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A fúria
A paciente silenciosa
As musas
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M569f
Michaelides, Alex
A fúria [recurso eletrônico] / Alex Michaelides ; tradução Adriano Scandolara. - 1. ed. -
Rio de Janeiro : Record, 2024.
recurso digital
Tradução de: The fury
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-0192-125-3 (recurso eletrônico)
1. Ficção cipriota. 2. Livros eletrônicos. I. Scandolara, Adriano. II. Título.
23-87514
CDD: 894.33
CDU: 82-3(564.3)
TÍTULO EM INGLÊS:
The Fury
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela
EDITORA RECORD LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a
propriedade literária desta tradução.
Produzido no Brasil
ISBN 978-85-0192-125-3
ATO I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
ATO II
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
ATO III
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
ATO IV
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
ATO V
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
ATO I
Esta é a história mais triste que já ouvi.
— FORD MADOX FORD, O bom soldado
1
Jason estava sozinho nas ruínas. Tinha ido até lá com um rifle
para praticar pontaria.
Seu alvo era uma latinha. Estava equilibrada em cima de uma
das colunas quebradas e, até então, continuava intacta.
Sentia-se aliviado por estar sozinho. A tagarelice desmiolada
dos amigos de Lana, na melhor das hipóteses, o irritava. E agora,
com tanta coisa na cabeça, era quase insuportável.
Foi então que um pássaro, um pombo-torcaz, se aninhou em
uma das colunas partidas. Parecia ignorar a presença de Jason.
Ele apertou a arma nas mãos. Beleza, disse para si mesmo.
Concentre-se.
Ele mirou com cuidado e…
— Jason.
Distraído, ele disparou — mas errou o alvo. O pássaro saiu
voando, ileso. Ele deu meia-volta, furioso.
— Pelo amor de Deus, eu estou com uma arma na mão! Não
chegue atrás de mim desse jeito.
— Você não vai atirar em mim, meu bem. — Kate sorriu.
— Não confie nisso. — Jason olhou por cima do ombro dela. —
Cadê os outros?
— Acabamos de sair da praia. Voltaram para a casa, estão
tomando banho. Ninguém me viu… se é o que você quer saber.
— Qual é a sua? Por que está aqui?
— Lana me convidou. — Kate deu de ombros.
— Devia ter recusado.
— Não queria recusar. Queria ver a Lana.
— Por quê?
— Ela é minha amiga.
— É mesmo?
— É. Você parece esquecer disso às vezes. — Kate sentou-se
numa laje baixinha de mármore e acendeu um cigarro. —
Precisamos conversar.
— Sobre o quê?
— Lana.
— Não quero falar sobre Lana.
— Ela sabe, Jason.
— O quê? — Ele encarou Kate por um segundo. — Você contou?
Kate fez que não com a cabeça.
— Não. Mas ela sabe. Dá para sentir.
Jason analisou o rosto de Kate por um segundo. Para seu alívio,
ele decidiu que não acreditava nela. Estava sendo dramática,
como sempre.
— Isso é coisa da sua cabeça.
— Não é.
Fez-se silêncio por um segundo. Jason desviou o olhar,
brincando com a arma nas mãos. Quando falou de novo, sua voz
tinha um tom diferente, um tom de suspeita.
— É melhor você não falar nada, Kate. É sério.
— Está me ameaçando? — Kate jogou o cigarro na terra e o
amassou com o pé. — Querido, que romântico.
Jason olhou para seus olhos reluzentes e magoados — havia
neles um leve brilho, indicando que ela andara bebendo. Mas não
estava bêbada — pelo menos, não do jeito que estivera na noite
anterior.
Ele também conseguia ver o próprio rosto refletido nos olhos de
Kate. Seu rosto infeliz. E, por um segundo, será que Jason
considerou baixar suas defesas? Será que quase caiu de joelhos,
enterrando o rosto no colo de Kate — para desabafar e contar
para ela a verdade a respeito da encrenca terrível em que estava
metido? Como seu show de malabarismo com o dinheiro dos
outros havia desmoronado, as bolas todas escorregando por entre
os dedos — como precisava de uma injeção financeira maciça, de
um dinheiro que ele não tinha, mas que Lana sim, e que, sem
isso, era quase certo que ele iria para a cadeia?
Só pensar nisso, na cadeia, ficar engaiolado que nem um
passarinho, fez o coração de Jason bater forte no peito. Faria
qualquer coisa para evitar isso. Estava com medo, feito um
menininho — queria se acabar de chorar. Mas não chorou.
Em vez disso, o que fez foi apoiar a arma em uma das colunas.
Abaixou-se, pegou Kate pela cintura e a puxou para que ficasse
em pé.
Ele se inclinou para ela e lhe deu um beijo na boca.
— Não — sussurrou Kate. — Não.
