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Reitor

Ricardo Marcelo Fonseca


Vice-Reitora
Graciela Inês Bolzón de Muniz
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Leandro Franklin Gorsdorf
Diretor da Editora UFPR
Rodrigo Tadeu Gonçalves
Vice-Diretor da Editora UFPR
Alexandre Nodari
Conselho Editorial que aprovou este livro
Adriano Nervo Codato
Cleverson Ribas Carneiro
Diomar Augusto de Quadros
Edison Luiz Almeida Tizzot
Emerson Gabardo
Everton Passos
Ida Chapaval Pimentel
Jane Mendes Ferreira
Márcia Santos de Menezes
Marcus Levy Albino Bencostta
© Luciana Panke
Versão traduzida e ampliada do espanhol, publicada originalmente pela Piso 15
Editores (2015), México.

Coordenação editorial
Rachel Cristina Pavim
Revisão
Suzete de Paula Bornatto
Revisão final
da autora
Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica
Rachel Cristina Pavim
Série Pesquisa, n. 308
Universidade Federal do Paraná. Sistema de Bibliotecas.
Biblioteca Central. Coordenação de Processos Técnicos.
Panke, Luciana.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências/ Luciana
Panke. – 1. ed. – Curitiba: Ed. UFPR, 2016.
233 p.: il., grafs., tabs.

ISBN: 978-85-8480-090-2 (impresso)


Inclui referências e glossário

1. Campanha eleitoral. 2. Mulheres na política. 3. Mulheres - Participação


política. I. Título.
CDD 324.623
Bibliotecária: Rita de Cássia Alves de Souza CRB 9/816

ISBN 978-85-8480-143-5
Ref. 930
Direitos desta edição reservados à
Editora UFPR
Rua Ubaldino do Amaral, 321
80060-195 - Curitiba - Paraná - Brasil
www.editora.ufpr.br
editora@ufpr.br
2020
Às mulheres que inspiram.
Às que vieram antes de mim:
Minha bisavó, Guilhermina Koop Kulzer (in memoriam)
Minhas avós, Irma Kulzer Hepp e Erna Becker Panke (in memoriam)
Minha mãe, Noemia Hepp Panke
E a minha filha, Gabriela Panke
Às mulheres que virão.
Agradecimentos

Este livro não seria possível sem a generosidade de pessoas que acreditaram
no projeto e confiaram em mim para ser a porta-voz de uma das questões
mais evidenciadas no século XXI: a igualdade de oportunidades e de
voz para todos os gêneros. Elas me deram seu bem mais precioso: seu
tempo, seja para me conectar com mulheres que estão na política, seja nas
entrevistas ou nas contribuições durante a redação do texto.
Meu agradecimento especial aos quase 100 entrevistados: às
mulheres políticas, aos consultores e às consultoras que compartilharam
comigo e com os leitores suas experiências de vida. Todos estão nominados
no decorrer dos capítulos e em um espaço especial ao final do livro.
O livro, publicado inicialmente em espanhol (Editora Piso
15, México, 2015), foi revisado e ampliado para a versão em língua
portuguesa. Em 2016, recebeu a indicação como melhor publicação
nos prêmios Alacop (Associação Latinoamericana de Consultores
Políticos).
Assim, inicialmente, agradeço à Universidade Federal do
Paraná e ao Departamento de Comunicação Social por me fornecer
o tempo necessário para a pesquisa de pós-doutorado, que culminou
nesta obra em espanhol e agora publicada pela Editora UFPR.
Ao prof. Dr. Rogério Mulinari, por não medir esforços para
reconhecer os talentos da Universidade.
À Universidad Autónoma Metropolitana – sede Cuajimalpa –
por me aceitar na sua área de Comunicação Política, em especial ao Dr.
Edgar Esquivel Solís, supervisor da pesquisa pós-doutoral. Agradeço
também à equipe da Biblioteca por sua atenção e apoio.
À Capes, por me conceder uma bolsa durante os seis primeiros
meses da pesquisa.
À ALACOP, Associação Latino-Americana de Consultores
Políticos, e a sua primeira presidenta, Gil Castillo, por todo apoio e
por redigir a apresentação deste livro.
A Gabriela, por existir, pela inspiração, pelo companheirismo
e troca intelectual.
À hermana Valeria pelas risadas, suporte emocional e traduções.
Ao meu irmão, Rafael, por me ajudar a ver melhor as coisas.
A Ada, Angie, Gaby, Ricardo e Victor.
Aos assistentes de pesquisa, Alicia Portillo, Julia Kreuz e Vitor
Machado, pelas transcrições e suporte na busca de dados. A Júlia
Barbosa e a Gabriela Panke pelo apoio no processo final.
A Ismael Filadelphi, Mario Lamenha e Ricardo Tesseroli,
por me ajudarem nas entrevistas com brasileiras enquanto eu estava
morando no México. E a Tayra Aleixo, que compartilhou as entrevistas
que realizou para seu mestrado.
Obrigada a vocês que me puseram em contato com mulheres
políticas, consultores e tentaram quebrar os seis graus de separação: Alice
Lima (Brasil), Alfredo Dávalos (Equador), Andrea Bernal (Equador/Colômbia),
Candice Williams (Panamá), Carla Vega (México), Carlos Gutiérrez (Espanha),
Carolina Sabogal Arias (Colômbia), Daniel Eskibel (Uruguai), Daniel Merchán
(Venezuela), Diva Gastélum (México), Emiliano Cardona (Uruguai), Erikson
Rezende (Brasil), Everton Willen (Brasil), Ester Athanásio (Brasil), Geovanny
Estrada Linares (Panamá), Gil Castillo (Brasil), Guadalupe Fernández
(Argentina), Gustavo Fleury (Brasil), Hugo Weber Jr. (Brasil), Hugo Duarte
(Paraguai), Ismael Fidalelfi (Brasil), Iván Gamboa (México), José Francisco
Pacola (Brasil), Juan Vázquez (Colômbia/Estados Unidos), José Manuel Talero
(Espanha), Karina Herrera Miller (Bolívia), Leandro Groppo (Brasil), Luciano
Silva (Brasil), Marcelo Serpa (Brasil), Matías Ponce (Uruguai/Chile), Máximo
Reina (Argentina), Malena Mota (Brasil), Myrian Del Vecchio (Brasil), Paulo
de Tarso Riccordi (Brasil), Pedro Fernandez (Brasil), Raúl Echivera (Chile),
Ricardo Amado (Venezuela/Estados Unidos), Ricardo Philippi (Brasil), Richard
Liza (Peru), Sofía Sosa (México), Tânia Mandarino (Brasil), Thea Tavares
(Brasil), Vagner Dalbosco (Brasil), Vitor Albano (Brasil), Waleiska Fernandes
(Brasil) e Yasmin Gatto (Brasil).
A Carlos Gutiérrez, Edgar Esquivel e James Deflet, pelas
contribuições.
Muito obrigada a todos e a todas. Este livro também foi escrito
por vocês.
Sumário

A fundamental e necessária pesquisa sobre o universo feminino na


comunicação política / 13
Gil Castillo

Introdução à versão brasileira / 17

Capítulo 1
Ser mulher na política latino-americana / 23
QUESTÕES DE GÊNERO / 38
A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA LATINO-AMERICANA / 44
COTAS / 56
IMPULSO E DECISÃO / 67
Influência familiar ou escolar / 67
Militância nas bases dos partidos, sindicatos ou movimentos sociais / 69
Experiência profissional / 71
RESUMINDO / 73
Capítulo 2
Campanhas eleitorais para mulheres / 75
PESQUISAS / 78
A MENSAGEM E O DISCURSO / 82
O DISCURSO LINGUÍSTICO / 95
CAMPANHA DE TERRA / 99
CAMPANHA EM RÁDIO E TELEVISÃO / 102
CAMPANHA NOS MEIOS DIGITAIS / 108
RESUMINDO / 111
Capítulo 3
Mulheres candidatas: Perfis ideais? / 113
O UNIVERSO FEMININO NAS CAMPANHAS ELEITORAIS / 114
OS PERFIS DAS CANDIDATAS / 120
Tipologia – A Guerreira / 122
Tipologia – A Maternal / 134
Tipologia – A Profissional / 148
RESUMINDO / 163
Capítulo 4
Dicas para candidatas e consultores / 165
A RESPEITO DO FAZER POLÍTICA / 167
SOBRE A PESQUISA ELEITORAL / 169
A MENSAGEM / 171
SOBRE TEMAS DE CAMPANHA / 175
ORATÓRIA E MEDIA TRAINING / 179
SOBRE ESTÉTICA E FOTOGRAFIA / 181
A ROTINA DE CAMPANHA / 183
CAMPANHA CORPO A CORPO, RÁDIO TELEVISIVA E NAS REDES SOCIAIS
DIGITAIS / 186
SOBRE O ÂNIMO. PALAVRAS DE MULHER PARA MULHER / 188

Considerações finais / 195

Referências / 205

Glossário / 213

Currículos dos entrevistados / 215


CONSULTORES / 215
MULHERES NA POLÍTICA / 222
A fundamental e necessária pesquisa
sobre o universo feminino na
comunicação política
Gil Castillo
Consultora política e Chairwoman da Alacop –
Associação Latino-Americana de Consultores Políticos

Em 2015 tive o privilégio de prefaciar a obra Campañas electorales


para mujeres: retos y tendencias, de Luciana Panke, que foi o ponto de
partida para esta versão em português. Na versão brasileira, com
mais estudos de casos, o texto ganhou novos contornos, mantendo
a mesma importância e atualidade, vindo à luz num momento crucial
para a história do país, em meio a uma crise política e institucional,
permeada por eleições municipais, o que torna a leitura deste trabalho
ainda mais indispensável.
Assim como na primeira versão, este trabalho me chamou
atenção por ser uma investigação completa do universo feminino na
atuação política, especialmente nas campanhas eleitorais, a partir de
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

um olhar sensível, profissional, científico e abrangente.


A abordagem das questões de gênero, além de complexa,
muitas vezes é feita de forma parcial. E quando se trata de avaliar o
papel das mulheres como agentes da construção política, competindo
na arena eleitoral pelos mesmos espaços que os homens, que critérios
devem ser utilizados?
Este é o lugar onde Campanhas eleitorais para as mulheres se
torna um desses textos especiais, leitura obrigatória para todos os que
trabalham ou pesquisam as questões políticas e eleitorais. Primeiro, a
autora mergulha no mundo das campanhas de mulheres na América
Latina, através da análise de 21 casos de campanhas para eleições

13
presidenciais, em 11 países diferentes desde o ano de 2010. Além
disso, entrevistou consultores políticos – homens e mulheres – de
15 países, mulheres com carreiras políticas em 13 países da América
Latina, especialmente no Brasil, e investigou os principais autores,
referências no estudo das questões sociais e de gênero, com um alto
nível bibliográfico. A autora ainda nos enriquece com relatos de suas
próprias experiências, seja como pesquisadora, seja como profissional
com atuação em processos de comunicação eleitoral e política.
Com todo esse rico material, Luciana Panke acredita que
“a pesquisa indica maneiras de promover a reflexão sobre estratégias
para as campanhas eleitorais para as mulheres e os papéis de gênero
na sociedade latino-americana”. Desta forma, através de um contexto
baseado no mundo feminino, especialmente na participação política e
partidária, analisa em profundidade a questão das campanhas eleitorais
e desenvolve uma excelente proposta de classificação de arquétipos
femininos – o mais completo que tive a oportunidade de ler – para ser
usado em campanhas, terminando com uma coletânea de conselhos
para as mulheres políticas e para profissionais que trabalham em
campanhas eleitorais de mulheres. Todos estes aspectos fazem deste
livro uma referência bibliográfica que transcende a área de estudos
acadêmicos, tornando-se um verdadeiro manual para compreender as
mulheres como peças-chave na política de hoje.
Em todos os anos em que venho trabalhando na área de
consultoria política, tive a oportunidade de assessorar homens e
mulheres candidatas, em diferentes lugares e situações sociais. Em
muitos casos, com grande alegria, tenho observado em ambos os
gêneros propostas muito concretas para a inclusão e aperfeiçoamento
humano, infelizmente, nem sempre tratadas com o mesmo peso,
dependendo de quem as apresenta, o que me faz refletir ainda mais
sobre as questões levantadas neste livro: “Será que vamos viver por muito
tempo em uma sociedade onde a questão de gênero seja mais importante
Luciana Panke

do que as propostas reais para a vida das pessoas?”


Por tudo isso, compreendo que Luciana Panke nos dá uma
obra especialmente sensível, primeiro pela coragem de tratar de
14
maneira profunda um tema que reúne não só as questões de gênero
e a política, mas as suas implicações nas disputas eleitorais, através da
construção detalhada de uma pesquisa urgente no momento atual.
Uma imensa honra poder recomendar esta leitura, que vale
cada minuto e cada capítulo.

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

15
Introdução à versão brasileira

Muito se fala que vivemos em uma sociedade em rede, uma sociedade


na qual a informação é um dos bens mais valorizados. Este livro é
um exemplo do que é uma rede. Mulheres e homens interessados
em debater a questão da presença feminina na política se uniram para
fazer isto possível. Emprestaram suas vozes, suas experiências, não
para chegar a uma resposta conclusiva, mas para evidenciar questões
que muitas vezes se escondem por trás da “naturalidade” das coisas.
Quando estamos em uma situação na qual existe discriminação
por raça, gênero, credo, crenças, o melhor que podemos fazer é não
nos omitir e semear a tolerância. Há várias formas de fazer isso. A que
escolhi foi a academia, estudando e atuando politicamente. Quando
me vi fora da minha zona de conforto, ao morar sozinha fora do país
a trabalho durante um ano, pude perceber esquemas ideológicos nos
quais estava imbricada. Até então, não havia me conscientizado com
tamanha clareza do que era ser uma mulher intelectual e independente
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
na sociedade em que vivemos.
De certa maneira, me sinto como a porta-voz das muitas
mulheres com quem tive a oportunidade de entrevistar para este livro e
para tantas outras que assistem a minhas palestras e depois conversam
sobre suas experiências. Ainda que por questão de espaço não possa
compartilhar tudo que recebi, acredito que este livro une estas vozes.
Essas mulheres extraordinárias compartilharam suas realidades, seus
medos, seus desejos. Realizamos um exercício de sororidade, unindo-
nos em conversas que aliaram, na maioria das vezes, a partilha de
saberes, anseios e sugestões. Sororidade é um dos conceitos que
defendo como fundamentais para que se alcance a visibilidade e o
respeito em várias áreas, entre elas a política. Exercer a sororidade
17
é, como mulher, respeitar, apoiar outras mulheres, evitando repetir
discursos machistas e destrutivos.
Da mesma maneira, acredito que não devemos fomentar
disputas que nos afastem dos caminhos já conquistados. Fazemos um
trabalho de “formiguinhas”, cada uma trazendo sua contribuição para
o reconhecimento feminino. Embora tenhamos que, muitas vezes nos
impor para sermos respeitadas, acredito que devemos formar equipes
com os homens. É uma via de mão dupla. Assim, fui presenteada com
o conhecimento de vários consultores e procurei enfatizar a fala de
consultoras em campanhas eleitorais. Nos bastidores, os desafios se
repetem, quando vemos coordenações de campanhas realizadas por
homens em sua maioria, eventos onde os protagonistas são homens
(às vezes sequer convidam mulheres para palestrar) e o assédio moral
ou sexual vivido com mais ou menos frequência pelas entrevistadas.
Portanto, é necessário fortalecer a sororidade, sem armar conflitos
desnecessários. Pelo contrário, é preciso construir redes.
O livro é resultado da minha pesquisa pós-doutoral, que a
princípio, realizaria um estudo comparativo entre os spots eleitorais dos
três países com os maiores PIBs da América Latina: Argentina, Brasil e
México, este último que me recebeu para os estudos. Nas campanhas
eleitorais analisadas, duas mulheres venceram: Cristina Kirchner e
Dilma Rousseff. No México, Josefina Vázquez Mota, ainda que não
tenha vencido, recebeu uma votação inédita para uma candidata no
país. Observando o material coletado, percebi que havia semelhanças
nos vídeos analisados: vários estereótipos femininos estavam nas três
campanhas.
Assim, fiquei curiosa e ampliei o foco: dediquei-me a investigar
os spots de todas as campanhas eleitorais presidenciais na América
Latina na última década. Com a análise de 21 campanhas de 11
países, cheguei a seis estereótipos predominantes, levando em conta
as mulheres que apareciam nos vídeos, tanto candidatas quanto
Luciana Panke

personagens e figurantes. Os estereótipos encontrados foram: dona de


casa, mãe, trabalhadora, cuidadora/sensível, subordinada e guerreira. A
partir deles e cruzando com as entrevistas, tracei as três tipologias
18
das campanhas eleitorais para mulheres: a guerreira, a maternal e a
profissional.
Com o tempo, a pesquisa ganhou outra dimensão. Dei-me
conta de que apenas a observação dos spots não me daria as respostas
que estava procurando. E o que buscava? A resposta é simples e
complexa ao mesmo tempo: compreender as dificuldades e os desejos
das mulheres que estão na política, das que tentavam entrar e avaliar
a percepção sobre os dados já encontrados. Assim, senti que me urgia
falar com elas e comecei a fazer contatos.
Em um evento no Senado mexicano, encontrei o consultor
Iván Gamboa, que me perguntou se eu gostaria de entrevistar sua irmã,
deputada federal. Depois de uma conversa inspiradora com a deputada
Lisbeth Gamboa, procurei sistematicamente outras mulheres políticas
da América Latina para a realização de entrevistas em profundidade,
não apenas nos três países iniciais e nem dos spots analisados, mas
procurando chegar ao maior número de países. As redes foram se
formando e, assim, tive a oportunidade de conversar com políticas de
13 países, a maioria dos países latinos.
Embora o foco da pesquisa seja a América Latina, a convite da
senadora mexicana Diva Gastélum, tive a oportunidade de acompanhar
a reunião anual da Internacional Socialista de Mulheres, realizada
em 2014, na Cidade do México. No evento, escutei relatos sobre
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
realidades muito semelhantes e, ao mesmo tempo, muito distintas, de
mulheres de todo o mundo: desde as que estão tentando sair da zona
de refugiados no Sahara Ocidental até mulheres que trabalham para a
capacitação profissional, a fim de empoderar e deixar outras mulheres
independentes economicamente. Tudo isso, de certa maneira, pode se
resumir como a procura pelo empoderamento feminino, seja na parte
política, social, econômica, pessoal. Empoderar-se significa ser integral,
ser respeitada e vista como um ser humano capaz de tomar suas
próprias decisões. E, de maneira nenhuma significa um antônimo para
“amada”. Em Curitiba, em 2016, um dos candidatos à prefeitura causou
polêmica dizendo que mulheres deviam ser amadas, não empoderadas,
revelando preconceito e fomentando, de certa maneira, o sexismo
19
nas eleições. O que tenho certeza é que, como eu, todas podem ser
amadas e empoderadas. Aqui está a principal razão de ser deste livro:
dar voz às mulheres, dar vida à sororidade.
Paralelamente aos encontros com as mulheres, comecei a
entrevistar profissionais de campanhas de diversas nacionalidades
com o objetivo de encontrar respostas para as questões: existe
diferença em uma campanha eleitoral para candidaturas femininas ou
masculinas? Quais, como e por que estas supostas diferenças afetariam
uma campanha eleitoral? As respostas variaram, conforme descrevo
ao longo do livro, oferecendo, também um apanhado geral sobre
planejamento de comunicação eleitoral.
A metodologia adotada reuniu pesquisa bibliográfica
sobre questões de gênero, eleições e comunicação política, unida à
minha experiência profissional, análise audiovisual e entrevistas em
profundidade. Deste modo, se configurou uma pirâmide na pesquisa:
entrevistas com as mulheres, entrevistas com profissionais da
comunicação e análise das campanhas audiovisuais.
Dos 20 países da América Latina, 14 estão representados
nas entrevistas, somando as de políticas e as de profissionais da
comunicação, e os 11 que tiveram campanhas presidenciais femininas
na última década também estão contemplados. Deste modo, tive a
oportunidade de conversar com consultores e consultoras de 13
países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha,
México, Paraguai, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela) somando 16
horas e 6 minutos. As entrevistas com mulheres políticas de 13 países
(Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México,
Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela) somam
27 horas e 10 minutos, mais a análise de 8 horas de vídeos eleitorais
de 21 campanhas de 11 países latinos (Argentina 2011, Brasil 2010 e
2014, Colômbia 2010 e 2014, Costa Rica 2010, Chile 2005 e 2013,
Guatemala 2011, Honduras 2013, México 2006 e 2012, Panamá 2009,
Luciana Panke

Peru 2011, Venezuela 2011 primárias). Faço questão de enfatizar que


não houve seleção por partido ou por ideologia, tampouco por raça,

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idade ou credo. As vozes de várias correntes estão conversando nas
seguintes páginas.
Para a versão em português somaram-se mais entrevistas
com brasileiras, totalizando 58 políticas. Também foram ampliadas as
entrevistas com consultores, focando na fala de mulheres profissionais
da comunicação política. Com isso, são 35 profissionais compartilhando
suas experiências na área. Todas as 93 entrevistas estão gravadas
em áudio e transcritas. A forma de realização deu-se, na maioria,
pessoalmente, e outras por meio de videoconferência.
As três tipologias das candidaturas femininas que trago aqui:
a guerreira, a maternal e a profissional, são inéditas na área. Até hoje
os estudos na área de comunicação política e eleitoral focaram apenas
em estabelecer “imagens ideais” dos candidatos homens, apesar do
sufrágio feminino ter-se iniciado há quase um século em vários países.
Aqui, como mulher e, especialmente, analisando e ouvindo as mulheres,
pude sistematizar as imagens das candidatas na América Latina.
Estamos vivendo uma presença real ou simbólica das mulheres
na política? Como fazer uma campanha eleitoral para mulheres? Quais
os desafios que elas enfrentam? O principal objetivo aqui é ampliar o
panorama para pesquisadores, profissionais de comunicação política e
mulheres, não com a pretensão de esgotar o tema, mas sim de ampliar
o debate oferecendo um estudo substancioso. O livro está organizado
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
em quatro partes. Na primeira, gênero e eleições, onde abordo sobre o
universo feminino, política partidária, cotas e participação. Na segunda,
levanto questões centrais sobre campanhas eleitorais, questionando
se há ou não uma maneira de fazer campanhas para mulheres. Depois,
apresento as tipologias em campanhas femininas e, por último, reúno
dicas de consultores e políticas a outras mulheres e consultores que
gostariam de ingressar neste meio.
Estudos bibliográficos, experiências profissionais e entrevistas
se misturam para configurar o livro que apresento. No final, quem
me acompanha encontrará também uma parte com os currículos e
contatos dos que emprestaram voz para que estas páginas pudessem

21
ser escritas. Tomara que consigamos levantar ideias para entender os
desafios e as tendências de campanhas eleitorais para mulheres.
Boa leitura!
Luciana Panke

22
Capítulo 1
Ser mulher na política latino-americana

A política é um universo masculino.

Tenho afirmado há um tempo que “a política é um universo masculino”.


Para sustentar o que argumento neste livro, devo, antes de falar sobre
a participação política das mulheres, indicar alguns fatos que ajudaram
a formar a sociedade como é. Uma sociedade na qual escrever um livro
sobre este tema, tem provocado admiração, identificação e também
estranhamento desde o começo. Aqui entram temas polêmicos como
a misoginia, o patriarcado, o feminismo e o machismo que, para muitos,
são difíceis de assimilar. Por que isso? Porque são temas que estão tão
enraizados na estrutura social que não são questionados e, às vezes,
sequer se percebe sua existência ou são vistos como integrando a
ordem natural das coisas.
Para entender melhor, busquei informações sobre a
participação política das mulheres, aprofundando meus conhecimentos
sobre campanhas eleitorais e tentando compreender como é possível
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

que metade da população ainda é considerada “minoria” nos processos


decisórios. Por isso, mais que apresentar números sobre participação
feminina, trago questões conceituais.
Quando dei início à pesquisa sobre campanhas eleitorais
femininas, ao mesmo tempo, comecei a prestar mais atenção em coisas
do cotidiano relacionadas com os papéis do masculino e do feminino.
Ainda que este livro seja sobre mulheres, estou com curiosidade de
pesquisar, futuramente, sobre o universo masculino. Os dois sofrem
pressões sociais distintas e estão presos em um sistema que os
obriga, muitas vezes, a se comportar de uma maneira com que não
necessariamente concordam.

23
Neste exercício de observação, escutei nas entrevistas
pontos de vista diferentes que complementam as leituras e as análises
realizadas. Tenho concluído que há coisas aceitas como naturais na
sociedade latina assim como as cantadas, o assédio nas ruas, lugares
da casa que pertencem aos homens (sala, por exemplo) e outros às
mulheres (cozinha), assim como profissões que parecem ser destinadas
a um dos sexos.
Em um evento internacional justamente da área de
comunicação política, um profissional equatoriano ficou admirado
com meu comentário de que “a política é um universo masculino”
e me disse que eu era uma “feminista radical” equivocada, pois em
seu país isso não ocorria. Diga-se de passagem, ser chamada de
“feminista” por si só já vinha como tom pejorativo. A ex-governadora
do Pará, Ana Carepa1, que superou vários obstáculos em sua carreira
política, é enfática: “o poder é masculino”. Bom, ainda que eu não
tenha a intenção de analisar cada país separadamente, é fato que uma
questão é estar nos parlamentos ou cumprir cotas, outra é fazer parte
da tomada de decisões. Como enfatiza a senadora brasileira Gleisi
Hoffmann2, “não existe democracia plena se a metade da população
não está representada nos órgãos, nos processos decisórios. E é na
política onde se definem as coisas”. Esse tópico será retomado mais
adiante, como um dos mais relevantes obstáculos a serem superados
pelas mulheres políticas.
Esse tom é repetido por mulheres, inclusive, em vários
países. Como exemplifica Nancy Thame3, presidenta do PSDB Mulher
regional paulista, que antes de ser candidata a vereadora em Piracicaba,
estado de São Paulo, viajava o Brasil para treinamentos de liderança
feminina, a dúvida e o preconceito se viam em todas as partes. Ela
questionava com as demais mulheres: “Porque não dá pra aceitar uma
mulher – e não é radicalismo isso – que vá ocupar um cargo eletivo e
Luciana Panke

1 Entrevista realizada online em 11/09/2016.


2 Entrevista concedida durante o programa de rádio “Comunidade em
debate”, Radio Barigui, em 16/04/2016, Curitiba, Brasil.
3 Entrevista realizada em 23/09/2015, São Paulo.
24
que fale que não é feminista. Então, a gente fala até nesses encontros:
‘lugar de mulher é...? Onde ela quiser!’ E a gente tem que repetir. Aí
a gente pergunta: ‘quem aqui é feminista?’. Aí sempre tem mulheres
de um nível de conhecimento bom que dizem ‘eu não sou, porque
essa coisa de machismo é horrorosa e feminismo também’. Espera
um pouquinho. ‘O contrário de machismo é feminismo, feminista
defende os direitos das mulheres, você não defende os direitos das
mulheres? Então você é feminista! Por que você está com medo de
falar que você é feminista?’” Ainda que defenda valores de feminismo,
como a igualdade de oportunidades e de diálogo, a paraguaia Sofía
Scheid4 se encaixa no comentário de Nancy, pois não se vê como
feminista: “As feministas têm uma posição radical e com isso acabam
gerando antipatia e se fechando ao diálogo”, acredita e recomenda que
é preciso saber negociar.
Falando em radicalismo, ainda naquele evento na área de
consultoria política, um venezuelano me perguntou diretamente se
eu era casada, pois o fato de supostamente “não ter” um homem
seria a única explicação para eu estudar papéis de gênero e que, se
eu tivesse um marido, seria mais “compreensiva”. Como o assunto
foi abordado na minha palestra a partir de piadas sexistas, ele ficou
muito impressionado que para mim aquilo não me provocava risadas,
especialmente quando as mulheres eram acusadas pelos problemas
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
masculinos, ou eram vistas com desprezo, como se todas fossem
fúteis. “Muitas vezes, as mulheres se sentem obrigadas a rir de piadas
ou comentários machistas, porque se não fazem isso, dão a impressão
de ser formais ou mal-humoradas. Mas a cada vez que repetem essa
atitude, se tornam cúmplices e ratificam os estereótipos do machismo”
(CASTAÑEDA, 2013, p. 131). A associação direta entre o valor de
uma mulher e seu status civil é outra das armadilhas onde as mulheres
são julgadas na política e fora dela.
Ouvi depoimentos semelhantes em vários países, tanto dos
profissionais da comunicação das campanhas, quanto das mulheres que

4 Entrevista realizada em 14/07/2016, Lima, Peru.


25
exerciam cargos eletivos. Em Porto Rico, por exemplo, a consultora
Wanda Nazario5 relata que uma das suas assessoradas era amplamente
julgada pelo fato de ser divorciada. “Diziam que ela não estava preparada
para governar, pois questionavam o que ela teria feito de errado para
acabar se separando. E esse tipo de crítica um homem não sofre”. E
aqui no Brasil, a prefeita de Natal, Wilma de Faria6, que foi esposa
de um governador, comenta que precisou coragem para se separar
e enfrentar as pressões de ser uma pessoa pública. Especialmente,
“os eleitores da classe média passaram um tempo comentando isso.
Alguns contra, outros a favor. As mulheres todas muito mais a favor,
embora nem todas fossem a favor. Na verdade, as mulheres não são
tão amigas como os homens, e às vezes elas condenam. Mas gostariam
de ter a coragem que eu tive, muitas delas”. A também brasileira,
vereadora paulista Ângela Duarte observa que “às vezes influencia
assim dessa forma da pessoa achar que o fato de você ter sido casada,
estar separada e ser uma mulher independente, você é uma mulher
volúvel, uma mulher que está à disposição e que vai usar isso como um
método de angariar votos”7. No México, a prefeita Anabel Balbuena8
já foi julgada por ser solteira. “Tenho 35 anos, sou solteira, não tenho
filhos e meu noivado acabou devido à pressão política. Ele não suportou
meus horários e as fofocas. Ser solteira já foi comentado como se eu
tivesse algum problema”, desabafa. Situação similar vivem as peruanas,
pois de acordo com o consultor Oswaldo Carpio9 lá falam: “se não é
mãe, é solteira, como vai saber governar? É um machismo duro que
faz insinuações, inclusive se é lésbica provocando mais resistência
ainda”. Essas sociedades tradicionais misturam capacidade intelectual,
gerencial, com opção sexual, seguindo um discurso moralista que
tenta denegrir qualquer forma de distribuição de poder e fomentando
a desinformação. Apenas neste parágrafo citei quatro países latinos

5 Entrevista realizada online em 01/07/2016.


Luciana Panke

6 Entrevista realizada online em 19/08/2015.


7 Entrevista concedida a Tayra Aleixo em 01/09/2015.
8 Entrevista realizada em 09/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
9 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.
26
que vivem situações bastante semelhantes de julgar a mulher por suas
escolhas privadas, sem levar em consideração o que mais importa:
capacidade de gestão e administração pública. Para a consultora
mexicana Gisela Rubach10, o maior desafio de uma campanha de mulher
é justamente mostrar sua capacidade. “É como se ela se candidatasse
porque é amiga, amante, namorada de alguém. Nunca por seu talento”.
De que estou falando? Falo que vivemos em sociedades onde
a dominação de um sexo sobre o outro não somente é vista como
normal, como também a única opção de organização. Além disso,
determinados comportamentos são vistos como aceitáveis ou não
de acordo com o sexo biológico. Por exemplo, são desejáveis no
homem a força, a agressividade e a iniciativa. São apreciadas na mulher
a doçura, a resignação e a submissão. Como canta Milton Nascimento,
em “Maria Maria é o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta
de uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta”.
Aqui se encontram temas fundamentais para o entendimento
desse mundo: o patriarcado, o machismo, a misoginia e o feminismo.
Até mesmo muitas mulheres são reprodutoras de discursos
discriminatórios sem perceber que assim estão fortalecendo uma
crença que pode prejudicar a elas mesmas. As frases da cultura
machista ilustram o que algumas mulheres acabam repetindo:

Frases machistas vindas de mulheres Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

Não posso viver sem ele.


Como ela quer ser respeitada se se veste assim?
A maternidade é essencial para uma mulher.
Tem que se fazer de “difícil”.
Certeza que dormiu com o chefe para ser promovida.
Se veste masculina, deve ser lésbica. (Como se
opção sexual fosse um problema)
É uma “puta”. (Por viver livremente sua sexualidade)
Mulheres não falam palavrão.

10 Entrevista realizada em 11/06/2016, Buenos Aires, Argentina.


27
Ela está precisando de um homem.
Vai casar e não sabe fritar um ovo. Como vai
“cuidar do marido” se não sabe passar uma roupa?
Ela está solteira, coitadinha, qual será o problema dela?
Uma mulher só é completa se se casa e tem filhos.
É melhor chamar um homem para ajudar você
com isso. (geralmente em relação a trabalhos manuais)
O que ela fez para ele ter largado ela?
Na hora de abortar é fácil, por que não pensou
quando abriu as pernas?

Essas ideias correm livremente nas conversas do cotidiano,


difundindo e enraizando cada vez mais o que é permitido ou não
para mulheres e homens. Creio que será interessante começar pela
misoginia, cuja história pode ajudar a compreender estes esquemas
mentais a que estamos submetidos há milênios.
A misoginia é a rejeição da feminilidade. É acreditar que as
mulheres são inferiores, argumentando isso das mais variadas formas.
No livro Una breve historia de la misoginia (2010) Jack Holland afirma
que “ao contrário do racismo, muita gente não vê a misoginia como
preconceito, se não como algo quase inevitável” (HOLLAND, 2010,
p. 217). Este comportamento de rejeição ao feminino está presente
desde a antiguidade. Mesmo que seja muito difícil indicar o início
do preconceito contra a mulher, o autor considera que o mito da
queda do homem por culpa de Eva e também na tradição grega o
mito de Pandora (escrito no século VIII a.C. por Hesíodo) podem ser
considerados como base para o pensamento atual. “Os mitos justificam
também as coisas como são – tanto no natural como no social – e
fundamentalmente crenças, rituais e papéis” (HOLLAND, 2010, p. 28).
Mesmo que Platão seja considerado um dos primeiros
feministas porque “em A República tenha defendido que as mulheres
recebessem a mesma educação dos homens” (HOLLAND, 2010,
Luciana Panke

p. 38), seu discípulo Aristóteles é considerado um dos primeiros


misóginos por tentar explicar cientificamente a suposta inferioridade

28
feminina. De acordo com ele, a fêmea seria fêmea por ser um macho
mutilado. “Uma campanha contra uma mulher sempre terá conotação
sexual ideológica”, acredita o peruano Oswaldo Carpio11. Nesse
ponto, encontramos conexão com discursos contemporâneos de que
as mulheres seriam “histéricas”. A origem da palavra está justamente
no grego “hyaterá”, que significa matriz e está relacionada com
útero. Os gregos diziam que as mulheres com problemas de útero
eram histéricas. Por muito tempo, o tratamento médico consistia em
massagear as damas para que chegassem a um orgasmo.
No século XX, Freud também relacionava comportamentos
contestatórios femininos com uma suposta inveja do pênis. Bom,
o que vemos é uma relação direta entre a sexualidade feminina e a
insubmissão. A consultora brasileira Gil Castillo12 comenta que “nas
pesquisas eleitorais sempre aparecem comentários questionando a
atitude moral da mulher, essa questão sexista mesmo. Quando você
fala do homem, o ponto negativo é a corrupção, nunca está ligado
à questão sexual. Já para a mulher não, quando você apura alguma
objeção contra candidaturas de mulheres, [é que] ela moralmente não
presta ou o marido tem amante, sempre está relacionado à questão
sexual”.
O poder relacionado com a dominação sexual está na base
de muitos comportamentos políticos. Para a pesquisadora chilena
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Montoner, apesar das controvérsias sobre quais sociedades pré-
-históricas praticavam o matriarcado, é no momento que a monogamia
vira regra que surge a mudança de status para o poder masculino.
“Em uma sociedade de matrimônios por grupos ou poligamia, as
mulheres eram autoridade sobre seus descendentes reunidos em
tribos independentes e, portanto, prevalecia o ‘direito materno’ já
que os filhos não tinham um pai certo e a única coisa que se poderia
determinar, sem dúvidas, era a mãe. Elas exerciam o poder político,
econômico e religioso especialmente nas culturas mais agrícolas”

11 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.


12 Entrevista realizada online em 20/07/2014.
29
(MONTONER, 2006, p. 18). Não se tem uma data certa para a
instauração da monogomia, mas ela foi uma necessidade dos homens
para saber quem eram seus filhos e, com isso, acabou submetendo a
mulher, permitindo a poligamia somente para os homens, como ainda
ocorre em algumas regiões do planeta.
A tradição ocidental, fortemente influenciada pelos gregos,
sente, até hoje, as consequências do seu pensamento. Aristóteles
colocava a questão das mulheres no mesmo patamar de discussão sobre
os escravos. A diferença era que os escravos não teriam capacidade de
decisão e as mulheres, ainda que a tivessem, careciam de autoridade.
Para o filósofo, a obediência é natural nas mulheres. Ambos, mulheres
e escravos, compartilhariam a mesma característica: “sua inferioridade
em relação a quem manda neles – o amo no caso dos escravos e o
marido no caso da mulher – é permanente e imutável” (HOLLAND,
2010, p. 42).
Nesse momento, vemos muito do que significa da relação
entre homens e mulheres até hoje, pois em vários países a mulher
precisa obedecer ao homem, tanto no espaço público, como no
privado. Essa noção, de acordo com Montaner (2006) surge ainda na
pré-história, como consequência do enfraquecimento do matriarcado.
“A submissão ao homem e a opressão da mulher se reforçou com
a divisão do trabalho, quando os homens começaram a cuidar das
tarefas mais importantes, relacionadas com a sobrevivência, e as
mulheres ficaram com as atividades domésticas. Aqui se faz a divisão
entre espaço público, onde se fazem as coisas materiais importantes
para a sobrevivência, e espaço privado, do lar, onde se fazem as tarefas
de manutenção da família, invisíveis e desvalorizadas” (MONTANER,
2006, p. 18-19). Aqui, tomamos a definição de espaço público como
o mundo onde atuam os cidadãos, onde são tomadas as decisões que
influenciam o bem comum. E o conceito de espaço privado como: “a)
o pertinente à propriedade privada em uma economia de mercado;
Luciana Panke

e b) pertinente à vida doméstica íntima ou privada, que inclui a vida


sexual” (FRASER, 1997, citada por COLOTTA, 2013, p. 45).

30
Outra coincidência entre a antiguidade e os nossos dias é que
as mulheres que se aproximavam do poder político “são definidas por
sua relação com os homens, como filhas, irmãs, amantes, esposas e
mães” (HOLLAND, 2010, p. 46). Até hoje, várias mulheres sentem
a necessidade de ter uma referência masculina ou um “padrinho”
para apresentá-las e fazerem se sentir valorizadas. Outras, por sua
vez, sentem preconceito justamente por essas relações, como se
diminuíssem sua capacidade. “Se pode observar também uma permuta
entre os temas levantados na inter-relação entre as esferas de ação de
homens e de mulheres na tendência cultural generalizada de definir os
homens de acordo com seu status e função social (guerreiro, caçador,
estadista, idoso e várias outras similares), que pouco tem a ver com sua
relação com as mulheres. Por outro lado, as mulheres tendem, quase
inteiramente, ser definidas por relações que tipicamente são definidas
por parentesco (esposa, mãe, irmã), se se examina detalhadamente,
se verá que são relações estabelecidas com homens” (ORTNER;
WHITEHEAD citadas por LAMAS, 2013, p. 141). Como veremos logo
em seguida, várias mulheres entram na política justamente por serem
esposas, filhas, irmãs de políticos. É importante frisar que as relações
de parentesco não devem depreciar a mulher que entrar na política
por este caminho, pois seria repetir preconceitos. Independentemente
da maneira como entra na vida pública, qualquer pessoa permanece a
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
partir do que desenvolver em suas funções.
Portanto, ao avaliar essa relação com os homens, encontramos
dois lados da moeda da contemporaneidade que podem ajudar a
reproduzir o machismo. Por um lado, mulheres eleitas com o apoio de
um homem. Por outro, mulheres que têm sua capacidade questionada
quando chegam ao poder, como se precisassem ser amantes de um
homem poderoso para estar onde estão. É quando também ser bonita
acaba sendo prejudicial às mulheres. “Homens e mulheres igualmente
tendem a pensar que uma mulher muito bonita deve seu cargo a seu
físico, ainda mais se ocupa uma posição importante: com certeza
seduziu ou mantém relações sexuais com um homem que a tenha
apoiado” (CASTAÑEDA, 2013, p. 291). Isso se ouve, inclusive, vindo
31
de outras mulheres. A vereadora de Santo André, no ABC paulista,
Elian Santana13 conta que “teve uma vez uma senhora que chegou e
falou assim: ‘eu não vou votar em você, não, porque você é muito
bonita. Meu marido vai ficar olhando pra você’”. Ou mesmo entre
mulheres políticas aparece essa crítica: “eu acho que tem muita mulher
que entra e ela não tem noção da política, então ela é bonitinha,
tem mulher bonita pra caramba aqui, só que só tem beleza, os caras
votam pela beleza, mas quando abre a boca é uma tristeza”, opinou a
vereadora de Artur Nogueira, também em São Paulo, Maria José Pereira
do Amaral Hunglaub, conhecida como Zezé da Saúde14. O julgamento
da imprensa, de outras mulheres e de homens em relação à estética
feminina pode ser cruel e exige muita segurança para ser enfrentado.
A ex-governadora do Pará, Ana Carepa, é uma das entrevistadas
que sentiu na pele o peso do preconceito. “Além de que ela era
solteira, bonitona, toda sorridente. Isso foi preponderante pra falarem
coisas horrorosas dela. Criavam factoides horrorosos e cotidianos
envolvendo cabeleireiro, namorado, bebida e várias outras coisas que
construíssem a narrativa de que ela não tinha condições de estar ali.
Todos sempre pegando em questões tipicamente femininas. Ela teve
que ser muito forte. E muitas mulheres ajudavam nessa construção”,
conta a jornalista Waleiska Fernandes, que a assessorou15.
Também há a questão de se dizer que mulher não vota em
mulher por ser mulher. Na verdade, não há como comprovar a escolha
do voto exclusivamente por questão de gênero, mas tanto para participar
como candidata ou para votar, o que faltaria é um trabalho de afirmação
das lideranças femininas, de empoderamento. A vereadora Cremilda
Pereira16 exemplifica: “eu vejo como que é como falta de conscientização
da mulher, porque a mulher é muito guerreira. A gente faz encontro
com as mulheres domingo de manhã e você vê mulher com bebezinho,
Luciana Panke

13 Entrevista realizada em 25/08/2015.


14 Entrevista realizada por Tayra Aleixo em 27/08/2015.
15 Entrevista realizada online em 09/09/2016.
16 Entrevista realizada por Tayra Aleixo em 08/09/2015.
32
amamentando, vai no banheiro trocar fralda, fica ali até 15 horas. Ela é
agente política, porém ela não tem essa consciência, né?”.
Voltando às origens do pensamento latino, as mulheres
romanas começaram uma tradição de protestos de rua, brigavam por
seus direitos e pelas decisões de seus homens. Por isso, também foram
consideradas “animais violentos e sem controle”. Holland (2010) nos
lembra que pela primeira vez se discutiu o problema dos direitos
femininos e a possibilidade de elas participarem das decisões. Depois
começou uma punição a elas: “as mulheres romanas podiam ser
médicas, ter lojas, advogar e até combater na arena, mas não podiam
tomar uma posição política explícita” (HOLLAND, 2010, p. 65). Em
42 a.C. foi realizada a última passeata das mulheres neste período. O
ativismo público feminino só ocorreu mais uma vez no século XIX
“quando o movimento sufragista estimulou a exigência do voto nas
campanhas por direitos femininos” (HOLLAND, 2010, p. 56).
Na história da igreja cristã, também se encontram várias
passagens que indicam misoginia. Além da história narrada em Gênesis
de que a mulher seria a responsável pela desgraça de toda a humanidade
devido ao mito de Eva, outras ideias se destacam. Entre elas estão a
repressão sexual, o fato de a mulher necessitar se assexuada (Virgem
Maria) e de que não poderia ser sacerdotisa, pois, nas palavras de Santo
Tomás de Aquino, seria necessária “a essência masculina superior”,
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
pois “Adão foi seduzido por Eva, não ela por ele” (HOLLAND, 2010,
p. 97). Santo Tomás, no século XIII, dizia que se dava às mulheres
o papel de “ajudante do homem”, situação que vemos até hoje na
política, onde as mulheres compõem a base de vários partidos, mas
não estão na tomada de decisões. Já Montoner (2006) ressalta que a
igreja não seguiu o ensinado por Jesus Cristo, que pregava a igualdade
e valorizava a presença feminina.
Entretanto, não é possível esquecer que a Igreja realizou caça
às bruxas, quando ser mulher implicava ser a grande suspeita por
crimes como dançar, usar ervas para curas e ter ideias próprias. Além
desses momentos históricos, o medo de que as mulheres ficassem
independentes é predominante na história da humanidade. “As
33
mulheres fazem mal ao se queixarem de desigualdade das leis feitas
pelo homem; esta desigualdade não é fato dos homens, ou em todo
caso, não é resultado de um simples preconceito, mas de racionalidade”
(ROUSSEAU citado por HOLLAND, 2010, p. 137). Para Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), que é outro misógino famoso, as mulheres não
deveriam participar da política, pensamento que segue até hoje em
vários eleitores.
Assim também aparecem as “primeiras-damas” não como
protagonistas, mas como, se muito, apoiadoras dos esposos que
estão em cargos públicos. Lipovetsky (2012), que estudou também
a presença feminina na sociedade, se refere ao não protagonismo
como “a primeira mulher ou a mulher desvalorizada [...] Exaltação
da superioridade viril, exclusão das mulheres das esferas de prestígio,
inferiorização da mulher, relação do segundo sexo com o mal e a
desordem” (LIPOVETSKY, 2012, p. 214).
Para vencer as questões especialmente de invisibilidade e de falta
de igualdade de oportunidades, surge o feminismo, que, com o passar do
tempo, recebeu uma conotação negativa, pois é visto como o oposto do
machismo, ou seja, um movimento social que defenderia a dominação
da mulher sobre o homem. Além de ser uma falácia, é uma maneira,
justamente, de desvalorizar o esforço de mulheres e homens que tentam
construir uma sociedade com oportunidades e direitos iguais a todos e
a todas. “E isso leva muitas mulheres a dizerem: ‘não sou feminista. As
feministas são velhas peludas, com bigode’. Tudo que já temos ouvido de
várias formas, né?” (LAMAS, 2014). Há várias correntes teóricas sobre
o tema: o feminismo da igualdade, o feminismo da diferença, marxista,
socialista e liberal – as três também conhecidas como teorias feministas da
modernidade. Com as reflexões teóricas, “constatou-se que o papel das
mulheres nos processos sociais é mais importante do que se reconhece
ideologicamente. Além disso, detectaram-se as estruturas que facilitam ou
freiam as tentativas das mulheres na mudança do seu status na sociedade”
Luciana Panke

(LAMAS, 2013, p. 105). A questão central aqui não é fazer um levantamento


histórico das teorias, mas enfatizar que um dos desafios do feminismo é
defender o reconhecimento da mulher como um ser humano capaz de
34
atuar na sociedade, independentemente da área desejada, que merece
respeito e valorização. “Corremos o perigo, portanto, de recorrer, para
conceber a dominação masculina, a modos de pensamento que já são
produto da dominação” (BOURDIEU, 2000, p. 17).
Por sua vez, o machismo é uma relação social na qual os
homens determinam a forma de ser, de sentir e de atuar, partindo
da ideia de que as mulheres são inferiores. O machismo “expressa
uma relação baseada no manejo do poder que aponta desigualdades
reais nos âmbitos social, econômico e político” (CASTEÑEDA, 2013,
p. 29). O machismo depende da visão do que significa ser homem e
ser mulher. Esses estereótipos se encontram, na maioria das vezes,
hermeticamente posicionados. Justifica-se a superioridade masculina
pela força, por questões biológicas e por herança cultural. “O que
acontece é que o mundo está feito para os homens e são eles que
determinam o ‘papel da mulher’. A mulher não tem voz, tem pouca
oportunidade. Temos um sistema de estado que é feito por homens,
para homens, e são eles que dominam”, sintetiza a consultora Ángela
Martín17. A deputada brasileira Luciane Carminatti18 complementa: “se
a gente pegar hoje, não é só na política. No poder judiciário, no poder
legislativo, judiciário, executivo, se a gente olhar, é igual. As mulheres
estão em poucas funções ou em número menor nos poderes como
um todo”.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Esses pontos de vista estão presentes com muita frequência
nos depoimentos colhidos para o livro. As diferenças biológicas serviam
como base para argumentar a favor ou contra mulheres em campanhas
eleitorais. “No Peru, a democracia recebe uma visão pejorativa e toda
mulher que participa da política rapidamente a acusam de ser lésbica ou
de não ter filhos, ou de não ter experiência com governo. Os comentários
são completamente machistas”, revela o consultor Oswaldo Carpio19.

