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2017
Copyright © 2017 Editora Livraria da Física
1ª Edição
Direção editorial
José Roberto Marinho
Projeto gráfico
Fabrício Ribeiro
Diagramação e capa
Fabrício Ribeiro
Perspectivas para resolução de problemas / Lourdes de la Rosa Onuchic, Luiz Carlos Leal Junior, Márcio
Pironel, (organizadores). – São Paulo: Editora Livraria da Física, 2017.
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7861-507-9
17-07889 CDD-510.7
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
sejam quais forem os meios empregados sem a permissão da Editora.
Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107
da Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998
Prefácio........................................................................................................9
Introdução.................................................................................................13
Os autores................................................................................................467
Prefácio
F
iquei muito honrado e feliz quando fui convidado pelos orga-
nizadores desta significativa produção do GTERP, o Grupo
de Trabalho e Estudos em Resolução de Problemas, formado
em 1992 pela Profª Drª Lourdes de la Rosa Onuchic na UNESP,
Campus de Rio Claro, para escrever o Prefácio da obra.
Não posso deixar de iniciar este breve Prefácio com um toque
pessoal e sentimental que vai muito além do acadêmico. Sou privi-
legiado por conhecer Lourdes há muitas décadas. Fomos colegas na
Licenciatura em Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo, situada na Rua Maria Antonia,
onde as poucas salas do Departamento de Matemática criavam um
ambiente inesquecível de convívio acadêmico. A participação do
saudoso e querido Nelson Onuchic, com quem Lourdes viria a se
casar, enriquecia sobremaneira essas reuniões. Desenvolveu-se então
grande espírito de cooperação e coleguismo e uma profunda amizade
entre nossas famílias. Essa amizade fez com que estivéssemos juntos
nos mais importantes momentos de alegria e de tristeza em nossas
vidas familiares. Essa amizade perdura com grande intensidade.
Acompanho os trabalhos do GTERP desde sua fundação,
em 1992, na UNESP, Campus de Rio Claro. Sou testemunha de
quanto Lourdes tem se esforçado, há décadas, para inaugurar e con-
solidar essa área de pesquisa no Brasil e como ela é reconhecida,
nacional e internacionalmente, como a mais destacada liderança
brasileira na área, ombreando-se com pesquisadores de outros paí-
ses. Esta obra reflete a intensa atividade liderada por Lourdes, que
conduz uma série de seminários que se reúne todas as terças-feiras,
10 Perspectivas para Resolução de Problemas
O
Grupo de Trabalho e Estudos em Resolução de Problemas
– GTERP – foi formado em 1992 e é coordenado, desde
então, pela Profa. Dra. Lourdes de la Rosa Onuchic. Seus
encontros semanais, realizados todas as terças-feiras, no período da
manhã, no Departamento de Educação Matemática da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, tratam de
questões que envolvem Resolução de Problemas e processos edu-
cacionais de forma holística, procurando manter foco maior nos
processos de Ensino, de Aprendizagem e de Avaliação.
A partir daí, muitos estudos tomaram o foco dos objetivos de
pesquisa desse grupo, e o mote de seus trabalhos sempre foi, em
princípio, a construção de uma teoria que alicerçasse sua prática e
que, ao mesmo tempo, pudesse promovê-la e fazer-lhe avançar no
cenário acadêmico da Educação Matemática e, que foi intencio-
nado representar nessas obras literárias que o grupo produziu.
Desde então, a Resolução de Problemas já tomou forma de
uma metodologia alternativa ao ensino tradicional, que cresceu e
desenvolveu-se chegando ao nível de uma prática educacional que
comporta a metodologia pedagógica de Ensino-Aprendizagem-
Avaliação, e propõe modos de fazer pesquisa para seu desenvolvi-
mento, como a metodologia de Romberg-Onuchic, por exemplo.
A sua forma de trabalhar já foi colocada como uma utopia diante
dos problemas que permeiam o Ensino e a Aprendizagem de
Matemática, mas, atualmente, vem se consolidando como uma
14 Perspectivas para Resolução de Problemas
Introdução
E
ste trabalho surgiu de uma preocupação das autoras em com-
preender melhor como tem ocorrido a formação de professo-
res por meio da Resolução de Problemas (RP)1. É sabido que,
enquanto atividade humana, a resolução de problemas tem feito
parte do cotidiano das pessoas há milênios, mas ligada às questões
relacionadas ao ensino de Matemática suas contribuições são recen-
tes, ocorridas principalmente a partir do século XX. Nessa direção,
as ideias de George Polya sobre Resolução de Problemas foram
mundialmente conhecidas através de seu livro “How to solve it2”,
do ano de 1945. Suas contribuições apresentam aspectos que obje-
tivavam explicitar ou recomendar meios de tornar o processo de
resolução do problema mais bem sucedido.
4 Ou resolução de problemas.
26 Perspectivas para Resolução de Problemas
5 O conjunto dos documentos reunidos para serem submetidos aos procedimentos analí-
ticos. (BARDIN, 2004, p. 90).
28 Perspectivas para Resolução de Problemas
Considerações Finais
Nessas considerações finais, primeiramente, retomar-se-á o
objetivo desta pesquisa que é o de mapear trabalhos acadêmicos
que se localizam na intersecção entre os cenários – Formação de
Professores e Resolução de Problemas - buscando compreender a
Formação de Professores no que tange à utilização da Resolução
de Problemas. Neste processo, as unidades de análise foram: Os
problemas e/ou objetivos de pesquisa; a fundamentação teórica em
Resolução de Problema e em Formação de Professores utilizada; a
forma de trabalhar Resolução de Problemas na formação de profes-
sores e o foco da formação de professores: Inicial e/ou continuada.
Sobre a primeira, os problemas e/ou objetivos da pesquisa,
identificaram-se sete eixos de trabalhos que relacionam a Formação
de Professores e a Resolução de Problemas. Destaca-se que algumas
perguntas e/ou objetivos propostos poderiam abarcar mais de um
dos eixos aqui apresentados ao longo do trabalho. Para a classifi-
cação, adotou-se o foco central ou principal. Pôde-se perceber, na
análise do corpus, que algumas perguntas de pesquisa são bastante
desafiadoras, pois buscam resolver/elucidar vários questionamen-
tos ao mesmo tempo, o que caracteriza trabalhos complexos e que
muitas vezes não conseguem satisfazer plenamente seus objetivos
iniciais.
A fundamentação teórica das pesquisas em formação de
professores, seguindo um modelo de formação de professores em
Formação de Professores e Resolução de Problemas 49
Referências
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do campo. In: FONTOURA, H. E.; SILVA, M. (Org.). Formação de
professores, culturas: desafios à pós-graduação em Educação em suas
múltiplas dimensões. Rio de Janeiro: ANPEd Nacional, 2011. p. 22-33.
(E-book).
Formação de Professores e Resolução de Problemas 51
Lurdes Serrazina
Introdução
N
este capítulo discuto o papel da resolução de problemas na
formação inicial e continuada de professores, recorrendo
a dados de pesquisas realizadas em Portugal. Essa discus-
são inicia-se com uma análise sobre várias ideias-chave relativas ao
tema, a partir de literatura nacional e internacional, como as de
resolução e formulação de problemas, o significado de problema e
diferentes estratégias de resolução. Porque a forma como a resolução
de problemas tem vindo a ser abordada no currículo prescrito tem,
na minha perspetiva, impacto na formação de professores na secção
seguinte discuto como isso tem vindo a acontecer em Portugal desde
os anos 80 do século passado, identificando alguns dos movimen-
tos e documentos nacionais e internacionais que a influenciaram.
Dado que a implementação do currículo tem de fazer sentido para
os alunos quando é concretizado na sala de aula, a ideia da resolução
de problemas integrada numa visão mais abrangente designada por
ensino-exploratório da Matemática (Ponte, 2005) é também anali-
sada. Na secção dedicada à resolução de problemas e formação de
56 Perspectivas para Resolução de Problemas
O que é um problema
A resolução de problemas, onde se inclui as formas como os
problemas são representados, os significados da linguagem mate-
mática, as formas como se conjetura e se raciocina, é considerada
a atividade principal da matemática. Através da resolução e da
formulação de problemas os alunos têm oportunidade de constru-
írem aprendizagens significativas. Para Serrazina, Vale, Fonseca e
Pimentel (2002) um problema tem normalmente um objetivo bem
definido, embora possa não ser rápido o seu alcance. Estas autoras
consideram também que os problemas podem ser mais estruturados
ou mais abertos, definidos em contextos matemáticos ou da vida
real, mas as questões que colocam estão claramente estruturadas e
são apresentadas formuladas aos alunos desde o início. A atividade
de resolução de problemas inclui a formulação de problemas na
perspetiva de Polya (2003) quando refere que aquela atividade fica
incompleta se não for dada aos alunos a oportunidade de formula-
rem problemas.
Através da resolução de problemas, inserida num ambiente
propício e favorável, o aluno verifica a validade dos conceitos mate-
máticos, realiza conjeturas, relaciona os conceitos, generaliza, uti-
liza os procedimentos num contexto significativo, tem uma atitude
Resolução de Problemas e Formação de Professores 57
A Rita é muito vaidosa. Para a passagem do ano e pensando que poderia utilizá-la com
outras roupas, ela comprou uma saia vermelha e outra azul, uma camisola amarela, uma
verde e outra preta. Depois pensou: Que bom! Agora já posso vestir-me de muitas manei-
ras diferentes. De quantas maneiras diferentes se poderá vestir a Rita?
O João levou para a escola um saco de rebuçados para dar aos amigos. Aos primeiros que
encontrou deu metade dos rebuçados que trazia. Depois encontrou mais amigos e deu
metade dos que ainda tinha. E foi assim que chegou à sala dele já só com 20, um para cada
colega. Quantos rebuçados tinha o saco antes do João o abrir?
Figura 2 – Os rebuçados do João. Fonte: adaptado pela autora de Lopes et al. (2007)
62 Perspectivas para Resolução de Problemas
O Mário tem as meias na gaveta todas desarrumadas. Ele sabe que tem duas meias casta-
nhas, duas meias pretas e duas meias azuis. Na noite de Natal faltou a luz e ele teve de ir às
escuras tirar meias para se calçar. Qual é o menor número de meias que deve tirar para ter
a certeza que tira um par da mesma cor?
Figura 3 – As meias do Mário. Fonte: adaptado pela autora de Lopes et al. (2007)
Figura 4 – O problema das dobragens de uma folha de papel. Fonte: Situação criada
pela autora.
Este triângulo com círculos é um triângulo mágico. Basta que se disponham os números
de 1 a 6 nos círculos, para que cada lado some 9. Onde deverá ficar cada um dos números
1, 2,3, 4, 5, 6?
O Luís decidiu juntar dinheiro no seu mealheiro. Começou por guardar uma moeda de
1 cêntimo no primeiro dia e decidiu que em cada dia que passasse havia de lá colocar o
dobro do dia anterior. Achas que ele consegue manter a decisão? Quanto tinha de pôr no
mealheiro ao fim de 10 dias?
A Joana tem 3 saias – azul, preta e castanha, 4 camisas –branca, azul, vermelho e verde e
2 chapéus – um branco e outro azul. De quantos modos diferentes se pode apresentar a
Joana com saia, camisa e chapéu?
