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Capítulo 4 – Angelus Edwin (Parte 2)

Aquele simples empurrão fez com que Marcus sentisse um calafrio por todo seu corpo. Por
algum motivo inexplicável, ele sentia um medo insano de Angelus. Mesmo quando enfrentou a
morte de perto, seu corpo não emitia tantos sinais de pavor quanto agora.

Sem reação, o corpo mole de Marcus voltou para a cadeira e ali ficou, estático.

Angelus iniciou: “Você tem ideia do que fez?”

Marcus não conseguia responder, o medo tomou conta de seu ser.

Vendo que esperar Marcus tomar uma atitude não daria em nada, Angelus bateu fortemente
na mesa e gritou: “Seu verme fedorento! Eu perguntei algo, me responda!”

O medo que Marcus sentia aumentou ainda mais, mas dessa vez era medo que ele ficasse em
silêncio, sendo assim, ele respondeu às pressas: “M-Me desculpe!”

Angelus bateu novamente na mesa e rugiu: “Porra! Você tem merda na cabeça?! Eu quero
uma resposta, não a droga de uma desculpa!”

Marcus sentiu seu coração pular uma batida, como não sabia o que dizer, resolveu voltar ao
seu silêncio de antes.

Angelus, que já estava irritado, ficou ainda mais furioso com essa atitude: “Seu filho duma
puta, você realmente não vai me responder?!” Vendo que Marcus não tinha intenção alguma
de abrir a boca, ele continuou: “Foda-se, parece que vermes não podem se comunicar com
humanos. Sendo assim, terei que explicar a situação...”

Com um tom irritado, Angelus disse: “Você está tocando em um assunto tabu. Tem ideia de
quais são as consequências de falar sobre esse tipo de assunto, caso alguém da Corte Interna
descubra?”

Com muito receio, Marcus assentiu com a cabeça. Angelus soltou um riso irônico e continuou:
“Ótimo, pelo menos sobre isso você sabe.”

Crowley, que estava calado até o momento, perguntou: “Qual é a punição?”

Angelus deu outro olhar sombrio para Crowley, mas logo em seguida relaxou e respondeu
calmamente: “A pena para quem conta informações secretas do Reino é a execução.”

Crowley arregalou os olhos por um ligeiro momento, mas logo retomou seu semblante:
“Merda! Se Marcus morrer dessa forma tão estúpida, terei sérios problemas para achar um
álibi naquele ocorrido há algumas horas...”

Como se Angelus estivesse lendo a mente de Crowley, a voz dele soou novamente: “Você tem
muita sorte que é um ótimo guarda há anos, caso contrário, eu mesmo daria a ordem de
execução contra ti.”

A feição de Marcus mudou de pânico para alívio, mas isso não significava que o medo em seu
peito havia se dissipado completamente, apenas que ele tinha mais um tempo de vida.
Angelus observava Crowley com os cantos dos olhos: “Agradeça bastante, se você não tivesse
feito aquela estupidez, Marcus já estaria morto agora...” Depois de pouco tempo, Angelus
voltou seu foco para Marcus, e ordenou: “Marcus, vá embora e finja que nunca teve essa
conversa, nem mesmo se estiver com sua vida em risco!”

Para Marcus, ouvir aquilo era como uma libertação. Ele levantou instantaneamente, saiu
rapidamente do quarto, se virou para onde estava Angelus e disse seriamente: “Eu prometo
com minha vida!”

A outra parte não foi tão sofisticada e fechou a porta na cara de Marcus. Assim que a porta
bateu, Crowley falou urgentemente: “Pai, me desculpe! Não era minha inten...” Diferente do
que Crowley pensava, o olhar sombrio de Angelus caiu em cima dele novamente.

O mesmo medo que Marcus sentiu estava agora passando pelo âmago de Crowley. Não
importa o que tentasse, a pressão que seu pai exalava era muito forte para ir contra. O escuro
daqueles olhos era suficiente para paralisar Crowley completamente.

Angelus se aproximou e disse, quase que sussurrando, no ouvido de Crowley: “Eu sei muito
bem o que você fez...”

Aquelas palavras pareciam como montanhas sendo jogadas nas costas de Crowley. Com a voz
extremamente fraca, ele disse: “E-Eu? M-Mas... Eu... não fiz nada...”

