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Capítulo 6 – Demônio

--- No dia anterior ---

Angelus estava em um quarto escuro. A única fonte de iluminação no quarto era o Talismã da
Família Edwin, que emitia sua luz vermelha. Ela não era tão forte quanto normalmente deveria
ser.

Algumas imagens eram reproduzidas pela luz, Angelus detinha foco total nelas. A cena que ele
estava assistindo era a de Marcus esfaqueando o mendigo: “Estúpido.”

Angelus levou a mão à testa: “Eu pensava que seria apenas uma situação comum do dia-a-
dia... Parece que me enganei.”

Ele esperou até que Crowley fosse embora do local, fechou a palma da mão que segurava o
talismã, que no momento seguinte já não podia mais ser visto, e encostou a mesma palma da
mão no chão.

Em seguida, uma espécie de buraco abriu no chão. Ele era completamente vazio, dentro dele,
era como se não existisse nada além da escuridão. Seu corpo foi absorvido pelo buraco, e
assim que entrou completamente nele, o chão do local voltou ao normal.

No mesmo local onde estava Crowley alguns momentos atrás, o buraco surgiu no chão. Dessa
vez, em vez de descer, o corpo de Angelus subiu e foi revelado ao mundo, naquele beco.

Ao contrário de sua aparência normal, as mãos dele estavam com uma espécie de aura negra
as cobrindo. Seu rosto também estava com a mesma aura, seus olhos se tornaram ainda mais
escuros do que já eram.

O corpo que havia sido coberto pelo lixo, que Crowley pensava ter “escondido” já estava
descoberto, com três necessitados ao redor dele.

Um estava empurrando o corpo e dizendo: “Ei! Roman, acorde!” No fundo, ele já sabia que o
velho estava morto, mas não queria acreditar que era esta a realidade.

Um dos outros dois homens tocou nas costas daquele que estava desacreditado e disse:
“Chega, Sterling... Ele já se foi...” Sua voz era fraca por conta do choro que ele segurava.

Aquelas palavras eram como trovões para Sterling, aquele homem que foi morto era alguém
que havia o ajudado diversas vezes no passado.

Sterling foi abandonado pelo mundo muito cedo, com seus dez anos ele já estava na rua
pedindo esmolas para sobreviver. Mesmo que miserável, ele tinha um grande apego pela vida.

Certo dia, ele veio até esse beco e conheceu Roman, que estava pasmo por ver uma criança
tão nova naquelas circunstâncias.

Sterling foi até ele e perguntou: “Tio, você tem comida?”

O homem respondeu: “Claro, sente-se um pouco...” Na realidade, ele não tinha tanta comida
assim, apenas um pão velho. Mesmo assim, ele deu o pão inteiro para o garoto.
O sorriso alegre do menino ao receber aquele alimento foi uma das memórias mais alegres
que Roman teve em toda sua vida. Ele também tinha seus problemas e era bastante triste por
dentro, mas ao poder ajudar uma criança inocente, se sentiu feliz pela primeira vez em muitos
anos.

Ele assistia o garoto comendo o pão velho como se aquela fosse a melhor refeição no mundo.
Em um momento, ele perguntou: “Garoto... Como você chegou nessa situação?”

Sterling estava um pouco receoso, mas como o homem havia lhe dado alimento, ele
respondeu sinceramente: “Meu pai matou minha mãe e foi preso. Como ninguém me queria
por perto, tive que ir pras ruas...” Algumas lágrimas escorriam dos olhos do garoto.

O homem limpou as lágrimas do rosto do menino e disse: “Se quiser, você pode morar aqui.
Não é um dos melhores lugares, mas...” Antes que ele pudesse terminar suas palavras o garoto
interrompeu com um tom alegre: “Sério, tio?!”

Roman abriu um sorriso e disse: “Claro!” Ele passou a mão no cabelo do garoto, bagunçando-
o.

Aquelas memórias felizes vieram de uma só vez na mente de Sterling. Cheio de raiva, ele disse:
“Tobias, Louis, vamos contar para todo o reino sobre Crowley!”

Os dois homens atrás dele confirmaram: “Isso mesmo! Vamos nessa!”

Entretanto, um som atrás deles foi percebido: “Tsk...” Angelus estava assistindo aqueles três
com um olhar sombrio.

