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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 0__/2020

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal do pedido


contido no Ofício nº 016/2020 de iniciativa do
Vereador Silvio Espínola

I – DO CARÁTER OPINATIVO

Tendo em vista o disposto no art. 133 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por


seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Considerando, ainda, o disposto na Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 7º São direitos do advogado:


I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
[...]
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante
a OAB, pelos excessos que cometer.

Ressaltando, por fim, a decisão e fundamentação proferida pelo Supremo Tribunal


Federal nos autos do Mandado de Segurança nº 24631/DF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE


EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE
PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER
TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA
DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer
jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao
parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela
manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a
autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à
consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de
forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer;
(iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante,
essa manifestação de teor jurídica deixo de ser meramente opinativa e o
administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou,
então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo
impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior
hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário,
mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito

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concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada


relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha
resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro,
submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias,
não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer
de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (grifo nosso)

II – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta na Lei


1731/2018.

III – DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Foi enviado a essa Divisão, o Ofício nº 016/2020 advindo do Gabinete do


Vereador Silvio Espínola, no qual é solicitado a Mesa Diretiva a possibilidade de
disponibilização dos recursos financeiros recebidos e não utilizados no primeiro trimestre
de 2020 para o Poder Executivo.

A destinação seria para a compra de material para o combate do COVID-19,


especificamente para um ventilador pulmonar.

Tendo em vista o regime de “home office” em decorrência da Pandemia de


COVID-19, tal pedido e o presente parecer são enviados por e-mail, a fim de garantir a
celeridade dos processos.

Antes de mais nada, deve-se ressaltar que a Câmara Municipal realiza a devolução
do montante financeiro não utilizado ao final de cada exercício fiscal, em conformidade
com a Instrução Normativa nº 83/2013 do TCE-PR, art. 22:

Art. 22. O saldo de interferências financeiras repassadas e não


utilizadas, já descontado o numerário suficiente para a cobertura de
compromissos existentes no passivo financeiro do Poder
Legislativo e de Entidades descentralizadas mantidas com recursos
do tesouro, deve ser devolvido ao Poder Executivo no
encerramento do exercício.
§ 1° Desde que autorizado por lei, o saldo de que trata o caput
poderá ser mantido na Entidade da administração descentralizada a
título de antecipação de cotas financeiras do exercício seguinte.
§ 2º No exercício seguinte o Poder Executivo liberará, para o Poder
Legislativo, o valor das cotas financeiras do exercício, desta
deduzindo o saldo financeiro não utilizado no exercício anterior.
§ 3° As sobras de recursos de exercício anterior mantidas na forma
de antecipação serão considerados para efeito da verificação do
limite de gastos estabelecidos para o Poder Legislativo no art. 29-A
da Constituição Federal, apenas no exercício da utilização.

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O TCE-PR já se manifestou, no Acórdão nº 1486/18 pela impossibilidade da


devolução mensal dos valores, muito menos pela possibilidade de vinculação do numerário
a finalidade específica. In verbis:

Quanto ao mérito, desde logo registro não ser possível a devolução


mensal e de valores fixos do saldo em caixa da Câmara ao
Município, nem a vinculação da devolução dos recursos do
Legislativo a atendimento de projeto ou objetivo específico.
(ACÓRDÃO Nº 1486/18 - Tribunal Pleno – Processo nº
111218/17)

E ainda ressalta:

Além da vedação legal, assinalo que a atuação do Poder Legislativo


deve observar o planejamento financeiro e orçamentário à luz do
que prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Plano Plurianual, a
Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, com
vistas ao equilíbrio da execução orçamentária. Não há, neste
diapasão, discricionariedade para alteração do orçamento durante
sua execução no que concerne à devolução antecipada de recursos
públicos. (ACÓRDÃO Nº 1486/18 - Tribunal Pleno – Processo nº
111218/17)

Dessa forma, em situações normais e devido a leitura do Acórdão (em anexo) não
é possível a devolução mensal dos valores (recebidos a título de duodécimo) ao Executivo
Municipal. Tal manobra orçamentária é passível de responsabilização do Presidente da
Câmara.

Entretanto, deve-se ressaltar que estamos em situação de excepcionalidade e,


notoriamente sabido, de emergência. Embora não recomendável a transferência de
recursos ao Executivo, cabe a Mesa Diretiva e ao Presidente a deliberação sobre a
transferência, com a de devida justificativa e estando ciente de que, mesmo em uma
situação de pandemia e emergencial, o TCE-PR pode responsabilizá-los por violação
as regras orçamentárias vigentes.

Ainda, mesmo que se delibere sobre a transferências de recursos, não é possível a


vinculação desse numerário para devido fim:

Quanto à vedação de destinação das verbas à execução de um


projeto específico, tal medida violaria, per se, a autonomia dos
poderes em âmbito municipal, além do princípio orçamentário da
“não vinculação‟, em compasso como o artigo 167, IV, da
Constituição da República e da impossibilidade de transposição,
remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de
programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia
autorização legislativa, vide o artigo 167, VI, do texto
constitucional. (ACÓRDÃO Nº 1486/18 - Tribunal Pleno –
Processo nº 111218/17)
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As transferências vão ao Poder Executivo como Recursos livres, podendo ser


utilizados com qualquer finalidade.

V - DA CONCLUSÃO

Tendo em vista todo o disposto supra, o pedido do Sr. Vereador vai de encontro as
normas Constitucionais e legais, apresentando vícios. Bem como contradiz os dispositivos
e orientações do TCE-PR.

Para melhor apreciação, recomenda-se o envio as comissões pertinentes e debate


com a Mesa Diretiva.

Seguem em anexo a Resolução nº 83/2013, o Acordão 1486/2018 e notícia


vinculada no Sitio Eletrônico do TCE-PR.

É o parecer.

Contenda, 05 de abril de 2020

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180

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