinto, por favor.
Rory pediu um merlot para ambos e o filé à moda da casa para ele.
— Humm, parece ótimo — ele comentou, quando a comida chegou. — Você gosta
de filé?
— Sim.
— Abra a boca.
— Não precisa...
Um pedaço de carne foi enfiado na sua boca. Shannon mastigou e engoliu.
— Tenho que admitir que está muito melhor do que o meu jantar.
Ele riu.
— Como você gosta da batata assada? Com tudo?
— Sim, e muito creme.
— Vai comer uma.
— Mas, realmente...
— Sim, realmente — Rory repetiu antes que ela pudesse protestar. — Dividirei uma
com você.
A presença máscula era muito forte, e Shannon se afastou dele o mais que pôde.
— Eu já jantei...
— Por favor, não discuta. Abra a boca.
O ato era íntimo, e a voz dele muito sensual.
Shannon sentiu como se estivesse prestes a fazer amor ali mesmo, em público.
Estava trêmula e apreensiva.
Rory pediu torta de morango com sorvete para sobremesa.
— Abra a boca.
Ela obedeceu.
Rory colocou uma colher cheia de sorvete e calda de chocolate quente na boca de
Shannon.
Ela sentiu um pouco da calda escorrer pelo queixo, mas antes que pudesse limpar
ele o fez.
— Você deveria cuidar de crianças — ela brincou, para tentar dissipar a atmosfera
sensual que se instalara entre os dois. — Tem jeito para isso.
— Planejo fazê-lo. Quero ter filhos. Você não?

Projeto Revisoras
~ 80 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ela piscou, surpresa com a idéia de vê-lo cercado de crianças, brincando com elas
e ensinando-as a cuidar de animais de estimação.
— Você não? — ele insistiu.
— Eu... Planejo trabalhar com crianças e suas famílias quando tiver obtido minha
licença.
— Mas e quanto a uma família?
— Você acha que isso acontecerá? Quem iria querer uma... — Shannon fez uma
pausa — ...mulher cega?
Rory aproximou-se dela, suas pernas encostando-se.
— Eu. Eu a quero.
Isso era impossível, pensou Shannon, tentando-se afastar dele. Conseguiu dar uma
risada de desdém.
— Você é mesmo estranho.
— Louco — ele a corrigiu. — Louco por você.
Rory riu e se afastou, para permitir que ela respirasse mais livremente.
Shannon suspirou.
— Terminou? Estou cansada e gostaria de voltar para casa.
Ele pediu a conta.
No caminho de volta, Shannon sentou-se o mais perto possível da porta da
caminhonete, deixando um espaço entre eles no qual caberia facilmente outra pessoa.
Quando Rory parou, ela ouviu a porta da garagem se abrindo. Estavam na casa dele.
Shannon estava tensa, e ele a conduziu para a porta da cozinha.
— Vou fazer café — ele disse.
— Não para mim. Vou para casa.
— Fique — ele disse, segurando-a pelos braços. Era quase uma ordem, mas ele não
estava sendo ríspido.
Shannon foi percorrida por um tremor e uma corrente de desejo, de necessidade e
de paixão.
— Não posso — ela sussurrou. — Por favor. Não posso.
Rory acariciou seus ombros.
— Está com medo. Por quê?
Ela apertou os lábios e meneou a cabeça.
— É confuso demais para explicar.
Silêncio.
Shannon esperou, ansiando por ser beijada. Mas ele suspirou e se afastou.
— Vou acompanhá-la até sua casa.
— Não é necessário.
— Claro que é, senhorita.

Projeto Revisoras
~ 81 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Shannon deixou-se acompanhar, entrou em casa, e ele esperou que ela trancasse
a porta para então se afastar.
Sozinha, encostou-se no balcão da cozinha e cruzou os braços sobre o peito,
sentindo-se cansada e arrependida de não ter ficado com ele.
Ficaria com ele a noite toda?
Sim... Sim!
Fechou os olhos, desesperada. Temia fazer o que tinha se proposto a não fazer:
apaixonar-se pelo belo vizinho.

Shannon abriu os olhos. O que a havia despertado?


Prestou atenção. Conhecia esse som. Era a caminhonete com a válvula batendo, a
que pertencia ao estranho que aparecera duas vezes durante a semana.
Prendeu a respiração para ouvir melhor. Ele passou pela casa vagarosamente e
parou.
Shannon puxou o acolchoado em direção do peito e esperou. Nenhum som. Ele tinha
desligado o motor.
Na estrada, perto dali, havia um abrigo para as crianças se protegerem da neve
enquanto esperavam o ônibus escolar. Parecia que ele tinha parado lá.
Por quê?
Para voltar e invadir sua casa?
Uma mulher cega e sozinha seria presa fácil para roubar ou... Fazer coisa pior.
O relógio da sala bateu. Era uma hora.
Sem esperar mais nenhum segundo, levantou-se. Pegou o roupão azul-escuro, uma
boa camuflagem para a noite. Na cozinha, vestiu as botas e se dirigiu para a porta dos
fundos.
Sentiu frio ao sair para o pátio cheio de neve. Esperava ser pega a qualquer momento
e ser forçada a voltar para casa. Firmou-se nos joelhos e, silenciosamente, atravessou
ponte congelada, dirigindo-se a casa de Rory.
A porta estava destrancada. Entrou e passou o trinco de segurança. Tateando pelas
paredes, chegou ao que achava ser a porta do quarto. Entrou.
— Rory? — chamou suavemente como se o estranho pudesse ouvi-la.
— O que foi? Shannon? O que aconteceu?
Um flash de luz a fez piscar. Esquecera de pôr os óculos. Como se isso fizesse
alguma diferença.
Rory atirou as cobertas e levantou-se. Olhou para o relógio digital: uma e cinco da
manhã.
Shannon estava com os olhos arregalados, assustados.
— Alguém parou o carro no abrigo da estrada. Acho que... Estou assustada.
Percebendo que a claridade do abajur da cabeceira poderia ser vista do lado de fora,
ele apagou a luz.

Projeto Revisoras
~ 82 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Fique aqui, vou ver o que está acontecendo.


— Não... Não saia. Ele tem um revólver.
— Gomo sabe?
— Sei que ele é o ladrão que atirou em mim. Não posso provar, mas tenho certeza.
Ele está armado e é perigoso. Chame o xerife... Espere!
— O quê?
Ela ergueu a mão, atenta ao mais leve ruído.
— Ele está indo embora... Em direção da cidade.
— Está bem. Avisarei o xerife.
Rory pegou o telefone perto da cama e discou para a delegacia. Relatou que alguém
estava rondando a casa de Shannon e que, no momento, dirigia-se para a cidade. Disse
que o indivíduo não havia feito nada, mas seria bom pegar o número da placa do carro e
verificar a quem pertencia. Desligou e acendeu o abajur novamente.
Shannon olhou em direção da luz, as mãos enfiadas nos bolsos do roupão, a
expressão muito assustada. A gola do pijama cor-de-rosa era visível, e ela parecia muito
vulnerável.
O corpo de Rory estava rígido.
Isso não era de estranhar, acontecia toda vez que pensava nela, isso sem mencionar
a hora e os trajes íntimos que ela estava usando.
— Venha. Vamos tomar um pouco de café. Tenho também alguns biscoitos que
pretendia levar à sua casa pela manhã. Não é uma boa idéia?
— Sim.
Ela não parecia muito segura, o que o fez sorrir.
Rory entendia o que era ficar inseguro em relação a alguém do sexo oposto, embora
fizesse muito tempo que não se sentia assim.
Na cozinha, preparou a cafeteira e colocou alguns biscoitos no microondas para
aquecê-los.
Juntou-se a ela à mesa para esperar que tudo ficasse pronto.
Nenhum deles tinha fome, mas Shannon conseguiu dar duas mordidas no biscoito.
Logo desistiu, e colocou-o no prato que empurrou para o lado, apoiando a testa na palma
das mãos.
— Odeio tudo isso, odeio, odeio!
Rory queria confortá-la, mas não tinha certeza do que ela precisava no momento.
— É muito difícil, sim — ele concordou.
— Às vezes penso que está terminando, que vou ser capaz de enxergar
novamente... Pareceu-me ver a luz do abajur, mas logo tudo ficou escuro novamente.
Rory não suportava vê-la tão infeliz. Aproximou-se e ergueu-a, abraçando-a.
— Eu sei, querida — ele murmurou.
Shannon olhou para ele, e Rory quis saber como, sem enxergar, ela parecia capaz
de entender o que lhe ia na alma.

Projeto Revisoras
~ 83 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Você vai passar o resto da noite aqui — ele afirmou, esperando que ela
contestasse.
Mas Shannon concordou, depois de uma breve hesitação, e Rory a encaminhou para
o quarto dele.
— Essa é a única cama da casa. Mas não se preocupe, estará a salvo.
— Eu não estava preocupada.
Rory ergueu-lhe o queixo com uma das mãos e, em seguida, contornou o rosto dela
com a ponta do dedo.
— Onde você dormirá?
— No sofá. Se precisar qualquer coisa é só gritar.
— Eu quero que você... fique.
As palavras foram proferidas tão suavemente que eram quase inaudíveis.
— Não posso. Não posso prometer nada se ficar ao seu lado.
— Fique.
Ele fechou os olhos e tentou pensar em coisas nobres: honra, respeito,
companheirismo... Mas não funcionou. Deu um passo à frente e abriu os olhos ao sentir os
braços de Shannon ao redor de sua cintura. Sentada, ela apoiou a cabeça em seu peito e
passou as mãos vagarosamente pelas suas costas.
— Não posso prometer uma noite platônica se você continuar com isso.
Sem dizer uma palavra, ela tirou as botas, levantou-se da cama e tirou o roupão. O
coração de Rory batia furiosamente. Ela parou, a cabeça inclinada para o lado, como se
prestasse atenção nos movimentos dele. Começou a desabotoar o pijama.
— Deixe que eu faço isso — ele pediu, a voz rouca de desejo.
Shannon deixou os braços caírem ao lado do corpo em um convite para que ele
terminasse a tarefa. Rory ficou contente por ela não poder ver como seus dedos tremiam.
Tirou a parte de cima do pijama e a jogou sobre uma cadeira.
— Espere... — pediu, embora Shannon não estivesse se movendo.
Tirou a camiseta e as meias.
— Agora... — ele murmurou, desamarrando a calça do pijama dela, que deslizou
para o chão.
Shannon deu um passo para se desvencilhar do pijama e abriu os braços para ele.
Isso era mais do que um pobre mortal podia agüentar, e ele não tinha intenção de
ser santo. Deu um passo à frente e sentiu o calor de Shannon ao longo do seu próprio
corpo.
— Você é linda! Tão linda que me deixa sem respiração.
— Isso parece letra de música — ela respondeu suavemente, pressionando os dedos
no pescoço dele.
Rory sentiu um calor intenso percorrer-lhe o corpo.
Antes de levá-la para a cama fez mais uma pergunta:
— Não vai se arrepender pela manhã?

Projeto Revisoras
~ 84 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Shannon beijou-o no pescoço.


