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debates

Publicação destinada exclusivamente a médicos associados da ABP


r
Ano 2 . Nº1 . Jan/Fev de 2010

PSIQUIATRIA HOJE w w w . a b p b r a s i l . o r g . b

Suicídio
Problema de saúde pública é
relacionado a doenças mentais em
90% dos casos. Articulistas discutem
como esclarecer sua prevenção
debates
PSIQUIATRIA HOJE

debate hoje | 3
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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista


Debate
matéria de capa

Prevenção
do suicídio
Com a palavra:

Neury
Botega
Professor Titular do Departamento
de Psicologia Médica e Psiquiatria
da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Estadual de Articulistas convidados pela
revista Psiquiatria Hoje –
Campinas. Coordenador da
Comissão de Prevenção de Suicídio
da ABP.
Debates apresentam
informações e discutem
abordagens para combater
José Manuel questão de saúde pública
Bertolote que preocupa a
Professor do Departamento de
Neurologia, Psicologia e
Psiquiatria da Faculdade de Organização Mundial de
Medicina de Botucatu (Unesp).
Saúde e está diretamente
relacionada à saúde mental

Luiz Alberto S uicídio. Mais que uma questão filosófica ou


Hetem religiosa, este é um problema de saú-de
Vice-presidente da ABP.
Membro de banca de exame de pública que, segundo a OMS, é res-
mestrado e de doutorado da ponsável por 24 mortes diárias no Brasil
Universidade de São Paulo e e três mil no mundo todo, além de 60 mil
professor da pós-graduação da
tentativas. A terceira causa de mortes entre jovens
Universidade de São Paulo.
entre 15 e 35 anos preocupa os profissionais que
trabalham no atendimento a problemas de saúde
mental, relacionados a 90% dos casos.

Marco Antônio
Apesar da relevância e da incidência,
Bessa levantamen-tos da OMS indicam que o problema
Mestre em Filosofia – UFsCar. é negligen-ciado. Ao contrário de outras causas
Doutor em Psiquiatria –
externas de óbito, como acidentes de trânsito e
Unifesp. Presidente da
Sociedade Paranaense de homicídios, o número de casos cresceu 60% nos
Psiquiatria. Membro da últimos 45 anos. Leia a seguir as considerações
Coordenação do Programa de
feitas por quatro especialistas convidados pela
Educação Continuada da ABP
revista Psi-quiatria Hoje – Debates.

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tantes, ao longo de um ano. No Brasil, o coefi-
COMPORTAMENTO
ciente médio para o triênio 2005-2007 foi de
SUICIDA EM NÚMEROS 5,1 (8,3 em homens; 2,1 em mulheres). Esse
índice pode ser considerado baixo, quando
Neury Botega
comparado aos de outros países, conforme
A cada dia, 24 pessoas suicidam-se visualiza-se na figura abaixo.

Em termos de número de óbitos, o Brasil figu-ra Um coeficiente nacional de mortalidade por sui-
entre os dez países que registram os maiores cídio esconde importantes variações regionais.
números absolutos de suicídios. Foram 8639 sui- Em um artigo recente sobre a epidemiologia do
cídios oficialmente registrados em 2006, o que suicídio no Brasil (Lovisi et al., 2009), vemos que
representa, em média, 24 mortes por dia. Do total a Região Sul teve coeficiente médio de 9,9
de suicídios, 79,3% foram de homens, o que dá suicídios para cada 100 mil habitantes, no tri-
uma razão de 3,8:1 entre homens e mulheres. ênio 2004-2006 (13,2 em homens; 3 em mu-
lheres). No Centro-Oeste, no mesmo período, o
A mortalidade proporcional corresponde ao per- coeficiente médio foi de 7,4 (9,1 em homens; 2,8
centual, do total de óbitos, devido a suicídio. em mulheres). Nas regiões com menores coe-
Atinge 0,9% no Brasil como um todo. Entre pes- ficientes de mortalidade por suicídio, Norte (4,3)
soas que têm entre 15 e 29 anos de idade, o e Nordeste (4,6) algumas capitais notabilizam-se
suicídio responde por 3% do total de mortes e se por índices que destoam da média regional: Boa
encontra entre as três principais causas de Vista (9,30, Macapá (8,7) e Fortaleza (7,3).
morte. Em Roraima e no Amapá a mortalidade
proporcional por suicídio chega a ser três vezes Em certas cidades, bem como em alguns grupos
maior que a média nacional (2,7% e 2,1%), pro- populacionais (como por exemplo, o de jovens em
vavelmente devido ao elevado número de suicí- grandes cidades, o de indígenas do Centro-Oeste e
dio na população indígena. do Norte, e entre lavradores do interior do Rio
Grande do Sul) os coeficientes aproximam-se dos
O coeficiente de mortalidade por suicídio fornece de países do leste europeu e da Escandinávia.
o número de suicídios para cada 100.000 habi- Se considerarmos, por exemplo, dentre os muni-

