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Blessed — Sorrows
Madison Beer -- Society
Lizzo—Truth Hurts
Billie Eillish—Lovely
J Cole—Work Out
Lana Del Rey—Art Deco
Billie Eillish—When The Party’s Over
Boogie—Silent Ride
XXXTENTACION—Moonlight
NF--Lie
Gabbie Hanna—Broken Girls
J Cole—Power Trip
Rayla—Boys Like You
Boogie/Eminem—Rainy Days
Halsey—Colors
Meg Myers--Tourniquet
2Pac—Do For Love
Camilla Cabello—Find U Again
Halsey—11 Minutes
The Neighborhood—Scary Love
Jutes—Pretty When U Cry 6
Ally Hills—Wrong
Carlie Hanson--Numb
Meg Myers—Running Up That Hill
Pink—90 Days
YAS—Poison
BANKS—27 Hours
Amy Shark—Middle of the Night
Ivan B—1234
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Para aquelas almas ousadas que descaradamente dançam no seu


próprio ritmo.
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Sweet poisons é o primeiro livro do Pretty Lies, Ugly Truths Duet.


Embora esse seja muito mais leve do que Sick Remedies, esteja ciente
de que este dueto contém vários gatilhos e alguns conteúdos que os
leitores podem achar que tem algum objetivo.
Incluindo: abuso de álcool/drogas, sem traições, sexo explícito e
violência gráfica.
Com isso, Sick Remedies não será para os fracos de coração, mas
prometo que há um final adequado para o caos que cerca esses
personagens.
Obrigada pela leitura!
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Encontre o que você ama.


E deixe isso te matar.
Deixe isso te destruir.
Deixe isso empurrar você para o limite e depois consumir você.
Todos nós vamos morrer um dia.
Talvez seja rápido.
Talvez isso seja devagar.
E que melhor maneira de morrer do que pelas mãos de quem você
ama?
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A-m-o-r.
Eu tinha essa palavra poderosa de quatro letras como uma simples
ciência.
O amor era cego.
Ele era egoísta.
E fez de tolos os melhores de nós.
Depois de ver as pessoas ao meu redor, eu estava confiante de que
minha teoria estava correta. É aí que todos meus problemas começaram.
Veja bem, houve um pequeno problema com minha hipótese.
Eu nunca a testei.
Como resultado, eu fiquei profundamente ignorante de todos os
assuntos do coração. Eu não era uma estranha com relacionamentos.
Simplesmente não conheci ninguém que me deu essas borboletas
prolíficas.
Sabe? As que as pessoas cantam em canções de amor
ou escrevem em poesia? Ninguém me impactou a tal
ponto que pensei nelas enquanto estava deitada na
cama no meio da noite. Eu nunca desejei alguém ao
ponto da dependência.
Até ele. 11
Rhett “Maldito” Sullivan.
Ele entrou na minha vida como uma bola de demolição, destruindo
todas as defesas que tinha. E, ironicamente, mas não
surpreendentemente, essa história é sobre essa infame palavra de quatro
letras e a tragédia que ela pode outorgar. Descobrir o quanto bonito um
amor maníaco pode ser. Sabendo como é ter uma faca de dois gumes
entre as minhas costelas. A causa de tanta dor e tanta alegria. Ambas na
mesma medida.
Que isso é um acidente de carro que você não consegue desviar o
olhar quando sabe que deveria.
No entanto, não culpo você, porque eu não posso prometer que um
felizes para sempre estará esperando no final.
Não quando Rhett e eu éramos duas pessoas que nunca deveríamos
nos unir.
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O vermelho vibrante adquiriu um tom pálido de rosa sob o fluxo


constante da água.
Espumas se juntaram em pequenos aglomerados enchendo o
pequeno banheiro com um poderoso aroma de frutas silvestres enquanto
eram sugadas pelo ralo, levando o resto da minha paranoia com elas. Eu
poderia ter ficado lá metade da noite se não fosse pela batida alta e
insuportável acompanhada pelo toque da minha campainha.
A paz que tinha acabado de alcançar foi destruída. Meus músculos
travaram e a coluna ficou rígida. O vapor no espelho me impediu de me
ver claramente, mas eu sabia que nada além de pânico seria refletido em
meu olhar desbotado.
Não estava arrependida pelo que tinha feito. Na verdade, eu faria de
novo se tivesse a chance. Foi minha relutância em ver o
interior de uma cela que me deixava tensa. De jeito
nenhum sobreviveria a uma sentença de prisão.
Ouvir uma voz familiar chamar pelo meu nome fez meus músculos
relaxarem instantaneamente e todo o ar sair dos meus pulmões.
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Quem diabos está batendo?
Fechei os olhos e levei alguns segundos para acalmar meu coração
antes que ele explodisse no meu peito.
Estava tudo bem.
Eu estava bem
Depois de uma última respiração funda, usei o meu cotovelo para
fechar a torneira e, em seguida, peguei uma toalha de mão para secar as
cerdas do meu pincel. Satisfeita que estava limpo o suficiente, coloquei-
o na lateral da pia para secar um pouco mais.
Voltei ao meu estúdio e procurei meu relógio de borboleta, notando
que eram quase oito horas.
Estou aqui há quase sete horas, mas tinha sido um confinamento
necessário, se é que havia algum. A campainha tocou de novo e eu
gritei: — Já vou!
Indo para o corredor, certifiquei-me de fechar a porta atrás de mim.
O andar superior estava completamente escuro. Estagnado. Sufocante.
Desci as escadas de dois em dois. Quando eu cheguei ao final das
escadas, coloquei os meus sapatos sujos dentro do armário do hall de
entrada. O sensor de movimento externo havia sido acionado,
iluminando duas silhuetas através do painel oval de vitral. Sabendo
quem eram, eu virei a fechadura e abri a porta.
— Onde está sua... chave? – eu observei os olhos
azuis inchados de Emery e as bochechas molhadas antes
de mover meu olhar para Annika. A expressão
assassina em seu rosto me disse tudo o que eu
precisava. — O que ele fez agora? – perguntei,
movendo-me para o lado para que elas pudessem entrar.
— A mesma coisa que fez há três semanas. – ironizou Nika, ao 14
entrar.
— Estava ligando para você.
— Eu estava pintando.
Emery deu um sorriso triste, passando por mim para seguir Annika.
Omitindo comentários, eu fechei a porta e fiz o mesmo, seguindo-as até
a cozinha. Antes que eu pudesse cruzar a porta, Annika estava atacando
meus armários e Emery havia colocado sua bunda em uma das
banquetas.
— O que você está procurando?
Deixando o armário superior se fechar, Annika se virou e colocou as
mãos perfeitamente pintadas no centro da bancada. — Você está sem
bebida.
— Eu sei. – Acredite em mim, eu sei.
Seus olhos castanhos viraram fendas. Do minha periférica, a cara
fechada de Emery se intensificou. Não havia muito que pudesse superar
essas duas.
Especialmente o fato de eu ter conseguido consumir quase três
garrafas cheias de Captain Morgan1 em uma semana.
Ah, e uma dúzia de Coca-Cola. Mas quem estava realmente
contando?
— Bem. – Annika bufou depois de um minuto. — Isso não
é aceitável. Nós não podemos conversar sobre Tequila
sem Tequila. Ela caminhou pela cozinha, com os
saltos fazendo barulho contra o piso. Ela era a rainha

1 Captain Morgan: é a marca de um rum.


da beleza do nosso infame trio - literalmente. Annika era uma garota de
concursos até os dez anos.
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Isso deve ter realmente atrapalhado ela porque, doze anos depois,
você nunca a veria com o cabelo loiro fora do lugar, pés sem saltos, ou
um intervalo em suas unhas de acrílico. Pegando as minhas chaves do
gancho, ela se virou abruptamente e, sem aviso, jogou-as no ar.
— Você não vai dirigir? – perguntei, pegando-as com facilidade.
— Sim, mas agora é a sua vez - o que exatamente você estava
pintando? – ela curvou seu lábio, observando minha camisa respingada.
— Ela está certa. – Emery interrompeu antes que eu respondesse. —
Eu realmente gostaria de uma bebida e um pouco de conversa de
garotas.
Olhei para a hora no meu microondas. — Ollie's não fecha até as
nove. Nós temos muito tempo para chegar lá e pegar algumas coisas
necessárias para uma noite de garotas.
— Então, devemos ir para o Ollie’s. – respondeu ela, parecendo um
pouco melhor do que parecia. — Depois de me recompor. Encontro
vocês duas no carro.
— OK. – eu me virei e fui pegar minha bolsa e sandálias na sala de
estar. Cinco minutos depois, eu estava fora da porta e sentando no banco
do motorista do meu Camaro.
Annika entrou na parte de trás, deixando o banco de passageiro livre
para Emery.
Precisando saber que tipo de controle de danos seria
necessário, eu me certifiquei de que Emery não vinha,
antes de eu pedir detalhes. — Em uma escala de um a
dez, o quanto ruim Tyler errou desta vez?
Annika zombou e cruzou os braços sobre o peito. — Rebecca Goin
estava devorando seu pau, então eu diria que ele oficialmente quebrou a
escala para nível de um “foda-se”.
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— Becca desdentada? – Por que um cara iria querer cuspe
deslizando para cima e para baixo em seu pau? Acho que vi a apelação.
Ai credo. Que nojo. Eu franzi o meu nariz, aumentando meu aperto no
volante. Eu previ que algo assim aconteceria depois da primeira vez que
Tyler fez algo errado com Emery, o que não foi há muito tempo. Ela
voltou para casa no meio da noite com os olhos marejados e o coração
partido. Quando algo assim acontece, há apenas duas maneiras de reagir.
Ou você é o ombro em que seu melhor amigo precisa chorar ou
castra o idiota responsável por todas suas lágrimas. Obviamente escolhi
a primeira opção. Não que eu não tivesse seguido o segundo e gostado
imensamente.
Emery apareceu na varanda, encerrando a conversa entre mim e
Annika antes que realmente começasse. Sua roupa anterior foi
substituída por um short preto de ioga e um moletom azul. Cabelo longo
rosa dourado preso em um rabo de cavalo elegante no lugar do ninho de
rato com o qual ela havia chegado. Ela desceu correndo os degraus e foi
até o carro, jogando uma pequena blusa no meu colo assim que entrou.
— Para que serve isso?
— Essa tinta vermelha faz você parecer que acabou de massacrar
alguém.
— Eu concordo. – Isso veio do banco de trás.
Revirei os olhos e coloquei a chave na ignição.
O motor V8 rugiu para a vida, ligando com um
ronronar suave que fez o banco de couro vibrar
embaixo da minha bunda.
Deus, eu amo este carro. Sorri para mim mesma e mudei de
marcha. Quando saí para a rua, contornando o Beamer de Annika, as
cortinas se moveram em uma janela superior da casa em frente à minha,
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a Sra. Richardson sendo intrometida como sempre. Juro que ela via tudo
e sabia tudo o que havia para saber sobre todos. Bem, quase todo
mundo.
O silêncio permaneceu enquanto eu dirigia pelo labirinto que era
meu bairro, que parecia muito com algo saído de Desperate
Housewives2. Só isso já dizia muito sobre minha mãe. Eu nunca teria
escolhido viver em um lugar assim. O interior da nossa casa não era
muito melhor. Era tudo tão sofisticado e chamativo, exceto meus dois
quartos.
No momento em que deixamos Kendall Heights, Annika estendeu a
mão do banco de trás e ligou o som.
O baixo imediatamente começou a ecoar em sincronia com a voz de
Blessed. Acho que ninguém queria ser a primeira a falar sobre o elefante
metafórico no meio da sala ainda. Isso estava bom para mim. Era sempre
uma delas quem iniciavam nossas conversas, geralmente. Eu já tive os
meus momentos, mas honestamente não sabia por onde começar com
isso.
Contar a Emery exatamente o que eu pensava da situação estava
fora de questão. Eu queria despedaçar o idiota do namorado dela pela
segunda vez em questão de semanas, mas eu tinha que levar seus
sentimentos em consideração e, infelizmente, ela se importava com ele.
Então, aqui estávamos. Comprar álcool para nos entorpecer e tentar
esquecer nossos problemas. Embora não seja a maneira mais saudável
de superar algo, seria moderadamente eficaz.

2Desperate Housewives: é uma série norte-americana de comédia


dramática.
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Quando chegamos ao Ollie's, ainda havia um número razoável de


carros no estacionamento. Tive sorte e consegui reivindicar um lugar
vazio a apenas algumas vagas de distância da entrada.
Antes de sair fiz uma rápida troca de camiseta, trocando a minha
camiseta pelo top que Emery tinha se apropriado. Se fosse dia e minhas
janelas não fossem levemente em vidro fumê, alguém teria visto meus
seios.
Meus seios tamanho 38 não precisavam exatamente ser contidos
para que estivessem sempre livres. Eu teria entrado como estava se não
fosse por uma das garotas potencialmente desmaiando de vergonha pela
ocasião.
Com a forma como meus mamilos estavam lutando contra o tecido
de algodão fino, eu não vi como isso estava muito melhor do que antes,
mas tanto faz. Eu joguei minha camiseta arruinada no banco de trás, e
então sai.
Annika e Emery se viraram para mim quando fiquei de pé ao lado
do capô.
— Vocês duas pegam a Tequila e eu pego todo o resto. – disse
Annika.
— Todo o resto?
— Você está sem petiscos.
— Ah, boa ideia então. – Se íamos beber, precisaríamos de algo
para absorver a álcool.
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De jeito nenhum consumiria meu peso em álcool com o estômago
vazio. Eu aprendi essa lição da maneira mais difícil na semana passada.
Assim como ela disse que faria, entramos na loja e Annika pegou
uma cesta, indo para os petiscos, enquanto eu e Em fomos para a seção
de bebidas localizada nos fundos.
Recebi alguns olhares curiosos e alguns olhares de desaprovação.
Eu tinha certeza de que era por causa do que eu estava vestindo e de
quem eram meus pais. Eu sempre voei abaixo do radar, mantendo-me
sozinha e cuidando da minha própria vida. Foram as ações dos meus
pais que me colocaram em um holofote que eu não queria.
Claro, ninguém teve coragem de me dizer nada diretamente, a
menos que estivesse fingindo preocupação ou oferecendo palavras de
conforto. Eles já haviam partido há quase dois meses e, embora eu ainda
usasse o véu de uma jovem quieta e de fala mansa, não era tão acessível
quanto antes. Eu tinha uma desculpa viável ultimamente, lidando com
todo o julgamento que se seguiu a uma tragédia.
Eu poderia ter empacotado todas as minhas coisas, vendido a casa e
visto esta cidade em meu retrovisor, mas dada a história, ninguém queria
comprá-la e não era isso que eu queria. Minhas melhores amigas
estavam aqui. É onde eu cresci.
Havia tanta coisa que tinha valor sentimental nesta maldita cidade,
exceto fisicamente, ela é tudo o que me restou das duas pessoas mais
importantes da minha vida.
Quanto à forma como eu estava vestida, o
desconforto desses estranhos era mais forte que o meu.
Eu não era movida pela insegurança. Eles podiam
me olhar exaustivamente. Mas ainda me peguei
sorrindo quando Emery direcionou um olhar mortal para uma mulher
que me olhava descaradamente. Eu estava prestes a abrir minha boca e
provocá-la sobre defender minha honra, quando fui atormentada de
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repente por algum sexto sentido bizarro.
Isso era como uma cena tirada de um filme. O tempo passou mais
devagar, com minúsculas pontadas de consciência percorrendo a
espinha, arrepiando os cabelos da minha nuca. Olhei por cima do ombro
quando dois caras viraram a esquina. Um estava empurrando um
carrinho, ambos eram desconhecidos.
— E aí, Em? – Uma voz suave e rouca veio do maior dos dois.
— Ei. – ela cumprimentou com seu tom repentinamente otimista.
Quando diabos eles se conheceram? Meus olhos se chocaram com
um lindo tom de cinza por apenas um segundo antes de eu desviar meu
olhar e voltar a me concentrar nas prateleiras na minha frente.
— Onde você estava se escondendo?
— Hum. Em lugar algum. Eu não estava ciente que alguém não
conseguia me encontrar. – Em respondeu brincando.
— Alguma preferência? – eu interrompi, apontando para a prateleira
de Tequila.
— Eu estava conversando com sua amiga.
Uma pausa na conversa me fez perceber que ele estava se referindo
a mim. Eu era a amiga. Olhei para cima, e então mais para cima porque o
homem misterioso era mais alto do que alguns centímetros.
Eu já sabia que nunca o tinha visto antes, mas isso
confirmou. Ele me pareceu alguém que não era
facilmente esquecível.
Alto e de ombros largos, ele estava vestido com jeans escuros e uma
camiseta preta lisa. Braços musculosos bronzeados eram cobertos com
várias tatuagens complexas, de geométrico à memento mori3. Debaixo
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de sua roupa estava quem sabe quantas mais.
Se não fosse por meu temperamento padrão, eu teria pedido para vê-
las ali mesmo. Eu amava todas as coisas de arte, e os designs gravados
na pele das pessoas nunca paravam de me surpreender. E embora não
fosse o meu tipo de costume, com cabelo preto e grosso que tinha um
corte sexy e moderno, e uma mandíbula que parecia como se fosse
esculpida por vidro, este era um homem que qualquer mulher não se
importaria de acordar ao lado.
Quando encontrei seu olhar novamente, sua expressão fechada foi
substituída por um sorriso que revelou dentes brancos e brilhantes.
Inclinando-se como fosse sussurrar um segredo, ele falou suavemente:
— Estou feliz que alguém aprecie todo o trabalho duro que fiz para ficar
assim.
O calor surgiu em minhas bochechas. Eu não podia fingir que não
estava olhando para ele como uma colegial obcecada por garotos. Assim
de perto, percebi que seus olhos eram muito mais do que um simples
cinza. Os chamaria de prata, mas isso não lhes fazia justiça. Sob cílios
perfeitos e grossos, eles eram lindos, abrigando uma firmeza que era
impossível não perceber.
Eu gostaria de ter mais tempo para observá-los, memorizar as cores
no centro e envolta, mas já tinha feito o suficiente olhando como estava.
— Sinto muito. – eu pedi desculpas.

3 Memento mori: uma expressão latina que significa algo como "lembre-se
de que você é mortal", "lembre-se de que você vai morrer" ou traduzido
literalmente como "lembre-se da morte". Esta expressão era a saudação
usada pelos paulianos "Eremitas de Santo Paulo da França", também
conhecidos como "Irmãos da Morte".
— Não sinta. Você é linda, como eu posso não estar lisonjeado por
você gostar de mim?
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Seu tom era provocante. Eu ousei dizer que era de flerte mesmo. Eu
não conseguia me lembrar da última vez que tive um flerte. A maioria
dos caras sabia que nunca chegaria a lugar algum comigo, então eles não
se incomodaram.
Eu não era virgem e, muito longe de uma puritana, simplesmente
não deixava minha vagina passar por aí como uma batata quente.
Os olhos do homem misterioso vagaram para baixo, brilhando de
volta para os meus quando chegou onde os meus mamilos estavam
cutucando meu top com o olhar em seu rosto, que não consegui decifrar.
Sinceramente, estava assustada com o que eu queria. Eu já tinha visto
caras gostosos antes, admito que nenhum deles se pareciam com ele.
Mas eu nunca senti nada por meramente estar na presença deles e não
daria a mínima com o que eles podiam ou não estar pensando.
Como se sentisse meu desconforto, ele recuou um pouco. Não longe
o suficiente para colocar um grande espaço entre nós, mas eu apreciei o
sentimento.
— Então, que tipo? – perguntei a Em, tentando me focar.
— Você decide.
Encolhi os ombros e peguei uma garrafa prateada de Patron4, então
pensei sobre isso e estendi a mão por um segundo.
Se consumirmos tanto quanto previa, eu precisaria ter outra assim
que elas fossem embora. Depois dos olhares que ela e Annika me deram
mais cedo, provavelmente não era sensato pegar quantas
garrafas eu pudesse. Uma extra teria que bastar, por
enquanto.