17 Entrevista realizada em 10/06/2016, Buenos Aires, Argentina.


18 Entrevista realizada online em 10/09/2015.
19 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.
35
Como afirma Castañeda, machismo e desigualdade
caminham juntos. “O machismo visto como um conjunto de valores
e crenças, emana da desigualdade entre os sexos e a alimenta, ao
‘explicar’ por que os homens devem ter o comando e por que
são ‘naturalmente’ superiores em quase todas as áreas importantes
da atividade humana. Resumindo: o machismo é a justificativa do
domínio masculino” (CASTAÑEDA, 2013, p. 337). Essa forma de
dominação acaba reprimindo e inibindo a participação da mulher
na política, pois apresenta maneiras sutis (e, às vezes, explícitas)
de denegrir o potencial feminino, como piadas, risos, gritos,
silenciamento e indiferença. “O tempo todo é enfrentamento. O
tempo todo. Porque, querendo ou não, é aquilo que nós estávamos
comentando aqui: é cultural o machismo. E quando você assume
essa presença de câmara, de parlamento, e vai, fala, enfrenta
algumas vezes o deboche, outras vezes eles ficam bravos. Se na
história os homens sempre estiveram exercendo esse papel e nós
chegamos depois, então evidentemente que a gente teve que dar
muitas cotoveladas, no bom sentido, pra poder ocupar esse espaço.
E esse espaço não foi conquistado de forma tranquila e fácil. Veio
da luta”, compartilha a vereadora de Santo André, Bete Siraque20.
Outros exemplos são comentários como os que a deputada
federal brasileira Christiane Yared21 escutou logo nos primeiros
dias de trabalho na Câmara e que revelam discursos agressivos de
intimidação. “Eu estava no plenário e um deputado que eu nem
conhecia me parabenizou pela eleição, com a seguinte frase de
fechamento ‘Mas lugar de mulher é na cozinha, a senhora sabe,
não é?’, eu disse ‘É, lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na
cozinha se ela quiser’”. Para a prefeita de Natal, Wilma Farias22, não
foi muito diferente: “eu fui a primeira prefeita eleita da capital, fui a
primeira deputada federal do Rio Grande do Norte, fui a primeira
Luciana Panke

20 Entrevista realizada em 25/08/2015, Santo André, Brasil.


21 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Brasil.
22 Entrevista realizada online em 19/08/2015.
36
governadora do estado do Rio Grande do Norte. Então, eu fui a
primeira exatamente nesses cargos a que só os homens tinham acesso
e tinham direito. Inclusive, eu tive alguns problemas de discriminação.
Na rua, às vezes as pessoas diziam ‘mulher! mulher não pode ser
candidata e não sei o quê’. Mas, aí, isso tudo mudou. Depois que eu
entrei na política eu também consegui que as mulheres passassem
também a participar”.
O patriarcado é outra maneira de explicar esta dominação,
sob o ponto de vista das questões econômicas. De acordo com Weber
(1964), na sociologia da submissão, o patriarcado é o domínio do
“senhor” sobre suas mulheres e outras pessoas consideradas inferiores.
“Na dominação burocrática é a norma estabelecida e que cria a
legitimidade do que manda para dar ordens concretas. Na patriarcal é
a submissão pessoal ao senhor que garante a legitimidade das normas
que ele dá” (WEBER, 1964, p. 753). A estrutura que conhecemos está
organizada de modo que nas casas, nas igrejas, nas escolas e nos meios
de comunicação vejamos a reprodução da dominação entre sexos e
classes sociais. “Nas sociedades patriarcais, são relações de poder que
se estabelecem desfavorecendo as mulheres. Sexo e política estão, pois,
intimamente ligados” (GARRETAS, 1995, p. 14). Para a deputada federal
brasileira Jandira Feghali23, “há um grau de intolerância e fascismo no
trato com as mulheres, o movimento LGBT, os direitos humanos”.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Além do machismo, detecta-se nas sociedades a misoginia,
que manifesta uma profunda frustração e rancor de homens contra
as mulheres. Numa visão contemporânea, a psicóloga mexicana Lucy
Serrano afirma que o misógino é diferente do machista porque “o
misógino quer uma mulher bonita, talentosa, inteligente porque isso o
faz brilhar mais”24. E, com esse objetivo, manifesta três personalidades:
o príncipe, o bruto e o menino magoado. Ou seja, primeiro age
como um conquistador, depois começa a desmerecer a mulher para,
finalmente, agir como um menino magoado quando a mulher tenta

23 Entrevista para a revista Cult, n. 210.


24 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0WlOXJlo0_k>.
37
sair da relação. Esse jogo se dirige ao que, em essência, se refere esse
estudo: o poder. Como afirma Foucault, “as relações de poder são
relações de força, enfrentamentos, portanto, são sempre reversíveis”
(FOUCAULT, 2013, p. 77). Com este ponto de vista de possibilidade
de reversão, o medo de perder o poder é uma das motivações mais
evidentes nesse esquema de dominação masculina. É necessário, assim,
considerar as questões de gênero para entender melhor a relação
entre homens e mulheres. “Pela ambivalência natural e por outros
fenômenos, é muito importante considerar que toda relação humana,
todo contrato social implica a alta possibilidade de sua transformação
em uma relação de poder” (ARAICO, 1988, p. 36).
Nessas relações de poder, Lagarde (2006) defende que o
universo feminino se constrói justamente na relação de codependência
que estabelece com o Outro. Isso significa que “o impulso que move
a existência e que dá sentido à vida das mulheres é a realização da
dependência: estabelecer vínculos com os outros, conseguir seu
reconhecimento e gerar simbioses” (LAGARDE, 2006, p. 17). Esse
impulso está diretamente conectado com o que apresento no capítulo
3, no qual se destaca o lado cuidador na tipologia “maternal”. Vários
depoimentos das mulheres políticas também convergem para esse
aspecto do cuidar do outro para justificar a presença na política. “Entrei
na política porque eu fazia projetos sociais e de repente comecei a
conhecer outra realidade. Cada casa que eu entrava, cada situação que
eu via, me chocava”, fala a vereadora Anice Nagib25.

QUESTÕES DE GÊNERO

O conceito de gênero está relacionado com vários aspectos


(biológico, psicológico, cultural, social e político) e não se restringe ao
sistema binário feminino/masculino. Há diversas perspectivas sobre o que
seria gênero. Aqui, consideramos que gênero é composto por símbolos
Luciana Panke

e estereótipos que determinam o que é aceito ou não em determinados

25 Entrevista realizada pelo jornalista Ismael Filadelfi em 07/08/2014.


38
comportamentos. “[...] Gênero é uma construção simbólica, estabelecida
sobre dados biológicos de diferença sexual” (LAMAS, 2013, p. 12)
De acordo com Llombart (2007, p. 65-66), gênero implica
quatro elementos inter-relacionados:
1) Símbolos: culturalmente disponíveis, que evocam
representações múltiplas e, muitas vezes, contraditórias;
2) Conceitos normativos: manifestam as interpretações dos
significados dos símbolos, que contêm suas possibilidades
metafóricas e que se expressam em doutrinas religiosas,
educativas, legais e políticas, onde se afirmam, categoricamente,
os significados de homem/mulher; masculino/feminino;
3) Instituições e organizações sociais: implica não restringir
gênero à família, se não, ter em conta sua presença em
outros espaços, como mercado de trabalho, educação e
política;
4) Identidade subjetiva: comporta pesquisar as maneiras com
que se constroem essencialmente as identidades genéricas,
relacioná-las com atividades, organizações sociais e
representações culturais historicamente específicas.
Os quatro elementos então funcionam em conjunto na
sociedade, tendo como uma das consequências que comportamentos
questionáveis sejam tomados como normais. Por exemplo, quando se
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
trata de normas de vestimenta, de conduta, de atividades profissionais
que podem ser vistas como pertencentes a determinado gênero e,
claro, da dominação de um sexo diante do outro. “Como qualquer
modificação na feminilidade implica mudanças na masculinidade
(profissional, econômica, reprodutiva, erótica, etc.) existe uma
enorme resistência a essas mudanças, e uma grande quantidade de
energia social e cultural de homens e mulheres destinada a reproduzir
as relações de poder às quais as mulheres estão subordinadas”
(LAGARDE, 2006, p. 157). A pesquisadora Daniela Cerva26 observa
que, neste sentido, os meios de comunicação acabam reproduzindo

26 Palestra proferida na UAM-Cuajimalpa, maio/2014.


39
um estranhamento quando uma mulher ingressa em cargos públicos,
destacando estereótipos e não a atuação desta profissional: “Em geral,
encontramos uma percepção de intromissão da mulher na política, de
recém-chegada, insistindo em relacioná-la com funções reprodutivas e
estereotipadas”.
Lagarde (2006) destaca o comportamento subalterno
destinado a mulheres nas sociedades latinas. Em sua pesquisa, propõe
categorias para ilustrar as múltiplas identidades femininas denominadas
por ela de “cativeiros”. Lagarde expõe cinco estereótipos das mulheres
na sociedade: mães-esposas, freiras, putas, presas e loucas. Esses são
os papéis que estariam relacionados com a inserção da mulher na
sociedade e uma consequência da falta do protagonismo delas. “A
singularidade do gênero consiste que as características socialmente
atribuídas entre um homem e uma mulher, são estranhamente
constantes e similares ao longo da história, em distintas culturas, em
sociedades distantes entre si” (SERRET, 2011, p. 93).
As cinco categorias propostas pela autora indicam alguma
maneira de submissão ou dedicação ao Outro. A mãe-esposa é a mulher
totalmente dedicada à família, a que estaria presa a esse papel. A freira,
por sua vez, está presa ao tabu da sexualidade, mas segue a serviço dos
outros; as presas estão atadas “ao mal”, possivelmente por burlarem
as regras, e as loucas são as que estão coladas à sua loucura genérica
(LAGARDE, 2006, p. 174). “Aquelas que por vontade ou por compulsão
não cumprem com o papel ideal feminino são discriminadas politicamente
e confinadas à categoria de loucas” (LAGARDE, 2006, p. 21).
A indicação de comportamentos aceitáveis ou não, de acordo
com o sexo, estabelecendo papéis muitas vezes distantes da natureza
individual, gera frustração, preconceito e dificulta que os seres humanos
se desenvolvam nas atividades que gostariam. “A cultura marca os seres
humanos com o gênero e o gênero marca a percepção de todo o resto:
o social, o político, o religioso, o cotidiano. A lógica de gênero é uma
Luciana Panke

lógica de poder, de dominação” (LAMAS, 2013, p. 344). Essa lógica na


América Latina está relacionada com séculos de história de dominação
masculina, em especial nos espaços públicos e nos de decisão. Das
40
entrevistadas, menos de 10% falaram nunca ter sentido nenhum tipo
de preconceito na atuação política. A paraense Ana Carepa27 sente que
“Mulher de Esquerda Solteira tem o preconceito multiplicado por mil”,
outras na mesma situação, como a curitibana Xênia Mello e a mexicana
Anabel Balbuena, se identificaram. Ainda que pertença a um partido
conservador, a deputada paranaense Maria Victoria também sente
isso. Mesmo sem ser solteira, Mirian Gonçalves28 também: “Curitiba
não tem o problema de ter uma prefeita, Curitiba tem o problema
de ter um prefeito ou uma prefeita de esquerda. Primeira mulher; de
esquerda, numa prefeitura conservadora, numa coligação extremamente
conservadora; na terra da ‘Lava Jato’, precisa ser mais difícil?” Ela, aliás,
que não tem filhos, diz que não dá margem para essas cobranças que já
tentaram lhe fazer. A vereadora de Santo André, Bete Siraque29, ainda
que seja de esquerda e casada com político – talvez até por isso, vive
a mesma situação: “é difícil você enfrentar esse universo, essa barreira,
porque tudo é organizado para esse mundo. E quando você assume
romper com esse paradigma, com esse modelo, e sai candidata, você
tem que enfrentar muitas coisas. Você tem que enfrentar a credibilidade
das pessoas em relação a você, enfrentar a ruptura e o machismo, ou
seja, você lida em todos os lugares com o machismo”.
Para fortalecer essa maneira de vivenciar o mundo, há vários
mecanismos para reforçar as regras. Os discursos de normalização
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
das regras estão por todas as partes: escolas, famílias, imprensa,
entretenimento, igrejas, piadas. Nos países latinos, ainda que haja
diferenças conforme cada cultura, o patriarcado predomina. “A
dominação do homem sobre a mulher não implica apenas que um
indivíduo do sexo masculino imponha sua vontade a um indivíduo do sexo
feminino. Implica também a supervalorização de certas características e
atitudes consideradas ‘masculinas’ em detrimento de características e
atitudes consideradas ‘femininas’” (CASTAÑEDA, 2013, p. 43).

27 Entrevista realizada online em 11/09/2016.


28 Entrevista realizada em 23/06/2016, Curitiba, Paraná, Brasil.
29 Entrevista realizada em 26/08/2015, Santo André, São Paulo, Brasil.
41
Com isso, tanto homens como mulheres muitas vezes
necessitam contrariar sua natureza para seguir as regras e conseguir
aceitação. É fundamental destacar que gênero, enquanto categoria política
e social, se diferencia do binarismo mulher/homem, feminino/masculino
para se posicionar como uma maneira de se relacionar com o mundo.
“O gênero é uma maneira primária de significar relações de poder”
(LLOMBART, 2007, p. 66). Assim, como já comentado anteriormente,
o que se discute quando se fala da presença das mulheres na política
partidária e nas mesas de decisão é que ao gênero masculino se concede
esse espaço, e aos outros resta tentar abrir caminhos para chegar lá.
Com esse desafio, as mulheres enfrentam muitos obstáculos,
relacionados com as leis, as faltas de financiamento de campanha e
o mais sutil: a violência simbólica. Bourdieu afirma ver sempre “a
dominação masculina e a maneira como ela se impôs e se sustentou,
o melhor exemplo daquela submissão paradoxal, consequência do que
chamo violência simbólica, violência amortecida, insensível, e invisível
para as próprias vítimas, que se exerce através de caminhos puramente
simbólicos da comunicação e do conhecimento ou, mais exatamente,
do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância,
do sentimento” (BOURDIEU, 2000, p. 11-12). “Uma das formas de
violência política que vivi aqui é ver deputados sem dar quórum para
projetos de mulheres”, revela a deputada Stela Farias30. A vice-prefeita
de Curitiba, Mirian Gonçalves31, observou que várias vezes, quando tinha
compromissos em conjunto com o prefeito, havia pessoas que achavam
que eram um casal. Para ela, “vamos combinar que eu acho desonroso
primeira dama, pode ser esposa, mas é usual primeira dama. Querendo ou
não é uma violência também, porque não cabe no imaginário das pessoas a
existência de um cargo de uma mulher como vice-prefeita, de uma mulher
no executivo”.
Mulheres e homens neste esquema de dominação, já
naturalizado na sociedade, muitas vezes não percebem quando são os
Luciana Panke

30 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


31 Entrevista realizada em 23/06/2016, Curitiba, Paraná, Brasil.
42
algozes ou quando são as vítimas. Por exemplo, a maioria das mulheres
entrevistadas se queixa da violência que sofrem antes e durante uma
campanha eleitoral e as que estão no poder comentam que precisam
enfrentar muitas barreiras para serem ouvidas ou serem levadas a
sério por seus pares. De uma forma ou de outra, as mulheres sentem
que necessitam se impor e relatam várias situações de violência. “Em
algum momento, alguém me ofereceu subir politicamente em troca
de ter uma relação com ele e também inventaram várias coisas sobre
mim” (ministra Janet Camilo – República Dominicana32). Este é um caso
explícito de assédio e de dominação por meio do sexo. Entretanto, há
outros exemplos.
A senadora mexicana Diva Gastélum33 mencionou que sofre
com violência simbólica política todos os dias e, muitas vezes, essa
violência é manifestada por outras mulheres. “Hoje mesmo vivi minha
dose de violência política e não vivi porque um homem provocou. O
que acontece é que muitas vezes eles usam as mulheres até para nos
desunir e poder avançar. A inteligência que nós mulheres devemos
ter consiste em não nos deixar manipular para bater em outra
mulher, porque no final das contas ninguém ganha”.
Além disso, há outras situações que manifestam a
discriminação, como ridicularizar a fala de uma mulher, situação vivida
por muitas e descrita pela ex-deputada boliviana, Marcela Revollo34:
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
“quando tua palavra não vale nada, estão dizendo qual é o teu lugar.
Quando você fala e eles fazem gestos de descaso, te dizem que este
não é o seu lugar. Os homens fazem essa forma de discriminação.
Eu sinto isso permanentemente e digo pra eles quando noto que o
ambiente está muito pesado: ‘Eu tenho um machistômetro’, e com
isso fico observando os gestos e expressões que estão fazendo”.
Ela comentou também até de assassinatos de mulheres políticas por
haverem denunciado a corrupção na Bolívia.

32 Entrevista concedida em 27/06/2014, México.


33 Entrevista concedida em 16/06/2014, Senado Federal, México.
34 Entrevista concedida em 26/08/2014, por videoconferência.
43
Entre as outras formas de violência estão: a insinuação de que
uma mulher está na política por causa de “favores” a um homem e
não por sua capacidade e, se fica nervosa, humilhá-la com comentários
de que estaria louca, histérica ou que lhe falta um homem, também
não convidá-la para reuniões e jantares onde se tomam decisões.
“Por sorte, meus companheiros me respeitam. Temos conseguido
avançar e conseguir mais respeito, mas tenho que te dizer que eles
ainda pensam que nós, mulheres, exclusivamente, temos que cumprir
o papel protocolar, de enfeite, não de decisão” (Denise Llaverias35,
República Dominicana). A senadora brasileira Gleisi Hoffmann36
compartilha que “quando você começa um debate mais acalorado
dentro do plenário, você sente risadinhas, ou então brincadeiras,
tentando desestabilizar. Dizendo: Não fique tão nervosa. Os homens
gritam. E quando a gente se altera um pouco ou faz um discurso mais
incisivo, eles gritam ‘não fique tão nervosa’, pra tentar desqualificar”.
Neste ambiente, majoritariamente masculino, é preciso ter força e
equilíbrio emocional para não cair nas armadilhas intencionais ou não
desmoralizar as mulheres na política. Vamos, então, ver as formas de
participação partidária das mulheres na política latino-americana.

A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA LATINO-AMERICANA

De acordo com o relatório publicado pela ONU Mulheres em


2014, havia, naquele momento, 9 chefes de estado e 15 chefes de governo,
ou seja, primeiras-ministras. Ruanda era o país do mundo com o maior
número de mulheres parlamentares (63,8%). Por outro lado, o documento
mostra que havia 37 estados onde as mulheres representavam menos de
10% do total. Nas Américas o número era de 22,8% e na Europa, 21,1%
(câmara de deputados e senados), o que representa um número pouco
superior à média mundial, que era de 21,8%.
Luciana Panke

35 Entrevista concedida em 27/06/2014, Senado Federal, México.


36 Entrevista concedida durante o programa de rádio “Comunidade em
debate”, Radio Barigui, em 16/04/2016, Curitiba, Brasil.
44
A ONG União Interparlamentar publicou dados que mostram
que dos 80 lugares no parlamento de Ruanda, 51 estão ocupados por
mulheres. Foi o primeiro país do mundo com esta grande presença,
mas é necessário lembrar que uma das razões para isto ter ocorrido
foi a guerra civil vivida no país nos anos 90. Na ocasião, mais de 800
mil pessoas morreram. O gráfico abaixo mostra a entrada das líderes
mundiais, a partir de 1960. É tão recente a participação protagonista
da mulher política que realmente estamos ainda trilhando os primeiros
passos para a naturalização desta presença.
FIGURA 1 – LÍDERES MUNDIAIS FEMININAS ELEITAS POR ANO
Total Cumulativo

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

FONTE: SAS com dados da CNN.

45
Em 2014, a América Latina vivia um momento inédito na
política. Foi quando, simultaneamente, quatro mulheres presidiam
seus países: Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – Brasil),
Cristina Kirchner (Frente para a Vitória – Argentina), Michelle
Bachelet (Partido Socialista – Chile) e Laura Chinchilla (Partido da
Libertação Nacional – Costa Rica). Naquele ano, duas mulheres
protagonizaram a campanha presidencial: Dilma e Marina Silva
(Partido Socialista Brasileiro), mas no fim das contas se repetiu a
história que começou há 20 anos – quem foi ao segundo turno com
Rousseff foi Aécio Neves (Partido da Social-democracia brasileira).
No Chile, duas mulheres disputaram o segundo turno nas eleições de
2013: Bachellet e Evelyn Matthei (União Democrática Independente).
Esses acontecimentos, somados às leis de cotas de gênero em vários
países, supõem aumentar o empoderamento das mulheres e estimular
reflexões sobre a participação feminina. Importante destacar que, no
momento em que escrevo a versão em português do livro, no Brasil,
acaba de ser votado o impeachment de Dilma Rousseff e terminaram
os mandatos de Cristina Kirchner e de Laura Chinchilla, que foram
substituídas por homens. Ressalto também, no caso do Brasil, que o
governo interino de Michel Temer (PMDB) tirou todas as mulheres
de cargos de comando.
Ainda que nos países latinos o voto das mulheres tenha
sido permitido desde o começo do século 20, os países esperaram
décadas para ter a primeira mulher presidenta e a maioria ainda nem
chegou a isso. No gráfico seguinte (Figura 2) vemos os países que
tiveram alguma mulher na presidência e o tempo que levou para que
isso ocorresse.
Luciana Panke

46
FIGURA 2 – AMÉRICA LATINA E CARIBE: CRONOLOGIA DO RECONHECIMENTO
DO SUFRÁGIO UNIVERSAL E O ACESSO DAS MULHERES À PRESIDÊNCIA
RECONHECIMENTO PRIMEIRA MULHER ANOS TRANSCORRIDOS
PAÍSES DO SUFRÁGIO ASSUME A ENTRE SUFRÁGIO E
FEMININO PRESIDÊNCIA PRESIDÊNCIA FEMININA

Bolívia (Est.
1952 1979 27
Plur. da)

Antilhas
1948 1977 29
Holandesas

Dominica 1951 1980 29

Nicarágua 1955 1990 35

Bahamas 1964 2005 41

Guiana 1953 1997 44

Panamá 1946 1999 53

Chile 1949 2006 57

Argentina 1947 2007 60

Costa Rica 1949 2010 61

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências


Jamaica 1944 2006 62

Brasil 1932 2010 78

FONTE: Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), sobre a base de infor-
mação do Observatório de Igualdade de Gênero da America Latina e Caribe, janeiro de 2013.
Tabela: elaboração própria.

47
Antes de falar sobre as leis de cotas, gostaria de comentar
o resultado de uma pesquisa realizada no México, onde se indica
que 38% dos entrevistados acreditam que não importa o gênero
(considerando a classificação dual homem/mulher) de quem seja
Presidente da República. É significativo constatar que 32% dos
entrevistados acreditem que seria melhor um homem presidente, o
dobro dos que acreditam que uma mulher seria melhor (16%). Os
números apontam que mesmo que a maioria acredite em igualdade
de condições nesta categoria, ainda temos um número considerável
de pessoas que julgam os homens superiores nesta função. Sem
dúvidas, se somássemos os que não responderam e os que não
souberam responder aos que pensam que uma mulher seria uma
gestora melhor, ainda assim não se alcançaria a porcentagem dos que
creem que um homem seria um melhor presidente. “A linguagem
contribui para normalizar essa percepção das coisas fazendo mais
visíveis os homens e fazendo menos evidente a presença das
mulheres no âmbito público. ‘É normal’, ‘previsível’ que o diretor
de uma empresa, o reitor de uma universidade ou o presidente de
um país seja um homem. O anormal ou inesperado é que fosse uma
mulher” (AZAÏZ, 2007, p. 32).
Nos dados que apresentamos a seguir, consideramos
somente a presença na Câmara dos Deputados, pois nem
todos os países possuem Senado Federal. De acordo com este
levantamento, na América Latina, a Bolívia é atualmente o país
com a maior participação, posicionando-se em segundo lugar
mundial. Depois estão Cuba, México e Equador, posições que
apontam a tendência dos governos de esquerda ou progressistas
a estimular a presença feminina neste espaço. O México subiu no
ranking a partir da paridade de 50% nas cadeiras, iniciada em 2015.
E vale destacar que a Venezuela está na 128ª. posição mundial,
com 14,4% de mulheres.
Luciana Panke

48
TABELA 1 – PRESENÇA DAS MULHERES NAS CÂMARAS DE DEPUTADOS DA
AMÉRICA LATINA

LUGAR NO
PAÍS POSIÇÕES MULHERES PORCENTAGEM
MUNDO

BOLÍVIA 2° 130 69 53,1%


CUBA 3° 612 299 48,9%
MÉXICO 7° 500 212 42,4%
EQUADOR 9° 137 57 41,6%
NICARÁGUA 11° 92 38 41,3%
ARGENTINA 28° 257 92 35,8%
COSTA RICA 32° 57 19 33,3%
EL SALVADOR 35° 84 27 32,1%
PERU 52° 130 36 27,7%
REP DOMINICANA 58° 190 51 26,8%
HONDURAS 65° 128 33 25,8%
COLÔMBIA 93° 166 33 19,9%
PANAMÁ 101° 71 13 18,3%
URUGUAI 117° 99 16 16,2%
CHILE 121° 120 19 15,8%
PARAGUAI 123° 80 12 15,0%
VENEZUELA 128° 167 24 14,4%
GUATEMALA 130° 158 22 13,9%
BRASIL 155° 513 51 9,9%
BELIZE 180° 32 1 3,1% Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
HAITI 187° 92 - 0,0%

Na grande parte dos países onde há lei de cotas por gênero,


estas significam uma média de 30% para cada sexo, o que automati-
camente é entendido como 30% para mulheres. Relacionando esse
número com a tabela, vemos que 13 países não chegam a 30% de
representação feminina. São alarmantes os números do Brasil e de
Belize, onde sequer se chega a 10%. Em Belize, destaco: há somente
uma mulher na câmara. E o novo levantamento mostra que não há
representação feminina no Haiti.

49
A respeito das eleições brasileiras em 2014, pesquisas
realizadas pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
apontam que “somando mais da metade da população brasileira
(51,04%), as mulheres seguem em minoria: de um total de 25.919
candidatos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, apenas
30,7% são mulheres”. Como resultado destas eleições, as mulheres
conquistaram somente 8,8% das vagas na Câmara de Deputados e
14,8% no Senado Federal.
Nos últimos 10 anos, a América Latina apresentou um
crescimento médio de 6,5% no número de vereadoras, de acordo
com a pesquisa realizada pela Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe (Cepal). Em média, os países têm 27% de mulheres
nas câmaras de vereadores. Ainda assim, de acordo com os dados
de 2014, quatro países ficaram com menos de 15%, conforme figura
abaixo.
FIGURA 3 – NÚMERO DE VEREADORAS NA AMÉRICA LATINA EM 2014
América Latina, Caribe e Península Ibérica (26 países): Vereadoras, último dado disponível (Em porcentagens)

FONTE: Cepal. Disponível em: <http://oig.cepal.org/pt/indicadores/poder-local-porcentagem-mu-


lheres-eleitas-camara-vereadores>. Acesso em: 12 set. 2016.

Os números de prefeitas eleitas também demonstram que a


dificuldade é ainda maior para chegar a este cargo. Neste aspecto,
Belize e Uruguai, que não se destacavam na câmara dos deputados,
Luciana Panke

aparecem como países com as porcentagens mais altas, juntamente


com Cuba.

50
FIGURA 4 – PREFEITAS ELEITAS NA AMÉRICA LATINA

América Latina, Caribe e Península Ibérica (29 países): Prefeitas, último dado disponível (Em porcentagens)

FONTE: Cepal. Disponível em: <http://oig.cepal.org/pt/indicadores/poder-local-porcentagem-pre-


feitas-eleitas>. Acesso em: 12 set. 2016.

Para empoderar as mulheres é necessário desenvolver


uma série de iniciativas que vão desde mudar a forma como o
gênero é ensinado nas escolas e nas famílias, fortalecer as mulheres
economicamente com capacitações profissionais, gerar treinamentos
para as interessadas em entrar na política, mudar leis das cotas
afirmativas (implantação nos países onde não existem e aumento da
porcentagem, determinando cotas para assumir o cargo), entre outras
políticas públicas. “Empoderar é fazer valer a cidadania. Porque a
cidadania não é plena pras mulheres. Se tem uma mulher que fala que Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
nunca sofreu discriminação, então ela ainda está sem a lupa, sem os
óculos. E, mesmo as que menos sofreram, porque todas sofrem, no
mínimo nós temos que ser solidárias com o que elas sofrem. Então,
não dá pra gente se calar mais. Nós estamos colhendo frutos de
mulheres que já lutaram por isso, e nós temos que pensar naquelas
que vêm”, defende a brasileira Nancy Thame37. A panamenha Candice
Williams associa os papéis atribuídos como obrigatórios às mulheres
(mãe e esposa) ao fato de não haver tanta participação em cargos
públicos: “As hipóteses que defendi num artigo foram: primeiro, que
nós, mulheres, não nos apoiamos entre nós mesmas, e isso é muito

37 Entrevista realizada em 23/09/2015, São Paulo.


51
grave. A segunda hipótese era que o teu companheiro também precisa
apoiar porque hoje em dia, ainda que não tenhamos filhos, que o
homem dê este apoio, e a terceira hipótese é a do relógio biológico.
Às vezes a mulher quer ser mãe e, ao mesmo tempo, não sabe como
será aceitar novos desafios e responsabilidades: ‘se eu conseguir me
eleger prefeita, então, como farei para criar meu filho?’”38
Os pontos indicados na entrevista exemplificam o que
se aprendeu como o que seriam comportamentos tipicamente
(ou aprendidos como) femininos: a desunião entre mulheres, a
maternidade e o casamento como inevitáveis. Para Bourdieu (2000)
isso está diretamente relacionado com a ideologia aprendida na vida:
“o trabalho de reprodução ficou garantido, até pouco tempo, por três
instâncias principais: a Família, a Igreja e a Escola, que objetivamente
orquestradas, tinham que atuar conjuntamente sobre as estruturas
inconscientes” (BOURDIEU, 2000, p. 107). As três instâncias,
trabalhando em conjunto, auxiliam a transmissão de esquemas
simbólicos de ordenação social, ensinando às pessoas a suposta ordem
“natural” das coisas. As ideias de Bourdieu remetem às de Althusser
(1974) quando explicava os mecanismos ideológicos da sociedade.
Althusser defendia que a ideologia está a favor das classes
dominantes para a geração de mecanismos de perpetuação ou
de reprodução das condições materiais, ideológicas e políticas de
exploração. Seguindo este ponto de vista, existiriam os Aparelhos
Repressores do Estado (ARE) – governo, exército, tribunais; e
os Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE) – Igreja, escola e família
estão nesta categoria. Para defender o conceito de ideologia, o autor
formula três hipóteses: a ideologia representa a relação imaginária
de indivíduos com sua real condição de existência, a ideologia tem
uma existência porque existe sempre num aparelho e nas suas
práticas e, por último, a ideologia invade os indivíduos como sujeitos.
Nestes esquemas ideológicos explicados por Althusser e Bourdieu
Luciana Panke

aprendemos os significados sobre gênero. O curioso é que em várias

38 Entrevista concedida em 28/07/2014, Cidade do Panamá.


52
partes do mundo e em pleno século XXI segue a ideia de que a mulher
é inferior ao homem. Isso se manifesta das mais diversas formas: as
evidentes (assédio sexual, moral, agressão física, feminicídio) e as
sutis (silenciamento, isolamento, ridicularização, piadas, proibição ou
dificuldade de acesso a espaços ditos masculinos). O material abaixo
procurou alertar, no México, sobre essas formas de avanço da violência
para proteger mais mulheres dos feminicídios.
FIGURA 5 – VIOLENTÔMETRO DIVULGADO NO MÉXICO

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

Dessa maneira, os esquemas ideológicos que reproduzem a


repressão, a opressão e a dominação de um grupo sobre outro são
transmitidos de uma geração a outra de maneira tão sutil que boa
parte da população sequer percebe. Esse esforço que as mulheres fa-
zem há séculos para entrar na política, por exemplo, é questionado

53
pelos homens e também por outras mulheres, até os dias de hoje. A
deputada brasileira Marla Turek comenta que escutou várias vezes de
outras mulheres: “gosto de você, vejo que tem boas ideias, mas não
vou votar em ti porque política não é coisa de mulher”39. Enfatizo o
que tenho defendido: a política partidária ainda é vista como uma ati-
vidade masculina, apesar de, no Brasil, a média de filiação de mulheres
ser de 45%. A entrada das mulheres nesse espaço provoca medo nos
homens, pois equivaleria a perder uma posição já garantida. Assim, elas
estão nos partidos, mas não na linha de frente. A senadora brasileira
Gleisi Hoffmann40 confirma: “A começar pela militância no partido, que
nós tivemos que brigar muito pra ter acesso aos cargos de direção, pra
ter acesso à participação nas decisões e sempre considerado como um
polo mais fraco, sem capacidade de articulação política”. E o mesmo
vale em relação à presença das mulheres na consultoria política: são
poucas que conseguem entrar e/ou se destacar nesta área. “Frente a
este confisco da representação política por parte dos homens, com
frequência se aventa a ideia de que o mundo político se constitui a
última fortaleza masculina, a esfera mais machista, mais fechada às mu-
lheres” (LIPOVETSKY, 2012, p. 258).
Tem um ditado no México que diz “mulheres juntas, nem
defuntas”, lema que muitas entrevistadas acreditam ser verdade, mas
outras veem mais como um dos mecanismos ideológicos para reforçar
a distância entre as mulheres. A então ministra da Mulher do Peru,
Carmem Omonte, defende: “falso! E eu tenho visto uma infinidade
de vezes. É uma lenda urbana. Agora, em temas superficiais, o mesmo
fato de que a mulher seja competitiva, uma mais que a outra, faz com
que sejamos concorrentes. Isso pode ter criado essa percepção geral
de que não podemos nos unir”41. Outras entrevistadas como Wanda
Nazario, de Porto Rico, Mirian Gonçalves, do Brasil, Nidia Valdez, da

39 Entrevista concedida ao jornalista Ricardo Tesseroli, em 26/08/2014,


Luciana Panke

Brasil.
40 Entrevista concedida durante o programa de rádio “Comunidade em
debate”, Radio Barigui, em 16/04/2016, Curitiba, Brasil.
41 Entrevista concedida em 11/08/2014, Lima, Peru.
54
República Dominicana, por exemplo, percebem que realmente falta
sororidade.
A então deputada federal mexicana, Liz Gamboa42, comenta:
“você é mulher, está aí e eu por ser mulher vou te apoiar. Não
me importa se gosto ou não de você, mas devemos estar juntas e
essa é uma questão de sororidade. E essa construção custa sangue.
Por quê? Porque os mais interessados em que não se construa
uma relação de apoio entre mulheres são os homens”. Essa mesma
opinião é compartilhada pela ex-candidata presidencial mexicana e
então secretária do Trabalho do Distrito Federal, Patricia Mercado43.
“Isso que se havia cultivado de ‘mulheres juntas, nem defuntas’ foi
algo que se enraizou na cultura para nos separar e nos isolar. E como
agora estão sendo realizados muitos pactos entre as mulheres, então
já não podemos mais separá-las, ou seja, já irreversível que se juntem,
se juntem e se juntem, né?”.
A propósito, Bourdieu argumenta que “recordar as marcas
que a dominação imprime nos corpos e os efeitos que exerce através
deles não significa aportar argumentos a essa espécie, especialmente
viciosa, que ratifica a dominação existente ao atribuir às mulheres
a culpa pela própria opressão, sugerindo, como se faz às vezes, que
elas decidem adotar comportamentos de submissão (as mulheres
são suas piores inimigas) para não dizer que elas até gostam da
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
dominação, que ‘desfrutam’ dos tratamentos que recebem, graças a
uma espécie de masoquismo inerente à sua natureza” (BOURDIEU,
2000, p. 56). Sua fala explica o que algumas entrevistadas sentem por
ter, justamente, outras mulheres como suas principais inimigas. Os
depoimentos delas sobre essa questão cultural mostram que é uma
realidade possível de reverter.

42 Entrevista concedida em 13/03/2014, Cidade do México.


43 Entrevista concedida em 14/05/2014, Cidade do México.
55
COTAS

Há cotas de gênero em partidos políticos e há cotas nas


leis eleitorais em vários países. A vereadora paulista Jacinta Elizabeth
van den Broek Heijden44 resume a opinião de várias entrevistadas:
“a verdade é essa, precisa de mais mulheres na política, mas não
significa que o partido lute pra fazer uma mulher ser eleita”. Nos
anos 90 começaram a maioria das normas dentro dos partidos latino-
-americanos para estimular a entrada das mulheres, por exemplo,
no Partido Social Cristão, da Costa Rica, na Frente Farabundo Martí
para a Libertação Nacional, de El Salvador, no Partido Revolucionário
Institucional do México, na Associação Nacional Republicana, do
Paraguai, e no Partido dos Trabalhadores do Brasil (COLOTTA, 2013,
p. 54). Na República Dominicana, de acordo com Janet Camilo45,
vice-presidenta do Partido Revolucionário Dominicano (PRD) e atual
Ministra da Mulher, “nos anos 90 é criada a Federação Dominicana
de Mulheres Social-Democratas dentro do PRD e se implementou
a cota interna de 25%. Foi o único partido que teve isto em seu
estatuto [...] e agora estamos com 33%”. Ainda assim, comenta que
no seu país as mulheres seguem votando em homens porque não há
a cultura de votar/apoiar outras mulheres.
O consultor político espanhol José Manuel Talero46 argumenta
que as cotas não são uma solução, pois seria necessário mudar os
estereótipos ensinados em vários espaços da sociedade antes. “Se eu
tivesse crescido com uma mentalidade machista, ainda que colocasse
uma mulher numa lista de votação, não deixaria de ser machista por
isso. Por isso, acredito que não adianta colocar uma cota elevada
porque a atitude de uma pessoa de 40 a 60 anos não muda, não vai
conseguir mudar sua mentalidade”. Dentro dos partidos é onde várias
mulheres enfrentam suas maiores dificuldades: conseguir ser incluídas,
a partir daí, nas mesas de decisão e nas listas eleitorais. “Olha, em
Luciana Panke

44 Entrevista concedida a Tayra Aleixo em 01/07/2015.


45 Entrevista concedida em 27/06/2014, Cidade do México.
46 Entrevista concedida em 29/05/2014, Cidade do México.
56
2005-2006 houve eleições internas no nosso partido e o regimento era
velho, então, tivemos que fazer uma convocação para que pusessem
mulheres nas listas, porque não se levava em conta a lei de cotas na
Argentina. Quando isso mudou, em muitos distritos nos colocavam
como suplentes” (ex-deputada argentina Claudia Bernazza47).
Diversas políticas comentam que não chegam à mesa diretiva
dos partidos e outras que também foram tiradas da disputa por
questão de gênero. “Acabo de viver uma experiência no interior da
minha organização política. Eu era candidata a uma secretaria geral no
partido e ao executivo, o que se chama aqui de presidium¸ e dentro
do partido se decidiu que eu não poderia ser secretária geral por ser
mulher” (ex-vice-prefeita, Denise Llaverias, República Dominicana48).
As dificuldades que as entrevistadas enumeram dentro dos
partidos são: estarem apenas nas bases, não serem protagonistas,
não participarem das mesas decisórias e diretivas, sofrerem assédio
moral e sexual e não receberem financiamento de campanha igual ao
dos candidatos homens. A então deputada mexicana, Liz Gamboa49,
compartilha uma dessas experiências: “em um almoço de trabalho,
um dos meus colegas deputados disse: ‘a partir de agora, vamos fazer
provas pra ver se as mulheres sabem passar roupa, lavar roupa e
cozinhar antes que se tornem deputadas’. Eu fiquei quieta porque a
verdade é que eu ia acabar sendo rude. A única coisa que consegui dizer
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
foi: ‘então, também vamos fazer os mesmos testes para os homens,
porque isso é igualdade’”. Além do machismo evidente deste senhor, é
possível observar que um comentário assim para uma colega deputada
representa uma das maneiras de assediar e de tentar questionar a
capacidade das mulheres da sua própria bancada. Era uma tentativa de
mostrar “o lugar da mulher”.
A divisão tradicional de papéis entre os espaços público e
privado, onde as mulheres seguem como as principais responsáveis

47 Entrevista realizada online dia 20/08/2014.


48 Entrevista realizada em 27/06/2014, Cidade do México.
49 Entrevista realizada em 13/03/2014, na Câmara dos Deputados, Cidade
do México.
57
pela criação dos filhos e pelas atividades domésticas, as coloca numa
situação em que necessitam fazer duplas ou triplas jornadas diárias
para se adaptar à divisão de tempo masculina. “Se o congresso será
50-50, serão 50% mulheres e 50% homens, então as regras do jogo
devem mudar dentro de uma perspectiva de gênero. Por exemplo,
se uma empresa realizar uma capacitação nas sextas e sábados, que é
quando nós mulheres passamos o tempo com nossas famílias, então aí
as pessoas não estão vendo as coisas sob uma perspectiva de gênero,
aí estaremos em desvantagem” (deputada federal Flor Ayala, México50).
Embora no Brasil o Partido dos Trabalhadores seja um dos
pioneiros na participação feminina, a deputada Stela Farias51 comenta
que “ainda sofrem com o machismo dentro do Partido, pois nenhuma
mulher ainda foi presidente”. A ex-governadora paraense Ana
Carepa52 também reclama: “várias realizações do governo sequer o
Partido apoiou na divulgação”. O consultor uruguaio Daniel Eskibel53,
especializado em psicologia, argumenta sobre essa questão, vivida em
toda América Latina. “O que acontece? Primeiramente, a interpretação
dada pelos partidos é que a divisão deve ser dois homens e uma
mulher, por exemplo; segundo é que os homens veem isso como um
problema. E já escutei literalmente o seguinte: ‘se temos que colocar
na lista uma mulher a cada dois homens, ficarão candidatos fora’, ficam
candidatos sem seu lugar. É como dizer que seu lugar natural estaria
sendo ocupado devido a uma questão legal pelas mulheres. Sem falar
que isso não é paridade, não é um e um. É dois e um e ainda assim gera
esse tipo de comentário: ‘esse é nosso lugar e não deixemos que nosso
lugar seja ocupado por elas, que são estranhas a esse espaço’”. O que
vimos neste relato é a repetição do sentido dado no depoimento
anterior: homens na política se ressentem pela entrada da mulher em
um espaço que seria ‘naturalizado’ como deles”.
Luciana Panke

50 Entrevista realizada em 13/03/2014, Câmara dos Deputados do México.


51 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
52 Entrevista realizada online em 11/09/2016.
53 Entrevista realizada online em 31/07/2014.
58
Isso se reflete, nestes discursos explícitos e na falta de apoio
oferecida pelos partidos. Essa situação foi vivida pela panamenha
Dinoska Montalvo54 em sua última campanha: “Meu partido recebeu
subsídio eleitoral de quatro milhões de dólares. Para minha campanha
não deram absolutamente nada, exceto algumas camisetas, bonés e
canetas para distribuir aos eleitores”. O mesmo aconteceu no Brasil
com a candidata mineira Leila Meneses55: “Senti falta do apoio do
partido. Tive dificuldade com os materiais básicos de campanha. Recebi
só 20% do prometido. Aí resolvi mudar de partido”.
A então deputada boliviana Marcela Revollo56 resume esse
fato como a “real exclusão das mulheres”: “A Bolívia avançou no
processo democrático, avançou na parte formal e na parte legal. Agora
não são mais 30%-70% nas cotas. Agora são 50-50, de acordo com a
Constituição. A outra face da moeda é que ainda existe um sentimento
de exclusão das mulheres. Os partidos políticos sendo espaços com
presença predominante de homens e atitudes muito sutis para gerar
ambientes hostis de resistência passiva contra a liderança feminina”.
Os casos narrados reafirmam que os partidos se apresentam
como uma das principais barreiras que as mulheres enfrentam quando
decidem participar da política. “Temos cotas e que fazem os partidos?
Não formam, nem capacitam, apostando que não apareçam mulheres
para competir com os homens” (ministra Janet Camilo, República
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Dominicana57). Os consultores também comentam que, em muitos
casos, os partidos até cumprem as cotas, mas não com a intenção
de que uma mulher vença a disputa: “Geralmente colocam a mulher
apenas para cumprir a cota e seus nomes nos últimos lugares nas
listas de candidaturas. Há exceções como a presidente do Partido
Colorado, que foi candidata número 01 na lista” (consultor Hugo
Duarte, Paraguai58).

54 Entrevista realizada em 26/07/2014, Cidade do Panamá.


55 Entrevista realizada online em 20/08/2014.
56 Entrevista realizada online em 26/08/2014.
57 Entrevista realizada em 27/06/2014, Senado Federal, México.
58 Entrevista concedida online em 12/08/2014.
59
Por sua vez, no México, a senadora Diva Gastélum59 afirma
que “nós não queremos registrar 150 candidatas somente para cobrir
uma cota. Estamos em capacitação permanente e vamos aprofundar
isso para que haja garantia de triunfo”. A força e a coragem de
mulheres assim é o que pode levar à mudança do que a cientista
política Daniela Cerva questiona: “Os partidos políticos estão, por um
lado, genericamente estruturados, são espaços criados por homens
onde o que se reproduz são as ideias de racionalidade e de liderança
originárias do masculino. Nesse sentido, as mulheres vêm entrando
e pedindo permissão para poder ocupar esses espaços, aos quais,
em uma democracia representativa, evidentemente todos deveriam
ter acesso. Na realidade, quando uma pessoa vê os números, nem
todos têm acesso e quando a metade da população não está inserida,
deveria haver mais mulheres no congresso, né?” (cientista política,
Daniela Cerva60, México).
Em 2015, o México começou com as cotas 50-50% por
gênero, igual ao que ocorre na Costa Rica desde 2009. “A pergunta
que todos se fazem é: de onde vão sair todas essas mulheres? Aqui,
na sociedade civil, as que cuidam de filhos, qualquer uma que tenha
vontade deve poder ingressar no serviço público, porque a experiência
em âmbito privado te dá suficiente capacidade para estar no público”
(ex-deputada, Liz Gamboa61 – México).
Em vários países da América Latina há cotas de gênero para
estimular a participação feminina na política, como se vê na figura 5.
Por sua vez, Chile e Guatemala, por exemplo, ainda não desenvolvem
essas ações. “Há uma reação da classe política em relação à
implantação das cotas porque nem todos são a favor. Ninguém diz
explicitamente que é contra a mulher na política, entretanto há
várias mulheres e homens que estão” (cientista política, Daniela

59 Entrevista concedida em 16/06/2014, Senado Federal, México.


Luciana Panke

60 Palestra ministrada durante o Encontro Internacional de Comunicação


Política, UAM-Cuajimalpa, México, 22/05/2014.
61 Palestra ministrada durante o Encontro Internacional de Comunicação
Política, UAM-Cuajimalpa, México, 22/05/2014.
60
Cerva – México62). A dominicana Janet Camilo63, atual ministra da
Mulher em seu país, defende que, apesar da resistência: “seguiremos
defendendo a mesma coisa até que consigamos a igualdade, porque
ela deve ser demonstrada, não somente dita nos discursos”. A
vereadora chilena Esperanza Alcaíno64 comenta que o número de
mulheres no parlamento é muito baixo para a discussão de pautas
nacionais, gira em torno de 14%: “No fundo, temos que encontrar
alguma maneira, seja a partir de cotas ou outro mecanismo, para
estimular a participação política feminina com mais mulheres
tomando decisões nos cargos de poder”.
No gráfico seguinte, é possível observar a variação temporal
dos países com ou sem lei de cotas, mensurando a participação
feminina antes e depois das leis. Na maioria deles, houve um
crescimento exponencial das mulheres na câmara de deputados.
Para os defensores das cotas, um dos argumentos é o de que “a
democracia liberal não distingue entre homens e mulheres: todos
têm o mesmo voto, mas não a mesma voz” (CASTAÑEDA, 2013, p.
344). A vereadora Anice Nagib65 é incisiva: “dizer que a mulher não
sofre preconceito na política é mentira. A mulher sofre sempre e
isso eu vivenciei durante minha pré-campanha, na minha campanha
para vereadora senti preconceito por ser mulher e por ser de
origem libanesa. Mas o preconceito em relação à origem não é tão
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
grande quanto ao sexo”.
Na tabela seguinte, baseada em Donoso e Valdés (2007), é
possível visualizar as principais datas de aprovação do voto feminino e
da lei de cotas para as mulheres.

62 Palestra ministrada durante o Encontro Internacional de Comunicação


Política, UAM-Cuajimalpa, México, 22/05/2014.
63 Palestra durante o Encontro da Internacional Socialista de Mulheres,
Senado Federal, Cidade do México, 27/06/2014.
64 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
65 Entrevista realizada pelo jornalista Ismael Filadelfi em 07/08/2014.
61
TABELA 2 – COMPARAÇÃO ENTRE O ANO DE IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE
COTAS E O DO SUFRÁGIO

ANO DE APROVAÇÃO DA ANO DE OBTENÇÃO DO


PAÍS
COTA SUFRÁGIO

Argentina 1991 1947


Costa Rica 1996 1949
México 1996 1953
Paraguai 1996 1955
Bolívia 1997 1952
Brasil 1997 1932
Panamá 1997 1946
Peru 1997 1955
República Dominicana 1997 1942
Venezuela 1997 1947
Colômbia 1999 1954
Equador 2000 1929
Honduras 2000 1955
Uruguai - 1932
Cuba - 1934
Guatemala - 1945
Chile - 1949
El Salvador - 1950
Nicarágua - 1955

Ampliar o quadro de mulheres nos postos de comando em


toda a América Latina parece ser o desafio dos novos embates demo-
cráticos.
Na figura 6, vemos que a lei mudou significativamente o
quadro em vários países, exceto Paraguai, Brasil e Bolívia. Mesmo que
os números mostrem uma realidade que significa mais inclusão, é um
tema polêmico, sem consenso.
Luciana Panke

62
FIGURA 6 – MULHERES NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
América Latina, Caribe e Península Ibérica (36 países): Mulheres eleitas para os parlamentos nacionais, 2015 (Em porcentagens)

FONTE: Cepal. Disponível em: <http://oig.cepal.org/pt/indicadores/poder-legislativo-porcenta-


gem-mulheres-no-orgao-legislativo-nacional-camara-baixa-ou>. Acesso em: 12 set. 2016.