Coeficientes de suicídio por 100 000 habitantes


WHO, 2000

> 16
8-16

<8
sem dados

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Debate
matéria de capa

cípios com população igual ou maior do que 50 mil habitantes, os que apresentam as
maiores taxas de suicídio, metade é de municípios gaúchos. Aparecem, também,
municípios do Ceará, Estado que na Região Nordeste tem os maiores índices de suicídio.

20 MAIORES COEFICIENTES DE SUICÍDIO EM CIDADES COM PELO


MENOS 50 MIL HABITANTES (MÉDIA DO TRIÊNIO 2005 – 2007)

CIDADE ESTADO POPULAÇÃO COEFICIENTE DE


EM 2006 SUICÍDIO
Venâncio Aires RS 67.373 26,2
Lajeado RS 67.556 19,4
Caicó RN 61.705 15,8
Santa Rosa RS 69.988 15,7
Vacaria RS 62.263 15,7
Boa Viagem CE 52.072 15,5
Gaspar SC 54.395 15,2
Itaúna MG 84.602 15,2
Dourados MS 186.357 15,1
Guaxupé MG 52.526 15,0
São Borja RS 67.788 14,6
Canguçu RS 52.245 14,5
Uruguaiana RS 136.365 14,3
Tianguá CE 68.466 14,2
Passo Fundo RS 188.303 13,9
Santa Cruz do Sul RS 119.804 13,9
Tailândia PA 53.753 13,8
Sapiranga RS 78.994 13,8
Curvelo MG 73.791 13,5
Russas CE 65.268 13,5
Fonte: SVS, Ministério da Saúde, 2009

Dados estão subestimados estima que 15,6% dos óbitos não foram registra-dos
(sub-registro). Em relação às estatísticas do
Os dados sobre mortalidade por suicídio derivam do Ministério da Saúde, o IBGE calcula que 13,7% dos
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do óbitos ocorridos em hospitais, no mesmo ano,
Ministério da Saúde, disponíveis na internet. podem não ter sido notificados (subnotificação).
Certamente estão subestimados. O IBGE, ao com- Além disso, no caso de mortes por causas exter-
parar suas projeções demográficas com o total de nas, é frequente o atestado de óbito trazer a na-
óbitos registrados nos cartórios brasileiros, tureza da lesão que levou à morte, sem se referir

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à circunstância que a ocasionou. É esse o motivo taxas aumentaram para um nível médio de 5,4, per-
pelo qual se registram, em nosso país, nessa cate- manecendo estáveis até 2006. Isso representa um
goria, em torno de 10% de “óbitos por causas ex- acréscimo de 29,5% no coeficiente de mortalidade
ternas de tipo ignorado”. Fica-se sem saber se as por suicídio entre 1980 e 2006 (Lovisi et al., 2009).
mortes foram por homicídio, suicídio ou acidente.
Os coeficientes de mortalidade por suicídio têm
A fim de elucidar esse ponto, um estudo avaliou aumentado em nosso país, notadamente no
amostra de 320 óbitos ocorridos por causas exter- sexo masculino, entre 20 e 59 anos, segundo o
nas. Em busca de informações, os pesquisadores estudo acima citado (veja figura abaixo).
visitaram Institutos de Medicina Legal, Delega-cias
de Polícia e domicílios dos falecidos. Como As taxas de mortalidade por suicídio aumenta-
resultado, verificou-se que o número real de suicí- ram em municípios com até 50 mil habitantes,
dios era quatro, e não dois, como previamente re- chegando a ultrapassar os valores obtidos em
gistrado. Dito de outra forma, o real era o dobro. municípios mais populosos. Os municípios com
mais de 100 mil habitantes apresentaram re-
No caso, as informações estavam disponíveis, mas dução na taxa de mortalidade por suicídio no
não haviam sido transcritas nas declarações de período de 1996 a 2000, voltando a apresentar
óbito (Mello Jorge et al., 2002). Esse tipo de acréscimo em 2001 e tendendo à estabilidade
problema compromete a correção dos dados do entre 2002 e 2005 (Brasil, 2008).
Sistema de Informação de Mortalidade.
Tentativas de suicídio
Os coeficientes de suicídio
aumentaram 29,5% Estima-se que as tentativas de suicídio
superem o número de suicídios em pelo
As taxas de mortalidade por suicídio permaneceram menos dez vezes. Não há, entretanto, em
estáveis entre 1980 e 1994, com média de 4,5 mortes nenhum país, um regis-tro de abrangência
por 100 mil habitantes. No triênio 1995-1997 essas nacional de casos de tenta-tiva de suicídio.