4 Patron: é uma marca de tequila.


— Boa escolha.
— Eu tenho um gosto muito bom. 23
Isso me rendeu outro sorriso. — Ainda não nos conhecemos. Eu sou
Rhett. E esse é Callum. – ele acenou para seu amigo, que agora estava
colocando garrafas de diferentes Vodkas em seu carrinho.
— Uau. – Emery murmurou alto o suficiente para ouvir.
— Eu estava pensando a mesma coisa sobre você. – ele respondeu,
olhando para ela com um sorriso infantil.
— Acho que ela estava se referindo à sua quantidade extrema de
bebidas.
— Alguém pode realmente beber muito álcool?
— Não, se você não se importar com o seu fígado. – Emery
respondeu com naturalidade.
Olhei entre os dois, ela e esse cara Callum, e juro que o sorriso em
seu rosto aumentou duas vezes desde que falou. Entendi completamente
o porquê. Callum era tão atraente quanto o Rhett. Mesma altura e
constituição, mas com menor quantidade de tatuagens. Com cabelo
castanho claro e olhos castanhos.
Eles eram exatamente o tipo de problema de que não precisávamos.
Saber seus nomes já era bom o suficiente para mim. Agora eu sabia que
esses eram os caras novos da cidade, aqueles que Em estava falando sem
parar algumas semanas atrás.
— Vamos. – eu disse a ela, dando um passo para trás para não estar
mais encurralada.
— Divirtam-se com tudo isso. – ela deu a eles um
sorriso de despedida e depois me seguiu até o caixa
que eles colocaram na parte de trás da loja especificamente para a seção
de bebidas.
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Havia apenas uma pessoa na nossa frente, mas esse pequeno atraso
deu a Rhett e Callum tempo o suficiente para pegar o resto do que
precisavam e se juntar a nós na fila.
Relaxei um pouco quando não fizeram nenhuma tentativa de nos
envolver mais uma conversa. Porém, isso fez pouco para tirar a sensação
dos olhos em mim ou diminuir o cheiro de colônia inebriante vindo de
trás. Mordi o interior do meu lábio inferior, mentalmente apressando o
caixa.
Depois do dia que tive, não estava com humor para manter minha
fachada de boa menina para um estranho por mais tempo do que o
necessário.
Felizmente, a mulher do caixa nos atendeu sem tentar bater papo.
Paguei e Emery pegou a sacola para que eu pudesse guardar meu cartão
na carteira, colocando um foco exagerado no que eu estava fazendo para
evitar olhar para Rhett.
O contato visual muitas vezes abria portas para uma conversa.
— Ei. – ele chamou antes que eu pudesse fazer uma fuga rápida,
alto o suficiente para que todos nos fundos da loja pudessem ouvir.
Fiz uma pausa e olhei para trás interrogativamente.
— Você não me disse seu nome.
— É Nova. – eu me virei e comecei a andar novamente. No segundo
em que estávamos longe do alcance da voz, Emery
praticamente dançou no lugar. Seu coração partido foi
temporariamente esquecido.
— Ah, meu Deus! Eles são muito bons. Eu não
posso acreditar que isso aconteceu. Eles estão aqui
há um mês inteiro e falaram comigo talvez três vezes. Duas delas
quando eu estava trabalhando. Então, eles realmente não tinham escolha.
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— Precisamente.
— Eu não quis dizer isso. Eles nunca foram rudes ou algo assim.
Não frequentamos os mesmos lugares.
— Nós frequentamos os mesmos lugares que ninguém. Foi assim
que nos tornamos amigas.
Ela não podia refutar isso, não quando nós duas sabíamos que era
verdade. Em e eu nunca tivemos em um grupo específico ou com um
tipo de pessoa que andávamos. Nós nunca saímos de nosso caminho
para encontrar um também. Muitas pessoas trocavam máscaras para se
disfarçar e se encaixar, perdendo-se quem eram no processo. Tudo para
agradar a algumas poucas selecionadas que não se importavam com elas
de qualquer maneira.
Talvez tenha sido hipócrita da minha parte julgar, quando alguém
poderia argumentar que eu era culpada exatamente da mesma coisa.
Escondi o meu lado que nunca poderia ser entendido. Ninguém sabia
quem eu realmente era - exceto Emery. Mas, ultimamente, eu tenho
guardado segredos até dela.
— Então, o que achou deles? Por eles, eu realmente quero dizer do
Rhett.
— Em, sério?
— Sim, Nova. Sério.
— Acho que não sou o tipo de garota em que caras como
ele prestam atenção.
Ela sorriu para mim. — Ele te chamou de linda.
O que você é, a propósito.
Encolhi os ombros, não vendo o grande problema. — Tenho certeza
que ele chamou muitas garotas de lindas.
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— Provavelmente. Mas muitas garotas não são você.
— Que é uma coisa boa. – eu murmurei.
— Isso é uma coisa boa. Você é única. – ela disse presunçosamente.
— Ceeerto. De qualquer forma, você pode enviar uma mensagem
de texto para Nika e dizer a ela para nos encontrar no carro? Esqueci o
meu celular em casa.
— Você sabe que é a única pessoa no planeta que não está apegada
ao celular? Pegue isso. – ela passou a bolsa para mim e recuperou o
celular do bolso do moletom de capuz.
Chegamos ao estacionamento e pela primeira vez notei o Porsche
preto fosco e vi a caminhonete algumas vagas ao lado do meu carro.
Não foi o modelo dos veículos que me chamou a atenção, mas as
duas garotas e o cara encostado neles.
Observei seus rostos, não reconhecendo nenhum deles. Um cheiro
peculiar pairava no ar, intensificado por uma brisa suave, revelando o
que eles estavam fumando. Foi uma atitude ousada, mas pelo jeito eles
tinham dinheiro, o que por si só os tornava invisíveis aos que estavam
passando.
Legacy Falls era uma cidade universitária onde quase todo mundo
conhecia todo mundo e só se importava com três coisas. Esportes,
cifrões e status. Se você não tinha um ou outro, não era digno de um
lugar aqui. E se você tivesse mais? Você era praticamente da
realeza.
— Eles são amigos de Rhett. Chegaram aqui há
cerca de duas, três semanas. Logo depois dele.
— Hospedando-se na pousada?
Ela olhou para mim de lado. — OK. Agora sei que você não escuta 27
nada do que eu te digo.
— Isso não é verdade. – eu fui para o lado do motorista do carro,
olhando para trás quando ouvi o barulho de um carrinho de compras.
Lá estavam Rhett e o Callum, andando arrogantemente pelo
estacionamento com bebida suficiente para abastecer uma pequena
fraternidade. Quando eu percebi que estava o olhando de novo, era tarde
demais. Rhett virou a cabeça e me pegou olhando direto para ele. Ele
sorriu, dizendo algo para Callum que eu não poderia saber daqui antes
dele caminhar em minha direção.
Com um pé já dentro do carro, Emery paralisou e o observou se
aproximar como se estivesse vendo Jesus fazer sua segunda vinda. Eu
nunca a deixaria viver isso. Minha Em era louca por caras que via pela
primeira vez em sua vida, o que certamente aconteceu com o namorado
de merda dela.
Rhett mal olhou para ela, com seu olhar apenas em mim. — Você
tem planos para amanhã à noite?
— Não.
— Eu estou tendo uma...
— Eu percebi isso. Eu quis dizer não. – eu internamente me encolhi
com o quanto severa eu soei. E eu simplesmente o cortei. Um pedido de
desculpas surgiu na ponta da minha língua, nunca tendo a chance sair.
Sem se deixar abater pela minha grosseria, ele caminhou
até mim e abaixou o rosto de tal forma que, do ponto de
vista de um estranho, pareceria que ele estava me
beijando. Eu podia sentir um cheiro de hortelã em
seu hálito.
O instinto básico fez a minha mão subir e pousar em seu peito
ridiculamente sólido. Sem fazer nenhum esforço para tirá-la, ele se
inclinou ainda mais perto e falou alto o suficiente para apenas eu ouvir.
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— Por que tenho a sensação de que você não é tão doce quanto eles
dizem que é?
Quem eram eles?
No momento perfeito, Annika se aproximou, com o som de seus
saltos interrompendo nosso pequeno momento.
— O que foi? Há algo que eu deva saber? – ela questionou, olhando
entre Rhett e eu.
— Não. – eu disse na hora em que Rhett respondeu: — Eu estava
dizendo a Nova que vocês deveriam vir para a cabana amanhã.
— É como uma festa de inauguração. – acrescentou Callum, de
forma não tão solícita.
Rhett deu um passo para trás e a minha mão caiu. Minha palma
começou a coçar, então a esfreguei em meu short, fazendo parecer que
estava tentando limpar alguns germes imaginários, fiquei tensa apenas
ao tocá-lo. Seus olhos se estreitaram ligeiramente, com uma frieza
cobrindo as suas feições.
Eu estava bombardeando completamente esta primeira impressão.
Ele provavelmente pensou que eu era como a metade da população da
cidade - uma vadia esnobe. Talvez isso fosse uma coisa boa, no entanto.
Não tinha certeza do que ele queria comigo e não tinha vontade de
descobrir.
— Não é nada pessoal. Nós simplesmente não
saímos.
— Normalmente. – Emery inseriu, de repente encontrando sua voz.
Ela quis dizer sempre. 29
— Envie-me uma mensagem com todas as coisas boas e estaremos
lá. – Annika destacou.
Enviar mensagem para ela? Eles estavam além do nível de troca de
números?
Rhett se virou completamente então, se envolvendo em uma
conversa com ela. Com os lábios ligeiramente franzidos, abri a porta e
entrei no carro, fechando-me lá dentro. Era em momentos como esse que
eu me lembrava do por que nunca saía de casa.
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Seu celular vibrou pela sexta vez em dez minutos. Eu a encarei por
trás da borda do meu copo, chupando ruidosamente um cubo de gelo
com sabor de Tequila.
— Não me olhe assim. – Annika repreendeu.
— Que olhar?
— Aquele de traição. – Emery riu.
— Não acredito que você ficou lá e aceitou o convite.
Ela levantou uma sobrancelha. — Você está com ciúme, Nono?
— Muito ciúme. – eu revirei os olhos e coloquei minha bebida em
um porta-copo antes de me jogar no sofá.
— A propósito, vocês dois estavam se fodendo com os
olhos, estou surpresa que você não tenha conseguido o
número dele.
— Não era isso que estávamos fazendo. Tenho
certeza de que nós estávamos silenciosamente
dizendo um ao outro para ir direto para o inferno. Eu fui rude e ele foi...
– A palavra intenso surgiu na minha mente, mas dizer isso só iria
encorajá-las. Eu deixei a frase no ar.
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Annika jogou seus cabelos loiros ondulados por cima do ombro e
sentou-se mais ereta na poltrona Lay-Z-Boy5. — E você está errada. Ele
se desculpou por pegar pesado e nos convidou novamente para a festa
dele amanhã à noite.
— Primeiro, eles disseram que era uma festa de inauguração, não
uma festa. E segundo, ele está se desculpando por meio de um
intermediário?
Ela bufou e se levantou. — Nova, você não pode viver como um
maldito eremita o resto da sua vida. Você tem vinte e dois anos, não
oitenta.
— Qual desses dois você acha que é mais sábio?
— Nova!
Peguei uma das minhas almofadas e eu coloquei sobre meu rosto.
Infantil, sim. Mas era impossível fazer um som em torno dessa garota.
Eu a amava, mas se ela pudesse calar a boca ocasionalmente, eu poderia
amá-la mais. Quando ela se forçou a se sentar no pequeno espaço do
sofá ao meu lado, eu sabia que era um pensamento positivo.
— Não tente me impedir. – ela agarrou o travesseiro e jogou-o do
outro lado da sala.
— Por que você simplesmente não vai sem ela? Como você deu
todas as outras festas este ano? – Emery questionou.
— Exatamente! – eu levantei minha mão para
enfatizar a lógica de Em.

5 Lay-Z-Boy: é uma marca de fabrica de móvies.


— Porque, Rhett disse especificamente para levar a Nova, e nós
vamos com ela. Então, tecnicamente, o convite foi para ela. E não aja
como se não quisesse, Em. Vi a maneira como você estava olhando para
32
Callum.
Emery se apoiou na parte da minha poltrona e bebeu o resto de sua
bebida, trocando o copo vazio por uma tigela de nachos.
— Que mulher sã não olharia para Callum? Ou Rhett? Inferno, o
cara daquela caminhonete também. Viu o quanto grande ele parecia. O
cara era como uma árvore. Que eu adoraria escalar.
— Sim, garota! – Annika disse, estendendo a mão para um high-
five.
Em se inclinou para mais perto, parando no último segundo. —
Espere. Achei que você só gostasse de homens mais velhos. Homens
mais velhos comprometidos.
— Vadia. – Annika respirou, caminhando de volta para a poltrona
da Lay-Z-Boy. Ela sentou na almofada e retomou a mensagem de texto
com toques exagerados no teclado.
— Comprometidos?
O adultério dela com caras mais velhos não eram um segredo entre
nós três, mas esta foi a primeira vez que ouvi falar de um deles em um
relacionamento.
Ela desviou o olhar de seu celular para olhar para nós duas. — Por
que nunca podemos falar sobre sua total falta de interação masculina e a
maneira como você se esconde nesta maldita tumba, ou o namorado de
merda de Emery, que...
— É a verdadeira razão de estarmos aqui. Para
discutirmos uma estratégia. Ela estava apenas
brincando com Nika. Não leve isso a sério.
Não acreditei em uma palavra do que eu acabei de dizer, estava
simplesmente tentando evitar uma briga entre as duas. Este foi o lado
feio de nossas ‘Conversas com Tequila’. A bebida desceu e a verdade
33
veio à tona.
— Não há uma estratégia necessária. Ele é um ex-namorado agora.
– Emery corrigiu. — E você sabe que eu não quis dizer nada com isso,
Nika. Não me importo com quantos homens velhos você deixou entrar
em sua vagina.
Ah, Deus. Eu resmunguei. — Gente, paaarem. – eu balancei e virei
minhas pernas para o lado do sofá e me sentei, pegando meu copo para
que eu pudesse pegar outra dose.
— Sem briga. Bebemos para afogar as nossas mágoas, não para
reclamar. Posso confiar em vocês duas sozinhas por cinco minutos?
— Se você me trouxer uma bebida também. – Emery sorriu.
— Tudo bem, mas então faça sua parte. – eu peguei o seu copo ao
passar pela mesa de centro. Entrando na cozinha, coloquei um na
bancada e eu enchi o outro com gelo do dispensador automático da
geladeira. Enquanto eu pegava a garrafa meio vazia de Tequila, minha
mente vagou de volta para um certo cara de olhos prateados.
Eu poderia admitir para mim mesma que Rhett havia despertado
meu interesse, e não apenas por causa de sua aparência. Era ele em
geral. Ele era algo desconhecido e tudo o que era misterioso tinha um
fascínio irresistível.
Ele parecia... diferente. E uma ameaça para quem você deveria ser.
Com minha voz interior da razão falando, fui rapidamente
lembrada de outro problema em potencial e muito maior.
Eu rapidamente enchi meu copo como eu tinha feito
com o da Em e, em seguida, misturei os dois com
latas de refrigerante.
Minha bebida estava em meus lábios antes de eu dar um passo para
trás em direção à sala de estar, com o líquido gelado deixando uma doce
sensação de ardência em seu caminho enquanto descia pela a minha
34
garganta. Sabia que não havia bebida suficiente no mundo para resolver
os meus problemas ou todos que vieram com ele. Mas isso tinha se
tornado necessário. O álcool era o elixir da minha vida, a automedicação
da mente e embriaguez da alma.
Eu podia ouvir as garotas conversando baixinho do outro cômodo.
Em uma noite de sexta-feira, elas deveriam ter saído para beber em
algum lugar onde com certeza se divertiriam. Não que eu as tenha como
reféns.
Annika iria sair e fazer suas próprias coisas se ela realmente
quisesse, mas Em estava sempre comigo quando não estava trabalhando
ou com Tyler.
Enchi meu copo novamente, tendo cuidado com ele no caminho de
volta para a sala de estar.
— Aqui está. – eu entreguei o dela a Em e voltei para o meu lugar
no sofá, pegando minha manta na parte de trás antes de me sentar. —
Estão todos se dando bem agora?
— Eu pedi desculpas. – disse Annika, com o rosto voltado para o
celular.
— Eu também.
— Também concordamos em algo.
Elas trocaram um olhar e eu estreitei meus olhos em suspeita. Essas
duas concordando não poderiam significar nada de bom.
— E isso seria?
— A festa de boas-vindas. – Annika respondeu
presunçosamente.
Soltei um suspiro ruidoso e passei a mão no rosto. — Mesmo se eu
quisesse ir a essa festa, não conheço essas pessoas. E você?
35
— Eu conheço o suficiente.
Isso significava que ela mal sabia de nada.
Outra objeção estava prestes a sair da minha boca, mas um olhar
para o rosto de Em me fez hesitar. — Você realmente quer ir?
Ela levantou um ombro em um meio encolher de ombros, passando
o dedo na manta que havia colocado sobre as pernas. — Eu preciso de
um cenário diferente. Algo fora do normal pela primeira vez.
Pela primeira vez.
Foi exatamente como pensei na cozinha. Eu poderia fazer essa
mesma rotina dia após dia pelo resto da minha vida. Querer mais era
irrelevante. Meu modo de vida tinha um propósito e eu não gostava de
mudanças, o que provavelmente era metade da razão de eu nunca ser
mais do que sou agora.
— Vocês deveriam ir juntas.
— Queremos que você venha também. – enfatizou Annika.
— Vou pensar sobre isso.
Eu já sabia que compareceria pelo bem de Em. Ela não iria se eu
não fosse. Eu poderia ser uma boa menina e sofrer em uma festa por ela.
36

Meu celular vibrou com a notificação mostrando um emoji piscando


de Annika. Ela parecia ainda mais determinada do que o normal para
chamar minha atenção. Depois de conseguir o que eu queria dela, eu não
tinha respondido a nenhuma de suas outras mensagens, então quem
diabos sabe que tipo de conversa unilateral ela estava tendo.
— Ah. Ela mexeu com você com aquela mensagem de texto tripla.
– Callum brincou.
— E é por isso que ela está sendo ignorada. – eu apaguei todas as
mensagens extras sem me preocupar em lê-las, jogando o meu celular
levemente na bancada de arenito.
Se ela não fosse amiga da garota em quem eu estava interessado, eu
nunca teria dado a ela qualquer atenção. Eu já sabia muito
sobre ela, nada bom.
Eu podia ouvir Evie, Angel e Tripp brincando à beira do lago, com
a música vindo do sistema surround estava ao redor do cais.
37
— Você vai me dizer qual é o seu plano para Nova?
— Depende.
— Do que? – ele perguntou, colocando outra garrafa de bebida no
freezer.
— A única razão de eu ter procurado Annika foi porque precisava.
Nova nunca daria voluntariamente o número dela.
— Ela te deu o nome dela. – ele se opôs, sempre tentando ser a voz
da razão. Algo sobre energia positiva ou algo assim.
— Já sabíamos o nome dela.
— Verdade. Mas agora você a viu. Isso deve contar para alguma
coisa. Na verdade, sabemos que seu senso de moda é astuto.
— Sei que você não está falando sobre aquele short de unicórnio
esquisito.
Ele olhou para mim fingindo confusão. — Do que mais eu estaria
falando?
Cruzei meus braços e olhei para ele. — Termine de encher a porra
do freezer.
Ele não se preocupou em esconder seu sorriso frio enquanto se
virava. Sim, ele sabia exatamente a que eu estava me referindo. Um
cego saberia. Nova era linda, abençoada com o tipo de beleza que não
poderia ser facilmente expressa em palavras. Ela não era muito
alta, talvez 1,70m. Sua pele era de um bronze claro,
cabelo castanho escuro liso como a seda que caía
quase até a cintura. E ela obviamente não tinha
problemas em exibir seu corpo.
Seus mamilos estavam quase balançando bandeiras brancas e
chamando a atenção de todos.
38
Aquele top que ela estava usando era como uma segunda pele nela,
enfiada naquele short estranho que moldava uma bunda perfeitamente
redonda, seria impossível não notá-la. Para um homem como eu, isso
acabaria sendo um problema.
Esqueça isso, já era um problema porque eu não tinha a mesma
maneira de pensar que todo mundo e explicar minha lógica iria me levar
a ter um rótulo de insanidade. Antes de me esforçar literalmente por
nada, eu peguei uma página do livro de Callum e me concentrei em
coisas positivas.
Ela me disse o seu nome. Já sabia o que era relevante. Havia muito
que você poderia aprender sobre alguém no momento em que lhe
dissesse o nome. A maioria das pessoas não percebem que isso era tudo
que um cara como eu precisava. Troquei aquela pequena parte de sua
identidade por um perfil inteiro em 48 horas.
Isso era meio que minha praia, entender as pessoas, descobrir todas
as merdas que elas queriam manter escondidas.
Nova não era diferente, mas ao mesmo tempo era. Era complicado.
Um som de veio da cozinha, me trazendo de volta ao presente e fazendo
meu celular girar em um círculo.
Callum e eu olhamos para a tela, compartilhando um olhar quando
vimos quem era.
— Finalmente. – eu peguei o celular e caminhei para o outro lado da
cozinha. — E ai, como vai? – eu respondi, acendendo as luzes
externas do convés.
— Eu tenho um nome para você. Alguém que
preciso que você vá ver.
— Me dê um segundo. – eu estendi a mão e acenei para chamar a
atenção de Callum, colocando a chamada no viva-voz. — Vá em frente.
39
— Seis-zero-sete-nove, Prescott Drive. O homem lá dentro é Martin
Reedsy.
— Entendi. – disse Callum.
Fiz sinal para ele fechar o freezer e me dirigi para a porta da frente,
pegando minhas chaves da bancada. — O que estamos procurando?
— Há um laptop e um pendrive. Traga os dois.
— Ok. – eu disse, inalando uma respiração profunda. — E Martin?
— Mande minhas lembranças a ele.
— Entendi. Estamos indo agora.
— Ok. – ele murmurou. — Está tudo bem por aí? Precisa de alguma
coisa?
— Está tudo bem, estamos todos bem.
Quando eu não ouvi nada, eu o imaginei balançando a cabeça e
acariciando o queixo. No que diz respeito aos pais, eu sabia que tinha
sido mais afortunado do que os outros. Meu pai não era um bom
homem. Suas mãos continuaram sujas, assim como a maioria das
famílias, mas ele amava seus filhos e minha mãe, sua esposa. Eu poderia
me orgulhar de quem ele era apenas com base nesses fatos.
Virei-me ligeiramente quando um grito ecoou, bem a tempo de ver a
bunda tatuada e nua de Tripp correndo pelo cais e fazendo uma bala de
canhão6 no ar. Eu ri baixinho, balançando a cabeça.

6Bala de canhão: é o nome de um salto que se dá na água


da piscina.
— Ligarei para você quando terminar. – Dissemos adeus assim que
cheguei à minha caminhonete, com o Callum à alguns passos atrás de
mim.
40

Demorou uma hora para chegar ao lado da cidade em que Martin


Reedsy vivia. Seu vizinho mais próximo ficava a cerca de um
quilômetro e meio, o que funcionou perfeitamente para nós. Estacionei a
caminhonete a poucos metros de sua garagem e desliguei o motor.
Eu estava mais do que pronto para entrar e fazer o que fazíamos de
melhor.
Ficar sentado ocioso por longos períodos de tempo sempre fodeu
com a minha mente. Eu precisava me manter ocupado. Minha adrenalina
estava alcançando seu limite, mas você nunca saberia disso.
Colocamos máscaras de esqui, luvas de couro e nos certificamos de
que todas as nossas tatuagens estivessem cobertas. O disfarce facial era
um clichê pra caralho, uma homenagem a todos os criminosos do
cinema e uma tática de intimidação que ainda não estava desatualizada.
Ser visto nunca foi uma preocupação não quando não deixamos ninguém
vivo.
— Acha que ele está lá sozinho? – Callum perguntou, me passando
a minha arma.
Verifiquei a câmara para garantir que estava
carregada e, em seguida, abri a minha porta. —
Estamos prestes a descobrir.
41

Usamos a escuridão a nosso favor, andando junto nas sombras,


passando por um carro elegante - direto para a casa em estilo rancho.
A televisão estava ligada, dava para ouvir pela porta dos fundos.
Fora isso, não havia nenhum som vindo de dentro. Eu agarrei minha
arma em uma mão, apontando para Callum mover-se para que ele
ficasse na minha frente. Normalmente, era a Angel que invadia para nós
onde quer que precisássemos, mas o nosso grupo havia aprendido essa
habilidade anos atrás.
— Ei, não está trancado. – disse ele humildemente.
Isso me surpreendeu. Esse cara morava no meio do nada, o que era
ainda mais motivo para trancar a maldita porta.
Sem mencionar as pessoas com quem ele estava
envolvido. Meu pai, por exemplo.
— Vá em silêncio.
Ele acenou com a cabeça, girando a maçaneta lentamente. Houve
um ranger baixo, abafado pela TV. Entramos em um hall redondo, capaz
de ver todo o caminho até o corredor que conduzia de onde o som estava
42
vindo.
Callum assumiu a liderança. Fechei a porta e o segui, checando a
cozinha e a área de jantar à nossa esquerda. Tudo tinha uma aparência
vintage com um ótimo acabamento. Você poderia dizer que quem viveu
aqui se deu bem. Bem o suficiente para que eles não se esquecessem de
trancar à noite. Eu sabia que algo não estava certo. Meu estilo de vida
me deu uma certa consciência das coisas e essa merda era uma delas.
No final do corredor, o espaço se expandiu para uma área de estar e
a escada que levava ao andar de cima.
Como de costume, meus instintos não decepcionaram.
— Ah, isso é uma merda. Ele já está morto. – Callum baixou a arma
e deu a volta para frente do sofá, cutucando o corpo de Martin com a
bota. Eu sabia que ele estava genuinamente desapontado. Callum vivia
para matar, enquanto eu fazia isso como uma parte necessária do meu
trabalho. Ele tinha uma queda por tirar vidas. Dar a ele a oportunidade
de fazer um estrago em alguém era como dizer a uma criança que o
Natal chegara mais cedo.
Fui ficar ao lado dele, observando o cadáver torto de Martin. Ele já
tinha ficado rígido, o que significava que já estava morto há algumas
horas.
— Cara, olhe para ele. – Callum riu.
— Ele definitivamente irritou alguém. – eu concordei. —
Alguém que não foi o meu pai.
Notei o hematoma em sua garganta e o sangue
espalhado por todo o que um dia fora um sofá bege.
— O que você está pensando? – Callum perguntou.
Dei outra olhada no rosto de Martin. Ambos os lados estavam 43
inchados e quase desfigurados. Sua bochecha esquerda estava totalmente
aberta, deixando um enorme corte. E a sua cabeça. No superior da
têmpora havia sido destruído, expondo um pedaço de seu crânio.
Dando um passo para trás, virei-me lentamente para poder observar
o ambiente. — Lá. – Apontei para um saco de tacos de golfe encostados
na lateral de uma estante.
— Um saco para doze. – afirmou Callum.
— Exatamente. E como você vê, há apenas onze. – eu fiz um gesto
em direção à porta da frente. — Ela também não está trancada. Nenhum
sinal de luta. Quem chegou aqui antes de nós, ele os conhecia. Confiou
neles o suficiente para deixá-los entrar em sua casa e não esperava ser
morto.
— Quem, entretanto? Olhe para ele, mano.
— Essa é a pergunta de um milhão de dólares.
— Bem, alguém era claramente alguém que não estava feliz com o
Sr. Reedsy. Esposa, talvez? Ela obviamente não está aqui.
A pessoa responsável por isso se certificou que ele sentisse a morte
respirando em sua nuca. Bater com a cabeça foi quando o sofrimento
terminou, não como começou. A maneira como ele foi espancado
garantia hemorragia interna. Quando sangrou externamente ele começou
a perder oxigênio, ao mesmo tempo os seus pulmões se encheram de
sangue.
Olhei para uma foto dele e a sua esposa pendurada
na parede e balancei minha cabeça. — Não, não foi
ela. Ela está morta lá em cima em algum lugar ou
ainda não voltou para casa, por algum motivo.
Legacy Falls é uma cidade pequena, vamos descobrir. Enquanto isso,
procure um laptop e algum tipo de pendrive. Vamos tentar não estar aqui
quando a esposa chegar em casa.
44

Callum subiu as escadas, eu fiquei embaixo.


