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Cálculo de curto-circuitos de acordo com a norma CEI 60909

Disciplina de PRSAT
Proteções e Sistemas de Alta Tensão

Filipe Azevedo
(fta@isep.ipp.pt)

FTA - PRSAT 1
Causas e efeitos dos curto-circuitos

Causas:
• Aumento da temperatura devido a correntes elétricas elevadas, ou seja, devido a
sobreintensidades.
• Descargas disrupFvas devido a sobretensões.
• Arcos elétricos devido à humidade juntamente com o ar impuro, especialmente
em isoladores.

Efeitos:
• Interrupção de serviço.
• Destruição de componentes do sistema.
• Desenvolvimento de stress mecânico e térmico inaceitáveis nos equipamentos
elétricos em operação.

FTA - PRSAT 2
Definições

• Curto-Circuito: De acordo com a norma CEI 60909, um curto-circuito é uma ligação


conduTvel acidental ou intencional através de uma resistência ou impedância
relaFvamente baixa entre dois ou mais pontos de um circuito que estão
normalmente a potenciais diferentes.

• Corrente de curto-circuito: De acordo com a norma CEI 60909, uma corrente de


curto-circuito resulta de um curto-circuito numa rede elétrica. É necessário
diferenciar aqui a corrente de curto-circuito no ponto onde ocorre o curto-circuito
e as correntes nos ramos da rede resultante do curto-circuito.

FTA - PRSAT 3
Definições

• Corrente de curto-circuito máxima (Imax): Valor eficaz da corrente de curto-circuito


usada para avaliar o poder corte do disjuntor e para determinar a corrente de pico.
É determinada recorrendo ao fator de correção de tensão, cmax.

• Corrente de curto-circuito mínima (Imin): Valor eficaz da corrente de curto-circuito


usada como base para as configurações do relé de proteção. É determinada
recorrendo ao fator de correção de tensão, cmin. A norma CEI 60909 recomenda a
aplicação de “Fatores de tensão”, cmax e cmin, à tensão nominal do sistema de pré-
defeito, de forma a levar em consideração as condições de pré-defeito do sistema.
A Tabela 1 mostra o fator de tensão para diferentes tensões nominais do sistema.

FTA - PRSAT 4
Definições

• Um ponto importante é o facto de que os valores de X’’ não permanecerem


inalterados durante o curto-circuito, devido à variação da contribuição dos
alternadores e motores. Tradicionalmente, considera-se uma sequência de três
períodos no curto-circuito, em que se podem supor constantes as reatâncias:
– Período subtransitório: reatâncias subtransitórias x";
– Período transitório: reatâncias transitórias x';
– Período permanente: reatâncias síncronas xs.

FTA - PRSAT 5
Definições

Tabela 1: Fator de tensão c

FTA - PRSAT 6
Definições

• Corrente inicial de curto-circuito (I”k): Valor eficaz da corrente de curto-circuito


inicial simétrica.
• Valor de pico da corrente de curto-circuito (Ip): Valor instantâneo máximo da
corrente de curto-circuito.
• Corrente de corte simétrica de curto-circuito (Ib): Valor eficaz da componente
alternada da corrente de curto-circuito simétrica no instante da separação dos
contatos do disjuntor.
• Corrente permanente de curto-circuito (Ik): Valor eficaz da corrente de curto-
circuito que permanece após a anulação da componente transitória.
• Corrente de curto-circuito térmica equivalente (Ith): Valor eficaz de uma corrente
com o mesmo efeito térmico e a mesma duração que a corrente de curto-circuito
atual, que pode conter uma componente e pode diminuir com o tempo
• Corrente de corte assimétrico para o curto-circuito trifásico (Ia): Valor eficaz da
corrente de curto-circuito trifásico no instante de separação dos contatos do
disjuntor

FTA - PRSAT 7
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

• A norma CEI 60909 usa uma técnica de "fonte equivalente", em que apenas uma
fonte excita a rede no local do defeito. Todas as outras fontes são representadas
pelas suas impedâncias internas. Na Fig. 1 é apresentada uma rede onde ocorre
um defeito num barramento e representado o esquema de “fonte equivalente” de
acordo com a norma CEI 60909. No esquema de “fonte equivalente” de acordo
com a norma CEI 60909 existe apenas uma fonte excitando a rede no ponto de
defeito, enquanto outras fontes, neste caso, equivalentes de rede, máquinas
síncronas e assíncronas, são subsFtuídas pelas suas impedâncias internas.
• A magnitude desta fonte de tensão equivalente é o produto do fator de tensão c
(ver Tabela 1) com a tensão nominal da rede, Vn, dividida por √3. O fator c leva em
consideração as condições pré-defeito da rede.

