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Os Sherbrooke 10
Catherine Coulter
À Penelope
Williamson Você é uma escritora e conselheira
maravilhosa, e o melhor de tudo, você é uma amiga
maravilhosa. CC
Caro leitor:
Quando Ryder Sherbrooke encontra uma criança
espancada quase até à morte em um beco em Eastbourne, ele
a levou à casa de Brandon. Ela nã o falou durante seis meses.
Suas primeiras palavras, curiosamente, foram uma cançã o
aterradora:
Nhonha at Marcelo
Co fula mogarim
Sua mae tancarera
Seu pai canarim.
Moça na janela
com uma flor de jasmim
Sua mãe uma pescadora chinesa
Seu pai um índio português.
Rosalind leu:
—“O Tibre é vicioso. Apenas uma ligeira força é
necessá ria para os seus cascos esmagarem o rosto de um
homem até virar polpa. O Tibre tem um ponto fraco. Anseia
pelo gosto do ser vermelho. Seres pretos ou marrons nã o
interessam, só o ser vermelho. Mas o ser vermelho, ao
contrá rio do castanho e preto, é astuto e se revela ao Tibre,
somente quando isso pode levar a um poço coberto. O ser
vermelho facilmente salta o fosso, mas o Tibre nã o. Ele cai e o
ser envia lanças de fogo nele até que seja morto. Um homem
deve fazer amizade com o ser vermelho. Caso contrá rio, um
homem é destruído pelo Tibre. Cante para o ser vermelho
sobre sua lealdade, como eles cantam para os dragõ es da
lagoa Sallas, e eles o protegerã o.”
Rosalind olhou para cima. — É como se Sarimund
estivesse escrevendo para uma criança — simples, bá sico,
cru, se preferir.
Nicholas sentou-se num sofá em frente a ela, segurando
uma grande almofada de seda entre as mã os. Ele falou
enquanto jogava a almofada de um lado para o outro: — Ou
ele está escrevendo um manual de instruçõ es e quer ter
certeza de que nã o haja mal entendidos. É direto e cru, você
está certa sobre isso Rosalind, e infelizmente nã o nos dá
nenhuma informaçã o ú til. — E ele se perguntou, como fazia a
cada vez que ela lia o livro de Sarimund: por que é tã o claro
para você e nã o é para mim?
Grayson estava esfregando a mã o, cansado de escrever
tã o depressa para acompanhá -la. Ele disse, — ou o Tibre e o
ser vermelho simplesmente sã o outra coisa — podem ser
metá foras.
— Metá foras para quê ? — Perguntou Nicholas.
Grayson encolheu os ombros. — Talvez conceitos de vida
apó s a morte. O Tibre representa o inferno, os dragõ es da
lagoa Sallas e o ser vermelho — bem, o cé u parece um pouco
exagerado.
— Talvez os seres vermelhos sejam anjos, — disse
Rosalind, uma sobrancelha levantada. — Eles protegem
homens, ajudam a sobreviver. Nã o sei, Grayson; mesmo que
Sarimund escrevesse simplificado, eu posso ver o ser
vermelho saltando sobre um poço como um significado para o
Tibre. Eu posso imaginar uma lança de fogo.
— Mas a nota nã o tem nenhuma descriçã o deles, só diz
ao leitor que o Tibre tem cascos, — Grayson disse. — É
interessante també m tem palavras como “Tibre” — palavra
estrangeira, estranha — mas há palavras que nó s
conhecemos, como “Lua” e “lança”. Leia, Rosalind. Tenho a
sensaçã o que isso vai mudar. Eu sei que isso vai mudar.
Ele mergulhou a pena de bico no tinteiro, na mesa, ao
lado dele e assentiu com a cabeça para ela.
Ela deu uma olhada rá pida para Nicholas e sentiu que
dentro dela tudo brilhava ainda mais forte. Ela realmente
pretendia casar com aquele homem — era surpreendente e
absolutamente louco. Há alguns dias atrá s, ela ainda nã o o
havia conhecido, ela nem sabia que ele existia. Ele era um
estranho, mas ela sabia, sabia no seu intimo, que este era o
homem certo para ela. Ela pensou de novo naquilo que ele lhe
dissera antes. Ela olhou-o triste, com os ombros caídos, e
suspirou profundamente enquanto sussurrava, — Espero que
ningué m acredite que sou um fracasso.
Aquilo captou a atençã o dele.
— Um fracasso?
— Bem, milord, você nã o é um Duque.
Seu riso rá pido a fizera querer pular nele.
Grayson estalou os dedos debaixo do nariz dela. —
Venha, Rosalind, volte de onde quer que tenha ido. Por que
você está corada? Nã o, nã o me diga. Leia.
Ela estudou a pró xima frase por um momento e, em
seguida, levantou a cabeça... — Isto é estranho. É uma nova
seçã o, mas nã o há nenhum espaço vazio para marcar o fim de
uma e o início da pró xima. Ele també m altera de narrativa
para a primeira pessoa... — Ela leu:
— “Eu descobri os dragõ es da lagoa Sallas; só comem a
cada trê s semanas e só comem rochas de fogo, aquecidas
durante aquelas trê s semanas até que estejam macias e
brilhantes. Eles nunca comeram um homem. Quando homens
se aventuram até o Pale, eles se acovardam dentro de
cavernas e fogueiras, mas aprendem rapidamente que as
criaturas voadoras deslizam para baixo, em cima deles, para
matar a chama. É uma visã o assustadora, as chamas
morrendo, as criaturas chupando nas brasas, os homens
gritando, mas alé m disso, as criaturas voadoras nã o
prejudicam os homens.
Os homens que sobreviveram ficaram dentro dos corpos.
Assim como eu fiz, eles observam os dragõ es da lagoa Sallas e
veem que seus focinhos sã o ricos em ouro brilhante, e seus
olhos de esmeraldas brilhantes e suas escamas triangulares
enormes, as pontas afiadas reluzindo sob o sol brilhante de
gelo sã o cravejadas com diamantes.
Tanto quanto sei os dragõ es da lagoa Sallas nã o morrem.
Eles existem para agora e sempre. Se um homem se mantiver
perfeitamente silencioso, ele vai ouvir os dragõ es cantarem
uns para os outros, talvez, contando sobre homens sobre que
criaturas muito diferentes eles sã o: tolos, perdidos e
assustados. Se um homem tiver paciê ncia e puder esperar, os
dragõ es determinarã o se ele é digno, e se ele for, como eu era,
os dragõ es vã o ensinar-lhe as Leis de Pale.
As cançõ es de amor deles me comoveram
indescritivelmente, o acasalamento dos dragõ es da Lagoa
Sallas é para toda a eternidade. Eles sã o a salvaçã o. Nunca
minta para um dragã o da Lagoa Sallas. Esta é uma Lei de
Pale.”