Após dez minutos de busca, encontrei um escritório que dava para a
sala de jantar. Ao ar livre no que eu assumi ser a mesa de Martin, estava
um laptop.
Alguns rápidos pressionamentos nas teclas confirmaram que era
protegido por senha. Uma vez que hackear era a área de especialização
de Tripp, investigar teria que esperar. Eu me agachei e desconectei o
cabo de alimentação, parando quando eu ouvi o motor de um carro
vindo da garagem.
Empurrei a tela e voltei para a cozinha. O som de uma porta batendo
me fez pressionar minhas costas contra a parede.
As botas de Callum bateram nas escadas, com ele voltando para a
sala de estar.
Quando ouvi alguém entrar da mesma maneira que nós, soube que a
Sra. Reedsy finalmente havia chegado. Ela passou direto pela sala de
jantar, nem mesmo olhando para dentro. Suponho que não
poderia culpá-la por isso. Poucas pessoas esperavam que
estranhos estivessem dentro de sua casa. Ela estava
arrastando uma mala atrás dela, o que explicava por
que ela tinha ficado longe por tempo suficiente para
que seu marido se transformasse em uma estátua de rigor mortis.
Seu grito interrompeu a saudação casual de Callum. Ver a forma 45
desfigurada de Martin e meu primo esperando na escada a fez correr na
direção de onde tinha vindo, abandonando a mala. Olhos castanhos
quase saltaram das órbitas quando saí da sala de jantar para bloquear seu
caminho.
Ela tentou correr em torno de mim, ainda gritando a plenos
pulmões.
Coloquei minha arma na parte de trás da minha cintura e agarrei
seus ombros, batendo-a na parede mais próxima. Eu a prendi lá com
meu antebraço, pressionando contra sua garganta.
— Por favor, não. – ela sufocou, tremendo tanto que perdeu o
controle da bexiga. Senti o cheiro de mijo antes de ver escorrendo por
suas pernas e encharcando sua saia e meias.
— Não é nada pessoal. – eu assegurei-lhe, tirando a minha arma de
novo. Ela começou a reagir, inutilmente. Quando sua boca se abriu
novamente, enfiei a coronha do meu Colt dentro dela e puxei o gatilho.
Seu corpo estremeceu, com a bala rasgando a parte de trás de sua
garganta, deixando a pele em retalhos ao encontrar um abrigo na parede
de gesso. Eu recuei e a observei cair no chão, manchando de sangue no
caminho para baixo.
— Você achou alguma coisa? – Callum perguntou, olhando seu
corpo.
Guardei minha arma no bolso. — O laptop. Você?
— Nada.
— Vou ao escritório e procurar o pendrive de
Martin. Acho que não teremos mais visitantes. Dê
uma última olhada lá em cima, e então podemos destruir isso.
Ele acenou com a cabeça e se dirigiu para a escada, deixando-me 46
cuidar do andar de baixo.
47

O que diabos eu estava fazendo aqui?

Por que concordei com isso?

As festas não eram divertidas para mim. Elas eram a indução a um


novo nível de inferno. Em um sábado à noite, eu preferia estar em casa
com uma amiga próxima e uma bebida, assistindo a reprises de The
Walking Dead.

Mas era tarde demais para voltar. Literalmente. Algum idiota em


um Hummer estacionou bem atrás de mim, parando tão perto do meu
para-choque traseiro que se eu deixasse meu carro dar ré um centímetro,
bateria no dele.

— Você pode fazer isso Nova. – Emery acalmou, dando um tapinha


no meu ombro gentilmente.

— Vamos para uma festa, não para a guerra. –


zombou Annika.

— Lembre-me por que eu a deixei vir com a


gente?
— Porque você é uma boa pessoa?

Claro, que eu não iria responder a isso. As cores chamativas de uma 48


jaqueta chamaram minha atenção como a pessoa que havia estacionado
atrás de mim ao lado de minha janela.

— Eu tenho economia com ele.

— Ian Winters? – Emery perguntou.

— Sim. – eu contraí meus lábios no im.

Ele olhou para o meu carro, olhando duas vezes quando percebeu de
quem era.

— Se você queria entrar aqui discretamente, deveríamos ter trazido


o seu Genesis.

Mordi internamente minha bochecha e abri minha porta, saindo


antes de sentar no banco de trás e estrangular uma das minhas melhores
amigas, apesar de ela estar certa. Todos em Legacy Falls conheciam esse
carro. Eu era a única que dirigia um 69 Z-Camaro restaurado.

Coloquei a corrente da minha bolsa em forma de lábio sobre meu


peito e esperei pelas garotas. Olhando na direção em que teríamos que
andar, eu fiquei feliz por ter vindo com minhas botas de combate com
cadarço em vez das sapatilhas como Annika havia sugerido. Ela ia se
arrepender por andar por essa longa estrada de salto alto.

— Preparadas? – Emery perguntou.

— Vamos lá. – eu disse com entusiasmo forçado. Não importa o


quanto eu não quisesse estar aqui, eu não iria estragar a noite delas.

Nós três começamos a subir o caminho plano, passando


por um número preocupante de carros. Alguns deles
estavam estacionados em fila dupla.

— Jesus. Ele convidou todos na cidade?


— Você sabe quantas pessoas gostariam de ver este lugar? – Annika
questionou.
49
— Na verdade, eu realmente não havia considerado isso. – Até
agora, eu silenciosamente adicionei.

— Você sabe quantas pessoas puxa saco há nesta cidade. – afirmou


Emery. — E em que lugar estava classificado.

Ambas tinham pontos igualmente válidos. O Westfield Lodge era


uma propriedade de 10 acres à beira-mar, situada no que parecia ser uma
pequena ilha, uma vez que era cercada pelo Legacy Lake. Para comprar
significava que Rhett tinha dinheiro ou era de uma família com dinheiro,
que era basicamente a mesma coisa para as pessoas por aqui.

Até eu tive que admitir que estava curiosa para saber como era o
lugar. Ele era privado e isolado, que ninguém jamais teve permissão de
se aventurar na propriedade sem arriscar uma multa pesada.

Luzes espalhadas posicionadas entre todas as árvores guiaram nosso


caminho. Chegamos à metade e pudemos ouvir que a festa já estava em
pleno andamento. Certeza que era a voz de J. Cole cruzava através do ar,
perturbando a paz das criaturas noturnas.

Quando chegamos ao fim, eu estava mordendo a parte interna do


lábio inferior e cruzando os braços na frente do peito.

A cabana surgiu como uma fortaleza, enorme e brilhando com toda


a iluminação interna e externa. Na extrema direita do caminho havia
uma garagem para três carros do tamanho de um pequeno celeiro, com
os dois carros que eu tinha visto na noite anterior na frente dela. Pessoas
permaneciam em todos os lugares. No convés superior, perto do lago e
ao redor de uma fogueira descontrolada.

Emery cutucou o meu braço e apontou para baixo na


sua frente. — Como estou?

Ela estava vestindo um short simples de cintura


alta e um top preto curto, cabelo em uma trança
fishtail7 impecável que não tive paciência para tentar.

— Você está tão incrível como sempre. – eu a tranquilizei. 50


— Obrigada. – ela sorriu. — Então para onde vamos primeiro? Para
dentro, no cais, na fogueira...?

Paramos lentamente e olhei em volta. Ambas ficaram olhando para


mim, esperando uma resposta. Eu não queria ir a nenhum desses
lugares. Eu queria encontrar um canto e me esconder, permanecer do
lado de fora como uma observadora como sempre fiz. Eu era boa em ser
aquela garota quieta em um canto. Aquela que parecia alheia ao
ambiente, mas estava realmente ouvindo todas as conversas acontecendo
ao meu redor.

— Depois de tanto tempo no carro, preciso encontrar um banheiro,


agora.

— Ok, para dentro então.

— Em, acho que consigo usar o banheiro sozinha. Você tem seus
celulares com vocês? Vou mandar uma mensagem quando terminar. Vá
se divertir. Beba o quanto quiser.

— Tem certeza?

— Ela vai ficar bem. Vamos, você vem comigo. – Annika agarrou
seu braço e começou a conduzi-la.

Não fiquei parada para ver para onde estavam indo. Eu caminhei
para entrar na casa, direto pelas portas duplas da frente que alguém tinha
aberto. O espaço era ainda maior do que eu esperava, com tetos de cedro
tão ridiculamente altos que não conseguia me imaginar trocando as
lâmpadas.

Senti olhos em mim, mas os ignorei, caminhando


em direção ao que pensei ser a cozinha. Não podia
beber álcool, nem mesmo uma gota. Eu não pararia

7 Trança fishtail: é um penteado.


por aí. Eu beberia uma garrafa inteira tentando ver se ela parecia mais
vazia do que eu. Além disso, esse não era exatamente um
comportamento designado a motoristas. 51
Encontrando o que estava procurando, peguei uma garrafa de água
de uma caixa de gelo e passei por portas francesas, saindo para um deck
superior. Dois caras e uma garota estavam conversando a alguns metros
de distância, todos segurando os copos vermelhos de festa nas mãos.

Eles não prestaram atenção em mim.

Fui até o corrimão e olhei para o gramado abaixo. Demorou alguns


minutos, mas finalmente localizei Emery e Annika em pé ao lado dos
profissionais com uma dúzia de outras pessoas. Callum estava entre eles,
com o sorriso sedutor em seu rosto voltado para Em. Eu esperava que
Tyler estivesse aqui para testemunhar isso.

Eu me afastei e fui sentar em uma das espreguiçadeiras macias. Esta


não era um canto, mas funcionaria. Enviei uma mensagem para Annika,
sabendo que ela não checaria o seu celular tão rápido quanto Em,
ganhando mais tempo.

Eu me inclinei para trás e abri minha garrafa de água, ouvindo as


pessoas a alguns metros de distância falarem sobre começar a faculdade
no outono. Se meus pais ainda estivessem por perto, eu teria encontrado
meu caminho para lá eventualmente. Do jeito que as coisas estavam
agora, eu não tinha ideia do que queria fazer da minha vida e não sentia
urgência em descobrir.

— Nova?

Baixei minha água e olhei, engolindo o gole que acabara de tomar.

— Mickey. – eu dei a ele um pequeno sorriso.

— Achei que estava vendo coisas. – ele brincou.


— Não. So... sou eu. Fui coagida a ser a motorista sóbria. – eu
segurei minha bebida para dar ênfase.
52
— Ah, viu. Agora isso faz sentido. Sempre fazer o bem.

— Sempre. – eu repeti, desviando o olhar.

Mickey era o tipo de cara com quem os pais por aqui queriam que
todas suas filhas se casassem. Ele era inteligente, bem-educado e tinha
um futuro lucrativo pela frente. Sua aparência era um bônus. Com
cachos loiros escuros, olhos azuis celestes e um corpo tonificado de anos
de futebol, ele era muito atraente.

Metade da população feminina perdeu a cabeça quando nós nos


encontramos pela primeira vez, praticamente comemorando o momento
em que descobriram que nós terminamos.

Não tive nenhuma má vontade em relação a ele e nada de negativo a


dizer. O sexo era bom e ele era gentil. Um cara genuinamente
bom. Exatamente por isso que ele não era para mim. Eu ouvi que ele
estava com Melody Parker agora. Isso era meio irônico, considerando o
quanto próximos nossos pais foram.

Ele demorou um minuto ou dois, com sua incerteza palpável. —


Vou pegar uma bebida. Quer alguma coisa ou...? Deixa pra lá. Volto
logo.

Eu ri baixinho e acenei para ele. Olhando para a água, não vi Rhett


saindo da casa quando Mickey entrou. Quis o destino que eu virasse a
cabeça e olhasse em seus olhos.

Na noite anterior, eu disse a mim mesma que ele não era meu
tipo. Olhando para ele agora eu sabia que tinha sido a escolha certa. Ele
era diferente de tudo que eu já tinha visto em Legacy
Falls. Enigmático, com uma explosão de escuridão que
irradiava dele.

Ele tinha a quantidade perfeita de fascínio de


bad boy. Exceto que já não era um garoto. Rhett era
definitivamente um homem. Ele caminhou direto
para onde eu estava sentada, movendo-se pelo convés com uma
arrogância natural. Um pequeno aceno de cabeça em reconhecimento,
isso foi tudo o que ele deu ao pequeno trio que o cumprimentou. 53
Ele se sentou na cadeira inclinada ao lado da minha, e então isso foi
tudo que eu pude cheirar. Ele. Uma mistura inebriante de canela e frutas
cítricas.

— Eu sabia que você não estaria com suas amigas.

— Como você sabia disso? – perguntei, sutilmente olhando ao redor


para a saída mais próxima. Eu estava perfeitamente bem sentada aqui
sozinha. Agora, tudo que eu queria fazer era me sair daqui. Ele me fez
sentir inquieta. Ainda assim, fascinada.

— Porque eu conheço você.

Essa resposta improvisada atraiu minha atenção.

Ele estava olhando diretamente para mim, com os seus olhos ainda
mais brilhantes contra o fundo de um céu estrelado e luzes brilhantes
suaves. Eu morreria para pintá-lo assim. Engolindo, girei a tampa da
minha água, de repente precisando de outro gole. — Você me conhece?

— Uhum. – ele se inclinou e eu tive um lampejo de deja'vu, mas ao


contrário da noite passada, onde minha mão era a única forma de defesa,
o braço da cadeira serviu como uma barreira entre nós.

— No momento, parece que você quer fugir.

— Eu não quero fugir. – eu menti. Aparentemente, eu não tinha sido


tão sutil quanto pensava e porque ele me chamou a atenção, agora me
sentia compelida a ficar.

Ele não parecia acreditar em mim. No entanto, acenou


com a cabeça e se inclinou um pouco para trás, olhando
para meu rosto. — Você tem olhos extremamente
bonitos.
Pisquei surpresa, não esperando que isso saísse de sua boca.

Nasci com heterocromia, fazendo com que um olho fosse castanho 54


claro e o outro verde. Eu tinha ouvido pessoas dizerem que eram bonitos
de vez em quando, a maioria apenas olhava como se fosse uma grande
descoberta.

— E um senso de moda interessante. – ele continuou, recostando-se


totalmente na cadeira.

Olhei o meu top frente única preto. As palavras cry baby estavam
escritas em meu peito na mesma cor rosa que minha saia de skatista com
pregas. Incapaz de saber se ele estava sendo sarcástico ou falando sério,
murmurei: — Obrigada.

— Então, o que você fez ontem à noite?

— O que você quer dizer?

— Ontem à noite... depois que vi você na loja.

Ah. — Ah, nada. – eu respondi, tomando aquele gole de água tão


esperado.

Ele tirou algo de trás da orelha e acendeu, um segundo depois o


cheiro intenso de erva preencheu todo o espaço ao nosso redor.

— Você vai acender isso na frente de todas essas pessoas. Sem


mais. Nem. Menos?

Ele deu uma longa tragada, fazendo a ponta brilhar em um laranja


brilhante. Exalando uma baforada de fumaça seguida por um alto: —
Fodam-se essas pessoas.

Todos perto do corrimão viraram em nossa direção e quase


engasguei com o meu próximo gole, tentando não rir.

— Isso não é muito hospitaleiro.


— Eles estão aqui pela minha bebida, drogas e para se adequar a um
status que não significa nada de onde eu venho.
55
— E onde seria? – Meu cérebro dizia não pergunte. Obviamente,
minha boca tinha ideias melhores.

— Curiosa sobre mim, não é? Bem quando comecei a pensar que


analisei você errado ontem à noite. Você faz como eu.

— Ótima maneira de se esquivar. – eu ironizei.

Ele riu pela primeira vez e minhas entranhas enlouqueceram.

Sua risada soou como o caos. Imediatamente isso se tornou uma das
minhas coisas favoritas.

— Aqui. – ele estendeu seu baseado.

— Eu estou bem.

— Vamos, princesa.

Eu senti meu rosto franzir. — Não me chame assim.

Ele riu de novo, mais baixo dessa vez. — Sua amiga fez isso. A
legal.

Ele tinha que estar falando sobre a Emery. Annika nunca seria
mencionada com essas palavras. Sua mão se ergueu mais alto em uma
segunda oferta. Suspirei e peguei o baseado, levando-o aos lábios.

— Você é uma má influência.

— Exatamente por isso que você e eu vamos nos divertir tanto


juntos.

— Eu não sabia que estaríamos fazendo algo um


com o outro.
Ele apoiou os cotovelos nos joelhos — Posso pensar em algumas
coisas, mas podemos começar com isso. Por enquanto.
56
Uma mulher mais sábia teria processado essa afirmação sem dar
uma resposta ou questionar o que significava. Se alguém mais estivesse
sentado ao meu lado, eu teria feito exatamente isso, mas o tom sinistro
de suas palavras despertou minha curiosidade.

— Importa-se de compartilhar o que são essas coisas?

Um sorriso presunçoso apareceu em seus lábios perfeitos. O que


quer que ele fosse dizer em seguida foi interrompido pelo toque de seu
celular. Ele o tirou do bolso e olhou para a tela. — Eu tenho que atender
isso.

— E isso? – eu tentei passar para ele o baseado.

Ele se levantou e balançou a cabeça, ignorando a minha mão


estendida. — Fique com isso.

Eu não queria isso. Eu o observei se afastar, entrando de novo na


casa.

Querendo ir embora antes que ele voltasse por vários motivos, olhei
para o grupo ainda de pé a alguns metros de distância. Escolhendo um
dos três, fui até o cara com muito gel no cabelo e bati em seu ombro.

— E aí? – ele perguntou, virando-se para olhar para mim.

— É seu dia de sorte. – eu entreguei a ele o basedo e me afastei para


encontrar minhas amigas.
57

Havia uma sala no final do corredor que permaneceu intacta.

Tinha um ar de abandono. Assim como o resto da maldita casa. A


cama queen-size ainda estava feita. Os frascos de remédios da mamãe
estavam em uma fileira organizada em ordem alfabética em sua mesa de
cabeceira. Tão intocados como tudo o mais.

Se eu os tivesse visto algumas horas antes, teria sabido que algo


ruim iria acontecer naquele dia. Ela saiu de casa sabendo exatamente o
que faria naquela noite.

Ela costumava falar muito sobre autoestima, pregava sobre não


tolerar as besteiras de ninguém. No final, finalmente seguiu seu próprio
conselho. Eu não poderia culpá-la apenas pelo que aconteceu, no
entanto. As ações dela e de papai foram igualmente devastadoras.

Meus pais ajudaram na destruição de nossa família. Eu


nunca esqueceria a noite em que papai atirou uma bola de
demolição a tudo que eu sabia ser verdade, descobrindo
que ele era um mentiroso em todos os aspectos
importantes.
Como golpe após golpe isso foi desferido em uma enxurrada de
desculpas esfarrapadas e avisos pré-nomeados, eu aprendi que minha
mãe não era alheia à sua verdadeira natureza. Ela ficou com um homem 58
que a traiu repetidamente, nada parecido com quem ele fingia ser
externamente. Daquele dia em diante, não consegui ver nada do mesmo.

— Nova? – A voz grogue de Em veio do outro lado do corredor.

Eu olhei por cima do ombro, abrindo um sorriso. — Ei.

— Você está bem? – ela me olhou com desconfiança.

Eu engoli a amargura e balancei a cabeça. Eu não tinha certeza de


por que fiz isso comigo mesma. Cada vez que eu olhava para dentro do
quarto dos meus pais, uma dor debilitante cortava meu peito. Eu estava
mais furiosa com o que fizeram, mas sentir falta deles trouxe consigo
uma dor que eu nunca tinha conhecido.

Fechei a porta e me virei para encará-la. Ela tinha uma espécie de


cabelo desarrumado por causa da cama e ainda parecia tão encantadora
como sempre. — Eu deveria ser a que pergunta se você está bem. Você
se lembra de alguma coisa da noite passada?

— O suficiente... – ela parou com um sorriso malicioso.

— Não me deixe esperando. – eu estendi meus braços para o lado.

— Eu vou te dizer se vier comigo ao Pete’s para o café da manhã.

Eu fingi pensar sobre isso por um minuto antes de passar por ela e
concordar. — Eu irei se você lavar sua bunda primeiro.

Sua risada me seguiu escada abaixo.


59

Esperei até que estivéssemos sentadas à mesa e a nossa comida


estivesse na nossa frente antes de tocá-la novamente enquanto passava
manteiga na minha torrada.