As figuras sobre cotas mostram que na maioria dos países esse


recurso resultou em aumento na participação. Seria o que Colotta
(2013) chama de “discriminação positiva”, ou seja, são mecanismos de
inclusão que servem para impulsionar as mulheres. Para a deputada
brasileira Marla Turek seria muito difícil atuar na política partidária
sem uma lei que obrigue ceder espaço a outros grupos além do
dominante, mas ela também acredita que muitas mulheres ainda estão
lá apenas como figurantes. “Algumas mulheres entram iludidas por
líderes que querem que elas apenas façam parte das cotas. As cotas Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
são necessárias. Se com elas já é difícil, imagine sem” (deputada Marla
Turek66, Brasil). Entretanto, outra brasileira acredita que as cotas
são uma forma de dizer que as mulheres não são capazes de chegar
lá por conta própria. “As mulheres não necessitam mais das cotas.
Isso parece um preconceito. Acredito que as mulheres têm a mesma
capacidade e a mesma oportunidade que os homens. Não é necessária
uma cota para que uma mulher se candidate. A mulher que queira, que
se sinta preparada e que queira enfrentar uma campanha deve ter a
coragem e as condições de colocar seu nome para avaliação popular.
As cotas fazem com que muitas mulheres, e numa porcentagem

66 Entrevista concedida ao jornalista Ricardo Tesseroli em 26/08/2014.


63
grande, somente coloquem seu nome para compor uma coligação sem
que tenham vocação, ou vontade de ir a uma campanha” (deputada
estadual Cristina Silvestri67).
Esta opinião é rebatida pela ex-deputada argentina, Claudia
Bernazza68: “as mulheres que são contrárias dizem: ‘temos que chegar
por nosso mérito, temos que chegar por capacidade’ sem perceberem
muito bem o que estão falando. Primeiro, capacidade não se mede
por gênero. Segundo, é que, se realmente houvesse participação das
mulheres, a lei não seria necessária, ou seja, não incomodaria, pois as
mulheres chegariam por mérito. Infelizmente, a discriminação positiva
ainda não foi vista totalmente como um grande avanço”.
Também há o grupo contra as cotas femininas, como, por
exemplo, o chileno Dino Villegas, que acredita ser um mecanismo
desnecessário. “Não acredito que seja necessária a lei de cotas para as
mulheres, mas sim, para os povos indígenas” (consultor chileno Dino
Villegas69). Compartilham a mesma opinião o peruano Richard Liza70 e
o boliviano radicado nos Estados Unidos, David Márquez. O peruano
explica que em seu país há cotas para jovens e para povos indígenas.
Já para o boliviano, “é claro que também entra a mulher com o fato
de ser mulher reivindicando seu lugar, como um direito, certo? Mas
não apenas as mulheres, mas também as minorias, como hispanos e
outros, deveriam ter cotas, não só na política, mas também em outras
esferas”71. Observação realizada por três homens, pois são poucas as
mulheres que discordam das cotas.
Outro grupo questiona a porcentagem destinada a cada gênero.
“Acho que a intenção é boa, mas não sou a favor. Acho que precisamos
mais na democracia do que as cotas de gênero. Uma porcentagem
de 20% estaria bem, mas 50-50% é um exagero” (consultor Roberto

67 Entrevista concedida ao jornalista Ricardo Tesseroli em 21/08/2014.


Luciana Panke

68 Entrevista realizada online em 20/08/2014.


69 Entrevista realizada online em 23/08/2014.
70 Entrevista realizada em 06/08/2014, Lima, Peru.
71 Entrevista realizada online em 23/08/2014.
64
Morris, México72). O fato de esse comentário vir de um homem
acostumado a lidar no universo estritamente masculino praticamente
explica a opinião, mas e quando vem de uma mulher? Para a vice-
presidenta do Panamá, Isabel Saint Malo73, é necessário encontrar
outra forma de estimular a entrada das mulheres na política partidária:
“Compreendo e tenho dúvidas se a única maneira de conseguir isso
é pelas cotas. Não gosto da forma como as cotas são administradas,
mas sei que há discriminação e sei que talvez a única maneira seja pelas
cotas. Prefiro impulsionar medidas para valorizar as mulheres por sua
capacidade, por sua experiência e por sua formação”.
Por outro lado, o consultor espanhol José Manuel Talero74
observa que “na Espanha, quando se discutiu a questão das cotas, a
afiliação média era de 13% de mulheres e 87% homens. Assim, se as
cotas da candidatura são de 50%, significa que esses 13% de mulheres
têm mais oportunidade que os homens para ganhar uma vaga”. A
necessidade de trazer as mulheres para os partidos políticos parece
ser prioritária.
Para isso se concretizar, acaba-se passando pelo tema
central quando se refere às disputas políticas. Entrar na política está
diretamente relacionado com disputas de poder. Na América Latina, o
que significa estar no poder? “Estamos num tema de presença simbólica
das mulheres. As mulheres estão no poder, mas sem poder. Tem que
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
acabar com isso, justamente por causa desta ideia de que os homens
têm de que os espaços de tomada de decisão são patrimônios deles.
Ou seja, são deles mesmo. São eles quem decide quem vão colocar lá,
homem ou mulher” (senadora Marta Tagle – México75).
Propostas para corrigir as distorções na representatividade
feminina correm em discussão em vários países. A ideia de listas de
candidaturas alternando o gênero é uma delas, além de se prever

72 Entrevista realizada em 22/06/2014, Cidade do México.


73 Entrevista realizada em 29/05/2014, Cidade do Panamá.
74 Entrevista realizada em 22/06/2014, Cidade do México.
75 Fala durante o Encontro Intergeração Mulheres e Política, Cidade do
México, 13/03/2014.
65
cotas para as legislaturas, não apenas para as candidaturas, cotas para
legislativo e executivo e aumento nas punições de partidos que não
cumpram o que determina a lei. A paridade de 50% é realidade no
México desde 2015, prevendo cotas nas legislaturas para evitar o que
chamamos no Brasil de candidatas “laranjas”76. Concordo plenamente
com a deputada estadual Luciane Carminatti77, que questiona: “hoje,
os homens ficam com 90% das vagas e as mulheres com 10%, algo está
errado. Ora, se as mulheres não são incapazes, se são competentes,
se estão trabalhando mais hoje e estudando mais, por que é que elas
não chegam na política? É porque o sistema eleitoral não ajuda a criar
condição e oportunidade”.
Exatamente esta expressão “mulheres no poder, sem poder”
é usada pelo jornal El País78 em um artigo que coloca a questão: “as
mulheres estão alcançando seu apogeu político justamente quando as
nações estão com limitada capacidade de encontrar soluções nacionais
aos seus problemas”. Isso leva a crer que as mulheres estão assumindo
governos quando estes estão em seu limite, e o possível fracasso de
gestão pode ser atribuído a elas e não ao antecessor que haja criado o
problema. A autora do artigo, Naomi Wolf, ressalta que “há quem diga
que as mulheres estão chegando aos postos de comando porque os
homens não querem se responsabilizar pelo fracasso iminente”.
Em um dos grupos de enfoque realizados pelo consultor
argentino, Máximo Reina79, se mostrou que “as mulheres se
apresentam como candidatas de continuidade. Quando a situação está
complicada, tensa, quando os eleitores pedem uma mão dura, pedem
homens no governo, inclusive mulheres pediam um homem para o
próximo governo argentino”. A mesma opinião é compartilhada pelo

76 Candidatas “laranjas” são as que se apresentam como candidatas, mas


estão apenas representando outras pessoas ou cumprindo as cotas a pedido dos
partidos, sem o intuito real de concorrer.
Luciana Panke

77 Entrevista realizada online em 10/09/2015.


78 Disponível em: <http://elpais.com/elpais/2014/10/07/opinion/1412677228
_989661.html>.
79 Entrevista realizada em 14/08/2014, Cidade do México.
66
consultor colombiano, Jorge Aguilera, que observa que em seu país,
nas situações de mais gravidade nos governos, as pesquisas indicam
uma preferência por governantes homens. O que as falas indicam?
Que ainda o estereótipo do herói forte está relacionado com a figura
masculina, relegando às mulheres o papel de administradoras somente
se “tudo está bem”, ou seja, incapazes de governar em momentos
de crise. As cotas viriam também para garantir o lugar da mulher na
política, independentemente de momentos de crise ou de tranquilidade
nos governos.

IMPULSO E DECISÃO

Para terminar o capítulo, apresento algumas histórias.


Anteriormente, falava sobre os desafios que as mulheres enfrentam
ao entrar na política. Fiquei curiosa para saber suas motivações, o que
as levava a aceitar a empreitada apesar dos obstáculos já previstos. A
partir das entrevistas, foi possível observar que a entrada na política
eleitoral se dá por três maneiras:
- Influência familiar ou escolar;
- Militância na base dos partidos ou movimentos sociais;
- Experiência profissional.
Há histórias fantásticas e eu gostaria de compartilhar com Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
a mesma generosidade com que elas me contaram, mas, como não
é possível aprofundar neste momento, apresento algumas delas na
descrição de cada categoria.

Influência familiar ou escolar


A influência familiar ou escolar se apresenta de duas maneiras:
famílias já tradicionais na política, ou nas quais algum integrante
participava das atividades, marido político, jovens que tiveram contato
com trabalhos sociais realizados por suas famílias ou escolas. “E uma
coisa que eu acho que me favoreceu muito, é o meu marido ser da
política. Porque, hoje, eu acho que um dos fatores que impedem muito

67
as mulheres de virem pra vida pública é essa questão do machismo
dentro de casa, porque o marido acha importante, mas ‘por que
ela e não eu?’”, analisa a vereadora brasileira Elian Santana80. Já a
deputada brasileira Ione Pinheiro81 cresceu no ambiente político “eu
sempre ajudei e a política sempre foi muito presente na nossa vida.
Eu, com menos de 10 anos, já estava na rua com meu pai pedindo
voto e entregando santinho”. A jovem vereadora de Santiago do Chile,
Esperanza Alcaíno82, comentou que crescer num entorno político a
motivou para a carreira pública: “Minha chegada ao mundo do serviço
público foi uma mistura de fatores, entre eles, meu pai foi prefeito,
minha mãe é presidente da Comunidade Mulher, uma organização que
existe há anos”. Para a ex-governadora do Pará, Ana Julia Carepa, a
experiência foi mais impactante, uma vez que seu pai foi preso político
durante a ditadura militar no Brasil. A deputada estadual paranaense,
Cristina Silvestri, diz que “assim como muitos filhos de médicos viram
médicos por conviver com a medicina dentro de casa, ou filhos de
advogados, eu também penso que a política passa de geração pra
geração, porque aprendemos a conviver e a gostar e está dentro da
gente. Convivemos tanto com a política que parece que ela entra no
nosso DNA”.
A mexicana Patricia Mercado, por sua vez, desde adolescente
sentia que devia fazer alguma coisa para mudar a desigualdade social.
“Quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, na minha adolescência, estive
em um colégio católico e as freiras seguiam a Teologia da Libertação.
Eu me conectei muito com essas ideias, com esse compromisso”83.
A sequência da sua trajetória foi estudar economia e, ainda na
universidade, ingressar no movimento feminista, a partir do qual se
destacou na política mexicana. A brasileira Soninha Francine84 declara:
“bom, política eu sempre fiz, amei, acompanhei. Daquelas que destoam

80 Entrevista realizada em 25/08/2015, Santo André, Brasil.


Luciana Panke

81 Entrevista realizada em 17/09/2015, Belo Horizonte, Brasil.


82 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
83 Entrevista realizada em 14/05/2014, Cidade do México.
84 Entrevista realizada em 26/08/2015, São Paulo.
68
quando têm 12, 13 anos, era tipo ‘nossa, não acredito que você se
interessa por essas coisas’. Mas eu estudei num colégio que incentivava
muito isso, um colégio de freiras”. A ex-vereadora peruana Teresa
Otiniano85 comenta que a política sempre esteve em sua vida, apesar
de enfrentar muitas dificuldades para militância em sua juventude:
“Eu realizo trabalhos sociais desde o colégio. Desde aquela época ia
aos hospitais ajudar os doentes, trabalhar com crianças. Tenho essa
vocação desde adolescente e na política segui fazendo igual”. Hoje,
com mais de 60 anos, a advogada militante de direitos humanos segue
atuando na política, mas não partidária, e cursa doutorado.
Também há mulheres que entraram na política a partir de uma
dor ou perda, como a deputada federal Christiane Yared86, cuja morte
do filho chocou o Paraná e também ficou conhecida nacionalmente:
“Sempre quando a pessoa me dizia assim – porque eu tive muitos
questionamentos –, ‘não vou votar em você, porque você tá usando a
morte do filho pra se eleger’, na hora eu pensei no que eu ia dizer pra
essa pessoa, eu falei assim: ‘é verdade, eu usei a morte do meu filho
pra me eleger, pois enquanto eu usar a morte do meu filho o teu tem
a possibilidade de permanecer vivo’, aí a pessoa recua: ‘é verdade, me
perdoe’. A pessoa não entende que essas desgraças às vezes precisam
ser usadas. O que eu percebi foi que o país só se mobiliza quando há
uma tragédia”.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

Militância nas bases dos partidos, sindicatos ou movimentos


sociais
As mulheres que chegaram da militância perceberam que,
para conseguir realizar mudanças na política, teriam que participar
das mesas de decisões. Todas já eram lideranças ativas em sindicatos,
ONGs, movimentos sociais, partidos, associações e outras ações
comunitárias, mas não tinham se encorajado para disputar uma
eleição. O fato de não concorrerem a cargos públicos tem ligação

85 Entrevista realizada em 08/08/2014, Lima, Peru.


86 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Brasil.
69
com a própria credibilidade da política ou com o desconforto de se
expor para públicos diversos. “Tem hoje muitas mulheres que ocupam
o cargo de presidente de associação, são mulheres. E na hora de ir
numa escola, numa reunião, elas vão. Mas na hora de candidatar não
estão, acho porque essa pressão de ser político é uma questão tão
séria, que nós temos que melhorar essa imagem, porque eu acho que
essa imagem negativa da política tira muita mulher da política”, opina a
deputada Ione Pinheiro87.
Muito jovem, a jornalista Solange Celere, então candidata
a deputada federal no Brasil, entrou em contato com a Teologia da
Libertação, movimento que a fez ingressar em movimentos de base. Após
trabalhar bastante tempo em sindicato, com militância e assessorando
homens na política, ela percebeu que o trabalho que vinha realizando era
sempre com homens ou para homens: “Chegou um momento em que
não me senti representada” (candidata Solange Celere, Brasil) 88.
Também do Brasil, a deputada Luciana Rafagnin é uma
pioneira na sua região. Oriunda do interior do Paraná, começou como
representante de agricultoras familiares nos anos 80. Como era líder
sindical desse segmento, o partido recomendou que tentasse uma vaga
como vereadora. Ela confessa que durante quase um mês não conseguiu
dormir antes de tomar a decisão. “Se eu dissesse que não, frustraria as
mulheres que confiavam em mim e que eu sempre defendi na política.
Se dissesse que sim, não conseguia me imaginar pedindo votos para
mim mesma” (ex-deputada Luciana Rafaing – Brasil89). Resultado: foi
a primeira vez que a Câmara de Vereadores de sua cidade teve uma
vereadora. No momento da entrevista, a então deputada estava em
campanha para reeleição, mas não conseguiu se reeleger. Ainda assim,
segue ativa politicamente dentro do mesmo partido.
No Equador, a vereadora Hilda Herrera compartilha que
no início da sua carreira como política foi necessário se impor para
Luciana Panke

87 Entrevista realizada em 17/09/2015, Belo Horizonte, Brasil.


88 Entrevista realizada online em 12/08/2014.
89 Entrevista realizada online em 21/08/2014.
70
ser escutada: “Participei de manifestações nas ruas quando queriam
privatizar empresas estatais. Participei de vários movimentos sociais que
derrubaram presidentes. Isso acabou ajudando a formar meu caráter
e finalmente me vinculei à política partidária e me tornei vereadora há
sete anos. Fui a única vereadora contra o resto do partido político do
prefeito e, por mais que eu tivesse razão, predominava a maioria e isso
me fez lutar para me impor” (vereadora Hilda Herrera, Equador90).
A candidata à vereadora Tânia Mandarino91 entrou na política
porque “mexeu profundamente com todas as minhas estruturas de
desejo ideológico, no sentido em que eu gostaria de lutar pra que
isso nunca mais acontecesse, pra que as pessoas pudessem sempre
desfrutar de liberdades”. Vários países viveram ditaduras duríssimas
nos anos 70, o que intimidou a participação de muita gente, mas não
de mulheres como a paraguaia Ilda Mayeregger: “Eu comecei a militar
muito nova, mas na sociedade civil. Na época da ditadura, trabalhei
com donas de casa e militei intensamente contra a crise econômica.
Depois, entrei na Universidade, com uma repressão muito forte, vários
dos nossos desapareceram” (ex-senadora Ilda Mayeregger, Paraguai92).
Apesar disso, ela continuou com o trabalho de base e, posteriormente,
ingressou na política partidária.

Experiência profissional
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Por outro lado, as experiências profissionais impulsionaram
mulheres que acabaram se tornando destacadas na política. Algumas
empresárias, advogadas, médicas, professoras, intelectuais, agrônomas
e outras de formações diversas foram instigadas a entrar na política
para desenvolverem atividades para um público maior ou convidadas
por partidos devido à qualidade de sua formação.
A deputada e ex-ministra da Mulher e dos Povos Vulneráveis
do Peru, Carmen Omonte; a vice-presidenta do Panamá, Isabel Saint

90 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


91 Entrevista realizada em 18/07/2016, Curitiba.
92 Entrevista realizada online em 13/08/2014.
71
Malo; a ex-candidata presidencial mexicana, Josefina Vázquez Mota;
a candidata presidencial nas primárias e uma das maiores líderes da
oposição na Venezuela, María Corina Machado, assim como a ex-
ministra da defesa e ex-candidata presidencial na Colômbia, Marta
Lucía Ramíres, todas foram entrevistadas para este livro.
Decidida a ampliar sua área de atuação social como advogada,
a então Ministra da Mulher, a peruana Carmen Omonte decidiu se
candidatar a deputada. A reação familiar reflete a realidade de várias
outras, quando não se estimula a participação da mulher na política
por parecer que isto está associado com algo mau. “Quando falei para
minha família que iria me candidatar ao Congresso, eles se assustaram.
Era como dizer que eu ia entrar no mundo do crime ou para a
prostituição. Era como um anúncio dessa natureza. Diziam: ‘como
você vai se expor!?’; ‘se você quiser seguir fazendo o trabalho social
que sempre fez, siga fazendo, por que você tem que se sujar entrando
para a política?!’” (deputada Carmen Omonte, Peru93).
Na Venezuela, a deputada María Corina Machado comenta
que “como muita gente da minha geração, eu cresci com uma rejeição
profunda contra a política e os políticos. Era a última coisa que pensava
que faria na minha vida. Tinha a impressão de que me dedicar à política
implicaria fazer concessões dos meus princípios. Se tem algo de que
me arrependo é de não ter começado antes” (deputada María Corina
Machado, Venezuela94).
Essa situação parece ser mais frequente para as mulheres que
vêm do setor privado e várias preferem ser candidatas sem filiação
partidária, nos países onde as candidaturas independentes são permitidas.
Por exemplo, a ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata presidencial
colombiana, Marta Lucía Ramírez, que está na política desde os anos 90,
mas só na “última eleição, que foi a para a Presidência, quando tem votos
que vinham de um partido, um voto conservador. Eu acredito que para
mim representou 50% dos votos e os outros 50% foram voto de opinião,
Luciana Panke

93 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.


94 Entrevista realizada online em 28/08/2014.
72
ou seja, gente que não vota por um partido, mas vota por uma pessoa,
pelo programa, pela proposta” (Marta Lucía Ramírez – Colômbia95). Foi
sua experiência como advogada que a levou à política e é onde segue
atualmente, entre a militância política e a advocacia.
Aqui também é possível destacar a boliviana Marcela Revollo96
que, mesmo tendo o marido político, foi impulsionada a disputar eleição
por sua formação em sociologia e por ter seu nome previamente
reconhecido no país como uma grande intelectual: “Apesar de eu já
ser conhecida, a oposição usou o fato de meu companheiro ser da
política para fazer guerra suja na campanha. Diziam que eu estava lá
porque ele me pôs e não por meus méritos. Já não suportam ver uma
mulher na política, ainda mais se é casada com político, fica pior ainda”.
A maioria das quase 60 entrevistadas começou na política
partidária a partir dos movimentos sociais, sindicais ou de base.
Depois, estão as que iniciaram a partir de influência familiar – parente
na política (pais, mães ou maridos) ou formação escolar e, por último,
estão as que ingressaram por conta da atuação profissional como
advogadas, empresárias em empresas privadas. O que une essas
mulheres, independentemente do seu ponto de partida, é o desejo por
mudanças sociais. Todas viram na política o caminho para atuar mais
fortemente para a melhoria do seu entorno.

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências


RESUMINDO

As questões de gênero perpassam a organização social e


estabelecem os locais “adequados” para os indivíduos. Muito além
das questões biológicas, gênero significa uma construção cultural
que estabelece comportamentos esperados a partir das diferenças
biológicas, ou seja, o que seriam a masculinidade, o feminino e
também opções que não estão neste binarismo, como as trans. O
desenvolvimento histórico do “ser mulher” se associou diretamente

95 Entrevista realizada online em 15/08/2014.


96 Entrevista concedida em 26/08/2014 – por videoconferência.
73
às relações de poder, em que o machismo e o patriarcado defendem a
dominação do sexo masculino.
A política, enquanto território de disputas de poder e
majoritariamente masculino, está formatada por dinâmicas dos
homens: horários, modos de atuação, de negociação. Assim, ainda que
a luta feminina pela igualdade seja recente, com menos de um século
na América Latina, a voz de líderes em vários países está abrindo
caminho para a naturalização da presença das mulheres não apenas
como representantes populares eleitas, mas também como as líderes
que estão nas mesas de decisão.
As principais barreiras para a entrada das mulheres são:
conseguir apoio no partido, financiamento de campanha, obter
uma equipe de confiança (alcançar preparação de media training,
leis, comunicação) e superar o machismo oriundo de homens e de
mulheres (ao sair para uma campanha, ter força para enfrentar as
pressões inerentes ao embate e às pressões oriundas de sociedades
que desvalorizam a presença da mulher nestes espaços).
Quais as soluções para que isso ocorra? Educação igualitária
em casa, nas escolas, leis que punam violência política e simbólica, cotas
afirmativas para legislativo e executivo. Além disso, principalmente,
promover o empoderamento feminino, que significa formação
profissional, independência econômica, fortalecimento da autoestima
e descoberta do próprio talento. O empoderar está diretamente
relacionado com o conceito de sororidade que deve ser aprendido e
praticado pelas mulheres. Significa apoio mútuo e a troca contínua de
experiências para o fortalecimento das demais.
A maioria das entrevistadas ingressou por meio de movimentos
sociais, depois a partir da influência familiar e por fim, a partir da
formação técnica.
Agora, uma questão que coloquei para os entrevistados,
especialmente para os consultores: existe alguma diferença entre fazer
Luciana Panke

uma campanha eleitoral para mulher? No próximo capítulo, apresento


as respostas, coordenando-as com os fundamentos de uma campanha
eleitoral.
74
Capítulo 2
Campanhas eleitorais para mulheres

Nesse livro, defendo que não há diferenças técnicas entre a realização


de uma campanha para mulheres e uma para homens. O que muda é
a mensagem veiculada e também o direcionamento conforme onde a
campanha é feita. As etapas básicas de uma campanha eleitoral, como
todo o processo de planejamento (pesquisas de opinião, focus group,
análise de conteúdo de meios de comunicação e análise SWOT), o
processo de criação (a mensagem, estratégia, meios a serem utilizados,
oratória, media training) são os mesmos independentemente do gênero.
“Há muitos fatores para levar em conta pois depende em qual país
se está trabalhando, a sociedade a que você se dirige. Tem muitos
estereótipos criados e se deve ver como a sua candidata lida com isso”
(consultor Carlos Gutiérrez, Expanha/México97).
Para alguns estrategistas, a questão de gênero é secundária, pois
o que importaria seria encontrar a proposta adequada. “As eleitoras e Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
os eleitores não votam por causa do gênero, mas pelo projeto. É um
plus ser mulher, mas por ser mulher não significa que seja melhor”
(consultor José Manuel Talero, Espanha/México98). O consultor David
Márquez concorda: “penso que a campanha, a comunicação, o uso
da estratégia, o ativismo, tudo isso se faz com tecnologia política e a
tecnologia política serve tanto para homens como para mulheres. É
como um remédio que é válido para homens e mulheres, para bons

97 Especialista em campanhas digitais. Entrevista realizada em 15/08/2014,


Cidade do México.
98 Especialista em estratégia. Entrevista realizada em 28/05/2014, Cidade
do México.
75
e maus, para esquerda e para a direita” (consultor David Márquez,
Bolívia/Estados Unidos99).
Na mesma linha de raciocínio, a reflexão: “não trabalho nem
com homens, nem com mulheres. Trabalho com pessoas que querem
conseguir um objetivo através das suas intervenções públicas e não
conduzo o treinamento se são homens ou mulheres. Meu foco é a
pessoa como ela é” (consultor Yago de Marta, Espanha/México100).
Ainda que considere estas questões, Amado procura ver a questão
sob o ponto de vista do eleitorado. “A complexidade disso está no
critério de superficie e de profundidade. Quando você pergunta
às pessoas a opinião sobre ter uma candidata mulher, dizem que
parece uma boa ideia porque a mulher tende ser mais honesta,
tende a dar uma nova perspectiva das coisas e a entender melhor o
problema das pessoas. Por outro lado, a complexidade da opinião
pública reside em que os cidadãos também querem alguém com
muito pulso firme, com muita força” (consultor Ricardo Amado,
Venezuela/Estados Unidos101).
Os profissionais da comunicação entrevistados se dividem
entre os que acreditam que há e os que creem que não há diferenças
entre as campanhas de homens e de mulheres. “Sempre é diferente.
Por mais que se fale que não, não é tudo igual porque você tem as
qualidades e os defeitos por ser mulher, diferentes das qualidades e
dos defeitos do homem como homem” (consultor Carlos Manhanelli,
Brasil102). O peruano Henry Rafael103 acredita que as mulheres são mais
criativas para achar soluções no decorrer da campanha. “Já os homens
estão no piloto automático”, comenta. Consultores e consultoras
que acreditam nisso concordam que a principal diferença está nas

99 Especialista em estratégia. Entrevista realizada online em 23/07/2014.


100 Especialista em oratória e media training. Entrevista realizada online em
18/08/2014.
101 Especialista em pesquisas eleitorais. Entrevista realizada online em
Luciana Panke

12/08/2014.
102 Especialista em estratégia. Entrevista realizada em 28/03/2014, Co-
lômbia.
103 Entrevista realizada em 15/07/2016, Lima, Peru.
76
características popularizadas de cada gênero e no entorno cultural.
Assim, apresentar uma candidata à disputa eleitoral na América Latina
– ainda que seja uma região predominantemente machista – muda
conforme a região, o país, a personalidade da candidata e o projeto
político. “Numa campanha tem sempre três elementos que não
necessariamente coincidem: o que o candidato é, a imagem que tenta
projetar e o que os eleitores percebem” (SALGADO, 2004, p. 67).
Por sua vez, a ex-candidata presidencial mexicana, Patricia
Mercado, argumenta: “acho que as pessoas estão equivocadas quando
pensam que nós, mulheres, por sermos mulheres, somos melhores.
Podemos ser corruptas, negligentes, assassinas, tudo. Podemos ser
tudo isso. O que acontece é que, efetivamente, nossa educação,
digamos, nossa cultura de gênero diz que as mulheres são pétalas de
rosa, somos a Virgem Maria, somos boas, por natureza somos mães,
que amamos os filhos. Toda essa cultura faz com que se pense que
as mulheres por definição sejam melhores. Nesse momento, uma
campanha que diz ‘vote por mim porque sou mulher’ é uma campanha
fracassada” (secretária do trabalho, Patrícia Mercado, México104).
A então deputada Lizbeth Gamboa, também mexicana, acredita
que “a realidade nos diz que quando estamos na rua, esquecemos
que somos mulheres e competimos nas mesmas condições que os
homens. Mas deveria haver uma diferença numa campanha em que as
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
candidatas são mulheres e os candidatos são homens, no planejamento,
no objetivo, nas políticas públicas, mas não existe” (ex-deputada Liz
Gamboa – México105).
Portanto, como fazer uma campanha eleitoral para mulher? No
último capítulo, há uma série de dicas de mulheres que passaram por esta
experiência, de consultores e de consultoras. Entretanto, como parto
do princípio de que tecnicamente uma campanha eleitoral passa pelas
mesmas fases, aqui exponho três pontos-chave: pesquisa, mensagem

104 Entrevista realizada em 14/05/2014, Cidade do México.


105 Palestra durante o Encontro Internacional de Comunicação Política,
UAM-Cuajimalpa, México, 22/05/2014.
77
e meios de veiculação, para então me focar no principal deste livro:
apresentar os perfis ideais de uma candidata. Começo pela pesquisa.

PESQUISAS

O principal elemento de uma campanha eleitoral é a candidata106.


De nada vale ter meios e estratégias adequadas se a aspirante ao cargo
não tem talento. Da mesma maneira, é dificil eleger uma boa candidata
se a comunicação está equivocada ou incoerente. “A incorporação
dos valores pessoais e políticos faz parte da construção de identidades
estratégicas que são formadas durante a campanha” (BARREIRA, 1996,
p. 26). Todo o processo deve ser avaliado enquanto a campanha está
acontecendo para evitar má comunicação com o eleitorado.
Cada campanha é única e, exatamente da mesma maneira, cada
candidatura também é. Tem que se definir o conceito que vai definir
as ações de comunicação. “O conceito deve ser, então, o filtro que se
utiliza para avaliar qualquer ação ou plano, as táticas e as ferramentas
que se utilizarão em toda contenda” (IBINARRIAGA; HASBUN, 2012, p.
39). Para saber que conceito é esse, é necessário realizar pesquisas sobre
nossa candidata para conhecê-la melhor e identificar seus pontos fracos
e fortes. Nesta etapa, há a realização de entrevistas em profundidade
(candidata e públicos-chave), grupos focais (eleitores que conversam
sobre temas que escolhemos) e pesquisas quantitativas (encomendadas
pela campanha, pelo partido ou abertas, divulgadas por institutos de
opinião). Para Marcelo Serpa, é fundamental ter um mediador que saiba
motivar os participantes a se expressarem nos grupos de discussão. “Os
homens não falam de certos temas na frente das mulheres e é necessário
que o grupo seja conduzido de modo que se saibam as respostas
autênticas dos participantes” (consultor Marcelo Serpa, Brasil107).
Luciana Panke

106 A partir de agora, vou me referir somente à candidata, gênero femi-


nino, tendo em vista que o livro é especializado nisso. Quando for algo específico de
uma candidatura masculina, aí sim farei a diferenciação.
107 Entrevista realizada online em 22/07/2014.
78
Uma das coisas que não se pode esquecer, pode parecer
óbvio, mas planejamento é feito antes de começar uma campanha e
isso, infelizmente, nem sempre acontece. É preciso montar a equipe,
traçar um diagnóstico a partir dos dados levantados pelas pesquisas
previamente, considerando as ideias da candidata, o partido, o
contexto e, claro, deve-se levar em conta o orçamento disponível.
Nesta etapa de planejamento é fundamental realizar pesquisas como
focus group, mapas mentais, levantamentos quantitativos e análises
socioeconômicas. É muito recomendável fazer uma análise SWOT da
candidatura, pois ajuda a visualizar os possíveis rumos da estratégia.
Aqui se veem as forças, oportunidades, fraquezas e ameaças. “A análise
SWOT é um estudo fundamental na definição de estratégias e é utilizada
com frequência em muitos setores (privado, público e social), no caso
de campanhas políticas, devido à interrelação de variáveis que influem
o detalhamento dos adversários políticos. Se trata de uma ferramenta
mais que valiosa, pois define que ‘o que não pode ser diferenciado não
é identificado’, uma premissa que representa com exatidão a forma
como se deve mostrar um candidato diferente dos demais. O que
se busca no final das contas é saber o que a minha candidatura pode
oferecer ao eleitor que as outras candidaturas não podem (unique
real proposition) buscando sempre uma identificação com os eleitores”
(ARCE, 2012, p. 228).
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Essa parte inicial ajudará, justamente, a identificar também quem
são os eleitores, suas necessidades e percepções. “A mescla adequada
entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa é o que permitirá dar
um tom diferente a resultados que podem ser similares” (PEÑAFLOR,
2014, p. 104). Para formar a matriz é necessário desenvolver uma
pesquisa de campo exaustiva, grupos focais, análise de meios e reunir
informação de qualidade, analisada por gente qualificada. Realizar uma
boa análise SWOT no momento inicial de investigação é fundamental
para evitar o que o consultor chileno Manuel Casanova108, residente
nos Estados Unidos, aponta: “a mulher pode passar de mulher elegante

108 Entrevista realizada online em 01/08/2014.


79
a bruxa por apenas um fio, ou seja, um fio para passar de ‘nice to
bitchie’”. Ele se refere, em especial, à idade da mulher, sua relação
com o lar e com a maternidade. Casanova acredita que esses são
temas delicados e podem trazer más recordações ao eleitor, por isso
é necessário cuidar das pequenas atitudes e da imagem que projeta.
O comentário dele reproduz preconceitos em relação à mulher na
política, como se ali não fosse seu lugar natural. Ademais, a mulher,
como se pode perceber, é avaliada com mais rigor, deve estar mais
preparada e deve demonstrar isso. Os comentários mais frequentes
dos quais é alvo são de conteúdo pessoal e sexual.
Além disso, a dúvida em relação à competência feminina
se envereda por outros campos. No México, cuja lei de paridade é
considerada exemplo para vários países, a situação não é diferente. Por
experiência, o mexicano Dante Moncada109 defende que as campanhas
de homens e de mulheres são distintas. O consultor relata que “os
candidatos devem ter liderança, devem demonstrar honestidade,
força, inteligência, isso de uma lista com quatro categorias das mais
importantes dentro de uma relação que pode mudar. Vemos que
quando trabalhamos com candidatas, o eleitorado, seja num município
pequeno ou em uma cidade maior, tem preconceito tanto por parte
de homens como de mulheres, não em relação à capacidade da
candidata, mas em relação à força e às características que deve ter
para enfrentar certos temas, como por exemplo, a segurança pública”.
Mesmo com esse tipo de dúvida, não é possivel qualquer generalização.
Na Colômbia, por exemplo, a entrevistada Marta Lucía Ramírez foi
ministra da Defesa, portanto, é uma questão de percepção relacionar
as mulheres com talento apenas para temas conhecidos como “mais
sociais ou humanísticos”. Gisela Rubach110, consultora mexicana com
mais de 300 campanhas no currículo, comenta que depende muito do
contexto: “tem lugares que não tem problema nenhum uma mulher
Luciana Panke

109 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.


110 Entrevista realizada em 11/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
80
ser candidata. Agora em outros, por questão cultural, de jeito nenhum
se consegue eleger uma mulher”.
Para o argentino Fernando Dopazzo111, que esteve em várias
campanhas de mulheres na América Latina, a percepção é de que “a
diferença entre homens e mulheres está relacionada com a sensibilidade
e a aproximação com o público. Os homens estão muito próximos a
uma velha forma de fazer política, vinculada com a confrontação, e as
mulheres são mais abertas ao diálogo”. Essa proximidade também é
vista com dificuldade em mesas de negociações. A prefeita mexicana
Anabel Balbuena112 diz que quando “você está nas ruas, quem te recebe
nas casas são as mulheres. Agora numa mesa de negociações quem
está são os empresários. É preciso aprender a negociar, ainda que para
eles custe muito negociar com uma mulher”.
Ainda que haja um esforço para valorizar os melhores aspectos
da candidata, é impossível comunicar algo que ela não seja. Dessa
maneira, “a imagem se constrói a partir de uma combinação complexa
de todos os elementos mencionados (aspecto físico, roupa, linguagem
corporal etc.), outra série de linguagens como a ocupação de espaços
em palanque e o tom de voz, entre outros” (IBINARRIAGA; HASBUN,
2012, p. 98).
Com todas as informações em mãos, podemos planejar as
ações e a mensagem central, adequando atividades ao orçamento, ao
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
tempo e à dimensão da campanha (local, estadual, nacional, majoritária
ou proporcional). “Para uma campanha de 60 dias teríamos que
planejar ao menos 10 ações de impacto (incluindo aí o lançamento e o
encerramento), 50 ações intermediárias e centenas de ações cotidianas.
Esse cronograma de ações requer um grande esforço organizacional
e um planejamento estratégico bem pensado. A campanha política é
um relato que deve se ir contando pouco a pouco, em uma sequência
emocional controlada” (REINA, 2014, p. 160).

111 Entrevista realizada em 28/03/2014, Cartagena, Colômbia.


112 Entrevista realizada em 09/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
81
O fundamental é estar presente. E o que significa isso? Significa
avaliar as possibilidades de participação em eventos, estar próximo de
públicos relacionados com a candidata (especialmente em campanhas
proporcionais), gerar notícia, assinar acordos, participar de caminhadas
e, principalmente, estar disponível para escutar as demandas. Tudo isso
com ações midiáticas como propaganda impressa, outdoors, panfletos,
rádio, televisão, aplicativos, redes sociais online e outros instrumentos
que sejam permitidos, obviamente, pela legislação eleitoral. Importante
salientar que a lei eleitoral brasileira é ajustada a cada dois anos,
necessitando atualização constante da equipe. “Creio que é bem
importante entender que embora a pesquisa possa dar as diretrizes
de como se poderia melhorar a imagem, isso não significa que mudem
seus valores, ou sua essência” (consultor Alfredo Dávalos, México/
Equador113).
No próximo capítulo enfoco a projeção de imagem feminina,
mas, por enquanto, me dedico ao discurso e, na sequência, a alguns
instrumentos de comunicação eleitoral.

A MENSAGEM E O DISCURSO

Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos entre 1952


e 1988, por Roberts (1993) e citada por Beaudoux, D’Adamo e
Slavinsky (2005) “se encontraram perfis simbólicos presidenciais que
os candidatos haviam emitido tipicamente em seus anúncios para
adequar-se à imagem que o público tem e espera de um presidente”
(BEAUDOUX; D’ADAMO; SLAVISNKY, 2005, p. 60). Naquele estudo,
até por questão contextual, não havia nenhuma referência a mulheres
no poder e, ao contrário, reforçava-se o papel do presidente como
função masculina, como se pode perceber nos 10 tipos propostos:
1) O grande comunicador – os spots o mostram dando
discursos, coletivas de imprensa ou falando com os
Luciana Panke

eleitores;

113 Entrevista realizada online em 22/07/2014.


82
2) O chefe visionário – fala do futuro, dos sonhos, do destino;
3) O herói – as multidões o ovacionam, se mostra como herói
de guerra, recebendo medalhas ou honrarias;
4) A figura paterna – aparece com crianças, com a sua família,
fotos de sua família aparecem no escritório nos materiais
de campanha;
5) O guardião dos valores – menciona direitos, liberdade,
igualdade, paz;
6) O comandante – é visto com as Forças Armadas ou fazendo
cumprir a lei;
7) O líder mundial – aparece com líderes de outros países,
assinando tratados, falando sobre a paz mundial;
8) O legislador – aparece em falas no Congresso, reunido
com outros legisladores;
9) O educador – aparece em situações de aulas, escolas ou
treinamentos;
10) O administrador – fala de economia, impostos, inflação,
planos sociais (BEAUDOUX; D’ADAMO; SLAVISNKY,
2005, p. 60, tradução minha).
Como visto na lista, não há referência a candidaturas femininas
ainda que o sufrágio feminino nos Estados Unidos tenha ocorrido em
1920. Nesses perfis de homens candidatos, é interessante observar Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
que no número quatro se encontra a figura paterna, versão masculina
do que encontrei nos perfis de candidatas mulheres quando reforçam
o papel de mães em suas campanhas. Outro estudo conhecido na área
são as categorias propostas por Schwartzenberg, que, apesar de terem
sido descritas nos anos de 1970, também não contemplam candidaturas
femininas. Ele diz que existe pai, herói, homem simples ou líder-charme
como imagens que são as mais exploradas nas campanhas masculinas.
E nas mulheres, quais são as mais presentes? Nenhum estudo se ateve
a esta especificidade até por uma questão ainda de estranhamento da
presença feminina, conforme explicado anteriormente. Entretanto, no

83
capítulo seguinte, detalho este tópico apresentando uma proposta de
imagens mais utilizadas pelas mulheres nas eleições.
Iten e Kobayashi (2002) indicam que uma candidatura
feminina, por si só, já se apresenta quase como uma novidade. Seria
um diferencial pelo número mínimo de mulheres que se postulam
– número que tem girado em torno dos 30% devido às cotas. “A
agregada representatividade que uma candidatura feminina pode
simbolizar – para com as próprias mulheres, o espírito de iniciativa, a
independência, a defesa de minorias ou das causas humanitárias” (ITEN;
KOBAYASHI, 2002, p.126). É interessante observar que os autores
apresentam as mulheres relacionadas com áreas consagradas como
femininas, as quais expõem mais sensibilidade (defesa de minorias ou
das causas humanitárias), reforçando estereótipos, sem considerar que
uma mulher pode se destacar em áreas como economia, infraestrutura
e obras em geral. “A pergunta é se as mulheres têm que ser como são,
como cresceram e nasceram ou têm que se converter em outro tipo
de mulher”, reflete o consultor mexicano Javier Sánchez Galicia114.
Na busca de argumentos para fortalecer as campanhas,
há estrategistas que optam por reforçar gênero. “As candidaturas
femininas constroem estratégias, criando um sentido teatral e uma
estrutura discursiva que aparecem como uma espécie de ‘plus’, um
enriquecimento que faz alusão à universalidade de valores” (BARREIRA,
1996, p. 35). Os atributos femininos de maternidade, organização e
dedicação são transferidos para a atividade pública. Para o argentino
Daniel Ivoskus115, “é uma questão de sensibilidade diante da dureza
das campanhas eleitorais. Quando se ataca com dureza uma mulher,
termina fortalecendo a própria candidatura dela”. A consultora porto-
riquenha Wanda Nazario116 comenta que em seu país esse argumento
seria inviável. “Antes até se escutava ‘estão me atacando porque sou
mulher’, mas agora a população entende que se entrou na política
Luciana Panke

114 Entrevista realizada em 09/04/2014, Cidade do México.


115 Entrevista realizada em 08/05/2014, Cidade do México.
116 Entrevista realizada online em 01/07/2016.
84
tem que suportar a pressão”. A deputada brasileira Ione Pinheiro117
reforça: “nós não estamos aqui como coitadinhas. Eu acho que nós
temos que mostrar que nós temos direito, que nós somos parceiras
com os homens, eu acredito mais numa parceria com os homens, de
trabalharmos juntos”.
Alguns entrevistados consideram que a projeção da imagem
como mulher é um argumento central e outros apenas a veem como
periférico, ou seja, é usado quando necessário. O brasileiro Carlos
Manhanelli118 acredita que usar o papel de administradora do lar é
uma estratégia que ajudou a obter vitórias em várias campanhas. “Por
ser mulher, ela tem a capacidade de administrar o orçamento melhor
que o homem. E se ela consegue fazer isso, consegue administrar o
orçamento público melhor que o homem. Essa analogia já me levou
à vitória”, comenta. Aqui vemos o reforço de um dos estereótipos
relacionados com a figura feminina: dona de casa. Nem todas as
mulheres são assim, entretanto o entendimento público, adotado,
portanto, em campanhas, acaba por ajudar na consolidação desse papel.
Essa associação da mulher com determinados papéis, conforme
o que Manhanelli defende, faz com que o discurso se aproxime da
realidade vivida pelas pessoas. O argentino Máximo Reina119 está de
acordo: “certas coisas são mais críveis na mulher que num homem.
Por exemplo, se preocupar pela segurança dos filhos. Tudo que se
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
aproxima do cotidiano do eleitorado é necessário aproveitar. A
mulher deve falar dos filhos e da preocupação que tem com os preços:
‘vou ao supermercado e vejo os preços’; isso é mais provável vir de
uma fala feminina que masculina. Não tem como descartar isso e, sim,
aproveitar como um fator positivo”.
A ideia é compartilhada pela consultora brasileira Gil
Castillo . Para ela, não é possível escapar de certos estereótipos de
120

gênero, pois eles fazem a mensagem mais compreensível. “Além disso,

117 Entrevista realizada em 17/09/2015, Belo Horizonte, Brasil.


118 Entrevista realizada em 28/03/2014, Cartagena, Colômbia.
119 Entrevista realizada em 14/08/2014, Cidade do México.
120 Entrevista realizada online em 20/07/2014.
85
as campanhas são muito curtas e não há como aprofundar a imagem da
candidata”, argumenta. Para o também brasileiro Leandro Groppo121,
os estereótipos são uma base para construir uma mensagem favorável a
uma candidata. Ele relata que uma de suas assessoradas sofreu ataques
por questão de gênero por parte do seu principal concorrente. Nesse
momento, ela aproveitou para expor o homem como preconceituoso,
gerando uma imagem negativa dele. Nesse caso, Groppo comenta que
a campanha não estava embasada pelo fato de ser uma candidata, mas
apareceu a oportunidade de reforçar como uma vantagem a partir do
ataque do oponente.
Nesse sentido, Barreira também crê que a delicadeza feminina
pode acrescentar não apenas em uma campanha, mas na gestão pública.
“O discurso feminino na política é signatário de uma posição a ser
construída, que passa pela ênfase de características típicas femininas
e masculinas também presentes e, às vezes, postas como mais
desenvolvidas na mulher. É como se a qualidade devesse ser mostrada
não somente nas realizações, mas também no corpo, no coração e nas
expressões de afeto ‘de corpo e de alma’” (BARREIRA, 1996, p. 36).
Ressalto que o texto foi publicado há 20 anos e ainda se mantém atual,
uma vez que, após esses anos, é um posicionamento social ainda em
construção.
Em breve falarei mais sobre razão e emoção nas mensagens
eleitorais, mas, por enquanto, é importante destacar que ao planejar
uma campanha eleitoral é prioridade gerar confiança no eleitorado.
“Queremos que nossos candidatos encarnem as virtudes que
atribuímos ao maior de nossos líderes: força de caráter, visão, carisma,
capacidade de estar por cima da politicagem, habilidade para chegar a
um consenso, capacidade moral para ver e fazer o correto, poder para
derrotar as forças do mal (ou pelo menos os cínicos, os reclamões e
os críticos), a habilidade para conseguir que se façam as coisas e que,
ao mesmo tempo, estas pareçam fáceis, mantendo sempre perto o
Luciana Panke

cidadão comum” (SCHER, 1997, p. 73).