8-
7-  
 
6-
   
5-     
 
4-   
3-
2-
        
1-
0-
1980-1982 1983-1985 1986-1988 1989-1991 1992-1994 1995-1997 1998-2000 2001-2003 2004-2006

 Homem 4,7 5,1 4,9 5,2 5,8 6,9 6,8 7,2 7,3
Mulher 1,9 1,8 1,7 1,6 1,6 1,8 1,6 1,8 1,9
Total 4,4 4,5 4,3 4,5 4,8 5,4 5,1 5,5 5,7
Suidídio 1000.000 habitantes - Fonte: Lovisi et al., 2009

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O que temos, em termos de Brasil, deriva de um ram divididos aleatoriamente em dois grupos: um
estudo realizado sob o auspício da Organização grupo recebeu “tratamento usual” (geralmente
Mundial da Saúde, na área urbana do município de alta do pronto-socorro sem encaminhamento a
Campinas. Nesse estudo, a partir de listagens de serviço de saúde mental); e outro grupo recebeu
domicílios feitas pelo IBGE, 515 pessoas foram uma “intervenção breve”, que incluiu entrevista
sorteadas e entrevistadas face-a-face por pesqui- motivacional e telefonemas periódicos, segundo
sadores da Unicamp. Apurou-se que, ao longo da o esquema abaixo.
vida, 17,1% das pessoas “pensaram seriamente em
por fim à vida”, 4.8% chegaram a elaborar um plano SUPRE-MISS: FLUXOGRAMA DO ESTUDO
para tanto, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio. DE INTERVENÇÃO BREVE
De cada três pessoas que tentaram o suicídio, Tentativas de Suicídio
apenas uma foi, logo depois, atendida em um HC Unicamp

pronto-socorro (Botega et al., 2005). Es-ses dados


conformam uma espécie de iceberg no qual uma
Tratamento Intervenção
pequena proporção do chamado com-portamento usual breve
suicida chega a nosso conhecimento.
1s
Entrevista
Motivacional 2s

COMPORTAMENTO SUICIDA 4s
Telefonemas
AO LONGO DA VIDA 7s
ou 11 s
4m
1 Atendidas em
Pronto-Socorro
Visitas
domiciliares 6m

12 m

5
3 tentativa
18 m desfechos 18 m
plano

Um total de 1867 casos de tentativas de suicídio


17 pensamento foram avaliados e aleatorizados nos dois grupos.
Ao final de 18 meses, a “intervenção breve” re-
duziu em dez vezes o número de suicídios,
De cada 100 habitantes
em relação ao grupo que recebeu o
Botega et al., 2005
“tratamento usual” (Fleischmann et al., 2008).
No Brasil, o projeto recebeu apoio financeiro
A assistência prestada a pessoas que tentaram o da OMS e da Fundação de Amparo à
suicídio é uma estratégia fundamental na preven- Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
ção do suicídio, pois essas constituem um grupo de
maior risco para o suicídio (Botega e Garcia, 2004). Além do projeto SUPRE-MISS, outros realizados por
Nessa linha de prevenção, o Estudo Mul-ticêntrico nosso grupo de pesquisa, na Unicamp – com
de Intervenção no Comportamento Suicida indivíduos com epilepsia (Stefanello et al., 2009),
(SUPRE-MISS) da Organização Mundial da Saúde com adolescentes grávidas (Freitas et al.) - forta-
(OMS), realizado em dez países (Bra-sil, China, Irã, lecem a ideia de que na prevenção de um evento
Índia, Sri-Lanka, Estônia, África do Sul, Vietnam, tão traumático e relativamente raro, como é o
Suécia e Austrália), realizou um ensaio terapêutico suicídio, é preciso eleger quais as subpopulações de
com pessoas que tentaram o suicídio. Nessa maior risco que, consequentemente, deverão ser
estratégia, indivíduos atendidos em pronto-socorros alvo de estratégias direcionadas para a pre-venção
por tentativa de suicídio fo- do suicídio.

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mentados), porém, se considerarmos toda a gama
Referências
dos comportamentos suicidas, deveríamos acres-
centar ainda cerca de 9 a 35 milhões (estimados) de
Botega NJ, Garcia LSL (2004). Brazil: the
need for violence (including suicide) casos anuais de tentativas de suicídio.

prevention. World Psychiatry 3(3):157-158.


