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A Filha do Feiticeiro

Os Sherbrooke 10

Catherine Coulter
À Penelope
Williamson Você é uma escritora e conselheira
maravilhosa, e o melhor de tudo, você é uma amiga
maravilhosa. CC
Caro leitor:
Quando Ryder Sherbrooke encontra uma criança
espancada quase até à morte em um beco em Eastbourne, ele
a levou à casa de Brandon. Ela nã o falou durante seis meses.
Suas primeiras palavras, curiosamente, foram uma cançã o
aterradora:

Eu sonho com beleza e noites escuras


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que não estou sozinha outra vez
Mas, eu sei de sua morte e do seu pecado grave.

Ah, e o que representaria esta mú sica estranha que,


aparentemente, foi impressa no cérebro da criança?
Ela se denomina Rosalind de la Fontaine... uma vez que
nã o se lembra quem é . Em sua primeira temporada em
Londres, em 1835, sob a é gide da Sherbrookes, ela conhece
Nicholas Vail, o 7º Conde de Mountjoy, recé m-chegado de
Macau. Acontece uma fascinaçã o instantâ nea de ambas as
partes, mas por razõ es diferentes.
Com Grayson Sherbrooke, eles sã o levados até uma
có pia antiga de um misterioso livro escrito por um feiticeiro
do sé culo XVI. O livro é escrito em um có digo desconsertante
que nem Grayson, nem Nicholas, conseguem ler.
Mas Rosalind consegue fazer isso, sem problemas.
Coisas estranhas começam a acontecer. Tanto Nicholas
quanto Rosalind sabem que aquelas coisas estã o relacionadas
com o livro antigo e, talvez, até mesmo com o passado dela,
particularmente com a mú sica que ela cantou, pela primeira
vez, como uma criança. A urgê ncia cresce quando eles
percebem que Rosalind é a chave para um misté rio secular.
Divirta-se,
Catherine Coulter
1

Há muito tempo atrás…

Eu sabia que algo nã o estava certo. Estava deitado de


costas, e nã o conseguia me mexer.
Uma ú nica luz brilhou diretamente no meu rosto, mas
nã o era forte o suficiente para me cegar. A luz era estranha,
suave e difusa e parecia vibrar ligeiramente. — Você está
acordado, eu sei... — Uma voz forte, uma voz que seria ouvida
no lugar mais profundo da noite; certamente uma voz de
homem, mas, ao contrá rio de qualquer outra, eu nunca havia
ouvido ela antes. Qualquer homem normal teria medo de uma
voz, mas, estranhamente, eu achei que estava apenas um
pouco curioso.
Eu disse: — Sim, estou acordado. No entanto, nã o posso
me mover.
— Nã o, ainda nã o. Se você concordar com o que eu
quero, vai se mover de novo, como você fazia antes de eu salvá -
lo e trazê -lo até mim.
— Quem é você ? Onde você está ?
— Estou atrá s dessa luz Cretense. Linda, nã o é?
Perolada como as sedas de um rei, quente e macia como os
dedos de uma mulher roçando o seu rosto.
— Eu salvei a sua vida, Capitã o Jared Vail. Em troca,
posso pedir um favor. Você concorda?
— Como sabe meu nome? — A luz Cretense — o quer
que aquilo fosse — parecia irradiar um momento, e depois,
setornar rígida em uma coluna de fogo, presa e, em seguida,
mais uma vez, expandir-se com um brilho suave, pulsando
como um coraçã o em descanso.
Ele acreditava que havia insultado o ser por trá s
daquilo? Seu mestre, talvez? Nã o, isso seria ridículo; uma luz,
nã o importa o que ele tivesse feito era sem fô lego ou
sentimento, sem alma, — nã o era?
— Por que nã o consigo me mexer? — Onde estava o
maldito homem? Eu queria ver a face dele, queria ver o ser
humano que falou aquelas palavras.
— Porque nã o quero que você me veja, ainda. Você me
concederá um favor por salvar sua vida?
— Um favor? Quer que eu mate algué m? Nã o liquidei um
pirata ou um rato ladrã o de doca durante trê s anos... — de
onde viera aquela paté tica tentativa de humor? Nã o havia
nenhum riso, havia tristeza naquela voz, e talvez tenha sido
por isso que eu havia tentado brincar. Ainda assim, eu nã o
sentia medo, mesmo sabendo que, em alguma parte do meu
cé rebro, eu deveria estar com medo, um medo avassalador.
Mas, eu nã o estava.
— Quem é você ? — Perguntei novamente.
— Eu sou o seu salvador. Deve sua vida para mim. Você
está disposto a pagar a sua dívida? — Eu precisava conceder
um favor para pagar a dívida.
— O que vale sua vida, Capitã o Jared Vail?
— Minha vida vale tudo o que tenho. Vai me deixar viver
se eu nã o concordar?
A luz Cretense — um flash azul brilhante por um
instante e, entã o piscou como se tivesse passado por ela uma
mã o que acenava. E, depois se estabilizou de novo. As
sombras por trá s dela permaneceram impenetrá veis, como
uma cortina preta cobrindo um palco vazio. Minha
imaginaçã o estava pegando fogo. A voz me trouxe de volta.
— Eu deixar você viver? Eu nã o sei. — Uma pausa
pesada. — Eu nã o sei.
— Entã o, nã o tenho escolha, pois nã o? Nã o desejo
morrer, apesar de que eu teria morrido se você nã o me
tivesse salvado. Mas, eu nã o sei como você conseguiu isso.
A enorme onda estava sobre mim e uma enorme ferida
ao meu lado — eu teria morrido daquele golpe provavelmente
antes da á gua me esmagar. — Percebi, naquele instante, que
eu nã o sentia dor no buraco escancarado na minha lateral
que havia me arremessado em uma louca agonia. Eu nã o
sentia nada, exceto o bater do meu coraçã o: forte, só lido, sem
sobressaltos, sem dor ou medo, nã o estava ofegante para
encontrar uma respiraçã o.
— Ah! A dor. Isto é outra dívida, deve a mim, nã o
concorda?
Por que eu nã o sentia medo? A ausê ncia de medo me fez
sentir frio até à minha alma. Estava a pensar que me fez
menos homem, menos… vivo. Ele removeu o meu medo
humano de alguma forma? — Como você me curou?
— Eu tenho muitas habilidades, — disse a voz do espaço
negro, nada mais.
Eu recuei em minha mente, tentando manter-me calmo e
concentrado, nã o permitindo que pensamentos assustadores
dispersos me fizessem querer gritar de pavor, mesmo
sabendo que qualquer homem sensato estaria balbuciando
nesta hora. Ele queria me fazer pagar por salvar a minha vida.
Eu certamente poderia fazer isso. Mas eu
disse, — eu nã o entendo. Você me
salvou de uma maneira que nenhum mortal poderia ter
salvado. Se isto nã o é um sonho elaborado, se nã o estou
morto, eu diria que você pode fazer qualquer coisa. O que
eu poderia fazer para você , que você nã o consiga fazer? —
Silê ncio frio cresceu cada vez mais.
A luz Cretense dançou descontroladamente, disparando
centelhas azuis que pulverizaram raios para cima, à
escuridã o. Entã o, de repente, tudo estava calmo. A luz era um
espelho dos sentimentos do meu salvador? A voz disse, — eu
jurei nã o me intrometer. É uma maldiçã o que devo obedecer,
a minha palavra.
— A quem você jurou isso?
— Você nã o precisa saber. — Você é um homem, como
eu sou um homem?
— Nã o falo incessantemente como um homem, para
ouvir o som da minha pró pria voz? Eu nã o rio como um
homem? — Sim. Nã o. — Diga-me onde estou?
— Nã o é importante, meu amigo.
— Seu amigo? Se ele era meu amigo porque eu nã o podia
me mover?
De repente, senti meus dedos. Eu os mexi um pouco,
mas eu nã o conseguia levantar o braço ainda, e isso era
certamente alarmante. Ainda assim, nã o fiquei alarmado,
verdade seja dita. Apenas interessado e intrigado, como um
homem da ciê ncia que descobrisse algo inesperado. Ele havia
visto os pensamentos na minha cabeça? Agora, isso me deu
uma pausa.
Eu disse lentamente, — o que um capitã o de navio
poderia fazer por você ? Você tem demonstrado poderes que eu
nã o consigo nem imaginar. Eu estava a bordo de meu
bergantim1 no meio do Mediterrâ neo, a cinco milhas de
Santorini, meu ú ltimo porto, e uma onda enorme apareceu do
nada. Ouvi os gritos dos meus marinheiros, ouvi o grito do
meu imediato para Deus salvá -lo daquele pesadelo que caiu
sobre nó s. Em seguida, uma tá bua lascada lancetou o meu
lado, rasgando-me, entã o uma montanha poderosa de á gua
caiu sobre nó s, e ainda…
— E você ainda está aqui, vivo e quente. — Meus
homens? Meu navio?
— Eles estã o mortos, sua nave destruída. Mas você nã o
está morto.
Pensei em Doxey, meu companheiro, alto e grosseiro, leal
a mim e a mais ningué m; e Elkins, o cozinheiro, sempre
cantando cantigas imundas, sempre fazendo papas,
estranhas, que todos odiavam. Eu disse, — talvez eu esteja
morto, talvez você seja o diabo, e está brincando comigo,
divertindo-se, fazendo-me acreditar que ainda estou vivo,
quando estou realmente morto como… — Uma risada. Sim,
foi uma risada, baixa e estranhamente oca e outra coisa… o
riso nã o era risada de um grande homem… pareceu-me que
era mais a imitaçã o de uma risada.
Eu estava no inferno? O malvado tio Ulson apareceria em
minha linha de visã o, pronto para receber este morto em sua
casa? Por que eu nã o sentia medo? Talvez a morte tirasse o
medo de um ser humano.
— Eu nã o sou o diabo. Ele é uma criatura totalmente
diferente. Você pagará sua dívida comigo?
— Sim, se eu realmente estiver vivo.
Senti um raio de dor tã o horrendo que acolheria a morte
como um salvador. Minha laterl estava aberta, podia sentir
minha carne arrancada de meus ossos. Eu senti minhas
tripas escorrendo por minha barriga. Eu gritei na escuridã o. A
luz Cretense ficou maior, um flash de luz azulada selvagem e
louco. Entã o, de repente tal como havia começado, a dor
parou. A luz Cretense acalmou.
— Sentiu o golpe mortal daquela viga caindo? — Por um
momento, eu nã o conseguia falar, eu estava respirando
pesado, focado na memó ria daquela horrível agonia. — Sim.
Senti a minha pró pria morte, mas foi um instante, por isso
devo estar morto, ou… — Eu senti diversã o naquela voz
negra, novamente, de alguma forma oca, nã o estava muito
certo. — Ou o quê?
— Se estou realmente vivo entã o você é um mago, um
bruxo, um feiticeiro, mas nã o estou certo de que existam
grandes diferenças entre esses títulos. Ou você é um ser de
cima ou debaixo, do que um homem com juízo possa aceitar.
Eu nã o sei... e você nã o vai me dizer. Você precisa de mim
porque prometeu nã o se intrometer.
Nã o se imiscuir. Ou seja, uma palavra curiosamente sem
derramamento de sangue, uma palavra vazia de ameaça ou
paixã o, como uma promessa que uma tia solteira faria, nã o é ?
— Você pagará sua dívida comigo?
Eu nã o vi nenhuma esperança. Ele via atravé s de mim.
— Sim, eu vou pagar minha dívida.
A luz Cretense piscou e ficou escuro. Eu fui lançado
numa escuridã o mais negra do que o coraçã o do pecador. Eu
estava sozinho. Mas eu ouvira passos, sem som de qualquer
movimento. Nã o havia nenhum ser respirando no ar
enegrecido, apenas eu. Mas, qual era a minha dívida?
Eu adormeci. Sonhei que estava sentado em uma mesa
grande e comia uma refeiçã o digna da rainha, servido por
mã os que eu nã o conseguia ver: assado de faisã o e outras
carnes exó ticas, tâ maras, figos e pã o doce, que eu nunca
havia comido.
Estava tudo delicioso, e o líquido de um jarro dourado
aqueceu minha boca e correu atravé s de mim como uma
cura, como o leite de uma mã e. Eu estava saciado, eu estava
contente.
De repente, a luz no meu sonho mudou e uma jovem
apareceu na minha frente, cabelo vermelho como o pô r do sol
em Gibraltar, frouxamente trançado nas costas. Seus olhos
eram azuis e sardas atravessavam o seu nariz pequeno. Ela
parecia tã o real nesse sonho deslumbrante que eu senti que
poderia estender a minha mã o e tocá -la. Ela jogou a cabeça
para o lado e cantou:

Eu sonho com beleza e noites escuras


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que não estou sozinha outra vez
Mas, eu sei de sua morte e do seu pecado grave.

Voz de criança, doce e verdadeira, causaram sentimentos


que eu nã o sabia que havia em mim, sentimentos de quebrar
meu coraçã o. Mas aquelas palavras estranhas — o
significam? Que morte? Que pecado grave?
Ela cantou a mú sica de novo, mais baixa, desta vez e
novamente a voz dela estabeleceu-se dentro de mim quando
escutei o estranho tom menor e as assombrosas notas tristes
que me fizeram querer chorar.
O que aquela pequena garota sabia de assombraçã o ou
pecado?
Ela se calou. Lentamente, ela deu um passo par amais
perto de mim. Ainda que soubesse que era um sonho, eu
juraria que podia ouvir sua respiraçã o, ouvir seus passos de
luz. Ela sorriu e falou comigo, mesmo quando ela pareceu
desvanecer-se no ar suave, e desta vez suas palavras soaram
claro no meu cé rebro: Eu sou a sua dívida.
2

Londres atual, 22 de abril de 1835.

Nicholas Vail estava na borda do grande salã o com suas


dezenas de faixas de vermelhas e brancas penduradas no teto
com precisã o militar, sempre com a mesma distâ ncia entre
elas. — Para dar a sensaçã o de um verdadeiro salã o medieval,
o senhor sabe, disse a senhora Pinchon orgulhosamente, toda
inflada, com um turbante roxo na cabeça dela.
Ele concordou sem problemas, mencionou que era uma
pena que nenhum cavalheiro, a cavalo pudesse caber em seu
magnífico salã o de baile, o que a deixou muito pensativa.
Ele estava suando com o calor de todos os corpos juntos
e o nú mero incontá vel de velas gotejantes em todos os cantos
da sala. Da longa linha de portas francesas que davam para
uma grande varanda de pedra, pelo menos, duas foram
abertas para a noite.
Ele teve pena das mulheres. Elas usavam cinco aná guas
— ele contou-as no passado, por causa das vá rias mulheres
que ele havia conhecido. Estimava que houvesse duzentas
mulheres presentes, o que significava mil aná guas. Isso
confundia a mente. E seus vestidos — as mulheres pareciam
ricas sobremesas em quilô metros de brocado ou cetim, em
todas as cores inventadas pelo homem, em torcidas em
tranças e babados que arrastavam pelo chã o, flores murchas
e joias em seus cabelos — tudo aquilo deveria pesar muito.
Ele imaginou o vapor das aná guas, em uma pilha
montanhosa no meio do salã o de festas, todos aqueles
vestidos despejados por cima, como cobertura em cima de um
bolo, o monte polvilhado com os baldes de joias que
adornavam os ló bulos das orelhas, pescoços e pulsos. E isso
significava que as mulheres estariam nuas. Agora, isso seria
uma boa imagem para provocar o cé rebro. Ele viu uma
matrona jovem particularmente pesada, de queixo trêmulo
quando ela ria, e rapidamente sufocou aquela imagem.
Quanto aos homens, pareciam altivos e orgulhosos com
seus fraques, todos abotoados, de cauda longa e adequados
tons escuros, engomados e duros, miserá veis, sem dú vida,
com este calor. Que o fez estremecer.
Ele sabia exatamente como se sentiam porque estava
vestido como eles.
Pelo menos, as mulheres poderiam mostrar metade de
seus peitos, com seus vestidos quase caindo dos alvos
ombros. Ele pensou em andar pelo salã o de baile, dando
pequenos toques aqui e ali para ver o que aconteceria. Mas
aqueles ombros nus nã o podiam compensar as mangas
ridículas que estavam tã o rigidamente presas em seus corpos.
Se ele tivesse de suportar aquelas mangas, ele certamente
teria de caçar o misó gino insano que as havia impingido à s
mulheres. Elas deveriam fazê -las mais desejá veis? O que elas
faziam era tornar cada fê mea uma força a ser reconhecida por
sua enorme amplitude.
Era hora de voltar aos negó cios. Ele levantou a cabeça,
um lobo sentindo o perfume de sua presa. Sua caçada acabou
finalmente — ela estava ali, assim como ele sabia que ela
estaria.
— Ele a pressentiu. O pelo levantou-se em seus braços
quando o perfume dela engrossou suas narinas. Virou-se
rapidamente, quase derrubou a bandeja dos braços de um
lacaio. Ele endireitou o lacaio, colocou o seu copo de ponche
na bandeja, e foi na direçã o dela, parando quando finalmente
conseguiu ver o rosto dela. Era jovem, obviamente recé m-
libertada em Londres, mas ele sabia que ela seria assim.
Ela estava rindo alegremente, se divertindo
imensamente. Ele podia ver seus dentes brancos adorá veis a
sorrir, o cabelo em tranças grossas empilhadas no topo de
sua cabeça, fazendo-a parecer muito alta, na verdade. Como
chegou mais perto, ele viu, també m, que o vestido azul pá lido
de cetim nã o estava pendurado, se inclinando nos ombros.
Nã o, os ombros dela eram fortes, sua carne branca como uma
praia de areia, no lado do sotavento, da ilha de Coloane.
Suas tranças eram vermelho escuro, um profundo
Auburn, talvez Ticiano, se fosse um poeta o descreveria
assim.
Era ela, sem dú vida, em sua mente. Em momentos
ímpares ao longo dos anos, ele quis saber se morreria um
velho trê mulo sem encontrá -la, se ainda nã o seria o momento
certo. Mas, era a hora certa e ele estava ali, e ela também
estava. Foi um alívio indescritível.
Ele caminhou em direçã o a ela, ciente de que as pessoas
estavam o vendo. Geralmente, eles o olhavam porque ele era
um Conde e ningué m sabia nada sobre ele. A Sociedade
Londrina amava um misté rio, particularmente se o misté rio
em questã o fosse um homem apresentá vel solteiro, com um
título. Seu tamanho també m chamava a atençã o, um dos
presentes do seu avô para ele, e ele sabia que intimidava.
Com seu cabelo preto, puxado para trá s e amarrado com
uma fita de veludo preto, sabia que as pessoas olhavam para
ele e viam um homem nã o completamente civilizado. Eles
podiam estar certos. Ele sabia que seus olhos podiam ficar
frios como a morte: outro presente de seu avô — olhos negros
que faziam as pessoas pensar em magos, bruxos ou, talvez,
carrascos.
Um casal dançava em seu caminho. Rapidamente, se
desviou deles, o alarme sobre o rosto do homem, mas ele mal
os notou, estava muito concentrado nela.
Cada um dos seus sentidos reconheceu e aceitou que,
ela era de fato, o que ele procurava.
Ela estava dançando agora, o parceiro dela girando em
grandes círculos e as saias de cetim azul rodavam e
preenchiam o espaço perto. Ela era luz em seus pé s, sem
problemas para seguir o parceiro, um homem mais velho -
com idade para ser pai dela - só que ele nã o era barrigudo e
lento como um pai deveria ser: era alto, magro e gracioso,
seus olhos azuis brilhantes como um cé u de verã o, quase a
mesma luz azul dos dela, e o rosto era muito bonito, o sorriso,
encantador demais. Marido? Certamente nã o, ela era muito
jovem. Ele riu de si mesmo. As meninas se casavam aos
dezessete anos, algumas até aos dezesseis anos, com homens
mais velhos do que aquele, que també m parecia apto e
certamente muito á gil para sua idade.
Dançaram passando por ele. Ele viu que os olhos dela
eram mais brilhantes do que os masculinos porque estava
muito animada.
Ficou em silê ncio, assistindo. Voltas e voltas foram
giradas, o homem a mantendo no perímetro, entã o ningué m
dançaria em seu caminho.
Ele nã o podia fazer nada senã o esperar, o que fez,
inclinando-se negligente, braços cruzados sobre o tó rax,
contra uma parede ao lado de uma palmeira grande que
possuia uma fita vermelha presa a uma das folhas. Ele nã o
sabia o nome dela. No entanto, ele já sabia que ela nã o seria
uma Mary ou uma Jane. Nã o, o nome dela seria exó tico, mas
ele nã o pensou em um ú nico nome inglê s exó tico o suficiente
para caber na imagem que ele fazia dela.
Ele viu um jovem pá lido e uma senhora que parecia ser a
mã e, sussurrando quando olharam em sua direçã o. Ele sorriu
uma sobrancelha preta se arqueando, nã o os culpando pela
fofoca. Afinal, ele era o novo Lorde Mountjoy, e as pessoas
estavam especulando sobre: como ele estava se adaptando a
um título vazio como uma cabaça, desde que o velho conde
havia deixado toda a sua riqueza para os trê s meio-irmã os de
Nicholas. Tudo o que foi deixado para ele era a podre
propriedade da família, em Sussex. Wyverly Chase,
construída pelo primeiro Conde de Mountjoy, que havia
lutado contra o espanhol, como um Viking berserker, e
conseguiu encantar a eterna virgem Rainha Elizabeth. Ela,
devidamente, havia elevado o Visconde Ashborough para o
Condado. Wyverly Chase estava fazendo trezentos anos de
idade e mostrava cada dé cada. Quanto aos trê s mil hectares,
o pai dele se assegurara que eram inú teis e a falta de dinheiro
e cuidados que deveria ter tido o levou antes do tempo, e ele
morreu. Seu filho foi deixado com nada, alé m de campos de
pousios, inquilinos desesperados e montanhas de dívidas.
A mã e do jovem perguntava de onde ele viera? Ele ouvira
um homem sussurrar que o novo conde era recé m-chegado
da China. Isso o fez sorrir.
Nicholas viu um homem olhando em sua direçã o, ouviu-
o dizer algo a um homem corpulento ao lado dele. Estava
especulando se Nicholas já havia se encontrado com seus trê s
meio-irmã os, todos jovens. Dois deles, ele ouvira, tã o
delirantes quanto qualquer tempestade. Ah, mas o mais
importante, perguntava se ele viera para Londres para
encontrar uma herdeira?
A mú sica cessou; a valsa finalmente terminou. Mulheres
sorriram e acenaram vigorosamente para fã s delicados,
senhores tentaram nã o deixar que ningué m lhes visse a falta
de fô lego.
Nicholas assistiu o homem mais velho levá -la para um
grupo de pessoas que estavam no lado oposto do salã o.
Era hora de fazer o que deveria fazer, chegara a hora de
fazer o que estava destinado a fazer.
Andou diretamente até o homem mais velho que dançara
com ela e curvou-se. — Senhor, eu sou Nicholas Vail e eu
gostaria de dançar com… — Nicholas estagnou. Ela podia ser
a esposa dele? Certamente nã o. Filha dele? — Ah, com esta
jovem senhora.
O homem fez uma breve reverê ncia em troca. — Eu sei
quem você é . Quanto à jovem, ela já prometeu essa valsa para
meu filho.
Nicholas lançou um rá pido olhar para um homem jovem,
em torno de sua pró pria idade, sorrindo por algo que a moça
disse. Ele olhou para cima, virou a cabeça, e fez uma
reverê ncia para Nicholas. Entã o a moça se virou para olhá -lo,
sempre de frente, seus olhos nunca deixando o rosto dele. Ela
estivera tã o feliz, mas agora a expressã o dela era remota e
indecifrá vel. Mas, ele viu algo naqueles olhos, algo —
conhecimento, segredos, ele nã o sabia. Ah, mas ele saberia e
em breve. Entã o, o jovem falou e ela colocou a mã o no
antebraço dele e o deixou levá -la à pista de dança. Ela nã o o
olhou.
Nicholas teve a impressã o que ela o reconheceu. Bem, ele
sabia que era ela, portanto fazia sentido ela reconhecê -lo —
mas ele nã o estava certo. Ela nã o o conhecia, mas os olhos
dela — o azul cheio de luz, como ele sabia que seriam — Sim,
encontrou-a, mesmo que ainda nã o soubesse o nome dela.
O homem mais velho limpou a garganta e Nicholas
percebeu que continuara a olhar para ela. Ele disse para
Nicholas divertido: — Sou Ryder Sherbrooke. Esta é minha
esposa, Sophia Sherbrooke.
Nicholas curvou-se para a mulher, gorda e bonita, a boca
cheia e macia, mas ela nã o estava sorrindo, ela estava
olhando-o com uma boa dose de desconfiança.
Ele sentiu um alívio enorme. Ela nã o era a esposa dele.
Curvou-se novamente para Sophia Sherbrooke. — Senhora,
um prazer. Eu sou Nicholas Vail, Lorde Mountjoy. Seu marido
é um excelente dançarino.
Ela apertou o braço do marido, riu e disse: — Meu
marido me diz que nasceu com pé s preparados. Quando
é ramos mais jovens, deixava-me dançar em seus pé s
preparados. Eu fiquei conhecida como a moça mais graciosa
da temporada.
Nicholas estava encantado.
Ryder falou: — Como eu disse, eu ouvi falar de você ,
senhor Mountjoy, e nã o tenho a certeza de que eu gostaria de
apresentá -lo a minha protegida, muito menos deixá -lo dançar
com ela.
Protegida? Nicholas admitiu sua surpresa. Ele nã o havia
imaginado algo assim.
— Nã o estou na Inglaterra há tempo suficiente para
adquirir uma reputaçã o que o alarme, Sr. Sherbrooke. Posso
perguntar por que sente preocupaçã o sobre mim?
— Seu pai era um homem que sentia prazer em desafiar
para um duelo, mas de uma vez cruzou a linha, ao invé s de
seguir as Leis. Suponho que eu estou a imputar as
deficiê ncias dele em cima de você , filho dele. Grosseiramente
injusto de mim eu sei, mas aí está .
— Para ser honesto, senhor. — Nicholas disse
lentamente. — Escapei dele assim que pude. Raramente o vi
depois que ele casou com sua segunda esposa, o que
aconteceu durante meu quinto aniversá rio.
Uma sobrancelha subiu. — Eu sei que os trê s filhos mais
jovens dele teriam prazer em enfiar uma faca em sua
garganta... — Ryder fez uma pausa um momento, olhando
para o jovem, exaustivamente. — Você está ciente, eu
presumo que Richard, seu meio irmã o mais velho, sente que o
título deva ser dele?
Nicholas deu de ombros. — Qualquer um ou todos eles,
sã o livres para tentar cortar a minha garganta, senhor, mas
eu sou um homem difícil de ser despachado. Outros
tentaram.
Ryder acreditou nele. Ele parecia grande e duro, um
jovem que precisou fazer seu pró prio caminho, um homem
que sabia, quem e o quê : era. Ele assistiu Nicholas Vail olhar
novamente para Rosalind, que estava rindo, como sempre
fazia quando dançava. Ryder disse: — Está ficando tarde,
senhor. Apó s essa valsa, eu vou levar minha família para
casa.
— Posso visitá -lo amanhã de manhã ?
Ryder olhou para ele atentamente. Nicholas sentiu o
peso daquele olhar, e se perguntou se seria considerado
aceitá vel. Claro, ele ouvira falar de Sherbrookes. Mas,
encontrar o casal atuando como guardiõ es dela, ele
simplesmente nã o entendia, e sabia que a sua intuiçã o era de
que complicaçõ es surgiriam como um vento furioso. Como ele
sabia aquilo?
Ryder assentiu lentamente. — Estamos hospedados na
casa da cidade de Sherbrooke, na Praça de Putnam.
— Obrigado, Senhor. Senhora foi um prazer. Até
amanhã , entã o... — Nicholas caminhou no salã o, alheio aos
convidados que se moviam pelo caminho.
Sherbrooke Ryder perguntou à sua mulher: — O que
este jovem quer?
— Rosalind é linda. É provavelmente o interesse normal
de um homem por uma mulher.
— Duvido que haja qualquer coisa de simples em
Nicholas Vail. Gostaria de saber quem e o que ele é .
— Se ele for um caçador de fortunas, vai aprender logo
que Rosalind nã o é herdeira, e procurará em outro lugar.
— Você acha que ele está precisando de uma herdeira?
— Sophie disse. — Eu o ouvi dizer que seu pai nã o lhe deixou
nada, alé m de um título e uma propriedade em ruínas, e fez
de propó sito. Pergunto-me por quê . Estará este jovem em
dívidas? Eu nã o sei. Mas eu sei, Ryder, que orgulho e
arrogâ ncia se fundem muito bem nele, nã o acha?
Ryder riu. — Sim, acho. Pergunto-me se ele percebe que
é o falató rio de Londres.
— Ah, sim, claro que sim. Imagino que ele se divirta.
Nenhum dos dois percebeu Rosalind olhando Nicholas
Vail, que nã o olhou à direita, nem à esquerda quando
atravessou o salã o.
Nicholas estava aceitando sua bengala e chapé u de um
lacaio de libré , dando-lhe um xelim por seus serviços, quando
uma voz disse: — Ora, Ora, se nã o é o novo Conde de
Mountjoy, o sexto, creio eu, em carne e osso. Olá , irmã o. —
Nicholas imaginava que se lembraria da voz de sua
infâ ncia, mas levou um momento para reconhecer que o
jovem que o assediava era seu meio-irmã o mais velho,
Richard Vail. Ocorreu-lhe naquele momento, olhando para o
jovem, que partilhava o nome com ele, infelizmente. Ele olhou
nos olhos de Richard, escuros como os dele pró prio, quase
pretos, e eles brilharam — com raiva? Nã o, era mais do que
simples raiva, era raiva impotente. Richard Vail nã o estava
feliz. Nicholas sorriu para o jovem.
— É uma pena que sua memó ria tenha falhado, apesar
de você ser tã o jovem. Eu sou o sé timo conde de Mountjoy,
nã o o sexto e o oitavo visconde Ashborough.
— Droga, você nã o deveria estar aqui també m!
— E você , Richard, deve considerar crescer.
A raiva que ardeu em Richard, de mã os cerradas, se
libertou. Uma faca na garganta? Certamente era uma
possibilidade. Richard era um jovem bonito, quase do
tamanho de Nicholas, grande o suficiente para olhar para
baixo em muitos de seus pares. Richard disse:
— Eu sou um homem, mais homem que você jamais
será . Sou bem-vindo em Londres. Você nã o é . Você nã o
pertence a este lugar. Volte à sua vida selvagem. Ouvi dizer
que você veio da China. É onde você tem vivido nã o é ?
Nicholas sorriu e se virou para olhar para outro homem
jovem quieto, quase no cotovelo de Richard. — Eu reconheço
você . Você é Lancelot, nã o é ?
Eles nã o poderiam ser mais diferentes, nem pareciam
irmã os. Ao contrá rio de Richard ou Nicholas, aquele jovem era
loiro, magro e pá lido, a imagem de um poeta delicado.
Nicholas olhou à s mã os de artista, com seus dedos longos e a
forma bonita. Ele queria saber o que seu pai havia pensado
daquele belo filho, que se parecia com a mã e deles: Miranda,
se Nicholas se lembrava de corretamente.
Da sua boca bonita, veio uma voz petulante. — Todo
mundo sabe que eu sou chamado de Lance.
Nicholas sorriu, — você nã o é um cavaleiro entã o?
— Nã o faça nenhuma brincadeira comigo, senhor. Você é
insignificante.
Nicholas levantou uma sobrancelha escura. — Eu?
Certamente, eu nã o consideraria fazer uma brincadeira com
você . Afinal, você s sã o minha família.
— Apenas uma circunstâ ncia amarga e injusta, — disse
Richard. — Nã o queremos você aqui. Ningué m o quer aqui.
— Muito estranho, — Nicholas disse facilmente. — Agora
sou o chefe da família de Vail, sou o irmã o mais velho. Você
deve me receber deliciar-se com minha companhia, procurar-
me para avisos e aconselhamento.
Lancelote emetiu um barulho grosseiro.
— Você nã o é nada mais do que um aventureiro idiota,
senhor, que provavelmente devia estar em Newgate.
— Um aventureiro, hmmm. Isso soa bem, nã o é ? —
Nicholas sorriu para os jovens, imparcialmente. Dois
estranhos que o detestavam. Sem dú vida, seu pai e sua mã e
os ensinaram a odiá -lo. Eles haviam sido crianças inocentes
uma vez; lembrou-se de sua ú ltima visita a Wyverly Chase,
pouco antes de seu avô ter morrido. Ele havia sido um bom
senhor. E entã o, disse lentamente — lembro-me que há trê s
de você s. Onde está — como se chama?
— Aubrey, — Richard disse com a boca fechada. — Ele
estuda em Oxford. —
Oxford, Nicholas pensou; soou estranho, parecia
alienígena. — Cumprimentos para Aubrey, — disse ele saindo
e acenando para Richard e Lancelot.
— Ouvi dizer que você ficaria em Grillon, — Richard
chamou atrá s dele. — Uma pena, papai nã o lhe deixou a casa
da cidade. — Lancelot riu-se.
Nicholas voltou-se. — Para ser honesto com você ,
Wyverly Chase é mais do que suficiente. Estou aliviado que
aquela georgiana e decré pita velharia da Praça de Epson, nã o
ficou para mim. Só os reparos devem custar, pelo menos, trê s
ganhos de noite na mesa de jogo, se você já ganhou, é claro.
Lancelot disse, — papai nã o teria deixado Wyverly Chase
para você se pudesse evitar. Uma pena que agora ela vá ser
estragada.
— Já estava muito antes de minha chegada, — disse
Nicholas.
Lancelot disse, — e você nã o será capaz de fazer nada
sobre isso. Todo mundo sabe que você é pobre como um
coletor de galo, na charneca.
— Eu nã o acredito que esteja familiarizado com esse
termo, — disse Nicholas.
— Isso é verdade, você nã o é um bom inglê s, nã o é ? —
Disse Richard, zombando. — Coletor é um garoto que lida
com as aves para briga de galos, inú teis pedintes, com
cicatrizes nas mã os por causa da bicada das aves. Nó s
ouvimos que você navegou até a distante China e que você
tem vá rios servos chineses.
Nicholas acenou a ambos como um professor aprovador.
— É bom que ouçam. Eu mesmo recomendo sempre ouvir,
sempre achei ú til. — Quando ele se virou para sair pela porta
da frente, mantida aberta pelo lacaio — todo ouvidos — ele
acrescentou: — Na verdade, eu sempre achei ouvir mais ú til
do que falar. Você s podem considerar isso.
Nicholas ouviu Lancelot soprar com raiva. Os olhos de
Richard estavam negros de raiva, o rosto pá lido. Interessante
como o pai deles havia dobrado suas mentes em ó dio total por
dele. Nicholas pensava enquanto caminhava pela rua.
Lembrou-se que Richard foi um menino feliz e Lance um
querubim, todo rosa e branco e sorrindo, sentando-se
contente aos pé s da mã e deles, enquanto ela tocava harpa.
Quanto a Aubrey, ele era tã o pequeno quando Nicholas o viar
pela ú ltima vez — um pequeno garoto que nã o amava nada
mais do que arremessar uma bola, e correr subindo e
descendo o comprido corredor, gritando a plenos pulmõ es.
Nicholas se lembrou como ele quase havia caído pelas
escadas da frente. Nicholas o pegou bem na hora. Ele també m
se lembrou de Miranda gritando com ele, acusando-o de
tentar assassinar seu filho e Aubrey entre eles, chorando e
com medo. Seu pai, Nicholas recordou-se, acreditara e
levantara um chicote para ele, amaldiçoou-o e chamou-o de
assassino maldito. O avô de Nicholas estava demasiado
doente para intervir, e ele teria intervido se tivesse
consciê ncia de que seu filho e a família haviam chegado para
testemunhar sua morte. Doce inferno, quem sabia por que
tais memó rias ficavam no cé rebro de um homem?
Havia pelo menos duas dú zias de carruagens enfileiradas
em ambos os lados da rua, os motoristas e os cavalos
pareciam estar dormindo. Foi uma caminhada boa e longa de
volta para o Hotel do Grillon. Nem uma ú nica alma apareceu
em seu caminho.
3

No café da manhã de Sherbrooke, na manhã seguinte,


com um ser defumado equilibrado sobre o garfo, Rosalind
perguntou para Ryder:
— Senhor, quem era aquele moço sombrio que queria
dançar comigo na noite passada? Aquele jovem com longos
cabelos pretos como All Hallows' Eve2?
Ryder foi um tolo em acreditar que Nicholas Vail nã o
causara uma impressã o, embora ela nã o tivesse dito nada
sobre ele a caminho de casa na noite anterior. Ele disse — o
homem jovem é o Conde de Mountjoy, recé m chegado em
nossas praias, alguns dizem que da distante China.
— China, — Disse Rosalind, alongando a palavra, como
se saboreasse a sensaçã o na língua. — Como parece
româ ntico.
Grayson Sherbrooke grunhiu com nojo. — Você s
mulheres — diriam que andando como uma mortalha à
guilhotina, ombros quadrados, soa româ ntico.
Rosalind lançou a Grayson um grande sorriso e fez um
movimento de beliscar com a mã o. — Você obviamente nã o
tem alma, Grayson.
Grayson acenou. — Todo mundo especula sobre ele.
Ouvi dizer que está na cidade para encontrar uma herdeira.
Pelo menos isso significa que você está segura, Rosalind.
— É claro que estou segura. Estou no mesmo buraco
com o rato da igreja.
— De qualquer maneira, — Ryder disse, — ele me
perguntou se ele poderia nos fazer uma visita nesta manhã .
Rosalind sentou-se à frente em sua cadeira, o bolo de
noz esquecido na mã o, olhos brilhando. — O quê ? Ele quer
me visitar?
— Ou a tia Sophie, — Disse Ryder. — Quem sabe? Talvez
ele esteja interessado em Grayson e quer ouvir uma boa
histó ria de fantasmas... — Ryder franziu a testa. — Talvez
tenha sido um erro dizer-lhe que você é minha pupila.
— Mas por que, senhor? Oh! Entendo. Como parte da
família de Sherbrooke, ele deve pressumir que eu sou muito
gorda nos bolsos. — Rosalind nã o diria ao tio Ryder ou a
Grayson, que ela estava mais desapontada do que justificava
aquela pouco desagradá vel notícia. — Você é apenas
discretamente gorda, — disse Ryder.
Grayson disse, — por outro lado, pelo que ouvi do
misterioso Conde, ele nunca age até que saiba exatamente o
que quer.
Rosalind disse: — Quer dizer que ele quer mesmo que eu
nã o seja uma herdeira? Isso é ridículo, Grayson. Ningué m me
quereria. Alé m disso, ele nã o pode me ter.
Grayson pegou a faca na toalha da mesa. — Eu estarei
com você quando ele nos fizer sua visita nesta manhã . Nó s
devemos saber o que ele quer de você . Se ele chegou à
conclusã o errada de que você é uma herdeira, dissipará essa
noçã o imediatamente.
Rosalind disse: — Ele é muito imponente.
— Sim, — Ryder disse, — ele é . Eu mandei um bilhete
para Horace Bingley — o investigador de Sherbrooke, aqui em
Londres — para nos dizer o que sabe do Conde. Vamos ver o
que ele tem a dizer sobre o cará ter do jovem.
Grayson disse: — Excelente ideia, pai, já que ningué m
sabe muito sobre ele. No entanto, parece ser o consenso geral
que ele é pobre e precisa, desesperadamente, pegar uma
herdeira.
Ryder assentiu com a cabeça. — Eu també m ouvi que o
velho conde deixou ao seu herdeiro apenas aquilo que nã o
conseguiu dissipar, deixou o menos possível. Ele deserdou
seu pró prio filho por despeito — a razã o para esse
comportamento estranho, ningué m parece saber. Peço a
Horace para descobrir, se for esse o caso de Nicholas Vail
atrair Rosalind.
Ele de fato a havia cativado, Rosalind pensava, mas nã o
disse isso em voz alta. Ela nã o queria alarmar o tio Ryder,
antes ele devia se assegurar que Nicholas Vail nã o era um
homem mau. Mas ela sabia que ele nã o era. Ela sabia nos
seus ossos.
Grayson disse: — Nã o devemos dar qualquer informaçã o
sobre os seus primeiros anos, Rosalind.
— O que há para dizer? Eu sou de nenhuma
importâ ncia, eu sou nada.
A raiva apareceu atravé s da voz de Ryder. — Escute
Rosalind, você nã o está velha demais para que eu lhe dê um
corretivo.
— Mas é apenas a verdade, tio Ryder. Eu sei que você
sempre gostou da verdade.
Ryder falou para a esposa quando ela entrou na sala de
jantar, a cheirar o ar: — Rosalind tornou-se impertinente,
Sophie. O que você acha que devemos fazer?
— Aplique um corretivo pai — Grayson disse.
Sophie riu. — Nã o lhe dê um dos bolos de noz do
cozinheiro. Assim terei mais e ela vai aprender uma valiosa
liçã o.
— Ainda há trê s, tia Sophie, — disse Rosalind. — Eu juro
que eu peguei só um; é seu filho o glutã o. —Grayson ergueu
sua xícara de chá para ela.
Sophie disse enquanto escolhia um bolo de nozes: — O
Conde de Mountjoy apresenta o rosto de um homem
misterioso, um homem com segredos obscuros. Eu sempre
achei que um homem misterioso aguça a curiosidade de uma
mulher, nã o se pode evitar. É a natureza das coisas.
Rosalind assentiu com a cabeça. — Ele é misterioso, sim,
mas, també m parecia estar separado de toda a gente no baile,
como se ele soubesse que devia estar lá , mas nã o queria
estar?
— Isto é chamado de arrogâ ncia, — Sophie disse e
arrancou um pedaço grande de um dos trê s bolos de nozes
restantes. Mastigava lentamente, de olhos fechados. — Ah, o
Nirvana é estreito.
— Eu nã o acho que as mulheres sejam permitidas no
Nirvana, mã e, — Grayson disse.
Sofia acenou com o ú ltimo pedaço de bolo de nozes antes
que o pusesse em sua boca e fechou os olhos novamente. —
Ah, você está errado, meu querido. Eu já subi até lá .
Grayson disse, — Nicholas Vail se parece com o tio
Douglas. Ele tem um jeito de olhar para uma sala cheia de
pessoas como se sua ú nica finalidade fosse para diverti-lo.
— Ele ainda tem o mesmo olhar de Douglas, quando era
jovem, — Ryder disse pensativamente.
Rosalind disse: — Ele vem nos visitar e nunca falei com
ele. Talvez eu entendesse a sua vontade de me visitar se ele
tivesse dançado comigo, uma vez que eu sou uma excelente
dançarina, mas ele nã o dançou. E nunca apreciou meu
raciocínio, uma vez que nã o tive a oportunidade de falar com
ele. Hmm, talvez outros tenham falado com ele do meu jeito
lindo com palavras, minha graça requintada, você acha? —
Ela riu de si mesma, mas o viu claramente em sua mente.
Podia vê -lo, facilmente, usando uma capa preta, ondulando
em um vento noturno. Ele transparecia misté rio, segredos
sombrios, sem limites, escondidos e obscuros.
Sophie disse: — independentemente do seu motivo para
querer vê -lo, Rosalind, eu diria que ele é um homem que
gosta de estar no controle. Um homem nã o pode estar no
controle, a menos que saiba de tudo.
— Talvez, minha querida, — Ryder disse lentamente, —
talvez você esteja certa. O Conde parece saber sobre você , e se
isso é verdade, entã o ele deve saber que você nã o é uma
herdeira. Este é um misté rio que temos.
— Nã o é sempre sobre o dote de uma moça, tio Ryder?
— Sim, — disse Ryder.
— Haaa, — disse Sophie. — Você me buscou sem nada,
só com a camisa nas minhas costas. —
Olhos azuis de Ryder Sherbrooke se abriram algo que
nem seu filho, nem sua pupila queriam explorar, algo que
deixou os dois muito desconfortá veis. Rosalind bebeu mais do
seu chá . Grayson brincou com seu garfo.
Sophie disse: — Ele nã o parece um homem fá cil. Todos
aqueles segredos. Parece que viu muitas coisas, fez muitas
coisas, talvez para sobreviver. — Ela suspirou. — Ele é tã o
jovem.
— Nã o é tã o jovem, mã e, — Grayson disse. — Ele é quase
da minha idade. Talvez eu tenha um olhar misterioso
també m?
Sua mã e, que nã o era boba, disse imediatamente: —
Claro que sim, querido. E seus romances — por Deus, há
tantos acontecimentos terríveis, tanto misté rio, meu pobre
coraçã o quase pula no meu peito, e provenientes de
maravilhas sombrias, onde nascem os misté rios, envoltos em
medo e astú cia. É preciso aceitar que emergem de uma mente
que nã o pode ser entendida, apenas admirada e maravilhada.
Rosalind escutava, sentindo o seu pró prio coraçã o lento.
Ela viu Nicholas Vail em frente ao tio Ryder, sombrio como
um príncipe pirata de Barbary Coast, que talvez fosse voltar à
sua tenda opulenta e se deitar à vontade em almofadas de
seda e assistir moças envoltas em vé us a dançar. Quanto ao
tamanho, bem, ele era maior do que o tio Douglas, ela estava
bem segura daquilo. E ele era poderoso, um difícil e
disciplinado homem, tanto na mente quanto no corpo.
Nicholas Vail — ela percebeu que aquele nome soava por sua
cabeça com um estranho tipo de familiaridade e nã o era
estranho? Mas ela sabia que nunca ouvira falar daquela
família. E ele era um Conde — Lorde Mountjoy. Ela nunca
ouvira aquele título antes, de ningué m. Ela se perguntava o
que ele queria com ela. Ela completara 18 anos e nã o era
estú pida. Como desejava que Ryder Sherbrooke, o homem
cujo sangue ela desejava carregar, a deixasse se encontrar
com Nicholas Vail, sozinha, completamente sozinha.
Infelizmente, ela pensou isso nã o aconteceria. Nã o era um dos
benefícios de ter dezoito anos e ser solteira.
4

Era exatamente onze horas. Willicombe, com a careca


brilhando por causa da nova receita que havia usado naquela
manhã — anis imagine isso! — Falou com sua linda voz
musical, da entrada do primeiro andar sala de visitas: — O
Conde de Mountjoy, senhora.
Sophie disse: — Traga aqui, Willicombe.
Nicholas Vail pausou em um instante pela soleira da
porta. Os olhos dele foram até ela, imediatamente, como se
ningué m estivesse na sala.
Ryder, que estava em pé junto à lareira, largou a cornija
da lareira e caminhou para o jovem, forçando sua atençã o
para longe de Rosalind. — Meu senhor, entre e conheça
minha protegida e meu filho, Grayson.
Nicholas era um caçador, mas ele nã o era burro. Curvou-
se sobre a mã o da Sra. Sherbrooke, depois na de Rosalind,
mas nã o demorou. Percebeu que Grayson Sherbrooke o
estudava atentamente e disse: — Escreve romances
misteriosos, Sr. Sherbrooke.
Grayson riu. — Sim, escrevo, mas existem,
principalmente, misteriosos fantasmas e seres sobrenaturais
nos meus livros, meu senhor, que gostam de se meter na vida
dos homens. E das mulheres.
Nicholas disse: — Eu li: The Phantom de Drury Lane.
Gostei imensamente. Mexeu com as minhas entranhas.
Rosalind riu completamente encantada, ela sabia que tio
Ryder e tia Sophie eram pais orgulhosos de Grayson. Como
escoras do sucesso de Grayson. — Sim, mexeu com as
entranhas dos leitores, meu senhor, nas minhas també m.
Estou contente que gostou.
Sophie pensou, o que uma mã e deve fazer perante um
elogio tã o adorá vel em direçã o a seu amado filho? Uma mã e
que, obviamente, estava orgulhosa, e entã o Sophie disse: —
Você obviamente é um cavalheiro de bom gosto literá rio, meu
senhor. Possivelmente seja digno de um dos maravilhosos
bolos de nozes da cozinheira. Implorei-lhe para assar mais e
ela decidiu me agradar. Willicombe traga chá e os bolos de
nozes que nã o foram furtados do prato.
Willicombe olhou o jovem imponente, que possuia
cé rebro para elogiar ojovem Grayson. — Sim, senhora, —
disse ele e curvou-se baixo para que o Conde pudesse
desfrutar o brilho.
Quando Willicombe se foi, Nicholas disse para Sophie: —
Cabeça tã o brilhante que me cegou...
Ryder disse: — Ele teve sorte de ter uma faixa de luz
solar que bateu exatamente no lugar certo quando ele se
curvou. Veja meu senhor, Willicombe se orgulha do alto
brilho. Ele nã o é careca, raspa a cabeça duas vezes por
semana. E me informou esta manhã que aplicou uma nova
receita.
Nicholas riu, ainda nã o dando especial atençã o para
Rosalind. Mas estava ciente dela, Ah, sim, particularmente do
belo cabelo vermelho profundo tã o ingenuamente empilhado
no topo da cabeça, nesta manhã , preguiçosos cachos
descendo para roçar nos ombros dela. Rosalind era um nome
exó tico, ele estava satisfeito, mas ainda, de alguma forma, o
nome dela nã o parecia correto. Ele seria paciente; aprenderia
tudo sobre ela, em breve.
Porque era educado, deu apenas uma mordida em um
bolo de nozes. Depois que mastigou aquele pedaço, desejou,
desesperadamente, que pudesse colocar o bolo inteiro em sua
boca.
Ryder Sherbrooke perguntou: — Onde você esteve nos
ú ltimos, catorze, anos, milord?
Ele disse, sem hesitaçã o, — Em muitos lugares, senhor.
Nos ú ltimos cinco anos, poré m, vivi em Macau.
Grayson sentou-se à frente na cadeira dele. — Os
chineses sã o os donos, mas os portugueses o administram,
nã o?
Nicholas assentiu com a cabeça. — Os portugueses
desembarcaram no início do sé culo XVI, na península que faz
fronteira com a China. Foi um importante polo de atividades
navais, comerciais e religiosas portuguesas no leste da Á sia
para diversos lugares, por cem anos... — ele deu de ombros.
— Mas as fortunas de um país mudam com alianças e trocam
o turno de mercados. Macau é meramente um posto avançado
e pequeno, de pouca importâ ncia no grande esquema das
coisas.
— O que você faz milord?
Finalmente. Nicholas pensou, e se virou para encará -la.
— Estou no comércio, senhorita... — parando, de propó sito,
esperando que ela lhe dissesse o sobrenome.
Ela disse. — Eu sou Rosalind de La Fontaine.
Uma sobrancelha escura, um tiro certeiro. — Por acaso
você é uma fabulista?
Ela sorriu para ele. — Entã o você ter lido as fá bulas de
Jean de La Fontaine, milord?
— Meu avô leu muitas para mim quando eu era um
menino.
— Você tem uma favorita?
— Sim. “A lebre e a tartaruga”.
— Ah, um homem paciente.
Ele sorriu para ela. — E seu favorito é ? —
— “A cigarra e a formiga”.
Uma sobrancelha preta disparou. — Qual deles é você ?
— Eu sou a formiga, senhor. Inverno sempre vem.
Precisamos estar preparados, porque nunca se sabe quando
uma tempestade pode atacar. Quando menos se espera.
— O que nã o faz sentido, — Grayson disse.
— Tenho receio que tenha feito, — disse Ryder e Sophie
assentiu com a cabeça, e havia sombras nos olhos dela. — Eu
nã o fazia ideia, querida, que você ... —
Eles viram muito, Rosalind pensava, demais. Nã o, claro
que nã o, porque ela nã o colocaria seu maior medo para eles
em uma travessa. Ela riu. — É apenas uma fá bula, tia
Sophie. Eu realmente gostaria de ser mais como a cigarra,
mas parece haver muito sangue puritano em minhas veias.
Nicholas mudou de assunto com naturalidade, — A
virtude de Rosalind é a prudê ncia e a minha é paciê ncia. Qual
é a sua, Grayson?
— Eu odeio bajulaçã o, — Grayson disse. — Assim,
suponho que eu gosto de “O corvo e a raposa”.
— Ah, — Rosalind disse e cutucou o braço de Grayson.
— A raposa elogia o corvo, e o corvo deixa cair à comida da
boca.
— Exatamente.
Rosalind pegou o prato com um bolo de nozes. Nicholas
olhou para aquele bolo de nozes, suspirou e a viu pegar um
dos dois restantes para ela.
— É sempre assim — Sophie disse, sorrindo para ele
com apenas um pouco de simpatia, pois ela queria o outro
bolo. — Os bolos de Nutty estã o em uma grande disputa
nesta casa. A receita vem de Cook Hall Northcliffe. Porque
meu marido se prostrou aos pé s dela, jurou que cantaria
á rias debaixo da janela dela, e ela se dignou a passar a receita
para nossa cozinheira.
— Se me mostrar a cozinha, minha senhora, vou
prostrar-me, també m. No entanto, eu nã o sei quaisquer á rias.
— Nem o meu marido. Ele é tã o charmoso, no entanto,
que parece nã o ter importâ ncia.
Risos. Sinto-me bem, pensou Nicholas, surpreso. Ele nã o
se lembrava de muito riso em sua vida.
— É uma bela manhã , — ele disse. — Pelo que me
lembro de minha infâ ncia, é um espetá culo precioso que nã o
deve ser desperdiçado. Posso pedir a senhorita La Fontaine
para passear no parque comigo?
— Qual Parque? — Perguntou Ryder.
— Hyde Park, senhor. Eu tenho uma carruagem lá fora.
Eu contratei, visto que as restantes em Wyverly Chase sã o do
sé culo anterior.
Grayson inclinou-se à frente. — Wyverly Chase? Que
nome fenomenal. Gostaria de ouvir a histó ria por trá s disso. É
o seu lugar de família?
Nicholas assentiu com a cabeça.
Rosalind sabia que o cé rebro de Grayson já estava
girando em um conto sobre Wyverly Chase, entã o ela disse: —
Eu soube que há um pequeno encontro de artistas nesta
manhã . Talvez sua senhoria e eu possamos ver o que está
acontecendo lá .
Grayson acenou e ergueu-se. — Devo acompanhá -los.
Rosalind queria bater em Grayson, mas desde que ele
devia ser uma escolha para acompanhante melhor que tio
Ryder ou tia Sophie, ela assentiu com a cabeça. Ela se
levantou també m e sorriu. — Eu devo gostar muito disso.
Ryder Sherbrooke, vendo sem esperança a possibilidade
de recusar, balançou a cabeça lentamente.
Era o tipo raro de primavera Inglesa — cé u de um azul
tã o brilhante, uma brisa leve e doce, perfumada com o frecor
das flores florescendo, que trouxe lá grimas aos cansados,
olhos ingleses. Eles descobriram que a feira dos artistas, feita
para ocupar lugar em um canto do Hyde Park havia se
transformado em um evento.
Centenas de pessoas se moviam pelo Hyde Park para
parar em fornecedores de comida e bebidas e nas barracas
dos artistas, ou sentar na grama pisoteada para ver os
malabaristas e mímicos que vinham para participar da
diversã o e lucro. Havia muitas barracas, alguns socos bem-
humorados, talvez um pouco de cerveja demais, e batedores
de carteira que sorriam alegremente enquanto trabalhavam
habilmente por entre a multidã o.
— Há mais comida aqui hoje do que artistas, — disse
Nicholas. Ele e Grayson pegaram Rosalind por um braço, nã o
estavam dispostos a vê -la se afastar na multidã o barulhenta.
— E bebida, — Grayson disse. Parou de repente, e olhou
para longe.
— Oh! Entendo, — Rosalind disse e enfiou-lhe o braço.
Barracas de livros, uma fileira inteira delas. Grayson estava a
olhar para aquelas barracas como um vira-lata faminto.
Rosalind, vendo a liberdade ao seu alcance, ficou na ponta do
pé e beijou a bochecha dele. — Pode ir. Eu vou estar
perfeitamente segura com Lorde Mountjoy. Vá , Grayson. Nó s
ficaremos bem. — O sorriso de Nicholas transformou seu
aceno mais acreditá vel. — Eu juro ficar segura... — depois de
um momento de indecisã o, Grayson estava fora como um
cometa.
— Ele pode se mover muito rapidamente quando
devidamente motivado, — disse Rosalind.
Nicholas olhou para o nariz arrebitado dela. — O que a
leva a pensar que vai estar a salvo comigo?
Ela sorriu para o seu rosto sombrio, aqueles olhos
negros dele. — Verdade seja dita, eu estaria perfeitamente
segura sozinha, assim como você , imagino... — ela olhou-o de
cima abaixo. — Se você ousar tomar liberdades com minha
capacidade de defesa eu deixarei você muito triste. Eu sou
muito forte, você sabe. E astuta.
— E se você tomar liberdades comigo, entã o o que devo
fazer?
— Talvez você possa me pedir para cantar e isso me
distrairia dessas liberdades.
Ele nã o pode evitar, começou a rir. Vá rias pessoas
virarem em seu caminho, sorrindo para ele. Um, Nicholas
suspeitava, era um batedor de carteiras, outra uma
empregada domé stica com lindo cabelo preto e grosso, e a
terceira uma matrona que parecia a mulher do padeiro, com
um traço de farinha abaixo do corpete do vestido, trê s filhos,
agarrando-se à s suas saias.
— É a paixã o dele, — disse Rosalind, assistindo Grayson
graciosamente tecer seu caminho atravé s de um grupo de
militares cantando do fundo de seus pulmõ es, suas vozes
bem umedecidas com cerveja. — Grayson é imensamente
talentoso. Ele começou a contar histó rias de fantasmas,
quando era um garotinho. E nunca parou.
Nicholas disse. — Por que você o beijou?
Aquilo trouxe um impasse. Ela colocou a cabeça para um
lado, olhando-o. — Ele é meu primo. É como meu irmã o. Eu o
amo. E para sempre.
— Você nã o tem nenhuma relaçã o de sangue com ele, —
disse Nicholas, voz dura, perigosa.
Uma sobrancelha subiu, mas ela nã o disse nada, apenas
observou os olhos dele. Ela queria matá -lo ou beijá -lo? Ela
nã o sabia o que fazer com ele. Aquilo seria um exemplo de
possessividade do homem?
Controlar, controlar. Nicholas disse: — Eu quis dizer que
ouvi Ryder Sherbrooke chamá -la de sua protegida.
— Isso també m. Está tudo meio complicado e nã o é da
sua conta, milord.
— Nã o, suponho que nã o. Pelo menos, ainda nã o.
Agora, o que você quer dizer? Ela se perguntava. Você
prospera em misté rios e segredos, nã o é ? Ela se desviou de
um pequeno garoto correndo a toda velocidade em direçã o a
um fornecedor de doces.
— Estou muito feliz, minha tia e meu tio nã o sabiam que
o tempo agradá vel desencadearia a populaçã o de Londres
para o parque. Isso se transformou em um grande evento. Oh!
Olhe, há rapazes realizando acrobacias. Vamos lá ver.
Ela agarrou a mã o dele e o puxou bem perto de um palco
para assistir os trê s rapazes. — Ah, um deles é na realidade
uma menina. Olhe como ela salta para os ombros do rapaz,
tã o suave e graciosa e fica tã o alta nos ombros dele — parece
fá cil, nã o é ?
Depois dele, obedientemente, atirar vá rias moedas de um
centavo em uma grande cartola, Nicholas comprou uma
limonada que refrescou notavelmente e uma torta de carne,
ainda quente. Eles se afastaram da multidã o para o lado mais
distante do Hyde Park e se sentaram num banco pequeno de
pedra, na frente de uma estreita lagoa.
— Nã o há patos, — disse Rosalind.
— Eles provavelmente estã o alarmados com toda a
agitaçã o, escondidos sob os arbustos, bem ali.
— Tem razã o. Mas eu vou lhe dizer, aqueles patos sã o
grandes enganadores. Eles sã o charlatã es e saltam, sabendo
que terã o pã o e biscoitos. Hum, espero que eles nã o estejam
em qualquer uma das barracas de tortas dos fornecedores.
— Eu aposto que eles també m sã o rá pidos.
Rosalind mordeu na sua torta de carne, mastigou, deu
outra mordida rá pida.
— Aqui, dê uma mordida. Uma pequena dentada.
Ela lhe deu um pouco da torta dela. Nicholas olhou-a,
enquanto comeu. O cabelo dela estava bagunçado, sua cor
era bonita. Ela estava sorrindo e parecia totalmente satisfeita
consigo mesma e com o mundo. De repente, quatro jovens,
todos de vermelho, vieram enlouquecidos por entre as
á rvores para formar um meio círculo em torno deles.
Nicholas estava a um instante de pegar a sua arma,
escondida, na mã o quando eles começaram a cantar. Cantar!
E em uma harmonia encantadora. Endireitou-se de volta
para escutar. Percebeu logo que cantavam para Rosalind. Eles
a conheciam, e ela a eles. Agora, isso seria interessante. Nã o
gostou, mas — quando terminaram a balada escocesa
cadenciada, falando sobre uma formosa garota que amava
um salteador de uma só mã o, chamado Rabbie McPherson,
Rosalind bateu palmas
e disse: — Isso foi adorá vel, senhores, ofereçam ao senhor
Mountjoy outra cançã o.
Outra mú sica encheu o ar adocicado, parecia uma
cançã o trá gica de uma ó pera italiana. Entã o ela os conhecia,
era isso? Ele nã o sabia se era estranho ou nã o. Provavelmente
era.
Quando terminaram, cada um deles curvou-se baixo, e
um homem jovem baixinho, gordo, com lindos olhos azuis,
disse: — Rosalind podemos ter cantado para você . Podemos
ter cantado para seu par. É sua vez agora. Vem, vamos
misturar nossas vozes com a sua. — Sua vez?
Ela riu, entregou o resto da sua torta de carne para
Nicholas, dizendo-lhe para segurá -la com cuidado e nã o comê -
la — depois se ergueu para ficar com eles. Ela limpou a
garganta, olhou direto para ele e começou a cantar. As vozes
dos homens entraram debaixo da dela, harmonizando
lindamente. Avassalador demais.

Ver o voo da Lua através do trecho escuro da noite,


banhando a terra em sua luz radiante.
Todos os apaixonados que olham para o céu,
o medo não é a morte do suspiro final da noite.

Quando entoou a ú ltima palavra assombrada, ela deixou


cair a cabeça um momento, depois levantou os olhos para ele.
Era uma voz que fazia chorar lá dentro onde você nem sabia
que lá grimas residiam. Nã o era a voz, mas ainda era, a
mesma voz. Os homens a aplaudiram enquanto ele se sentou
ali, atordoado, mudo, incapaz de se mover. Mesmo que ele
soubesse, ainda tremeu com o conhecimento de que era ela. E
o que ele estava com ela.
Ela perguntou depois de um momento:
— Ah, você gostou? — Ele assentiu, ainda sem palavras.
Viu os jovens se afastarem e ainda estava sentado no banco, o
resto do bolo de carne em sua mã o. Disse lentamente,
olhando para ela:
— Você falou do talento de Grayson. Sua voz é algo que
nem se consegue imaginar. Ela entra profundamente. — Ele
simplesmente nã o percebera o quã o profundo.
— Que coisa adorá vel para se dizer... — Rosalind riu de
repente incerta. — Mas eu sou nada comparada com
Grayson.
— Você é diferente de Grayson, mais poderosa.
— Bem... — ela riu quando enfiou a mã o na sua bolsinha
pequena e arrancou alguns tostõ es. Ele assistiu a corrida dela
atrá s dos homens jovens. Ouviu o riso e, em seguida, a
primeira estrofe de outra cançã o familiar, desta vez
germâ nica.
Quando ela veio saltando de volta para ele, entregou-lhe
o resto da sua torta de carne. Ela comeu. — Gerard agradece-
lhe o dinheiro.
— Eram seus tostõ es.
Ela deu de ombros. — Sim, mas sempre é o cavalheiro
quem deve pagar. É algum tipo de ritual, entã o acho que você
deve me pagar de volta.
— Você está temporariamente sem fundos?
— Na verdade, esses quatro tostõ es foram os ú ltimos da
minha fortuna até minha mesada na pró xima quarta-feira. É
difícil, mas preciso dar uma libra de minha mesada para o
prato de coleta3... — ela suspirou. — É a coisa certa, é claro,
mas quando algué m está em Londres e visita o Panteã o... —
ela suspirou, olhando-o sob seus cílios.
Ele nã o disse nada, seus olhos ainda meditando,
descansando sobre os arbustos atrá s dela.
— O que houve milord? Parece que você foi atingido por
uma bala. Você també m está temporariamente sem dinheiro?
Aquilo o trouxe de volta. A moça sorridente nã o era uma
visã o assombrosa de outros tempos, com a voz de uma sereia
para levar um homem à morte — nã o, pelo menos nã o neste
momento, ela era uma jovem que havia gasto toda sua
mesada.
— Atingido por uma bala? Acredito que nunca ouvi uma
moça dizer isso.
— Por outro lado, você esteve fora da Inglaterra por
muitos anos. O que jovens senhoras dizem em Macau?
— As jovens senhoras em Macau sã o principalmente
portuguesas, e lá nã o existe um equivalente em portuguê s
para “tiro”. Mas em Pá tua — ou seja, uma língua local
desenvolvida pelos colonizadores portugueses, que chegaram
ao sé culo XVI... — ele fez uma pausa, inclinou-se para baixo,
pegou um ramo fino e jogou fora. Quem se importava com
uma língua falada por algumas pessoas em um povoado do
outro lado do mundo?
— Pá tua — que nome lindo. Você fala a língua?
— Um pouco.
— Diga alguma coisa em Pá tua para mim...
— Bem, há um poema de Pá tua, um amigo meu
o transformou em uma mú sica muito bonita, sempre
acreditei...

Nhonha at Marcelo
Co fula mogarim
Sua mae tancarera
Seu pai canarim.

Ele balançou a cabeça para ela. — Nã o, nã o vou tentar


cantá -la. Você fugiria com suas mã os sobre suas orelhas.
— Nã o eu. Eu possuia uma grande força. Agora, nã o
tenho a menor ideia do que você disse, mas os sons sã o
agradá veis, como mú sica suave.
— Eu vou traduzir para você :

Moça na janela
com uma flor de jasmim
Sua mãe uma pescadora chinesa
Seu pai um índio português.