— Não sei. Acho que não saberemos até que o sol nasça, você não acha? E então
não terá muita importância, estará feito.
— Não — ele disse, afastando-se dela. — Isso não é solução, e eu não vou trocar
segurança por sexo.
Cerrou os punhos ao ver lágrimas escorrerem pelo rosto de Shannon e percebeu
que ela ficara humilhada.
— Desculpe, eu não deveria... É claro que você não ia querer... Sinto muito. Minhas
roupas... — Ela apontou para o chão — Pode pegá-las para mim?
Rory não resistiu e tomou-a em seus braços.
— Sua tola. E claro que eu a quero. Não consigo dormir à noite, pensando em tê-la
em meus braços. Não há um só minuto sem que eu pense em você. Droga... Estou apenas
tentando respeitá-la, você está muito vulnerável e não quero tirar vantagem da situação.
Mas se você me quer... Então...
Ele enxugou as lágrimas dos cílios dela com um beijo e procurou seus lábios
trêmulos. Shannon passou os braços ao redor dele e abandonou-se aos seus carinhos.
O restante dos escrúpulos de Rory se esvaíram. O toque de Shannon o eletrizava e
a razão não existia naquele momento.
Deitou-a na cama e ajeitou a cabeça de Shannon sobre o travesseiro para poder
beijá-la.
Durante um longo tempo, beijou-a e acariciou-lhe as costas, mas sentiu necessidade
de fazer mais ou explodiria com a força do seu desejo. Beijou-lhe os seios e explorou os
mamilos rosados, túrgidos pelo desejo.
Quando Rory lhe tocou as coxas, Shannon quis entregar-se totalmente.
Shannon nunca imaginou que a paixão pudesse ser tão intensa. O mundo estava
concentrado naquele quarto, naquela cama e nas carícias dele.
Quando Rory a tocou mais intimamente, ela quase gritou. Como poderia resistir a
sensações que desconhecia até esse momento?
— Por favor — ela disse, sem certeza do que estava pedindo. — Por favor, Rory,
preciso de você... Eu quero... Agora, por favor.
— Espere — Rory sussurrou, afastando-se dela. Ele também estava ansioso, mas
conseguiu abrir a gaveta da mesa-de-cabeceira para pegar um preservativo. Colocou-o e
voltou a abraçá-la. As pupilas de Shannon estavam dilatadas de paixão, e seus olhos
brilhavam na penumbra do quarto. Mais uma vez, Rory lembrou-se da jovem bonita que
dirigia o trânsito na rua.
— Como pude demorar tanto tempo para notá-la? Eu é que era cego... Ou estúpido.
— Ele riu, passando o dedo desde sua testa até o vale entre seus seios. — Você é a mulher
mais linda que eu já vi.
Shannon beijava ardorosamente o pescoço e o peito dele.
— Você me faz sentir bonita e sensual. E... assustada.
Rory ergueu-lhe o queixo.
— Você não tem que ter medo de mim. Não sabe que eu faria qualquer coisa para
mantê-la a salvo? Qualquer coisa?

Projeto Revisoras
~ 85 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Essa mulher teimosa e independente despertava nele muitas sensações, e ela


parecia não perceber. Ele queria muitas coisas... Muitas.
— Eu sei. Acho que sei.
Mas, nesse momento, Shannon não queria palavras. Queria apenas a ele e todos os
prazeres que um poderia proporcionar ao outro. Quando o tocou mais intimamente, ele
ficou tenso e se preparou para penetrá-la.
Shannon prendeu a respiração quando ele a penetrou devagar e com delicadeza.
Ergueu os quadris para se fazer mais acessível, até ele completar a penetração. Ficaram
imóveis durante algum tempo, saboreando aquela intimidade completa. Então Rory
começou movimentos cadenciados, que foram acompanhados por Shannon. A harmonia
entre os dois era perfeita, e os movimentos foram ficando mais intensos, cada vez mais
intensos, os dois agarrados um ao outro, gemendo, sussurrando palavras desconexas.
Rory sabia que o momento do êxtase se aproximava.
— Espere — ele murmurou — Não se mexa.
— Não posso parar — Ela ergueu os quadris e gemeu. — Preciso mais... Mais...
Shannon sentiu-se desfalecer quando ele levou a mão às suas partes mais íntimas,
acariciando-a. Ele recomeçou os movimentos sem parar de acariciá-la.
Ela sentiu suas contrações ficarem cada vez mais intensas, uma sensação
maravilhosa e poderosa que a dominou até o êxtase. Os dois chegaram ao clímax juntos
e, mesmo depois de saciados, Rory parecia não querer parar de acariciá-la.
Finalmente parou, e ela suspirou profundamente, acariciando lentamente as costas
e os braços dele.
— Foi maravilhoso —Shannon murmurou. — Eu não queria que terminasse.
Percebeu que ele ria antes de se mover para o lado, levando-a com ele para que
permanecessem como se fossem uma só pessoa.
— Dê-me cinco minutos — ele disse.
Mais uma vez, ouviu-o rir. Shannon sorriu e abriu os olhos.
— Pretendo mantê-la em meus braços a noite toda.
— Cuidado. Isso parece uma promessa.
— É uma promessa.
Rory beijou seus lábios rosados e percebeu que o queixo de Shannon estava
avermelhado. Não havia se barbeado essa noite. Não esperava ter companhia na cama.
Olhou para o pequeno pacote de preservativos sobre a mesinha-de-cabeceira. Sabia
que chegaria o momento em que a paixão tomaria conta dos dois e que nada poderia detê-
los. Só não imaginara que seria dessa maneira, com tamanha intensidade. Mas não queria
que ela viesse até ele por medo ou por necessidade, mas por...
Por quê?
Era uma pergunta na qual não queria pensar nesse momento. Mas então quando?
Não sabia responder. Em parte isso dependia da mulher que se aninhara em seus braços,
completamente abandonada.
Ternura, a estranha ternura que apenas ela conseguira despertar, voltou a dominá-
lo. Uma coisa era inquestionável. Faria tudo para protegê-la e livrá-la de qualquer perigo.

Projeto Revisoras
~ 86 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ninguém a magoaria enquanto ele vivesse.


Com esse pensamento, percebeu que seu corpo precisava dela novamente.
Shannon gemeu de prazer e preparou-se para ser penetrada mais uma vez. Ele a possuiu
com urgência e pressa. Os dois foram arremetidos a um lugar distante, muito mais longe
de onde estiveram em algum momento de suas vidas.
Em seguida... Apenas silêncio.
— Em que está pensando? — ele perguntou.
Shannon suspirou.
— Que a paixão é muito poderosa. Eu não esperava... Oh, eu nem sei o que
esperava.
Rory apagou a luz do abajur e a envolveu em um abraço.
— Sim, é diferente de tudo que vivi — ele admitiu, mesmo sem saber o motivo.

CAPÍTULO XI

Ao acordar, Shannon olhou em direção da luz e piscou. A claridade não


desapareceu. Piscou novamente e sentou-se na cama.
Logo percebeu que estava vendo o retângulo da janela, iluminada pela luz da manhã.
Temerosa, olhou ao redor. Pôde detectar pontos mais claros e outros mais escuros.
Viu uma cômoda contra a parede, uma pequena mesa ao lado da cama e os lençóis claros
contra o acolchoado escuro.
— Deus do céu — murmurou, mal acreditando no milagre.
Mas e se fosse apenas momentâneo?
— Ah... Vejo que já acordou.
Ela virou-se em direção da voz. Rory estava parado à porta.
Shannon tinha medo de fechar os olhos, medo de que o mágico momento pudesse
desaparecer, é ela caísse novamente na escuridão.
Com os olhos arregalados, ela o viu aproximar-se da cama e se curvar. Quando a
cabeça dele ficou mais próxima, ela olhou para o rosto dele.
— Bom dia — ele murmurou com ternura e com todas as nuanças de um amante
feliz.
Shannon foi percorrida por um tremor ao relembrar as cenas tórridas que os dois
haviam vivido.
— Estou vendo você — ela murmurou.
Rory afastou-se alguns centímetros e pediu:
— Diga isso novamente.
— Posso ver sombras e contornos. Posso ver o contorno de sua cabeça contra a
claridade da janela. Seu rosto não está claro, é como se fosse um manequim de loja com
contornos dos olhos e apenas sugestões de nariz e boca, mas um rosto, sem dúvida

Projeto Revisoras
~ 87 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

alguma.
Ele sentou-se na cama e esperou que ela falasse mais.
— Quando acordei vi a claridade da janela e pensei que fosse mais um daqueles
flashes, mais impressão do que realidade, mas dessa vez a luz não desapareceu quando
eu pisquei. — Shannon cobriu o rosto com as mãos. — Tive tanto medo!
Ele a abraçou.
— Isso é apenas o início do milagre, minha querida.
Ao sentir o tecido da camiseta dele na pele é que Shannon percebeu que estava
nua.
— Meu pijama... — Lembrou-se da noite que os dois haviam compartilhado e de tudo
que sentira.
Rory não estava surpreso de que o milagre da visão tivesse acontecido nessa
manhã. Parecia estar em sintonia com a noite de amor maravilhosa que tinham vivido. Ela
ter recuperado a visão nessa manhã parecia tão natural quanto o amanhecer de todos os
dias.
— Vou pegá-lo, mas primeiro você precisa de um banho.
Conforme se levantou com ela nos braços, ele notou os lençóis manchados de
sangue e, mais uma vez, foi invadido por uma ternura imensa. Teimosa, orgulhosa,
independente e... virgem.
Ele deveria ter desconfiado. A hesitação e a incerteza dela tinham sido sinais que
evidenciavam uma mulher sexualmente inexperiente. Temeu ter exigido demais dela em
uma só noite, mas a exigência não fora apenas dele. O desejo dela havia sido tão intenso
quanto o dele.
Respirou profundamente. Aquele não era o momento adequado para paixão.
Carregou-a até o banheiro, despiu-se rapidamente e entrou com ela sob o jato quente do
chuveiro. Começou a dar-lhe banho, ignorando a risada de Shannon e o seu
enrubescimento quando ele tocou suas partes mais íntimas.
— Não há uma só parte de você que eu não conheça.
Pôs xampu nos cabelos dela e conteve seu desejo. Deu-lhe um rápido beijo, também
tomou um rápido banho, enxugou-a e a colocou na frente do espelho.
— Olhe-se — ele sugeriu e acendeu a fileira de lâmpadas de cada lado do espelho.
Shannon piscou e aproximou-se do espelho. Pôde perceber duas sombras. A dela e
a dele. Continuou olhando, esperando ver mais, muito feliz em poder reconhecer sombras
e formas, enquanto Rory lhe secava os cabelos com um secador.
— Escova de dente — ele disse, pondo uma nas mãos dela.
Shannon olhou para a escova e murmurou:
— É um milagre...
— Não, é apenas uma escova de dente. Foi inventada há muito tempo.
Shannon sorriu, sabendo que ele lhe estava dando tempo para acostumar-se em ver
o mundo novamente, embora ainda sem muita nitidez.
Quando os dois estavam vestidos, ela com o pijama cor-de-rosa e o roupão, Rory a
levou até a cozinha.