Entretanto, esses casos de suicídio e de tenta-

Botega NJ, Barros MBA, Oliveira HB, Dalgalar- tivas de suicídio não se distribuem de maneira
rondo P, Marin-León L (2005). Suicidal Behavior uniforme através dos diversos países e de suas
in the community: prevalence and factors asso- diversas regiões. Quando nos referimos à taxa
ciated to suicidal ideation: Revista Brasileira de de mortalidade por suicídio (que reflete a ocor-
Psiquiatria 27(1):45-53. rência de casos por 100.000 habitantes), ao
invés de seu número absoluto, numa perspec-
Freitas GV, Cais CF, Stefanello S, Botega
tiva global observamos as taxas mais elevadas,
NJ (2008). Psychosocial conditions and
em geral, nos países hoje independentes, que
suicidal behavior in pregnant teenagers : a
anteriormente faziam parte da Cortina de Fer-ro
case-control study in Brazil. European Child
(taxas acima de 35 por 100.000: Bielorrúsia,
and Adolescente Psychiatry 17(6):336-342.
Lovisi GM, Santos AS, Legay L, Abelha L, Casaquistão, Hungria, Letônia, Lituânia, Rússia,
Ucrânia), ao passo que as taxas mais baixas são
Valencia E (2009). Análise epidemiológica do
registradas em países islâmicos (taxas inferiores
suicídio no Brasil entre 1980 e 2006. Revista
a 2,5 por 100.000: Arábia Saudita, Bahrein, Egi-
Brasileira de Psiquiatria 31(Suplemento):86-93
to, Emirados Árabes Unidos, Irã, Jordânia, Kuai-
Mello Jorge, MHP, Gotlieb SLD, Laurenti R (2002). te, Síria) seguidos de países da América Latina
O sistema de informações sobre mortalidade: pro- (taxas entre 2,5 e 15 por 100.000).
blemas e propostas para o seu enfrentamento. II -
Inúmeros fatores já foram identificados como pre-
Mortes por causas externas. Revista Brasileira de
disponentes e precipitantes dos comportamentos
Epidemiologia 5(2):212-213.
suicidas, entre os quais, constituição genética,
fatores demográficos (particularmente idade, sexo e
Brasil – Ministério da Saúde (2008). Saúde
situação conjugal), fatores culturais, fa-tores
Brasil 2007: uma análise da situação de
nosológicos (particularmente doenças men-tais e
saúde. Stefanello S, Marín-Léon L, Fernandes
físicas crônicas, incuráveis e causadoras de grande
PT, Min LL, Botega NJ. Suicidal thoughts in
sofrimento), fatores psicológicos (perdas afetivas ou
epilepsy: A community-based study in Brazil.
materiais, reais ou simbólicas), fato-res sociais e
Epilepsy Behav. 2010 (no prelo)
ambientais (por exemplo, isolamento social,
condições de vida extremamente adversas, e
importantes perdas materiais).
O SUICIDIO NO MUNDO
O conhecimento aprofundado dos mecanismos de
José Manoel Bertolote atuação desses diversos fatores, seja isolada-
Apesar de o suicídio ser (felizmente) um even-to de mente, seja através de suas complexas interações,
ocorrência rara em nosso meio, no âmbito mundial, ademais de sua relevância em termos absolutos de
atingiu recentemente proporções tais que já é seu valor para a suicidologia, adquire sua plena
considerado pela Organização Mundial da Saúde importância para a concepção, planifica-ção e
(OMS) como uma das prioridades globais de Saúde implementação de intervenções eficazes e efetivas
Pública. O número de vida perdidas por suicídio para a prevenção dos comportamentos suicidas,
anualmente beira os 900.000 (bem docu- sem perder de vista sua especificidades

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matéria de capa

socioculturais, ao mesmo tempo em que se crista- modo geral, o envenenamento é uniformemente