FTA - PRSAT 8
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

Fig. 1: Rede com a fonte de tensão equivalente. (a) Esquema da rede e (b) Esquema do
circuito equivalente do sistema de sequência-posiAva.

FTA - PRSAT 9
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

• O conceito de “fonte equivalente” pode gerar confusão levando a supor que


apenas precisa de ser calculado o valor da corrente de curto-circuito no local de
defeito recorrendo ao equivalente da fonte e das impedâncias. Contudo, este pode
não ser o caso, uma vez que é necessário calcular a contribuição individual das
fontes que alimentam o defeito dependendo se o caminho da corrente para a
localização do defeito é “emalhado” ou “não emalhado”.

FTA - PRSAT 10
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

• Percursos de corrente “não emalhados”


– A norma CEI 60909 usa fatores de mulFplicação específicos para cada fonte
individual de alimentação do defeito, de modo que a corrente total de curto-
circuito no local do defeito, seja ela inicial, de pico, de corte ou em regime
permanente seja a soma da respeFva contribuição individual das fontes do
defeito. Na Fig. 2, a corrente total de curto-circuito é a soma das correntes
individuais, I1, I2 e I3.

FTA - PRSAT 11
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

Fig. 2: Percursos de corrente “não emalhados”

FTA - PRSAT 12
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

• Percursos de corrente “emalhados”


– No cálculo das correntes de curto-circuito, é importante idenFficar se uma
fonte contribui para o defeito através de uma percurso de rede ”emalhado" ou
”não emalhado". Isso é muito importante, especialmente no cálculo de fatores
de mulFplicação.
– Na Fig. 3 é representada uma rede com diversas fontes que alimentam o
defeito e cujas respeFvas correntes percorrem percursos ”emalhados" e ”não
emalhados". A contribuição da rede ‘emalhada’, ou seja, I1 deve ser
determinada a parFr da sua impedância equivalente. A corrente total de
curto-circuito é então calculada como a soma das correntes individuais, I1, I2 e
I3.

FTA - PRSAT 13
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

Fig. 3: Percursos de corrente “emalhados”


FTA - PRSAT 14
Método de fonte equivalente no ponto de curto-circuito

• Nota:
– Ao efetuar uma análise de curto-circuito usando a norma CEI 60909, deve-se
idenFficar sempre os percursos de corrente ”emalhados" e, em seguida,
determinar representá-lo por uma impedância da rede equivalente no ponto
do defeito.
– Para se obter uma esquema equivalente simples e semelhante ao da Fig. 2
deve-se transformar todos os percursos de alimentação do defeito em
percursos “não emalhados”. Dessa forma, pode-se calcular a contribuição
individual para o curto-circuito das diferentes fontes tendo em consideração,
os fatores de mulFplicação específicos para a contribuição de cada fonte
individual para a corrente total de curto-circuito no local do defeito seja ela,
inicial, pico, corte ou regime permanente.

FTA - PRSAT 15
Características das correntes de curto-circuito

• A norma CEI 60909 disFngue duas situações:


– Curto-circuitos "longe dos geradores” (Fig. 4)
– Curto-circuitos "perto dos geradores” (Fig. 5)

• De acordo com a norma CEI 60909, um curto-circuito é considerado para “longe


dos geradores” quando nenhuma máquina síncrona contribui com uma corrente
que excede o dobro da sua corrente nominal, I”k / IrG<2, ou quando I”k=Ib=Ik.
• De acordo com a norma CEI 60909, um curto-circuito é considerado para “perto
dos geradores” quando o valor da corrente simétrica inicial de curto-circuito
excede o dobro da corrente nominal em pelo menos uma máquina síncrona ou
assíncrona no momento em que ocorre o curto-circuito, I”k / IrG>2, ou quando
I”k>Ib>Ik.