Rosalind parou de ler, franzindo a testa enquanto lia
novamente, silenciosamente, as ú ltimas linhas. Grayson
levantou a mã o e começou a esfregá -la. Nicholas jogou a
almofada de seda azul brilhante para uma cadeira de brocado
em frente a ele. E disse: — Dragõ es da Lagoa de Sallas soa
como um conto que saiu, bem para fora, de uma imaginaçã o
incrível. Pergunto-me o que é a Lagoa Sallas?
Rosalind disse pensativamente: — Um lugar sagrado,
talvez como Delphi. E monte Olyvan poderia ser o Monte
Olimpo, nã o poderia? Minha garganta está muito seca. Você
gostaria de um chá ?
— Com pã es de nozes? — Perguntou Nicholas, se
recuperando.
— Levante-se, Nicholas. Deixe-me primeiro ver sua
barriga. — Ele gentilmente levantou-se e esperou que ela se
voltasse para ele. No ú ltimo momento, antes que ela o
tocasse, ela viu que Grayson a olhava admirado, a boca
aberta.
Nicholas disse suavemente, pegando a mã o dela: — Sou
magro como um poste, Rosalind, nã o existe nenhuma carne
extra em mim. Qualquer homem que se permita ter ganho de
carne na barriga está condenado e vai ser cuspido em cima.
Esta é uma Lei de Nicholas.
Aquelas palavras, ditas com tal seriedade, a
desmontaram. Riso jorrou fora dela. Grayson nã o sabia se ria
ou se devia bater naquele homem que falava em termos tã o
amigá veis com Rosalind. Ela havia pensado em tocar com a
mã o na barriga dele para ver se era plana, — o que diabos
estava acontecendo ali?
— Oh, Deus, — ela disse, — a lei de Nicholas se aplica
para miladys também?
— Na verdade, ela se aplica sim. Ouça-me, porque falo a
verdade. Devo verificar sua barriga, Rosalind? Eu a proclamo
isenta desta lei quando você carregar minha... quando você
carregar uma criança.
Grayson pulou sobre os pé s e abriu a boca, só para fechá -
la quando viu o rosto de Rosalind. Os olhos dela eram
maliciosos. Ele conhecia aquele olhar. Ela lançou-lhe uma
olhada, enquanto ela caminhava até a corda do sino e deu um
puxã o. Quando Willicombe apareceu na biblioteca breves trê s
segundos depois, Grayson disse:
— Willicombe, estava esperando lá fora? De alguma
forma, percebeu que está vamos morrendo de fome?
— Eu estou desolado em anunciar que nã o há pã es de
nozes, jovem Grayson. Eu ouvi a cozinheira dizer que os trê s
ú ltimos foram roubados da cozinha dela, e entã o, ela ficou tã o
aborrecida que foi incapaz de preparar mais.
— Oh, querido, eu juro que nã o sou culpada, — disse
Rosalind.
— Desconfio que foi minha mã e, — disse Grayson. — Pã o
doce de nozes é sua fraqueza. E ela é falsa.
Rosalind suspirou. — É hora do almoço, no entanto,
Willicombe?
— Miss Rosalind, eu estava a caminho para buscar os
trê s. A cozinheira preparou fatias de presunto tã o magras que
você pode ver atravé s delas. — Willicombe enquanto falava,
olhou para o livro de Sarimund. Rosalind podia ver seus
dedos se contraindo. Curvou-se mais uma vez, segurando a
postura por um longo instante, entã o o efeito completo da
cabeça careca poderia ser apreciado.
Rosalind observou Grayson guardar cuidadosamente as
Leis de Pale no bolso da jaqueta enquanto seguiram o rastro
de Willicombe.
Nicholas disse, inclinando-se perto da orelha dela: — Eu
nã o poderia examinar o achatamento de sua barriga. Grayson
certamente me afugentaria com aquela espada cerimonial que
está sobre a lareira.
— Talvez se fossemos por trá s daquelas escadas, posso
beijá -lo rapidamente enquanto eu chupo meu estô mago para
dentro, para sua inspeçã o. — Rosalind disse e correu pelo
corredor.
Ele riu. — Volte Rosalind. Em vez disso, eu a alimentarei
com uma fatia de presunto.
Durante o almoço, Grayson relatou para seus pais a
trama de seu novo romance para distraí-los das Leis de Pale.
Os pais gostavam dele e sabiam o que ele estava fazendo, mas
o amavam e disseram-lhe que adoravam a ideia de ler sobre
um jovem estudante de Oxford duelando contra um demô nio
que colocou o coraçã o da sua amada dentro uma joia má gica,
por ter espalhado o boato de ter sido arrancada da coroa de
Sataná s. Nã o era ruim, Rosalind pensou, particularmente
porque Grayson estava inventando enquanto falava.
No momento em que a tia Sophie se levantou, Rosalind
puxou Nicholas para o pequeno quarto que a Condessa de
Northcliffe projetara para as miladys, duas dé cadas antes.
— Nã o, — Nicholas disse quando tocou levemente o rosto
dela com os dedos. — Nó s nã o devemos dizer nada a
ningué m, especialmente para sua tia e tio. Nó s nos
conhecemos há tã o pouco tempo. Dê -lhes mais um dia, pelo
menos, para testemunhar como estou deslumbrado com você .
Você é tã o suave Rosalind.
— Nã o queria admitir, mas você está certo. Tio Ryder
acreditaria que perdemos nosso juízo. Ele pode mandar
raptar você e enviá -lo de volta para Macau. Acha mesmo que
sou suave?
Ele tocou com a ponta do seu dedo o nariz dela. — Seu
tio Ryder nã o consideraria que seria juízo perdido; ele
acreditaria que seria luxú ria. Sua tia Sophie apresentaria
estrelas nos olhos com o romance, mas apó s breve reflexã o,
ela poderia concordar com tio Ryder. — Nada mais do que
desejo desenfreado, tudo da minha parte, já que você é tã o
inocente. Ele é um homem do mundo, eles diriam, e qualquer
um deve sempre tomar cuidado com um homem do mundo
quando se trata de uma jovem garota que se parece como
você . Linda. Você é mais suave do que asas de uma borboleta.
— Eu lhe direi que nã o sou tã o inocente... — ela
nervosamente corou um pouco. — O fato é Nicholas que nã o
pareço muito bonita.
— Talvez você esteja certa. Talvez você nã o seja muito
bonita.
Ela cruzou os braços. O pé dela bateu, bateu, bateu. Ele
ficou encantado. Ela disse por entre os dentes: — Você nã o
precisa ir tã o longe. Agora, esse negó cio de luxú ria — isso é
uma palavra muito estranha. Eu nunca pensei sobre luxú ria
antes. Se for a luxú ria que me faz querer pular em você e
beijá -lo até você amassar o tapete, entã o é uma coisa
poderosa. Acho que gosto. É por isso que você me pediu para
casar com você tã o rá pido, Nicholas? Já sentiu luxú ria por
mim?