— Imagine, você deixou a Inglaterra quando era apenas


um menino, e foi para esse lugar onde existem mulheres
chinesas pescadoras e índios portugueses — um lugar tã o
diferente da Inglaterra. Trataram-lhe bem lá — um
estrangeiro?
Ningué m nunca lhe perguntou aquilo. Lentamente, ele
acenou com a cabeça. — Eu fui afortunado bastante para
fazer uma boa açã o para um rico comerciante portuguê s, em
Lisboa. Ele deu uma introduçã o lisonjeira sobre mim, para o
governador de Macau, que passou a ser seu cunhado. Fui
tratado bem por causa dele, mesmo eu sendo inglê s.
— O no que consistiu a sua boa açã o?
Ele riu. — Eu salvei a ú nica filha dele, de um jovem um
pouco oleoso, cheio de champanhe, na varanda, sob a lua
muito româ ntica de Lisboa. Ela foi tola, mas o pai dela nã o
percebeu. E ficou muito brava comigo por aquele resgate, pelo
que me lembro.
— Como você se comunica com todos em Macau?
Ele encolheu os ombros. — Eu suponho que você poderia
dizer que tenho um dom para línguas. Eu já falava portuguê s
e aprendi chinê s, mandarim e Pá tua rapidamente.
— Eu falo italiano, — ela anunciou orgulhosa.
Ele sorriu para ela. — Você me pegou, — ele disse,
mesmo sendo perfeitamente fluente em italiano.
— Teve saudades da Inglaterra, milord? —
— Talvez. Em horas estranhas, como em um dia como
hoje, mas, por outro lado, é difícil lembrar-se de dias como
hoje... — ele levantou a cabeça e cheirou o jasmim que havia
crescido dois passos, nã o longe deles.
Ele disse: — Fale-me dos seus pais.
Ela olhou para os pé s, espanou as mã os nas saias. —
Acho que gostaria de ver um malabarista pelo qual passamos
anteriormente.
Nicholas levantou-se e ofereceu-lhe o braço. — Como
quiser.
Grayson encontrou os dois batendo palmas junto com a
multidã o de pessoas que formavam um círculo ao redor de
um homem gigante que estava a fazer malabarismos com
cinco garrafas de cerveja. Em poucos minutos, ele agarrou
uma das garrafas fora do círculo e bebeu enquanto
continuava a fazer malabarismos. Logo cada uma das
garrafas estava vazia, ele era incrível. Ainda assim, ele nunca
deixou cair nenhuma ú nica garrafa.
Foi Grayson quem precisou puxar o restante de suas
moedas para colocar na enorme bota do gigante. Rosalind
notou que os olhos de Grayson brilhavam de excitaçã o
quando ele os puxou de lado.
— Olhe o que eu encontrei em uma barraca, encostado a
um velho carvalho, completamente diferente das outras
barracas de livros. Nã o sei por que, mas eu fui lá como um
pombo... — estendeu um livro de capa de couro, antigo e
esfarrapado, delicadamente sobre a palma da mã o, mas nã o
os deixava tocá -lo. — Um velho raquítico estava sentado em
um banquinho, rodeado por pilhas de livros antigos,
assobiando. Mas este — o velho ofereceu para mim e sorriu.
— ele acrescentou a voz dele era mais reverente do que um
vigá rio, — eu nã o podia acreditar. É uma antiga có pia das
Leis de Sarimund, de Pale4. Nã o acredito que nenhum deles
tenha sobrevivido.
— Quem é Sarimund? O que é Pale? — Rosalind
estendeu a mã o, mas Grayson simplesmente puxou o livro
para o peito dele, embalando-o.
— Nã o, ele é muito frá gil. O Pale, Rosalind, é um lugar
que está alé m de nó s, do outro lado, talvez até em tempos
diferentes. Outro mundo suponho que possamos chamá -lo
assim, — é onde existem todos os tipos de seres estranhos e
ocorrem coisas estranhas, coisas que nó s mortais nã o
podemos entender sem nos assustar. Pelo menos é o que um
antigo sá bio em Oxford me contou. Sr. Oakby nã o acreditou
que ainda existiam có pias, mas aqui está . Encontrei-a. —
Grayson estava tremendo de emoçã o. Ele disse, — é incrível,
nã o acredito que aquele velho homem assobiando possuia
uma có pia do mesmo, que ele na verdade me deu como se
soubesse que eu daria tudo para tê -la. Você sabe o quê ? Ele
se recusou a pegar mais do que um ú nico soberano. Milord,
você está me olhando estranho. Por acaso você sabe sobre
Sarimund? As Leis de Pale?
Nicholas assentiu com a cabeça. — Eu sei que as Leis de
Pale sã o sobre as façanhas de um mago que visitou Bulgar5 e
que de alguma forma conseguiu penetrar Pale e escreveu as
Leis que ele descobriu para sobreviver lá . Ele encontrou o
caminho de volta e passou para o livro. Quanto a Magnus
Sarimund, soube que a casa dele era perto de York. Ele era
um descendente dos Vikings, afirmou que um de seus
antepassados uma vez havia governado o Danelaw6. Uma
ficçã o maravilhosa.
— Ficçã o? Ah, nã o, — Grayson disse. — Certamente nã o.
Nicholas nã o disse nada.
— Eu nã o sabia a histó ria de Sarimund, — Grayson
disse. — Um descendente de Viking, — conte tudo o que sabe
milord. Preciso escrever para o Sr. Oakby em Oxford. Ele vai
ficar muito contente. Que sorte para mim. Imagine encontrar
as Leis de Pale aqui, em uma barraca no Hyde Park.
Rosalind agarrou seu braço. — Espere um momento,
Grayson. Lembro-me agora. Um Pale nã o é algum tipo de
lugar do outro mundo, nã o é nada mais do que uma cerca
comum, uma barreira protetora de algum tipo. Lembro-me de
ler sobre um Pale inglê s, que englobava uns quinze
quilô metros ao redor de Dublin — há muito tempo,
construído como uma defesa contra tribos nô mades. Para
ficar em segurança se devia ficar dentro do limite, ou
paliçada. Se algué m estava do lado de fora da cerca, ou alé m
do limite, como a frase diz, entã o significava naquela é poca
que encontarava-se em perigo real.
Nicholas assentiu com a cabeça, dizendo: — Eu me
lembro de lá . Era també m um Pale construído por Catarina, a
grande, para proteger os judeus. Mas o lugar descrito por
Sarimund é outro tipo de Pale inteiramente diferente.
Rosalind disse: — Grayson, vamos até a barraca. Você
nos levaria lá ?
— Bem, certo. Mas era a ú nica có pia, você sabe. Nã o vai
haver mais lá . Eu pedi a minha ao velho. Ele balançou a
cabeça para mim, nunca deixou de assobiar.
Nicholas assentiu com a cabeça e, em seguida, estendeu
a mã o. Rosalind nã o hesitou, pegou a mã o e ficou ao lado
dele, e eles andaram por entre a multidã o. Quando Grayson
avistou a barraca velha e decré pita encostada a uma á rvore
de carvalho, situada a uma distâ ncia considerá vel das outras,
ele começou uma corrida, chamando por cima do ombro, —
nã o me lembro de que se parecia assim... quando eu estive
aqui há poucos minutos. Algo deve estar errado.
Eles ficaram em frente ao local em ruínas. Nã o havia
pilhas de livros no balcã o de tá bua á spera e nenhum velho
assobiando. Nã o havia nada, exceto uma coleçã o de placas
muito antigas prontas a entrar em colapso.
Grayson disse: — Para onde ele poderia ter ido? E os
livros? Nã o há um ú nico. Você acha que ele vendeu todos os
seus livros e simplesmente se foi?
Nicholas ficou em silê ncio.
Rosalind disse: — Tem certeza de que esta é a barraca
certa, Grayson? —
— Ah, sim, — ele disse. — Vamos perguntar aos outros
fornecedores. Eu gostaria de lhe apresentar aquele velho.
Nicholas e Rosalind ajudaram a fazer perguntas em
todas as bancas mais pró ximas. Dois dos livreiros lembraram,
vagamente, de ver um velho — Sim, sim, ele estava
assobiando, nã o parava o velho — e ele montou a barraca
longe do resto de nó s, e ningué m sabe por que ele fez isso? De
repente lá estava esta barraca velha com todos aqueles livros
empoeirados empilhados ao redor. Os outros livreiros nã o se
lembravam do velho ou da sua barraca em ruínas contra a
á rvore de carvalho. Por sugestã o de Nicholas, falaram mais
uma vez com os dois primeiros livreiros, os dois que
afirmaram terem visto o velho. — Agora se lembravam era ver
algumas placas antigas pregadas, juntas, mas sem livros,sem
velho, nada mais que as placas em ruínas.
Nicholas disse: — Eu aposto que se pudermos falar com
eles novamente em uma hora, eles nã o terã o memó ria de
nada.
— Mas... —
Nicholas apenas balançou a cabeça para Grayson. — Eu
nã o entendo, mas é assim. Você tem o livro, Grayson, e isso é
suficiente.
— Mas isso nã o faz sentido, — disse Rosalind. — Por que
os livreiros se lembraram e, em seguida, dez minutos depois,
esqueceram totalmente?
Nã o houve resposta de Grayson ou de Nicholas.
— Por que você se lembra do velho e da barraca se os
outros nã o, Grayson? —
— Nã o sei, Rosalind, nã o sei.
Quando eles voltaram até a barraca velha e decré pita,
viram vá rias placas á speras sujando o chã o.
Grayson sentiu um arrepio de algo assustador bem lá no
fundo. — Isso é estranho. — Ele deu um sorriso falso. —
Nicholas está certo. Eu tenho as Leis de Pale. E isso é o que
importa. Talvez o livro tenha rompido o Pale para vir até mim
atravé s do velho. Talvez o velho fosse o antigo mago. Lembro
que Mr. Oakby disse que havia ouvido de seu pró prio mentor,
muitos anos antes, que Sarimund as escreveu apó s uma
conversa com fantasmas. Talvez seja por isso que o velho
queria que fosse eu a ficar com ele. Ele sabe de todos os
fantasmas que existem em minha paisagem mental... — e ele
riu, uma risada que escondeu perguntas e o medo de alguma
coisa que nã o poderia ser explicado. Ele olhou o livro que
reverentemente segurava em sua mã o. — Devo pensar sobre
tudo isso. Vejo você em casa, Rosalind. — Ele fez sinal com a
cabeça para Nicholas e rapidamente os deixou.
Nicholas queria aquele livro, queria muito, mas nã o
havia nada que pudesse fazer. Quando acompanhou Rosalind
de volta à carruagem, Rosalind perguntou: — Como sabe
sobre Magnus Sarimund, milord?
— Vimos um malabarista bê bado, ouvimos um grupo de
jovens cantarem para você , e eu comi parte do seu almoço.
Você deve me chamar de Nicholas, por favor. Como sei de
Sarimund? Bem, meu avô visitou Bulgar. Ele me disse que
jantava com o mago vindo do Oriente, como ele era chamado.
Um ser que parecia uma relíquia antiga, cuja ponta de barba,
na verdade, alcançava as suas sandá lias. O mago vindo do
Oriente disse-lhe que Sarimund viveu cinco anos nas
cavernas do labirinto de Caronte7 com outros homens santos
e magos. Aquelas sã o cavernas mais perigosas do que
qualquer outra caverna em Bulgar, que com seus abismos e
estalagmites parecendo facas afiadas para apunhalar os
incautos, mais perigosa até do que um louco Siroco8, ele
disse. O mago vindo do Oriente disse que durante os cinco
anos de estadia de Sarimund, viajantes que por acaso se
aventuravam muito perto das cavernas foram visitados pelo
estranho, com assustadoras visõ es e foram atormentados por
demô nios em seus sonhos. Meu avô perguntou-lhe se seres
ainda habitavam as cavernas e o mago deu-lhe um sorriso
que anunciou muitas coisas, que ele nã o poderia ainda
entender, ele ou qualquer outro ser humano, sobre aquele
assunto. O mago disse apenas, “Claro” e nada mais.
— E Sarimund realmente falou com fantasmas?
— Meu avô acreditava que sim. — Nicholas a ajudou a
entrar na carruagem. Ele cumprimentou com a cabeça o
homem sentado no banco do condutor, um chapé u de couro
empurrado na testa. — Volte à Praça de Putnam, Lee.
— Certamente, milord.
Rosalind disse: — Ele parece ser um cavalheiro.
— Ele é . — Disse Nicholas e nada mais.
— Por que aquele chapé u de couro, lindo, está puxado
quase até o nariz dele? Por acaso seu servo é um cavalheiro?
Ele lançou-lhe um sorriso encantador. — Nã o é da sua
conta, Rosalind.
Quando Nicholas sentou-se em frente a ela, Rosalind
virou a cabeça para ele. — Tudo bem, nã o é da minha conta.
Agora, você jura para mim que este Magnus Sarimund era um
homem de verdade?
— Sim, Sarimund era bem real, de acordo com meu avô .
Ele viveu no sé culo XVI, principalmente em York, mas
també m passava muito do seu tempo no Mediterrâ neo. Nas
ilhas, suponho eu, embora ningué m saiba onde exatamente.
Diz-se que ele possuia um santuá rio escondido lá , onde
realizou seus experimentos má gicos. Entã o ele viajou ao
Bulgar. Quando ele saiu de lá , foi para Constantinopla, para
ser saudado por Suleiman9, o magnífico. Ele escreveu as Leis
de Pale. Eu acredito que ele possuia mais ou menos vinte
có pias feitas de seu manuscrito. Há realmente alguma coisa
má gica em uma das có pias ser encontrada aqui. E por
Grayson.
— Evidentemente o velho livreiro fez questã o que
Grayson a tivesse. E agora parece que o velho livreiro
simplesmente desapareceu — o que é muito estranho,
Nicholas.
Ele nã o disse nada.
— Que estranho que você e Grayson conheçam as Leis
de Pale e este tal de Sarimund... — ele apenas acenou com a
cabeça.
— Muito bem, guarde os seus segredos. Este Sarimund
escreveu outros livros?
— Nã o que eu saiba, pelo menos o meu avô nã o me falou
de mais nenhum.
— E agora o livreiro se foi, — Rosalind estremeceu. —
Como se ele nunca tivesse existido. Você o leu, nã o foi,
Nicholas? Você viu outra có pia das Leis de Pale.
— Nã o. Meu avô me disse que encontrou uma có pia
numa livraria velha empoeirada em York, onde Sarimund
viveu.
— Ele leu para você as Leis de Pale? Discutiu sobre elas
com você ? Você se lembra o que ele disse?
— Nã o, ele nunca leu para mim o livro em si,
simplesmente me contou histó rias sobre Sarimund antes de
— bem, esqueça isso.
— O seu avô era um mago, Nicholas? Você disse que ele
visitou Bulgar, ele se reuniu com aquele velho chamado de: O
mago vindo do Oriente.
Nicholas disse lentamente, enquanto olhava pela janela
da carruagem. — Eu realmente nã o posso responder isso.
Lembro que ele sabia de coisas que a maioria dos homens nã o
sabia, ele podia me contar coisas sobre pensamentos e
sentimentos das pessoas, mas, poderia simplesmente ter
inventado tudo? Eu nã o sei.
— Você vivia com seu avô ?
— Depois que minha mã e morreu, sim, eu vivi. Meu pai
se casou de novo, você sabe, e sua nova esposa nã o gostava
de mim, principalmente depois que ela deu à luz a um filho
dele. Eu tinha cinco anos quando meu avô me acolheu em
Wyverly Chase, o assentamento dos Vail desde o sé culo XVI.
Ele era o Conde de Mountjoy, você sabe e nã o havia nada que
meu pai pudesse fazer sobre isso, nã o que ele quisesse que eu
ficasse.
— Você tinha apenas cinco anos de idade.
— Sim. Nos anos seguintes, o meu pai e sua nova família
raramente visitaram Wyverly Chase. Lembro que meu pai
estava zangado, ele precisou esperar para assumir o título e a
riqueza do meu avô , embora eu soubesse que ele era muito
rico por direito pró prio.
— Mas você era o herdeiro do seu pai. Certamente era
mais importante que qualquer antipatia por parte de sua
madrasta. Você era apenas um garotinho, por que... —
Nicholas apenas balançou a cabeça para ela e sorriu. —
Lembra-se de nosso malabarista bê bado gigante? Antes de
sairmos do parque, eu o vi roncando debaixo de um banco
perto da serpentina.
— Muito bem, Nicholas, guarde os seus segredos. Mas eu
vou lhe bater se você nã o estiver mais acessível no futuro. Um
futuro pró ximo.
Ele estendeu a mã o e apertou levemente a mã o dela. Ele
sorriu para ela, um sorriso íntimo, que fez algo muito
profundo dentro dela se agitar à vida.
Que estranho, ela pensou, mais tarde, que ela sabia, nos
seus ossos, que haveria um futuro. Agora ele estava na vida
dela, e permaneceria na vida dela.
5

Um velho caminhou na direçã o dela, uma veste branca


comprida alcançando suas sandá lias. Uma corda grossa,
trançada como cinto segurando o manto, suas extremidades
desgastadas, quase alcançando os joelhos. Sua barba estava
há tanto tempo sem ser cortada que a ponta quase tocava a
bainha de seu manto. Ela viu grandes dedos brancos. Ele
sorriu para ela, os dentes brilhando brancos assim como os
dedos dos pé s. Foi estranho, mas ela nã o estava nem um
pouco com medo, mesmo que ela estivesse deitada de costas,
na cama, e seu quarto de dormir devia estar escuro, mas nã o
estava. A pele dele era suave e pá lida, como se ele nã o tivesse
passado nenhum tempo no sol. Ele era um profeta, ela
pensou, e ele estava ali para vê -la. Ele abaixou-se ao lado de
sua cama, inclinando-se perto de sua orelha. Ela ouviu a sua
voz, suave como um assobio macio de uma brisa morna. Eu
sou Rennat, o mago que veio do Oriente. Todos nó s sabemos
que você entrará em seu pró prio portal. Você . — Ele se virou
para olhar em direçã o à porta dela, a cabeça inclinada para
um lado, como se estivesse ouvindo algo que ela nã o podia
ouvir, algo vindo para ali, para seu quarto. Ele se voltou para
ela, a barba dele encostando no ombro dela enquanto se
inclinava para perto, mais uma vez. Ela ouvia o sussurro dele
em sua orelha, obedecer as Leis, obedecer as Leis, obedecer.
Rosalind expulsou o sonho, acordando, o coraçã o
batendo, sua camisola ú mida de suor. Ela se levantou com as
palmas das mã os contra seu tó rax, tentando puxar um fô lego,
tentando ficar fora daquele sonho. O homem velho e estranho
sobre ela — nã o, ele nã o estava aqui, em pé ao lado da cama,
a barba, encostando no ombro dela, nã o havia nada aqui
afinal.
Ela olhou à s sombras espessas do outro lado de seu
quarto que poderiam facilmente ocultar algo assustador —
ela ofegou na respiraçã o — nã o, ela estava sendo absurda.
Fora um sonho, um sonho sobre as Leis de Pale e aquele
mago sobre o qual Nicholas havia contado, e sua mente criara
um sonho estranho. Mais estranho era que ela vira o mago no
maior dos detalhes. Rennat — era o nome dele, um nome
estranho que ocasionou algo profundo dentro dela. Nicholas
disse aquele nome? Talvez sim, mas ela nã o estava certa. Nã o
importava se ele nã o tivesse dito aquilo significava
simplesmente que sua mente o havia fornecido.
Obedecer as Leis, obedecer as Leis. O coraçã o dela
disparou, arrepios percorreram sua pele. Ela nã o estava
prestes a cair no sono novamente, nã o com aqueles sonhos
esperando para invadir o espaço de sua mente, quando ela
fechasse os olhos.
Todos nó s sabemos que você entrará em seu pró prio
portal. O que o velho lhe havia confidenciado, tã o perto ele
estivera, que ela ainda podia sentir o há lito quente e a
respiraçã o dele na orelha dela — ela poderia jurar que ainda
conseguia distinguir aquela luz e o aroma de limã o. Ela iria o
quê ? Rosalind sentou-se, ainda muito estressada, acalmando-
se, a respiraçã o diminuindo, corrigindo seu cé rebro.
Ela nã o sentia medo, nã o realmente, desde que ela
conhecera os fantasmas — pelo menos, é como ela chamava
à s vozes, por falta de algo melhor. Ela convivia com eles por
anos. À s vezes, ela ouvia murmú rios nos cantos sombreados,
mas mais, frequentemente, eles vinham como uma né voa
espessa nos sonhos dela, sussurrando, sempre sussurrando,
mas infelizmente ela nunca podia entendê -los. E ela queria
desesperadamente vê -los, mas nunca conseguiu. Rosalind
desejava que seus fantasmas dizessem palavras reais, como
Rennat dissera. Entã o ela poderia perguntar-lhes qual era o
verdadeiro nome dela.
Já bastava do velho louco, com a fina barba cinzenta
emaranhada em seus grandes dedos brancos, e seu há lito
com cheiro de limã o. Ela se sentia inquieta, nervosa, e,
també m, estranhamente, fria. Rosalind vestiu um roupã o e
chinelos, acendeu uma faísca, pegou a vela de cabeceira e
desceu a grande e ampla escadaria, protegendo a chama da
vela com a mã o. Ela roubaria um pouco de conhaque do tio
Ryder. A mã o dela estava chegando à direçã o da maçaneta da
porta quando viu uma luz bruxuleante vindo por debaixo da
porta da biblioteca. O que seria aquilo?
Ela levantou a mã o para bater, baixou-a e calmamente
abriu a porta. Ela viu Grayson sentado à grande mesa de
mogno no canto mais distante, uma ú nica vela perto do
cotovelo, iluminando o que ela sabia que eram as Leis de Pale.
A vela estava quase derretida.
Ela nã o o vira desde que ele havia deixado ela e Nicholas
no Hyde Park. Ele nã o aparecera no jantar, nem fora à sala
para o chá . Sabiam que suas horas de escrita eram errá ticas,
e ningué m questionara nada sobre sua ausê ncia — mas ela
sim. O cabelo dele estava desordenado, a camisa aberta no
pescoço.
Ela tocou levemente com a mã o no ombro dele. —
Grayson?
Ele quase pulou da cadeira. — Ah, Rosalind, você me
deu um susto real. Está no meio da noite. O que está fazendo
fora da cama há esta hora?
— Eu tive um sonho estranho, — ela disse. — Você ainda
está lendo as Leis de Pale?
— Eu nã o consigo lê -las, pelo menos, nã o ainda. É uma
espé cie de có digo que nã o fui capaz de traduzir. Sarimund
começa em um velho tipo de Inglê s formal que eu posso ler.
Depois, ele diz ao leitor que escreveu as Leis em seu pró prio
có digo pessoal e ele duvida que o leitor seja capaz de decifrá -
lo. Você quase pode vê -lo orgulhoso de sua pró pria
inteligê ncia, o bastardo. Eu atiraria nele se ele já nã o
estivesse morto.
O livro aberto na á rea de trabalho. Ela acenou para ele.
— Por que nã o contou a seus pais sobre isso?
— Meus pais se sentem muito confortá veis na
modernidade, você sabe disso, Rosalind.
— Eles aceitam a lenda da noiva virgem. Mesmo que tio
Ryder fale sobre tudo isso ser um maldito mito alimentado
pelas senhoras da família. Você sabe tã o bem quanto eu que
eles acreditam nela.
Grayson encolheu os ombros. — Oh, sim, eu també m
acredito nela, aquela jovem infeliz que viveu em Hall
Northcliffe desde o tempo em que Rainha Bess estava em
plena flor — mas ela é diferente. Ela é um fantasma, morto há
muito tempo, sim, mas ela nã o é um monstro com correntes
se arrastando no chã o, para aterrorizar. Ela é parte da família
amaldiçoada de Sherbrooke. Danielle me disse que a noiva
virgem tem visitado os gê meos muitas vezes e eles a aceitam
como aceitam a babá : Beth.
De todos os fantasmas que pairavam em torno de
Rosalind, a noiva virgem nã o se encontrava entre eles. Por
outro lado, ela duvidava que o fantasma de Sherbrooke fosse
visitá -la — ela nã o possuia planos para se casar com um
Sherbrooke e parecia ser o pré -requisito, se você nã o fosse do
seu sangue.
Grayson largou sua pena. — Quando li a declaraçã o de
Sarimund, eu vou lhe dizer que eu ri. Realmente achei que eu
seria capaz de decifrar o có digo. Está totalmente escrito com o
que se parece com letras aleató rias, espaçadas, separadas
como palavras, mas nã o sã o, e eu nã o consigo descobrir como
torná -las palavras reais. Passei as ú ltimas — ele ficou
olhando para o reló gio de bronze dourado em cima da lareira
— bem, desde o início da tarde tentando descobrir, mas eu
nã o ainda consegui. Meu cé rebro quer explodir.
Rosalind franziu a testa. — Isso me surpreende, já que
você sempre foi bom em resolver enigmas, decifrar có digos e
tal.
— Sim, até agora. Nã o consigo decifrar.
— Sarimund usa nomes pró prios, ou os nomes estã o em
có digo també m?
— Bem, ele escreveu um nome — Rennat.
O coraçã o dela começou uma batida seca outra vez. —
Rennat?
Ele assentiu. — Sim, nome estranho, nã o é ?
Rosalind pensou que desmaiaria. — Rennat. — Ela
repetiu. A voz dela, um segmento vago de som.
— Poderia també m ser um cachorro, mas realmente faz
sentido para mim que se Sarimund nã o codificou o nome,
deve ser um homem, um homem importante.
— Grayson, no meu sonho. — Rosalind engoliu — isto é ,
o nome do velho que apareceu no meu sonho. Rennat, o mago
que veio do Oriente — é o que ele disse que era.
Grayson olhou para ela e, em seguida, jogou a pena para
ela. Ela pegou-a no ar com a mã o direita. Ela sempre fez
assim. Havia sido um jogo entre eles por muitos anos.
Nenhuma tinta escorreu já que a ponta estava seca. Grayson
disse, — normalmente posso contar com você para uma
brincadeira melhor, Rosalind. Rennat veio a você em um
sonho? — Nã o é digno de você . Vá agora, nã o tente me deixar
mais confuso do que já estou.
Ela abriu a boca para dizer que nã o era nenhuma
brincadeira, mas ele já havia se virado, olhando para baixo,
para o livro. — Posso?
Ele empurrou o livro para ela. — Estou muito cansado,
minha mente decidiu que você é minha mã e.
— Nesse caso, eu poderia lhe bater e você precisaria
aceitar.
Grayson levantou-se, esticou-se, e acenou para sua
cadeira. Rosalind sentou-se e lentamente arrastou o livro em
sua direçã o. Ela olhou para baixo para a letra pequena, e
fina, a tinta preta desbotada ainda bastante legível. Ela tocou
levemente as pá ginas. — Sarimund nunca o imprimiu. Entã o,
as vinte có pias foram copiados a mã o?
— Nicholas disse isso. Eu nã o sei. O Sr. Oakby em
Oxford també m nunca falou sobre isso. Nã o acho que ele
també m soubesse.
Rosalind olhou à pá gina e seu coraçã o quase parou.
Grayson estava errado. Nã o era um có digo totalmente difícil.
Ela estendeu a mã o e tocou com a mã o o braço dele. —
Grayson, é fá cil. Posse lê -lo.
Grayson estava tã o assustado que cuspiu fora o chá que
acabara de engolir e tossiu. — Nã o, — disse ele, olhando para
ela, — eu lhe disse que nã o é possível. Pare Rosalind.
— Ouça-me, por qualquer razã o, de fato eu consigo ler. E
sonhei com o velho Rennat, nã o é uma brincadeira. Posso lhe
dizer como ele é . Ele falou comigo. Talvez por isso eu consiga
ler. Nã o no velho empolado inglê s, mas — em inglê s moderno.
Nã o sei, talvez seja ela que me permita ler facilmente.
Grayson moveu, cuidadosamente, para baixo sua xícara
de chá . Ele parecia confuso. — Nã o, nã o é possível, Rosalind.
— É fá cil, digo-lhe. Tudo que você precisa fazer é mudar
a terceira letra de cada palavra à frente, ou, se a terceira letra
for uma vogal, entã o ela vai para o fim ou perto do fim da
palavra. Todas as vogais representam a sé tima, dé cima
terceira, dé cima nona, vigé sima ou vigé sima quinta letras do
alfabeto e as consoantes representam as vogais. Todos os Us
sã o pontes para as palavras que sã o o assunto. — É
perfeitamente claro, Grayson, no encantador inglê s, nã o
empolado e sem palavras estranhas do sé culo XVI.
— Sim, sim, você move as consoantes e as vogais e... —
ele olhou para ela, abanou a cabeça. — Droga, o que você
disse nã o faz nenhum sentido, é tudo bobagem. Alé m disso,
se fizesse sentido, se essa for à chave, eu levaria horas para
reorganizar todas aquelas malditas cartas.
Ele pegou o livro e viu que suas mã os tremiam. Querido
Deus, como detestava isso. Ele olhou para baixo para as
letras embaralhadas e soltou um suspiro enorme. O que ela
disse sobre as consoantes, sendo vogais — e o u o que era?
Pontes? — Nã o, você deve estar cansada també m, Rosalind.
Nã o faz sentido ser feito assim.
— Que inferno, seu idiota teimoso, é fá cil! Fique quieto
agora e ouça... — ela leu devagar: — Uma fatia do rio como
uma lâ mina afiada atravé s do Vale de Augur, estreita e
profunda e perigosa...
Grayson pegou o livro em suas mã os e examinou a
pá gina. — Você que inventou. Nã o gosto de você me
provocando assim. Este sonho com Rennat, o que você está
fingindo ler, ninguém conseguiria decifrar esse có digo tã o
rapidamente. Você é quem deveria estar escrevendo
romances de fantasmas, nã o eu.
Ela colocou a mã o no antebraço dele. — Grayson, por
qualquer motivo, o có digo traduz-se para mim,
instantaneamente. Nã o consigo explicar, mas é verdade.
Ele olhou para o livro novamente. — Nã o há nenhuma
maneira que você possa entender o sentido disso, exceto... —
ele balançou a cabeça, empurrou o livro para ela novamente.
— Tudo bem, vou transcrever o que você diz... — e ele
começou a escrever como ela lia.
— “Pedras lisas e pretas abrangem o rio como queimadas
fatias de pã o, mas as pedras rejeitam o pé de um homem. Isso
é porque elas servem para casco do Tibre. Um homem só pode
se atrever a andar sobre as pedras para atravessar o rio,
quando as trê s luas de sangue estiverem cheias e se
levantaram em concerto sobre o Monte Olyvan. Ouça esta Lei
ou você morrerá ”.
Ela levantou a cabeça e disse, sua voz fina como um fio
— Grayson, que lugar é este? Trê s luas de sangue, elevando-
se juntas sobre o Monte Olyvan? — ela estremeceu. — Tenho
medo. — E ela sentia — muito medo. Ela disse lentamente, —
Nicholas sabe disto. Ele disse que seu avô possuia uma có pia.
Grayson levantou-a da cadeira e puxou-a contra ele,
levemente acariciando suas costas, algo que ele fazia para
acalmá -la desde que ela era uma criança aterrorizada recé m
chegada na casa de Brandon. — Eu nã o entendo isso
també m. Mas seja o que for você está certa — Nicholas Vail é
uma parte disso. Mas o que nã o entendo é porque eu fui o
ú nico a encontrar este livro em particular? Por que o velho no
quiosque o deu para mim e nã o para você ? Afinal, você é
quem consegue lê -lo, nã o eu. Estou apostando minha nova
sela que Nicholas també m consegue. E o que aconteceu com o
velho e seu quiosque de livros? É como se ele estivesse me
esperando chegar, entã o poof! — foi embora. Tudo o que vejo
em minha mente agora sã o folhas ao vento, algumas
madeiras apodrecendo. Fato é : eu també m tenho medo. — Ele
puxou-a de volta contra os braços dele. — Há algo muito
estranho acontecendo, mas vamos descobrir a verdade,
Rosalind. Agora, quero que você leia o livro para mim para
que eu possa transcrevê -lo enquanto você lê , certo?
De repente ela estava animada, cheia de energia, nã o de
medo. — Sim, certamente. Grayson, eu penso que o velho
mostrou o livro à pessoa certa... — ela se virou para olhar um
instante ao fogo lento, quase brasas agora. — Antes de eu ler
mais, deixe-me contar meu sonho. Eu lhe disse que Rennat, o
mago que veio do Oriente falou comigo.
— Sim, mas...
— Bem, o problema é que nã o me lembro. — E tentei. —
Ela simplesmente nã o se lembrava. — Grayson, eu... — ela
olhou-o, indefesa e muda. Ela estava perfeitamente lú cida
agora. — Por que nã o me lembro? Já era, o sonho de Rennat,
tudo se foi agora. E estava tã o claro para mim, o que ele
disse: todas as coisas — agora se tornaram vagas.
Grayson, de repente, sentiu medo. — O que diabos está
acontecendo aqui?
— Nã o sei. — ela se afastou e bateu palmas contra a
cabeça dela. — Eu tenho uma ó tima memó ria. Porque me
lembro do nome daquela menina que você levou para o canto
do celeiro naquela tarde de julho — Susie Abercrombie.
Ele olhou para ela com um olhar fascinado. — Você nã o
deveria saber disso, — ele disse lentamente. — Tive muito
cuidado, uma vez que minha mã e sempre soube de tudo. —
Os dois ficaram em silê ncio por um tempo. Grayson pegou o
livro. — Talvez eu devesse queimar esta maldita coisa.
Ela agarrou a mã o dele. — Nã o, nã o, nã o pode. Há algo
aqui, Grayson, algo que coloca você , Nicholas e eu no meio de
algo. Nã o sabemos o que é agora, mas nó s vamos descobrir.
Você vai ver. Devemos falar com Nicholas.
Ela nã o sabia de onde vinha, mas ela se sentia com um
sorriso no rosto. Entã o a energia selvagem a deixou. Ela se
sentiu vazia e tã o cansada que poderia dormir no tapete em
frente à lareira.
Ela ouviu Grayson falar como se fosse de uma grande
distâ ncia. — Você tem razã o, precisamos falar com Nicholas
Vail. Eu estou rezando com todas as minhas forças, que ele
tenha algumas ideias sobre como proceder. Enviaremos uma
mensagem na primeira hora da manhã . Você parece muito
cansada, Rosalind. Chega disso.
Ela disse: — Você nã o quer esperar, posso ver. Você quer
correr até a casa de Nicholas — nã o, ele está hospedado no
Hotel de Grillon. Eu gostaria de ir com você , mas eu estou tã o
cansada, Grayson.
Grayson tocou com os dedos no rosto alvo. — Nó s vamos
descobrir isto, confie em mim. Até amanhã . Venha, vou lhe
acompanhar.
Rosalind parou, olhando de volta para ele. Ele estava
embalando o livro em seus braços. Ela disse: — Ontem eu só
estava preocupada com o baile no Pinchon House, usando o
vestido novo que tio Douglas comprou para mim, dançando
com pelo menos trê s duques, mas agora — está tudo ao
contrá rio e de cabeça para baixo. Sinto que me perdi nas
pá ginas de um dos seus romances, Grayson.
De cabeça para baixo. Coisas que você diria à s crianças
em uma creche pensou Grayson.
Eles se separaram no topo das escadas, Grayson foi para
seu quarto, o livro agora pressionado firmemente contra o
tó rax. Rosalind o olhou, até que ele parou na porta do quarto
dele, olhou para ela e ela fez uma pequena saudaçã o.
Rosalind entrou e adormeceu imediatamente. Nã o houve
mais sonhos. Ela dormiu profundamente, até que Matilde,
cujo peito abundante era a inveja de cada empregada fê mea,
em cada casa da cidade de Sherbrooke, a sacudiu, acordando-
a na manhã seguinte. — Miss Rosalind, vamos agora, é hora
de acordar.
Os olhos de Rosalind ficaram abertos, de repente cientes
de que a luz inundou da janela, e ela se endireitou na cama.
— Oh, meu Deus, que horas sã o Matilde?
— Vã o em direçã o à s dez horas, Miss Rosalind. Sra.
Sophie pediu para eu ver se você estava doente. Disse-lhe que
nunca ficou doente, que você nã o parecia sofrer constipaçõ es
como J, infinitamente. Disse-lhe...
Rosalind jogou as cobertas. — Sim, sim, Matilde. Eu
entendo. Você viu o jovem Grayson?
Matilde cruzou os braços e bateu o pé . — Ele saiu cedo,
assim que alimentou o gatinho dele com o ú ltimo pedaço de
bacon, nã o disse a ningué m aonde ia pelo menos isso é o que
eu ouvi o Sr. Willicombe dizer a Sra. Fernley.
Rosalind pensou. — Você notou se ele estava carregando
alguma coisa, Matilde?
Matilde, cuja ambiçã o secreta era o palco, assumiu uma
pose, pontas dos dedos tocando o queixo, com o dedo dela
batendo ritimado, os olhos se estreitaram em pensamento
profundo. — Sim, havia um pacote embrulhado debaixo de
seu braço direito. Manhoso, o jovem Grayson estava muito
atento e protetor com aquele pacote.
Amaldiçoou-o, ele devia ter esperado por ela, ele for ver
Nicholas, sozinho. Ela o mataria.
Matilde disse: — Ouvi a Sra Fernley dizer ao Sr.
Willicombe que mestre Grayson bateu pelo menos trê s vezes
em sua porta nesta manhã , mas você estava aninhada nas
asas dos anjos.
Bem, isso era alguma uma coisa, mas nã o o suficiente.
Ela ainda o machucaria.
Rosalind estava andando na sala de estar, uma hora
mais tarde, alternadamente rangendo os dentes e olhando
para o reló gio sobre a lareira. Onde o diabo estava Grayson?
As Leis de Pale — ela queria ler antes de Nicholas. Era
ruim da parte dela, ela sabia, mas de alguma forma, ela
simplesmente sabia, bem no fundo, que ela seria a pessoa
que leria e muito em breve ou, — ou o quê ? Ela nã o sabia.
Quando Grayson entrou na sala de visitas trinta minutos
mais tarde, ela agarrou seus braços e o sacudiu. — Eu sei o
que você fez Grayson, deu trê s reles batidas na minha porta
do quarto de dormir, na realidade, provavelmente apenas
encostou os dedos e, em seguida, saiu. Você levou o livro ao
Nicholas, nã o é ? Você o deixou ler, nã o é ? Oh, eu vou deixar
seu nariz sangrando e você deitado no chã o. Você foi
traiçoeiro, e aposto que Nicholas — outro homem traiçoeiro —
ficou encantado ao vê -lo, nã o foi? — Ela o sacudiu
novamente, enfrentando-o, pronta para pegá -lo pelas orelhas
— quando Grayson teve a coragem de rir dela.
Ela enfiou a mã o debaixo do nariz dele. — Como ousa
fazer pouco causo disto, Grayson Sherbrooke? Você nã o
acredita que eu posso fazê -lo cair na sujeira?
— Olá , Rosalind.
Ela se virou para ver Nicholas Vail, em pé , na soleira da
porta da sala aberta. Ele parecia cada vez mais em forma e
perigoso, na verdade, com seu cabelo preto, botas tã o polidas
que ela sabia que seria capaz de ver seu rosto no brilho delas.
Uma sobrancelha preta estava arqueada. Ele parecia pronto
para rir.
— Você !
— Acho que sou sim. Acha mesmo que Grayson e eu
somos ignorantes traiçoeiros?
— Você é provavelmente muito pior.
Grayson disse: — Eu bati na sua porta, Rosalind. Muito
vigorosamente, mas você estava sonhando que dançava com
seus trê s duques, e decidindo qual dos pobres tolos pegaria.
O que eu devia fazer? Claro, eu fui ver Nicholas. Claro, eu lhe
mostrei o livro. Você teria feito à mesma coisa no meu lugar,
você sabe disso. Nã o seja uma chata.
Nicholas nunca ficou longe de Rosalind desde que entrou
na sala. Ele pegou na mã o dela e levantou-a aos seus lá bios.
Um gesto gracioso, à moda antiga, com certeza, mas se
encaixava nele e no momento. A boca estava quente na sua
carne, o olhar divertido continuava fazendo seus olhos
escuros terem um brilho e com o toque dele... Rosalind ficou
muito parada. Algo semelhante ao choque perpassou atravé s
dela. Foi só com a boca do homem tocando levemente a mã o
dela — o absoluto deleite frené tico que ela sentiu a
surpreendeu. Ela abriu a boca, olhou para ele, muda; a sua
confusã o, seu prazer, tudo claro no rosto dela. Ela olhou a
boca dele — pensou que poderia ser dura, talvez cruel — mas
quando aquela boca tocou a mã o dela, ela teve vontade de
agarrá -lo, ir contra ele e beijá -lo, até que os lá bios dela
caíssem. Quanto a Nicholas, aquele rosto parecia impassível,
como se ele nã o tivesse uma pista que o mundo dela havia se
movido, como se estivesse a pensar sobre uma boa xícara de
chá . Ela queria chutá -lo, gritar com ele para acordá -lo, mas
Nicholas diss com diversã o em sua voz:
— Grayson veio até mim. Ele mostrou-me o livro, me
falou que você consegue ler as Leis, tã o fluente quanto um
dos romances gó ticos da Sra. North. Eu admito que nã o
acredite porque eu nã o consigo ler, entã o, como poderia você ,
um mero ser feminino? Agora você se sente melhor?
— Você está mentindo, Nicholas?
Antes dela conseguir fixá -lo, Grayson disse: — Entã o é
só você , Rosalind, quem tem essa capacidade, eu suponho
que você poderia chamá -lo de dom, esta...—
— Sim, sim, eu sei, sou diferente.
— Entã o, Nicholas é inú til para nó s em tudo. Por que
parece que quer expulsá -lo? Ele nã o fez nada. Você ainda é a
artista, a ú nica estrela aqui, qualquer um de nó s está abaixo.
Nicholas disse: — De fato, mesmo que meu avô tenha me
mostrado o livro, ele nunca me disse especificamente o que
estava escrito. Ele só me falou sobre Sarimund. Ele nã o
conseguiu decifrar o có digo também. Eu me lembro dele
tentando, incessantemente, mas nã o acho que ele conseguiu.
Ela perguntou-se novamente se ele estava mentindo e
queria unir seu punho à quele nariz perfeito. Infelizmente, ela
teve que manter os seus punhos na lateral porque Tio Ryder e
tia Sophie entraram na sala de estar naquele momento. Seus
rostos congelaram, toda a conversa morreu.
Ryder disse suavemente para Nicholas: — Willicombe
nos disse que você havia chegado com Grayson.
— É um prazer vê -los, milord, milady, — disse Nicholas,
curvando-se para Sophie. — Seu vestido é encantador.
Sophie sorriu para aquele jovem perigoso. — Nã o mais
encantador do que você , milord.
Rosalind corou.
Sophie perguntou: — Olhando para os vossos rostos,
vejo que nos desejam longe, mas infelizmente, vamos ficar
aqui mesmo. Agora, o que é tudo isso sobre um livro? É o que
você estava lendo ontem, Grayson?
Grayson assentiu com a cabeça. — Eu, ah,... possuia
algumas dú vidas sobre isso, mamã e. Eu queria que Nicholas
o visse.
— Mas por que nã o você mostrou para ele ontem? Afinal,
os trê s estavam juntos no parque, nã o é ?
Grayson ficou mudo. Nicholas encarou intensamente
uma figura de uma linda pastora em cima da lareira, e
Rosalind també m ficou muito interessada naquela pastora, os
dois com um ar culpado. Rosalind disse:
— Sabe como Grayson é tia Sophie, ele tem uma ideia e
se retira para pensar melhor nela. Ele nos deixou no parque.
— Sozinhos. — Err, isso é , Grayson nã o nos deixou,
exatamente, ele sugeriu que nó s vié ssemos para casa
imediatamente e assim fizemos. Bem, quase que
imediatamente.
Ryder Sherbrooke caminhou lentamente até onde estava
o seu filho. — Você e Rosalind sempre foram pé ssimos em
dissimulaçã o. Vejo que milord nã o é melhor. O que está
acontecendo aqui?
Nicholas disse: — Grayson encontrou um raro livro velho
na feira ontem. Está em có digo. Você é bom em decifrar
có digos, milord?
— Em có digo? Este livro velho está escrito em có digo?
Que estranho. Deixe-me vê -lo. — Ryder estendeu a mã o. Nã o
havia nada mais a fazer do que lhe entregar o livro. Grayson
entregou para seu pai as Leis de Pale, embora por um
instante, ele quisesse enfiá -lo em sua camisa e correr.
Ryder, ciente de que seu filho estava atento, manipulou o
livro muito suavemente. — Na verdade parece ser muito
antigo. Você encontrou isso em uma banca na feira dos
artistas, ontem?
Grayson disse: — Sim, milord.
Os trê s viram Ryder abrir o livro ao acaso, viram sua
testa se enrugar enquanto estudava a pá gina, o viram franzir
a testa. Finalmente, ele levantou a cabeça. Prenderam a
respiraçã o. — É um có digo que nunca vi antes. Douglas é
muito bom neste tipo de coisa. Nó s podemos mostrar para ele.
— Grayson pegou o livro de seu pai sem dizer uma palavra.
— Douglas e Alexandra vã o chegar no dia seguinte, —
Sophie disse a Nicholas. — Ele é o Conde de Northcliffe, mas
sabe disso, nã o é ?
— Algué m mencionou para mim no baile na outra noite.
Estou ansioso para conhecê -lo.
Sophie estendeu sua mã o para o filho. — Minha vez.
Para sua deceçã o, ela també m nã o conseguiu ler o
có digo. — Que triste. Eu pensei que o meu querido marido e
eu soubé ssemos tudo que fosse importante. Isto deprime meu
â nimo. Quanto a Douglas, ele está vindo para ajudar Rosalind
com a temporada. Vai haver um evento para ela na pró xima
sexta-feira. — Sophie disse seus olhos nunca deixando o rosto
sombrio de Nicholas Vail.
Rosalind corou como uma freira, e disse: — Lorde
Mountjoy voltou com Grayson porque eu concordei em andar
no parque com ele. Ele vai me contar tudo sobre Macau.
Tenho uma fascinaçã o por colô nias portuguesas, sabe...
Tanto Ryder quanto Sophie duvidaram que Rosalind
sequer tivesse ouvido falar de Macau antes disso. Ainda
assim, Sophie encontrou-se a acenar. — Acho que vai dar
certo. Mas nã o se esqueça querida, você tem uma prova final
na Madame Fouquet esta tarde.
— Pode esperar para ouvir sobre Macau. — Grayson
disse. — O livro, Rosalind, devemos trabalhar juntos no livro.
Nicholas também deve.
Foi estranho, mas Rosalind já nã o sentia qualquer
urgê ncia sobre o livro. Ela sentiu essa urgê ncia em Nicholas.
Ela diss: — Eu conseguirei mais informaçõ es de Nicholas
sobre isso, Grayson. Ele nos ajudará . Quando voltarmos,
vamos todos trabalhar nele, juntos.
— Mas por quê ...
— Eu tenho dor de cabeça. Preciso de ar fresco.
— Você merece isso. — Nicholas disse, quando se sentou
em frente à Rosalind em sua carruagem. — Seu tio Ryder está
errado. Você mente muito facilmente. — Ele bateu a bengala
dele contra o teto. — Diga para Grace e Leopold para irem ao
parque e ficarem por lá um tempo.
— Sim, milord... — O transporte parou.
— Grace e Leopold? —
— Meus companheiros. Eles estã o orgulhosos e
conhecem o seu pró prio valor. Se sentem que algué m os
despreza, eles se afastam. Agora, você pode realmente ler as
Leis de Pale?
— Você nã o precisa brincar mais, milord. Você sabe que
posso ler aquele maldito livro. Você sempre soube. Ou, pelo
menos, esperava que eu pudesse. Minha pergunta é por quê ?
Houve uma pausa antes dele falar: — Claro que estou
surpreso. Como eu poderia saber? Quanto a um plano, eu
nã o tenho nenhum, exceto fornecer toda a ajuda que eu for
capaz, para você e Grayson quando você voltar para casa
depois do parque. Este passeio que lhe convidei nesta manhã ,
indiquei qualquer tempo específico para a sua duraçã o?
— Um tipo mé dio de tempo de duraçã o é o adequado, se
me lembro corretamente. Nã o mude de assunto. E você acha
que eu minto facilmente. Nã o estou nem perto de ser igual a
você nesta maté ria, milord. Eu sei que vai estar bem atento
para ouvir cada palavra das Leis de Pale. Eu queria que você
dissesse a Grayson e a mim tudo o que sabe Nicholas.
Ele deu-lhe um encolher de ombros, encantador, com
seus ombros poderosos, mas ela nã o sentia intençã o de
admirá -lo. — Certamente, o livro é de algum interesse para
mim, desde quando eu era um jovem rapaz, sabia que era
uma paixã o para meu avô . Talvez eu possa aprender porque o
texto em si, era a paixã o dele.
Os dedos enluvados dela tamborilaram na bolsinha. —
Você é muito há bil, nã o, milord?
— Meu nome é Nicholas. Há bil? Certamente espero que
sim, ou eu duvido que tivesse sobrevivido até a idade adulta.
Quando ela olhou aquela boca novamente, ela se
esqueceu dos segredos, esqueceu-se das Leis de Pale,
esqueceu-se de que ela nã o queria admirar os ombros dele.
Ela nã o entendia nada disso, só sabia que queria que ele a
tocasse novamente, para sentí-lo beijar sua mã o de novo,
talvez beijar a pele de dentro do cotovelo, até mesmo a orelha
dela. Estremeceu quando pensou nele beijando-a na boca,
beijando-a até que ela perdesse a cabeça. Isso seria estranho,
com certeza, mas ela imaginou que uma vida sem malícia nã o
seria divertida, nã o é mesmo?
Ela olhou pela janela da carruagem para ver que
estavam passando pela entrada para o parque. Ela nã o deu à
mínima. Estava nublado hoje, um pouco fresco, mas sentiu-
se confortavelmente quente. Nã o havia muitas pessoas
perambulando, nã o há esta hora fora de moda, apenas
algumas crianças com seus aros, gritando uma com a outra
perto das governantas e tutores. Uma menina vendendo flores
e um vendedor de tortas perambulavam para encontrar
compradores. Ela disse em um suspiro: — Para que eu nã o
seja uma completa mentirosa, fale-me sobre Macau.
— O ar cheira diferente lá .
— Bem, sim, claro que sim. É um clima estrangeiro.
Ele riu, balançou a cabeça. — E só o que sabe de climas
estrangeiros?
— Na verdade, Londres foi um clima estrangeiro para
mim até cerca de duas semanas. Admito, eu sou uma
provinciana. Você me despreza por isso?
— Acho que nã o. Deveria?
— Provavelmente. Quando você estiver com raiva de mim
irá , sem dú vida, pensar em vá rias razõ es... — entã o ela
encontrou-se mais uma vez a olhar para a boca dele. Ela
limpou a garganta. O que eles estavam falando? Oh, sim! —
Tenho certeza de que o azul do cé u é diferente, assim como o
cheiro do ar em Macau. Diga-me, como você viveu?
Ele olhou-a, tudo da personalidade suave e perigosa
dela, de repente, deixando-o perplexo. Até agora, ningué m
havia mostrado o menor interesse na vida que ele tivera antes
de Londres. — O que você quer dizer?
— Vamos agora, Nicholas, eu tenho certeza que você era
muito pró spero. Todos esses rumores absurdos sobre nã o ter
um tostã o porque seu pai propositadamente deserdou você ,
eu nã o acredito nisso, nem por um instante.
— Mas é verdade, — ele disse lentamente. — Meu pai
pretendia me ver mendigo. Ele deixou-me apenas a
propriedade da família, ou seja, Sussex com seus trê s mil
acres de terra moribunda.
— O que ele fez nã o importa para você . Você tem os
fundos para consertar tudo. Na verdade, imagino que você já
começou a tratar de tudo. Estou disposta a apostar a minha
pró xima mesada que você nã o precisa mesmo de uma
herdeira.
— Nã o, você está certa, eu nã o preciso de uma herdeira.
— Eu sabia. Estou igualmente certa que você se movia
facilmente na sociedade portuguesa em Macau. Fale sobre
sua vida lá .
Ele lançou-lhe um olhar pensativo. — Seus olhos
possuem o mais incrível tom de azul. Eu estava pensando em
um cobertor macio azul que uma mulher portuguesa teceu
para mim.
— Um cobertor? Esse tipo de bajulaçã o pode quebrar um
coraçã o. Quanto aos seus olhos, Nicholas, eles sã o negros
como qualquer poço de piche que já vi.
— Você já viu um poço de piche?
Ela balançou a cabeça, nã o olhando para longe do rosto
dele. — Os seus olhos nã o sã o como piche, felizmente. Eles
sã o simplesmente negros e profundos e há respostas dentro
deles que esconde muito bem. Você é um homem cheio de
segredos, Nicholas. Tenho segredos també m, apenas nã o sei
quais sã o.
Uma coisa muito estranha de se dizer, ele pensou, mas
disse: — Devo lhe contar sobre quã o bonito eu acho que seu
cabelo é ? Os tons de seu cabelo sã o como as cores das
pinturas de Ticiano.
Ele se inclinou na direçã o dela e tocaram levemente com
as pontas dos dedos os cachos sobre as orelhas dela. — Devo
mudar a minha opiniã o. A cor deles é mais rica do que
qualquer vermelho que Ticiano já tenha produzido. Que
glorioso cabelo você tem, Rosalind.
— Por que você me dá um elogio tã o extravagante? Está
tentando expiar o elogio do cobertor azul?
— Quando a vi no baile de quinta-feira, eu sabia, eu
simplesmente sabia que você era...
— O quê ?
Ele franziu a testa olhando um pouco para fora da janela
e deu de ombros quando se virou para ela. — Você dança
bem, — ele disse.
— Obrigada. Você está certo sobre isso. Tio Ryder me
ensinou. Pare de evitar o assunto, Nicholas. Gostaria de saber
como você viveu em Macau. Eu quero saber como você lidou
com a vida diá ria em uma terra estranha.
— Ah, — ele disse distraidamente, — ouça o barulho do
lado de fora da janela da carruagem. E todas as pessoas que
se deslocam — balconistas vestidas de preto, miladys com
suas criadas, milordes no lazer se dirigindo para seus clubes
balançando seus bastõ es, pedintes resmungando para si
mesmos, vendedores vendendo tortas, flores, meninas
rodeadas com cores esplê ndidas. Era o mesmo em Macau, só
que você nã o entendia o que algué m dizia.
— Você é extraordinariamente eloquente.
— Obrigado. Agora... —
— Agora nada. O que você fez Nicholas? Onde você
morava? Como viveu? — Você amou uma mulher? Muitas
mulheres?
E saiu, bem para fora da boca dele. — Vou dizer-lhe tudo
quando você concordar em se casar comigo.
Ela olhou para ele por um instante e, em seguida, riu
tanto que soluçou e caiu para o lado.
Em seguida, se endireitou, soluçou novamente e olhou
para ele — dura, silenciosa, cautelosa. Por tudo o que foi
esplê ndido e glorioso, ele falava a sé rio. O corpo dela
cantarolava. Ela sentiu o salto de emoçã o, a sensaçã o que, de
repente, muito inesperadamente, tudo estava certo. Nã o
importava que ela o tivesse visto pela primeira vez na noite de
anteontem. Ela riu de novo, alegremente e disse: — Sim,
quero me casar com você , Nicholas Vail.
Ele a olhou, de repente, em pâ nico. — Mas... —
Ela se inclinou em direçã o a ele e levemente roçou seu
dedo contra sua boca. Entã o, ela o beijou.
6

Rosalind leu:
—“O Tibre é vicioso. Apenas uma ligeira força é
necessá ria para os seus cascos esmagarem o rosto de um
homem até virar polpa. O Tibre tem um ponto fraco. Anseia
pelo gosto do ser vermelho. Seres pretos ou marrons nã o
interessam, só o ser vermelho. Mas o ser vermelho, ao
contrá rio do castanho e preto, é astuto e se revela ao Tibre,
somente quando isso pode levar a um poço coberto. O ser
vermelho facilmente salta o fosso, mas o Tibre nã o. Ele cai e o
ser envia lanças de fogo nele até que seja morto. Um homem
deve fazer amizade com o ser vermelho. Caso contrá rio, um
homem é destruído pelo Tibre. Cante para o ser vermelho
sobre sua lealdade, como eles cantam para os dragõ es da
lagoa Sallas, e eles o protegerã o.”
Rosalind olhou para cima. — É como se Sarimund
estivesse escrevendo para uma criança — simples, bá sico,
cru, se preferir.
Nicholas sentou-se num sofá em frente a ela, segurando
uma grande almofada de seda entre as mã os. Ele falou
enquanto jogava a almofada de um lado para o outro: — Ou
ele está escrevendo um manual de instruçõ es e quer ter
certeza de que nã o haja mal entendidos. É direto e cru, você
está certa sobre isso Rosalind, e infelizmente nã o nos dá
nenhuma informaçã o ú til. — E ele se perguntou, como fazia a
cada vez que ela lia o livro de Sarimund: por que é tã o claro
para você e nã o é para mim?
Grayson estava esfregando a mã o, cansado de escrever
tã o depressa para acompanhá -la. Ele disse, — ou o Tibre e o
ser vermelho simplesmente sã o outra coisa — podem ser
metá foras.
— Metá foras para quê ? — Perguntou Nicholas.
Grayson encolheu os ombros. — Talvez conceitos de vida
apó s a morte. O Tibre representa o inferno, os dragõ es da
lagoa Sallas e o ser vermelho — bem, o cé u parece um pouco
exagerado.
— Talvez os seres vermelhos sejam anjos, — disse
Rosalind, uma sobrancelha levantada. — Eles protegem
homens, ajudam a sobreviver. Nã o sei, Grayson; mesmo que
Sarimund escrevesse simplificado, eu posso ver o ser
vermelho saltando sobre um poço como um significado para o
Tibre. Eu posso imaginar uma lança de fogo.
— Mas a nota nã o tem nenhuma descriçã o deles, só diz
ao leitor que o Tibre tem cascos, — Grayson disse. — É
interessante també m tem palavras como “Tibre” — palavra
estrangeira, estranha — mas há palavras que nó s
conhecemos, como “Lua” e “lança”. Leia, Rosalind. Tenho a
sensaçã o que isso vai mudar. Eu sei que isso vai mudar.
Ele mergulhou a pena de bico no tinteiro, na mesa, ao
lado dele e assentiu com a cabeça para ela.
Ela deu uma olhada rá pida para Nicholas e sentiu que
dentro dela tudo brilhava ainda mais forte. Ela realmente
pretendia casar com aquele homem — era surpreendente e
absolutamente louco. Há alguns dias atrá s, ela ainda nã o o
havia conhecido, ela nem sabia que ele existia. Ele era um
estranho, mas ela sabia, sabia no seu intimo, que este era o
homem certo para ela. Ela pensou de novo naquilo que ele lhe
dissera antes. Ela olhou-o triste, com os ombros caídos, e
suspirou profundamente enquanto sussurrava, — Espero que
ningué m acredite que sou um fracasso.
Aquilo captou a atençã o dele.
— Um fracasso?
— Bem, milord, você nã o é um Duque.
Seu riso rá pido a fizera querer pular nele.
Grayson estalou os dedos debaixo do nariz dela. —
Venha, Rosalind, volte de onde quer que tenha ido. Por que
você está corada? Nã o, nã o me diga. Leia.
Ela estudou a pró xima frase por um momento e, em
seguida, levantou a cabeça... — Isto é estranho. É uma nova
seçã o, mas nã o há nenhum espaço vazio para marcar o fim de
uma e o início da pró xima. Ele també m altera de narrativa
para a primeira pessoa... — Ela leu:
— “Eu descobri os dragõ es da lagoa Sallas; só comem a
cada trê s semanas e só comem rochas de fogo, aquecidas
durante aquelas trê s semanas até que estejam macias e
brilhantes. Eles nunca comeram um homem. Quando homens
se aventuram até o Pale, eles se acovardam dentro de
cavernas e fogueiras, mas aprendem rapidamente que as
criaturas voadoras deslizam para baixo, em cima deles, para
matar a chama. É uma visã o assustadora, as chamas
morrendo, as criaturas chupando nas brasas, os homens
gritando, mas alé m disso, as criaturas voadoras nã o
prejudicam os homens.
Os homens que sobreviveram ficaram dentro dos corpos.
Assim como eu fiz, eles observam os dragõ es da lagoa Sallas e
veem que seus focinhos sã o ricos em ouro brilhante, e seus
olhos de esmeraldas brilhantes e suas escamas triangulares
enormes, as pontas afiadas reluzindo sob o sol brilhante de
gelo sã o cravejadas com diamantes.
Tanto quanto sei os dragõ es da lagoa Sallas nã o morrem.
Eles existem para agora e sempre. Se um homem se mantiver
perfeitamente silencioso, ele vai ouvir os dragõ es cantarem
uns para os outros, talvez, contando sobre homens sobre que
criaturas muito diferentes eles sã o: tolos, perdidos e
assustados. Se um homem tiver paciê ncia e puder esperar, os
dragõ es determinarã o se ele é digno, e se ele for, como eu era,
os dragõ es vã o ensinar-lhe as Leis de Pale.
As cançõ es de amor deles me comoveram
indescritivelmente, o acasalamento dos dragõ es da Lagoa
Sallas é para toda a eternidade. Eles sã o a salvaçã o. Nunca
minta para um dragã o da Lagoa Sallas. Esta é uma Lei de
Pale.”
Rosalind parou de ler, franzindo a testa enquanto lia
novamente, silenciosamente, as ú ltimas linhas. Grayson
levantou a mã o e começou a esfregá -la. Nicholas jogou a
almofada de seda azul brilhante para uma cadeira de brocado
em frente a ele. E disse: — Dragõ es da Lagoa de Sallas soa
como um conto que saiu, bem para fora, de uma imaginaçã o
incrível. Pergunto-me o que é a Lagoa Sallas?
Rosalind disse pensativamente: — Um lugar sagrado,
talvez como Delphi. E monte Olyvan poderia ser o Monte
Olimpo, nã o poderia? Minha garganta está muito seca. Você
gostaria de um chá ?
— Com pã es de nozes? — Perguntou Nicholas, se
recuperando.
— Levante-se, Nicholas. Deixe-me primeiro ver sua
barriga. — Ele gentilmente levantou-se e esperou que ela se
voltasse para ele. No ú ltimo momento, antes que ela o
tocasse, ela viu que Grayson a olhava admirado, a boca
aberta.
Nicholas disse suavemente, pegando a mã o dela: — Sou
magro como um poste, Rosalind, nã o existe nenhuma carne
extra em mim. Qualquer homem que se permita ter ganho de
carne na barriga está condenado e vai ser cuspido em cima.
Esta é uma Lei de Nicholas.
Aquelas palavras, ditas com tal seriedade, a
desmontaram. Riso jorrou fora dela. Grayson nã o sabia se ria
ou se devia bater naquele homem que falava em termos tã o
amigá veis com Rosalind. Ela havia pensado em tocar com a
mã o na barriga dele para ver se era plana, — o que diabos
estava acontecendo ali?
— Oh, Deus, — ela disse, — a lei de Nicholas se aplica
para miladys também?
— Na verdade, ela se aplica sim. Ouça-me, porque falo a
verdade. Devo verificar sua barriga, Rosalind? Eu a proclamo
isenta desta lei quando você carregar minha... quando você
carregar uma criança.
Grayson pulou sobre os pé s e abriu a boca, só para fechá -
la quando viu o rosto de Rosalind. Os olhos dela eram
maliciosos. Ele conhecia aquele olhar. Ela lançou-lhe uma
olhada, enquanto ela caminhava até a corda do sino e deu um
puxã o. Quando Willicombe apareceu na biblioteca breves trê s
segundos depois, Grayson disse:
— Willicombe, estava esperando lá fora? De alguma
forma, percebeu que está vamos morrendo de fome?
— Eu estou desolado em anunciar que nã o há pã es de
nozes, jovem Grayson. Eu ouvi a cozinheira dizer que os trê s
ú ltimos foram roubados da cozinha dela, e entã o, ela ficou tã o
aborrecida que foi incapaz de preparar mais.
— Oh, querido, eu juro que nã o sou culpada, — disse
Rosalind.
— Desconfio que foi minha mã e, — disse Grayson. — Pã o
doce de nozes é sua fraqueza. E ela é falsa.
Rosalind suspirou. — É hora do almoço, no entanto,
Willicombe?
— Miss Rosalind, eu estava a caminho para buscar os
trê s. A cozinheira preparou fatias de presunto tã o magras que
você pode ver atravé s delas. — Willicombe enquanto falava,
olhou para o livro de Sarimund. Rosalind podia ver seus
dedos se contraindo. Curvou-se mais uma vez, segurando a
postura por um longo instante, entã o o efeito completo da
cabeça careca poderia ser apreciado.
Rosalind observou Grayson guardar cuidadosamente as
Leis de Pale no bolso da jaqueta enquanto seguiram o rastro
de Willicombe.
Nicholas disse, inclinando-se perto da orelha dela: — Eu
nã o poderia examinar o achatamento de sua barriga. Grayson
certamente me afugentaria com aquela espada cerimonial que
está sobre a lareira.
— Talvez se fossemos por trá s daquelas escadas, posso
beijá -lo rapidamente enquanto eu chupo meu estô mago para
dentro, para sua inspeçã o. — Rosalind disse e correu pelo
corredor.
Ele riu. — Volte Rosalind. Em vez disso, eu a alimentarei
com uma fatia de presunto.
Durante o almoço, Grayson relatou para seus pais a
trama de seu novo romance para distraí-los das Leis de Pale.
Os pais gostavam dele e sabiam o que ele estava fazendo, mas
o amavam e disseram-lhe que adoravam a ideia de ler sobre
um jovem estudante de Oxford duelando contra um demô nio
que colocou o coraçã o da sua amada dentro uma joia má gica,
por ter espalhado o boato de ter sido arrancada da coroa de
Sataná s. Nã o era ruim, Rosalind pensou, particularmente
porque Grayson estava inventando enquanto falava.
No momento em que a tia Sophie se levantou, Rosalind
puxou Nicholas para o pequeno quarto que a Condessa de
Northcliffe projetara para as miladys, duas dé cadas antes.
— Nã o, — Nicholas disse quando tocou levemente o rosto
dela com os dedos. — Nó s nã o devemos dizer nada a
ningué m, especialmente para sua tia e tio. Nó s nos
conhecemos há tã o pouco tempo. Dê -lhes mais um dia, pelo
menos, para testemunhar como estou deslumbrado com você .
Você é tã o suave Rosalind.
— Nã o queria admitir, mas você está certo. Tio Ryder
acreditaria que perdemos nosso juízo. Ele pode mandar
raptar você e enviá -lo de volta para Macau. Acha mesmo que
sou suave?
Ele tocou com a ponta do seu dedo o nariz dela. — Seu
tio Ryder nã o consideraria que seria juízo perdido; ele
acreditaria que seria luxú ria. Sua tia Sophie apresentaria
estrelas nos olhos com o romance, mas apó s breve reflexã o,
ela poderia concordar com tio Ryder. — Nada mais do que
desejo desenfreado, tudo da minha parte, já que você é tã o
inocente. Ele é um homem do mundo, eles diriam, e qualquer
um deve sempre tomar cuidado com um homem do mundo
quando se trata de uma jovem garota que se parece como
você . Linda. Você é mais suave do que asas de uma borboleta.
— Eu lhe direi que nã o sou tã o inocente... — ela
nervosamente corou um pouco. — O fato é Nicholas que nã o
pareço muito bonita.
— Talvez você esteja certa. Talvez você nã o seja muito
bonita.
Ela cruzou os braços. O pé dela bateu, bateu, bateu. Ele
ficou encantado. Ela disse por entre os dentes: — Você nã o
precisa ir tã o longe. Agora, esse negó cio de luxú ria — isso é
uma palavra muito estranha. Eu nunca pensei sobre luxú ria
antes. Se for a luxú ria que me faz querer pular em você e
beijá -lo até você amassar o tapete, entã o é uma coisa
poderosa. Acho que gosto. É por isso que você me pediu para
casar com você tã o rá pido, Nicholas? Já sentiu luxú ria por
mim?
Ele nã o queria sentir luxú ria por ela, nã o era o mais
importante, mas — ele inspirou profundamente. Verdade era
verdade, e deveria ser enfrentada. Ele disse: — Luxú ria é uma
coisa boa, mas nã o acredito que seja a luxú ria que nos
governa. — Bem a maior parte da verdade é que també m é
importante.
Ela olhou para ele com espanto. — Nunca diga isso!
Ele reteve o seu riso. Ela precisava reconhecer que era
mais do que isso. — Bem, nã o posso afastá -la inteiramente.
Eu nã o sou completamente louco de desejo por você . Você
percebe isso, nã o é ?
Ela disse lentamente, mais uma vez olhando a boca dele.
— Honestamente, nã o sei o que eu percebo Nicholas. Só
sei que é certo para mim, e você é o certo para mim, ningué m
mais, só você . Quando você beijou minha mã o nesta manhã ,
algo bem dentro de mim reconheceu que você foi feito para
mim.
Tã o rapidamente, e ela sabia? Ele sabia que era o
homem para ela també m, claro que era ele, mas ele nã o lhe
diria isso até que tivesse trocados os votos de casamento com
ela. Nã o até que ela fosse legalmente dele. Ele disse
suavemente: — Nem mesmo um dos trê s duques?
— Nem quero saber dos duques.
Ele riu novamente. Ele acreditava que havia rido mais
nos ú ltimos dois dias do que nos ú ltimos cinco anos. — Você
tem um humor que me agrada, — ele disse.
E entã o ela, pensativa, falou: — Mas há mais nisto,
Nicholas, e eu suspeito que você esteja bem ciente disso. Para
mim sã o esses sentimentos esmagadoras, esse
reconhecimento de você , mas eu acho que, — bem, parece
absurdo, eu sei, mas sinto que você estava me procurando,
como eu, talvez, estivesse procurando você .
— Procurando por você ? Ativamente procurando por
você ? E você estava procurando por mim? Quer dizer, o
destino guiou nossos barcos à mesma praia?
— Acho que nossos barcos ancorados um ao lado do
outro, com nossos arcos batendo juntos faz mais sentido do
que esse lugar chamado Pale com seus rios e dragõ es.
— Talvez o Pale nã o seja real — talvez seja uma
metá fora, como Grayson disse.
— Você acredita que seja real Nicholas. Pergunto-lhe,
real como o livro — as Leis de Pale, — será possível? Foi
Grayson quem o encontrou, que me levou a encontrá -lo. Foi o
destino ou algo mais forte? E você diz que seu avô possuia
uma có pia do livro. Aquele livro confunde a mente. Você sabe
que é demais. E quando eu começo a fazer esse tipo de
perguntas, eu fico com medo.
A coisa toda o assustaria també m, se ele nã o estivesse
habituado a isso tudo, por tanto tempo quanto ele estava. Ele
queria puxá -la contra ele, tranquilizá -la, mas sabia que seria
um tolo se o fizesse agora. Ele nã o podia estragar as coisas
agora. Mesmo essa conversa, ocorrida apenas um pouco longe
do seu tutor, era uma loucura.
Nicholas suspirou. Tudo aconteceu muito rá pido. Ele
disse:
— Se desejar, nó s poderíamos assistir ao teatro hoje à
noite. Meu advogado me disse, rindo, que meu pai se
esqueceu de estipular que o camarote do teatro, que ele
comprou há dez anos, seria dos meus meio-irmã os. Assim, ela
ficou para mim depois da morte dele. Ele me disse que meus
meio-irmã os ficaram um pouco angustiados com isso. Meu
advogado é um mestre de eufemismo. Eles queriam me ver
morto, isso sim.
— Seus meio-irmã os? Nã o sei nada sobre eles, Nicholas.
Ele olhou-a, horrorizado consigo mesmo. Ele havia falado
tã o livremente, sem considerar as possíveis consequê ncias, e
isso era muito diferente do seu modo habitual de agir. Bem, já
estava feito. A menos que, por acaso, ela quisesse conhecê -
los, e acreditar em tudo o que podiam lhe dizer em seus
vô mitos de ó dio para com ele. Nã o importava. Ela seria sua
esposa. Ela os encontraria, sem dú vida, e descobriria logo que
todos os trê s o odiavam. Ainda assim, apesar dele tê -la
conhecido há apenas dois dias, ele tinha a certeza de que ela
nã o hesitaria em lhe ser absolutamente fiel, para atacar quem
fosse estú pido o suficiente para insultá -lo. Ele sorriu, vaidoso.
Ningué m nunca tentou protegê -lo e ainda assim ele sabia que
ela o faria.
— Mas por que seus meios-irmã os o odeiam? Você é o
chefe da família de Vail. Devem a você o respeito deles, assim
como você deve a eles uma proteçã o.
— Eles me odeiam porque meu pai os ensinou a me
odiar, meu pai e Miranda, a mã e deles. Eu vi os dois mais
velhos, pela primeira vez desde o meu regresso, na quinta-
feira à noite, na noite que eu a vi pela primeira vez. Eles serã o
pragas? Nã o sei, mas nã o me incomoda — seus olhos escuros
brilharam com força. — E eles seriam tolos em incomodá -la.
Agora, você gostaria de ir comigo nesta noite? Com sua tia e
seu tio, claro.
— Você já pediu ao tio Ryder, nã o é ?
— Sim. Um homem deve conhecer o guisado antes de
levar a colher à boca.
Ela riu. — Foi uma terrível metá fora. O que vamos
assistir?
— É Charles Kean intrpretando Hamlet. Ele é filho de
Edmund Kean, nã o tã o bem sucedido quanto seu pai, mas
ainda assim, eu soube que, depois de praticar seu ofício por
vá rios anos, na Escó cia, ele retornou a Londres e fez este
papel, ele pró prio. Você gosta de Shakespeare?
— Ah, sim, muito obrigada. Eu sempre acreditei, no
entanto, que uma mulher trouxe tristeza para Shakespeare e
que foi esse o motivo que conduziu Kate para um fim tã o
miserá vel. Uma vingança. Quer dizer, você pode imaginar
uma mulher ajoelhada diante de seu marido e prometendo
fazer tudo o que ele deseja?
Seus olhos quase se cruzaram. Ele engoliu. — Bem,
apenas talvez...
Ela colocou levemente os dedos sobre a boca dele. —
Nã o, nã o deixarei você cavar um grande buraco. Você é um
homem. Tia Sophie diz que se uma mulher for astuta e
imaginativa, ela pode gerenciar facilmente um homem — ela
acariciou o braço dele. — Nã o, nã o gema. Agora, quando você
deseja contar a todos, Nicholas? Talvez amanhã ? Domingo
seria um dia esplê ndido para anunciar nosso noivado para
todos. Quando você deseja se casar?
— Deixe-me pensar sobre isso, — disse ele, olhando
sempre para o rosto dele.
— E sobre as Leis de Pale?
Ele sentia tal urgê ncia antes, mas estranhamente, isso
nã o o preocupava agora. Agora ele possuia tempo, já que ele
possuia a chave — ou seja, ela. — Diga a Grayson que
continuaremos com ele amanhã à tarde.
Ela assentiu com a cabeça. — També m vou dizer a
Grayson para convidar uma moça para o teatro esta noite. Ele
é muito popular, você sabe. As jovens miladys acham que ele
é muito româ ntico.
7