Projeto Revisoras
~ 88 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— O café da manhã está quase pronto. Ovos com bacon e torradas, está bom?
— Sim, está ótimo.
— Café. — Ele pôs duas canecas sobre a mesa.
— A mesa é branca? — ela perguntou.
— Sim, mas pretendo lixá-la. Ela é de carvalho e quero que volte à cor natural.
A risada de Rory era contagiante, e Shannon ficou admirando-o fritar os ovos e
passar manteiga nas torradas. Em poucos minutos tudo estava pronto, e ele veio até a
mesa com dois pratos e talheres.
Ela estremeceu quando ele lhe tocou o braço.
— Coma — Rory ordenou carinhosamente.
Shannon obedeceu. Estava com um apetite voraz.
Comia, consciente da presença dele, nunca se sentira assim em relação a homem
nenhum. Sempre fora tão ocupada perseguindo seus objetivos, que nunca dera muita
importância a outras sensações.
A cegueira a fizera perceber que havia outras coisas na vida, como o perfume das
rosas e o significado das palavras. Recordando a paixão da noite anterior, teve vontade de
fazer amor com ele novamente, mas a manhã trazia-lhe outros problemas.
— Arrependimentos?
— Não — ela respondeu com firmeza. — Não exatamente. — Suspirou. — A manhã
trouxe uma nova luz à situação.
— Por você estar enxergando?
— Não. Porque a noite passada complicou as coisas entre nós. Sexo é ou pode ser,
uma forma de união. Você já ouviu falar a respeito da síndrome de Estocolmo?
— Não.
— Bem, resumindo, é o que acontece quando os seqüestrados se identificam com
os seqüestradores. Aqui nos Estados Unidos tivemos um exemplo disso com Patty Hearst.
E uma tática de sobrevivência: ficar como os outros para conseguir sobreviver. Dessa forma
não se é punido ou torturado.
— Se a noite passada foi uma tortura, querida... Quero ser torturado novamente.
Shannon sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, mas conseguiu continuar sua
explicação.
— Coisa semelhante pode acontecer quando a pessoa passa por um evento
traumático ou quando salva a vida de outra. Uma ligação é estabelecida, não precisa ser
uma ligação má, mas pode levar a complicações. Mais tarde, essa ligação pode ser difícil
de ser interrompida, mesmo quando a pessoa se conscientiza de que está incorrendo em
erro.
Depois de um longo momento, Rory perguntou:
— Quem eu sou... O seqüestrador ou o seqüestrado?
Ele sorriu cinicamente, e ela percebeu.
— Acho que ambos fomos pegos em circunstâncias que escaparam do nosso
controle. O tiro que me feriu, o fato de você ter me encontrado, a perda de minha visão,

Projeto Revisoras
~ 89 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

nossa vizinhança, minha preocupação com o homem da caminhonete. Tudo isso somado...
— A noite passada também?
Shannon concordou.
— Você é uma pessoa naturalmente protecionista e carinhosa.
— Poupe-me da psicanálise. A noite passada foi desencadeada pelas
circunstâncias, mas o que aconteceu foi construído durante dias, desde que você saiu do
hospital.
— Mas não era real... Você não vê?
— Mais do que você pensa.
Havia um tom amargo na voz dele. Shannon tentou analisar, mas eram impressões
demais sobre ele e sobre a noite de amor povoando sua mente.
— A paixão e todo o resto... É tudo muito confuso — ela suspirou. — Gostaria que
fôssemos amigos.
— Mas não amantes — ele concluiu.
Shannon se obrigou a concordar.
— Podemos tentar.
Ele não parecia sincero, como se não acreditasse que pudessem ser apenas amigos.
Olhando para os retângulos de luz, ela refletiu sobre o milagre da visão e do amor.
Eram dádivas que as pessoas freqüentemente recebiam. Lágrimas encheram os olhos de
Shannon antes que ela pudesse evitar. Abaixando a cabeça, terminou rapidamente o
desjejum e agradeceu a hospitalidade.
— Preciso ir para casa para que você possa se aprontar para ir trabalhar. É sexta-
feira, não é?
Ela levantou-se e percebeu que estava descalça.
— Minhas botas — murmurou, tentando lembrar-se de onde as deixara.
— Vou pegá-las para você.
Rory ajudou-a a calçar as botas e a acompanhou até em casa. Verificou se estava
tudo em ordem, ela agradeceu e esperou que ele se afastasse. Estava muito perturbada e
queria ficar sozinha para pensar o que faria. Não conseguia pensar com ele perto.
— Conheço um oftalmologista em Denver — Rory disse, já perto da porta, relutando
em sair. — Você deve fazer um check up. Se quiser posso marcar uma consulta e
acompanhá-la até lá.
Shannon hesitou e perguntou:
— Podemos esperar? Gostaria de observar o que vai acontecer.
— Tudo bem. Avise-me quando decidir.
Voltando para casa, Rory refletiu sobre a ironia da vida. Tentara não tirar vantagem
de Shannon, tentara ser honrado, mas na noite passada, quando ela viera até ele, o desejo
fora intenso demais para ambos. Essa manhã ela recobrara a visão e viera com aquela
história de síndrome. Não era bem isso o que ele esperava.
Mas quando uma bela policial fazia o que se esperava dela?

Projeto Revisoras
~ 90 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Bem, seus problemas teriam que esperar até o momento certo, até o momento em
que ficassem sozinhos novamente.
Suspirou, pôs a carteira no bolso, deixou um bilhete para seu pai e madrasta, e se
apressou para o trabalho. Se tivesse sorte, eles não ficariam por mais do que um final de
semana.
Mas ele nunca tinha esse tipo de sorte.

Shannon vestiu-se e logo telefonou a Megan e Kate para dizer-lhes que sua visão
estava retornando.
— É como caminhar no crepúsculo sem luzes acesas, na penumbra.
— Temos de celebrar — Kate declarou. — Venha jantar conosco essa noite.
Abriremos um champanhe. Mandarei Jess buscá-la. Oh, Shannon, que boa notícia!
Sorrindo pensativa, Shannon despediu-se sentindo-se muito melhor depois de falar
com as primas. Pegou um catálogo e examinou-o, mas não conseguiu ler. Sabia que suas
expectativas eram exageradas, mas tinha que tentar.
Lembrou-se da noite anterior, com Rory.
Ele tinha sido tão maravilhoso, tão apaixonado e carinhoso. Ele era tudo que uma
mulher podia desejar. E ela queria mais. Disso tinha certeza.
Mais o quê?
Era uma pergunta que não estava pronta para responder. Ainda não.
Havia muita coisa em sua vida que ela precisava repensar. Uma delas era o milagre
dessa manhã. Iria durar? E se não persistisse?
Tinha muito medo de que a escuridão voltasse.
Vagou pela casa, capaz de discernir cada peça de mobília. Lembrando-se de que o
médico não queria que seus olhos sofressem nenhuma agressão, colocou os óculos
escuros. Pareceu-lhe quê a visão se fora. Em pânico, tirou os óculos.
Não... Ainda estava enxergando.
Pôs os óculos no bolso da camisa e decidiu usá-los apenas quando saísse.
Cheia de energia, limpou toda a casa e poliu a mobília, atitude estranha, pois serviço
de casa não era uma de suas prioridades. Mas quando terminou, sentiu-se
verdadeiramente em sua nova casa.
Cochilava no sofá, à tarde, quando acordou com o ruído de um veículo na estrada.
Tensa, percebeu que não era um som familiar. A pessoa diminuiu a velocidade e se dirigiu
à casa de Rory.
Provavelmente um fazendeiro com um cachorro doente. Veterinários eram tão
requisitados quanto médicos.
Curiosa, caminhou até a janela. O sol a fez fechar os olhos. Pôs os óculos. Havia um
carro na casa dele, mas ela não viu ninguém. Esperou.
Tirou os óculos e pôs a palma da mão sobre os olhos. Olhou o mais fixamente que
pôde. Alguém caminhava da casa para o carro. Agora voltava para a casa. Outra pessoa
encontrou a primeira e ambos entraram na casa.
Seu coração se acelerou, ela procurou o número do telefone do consultório de Rory,

Projeto Revisoras
~ 91 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

mas decidiu telefonar a Jess para explicar o que estava acontecendo.


— Vou verificar — ele prometeu.
Aliviada, certificou-se de que suas portas estavam trancadas e decidiu pegar seu
revólver. Lembrando-se do binóculo da Segunda Guerra Mundial que pertencera a seu tio-
avô, ela o pegou e voltou à janela.
O que viu a surpreendeu. Um homem estava carregando alguma coisa para dentro
da casa. Eram malas. Oh não! Aparentemente Rory tinha visitas.
Ligou novamente para Jess para impedi-lo de vir, mas ele já havia saído. Torceu
para que não viesse com a sirene ligada.
Mas foi justamente o que aconteceu. Menos de um minuto depois, ouviu a sirene
como também a caminhonete de Rory chegando. Suspirou e saiu pela porta dos fundos em
direção da casa dele.
Bateu na porta, e Rory atendeu.
— Olá, entre. Parece que esta parte da cidade está animada.
— Foi minha culpa — ela admitiu, entrando na cozinha. — Vi algo suspeito e chamei
a polícia.
— Agiu como uma policial. Deixe-me apresentar-lhe meu pai e minha madrasta.
Ele pegou-a pelo braço.
— Talvez em outra oportunidade.
O veículo da polícia se aproximava da casa, e Shannon ouviu mais um veículo
chegando. Jess chegara com mais duas viaturas.
— Mais companhia — Rory murmurou. — Entrem, xerife, Jess... A porta está aberta.
— O que está acontecendo?
Era uma voz irritada de mulher. Sem dúvida, a madrasta.
Shannon sentiu vontade de desaparecer em um buraco.
— Uma visita surpresa — Rory respondeu à mulher, com ironia.
— Está tudo bem? — perguntou Jess quando dois policiais entraram no pequeno
corredor.
— Você está bem? — perguntou outro policial.
Shannon reconheceu a voz do xerife, seu patrão.
— Sim. Está tudo bem. Foi um alarme falso.— Ela sorriu envergonhada.
— Esqueci de mencionar a Shannon que meus pais chegariam hoje — Rory disse
casualmente, como se tivesse obrigação de avisá-la. — Papai, Catherine, esta é Shannon
Bannock, minha vizinha. O primo dela, detetive Jess Fargo e... xerife Gene. — E dirigindo-
se a Gene continuou: — Provavelmente se lembra do meu pai, Richard Daniels e minha
madrasta.
— Certamente. Como vão?
Os homens se cumprimentaram assim como as duas mulheres. Rory ofereceu café,
mas Jess e Gene disseram que precisavam voltar à delegacia.
Depois que saíram, Shannon voltou à cozinha.