lizam experiências de valor preventivo universal. Em empregado preferencialmente por mulheres, ao
decorrência da interação desses fatores, ob- passo que em muitos países os homens recorrem
servam-se importantes variações da distribuição mais a armas de fogo (por exemplo, Austrália, Es-
das taxas de suicídio em termos de idade e de tados Unidos da América e Suíça). Certos métodos
sexo. Salvo raríssimas exceções (por exemplo, apresentam uma grande especificidade cultural,
Nova Zelândia), as taxas de suicídio aumentam como o atirar-se de lugares altos, em Hong Kong,
progressivamente com a idade, para ambos sexos. atear-se fogo, na Índia (particularmente mulhe-res)
Em termos globais, as taxas de suicídio na faixa e intoxicar-se com gases de escapamento de
etária acima de 65 anos são 2 a 3 vezes maiores do motores a explosão, na Inglaterra e na Austrália.
que abaixo de 25 anos. Contudo, na maioria dos Três outros fatores contribuem para o quadro
países altamente industrializados observa-se extremamente diverso das características dos
atualmente o pico das taxas de suicídio nas ida-des comportamentos suicidas de um país a outro. Um
compreendidas entre 45 e 60 anos, principal-mente deles, intrínseco à própria essência dos compor-
entre os homens. tamentos suicidas, diz respeito ao papel de certos
transtornos mentais como fatores predisponentes e
Deve-se assinalar, entretanto, que nos últimos 50 desencadeantes desses comportamentos. De-
anos vem ocorrendo um nítido deslocamento o pico pressão, alcoolismo, esquizofrenia são os trans-
das taxas de suicídio para faixas etárias mais tornos mentais mais frequentemente associados
jovens. Até 1950, 60% dos suicídios eram aos comportamentos suicidas: tomados em con-
observados em pessoas com mais de 45 anos, ao junto, estes quatro transtornos têm sido observa-
passo que em 2000 apenas 45% ocorriam nessa dos em mais de 80% de todos os casos de suicídio
mesma faixa etária. Esta mudança adquire maior nos quais foi feita uma avaliação diagnóstica da
importância se considerarmos o aumento progres- pessoa falecida. Como a distribuição desses trans-
sivo da expectativa de vida, que resulta num pre- tornos não é uniforme através do planeta, isso
domínio crescente da população idosa. Como não acaba contribuindo para a diversa ocorrência de
se observa um aumento divergente das taxas de suicídios de parte a otra.
suicídio nestas distintas faixas etárias, o resulta-do
observado deve ser atribuído ao fato de que as O segundo fator, este extrínseco ao fenômeno dos
taxas de suicídio dos jovens está aumentando numa comportamentos suicidas, é relativo à eficácia da
velocidade superior à dos idosos. capacidade e prontidão de resposta dos distintos
sistemas de saúde. Um mesmo comportamento que
De maneira geral, as taxas de suicídio dos homens atente contra a própria vida, muitas vezes pode ter
predomina sobre as das mulheres numa proporção um desfecho fatal ou não dependente da presteza
de 3,5 a 5 por 1, sendo as mais importantes dife- com que os cuidados médicos de urgên-cia são
renças registradas em países industrializados e as prestados. Quando o sistema é altamente eficiente,
menores, em países de baixa renda. podemos ter um desfecho não-fatal, que será
registrado, no máximo, como tentativa de suicídio.
Outra importante diferença observada através do Quando o sistema não o é, em casos semelhantes
mundo diz respeito ao método empregado para e o desfecho resultante poderá ser um óbito, que
cometer o suicídio. Embora no Brasil a maioria dos engrossará as estatísticas de mortali-dade
suicidas utilizem preferencialmente o enfor- específica autoinflingida.
camento, numa escala planetária, a maioria dos
suicídios, para ambos sexos, é consumada através O terceiro fator está relacionado aos fatores de pro-
da ingestão de produtos tóxicos, particularmente teção contra os comportamentos de autodestrui-
defensivos agrícolas (pesticidas e herbicidas). De ção. Campo ainda relativamente pouco estudado,

16 | debate hoje
alguns destes fatores parecem atuar a longuíssimo Fatores sociais inerentes à vida contemporânea,
prazo (uma vez que se estabelecem, ou não, na relacionados à violência e à falta de expectativa
mais tenra infância) ao passo que outros têm uma de vida, sem dúvida contribuem para o aumento
influência muito mais próxima do evento autodes- da incidência do suicídio.
truidor (como as redes de apoio social). Em qual-
quer dos casos, os fatores de proteção estão pro- Entretanto, apesar do envolvimento de questões
fundamente enraizados na cultura e na estrutura de socioculturais, genéticas, psicodinâmicas, filosófi-co-
cada grupo social, e, de sua atuação só poderia existenciais e ambientais, na quase totalidade dos
resultar uma diversidade geográfica, exatamente o suicídios um transtorno mental encontra-se
que se observa numa análise dos comportamentos presente, o que denota a possibilidade de preven-
suicidas desde uma perspectiva in internacional. ção, caso haja tratamento da causa. Essa seria mais
uma razão dentre tantas outras, talvez a mais
Referências dramática, para que de fato seja criada uma Rede
de Atenção Integral em Saúde Mental que efetiva-
www.who.int/mental_health/prevention/suicide/ mente atenda as necessidades dos pacientes com
suicideprevention/en/index.html. transtornos mentais em todos os níveis de assis-
tência, como preconizado, já dito e repetido, pela
Bertolote JM, Fleischmann A (2009). A global Associação Brasileira de Psiquiatria.
perspective on the magnitude of suicide. In:
Was-serman D e Wasserrman C (Eds.): Estima-se que as tentativas de suicídio superem
Oxford Textbook of Suicidology and Suicide o número de suicídios em pelo menos dez vezes.
Prevention. Oxford: Oxford University Press. Não há, entretanto, registro de abrangência na-
cional de casos de tentativa de suicídio. A assis-
tência prestada a pessoas que tentaram o
suicídio é uma estratégia fundamental na
Prevenção do suicídio prevenção do suicídio, pois elas constituem um
Luiz Alberto Hetem grupo de maior risco para o suicídio.

