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ISBN: 978-65-00-24851-7

PSICOLOGIA
AMBIENTAL
Surgimento e Contribuições

Leila Kalinny
Jaide Bezerra
Anderson Veloso
Carliane Silva
Paulo Ramos

escolaverde.org
Souza, Leila Kalinny Gomes; Tenório, Jaide Bezerra; Leal, Anderson Veloso,
Bastos, Carliane Silva ; Ramos, Paulo Roberto. 2021.

Psicologia Ambiental: Surgimento e Contribuições / Leila Kalinny


Gomes de Souza, Jaide Bezerra Tenório, Anderson Veloso Leal,
Carliane Silva Bastos, Paulo Roberto Ramos. Projeto Escola Verde.
Universidade Federal do Vale do São Francisco. São Paulo: CBL,
2021
60 p.

ISBN: 978-65-00-24851-7

1. Surgimento 2. Psicologia Ambiental 3.Educação Ambiental

17.095.59 CDD - 155.9


CDU: 159.922.8
Autores:
Leila Kalinny¹, Jaide Bezerra ¹ Anderson
Veloso ¹ & Carliane Silva ¹.
Discentes de Psicologia da Universidade
Federal do Vale do São Francisco ¹

Orientador:
Paulo Roberto Ramos ²
Docente do Curso de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Vale do São
Francisco ²

Apoio:
Projeto Escola Verde (PEV), através do Núcleo
Temático em Educação Ambiental
Interdisciplinar.
Sumário
21 Parte II - Contribuições da
Psicologia Ambiental
04 Prefácio

Capítulo 5 - Barreiras ao
Introdução 22 Comportamento
05
Pró-Ambiental
Parte I - Surgimento da
07 Psicologia Ambiental Capítulo 6 - Ambientes
30 restauradores
(restorativeenvironment)
08 Capítulo 1 - Como surgiu
a Psicologia Ambiental?
Capítulo 7 - Contribuição das
33 áreas verdes para o bem-estar
Capítulo 2 - O que é a humano
12 Psicologia Ambiental?

Capítulo 3 -Psicologia 39 Capítulo 8 - Permacultura e


Psicologia Ambiental
15 Ambiental enquanto
disciplina acadêmica
Capítulo 9- Influência das cores
45 e da iluminação no estado
Capítulo 4 - emocional dos seres humanos
Relação entre Psicologia
18 Ambiental e educação
ambiental
52 Conclusão

Referências
55
PREFÁCIO
04
Caro leitor,

É com imensa satisfação que apresentamos esta obra,


fruto das atividades desenvolvidas durante nossa
participação no Projeto Escola Verde (PEV) e no Núcleo
Temático de Educação Ambiental Interdisciplinar,

ambos coordenados pelo Prof. Dr. Paulo Ramos a quem


agradecemos pela sua enorme contribuição e orientação.
Esperamos que você leitor possa conhecer a Psicologia
Ambiental e alguns dos temas trabalhados por essa área
ao longo deste e-book. Para isso, convido você, a saltar
imediatamente desse prefácio às primeiras páginas do

livro, que seguramente o levará a caminhos e temáticas


importantes da Psicologia Ambiental.
INTRODUÇÃO
05
Para a construção desse e-book contamos com revisão

da literatura realizada ao longo de um período de

aproximadamente, três meses, estudando a psicologia


ambiental, área que até então não conhecíamos.

Inicialmente, pesquisamos a respeito de como surgiu a


psicologia ambiental, sua importância, contribuições,

objeto de estudo, sua relação com a educação ambiental e


como tem se estruturado enquanto disciplina acadêmica,

principalmente em cursos de Psicologia.


Todo esse levantamento de informações resultou na

primeira parte desta obra. Posteriormente, na parte dois


adentramos no comportamento pró-ambiental e as
descobertas da Psicologia Ambiental sobre esse tema.
Além disso, selecionamos temas importantes para a

compreensão da psicologia ambiental, a exemplo da


contribuições das áreas verdes no bem estar humano, a
visão da psicologia ambiental sobre a permacultura.
06
Portanto, as leituras feitas em cada contexto fornecem

caminhos que podem ser apreciados pelo leitor

interessado em conhecer essa área da psicologia. No

entanto, consideramos essa obra, apenas como uma


singela contribuição, pois dada a complexidade da

psicologia ambiental, um pequeno e-book jamais seria


capaz de contemplar tudo, mas desejamos que os textos
sejam inspiração para a inserção do leitor nesse campo, de

modo a eliciar motivação para estudar mais a fundo as

temáticas que serão aqui abordadas.