— Vai me contar o que aconteceu agora? Você sabe que aquele cara
Callum basicamente carregou você para o meu carro?

Ela sorriu dando uma mordida no ovo com as bochechas adquirindo


um brilho rosado que eu tinha visto nela apenas duas vezes antes.

— Em, você não fez! – eu fingi estar chocada, levando a mão ao


peito.

Sua cabeça balançava para cima e para baixo. — Eu fiz. Bem, nós
fizemos. Na parte dos fundos da casa.

— As pessoas não fazem sexo nas camas hoje em dia?

— Cale-se. Isso não foi planejado. Em um minuto estávamos nos


beijando casualmente, no seguinte, ele estava todo dentro de mim.

Eu ri, cortando minha linguiça italiana. — Tudo?

— Senti no estômago. Isso é o quanto grande ele é. Foi assim…

— Pare. Não preciso de detalhes explícitos. – eu dei uma mordida


tentando não imaginar como eles pareciam. — Qualquer um
poderia ter visto vocês.

— Alguém como Tyler? – ela zombou.


— Ele viu? Eu retiro tudo o que acabei de dizer. Preciso de todos os
detalhes.
60
Eu ri, parando abruptamente quando me lembrei de como ela estava
fora de si. — Você queria, certo? Ele não...?

Seus olhos se arregalaram e a cabeça balançou vigorosamente para


frente e para trás. — Não, eu queria! – ela exclamou com um tom alto
demais.

Segurei uma risada quando várias cabeças viraram em nossa


direção. — Eu só estava tendo certeza. Você estava muito bêbada. – Isso
era um eufemismo. Ela mal conseguia andar.

— Isso aconteceu antes de eu chegar a esse ponto.

— Estou feliz por você. Orgulhosa. Apenas...

Ela me interrompeu. — Tenha cuidado, eu sei. Isso não foi só uma


vez. Vou sair com ele depois do trabalho. Não precisa se preocupar. Sei
o que estou fazendo.

— Eu ia dizer só não engravide, mas acho que isso também. – eu


deixei de fora a parte sobre ela não ter nenhuma ideia de verdade do que
estava fazendo. Ela não tinha.

Ela nunca fez nada parecido antes ou se envolveu com um cara


como o Callum. Mas, Em era dona de si e podia tomar as suas próprias
decisões. Dizer para ela para ter cuidado também era um ponto
discutível. Esse conselho realmente funcionava?

Não.

Então, eu seria o seu ombro para chorar e desabafar se isso desse


certo, ou a sua madrinha se de alguma forma Callum me
surpreendesse e acabasse sendo mais do que uma lição
de vida.
Ela riu de mim, pegando o creme. — Sua vez. Fale-me sobre você e
Rhett.
61
— Não há nada a dizer.

— Eu sei que ele falou com você.

— Como? Não importa, isso é irrelevante. Nós dividimos um


baseado, ele recebeu um telefonema e é isso. Não o vi novamente depois
disso.

Ela se inclinou tanto para frente que seu cabelo quase caiu em seus
ovos.

— Viu, só isso é épico. Você conversou com um cara e fumou com


ele. Este é o primeiro passo para vocês dois terem seu próprio encontro
de verão.

Levantei as minhas sobrancelhas para ela. — Rhett não é... –


Mencionar o seu nome de alguma forma conjurou o próprio homem, eu
olhei pelo restaurante, observando ele, Callum e o cara bonito com um
coque masculino entrarem.

Como dois ímãs, nossos olhares se encontraram e ele começou a vir


em minha direção. Callum o seguiu. O outro cara continuou em frente,
provavelmente para fazer um pedido.

— Vocês duas são as melhores coisa que eu vi o dia todo. – afirmou


Callum, puxando a cadeira à minha direita. Rhett sentou na da minha
esquerda e como raízes intrometidas, eles se plantaram sem um convite.

— São apenas onze horas. – Em ressaltou.

Ele pegou um pedaço de bacon do prato dela e o colocou na boca.

— Eu sei, e agora terei a lembrança de duas lindas


garotas para me ajudar durante o dia.

Em deu uma risadinha, selando seu destino com


o homem de olhos castanhos entre nós. Eu
simplesmente encarei. Ele olhou para mim, e eu me perguntei então se a
Emery não podia ver ou simplesmente não se importava com a escuridão
espreitando logo abaixo da superfície de personalidade sedutora dele. 62
Ele compartilhou um olhar com o Rhett, e então sorriu para mim
como se reconhecesse que sabia que não fui enganada por ele. — Você
poderia pelo menos me dar um sorriso.

— Particularmente quero que você termine o que estavam dizendo


quando estávamos entrando aqui. – Rhett interrompeu gentilmente.

Levantei um ombro em um encolher de ombros preguiçoso. —


Nada importante.

— Se não era importante, você pode me dizer.

Que se foda. Por que não contar a eles? Era melhor revelar isso
abertamente de qualquer forma.

Dei-lhe toda a atenção e um pequeno sorriso genuíno. — Eu estava


dizendo a ela que você não é meu tipo.

— Droga. – Callum riu. — Quase acredito nela.

Rhett inclinou a cabeça para o lado e me observou um pouco. —


Nova e eu sabemos que sou o tipo de todo mundo. Especialmente dela. –
ele seguiu com um sorriso mais brilhante do que o sol se abrindo por seu
rosto.

Tive uma sensação estranha na boca do estômago que, para meu


profundo horror, eu percebi que estava tremendo. Rhett me deu aquelas
borboletas traiçoeiras sobre as quais as pessoas cantavam em canções de
amor lunáticas.

Recusei-me a demonstrar a ele uma reação baseada na


maneira como estava fazendo meu corpo me
trair. Felizmente ele era convencido e arrogante, ainda
algo que eu achava extremamente atraente, mas eu
poderia usar isso.
— E confiante demais. – eu respondi friamente. — Além disso, não
sou todo mundo.
63
Como na noite anterior, seu celular interrompeu nossa conversa. Ele
olhou para a tela e pediu licença para sair da mesa, levando-o ao ouvido
enquanto caminhava em direção aos fundos do restaurante.

Eu o observei se mover com aquela graça descontraída que vinha


naturalmente, junto com todas outras mulheres nas proximidades. Uma
vez que ele desapareceu de vista, nenhuma delas sabia para quem olhar a
seguir. Callum, ou o homem com o cabelo casualmente encostado no
balcão do atendente, flertando com a Sra. Henry.

Um uniforme surgiu na minha periferia, chamando minha atenção


para o xerife Dean, o pai de Mickey. Ele entrou, observando o
lugar. Quando seus olhos pousaram sobre mim, a expressão sombria em
seu rosto fez com que as minhas borboletas morressem e um nó de
ansiedade tomasse o seu lugar. Ele acenou com a cabeça para o
estacionamento e eu me desculpei, deixando Emery com Callum.

O sol bateu em mim assim que eu saí.

Protegendo os meus olhos com uma mão, aproximei-me do musgo e


da viatura branca em que ele estava encostado. — Dean? – eu o
cumprimentei.

— Ei, Hum. Como você está?

— Eu ainda estou respirando.

Ele me deu um sorriso cansado, com seu bigode grisalho erguendo-


se em direção ao nariz sardento. Eu relaxei um pouco. Se ele estivesse
aqui para me prender, não acho que seria assim. Então, novamente,
Dean sempre gostou de mim, mesmo depois que o seu filho e eu
nos separamos.

Ele não sabia quem era a garota que uma vez se


sentou à sua mesa de jantar. É realmente incrível o
tipo de pessoa que deixamos entrar em nossas vidas porque não
conhecemos bem.
64
— Eu queria que você ouvisse essas notícias por mim. Eu, hum, sei
o quanto próxima sua família era dos Reedsies.

Minha respiração ficou presa. Isso não parecia bom.

— Pamela não ligou para a filha quando chegou ontem à noite. Ela
viajou alguns dias atrás para visitar seus netos. Ela também não ligou
esta manhã. Quando a filha não conseguiu falar com o pai, ela nos
chamou. Acabei de sair de lá. Ambos se foram.

— Eu sinto muito. Se foram?

— Quero dizer, que estão com o bom senhor agora, querida. Foram
pegos em uma invasão domiciliar.

— Você tem alguma ideia de quem fez isso?

— Não tenho permissão para dizer. – ele respondeu com simpatia.

Balancei a cabeça, engolindo o nó na minha garganta. — Obrigada


por me avisar. – eu corri para o lado do motorista do meu carro,
entrando e me desligando de tudo o que ele tinha começado a dizer.
65

Mais cedo ou mais tarde, todos seremos forçados a jantar em um


banquete de consequências. Nossas ações nos alcançam.

Algumas pessoas chamam isso de carma.

Eu chamo isso de resultado de más decisões.

Nos confins vazios da minha casa, ponderei o que as notícias de


Dean significavam para mim. Martin Reedsy era o advogado dos
negócios de meu pai e, pouco antes de seu final trágico, ele me explicou
qual era exatamente essa vocação. Basta dizer que papai não era o
joalheiro que eu, e todo mundo na cidade sabia que ele era.

O prédio de tijolos vermelhos que ficava em uma parte proeminente


de uma propriedade, o sobrenome de meu avô em uma grande placa
acima dele, havia se tornado nada além de uma fachada. Um negócio de
gerações agora barrado e acorrentado. Em parte porque eu
não sabia nada sobre como dirigir uma empresa. O
maior motivo, eu não tinha certeza do que fazer com
ela.
Isso era mais uma coisa na lista de traições de papai. Ainda mais
imperdoável que as outras. Ele me tornou cúmplice de seus esquemas,
dizendo-me muito mais do que eu queria saber, mas ainda não o 66
suficiente.

Eu estava caindo em queda livre em uma toca de coelho desde


então, sem um fim à vista. Passando uma tocha de engano e perigo e
esperava mantê-la acesa. Achei que teria mais tempo para descobrir tudo
isso, obter algum tipo de compreensão do que diabos estava acontecendo
para que eu tivesse uma chance de lutar para salvar os negócios da
minha família e o que era recuperável de nossa reputação.

Independentemente de como eu estava com raiva, meu pai ainda era


meu pai e eu ainda era um Morkav.

Com esse novo desdobramento, só pude concluir que quem quer


que foi ver Martin viria me ver. Passando a mão pelo meu cabelo,
respirei fundo, abrindo e fechando minhas mãos. Minha vida poderia
estar a momentos de acabar e aqui estava eu, pintando.

Eu fiquei olhando para a imagem no meu cavalete ainda não


terminada. Adicionei o sangue na noite passada e o céu agora. Nunca
soube aonde minha criatividade me levaria, apenas a deixava fluir. Às
vezes, a visão em minha mente se formava tão rápido que eu não
conseguia misturar as cores na tela rápido o suficiente. Outras vezes,
minhas pinturas chegavam até mim em fragmentos de pesadelos,
devaneios desfeitos ou fantasias distorcidas.

O som feroz e potente de um motor descendo a rua me fez levantar


do meu banquinho e sair para o corredor.

Espiando pela janela no final do corredor, eu observei quando um


Hellcat8 brilhante parou na frente da minha casa. O cabelo escuro
imaculadamente domado de Rhett e um óculos escuros
cobrindo os seus olhos apareceram um segundo
depois. Ele parou no final da minha garagem e olhou
para onde eu estava.

8 Hellcat: é um modelo de carro.


Alguns pensamentos diferentes passaram pela minha mente. Tipo,
como diabos ele sabia onde eu morava? E o mais importante, por que ele
estaca aqui? 67
Ele acenou para eu descer. Eu levantei um dedo sinalizando para ele
se esperar e fui pegar o meu celular. Quando saí pela porta lateral da
garagem, ele já estava de volta ao carro. Em seu lindo e brilhante carrão.

Caminhei até a janela do passageiro e me inclinei, apoiando as


minhas mãos no parapeito da janela apenas para sentir as vibrações
poderosas. — O que você está fazendo aqui?

— O que parece? Entre.

— Porque eu faria isso?

Ele virou a cabeça e olhou para mim. A lente que cobre seus olhos
não é forte o suficiente para encontrar a intensidade de seu olhar.

Mordi o interior do meu lábio inferior, me recusando a desviar o


olhar. Rhett não me intimidava ou assustava. Ele me intrigava e excitava
o que era pior. E então, havia o perigoso dilema da borboleta. Esqueça o
fato de que não toquei em uma gota de álcool além da dose que eu tinha
tomado quando voltei do Pete’s. Normalmente, eu estaria adquirindo
uma segunda e uma terceira garrafa agora.

— Você disse que não ia fugir.

Minhas sobrancelhas franziram. Eu não tinha ideia do que ele estava


falando. — Eu não fugi.

— Tem razão, você mais ou menos desapareceu do estacionamento


antes que eu pudesse sair.

Esse cara tinha muita coragem. Isso não tinha nada a ver
com ele.
Eu nem tinha pensado nele quando saí de lá. — Lamento ser eu a te
dizer, mas o mundo não gira em torno de você, Rhett.
68
— O seu sim.

— Ah, meu Deus! – eu ri. — Você não pode estar falando sério.

Ele endireitou os ombros e voltou a olhar pelo para-brisa. — O que


mais você tem para fazer além de sentar naquela casa com nada além de
seus pensamentos como companhia? E depois da maneira como você
saiu do Pete's, vou presumir que eles não são muito bons agora.

Não houve qualquer observação refutável para nada disso. Ele


acertou em cheio. Eu debati a ideia de ir com ele por mais um segundo
antes de ceder ao que realmente queria. — Deixe-me pegar minha bolsa,
ok?

— Você tem cinco minutos.

— Só por isso você vai esperar dez. – eu me afastei sentindo seus


olhos em mim todo o caminho de volta para a garagem.

Uma vez lá dentro, peguei minha bolsa e em um ato mesquinho de


rebelião o fiz esperar doze minutos antes de voltar para seu carro. Eu
sabia que Sra. Richardson estava vendo toda a cena, provavelmente
tomando nota para que ela pudesse retransmitir tudo.

Quando eu voltei para o carro, Rhett se inclinou e abriu a porta para


mim. Mal tive tempo de afivelar meu cinto de segurança antes que ele
pisasse no acelerador. Meu corpo bateu no banco de couro, com as
vibrações surgindo sob a minha bunda enquanto o carro ganhava
velocidade, fazendo barulho pela minha vizinhança soando como um
felino puto de Satanás.

Ele virou uma esquina tão rápido que agarrei a


maçaneta da porta para me segurar. Eu percebi então
que eu não sabia nada sobre esse cara além de seu
primeiro nome, e agora eu estava sozinha com ele.
Mas, quanto mais essa percepção era processada, mais eu
relaxava. Todo mundo em Legacy Falls conhecia todo mundo. Passei as
últimas semanas ignorando murmúrios e enfrentando os 69
julgamentos. Presenciei pessoas que os meus pais consideravam amigas
mudarem de direção e tomarem o caminho inverso nas raríssimas
ocasiões em que nos cruzamos, mantendo distância como se a tragédia
que me foi infligida fosse contagiosa.

Eu tinha fingido para o Rhett desde que o conheci, mas não


precisava. Nós dois éramos lousas em branco. Ele não tinha ideia de
quem era a verdadeira Nova e, por algum motivo, eu não me senti
obrigada a escondê-la.

Nenhuma palavra foi dita entre nós até que tivéssemos nos afastado
uma distância razoável de minha comunidade habitacional. Eu não me
importei, já que estava curtindo a simplicidade do passeio, vendo o
mundo passar ao nosso redor. Sua risada repentina é o que quebrou o
silêncio.

— O que é engraçado? – eu perguntei, finalmente me afastando da


janela.

— Você.

— Eu?

— Alguém já lhe disse que você tem aversão à autoridade?

— O que te faz pensar isso? – eu cruzei meus braços e olhei pelo


para-brisa. — Você está falando sobre eu não entrar no seu carro com
um estalar de dedos? Porque isso não é aversão, ou algo assim.

— Definitivamente é.

— Não. Aquilo era eu me recusando a receber ordens


de um homem estranho gigante aparecendo na frente da
minha casa e me dizendo o que fazer.
— Eu não sou um homem estranho. Eu sou seu homem.

Agora foi a minha vez de rir. — De alguma forma, eu não sabia 70


dessa novidade. E foi você quem dirigiu todo o caminho até o outro lado
da cidade pensando que eu simplesmente entraria no seu carro.

— Não havia muito pensamento envolvido. Sabia que você entraria,


nem que eu tivesse que fazer você entrar eu mesmo.

Outra risada escapou da minha boca. Que idiota presunçoso. Ele fez
uma curva fechada à direita, fazendo com que os pneus cantassem e o
cheiro de sua colônia me atingisse. O cheiro estava começando a
aumentar.

— Onde estamos indo?

— É essa a sua maneira de desconversar?

— Hum, não. Não há nada desconversar. Você não é o meu


homem. Você nem é meu amigo. Eu não sei nada sobre você.

— Ainda assim, você entrou no meu carro.

— Já enviei uma mensagem para a Emery e a Annika dizendo que


estou com você. Então, se você planejava me levar no meio do nada para
acabar com minha vida, você pode querer reconsiderar.

Ele balançou a cabeça e colocou a mão no meu joelho. Usando meu


vestido Lolita amarelo para expor tudo do meio da coxa para baixo, nós
estávamos pele com pele.

Poderia facilmente tê-lo empurrado, mas o seu toque não era


indesejado. Muito além da minha zona de segurança e zombando do
perigo, eu não tinha ideia do que estava fazendo. Pela primeira vez, eu
não tinha certeza se isso era uma coisa ruim.
71

Ele me levou para a cachoeira.

Ouvi a água caindo, ficando mais alta quanto mais perto nós
chegávamos ao alto do pico, onde uma área de estacionamento
esperava. Os pássaros cantavam alegremente em algum lugar acima dos
pinheiros.

— Porque aqui? – perguntei assim que ele estacionou.

Ele tirou os óculos escuros e desligou o motor, abrindo a porta. —


Não queria que fôssemos interrompidos. Ninguém chega até aqui, todos
eles dirigem de volta pelo túnel.

Eu enviei uma mensagem de texto de localização para Emery e


Annika, e o segui para fora do carro.

— Você sabe disso por experiência própria? – Isso não teria


me surpreendido. Rhett era muito bonito. Ele
provavelmente tinha uma boceta vindo para ele de
todas as direções.

Ele sorriu como se tivesse acabado de ler minha


mente. — Não preciso levar uma garota para um
local secreto para transar com ela na parte de trás do meu carro. Posso
fazer isso na beira da estrada. Algumas pessoas me falaram sobre isso. E
para que conste, você é a única garota em quem prestei atenção desde 72
que me mudei para cá.

Isso me deixou muito mais feliz do que deveria, mas eu teria


vergonha se eu o deixasse saber disso.

— Venha aqui. – ele bateu em seu capô, indicando para eu me


sentar.

Deixei minha bolsa e celular no banco do passageiro e fui para onde


ele me indicou. Sem esforço, ele me levantou e me sentou no metal
quente, sentando-se ao meu lado.

Do alto, podíamos ver o lago se estender abaixo de nós como um


pedaço de vidro brilhante. O próprio ar parecia mais fresco e mais
puro. Este era, sem dúvida, um lugar lindo, mas não se comparava ao
homem glorioso tatuado ao meu lado, atualmente vagando os olhos para
cima e para baixo em minhas pernas. Eu estava feliz por mantê-las
depiladas.

— Você tem uma queda por borboletas. – Uma observação de fato,


não uma pergunta.

Quando ele disse isso, distraidamente peguei o pingente que uma


vez usei em volta do meu pescoço, mas ele tinha sumido agora.

Era por isso que havia uma tatuagem vermelha em negrito no meu
pé, que doía como um filho da puta, outra no meu quadril e uma terceira
escondida dentro da grande cruz pintada nas minhas costas.

— É apenas uma tatuagem. – eu mexi o meu tornozelo para dar o


efeito de asas em movimento.

— Nenhuma tatuagem é apenas uma tatuagem, e


você tem um amuleto pendurado dentro do seu carro.
— Aquilo é um purificador de ar. – eu cruzei minhas pernas e fiquei
confortável. — Quando você viu o interior do meu carro?
73
Ele se aproximou para que estivéssemos ombro a ombro, embora
seu braço diminuísse o meu três vezes. — Quando estava estacionado na
minha garagem e fora do restaurante.

— Ah. Essa é uma resposta melhor do que você dizendo que estava
me perseguindo. Embora você saiba onde eu moro de alguma forma.

— Se eu admitisse estar sempre a perseguindo, você se importaria?

O que? Estreitei os meus olhos e olhei para ele. — Está brincando


certo?

Ele desceu do capô do carro e se moveu para ficar na minha


frente. — Sei que você não me conhece, mas não há como negar que há
algo aqui. – ele acenou com o dedo indicador entre nós. — Então, que
tal isso. Eu faço duas perguntas de sim ou não, e você faz o mesmo.

Ponderei sobre isso. Eu não tinha certeza do que poderia vislumbrar


em uma pergunta de sim ou não, e ele ainda não havia respondido minha
pergunta anterior.

Parecia que estávamos determinados a contornar um do outro com


palavras, sem revelar muito.

— Isso não vai me dizer seu sobrenome.

— Sullivan. O meu sobrenome. – ele esclareceu.

Rhett Sullivan.

— Morkav. – respondi. — É ucraniano, do lado da família do meu


pai.

— Annika me contou o que aconteceu, então não


se sinta compelida a repetir a menos que você
queira. Se você precisar falar, eu ouvirei.
Claro, que ela contou. Garanto que ela disse a ele onde eu morava
também. Não havia nada a acrescentar à última parte de sua
confissão. Eu nunca falei sobre os meus pais de boa vontade. A ferida 74
estava muito viva e muito recente.

Quando ele não disse algo tão estúpido como Sinto muito por sua
perda, soltei um suspiro de alívio. O número surpreendente de pessoas
que me ofereceram condolências sem sentido foi alucinante. Pior era ser
perguntada se eu estava bem.

Como diabos eu poderia estar bem? Eles sabiam que os meus pais
estavam mortos, o como e o porquê. Eles sabiam que eu fui deixada
completamente sozinha. Eu sabia que aos vinte e dois anos eu deveria
ser adulta e independente.

Eu sabia que a vida era cheia de perdas, coisas ruins aconteciam e


não havia nada que eu pudesse fazer, exceto seguir em frente, mas eu
nunca iria superar o que aconteceu com a minha mãe e meu pai.

— Então, duas perguntas? – eu forcei um pouco de vitalidade em


minha voz, precisando de uma mudança rápida de assunto. Descruzei as
pernas e reajustei a forma como estava sentada.

— Duas. – ele confirmou, se aproximando.

Pensando em como a minha vida tinha sido nas últimas semanas e


todas as coisas que ainda estavam vindo em minha direção... Eu
precisava que ele dissesse sim para isso, mesmo que fosse uma mentira.

— Estou segura com você?