Ações institucionais Idealmente, após a ocorrência a pessoa deve ser


encaminhada sem demora para atendimento es-
O suicídio, pela freqüência com que ocorre, muito
pecializado, quer seja a partir do pronto socorro, nos
maior do que se imagina, é um problema de saúde
casos em que foi necessário lançar mão deste
pública. Sua prevenção, em princípio, tem a ver
recurso, ou quando se tem notícia do acontecido,
com a identificação precoce e o correto encami-
mesmo que não haja maiores conseqüências. É um
nhamento de casos de transtornos mentais cuja
erro pressupor que tentativas de suicídio seriam
complicação mais grave é o risco de suicídio.
apenas uma maneira de se chamar atenção.

Os transtornos mentais mais comumente associa-


Até muito recentemente, pouco se fez em termos
dos ao suicídio são depressão, transtorno bipolar e
institucionais com vistas à prevenção do suicí-dio. O
abuso de álcool e de outras drogas. A esqui-
Plano Nacional de Prevenção do Suicídio do
zofrenia e certas características de personalidade
Ministério da Saúde, cujas diretrizes foram pu-
também são importantes fatores de risco. A situ-
blicadas em uma portaria de agosto/2006, pouco
ação é ainda mais grave quando há comorbidade
avançou na prática. Seus principais objetivos são
destas condições, por exemplo, depressão e alco-
desenvolver estratégias de promoção de qualida-de
olismo, ou ainda depressão, ansiedade e agitação
de vida e de prevenção de danos; promover a
psicomotora associados.
educação permanente dos profissionais de saúde

debate hoje | 17
Debate
matéria de capa

de acordo com os princípios da integralidade e da para suicídio e no desenvolvimento de formas


humanização e informar a sociedade de que o de intervenção preventiva nestas populações.
suicídio é um problema de saúde pública e que
pode ser prevenido. Por ocasião da publicação da Também digno de destaque é o trabalho do Centro
referida portaria, o Ministério da Saúde lançou um de Valorização da Vida (CVV), instituição brasi-leira,
manual de prevenção de suicídio destinado a sem fins lucrativos, que funciona nos mol-des de
equipes de saúde mental e uma bibliografia sua congênere britânica The Samaritans, fundada em
comentada sobre comportamento suicida. Outra 1953. Sua proposta é oferecer apoio a quem o
publicação, destinada ao treinamento de equipes da solicita por intermédio de ligações te-lefônicas. Há
rede básica de saúde em prevenção do suicídio já também atendimento pessoal para quem visita um
está pronta, mas ainda não foi impressa. posto do CVV. Em ambos o sigilo total é garantido
por parte dos voluntários. Exis-tem postos do CVV
Em virtude desta carência de ações efetivas e pela espalhados por todo o Bra-sil, atendendo ligações
importância do tema, a Associação Brasileira de 24 horas por dia, 7 dias por semana. Os
Psiquiatria, por intermédio de sua Comissão de atendentes, todos voluntários, possuem as mais
prevenção do suicídio e do Programa ABP Comu- diversas formações profissio-nais. Não há
nidade, visa divulgar informações isentas e atua- vinculação religiosa nem política. O atendimento
lizadas sobre o tema, sobre os transtornos men-tais baseia-se na proposta de abordagem centrada na
mais comuns e seu tratamento, em linguagem pessoa de Carl Rogers. A manutenção do serviço é
acessível, de modo a sensibilizar as pessoas, di- feita pelos próprios voluntários, atra-vés de
minuir o estigma e facilitar a busca por auxílio promoções e doações.
médico especializado sempre que houver suspeita
de risco de suicídio. A atual gestão da Associação Brasileira de Psi-
quiatria tem se empenhado, desde o seu início, na
Com esse objetivo em mente, durante o XVII Con- luta contra o estigma do paciente com trans-tornos
gresso Brasileiro de Psiquiatria, em novembro de mentais e de seus familiares, tão nocivo ao
2009, deflagrou uma campanha de prevenção ao tratamento adequado. Na área de prevenção ao
suicídio. Na ocasião foi distribuído material edu- suicídio talvez essa batalha seja ainda mais
cativo para a população, veiculado um filme na TV e importante na medida em que atenua barreiras para
também oficialmente lançado um manual para a a procura de orientação e auxílio especializa-do.
imprensa com orientações sobre a abordagem do Para aumentar a abrangência das ações, a ABP
assunto. Os próximos passos são a publicação de pretende fazer parceria com o CVV e outras ins-
um boletim com informações mais detalhadas sobre tituições, algumas internacionais, ainda em fase de
o tema, a ser distribuído para todos os as-sociados, planejamento. As Federadas e os Associados estão
e um programa de conferências/entre-vistas sobre convidados a participar de mais esta ação para a
suicídio, suas causas e prevenção. comunidade, envolvendo um problema de saúde
pública, cercado de tabus e infelizmente, mais
Dentre as instituições de ensino brasileiras, a Uni- comum do que se pensa.
camp tem se destacado nas linhas de pesquisa
relacionadas a suicídio e comportamento suicida,
sob liderança do Prof. Neury Botega. Ele é o co- Mais informações:
ordenador de um dos poucos grupos do país que
participaram do estudo multicêntrico de interven-ção www.cvv.org.br
para prevenção de comportamento suicida da www.abpcomunidade.org.br
Organização Mundial da Saúde, cujos resultados Diretrizes técnicas para um modelo de assistência
auxiliarão na identificação de grupos de risco integral em Saúde Mental no Brasil, 2009.

