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Laboratorios I Ano Lectivo 2021/22

TRABALHO PRÁTICO

CALIBRAÇÃO DE UM ESPECTROSCÓPIO DE PRISMA

Objectivos - Este trabalho tem duas partes. Numa primeira faz-se a determinação do índice de
refracção de um poliedro de vidro. Na segunda parte procede-se à calibração de um
espectroscópio de prisma e determina-se os comprimentos de onda (c.d.o.) das riscas
amarela e verde dos espectros de emissão do sódio e do tálio, respectivamente.

1. Introdução

1.1. Refracção da Luz


A luz propaga-se no vácuo com uma velocidade constante (cerca de 300.000 km.s-1). Nos diferentes
meios materiais, no entanto, a luz propaga-se a velocidade inferior, cujo valor depende do próprio
meio e da frequência da luz incidente. O índice de refracção de um meio (n) é a razão entre a
velocidade da luz no vácuo (c) e a velocidade da luz no meio (v):
c
n= (1)
v
Trata-se, portanto, de uma grandeza adimensional e sempre maior que 1.
Quando a luz passa de um meio caracterizado por um índice de refracção n1 para outro de índice de
refracção n2, sendo 1 o ângulo de incidência e 2 o ângulo de refracção, a relação entre estes
parâmetros é expressa pela lei de Snell:
n1sen1 = n2 sen 2 (2)
De acordo com esta lei, quando a luz passa de um meio menos refringente (índice de refracção
menor) para um meio mais refringente (índice de refracção maior) os raios luminosos refractados
aproximam-se da normal ao plano de incidência. Esta situação esquematiza-se na figura 1.

I N

1
n1
S
n2

2

Figura 1. Refracção de um raio I de luz incidente sobre a superfície S que separa dois meios de
índice de refracção diferente, n1< n2. O raio refractado R aproxima-se da normal N ao plano de
incidência: 1 > 2

O índice de refracção de um meio varia com a frequência da luz incidente já que, da equação (1):
𝑐 𝑐
𝑛= = (3)
𝑣 𝜆𝑓
em que  é o comprimento de onda e f é a frequência.

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Como a luz branca é uma mistura de ondas de diferentes frequências, quando a luz incide num
material com um determinado ângulo de incidência, cada uma das suas componentes é desviada de
um ângulo diferente, de acordo com a sua frequência própria, e as diferentes cores componentes do
feixe luminoso tornam-se visíveis.

1.2. Fontes luminosas e espectros de emissão


Feixe luminoso heterocromático é um feixe constituído por radiações de diferentes comprimentos
de onda ou frequências (cores). As lâmpadas incandescentes são as fontes heterocromáticas de uso
mais comum. Elas são basicamente constituídas por um filamento (geralmente de tungsténio) que,
ao ser aquecido, emite energia radiante sob a forma de luz branca. Ao atravessar um prisma, por
exemplo, a luz branca decompõe-se nas diferentes cores componentes, naquilo que se designa por
espectro contínuo de emissão. Diz-se contínuo porque a sequência de cores se sucede de forma
contínua. É "de emissão" por ser emitido pela fonte luminosa. Sólidos e líquidos incandescentes
emitem espectros contínuos.
Pelo contrário, vapores e gases incandescentes emitem espectros descontínuos que apresentam
algumas riscas com cores perceptíveis à nossa visão. Para se obterem vapores luminosos, em muitos
casos é suficiente introduzir um pouco da substância que se quer vaporizar, sólida ou líquida, numa
chama incolor (por exemplo a parte mais calorífica da chama de um bico de Bunsen).
Outra possibilidade para a obtenção de espectros de emissão descontínuos é a utilização de tubos de
vidro nos quais se introduzem os gases que se pretendem estudar em quantidades muito pequenas
(pressões baixas - gases rarefeitos). Os gases são tornados luminosos por meio de uma descarga
eléctrica entre dois eléctrodos situados nas extremidades dos tubos. Neste trabalho prático serão
utilizadas fontes luminosas deste tipo, com características monocromáticas, ou heterocromáticas.