Ele colocou a mão no meu joelho, acariciando a pele suavemente.

Como estávamos agora, com a luz do sol iluminando por entre as


árvores, eu podia ver os redemoinhos de ônix brilhantes e
tons de azul no canto de seus olhos, envolvendo o cinza
metálico. Não parecia que ele estava olhando para
mim, mas através de mim, direto para o meu coração
apodrecido.
Provavelmente essa tinha sido sua versão de quebrar o gelo, nada
para se levar muito a sério. Ou, foi o que pensei. Ele me puxou em sua
direção, abrindo as minhas pernas e se posicionando entre elas. Meu 75
vestido subiu muito além do ponto de decência e eu não me incomodei
em tentar arrumá-lo.

— Pergunte-me isso de novo.

Eu engoli, lambendo meus lábios para livrá-los de sua secura. —


Estou segura com você?

— Sim. – Não houve hesitação dessa vez.

— Você se sente segura?

— Sim. – eu respondi honestamente, com uma rapidez um tanto


preocupante. Não importa, eu não senti como se ele fosse me machucar.

Ele sorriu, obviamente satisfeito com a minha resposta. Seus


polegares continuaram a desenhar formas invisíveis em minha pele, e
comecei a me sentir impaciente, com uma dor que não sentia há muito
tempo e voltava gradualmente.

— Preciso que pense sobre a próxima pergunta. Se sua resposta for


não, isso pode terminar agora. Se você disser que sim, vou te levar para
casa.

— OK.

— Você me quer.

Minhas sobrancelhas franziram e pisquei em confusão. — É... é


isso? Espere. Isso não soou como uma pergunta.

— Eu só preciso de um sim ou não.

— Você está falando sério?

Novamente, ele diz sem hesitação. — Sim, eu


estou.
Isso confirmou. Rhett Sullivan era insano. Olhei para a tatuagem em
sua mão direita, o tom escuro de um lobo contrastando com sua pele
bronzeada. 76
Eu não era estúpida. Sabia o que ele estava realmente
perguntando. Eu tive um flashback daquela manhã quando a Emery
disse que ele seria o meu encontro de verão. Isso não parecia o fim do
mundo.

— Sim…? – Isso saiu mais como uma pergunta, mas isso foi
confirmação suficiente para ele.

— Nova. – ele disse o meu nome com uma gentileza que ainda
transmitia o comando abaixo disso.

Levantei os meus olhos para os dele, pega de surpresa quando sua


boca pressionou contra a minha, com a língua lambendo o meu lábio
inferior. Eu não era uma grande beijadora, mas fui com ele, concedendo
a ele o acesso que ele buscava e me surpreendi agradavelmente.

Seu beijo foi intenso e confiante. Acompanhei seu ritmo, pensando


absurdamente se estava fazendo certo. Minhas mãos encontraram o
caminho para seus ombros largos, com seu corpo pressionando mais
perto do meu e o jeans esfregando contra o meu ápice.

Meu peito se apertou e os meus mamilos endureceram. Um pequeno


gemido escapou da minha boca e ele parou, interrompendo nossa
conexão.

— Não assim. – ele afirmou, com sua voz suave soando quase tão
normal como de costume, exceto por um ligeiro som áspero. Puxei meu
vestido de volta para baixo para esconder a umidade crescente que se
reuniu entre as minhas pernas.

— Eu não faria isso. – eu menti, tentando ser tão fria


e controlada quanto ele.

Ele mostrou os dentes para mim. — Nova. – ele


estendeu a mão e segurou meu queixo, me forçando
a olhá-lo nos olhos. — Eu sei que sua boceta já está
mais molhada do que nunca. Eu poderia te foder bem aqui e agora e
quando eu terminar você nem se lembrará do seu nome, mas eu não
poderia fazer metade das coisas que eu queria. 77
Como eu deveria responder a isso? Meu corpo estava pegando
fogo. A Nova bozinha, o eu que precisava ser doce e pura já estava
corando, me dizendo para ficar de boca fechada.

A verdadeira eu queria que ele fizesse o que acabara de descrever e


fizesse novamente mais tarde.

— Posso ver que você está pensando muito nisso. – ele riu baixinho
e me ofereceu a mão. — Não se preocupe, meu pau preencherá todos
os buracos fodíveis que você tem, mas vou alimentá-la primeiro.

— Não tenho certeza do que dizer sobre isso. – eu admiti, deixando-


o me ajudar.

— Você não tem que dizer nada. Basta comer a comida e abrir as
pernas. Se você for capaz de falar depois disso, eu não te fodi do jeito
que você merecia ser fodida.

— Vou manter isso em mente. – eu murmurei, entrando de novo no


carro.

Enquanto descíamos a longa estrada que nos levava ao pico, me


ocupei respondendo à mensagem de Em e Annika.

— O que você teria feito se eu dissesse não? – perguntei.

Ele alcançou o painel central e pegou a minha mão — Eu não sou


alguém que ouve isso com muita frequência.

Meus pensamentos giraram com todas as implicações por trás de


suas palavras. Fui de uma observadora, uma pensadora e
depois um reator. Nunca alguém que se apressava nas
coisas ou era pega de surpresa, tudo sobre ele - nós - ia
contra isso. Parecia um tanto surreal, como o segmento de um sonho, do
qual não consegui determinar a natureza.
78
79

Quando Rhett disse que me levaria para casa, ele estava sendo
literal.
Mas antes de voltar para sua propriedade isolada, tivemos que
dirigir pela cidade. O hotel Westfield ficava de um lado do lago e o pico
do outro, o que me fez pensar.
— A cabana é mais uma propriedade de verão. Então, por quanto
tempo você ficará aqui? – perguntei, apoiando meu cotovelo na janela.
— Até o início de Setembro.
Fiz as contas na minha cabeça. Voltei duas semanas após o quatro
de Julho, três semanas atrás agora. Esse tempo voaria. Por um lado, me
garantia que tudo seria sobre sexo. Por outro lado, era tudo sobre sexo.
Essa foi boa.
Eu o sentia olhando para mim de vez em quando,
mas a minha atenção oscilava entre o meu celular e a
cidade que passava. Seu carro estava fazendo um
bom trabalho em chamar a atenção para nós. Com as janelas abertas,
todos tinham uma visão clara de quem estava dentro.
80
— Gio está bem?
— Sim…
— Você não parece tão certa disso.
— Não está tudo bem. Você não encontrará pizza melhor em
nenhum outro lugar. Mas atenção. É um ponto de encontro popular e
quando você chegar lá comigo no carro. Bem, tenho certeza de que você
pode juntar as peças desse cenário.
— Eu sei que tipo de lugar é.
Já que eu estava aprendendo rapidamente que sua inflexão vocal
raramente mudava, não importa o humor em que ele estava, considerei
que o aperto de suas mãos em torno do volante significava que eu o
deixaria chateado. Confirmando isso quando ele estendeu a mão e
desligou o rádio.
Se não fosse pelo ronronar do motor do Hellcat, eu tinha certeza de
que seria capaz de ouvir um alfinete cair do outro lado da rua. Claro, que
ele sabia que tipo de lugar era o Gio. A maioria das pessoas não se
barricaram dentro de suas casas, apenas saindo para reabastecer o seu
estoque de bebidas alcoólicas.
Tive sorte de meu hábito não ter sido descoberto. A fachada dos
anos de ensino médio ainda em vigor, todos pensavam que eu não era
nada mais do que uma doce eremita que preferia seu estúdio de arte às
pessoas, o que era parcialmente verdade.
— Há algo de errado com você, Nova?
Pela segunda vez naquele dia, ele me pegou
desprevenida. Sim, certamente havia algo de errado
comigo, mas não estava disposta a contar meus pecados para o diabo.
— Depende do que você quer dizer. – eu respondi, mantendo o meu 81
tom suave.
— Estou curioso. Diga-me por que eu deveria me importar se as
pessoas nos veem juntos.
Encolhi os ombros. — Você não deveria. Eu não me importo. As
pessoas vão apenas nos unirá.
— Estamos juntos.
Apesar da situação, eu ri. — Rhett, você sabe o que quero dizer.
— Quero dizer a mesma coisa que você. – ele respondeu. — Se eu
estiver transando com você, ninguém mais estará. E já que você será a
única montando no meu pau, parece-me que somos exclusivos, o que
significa que estamos juntos. Se alguém não gosta disso, não é nosso
problema.
Foi preciso morder o interior da minha bochecha para me impedir
de rir novamente.
Ele evitou uma pergunta ou foi agradável e direto.
— Posso concordar com tudo isso. – eu disse.
— Ótimo. Agora me diga o que você gosta na sua pizza.

Quando chegamos ao Westfield, meu estômago


estava doendo. Eu me arrependi seriamente de pular
o café da manhã. O aroma irresistível de pepperoni, salsicha e pimentão
me deixou com água na boca.
82
Rhett apertou o botão da viseira e a porta da garagem no final
começou a se levantar. Dentro estava o Porsche que eu tinha visto duas
noites atrás e um Alfa Romero. A caminhonete estava faltando.
— Quantos carros você tem?
— Dois. O Porsche é da Angel. O Alfa é da Tripp.
Esperei que ele explicasse quem era Angel, mas ele simplesmente
saiu, circulando ao redor para abrir minha porta para mim.
Ele pegou as pizzas do meu colo e eu o segui, fazendo uma lista de
coisas que sabia sobre quem ele era. O mais óbvio, era que ele tinha
dinheiro.
Você não se mudava para uma cabana de verão de quatro milhões
de dólares e trazia seus hot-rods9 pessoais se você fosse de classe média.
Ele também era confiante, arrogante e sem remorso, o que me levou a
acreditar que não era alguém que não costumava conseguir o que queria.
Entramos na propriedade pela porta da frente, com a atmosfera sem
um zilhão de pessoas completamente diferente do que eu tinha visto
antes. A beleza da casa poderia ser apreciada muito melhor desta forma.
Todas as janelas de vidro do chão ao teto permitiam que a luz
natural entrasse, criando um ambiente aconchegante. Em todos os
lugares havia uma espécie de vista ao redor do lago.
Rhett foi até a cozinha, colocando a pizza na bancada de pedra.
— Este lugar é muito bom.

9Hot Rods são carros geralmente das décadas de 1910,


1920 e 1930 modificados.
— Tem suas vantagens. – ele pegou alguns pratos e guardanapos
para nós, colocando-os em cima de uma das caixas e deixando a outra
para trás. Eu o segui pelas escadas e por um corredor aberto. Atrás de
83
uma das portas, vinha o som distinto de um chuveiro ligado.
— Quem mora aqui? – eu não me importava, apenas precisava me
concentrar em algo diferente da minha fome torturante e o meu
nervosismo.
— Alguns de nós. – Parando em uma porta de cedro, estendi a mão
e abri, já que suas mãos estavam ocupadas, e então o segui para dentro.
O quarto cheirava a sua colônia e a um aroma subjacente de pinho
sol. Contra a parede central havia uma cama enorme construída com
madeira grossa, a cama era uma mistura de tons vinho profundo e preto.
Havia uma mesa combinando à esquerda, um closet e uma tela plana
montada acima da lareira. A vista que ele tinha do lago era incrível,
posso ter ficado com um pouco de inveja.
— Fique à vontade. – ele me disse, colocando tudo aos pés da cama.
Tirei as minhas sandálias e subi na cama, caindo no que parecia ser uma
nuvem. Ele foi até o guarda-roupa e abriu as duas portas, revelando que
não era nada mais do que um frigobar. Um extremamente bem
abastecido.
— Achei que havia roupas aí.
— Não. Elas estariam no closet. – ele tirou dois copos de uma
prateleira e olhou para mim.
— Qual é o seu veneno?
— O que você me der.
— Justo. – ele preparou dois drinques e os
carregou com uma garrafa de água entre eles.
— Isto é para você.
— Obrigada. – eu aceitei a minha bebida e a água, colocando-as na 84
mesinha de cabeceira mais próxima.
Ele se posicionou ao meu lado, colocando a caixa de pizza entre
nós. Concordamos em assistir uma série da Netflix chamada Rectify e
comemos em silêncio durante os primeiros vinte minutos.
— Mickey não incomodou muito você ontem à noite, não é?
Balancei minha cabeça, limpando minha boca com um guardanapo.
— Mickey nunca incomoda ninguém. Por quê? Vocês são amigos?
Ele riu baixinho, mas não havia nenhum humor nisso. — Não sou
amigo de nenhum dos meus - por falta de um termo melhor, “clientes”.
Clientes? — Ah. – eu balancei a cabeça quando entendi. —
Maconha.
— Tudo começou com a maconha. Ele é um viciado, garotinha.
— O que? Sem chance. Mickey é...
— Um viciado em pílulas recreativas.
— Mas... ele é um atleta.
— Ele é tudo o que você e todo mundo sabem que ele é. –
respondeu ele com leviandade. — Ninguém é quem diz ser. Somos
todos mentirosos de uma forma ou de outra, cobrindo as nossas verdades
feias com mentiras bonitas.
Um implícito, até mesmo você permaneceu entre nós. Troquei meu
guardanapo pela minha bebida, quase suspirando quando o
gosto de gim atingiu minha língua.
— Entãooo, você é um traficante de drogas? –
Foi horrível que isso não me incomodou nem um
pouco? Foi tão simples para mim quanto ele anunciar que o céu estava
azul.
85
— Eu sou muitas coisas, mas a única que importa agora é que sou
seu e você está segura.
A última parte mexe comigo, mas eu não disse nada. Eu não tinha
certeza de como responder.
Nós eventualmente ficamos focados no programa que ele colocou, e
além de eu descobrir que meu ex precisava de uma intervenção, ousei
dizer que tive minha primeira noite normal no que pareceram anos.
A conversa aconteceu naturalmente, permanecendo na zona segura,
casual e não muito profundamente pessoal, mas ainda reveladora o
suficiente para saber pequenas coisas um sobre o outro. As coisas
estavam calmas, tanto que após o episódio dez da nossa série adormeci.
Jurei que o toque de um celular foi o que me despertou. Quando
finalmente abri os olhos, estava escuro lá fora e Rhett não estava no
quarto. Eu estava coberta com a manta de seu sofá de dois lugares, e a
caixa de pizza e os pratos haviam sumido.
Usando a palma da minha mão, esfreguei os meus olhos e me sentei.
Fiquei nada menos do que chocada por ter adormecido aqui.
Passei os meus dedos sobre meus lábios para ter certeza de que não
havia baba. Essa seria uma ótima maneira de aumentar minha vergonha.
Procurei meu celular ao redor, localizando-o na mesa de cabeceira.
Eu o peguei e verifiquei as poucas notificações que tinha. Alguns e-
mails e algumas mensagens de texto. Duas das garotas, outra de alguém
com quem eu não estava pronta para lidar e Mickey, o que
foi inesperado.
Respondi a três de quatro, observei que eram
oito horas e saí da cama, deixando com relutância
meu lugar quente. Encontrar o banheiro foi um risco. As duas portas do
outro lado do quarto estavam lado a lado. A última coisa que eu queria
era que Rhett voltasse e parecesse que eu estava bisbilhotando.
86
Felizmente, eu escolhi corretamente. O lugar era enorme, a maior
banheira de hidromassagem que eu tinha visto até agora centralizada no
cômodo com um chuveiro a poucos metros de distância.
Eu ignorei ambos e fui para a pia dupla, verificando meu reflexo.
Arrumei meu cabelo e, em seguida, lavei minha boca com água e um
pouco de enxaguatório bucal no armário.
Voltamos ao mesmo tempo. Eu vindo do banheiro e ele do corredor
- meio vestido. Eu paralisei, meus pés pararam de se mover e a mão
ainda estava no interruptor de luz que eu tinha acabado de desligar.
— A Bela Adormecida acordou. – brincou ele, fechando a porta do
quarto.
Eu não pude responder, ocupada olhando para a maravilhosa obra
de arte que era ele. O abajur em sua mesa de cabeceira lançava um
brilho de luz no quarto, fazendo-o parecer ainda melhor.
Todo o seu torso era um vale de picos sombreados e depressões. Eu
pensei que Mickey tinha o melhor corpo de todos, mas ele não tinha um
tanquinho. Ou uma grande tatuagem da deusa hindu Kali, completa com
presas e mostrando a língua dominando toda a sua frente.
Acima dela, indo para o centro de sua garganta estava uma flor de
lótus rosa pálida. Braços cobertos por várias imagens juntas, eu ficaria lá
a noite toda olhando suas pinturas no corpo se não fosse por ele
chamando o meu nome.
— Venha aqui, Nova. – ele ordenou como já tinha
feito antes. Suavemente, mas com um tom firme.
Eu fui até ele, parando a pouca distância. Ele segurou minhas mãos
e as colocou em seu peito. — Melhor?
87
Com um aceno de cabeça, sem prestar atenção ao seu sorriso
arrogante, eu explorei sem vergonha. Minhas palmas se moveram de
peitorais sólidos e sem pelos para o contorno de seu abdômen. Ele me
observou de perto, deixando-me senti-lo. Não que fosse o suficiente. Eu
queria - precisava - mais. Eu queria fazer o que eu fui trazida aqui. Ele
para me foder do jeito que eu merecia ser fodida.
Arrisquei um olhar para ele, mordendo meu lábio inferior antes de
decidir me mover primeiro.
Levantei-me um pouco, já que ele era mais alto do que eu, e dei um
beijo suave em seus lábios. Como se isso fosse tudo que ele esperava,
ele retribuiu. Uma mão veio ao centro das minhas costas, puxando-me
contra ele.
Nossas línguas se encontraram hesitantemente no início, separando-
se quando ele agarrou a bainha do meu vestido e puxou-o sobre a minha
cabeça, deixando-me com nada além de uma tanga amarela clara. O ar
frio fez meus mamilos enrijecerem, com arrepios surgindo ao longo da
minha pele. Ele me beijou novamente, desta vez a intensidade e a fome
combinando com a minha.
Com as mãos deslizando sob as minhas nádegas, ele me levantou
para que pudesse me carregar para a cama. Deitada com ele entre as
minhas pernas, olhando para mim como se eu fosse a sua última
refeição. Eu poderia ter entrado em combustão. Suas mãos firmes me
percorreram, até onde estava minha calcinha. Enfiando dois dedos
dentro, ele interrompeu nosso beijo e arrastou o tecido
rendado pelas minhas pernas, jogando-o de lado.
Ele colocou as palmas das mãos nos meus
joelhos e abriu minhas pernas ainda mais,
empurrando-as para formar um V. — Olhe para
você. – ele murmurou, com seus olhos em todos os lugares ao mesmo
tempo. Eu estava totalmente exposta entre minhas coxas latejantes e
molhadas. Inclinando-se, ele continuou a me tocar.
88
Passando as suas mãos, e às vezes sua língua, ao longo das minhas
coxas e abdômen inferior. Minha respiração ficou mais superficial e o
corpo aquecendo muitos graus. Tudo o que ele fez foi confiante e
seguro.
Eu me deleitei com isso, deixando-o fazer o que ele quisesse.
Beijando e dando mordidinhas na minha parte interna das coxas, ele fez
uma trilha direto para meus lábios. Ele passou por ela, lentamente,
exalando um hálito quente. Eu gemi, ganhando um sorriso dele. Com os
dedos separando meus lábios, ele olhou para o lugar cada vez mais liso a
cada segundo que passava. — Você me quer aqui? – ele perguntou,
traçando um círculo ao redor do meu clitóris. — Você quer minha língua
em sua boceta, Nova?
Sim. Claro que sim. Eu concordei.
Ele riu, um som baixo e deliciosamente malvado. Seu rosto abaixou,
mas ele não desceu ou tratou a tarefa como um disc jockey. Com os
lábios em torno do meu clitóris, ele chupou e girou, deslizando um dedo
dentro de mim, e depois outro.
Quando tentei fugir de prazer, Rhett riu de novo e me prendeu no
lugar, pegando seu ritmo, fodendo os dedos dentro e fora de mim um
pouco mais forte, alternando entre esfregar meu clitóris ou me foder com
a língua.
Com gemidos saindo do meu peito, eu agarrei os lençóis para me
manter ocupada. Um formigamento começou no meu
centro e começou a crescer. Quando ele colocou a
ponta da língua no feixe de nervos endurecido,
mexendo-o para frente e para trás, a sensação ficou
mais forte até irradiar por todo o meu corpo. Eu
gozei com minhas mãos no cabelo de Rhett e a boceta esfregando em
seu rosto.
89
Ele não parecia se importar, ainda me comendo, parando apenas
quando outro orgasmo percorreu pelo meu corpo.
— Acabei de encontrar minha nova refeição favorita. – ele recuou,
com a boca molhada do meu gozo e fios escuros de cabelo caindo em
sua testa.
Com minhas pernas ainda abertas e tremendo, eu o observei tirar a
calça jeans e a cueca preta por baixo. Sua ereção saltou, com a base
rodeada por um pouco de pelos pubianos.
Seu pau estava exatamente como eu esperava que fosse. Grosso.
Grande. Perfurado. Ok, o último eu não contava, mas certamente
chamou minha atenção. Ele subiu de volta na cama, ficando entre
minhas coxas e olhando para mim.
— Você é tão linda.
— Assim como você. – eu respirei, finalmente capaz de formar uma
frase coerente novamente. Eu estendi a mão e envolvi meus braços em
volta do seu pescoço.
Ele trouxe a cabeça de seu pau para minha entrada.
Inalei um pequeno suspiro, tentando me preparar, concentrando-me
em beijar seu rosto molhados com minha umidade. Um movimento de
seus quadris e ele estava me penetrando, esticando minha boceta. A
intrusão ardeu da melhor maneira possível. Uma vez que ele estava
totalmente dentro, eu estava totalmente preenchida, podia senti-lo
pulsando entre minhas paredes.
Ele moveu para frente uma vez e então parou. Um
gemido profundo e prazeroso ressoou de seu peito.
— Porra, sua boceta... você é incrível. – ele virou a
cabeça para que seus lábios pairassem bem acima dos meus. — Eu vou
te foder agora, e não vou parar até que você não possa dizer nada além
do meu nome.
90
Ele começou a se mover para valer, me fodendo com um vigor
calculado. Ele fodeu meu corpo forte e rápido. Minhas unhas cravaram
em suas costas e ele foi mais fundo. Com um gemido, praticamente um
soluço de prazer, ele me fodeu com mais força. Seu pau atingiu cada
ponto dentro da minha boceta enquanto me dividia ao meio.
— Goze para mim. – ele sussurrou em meu ouvido, penetrando tão
profundamente quanto podia. Meus músculos travaram quando um
orgasmo me percorreu, espalhando uma felicidade da minha cabeça até
onde meus dedos dos pés encolhiam no colchão.
Rhett não deu sinais de diminuir a velocidade, continuando a se
mover dentro e fora de mim. Seu nome saiu da minha boca como um
canto reverenciado até que eu não consegui mais falar. Logo, os únicos
sons no quarto eram o rangido da cama, o corpo suado batendo no corpo
suado e os gemidos que saíam continuamente da minha garganta.
Paramos em algum momento, depois da primeira vez que ele gozou
dentro de mim. Fiquei ali olhando para o teto, tentando recuperar o
fôlego, com mechas de cabelo grudadas na testa.
Quando finalmente consegui mover meu corpo, as mãos de Rhett
me prenderam no lugar, agarrando meus quadris.
— Eu não terminei com você ainda.
Ele me virou para que eu ficasse de quatro, enfiando o seu pau de
volta para dentro de mim.
91