Ensino-aprendizagem exploratório
Considerações finais
Como antes referido, a resolução de problemas é considerada
uma atividade fundamental da matemática, associada à formula-
ção de problemas (POLYA, 2003) e por isso incontornável na for-
mação de professores que ensinam Matemática. Embora, o que se
entende por problema continue a não reunir consenso (ENGLISH
& GAINSBURG, 2016), a discussão a partir da literatura leva-nos
a afirmar que um problema corresponde a uma situação para a qual
aquele que a enfrenta não tem à partida uma forma imediata de
obter a solução. De referir que a resolução de problemas é indis-
sociável da discussão sobre estratégias de resolução ou heurísticas
(POLYA, 1945), outro dos aspetos que tem sido incluído no traba-
lho realizado com professores ou futuros professores sobre o tema.
Em Portugal a inclusão da resolução de problemas nos cur-
rículos de Matemática e na formação de professores, no sentido
em que é entendida neste capítulo, teve uma forte influência das
publicações do NCTM (1980, 1991, 2000) e foi profundamente
discutido no âmbito da Associação de Professores de Matemática
(APM, 1988). A ideia de resolução de problemas como uma capa-
cidade transversal que todos os alunos devem desenvolver foi uma
das propostas do Programa de Matemática para o ensino básico
homologado em 2007 (PONTE, et al., 2007), que preconiza a
ideia de ensino exploratório da Matemática (CANAVARRO, 2011,
78 Perspectivas para Resolução de Problemas
PONTE, 2005, 2007). Este tem a ver com o papel que é atribuído
ao professor na apresentação, monitorização e discussão das tarefas
na sala de aula, bem como com a natureza das tarefas a propor aos
alunos – tarefas desafiantes incluindo necessariamente a resolução
de problemas, mas também tarefas de investigação. A investigação
sugere que os professores devem ter oportunidade de desenvolver o
seu conhecimento por processos mais próximos do trabalho do tipo
exploratório ou investigativo (LLINARES & KRAINER, 2006,
SMITH, 2001). Pesquisas realizadas em Portugal no âmbito de pro-
gramas de formação, como o PFCM, (por exemplo, PIMENTEL,
2010, ROCHA, 2008) sugerem que se se quer promover uma
prática de ensino exploratório, é necessário que essa corresponde
também à prática desenvolvida durante a formação. Isto é, devem
ser criadas oportunidades para discutir as potencialidades das tare-
fas, tendo em conta o que se quer ensinar, elaborar sobre possíveis
soluções que possam ser obtidas pelos alunos, questionar os aspetos
matemáticos envolvidos e, posteriormente, experimentá-las na sala
de aula com reflexão posterior sobre as aprendizagens dos alunos.
Este não pode ser um processo pontual, mas antes desenvolvido
de uma forma consistente e prolongada no tempo, se o objetivo
é uma alteração das práticas de modo a desenvolver um ensino da
Matemática como algo que faça sentido para os alunos.
Em Portugal, as experiências de formação, tanto inicial como
continuada, são conclusivas no sentido que é possível melhorar as
conceções sobre resolução de problemas e sobre a natureza das tare-
fas dos futuros professores (SERRAZINA, et al., 2002; VALE &
PIMENTEL, 2012) e dos professores em serviço (SERRAZINA et
al., 2011).
Resolução de Problemas e Formação de Professores 79
Referências
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80 Perspectivas para Resolução de Problemas
Jeremy Kilpatrick
A
primeira consideração que um pesquisador deveria ter em
mente quando ele planeja e conduz um estudo é: O que
eu estou tentando descobrir fazendo este estudo? Qualquer
um que conduza uma pesquisa sobre resolução de problemas em
Matemática precisa ser especialmente claro sobre o propósito de um
estudo, uma vez que há tantos territórios inexplorados nos quais
se pode ficar perdido. Somente quando a pessoa tem o propósito
claramente formulado, é apropriado perguntar quais variáveis estão
envolvidas no estudo, se variáveis adicionais deveriam ser conside-
radas e qual ou quais metodologias deveriam ser usadas para coletar
dados sobre essas variáveis. Embora não faça muito sentido escolher
uma variável ou metodologia antes de se determinar a questão de
pesquisa a ser investigada, pode haver algum valor em se discutirem
os tipos de variáveis e metodologias que estão disponíveis – como
um auxílio ao pesquisador que elaborou a questão, mas que ainda
não decidiu como investigá-la. Este artigo tenta pesquisar algumas
1 Artigo traduzido e autorizado pelo autor e pela editora. Uma primeira versão deste artigo
encontra-se em:: CARPENTER, T. P.; DOSSEY, J. A.KOEHLER, J. L. (Eds.). Classics
in Mathematics Education Research. National Council Teaching of Mathematics -
USA. pp. 40-47. 2004.
2 Tradução realizada pelos membros do GTERP: Lourdes de la Rosa Onuchic, Cecília
Pereira de Andrade, Egídio Rodrigues Martins, Lilian Esquinelato da Silva, Luiz Carlos
Leal Junior, Márcio Pironel e Sabrina A. Vallilo.
86 Perspectivas para Resolução de Problemas
Variáveis independentes
Qualquer estudo de resolução de problemas em Matemática
envolve uma pessoa (sujeito) resolvendo um problema matemático
(tarefa) sob alguma condição (situação). Cada um desses compo-
nentes pode ser usado para definir uma classe de variáveis.
Variáveis do Sujeito
As variáveis do sujeito podem ser categorizadas de acordo com
se elas são, ou não são, baseadas numa amostra do comportamento
do sujeito. Algumas variáveis descrevem o sujeito como uma pessoa:
seu sexo, altura, nível de instrução, etc. Tais variáveis podem ser
medidas pela observação direta, exame de registros ou o próprio
relatório do sujeito. Outras variáveis são baseadas nas inferências
derivadas de uma amostra do comportamento do sujeito, digamos,
em resposta a um teste ou questionário, ou sendo observado por um
clínico. Tais variáveis incluem vários tipos de aptidões, habilidades,
atitudes e realização.
Uma classificação relacionada de variáveis do sujeito, e talvez
mais útil, é baseada no grau em que elas podem ser modificadas
experimentalmente. As variáveis não abertas a tais modificações são
às vezes chamadas de variáveis “organísmicas” ou “determinadas”.
As variáveis abertas a alguma modificação (e exigindo uma amostra
de comportamento) podem ser chamadas de variáveis “característi-
cas” (Os últimos dois termos não são padrão e talvez nem mesmo
satisfatórios, uma vez que tais características, como a habilidade
mental geral, são consideradas tudo exceto não modificáveis na
maioria dos contextos de pesquisa, e nem todos os modos de modi-
ficação podem ser chamados de “instrução”. Para o propósito deste
trabalho, entretanto, os termos serão suficientes.).
88 Perspectivas para Resolução de Problemas
Variáveis de Tarefas
Uma classificação simples de tarefas de problemas (Kilpatrick,
1969) está de acordo com o conteúdo e estrutura. Essas duas cate-
gorias trazem exame e elaboração posteriores.
Variáveis de contexto. Suponha que dois problemas matemá-
ticos envolvam os mesmos números na mesma relação, mas um se
refere a coelhos e frangos num galinheiro, o outro a dois botes num
rio. A maioria das pessoas concordaria que os dois problemas são
iguais em estrutura (matemática), mas, que palavra expressa essa
diferença? “Conteúdo” poderia parecer adequado inicialmente,
mas, ao se refletir, “contexto” parece marginalmente melhor, uma
vez que evita a conotação de que conteúdo matemático é diferente.
Qualquer que seja o termo, as variáveis semânticas, que caracte-
rizam as diferenças entre a situação física modelada no problema,
assim como as variáveis sintáticas, que caracterizam a linguagem na
qual o problema é expresso, precisam ser exploradas tanto analitica-
mente quanto empiricamente.
Variáveis de estrutura. A questão da estrutura do problema é
também mais complicada do que um primeiro pensamento poderia
sugerir. Considere o seguinte problema:
Encontre o volume F do tronco de uma pirâmide simétrica
com base quadrada, dada a altura h do tronco, o comprimento a de
um lado da sua base superior e o comprimento b de um lado da sua
base inferior.
Uma maneira de caracterizar a estrutura desse problema é
dizer que a fórmula expressa a relação entre os elementos do pro-
blema e que qualquer outro problema no qual os elementos F, a,
b, e h estejam nessa relação, com a, b, e h dados, tem a mesma
estrutura desse problema. Poder-se-ia dizer que os dois problemas
92 Perspectivas para Resolução de Problemas
pedir a ele que pense em voz alta conforme ele trabalha ou que fique
retrospectivo durante o curso da sua resolução. Pode ser ou não
permitido ou encorajado que ele registre um rascunho. Todas essas
variáveis podem ser classificadas como variáveis de formato. Elas são
raramente manipuladas sistematicamente num estudo, uma vez que
elas não são comumente de interesse do educador matemático. Ao
ignorá-las, o pesquisador tacitamente presume que elas não afetam
as relações que ele observa. Uma vez que todas as generalizações da
pesquisa sobre resolução de problemas precisam ser validadas por
situações e métodos de coleta de dados, entretanto, a variação no
formato do problema pode ser incluída como parte da validação.
Variáveis de situação
A linha divisória entre variáveis de formato e variáveis de situ-
ação não é inteiramente clara. Se fossem dadas a um sujeito infor-
mações insuficientes ou errôneas sobre um problema, a questão
pareceria ser de formato. Se fosse dito a ele que o experimentador
estava interessado em ver quão rápido ele resolveria o problema
quando, de fato, o experimentador estava registrando quantos erros
ele cometeu, a questão pareceria ser de situação. Os dois casos envol-
vem instruções, mas parece útil distinguir entre variação no conte-
údo das instruções (formato) e variação na percepção do sujeito do
propósito da tarefa (situação). Uma variável de situação diz respeito
às condições, físicas e psicológicas, sob as quais o sujeito resolve,
ou tenta resolver, o problema. As variáveis de situação incluem se,
ou não, o sujeito se oferece voluntariamente para o estudo, se ele
recebe, ou não, recompensas extrínsecas, tais como dinheiro ou
notas, se ele trabalha sozinho ou num grupo, o momento do dia no
qual os dados são coletados, a presença ou ausência de distrações, as
94 Perspectivas para Resolução de Problemas
Variáveis Dependentes
Algumas variáveis dependentes derivam das respostas do
sujeito a uma tarefa de problema; outras necessitam de amostras
adicionais de comportamento. Vamos considerar este último tipo
primeiramente. (Lembre-se de que os estudos em discussão dizem
respeito à resolução de problemas por si: os estudos que envolvem
instrução em heurística ainda serão considerados).
Variáveis concomitantes
Qualquer uma das variáveis características mencionadas ante-
riormente pode ser usada como uma variável dependente num
estudo de resolução de problemas. Por exemplo, alguém poderia
investigar como a classificação de problemas de um sujeito mudou
depois de ele ter resolvido uma série de tarefas de problemas. Ou
alguém poderia perguntar se sua atitude em relação à resolução de
problemas mudou.
Enquanto está trabalhando nas tarefas de problemas, o sujeito
pode adquirir novos conhecimentos ou habilidades em Matemática
além de simplesmente aprender como resolver os problemas. As
Variáveis e metodologias em pesquisa sobre resolução de problemas, 95
Variáveis de Produto
As variáveis de produto são baseadas nas dimensões da resolu-
ção do sujeito para o problema: sua exatidão, sua completude, sua
elegância e economia, a velocidade na qual foi atingida e o número
e diversidade das resoluções alternativas que o sujeito encontra.
Velocidade e exatidão são as variáveis de produto mais comumente
usadas, mas outras deveriam ser consideradas se possível.