Eles se assustaram com aquilo. Primeiro, eles achavam que estavam sozinhos lá, segundo, o
ser que soltou aquele som tinha um figura completamente demoníaca.

Tanto Louis como Tobias caíram no chão ao verem aquela existência medonha. Já Sterling,
continuou em pé, ainda com raiva.

Angelus disse com uma voz distorcida: “Realmente corajoso, uma pena que coragem não salva
vidas.”

No instante seguinte, ele estava na frente de Sterling. Vendo aquele ser demoníaco em sua
frente, a coragem se esgotou e ele caiu no chão. Antes de fazer qualquer movimento, Angelus
disse: “Você ficará para mais tarde.” E deu dois petelecos nas pernas de Sterling.

Sangue jorrou para todo lado, as pernas do rapaz desapareceram. Ele gritou de dor:
“Aaaaaah!”

Angelus deu um olhar profundo nos olhos do garoto, que no mesmo instante parou de gritar.
Uma sensação enorme de medo tomou o corpo do garoto, era como se ele estivesse sendo
mergulhado em desespero.

Angelus soltou um sorriso diabólico para o rapaz e virou seus olhos para os outros dois
mendigos, que tentavam fugir. Assim como na outra vez, ele simplesmente apareceu na frente
dos dois e os tocou com a palma da mão. Antes, o que eram corpos, sumiram, restando apenas
alguns pedaços de carne e sangue para todo lado.

Os olhos de Sterling se arregalaram ainda mais. Ver seus amigos morrerem de tal maneira
deixou ele totalmente para baixo. Sua vida antes era miserável, mas ele possuía amigos para
ajudá-lo caso precisasse. Mesmo se ele escapasse dessa situação, ele já não gostaria mais de
viver nesse mundo.

Angelus abriu a palma de sua outra mão, e outro buraco escuro apareceu, mas dessa vez,
acima da palma da mão dele. O buraco sugou os restos de Louis e Tobias, até mesmo o sangue
foi absorvido. Se alguém passasse por esse beco, nunca imaginaria que tal cena havia
acontecido.

Depois de limpar tudo, Angelus caminhou lentamente até a direção do sem-teto. Angelus
estava um pouco perplexo com o fato do necessitado não demonstrar mais pavor, ele estava
apenas esperando o momento derradeiro.

Ao chegar na frente dele, Angelus disse: “Adeus.”

Sterling se esforçou ao máximo para virar seu rosto e encarar o corpo morto de Roman. Fios
de lágrimas escorreram, sua voz fraca soou: “Obrigado, tio!” No segundo seguinte, o corpo de
Sterling também desapareceu, deixando uma enorme bola de sangue no local onde estava.

Sem mais riscos, ele foi até o corpo de Roman e também o tocou. Seu corpo, assim como os
outros, simplesmente desapareceu. Angelus novamente abriu a palma de sua mão, e o círculo
voltou a aparecer.

O local estava agora normal, como se nada tivesse acontecido. Angelus tinha certeza que não
havia ninguém o espionando, então abriu outro buraco, dessa vez, no chão. Assim como da
primeira vez, ele entrou no buraco e apareceu dentro de seu quarto, na mansão.

Ele saiu do quarto tranquilamente, ele não demonstrava nenhuma emoção diferente por ter
matado aqueles três homens, para Angelus, aquilo era tão normal quanto beber água. Seu
destino era o quarto de Crowley.

Ele pretendia apenas dar um sermão nele sobre o assunto do mendigo, mas ouviu uma voz
diferente no quarto e prestou atenção nela: “...três eram Usuários de Magias.”

Após ouvir aquelas poucas palavras, Angelus empurrou a porta com tudo.

--- Na Corte Interna do Reino de Zegrath ---

Em uma sala grande, havia oito pessoas, sendo elas quatro homens e quatro mulheres. Eles
estavam divididos em volta de uma mesa, três do lado direito, três do lado esquerdo, um em
uma extremidade e mais um na outra.

Um homem de veste branca, que estava numa das extremidades, se levantou e disse: “Nossos
estudos sobre Angelus chegaram em um resultado, finalmente.”

Nesse momento, todos os outros se levantaram. Uma das mulheres, que estava no lado
direito, disse: “Appolion, isso significa que ele realmente é um demônio?”

O homem respondeu: “Exatamente, senhorita Florence.”