121 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


86
Para isso, um dos objetivos é criar laços entre a candidata
e a população. Para gerar vínculos, há várias estratégias que podem
ser materializadas em diferentes códigos de comunicação. Destaco as
que considero principais: identificação, empatia e projeção. Ainda que
fiquem mais evidentes no código linguístico, as três estão presentes
nas outras formas de linguagem também:
a) Identificação: é quando a candidata se mostra como uma
igual. O desafio é gerar aproximação natural e que o
eleitorado a veja como uma legítima representante. No caso
das campanhas de mulheres, não significa, necessariamente,
uma identificação com outras mulheres, mas com um
projeto, uma causa, uma maneira de viver.
b) Projeção: aqui se enfatiza a liderança. É quando a candidata
encarna a esperança de ser a voz do grupo, de tomar a
iniciativa, defender publicamente ideias e princípios. A
aspirante ostenta o futuro ideal, o mundo melhor que
somente seria alcançado com sua presença no poder.
c) Empatia: há pessoas com uma capacidade incrível de
comunicação, de modo que quem está perto se sente bem.
Essa qualidade pode ser evidenciada no discurso, fazendo
com que a candidata expresse que sabe o que acontece no
coração e na vida das pessoas. Essa característica é uma das
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
apontadas pelas entrevistadas sobre a maneira feminina de
fazer política.
Normalmente, há uma mistura das três características, em
maior ou menor grau para uma delas. Em algumas campanhas não existe
preocupação de mostrar a candidata igual à população, até porque ela
não tem origem em camadas populares. Demonstrar isso seria forjar
outra identidade para ela. Nesse caso, ela pode ser valorizada como
líder. No caso de empatia, não é possível forçar. A candidata tem ou
não tem. É o que também se conhece por carisma. Se uma aspirante
que não é empática cede à tentação e tenta parecer, vai soar falsa e

87
tende a gerar desconfiança. O consultor Leandro Groppo122 alerta que
“se uma mulher é um pouco mais dura e com um passado que não
comunica essa empatia, não tem maneira de simplesmente mudar a
imagem. Nesse caso, tem que se encontrar outro ponto forte”. Fazer a
análise SWOT, como comentei antes, ajuda na solução destas questões.
É de responsabilidade do consultor identificar o perfil predominante e
valorizar as qualidades da candidata.
O mexicano Dante Moncada123 dá três recomendações para
guiar a projeção de imagem. “Acredito que o fato de se ver feminina
e até doce, sensível, não é conflitivo com se ver firme. Acho que três
questões são fundamentais: 1) o discurso é chave; 2) as propostas e os
fatos que acompanham estas propostas é que vão gerar coerência; 3)
cuidar com a imagem de tudo que a candidata faz durante a campanha
porque há elementos que vão reforçando o conceito-chave, como
elementos cenográficos e até o que forma a narrativa da campanha”.
Com base em Ibinarriaga e Hasbun (2012) e Eco (1993),
proponho códigos de comunicação que vão compor uma mensagem.
As categorias englobam elementos não verbais, verbais, imagéticos,
sonoros, estéticos, gráficos. Assim, tomando Eco (1993, p. 382) como
referência, temos seis funções da linguagem:
- Função referencial: direcionar a atenção do público para
apenas um referente;
- Função emotiva: provocar emoções, em especial, a partir
da associação de ideias;
- Função imperativa: levar o sujeito à ação;
- Função fática: estabelecer contato psicológico com o
receptor;
- Função metalinguística: falar da mensagem em si;
- Função estética: enfatizar a harmonia de todas as outras
funções.
Luciana Panke

122 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


123 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.
88
Enfatizo que todas essas funções comunicativas são expressas
de diversas maneiras, não apenas pela fala, mas pelas formas de
linguagem citadas a seguir e que devem ser levadas em consideração
na hora de se analisar as tipologias que proponho no terceiro capítulo.
Por isso, é preciso cuidar de todos os detalhes em uma campanha para
que não haja contradições entre o discurso linguístico e outras formas
de comunicar. Por exemplo, uma candidata que se diz representante
de camadas populares, mas aparece em eventos com uma bolsa cara
de marca internacional famosa, comunica informações que não se
correspondem. Isso gera desconfiança em relação à credibilidade e
intenções da proponente.
Assim, vamos a pontos centrais de códigos de comunicação
que estarão presentes em distintas plataformas de transmissão: “como
comunicamos uma candidata na campanha?”. São os tópicos abaixo
utilizados para a análise dos spots latino-americanos e a base para
classificar uma campanha em uma ou outra das imagens propostas no
capítulo 3:
1) Linguagem linguística: é o discurso verbal, seu conteúdo
e argumentos. São as conversas diárias, declarações da
candidata, slogan da campanha, o que publica nas redes
sociais e o que está nos santinhos, jornais, cartazes.
Fundamental haver coerência entre todas as formas de
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
transmissão da mensagem. Como e o que argumentar,
exponho logo adiante.
2) Linguagem quinésica: são os movimentos e as expressões
físicas realizadas durante as falas. A maneira como anda
é bastante observada, especialmente em comícios,
encontros, debates, gravação de vídeos de campanha e
outros programas de televisão. Aqui se pode comunicar
força ou fraqueza, por exemplo. “Olha, sou sincero: é
necessário ensinar a caminhar. Às vezes, uma abaixa
os ombros e acaba perdendo a autoridade, parecendo
assustada. Então, às vezes é necessário ensinar como andar
direito, olhando para cima. Qual é o status comunicativo?
89
O que ela está transmitindo para as pessoas?”, comenta
o colombiano Jorge Aguilera124. Neste afã de se mostrar
corporalmente confiante, há o desafio do equilíbrio para
não parecer arrogante ou distante.
3) Linguagem proxêmica: corresponde ao uso do espaço da
fala. Na gravação de spots, por exemplo, é o significado
que se procura criar quando uma candidata aparece
sentada em uma mesa de reuniões, está expondo um perfil
profissional; quando fala em um comício, sua liderança
e quando está próxima de crianças, o lado maternal. É
necessário prestar atenção neste aspecto não só nos
momentos de gravar qualquer material audiovisual, mas
também nas fotos de divulgação dos compromissos da
agenda de campanha e nas publicadas na propaganda
oficial.
4) Linguagem iridológica: o contato visual é muito perceptível
na televisão quando a candidata pode olhar para a câmera
(dando a impressão de estar olhando quem está em casa)
ou para o entrevistador, por exemplo. Não apenas na
comunicação midiatizada, mas também no contato pessoal
é importante olhar as pessoas nos olhos, mostrar o quanto
se importa com elas. Se ganha muito sendo uma pessoa que
consegue olhar nos olhos durante a conversa.
5) Linguagem fisiológica e de moda: o tipo físico, a roupa e
como se apresenta devem ser valorizados. As escolhas
devem ser direcionadas de acordo com o corpo da pessoa
e os objetivos de comunicação, sem esquecer que deve ser
coerente com a própria personalidade. “O visual constitui,
ao lado do discurso e outras estratégias de campanha, uma
totalidade a partir da qual são estabelecidos vínculos entre
os candidatos e os eleitores” (BARREIRA, 1996, p. 34). Há
Luciana Panke

consultores que orientam o uso de cores de acordo com o

124 Entrevista realizada online em 14/08/2014.


90
tom da pele, com o partido e com a atividade a ser realizada
(almoço com líderes de bairro, entrevistas para a imprensa
ou caminhadas, por exemplo). Importante frisar que as
mulheres são muito mais avaliadas e observadas sobre
como se apresentam do que acontece com candidaturas
masculinas. “Às vezes acho que os eleitores nem estão
prestando atenção no que você fala. Mas veem se as unhas
estão bem, o cabelo, que tipo de vestido você usa, se você
segue tendências. É um custo muito alto e nem todas estão
dispostas a esse tipo de pressão ou de exposição”, relata a
ex-candidata presidencial do Panamá, Balbina Herrera125. A
gente pode pensar que essas coisas acontecem com mais
facilidade na América Latina, mas a belga Lesia Radelicki126
observa o mesmo na Europa quando uma mulher se
candidata. Ela disse que vê comentários como “Não sei,
será que ela é boa para esse trabalho? Deixa eu ver o
que está vestindo”, ou seja, avaliando uma candidatura
somente pela forma como se apresenta esteticamente.
A relações públicas equatoriana Natali Becerra127 reforça
que nos meios de comunicação são esses pontos os mais
observados. “A imprensa fala mais da roupa e do penteado
do que do trabalho político. Dos homens ninguém se
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
preocupa se está careca ou engordou”.
6) Valores não verbais na voz: o tom, o volume e a textura
ajudam a reforçar a mensagem. “As pessoas falam como
são, expressam o que são. Isso define as características
desta variável frente a qualquer outra que tenha que ver
com a comunicação política. As outras podem acrescentar

125 Entrevista realizada em 29/07/2014, Cidade do Panamá.


126 Entrevista realizada em 27/06/2014, Cidade do México. Única entre-
vistada do livro que não é latina.
127 Entrevista realizada online em 24/06/2016.
91
ou se podem tirar, esta está sempre com o candidato aonde
quer que vá” (consultor Yago de Marta – Espanha128).
Esse conjunto de atributos comunicativos auxilia para
comunicar quem é a candidata. Além disso, há de se considerar o que
as relações pessoais, profissionais e familiares dizem sobre ela. Por
isso, fundamental não esquecer que quando se decide ser protagonista
na vida pública, é possível que a vida privada receba exposição extra.
Essa parte comunica as origens, crenças da candidata, e tudo isso deve
ser compatível com seu projeto político.
Independentemente de ser candidata de situação ou de
oposição, os discursos – aqui me refiro à mensagem global da
campanha – acabam por expor a teoria de Maslow (1954 – citada por
Moderno, 2000) sobre as necessidades humanas. A pirâmide proposta
pelo estudioso está dividida em cinco partes nas quais se identificam
as demandas básicas para a humanidade. A primeira é ter necessidades
físicas atendidas (comida, por exemplo). Aqui, encontramos discursos
sobre questões sensíveis como combate à miséria e direito à saúde.
Quando se argumenta pela melhoria na qualidade de vida se está
abordando este tema central. “Eu acho que as mulheres dão mais vida
aos problemas, dão mais cara aos problemas, dão mais identidade aos
problemas. E os homens olham para a saúde como um investimento
saúde” – a deputada brasileira Luciane Carminatti129 se refere não
apenas ao tema em si, mas à forma de abordagem mais humanitária,
na qual se personalizam as demandas. A ex-governadora do Pará, Ana
Julia Carepa, buscava focar neste aspecto as ações do governo, gerando
programas de bolsa trabalho e obras de infraestrutura, por exemplo:
“Queríamos promover a renda em todo o estado, pois é condição
básica para uma vida de qualidade”130.
Na segunda camada da pirâmide estão segurança e proteção.
As mensagens que direcionam para este tópico falam de combate ao
Luciana Panke

128 Entrevista realizada em 19/08/2014, Cidade do México.


129 Entrevista realizada online em 10/09/2015.
130 Entrevista realizada online em 11/09/2016.
92
crime, por exemplo, ou também podem criticar a falta de segurança
das cidades, no caso de oposição. Como se referir a isso: se falará de
segurança a partir da família? Por exemplo, o quanto afeta os jovens
a falta de segurança pública. Outra opção: propor ações de combate
ao narcotráfico ou mudanças no sistema policial. “No México temos
muito forte a questão de segurança pública e sempre adverti sobre
os riscos que temos por aqui, propondo soluções de combate ao
narco”, racionaliza a ex-candidata presidencial mexicana, Josefina
Vázquez Mota131.
Por outro lado, o afeto e as relações sociais se encontram na
terceira parte. As candidatas cultivam relacionamento com o eleitorado,
com atitudes para gerar proximidade. São as visitas aos lugares
corretos, com contatos pessoais e palavras que expressam atenção.
O contato pessoal, tanto durante uma campanha quanto depois, no
governo, é um diferencial para várias mulheres. “Eu prefiro olho no
olho. Sempre reúno população. Tentar refletir com as mulheres sobre
a mudança no país”, prefere a deputada gaúcha Stela Farias132. A ex-
-deputada estadual paranaense, Luciana Rafagnin133 também avalia essa
proximidade como uma das melhores coisas da política “Melhor coisa
de estar na política. O fato de você se sentir amada pelas pessoas. O
carinho sincero que a gente sente das pessoas”.
Quase no final da pirâmide está o status, assunto relacionado
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
diretamente com as preferências eleitorais e o prestígio de pertencer
a determinado grupo. Por último, no mais alto da pirâmide de Maslow
se encontra a realização pessoal. Os valores morais, emocionais e de
bem-estar se destacam aqui. Dois exemplos comuns são os discursos
que põem o indivíduo no centro das mudanças e no papel central da
construção de um mundo melhor.
Sobre os temas de campanha, frequentemente me perguntam
se a mulher na política deve falar obrigatoriamente sobre questões

131 Entrevista realizada em 29/08/2014, Cidade do México.


132 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
133 Entrevista realizada online em 21/08/2014.
93
de gênero. Primeiro, tem que ter clareza sobre o que significa
isso. É referir-se às pautas femininas, às pautas LGBTs? Depois vai
depender de alguns fatores, entre eles: cargo pleiteado (legislativo
ou executivo), bandeira da candidatura e público. No caso de uma
candidatura para vereadora, deputada estadual, federal ou senado,
fica com mais sentido focar em uma bandeira política. “Você tem que
mostrar que tem conhecimento e pode trabalhar em várias causas
e não apenas a causa feminina”, diz a ex-deputada brasileira Marla
Turek. Para a boliviana Marcela Revollo134, “deixei claro que era um
olhar de mulher sobre o tema desde a exploração de petróleo até
a questão dos animais”. A deputada peruana Carmen Omonte135 diz
que “o tema da mulher deve ser assumido por todas para marcar
posição da nossa entrada na política”.
Já para o executivo, é um assunto que deve estar presente,
mas não deve ser hermético para não gerar a impressão de que
governará apenas para um segmento da sociedade. “É inevitável
destacar uma mensagem forte para temas que não se reconhecem
ou não se concedem às mulheres, como infraestrutura, política
internacional, segurança pública, mas sem deixar de lado os aspectos
sociais considerados ‘naturais’”, pondera a ex-candidata presidencial
mexicana, Josefina Vázquez Mota136.
O principal é que não é necessário dizer que é mulher,
pois o corpo fala por si. Estar atenta a questões que afetam mais às
mulheres é fundamental porque dificilmente um homem faria isso. Por
exemplo, “você vai decidir sobre linhas de ônibus. Já imaginou o ônibus
reluzente, último tipo, a mulher fala ‘vai passar na creche e na escola?’.
O olhar é muito mais inclusivo”, comenta a paulistana Nancy Thame137.
Entretanto, ficar presa em uma candidatura que seria voltada apenas
para questões de gênero pode fazer com que se restrinjam outras
ações possíveis e, dentro da sociedade que vivemos, é preciso ter
Luciana Panke

134 Entrevista realizada online em 26/08/2014.


135 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.
136 Entrevista realizada em 29/08/2014, Cidade do México
137 Entrevista realizada em 23/09/2015, São Paulo.
94
estratégia para ser eleita e, estando lá, posicionar-se e abrir caminhos
para outras mulheres. Em todos os casos, estamos falando de uma
campanha eleitoral, portanto além da personalidade da candidata, da
causa pela qual batalha, dos apoios, dos grupos de pressão, do partido
e da verba disponível, torna-se indispensável ter claro quem ela está
representando.

O DISCURSO LINGUÍSTICO

Para transmitir a qualificação das candidatas, sua


comunicação deve projetar diversos atributos como competência,
simpatia, honestidade. De maneira geral, os discursos fomentam
emoções e alternam a técnica de storytelling com outras formas de
narrativa. Entre elas, destacamos: a inserção de testemunhais, artes
gráficas com informações com dados numéricos ou projeção do
futuro desejado, pronunciamentos das candidatas diretamente aos
eleitores. “Ter um discurso político e aludir a temas é importante,
mas se chegará a um impacto muito maior se tiver uma história
para contar” (FARA, 2014, p. 30). As narrativas mudam de acordo
com as leis eleitorais de cada país e, claro, com as estratégias gerais
de cada campanha. Não tem como fazer política sem discurso. O
espaço privilegiado da fala é uma das razões pela luta simbólica
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
pelo poder (PANKE, 2010). Morchón (2012, p. 323) lista algumas
características dos discursos políticos:
1) Os discursos políticos são exercícios de fala e, portanto,
são escritos para serem escutados. Um bom escritor de
discursos escreve para o ouvido e não somente para os
olhos.
2) Um discurso é um trabalho artesanal.
3) Um discurso é uma ferramenta privilegiada de comunicação
para transmitir uma mensagem.
4) Um discurso reflete a personalidade e os valores de quem
o expressa.

95
5) Um discurso transmite não apenas a filosofia (ou ideologia)
da pessoa, mas também a do projeto que encabeça.
Para compor um discurso é necessário ter argumentos.
O discurso político é, portanto, um discurso caracterizado pelas
relações sociais e contextuais, buscando soluções e alterações à
ordem vigente. Tem quem acredita que o discurso eleitoral só
adota as emoções como recurso, mas não concordo. Ainda que
as emoções tenham uma parcela muito importante, é preciso
apresentar propostas e a candidata deve ter bem claro o que
pretende desenvolver nas suas funções como servidora pública.
Desse modo, entre as possibilidades de estratégias argumentativas
racionais, com base na teoria da nova retórica de Perelman e Olbrechts-
-Tyteca (1996), destaco:
1) Problema versus solução: é quando se apresentam as
coisas que não estão bem e em seguida se propõe algo
para solucioná-las. Aqui vemos, muitas vezes, discursos que
não necessariamente trazem argumentos concretos, mas
indicam alguma proposta de solução.
2) Divulgação de números: resultados de pesquisas, números
de hospitais que serão construídos, porcentagem do
crescimento do país ou da cidade, são exemplos de
como os números dão impressão de seriedade e de
conhecimento de causa. Além disso, números são tomados
como verdadeiros sinônimos de informação concreta.
Poucos eleitores vão procurar se os dados estão certos,
mas uma oposição deve fazer isso.
3) Argumento de fins e meios: estratégia mais concreta que
reforça como seriam realizados os objetivos. Também é
usado quando os governos necessitam promover mudanças
antipáticas à opinião pública, como por exemplo, um
aumento de impostos. Dessa maneira, os impostos seriam
Luciana Panke

o meio para chegar a um bom fim.

96
4) Transitividade: aqui encontramos a transferência de valor
entre dois elementos que não teriam relação normalmente.
Por exemplo, o amigo do meu amigo é meu amigo também.
5) Valorização da parte em relação ao todo ou a divisão do
todo em partes: os elementos principais do discurso são
relacionados com suas partes e valorizados conforme a
ênfase que se deseja dar. Por exemplo, dizer que o Brasil
é composto por 206 milhões de habitantes enfatiza o país,
sua grandeza. Agora, dizer que 206 milhões são brasileiros
valoriza a força das pessoas.
Os discursos eleitorais (PANKE, 2011) seguem técnicas que
preveem a argumentação baseada em dez focos principais: 1) suposto
caráter do candidato – ethos; 2) abstração valorativa – valores morais
se sobressaem em detrimento de propostas concretas; 3) promessas
baseadas em demandas sociais generalizadas (temáticas centrais);
4) legitimação da realidade realizada por números veiculados pela
imprensa ou institutos de pesquisa (transitividade); 5) forte apelo à
autoridade, seja popular ou liderança reconhecida em determinada
comunidade (grupo e seus membros); 6) relação entre aspectos do
candidato com realizações passadas ou futuras sem ligação lógica entre
eles (pessoa e seus atos); 7) empatia (colocar-se no lugar do outro);
8) projeção (onde o outro supõe poder chegar aderindo à proposta Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
do orador); 9) identificação (apresentar atitudes que se assemelham
ao do público almejado); 10) ênfase aos discursos emotivos simulando
determinada pedagogia política ou função instrucional.
Além de propor mudanças ou melhorias na sociedade, o
discurso eleitoral precisa chamar atenção dos eleitores, sensibilizá-
los. Assim, os discursos enunciam sentimentos variados que mudam
conforme as estratégias de campanha, o lugar e a conjuntura. Não
obstante, há algumas emoções mais valorizadas no discurso eleitoral:
1) Amor: sentimento que pode estar relacionado com o país,
a cidade, as pessoas ou à vida. Em geral, uma campanha
eleitoral enfatiza o amor pelo local da eleição, as paisagens

97
bonitas, as qualidades, as pessoas, a natureza, a família.
Seria destacar as qualidades que estão no contexto.
2) União: o sentimento de pertencer a um grupo e ter
atitudes a favor dele. É uma das emoções enfatizadas em
campanhas, especialmente com a militância dos partidos e
nas passeatas.
3) Alegria: campanhas positivas, otimistas, que celebram
a vida e um mundo melhor. Os jingles ressaltam essa
sensação de estar fazendo o bem.
4) Medo: em geral, é uma emoção usada pela oposição ou
pelo grupo que está no poder para mostrar os riscos de
mudar de governo. Na comunicação visual é perceptível o
uso de cores escuras e imagens de problemas sociais.
5) Drama: o objetivo é sensibilizar as pessoas, fazer com que
todos sintam na pele as dores do mundo. Muitas vezes,
mostrar crianças faz parte da estratégia. As canções suaves
também estão entre os recursos mais adotados. Nos
vídeos, imagens em slow motion ajudam a provocar essa
sensação.
6) Indignação/Raiva: o discurso é exaltado no tom de voz, e
as acusações (diretas ou indiretas) compõem o conteúdo
comumente. Os ataques, entretanto, também provocam
na população a impressão de que a candidata perde
tempo criticando e não propondo. Por questões culturais,
dependendo da região e do país da campanha, é possível
que uma mulher adotando uma estratégia assim seja vista
de maneira mais negativa do que se fosse homem. Como
falei no primeiro capítulo, a mulher é associada com
delicadeza e o homem com a força. O estranhamento
viria quando esta mulher aposta em atributos masculinos
para ser notada. No próximo capítulo, retomo o tema ao
Luciana Panke

expor as tipologias de campanhas femininas.


7) Valores locais: são temas importantes para a localidade ou
o eleitorado e que são exacerbados durante a campanha.
98
Por exemplo, valorizar a família, tradições culturais, religião.
Enfim, as pautas locais são destacadas conforme o contexto
e necessidade de gerar identificação e pertencimento.
Numa sociedade conservadora, a família “tradicional” será
destacada.
A união entre razão e emoção gera uma possibilidade real de
que a mensagem chegue ao eleitorado. “A retórica oscila, portanto,
entre redundância (parte de qualquer coisa que o ouvinte sabe e
quer para demonstrar como a conclusão chega ‘naturalmente’)
e informação (o discurso procede de modo inesperado e quer
convencer acerca de algo que o ouvinte ainda não sabe)” (TARRONI,
1978, p. 95).

CAMPANHA DE TERRA

Campanha de terra é o conjunto de ações realizadas com a


presença da candidata nas ruas, perto do cotidiano do eleitor, sem a
intenção de que se transforme em algo midiático. “As pessoas não estão
nas redes sociais. As pessoas estão nas ruas”, argumenta o consultor
mexicano Javier Sánchez Galicia138. São as reuniões setorizadas como
com as associações de bairros, militantes, caminhadas, participação
em eventos. É promover a proximidade com as pessoas: “Não há
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
campanha que se ganhe sem trabalho de território, sem o corpo a
corpo” (REINA, 2014, p. 167). Nesse sentido, também tem que se
valorizar especialmente a equipe e a militância, pois “a militância é
a ‘infantaria’ das campanhas de comunicação. Por isso é interessante
aumentar seu número, motivar e tirar o maior proveito possível desse
apoio” (BUJEDO, 2012, p. 253).
Várias mulheres com quem conversei comentaram a
importância do apoio dos grupos organizados do partido. Por outro
lado, as pressões internas, como as que viveram algumas entrevistadas:
quanto mais crescia a campanha, algumas partes da militância criavam

138 Entrevista realizada em 09/04/2014, Cidade do México.


99
resistência porque não era o êxito do candidato preferido. Nesse
momento, se vê a relevância de estar com os grupos unidos e bem
organizados. A paulista Soninha Francine139 comenta que precisou se
impor para não ficar gastando com material desnecessário na difusão
interna da sua campanha. “E aí eu falei ‘não, eu não vou rodar material
pra distribuir num encontro do PT, eu não vou. Mas você tem que
marcar presença’. Tá bom. Naquela época não tinha essa coisa do
brinde, né, então a gente foi no Ceasa, comprou cinco ou seis caixas de
mudinha e colocou um adesivo com um carimbo da minha carinha em
cada um deles. Nossa, foi um enxame de gente no meu estande: ‘nossa,
que legal, que boa ideia, que demais’.” Ela complementa “eu tinha uma
equipe que era super coesa nisso, super afinada, e que sempre me
respeitou. Então, assim, eu não sirvo muito como parâmetro pra como
é uma mulher entrando num partido. Porque eu já vinha com grife.
Entendeu? Eu já era a Soninha apresentadora, comentarista de futebol,
já andava de Vespa”. É preciso investir em comunicação interna,
treinamento, diminuindo a chance de conflitos desnecessários.
Na hora de executar as ações, o mexicano Iván Gamboa140
opina que “há diferenças entre homem e mulher, além dos temas
das mensagens. Na campanha de terra tem muito mais aproximação
social com o candidato. Isso sem dúvida, porque os mexicanos estão
acostumados com essas visitas. A chegada de uma mulher nas casas
das pessoas, nos bairros, não é rejeitada”. As entrevistadas percebem
a mesma coisa. A vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves141
comenta sua facilidade para este contato pessoal. “É da minha
personalidade, eu entro, dou risada, abraço as pessoas. Se alguém
é meu inimigo alguém vai ter que me dizer: Mirian, aquele é teu
inimigo, pra eu saber se é isso mesmo. Então eu tenho esse lado mais
popular e isso é uma coisa que incomoda quem não me apoia”. Todas
que viveram a experiência de visitar o eleitorado comentam que a
Luciana Panke

139 Entrevista realizada em 26/08/2015, São Paulo, Brasil.


140 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.
141 Entrevista realizada em 23/06/2016, Curitiba, Brasil.
100
receptividade é incrível. A brasileira Solange Celere142 considerou a
experiência surpreendente. “As pessoas vinham falar comigo como
se me conhecessem. Isso foi novidade pra mim”. Para a vice-prefeita
da Cidade do Panamá143, Raíssa Banfield, no começo foi difícil vencer
a própria resistência de sair nas ruas para fazer campanha, mas
confessa que depois se converteu numa experiência maravilhosa. “As
pessoas me diziam: ‘finalmente mudou o ambiente na prefeitura’, me
agradeciam. Foi uma coisa tão bonita! Eu, que conhecia meu país, me
dei conta do acesso que os políticos têm à privacidade das pessoas,
porque as pessoas te comentam de tudo, põem toda sua esperança
em ti e isso te compromete ainda mais”.
A peruana Liz Castillo144 comenta que as pessoas sempre a
recebiam muito bem e a única agressão que recebeu estava relacionada
com críticas ao seu partido. “Já pelo fato de ser mulher, nos davam
mais acesso a outros lugares porque nós transmitimos mais carisma
que os homens, somos mais inovadoras”. A ex-senadora paraguaia Ilda
Mayeregger145 se destacou também pelo contato direto e comenta
que isso é uma exigência do próprio eleitor: “na campanha eleitoral
acontece o seguinte: a gente precisa estar em campo, estar com as
pessoas, interagir. Isso exige muito e o eleitorado diz que ‘se não
conhecemos o candidato, não votamos’”.
A argentina Patricia Escala146 conta que uma de suas estratégias
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
de campanha era ir todo final de semana em um lugar diferente da
cidade com uma sede móvel. Assim, estava sempre perto das pessoas:
“colocávamos nossa propaganda política e nosso jingle. Seguíamos
por vários bairros e as pessoas se aproximavam”. As experiências
compartilhadas ensinam que estar nas ruas é uma das ações mais
importantes em uma campanha eleitoral. O consultor Iván Gamboa147

142 Entrevista realizada online em 12/08/2014.


143 Entrevista realizada em 28/06/2014, Cidade do Panamá.
144 Entrevista realizada em 11/08/2014, Lima, Peru.
145 Entrevista realizada online em 13/08/2014.
146 Entrevista realizada online em 20/08/2014.
147 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.
101
lembra que “os panfletistas, os promotores, os representantes locais
levam a mensagem de campanha tanto quando um comercial de tv”.
Na Bolívia, as atividades lúdicas e a alegria formaram parte
da estratégia da campanha da então deputada Marcela Revollo148.
“Por exemplo, saímos à noite com luzes e uma espécie de batucada.
As pessoas saíam das casas e nos seguiam, era como um flautista
de Hamelin. Íamos dando lembrancinhas, adesivos ou saíamos com
bonecos gigantes. Uma amiga encontrou uma boneca com uns traços
meus e colocávamos uma foto nas bonecas que as meninas adoravam.
Lá dizia: ‘quando eu for grande, também quero ser deputada’”, relata.
O comentário de Revollo revela quão importante também é uma
campanha feminina para as futuras gerações que passam a ver com
mais naturalidade a presença das mulheres na política eleitoral. A
consultora equatoriana Silvia Chiriboga149 descreve o contato pessoal
com as pessoas em reuniões temáticas como uma das estratégias mais
bem-sucedidas que realiza. Vale destacar que gerar identificação ajuda
muito nessas situações: “Tínhamos que mobilizar as emoções das
pessoas e uma das coisas que se falou foi como a candidata se criou:
ela ajudou sua mãe a lavar roupas para fora, teve um padrasto violento.
Então, quando havia uma reunião em grupos ela contava isso e chorava,
até eu chorava. E realmente mobilizou emocionalmente porque ela
contava sua infância e a sua trajetória para chegar onde estava”.

CAMPANHA EM RÁDIO E TELEVISÃO

Os meios eletrônicos convencionais não estão disponíveis em


todas as campanhas devido a vários fatores. Entre eles, o cargo em
disputa, a localidade, as leis de cada país e, claro, o financiamento de
cada campanha. Produzir spots de rádio e de televisão tem um custo
alto e nem sempre vale a pena investir nesses meios. Tem que avaliar
se de fato comunicam com o público. Como afirmei antes, as etapas
Luciana Panke

148 Entrevista realizada online em 26/08/2014.


149 Entrevista realizada online em 20/08/2014.
102
de pesquisa e de planejamento são determinantes para saber de qual
maneira e onde atuar. Como bem lembra a deputada Stela Farias150:
“rádio e televisão é muito caro, 36 segundos por 23 mil reais. Não há
espaço para explorar esse espaço de tevê”.
Mesmo que a gente esteja em uma sociedade na qual as
pessoas estão bastante focadas na internet, não se pode ter uma ilusão
de que é a única opção comunicacional. Vamos lembrar que o rádio
foi o primeiro meio eletrônico de comunicação interativa no qual
o ouvinte pôde participar ao vivo da programação, por telefone. A
participação também é propiciada por outros canais como aplicativos
de comunicação instantânea, redes sociais e sites, mas insisto em que,
antes mesmo de haver internet, a interação via rádio já era possível.
As rádios estão em regiões onde não estão televisão e internet.
Chegam a eleitores que não estão “conectados”. Por esse meio,
encontramos várias opções de comunicação eleitoral: transmissão
de spots, jingles e participação nos programas de entrevistas são os
principais. Além disso, há a cobertura jornalística das eleições na qual
a candidata pode ser notícia.
Ainda considerando a linguagem oral como central na
comunicação radiofônica, os outros códigos da oralidade devem ser
levados em consideração. “Embora todos os elementos que compõem
e conformam a obra radiofônica, inclusive o seu texto, devam estar no
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
mesmo ritmo, é no momento da comunicação mediada pela voz que
este texto passa a existir e a adquirir dimensões muitas vezes além das
previstas; portanto, é na locução que a palavra torna-se acontecimento,
o trânsito continuo entre escrita e oralidade” (SILVA, 1999, p. 66).
A locução não é, necessariamente, a forma mais importante de
comunicação aqui; a oralidade se complementa com outros recursos
como a linguagem da música, do silêncio e a sonoplastia.
A música pode ser considerada a linguagem das emoções
devido aos aspectos sensoriais que desperta. O ritmo dos acordes
musicais provoca no ouvinte as emoções mais variadas, desde

150 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


103
comoção, suspense ou alegria. A música é um dos elementos mais
usados para sensibilizar. Por sua vez, o silêncio propicia a pausa
necessária para a assimilação da mensagem e também pode gerar
suspense ou seriedade.
A linguagem dos ruídos é a que se destaca por seu aspecto
referencial. A sonoplastia é a maneira de reproduzir a realidade,
criando ambientação sonora necessária para as narrativas. Os sentidos
são estimulados de forma que a imaginação de cada um cria imagens
únicas.
Para Ortiz e Marchamalo (2005) os sons recebem três
formas de associação: 1) como criadores de sensações; 2) associados
a imagens conhecidas; e 3) associados à memória afetiva. Na primeira
esfera estão os sons de conhecimento universal, como o barulho da
chuva. Geralmente, esses ruídos provocam associações semelhantes
nas pessoas, independentemente de questões culturais. Na segunda
categoria, estão os sons reconhecidos culturalmente, inclusive
em relação aos significados. Mesmo que não existam na realidade
imediata, são reconhecidos como, por exemplo, os sons de armas a
laser, propagados pelos meios de comunicação de massa. Na terceira
está a percepção individual que os sons provocam e se relaciona
com a memória de experiências vivenciadas. É comum, neste caso,
relacionar músicas com situações específicas, fazendo que o ouvinte
retorne mentalmente àquela situação e sinta as mesmas emoções.
Por isso, não se pode simplesmente escolher um locutor
que tenha voz “bonita” ou uma música que pareça agradável. Tem
que se considerar o conceito da candidata para não apenas compor
a mensagem linguística correta nos spots e jingles, mas também, saber
escolher bem os outros códigos de comunicação sonora: música, sons,
modo de locução, ritmo, silêncio, edição.
Já a televisão exerce fascinação por conciliar vários códigos
de linguagem que acabam facilitando o entendimento. De acordo
Luciana Panke

com Eco (1993) os principais seriam o código icônico que se refere


à imagem em si, sua composição, movimento, estética, angulação e
edição; código linguístico: presença do texto falado ou escrito; código
104
sonoro: composto pelo que citei anteriormente. Essas maneiras de
comunicar interagem com as referências que as audiências possuem e
acabam construindo diferentes significados.
A televisão é um meio de comunicação que usa todos os
códigos de linguagem que comentei antes: linguístico, quinésico,
proxêmico, iridológico, fisiológico, moda e valores não verbais na voz.
Além de difundir os atributos perceptíveis das candidatas, a televisão
favorece o uso das imagens para impressionar, emocionar e também
populariza as canções e os jingles que ajudam a fixar a marca da
candidatura. “A candidata deve aprender a conviver com as câmeras,
que entenda o quanto isso é importante. Para os consultores, tem
que ter clareza sobre quem é sua candidata, que coisas precisam ser
otimizadas, que tudo que faça, seja no visual, no vídeo, no discurso,
que fique contextualizado” aconselha o consultor espanhol Carlos
Gutiérrez151.
A televisão pode conciliar a imagem em movimento, sons,
palavra falada ou escrita compondo mensagens que geram pedagogia
política. Isso significa que os múltiplos códigos podem facilitar a
explicação das mensagens e o entendimento dos conteúdos. “Se a tevê
é considerada pelos ‘apocalípticos’ um local de veiculação de mensagens
curtas e superficiais para uma massa sujeita à manipulação, há de se
convir, por outro lado, que a mesma tevê pode ter como vantagem,
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
justamente, a veiculação de mensagens simplificadas. Fazer política não
precisa ser complicado, muito menos ser elitizado” (PANKE, 2010, p.
26). Nesse sentido, vamos lembrar que a retórica generativa (composta
por técnicas argumentativas dirigidas a convencer através da discussão
e da reutilização do saber adquirido) pode ser desenvolvida com o
apoio de signos diversos. “A mensagem visual se constrói pela interação
de distintos dados, signos, instrumentos e experiências que, ainda que
diversos e complexos, formam um todo orgânico. Particularmente, a
partir da postura do emissor, deve ter-se em conta as características

151 Entrevista realizada em 15/08/2014, Cidade do México.


105
heterogêneas da imagem e potencializá-las e direcioná-las” (APRILE,
2008, p. 64).
Os spots fazem parte do conjunto de ações numa campanha
eleitoral, em geral, para sintetizar o posicionamento e reforçar a
principal mensagem da candidatura. Proponho o seguinte conceito
para os spots eleitorais televisivos:
O spot eleitoral é um meio audiovisual de pouca duração
temporal, transmitido pela televisão ou pela internet, que resume o
posicionamento da candidata e deve apresentar, obrigatoriamente,
nome, número, partido da candidatura através de uma combinação de
múltiplas linguagens: visual (imagens, cores, cenário, edição, participantes,
entrevistados, personagens, postura corporal da candidata); sonora
(tom do discurso, tom da voz, trilha sonora, jingle, sonoplastia);
linguístico (conteúdo do discurso).
Esse meio de comunicação eleitoral pode ser dividido em
categorias, de acordo com o conteúdo que exibe. Rodriguez (2011)
sugere as seguintes:
1) Mensagens promocionais: destacam os aspectos positivos
da personalidade e das habilidades da candidata. Dividem-
-se em mensagem promocional não comparativa e
mensagem promocional comparativa (direta e indireta);
2) Mensagens de ataque: são feitas para criticar o adversário e
podem destacar defeitos pessoais e falta de habilidades dos
outros, como pouca capacidade de gestão, inviabilidade de
propostas, problemas no partido. Esses spots podem ser de
ataque não comparativo direto, mensagem de ataque não
comparativo indireto, mensagem de ataque comparativo
direto e mensagem de ataque comparativo indireto.
Promocionais ou de ataque, os spots usam códigos de
linguagem parecidos com o objetivo de fixar a mensagem na
memória. A linguagem de emoções se ressalta com os jingles,
Luciana Panke

músicas, imagens bonitas do local de votação (país/estado/cidade)


para destacar amor pelo local ou mudanças positivas, imagens

106
tristes (problemas estruturais, esgoto a céu aberto, pessoas
em situação precária, por exemplo) para mostrar o que precisa
ser mudado. O conjunto pode promover a personalização: o
conteúdo dos spots, em geral, está centralizado para mostrar
os melhores aspectos da candidata, colocando de lado outros,
como as propostas de gestão. “Mesmo que não seja possível
desvincular política, eleições e personalização, os sistemas
presidencialistas com menor influência dos partidos como agentes
de articulação política se situariam no extremo de maior impacto
de personalização” (MARAÑÓN, 2013, p. 15).
Sabendo que os spots que vão se destacar são os que
valorizam as características pessoais, vale a reflexão de Merlisnky
(2000) sobre imagens de gênero: “O conceito de imagens de gênero
se refere a um conjunto de representações que tanto homens como
mulheres têm de: a) suas próprias posições relativas aos papéis de
homens e mulheres; b) as posições e papéis do sexo oposto; e c) o
valor social relativo de ser homem ou mulher” (MERLINSKY, 2001,
p. 108). Essas associações são ainda mais importantes nas disputas
femininas, uma vez que aos homens não se pede com a mesma
veemência que provem competência e capacidade laboral. Para as
mulheres isto é pedido com frequência, implícita ou explicitamente.
Nesse sentido, uma das estratégias que recomendo é reforçar
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
a presença positiva nos meios de comunicação. A consultora
equatoriana Silvia Chiriboga152 concorda: “como assessora,
procurava estar direto nos meios de comunicação, ao menos umas
cinco participações diárias. Também levava a candidata a shoppings,
a lugares públicos porque não era tão conhecida. Ali é que acontecia
o ‘click’ com as pessoas que a tinham visto na televisão. Aí também
a candidata ia perdendo o medo de ser julgada por ser negra e por
ser apoiada por empresários”.

152 Entrevista realizada online em 20/08/2014.


107
CAMPANHA NOS MEIOS DIGITAIS

Há pouco tempo, a participação dos eleitores estava restrita


às esferas sociais mais próximas (bairro, escolas, igrejas), à presença
em comícios e reuniões e, claro, ao voto. As informações chegavam
pelos meios convencionais como jornais impressos, rádio e televisão.
Como a participação popular pode ser considerada fundamental
na comunicação política, os aparatos tecnológicos mudaram as
possibilidades de intervir na sociedade. Mais que simples espectadores,
aos cidadãos não envolvidos diretamente na política foi possível oferecer
um meio para obter informações não oficiais e também expressar
a própria opinião (PANKE, SOLIS, 2013). Assim, a popularização da
internet trouxe à política a possibilidade de participação que antes não
era possível. Wolton (2007) já há uma década ressaltava justamente o
aspecto individual de consumo dos conteúdos online.
Em sociedades dinâmicas, marcadas pela gestão de um tempo
cada vez mais escasso, os aplicativos se tornam uma alternativa para
públicos específicos: além de ter um meio de conexão, os indivíduos
que descarregam aplicativos de campanhas são os que estão mais
envolvidos, como os militantes, os simpatizantes e os que veem
nisso um recurso para alcançar alguma vantagem pessoal. Para usar
aplicativos nas campanhas é preciso oferecer serviços que facilitem
o cotidiano do usuário. Nesse sentido, falo também de geração de
conteúdos. Fazer um aplicativo para “modernizar” a campanha pode
ser um investimento inútil se o eleitor não enxergar nele alguma
utilidade. Isso significa que os aplicativos para smartphones precisam
oferecer para o eleitorado maneiras de participação, planos de gestão
pública, formas de entrar em contato com a candidata e dados que
ampliem seu conhecimento. Além disso, a plataforma deve possibilitar
o compartilhamento de dados e a integração com outras redes sociais.
Em relação à internet em geral, a sua popularização nas
últimas décadas se converteu em um verdadeiro fenômeno devido à
Luciana Panke

variedade de informações disponíveis e pela possibilidade de conexão


com pessoas de todo o mundo. A comunicação via web não é mais

108
uma maneira vertical de se comunicar, mas sim uma forma horizontal,
onde emissor e receptor se fundem em uma troca de conteúdos
que pode ser igualitária. “A questão é que as pessoas que estão na
comunicação de campanhas saibam transmitir os conteúdos e saibam
que haverá resposta. As pessoas não entram no Facebook para ver
publicidade. Entram para se relacionar e compartilhar conteúdos com
amigos”, pondera o consultor peruano Richard Liza153. Produtores e
consumidores de conteúdos são as mesmas pessoas. Além do contato
corpo a corpo, “pela primeira vez, os políticos têm diante deles um
meio de comunicação de duas vias simétricas, no qual a chave está em
cultivar a arte de escutar, aprender e compartilhar” (REY LENNON,
2014, p. 197). Esse é um ponto fundamental numa política antes
baseada somente em falar e escutar pouco. É preciso saber escutar,
filtrar e responder. “As redes sociais são meios em que um candidato
não pode deixar de estar”, alerta o mexicano Dante Moncada154.
Nos processos eleitorais, é importante destacar o ponto de
vista da candidata, mas sem esquecer o ponto de vista do eleitorado.
Se por um lado as redes sociais digitais se tornaram um espaço de
articulação social, por outro, as estratégias de campanha devem estar
atentas a um cenário onde perfis falsos, rumores e campanhas negativas
aumentam de forma exponencial. “No caso de notícias falsas, uma das
soluções é tentar não entrar no debate e ver se o que essas pessoas
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
querem é só importunar, trolar. É necessário entender que não é o
lugar para debater porque tem que saber o que responder, mas que
também as pessoas saibam que você ainda está ali. Tem que ter muito
cuidado e ignorar os perfis falsos”, recomenda o especialista em redes,
Carlos Gutiérrez155. Justamente porque existe possibilidade de reação
do eleitorado, as candidatas devem estar preparadas para atuar diante
de uma realidade na qual sua opinião está exposta e onde as fofocas têm
muita facilidade de se espalhar. A assessora Kelen Vanzin156 comenta

153 Entrevista realizada em 06/08/2014, Lima, Peru.


154 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.
155 Entrevista realizada em 15/08/2014, Cidade do México.
156 Entrevista realizada em 23/06/2016, Curitiba, Brasil.
109
que às vezes dá vontade de responder a ataques, especialmente de
blogueiros, mas pondera que fazer isso pode gerar visibilidade a
inverdades. Além disso, “recebemos às vezes comentários horríveis,
que tentam denegrir uma mulher”. Ela explica que “mantivemos e
criamos um perfil, primeiro, que era um perfil pessoal específico, e
depois, quando ela se tornou vice-prefeita, se tornou uma figura pública
com a fan page, então passou dessa migração. E então a imagem ficou
ligada à parte pública, aos eventos de que ela participa, às pessoas que
ela recebe, os projetos que ela tem, as ações da secretaria do trabalho,
sempre dessa atuação política, partidária”. Nas duas principais redes
atuais, Facebook e Twitter, há formas de multiplicação das mensagens
e de manifestação de apoio e de rejeição que não podem ser ignoradas.
Sempre é preciso avaliar o que responder, o que valorizar ou ignorar.
Essas manifestações são indícios de como anda a campanha.
“Para nós, o tema da proximidade é um tema muito forte.
Em Buenos Aires é impossível bater em todas as portas, mas isso
somado com Facebook, creio que aqui 85% do eleitorado usa a rede,
fica impressionante o nível de penetração da campanha”, comenta
a deputada argentina Laura Alonso157. Se considerarmos as redes
sociais como mais uma ferramenta de campanha, temos que ponderar,
também, que é preciso uma equipe realmente preparada para
retroalimentar a comunicação. “Tem que aprender a escutar antes de
participar e estar em constante processo de aprendizagem para saber
qual tom usar e quando se usam os posicionamentos mais polêmicos”
(GUTIÉRREZ, 2013, p. 265). De nada vale ter a ferramenta se não tem
quem possa gerenciar corretamente. E o que isso quer dizer? Que é
necessário escutar as pessoas, avaliar e dar uma resposta compatível
com a realidade e a situação. “O primeiro passo é ter claro que pode
ser o candidato ou sua equipe que respondam. Nesse sentido, há de
ser muito honesto para que as pessoas saibam quem está falando.
Para responder sobre temas concretos podem ser feitas perguntas-
Luciana Panke

respostas frequentes para a parte programática ou então subir um

157 Entrevista realizada online em 20/08/2014.


110
vídeo no YouTube respondendo às questões levantadas”, sugeriu o
especialista Carlos Gutiérrez.
Além dos perfis da candidata nas redes sociais digitais, o ideal é
contar com a participação de uma equipe que gere compromisso com
os usuários. É preciso recordar que estamos falando de comunicação
horizontal e dialógica. “Tem quatro passos para gerar uma comunicação
baseada em engajamento. O primeiro é a conexão, que é quando são
criados os perfis nas redes; o segundo passo é a conversação, quando
começa a interação; o terceiro passo é o conhecimento, quando
começa a conhecer e ser conhecido para então chegar ao quarto
passo, que é a influência. Quando essas pessoas ajudam a difundir
tua mensagem, a participar, e logo se pode ver quem está sempre
divulgando. Estes são influenciadores que merecem ser valorizados”,
complementa Gutiérrez.
A conexão possível por meio da internet deve ser valorizada
e as pessoas, escutadas. Nem sempre é possível, mas quando uma
candidata ou um representante da campanha o faz, essa atitude
demonstra respeito e reforça a proximidade que se tentou transmitir
também por outros meios. “A internet é uma poderosa plataforma de
comunicação, mas sozinha não faz a participação política” (PANKE,
SOLIS, 2013, p. 5, tradução minha). A participação pode começar
na militância que está conectada, tendo em conta que nenhuma
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
eleição se ganha com o voto exclusivo dos que já são fãs. Esse grupo
é fundamental, justamente, para viralizar as mensagens, contagiando
novos eleitores. Aqui também estão os formadores de opinião, os
líderes e os jovens. Com o diálogo fomentado e a presença online, as
chances de visibilidade aumentam, mas reitero que estar online é uma
das formas de comunicação, não a única.

RESUMINDO

Técnicas de campanha eleitoral acabam sendo as mesmas


independentemente do gênero. O que muda é a mensagem defendida,
as estratégias e os desafios. Ainda que a tecnologia ajude a chegada do
111
discurso em diferentes partes do território, o contato pessoal jamais
deve ser substituído. Lembrar que a candidata está representando
determinado segmento da população, também, sem necessariamente
estar hermética em propostas para mulheres. Uma campanha feminina
enfrenta, grosso modo, dois aspectos antagônicos: ser votada por ser
mulher e, por isso, remeter à honestidade, à empatia e à competência;
não ser votada por ser mulher por ser considerada fora do seu lugar e
lhe serem atribuídas todas as conotações negativas vindas do machismo:
está nervosa/louca/histérica/de TPM, não tem homem/tem homem
demais/não gosta de homem, é bonita/feia/vulgar – nada, obviamente,
relacionado com alguma avaliação de sua capacidade técnica gerencial.
Como vimos neste capítulo, há estudos que apresentam
imagens ideais ou tipologias de candidaturas, mas nenhum aborda as
mulheres candidatas. No próximo capítulo, demonstro, primeiramente,
os principais estereótipos encontrados nas campanhas e proponho
três imagens principais.
Luciana Panke

112
Capítulo 3
Mulheres candidatas: Perfis ideais?

Quando escrevi a primeira versão do livro, estávamos com quatro


presidentas nos países latinos: Brasil, Chile, Argentina e Costa Rica.
Atualmente, estamos apenas com Michele Bachellet, no Chile. As
gestões de Argentina e Costa Rica terminaram. E Dilma Rousseff foi
afastada do governo federal sem ter cumprido seu mandato. Ainda
assim, estamos vivendo um momento na nossa região no qual se
vislumbra com mais veemência a liderança feminina na política.
No primeiro capítulo, procurei trazer um apanhado geral
sobre questões de gênero. No segundo, explanei sobre campanhas
eleitorais. Agora é hora de falar sobre tipologias nas campanhas
femininas. Antes de fazer essa pesquisa me questionava: há imagens
que são predominantes nas campanhas eleitorais de mulheres?
Com esse objetivo, observei os spots eleitorais de 21 campanhas
presidenciais na América Latina da última década para verificar Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
como as mulheres apareciam nestes vídeos. Primeiramente, com
uma amostragem das campanhas, verifiquei que há seis estereótipos
femininos mais frequentes. Depois, com todas as campanhas, somadas
às entrevistas com mulheres políticas e consultores, cheguei a três
perfis de mulheres candidatas conforme mostro em seguida.
Com a observação das características de linguagem que
apresentei no capítulo anterior, foi possível propor a tipologia que
trago neste capítulo. Como sabemos, não é apenas o conteúdo do
discurso linguístico que nos indica a maneira como as mulheres
são representadas nas campanhas eleitorais de outras mulheres,
mas as imagens, os sons e aspectos corporais nos dão informações

113
fundamentais para entender como isso funciona. Antes, é preciso
observar como se configura o universo feminino nas campanhas.

O UNIVERSO FEMININO NAS CAMPANHAS ELEITORAIS

Para chegar às três tipologias das candidaturas femininas, foi


realizada, primeiramente, uma pesquisa exploratória, verificando como
as mulheres apareciam nos vídeos de campanha. Embora o corpus final
da pesquisa seja maior, aqui apresento o resultado da análise de 216
spots de oito campanhas realizadas nos últimos anos. Priorizei países
onde as candidatas conseguiram vencer: Cristina Kirchner (Argentina),
Dilma Rousseff (Brasil), Michelle Bachelet (Chile) e Laura Chinchilla
(Costa Rica). Além dessas, outras candidaturas foram verificadas para
ter uma amostra mais significativa. Assim, buscamos como as mulheres
apareciam nos vídeos das candidatas à presidência da Argentina (2011),
Brasil (2010), Chile (2013), Colômbia (2010), Costa Rica (2010),
Guatemala (2011), México (2012) e Panamá (2009).
Nesta amostragem, foram observados dois aspectos:
1) A candidata (imagem, discurso e todos os aspectos de
linguagem antes citados);
2) A representação do universo feminino e as outras mulheres
presentes (discurso sobre agenda de gênero e mulheres
que aparecem nos vídeos).
Nestes vídeos foram identificados estereótipos tanto nas
imagens das candidatas, quanto das demais mulheres. Estereótipos são
imagens mentais a respeito de determinados aspectos ou estruturas
cognitivas que trazem expectativas sobre um grupo ou categoria. Nesse
sentido, feminilidade e masculinidade são percebidos de maneiras
distintas. “De fato, homens e mulheres são diferentes. A questão até
agora é que estas diferenças sempre foram vistas como um déficit no
caso das mulheres. O conceito de diferença não significa ser melhor ou
Luciana Panke

ser pior mas começou desde os inícios dos 80 e centra sua atenção na
heterogeneidade e na possibilidade de que cada indivíduo aporte seus

114
talentos e estilos particulares nos distintos âmbitos onde desenvolve
suas atividades” (HELLER, 2002, p. 48).
O estudo revelou que os estereótipos relacionados com os
papéis da mulher na sociedade são muito parecidos em todos os países
analisados. Os papéis que detectei na análise deste corpus são: dona
de casa, guerreira, mãe, atenciosa/sensível, submissa e trabalhadora.
Reforço que estavam tanto na apresentação das candidatas em si,
como nas mulheres que apareciam como personagens ou figurantes
nos spots. Para quem trabalha com pesquisa científica e gostaria
de verificar estereótipos na comunicação política sem se ater às
candidatas, sugiro os seis que aponto aqui. Agora, quem quer analisar
as imagens das candidatas terá um tópico especial mais adiante, quando
proponho a tipologia específica das candidaturas. Em suma, uma coisa é
o universo feminino retratado nas campanhas, ou seja, os estereótipos
que aparecem. Outra coisa, é a estratégia de campanha adotada como
perfil das mulheres candidatas.

A dona de casa: na sociedade latina, papel associado automa-


ticamente à mulher. É um dos aspectos que somam atribuições no caso
de uma mulher trabalhar fora de casa, ter filhos e/ou um companheiro
(a). Os vídeos reforçavam a presença da mulher nas casas, realizando
atividades domésticas e, geralmente, servindo outras pessoas. É im-
portante destacar que nos discursos sociais (algumas igrejas, imprensa, Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

propaganda, livros didáticos, por exemplo) os homens são mostrados


como auxiliares nas tarefas domésticas, se muito. Raramente os ve-
mos como responsáveis por isso. Nessa função, as mulheres aparecem
como centrais e os homens como secundários. É necessário destacar
a dicotomia entre espaço público e espaço privado para explicar este
papel. Enquanto o homem parece se destacar no espaço público (e ser
cobrado para isso), a mulher teria o lar, espaço privado, como o lugar
onde deveria se destacar. Em geral, é onde a mulher exerce seu domí-
nio. Na falta de outro espaço em que se sobressair, muitas vezes assu-
me a casa como seu lugar de voz. Este estereótipo está demonstrado
nas imagens de mulheres realizando afazeres domésticos, candidatas

115
também cuidando de suas casas e, por fim, em discursos que tentavam
gerar empatia sobre o conhecimento das candidatas sobre a rotina
doméstica. Algo como “também faço isso e sei como você se sente”.

A guerreira: característica associada à liderança e à luta fe-


minina. Nos vídeos, aparece relacionada com mulheres que conjugam
diferentes tarefas, mulheres carregando coisas pesadas, mulheres em
cargos de liderança e posicionadas em primeiro plano nos cenários.
Além disso, no caso de candidatas, está explícita no gestual em eventos
e nos discursos em textos escritos ou falados, no tom de voz e nos
conteúdos das mensagens, mesmo que não fossem exclusivamente os
de defesa dos direitos femininos.

A mãe: aqui está a ação central da mulher na sociedade lati-


no-americana. A maternidade é considerada o principal papel para as
latinas, aproximando-as, inclusive, de figuras do sagrado, da geração
de novas vidas e também de cuidadora dos outros. Mulheres que op-
tam por não serem mães sofrem preconceito muitas vezes e, também,
acabam tendo que justificar sua decisão. De acordo com Zaremberg
(1989, p. 69, tradução minha) “na América Latina este papel de ‘super-
mãe’ é alimentado por uma bagagem cultural assentada no reacionário
cristianismo católico romano que existe em todos os países latinos”.
As supermães são as superprotetoras, as que têm a última palavra den-
tro casa e as grandes conselheiras da família. É a dominante no espaço
privado da sociedade.

A atenciosa/sensível: é uma tendência do universo femini-


no estar atenta às necessidades dos outros, cuidar das pessoas, inde-
pendentemente de pertencerem à sua família. Professoras, médicas,
policiais e todas as profissões relacionadas com o bem-estar alheio se
relacionam com essa característica. “Os trabalhos que realizam estas
mães públicas são considerados femininos por serem reprodutivos e
quando acontecem em espaços públicos são vistos como extensões da
Luciana Panke

maternidade” (LAGARDE, 2006, p. 397, tradução minha). As imagens


reforçavam o perfil maternal sobre as mulheres trabalhadoras e mães

116
e filhos são enfatizados tanto na composição das cenas como nos dis-
cursos e argumentos das candidaturas.