Ela tentou se afastar, mas ele não deixou. Jason a beijou outra
vez.
Desta vez, Kate se entregou.
Enquanto se beijavam, Jason ficou com uma sensação esquisita
— um tipo de sexto sentido, talvez? — de estarem sendo
observados.
Será o Nikos?, ele pensou. Será que ele está vigiando a gente?
Jason se afastou dela por um segundo e olhou em volta. Mas
não havia ninguém lá. Apenas as árvores e a terra. E o sol, é claro
— branco, ofuscante, queimando no céu.
Olhar para ele o cegou.
17
Lana contornou a casa por trás. Entrou pela porta dos fundos.
Passou depressa pelo corredor e entrou na sala de armas de
Jason. Ele havia levado consigo algumas das armas, mas outras
ainda tinham ficado lá, no suporte.
Lana esticou a mão e pegou uma pistola.
Ela saiu da sala e foi marchando pelo corredor até a sala de estar.
Passou pelas portas francesas, indo até a varanda. Ficou ali em pé
ao lado da mureta, observando o patamar inferior.
Abaixo dela, Jason voltava para a casa, segurando um punhado
de pombos-torcazes mortos. Lana levantou a mira devagar e
apontou direto para ele.
Será que ela tinha a intenção de matá-lo? Ou só dar um susto?
Para ser sincero, não sei o quanto Lana tinha consciência do que
estava fazendo. Estava tão abalada mentalmente, tão
desestabilizada. Talvez um instinto antigo e primitivo de
sobrevivência tivesse tomado conta — uma necessidade de sentir
uma arma nas mãos? Se houvesse um machado à vista, poderia
tê-lo apanhado como Clitemnestra. Do jeito que as coisas
transcorreram, acabou sendo uma pistola.
Vamos lá, pensei. Vá em frente. Aperte o gatilho. Atire…
Mas foi bem nessa hora que Leo apareceu no patamar inferior,
indo até a piscina. Lana baixou a arma de imediato, escondendo-
a às costas.
Leo olhou para cima e viu a mãe. Ele acenou. Lana abriu um
sorriso forçado e acenou de volta.
Despertada do transe, Lana deu meia-volta e retornou correndo
para dentro de casa. Passou pelo corredor. Mas não pôs a arma de
novo no lugar. Continuou andando, passou pela sala de armas e
levou a pistola para o andar de cima.
Em seu quarto, Lana se sentou à penteadeira. Ficou se encarando
no espelho com a arma nas mãos. Sentia-se bastante abalada com
o que viu.
Então, ao ouvir a porta se abrir, ela enfiou a arma na gaveta.
Olhou para o espelho, de relance, e avistou Agathi, que chegava
sorridente.
— Oi — disse Agathi. — Precisa de alguma coisa?
— Não. — Lana balançou a cabeça.
— Alguma ideia para o jantar?
— Não. Talvez a gente vá jantar fora. Não consigo pensar
agora… Vou tomar um banho.
— Posso esquentar a água para você.
— Eu me viro.
Agathi assentiu. Ficou observando Lana por um instante. Não
era do feitio de Agathi dar opinião sem que a pedissem. Mas ela
estava prestes a abrir uma exceção.
— Lana — disse Agathi. — Você… está bem? Não, não está, não
é?
Lana não respondeu. Agathi continuou.
— Podemos ir embora agora mesmo… se quiser. — Agathi abriu
um sorriso encorajador para Lana. — Deixe-me levá-la para casa.
— Casa? — Lana pareceu confusa. — Onde fica isso?
— Londres, claro.
Lana fez que não com a cabeça.
— Londres não é a minha casa.
— Então onde é?
— Não sei. Não sei aonde ir. Não sei o que fazer.
Ela se levantou. Andou até o banheiro. Ligou as torneiras e
encheu a banheira. Quando voltou ao quarto, alguns minutos
depois, Agathi não estava mais. Mas havia deixado algo lá.
O pingente de cristal estava em cima da penteadeira, reluzindo
sob a luz do sol.
Lana o pegou. Olhou para ele. Não acreditava nisso de magia,
mas não sabia mais no que acreditar. Ela deixou o cristal balançar
sobre a palma da mão.
Ficou fitando o cristal, mexendo os lábios enquanto murmurava
uma pergunta.
Quase imediatamente, o cristal começou a oscilar, saltar, dançar
no ar.
Um pequeno movimento em círculos, que foi crescendo e
crescendo, sobre a palma da sua mão aberta, ficando mais amplo,
mais alto… um círculo, rodopiando no ar.
Do lado de fora da casa, no chão, uma folha solitária se movia.
A folha havia sido alçada no ar por uma força invisível,
fazendo-a rodopiar em círculos. O círculo foi ficando maior e
mais largo, subindo mais e mais alto… conforme os ventos
surgiam…
E a fúria começou.