Projeto Revisoras
~ 92 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Também preciso ir. Desculpe pela confusão, sra. Daniels e espero que aproveite
sua estada aqui.
Virou-se e deu de cara com Rory que fechou os braços ao redor dela.
— Calma... — ele murmurou.
— Você deveria olhar por onde anda — sugeriu a sra. Daniels.
Shannon enrubesceu e tentou se afastar de Rory, mas ele não a soltou.
— Ela deveria, mas é cega como um morcego.
Shannon sentiu nas entrelinhas que ele estava bravo com a outra mulher.
— Onde estão seus óculos, querida? — ele continuou. — Você não deve deixar de
usá-los até a sua próxima consulta. Ela recuperou parte da visão — Rory explicou aos pais,
tirando os óculos do bolso de Shannon e colocando-o no rosto dela. — Tive uma idéia. Por
que não vamos todos jantar fora essa noite?
Shannon meneou a cabeça.
— Eu já havia feito planos. Kate virá me buscar.
— E ela não me incluiu? Terei que falar com ela a esse respeito. Vamos, vou levá-la
até sua casa e depois voltarei para o consultório. Estarei de volta em um segundo — ele
disse aos pais.
Pegou a mão de Shannon e a conduziu para casa.
— Desculpe-me — Shannon tornou a pedir ao atravessarem a ponte. — Deixei sua
mãe contrariada.
— Minha madrasta. Não me importo com a reação dela.
— Vocês não se dão bem?
— Mais ou menos. Apenas nos suportamos. Meu pai a ama, e ela parece fazê-lo
feliz. Isso é o que importa para mim. Olhe o degrau.
Eles estavam na varanda. Relutando, Rory parou, mas sabia que precisava voltar,
tinha hóspedes.
— Obrigado por se preocupar comigo.
— Desculpe. Não deve ter sido nada agradável chamar a polícia para dar as boas-
vindas a seus pais.
Ele riu. Subitamente, o dia parecia mais bonito.
— Vou dormir muito melhor sabendo que minha vizinha é uma policial. E claro que
eu me sentiria mais seguro se a tivesse na minha cama, mas...
Shannon permaneceu séria.
— Que tal jantarmos juntos amanhã? Seria uma compensação pelo dia de hoje. E
não vou aceitar uma recusa.
Shannon riu, vencida.
— Isso não me dá alternativa, mas se é para compensar o tumulto de hoje, aceito.
Incapaz de resistir, ele curvou-se e beijou-lhe os lábios.
— Gostaria que estivéssemos sozinhos. Vejo-a mais tarde.
— Amanhã — ela o corrigiu.

Projeto Revisoras
~ 93 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sim, amanhã.
Catherine esperava por ele à porta.
— Seu pai e eu resolvemos deitar um pouco para descansarmos — ela informou no
habitual tom de voz impessoal. — Há apenas uma cama, então vou acomodá-lo no sofá.
Rory praguejou. Esquecera-se da cama.
— Colocarei uma cama no quarto de hóspedes. Planejava ter feito isso ontem, mas
houve alguns imprevistos.
Foi ao quarto de hóspedes, seguido pela madrasta. Pôs uma cama e voltou ao quarto
para pegar os lençóis.
— Os novos móveis que comprei ainda não chegaram — ele explicou, gostando da
expressão de desaprovação que via no rosto de Catherine.
Ela parecia estar engolindo um mosquito, e ele evitou sorrir diante de tal
pensamento.
— Você parece ser íntimo da sua vizinha — ela afirmou, tentando conseguir alguma
informação.
Rory sorriu inocentemente para a madrasta que era catorze anos mais velha do que
ele e vinte anos mais nova do que seu pai.
— Shannon. Sim, ela é minha noiva, embora ainda não tenhamos anunciado o
noivado. Ela quer dizer à sua família primeiro. Mas acho que você e papai podem saber.
— Noiva?
Ele gostou do choque que havia provocado na madrasta. Ela era uma mulher bem-
apessoada, seu conjunto de calça e blazer era muito elegante e provavelmente custara
mais do que todo o guarda roupa dele. Ou de Shannon.
— Sim. Decidimos a noite passada, e você é a primeira pessoa a saber.
— Não me lembro de você tê-la mencionado antes. Já refletiu como será a vida ao
lado de uma pessoa cega?
Rory ficou furioso, mas conteve-se.
— Não, mas pensei que será muito bom viver ao lado de Shannon.
O olhar que ele lhe endereçou deve ter sido muito convincente porque ela
recapitulou.
— Suponho que você saiba o que está fazendo — ela disse, indo para a sala de
visitas para dizer ao marido que a cama estava pronta.
Rory dominou a raiva e caminhou até sua caminhonete. Precisava voltar à clínica
onde faria, nessa tarde, duas cirurgias. Queria dar uma boa caminhada antes de enfrentar
o jantar com os pais.
Quando chegou ao consultório, pegou o telefone e discou para Shannon.
— Olá — ele disse quando ela respondeu. — Achei melhor avisá-la. Ficamos noivos
a noite passada. Tive que confessar tudo para a minha madrasta. Ela suspeitou que éramos
mais do que simples amigos, então satisfiz sua curiosidade.
Rory sorriu esperando pela resposta.
— Você é louco?

Projeto Revisoras
~ 94 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sim, louco por você.


— Eu deixei brincos ou alguma outra evidência ao lado da sua cama que foram
encontrados pela sua madrasta?
— Mais ou menos isso. Ela me viu beijando-a.
— Ahn?
Shannon estava brava, e Rory achou tudo muito divertido.
— Por causa de um beijo temos que ficar noivos? O que significa isso? Um retorno
à era vitoriana?
— E. Acredite-me, Catherine é assim.
Ele esperou que Shannon pensasse em uma resposta.
Ela suspirou.
— Quando tempo isso vai durar? Devo informar minha família?
— Conhecendo minha madrasta, acho que é uma boa idéia.
— Está bem. Avise-me quando desfizermos o noivado.
— Certo.
Depois de desligar, Rory pensou a respeito. Não tinha certeza se havia tempo
determinado para um noivado. E até lá muita coisa poderia acontecer. Sentiu um calor
invadir-lhe as entranhas com as sugestões que sua mente apresentou.

Mandy encontrou Shannon na porta, quando ela chegou com Jess.


— Sou a primeira da classe — a garota anunciou. — Lidero a turma quando
marchamos para a sala de música.
— Uau! — Shannon exclamou, levantando a garotinha nos braços. — Você deve ser
a melhor de todas.
— Sim — a garota concordou, alegremente.
— Não fique convencida — Jeremy, o irmão mais velho, admoestou-a.
Mandy lhe endereçou um olhar complacente.
— Está bem.
Shannon, como parte de seu serviço no departamento de polícia, trouxera Mandy
para Kate no último mês de junho. Kate e Jess haviam se casado e adotado a criança, que
florescera com exuberância no seio da nova família.
Kate abraçou Shannon.
— Como vai sua visão?
— Ainda está comigo. Estive olhando para tudo durante toda a tarde, mas tudo que
pude ver foram luzes bruxuleantes.
— Jess me disse que você chamou a polícia para salvar o seu vizinho, esta manhã.
— É verdade. Para ser mais exata para supostamente prender o pai e a madrasta
dele. Foi muito embaraçoso.
A família de Kate achou o incidente hilariante.

Projeto Revisoras
~ 95 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Você ouviu a caminhonete misteriosa novamente? — Jess perguntou.


— Que caminhonete misteriosa? — Kate quis saber.
Jess explicou, e Shannon assegurou à prima que não era nada sério.
— Acho que imaginei coisas. Provavelmente há uma explicação inocente para tudo.
— Talvez você deva ficar conosco por algum tempo.
— Estou bem. Fique tranqüila.
— Rory está cuidando dela — Jess assegurou à esposa.
— Oh, o conquistador de corações da cidade — Kate provocou.
— Ahn... Tenho outra novidade.
Fez-se um instante de silêncio.
— Rory e eu estamos noivos. Mais ou menos isso.
— Você e Rory?
— Aparentemente a madrasta dele é intrometida e andou perguntando de mim,
talvez por eu ter chamado a polícia e... Suspeito que ele... Bem, de qualquer modo, ele lhe
disse que estamos noivos. Quando ele telefonou para avisar-me, concordei em continuar
com a história até seus pais irem embora,
— Talvez vocês acabem se casando — afirmou
Kate, sorrindo.
— Posso ser sua noivinha? — Mandy pediu.
— Eu não terei de ir ao casamento, terei? — perguntou Jeremy com uma expressão
ansiosa.
Shannon sentiu o rosto afogueado. Sua família estava levando o assunto a sério.
— Estou apenas ajudando um vizinho, isso é tudo. Rory e eu somos amigos. — E
amantes, ela pensou.
Mas essa parte foi omitida. Sorriu e torceu para que a noite de Rory fosse tão
constrangedora quanto a dela.
Mais tarde, depois de Jess a deixar em casa, Shannon ouviu passos familiares na
varanda dos fundos.
— É Rory, pode abrir a porta?
— O que foi? — ela perguntou, o coração disparado.
— Nada. Apenas saudade. — Ele a abraçou procurando seus lábios para beijar.
— Não faça isso — ela o admoestou quando pôde falar.
Shannon estava fatigada e com dor de cabeça.
— Tive que vir dizer boa-noite para a minha noiva — ele explicou. — O que você
disse à sua família a nosso respeito?
— A verdade.
— E qual é?
— Que estamos fingindo estar noivos por causa da sua madrasta.

Projeto Revisoras
~ 96 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Rory resmungou e encostou a testa contra a dela, sorrindo.


— Você precisa ser tão perversamente honesta? Kate telefonou para dizer-me que
Jess partiria todos os meus ossos se eu a fizer sofrer.
Shannon não sabia muito bem o que responder, mas finalmente disse:
— Eles se preocupam comigo.
— E eu? E quanto ao meu coração?
Antes que ela pudesse pensar em uma resposta ele a deixou e saiu, advertindo-a
que trancasse a porta.
Shannon foi para a cama, mas levou certo tempo até acalmar-se e conseguir dormir.
Nos seus sonhos alguém perguntava o que tudo isso significava e ela respondia
várias vezes à pessoa invisível:
— Nada. Não estamos apaixonados. Somos apenas bons vizinhos. Isso é tudo.

CAPÍTULO XII

Na manhã seguinte o telefone começou a tocar às nove horas. Shannon descobriu


que a notícia do seu noivado com Rory fora publicada no jornal local.
Depois do quinto telefonema, ela ligou para o consultório dele.
— Olá, querida!
— Não me chame de querida.
— Ahn, você soube da notícia do jornal.
— Sim. Você...
— Não, não fui eu. Suspeito da minha querida madrasta.
— Por quê? — Shannon perguntou totalmente perplexa. — Por que ela faria uma
coisa dessas?
— Para me colocar em uma posição desconfortável, ela não acreditou na história do
noivado. E eu que pensei ter sido muito convincente.
— Se sua história foi uma tentativa de proteger minha reputação, prefiro ser
consultada antes de qualquer outro ato de galanteria — ela afirmou com exasperação.
— Certo — Rory concordou. — Sou uma pessoa paciente. Até à noite. Use um
vestido preto.
Shannon desligou, insegura de estar aborrecida ou resignada com o rumo dos
acontecimentos. Decidiu que estava resignada. Teria de continuar com a farsa do noivado
pelo menos até que os pais dele se fossem.
Por um momento imaginou como seria ser realmente noiva de Rory. Se ele a
amasse. Se ela o amasse.
Seu coração batia forte como um tambor. Engraçado como se podia conviver com
uma pessoa a vida toda, sem realmente saber nada dela. Rory era um homem maravilhoso:
gentil, alegre e carinhoso. Sim, seria fácil, muito fácil, apaixonar-se por ele.