Variáveis de Processo
As variáveis de processo são baseadas no caminho que o sujeito
toma para a resolução; elas derivam tanto do relatório verbal do
pensamento do sujeito ou das manipulações que ele faz com um
aparato. As variáveis de processo se relacionam a coisas tais como a
estratégia do sujeito (inferida a partir da sequência de passos que ele
segue), a heurística que ele usa, os algoritmos que ele usa, a eficiên-
cia do seu caminho para a resolução, a extensão da sua perseverança
em becos sem saída, a natureza e o número de erros que ele comete
e a sua resposta às sugestões. Qualquer estudo respeitável de reso-
lução de problemas em Matemática deveria incluir as medidas das
variáveis de processo. Quase nada se sabe sobre a generalizabilidade
96 Perspectivas para Resolução de Problemas
Variáveis de Avaliação
Seria bom ter um mapa das cognições de um sujeito depois
que ele resolveu um problema. Como ele vê o problema? Como
ele o relaciona a outros problemas que ele resolveu, a outras infor-
mações que ele possui? Ele está ciente dos processos que ele usou e
dos erros que ele cometeu? Quão confiante ele está na sua resolu-
ção? Tais perguntas podem ser difíceis para os sujeitos responderem
diretamente. Uma ingenuidade considerável pode ser necessária ao
elaborar instrumentos para atingir o mapa cognitivo (e afetivo) dos
problemas que o sujeito resolveu. Um relatório do sujeito sobre o
que ele estava tentando fazer conforme ele resolvia o problema e
como ele percebe o problema depois de ter trabalhado nele não é
menos valioso por ser subjetivo. Seu relatório fornece dados que não
podem ser obtidos de nenhum outro modo. Não há virtude especial
em rotular tais dados como não científicos e ignorá-los.
Variáveis Independentes
As mesmas variáveis independentes consideradas anterior-
mente podem aparecer na pesquisa sobre heurística. As variáveis de
sujeito permanecem como antes. As variáveis de tarefa podem ser
usadas para caracterizar problemas usados no ensino. As variáveis
de situação são essencialmente as mesmas, mas o pesquisador pode
precisar dar mais atenção às questões do ambiente e organização
da escola (a categoria de “estabelecer variáveis” usada por Richard
Turner, 1976, ao discutir pesquisa sobre estratégias de ensino parece
ser aproximadamente equivalente às “variáveis de situação”). As
categorias de variáveis que precisam ser adicionadas são as variáveis
de tratamento instrucional, variáveis de atividade em sala de aula e
variáveis do professor.
Variáveis de Professores
Nada é mais estressante do que ouvir os pesquisadores falando
sobre “a variável do professor” – como se houvesse apenas uma.
Antes houvesse. Mas os professores diferem em idade, sexo, experi-
ência de ensino, entusiasmo, autoconfiança, filosofia da educação,
atitude em relação à Matemática, preferência por atividade de sala de
aula não estruturada e amor pelas crianças. Eles também diferem na
habilidade de resolução de problemas, experiência em resolução de
problemas, conhecimento de heurística, interesse em resolver pro-
blemas, valor atribuído à instrução em heurística, vontade de adiar
o fornecimento de uma solução e habilidade de aceitar e transcen-
der resoluções errôneas. Basta somente dar uma olhada numa lista
de “competências de professores” para ver a variedade de modos em
que os professores podem diferir. Assim como ninguém sabe quais
competências dos professores, se há alguma, são pré-requisitos para
um ensino eficaz, então, ninguém sabe quais variáveis de professo-
res, se há alguma, poderiam prever a aprendizagem de heurística.
A questão análoga das competências do professor é levantada
aqui intencionalmente. Nada seria mais infrutífero do que tentar
fazer um catálogo de variáveis de professor na possibilidade de que
algumas poderiam provar serem boas preditoras de aprendizagem.
Uma abordagem muito melhor seria identificar os professores que
parecessem ter tido algum sucesso em ensinar heurística, para ver se
esse sucesso se manteve com o tempo e diante de situações e, então,
explorar as dimensões da semelhança entre esses professores e as
dimensões de contraste entre esses professores e outros considerados
Variáveis e metodologias em pesquisa sobre resolução de problemas, 101
Variáveis Dependentes
As variáveis dependentes na pesquisa sobre heurística são as
mesmas variáveis dependentes discutidas anteriormente mais algu-
mas novas. As variáveis de atividades em sala de aula poderão ser
tomadas como variáveis dependentes (mais precisamente como
variáveis de processo) se alguém desejar aprender como o trata-
mento instrucional influenciou a atividade em sala de aula. Variáveis
dependentes adicionais, que são variáveis de produto, incluem todas
as várias medidas que se poderia fazer daquilo que foi aprendido
durante a instrução. Um dos modelos para a realização matemática
(ver Wilson, 1971, por exemplo) poderia ajudar a organizar essas
variáveis de produto.
Referências
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DUNKIN, M. J. and Biddle, B. J. The study of teaching. NewYork: Holt
Rinehart & Winston, 1974.
106 Perspectivas para Resolução de Problemas
Introdução
D
efiniu-se o papel da escrita e o das narrativas, tomando
como referencial teórico o ensino construtivista (Steffe &
D’Ambrosio, 1995) fundamentado no construtivismo radi-
cal de von Glasersfeld (1990, 1991). Steffe e D’Ambrosio (1995,
p.148, tradução minha) usaram o termo “professor construtivista”
para se referir a professores que “Estudam as construções matemáti-
cas de seus alunos e que interagem com eles num espaço de aprendi-
zagem cujo desenho é baseado, pelo menos em parte, num modelo
em desenvolvimento do conhecimento dos alunos”2.
O professor construtivista entende o conhecimento de seus
alunos como resultado das ações realizadas por eles e das reflexões
que eles fazem sobre elas para organizar o seu mundo experiencial
(Steffe & Kieren, 1994). A acomodação e a assimilação definidas por
Piaget são operações que levam o sujeito a construir novos esquemas
1 Uma primeira versão deste trabalho foi publicada na Rev educ. PUC - Camp., 2013.
Este artigo foi indicado pelo Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrósio.
2 “study the mathematical constructions of students and who interact with students in
a learning space whose design is based, at least in part, on a working knowledge of
students’ mathematics”.
110 Perspectivas para Resolução de Problemas
3 “On the one hand, the model should be general enough to account for other children’s
mathematical progress. On the other hand, it should be specific enough to account for
a particular child’s progress in a particular instructional setting”.
O Professor-Pesquisador Diante da Produção Escrita dos Alunos 111
4 “This form of listening [hermeneutic listening] is more negotiatory, engaging, and mes-
sy, involving the hearer and the heard in a shared project.”
O Professor-Pesquisador Diante da Produção Escrita dos Alunos 113
Figura 1. Aluno A.
Nota: Tradução: “4 dias, pois 8 pessoas fizeram em 6 dias. Se você dobrar seriam 3 dias, pois
seriam 16 pessoas que o fariam duas vezes mais rápido”.
120 Perspectivas para Resolução de Problemas
Figura 2. Aluno C.
Nota: Tradução: “8 pessoas constroem o muro em 6 dias; 4 pessoas no começo, quantos dias
levou para construir o muro? 4 pessoas – 12 dias, 8 pessoas – 6 dias, 12 pessoas – 4 dias”.
O Professor-Pesquisador Diante da Produção Escrita dos Alunos 121
Figura 3. Aluno B.
Nota: Tradução: “Levaria 4 dias, pois você tem um terço do tanto que começou. 4 três vezes
é igual a 12. Então, a diferença de duas pessoas seriam menos dias”.
Figura 4. Aluno D.
Conclusão
As consequências do trabalho do professor-pesquisador que
dá voz e razão ao aluno quando analisa sua produção escrita são
muitas e complexas. Esse professor-pesquisador junta elementos
para desenvolver o modelo da matemática de seus alunos, o qual
serve para sustentar o trabalho de sala de aula de, pelo menos, três
maneiras essenciais. Primeiro, influencia a escolha de situações-
-problemas que serão colocadas para dar prosseguimento ao traba-
lho. Por exemplo, dada a coleção de produção dos alunos para o
problema da construção do muro, escolhe-se uma proposta mate-
maticamente semelhante, mas com um contexto diferente e valores
numéricos que criassem novos desafios. Segundo, influencia não
apenas a ordem em que serão desenvolvidas as discussões das solu-
ções, mas também o foco desses debates. Tendo ouvido acreditando,
128 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
COBB, P.; STEFFE, L. The constructivist researcher as teacher and model
builder. Journal for Research in Mathematics Education, v.14, p.83-94,
1983.
D’AMBROSIO, B.S. Preparing teachers to teach mathematics within a
constructivist framework: The importance of listening to children. In:
WATANABE, T.; THOMPSON, D.R. (Org.). The work of mathematics
O Professor-Pesquisador Diante da Produção Escrita dos Alunos 129
Isabel Vale
Introdução
A
rápida evolução do mundo de hoje exige que todos os alunos
tenham acesso a uma educação que valorize a criatividade, a
inovação e a resolução de problemas. A escola do século XXI
tem de preparar os alunos para uma sociedade global que se rege
por comunicações de alta velocidade com grande impacto visual e
por mudanças complexas, diversificadas e rápidas a todos os níveis.
Muitos dos trabalhos de hoje exigem de quem os executa pensar fora
da caixa para permitir resolver situações a partir de diferentes ângu-
los, e assim estarem aptos a construir e a defender um novo modo
de pensar. Isto significa envolver os alunos na resolução de proble-
mas, considerando diferentes pontos de vista para os explorar de
vários modos e recorrer a múltiplas estratégias. Assim somos condu-
zidos à necessidade de práticas de sala de aula onde se desenvolvam
capacidades criativas dos alunos, permitindo que todos participem
ativamente na sua aprendizagem, onde possam fazer as suas pesqui-
sas e compartilhar as suas descobertas.
132 Perspectivas para Resolução de Problemas
As resoluções visuais
Embora as representações visuais tenham sido subestimadas
por várias décadas, no final do século XX houve um ressurgimento
do interesse pela visualização como uma ferramenta poderosa no
raciocínio matemático, onde o visual pode proporcionar algo mais
profundo em matemática do que apenas o uso de fórmulas e, por-
tanto, possa contribuir para uma visão mais ampla da matemática.
A visualização tem sido frequentemente citada como um
processo na aprendizagem matemática, reconhecida como uma
componente do raciocínio, profundamente envolvida com o con-
ceitual e não apenas com o perceptual, com a resolução de pro-
blemas, com a prova e pode ser uma ajuda importante para todos
os tipos de problemas, incluindo aqueles em que o visual não é
evidente (e.g. ARCAVI, 2003; PRESMEG, 2014; RIVERA, 2011;
ZIMMERMAN, CUNNINGHAM, 1991).
Na resolução de problemas complexos a relação com o ver
é tão importante como as capacidades relacionadas com o fazer,
verificando-se que a maior parte das vezes os alunos selecionam os
métodos a utilizar na resolução de um problema baseados no que
veem no seu enunciado (VALE, 2015). Considerando a visualização
de acordo com Zimmermann e Cunningham (1991) como o pro-
cesso de formar imagens (mentalmente, com papel e lápis ou com
apoio da tecnologia) e usar tais imagens eficazmente na descoberta
e compreensão matemática, Fujita e Jones (2002) defendem que é
essencial os alunos terem olho geométrico – o poder de ver proprieda-
des geométricas a separar-se de uma imagem – ferramenta essencial
para a construção da intuição geométrica. Este fenómeno está rela-
cionado com a intuição. (e.g. VALE, 2015; VALE, PIMENTEL,
BARBOSA, 2015; VALE & PIMENTEL, 2016).