07

Parte I

Surgimento da
psicologia ambiental
08

Capítulo 1

Como surgiu a
psicologia ambiental?
09
Inicialmente recebeu o nome de Psicologia da

Arquitetura e até então era uma área distinta da

Psicologia, pois essa definição mais primitiva estava


relacionada a necessidade do planejamento

arquitetônico da época para atender as demandas de


construção das cidades, e nesse processo, os arquitetos

possuíam uma visão determinista na construção das


habitações (Melo, 1991).

No entanto, no contexto pós II Guerra mundial, com o


processo de reconstrução das cidades e a preocupação

com o convívio social, a atenção dos psicólogos se voltou


para a compreensão do que leva os indivíduos a se
comportarem de determinadas formas em
determinados lugares.
10
Desse modo, a Psicologia da Arquitetura começou a

ser parte da psicologia, e o termo específico "Psicologia


Ambiental" surgiu na ocasião de um seminário a respeito

do relacionamento entre o "design" de sala de hospitais

psiquiátricos e a evidência do progresso terapêutico

(Melo, 1991).
De acordo com Bôlla & Milioli (2019) o surgimento da
Psicologia Ambiental ocorreu aproximadamente no ano

de 1950, e foi extremamente importante na época, pois


auxiliou no entendimento mais aprofundado de como o

ser humano se relacionava e se comportava perante o


ambiente natural e o ambiente construído.
11
Essa área recebeu influência da geografia e das ciências

naturais e começou a ser ofertada como disciplina em


alguns cursos e departamentos em meados dos anos 70,

e logo surgiram revistas e livros a respeito do assunto


(Melo, 1991). De modo que em 1980 as pesquisas nessa
área já estavam amplamente difundidas por diversos

países no mundo (Tassara & Rabinovich, 2003).


No que refere-se ao contexto Brasileiro, Pinheiro

(2003), aponta que a psicologia ambiental esteve


presente a partir da difusão de conhecimento por outros
países, principalmente, devido às simultâneas formações
de profissionais e conferências internacionais da área,
que construíram a base para a aplicação dos estudos
dessa área no país.
12

Capítulo 2

O que é a
psicologia ambiental?
13

As definições sobre os campos de atuação da Psicologia

Ambiental, no que se refere aos focos de estudo, são

divergentes dentro da área, possuindo diferentes


perspectivas (Moser, 2005). Para tanto, o que se tem

discutido e concordado é que os objetivos da disciplina


estão sempre voltados essencialmente para as pessoas e

para o ambiente (Wiesenfeld, 2005).


14

Dessa forma, a Psicologia Ambiental busca

compreender como o comportamento humano e sua


capacidade de subjetivação das coisas são influenciadas

pelo ambiente que o cerca (Sager et al., 2003), a fim de

construir uma relação sustentável entre homem e


natureza que proporcione também o bem estar humano

(Wiesenfeld, 2005).
Portanto, o objetivo dessa área é possibilitar

compreensões de como o ser humano percebe o


ambiente e a partir disso constrói hábitos e atitudes que
possibilitam a aquisição de um ambiente mais
sustentável.
15

Capítulo 3

Psicologia ambiental
enquanto disciplina
acadêmica
16
Günther (2004), argumenta que, apesar do
estabelecimento da Psicologia Ambiental como uma
subdisciplina da Psicologia, o futuro desta subdisciplina
depende da ambientalização da Psicologia como um
todo e de suas subdisciplinas.
Posto isso, Monteiro et al. (2016) aponta que a situação
do processo de ambientalização curricular da Psicologia
no Brasil, ocorre mediante um modelo misto, no qual a
disciplina Psicologia Ambiental se torna o elemento
curricular de tematização da problemática ambiental.
17
Porém não há estudos sobre a presença desta
disciplina nos cursos em funcionamento no Brasil e as

Diretrizes Curriculares da Psicologia não mencionam


em nenhuma parte a questão ambiental. Além disso, o

principal desafio de tornar a psicologia ambiental


disciplina de graduação em psicologia, é a mudança do
Projeto Pedagógico de Curso (Monteiro et al., 2016).