Ele nã o queria sentir luxú ria por ela, nã o era o mais
importante, mas — ele inspirou profundamente. Verdade era
verdade, e deveria ser enfrentada. Ele disse: — Luxú ria é uma
coisa boa, mas nã o acredito que seja a luxú ria que nos
governa. — Bem a maior parte da verdade é que també m é
importante.
Ela olhou para ele com espanto. — Nunca diga isso!
Ele reteve o seu riso. Ela precisava reconhecer que era
mais do que isso. — Bem, nã o posso afastá -la inteiramente.
Eu nã o sou completamente louco de desejo por você . Você
percebe isso, nã o é ?
Ela disse lentamente, mais uma vez olhando a boca dele.
— Honestamente, nã o sei o que eu percebo Nicholas. Só
sei que é certo para mim, e você é o certo para mim, ningué m
mais, só você . Quando você beijou minha mã o nesta manhã ,
algo bem dentro de mim reconheceu que você foi feito para
mim.
Tã o rapidamente, e ela sabia? Ele sabia que era o
homem para ela també m, claro que era ele, mas ele nã o lhe
diria isso até que tivesse trocados os votos de casamento com
ela. Nã o até que ela fosse legalmente dele. Ele disse
suavemente: — Nem mesmo um dos trê s duques?
— Nem quero saber dos duques.
Ele riu novamente. Ele acreditava que havia rido mais
nos ú ltimos dois dias do que nos ú ltimos cinco anos. — Você
tem um humor que me agrada, — ele disse.
E entã o ela, pensativa, falou: — Mas há mais nisto,
Nicholas, e eu suspeito que você esteja bem ciente disso. Para
mim sã o esses sentimentos esmagadoras, esse
reconhecimento de você , mas eu acho que, — bem, parece
absurdo, eu sei, mas sinto que você estava me procurando,
como eu, talvez, estivesse procurando você .
— Procurando por você ? Ativamente procurando por
você ? E você estava procurando por mim? Quer dizer, o
destino guiou nossos barcos à mesma praia?
— Acho que nossos barcos ancorados um ao lado do
outro, com nossos arcos batendo juntos faz mais sentido do
que esse lugar chamado Pale com seus rios e dragõ es.
— Talvez o Pale nã o seja real — talvez seja uma
metá fora, como Grayson disse.
— Você acredita que seja real Nicholas. Pergunto-lhe,
real como o livro — as Leis de Pale, — será possível? Foi
Grayson quem o encontrou, que me levou a encontrá -lo. Foi o
destino ou algo mais forte? E você diz que seu avô possuia
uma có pia do livro. Aquele livro confunde a mente. Você sabe
que é demais. E quando eu começo a fazer esse tipo de
perguntas, eu fico com medo.
A coisa toda o assustaria també m, se ele nã o estivesse
habituado a isso tudo, por tanto tempo quanto ele estava. Ele
queria puxá -la contra ele, tranquilizá -la, mas sabia que seria
um tolo se o fizesse agora. Ele nã o podia estragar as coisas
agora. Mesmo essa conversa, ocorrida apenas um pouco longe
do seu tutor, era uma loucura.
Nicholas suspirou. Tudo aconteceu muito rá pido. Ele
disse:
— Se desejar, nó s poderíamos assistir ao teatro hoje à
noite. Meu advogado me disse, rindo, que meu pai se
esqueceu de estipular que o camarote do teatro, que ele
comprou há dez anos, seria dos meus meio-irmã os. Assim, ela
ficou para mim depois da morte dele. Ele me disse que meus
meio-irmã os ficaram um pouco angustiados com isso. Meu
advogado é um mestre de eufemismo. Eles queriam me ver
morto, isso sim.
— Seus meio-irmã os? Nã o sei nada sobre eles, Nicholas.
Ele olhou-a, horrorizado consigo mesmo. Ele havia falado
tã o livremente, sem considerar as possíveis consequê ncias, e
isso era muito diferente do seu modo habitual de agir. Bem, já
estava feito. A menos que, por acaso, ela quisesse conhecê -
los, e acreditar em tudo o que podiam lhe dizer em seus
vô mitos de ó dio para com ele. Nã o importava. Ela seria sua
esposa. Ela os encontraria, sem dú vida, e descobriria logo que
todos os trê s o odiavam. Ainda assim, apesar dele tê -la
conhecido há apenas dois dias, ele tinha a certeza de que ela
nã o hesitaria em lhe ser absolutamente fiel, para atacar quem
fosse estú pido o suficiente para insultá -lo. Ele sorriu, vaidoso.
Ningué m nunca tentou protegê -lo e ainda assim ele sabia que
ela o faria.
— Mas por que seus meios-irmã os o odeiam? Você é o
chefe da família de Vail. Devem a você o respeito deles, assim
como você deve a eles uma proteçã o.
— Eles me odeiam porque meu pai os ensinou a me
odiar, meu pai e Miranda, a mã e deles. Eu vi os dois mais
velhos, pela primeira vez desde o meu regresso, na quinta-
feira à noite, na noite que eu a vi pela primeira vez. Eles serã o
pragas? Nã o sei, mas nã o me incomoda — seus olhos escuros
brilharam com força. — E eles seriam tolos em incomodá -la.
Agora, você gostaria de ir comigo nesta noite? Com sua tia e
seu tio, claro.
— Você já pediu ao tio Ryder, nã o é ?
— Sim. Um homem deve conhecer o guisado antes de
levar a colher à boca.
Ela riu. — Foi uma terrível metá fora. O que vamos
assistir?
— É Charles Kean intrpretando Hamlet. Ele é filho de
Edmund Kean, nã o tã o bem sucedido quanto seu pai, mas
ainda assim, eu soube que, depois de praticar seu ofício por
vá rios anos, na Escó cia, ele retornou a Londres e fez este
papel, ele pró prio. Você gosta de Shakespeare?
— Ah, sim, muito obrigada. Eu sempre acreditei, no
entanto, que uma mulher trouxe tristeza para Shakespeare e
que foi esse o motivo que conduziu Kate para um fim tã o
miserá vel. Uma vingança. Quer dizer, você pode imaginar
uma mulher ajoelhada diante de seu marido e prometendo
fazer tudo o que ele deseja?
Seus olhos quase se cruzaram. Ele engoliu. — Bem,
apenas talvez...
Ela colocou levemente os dedos sobre a boca dele. —
Nã o, nã o deixarei você cavar um grande buraco. Você é um
homem. Tia Sophie diz que se uma mulher for astuta e
imaginativa, ela pode gerenciar facilmente um homem — ela
acariciou o braço dele. — Nã o, nã o gema. Agora, quando você
deseja contar a todos, Nicholas? Talvez amanhã ? Domingo
seria um dia esplê ndido para anunciar nosso noivado para
todos. Quando você deseja se casar?
— Deixe-me pensar sobre isso, — disse ele, olhando
sempre para o rosto dele.
— E sobre as Leis de Pale?
Ele sentia tal urgê ncia antes, mas estranhamente, isso
nã o o preocupava agora. Agora ele possuia tempo, já que ele
possuia a chave — ou seja, ela. — Diga a Grayson que
continuaremos com ele amanhã à tarde.