Miss Lorelei Kilbourne, filha mais velha de cinco filhas


do Visconde Ramey, nascida e criada em Northumberland, e
em Londres para sua primeira temporada, havia, até esta
noite, adorado Grayson Sherbrooke somente de longe.
Rosalind falara com ela vá rias vezes e conseguiu ouvir, sem
rir, os desabafos da lady sobre o físico magnífico de Grayson,
seus olhos azuis tã o lindos, tã o charmoso quando ele sorria e
os livros, igualmente brilhantes. Entã o, quando Grayson deu
de ombros e disse que nã o poderia pensar numa jovem em
particular para levar ao teatro em tã o pouco tempo, ela
apresentou Lorelei Kilbourne para a consideraçã o dele. Na
expressã o dele perfeitamente em branco com o nome da
mocinha, Rosalind deu um soco no braço dele. — Você é um
tolo muito alheio. Você a conhece, Grayson. Acredito que você
mesmo já chegou a falar com ela. Pergunte a ela, ela o adora,
lhe admira a ponto da ná usea. Mesmo se ela já tiver um
compromisso, eu sei que ela o deixará por você .
— Hmmm, — Grayson disse. — Lorelei é um lindo nome.
Nã o é comum. Estranho que nã o me lembro. Eu gostaria de
perguntar para os pais dela por que selecionaram este nome
especial para ela. Talvez eles pensassem em sereias, talvez. —
— Grayson, inferno abençoado, o tempo está acabando.
Vá à Praça de Kimberly e convide-a. Que é onde ela mora, no
nú mero 23.
— Ela é a moça pequena? Tímida, fica muito corada?
Tem o cabelo de cor vison glorioso?
Vison? Confie em um escritor. — Sim, ela tem o cabelo
da cor mais escura que já vi. Tímida? Nã o, comigo ela nã o era
tímida. Nã o vi um ú nico rubor nas bochechas dela. Aceite,
você é o heró i dela. Vá agora.
Grayson riu quando tocou levemente com a ponta do
dedo o rosto dela. — Deixa-me pesar isso. Eu prefiro me
sentar em um camarote de teatro ao lado de uma garota
bonita que me adora... ou me sentar ouvindo vozes altas,
amigos bê bados, arrotos? Isso é muito difícil. Ah, lá estã o
meus pais sentados a nã o mais de dois passos de mim,
Rosalind. Isso nã o se torna uma pergunta tã o fá cil, agora, nã o
é?
— Você é um tolo, seus pais nã o estarã o empoleirados no
seu ombro. Eles nã o sonhariam em desaprová -la, com todos
os elogios que ela, sem dú vida, dará sobre você , seu cabeça
oca. Eles, provavelmente, se juntarã o a ela, tornando-o
insuportá vel. Grayson, se nã o pedir, vou causar-lhe muito
mal. Você sabe que eu posso...
Grayson lembrou-se daquele dia, há muito tempo atrá s,
em que ela havia se escondido nas sombras em uma varanda,
do segundo andar da casa de Brandon, esperando por ele.
Quando ele andou debaixo dela, assobiando, cuidando de seu
pró prio negó cio, ela jogou um balde de á gua e sabã o gelados,
nele, tudo porque seu feio cã o pug: Jasper havia mastigado os
chinelos dela e ele teve a coragem de rir. — Tudo bem, vou
dar a volta e falar com ela. Isso faz você feliz?
— Nã o precisa casar com ela, Grayson, entã o nã o pareça
tã o explorado. Mas você sabe, agora que pensei nisso, você
está quase maduro — como tio Douglas diz — para conseguir
ser um marido decente. Nã o?
Grayson parecia pronto para correr dela. Entã o, começou
a olhá -la pensativo. — Lorelei, — disse ele, estudando uma
urna grega em cima da lareira, — soa bem na língua, nã o
acha? — E ele se afastou, assobiando.
Ela foi atrá s dele: — Toda essa adoraçã o para você , um
idiota de primeira ordem, quase me faz engasgar.
Ele riu, acenou os dedos para ela, mas nã o se voltou.
8

O Teatro Royal, Drury Lane

Rosalind disse por trá s da sua mã o, para a tia Sophie: —


Kean pausa muito tempo entre as frases, é difícil saber se ele
vai acabar declamando seu monó logo. Ophelia, pobre dela,
pensava que ele havia acabado e começara suas linhas, as
suas frases do texto. — Mesmo daqui, eu posso ver o olhar
desagradá vel que ele lançou a ela, e entã o, ele continuou
como se ela nã o existisse.
— Ah, — Tia Sophie sussurrou perto da orelha dela. —
Mas há paixã o nele, minha querida, bastante luz irradia em
torno dele e as poses dramá ticas, tã o emocionante, tã o
sugestivas, — e você deve olhar para os conjuntos de palco
encantadores, Rosalind. Dizem que ele se esforça com todo o
seu lado artístico para fazer todo o cená rio nas configuraçõ es
exatas.
— Ah, tia Sophie, você está rindo de mim?
— Uma pequena risada, nada mais. Vou dizer que ele
nã o é seu pai, mas ele faz a parte bem o suficiente.
Nicholas sentou-se calmamente, os braços cruzados
sobre o tó rax. Ele parecia quase cochilando.
Rosalind cutucou-o nas costelas. — Nã o ouse cair
adormecido, Nicholas. Seu ronco seria a ruína de todos nó s.
Virou-se lentamente para sorrir para ela. Era apenas um
sorriso, mas lhe atingiu. Rosalind realmente sentiu seu
coraçã o bater baixo, pesadamente sobre os dedos dentro dos
seus sapatos de cetim brancos. Eu o vi pela primeira vez
apenas duas noites atrá s, ela pensou; Só esta manhã senti
sua boca beijar a minha mã o, tã o sem sentido no decorrer das
coisas, mas ele fez o meu mundo virar de cabeça para baixo.
Ou o lado direito para cima. Nã o importa. O que ele fez, ele
me fez dele.
— Nã o, — ele sussurrou, a respiraçã o quente sobre a
face dela, — nã o me olhe assim. Eu sou um homem fraco,
Rosalind, me poupe.
— Fraco... — ela apertou a mã o sobre a boca para
sufocar o riso. Ela olhou para Grayson e Lorelei Kilbourne.
Grayson parecia fascinado. Ela conhecia os sinais.
Infelizmente, nã o eram causados pela fascinaçã o com a
companheira dele, era com o drama que se desenrolava no
palco. Ele estava sentado ligeiramente à frente, as mã os sobre
os joelhos, absorto. Quanto a Lorelei, ela nã o estava olhando
para Kean. Ela estava olhando para Grayson e adorando-o, o
olhar na face dela deixou-a muito bonita e fez Rosalind querer
chutá -la. Ela era um tapete esperando para ele pisar em
cima. Mas espere, ela, Rosalind de La Fontainem olhava
Nicholas assim? Como uma mentecapta obcecada? Oh, Deus,
será possível? Ela se empoderaria de si mesma. Ela possuia
dignidade.
Nicholas susurrou — Lorelei é adorá vel e Grayson está
fascinado.
— Na verdade nã o, — disse Rosalind, os olhos se
estreitaram no rosto de Grayson. — O peixe cego está mais
interessado no que está acontecendo no palco.
— Você está errada. Ele está sendo inteligente; a
aparente indiferença para ela a cativa e ele bem sabe disso.
— Ela já está cativada por ele. Mas se você estiver certo,
isso significa que ele gosta dela. E isso significa que ele
provavelmente vai torná -la a heroína sitiada em seu pró ximo
livro.
Kean gritou algo para o pú blico, apertou as mã os no
peito, caiu e curvou-se, desmoronou graciosamente em uma
espreguiçadeira, sua postura artisticamente arranjada. A
cortina verde desceu. Aplausos soaram, altos e sustentados.
Quando os aplausos, assobios e bater dos pé s finalmente
diminuíram o bastante que até se podia ouvir moças vestidas
de laranja chamando, sinalizando o intervalo, Rosalind disse
a Nicholas: — Esta é um lindo camorote. Podemos ver tudo e
todos. Vieram tantas pessoas. Aposto que quase todos os trê s
mil assentos estã o ocupados hoje à noite. Que maravilha seu
pai se esquecer de que era o dono.
— Miranda está furiosa porque ela nã o pode colocar as
mã os no camarote. —
Ela viu que ele estava olhando em direçã o a um
camarote a sua esquerda. Ela seguiu sua linha de visã o e viu
dois jovens olhando-a.
— Seus meio-irmã os, eu presumo?
Ele assentiu. — O mais velho, aquele moreno alto que
notavelmente se parece comigo, é Richard Vail. O jovem
pá lido ao lado dele que parece um poeta atormentado é
Lancelot. Dos dois, acho que ele é o mais cruel, uma vez que
ele odeia o jeito que aparenta, odeia seu nome, deseja que eu
esteja morto a seus pé s e precisa de apenas um estilete
afiado. Ou talvez ele prefira um bom pau pesado.
— E o irmã o mais novo?
— Aubrey é o nome dele. Ele tem apenas dezoito anos,
está em Oxford, para seu desenvolvimento. Nã o faço ideia do
cará cter dele... — aqueles dois nã o estã o sorrindo.
— Nã o, nã o estã o. Eles provavelmente estã o se
perguntando por que estou com os Sherbrookes, uma
poderosa família que nã o ousam perturbar e, claro, por que
estou com você , que deve ser ligado ao Sherbrookes. Talvez
eles venham nos visitar durante o intervalo. Ah, acredito que
estã o saindo do camarote do seu amigo. — Ele esperou, ainda
parecendo uma pedra.
Ela sussurrou perto da orelha dele, — nã o os jogue do
camarote, Nicholas, você pode machucar algum inocente
abaixo de nó s.
Lançou-lhe um rá pido sorriso.
Nã o mais de quatro minutos mais tarde, a imensa
cortina no fundo do camarote foi afastada e Richard Vail
pisou dentro. Imediatamente, ele foi em direçã o a Ryder e
Sophie Sherbrooke e curvou-se. — Milord, milady. Eu sou
Richard Vail. Este é meu irmã o, Lance. Nã o sabíamos que
conheciam nosso meio-irmã o, Nicholas.
Ryder assentiu com a cabeça para os dois jovens, ciente
da tensã o que se derramava para fora deles. Sempre um
cavalheiro até os pé s, Ryder disse agradavelmente: — Um
prazer. Permita-me apresentá -lo para o resto do nosso grupo.
— E ele fez. — E claro, você está bem familiarizado com seu
pró prio irmã o.
— Meio-irmã o, — Lancelot disse.
Houve um lacô nico aceno de Lancelot e Richard, e um
sorriso sem graça de Nicholas. Porque Rosalind estava
sentada perto de Nicholas, ela foi intimamente examinada.
Ela odiou porque aquele olhar estava cheio de malícia.
Lancelot disse para Grayson: — Eu li seus livros, Sr.
Sherbrooke. Pensei em escrever somente um livro, talvez um
livro de memó rias, uma vez que a minha vida tem sido muito
fascinante, mas estou tã o ocupado, sabe...
Grayson assentiu com a cabeça. — É tã o frequente o que
se passa com as pessoas que conheci. Você deve estar muito
contente em ver seu irmã o novamente depois de uma
ausê ncia tã o longa.
— Meio-irmã o, — Lancelot disse.
Um silê ncio constrangedor encheu o camarote. O ar ficou
tenso com animosidade, mas a entranhada civilidade ganhou.
Isso e a presença de Ryder e Sophie Sherbrooke. Richard
assentiu com a cabeça. — Oh, sim, voltar a ver Nicholas nos
deixa contentes, mesmo que ele só seja nosso meio-irmã o,
como Lance acabou de dizer.
Grayson pareceu surpreso com isso. — Que importa?
Um irmã o é um irmã o, você nã o acha que é verdade?
Finalmente, depois de um momento, Richard assentiu
com a cabeça. — Como você disser, Sr. Sherbrooke.
Ryder nã o era cego. Ficou claro que Rosalind havia se
apaixonado por Nicholas Vail, e que nã o sabia quase nada
sobre ele, e agora, ali estavam os dois meio-irmã os que
gostariam muito de matar o homem. Todos os rumores que
Ryder ouvira eram obviamente verdadeiros.
E agora sua Rosalind estava apaixonada por um
estranho, e ele sabia que ela havia já tomado uma decisã o. E
ela o conhecera somente a pouco tempo. Ryder suspirou.
Bem, quanto tempo ela levou para se apaixonar? Ele faria
perguntas imediatamente, começando por aquele ó dio que os
meio-irmã os mantinham por Nicholas e focando-se em
qualquer perigo que Rosalind pudesse correr. Ele olhou para
Nicholas, que parecia calmo e um tanto irô nico, e havia
intensificado sua arrogâ ncia natural, pensou Ryder, porque
seus dois meio-irmã os mostravam tamanha antipatia por ele.
Ryder desejou poder deixar Londres naquele mesmo dia,
à noite e colocar um guardiã o com Rosalind e levá -la de volta
para Cotswolds, onde ela estaria a salvo daquele jovem e de
seu passado misterioso. Aquele homem que guardava
segredos, bem como o pai de Ryder.
Havia també m a situaçã o do passado de Rosalind. Ela
nã o havia contado nada à Nicholas ainda? O que aconteceria
quando ela o fizesse?
Ele ouviu Lorelei rir. Ele deveria ter dito a Sophie para
soltar uma dica no ouvido da garota que nã o era aconselhá vel
para ela mostrar a sua adoraçã o por Grayson tã o
descaradamente? Por outro lado, Grayson parecia que se
estava se divertindo bastante, entã o, talvez, a jovem soubesse
exatamente o que estava fazendo. Tantos redemoinhos, tanta
confusã o. Graças a Deus, Douglas e Alex chegariam ao
pró ximo dia. Ele precisava de reforços, e muito. Conversava
facilmente com os meio-irmã os, sabendo que olhavam
Rosalind, sua raiva fervendo. Richard Vail finalmente
perguntou para Rosalind se ela estava gostando de Londres.
— Ah, sim, já vi tanta coisa. Todos sã o muito simpá ticos,
sabe. Você gosta de Londres também, Sr. Vail?
Ele assentiu. — Você rapidamente tornou-se
familiarizada com o nosso meio-irmã o.
— Eu certamente espero que sim, — ela disse, com um
sorriso ensolarado.
— E, só , muito, recentemente chegou a Londres, —
Lancelot disse. — Acho... — ele fez uma pausa, e porque era
tã o bonito, pareceu uma pausa delicada.
Rosalind preencheu imediatamente aquela pausa. —
Acho que, sem dú vida, vai dizer que tenho imenso bom gosto,
nã o é isso o você queria dizer, Sr. Vail?
— Nã o, realmente, — Lancelot disse. Ele lançou um
olhar para o irmã o, mas Richard apenas encolheu os ombros
e preocupou-se com a unha do polegar.
— Mas, claro que sabe quando Nicholas chegou a
Londres, nã o é ? — Rosalind acariciou suas saias. — Afinal,
você s sã o uma família.
Houve um momento de silê ncio eterno e, em seguida,
Richard e Lancelot Vail curvaram-se perante Ryder e Sophie e
deixaram o camarote.
— Nã o foi delicioso, — Rosalind disse por trá s da mã o. —
Eu nã o acredito que serei tremendamente apaixonada por
seus irmã os, Nicholas.
— Confie em mim, nã o vã o gostar de você també m, — ele
disse.
O teatro escureceu. Rosalind disse baixinho para
Nicholas, quando a espessa cortina verde foi arrastada para
cima:
— Nã o se preocupe, Nicholas, nã o vou deixar aqueles
tolos miserá veis machucá -lo, e eles querem, especialmente
Lancelote, o lindo estudante... — ela levantou o braço e
mostrou o mú sculo. — Eu poderia destruí-lo.
Ele riu, simplesmente nã o conseguiu evitar. Entã o,
clareou garganta. Riso sendo jorrado para fora assim,
significava perda de controle, nã o importava que fosse por
apenas um breve período de tempo.
Ryder, que ouviu aquilo, suspirou. Os saltos dos sapatos
de Rosalind estavam fincados tã o profundamente que eles
provavelmente estavam perto de competir com a escavaçã o
de qualquer fazendeiro Mandarim da China.
Eventualmente, depois de Laertes artisticamente matar
Hamlet com uma espada envenenada, e o palco estar repleto
de corpos, foi necessá rio uma boa meia hora para percorrer o
caminho por entre a multidã o até lá fora; entã o, mais vinte
minutos para o transporte ser trazido. Eles se dirigiram à
cidade de Kilbourne, para a casa da cidade em primeiro lugar,
todos eles esperando na carruagem enquanto Grayson
escoltava Lorelei pelas escadas acima, com degraus de pedra
largos até à porta da frente. Quando a porta se abriu,
Grayson rapidamente percebeu que, diretamente atrá s do
mordomo, estava o pai de Lorelei, olhando atentamente sua
pequena filhota. Ele estava preocupado com o quê ? Grayson
se perguntou. Ele fez ao milord Ramey uma reverâ ncia e
acenou em direçã o ao pai e mã e dela, que gentilmente
acenaram de volta, provando ao Milord Ramey que sua
preciosa filha nã o fora desrespeitada, e finalmente Grayson
fez suas despedidas.
— Sr. Sherbrooke?
Grayson se virou. — Sim, milady Kilbourne?
— Quer vir a um pequeno recital amanhã à tarde? Todos
os jovens virã o. Talvez vinte ao todo. Estamos lendo
Frankenstein, de Mary Shelley. — Ela baixou suas pupilas
um pouco e encarou-o atravé s de cílios grossos e adorá veis.
— Eu o recomendei. Senti que lhe agradaria.
Bem, ele ficou agraciado. Era um de seus romances
favoritos. No entanto, Grayson nã o queria nada mais do que
ser deixado sozinho com Rosalind e tê -la a traduzir as Leis. —
Bem, sabe, milady Kilbourne, temo que...
— Na verdade, depois leremos um capítulo de seu livro,
de seu mais recente romance, milord e apreciaremos muito se
nos facultar os seus conhecimentos para uma discussã o
sobre os vampiros.
— Ah, bem, nesse caso, — talvez um capítulo ou dois
seja estimulante, — entã o fica acertado.
Quando Grayson subiu de volta na carruagem parecia
estar tã o contente consigo mesmo, que Rosalind queria bater
nele. Depois que ele lhes disse o que ele faria na tarde do dia
seguinte, Rosalind zombou dele. — Você é muito fraco. É uma
pena.
— Está chateada porque eu nã o estarei em casa para servi-
la. Alé m disso, esta reuniã o recital nã o vai demorar muito. A
nã o ser, claro, que desejem ler uma parte considerá vel do meu
livro, entã o... — ele fez um encolher de ombros detestá vel. — Se
eu nã o voltar em tempo ú til, Nicholas pode levá -la para um
passeio no parque.
Rosalind bufou. — Se todos os jovens presentes forem
como Lorelei, você nã o vai escapar nem em uma semana... —
ele lançou-lhe um sorriso muito satisfeito. Seu pai riu. Sua
mã e bateu as mã os.
9

Ryder nã o estava rindo quando seu irmã o Douglas


Sherbrooke, o Conde de Northcliffe, lhe disse em particular,
na tarde seguinte:
— Eu estou familiarizado com a família de Vail,
particularmente o avô daquele Nicholas, Galardi Vail. Odeio
dizer isso, porque parece tã o absurdo, mas disseram-me que
ele nã o era deste mundo.
— Nã o era deste mundo? De que mundo, entã o? O que
diabos isso significa, Douglas?
Douglas deu de ombros. — O fato é que os rumores sã o
que Galardi Vail era uma espé cie de má gico, um mago das
sortes. Quanto a sua esposa, acredito que ela morreu no
parto.
— Pergunto-me, — Ryder disse: — Ele era realmente um
má gico, um feiticeiro, ou ele simplesmente acreditava que
possuia poderes?
— Nã o sei. Rumores eram abundantes sobre
encantamentos estranhos, cantados em uma língua estranha,
fumaça azul erguendo-se acima da floresta, estranhas luzes
vermelhas brilhando por trá s das cortinas da casa. Absurdo, e
Galardi criou o jovem Nicholas quando o pai dele o removeu
da casa no episó dio do seu segundo casamento. Ele estava
com cerca de cinco anos de idade, creio. Nicholas ainda era
um menino quando o avô dele morreu. Bem, eu diria que
supostamente morreu. Nã o havia nenhum mé dico no
atendimento e ouvi rumores nã o havia nenhum corpo... —
Douglas deu de ombros. — Isso soa como um dos romances
de Grayson, mas isto é o que ouvi. Lembro-me porque é muito
fora do comum... — de quem você ouviu isso?
— Minha principal fonte é o curador do Tysen, Sr. Biggly,
há dois anos, quando ele chegou pela primeira vez em
Glenclose-on-Rowan. Eu e o Alex está vamos visitando Tysen e
Mary Rose, e ele falou de sua vida pré via em Gorton-
Wimberley, uma pequena aldeia em Sussex, perto de onde
viveu este velho estranho. O Sr. Biggly poderia tecer um conto
excelente, e foi o que pensei até que, por acaso, ouvi um
amigo do pai de Nicholas Vail, dizer a mesma coisa. Ele
també m alegou que o pai dele era um feiticeiro.
— E o jovem Nicholas?
— Apó s a morte de Galardi, ele disse que o jovem
Nicholas simplesmente desapareceu. Agora, Nicholas Vail
reapareceu e assumiu o título. Posso perguntar do que se
trata tudo isto? Como você conheceu Nicholas Vail? També m
sabe que o pai aquele jovem Nicholas o deserdou, deixando-
lhe apenas o que nã o conseguiu evitar, o menos possível?
Douglas balançou a cabeça. — O jovem é um
imprestá vel?
— Acho que nã o, Douglas... — suspirou Ryder. — Antes
de Sophie e Alex se juntarem a nó s, deixe-me dizer-lhe que
Rosalind está apaixonada por ele. Ela o conheceu quinta à
noite no baile Pinchon. Quatro dias. Eu odeio acreditar nisso,
mas você deveria ver o jeito que ela olha para ele. Nossa
garota está apaixonada, Douglas, demais, profundamente. E
você conhece Rosalind. Ela nunca faz nada pelo meio. É por
isso que perguntei o que você sabe sobre ele.
Douglas Sherbrooke hesitou, mas olhou para seu irmã o.
— Eu admito que estou velho, Ryder — mas quatro dias?
— Eu sei, també m fiquei admirado e com dú vidas.
Rosalind vê o que ela quer e vai atrá s disso. A coisa é que ela
també m tem excelentes instintos. Lembra-se do homem que
foi a casa de Brandon para nos vender maravilhosos rolos de
tecidos franceses, a um preço maravilhoso?
Douglas riu. — Ah, sim. E Rosalind o pegou, mas foi bom
isso.
Ryder disse: — Ela tocou no que ele estava vendendo, era
ainda uma criança, supostas peças de brocado fino e, com
certeza, havia buracos de traça no material.
— Ele provavelmente pensou que com todas aquelas
crianças ali, ele faria uma quantia de dinheiro muito grande
mesmo, e estaria bem longe antes que fosse descoberto.
Entã o, Rosalind aprova Nicholas Vail. Mas e o Nicholas Vail?
Para que lado o vento sopra com ele?
— Ele sopra na direçã o dela.
— Disseste-lhe que você é o guardiã o de Rosalind? Ele
perguntou?
Ryder abanou a cabeça. — Vou deixá -la dizer a ele,
quando, e, se chegar a esse ponto. Acho que nem sequer
ocorreu-lhe que pode haver uma serpente no jardim. Nicholas
Vail é um par do Reino. Sangue e fundos sã o importantes.
— Talvez ela queira esperar até ter a certeza sobre ele.
Rosalind pensa muito bem.
— Em alguns aspectos, sim, mas em outro, Douglas...
— Sim. Quem é Nicholas Vail? O que você quer que eu
faça Ryder?
— Primeiro quero conhecer o jovem, tomar a medida. Em
seguida, fale com seus contatos no Ministé rio das relaçõ es
exteriores. Você contou muitas vezes que o que eles nã o
sabem, podem facilmente descobrir — Veja o que sabem dele,
de sua família, de seus meio-irmã os, dois dos quais conheci
ontem à noite no Drury Lane. Há um ó dio profundo Douglas.
— Você també m possui vá rios conhecidos com um
alcance no submundo de Londres. Pergunte-lhes se sabem
alguma coisa sobre ele. Nicholas Vail afirma que viveu em
Macau, durante os ú ltimos cinco anos. Eu descobri de nosso
advogado que ele está no transporte marítimo e que é bem
sucedido e nã o precisa do dinheiro de seu pai, apesar dos
boatos que nos fazem acreditar que ele está sem um tostã o, e
à procura de uma herdeira. Quanto dos nove anos antes ele
se estabeleceu em Macau, ele nã o foi específico. Eu tenho que
ter certeza que Rosalind estará segura com ele.
Douglas assentiu com a cabeça. — Entã o ele tem vinte e
seis anos, quase da idade de Grayson.
— Mas ele é mais velho que Grayson em experiê ncia,
experiê ncia difícil, do tipo que trá z muito pró ximo à morte.
També m acredito que ele era totalmente cruel, provavelmente
precisava ser para sobreviver. Ele seria um homem perigoso
de se cruzar.
— Por conta pró pria desde os doze anos de idade — isso
també m endureceria um menino ou ele nã o sobreviveria.
Ryder assentiu com a cabeça. — Entã o, ele saiu apó s a
morte do seu avô , no entanto, Você diz que o curador de
Tysen falou sobre nã o ter nenhum corpo para enterrar. Que
droga, Douglas. — Ryder chocou seu punho contra a palma
da mã o. — E há este livro antigo que Grayson encontrou em
um quiosque no Hyde Park, escrito por um homem cujo nome
idiota é : Sarimund. Ele tem intitulado As Leis de Pale e está
em có digo. Có digo indecifrá vel, mas acho que você vai
concordar.
— E deixe-me dizer o que me assusta muito até os dedos
dos pé s: Rosalind consegue lê -lo, rapidamente, nã o tem
problema nenhum. Inferno abençoado, como o diabo você
pode explicar isso? Eu certamente nã o posso. Há algo
acontecendo aqui... e os jovens sabem demais sobre tudo o
que faço. Eu odeio isso.
— Acalme-se, Ryder, vamos encontrar tudo o que
precisamos saber, e rapidamente. Gostaria de ver o livro
també m. Có digo, você diz? Inquebrá vel? Só nossa Rosalind é
capaz de decifrá -lo?
Ryder assentiu com a cabeça. — Isso nã o é bom,
Douglas. Você sabe que nã o é .
10

Preciso lhe dizer, tem que ser, tem que ser, abençoado
inferno, já nã o tenho escolha. Rosalind odiou, mas precisava
ser feito. Onde estava o Nicholas? Por que ele precisou sair no
final desta tarde, de todas as tardes? Ela nã o podia perder a
determinaçã o. Isso seria completamente desonroso. Mas, e se
ele olhasse para ela como um caracol indesejado no jardim, se
ele se levantasse e se fosse embora?
Nã o, com certeza ele nã o vai me bater, mas talvez ele vá
me lançar aqueles perigosos e frios olhares e ir embora. Nã o
importa. Eu preciso lhe dizer, nã o há escolha.
Willicombe abriu a porta e disse em sua voz brilhante, —
Milord Mountjoy, Miss Rosalind.
Nicholas engatilhou uma sobrancelha escura na parte de
trá s da careca brilhante de Willicombe e sorriu para ela.
Rosalind saltou sobre seus pé s. Ela viu que willicombe nã o
estava feliz em deixá -los sozinhos. Ela desejava que ele
soubesse, desejava que todos soubessem que ela e Nicholas
eram noivos. Isso removeria o olhar malicioso da face dele.
Bem, talvez nã o.
Willicombe olhou primeiro um, depois o outro. Ele
limpou a garganta. — Miss Rosalind, devo perguntar se dona
Sherbrooke está disponível para, er... vir e conversar com os
dois? Talvez guiar sua conversaçã o para um plano adequado
e elevado?
— Oh, nã o, Willicombe. Nó s estaremos aqui por uma
mera questã o de dois minutos, nã o mais. Milord é um
cavalheiro de alta moral. Ele nasceu em um plano elevado.
—Nã o sei se nasci elevado, mas certamente fui criado
assim. Nã o se preocupe.
Willicombe ainda nã o estava feliz, e entã o ele fez apenas
um pequeno arco, desta vez nã o concedendo sobre eles a
gló ria completa da cabeça careca.
Assim que as portas da sala foram fechadas, Rosalind
agarrou a mã o de Nicholas e puxou-o até as janelas de arco.
— Nicholas, você está atrasado.
— Nã o mais que um minuto ou dois. O que é isto? O que
está errado, Rosalind?
Ela deixou cair a mã o, começou a torcê -las e olhou para
seus pé s.
Ele olhou para aquelas mã os se torcendo, uma
sobrancelha voando para cima. — O que é isso? Você está
obviamente chateada. Diga-me o que está errado, Rosalind.
— Meu nome. É o meu nome que está errado.
— Seu nome? Sim, bem, La Fontaine é fora do comum.
Mas como você me disse, seu nome é um nome que deve ser
respeitado. Rosalind de La Fontaine. Gosto do seu nome,
Rosalind, que combina com você . O que tem ele?
— Nã o sabe quem eu sou, Nicholas, você realmente nã o
sabe. Você nã o sabe por que Ryder Sherbrooke é meu
guardiã o. Você nã o sabe nada sobre mim.
— Bem, nã o. Realmente nã o me ocorreu descobrir algo
sobre você . Estivemos bastante ocupados desde que nos
conhecemos. Mas você vai se sentir livre para me dizer
quando lhe aprouver.
— Você está lindo hoje, Nicholas. Eu gosto da camurça
de seu casaco. Muito elegante.
— Obrigado. Estou a ouvir.
— Bem, a coisa é ... — ela parou, entã o balançou a
cabeça e foi até ao final da sala e, em seguida, voltou para ele.
— Tudo bem, eu vou cuspir. Ouço fantasmas, — ela disse,
chegando a parar mesmo à frente dele. — Conheço
fantasmas, eu vivo com eles por dez anos. Eu nunca os vi,
mas já ouvi murmú rios de cantos sombreados ou, mais
frequentemente, nos meus sonhos.
— Bem, há dez anos você ouve fantasmas. Fale-me sobre
isso.
— Eu contarei, eu vou. Ouvi fantasmas desde... bem,
desde que o tio Ryder encontrou-me espancada até à quase
morte, em um beco perto das docas, em Eastbourne.
Ele ficou muito mais atento ainda. Como isso poderia
ser? — Nã o compreendo, — ele disse lentamente. — Você foi
espancada quase até à morte? Você era apenas uma criança.
O que é isto, Rosalind?
— Eles acreditavam que eu teria cerca de oito anos de
idade. Deixaram-me escolher um mê s e um dia para o meu
aniversá rio e, claro, peguei o dia seguinte, depois que me
contaram. Tio Ryder me levou para casa de Brandon — é
onde ele leva as crianças que foram abandonadas,
machucadas ou vendidas, crianças em situaçõ es terríveis. —
Ele as cria, ama, educa e lhes dá esperança. Ele me disse que
os mé dicos nã o sabiam ao certo se eu viveria, mas eu
sobrevivi. Mas, veja, quando eu finalmente recuperei minha
consciê ncia, eu nã o sabia quem eu era. Ainda nã o sei. Minha
memó ria nunca mais voltou. Só os fantasmas à espreita no
fundo da minha mente, e eles nunca vem à frente, nunca me
dizem quem eu sou.
Ele estudou seu rosto pá lido. — Ainda nã o sabe quem
você é ?
— Nã o. Os fantasmas veem e eu lhes pergunto, mais e
mais, quem eu sou, mas nunca entendi o que eles dizem e se
de fato eles pró prios sabem.
— Mas seu nome — La Fontaine.
— Eu selecionei o nome eu mesma quando eu fiz dez
anos, porque gostava de fá bulas de Jean de La Fontaine.
Simples assim. Eu sou mais ficçã o do que uma as fá bulas
dele — pelo menos as fá bulas carregam uma moral. Nã o
tenho nada. Nã o sei quem eu sou. No inicio, tio Ryder e tio
Douglas tentaram descobrir sobre mim, mas nã o puderam
descobrir nada. Entã o, decidiram que quem tivesse tentado
me matar poderia ainda estar por aí e ainda me quer morta.
Se algué m me odiava o suficiente para tentar me matar, entã o
devo ser de muito pouco valor. Ou nã o valho nada mesmo.
Nicholas nunca havia considerado algo assim, nunca.
Nã o importava. Ele odiava que os olhos dela estivessem
cheios de lá grimas, odiava sua palidez. Ele puxou-a contra
ele e a
beijou, suavemente, como se ela tivesse sido espancada, ele
nã o queria machucá -la mais. — Eu sinto muito, Rosalind.
Ela se afastou dele. — Nã o, nã o, você ainda nã o
entendeu Nicholas.
— Eu entendo que algué m tentou matar uma criança,
mas você sobreviveu graças a Ryder Sherbrooke. Eu vou ser
grato a ele pelo resto da minha vida.
— Sim, sim, claro, mas nã o é isso Nicholas. Você nã o vê ?
— Ela puxou uma respiraçã o profunda. — Você é o sé timo
Conde de Mountjoy — um Conde, Nicholas, um par do Reino.
Você possui uma linhagem impressionante, Considerando
que, bem, para dizer claramente, eu nã o sou ninguém. Sinto
muito, que eu nã o tenha dito isso imediatamente quando você
me pediu para casar com você , mas a verdade é que
simplesmente nã o pensei nisso. Eu queria muito beijá -lo e
tudo aconteceu tã o rapidamente e nó s já fomos atirados à s
Leis de Pale, tentando descobrir o que tudo aquilo significa, e
simplesmente nã o pensei sobre isso, até que eu estava
deitada na cama, ontem à noite, e me bateu no nariz. Nã o
posso fazer isso com você . Nã o podemos nos casar, Nicholas.
Na verdade, é com você que eu nã o posso me casar.
Nicholas se afastou dela e foi à s janelas de arco. Ele
puxou para trá s o cortinado e olhou para os jardins em
amadurecimento primaveril do outro lado da rua. Havia
narcisos balançando em uma brisa leve, o amarelo vívido
contra a grama verde bem apressada. Virou-se lentamente
para enfrentá -la. —Isso é inaceitá vel, Rosalind.
Ela se sentia doente na sua alma. Ela queria explodir em
lá grimas, mas ela nã o o fez. Quando percebeu que, com a
avançada idade de oito anos, que o cé rebro estava
perfeitamente em branco, ela havia chorado até que ela ficou
doente, e aprendeu que as lá grimas eram boas para,
exatamente, nada. — Sinto muito, — ela disse. — Eu sinto
muito que nã o tenha lhe contado imediatamente. Permiti a
luxú ria e o carinho me invadirem...
— Desejo e carinho, — ele repetiu; uma escura
sobrancelha arqueada. — Você colocou isso muito bem. Você
me entendeu mal. Acho inaceitá vel que algué m tenha tentado
assassiná -la — uma criança.
— Isso é porque você é nobre. Mas eu sobrevivi. Ouça
Nicholas, eu poderia ser filha de um açougueiro, um batedor
de carteiras, uma menina indesejada. Eu poderia ser uma
perfeita ningué m.
— Nã o, nã o é uma ningué m. Caso contrá rio, por que
algué m tentaria matá -la, uma criança de oito anos?
— Meu tio Ryder e tio Douglas concordam com você . Eles
acreditam que devo ser a filha de algué m importante, algué m
que fez inimigos poderosos. É verdade que eu estava usando
roupas muito bonitas quando tio Ryder me encontrou. Suja e
rasgada quase fora de mim, é claro. E isso. — Rosalind tirou
uma corrente de ouro do pescoço. Suspenso na corrente
estava um medalhã o com um coraçã o pequeno. Ela lhe
entregou. Nicholas segurou-a na palma da mã o. Era quente e
suave. Ele sentiu a pequena trava e abriu o medalhã o. Ambos
os lados estavam vazios. Ele verificou a espessura do ouro.
Nã o, nã o havia espaço oculto.
— Estava vazia quando Ryder encontrou você ?
Ela assentiu com a cabeça. — Talvez houvesse duas
fotos, uma da minha mã e, ou o pai e eu. Talvez, mas eu nã o
sei. As fotos foram tiradas porque algué m poderia reconhecê -
los? — Ela deu de ombros. — Mas isso nã o importa, Nicholas.
Ningué m faz nenhuma ideia sobre quem eu sou, ou quem sã o
meus pais — ou eram — ou se eles sã o ingleses ou italianos.
Tio Ryder acredita que possivelmente tenho ligaçã o com esses
países, desde que quando comecei a falar, falava italiano e
inglê s. Tio Ryder també m acredita que meus pais devam estar
mortos — ou quem sabe me procuram pela terra. Claro que é
o que ele faria se Grayson desaparecesse. É uma coisa
condená vel, Nicholas, mas eu sou uma pá gina em branco.
— Nã o, você nã o está em branco. Você tem uma
habilidade que nenhum de nó s tem — você pode facilmente
ler as Leis de Pale. Este é um dom, entã o talvez você venha de
pais com um dom similar. Você aceitou este seu dom, sem
dú vida. Eu diria que este dom é apenas um dos muitos que
possui.
Um dos muitos? Hmm. — Aconteceu tanta coisa tã o
rapidamente. Ainda nã o se perguntou por que consegue ler
aquele maldito livro...
— Ela lançou-lhe uma tentativa paté tica de um sorriso.
— Vou perguntar aos fantasmas quando os ouvir. Eles veem a
mim menos frequentemente agora. É estranho, mas eu sinto
falta deles. É como se eles fossem meu ú nico elo com meu
passado perdido. E agora eles estã o desistindo de mim.
— Fantasmas, — ele repetiu. — Fantasmas em torno de
você .
— Espero que nã o me ache louca, nã o é ?
Ele parecia distraído. E tocou com as pontas dos dedos
em cima da lareira. — Louca? Ah, nã o. Meu avô , eu acredito,
estava intimamente familiarizado com fantasmas e ele nã o era
louco — ele encolheu os ombros. — Para ser honesto, eu
suponho que você seja da minha classe. Dizem que
descobrimos quem você nã o é Rosalind. O que isso significa
no longo curso dos acontecimentos? Nã o grande coisa. Meu
pai era um homem fraco, manipulado por minha madrasta,
mas cruel como apenas um homem fraco pode ser. Quem
quer que você seja nã o me interessa. Você é Rosalind de La
Fontaine. Você logo será minha, Rosalind Vail, a Condessa de
Mountjoy.
— Você nã o pode ser tã o nobre, Nicholas, tã o elevado em
seu espírito, você nã o pode...
— Acalme-se. Isso é o bastante. Sejamos sensatos. Você
gostaria de saber quem você realmente é. Eu estou
familiarizado com muitos tipos diferentes de pessoas de todo
o mundo. Eu vou ter seu retrato pintado, talvez uma dú zia de
miniaturas, e farei que eles as enviem. Vamos descobrir quem
foram seus pais, Rosalind. Ou, talvez, um dia você vai acordar
perto de mim e sorrir, e você vai se lembrar. Eu entendo
muito bem porque seu tio Ryder e tio Douglas pararam a
busca. Mas você nã o vai mais se preocupar sobre algué m
magoá -la outra vez. Vou protegê -la com a minha vida.
Rosalind se virou e fugiu da sala.
11

— Rosalind!
— Milord, Miss Rosalind saiu em disparada para fora de
casa. O senhor é responsá vel por isso, milord? Insultou
aquela frá gil e doce jovem? — Willicombe, todo empoderado,
na verdade, barrou o caminho de Nicholas.
— A jovem nã o tem nada alé m de ar entre as orelhas
bonitas. Ela saiu sem nenhuma razã o para tanto... —
Nicholas levantou Willicombe por baixo de suas axilas, o
colocou para baixo, para um lado, e correu atrá s dela pela
porta da frente aberta. Ele parou quando viu um flash do
tecido da saia azul ao virar a esquina.
Ele ouviu um grito e outro grito. Ele se dirigiu à esquina,
correndo como um louco, somente para vê -la sentada com
sua parte traseira, na calçada, uma confusã o de saias. Ao
lado dela, sentava-se uma pesada matrona, com as
sobrancelhas erguidas, chapé u torto, um saiote de babados
lindo caído sobre os joelhos, pacotes espalhados ao redor
dela, a boca aberta para gritar novamente.
Nicholas rapidamente ajudou a mulher a ficar sobre os
pé s, nã o foi uma tarefa fá cil, e pegou as embalagens para ela.
O queixo dela tremeu quando ela apertou o punho para
Rosalind. — Eu sou a Sra. Pratt, milord, e eu sou a esposa do
diá cono Pratt de Pear Tree Lane. Esta jovem, milord, veio
voando sobre mim, justamente para me mandar para o meu
criador, e deve ser o diá cono Pratt que quer esse prazer. Sorte
foi que meu precioso pernil de porco kniver nã o se espalhou
no chã o sujo. Se ela é sua esposa, milord, você precisa bater
bem nela.
— Sim, ela é minha esposa, mas ela nã o merece uma
surra nesta instâ ncia, milady, já que é por minha culpa que
ela estava correndo e teve a terrível infelicidade de lhe atingir.
A senhora Pratt cobriu seu ventre, igualmente amplo,
com os amplos braços, e bateu as botas de cor marrom-
arroxeado. — É assim? E o que você fez milord, para fazer
esta doce jovem fugir de você ?
— Bem, eu devo ser honesto aqui, Sra. Pratt. A senhora
merece honestidade. O fato é que ela ainda nã o é a minha
mulher. O segundo fato é que eu a pedi em casamento, mas
ela sente que nã o é boa, o suficiente, para mim, o que é um
absurdo. Tudo bem, admito que se você olhar para ela agora,
milady, sentada esfregando suas partes posteriores,
parecendo como se quisesse desatar a chorar e gritar comigo
ao mesmo tempo, talvez você concorde com ela. Mas, na
posiçã o vertical ou a valsar, com um sorriso encantador no
rosto, ela é , de fato, muito boa e vai me tornar orgulhoso. E
quando ela se casar comigo, certamente evitará respeitá veis
miladys fazendo suas compras.
— Eu nunca comi uma carne de porco kniver, — disse
Rosalind.
A mulher olhou Rosalind com desfavor. — Provavelmente
nã o mereça uma. Case-se com ele ou vou lhe apresentar as
minhas doces sobrinhas, que jamais pensariam em dar um
ú nico passo longe dele. Olhe para ele — ele tem todos os
dentes, é agradá vel, tem uma saudá vel cor branca, e nã o há
nenhum gordo bocado de carne pendurado, ao contrá rio do
diá cono Pratt, que usa um cinto muito largo para se manter
em suas camisas. Disse-lhe repetidamente que nã o deve ser
um glutã o, mas ele me olha e diz que um homem deve tirar o
prazer de onde ele pode. Em ousadia, digo-lhe. Case com ele,
milady, case com ele.
Rosalind encarou Nicholas, torcendo as mã os
novamente. — Mas, Nicholas.
— Você nã o está ficando mais jovem, — disse a mulher.
— Se eu lhe mostrar minhas sobrinhas, ele pode voltar à s
costas para você rá pido o suficiente. Minha pequena Lucretia
tem apenas dezessete anos.
Desde que Rosalind ignorou a mã o estendida de
Nicholas, ele se virou para dizer à Sra. Pratt:
— Por favor, aceite as minhas desculpas, milady, mas ela
vai casar comigo, e assim, eu nã o estarei disponível para
conhecer Lucretia. — Nicholas lançou-lhe um olhar
maravilhoso e um sorriso gordo que fez o queixo dela oscilar
novamente. Sra. Pratt fez um olhar que Rosalind agora
reconhecia como sedutor e disse: — Talvez minha adorá vel
Lucretia seja muito jovem para o milord, talvez seja uma
milady mais velha, mais experiente que serviria... — ela
acariciou os cachos cheios sobre as orelhas dela e, em
seguida, olhou para baixo, para Rosalind, com uma boa dose
de antipatia... — nã o fique desatento da dor de cabeça que
fugiu de você .
— Mas você pegou a dor para mim, milady, e obrigado.
— Apenas uma forma muito antiga de falar, milord.
Agora, suponho que nã o havia nada de mal com ela. — E a
milady Pratt, com todas as suas embalagens escondidas por
baixo de seus braços, se foi, parecendo melancó lica olhando
para trá s, para Nicholas, e com escá rnio olhando Rosalind.
Ele ficou sobre ela, as mã os nos quadris. — Você
realmente quer me sacrificar à sobrinha da Sra. Pratt,
Lucretia?
— Ela tem apenas 17 anos. Você pode moldá -la.
— Você tem apenas dezoito anos, e eu prefiro moldá -la.
Você está bem?
— Demorou a perguntar. Nã o, sinto-me humilhada, e
você precisava esfregar na minha cara sua conversa gentil
com a milady Pratt.
— Devemos considerar todas as ofertas. Sinto muito
dizer isso, mas você merecia ser humilhada. Você quer me
dizer por que você fugiu, ou tenho de adivinhar?
Ela olhou para longe dele. — Eu simplesmente nã o
aguentaria suportar.
— Suportar o quê , pelo amor de Deus?
— Sua... sua nobreza. —
Ele apenas conseguiu olhar para ela. — Se você
soubesse... — ele disse finalmente. Ele pegou uma mã o dela e
a colocou no seu rosto.
Ela falou, seu há lito quente na mã o dele.
— É deprimente, milord. Eu nem mesmo fui capaz de
executar uma saída dramá tica com estilo, com graça.
Abençoado inferno, quem me dera que eu tivesse espalhado
pernis de carne de porco miserá vel daquela terrível mulher
na rua. O que é um porco kniver?
— Uma costeleta que é cozida com peô nias e tomilho até
que ele se assemelhe ao couro na parte inferior de seus
chinelos. É um desafio para todos os dentes. Muito bom
mesmo.
Ele a prendia, ignorou a babá e duas crianças que
passaram por perto. — Entã o, eu sou nobre?
— Sim, mas o importante aqui é que eu estou tentando
ser nobre també m. — Ela olhou à boca dele, inclinou-se e
beijou o pescoço dele. Ela realmente sentiu o impulso de
energia atravé s dele. — É difícil ser nobre, quando você está
me segurando assim. Nicholas, telvez você esteja sentindo um
pouco de desejo por mim por causa de pequenino beijo no seu
pescoço?
— Nã o, droga, estou me sentindo abusado. Agora temos
uma boa meia dú zia de pessoas nos olhando, Rosalind. Eu
sou um personagem importante. Venha para casa.
Ela deu um passo para longe dele. — Tudo bem, eu
tenho alguma distâ ncia de você e, entã o, alguma perspectiva.
Aqui está , Nicholas. Você é nobre, sou nobre. Nã o, nã o
casarei com você . Leve-me no coraçã o, para o bem da
verdade.
— Parece que você está citando Shakespeare.
— Bem, naturalmente, uma vez que ele me deu meu
nome.
Nicholas disse aos cé us: — Eu me pergunto se isso me
ajudaria a entender se bati com a minha cabeça contra a
parede de pedra por lá ... — Ele olhou para ela, estendeu a
mã o e conseguiu agarrar a mã o dela. Ele puxou-a depois de
volta à casa da cidade, de Sherbrooke. Ela nã o gritou, fato
pelo qual ele estava profundamente grato.
Douglas Sherbrooke, imponente em suas roupas de noite
pretas e sua cabeça de cabelos brancos e grossos, olhou os
recé m-chegados Nicholas Vail, Conde de Mountjoy e sentiu
um pouco de medo por Rosalind. Aquele jovem era realmente
afiado e duro até o osso, assim como Ryder dissera, e
implacá vel, ele apostaria.
Ele viu os olhos do jovem vasculharem o ambiente até
que encontraram Rosalind, que estava calmamente sentada
em uma cadeira de asas, junto à lareira. Ela parecia pá lida
para Douglas, nem parecia ela, que estava sempre rindo, e o
vestido verde-amarelo pá lido que ela usava nã o ajudou. Ele
franziu a testa. Quem escolheu esse vestido para ela? Ele se
certificaria que ela nunca o usasse de novo.
Ele desviou sua atençã o de Rosalind e de seu vestido
infeliz, quando Ryder o apresentou a Nicholas Vail.
O jovem curvou-se, olhou-o nos olhos. Malditamente
Nicholas Vail era tã o moreno quanto ele, seus olhos eram
pretos, e sua pele bronzeada nã o era somente devida a seus
meses no mar.
Nicholas Vail poderia ser meu filho, Douglas pensou, e
isso nã o é somente uma idé ia na cabeça?
— Milord, — disse Nicholas. — É um prazer e uma honra
conhecê -lo.
Antes de Douglas poder se intrometer em todo o passado
e pecados dele, Willicombe deslizou até a sala de estar e
anunciou o jantar, abordando tanto a Condessa de
Northcliffe, toda linda em verde escuro, seu cabelo vermelho
magnífico torcido finamente, na cabeça linda. (Willicombe
ocasionalmente se entretinha com uma visã o da cabeça da
Condessa raspada tanto quanto a sua pró pria cabeça) e a Sra.
Sophie (possuia um suave punho de ferro e uma maneira
encantadora).
— A cozinheira pediu que informasse que ela preparou
muito bem um bezerro, meia cabeça, língua e os miolos à
maneira francesa, embora “execrá vel” me vem à mente o que
se fala sobre as rã s cozinhando.
A Condessa de Northcliffe perguntou: — Existirá , talvez,
algo nã o tã o controverso que ela també m estará servindo?
— Felizmente sim, minha milady. Para nã o esquecer será
o famoso cozido de bacon, guarnecido com folhas de
espinafre, seguido por uma compota de groselhas e couve-flor
com molho de creme, abençoadamente tudo preparado à
maneira inglesa.
— Meus sonhos se realizaram, — disse Sophie.
— Nã o vejo o jovem Grayson, — Willicombe disse.
— Ele jantará no clube dele, — disse Ryder.
Willicombe curvou-se e saiu da sala de estar, cabeça
inclinada, supondo que, por direito, que seus superiores
rapidamente o seguiriam, o que eles fizeram.
— Ele é incrível, — disse Nicholas.
— Isso é o que ele me disse quando se tornou nosso
mordomo de Londres, — disse Douglas.
Alexandra havia colocado Nicholas e Rosalind frente a
frente, como Rosalind havia pedido para ela. Uma das
sobrancelhas pretas de Nicholas subiu, mas ele nã o disse
nada. Douglas falou sobre os seus filhos gê meos que tiveram
també m conjuntos de gê meos. Eles eram as có pias de seus
respectivos pais, o que significava que eles eram bonitos e
pareciam ter saído de suas entranhas. Enquanto conversa e
risos fluíam, Rosalind se serviu de um pouco de refogado de
cebola espanhola e se agarrou a coragem. Ela esperou que
todo mundo fosse servido e houvesse uma pausa na conversa.
Ela limpou a garganta e anunciou à mesa em geral.
— Nicholas Vail, Lorde Mountjoy, me pediu para casar
com ele. Pareceu-me acertar entre os olhos este pedido
inesperado, e só depois que eu aceitei, percebi que ele nã o
sabia quem eu era, ou quem eu nã o era, e eu sabia que isso
seria um engano brutal. Eu gostaria de anunciar que nã o vou
casar com Nicholas Vail, mesmo que ele insista porque ele é
muito afeiçoado à minha pessoa e à minha voz e sim, deve ser
dito, ele gosta de me beijar. Ele també m fala do destino que
nos uniu, como se fosse uma coisa significativa, que soa
româ ntico e um tanto místico, mas nada disso interessa. Ele é
nobre. Estou provando que eu sou nobre també m. — Ela
parou e pegou algumas cebolas espanholas estufadas, doces
com um pouco de pimenta preta.
Houve talvez trê s segundos de silê ncio. Quanto a
Nicholas, ele lentamente baixou seu garfo e sorriu para ela.
Ele disse a Ryder e Sophie.
— Sem dú vida estã o surpresos que eu tenha proposto
casamento a ela tã o rapidamente, talvez, mais surpreso, que
nã o eu nã o tenha falado com você primeiro milord. Peço
desculpas por isso, mas quando um homem se depara com
sua companheira, a passagem do tempo parece irrelevante.
Eu queria esperar para falar com milord, para lhe permitir
mais tempo para me conhecer, talvez me julgar como
aceitá vel, mas Rosalind mudou o jogo.
— Temo que deva dizer isso, ela nã o está sendo nobre,
ela está sendo uma dor na cabeça, tola; como observou uma
recente conhecida minha. Nã o há ningué m nesta mesa que
acredita que ela nã o é digna de mim, ou seja, nã o é digna de
ser esposa de um, de mesmo nível. Caso contrá rio, eu ouso
dizer Sr. Ryder Sherbrooke nã o a teria feito sua protegida e
nã o a teria trazido para Londres para sua temporada. Estou
correto, milord?
Ryder estava parado, analisando tudo o que se passava.
Ele precisava reconhecer Nicholas Vail, ele havia lidado muito
bem com tudo. Ele assentiu com a cabeça, mais nada para
fazer, seus olhos nunca deixando o rosto de Rosalind, agora
corado porque, por quê ? Porque o Nicholas nã o aceitara as
suas desculpas, e deu a volta à situaçã o, e com muita
habilidade? Ryder disse lentamente, inconscientemente
desfazendo um pã ozinho na mã o.
— Sim, acreditamos firmemente que ela é bem nascida.
Na verdade, nã o tivemos nenhuma dú vida desde oo tempo
que ela finalmente abriu a boca e falou, seis meses depois que
eu a encontrei. No entanto, Nicholas, nó s fomos incapazes de
localizar seus pais ou parentes. E nó s desistimos porque,
honestamente, algué m havia, de fato, tentado assassinar uma
criança, e tememos que se encontrarmos os pais dela, ela
ainda estaria em perigo.
— Até hoje, dez anos mais tarde, quem vai dizer que os
motivos para esta açã o nã o sã o ainda vá lidos na mente
daquela pessoa? Nã o, mantivemos a calma e vamos continuar
a manter todas as nossas perguntas para nó s mesmos. Ela
continuará a ser Rosalind de La Fontaine até recuperar a
memó ria dela, algo que nossos mé dicos tê m dú vidas de que
vá acontecer, visto que ela nã o tem se lembrado de nada ao
longo dos anos.
Douglas focou seus olhos escuros no rosto de Nicholas
Vail.
— Compreenda, milord, nó s somos a família dela agora e
vamos mantê -la segura.
— Assim como eu, — disse Nicholas. — Eu juro a você s.
Ningué m irá machucá -la sob meus cuidados.
Rosalind se inclinou em direçã o de Nicholas.
— Escute, Nicholas Vail. Eu sou nã o mais real do que
Shakespeare. Eu achei meu nome no livro “As You Like It”,
um livro, mas eu teria preferido Ganimedes — lembra, a
personagem Rosalind se disfarçou como um pastor e se
chamava Ganimedes — desde que eu vivia em uma espé cie de
disfarce, mas tio Ryder e tia Sophie sentiram que o nome
talvez fosse, um pouco demais, nã o convencional. Você deve
perceber que eu poderia ser descendente de Á tila, o Huno ou
Ivan, o terrível, um pensamento preocupante, nã o concorda?
Sophie a ignorou. — Quando você começou a falar,
Rosalind, seu inglê s era claramente de uma jovem inglesa
bem-educada e sabíamos que estava bem. O italiano era
igualmente bom, talvez o resultado de uma babá italiana ou
um pai italiano.
— Era ó bvio que havia pessoas má s ao seu redor,
pessoas má s que a viram como uma espé cie de ameaça e
agiram para eliminá -la. Isso é tudo que sabemos com certeza.
Por favor, nã o se pinte como prole do diabo, senã o devo
considerar tapar suas orelhas.
Ryder disse: — Meu amor, lembra-se de algumas das
travessuras que Rosalind fez com as crianças em seus anos
mais jovens?
Sophie assentiu com a cabeça. — Sim, você tem razã o.
Depois de refletir, talvez devê ssemos considerar a semente do
diabo em sua origem.
Houve um pouco de riso, mas nã o muito. Ryder
continuou:
— E sua voz cantando, minha querida — o professor de
voz que trouxemos para instruí-la disse que você havia
recebido excelente instruçã o, pelo menos, nos dois anos
anteriores. Para ser honesto aqui, nã o quero saber quem você
realmente é , porque eu teria medo por você . Quero você em
segurança. Naturalmente, nó s discutimos totalmenteo perigo
que está vamos causando a sua segurança ao trazê -la a
Londres para uma temporada. Quem vai dizer que algué m
nã o a reconheceria? Tenho de admitir que, à s vezes, sinto
certo pressentimento sobre isso, mas nã o importa. Agora, a
menos que você se lembre um dia, você permanecerá
Rosalind. Nó s somos sua família e nó s a amamos.
12

Depois do jantar, Nicholas levou Rosalind à sala de


mú sica, esperando ter um pouco de privacidade. Ela olhou-o
um momento antes de dizer:
— Eu costumava criar histó rias sobre quem eram meus
pais — o Czar e a Czarina da Rú ssia ou intré pidos piratas do
Caribe. Em cada cená rio, havia uma bruxa que estava com
medo da minha precoce sabedoria e també m com ciú mes da
minha imensa doçura de forma e rosto.
— Desculpe-me um momento, Rosalind. Você diz que
sua mã e també m era uma pirata?
— Ah, sim, e ela empunhava uma espada e vestia uma
camisa branca com mangas fluidas. Botas, até os joelhos,
claro. Ela e meu pai eram o terror do Caribe. Sim, sim, eu sei
que as chances de minha língua possuir um inglê s
maravilhoso sã o mínimas, dado esse conjunto particular de
pais.
— Nenhum italiano existe em seus cená rios?
Ela franziu a testa. — Nã o, eu sempre me esquivei de
tudo que fosse italiano. Agora que penso nisso, isso é
estranho, nã o é ?
Nicholas abriu a boca para responder, mas fechou
quando ouviu a voz da Condessa, vindo em direçã o a eles. A
conversa privada, que ele esperava, nã o era para ser agora.
— Ah, querida, — disse Alexandra, irradiando um sorriso
brilhante para eles, — é perfeito encontrá -los aqui na sala de
mú sica, imploro que você cante para nó s.
Rosalind queria pegar Nicholas e levá -lo para algum bom
recanto particular ou alguma fenda naquela casa imensa. Ao
mesmo tempo, ela també m queria expulsá -lo pela porta da
frente. Ela queria bater nele por lidar com a família com tanta
sutileza, e queria beijá -lo doidamente por ele tê -la
encurralado tã o bem.
— Isso seria bastante agradá vel, — disse Nicholas. —
Sente-se ao piano e cante uma cançã o de amor. Talvez uma
das cançõ es de amor cantadas pelos dragõ es da lagoa Sallas.
— Dragõ es de quê ? — Perguntou Sophie.
Nicholas disse calmamente, — é o nome de seres nas
Leis de Pale, o livro que Grayson comprou numa feira em
Hyde Park.
Rosalind viu perguntas que estavam prontas a explodir
para fora da boca da tia Sophie, perguntas que ela nã o queria
responder, entã o, ela rapidamente correu os dedos sobre as
teclas. Estava com a intençã o de cantar algo escocê s e
divertido, por seu sotaque escocê s ser bastante decente, mas
o que saiu da boca dela foi a cançã o que havia vivido
profundamente dentro dela, era tudo que ela se lembrava,
nunca distante de seus pensamentos, uma cançã o que ela
nã o entendia, uma cançã o que a fazia se sentir tranquila e
inquieta ao mesmo tempo. Claro, ela nã o se lembrava como
aprendera aquela mú sica em particular, mas ela sabia que
era do passado. Era estranho, mas era como se a mú sica
saísse dela, nã o havia qualquer escolha para ela. Ela cantou:

Eu sonho com beleza e noites cegas


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que eu não estou sozinha outra vez
Mas eu sei de sua morte e do pecado grave dela.