Por fim, o que se sabe é que a literatura brasileira sobre


o ensino de Psicologia Ambiental é restrita a relatos de
experiência e um tanto datada (Cavalcante, 2002; Elali,
2002). No entanto, as Diretrizes Nacionais de Educação

Ambiental, no seu artigo 20, estabelecem que as


próximas mudanças nos Projetos Pedagógicos de
Cursos devem incluir a proposta de ambientalização
curricular (Monteiro et al., 2016).
18

Capítulo 4

Relação entre
psicologia ambiental
e educação ambiental
19

A Psicologia Ambiental se relaciona com a Educação


Ambiental (Tassara & Rabinovich, 2003), pois ambas

compartilham de uma base interdisciplinar e, diante dessa


relação, os resultados podem ser promissores por

objetivarem contribuições e mudanças sociais semelhantes


(Raymundo & Kuhnen, 2010). Nessa mesma direção,
Gifford (2005) aponta que por meio da Educação
Ambiental busca-se também ampliar a atuação da

Psicologia Ambiental com a sensibilização dos cidadãos.


20
Pinheiro e Pinheiro (2007) ao estudarem a pré-
disposição para o comportamento de “cuidado

ambiental” identificaram uma ponte de ligação entre a


Psicologia e a Educação e sugerem que os resultados das
investigações psicológicas podem ser ferramentas

importantes para as ações educativas.

Posto isso, Schumannhengsteler e Thomas (1994)


apontam que durante o ciclo vital humano, informação
combinada com atividades são fundamentais para o
desenvolvimento da atitudes ecológicas.
21

Parte II

Temas em
Psicologia Ambiental
22

Capítulo 5

Barreiras ao
comportamento
pró-ambiental
23
Algumas discussões na psicologia divergem sobre os

aspectos de analisar e intervir em algumas questões, no


cenário ambiental e suas derivações, como alimentação,

conservação das florestas e etc, a psicologia ambiental,


psicologia social e psicologia do consumidor possuem

algumas divergências com relação a esses aspectos.


Entretanto, Griffin (2008, apud Iglesias,, Caldas &Rabelo,

2014) agrupou estudos relacionando a psicologia ambiental


e a psicologia social, definindo nove barreiras encontradas
no que diz respeito aos desafios encontrados para a
sustentabilidade.
24
No entanto, quando Griffin (2011, apud Iglesias,, Caldas
& Rabelo, 2014) aprofunda seus estudos, ele chega a teoria

dos “dragões da inação”, que descreve vinte e nove

barreiras psicológicas para o comportamento pró-


ambiental. Das vinte e nove barreiras definidas, doze serão

tratadas nesse texto (a partir dos estudos de Iglesias, Caldas


& Rabelo, 2014) por serem definidas de forma mais clara e

por serem mais relevantes à realidade vivida no Brasil.


Essas barreiras levam esse nome devido a sua dificuldade

de realização humana, são elas:


1.Embotamento Ambiental - Barreira psicológica que faz
com que o indivíduo, quando está sobrecarregado de
informações, esqueça uma parte delas, mesmo que seja

uma informação importante;


25
2.Falta de Controle Comportamental Percebido -

Capacidade de aumento do poder preditivo de uma


atitude sobre uma ação;

3.Incerteza - Processo que diminui ações menores


(individuais, por exemplo) por conta de danos maiores
(indústrias, por exemplo).

4.Negação - Negação do problema ambiental;


26
5.Reatância Psicológica - Reação negativa relacionada a

imposições que parecem restringir a liberdade de


escolha e a autonomia.

6.Conflito de Metas - Quando se prioriza outras ações,

mesmo que o indivíduo tenha consciência das


problemáticas que estão acontecendo;

7.Comparação Social - Formas de agir a partir da relação

com outras pessoas;

8.Falta de Identificação com a Comunidade - Tem base


em processos grupais e no conceito de apego ao lugar,
desenvolvido na própria psicologia ambiental;
27
9.Tokenismo - Concessões feitas por pessoas ou

instituições para responder a críticas que não fazem a

inclusão das minorias sociais;

10.Hábitos - Disposição psicológica para repetição de

comportamentos passados;

11.Risco Percebido - Percepção de riscos potenciais

numa mudança de comportamento;

12.Viés Otimista - Encerra os fenômenos debatidos nas


discussões (doomers vs boomers).
28
Uma Escala de Barreiras Psicológicas foi desenvolvida por

Iglesias, Gifford e Casler (2009, apud Iglesias,, Caldas &


Rabelo, 2014), que ficou conhecida como IOPB

(Individuals’ Obstacles to Proenvironmental Behavior) reuniu


quarenta e três ítens, reunindo treze dos vinte e nove
dragões apontados por Gifford. Essa escala é utilizada por

muitos estudiosos para análise psicológica acerca do


comportamento pró-ambiental.
29
Pensando nisso, faz-se necessário entender os níveis
onde cada sujeito possui questões que afetam o

desenvolvimento de habilidades, ações e estratégias de


enfrentamento à situações nocivas ao meio ambiente de

forma individual e também coletivamente falando.


