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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

Centro de Ciências da Educação, Artes e Letras.


Curso: Licenciatura em Teatro - 2023/2. Turma: ART.344.0.1
Disciplina: Teatro do século XVII ao século XXI.
Docente: Roberto Murphy.

Discente: Jean Carlos Marçaneiro

Resenha crítica sobre o desenvolvimento do conteúdo da disciplina.

Blumenau, 26 de novembro de 2023.


Iniciando.

Nossa caminhada na disciplina de Teatro do século XVII o XXI foi


dividida em três momentos bem distintos: seminário, avaliações escritas e
encenação. Cada momento contribuiu de uma forma diferente para a formação
da turma agregando conhecimento em história do teatro e experiência
pedagógica na pratica da docência de formas diferentes. Percebo que nesse
processo tivemos a oportunidade de aprofundar nossos estudos em torno de
ponto central para a arte dramática: a teatralidade. Conceito que considero
importantíssimo para a formação do educador de teatro. No livro Léxico de
Pedagogia do Teatro encontramos a seguinte frase:

“O conceito de teatralidade é um instrumento operatório importante para


os estudos teatrais contemporâneos, na medida em que diversas
manifestações da cena atual procuram ultrapassar os limites da
encenação tradicional e acabam por transitar em zonas fronteiriças entre
o teatro e outras linguagens artísticas”. (KOUDELA, Ingrid Dormien,
ALMEIDA JR., José Simões de, Léxico de Pedagogia do Teatro, São
Paulo, Perspectiva, 2015, pág. 65).

O seminário.

As nossas aulas de História do Teatro do século XVII ao século XXI


nesse segundo semestre de 2023 foram marcadas pelas pesquisas que fizemos
sobre os conteúdos para apresentar nossos trabalhos no seminário. O conteúdo
total do semestre, para o seminário, foi dividido em períodos de séculos que
foram abordados por grupos de 4 pessoas. Nosso grupo ficou com os conteúdos
que vão do século XVII ao século XXI. Mas o professor considerou que apenas
22 anos de século XXI representaria um período muito curto para a pesquisa, ou
seja, pouco conteúdo. O professor sugeriu então de iniciarmos com o teatro da
segunda metade do século XX.

Iniciamos nosso seminário, tentando traçar uma linha cronológica, a


partir do teatro épico de Bertolt Brecht, abordando suas origens nas filosofias de
teatro de Meyerhold, Rússia, e Piscator, Alemanha, e do teatro do absurdo,
tendência teatral pós moderna de Beckett e Ionesco, entre outros, muito ligada
a reconstrução europeia do pós II Guerra Mundial. Nossa pesquisa e
apresentação no seminário passou também por tendências do teatro
contemporâneo como o Viewpoints e o teatro com foco principal no trabalho de
ator de autores como Eugenio Barba, Jerzy Grotowski, Antonin Artaud, entre
outros. Importante ressaltar aqui, que o formato de assimilação de conteúdo
através de seminários onde alinhar pesquisa, aprofundamento de conteúdo e
preparação/apresentação de material para socializar com os outros estudantes
da turma, nos instrumentaliza e nos impulsiona na construção de importantes
habilidades para a docência.

Agregar em nosso repertório pessoal técnicas de mediação de


aprendizado, obviamente que faz todo sentido numa licenciatura, mas também
a oportunidade que tivemos, e ainda teremos muito mais, de criarmos nossas
próprias maneiras de desenvolver a prática da pedagogia é igualmente
importante numa licenciatura em arte. Vivenciar a prática da docência já nos
primeiros semestres vai nos proporcionando a compreensão da dimensão e da
responsabilidade de ser um agente da educação nas artes. Uma
responsabilidade que muitas vezes os educadores que passaram pela nossa
formação, durante o ensino fundamental, não tiveram para com a gente. Vem a
mim então a reflexão, e acredito que também a muitos outros integrantes da
turma, de que tipo de educadores pretendemos nos tornar.

Acredito então que passar pela experiência do seminário foi


importantíssimo para nós, nesse segundo semestre do curso, nessa disciplina
que aborda conteúdos e informações que são imutáveis, pelo menos até que
novas pesquisas históricas tragam novos olhares sobre a história que já foi
contada de alguma forma, pois tudo aquilo que precisamos assimilar sem
participar exatamente da criação, fica mais difícil de compreender e interiorizar.

As avaliações escritas.

Percebo que as quatro avaliações escritas que fizemos foram,


inclusive nas palavras do professor, uma forma de preencher as lacunas
deixadas nas pesquisas de cada grupo no que diz respeito a certas formas
teatrais ou autores importantes de cada século, que acabaram ficando de fora
da abordagem do conteúdo. Nesse sentido realizamos quatro avaliações, em
quatro dias diferentes, não sem antes fazermos uma leitura coletiva de um texto
resumido que desse conta de preencher as lacunas. Então a rotina desses
quatro encontros foram: leitura coletiva do texto mais a avaliação escrita em que,
com nossas próprias palavras, comentávamos cinco questões referentes a cinco
pontos importantes dos assuntos de cada dia.