A submissa: as imagens mostravam mulheres em planos se-


cundários ou eram os homens quem davam opinião nas sonoras dos
vídeos. Aqui também está a mulher subordinada ao poder de um ho-
mem na política. Nas sociedades onde a equidade de gênero não é real,
é comum encontrar mulheres que simulam submissão ou demonstram
estar de acordo com a dominação masculina. É a mulher que, por mais
que seja líder, mostra que depende de um homem em algum momen-
to. “Os estudos de gênero demonstram que a tendência ‘exagerada’
das mulheres de cuidar dos outros pode ser interpretada como um
comportamento de submissão” (LLOMBART, 2007, p. 38). A submis-
são também pode ser percebida nos spots relacionados com outras
categorias, como a dona de casa que age como serviçal dos outros
moradores do lar.

A trabalhadora: a situação econômica dos países oferece


uma contradição. Por um lado, há quem questione a mulher que se de-
dica a uma carreira. Por outro, se não trabalha fora não se sustenta ou
não sustenta os filhos, pois o abandono paterno é uma realidade nesta
região. Se nas sociedades urbanas é comum a busca de uma profissão,
nas cidades menores isso ainda pode ser considerado um problema. As
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
mulheres que precisam trabalhar fora por questão de sobrevivência,
entram no mercado de trabalho, recebem salários menores que os
homens, independentemente da área de atuação. A desigualdade en-
contrada por vários pesquisadores indica que para as mulheres é muito
mais difícil chegar a cargos de comando nas empresas. “A aparição de
mulheres em posição de liderança representa uma clara ameaça aos
modelos masculinos dominantes na maioria das instituições” (HELLER,
2002, p. 47). O desenvolvimento econômico ou a falta dele faz com que
as mulheres procurem empregos e carreiras consolidadas. A mulher
é estimulada a estar no mercado de trabalho nos programas de apoio
à equidade. Nos spots é a categoria na qual as mulheres coadjuvantes
aparecem com bastante frequência, juntamente com o papel de mãe.
117
A partir da exposição dos conceitos dos estereótipos como
categorias de análise, agora segue o resultado da pesquisa empírica
desta primeira fase. Com os números é possível perceber que há um
predomínio de determinados aspectos em detrimento de outros.
TABELA 3 – ESTEREÓTIPOS PRESENTES NAS CAMPANHAS ELEITORAIS PRESI-
DENCIAIS DA AMÉRICA LATINA.

Balbina Cristina Dilma Josefina Laura Michelle Noemi Rigoberta


Herrera Kirchner Roussef Vázquez Chinchilla Bachelet Sanín Menchú
Panamá Argentina Brasil M. México Costa Chile 2013 Colômbia Guatemala
Tipologia
2009 2011 2010 2012 Rica 2010 corpus 2010 2011
corpus 8 corpus 32 corpus 60 corpus 31 corpus 15 58 spots e corpus 6 corpus 6
spots spots spots spots spots vídeos spots spots

Dona de casa 0% 15% 25% 0% 0% 6% 0% 25%


Guerreira 40% 25% 12% 20% 25% 23% 35% 65%
Mãe 10% 17% 18% 35% 5% 15% 9% 10%
Cuidadora/
25% 14% 10% 23% 35% 33% 26% 0%
Sensível
Submissa 0% 8% 0% 7% 0% 0% 0% 0%
Trabalhadora 25% 20% 45% 15% 35% 23% 30% 0%

Os números foram obtidos a partir da análise dos spots de


acordo com os códigos de linguagem explicados no capítulo anterior.
A leitura se realizou no discurso da candidata (sonoro, linguístico e
imagético), mas priorizou a observação da presença de mulheres nos
spots. Foi possível, com isso, verificar quais características se supunham
pertencer ao universo feminino nestas campanhas. Este diagnóstico
prévio foi essencial para a determinação das imagens ideais das candi-
daturas femininas.
As porcentagens mostram que apenas dois papéis estão em
todos os países analisados: a guerreira e a mãe. A guerreira representa
as lutas das mulheres por visibilidade e por espaço igualitário na
sociedade. Também, nas imagens das participantes dos spots, são as
que batalham por uma vida melhor e até mesmo pela sobrevivência. É
possível perceber também que os números se relacionam diretamente
Luciana Panke

com o perfil das candidaturas, local e contexto da contenda.

118
Por exemplo, na Guatemala, a candidata Rigoberta Menchú
apresentou 65% de guerreira, o que esteve coerente com seu
posicionamento como líder social e ganhadora, em 1992, do prêmio
Nobel da Paz. Embora tenha mostrado também um lado maternal,
a candidata dedicou apenas 10% a esse ponto. Os 25% da dona de
casa se referem à presença de eleitoras em seus afazeres domésticos,
garantindo apoio à candidatura de Menchú.
Em segunda posição na categoria guerreira está a panamenha
Balbina Herrera, com 40% do tempo destinados a esta imagem. Nos
vídeos falava com tom de voz mais impositivo, dedo em riste. As
mulheres em seus vídeos estão com ela em caminhadas, são mães
e/ou donas de casa de classe economicamente baixa. Parte do seu
discurso mais duro se explica pelo fato de pertencer ao Partido
Revolucionário Democrático (PRD), que, por sua vez, integra a
Internacional Socialista.
A candidata que menos dedicou tempo a esta categoria foi
Dilma Rousseff. A hipótese é que o objetivo era, justamente, introduzi-
la de forma mais suave, sem tecnicismos. Antes de concorrer à
presidência, Dilma foi ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula e
era conhecida por sua objetividade e capacidade técnica. Seu discurso
era técnico, a postura rígida, dificultando a comunicação com boa
parcela da população. Além disso, na sua história política participou
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
de grupos de extrema esquerda durante a juventude, fato usado pela
direita para tentar denegri-la. Embora na estratégia comunicacional esse
fato tenha sido reforçado como uma qualidade, havia a necessidade de
suavizar sua comunicação. Houve uma diversidade grande nas mulheres
expostas nos vídeos, valorizando características regionais, sentimentos
de otimismo e alegria expostos nas feições, independentemente se
estavam trabalhando em casa, fora ou com a família.
Com a breve explicação das três histórias, podemos inferir
que posicionar ou não a candidata como uma mulher guerreira, seja
por seus discursos ou pela representação do universo feminino em
seus spots, foi uma escolha estratégica. Destaco que estar na política
ou em áreas de comando praticamente já supõe que esta mulher é
119
guerreira, pois está entrando em locais tipicamente masculinos nas
sociedades latinas.
A segunda categoria presente em todas as campanhas
analisadas é a da mãe. A porcentagem da candidata mexicana, Josefina
Vázquez Mota, é superior às demais candidatas, somando 35%. Uma
das explicações para isso está na base cultural mexicana onde, segundo
Ramírez, citado por Suárez (2012, p. 291) a psiquê tem “excesso de
mãe, ausência de pai e abundância de irmãos”. A mãe, portanto, é
supervalorizada e é quem manda dentro das famílias. As menções da
mulher mãe na campanha mexicana apresentaram a soma da segunda
e da terceira posições: 18% dos spots brasileiros e 17% dos argentinos.
“Viver os estereótipos culturais é cada vez mais difícil para os que
são conduzidos compulsivamente a viver existências imprevistas
devido às mudanças históricas na economia, na sociedade, no Estado
e particularmente na organização sociocultural genérica” (LAGARDE,
2006, p. 20). E isso é perceptível nos vídeos analisados, pois mesmo
que México, Brasil e Argentina sejam as principais economias da
região, ainda se valoriza enormemente a função reprodutiva biológica
das mulheres em detrimentos de outros papéis, como o profissional,
por exemplo.
Agora, tendo esses dados sobre como se apresentam as
mulheres nas campanhas femininas, vamos para a parte mais importante:
uma proposta de perfil das candidatas.

OS PERFIS DAS CANDIDATAS

Até aqui vimos como são mostradas as mulheres em campanhas


eleitorais para mulheres. Agora, vamos aprofundar com uma pesquisa
quantitativa e qualitativa chegando a três imagens predominantes nas
candidatas. Para Weber “o método científico consistente na construção
de tipos investiga e expõe todas as conexões de sentido irracionais,
Luciana Panke

afetivamente condicionadas, do comportamento que influencia a ação,


como ‘desvios’ do seu desenvolvimento, construído como puramente
racional com arranjos e fins” (WEBER, 1964, p. 7). O objetivo foi,
120
portanto, unir as informações coletadas nas análises dos spots, nas
entrevistas com mulheres políticas e com consultores e consultoras,
relacionar com a realidade latina, sistematizando-as para chegar nas
tipologias.
Como já comentei na introdução do livro, para a relização
deste trabalho foram entrevistados assessores de 14 países (Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Paraguai,
Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela),
somando 16 horas e 6 minutos de entrevistas; entrevistas com mulheres
políticas de 13 países (Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e
Venezuela), somando 27 horas e 10 minutos, mais a análise de 8 horas
de spots das 21 campanhas eleitorais presidenciais de 10 países latino-
-americanos realizadas na última década (Argentina 2011, Brasil 2010
e 2014, Colômbia 2010 e 2014, Costa Rica 2010, Chile 2005 e 2013,
Guatemala 2011, Honduras 2013, México 2006 e 2012, Panamá 2009,
Peru 2011 e Venezuela, primárias 2011).
Os resultados apresentados aqui se originam de entrevistas
com 58 mulheres políticas e 35 profissionais da comunicação, além
das análises dos vídeos. “A tarefa que incumbe a sociologia é averiguar
e interpretar essa conexão, ainda que não tenha sido identificada na
consciência” (WEBER, 1964, p. 9). Deste modo, com observação e
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
análise de todas as informações, apresento as tipologias, lembrando
que nenhuma pessoa pertence unicamente a uma delas. Somos
humanos complexos, cheios de matizes e as imagens propostas são
enfatizadas de acordo com a personalidade, o contexto e a estratégia.
Ainda que, como mostrarei nos exemplos, as candidatas se apresentem
como guerreiras, por exemplo, há opções estratégicas de ajuste de
imagem, reforçando uma em detrimento de outra. Alerto apenas que
não há como “simplesmente” encaixar uma candidata num dos perfis,
caso não tenha nada a ver com ela. Retomo o alerta para quem está
na consultoria no sentido de coordenar e executar campanhas que
mantenham a personalidade da candidata em evidência, sem querer
criar personagens que não existem.
121
FIGURA 7 – IMAGENS DAS CANDIDATAS

A guerreira A maternal A profissional

Com base na classificação, vamos conhecer as características


de cada uma.

Tipologia – A Guerreira
O primeiro perfil é o da “mulher guerreira”. É a que se
destaca por tomar iniciativas e atuar politicamente para as mudanças
sociais. Aqui estão as líderes, as que lutam e, muitas vezes, são as
que rompem as regras sociais. Todas as mulheres que entram em
espaços predominantemente masculinos, como a política, podem ser
consideradas guerreiras em algum grau.
Há dois aspectos que merecem ser observados. Primeiro, a
liderança feminina – as representantes que falam por seus grupos, dizem
o que outros não podem ou não querem dizer. São as porta-vozes de
determinados grupos e ideias. Elas se projetam, justamente, por sua
liderança e capacidade de agregar. Segundo, também outras formas de
expressar a liderança e, neste caso, são atitudes associadas ao universo
masculino. Nesse segundo tipo de guerreira, estão os discursos duros,
as críticas e a masculinização. São mulheres que se expõem na política
se aproximando demasiadamente de modelos masculinos, desde
modos de vestir, tom de voz, conteúdo do discurso, agressividade. Elas
se apresentam duras, aparentando dificuldades de negociar, expressão
facial fechada, constestadoras na maioria das aparições públicas.
Em algum momento, todas as mulheres candidatas na América
Latina podem ser consideradas como guerreiras, pois tiveram a
coragem de enfrentar preconceitos e vários obstáculos para trabalhar
Luciana Panke

com política. “Acho que uma mulher por natureza é guerreira, inclusive
uma que se percebe como submissa, porque tivemos a capacidade

122
de sobreviver evolutivamente. Então, acho que todas, mesmo com
limitações, somos guerreiras de muitas facetas” (deputada peruana
Carmen Omonte158, ex-ministra da Mulher). Em todas as campanhas
analisadas e também nas entrevistas, foi possível perceber esta
categoria. Independentemente da linha política – direita, esquerda ou
centro – todas mostram traços de guerreiras.
De certa maneira, o depoimento da ex-senandora paraguaia
Ilda Mayeregger159 representa o relato de várias outras que tiveram que
se impor em países e épocas diferentes. A participação das mulheres
“se via com muito preconceito. Na época da ditadura, os homens
estavam sempre presos e éramos nós, mulheres, quem estávamos no
dia a dia. Então, eu disse ‘bom, o partido deve crescer’ e propus uma
mesa de mulheres para trabalhar nos comitês. Um setor gritou bem
claro: ‘isso não é para mulheres’”.
A partir de iniciativas como essa, de mulheres que abrem
caminhos para outras, é que se vai conquistando espaço. Atualmente,
o que predomina é o perfil da mulher líder, não da mulher
masculinizada. A guerreira dura surge em especial nas campanhas de
oposição, juntamente com estratégias de ataque. “Todas as mulheres
na política sentem que têm que ser guerreiras porque precisam brigar
com os homens por espaço legislativo. Acho que é um erro, mas
isso é uma questão cultural”, acredita o consultor mexicano Dante
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Moncada160. O que acontece, de acordo com as entrevistadas, é que
precisam se impor para participar de decisões inclusive nas bancadas
dos próprios partidos.
Quando escutamos histórias como a da deputada brasileira
Stela Farias161, fica mais fácil entender por que muitas vezes as políticas
precisam se posicionar da maneira criticada pelo mexicano. Ela comenta
que para trabalhar em suas atividades políticas teve que manter um
perfil agressivo. Por exemplo, quando foi vereadora em uma cidade

158 Entrevista realizada em 11/08/2014, Lima, Peru.


159 Entrevista realizada online em 13/08/2014.
160 Entrevista realizada em 22/05/2014.
161 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
123
pequena no Rio Grande do Sul, um colega vereador a ameaçou com
uma arma. Por experiências assim ela sente que falar “no mesmo tom”
é uma maneira de se proteger. Stela complementa: “Eu tenho um perfil
muito ofensivo, um pouco até tida como briguenta, sabe. Às vezes até
reproduzindo um pouco e um tanto o perfil masculino, meio que para
sobreviver nesse ambiente que é absolutamente masculino”. Nesse
momento é que encontramos o perfil da guerreira dura. O risco em
uma candidatura assim é se tornar uma campanha muito agressiva e
acabar gerando preconceitos. É fundamental destacar que justamente
este perfil combativo era o que a fazia ser conhecida e respeitada por
seus eleitores. Em geral, os partidos de esquerda progressista tendem
a ver a mulher de forma mais igualitária e elas também se apresentam
mais contestadoras, com mais voz.
A necessidade de as mulheres terem que reafirmar continuamente
sua condição de capazes de governar faz com que elas mesmas se
esqueçam que cada gênero tem suas características reconhecidas e
acabem adotando atitudes masculinas como a agressividade e a valentia.
“Nas mulheres se valoriza a beleza e nos homens a força”, reforça a
pesquisadora mexicana Marta Lamas162. Talvez seja uma das razões pelas
quais seja mais difícil aceitar uma mulher guerreira sem fazer críticas.
A deputada paranaense Maria Victoria163, mesmo pertencendo a um
partido conservador, vive os mesmos obstáculos. Justamente por ser
jovem e bonita, vive “um desafio diário porque há um pré-conceito
por conta da minha juventude, do meu gênero. Eu tenho que provar
diariamente que sou capaz de estar onde estou, que eu sou capaz de
fazer o que eu quero fazer”.
Apesar de a deputada defender a diplomacia, reforça que
é necessário cultivar a inteligência emocional para conviver em
ambientes hostis. Outra mulher jovem e originária de família política
é a vereadora chilena Esperanza Alcaíno164, que comenta ser assertiva
Luciana Panke

162 Palestra durante o Diálogo Intergerações Mulheres e Política, Cidade


do México, 13/03/2014.
163 Entrevista realizada em 16/09/2016, Curitiba, Paraná, Brasil.
164 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
124
para evitar conflitos. “Tive que falar à imprensa que prefiro responder
as perguntas por e-mail, pois já aconteceu de ter declarações
distorcidas” e, no caso de não poder atender alguém da população,
também prefere dizer que sim ou não para evitar criar uma ilusão
ou parecer demagógica. Os depoimentos das duas jovens políticas
destacam conceitos fundamentais: a diplomacia e a assertividade.
Ser diplomática é escutar e negociar, saber ceder, saber defender
posições. Ser assertiva é a capacidade de se posicionar, dizer “sim”,
dizer “não”, sem ofender, mas com clareza. Em países latinos, onde a
assertividade pode ser confundida com rudeza, uma mulher direta e
assertiva também pode ser confundida com dura, mas isso não significa
que o seja ou que não saiba negociar.
No fazer política dentro de uma visão conciliadora, a deputada
federal Christiane Yared165 acredita que a presença da mulher nos
espaços políticos humaniza e sensibiliza para certas pautas. “Mesmo
que a mulher não faça parte da mesa de decisão, a presença dela em
comissões especiais, com temas de saúde feminina, por exemplo, já
faz com que os homens presentes se sintam constrangidos a fazer
comentários machistas”, percebe.
Há várias formas de ser guerreira, desde o posicionamento na
comunicação política com enfrentamentos públicos de opositores até
superando as próprias dificuldades. Relata a senadora mexicana Diva
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Gastélum166: “na minha terra, a temperatura ontem esteve quase 50
graus. Todas as campanhas são no período de calor, de muito calor,
mas na última estava ainda pior. Eu tive problemas numa cirurgia
de vesícula. Tiveram que me abrir de novo e foi assim que estive
na campanha, enfaixada e caminhando”. A força física, geralmente
relacionada com o homem, está aqui como forma de resistência, onde
a busca pelo objetivo é maior que a dor. No imaginário popular, essa
resistência feminina se relaciona com a preparação física para o parto e
características da energia que a maternidade requer. Além disso, como

165 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Paraná, Brasil.


166 Entrevista realizada em 16/06/2014, Senado Federal Mexicano.
125
comentei no primeiro capítulo, está relacionada com a resignação
esperada por uma mulher, onde o sacrifício feminino não apenas é visto
com bons olhos, como também desejado. O comentário da deputada
Christiane Yared167 sobre a própria mãe exemplifica isso: “Minha mãe
era uma supermulher, era uma empresária, era uma pastora, cuidava
de uma igreja com 2.000 membros, minha mãe era do lar, cozinhava
todos os dias. Ela dava conta de tudo. Ela era um show. Seis filhos. E
você não via minha mãe chorando pelos cantos, ela perdeu dois filhos,
um em acidente de trânsito e outra com um erro médico. E ela me
dizia: ‘Filha, isso vai passar, essa dor também vai amenizar. Seja forte,
seja corajosa’”.
A coerência entre atitudes políticas e pessoais está na essência
dessas mulheres. É possível ver isso também em relação à família,
espaço em que várias tentam transmitir essa maneira de ver a vida aos
filhos: “Sempre os levava quando ia aos assentamentos porque dizia
que eles tinham que conhecer a realidade, não apenas superficialmente,
mas a fundo”, compartilha a peruana Teresa Otiniano168. “Eu tive que
enfrentar a política na época de Fujimori. Me arriscava porque dizia
‘bom, sigo o ditado: melhor viver de pé que morrer de joelhos’, então
eu fazia isso porque tinha essa filosofia e também mostrei para meus
filhos a política socialista, né?”. Com esses depoimentos, podemos
observar que ser guerreira inclui as atitudes corajosas em vários
aspectos da vida, mantendo a coerência entre eles.
“Nem meninas boazinhas, doces e graciosas, nem agressivas,
duras e inflexíveis. Nas funções diretivas predomina a inteligência,
não a força muscular. [...] É um esforço intelectual, criativo, dinâmico,
extraordinariamente intenso. Isso é algo que nós mulheres sabemos
realizar muito bem” (HELLER, 2002, p. 66, tradução minha). As líderes
são motivadoras, falam em nome dos seus públicos e defendem suas
ideias. Conhecidas por estar nas bases dos partidos, são elas que tomam
a iniciativa para organizar as coisas básicas e são, em grande parte,
Luciana Panke

167 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Brasil.


168 Entrevista realizada em 11/08/2014, Lima, Peru.
126
responsáveis pela mobilização. A questão é que chega um momento
em que já não se satisfazem em estar apenas nos bastidores. Chega o
momento de batalhar pelo protagonismo. “Na Costa Rica, dizemos que
já nos cansamos de fazer a comida para as eleições. Agora queremos
ser as eleitas nas campanhas”, reivindica Carolina Delgado169. A atitude
reivindicadora, característica deste perfil, se transforma em liderança
explícita a partir de treinamento e disposição das próprias mulheres.
Como se pode expressar a liderança feminina? O consultor
argentino Máximo Reina170 sugere que “o que se pede à mulher
guerreira é que ela possa construir, que ordene, que governe e
que não fique brigando com todo mundo”. De certa maneira, aqui
se resume a diferença entre a guerreira líder e a guerreira dura.
Enquanto a última adota uma postura mais combativa, a primeira
evita se alterar, falar agressivamente, negocia e aprende a conciliar.
Política é a arte da negociação. Liderança é saber negociar. Nesse
tema, várias entrevistadas confessam a dificuldade de serem escutadas,
saber flexibilizar e negociar. “As mulheres são menos diplomáticas no
exercício do poder, porque nos custa muito chegar lá e acreditamos
na lealdade, na fidelidade e na honradez. Então, cremos que ao dizer
‘branco ou preto’ ganhamos, enquanto os homens dizem ‘cinza, talvez’,
as mulheres dizem ‘sim ou não’”, acredita a dominicana, ministra da
Mulher, Janet Camilo171. Essa percepção é compartilhada por várias
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
entrevistadas.
Aprender a diplomacia sem ferir a ética é um desafio para
muitas, mas é necessário não apenas para entrar nos espaços de
decisão, como também para se adaptar ao exercício da política diária.
Para a deputada federal mexicana Flor Ayala172, “a gente precisa
de capacidade para dialogar, discutir e debater. Aos poucos, você
vai percebendo que não é tão difícil chegar a debater ou entrar na

169 Representante costarriquenha durante palestra no Encontro Interna-


cional Socialista de Mulheres, 27/06/2014, Senado Federal, México.
170 Entrevista realizada em 14/08/2014, Cidade do México.
171 Entrevista realizada em 27/06/2014, Cidade do México.
172 Entrevista realizada em 13/03/2014, Câmara dos Deputados do México.
127
política. Você acaba fazendo uma couraça muito forte como mulher,
mas aprende muitíssimo”. A deputada destaca a necessidade de saber
dialogar e isso significa, também, saber falar estrategicamente. Antes
de agir por impulso, se perguntar: quais são os objetivos e quais
argumentos posso usar para chegar lá?
Além de inspirar e tomar iniciativas, a liderança também se
relaciona com sensibilidade. “Chega um momento em que, claro, a
política se torna algo falso e talvez frio. Eu quero um líder ou uma líder
que se preocupe por mim, que procure soluções como presidente ou
presidenta. Se é uma pessoa insensível, também será insensível aos
meus problemas, às minhas necessidades, às minhas preocupações,
portanto não quero”, avalia o consultor espanhol José Manuel Talero173.
Seria tomar atitudes e projetar na comunicação uma mescla entre
tomar ação sem esquecer a sensibilidade. Se a mulher política teve que
superar obstáculos para ser escutada, deve lembrar que outras pessoas
também querem ser ouvidas. Assim, a empatia na gestão pública é uma
forte aliada.
A vereadora equatoriana Hilda Herrera174 destaca os degraus
que precisou subir para atuar ativamente na política e, devido à
trajetória, se autodenomina “guerreira”. “Sou uma mulher que veio
de baixo na política, depois passei ao eleitoral, mas sempre fui de
luta, resistente. Resisti muito no social e no político”. Além dela,
muitas usam a mesma expressão em suas campanhas, seja no discurso
corriqueiro ou nos slogans. A candidata brasileira, Marina Silva, por
exemplo, publicou em sua conta do Twitter em véspera de eleição
(04/10/2014): “Conheça um pouco mais da trajetória de vida de Marina
Silva, esta guerreira nascida no seringal Bagaço, no Acre”. A principal
adversária, Dilma Rousseff, também usou a mesma característica no
slogan “Dilma, coração valente”. Neste trecho, há dois aspectos muito
valorizados na sociedade latina: a força e a sensibilidade. No momento
que escrevia a versão em português, o Brasil enfrentava um tumultuado
Luciana Panke

173 Entrevista realizada em 28/05/2014, Cidade do México.


174 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
128
processo de deposição da presidenta. Nas ruas, as palavras de ordem
de seus apoiadores eram “Dilma, guerreira, da pátria brasileira”.
Na subtipologia de guerreira dura, a imagem projetada é de
uma mulher firme, por vezes até inflexível. Traços de masculinidade
estão em evidência e talvez seja uma das posturas políticas nas quais
a mulher sofra mais preconceito. O machismo aqui aflora e as críticas
recebidas são igualmente duras, vindas, inclusive, de outras mulheres.
A gestora pode ser questionada sobre sua aparência, sua sexualidade
– seja por insinuação de ter poucas relações e ser “mal amada” ou ser
homossexual, também são tachadas de ter problemas hormonais (viver
de TPM) e, se falam mais alto, são chamadas de histéricas ou loucas.
São descrições que provavelmente um homem não receberia se falasse
mais duro. Escutei vários comentários pejorativos neste sentido.
A imagem a seguir, que circula pela internet, mostra bem o
tratamento que se dá ao homem e à mulher em situações semelhantes.
Enquanto a mulher é criticada, o homem é valorizado.

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

No Peru, algumas mulheres se autodenominam “machas” para


agregar valor positivo. “Hoje dizem por aqui ‘nós somos mulheres ma-

129
chas, somos lutadoras e somos empreendedoras’”, afirma o consultor
Osvaldo Carpio175. São comentários assim que reforçam a predomi-
nância positiva do gênero masculino ao feminino. “Várias experiên-
cias têm mostrado que as mulheres vistas como masculinas recebem
avaliações negativas, ainda que apresentem as mesmas qualidades de
liderança aplaudidas em um homem” (CASTAÑEDA, 2013, p. 290).
Nas campanhas analisadas, vale destacar que essa estratégia
foi usada pela argentina Elisa Carrió em seus spots. Na classificação das
tipologias, foi a única que não adotou a figura maternal em nenhum
momento. Nos resultados de focus group ela era avaliada como radical,
ainda que o visual tenha mudado para suavizar a imagem. “Elisa Carrió
é interessante porque, se você a visse, era uma mulher com cabelo
preso, gorda, não se pintava, não se arrumava e, vários anos depois,
houve uma mudança e hoje é uma senhora bem arrumada. Sempre
ganhou eleições sendo candidata parlamentar. No focus que fizemos
esses dias seu nome aparecia e as pessoas diziam ‘Carrió é uma
excelente pessoa para estar na política porque é honesta, denuncia,
mas para governar não serve porque briga com todo mundo, grita’.
Parece que é um exemplo da mulher chamada de histérica, que serve
para romper, mas não para construir”, pondera Máximo Reina176.
O que mostrou o resultado do focus group pode ser uma
das consequências da comunicação audiovisual. Nos spots analisados,
o tema honestidade esteve destacado e a trilha sonora suavizava a
mensagem. A mensagem central da candidata aparecia com imagens
da bandeira nacional e locução suave: “propomos o que a Argentina
precisa para poder mudar, sem que o poder nos mude”177. A candidata
quase não aparece nos spots que se repetiram no decorrer da
campanha. Apenas os três primeiros analisados tinham um princípio
de storytelling. O relato de Reina exemplifica a diferença entre a líder e
a dura, ele mesmo usa a expressão pejorativa “histérica”. Da líder se
Luciana Panke

175 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.


176 Entrevista realizada em 14/08/2014, Cidade do México.
177 Spot disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NXeAlYGH-
7NE&index=3&list=PLTFICznn6CeHmovmJgUnM-2N230Iwzy2I>.
130
espera firmeza para construir e da dura coragem para lutar, para dizer
coisas que não são ditas. A deputada federal Christiane Yared178, uma
das principais lideranças do Paraná, também mostra o lado guerreiro
na busca pela autonomia política. Ela comenta que, mesmo tendo
direito a cargos por ter sido a mais votada do Estado, foi taxativa ao
recusar: “eu quero ter a liberdade de votar como eu quiser e tomar
minhas decisões. Então não devo nada a ninguém. Tomei uma posição,
não aceito negociatas, não faço trocas”.
A coragem, de acordo com o colombiano Jorge Aguilera179,
dependendo do contexto, pode ser justamente o que o eleitorado
busca. “Quanto mais problemas a sociedade tenha, mais o eleitor vai
procurar uma mulher mais forte, mais guerreira. Por exemplo, na
Grã-Bretanha, a quem vamos procurar? Uma mulher conservadora de
mão firme: Margaret Thatcher”, reflete. Por mais que a percepção
geral ainda seja preconceituosa, ser uma guerreira dura não significa
algo negativo. A leitura se dá deste modo por questões culturais já
exploradas no primeiro capítulo. A firmeza e a coragem femininas talvez
sejam justamente o requerido por determinada população e contexto.
A deputada federal Christiane Yared180 acredita que, muitas vezes,
as mulheres que acabam batendo de frente na política e não sendo
levadas muito a sério, “pois elas são vistas como outro adversário. É
algo como ‘se bate como homem, vai apanhar como homem’”. Isso
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
acaba sendo uma desvantagem na hora de apresentação de projetos
ou gerenciamento das atividades públicas.
Administradora experiente, a candidata presidencial do
Panamá, Balbina Herrera, em um dos poucos spots181 de campanha,
aparece num comício justificando sua candidatura. No discurso,
a linguagem corporal revela uma mulher lutadora, com um olhar
determinado, mas seus dedos apontados para as pessoas expressam

178 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Brasil.


179 Entrevista realizada online em 14/08/2014.
180 Entrevista realizada em 20/05/2016, Curitiba, Brasil.
181 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A36X1w-
TEUnw &list=PLTFICznn6CeH1z6ax9B5heg_uUjBEcUg4&index=6>.
131
uma autoridade que pode diminuir a simpatia. “As pessoas nos
veem muito duras, muito fortes, não veem como nos sentimos, os
comentários que escutamos são muito duros também”, desabafa a
panamenha182. Quando entrevistada pessoalmente, a postura mais firme
foi substituída por alegria e determinação, sem qualquer alteração no
posicionamento ideológico. A própria Balbina reconhece que quem
estava nos spots não era ela, apenas seguia recomendações. Como já
havia dito antes, é preciso estar atento aos detalhes, pois a posição
das mãos, que parece algo pequeno, pode transmitir algo que não se
deseja. Entretanto, conforme comentou antes Jorge Aguilera, esse
detalhe pode simbolizar a firmeza requerida em algumas situações.
Tem que se considerar sempre o contexto.
O olhar forte direto para a câmera e os poucos sorrisos nos
spots foram suavizados em vários momentos da campanha de Laura
Chinchilla, presidenta da Costa Rica de 2010 a 2014. Desde a cor
das roupas, as paisagens e as supostas conversas particulares com
eleitores foram estratégias adotadas nos spots com esta finalidade. “E
dona Laura Chinchilla, a primeira presidenta da Costa Rica, diz: ‘quem
condena a liderança feminina pelos erros que eu posso ter cometido,
subestima a determinação e a força das mulheres. Atrás de mim vêm
muitas, com suas convicções e sua capacidade de lutar intactas, que
saberão atender a nossa experiência e que não se deixarão ser usadas’”
(Carolina Delgado, Costa Rica183).
Na campanha de Cristina Kirchner, o apelo à liderança se
destacava já nos títulos dos spots que sempre começavam com “a força
de”. Os vídeos foram temáticos e relacionados com valores gerais da
sociedade, baseados em depoimentos e construídos por storytelling.
Entre esses valores estavam amor, igualdade, justiça, inclusão, verdade,
vida, dignidade, alegria e união. Assim, a campanha na televisão enfatizou
sensibilidade e força, mas quase não trouxe peças com propostas
Luciana Panke

182 Entrevista realizada em 29/07/2014, Cidade do Panamá.


183 Palestra proferida durante o Encontro da Internacional Socialista de
Mulheres, Senado Federal da Cidade do México.
132
concretas. Sensibilidade e força parecem fazer referência à dicotomia
masculino/feminino a que estamos acostumados.
O fato de ser guerreira está associado, também, com os
instintos maternais. Tanto nos vídeos, quanto nas entrevistas, ficou
evidente que a luta feminina é intensificada quando se torna mãe. Ainda
que a “obrigação” da maternidade seja algo cultural, as mulheres que
optam por esse caminho, parecem afetadas por uma força para atuar
em defesa dos seus descendentes. Vemos muitas mães criarem os filhos
sozinhas, sem apoio emocional ou financeiro dos pais, demonstrando
com isso uma garra implacável que pode ser aplicada à vida pública.
Nesse sentido, as imagens de guerreira e mãe se encontram. “Sem
dúvidas, a mulher que segue adiante, que assume e encara desafios,
é a mãe e a guerreira. Por aqui são as características destacadas”,
concorda o venezuelano Pedro Urruchurtu184. Não apenas lá vemos
essa simbiose. Por exemplo, para a panamenha Dinoska Montalvo185,
ter se tornado mãe foi o que a levou para a política. “O chip político
foi ligado quando virei mãe. Tomei consciência que não serei eterna,
então você faz as coisas querendo deixar um mundo melhor para sua
comunidade e seus filhos”, fala. Na maioria dos outros países são papéis
que estão extremamente unidos, como vemos em outros exemplos a
seguir.
Nessa fronteira, vemos a seguinte mensagem do spot186 da
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
candidata presidencial mexicana, Josefina Vázquez Mota: “por mais
difícil que pareça, mais crescemos diante da adversidade. Ai daquele
que se atrever a tocar um dos nossos filhos porque saberá do que
nós mulheres somos capazes. Porque nunca vou pactuar com o crime
organizado. Vamos com tudo. Esse é o momento”. Aqui a candidata
falava para outras mulheres em um evento e a linguagem iridológica foi
fundamental. Josefina olhava direto para as outras ali presentes, gerando
conexão perceptível no vídeo. “Em geral, as reações das mulheres

184 Entrevista realizada online em 21/08/2014.


185 Entrevista realizada em 28/07/2014, Cidade do Panamá.
186 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1NjxP2g-
Go WQ&index=25&list=PLD3E597157C7D420B>.
133
que assistiam os comícios e eventos eram de enorme entusiasmo e
compromisso”, comemora a presidenciável187. A linguagem corporal
colaborava para o vínculo, pois à medida que falava, mostrava as mãos
e fortalecia as palavras.
Semelhante importância do gestual e da entonação vocal está
na campanha argentina, em um vídeo188 no qual Cristina Kirchner narra
em tom de comício sua esperança por justiça no caso das Mães da Praça
de Maio. Os valores não verbais na voz mostram força e sororidade,
mesmo que o discurso não mencione diretamente o fato. O que nos
informa sobre o conteúdo do discurso são as imagens das passeatas
das mães pela memória dos seus filhos. A força do amor de uma mãe,
portanto, a impulsiona a ser guerreira, ou mais guerreira do que seria
caso não tivesse essa motivação. “As mulheres estão muito ligadas ao
tema de custódia, da proteção, porque é nosso instinto e somos mais
valentes que os homens, de alguma maneira, porque os homens fogem
mais dos conflitos. Para nós, mulheres, pouco importa se brigamos
por alguma coisa”, raciocina a vice-prefeita da cidade do Panamá, Raisa
Banfield189. A venezuelana María Corina Machado190 concorda: “na
Venezuela, a valentia tem que ser associada aos ovários porque quem
está na primeira fila das lutas somos nós, as mulheres, porque estamos
cientes de que se trata de uma agressão à família. Quando sentimos
que a família está sendo agredida, nós reagimos”.

Tipologia – A Maternal
A maternidade é uma construção social para a mulher. “Nestes
marcos de construção de identidade de gênero, para o homem, o
trabalho estável e remunerado é o eixo definitivo, enquanto que, para a
mulher, este eixo tem sido construído pelo exercício da maternidade”
(RODRÍGUEZ, 2007, p. 28-29). De acordo com Lagarde (2006), a

187 Questionário complementar à entrevista, entregue em 02/10/2014.


Luciana Panke

188 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GUyv0z0_


26w&list=PLTFICznn6CeHRUsNzBfiHEfeHJe54oqp9&index=25>.
189 Entrevista realizada em 28/06/2014, Cidade do Panamá.
190 Entrevista realizada online em 28/08/2014.
134
maternidade no sentido de responsabilidade pela criação dos filhos
acabou sendo um papel naturalizado como feminino. Heller (2002)
explica que “durante os séculos XVIII e XIX é a esposa, a mãe e a
educadora que estão no pedestal dos filósofos, historiadores e poetas”
(HELLER, 2002, p. 46). A vereadora chilena Esperanza Alcaíno191
comenta que se sente pressionada a assumir esse papel: “Não acredito
que ser mulher seja sinônimo de ser mãe. A maternidade não é para
todas e eu não quero ter filhos nunca”, afirma.
Lipovetsky (2012) argumenta que no século XVIII começou a
sacralização da mulher na função de mãe, de uma maneira contraditória,
casta e pura. Logo, mudar um comportamento estabelecido e
reforçado no decorrer de séculos parece bem complicado a curto
prazo, ainda mais na América Latina, onde a figura da “supermãe” é tão
valorizada, conforme comentado anteriormente. “O pior machismo é
o das próprias mulheres que foram criadas, infelizmente, educadas com
visões machistas e, portanto, têm muita dificuldade de se libertar disso”,
pondera a vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria192. A mãe tradicional
que vive para a família e filhos pode ser vista em um dos spots193 da
campanha argentina. Em uma narrativa linear, conta a história de uma
senhora, mãe de 13 filhos, que recebeu televisão digital pública em sua
casa, na zona rural. A linguagem musical é valorizada para emocionar.
A candidata Cristina Kirchner não aparece. É a senhora, personagem
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
do vídeo, quem protagoniza a realização governamental a partir do seu
papel maternal.
A supervalorização da maternidade pode explicar por que
várias postulantes a cargos públicos acabam mencionando esse fato em
detrimento dos seus êxitos profissionais. “Numa sociedade machista,
a maternidade é a única coisa que dá à mulher um status de respeito, a
enaltece aos olhos dos homens, como não o fazem a sua inteligência,
nem seu sucesso profissional” (CASTAÑEDA, 2013, p. 205). O

191 Entrevista realizada online em 31/07/2014.


192 Entrevista realizada online em 19/08/2015.
193 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5JEZF29_
HP4&index=12&list=PLTFICznn6CeHRUsNzBfiHEfeHJe54oqp9>.
135
raciocínio da autora pode ajudar a entender o porquê de o papel da
profissional acabar sendo secundário nas campanhas latinas.
A candidata mexicana Josefina Vázquez Mota, apesar de ser
uma brilhante profissional, foi a que mais destacou a função maternal
em seu discurso eleitoral. Em vários trechos argumenta em nome das
famílias mexicanas no sentido de proteção das crianças, buscando
gerar identificação: “Eu, como você, faço o que for necessário para
proteger a saúde dos meus filhos194”; ou: “Como economista e mãe,
conheço os problemas das famílias195”. Seus discursos frequentemente
faziam a conexão com a maternidade, mesmo que o tema central não
fosse relacionado com isso. De certa maneira, as falas se guiavam
pelo coletivo mexicano, reforçando o estereótipo de que a mãe sabe
cuidar dos filhos, diminuindo a importância dos pais. “Ninguém sabe
cuidar dos filhos melhor que a gente. Se nossos filhos representam o
futuro, então ninguém é capaz de cuidar deles como nós196”. Esse texto
foi usado como metáfora para que as mulheres tomassem o mesmo
cuidado no dia da votação, fiscalizando os locais das urnas.
No Brasil, a relação da candidata Dilma Rousseff com a
maternidade apareceu de maneira simbólica, além de em alguns
momentos ser apresentada como mãe e avó da maneira tradicional.
“Lula pega na mão de Dilma e fala: ‘essa é a mãe do PAC’, porque a
figura da mãe para substituir a do homem simples é a mesma visão
social de que vai cuidar dos fracos e oprimidos”, relembra o brasileiro
Carlos Manhanelli197. Em um dos vídeos, um jingle simula a despedida
de Lula cantando seu amor pelo país, direcionando a entrega do Brasil
aos cuidados de Dilma. Como se sabe, o jingle é uma peça chave nas
campanhas eleitorais, materializando o conceito da candidatura com

194 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VM8QkJiDYSs&list


=PLD3E597157C7D420B&index=15>.
195 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PXmUyltFZ60&
Luciana Panke

index=19&list=PLD3E597157C7D420B>.
196 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=406RxBPiOM8&
index=56&list=PLD3E597157C7D420B>.
197 Entrevista realizada em 28/03/2014, Colômbia.
136
melodias contagiosas e apelando à emoção. Nesta canção, vemos o
prestígio do então presidente Lula sendo transferido para sua candidata,
que é mostrada como a “mãe do país”. “Uma característica comum a
todos os processos de construção simbólica é dependerem em grande
parte das mensagens e marcos criados, formados e difundidos nas
redes de comunicação multimídia” (CASTELLS, 2012, p. 536).
A ideia de “mãe do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento”
foi reforçada em diversos discursos veiculados em plataformas distintas
de comunicação. A canção de despedida alimentava o amor pela pátria
e reforçava a versão feminina do paternalismo. “Agora as mãos de
uma mulher vão nos conduzir. Eu sigo com saudade, mas estou feliz
ao sorrir porque sei que o meu povo ganhou uma mãe que tem um
coração que vai do Oiapoque ao Chuí. Deixo em tuas mãos o meu
povo”198. Portanto, vemos que ela foi considerada como a mãe da
nação. Se sua vida pessoal quase não foi mencionada, o papel maternal
foi transferido para todos os brasileiros. “Em campanhas menores é
mais fácil ressaltar a imagem de mãe, como aquela que abraça e é
atenciosa com as pessoas. Mais ou menos como fizeram com a Dilma
como a mãe do PAC”, compara o brasileiro Leandro Groppo199. Na
campanha de 2010, a imagem esteve presente em 30% dos vídeos
analisados, já em 2014 o número subiu para 45%. É possível inferir que
na primeira eleição, a presença de Lula como patrono eleitoral era
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
mais forte que em 2014, pois na campanha de reeleição já havia um
discurso governamental, com a prestação de contas do que havia sido
realizado na gestão da petista.
Outra presidenta latina que apresentou esse papel, ainda com
mais evidência, foi a chilena Michelle Bachelet. Em 2005, sua campanha
teve 44% e em 2013, 45% da figura maternal em seus vídeos. Na última
campanha, um dos seus spots200 é especialmente dedicado às famílias
que têm mais de um filho e demonstra empatia ao mostrar as decisões

198 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=k-hFhednAR0>.


199 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
200 Vídeo disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=QGmr
MKEiHCw&list=PLTFICznn6CeGcelTHbyJPPPnMazSVWyo7&index=22>.
137
difíceis que precisam ser tomadas. A mensagem da candidata é de uma
mãe que sabe os desafios familiares e como presidenta levaria isso
em consideração. Vemos também a empatia manifestada. O chileno
Dino Villegas201 concorda: “ela fala muito de ser a mãe do Chile, tem
conseguido assumir esse papel. O tom de voz que usa, a maneira de se
dirigir às pessoas em termos de proximidade corporal, por exemplo,
faz com que pareça mais uma mãe. Muito diferente de como trataram a
imagem de Matthei, que tem uma personalidade muito forte, portanto,
talvez tenha sido interpretada com características mais masculinas ou
mais de Thatcher”.
Apesar da análise do consultor chileno, os vídeos de Evelyn
Matthei, durante o segundo turno das eleições de 2013, disputado com
Bachelet, mostram que ela também tentou se mostrar mais maternal,
com 40% de incidência desta tipologia. A hipótese seria de que esse
papel teria sido usado para suavizar a percepção de ser uma mulher
rígida, ainda que nos spots depoimentos afirmassem que o Chile
precisaria exatamente de uma mulher com personalidade. Dos 32
vídeos analisados nesta campanha, a sensibilidade e a proximidade com
a população está retratada nas imagens, não nos discursos linguísticos.
Nos clipes os jingles exaltavam a alegria. De fato, a trilha sonora foi
um ingrediente fundamental na comunicação de Matthei, enfatizando
emoções positivas. Vale ressaltar que, no primeiro programa202 do
segundo turno, ela aparece no seu suposto cotidiano, como dona de
casa e também nos bastidores de campanha. Assim, como em outras
contendas, é uma das estratégias para aproximar as postulantes do
eleitorado e dos indecisos.
Outras mulheres entrevistadas comentam que o cuidado da
casa está em suas rotinas dentro do tempo possível que a política
permite. A vereadora argentina Shirley Pesce203 diz: “sou uma mulher
que corre, que vai ao supermercado, compra igual às outras mulheres
Luciana Panke

201 Entrevista realizada online em 23/07/2014.


202 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mj_6vd
3qQ48&list=PLTFICznn6CeHUckr6EtFISsZlERUomeFb&index=42>.
203 Entrevista realizada em 10/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
138
e volta para casa cozinhar quando pode”. Para a deputada estadual
Ione Pinheiro204, é preciso estar alerta: “O poder, ele te isola, ele é
perigoso, ele te deixa. Então eu tento no dia a dia... eu quero ir no
supermercado, eu vou lá, faço minhas compras, compro minhas frutas.
Tem muitas vezes que saio daqui oito e meia, nove horas, eu vou. Eu
não quero perder essas coisas do dia a dia, e nem vou terceirizar a
criação da minha filha”.
A relação da mãe com algo sagrado foi registrada por vários
autores, como Holland (2010) e Lipovetsky (2012). Para ele, em
especial no século XVIII, a mulher era praticamente sacralizada no
seu papel de esposa-mãe-educadora. Muito do que vemos atualmente
nas sociedades está enraizado neste imaginário. “Na Venezuela,
a mãe, a figura materna é definitivamente respeitada, inclusive pelo
delinquente, a figura da mãe é sagrada. Nesse aspecto a mulher é
respeitada. Quando me agrediram, até governistas me escreveram
em solidariedade porque estavam horrorizados com o que tinha
acontecido”, conta María Corina Machado205. No Brasil, o consultor
Marcelo Serpa diz que a ex-governadora do Rio de Janeiro, Rosinha
Garotinho, era muito bem avaliada por ser mãe de nove filhos, alguns
deles adotados. Ninguém nos grupos de enfoque se preocupava se ela
teria tempo de administrar o estado. O que comentavam era que “uma
mulher que adota tantas crianças e cuida delas, deve ser uma pessoa
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
boa e uma mulher muito capacitada”206.
A então deputada brasileira Luciana Rafagnin acredita que faz
diferença “a mulher trabalhar com um olhar feminino, com um olhar de
mãe, com um olhar de paz”207. Essa percepção da mãe necessariamente
cuidadora e amorosa acompanha muitas mulheres na política, seja
no tom de voz, nas aparições públicas com filhos, nos discursos
linguísticos ou em imagens com crianças. Para o consultor paraguaio

204 Entrevista realizada em 17/09/2015, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.


205 Entrevista realizada online em 28/08/2014.
206 Entrevista realizada online em 22/07/2014.
207 Entrevista realizada online em 21/08/2014.
139
Hugo Duarte208 esse papel é favorável para as candidaturas femininas:
“apresentar-se como maternal seria a outra cara do paternalismo, mas
por aqui, no imaginário, o papel da mulher é importante e reconhecido
na zona rural e periférica”.
Já o espanhol Carlos Gutiérrez209 pondera que é preciso
avaliar bem a ênfase que se dá aos aspectos maternais: “eu entendo
que não vão votar em ti porque vão te sentir como a mãe deles. Pode
ser o sentimento de mãe-presidente, caso da mãe que vai te cuidar,
mas tem que ver qual conotação trabalhar na hora de dizer ‘mãe’ e
que seja vista como alguém que vai lutar pelas pessoas, que vai lutar
pelo seu país e por seus cidadãos. Isso porque também há conotação
negativa relacionada a esse papel: há vários tipos de mães no mundo”.
Fundamental aqui observar a diferença de posicionamento entre os
consultores latinos e europeus entrevistados. Para os latinos, existe
uma supervalorização do papel da mãe e nenhum deles questionou a
eficácia desse aspecto em uma campanha. Já para os europeus, esse
aspecto do feminino deve ser avaliado com mais atenção antes de ser
utilizado em uma campanha.
Outra característica maternal em uma campanha é se mostrar
atenciosa, ser a cuidadora. É ver a mulher como responsável por cuidar
dos outros e estar atenta à necessidade dos que estão ao seu redor.
Nas campanhas, vemos essa característica presente nos discursos das
candidatas que prometem cuidar da sua gente ou estar atentas ao que a
população precisa. Parece um discurso solidário e destaca a cuidadora:
seria indício de um discurso voltado ao maternalismo.
A candidata que mais apresentou esse perfil foi a peruana
Keiko Fujimori, em 2011. Embora a história do seu pai no governo
remeta à repressão, ela se mostrou atenciosa e conciliadora. Com um
discurso populista, ressaltou também a questão de gênero: “Tenho a
força de ser jovem e de ser mulher”. Por exemplo, no spot “teu voto
Luciana Panke

208 Entrevista realizada online em 12/08/2014.


209 Entrevista realizada em 15/08/2014, Cidade do México.
140
é importante”210, as imagens destacam sua presença em várias regiões
do país e sempre perto da população.
Do México vem um exemplo forte de sororidade em um spot211
que visa unir a candidata a potenciais eleitoras a partir de identificação
e empatia. O número de feminicídios no país chega a 6,4 mortes de
mulheres todos os dias, de acordo com o Observatório Nacional
Cidadão contra o Feminicídio212. Josefina Vázquez Mota narra o texto:
“que não te falte coragem, que ninguém te desrespeite. Este é um pacto
de mulher para mulher. Eu faço um pacto contigo para que ninguém te
maltrate, para que tenhas igualdade de salários e de oportunidades”.
Enquanto se escuta a narrativa, os códigos iconológicos mostram imagens
de mulheres olhando diretamente para a câmera e na tela aparecem em
lettering “justiça, igualdade, oportunidades, liberdade, saúde, trabalho”.
O tom de voz é suave e mostra cumplicidade. A candidata não apenas
se apresenta como cuidadora de outras mulheres, mas também como
sua defensora. Ao redor de outras mulheres, termina o vídeo olhando
para a câmera e dizendo com firmeza: “desde o primeiro dia que eu for
presidenta, ser mulher no México será muito diferente”.
Ser atenciosa também se relaciona com o ato de escutar, o
que teoricamente compõe uma das qualidades do universo feminino.
A candidata da Costa Rica, apesar de ter uma voz grave e aparentar
ser firme, mostrou nos spots213 posturas relacionadas com o cuidar e o
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
ouvir. Novamente, aqui, sustento a hipótese de que essas estratégias são
usadas para suavizar a imagem a partir da percepção popular relatada
em pesquisas de opinião. Em vários spots, ela aparecia conversando
com pessoas de múltiplas características, em locais privados e públicos,
aparentando escutar e dedicar 100% da atenção. O seguinte off cobria