Apesar de já possuir alguns instrumentos e ferramentas
de auxílio, como as citadas no presente texto, para
entender mais sobre a relação ser humano x ambiente, é

importante destacar que ainda existem avanços


necessários, como mais investimento em pesquisas e
produção de trabalhos científicos, a fim de centralizar o
meio ambiente nas discussões.
30

Capítulo 6

Ambientes
restauradores
(restorativeenvironme
nt)
31
São ambientes harmonizados com elementos da

natureza e humanos a fim de tornar melhor a

convivência das pessoas com o meio ambiente,

buscando integrar a promoção do bem-estar humano,

de forma interdisciplinar, com a psicologia, a saúde


preventiva, a educação, a arquitetura e o planejamento

urbano.
“Opondo-se à noção de estresse,
surge um construto denominado

restoration, definido como o


.
processo de restauração,
recuperação ou restabelecimento

dos aspectos físicos, psicológicos ou


da capacidade social, perdidos pelo

esforço contínuo, estando ligado à


redução do estresse e à restauração

da capacidade de atenção” (Gressler

& Günther, 2013).


32
Os estudos sobre os ambientes restauradores tiveram

maior notoriedade a partir dos anos 80 do século XX,

quando pesquisadores da psicologia buscaram entender


os atributos ambientais, para compreender por que

alguns ambientes geravam sensações de prazer e bem


estar, e outros desprazer e sofrimento nos indivíduos.

Sendo assim, os ambientes verdes estão diretamente


ligados à saúde e a qualidade de vida da população. Esses
locais, por apresentarem uma ampla variedade de
elementos naturais, podem contribuir para a redução

dos níveis de estresse e fadiga mental, assim como


estimular a prática de atividades físicas e as interações
sociais, dentre outros benefícios. Se constituindo, assim,
num ambiente restaurador.
33

Capítulo 7

Contribuição das áreas


verdes para
o bem-estar humano
34
Os termos áreas verdes, espaços/áreas livres,
arborização urbana, verde urbano têm sido utilizados por

diversos autores e por órgãos de planejamento municipal


como sinônimos, enquanto outros afirmam haver
diferenças entre eles. Todavia, aqui iremos compreender

áreas verdes como integrante do sistema de espaços

livres, vegetados e acessíveis ao uso direto da população.


Dito isso, há diversos problemas no contexto urbano que
causam prejuízos físicos e mental, convém então analisar
possíveis contribuições das áreas verdes para o bem-estar

humano.
35
Nessa sequência, estudos apontam que as áreas verdes

ao desenvolver funções ecológicas, sociais e de lazer,


podem contribuir de maneira eminente, para a

melhoria da qualidade ambiental e de vida da


população (Mazzei, Colesanti & Santos, 2007).
Essa contribuição se dá principalmente por

proporcionar a aproximação do homem com o meio


natural, e dispor de condições estruturais que favoreça a

prática de atividades de recreação e de lazer.


Em virtude disso as áreas verdes são frequentadas
pela população para a realização de atividades físicas,
como a corrida e a caminhada, passeios, descanso etc,
desse modo, esses espaços colaboram diretamente com
o bem-estar humano.
36
De acordo com Vieira (2004), as funções destas áreas

estariam relacionadas à Função Social (possibilidade de

convívio social e de lazer que essas áreas oferecem à

população), Função Estética (diversificação da paisagem


construída e embelezamento da cidade), Função

ecológica (provimento de melhorias no clima da cidade


e na qualidade do ar, água e solo, resultando no bem-
estar dos habitantes e na diversificação da fauna), Função

Educativa (possibilidade oferecida por tais espaços como


ambiente para o desenvolvimento de atividades

educativas, extraclasse e de programas de educação


ambiental) e Função Psicológica (possibilidade de
realização de atividades físicas, de lazer e de recreação).
37
A presença de áreas verdes favorece, portanto, a

prática de exercícios físicos e de lazer e

consequentemente atua como fator protetor para a


saúde física e mental daqueles que frequentam esses

espaços, Dorneles et al. (2020) constatou-se que a


atividade física é o principal atrativo das áreas verdes e

que o lazer e a recreação, juntamente com a busca pela


saúde e qualidade de vida estão entre os fatores que

motivam a população a frequentar esses locais.