140 Perspectivas para Resolução de Problemas
Exemplo 1
Ninguém consegue explicar exatamente o que se passa na
nossa cabeça quando de repente temos uma ideia que nos conduz
à solução ou ao caminho que nos leva à solução. Este momento de
insight, ou de experiência aha! surge a maior parte das vezes asso-
ciada à resolução de problemas em contextos visuais. Este momento
é descrito como sendo um momento criativo (LILJEDAHL, 2005).
De todas as possíveis estratégias de resolução existem algumas
claramente mais simples que envolvem o pensamento aha! (e.g.
FREIMAN, SRIRAMAN, 2008; LILJEDAHL, 2005; PRESMEG,
2014; VALE, PIMENTEL, BARBOSA, no prelo) conduzindo a
resoluções mais originais.
Há problemas que, para quem seja analítico nas resoluções que
adota, podem ser complicados, ou não o sendo são manifestamente
trabalhosos pelo número de cálculos que exigem, mas que depois
da descoberta das relações visuais envolvidas, com alguma intuição
ou experiência aha! para iniciar o processo de resolução, revelam-se
muito mais simples e evidentes, ficando acessíveis a mais alunos.
Vejamos o exemplo seguinte na figura 1.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Resolução de Problema um Tema em Contínua Discussão 147
Exemplo 2
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
O que faz com que uma resolução, como estas três, seja cria-
tiva é, conforme sugere Presmeg (2014), o facto de ser necessário
quebrar o esquema mental que sugere o uso de fórmulas quando
a palavra área é apresentada, de modo a procurar um método de
resolução visual mais frutífero e simples.
Exemplo 3
Fonte: o autor
Exemplo 4
Mostre que
Fonte: o autor
Fonte: o autor
esta pode ser muitas das vezes superada por uma prova geométrica
análoga mais simples e agradável que permite que a veracidade da
afirmação seja compreendida ao primeiro relance. Arcavi (1999) vai
mais longe quando diz que continuamos a olhar de soslaio para
as provas que fazem uso crucial de figuras, diagramas, gráficos ou
outras formas não linguísticas de representação, e que passamos este
desdém para os alunos, apesar de as representações visuais serem
elementos legítimos de provas matemáticas.
Segundo Nelson as figuras ou diagramas podem ajudar a ver
o porquê de como determinada afirmação pode ser verdadeira e ao
mesmo tempo ver como se pode iniciar a prova da sua veracidade.
Muitas vezes o recurso à álgebra pode ajudar a orientar neste pro-
cesso. Mas a ênfase está claramente em fornecer pistas visuais ao
observador para estimular o pensamento matemático. Muitas destas
provas visuais proporcionam entusiasmo a quem resolve e muitas
delas constituem elegantes desmonstrações de certas ideias matemá-
ticas. Nas últimas décadas aumentou o interesse pelas provas visuais.
No entanto, os argumentos visuais devem ser rigorosos pois podem
conduzir facilmente a más interpretações e, portanto, conduzir a
inferências erradas. De qualquer modo, a sua importância é reco-
nhecida pelo apoio na descoberta de novos resultados e na produ-
ção de provas mais formais, e sobretudo pelo seu papel no ensino e
aprendizagem da matemática (e.g. PRESMEG, 2014).
Exemplo 5
Fórmula da área
– Teorema de
Pitágoras
Fonte: o autor
Considerações finais
O modo como os problemas normalmente são colocados con-
vidam a resoluções não visuais, isto é, analíticas, (e.g. numéricas,
algébricas) por isso é expectável que os alunos as utilizem, só que
é importante que, por mais eficiente que seja uma resolução des-
tas, mostrar que há outros modos de resolução igualmente válidos.
As resoluções analíticas embora poderosas e gerais podem ser opa-
cas para muitos alunos, mesmo que eles não se apercebam. Muitos
são capazes de manipular com sucesso muitos símbolos e procedi-
mentos chegando à solução de um problema e ficarem satisfeitos,
sem entenderem muito bem o que fizeram. Contudo, como refe-
rem Arcavi e Resnick (2008) podem nunca adquirir e desenvolver
o sentido do símbolo. Para estas situações deve procurar-se outras
alternativas. As resoluções visuais podem ser uma dessas alternati-
vas pois têm potencial para permitir aos alunos uma compreensão
que a manipulação cega dos símbolos e procedimentos nem sempre
consegue, podendo constituir a alavanca necessária e complementar
para compreensões mais formais e complexas.
Com este artigo pretende-se realçar a força da estratégia procu-
rar ver nas resoluções visuais. Os exemplos mostrados são sobretudo
158 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
ARCAVI, A; RESNICK, Z. Generating problems form problems and
solutions form solutions. Mathematics Teacher, 102 (1), 10-14, 2008.
ARCAVI, A. The role of visual representations in the learning of
mathematics. Educational Studies in Mathematics, 52, 215-241, 2003.
BALL, D.; THAMES, M.; PHELPS, G. Content knowledge for teaching:
What makes it special? Journal of Teacher Education, 59(5), 389–407,
2008.
Resolução de Problema um Tema em Contínua Discussão 159
Jeremy Kilpatrick
U
ma das primeiras vezes que eu aluguei um carro com um
GPS (sistema de posicionamento global), eu estava seguindo
meu filho mais novo quando dirigíamos do aeroporto de
Portland, Oregon, para sua casa. O GPS me deu o que ele achava
que era o caminho mais curto, mas meu filho pegou vários atalhos
que o GPS aparentemente não conhecia. Cada vez que ele pegava
um atalho, o GPS me informava – no que eu achava que era numa
voz cada vez mais exasperada – que estava “recalculando” a rota.
O refrão “recalculando”, “recalculando” ecoava nos meus ouvidos
enquanto nós íamos para a casa do meu filho.
Eu compreendi que o GPS estava tentando resolver o pro-
blema de me levar para a casa do meu filho enquanto minimizava
a distância percorrida, e aí eu percebi que o que a voz do GPS que
dizia recalculando era o mesmo que Karl Duncker (1945) tinha
rotulado de reformulando no processo de resolução de problemas.
1 Artigo traduzido e autorizado pelo autor e pela editora. Uma primeira versão deste
artigo encontra-se em: KILPATRICK, J. Reformulating: Approaching Mathematical
Problem Solving as Inquiry. Felmer, P; Pehkonem, E.; Kilpatrick, J. (eds.), Posing
and Solving Mathematical Problems, Research in Mathematics Education. Springer
International Publishing Switzerland 2016. Pp 69-81.
2 Tradução realizada pelos membros do GTERP: Lourdes de la Rosa Onuchic, Cecília
Pereira de Andrade, Egídio Rodrigues Martins, Lilian Esquinelato da Silva, Luiz Carlos
Leal Junior, Márcio Pironel e Sabrina A. Vallilo.
164 Perspectivas para Resolução de Problemas
PRIMAS
Em 2007, Michel Rocard e seus colegas do Grupo de Alto
Nível da Comissão Europeia em Educação da Ciência publicaram
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 165
O Contexto de PRIMAS
Uma das importantes características do projeto PRIMAS foi o
seu reconhecimento da necessidade de adequar o desenvolvimento
profissional para professores às circunstâncias de cada país. MaaB
166 Perspectivas para Resolução de Problemas
Ciências 2 23
PISA 2015
Matemática 6 0
Ciências 1 62
3 Obs. Os dados do TIMSS 2015 são de Mullis e Martin (2013), Os dados de PISA 2012
são da Organização para Cooperação E Desenvolvimento Econômico (OECD, 2013a),
e os dados de PISA 2015 são da OECD (2013b, 2013c) ;Os quadros TIMSS usam
investigação (inquiry); os quadros PISA usam consulta (enquiry).
170 Perspectivas para Resolução de Problemas
Formulação de Problemas
O tópico de formulação de problemas em Matemática tem
chamado maior atenção nos anos recentes, especialmente por causa
do trabalho de Ed Silver e Jinfa Cai (ver Singer, Ellerton & Cai,
2015, para exemplos desse trabalho e suas consequências). Há quase
três décadas atrás, eu coloquei a questão, “De onde vêm os bons
problemas? ” (Kilpatrick, 1987). Minha resposta foi que eles vêm
de professores e livros didáticos, mas muito raramente dos alunos.
(Hoje se poderia adicionar que eles vêm da Web – que é de onde
vêm muitos problemas pobres também). Um dos pontos que eu
tentei salientar no artigo no qual eu coloquei a questão foi que a
formulação de problemas deveria ser tanto um objetivo quanto um
meio de se ensinar Matemática.
Consequentemente, conforme alguém se mexe para imple-
mentar a IBL em Matemática, precisa considerar o papel desempe-
nhado pela formulação de problemas na investigação. Um professor
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 171
Preparação do Professor
Como a IBL não é uma prática comum na maioria das salas
de aula de Matemática das escolas, os professores precisam adquirir
experiência usando-a em seu ensino. Embora o projeto PRIMAS
focasse o desenvolvimento profissional, uma época especialmente
oportuna para os professores ganharem experiência com a IBL é
quando eles ainda estão sendo preparados para ensinar. Desse modo,
eles podem ver, analisar e explorar as várias facetas da IBL num
ambiente que permite, e que deveria promover, ensino inovador.
Eles precisam entender o que a IBL significa, e também como eles
poderiam colocá-la na sua prática. Eles precisam de um programa
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 173
Metacognição
Schoenfeld (1987) colocou a questão, “Que alvoroço todo
é esse sobre a metacognição?” Ele, então, tentou explicar para as
pessoas, intrigadas sobre o uso do termo pelos pesquisadores em
educação matemática, o que significava. Schoenfeld definiu meta-
cognição em termos de uma série de questões:
Seu conhecimento sobre os seus próprios processos de pen-
samento. Quão exato você é para descrever seu próprio raciocínio?
Controle ou autorregulação. Quão bem você mantém um
controle do que você está fazendo quando (por exemplo) você está
resolvendo problemas, e quão bem (se é que você faz isso) você usa
a contribuição dessas observações para guiar suas ações de resolução
de problemas?
Crenças e intuições. Que ideias sobre Matemática você traz
para o seu trabalho em Matemática, e como isso modela o jeito
como você faz Matemática (p. 190)?
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 175
Exigência Cognitiva
Stein, Smith, Henningsen e Silver (2000) identificaram qua-
tro níveis de exigência cognitiva que uma tarefa matemática pode
suscitar na pessoa que confronta a tarefa. Ela pode exigir qualquer
uma das seguintes:
• Memorização (de material visto anteriormente)
• Procedimentos sem conexões (para compreensão, signifi-
cado ou conceitos)
• Procedimentos com conexões (para compreensão, signifi-
cado ou conceitos)
• Fazer Matemática (com raciocínio não algorítmico
complexo)
Nos nossos cursos para futuros professores, nós damos a eles
oportunidades de observarem as tarefas sendo implementadas em
diferentes níveis nas aulas de Matemática que eles estão observando
nas escolas locais. Familiarizando-os com os quatro níveis – muito
180 Perspectivas para Resolução de Problemas
embora não seja sempre fácil para eles distinguir os níveis – nós esta-
mos lhes fornecendo um quadro que eles podem usar ao observarem
e planejarem as aulas. Eles rapidamente veem como é fácil para um
professor diminuir a exigência de uma tarefa que está sendo pre-
parada para os alunos, e eles também veem como é difícil elevar
essa exigência quando eles estão planejando uma aula ou estão no
meio do ensino de alguma lição. Focando a exigência cognitiva, nós
estamos encorajando uma abordagem de investigação para resolver
problemas matemáticos.