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suicídios concluídos são cometidos por indivíduos
Suicídio e álcool
com dependência de álcool. Kaplan indica que indi-
e outras drogas víduos que abusam de substâncias apresentam um

Marco Antonio Bessa risco aumentado para o suicídio como demonstram


estudos de diferentes países. Nos dependentes de
O suicídio é uma das situações mais extremas e heroína, por exemplo, a taxa de suicídio é vinte ve-
dramáticas do ponto de vista ético e emocional zes maior que da população em geral. Há também
que podem ser enfrentadas pelo médico e, em uma elevada taxa de suicídios entre adolescentes
particular, pelo psiquiatra. Já foi considerado, no que usam substâncias intravenosas.
século passado, o único problema filosófico re-
almente sério (Albert Camus – o Mito de Sísifo). Sabemos que é alta a prevalência de outros trans-
tornos psiquiátricos tais como transtornos de humor,
A dependência química – álcool e outras drogas de ansiedade e de personalidade em pa-cientes
– é dos transtornos psiquiátricos, aquele que dependentes químicos. As comorbidades elevam o
mais mobiliza preconceitos e estereótipos. risco de suicídio, especialmente por-que tais
comorbidades não são diagnosticadas e muito
A associação entre essas condições graves e menos tratadas, expondo tais pessoas a enorme
de difícil manejo complica e potencializa todas vulnerabilidade de suicídio. A ocorrência do abuso
as dificuldades e estigmas sociais a serem de álcool de modo simultâneo a um transtorno
enfrenta-dos no tratamento desses dois psiquiátrico é um importante fator de risco para o
importantes pro-blemas de saúde pública. suicídio. Em torno de três quartos dos pacientes
dependentes de álcool que morre-ram por suicido
Os estudos científicos indicam que a tiveram um episódio depressivo.
prevalência de dependência química atinge
em torno de 10 a 12% da população em Como mostram Preuss e col., uma extensa lite-
geral, sendo que atinge mais aos homens. ratura descreve características que relacionam
tentativa de suicídio e sua conclusão. Tentativas
Entre 25 a 50% das mortes por suicídio podem es- de suicídio são mais frequentes entre jovens e
tar relacionadas com abuso e dependência de álco- mulheres. Os suicidas completos são tipicamente
ol e drogas. E tais transtornos também se associam homens e mais velhos e além de uma história de
com um aumento de seis vezes na mortalidade por transtorno por uso de substâncias, outros fatores
suicídio comparada à população em geral e com estão presentes como ausência de casamento,
15% de risco de suicídio ao longo da vida. desemprego e ser caucasiano. Os transtornos de
personalidade estão associados tanto com tenta-
De acordo com Preuss e colaboradores (2003) di- tivas de suicídio quanto com suicídios concluídos
versos estudos indicam que quase 40% dos pacien- (por exemplo, personalidade anti-social) e outros
tes que buscam tratamento por transtorno por uso como transtorno de personalidade limítrofe são,
de álcool relatam ter tentado suicídio, uma taxa que com maior probabilidade, observados em repeti-
é de 6 a 10 vezes maior que as tentativas de das tentativas de suicídio. Diversas condições do
suicídio na população geral. Tentativas anteriores eixo um são mais fortemente relacionadas à con-
são fortes prognósticos de conclusão do suicídio, clusão do suicídio, dentre elas os transtornos de
entre 10% a 15% daqueles que tentam, morrem por humor e a esquizofrenia.
suicídio dentro dos próximos 10 anos.
Para Gorwood fatores biológicos que pudessem
Aproximadamente 5% daqueles com transtorno por detectar pacientes em risco seriam de grande
uso de álcool morrem por suicídio e 20% a 35% dos valor. Nesse sentido, a transferrina deficien-