Somado a isso, a proximidade da população com
áreas verdes está diretamente ligada à diminuição dos
índices de obesidade e doenças mentais e influencia na
diminuição dos níveis de estresse e aumenta a
interação social entre os indivíduos (Amato-Lourenço

et al., 2016). Assim sendo, essas áreas assumem


diferentes papéis e todos são positivos.
38
Em suma, a presença de áreas verdes bem estruturadas,

de livre acesso ao público no contexto urbano oferece

meios para que a população frequentem esses locais em

busca de melhorias para si, seja fazendo uma caminhada


ou jogando papo fora com os amigos, há uma enorme

contribuição desses espaços para o bem-estar.


Dessa forma, cabe às instâncias governamentais,
planejar e implantar espaços livres, com arborização e

estrutura adequada para a realização de lazer e esportes,


assim como é papel da sociedade preservar e aproveitar

esses espaços.
39

Capítulo 8

Permacultura e
psicologia Ambiental
40
No começo dos anos de 1970 os australianos Bill
Mollison e David Holmgren desenvolveram a

Permacultura: uma síntese de práticas agrícolas


tradicionais com deias inovadoras, unindo o

conhecimento milenar às descobertas da ciência


moderna (Soares, 1998).
Em outras palavras, a permacultura pode ser
compreendida como uma ciência holística e de cunho

socioambiental, que congrega o saber científico com o


tradicional popular e visa, é claro, a nossa permanência
como espécie na Terra.
41
O objetivo é a criação de sistemas que sejam
ecologicamente corretos e economicamente viáveis;

que supram suas próprias necessidades, não explorem


ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis em longo

prazo. De acordo com Mollison (1998) a Permacultura


mantém uma ética que reconhece o valor intrínseco a
todas as formas de vida, e com isso permeia todos os
aspectos dos sistemas ambientais, comunitários, sociais e

econômicos
42
Para isso, possui uma ética específica, respaldada em

três pilares éticos:

1.Cuidar da terra: implica cuidar das coisas vivas e não

vivas, como solos, espécies, águas, ar, com atividades


inofensivas, reabilitantes e de conservação;

2.Cuidar das pessoas: de forma a suprir as necessidades


básicas de alimentação, abrigo, educação, trabalho
satisfatório e contato humano saudável

3.Incentivar limites ao crescimento e ao consumo


(Mollison, 1988) e a partilha justa (Holmgren, 2002)
43
Dito isso, qual a relação da permacultura com a

psicologia ambiental?

A permacultura está diretamente relacionada com as


relações pessoa-ambiente, abordada pela psicologia

ambiental, uma vez que busca ajudar as pessoas a se


tornarem auto-suficientes, assim como promover a

responsabilidade comunitária, a reciclagem dos resíduos,


restauração de paisagens degradadas e preservação de

espécies.
Ademais, busca a integração de todos os organismos

vivos em um ambiente de interação e cooperação em


ciclos naturais, também tem foco no mínimo de
consumo de energia e a captação e armazenamento de
água e nutrientes (Diniz, 2006).
44
Desse modo, a ética permacultural contempla as

dimensões que predispõem um estilo de vida


sustentável. Pois, promove a valorização do bem

estar, a busca pela satisfação no contato direto com


ambientes naturais, e a promoção de relações
humanas saudáveis.

Em outras palavras, ela traduz para o campo do


real o fenômeno psicológico enfocado pela psicologia

ambiental, pois valoriza tanto o bem-estar humano


quanto o ambiental, numa perspectiva
essencialmente ecossistêmica e de valorização e zelo
por todas as formas de vida. Por fim, os princípios e
ética da permacultura podem orientar a formação de
sujeitos ecológicos e fornecer as bases para

transformações cotidianas, impactando os modos de


vida contemporâneos (Diniz, 2006).
45

Capítulo 9

Influência das cores e


da iluminação no
estado emocional
dos seres humanos
46
Os seres humanos estão mudando de ambiente
constantemente, seja para o trabalho, escola, hospitais ou

até mesmo dentro de casa (devido ao atual momento de

pandemia de Covid-19). As cores e iluminação presentes

nestes ambiente podem estimular alguns estados


psicológicos das pessoas. Segundo alguns estudos como
os feitos por Rambauske (n.d.), demonstram que cores