Por exemplo, nós pedimos aos nossos futuros professores para
nos mostrarem como eles poderiam elevar a exigência cognitiva de
uma ou mais tarefas. Um futuro professor escolheu as seguintes
três tarefas do Programa de Avaliação Equilibrada em Matemática
(2001):
Um círculo de raio de 8 unidades é desenhado num papel grá-
fico com A e B como os pontos finais do seu diâmetro horizontal. É
dada uma figura que mostra o círculo e os dois pontos.
A primeira tarefa é desenhar um triângulo A B C com C locali-
zado em qualquer lugar no círculo, de forma que a área do triângulo
é máxima. A tarefa envolve desenhar e sombrear o triângulo, assim
como calcular sua área e explicar por que é máxima.
A segunda tarefa é desenhar um triângulo com metade da área
máxima e explicar por que foi desenhado dessa forma.
A terceira tarefa é encontrar um triângulo A B C com área
mínima.
Conforme dado na Website, a primeira tarefa inclui desenhos
de dois triângulos A B C que não têm área máxima, para mostrar aos
alunos as localizações para C que não resolvem o problema. No seu
trabalho, o futuro professor modificou a primeira tarefa removendo
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 181
Considerações
Numa manhã de sábado de julho, há vários anos atrás, minha
família estava indo para uma reunião no Estado de Nova Iorque.
Nós estávamos em dois carros, com meu filho mais novo e sua famí-
lia conduzindo o caminho num carro alugado equipado com um
GPS, e o restante de nós seguindo-o no nosso carro. Conforme nós
Reformulando: Abordando a Resolução de Problemas Matemáticos... 183
fomos saindo dos arredores de Brooklyn, onde meu filho mais velho
morava, ele disse: “Eu espero que o GPS não vá nos levar pela Ponte
de Brooklyn para Manhattan”, e, é claro, foi exatamente o que ele
fez. Quando nós chegamos a Manhattan, ele disse, “Oh não. Nós
não deveríamos pegar a Canal Street” – uma rua congestionada de
compradores de sábado e trânsito. Novamente, foi onde o GPS nos
levou. Depois de termos nos arrastadso por toda Baixa Manhattan,
nós conseguimos fazer um sinal para meu filho mais novo parar o
carro e o convencemos a nos guiar para fora de Manhattan.
Moral da história: Ao se reformular um problema de mini-
mizar uma variável, neste caso, precisa-se considerar fatores que
poderiam evitar minimizar outra variável, neste caso, a distância,
de fornecer uma solução melhor. O GPS que nós tínhamos pode
ter sabido como minimizar a distância como uma forma de mini-
mizar o tempo, mas ele não sabia como levar em consideração outra
variável, como o congestionamento de trânsito (embora hoje exista
GPS com capacidade de atualizar a situação do trânsito ao vivo).
Reformular exige uma consciência de todas as dimensões de um
problema.
Referências
ALEXANDERSON, G. L. George Pólya, teacher. ln F. R. Curcio (Ed.),
Teach-ing and learning: A problemsotving focus (pp. 17-26). Reston, VA:
National Council of Teachers of Mathematics. (1987).
ARTIGUE, M.; BHOMHOJ, M. Conceptualising inquiry based
education in mathematics.ZDMlnternational Journal on Mathematics
Education, 45(6), 797-810. (2013).
Balanced Assessment in Mathematics Program. Triangle in a cir-cle.
Retrieved from http://balancedassessment.concord.org/mO 12.html.
2001
184 Perspectivas para Resolução de Problemas
D
iversas pesquisas mostram que a utilização da Resolução de
Problemas em Cursos do Ensino Superior pode ser um dife-
rencial no processo de ensino, aprendizagem e avaliação de
Matemática. Inclusive, nos Cursos de Licenciatura em Matemática
no Brasil, isso já é uma realidade, não apenas como pesquisa, mas
também como prática. Rodrigues, Silva e Ferreira, em seu artigo
“Clássicos da Educação Matemática nos Cursos de Licenciatura
em Matemática no Brasil”, publicado em 2016, no livro Clássicos
da Educação Matemática Brasileira: múltiplos olhares, revelam que a
Resolução de Problemas aparece nas ementas dos Projetos Político-
Pedagógicos de diversos cursos de Licenciatura em Matemática no
Brasil. Nos cursos investigados por esses autores, a Resolução de
Problemas ainda não figura como uma disciplina; aparece apenas
como um recurso metodológico, inserida em outras disciplinas da
área de Educação. Rodrigues, Silva e Ferreira falam que, no mape-
amento que fizeram, apareceram 16 obras e 54 referências sobre
Resolução de Problemas. A maioria dessas obras foram livros, como
A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método matemá-
tico, de George Polya, publicado em 1945, edição de 1977. Porém,
artigos também foram referenciados, como Novas reflexões sobre o
ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas,
190 Perspectivas para Resolução de Problemas
Azevedo (1998)
Educação Básica
Paulette (2003)
Ribeiro (2010)
Ferreira (2017)
Abdelmalack (2011)
Rossi (2012)
Aspectos Práticos
Apoiados em pesquisas mencionadas neste capítulo, consta-
tamos que a Resolução de Problemas pode ser um caminho para o
processo de construção de conhecimentos de Matemática Superior,
como os de Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica,
dentre outros.
Neste tópico, apresentamos algumas abordagens práticas
com o uso da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de
Resolução de Problemas no Ensino Superior 201
Primeiro problema
Dois amigos, A e B, conversavam sobre seus filhos. A dizia a B que tinha 3 filhas, quando
B perguntou a idade das mesmas. Sabendo A que B gostava de problemas de Aritmética,
respondeu da seguinte forma: “O produto das idades das minhas filhas é 36. A soma de
suas idades é o número daquela casa ali em frente”. Depois de algum tempo, B retrucou:
“Mas isto não é suficiente para que eu possa resolver o problema”. A pensou um pouco e
respondeu: “Tem razão. Esqueci de dizer que a mais velha toca piano”. Com base nesses
dados, B resolveu o problema. Pergunta-se: qual a idade das filhas de A?
Fonte: (Ferreira, 2017, p. 138)
202 Perspectivas para Resolução de Problemas
Objetivos
Entender o comportamento das operações de adição e multi-
plicação para introduzir o conceito de operação binária como uma
generalização dessas operações.
Conteúdos abordados
Números naturais, operações de adição e multiplicação, equa-
ções e sistemas de equações.
Equacionando
Formalização
Nessa etapa, o professor poderia fazer uso da primeira estraté-
gia de resolução, aqui proposta, e observar que os principais concei-
tos matemáticos utilizados, nessa maneira de resolver o problema,
são as operações de adição e multiplicação. Com perguntas do tipo
“o que é operação?”, o professor poderia promover uma discussão e,
fazendo uso de alguns exemplos, levar os alunos a perceberem que
a adição e a multiplicação, usadas durante a resolução do problema
proposto, associam cada par de números naturais a um número
natural (por exemplo: 2 e 3 são associados ao 5 quando usamos a
adição, e ao 6 quando usamos a multiplicação) e, com isso, intro-
duzir o conceito de operação binária como uma função que associa
cada par de elementos de um conjunto a um elemento desse mesmo
Resolução de Problemas no Ensino Superior 207
Comentários
Durante todo o processo é importante que o professor busque
envolver ao máximo os alunos e, dentro das possibilidades, discutir
ideias ou dúvidas que eles apresentem, mesmo que fuja do objetivo
principal da aula. O objetivo desse problema foi o de introduzir o
conceito de operação binária, porém, durante sua resolução percebe-
mos que poderíamos aproveitá-lo para trabalhar outros conceitos de
Matemática, como foi mencionado durante sua resolução. É impor-
tante que, após a introdução desse novo conceito, seja proposta uma
atividade extraclasse, a ser discutida em aulas posteriores, com o
objetivo de fixar o conceito novo e associá-lo a outros conteúdos já
estudados.
208 Perspectivas para Resolução de Problemas
Segundo problema
Uma partícula percorre o segmento de reta AB, saindo do ponto A em direção a B.
Quando a partícula se encontra num ponto P = (x,y), o valor x (abscissa) representa a
posição horizontal dessa partícula, e y (ordenada), a altura dela, em relação a x.
Objetivos
Promover uma discussão sobre algumas propriedades da ope-
ração de adição e introduzir o conceito de Grupo.
Conteúdos abordados
Operações e suas propriedades, reta e equação da reta, sistema
de coordenadas, segmento de reta, e distância entre dois pontos.
Resolução de Problemas no Ensino Superior 209
Formalização
Nessa etapa, o professor poderia fazer uso do método de reso-
lução apresentado na primeira estratégia, usando equação da reta,
colocando a equação 2x = x – 5 na lousa e, durante a resolução dessa
equação, chamar a atenção para as propriedades da operação de
adição utilizadas. A seguir, mostraremos a resolução passo a passo,
discutiremos as propriedades e apresentaremos uma forma de intro-
duzir o conceito de Grupo a partir disso:
Resolução de Problemas no Ensino Superior 211
2x = x – 5 (1)
–x + 2x = –x + (x + 5) (2)
–x + 2x = (–x + x) + 5 (3)
x = 0 + 5 (4)
x = 5 (5)
Definição: Seja G um conjunto não vazio e * uma operação em G. Se forem válidas as três
condições: i), ii) e iii), a seguir, então (G,*) é denominado Grupo.
i ) (a ∗ b) ∗ c =a ∗ (b ∗ c), ∀a, b, c ∈ G; (associativa)
ii ) ∃ e ∈ G | a ∗ e = e ∗ a, ∀a ∈ G; (existência de elemento neutro)
Comentários
Novamente chamamos a atenção para a necessidade de o pro-
fessor envolver ao máximo os alunos nesse processo, pois a proposta
da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática
através da Resolução de Problemas é a de levar o aluno a ser cocons-
trutor do seu próprio conhecimento, e, para isso, o professor precisa
deixar de ser o centro das atenções, passando para o aluno a res-
ponsabilidade no processo de aprendizagem. Ao término da aula, é
214 Perspectivas para Resolução de Problemas
Conclusão
É notória a presença mais acentuada da metodologia da RP em
cursos de Licenciatura em Matemática com o uso de conteúdos da
Educação Básica abordando conteúdos da Matemática Elementar.
Observamos que as pesquisas convergem para a preocupação em
formar um professor reflexivo e preparado para atuar na docência,
mesmo com uso de conteúdos básicos de Matemática. Nesse movi-
mento de repensar a prática docente, abordando conteúdos básicos
de forma diferenciada na Licenciatura em Matemática, criam-se
novos caminhos, novas possibilidades em Educação Matemática,
sempre priorizando o aluno como protagonista do seu aprendi-
zado. E as pesquisas têm mostrado que a Metodologia de Ensino-
Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de
Problemas tem se apresentado como um caminho viável para atingir
esses propósitos.
Foi possível notar que a utilização da Resolução de Problemas
em outros cursos do Ensino Superior proporcionou aos futuros
profissionais a experiência de trabalharem em grupo, consequen-
temente, favorecendo as trocas de ideias entre seus integrantes,
levando-os a encontrar uma melhor estratégia para resolver o pro-
blema. Ressaltamos que o principal papel da Resolução de Problemas
é promover situações para a produção de conhecimentos durante
a busca de estratégias para a resolução do problema. Nessa ação,
os pesquisadores proporcionaram condições para a introdução de
novos conceitos como: Derivada; Integral; Equações Diferenciais;
Matemática Aplicada à Administração e outros.