Projeto Revisoras
~ 97 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Subitamente, sentiu necessidade de sair para respirar ar fresco. Pôs os óculos


escuros e saiu. Quando olhou para os picos das montanhas notou como o céu era azul.
Azul!
Encostou-se na cerca completamente excitada. Estava vendo as cores! Ansiosa,
olhou novamente. Sim, o céu estava muito azul!
Queria telefonar a Rory para lhe contar... Não, ele devia estar ocupado. Era sábado,
e ele estaria em casa ao meio-dia. Poderia esperar.
Voltando para casa, pôs-se a observar os quadros nas paredes, o relógio sobre a
lareira, as almofadas do sofá. Seu olhar pousou no catálogo de uma loja de departamentos.
Com as mãos trêmulas, pegou o catálogo e olhou a capa.
Levando o catálogo com ela, dirigiu-se ao quarto e pôs os óculos de grau. As
imagens difusas iam ficando mais nítidas. Os tons claros e o vestido vermelho usado pela
modelo, tudo se tornava mais nítido embora as bordas da página ainda estivessem um tanto
difusas.
Prendendo a respiração, tampou o olho direito com a mão. A visão do olho ferido
não era nítida, mas podia enxergar. Com o olho esquerdo as imagens eram claras e
coloridas, apenas um pouco esmaecidas nas margens.
Sua visão continuava a melhorar em ambos os olhos. Rory estava certo! O milagre
estava apenas começando. Cruzou os braços ao redor do peito e desejou que ele estivesse
ao seu lado. Precisava dele.
Não... Queria apenas partilhar a novidade com ele.
Recompondo-se, foi ao escritório, pegou suas anotações, estudou-as e ligou o
computador. Sorrindo, começou a trabalhar.

Shannon deu os últimos retoques na maquilagem. Passara sombra, blush e batom.


Quando Rory bateu na porta e a chamou antes de entrar, ela quase deu um pulo.
— Estou indo — gritou, pegando a bolsa e juntando-se a ele na cozinha.
— Você está linda!
Ela parou na frente dele e o olhou fixamente. Ergueu a mão e deslizou a ponta dos
dedos pelo contorno do rosto dele.
Fixou o olhar nos olhos de Rory. Seus olhos azuis tinham uma expressão quase
solene.
— Seus olhos são azuis — ela sussurrou —, seus cabelos são pretos, como também
seus cílios. Você tem uma pequena cicatriz embaixo do queixo.
— Consegue ver tudo isso?
— Melhor, mas não com perfeição. Não vejo bem as laterais, mas vejo bem as cores.
Rory sorriu radiante. Seus dentes eram brancos e contrastavam com a pele
bronzeada.
O coração de Shannon acelerou diante da constatação de que seu pretenso noivo
era um homem realmente muito bonito.
Subitamente, Rory a abraçou e a ergueu dando voltas com ela nos braços.
Shannon ficou tonta e ria, maravilhosamente feliz.

Projeto Revisoras
~ 98 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Então, enquanto o mundo continuava a rodar, ele a beijou em silêncio, radiante de


tanta felicidade. Seus lábios eram quentes, e o beijo foi terno, porém apaixonado. Durou
um bom tempo.
— Temos que ir — ele disse, finalmente.
Se ele a amasse.
Se ela o amasse.
Shannon desejou ficar sozinha com ele e não ter que enfrentar o mundo nesse
momento, mas não disse nada é pegou o casaco.
Rory a ajudou a vestir e lhe entregou as luvas. De braços dados, atravessaram a
ponte em direção à casa dele.
— Pensei que nossa reserva fosse para as sete horas — disse a madrasta,
impaciente.
— E é — Rory respondeu. — Temos muito tempo.
Quando a mulher passou por ela, Shannon observou-lhe o rosto. Catherine tinha
grandes olhos castanhos e cabelos loiros e curtos. Era magra, muito bonita e sofisticada, e
parecia manter rancor em relação a Rory.
Rory e Shannon sentaram-se no banco de trás do carro do pai dele, dirigido por
Catherine.
Já no restaurante, Shannon tentou relaxar, mas sentia-se muito nervosa.
Catherine tentou manter uma conversa, comentando sobre as mudanças da cidade
com o passar dos anos.
— Talvez agora que a estância foi construída, teremos restaurantes melhores na
cidade e as pessoas não tenham de dirigir até a estrada interestadual para um jantar
decente.
— Sempre gostei do pequeno restaurante da nossa cidade — disse Shannon,
compelida a defender sua cidade.
Houve um breve silêncio, e Rory colocou sua mão sobre a mão dela.
— Eu também. Ele oferece uma variedade de legumes que um lugar sofisticado
como esse não oferece.
Catherine ergueu os ombros delicadamente.
— Lembro-me da primeira vez que Richard me levou lá. Eles prepararam feijão seco
com ervilhas e pedaços de bacon.
Esse comentário realmente pôs fim à discussão.
Quando um pequeno conjunto começou a interpretar músicas românticas, Catherine
levantou-se.
— Gostaria de dançar — ela disse, olhando para Rory.
Shannon sentiu-se desconfortável com as maneiras da mulher, que era muito
autoritária, mas manteve uma expressão neutra quando Rory levantou-se.
Ele pegou-a pelo braço, olhou para o pai e disse com estudada paciência:
— Vamos, papai, as senhoras querem dançar. Aproveitemos que as melodias são
lentas.

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~ 99 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Em um segundo Shannon se viu envolvida pelos braços de Rory, no meio da pista


de dança.
— Ahh... — ele murmurou. — Senti saudade de você a noite passada.
Shannon lembrou-se dos momentos tórridos que haviam vivido. Se ele a amasse.
— Isso não é muito inteligente.
Rory descansou o rosto na testa dela.
— Sem discursos, por favor. Vamos aproveitar a noite o máximo possível —
acrescentou.
— Por que não gosta da sua madrasta?
Shannon sentiu os músculos das costas dele se retesarem.
— Acho que ela é uma pessoa difícil.
— Ela é muito bonita.
— Não, não é. Você é muito bonita.
Shannon fitou-o e, apesar de não enxergar com nitidez, viu paixão naquele olhar.
— Nunca pensei que paixão pudesse ser assim — ela disse, desnorteada pelo fogo
do olhar de Rory e pela delicadeza do seu toque.
Em tudo que estudara a respeito da natureza humana nada a havia preparado para
um sentimento dessa intensidade, para a ansiedade de tê-lo nos braços e fazer amor com
ele.
— Não entendo por que isso está acontecendo. Por que eu? Por que você? Por que
agora?
— Porque é o tempo certo, o lugar certo e as pessoas certas — ele respondeu,
olhando para ela com ternura. — Fomos feitos um para o outro.
Rory tornava tudo muito simples, mas a intensidade do seu olhar dizia que nada era
assim tão simples. Ambos haviam sido engolidos pelo desejo e atirados nos braços um do
outro como folhas em uma tempestade.
Alguém esbarrou nela, e Shannon deparou com o olhar frio de Catherine. Sentiu que
a mulher não gostava dela, e um frio intenso percorreu seu corpo. A madrasta não gostava
dela, disso ela tinha certeza. Só não entendia o motivo.
— O conjunto é ótimo, não é? — comentou Catherine, olhando para Rory.
— Sim — ele respondeu laconicamente, sem nenhuma expressão no olhar.
— Ela quer que você goste dela — disse Shannon, sentindo pena da mulher.
— Ela tentou me seduzir quando eu era adolescente. Eu a tolero por causa do meu
pai, mas não gosto dela.
— Talvez você a tenha interpretado mal. Talvez ela esteja arrependida e queira uma
segunda chance.
— E, pode ser que você tenha razão....
Ele ficou tenso e em silêncio durante a dança, e Shannon sentiu saudade do olhar
cheio de paixão.
Com esforço, Shannon manteve uma conversação polida o resto da noite. Rory

Projeto Revisoras
~ 100 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

também conversou amigavelmente, embora continuasse tenso.


— Ouvi comentários de que vocês tiveram uma série de roubos no município —
comentou o pai de Rory. — Alguém invadiu uma loja algumas semanas atrás depois do...
do incidente no posto de gasolina.
Rory confirmou.
— É preocupante. Nunca tivemos um crime sério na cidade. — Rory sorriu. —
Lembra-se de quando você surpreendeu um ladrão tentando entrar em casa? — ele
perguntou ao pai.
O sr. Daniels riu. Sua risada era muito parecida com a do filho, e havia brilho em
seus olhos escuros.
Shannon gostaria de saber se Rory era parecido com a família da mãe e se isso
contribuía com a animosidade da madrasta em relação a ele. Talvez temesse que o filho
recordasse a primeira esposa do marido.
Sabia que às vezes uma pessoa usa o ciúme como arma para alienar os outros.
Estaria Catherine, devido à sua própria insegurança, querendo erguer barreiras entre pai e
filho?
Rory contava divertido como seu pai havia perseguido o ladrão por toda a vizinhança
com uma faca na mão. Rory se preocupava com o pai e, na sua gentileza com o velho,
tentava ser tolerante com sua esposa. Apenas se recusava a participar dos jogos mentais
da madrasta.
Ocorreu a Shannon que ela poderia ajudar. Suspeitou que Rory tivera a idéia do
noivado como uma possibilidade de desviar a exigência de atenção por parte da madrasta.
Como havia concordado com o noivado, poderia pelo menos interpretar sua parte.
Depois que todos recusaram a sobremesa, Shannon pôs a mão sobre o ombro de
Rory e pediu:
— Querido, você acha que podemos ir? Estou cansada depois da excitação da
manhã.
Ele a estudou sem responder, como se não houvesse ouvido a pergunta, absorvido
pelo carinho que percebeu na voz de Shannon.
— Que excitação? — quis saber Catherine.
— Recuperei parte da minha visão. Agora posso ver cores e, com os novos óculos,
posso ver o que está na minha frente. Provavelmente exagerei, pois trabalhei nos meus
estudos o dia todo.
— Shannon é psicóloga e vai trabalhar com terapia familiar — Rory explicou ao casal.
— Ela precisa fazer um trabalho para terminar seu PhD.
— Você disse que ela era policial. — Catherine franziu o cenho.
— Ela era... É. Foi alvejada no cumprimento do dever quando evitou o roubo no posto
de gasolina. Eu não lhe disse que ela era uma heroína?
Shannon acariciou-lhe o rosto, sorrindo.
— E ele é o meu herói, pois salvou a minha vida estancando a hemorragia até os
médicos chegarem.
— Vocês dois têm sorte — declarou o sr. Daniels. — Você provavelmente salvou a
vida dele também, atirando no ladrão antes que ele chegasse e evitando que ele também