Ela assentiu com a cabeça. — També m vou dizer a
Grayson para convidar uma moça para o teatro esta noite. Ele
é muito popular, você sabe. As jovens miladys acham que ele
é muito româ ntico.
7
Preciso lhe dizer, tem que ser, tem que ser, abençoado
inferno, já nã o tenho escolha. Rosalind odiou, mas precisava
ser feito. Onde estava o Nicholas? Por que ele precisou sair no
final desta tarde, de todas as tardes? Ela nã o podia perder a
determinaçã o. Isso seria completamente desonroso. Mas, e se
ele olhasse para ela como um caracol indesejado no jardim, se
ele se levantasse e se fosse embora?
Nã o, com certeza ele nã o vai me bater, mas talvez ele vá
me lançar aqueles perigosos e frios olhares e ir embora. Nã o
importa. Eu preciso lhe dizer, nã o há escolha.
Willicombe abriu a porta e disse em sua voz brilhante, —
Milord Mountjoy, Miss Rosalind.
Nicholas engatilhou uma sobrancelha escura na parte de
trá s da careca brilhante de Willicombe e sorriu para ela.
Rosalind saltou sobre seus pé s. Ela viu que willicombe nã o
estava feliz em deixá -los sozinhos. Ela desejava que ele
soubesse, desejava que todos soubessem que ela e Nicholas
eram noivos. Isso removeria o olhar malicioso da face dele.
Bem, talvez nã o.
Willicombe olhou primeiro um, depois o outro. Ele
limpou a garganta. — Miss Rosalind, devo perguntar se dona
Sherbrooke está disponível para, er... vir e conversar com os
dois? Talvez guiar sua conversaçã o para um plano adequado
e elevado?
— Oh, nã o, Willicombe. Nó s estaremos aqui por uma
mera questã o de dois minutos, nã o mais. Milord é um
cavalheiro de alta moral. Ele nasceu em um plano elevado.
—Nã o sei se nasci elevado, mas certamente fui criado
assim. Nã o se preocupe.
Willicombe ainda nã o estava feliz, e entã o ele fez apenas
um pequeno arco, desta vez nã o concedendo sobre eles a
gló ria completa da cabeça careca.
Assim que as portas da sala foram fechadas, Rosalind
agarrou a mã o de Nicholas e puxou-o até as janelas de arco.
— Nicholas, você está atrasado.
— Nã o mais que um minuto ou dois. O que é isto? O que
está errado, Rosalind?
Ela deixou cair a mã o, começou a torcê -las e olhou para
seus pé s.
Ele olhou para aquelas mã os se torcendo, uma
sobrancelha voando para cima. — O que é isso? Você está
obviamente chateada. Diga-me o que está errado, Rosalind.
— Meu nome. É o meu nome que está errado.
— Seu nome? Sim, bem, La Fontaine é fora do comum.
Mas como você me disse, seu nome é um nome que deve ser
respeitado. Rosalind de La Fontaine. Gosto do seu nome,
Rosalind, que combina com você . O que tem ele?
— Nã o sabe quem eu sou, Nicholas, você realmente nã o
sabe. Você nã o sabe por que Ryder Sherbrooke é meu
guardiã o. Você nã o sabe nada sobre mim.
— Bem, nã o. Realmente nã o me ocorreu descobrir algo
sobre você . Estivemos bastante ocupados desde que nos
conhecemos. Mas você vai se sentir livre para me dizer
quando lhe aprouver.
— Você está lindo hoje, Nicholas. Eu gosto da camurça
de seu casaco. Muito elegante.
— Obrigado. Estou a ouvir.
— Bem, a coisa é ... — ela parou, entã o balançou a
cabeça e foi até ao final da sala e, em seguida, voltou para ele.
— Tudo bem, eu vou cuspir. Ouço fantasmas, — ela disse,
chegando a parar mesmo à frente dele. — Conheço
fantasmas, eu vivo com eles por dez anos. Eu nunca os vi,
mas já ouvi murmú rios de cantos sombreados ou, mais
frequentemente, nos meus sonhos.
— Bem, há dez anos você ouve fantasmas. Fale-me sobre
isso.
— Eu contarei, eu vou. Ouvi fantasmas desde... bem,
desde que o tio Ryder encontrou-me espancada até à quase
morte, em um beco perto das docas, em Eastbourne.
Ele ficou muito mais atento ainda. Como isso poderia
ser? — Nã o compreendo, — ele disse lentamente. — Você foi
espancada quase até à morte? Você era apenas uma criança.
O que é isto, Rosalind?
— Eles acreditavam que eu teria cerca de oito anos de
idade. Deixaram-me escolher um mê s e um dia para o meu
aniversá rio e, claro, peguei o dia seguinte, depois que me
contaram. Tio Ryder me levou para casa de Brandon — é
onde ele leva as crianças que foram abandonadas,
machucadas ou vendidas, crianças em situaçõ es terríveis. —
Ele as cria, ama, educa e lhes dá esperança. Ele me disse que
os mé dicos nã o sabiam ao certo se eu viveria, mas eu
sobrevivi. Mas, veja, quando eu finalmente recuperei minha
consciê ncia, eu nã o sabia quem eu era. Ainda nã o sei. Minha
memó ria nunca mais voltou. Só os fantasmas à espreita no
fundo da minha mente, e eles nunca vem à frente, nunca me
dizem quem eu sou.
Ele estudou seu rosto pá lido. — Ainda nã o sabe quem
você é ?
— Nã o. Os fantasmas veem e eu lhes pergunto, mais e
mais, quem eu sou, mas nunca entendi o que eles dizem e se
de fato eles pró prios sabem.
— Mas seu nome — La Fontaine.
— Eu selecionei o nome eu mesma quando eu fiz dez
anos, porque gostava de fá bulas de Jean de La Fontaine.
Simples assim. Eu sou mais ficçã o do que uma as fá bulas
dele — pelo menos as fá bulas carregam uma moral. Nã o
tenho nada. Nã o sei quem eu sou. No inicio, tio Ryder e tio
Douglas tentaram descobrir sobre mim, mas nã o puderam
descobrir nada. Entã o, decidiram que quem tivesse tentado
me matar poderia ainda estar por aí e ainda me quer morta.
Se algué m me odiava o suficiente para tentar me matar, entã o
devo ser de muito pouco valor. Ou nã o valho nada mesmo.
Nicholas nunca havia considerado algo assim, nunca.
Nã o importava. Ele odiava que os olhos dela estivessem
cheios de lá grimas, odiava sua palidez. Ele puxou-a contra
ele e a
beijou, suavemente, como se ela tivesse sido espancada, ele
nã o queria machucá -la mais. — Eu sinto muito, Rosalind.
Ela se afastou dele. — Nã o, nã o, você ainda nã o
entendeu Nicholas.
— Eu entendo que algué m tentou matar uma criança,
mas você sobreviveu graças a Ryder Sherbrooke. Eu vou ser
grato a ele pelo resto da minha vida.