FTA - PRSAT 16
CaracterísBcas das correntes de curto-circuito

Fig. 4: Evolução da corrente de curto-circuito para um curto-circuito “longe dos


geradores” com componente A.C. constante
FTA - PRSAT 17
Características das correntes de curto-circuito

Fig. 5: Evolução da corrente de curto-circuito para um curto-circuito “perto dos


geradores” com decaimento da componente A.C.
FTA - PRSAT 18
Curto-circuitos "longe dos geradores”

• A aplicação do fator de mulFplicação correto depende se o defeito é “longe” ou


“perto” dos geradores.
• Num curto-circuito “longe” dos alternadores o valor eficaz da corrente de curto-
circuito inicial simétrica mantém-se constante.
• Corrente inicial de curto-circuito (I”k)
– A contribuição de cada fonte individual com impedância Zn para percursos de
corrente ”não emalhados" ou impedância equivalente complexa para um
percurso de corrente ”emalhado", a corrente de curto-circuito inicial é
calculada usando a seguinte expressão:

FTA - PRSAT 19
Curto-circuitos "longe dos geradores”

– A corrente de curto-circuito inicial total é a soma da contribuição de fontes


individuais e dada por:

• Valor de pico da corrente de curto-circuito (IP)


– A norma CEI 60909 define o valor de pico da corrente de curto-circuito como o
valor instantâneo máximo da corrente de curto-circuito. A corrente de pico de
curto-circuito é calculada pela introdução de um fator de crista, χ, à corrente
de curto-circuito inicial, I”k.

FTA - PRSAT 20
Curto-circuitos "longe dos geradores”

• A determinação do fator de crista depende se a corrente de defeito vem de


percursos ”não emalhados" ou ”emalhados".
• Percursos de corrente “não emalhados”
– Para cada contribuição para a corrente de curto-circuito das fontes que
alimentam o curto-circuito, o fator de pico é calculado da seguinte forma:
R 10
−3 −
Tg
χ = 1.02 + 0.98e X
≈ 1+ e

– O fator de crista depende do quociente X/R da impedância entre a fonte e o


defeito.
– O fator de crista Tg está em milisegundos
– Tg=X/(ωR) e vem em segundos

FTA - PRSAT 21
Curto-circuitos "longe dos geradores”

• Percursos de corrente “emalhados”


– Tal como acontece com os percursos de corrente ”não emalhados", o cálculo
do fator de crista que envolvem percursos de corrente ”emalhados" é muito
semelhante, exceto na escolha do rácio X/R. A norma CEI 60909 sugere três
métodos para determinar o fator de crista envolvendo percursos de corrente
"emalhados". Os métodos são:
• Rácio X/R dominante
– O rácio X/R é obFdo do ramal com a maior relação X/R, mas este
ramal é percorrido por pelo menos 80% da contribuição da corrente
de defeito.
• Rácio X/R equivalente
– O rácio X/R é obFdo da impedância equivalente complexa e o fator
de crista é calculado recorrendo a:

FTA - PRSAT 22
Curto-circuitos "longe dos geradores”

– O fator de segurança 1,15 leva em consideração os diferentes rácios X/R


em ramos paralelos.
• Frequência equivalente
– O rácio X/R é calculado de acordo com a seguinte equação

Xc, Rc, and fc são baseados em 20Hz para um sistema a 50Hz ou 24Hz para um sistema a 60Hz.

É importante notar que o fator de crista envolvendo percursos de corrente “emalhados” é


limitado a 1,8 para redes de baixa tensão e 2,0 para redes de média e alta tensão.

FTA - PRSAT 23
Curto-circuitos "longe dos geradores”

– O valor de pico total da corrente de curto-circuito é a soma da contribuição de


fontes individuais, ou seja:

• Corrente de corte simétrica de curto-circuito (Ib)


– O cálculo da corrente de corte simétrica curto-circuito “longe dos geradores” é
bastante simples, uma vez que não ocorre nenhum decréscimo da
componente alternada. Com isso, a corrente de corte é igual à corrente inicial
de curto-circuito.