216 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
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175 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) -
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sites.cruzeirodosulvirtual.com.br/pos_graduacao/trabs_programas_pos/
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ALLEVATO, N. S. G. Associando o Computador à Resolução de
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Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Rio Claro - SP, 2005.
AZEVEDO, E. Q. O processo de ensino-aprendizagem-avaliação
de Matemática através da Resolução de Problemas no contexto
da formação inicial do professor de Matemática. 2014. 268 f. Tese
(Doutorado em Educação Matemática) - Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Rio Claro - SP, 2014.
Resolução de Problemas no Ensino Superior 217
Introdução
N
o presente artigo1 apresentamos uma proposta de trabalho
para a sala de aula de matemática, com compreensão e signi-
ficado, utilizando a Metodologia de Ensino-Aprendizagem-
Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas.
Essa proposta foi desenvolvida durante os anos de 2004 a
2010, nos Cursos de Engenharia Civil do Centro Universitário da
Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, em Barretos-SP.
Esse trabalho foi realizado na disciplina Cálculo Diferencial
e Integral I, do Curso de Engenharia Civil, disciplina lecionada
pela primeira autora do presente artigo. Além disso, avaliações
Metodologia de Ensino-Aprendizagem-
Avaliação de Matemática através da Resolução
de Problemas: uma fundamentação teórica
A literatura aponta a importância de problemas como
mola propulsora da atividade e da produção do conhecimento
2 Cidades vizinhas: Olímpia, Guaíra, Bebedouro, Severínia, Guaraci, Frutal-MG dentre
outras, num raio de até 100 km.
O Problema da Calha e o uso da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 223
5 O GTERP, que se reúne semanalmente desde 1992 e é coordenado pela Profa. Dra.
Lourdes de la Rosa Onuchic, tem sido o núcleo gerador de atividades de aperfeiçoa-
mento, de investigações e de produção científica na linha de Resolução de Problemas.
É constituído por alunos e ex-alunos do Programa de Pós-graduação em Educação
Matemática (PPGEM/UNESP/Rio Claro-SP) que desenvolvem pesquisa nessa linha,
contando, também, com a participação de outros alunos regulares do programa que têm
O Problema da Calha e o uso da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 225
Problema da Calha7
Uma chapa galvanizada retangular, com 3 m de comprimento
e 62 cm de largura, será dobrada de modo a formar uma calha com
3 m de comprimento. Deseja-se obter as medidas da secção trans-
versal da calha que proporciona a maior capacidade possível, bem
como a referida capacidade, em litros, para cada caso abaixo. Em
todos eles, “a dobra” de cada lado ao longo da calha mede 1 cm.
Caso 5- Secção
retângulo-circular
2) Retângulo
a. Perímetro; definição de u (unidade linear);
b. Noção intuitiva de área de figura plana: alguns princípios
básicos; definição de u² (unidade quadrada);
c. Área.
3) Volume de um prisma
a. Definição de u³ (unidade cúbica);
b. Volume de um prisma reto de base retangular;
c. Conversão de unidades (1 dm³ = 1l)
d. Princípio de Cavalieri.
5) Função quadrática
a. Definição;
b. A forma canônica do trinômio, raízes, valor máximo ou
mínimo;
c. A parábola; gráfico da função quadrática;
d. Caracterização da função quadrática: transformar progres-
sões aritméticas em progressões aritméticas de segunda
ordem.
CASO 2
6) Triângulo
a. Perímetro;
b. Área do paralelogramo;
c. Áreas do Triângulo.
8) Trapézio
a. Perímetro;
b. Área;
c. Relações dos conceitos a. e b. com trigonometria.
CASO 4
9) Circunferência
a. Perímetro: Comprimento da circunferência;
b. Área do círculo;
c. Volume do cilindro.
CASO 5
a. Perímetro de figura formada por ¼ de circunferência e
retângulo;
b. Área da mesma figura;
c. Volume;
d. Uso de calculadora para obtenção dos valores procurados.
234 Perspectivas para Resolução de Problemas
10) Derivada
a. Interpretação geométrica;
b. Definição, métodos de derivação;
c. As derivadas de primeira e segunda ordem e suas relações
com o gráfico da função;
d. Máximos ou mínimos de funções quadráticas e concavi-
dade da parábola;
e. Retorno ao Problema da Calha. Resolução usando a impor-
tante ferramenta matemática que é a derivada.
f. Usar a derivada para encontrar máximos e mínimos de fun-
ções com grau diferente de 2.
Caso 1
Secção retangular
A (=
x ) 60 x − 2 x 2
Secção triangular
(triângulo isósceles)
c .h 1
A= A = . a . b . senθ A= p( p − a )( p − b )( p − c )
2 2
1
A = . a . b . senθ
2
Essa área atinge maior valor quando θ = 90, o que resulta
A = 450 cm 2 , pois a=b= 30 cm e sen 90° =1.
Portanto, a capacidade da calha C = 135.000 cm3 equivalente
a 135 litros.
O Problema da Calha e o uso da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 239
Caso 3
Secção trapezoidal
(trapézio isósceles)
1
A= h.(B + b )
2
240 Perspectivas para Resolução de Problemas
x x 3
d= , h= ,
2 2
B = 60 − x
Portanto,
3 .x
A( x ) = (120 − 3x )
4
Caso 4
Secção semi-circular
1
A ( x ) = π . x2
2
Os alunos observaram que o comprimento da semi-circunfe-
rência é a largura da calha exceto as dobras, ou seja, 60 cm. Com
isso a maior área é
Caso 5
Secção retângulo-circular
π
A( x) =
− − 1 x 2 + ( 54 − π ) x + 112 ,
4
Considerações Finais
Os resultados obtidos com o desenvolvimento dessa pro-
posta de trabalho a partir de um problema gerador: O Problema
244 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
ALLEVATO, N.S.G.; ONUCHIC, L.R. Teaching mathematics in the
classroom through problem solving. In: Researh and Development in
Problem Solving in Mathematics Education, ICME, México, 2008, p.
59-70.
O Problema da Calha e o uso da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 245
Introdução
I
mportantes pesquisas já foram (e estão sendo) desenvolvidas na
busca pela compreensão das implicações e formas de implementa-
ção da resolução de problemas no ensino de Matemática. Os pro-
blemas sempre ocuparam, invariavelmente, um lugar de destaque
no ensino e nos currículos de Matemática, entretanto, a finalidade
e outros aspectos relacionados à resolução de problemas passaram
por mudanças. Essas ocorreram, principalmente, para tentar acom-
panhar as diferentes visões sobre o porquê de se ensinar Matemática
e, particularmente, de se trabalhar com resolução de problemas em
sala de aula.
Aporte teórico
Escolar
Tenta assimilar
Papel do professor. Papel do aluno.
Propõe e con-
Inicia e prota- textualiza o pro-
Propõe proble-
Como reparte goniza o pro- blema, repartindo S u g e r e
mas e envolve os
responsabilidades. cesso de forma a função de pro- problemas.
alunos.
exclusiva. tagonista com o
aluno.
A aplicação
Identificação e Significado R e l e v â n c i a
mecânica de
O que se avalia. aplicação de algo- das noções das noções
Avaliação.
conceitos
ritmos adequados. construídas. construídas.
aprendidos.
f1 (x) = x f1 ( x ) = 1− x
f 2 ( x ) = x −1 f 2 ( x ) = 2−x
f 3 ( x ) = x−2 f 3 ( x ) = 2 − 2x
f ( x ) = x+2 f ( x ) = 2 − 3x
a) 4 b) 4
3 Software gráfico, gratuito, voltado ao estudo de funções de uma ou duas variáveis, deri-
vadas, integrais, equações diferenciais e outros assuntos.
O Computador no Ensino e Aprendizagem de Matemática 257
x sqr x 0 sqr(x)
1 x1
x =x 2 x^1/2 x^(1/2)
2
1 11
x − 1 = ( x − 1) 2 x-1^1/2 x− = x − 0,5 (x-1)^(1/2)
2
1 21
x − 2 = ( x − 2) 2 x-2^1/2 x− = x −1 (x-2)^(1/2)
2
1 21
x + 2 = ( x + 2) 2 x+2^1/2 x+ = x +1 (x+2)^(1/2)
2
Quadro 2 – Expressões correspondentes às funções.
Fonte: Adaptado de Allevato (2005).
y = x+2^1/2
3
y = x^1/2
1
y = sqrx x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
−1 y = x-2^1/2
−2
y = x-1^1/2 −3
−4
4 y
y = (x+2)^(1/2)
3
2
y = x^(1/2) y = (x-1)^(1/2)
y = (x-2)^(1/2)
x
−2 −1 1 2 3 4 5 6 7 8
−1
Considerações finais
Com o presente texto, pretendeu-se desenvolver algumas refle-
xões acerca da utilização das TIC e sobre como a essas tecnologias
(em particular, aos computadores) podem estar associadas a algu-
mas abordagens dadas à resolução de problemas em sala de aula de
Matemática. Foram desenvolvidas algumas análises sobre a impor-
tância de adequar o tipo de problema a ser proposto ao objetivo
que se pretende, com a atividade que será realizada, mediada pelo
computador. Também foram descritos e analisados alguns momen-
tos em que esse tipo de atividade forneceu importantes subsídios à
avaliação, especialmente no tocante à detecção de lacunas de conhe-
cimento. Finalmente, um exemplo foi apresentado onde a realização
de atividade aberta, envolvendo animações aplicadas a transforma-
ções lineares, constituiu-se em importante oportunidade para o
aluno construir e conectar conhecimentos matemáticos.
Apesar de todos os estudos já realizados, alguns professores e
instituições de ensino ainda têm muitas dúvidas acerca da incorpo-
ração das TIC e, de fato, ainda há muito a pesquisar, esclarecer e
entender. Por isso, embora as TIC e, especificamente, o computa-
dor, sejam elementos presentes no dia a dia das pessoas em geral e,
em particular, de muitos professores, sua efetiva integração na sala
de aula é, ainda, demasiadamente tímida.
Por outro lado, as atuais pesquisas e as orientações oficiais têm
recomendado fortemente um consciente trabalho com resolução de
problemas nas aulas de Matemática. Indicam a necessidade de reno-
var práticas e de propor atividades que estimulem os alunos a pensar,
analisar resultados, elaborar e apresentar conclusões bem funda-
mentadas. Argumenta-se que, desse modo, os estudantes poderiam
O Computador no Ensino e Aprendizagem de Matemática 275
Referências bibliográficas
ALLEVATO, N. S. G. Associando o computador à resolução de
problemas fechados: análise de uma experiência. 2005. 370 f. Tese
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Educación Matemática. REMATEC. v. 11, n. 21, p. 79-90, jan./abr. 2006.
O Computador no Ensino e Aprendizagem de Matemática 277
Márcio Pironel
Sabrina Aparecida Martins Vallilo
Introdução
P
arafraseando o poeta, podemos dizer que avaliar é preciso,
aprender não é preciso. É claro que estamos pensando em
sentidos distintos para a palavra ‘preciso’. Ao proferir tal
afirmação estamos lançando um olhar sobre a necessidade de se
avaliar quaisquer movimentos educacionais e as imprevisibilida-
des do processo de aprendizagem. Concatenado aos processos de
aprendizagem e de avaliação há um terceiro processo, o processo
de ensino, que num movimento de integração com os dois primei-
ros pode formar um processo maior, denominado de processo de
ensino-aprendizagem-avaliação.