podem influenciar de certa maneira nos estados de


humor.
47
Um grupo de pesquisadores da UFG, também

investigou sobre o assunto. Este grupo fez uma pesquisa

descritivo-exploratória, com os profissionais e usuários


da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de três hospitais

públicos de Goiânia, onde foi pesquisado sobre quais


cores os profissionais e os usuários do serviço preferiam
para aquele ambiente em específico. Tendo em vista

que o ambiente hospitalar trás consigo algumas


sensações que podem ser potencializadas ou não pelo

ambiente, a harmonia das cores nos mobiliários, roupas,


paredes, piso, teto e na decoração dos serviços de saúde é
relevante, (Boccanera, Boccanera & Barbosa, 2006)
48
Responderam ao questionário de preferência das cores

para o ambiente de UTI, 29 profissionais da área da


saúde, e mais 10 usuários do serviços (questionados após

a alta da UTI). Onde os profissionais e usuários


demonstraram suas preferências pelas cores: azul claro,

branco, verde claro e amarelo claro (Boccanera et al.,


2006). Onde percebe-se que os tons mais claros são os

preferidos desse público.

As cores agem no inconsciente humano por


associação, ou seja, com exceção do branco e do preto, as

demais cores são associadas com água, terra, fogo e ar .


com isso temos: por exemplo a cor azul, que é calmante,
trazendo consigo uma sensação de paz, indicada
especialmente para os quartos.(Rambauske, n.d.).
49
O amarelo seria estimulantes, o vermelho dar a

sensação de pouco volume ao ambiente e exerce


também um impacto emocional, está ligada a luzes de

segurança, possuindo ainda um efeito excitante.


(Rambauske, n.d.). O verde permite o relaxamento físico

e mental. Muito utilizado no tratamento de doenças


mentais, insônias, também equilibra e diminui

enxaquecas e nevralgias.
A luz trás consigo influências primordiais, visto que a

presença e ausência de luz são responsáveis pelo ciclo


circadiano dos seres humanos, sem a presença luminosa
esse ciclo pode variar de dezesseis a cinquenta horas, e
ainda influência na secreção de hormônios tais como

melatonina que é produzido naturalmente quando


anoitece (Rambauske, n.d.).
50
O efeito das cores estar diretamente ligada a

iluminação, tanto a natural quanto a artificial,''Se duas


paredes são revestidas com a mesma pintura, a que

receber mais luz parecerá mais viva, a que receber


menos, parecerá mais sombria.’’(Rambauske, n.d.).

O efeito luz sombra é utilizado na busca de conforto e

economia, visto que o enlace de um cor que seja


altamente reflexiva como o branco e uma iluminação de
fonte natural como uma janela, possibilitará ao ambiente
um status de tranquilidade, paz e pureza, que está

associado a essa tonalidade. Contudo se a luz for artificial


e estiver em um posicionamento por exemplo no teto o
efeito será diferente, pois o tipo da luz e sua posição dará
a cor uma nova tonalidade, mais claras ou mais escuras.
51
A luz e as cores são usadas como

tratamentos complementares como a

cromoterapia, que consiste no uso das


ondas emitidas pelas cores como o amarelo,

vermelho, azul, verde ou laranja nos


tratamentos doenças como pressão alta,
depressão, dores de cabeça, febre, insônia,

diabetes, doenças psiquiátricas,


hipertensão, transtorno afetivo sazonal,

feridas e doenças articulares. O uso


acontece através de lâmpadas coloridas,
roupas, alimentos, janelas coloridas ou água
solarizada (Reis, 2020).
52

Conclusão
53

Com base nas informações obtidas neste


e-book sobre a psicologia ambiental e as

ramificações advindas dessa área da

psicologia (que bebeu da geografia e das


ciências naturais para se estruturar) é

possível perceber a importância de estudar


o meio ambiente e o ambiente construído,

o que nos leva a entender melhor a relação


que os seres humanos têm com a natureza,
com o ambiente em que mora e sua relação
com os outros.
Assim como, podemos frisar a
necessidade da preservação dos espaços

naturais, pois sua contribuição para


melhoria do bem-estar coletivo e na
proteção da fauna e flora é gigantesca
54

É importante pontuar também que


comportamentos individuais são essenciais

no processo de preservação ambiental, não

apenas coletivizando os comportamentos.


E por fim, entendemos que os estudos

sobre a relação pessoa-ambiente também


são pontos que devem ser destacados, visto

que pensar sobre vivências onde todos os


organismos possam habitar de forma
cooperativa, maximizando potenciais
naturais, diminuindo assim os impactos
ambientais.
55

Referências
56
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