FTA - PRSAT 24
Curto-circuitos "longe dos geradores”

– A corrente total de corte simétrica de curto-circuito é a soma da contribuição


das fontes individuais, ou seja:

• Corrente permanente de curto-circuito (Ik):


– Para curto-circuitos “longe dos geradores” a componente da corrente de curto
circuito inicial simétrica permanece a mesma durante a duração do defeito.
Assim, a corrente de curto-circuito em regime permanente é igual à corrente
de curto-circuito inicial simétrica.

FTA - PRSAT 25
Curto-circuitos "longe dos geradores”

– A corrente total de curto-circuito em regime permanente é igual à soma das


correntes permanente de curto-circuito relaFva a cada uma das fontes que
alimentam o curto-circuito:

– A análise de curto-circuitos “longe dos geradores” de acordo com a norma CEI


60909 é muito simples e direta devido à ausência da diminuição da corrente
de curto circuito inicial simétrica. No entanto, para defeitos “perto dos
geradores”, a diminuição da corrente de curto circuito inicial simétrica torna-
se significaFva.

FTA - PRSAT 26
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

• Os curto-circuitos “perto dos geradores” considera o decréscimo da componente


alternada da corrente de curto-circuito inicial simétrica no cálculo subsequente das
correntes de curto-circuito. Isso significa que as correntes de curto-circuito em regime
permanente para os geradores ”perto" do defeito têm uma magnitude menor do que as
correntes iniciais simétricas de curto-circuito. As correntes de corte são, por sua vez,
menores em magnitude do que as correntes iniciais de curto-circuito.
• O cálculo das correntes de curto-circuito inicial e de pico para curtos-circuitos ”perto
dos geradores” é igual ao realizado para curtos-circuitos “longe dos geradores”. Na
determinação das correntes de corte de curto-circuito e em regime permanente para
curtos-circuitos “perto dos geradores”, são necessárias etapas adicionais ao contrário
do que sucede com os curtos-circuitos “longe dos geradores” onde as correntes de
curto-circuito inicial, de corte e de regime permanente são iguais (I”k=Ib=Ik). É
importante determinar quais geradores estão “longe” ou “perto” do defeito, de modo
que as etapas adicionais no cálculo das correntes de corte e de regime permanente
sejam ajustadas para curto-circuitos “perto dos geradores”.

FTA - PRSAT 27
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

• Corrente de corte simétrica de curto-circuito (Ib)


– No cálculo da corrente de corte simétrica de curto-circuito para curto-circuitos
“perto dos geradores”, o decréscimo de componente alternada é contabilizado
pela introdução de um fator µ, isto é:

– A corrente de corte depende do tempo de separação dos contatos do


disposiFvo de proteção ou da temporização mínima tmin nos termos da norma
CEI 60909 e que é representado pelo fator µ. O fator µ também depende da
relação entre a corrente de curto-circuito inicial do gerador e a sua corrente
nominal, I”kG/IrG. As equações seguintes definem o fator µ para um
determinado tempo mínimo de atraso. Para outros valores de tempo de
atraso, é aceitável a interpolação linear.

FTA - PRSAT 28
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

• As equações acima descritas aplicam-se a turbo geradores, geradores de pólos


salientes e compensadores síncronos excitados por conversores rotaFvos ou
estáFcos (desde que, para excitadores estáFcos, o atraso de tempo mínimo seja
inferior a 0,25s e a tensão de excitação máxima seja inferior a 1,6 vezes a excitação
à carga nominal). Para todos os outros casos, µ = 1.

FTA - PRSAT 29
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

• É importante notar também que o pré-requisito para a idenFficação os curto-


circuitos como “longe dos geradores” ou “perto dos geradores” é preservado no
fator µ se o rácio I”kG/IrG for inferior a 2 sendo µ igual a 1 (Fig. 6). Isso definirá a
corrente de corte igual à corrente de curto-circuito inicial simétrica, uma
caracterísFca do curto-circuito “longe dos geradores”.
• Para curtos-circuitos envolvendo percursos de corrente “emalhados”, determinar µ
a parFr de uma única razão equivalente I"kG/IrG não é aplicável. Neste caso, é
permiFdo ajustar a corrente de corte simétrica de curto-circuito igual à corrente
inicial de curto-circuito. Isso afetará a precisão, embora seja mais conservador.
• A contribuição da corrente de corte simétrica de curto-circuito de motores
assíncronos é quanFficada pela introdução de um fator adicional q subsFtuindo a
relação I”kG/IrG por I”kM/IrM. O fator q leva em consideração a queda rápida de
curto-circuito do motor devido à ausência de um campo de excitação.