15
Saí do mesmo jeito que entrei. Saí pelas portas francesas que
davam para a varanda.
Desci os degraus, açoitado pelo vento e por meus pensamentos.
Não conseguia acreditar no que Lana tinha me dito. Aquela
brincadeira cruel sobre Barbara West — ela não era disso. Não
dava para entender.
Mesmo agora, enquanto escrevo isso, acho difícil compreender a
crueldade de Lana naquele momento. Isso não era do feitio dela.
Eu não conseguia acreditar que aquilo tinha saído da minha
amiga Lana. Mas talvez pudesse acreditar nisso saído de uma
pessoa oculta, daquela garotinha assustada à espreita sob a pele
dela, tão carregada de dor, só esperando para extravasar.
Eu conseguia perdoá-la, é claro. Precisava perdoá-la. Eu a
amava. Mesmo que pudesse ser cruel às vezes.
Estava perdido numa nuvem de pensamentos e nem vi Jason
entrar. Trombei nele na base da escada.
Jason reagiu me dando um empurrão.
— Mas que merda…?
— Foi mal. Eu estava atrás de você. Chegou a vasculhar o chalé
do Nikos?
Jason fez que sim com a cabeça.
— Não tem nada lá.
— E onde está o Nikos agora?
— No chalé. Falei para ele esperar lá até a polícia chegar.
— Beleza, que bom.
Jason tentou passar por mim e subir os degraus. Eu o impedi.
— Só um minuto — falei. — Tenho boas notícias. Agathi acabou
de falar com a polícia.
— E?
— O vento diminuiu. Estão a caminho.
Um olhar de alívio brotou no rosto de Jason.
— Ai, graças a Deus.
— Vamos esperar por eles lá no píer?
Jason fez que sim.
— Boa ideia.
— Encontro você lá.
— Espera um segundo. — Ele me olhou, desconfiado. — Aonde
você vai?
— Contar para a Kate. — E, incapaz de resistir, acrescentei: — A
não ser que você mesmo prefira contar.
— Não. — Jason balançou a cabeça. — Vai você.
Jason deu meia-volta, partindo em direção à praia — para o píer.
E o observei partindo, sorrindo para mim mesmo.
Depois, segurando com firmeza o revólver no bolso, fui me
encontrar com Kate — para dar um fim nisso.
Enquanto seguia até a casa de hóspedes, sentia em mim uma
determinação sinistra a dar continuidade ao meu plano —
custasse o que custasse.
Não vou mentir e dizer que não estava sendo impelido pela
minha raiva por Lana naquele momento. Mas nem a pau eu
poderia interromper aquilo agora, apesar das objeções de Lana.
Assim como não é possível deter uma rocha que você fez rolar
ladeira abaixo. Já era algo maior que todos nós; a coisa havia
ganhado seu próprio momentum. Não tínhamos opção senão
deixar que essa peça se desenrolasse. Como atriz, Lana deveria
ter compreendido isso.
Eu me aproximei da casa de hóspedes e vi que a porta estava
aberta. Leo saiu por ela. Eu me escondi atrás de uma árvore.
Fiquei esperando ele se afastar. E aí fui sorrateiramente até a
janela para espiar o interior da casa.
Kate estava sozinha lá dentro, toda desgrenhada. Assustada,
paranoica, transtornada. Foi uma noite difícil para ela.
Infelizmente, estava prestes a piorar.
Fui andando até a porta. Estendi a mão para abri-la e, aí,
inexplicavelmente, eu congelei.
Fiquei ali parado, imóvel, paralisado por um ataque súbito e
inesperado de fobia de palco. Fazia muitos anos que eu não
atuava, e nunca antes havia representado um papel tão
importante. Tudo dependia da minha performance nessa cena
com Kate. Era o truque de mágica derradeiro que eu precisava
executar. Precisava ser 100% convincente — tudo que eu dissesse
e fizesse precisava parecer crível e inocente.
Em outras palavras, eu precisava realizar a performance da
minha vida.
Reuni forças e bati forte na porta.
— Kate? Sou eu. Precisamos conversar.
6
Lana entrou na cozinha. Foi seguida pelos outros. Mas ela mal
reparou na presença deles.
Olhava, pela janela, para o céu que clareava.
Estava perdida em pensamentos, mas sem se sentir confusa nem
aflita. Sentia uma estranha calma, como se tivesse tido uma noite
reparadora e acabado de acordar de um sono profundo. Tinha
uma clareza que não experimentava fazia muito tempo.
Você poderia imaginar que ela estaria pensando em mim, mas
isso seria um engano. Eu havia sumido quase que inteiramente
dos pensamentos dela, como se jamais tivesse existido.
E, com a minha saída de cena, uma nova clareza veio à tona.