Sophie disse em voz baixa, — toda vez que ouço você


cantar essa cançã o, Rosalind, me dá vontade de chorar.
Nicholas, se você nã o sabia, essas foram as primeiras
palavras que Rosalind falou quando finalmente abriu a boca,
seis meses depois de Ryder encontrá -la.
— Nã o cantou exatamente esses versos — Ryder disse,
— ela preferia murmurar, cantarolar os versos, nã o é bem
uma mú sica, mas quase.
Nicholas disse, — você nã o tem memó rias de antes de
oito anos de idade, mas essa mú sica estava dentro de você . As
palavras sã o curiosas. Sua morte — que morte? E ela — quem
é ela? E qual foi o pecado grave? Parece-me que as quatro
linhas estã o cheias de pistas sobre quem e o que você era,
Rosalind.
Douglas assentiu com a cabeça para o jovem homem. —
Sim, isso é o que todos pensamos, mas Rosalind nã o tem
qualquer memó ria do que as palavras poderiam querer dizer.
Rosalind se esquivou de pensar sobre as palavras
estranhas. Ela começou a tocar um cordel escocê s, uma
histó ria inteligente sobre uma formosa donzela que gostava
de
dançar para o príncipe das fadas. Todos tambolrilamv com os
seus pé s no tapete azul claro e creme, Aubusson.
Quando Rosalind levou Nicholas à porta da frente,
depois de um delicioso chá uma hora mais tarde, Willicombe
limpando a garganta discretamente nã o mais de seis passos
atrá s deles, ela disse, — você sabe, tio Ryder está de
prontidã o nã o mais de doze passos afastados de nó s, na porta
da sala de visitas, sempre vigilante. Acredito que Willicombe é
seu guardiã o avançado.
Ele olhou para baixo para aqueles olhos azuis, os azuis
dela. — Nã o duvido que eu farei a mesma coisa quando nossa
filha tiver a sua idade.
A mandíbula dela caiu e ela pressionou as palmas nas
bochechas. — Oh, meu Deus, isso traz uma foto tã o clara
para o meu cé rebro. Isso é terrível, Nicholas. Tenho apenas 18
anos.
— Eu sei, — ele disse e sorriu. Ele colocou levemente a
mã o, em concha, na bochecha dela. — Só considere o tempo
todo que nó s estaremos juntos, tratando destes assuntos.
Você quer casar comigo, Rosalind? Deixe-me ser seu Orlando?
— Um homem que conhece Shakespeare. É uma
tentaçã o poderosa, Nicholas, mas...
— Talvez eu é que nã o seja digno de você . Olhe para
mim, um comerciante de Macau, um Conde por causa de um
acidente de nascimento, detestado pelo pai. Nada digno de
você .
Ela mordeu o lá bio inferior. Finalmente, ela levantou o
rosto para o dele — talvez eu nã o perca toda a minha nobreza
se eu me casar com você .
— Você nã o perderia nem uma quantidade ínfima. Na
verdade, você ganharia em merecimento.
— Muito bem, entã o é hora de falar com o tio Ryder.
Nicholas levantou a cabeça e assentiu com a cabeça,
primeiro para Willicombe e, em seguida em direçã o a Ryder
Sherbrooke, ainda em pé contra a porta da sala de estar, seus
braços ainda atravessavam o tó rax. — Desculpe-me,
Rosalind.
Ela assistiu Nicholas caminhar de volta até o tio dela e
falar com ele baixinho e, em seguida, voltou para ela,
levemente acariciou sua bochecha e partiu.
Ryder apenas acenou com a cabeça para ela e voltou à
sala de estar, onde ela sabia que Douglas esperava.
13

Na tarde seguinte, Nicholas emergiu do salã o nobre de


Sherbrooke, pensativo. Quando ele entrou no estú dio,
Grayson disse — está na hora. Rosalind nã o quiz traduzir as
Leis de Pale até você chegar.
Nicholas assentiu com a cabeça em direçã o a Rosalind,
sorrindo, automaticamente, quando a viu. Bom, ela pensou,
estava feito. Ela se casaria com Nicholas Vail, um homem do
qual ela nã o sabia nada. Ela esperava que tivesse 50 anos
para aprender todos os seus há bitos ruins. Sua tia Sophie
havia dito, uma vez, que tio Ryder ainda surgia com uma
nova safra de maus há bitos, a cada primavera, e exigia uma
grande habilidade para tratar deles. Rosalind estava sorrindo
enquanto baixou os olhos para o antigo livro e leu:
“A coisa mais incrível aconteceu. Os dragõ es da lagoa
Sallas cantaram para mim por que acreditavam que eu
estivesse pronto para me juntar aos magos. Porque os dragõ es
podem ler os pensamentos de um homem, eles cantaram para
mim que os Magos eram homens como eu, que mantiveram o
equilíbrio dos diferentes mundos amarrados com o Pale. Estes
homens, os dragõ es da lagoa Sallas cantaram, eram apenas
magos, nã o deuses. Um dragã o me disse que seu nome era
Taranis. Lembrei-me rapidamente que Taranis era o deus
celta do trovã o. O deus do Trovã o dos celtas e um dragã o da
lagoa Sallas, també m um deus, ambos possuiam o mesmo
nome?
Taranis me disse para que eu me sentasse entre suas
escamas poderosas e agarrar-me. Pela primeira vez, eu vi o
Pale de cima, onde nuvens da cor da beringela giravam como
ondas poderosas atravé s do cé u. Taranis voou e voou, suas
asas poderosas quase sem som no ar. Eu olhei para baixo
para ver muitos rios e lagos, todos como fios de uma teia, mas
nunca terminavam e tã o azuis que pareciam veias levantadas
nas mã os e braços de um homem, mas foi a fortaleza de
pedras pretas que eu vi no topo de uma montanha enorme
que congelou o meu sangue.
Taranis cantou para mim que aquilo era o orgulho dos
magos, que o medo que foi engendrado ajudou-os a manter o
véu do poder. A Fortaleza dos Magos, meditando como um
abutre preto no topo do Monte Olyvan, chamava-se pedra de
sangue. Eu vi a razã o para o nome. Estrias de sangue corriam
sobre a pedra preta, como os rios na terra abaixo. As estrias
eram vermelhas como sangue derramado.
Fomos recebidos por um jovem que cumprimentou
Taranis com grande deferê ncia, quase reverê ncia eu pensei, e
curvou-se baixo para mim. Ele me disse que seu nome era
Belenus — lembrei que Belenus era o deus celta da
agricultura, que també m era o doador da vida, da força e
trouxe o poder de cura do sol a terra e ao homem. Os
romanos o chamavam de Apolo Belenus e nomearam o grande
festival de primeiro de maio com o nome de Beltane. Outro
deus celta? Quando Taranis partiu, Belenus convidou-me a
entrar em um pequeno quarto, enfeitado com cortinas
suspensas de fino tecido de seda e me deu uma xícara de
bronze de chá Witmas. Possuia gosto de morangos fervidos
com alho.
Belenus usava uma barba vermelha que cobria seu
rosto, deixando apenas à vista brilhantes olhos azuis debaixo
de um tapete de selvagem cabelo ruivo. Ele possuia dentes
grandes quadrados e pareceu-me ficar mais jovem quando eu
falei com ele, e bebeu o chá Witmas. Bebi uma grande
quantidade de chá durante o nosso tempo juntos e o sabor
mudava com cada gole, de morangos e alho, para chá verde
forte e depois para uma espé cie de caldo de carne. Eu era um
mago, pensei e entã o eu tentei mudar o chá , mas acabou por
ficar uma imunda lama negra. Foi muito humilhante, mas
Belenus apenas riu.
Conheci outra pessoa naquele dia, també m, Epona, e
nã o era um mago, ela era uma bruxa, conhecida pelos celtas
como a deusa do cavalo, porque seu pai odiava as mulheres e,
portanto, copulou com um cavalo. Ela foi o resultado. Ela
representava sabedoria, beleza, velocidade, coragem e vigor
sexual. Foi uma coisa boa que seu pai lhe forneceu
características dele, eu pensei, já que a mã e dela possuia um
rosto de cavalo, e ela ficaria estranha. Os romanos,
naturalmente, a adotaram e realizavam um festival em sua
honra todos os anos em dezembro. Estranho que ela era
totalmente humana, apesar da mã e ser uma é gua. Quanto ao
vigor sexual, eu imaginava naquele momento o que viria a
acontecer com a bruxa Epona.
Belenus me disse que os outros magos desejavam que eu
me unisse a eles. Eu sabia, no fundo, que se eu nã o
permanecesse com eles, talvez meu sangue fosse unido à s
estrias ú midas nas paredes da fortaleza. E, entã o, permaneci
por quase um ano. Mas, um dia pensei que desejava deixar a
pedra de sangue, e parece que esqueci o que me foi dito,
certamente por causa de um feitiço que foi posto em cima de
mim. Em breve, enquanto fiquei nas muralhas, procurando
avidamente o horizonte atravé s das nuvens beringela, vi
Taranis voando sobre a pedra de sangue para me buscar.
— Por isso é que se lembra de tã o pouco, — Taranis
cantou para mim. — Eles sabiam que você nã o escolheria
ficar com eles. Esperava que você pudesse ficar, pois todos os
dragõ es se preocupam com o futuro, com a cultura cruel dos
magos lá em cima.
Em um dia excepcional, lembrei que os magos me deram
o nome de Lugh, pronunciado — Loo, — o Celtic — deus
reluzente — que era um guerreiro, mago e artesã o. Era um
nome muito importante — os romanos traduziram para latim:
Londinium, que mais tarde se tornou Londres.”
Rosalind fez uma pausa e bebeu á gua. Ela falou: — Os
celtas. Isto é muito estranho. Por que existem deuses celtas
em Pale?
— Por que nã o? — Grayson disse. — Se nã o houver
Tibers, certamente podemos aceitar deuses celtas. — ele deu
de ombros. — Ainda nã o aprendemos nada de ú til em tudo
isso, mas direi que se trata de uma histó ria poderosa. Eu
posso ver a fortaleza de sangue claramente em minha mente.
Nicholas disse, — você acha que é uma ficçã o, tirada do
cé rebro de Sarimund?
Grayson encolheu os ombros. — Há algumas coisas
estranhas sobre como me deparei com o livro, eu diria sim,
imediatamente. Mas existem coisas estranhas, mais do que
estranhas, realmente. Coisas má gicas. Encontro-me a apreciá -
lo, como faria com qualquer bom conto.
Nicholas ergueu-se e andou pelo aposento, parando aqui
e ali para pegar uma almofada, ou uma xícara de chá , ou um
livro da mesa. Ele disse, — eu nã o gosto nada disto. É como
se Sarimund estivesse brincando conosco, talvez a zombar de
nó s, e talvez, esta pedra de sangue seja uma coisa que ele
criou para aliviar o té dio do tempo que passou em Bulgar.
Rosalind disse, — há apenas algumas pá ginas para
terminar. Posso terminá -las hoje?
Grayson consultou o reló gio e se levantou. — Vamos
terminá -lo amanhã . Preciso ir andando. Tenho um
compromisso.
— Ah, — Rosalind disse, descaradamente rindo dele. —
Um compromisso com a adorá vel Lorelei? O pai dela vai estar
pendurado por cima do seu ombro o tempo todo? Talvez suas
quatro irmã s fiquem rindo num círculo em volta de você ?
— Eu nã o sou o ú nico a escandalizar os meus pais, —
ele disse. — Olhe para os dois — noivos! Digo, Rosalind,
congela minha barriga pensar em você vai se casar e você
usou tranças de menina até apenas algumas semanas atrá s,
juro que é assombroso. Nicholas, eu direi a você sobre a
infâ ncia desperdiçada dela, como ela era tã o ruim quanto
qualquer demô nio que já criei, levou todas as crianças à
discó rdia, sempre com um sorriso perverso, deixou meus pais
e Jane — Jane é a diretora da casa de Brandon — muito
loucos. Sim, mã e tem razã o, você era semente do diabo,
Rosalind.
Nicholas se sentou em uma cadeira de asa verde
bordada, estendeu as suas longas pernas à frente e cruzou as
mã os sobre a barriga. — Diga-me uma má açã o feita por esta
filha do demô nio, Grayson — apenas uma, porque eu nã o
desejo ser iludido.
Grayson assumiu uma pose pensativa e sorriu para
Rosalind, quando disse:
— Quando ela estava com 14 anos, decidiu visitar o
acampamento dos ciganos no canto oriental dos campos do
meu pai. Recusei-me a ir com ela, e já que ela tinha medo de
ir sozinha, uma noite levou uma dú zia de crianças para o
acampamento cigano, todos eles usando lenços na cabeça e
batendo pratos e sinos, batendo varas em garrafas e
assobiando. Os ciganos foram surpreendidos e se divertiram
e, felizmente, congratulou-se com eles.
— Meu pai ficou ainda mais surpreso quando no passar
da meia-noite, vá rios dos ciganos apareceram à nossa porta,
levando as crianças, que haviam, todas, bebido demais do
ponche cigano que Rosalind lhes havia dado. As crianças
ficaram muito doentes pelo resto da noite. Pelo que me
lembro, meu pai bateu em você adequadamente, a ú nica vez
que o fez, que eu me lembre.
— Sim, ele fez, mas nã o foi justo. Havia tantas outras
vezes que teria sido justo, mas nã o naquela. Eu queria que
tivé ssemos uma liçã o maravilhosa, talvez a cantar mú sicas
com os ciganos, aprender a dançar como eles, sabe, girando
sobre a enorme fogueira, saias balançando. Entã o eu vi uma
menina cigana beber ponche de um grande barril. Quando lhe
disse que está vamos com sede, ela nos deu de tudo um
pouco. Como eu ia saber que deixaria todos tã o doentes?
— Você estava doente, Rosalind?
Grayson disse: — Nã o, ela foi a ú nica que nã o ficou
doente. Eu estava certo de que você nã o bebeu nada do barril.
Nã o, pois nã o, Rosalind?
— Sim. Bebi, pelo menos, trê s copos e achei tã o bom.
Nã o sei por que nã o fiquei doente. — Ela estava ciente de
Nicholas que estava lançando-lhe um olhar pensativo. Havia
cá lculo no olhar, ela estava certa daquilo, e o que aquilo
significava?
14

Terça-feira à tarde, Nicholas, Rosalind e Grayson,


estavam sentados na sala pequena de Nicholas no Hotel de
Grillon, xícaras de chá em uma bandeja de prata, ao lado do
cotovelo de Rosalind, trazidas por Lee Po, o homem de
Nicholas, para todos os assuntos. Os dois homens falaram
calmamente no que Nicholas disse que era chinê s mandarim.
Quando Lee Po havia se inclinado e saído, Grayson disse a
Nicholas que nunca antes ouvira sons assim vindos de uma
garganta humana.
Nicholas riu. — Lee Po diz a mesma coisa sobre o inglê s,
apesar dele falar o inglê s do reino como um pequeno Etonian.
— Ele deu de ombros. — Já que eu morava e negociava em
Macau, foi necessá rio eu aprender mandarim. Lee Po me
corrige regularmente. No entanto, eu nã o sou capaz de
corrigir o inglê s dele.
Rosalind riu. — Por que ele nã o fala inglê s conosco?
— Disse-me que nenhuma língua civilizada deve soar
como uma faca de lascar o gelo.
— Onde ele aprendeu inglê s? — Perguntou Grayson.
— Ele foi casado com uma inglesa, por dez anos, ele me
disse, antes dela morrer no parto de sua ú nica filha. Ela havia
sido uma missioná ria e uma professora.
— Isso é muito triste, — disse Rosalind. — Por que ele é
tã o completamente fiel a você ?
Nicholas olhou para longe, vendo algo que nem Grayson
nem Rosalind podiam ver. — Eu salvei a vida dele, quando
um governador Portuguê s quis enforcá -lo.
Rosalind lançou-lhe um olhar astuto. — O que você fez
com o governador Portuguê s?
Ele sorriu para ela. — Eu apenas disse o que aconteceria
se ele tentasse algo assim novamente.
Rosalind disse pensativa: — Lee Po estava olhando para
mim incisivamente. Isso significa que ele sabe que vamos
casar? — Nicholas assentiu com a cabeça.
— É hora de ver se a minha língua pode formar esses
sons estranhos. Como posso dizer obrigada para ele?
— Shesh, shesh é assim que se pronuncia.
Rosalind disse isso algumas vezes e, em seguida, falou
alto: — Shesh shesh, Lee Po!
Ela o ouviu resmungar algo e sorrir para Nicholas. — O
que ele disse?
— Ele disse que você é bem-vinda, miladezinha ruiva
prestes a ser a milady de seu milord arrogante.
— Você que inventou!
Ele lhe ofereceu um sorriso torto que a balançar os
joelhos. Foi forte, o sorriso dele.
Grayson perguntou: — Lee Po sabe sobre o livro?
Nicholas assentiu com a cabeça. — Acho que Lee Po sabe
de tudo que é importante para mim.
— Falando do livro, — Rosalind disse quando abriu as
pá ginas da Lei de Pale, — nã o temos muito tempo. Devo
provar meu vestido de noiva em duas horas. Acho que temos
tempo para terminar.
Grayson disse, — Lorelei me disse que vai acompanhá -la.
Ela me disse que a ajudou a selecionar o padrã o.
Rosalind revirou os olhos para Grayson. — Ela
simplesmente aceitou, — com grande entusiasmo, — tudo o
que meu tio Douglas disse. Tive algumas ideias, mas você
acha que algué m me ouviu, a futura noiva? Nã o, nem a
costureira com a fita mé trica.
Nicholas riu. — Seu tio Douglas me disse que você tem
um gosto infeliz nos vestidos, Rosalind, e é por isso que ele
escolheu quase todas as roupas para sua temporada. Ele
entã o me questionou sobre meu pró prio gosto. Disse a ele que
eu nunca tive a oportunidade de selecionar o vestido de uma
mulher e, portanto, nã o sei se eu sou dotado com este talento
especial. No entanto, disse que Lee Po me assegurou que
tenho muito bom gosto, com efeito, entã o veremos. Tenho
algumas novidades para você , Rosalind.
Ela estava resmungando debaixo de sua respiraçã o, mas
nã o o suficiente alto. — Aqui sou uma mulher adulta, com
gosto. Bom gosto, digo-lhe, e você ainda é um milord que tem
a ú ltima palavra no que vestir. Nã o é justo. E agora aqui você
está me convencendo que Lee Po adora seu maldito gosto.
— Eu entendo. Agora, eu disse que tenho uma notícia
para você , ao longo das linhas do refinamento como uma
questã o de fato. — Com sua sobrancelha levantada, ele disse,
— estou pronto para acompanhá -la à loja de Madame
Fouquet. Seu tio Douglas deseja me testar.
Grayson desatou a rir. — Testá -lo? Ah, e você vai deixar
Nicholas medí-la, Rosalind? —
Mas Rosalind estava estudando-o, os dedos tocando seu
queixo. — Temo que nó s veremos, Grayson, que milord é um
bajulador.
Grayson riu e balançou a cabeça. — Tio Douglas nã o
gosta de adulaçã o. Só concorde com ele, duas ou trê s vezes,
Nicholas, nã o mais do que isso, ou ele irá lhe ferrar. Agora,
precisamos terminar as Leis. Espero que Sarimund nos leve
para mais do que apenas um bom final para este conto... —
eles ouviram a porta da frente da suíte fechar.
— Onde Lee Po vai?
— Ele vai visitar uma loja de remé dios em Spitalfields, a
meu pedido.
— E o pedido foi o quê ? — Perguntou Rosalind. — Você
nã o está doente, você está ?
— Nã o se importe. Leitura, Rosalind.
Rosalind franziu a testa para ele enquanto
cuidadosamente abria o livro, limpava sua garganta e lia:
— “Eu percebi que nã o havia sido um grande mago aqui
em Pale, e entã o, lancei um feitiço em cima de um pô nei
vermelho. Para minha surpresa, ele virou os grandes olhos
para mim, apareceu em cima do meu ombro e cantou para
mim, suave e doce, ouvi a sua voz bastante elevada. O ser
vermelho disse que o nome dele era Bifrost, e ele era o mais
velho ser vermelho de Pale. Ele esperou por um tempo muito
longo para eu falar com ele, uma vez que, é claro, um ser
vermelho nunca falava primeiro. Era considerado rude. Ele
me disse que eu era um poderoso feiticeiro, apesar do fato de
que eu deixaria aqueles magos idiotas e bruxas da pedra de
sangue, mexerem com o meu cé rebro como uma cabaça vazia.
Ele cantou para mim que era hora de eu ir embora, que eu
havia deixado minha semente em Epona, que isso era o que
eles queriam de mim, em primeiro lugar. Ele cantou para mim
que era uma coisa boa.
Deixado a minha semente? Ele viu que eu estava
horrorizado e descrente, embora fracas memó rias existissem,
memó rias que eu havia esquecido, verdade seja dita. Ele me
disse que o chá que me serviram havia me deixado sem
sentidos, sem conseguir salvar a parte mais importante de
mim. Foi predito, o ser vermelho cantou em sua linda voz
arejada, que Epona daria à luz um mago, que seria o maior já
conhecido e que ele governaria Pale até Mount Olyvan se
afundar no pó .
Eu teria um filho — só que nunca o veria. Eu sabia que
isso me magoaria profundamente, mas nã o até mais tarde,
quando a realidade disso chegasse até mim. Bifrost disse que
eu estava pronto para sair, mas eu nã o sabia como havia
chegado, em primeiro lugar, só que eu acordara e estava aqui,
mas eu nã o fazia ideia de onde era a porta — ou seja, o que
quer que fosse que me trouxe aqui — estava localizada, assim
eu poderia voltar. Ele entoou uma risada, que era muito
agradá vel ao ouvido. Em seguida, ele cantou que os dragõ es
da lagoa Sallas haviam me trazido para Pale, e que eles
julgavam possível existir novos irmã os naquele ninho de
víboras de feiticeiros e bruxas em cima do Monte Olyvan. Ele
cantou que nã o me quiseram, no entanto, eu estava muito
determinado. Mas queriam meu filho, um filho que eu nunca
conheceria. Bifrost cantou para mim, que ele garantiria que
meu filho saberia sobre mim. Em seguida, Bifrost cantou que
ele me mostraria como sair daqui. Mas ele nã o fez nada disso.
Vi-o prender um tibre10 em um poço e matá -lo com uma
lança de fogo passando atravé s do pescoço grande e tomá -lo
ferozmente, como sua refeiçã o. Entã o, ele me deixou. Senti-
me abandonado. Eu nã o entendi Bifrost ou qualquer outra
coisa nesse lugar estranho. E eu estava deixando meu filho
aqui.
Quando finalmente adormeci debaixo de uma á rvore de
â ngulos afiados, sonhei que estava em uma tempestade muito
grande no deserto, chicotadas de areia em torno de mim, me
sufocando, me cegando. Nã o havia nenhuma fuga e eu sabia
que morreria. Entã o a tempestade parou e eu vi que havia
voltado para Bulgar. Eu me sentia ó timo. Nã o sabia o que
Bifrost havia feito, mas eu sabia que era magia, magia antiga
de um, outro, mundo estranho. E Rennat, o mago que veio do
Oriente, estava lá , em cima de mim, e ele gentilmente me
perguntou se eu havia dormido bem na noite anterior, e
concordei. Na noite anterior? Ele disse que mesmo uma ú nica
noite que fosse passada longe de todos os outros magos de
barba era bom para o espírito. Apenas uma noite?
É a pá lida naçã o um sonho? Quer isso dizer també m que
nã o havia nenhum filho? Que nada disso realmente
aconteceu, que a minha estadia em Pale foi criaçã o de meu
cé rebro? Eu nã o contei a ningué m sobre isso. O que eu diria?
Foi no dia seguinte, quando fui tomar banho, que eu vi
as cicatrizes curadas das garras do tibre na minha perna e
sabia que Pale fora real e ainda, e ainda — como pude
acreditar em um lugar que parecia estar em outro lugar,
talvez em outro tempo també m?”
Rosalind virou a pá gina. De repente, ela parou de falar.
Ela olhou para o livro, virou outra pá gina, estudou de perto,
entã o virou outra e outra. Ela, finalmente, fechou o livro e
segurou-o contra o peito por um momento. Ela sentiu seu
coraçã o bombando contra o livro, pulsaçõ es rá pidas, porque
ela estava com medo.
Nicholas disse, — Rosalind, o que está errado?
— Nã o há mais nada, — ela disse, um grande suspiro. —
Existe mais cerca de seis pá ginas. No entanto, eu sou incapaz
de ler qualquer uma delas.
Nicholas olhou para ela. — Nã o, isso nã o é possível, você
deve ser capaz de ler.
— Desculpe, milord, mas isso nã o faz sentido para mim
també m. Parece estar no mesmo có digo, mas o significado
que havia para mim se perdeu.
Grayson atingiu com seu punho a pró pria coxa. — Que
jogo Sarimund está fazendo? — Ele pegou o livro de Rosalind
e abriu-o nas seis pá ginas finais. Em seguida, ele voltou para
o início e comparou as pá ginas. Levantou a cabeça, franzindo
a testa profundamente. — Ela tem razã o, elas parecem
exatamente iguais, mas — você realmente nã o vê qualquer
sentido nelas, Rosalind?
Ela balançou a cabeça. — É um pouco assustador, — ela
disse finalmente. — É assustador ser capaz de ler a maior
parte, tã o facilmente, mas depois nã o conseguir — issso é o
que me assusta mais, eu acho. É como se houvesse magiaem
mim durante o trabalho, mas agora já se foi. Nicholas, porque
nã o olha à s pá ginas finais, veja se você pode entendê -las.
Ele pegou o livro e suavemente olhou cada uma das
pá ginas finais e as estudou por muito tempo. Seus lá bios se
moveram, mas ele nã o disse nada. Finalmente, ele olhou para
cima. — Sinto muito, é como o início, nada mais que uma
sé rie de palavras embaralhadas para mim.
Grayson estudou o livro novamente, comparando as
pá ginas finais com as outras. — Nada, — ele disse,
finalmente. Ele amaldiçoou, o que deixou Rosalind surpresa,
pois, como seu pai, isso era uma coisa rara, exceto para —
maldito inferno, — claro, este era o esconjuro de Sherbrooke
por muitas geraçõ es. — Perdoe-me, — ele disse, — mas nã o
suporto que isso termine assim.
Rosalind disse, — mas nã o seria algo para viajar até o
Bulgar e ver se os dragõ es da lagoa Sallas nos expulsariam
para fora daquele lugar má gico? Gostaria de saber quem deu
nome para aquele lugar, chamando de Pale e por quê ? Um
Pale é apenas um bloqueio, afinal de contas, para proteger
aqueles dentro dele? Entã o, por que esse nome? — Ela
suspirou. — Eu certamente gostaria de conhecer o filho de
Sarimund, na pedra de sangue.
— Gostaria de saber se o filho dele ainda está vivo, —
Grayson disse. — Afinal, Sarimund escreveu isso no sé culo
XVI.
Nicholas disse lentamente, — Epona, a mã e, se ela é de
fato uma deusa celta e, em seguida deve ser muito velha, de
fato. Imortal, devo dizer.
Todos eles se olharam.
— Nã o quero lutar com o Tibre, — disse Rosalind. —
Você percebe que nã o existem tantas Leis, mesmo que o título
do miserá vel fale sobre Leis. Entã o, qual é a finalidade de você
comprar este livrinho fino, Grayson? E quem escreveu as
entrelinhas?
— Nã o era para mim; mas para você , Rosalind, —
Grayson disse. — Afinal, você é a ú nica que pode traduzir e lê -
lo facilmente, devo acrescentar. Exceto as pá ginas finais. Ah,
isso provoca meu cé rebro.
— Entã o por que nã o foi ela que se dirigiu à tenda do
livreiro, ao invé s de você , Grayson?
Grayson olhou para Nicholas, que estava escrevendo algo
em um pequeno caderno azul escuro que Rosalind nã o havia
visto antes. — Talvez Grayson seja o catalisador, — disse
Nicholas.
Houve um momento perplexo de silê ncio.
— O que é esse caderno que você carrega Nicholas? —
Ela perguntou.
Ele sorriu, fechou o livro e o colocou de volta no bolso,
um pequeno lá pis com ele. — Apenas uma lista de
compromissos que eu corria perigo de esquecer.
— O que quer dizercatalisador? — Perguntou Grayson.
Nicholas deu de ombros. — Você deve ser a faísca para
detonar, o elo de ligaçã o. Ah, quem sabe? Pelo menos,
Rosalind conseguiu ler quase todo o livro. Entretanto como
você , eu quero saber por que ela nã o consegue ler as pá ginas
finais. Talvez você esteja certo, Grayson, talvez isto seja
apenas um bom conto para divertir e provocar a fantasia.
Mas, por hoje, basta. Rosalind, você está pronta para ir à
Madame Fouquet para encontrarmos com seu tio Douglas?
— Para o teste de sangue de bom gosto?
Ele sorriu para ela.
— Vai adulá -lo, Nicholas?
— Precisaremos ver, nã o é ?
— Eu, — Grayson disse quando ele se levantou, — decidi
que você s nã o tê m necessidade de Lorelei no seu passeio. Vou
levá -la para um passeio no parque.
15

Depois que Grayson saiu, Nicholas se levantou


lentamente e caminhou para ela, deu-lhe a mã o e puxou-a
para perto. Ele percebeu que, naquele momento, queria beijar
cada polegada dela. Ele disse, — talvez você vá me achar
bastante ú til no futuro, quer dizer, se eu passar no teste do
milord.
O futuro, ela pensou quando saiu do Hotel de Grillon ao
lado dele. Ela olhou para o perfil dele. Ele parecia sé rio e
preocupado. Ela odiava isso. Ela pensou: ele é meu futuro.
Nã o deixarei que ele vá para longe de mim, uma vez que ele é
meu.
Depois, ela foi se sentar na carruagem, as saias verdes
completamente espalhadas ao redor dela, pensando
novamente: ele é meu futuro. Mas, que futuro vai ser esse?
Para ser honesta consigo mesma, Rosalind nã o tivera um
pensamento para o futuro, exceto que seria perfeito, um final
de conto de fadas. Era ela uma tola. Nada era perfeito.
Poderiam acontecer tantas coisas e aconteciam, muitas vezes.
Olha o que havia acontecido com ela. O que teriam pensado
seus pais? Eles teriam lhe amado? Ela havia desaparecido —
simplesmente estava lá , e entã o se foi. Eles teriam procurado
por ela? Eles teriam se macgucado? Ela suspirou. Ela se
questionou, dezenas de perguntas, talvez até mais vezes do
que ela poderia enumarr. Ela desejava que se lembrasse mais
de passado do que aqueles míseros dez anos. Só os fantasmas
sabiam sobre seus primeiros oito anos. Fantasmas, ela
pensou, vagas lembranças em momentos de silêncio,
memó rias e rostos que ela nunca poderia entender se
reuniam ao seu redor.
E, agora, um futuro com aquele homem ao lado dela, um
futuro em branco, pronto para ser preenchido. Ela sentiu
uma onda de incerteza. Nã o, isso era um absurdo, ela estava
sendo absurda. Pelo amor de Deus, ele estava prestes a ser
testado para ver se possuia bom gosto. Sem estranheza ou
mal que pudessem ser anexados à quele homem. Mas ainda
havia os anos ausentes na vida de Nicholas — nã o para ele,
claro, — mas ela nã o sabia nada sobre o que aquele menino
de doze anos havia feito para sobreviver. E entã o: Macau —
que tipo de pessoa viveu num lugar que pouca gente ouvira
falar? Onde se falava inglê s e mandarim? Os homens teriam
haré ns em Macau? Nã o, os portugueses estavam lá , todos
cató licos, certamente nã o havia muçulmanos.
Ela tornou-se ciente, de repente, que ele estava a estudá -
la, tal como ela o havia estudado. Ela se virou para ele e
perguntou: — Você é da Igreja Anglicana?
— Suponho que seja tã o boa, quanto qualquer outra, —
ele disse, e estudou os dedos.
— Vamos, responda. Você é um homem religioso?
— Sim, suponho que seja. Em meus anos de infâ ncia
com meu avô , fomos aos domingos na igreja da aldeia, mas
depois que deixei a Inglaterra — bem, para ser honesto,
sobrevivê ncia era mais importante do que ir à igreja, pelo
menos até que eu consegui fazer o meu caminho até Portugal.
Eu acredito que tennho tendê ncia mais para o catolicismo —
a repetiçã o do ritual, o som do latim na língua — mas nã o
está muito dentro de mim. E você , Rosalind, qual a sua
religiã o?
— Sou um dos paroquianos favoritos do Vigá rio-geral
local. Há vá rios anos, desde que comecei a organizar feiras e
coleta de roupas para famílias mais pobres. Antes de vir à
casa de Brandon? — Ela deu de ombros. — Nã o tenho ideia.
Mas à s vezes, há sentimentos que surgem, sentimentos para
com Deus, mas Deus nã o como um deus da igreja da
Inglaterra. Isso faz sentido?
— Provavelmente, significa que você cresceu em outra
religiã o antes que algué m tentasse matá -la. Se você for
italiana, significa que você provavelmente seja cató lica. —
Disse isso, calmamente. — Algué m havia tentado matá -la, e
ela eras apenas uma criança. Estranho ela se sentir um
pouco sem emoçã o sobre aquilo també m, parecia que nunca
fizera parte do que ela era, do que ela havia se tornado. Ela
poderia ser italiana? Cató lica?
Ela disse: — Um monstro, eu sempre acreditei que havia
um monstro. Quando tio Ryder me trouxe à casa de Brandon,
eu sabia que o monstro estava por perto, especialmente à
noite, e eu sabia que ele me mataria e me comeria. Lembro
que Jane me colocava para dormir com Amy, para protegê -la
dos pesadelos dizia Jane. Amy era uma adorá vel menina que
queria projetar e fazer gorros quando crescesse. Eu me
lembro de um domingo, tia Sophie usava um dos primeiros
esforços de Amy para a igreja. Um cacho de uvas estava
pendurado para baixo sobre a testa dela, mas ela nunca o
tirava.
— E ela a protegeu?
— Jane era muito esperta. Logo esqueci sobre o monstro,
já que eu estava muito preocupada com os pesadelos de Amy.
Ela nunca teve um ú nico pesadelo, pelo que me lembro. Agora
que sou adulta, o monstro é de carne e sangue, e quem quer
que seja, onde quer que esteja, ele transborda de
malevolê ncia. Toda vez que eu me lembro, ao acordar, vejo
Ryder Sherbrooke, me segurando, e sempre que me recordo
das noites negras, ainda posso sentir o medo de criança, mas
agora é vago. Agora ele nã o dispara algum terror em mim.
Ele pegou a mã o dela, e olhou diretamente nos olhos
dela. — Ningué m nunca vai machucá -la, Rosalind. Eu juro
para você . Acredita em mim?
— Sim, acredito em você . Mas, e se um dia eu me
lembrar e eu souber quem tentou me matar?
— Se esse dia chegar, nó s lidaremos com isso. Prometo
que tudo correrá bem.
A carruagem bateu um bloco na pista e ela quase foi
jogada no colo dele. Uma coisa boa, ela pensou quando
lamentavelmente endireitou-se de volta contra seu assento. —
Para onde nó s iremos na nossa lua de mel? — Ele nã o havia
pensado naquilo, e ela viu no rosto dele.
Ela socou a mã o no braço dele. — O que há de errado
com você , Nicholas? Certamente você deve ter ofertado, pelo
menos, um pequeno pensamento para nossa lua de mel, onde
iremos, uma vez que será o local oficial onde você poderá se
deliciar com a minha pessoa.
Só dizendo aquelas palavras, as bochechas dela ficaram
coradas, e ele viu que ela estava excitada e envergonhada. Ele
sorriu para ela, o que era difícil, já que ele queria saciar-se
agora. Mas, claro que nã o podia. Ainda. — Nã o é que eu ainda
nã o pensei sobre isso, precisamente. — Ele lhe lançou um
olhar que a fez se sentir absolutamente nua. Ela nã o sabia o
que fazer, o que dizer. Ele continuou facilmente, — no
entanto, eu duvido que chegaremos a um destino antes de eu
satisfazer aos dois.
Ele quase pulou em cima dela, quando ela olhou em
volta do transporte, obviamente olhando à s almofadas com
amor em mente, algo, sobre o que ele imaginou, que ela muito
pouco sabia. Mas, ela amava a maldade proibida daquilo. Ele
se perguntava o que pensaria quando ele estivesse com ela,
nua, o que ela faria quando ele beijasse a barriga branca,
puxasse as pernas igualmente brancas sobre seus ombros.
— Eu ouvi a tia Sophie dizer para tia Alexandra que ela
teme que toda a sociedade vai acreditar que eu estou grá vida
já que nó s estamos nos casando tã o rapidamente. Embora,
agora que penso nisso, nó s nos casaremos muito rapidamente
para eu nem perceber que estou grá vida, naturalmente, se
nó s tivé ssemos sido ímpios imediatamente apó s o nosso
conhecimento, digamos dentro de meia hora depois de nos
conhecermos.
Naquele momento, Nicholas se viu realmente entrando
nela. Ele limpou a garganta. — Imagino que será em breve,
logo, logo.
Rosalind caiu de volta, como se ele tivesse dado um tiro
nela. Foi-se o olhar de malícia. Ele viu que ela estava chocada
e horrorizada.
Rosalind pensava, logo? LOGO, LOGO? Ele confundia a
mente dela. Foi o mesmo, quando ele falara sobre uma filha.
Nã o, — em breve — aquele negó cio nã o aconteceria. Ela nã o
estava pronta para parar de correr atravé s dos campos,
saltando valas, amarrando suas saias em torno da cintura,
entã o ela poderia subir as macieiras no pomar do tio Ryder.
Via-se gorda, bamboleando sobre a barriga enorme e formou
uma garra na maçaneta da porta da carruagem.
Ele agarrou a mã o dela, levantou-a até a boca dele e
beijou a palma da mã o. — Nã o se preocupe, Rosalind. Vou
cuidar muito bem de você .
— Eu sei, é claro, — ela disse lentamente, a voz tã o fina
quanto as fatias de presunto da cozinheira, — a luxú ria nos
levará a fazer amor, que leva entã o a bebê s.
— Que é o caminho normal das coisas, é sim. O que está
errado, Rosalind? — ele beijou a palma da mã o dela,
novamente. — Por que é que a luz da exploraçã o desapareceu
de seus olhos?
— Eu acho que eu nã o gostaria de ter qualquer desejo
mais, por um tempo, Nicholas. Tenho 18 anos. Eu sou muito
jovem. Entã o, por favor, nã o beije minha mã o novamente, me
faz querer iniciar todos os tipos de experimentos ímpios que
possam levar a minha pró pria ruína... — ela puxou sua mã o
para longe dele, ela apertou a dele como um punho e começou
a bateu contra a perna dela.
Ele encarou seu punho. — Está tentando apagar os
sentimentos maus?
— Sim, e eles quase sumiram agora.
— Rosalind, se você nã o deseja ter um filho
imediatamente, tomarei medidas para impedir a concepçã o.
— Você pode fazer isso? É possível?
Ele assentiu. — Nem sempre é bem sucedido, mas vou
tentar.
— Bem, isso é bom. Sim, isso é muito bom. Estou
satisfeita que você seja um homem sensato. Alivia muito a
minha mente. Gosto de correr, você sabe, tanto em meus pé s
quanto no topo da traseira de um cavalo. Quero continuar a
corrida talvez cinco ou mais anos.
Ele era um homem sensato? — Bem, — ele disse,
sabendo que ele deveria acalmá -la, tranquilizá -la, nã o dar-lhe
nenhuma razã o para duvidar dele, — vamos falar do meu
herdeiro novamente quando eu tiver uns 30 anos.
— Agora que resolvemos esse pequeno problema...— ela
sorriu para ele — deixe-me lhe dizer novamente que é seu
dever selecionar nossa lua de mel, Nicholas. Aplique-se na
tarefa.
Ele facilmente sorriu para ela, um sorriso que ele
conhecia há muitos anos, geralmente seduzia as mulheres
com ele. Ele viu sua leveza. Ela sorriu para ele, um sorriso
ofuscante que o fez olhar para ela. Potente, o sorriso dela. Ele
se perguntava se ela sabia como o sorriso dela era eficaz.
Quando eles chegaram à Madame Fouquet, o Conde de
Northcliffe mostrou a Nicholas desenhos de uma dú zia de
mulheres desesperadamente longelíneas que pareciam pesar
nã o mais do que as penas que adornavam seus vestidos, e
mais peças de materiais de cores diferentes, do que Nicholas
teria sonhado existiam e, pelo menos, duas dú zias de
perguntas. Todos os demais se afastaram, prestando muita
atençã o neles. Finalmente, Nicholas foi pronunciado como
tendo gosto satisfató rio.
— Rosalind, — o Conde lhe falou, acariciando a
bochecha dela, — você é abençoada. Nicholas tem gosto
suficiente neste momento. Tenho certeza que vai melhorar,
ainda mais, com o passar dos anos. Nã o me importo de lhe
dizer que eu estava preocupado. Eu acho estranho que as
mulheres da minha vida selecionem as cores que façam sua
tez parecer aveia. Mas, nã o importa, nã o se preocupe com
ficar parecendo com o seu café da manhã desde que Nicholas
existe. Vai ficar tudo bem... — o Conde apontou para um
desenho de uma mulher esbelta que parecia estar flutuando
a, pelo menos, trê s centímetros do chã o. — Você nã o vai se
envergonhar usando esse horrível tom de verde com as linhas
ridículas de babados na bainha. Já viu isto? Justamente
assim se encolhe meu fígado.
Mas aquilo nã o encolhia o fígado de Rosalind. Na
verdade, ela gostava particularmente daqueles babados.
Aqueles babados lindos a deixariams como se ela estivesse
flutuando també m. Porque ela nã o era uma tola, se manteve
calada. Ela viu Nicholas e tio Douglas trocarem um olhar.
Como Madame Fouquet, ela olhou o tio Douglas com um
olho muito apreciador, Rosalind observou e concordou com o
que ele disse. Tio Douglas nã o pareceu se preocupar com a
sua adulaçã o.
Quando finalmente o seu vestido de noiva foi
pronunciado aceitá vel pelo tio Douglas, ela e Nicholas foram
dispensados. Nicholas piscou para ela e a pegou pela mã o.
Quando chegaram na casa da cidade, de Sherbrooke,
Willicombe e sua cabeça careca suando, veio voando para fora
pela porta da frente, com o rosto pá lido disse-lhes que Miss
Lorelei Kilbourne fora raptada, todos estavam aparvalhados e
eles deviam fazer algo.
16

Parecia que Grayson e Lorelei estavam passeando no


Hyde Park, de mã os dadas, quando de repente dois rufiõ es,
lenços sobre seus rostos, saltaram dos arbustos e bateram na
cabeça de Grayson. Quando ele acordou, Lorelei havia
desaparecido.
Mas entã o, nã o mais de duas horas mais tarde, ela foi
deixada sem a menor cerimô nia na porta da frente de
Sherbrooke, machucada, sua roupa suja e rasgada e um
pouco atordoada, mas nã o dolorida. Todos os Kilbournes —
pai, mã e, quatro filhas — agrupados na sala de visitas,
Alexandra e Sophie tentando mantê -los calmos.
Os cavalheiros haviam acabado de voltar do examine do
local do rapto no Hyde Park e de repente, lá estava ela na
porta aberta, apoiada por Willicombe. A mã e gritou,
pressionando as palmas sobre seu colo e correu para abraçar
o seu precioso filhote. — Obrigado Deus por reaver meu
tesouro mais antigo — disse a mã e de Lorelei, repetidamente
abraçando a filha no seu ventre macio. Os outros quatro
tesouros choraram, o milord Ramey parecia mal e precisava
de conhaque.
Foi Grayson quem colocou um copo de seu tio do melhor
conhaque francê s na mã o do Milord Ramey. Já que havia sido
Grayson quem perdera a filha dele, ele esperava que aquilo
começasse sua redençã o aos olhos do pai dela. Foi um copo
de um particularmente fino conhaque, e favorito do tio
Douglas, que ele serviu ao Milord Ramey.
A pedido do tio Douglas, Sir Robert Peel apareceu uns
trinta minutos depois da reuniã o a perguntar por Miss
Kilbourne, que estava reclinada graciosamente sobre um
chaise de brocado azul pá lida, um lindo xale espalhado sobre
as pernas, uma delicada xícara de chá quente na mã o,
Grayson em pé atrá s dela, a mã o em seu ombro. Desde que
Grayson sabiamente lhe contara que ficou impressionado com
a coragem maravilhosa dela, apesar das lá grimas de sua mã e
e irmã s, que Lorelei nã o hesitou quando falou:
— Eu temia que o Sr. Sherbrooke estivesse morto já que
um daqueles homens brutais golpeou-o tã o forte na cabeça.
Lutei contra eles, Sir Robert, mas eram mais fortes e um deles
me pegou e me jogou por cima do ombro. Ele me levou para
uma carruagem escondida em um beco desagradá vel e me
jogou lá dentro, no chã o. Um homem atingiu a minha cabeça,
me amordaçou e amarrou minhas mã os atrá s das costas. Ele
nã o disse nada para mim, fez uma espé cie de grunhido, como
se estivesse satisfeito por ter feito um bom trabalho. A porta
bateu e o outro homem chicoteou os cavalos. — Talvez quinze
minutos mais tarde, a carruagem parou e um dos homens
abriu a porta da carruagem... — aqui, ela olhou para
Grayson, que acenou um incentivo para ela...— mas antes
que eu pudesse fazer algo, ele tirou a mordaça da minha boca
e pressionou um lenço sobre o meu rosto. Eu aspirei um odor
doce enjoativo. Suponho que devo ter ficado inconsciente,
porque eu nã o lembro de nada mais.
— Quando acordei eu estava deitada no banco do
transporte. Minha cabeça doía, e eu senti tudo mole, como se
minhas pernas estivessem pesadas demais para se mover.
Entã o, a carruagem parou e um dos homens abriu a porta e
me arrastou para fora. Deitou-me na soleira da porta. Olhei
para cima para vê -los indo embora muito rá pido. Chutei a
porta para que alguém viesse. Willicombe soltou as minhas
mã os e me ajudou a levantar. — Sir Robert Peel, abençoado
com ombros fortes e belamente vestido todo de cinza, acenou
com a cabeça lentamente para a moça muito jovem e parecia
sá bio. O que ele era.
— Isso foi muito bem indicado e contado, Miss
Kilbourne. Notou algo estranho sobre os homens que levaram
você , ou a carruagem?
Lorelei pensou sobre aquilo. — Os homens eram
valentõ es, do tipo que se vê rondando a taverna em nossa
aldeia, perto de casa, roupa suja e olhos maus, como se
fossem rasgar uma garganta e nã o se arrependessem disso,
nem por um momento.
— Eles nã o chamaram ningué m pelo nome ou dizeram
algo?
— Ouvi um deles, dizer que esperava que o jovem rapaz
nã o batesse as botas, já que o outro homem o golpeara tã o
forte, e eles nã o haviam sido pagos para bater as botas de
algué m. — Ela fez uma pausa. — A carruagem possuia uma
espé cie de crista na porta, Sir Robert. Era como se os homens
tivessem tentado cobri-la com um pano, mas ficou torto e
vi…. — ela colocou as mã os à cabeça e pressionou.
A mã e dela, com um gemido, levantou-se para ir ter com
ela, mas Sir Robert fez um gesto para ela, e ela sentou-se
novamente. Ele disse, — você está indo bem. Miss Kilbourne.
Pense nisso por um momento... — e a milady Ramey deu um
sorriso encantador e uma pequena agitaçã o da cabeça. Ele
disse ao milord Ramey, — você deve estar muito orgulhoso da
sua filha, milord. Ela nã o é nenhuma menina para desmaiar.
As outras quatro filhas colocaram os olhos umas nas
outras e, entã o para sua irmã , em seguida, endireitaram os
ombros e tentaram parecerem competentes. Até a filha mais
nova, Alice, nã o mais de treze anos pareceu impressionada.
Se Lorelei pensara em considerar o desmaio, ela nã o
considerava agora. Grayson tomou a mã o dela e estava
levemente esfregando o polegar sobre suas articulaçõ es. — A
crista, — Grayson disse. — Havia cores, formas, você pode se
lembrar?
— Eu vi a porta por apenas um momento, muito breve,
— ela disse, — mas sim, me lembro, as pernas de um leã o, eu
acho, em pé na posiçã o vertical, e havia a parte inferior de um
círculo vermelho e uma faixa de ouro ao redor. Era como se o
leã o estivesse segurando o mundo. Desculpe-me, isso é tudo
que me lembro.
— Eles amordaçaram você , mas nã o a machucaram? Nã o
a ameaçaram? Nã o deram nenhuma ideia que eles estavam
lhe sequestrando para extorquir dinheiro?
— Nã o. Eles amaldiçoaram muito, particularmente
quando mordi a mã o de um homem, mas ele nã o me bateu ou
falou, só amaldiçoou. E depois que eles colocam aquele lenço
contra meu nariz, nã o tenho memó ria de nada.
Sir Robert despediu-se, ciente que mais estava
acontecendo na sala de Sherbrooke do que haviam lhe
contado disseram. Passaram outros quinze minutos antes das
mulheres Kilbourne pedirem licença, as filhas da milady
Ramey agora a apoiando, uma vez que Lorelei parecia bem.
Milord Ramey, depois de beber trê s copos do magnífico
conhaque do Conde, ainda estava lançando a Grayson olhares
acusadores, por perder sua filha. Entretanto, foi marcado um
encontro para o dia seguinte, se Grayson estivesse preparado
para isso. Sem dú vida sobre isso, Rosalind pensava, visto o
sorriso fá tuo de Lorelei.
A sala de estar ficou silenciosa, quando a porta se fechou
atrá s do milord Ramey.
Foi Grayson quem finalmente disse em voz alta o que
todos pensavam. — Os homens cometeram um erro. Nã o há
nenhuma dú vida em minha mente que aqueles homens
achavam que Lorelei era Rosalind.
Ryder disse, — eles rodaram por quinze minutos, entã o
Miss Kilbourne acredita que foi drogada com o lenço
embebido de clorofó rmio e obviamente a levaram para uma
casa onde quem queria Rosalind os estavam esperando. Eles
viram que nã o era Rosalind e nã o mataram Lorelei. Quem
quer que ele fosse, evitou o assassinato de um inocente. Pelo
menos é alguma coisa. Eles a mandaram de volta.
Rosalind estava sentada ao lado de Grayson, falando
baixo, quando ouviu o tio Douglas dizer, — onde está
Nicholas?
Mas Nicholas nã o estava lá . Ele se fora.
Lee Po parou Grace e Leopold em frente de uma bem
cuidada e importante casa georgiana da cidade, na Praça 14
de Epson. Quando caminhou para a porta da frente, Nicholas
disse por cima do ombro, — nã o, nã o discuta comigo, Lee.
Quero que ande com os cavalos cinzentos ao redor da Praça.
Nã o se preocupe comigo, eu sei onde estou. Eu nã o devo
demorar.
Lee Po nã o gostou, mas nã o havia nada que ele pudesse
fazer. Ele sabia quem vivia naquela casa. Nicholas nã o esteve
dentro da casa, da cidade, desde que ele era um menino
pequeno — ou seja, desde o casamento do pai com Miranda
Carstairs, filha caçula do Barã o Carstairs, quase cinco meses
apó s a mã e de Nicholas ter morrido.
A batida foi respondida por um pá lido e furtivo homem,
com aparê ncia jovem, de cabelo tã o loiro que parecia branco
na luz ofuscante do hall de entrada.
— Sim? — Uma voz muito suspeita, Nicholas pensou, e
entregou-lhe o cartã o dele, entã o o viu olhar para ele e fazer
um tique nervoso. É isso mesmo, seu pequeno verme, pensou
ele, eu estou aqui.
Ele disse em uma voz calma, — desejo ver meus meio-
irmã os, um ou todos eles. Agora.
— Ah, milord, permita-me ver se o mestre Richard está
disponível. — o mordomo levou Nicholas para uma sala de
estar, que ele recordava que cheirava a rosas, perfume da
nova esposa de seu pai. Ele odiava o cheiro até hoje.
As paredes estavam cobertas com painé is de carvalho, as
cornijas clá ssicas, a lareira ornamentada e a mobília leve e
arejada, fazendo sentir a sala de estar, mais espaçosa do que
realmente era. Como o exterior da casa, estava bem cuidada.
Era necessá rio um monte de dinheiro para manter aquela
propriedade, Nicholas sabia; Ele queria saber quã o profundo
os bolsos dos seus irmã os eram. Ele procurou por qualquer
sinal de que Lorelei estivera naquela sala, mas ele nã o viu
nada fora do comum.
Virou-se quando a porta foi aberta e seu meio-irmã o
Richard deu uma volta, parecendo muito elegante em calças
marrons escuras e um colete de listras marrom e creme. O
casaco era de veludo marrom escuro. Ele parecia muito bem e
indolente, um jovem cavalheiro com nada mais em sua mente
do que sua diversã o noturna. Ah, mas em seus olhos escuros:
cautela. Nã o, ainda mais, Nicholas percebeu que ele estava
alarmado.
Em sua voz entediada cultivada, Richard disse: — Bem,
bem, se nã o é um Vail que eu nunca esperava ver aqui. O que
você quer.
Nicholas caminhou até seu meio-irmã o, recuou o punho
e bateu em na mandíbula dele. Richard caiu para trá s, bateu
no braço de uma cadeira e caiu. Ficou atordoado por um
momento. Nicholas mexeu-se para ficar em cima dele, mã os
nas ancas.
— Nã o lhe bati tã o duro, seu pequeno pulha,
recomponhas-se.
Richard Vail balançou a cabeça e esfregou o queixo. Ele
olhou para Nicholas e lentamente ficou em pé . Entã o, sem
aviso, ele pulou em cima de Nicholas.
Ele era forte e rá pido. Os dois se enredaram na luta.
Richard enviou seu punho na barriga de Nicholas. Doeu, mas
nã o tanto assim. Nicholas sorriu quando atingiu a garganta
de Richard com a parte grossa da mã o, o empurrou para trá s,
engasgasgado, até encostá -lo na parede, enquanto as mã os
dele, descontroladamente, esfregavam o pescoço. Nicholas
agarrou-o pelo colarinho e arrastou-o na posiçã o vertical. Nã o
bateu nele, mas deu dois passos para trá s e atingiu seu pé na
barriga dele. Richard resmungou e tropeçou contra a lareira,
agora segurando o estô mago.
Nicholas disse, — eu poderia bater em você mais abaixo,
gostaria disso? ...
— Nã o! — gritou Richard, tentando respirar, saltando
rapidamente para o lado para se proteger. Nicholas ficou em
silê ncio, esperando.
— Você é um bastardo! Você chutou minha barriga e
atingiu minha coluna vertebral. Nunca vi nada assim. Isso é
do seu amigo chinê s pagã o?
— Eu direi isto somente uma vez, Richard, se você agir
novamente, eu mato você . Hoje você sequestrou a garota
errada. Se você tentar pegar Rosalind novamente, você é um
homem morto. Você me entende?
Richard Vail nã o tentou negar a sua culpa. Ele olhou
para seu meio-irmã o com ó dio e uma boa dose de medo. Seu
estô mago queimava ferozmente.
Nicholas disse, sua voz ainda mais suave, mais
silencioso, — compreende?
Finalmente, Richard assentiu com a cabeça.
— Bom, — Nicholas disse, espanou as calças e se virou
para sair. Ele fez uma pausa na entrada. — Você contratou
dois valentõ es incompetentes, foi assim como Lorelei
Kilbourne descreveu seus homens. Você tem o dinheiro do
pai. Certamente você poderia ter comprado um talento
melhor. Você contratou tolos que deixaram o pano cair um
pouco, mostrando o brasã o da família do nosso pai no
transporte, e sabe que Lorelei o viu? Eu sabia que era você
sem a necessidade dessa informaçã o, mas me fez sentir
melhor ter uma prova.
Richard Vail estava encostado na prateleira, seu rosto
moreno estava pá lido, a fú ria imponente em seus olhos. — Eu
só queria falar para aquela garota com quem você vai se
casar, que você é sem importâ ncia, que nã o tem dinheiro
exceto o que o Sherbrookes lhe dará como dote. Eu queria
dizer-lhe como você realmente é , e avisá -la que está
cometendo um grande erro.
— Se deseja falar com a milady, por que você
simplesmente nã o vai visitá -la? Sua mã e nã o lhe ensinou
boas maneiras em todos estes anos?
Richard nã o disse nada.
— Ah, claro que você queria adicionar ameaças, nã o é ?
Você sabe, eu arrisco a dizer que se algué m fosse tolo o
suficiente para ameaçar a Rosalind, ele dolorosamente se
arrependeria. Ela é ... — Nicholas encontrou-se a olhar para
uma estatueta de uma triste pastora, sentada ao lado da
orelha de Richardm em cima da lareira — ela é bastante feroz.
— e ele percebeu que, quando se virou sobre seus
calcanhares para sair: que ele estava sorrindo. Mas entã o
parou e se virou. — Se, e por um acaso louco, você nã o estava
pensando em ameaças, se estava planejando pega-la e jogá -la
no Tamisa para se livrar dela para sempre — — Nicholas
percebeu que estava tremendo. E disse muito baixinho, — se
você estava considerando fazer minha noiva simplesmente
desaparecer, nã o, Richard. Se algo acontecer a Rosalind,
Lancelot será o pró ximo na fila para o meu título. Você estará
morto.
— Maldito vá para o inferno! Espero que ela o machuque!
Nicholas riu com isso.
O jovem pá lido que o havia cumprimentado na porta da
frente estava perto da sala de estar, torcendo as mã os. E
lançava olhares frené ticos por trá s do ombro esquerdo de
Nicholas.
— O que você está fazendo aqui?
Nicholas se virou para ver Lancelot Vail correr
rapidamente para as escadas, vestido, elegantemente, como
seu irmã o mais velho, de cara apavorada, com a visã o de
Nicholas.
— Eu estava prestes a sair, Lancelot, — disse Nicholas.
— Porque você nã o vai servir para o seu irmã o uma boa dose
de conhaque?
17