FTA - PRSAT 30
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 6: Fator mulAplicaAvo µ


FTA - PRSAT 31
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Onde,
• PrM é a potência a0va nominal em MW
• p é o número de pares de pólos do motor

Nota: O fator q é limitado a 1.

FTA - PRSAT 32
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 6: Fator mulAplicaAvo q


FTA - PRSAT 33
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

• A corrente de corte simétrica de curto-circuito total é igual à soma da contribuição das


fontes individuais que alimentam o curto-circuito, ou seja:

• Corrente de curto-circuito em regime permanente (Ik)


– A corrente de curto-circuito em regime permanente para curtos-circuitos
“próximos dos geradores” é normalmente menor em magnitude do que a corrente
de corte simétrica de curto-circuito e está dependente do sistema de excitação, da
ação do regulador de tensão e da influência da saturação. As máquinas síncronas
com excitadores estáXcos alimentados diretamente dos seus terminais não
contribuem em regime permanente para curtos-circuitos nos seus terminais. Isso
ocorre porque a tensão de campo (tensão de excitação) colapsa com a tensão aos
seus terminais durante o defeito. Apenas contribuem para o curto-circuito em
regime permanente se houver uma impedância entre seus terminais e a localização
do defeito, por exemplo, defeitos no lado de alta tensão do transformador no caso
de subestações.

FTA - PRSAT 34
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

– O cálculo da corrente de curto-circuito em regime permanente é bastante


simples, pois depende apenas da corrente nominal do gerador e da tensão de
excitação. No entanto, os procedimentos apresentados são precisos apenas
para o caso de um gerador ou unidade de produção que fornece o defeito. Os
valores máximos e mínimos são calculados a fim de fornecer o intervalo da
contribuição do curto-circuito em regime permanente. A corrente mínima de
curto-circuito em regime permanente é calculada com base numa tensão de
excitação constante e não regulada usando a seguinte equação:

FTA - PRSAT 35
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

– A corrente máxima de curto-circuito em regime permanente é calculada com


base na tensão de excitação máxima usando a seguinte equação:

– O fator de mulFplicação λmax depende se é um turbogerador ou de pólos


saliente; e do rácio entre a tensão de excitação máxima e a tensão de
excitação em condições normais de carga (série 1 ou 2).
– O fator de mulFplicação λmax da série 1 é baseado na maior tensão de
excitação possível, ou seja, 1,3 vezes a tensão de excitação nominal à potência
aparente e fator de potência nominal para turbogeradores ou 1,6 vezes a
tensão de nominal de excitação à potência aparente e fator de potência
nominal para geradores de pólos salientes (Fig. 7 e Fig. 9).

FTA - PRSAT 36
Cálculo da impedância de curto-circuito

– O fator de mulFplicação λmax da série 2 é baseado na tensão de excitação mais


alta possível, que é 1,6 vezes a tensão de excitação nominal à potência
aparente e fator de potência nominal para turbogeradores ou 2,0 vezes a
tensão de excitação nominal à potência aparente e fator de potência nominal
para geradores de pólos salientes (Fig. 8 e Fig. 10).