Considero importante o exercício de escrever, mesmo à mão, com


nossas próprias palavras sobre os assuntos que viemos estudando no seminário
e no dia de cada avaliação. Aliás sobre todas as nossas vivências na graduação,
porém acho que as questões, inclusive o enunciado, nas quatro avaliações que
fizemos da disciplina, poderiam ter sido melhor elaboradas. Acredito que o
disparador: “comente sobre...” acaba por sugerir um desenvolvimento de escrita
que tende a ser limitada. Penso que questões mais elaboradas ou mais
direcionadas a cada conteúdo poderiam direcionar os textos para outras
possibilidades de abordagem. Acredito inclusive que faria diferença até para uma
avaliação mais precisa sobre como o conteúdo foi assimilado pelo estudante.
Compreendo que métodos tradicionais de ensino e aprendizagem como as
provas tem sua relevância, e sei o quanto a academia precisa que estudante
seja capaz de expressar a sua evolução durante graduação através da escrita,
mas acredito que outras formas de criação e expressão textual podem ser
incluídas na rotina pedagógica do curso e da disciplina.

Contudo acho que as leituras que precederam as avaliações


contribuíram sim para o nosso aprendizado na disciplina e nos ajudaram a
compreender e memorizar melhor os temas.

A encenação.

Inicialmente o professor propôs uma dinâmica em que cada um de


nós, criássemos uma proposta de formato de encenação para a disciplina nesse
semestre. Tomamos um tempo para esse afazer e ao final cada um colocou e
expôs para o grupo a sua proposta. Eu sugeri uma encenação que representasse
um programa de televisão remontando os formatos de televisão aberta no brasil
da década de 80 e 90. Sugeri que cada grupo se utilizasse do que seria um bloco
ou quadro de um episódio de um tipo de programa de auditório. Cada quadro
seria estilizado e trabalhado para desenvolver o conteúdo do século que havia
sido designado para o grupo. Em votação no coletivo todos e todas concordaram
que essa proposta de encenação que eu havia sugerido, dentre as outras, seria
a escolhida.

Percebi que a proposta que eu coloquei foi bem aceita também por
abrir a possibilidade de se trabalhar com a comicidade. Sabemos que a comédia
é muito além do que uma tendência de caminho textual no teatro, mas sim um
leque de possibilidades para um encenação. Henri Bergson, em seu livro ‘O riso:
ensaio sobre a significação da comicidade’, nos aponta a seguinte consideração:

Chamamos atenção para isto: não há comicidade fora do que é


propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa,
sublime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de um
animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem
ou certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas no caso o
cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que
alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele
assumiu. (BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação da
comicidade. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pág. 06).

Porém, recentemente, mais ao final do semestre percebeu-se que


teríamos apenas mais dois encontros para criar e apresentar a encenação e não
seria possível concluir a montagem nesse formato. Então surgiu a sugestão de
que cada grupo desenvolvesse uma pequena cena (sketch) abordando e
incluindo pelo menos parte de seu conteúdo em um novo formato, livre e da
escolha de cada equipe. Neste dia apenas Bruna e eu, da minha equipe
estávamos na aula. Então nos reunimos para debater e criar uma proposta de
cena para a aula. Sugeri que nos utilizássemos, como ponto de partida e
estímulo ou inspiração para a nossa cena, de uma estética visual e literária
própria de filmes noir. Seguimos conversando, naquele dia, e pensamos num
roteiro onde haveria um detetive que seria procurado por uma mulher a fim de
que resolvesse um crime.

A mulher em questão seria neta de um dos autores do teatro do


absurdo, talvez o próprio Beckett, personagem que seria interpretada pela
Bruna, eu representaria o detetive e o Yuri seria o assassino do autor a ser
investigado. A questão do enredo da cena giraria em torno de quem seria o
verdadeiro criador do teatro do absurdo, Beckett ou Qorpo Santo.

Acredito que a decisão de trocar a criação de uma peça por criação


de cenas isoladas foi bem assertiva por conta de dois fatores. Primeiramente por
conta do pouco tempo para a criação de algo mais elaborado. E depois pelo fato
de considerar que a maioria das pessoas da turma não têm muita experiência
em criação teatral o que colocaria a encenação em risco de não ter qualidade.

Considerações finais.

Acredito que de um modo geral o semestre foi bem proveitoso e


importante para a nossa formação acadêmica. Obviamente que não se discute
a importância do conteúdo mas podemos fazer considerações sobre a forma com
que esse conteúdo foi desenvolvido. Porém creio que novas possibilidades e
formatos pedagógicos poderiam ter sido utilizadas nas aulas, o que teria
contribuído ainda mais para a nossa formação.

Confio bastante no que diz Gilson Motta, em seu ensaio Cenografia e


Indumentária na Arte-Educação, no livro Cartografias do Ensino do Teatro onde
ele ponta que:

“...no que se refere à formação do arte-educador, ao me referir aos


materiais a às oficinas de criação, aponto para a necessidade de as
escolas de teatro possuírem laboratórios onde o aluno possa fazer
experiências cênicas sistemáticas com diversos materiais, explorando
os elementos da linguagem visual.” (MOTTA, Gilson, Cenografia e
Indumentária na Arte-Educação, In: FLORENTINO, Adilson, TELLES,
Narciso, Cartografias do Ensino do Teatro, Uberlândia, Edufu, 2009,
pag. 109).
Referências:

BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação da comicidade. São Paulo:


Martins Fontes, 2001, pág. 06).

(MOTTA, Gilson, Cenografia e Indumentária na Arte-Educação, In: FLORENTINO,


Adilson, TELLES, Narciso, Cartografias do Ensino do Teatro, Uberlândia, Edufu, 2009, pag.
109.)

(KOUDELA, Ingrid Dormien, ALMEIDA JR., José Simões de, Léxico de Pedagogia
do Teatro, São Paulo, Perspectiva, 2015, pág. 65).

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