Eu poderia contar em uma mão quantas vezes passei a noite com


uma mulher.
Nova foi a quarta.
E abraços nunca fez parte do acordo. Talvez porque aquelas garotas
sabiam quem eu era, elas não tinham ilusões. Mais além delas, no inicio,
me entregava a todas as vadias que, por si mesmas se colocavam aos
meus pés, atraídas a sutil aura de escuridão que emanava de mim.
Nenhuma delas jamais seria capaz de lidar com quem eu realmente
era. Aceitar que não foi uma atuação ou um jogo.
Elas se encolheriam de terror se soubessem quanto sangue manchou
minhas mãos. Ouvia os pensamentos fodidos girando constantemente
em minha cabeça. Vi o mundo como eu.
Eventualmente, me tornei um bastardo exigente.
Eu aceitei que passaria grande parte da minha vida
sozinho, mas mesmo o pior de nós quer alguém para chamar de nosso.
E então, veio Nova Morkav. A garota em meus braços não era nada 92
parecido com o meu tipo de habitual. Ela esteve perto da verdade ao se
referir a mim como um stalker. Eu estive a observando por um tempo
agora. Menos de vinte e quatro horas por dia, então não foi em um nível
assustador ou louco. Eu gostava de observá-la, isso se tornou uma
espécie de hobby.
Mesmo agora, eu estava memorizando as tatuagens em seus pulsos
e braços. Ela tinha algumas em outros lugares. A maioria era do tipo de
hena, exceto pelas borboletas em vários lugares.
Passei um dedo pela lateral do corpo dela e ela nem se mexeu.
Eu a tinha esgotado, ficando em sua boceta até que tudo isso me fez
gozar. A exaustão ardia por trás dos meus próprios olhos, mas eu estava
acostumado. Dormi aos poucos, não por horas.
Havia algumas coisas em que eu poderia estar trabalhando, coisas
que me ajudariam a dar o fora desta cidade problemática e voltar para
casa mais rápido, mas o meu braço estava sendo usado como um
travesseiro. Eu poderia fazer isso, quando o sol nascesse. Estar imóvel
me ajudou a pensar e ainda havia um problema que eu ainda não tinha
resolvido, Nova Morkav.
Jogando minhas cartas direito, ela continuaria a estar comigo por
sua própria vontade. Por enquanto, pelo menos. Eu sabia como isso iria
acabar eventualmente, no entanto. Mais cedo ou mais tarde, nós dois
teríamos que revelar nossos segredos escabrosos, e eu tinha que admitir,
estava ansioso para ouvir os dela.
93

Respirei profundamente, para dentro e para fora, flexionando meus


dedos da palma da minha mão.
Meu corpo sentiu todos os eventos da noite passada especificamente
minha boceta. Olhei entre minhas pernas, estremecendo com o inchaço.
Parecia um sanduíche gigante. Eu não me arrependi, no entanto. O sexo
valeu a pena. Rhett foi incrível. Ele não demorou muito para descobrir
exatamente onde e como me tocar.
Incapaz de obter mais, me limpei o mais delicadamente que pude e
me levantei.
Eu estava feliz por não estar usando jeans. De jeito nenhum esses
lábios iriam para dentro do jeans.
O reflexo no espelho estava corado, exausto, embora eu
tivesse dormido mais do que o normal. Depois que
minhas mãos foram lavadas e minha boca enxaguada
novamente, fui encontrar Rhett, penteando meu cabelo com o dedo e
verificando minhas notificações no caminho.
94
Eram dez para as dez, então sua casa estava ativa e todo o som
parecia vir de uma área principal - a cozinha. Segui as vozes e o cheiro
de comida. Eu nunca tinha feito essa coisa toda antes, mas Rhett não me
expulsou logo depois que terminamos, então achei que isso significava
que ele iria me levar para casa.
Entrei observando o local. O cara com o cabelo mais bonito que o
meu estava parado na frente da geladeira, vestindo um pijama de Uma
Família da Pesada e com uma caixa de suco de laranja nos lábios. Uma
ruiva que poderia competir com Jessica Rabbit sentou-se na bancada
para o café da manhã.
Ao lado dela estava a versão feminina de Rhett. O mesmo cabelo
escuro, só que muito mais comprido. Aqueles lindos olhos. Menos
tatuagens, porém, com apenas uma manga cobrindo todo o braço
esquerdo.
— Ah, ei! – ela deixou a colher atingir a lateral da tigela e se
levantou. — É tão bom conhecê-la. – Isso foi seguido por um abraço.
— Você também. – eu dei um tapinha nas costas dela sem jeito.
— Achei que a tivéssemos conhecido ontem à noite. – disse a ruiva.
Eu teria dito antes mesmo de ela falar, que ela não gostava de mim. Isso
significava que ela e Rhett tinham algum tipo de história, ou ela estava
amarga porque eu recebi o que ele não quis dar a ela.
Havia muito pau no mundo para ficar tão irritada com apenas um.
Então, novamente, depois de rodada após rodada com Rhett, eu
quase entendi.
— Ignore Evie, ela é uma vadia para todo mundo
com uma vagina além de mim, e isso só porque vou
afogar sua bunda no lago se ela me irritar. – A garota
deu um passo para trás, com o sorriso ainda em seu rosto estranhamente
bonito. — Eu sou a Angel, a propósito.
95
Eu ri da ironia.
— Eu sou Tripp. – O cara na geladeira anunciou, estendendo sua
pata do tamanho de um urso para eu apertar.
Isso tudo estava fora da minha zona de conforto, mas imediatamente
gostei dele, então peguei sua mão e apertei. — Prazer em conhecê-los,
vocês dois. – Ignorei propositalmente Evie. Eu não senti a necessidade
de ser legal com ela. Ela era muito insignificante na minha vida.
— Nós vamos ser melhores amigas, eu sinto isso. – disse Angel
entusiasmada.
Ah, não. Ela parecia legal pra caralho, então isso era péssimo, mas
eu e Rhett não éramos nada. A chegada de Emery e Callum me salvou
da estranheza que se aproximava. Eles entraram na cozinha de mãos
dadas, com ela rindo de algo que ele acabara de dizer.
Agora que eu sabia que ele e Rhett partiriam no final do verão, eu
queria afastá-la dele e proteger seu coração.
— Bom dia! – ela cumprimentou a todos docemente enquanto
Callum os ignorava, dando-me um: — E aí?
— Tenho que chegar em casa e ficar pronta para trabalhar. Quer ir
comigo? – Em perguntou.
Eu poderia ter beijado ela naquele momento. Tudo que eu queria era
um banho de assento, uma pílula do dia seguinte e, em seguida, uma
longa soneca. — Sim. – eu respondi. — Você sabe onde Rhett
está? – perguntei a Angel, que já havia retornado ao seu
cereal.
— Ele está lá fora!
— Porra, Angel. Você precisava gritar? – Callum se encolheu.
— Desculpa. Ele está no convés. 96
— Obrigada. – eu disse, segurando uma risada já que ela parecia
envergonhada.
Eu disse adeus a todos e concordei em encontrar Em no seu carro
em cinco minutos.
Encontrar a doca foi fácil, pois havia um caminho que conduzia
direto a ela. A caminhada, entretanto, foi um inferno.
Rhett estava de frente para a água, virando-se para me encarar
quando cheguei na metade do caminho. Ele estava vestindo roupas
novas e com seu cabelo molhado do banho.
— Em vai me dar uma carona para casa.
Ele me encontrou o resto do caminho, colocando as mãos em meus
quadris. Tive que inclinar minha cabeça um pouco para trás para poder
ver seu rosto.
— Você não precisa ir.
— Na verdade eu preciso. Preciso tomar um banho de assento e, em
seguida, encontrar uma pílula do dia seguinte.
— Eu vejo você mais tarde, então.
Nenhuma menção à nossa falta de proteção. Só mais tarde. Eu já
estava ansiosa por isso. Teria esse homem lindo por mais algumas
semanas e queria aproveitá-las.
— Acho que você vai. – eu respondi.
Ele beijou meus lábios, suavemente, envolvendo
seus braços em volta de mim e pressionando outro
no topo da minha cabeça.
Quando finalmente me virei para ir embora, soube que ele me
observou durante todo o caminho até o carro.
97

Eu ia perguntar a Em quando ela entrasse no carro, mas pude sentir


sua tontura como se fosse minha. Suspirando, me mexi e fiz sinal para
que ela falasse.
— O que? – ela perguntou, fingindo ser inocente.
— Dance conforme a música. Vá em frente e conte tudo, mas antes
de dirigir por toda a cidade, preciso de uma pílula do dia seguinte.
— Ah. – Seus lábios franziram.
— Isso é um tipo de surpresa ou desapontamento?
— Ouvi você ontem à noite, então não há nada para se surpreender.
E não estou desapontada, estou orgulhosa. É só que... eu preciso de uma
para. Deixei meu anticoncepcional na casa do Tyler.
Essa foi a primeira vez que a ouvi dizer o nome dele no que pareceu
uma eternidade. — Ah.
— Olha. Está tudo bem. Estou feliz por não ser a única prostituta.
Eu tenho você.
— Não somos prostitutas. – eu ri.
— Talvez não, mas eu ainda deveria ter pedido
para ver os papéis de Callum. Você precisa pedir a
Rhett também. E anticoncepcionais, precisamos marcar uma consulta
para você.
98
— Você precisa se acalmar. O que você quer dizer com papéis?
Ela tirou os olhos da estrada por tempo suficiente para me olhar
como se eu fosse louca. — Papéis. Você sabe o tipo de cara que carrega
com ele e diz que está bem.
Emery era tão ingênua, abençoado seja o seu coração. — Eles não
teriam algo parecido aleatoriamente em seus porta-luvas ou carteiras e,
se tivessem, eu ficaria mais preocupada com o porquê.
Depois de um minuto, ela começou a rir. — Ignore tudo o que
acabei de dizer, exceto que estou orgulhosa de você.
— Por fazer sexo?
— Cale-se. Não. Por dar uma chance a Rhett.
Não achei que ele me deixaria dizer não, mas isso não era tudo que
ela precisava saber. — É só até eles irem embora. Não é nada sério.
— Poderia ser.
— Você perdeu a parte em que ele está indo embora? Por que eu
faria isso comigo mesma?
— Quem disse que você teria a opção de não fazer isso?
— Ah...
Ela me interrompeu rapidamente. — A maioria das pessoas não
planeja amar alguém. Isso simplesmente acontece.
Olhei de lado para ela. Ela sabia como eu me sentia
sobre aquela palavra ridícula e tudo o que ela
representava. — Você está falando sobre você e
Callum?
Ela franziu os lábios, um sinal de que estava ficando irritada. —
Apenas saiba que pode acontecer, às vezes extremamente rápido. Eu sei
que ele está indo embora.
99
— E eu sei que Annika vai perder a cabeça com tudo isso, mas não
me importo, porque não estamos fazendo nada de errado.
Não tinha pensado em Nika desde que respondi à mensagem dela
depois que acordei. Tal como aconteceu com Evie, eu estava seguindo o
conselho de Rhett. Se alguém não gostava de nós juntos, isso não era
problema nosso.
— Você tem razão. – eu não iria elaborar sobre o que eu estava
concordando, mas sabia que ela precisava ouvir algum tipo de garantia.
Ela também me fez pensar. Sobre tudo que está acontecendo
naquele momento e sobre o Rhett. Eu sabia que nada do que estávamos
fazendo era errado. A única pessoa que poderia se machucar era
potencialmente eu. Não íamos nos casar ou fugir juntos, estávamos
curtindo a companhia um do outro. É isso.
Isso tinha que ser bom o suficiente porque a minha vida era uma
confusão, eu não sabia como me envolver totalmente em um
relacionamento.
Ainda tinha que descobrir como salvar o negócio da minha família
e, potencialmente, me manter viva. Com a esposa de Martin sendo pega
no fogo cruzado, isso significava que Em não estava segura também.
Todas as coisas que ela não tinha ideia estavam acontecendo.
Inclinei minha cabeça contra a janela, observando a cidade passar.
Teria sido melhor me distanciar dele. Ele entrou na minha vida
em um momento terrível e eu não queria que ele se
machucasse. Por outro lado, senti como se precisasse
dele agora.
Rhett era como um arco-íris, surgindo em um mar infinito de
nuvens de tempestade, trazendo uma variedade de cores de volta ao meu
mundo. Quando ele partisse, tudo voltaria a um cinza opaco e todas as
100
minhas borboletas morreriam.
Ele foi a primeira coisa que me fez sentir bem, além de uma garrafa
vazia. Eu estava com medo de chegar perto dele e com medo de deixá-lo
escapar. A alternativa não era uma opção. Ele seria o meu maior
arrependimento e o meu coração se partirá.
101

Eu podia ouvir os rumores já começando, precisamente porque eu


entrei e fiz Em esperar no carro.
Fofocas sobre isso certamente se espalhariam e eu preferia que fosse
meu nome inserido nas fábulas ridículas que as pessoas inventariam do
que o dela. Eu estava na fila do caixa da farmácia, duas caixas roxas e
brancas em uma mão, e uma barra de chocolate Hershey na outra.
A caixa era uma garota com quem eu fiz o ensino médio. Ela olhou
meus itens com um sorriso apertado.
— Acontece com as melhores delas. – disse ela, examinando a
caixa. Eu não tinha certeza se isso era um insulto ou uma garantia.
Paguei e saí da farmácia sem dizer uma palavra, balançando a
sacola em uma das mãos. Avistei Mickey saindo da cafeteria algumas
portas ao lado. Lembrar do que Rhett disse sobre ele me fez
vê-lo sob uma perspectiva diferente. Sempre pensei nele
como perfeito, mas a perfeição não era nada mais do
que uma ilusão.
— Ei! – ele gritou em saudação quando me notou.
— Você está indo para o escritório da sua mãe? – eu balancei a 102
cabeça para a grande caixa de muffins embalada em sua mão.
— Sim. A propósito, eu queria te enviar uma mensagem de volta. –
ele olhou para a sacola na minha mão, provavelmente tentando ver o que
havia dentro. Ele saberia em breve; Eu tinha certeza disso.
— Sobre Sullivan, eu sei que você estava com ele ontem... – ele
deve ter visto algo em minha expressão, porque ele parou e mudou de
rota. — Eu não estou julgando. Você é uma boa menina, ótima na
verdade. Eu não quero ver você se machucar. Ele não é…
Eu me virei para olhar na direção que ele estava olhando, me
perguntando o que chamou sua atenção. Não demorou muito para eu
detectar a distração. Uma caminhonete preta estava se movendo pelo
cruzamento a passo de caracol. Os vidros escuros me impediam de ver o
interior, mas eu tinha uma boa ideia de quem estava atrás do volante.
— Ele não é o quê? – eu pedi a Mickey que continuasse.
Seus olhos azuis viraram de volta para os meus e depois para a
caminhonete. — Nada. Você é esperta. Basta ter cuidado com ele.
E aí estava. Estava escrito em todo o seu corpo o medo. Ele estava
com medo de Rhett ou Callum, mais do que provavelmente ambos. Mas
por quê?
— Eu vou. Eu tenho Em esperando no carro.
— Certo. Você está bem? A casa é boa? Você tem uma maneira de
conseguir comida?
— Está tudo bem nesse departamento. – Sua
preocupação era doce, mas não necessária. Meu pai
me deixou o suficiente para sobreviver por enquanto.
Eu teria algum tipo de plano no momento em que
meu fluxo de caixa acabasse. Isso ajudou na nossa casa e a loja foi paga.
— Tudo bem, vou enviar uma mensagem para você em alguns 103
minutos.
Eu disse tchau a ele e depois voltei para o carro. Pensei em dizer a
Em o que tinha acontecido, mas então isso significaria contar a ela sobre
o vício de Mickey. Eu mantive minha boca fechada, adicionando outro
segredo ao meu cofre.

Dizem que as falhas nos tornam humanos, nossas fraquezas podem


nos tornar fortes. Pegue uma tragédia e faça algo bonito com ela, como
eu fiz com minha arte.
Adicionei mais alguns detalhes à pintura em que estive trabalhando
nos últimos dias. O cenário era uma floresta de árvores mortas e galhos
quebrados, eles representavam o sentimento de medo e desespero que
meu coelho sentiu ao tentar fugir.
Marcas de mordidas cravaram em sua espinha, transformando o
pêlo branco em vermelho. Ao longe estava um campo aberto, acima dele
um céu tempestuoso e iluminado por um raio.
Foi uma ilusão de esperança. O coelho nunca iria alcançar isso, pois
o lobo veio correndo.
Ele era um novo acréscimo, ainda não terminado.
Precisando de uma pausa, apertei o botão de pausa
em meus fones de ouvido sem fio e os coloquei no
meu banquinho.
Peguei o meu celular de sua base de carregamento no meu caminho 104
para o andar de baixo. Uma mensagem de Em, outra de Annika se
convidando. Três de Rhett junto com duas chamadas perdidas, com
quinze minutos de intervalo.
Apertei em enviar no número dele e coloquei a chamada no viva-
voz para que eu pudesse me servir de uma bom coquetel. Ele tocou duas
vezes antes de ele me enviar para o correio de voz. Esperei cinco
minutos, me perguntando se ele ligaria de volta antes de eu voltar para o
meu estúdio.
Uma batida na porta da frente me fez abandonar o celular e meu
copo.
A silhueta que eu podia ver através da minha janela manchada era
grande e masculina.
— Quem é?
Um áspero, "eu", veio em resposta.
Destranquei todas as três fechaduras e abri a porta, deixando espaço
para ele entrar.
— Eu só tentei ligar de volta. – eu ouvi a porta se fechar atrás de
mim e então o som de suas botas pesadas me seguindo de volta para a
cozinha.
— Você estava pintando. – Outra observação. Pelo menos esta era
mais óbvia, já que eu disse a ele na outra noite que eu pintava, e meus
dedos estavam manchados com tinta de acrílico preta.
— Sim. É por isso que não atendi. Perco a noção do
tempo quando estou realmente interessada no que
estou fazendo.
— Eu estou vendo isso. Eu vi você com o Mickey hoje também.
Seu tom não me agradou. Eu me virei para encará-lo, quase 105
desejando não ter feito isso. Seus olhos eram rígidos, frios e duros como
duas peças de aço sólido.
— Eu também vi você.
— Você viu?
— Sim. Você tem um problema com isso?
Ele se aproximou um pouco mais, parando fora de alcance. — O
Mickey não é seu ex?
— Por que você está me perguntando algo que já sabe a resposta? –
eu cruzei meus braços sobre o peito e me mexi, me perguntando para
onde essa conversa estava indo. Isso era novo para mim, um caminho
não percorrido.
— Você estava tentando me deixar com ciúmes?
Eu ri em descrença. — Eu não sou esse tipo de pessoa. Se você está
com ciúmes de...
Ele me deu uma risadinha, balançando a cabeça lentamente de um
lado para o outro.
— Eu não fico com ciúmes. Eu não perco meu tempo nem me repito
também. Então, acho que precisamos estabelecer algumas coisas.
— Ou você pode simplesmente ir embora. – sugeri. — Tenho
certeza de que há outra garota com quem você pode passar um tempo
nas próximas semanas. – As palavras pareceram lixa na minha
língua. Eu estava tentando ser uma pessoa melhor e
oferecer uma trégua. Quando a tensão entre nós se
tornou tangível, eu sabia que tinha falhado.
Eu dei um pequeno passo para trás e ele avançou. O olhar em seus
olhos me desafiou a correr, foi quando eu soube. Eu era aquele coelho
branco sangrando, e ele era o lobo.
106
— Quando eu disse que terminaria com você em apenas algumas
semanas? – ele questionou, agora a poucos centímetros de distância.
— Você está indo embora.
— O que isso tem a ver conosco? Eu poderia ir para a porra da lua e
você ainda seria minha.
— Você é insano.
— Eu sei.
Fui me afastar, encontrando-me pressionado contra a parede antes
que pudesse piscar, enjaulada de ambos os lados.
— Eu sou ainda mais instável quando se trata de você.
Eu não disse nada. Meu cérebro lutou para encontrar uma resposta e
dar sentido a isso. Era como se ele admitisse que era louco sabendo que
não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Eu não me importava
que ele estivesse louco.
Sinceramente, gostei um pouco demais. Mas isso não poderia ser
eu. Eu não poderia ser a garota que aceitava seus defeitos quando eu
tinha tantos meus. Meu Deus, seríamos um desastre juntos.
Eu não sabia como dizer tudo isso a ele sem revelar muito, então
simplesmente disse: — Não posso.
— É tarde demais para você decidir o contrário. – ele me
beijou então, com sua boca pressionando na minha, com
força.
Coloquei minhas mãos ao seu peito e empurrei.
O resultado foi o mesmo que eu tentando dar vida a
uma parede de tijolos. Incapaz de fazê-lo afastá-lo, eu fiz a coisa mais
natural que pude pensar.
107
Mordi seu lábio inferior até que um gosto metálico inundou minha
boca. Ele recuou e levou a mão à boca, limpando um traço de sangue.
— É assim que quer fazer? – ele murmurou, olhando para mim.
Meu coração batia forte no peito, mas não de medo. Ele agarrou
meu queixo e me beijou novamente, apertando até que eu lhe concedesse
acesso.
Sua outra mão moveu rápido. Eu ouvi o tilintar de seu cinto e o som
de um zíper. Ele empurrou meu short de pijama de seda para baixo e me
tirou dele.
— Rhett. – eu tentei impedi-lo, empurrando seus braços.
Ele agarrou a parte de trás das minhas pernas e me içou, forçando-
me a agarrar seus ombros ou arriscar cair no chão.
Não houve tempo para eu processar o que estava acontecendo antes
que seu pau estivesse dentro de mim e eu o estivesse agarrando. A dor
reverberou em meu núcleo, a intrusão áspera trazendo lágrimas aos
meus olhos. Ele me fodeu contra a parede até que a dor começou a se
misturar com o prazer e a minha boceta ficando mais úmida a cada
estocada.
— Rhett. – eu sussurrei o seu nome, agarrando-me a ele como se
minha vida dependesse disso.
Nossas bocas se encontraram em uma fusão de paixão carnal e
distorcida.
Fomos da cozinha para a sala e as nossas camisas
desapareceram. Metade do meu corpo estava no sofá,
a outra metade estava bem aberta, minhas duas coxas
seguras em um aperto doloroso enquanto ele me
fodia. Lentamente apenas por um momento para estender a mão e
agarrar um pouco de meu cabelo e forçar meu queixo para baixo.
108
— Olha. – ele comandou, retomando o seu ritmo extenuante. Eu
encarei seu pau, observando-o deslizar para dentro e para fora de mim,
vendo como estava molhado, sentindo suas bolas baterem contra a polpa
da minha bunda.
— De quem é essa boceta? – Cada palavra foi acompanhada por
uma estocada profunda, atingindo meu ponto G na medida certa.
— Sua. – eu gemi, segurando seus bíceps.
— De quem é o pau dentro de você?
Uma batida veio na minha porta da frente, ele continuou a me foder.
— Rhett. – eu respirei, incapaz de me mover.
— Responda-me. – ele rosnou como um animal. — De quem é o
pau que está dentro de você.
— Seu. – eu murmurei, e então mordi meu lábio. Eu iria gozar; ele
estava me empurrando cada vez mais perto daquela cobiçada queda
livre.
— Você é de quem? – ele murmurou, cravando os seus dedos em
minha pele.
— Sua! – ele cambaleou e interrompeu o meu grito, encontrando a
minha boca. Minha boceta pulsou, eu apertei em torno dele, arqueando
para fora do sofá enquanto gozava cada vez mais, mais do que eu já tive
em minha vida.
Ele chegou ao fundo, me fodendo sem moderação
até que ele encontrou seu próprio orgasmo, esvaziando
seu pau dentro de mim. Eu ainda estava flutuando em algum lugar da
sexta dimensão quando seu celular tocou.
109
Ele se afastou então, arrumando o seu cabelo. Com a mesma
aparência de quando entrou, ele me ajudou a levantar.
— Eu tenho que ir. – ele afirmou casualmente quando seu celular
começou a tocar pela segunda vez.
— Não. – eu agarrei seu braço, cravando minhas unhas nele.
— Nova. – Sua voz continha uma advertência, que me recusei a dar
ouvidos.
— Você não pode simplesmente sair. – A enxurrada de emoções
percorrendo meu peito fez minha voz falhar. Eu não sabia o que diabos
havia de errado comigo, ou como ele poderia me fazer esquecer quem eu
fingia ser em questão de dias, mas ele tinha feito isso. Eu não estava
pronta para isso, nada disso, mas aqui estávamos.
— Eu sinto muito. – ele deu um beijo na minha testa e se afastou,
deixando-me com sua pele sob minhas unhas e escorrendo pelas minhas
pernas.
110

Eu não queria deixá-la assim.