FTA - PRSAT 37
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 7: Fator de mulAplicação λ da série 1 para turbogeradores


FTA - PRSAT 38
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 8: Fator de mulAplicação λ da série 2 para turbogeradores


FTA - PRSAT 39
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 9: Fator de mulAplicação λ da série 1 para pólos salientes


FTA - PRSAT 40
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 10: Fator de mulAplicação λ da série 2 para pólos salientes


FTA - PRSAT 41
Cálculo da impedância de curto-circuito

• De seguida são apresentadas as técnicas de cálculo de impedância de curto-


circuito baseadas na norma CEI 60909 com fatores de correção para geradores
síncronos, unidades de produção (rede) e transformadores.
• Determinar os percursos de corrente “não emalhados” ou “emalhados” e a
proximidade do defeito, “longe dos geradores” ou “perto dos geradores” são pré-
requisitos no cálculo das correntes de curto-circuito na norma CEI 60909.
• Contudo, antes disso, é necessária a determinação das impedâncias dos
equipamento elétricos. De acordo com a norma CEI 60909, a determinação das
impedâncias para certos equipamentos requer uma abordagem ligeiramente
diferente.

FTA - PRSAT 42
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Equivalentes de rede
– Os equivalentes de rede são geralmente representados pela potência de
curto-circuito inicial simétrica, S”kQ, ou pela corrente de curto-circuito inicial
simétrica, I”kQ . Com a tensão nominal no ponto Q (UnQ mostrado na Fig. 11), a
impedância pode ser calculada usando:

$
𝑐𝑈"! 𝑐𝑈"!
𝑍! = ”
= ”
3𝐼"! 𝑆"!
– Se a relação RQ / XQ de curto-circuito esFver disponível, a reatância XQ pode
ser calculada usando:

FTA - PRSAT 43
Curto-circuitos ”perto dos geradores”

Fig. 11: Equivalentes de rede

FTA - PRSAT 44
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Equivalentes de rede
– Se nenhuma informação de relação RQ / XQ de curto-circuito esFver disponível,
a resistência RQ e a reatância XQ podem ser aproximadas usando a seguinte
relação:

– Para redes com tensão nominal superior a 35kV, definir a impedância igual à
reatância geralmente é suficiente.

FTA - PRSAT 45
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Equivalentes de rede
– Também é possível usar as técnicas acima descritas nos casos em que o curto-
circuito é alimentado através de um transformador, introduzindo a relação de
transformação de modo que:

• Geradores síncronos
– Para os geradores síncronos, as seguintes informações geralmente estão
disponíveis.
• Potência aparente nominal, SrG
• Tensão nominal, UrG
• Fator de potência nominal, cos φrG
• Reatância subtranstransitória por unidade, x”d

FTA - PRSAT 46
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Geradores síncronos
– A reatância do gerador pode ser determinada de x”d usando:

– Para determinar RG, as seguintes aproximações são bastante precisas:


• RG = 0,05X”d, quando UrG ≥ 1kV e SrG ≥ 100MVA
• RG = 0,07X”d, quando UrG ≥ 1kV e SrG ≤ 100MVA
• RG = 0,15X”d, quando UrG <1kV
– A impedância subtrantransitória do gerador pode ser calculada usando:

FTA - PRSAT 47
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para os geradores (kG)


– Os fatores de correção da tensão apresentados na discussão introdutória
sobre a norma CEI 60909 Fnham como objeFvo levar em consideração as
condições de pré-defeito do sistema. Geralmente, a variação de tensão nos
sistemas de energia fica entre ± 5% a ± 10% das tensões nominais.
– O cálculo da corrente máxima de curto-circuito usando fatores de tensão
aplicáveis pode, no entanto, não ser suficientemente aplicável a geradores ou
unidades de produção, especialmente considerando o seu comportamento
subtransitório, isto é, a fonte de tensão equivalente cVn é usada em vez da
tensão substransitória E". Consequentemente, a norma CEI 60909 introduziu
fatores de correção de impedância especificamente para geradores e unidades
de produção (Fig. 12).

FTA - PRSAT 48
Cálculo da impedância de curto-circuito

Fig. 12: Esquema equivalente dos geradores


FTA - PRSAT 49
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para os geradores (kG)


– O fator de correção de impedância para geradores ligados diretamente ao sistema pode ser
calculado usando:

Onde,

– ZGK é a impedância corrigida do gerador


– ZG é a impedância subtransitória do gerador
– KG é o fator de correção de impedância do gerador
– Cmax é o fator de correção da tensão
– UrG é a tensão nominal do gerador
– x”d é o gerador por unidade de reatância subtransitória
– φrG é o ângulo de fase entre IrG e UrG/3

FTA - PRSAT 50
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para unidades de fonte de alimentação (kPSU)


– Para geradores com transformador dedicado, é aplicado um único fator de
correção à soma das suas impedâncias. É como se o gerador e o
transformador dedicado fossem tratados como uma unidade.