Projeto Revisoras
~ 101 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

fosse baleado. Pelo menos você sabe se defender. — Ele sorriu para Shannon.
— Está pronta? — Rory perguntou, pegando-lhe a mão e mudando de assunto.
Pediu os casacos enquanto pagava a conta.
No caminho para casa, Shannon permaneceu em silêncio, como também Rory que
passara o braço ao redor do seu ombro. Ela tinha consciência absoluta do corpo dele, como
se houvesse um radar monitorando cada movimento do noivo.
Em certo momento Rory curvou a cabeça e beijou-lhe a face. Shannon viu naqueles
belos olhos toda a intensidade que virá algumas horas atrás.
Rory olhou para frente, tornou a olhar para ela e, sorrindo, mais uma vez a beijou.
Sorriu novamente e a fez descansar a cabeça no seu ombro.
Shannon ficou pensando no que aconteceria se ela agisse realmente como uma
noiva. Estava assustada com tantas emoções e decidiu que, por aquela noite, era o máximo
que poderia suportar.
Shannon e Rory entraram na cozinha, e ele parou abruptamente.
— O que significa isso? — ele quase gritou. Ela olhou ao redor e viu que sua casa
fora invadida e saqueada. Todas as gavetas estavam no chão e os conteúdos espalhados.
— Minha nossa! — exclamou o sr. Daniels.
— Alguém invadiu o lugar — Shannon afirmou. — Por favor, fiquem onde estão e
não toquem em nada. Rory, chame Jess. Ele precisa investigar.
Rory obedeceu e em menos de dez minutos Jess chegou, seguido de uma dupla de
detetives como também de um especialista em impressões digitais. Encontraram algumas
digitais parciais, mas nada que pudesse ser estudado para elucidar o caso. A porta da frente
fora arrombada.
— Tudo bem — Jess afirmou uma hora mais tarde. — Terminamos e gostaríamos
que você verificasse seus pertences para ver se falta alguma coisa. Preciso desse dado no
meu relatório.
O sr. Daniels notou a falta de quinhentos dólares e uma corrente de ouro com um
pendente de diamante. O relógio que deixara sobre a cômoda também havia desaparecido.
Shannon sentiu-se culpada por não ter protegido suas propriedades. O culpado
poderia ser o ladrão que atirara nela.
— É meia-noite — disse-lhe Rory. — Venha, vou levá-la para casa.
— Vou com vocês — Jess afirmou. — Fiquem por aqui mais alguns minutos — ele
disse ao outro detetive.
Shannon sentiu seus pêlos se arrepiarem quando cheguei à sua casa e viu a
situação da sua cozinha. Também estava tudo revirado.
— Vou buscar o material das digitais — disse o especialista.
— Não posso acreditar nisso. Nunca tivemos esse tipo de problema na fazenda. É
tão longe da vista de ladrões.
Exceto para o ladrão que a alvejara. Ele sabia onde ela morava. Shannon foi
percorrida por um tremor como se sentisse uma força malévola cercando o ambiente e
estendendo-se à casa vizinha.
Era estranho, mas apenas a cozinha fora vandalizada e, segundo Shannon, nada

Projeto Revisoras
~ 102 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

desaparecera.
— Você não quer ficar conosco? — perguntou-lhe Jess. — Não gosto da idéia de
você ficar aqui sozinha.
Shannon pensou em Kate, Jeremy e Mandy. Não queria expor seus parentes em
perigo. Meneou a cabeça, recusando.
— Estarei bem e preciso trabalhar. Além disso, um raio não cai duas vezes no
mesmo lugar.
— Ela não ficará sozinha. Shannon pode ficar em minha casa.
Houve um momento de silêncio e então Shannon sorriu na direção dele.
— E muita gentileza sua, mas você já tem companhia suficiente.
— Você tem razão. Ficarei aqui.
— Ótimo — concluiu Jess.
Shannon decidiu não discutir na frente dos policiais. Parecendo satisfeito com o
arranjo Jess deu boa-noite e se foi.
Sozinhos, ela disse a Rory:
— Você não precisa ficar. Estarei bem.
Ele ignorou o comentário.
— Vou acompanhar meus pais e pregar a porta da frente. Teria sido mais fácil ter
deixado a porta aberta — Rory disse, sorrindo.
Ele se referia à casa dela. Shannon esquecera-se de trancar a porta.
— É. Evita-se que tenha de ser arrombada. Rory você realmente não tem que...
— Sim, tenho.
Mais uma vez, ela não discutiu. Já conhecia suficientemente sua natureza protetora
e sua teimosia também.
Shannon estava arrumando a última gaveta quando Rory chegou.
— Já arrumei minha casa, e tudo voltou ao normal.
— Exceto pelo dinheiro e o que foi levado.
— Foi um preço pequeno. Deixe-me fazer isso — ele falou, pegando a gaveta das
mãos dela e recolocando-a no lugar.
— Que tal uma caneca de chocolate? Estou muito excitado para dormir.
Ela também estava. Depois de pôr duas canecas de leite no microondas, pegou um
jogo de lençol e foi até o quarto de hóspedes. Ele a seguiu.
— Precisamos de outra cama? — ele perguntou.
— Não sei...
— Não nego que a quero, mas não vou forçá-la — ele interrompeu-a, suavemente.
Atravessou o quarto, mas passou por ela sem tocá-la.
Shannon pensou na manhã e nos arrependimentos que haviam se seguido.
— Você é um perigo para minha paz de espírito — ela murmurou, pressionando uma
das mãos sobre a têmpora, sentindo a pequena cicatriz que lhe lembrou que as cicatrizes

Projeto Revisoras
~ 103 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

da alma eram muito mais dolorosas que as do corpo.


— E você para a minha — Rory admitiu.
Shannon sorriu.
— Loucura mútua.
— Sim.
Ele esperou.
Ela sentiu a paciência dele e a tácita aceitação à sua decisão, qualquer que fosse
ela.
— Seria mais fácil se você me seduzisse — Shannon sugeriu, brincando.
— Quero você, mas preciso ser justo. Se é errado para você, é errado para nós dois.
— Há complicações.
Rory não negou.
Shannon respirou profundamente, sabendo que seria incapaz de recusá-lo, mas
ainda não estava pronta para render-se.
— Vamos tomar nosso chocolate — ele sugeriu.
Sentaram-se à mesa.
— Você acha que o vândalo é o homem que atirou em você? — perguntou, como se
houvesse lido a mente de Shannon.
— Sim. Não há evidência, mas minha intuição é muito forte. É como se eu sentisse
a presença dele.
— Eu sempre sigo minhas intuições. — Rory beijou-lhe a mão. — Como agora.
Quando seus lábios se encontraram em um terno beijo, ela sentiu o poder da paixão
entre eles.
A paixão, Shannon até podia controlar, mas o desejo premente que sentia por ele
era mais difícil.
Rory a observou durante algum tempo.
— O que a assusta?
— Seria fácil me apaixonar... Pensar que estamos apaixonados...
— Como sabe que isso não acontecerá ou que já não aconteceu? — ele perguntou
suavemente.
— Não seríamos tão tolos.
— Não sou como seu pai, Shannon. Não tenho que pagar pela culpa de outros, e
eu, particularmente, acredito em fidelidade.
— Não se trata disso. — Ela tentou rir. — Essa conversa está tomando rumos muito
sérios.
Ele levou a mão dela aos seus lábios e beijou-a.
— Tenho algo para você. — Pôs um anel no dedo dela.
Ela ficou admirando o pequeno diamante.
— Foi de minha mãe, felizmente o ladrão não o encontrou. Penso que podemos

Projeto Revisoras
~ 104 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

tornar nosso noivado oficial.


— Isso não é necessário.
— Acredite em mim. É necessário, sim.
Recordando a atitude exigente da madrasta dele, Shannon relutantemente
concordou.
— Usarei, mas apenas até eles irem embora.
— Ótimo! — Rory tomou um gole de chocolate. — É tarde. Acho que devemos ir
para a cama.
De repente, ela riu, surpreendendo-o.
— Ficarei no quarto de hóspedes. É estranho, mas agora que oficializamos nosso
noivado, sinto-me compelido a ter mais respeito por toda a situação.
— Então suas intenções não eram boas na outra noite? — ela perguntou, sorrindo.
— Digamos que minhas intenções ainda não estavam muito bem definidas.
Ele empurrou a caneca na direção dela.
— Beba. Está ficando muito tarde.
O relógio soou uma hora da manhã quando Shannon deitou-se. Sentia-se sozinha e
lutou contra a necessidade de ir até ele, consciente de que Rory seria gentil e carinhoso.
Tocou o anel na mão esquerda, e seus olhos encheram-se de lágrimas.
Percebeu que fizera uma tolice e que a culpa era toda dela. Apaixonara-se por Rory
e mergulhara naquela paixão com os dois olhos bem abertos.

CAPÍTULO XIII

Kate olhou para a mão esquerda de Shannon.


— Para mim parece real.
— Para mim também — Shannon concordou, tentando esconder o sorriso atrás da
xícara de chá.
Ergueu a mão e ficou olhando para o pequeno diamante que brilhava contra a luz
que entrava pela janela.
— O anel é real, mas o noivado não.
Megan pôs a xícara no pires e falou pensativamente:
— O anel era da mãe dele. Isso é muito romântico.
Shannon virou os olhos enquanto Megan ria deliciada. As três primas tinham se
encontrado para o almoço no restaurante da cidade para se inteirarem dos acontecimentos
recentes da vida de cada uma. As novidades foram os assaltos às casas de Shannon e
Rory.
— Faz hoje um mês que Shannon foi alvejada no assalto — Kate lembrou.
— Dia vinte e três de dezembro — comentou Shannon. — Eu me lembro bem. Vocês

Projeto Revisoras
~ 105 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

duas passaram a maior parte das festas comigo, no hospital.


Shannon sentiu a garganta apertada de emoção pela dedicação e o amor da família.
— Permaneceram ao meu lado quando eu estava apavorada e cega.
Rory também a tinha visitado e levado flores, ao contrário do advogado que
desaparecera ao primeiro sinal de problema. Ela sentira-se frustrada pela atitude daquele
homem que ela considerava leal e seguro.
— Kate foi quem mais ficou ao seu lado — Megan disse com uma expressão triste
nos olhos verdes.
Shannon sentiu outra onda de amor pelas primas. Elas partilhavam tudo, tristezas e
alegrias.
Alguém se sentou atrás delas, esbarrando na cadeira de Shannon. Ela olhou por
sobre os ombros e gelou.
— Desculpe — disse o homem ao sentar-se, olhando fixamente para ela.
— Tudo bem.
A mente de Shannon foi povoada de imagens. O posto de gasolina, o roubo, o
ladrão... O homem que estava sentado atrás dela era ele!
Shannon conseguiu identificar o rosto angular, a cicatriz sobre a pálpebra esquerda,
os lábios finos e o sorriso pérfido. Tinha que contar a Rory... Não, a Jess e ao xerife.
— Bem... — ela tentou parecer casual. — Estava delicioso. Megan está pronta para
ir? Você ia me ajudar com as compras de mantimentos.
Megan sorriu, surpresa.
— É claro.
Pagaram a conta e se despediram de Kate na rua. Shannon agarrou o braço de
Megan.
— Aja como se estivesse me guiando. Quero ir ao consultório de Rory. Podemos
telefonar a Jess de lá.
— O que está acontecendo?
— Lembra-se do homem que sentou atrás de mim no restaurante? Foi ele que
assaltou a loja de conveniência.
— O que atirou em você?
— Sim.
— Precisamos contar a Jess.
— Ele nos verá se atravessarmos a rua e entrarmos na delegacia e terá tempo de
fugir. O consultório de Rory é perto da mercearia.
As duas se apressaram, Shannon agarrada ao braço da prima.
Rory as encontrou na porta do prédio.
— Olá, foram almoçar? Acabei de chegar da casa dos Herriot...
— Temos que telefonar a Jess imediatamente. O ladrão está no restaurante —
Shannon o interrompeu.
— O que atirou em Shannon — acrescentou Megan.