Todas aquelas coisas que Lana havia temido tanto — toda a
solidão, perda, remorso — não significavam mais nada para ela
agora. Todas as relações humanas que ela considerava tão
necessárias para sua felicidade não significavam nada. Ela, enfim,
enxergou a verdade — de que estava sozinha e que sempre
estivera.
Por que isso tinha sido tão assustador? Ela não precisava de
Kate, nem de Jason. Poderia libertá-los, todos eles. Libertaria seus
reféns. Compraria um terreno para Agathi na Grécia, uma casa e
uma vida, em vez de exigir que ela se sacrificasse pelo seu medo.
Lana não tinha mais medo. Deixaria que Leo vivesse a própria
vida, fosse atrás dos próprios sonhos. Quem era ela para se
segurar nele, para se agarrar a ele?
E Jason? Ela o jogaria na rua. Deixaria que fosse para a cadeia,
que fosse para o inferno; ele não significava mais nada para ela
agora.
Não via a hora de ir embora. Queria se afastar o máximo
possível da ilha. E não voltar nunca mais. Iria embora de Londres
também. Disso ela sabia.
Mas para onde? Vagaria pelo mundo sem destino, perdida para
sempre? Não. Não estava mais perdida. A neblina havia
dissipado, a estrada se revelava. A jornada adiante era cristalina.
Ela voltaria para o seu lar.
Lar. Ao pensar nisso, sentiu um calor no coração.
Voltaria para a Califórnia, para Los Angeles. Todos esses anos,
ela estivera fugindo — de quem era, da única coisa que lhe dava
sentido. Agora, enfim, ela confrontaria seu destino, ela o
abraçaria. Voltaria para Hollywood, onde era o seu lugar. E
voltaria a trabalhar.
Lana se sentia tão poderosa agora, erguendo-se como uma fênix
das cinzas. Forte e destemida. Sozinha, mas sem medo. Não
havia nada a temer. Ela sentia… o quê? O que era esse
sentimento? Alegria? Sim, alegria. Ela se sentia plena de alegria.
Lana não me ouviu entrar na cozinha. Eu tinha entrado na casa
pela porta dos fundos. Percorrendo o corredor em silêncio,
escutei todos eles na cozinha, se parabenizando pelo sucesso da
montagem. Havia risadas e o som de rolhas de champanhe
estourando.
Quando entrei, Agathi estava servindo o champanhe numa
fileira de taças. Ela não me viu a princípio, mas então reparou em
algumas vespas sobre a bancada. Foi aí que ergueu o olhar.
Ela me viu parado ao lado da porta. Me lançou um olhar
esquisito. Deve ter sido por causa das vespas que estavam em
cima de mim.
— Um táxi aquático chegará daqui a vinte minutos — disse
Agathi. — Vá buscar suas coisas.
Eu não falei nada. Fiquei ali parado, encarando Lana.
Lana estava separada dos outros, perto da janela, olhando para
fora. Pensei no quanto estava bonita, sob aquela luz do começo
da manhã. O sol lá fora fazia a janela brilhar atrás dela, criando
uma auréola ao redor da sua cabeça. Parecia um anjo.
— Lana? — falei baixinho.
Minha voz soou calma. Minha aparência era calma, na
superfície. Mas na cela acolchoada da minha mente, onde eu
mantinha o menino como meu prisioneiro, dava para ouvi-lo,
levantando-se feito um golem, aos uivos e gritos, esmurrando as
portas da cela com seus punhos, ululando de raiva.
Mais uma vez vítima de violência, mais uma vez humilhado. E,
pior, muito pior — todos os seus medos mais sombrios, todas as
coisas terríveis que eu lhe prometera que não eram verdade
haviam acabado de se confirmar, pela única pessoa que ele já
amou na vida. Lana havia exposto o menino, enfim, pelo que ele
era: um enjeitado, um mal-amado, uma fraude. Uma aberração.
Eu pude ouvi-lo libertar-se da cela, uivando como um demônio.
Ele não conseguia parar de gritar — era um grito horrendo e
aterrador.
Eu queria que ele parasse de gritar.
E então percebi que não era o menino gritando.
Era eu.
Lana havia se virado e estava me encarando, alarmada. Seus
olhos se arregalaram quando saquei a espingarda que havia
escondido às costas.
Mirei nela.
Antes que qualquer um pudesse impedir, puxei o gatilho.
Disparei três vezes.
E assim termina a triste história de como acabei matando Lana
Farrar.
Epílogo
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Michaelides, Alex
9786555873214
350 páginas
Harris, Thomas
9786555878844
1208 páginas
Shuster, Simon
9788501921390
420 páginas
Madeira, Carla
9786555872316
210 páginas
Szpilman, Władysław
9786555878219
272 páginas