O som de um tapa ecoou pelo quarto. Crowley estava com sua bochecha direita marcada pela
mão de Angelus. O garoto colocou sua mão, que estava tremendo, no local onde recebeu o
tapa.

O calor ainda permanecia no local acertado, e a cada pressionada com a mão era possível
sentir uma leve dor. Aquela sensação era completamente nova para Crowley, em toda sua
vida, ele nunca recebeu este tratamento, ainda mais de seu pai.

O choque quebrou Crowley mentalmente, de maneira involuntária, algumas lágrimas


escorreram dos olhos do rapaz. Angelus não ficou triste com aquela cena, e levantou sua mão
novamente, acertando outro tapa, só que no lado contrário do anterior.

Crowley, que já estava completamente desnorteado com aquela sequência de ações ficou
ainda mais perdido: “Por quê?”

Depois desses dois tapas, a voz de Angelus pôde ser ouvida mais uma vez: “Certeza que não
fez nada? E sobre aquele mendigo na rua? O que me diz?”

Crowley ainda estava em choque com os tapas e não prestou atenção na frase que seu pai
disse.

Angelus resmungou decepcionado: “Que moleque do caralho... Só tomou dois tapinhas e já


fica desse jeito...”

A mente de Crowley estava em completa desordem, memórias de seu pai sendo gentil com ele
surgiram, mas depois eram substituídas por aquele tapa recente. Indiretamente, aquilo fez
surgir uma pequena faísca de raiva contra seu pai no coração de Crowley.

Angelus sabia que seu filho era um jovem mimado, e entendia o motivo dele estar tão atônito,
mas queria resolver as coisas rapidamente, antes que alguém pudesse interferir na “conversa”
entre pai e filho.
De maneira inexplicável, a pressão que Crowley estava sentindo sumiu, agora só restava o
choque do tapa que havia levado. Confuso com essa súbita mudança, Crowley olha os
arredores com pressa.

Não dando muito tempo para seu filho pensar, Angelus disse devagar: “E então, o que me diz
sobre aquele mendigo?”

Dessa vez Crowley entendeu plenamente as palavras de seu pai. Mas aquilo só fez crescer mais
questionamentos em sua consciência: “Como ele sabe disso? Marcus não contaria para ele,
assim como Lucius também não! Merda, merda, merda!”

Percebendo o olhar desesperado de Crowley, Angelus continuou: “Admito que você foi bem
esperto ao fazer aparentar que foi um assassinato casual, realizado por um bandidinho comum
da cidade. Mas...”

Antes que pudesse terminar sua frase, Crowley interferiu angustiado: “Como você sabe?!”

Angelus riu ao ouvir aquele questionamento: “Garoto, você acha que sou imbecil a ponto de
contar meus meios? Volte para o mundo real.” Voltando ao seu tom sério, ele continuou:
“Enfim, o que eu queria dizer é que você foi muito burro ao tomar aquela decisão.”

Crowley ouvia tudo com um olhar desiludido. Em sua mente, seu plano era perfeito, ninguém
conseguiria descobrir que ele tinha envolvimento com a morte de alguém tão miserável. Mas
apenas poucas horas depois do ato, ele já havia sido desmascarado, e por seu próprio pai.

Angelus se aproximou um pouco de Crowley, encarando-o e disse tranquilamente: “Diga-me,


você realmente acha que matar ele foi a melhor escolha a ser feita?”

Crowley, sem esperanças, respondeu sinceramente: “S-Sim...”

Angelus balançou a cabeça em descontentamento: “Quanta inocência... Esperava mais de


você...” Ele se afastou de Crowley e prosseguiu: “Sabe uma escolha que você poderia ter feito?
Ao perceber que ele não transmitia perigos, você deveria ajudá-lo. Isso só traria frutos
positivos. Aquele miserável não se importaria com os chutes que recebeu, por causa dos
alimentos que você poderia ter fornecido, também não se importaria com sua posição
arrogante se você desse um lugar para ele morar. Se você usar essa coisa que chama de
‘cérebro’ pra funcionar, vai perceber que perdeu muito lucro com essa escolha que fez, e que
na verdade, colocou-se ainda mais em risco do que imaginava.”