Projeto Revisoras
~ 106 ~
Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Ele não perdeu tempo fazendo perguntas e as conduziu à porta lateral do consultório.
Ligou para a delegacia. Jess não estava, e ele falou com o xerife.
— Gene quer saber se você pode fazer uma identificação positiva.
Shannon concordou.
— Sim, posso.
— Certo — Rory disse ao telefone, escutou e se despediu.
— Vamos à delegacia. Quando chegarmos, ele já terá o indivíduo sob custódia.
— Coitado, não terá tempo de terminar o almoço. A truta estava deliciosa.
Rory desatou a rir.
— Você é demais — ele disse, beijando levemente os lábios dela.
Sorrindo, os três se dirigiram à delegacia. Depois de quinze minutos de espera, Gene
pediu que Shannon identificasse o meliante na fila de suspeitos.
— Preciso de binóculos ou terei que enfrentá-lo cara a cara.
Com os binóculos na mão, ela identificou o homem facilmente.
Ele insistiu que ela estava confusa.
— Ela nem enxerga direito — o meliante gritou ao policial que o algemava.
— Ela recuperou a visão — disse o xerife, sem nenhum traço de simpatia. — Tire as
impressões digitais, prenda-o e leia os direitos dele.
O homem gritou obscenidades a Shannon, assim que o levaram para a cela. Rory
agarrou o braço de Shannon.
— Ainda bem que ele está sendo preso, do contrário eu esmagaria a cara dele.
Gene riu.
— Tenho o mesmo desejo. Está pronta para assinar a declaração? — ele perguntou
a Shannon.
— Sim. — Ela seguiu Gene até seu escritório para cumprir os trâmites legais.
— Até a noite — Rory disse a Shannon na calçada defronte à delegacia.
— Hoje à noite? — Shannon tentou lembrar-se se combinara um jantar ou outra
coisa.
Embora Rory houvesse dormido no quarto de hóspedes durante as quatro noites
anteriores, quando ela acordava ele já tinha ido embora. O máximo que faziam juntos era
tomar uma caneca de chocolate quando ele chegava à noite, obviamente cansado.
E cada noite ela tinha que lutar para não ir até ele.
Se ele a amasse, suas vidas poderiam ser diferentes, porque ela o amava. Como
poderia não amá-lo? Ele era tudo com que ela sempre sonhara em um homem.
— Sim, eu chegarei cedo. Então conversaremos — ele acrescentou.
Depois que Megan a deixou em casa, Shannon guardou as compras e ficou
pensando sobre o que Rory queria conversar com ela.
Talvez seus pais estivessem de partida, e ele quisesse terminar o noivado e ter o
anel da mãe de volta.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

Tocando no diamante, tremeu. As canções e as histórias de amor estavam erradas.


Estar apaixonada não era divertido. O que dissera o bardo a respeito do amor?
"Uma loucura discreta, uma falta de ar e um doce sofrimento."
Tudo isso e muito mais.
Com um suspiro, voltou ao trabalho. Durante a longa tarde, nuvens pesadas se
formaram sobre as montanhas. A previsão do tempo indicava mais nevascas para o final
do dia.
As quatro horas, o céu estava escuro, e o vento que vinha das montanhas era frio e
prometia mau tempo. Levantando-se e desligando o computador, Shannon vestiu botas e
roupas quentes e saiu para caminhar um pouco. Um corvo gramou quando ela atravessou
a ponte onde o riacho e a estrada se interceptavam.
O legado de Windraven, ela pensou.
Quando o vento soprava da montanha e o corvo gralhava no crepúsculo, ocorreria
um desastre no prazo de vinte e quatro horas. Geralmente com alguém da família dela.
Sentiu os pêlos da nuca arrepiarem quando outro corvo juntou-se ao primeiro e
gralharam juntos, como se ela os estivesse perturbando. Quando a neve começou a cair,
os animais ficaram em silêncio, o que lhe pareceu ainda mais ameaçador.
Meia hora mais tarde, retornando a casa, Shannon se dirigiu à porta de trás. As
sombras das árvores ao longo do riacho eram escuras e o único som que se ouvia eram o
do vento e da neve caindo sobre as folhas secas. Sentiu-se como se fosse a única pessoa
no mundo.

Rory franziu o cenho ao ver o carro estranho que bloqueava sua entrada na garagem.
Mais companhia?
Desceu da caminhonete e parou por um instante, sentindo o vento frio atingir seus
músculos cansados.
Tinha tido que sacrificar a égua dos Herriot nessa tarde, tarefa sempre muito difícil,
mas dessa vez fora pior porque Kyle era seu amigo mais antigo. Conviviam desde o jardim-
de-infância e passaram juntos por uma série de tristezas, como a morte dos pais de Kyle,
a perda dos primeiros amores... Da inocência... Dos sonhos...
Oh céus, estava mórbido essa noite.
Precisava ver Shannon. Sempre se sentia melhor quando estava com ela.
Precisava?
Sim, precisava.
Pegou as compras que trouxera para o jantar e se dirigiu a casa, curioso para saber
quem era o proprietário do carro estacionado à sua porta.
— Rory — disse sua madrasta. — Venha até a sala. Você nunca adivinhará quem
eu encontrei hoje na cidade.
Rory deixou as compras na cozinha e entrou na sala de visitas.
— Bem... Alô — Ele sorriu. — Realmente, estou surpreso.
— Rory! — Sandra Wheeler exclamou, levantando-se e dirigindo-se até ele.
Eles haviam namorado por um breve tempo quando estavam no colegial e então ela

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

o trocara pelo filho do banqueiro. Sem ressentimentos, ele a abraçou.


— O que a traz de volta a essas paragens?
— O divórcio — ela respondeu, sorrindo.
— Oh... Sinto muito.
— Não sinta. Dez anos foram mais do que suficientes para destruir minhas ilusões a
respeito de casamento e fidelidade. Felizmente, ambos havíamos concordado em não ter
filhos, assim não temos complicações.
Rory concordou, lembrando-se de suas próprias palavras a respeito de casamento
e fidelidade ditas a Shannon não muito tempo atrás.
— Você pode ficar para o jantar? — ele convidou. — Trouxe algumas coisas para
casa...
— Pensei que poderíamos jantar fora — interrompeu Catherine. — Nós quatro.
Quero ouvir tudo sobre sua família — ela dirigiu-se a Sandra. — Sua mãe e eu fomos
amigas no colegial. É claro que é um assunto antigo para vocês, jovens.
Enquanto todos riam, Rory estudou a madrasta rapidamente. O que ela estaria
planejando? A mulher gostava de conspirar, e ele podia sentir problemas a milhas de
distância.
Sentindo-se intranqüilo, ele disse a Sandra que se pusesse à vontade.
— Trouxe alguma coisa para o jantar que será suficiente para todos. Vou até a casa
vizinha convidar Shannon.
— Shannon? — Sandra olhou para Catherine.
— Minha noiva — ele esclareceu, notando um brilho de surpresa nos lindos olhos
azuis da ex-namorada.
Sua madrasta provavelmente esquecera de mencionar esse detalhe.
— Volto logo.
A luz da cozinha de Shannon estava acesa quando ele cruzou o pátio da casa.
Encontrou-a vestida com calça cinzenta, um suéter azul e um cachecol azul ao redor
do pescoço.
— Ei, minha linda! — ele a saudou alegremente.
Shannon sentiu o coração derreter diante do sorriso dele.
— Olá, Rory!
Shannon correu para se aninhar nos braços dele, que a recebeu com muito carinho,
beijando-lhe os lábios com alegria e prazer.
— Pronta para o jantar? — ele perguntou quando pararam de se beijar.
— Eu preferia ficar aqui — ela disse impulsivamente, corando.
— Eu também — ele murmurou. — Mais do que você pode imaginar, mas temos
convidados para o jantar.
Shannon não conseguiu decifrar o tom de voz de Rory. Preocupada, acompanhou-o
e, abraçados, atravessaram a ponte.
Uma vez na casa dele, Shannon cumprimentou os pais dele e uma pessoa que ela

Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

não conhecia e que lhe foi apresentada por Catherine, como filha de uma velha colega de
escola.
— Sandra e Rory foram namorados. Acho que ela foi seu primeiro amor — Catherine
fez questão de frisar.
— Na verdade, Kate, a prima de Shannon, foi meu primeiro amor — Rory a corrigiu.
— Eu estava no jardim-de-infância e ela na primeira série. Era uma mulher mais velha —
completou, sorrindo.
No transcorrer da noite, ficou claro que Catherine escolhera a filha da amiga para ser
sua enteada e que a moça também estava interessada em Rory. Shannon foi sentindo-se
intimidada e, finalmente, as duas mulheres dominaram a conversa. Ela permaneceu em
silêncio.
Às nove horas, levantou-se.
— Se me dão licença... Não, não precisa se levantar. Posso fazer isso sozinha. —
Ela olhou para Rory.
— Vou levá-la para casa — ele disse com firmeza. Mas enquanto ele pegou o casaco
e despediu-se da visita, Shannon saiu pela porta de trás.
Agarrando o cabo porque a noite estava muito escura, ela correu para casa,
desejando ficar sozinha com suas emoções. Estava quase chorando, por nenhuma razão
que pudesse determinar. Tudo lhe parecia confuso.
— Shannon — ele a chamou, assim que ela pôs os pés na varanda.
Sem olhar para trás, ela entrou em casa e fechou a porta como se, fazendo isso,
pudesse se esconder dele.
Quando ele bateu na porta, Shannon deu um passo para trás.
Rory entrou, fechou a porta e trancou-a.
Shannon tirou o casaco e as botas.
— Eu... Ahn... Estou cansada.
— O que está pensando? — ele perguntou, ignorando a tentativa dela de ficar
sozinha.
Tirou a jaqueta, que jogou sobre o casaco dela.
— Nada. Tive uma bela noite. — Ela fez uma pausa. — Sua amiga é muito atraente
e...
— Não tem nada a ver comigo. Não há nada que minha madrasta ou qualquer outra
pessoa possa dizer para me fazer questionar o que sinto por você. Entendeu?
Shannon meneou a cabeça, confirmando.
— Catherine decidiu que é a mãe perfeita e que eu sou um enteado ingrato. Declarou
que está pensando nos meus interesses. Eu discordo. Na realidade, disse-lhe que não me
importo com a opinião dela. Sou cortês com ela por causa do meu pai, mas é o único
relacionamento que podemos ter. E devo isso a você.
— A mim?
— Agora minha madrasta entende que estou apaixonado por minha noiva e que só
há lugar para uma mulher no meu coração.
— Você lhe disse isso?