— Sim, sim, claro, mas nã o é isso Nicholas. Você nã o vê ?
— Ela puxou uma respiraçã o profunda. — Você é o sé timo
Conde de Mountjoy — um Conde, Nicholas, um par do Reino.
Você possui uma linhagem impressionante, Considerando
que, bem, para dizer claramente, eu nã o sou ninguém. Sinto
muito, que eu nã o tenha dito isso imediatamente quando você
me pediu para casar com você , mas a verdade é que
simplesmente nã o pensei nisso. Eu queria muito beijá -lo e
tudo aconteceu tã o rapidamente e nó s já fomos atirados à s
Leis de Pale, tentando descobrir o que tudo aquilo significa, e
simplesmente nã o pensei sobre isso, até que eu estava
deitada na cama, ontem à noite, e me bateu no nariz. Nã o
posso fazer isso com você . Nã o podemos nos casar, Nicholas.
Na verdade, é com você que eu nã o posso me casar.
Nicholas se afastou dela e foi à s janelas de arco. Ele
puxou para trá s o cortinado e olhou para os jardins em
amadurecimento primaveril do outro lado da rua. Havia
narcisos balançando em uma brisa leve, o amarelo vívido
contra a grama verde bem apressada. Virou-se lentamente
para enfrentá -la. —Isso é inaceitá vel, Rosalind.
Ela se sentia doente na sua alma. Ela queria explodir em
lá grimas, mas ela nã o o fez. Quando percebeu que, com a
avançada idade de oito anos, que o cé rebro estava
perfeitamente em branco, ela havia chorado até que ela ficou
doente, e aprendeu que as lá grimas eram boas para,
exatamente, nada. — Sinto muito, — ela disse. — Eu sinto
muito que nã o tenha lhe contado imediatamente. Permiti a
luxú ria e o carinho me invadirem...
— Desejo e carinho, — ele repetiu; uma escura
sobrancelha arqueada. — Você colocou isso muito bem. Você
me entendeu mal. Acho inaceitá vel que algué m tenha tentado
assassiná -la — uma criança.
— Isso é porque você é nobre. Mas eu sobrevivi. Ouça
Nicholas, eu poderia ser filha de um açougueiro, um batedor
de carteiras, uma menina indesejada. Eu poderia ser uma
perfeita ningué m.
— Nã o, nã o é uma ningué m. Caso contrá rio, por que
algué m tentaria matá -la, uma criança de oito anos?
— Meu tio Ryder e tio Douglas concordam com você . Eles
acreditam que devo ser a filha de algué m importante, algué m
que fez inimigos poderosos. É verdade que eu estava usando
roupas muito bonitas quando tio Ryder me encontrou. Suja e
rasgada quase fora de mim, é claro. E isso. — Rosalind tirou
uma corrente de ouro do pescoço. Suspenso na corrente
estava um medalhã o com um coraçã o pequeno. Ela lhe
entregou. Nicholas segurou-a na palma da mã o. Era quente e
suave. Ele sentiu a pequena trava e abriu o medalhã o. Ambos
os lados estavam vazios. Ele verificou a espessura do ouro.
Nã o, nã o havia espaço oculto.
— Estava vazia quando Ryder encontrou você ?
Ela assentiu com a cabeça. — Talvez houvesse duas
fotos, uma da minha mã e, ou o pai e eu. Talvez, mas eu nã o
sei. As fotos foram tiradas porque algué m poderia reconhecê -
los? — Ela deu de ombros. — Mas isso nã o importa, Nicholas.
Ningué m faz nenhuma ideia sobre quem eu sou, ou quem sã o
meus pais — ou eram — ou se eles sã o ingleses ou italianos.
Tio Ryder acredita que possivelmente tenho ligaçã o com esses
países, desde que quando comecei a falar, falava italiano e
inglê s. Tio Ryder també m acredita que meus pais devam estar
mortos — ou quem sabe me procuram pela terra. Claro que é
o que ele faria se Grayson desaparecesse. É uma coisa
condená vel, Nicholas, mas eu sou uma pá gina em branco.
— Nã o, você nã o está em branco. Você tem uma
habilidade que nenhum de nó s tem — você pode facilmente
ler as Leis de Pale. Este é um dom, entã o talvez você venha de
pais com um dom similar. Você aceitou este seu dom, sem
dú vida. Eu diria que este dom é apenas um dos muitos que
possui.
Um dos muitos? Hmm. — Aconteceu tanta coisa tã o
rapidamente. Ainda nã o se perguntou por que consegue ler
aquele maldito livro...
— Ela lançou-lhe uma tentativa paté tica de um sorriso.
— Vou perguntar aos fantasmas quando os ouvir. Eles veem a
mim menos frequentemente agora. É estranho, mas eu sinto
falta deles. É como se eles fossem meu ú nico elo com meu
passado perdido. E agora eles estã o desistindo de mim.
— Fantasmas, — ele repetiu. — Fantasmas em torno de
você .
— Espero que nã o me ache louca, nã o é ?
Ele parecia distraído. E tocou com as pontas dos dedos
em cima da lareira. — Louca? Ah, nã o. Meu avô , eu acredito,
estava intimamente familiarizado com fantasmas e ele nã o era
louco — ele encolheu os ombros. — Para ser honesto, eu
suponho que você seja da minha classe. Dizem que
descobrimos quem você nã o é Rosalind. O que isso significa
no longo curso dos acontecimentos? Nã o grande coisa. Meu
pai era um homem fraco, manipulado por minha madrasta,
mas cruel como apenas um homem fraco pode ser. Quem
quer que você seja nã o me interessa. Você é Rosalind de La
Fontaine. Você logo será minha, Rosalind Vail, a Condessa de
Mountjoy.
— Você nã o pode ser tã o nobre, Nicholas, tã o elevado em
seu espírito, você nã o pode...
— Acalme-se. Isso é o bastante. Sejamos sensatos. Você
gostaria de saber quem você realmente é. Eu estou
familiarizado com muitos tipos diferentes de pessoas de todo
o mundo. Eu vou ter seu retrato pintado, talvez uma dú zia de
miniaturas, e farei que eles as enviem. Vamos descobrir quem
foram seus pais, Rosalind. Ou, talvez, um dia você vai acordar
perto de mim e sorrir, e você vai se lembrar. Eu entendo
muito bem porque seu tio Ryder e tio Douglas pararam a
busca. Mas você nã o vai mais se preocupar sobre algué m
magoá -la outra vez. Vou protegê -la com a minha vida.
Rosalind se virou e fugiu da sala.
11
— Rosalind!
— Milord, Miss Rosalind saiu em disparada para fora de
casa. O senhor é responsá vel por isso, milord? Insultou
aquela frá gil e doce jovem? — Willicombe, todo empoderado,
na verdade, barrou o caminho de Nicholas.