Crowley estava incrédulo: “Eu não entendo... Ninguém vai descobrir aquilo, então não tem
problemas! E aquele velho de merda poderia causar muitos riscos desnecessários para nós!”

Angelus levou sua mão à testa: “Realmente, ignorante...” Ele bufou antes de seguir: “Você fala
de riscos, mas já pensou no risco que nos colocou ao fazer aquilo? Sim, eu sei que você checou
os arredores, mas já checou se tinha outros moradores de rua escondidos atrás de sacos de
lixos, da mesma forma que fizeram com o cadáver? Ou se tinha alguém assistindo de longe?”

Crowley retrucou: “Mas Lucius e Marcus estavam juntos de mim, caso algo passasse sem eu
perceber, eles notificariam!”

Angelus, ainda frustrado, disse: “Lucius estava ocupado demais tentando entender como
chegou naquela situação, e Marcus... Bem, você sabe... Estava fazendo o trabalho sujo.”
Somente ao ouvir o que seu pai tinha dito que Crowley percebeu a tamanha burrada que fez.
Na hora ele não se tocou nisso, mas Lucius só fez uma vistoria passageira, e Marcus não tinha
como ver se tinha mais alguém ali.

Angelus não esperou que Crowley fosse pegar tudo de uma vez e continuou: “Além disso, você
reverter a situação para algo positivo era muito melhor. Pense comigo, você fez o que fez para
não arriscar nossa posição na Corte Interna, certo? Entretanto, você poderia ter usado o
necessitado como escada e ter ganhado alguma moral em cima dele, ajudando-o. Este era um
dos melhores caminhos para o povo perceber que você não é apenas minha sombra, e sim
uma pessoa com grandes habilidades também. Mas você tinha que estragar tudo com essa
decisão estúpida...”

Crowley estava se sentindo como um lixo. Ser chamado de burro tantas vezes por seu pai era
algo desagradável, mas ele não tinha escolhas além de aceitar.

Angelus colocou a mão sobre a cabeça do filho e disse: “Reze, mas reze muito, para que
ninguém além dos três terem visto aquela cena. Caso contrário, terei que colocar muito em
jogo para salvar seu rabo fedorento.”

Aquela frase incomodou bastante o espírito de Crowley. Antes ele estava muito confiante em
seus planos, mas agora já não havia motivos para ter tal confiança. Caso ele escolha sacrificar
Marcus, a testemunha poderia alegar que foi ele quem ordenou, dessa maneira, Crowley
também seria qualificado como criminoso.

Angelus retirou a mão da cabeça de Crowley, deu uma última olhada nele e proferiu: “Enfim,
espero que entenda seu erro.” E saiu do quarto, fechando a porta calmamente.

Antes de tomar seu rumo, Angelus abriu um sorriso demoníaco: “Garoto, você tem muita sorte
de me ter como pai... Caso fosse qualquer pessoa diferente, aqueles outros três ratos teriam a
chance de contar para o resto do mundo que você é na verdade um assassino. No entanto,
como eu existo, você não tem com o que se preocupar...” A memória de três corpos sendo
despedaçados por uma mão envolta por trevas passou por sua mente.

--- No quarto ---

Crowley apertou a taça de cristal com tanta raiva que a mesma explodiu. Os cacos de vidro se
espalharam e cortaram a mão de Crowley, dando uma coloração um pouco mais forte para o
vinho que caiu em sua pele.

Crowley gritou cheio de ódio: “Merda!”

Elizabeth pôde ouvir aquele grito, e tendo em mente que Angelus havia visitado o quarto de
Crowley recentemente, resolveu esperar um pouco antes de subir. Ela sabia que algumas
vezes os dois tinham desavenças, e não era papel dela tentar resolver isso.

Os gritos de fúria que vinham do quarto permaneceram por alguns minutos, até que só restou
o silêncio pela mansão. Apenas quando Elizabeth se certificou que a situação havia se
acalmado, que ela subiu e bateu na porta: “Posso entrar, Jovem Mestre?”

Diferente do esperado, nenhuma voz soou. Então ela perguntou novamente: “Jovem Mestre
Crowley, tudo bem se eu entrar?”

Novamente, nenhum som foi ouvido. Preocupada com ele, Elizabeth abriu a porta sem
permissão.
“Jovem mestre?!” A cena seguinte foi bastante abaladora para Elizabeth.

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