1.3. Dispersão da luz por um prisma


Um prisma (traço a cheio na figura 2) é formado por dois dióptros planos (superfície que separa
dois meios diferentes), fazendo entre si um ângulo. O índice de refracção do prisma, n, depende não
só do material que o constitui mas também do c.d.o. da luz incidente, , variando com este de
acordo com a relação:
k
n = k1 + 22 (4)

em que k1 e k2 são constantes que caracterizam o material.

a) b)

Figura 2. a) Dispersão de um raio de luz monocromática por um prisma. D é o ângulo de desvio


total, relativamente à direcção de incidência. b) Dispersão de um raio de luz heterocromática por
um prisma. Os ângulos de desvio variam consoante o c.d.o. das componentes do raio incidente.

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Por outro lado, sabe-se que o ângulo de desvio D no prisma é função crescente do seu índice de
refracção n (figura 2). Assim, quando  diminui, n aumenta e D aumenta também. Quer dizer, se
fizermos incidir na face do prisma um feixe de luz heterocromática (luz branca) obteremos vários
feixes de luz monocromática emergentes, uma vez que, para cada radiação do feixe incidente com
um dado comprimento de onda i, existirá um índice de refracção ni distinto. Assim, depois de
refractado, o feixe incidente heterocromático surge decomposto nas radiações que o constituem
(figura 2-b)). Como indicado na figura, a radiação violeta sofre um desvio superior ao da radiação
vermelha, uma vez que o seu c.d.o. é menor.

1.4. Constituição e funcionamento de um espectroscópio de prisma


O espectroscópio de Bunsen que vamos usar está esquematicamente representado na figura 3,
constituído pelas seguintes partes:
- um óculo, com duas lentes (a ocular L1 e a objectiva L2), móvel em torno de um eixo vertical,
- um colimador fixo, com uma objectiva L3 num dos extremos e uma fenda regulável F no outro,
- uma plataforma onde está colocado o prisma, na posição de desvio mínimo para a zona média do
espectro, e
- um tubo fixo onde se encontra uma escala E, colocada no plano focal de uma objectiva L4.

Figura 3. Representação esquemática de um espectroscópio de Bunsen

No colimador existe uma fenda estreita F (iluminada por uma fonte luminosa) que serve de objecto.
Deve estar colocada no plano focal da objectiva L3 para que o feixe que sai do colimador seja um
feixe de raios paralelos. Nestas condições, se a referida fonte luminosa for heterocromática, o feixe
que incide no prisma é heterocromático e de raios paralelos (fig. 3). Então, devido à dispersão no
prisma obtêm-se, à saída deste, vários feixes de raios paralelos, cada um com seu c.d.o. (portanto
com sua cor). Cada um deles atravessa a lente L2 convergindo no seu plano focal, onde forma a
imagem da fenda F (uma risca). O conjunto destas imagens (riscas), correspondente às diferentes
radiações monocromáticas que compõem a luz emitida pela fonte, constitui o espectro de emissão
da fonte luminosa em causa.
No plano focal da objectiva do óculo a imagem de uma escala E sobrepõe-se à do espectro de
emissão. Para se ver essa imagem, essa escala deve ser iluminada por uma lâmpada de
incandescência, colocada à entrada do tubo fixo (fig. 3). A escala está colocada no plano focal de L4
e o feixe de raios paralelos que emerge desta lente é reflectido na face AB do prisma dando origem
a uma imagem da escala no plano focal de L2.
Para observar as imagens do espectro e da escala sobrepostas foca-se a ocular L1 para o plano onde
se formam essas imagens.

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1.5. Calibração do espectroscópio


Calibrar um aparelho de medida é estabelecer uma correspondência entre a graduação da escala que
lhe está associada e os valores numéricos de uma grandeza física mensurável com esse aparelho.
Neste trabalho pretende-se conhecer os c.d.o. das riscas amarela (sódio) e verde (tálio) dos espectros
de emissão desses elementos. No entanto, como poderá verificar, a escala associada ao
espectroscópio que vai usar não está dimensionada. É por isso necessário começar por calibrar o
aparelho, ou seja, fazer corresponder à graduação da escala, valores numéricos da grandeza física
"comprimento de onda". A calibração será efectuada do modo seguinte:
- utilizando riscas cujos c.d.o. são conhecidos (tabela 1), regista-se a localização dessas riscas na
escala E associada ao espectroscópio,