Segundo Pironel e Onuchic (2016):
1. Pode ocorrer ensino e aprendizagem sem que exista uma
avaliação desse processo;
280 Perspectivas para Resolução de Problemas
A Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de
Matemática através da Resolução de Problemas tem procurado, há
algum tempo, desenvolver e implementar o uso da avaliação inte-
grada ao processo de ensino-aprendizagem, de modo a potencializar
o desenvolvimento do estudante para lhe garantir sucesso em mate-
mática e auxiliar em seus desenvolvimentos crítico e criativo, para
que se torne um cidadão participativo em sua comunidade social,
cultural ou profissional.
Quando pensamos em avaliação precisamos saber, de modo
bastante claro, quando avaliar, o que avaliar, como avaliar e porque
O papel da Avaliação na Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 281
A avaliação
O processo de avaliação tem sido visto, muitas vezes, como
forma de classificar o aprendizado do aluno quantitativamente, sem
dar margens a questionamentos sobre o que levou o aluno a cometer
erros. Além disso, tal processo é confundido com a realização de
provas classificatórias. Pironel (2002) propõe que a avaliação esteja
presente em todo o processo de ensino-aprendizagem, por entender
que a avaliação é intrínseca aos atos de ensinar e aprender, uma vez
que deve favorecer a compreensão do desenvolvimento do aluno e
permitir que o professor trace estratégias para o planejamento de
suas aulas (p.46).
282 Perspectivas para Resolução de Problemas
Avaliar o problema
É muito comum que o professor que decide utilizar uma abor-
dagem pedagógica baseada na Resolução de Problemas sinta-se, em
certa medida, inseguro de como deveria trabalhar um problema na
sala de aula.
Quando o professor decide que o problema pode ser um
ponto de partida para a construção de um novo conhecimento
para o aluno, ele precisa se debruçar sobre a tarefa da escolha ou da
elaboração de uma atividade que esteja alicerçada num problema
ou numa situação-problema, cuja resolução seja o fio condutor da
aprendizagem de determinado conteúdo pelo aluno.
Nesse sentido, os objetivos almejados devem estar alinhados
com os objetivos curriculares propostos para determinado conteúdo
matemático. Segundo o NCTM (2000, p. 14), “In a coherent cur-
riculum, mathematical ideas are linked to and build on one another
so that students’ understanding and knowledge deepens and their
ability to apply mathematics expands”1.
O problema deve ser escolhido pelo professor levando em con-
sideração o conteúdo matemático que ele procura trabalhar com
seus alunos e, além disso, pensando nos conteúdos que os alunos já
dominam para resolver o problema.
A postura do professor em considerar o que o aluno traz como
conhecimento prévio enquanto resolve um problema se relaciona
com o que Vygostsky chama de Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP). Definida como a diferença entre o Nível de Desenvolvimento
Real (NDR) e Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP), a ZDP
Fonte: os autores
Na Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de
Matemática através da Resolução de Problemas o problema é
ponto de partida e, na sala de aula, através da resolução de pro-
blemas, os alunos devem fazer conexões entre diferentes ramos
da Matemática, gerando novos conceitos e novos conteúdos.
Aluno 1: Sim!
Aluno 5: Mas professor, por que a fórmula só pode ser usada nesses
paralelepípedos?
Professor: Pessoal, vamos ver o que o Aluno 4 tem a nos dizer, por
favor!
Aluno 1: Entendi o que você disse, mas não sei se consigo visua-
lizar isso.
Avaliação da aprendizagem
No cenário da sala de aula, o professor pode optar por diversos
mecanismos de avaliação. Pironel (2002) nos aponta que a prova
escrita é a mais comum entre as escolhas do professor ao avaliar o
aprendizado de seus alunos, sendo muitas vezes confundida com
o processo de avaliação em si. Esse autor, então, nos apresenta
outros modos de avaliação, que se relacionam muito bem com a
Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática
através da Resolução de Problemas, já que considera que ensino,
aprendizagem e avaliação ocorrem integrada e simultaneamente.
Salientamos que a avaliação não é entendida como um pro-
cesso que finaliza uma proposta de aula, mas que está presente
em todas as etapas de uma aula de matemática. Logo, o professor
deve ter claro quais suas intenções ao avaliar o que está avaliando e,
então, propor uma avaliação. Propomos algumas perguntas que o
professor pode fazer a si mesmo, de forma reflexiva, para auxiliá-lo
na elaboração de sua proposta de avaliação:
• Quais raciocínios, habilidades e conteúdos são esperados
que os alunos apresentem?
• Qual a finalidade dessa avaliação? Pode ser diagnóstica (ini-
cial), contínua (durante) ou de verificação (final).
300 Perspectivas para Resolução de Problemas
Meta-avaliação
Toda avaliação, por mais inadequada ou injusta que possa
ser, fornece evidências importantes a respeito do trabalho que está
sendo desenvolvido na sala de aula. Para uma mente reflexiva, a
avaliação pode se tornar essencial para a transformação do potencial
profissional do avaliador. Para que isso ocorra é preponderante que
o professor leia os resultados da avaliação à luz dos objetivos pro-
postos e avalie o processo de avaliação, refletindo sobre as principais
dificuldades encontradas pelos alunos e a relevância dos instrumen-
tos de coleta de dados para a compreensão dos processos de ensino
e de aprendizagem.
Enfim, sugerimos que o professor, após refletir sobre as estraté-
gias e mecanismos de avaliação, apoiado na Metodologia de Ensino-
Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de
Problemas, também reflita sobre a avaliação em si. A esse processo de
avaliação da avaliação, nomeamos meta-avaliação, e é um momento
em que o professor pode destacar as potencialidades e as falhas da
avaliação em sua prática docente. Com isso, é possível pensar novas
formas de avaliar ou de coletar evidências para a avaliação ou de
mantê-las, considerando a integração desse processo com o ensino e
a aprendizagem da matemática.
As questões a seguir podem auxiliar o professor na
meta-avaliação:
• Os conceitos, raciocínios e habilidades dos alunos sobre os
conteúdos trabalhados foram evidenciados pela avaliação?
• A finalidade da avaliação foi atingida?
• O tempo para a realização da atividade foi suficiente?
• Os alunos se engajaram na realização da tarefa? Se não, por
quê?
302 Perspectivas para Resolução de Problemas
Algumas considerações
A Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de
Matemática através da Resolução de Problemas traz, em sua gênese,
o compromisso com o desenvolvimento do estudante. Coloca a
aprendizagem no centro do processo e compreende a necessidade
de integração desse processo com os processos de ensino e de ava-
liação. Avaliar é preciso, principalmente porque a aprendizagem é
imprecisa, mesmo quando o ensino é bem orientado.
Quando integramos a avaliação ao processo de ensino-apren-
dizagem reforçamos a necessidade de transformar a avaliação num
instrumento de ensino, promovendo a aprendizagem durante
a realização da atividade avaliativa. A Metodologia de Ensino-
Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de
Problemas corrobora com essa visão porque possibilita a integração
dos processos de ensino, aprendizagem e avaliação, com equidade a
todos os estudantes e alinhados ao currículo escolar.
As discussões fomentadas pela dinâmica da Metodologia pro-
movem a capacidade de reflexão, ao estimular a autoavaliação e
a coavaliação de alunos, além de favorecer o desenvolvimento do
O papel da Avaliação na Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação... 303
Referências
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L. Santos; H. Gomes & C. Rodrigues (Eds.), Avaliação em Matemática:
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Portuguesa de Ciências de Educação, p.11-35, 2008.
304 Perspectivas para Resolução de Problemas
Introdução
A
Resolução de Problemas, no contexto da Educação
Matemática, é um campo de estudos complexo e multiface-
tado, que envolve aspectos epistemológicos e didático-peda-
gógicos dos processos de ensinar e aprender Matemática. Nesse
panorama, buscamos apresentar, neste artigo, perspectivas de reso-
lução de problemas, por meio de articulações entre teoria, prática e
alguns conceitos de comunidade de prática objetivando oferecer aos
pesquisadores da área uma nova abordagem teórico-metodológica
para a prática docente.
Iniciamos este estudo com algumas considerações sobre as pes-
quisas que vêm sendo desenvolvidas sob a égide de Resolução de
Problemas, como um movimento educacional na processualidade
306 Perspectivas para Resolução de Problemas
por isso mesmo, não é o núcleo da – ou ponto de partida para a – razão e ação. Trata-se,
então, de entendê-lo não como fundante dos saberes e das práticas, mas como fundado
pelos saberes e pelas práticas.” (VEIGA-NETO, 2008, p. 15-6).
Perspectivas de Resolução de Problemas por meio de Articulações entre... 315
4 Segundo Bicudo (2010, p. 23), “tem como foco de estudo a própria análise reflexiva e
crítica da produção”.
5 Cf. Leal Junior e Onuchic (2015, p. 965).
318 Perspectivas para Resolução de Problemas
é preciso tomar cuidado para não dizer que qualquer coisa que
se faça é aprendizagem. A aprendizagem significativa abrange
dimensões da prática como: envolvimento e formas mútuas de
engajamento; entendimento; desenvolvimento de repertórios
compartilhados, estilos e discursos. Isso é o que modifica nossa
habilidade de engajamento na prática, de entendimento sobre
o porquê fazemos parte dessa prática. Esse tipo de aprendiza-
gem não é meramente um processo mental, mas tem a ver com
o desenvolvimento de nossas práticas e de nossa habilidade
para a negociação de significados. Assim, criamos maneiras de
participação na prática no processo de contribuição para fazer
dessa prática o que ela é. (Ibidem, p.94).
Tanto para esse autor como para a maior parte dos trabalhos
acadêmicos em Resolução de Problemas, teorizar consiste na criação
de teoria, que é baseada por práticas que, mesmo possuindo natu-
rezas distintas, participam de ações indissociáveis na humanidade e,
por meio da razão (ou racionalidade) busca levantar diversas respos-
tas aos problemas propostos e julgar as que melhor satisfazem suas
condições.
Ao atentarmos ao que foi evocado por prática nesses últimos
trabalhos, percebemos que não se distanciam do que foi colocado
anteriormente. Embora esses autores tenham concebido prática
como o que acontece efetivamente nas salas de aula de Matemática,
o que emerge e define-se pelas aplicações e experimentações no
cenário educacional, que determinam ou são determinadas por uma
teoria.
Não há, aqui, juízo de valor sobre os estudos que foram anali-
sados, até porque todos eles recorrem a correntes teóricas e filosófi-
cas distintas e, cada um em sua regionalidade, em sua historicidade
e em seu jogo de verdades representa um território de pesquisa e
são/foram bem aceitos pela academia.
15 A relação entre espaço e tempo vem sendo objeto de estudos da ciência e da filosofia.
Entendemos que são dimensões da realidade, no mundo em que vivemos, que engen-
dram e perpassam os movimentos e acontecimentos que nos conduzem ao desenvolvi-
mento. Para mais informações recomendamos a leitura de Marques (2011).
Perspectivas de Resolução de Problemas por meio de Articulações entre... 343
16 Cf. Lave e Wenger (1991), Wenger (1998, 2001), Miskulin (2010), Miskulin, Rosa e
Silva (2009) e Miguel (2010).
344 Perspectivas para Resolução de Problemas
Inferências Conclusivas
Enfim, para tentar tecer algumas inferências conclusivas a este
estudo, o qual não se restringe a estas poucas páginas, o GTERP
pode constituir-se, em alguns momentos como uma Comunidade
de Prática, entretanto ele não existe sozinho e independente, ou de
346 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. Ensino-Aprendizagem-
Avaliação de Matemática: por que através da Resolução de Problemas?
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2016.