— A jovem nã o tem nada alé m de ar entre as orelhas
bonitas. Ela saiu sem nenhuma razã o para tanto... —
Nicholas levantou Willicombe por baixo de suas axilas, o
colocou para baixo, para um lado, e correu atrá s dela pela
porta da frente aberta. Ele parou quando viu um flash do
tecido da saia azul ao virar a esquina.
Ele ouviu um grito e outro grito. Ele se dirigiu à esquina,
correndo como um louco, somente para vê -la sentada com
sua parte traseira, na calçada, uma confusã o de saias. Ao
lado dela, sentava-se uma pesada matrona, com as
sobrancelhas erguidas, chapé u torto, um saiote de babados
lindo caído sobre os joelhos, pacotes espalhados ao redor
dela, a boca aberta para gritar novamente.
Nicholas rapidamente ajudou a mulher a ficar sobre os
pé s, nã o foi uma tarefa fá cil, e pegou as embalagens para ela.
O queixo dela tremeu quando ela apertou o punho para
Rosalind. — Eu sou a Sra. Pratt, milord, e eu sou a esposa do
diá cono Pratt de Pear Tree Lane. Esta jovem, milord, veio
voando sobre mim, justamente para me mandar para o meu
criador, e deve ser o diá cono Pratt que quer esse prazer. Sorte
foi que meu precioso pernil de porco kniver nã o se espalhou
no chã o sujo. Se ela é sua esposa, milord, você precisa bater
bem nela.
— Sim, ela é minha esposa, mas ela nã o merece uma
surra nesta instâ ncia, milady, já que é por minha culpa que
ela estava correndo e teve a terrível infelicidade de lhe atingir.
A senhora Pratt cobriu seu ventre, igualmente amplo,
com os amplos braços, e bateu as botas de cor marrom-
arroxeado. — É assim? E o que você fez milord, para fazer
esta doce jovem fugir de você ?
— Bem, eu devo ser honesto aqui, Sra. Pratt. A senhora
merece honestidade. O fato é que ela ainda nã o é a minha
mulher. O segundo fato é que eu a pedi em casamento, mas
ela sente que nã o é boa, o suficiente, para mim, o que é um
absurdo. Tudo bem, admito que se você olhar para ela agora,
milady, sentada esfregando suas partes posteriores,
parecendo como se quisesse desatar a chorar e gritar comigo
ao mesmo tempo, talvez você concorde com ela. Mas, na
posiçã o vertical ou a valsar, com um sorriso encantador no
rosto, ela é , de fato, muito boa e vai me tornar orgulhoso. E
quando ela se casar comigo, certamente evitará respeitá veis
miladys fazendo suas compras.
— Eu nunca comi uma carne de porco kniver, — disse
Rosalind.
A mulher olhou Rosalind com desfavor. — Provavelmente
nã o mereça uma. Case-se com ele ou vou lhe apresentar as
minhas doces sobrinhas, que jamais pensariam em dar um
ú nico passo longe dele. Olhe para ele — ele tem todos os
dentes, é agradá vel, tem uma saudá vel cor branca, e nã o há
nenhum gordo bocado de carne pendurado, ao contrá rio do
diá cono Pratt, que usa um cinto muito largo para se manter
em suas camisas. Disse-lhe repetidamente que nã o deve ser
um glutã o, mas ele me olha e diz que um homem deve tirar o
prazer de onde ele pode. Em ousadia, digo-lhe. Case com ele,
milady, case com ele.
Rosalind encarou Nicholas, torcendo as mã os
novamente. — Mas, Nicholas.
— Você nã o está ficando mais jovem, — disse a mulher.
— Se eu lhe mostrar minhas sobrinhas, ele pode voltar à s
costas para você rá pido o suficiente. Minha pequena Lucretia
tem apenas dezessete anos.
Desde que Rosalind ignorou a mã o estendida de
Nicholas, ele se virou para dizer à Sra. Pratt:
— Por favor, aceite as minhas desculpas, milady, mas ela
vai casar comigo, e assim, eu nã o estarei disponível para
conhecer Lucretia. — Nicholas lançou-lhe um olhar
maravilhoso e um sorriso gordo que fez o queixo dela oscilar
novamente. Sra. Pratt fez um olhar que Rosalind agora
reconhecia como sedutor e disse: — Talvez minha adorá vel
Lucretia seja muito jovem para o milord, talvez seja uma
milady mais velha, mais experiente que serviria... — ela
acariciou os cachos cheios sobre as orelhas dela e, em
seguida, olhou para baixo, para Rosalind, com uma boa dose
de antipatia... — nã o fique desatento da dor de cabeça que
fugiu de você .
— Mas você pegou a dor para mim, milady, e obrigado.
— Apenas uma forma muito antiga de falar, milord.
Agora, suponho que nã o havia nada de mal com ela. — E a
milady Pratt, com todas as suas embalagens escondidas por
baixo de seus braços, se foi, parecendo melancó lica olhando
para trá s, para Nicholas, e com escá rnio olhando Rosalind.
Ele ficou sobre ela, as mã os nos quadris. — Você
realmente quer me sacrificar à sobrinha da Sra. Pratt,
Lucretia?
— Ela tem apenas 17 anos. Você pode moldá -la.
— Você tem apenas dezoito anos, e eu prefiro moldá -la.
Você está bem?
— Demorou a perguntar. Nã o, sinto-me humilhada, e
você precisava esfregar na minha cara sua conversa gentil
com a milady Pratt.
— Devemos considerar todas as ofertas. Sinto muito
dizer isso, mas você merecia ser humilhada. Você quer me
dizer por que você fugiu, ou tenho de adivinhar?
Ela olhou para longe dele. — Eu simplesmente nã o
aguentaria suportar.
— Suportar o quê , pelo amor de Deus?
— Sua... sua nobreza. —
Ele apenas conseguiu olhar para ela. — Se você
soubesse... — ele disse finalmente. Ele pegou uma mã o dela e
a colocou no seu rosto.
Ela falou, seu há lito quente na mã o dele.
— É deprimente, milord. Eu nem mesmo fui capaz de
executar uma saída dramá tica com estilo, com graça.
Abençoado inferno, quem me dera que eu tivesse espalhado
pernis de carne de porco miserá vel daquela terrível mulher
na rua. O que é um porco kniver?
— Uma costeleta que é cozida com peô nias e tomilho até
que ele se assemelhe ao couro na parte inferior de seus
chinelos. É um desafio para todos os dentes. Muito bom
mesmo.
Ele a prendia, ignorou a babá e duas crianças que
passaram por perto. — Entã o, eu sou nobre?
— Sim, mas o importante aqui é que eu estou tentando
ser nobre també m. — Ela olhou à boca dele, inclinou-se e
beijou o pescoço dele. Ela realmente sentiu o impulso de
energia atravé s dele. — É difícil ser nobre, quando você está
me segurando assim. Nicholas, telvez você esteja sentindo um
pouco de desejo por mim por causa de pequenino beijo no seu
pescoço?