210 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gfC8wsQ-


d3Kk&list=PLTFICznn6CeGUMJSssPfe-YTmYyLD01DC&index=6>.
211 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BEakJQ6zy-
Tc&list=PLD3E597157C7D420B&index=74>.
212 Dados disponíveis em: <http://observatoriofeminicidio.blogspot.mx/>.
213 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=THmAr-
1xH0zk&list=PLTFICznn6CeHIIrn3D_BQGZaAztbw-Cb1&index=4>.
141
as imagens: “Laura Chinchilla tem escutado as esperanças e os desejos
da nossa gente. Para a Costa Rica só há um caminho e é para frente”.
No México, Josefina falou explicitamente sobre esta característica do
universo feminino, convertendo-a a seu favor: “Eu quero ser presidenta
porque tenho a sensibilidade da mulher para escutar”214.
No Chile, em um dos spots215 que mostra o retorno de Bachelet
para o país, o narrador em off pergunta: “Deixarás de dormir para que
sejam outros os que possam sonhar. E os problemas de todos agora
serão seus. Esse desafio é o maior de todos que já superou antes. Você
pode me explicar, Michelle: ‘o que te motiva a fazer isso?’”. Enquanto
o texto transcorre, as imagens mostram a então candidata em um
escritório, caminhando em direção a uma janela aberta, com luz,
simbolizando um encontro com o povo. A linguagem da moda ostenta
uma mulher elegante, que inspira cordialidade. Quando o narrador fala
“agora os problemas dos outros serão seus”, evidencia o cuidado com
os outros em detrimento do próprio, algo típico do universo feminino
e, também, relacionado com a profissão original dela: a medicina. A
supermãe social será reforçada no decorrer de toda campanha.
Na Costa Rica, o discurso, ainda que genérico, apresenta um
cuidado com o ser humano em todas as etapas da vida. “Minha proposta
de governo se resume assim: para a infância, cuidado. Para a juventude:
educação. Para as pessoas adultas: trabalho e bem remunerado. Para
os idosos: uma vida digna”, argumenta Laura Chinchilla olhando para
a câmera216. O olhar para a câmera como se estivesse olhando a cada
telespectador reforça a importância do contato estabelecido pela
linguagem iridológica, valorizando o contato “olhos nos olhos”, mesmo
que mediado. Como explica Rodriguez “o homem se constitui como um
sujeito ‘para ele mesmo’, enquanto a mulher se constitui como um ‘sujeito

214 Vídeo disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=XGc15rvRSp-


c&list=PLD3E597157C7D420B&index=58>.
Luciana Panke

215 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zAvozCBUN4c&lis-


t=PLTFICznn6CeE5mFfCcQh1UASOL4V0Y0aL>.
216 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=J7TY2dFOYII-
&index=9&list=PLTFICznn6CeHIIrn3D_BQGZaAztbw-Cb1>.
142
para os outros’” (RODRÍGUEZ, 2007, p. 28). A partir do conhecimento
coletivo do que é correto para cada gênero, é possível que se reforce
mais ainda essa característica de mãe social na comunicação eleitoral.
Ser sensível parece uma característica associada diretamente
ao universo feminino. A sensibilidade pode ser entendida como uma
maneira de ver o mundo e reagir diante das situações. O cuidado com
os outros, o saber escutar, usar as emoções para gerenciar situações
e ser empática são algumas manifestações da sensibilidade. Em uma
campanha eleitoral, parecer sensível pode aparecer como qualidade ou
defeito. A comunidade latina tem papéis do ser homem ou ser mulher
bastante estáticos. Assim, ser homem está relacionado com ação,
objetividade e agressividade. Ser mulher, com ser sensível, subjetiva e
atenciosa. Todos os seres humanos possuem um pouco do feminino e
do masculino, independentemente das características biológicas. Esses
padrões, ainda que altamente questionáveis, são divulgados como
“normais”. Assim, por ser sensível, uma mulher pode ser vista como
“incapaz” de estar na função política pública. A prefeita mexicana
Anabel Balbuena217 comenta que já foi questionada neste sentido: “Era
como se me dissessem que sou sensível e não teria força para tomar
decisões”. Uma coisa não tem a ver com a outra: pois a sensibilidade
pode, justamente, gerar força para tomar as decisões.
A sensibilidade pode aparecer na comunicação de maneira
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
sutil ou explicitamente, como um diferencial bastante positivo. Tons
das cores usadas nos vídeos, na composição do cenário, personagens
presentes e discurso social são exemplos de foco no sensível. O
espanhol José Manuel Talero218 reforça que não há nada de errado
com a sensibilidade, pelo contrário, pode ser algo positivo. “Como a
sensibilidade e a hipersensibilidade estão ligadas à falta de capacidade, à
falta de liderança, ou que ‘sou muito suave’, ‘não posso tomar decisões
sérias que tenho que tomar’, muitas mulheres tendem a mostrar o
oposto, ou seja: mais dura que ninguém, mais insensível que ninguém,

217 Entrevista realizada em 09/06/2016, Buenos Aires, Argentina.


218 Entrevista realizada em 28/05/2014, Cidade do México.
143
como Margaret Thatcher, mais masculina que ninguém”. E isso seria o
oposto, seria posicionar-se como a guerreira dura.
Na comunicação destas mulheres, é preciso valorizar a
sensibilidade social. Para Fernando Dopazzo “é uma sensibilidade social
distinta, uma forma de se aproximar e de ver as coisas pela ótica da
inclusão. Faz com que os acontecimentos sejam interpretados de outra
forma e venham outras soluções”. A colombiana Marta Lucía Ramírez
alerta que é a própria sociedade que pode perder caso force a mulher a
abdicar desta característica. “A sociedade precisa da visão integradora
da mulher, tanto no setor privado, quanto no setor público”219.
A vereadora brasileira Anice Nasau220 acredita que “a mulher
é mais coração, sentimentos”. Já a deputada Marla Turek221 comentou
que na campanha nas ruas “tinha que demonstrar que, num conflito,
eu não ficaria chorando sem saber o que fazer. A questão era afirmar:
vou te cuidar, não vou desmoronar”. A associação do feminino com
sensibilidade pode receber sentido de fraqueza, tanto que o dicionário
da Real Academia de Língua Espanhola222 realizou uma mudança,
retirando do “feminino” a ideia de fragilidade para ir corrigindo os
sexismos presentes na linguagem. “Não diria que haja um risco de
que uma mulher, por questões emocionais, possa tomar uma decisão
incorreta frente a um governo. Isso é ficção. Absolutamente não tem
nada que ver com ciência ou com a psicologia”, explica o uruguaio
especialista em psicologia política, Daniel Eskibel223. A vereadora
chilena Esperanza Alcaíno224 diz que justamente a sensibilidade é o que
a moveu para estar na política: “Acho que das três tipologias eu seria

219 Entrevista realizada online em 15/08/2014.


220 Entrevista concedida ao jornalista Ismael Filadelphi, 07/08/2014, Foz
do Iguaçu.
221 Entrevista concedida ao jornalista Ricardo Tesseroli, 26/08/2014,
Curitiba.
Luciana Panke

222 Disponível em: <http://www.publico.es/actualidad/550781/lo-femeni-


no-deja-de-ser-debil-y-endeble-para-la-rae>.
223 Entrevista realizada online em 31/07/2014.
224 Entrevista realizada online em 19/08/2014.
144
uma mistura de todas. Ainda que eu me veja como a profissional, são
as sensibilidades que me levaram ao mundo do serviço público”.
Ao mesmo tempo em que a sensibilidade é um diferencial
positivo, a praticidade também se destaca. O venezuelano Pedro
Urruchurtu225 observa que “no preparo de qualquer tema a mulher
é mais enfática, sem rodeios, e pergunta objetivamente à equipe
antes de tomar decisões”. A opinião é compartilhada pelo assessor
argentino Fernando Dopazzo226: “creio que as mulheres são mais
práticas, dão menos voltas e vão direto às questões concretas”. Várias
entrevistadas que já ocupam ou ocuparam cargos públicos destacam
que a transparência, a objetividade e a sensibilidade são características
que as diferenciavam dos colegas. “A sensibilidade nos serve para nos
diferenciar na mesa de decisões, pois conseguimos ver coisas que os
homens não conseguem. Com tudo que uma mulher precisa cuidar ao
mesmo tempo, temos um olhar mais amplo e conseguimos encontrar
soluções em outros lugares”, relata a vereadora argentina Shirley
Pesce227.
Na comunicação eleitoral, a musicalização constante nos
spots, imagens de natureza, de crianças, iluminação suave, cores de
roupas associadas à feminilidade são exemplos de como demonstrar
a sensibilidade. Conforme observado no feminismo da diferença,
o ser mulher “aspira revalorizar os valores associados às mulheres:
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
afetividade, sensibilidade, cuidado com o outro, com a vida e com a
natureza” (LLOMBART, 2007, p. 27). Na campanha da hondurenha
Xiomara Castro, a sensibilidade se apresentou no tom de voz228,
suavizando temas como desenvolvimento econômico ou violência.
Como ela havia sido primeira-dama, seu trabalho social estava em
evidência, como a cuidadora, mostrando sua preocupação e seu
tratamento às pessoas.

225 Entrevista realizada online em 21/08/2014.


226 Entrevista realizada em 28/03/2014, Cartagena, Colômbia.
227 Entrevista realizada em 10/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
228 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kbiV5Yb-
FOdc&list=PLTFICznn6CeEMRM2eWHHDue6VYIqtG3OI&index=5>.
145
Outra maneira de demonstrar sentimento é a participação
em eventos populares, em encontros com grupos específicos e,
também, a partir de depoimentos. No caso de Dilma Rousseff, em
2010, isso foi bastante útil para aproximá-la das pessoas. Ainda
assim, o perfil de mulher candidata teve que ser desenvolvido, pois
a empatia não alcançava os mesmos resultados que sua capacidade
técnica. Se nas eleições anteriores Lula tinha sido questionado
justamente por falta de formação superior, nas eleições de Dilma,
as críticas eram pelo excesso de tecnicismo e falta de habilidades
na comunicação pessoal.
No primeiro programa do Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral (HGPE) transmitido em televisão em 2010, por exemplo, ela
aparecia em um parque passeando com um cachorro e, ao narrar sua
biografia, o tom era de confidência, relatando situações de infância vividas
com seus pais (AMADO; PANKE, 2012). As estratégias argumentativas,
que tinham como objetivo a aproximação com o público, usando o
recurso da identificação (mãe, avó, mulher ou causas semelhantes)
e a ênfase na continuidade do então governo, foram decisivas. “Os
personagens públicos têm muito, pouco ou nada que ver com a realidade
de seus personagens ‘reais’. Isso não deve nos surpreender, uma vez
que ‘personalidade’ vem do grego personae, que quer dizer ‘máscara’”
(LEYCEGUI; MEYWNBERG; LUGO, 2011, p. 116).
As campanhas de Bachelet são as que mais evidenciam a
sensibilidade como um diferencial positivo. Em 2013, a candidata expõe
as emoções na despedida da ONU Mulheres, de que foi a primeira
presidenta. No spot229 vemos a mensagem testemunhal narrando a opção
por ter voltado ao Chile. A cumplicidade e a ternura que se vê entre as
mulheres são explícitas, especialmente quando Michelle se despede com
lágrimas nos olhos e é aplaudida pelas demais. “Há uma parte que creio
que as mulheres podem desenvolver e é a parte sensível, esperançosa,
Luciana Panke

229 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9XiqeR-


kYKUA&list=PLTFICznn6CeGBaDZuCA5kgqEHDWAClPXV&index=48>.
146
porque inconscientemente nós a vemos como a parte doce, como a parte
que nos dá mais força interior”, recomenda o consultor Dante Moncada230.
Para a então ministra peruana Carmen Omonte231, os partidos
“deveriam pensar em deixar as mulheres mais visíveis porque nós
estabelecemos pontes, somos mais conciliadoras, temos uma visão
integral. Podemos ver um problema, mas estamos vendo as conexões
dele com outros. Consequentemente, nossas soluções serão mais
integrais também”. Ela observa estrategicamente as vantagens do
olhar feminino integral, coisa que, realmente, deve ser lembrada aos
partidos. Vários, como vimos nos obstáculos das mulheres ao entrar
na política, ainda as deixam apenas como uma cota obrigatória, sem
apoio ou visibilidade positiva em suas ações.
Um dos diferenciais entre uma campanha masculina/feminina
residiria exatamente neste aspecto que evidencia o sensível. Enquanto
estamos em uma sociedade onde um homem é obrigado a ser forte
e a sensibilidade está relacionada com fraqueza, caberá às mulheres
ensinar que a sensibilidade é positiva, pode e deve conviver nos espaços
de decisão pública. “Acredito que essa capacidade de proximidade
que a mulher tem a faz mais aberta ao diálogo. O homem, talvez por
desconfiança, por estar muito envolvido com uma velha forma de fazer
política, ainda cai na confrontação”, pondera o argentino Fernando
Dopazzo232. Relacionando com o que já foi visto anteriormente, há dois
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
pontos a considerar: algumas mulheres se sentem menos dispostas a
negociações políticas; segundo, várias se diferenciam justamente por
essa capacidade de diálogo, carisma e capacidade de ouvir.
No próximo exemplo, vemos a prefeita de uma pequena cidade
do nordeste, São João de Lagoa da Roça, que explica claramente essa
capacidade de proximidade e de escutar as pessoas: “Tenho 68 anos, e
eles eram dois jovens, e ganhei desses dois jovens. Sei que é um sacrifício
administrar. Sei que não agrada a todos. Por mim, até nesse birô eu já

230 Entrevista realizada em 22/05/2014, Cidade do México.


231 Entrevista realizada em 11/08/2014, Lima, Peru.
232 Entrevista realizada em 28/03/2014, Cartagena, Colômbia.
147
chorei com alguém que chega aqui se lamentando, como eu lhe falei que
já sou chorona. Mas assim, a minha vida é com o povo. Não me subiu o
poder, sou aquela mesma Socorro Cardoso de antes, abraçando o povo
na calçada, na minha casa do mesmo jeito. Não é aquilo de chegar lá em
casa e dizer: ‘Não, a prefeita só vai atender de tal hora’. Não, acordo cedo
do mesmo jeito e vivo com o povo”, compartilha Socorro Cardoso233.

Tipologia – A Profissional
Esse perfil foi o menos evidenciado nas campanhas latinas.
Castañeda mostra uma das possíveis explicações: “o êxito profissional
não faz parte da identidade feminina: a mulher ‘realizada’ é a que se casa e
tem filhos, não a que sobe a uma posição de liderança na sua profissão”
(CASTAÑEDA, 2013, p. 289). Exceto a campanha de 2010 de Dilma
Rousseff, quando essa tipologia ocupou metade dos vídeos (ressalto
que isso aconteceu devido ao papel de subordinada à figura de Lula),
somente outras quatro mulheres destacaram seu preparo profissional
com pelo menos 30% do tempo nos vídeos: Laura Chinchilla (Costa
Rica), Marina Silva (Brasil, 2014), Michelle Bachelet (Chile, 2013) e
Noemí Sanín (Colômbia). Aqui temos uma informação que chama a
atenção, pois se essas pessoas estão disputando um cargo público, não
deveriam reforçar este aspecto? Será que acontece a mesma coisa nas
candidaturas masculinas? A resposta para a última pergunta demanda
uma pesquisa específica, mas sobre a primeira podemos inferir duas
influências: as questões culturais (papéis do que se vê como positivo
no universo feminino) e questões contextuais (análise da economia, do
entorno social e da força do partido).
Mulheres reconhecidas internacionalmente por seu trabalho,
como Marta Lucía Ramírez, da Colômbia, não estão contempladas no
grupo que apresentou ao menos 1/3 do tempo para este aspecto. Embora
seu currículo esteja repleto de experiências de destaque profissional,
comenta, que quando assumiu cargos de confiança, ainda se tinha uma
Luciana Panke

visão de mulher apenas para parecer politicamente correto. “Digamos

233 Entrevista concedida ao jornalista Mario Lamenha, em 25/07/2014.


148
que a ideia era que uma ministra da Defesa iria enfeitar a cerimônia. É
claro que, no meu caso, não é o tipo de papel que faço. Eu, porque tinha
toda preparação no setor privado, sempre fui orientada a planejar a
longo prazo, a fazer uma política a longo prazo e foi exatamente o que
fiz: planejar uma política de segurança democrática com toda inspiração
e visão que tinha Uribe”, Marta Lucía234.
Na maior parte da sociedade latina ainda se apresenta uma
candidatura feminina como se fosse algo novo ou uma maneira de
gerar simpatia do partido com o eleitorado. As mulheres são cobradas
para mostrar suas qualidades e talentos de uma maneira excepcional.
“Na formação política nos exigem toda preparação: o que fazemos,
a que nos dedicamos, ou seja, para as mulheres os partidos fazem
todo um perfil, mas dos homens isso não é exigido. Se as mulheres
estão se preparando, os homens também deviam ser exigidos da
mesma maneira”, defende a mexicana Zac Mukuy Vargas235. Como
enfatizado no capítulo anterior, um dos desafios das mulheres é
conseguir apoio dos partidos e no Brasil há uma verba específica para
o treinamento feminino, cuja não aplicação total tem punição ainda
sendo discutida no Superior Tribunal Eleitoral. Com punição pequena
ou quase inexistente, há agremiações que não se dedicam em preparar
politicamente suas integrantes. A ex-governadora paraense Ana
Carepa236 sentiu isso no início da sua vida pública. “Fui a mais votada
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
do PT na primeira eleição que concorri e o partido não acreditava
que eu conseguiria”, comenta. A história dela é compartilhada por
tantas outras que veem, portanto, essas forças contrárias interagindo
o tempo todo. Por um lado, a cobrança para o preparo intelectual e
político. Por outro, os boicotes partidários impedindo a realização das
atividades mínimas de capacitação. A vereadora de Santo André, Elian
Santana237, vê que os partidos “chamam as mulheres pra cumprir a

234 Entrevista realizada online em 15/08/2014.


235 Palestra durante o evento Diálogo Intergerações Mulheres e Política,
Cidade do México, 13/03/2014.
236 Entrevista realizada online em 11/09/2016.
237 Entrevista realizada em 25/08/2015.
149
cota, mas não dão estrutura, não dão material. Tem mulher que tem
um potencial tremendo, mas ela não sabe nem como ela vai pôr isso
pra fora. Então falta instrução por parte dos partidos, porque eles
não têm interesse mesmo que as mulheres cresçam. E aí começa a
barrar. E quando a mulher se vê na rua pra fazer campanha, diante de
campanhas milionárias, fortíssimas dos homens, ela se inibe. E aí ela
retrai e acaba ficando com medo de enfrentar e não vai pra luta”.
Os spots das biografias das candidatas constituem um momento
propício para posicionar seus conhecimentos técnicos. Assim, o que
vemos é que no começo e no final de uma campanha a formação
profissional necessariamente aparece. Isso se explica, inicialmente, pelo
fato do posicionamento das próprias candidatas: não há como defender
uma candidatura sem mostrar a capacidade de gestão da proponente.
Assim, na tipologia profissional encontramos duas tendências: as
campanhas que valorizam o êxito das candidatas e também o caso
das mulheres subordinadas, que são levadas ao poder pela mão de um
padrinho. A princípio, pode parecer contraditório falar da candidata
profissional independente e da subordinada na mesma categoria de
análise. Entretanto, o que se mostra aqui são mulheres que, embora
tenham sucesso profissional, se destacam também por alguma relação
forte com uma figura masculina na política que as impulsiona.
Um dos países mais progressistas da América Latina, o Uruguai
não costuma enfatizar os aspectos de sensibilidade ou maternidade.
“Não temos nenhuma mulher que se apresente nem como mãe, nem
como organizadora da família. Temos a mulher aguerrida e a mulher
do partido, porque isso é o mais importante no Uruguai, antes de mais
nada”, elucida o consultor Matías Ponce238. O curioso é que lá, mesmo
que o ponto de vista das candidaturas seja profissional, nunca houve
uma mulher presidenta. Nas eleições de 2014, por exemplo, a pré-
candidata Constanza Moreira foi derrotada nas primárias do partido.
Em termos de resultado, o colombiano Jorge Aguilera239 raciocina que
Luciana Panke

238 Entrevista realizada em 08/08/2014, Lima, Peru.


239 Entrevista realizada online em 14/08/2014.
150
“quando a sociedade vai sendo um pouco mais estável, busca uma
mulher que seja ágil na tomada de decisões, muito discreta, mas capaz
de executar, então vai ter o Chile, por exemplo, que é uma sociedade
estável, com uma mulher presidente”. Ver o Uruguai como um país
progressista e estável nos leva a pensar que talvez uma mulher poderia
ser a potencial substituta para a figura icônica de José Mujica, mas não
foi o que aconteceu.
Por sua vez, o vídeo240 da biografia de Dilma, em 2010, relata
história de sua carreira profissional. Nesse espaço se ressaltou a
candidata como inovadora em vários lugares de decisão do país, como
ter sido a primeira mulher ministra de Minas e Energia e do ministério
da Casa Civil (o posto mais alto depois da Presidência no Brasil). Com
esse argumento, o discurso indica: “quem tem uma biografia assim,
tem tudo para a ser a primeira presidente do Brasil”.
O consultor boliviano David Márquez241 sintetiza uma questão
muito importante para essa tipologia: “a crença geral de que quanto
mais mulheres tenhamos, mais honesto será o governo, com pessoas
mais honestas e menos corruptas. Mas aqui aprendi de Hillary Clinton:
‘eu estou aqui como candidata não só porque sou mulher, mas porque
acredito que estou preparada. Não quero que votem em mim porque
sou mulher. Quero que votem em mim porque sou capaz de administrar
o país’”. Assim, não importa o gênero, importa a capacidade profissional
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
para o que se propõe. “Pessoalmente, nunca me levantei pensando ‘que
eu era uma mulher’ e que isso determinava a minha candidatura. Minhas
ocupações e preocupações estavam nos temas da agenda nacional e,
particularmente, nas necessidades dos cidadãos”, comenta a ex-candidata
presidencial mexicana Josefina Vázquez Mota242.
Como destacou anteriormente o consultor, existe uma
percepção pública de que a mulher é mais honesta e isso é compartilhado

240 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tbv447H60SQ&in-


dex=6&list=PLTFICznn6CeGRLWsMZgXa9Zn6wV3K4ayR>.
241 Entrevista realizada online em 23/07/2014.
242 Questionário enviado em 02/10/2014.
151
por candidatas. Para a panamenha Candice Williams243 a diferença da
mulher na política “é não se deixar corromper e tentar fazer a política
de uma maneira diferente, não como se tem feito até agora, mas com
compromisso, com metas e com resultados”. Para Barreira existe uma
certa percepção de que o poder feminino seria “como encarnação da
democracia, expressa versões idealizadas a respeito do desempenho
avaliado como potencialmente positivo e capaz de mudanças nos espaços
institucionalizados da política. Se faz, dessa maneira, uma transferência da
versão sagrada do senso comum do que seria a natureza feminina para
o espaço das práticas sociais e políticas feitas virtuosas em si mesmas.
Não é raro que as próprias campanhas de candidatas mulheres usem
argumentos assim” (BARREIRA, 1996, p. 4-5). É mais ou menos o que
Lipovetsky (2012) argumenta sobre a mulher que era sacralizada por sua
pureza entre os séculos XVI e XVIII.
Ainda que a corrupção possa existir independentemente
do gênero, esse posicionamento de honestidade relacionado com
a preparação profissional pode resultar em um diferencial muito
positivo. “Existe uma confiança diferente nas mulheres e é verdade
que para elas custa mais ocultar situações que os homens escondem
com mais facilidade, relacionadas ao tema da corrupção. Mas eu sou
daquelas que acreditam que a corrupção opera como um sistema e
em certas ocasiões todos se veem presos nele”, reflete a deputada
argentina Laura Alonso244.
A trabalhadora se posiciona especialmente pela sua capacidade
de geração de resultados, sua disposição para fazer um mundo melhor
para todos. É uma mulher otimista que demonstra por seu trabalho
que tem a capacidade e a energia de realizar as tarefas necessárias no
governo. Não se enfatiza aqui qual é sua formação profissional, mas
sim sua aptidão para o trabalho. São as mulheres que se mostram
como incansáveis.
Luciana Panke

243 Entrevista realizada em 28/07/2014, Cidade do Panamá.


244 Entrevista realizada online em 20/08/2014.
152
A campanha de Bachelet, em 2005, destacava mais a questão
de gênero do que a campanha de 2013. Em um dos seus spots falou
explicitamente dessa capacidade supostamente feminina de realizar
várias tarefas ao mesmo tempo. No vídeo245, vestida com traje branco,
olhava para a câmera e falava diretamente ao eleitorado: “quero falar
com vocês que não votaram em mim porque sou mulher. Pesquisadoras,
engenheiras, escritoras, esportistas, trabalhadoras, todas estamos
acostumadas a fazer o dobro do esforço. Sempre temos que render
100% em casa e no trabalho, estar bem 24 horas por dia, e claro, não
ter dor de cabeça”. Sua forma de falar com a voz suave é o tom que o
consultor Yago de Marta246 comenta: “no modelo conversacional o ser
fala, se move e se mostra muito mais humano, muito mais próximo”.
No caso da colombiana Noemí Sanín vemos um reforço da sua
suposta competência a partir de sua trajetória de vida. Isso é possível
verificar no seguinte texto transmitido em um de seus spots247: “Com
esforço e trabalho pagou sua universidade e se graduou com mérito.
Com esforço e trabalho criou e dirigiu empresas que ainda hoje são
líderes em seu setor. Com esforço e trabalho, garantiu à Colômbia um
lugar de protagonismo no mundo”. O comportamento descrito no spot
indica, portanto, uma pessoa que enfrenta desafios e é vencedora. No
vídeo vemos a candidata em fotos que ilustram os fatos narrados por
uma voz masculina formal. É um vídeo promocional, onde a linguagem
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
proxêmica se destaca, pois o mais importante é onde e com quem está
a candidata para demonstrar o que o discurso linguístico dizia.
“Acredito que o eleitor em geral espera algo diferente da
mulher, espera um pouco mais de capacidade. Então, acho que o perfil
de candidatas com que eu mais convivi é justamente o da mulher
trabalhadora, mais do que o da guerreira, porque são candidatas que
tiveram que provar que estão preparadas para fazer papel de homem,

245 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=apzGA9446f-


c&list=PLTFICznn6CeHNhhRsCX4outjRUKfnHA0I&index=6>.
246 Entrevista realizada em 18/08/2014.
247 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bnj9GQq-
c22M&index=4&list=PLTFICznn6CeHD_llkeR0slLfB8LlyeWAx>.
153
por assim dizer. Isso vai desde sua aparência física, sua necessidade de
não demonstrar fraqueza, e mesmo dentro da equipe de campanha
as candidatas precisam pagar um preço mais alto que os candidatos”,
revela o venezuelano Ricardo Amado radicado nos Estados Unidos248.
Essa cobrança feita às mulheres tem como consequência direta a
reafirmação constante das capacidades profissionais e a autocobrança.
“As mulheres que conseguem se destacar – sobretudo nas áreas
acadêmica e profissional, tradicionalmente reservadas aos homens –
sofrem de terríveis dúvidas sobre sua própria capacidade, temem ser
descobertas como fraudulentas e chegam até o extremo de sabotar
a si mesmas” (CASTAÑEDA, 2013, p. 179). Para muitas pesam a
responsabilidade e as pressões sociais, por isso acabam reagindo com
agressividade. “Tive momentos muito duros. Para as mulheres da nossa
geração o que mais nos custa é a culpa de não estar em casa quando
teu filho precisa de você. Então, a gente acaba sacrificando saúde,
amigos, eu não sei quando foi a última vez que fui ao médico ou que vi
minhas amigas. O tema dos filhos é muito difícil. Eu tenho uma sorte
enorme de que minha família tem me apoiado. Minha mãe e minhas
irmãs têm cuidado dos meus filhos”, desabafa a líder venezuelana María
Corina Machado249. Esse relato ilustra o sentimento de várias outras
mulheres, seja por estar trabalhando na política, seja por se dedicar a
outras atividades profissionais. A consultora porto-riquenha Wanda
Nazario250 diz que as mulheres assessoradas são extremamente
dispostas e preparadas para uma rotina de campanha, mas a principal
queixa é justamente estar longe dos filhos, situação que não ocorre
quando é uma campanha masculina.
Esse sentimento compartilhado gera ações para fortalecer e
preparar as mulheres para os desafios da carreira. “O corporativismo
tem feito com que a gente se fortaleça, mas sem dúvidas depende
muito da conjuntura política, porque as associações se enfraquecem em
Luciana Panke

248 Entrevista realizada online em 14/08/2014.


249 Entrevista realizada online em 28/08/2014.
250 Entrevista realizada online em 01/07/2016.
154
alguns momentos. Mas o mais importante tem sido que se converteram
em instrumentos para fortalecer e conscientizar as mulheres do papel
que precisam desempenhar na política, porque não pode ser um salto
no escuro, mas que cheguemos preparadas e que não nos usem como
instrumentos para encher as listas ou cotas”, defende a vereadora
equatoriana Hilda Herrera251.
Cada uma encontra a sua maneira de se preparar
profissionalmente e, no caso de uma campanha, o melhor jeito de se
apresentar aos eleitores. A economista Josefina Vázquez Mota252, ex-
-candidata presidencial no México, comenta que as oportunidades de
ser conferencista em vários setores lhe brindaram um conhecimento
amplo sobre vários temas. “Eu tinha acabado de me formar em economia
e comecei a descobrir uma vocação que a cada dia confirmava que o que
eu mais gostava de fazer era estar perto das pessoas, poder fazer alguma
reflexão, estudar o que estava acontecendo e dar um ponto de vista
sobre os momentos que estávamos vivendo”. Quando compartilhou
suas opiniões profissionais começou a ser conhecida de outros
públicos: “eu comecei a fazer um programa de rádio quando era bem
jovem e na área de economia não era comum uma mulher debatendo
sobre temas financeiros. Sempre tentei ser muito responsável,
baseada em números, mas sempre muito crítica, ou seja, falar sobre
uma economia compreensível e respeitosa com os cidadãos e com
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
os atores econômicos”. Nos temas popularmente masculinos então
a mulher é mais cobrada ainda. A candidata presidencial panamenha
Balbina Herrera253 relata: “havia debates presidenciais, então eu tinha
que falar de economia, de ecologia, de família, de mulher. Das 5 às
7 da manhã vinham especialistas falar comigo praticamente sete dias
da semana”. Essa preparação constante, durante uma campanha ou
na vida, é um dos pontos de conexão dessas candidatas. Elas estão
sempre prontas para estudar, aprender e compartilhar.

251 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


252 Entrevista realizada em 29/08/2014, Cidade do México.
253 Entrevista realizada em 28/07/2014, Cidade do Panamá.
155
Ainda que o perfil da trabalhadora não tenha sido o
predominante nos seus spots, a candidata presidencial colombiana
Marta Lucía Ramírez mostrou sua capacidade para ser presidenta
a partir do que já havia feito na sua história. Por exemplo, um dos
vídeos254 reforça suas atividades antes de entrar na política e também
os resultados alcançados como ministra da Defesa da Colômbia. Ela
comenta255: “eu realmente não acredito que tenha sido algo explícito
na estratégia enfatizar mais a mulher guerreira que a mãe. Nossa
estratégia era mostrar a integralidade da mulher. Significa que, se
queremos empoderar as colombianas, temos que desenvolver nelas
todo seu potencial profissional e intelectual”.
Para vencer obstáculos como a falta de recursos econômicos,
muitas entrevistadas mostraram criatividade e dedicação na prática
diária da campanha. “Ser uma deputada uninominal significa que
as pessoas vão votar em você e votarão em você à medida que
te conheçam. Eu desenvolvi uma campanha cara a cara com uma
estratégia muito organizada territorialmente. Pus em ação todos
os meus conhecidos da sociologia para conquistar o voto indeciso
e também desenvolvi várias atividades lúdicas”, compartilha a ex-
deputada boliviana Marcela Revollo256. Portanto, essa tipologia se
refere às mulheres preparadas que mostram em diversas maneiras de
comunicar que estão disponíveis para o trabalho político, possuem
preparo e energia para fazer bem feito.
Depois de eleitas, um desafio é comunicar as realizações.
A vereadora Beth Siraque foi responsável pelo CESA, Centros
Educacionais de Santo André, uma proposta condecorada no campo
da educação, que consiste em transformar as escolas das comunidades
em espaços de inclusão, lazer e esporte para todos. A vice-prefeita
Mirian Gonçalves257 destacou conquistas na isenção de impostos

254 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0im5L_1Pkx-


Luciana Panke

g&index=5&list=PLTFICznn6CeGowGKoXwGbAepFYpKVlDm9>.
255 Entrevista realizada online em 15/08/2014.
256 Entrevista realizada online em 26/08/2014.
257 Entrevista realizada em 23/06/2016, Curitiba.
156
para trazer carros elétricos para Curitiba. “É esse lado, por exemplo,
que é absolutamente executivo, que a gente cavou, inédito. Você
imagina se a gente conseguir colocar nessa cidade, que é a cidade
do transporte público, uma nova modalidade”. Ainda no executivo,
a ex-governadora Ana Carepa comentou sobre a implantação de
formação profissional no estado, os infocentros, mas também sobre
obras de infraestrutura na capital. Aliando a visão social da mulher,
comentada antes, com gestão progressista, as decisões eram tomadas
em parceria com a população a partir do conceito de governo
popular. Isso provocou manifestações do conservadorismo local,
segundo a assessora Waleiska Fernandes258: “Ela tentou construir
um governo popular, com orçamento participativo, vozes plurais.
Isso incomodava demais. A chamavam de desvairada, sem noção”.
Acima temos exemplos de áreas consideradas típicas da mulher,
como educação, entretanto também infraestrutura e economia, nas
quais ainda se tem uma visão deturpada sobre o talento feminino.
Quando uma mulher assume no executivo, especialmente, deve estar
preparada para atuar em todos os assuntos.
A conservadora Marta Lucía Ramírez259 conseguiu criar na
Colômbia o Ministério de Comércio Exterior, a partir do conhecimento
técnico. Terminado o processo e aprovado no congresso, esperava
assumir a pasta, mas o presidente de um partido envolvido descartou
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
a ideia, dizendo que quem assumiria seria alguém com nome conhecido
na política; na ocasião entrou Juan Manuel Santos, atual presidente do
país. “Esse foi o primeiro momento de choque, quando me perguntei
por que cargos técnicos na gestão pública deveriam estar relacionados
com política eleitoral, coisa que não me passava pela cabeça fazer
naquele momento”.
Não foi critério de seleção para as entrevistas buscar mulheres
com carreiras prévias à política ou com formação profissional e/
ou universitária. Entretanto, fechando o texto percebo que todas

258 Entrevista realizada online em 09/09/2016.


259 Entrevista realizada online em 15/08/2014.
157
possuem esse perfil, independentemente do partido, idade, raça,
crença ideológica ou país. Várias além de graduadas são pós-graduadas,
com ampla experiência em diversas áreas de conhecimento como
direito, saúde, ciência política, administração, comunicação, agronomia,
economia e engenharias. Fico me perguntando se, comparadas aos
políticos que estão nos cargos que pleiteiam ou são colegas, será que
encontraríamos o mesmo índice de preparo profissional?
Depois de falar sobre a dificuldade de a mulher ser reconhecida
pelo seu talento, apresentar que também existe uma forma de
subordinação política pode ser polêmico, pois, de certa maneira, faz
uma crítica às mulheres e ao esquema no qual estamos envolvidas. A
subordinação pode vir de maneiras distintas. A primeira é a mulher que
está na política devido à influência de um homem, seja um familiar ou
um político reconhecido. Mesmo que essas mulheres não obedeçam a
ordens de seus padrinhos políticos, a comunicação nos diz que sim e dá
um status de fraqueza e de “enfeite” a essas mulheres. Isso tem a ver com
a sua entrada na política e também com o modo com que ela mostra seu
desempenho no poder. Claro que é comum ter depoimentos de pessoas
importantes em uma campanha eleitoral. Isso faz parte da estratégia de
transferência de autoridade e de credibilidade. A questão é quando a
presença de um homem se torna muito forte e repetitiva, vinculando-se
explicitamente à imagem da candidata, muitas vezes confundindo sua
identidade ou fazendo com que ela pareça apenas uma porta-voz.
No Peru, um dos consultores entrevistados, Osvaldo
Carpio , comentou que, nos tempos de Fujimori, várias mulheres
260

acabavam justamente como porta-vozes do regime: “Se tem algo que


esteve ausente naquele tempo é a participação da mulher como uma
mulher democrática, líder, independente, moderna. As fujimoristas do
congresso eram guerreiras dogmáticas, mas defendendo Fujimori”. Algo
semelhante foi comentado pela vereadora Hilda Herrera, do Equador,
e também por María Corina, da Venezuela. Vale questionarmos até
Luciana Panke

que ponto essas mulheres atuam por convicção ou por subordinação

260 Entrevista realizada em 07/08/2014, Lima, Peru.


158
aos seus líderes. “É um tema muito doloroso. Hugo Chávez utilizou as
mulheres como carrascas do regime. O que procurava era desvirtuar
a efervescência, a forma como a mulher surgiu na política porque
colocava nelas umas caras monstruosas. É muito triste porque os juízes
que deram as sentenças mais cruéis são mulheres. Isso não é por acaso,
é uma política do regime e, bom, nos cabe combater essa imagem que
estão tentando criar, que na verdade é um papel de submissão, porque
não são mulheres que enfrentam o poder do presidente para defender
a instituição que presidem”, lamenta María Corina Machado261.
No Equador, “mesmo quando o discurso do nosso presidente
diz que há mais equidade, eu diria que ainda seguem os padrões de
submissão porque são deputadas e são do partido do governo. Então
elas têm que se submeter ao que o presidente diz. Já puniram duas por
haver defendido leis diferentes do que defendia o presidente. Tiveram
que ser punidas para entender que não podem brincar com o presidente
da república e as deputadas se calaram. Foi um exemplo do que pode
acontecer com quem se rebela”, denuncia Hilda Herrera. Questionei
se aconteceria se fosse um deputado homem e ela disse acreditar que
não. “Acho que foi diferente especialmente por serem mulheres. Houve
casos com deputados, mas eles não foram punidos. Elas ficaram um
mês sem salário e foram proibidas de falar aos meios de comunicação.
Tinham que estar caladas totalmente”. Quando perguntei sobre este fato
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
à consultora equatoriana Tatiana Larrea262, ela comentou que não existe
perseguição devido a gênero no país. Já a espanhola, moradora de Quito,
Ángela Martín263 sente que há preconceito, inclusive na consultoria: “Na
América Latina tenho encontrado bastante dificuldade, pois o cliente
chama a nossa empresa esperando que cheguem consultores e chega
uma jovem profissional para atender e, ainda por cima, espanhola. É uma
sociedade muito machista, onde fica evidente o questionamento: ‘como
uma mulher 30 anos mais nova vai me dizer o que tenho que fazer?’”.

261 Entrevista realizada online em 28/08/2014.


262 Conversa realizada durante a Cúpula Mundial de Comunicação Políti-
ca, Argentina, 2016.
263 Entrevista realizada em 10/06/2016, Buenos Aires, Argentina.
159
Das presidentas latinas gostaria de destacar dois casos. Primeiro
da argentina Cristina Kirchner. “Cristina construiu sua liderança logo
depois da morte de Nestor, sobretudo na primeira vez aludia à liderança
dele”, explica a ex-deputada Claudia Bernazza264. Dois dos seus spots
de campanha enalteciam o marido265, ex-presidente argentino falecido
recentemente naquela ocasião. Nas duas versões do spot “a força dele”,
a impressão que se tinha era de que Nestor seguia governando e que
Cristina tinha seu aval. Uma vez que se entende que usar a imagem do
falecido tenha sido uma estratégia eleitoral, é possível inclusive interpretar
isso não apenas como uma homenagem, mas também como uma forma de
subordinação. Para a deputada argentina Laura Alonso, “Cristina pertence
ao formato familiar tradicional. Ela se diz católica fervorosa. Ela rompe
com o modelo indo a Buenos Aires porque ele foi. Não fica muito claro
o quanto ela era militante na juventude porque sempre dependeu dele.
Ela trabalhava para ele, nas campanhas dele. Não havia uma relação de
paridade entre os dois. Creio que ela sempre foi submetida a Nestor”.
No caso de Dilma Rousseff, a relação com Lula da Silva foi
evidente nas duas campanhas, 2010 e 2014. O ex-presidente brasileiro
não apenas apresentou sua candidata e fez uma campanha intensa para
ela, como seguiu sendo uma figura ativa dentro do governo. Rousseff é
conhecida como uma mulher de personalidade forte e não seria uma
mulher submissa. A questão, nesse caso, é que sem a presença de Lula
é muito provável que não teria se elegido. Vários de seus spots nas duas
eleições fazem referência ao governo Lula. Ela representou a continuidade
e Lula aparece quase todos os dias no HGPE para reafirmar seu apoio,
mesmo em 2014. A imagem da candidata vinha, portanto, carregada de
valores emocionais aliados à competência técnica. A candidata Soninha
Francine266 critica a forma de diminuição da capacidade de Dilma, vinda
por estereótipos pregados por Lula em ocasiões públicas: “É, porque o
pai tinha que passar o bastão pra mãe. E ele deu uma declaração uma
Luciana Panke

264 Entrevista realizada online em 19/08/2014.


265 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=H-Dsj6Rr2g&list=-
PLTFICznn6CeHRUsNzBfiHEfeHJe54oqp9&index=14>.
266 Entrevista realizada em 26/08/2016, São Paulo, Brasil.
160
vez falando ‘se eu tivesse que deixar meus filhos com alguém pra cuidar
(falou isso no palanque), eu deixaria com a Dilma’. Que horror, ele está
falando isso pras pessoas votarem nela pra presidente”.
Um exemplo significativo dessa relação simbiótica foi que,
diante da morte do candidato à presidência Eduardo Campos (PSB), a
propaganda de Dilma na TV mostrou Lula lhe fazendo homenagem, e
não a então presidenta da república Dilma Rousseff267. Apesar de que
em seu discurso Lula afirmou ter pedido a Dilma oportunidade de
falar sobre o tema, esse parece um caso de submissão/cortar a voz da
mulher. Na campanha de 2010 essa transferência de prestígio contou
mais com o aspecto da mulher guerreira. Já em 2014, na amostra
analisada observamos que esse papel já havia caído pela metade,
indicando que depois de construir seu nome público a referência a Lula
não precisava ser central, todavia, ficava muito evidente nos vídeos.
Mesmo que não seja um caso explícito de subordinação,
observamos que em metade dos vídeos de Balbina Herrera (Panamá)
são os homens que falam por ela. A estratégia de identificação com o
público jovem e de cultura marginal está clara, pois são os principais
personagens neste material. As imagens eram de comícios e as poucas
vezes em que ela discursou nos spots apresentou um discurso de
mulher guerreira, como já falei antes. A narração em off de seus vídeos
era realizada por um homem como porta-voz da campanha. Depois
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
que a conheci perguntei por que havia optado por aquilo. Ela me disse:
“foi uma das coisas decididas a partir do ponto de vista publicitário.
Não consegui opinar”268.
Essas observações me levaram a refletir que muitas dessas
mulheres encaixadas nesse perfil podem não estar conscientes da
impressão de que não falam por si próprias. Ou, inclusive, podem não
concordar com essa maneira de exposição, porém não encontram
alternativas. Outra questão fundamental é ter em mente que ninguém

267 Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JoghUySZ-


V0w&list=PLTFICznn6CeEQ1v3BRCi7OHFwBQW5SVh0&index=27>.
268 Entrevista realizada em 28/07/2014, Cidade do Panamá.
161
pertence a apenas uma tipologia. As campanhas são dinâmicas, buscando
o equilíbrio entre essas imagens e o diferencial de cada candidatura.
Para terminar, na tabela seguinte apresento os resultados
quantitativos da pesquisa realizada com os spots das campanhas
presidenciais das mulheres da América Latina, mostrando a presença dos
perfis: a guerreira, a mãe e a profissional. A tabela está organizada por
ordem alfabética de país, com o nome da candidatura e o ano da disputa.
Os vídeos analisados estão disponíveis no meu canal do YouTube269,
separados por pastas e a porcentagem correspondente está a seguir.
TABELA 4 – PERFIS DAS CANDIDATAS PRESIDENCIAIS LATINO-AMERICANAS

CAMPANHA A GUERREIRA A MÃE A PROFISSIONAL

Cristina Kirchner – Argentina, 2011 43% 33% 24%

Elisa Carrió – Argentina, 2011 80% - 20%

Dilma Rousseff – Brasil, 2010 20% 30% 50%

Dilma Rousseff – Brasil, 2014 21% 45% 34%

Luciana Genro – Brasil, 2014 64% 18% 18%

Marina Silva – Brasil, 2010 43% 35% 22%

Marina Silva – Brasil, 2014 44% 24% 32%

Michelle Bachelet – Chile, 2005 28% 44% 28%

Michelle Bachelet – Chile, 2013 25% 45% 30%

Evelyn Matthei – Chile, 2013 35% 40% 25%

Noemí Sanín – Colômbia, 2009 46% 21% 33%

Clara López – Colômbia, 2013 64% 24% 12%

Marta Lucía Ramírez – Colômbia, 2013 44% 36% 20%

Laura Chinchilla – Costa Rica, 2010 18% 50% 32%

Rigoberta Menchú – Guatemala, 2009 50% 40% 10%

Xiomara Castro – Honduras, 2013 40% 55% 5%

Patricia Mercado – México, 2006 60% 40% -

Josefina Vázquez Mota – México, 2012 35% 45% 20%

Balbina Herrera – Panamá, 2009 45% 40% 15%

Keiko Fujimori – Peru, 2011 35% 60% 5%

María Corina Machado – Venezuela, 2011 60% 40% -

Total 35% 40% 25%


Luciana Panke

269 Cf. <https://www.youtube.com/ocanalpanke>.


162
Das 21 campanhas analisadas 12 destacaram a imagem da
guerreira, 8 da mãe e apenas 1 destacou a profissional. Entretanto,
somando o tempo de todas, o perfil maternal (40% do total) é seguido
pela guerreira (35%) e a que está ausente em algumas é a profissional
(25%). Apenas uma campanha não apresentou o papel da mãe, a da
argentina Elisa Carrió. Mesmo assim, é a tipologia que mais aparece
numericamente. Portanto, é o papel mais forte das campanhas, apre-
sentando as mulheres como atenciosas, ou seja, as que cuidam.
A única campanha onde a profissional predomina é a de Dilma
Rousseff em 2010. Isso se explica, como vimos anteriormente, por sua
relação com o mentor, ex-presidente Lula da Silva, que a conduziu ao
cargo. Por outro lado, esse aspecto não aparece em spots de candidatas
reconhecidas pelo sucesso profissional como Patricia Mercado, do
México, e María Corina Machado, da Venezuela. A questão do tempo
dos vídeos é uma das hipóteses para a ênfase em outros aspectos das
personalidades, pois os spots não comunicam tudo que é a candidata.
Ademais a linguagem televisiva é sinônimo de entretenimento, devendo
haver harmonia entre as diversas maneiras de comunicar.

RESUMINDO

O que podemos deduzir dessas informações? As latinas se


Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
apresentam como mulheres guerreiras e essas características vêm
associadas, em vários momentos, justamente com a maternidade,
com o fato de cuidar dos outros, ou seja, com o retrato da mãe.
A sensibilidade atribuída às mulheres está presente nessa categoria
como uma maneira de se diferenciar de uma candidatura masculina. A
capacitação profissional não recebe a ênfase esperada em uma disputa
de um carpo administrativo ou legislativo. Todas as entrevistadas são
profissionais destacadas e ainda assim continuam se preparando para a
atuação em cargos públicos.
Junto com o preparo, a sensibilidade social é um destaque na
forma de gestão feminina, assim como a objetividade. A diplomacia e
a assertividade são temas a se trabalhar, especialmente na América
163
Latina, uma vez que falar as coisas diretamente (ser assertiva) pode
ser confundido com falta de diplomacia. Por outro lado, exagerar nas
concessões e ficar “em cima do muro” pode ser uma repetição da
política masculina. Assim, há de se buscar uma maneira de estar aberta
ao diálogo, à negociação, mas preservando a assertividade.
Na América Latina, devido à violência de gênero, à misoginia e
aos feminicídios, a submissão continua um problema, uma vez que várias
mulheres não conseguem sair de situações de violência, dependência
de seus companheiros ou familiares. Talvez acabe refletindo em
duas questões relevantes: na falta de mulheres candidatas em alguns
países e na necessidade de mulheres que estão na política apoiarem o
empoderamento feminino.
Também é possível inferir que a figura da mãe pode ser a mais
valorizada pelos eleitores latinos, já que nas campanhas vencedoras
foi o papel predominante (Cristina Kirchner, Argentina 2011; Dilma
Rousseff, Brasil 2010 e 2014; Michelle Bachelet, Chile 2005 e 2013;
Laura Chinchilla, Costa Rica 2010). Kirchner e primeira eleição de
Dilma tiveram a guerreira e a profissional, respectivamente, como as
mais destacadas, apresentando a mãe na segunda posição. Mas, exceto
nesses casos, todas enfatizaram essa imagem.
Seria uma nova maneira de apresentar o paternalismo? Estaria
nascendo o maternalismo latino-americano?
Luciana Panke

164
Capítulo 4
Dicas para candidatas e consultores

Com as entrevistas foi possível organizar sugestões para as mulheres


que pensam ingressar na política partidária, para as que já estão nela
e também para profissionais da comunicação. Reúno aqui a opinião
de quem já passou pela experiência de campanha eleitoral e vive o
cotidiano da política.
Em primeiro lugar, agrupei dicas gerais e, em seguida, o que
pensam as entrevistadas e os entrevistados dentro de cada temática. O
texto está dividido por áreas: estratégia política, pesquisas, mensagem,
tema de campanha, oratória e media training, rotina de campanha, redes
sociais, rotina de campanha, ações e aspectos emocionais.
Todas as mulheres são identificadas por sua função na política
(senadora, vice-presidenta, candidata, consultora, ex-deputada etc.) e
por seu país de origem. Os homens são identificados por seu país, mas
não por seu cargo, pois são todos consultores políticos. Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Antes de mais nada, faço um resumo de sete pontos-chave
para, depois, adentrar em áreas específicas. São eles:
1. Contrate um consultor. Cada campanha é única em
função do contexto em que está inserida, da candidata, das coligações,
da situação econômica e social. Uma campanha deve ser feita com o
apoio de profissionais. Se não existem recursos para contratar um,
verifique com o partido quem é o consultor e agende uma entrevista.
2. Seja acessível. Um ponto em comum com mulheres de
sucesso é o fato de estarem perto das pessoas. Mesmo depois de
eleitas, não esqueceram das bases. Outro aspecto que destaco é que
encontrei, em minha investigação, mulheres cercadas de milhares de

165
assessores e que se mantinham distantes do contato com as pessoas
que as elegeram. E digo isso pela experiência de tentar falar com várias
mulheres, que obviamente não estão neste livro, pois foi impossível
chegar até elas. Escolha, portanto, bem quem serão seus assessores.
Não se isole.
3. Forme equipe de confiança. Pelo fato que falei acima, é
fundamental ter uma boa equipe de assessores em diversas áreas como
comunicação e jurídica, por exemplo. Uma política bem assessorada
diminui o risco de elaborar projetos inviáveis, de se desgastar
midiaticamente ou de se distanciar de suas bases. Uma equipe de
confiança faz toda a diferença em uma campanha e também na gestão
pública.
4. Seja autêntica. Nada pior que tentar parecer quem
você não é. Manter sua identidade, valorizando aspectos positivos
necessários em uma gestão de governo ou parlamentar é fundamental.
Quando se projeta uma imagem diferente da realidade, mais cedo ou
mais tarde se é desmascarada. E nesse momento, pode-se perder a
credibilidade.
5. Seja determinada. Vimos nos capítulos anteriores
testemunhos de mulheres que obtiveram êxito por sua persistência
em contribuir socialmente. Às vezes a vitória não chega na primeira
tentativa, mas se você elegeu a política como caminho, persista.
6. Trabalhe duro. Todas as entrevistadas comentaram a
respeito da energia que uma campanha consome. E depois de eleitas,
de como é a rotina na política, do esforço que exige, da dedicação e de
utilizar horários alternativos. Jamais perca o contato com suas bases.
Continue se capacitando.
7. Aprenda diplomacia e negociação. Várias entrevistadas
confessaram ter dificuldades de negociar, pois se julgam muito diretas.
Não acredito que ser direta seja algo ruim, muito ao contrário;
mas é preciso saber escutar. Busque harmonia entre diplomacia e
Luciana Panke

assertividade.