Rosalind estava olhando pela janela de arco, os narcisos


balançando na brisa da tarde de quarta-feira, esperando por
Nicholas, quando a porta se abriu. Mas foi Willicombe quem
entrou na sala de estar. Ela estava impaciente e preocupada,
mas ainda assim ela sorriu, porque Grayson recentemente lhe
confiou que estava transformando Willicombe em um má gico,
em seu pró ximo romance, com a cabeça cheia de cabelos
vermelhos, e que era para ser uma surpresa. Rosalind
arqueoou uma sobrancelha para ele.
— Milady Mountjoy está aqui para vê -la, Miss Rosalind.
Mountjoy errada.
Lady Mountjoy simplesmente nã o entrou na sala de
estar, flutuou por ela, uma figura envolta na cor lavanda, com
botas a sua enorme capa decorada com grandes cachos de
uvas roxas. Ela era entroncada, miuda e para o lado do gordo,
mas, ainda assim, ela parecia pronta para assumir as legiõ es
romanas, algo tanto para alarmar quanto para impressionar.
Sob o chapé u incrível, seu cabelo era bem loiro, de poucos
fios cinzentos e difíceis de ver. Os olhos dela eram muito
leves, talvez azuis, ou cinzas. Lancelot era o retrato de sua
mã e. Entã o essa era a madrasta de Nicholas: Miranda, a
mulher que gerou trê s filhos e lhes ensinou a odiar Nicholas.
Lady Mountjoy nã o parecia feliz, mas ela parecia
determinada, e aos olhos de Rosalind, parecia inquieta, linhas
de descontentamento saindo de sua boca. Ela olhou para o
lado, como se estivesse com medo de que algo estivesse
acontecendo, que ela nã o conseguia controlar. Ah, talvez
esteja chateada porque seus filhos nã o conseguiram se livrar
de mim para impedir Nicholas de ter uma criança comigo, e
ela veio para me convencer a romper meu noivado com
Nicholas. Rosalind esperava que a mulher nã o tivesse um
estilete em sua linda bolsinha frisada.
Ela olhou a futura madrasta e esperava que aquela fosse
a missã o. Ela nã o poderia imaginar qual era o propó sito
daquela visita. Talvez ela estivesse ali para tentar comprá -la.
Rosalind permaneceu em silê ncio quando Lady Mountjoy
parou bem perto de seu nariz — muito rude, pode ter a
certeza — mas Rosalind achou que cairia na risada por causa
daquela fê mea gorda, uma mulher miuda, tentando intimidá -
la. Lady Mountjoy olhou-a de cima abaixo e empinou o nariz.
Ela deu um passo para trá s, como se percebendo que estava
em desvantagem, pois Rosalind a ultrapassava alguns bons
quinze centímetros e anunciou, — você é jovem e nã o parece
ter muito juízo. Estou surpresa que Nicholas a tenha
escolhido, mas talvez ele esteja desesperado. Diga-me,
miladyzinha, quanto de dote os Sherbrookes estã o colocando
nos bolsos dele?
“Miladyzinha?
Um tiro certeiro sobre a proa, nenhum ataque piegas para
este abutre.”
— Ah, presumo que seja madrasta de Nicholas?… —
infelizmente é verdade. Eu entendo que você nã o via seu
enteado desde que ele partiu, depois da morte do seu avô . Ele
estava com doze anos de idade? E quantas vezes você e o pai
dele foram visitá -lo enquanto ele estava morando com o
antigo Conde? Uma vez, duas vezes? Parece-me, milady, que
você nã o o conhece; Nicholas é um estranho para você .
Poderia passar por ele na rua e nã o conhecê -lo. Por que entã o
está tã o surpresa com quem ele tenha escolhido?
Milady Mountjoy acenou com a mã o. — A gente ouve
coisas de parentes e amigos. Todos concordam que ele é um
estú pido e, portanto, escolher você os deixou desnorteados,
talvez acreditando que você o seduziu.
— Hmmm. Eu o conheci há uma semana. Uma seduçã o
muito rá pida, nã o acha?
— Nã o brinque comigo, mocinha!
Rosalind lançou-lhe um sorriso radiante e um aceno com
a mã o. — Como você está milady Mountjoy? A que devo a
honra de sua presença?
— Você me pergunta como eu estou? Muito bem,
contarei como eu estou. Meu espírito está agitado, estou
perturbada. Eu nã o queria conhecer você , mocinha, mas aqui
estou, sou forçada a vir. Quem me dera que você nã o tivesse a
honra da minha presença.
— Quer sair? Eu nã o a forçarei a permanecer. —
Rosalind viu um dedo gordo adornado com um grande
diamante apontado para o rosto dela. — Cale-se. Você é
realmente muito comum, embora nã o me surpreenda esse
fato.
— Talvez eu possa cantar para você . Disseram-me que
tenho uma voz linda, que quando algué m me ouve cantar,
facilmente esquece minha juventude e minha vulgaridade.
Nã o preciso nem um piano para me acompanhar. O que
milady acha? — Rosalind nã o sorriu, ela simplesmente ficou
ali, esperando para ver o que milady Mountjoy faria.
— Nã o quero ouví-la cantar. Isso é ridículo. Agora, estou
procurando por Nicholas, mas imagino que ele será rude e
nã o vai se mostrar.
— Seus parentes e seus amigos nã o lhe disseram que a
residê ncia dele, atualmente, é no Hotel de Grillon? Ele possui
um lindo conjunto de salas lá e todo o pessoal é muito
atencioso com ele. Você gostaria do endereço do Grillon?
— Eu sei onde sei onde fica o Hotel de Grillon, sua
impertinente e desclassificada. També m ouvi dizer que ele
tem um servo pagã o que é muito provavelmente mais
perigoso do que ele. Nã o, nã o vou lá .
— Lee Po, perigoso? — Rosalind acenou pensativamente.
— Possivelmente sim. Quanto ao Nicholas sendo perigoso,
nã o tenho a certeza disso. Com toda a honestidade, ele pode
ser bastante lacô nico, poré m, é porque ele sente as coisas
muito profundamente as coisas, sabe...
Lady Mountjoy rosnou. — Ele é um homem, sua tola. Os
homens raramente sentem alguma coisa que vale a pena
comentar. É verdade, eles sentem a luxú ria em seus anos
mais jovens, mas em seus anos mais velhos, somente sabem
erguer a garrafa de conhaque em suas mã os. — Talvez aquilo
fosse parte da razã o para o descontentamento de Lady
Mountjoy — sem amor e sem conhaque.
Rosalind disse: — É uma grande pena que você nã o
conheça mesmo o seu enteado, milady, por que eu acredito
que ele seja verdadeiramente notá vel. Lamento que Nicholas
nã o esteja aqui no momento. Eu acredito que ele saiu com
meus tios para atirar, no Manton. Eu queria ir, mas eles nã o
permitem mulheres, ainda. Aceita uma xícara de chá ?
Lady Mountjoy agarrou a mã o de Rosalind e a apertou,
fazendo as uvas dançar no seu chapé u. — Nã o quero chá
garota estú pida, quero dizer que cancele este absurdo
casamento com Nicholas. Estou aqui para tentar salvá -la,
mesmo que você seja tã o comum quanto uma erva daninha e
nã o mereça ser salva. — Ela baixou sua voz para um silvo. —
Sua vida está em perigo. Nicholas Vail é um patife. Quando o
pai dele o expulsou de casa, nã o havia um ú nico tostã o...
Ah, entã o ela finalmente chegou lá . Rosalind disse, com
leveza: — Bem, como ele poderia ter um ú nico tostã o, quando
seu pai o expulsou? Ele nã o era somente um menino?
— É a mesma coisa. Meu marido disse que o velho conde
deu para Nicholas bastante dinheiro antes de morrer, mas eu
pergunto: O que aconteceu com ele? Ouvimos que Nicholas,
simplesmente, desapareceu — eu sei que ele perdeu o
dinheiro. Ele era manhoso e malvado, um bom para nada
desde os cinco anos de idade. Ele nã o possuia nada quando
deixou Inglaterra.
— Você sabe, eu nã o acredito que Nicholas tenha perdido
tudo, mas vou perguntar. Gostaria também de saber o que
aconteceu com o dinheiro, se seu avô realmente lhe deu
algum. Ele foi roubado? Talvez deixado para morrer?
— Controle seu melodrama. Nicholas era um parasita
quando era um menino, e tenho certeza de que ele se manteve
um. O que quer que tenha acontecido, Nicholas perdeu o
dinheiro que seu avô lhe deu. Todos sabemos que ele é ainda
pobre. Ele tem um título, sem dinheiro e, portanto, precisa de
uma herdeira. Entã o estou aqui para dizer a verdade. Ele só
quer o dinheiro dos Sherbrookes. Ele irá tirar uma criança de
você , em seguida, assassiná -la em sua cama. Se você confiar
nele, você é mais tola do que eu acredito que você seja.
— Como a fruta que nunca cai longe da á rvore paterna
ou materna?
Rosalind acreditou, por um instante, que Lady Mountjoy
a esbofetaria. Ela estufou seu ventre, ficou assustadoramente
vermelha no rosto, e sua respiraçã o era tã o alta quanto um
fole. Mas ela se segurou, ainda. Rosalind percebeu, naquele
instante, que se a mulher tivesse batido nela, ela retaliaria e a
derrubar, com grande prazer. Queixo para cima, ombros
enquadrados, Lady Mountjoy disse:
— Meus filhos sã o cavalheiros, nutridos pela á rvore
parental e maternal. Eles sabem das coisas, eles sabem como
se comportar. O qunto foi possível, meu marido declarou
Nicholas um bastardo, mas o rapaz teve a ousadia de olhar a
foto dele e amaldiçoar o destino.
Rosalind conseguiu puxar a mã o selivrando da
surpreendentemente forte aderê ncia de Lady Mountjoy. Ela se
afastou da mulher para se sentar no sofá . Observou Lady
Mountjoy andar na frente dela. Seu ventre imponente parecia
pronto para derrubá -la, mas nã o, possivelmente porque ela
tenha sido fortemente espartilhada. Ela havia sido muito
bonita, Rosalind pensava. Rosalind disse finalmente: — Eu
conheci seus filhos Richard e Lancelot, em Drury Lane,
quando assistimos Hamlet. Eu, pessoalmente, nã o ligava para
o desempenho de Kean. Você o viu como Hamlet?
— Você está tentando me distrair e nã o vai funcionar.
Fique em silê ncio... — ela fez uma pausa, olhando Rosalind
de cima abaixo. — Alé m disso, eu sei que você é uma fraude.
— Ah, entã o eu já nã o sou a vítima. Como Nicholas agora
eu sou uma patife també m? Se isso é o que você acredita,
entã o por que está preocupada com a atitude dele? Nó s somos
pobres e somos dois patifes. Gosto de cada um. Nã o acha
apropriado?
Rosalind pensava que a mulher fosse explodir. Isso a fez
se sentir muito bem. Ela estava aprendendo uma excelente
liçã o: Segure a cabeça com ambas as mã os e respire. Quanto
a milady Mountjoy, parecia que ela nã o havia aprendido
aquela liçã o. O rosto dela estava alarmante.
— Está zombando de mim, você nã o vale nada, é a
vergonha para as miladys. A ú nica razã o pela qual a
sociedade é obrigada a dar qualquer atençã o a você é por
causa de Sherbrookes. —
— Bem, claro que tem razã o. Qual é o seu ponto de vista,
milady? Que eu nã o sou boa o suficiente para casar com o
Conde de Mountjoy, mesmo que a senhora acredite que ele
seja pobre e um patife?
Um espasmo de raiva passou pela boca de Lady
Mountjoy. Ela percebeu que estava perdendo terreno e nã o
conseguiu encontrar a saída.
— Você certamente nã o é boa o suficiente para casar
com o real Conde de Mountjoy! Nicholas, o Conde? Bah!, eu
digo. Nem você deve carregar esse nome orgulhoso! E seu
nome: La Fontaine. — O pobre homem escreveu nada mais
que tolas fá bulas sobre coelhos e tartarugas de corridas, entre
as outras coisas, — ridículo! — Contos sobre moral que nã o
possuem nenhum espelho na vida.
— Bem, para ser honesta, mais uma vez, creio que está
certa. Mas você nã o vê , que de alguma forma esqueci meu
pró prio nome e precisei arranjar um novo. Já que eu amo
manhosas raposas e corvos vaidosos, a senhora pode
imaginar minha alegria quando eu aprendi que Jean de La
Fontaine escreveu contos tã o encantadores. La Fontaine —
flutua bastante bem a língua, nã o acha?
Milady Mountjoy parecia espantada e furiosa. Na
verdade, parecia que se ela tivesse uma arma, Rosalind
estaria deitada, morta, aos pé s dela. Ela sacudiu o punho
branco roliço, trê s grandes ané is em seus dedos, no rosto de
Rosalind.
— Nada disso é o ponto, minha menina. Cale-se.
— Entã o, milady, por que mencionou isso?
Lady Mountjoy soltou a mã o e suspirou, e Rosalind
temeu por ela.
— O fato é que você nã o é realmente uma La Fontaine.
Rosalind disse: — Bem, naturalmente nã o. Eu já
expliquei isso. Devo dizer, milady, nã o parece ter descoberto
muito sobre mim. Talvez nã o tenha um advogado muito
competente.
— Glendenning é um idiota. Ele deixou Nicholas
reivindicar o título do meu filho. É meu amigo especial, Alfred
Lemming, que é competente. Infelizmente ele está na
Cornualha, no momento, a visitar a sua pobre propriedade,
em Penzance.
Lady Mountjoy possuia um amante?
Rosalind disse: — Você nã o deve culpar o pobre
Glendenning sobre a questã o de perder o título. Acredito que
a lei de primogenitura impede qualquer outro curso de açã o.
Nicholas é o primogê nito, afinal de contas, e apesar das
maquinaçõ es do pai, ele é o legítimo Conde de Mountjoy.
— Primogenitura, que palavra ridícula, um pouco
ultrapassada, escandalosamente, e injusta da lei.
— É antigo, mas nã o de todos os pontos, no mundo
moderno.
— Nicholas nunca deveria ter recebido o título e essa é a
verdade. Meu precioso Richard deve ser o Conde. Eu tenho
amigos, mocinha, amigos que conhecem o Sherbrookes,
amigos que me contaram sobre Ryder Sherbrooke e sua
coleçã o de pequenos mendigos, e que um dos quais está há
mais de dez anos com ele. Ah, estou vendo a vergonha nos
seus olhos. O que você tem a dizer sobre isso?
— Eu agradeço a Deus, todas as noites, que Ryder
Sherbrooke tenha me encontrado e salvou a minha vida. Você
acha que eu deveria fazer mais? Ah, querida, todo o meu
dinheiro vem dele també m. Tricotei-lhe algumas meias, em
uma ocasiã o, para o Natal, e ele as usa, abençoado.
Rosalind orou sinceramente que Lady Mountjoy nã o
caísse em apoplexia. Seus pulmõ es poderosos pareciam
prontos para estourar em seu corpete de lavanda, os punhos
fechados, em suas duas laterais. Talvez Rosalind devesse
parar de chateá -la.
Miranda: Lady Mountjoy, estava frustrada e perplexa por
causa daquela jovem com o cabelo vermelho glorioso e por
demais de inteligente, da qual até mesmo Richard havia
comentado, favoravelmente, sem querer, é claro. Ela desejava
que o cabelo da menina fosse grosseiro e vulgar, com todos os
cachos grossos desenfreados, mas nã o era. E aqueles olhos
azuis — o pai dos filhos dela tivera olhos azuis, olhos lindos,
— mas ele estava morto, aquele grosseirã o sem consideraçã o
que havia sido realmente muito velho para ela no momento
que ela casou com ele, mas ela insistiu. E entã o, ele teve a
ousadia de bater as botas depois de quase vinte anos. Ela
gritou para Rosalind, — você nã o está prestando atençã o
adequada em mim, menina!
— Ah, só me ocorreu que, uma vez eu esteja casada com
Nicholas, prevaleço sobre você . Você me chamará de Lady
Mountjoy e me fará reverê ncia. Você vai ser a milady de
Mountjoy, viú va.
Lady Mountjoy pegou o que estava à mã o — uma
almofada de brocado verde adorá vel — e atirou-a contra
Rosalind que jogou-a longe, no ar, rindo. E ficou muito
aliviada que Lady Mountjoy nã o tivesse uma bengala à mã o.
— Diga-me, milady, se quiser se sentar e conversar como
uma pessoa razoá vel, eu teria muito prazer em responder.
Deseja sair ou deseja se sentar e se acalmar?
Mesmo com a visã o de Lady Mountjoy turva em sua
raiva, ela se sentou em frente Rosalind em uma cadeira de
brocado listrado que combinava com a almofada. As linhas
em ambos os lados da boca dela pareciam ainda mais
profundas, uma pena. Ela sentou-se perfeitamente em linha
reta como se uma placa estivesse nas costas dela, imperiosa
como um juiz, Rosalind pensava. Mas havia um ar de
incerteza sobre ela agora. Pode ser que ela tivesse disparado
todo seu canhã o? Ela poderia pensar em mais insultos, nã o
haveria mais ataques?
Rosalind se levantou, caminhou até à lareira e puxou o
fio da campainha ao lado. Quando Willicombe apareceu quase
dez segundos mais tarde, Rosalind lhe pediu chá e bolos. —
Devo perguntar se dona Sophia está disponível, Miss
Rosalind?
— Oh, nã o, milady Mountjoy e eu estamos tendo um
momento encantador. Ela vai ser minha futura madrasta,
sabe...
Willicombe sabia — e custou-lhe todo o seu treinamento
para nã o dizer à bruxa velha para subir de volta com sua
vassoura e sair de lá .
As duas miladys se sentaram frente a frente, a milady
Mountjoy tocando com a ponta dos dedos no braço da
cadeira, a frustraçã o transbordando para fora dela. Rosalind
balançou o pé e assobiou uma melodia cadenciada, até que
Willicombe com a sua forma imponente voltou à sala de estar,
carregando uma bandeja de prata com chá e bolos. Quando
tudo estava em ordem, Rosalind quase achou que precisaria
empurrar Willicombe para fora. Ela fechou e trancou a porta.
Ela sorriu agradavelmente para Lady Mountjoy. — Ryder,
meu tio, sempre diz se houver bile para ser derramada, é
sensato trancar a porta. Ele també m diz que nã o há nada
como uma boa xícara de chá quente para definir as coisas
corretamente.
— Um homem diria algo estú pido assim, amaldiçoo todos
eles para o inferno.
— Entã o, milady, você quer chá ?
Lady Mountjoy disse-lhe que nã o estava com sede,
solicitou dois torrõ es de açú car e uma gota de leite e começou
a derramá -lo na sua garganta.
— Meu tio Ryder tem toda a razã o sobre o derramamento
de bílis, nã o acha?
— Ele nã o é seu tio!
Rosalind disse baixinho, — eu sei. Muitas vezes me
pergunto se eu tenho um tio de sangue, lá fora em algum
lugar. Talvez ele ainda esteja me procurando. É mais prová vel
acreditar que ele tenha morrido há muitos anos.
Lady Mountjoy pareceu momentaneamente
desconcertada. Ela conseguiu um substancial bufo e depois
rosnou: — Certamente nã o procuraria você .
Aquilo foi um golpe impressionante. Rosalind se sentou,
sua xícara de chá na mã o. — Nunca me disse por que o pai
do Nicholas mandou seu filho primogê nito, com cinco anos de
idade, embora. Imagino que foi depois que você casou com o
pai dele, nã o é ?
— Quando Richard era jovem, meu querido marido sabia
que ele era o filho legítimo que merecia seguir seus passos,
nã o Nicholas.
— Como era Nicholas milady?
— Ele era uma criança impossível, manhoso, sempre se
escondendo e me espionando. Ele me odiava, odiava o pai,
alegou que o pai havia assassinado a mã e dele e que eu o
havia ajudado. Eu sabia que ele faria o seu melhor para
assassinar o pobre Richard pouco depois de nascer e entã o
meu marido mandou-o para viver com o avô , aquele velho
louco. Mas ele voltou. Droga, ele teve a ousadia de voltar!
— Soube que a mã e dele havia morrido somente cinco
meses antes de você e o pai dele casarem?
— O que importa? Está vamos apaixonados, esperamos
muito tempo. A mã e dele era uma criatura piedosa, uma que
rivalizarva com o vigá rio em preto, parecia a condenaçã o.
Quando ela morreu de uma infecçã o pulmonar, foi um grande
alívio para todos, especialmente para o marido. Mesmo que
ela imaginasse ser uma santa, ainda reclamou infinitamente
que nã o era justo o velho conde ainda estar vivo, — devo
admitir ela estava muito certa sobre isso. O velho deve ter
gostado de ficar mais anos sobre esta terra... — ela tomou um
gole no chá dela. — Mary Smithson — Sim, era o nome que
todos a chamavam. Quanto ao velho Conde, ele simplesmente
se tornou cada vez mais excê ntrico — considerava-se uma
espé cie de má gico, se você pode acreditar nisso. Ele era louco,
eu sempre pensei assim. Ele criou o Nicholas e o fez nos odiar
mais. —
— Mas por quê ?
Lady Mountjoy olhou-a com repugnâ ncia. — Isto nã o é
nada da sua conta. Deixe-me dizer, menina, você nã o é
inteligente. Você coloca palavras juntas, que parecem
inteligentes, mas nã o sã o. O velho ensinou a Nicholas coisas
estranhas, escalas sobrenaturais e misteriosos rituais,
cerimô nias loucas com fantasmas e espíritos convidados, o
preparo de poçõ es mortais. Havia ímpia magia acontecendo
em Wyverly Chase, era tudo o que se sabia.
As palavras subiram na garganta de Rosalind, entã o ela
desatou. — Você acha mesmo que o avô de Nicholas era
louco? Ou no fundo acredita que ele era um feiticeiro?
— Nã o seja uma cabeça-dura. Nã o há nenhuma coisa
assim. Eu disse — o velho homem era louco, nada mais, e ele
ensinou para Nicholas coisas ruins. Eu acredito que é bem
possível que Nicholas possa ter herdado a loucura de seu avô ,
que ele possa se tornar enlouquecido, e, portanto, qualquer
criança vinda do feno, que você apresentar a ele pode
carregar as sementes da loucura.
— Se essa é a sua crença, é muito triste, milady, porque
significa que está desencorajando seus trê s filhos do
casamento e de proporcionar-lhe netos devido a mancha da
loucura.
— Você tem o cé rebro de uma vieira. É sabido que a
loucura passa apenas para o mais velho, nunca à s outras
crianças.
— Nunca ouvi isso.
— Isso é porque você é ignorante. E já que o velho
possuia Nicholas para moldar, nã o prestou nenhuma atençã o
aos meus trê s filhos, nã o e mebrava deles, nem em seus
aniversá rios. Mesmo sem qualquer riqueza do velho, eles
cresceram em linha reta e alta e dignos de ser o que sã o: os
filhos de um Conde.
— Eu soube que seu marido nã o era previsto para ser o
Conde, que ele possuia um irmã o mais velho.
— Eu nunca o conheci, mas sei que o Edward era um
verme tacanho em forma de homem, sempre sonhador e
nunca poderia responder a uma pergunta sensata. Meu
marido me disse que ele falava com as roseiras, enquanto
acariciava as pé talas. Entã o Edward morreu e o título veio
para o filho legítimo, Gervais, que se tornou Visconde
Ashborough.
Rosalind já nã o estava ouvindo a conversa transbordante
da boca da milady Mountjoy. Estava pensando no avô de
Nicholas. Por que ela havia perguntado se ele era um
feiticeiro? Porque algo profundo dentro dela acreditava que
era verdade, era por isso, e foi tudo embrulhado com
Sarimund e as Leis de Pale. Ela lembrou que Nicholas lhe
contara que seu avô també m possuia uma có pia do livro e
contara tudo sobre Sarimund. Mas nã o disse o que estava no
livro, porque obviamente ele nã o podia ler. Rosalind
perguntou: — Qual era o nome do velho Conde?
— Galardi. Nome "estrangeiro", estupidez.
— Quantos anos seu marido tinha quando o irmã o mais
velho, Edward, morreu, milady?
— Ele havia recé m chegado de Oxford, apenas vinte.
Espere, você está acusando meu marido de assassinato? Você
acredita que ele assassinou seu irmã o mais velho e a esposa,
Mary Smithson? Você é um espírito vil desclassificada,
estú pida como uma toupeira.
— Ah, entã o eu ter pensando isso a preocupa, nã o é ? —
Rosalind segurou a mã o dela. — Se o Nicholas nã o casar
comigo, ele se casará com outra pessoa, provavelmente nã o
quase tã o boa como eu sou. Algué m que se recuse a ouvir
seus devaneios, algué m que vá instruir seu mordomo para
fechar a porta na sua cara. Eu diria que você é abençoada,
milady, em me ter para sua futura enteada. Nó s nã o estamos
bebendo chá juntas? Eu nã o lhe dei dois torrõ es de açú car?
Sou bem educada, nã o sou, até mesmo repreendendo-lhe por
erros dos seus filhos.
— Nã o há nada para repreender!
Rosalind colocou a ponta dos dedos contra o queixo. —
Só imagine se Richard e Lancelot conseguissem colocar as
mã os em mim, ao invé s da pobre Lorelei Kilbourne. E imagine
que eles quisessem me alertar pelo fato de me casar com
Nicholas. Imagine que eles tivessem me matado, tudo para me
impedir de me tornar a meia-irmã deles, tudo o que me
impedisse de ter um filho varã o. Imagine tudo isso, Lady
Mountjoy. Imagino que deva lhe trazer certa melancolia.
— Nicholas bateu nas costelas do meu pobre Richard!
— Desculpe-me, o quê ?
— Nã o desejo que Nicholas ataque meu pobre Richard
novamente. Ele luta como em um beco podre. Meu pobre
Richard disse que Nicholas é viciado, nada melhor que um
estivador com formas simiescas. Sim, Nicholas forçou sua
entrada na casa e atacou meu filho, sem provocaçã o. Richard
é delicado. Sua saú de é precá ria. Ele pode ser machucado...
Rosalind estava aliviada que havia engolido o chá , caso
contrá rio, ele seria vomitado da boca dela.
— Desculpe-me. Pensei que está vamos a falar de Richard
Vail, aquele jovem muito alto e em forma, que se parece muito
com Nicholas? Você está dizendo que Nicholas o atacou? Nã o
houve nenhuma provocaçã o? Gostaria de saber o que diria o
milord Ramey sobre isso. Ele é pai de Lorelei, milady sabe.
Vou verificar as juntas de Nicholas, ver se elas sã o esfoladas.
Bolas para ele, ele sabia que Richard estava por trá s do
sequestro de Lorelei, e ele nã o me disse. Ele feriu gravemente
o Richard? Ele realmente bateu-lhe tã o forte? Ah, seus pobres
punhos.
— Nã o, sua tola de cé rebro de porco, ele nã o bateu com
os punhos tanto assim, ele usou os pé s — os pé s dele! — Ele
chutou o pobre Richard no estô mago, atirou-o para trá s. Faz-
me doente que este bá rbaro agora seja o Conde de Mountjoy.
—Hmm... Gostaria de saber se ele poderá me ensinar a
fazer isso.
— Cale-se! Nã o quero matar o meu filho, você está me
ouvindo? — Milady Mountjoy saltou sobre seus pé s e acenou
seu punho para Rosalind.
— Nã o, milady, se seus filhos nã o tentarem me
machucar. Diga isso a eles.
Milady Mountjoy ficou em silê ncio. Rosalind esperava
que ela tivesse gasto seu veneno. Se assim fosse, certamente
levara tempo suficiente. Houve uma batida à porta.
Rosalind saltou sobre os pé s para mais uma corrida e
desbloqueou a porta. Ela ficou profundamente aliviada ao ver
Grayson entrar. A ú ltima pessoa que ela queria em sua sala
de estar, neste momento, era Nicholas. Nicholas, e a
madrasta dele, na mesma sala nã o seriam uma visã o bonita.
Grayson cumprimentou milady Mountjoy.
— Milady é a mã e de dois jovens que devem ter tido suas
bundas chutadas muitas vezes antes da idade de catorze
anos. Richard é um fanfarrã o, mas aposto que o suave
Lancelot é o mais cruel dos dois. Mas para dar-lhes cré dito,
eles tiveram cé rebro para devolver a jovem que os homens
deles haviam sequestrado por engano. Eles assustaram-na
até à morte, mas eles nã o a machucaram. A propó sito,
milady, sou Grayson Sherbrooke.
— E eu sou milady Mountjoy, nã o há mais ningué m aqui.
Grayson esboçou um breve bufo. Ele estava muito
aliviado porque nenhum dos seus pais estava ali. Pelo que ele
havia ouvido no corredor, tanto sua mã e quanto seu pai se
apressariam a bater naquela mulher horrorosa até ela cair.
— Isso é tudo mentira! Meu pobre e doce Lancelot, cruel?
Absurdo! É suave até de se olhar. A alma dele é uma alma
gentil, ele abriga o coraçã o de um poeta. Sei disso, Sr.
Sherbrooke, meus filhos nunca raptariam uma jovem milady,
nem mesmo mesmo a pessoa errada.
Rosalind disse:
— Apesar de sua crença na inocê ncia deles, milady, eu
sugeriria que você pressionasse seus filhos que, se alguma
coisa acontecer comigo, eles serã o mortos.
Lady Mountjoy pulou, enviando sua xícara de chá vazia a
espatifar-se no tapete. Ela acenou o punho no rosto de
Rosalind.
— Você é uma mentirosa e uma atrevida. Meus filhos
nã o a tocariam, nem olhariam para você a menos que eles
fossem forçados a isso. Você é um desagradá vel monte de
mercadorias...
Depois de lançar um olhar malé volo para ambos,
Rosalind e Grayson, Lady Mountjoy saiu da sala de estar.
Eles ouviram Willicombe se movendo rapidamente para abrir
a porta. A sobrancelha de Grayson disparou alguns bons
centímetros.
— Ela a chamou de mentirosa. Agora, isso é verdade,
porque você é realmente uma excelente mentirosa. Mas um
monte desagradá vel de mercadorias nã o é de todo exato.
— Acho que ela nã o podia pensar em alguma coisa para
me xingar, pobre mulher, e entã o isso surgiu para fora da
boca dela. Na verdade, ela disparou insultos em todo mundo.
Eu també m tenho a impressã o que ela nã o gostava muito do
marido. E ela també m tem um amigo especial, um tal de
Alfred Lemming. Ela sabe tudo sobre meu passado, Grayson.
Eu fiz parecer que todos sabiam, e que ningué m se importava.
— Pobre mulher, ela escolheu o alvo errado. Hmm, agora
que penso nisso, você sempre tem uma mã o iluminada
quando há coisas desagradá veis para dissuadir.
— Bem, sim, eu tento. Acho que é porque quando eu
cheguei à casa de Brandon estava morrendo de medo que eu
se voltasse a gritar com algué m, seu pai me expulsaria. Nã o,
nã o, eu sei que eu estava errada, mas ainda assim, eu era
muito jovem e com medo. Imagine nã o saber quem você é ,
Grayson, sem lembranças de nada... — ela deu de ombros. —
Acho que de certa maneira, procurei me comportar desde
cedo.
— Eu nã o sabia disso, — Grayson disse lentamente. —
Eu me lembro quando papai trouxe você para casa, que ele
tremia de raiva contra o que havia sido feito contra você , uma
criança. E a dor nele ao pensar que você morreria. Lembro
que o Dr. Pomphrey e meus pais passaram horas na sua
cabeceira quando seus ferimentos trouxeram aquela febre
horrível. Lembro-me claramente como meu pai gritou aos
cé us, quando ele veio correndo pelas escadas a dizer que você
viveria. Seu pai e sua mã e nã o estavam lá para amá -la,
Rosalind, mas os meus estavam. Nã o duvide disso. Nunca se
esqueça disso.
Ela sentiu lá grimas arderem nos olhos e engoliu. — Nã o,
nã o vou. Obrigada por me contar, Grayson. Em qualquer
caso, nada disso importa agora. Uma mã o iluminada foi a
maneira de fazê -la cuspir pepitas, bem como a bile. Aprendi
muito com ela.
— Todo mundo vê você como um misté rio, e é sempre
tã o româ ntico como você veio para estar conosco, mesmo que
tenha sido, na verdade, bastante horrível, já que você poderia
ter morrido tã o facilmente. Você nã o é uma desclassificada,
Rosalind. Ouso dizer que se algué m observar o que você é ,
tudo que você tem a fazer é cantar para eles e irã o admirá -la
infinitamente.
— Eu me ofereci cantar para ela, mas ela se recusou.
Ele riu. — Eu nã o estava brincando. Sua voz é má gica.
— Você costumava pensar assim quando é ramos jovens,
— ela disse e ele sorriu para ela, mostrando os bonitos dentes
brancos Sherbrooke. — Como está Lorelei hoje?
Para seu espanto, ele apenas deu de ombros, puxou seu
reló gio do bolso do colete e o consultou. — Acho que ela está
bem agora. Parto para minha reuniã o literá ria. Vejo você mais
tarde no baile dos Branson. — E se foi embora antes que ela
pudesse dizer alguma coisa, tal como: em assuntos do
coraçã o, Grayson, você é um cabeça-dura. O que a pobre
Lorelei fizera?
18

Naquela noite no baile dos Branson, Nicholas lançou a


Rosalind um olhar pensativo depois de uma valsa
particularmente excitante que a deixou tonta de prazer. Ela
estudou o rosto dele um momento, aceitou um copo de
champanhe de um garçom, na passagem, bebeu para baixo
de meio copo e percebeu o problema.
— Ah, vejo que, de alguma forma você descobriu sobre a
visita de sua madrasta para mim, esta tarde. Eu lidei com ela,
Nicholas, você nã o precisa se preocupar. Realmente você
chutou as costelas de Richard com seu pé ? Você realmente
ergue a perna tã o alta? Por favor, Nicholas, por favor, me
ensine como fazer isso.
— Infelizmente você nã o pode fazê -lo por causa de todas
as suas aná guas.
— Eu posso usar calças. Ensine-me, Nicholas, talvez na
nossa lua de mel. O que você acha?
Ele a imaginou usando um par de calças e sorriu. —
Vamos ver. — Ele olhou para baixo, para ela. — Você deveria
ter me contado que ela teve a ousadia de insultá -la.
Rosalind apenas encolheu os ombros. — Ela nã o me
preocupa excessivamente. Devo dizer-lhe, poré m, que eu
precisei abrir todas as janelas da sala de estar para arejar o
ar.
— Ela tentou avisá -la para ficar longe de mim, nã o foi?
— Ela certamente apenas tentou.
Ele riu, maravilhando-se com o bom humor dela. Ele
gostava, na maioria das vezes. Ele queria saber se ela daria
risada quando ele a levasse à cama. Ele nã o se importaria
com ela começando com uma risada, mas — já que ele nunca
fizera amor com uma mulher que estava rindo ao mesmo
tempo — ele nã o sabia. Ele pegou o copo dele e bebeu o resto
da bebida. Ele balançou a cabeça. — Dois copos, dessa coisa,
e você pularia em cima de uma mesa e faria uma dança que
faria meus olhos se cruzarem.
Ela se inclinou e sussurrou contra o pescoço dele, — eu
dançaria lentamente e tiraria cada peça de roupa?
Ele a imaginou claramente em uma ó tima mesa no
canto. — Refiro-me a todas as saias ridículas que você usa: as
meias de seda e nã o esqueça o espartilho e a camisa. Nã o há
simplesmente nenhuma maneira que você possa fazer isso
sozinha.
Ele colocou suavemente as pontas dos dedos sobre a
boca dela. — Eu quero você para falar de coisas sé rias. Ouça-
me; minha querida madrasta é uma cabra. Ela semeia
descontentamento e é extremamente abusada. Nã o quero que
você a veja.
Rosalind franziu a testa. — Como você sabe sobre ela?
Nã o a viu em vinte e tantos anos.
— Ela me odiava quando eu tinha cinco anos, me queria
morto, mas já que isso nã o aconteceu, ela queria que eu
desaparecesse. Por que ela mudaria? Só precisa olhar para
seus filhos... — ele nã o podia acreditar que tivesse dito aquilo.
— Eu tenho um excelente advogado. Pedi que ele me desse
relató rios completos sobre todos os meus parentes. Ele está
certo, nã o é ?
Ela agarrou outra taça de champanhe da bandeja do
garçom, dizendo: — Você sabe, eu acho que ela estava lá para
me convencer que os amados filhos nada tiveram a ver com o
sequestro de Lorelei, significando que nã o eram nenhuma
ameaça para mim. Acho que ela tem medo que você vá matar
Richard e Lancelot. Ela estava tentando protegê -los. Ela
simplesmente nã o tem o talento de fazer isso sem problemas,
nã o como você teria feito. Sim, você seria suave, e seria
mortal.
— A ú nica razã o pela qual eu nã o matei Richard desta
vez foi porque ele estragou o trabalho. No entanto, se Richard
e Lancelot tentarem tocá -la, eu os matarei.
— Você falou isso?
— Ah, sim, devemos ser perfeitamente claros ao lidar
com os vilõ es, particularmente jovens, porque lhes falta juízo
e experiê ncia na dor das consequê ncias... — viu o cristal que
estava inclinado à boca dela.
— Eu estou me casando com uma moça que adora
bebericar, Rosalind?
Ela sorriu para ele. — Talvez uma vez que você me livre
da minha ignorâ ncia sobre a malícia, eu renuncie a essa coisa
saborosa que faz minha cabeça receber toda a luz e faz saltar
inesperadas palavras da minha boca. Talvez, milord, você vá
garantir que eu nã o preciso disso.
Ele pegou o copo dela e o colocou em uma bandeja. Ele
nã o queria dançar com ela, ele queria arremessá -la por cima
do ombro e descer os degraus de pedra que levavam para os
jardins de sombra profunda. Ele disse, — valse comigo.
Ela sorriu para ele quando ele a levou à pista de dança.
— Eu li que eu estou para me casar com você , no jornal desta
manhã .
— Sim, você está bem e razoavelmente capturada. — ele
parecia muito satisfeito consigo mesmo. Visto que ela,
també m, estava muito satisfeita com ele, nã o lhe respondeu.
Quando, mais tarde, ela dançou com tio Ryder, ele disse:
— Querida, Willicombe me contou sobre a visita da
milady Mountjoy para você esta tarde. Ele també m me disse
que você lidou muito bem com a velha.
— Eu sei que ele estava escutando.
— Temos uma longa linha de interceçã o, bem sucedida,
na família de Sherbrooke. Willicombe é um dos principais.
Assim como Luisa Maria passou para Meggie, eu acredito que
Hollis passou para Willicombe. Hmm, você escuta bem,
Rosalind?
— Ah, sim, muito bem. Nã o se lembra, tio Ryder? Se
houvesse alguma coisa que você desejasse saber sobre o que
estava acontecendo na casa de Brandon, o que Jane estava
sentindo, em qualquer momento particular, você me
perguntava. Se eu nã o soubesse, eu sabia em que porta ouvir
para descobrir o que você queria saber.
Ryder riu e balançou-a em torno do assoalho. Nicholas
olhou por cima de sua conversa com Grayson, que acabara de
chegar ao baile, ao som daquela risada brilhante.
Grayson disse: — O riso dela é quase tã o má gico quanto
a voz dela. Imagino que meu pai está a questioná -la sobre a
visita da sua madrasta.
— E ela lhe dirá tudo?
— Ah, nã o. Ela vai escolher. Ela é muito boa nisso. Já
que ela ama meu pai, ela nã o tem nenhum desejo de aborrecê -
lo. Nã o me interprete mal, se um problema a agarra pelos
calcanhares, ela sempre vai para o meu pai ou para minha
mã e para um conselho. Agora que penso nisso, eu suponho
que tendo a confiar neles també m.
Nicholas disse sem pensar: — Eu gostaria de saber o que
é isso, sobre ter um pai e mã e que eu amasse e admirasse,
que fossem confiá veis.
— Ah, sim e é uma pena que você nã o saiba, mas você
tinha o seu avô .
— Sim. — Eu tinha o meu avô , nã o? Ah, eu vejo milady
Kilbourne do outro lado da sala e ela está acenando para
você . Você nunca me disse como sua leitura foi no salã o
literá rio dela.
— A minha cabeça estava tã o grande quando a deixei, foi
uma coisa boa, que eu estivesse montando o meu cavalo King,
porque eu nã o poderia ter passado a cabeça atravé s da porta
de um transporte.
— Adorado a ponto de ná usea?
Grayson assentiu com a cabeça. Ele estava
cuidadosamente evitando olhar para Lorelei. Como era jovem,
ela nã o podia deixar a mã e e vir a ele. Ele disse: — Eu li seu
anú ncio no jornal desta manhã . Muito bem. Agora, acho que
vou pedir para Alice Grand para dançar a valsa, — e ele
deambulou para fora.
Nicholas ficou satisfeito com o anú ncio do casamento
que ele escrevera; havia sido eficaz. Ele fora felicitado umas
boas trê s dú zias de vezes desde que chegou na casa dos
Branson. Em breve ela seria sua esposa e — e entã o o quê ?
Nicholas normalmente nã o interferia, mas quando ele,
por acaso, olhou para Lorelei Kilbourne, novamente, ele viu
que ela estava olhando copiosamente Grayson valsar com
Alice Grant, uma jovem milady miuda, com uma risada
pronta e um humor pesado que poderia derrubar um boi.
Encontrou-se caminhando para Lady Ramey e perguntar-lhe
se ele poderia ter o prazer. Uns cinco minutos depois, apó s
laboriosa conversa com a milady Ramey, a orquestra começou
outra valsa e ele levou Lorelei à pista de dança.
Ela era uma boa dançarina, entrando no estilo dele, com
facilidade e graça. Ele olhou para ela, viu o sofrimento nos
olhos dela, sabia que devia manter a boca fechada e disse: —
O que aconteceu?
Ela disse sem hesitaçã o: — Eu nã o sei. Você sabe?
— Só que algo está errado, pelo menos do ponto de vista
de Grayson.
— Descobriu o quê , milord? Nã o tenho muito experiê ncia
com milordes e nã o percebo o que há de errado com ele.
Tã o inocente, pensou Nicholas, encantadora e muito
bonita, realmente. Ele viu nos olhos dela uma piscina de
lá grimas. O que um pobre homem devia fazer? Ele
amaldiçoou-se e desistiu. — Vou tentar descobrir, Miss
Kilbourne.
Sua boca macia firmou-se. — Já que fui raptada no
lugar de sua maldita prometida, você poderia me chamar
Lorelei, você sabe.
Um toque de vinagre, pensou e ficou satisfeito. Ele
assentiu. — Lorelei.
Nicholas sabia que nã o deveria interferir, só um tolo
interferia entre um homem e uma mulher, mas ainda assim,
ali estava ele, andando atravé s da sombria exposiçã o do
Museu Britâ nico, em busca de Grayson. Ele finalmente o
encontrou a pairar sobre uma caixa envidraçada, um olhar de
perto permitiu ver reverê ncia no rosto. — O que foi?
Grayson se empurrou para cima, num piscar de olhos de
surpresa e acenou-lhe. — Olhe para isto, Nicholas. O cartã o
diz que é o cetro usado por um, há muito tempo, rei da
Pé rsia. — Nicholas estudou o cetro de ouro antigo, observou
os buracos vazios do punho, onde pedras preciosas uma vez
haviam sido incorporadas. — Diz que é da é poca do rei
Darius. Você acha que era dele?
— Nã o. Pertenceu a algué m de maior amplitude — acho
que pertenceu a um mago. Nã o sente o poder dele, a magia —
algo como uma vibraçã o profunda em seu intestino?
Nicholas automaticamente abanou a cabeça. Nã o havia
como admitir coisas como vibraçõ es, mas a maldita coisa
parecia brilhar e pulsar em sua caixa de vidro polido. Ele
quase podia sentir aquilo quente na mã o. — Quanto tempo
está aqui?
— Nã o sei. Descobri isso na semana passada e continuo
voltando para ele. Até o diretor nã o sabe exatamente quando
chegou aqui, e quem o trouxe. Ele foi ver e me disse que nã o
existe nenhum registro. Agora, isso nã o é estranho? É como
se, de repente, aparecesse. O que você faz aqui, Nicholas?
— Você está ignorando Lorelei, porque tem medo de que
ela possa ser ferida novamente. —
Grayson Sherbrooke olhou para o grande homem que era
dez centímetros mais alto do que ele, constituido como seu tio
Douglas e seus primos, James e Jason. E ele possuia o olhar
do tio Douglas, escuro, sombrio e perigoso, pelo menos até
que ele sorrisse. Nã o ocorreu a Grayson dizer-lhe para cuidar
da vida dele. Ele disse simplesmente:
— Eu prometi ao pai dela que nã o a veria novamente. Ele
me disse que ficaria muito feliz se eu nã o dissesse nada a
Lorelei e eu nã o lhe disse nada, mas você está aqui. Você
adivinhou imediatamente.
— Eu sou muitas coisas, mas nã o cego. Para ser
honesto, estou muito surpreso que Lorelei nã o tenha
descoberto, també m.
— Ela é inocente. No entanto, concordo com o milord
Ramey porque nã o quero precisar me preocupar com ela.
Uma vez que tudo isso está resolvido, entã o vamos ver.
— Você sabe da descriçã o de Lorelei sobre o brasã o que
ela viu na porta da carruagem, eu sabia que ela pertencia ao
meu pai e agora aos meus meio-irmã os, entã o tive a minha
prova. Falei com o Richard.
— Eu ouvi que você bateu o pé na metade dela, prendeu
o pescoço dele, ele nunca havia visto movimentos de luta
como aqueles, antes. Muito bem. Pena que você nã o matou o
maligno.
— Se ele ou Lancelot tentarem alguma coisa, eles sabem
que eu os mato. Nã o acredito que eles sejam tã o estú pidos.
Eles nã o farã o nada mais. Você gostaria que eu falasse com o
milord Ramey? Assegurá -lo que nã o há mais perigo para a
filha dele?
Grayson olhou para longe dele, para o cetro novamente.
— Você é incrivelmente ingê nuo, Nicholas, dado a sua
experiê ncia da ú ltima dú zia de anos. Eu conheci Richard e
Lancelot Vail, lembra-se? No Drury Lane. O perigo nã o está
mais contido. Eles nã o pararã o. Simplesmente nã o está na
natureza deles. Richard foi criado para acreditar-se como o
legítimo Conde de Mountjoy. Ouvi dizer de um dos meus
amigos que Richard usava o título de Visconde de
Ashborough uma vez que seu pai tornou-se o Conde. Ele, no
entanto, nunca se identificou como o Conde de Mountjoy apó s
a morte do seu pai. Ele nã o poderia ir tã o longe.
Provavelmente porque ele sabia que ele seria ridicularizado.
— Como Lancelot, acredito que a maldade inata dele
fornece motivo suficiente para tentar matar você . Ele é mais
perigoso do que o irmã o dele.
— Talvez, — Nicholas disse depois de um momento, — se
esse cetro pertenceu a um mago poderoso, ele visitou o Pale.
— Sim, certamente seja possível, — Grayson disse. — Eu
pensei bem e estranho como o Pale aparece como outro
mundo, ou outra dimensã o, e nó s somos os ú nicos que
estamos alé m de Pale, a ver isso.
— Alé m de Pale, — Nicholas repetiu lentamente, —
significa alé m da fortaleza, o lugar seguro designado, o
santuá rio onde tudo é civilizado, e está fora do perigo, da
selvagaria e da morte.
Grayson assentiu com a cabeça. — Mas o Pale de
Sarimund nã o é um lugar totalmente civilizado. Tibers tentou
matar o ser vermelho, e os dragõ es matam qualquer animal
que lhes desagrade. Quanto aos magos no Monte Olyvan,
residem dentro de Pale, manté m um tipo de equilíbrio, mas
ainda nã o há nenhuma segurança lá . É um lugar de violê ncia
e magia. É tudo muito estranho.
Nicholas disse. — Talvez você esteja certo, Grayson,
talvez o Pale seja uma metá fora, para a Terra talvez, onde
reina o caos dada a menor oportunidade e onde os homens
matam uns aos outros com afiado abandono... — eles ficaram
em silê ncio um momento. Nicholas colocou a sua mã o no
braço de Grayson. — Acredite nisto, Grayson, se Richard e
Lancelot tentarem mais alguma coisa, eu os matarei. Eles
sabem disso e acreditam nisso.
— Nã o se eu os matar primeiro, — Grayson disse, sua
voz totalmente sem emoçã o.
Nicholas assentiu com a cabeça e deixou Grayson, para
olhar mais uma vez o cetro em uma caixa de vidro.
Quanto a Nicholas, estava balançando a cabeça
pensando nas palavras de Grayson. Ele era ingê nuo? Grayson
estava errado nisto. Ele havia tratado com incontá veis vilõ es.
De repente, viu o rosto de Richard Vail na sua mente, um
rosto cheio de maldade negra, uma raiva nã o dita, a dor física
insatisfató ria que Nicholas havia infligido sobre ele e algo
mais — era determinaçã o; uma promessa de violê ncia?
Vingança? Retribuiçã o? Quanto a Lancelot, Nicholas
acreditava que desde que conhecera o belo mordomo na casa
da cidade, de Vail, agora compreendia Lancelot muito bem.
Ele amaldiçoou e, em seguida, virou-se para chamar o
jovem rapaz segurando as ré deas de Clyde. Clyde abanou a
cabeça quando o viu e, em seguida, roçou-se no braço do
rapaz. O rosto do rapaz dividiu-se em um grande sorriso,
mostrando um espaço entre os dentes de cima, na frente.
— Oh!, meu Deus, chefe, que esplê ndidas palavras eu
ouvi, vamos estar juntos. Este garotã o gosta mesmo dos
cubos de açú car que deixaram para ele. E dou-lhe um de
cada vez, nã o vai querer sobrecarregar a barriga. Sim, eu e o
grande garoto entendemos um ao outro.
Nicholas esteve atento, enquanto passava por Russell
Square e lentamente fazia o seu caminho atravé s do trá fego
pesado em direçã o à rua Fleet, onde seu advogado mantinha
seu pequeno escritó rio.
Quando ele puxou Clyde, rapidamente e
inesperadamente, para o lado, a fim de evitar uma carroça
cheia de barris de cerveja, sentiu o tapa pungente de ar
quente contra sua bochecha enquanto uma bala passava. Ele
pensou: inferno, Grayson estava certo.
19

— Digo que nã o sou um assassino! Nã o tentei atirar em


você , nem contratei algué m. — O rompante de raiva de
Richard, de repente, morreu. Ele lançou a Nicholas um ar de
superior desprezo quando tirou um fio de linha da manga do
pró prio casaco. — Acredite em mim, se eu quisesse você
morto, meu caro irmã o, eu mesmo o faria.
Nicholas nã o podia dizer o porquê , mas ele simplesmente
sabia, no seu íntimo, que Richard estava dizendo a verdade.
Desta vez. Isso tanto o irritava quanto o preocupava. Havia
tantas incó gnitas que o assolavam agora, ele odiava adicionar
outra. — Onde está Lancelot?
— O quê ? Agora você acredita que meu irmã o tentou
matá -lo? Bem, ele nã o o fez. Ele está visitando um amigo
perto de Folkestone, saiu cedo esta manhã .
Ora, isso poderia ser uma mentira de seu meio irmã o. —
Diga-me o endereço de onde está Lancelot e o nome do amigo
dele.
Richard Vail emitiu um gasnido que se intensificou. —
Parece-me que você tem mais inimigos do que um homem
deve ter. Você só está na Inglaterra, o que, há dois meses?
— Sobre isso, sim, — Nicholas disse enquanto anotava
as informaçõ es no pequeno caderno que trazia no bolso do
colete. Ele olhou para seu meio irmã o. — Nã o vi seu jovem
mordomo na porta da frente.
Richard deu de ombros. — Ele també m é o manobrista
de Lance. Eu acredito que ele o acompanhou a Folkestone.
Houve um farfalhar de sedas na porta da sala de estar e
uma voz estridente cresceu de dentro. — Que fazes aqui? Deixe-
o sozinho, você é um bá rbaro fé tido!
Nicholas se virou para ver uma mulher gorda, com um
belo traje violeta, cada polegada coberta com joias brilhantes,
correndo para eles, o punho acenando para ele. Ele
reconheceu a voz e os olhos dela, olhos intransigentes e
difíceis, olhos que demonstravam medo dele quando ele tinha
somente cinco anos. No entanto, ele deixou de ser um menino
pequeno.
Atrá s dela, estava um cavalheiro gordo, mais alto do que
ela por dez centímetros. Nicholas o havia visto jogar no White
um par de vezes. Aquele era o querido amante da sua
madrasta, Alfred Lemming, que Rosalind lhe mencionara?
Ele esperou até que ela estivesse muito perto, e antes
que ela chegasse, ele arqueou uma sobrancelha preta e disse
suavemente: — Eu acreditava que só a minha noiva fosse
uma desclassificada.
— Ela é , e mais fé tida do que você , milord. Pelo menos,
os seus antecedentes sã o conhecidos, infelizmente. O que faz
aqui? Nã o se atreva a tentar matar o meu filho mais uma vez!
— Algué m tentou matá -lo, — Richard disse para sua
mã e. — Um tiro direto por sua orelha. Uma pena que quem
quer que fosse nã o teve ê xito. Eu lhe disse que nã o tenho
nada a ver com isso. Eu estava no meu clube, meus amigos
vã o confirmar isso. Entã o, agora ele está a me questionar
sobre Lance.
— Você quase foi baleado? — Perguntou milady
Mountjoy com flagrante decepçã o naqueles olhos duros dela.
Ela olhou-o de cima abaixo. — Entã o você é Nicholas Vail. Se
parece ainda mais com o velho Conde velho do que com o seu
pai, e eles eram quase gê meos.
— Eu suponho que você també m deva dizer isso sobre
Richard, — disse Nicholas.
— Talvez. Eu disse à menina impertinente que deseja
casar com você , que você provavelmente transmitirá a
insanidade do seu avô , mas foi em vã o. A pivete nã o exibiu
nenhuma compreensã o de cé rebro humano. — Miranda, Lady
Mountjoy, olhou para Richard se voltou novamente, e franziu
a testa. Estavam mesmo vestidos da mesma forma, esta
manhã ? E todos na sala sabiam claramente que pareciam
irmã os, ao contrá rio de seu precioso Lancelot.
— Diga-me, milady, onde está o meu terceiro meio irmã o,
Aubrey?
— Ah, entã o agora você acha que ele é um assassino?
Aubrey nã o está em Londres, — milady Mountjoy disse e
suspirou. — Ele está em Oxford. Aubrey é um estudioso, se
quer saber, estudioso desde seus primeiros anos, sempre
rodeado de livros.
Richard disse: — Aubrey nã o saberia qual lado de uma
arma usar, entã o o esqueça.
Miranda lembrou-se do cabelo extremamente vermelho e
espesso que cobria a cabeça do seu estudioso, o cabelo de
Aubrey era quase da cor, exata, da pouco respeitá vel e leviana
garota que teria precedê ncia sobre ela quando se casasse. Na
verdade isso certamente era uma perspectiva revoltante.
Miranda retratou Aubrey em sua mente. Como ela odiava
que seus ombros estivessem inclinados, que ele precisasse
usar ó culos porque certamente lera todos os livros de Oxford.
Ah!, como ela havia implorado para ele deixar Richard levá -lo
ao seu salã o de boxe particular, endireitar as costas, andar
com o queixo mais elevado para mostrar o orgulho de sua
herança, talvez ensinar-lhe um pouco de agressividade. Como
poderia um homem se defender se seus ombros estavam
redondos como uma tigela? O pai dele nã o fora de qualquer
ajuda, ele simplesmente espancava o rapaz quando ele, por
acaso, dizia algo inteligente ou fazia a citaçã o de algum
filó sofo grego. Ah!, mas ela nã o diria a este intruso nada
disso. Quanto a Lancelot — pelo menos ele atirava bem,
gostava de caçar e andar. Mesmo que ele se comportasse
como um poeta româ ntico, seus ombros estavam em linha
reta. Mesmo que nã o houvesse muito cabelo no rosto para
aquele criado fazer a barba, ele ainda poderia zombar do
irmã o, assim como Richard. E, agora, aqui estava Nicholas
em pé , na sala de estar, na sua sala de estar, em forma,
grande e duro, assim como seu precioso Richard. Mas havia
algo mais em seus olhos escuros, algo que personalizava as
experiê ncias e aventuras fantá sticas e outra coisa — e o que
seria aquilo? Dor, negra e profunda? — Nã o, ela nã o pensaria
sobre a vida dele, apó s a morte de seu avô . Depois de nada
ouvir dele por anos, eles acreditaram que estivesse morto e,
no coraçã o dela, ela havia se alegrado com a justiça daquilo; e
se inflou com orgulho quando olhou para Richard. Nã o só
Nicholas nã o estava morto. Ele estava vivo e iminente, pronto
para matar seus filhos...
— Você poderia ter morrido quando era um garoto, —
disse ela, — e por que você nã o morreu? — Miranda estava
ciente que Richard estava olhando para ela e calou a boca.
— Eu sou como uma dura tira de couro, milady,
embora... — ele olhou-a de cima abaixo... — talvez eu nã o
seja um pedaço de couro tã o duro como você é .
— Ei! — Disse Richard, dando um passo à frente.
— Nã o, querido, — disse Miranda, parando-o. — Entã o
algué m tentou colocar um ponto, final, em você — bem, você
pode esquecer sobre qualquer um dos meus filhos.
— Nã o, — Disse Nicholas, — acho que nã o foi o Richard.
Nó s vamos ter que ver sobre Lancelot, nã o é ?
— Escute bem, meu nome é Lance, raios o partam!
— Lancelot... — Nicholas rolou o nome em volta da
língua dele, quando se virou para ver seu meio irmã o e o
pá lido mordomo, atrá s dele.
— Lance! Meu filho querido, o que faz em Londres?
Richard disse-nos que estava visitando um amigo em
Folkestone.
Lancelote deu de ombros. — Tivemos uma roda
quebrada na carruagem. Nenhuma escolha a nã o ser
voltar. E daí? O que ele está fazendo aqui?
— Entã o você facilmente poderia ter sido o ú nico a tentar
colocar uma bala no meu cé rebro esta manhã , — disse
Nicholas, uma rajada de frio em sua voz, imaginando quanto
tempo levaria para estrangular aquele é brio arrogante e
desfrutar de cada segundo.
— Bobagem. — Disse Lancelot e franziu a testa para um
pequeno grã o de sujeira em seu casaco de veludo cor de
vinho. — Eu sou um excelente atirador. Se eu estivesse em
Londres e se eu atirasse em você , você estaria caido morto
nas suas costas malditas.
— Você nã o é tã o bom para atirar como eu sou. — O
mordomo disse de repente. — Nã o se lembra do nosso
concorrente? E o mestre Richard é o melhor de todos nó s.
O mordomo estava muito livre no discurso com seus
empregadores, Nicholas pensou e observou a madrasta bufar
para ele.
Nicholas perguntou: — Qual é seu nome?
— Eu? Chamo-me David Smythe-Jones.
Nicholas nã o se conteve e riu. — Davy Jones? Seus pais
sã o pessoas antigas, com fortes laços com a ironia?
— Nã o, eles acreditam no tesouro perdido a muito
tempo, por galeõ es espanhó is que foram afundados e estã o
deitados no fundo do mar. No entanto, já que eles vivem em
Liverpool e nã o possuem dinheiro para ir à procura de seu
prê mio, nã o é prová vel que eles o encontrem. Ainda assim a
minha mã e passa a vida à procura de mapas de tesouros
antigos e fazendo planos.
Nicholas estudou o jovem, a boca petulante, as mã os
nervosas sempre em movimento. Entã o, olhou para seus dois
meio irmã os. Eram tã o diferentes. E entre todas as coisas, o
terceiro meio irmã o, Aubrey, era um erudito. Ele queria saber
o que o milord pensara sobre o que a sua semente produziu.
Ele levantou a mã o para chamar a atençã o. — Sem mais
brigas, nã o mais insultos, nã o há mais protestos de
inocê ncia. Incluindo milord. — Ele acrescentou para Alfred
Lemming, que estava em pé na ponta dos pé s, pronto para
saltar. — Todos você s me ouvirã o agora. Eu sou Lorde
Mountjoy, o Conde de Mountjoy. Nenhum de você s nunca vai
ter esse título. Meu filho me seguirá e o filho dele irá segui-lo
atravé s das geraçõ es futuras. Se sua mã e lhe disse que o
direito de primogenitura era seu e nã o meu, se ela lhe falou
que você é o legítimo sucessor, ela lhe causou um grande
prejuízo. E vou dizer isto somente uma vez. Se alguma coisa
acontecer comigo, eu tenho vá rios amigos íntimos que me
vingarã o — ele virou-se para o rosto de Richard. — Se eu
morrer, você vai morrer, e Lancelot vai morrer. E devido a
raiva com que os meus amigos estã o de eu ter sido quase
assassinado, duvido que Aubrey sobreviva també m. Entã o
nã o haverá nenhum sobrevivente, a linha será extinta como
todos nó s. Todos você s me entendem?
Milady Mountjoy gritou, agitando a mã o para ele:
— Você está completamente louco! Você está tã o bravo
que veio ameaçar meus doces meninos que nunca fizeram
mal a você .
— Ouça milord, por que é a verdade! — Rugiu Alfred
Lemming, seu rosto agora alarmantemente vermelho.
Nicholas esboçou par sua madrasta uma breve reverê ncia.
— Vejo que você nã o está morta, milady. Quero que você
e seu amante gordo continuem. Talvez, eventualmente, se
sinta desesperada porque você os ensinou a me odiar,
ensinou-lhes que eu sou um inimigo a ser destruído, em vez
de dizer que sou o irmã o cuja responsabilidade seria protegê -
los, cuidar das costas deles, talvez até ajudá -los. No fim,
milady, você perceberia que estavam protegidos em tudo.
Houve um silê ncio pé treo, por um momento, antes de
Alfred Lemming se adiantar em pequenos pé s bem calçados e
disse, mal acima de um sussurro:
— Eu disse milord, você nã o deve fazer tal declaraçã o
assim. — A sobrancelha dele, muito branca, estava ú mida
com a transpiraçã o, mas ele perseverou. — Apesar do veneno
e ameaças flutuando ao redor, nã o é desculpa para a falta de
educaçã o. Eu sou o Lord Heissen e eu pessoalmente vou
atestar os jovens cavalheiros. Que é o ú nico ponto aqui,
milord. Eles sã o cavalheiros, nã o arruaceiros. Você veio de
lugares pagã os, sem dú vida, controlados por inimigos pagã os,
sem senso do que é adequado em um mundo civilizado. Nã o é
de um cavalheiro inglê s disparar uma arma no meio do
trá fego — possivelmente sendo visto e identificado. É um
absurdo que tenha suspeitado destes meninos, repare bem.
Nicholas olhou Alfred Lemming o elegante milord
Heissen, cujas mã os brancas eram tã o gordas e disformes
como as da sua madrasta. — É um prazer ouvir sua opiniã o,
milord. Já que você parece estar deslizando neste antro de
víboras, resolvi adicioná -lo à lista. Se eu morrer, esta sala de
estar inteira será limpa, exceto minha madrasta venenosa.
Despeço-me dizendo adeus. Oh!, sim, milady, fique longe da
minha noiva.
— Prometido! Nã o é ainda insuportá vel. Por que, eu... —
Nicholas deu um passo na direçã o dela, ao mesmo tempo que
uma das mã os brancas de Alfred Lemming suavemente
pressionavam a boca dela. Nicholas assentiu com a cabeça
notando que apesar de sua aparente suavidade, aquela mã o,
parecia surpreendentemente, muito forte.
Nicholas disse: — Mantenha-a assim, milord, para a
pró pria segurança dela.
Quando passou por David Smythe-Jones, ele disse: —
Você realmente deve considerar um novo nome.
— O quê ? É um nome nobre, é um nome que carrega
inú meros contos de coragem e aventura.
— Quanto tempo você está empregado aqui como
mordomo?
O queixo branco e suave se elevou. — Cuidei do mestre
Lance em Oxford. Eu estava pronto para assumir funçõ es
maiores em Londres. Agora sou responsá vel por esta
magnífica casa. Todos me procuram comigo para resolver as
dificuldades, para treinar Cleverton, para garantir que os
trajes de mestre Lance estejam brancos como vestes de
virgem e bem dobrados. Eu sou a perfeiçã o e isso é o que eu
exijo de todos os servos.
Nicholas teve uma lembrança repentina e de realmente
sentir a podridã o corroendo os livros na biblioteca do
corredor. Era estranho para um menino de cinco anos
lembrar daquilo. Ele olhou do jovem para Lancelot. — Espero
que você mantenha seu mordomo na linha. — Disse ele, e ele
fez uma pausa na soleira da porta, olhou para cada um deles,
sua expressã o pensativa. Entã o ele saiu da casa da cidade,
vendo os rostos pé treos em sua mente. Quando ele desceu os
degraus dianteiros, ele ouviu a madrasta gritar:
— Porque deixou ele entrar, Smythe-Jones? Isso nã o é
perfeiçã o, é grave. Que tipo de criado é você ?
— Mas eu nem estava aqui! Mestre Lance e eu ainda
está vamos a, pelo menos, um quilô metro de distâ ncia quando
ele entrou aqui de forma brusca. Se eu estivesse aqui ele teria
se deparado comigo. Nã o esqueceria minha arma para que eu
pudesse ter atirado nele. Ele é perigoso, aquele grandalhã o.
Grande? Clyde saltou.
Nicholas sorriu.
20

Uma hora depois, Nicholas estava fechado com Ryder


Sherbrooke. Felizmente o Conde de Northcliffe havia levado a
esposa e Rosalind até Madame Fouquet. Era um grande alívio
porque Nicholas sabia que Rosalind perceberia que algo
estava errado, e entã o os trê s, o questionariam até que ele
jogasse para fora tudo o que ele sabia, ou o que eles
imaginavam que ele sabia. E, entã o, todos diriam as suas
opiniõ es e seria o caos. Rosalind, ele pensou, com algo de um
fá tuo sorriso na boca, teria comprado uma arma e mataria
todos os meio irmã os dele. E també m a sua madrasta, ele
imaginou.
Ele disse para Ryder: — Um deles está por trá s do
atentado contra a minha vida, eu simplesmente nã o posso
provar qual deles foi e entã o eu ameacei todos eles. O
engraçado é que eu tenho amigos que teriam prazer em me
vingar. Se deixar sair uma palavra, como eu, com certeza
deixarei; tã o perniciosa família será morta, se eu morrer.
— No entanto, como nã o acredito que eles sejam
estú pidos, talvez isto seja o fim. — Ele pausou um momento,
olhando à grelha da lareira vazia. — Ainda assim, nã o tenho a
certeza. Fato é que nã o sei o que fazer, milord.
Ryder passeou sobre o lindo tapete Aubusson da
biblioteca, uma sala esplê ndida, com cinco mil livros,
cobrindo trê s paredes, do chã o ao teto. Ryder lembrou-se de
seu pai, suavemente, virando cada uma das pá ginas,
mexendo em todos os livros com uma delicadeza incrível,
colocando-os cuidadosamente nas prateleiras. — O mundo
está nesta sala, Ryder. — Ele lhe dissera.
Depois de um silê ncio longo, que se esticou, Nicholas
disse, deixando sair a sua voz com toda a emoçã o que sentia.
— Eu quero concordar com você , eu realmente quero,
vou deixar este momento e nunca mais voltar, se você
acreditar que seja a coisa a fazer.
Ryder olhou para baixo para um enorme globo, girou-o
lentamente, observou a Inglaterra aparecer e desaparecer
rapidamente. Tã o pequena, ele pensou, a Inglaterra era tã o
pequena e insignificante. Se comaprasse o tamanho da terra,
mas ainda. — Ele disse, finalmente, a olhar para o jovem.
— Eu quero concordar com você , Nicholas, eu quero
mesmo, mas nã o consigo. Na verdade, você me adicionará à
lista dos seus vingadores. Mas nã o acredito que o assassinato
seja levado a termo. Tomaremos medidas para garantir que
isso nã o aconteça. Agora, eu sei que Rosalind quer você para
seu marido. Eu sei que Rosalind, sendo quem é , tendo a
personalidade que tem, sendo tã o leal como ela é , iria, sem
dú vida, segui-lo até Macau se você tentasse deixá -la. Assim,
nã o acredito que eu tenha alguma escolha em como proceder.
Ryder esfregou a testa, amaldiçoando baixa e
fluentemente. — Você e Rosalind devem se casar
imediatamente e sair de Londres. O que você acha de Wyverly
Chase? Eu sei que você permaneceu por um tempo lá , antes
de vir para Londres.
— Sim, estive quase um mê s, começando a reformar por
lá . As reparaçõ es sã o muito necessá rias para aquele lugar,
uma vez que meu pai deixou aquela bela propriedade
apodrecer. Quanto a todos os arrendatá rios, estavam numa
situaçã o terrível, mas isso está sendo corrigido també m. Eu
tenho um administrador de propriedades excelente lá para
supervisionar os reparos.
— Confio que você tenha fundos suficientes para ver isso
tudo em andamento?
— Sim, claro. O menino pobre que saiu da Inglaterra
com a idade de doze anos se saiu bem na vida, milord, como
dizem por aí. Você quer saber se Wyverly Chase é um bom
santuá rio. Isso é o que quer dizer, nã o é , milord? Você quer
Rosalind segura enquanto eu resolvo isto tudo.
— Sim. Você acha que você e Rosalind estarã o seguros lá
ou você deve simplesmente deixar o país por um tempo?
Nicholas ficou maravilhado com a decê ncia daquele
homem, seu cé rebro ló gico e o fato de que, quando ele
pensava sobre as coisas, ele pensava no que Nicholas
desejava fazer. Nicholas se perguntou se Rosalind realmente o
seguiria para Macau. Ele disse:
— Wyverly Chase está situado no topo de uma linda
colina com vista aberta ao redor. Há uma densa floresta de
pinho que termina a alguns bons metros da casa.
— Como eu disse, eu tenho um administrador de
propriedade excelente, Peter Pritchard, filho do homem de
confiança do meu avô . Já contratei servos, todos locais, que é
um bom sinal de lealdade a mim. Os arrendatá rios estã o
muito contentes comigo, igual aos cidadõ es de Wyverly-on-
Arden desde que pedi a maioria dos suprimentos aos
comerciantes locais. Acredito sinceramente que nó s dois
estaremos seguros lá , até que eu seja capaz de descobrir
quem está por trá s disso.
— Você nã o quer levar Rosalind em lua de mel?
— Nã o, milord. Haveria muitos riscos à segurança dela.
Deixe-a se assentar em Wyverly primeiro, ver o que ela acha
do lugar.
Ryder olhou os olhos dele, por um momento. — Eu odeio
dizer isso, mas nã o seria diferente se Wyverly fosse um
grande palá cio, ela ainda iria redecorá -lo. Ela, sem dú vida, irá
redesenhar e replantar os jardins, ela irá adicionar pavõ es e o
cé u sabe o barulho que eles fazem.
A sobrancelha esquerda do Nicholas disparou.
— Está no sangue dela, ela disse, seja o sangue de quem
for. Ela estava sempre tentando mudar Brandon House e
quando Jane recusou, Rosalind veio para nossa casa e fez
planos imediatos para mudar as cortinas dos quartos em
minha propriedade, bem como reorganizar todos os meus
mó veis... — ele sorriu. — Ela nã o tem gosto em roupas, mas
mostre-lhe um quarto e ela deixará tudo glorioso muito
rapidamente, com efeito. Mas primeiro, eu sugiro fortemente
que este casamento ocorra tã o rapidamente quanto possível.
Hmm, hoje é quinta-feira. Que tal sá bado? Você acha que é
tempo suficiente?
Nicholas assentiu com a cabeça. — Eu devo visitar o
bispo Dundridge para adquirir uma licença especial. Eu sei
que Rosalind está tendo sua ú ltima prova do vestido de noiva
hoje com o Conde e a esposa.
Ryder assentiu com a cabeça. — Eu encontrarei
Willicombe e a cozinheira para ver se tudo está em ordem
para sá bado de manhã ... — ele parou um momento e, em
seguida, acenou com a cabeça para si mesmo. — Nó s
convidaremos todos os seus parentes, Nicholas... — ele
rapidamente levantou a mã o. — Nã o, isto é importante. Confie
em mim.
— Eles nã o virã o.
— Você é o chefe da família. A sociedade nã o os veria
com bons olhos se eles se negarem a comparecer ao seu
casamento. E acredite, a sociedade vai saber se eles vierem já
que vou me assegurar que todos saibam...
— Mas…
— Nã o, isso deve ser feito. Seus meio irmã os e sua
madrasta devem ver o que será feito, e acabou-se. Eu e o
Douglas vamos estar lá . Vai ficar tudo bem.
Nicholas saiu da casa da cidade, de Sherbrooke,
sentindo um pouco de tontura. Ele fez uma visita a Sir Robert
Peel em Bow Street e, em seguida, voltou para o Hotel Grillon
para informar Lee Po dos novos planos.
Lee Po levantou uma sobrancelha preta fina, que já era
bem arqueada, enviando-a quase perto de seu cabelo e disse
em inglê s perfeito:
— E eu que pensei que ficaria entediado neste país
frígido. Mas, em vez disso, você e sua noiva estã o em perigo
mortal, para nã o mencionar a magia e o misté rio deste lugar
chamado Pale, — o que é uma excelente diversã o, milord.
Você pode ter certeza que estarei em guarda. Nenhum dos
trê s irmã os mentecaptos irá prejudicar você quando estiver
por perto.
Nicholas riu. — Obrigado. Agora, há muito a ser feito. —
E depois contou a Lee Po sobre os dois homens que Sir Robert
Peel enviaria para ele.
Rosalind descobriu, por acaso, sobre o atentado à vida
de Nicholas. Ela acabara de levantar a mã o para bater na
porta da sala da propriedade, quando ouviu a voz baixa do tio
Ryder e pressionou a orelha na porta. Tio Ryder estava
falando a tio Douglas sobre algué m que atirara em Nicholas.
— Seu tolo, — ela sussurrou para um Nicholas ausente.
— Você vai aprender a confiar em mim, nem que tenha que
colocar as suas orelhas numa caixa... — mas, já que o
desastre foi o gatilho para seu rá pido casamento, e isso era
certamente muito bom, ela manteve a paz. Ela teria anos à
frente para fazer Nicholas confiar nela, totalmente. Dada sua
infâ ncia infeliz, para nã o mencionar os vilõ es que ele
certamente teve que lidar desde os doze anos, ela sabia que
seria ruim ela nã o aceitar o silê ncio dele, mas ainda assim,
doia. O que doeu muito e a irritou, mais, foi o atentado contra
a vida dele. Ela desejava ter o pescoço de Richard Vail entre
as mã os.
Foi Grayson, quem contou ao pai que Rosalind
provavelmente havia interceptado quando ele contou ao tio
Douglas sobre a tentativa de assassinato, e quem avisou
Nicholas para ficar longe. Grayson disse:
— Ela atira bem, acredite em mim, entã o nã o se
arrisque. Meu pai falou algumas patetices sobre um problema
em Wyverly Chase e, que é por isso, que você precisa ter o
casamento antecipado para sá bado. Rosalind fingiu acreditar
nele, mas eu sei muito bem que nã o acreditou. Verdade seja
dita, nã o sei o que ela está pensando agora, ela tem parecido
muito tranquila, talvez tranquila demais.
Nicholas disse: — Eu apostaria todo odinheiro que está
no meu bolso que ela está planejando algo.
— Grayson concordou, disse-lhe que mantivesse a
distâ ncia, e desejou-lhe muita sorte.
Nicholas disse: — Por favor, convide Lorelei Kilbourne
Grayson. Rosalind e eu gostamos muito dela. Já que ela
sofreu por Rosalind, é justo ela ser convidada.
— Grayson disse friamente: — Vou consultar o pai dela...
— Convide-os para virem també m, — disse Nicholas. —
E suas quatro irmã s? — naturalmente.
Nicholas riu quando Grayson murmurou: — O bando de
gralhas.
21