— Nã o, droga, estou me sentindo abusado. Agora temos
uma boa meia dú zia de pessoas nos olhando, Rosalind. Eu
sou um personagem importante. Venha para casa.
Ela deu um passo para longe dele. — Tudo bem, eu
tenho alguma distâ ncia de você e, entã o, alguma perspectiva.
Aqui está , Nicholas. Você é nobre, sou nobre. Nã o, nã o
casarei com você . Leve-me no coraçã o, para o bem da
verdade.
— Parece que você está citando Shakespeare.
— Bem, naturalmente, uma vez que ele me deu meu
nome.
Nicholas disse aos cé us: — Eu me pergunto se isso me
ajudaria a entender se bati com a minha cabeça contra a
parede de pedra por lá ... — Ele olhou para ela, estendeu a
mã o e conseguiu agarrar a mã o dela. Ele puxou-a depois de
volta à casa da cidade, de Sherbrooke. Ela nã o gritou, fato
pelo qual ele estava profundamente grato.
Douglas Sherbrooke, imponente em suas roupas de noite
pretas e sua cabeça de cabelos brancos e grossos, olhou os
recé m-chegados Nicholas Vail, Conde de Mountjoy e sentiu
um pouco de medo por Rosalind. Aquele jovem era realmente
afiado e duro até o osso, assim como Ryder dissera, e
implacá vel, ele apostaria.
Ele viu os olhos do jovem vasculharem o ambiente até
que encontraram Rosalind, que estava calmamente sentada
em uma cadeira de asas, junto à lareira. Ela parecia pá lida
para Douglas, nem parecia ela, que estava sempre rindo, e o
vestido verde-amarelo pá lido que ela usava nã o ajudou. Ele
franziu a testa. Quem escolheu esse vestido para ela? Ele se
certificaria que ela nunca o usasse de novo.
Ele desviou sua atençã o de Rosalind e de seu vestido
infeliz, quando Ryder o apresentou a Nicholas Vail.
O jovem curvou-se, olhou-o nos olhos. Malditamente
Nicholas Vail era tã o moreno quanto ele, seus olhos eram
pretos, e sua pele bronzeada nã o era somente devida a seus
meses no mar.
Nicholas Vail poderia ser meu filho, Douglas pensou, e
isso nã o é somente uma idé ia na cabeça?
— Milord, — disse Nicholas. — É um prazer e uma honra
conhecê -lo.
Antes de Douglas poder se intrometer em todo o passado
e pecados dele, Willicombe deslizou até a sala de estar e
anunciou o jantar, abordando tanto a Condessa de
Northcliffe, toda linda em verde escuro, seu cabelo vermelho
magnífico torcido finamente, na cabeça linda. (Willicombe
ocasionalmente se entretinha com uma visã o da cabeça da
Condessa raspada tanto quanto a sua pró pria cabeça) e a Sra.
Sophie (possuia um suave punho de ferro e uma maneira
encantadora).
— A cozinheira pediu que informasse que ela preparou
muito bem um bezerro, meia cabeça, língua e os miolos à
maneira francesa, embora “execrá vel” me vem à mente o que
se fala sobre as rã s cozinhando.
A Condessa de Northcliffe perguntou: — Existirá , talvez,
algo nã o tã o controverso que ela també m estará servindo?
— Felizmente sim, minha milady. Para nã o esquecer será
o famoso cozido de bacon, guarnecido com folhas de
espinafre, seguido por uma compota de groselhas e couve-flor
com molho de creme, abençoadamente tudo preparado à
maneira inglesa.
— Meus sonhos se realizaram, — disse Sophie.
— Nã o vejo o jovem Grayson, — Willicombe disse.
— Ele jantará no clube dele, — disse Ryder.
Willicombe curvou-se e saiu da sala de estar, cabeça
inclinada, supondo que, por direito, que seus superiores
rapidamente o seguiriam, o que eles fizeram.
— Ele é incrível, — disse Nicholas.
— Isso é o que ele me disse quando se tornou nosso
mordomo de Londres, — disse Douglas.
Alexandra havia colocado Nicholas e Rosalind frente a
frente, como Rosalind havia pedido para ela. Uma das
sobrancelhas pretas de Nicholas subiu, mas ele nã o disse
nada. Douglas falou sobre os seus filhos gê meos que tiveram
també m conjuntos de gê meos. Eles eram as có pias de seus
respectivos pais, o que significava que eles eram bonitos e
pareciam ter saído de suas entranhas. Enquanto conversa e
risos fluíam, Rosalind se serviu de um pouco de refogado de
cebola espanhola e se agarrou a coragem. Ela esperou que
todo mundo fosse servido e houvesse uma pausa na conversa.
Ela limpou a garganta e anunciou à mesa em geral.
— Nicholas Vail, Lorde Mountjoy, me pediu para casar
com ele. Pareceu-me acertar entre os olhos este pedido
inesperado, e só depois que eu aceitei, percebi que ele nã o
sabia quem eu era, ou quem eu nã o era, e eu sabia que isso
seria um engano brutal. Eu gostaria de anunciar que nã o vou
casar com Nicholas Vail, mesmo que ele insista porque ele é
muito afeiçoado à minha pessoa e à minha voz e sim, deve ser
dito, ele gosta de me beijar. Ele també m fala do destino que
nos uniu, como se fosse uma coisa significativa, que soa
româ ntico e um tanto místico, mas nada disso interessa. Ele é
nobre. Estou provando que eu sou nobre també m. — Ela
parou e pegou algumas cebolas espanholas estufadas, doces
com um pouco de pimenta preta.
Houve talvez trê s segundos de silê ncio. Quanto a
Nicholas, ele lentamente baixou seu garfo e sorriu para ela.
Ele disse a Ryder e Sophie.
— Sem dú vida estã o surpresos que eu tenha proposto
casamento a ela tã o rapidamente, talvez, mais surpreso, que
nã o eu nã o tenha falado com você primeiro milord. Peço
desculpas por isso, mas quando um homem se depara com
sua companheira, a passagem do tempo parece irrelevante.
Eu queria esperar para falar com milord, para lhe permitir
mais tempo para me conhecer, talvez me julgar como
aceitá vel, mas Rosalind mudou o jogo.
— Temo que deva dizer isso, ela nã o está sendo nobre,
ela está sendo uma dor na cabeça, tola; como observou uma
recente conhecida minha. Nã o há ningué m nesta mesa que
acredita que ela nã o é digna de mim, ou seja, nã o é digna de
ser esposa de um, de mesmo nível. Caso contrá rio, eu ouso
dizer Sr. Ryder Sherbrooke nã o a teria feito sua protegida e
nã o a teria trazido para Londres para sua temporada. Estou
correto, milord?
Ryder estava parado, analisando tudo o que se passava.
Ele precisava reconhecer Nicholas Vail, ele havia lidado muito
bem com tudo. Ele assentiu com a cabeça, mais nada para
fazer, seus olhos nunca deixando o rosto de Rosalind, agora
corado porque, por quê ? Porque o Nicholas nã o aceitara as
suas desculpas, e deu a volta à situaçã o, e com muita
habilidade? Ryder disse lentamente, inconscientemente
desfazendo um pã ozinho na mã o.