166
A RESPEITO DO FAZER POLÍTICA

Começamos pelo princípio: o que é fazer política? Explicamos


anteriormente as três principais origens das mulheres na política:
influência familiar, militância, iniciativa privada/setor público. A própria
convivência social é uma maneira de fazer política. O que muda em nossa
reflexão é como as mulheres conseguem chegar à política eleitoral,
partidária, sair como candidatas, ser eleitas para, finalmente, atuar em
favor da sociedade. Em todo esse processo há muita argumentação,
há negociação, é necessário ter profundo conhecimento das leis e um
trato especial com as pessoas, seja com as bases, com os companheiros
de partido ou até mesmo com a oposição.

“É preciso inteligência emocional e resistência, preparação e


uma enorme paixão. Ajuda muito tomar decisões com adequada
mistura de cabeça e coração. Haverá golpes e momentos duros,
mas também estamos obrigadas a enfrentar isso, a construir e
a transformar pela política nosso entorno e nossos países em
melhores lugares para se viver e para a realização humana.”
Josefina Vázquez Mota – Ex-candidata presidencial, México.

“A mulher tem uma visão diferente. Ela tem uma visão am-
pliada. A causa acaba sendo maior que o partido. Por isso, ela
é mais envolvida emocionalmente com as coisas e consegue
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

fazer com que os homens, naquele ambiente, parem e pensem


melhor.”
Christiane Yared – Deputada federal, Brasil.

“Há um imaginário romântico de acreditar que realizar bons


projetos de lei poderia trazer méritos para constar na lista,
mas o sistema político se dirige com outras lógicas, a primei-
ra vez que tentei, entrei como candidata por mérito meu; na
segunda, ao tentar a reeleição, já não; então percebi que não
havia compreendido que deveria tecer alianças.”
Claudia Bernazza – Ex-deputada, Argentina.

167
“É muito importante manter o foco na nossa formação acadê-
mica e profissional, pois assim teremos muito mais satisfação
pelas nossas conquistas. A formação política deve ser mais
importante do que o fato de ser mulher.”
Martha Hernández – Pesquisadora, Colômbia

“As mulheres não saem do salto. A diplomacia é fundamental


para manter diálogo com outros governos e com as pessoas.”
Maria Victoria – Deputada estadual, Paraná, Brasil.

“Você vai se dando conta que não é tão difícil debater ou


entrar na política, se construir um escudo muito forte como
mulher, mas aprende muito e tira vantagem disso. O que de-
vemos, como mulheres, é procurar não ser como eles, mas
sim, acredito eu, para obter as oportunidades e o espaço ne-
cessário, é preciso ser mais mulher. Quanto mais mulher você
é, mais oportunidades você tem.”
Flor Ayala – Deputada federal, México.

“Não dá pra você assumir um papel dessa natureza sem es-


tratégia. Você tem que ter estratégia na hora de brigar, você
tem que ter estratégia na hora de se posicionar, você tem que
ter estratégia sobre as formas como você vai conduzir o seu
mandato, então isso é uma coisa que a mulher também tem
que aprender. E eu não estou dizendo aqui que ela tem que
ser lisa, não. Ela só tem que saber perceber em que ambiente
ela está, como esse ambiente está se movimentando, pra que
ela seja melhor do que está posto.”
Bete Siraque – Vereadora, Brasil.

“É preciso fazer política eleitoral. É preciso sair e buscar vo-


tos. É preciso conseguir não somente essa representatividade
Luciana Panke

do ponto de vista político, mas sim conquistando um compro-

168
misso maior, um maior envolvimento da cidadania nas deci-
sões da direção do Estado.”
Marta Lucía Ramírez – Ex-ministra de Defesa e ex-candidata presi-
dencial, Colômbia.

“Política se faz onde se possa compartilhar ideias e valores.


Aprendi, no decorrer da minha atuação, que é fundamental
perguntar a opinião do eleitorado neste processo.”
Shirley Pesce – Vereadora, Argentina.

“As pessoas têm engajamento. Trazer elas para a política é um


processo de humanização.”
Xênia Mello – Candidata, Brasil.

“Lamentavelmente, aconselharia uma mulher política que te-


nha mais capacidade, que tenha mais jogo de cintura ou mais
flexibilidade do que tive eu mesma. Sou muito rígida e isso é
um erro. Acredito que é possível realizar mudanças na política
a partir do privado, mas não é preciso ser tão rígido porque
há os que já trazem um esquema que é muito difícil dobrar.
Então, por aí há que começar desde baixo e pensar que iremos
nos inserir no sistema e isso será uma mudança brusca. É pre-
ciso fazer um trabalho menor, não ser tão rígida como fomos Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
muitas de nós mulheres que estávamos em nossos grupos e
que acreditávamos que esse seria um caminho para obter mu-
danças. Ser mais flexíveis e começar aos poucos, assim alcan-
çaremos as mudanças que queremos.”
Patricia Escala – Ex-prefeita, Argentina.

SOBRE A PESQUISA ELEITORAL

Antes de empreender uma campanha, é necessário realizar


várias técnicas de investigação para determinar as demandas sociais, a

169
percepção dos cidadãos, a avaliação antes da campanha, há que se estar
nas ruas. Aqui entram técnicas como as citadas anteriormente: SWOT,
focus group, mapas mentais, pesquisas quantitativas, microtargeting. Com
base nos dados, se começa a traçar a estratégia de campanha.

“Seja cuidadoso, e falo da estratégia de conteúdo, da parte


textual, não apenas visual, que é o que quero transmitir fa-
zendo um SWOT de qual é a percepção online da candidata.”
Carlos Gutiérrez – Espanha/México.

“Fazer como um micromarketing, acredito que ao encontrar os


pontos finos que nos dão um tom daquilo que pode ter a can-
didata como elemento a ser incorporado para fortalecer algo
onde vemos que ela está aquém. É a investigação que será a
chave para que em cada entorno conheça o que o povo deseja.”
Dante Mocada – México.

“O mais importante é que devemos ter uma estratégia quando


se está diante de uma mulher candidata, porque na política é
tudo competição e aí vamos descobrir a melhor maneira para
ganhar.”
Nidia Valdez – Consultora, República Dominicana.

“Trabalhamos com mapas mentais. Me parece que é um pro-


cesso de investigação profunda onde se pode entender como
o eleitorado percebe minha candidata e, a partir disso, elabo-
rar a estratégia. A estratégia é como uma espécie de vestido
feito sob medida para a candidata ou um traje de alfaiataria.”
Alfredo Dávalos – México/Equador.

“É preciso fazer o levantamento dos pontos positivos da candi-


data. A partir disso, fazemos microrreuniões com os temas de
Luciana Panke

interesse, fazemos ações de microtargeting. Outra coisa impor-


tante, é ter clara a fraqueza dos oponentes e se diferenciar.”
Rocio Cenzi – Consultora, Argentina.
170
“É como um efeito dominó: as ideias devem ser coerentes
com o partido, com a pessoa, com o contexto.”
Roberto Morris – México.

“Primeiramente é necessária uma boa conversa com a candi-


data para entender o conceito que devemos comunicar.”
Marcelo Serpa – Brasil.

“Com a candidata também é preciso compartilhar a investiga-


ção, para que fique o mais tranquila possível, para quebrar o
abuso de alguns estereótipos, de preconceitos de que ‘o povo
não quer uma presidenta’ e, em alguns casos, não há nenhum
elemento real na investigação para pensar isso. Então, a inves-
tigação deve servir como elemento de persuasão, porque, se
está convencida de que em seu estado nunca vão eleger uma
mulher, então não percamos tempo.”
Ricardo Amado – Venezuela/Estados Unidos.

“Diria: sempre esteja assessorada, deve ir realizando a medi-


ção para ir decidindo a estratégia.”
Carlos Gutiérrez – Espanha/México.

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências


A MENSAGEM

Com a investigação realizada procura-se determinar a


mensagem adequada para a disputa, levando em consideração a
personalidade da candidata, sua ideologia, o partido ao qual está filiada,
o cargo que deseja disputar, seus oponentes. A mensagem é transmitida
de várias maneiras: discurso linguístico, cores, participação em
determinados espaços públicos, pessoas e grupos aos quais a candidata
está associada, jingles, estética, vídeos, spots, debates eleitorais, agenda.
Cuidar para que o cotidiano da candidata não seja diferente do que
demonstra na imprensa, como, por exemplo, uma candidata que tem
uma aparência pessoalmente e outra em suas fotos.

171
“Não permita que a mudem mais do que queira projetar; ou
seja, escute todos seus assessores, mas seja ao final você mes-
ma. Aprende, você é a candidata, não vai voltar a ser a mesma
que foi nos meses anteriores. Recorda que não é o projeto
dos outros, é o seu projeto como candidata, em torno de uma
equipe que você vai idealizar, mas quem deve mostrar a cara,
quem deve dar sua visão é você mesma. Então, escute-os, não
somente acredite no instinto, nós mulheres somos muito ins-
tintivas, escute-os porque cada um deles tem algo a lhe dizer
mas, no final, tire o melhor de tudo e seja você mesma.”
Balbina Herrera – Ex-candidata presidencial, Panamá.

“Minha recomendação seria a de cuidar muito mais da oportu-


nidade de se apresentar a candidatura, cuidar das mensagens,
porque vai ocorrer uma maior sensibilidade a respeito do que
diga uma mulher e sua candidatura do que diga um homem.”
Matías Ponce – Chile/Uruguai.

“Acredito que há duas coisas muito importantes em campa-


nhas femininas: como ela se apresenta – deixar claro que ela
é capaz, que tem experiência e sabe administrar. E também,
outro fator é mostrar que ela não é corrupta.”
Gisela Rubach – Consultora, México.

“É preciso mostrar-se como é, caso contrário, entramos nas


armadilhas culturais.”
Daniel Eskibel – Uruguai.

“Às mulheres são demandadas coisas diferentes e me pare-


ce que é mais do mesmo, masculinizar-nos, não é o melhor
caminho. O melhor conselho é trabalhar com você mesma e
há momentos onde devemos dizer se há algo a fazer e, nesse
Luciana Panke

caso, estar antenadas com aquilo que acreditamos, alinhando


o pensar e o sentir, eleger de quais batalhas participar.”
Laura Alonso – Deputada, Argentina.
172
“A mulher deve comunicar com a preparação: que se veja que
possui conhecimento dos temas que trata.”
Adolpho Queiroz – Brasil.

“Numa campanha de mulher o tempo todo é necessário rea-


firmar a capacidade gerencial, a capacidade intelectual.”
Gil Castillo – Consultora, Brasil.

“A fotografia aliada a um slogan bonito já não é suficiente!


Uma série de elementos deve estar associada na execução
de uma campanha impecável, porque cada vez temos eleições
mais competitivas.”
Dante Mocada – México.

“Eu nunca disse que era mulher, ao contrário, só precisava que


escutassem o que eu queria dizer. Eu queria falar de petróleo,
de exportações, de economia, que escutassem, porque a dife-
rença já estava estampada em meu corpo.”
Patricia Mercado – Ex-candidata presidencial, México.

“O discurso tem a ver com uma questão política, mas, ao mes-


mo tempo, é muito importante não perder essa feminilidade
e essa decisão, porque há mulheres que entram no mundo
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

da política para ser mais machistas que os homens em seus


discursos.”
Hugo Duarte – Paraguai.

“Mostrar que a visão sobre a política deve ser outra: mais


inclusiva, mais participativa. Nós, mulheres, sentimos na pele
todos os dias o peso da discriminação. Como gestoras, temos
o dever de lutar contra isso. Acho que uma mulher candidata
não pode deixar essas questões de fora.”
Waleiska Fernandes – Assessora, Brasil.

173
“É muito importante que seja ela mesma. Acredito que quan-
do um candidato, seja homem ou mulher, tenta ser o que não
é, as coisas saem muito mal.”
Ricardo Amado – Venezuela/Estados Unidos.

“Há uma parte que creio que as mulheres podem desenvolver


e é a parte sensível, esperançosa, porque inconscientemente
nós a vemos como a parte doce, como a parte que nos dá mais
força interior.”
Dante Moncada – México.

“Vender sua liderança, sua posição de mulher. Geralmente es-


peramos que um candidato seja uma pessoa que tenha progre-
dido no aspecto pessoal, como empresário ou como acadêmico
ou em sua família e que tenha valores, é isso que esperamos.
Então, é isso que a candidata deve saber, explorar e vender. En-
contrar suas fortalezas e sobre elas construir a mensagem que
precisa para o local onde está pleiteando um cargo.”
Richard Liza – Peru.

“A coisa mais difícil que há, é fazer a diferença. Quando há cin-


co candidatos que fazem uma boa investigação chegamos ao
que conhecemos como empate comunicacional, no qual falam
dos mesmos pontos. Então, fazer a diferença vem do fato de
que a maioria das campanhas é sempre de candidatos homens
e a minoria são mulheres.”
Máximo Reina – Argentina.

“Sejam autênticas, que não confundam ser mulher, uma boa


mulher, com ser um bom homem, porque logo demonstram
tanta vontade em ser como os homens que esquecem essa
habilidade: que podem ir longe sendo fiéis a seu gênero e que
Luciana Panke

não devem se intimidar.”


Roberto Morris – México.

174
“O que é necessário para sua campanha, para seu partido e
até para a sociedade é que você seja você mesma, que não se
masculinize e que tampouco seja outra pessoa. Seja você mes-
ma, que na autenticidade vai estar provavelmente sua maior
virtude eleitoral, porque o povo valoriza o candidato com cre-
dibilidade, que seja natural e não um produto moldado por
uma boa estratégia de marketing.”
Daniel Eskibel – Uruguai.

SOBRE TEMAS DE CAMPANHA

Se questiona se a mulher deve focar sua campanha em temas


específicos justamente porque sua imagem está relacionada com maior
intensidade aos temas que têm ligação com a sensibilidade. Dessa forma,
é preciso observar qual é a campanha: para vereadora, para prefeita,
para deputada, para governadora, para senadora, para presidenta? Que
temas interessam à população? Em quais temas acredita a candidata?

“É necessário representar uma causa, há tanto por fazer. Há


que se fazer política: grupos de bairros, sindicatos e ter muita
força, pois é necessário trabalhar muito.”
Stela Farias – Deputada, Rio Grande do Sul, Brasil.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
“É preciso diferenciar as capacidades que temos e escolher
quais os temas com que nos identificamos e com que a can-
didata se sente cômoda para representar o eleitorado, mas é
necessário se posicionar.”
Wanda Nazario – Assessora de Comunicação, Porto Rico.

“Há muitos temas que a mulher pode explorar, não há razão


para ficar presa às questões de gênero.”
Richard Liza – Peru.

175
“Às vezes a gente só fica preocupada com as grandes obras,
nas grandes coisas, mas nós estamos esquecendo das peque-
nininhas.”
Ione Pinheiro – Deputada, Minas Gerais, Brasil.

“A questão é que deve se comunicar com clareza suas ideias. O


fato de ser mulher é visto automaticamente pelo eleitorado.”
Roberto Morris – México.

“Entrar na política neste momento da história significa entrar


em um momento de transição. Assim, cabe a nós marcar este
território para beneficiar as próximas gerações. Por isso, pre-
cisamos inserir uma linguagem mais feminina neste espaço tão
masculino.”
Marcela Revollo – Ex-deputada, Bolívia.

“O tema de gênero pode vir em uma campanha, mas nunca


sozinho.”
Marcelo Serpa – Brasil.

“Fazer uma campanha dizendo que é mulher, parece autodis-


criminação. Pode dar impressão de fraqueza. E a mulher não
é frágil, é esperta. Por isso, nada de usar o tema ‘sou mulher’
como uma muleta.”
Rocio Cenzi – Consultora, Argentina.

“Uma recomendação muito clara é que não se deve abusar


dos temas de campanha, pois os eleitores podem perder o
foco daquilo que se procura comunicar.”
Rafael Reyes Arce – México.

“Na política não dá para ser neutro, você tem de assumir po-
Luciana Panke

sições, tem que escolher o seu lado.”


Marta Leão – Vereadora, Brasil.

176
“Não pode se dedicar aos temas de mulheres porque aí há
um elemento discriminativo que busca que a mulher não seja
candidata, mas sim que seja voz para os temas supostamente
femininos e para que esse partido ou esse outro candidato
diga ‘nós sim nos ocupamos da mulher, porque temos esta
mulher que se ocupa dos temas da mulher’. Ou seja, existem
temas da mulher? Não. Existem temas dos seres humanos,
existem temas de todos, ainda mais na política.”
Daniel Eskibel – Uruguai.

“Se quiser ser candidata, busque qual é a sua causa, e tenha


sempre o gênero conjuntamente a isso. Se é saúde, se é edu-
cação, se é mobilidade urbana... são tantos temas. E cada uma
de nós entende um pouco de alguma coisa, pelo menos. Então,
escolha sua bandeira e não deixe a questão de gênero. São
coisas paralelas, não são antagônicas.”
Nancy Thame – Candidata e líder partidária, Brasil.

“Penso que é recomendável dar mais importância ao progra-


ma de governo.”
Ricardo Amado – Venezuela/Estados Unidos.

“Não acredito que as mulheres representem as mulheres, nós Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
mulheres representamos o que representamos. Se eu fosse
deputada, representaria minhas causas e as pessoas que acre-
ditam em mim.”
Patricia Mercado – Ex-candidata presidencial, México.

“O mais importante, independente de ser homem ou mulher, é


que um candidato tenha um bom termômetro e que saiba medir
a temperatura dos temas e medir a temperatura do contexto:
como é vista sua candidatura, de que as pessoas estão falando,
assim como o partido político, qual a identidade do candidato.”
Matías Ponce – Chile/Uruguai.

177
“Deve mostrar que possui conhecimentos e que pode traba-
lhar em várias causas, não somente na causa feminina.”
Marla Turek – Ex-deputada, Paraná, Brasil.

“Qual é o desafio? Encontrar uma mulher que seja capaz de


tocar em todos os setores, na mente, no coração e no espíri-
to. Isso vai criar um espaço capaz de abrir mais caminhos para
mais mulheres.”
Manuel Casanova – Chile/Estados Unidos.

“Me perguntaram como a gente faria a campanha, e eu falei ‘eu


acho legal ter um personagem’, e aí a gente pôs, eu defendo
os LGBT, então uma bonequinha minha com uma bandeira do
arco-íris.”
Soninha Francine – Ex-subprefeita, São Paulo, Brasil.

“Quer o voto do cidadão, tem que saber que temas são im-
portantes. Se vai falar de coisas que não me interessam, não
vai ter minha atenção. Se deseja uma posição, seja realista.
Se aspira obter uma maioria para governar o executivo, deve
conhecer os temas que interessam à maioria.”
José Manuel Talero – Espanha/México.

“Tem lugares que querem uma mãe que decida por eles. Ou-
tros, alguém que lide com segurança pública e tenha mão firme.”
Gisela Rubach – Consultora, México.

“Diria que uma dica geral, mas mais para as mulheres, é que
devem ter muita preparação, não somente estudar os temas,
mas também conhecer diferentes pessoas dentro da região
em que estão trabalhando, escutar muito, tirar vantagem da
empatia e ter aproximadamente de 20 a 30 mil dólares no
Luciana Panke

banco.”
Manuel Casanova – Chile/Estados Unidos.

178
“Sempre fiz trabalho social. Isso é uma vocação. Durante a
minha inteira fiz trabalhos sociais. Agora a minha candidatura
está pautada em levar para o estado programas que eu desen-
volvi, principalmente os programas que envolvem adolescen-
tes e jovens, de qualificação profissional, cultura e no combate
as drogas.”
Cristina Silvestri – Deputada estadual, Paraná, Brasil.

“Não é uma questão de gênero, mas sim um projeto: o que


você quer para seu país, sua região, qual o futuro que deseja
e qual o futuro que pode conseguir, porque as pessoas vão
votar porque você tem um projeto e não por sua condição
sexual.”
José Manuel Talero – Espanha/México.

ORATÓRIA E MEDIA TRAINING

Apresentar-se diante de públicos e dos meios exige preparação


para comunicar o que se deseja.

“Liderar exige que você fale, que você debata, que você tenha
coragem de enfrentar todos os debates. Então é preciso ir
praticando essa capacidade.”
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Wilma Farias – Prefeita, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

“O tom é muito difícil de ensinar. Se é brusco, em minha opi-


nião se percebe quando há algo ensaiado. O que se ensina é
a dominar altos e baixos, que se aprenda a manejar o volume
da voz e os silêncios. A repetição de certas frases e, principal-
mente, quando se está no rádio, a gerar imagens na mente das
pessoas, a fazer com que imaginem onde estão e onde podem
chegar.”
Máximo Reina – Argentina.

179
“Nunca perder a doçura. O vídeo captura sua alma. É preciso
gerar uma imagem mais natural.”
Gil Castillo – Consultora, Brasil.

“A questão é destacar as qualidades que fizeram a mulher che-


gar até aí, sem querer moldar como é a expectativa da socie-
dade. É uma questão discursiva: encontrar sua voz, franca e
genuína.”
Roberto Morris – México.

“Se possuem alta correspondência, se pensam, sentem e falam


da mesma forma, se mostram com muito valor quando falam,
mas, ao mesmo tempo, têm eco quando estão cara a cara, hu-
manas, abrasadoras, se de fato conseguem isso é porque não
há limites para sua comunicação.”
Yago de Marta – Espanha/México.

“Existe toda uma estratégia para ver como as mensagens se-


rão aceitas pelos meios de comunicação e em quais queremos
estar. Não se pode falar da mesma maneira para todos. Temos
que analisar como está a campanha e todas as audiências.”
Natali Becerra – Relações Públicas, Equador.

“Primeiro, o psicológico: que a pessoa esteja preparada para


as situações de pressão. Então, dirigimos todas as associações
das margens das incertezas para que a pessoa não se assuste.
É preciso treiná-la para superar as crises, para que, inclusive
mentalmente, esteja preparada para poder dar declarações.”
Jorge Aguilera – Colômbia.

“Para fazer um bom discurso é preciso acreditar no que se


diz.”
Luciana Panke

Esperanza Alcaíno – Vereadora, Chile.

180
“A mulher em media training deveria colocar-se muito forte
quando atacada porque, caso contrário, o sentimento de fra-
gilidade também pode ter o efeito de que se pode intimidar
uma mulher quando se grita com ela. É importante marcar a
posição, e com firmeza, mas sem brigar ou deixar passar às
pessoas uma imagem de histeria.”
Máximo Reina – Argentina.

“Normalmente se fala que o importante é pensar e falar da


mesma forma, mas essa é uma visão mediana porque não leva
em conta a parte fundamental da comunicação. Temos que sa-
ber como pensa e como sente. O sentir não é esse vinculado
a ‘estar emocionado’, mas sim estar conectado com aquilo que
se está dizendo, é ver o que se está dizendo e sentir o que se
está dizendo.”
Yago de Marta – Espanha/México.

SOBRE ESTÉTICA E FOTOGRAFIA

De acordo com o que vimos no livro, a questão estética é


um dos temas em que as mulheres são mais julgadas. Nos detalhes se
comunica muito, desse modo devemos dedicar atenção às fotos e à
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
maneira de se apresentar. Simplicidade para se expressar é uma das
principais dicas.

“Havia ênfase por parte de alguns especialistas em vestir tal


cor dependendo dos atos de campanha ou de apoiar uma ima-
gem mais ‘dura’ ao invés de ‘sensível’. No meu caso, e de-
pois de 12 anos trabalhando muito próximo de milhares de
mexicanos, preferi manter uma linha de naturalidade e aceitei
sugestões que não mostravam ou tentavam apresentar uma
mulher que não era eu.”
Josefina Vázquez Mota – Ex-candidata presidencial, México.

181
“Coloque nela uma calça de pano, um vestido de alfaiataria, os
sapatos não podem ter ponta grosseira muito redonda, devem
ser de bico fino ou de corte plano ou reto e deve ter saltos
para que a mulher se veja mais alta e com mais autoridade.
Claro, em contraste, se procura que não tenha joias muito
brilhantes, vistosas. Ao contrário, se buscam joias pequenas,
o mais discretas possível, para que não perca sua feminilidade,
mas que continue transmitindo uma autoridade forte.”
Jorge Aguilera – Colômbia.

“Tem uma grande diferença para as mulheres, sobretudo no


discurso, dados e números que apresentam para mostrar que
estão preparadas para assumir um cargo público. No visual,
não podem se mostrar desarrumadas porque é isso que a im-
prensa vai promover.”
Silvia Chiriboga – Consultora, Equador.

“Claro que a imagem de qualquer pessoa pública é importante,


mas no caso da mulher é ainda mais. Por isso, deve cuidar das
roupas, dos tons das cores, como se dirige no parlamento.”
Pedro Urruchutu – Venezuela.

“Na época de candidata, eu tenho cabelo loiro sempre, eu


gosto do meu cabelo loiro. E eu lembro que na ocasião me
falaram ‘loiro vai chamar muita atenção, não é legal’ e me con-
venceram a escurecer meu cabelo. Então eu fiz umas mechas
escuras, porque a intenção era que eu parecesse mais velha.
Aí pintei e fiz a foto oficial, e aquilo me incomodou tanto que
no outro dia eu fui lá e tirei, pintei meu cabelo de loiro. Tenho
que ser eu mesma.”
Cremilda Pereira – Vereadora, Brasil.
Luciana Panke

“Se tem 45 anos e quer parecer 30, então as pessoas imedia-


tamente dizem: todo o trabalho será feito no Photoshop. O
trabalho profissional que você fez para que ela projete o que
182
deve projetar se perde. Ao vê-la tão jovem, o povo mental-
mente diz: ‘é tudo artificial’. Já não se valoriza o trabalho rea-
lizado de projetar; as pessoas se sentem enganadas e dizem:
‘bom, esta senhora a única coisa que quer é se ver bonita ou
jovem’; olham sob a ótica da vaidade, perde força o tema da
proposta política, do projeto.”
Jorge Sandoval – México.

“Sempre o mais difícil numa campanha é como fazer que a


mulher conserve sua vantagem competitiva que é ser mulher
e não se transforme em uma mulher vestida de homem, com-
petindo com homens. Isso é muito difícil porque em uma cam-
panha é difícil usar saltos porque se precisa caminhar muito,
é necessário usar sapatos confortáveis. Além disso, não pode
ter muita maquiagem porque já verificamos que as pessoas
não querem isso.”
Gisela Rubach – Consultora, México.

“Em uma foto de campanha não podemos utilizar muitos ador-


nos femininos, pois soam infantis, assim como colares grandes;
podemos usar cores fortes, mas tampouco uma blusa de boli-
nhas ou de listras. De preferência, roupa lisa e colares discre-
tos. Que sejam toques femininos, mas discretos.” Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Jorge Sandoval – México.

“Uma candidata, além de estar presente, deve estar muito


atenta à sua aparência. Infelizmente, é o foco que os meios de
comunicação em algum momento darão.”
Ángela Martín – Consultora, Espanha/Equador.

A ROTINA DE CAMPANHA

Independente do país, uma campanha eleitoral é um momento


onde se dorme pouco, se alimenta pouco, se caminha muito, se fala

183
muito, se expõe totalmente. É necessário estar preparada física,
emocional e mentalmente.

“É fundamental possuir uma equipe de comunicação afinada,


bem relacionada, que consiga ser ágil na divulgação das tuas ati-
vidades e também na defesa de calúnias e de ataques, que cer-
tamente ocorrerão durante a campanha e depois no governo.”
Ana Carepa – Ex-governadora, Pará, Brasil.

“Terias que ter a autoconfiança de que tuas capacidades para


o âmbito público são tantas como as de qualquer outra pes-
soa, como as de qualquer outro homem ou, melhor dizendo:
mais que as de muitos homens, porque entre homens e mu-
lheres, em qualquer dos casos, há muita gente que não tem
qualidades destacáveis para o âmbito público.”
Daniel Eskibel – Uruguai.

“Creio que o desafio é estar convencida de que nós podemos


nos sentar em uma reunião, falar de igual para igual com os
homens, discutir política igual a eles, ter uma posição e defen-
der isso.”
Shirley Pesce – Vereadora, Argentina.

“Nas campanhas políticas sobram as ideias, as vontades, as


ofertas, as possibilidades e os recursos materiais brindados por
terceiros (impressões, até veículos emprestados). Infelizmen-
te, teremos que declinar muitas dessa gentilezas para manter a
consistência de nossa campanha e de nossa mensagem.”
Augusto Reina – Argentina.

“É preciso fazer uma boa administração de tempo para conse-


guir fazer tudo e conseguir estar presente nos bairros.”
Luciana Panke

Maria Victoria – Deputada estadual, Paraná, Brasil.

184
“Não permitas que as pessoas que a rodeiam a coloquem den-
tro de uma bolha, a ceguem e que não a deixem ver além do
evidente.”
Alfredo Dávalos – Equador/México.

“Eu não tenho medo de ir pra rua, de acordar cedo, de dormir


tarde. Meu mandato é de segunda a segunda. Eu tenho ativida-
de de sábado, de domingo.”
Beth Siraque – Vereadora, Santo André, São Paulo, Brasil.

“Que não tenham medo, que não pensem que existe algum
tipo de impedimento por ser mulher, mas ao contrário: elas
têm certa vantagem sobre os homens. E, principalmente, que
pensem a campanha.”
José Manuel Talero – Espanha/México.

“Minha sugestão é a capacitação. Há que ter força espiritual


porque a política desgasta muito. Há que ter uma boa dieta
– porque em campanha não se come ou se come mal – e, so-
bretudo, dormir o suficiente para estar desperta, justamente
diante de todas essas coisas que enfrenta a mulher em um
mundo machista. É importante repassar sua estratégia, que re-
passe tudo o que possa ocorrer no cenário.” Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

Silvia Chiriboga – Consultora, Equador.

“Uma equipe de campanha deve estar formada por profissio-


nais e experts em cada uma das áreas de atividade, não por
familiares e amigos. É importante que em toda equipe de cam-
panha os papéis e as funções sejam bem definidos; cada ator
deve ter claro quais são suas responsabilidades e funções.”
Alfredo Dávalos – México/Equador.

185
CAMPANHA CORPO A CORPO, RÁDIO TELEVISIVA
E NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS

Os meios utilizados em propaganda eleitoral mudam de país


a país, de acordo com a autorização das leis eleitorais. Ainda assim,
podemos condensar as sugestões em três tópicos: corpo a corpo
(mobilização de porta em porta), ar (rádio e televisão) e redes sociais.

“Pra você querer ser política, você tem que ter uma entrega,
essa coragem, essa determinação, você escutar mesmo as pes-
soas, você ir atrás.”
Ione Pinheiro – Deputada Estadual, Minas Gerais, Brasil.

“Assessoro mulheres e uma das estratégias exitosas é realizar


encontros online com o eleitorado periodicamente, tanto em
época de campanha quanto depois das eleições.”
Marcelo Serpa – Consultor, Brasil.

“Eu usei muito Facebook, blogs da mídia alternativa e quan-


do realmente era um fato marcante, diferenciado, inovador, aí
também a imprensa não podia fazer vistas grossas. Para sair na
imprensa, tem que ter bons contatos e ter um bom produto
para oferecer.”
Kellen Vanzin – Assessora de Comunicação, Brasil.

“Insisto, uma campanha de porta em porta é fundamental. Não


podemos ficar com a campanha online, temos que entender
que as redes sociais são complemento do restante e, se ficar
somente na rede, não chegará a um alto percentual da popu-
lação como deveria. Há que se constatar se é local, federal;
então, não esquecer que o porta a porta é fundamental.”
Carlos Gutiérrez – Espanha/México.
Luciana Panke

186
“As experiências de spots e fotos são esgotantes, requerem
abertura e aceitar sugestões, sem que isso a mostre como
quem não é de fato.”
Josefina Vázquez Mota – Ex-candidata presidencial, México.

“Que façam uma boa análise de qual é a percepção, a reputa-


ção que tem em nível digital, que definam a estratégia e que
sigam medindo e calibrando o que é importante para a cam-
panha.”
Carlos Gutiérrez – Espanha/México.

“Cada spot deve apresentar uma ideia única. Utilizar um tema


ou história, um sentimento ou imagem (pathos), uma atmosfe-
ra (ethos) ou um argumento (logos).”
Virginia García Beaudoux e Orlando D’Adamo – Argentina.

“Em um tema corpo a corpo sempre é importante construir


alianças nas diversas regiões. Aproveitar a condição femini-
na para ter esta conexão emocional com as mulheres. Tenho
certeza que de 90 ou 95% dos representantes territoriais do
campo são mulheres. Então, aproveitar essa conexão de mu-
lher para mulher, poder fazer uma boa rede, mas antes desta
conexão devem ser capazes de ampliar essa rede; diante da Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
falta de recurso, devem ser capazes de ampliar a rede.”
Iván Gamboa – México.

“Usar a tecnologia como forma de mobilização é muito signi-


ficativo.”
Xênia Mello – Candidata, Curitiba, Paraná, Brasil.

“É ir pra rua, marcar reunião, conversar com todos esses seg-


mentos com os quais você tem esse tipo de acesso. É assim
que se faz campanha.”
Beth Siraque – Vereadora, Brasil.

187
“Penso que uma das coisas que a mulher pode usar são as
redes sociais, a tecnologia; as mulheres estão mais ativas, são
mais eficazes.”
David Márquez – Bolívia/Estados Unidos.

“A nível rádio-televisivo, é necessário construir alianças com


os meios de comunicação, com os empresários, com os sindi-
catos, com quem tenha que ser feito.”
Iván Gamboa – México.

SOBRE O ÂNIMO. PALAVRAS DE MULHER PARA MULHER

Vamos praticar a sororidade e a cada dia ser mais amadas e


empoderadas!

“É importante que você entenda que você pode influenciar


outras pessoas e pode fazer com que essa influência mude a
vida daquela outra pessoa, e se acontecer daquela pessoa mu-
dar, você fará parte da vida daquela pessoa, então é mais do
que legado, porque você vai fazer parte da vida daquela pessoa
para o resto da tua vida.”
Christiane Yared – Deputada federal, Paraná, Brasil.

“Em todo caso, força; estar preparada e meditar bastante,


porque o que há para enfrentar é duro.”
Silvia Chiriboga – Consultora, Equador.

“Ninguém ganha de mão beijada alguma coisa. Por alguma ra-


zão, seja ela mais evidente ou não, você está ali, por alguma
razão. Então exerça o teu poder, não abra mão dele, não ne-
gocie o teu poder.”
Mirian Gonçalves – Vice-prefeita, Curitiba, Paraná, Brasil.
Luciana Panke

“Que participem, porque nossos países precisam delas. E no-


vamente para alcançar desenvolvimento precisamos que 100%
188
da população participe e esse 100% é composto 50% por mu-
lheres e 50% por homens. Eu sei que não é fácil, mas acredito
que a experiência oferece mais momentos de gratidão do que
qualquer outra coisa.”
Isabel Saint Malo – Vice-presidenta, Panamá.

“Eu falo muito de planejamento – as minhas ações costumam


ser pensadas, planejadas, pra gente ter o menor índice de er-
ros. Agora, o restante é magia, o restante é você, o seu brilho
nos olhos, as coisas que você tem vontade de defender, é a
paixão.”
Beth Siraque – Vereadora, Brasil.

“É tão complicada a política quanto qualquer outra atividade e


meu convite é para que cada vez mais mulheres venham para a
política. Hoje o leque é maior, hoje temos um horizonte mais
claro que podemos melhorar, não está acabado, mas podemos
melhorar e começar a construir aquilo que era impensável.”
Diva Gastélum – Senadora, México.

“Minha recomendação é que venham pra política. Não tem


aquele ditado: por trás de um grande homem tem uma grande
mulher? Por que uma grande mulher não pode estar na frente? Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Quanto mais mulheres, a gente fica mais forte. Nós estamos
no controle e não sabemos.”
Leila Meneses – Candidata, Minas Gerais, Brasil.

“É difícil, pois ninguém lhe diz como fazê-lo. Sempre falamos


de ter uma mulher mentora e creio que é importante, porque
está na natureza da mulher transmitir a sabedoria.”
Lesia Radelicki – Candidata, Bélgica.

“Primeiro, reforçar essa questão de perder o medo, porque


quando a gente perde o medo, a gente vê que o monstro não

189
é tão grande assim e que nós somos capazes, então a gente se
empodera. A segunda dica que eu daria é você sempre ter um
coletivo. Um coletivo que você confia, que você abre suas fra-
gilidades, seus medos, suas dificuldades, seus sonhos e compar-
tilha isso. Eu acho que a gente precisa compartilhar mais o que
a gente sente pra gente se sentir mais forte, e maior no sentido
de ter apoio, de não estar sozinha. Porque você olha pro lado e
você só enxerga homens, ou então você não enxerga aliados. E
o coletivo é o que te sustenta, o que te dá força, energia.”
Luciane Carminatti – Deputada estadual, Santa Catarina, Brasil.

“É preciso dar o primeiro passo e provar que é possível. Ge-


ralmente há pessoas que não ganham da primeira vez, não ga-
nham na segunda e não ganham na terceira; mas é preciso ser
perseverante, mantendo o discurso e as atitudes coerentes.”
Dinoska Montalvo – Candidata, Panamá.

“Seja o mais transparente possível, porque é isso que as pes-


soas querem. Elas querem sentir o seu lado verdadeiro, não
importa qual seja ele.”
Elian Santana – Vereadora, Santo André, São Paulo, Brasil.

“Digo para que esteja convencida do que está fazendo e que


faça por mérito próprio, sem padrinhos políticos. Quando es-
tou totalmente convencida, muito além de ser mulher, vou
fazer porque quero fazer por mim, por meu povo e porque
me sinto bem fazendo política.”
Shirley Pesce – Vereadora, Argentina.

“Ninguém vai levantar pra te dar a cadeira. O enfrentamento


é necessário. É claro que o enfrentamento tem que ser com
inteligência, tem que ser com argumento. Então, estude, par-
Luciana Panke

ticipe.”
Nancy Thame – Candidata, São Paulo, Brasil.

190
“As mulheres não podem ter medo de violência ou medo do
ridículo. Quando decidem entrar na política, que não usem
violência, que não se corrompam. Nós temos que fazer com
que os homens também vejam outras formas de fazer política
e temos que lutar pelo nosso espaço.”
Emilse Armbruster – Candidata, Argentina.

“Façam um exercício de escrever qual é sua meta. Todos os dias,


tomando decisões para que não fique apenas no plano dos so-
nhos, pois se não agir, não vai acontecer. Então, arme como um
quebra-cabeça em seu cérebro, dizendo ‘eu quero isto, como
vou obter?’, e vá procurando o passo a passo para a realização.”
Candice Williams – Candidata, Panamá.

“Para as mulheres que querem ingressar na política, procurar


ter a sua postura de firmeza e falar ‘eu quero por amor’, por
amor até mesmo ao próximo, que eu quero ajudar; não é ape-
nas falar ‘eu quero ser um político’, não. Você tem que gostar
do que vai fazer e pensar no futuro daquela criança que está
pequena hoje, dependendo de uma creche, posto de saúde.”
Neusa Elisabete Conscetta – Vereadora, Brasil.

“Que não tenham medo, que se lancem a experimentar coisas Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
novas porque são coisas que ninguém tira de você, são coisas
que ficam para o resto de sua vida. E mais que tudo, o amor, o
amor que tenhas por seu país, o amor que tenhas pela nação
que quer ver surgir.”
Liz Castillo – Candidata, Peru.

“Eu acho uma pena a mulher não acreditar em si mesma. Eu


acredito que só deveria participar de uma eleição quem acre-
dita em si, a gente já aceita o preconceito daí, né? Vou sair
porque precisa de 30%, não! Vou sair porque eu quis, porque
eu tenho chance, tenho meus ideais.”
Eliane Lacerda Defáveri – Vereadora, Brasil.
191
“Primeiramente, você tem que decidir o que quer ser. Depois
da decisão tomada, não há volta. Segundo, deve estar cons-
ciente do peso dessa decisão na tua família.”
Gisela Rubach – Consultora, México.

“Que não duvidem um minuto, que o façam já. Eu não troco mi-
nha posição atual por nenhuma outra no planeta e há pessoas que
assegurariam que é masoquismo puro, mas a partir da política
como serviço é possível tocar vidas humanas e aprender perma-
nentemente, descobrindo seu potencial, pois você é obrigada a se
descobrir, a desafiar a si mesma e, de verdade, mudar a história.”
María Corina Machado – Deputada, Venezuela.

“A mulher tem que ter valor, determinação e um objetivo


claro a alcançar. Temos que enfrentar, pode dar certo ou não,
mas é preciso tentar.”
Cristina Silvestri – Deputada estadual, Paraná, Brasil.

“Eu acredito que o primeiro a fazer é não pensar que são mu-
lheres. Quando você fica pensando que é mulher, automatica-
mente se coloca nos 50% correspondente da população. Você
é um ser humano com capacidades, virtudes e possui todas as
possibilidades de fazer o que sua visão da sociedade lhe exija.
Então, quando se colocar lá, não vai ficar pensando que está de
saias, de calças ou que é negro ou que tem alguma incapacida-
de; você é um ser humano com uma visão e uma capacidade.
É quando conta todo o mais, porque ao ser mulher você tem
talento e pode fazer contribuições que um homem não pode-
rá fazer, isso vem como consequência. Eu sempre pensei que
a meta é: você pode contribuir com a sociedade, ultrapassar
seus limites, não existe nada intransponível.”
Raisa Banfield – Vice-prefeita, Panamá.
Luciana Panke

192
“O principal é que as mulheres acreditem em si mesmas, suas
capacidades e seu valor. O que poderíamos fazer se não tivés-
semos medo?”
Anabel Balbuena – Prefeita, México.

Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

193
Considerações finais

“Quando muda a feminilidade – geralmente quando as mulheres


querem redefinir sua identidade – a masculinidade se desestabiliza.”
(MERLINSKY, 2001, p. 127)

Este livro procurou apresentar reflexões acerca de um dos temas


mais discutidos na política latino-americana nos últimos tempos: a
participação eleitoral das mulheres. Após o período de guerras, o
século XX se formou como o espaço de maior transformação das
mulheres em seus papéis sociais. Nunca antes na história as mulheres
conseguiram tanta visibilidade em suas petições e, mais que isso: nesse
momento foi quando se colocou, na maioria dos países latinos, a
questão do sufrágio feminino. Embora o machismo seja predominante
na região, podemos afirmar que estão se abrindo oportunidades cada
vez mais frequentes para buscar a equidade entre gêneros e para pautar
a sociedade a fim de ver mais além da polaridade feminino/masculino.
Começamos o texto com a conceituação de que gênero
implica questões biológicas, psicológicas, culturais e sociais. “O gênero
facilita um modo de decodificar o significado que as culturas concedem Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

à diferença de sexos e compreender as complexas conexões entre


várias formas de interação humana” (LAMAS, 2013, p. 328). Sendo
assim, as categorias de gênero estão relacionadas com papéis simbólicos
e estereótipos que determinam relações sociais. “Existe uma ordem
social de gênero que interatua com uma ordem social geral. A ordem
de gênero é um sistema de relações sociais entre homens e mulheres
em cuja formação influenciam os fatores estruturais, tais como a divisão
sexual do trabalho, e fatores culturais e simbólicos” (TODARO, 2002,
p. 71).
O feminino e o masculino são características de comportamento
presentes tanto em homens quanto nas mulheres, mas em proporções

195
distintas. Ninguém é totalmente masculino ou totalmente feminino. A
masculinidade está relacionada com a força, a agilidade, a racionalidade.
A feminilidade, com a sensibilidade, a intuição, a receptividade.
A questão de gênero feminino em campanhas eleitorais
foi apresentada aqui a partir de muitos estudos: leituras, análise
de audiovisuais de campanhas, entrevistas em profundidade com
consultores e com mulheres na política. Não há um consenso sobre
se o fato de ser mulher deva ou não ser evidenciado na comunicação
da campanha. Há os que argumentam que sim, pois agregaria valor. Há
os que acreditam que não, pois o que importa é o projeto político.
“São muitas as situações de campanha onde a condição de gênero é
relevante: interpelações discursivas dirigidas às mulheres, evocações
de rituais específicos para a categoria da mulher ou afirmação dos
valores considerados tipicamente femininos. Se observa, assim, a
tentativa de realizar-se o coletivo ‘nós mulheres’, reunindo os valores
culturais e simbólicos constituídos e transformando-os em capital
político” (BARREIRA, 1996, p. 29-30).
O que acredito é que ser mulher já está implícito numa
candidatura feminina. Não é preciso dizer. A presença do corpo
feminino fala por si e agrega as diferenças sociais que se testemunham
nos costumes sociais. Da mesma maneira, penso que em uma
candidatura feminina tratando somente temas das mulheres talvez
possa se fazer em casos de eleições proporcionais ou para o legislativo,
que o tenham como uma bandeira muito forte. Não sendo assim,
os temas a desenvolver são os que a cidadania e o entorno social
requerem. Estereotipar o tema de gênero pode trazer êxito com
determinado segmento social, mas pode distanciar outros eleitores.
Os temas relacionados com a vida das mulheres são muito amplos,
assim como os temas relacionados com os homens. Há que pensar na
cidadania como um conjunto de pessoas, independentemente do sexo.
Ressalto que o tema “gênero” é um dos mais importantes relacionados
Luciana Panke

com a justiça social e deve estar na agenda, mas não como a única
pauta.

196
Para verificar como o universo feminino está representado nas
campanhas eleitorais, primeiramente foram analisados os spots eleitorais
sob uma perspectiva de gênero, atendo-se aos posicionamentos das
candidatas a partir dos códigos de linguagem antes mencionados e às
mulheres que apareceram nos vídeos – o que faziam, se falavam, o
que falavam, em quais momentos estavam presentes nas cenas. 216
spots de oito campanhas presidenciais compuseram a amostra. Com a
análise, observei seis estereótipos femininos predominantes nos spots:
a dona de casa, a guerreira, a mãe, a sensível/cuidadora, a submissa e
a trabalhadora. Alguns desses papéis foram usados como estratégias
de discurso, para gerar aproximação, e outros, aparentemente, como
ilustração de uma realidade. Com essa constatação, foi possível propor
as tipologias das candidatas.
Desse modo, trago uma proposta de três tipologias de
mulheres candidatas na América Latina: a guerreira, a maternal e a
profissional. Para chegar a essa conclusão, como dito anteriormente,
foram realizadas entrevistas com profissionais da comunicação de 13
nacionalidades; entrevistas com mulheres políticas de 13 países, mais
a análise de 8 horas de spots de 21 campanhas eleitorais presidenciais,
de 11 países latino-americanos. Nos vídeos, observamos aspectos
variados de linguagem audiovisual para determinar as tipologias:
linguagem iridológica, linguística, de moda, gestual, auditiva, de cenário,
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
de cinestésica, proxêmica e fisiológica.
A guerreira é a candidata que se destaca por seu espírito de luta
e por sua liderança. É a mulher que consegue agregar simpatizantes ao
redor de uma causa, é “a líder”, a que toma iniciativas, a motivadora, a
forte. Em sua campanha, a guerreira ensina a superação de obstáculos
para chegar onde está, é uma referência de pessoa exitosa e capaz,
uma inspiração para os demais. Em seu aspecto extremo, “a durona” é
a que enfatiza traços masculinos como a agressividade ou a valentia. É a
que usa roupas associadas com homens e fala mais forte, aparentando
confrontos com frequência.
A maternal é o referencial quase sacralizado nos países latinos,
onde a mulher é reconhecida por sua função biológica. É a cuidadora, a
197
que protege e faz de tudo por seus filhos. Em uma campanha, “a mãe”
age como se fosse cuidar de seu povo, está atenta a suas necessidades
e o protege. Nesse sentido, as mulheres que assim se apresentam
são as que se dispõem para que nada falte aos seus eleitores. Aqui
também está inserida a característica considerada como uma das que
diferenciam homens e mulheres na política: “a sensibilidade”. É quando
se destacam as qualidades supostamente femininas como escutar e
dar atenção a detalhes que não estariam nos olhares masculinos. Na
política, a candidata se posiciona como a que vai cuidar do seu povo e
é um discurso muito repetido nas candidaturas, ainda que não seja algo
exclusivo das falas femininas. Candidatas quando aparecem próximas
da população, abraçando as pessoas e conversando individualmente,
estão nesta categoria.
Ao final está “a profissional”, que é a mulher contemporânea.
Passado o período histórico de definição de papéis de uma maneira
rígida, no século XXI, embora vários papéis sigam sendo predominantes,
há uma tendência de apresentar a equidade como um desafio a ser
conseguido em todas as nações. A profissional, portanto, é a mulher que
se apresenta com as características necessárias para a administração
pública, é a mulher preparada intelectualmente, capacitada de várias
formas. Encontramos as candidatas que acentuam suas conquistas
profissionais e, em geral, se mostram incansáveis, organizadas. Por
sua vez, a subordinação aparece na relação que algumas candidatas
mantêm com os homens que as apoiam, sejam parentes ou políticos
padrinhos. Aqui me refiro a certa simbiose entre o homem e a mulher
nessa situação, não a apoios políticos que todas devem ter. Falo, com
base nas entrevistas, de mulheres que estão em seus postos muitas
vezes como “adorno” ou para ocupar as listas de cotas. Outras que
misturam sua identidade com a identidade de seus antecessores, pais,
maridos ou líderes. Aqui, mais que nada, é uma questão de avaliação
sobre as reais necessidades de cada um, sua função na política e
Luciana Panke

importância para o entorno social.