À s dez horas, do sá bado de manhã , Rosalind foi


modestamente aceitando todos os elogios bajuladores,
sabendo que estava muito bem, na verdade, no vestido de
seda amarelo pá lido de Madame Fouquet. Mas, ela nã o estava
pensando sobre aquilo. No dia do casamento dela, ela estava
pensando nos meio irmã os de Nicholas, como eles deviam ser
transportados para o inferno. E eles estavam chegando para o
casamento dela.
Talvez ela devesse andar com uma faca pequena. E que
tal a mã e, Lady Mountjoy, provavelmente seria acompanhada
por Alfred Lemming? Talvez Rosalind devesse andar com uma
faca na outra manga també m. Ela se perguntava à toa quanto
Alfred Lemming havia se tornado amante da milady Mountjoy.
Antes do marido ter morrido? Ela se perguntava sobre o
terceiro filho, Aubrey. Pelo que ela sabia, ele poderia ser
devoto igual a um vigá rio, ou tã o podre quanto seus irmã os.
— Basta olhar para aquela linda camisola e bata que
Alex lhe deu, querida, — dizia a tia Sophie. — Ah, atrevo-me a
dizer que os olhos do seu noivo rolarã o da cabeça dele quando
ele a vir nelas.
Seda pê ssego, — disse Alex, — faz os saltos de um
homem bater. A seda é tã o pura quanto seu vé u, Rosalind.
Rosalind se via na frente de Nicholas vestindo aquela
confecçã o delicada, pecadora e Nicholas, com os olhos
ardendo, quente, galopante, aquelas mã os grandes estendidas
para tocá -la. Ela imaginou as mã os grandes acariciando sobre
a seda e...
Sophie disse: — Ah, querida, só desejo que pudesse ter
se casado na casa de Brandon. Como as crianças teriam
amado isso. Elas sempre a aceitaram, Rosalind, tal como eles
sempre souberam que você era diferente.
Ela abraçou a tia Sophie bem apertado. — Deixe-nos
fazer outro casamento para eles, tudo bem? Talvez em alguns
meses. Já comprei os presentes todos aqui em Londres —
você os guardará até que eu e Nicholas possamos ir à casa de
Brandon. Ah, como eu queria que Nicholas nã o fosse obrigado
a retornar para sua casa tã o rapidamente. Nã o consigo
imaginar o que aconteceu para exigir toda esta faná tica
pressa. Você sabe?
Alex e Sophie nã o faziam ideia de que Rosalind estava
mentindo, já que ela aperfeiçoara a mentira necessá ria muito
no início.
— Nã o. — Disse Alex, recatada como uma freira. — Nã o
fazemos ideia do que aconteceu. — Ela lançou um sorriso
grande para Rosalind e esperava que Nicholas surgisse com
alguma catá strofe aceitá vel, antes que eles chegassem à casa
de sua família. — Nicholas me disse que Wyverly Chase foi
assim denominada por causa de uma herdeira no sé culo XVI,
que encheu os cofres da família e pagou pela casa —
Catherine Wyverly, filha do Duque. Nicholas disse que o
fantasma dela vaga pelos vastos corredores da ala leste,
embora admita que nunca viu.
— Agora, querida… — Sophie acariciou o material que
cobria os braços de Rosalind… — esqueça o fantasma, eu
soube que Douglas declarou seu noivo suficientemente
abençoado com o bom gosto para vestí-la adequadamente.
Ah, como tudo é maravilhoso. Estou tã o animada. — E Sophie
enxugou uma lá grima que ela conseguira fabricar para
distrair Rosalind.
Alex disse: — Como os ú ltimos dez anos passaram
depressa. Eu me lembro, tã o claramente, do dia que você
cantou pela primeira vez para nó s, Rosalind, aquela estranha
cançã o em triste tom, tã o assustadoramente adorá vel que foi
fantá stico. Agora, nã o se esqueça querida, de aproveitar o
presente, já que o futuro está sempre à espreita ao virar da
esquina para agarrá -la pelo pescoço.
— Nã o esquecerei tia Alex. — Ela amava as duas, sabia
que elas estavam tentando protegê -la, e evidentemente que
todos naquela casa queriam mantê -la na ignorâ ncia. Ela
queria dizer-lhes que nã o precisava de proteçã o, o que ela
precisava era saber tudo, entã o ela poderia criar estraté gias
para proteger: ela e Nicholas. Talvez ela pudesse descobrir
quem foi o responsá vel por aquela misé ria. Verdade seja dita,
ela acreditava que Nicholas precisava se proteger mais do que
ela. Bem, ela trataria daquilo.
Sophie consultou o reló gio de bronze dourado, sobre a
lareira.
— É hora de descer, querida. Faltam quatro minutos
para as dez horas, e você sabe como Bispo Dundridge
acredita no poder do tempo. Ele provavelmente já está
batendo o pé , franzindo a testa, olhando à s mã os, preocupado
que você , ou o Nicholas fuja.
Rosalind tentara de tudo para flutuar até embaixo, na
escadaria larga, pois Nicholas estava de pé , na parte inferior,
vestido de preto, sua camisa de linho branca, como os dentes,
muito forte e pronto, o queixo duro e teimoso, olhando para
ela, sem sorriso nenhum em seu rosto. Ele parecia majestoso,
como um ministro puritano pronto para explodir sobre o seu
rebanho pecaminoso. Naquele instante, ela nã o queria fazer
aquilo. Ela nã o conhecia aquele homem perigoso. Ele a
observou muito lentamente levantar a mã o enluvada para
colocá -la no antebraço dele. Nã o disse nada, e nem ela. Ele
levou-a até a sala cheia — com rosas brancas e aroma de
baunilha.
O bispo Dundridge colocou o reló gio, com sua corrente
de prata brilhante, de volta no bolso e cantarolava. Entã o, ele
sorriu para o par, olhou brevemente à s diferentes pessoas na
sala de estar; algumas que ele conhecia. Elas se colocaram
em dois grupos separados, nenhum grupo falando com o
outro. Ele olhou para a Condessa de Northcliffe,
reconhecendo para si mesmo, mas apenas para si mesmo,
que a admirara, imensamente, por alguns bons vinte anos.
Ele quiz suspirar quando a olhou, mas ele nã o faria aquela
estupidez. Ele viu a Sra. Ryder Sherbrooke, que, juntamente
com a Condessa, seguiram a noiva e o noivo até a sala. Ela
caminhou para ficar ao lado de seu marido, um lindo sorriso
no rosto. Ele olhou em direçã o à s quatro jovens que estavam
amontoadas em torno de uma jovem muito bonita, que estava
olhando para Grayson Sherbrooke, que ficou sozinho junto à
lareira, braços cruzados sobre o tó rax, parecendo afastado e
distante. Agora, o que era tudo aquilo? Um pai muito protetor
pairava sobre o rebanho de miladys; trê s meio irmã os em
outro grupo, mostrando franca repugnâ ncia pelo Conde nos
olhos. Os trê s pareciam querer atirar flechas no noivo, como o
santo e má rtir Sã o Sebastiã o, ao invé s de celebrar suas
nú pcias. E a mã e, a milady Mountjoy — ele encontrou-se a
olhar para os dois círculos de um vermelho brilhante, pintado
nas bochechas.
O bispo Dundridge, de repente, percebeu que a noiva
parecia pronta para fugir. Já o noivo, parecia tã o determinado
quanto Wellington em Waterloo. Bem, nã o importava o que ele
via naquela sala de estar, era hora de casar aqueles dois
jovens bonitos que, sem dú vida, produziriam filhos lindos.
Bispo Dundridge os casou em quatro minutos e meio.
— Milord, — ele anunciou em sua voz profunda — pode
beijar sua noiva, — e sorriu para eles. Ambos disseram seus
votos em vozes claras. Ele ouviu alguns resmungos de entre
os meios irmã os, mas os ignorou.
Eles estavam casados, Nicholas pensou, um pouco
atordoado, e lentamente levantou o vé u de Rosalind. O rosto
dela estava pá lido, seus olhos ligeiramente dilatados.
— Isto será tudo agora, — ele disse baixinho, somente
para os dois. — Deixe-me beijá -la. — E ele o fez, apenas um
leve toque de sua boca contra a dela. Ela nã o fez nenhum
movimento de qualquer tipo, sempre com os olhos abertos e
olhando para cima, para ele. Ele poderia jurar que a ouviu
engolir. Quando levantou a cabeça, ele tocou o rosto dela,
levemente com os dedos. — Eu gosto do cheiro de baunilha.
Como se o feitiço fosse quebrado, ela sorriu para ele. —
Foi ideia minha.
— Eu sabia que você era uma mulher muito inteligente.
Agora, vamos ver se aquele desagradá vel grupo de carniça ali,
vai se dignar a nos felicitar.
Nicholas odiava admitir, mas Ryder Sherbrooke estava
certo. Era bom que sua família estivesse ali. Agora sabiam
que tudo estava feito. Talvez eles pudessem deixar passar o
seu ó dio mortal que nutriam por ele. Talvez, agora, seus meio
irmã os percebecem que o dinheiro que eles haviam herdado
do pai era suficiente para qualquer homem sensato. Richard
conseguiu cuspir um grunhido de parabé ns. Lancelote olhou
à frente. Uma garganta masculina fez barulho. Richard
franziu a testa, mas foi forçado a apresentar o terceiro irmã o,
Aubrey Vail para Rosalind. Nicholas foi atingido pelo fato de
serem muito parecidos seu meioirmã o caçula e sua esposa.
— Como irmã o e irmã , com o tom quase idê ntico de
cabelo vermelho, o de Aubrey era quase tã o grosso e
encaracolado quanto o de Rosalind. Seus olhos eram azuis,
quase de um azul tã o rico como o dela. Era como se a tampa
tivesse de sair da panela fervente — e Aubrey começou a
falar. Ele nã o parou, uma coisa boa, já que ele abafou o
silê ncio da sua família.
— Eu estou escrevendo um livro, — ele anunciou,
quando se sentou ao lado de Rosalind, bem na mesa do café ,
nã o dando atençã o ao lugar onde sua anfitriã o colocara para
sentar. — Ah!, é uma festa esplê ndida. Em Oxford, somos
bem alimentados, mas nada como isto, — e ele pegou na sua
recé m cheia taça de champanhe e bebeu-a. — Deveria ter
esperado por um brinde? Ah!, sim, sem problema... — e
apontou para um lacaio encher seu copo. Rosalind, fustigada
pelo monó logo interminá vel e divertido, disse:
— Você nã o odeia o seu irmã o? Você nã o quer matá -lo?
Aubrey bebeu a segunda taça, e cuidadosamente
desenhou com a taça de champanhe, um â ngulo de 30 graus
exato, em seu prato.
— Matar Nicholas? Por quê ? Eu nem conheço Nicholas.
Ele se parece com Richard, nã o? Realmente, é uma notá vel
semelhança. Deixe-me lhe contar sobre o livro que estou
escrevendo.
— Em um momento, Aubrey, — Nicholas disse, de forma
agradá vel. — Acho que o tio de Rosalind quer brindar.
— Ele nã o é o tio dela, maldiçã o, — Lancelot disse em
voz baixa, mas nã o baixo bastante.
— Ah!, preciso de mais champanhe, — disse Aubrey,
cobrindo as palavras do irmã o, e segurou sua taça de
champanhe. Virou-se para Rosalind. — Você é muito linda,
Rosalind. Se eu nã o fosse muito jovem para casar, eu teria
jogado meu chapé u aos seus pé s. No entanto, como uma
moça, você está na idade perfeita, a idade certa para isso.
Estranho, nã o é ? Eu sempre achei nossos costumes ingleses
muito desconcertantes.
Tio Douglas disse, sorrindo: — Eu acho que é o fato de
que os rapazes amadurecem mais lentamente do que as
moças, assim, eles devem ter mais tempo para uma
temporada.
Aubrey disse com uma careta: — Eu acredito que eu
estou já bem amadurecido. Lance, ao contrá rio, deve precisar
ter mais uma dé cada para que possa tentar ver se cresce, pelo
menos, algum pelo no queixo dele. — Aubrey ergueu a taça na
direçã o do irmã o e riu, ignorando o olhar sombrio que ele lhe
lançou.
Ryder Sherbrooke tocou sua taça de champagne com
uma faca. Levantou-se, levantou-a e sorriu para Rosalind.
— Rosalind é a filha do meu coraçã o. Quando ela e
Nicholas tiverem filhos, espero que eles me chamem de avô .
Eu prevejo que eles nunca vã o aborrecer um ao outro. Cada
um faz o outro rir, vejam, e isso é uma coisa muito boa... — e
ele cumprimentou-os.
— Isso mesmo. — Douglas disse.
— Uma avó , — Sophie disse, — eu gostaria de ser uma
avó .
Finalmente, porque o bispo Dundridge estava sentado ao
lado de Lady Mountjoy, e ela viu que tinha pouca escolha, ela
disse por trá s de seus dentes:
— Isso mesmo. — Richard e Lancelot, com os olhos de
Nicholas neles, repetiram o que a mã e disse.
— Pense, — Aubrey anunciou aos convidados, — quando
você tiver filhos, vou me tornar um tio... — abriu um grande
sorriso para mostrar a boca cheia de dentes muito brancos. —
Este brinde é para mim, o futuro tio. — Houve risos, desta
vez, nã o dos Vails, com certeza, mas de Sophie Sherbrooke,
em particular, que estava a olhar para o jovem cavalheiro
ruivo com aprovaçã o. Ela disse:
— Eu lhe ouvi dizer que você está escrevendo um livro,
Sr. Vail. Sobre o quê ?
Durante o banquete magnífico parecendo um pequeno
almoço, com o famoso frisado molho de bacalhau e ostra da
cozinheira, — delicioso arenque defumado e uma montanha
de ovos mexidos amarela, como as paredes da sala de jantar
— Aubrey disse:
— O livro que estou escrevendo trata dos druidas
antigos... — e ele nã o disse mais nada, simplesmente
começou a devorar os ovos, como se nã o tivesse comido por
uma semana.
Grayson perguntou: — É uma ficçã o ou um relato
histó rico?
— Eu nã o decidi até o momento, — Aubrey disse, — mas
vou lhe dizer que o uso do visco, pelos druidas, para curas
era excelente, e ainda assim a nossa igreja cristã ignorou os
poderes curativos naturais do visco e transformou-o em uma
utopia — bah! — e tudo isso para coletar mais algumas almas
pagã s para o lado cristã o... — sua boca estava cheia agora de
um bolinho, algumas migalhas no seu queixo. Ele as recolheu
com a ponta do dedo umedicido na boca e sorriu ao redor da
mesa. — Eu me esqueço de comer em Oxford... — nada mais
foi dito, e houve mais risos e novamente, nada vindo dos
Vails.
O Conde de Northcliffe havia, alegremente, renunciado
seu lugar para Nicholas, já que ele desejou os Vails vigiar de
perto. Quem sabia se Miranda, agora a Condessa viú va de
Mountjoy, nã o carregav um frasco de veneno em sua
bolsinha? Ele puxou a mã o macia da esposa e a beijou. —
Tudo está indo muito bem. O que você acha do terceiro irmã o
Vail?
— O cabelo ele é tã o vermelho quanto o de Rosalind…
— Nã o, nã o tanto quanto o seu, querida. Seu cabelo é
ú nico — Ticiano teria matado para pintar seu cabelo, uma vez
que é mais sublime que a insípida cor vermelha que ele
produziu.
Rosalind ouviu as palavras suaves e olhou seu novo
marido. Ele estava brincando com o bacalhau, nã o estava
comendo muito, ela viu, mas, ela també m nã o estava
comendo. Apó s mais trê s brindes, triplicou-se o nível do riso,
seu pró prio inclusive. Aubrey Vail, em particular, parecia
estar se divertindo, imensamente, se seis taças de champagne
servissem de medida. Richard Vail parecia sombrio, e
Lancelot parecia furioso. A boca de Lady Mountjoy parecia
comprimida, igual a do seu amante, Alfred Lemming.
Quando Nicholas inclinou-se para mais perto e disse
contra a orelha de Rosalind, — é meio-dia e é a hora de sair,
— a malícia e excitaçã o rugiram atravé s dela. Ela tomou um
gole de champanhe, levemente tocou o lá bio inferior com a
língua. — Vamos estar sozinhos em sua carruagem?
— É isso, — ele disse, e ela fez um sorriso sem vergonha.
Ele deu uma ú ltima olhada em seus meio irmã os e sua
madrasta e assentiu lentamente. — Eles beberam champanhe
demais para enfiar uma faca em minhas costelas no nosso
caminho para fora.
Aubrey estava sentado, as mã os entrelaçadas sobre o
estô mago, sorrindo amplamente, olhos vidrados, falando
sobre como os druidas gostam de gatos, os sacerdotes
caminhavam com gatos sobre os seus ombros, todo
orgulhosos e arrogantes.
Pela uma hora da tarde, Rosalind e Nicholas estavam
fora, indo para Wyverly Chase, no meio de Sussex, somente a
seis horas de carro de Londres.
22

A primeira vez que Rosalind viu Wyverly Chase foi, no


exato momento em que língua de Nicholas entrava em sua
boca. Ela chiou, se endireitou, e olhou à casa incrível, no topo
de uma colina suave. Ele a beijou novamente. Ela achatou as
palmas contra o tó rax dele e bateu levemente a testa nele —
ela tinha aprendido este movimento com um garotinho que
havia sido um rato de cais antes de Sherbrooke Ryder o levar
à casa de Brandon. Uma cabeçada sempre chamava a
atençã o da outra pessoa.
Ele nã o podia acreditar que ela havia feito aquilo. Ele
mexeu a cabeça, esfregou a testa e olhou para ela, confuso. —
Por que você fez isso? O que está errado?
Ela tocou a ponta da língua com o dedo e ele olhou a
língua, pronto para jogar toda a educaçã o ao vento e saltar
sobre ela, mas ele conseguiu se manter calmo porque ela
parecia tã o malditamente tola olhando-o. Ela disse:
— Nicholas, oh!, querido, como isto é difícil de dizer, mas
o fato é que você enfiou a língua na minha boca. Você
realmente tocou minha língua com a sua. Eu estou tentando
nã o pensar nisso, mas eu nã o consigo evitar. Acho que é algo
que os homens sentem que devem fazer para... — nã o, nã o,
vamos falar daquela casa — é Wyverly Chase?
Ele manteve a distâ ncia durante toda a viagem de seis
horas, realmente ele havia mantido, pelo menos na maioria
das vezes, até apenas a trê s segundos, quando ele
simplesmente nã o pode mais suportar. A boca dela — olhar
para aquela boca enquanto ela falava do ser vermelho e suas
lanças de fogo, — e realmente nã o ouvir muito do que ela
dizia, sua adorá veis palavras eram ruídos ao fundo, enquanto
ele pensava em colocar suas mã os nas mamas dela e beijá -la,
pressionando o rosto dele contra a carne quente dela, entã o
sua boca, sua língua — o fizeram perder a cabeça.
Ele queria esperar pela simples razã o de que tomar uma
virgem no assento de uma carruagem em movimento seria
pouco elegante. Sim, ele havia planejado esperar até que ela
estivesse na enorme suíte master em Wyverly com a sua
imensa cama de mogno e grossas camadas de penas macias.
Ele havia planejado tê -la na cama, nã o mais de seis minutos
depois que ele a carregasse no colo — a saudaçã o de Peter
Pritchard e de Block, seu mordomo, e todos os servos seria
rá pida — muito bem, ele poderia tê -la no meio daquela cama
em oito minutos.
Mas, entã o ela molhou os lá bios com a língua quando
perguntou em voz alta, se o ser vermelho já atacara aquele
desagradá vel monte de bruxos e bruxas com seus nomes de
deuses e da deusa celta que residiram no topo do Monte
Olyvan. Ele ficou perdido, confuso, quando havia deslizado a
língua na boca dela. Mas ele nã o conseguiu o resultado que
esperava — na verdade, ele quase a chocou. Claro que ela
nunca fora beijada daquele jeito antes. Ele sorriu
vaidosamente.
O que ela disse? Ah, sim, ela havia perguntado sobre
Wyverly Chase. Ele focou os olhos em sua casa e conseguiu
limpar a garganta.
— É Wyverly Chase, nossa casa, construída no sé culo
XVI pela herdeira de Wyverly, que salvou o primeiro Vail com
seu imenso nú mero de grumos. Ah!, o que acha da sua nova
casa? — Naquele momento, percebeu que a sua casa talvez
nã o fosse o que uma noiva esperava. Ela nã o era do estilo
Palladiano, nem havia um ú nico painel de Elizabeth para ser
visto. Nã o havia um fosso, entã o um castelo estava fora de
ordem també m. Era, francamente, bizarro, nã o para ele,
certamente, mas — o que ela estava vendo, ou pensando? Ele
achou que estava segurando a respiraçã o.
Ela endireitou-se, corrigindo o seu encantador chapé u
verde com suas penas de cor creme que estava curvado em
volta das bochechas dela. Ela permaneceu em silê ncio, seus
olhos se alargando enquanto a carruagem rolava para perto
da casa, indo pela estrada muito sinuosa, a estrada de
cascalho rodeada por espessos cedros e pinheiros, até o topo
de uma inclinaçã o suave, pensando que parecia um homem
de barba cheia com uma cabeça careca. Ele esperou, rezando
para que ela nã o fosse rir.
— É má gica, — ela sussurrou, admiraçã o e emoçã o na
voz dela. — Má gica. A herdeira de Wyverly, ela construiu isto?
Ela era má gica, Nicholas. Sabe disso, nã o é ?
Ele olhou para a pedra quase branca que se erguia e
crescia, e crescia, quase tocando as nuvens, e o sol da tarde
como vigas de uma lança de prata atravé s das nuvens para
atacar um certo ponto na torre leste e fazer o brilho da pedra
parecer gotas de chuva. Havia quatro torres de pedra
arredondadas que subiam alto, acima da pró pria casa. Nã o,
nã o realmente uma simples casa — era simplesmente
Wyverly, a sua casa. Era magia? Nã o, certamente isso era
absurdo, mesmo — mesmo que ele soubesse profundamente,
na barriga, que o que estava acontecendo bem neste instante
era muito, muito importante.
Ele disse lentamente, sentindo o raciocínio — Magia?
Nã o, nã o a herdeira de Wyverly. O recé m criado Conde o
construiu. Antes da Rainha Bess tocá -lo no ombro com a
espada cerimonial, ele era o capitã o do Bellissima, navio do
milord Waiter Raleigh, na batalha com os espanhó is em 1578.
Ele salvou o navio de Raleigh de um ataque. Já que Raleigh
ganhou a batalha e foi muito ú til à rainha, ela lhe agradeceu
com o ouro de seus cofres, e a pedido de Raleigh, ela
concedeu a terra e um condado ao meu antepassado,
tornando-o primeiro Conde de Mountjoy.
— De onde vem o título: De Mountjoy?
— Havia sido extinto, no ano anterior, desagradando a
rainha, tendo ela mesma decapitado o Conde na linha
sucessó ria do título. Mas o primeiro Conde nã o ficou
acomodado. Veja. Ele era um comerciante bem sucedido
antes de tentar a sua sorte com Raleigh, e entã o, ele saiu
novamente. Trê s meses mais tarde, seu navio naufragou no
mar Mediterrâ neo. Ele foi o ú nico sobrevivente. Ele nunca
escreveu sobre isso, só que ele havia tanto amaldiçoado
quanto abençoado, nã o se sabendo o que ele queria dizer.
— Meu avô me contou que o primeiro Conde mantinha
um diá rio. Ele havia escrito que havia imaginado esta casa,
ou castelo, ou mansã o, tudo o que você desejar chamar em
sua mente, todas as paredes até à ú ltima torre redonda de
pedra branca. E sua nova esposa herdeira,
entusiasticamente, usou todo o seu dinheiro para o
empreendimento e Wyverly Chase foi o resultado.
— Confio que a herdeira de Wyverly ganhou um
excelente marido por oferecer esse dinheiro.
— Bem, os dois viveram muito tempo, se isso ajuda a
termos uma ideia do casal. Chamava-se Jared Vail. Por seu
retrato, — está na Galeria de imagens ao longo da ala leste —
podemos ver que ele era um cavalheiro robusto, os faiscantes
olhos escuros de um pirata, rosto corado por causa do vento e
do mar e um sorriso perverso. Felizmente, os homens Vail tem
sido bastante astutos em lidar com as finanças ao longo dos
anos e elas tem florescido. — Nicholas sorriu. — Você sabe
que o Capitã o Jared escreveu també m sobre aquele dia
terrível em I6I8, quando Raleigh foi decapitado com um
machado? Ele alegou que Raleigh disse antes do machado
cair: “Este é um afiado remé dio, mas é um mé dico para todas
as doenças.”
Ela estudou o rosto dele. — Eu concordo, a herdeira de
Wyverly nã o era má gica, era este capitã o de navio, Jared Vail,
que era o mago e você sabe disso, senã o ele nã o poderia ter
construído esta magnífica casa que deve sussurrar segredos,
e ter a magia antiga chocalha atrá s das suas muralhas. Você
també m sabe disso porque carrega o sangue do seu avô e
seus ensinamentos, e ele carregava o sangue dopai dele até
Jared Vail. Eu quero ver a biblioteca do seu avô , Nicholas.
Quero ver a có pia das Leis de Pale.
— Verá sim. — Disse ele, olhou pra a boca dela, de novo,
e levantou-a para seu colo. — Deixe-me beijá -la e nã o tente
saltar para longe de mim, em estado de choque.
No momento, a magnífica casa má gica recolheu-se à
parte traseira de sua mente, ficou lá alojada por enquanto.
Rosalind deu um sorriso lento.
— Nunca tive a língua de um homem na minha boca,
Nicholas. Eu fui beijada antes de você , naturalmente, mas
nã o desse jeito. Grayson foi o primeiro.
— Grayson? — A temperatura de sua voz disparou. —
Grayson?
Rosalind deu-lhe uma cutucada no braço. — Sim, mas
verdade seja dita, eu o enganei. Eu lhe disse que Raymond
Sikes era o melhor beijo de toda a Lower Slaughter e que eu
estava disposta a apostar um xilim, que Grayson nã o poderia
chegar perto dele. — Ela riu. — O pobre Grayson nã o sabia o
que fazer. Eu tinha 14 anos e ele era muito jovem, recé m-
chegado de Oxford, pronto para mostrar a maldade de
Londres. Eu me lembro de fazer biquinho quando ele se
inclinou para baixo e tocou a minha boca... — ela parou um
momento, lembrando o olhar chocado no rosto dele e, em
seguida, deu uma risadinha, um delicioso som que Nicholas
nunca ouvira dela antes. Quem diria que Rosalind poderia rir
como qualquer outra jovem? Entã o ela riu. — Pobre Grayson,
parecia tã o revoltado, tã o culpado, realmente, e entã o eu lhe
disse... eu beijei um sapo nã o mais de cinco minutos antes de
você me beijar. — Ele fugiu para Londres. Nã o o vi durante
seis meses. Você sabe que eu beijei mais trê s sapos?
— Nenhum deles se transformou em príncipe, deduzo.
— Nem sequer um Duque. Preocupei-me por meses em
ficar com verrugas, mas eu nã o fiquei.
— Que tal Raymond Sikes?
— Oh!, eu o inventei. O pobre Grayson nunca soube que
eu havia escolhido o nome do nada. Suponho agora que sou
casada, devo lhe contar. Ele nã o pode bater em uma mulher,
ele pode?
— Seria muito ruim, — Nicholas disse e, entã o balançou
a cabeça. — Entã o Grayson lhe deu seu primeiro e ú nico beijo
antes de mim?
— Bem, para ser perfeitamente honesta, sim.
Ele beijou-a novamente, desta vez passando a língua por
seu lá bio inferior e sussurrou, sua respiraçã o quente e
excitante, — abra a boca, Rosalind. Abra agora.
Ela fez isso. Todo o seu foco foi na boca dele.
Ele queria o calor e a umidade dela e entã o ele colocou a
língua nela.
O lacaio novo que havia sido contratado à um mê s atrá s
gritou pela janela:
— Milord! Já chegamos! Abro a porta para você e a
milady ou você prefere que eu e o Sr. Lee Po carreguemos
todas as bagagens e o deixemos aqui com sua nova noiva,
talvez até escurecer?
Nicholas ainda nã o havia percebido que a carruagem
estava parada no pá tio circular e largo, na frente de Wyverly.
Dada a expressã o confusa nos olhos de Rosalind, nem ela. Ele
queria matar. Ele queria chorar. Em vez disso, ele revirou os
olhos e tirou a língua da boca da sua mulher. Sua esposa,
que pensamento era. Ele tê -la conhecido somente a nove dias,
e agora era sua esposa.
Ele se recompô s e enfiou a cabeça para fora da janela da
carruagem. — Obrigado por me inundar com a sagacidade,
John. Ah!, vejo que o Block está abrindo as portas da frente.
Diga a ele que precisamos de vá rios lacaios mais. Apresente-o
ao Lee Po. Vá .
John nã o queria ir. Ele queria dar um olhar longo e
agradá vel para dentro da carruagem, mesmo que um cego
soubesse exatamente o que estava acontecendo. Ele estava
sendo atrevido e intrometido e gostando imensamente. Ele
suspirou.
— Vá !
Nicholas endireitou o vestido de Rosalind, sua capa,
levemente tocou com a ponta do dedo a boca dela, que ainda
estava aberta pela surpresa, e se perguntou se ele poderia tê -
la na sua cama em menos de cinco minutos.
— Deus, — ela disse... e tocou levemente aboca com a
ponta dos dedos.
— Eu pretendo prepará -la para o inesperado para os
pró ximos trinta anos. O que você acha?
Ela olhou para ele, atravé s de seus cílios. — Talvez eu
tenha algumas surpresas inesperadas para você també m,
Nicholas.
Seus olhos quase se cruzaram. Ele levantou-a da
carruagem e subiu os degraus de pedra desgastada ao lado
dela.
— Você é ignorante sobre isso, — ele disse, nã o olhando
para ela. — Você nã o sabe nada, muito menos qualquer coisa
sobre surpresas.
— Tia Sophie me deu um livro. Com fotos. Ela disse que
elas nã o sã o tã o explícitas quanto as está tuas nuas em
Northcliffe Hall, que nunca me deixaram ver, a propó sito, mas
bastante informativo.
— Você vai me mostrar este livro. — Ela deu um sorriso
perverso.
Block disse-lhe, sem preâ mbulo:
— Nã o é totalmente um desastre, milord. Existem alguns
de nó s que ficaram e continuarã o por aqui. Como o Sr.
Pritchard, que está dormindo no hall de entrada, para nos
proteger.
Ela piscou com a mudança imediata em seu novo
marido. Ele agora parecia, de repente, duro, pronto para
lutar. Ele parecia perigoso. Ela poderia jurar que seus olhos
havima escurecido para o preto, mas a voz era calma, baixa.
— Peter está de guarda? O que diabos está acontecendo
aqui, Block?
— Eu nã o pretendia alarmá -lo excessivamente, milord.
— Ah!, entã o imagino que os ratos estã o correndo pela
cozinha? Talvez a fumaça esteja ondulando para fora da
lareira do quarto de dormir? Ah!, sim, Block, esta é minha
nova esposa, Lady Mountjoy. Rosalind, este é Block. Ele
esteve com o meu avô por vinte anos. Tanto quanto sei, Block
nunca encontrou um problema que nã o pudesse resolver.
Rosalind sorriu para o homem velho, que parecia antigo
como o ú nico pinheiro que havia, cujos ramos acenavam
contra o segundo andar da casa. Ele caminhou bem até ela,
olhou-a brevemente e, em seguida, disse perto da orelha do
Nicholas, — nã o sã o ratos ou fumaça, milord, é o regresso do
velho conde. Nã o, nã o, nã o acredito nem por um momento
que ele esteja descontente. Ele parece muito feliz que você
esteja casado e que você e sua nova esposa estã o aqui em
Wyverly. Como ele nunca apareceu antes, devo presumir que
é porque você se casou e voltou para casa.
— Ouvimos ela a cantar a plenos pulmõ es, rindo e
batendo nas coisas, como se fosse cego e nã o pudesse ver que
o velho baú indiano estava em frente a ele. Ele me disse que
eu tenho, pelo menos, mais sete anos antes de eu partir para
a vida futura. Disse a ele que nã o eram anos suficientes, mas
ele me disse para me preparar, que eu seria mais velho do
que ele quando eu finalmente partisse, ele resmungou.
Infelizmente, nã o foi específico sobre meu destino final. Ele
cantou isso tudo em rimas que nã o eram alegres.
— Entendo, — Nicholas disse lentamente, olhando para
Block, cuja expressã o nunca mudou, permanecendo distante,
apenas um ligeiro tique no canto do seu olho esquerdo. —
Bem, entã o, já que meu avô está cantando porque a milady
está aqui agora, ele é obrigado a cantar ainda mais alto
quando ele a vir.
— Eu faria isso, se eu fosse ele, — Block disse e deu-lhe
um longo e arqueado sorriso que mostrou uma boca cheia de
dentes bonitos. — É um prazer, minha milady. Bem-vinda a
Wyverly Chase. Se permitir, milady, seria um prazer també m
cantar para você . Eu me acompanharia no piano. Você gosta
de empolgantes cançõ es escocesas? Você sabe, o velho milord
já nã o canta folclore escocê s.
Rosalind ficou encantada, mesmo que ela nã o tivesse a
menor ideia do que estava acontecendo. Havia um fantasma
cantando na casa? Avô de Nicholas?
Ela sorriu para Block. — Adoraria ouvir você cantar,
Block... — ela notou que a camisa de linho do velho era tã o
branca qaunto as nuvens, seu terno preto era tã o brilhante
que ela podia ver a si mesma. Ela disse, — Willicombe, nosso
mordomo em Londres, sempre desejou ter as calças e casaco
tã o brilhantes quanto os seus, Block, mas nunca conseguiu
resultados como os seus. Talvez você possa escrever-lhe e dizer-
lhe como se faz?
— Nã o faço nada, milady, — Block disse. — Estas roupas
sã o tã o antigas quanto as telhas dos mouros na casa de
banho. O que você vê é o alto brilho de idade honesta. Como
eu gosto de ver meu semblante nobre, quando eu tenho a
oportunidade de olhar para baixo, na minha manga, eu
recuso roupas novas. Nossa lavadeira sabe como escová -las e,
entã o elas permanecem brilhantes. Nã o se assuste. Garanto-
lhe que nã o há traças nas costuras, milady.
— Obrigada, Block. Vou me comunicar com Willicombe e
dizer-lhe para simplesmente recusar todas as roupas novas.
Entã o a nossa lavadeira nã o partiu?
— Ela e a auxilar dela estã o muito longe da biblioteca
para ouvir o velho conde cantar e bater na mobília. A
cozinheira me disse que, enquanto ela alimentar a Sra. Bates
e Chloe com seus excelentes pescoços de frango recheados,
elas ficarã o contentes em permanecem lavando e passando a
ferro.
Nicholas ouviu a voz de fundo meló dica de Peter
Pritchard. — O Conde velho estava cantando há pouco na
biblioteca, milord. No início do dia, acho que ele estava lendo.
Se quiser garantir-lhe que você e sua esposa estã o em casa
para permanecer aqui, talvez ele parta do local e continue
consultando os climas celestiais.
Block disse, — talvez seja a possibilidade de viajar em
outra direçã o que o manté m preso ao chã o.
Rosalind olhou de um rosto para o outro. Ela olhou para
Peter Pritchard. — O que ele canta, Sr. Pritchard?
— Cantigas, milady. Pelo menos, elas soam como algo
que um homem poderia cantar enquanto está em um convé s
de navio. — Segundo o que Nicholas sabia seu avô nunca
havia colocado os pé s em um convé s de navio, em sua vida.
Rosalind perguntou: — O que é que ele lê ?
Peter fez uma reverê ncia. — Perdoe-me, milady, eu sou
Peter Pritchard, administrador da propriedade do Conde.
Temo que esteja um pouco distraído.
—Você tem um fantasma na casa. Nã o é à toa que está
distraído.
Peter disse: — Sim, as coisas estã o bastante animadas
nos ú ltimos seis ou sete dias por aqui, na verdade, desde o
dia que o milord enviou um mensageiro informando-nos de
seus planos de voltar para casa com uma mulher. Perdoe-me,
milady. Perguntou-me o que o velho Conde lê . Há montes de
livros no chã o ao lado de sua cadeira preferida. O principal é
um tratado sobre bruxos eremitas que habitam em cavernas,
no Bulgar e evitam o contato humano.
Rosalind disse: — Se eles evitam o contato humano, eu
me pergunto como algué m poderia escrever um tratado sobre
eles.
Nicholas riu.
Rosalind escorregou a mã o nele. — Gostaria de
acompanhar o Milord à biblioteca e conhecer o fantasma do
meu avô .
Block soltou um suspiro. — Que coincidê ncia que você
nã o pareça ser de uma natureza altamente sensível, milady.
Com efeito, uma superabundâ ncia de nervos possivelmente
poderia ser fatal para sua felicidade conjugal, dada a nossa
atual visita.
— Nã o eu, Block. Eu sou mais forte do coraçã o do que
Lee Po.
— Ah!, o homem do milord para tratar de assuntos
particulares. Lee Po conta as histó rias mais grandiosas.
Venha agora, a cozinheira tem garrafas de champanhe
francê s do velho conde e fez tortas de groselha requintadas.
Se entrar, milady, vou apresentá -la à empregada, Marigold,
que parece ser da mesma idade aaquela jovem empregada
que trouxe, que está com a boca um pouco branca e um pouco
alarmada.
Rosalind virou-se para Matilde e sorriu. — Venha,
Matilde, está tudo bem.
Matilde assentiu com a cabeça, mesmo achando que
nada estava bem, e obedientemente seguiu atrá s de Rosalind
por aquela casa que lhe deu arrepios. Pelo menos o Sr. Lee Po
estava aqui. Nada, nem ningué m tentariam prejudicá -la,
enquanto ele estivesse por perto. Uma jovem garota, usando
um vestido de musselina escuro, com um bonet branco
empoleirado no alto da cabeça, estava em pé , no centro do
hall de entrada, construído com azulejos em preto e branco.
Ela viu Nicholas e Rosalind e rapidamente fez uma reverê ncia.
— Oh!, meu Deus, aqui estã o, aqui mesmo, na minha
frente. — Ela fez outra reverê ncia. — Meu nome é Marigold.
Minha mã e adora amarelo, adora mesmo, é por isso que ela
me chamou de Marigold. — E ela fez uma reverê ncia
novamente. Block disse:
— Marigold ri quando o velho conde canta. Ou canta
junto com ele, dependendo do seu humor.
— Ele nã o canta o suficiente de uma nota para eu
dançar — Marigold disse. — Mas nó s fazemos uma harmonia
encantadora.
Rosalind sorriu e disse: — Esta é Matilde. Se você
mostrar o quarto dela, Marigold e apresentá -la à cozinheira,
Mrs Bates, Chloe e à aprendiz, agradeço.
— A aprendiz é a Sra. Sweet, milady. Ela treme um
pouco, mas ainda pode escovar um traje dando um grande
brilho. O brilho nã o é tã o forte como o do Sr. Block, mas forte
o suficiente para notarmos.
Rosalind nã o havia conhecido muitas aprendizes, mas
ela nunca ouvira falar de uma com mais de dezesseis anos. —
Quantos anos tem a Sra. Sweet, Marigold?
— Mais velha do que a minha mã e, milady, tem trê s
dentes na boca, todos na frente, uma coisa boa, a minha mã e
diz, senã o ela precisaria roer a comida com as gengivas.
— Entendo. Eu també m gostaria que conduzisse Matilde
em uma excursã o pela casa. Matilde, quando tiver terminado,
venha ao meu quarto. Pode ir agora. Obrigada, Marigold.
— Sim, milady... — e ainda outra reverência, uma mais
profunda, quase a derrubando sobre o corpo. — Matilde,
nossa, é um nome bonito demais, eu vou perguntar a minha
mã e o que ela pensa. — E assim foram.
Nicholas foi até a biblioteca, ouvindo.
Block disse: — Suponho que um fantasma
ocasionalmente deva ter um descanso.
Naquele momento, eles ouviram uma forte voz cantar:

Fui ao mar como um pequeno cabrito.


Eu cruzei as ondas em um barco pequeno.
Eu aprendi a nadar — posso lhe dizer isso!
Ei Ho, Hiddy ho.
E nunca usei um chapéu.
O sol me queimou e me deixou com bolhas, mas me sentei

E nunca usei um chapéu.

Houve trê s versos mais facilmente esquecíveis, em


seguida, silê ncio, silê ncio profundo e absoluto.
Peter deu um sorriso torto. — O cabelo em meus braços
já nã o se levanta. Por ter me acostumado com a presença do
fantasma do meu antigo mestre, isso nã o revela um cé rebro
torturado? Mas o fato é que ele está , de fato, aqui e entã o o
que se pode fazer?
Nicholas viu um pincel no canto. Pertencia a Peter, ele
supunha. — Rosalind, porque você nã o acompanha Block até
lá em cima e eu vou dar um olá ao meu avô .
Como se isso fosse acontecer, ela pensou. — Ah, nã o, eu
vou com você . Você sabe que talvez nó s dois possamos cantar
um dueto.
Peter Pritchard lançou-lhe um olhar espantado, depois
riu e tossiu por trá s de sua mã o.
Nicholas teve um pensamento final à sua cama enorme
lá em cima, com Rosalind nua, no meio dela, talvez entã o
acenando para ele, sorrindo, deu um passo firme em direçã o
à porta da biblioteca fechada, no final do longo corredor.
— Eu deixo a porta aberta, — Peter disse, — mas ela
sempre se fecha. Sempre. No início fiquei desconcertado,
sentia medo de meus calcanhares, para ser honesto sobre
isso, mas agora… — ele deu de ombros e deu a Rosalind
outro sorriso. — Você nã o parece ter medo, milady.
— Oh, nã o, eu adoro cantar, — Rosalind disse e ofereceu
ao jovem de olhos inteligentes e cabelos cor de bronze,
despenteados, um sorriso ensolarado.
Silê ncio, silê ncio. Apropriado, foi o pensamento de
Nicholas, já que seu avô estava morto e nã o deveria ter nada
a dizer sobre isso.
Ele e Rosalind entraram na enorme biblioteca, tã o
sombria que nã o se podia ver as extremidades dela. Mas, era
bastante estreita, e havia mais livros do que Rosalind já havia
visto em uma ú nica biblioteca em toda a sua vida, e isso dizia
algo, visto a imensa biblioteca do tio Douglas em Hall
Northcliffe, para nã o mencionar a coleçã o vasta do tio Tysen.
— Há janelas em algum lugar aqui? — Ela perguntou.
— Sim. — Disse Nicholas caminhando à frente, e abrindo
as cortinas de veludo grosso de ouro escuro. Ele colocou as
cortinas nas grossas cordas trançadas sobre ganchos
dourados. Em seguida, ele escancarou as janelas. Ar fresco e
luz primaveril inundaram a sala. Ele inalou o abençoado ar
fresco e, em seguida, virou-se para falar.
Houve um gemido.
Tanto Nicholas quanto Rosalind congelaram onde
estavam.
— Desculpe, esqueci de dizer, — disse Peter, agora ele
vem à biblioteca, — mas acho que ele nã o gosta da luz. Talvez
se você estiver morto há muito tempo, você se acostume com
o escuro. Se ele esperar um pouco, as cortinas se fecharã o
novamente.
Nicholas nã o parecia longe da velha poltrona do seu avô
que estava colocada em um â ngulo da lareira, perfeitamente
vazia. Ele disse, sem olhar longe naquela cadeira: — Você já o
viu Peter?
— Nã o.
Nicholas assentiu com a cabeça. — Obrigado, Peter.
Deixe-nos agora.
— Er, você está certo, milord? Preocupo-me que milady…
— Milady poderia enfrentar um bando de bandidos
portugueses, — disse Nicholas, sorrindo. — Ela vai ficar bem.
Deixe-nos, está tudo bem. Meu avô voltou porque ela estava
chegando, foi o que disse o Block, entã o deixe que ele a
conheça.
Quando Peter saiu da biblioteca, ele deixou a porta
aberta, uma demonstraçã o Rosalind pensou. Como viram, a
porta muito lentamente se fechou sozinha.
— Bem, avô , — Nicholas disse à cadeira vazia, — parece
que está a causar uma grande comoçã o. Preferia nã o ouvir
outro gemido, para ser honesto aqui. Vá , fale comigo e
Rosalind. É por isso que está aqui, nã o é ? Para conhecê -la?
Nada alé m do silêncio, entã o, uma voz velha muito suave
cantou:

Finalmente a garota chega em casa


Uma garota que nunca pertenceu
Para ela é devida a dívida
Muito bom, rapaz, muito bom.
Nicholas teria caído se nã o tivesse encostado à
prateleira. A dívida, ele pensou, a maldita dívida. Ele ainda
nã o entendia aquele negó cio de dívida, mas estava bem
dentro dele, saindo para fora do sonho que preenchera sua
juventude, e com isso aquela necessidade de pagar essa
dívida. Ele olhou para Rosalind. Ela nã o era mais a garotinha
em seu sonho, mas ela era a dívida dele, essa mulher, agora,
sua esposa.
A velha voz cantou mais uma vez, de todos os lugares e
em nenhum lugar, ao seu redor, ainda soando vazia,
ofegando, velha, antiga como pergaminho amarelado.

A menina quase morreu


O monstro quase ganhou
A dívida foi paga por outro
Mas a corrida ainda deve ser feita.

A voz fina desvaneceu-se no ar e eles estavam sozinhos,


de repente, eles estavam totalmente sozinhos, e os dois
sabiam disso. Os cortinados permaneceram abertos.
Rosalind cantou suavemente para o ar vazio, em direçã o
à cadeira de asas, vazia;

Eu sonho com beleza e noites cegas


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que eu não estou sozinha outra vez
Mas eu sei de sua morte e seu pecado grave.
A cadeira antiga caiu para o lado. Os cortinados se
fecharam.
— Bem, isso certamente agitou o velho, — disse
Nicholas. Ele puxou Rosalind para perto. — O que você acha
da minha casa agora?
— Acho que — ela disse, olhando para ele, — que temos
algo muito importante para realizar.
— Sim, — ele disse. — Sim, nó s temos. Você sabe, eu
nunca ouvi meu avô cantar. Lembro que, uma vez, ele me
disse que a sua voz causava medo em crianças pequenas e
cã es.
Rosalind nã o disse nada, mas ela olhou a cadeira vazia,
deitada de lado no tapete.
23