Tabela 1. Riscas dos espectros de emissão de cádmio e mercúrio


Material Risca Comprimento de onda Características Observações
(Å)
Cádmio Vermelha 6438,5 (intensa)
Verde 5085,8 (intensa)
Azul (la. risca) 4799,9 (intensa)
a
Azul (2 . risca) 4678.1 (intensa)
Mercúrio Amarela 5790.7 (muito intensa) Não são resolvidas,
Amarela 5769.6 (muito intensa) <>=5780
Verde 5460.7 (intensa)
Verde azulado 4916.5 (intensa média)
Azul 4358.3 (intensa)
Violeta 4078 (intensa média)
Violeta 4046.6 (intensa média)

- num gráfico, com escala apropriada, representa-se o c.d.o. das riscas observadas, em função
das posições da escala onde as mesmas apareceram,
- ajusta-se a melhor curva - curva de calibração do espectroscópio - de modo a que os desvios
dos pontos experimentais que permaneçam acima e abaixo da curva se compensem.
Comprimento de onda (Angström)

6500 Calibração do espectroscópio


Na figura 4 apresenta-se um exemplo de
uma curva de calibração. O c.d.o. de 6000

qualquer risca do espectro visível pode ser


determinado a partir da curva de 5500

calibração, desde que se conheça a


5000
localização dessa risca na escala graduada
do espectroscópio.
4500

4000

12 13 14 15 16 17 18 19 20
Divisão da escala

Figura 4. Exemplo de curva de calibração


de um espectroscópio de prisma
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2. Procedimento experimental

2.1. Determinação do índice de refracção do acrílico


Material necessário: semicilindro de acrílico, fonte luminosa, folha branca com transferidor.

2.1.1. Colocar o semicilindro sobre o transferidor para que o seu centro coincida com o centro do
transferidor e a face plana com a perpendicular ao diâmetro marcado “NORMAL” (figura 5).
Preparar a fonte luminosa seleccionando apenas uma fenda para a saída dos raios luminosos.
Regular as posições da fonte e do poliedro para poder ver claramente a incidência dos raios do
lado plano do semicilindro (interface ar-plástico) e a saída dos raios da superfície cilíndrica.
Os raios são refractados duas vezes: a primeira vez na interface ar-vidro e a segunda vez na
interface vidro-ar. No entanto, na segunda face a trajectória da luz não é alterada porque os
raios luminosos incidentes à superfície cilíndrica são perpendiculares a esta e de acordo com a
lei de Snell (eq.2)  2 = 1 .

Figura 5. Medição do índice de


refracção do acrílico

2.1.2. Anotar as posições angulares, lidas no transferidor, do raio incidente na primeira interface -
1 - e do raio refractado nessa mesma interface - 2. Registar os valores na folha de dados.

2.1.3. Repetir as medidas anteriores para mais três ângulos de incidência diferentes.

Tratamento dos dados

- Usando a equação (2), calcular o índice de refracção do semicilindro para cada uma das 4
orientações. Tomar o valor nar = 1 como índice de refracção do ar. Indicar os valores na folha de
registo de dados.

- Com base nos valores calculados, determinar o valor médio do índice de refracção <n> e o
respectivo desvio padrão  n .

Análise do resultado

Procurar na literatura ou internet os valores do índice de refracção de materiais similares e comparar


com o valor obtido. Comente.

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2.2. Calibração de um espectroscópio de prisma


Material necessário: espectroscópio de prisma, lâmpada de cádmio, lâmpada de vapor de mercúrio,
lâmpada de tálio, lâmpada de sódio e lâmpada de incandescência.

ATENÇÃO: Durante a execução deste trabalho ter o cuidado de não dar nenhum toque
brusco no espectroscópio. Isso pode provocar um deslocamento do prisma e,
consequentemente, uma alteração da posição relativa das riscas na escala. Quando
tal acontece, as posições das riscas obtidas “antes” seguem uma determinada curva
(figura 4) e as riscas obtidas “depois” seguem claramente uma outra, paralela à
primeira.

2.2.1. Colocar junto à fenda do colimador uma lâmpada de cádmio. Regular a tiragem do óculo de
modo a observar nitidamente o espectro de riscas emitido.

2.2.2. Iluminar a escala do aparelho (colocada na extremidade do tubo mais curto) com a lâmpada
de incandescência. Observar a imagem da escala.

2.2.3. Na folha de registo de dados anote a posição da escala em que se forma cada uma das riscas,
Deve fazer uma única leitura de cada vez. A fim de evitar erros de paralaxe, deslocar o óculo
para cada medida de forma a fazer a leitura com a risca no centro da imagem.