Lipovetsky (2012) propõe o conceito de “a terceira mulher
ou a mulher indeterminada”. A primeira mulher seria “a depreciada”,
198
a segunda, “a exaltada” e agora estaríamos em um momento histórico
de flexibilidade onde as mulheres estão em processo de construção de
sua identidade. “Tanto a primeira como a segunda mulher se diziam
subordinadas ao homem. A primeira mulher está sujeita a si mesma;
a segunda mulher era uma criação ideal dos homens; a terceira se
supõe uma autocriação feminina” (LIPOVETSKY, 2012, p. 219). De
certa maneira, o raciocínio do autor se pode aplicar na tipologia aqui
proposta: a primeira mulher é a guerreira, a segunda é a maternal e a
terceira a profissional. Enquanto a primeira necessita se fazer escutar,
pedir atenção, a segunda é a desejada por todos como a atenciosa e a
carinhosa; já a terceira é a independente que se está construindo de
acordo com seus valores e capacidades.
Entretanto, vimos que na América Latina os estereótipos
predominantes na maioria das campanhas foram “a guerreira” e “a
maternal”. A guerreira indica a própria luta das mulheres que se
lançam a candidaturas. Além de que todas possuem a coragem de se
expor em seus partidos e depois em processos eleitorais, vemos que
estimularam o empoderamento de outras mulheres e estão abrindo
caminhos. É importante ressaltar que acreditamos que abraçar uma
candidatura é algo que exige competência e coragem, independente
do gênero.
Castañeda (2013) comenta que muitas mulheres optam por
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
atuar como se estivessem de acordo com o machismo para poder
realizar suas atividades. O mesmo ocorre com várias que chegam a
conquistar espaços na política partidária, pois “toda relação humana
é uma relação de poder” (ARAICO, 1988, p. 25). Partindo desse
conceito, para fazer-se ouvir, utilizam estratégias que as protegem do
silêncio e as colocam em posição destacada. Como vimos no texto,
isso vai da personalidade de cada uma, mas se aplica na hora de falar
numa tribuna, ao modo como escutam, como tentam se impor ou
exercer a diplomacia e a assertividade. Às vezes, é uma questão de
mostrar aos homens que não estão ali para tirar lugar de ninguém, e,
sim, agregar outros olhares sobre a gestão pública.

199
A observação de Castañeda (2006) pode ser uma das
explicações de uma campanha onde a candidata opte por se mostrar
com traços considerados masculinos, adotando a agressividade ou a
força. Assim também se explica por que algumas estão em seus vídeos
com vestimentas mais reconhecidas como masculinas, blazer e camisa,
por exemplo. As mulheres, portanto, se veem em dilemas sobre como
se apresentar para entrar no universo masculino da política: mantendo a
feminilidade, disfarçadas ou assumindo totalmente os papéis destinados
a elas. “Em cumprimento da feminilidade, as mulheres atuam em papéis
duplos e têm posições duplas: como sujeitos da opressão, como
vigias do cumprimento do desígnio patriarcal, feminino e masculino”
(LAGARDE, 2006, p. 19-20).
Por sua parte, a sociedade valoriza o papel da maternidade, da
mulher cuidadora e dedicada à família e aos filhos. Ainda se vê em alguns
países o preconceito explícito às mulheres que decidem não ser mães
ou postergam a maternidade em suas vidas. O papel da maternidade
é tão forte nos países latinos que existem as “supermães” e “as mães
públicas”. As primeiras são as dominadoras do espaço privado e
que, de certa maneira, colaboram para perpetuar a centralização das
tarefas domésticas em suas mãos como uma forma de poder. De certa
forma, colaboram para perpetuar o machismo e os papéis restritos
por gênero. Continuam servindo filhos adultos ou quase, meninas
e meninos na casa recebem tratamentos distintos. Por exemplo, a
menina deve ajudar a mãe a lavar a louça e o menino fica sentado no
sofá. As segundas são as que desempenham atividades profissionais
relacionadas com o cuidar do outro tais como as professoras, médicas,
enfermeiras e policiais. As mulheres, por assim dizer, estão adaptadas
para servir aos outros, sejam seus filhos ou não.
A mulher profissional está nas campanhas em menor
quantidade: 25% do tempo total. As mulheres que partem para a política
partidária são na maioria das vezes preparadas e várias têm formação
Luciana Panke

profissional superior à dos homens concorrentes. Na investigação, foi


possível verificar que a questão da preparação é fundamental para as
entrevistadas, mas é uma característica que não esteve evidenciada com
200
tanta força nos spots e vídeos eleitorais. Talvez em outros meios sim, mas
não me é possível afirmar por não os haver examinado profundamente.
Creio que a pesquisa indica caminhos para promover a
reflexão sobre estratégias de campanhas eleitorais para mulheres e os
papéis de gênero na sociedade latino-americana. Com outros estudos
buscando se as tipologias se repetem e em qual proporção, em qual
contexto, país, campanha ou em funções públicas, poderemos ter
uma noção mais ampla. É necessário que a mudança de papéis também
ocorra nas atitudes das líderes, para que possam ser inspiração para
outras mulheres que desejem a mudança e mais igualdade em seus
países.
Desenvolver o conceito de sororidade é fundamental para
alcançar a meta de ver mais mulheres em cargos de liderança, tanto
no setor público, quanto no setor privado. Sororidade é o apoio
entre mulheres para o crescimento e fortalecimento de cada uma.
Seria a versão feminina de “fraternidade” que se origina do latim
frater, irmão. Sororidade vem também do latim soror, irmã. Por outro
lado, há coletivos em algumas assembleias nos quais as deputadas
trabalham pautas em conjunto, sem priorizar os partidos, mas uma
apoiando a outra.
Ao analisar as mulheres na França, Lipovetsky acredita que
hoje a sociedade ocidental indica tendências, mas não impõe mais
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
limitações para cada gênero. “A novidade não reside no advento de
um universo unissex, mas sim em uma sociedade ‘aberta’ em que
as normas, ao serem plurais e seletivas, estejam acompanhadas de
estratégias heterogêneas, de margens de latitude e de indeterminação”
(LIPOVETSKY, 2012, p. 220). Podemos dizer o mesmo em relação
à América Latina? A população estaria mais próxima da equidade de
gênero na política partidária?
Por sua vez, um dos entrevistados propõe uma figura ideal: “a
figura de uma supermulher, a figura de uma mulher que é linda, se veste
bem, vai ao Senado ou ao Ministério, é mãe, é esposa, é agradável, é
amiga, é simpática, é a supermulher” (Matías Ponce, Chile/Uruguai). Se
soma aqui a multiplicidade de papéis: a mulher profissional, a mulher
201
mãe, a mulher dona de casa, a mulher companheira. Temos que todas
essas funções reforçam os discursos da opressão, toda vez que à mulher
muitas vezes não é dada a opção de eleger em quais papéis atuar ou se
vê obrigada a atuar (e fazê-lo bem) em todos eles. Todas as entrevistadas
tinham consciência do acúmulo de tarefas e do quanto a política fazia
com que renunciassem ou se frustrassem em uma ou outra parte da
vida, uma vez que a atividade está feita por homens, para atuação dos
homens tal qual se vê na maioria dos países ainda hoje: o provedor,
dedicado ao trabalho e o que dita as decisões. A cobrança que a mulher
recebe por não exercer a maternidade é a mesma que o homem recebe
se não é o provedor. Deve ser difícil também para um homem machista
que não alcança sucesso profissional ver uma mulher mais competente
que ele ocupar seu suposto lugar. Será que vamos viver por muito tempo
numa sociedade onde a questão de gênero seja o mais importante, em
detrimento das propostas reais para a vida das pessoas?
O fato de que haja cotas, de que haja entornos culturais
distintos e muito enraizados faz a questão muito complexa. Mas há
que ver que as tipologias “a guerreira”, “a maternal” e “a profissional”
estão misturadas em nosso momento histórico e é necessário verificar
qual é o mais coerente com a candidata. Todas apresentam as três
características, variando a ênfase e a visibilidade pública que se dá.
Políticas afirmativas de inclusão das mulheres nos espaços
eletivos de representação e na gestão pública parecem ser alternativas
para gerar empoderamento e visibilidade. Como está exposto no
livro, devido aos sistemas eleitorais serem distintos, não são todos
os países que adotam as cotas de candidaturas, cotas de assentos ou
listas paritárias. A adaptação deve ter em conta o sistema existente
e a possibilidade de se alcançar 50% por gênero. A discussão sobre
cotas para outras minorias chega a ser rara, onde há porcentagens para
jovens ou povos indígenas. Não encontrei a população afrodescendente
contemplada nos locais que pesquisei. Como falamos de mudanças
Luciana Panke

na forma de organização social, devemos ter consciência de que são


processos que tomam tempo para visibilidade, estruturação, adaptação,
teste e incorporação ou rejeição.
202
No caso que defendo aqui importa mudar os números de
mulheres nas esferas do poder na América Latina. Há muitas mulheres
capacitadas, dispostas em todos os países, entretanto, essas mesmas
mulheres podem estar intimidadas, não apoiadas por seus grupos mais
próximos, impossibilitadas por questões econômicas. Isso é um alerta
às próprias interessadas, aos coletivos, aos partidos que se mobilizem
para que os números irrisórios de mulheres eleitas parem de se repetir.
Praticar a sororidade, aprender a diplomacia, a assertividade,
comunicar suas conquistas, valorizar a visão ampla e inclusiva, abrir
espaços para as mulheres que estão chegando são tarefas das líderes
atuais. “Eu não compito com os homens, eu compartilho o espaço”
(deputada Laura Alonso, Argentina). É uma das ideias que deveriam
ser vistas por mulheres e homens na política. Acredito que a mudança
é geracional e promovida desde já por quem está no processo.
Do mesmo modo que a geração da minha bisavó não podia votar,
da minha avó sim, mas desde que com a permissão do marido, da
minha mãe sim, mas a mulher era figura rara em qualquer governo,
o que colocamos na agenda pública hoje, seguramente, vai influenciar
a geração da minha filha e os descendentes que virão. O mesmo vai
acontecer com você, participando do movimento que está ocorrendo.
É preciso naturalizar a mulher como candidata, como eleita, como
legisladora ou administradora pública. Provavelmente, se as pessoas
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
observarem a presença feminina como algo natural e agregador, a
entrada nos espaços de decisão será tranquila e menos traumática.
Homens e mulheres com as mesmas oportunidades de voz. Creio
que o fundamental é saber compartilhar e somar para conseguir uma
sociedade melhor para todas e todos.

203
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Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

211
Glossário

Análise SWOT: análise realizada em planejamentos de comunicação para


apoiar o diagnóstico. Em português, traduzida como Análise FOFA (For-
ças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), é a sigla de Strengths (For-
ças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats
(Ameaças).
Entrevista em profundidade: entrevista realizada individualmente com
objetivo de aprofundar temas e colher depoimentos e opiniões. É feita de
maneira semiestruturada com temas selecionados para a conversa. Após a
realização, é transcrita e utilizada para complementação de dados.
Focus Group: técnica de pesquisa qualitativa que reúne de 8 a 12 pessoas
para conversar sobre questões especificas, com o direcionamento de um
moderador. É realizada em uma sala com câmeras e parede espelhada,
enquanto analistas verificam, em uma sala contígua, as percepções dos
participantes.
HGPE: Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral são programas veiculados
em rádio e televisão nos horários determinados pelo Tribunal Superior
Eleitoral. Nas eleições proporcionais, o HGPE existe em municípios com
mais de 200 mil habitantes. O tempo é dividido entre os partidos de acor-
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

do com sua representatividade.


Jingle: mensagem publicitária musicada. Pode ser aplicada em: política, mar-
cas, empresas, produtos. Objetiva fixar a mensagem e, no caso das elei-
ções, gravar na memória do eleitor o número de votação da candidata.
Media Training: treinamento realizado pelas candidatas para saberem como
conversar com a imprensa, posicionarem-se diante das câmeras e em lo-
cais públicos.
Mapas Mentais: estratégia usada por equipes de criação, planejamento e
com entrevistados para encontrar soluções para problemas.
Microtargeting: pesquisa segmentada e focada em indivíduos por classe so-
cial, gênero e idade. A abordagem pode ser realizada por meio de comu-
nicação dirigida (como e-mails, telefonemas) e também diretamente casa a
213
casa, selecionando geograficamente os contatos. A partir daí se forma uma
base de dados temáticos e potenciais apoiadores.
Outdoor: painel externo com área total de 9 x 3m, podendo ter variações.
Atualmente, não é permitido seu uso em campanhas eleitorais no Brasil.
Panfleto/Folder: anúncios impressos que, no caso de eleições, resumem
propostas eleitorais e ajudam a fixar o número das candidatas para vo-
tação. A diferença entre os dois é que o folder pode apresentar dobras.
Rede Social Digital: as redes sociais são parte da convivência humana desde
o surgimento das comunidades. Com a popularização da internet, surgi-
ram as Redes Sociais Digitais como um espaço para troca de informações,
mensagens e interação online. A popularidade destas redes sofre frequen-
tes alterações. Atualmente, a rede mais conhecida no Brasil é o Facebook,
seguido por Snapchat, Instagram e Twitter.
Sonoplastia: som de fundo em uma gravação de áudio ou audiovisual, como
sons ambientes, efeitos sonoros e música. São os sons que ajudam a esta-
belecer o clima emocional de uma gravação.
Spot: há dois usos para a expressão. O primeiro se refere ao comercial ra-
diofônico, usualmente de 30 segundos, composto por narração, depoi-
mentos, música e sonoplastia. No segundo caso, são vídeos também de
30 segundos, conhecidos ainda como inserções, que ocorrem durante a
programação televisiva.
Storytelling: forma de narrativa, especialmente adotada em produtos audio-
visuais, que contam histórias com o intuito de emocionar e exemplificar
situações que possam estar relacionadas com a campanha. É uma maneira
de enaltecer a candidatura falando de outras pessoas e situações, deixando
a candidata indiretamente envolvida.
Trolar: pessoas que fazem provocações online em redes sociais, responden-
do com agressividade ou ridicularizando posts alheios. Também é possível
que sejam perfis falsos, criados exatamente para criar tumulto e espalhar
rumores.
Luciana Panke

214
Currículos dos entrevistados

CONSULTORES

ADOLPHO QUEIROZ – BRASIL


Doutor em Ciências da Comunicação, consultor político e professor
universitário na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
e-mail: adolpho.queiroz@mackenzie.br

ALFREDO DÁVALOS LÓPEZ – EQUADOR


Presidente da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos
(ALACOP), Gerente Geral da Strategos Red Latinoamérica, Diretor do
Programa de Consultoria Política e Gestão de Governo da Universidade São
Francisco de Quito e da Universidade Camilo José Cela de Madri e diretor do
Instituto de Comunicação Política (ICP), Equador.

ÁNGELA MARTÍN – ESPANHA


Doutoranda em Análise e Avaliação de Processos Políticos e Sociais
com tese focada na liderança feminina. Licenciada em Jornalismo e diplomada
em Documentação pela Universidade Carlos III de Madri. Autora do livro “Se
llamaba Alfredo... Las claves de una derrota electoral inevitable”. Eleita pela Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
revista Vanity Fair como uma dos 30 jovens espanhóis com menos de 30 anos
que se destacaram em suas profissões.

CARLOS GUTIÉRREZ – ESPANHA


Consultor especializado na definição e implementação de estratégias
de social media. Diretor da Le Black Room (www.leblackroom.com), a
consultora tecnológica na política. Trabalhou em eventos como a Jornada
Mundial da Juventude (Madri 2011 e Rio 2013) e no Foro Internacional PILOT.
Twitter: @GutierrezCarlos
e-mail: carlos@leblackroom.com

CARLOS MANHANELLI – BRASIL


É membro e atual presidente da Associação Brasileira de Consultores
Políticos (ABCOP) e trabalha na área de consultoria eleitoral desde 1974,
coordenando campanhas na América Latina, Brasil e África. É presidente da
215
Manhanelli e Associados. É criador e coordenador do Congresso Brasileiro de
Estratégias Eleitorais e Marketing Político, que acontece desde 1986; também
é autor de 17 livros sobre o tema.
Site: http://www.manhanelli.com.br
Twitter: @manhanelli

DANIEL ESKIBEL – URUGUAI


É licenciado em Psicologia pela Universidade da República Oriental
do Uruguai, especialista em Psicologia Política e membro da International
Society of Political Psychology. No Uruguai, exerceu docência de Psicologia
tanto na formação de psicólogos como de docentes. Atualmente é professor
da Universidade Camilo José Cela de Madri e um dos coordenadores
internacionais de seu Master de Assessoria de Imagem e Consultoria Política.
Blog: http://maquiaveloyfreud.com
Twitter: @danieleskibel

DANIEL IVOSKUS – ARGENTINA


Deputado da Província de Buenos Aires. É licenciado em Comercialização,
egresso da Universidade de Palermo, conta com um mestrado em Desenvolvimento
Econômico Local na Universidade Autônoma de Madri. Atualmente é Presidente
do Comitê Organizador Internacional da Cúpula Mundial de Comunicação Política
e CEO da Paralelo Cero, diretor e co-fundador de www.mensaje360.com e www.
iCampaigns.com. Foi vereador do município de San Martín.

DANTE MONCADA – MÉXICO


É comunicador social, conta com uma pós-graduação em
comunicação e gestão política pela Universidade Complutense de Madri. É
diretor da CMI & Consulting. Foi diretor de Análise Estratégica da Presidência
da República Mexicana em 2007 e diretor de Comunicação Social em vários
governos municipais e grupos parlamentares.
e-mail: dante.moncada@cmiandconsulting.com

DAVID MÁRQUEZ – BOLÍVIA/ESTADOS UNIDOS


É comunicador, consultor político e criador da tecnopolítica.com. Em
Washington DC se consagrou como autor e analista de política internacional.
Ganhou três campanhas presidenciais na Bolívia e duas municipais em La
Paz e El Alto. Acumulou importantes experiências como correspondente
de imprensa internacional, situação que lhe permitiu ser um observador de
processos eleitorais na América Latina, Europa e Estados Unidos. Recebeu o
AAPC Pollie Industry Service Award por seu trabalho no MPR Group.
Luciana Panke

Facebook: david.marquez
e-mail: davidma-gwu@gmail.com

216
DINO VILLEGAS – CHILE/ESTADOS UNIDOS
É consultor e acadêmico. Doutor em Gestão de Empresas e
Magistrado em Comunicação, foi chefe de campanha do candidato à
presidência chileno (eleições 2013) Franco Parisi. É vice-presidente do Foro
Iberoamericano sobre Estratégias de Comunicação (FISEC).
Twitter: @dinovillegas

FERNANDO DOPAZO – ARGENTINA


Consultor em comunicação política, tanto em cenários eleitorais
como governamentais. É professor convidado em diferentes universidades da
América Latina e Europa. Realizou estudos de doutorado em Ciência Política
na Universidade de Barcelona (Espanha). Sócio-diretor da Pensamiento
Regional Estratégico (PENSARES), é diretor para Honduras do Instituto de
Comunicação Política (ICP) e membro da ALACOP e da ASACOP.
Twitter: @fadopazo
e-mail: dopazo.fernando@gmail.com

GIL CASTILLO – BRASIL


Foi a primeira presidenta da ALACOP – Associação Latino-Americana
de Consultores Políticos. Publicitária e Consultora Política, desde 1992 atua
em campanhas políticas e comunicação de governos no Brasil, América
Latina e África, onde também desenvolve projetos de apoio à Democracia e
formação de partidos políticos. É diretora da Tupy Company – empresa de
consultoria política. Além da publicação de artigos e entrevistas, é autora do
livro “Internet e Eleições: Bicho de Sete Cabeças?”.
Twitter: @gil_castillo
Site: http://www.marketingpolitico.com.br
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
GISELA RUBACH – MÉXICO
Com mais de 25 anos de experiência, é considerada pioneira do
marketing político. Foi assessora de mais de 300 campanhas, incluindo as de
prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes da república.
É diretora da Consultores e Marketing Político e catedrática do Instituto
Tecnológico Autônomo do México, onde também é licenciada e mestra em
Administração.

HENRY RAFAEL – PERU


Jornalista, consultor e assessor político. Expert internacional
em Comunicação Estratégica. Diretor do Instituto de Comunicação e
Gestão Pública. Mestre em Assuntos Públicos e Relações Internacionais
pela Universidade de Boston, Massachusetts. Ex-funcionário da Sociedade
Interamericana de Imprensa.

217
HUGO DUARTE – PARAGUAI
É licenciado em Ciências Políticas, diplomado em Direito Constitucional
e especialista em Comunicação Política. Assessor e consultor de campanhas
políticas. Professor da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Nacional de
Assunción, da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional
de Caaguazú, e da escola de Relações Internacionais da Universidade Americana.

IVÁN GAMBOA – MÉXICO


É consultor político, sócio-diretor da Sufragio Consultores:
profissionais na execução de campanhas terrestres, inovadoras e de contato
direto. É especialista na execução de programas territoriais e mobilização
eleitoral.

JAVIER SÁNCHEZ GALICIA – MÉXICO


Consultor em comunicação política para campanhas eleitorais e
governos locais; comunicólogo e mestre em Ciências Políticas e Gestão Pública;
Presidente do Instituto de Comunicação Política (ICP) na Iberoamérica. É
diretor de Publicações da Associação Latino-Americana de Consultores
Políticos (ALACOP); membro da Associação de Comunicação Política
(ACOP) e da Associação Internacional de Consultores Políticos (IAPC).
Twitter: @sanchezgalicia1

JORGE AGUILERA – COLÔMBIA


É comunicador social e jornalista, egresso da Universidade de La
Sabana (Colômbia), mestrado em Psicologia Organizacional e doutorado em
Comunicação Organizacional pela Universidade de Málaga. Especialista em
processos de estruturação de comunicadores, criador do método Yes! de
melhoramento da comunicação organizacional.

JORGE SANDOVAL – MÉXICO


Fotógrafo com experiência em política. Sócio do estúdio David Ross,
há 40 anos no mercado latino-americano.
Site: http://davidross.mx/home/

JOSÉ MANUEL TALERO – ESPANHA


Consultor político internacional, assessorou chefes de Governo,
partidos políticos e diversas instituições tanto públicas como privadas da
América, Europa e norte da África. Trabalhou como consultor em projetos
de diferentes organizações multilaterais nos três continentes já citados. Foi
coeditor da Election Time, the European Yearbook on Political Campaigning.
Luciana Panke

218
KELEN VANZIN – BRASIL
Assessora de Comunicação Política. Mestre em Administração pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Gestão para
o Desenvolvimento Social, na Universidade Positivo. Graduada em Jornalismo
pela Universidade Federal de Santa Catarina

LEANDRO GROPPO – BRASIL


É consultor em marketing político, eleitoral e de governo.
Foi assessor do vice-presidente da República do Brasil, José Alencar. É
membro da Associação de Consultores Políticos (ABCOP), diretor da
Strattegy Comunicação e Marketing Consult, professor e tutor do curso de
especialização em Administração Pública Municipal da Universidade Federal
de Uberlândia e da Universidade Aberta do Brasil.
Contato: http://www.strattegy.com.br

MANUEL CASANOVA – CHILE


Fundador e CEO da Integrity Global Advisors (IGA) com mais de
15 anos de experiência em campanhas políticas, estratégia global de negócios
e marketing. Possui mestrado em Administração de Campanhas Eleitorais da
Universidade de Fordham e um MBA da Florida International University.

MARCELO SERPA – BRASIL


Consultor em campanhas brasileiras e latino-americanas com mais
de 20 anos de experiência. Doutor pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro e professor na mesma instituição.
Twitter: @serpabr

MARTHA HERNÁNDEZ – COLÔMBIA


Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Doutoranda em Ciência Política e mestre em Estudos Políticos.
Integrante do Comitê Organizador da Cúpula Mundial de Comunicação Política.
Twitter: @Marthachester

MATÍAS PONCE – URUGUAI


É professor e pesquisador do Departamento de Comunicação
da Universidade Católica do Uruguai. Professor convidado do Instituto
Universitário Ortega y Gasset, Espanha, e professor da Universidade
Especializada das Américas, no Panamá. Assessora diversos governos e
partidos políticos na América Latina em matéria de comunicação política.
Coordena a Rede de Estudos de Comunicação de Governo na América Latina.
Twitter: @matiasponce

219
MÁXIMO REINA – ARGENTINA
É sociólogo, egresso da Universidade de Buenos Aires. Consultor
político especializado em Estratégias de Comunicação Política, Pesquisa em
Opinião Pública e Media Training. Coautor do Manual de Marketing político
“Acciones para una Buena Comunicación” (2013) da Fundação Konrad
Adenauer. Atualmente é diretor da Doserre, consultoria política.
Twitter: @maximoreina
e-mail: maximo@doserre.com.ar

NATALI BECERRA – EQUADOR


Relações Públicas. Sócia-consultora em Consultores Políticos
Independientes Latinoamérica.

NIDIA PAULINO VALDEZ – REPÚBLICA DOMINICANA


Doutora em Direito, diplomata, mestre em Estudos Políticos e
Eleitorais, especialista em Marketing Político, é gerente do grupo Dier e da
Paralelo Cero na República Dominicana.

OSWALDO CARPIO VILLEGAS – PERU


É assessor e consultor político de governos nacionais, regionais e
locais. Assessor de imagem, elabora políticas e estratégias governamentais e
de comunicação. Desde o ano 2013 é professor de Estratégia na Universidade
San Ignacio de Loyola. Foi assessor principal do prefeito de Lima de 1996-2002.

PEDRO URRUCHURTU – VENEZUELA


É licenciado em Ciências Políticas e Administrativas pela Universidade
Central da Venezuela. Especialista em Direito e Política Internacionais e
professor desta casa de estudos.
e-mail: pedrourruchurtu@gmail.com

RICARDO AMADO – VENEZUELA


É consultor no uso estratégico de tecnologias no mundo político.
Tem estudos de pós-graduação em Gerência Política (EUA), Administração
de Empresas (Espanha) e Ciências Políticas (Venezuela). Contribuiu com a
CNN, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Fundação IDEIA e a
Revista Campaigns and Elections. Deu conferências e capacitações no Brasil,
Peru, Equador, Estados Unidos, México e Venezuela.

RICHARD LIZA RODRÍGUEZ – PERU


Economista, com pós-graduação em Planejamento Estratégico e
Luciana Panke

especialização em Gestão Pública, Desenvolvimento Econômico Local e


Marketing Político. Participou como assessor em campanhas provinciais e

220
distritais no Peru, especializando-se no desenho de estratégias de campanha,
análise estatística, publicidade política e comunicação em redes sociais.
Twitter: @richard_liza
e-mail: richard.liza@gmail.com

ROBERTO MORRIS – MÉXICO


É mestre em Políticas Públicas pela London School of Economics.
Licenciado em Comunicação pela Universidade Iberoamericana e conta
com estudos de extensão pela Escola Livre de Direito e a JFK School of
Government de Harvard. É novelista, poeta e docente da Universidade
Panamericana. Atualmente trabalha como vice-presidente de Estratégia e
Assuntos Públicos da ByPower, consultoria política.
Twitter: @robertomorris

ROCIO CENZI – ARGENTINA


Doutora em Psicologia Política e Mestra em Política, advogada e
assessora de campanha com especialização em gerenciamento de crise em
campanhas. Foi Secretária Geral de Governo de Río Negro, na Argentina.

SILVIA CHIRIBOGA – EQUADOR


Tem mestrado em Comunicação Social, diplomas em Estratégia
e Marketing Político na George Washington University, é egressa do
Doutorado em Estudos Latino-Americanos da UASB. Tem atuado como
decana da Faculdade de Comunicação na Universidade Internacional SEK e
como docente pesquisadora em várias universidades de Quito. Diretora da
firma Chiriboga e Associados.

WALEISKA FERNANDES – BRASIL


Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Jornalista formada pela UFPA e especialista em Marketing Político e
Propaganda Eleitoral pela USP. Experiência em campanhas políticas (estaduais
em municipais) nos estados do Pará, São Paulo e Tocantins.

WANDA NAZARIO – PORTO RICO


Relações públicas especializada em política e com quase 20 anos de
experiência.

YAGO DE MARTA – ESPANHA


Consultor internacional em Comunicação Pessoal e Oratória.
Atualmente se encontra na vanguarda desta matéria, devido à sua vocação
inovadora. Especialista em formação de pessoas e candidatos na oratória retórica
e empresarial. Recebeu os mais importantes prêmios (Campeão da Espanha 05,
Subcampeão da Hispanoamérica 04 e 05 e Subcampeão da Espanha 04).
Twitter: @yagodemarta
Site: http://www.yagodemarta.com
221
MULHERES NA POLÍTICA

ANA JULIA CAREPA – BRASIL


Ex-governadora do estado do Pará. Foi a primeira mulher a
assumir este cargo no estado. É bancária e arquiteta. Filiada ao Partido dos
Trabalhadores. Além do governo do estado, ocupou cargos de senadora e
deputada federal pelo Pará. Também foi vereadora em Belém.
Twitter: @anajuliaPT13

ANABEL BALBUENA LARA – MÉXICO


Atualmente prefeita do município de Tlapehuala, no México.
Formada em Direito pelo Centro de Estudos Superiores Universitários e
eleita em 2015, cumpre mandato até 2018. Entrou na carreira política após
terminar a faculdade de Direito.

ÂNGELA DUARTE – BRASIL


Vereadora da cidade de Paulínia (SP) e candidata à vice-prefeitura do
município pelo PSDB. Antes de concorrer à Câmara, Ângela foi funcionária
pública da cidade. É formada em Direito e entrou na vida política nos anos
90. Foi candidata em 2000 e em 2012 foi a candidata mais votada do PRTB.

ANICE NAGIBE – BRASIL


Mais conhecida como Anice Gazzaoui, é uma advogada e política
brasileira, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). É a segunda mulher de
origem árabe eleita para um cargo público no Brasil e a única a ser eleita para
a 16ª Legislatura. Atualmente é vereadora de Foz do Iguaçu, Paraná.
Twitter: @anice13444

BALBINA HERRERA – PANAMÁ


É uma política panamenha, membro do Partido Revolucionário
Democrático. Foi três vezes deputada da Assembleia Nacional. Candidata
presidencial para as eleições gerais de 03 de maio de 2009, foi a primeira
sub-secretária da direção de seu partido e por duas vezes foi sua presidenta.
Candidata à prefeitura da cidade do Panamá. Tem um programa de rádio
“Abriendo camino” na província de Colón.
Twitter: @BalbinaHerrera

BETE SIRAQUE – BRASIL


Professora licenciada da rede municipal de Santo André, São Paulo,
cumpre seu primeiro mandato como vereadora da cidade pelo Partido dos
Luciana Panke

Trabalhadores (PT). Tem sua carreira marcada por projetos e programas


ligados à educação. É membro da Comissão de Assuntos Educacionais do

222
Estado de São Paulo (CAED) e presidenta da Comissão Permanente de
Educação e Cultura da Câmara.
e-mail: prof.bete.siraque@cmsandre.sp.gov.br
Fan Page: https://www.facebook.com/betesiraque

CANDICE WILLIAMS DE ROUX – PANAMÁ


É presidenta da Fundação Mais Panamá e proprietária da Wiliams &
Associados desde 2008. Foi embaixadora, representante permanente adjunta
na Missão Permanente do Panamá frente às Nações Unidas de janeiro de 2010
a julho de 2011. Egressa da Universidade da Pennsylvania, Universidade Santa
Maria La Antigua.
Twitter: @candiceeugene

CARMEN OMONTE DURAND – PERU


Atualmente é ministra da Mulher e Populações Vulneráveis, nomeada
pelo Presidente da República do Peru, Ollanta Humala. É uma política peruana
egressa da Pontifícia Universidade Católica do Peru em Direito. É congressista
da República desde julho de 2011 até 2016. Integra o Comitê Executivo
Nacional do Peru Possível com o cargo de secretária nacional de Política e
membro da Comissão Política.
Twitter: @CarmenOmonte

CHRISTIANE YARED – BRASIL


Deputada federal pelo estado do Paraná. Entrou para a política após
a morte do filho em um acidente de carro, prometendo lutar por justiça
no trânsito. Fundou, junto com seu marido, o Instituto Paz no Trânsito. Foi
eleita deputada com mais de 200 mil votos. Está atualmente em seu primeiro
mandato pelo Partido da República. Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Twitter: @ChristianeYared

CLAUDIA ALICIA BERNAZZA – ARGENTINA


É uma política argentina, doutora em Ciências Sociais pela FLACSO
Argentina, docente de graduação na Universidade Nacional de Lamús e na
Universidade Nacional Arturo Jauretche. Foi coordenadora do programa
Participação e Liderança da Mulher na Secretaria de Direitos Humanos, presidenta
do Conselho Provincial das Mulheres, deputada federal pela Província de Buenos
Aires e atualmente é diretora do Instituto de Capacitação Parlamentar (ICAP).

CREMILDA PEREIRA – BRASIL


É vereadora da cidade de Hortolândia (SP) pelo PRB. Concorreu
à reeleição no pleito de 2016. Tem como principais bandeiras a segurança
pública, políticas públicas para mulheres e a proteção dos animais.
Twitter: @vereadoramida
223
CRISTINA SILVESTRI – BRASIL
Deputada estadual no Paraná. Egressa em História pela Universidade
do Paraná. Começou na política quando seu marido foi eleito vice-prefeito de
Guarapuava, em 1988. Seu filho, César, foi eleito prefeito de Guarapuava e ela
foi convidada por ele a ser secretária municipal de bem-estar social.
Twitter: @Dep_Cristina

DINOSKA MONTALVO DURAND – PANAMÁ


Egressa da Universidad del Istmo, foi candidata a deputada em 2014.
Twitter: @DinoskaDinoska

DENISE LLAVERIAS – REPÚBLICA DOMINICANA


É comunicadora social e política integrante do Partido Revolucionário
Dominicano (PRD).
Twitter: @denisellavefans

DIVA HADAMIRA GASTÉLUM BAJO – MÉXICO


Foi deputada estadual e federal na legislação LVI como presidenta da
Comissão de Equidade e Gênero e na Legislação LIX foi presidenta da Mesa
Diretora. Atualmente, é presidenta nacional do órgão de mulheres priistas,
começou na política no Movimento Juvenil do PRI, foi presidenta seccional das
mulheres na CNOP e presidenta do Conselho para a integração da Mulher
em Guasave.
Twitter: @DivaGastelum

ELIAN SANTANA – BRASIL


Vereadora da cidade de Santo André e graduada em Administração
em Gestão Pública, construiu sua base de conhecimentos políticos como
assessora de gabinete por três mandatos consecutivos. Hoje, atuando
diretamente como parlamentar pelo Partido Republicano da Ordem Social
(PROS), defende bandeiras como a proteção às mulheres vítimas de violência
e a conquista e garantia de direitos para pessoas com deficiência.
Facebook: Elian Santana
e-mail: elian.santana@cmsandre.sp.gov.br

ELIANE LACERDA DEFÁVERI – BRASIL


Vereadora da cidade de Cosmópolis (SP) pelo Partido Verde e
candidata à reeleição em 2016.

EMILSE ARMBRUSTER – ARGENTINA


Luciana Panke

Senadora provincial em Buenos Aires, defende os direitos das


mulheres e o combate à corrupção na Argentina. É empresária.
Twitter: @EmilseAmbruster

224
ESPERANZA ALCAÍNO – CHILE
Estudante de jornalismo na Universidade Diego Portales, associada
ao Greenpeace desde 2008. Foi secretária de Comunicações e delegada
de Ação Social no Centro de Alunos de Jornalismo em 2011. É secretária
executiva e fundadora da Associação Cultural CabroChico. Atualmente, é
vereadora de Santiago, onde é vice-presidenta da comissão de Educação e
presidenta da Comissão de Participação Cidadã.
Twitter: @espealcaino

FLOR AYALA ROBLES LINARES – MÉXICO


Foi deputada local pelo XII distrito local com base em Hermosillo, na
LIX Legislatura do Congresso do Estado de Sonora. Atualmente, é deputada
federal por representação proporcional na Câmara dos Deputados da LXII
Legislatura do Congresso da União.
Twitter: @florayala

GLEISI HOFFMANN – BRASIL


Senadora pelo estado do Paraná. Formada em Direito e filiada ao
Partido dos Trabalhadores desde 1989, Gleisi Hoffmann atualmente ocupa
uma cadeira no Senado Federal pelo estado do Paraná. Foi ministra-chefe da
Casa Civil e presidenta estadual do PT. É a primeira mulher eleita senadora
pelo estado do Paraná e foi a candidata mais votada para o cargo em 2014.
Twitter: @gleisi

HILDA HERRERA TAPIA – EQUADOR


Militante de esquerda, profissional universitária, dirigente e ativista
dos direitos das mulheres e dos jovens. Vereadora de Ibarra. Ex-presidenta da
Associação de Mulheres Municipalistas do Equador (AMUME). Ex-secretária Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
executiva da Rede Latino-Americana e do Caribe de Associações de Mulheres
Municipalistas – RedLamugol.
Twitter: @hildaherreratap

ILDA MAYEREGGER – PARAGUAI


É doutora em Psicologia com experiência em políticas públicas e
sociais. Foi eleita senadora da Nação, consultora e mediadora de incidências
em políticas públicas e gênero. Impulsora do primeiro debate teórico de
discriminação no Paraguai. Pertence à Associação Paraguaia de Executivas
e Profissionais (APEP), sócia-fundadora a nível regional do Instituto
Interamericano de Desenvolvimento, sócia-fundadora de Mulheres pela
Democracia e Desenvolvimento (MUPODER).

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IONE PINHEIRO – BRASIL
Atualmente, cumpre seu primeiro mandato como deputada estadual
em Minas Gerais, tendo recebido uma votação expressiva nas eleições de
2014, mais de 80 mil votos. Participa de diversas comissões na Assembleia
Legislativa de MG, que são voltadas à educação, ao incentivo à cultura e à
saúde pública, assuntos que são suas prioridades como parlamentar.
e-mail: imprensa.ionepinheiro@gmail.com

ISABEL DE SAINT MALO DE ALVARADO – PANAMÁ


Vice-presidenta da República do Panamá e ministra de Relações
Exteriores. Licenciada em Relações Internacionais com mestrado em
Administração de Negócios. Recebeu da Associação Panamenha de Executivos
de Empresa (APEDE) o reconhecimento Mulher Destacada do ano de 2012,
pela sua trajetória na construção de acordos nacionais ao longo de duas
décadas.
Twitter: @IsabelStMalo

JACINTA ELIZABETH VAN DEN BROEK HEIJDEN – BRASIL


É vereadora da cidade de Holambra e candidata à reeleição no ano
de 2016, filiada ao Partido da Social Democracia Brasileira.

JANET CAMILO – REPÚBLICA DOMINICANA


Ministra da Mulher da República Dominicana. É advogada e política,
iniciou sua carreira política em 1991 ingressando no PRD, através do Movimento
Compromisso Nacional. Foi presidenta em exercício do FEDOMUSDE 2005-
2009 e presidenta do FEDOMUSDE 2010-2014. Atualmente é vice-presidenta
do PRD, cargo para o qual foi eleita por três vezes desde 2005. É vice-presidenta
da COPPAL MULHERES para a região do Caribe e dirigente mundial da ISM.
Preside o Instituto Latino-Americano Mulher e Política (ILAMUP).
Twitter: @JanetCamiloRD

JOSEFINA VÁZQUEZ MOTA – MÉXICO


É uma economista e política mexicana, membro do partido Acción
Nacional (PAN). Durante a presidência de Vicent Fox trabalhou como
secretária de Desenvolvimento Social e durante os seis anos de governo do
presidente Felipe Calderón Hinojosa foi secretária de Educação Pública. Foi
a primeira candidata mulher pelo PAN para a Presidência da República no
processo eleitoral de 2012.
Twitter: @JosefinaVM
Luciana Panke

LAURA ALONSO – ARGENTINA


É cientista política da Universidade de Buenos Aires. Foi eleita
deputada federal em 2009 e iniciou seu segundo mandato em 2014. Foi diretora
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executiva de Poder Cidadão e membro do movimento de Transparência
Internacional. É Líder Global Mundial do Foro Econômico Mundial. Foi
reconhecida por sua liderança em 2008 pela Vital Voices Global Partnership.
Twitter: @lauritalonso

LEILA CARLA PETRATO MENESES – BRASIL


Foi candidata a deputada estadual de Minas Gerais pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB) em 2014.

LESIA RADELICKI – BÉLGICA


É integrante do Partido Socialist & Democrats (PES), responsável
pelas questões de gênero.
Twitter: @LesiaRadelicki

LIZ CASTILLO – PERU


Licenciada em Educação pela Universidade Nacional Mayor de San
Marcos, com especialização em Gestão Pública, foi diretora de relações da
Rede Nacional de Jovens do Peru – RENAJOP. Em 2013, o Partido Peru
Posible a convidou para participar como candidata a secretária municipal pela
cidade de Lima Metropolitana.

LIZBETH LOY GAMBOA SONG – MÉXICO


É deputada federal pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Anteriormente foi diretora geral do Instituto Quintanarroense da Mulher (IQM).

LUCIANA RAFAGNIN – BRASIL


Exerceu os cargos de deputada estadual e vereadora. Em 2002, foi
eleita representante do estado do Paraná e reeleita em 2006, ano em que se
tornou a primeira defensora da agricultura familiar na Assembleia Legislativa Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências

do Paraná. Em 2007 se tornou a primeira mulher na Mesa Diretora da


Assembleia Legislativa.
Twitter: @LucianaRafagnin

LUCIANE CARMINATTI – BRASIL


Deputada estadual em Santa Catarina. Candidata à prefeitura de
Chapecó, em 2016. Professora da rede municipal da cidade de Chapecó, foi
Secretária de Educação da cidade em 2002 e vereadora. Em seu trabalho
como parlamentar, apresentou mais de 50 projetos de lei, voltados para as
áreas de saúde, segurança pública e agricultura familiar, mas sua atuação tem
como foco principal a educação e a defesa dos direitos das mulheres.
Site: http://www.lucianecarminatti.com.br
Facebook: LucianeCarminatti13
Twitter: @lucarminatt

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MARÍA CORINA MACHADO – VENEZUELA
Deputada e engenheira venezuelana. Foi eleita deputada da
Assembleia Nacional da Venezuela pelo estado de Miranda, começou sua
gestão em janeiro de 2011. Concorreu nas primárias do partido para ser
candidata presidencial. Líder da oposição chavista na Venezuela.
Twitter: @MariaCorinaYA

MARIA VICTORIA – BRASIL


Deputada estadual no Paraná, candidata à prefeitura de Curitiba em
2016 e presidenta do diretório municipal do Partido Progressista. Formada em
hotelaria, com especialização em administração pública e MBA em relações
governamentais.
Twitter: @mvictoriabb
Facebook: mariavictoriabbarros

MARCELA REVOLLO – BOLÍVIA


Deputada C10 de La Paz. Socióloga com mestrado em Filosofia
e Ciência Política e candidata a doutora em Ciências do Desenvolvimento
(UNAM-UMSA), é professora universitária de pós-graduação no curso de
Arquitetura da UMSA. Foi eleita como representante do Departamento de
La Paz na Assembleia Constituinte em 2006. É membro da Direção Política da
Seccional La Paz do Movimento Sem Medo, desde julho de 2009.
Twitter: @MarcelaRevollo

MARIA JOSÉ PEREIRA DO AMARAL HUNGLAUB – BRASIL


Assumiu um segundo mandato como vereadora da cidade de Artur
Nogueira (SP) pelo PSDB.

MARLA TURECK – BRASIL


Deputada pelo estado do Paraná. Filha de deputado, iniciou a carreira
como vereadora em Campo Mourão.

MARTA LEÃO – BRASIL


Marta Leão está em seu segundo mandato como vereadora da cidade
de Vinhedo. É formada em Gestão Pública e atualmente está cursando Letras
e Literatura. Atuou como assessora parlamentar na Câmara dos Deputados
em Brasília e como chefe de gabinete da Prefeitura de Vinhedo. Foi a terceira
vereadora com mais votos em 2009 e liderou a eleição de 2012 em votos na
Câmara da cidade.
Luciana Panke

MARTA LUCÍA RAMÍREZ – COLÔMBIA


É advogada e foi ministra de Comércio Exterior, embaixadora
na França e a única mulher a ocupar o cargo de ministra da Defesa na

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Colômbia. Em 2006, foi eleita Senadora da República pelo Partido de la U,
renunciou ao Senado e ao partido em março de 2009. Em 2009, ingressou
no Partido Conservador Colombiano. Foi candidata presidencial pelo Partido
Conservador Colombiano em 2014.
Twitter: @mluciaramirez

MIRIAN GONÇALVES – BRASIL


Advogada trabalhista, há vários anos luta pelos direitos dos
trabalhadores e os direitos humanos. É filiada ao PT e vice-prefeita de
Curitiba na gestão 2013-2016. Especializada em Direitos Humanos em Huelva
(Espanha) e mestra em Direitos das Relações Sociais pela Universidade
Federal do Paraná.
Twitter: @goncalvesmirian

NANCY THAME – BRASIL


Agrônoma, presidenta do “PSDB Mulher” no estado de São Paulo e
candidata a vereadora em 2016 pelo mesmo partido na cidade de Piracicaba (SP).
Defende o maior envolvimento das mulheres em questões políticas e organiza
palestras, retiros e seminários que incentivam e capacitam o público feminino na área.
Twitter: @nancythame

NEUSA ELISABETE CONSCETTA – BRASIL


Atualmente cumpre mandato como vereadora pelo PSB. Militante
pelos direitos das mulheres e atual presidenta da Comissão Permanente da
Mulher na Câmara de Campinas (SP).

PATRICIA ESCALA – ARGENTINA


Advogada pela Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires.
Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
Integra a Sociedade Rural de Lezama e é assessora legal da Cooperativa de
Energia Elétrica de Buenos Aires. Integrante do agrupamento político de
vizinhos denominado “Lezama por Lezama”, prefeita de Lezama.

PATRICIA MERCADO – MÉXICO


Economista, presidenta do Partido Alternativo Socialdemocrata. Foi
candidata à Presidência da República em 2006. Atualmente é Secretaria do
Trabalho no Distrito Federal na gestão do chefe de Governo Miguel Ángel
Mancera.
Twitter: @Pat_MercadoC

RAISA BANFIELD – PANAMÁ


Arquiteta e ambientalista, atualmente é vice-prefeita de Cidade do
Panamá, pelo Partido Panameñista.
Twitter: @raisabanfield

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RITA BERGAMASCO – BRASIL
Cumpre seu segundo mandato como vereadora em Jaguariúna (SP)
pelo PMDB. Candidata nas Eleições 2016 a vice-prefeita da cidade pelo mesmo
partido. É assistente social por formação.

SOCORRO CARDOSO – BRASIL


É prefeita de São Sebastião de Lagoa de Roça pelo Partido do
Movimento Democrata Brasileiro (PMDB) na coalizão Todos Unidos por uma
Lagoa de Roça.

SOFÍA SCHEID – PARAGUAI


Cirurgiã dentista, coach e consultora expert em liderança. Ex-chefe de
gabinete de assessores do governo do Paraguai. De assessora será candidata
nas próximas eleições.

SHIRLEY PESCE – ARGENTINA


Está atualmente em seu quarto mandato consecutivo como
vereadora. Formada em enfermagem pela Universidade Nacional de Córdoba,
Shirley Pesce entrou na política em 2003, quando se elegeu vereadora pelo
departamento Rosário Vera Peñaloza, na Argentina.
Twitter: @PesceShirley

SOLANGE CELERE – BRASIL


Jornalista, foi candidata a deputada federal no Brasil, em 2014, pelo
Partido dos Trabalhadores na cidade de Campinas (SP).

SONINHA FRANCINE – BRASIL


Atualmente está no comando da Coordenadoria de Diversidade
do Estado de São Paulo. Começou sua carreira trabalhando no canal MTV,
enquanto cursava Cinema na USP. Em 2004, foi eleita vereadora de São Paulo
pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se para prefeita da cidade
duas vezes pelo Partido Popular Socialista (PPS). Atuou como sub-prefeita da
Lapa e foi superintendente da Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal
nas Comunidades), um programa do Governo de São Paulo.
Site: http://www.soninha.com.br
Twitter: @soninhafrancine
E-mail: rp@soninha.com.br

STELA FARIAS – BRASIL


Deputada estadual no Rio Grande do Sul. Em 1992 foi eleita como
Luciana Panke

primeira vereadora do Partido dos Trabalhadores, e em 1996, primeira prefeita


de Alvorada. Em 2006, foi eleita representante do Estado. Foi secretária de

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Administração do Estado em 2011-2013. Atualmente concluiu seu segundo
mandato e se encontra em seu terceiro como deputada estadual.
Twitter: @StelaFarias

TÂNIA MANDARINO – BRASIL


Foi candidata ao cargo de vereadora em Curitiba no pleito de 2016.
Atuou como educadora escolar, professora e diretora, até 1995. Graduou-
se em direito e defende os movimentos dos direitos das mulheres e das
comunidades LGBTTs.
Twitter: @Taniamandarino

TERESA OTINIANO – PERU


É advogada. Foi eleita dirigente do Município de Lima Metropolitana,
atuando como a primeira dirigente responsável pelo Vaso de Leche na Lima
Metropolitana de 1983 a 1986. Vice-presidenta da Comissão de Direitos
Humanos do Colégio de Advogados de Lima na época. Realizou a defesa
dos Direitos Humanos, Paz e Justiça Social na época no governo de Alberto
Fujimori, de 1997 a 2000.

WILMA DE FARIA – BRASIL


Atualmente ocupando o cargo de vice-prefeita de Natal, foi a
primeira mulher eleita prefeita da cidade, cumprindo três mandatos, e a
primeira governadora do Rio Grande do Norte, cargo que ocupou durante
sete anos. Wilma de Faria entrou na vida política por meio de projetos sociais,
como o MEIOS – Movimento de Integração e Orientação Social. Teve sua
carreira marcada pelo título de “guerreira” e mostrou pioneirismo como
mulher na política. Além do cargo de vice-prefeita, Wilma também ocupa
a posição de presidenta estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e é Campanhas eleitorais para mulheres: desafios e tendências
mestre em Educação pela UFRN.
Facebook: Prof.WilmadeFaria
Twitter: @wilmadefaria
e-mail: impresawilmadefaria@gmail.com

XÊNIA MELLO – BRASIL


Candidata à prefeitura de Curitiba em 2016. Advogada, feminista
periférica e mestranda em Sociologia pela UFPR. Especialista em Literatura
Brasileira e História Nacional pela UTFPR. Graduada em Direito pela UFPR.
Membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em Curitiba – PR
(2015) e também militante do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL.
Facebook: xeniamellopsol

Informações levantadas e traduzidas por Julia Kreuz, assistente de pesquisa.

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Este livro foi disponibilizado no site da Editora UFPR,
em julho de 2020.

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