Nicholas deu uma mordida no seu porco assado e


mastigou rapidamente. Jantar tinha sido a ú ltima coisa em
sua mente quando Block os convidara a sair da biblioteca.
— Agora que você está no país, milord, sã o as horas de
seu país que você deve observar. — Curvou-se. — E, agora,
passa bem depois das dezoito horas, quase dezenove horas,
na verdade, e a cozinheira está ansiosa para presenteá -lo com
as especialidades dela.
O que um pobre sitiado, muito recé m-casado, poderia
fazer? Estrangular o Block, seria um bom começo.
Depois de Rosalind conhecer a cozinheira, milady
Clopper, alta e ossuda, toda vestida de branco, sem uma
mancha de comida e um bigode que parecia uma amostra fina
de cetim preto, Block os levou à enorme sala de jantar.
Nicholas nã o possuia nenhuma boa recordaçã o daquela
sala sem ar, sombria, mas a mesa foi posta para os dois e
velas foram acesas.
— Depois disto Block, ele disse, — faremos nossas
refeiçõ es na sala de pequeno almoço. Este recinto é tã o
escuro, que uma meia dú zia de ladrõ es pode estar escondidos
nas sombras. Nã o desejo vir armado para o meu jantar.
Block curvou-se.
— Como quiser, milord. Ah!, agora vou buscar a sopa
branca da cozinheira. É renomada. Ela nunca serve a sopa,
primeiro, como talvez você pode se lembrar, milord, mas esta
noite, ela acredita...
Rosalind nã o estava ouvindo, ela estava inalando o ar
tenebroso e estudando os cantos escuros. Um ú nico ramo de
doze velas ficava no meio da mesa e causava um elenco de
sombras estranhas em uma tigela grande de uvas de aspecto
turvo. Ela disse:
— Se Grayson visse esta mesa, ele diria que deve ter pelo
menos, o cumprimento de trê s caixõ es.
— Pelo menos, — ele disse, e deu à mã o dela um aperto,
toda a parte que conseguiu pegar. Ele ouviu o Block limpar a
garganta mais uma vez e sussurrou, — coma tanto quanto
você quiser, Rosalind, planejo bastante atividade para deixá -
la magra até aos ossos.
Ela sorriu para ele, embora ele visse que os olhos dela
estavam um pouco dilatados, talvez seu rosto estivesse um
pouco pá lido.
Os dois nã o saberiam dizer se o jantar estava uma
delícia, nem notaram a sucessã o de pratos trazidos para por
Block, estavam pensando em outras coisas.
— Eu sou muita apreciadora de pudim de figo, —
Rosalind disse finalmente, e deu uma pequena mordida.
— Eu acredito que seja uma torta de maçã .
— Ah!, meu Deus.
— Figos, maçã s, nã o importa, continue comendo. Você
vai precisar de sua força.
Ela deu outra mordida. — Acho que você está certo, é
maçã . Sabe Nicholas, eu gostaria de saber se seu avô vai nos
visitar em seus aposentos.
— Nossos aposentos. Se o vocô chegar para nos cantar
uma cançã o de ninar, ouviremos, eu suponho que, em
seguida, aplaudiremos e educadamente pediremos que ele
saia, ou entã o ele vai ficar chocado até os dedos dos pé s
fantasmagó ricos.
— Se eu conhecer a cançã o de ninar, eu poderia cantá -la
com ele. — Ela deu-lhe uma olhada debaixo de seus cílios.
Ela sentiu a urgê ncia, ouviu-a na voz dele, mesmo que ele
soasse alegre e divertido. Apesar do seu entusiasmo, ela sabia
que era um territó rio desconhecido. Ela teve que admitir que
carregava um pouco de apreensã o, uma palavra, sem
derramamento de sangue real, enquanto ela sentia suas
entranhas saltando de excitaçã o misturada com terror.
— Nicholas, sobre esse negó cio de fazer amor.
Ele ficou com toda a atençã o, o foco nela. — Sim?
Ela acenou com a mã o ao redor dela. — Isto é tudo muito
civilizado, quer dizer, estamos comendo nossas tortas de
maçã , mas agora estou pensando sobre o que você vai fazer
comigo assim que entrar no quarto.
Ele realmente traçava planos, maravilhosos, planos
detalhados. — Olhou todas as fotos no livro que tia Sophie
deu para você ?
— Eu tentei folheá -lo rapidamente, mas a tia nã o me deu
um momento para isso. Eu acho que elas estavam com
vergonha e se arrependeram, imediatamente, de me dar o
livro, mas fiquei com ele, deixe-me dizer.
— Se desejar, quando estivermos no nosso quarto, nó s
podemos olhar as fotos juntos. Você gostaria?
— Sim. Bem, nã o. Acho que eu nã o conseguiria olhar
com você olhando por cima do meu ombro e vendo o mesmo
que eu. Os casais nã o tê m nenhuma roupa, Nicholas. Nã o há
um ú nico saiote a esconder as coisas.
— E os milordes nas fotos? Eles estã o sem roupa
també m?
— Eu olhei tantos quanto pude, enquanto tia Sophie
estava tentando puxar delicadamente o livro para fora dos
meus braços. Acho que eu consegui obter um breve vislumbre
de uma boa meia dú zia — para estar no lado seguro —
coloquei-o sob as minhas camisas, na minha mala, esperando
que ningué m o visse. Os cavalheiros… — ela limpou sua
garganta — bem, pareciam muito estranhos, nada como os
meninos na casa de Brandon.
— Estranhos como?
— A frente deles, a parte baixa na frente deles —
pareciam deformados, grandes e inchados, para fora e, bem,
nã o tenho a certeza, mas acho que havia um tronco de á rvore
saindo de seus estô magos.
Nicholas riu. — Parece que o artista era um homem com
uma grande visã o de si mesmo, um homem que queria
impressionar, e isso levou a uma boa dose de exagero.
Ela sentou-se à frente, os dedos dela apertados. — A que
ponto? Nã o percebi. Agora, nã o quero mais falar sobre o livro.
Nã o quero mergulhar debaixo desta mesa para esconder
minha mortificada pessoa. Eu nã o gosto de pensar o que
poderia estar sob esta maldita mesa quando está escuro, e
sem pé s para manter afastadas as estranhas criaturas.
Ele apenas sorriu para ela. — Termine seu pudim de
figo. Vamos à biblioteca e solicitar que o avô nã o faça
quaisquer visitas nupciais. Em seguida, desfrutaremos de nó s
mesmos, Rosalind. Prometo-lhe que tudo vai ficar bem. Eu
sou seu marido e você vai confiar em mim.
Ela mastigou um momento e, em seguida, disse, para
sua surpresa: — Nicholas, você sabe por que a cadeira do seu
avô caiu quando cantei minha mú sica?
Ah, ele havia pensado sobre aquilo.
— Vamos discutir, amanhã ao meio-dia, na melhor das
hipó teses.
Block entrou na sala de jantar, carregando outro castiçal
de velas acesas. A luz prendendo-se no rosto dele, fazendo-o
parecer como um demô nio de bochechas coradas. — Imagino
que poderia desejar ter o seu vinho do Porto, agora, milord.
Era ironia na voz de Block? Nicholas dobrou o
guardanapo e colocou-o ao lado do prato. — Nã o, obrigado,
Block. Agora vamos lá para cima. A casa está tranquila e
segura?
— Sim, milord. Posso dizer que achei particularmente
sensível do Sr. Pritchard nã o jantar com você s esta noite,
sendo esta a primeira noite de você s, juntos, na Wyverly
Chase, er, e sua primeira noite, juntos, como casados?
— Nã o, Block, você nã o pode dizer isso.
Rosalind sufocou uma risada. — Por favor, agradeça a
cozinheira pela refeiçã o deliciosa, Block. Milord?
Nicholas puxou a cadeira dela para trá s e a puxou pelo
braço. — Boa noite, Block. Ah!, diga ao Sr. Pritchard para
contratar alguns funcioná rios adicionais. Nã o consigo
imaginar que a cozinheira ficou feliz em limpar todos os
tachos e panelas. Vou pessoalmente falar com cada um deles,
resolver suas preocupaçõ es fantasmagó ricas.
— Muito bem, milord, mas eu nã o teria muita esperança
de ganhar um servo adicional. Fala-se na vila, e as pessoas
estã o se lembrando de seu avô e do fato de que nã o havia
nenhum corpo.
— Eu lhe asseguro, Block, quando o avô morreu, ele
deixou seus restos mortais para trá s. Afinal de contas, que
utilidade teria para seu corpo na outra vida?
— Quanto a isso, milord, você era apenas um menino e
nã o sabia absolutamente nada. Eu me lembro bem o que foi
dito por ele, e quem deve saber.
— Quem seria?
— O mé dico. Você se lembra do Dr. Blankenship, milord,
um homem pouco exigente, com cabelos cor de trigo e olhos
muito opacos, ele poderia olhar para você e você nã o saberia?
Evidentemente, ele sussurrou à irmã dele que quando ele fez
sua ú ltima visita, o velho conde nã o estava confortá vel no seu
caixã o, como deveria ter estado. Você , milord, estava, claro,
ausente.
— Lembro-me de Blankenship. O que aconteceu com
ele?
— Acho que ele foi à França, milord.
— Bem, agora, aí está . — Disse Rosalind. — Muito
adequado. Quem disser uma coisa dessas merece acabar na
França.
Block assentiu com a cabeça. — Devo admitir que o Dr.
Blankenship era um homenzinho estranho. No entanto, como
se pode imaginar, se o corpo do velho conde sumisse, seria
um conto excitante. No entanto, nó s tentaremos, apesar de
saber que vamos falhar, trazer mais servos para cá .
— O que aconteceu com a irmã do Dr. Blankenship, a
quem ele sussurrou isso?
— Ela ainda vive na casa do irmã o, na vila, ainda vai
jantar ao mesmo lugar. Parece que nosso amigo nã o se cansa
de ouvir sobre fenô menos sobrenaturais. Infelizmente ela está
agora també m babando na sopa. Ela é velha.
Block os seguiu até à biblioteca, eles falaram brevemente
com cadeira vazia em frente à lareira. Quando eles saíram,
Block limpou a garganta e ficou firme.
— Milord, e Lee Po.
— Que tem Lee Po?
— Ele é cozinheiro, milord. No jantar ele pediu à
cozinheira para preparar um prato chinê s para ela… — eu vi.
— Disse para ela que era um mestre na preparaçã o do
macarrã o, mas é um pouco mais, a cozinheira disse que ela
havia ouvido que pagã os comiam polvo e lula vivos, ainda
tentando rastejar do prato. Lee Po riu, milord. Ele informou-a
que sempre havia permitido que os polvos e as lulas
escapassem, embora muitas vezes eles os misturou com o
macarrã o. A cozinheira ficou encantada. Ela bateu seus cílios
para ele. Tal coisa nã o aconteceu desde que ela contava com
dezoito anos e se considerava apaixonada por Willie, filho do
velho açougueiro. — Block suspirou. — Nã o sei o que ela fará
agora. Se isto nã o bastasse, Marigold queria tocá -lo. Ele
permitiu que ela o tocasse com a palma da mã o em sua
bochecha, para ver se algum amarelo passava para mã o dela.
Isso nã o aconteceu. Ela comentou com uma voz gutural que a
pele dele era muito boa, macia como: entã o ela começou a
recitar as cores. Tenho medo que talvez haja uma infusã o de
rivalidade entre a cozinheira e Marigold, por Lee Po.
— Ele é bastante experiente com as fê meas, Block. Nã o
se preocupe, — disse Nicholas. — Eu me lembro dele uma vez
quando impressionou a Imperatriz com sua alfaiataria
superior em um manto de sable11... — Nicholas franziu a
testa um pouco. Lee Po també m tinha um jeito de fazer os
eventos se desdobrarem como ele queria. Ele disse a Nicholas,
uma vez, que eles se encaixavam muito bem, os dois com
habilidades que flutuavam acima das cabeças dos homens
normais. Nicholas nã o gostava de pensar sobre o que Lee Po
quisera dizer com aquilo.
Quando ele e Rosalind estavam no quarto mestre, dentro
de quatro minutos e meio minutos mais tarde, Nicholas sentia
a respiraçã o difícil e rá pida, os olhos um pouco vitrificados.
Rosalind estava combinando com ele, passo a passo. Ele viu-a
tã o claramente — deitada nua por baixo dele e ela — ele
correu a ú ltima dú zia de passos, a puxando, agora. Ele
fechou a porta, pensou um momento, depois trancou a porta.
Ele deixou a chave na fechadura. — Nã o que uma porta
trancada pararia o avô , se ele decidisse se agitar na
biblioteca.
— Eu nã o acho que ele estava na biblioteca. — Nicholas
disse, — talvez ele estivesse dormindo.
Rosalind nã o disse nada. Ela estava olhando para a
cama enorme. Nicholas riu quando ela caminhou até à lareira
e começou a aquecer, desesperadamente, as mã os dela.
Pelo menos, havia umas trê s dú zias de velas acesas
contra a escuridã o, mas ainda nã o era suficiente. — Deve ser
um belo ambiente, Nicholas, quando o sol estiver brilhando
forte atravé s das janelas? Há janelas, nã o estã o lá ?
— Vá rias. Grandes janelas eu prometo. Pense nisso como
sendo agradá vel e aconchegante aqui, agora, certo? Agora,
venha a mim, Rosalind, e vou tomar o lugar de sua
empregada.
— Mas…
— Nã o, nã o se preocupe com Matilde. Eu disse a Block
para informá -la que ela estava livre para conhecer a Sra.
Sweet, Marigold, a cozinheira e Lee Po esta noite.
— Eu vejo que minha camisola está sobre a cama. Talvez
seu avô se aconchegou debaixo dela.
— Esqueça o avô . — Nicholas pegou a camisola dela e a
colocou na parte de trá s de uma cadeira de asa de brocado,
linda, que estava virada para a lareira. Ele disse: — Esta era a
cadeira favorita do meu avô , quando eu morava aqui, esta, e a
da biblioteca. Quando eu era criança, eu passei muitas horas,
sentado, a ouvi-lo contar histó rias sobre o grande mago,
Sarimund. Ele me disse que Sarimund era casado, mas
ningué m viu a mulher dele. Foi-lhe dito por alguns, ele me
disse, que ela era uma invençã o de seu cé rebro torturado, nã o
uma mulher de verdade, mas entã o, um dia, ele estava se
exibindo, exigindo-se a todos para felicitá -lo sobre o
nascimento de sua filha, e com certeza ela seria uma explosã o
de luz no escuro cé u inglê s. Aquele anú ncio foi recebido com
ceticismo. Segundo o meu avô , ningué m nunca viu a filha,
també m.
— Ela sorriu para ele. — Há algum registro escrito sobre
ela?
Nicholas deu de ombros, colocou a palma da mã o no
queixo dela, levantou o rosto dela e roçou os polegares na
mandíbula.
— Nã o sei milady Mountjoy. Ah!, um nome adorá vel. —
Ele se inclinou e beijou-a. Nã o era o tipo de beijo para agitar o
sangue dela e fazer o seu coraçã o bater como um tambor de
batalha, mas um leve toque de seus lá bios contra os dela e a
língua dele, sempre a língua dele, agora, seguindo o contorno
do lá bio inferior. Era uma estranha sensaçã o. Ele continuou a
beijá -la até que ela deitou as palmas contra o tó rax dele. Ela
sentiu o coraçã o dele estrondeando alto e rá pido sob as
palmas.
Para alívio e prazer de Nicholas, ela aconchegou-se
contra ele, envolveu os braços em torno das costas dele. Ele
sabia que precisava de paciê ncia, uma coisa difícil para um
homem, em lua de mel, depois de semanas de abstinê ncia.
Ele sabia que ela podia senti-lo contra a barriga, ela estava
tã o perto agora, e ele se perguntou se ela acreditava que um
tronco de á rvore estava pressionando contra ela. Ele beijou a
boca dela, uma dú zia de vezes mais, lambeu e mordiscou em
seu ló bulo da orelha. As mã os dela se mudaram para os
ombros, se apertando contra ele, com força. Ah!, bom, ela
queria mais, ele nã o podia estar errado sobre aquilo, e entã o,
ele disse contra a boca quente: — Abra a boca Rosalind,
vamos tentar de novo aquele negó cio de língua.
— A sua língua tem estado em cima de mim, me
lambendo entre as mordidelas. Até meu queixo está molhado.
— Muito mais de você é que vai ficar molhado, ele pensou,
mas conseguiu segurar sua língua.
Ela abriu a boca, e ele riu. — Nã o, nã o tanto assim, só
um pouco. Provoque-me com ela.
Ela abriu os olhos dela, e olhou para ele. — Tem certeza
sobre isto, Nicholas?
— Ah, sim... — e ele escorregou a língua na boca dela,
depois novamente, mordiscando o lá bio inferior. — Sim, isto é
assim. Dá -me a sua língua, Rosalind. Estou sofrendo aqui.
Para seu alívio inebriado, ela fez aquilo, e com uma boa
quantidade de entusiasmo. As mã os em concha nela,
agarrando-a, mesmo que ela tivesse, pelo menos, cinco
camadas de roupa. Ele poderia jurar que podia senti-la. Ele
queria levá -la para o chã o, neste momento. Ele sentiu que ela
começava a ficar surpresa, e se conteve um pouco.
Rosalind ouviu um gemido, era uma brincadeira, mas
nã o era de seu avô , graças a Deus, nem era de Nicholas. Oh!,
querida, parecia ser dela, do fundo na garganta dela, de um
lugar que ela nem sabia que existia, entã o nã o havia outra
coisa a dizer sobre aquilo.
Uma gargalhada baixa veio por trá s deles. Nicholas girou
em torno, pronto para matar.
Nã o havia ningué m. Houve outro gargalhar.
Nicholas tocou a testa dela. Ele estava com uma
respiraçã o profunda e levantou a cabeça. — Avô , vá embora.
Houve ainda uma outra gargalhada. Nicholas
amaldiçoou com fluê ncia grande e longa, envolvendo cabras e
galinhas e as pontas afiadas das penas.
— Você é muito bom nisso. — Obrigado. — Ele a pegou
em seus braços, agarrou um pequeno castiçal de velas acesas
e caminhou até a porta. Ele conseguiu virar a chave na
fechadura, nada fá cil. Ele disse por cima do ombro, — Velho,
vou levar minha mulher para outro quarto. Saia agora
mesmo, volte à biblioteca, ou juro que vamos partir para
retornar a Londres pela manhã . Todos os servos partirã o.
Entã o, você nã o terá ningué m para apreciar suas mú sicas
miserá veis. — E ele bateu a porta do quarto principal.
Quando ele abriu a porta perto da extremidade oposta do
trecho interminá vel do corredor, ele carregou-a para um
quarto pequeno o suficiente para que o castiçal de velas
acesas iluminasse todos os cantos. Havia um estreito sofá no
centro, um armá rio e uma mesa contra a parede. Em frente à
lareira pequena, estava um tapete azul escuro com uma
borda larga, verde, bem desgastado e uma cadeira muito
velha. Muita sujidade tinha se apegado à cadeira, ao longo
dos anos.
Rosalind disse: — Eu gosto deste quarto... — entã o, ela
se calou rapidamente quando ele a colocou no sofá . Ele estava
respirando duro, incapaz de se concentrar em suas palavras,
ou em qualquer coisa. — Agora, Rosalind. Agora.
— Espere Nicholas!
— O quê ? O que foi?
— Este quarto, ah!, acho que combina bem mais com
você do que a câ mara do Conde, aquele enorme quarto —
particularmente com seu avô nele.
Ela estava com medo, droga. Ele precisou acalmar-se,
conter-se, mesmo sabendo que isso o mataria. Ele devia a seu
avô um soco no nariz, se um fantasma tivesse um nariz. Ele
arrumou o castiçal de velas na pequena mesa ao lado do sofá ,
conseguiu dizer em uma voz calma, credível, — era o meu
quarto quando menino. Passei muitas horas felizes aqui. Eu
pretendo gastar muitas mais esta noite. — E a represa cedeu.
As mã os dele estavam nos botõ es do vestido dela. Os dedos
dele eram á geis, um grande alívio, e quando ele puxou o
vestido dos ombros dela e o passou pelos braços, descendo,
aprisionando-a, ela estava deitada de costas, olhando para
ele. — Nicholas?
— Hmm. —
— A gargalha que ouvimos em seu quarto — talvez tenha
sido um frango que ouvimos e nã o o seu avô .
Riso jorrou da boca dele, e ele se virou, segurando o
estô mago, riu muito. Finalmente recuperou seu fô lego,
inclinou-se para baixo e puxou-a contra ele. Ele sussurrou
contra a bochecha dela, — como um homem pode exercer as
suas funçõ es conjugais se ele está morrendo de rir? — Se
preferir assim, era um frango.
Ele beijou-a e, em seguida, deitou-a de costas outra vez.
— Talvez, — Disse Nicholas, riso borbulhando novamente, —
se era o avô , ele cantará conselhos para mim amanhã .
— Oh!, querido, precisa dele? — Aquilo chamou a
atençã o dele e preparou o ataque.
— Nicholas, nã o..., espere. Você me deixou meio nua e
você está ainda com seu maldito casaco.
Em tempo recorde, seu recorde pelo menos, ele estava
nu, as botas ele jogou na cadeira perpendicular ao lado do
sofá , suas roupas espalhadas pelo chã o a seus pé s.
Ela emitiu um ruído estranho na garganta.
— Rosalind? —
Ele se viu entã o, atravé s dos olhos dela e amaldiçoou,
desta vez detalhando um bode que confundiu uma á rvore com
uma cabra. Ele estava nu. Ele poderia ser mais idiota? O que
fazer? Ele nã o podia muito bem pegar um cobertor e envolvê -
lo em torno de si, que seria falta de finesse, que era,
francamente, indigno de um homem que sabia como eram as
coisas. Ele enfrentou-a, braços para os lados e nã o se mexeu.
— Eu sou um homem, Rosalind, apenas um homem.
Desculpe-me se você está dececionada porque nã o há
nenhum tronco de á rvore saindo da minha barriga.
E se ele fosse repelido? E se ela pensasse que ele era a
criatura mais feia da terra de Deus?
Ela estava ofegante. Ele escutava e quis saber o que ela
estava pensando, sentindo. Ele continuou a ficar lá , olhando
para o dedã o, que havia batido em sua pressa para afastá -la
do quarto de dormir do avô . — Pulsando de dor. —Ele se
acalmou. O que ela estava pensando? O quê ?
Ela ficou em seus cotovelos, nem uma vez olhando para
longe dele. — Você é lindo, Nicholas. Nunca imaginei que um
homem podia ser como você é , todo duro e suave. Quero
dizer… — ela realmente perdeu o folego, engoliu, e os olhos
dela foram para o sexo dele.
Ele estava excitado, ele nã o poderia fazer nada sobre
aquilo. Ele era bonito? Limpou a garganta. — Você me acha
todo bonito? Ou apenas partes? Ou talvez só meus pé s? Uma
vez me disseram que eu tenho os pé s de Davi, você sabe, a
escultura de Michelangelo? O que você acha?
Tudo o que ela estava pensando nã o disse, permaneceu
silenciosa. Ela parecia completamente absorvida, olhando,
olhando, e os olhos dela estavam olhando longe de seu rosto.
E porque ele era um homem, porque a atençã o de uma
mulher estava focada nele, previsivelmente ele ficou maior
ainda.
Ela sentou-se de repente, balançou as pernas sobre a
cama e estendeu sua mã o em direçã o a ele. Entã o seu rosto
ficou vermelho, e ela deixou cair a mã o de volta ao seu colo.
Uma pena, ele pensou. Ela sussurrou:
— Oh!, querido, tã o fascinante quanto parece, acho que
nã o vai dar certo. Lamento muito, Nicholas.
— Isto vai funcionar, eu prometo. — Ele andou até à
cama estreita. Ela chiou, rolou e quase caiu do outro lado.
— Nã o viu como isto funciona muito bem em seu livro? E
todos aqueles milords eram muito melhores dotados do que
sou.
Ela segurava uma almofada no peito dela.
— Bem, sim, acho que sim. Mas você nã o é um desenho,
Nicholas, você é um homem, todo em carne e osso e está bem
ao lado da cama.
— Nó s iremos devagar, — ele disse, e orou para
conseguir gerenciar aquilo. Seria uma coisa complicada, mas
ele estava determinado a nã o estragar tudo. — Venha para
mim, querida e me deixe ver você . Você quer ser justa sobre
isso, nã o é ?
— Nã o.
— Aqui estou eu, nu aos seus pé s, e você ainda está
vestida pronta para um baile.
Ela lhe deu um longo e sé rio olhar. — Certo, — ela disse
e se deitou. Ela estava de costas na cama, braços ao seu lado,
e fechara os olhos.
Novamente, ele nã o se conteve e riu. — Se você colocar
as mã os juntas sobre suas mamas, eu poderia colocar um
lírio entre os dedos. Ah, meu Deus, Rosalind, parece um
sacrifício meio vestido.
Os olhos dela ficaram bem fechados. — Sou.
Ele ainda estava rindo quando jogou o vestido dela para
o pé s da cama. Ele estudou os hectares de aná guas brancos,
virginais, os dedos dela sobressaindo. Ele devia ter cuidado
para nã o rasgar a linda camisa branca com laços. Ele tirou os
chinelos, puxou as meias, e sorriu para as ligas de azul claro
que ela usava. Costuradas à mã o. Ele olhou para os pé s
longos e estreitos dela, os arcos agradá veis. Ele queria lamber
os dedos dela.
Os olhos dela se abriram, quando ele levantou seu pé
para a boca dele.
— O que você está fazendo? — Ele lambeu e acariciou o
caminho até aos joelhos.
— Você realmente vai gostar disso. — Ele levantou a
perna dela, aná guas em torno deles, e começou a beijar e
lamber a parte de trá s do joelho.
Deus a abençoe, ela nã o se mexeu, mas visto que as
orelhas dele estavam em sintonia com qualquer tipo de som
que ela pudesse fazer, ele ouviu a respiraçã o dela ficar um
pouco ofegante. De repente, ela se levantou e pulou sobre ele,
o empurrando para trá s. Eles rolaram fora da cama e
pousaram no chã o, Nicholas, felizmente na parte inferior
deles. Um tapete estava abaixo de sua bunda... mas estava de
costas sobre as pró prias tá buas de carvalho, á speras e frias.
Quem se importava?
Ela beijou o nariz, queixo, orelhas, lambeu o maxilar, e
ele pensou que ia morrer quando ela escorregou a língua
dentro da boca dele.
Ele começou a trabalhar nas saias — cinco delas — e
logo elas pareciam pequenos montículos de neve espalhados
por todo o pequeno quarto. Quando ela estava sem nada a
nã o ser a sua linda camisa, ela estava deitada em cima dele,
as mã os por todo seu rosto, puxando seu cabelo, beijando o
nariz, as sobrancelhas, a boca. Ele colocou as mã os sob a
camisa e quase expirou com a sensaçã o dela.
— Agora nã o há nada entre você e eu, — ele disse.
Ela recuou, olhou para baixo, para ele, enquanto ele
amassava a carne dela. Ela gemeu, pareceu horrorizada e, em
seguida, ela sussurrou, — Nicholas, — e beijou-o novamente.
Os dedos dele acariciaram a parte interna das coxas, se
movendo para cima até que ele a encontrou. Ele parou de
respirar. Ele colocou um dedo dentro dela e, para a sua
alegria absoluta, aquele abençoado dedo desencadeou um
cataclismo. Ela começou a se mover freneticamente contra
ele, emitindo pequenos sons de choramingo que o
enlouqueceram. O dedo dele se aprofundou e bateu contra a
virgindade dela. Nada poderia ter chamado a sua atençã o
como isto o fez.
Sua virgindade. Ele sabia que ela teria uma barreira de
virgindade, virgens possuiam aquilo, embora ele nunca
tivesse estado tã o pró ximo disso antes. Mas senti-la, na
verdade quase tocar sua virgindade, o obrigou a uivar. Ele
agarrou-a e a jogou na cama, desceu sobre ela e colocou as
pernas dela, bem afastadas.
Ele respirava forte e rá pido por sua boca.
— Rosalind, diga que você me quer neste instante.
— Eu quero você . Mas eu ainda estou vestindo minha
camisa. — Ele amaldiçoou, e rasgou a camisa dela.
— Oh, Deus, Nicholas, nó s nã o devemos dizer a tia
Sophie o que aconteceu com a camisa que ela fez. Talvez…
Ele ajoelhou-se entre aquelas pernas brancas adorá veis,
empurrou-a bem aberta, levantou os quadris dela e ofereceu a
boca dele para ela.
Ela gritou tã o alto que certamente a cozinheira podia
ouvi-la, moveu-se, empurrando contra a cabeceira da cama,
joelhos ao lado do queixo, e agarrou os lençó is debaixo ela.
Nicholas olhou para ela. Sua boca estava molhada com ela, o
cheiro dela em suas narinas, o gosto na boca dele e seu
cé rebro, vazio. Ele estava ofegante, duro. Ele queria gritar. O
que dizer? Ela nã o parecia assustada, ela parecia chocada.
Ele devia ser um homem do mundo, fluente e seguro de si.
Ele era capaz? Ele limpou a garganta.
— Escute, Rosalind, isto é muito importante para mim.
Beijá -la com a minha boca é vital para mim, é o que um
homem deve fazer a fim de obter prazer no acoplamento.
Certamente você sabe disso, nã o é ?
— Nã o, nunca ouvi tal coisa. Isto nã o pode estar certo,
Nicholas, é um erro, seu objetivo era errado. Você quer a
parte de trá s do meu joelho novamente, ou talvez você quer
lamber a sola do meu pé , nã o. — Ah, Deus.
— Você me negaria prazer na nossa noite de nú pcias?
Nã o gosta de mim afinal?
Ela o viu entre suas pernas, sua boca, sua língua, tocá -
la, beijá -la, e ela quase quis desaparecer com a mortificaçã o
daquilo tudo.
Ele emitiu um suspiro profundo.
— Vejo que você nã o confia em mim para fazer o que é
certo e apropriado. — ele suspirou novamente, nã o olhando
para ela, mas para o seu dedã o, que estava latejando
novamente.
— Oh, nã o, Nicholas, nã o é isso, é ...
Um homem toma uma decisã o e age, ele pensou.
Agarrou-a, ela ficou deitada em sua parte traseira outra vez,
puxou as pernas dela bem abertas e sentou-se sobre os seus
calcanhares, no meio delas.
— Agora, — ele disse, — você apreciará isso. — Mais
uma vez ele lambeu-a e, desta vez, para estar seguro, ele
segurou com a palma da sua mã o a barriga dela. Quando,
graças a Deus abençoado, o choque se tornou prazer atô nito,
ela gemeu, torceu os lençó is em seus punhos e gemeu
novamente. Se ele conseguisse ter pensado em todas as
palavras, ele cantaria para os cé us. Quando as mã os dela
estavam selvagens nas suas costas nuas, nas ancas, unhas
marcando a sua carne, ele estava bem disposto e pronto para
conquistar o mundo.
Os punhos atingiram os seus ombros, os dedos dela
seguraram o cabelo, puxando firme, mas nã o era nada, nã o
importava. De repente, de repente, ela se levantou, arqueou
as costas e gritou, quando o orgasmo rasgou atravé s dela. Foi
maravilhoso, alé m de maravilhoso, e ele se deliciava com
aquilo, segurá -la firmemente naqueles momentos preciosos,
empurrá -la, dando-lhe tudo o que podia. Ele recebeu a força
també m, a intensidade dela e aquilo se introduziu
profundamente dentro dele. Ele começou a amá -la mais
devagar agora, quando ele a sentiu relaxar. Finalmente,
quando ela estava tã o mole quanto as folhas, levantou a
cabeça para ver o olhar dela, nele, os olhos de um azul mais
profundo, se isso fosse possível, sonhador e desnorteado. Seu
cabelo vermelho estava enrolado ao redor da cabeça e do
rosto, e toda sua carne branca linda, pernas afastadas — ele
recuou e entrou dentro dela, duro e rá pido e profundo.
Quando ela gritou novamente, como ele sabia que ela deveria,
a palma da mã o dele estava sobre sua boca. Ele sentiu a dor
dela, mas nã o parou, nã o até que se apertou contra o ventre
dela. Seu coraçã o batia, ele tremia como um homem doente,
mas disciplina seria importante agora.
Ele pressionou a testa contra a dela.
— Sua virgindade, — ele conseguiu sussurrar contra a
pele quente, — eu tive que passar por sua virgindade. Juro
que nunca vai doer novamente. Fique quieta, se acostume
comigo. Deixe que seus mú sculos relaxem. Nã o, nã o me
xingue, você só vai me fazer rir. Respire fundo. Sinto-me em
você , Rosalind. Tudo bem?
Relaxar? Com aquela parte de homem profundamente
dentro dela? Como isso poderia ser possível? Maldiçõ es
borbulhavam, mas ela segurou-as dentro de si. Ela inclinou-
se e mordeu o ló bulo da orelha dele. Nada amoroso ou suave,
mas mostrando que estava tudo bem, ele se estabilizou. Ele
sussurrou contra a tê mpora dele, — nã o vou me mexer, eu
prometo. Por favor, tente relaxar.
Ela mordeu-o novamente. Nã o uma violenta mordida,
desta vez. Ele beijou a bochecha dela, a ponta do nariz. Ele
era um homem com dor, um homem cujos mú sculos se
prenderiam para toda a eternidade se ele nã o se mexesse, e
rapidamente.
— Certamente, isto é a coisa mais difícil que já tentei
fazer. Certamente, isto me torna um homem muito bom na
verdade. Fique deitada, isso mesmo, fique deitada.
Como poderia a voz dele parecer tã o suave, tã o gentil,
quando ele estava espetado nela, estava nela? Homens
entravam em mulheres, ela nã o era burra, mas ainda assim,
ela simplesmente nunca conseguira imaginar como aquilo
funcionaria. Ela podia senti-lo e isso nã o era a coisa mais
estranha, era duro e suave, e ele estava pulsando. Como é
possível?
Ele era pesado em cima dela e quente e suado. Ele nã o
se moveu. Nem ela.
Ela começou a relaxar, começou a se deixar sentir o
comprimento dele, o calor dele, e sentiu-se como muito viva.
Foi o apertamento dos mú sculos dentro dela que o
enlouqueceu.
— Rosalind. — seu cé rebro turvo, cada sentimento
centrado nela, dirigido para ela — e seu ventre, Ah!, Deus
misericordioso, seu ventre — ele gritou em sua libertaçã o.
Ele caiu em cima dela, sentindo a mancha de seu suor.
Abençoado seja, ele ainda estava vivo e na terra e ela o
segurava, braços apertados em torno de suas costas.
Rosalind disse contra seu ombro, — eu posso sentir você
dentro de mim. É uma coisa muito estranha, Nicholas.
Ele nunca havia entendido como as mulheres poderiam
encontrar a respiraçã o e o cé rebro, e falar depois da relaçã o
sexual. Nã o, nã o era simples sexo, isto era ser arremessado
no caos e explodir, tantas cores vívidas preenchendo seu
cé rebro. Aquilo foi a coisa mais maravilhosa que já havia
acontecido com ele.
Ele se encostou ao pescoço dela. — Eu posso sentir você
també m. Você está mole agora, Rosalind e molhada da minha
semente e molhada de você .
— Gritei mais alto do que você ?
Ela inclinou a cabeça até ao ombro, e lambeu onde havia
mordido. Agora viu que fora uma bela mordida, e entã o
empurrou um pouco, sentiu ele se contrair e parou. Ela falou,
seus olhos tã o confusos quanto a voz dela, — gritei, nã o foi?
Nã o resisti, acabou estourando fora da minha boca. Era
provavelmente perto de qualquer maneira. Adoro o seu sabor,
Nicholas... — e ela mordeu e lambeu-o novamente. — E a
maneira como você me fez sentir — sua boca em mim — é
algo que nã o poderia ter imaginado.
As palavras dela entraram bem dentro dele, onde ele
geralmente nã o gastava muito tempo, repleto de sentimentos
profundos, sentimentos poderosos que se agrupavam na
alma, profundo prazer, enchendo todos os cantos vazios dele.
Ele conseguiu se elevar nos cotovelos. Ele queria dizer algo
inteligente, algo com um toque do mundo para isso, mas em
vez disso, ele olhou para baixo para o rosto dela, as
bochechas dela liberadas na luz de velas, o cabelo vermelho
gritante contra o travesseiro branco e os olhos dela, o azul tã o
profundo, tã o insondá vel. Nã o, nã o, ele estava rapidamente se
tornando um idiota. Os olhos de uma mulher nã o sã o
insondá veis. Ele engoliu. Ele percebeu naquele instante que
esta mulher era dele. Ela era a esposa dele até que ele
morresse. Se os olhos dela eram insondá veis, que assim seja.
Ele sentiu os mú sculos dela apertando-o e, em seguida,
relaxando. Um homem poderia morrer feliz. Ela sorriu.
— Você está suando, Nicholas.
— Entã o, você també m.
Ela pareceu pensativa. — Você sabe que eu nunca gostei
de suar antes, mas agora? — Ela lhe ofereceu um sorriso
deslumbrante. — Agora, quem se importa? Foi maravilhoso,
realmente, até que você se enfiou dentro de mim.
— Minha ida dentro de você , foi sua recompensa, seu
bô nus por ser uma mulher muito boa e me deixar amá -la com
minha boca.
— Ah!, Deus... — ela pressionou o rosto no ombro dele.
— Rosalind, estou dentro de você , meu eu, nu, está
pressionado contra seu nu. Nã o há razã o para você ficar
envergonhada, nunca mais.
Ela olhou para ele. — Que recompensa. Doeu.
— Eu sei, mas sente a dor agora?
— Bem, nã o, nã o realmente. Mas você é muito grande,
Nicholas e eu nã o sou. Certamente os homens em todas as
fotos, tã o abundantemente como eles eram retratados, eles
ainda nã o sã o feitos como você é .
— Eu sou deformado?
— Ainda assim, para ser justa, apesar de seu tamanho,
nã o foi realmente muito ruim depois de um tempo... — Ela se
inclinou para cima e o beijou, um beijo tímido, na boca dele.
E, de repente, fugiu a fadiga. Ele queria fazer amor com ela,
tudo de novo, neste instante, mas ele nã o se moveu. Era
difícil de ser sensível para o fato de que ela devia estar
dolorida. Ele mordiscou no queixo dela, sussurrou na boca
dela: — obrigado por explicar tudo tã o claramente para mim.
— Espero que seu avô nã o esteja de pé , no canto, a nos
observar.
Ele apenas sorriu e beijou-a novamente, na boca, um
pouco inchada, ele podia senti-la, e entã o ele lambeu seu
lá bio inferior.
— Você é minha esposa agora, legalmente agora.
— E você agora é meu marido, legalmente agora.
— Ah!, eu sou muito mais do que isso, Rosalind. — as
palavras se derramaram para fora dele. — Eu sou o homem
que a procurou em Londres, o homem que sabia quem você
era no momento em que a viu, mesmo antes de ele vê -la,
quem deve decidir o… — ele parou, amaldiçoou-se, mas
percebeu que nã o importava. Rosalind estava dormindo. Ele
se moveu para longe dela para se deitar ao lado dela. Ele
acariciou seus cabelos, alisando os emaranhados, imaginando
sua cabeça no travesseiro, quando ela se deixara caír de
cabeça em seu primeiro orgasmo, nã o um orgasmo pouco
tímido, mas um orgasmo alto, sibilante ao ponto de fusã o
ó ssea. Ele gentilmente pressionou os caracó is selvagens atrá s
da orelha. — Sim, — ele sussurrou contra a tê mpora dela, —
agora, legalmente você é minha mulher.
Ele a abraçou, a mã o em sua barriga e beijou a parte de
trá s do pescoço dela. Ela tinha gosto de jasmim salgado. Ele
ouvira os homens, durante anos, conversarem sobre suas
amantes e esposas. A maior diferença, eles diziam a rir, era
que uma mulher o levaria para o seu tú mulo, ou o colocavam
nele. Uma amante forçosamente acariciava como você queria,
como lhe era dito para fazer, e os homens esperavam que ela
lamentasse sua morte, talvez uma semana, antes de
encontrar um novo protetor.
Esposas, a conversa era usual, eram para serem
tomadas rapidamente, sem barulho e à luz de velas, na
escuridã o silenciosa, um marido rá pido, entrava e saia, a
modé stia preservada. Considerando que uma amante era
formada para desfrutar de um homem, para desfrutar dele,
contando tudo sobre ela. Ele sempre acreditou que os homens
eram idiotas. Hoje, ele provou isso. Ele imaginou que Ryder
Sherbrooke concordaria plenamente com ele.
Ele se perguntou como seria sentir Rosalind levando-a
na boca dela. Ele quase estremeceu fora da cama.
Ele adormeceu com o cheiro dela em suas narinas, o
gosto dela na boca dele.
Ele nã o a amava, nã o poderia amá -la, um homem nã o
poderia amar uma dívida.
Ele poderia?
24

Nicholas entregou-lhe o livro antigo de couro. — Aqui


está a có pia do meu avô , das Leis de Pale. Como você pode ver
pelo nú mero insuficiente de pá ginas, aparenta ser apenas um
resumo.
— Talvez isto seja uma introduçã o, que terá explicaçõ es.
— mas a voz dela nã o mostrava muita esperança.
Rosalind sentou-se na cadeira do avô , junto à lareira. O
assento era quente, mesmo atravé s das aná guas e do seu
vestido, o que a fez pensar, que desde que chegou lá , nã o
houve gemidos ou grunhidos quando ela se sentava, ela nã o
lidaria com a possibilidade de sentar em um espírito.
Esperava que o velho Conde fosse vaguear em outro lugar
naquela manhã , talvez ainda pairasse sobre o seu antigo
quarto sombrio, ou em pé do outro lado da sala, a observá -la
na cadeira dele.
Ela deixou o fino volume cair aberto ao acaso. Estava no
mesmo có digo, ela o reconheceu, e ela poderia lê -lo tã o
facilmente quanto o outro. Ela leu:
“Os feiticeiros e bruxas que residem no Monte Olyvan
sã o um lote sem escrú pulos, infinitamente contenciosos e
vaidosos. Jogam-se feitiços e maldiçõ es um no outro, tã o
cruel que os cé us sibilam. Eu, finalmente, percebi que nã o
poderiam deixar Mount Olyvan, talvez eles nã o pudessem
mesmo sair do Rochedo de Sangue, aquela fortaleza fria e
sombria que parece mais velha do que o Pale em si. Nenhum
dos moradores parecia saber de onde veio o nome de
Fortaleza, ou a fortaleza em si, pelo que isso importava.
Perguntei a Belenus, ele me disse vagamente.
— Ah!, estamos aqui desde de antes do tempo ter
decidido viajar à frente... — era uma resposta típica de mago,
pensei e queria expulsá -lo.
Outra vez eu perguntei paraBelenus quantos anos ele
tinha, e ele passou os dedos grandes atravé s de sua espessa
barba vermelha, mostrou-me seus dentes brancos e disse
finalmente:
— Anos sã o uma medida insignificante criada por
homens que precisam contá -los para garantir que recebam o
seu quinhã o, mas os homens nunca mudam isso, porque
matar uns aos outros dá -lhes mais satisfaçã o do que a
continuaçã o da vida... — sobre isto, achei que ele estavo.
Perguntei a Latobius, o deus Celta das montanhas e do
cé u, se ele era realmente um deus, se ele era imortal, e ele
levantou a mã o e uma chama flamejante saiu fora da ponta
do seu dedo explodiu em uma escultura de vidro requintada
em toda a vasta câ mara. Do Palá cio do Rei Agamenon de
Micenas, se algué m tivesse me dito. Lembro que os cacos
voaram para fora, cascatas de cor vibrante.
E eu pensei, você é um mago, nã o é um deus, e eu
apontei meu dedo e atirei uma lança de fogo em uma
arandela na parede de pedra. Para dizer a verdade, me aliviou
ver que arrebentou a escultura. Ambos ficamos lá observando
os cacos pesados baterem no piso de má rmore e se
separarem. Ele nã o disse nada. Foi difícil, mas eu també m
nã o falei.
E Epona? Mã e do meu filho? Eu nã o a vi novamente
apó s a sexta noite que passei na sua cama branca. O que sã o
esses seres?
Eu sabia que havia criados, mas eles eram apenas
flashes de sombra e luz, como se eles estivessem em um
tempo ligeiramente diferente e o lugar, fora de fase, como
uma lua pairando nos arredores de nossa visã o. Eles
certamente limpavam a fortaleza, seus habitantes estavam
bem vestidos, mas eram separados dos bruxos e bruxas,
separados de mim, també m. Eles recebiam as suas instruçõ es
de algué m fora da fortaleza? Talvez eles fossem guardas ou
guarda-costas. També m havia cozinheiros porque as refeiçõ es
eram esplê ndidas.
— Onde estã o os criados? — Eu perguntei uma vez para
Epona. Ela usava apenas branco, seus vestidos sempre
impecá veis. Seu quarto també m era completamente branco,
pareceu-me que o ar era branco ao redor dela. — Vamos chamá -
los apenas quando precisarmos deles, — ela me disse, mas
isso nã o soava bem. — Entã o, eles nã o estã o realmente aqui?
Para onde vã o? De onde vê m? — Mas ela só balançou a cabeça,
passando a mã o pelo meu cabelo branco e começou a beijar
minha barriga. E me perguntava, antes que meu cé rebro se
tornasse em nada mais do que um espaço vazio entre minhas
orelhas. Tem alguma ideia de quem ou o que estas criaturas
sã o ou a quem servem?”
Rosalind levantou o rosto. — Nicholas, este livro nã o é
um resumo do outro, é completamente diferente.
O coraçã o dele estava batendo forte, seus traços
endurecidos.
— Sim, parece. Continue lendo, Rosalind, nã o existem
muitas pá ginas mais.
“Aí veio uma noite quando o rochedo de sangue se
soltou, gemeu e expeliu a pedra e terra alta no cé u. Chamas
lançadas no cé u sem lua, negro, as trê s luas desapareceram
inexplicavelmente dos cé us. Ouvi lamentos e gritos, como os
demô nios dos fossos mais profundos do inferno. Os bruxos e
bruxas? Eu nã o sabia sobre as outras criaturas? Pedras
cairam para baixo dos lados íngremes de Mount Oly-van. Eu
nã o podia ouví-las bater no fundo, e eu temia, por um
momento, que já nã o houvesse um fundo, abaixo, nã o havia
mais um vale. Corri para as muralhas e preparei-me para
encarar a minha morte. Mas eu nã o morri, o rochedo em
sangue nã o caiu do monte Olyvan. Tã o de repente como havia
começado, o cataclismo, acabou. Foi, ainda, totalmente, como
se o pró prio ar tivesse medo de se mexer. Eu nã o queria ficar
ali, e entã o eu mandei um apelo silencioso para Taranis, o
dragã o da lagoa Sallas aquele que havia me carregado à Pedra
de sangue. E, logo ele veio, deslizando para baixo
graciosamente sobre as muralhas. Nenhuma bruxa ou mago
veio se despedir de mim, na verdade eu nã o tinha visto, um
ú nico, apó s a agitaçã o que abalou as entranhas da fortaleza.
Minhas entranhas també m. Todos eles morreram?
Taranis levantou seu corpo poderoso e graciosamente
lado do chã o para longe do Monte Olyvan. Quando olhei para
trá s, tudo parecia como havia sido. Perguntava-me, mais uma
vez, sobre todos os deuses celtas e nomes da deusa, porque
nenhum deles parecia adorar qualquer coisa — e Taranis, o
dragã o da lagoa Sallas, que foi nomeado de Deus celta do
trovã o: o Deus que exigia sacrifícios humanos. Taranis
causou o caos no Mount Olyvan? Ele era imortal, ele me
disse, ao contrá rio daqueles que atormentam os feiticeiros e
bruxas malignas na pedra de sangue. Perguntei-lhe se os
magos e bruxas haviam sobrevivido. Taranis me disse que as
criaturas da pedra de sangue estavam encolhidas dentro de
seus encantos individuais, muitos covardes. Eu queria
perguntar sobre meu filho, se ele teria realmente nascido do
corpo de Epona, se de fato ele nunca teria existido. Mas
Taranis escolheu aquele momento para mergulhar, em linha
reta, em direçã o a terra e perdi a consciê ncia que estava na
minha cabeça, e minhas entranhas estavam novamente em
questã o.”
Ela olhou novamente. — Sarimund é ocasionalmente
divertido neste conto. É completamente diferente do outro.
Gostaria de saber o que realmente aconteceu? Ou se nada
disso aconteceu.
— Talvez os magos e bruxas do rochedo de sangue
tenham libertado todos os seus poderes.
— Libertaram seus poderes sobre o quê ? A fortaleza? A
pró pria montanha? No outro mundo? — Nã o sei.
— Pergunto-me sobre Sarimund, — nunca ningué m
descobriu o que aconteceu. Talvez haja um terceiro volume
fino em algum lugar. Oh!, Deus, você acha que o seu filho
sobreviveu? O filho de Epona? Ele já nasceu? Isto é muito
frustrante, Nicholas.
— Leia as pá ginas finais, Rosalind.
Ela tentou virar a pá gina, mas estava presa. Nã o
conseguia abrir. Ela olhou para o marido, viu que ele estava
franzindo a testa para aquela pá gina.
— Droga Nicholas, nã o posso virar a pá gina. Parece
presa juntamente na ú ltima pá gina. Lembra-se com as outras
Leis de Pale, simplesmente nã o consegui ler o có digo nas
pá ginas finais. Neste livro pequenino, as malditas pá ginas
estã o coladas. Eu realmente gostaria de lê -lo.
Era um som de passos que, de repente, foi ouvido?
Houve uma batida à porta da biblioteca. Nicholas parecia
pronto para amaldiçoar. Rosalind rapidamente se levantou. —
Vamos ver o que está acontecendo agora.
Era Peter Pritchard, seu rosto jovem, seus olhos claros
anilhados com sombras, seu cabelo escuro de pé no final. As
roupas dele, no entanto, pareciam recé m passadas e as botas
foram polidas. Atrá s dele, estavam seis mulheres e quatro
homens no hall de entrada grande, todos esperando, Peter
disse a eles que ser convencido por Nicholas para vir
trabalhar em Wyverly era, com certeza, uma oportunidade
que só um tolo negaria, — imagine, uma vida de contos para
sussurrar na frente de fogueiras de inverno.
— Só um momento, Peter, — Nicholas disse e fechou a
porta de biblioteca na cara dele. Ele havia se esquecido. Ele
nã o queria lidar com o convencimento de um grupo de
aldeõ es para trabalhar em Wyverly, e Rosalind viu isso. Ela
també m viu a boca dele. Ah!, sua boca, quando ele a beijara,
quando ele a acariciara com a boca. Ela estremeceu, lembrando-
se como quando ela havia acordado, ele se fora, e ela queria
uivar.
Quando ela esticou os mú sculos doridos, que ela nã o
estava sequer ciente de ter, ela pensou em se encostar contra
ele durante o sono e acordá -lo para beijá -lo, deixá -lo beijá -la.
—Ela o havia beijadom à mesa do café , em um quarto
pequeno e realmente muito adorá vel, com enormes janelas
que dava para o jardim central, beijou-o até que Marigold
cambaleara à sala, equilibrando bandejas pesadas com
cú pulas de prata, em seus braços. Ela havia parado de andar
olhou, e sorriu de orelha a orelha.
E depois do almoço, quando Rosalind pensara que talvez
Nicholas a levaria até seu quarto de infâ ncia, ele nã o o fizera.
Ele a levou à biblioteca e entregou-lhe o livro de couro fino.
Ela sabia que era vital, ela sabia, mas ainda assim...
Ela sorriu para ele agora, ele pegou o fino volume.
— Por que você nã o sai para os jardins, Nicholas e pensa
sobre isso. Veja se você pode liberar as pá ginas finais. Você
notou que nã o existem mais Leis? Sim, vá para os jardins. Já
que eu sou a lady de Wyverly, é justo que eu lide com a
contrataçã o de nossos funcioná rios... — ela acariciou o braço
dele. — Eu sou muito boa em convencer as pessoas a fazer o
que eu quero. — Ele olhou para o livro, abriu a boca, mas ela
colocou levemente a ponta dos dedos contra seus lá bios.
— O livro esteve aqui por muito tempo. Nã o vai voar pela
janela. Tente chegar à ú ltima pá gina e libere-a, embora eu
nã o tenha muita esperança. Agora, deixe-me ver o que posso
fazer. Precisamos colocar esta casa em sua antiga gló ria. Ah,
esta casa teve tempos gloriosos, nã o teve?
— Teve até que meu pai ficou doente, na verdade
enfrentou sua pró pria mortalidade e percebi que a casa e
terras seriam minhas. Ele se mudou para Londres e
apodreceu tudo por aqui. Nã o por muito tempo, graças a
Deus. Tive muita sorte, Peter Pritchard estava disponível.
— Desculpe-me, Nicholas. Que verruga velha miserá vel
era seu pai. Queria que estivesse aqui para eu poder dar um
soco no nariz dele.
Ele riu, abaixou-se e deu-lhe um beijo duro, violento e
saiu pelas portas de vidro para um pequeno jardim cheio de
ervas, onde ouviu os animais correndo sob os arbustos. Ele
gritou por cima do ombro: — precisamos de jardineiros.
Ela abriu a porta da biblioteca e convidou Peter a entrar.
— Peter, — ela disse, voltando-se para enfrentá -lo, — eu
acho que gostaria de falar com todos eles ao mesmo tempo.
Eu confio em você para ter se assegurado que nenhum
roubará a prata?
— O velho Conde disse a meu pai, que me disse; que
uma vez Nicholas roubou trê s colheres de prata forjadas
durante o reinado da Rainha Bess, para que ele pudesse
vendê -las em Grantham e comprar um pô nei. O velho Conde,
meu pai me disse que foi muito bem feito por ele. O pô nei era
tratado como um príncipe aqui em Wyverly Chase. Na
verdade, ele ainda reside nos está bulos, continua a ser
escovado e alimentado com cenouras. — Peter pausou, bateu-
se e disse:
— Desculpe, mas isso nã o tem nada a ver com o assunto
em questã o. Pode verificar, nã o temos ladrõ es neste bando.
— Peter, traga aqui o nosso pessoal.
— Eles ainda nã o sã o o nosso pessoal, milady, e eu
duvido...
Ela apenas acenou com a cabeça para ele. Quando todos
estavam alinhados na frente dela, muitos parecendo
francamente alarmados por estar na biblioteca do velho
Conde, o assunto dos rumores de ocorrê ncias
fantasmagó ricas, vá rios homens tentando zombar. Embora
seu medo fosse visível, Rosalind sorriu para cada um deles,
por sua vez e disse:
— Eu sou Lady Mountjoy. Eu e meu marido somos
recé m-chegados em Wyverly Chase... — ela se inclinou mais
perto. — Deixe-me dizer com toda sinceridade — eu joguei
xadrez com o fantasma do velho conde ontem à noite, e você s
sabem o quê ? Venci todas as vezes. Ele resmungou e jogou
vá rias peças de xadrez em toda a biblioteca, mas apesar de
tudo, ele aceitou bem.
Houve vá rios suspiros, um par de resmungos masculinos
mais altos.
— O velho Conde está em trâ nsito, suponho que você
poderia dizer. Ele está nem aqui nem ali, mas atualmente está
mais aqui do que lá , se você s entendem o que quero dizer. Ele
nã o é perigoso, nada alarmante, na verdade, acho que ele é
um bom ouvinte e gosto de cantar duetos com ele. Algum de
você s canta?
Silê ncio mortal. A mã o de uma mulher mais velha
lentamente subiu.
— Sim milady. O Vigá rio me disse que eu tenho a voz
mais doce em seu rebanho.
— Entã o, sem dú vida, você precisa fazer um dueto com o
velho Conde, já que a voz dele nã o é tã o boa, na verdade. Você
acha que você gostaria disso, Sra…
— McGiver milady, milady. Sr. Pritchard falou-me sobre
a posiçã o de governanta.
— O velho conde sabe algumas cançõ es inteligentes, Sra.
McGiver.
— Nã o é o velho Conde, ele é um fantasma, — um dos
homens disse, — um maldito fantasma que nã o pertence a
este lugar! Duetos de cantoria, isso nã o é justo. Toda essa
conversa sobre jogar xadrez com um fantasma — é ruim e é
um mau negó cio, isso é o que todos dizem. Nenhuma coisa
boa virá para quem ficar aqui.
Rosalind assentiu com a cabeça para um milord mais
velho, com uma cauda de galo no cabelo branco. — Eu
entendo suas preocupaçõ es, Sr.
— Macklin, milady, Horace Macklin. Eu era o jardineiro
anterior, antes do velho conde.
— Os jardins estã o precisando de sua ajuda, Sr.
Macklin. Agora, me escute. Eu discuti isso com o velho conde
e ele me assegurou que nã o é mau, ele está , de fato, em um
estado feliz de espírito. A razã o pela qual ele está feliz é que
seu neto está aqui e se casou.
— Ele me contou sobre muitos de você s, como você s
eram gentis, como eram agradá veis e espirituosos, como
todos eram muito bons. Ele també m disse que esperava que
voltassem e tratassem das coisas, entã o Wyverly Chase
poderia ser trazido de volta à sua antiga gló ria.
Ainda havia rostos incertos, pelo menos duas faces
estarrecidas.
Rosalind inclinou-se um pouco mais perto do grupo e
baixou a voz.
— Posso lhes dizer isto: ele irá adicionar interesse em
suas vidas, ele vai fazer você s sorrirem depois de ficarem
acostumados a ouvir seu vozeirã o. Quando ele solta a cançã o,
eu ouso dizer que logo se encontrarã o cantando junto com
ele. Quem dentre vó s pode ser tã o tímido, tã o medroso, para
recusar esta oportunidade muito rara? Isto nã o é uma
aventura, algo para contar aos seus netos? Seus amigos?
Ouso dizer que eles vã o ficar pendurados em vossas palavras,
vã o pagar copos de cerveja para ouvi-los falar.
Ah!, a maioria dos rostos nã o estavam tã o duros agora.
Ela continuou: — Todas as grandes casas tem seus
fantasmas. Sem fantasmas, grandes casas simplesmente nã o
sã o importantes. Agora, o fantasma do velho conde nã o é
antigo e, portanto, ele ainda nã o decidiu se deseja ou nã o
ficar aqui. Como eu disse, ele ainda está vagando, mas
ansioso para cumprimentar a todos você s. Ele permanecerá ?
Eu nã o sei. Vamos ver. — Ela recuou e os deixou pensando.
Vozes foram silenciadas, mas eles estavam pensando, e
parecia bom. Olhos observando em torno da biblioteca, mas o
velho conde permaneceu quieto, se ele estivesse mesmo ali.
Finalmente, a mulher com a voz doce, milady McGiver, deu
um passo à frente e disse:
— Todos, exceto Robert, virã o milady. Robert está com
medo, uma coisa triste para um homem...
— Olhe agora! Eu nã o estou com medo!
A sra. McGiver zombou dele.
— Entã o fique, meu rapaz. Nã o terá a oportunidade de
ouvir o velho conde cantar, ou cantar com ele, uma vez que
você vai arrancar até as ervas daninhas no jardim. Você
també m tem medo de fazer isso?
Mais calmo Robert assentiu com a cabeça. — Tudo bem,
eu vou ficar no jardim, mas nunca entrarei neste antro de
perdiçã o. Um fantasma na biblioteca — é bom para com os
escaravelhos. — Felizmente, o velho conde do antro de
perdiçã o permaneceu quieto, o ar sereno e quente.
Rosalind ouviu Peter Pritchard dizer ao grupo quando os
levou para fora da biblioteca:
— Se você s começarem todos hoje, milord e milady
ficariam muito felizes. Você sabe que eu mesmo tenho feito
um dueto com o velho Conde? Nã o é uma voz muito boa, devo
dizer, mas ele tenta. Estou a pensar que deve haver pontos
celestiais para cantar, em vez de simplesmente falar. O que
você acha Senhora McGiver?
— Ele nã o possuia uma boa voz, pelo menos eu nã o
imagino que ele tivesse. Nunca o ouvi cantar, verdade seja
dita.
Robert disse: — Bem, agora, o velho conde está morto,
nã o é ? Quem poderia cantar bem com sujeira na boca?
Resmungos de acordo foram ouvidos. Graças a Deus
ningué m mencionou que nã o havia um corpo no caixã o do
velho Conde.
Rosalind estava sorrindo quando se juntou a Nicholas no
pequeno jardim mal cuidado, com colibris mergulhando nas
flores e rosas emaranhadas. O ar era suave, o sol brilhava
quente, o cé u claro.
— Eu gosto do meu novo lar, Nicholas. Agora temos dez
funcioná rios adicionais. Tudo ficará bem. Nossa nova
governanta é a Sra. McGiver, e preciso de entregar o prê mio a
ela. Ela tem uma espinha dorsal, alé m de uma bela voz.
— No entanto, você e a Sra. McGiver conseguiram, estou
impressionado. — Ele a beijou. Os beija-flores foram andando
no ar, mergulhando mais perto quando ele a levou para o
chã o atrá s de um reló gio de sol enorme. Ela lhe perguntou,
entre beijos, se o Conde já havia visitado aquele pequeno
jardim.
Nicholas, que nã o era bobo, disse: — Nã o, nunca. Ele
odiava flores, odiava o sol brilhante. Você sabe, eu odiei deixá -
la esta manhã , eu cerrei os meus dentes, chutei a cadeira no
meu caminho até a porta. Você sabe que você me apertou
quando eu tentei sair? Ah!, fique quieta agora.
— Entã o por que você saiu?
— Você devia estar dolorida, — ele disse, entre beijos. —
Nã o queria machucá -la. Está melhor agora, nã o está ,
Rosalind?
— Ah, sim, — ela disse em sua boca enquanto ela lhe
puxou as orelhas, — eu estou perfeita. — Ele riu.
Peter Pritchard nã o era um tolo, quando ouviu vozes no
jardim, ele imediatamente se virou e voltou para a biblioteca
do Conde velho. Ele pensou sobre a viú va Dantas, seu sorriso
encantador, as mamas dela suaves, e decidiu que era hora de
fazer uma visita.
Vinte minutos depois, Nicholas ajudou Rosalind a se
levantar e endireitou o vestido dela. Primeiro, ela se
preocupou com o cabelo. — Oh!, cé us, como estou?
Ele estava tã o saciado, tã o contente, sem preocupaçõ es
em seu cé rebro, seus olhos pesadamente cansados, que
queria cair em um prado e sorrir como um idiota. Os dedos
dele tocaram a bochecha dela.
— Você parece como uma rainha... — Rosalind deu um
soco no braço dele. Ele sorriu para ela, beijou sua boca
novamente, nã o se conteve e disse:
— Você está feliz e satisfeita consigo mesmo. Você parece
tola e adorá vel també m. Havia trê s galhos saindo da cabeça
dela como chifres. Pareciam dignos de uma noiva. Nã o se
preocupe, ningué m vai saber o que você fez sob o reló gio do
sol. Acredite você també m parece a digna milady de Wyverly
desde quemnã o olhem nos seus olhos.
— O que há de errado com meus olhos?
Ele a beijou novamente. — Nã o é uma coisa. No entanto,
os termos “vagos”e “sonho” vê m à mente... — como os seus
pró prios olhos, ele adivinhou.
— Esse reló gio é muito velho, você sabe, pelo menos, tem
duzentos anos. Fico contente que nã o caiu sobre nó s quando
você o chutou para fora com seu pé ... — ele tocou levemente
com as pontas dos dedos a bochecha dela. — Estou muito
satisfeito com você , Rosalind. Muito satisfeito. — Rosalind
nã o olhou para ele. — Estou satisfeita com você també m,
Nicholas. Eu sei que devia estar chocada com o que queria
fazer comigo — novamente — coisas que você fez para minha
grande satisfaçã o — novamente — mas nã o estou... — a
língua dela deslizou sobre o lá bio inferior. Ele foi intenso. Ela
levantou-se na ponta do seu pé e sussurrou contra sua
orelha, — há coisas que eu gostaria de tentar, você só nã o me
deu uma chance. — Ele praticamente podia sentir suas
pernas brancas longas, elegantes e musculosas, apertando
seus flancos e consultou seu reló gio. Era dez da manhã .
Talvez depois do almoço, ele podia pegar seu cavalo e ir com
ela para o pequeno bosque onde um riacho corria atravé s
dele, rodeado por uma grama macia, e a cotovia cantarolava
suas cançõ es doces sobre os ramos de á rvores de cedro. Ele
lhe disse. — Eu vou lhe dar uma chance. Pediremos que a
cozinheira nos faça uma cesta de piquenique.
— Ah, sim. Você olharia para todos os beija-flores. Você
sabe quanto tempo eles vivem?
— Apenas cerca de trê s anos, acredito...
— Eles se movem muito rá pido, nã o é ? Sempre em
movimento. Acha que toda a nossa atividade encurtará
nossas vidas? — Ele olhou para baixo para ela, beijou-a
porque ele simplesmente nã o conseguia parar a si mesmo e
disse:
— Eu nã o quero saber. — Sentiu o livro no seu bolso. Ele
limpou a garganta. — Eu nã o consegui liberar as ú ltimas
pá ginas. As respostas estã o lá , eu estou pensando, somente
algo ou algué m nos impede de encontrá -los. — E ele beijou-a
novamente. Quando ela o teria levado para trá s do reló gio de
sol outra vez, ele levantou a cabeça e alisou seu polegar sobre
seu lá bio inferior. — O que você acha?
— Acho que é hora de usar seu cé rebro ao invé s de
outras partes, milord, — ela disse e riu quando ela o puxou
de volta à biblioteca. Os dois pararam, congelados, no limiar
quando uma voz á spera velha disse:

Pecados da carne
Pecados da carne
Um tédio sem derramamento de sangue, o mundo seria
Sem pecados da carne.

Rosalind sacudiu o punho em direçã o à cadeira vazia. —


Nó s nã o cometemos pecado. Nó s somos casados. Você
certamente é um fantasma velho devasso. Fique quieto.
— A coisa é que, — Nicholas disse lentamente, depois de
nã o ouvir nenhum som do velho Conde, por vá rios momentos,
— meu avô nunca cantou uma nota em sua vida. Por que ele
deveria começar a cantar em sua morte?
— E?
Ele escutou sua respiraçã o. — Nunca me lembro dele
cantando quando eu era um menino. Tenho andado a pensar
porque um homem morto começaria a cantar quando o
homem vivo nunca cantou.
— Mas, isso é tudo o que ele faz, só canta uma cantiga
ridícula depois da outra, sem rima, nem razã o.
— Bem, este ú ltimo foi aguçado e bastante preciso, eu
diria. Eu dediquei a isso um monte de pensamento. Fato é
que nã o acho que seja o meu avô .
— Entã o quem? —
— Acho que precisamos voltar ao sé culo de Sarimund, a
algué m que ele conhecia em primeira mã o. Precisamos voltar
ao tempo do primeiro Conde de Mountjoy. Fato é , Rosalind,
que eu acho que nosso fantasma é nosso Capitã o de há muito
tempo, Jared Vail.
— Mas por que ele está aqui? Por que ele me recebeu?
Duas perguntas excelentes, Nicholas pensou e perguntou
à cadeira vazia, — na verdade, você é Capitã o Jared Vail?
Havia um resmungo abafado, atrá s dos lambris,
Rosalind pensava, ou talvez viesse daquele lugar vazio acima
de uma pintura de um Vail do sé culo XVII com uma peruca
preta, enrolada, muito elaborada, segurando um pê ssego
maduro na mã o, algum tipo de ruína antiga atrá s dele.
— Entã o, se você é o Capitã o Jared Vail, por que está
feliz em me ver? — perguntou ela, olhando naquela direçã o.
Nada se mexeu, apenas o ar pacífico, nã o se vendo um
fantasma à espreita para animar a sala.
Em seguida, a pintura se mexeu, ficando torta.
25

Duas horas depois, Rosalind partiu em busca de


Nicholas. Ela parou quando ouviu os ricos contraltos da Sra.
McGiver vindos da biblioteca. Ela estava cantando uma
cançã o inteligente sobre uma jovem de Leeds, que caiu de
amor pelo filho de um taberneiro e como as coisas correram
mal, depois de um barril de cerveja.
Rosalind se aproximou da porta da biblioteca, ouvindo,
entã o, finalmente, uma voz á spera velha cantando:

Três meninas são melhores que duas


Duas meninas são melhores do que uma
Pego uma e é divertido, pego duas e desmaio
Pego três ou mais e o leão ruge.
Louvado seja, louvado seja.
Sempre pegava três
Até que precisei casar
E levar a gorda vaca à cama.
Infelizmente, meu galo caiu morto, morto.

Ela ouviu a voz afinada da Sra. McGiver, — que coisa


horrível para cantar, milord! Foi um pouco engraçado, vou
conceder-lhe isso — mas confesso que suas palavras nã o sã o
o que o vigá rio consideraria respeitosas. E que é isso de ter
uma vaca por uma mulher? Sua mulher nunca foi gorda. Ela
era um á caro pequeno fino, pelo que me lembro. Que
vergonha... — e no momento seguinte, a Sra. McGiver,
bochechas vermelhas, saiu galopante da biblioteca. Ela
fechou a porta bruscamente atrá s dela. Ela estava ofegante...
quando viu Rosalind.
— Oh, minha milady, você ouviu aquele velho nojento —
ela acenou uma mã o á spera pelo trabalho à biblioteca.
Rosalind disse: — Eu ouvi você cantar muito bem, Sra.
McGiver, e sim, eu ouvi a resposta do velho conde. — Nã o era
preciso dizer à Sra. McGiver que o velho conde — um
fantasma de duzentos anos poderia nã o correr tã o facilmente
quanto aquele que só ganhara suas asas fantasmagó ricas
apenas dez anos antes. Mesmo assim a Sra. McGiver
claramente estava indignada, nã o porque ela ouvira um
fantasma a cantar, mas por causa das palavras obscenas
dquela cançã o.
Rosalind nã o consegiu evitar, ela explodiu em risos.
Limpou a garganta dela e rapidamente disse: — Perdoe-me,
mas você nã o vê ? Nosso fantasma a escutou. Ele
provavelmente estava fascinado por sua voz encantadora e
tentando pensar em uma cançã o para elogiar, divertir você ,
mas infelizmente aqueles terríveis e rudes versos foram tudo o
que ele pode pensar. Nã o se esqueça senhora McGiver, ele
ainda é um homem, e você sabe que os homens sã o... — Ela
mesma, nã o sabia muito sobre o que homens, mas ela era
casada, afinal de contas, e entã o ela deu seu melhor. Para
sua surpresa e alívio, a indignaçã o da Sra. McGiver
desapareceu.
—Hmm... Milady, você acha que ele realmente gostou de
minha cançã o? Mas, levar a gorda vaca à cama — quer dizer,
parece rancoroso — bem, talvez você tenha razã o sobre ele,
talvez nosso velho conde nã o podia pensar em uma melodia
mais edificante. O estranho é , poré m, nã o me lembro do velho
conde advogar tantas vezes sobre os prazeres da carne. Nã o
acha que fantasmas...?
— Nã o, nã o, certamente nã o. Uma coisa sobre o nosso
fantasma... Ele percebeu que a chateou, Sra. McGiver. Talvez
da pró xima vez, ele modere seu conteú do.
Para espanto de Rosalind, a Sra. McGiver deu uma
risadinha. Entã o ela pigarregou e limpou sua garganta. —
Bem, quanto a isso, devo dizer, agora que penso nisso, foi
bastante divertido. Agora, eu o deixei, milady, chateado, talvez
suas entranhas fantasmagó ricas torcidas com vergonha e
embaraço, e percebo que preciso voltar à biblioteca e limpar a
poeira. A sra. Sweet me disse que o fígado dela nã o aguenta
trabalhar na biblioteca, particularmente depois da cadeira do
velho conde inclinar-se, em uma perna à outra, para chegar
mais perto da lareira, bem na frente dela.
— Eu sei. A senhora Sweet tem um bom par de pulmõ es.
A senhora é um exemplo para todos os funcioná rios, Sra.
McGiver.
— Bem, isso é possível. Disse à Sra. Sweet que como ele
é um fantasma, há pouco ou mesmo nada para ele agora,
entã o nã o faz sentido que ele precisasse ter mais calor?
— Mas a lereira nã o estava acesa.
— Sim, isso é verdade, e eu admito segurar o fô lego, mas
felizmente a milady Sweet aceitou a explicaçã o. Sim, alé m de
cantar como um anjo, eu sou uma mulher muito corajosa, e
isso é o que meu pai me disse quando me casei com o Sr.
McGiver. É claro que nã o foi preciso muita bravura para
rachar a cabeça do Sr. McGiver com uma panela quando ele
enviou seu punho ao meu queixo, nã o é ?
— Você foi rá pida?
— Ah!, sim, apenas foi necessá rio um par de bofetadas
na cara dele — um homem com um olho negro nã o gosta de
ser questionado sobre isso por outros homens — e o Sr.
McGiver transformou-se em um marido modelo. Como você
disse milady, o velho conde ainda é um homem, apesar de
tudo aquilo que ele é agora.
— Hmmm.
A Sra. McGiver enrolou-se ao ouvir a voz grave, uma voz
grave que aqueceu Rosalind até os pé s, e ela poderia jurar
que aquela voz grave fez seus dedos receber um choque.
Ela havia trabalhado com Peter Pritchard e nã o tinha
visto Nicholas por duas horas — muito tempo sem ele. A sra.
McGiver fez, rapidamente, ao novo Conde uma reverê ncia.
— Ah!, milord. Entã o você está aqui e nã o em outro
lugar. Bem, esses tipos de coisas ocasionalmente devem
acontecer, suponho. Ainda é uma pena que você estivesse por
perto, se, ou seja, por acaso, ouviu algo que nã o devia ter
ouvido. — A Sra. McGiver deu outra reverê ncia e foi-se
embora.
— Eu sou uma criatura horrível?
— Sem dú vida, uma criatura linda, milord... — ela viu
que ele estava carregando vá rios livros antigos e levantou
uma sobrancelha.
— Eu encontrei estes em um baú antigo no terceiro
andar... — ele pisou mais perto. — Eles sã o os diá rios do
Capitã o Jared Vail, Rosalind.
— Ah!, meu Deus. — os livros eram antigos, em couro
preto encerado, carregados de poeira e pareciam prontos a se
desmontar. Ela olhou os livros. — Eles sã o realmente muito
velhos. Você me dcontou que seu avô disse que Jared Capitã o
mantinha um diá rio, mas como sabia onde encontrá -lo?
— Vá à biblioteca. Nã o quero qualquer um dos servos
ouvindo isto. Eles pensariam que eu sou louco e me
enviariam para o magistrado. Espere... eu sou o magistrado.
Infelizmente, eu ainda poderia me declarar pronto para
Bedlam. — Ele fez um sorriso torto e a levou de volta à
biblioteca. Fechou e trancou a porta. — Nã o sei bem como o
fantasma do Capitã o Jared se comporta com portas
trancadas. Talvez nó s vamos descobrir — ele olhou para os
livros na palma da sua mã o. — Ou talvez ele esteja sentado
bem ali. Se for assim, entã o, talvez ele vá querer cantar sobre
os diá rios.
Ela nã o lhe disse que o fantasma só havia cantado uma
cançã o obscena à Sra. McGiver. — Mas como você os
encontrou, Nicholas?
— O fato é que eu acho que quando o velho companheiro
viu que eu descobri quem ele era, ele sabia que era hora de
me indicar seus diá rios.
Ele tocou a bochecha dela com um dedo sujo.
— Desculpe. — E ele puxou um lenço do bolso e limpou
a bochecha dela.
— Talvez você acredite em mim quando digo que eu
sabia, eu simplesmente sabia. De um momento para o outro,
eu sabia que haveria algo em um quarto do canto, no terceiro
andar, na ala leste, e entã o eu fui lá . Claro que lá havia este
antigo baú enfiado, confortavelmente, sob uma janela, sob
uma pilha de cortinas igualmente antigas, comidas pelas
traças, caindo aos pedaços, quando eu peguei o baú . Nada
mais na sala, só aquele velho baú . Dentro dele, estava um
monte de roupas, e na parte inferior do baú , envolvido em um
saiote amarelado esfarrapado, estavam estes trê s volumes...
— ele sorriu. — O que é maravilhoso é que eles nã o estã o no
có digo. Eu, na verdade, consigo lê -los. — Rosalind estava
franzindo a testa.
— Nã o compreendo, Nicholas. Quando você era um
menino, você nã o explorou cada polegada de Wyverly. Por que
você nã o encontrou o baú ?
Ele franziu a testa, olhou em direçã o à porta da
biblioteca, que ele tinha firmemente fechado e travado
quando entraram ali. Agora, ela estava um pouquinho aberta.
Ele nã o tinha ouvido uma chave girando na fechadura, ele nã o
tinha ouvido nenhuma coisa. Como o Capitã o Jared fez para
desbloqueá -la? Ele andou e fechou-a novamente e, mais uma
vez, virou a chave antiga e enorme na fechadura, dizendo por
cima do ombro para ela, — sim, eu explorei cada polegada
deste lugar durante os sete anos que vivi aqui. Assim como
meu avô — ele me diria que sabia onde estava cada lasca,
onde estava cada passo de escada rangente. Mas, mesmo que
ele soubesse algo sobre os diá rios do Capitã o Jared, ele nã o
sabia onde eles estavam. — Olhou para baixo para a chave e,
em seguida, puxou-a da fechadura. Olhou ao redor da sala
quando acenou a chave. — Venha buscá -la velho lobo do mar,
— ele disse e colocou-a no bolso da jaqueta.
— Entã o o baú com os diá rios, de alguma forma,
apareceu? Isto está ficando bastante alarmante, Nicholas.
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe? Acho que vou
embrulhar os diá rios em gaze e levá -los em nosso piquenique.
Podemos estudá -los em particular, sem fantasma ou servos
perscrutando sobre nossos ombros.
26

Uma hora depois, Nicholas ajudou-a a descer do lombo


de Old Velvet em um bosque situado na parte de trá s da
propriedade Wyverly. Rosalind estava carregando os diá rios
enrolados em gaze, tã o ternamente como ela faria com um
bebê .
Old Velvet, ele lhe disse quando a apresentara à é gua
com patas brancas lindas, havia sido destinada a acasalar
com Beltane. Infelizmente, Beltane nã o estava interessado,
um golpe para Nicholas e Old Velvet, que passou a comer
cada aveia que pudesse encontrar e tornou-se bastante
gorducha.
— Eles ainda se ignoram, — ele disse e bateu no nariz de
Old Velvet.
Depois de amarrar os cavalos, Nicholas carregou a cesta
de piquenique e um cobertor de tartan, enorme, o xadrez era
de primos muito afastados da Escó cia, e levou-a para o
interior do bosque de cedros. O ar estava tã o suave quanto o
nariz da é gua, macio como a seda levemente tocando sua
bochecha. O perfume de rosas e de jasmim estrela encheu o
ar. Eram lilases que ela sentia? Havia animais farfalhando na
floresta ao redor deles. Um solitá rio rouxinol cantou do ramo
superior de um cedro. Rosalind olhou à sua volta, tocou as
folhas de uma roseira selvagem. — Que lugar maravilhoso. É
perfeito.
Ele assentiu. Estava muito quieto, seus olhos fechados.
— Quando eu era garoto pensava sempre que algo bom e de
bem morava aqui há muito, muito, tempo. Fosse o que fosse,
ou quem quer que fosse, deixar um eco de doçura para trá s. E
alegria, — ele acrescentou, em seguida, corou.
Aquele homem duro e implacá vel, ela pensou, que havia
esculpido um impé rio com seu cé rebro e suas costas, pensava
em um eco de doçura. E alegria. E ele estava corando porque,
certamente, um homem nã o deveria falar tã o poeticamente.
Ele tinha visto ela e a quis. Só a ela. Ele nã o se
preocupava que ela pudesse muito bem ser menos do que
ningué m.
Ela o observou dobrar os joelhos, estender o tartan e
organizar a comida sobre ele. Ela ficou lá , os diá rios ainda
apertados, protegidos no peito dela, e ficou maravilhada. Com
o destino. Com em fantasma de duzentos anos e os diá rios...
que ele levou Nicholas a encontrar. Ele sorriu, acariciou o
xadrez.
— Venha, sente-se.
— Deve ser muito cuidadoso para nã o estragar os
diá rios.
Ele disse, com absoluta convicçã o: — Nã o estã o prestes a
se desintegrar agora, já que eu, — nó s — fomos feitos para
encontrá -los. Entregue-os a mim, Rosalind.
Ele colocou-os sobre o tartan. — Vamos comer primeiro,
eu estou morrendo de fome, a menos que...
— A menos que o quê ?
Ele deu de ombros, todo indiferente, pegou uma perna de
frango assado e mordeu.
Ela disse: — A nã o ser que talvez seja hora de me beijar
primeiro?
Ele mastigou o frango, olhou para aquela boca dela, e
sorriu lentamente. — Uma ideia muito boa. — Ela riu em voz
alta e saltou sobre ele. Ele caiu para trá s, jogou a perna de
frango sobre a cabeça, ouviu um pequeno animal correr para
beliscar, e puxou-a sobre ele. Ele nunca se cansaria de beijá -
la, ele pensou, nunca, e quando as mã os dela tocaram sua
carne nua, ele tremeu. Ela nã o sabia o que fazer — até que
sentiu a terra, de repente, inclinar-se e todo o seu embaraço
caiu da cabeça dela. Ela agarrou o cabelo dele para puxá -lo
até ela. Quando em silê ncio, deitou a cabeça no ombro dele, a
respiraçã o dela finalmente suavizando-se, novamente, ele
suspirou.
— Eu sou um homem egoista, um homem nobre ignora
suas pró prias necessidades, contente em aproveitar o prazer
que ele dá a sua esposa. Ah!, se eu lhe der de comer,
Rosalind, você terá a energia para realizar seus deveres
conjugais?
— Mas, você ... — ela se ergueu e sorriu para baixo, para
ele. Ela fez uma pose. — Ah!, eu entendo. Você quer mais do
que um dever conjugal de mim. Você sabe, eu tenho algumas
ideias sobre isso. — Ela lembrou de um livro que suas tias,
relutantemente, haviam lhe dado que mostrava uma mulher
de joelhos diante de um homem, em pé , e ele mantinha as
mã os cerradas no cabelo dela, enquanto ela estava apertando
seu rosto contra a barriga dele. Pelo menos, na é poca ela
havia pensado que era a barriga e nã o havia entendido porque
teria interesse suficiente para merecer uma pá gina no livro,
mas agora ela sabia a verdade. Ela lançou-lhe um olhar que
revolveu o interior dele.
Eles nã o tocaram nos diá rios até uma hora mais tarde.
Mesmo assim, Nicholas realmente nã o estava muito
interessado nos diá rios. Ele estava estendido em suas costas,
nu, sua camisa, calças e botas atiradas ao chã o perto do
braço direito, um sorriso bobo no rosto, seus olhos fechados
contra a lança de luz do sol passando as folhas de cedro,
aquecendo-se em total contentamento, lembrando-se de
quando ela caiu de joelhos na frente dele.
— Diga-me o que fazer, — ela disse; sua respiraçã o
quente na carne dele, mas ele nã o disse nada.
— Nicholas?
Uma voz suave, uma voz doce, vinda acima dele,
insistente, aquela voz. Ela o beijou. Lentamente, ele abriu os
olhos e olhou para ela. O que dizer quando a terra abriu-se
sob seus pé s, e ele havia mergulhado bem nela? — Isso foi
ó timo, excelente, Rosalind.
Ela ficou contente, ela, na verdade, ficou presunçosa. Se
tivesse a energia, ele teria rido. Ela cantou quase para fora. —
Você estava tã o selvagem quanto eu estava, Nicholas.
Seus olhos se cruzaram. Ele piscou.
— Talvez, — ele disse. — Talvez. Suponho que você
deseja que eu me recomponha, nã o é ?
— Sim. Eu só olhei para os diá rios, e eu juro, eles se
mudaram mais para perto de nó s.
Nicholas esperava sinceramente que o fantasma do
Capitã o Jared nã o tivesse por perto, pois isso significaria que
o velho havia se metido em uma visã o fantasmagó rica, os
havia visto. Ele levantou a mã o e a tocou levemente com as
pontas dos dedos até aos lá bios. — Eu amo sua boca.
A língua dela atropelou o lá bio inferior e ele inchou,
pronto para levá -la para baixo novamente. Ele inchou ainda
mais quando ela olhou para baixo, para ele.
Nã o, ele teve de se controlar a si mesmo. Pelo menos, ela
estava vestindo a camisa — como isso aconteceu? Mas uma
camisa nã o importava porque ele era um jovem e ele era
recé m casado e — levou-a para baixo, ambos rindo
descontroladamente e, em seguida, havia apenas sussurros e
suspiros profundos. Desta vez, ele conseguiu levantar a
camisa até ao pescoço.
Quando ele enterrou seu rosto contra as mamas dela e
gemeu profundamente, todos aqueles lugares escuros dentro
de si mesmo que haviam estado vazios demasiado tempo,
borbulharam e ficaram cheios, talvez até transbordaram. Foi
surpreendente.
Quando ele entregou-lhe o lenço, ela caminhou à s
á rvores, dando-lhe um rá pido sorriso por cima do ombro. O
cabelo vermelho selvagem ondulando enrolado sobre os
ombros dela. Ele se deitou e fechou os olhos, sorrindo como
um tolo, ele nã o podia evitar. Quando ela voltou, sua camisa
estava no lugar novamente.
Ele vestiu-se, entã o a viu com as pregas de seu vestido
enrugado, nem esfregaria as manchas de grama e sabia que a
lavadeira saberia bem o que haveria acontecido ao vestido da
sua milady .
— Sã o duas horas depois do meio dia, Nicholas, apenas
o segundo dia da nossa Uniã o, e você já me amou trê s vezes...
— ela lançou um sorriso enorme. — E eu o amei...
— Sempre gostei do nú mero quatro. Você ...
Ela levantou o rosto para céu com nuvens. — Eu sou fiel,
estou focada, nã o deixarei você me distrair mais uma vez. Ah,
mas você é lindo, Nicholas.
Ele precisou limpar a garganta trê s vezes antes que seu
cé rebro estivesse concentrado o suficiente para ler, a partir
do primeiro diá rio antigo. A letra era fina e quase nã o legível,
os anos haviam marcado o texto e desvanecido a tinta.
— Esta entrada é datada no mesmo ano do casamento
dele com a herdeira de Wyverly, — ele disse.
— Deus, você se lembra disso?
— Nã o, — ele disse distraidamente, — o Capitã o Vail
escreveu aqui.
— Você já leu os diá rios, Nicholas?
— Apenas algumas pá ginas aqui e ali. Nessa primeira,
ele conversa sobre o que estava acontecendo no momento —
como a sua decisã o de casar com a herdeira foi uma boa,
porque os bolsos dele estavam tã o vazios que estavam se
arrastando no chã o. Seus credores estavam bem atrá s dele e
se aproximando rá pido. Você vai gostar disso: — “ela está
ansiosa, uma coisa muito boa para uma virgem de dezessete
anos, mesmo que ela tenha uma bunda do tamanho de uma
vaca...”
— Que coisa horrível para escrever, especialmente
quando ela o salvou.
— Sim, muito verdadeiro, — disse Nicholas. — Ele passa
a detalhar o edifício atual de Wyverly — longamente chato,
devo acrescentar — e os trabalhadores aos quais ele gostaria
de dar um pontapé no cú . Ah!, ele parece ter uma obsessã o
com esta parte traseira. Tudo bem, aqui vamos nó s. Agora, ele
escreve sobre o que lhe aconteceu no ano anterior, quando
perdeu tudo no Mediterrâ neo, o navio, sua carga, sua
tripulaçã o, no entanto, ele foi salvo. Ele escreve: eu sabia que
algo nã o estava certo. Eu estava deitado de costas e nã o
conseguia me mexer. Uma ú nica luz brilhou diretamente no
meu rosto, mas nã o era uma forte luz, nã o me cega. A luz era
estranha, suave e vaga, e parecia ter um pulso como um
coraçã o batendo.
… Nã o sei quem ou o que este ser é , mas na verdade
prometi pagar minha dívida por que gostaria de continuar
vivendo. … Uma jovem apareceu na minha frente, seu cabelo
listrado com luz solar, frouxamente trançado para baixo de
suas costas, olhos azuis como um rio irlandê s, sardas sobre
seu nariz pequeno, uma menina resistente com mã os e pé s
pequenos. Ela jogou a cabeça para trá s e ela cantou”.
— O que ela canta Nicholas?