FTA - PRSAT 51
Cálculo da impedância de curto-circuito

Onde,
– ZPSU é a impedância corrigida da unidade de fonte de alimentação
– ZG é a impedância subtransitória do gerador em ohms
– ZrTHV é a impedância nominal do transformador referida ao lado AT em ohms
– tr é a relação de transformação do transformador, VAT/VBT
– KPSU é o fator de correção de impedância da unidade de fonte de alimentação
– Cmax é o fator de correção da tensão
– UnQ é a tensão nominal do sistema
– UrG é a tensão nominal do gerador
– x”d é a reatância subtransitória por unidade do gerador
– xT é a reatância unitária do transformador
– φrG é o ângulo de fase entre IrG e UrG /3

FTA - PRSAT 52
Cálculo da impedância de curto-circuito

Fig. 13: Esquema equivalente da fonte de alimentação


FTA - PRSAT 53
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Transformadores de dois enrolamentos


– A impedância dos transformadores de dois enrolamentos é calculada da
seguinte forma:

FTA - PRSAT 54
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Transformadores de dois enrolamentos


Onde,
– ZT é a impedância de sequência posiFva do transformador
– ukr é a tensão de curto-circuito do transformador à corrente nominal
– UrT é a tensão nominal do transformador
– SrT é a potência nominal aparente do transformador
– RT é a resistência de sequência posiFva do transformador
– PkrT são as perdas totais do enrolamento do transformador à corrente nominal
– IrT é a corrente nominal do transformador
– XT é a reatância de sequência posiFva do transformador

FTA - PRSAT 55
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para transformadores (kT)


– Tal como acontece com os geradores síncronos, o fator de correção da
impedância do transformador pode ser calculado usando:

FTA - PRSAT 56
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para transformadores (kT)

Onde
– ZKT é a impedância corrigida do transformador
– ZT é a impedância de sequência posiFva do transformador
– KT é o fator de correção da impedância do transformador
– Cmax é o fator de correção de tensão
– xT é a reatância unitária do transformador
– UrT é a tensão nominal do transformador
– SrT é a potência aparente nominal do transformador
– XT é a reatância do transformador em ohms

FTA - PRSAT 57
Cálculo da impedância de curto-circuito

Fig. 14: Transformador de três enrolamentos


FTA - PRSAT 58
Cálculo da impedância de curto-circuito

Fig. 15: Esquema do transformador de três enrolamentos

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Cálculo da impedância de curto-circuito

• Transformadores de três enrolamentos


2
ukrAB U sTA
Z AB = Lado C aberto
100% SrTAB
2
ukrAC U sTA
Z AC = Lado B aberto
100% SrTAC
2
ukrBC U sTA
Z BC = Lado A aberto
100% SrTBC
1
Z A = ⋅ ( Z AB + Z AC − Z BC )
2
1
Z B = ⋅ ( Z BC + Z AB − Z AC )
2
1
ZC = ⋅ ( Z AC + Z BC − Z AB )
2

FTA - PRSAT 60
Cálculo da impedância de curto-circuito

• Fator de correção para transformadores de três enrolamentos (kT)

FTA - PRSAT 61
Corrente de curto-circuito térmica equivalente

• A corrente de curto-circuito térmica equivalente Ith pode ser determinada através


de:

– Factor m (Efeito térmico da componente conFnua)


– Factor n (Efeito térmico da componente alternada no curto-circuito tripolar)

FTA - PRSAT 62
Corrente de curto-circuito térmica equivalente

Fig. 16: Fator m

FTA - PRSAT 63
Corrente de curto-circuito térmica equivalente

Fig. 17: Fator n

FTA - PRSAT 64
Corrente de curto-circuito térmica equivalente

Fig. 18: Fator χ

FTA - PRSAT 65
Cálculo da seção mínima do cabo

• A seção mínima A do cabo em cobre considerando χ e Ith é dada por:

$ 𝑇$ + 234
𝐼%& 𝑡 = 11,57×10'×𝐴$× log ()
𝑇( + 234

• A seção mínima A do cabo em alumínio considerando χ e Ith é dada por:

$ 𝑇$ + 228
𝐼%& 𝑡 = 4,87×10'×𝐴$× log ()
𝑇( + 228

FTA - PRSAT 66
Evolução da componente conInua

• A evolução ao longo do tempo da componente conTnua da corrente de curto-


circuito é dada por:
%
,-
𝐼** = 2×𝐼+” ×𝑒 !
$./%
,1
𝐼** = 2×𝐼+” ×𝑒 02

• De acordo com a norma CEI 60909, a percentagem da componente conTnua é


referida ao valor de pico da componente alternada, logo:

3** (%)
𝐼** % = $×3" (%)
×100, com t Fpicamente igual a 50 ms

FTA - PRSAT 67
Corrente de curto-circuito assimétrica

• A corrente de corte assimétrico para o curto-circuito trifásico Ia3(ass.) – Valor


eficaz da corrente de curto-circuito trifásico no instante de separação dos contatos
do disjuntor é dada por:

2
I a3 ( ass.) = I a3 + I c2

t

I c = 2I k'' e Tg

X
Tg = (s)
wR

FTA - PRSAT 68
Correntes máximas de curto-circuito

• Ao calcular as correntes máximas de curto-circuito, é necessário introduzir as


seguintes condições:
– o fator de tensão cmax, de acordo com a Tabela 1, deve ser aplicado para o
cálculo das correntes máximas de curto-circuito na ausência de uma norma
nacional;
– escolher a configuração do sistema e a contribuição máxima dos geradores e
equivalentes de rede que conduzam ao valor máximo da corrente de curto-
circuito no local do curto-circuito;
– quando impedâncias equivalentes ZQ são usadas para representar redes
externas, a impedância equivalente mínima de curto-circuito deve ser usada,
que corresponde à contribuição máxima de corrente de curto-circuito dos
equivalentes de rede;
– os motores devem ser incluídos, se apropriado;
– a resistência RL das linhas (linhas aéreas e cabos) deve ser introduzida a uma
temperatura de 20°C.

FTA - PRSAT 69
Correntes mínimas de curto-circuito

• Ao calcular as correntes mínimas de curto-circuito, é necessário introduzir as


seguintes condições:
– o fator de tensão cmin, para o cálculo das correntes mínimas de curto-circuito,
deve ser aplicado conforme a tabela 1;
– escolher a configuração do sistema e a contribuição mínima de centrais
elétricas e equivalentes de rede que conduzam a um valor mínimo de corrente
de curto-circuito no local do defeito;
– motores devem ser desprezados;
– resistências RL de linhas (linhas aéreas e cabos, condutores de linha e
condutores neutros) devem ser introduzidas numa temperatura mais elevada:

FTA - PRSAT 70
Correntes mínimas de curto-circuito

Onde,
– RL20 é a resistência a uma temperatura de 20 ºC;
– 𝜃7 é a temperatura do condutor em graus Celsius no final do curto-circuito;
– 𝛼 é um fator igual a 0,004/K, válido com precisão suficiente para a maioria dos
casos práFcos para cobre, alumínio e liga de alumínio.

NOTA: Para 𝜃! , consulte por exemplo IEC 60865-1, IEC 60949 e IEC 60986.

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Bibliografia

• IEC 60 909:2002-07, “Short-circuit current calcula/on in three-phase a-c systems”


• E. Kreyszig, “Advanced Engineering Mathema/cs,” 7th edn, John Wiley, 1993.
• ABB, “ Switchgear manual 12th Edi/on,” Cornelsen Verlag Düsseldorf, 2006.
• Siemens, “Switching, Protec/on and Distribu/on in Low-Voltage Networks:
Handbook with Selec/on Criteria and Planning Guidelines for Switchgear,
Switchboards, and Distribu/on Systems,” Germany, Publicis, 1994, ISBN-13: 978-
3895780004, Publicis; 2nd revised ediFon.
• Seib, G., “Electrical Installa/ons Handbook,” 3rd ediFon, John Wiley & Sons, 2000,
ISBN 0-471-49435-6.

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