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Debate
matéria de capa

te de carboidrato, a monoaminoxidase B e a Em resumo, do ponto de vista objetivo, o suicídio é


interleucina-2 solúvel foram propostas como uma condição que sempre deve ser considerada
marcadores de risco de suicídio em pacientes possível no contexto da prática psiquiátrica e que
dependentes de álcool, embora não específi-cas deve ser investigada. No caso dos pacientes de-
e com baixo valor preditivo. Mas, existem pendentes químicos o risco desse desfecho é gran-
abundantes dados enfatizando a importância da de. Para diminuir essa possibilidade o psiquiatra
desregulação da serotonina como aumen-tando deve sempre avaliar a existência de comorbidades
o risco para comportamento agressivo contra si psiquiátricas – com destaque para os transtornos de
próprio, embora não seja claro se a serotonina humor, de ansiedade e de personalidade – e os
está envolvida pela alteração do sis-tema de outros fatores de risco. As comorbidades devem ser
inibição de comportamento, aumento da tratadas de modo simultâneo à dependência
ansiedade e depressão, ou associação com sub- química, com a utilização do todos os recursos
tipos específicos de alcoolismo. disponíveis: psicofármacos, terapia individual, de
grupo e familiar e hospitalização, se necessária.
Se considerarmos o complexo e significativo impac-
to do álcool no sistema serotoninérgico é provável Para finalizar, se o suicídio já foi considerado o
que a serotonina faça a mediação de grande parte único problema filosófico, vale destacar que o
dos predispostos ao álcool para cometer suicídio. sociólogo Florestan Fernandes, analisando as pre-
cárias condições de vida da população negra no
Isso provavelmente explica-se pelas evidências Brasil logo após a o fim da escravidão afirma que o
que apontam que impulsividade, agressividade, alcoolismo, nesse quadro, se converte no sucedâ-
depressão, suicídio e alcoolismo podem relacio- neo do suicídio – uma forma de protesto contra as
nar-se com a diminuição da função serotoninér- adversidades da vida que se volta contra a própria
gica central e pelas alterações de controle de im- pessoa. Como a dependência de álcool e outras
pulsos, agressividade e busca de novidades que drogas atinge todas as classes sociais, poderíamos
acompanham esses pacientes. estender esse raciocínio e pensar na hipótese de o
uso de drogas ser uma forma lenta de suicídio?
Parece natural que pensemos que pacientes
dependentes químicos pelo uso constante de
substâncias apresentem complicações em suas Referências
capacidades de decisão racional e de controle
emocional. Tais condições em momentos de 1) Fernandes, Florestan (2008). A integração do
gran-de tristeza, angústia ou mesmo de negro na sociedade de classes. Editora Globo.
agressividade facilitam que esses doentes
possam praticar atos contra si próprios. 2) Gorwood, P. (2001) Biological markers for
suicidal behavior in alcohol dependence. Eur
Na clínica diária, é imprescindível prestar atenção Psychiatry, nov, 16 (7):410-7.
em fatores de risco relacionados ao suicídio en-tre
dependentes químicos, destacando-se dentre eles: 3) Kaplan, H.; Sadock, B.(2007).
perdas interpessoais recentes ou iminentes, perda Compêndio de Psiquiatria. Artmed.
ou perturbação de uma relação pessoal próxima,
presença de episódio depressivo, comu-nicação de 4) Preuss, U.; Schuckit, M.A.; Smith, T.; Danko,
intenção suicida, tentativas prévias de suicídio, G.P.; Bucholz, K.K.; Hesselbrock, M.; Kramer,
desemprego recente, viver sozinho, suporte social J.R.(2003). Predicotros and correlates of suicide
deficiente, problemas financeiros e outras doenças attempts over 5 years in 1,237 alcohol-dependent
médicas graves. men and women. Am J Psychiatry; 160:56-63.

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