Projeto Revisoras
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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Sim.
— E quanto à sua convidada?
— Uma vez que ela estava presente quando eu disse tudo isso a Catherine, creio
que também entendeu. Na realidade isso não tem importância alguma.
De repente, os dois estavam muito perto. Shannon deu um passo e encostou-se ao
balcão da cozinha, olhando confusa para seu noivo. Os olhos dele, aqueles lindos olhos
azuis, enviavam-lhe mensagens, mas ela não tinha certeza se as estava entendendo bem.
Engoliu em seco, odiando a incerteza que crescia dentro do seu peito juntamente
com a sensação de que o mundo, além do lugar onde se encontravam, desaparecera.
— Você é a mulher mais difícil de interpretar que eu já conheci — ele reclamou. —
Quero saber de você e dos seus sentimentos. Dê-me uma pista, senhorita policial. Preciso
desesperadamente de respostas.
— O que está querendo dizer?
Rory se inclinou sobre ela, os lábios perigosamente próximos.
Shannon queria jogar seus braços ao redor dele, abraçá-lo com força e exigir que
ele a amasse...
Inclinou a cabeça para frente, apoiando-a no peito musculoso, para que ele não
conseguisse ler o que devia estar evidente no seu olhar.
— Você acha que poderia continuar com esse noivado? — Rory sussurrou em um
tom que enviou ondas de desejo até ela.
Shannon olhou-o fixamente, e duas lágrimas brotaram dos seus olhos e escorreram
pelo seu rosto. Ele as enxugou com os dedos.
— Dê-me uma chance de fazer com que você se apaixone por mim.
Shannon parecia não poder respirar e sentiu uma espécie de vertigem.
Depois de um segundo, ele afastou-se um pouco, com um sorriso resignado.
— Não quer, não é mesmo?
Pegou a jaqueta enquanto ela permanecia parada, incapaz de se mover.
— É irônico, não é? — Rory continuou. — Encontro a mulher dos meus sonhos e
não sou capaz de conquistá-la. Como se costuma dizer: são coisas da vida.
Ele chegou à porta, mas ela agarrou-o pelo braço.
— Que mulher? — Shannon perguntou de repente, conseguindo respirar novamente.
— Que sonho? O que está dizendo?
Rory olhou da mão para o rosto de Shannon e estudou-a durante alguns segundos.
— Esta mulher.
Ele tocou seu queixo com um dedo.
— Este sonho.
Tomou-lhe uma das mãos e a colocou sobre seu peito.
— Por favor, seja específico — Shannon murmurou.
— Está bem.
Apoiou as duas mãos sobre os ombros dela e a puxou para perto.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

— Você é essa mulher. O sonho é você. Estou apaixonado. Muito apaixonado.


Agora... Pode rir.
Shannon meneou a cabeça e sussurrou:
— Como posso rir do meu anjo da guarda, de alguém que me deu a vida quando eu
achava que a tinha perdido?
— Eu não quero gratidão, Shannon. Eu quero... — Rory suspirou profundamente. —
Quero seu amor. Quero seu futuro. Quero apenas... Você. Só você.
Rory sentiu que começava a suar apesar do frio, enquanto esperava pela resposta
de Shannon. Nunca percebera como o amor podia ser amedrontador, como era desnudar
o coração e esperar para saber se podia ser feliz ou muito infeliz.
Tudo dependia dessa mulher.
Se ela o amasse... Como ele a amava.
Viu hesitação no olhar de Shannon e soube que ela estava pensando no futuro.
Enquanto esperava, seu coração se acelerava por saber que ela teria que vir para
ele livremente ou rejeitá-lo para sempre.
— Você está dizendo que me ama? — ela perguntou.
— É claro! — Ele se surpreendeu com a pergunta. Por que motivo eu iria querer unir
minha vida a uma policial que estuda Psicologia e que, provavelmente, irá me analisar para
o resto da vida?
Shannon estava tensa, mas Rory parecia ter relaxado. Havia alegria nos olhos dela
e um sorriso formava-se no canto dos seus lábios. Ela tocou seu rosto e o explorou com
ambas as mãos, correndo os dedos pelo queixo dele e pelas suas faces como fizera antes,
quando ainda estava cega.
— Eu a amo, Shannon. — Ele abraçou-a com força, tentando fazer com que ela
percebesse a intensidade daquele amor.
— Eu também o amo — ela confessou, consciente que isso fora difícil também pára
ele e que também ele estava vulnerável.
— Eu estava com medo. Medo de que você se sentisse responsável por mim.
Rory, com um grito, ergueu-a do chão e a girou várias vezes antes que ela tivesse
tempo para pensar.
— É claro que me sinto responsável, quero fazê-la tão feliz que você nem se
lembrará de como era a vida antes de nos encontrarmos.
— Então me abrace.
Ele segurou o rosto de Shannon entre as mãos e deu-lhe mil beijos nos lábios. A
chama do desejo surgiu entre os dois, ameaçando ficar fora de controle.
Ouviram o ruído de um carro se afastando. Nada e ninguém poderia interferir no
amor deles.
O olhar de Rory a devorava. E eles se puseram a rir, aparentemente sem motivo.
Conversaram sobre o futuro e, mais tarde, indo para a casa dele, Shannon esforçou-
se para ficar calma e tentou parecer racional, o que era difícil, com a alma repleta de amor,
completamente apaixonada.
Era difícil também para ele, Shannon percebeu quando entraram na cozinha e

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

encontraram a madrasta dele.


— Fiz café — disse Catherine.
— Obrigada — disse Shannon. — Boa idéia.
A mulher olhou dela para Rory e de novo para Shannon. De repente, sorriu.
— Então, ele realmente está apaixonado — ela comentou como se achasse uma
boa notícia. — Ótimo, o pai dele e eu estávamos preocupados com seu futuro. Agora
podemos relaxar.
Rory olhou para Shannon e ergueu os ombros. Sua madrasta aceitara e entendera
que uma pessoa nem sempre pode dirigir o mundo como acha que ele deveria ser.
O amor tinha seus próprios caprichos.
— Para quando poderemos agendar o casamento? — perguntou o sr. Daniels,
entrando na sala com um calendário na mão.
Shannon e Rory olhavam para o calendário.
— Na próxima semana? — perguntou o noivo.
— No próximo mês? Catherine e Kate têm que me ajudar a planejá-lo — afirmou
Shannon, incluindo a madrasta dele nos planos. — Megan será minha dama de honra. —
Olhou para Rory. — Quem será seu padrinho?
— Kyle Herriot.
Ela sabia que os dois eram amigos, mas ainda havia muito a descobrir sobre o amor.
Era estranho.
Os dois se conheciam havia tanto tempo, e ela sabia pouco sobre Rory.
Como se lesse seus pensamentos, Rory se aproximou dela.
— Teremos o resto das nossas vidas para aprendermos tudo sobre nós mesmos.
Mas já sabemos as coisas mais importantes.
Ela inclinou a cabeça e sorriu.
— O quê, por exemplo?
— Coragem, integridade, respeito, lealdade e amor.
— Acho que isso engloba tudo.
Mais tarde, quando estavam sozinhos na casa dela, depois de telefonarem a Kate e
Megan para contar-lhes, eles acenderam a lareira na sala. Sentaram-se no sofá e ficaram
abraçados.
— Eu realmente não entendo o amor — ela disse com honestidade. — Já li tantos
livros a respeito de relacionamentos e nenhum explica o que é o amor.
Rory percebeu a preocupação dela.
— E nem por que acontece com uns e não acontece com outros.
— É verdade.
— Acho que cada pessoa tem de fazer um compromisso consigo mesma e, cada vez
que esse compromisso é ameaçado, quando as coisas tornam-se difíceis ou aborrecidas,
é preciso renovar esse compromisso... Quantas vezes forem necessárias.
— E deve-se deixar que o companheiro nos ajude a cumprir nosso compromisso —

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

ela acrescentou.
Rory sorriu para ela.
— Podemos fazer isso — ele lhe assegurou.
— Sejamos sempre honestos um com o outro a respeito de nossos sentimentos e
do que precisamos, mesmo que às vezes isso possa parecer difícil e penoso.
— Sempre — ele jurou. — Você sabe, eu nunca quis ter compromissos antes. Agora
acho isso fácil, mas só porque é com você. Quero lhe dar a lua, as estrelas e tudo que você
quiser.
— Isso também é fácil. É você que eu quero. Você, duas crianças e um cachorro.
— Dois gatos e alguns bezerros.
—E um campeão olímpico — ela acrescentou, lembrando-se do sonho dele. —
Diretamente dos estábulos famosos de Windraven.
Beijaram-se e perceberam que queriam mais.
— Você... — Shannon sussurrou. — Eu o quero agora.
Rory a abraçou, deitando-a no sofá, seus corações batendo como se fossem apenas
um.
— Você me tem, senhorita policial. Apaixonei-me desde o dia em que a vi conduzindo
um bando de crianças na rua.
Ela piscou.
— Mas aquilo foi antes do Natal.
— Sim. Não sei por que demorei tanto a descobrir. Você sempre esteve perto de
mim.
Shannon não pôde evitar uma risada.
— Que sorte eu ter sido baleada e você ter me encontrado, hein?
— Sim, foi sorte.
Por um segundo, Shannon imaginou um futuro sem poder enxergar e nem isso a
assustava mais. Tinha Rory ao seu lado.
Suspirou e ergueu o rosto para que ele a beijasse.
Às vezes deve-se aceitar as coisas pela fé, mesmo sem entendê-las. Como a atração
entre homem e mulher, como o amor.
— Eu a amo — ele murmurou. — Nunca duvide disso.
— Não duvidarei. Eu o amo. Nunca se esqueça.
— Nunca — ele disse. — E isso é um compromisso.
Shannon percebeu que esse amor era verdadeiro.
Era um amor seguro porque era mútuo. Com esse homem, ela encontrara o paraíso
e um porto seguro.
— Meu amor — ela sussurrou.
E os dois riram felizes e apaixonados, agradecidos pela dádiva que haviam recebido
de Deus.

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Teu Sorriso Sedutor – Laurie Paige (Momentos Íntimos Extra 133)

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LAURIE PAIGE diz que "no interesse da autenticidade, a maioria dos


escritores tentará qualquer coisa... uma vez".
Ao mesmo tempo que escreve seus livros de aventuras, Laurie também já
foi engenheira da NASA e duas vezes presidente dos "Escritores Romancistas da
América". Também duas vezes mãe e avó e duas vezes finalista dos "Melhores
Romances Tradicionais", tendo vencido concursos para a Best Silhouette Especial
Edition. Recentemente mudou-se para o norte da Califórnia e espera com
ansiedade passar por novas experiências para descrevê-las em seu próximo livro.

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