ANDRADE, S. de. A pesquisa em educação matemática, os
pesquisadores e a sala de aula: um fenômeno complexo, múltiplos
olhares, um tecer de fios. 2008. 461p. Tese (Doutorado em Educação.
Área de Concentração: Ensino de Ciências e Matemática) - Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
BICUDO, M. A. V. Filosofia da Educação Matemática segundo uma
Perspectiva Fenomenológica. São Paulo: Editora UNESP,2010.
BICUDO, M. A. V. O estar-com o outro no ciberespaço. Educação
Temática Digital, v. 10, n. 2, p. 140, 2009.
CORRADI, D. K. S. Investigações matemáticas mediadas pelo
pensamento reflexivo de Dewey: Uma experiência no ensino das
funções seno e cosseno. Editora da UFOP. Ouro Preto. 65 f. 2014.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática. São Paulo, SP: Editora Ática. 1990.
Perspectivas de Resolução de Problemas por meio de Articulações entre... 349
Silvanio de Andrade
T
rabalhamos com a temática da Resolução de Problemas desde
1989, tendo apresentado em 1991 – 1992 os primeiros tra-
balhos nesta temática, primeiramente no IV Encontro Baiano
de Educação Matemática - IV EBEM, 1991 (ANDRADE, 1991),
no II Encontro Paulista de Educação Matemática - II EPEM, 1991
(ANDRADE, 1991) e posteriormente no IV Encontro Nacional
de Educação Matemática – IV ENEM, 1992 (ANDRADE, 1995),
entre outros. Nessa época, trazíamos, então, as primeiras reflexões
sobre esta temática, fruto das nossas primeiras leituras e experiências
de sala de aula.
Nesses primeiros trabalhos, questionávamos que, em nossas
escolas, era usual no ensino de Matemática os professores explo-
rarem primeiro toda a teoria de um conteúdo (com exercícios) e
logo após resolverem problemas referentes a esse conteúdo, carac-
terizando-os como aplicação da teoria. Desse modo, afirmávamos,
então, que essa abordagem não contribuía para uma aprendizagem
de Matemática libertadora e transformadora e que a mesma era
contraditória com o desenvolvimento da ciência Matemática. A
356 Perspectivas para Resolução de Problemas
que o leitor saiba exatamente como fazer uma viagem de sala de aula
em Exploração, Resolução e Proposição de Problemas, mas que ele
ou ela leitor possa desenvolver ferramentas que possam usar nas via-
gens que realiza ou pretende realizar via (ou através de) Exploração,
Resolução, Proposição, Codificação e Descodificação de Problemas.
A Resolução de Problemas, nesse caminhar, em particular,
envolve o movimento: Problema-Trabalho-Reflexões e Sínteses-
Solução. Ela envolve dois aspectos: o processo (Problema-Trabalho-
Reflexões e Sínteses) e o produto (Sínteses-Solução) e é também
uma parte do processo de Exploração de Problemas.
A uma experiência aberta, não fechada, embora não solta, que
caminha a partir do movimento Problema-Trabalho-Reflexões e
Sínteses-Solução (P-T-RS-Solução) chamamos de uma experiência
de Resolução de Problemas.
A uma experiência aberta, não fechada, embora não solta, que
caminha a partir do movimento Problema-Trabalho-Reflexões e
Sínteses-Resultado chamamos de uma Experiência de Exploração de
Problemas. O movimento Problemas-Trabalho-Reflexões e Sínteses-
Resultado baseia-se num processo de Codificação e Descodificação.
Na proposta original não tínhamos o termo resultado, era apenas
Problema-Trabalho-Reflexões e Sínteses. Observando as diversas
experiências já realizadas, notamos que o acréscimo da palavra resul-
tado define melhor a finalização de cada processo como um todo,
entendendo aqui o resultado como um refinamento das diversas
sínteses desenvolvidas ao longo do processo de uma experiência
de exploração de problemas. A solução do problema é um tipo de
resultado.
Um caminhar crítico reflexivo sobre Resolução, Exploração e... 369
Exploração de Problemas:
Resolução de Problemas
Um caminhar crítico reflexivo sobre Resolução, Exploração e... 373
Proposição de Problemas
Ensino-Aprendizagem
I)
↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑
↑
Solução Problemas Conteúdos
↓↑ ↓↑ ↓↑
Problematizações Problematizações
↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↓↑↑
Problema B - Trabalho B - Reflexões e Sínteses - Resultado B
Um caminhar crítico reflexivo sobre Resolução, Exploração e... 375
Referências
ANDRADE, S. Mathematics teaching and learning via problem solving,
exploration, coding and decoding. In Ubuz, B. (Ed.). Proceedings of
the Conference of the International Group for the Psychology of
Mathematics Education. V. I, p. 249. Ankara, Turkey: PME. 2011.
ANDRADE, S. A pesquisa em educação matemática, os pesquisadores
e a sala de aula: um fenômeno complexo, múltiplos olhares, um tecer
de fios. 2008. Tese (Doutorado em Educação: Ensino de Ciências e
Matemática) - FEUSP, São Paulo, 2008.
ANDRADE, S. Ensino-aprendizagem de matemática via
resolução, exploração, codificação e descodificação de problemas
e a multicontextualidade da sala de aula. Dissertação (Mestrado em
Educação Matemática). Rio Claro: IGCE, UNESP, 1998.
Um caminhar crítico reflexivo sobre Resolução, Exploração e... 393
Introdução
U
sar a mesma expressão para dizer coisas diferentes, como
“resolução de problemas” e “Resolução de Problemas”, “edu-
cação matemática” e “Educação Matemática”, por exemplo,
foi um dos destaques da obra de Michel Foucault (1999), “As pala-
vras e as Coisas”. Esse pesquisador, falando sobre a primeira forma
da linguagem, quando foi dada aos homens pelo próprio Deus, afir-
mou que ela
4 O NCTM é uma organização profissional, sem fins lucrativos. Tem mais de 125 000
membros e é a principal organização para professores de matemática desde K-12 (Pré-
primário até a Escola Secundária).
5 Principles and Standards for School Mathematics.
Resolução de Problema, uma matemática para ensinar? 405
Um indício do passado
“Estudar a emergência de um objeto – conceito, prática, ideia
ou valor – é proceder à análise histórica das condições políticas de
possiblidade dos discursos que instituíram e “alojam” tal objeto”
(MACHADO, 1982, apud VEIGA-NETO, 2003, p. 61). Veiga
Neto, complementando a citação de Machado, afirma que “não se
trata de onde ele veio, mas como/de que maneira e em que ponto
ele surge” (Ibid.). Na interrogação posta no tópico anterior viu-se
depositado no professor o papel de desenvolver uma cultura de reso-
lução de problemas em sala de aula. Anterior a essa interrogação, de
acordo com a BNCC, com os PCN e com os Padrões, a resolução
de problemas se configura como um veículo que desempenha papel
importante na formação do estudante.
De tudo isso corrobora-se, então, que “a análise histórica das
condições políticas de possibilidade dos discursos que instituíram e
alojam tal objeto” diz do estudo da emergência deste objeto, a reso-
lução de problemas. Tem-se, aqui, duas problemáticas: a resolução
de problemas como formação do indivíduo e a resolução de proble-
mas como um saber necessário para a formação do professor. Este
tópico se propõe a analisar especificamente o segundo caso.
410 Perspectivas para Resolução de Problemas
7 “O éthos crítico, enquanto atitude crítica sobre nós mesmos, aposta na capacidade de
abrir o espaço possível de ação de liberdade – não se completando definitivamente, mas
deixando sempre uma abertura para a possibilidade de mudanças, para a experiência
possível de um autodesprendimento e de nos inventarmos sempre. Uma busca e aposta
em nos governarmos a nós mesmos, porém sabedores de que não há um governo de
si sem uma relação direta com governo dos outros. Afirme-se que a liberdade para a
atividade do éthos é sua condição, objeto e objetivo. Ao mesmo tempo, destaque-se que
aqui a liberdade não é apresentada como uma possibilidade ética entre outras, mas a
possibilidade própria da ética. Em sua descrição, não possui uma origem em si, sendo
construída através de um permanente questionamento histórico inserido nas práticas do
sujeito, tanto consigo mesmo, quanto com os outros. Foucault desenvolve a ideia de um
modo de pensar e agir simultaneamente ético e crítico, descrito como um éthos crítico”
(SEIXAS, 2014, p. 188).
Resolução de Problema, uma matemática para ensinar? 423
8 Aqui, o termo gradiente, terá o sentido de um vetor ou ente que indica movimento ou
fluxo, bem como suas direções e sentidos e, que se desdobra em deslocamento a partir
de um ponto ou um local inicial. É a partir de onde se percebe maior força ou incre-
mento possíveis para se efetivar uma mudança no campo (educacional), indo contra ou
a favor desse incremento em determinado tempo e espaço.
424 Perspectivas para Resolução de Problemas
Referências
ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. Ensinando Matemática na
sala de aula através da Resolução de Problemas. Boletim GEPEM, 33
(55), p. 1-19. 2009.
ANDRADE, S. A pesquisa em educação matemática, os pesquisadores
e a sala de aula: um fenômeno complexo, múltiplo olhares, um tecer de
fios. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo – FE/USP. 2008. 461 p.
Resolução de Problema, uma matemática para ensinar? 429
GTERP
O
Grupo de Trabalho e Estudo em Resolução de Problemas
– GTERP – desenvolve suas atividades no Departamento
de Matemática da UNESP – Rio Claro. Foi formado em
1992, embora já se reunisse semanalmente desde 1989, sempre
coordenado pela Profa. Dra. Lourdes de la Rosa Onuchic.
Este grupo é composto por alunos regulares e ex-alunos do
Programa de Pós Graduação em Educação Matemática - PPGEM
- que têm interesse na temática Ensino-Aprendizagem-Avaliação de
Matemática através da Resolução de Problemas. Também é aberto
à participação de alunos especiais em busca de amadurecimento
de seus futuros projetos de pesquisa e a professores, em geral, que
visam a aprimorar sua prática docente.
O GTERP tem, como objetivo, buscar o desenvolvimento
de estudos que atinjam a sala de aula, tanto sob a perspectiva do
aluno quanto do professor, em todos os níveis de escolaridade.
Ainda participa, de forma ativa, dos principais movimentos aca-
dêmicos, nacionais e internacionais, ligados às áreas de Educação
434 Perspectivas para Resolução de Problemas
Dissertações de Mestrado
1992
1995
1997
1998
1999
2002
2003
2004
2006
2008
2010
2011
Teses de Doutorado
1998
2003
2005
2010
2013
2014
2015
Perspectivas
Este trabalho nos dá um panorama geral do que tem sido feito
em Resolução de Problemas pelos membros GTERP, nos levando
a refletir sobre onde estamos e nos dá argumentos para imaginar o
que está por vir. De acordo com Becker, Geer, Hughes, and Strauss
(1961, p.10), perspectiva é “um conjunto coordenado de ideias e
Perspectivas para a Resolução de Problemas no GTERP 457
Referências Bibliográficas
ANDRADE S. Ensino-Aprendizagem de Matemática via resolução,
exploração, codificação e decodificação de problemas. Rio Claro, 1998.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista.
APME: Annual Perspectives in Mathematics Education: Assessment to
Enhance Learning and Teaching. Reston, NCTM (2015).
BECKER, H.; GEER, B.; HUGHES, E.; STRAUSS, S. Boys in White.
Chicago, IL: University of Chicago Press. 1961.
Perspectivas para a Resolução de Problemas no GTERP 465
Isabel Vale
Jeremy Kilpatrick
Lurdes Serrazina
Márcio Pironel
Silvanio de Andrade