Aquelas poucas palavras de Appolion foram suficientes para abalar mentalmente todos em
volta da mesa.

Ele continuou: “Além de mim, todos são Magos Iniciantes, a mais notável é a senhorita Stella,
que é uma Maga Iniciante de Cinco Estrelas.” Ele deu um olhar mais longo para ela, que estava
na outra extremidade da mesa, antes de voltar a falar: “Contudo, ele é um Mago de Elite de
Três Estrelas, mesmo que usem todos seus meios, ele ainda mataria vocês com apenas alguns
movimentos.”

Aquela informação assustou as pessoas dentro da sala. Eles passaram suas vidas inteiras
treinando magia para atingir o nível que estavam, eles eram considerados do alto escalão pelo
Reino de Zegrath. Entretanto, Angelus os ultrapassou de maneira extraordinária, ele estava em
três classificações acima deles.

Sem dar muito tempo para eles pensarem, Appolion continuou: “Seu verdadeiro nome é
Zonomoch, um demônio antigo. Assim como eu, ele também passa por reencarnações para
manter seu poder. Entretanto, ele reencarna de maneira impura, tomando o corpo do recém
nascido no parto e absorvendo a alma dele.”

Aquela sentença trouxe calafrios para quem estava ouvindo.

Stella disse: “Appolion, como faremos para capturá-lo e expurgá-lo?”

Appolion prestou atenção na pergunta dela, depois de pouco tempo pensando, ele respondeu:
“Como todos devem saber, eu sou um Mago Avançado de Quatro Estrelas. Isso significa que
não poderei lutar contra ele no mano-a-mano.” Antes que ele continuasse, Appolion puxou um
par de algemas de um pacote que estava em seu bolso: “Estas algemas passaram por alguns
rituais de magias purificadoras. Assim que entrarem em contato com o corpo de Zonomoch,
diminuirão a força de sua Mana Escura em oitenta porcento. Este é nosso caminho para
vitória.”

Stella disse calmamente: “Entendo... E então, quando vamos atacar?”

Appolion pensou um pouco antes de dizer: “Como ele é um demônio, não adiantará pegarmos
Loren como refém, pelo contrário, acho que isso só o ajudará. Aparentemente, ela sabe que
ele é um Mago, e faz de tudo para ajudá-lo a não se expor.”

Appolion estava bastante pensativo: “Na verdade, nós tivemos muita sorte para descobrir a
verdade... Geralmente, você maneirava no uso de Mana Escura... Por algum motivo, você não
fez isso dessa vez... Mesmo checando o parâmetro com sua Mana, não conseguiria perceber
minha Magia de Ocultação.”

Um dos homens disse, interrompendo os pensamentos de Appolion: “Nós podemos atacá-lo


no início da manhã, ele estará vulnerável nesse horário!”

Appolion retomou seu foco e respondeu: “Ótima sugestão, senhor Uphior!” Ele aumentou um
pouco o tom de sua voz e disse: “Stella, Maeve e Uphior irão comigo para o ataque. Florence,
Minerva, Dregan e Seth vão cuidar dos arredores da mansão, para que não ocorra nenhum
imprevisto.”

Antes de dispensar todos, Appolion disse: “Não se esqueçam, nosso oponente é alguém feroz
e sagaz, se por algum motivo a situação pedir, não se importem com civis. Nosso objetivo é
captura-lo, mesmo que para isso, algumas pessoas tenham que morrer no processo! Dito isso,
se preparem física e mentalmente para o pior.”

As pessoas dentro da sala estavam tensas. No passado elas já fizeram algumas operações
secretas em prol do Reino, mas em nenhuma Appolion havia sido tão rígido. Ele considerava as
pessoas do Reino tão importantes quanto si mesmo, mas estava disposto a sacrifica-las apenas
para capturar Angelus. Isso mostrava a gravidade da situação.
Sua última ordem soou: “Me encontrem aqui novamente às seis horas. Dispensados!”

Todos saíram da sala, deixando apenas Appolion lá dentro: “Realmente não entendo... Por que
alguém como Zonomoch deixaria escapar aquela quantidade exorbitante de Mana Escura...?
Ele estava irritado? Não, não pode ser isso... Eu mesmo vi o olhar calmo dele quando matou
aqueles três...”

Ele deu um suspiro: “Que seja... Isso será respondido em pouco tempo.”

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