Ela merecia mais, mas até que eu terminasse em Legacy Falls, eu
não poderia lhe dar muito do que eu já era.
Fecho a porta da frente atrás de mim, chamando a atenção de
Annika. Ela estava a meio caminho do carro e se virou de volta. Seus
saltos subiram a garagem à velocidade da luz. Eu a ignorei quase
completamente, não estou com paciência para aturar ela.
— O que você quer com a Nova? – ela perguntou quando eu passei
por ela, como se ela se importasse.
— O que acontece entre mim e Nova, não é da sua conta.
— É quando eu sei que você não é quem você está fingindo ser. –
ela falou atrás de mim.
Eu estava totalmente controlado para pegar esta
vadia e me incriminar, dando cabo dela e deixando-a
saber quem realmente tinha a vantagem...
Eu me virei e caminhei os poucos passos para onde ela estava de pé,
agarrando a garganta dela. Não havia razão para eu fingir que era um
cara decente, não com ela. Eu já tinha conseguido o que era meu, era
111
para isso que ela foi boa. Eu não apertei, não querendo deixar uma
marca nela que Nova podia ver. A ameaça foi palpável sem ela.
— Você também não é quem diz ser. Então, por que não fazemos
isso? Você conta as suas verdades e eu vou contar as minhas?
— Como você acha que a Nova vai reagir quando ela descobrir que
você é aquela que estava fodendo com o pai dela?
Ela engoliu, com os olhos castanhos se arregalando de medo. —
Não? – eu perguntei suavemente.
Uma ligeira sacudida de sua cabeça.
— Sinto muito, não consigo te ouvir.
— Não, ela não pode saber. Você tem alguma ideia do que faria
comigo?
Essa foi uma resposta curiosa. Eu a soltei, certificando-se de que ela
viu meu olhar de desgosto antes de me afastar. Mal sabia ela que eu
expus todas as verdades, a dela estaria entre elas, e o que aconteceu com
ela depois. Bem, isso não era meu problema.
Apertei no botão para desbloquear no meu chaveiro, eu abri a porta
do meu carro e dei-lhe meu sorriso de marca registrada antes de entrar.
Foram todos os quatro desta vez.
Três de nós observamos a casa em estilo Toscana da expedição que 112
Tripp tinha feito no quintal de alguém. A poucos metros de distância
Evie fingiu ser uma corredora, com uma peruca marrom cobrindo seu
cabelo vermelho.
— Quatro minutos. – afirmou Angel, apontando o relógio.
— Vá. – eu disse a Tripp.
Ele puxou a máscara e saiu da caminhonete, logo atrás dela.
Angel subiu no banco da frente para tomar o seu lugar.
Ela ficaria de vigia e como piloto de fuga. O Callum subiu e
posicionou-se junto à porta dos fundos.
— Lá vai ele. – afirmou.
Bem na hora Sra. Parker veio passear em sua garagem sem uma
preocupação no mundo. Assim que ela chegou a sua caixa de correio,
Evie correu e parou, envolvendo-a em uma conversa.
Tripp veio rápido.
Quando a mulher finalmente o notou se aproximando, ele estava em
cima dela. Com sua mão sobre a boca dela para abafar qualquer grito.
Dentro de dois minutos, ele a arrastou de volta para a garagem, com ele
e a Evie andando para a porta da frente de sua casa como se vivessem lá.
Esperei alguns minutos e verifiquei nosso entorno. Nenhum vizinho
foi perturbado. Depois de sair da caminhonete, Callum os seguiu.
Nós nos apressamos para a garagem e entramos na
casa do Parker, assim como o Tripp e a Evie tinham,
fechando a porta atrás de nós.
Uma planta dentro da entrada havia sido derrubada, deixando uma
pilha de terra e folhas na madeira lustrada. Nós fomos diretamente para
a cozinha que encontramos o Sr. Parker e sua esposa já de joelhos,
113
dispostos a fazer qualquer coisa para se manterem vivos.
— Verifiquem lá em cima. – eu disse a Tripp.
Ele assentiu e passou por mim. Deixando Callum, Evie e eu
lidarmos com a parte divertida.
— Nós interrompemos o jantar? – perguntei, observando a cozinha.
Havia uma panela de água fervendo no fogão, e uma lata de molho de
espaguete ao lado dele.
— Por favor, pegue o que quiser. Somente...
— Não machuque sua maldita família. Já ouvimos essa lenga-lenga
muitas vezes não precisa desperdiçar o fôlego. – Callum continuou.
— Tudo o que realmente queremos é um pendrive e iremos embora.
Soube que Martin às vezes compartilha com você.
A expressão em seu rosto confirmou tudo o que eu precisava saber.
Ele sabia exatamente sobre o que eu estava me referindo. Meu pai nos
disse muito. Ele pode ter sido o único a fazer uma visita a Martin antes
que eu pudesse.
— Não está aqui. – ele afirmou com a voz trêmula.
Eu realmente perdi a paciência com ele, então.
Procurei na cozinha por luvas de forno, encontrando duas com
temas de galo perto da pia. Eu tirei a panela de água fervendo e levei
para onde a esposa de Lance estava ajoelhada.
Callum encostou sua glock10 nele e a Evie se aproximou da esposa.
— O pendrive. 114
Ele balançou a cabeça e começou a implorar. Eu soltei um suspiro e
inclinei a panela.
Água quente atravessa o ar, caindo diretamente em cima da cabeça
de sua esposa. Seu grito foi interrompido quando Evie a derrubou,
batendo a coronha de sua arma em um ponto de pressão. Ela caiu para
frente, com seu couro cabeludo em um vermelho feio por ser queimado,
cabelo escuro molhado e com vapor.
— Sabe o quanto doloroso é ter o cérebro fervido? – Callum
perguntou. — Onde está o pendrive?
— Eu juro que não o tenho! – Lance gritou, agitando as mãos para
dar ênfase. — Martin o tem. Juro por Deus que ele o tem! – Cuspe voou
de sua boca, deixando uma trilha de baba no queixo.
— Hum. Rapazes! – Tripp chamou do andar de cima.
Os olhos de Lance se arregalaram e as narinas dilatadas. Peguei uma
faca de açougueiro no suporte e dei um olhar para Callum. Ele sorriu
sadicamente e abaixou sua arma.
— Por favor. Minha famí...
Com uma faca de bife nervurada alojada no lado de sua garganta,
ele engasgou.
Callum envolveu a sua mão com luva ao redor do cabo vermelho
brilhante e puxou-a, enfiando de novo um centímetro mais alto, indo
mais fundo, movendo a lâmina para trás como se estivesse

10 Glock: é uma pistola semiautomática.


realmente cortando um pedaço de carne rara. Sangue jorrou, manchando
a camisa azul claro que o homem vestia e no chão.
115
Despejei a água restante na cabeça da esposa e depois deixei cair a
panela, observando-a saltar com um pequeno estridente, caindo de lado
com um barulho e pousando na crescente piscina de sangue do marido.
— Verifiquem aqui embaixo. – eu disse a Evie e Callum.
Eu saí da cozinha e fui em direção às escadas, passando por várias
fotos da família pendurada na parede. No topo, eu podia ouvir gritos
abafados vindos do quarto no final do corredor. Acabou por ser um
banheiro. Tripp estava encharcado, segurando uma garota lutando ainda
coberta de espuma de seu banho de espuma.
Um celular e fones de ouvido flutuavam na água indicando que ela
não tinha ouvido nada quando chegamos.
— Melody Parker. – eu disse, lembrando dela de quando cheguei
pela primeira vez na cidade. Ela era a garota do Mickey. Aquela que ele
estava tentando usar para superar a minha. Ela era uma coisa linda se
você gostasse de loiras sem feições de coruja.
— Quer que eu a afogue? – Tripp perguntou.
Ela fez um som, contorcendo seu corpo nu como de uma cobra
contra sua frente. Eu debati como eu a usaria, um plano surgiu quanto
mais eu pensava sobre isso, aquele que tirava a pressão de um futuro
esforço.
— Não. Dê cabo dela e leve-a até a garagem. Tenho algo que
podemos usá-la.
— Farei isso.
Eu os deixei, indo de quarto a quarto em busca
deste maldito pendrive.
Cuidadosamente destruí todo o andar superior inteiro, derrubando
todas as fotos da parede no meu caminho de volta para baixo.
116
Esta era a segunda casa. Isso só deixou mais uma para procurar.
Felizmente desta vez, eu estava fodendo a garota que morava lá.
117

Meu tempo aqui estava diminuindo mais rápido do que eu esperava.


Assim que eu amarrasse algumas pontas soltas, estaria a caminho de
casa, me adaptando a principal mudança que isso iria trazer.
Eu fui até o convés, colocando minha mochila no meu ombro.
— Você está saindo? – Tripp perguntou por trás da grelha.
— Sim, volto para o que conversamos. Onde você a colocou?
— Em um lugar horrível que nunca encontrarão quando perceberem
que ela desapareceu.
— Ótimo.
Olhei para Callum. Sua atenção estava focada na água. Eu sabia que
ele tinha seus próprios problemas. Não havia muito que
não compartilhássemos um com o outro, então eu
perguntei.
— Você está bem?
— Claro. – ele respondeu, virando-se para me encarar.
— Eu estava apenas pensando, mais cedo você disse que a Annika 118
seria um problema. O que você quer fazer com ela?
— O que quero fazer é jogar a vadiazinha nas cascatas, mas isso não
é exatamente sutil, é?
Callum riu e passou a mão pelo cabelo. — Não, na verdade não. Eu
digo para deixá-la se enforcar. Ela tem corda suficiente para fazer isso.
— Então vamos esperar e ver como isso vai acabar. – Nós fomos
para cima e me separei, pegando meu Porsche e deixando o Challenger
para trás.
O motor era tão silencioso quanto um sonho comparado com ele,
então eu não tinha que me preocupar em perturbar o bairro, e a Emery
estaria aquecendo a cama de Callum.
Fiz o trajeto pela cidade em tempo recorde, estacionando na calçada
de Nova exatamente às 02h52. Todas as luzes da casa dela estavam
apagadas e ambos os carros na garagem. Ela estava ignorando minhas
mensagens de textos desde que eu a deixei nua e recentemente fodida.
Acho que precisávamos rever mais algumas coisas, eu não suportava ser
ignorado.
Entrei em sua casa da mesma maneira que entrei de dia quando eu a
encontrei, passando por uma porta que levava à cozinha. O lugar estava
imaculado se você não contasse as três garrafas vazias de vodka na lata
de lixo. Coloquei a minha mochila na bancada brilhante e tirei o que eu
precisava.
Comecei no porão e subi até o primeiro andar.
Examinei cada canto e fenda. Não encontrei nada,
então segui em frente.
No andar de cima estava ainda mais limpo. O quarto de Emery
estava vazio. Um banheiro estava ao lado de um armário. Outro quarto
no final do corredor parecia não ter sido tocado há algum tempo. Ele
119
tinha que ser o quarto dos pais dela. Eu entrei, observando que ela não
tentou desmontá-lo. Havia roupas ainda penduradas no armário; O
banheiro ainda tinha um cesto parcialmente cheio de roupas sujas.
De um lado da cama havia uma variedade de pílulas, li o nome de
cada uma. Algumas reconheci e algumas não. Sra. Morkav claramente
tinha uma variedade de problemas. Coloquei tudo de volta como
encontrei e deixei aquele quarto para trás, não havia nada de importante
lá também.
Além do quarto da Nova havia apenas um lugar para verificar. Eu
abri a porta e depois de ouvir para ter certeza de que ela não tinha se
mexido, eu entrei.
Várias pinturas estavam penduradas nas paredes, mais algumas
foram empilhadas. Todas elas eram mórbidas e macabras. Nem mesmo
uma retratou o que uma garota como Nova deveria ter pintado.
Todos nesta cidade a descrevem como tímida. Introvertida e doce.
Nenhuma dessas qualidades combinavam com o que eu estava vendo
neste quarto ou da Nova que conheci. Eu já sabia que era tudo besteira
antes de dizermos uma palavra um ao outro, mas minha pilha crescente
de provas não era nada para zombar.
Quando você era um monstro, alguém que fez coisas abomináveis,
era fácil reconhecer a mesma escuridão em outras pessoas. Minha garota
definitivamente a tinha.
Uma pintura chamou minha atenção. Estava em um
cavalete, então percebi que tinha que ser a mais recente.
Um coelho ferido fugindo de um lobo. Seus olhos de
cor prata olhavam para mim, com tons de preto e
azul misturado em seus centros. O lobo era eu.
Eu não sabia o que fazer sobre isso. Era precisa? 120
Predador e presa.
Caçador e caça.
Eu e Nova.
Sim, eu diria que era bem no ponto.
Deixei o quarto depois disso, deixando tudo do jeito que achei.
A porta do quarto dela estava parcialmente aberta, o que me
permitiu entrar sem acordá-la. Ela estava deitada no meio de um
cobertor de cor lavanda escura, vestindo uma camiseta larga dos Lakers
e nada embaixo.
Sem surpresa, um apanhador de sonhos em forma de borboleta
estava pendurado acima de uma mesa totalmente branca. Eu a observei
dormir por um minuto, como na noite anterior. Poderia olhar para ela
por horas a fio, e quanto mais olhava para ela, mais forte minha
convicção crescia em tirá-la daqui.
Coloquei a minha mochila no chão, certificando-se de que fez um
som.
Seus dois olhos foram abertos lentamente. Ela piscou, se sentando
quando o seu cérebro registrou que outra pessoa estava no quarto.
— Sou eu. – eu disse, pressionando a mão sobre a sua boca para
abafar seu grito.
Seu medo se transformou para raiva diante dos meus
olhos. Ela empurrou meu braço para baixo, liberando
seus lábios perfeitos.
— O que diabos está fazendo na minha casa?
— Eu vim para te ver. – eu tirei minhas botas e tirei minha jaqueta
de couro.
121
— Mais cedo não foi suficiente.
Eu puxei minha camisa sobre a minha cabeça e, em seguida, sentei
ao pé da cama dela. — Não é para isso que estou aqui. Eu queria estar
com você.
Ela se levantou para que as costas dela fossem pressionadas contra a
cabeceira da cama, cruzando as pernas antes que eu pudesse ver demais.
— Você apenas... me deixou. – A suavidade em seu tom me atingiu
como mais cedo, quando ela me disse para não ir.
— Venha aqui. – eu inclinei para trás e estiquei a minha mão. —
Nova.
Isso fez com que ela obedecesse. Ela se arrastou pela cama queen-
size até o final, onde eu estava sentado. Envolvi o meu braço ao redor
dela, colocando suas pernas sobre a minha para que ela então ficasse de
lado.
Esta não era a minha área de especialização; Eu não conforto as
mulheres que eu fodia. Nunca me importei. Com Nova, eu precisava que
ela se sentisse segura, sabia que ela precisava disso. — Muitas coisas
são complicadas agora. Há certas coisas que devo fazer e em momentos
específicos. Não queria deixar você mais do que o necessário,
especialmente assim. Eu prometo que vou te contar tudo, um dia. Por
agora é assim que tem que ser.
— Ok. – ela disse depois de um minuto, colocando a cabeça no meu
ombro.
— Isso é tudo que você quer dizer?
— Eu ainda estou brava com você, mas você disse que me diria,
apenas não agora. Eu posso viver com isso. Eu sei o que é complicado,
Rhett.
122
Não havia nenhum interrogatório ou exigência para saber por que a
porra do meu celular tocava muito. Eu sabia que ela tinha um milhão de
perguntas, mas não ouvi nenhuma. Nós nos sentamos lá em silêncio,
sem desconforto. Depois de mais um minuto ou mais ela bocejou e se
afastou, subindo pela cama.
— Venha deitar.
Eu não precisava que me dissesse duas vezes, eu estava no meu
limite, muito exausto de dias sem dormir. Eu tirei meu jeans e me deitei
ao lado dela, deixando um espaço para que ela pudesse se encolher em
mim. Foi a coisa mais civilizada que eu já fiz. Ela colocou a cabeça no
meu peito, traçando o contorno da minha tatuagem da Kali.
— Rhett?
— Hum?
— Você pode me foder, por favor?
Não foram muitas vezes que me surpreendi, depois de mais cedo
esta foi a última coisa que eu esperava que saísse de sua boca. Mas tão
cansado quanto eu estava, o meu pau já estava subindo para a ocasião. A
boceta da Nova era a porta de entrada para o céu, mas eu não podia ir lá
agora. Ela tinha que estar muito dolorida.
Saí debaixo dela, arrastando o meu travesseiro comigo. — Levante
seus quadris. – eu exigi.
Ela atendeu rapidamente.
Coloquei o meu travesseiro embaixo dela para
que ela fosse levemente erguida da cama. Abrindo
suas pernas, eu me inclinei e a beijei, mantendo isso
gentil. Sua língua deslizando sobre a minha e ela suspirou, relaxando um
pouco mais.
123
Nós nos separamos e me movi para baixo do corpo dela, passando
minha língua através de sua fenda inchada enquanto prendi as duas
pernas sobre meus ombros. Quando fui ainda mais baixo, ela protestou
por todos os sessenta segundos.
— Todo buraco fodível, Nova. – eu a lembrei. Eu coloquei meus
lábios em sua bunda, provocando suavemente envolta com meus dedos.
Ela ficou em silêncio. Quando adicionei minha língua, os gemidos de
prazer começaram a chegar seriamente.
Qualquer homem que fosse bom em comer boceta esteve aqui pelo
menos uma vez. Se não, eles precisavam reavaliar sua técnica. Os sons
que ela estava fazendo em meu cérebro, transformou meu pau em pedra.
Eu teria ficado lá até o nascer do sol se seus pedidos para eu a foder
não tivesse aumentado tão consistente. Eu me levantei deixando as
pernas como elas estavam. Reposicionando-a para que eu tivesse um
ângulo melhor.
Quando a cabeça do meu pau tocou seu cu, ela prendeu uma
pequena respiração. Eu a relaxei, passando-o por seu buraco apertado e,
em seguida, tentei de novo. Eu continuei fazendo isso, indo mais fundo
até que meu pau estava totalmente em sua bunda. Sua respiração era
superficial, com as mãos agarrando os lençóis.
Eu me concentrei em ir devagar, lutando contra o desejo de fodê-la
até sangrar. Esta não era uma vadia aleatória que eu nunca mais veria;
Era a Nova.
— Mais forte. – ela implorou.
Eu obedeci, pegando o meu ritmo.
Ela levantou a mão e colocou três dedos em sua boca. Com os olhos
focados nos meus, ela se abaixou e começou a brincar com seu clitóris.
124
Eu a fodia mais, sentindo as minhas bolas começam a se elevar eu
me concentrei em não gozar antes dela.
— Você gosta disso? – perguntei a ela.
— Sim, Deus, sim. – ela gemeu, enfiando um dedo em sua boceta.
— Continue, baby. Foda com os seus dedos enquanto fodo esta
bunda muito apertada.
Ela adicionou outro dedo, movendo em ritmo comigo. Sua umidade
escorria, encontrando o caminho para o meu pau.
— Porra. – ela ofegou, agarrando meus antebraços.
Sabendo que ela estava perto, eu assumi, fodendo sua bunda e
brincando com sua boceta. Ela murmurou o meu nome antes de gozar
que eu estava certo que a próxima cidade podia ouvir seus gritos. Não
tentei fazer um show, as minhas bolas incharam, ejaculando quase
dolorosamente. Meu pau empurrou e eu tirei, gozando abaixo da sua
barriga.
Nenhum de nós se moveu imediatamente. Suas pernas ficaram nos
meus ombros. Quando finalmente nos levantamos o silêncio era
confortável. Nós nos limpamos e voltamos para a cama, deitando como
estávamos antes de virá-la de costas.
Ela cochilou instantaneamente, deixando-me com o som de sua
respiração rítmica. Eu adormeci me perguntando o quanto o nosso
relacionamento mudaria quando ela realmente soubesse sobre
mim, quando descobrisse a verdadeira razão pela qual eu
fui enviado para Legacy Falls.
125