— Sim, acreditamos firmemente que ela é bem nascida.
Na verdade, nã o tivemos nenhuma dú vida desde oo tempo
que ela finalmente abriu a boca e falou, seis meses depois que
eu a encontrei. No entanto, Nicholas, nó s fomos incapazes de
localizar seus pais ou parentes. E nó s desistimos porque,
honestamente, algué m havia, de fato, tentado assassinar uma
criança, e tememos que se encontrarmos os pais dela, ela
ainda estaria em perigo.
— Até hoje, dez anos mais tarde, quem vai dizer que os
motivos para esta açã o nã o sã o ainda vá lidos na mente
daquela pessoa? Nã o, mantivemos a calma e vamos continuar
a manter todas as nossas perguntas para nó s mesmos. Ela
continuará a ser Rosalind de La Fontaine até recuperar a
memó ria dela, algo que nossos mé dicos tê m dú vidas de que
vá acontecer, visto que ela nã o tem se lembrado de nada ao
longo dos anos.
Douglas focou seus olhos escuros no rosto de Nicholas
Vail.
— Compreenda, milord, nó s somos a família dela agora e
vamos mantê -la segura.
— Assim como eu, — disse Nicholas. — Eu juro a você s.
Ningué m irá machucá -la sob meus cuidados.
Rosalind se inclinou em direçã o de Nicholas.
— Escute, Nicholas Vail. Eu sou nã o mais real do que
Shakespeare. Eu achei meu nome no livro “As You Like It”,
um livro, mas eu teria preferido Ganimedes — lembra, a
personagem Rosalind se disfarçou como um pastor e se
chamava Ganimedes — desde que eu vivia em uma espé cie de
disfarce, mas tio Ryder e tia Sophie sentiram que o nome
talvez fosse, um pouco demais, nã o convencional. Você deve
perceber que eu poderia ser descendente de Á tila, o Huno ou
Ivan, o terrível, um pensamento preocupante, nã o concorda?
Sophie a ignorou. — Quando você começou a falar,
Rosalind, seu inglê s era claramente de uma jovem inglesa
bem-educada e sabíamos que estava bem. O italiano era
igualmente bom, talvez o resultado de uma babá italiana ou
um pai italiano.
— Era ó bvio que havia pessoas má s ao seu redor,
pessoas má s que a viram como uma espé cie de ameaça e
agiram para eliminá -la. Isso é tudo que sabemos com certeza.
Por favor, nã o se pinte como prole do diabo, senã o devo
considerar tapar suas orelhas.
Ryder disse: — Meu amor, lembra-se de algumas das
travessuras que Rosalind fez com as crianças em seus anos
mais jovens?
Sophie assentiu com a cabeça. — Sim, você tem razã o.
Depois de refletir, talvez devê ssemos considerar a semente do
diabo em sua origem.
Houve um pouco de riso, mas nã o muito. Ryder
continuou:
— E sua voz cantando, minha querida — o professor de
voz que trouxemos para instruí-la disse que você havia
recebido excelente instruçã o, pelo menos, nos dois anos
anteriores. Para ser honesto aqui, nã o quero saber quem você
realmente é , porque eu teria medo por você . Quero você em
segurança. Naturalmente, nó s discutimos totalmenteo perigo
que está vamos causando a sua segurança ao trazê -la a
Londres para uma temporada. Quem vai dizer que algué m
nã o a reconheceria? Tenho de admitir que, à s vezes, sinto
certo pressentimento sobre isso, mas nã o importa. Agora, a
menos que você se lembre um dia, você permanecerá
Rosalind. Nó s somos sua família e nó s a amamos.
12
Pecados da carne
Pecados da carne
Um tédio sem derramamento de sangue, o mundo seria
Sem pecados da carne.
[←1]
Bergantim é uma embarcaçã o do tipo da galé , de um a dois mastros e velas
redondas ou vela latinas. Levava trinta remos e era utilizado como elemento
de ligaçã o, exploraçã o, como auxiliar de armadas ou em outros serviços do
gé nero.
[←2]
Festa de Haloween - Dia das bruxas.
[←3]
Um prato de coleta é frequentemente usado perto do fim de alguns cultos de
adoraçã o protestante, ao invé s de no ofertó rio no rito cató lico, para reunir as
oertas dos fié is para o apoio da igreja e à caridade.
[←4]
Pale = Pálido - deriva da palavra latina pālus, que significa "estaca",
especificamente uma estaca usada para apoiar uma cerca. Uma cerca feita
de palas agrupadas lado a lado, uma paliçada , é derivada da mesma
raiz. Daí veio o significado figurativo de "limite" e, finalmente, a frase além do
pálido , como algo fora do limite - isto é , nã o civilizado. També m derivada do
conceito de "limite" era a idé ia de um pá lido como uma á rea dentro da qual
as leis locais eram vá lidas. O termo foi usado nã o apenas para o Pale na
Irlanda, mas també m para vá rios outros assentamentos coloniais ingleses,
notavelmente o inglê s Calais.
[←5]
Bulgar- Os bú lgaros (também Bulghars, Bulgari, Bolgars, Bolghars, Bolgari,
protobú lgaros) eram tribos guerreiras semi-nô mades de extraçã o turca que
floresceram nas estepes pô ntico-cá spio e na regiã o do Volga durante o sé culo
VII. Emergindo como equestres nô mades na regiã o do Volga-Ural, de acordo
com alguns pesquisadores, suas raízes podem ser rastreadas até a Á sia
Central.
[←6]
Danelaw, como registrado no Chronicle anglo-saxã o, é um nome histó rico
dado à parte da Inglaterra em que as leis dos dinamarqueses dominavam e
dominavam as dos anglo-saxõ es. Danelaw contrasta com a lei saxã ocidental
e a lei da Mé rcia. O termo é registrado pela primeira vez no início do século
11 como Dena lage.
[←7]
Na mitologia grega, Caronte (em grego: Χά ρων , transl.: Chá rō n) é o
barqueiro de Hades, que carrega as almas dos recé m-mortos sobre as á guas
do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos
mortos.
[←8]
O siroco ou xaroco (em italiano scirocco [ʃiˈrɔkko] e em á rabe ghibli) é um
vento quente, muito seco, que sopra do deserto do Saara em direçã o ao litoral
Norte da Á frica, comumente na regiã o da Líbia.
[←9]
Suleiman - Dé cimo sultã o do Impé rio Otomano.
[←10]
Tibre- Espé cie de tigre da sibé ria
[←11]
Sable é uma espécie de marta, um pequeno mamífero carnívoro que habita
principalmente os ambientes florestais da Rú ssia, dos Montes Urais ao longo
da Sibé ria e do norte da Mongó lia.
[←12]
Coupe de foudre- expressã o francesa para amor a primeira vista.