2.2.4. Substituir a lâmpada de cádmio por uma lâmpada de vapor de mercúrio e proceder como na
alínea anterior.

2.3. Determinação dos c.d.o. das riscas verde do tálio e amarela do sódio
2.3.1. Colocar a fonte de tálio em frente da fenda do colimador e registar a divisão da escala
correspondente à sua risca verde. Anotar o valor na folha de registo de dados.

2.3.2. Fazer o mesmo para a risca amarela da fonte de sódio.

2.4. Observação de um espectro contínuo de emissão


Substituir as fontes luminosas até aqui utilizadas e colocar junto à fenda do colimador a própria
lâmpada de incandescência que usou para iluminar a escala do espectroscópio. Tomar nota do
fenómeno observado, é explica-lo no ponto de análise dos resultados. Determinar os c.d.o. limites
do espectro observado (região do vermelho e do violeta).

Tratamento dos dados

- Construir um gráfico ocupando a totalidade da área, a fim de permitir uma leitura fácil e precisa.
Marcar em ordenada os valores dos c.d.o. das riscas observadas nos espectros de cádmio e de
vapor de mercúrio e em abcissas os valores das divisões da escala onde se formaram as
respectivas riscas.

- Sobre o gráfico ajustar uma linha de tendência, e.g. polinomial, a curva de calibração. O gráfico
com a curva de calibração deve ser incluído no relatório do trabalho.

- Utilizando a curva de calibração, determinar o c.d.o. da risca verde do tálio e da risca amarela do

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sódio e avaliar as respectivas incertezas (através da propagação dos erros). A largura das riscas, o
erro de paralaxe, etc. vão provocar incerteza na leitura da escala que se reflecte no comprimento
de onda determinado pelo gráfico de calibração (ver figura 6). Indicar os valores na respectiva
tabela da folha de registo de dados.

Figura 6. Determinação da incerteza no


comprimento de onda

- Comparar os valores obtidos no ponto anterior com valores tabelados em bibliografia (c.d.o. da
risca verde do tálio - 5351 Å, e c.d.o. da risca amarela do sódio - 5895 Å). Comentar.

- Explicar o espectro observado com a lâmpada de incandescência e indicar os c.d.o limites.

Análise dos resultados

Identificar a origem dos erros experimentais e sugerir procedimento para os minimizar. Descrever o
espectro de emissão que foi observado para a lâmpada de iluminação.

Relatório

Elaborar um relatório do trabalho efectuado seguindo as indicações dadas.

Bibliografia

[1] Paul Tipler, Óptica e Física Moderna, Editora Guanabara-Koogan, 4ª Edição (2000).
[2] Jenkins F.A. & White H.E. - Fundamentals of Optics.
[3] M.M.R.R. Costa e M.J.B.M. de Almeida, Fundamentos de Física, 2ª edição, Coimbra, Livraria
Almedina (2004).
[4] M. Alonso e E. Finn, Física, Addison-Wesley Iberoamericana (1999)
[5] N. Ayres de Campos, Algumas noções elementares de análise de dados, Coimbra, Dep. Física
da FCTUC (1993/94).

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P7 - CALIBRAÇÃO DE UM ESPECTROSCÓPIO DE PRISMA Visto do Professor

REGISTO DE DADOS E CÁLCULOS

Nome do aluno__________________________________________________

2.1. Determinação do índice de refracção de um poliedro

Ângulo de incidência - 1 (º) Ângulo de refracção - 2 (º) Índice de refracção - n

Valor médio e a sua incerteza,  n   n , ___________________________

2.2. Calibração de um espectroscópio de prisma

Risca Comprimento de onda (Å) Divisão da escala


vermelha de cádmio 6438,5
amarela de mercúrio (média de 5780
duas riscar muito próximas)
verde de mercúrio 5460.7
verde de cádmio 5085,8
verde azulado de mercúrio 4916.5
azul de cádmio(1ª risca) 4799,9
azul de cádmio (2ª risca) 4678,1
azul de mercúrio 4358.3
violeta (1ª risca) de mercúrio 4078
violeta (2ª risca) de mercúrio 4046.6

2.3. Determinação dos c.d.o. das riscas verde do tálio e amarela do sódio

Risca Divisão da escala Comprimento de onda Comprimento de


determinado (Å) onda tabelado (Å)
Verde do tálio ± ± 5351
Amarela do sódio ± ± 5895

Comentários e conclusões.

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