Não acho que as pessoas estão preparadas para fazer boas escolhas.
Ou talvez fosse só eu.
Olhei para o mosaico de borboleta que eu tinha pintado no teto do
banheiro em redemoinhos de vermelho e preto. Minha banheira estava
ficando morna, mas eu estava evitando sair nos últimos vinte minutos.
Rhett estava saindo, voltando para a casa dele. Nós passamos os
últimos dias presos nesta bolha de felicidade. Sem nenhum telefonema,
sem interrupções, apenas ele e eu.
Tenho certeza de que a Emery tinha saído escondida enquanto
dormíamos ou fodendo como coelhos, mas eu estava muito envolvida
com Rhett para perceber.
Eu não tinha um verdadeiro motivo para pedir-lhe para
ficar além do meu erro colossal. É euforia ou loucura
que faz você se apaixonar por alguém? Culpei a
alegria que vinha de estar com ele. Ele era alguém que eu poderia ser eu
mesma, que assumia o controle e me dominava sem hesitação.
126
— Você vai ficar aí o dia todo? – Sua voz suave veio da porta, me
tirando do meu devaneio.
Deslizando minha cabeça contra a porcelana, sorri para ele. — Não
o dia todo.
Ele entrou e se inclinou, apoiando as mãos no lado da banheira. —
São só alguns dias.
Claro, que ele identificou exatamente qual era a questão em cinco
segundos. Ele estava fazendo isso irritantemente muitas vezes agora.
— Eu sei. – eu respondi.
Esse é o problema.
Eu sabia que ele iria voltar um dia. Nós conversamos sobre isso no
dia anterior e naquela manhã. No entanto, ainda não queria que ele
fosse. Isso estava me deixando louca. Para alguém que não gostava de
mudanças, tudo já estava muito diferente, e ele era uma das principais
razões delas.
Não sei o que eu estava pensando quando concordei com isso. Tudo
o que fiz foi substituir um mau hábito por outro, e ele era o pior dos
dois. O álcool poderia ser ruim para você, mas Rhett Sullivan era um
tipo diferente de veneno. E eu já me entreguei.
Ele se abaixou para um beijo e eu me movi para retribuir, exigindo
mais, apesar do meu cérebro protestando. Suas mãos seguravam meu
rosto, acariciando minhas bochechas.
Ele se afastou de mim com uma expressão ilegível
em seu rosto. — Vejo você em alguns dias.
Permaneci na banheira até depois de ouvir a porta da frente
fechando e ele saindo da garagem. Conhecendo Annika e a Emery elas
estariam aqui em breve, e foi isso o que me motivou a sair da banheira.
127
Eu me vesti com um vestido de verão simples adicionando o básico,
desodorante, hidratante e gloss antes de escovar meu cabelo.
Peguei meu notebook antes de descer as escadas. Ligando-o na
mesa da sala de jantar. Verifiquei as poucas contas que ainda estavam
ativas, franzindo a testa quando notei que alguém era marginalmente
menor. Era hora de fazer a ligação que eu estava evitando, mas eu sabia
que se fizesse isso haveria uma mudança drástica no meu dia a dia.
Quando as garotas entraram pela porta da frente, fechei o notebook,
querendo manter isso privado.
— Nova?
— Eu estou aqui. – eu falei.
— Eu estava começando a pensar que Rhett te cortou em pedaços e
dando uma de Ted Bundy junto com Callum.
— Nika. – Emery a repreendeu.
Eu me abstive a revirar os meus olhos. — Claro, Rhett e Callum
andam por aí matando as pessoas em seu tempo livre. – eu esfreguei as
minhas mãos no meu rosto. Como eu poderia ter esquecido quanta
paciência era necessária para lidar com ela? — Você decidiu vir aqui só
para que você pudesse acabar com eles?
— Não, eu vim aqui porque perdi minhas melhores amigas, e nunca
acabaria com ele. Ele parece um cara grande, mas você nunca foi capaz
de ver o que está bem na sua frente Nova.
O olhar de Emery moveu entre nós duas.
— O que isto quer dizer?
Ela soltou uma respiração exagerada e balançou a cabeça.
— Nada. Eu não vim aqui para estragar a festa de ninguém. Eu só 128
quero que você os investigue para sua própria segurança, e a minha.
— O que você quer dizer com e a sua? Um deles disse algo para
você? – Emery questionou.
Ela zombou, mas depois de ser amiga dela por tanto tempo eu sabia
quando dizer que ela estava mentindo e agora era definitivamente uma
dessas vezes.
Annika poderia parecer forte e me irritar, como nenhuma outra
pessoa neste planeta, mas o seu coração estava sempre no lugar certo.
Algo havia acontecido, ou ela sabia detalhes que estava com medo de
compartilhar e para Annika não dizer o que pensa... meu estômago
apertou ao pensar no que isso significava.
— Ei, eu já volto. Preciso usar o banheiro.
Dei um sorriso para elas e corri pela sala de jantar, indo para o
banheiro que estava à direita do primeiro andar.
Tentei tanto ver as coisas de uma perspectiva de uma observadora.
Meu cérebro estava pronto para se separar, mais eu pensava em coisas
acontecendo ao meu redor.
Verificando novamente se a porta do banheiro estava trancada, eu
peguei o cartão de visita preto fosco e finalmente disquei o número de
contato escrito com fonte branca. Queria ir pelo caminho mais pessoal,
mas minha mensagem de texto estava sendo ignorado, então esta foi a
minha próxima melhor opção.
A linha tocou uma... duas vezes... — Legacy Realty.
– Uma voz rápida veio da linha.
— Oi, posso falar com, Lance Parker?
Houve uma pausa alongada do outro lado.
— Posso perguntar com quem eu estou falando? 129
— Hum, Nova... Morkav.
Uma segunda pausa, esta mais curta. Eu ouvi um som de papéis e
depois a voz estava de volta. — Sinto muito, senhorita Morkav, Lance
faleceu, mas o arquivo que precisa está à espera em nosso escritório.
— Ele faleceu? – eu engoli, tentando afastar o sentimento apertando
meu peito.
— Ele foi vitima em uma invasão domiciliar.
— Ok, obrigada. – eu desliguei a chamada, inclinei-me contra a
parede tentando processar que Lance estava morto. Ele foi o único que
ajudou meu pai, com o seu próprio modelo de negócios no mercado
imobiliário.
Deixei o banheiro com uma sensação de perda total, como se o
universo estivesse trabalhando contra mim. Na realidade, foram minhas
ações me alcançando, mas eu não queria receber crédito por tudo que
estava acontecendo. Mesmo quando foi tudo culpa minha.

Aquela toca de coelho que eu estava caindo todo esse


tempo de repente tinha um fundo mortal, e eu estava
perto de chegar até ele.
Eu me servi de outra bebida, olhando pela sala
com a urna do meu pai. Tomei um grande gole, mas
o efeito entorpecente tinha perdido o seu encanto, eu encontrei outra
solução para me manter ocupada. Trocando um mau hábito por outro, e
este não estava respondendo a nenhuma das minhas mensagens de
130
textos.
— Nova? – Emery entrou na sala de jantar com um olhar de
preocupação no rosto dela. — O que está acontecendo?
Direto ao ponto como sempre.
— Você sabia que os Parkers foram mortos em uma invasão
domiciliar? Essa Melody está desaparecida?
Ela assentiu, puxando a cadeira à minha frente. — Estava em todos
os noticiários.
Eu a observei, debatendo o quanto contar a ela. O que ela pensaria
de mim quando descobrisse a verdade? Como posso mantê-la segura
quando a pessoa que foi matar Pamela e os Parkers vier aqui em
seguida?
Isso não é invasão domiciliar, isso é besteira. Desviando o meu
olhar para a urna de meus pais, mordi o meu lábio inferior. Eu matei
uma vez, e tinha certeza de que poderia fazer de novo. Mas e se eu não
pudesse? Essa coisa com meu pai era muito maior que eu, e eu estava
começando a ver isso.
— Você se lembra quando a notícia surgiu sobre meus pais? Você
foi a primeira lá para mim que verdadeiramente parecia se importar.
— Claro, que eu me importava. Você é praticamente minha irmã
Nova. Eu os amava também.
Respirei com firmeza. — Você nunca escondeu nada
de mim e eu estive... – Ela desviou o olhar e enfiou
uma mecha de cabelo atrás da orelha. Eu estava
sendo ridiculamente paranoica ou ela estava
escondendo algo de mim.
— Você esteve o que? 131
— Nada. – eu menti. Novamente.
Vendo que ainda não tinha notificações, fiz uma decisão própria. —
Eu estou indo para casa do Rhett. – eu anunciei.
— Hum, uau! Você não pode dirigir. – ela se opôs, levantando de
sua cadeira.
— Por que não posso? Nem cheguei na metade da garrafa. Eu não
estou bêbada.
— Já são nove horas. Nós podemos ir de manhã.
Eu a encarei, agora tendo certeza que ela estava escondendo algo de
mim. — Em, você pode ficar aqui e eu a aviso quando eu chegar, ou
entrar no meu carro e vir junto.
Sua boca abriu, mas nenhum som saiu. Eu a deixei lá e fui pegar
minhas chaves. Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas estava
prestes a descobrir.
132

Sinceramente, eu não estava em condições de conviver com um


monte de gente que vivia com base em quem eles podiam impressionar.
A fachada que eu tanto prezei era mais uma bandeira usada e surrada
agora tremula ao vento.
Eu deixei o Camaro desacelerar o resto do caminho até a estrada,
quase derrubando um casal que não saiu do caminho rápido o bastante.
Estacionando em frente à garagem, ignorei a voz de Em e saí.
As pessoas olharam, é claro.
Qual era novidade? Isso é tudo que eles sempre faziam.
Eu fiz um caminho mais curto pelo gramado extenso, em direção a
fogueira. Alguém chamou meu nome, eu não prestei atenção. Eu estava
lá fisicamente. Mentalmente, estava em outra galáxia. A cada passo que
eu dava, perdia outra parte de quem eu tentava ser. Boa.
Doce. Gentil. Qualquer coisa que não fosse isso.
Senti alguém tocar meu braço e, por reflexo, me
afastei. Quando pisquei, encontrei vários pares de
olhos olhando para mim e para Rhett a alguns centímetros do meu lado.
— Venha comigo. – ele falou em meu ouvido para que eu pudesse 133
ouvi-lo por cima da música alta. Sua mão apertou a minha e ele
começou a me levar para longe, não me dando a opção de contestar.
Passamos por uma multidão de pessoas em seu gramado, em sua casa.
Foi só quando chegamos ao seu quarto e ele fechou a porta que senti
como se pudesse respirar novamente.
— O que está acontecendo? – ele perguntou parecendo preocupado
de verdade.
Ele estava falando sério? — Parece algum tipo de festa. Você é
quem mora aqui.
Ele riu, me olhando de cima a baixo. — Você é demais. Você sabe
disso?
Eu não sabia o que isso significava, mas não parecia bom. Talvez eu
não devesse ter vindo aqui neste estado.
— Eu sinto muito. Eu não posso fazer isso.
— Não pode fazer o quê? – Agora ele parecia confuso.
Eu o encarei, me perguntando o que foi que me manteve nesta
posição. Eu vi a escuridão, as arestas reforçadas e o mistério. Eu vi Rhett
Sullivan tão vividamente que ele poderia ter sido uma invenção da
minha imaginação. Fui atraída por ele como uma mariposa por uma
chama letal.
Sabia a sensação de suas mãos em cada centímetro do meu corpo.
Eu sabia que ele fez aquelas agitações perigosas surgirem em
meu estômago e meu coração parecia que poderia se
consertar ou dizimar.
Mas…
— Eu não te conheço. – eu disse simplesmente. — Eu sei que você
disse que as coisas são complicadas, mas... Rhett, tem que haver mais
para você do que vender drogas e dar festas que você mesmo não
134
suporta. Quero dizer, duas pessoas próximas a mim têm medo de você.
— Você não me conhece? – ele repetiu de novo, ignorando tudo o
mais que eu acabei de dizer. — Nova, nós estivemos fodendo sem parar
e dormindo na cama um do outro. Fiquei acordado com você até as
quatro da manhã, assistindo a batalhas culinárias na noite passada, acho
que você sabe o suficiente.
Ele não estava vendo as coisas como eu as via. Eu não tinha certeza
de como chegamos nesse assunto, quando não era para isso que eu vim
aqui. Esfreguei minhas têmporas e comecei a andar. — É por isso que
não posso fazer o que quer que seja. Eu não posso. Eu te falei isso.
Lembra?
Seus olhos seguiram meus movimentos da esquerda para a direita,
mas ele não disse nada em resposta à minha explosão.
— Não sei qual é o objetivo disso. Estamos em um relacionamento.
Muitas pessoas os têm. Se você deseja ou não fazer parte disso, não é tão
relevante, porque você é minha, de qualquer maneira.
Eu parei e olhei para ele. — Você não pode me fazer ficar com
você, porra.
Suas sobrancelhas se ergueram, com um sorriso arrogante e sombrio
se espalhando por seu rosto.
— Você pregou muito sobre não saber quem eu sou, mas tenho
certeza de que passou a maior parte da sua vida fingindo ser
alguém que não é. Essa é a parte em que você deixa de
lado essa coisa de boa menina? Ou isso só acontece
quando meu pau está dentro de você?
Teria doído menos se ele tivesse me jogado contra a parede. Suas
palavras foram profundas porque eram verdadeiras.
135
Pior ainda, elas me lembravam da minha mãe. Nunca quis ser como
ela. Parada aqui, eu estava começando a pensar que a maçã não caiu
longe daquela árvore fodida. — Olha, eu não sei por que vim aqui esta
noite. Você... nós... não é nada comparado ao que realmente está
acontecendo na minha vida.
Ele me agarrou pela cintura e me prendeu no lugar. — Então fale
comigo.
— Rhett...
Ele segurou os dois lados do meu rosto, me interrompendo. — Por
que você está fazendo isso agora? O que está errado?
Meu coração acelerou no meu peito. Como ele pode me ler tão
bem? Isso era enervante. Eu queria contar tudo a ele, mas as sirenes em
meu cérebro disseram não e pela primeira vez a lógica conquistou meu
coração.
— Nada.
Houve uma contração em sua mandíbula. Não sei por que eu me
incomodei em mentir. Eu me senti a maior hipócrita do planeta.
Eu tinha muitos dos meus próprios segredos. Eu tinha feito coisas
terríveis, talvez até piores do que ele, e não sabia mais o que fazer.
Estava me afogando em um turbilhão emocional e quase correndo
de volta para uma garrafa de bebida, a única tábua de salvação que vi
estava bem na minha frente. Ele foi para me soltar e eu o parei,
envolvendo meus braços em volta de sua cintura.
— Nova.
Beijo seus lábios e não ganho nenhuma reação, então beijei sua
bochecha, passando para seu pescoço.
136
— Nova. – ele repetiu.
Deslizei minhas mãos por baixo de sua camisa e finalmente obtive
uma resposta. Ele segurou meu cabelo e puxou minha cabeça para trás,
fazendo minhas coxas pressionarem; com a boca ligeiramente aberta.
— Como você conseguiu convencer alguém de que é boa e doce
quando tudo que você quer é ser fodida como uma vagabunda?
— Por você. – eu ressaltei e implorei.
Isso soou terrível, como todas as minhas outras verdades. A mentira
era bonita, muito mais fácil de expressar e escorregava por entre meus
dedos como grãos de areia.
Ele olhou para mim com o rosto voltado a aquela máscara ilegível
que eu não suportava. Eu me perguntei o que ele viu quando olhou para
mim. Um desastre ambulante? Um erro? Uma covarde egoísta?
— Diga-me que é você e eu. – ele exigiu.
Eu pisquei em confusão. — O que?
— Diga que sempre seremos eu e você.
— Mas... isso não é verdade.
— Então minta para mim, porra.
Eu engoli algumas emoções que não consegui entender, uma que fez
meu peito doer enquanto dizia a ele o que ele queria ouvir.
— Sempre seremos eu e você.
Ele apertou a mão, beijando-me selvagemente.
Levando-me para trás. Quase não houve troca de
palavras entre nós.
Ele me empurrou para a cama e arrancou minha calcinha de baixo
do vestido de moletom.
137
Minha posição foi decidida quando ele me prendeu pela garganta e
apenas me fodeu, com suas calças um pouco abaixo de seus quadris.
Forte. Brutal.
Os gemidos que saíram da minha boca eram incontroláveis, com o
seu nome em quase todos eles. Eu senti todas as suas frustrações e mal
contive a raiva, bebendo tudo como se fosse ácido. E foi exatamente
isso. Ele era uma droga. Uma que eu consumi cegamente, sem verificar
os efeitos colaterais. Eu não conseguia parar agora que tinha acertado.
Eu sabia que ele tinha problemas, eu também. Nossas partes vazias eram
tóxicas, mas se encaixavam perfeitamente.
Eu agarrei sua bunda e o puxei para ficar mais fundo dentro de mim,
com nossos dentes se chocando em um beijo brutal. Gozei com minhas
unhas cravando em suas costas, deixando para trás pequenos arranhões.
Quando ele terminou, eu esperava que ele me deixasse lá sem dizer
uma palavra. Em vez disso, ele voltou com um pano e um copo d'água.
Meus olhos arderam, auto-aversão e culpa corroeram minhas entranhas
como um rato em um labirinto.
Eu queria me desculpar por estar um caos, mas de repente eu estava
com a língua presa.
— Fique aqui, garotinha. Eu vou terminar isso. – Suas palavras
estavam em desacordo com o que acabou de acontecer. O beijo que ele
deu na minha testa antes de ir embora só aumentou o meu estado de
confusão.
Quando ouvi uma fechadura girar, soube que algo
estava errado.
138

Mal podia esperar para dar o fora desta cidade. Talvez eu a


destruísse ao sair. Eu não era assim há mais de um ano. Nova foi a única
coisa que me manteve aqui desde que Lance se foi, a esta hora na
próxima semana, já teríamos ido embora.
No começo, pensei que ela tinha facilitado demais.
Ela me deixou entrar.
Ela me deixou entrar, e o que encontrei por dentro não foi nada
parecido com o que vi por fora.
Traguei meu baseado e exalei a fumaça na direção do lago.
— O último carro acabou de sair. – Callum anunciou, caminhando
para se juntar a mim.
— E a Emery?
— Está no meu quarto, surtando como a outra.
Eu balancei a cabeça, dando outra tragada antes de passar o baseado
para ele. — Você acha que isso é um erro? – eu poderia dizer que a
pergunta o surpreendeu. Normalmente, eu tinha uma decisão firme dias
139
antes de fazer um movimento.
— Acho que vir aqui foi um erro? Sim, tipo isto. Não encontramos
porra nenhuma, só aquele notebook e uma lacuna maior que não
conseguimos desvendar. – ele deu uma tragada e prendeu por alguns
segundos. — Em nunca poderia ser um erro. E se você está perguntando,
se eu acho que Nova é? Sei por que você está fazendo isso, então, não.
Estou curioso, no entanto. O que há com ela? Além de sua aparência.
Estava me perguntando isso desde que conheci Nova e a explicação
era que não havia nenhuma.
Não uma que pudesse resumir a porra da bela bagunça a que eu me
apeguei. Ela pintou sua alma torturada em uma tela e sofreu em silêncio.
— Ela não é algo que pode ser explicado. Lindamente perturbada e
praticamente insana. Ela só deixa seus demônios saírem quando acha
que ninguém está olhando.
— Você realmente gosta dela. – ele comentou.
— Gosto. – Isso era um grande eufemismo. Eu não podia mostrar a
ela as partes de mim que entendiam todas aquelas partes fodidas de si
mesma que ela estava tentando varrer para debaixo do tapete. Eu me
recusei a deixá-la se tornar uma escrava de seus demônios, nós os
dominaríamos juntos. Depois que eu a dominasse.
— Você poderia ter colocado uma bala na cabeça dela se ela não
fosse... você sabe?
Eu sabia essa resposta antes que ele terminasse de
perguntar.
— Já fiz isso antes. Eu faria isso de novo. A morte é misericordiosa
para quem não quer nada mais do que morrer.
140
— Isso foi estranhamente filosófico.
Eu ignorei isso e olhei de volta para a cabana, vendo que todas as
luzes do quarto haviam sido acesas. — Tripp está pronto?
— Sim.
— Ótimo. – eu olhei para a janela do meu quarto me perguntando
quanto tempo levaria para ela encontrá-la. — Vamos acabar com isso.
Ele acenou com a cabeça e caminhou ao meu lado.
141

Acho que ele planejou isso desde o início.


Acho que ele me conhecia melhor do que eu mesma. E ele sabia que
se você trancar um animal selvagem em uma jaula, ele fará de tudo para
escapar.
O quarto não parecia em nada como quando ele me deixou. Eu não
tinha certeza se ele esperava que eu sentasse e fosse dócil, mas isso não
iria acontecer.
Ele me trancou dentro de seu quarto.
Horas atrás.
O sol estava nascendo e ele ainda não tinha retornado. Eu andei, eu
gritei. Ninguém veio ajudar.
Voltei ao armário dele pensando que poderia conter
algo que pudesse tirar uma porta de suas dobradiças ou
quebrá-la completamente. Meu dedão bateu na ponta de algo de madeira
e eu resmunguei, pulando em um pé.
142
Quando consegui mexer de novo, me agachei e empurrei uma pilha
de camisetas pressionadas para o lado, revelando uma caixa cor de
carvalho com um símbolo do infinito esculpido no topo. Isso parecia
familiar, mas eu sabia de onde. Eu levantei a tampa e encarei minhas
novas descobertas.
Havia maços de dinheiro, novo e aglomerado. Isso não foi muito
alarmante. Foi a arma me preocupou um pouco, eu a levantei e
verifiquei o pente, contando três balas. Eu ficaria com isso.
Você pensaria que foram os passaportes que mais me perturbaram.
Seis no total. Todos de Rhett. Ou versões dele. Cada um tinha um nome
diferente, nenhum correspondendo ao seguinte. Pelo que pude ver, meu
Rhett não existia. Ele não tinha nem vinte e quatro anos.
Deixei cair os passaportes como se eles tivessem me queimado, e
foi quando vi. Encravado em um canto da caixa. Minha mão tremia,
fazendo-me me perder a corrente de prata três vezes antes de conseguir.
A ousada borboleta vermelha girou em um círculo, com as suas asas
refletindo na luz.
Por que ele tem isso?
Nenhuma das razões que minha mente apresentou fazia sentido.
Mesmo se houvesse uma explicação viável, o que isso importava? Ele
mentiu para mim sobre tudo. Meu pai mantinha o pingente na carteira.
Ele iria consertar o fecho e devolvê-lo.
O som da fechadura me fez levantar rapidamente, as
lágrimas que se fodam.
Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia
que precisava ficar longe dele.
Ele entrou no quarto e eu percebi que não tinha ideia de quem era
essa pessoa, mas havia uma arma em sua mão. Então, eu apertei meu
aperto na minha, com o meu coração batendo forte no meu peito.
143
Eu poderia ter nos pintado naquele momento.
Rhett Sullivan. Garoto misterioso pintado em tons de vermelho. A
cor da cor do sangue e do amor. Guerra e paixão. Perigoso e astuto.
Quando olhei para ele, foi tudo o que vi.
Eu mesma.
Nova Markov.
Garota excêntrica cheia de claridade.
Eu era o amarelo. Cheia de melancolia. Venenosa. Louca. Insana.
E a única coisa que falta determinar, o que eu não pude ver, é o que
acontecia quando você misturasse essas duas cores.

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