Ele viu que ela sabia bem o que a menina cantara.


Ele leu:
Eu sonho com beleza e noites cegas
Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que eu não estou sozinha outra vez
Mas eu sei de sua morte e seu pecado grave.

Ele olhou para ela. Nã o disse nem uma palavra. Ele


sabia que ela també m percebeu: que ela era a menina.
Rosalind susurrou — entã o o que ele escreve?
“Voz de criança, doce e verdadeira. Chamou sentimentos
que eu nã o sabia que havia em mim, sentimentos que
quebraram meu coraçã o. Mas aquelas palavras estranhas — o
significam? Que macho morreu? Que mulher cometeu um
pecado grave?”
… Ela falou novamente; desta vez, as palavras soaram
claramente no cé rebro: Eu sou a sua dívida.
Ela disse lentamente, — suponho que nã o possamos
escapar disso agora. Eu era a menina e quem quer que seja,
ou o que quer que seja que exigia o pagamento de Capitã o
Jared — esta dívida que nã o se sabe o que é — sou eu, a
dívida.
27

Eles reuniram os restos do piquenique e voltaram


silenciosamente para Wyverly. Nicholas sentiu o medo nela,
assim como ele o sentiu em seu pró prio intestino. Ele nã o
gostou e procurou distraí-la. Ele falou de seus arrendatá rios e
dos reparos que ele estava fazendo em suas casas de campo,
o novo equipamento que ele havia fornecido para seus
campos. Ele estava quase rouco de tanto falar quando
finalmente estavam sentados na biblioteca, os dois a olhar à
cadeira do Conde. Ela se manteve perfeitamente parada e eles
esperavam que flutuasse.
Rosalind disse: — Eu gostria de saber onde nosso
fantasma vai quando nã o está nesta sala.
— Nã o tenha medo, — ele disse abruptamente.
— Nã o é possível, — disse Rosalind. — Eu nunca senti
tanto medo, nã o desde que eu tinha oito anos e acordei, para
ouvir que eu quase havia morrido e nã o conseguia lembrar
quem eu era. Pior ainda, ainda nã o sei quem eu sou. Só sei
que sou uma dívida... — ela bateu a mã o sobre o braço da
cadeira. — Que maldita dívida?
De repente, uma das cançõ es de Capitã o Jared ficou
clara na mente dela. Ela recitou os versos lentamente em voz
alta.
Finalmente a garota chega em casa
Uma garota que nunca pertenceu
Para ela, é devida a dívida
Bem feito, meu rapaz, bem feito.
A menina quase morreu
O monstro quase ganhou
A dívida foi paga por
outro
Mas a corrida ainda deve ser feita.

Como ela poderia lembrar as palavras tã o claramente,


tã o facilmente? Ela olhou para ver Nicholas estudando-a,
seus dedos esticados.
— Sim, — ele disse, — eu me lembro delas també m.
Tudo começou quando um ser cuja identidade nã o sabemos,
cuja identidade Capitã o Jared també m nunca soube, um ser
que salvou a vida dele, levou-o à quele lugar nã o identificado,
disse que ele precisava pagar uma dívida e como este ser lhe
disse: eu juro nã o me intrometer. É uma maldiçã o que devo
obedecer, a minha pró pria palavra!
— Que ser promete nã o se intrometer, Nicholas? É isso o
que um ser má gico faz — se omite, joga ou destró i. E eu sou a
dívida, sim, eu vou aceitar que embora eu, també m, seja
aparentemente a dívida há mais de duzentos anos, a dívida do
Capitã o Jared que deve ser paga, e como é possível? Quem
era ele para pagar uma dívida de má gica?
— Eu nã o sei nada sobre uma dívida, nem sei quem eu
sou. Só sei essa maldita cançã o. Tem estado sempre dentro
de mim, sabe que foi a primeira coisa a sair da minha boca
quando eu finalmente comecei a falar depois de tio Ryder me
levar para casa.
— Nã o sei quem é o monstro na cançã o. Obviamente foi
tio Ryder que me salvou. A corrida ainda deve ser realizada.
Ainda existe, o monstro, o mistério, a necessidade de pagar a
dívida, seja o que for.
— E depois que você veio, encontramos o livro de
Sarimund, as Leis de Pale. Ou melhor, Grayson encontrou. O
que aquele livro miserá vel tem a ver com alguma coisa?
Porque eu posso lê -lo e nã o você , ou Grayson? Quem se
importa com aquele ser vermelho que mata Tibers em poços
de fogo? Nada disto faz um maldito sentido e eu vou lhe dizer
Nicholas, estou farta de tudo.
Ela saltou sobre os pé s dela, pegou uma almofada e
jogou na cadeira do velho conde. A cadeira muito pesada
inclinou-se um pouco e, em seguida, ficou de pé e parada
novamente.
— Vá embora, você seu susto velho miserá vel! Eu nã o
atingi forte o suficiente para fazer mover a cadeira. Eu sou
uma mulher normal agora, nã o algum tipo de sonho plantado
de centenas de anos atrá s. Eu sou a dívida de um feiticeiro,
pelo amor de Deus? Um feiticeiro que jurou nã o se
intrometer?
A cadeira inclinou-se novamente e, em seguida,
estabeleceu-se.
Ambos olharam aquilo. Rosalind rosnou profundamente
em sua garganta e jogou a outra almofada para Nicholas. Ele
arrebatou-a fora do ar, a cinco centímetros do seu rosto. —
Sente-se, querida. Está na hora — o cé rebro dele ficou
fechado por um momento. Nã o, ele precisava lhe dizer, ele
precisava lhe contar a verdade agora. Nã o havia escolha.
— Hora de quê ?
— Está na hora, de ser completamente honesto com
você . É hora de lhe dizer quem eu sou e o que eu sei disso.
Algo estava muito errado ali, e ela sabia que realmente
nã o queria saber. Mas nã o havia esperança. O coraçã o dela
saltou, entã o, comecou a bater, lentas e duras batidas. Ela
sentou-se ao lado dele e agarrou o braço dele. Ela falou sua
boca tã o seca que ela mal podia formar as palavras:
— O que você que dizer quem sou eu? Você sabe alguma
coisa? Diga-me quem você realmente é . Diga-me o que se está
acontecendo, Nicholas.
Ele pegou na mã o ela e começou a acariciá -la com seus
longos dedos. Ele olhou à lareira vazia quando disse:
— Eu tinha onze anos quando sonhei com você a
primeira vez. Você era uma garotinha, magrela, seu cabelo
ruivo glorioso em tranças, a linha de sardas espalhadas por
todo o nariz. Você possuia o rosto muito doce. Entã o você me
cantou sua cançã o. Depois que você havia cantado, caiu em
silê ncio e olhou para mim, triste e vazia, e você disse: eu sou
a sua dívida.
— Eu finalmente contei ao meu avô sobre o sonho...
depois eu sonhei mais uma meia dú zia de vezes. Sempre o
mesmo, sempre o seu rosto, sua voz, aquela mú sica triste
assombrada.
— Para meu espanto, meu avô me disse que ele tivera o
mesmo sonho, quando era um menino, mas ele simplesmente
havia parado quando ele completou dezesseis anos, mas ele
nunca havia esquecido ou você ou o sentimento de fracasso.
Ele disse que seu pai lhe dissera a mesma coisa, mas ele
nunca havia entendido a dívida també m, e seu sonho també m
havia parado, quando ele se tornara um jovem. Era como se,
o meu avô me dissesse, que: quem ou o que quer que
houvesse provocado os sonhos havia desistido. Meu avô acha
que esse sonho vem de muito tempo atrá s, embora
exatamente como chegou até aqui ele nã o soubesse, e sempre
foi o filho mais velho, e ele sempre sonhou esse mesmo sonho.
Mas entã o, como ele ganhou anos, ele simplesmente parou de
sonhar. Mas nã o os sentimentos de perda, os sentimentos de
algo vital que nã o foi feito, aquilo a deixou desfeito.
— Perguntei-lhe sobre meu pai. Ele havia sonhado? Meu
avô contou-me que o meu pai era o segundo filho e ele negou
qualquer sonho, tal como fez seu irmã o mais velho, o
primogê nito.
— E entã o veio a mim. Em seguida, ele recitou as
palavras da cançã o e olhou para mim, com tristeza. — Eu
nunca fiz alguma coisa, Nicholas, nunca fiz alguma coisa
porque nã o sabia o que fazer como todos os homens em nossa
linha suponho. Mas agora é a sua vez. É com você para saldar
a dívida, se a dívida finalmente aparecer. — Ele me disse que
acreditava que a menina viera de alguma forma fora do tempo
e certamente estava alé m da compreensã o do homem, mas ele
sabia que ela apareceria quando fosse para ela aparecer, e
nã o antes.
— Talvez, ele me disse, agora fosse a hora e ela estaria lá
para mim, mas na verdade, ele nã o sabia, só estava
esperançoso.
Nicholas se calou.
— O sonho desvaneceu-se quando era você ficou jovem?
Ele balançou a cabeça. — Nã o, e aasim foi como eu
soube que eu era o Vail para pagar a dívida. Tive o sonho
talvez duas vezes por mê s. Depois de conhecê -la eu sonhei
todas as noites, até que nos casamos. Mas nã o na noite
passada.
Rosalind disse lentamente:
— Talvez tudo isto se ligue com as Leis de Pale. Foi o seu
avô quem disse a você sobre o mago de Sarimund, e Rennat: o
mago que veio do Oriente. Eu sonhei com Rennat, e ele me
disse que eu amadureceria e que eu obedecesse as Leis de
Pale, e ele ficou repetindo isso.
Ele olhou para ela. — Rennat apareceu para você ? Ele
disse que você desabrocharia? Essas foram suas palavras?
Ela assentiu com a cabeça, à procura de seu rosto.
— Entã o as Leis de Pale devem caber em toda esta
confusã o de alguma forma. O que é isto tudo, Nicholas?
Quem sou eu? — O que sou eu?
Nicholas alisou o polegar sobre a palma da mã o dela. —
Eu continuei sonhando com você , a menina com o cabelo
vermelho e olhos azuis como o cé u de verã o e a bela voz de
assombraçã o. Sabia que um dia, Rosalind, sabia até à minha
alma que a encontraria e a salvaria, uma vez que agora era
a minha dívida. Já era tempo, veja, era a hora certa e algo
profundo dentro de mim sabia que era o momento certo. E
entã o eu vim para você .
—Para pagar dívida do Capitã o Jared?
— Sim.
— Você veio para Londres, me viu, me reconheceu, casou
comigo. Uma dívida é uma coisa, mas — por que você casou
comigo, Nicholas?
Nem uma ú nica palavra veio para o cé rebro.
— Você nã o sucumbiu para o “coup de foudre12”, como
dizem os franceses, nã o é ? Você me viu do outro lado do salã o
de festas, mas seu coraçã o nã o caiu aos seus pé s, nã o é ?
Você disse que me reconheceu Nicholas. E você foi até mim.
Por que simplesmente nã o me disse quem você era, tudo o
que isto era?
— Eu nã o poderia lhe dizer quando nã o sabia o que
estava a fazer. O que eu diria para você ? Alé m disso, o que
poderia ter dito, você acreditaria que era louco. Seu tio Ryder
certamente teria colocado a bota na minha bunda e me
expulsararia.
— Entã o você acreditava tã o fortemente neste negó cio de
dívida que você casou com uma menina que você nem
conhecia?
— Havia mais que isso, Rosalind.
— Sim, havia as Leis de Pale. E Sarimund e seu avô —
que só passou a ter outro tipo de Leis de Pale escrito pelo
personagem Sarimund. Agora isso é um universo da loucura
em si, nã o é ? Você deve ter ficado tã o animado quando
descobriu que eu poderia ler aquela porcaria — mas as Leis
de Pale nã o nos contou nada, nem os rascunhos de Sarimund
que seu avô possuia. Ele nã o podia lê -lo també m. Isso é o que
você me disse.
— Nã o, ele nã o podia. E isso o levou para perto da
loucura. As horas que ele passou a tentar decifrá -lo. Lembro-
me dele sentado até tarde na noite estudando o có digo,
tentando descobrir.
— Mas ele nã o podia, porque nã o é realmente um có digo.
Ele tem magia, algum tipo de encantamento.
— Sim, talvez sim. Quem sabe?
— Entã o já que eu sou a ú nica que pode ler esta
porcaria, devo ser má gica també m. Você concorda? — Ela riu
no silê ncio, um feio som porque estava cheio de medo e de
outra coisa que ele nã o podia identificar. — Ah, sim, eu sou
tã o má gica que quase fui espancada até a morte. Eu sou tã o
má gica que nã o consigo me lembrar quem eu sou, ou como
eu poderia ser dívida de algué m... — ela saltou sobre seus pé s
e andou ao longo do comprimento da biblioteca. — E a visita
de Rennat: o mago que veio do leste, no meu sonho — e o que
significa esse título ridículo afinal? — Estou para entrar em
meu pró prio caminho. Como ele saberia disso? Por que ele
veio para mim? O que ele quer que eu faça?
— Talvez Rennat fosse o mago, ou o ser que salvou a
vida do Capitã o Jared. Afinal, ele nã o é um simples mago, ele
é o má gico que veio do Oriente. Talvez ele també m tenha
causado a tempestade, o ser que trouxe a enorme onda que
destruiu o navio do Capitã o Jared e matou todos os homens.
Ele armou isso tudo e assim o Capitã o Jared acreditaria que
ele lhe devia uma grande dívida.
— Você acredita que Rennat tenha trazido a tempestade?
Isso mostra um poder que nenhum de nó s pode compreender
Nicholas. Um mago pode fazer isso, mesmo um feiticeiro com
um maldito título?
— Eu nã o quero acreditar nisso, mas nã o parece ser
uma opçã o para mim. Significa també m que este é um ser
muito poderoso, este ser realmente manté m Capitã o Jared
Vail sob seu comando. Só pode significar que o Jared Vail
seria o ú nico homem para pagar essa dívida. Se nã o foi
Rennat, era Belenus, o mago Sarimund escreveu sobre ele no
rochedo de sangue? Ou Taranis, o dragã o da lagoa Sallas? Ele
era o deus, afinal de contas, supostamente imortal e todo-
poderoso. É por isso que fomos levados à s Leis de Pale? Mas,
novamente, por que Grayson e nã o um de nó s?
Ela andou até a grande mesa de mogno, pausando um
momento pela cadeira do fantasma. Ela se inclinou para
baixo para falar em uma orelha invisível: — Você pode tentar
dar uma ajuda aqui. Uma cançã o talvez que nã o seja
obscena, uma cançã o que realmente signifique algo. — Nã o
havia nada da cadeira.
Rosalind sentou-se atrá s da mesa, na cadeira de couro.
— Deixe-me pegar um pedaço de folha de almaço e um lá pis.
Quero listar todas as perguntas. Entã o vamos tentar
respondê -las uma a uma... — ela se sentou e começou a
escrever. Ele a observava, silenciosamente, até que finalmente
olhou para ele. Ela disse muito precisamente:
— A questã o no topo da minha lista, Nicholas, é por que
você casou comigo? Você é o ú nico que sabe a resposta a essa
pergunta. Diga-me agora.
O cé rebro dele trabalhando a uma velocidade furiosa até
este momento desligou. Nada saiu pela boca dele.
Ela falou sua voz totalmente inexpressiva.
— Muito bem, eu nã o culpo você por manter segredo.
Sua resposta nã o seria muito gratificante para uma noiva,
nã o é ? Entã o, permita-me responder para você . Você se casou
comigo porque sabia que se você descobrisse esse negó cio de
dívida, descobrisse o que exatamente era a dívida comigo,
descobrisse exatamente o que precisava fazer a fim de se
livrar do sonho miserá vel e este imenso senso de obrigaçã o
que você sente; que os homens de sua família tem sentido por
muitas geraçõ es, entã o, sabia que eu deveria estar perto de
você . Eu deveria ser amarrada a você . Sim, eu entendo que
você ficou apavorado que eu ficasse longe de você . Assim a
meu ver, você se casou comigo porque você sentiu que devia
fazer isso.
Ele levantou-se bruscamente.
— Que inferno, nã o!
Ela olhou-o nos olhos. Ele estava pá lido, seus olhos mais
negros que a meia-noite. Lentamente, finalmente, ele acenou
com a cabeça e seus olhos negros preciam, agora, desolados,
rosto lixiviado de cor.
— Sim, foi o que aconteceu.
Rosalind se elevou lentamente, o lá pis ainda na mã o.
— Tanta coisa aconteceu desde que eu o conheci, tantas
coisas inexplicá veis. Eu vou apostar que é porque os dois
principais estã o finalmente juntos. Você se lembra que eu lhe
perguntei uma vez se o seu avô era um feiticeiro, e você me
disse que nã o sabia? Mas entã o você me disse que ele sabia
de coisas, imaginava coisas que ningué m mais saberia?
— Lembro, — ele disse. — Havia algo dentro dele, algo
má gico. Posso dizer agora sem desprezo de sentimento por
mim.
— Eu acredito que seu avô era má gico. Esta magia
existiu por todo o caminho de volta até o Capitã o Jared Vail, e
simplesmente coloca a magia em você també m. Nã o, nã o
discuta.
— Agora, você acredita que aquele ser que salvou o
Capitã o Jared seja um antepassado meu? — Ele nã o quis
responder, ela viu claramente, mas finalmente ele disse:
— É possível.
— Tudo bem, se o Capitã o Jared era um mago, e Rennat
o mago que veio do Oriente e salvou-o a fim de forçá -lo a
aceitar um acordo, entã o també m faz sentido que ele
soubesse que eu estava em apuros — ou estaria em apuros —
e na necessidade de me salvar quando fosse à hora. Saberia,
quando algo de ruim aconteceria comigo.
Lentamente, ele assentiu.
— Você acredita que sou uma bruxa, Nicholas? Você
acredita que algué m tentou me matar, porque eles me
reconheceram como eu era, reconheceram que eu era daquela
longa linhagem de magos e sentiam medo que eu pudesse
prejudicá -los de alguma forma? E entã o este algué m tentou
destruir a bruxa, ou tentou destruir a prole daquele mago há
muito tempo?
— Nã o sei. — Ele andou até onde ela estava e colocou as
mã os em seus ombros. — Eu simplesmente nã o sei Rosalind,
mas eu sei que tudo está se tornando mais claro.
— Nada é claro, Nicholas, exceto que tal como a herdeira
de Wyverly, você se casou comigo porque você sentiu que
precisava fazer isso.
— Casar com você foi à coisa mais importante que já fiz
na minha vida.
— Nã o importando o que eu quisesse.
— Você me queria. Isso é o que você me disse. Este
casamento foi uma estrada de duas vias, Rosalind. Eu nã o a
forçaria a fazer algo que nã o quisesse fazer.
— Mas nossas razõ es para casar um com o outro eram
bastante diferentes.
Quando ele nã o disse nada, ela continuou. — Essa é a
questã o, em qualquer caso. Nã o lhe importava quem eu era;
de onde vinha, no que eu acreditava.
— Nã o seja uma idiota. Claro que isso importou.
— Como você teve tanta certeza de que era eu aquela
menina que você viu na festa naquela noite, Nicholas?
Certamente eu carrego uma pequena semelhança com a
menina?
Ele deu de ombros, mas nã o liberou seu domínio sobre
ela. Ele sentia medo que ela fosse fugir?
Provavelmente. — Eu sabia. Eu simplesmente sabia, nã o
há nada mais que eu possa dizer.
— Tudo bem, entã o você achou a menina com a qual
você sonhava, foi levado até ela, está correto? — Ele assentiu.
— Agora ela era uma mulher e isso acrescentou camadas
de problemas. E sua soluçã o era se casar com ela — eu.
— Sim. Mas há tanta coisa mais, Rosalind. Desde o
começo você foi importante para mim.
— Bem, naturalmente eu sou importante para você . Se
eu nã o quisesse você desesperadamente, entã o, você seria
amaldiçoado com aquele sonho terrível para o resto de seus
dias.
— Sim, — ele disse, — isto é a verdade.
— E se eu realmente for uma bruxa, Nicholas? Lembre-
se que Rennat me disse que eu encontraria meu pró prio
caminho, evoluiria, seja lá o que isso signifique.
Ele exalou em uma expiraçã o profunda e suas mã os
ficaram mais apertadas nos ombros dela.
— Entã o você é uma bruxa e minha esposa, e lidaremos
com isso.
— Quando eu encontrar meu pró prio caminho — meu
pró prio — o que você fará Nicholas?
— Entã o você destruirá a terra e trará fome para o
mundo? — Ela nã o riu.
— O que você fará Nicholas?
— Nã o sei. Como posso saber algo antes de acontecer?
Se isso acontecer? Ou qual será o resultado? — Ela olhou
para ele, estudou o rosto que havia se tornado tã o amado
para ela, em tã o pouco tempo. Ela sentiu uma dor profunda.
Foi difícil forçar as palavras da garganta apertada.
— O mais importante disto tudo é que você nã o me ama,
Nicholas.
— Rosalind... — Ela estendeu a mã o.
— Você é um homem honrado, Nicholas. Entregue-me a
chave.
— Mas precisamos estudar os diá rios do Capitã o Jared,
ver se ele tem escondido alguma informaçã o que possa nos
ajudar, para…
— Entregue-me a chave, Nicholas... — ele a soltou e deu
a chave. Ela rapidamente se afastou dele, virou-se e disse:
— Eu sei que você me quer Nicholas, eu sei bem que
gosta de fazer amor comigo. No entanto, pelo que ouvi, parece
que um homem se contenta com qualquer mulher que
vagueie em sua vizinhança. Ela simplesmente precisa estar
disponível.
— Nã o. Bem, sim, talvez haja alguma verdade nisso. Mas
você , Rosalind, você é muito especial para mim, você ...
Ela levantou a mã o. — Você nã o me ama, Nicholas. Isso
é a verdade. Como pode um homem amar uma dívida? —
Abriu a porta da biblioteca e saiu. Nicholas ficou congelado
no meio da sala. Ele ouviu um suspiro profundo por trá s dele.
— Vá para o diabo, — ele disse e saiu para os jardins.
28

Duas horas depois, ele foi à procura dela. Ele finalmente


encontrou-a na galeria dos retratos ao longo da ala leste,
olhando para o retrato do Capitã o Jared Vail, o primeiro
Conde de Mountjoy. Ela estava olhando um homem no auge,
um grande homem, as pernas nas calçaa apertadas dos
tempos Elizabetanos. Ombros largos, um queixo
possivelmente mais teimoso do que o de Nicholas. Ela ficou
agitada quando estudou os olhos dele. Aqueles olhos — eles
pareciam familiares. Ela vira aqueles olhos, nã o? Nã o, isso
nã o poderia ser possível. Aqueles olhos eram de um azul
glorioso, brilhante, cheios de maldade, sonhos sem fim,
maravilhas e caos.
Ela soube o momento em que Nicholas entrou na galeria.
Ele andou com uma graça preguiçosa, mas ela viu a tensã o
nele. Ficaram distantes apenas trê s passos — mas na
verdade, havia um abismo entre eles.
— Ele foi um grande homem, era o Capitã o Jared, —
disse ele, olhando para o retrato.
Ela olhou-o um momento, entã o disse:
— Você disse que simplesmente sabia quem eu era
simplesmente sabia que eu era a criança que havia vivido
quase toda a sua vida, no seu sonho. Diga Nicholas, como me
reconheceu? Eu era uma mulher, nã o a criança que você
sonhou.
— Você disse a verdade. Eu simplesmente sabia. Sei que
deve parecer impossível para você , mas eu sabia que você
estaria naquele baile, sabia até à parte mais profunda de
mim, e eu soube no momento que a vi. Isso nã o significa nada
para você , Rosalind? Nã o vê ? Precisamos nos conhecer,
estamos destinados a ficar juntos, foi o destino.
Ela cruzou os braços sobre o tó rax, esticando os dedos.
— Escute Nicholas. Apesar de tudo o que está
acontecendo aqui, apesar de todas as perguntas, o misté rio,
ainda é minha vida. A minha. E você se casou comigo sob
falsos pretextos.
Sim, é verdade, condene-me por ser um idiota. Ele
estendeu a mã o para ela, e a deixou cair quando ela nã o
respondeu. — Rosalind, fiz o que precisava fazer. Tudo o que
sei daquela dívida sei em meus ossos, que nó s dois, juntos,
devemos descobrir. Nó s devemos descobrir porque eu sei que
preciso salvá -la.
— Ah!, entã o agora você acredita que a dívida é para
salvar minha vida? Tio Ryder salvou-me primeiro e agora é a
sua vez?
— Nã o, nã o tenho certeza que seja esta a dívida, mas
certamente parece ser parte disso.
Ela nã o disse nada por um tempo muito longo, apenas
olhou para ele, atravé s dele mesmo, e ele nã o fazia ideia do
que ela estava vendo, pensando. Ela disse, finalmente:
— Na primeira noite dei uma espreitadela por cima do
ombro, para você , enquanto Grayson estava me levando à
pista de dança. Vou ser honesta aqui, Nicholas. Você me
fascinou desde o primeiro momento que o vi. Você parecia tã o
misterioso, tã o perigoso. — Ela olhou para cima, para o
Capitã o Jared. — Você me fez sentir coisas que eu nã o sabia
que existiam. Você fez meu interior querer gritar de alegria.
Senti-me atraída por você . Em uma parte profunda de mim,
sabia que você nascera para mim. Fiquei muito feliz quando
tio Ryder me disse que você estaria me visitando na manhã
seguinte. E você foi e eu sabia que eu queria,
desesperadamente. — Ela parou um instante, pensativa. — E
agora você vai dizer que eu també m o reconheci, eu o
reconheci como o quê — meu cavaleiro? Meu marido? O quê ?
Ele falou, sem olhar para sua esposa:
— Eu estive pensando por que você nã o conseguiu ler as
pá ginas finais das leis de Pale.
— Tudo bem, entã o você nã o está pronto para lidar com
as minhas perguntas. Tia Sophie diz que um homem, se for
esperto, pode se distrair com grande habilidade, ele pode
evitar enfrentar algo que o deixa desconfortá vel. Talvez você
goste de lidar com esta questã o: se Grayson nã o tivesse sido
levado à s Leis de Pale, por quem ou o quê , se nó s nã o
soubessemos sobre Sarimund e suas leis condená veis, nã o
haveria nada para focalizar, nada para nos atrair para esse
misté rio. O que você faria? Você simplesmente se penduraria
em volta de mim, esperando que algo ruim tentasse acabar
comigo e você o mataria?
— Nã o sei. Eu nã o pensei nisso, verdade seja dita. Tudo
aconteceu tã o rapidamente. Eu só sabia que, finalmente,
aquela extensã o de quase trezentos anos, era eu, Nicholas
Vail, nã o o Capitã o Jared ou qualquer dos outros seguintes
primogê nitos filhos de Vail, que estava finalmente no lugar e
na hora certa. E você estava lá , no meio dela. Esperando por
mim.
— Eu nã o estava esperando por algo ou algué m, exceto
por minha memó ria retornar. Nã o sabia que havia algué m
para mim ou alguma coisa a esperar. Nã o, isso nã o é verdade
— a cançã o sempre estava lá , esperando para ser entendida,
suponho que você poderia me explicar.
— Sim. Mesmo sem as Leis de Pale, a cançã o é um foco.
E de onde é que você disse que vem, Rosalind?
— Acho que eu diria que sempre esteve impressa em
minha mente e minha alma. Mesmo perdendo a minha
memó ria nã o fez diferença para a cançã o.
— Assim como eu conhecê -la, reconhecendo que, no
fundo de minha mente, você sempre existiu.
— Mas Nicholas, você deve entender que eu nã o sei mais
nada. Eu canto a mú sica, mas eu nã o sei o que ela significa,
nã o realmente, nã o depois de tantos anos. Sem sua vinda,
nunca seria um misté rio, nenhuma dívida que eu conhecesse
que minha família adotiva conhecesse. Na visã o ampla das
coisas, o que uma simples mú sica tem a ver com isso?
— Richard tentou levá -la.
— Sim, ele fez, e isso é bastante interessante. Gostaria
de saber por que ele fez aquilo. Para nos impedir de se casar?
Para que você nã o tivesse um herdeiro? Para que ele pudesse
matá -lo em seu lazer e entã o levar o título e a propriedade? Só
tinhamos acabado de nos conhecer, Nicholas. Por que
Richard agiria tã o rapidamente em algo que provavelmente
nã o viria passar de uma mera atraçã o?
— Nã o sei sobre Richard, eu nã o o entendo. Isso foi o
motivo? Parece-me ló gico, visto que ele é um homem muito
bravo, porventura um cara muito mau, embora muito jovem
para ser entã o um mestre do pecado.
— Você s realmente parecem irmã os, quase gê meos,
exceto por você parecer um pouco mais velho. Ele tem apenas
vinte e um anos, entã o muito jovem para pensar em
assassinar seu irmã o, ou assassinar a mim.
— Você viu que Lancelot é um mercená rio. Você pode
imaginar como ele será quando tiver trinta anos? Se ele viver
muito tempo. Quanto a Aubrey, quem pode dizer? No nosso
café da manhã do casamento, ele se mostrou interessante e
inteligente para algué m tã o jovem.
Rosalind disse:
— Eu concordo que nã o foi abençoado com o restante de
seus parentes. Você acha que talvez Richard me quisesse
para ele — por algum motivo que ainda nã o sabemos? Ou,
talvez ele tenha me visto e foi o ú nico que se apaixonou
perdidamente? O infame “coup de foudre”? Ele precisava me
ter ou morrer tentando?
— Agora que foi um pensamento piegas... — Nicholas
deu um passo na direçã o dela. Rosalind olhou-o diretamente
nos olhos, entã o para sua mã o estendida.
— Nã o, — ela disse.
Ele emitiu um suspiro profundo, mas nã o recuou. Ele
deixou cair à mã o ao seu lado. Ela viu um flash de raiva nos
olhos dele, mas ele disse somente:
— O fato é você é muito importante para algué m. As
pessoas que tentaram assassinar a criança, eles estã o ainda
por aí? Eles a reconhecerã o, como eu fiz? E Rennat o mago
que veio do Oriente — quem é ele para você ? O que é ele? Um
antepassado de há muito tempo? Ou, talvez, simplesmente
um beneficiá rio cuja atribuiçã o seria cuidar de você ? Se assim
for, ele nã o fez um trabalho muito bom quando você tinha oito
anos. Quem sã o seus pais? Eles ainda estã o vivos? Onde
estã o eles?
— Você sabe que nã o tenho respostas para estas
perguntas. Você també m sabe que quando eu finalmente falei,
falei fluentemente inglê s e italiano. Que sou eu?
— Eu lhe disse que mandaria detetives e entã o eu vou
fazer isso.
— O que você perguntaria?
— É fá cil, — qualquer renomada família rica que
misteriosamente perdeu um filho há dez anos. Nã o, nã o
duvido disso. De que outra forma poderia falar duas línguas
fluentemente? Seu inglê s é , obviamente, inglê s de uma
milady; seu italiano, tenho certeza, é o mesmo. Bem, vamos
ver. — Ele falou italiano com ela, nã o um italiano educado,
aristocrá tico, já que ele aprendera a lígua com uma amante
italiana, de Ná poles, mas ele realmente sabia o que era o
italiano educado quando ele o ouvia. No momento seguinte,
ela respondeu à pergunta dele sobre seus passatempos
favoritos em suave italiano de classe alta. Nicholas assentiu
com a cabeça. — Ryder me disse que suas roupas eram bem
feitas, embora rasgadas e em trapos. E ainda tem seu
medalhã o de ouro. Algué m irá reconhecê -lo — ele disse com
absoluta convicçã o. — Agora, depois que você me deixou
sozinho com o fantasma do velho Conde, eu terminei de ler os
diá rios do Capitã o Jared. Eu lhe disse que a assistê ncia dele,
foi nenhuma, que ele nã o escreveu uma ú nica coisa ú til. Ele
nem sequer inclinou a cadeira.
— Talvez ele esteja envergonhado.
— Acho que ele simplesmente nã o sabe de nada, uma
vez que ele nunca encontrou a garota a quem ele devia sua
dívida.
Ela disse: — Para mim, sempre volta à questã o de por
que algué m quereria matar uma criança?
— Nã o se esqueça que quem quer que seja, nã o terminou
o trabalho. Ele falhou. Agora isso é algo a considerar, nã o é ?
Agora que ela pensava nisso, ela percebia que ele estava
certo. — Certamente nã o seria tã o difícil matar uma criança.
Uma criança nã o poderia se defender.
— E por que nas docas em Eastbourne? Se você for
italiana, entã o por que você estava aqui, na Inglaterra? Você
estava com seus pais? Você foi sequestrada aqui? Nã o, isso
nã o pode estar certo. Seus pais teriam criado um poderoso
clamor e Ryder Sherbrooke teria ouvido sobre isso. Nã o, você
provavelmente foi tirada da Itá lia. Por quem? E por que ele ou
ela ou quem queria matar você aqui? Em Eastbourne?
— Por falar nisso, por que nã o simplesmente me atirou
pela amurada do navio no canal da mancha?
Ele lançou seu punho à direita da parede ao lado do
retrato do Capitã o Jared, tornando inclinada a sua pesada
moldura dourada. Quando ela o enfrentou, ele parecia
perigoso, seus olhos escuros, opacos, ela pensou: sua boca
cruel.
— Que inferno, nã o tenha raiva de mim, Rosalind. Eu fiz
o que deveria fazer.
Ela suspirou. — Eu sei.
Ele sentiu uma onda de alívio, sentiu a raiva se
desvanecer um pouco. — Você sabe?
— É claro. Diga-me, Nicholas, quando tudo estiver
resolvido, você fará a viagem de volta a Macau? Existem leis
diferentes o suficiente para que você possa ter uma mulher na
Inglaterra e uma naquela colô nia portuguesa?
Ele congelou. Ele parecia pronto para uma violê ncia, o
rosto dele agora era ainda mais duro, mais frio. Ele disse
muito precisamente, — você é minha maldita esposa. E como
minha maldita esposa permanecerá até o dia em que
morremos.
— Nã o, — ela disse, ainda, o rosto dela impá vido: — Eu
sou a sua dívida.
Ela o ouviu dizer palavrõ es enquanto ela descia a longa
galeria, maldiçõ es indizíveis. Ela nã o reconheceu muitas das
partes animais que ele usou tã o fluentemente. Ela entendeu
uma referê ncia ocasional a uma mulher cujas orelhas ele
queria numa caixa.
Quando Nicholas, bem tarde, entrou no quarto de dormir
principal, Rosalind nã o estava onde ele acreditava que ela
estaria — ou seja, na cama. Ele nã o esperava que ela quisesse
fazer amor com ele, mas acreditava que ela estaria lá ,
possivelmente, fingindo dormir, ele nã o sabia; mas ela estaria
lá . Talvez porque ela temesse as maquinaçõ es de um
fantasma e a companhia dele era melhor do que nada.
No jantar, ela havia falado com calma, detalhando os
planos que traçara com Peter e Sra. McGiver para melhorias
dentro da casa e no trabalho do jardim. Ela tocou piano, e ele
inclinou sua cabeça para trá s, fechando os olhos para ouvir.
E quando ela adicionara sua voz nas cançõ es, ele havia
suspirado de prazer. Quando ela tocou os acordes finais de
uma sonata de Beethoven, ambos olharam para cima para
ouvir aplausos vindos do corredor fora da sala de estar. Peter
Pritchard colocou a cabeça, e sorrindo, apontou à plateia de
servos.
Ela tocara uma cançã o para a Sra. McGiver cantar, e
elase saira, de fato, muito bem. Entã o todos os servos foram
incentivados a cantar, e eles tiveram um improviso musical.
Ele pensou que havia sido bastante agradá vel.
Onde o diabo está você , Rosalind?
Sim, ela estivera calma sempre que falou ou olhou para
ele. Nicholas percebeu que finalmente, depois de segui-la à
cama, que ele havia pensado em mais perguntas, e decidiu,
que uma vez que eles fizessem o caminho ao centro do
maldito labirinto, ele nunca outra vez queria ouvir outra
pergunta em sua vida. Ah!, mas se houvesse magia nele,
talvez nada mais na vida dele seria natural. Se ele tivesse
magia nele, mesmo para trá s, como capitã o Jared, entã o por
que ele foi obrigado a comer raízes em Portugal, quando ele
havia sido um faminto rapaz de doze anos de idade?
Enquanto ele perambulava no grande quarto de dormir,
lembrou-se daquela tempestade no Oceano Pacífico, perto do
mar do Japã o, quando um dos seus marinheiros quase fora
varrido ao mar e Nicholas, por pura sorte — ou qualquer
outra coisa — conseguira passar uma corda em torno do
mastro principal, certamente fora um feito imprová vel, e
conseguiu trazâ -lo de volta ao navio. A primeira coisa que o
marinheiro fizera fora o sinal da cruz umas boas seis vezes, e
outros de seus homens també m, e, nenhum deles jamais
olhou para ele novamente da mesma forma. Em um nível
muito profundo, eles o temiam. A luz das velas piscou.
— Vá embora, — ele disse.
A luz se acalmou. Aquele cachorro velho do mar estava
pronto e disposto a mantê -lo acompanhado, mas nã o era sua
esposa.
Ele foi à porta da sala adjacente e virou a maçaneta.
Estava trancada. Ela havia fechado uma porta contra ele. Ele
bateu à porta. — Rosalind, deixe-me entrar. Eu gostaria de
falar com você . — Nada.
— Droga, eu sou seu marido. Você vai me obedecer.
Agora abra a maldita porta.
— Eu bem sei quem você é , milord. Nã o vou abrir, no
momento, nã o tenho mais nada para dizer. Vá embora. Boa
noite.
O pé dele coçava para arrombar a porta. Em vez disso,
ele caminhou rapidamente até a porta principal fora do
corredor. També m estava trancada. Sentia-se como um tolo.
Ele ficou contra a parede oposta, os braços cruzados sobre o
tó rax, olhando à porta trancada e finalmente conseguiu se
acalmar. Deixe-a passar frio. Deixe-a esfriar durante a noite
sem ele para aquecê -la. Deixe-a ter medo de todas as
incó gnitas por conta pró pria. Amaldiçoá -la.
Quando ele finalmente caiu adormecido, sozinho e nu
naquela cama enorme, uma dose pesada de fatalismo,
fixando-se nele, ele percebeu que ele queria era fazê -la ficar
com raiva o suficiente para tentar assassiná -lo. Ele ansiava
pela violê ncia, violê ncia que podia dar conta, nã o do seu
desinteresse educado. Ele pensou ter ouvido uma voz velha
antiga sendo cantarolada e resoluto ignorou-a.
Era exatamente trê s da manhã , Nicholas sentou-se ereto
na cama em um rugido ensurdecedor. A janela estremeceu,
abalou o quarto. Trovã o, ele pensou, coraçã o acelerado, foi só
um trovã o. Mas foi estranho, porque nã o parecia haver
tempestade quando ele finalmente caíra em sua cama. Outro
estouro de trovã o soou. De repente, uma faixa irregular de
relâ mpago atingiu diretamente o seu quarto e ele ficou
banhado em luz. Mas houve uma coisa, a luz nã o se
desvaneceu. Foi como se um sol deslumbrante ficasse preso
em seu quarto.
Isto nã o está certo, nã o é certo.
Ele olhou à janela quando pulou da cama. E esperou, em
pé ao lado da cama, mas nã o houve mais faixas de
relâ mpagos, trovõ es para mexer com a janela e agitar o
quarto, mas ainda assim, o enorme quarto permaneceu de
branco puro. E ele pensou, nã o, isso é mais claro do que a luz
solar. Isto é outra coisa, só que ele nã o fazia ideia do que
estava acontecendo. O Pale, pensou ele. Esta é uma
mensagem de Rennat.
Ele permaneceu em pé ao lado da cama, respirando com
dificuldade, pensando no que diabos estaria acontecendo,
tentando nã o deixar sua imaginaçã o correr solta e o coraçã o
parar de bater no seu peito. Ou, talvez. — Ele falou:
— Você está aqui, Capitã o Jared? Se esta é uma das
suas performances bizarras, pare de uma vez, ouviu?
Nenhum som, nada de mais, apenas o vazio branco,
austero. Branco, ele pensou: branco tã o morto quanto o rosto
de um bandido que ele matara fora de Macau, no ano
anterior. Ele ouviu Rosalind gritar.
Ele correu à porta adjacente, chutou o pé na madeira
perto da fechadura, mas a porta nã o cedeu. Ele amaldiçoou e,
em seguida, esfregou o pé lesionado. Nã o está quebrado,
graças a Deus. Ele bateu à porta.
— Rosalind! Abra a maldita porta!
De repente, a porta se abriu larga e ele quase ficou cego.
Os posentos da Condessa pareciam ainda mais brancos do
que o seu pró prio, e amplo quarto, a luz branca quase
cegando. Ele podia ver cada canto do quarto, cada detalhe do
mobiliá rio e cortinas. Mesmo a leve camada de poeira sobre o
toucador brilhava um branco morto mesmo, como se envolto
em gelo.
Rosalind estava ao lado de sua cama, uma camisola de
noite branca cobrindo-lhe do pescoço aos pé s, seu cabelo
vermelho vívido agora branco como o quarto, emaranhado
sobre os ombros e nas costas dela. O rosto dela parecia
morto. Ele sabia que seu rosto estava com a mesma aparência
e aquilo nã o seria uma imagem para transformar suas
entranhas em á gua?
— Rosalind? Você está bem?
Ela nã o se mexeu, nã o disse nada. Ela parecia
inconsciente dele, nã o parecia sequer ouvi-lo, muito menos
vê -lo. Ele parou, congelado, quando ele se aproximou dela e
viu que ela segurava uma faca. Ela estava coberta de sangue.
Poré m, as gotas de sangue eram brancas.
Ela foi ferida, ela tem sido...
Ele olhou atentamente aquele rosto branco, para o
cabelo dela ainda branco como uma velha. Por que o branco
nã o desaparecia? A menos que nã o fosse natural. Sua esposa
segurando uma faca, pingando, na mã o estava longe de ser
natural també m.
Ele olhou à faca, via o constante gotejamento, gotas de
sangue branco sobre o tapete debaixo de seus pé s descalços.
De onde vinha o sangue?
Ele observou um respingo de gota de sangue branco, no
pé esquerdo dela. Branco sobre branco. Era obsceno.
Ele nã o tocou nela, apenas estendeu a mã o.
— Está tudo bem, querida, estou aqui. Isso vai dar certo.
Entregue-me a faca.
Ela nã o olhou para ele, nã o respondeu. Finalmente, ela
estendeu a mã o para ele. Ele enrolou suavemente os dedos ao
redor do cabo da faca.
Ele percebeu logo que ele havia visto aquela faca na
biblioteca, lá embaixo, em uma pequena caixa em uma das
estantes, que estava bloqueada para o jovem rapaz que uma
vez tentara abri-la. Ela pertencera ao seu avô , ou seria do
Capitã o Jared Vail? Ele nã o sabia. A faca parecia vagamente
moura, a lâ mina curvada como uma cimitarra, gemas
incorporadas no cabo de marfim. Ele nã o se lembrava que
tipo de gemas eram, e nã o podia dizer agora porque elas
estavam totalmente sem cor.
Ele levantou a voz.
— Se nã o é você , Capitã o Jared, será Rennat? Nã o me
interessa quem está causando isto. — Pare com isso agora.
Estou cansado deste truque, você está me ouvindo? Pare com
isso agora!
Para seu alívio, e, ele admitiu, para sua surpresa, o
quarto desapareceu lentamente, desvanecendo-se finalmente
em simples meio da noite. Ele virou-se para a janela para ver
a chuva fazendo estrias para baixo, na vidraça. Ele percebeu
que nã o houve mais nenhum trovã o, se de fato tivesse sido
um trovã o. Quanto ao relâ mpago estranho, nã o, relâ mpago
també m nã o era a palavra certa.
Cuidadosamente colocou a faca na mesa de cabeceira ao
lado. Ela já nã o pingava sangue branco, nenhuma surpresa,
desde que seja quem for, seja qual for, havia parado a magia.
Ele apertou os ombros de Rosalind em suas mã os
grandes e a sacudiu levemente.
— Rosalind, volte. Tudo acabou agora.
Lentamente, ela levantou a cabeça para olhar para ele.
Os olhos dela, uma vez dilatados, estavam normais e azuis,
mais uma vez, o vermelho do cabelo vívido, o rosto já nã o
parecia morto e branco, mas ainda muito pá lido.
— Querida, — ele sussurrou contra a tê mpora dela, —
vai ficar tudo bem. Estou aqui com você agora. Eu posso lhe
proteger, bem, talvez nã o completamente. Quase quebrei meu
pé tentando derrubar a porta... — ele puxou-a fortemente
contra ele, pressionou a palma da mã o contra a cabeça dela
até que ela se apoiou em seu ombro.
A respiraçã o dela estava lenta. Ela falou virada para o
pescoço dele. — Eu sinto muito sobre seu pé .
Ele balançou-a onde estavam, beijou o cabelo dela,
começou a suavizar os emaranhados. — Pode me dizer o que
aconteceu?
Ela pressionou-se mais perto. Ele segurou-a firmemente,
sentiu as unhas dela cavando em suas costas.
— Está tudo bem, — disse ele e repetiu mais uma vez,
duas vezes.
Finalmente, ela falou num fio de voz:
— Eu estava sonhando que eu vi um homem que nunca
havia visto antes. Ele era muito bonito, Nicholas, como um
anjo dourado, com os mais lindos olhos azuis claros, mas eu
sabia que havia a escuridã o por trá s daqueles olhos claros
dele e isso parece estranho, mas é verdade. Muita escuridã o e
tanta intensidade. Senti a intensidade dele na minha alma.
Mesmo que ele olhasse para mim, ele nã o parecia me ver, nã o
parecia saber que eu estava lá , embora eu estivesse parada
bem na frente dele, do outro lado de uma enorme fogueira.
Ele estava fazendo algo em um pote grande e eu pensei que
ele devia ter cuidado senã o as chamas o queimariam, pois
elas estavam pulando para cima, vomitando e, em seguida,
canalizando, formando formas peculiares. Eu nunca vi uma
fogueira assim antes na minha vida. Disse-lhe para ter
cuidado com aquelas chamas loucas, mas ele nã o me ouviu.
Para ele, suponho que eu nã o estava lá . Era como se
houvesse um muro entre nó s, e estava claro, mas apenas do
meu lado.
— Continuou a agitar o pote com algum tipo de colher de
cabo longo. Eu observava as borbulhas no pote, a fervura e as
chamas rugindo, como se um fole invisível soprasse sobre ele.
Percebi que ele estava cantando algo e eu pensei, por que ele
nã o pode me ouvir se eu posso ouvi-lo? — Ela caiu em
silê ncio, as mã os em punhos agora contra os ombros.
Ele continuou a segurá -la firmemente, com as mã os.
— Há uma parede clara entre nó s, eu pensava enquanto
o via, mas isso nã o fazia sentido para mim e assim que eu
estiquei a minha mã o para tocá -lo. Nã o havia nada lá . Eu
pisei para o lado do fogo e estiquei minha mã o outra vez. —
Ela estremeceu contra ele. — Toquei no ombro dele. Ele pulou
de surpresa. Acredite em mim, pois eu fiz. Ele parou de mexer
o pote, parou seus câ nticos e olhou direto para mim, e eu
sabia que ele me via agora. Nicholas, ele sorriu para mim.
— Ele o quê ?
— Ele sorriu para mim e disse em voz grave: — Você é
minha. Nã o é estranho como a luz sempre traz clareza? —
Entã o ele olhou por cima do ombro como se ouvisse alguma
coisa ou algué m vindo, que o alarmou. Entã o ele se virou de
volta para mim, e colocou as pontas dos dedos nos lá bios me
encarando. Eu vi algo estranho e medo em seus olhos, mas
desapareceu rapidamente. Seus olhos eram tã o intensos,
Nicholas, tã o poderosos, senti que ele estava olhando para a
minha alma. Ele sussurrou: — Cuidado, olhe o livro, e você
estará aqui, logo agora, logo...
Ela olhou para ele, e ele viu que os olhos dela estavam se
limpando, tornando-se mais focados.
— O que aconteceu em seguida?
— De repente, foi como se eu fosse lançada em um
enorme poço branco, como uma tempestade de neve, mas nã o
havia vento, sem movimento de qualquer tipo, nã o era frio,
nada exceto uma cegueira branca. Entã o você estava me
segurando e falando para mim e eu lentamente voltei a mim.
Foi o branco que o assustou? Ou foi ele que parou quando
você mandou? Nicholas, o que havia no pote? O que ele quis
dizer quando disse que eu devia ter cuidado?
— Pela primeira vez, um ser, num sonho diz algo que faz
sentido. Acredito que aquele ser pensa que você está em
perigo, ele está lhe avisando.
— Mas quem era ele?
— Vamos descobrir nã o se preocupe.
— E o livro, ele me disse para olhar para o livro. Tudo
bem, eu faço isso. Eu leio os dois livros novamente, nó s
podemos estudá -los mais de perto.
— Sim, nó s nem olhamos à s dicas do livro, ver se há algo
escondido dentro das frases. Outra dica ú til. Estamos
chegando lá , Rosalind.
— E o que ele quis dizer quando ele disse que em breve
eu estaria lá ? Em Pale?
Ele nã o gostou, mas disse:
— Sim, muito prová vel. Quanto mais a luz traz clareza,
isso exige mais pensamento. Vamos descobrir... — ele
apontou à faca. — Quando eu entrei você estava segurando a
faca. Estava pingando sangue da ponta, mas as gotas eram
brancas como tudo o mais. Você sabe de onde o sangue veio?
Ela olhou horrorizada. — Nã o, nã o, eu nunca vi isso
antes. Nã o estava no meu sonho. Estava comigo e estava
soltando gotas de sangue branco? — Ela parecia apavorada
agora e ele nã o podia culpá -la. — Mas espere Nicholas, você
estava errado, nã o há sangue, branco ou vermelho.
Ele pegou a faca, olhou para baixo e sentiu o coraçã o
parar. Ela estava certa — nã o havia sangue, nã o havia sinal
lá onde antes havia todo aquele sangue. A lâ mina era de prata
brilhante. Ele imediatamente a soltou e caiu de joelhos para
estudar o tapete. Sem sangue. Nicholas levantou-se
lentamente, sentiu seu coraçã o fraquejar. Ele odiava que
houvesse algo acontecendo ali que ele nã o pudesse entender,
odiava nã o entender, nã o saber o que era. Sentiu-se
impotente... impotente. E se ele estivesse com ela? Teria ela
sonhado o mesmo sonho? Seria o mesmo trovã o, aquele
branco assustador que preencheu tudo? Teria ele visto a faca
aparecer na mã o dela? Ele disse:
— Espere, vi sangue gotejamento no seu pé nu... — ela
olhou o pé dela. Nã o havia nada. Ela olhou o outro pé . Nada.
— Bem, — ele disse, tentando concentrar-se, tentando pensar
claramente, calmamente. — Você chamou de um sonho.
Parece que você estava mergulhada no meio de uma visã o.
Rosalind riu um riso trê mulo e disse a voz um pouco
mais forte agora.
— Nã o sei de onde veio à faca. Nunca vi isso antes em
minha vida.
— Ela era mantida em uma caixa de vidro lá embaixo, na
biblioteca.
— Nicholas? — Ele colocou a faca na mesa de cabeceira,
ela apertou-se contra ele novamente. Ele beijou a orelha dela.
Ela finalmente estava se aquecendo. Ele começou a acariciá -
la novamente atravé s da camisola de musselina macia.
— O homem que mexia o pote, — ela disse contra o
ombro dele, — eu disse que nunca o havia visto antes. — Ele
beijou a tê mpora dela. E esperou. E seu coraçã o batia em
lentos pulsares, profundos.
— Ele sorriu para mim. Ele me conhecia. Ele disse: —
Você é minha.
Ele esperou. Ela puxou de volta seus braços e olhou para
o rosto dele. — É tudo tã o claro para mim agora. Eu conheço
o homem que estava no meu sonho. Era Sarimund.
Havia mais confusã o do que medo, na voz dela agora. Ele
tentou manter sua voz suave.
— Desde que eu a conheci, Rosalind, confesso que
minha vida tem sido tudo menos chata. Entã o Sarimund está
no meio desta mistura de caos, nã o me surpreende.
— Primeiro eu sonhei com Rennat, o mago que veio do
Oriente e agora Sarimund. O que significa isso, droga? — Ele
sorriu com a exasperaçã o dela, tocou com a ponta do seu
dedo, o queixo dela.
— Nó s vamos descobrir tudo.
— Toda a brancura, a adaga com os gló bulos brancos,
Sarimund falando comigo. Você está certo, nã o foi um sonho,
Nicholas, foi uma visã o.
— Sim, — ele disse, — eu acho que foi.
Ter uma visã o parecia ser ó timo, mas ele possuia
perguntas sem respostas e isso quase o matou.
— E essa faca. Seria uma mensagem que vai haver
violê ncia? Isso seria um aviso adicional para eu ter cuidado?
— Eu pretendo mantê -la segura, querida, eu juro isso
para você . Quanto ao resto… — ele fez uma pausa, olhou
para baixo, para ela. — Mas nã o agora, nã o agora. — Ele se
inclinou e beijou a boca dela.
Ele sentiu o estremecimento de surpresa dela, sentiu a
resistê ncia inicial e, em seguida, ela se entregou para ele.
Ela sussurrou contra a boca dele:
— Sarimund foi uma visã o, mas você nã o é . Você é meu
marido, Nicholas, e está nu.
Ele havia se esquecido, verdade seja dita. As mã os dela
acariciaram e desceram pelas costas dele, e ela se moveu para
mais perto dele, se isso fosse possível. As palmas das mã os
dela acariciaram as laterais dele, pernas, depois avançaram
em direçã o à barriga. Ele queria rir. Ali estava ele, pronto
para levá -la para a cama, e havia uma faca ao pé deles que
cinco minutos antes, havia pingado sangue branco. De quem?
De Sarimund?
Ele se afastou para trá s e fechou os olhos quando as
mã os dela pressionaram contra ele, entre seus corpos e os
dedos dela o tocaram. Ele a empurrou para longe.
— Eu o machuquei?
Ele riu.
— Oh, nã o, meu cé rebro está morto, mas nada mais.
Bem, peço Rosalind, nã o mova as mã os, ou melhor, sim mova
as mã os, mas para perto de mim. Toque-me, Rosalind. É
sobre nó s, só nó s, e eu a quero muito mesmo.
Quando Nicholas estava deitado de costas, um pouco
tempo depois, com Rosalind dormindo encostada contra o
lado dele, ele encarou o teto sombreado, observando a
precipitaçã o de luz contra a janela.
De repente, ele percebeu que ele nã o gostava de como o
quarto cheirava. Nã o era mofo, nã o, parecia um cheiro acre.
Entã o ele percebeu o que era. O cheiro que ele sentia, o cheiro
era sangue. Ele levantou sua esposa nos braços e a levou de
volta ao quarto do Conde, chutou a porta do quarto da
Condessa que estava fechada, com o pé .
Ela acordou quando ele a deitou sobre os lençó is frios.
— Acalme-se, — ele sussurrou entre beijos, — está tudo
bem agora. Aproxime-se e vou aquecê -la.
Ela murmurou contra o pescoço dele, enquanto se
aconchegava, mais uma vez, contra ele.
— Sarimund disse que eu estaria com ele logo, logo eu
estaria indo para ele.
Ele beijou a sobrancelha, depois as pá lpebras. —
Rosalind, você viu alguma semelhança entre você e ele?
Ele sentiu que ela se agitou. — Parecida com ele? Oh,
nã o, Nicholas, eu lhe disse, ele era lindo, como um anjo, todo
dourado, os olhos de luz, luz azul.
— O que você acha que ele quis dizer quando ele disse:
“você é minha”.
— Pode significar que eu sou uma descendente dele?
Sarimund viveu no sé culo XVI, ao mesmo tempo em que o
capitã o Jared. E ele está aqui, pelo menos a voz dele.
Uma descendente de Sarimund. — Ele achava que isso
explicaria muita coisa, mas o quê , exatamente, ele nã o
conseguia dizer. Ele a beijou novamente, puxou-a para perto.
Ela sussurrou contra o tó rax dele:
— Eu deixei você fazer amor comigo. Eu nã o devia ter
feito isso.
O riso surgiu na garganta dele, mas ele conseguiu segurá -
lo. — Sente-se melhor agora?
— Sim, você sabe o que fazer, mas isso nã o é o ponto
aqui.
— O ponto, tudo o que for, pode ir para o diabo... — ele
beijou a testa dela e aconchegou-se. Ele estava quase
dormindo quando sentiu os lá bios dela se moverem contra o
seu ombro, e de alguma forma, mesmo que ela apenas tivesse
murmurado as palavras contra sua carne, ele sabia o que ela
havia dito. — O Pale — é para onde tudo isso está nos
levando.
Adormeceu ao som da chuva contra as vidraças e a
imagem de um ser vermelho em sua mente.
29

Foi a luz do sol brilhando em seu rosto na manhã


seguinte que o acordou instantaneamente, mas, foi o som da
Sra. McGiver a gritar alto que o fez saltar e se dirigir à porta,
quase derrubando Rosalind no assoalho.
Rosalind gritou:
— Nicholas, você está pelado! —
Ele parou na porta, se virou e pegou o roupã o, que ela
jogou para ele. Ela puxou um lençol da cama e envolveu-o em
torno de si mesma.
Os dois correram o longo corredor. Houve outro grito
alto.
Eles desceram a escadaria principal. A Sra. McGiver
estava sobre o corpo de Peter Pritchard. Nicholas chegou ao
lado de Peter, em um instante, seus dedos contra a pulsaçã o
no pescoço dele. Ele suspirou de alívio — o pulso dele era
constante e lento. Peter usava calças, uma camisa e só as
meias. As botas estavam na cama ao lado dele. Provavelmente
ele entrou na casa e levava as botas na mã o porque ele nã o
queria incomodar ningué m.
— Ele nã o está morto, graças a Deus... — mas ele está
inconsciente. Nicholas procurou lesõ es, mas nada parecia
quebrado. Ele o carregou no ombro e o levou à sala de estar e
deitou-o em um sofá . Ele falou por cima do ombro: — Sra.
McGiver, o que aconteceu? —
— Oh!, Deus, milord, eu estava descendo para falar com
a cozinheira sobre a aveia — havia protuberâ ncias ontem
nela, e isso é ruim — entã o sim, o Sr. Pritchard estava aqui
deitado. Eu fui imediatamente para ele, milord, e eu pensei
que ele estava morto, porque ele nã o respondeu nem quando
eu belisquei o braço, do lado de dentro, logo acima do
cotovelo como eu faço para meus netos quando eles sã o
maldosos... — Entã o o que aconteceu?
Ela puxou sua respiraçã o e confessou: — Eu pensei que
o miserá vel fantasma o havia assassinado. Eu tive medo,
milord.
— Quem é o mé dico nesta regiã o?
— Andrew Knotts, milord, magro como uma vidraça, mas
ele nã o sai do seu caminho para matar seus pacientes. Oh,
aqui está o Sr. Block.
Nicholas viu Block puxando seu casaco preto sobre uma
camisa de linho branco, nã o enfiada nas calças. Ele, no
entanto, calçava suas botas. — Block, chame o mé dico
imediatamente. Vá , homem.
Peter se mexeu uns cinco minutos mais tarde. Nicholas,
e Rosalind, agora em um vestido trazido por obsé quio da Sra
McGiver, pairavam perto, seus pé s, como os dele,
infelizmente, ainda descalços. Rosalind colocou um lenço
embebido em á gua de rosas na testa dele.
— Peter?
Os olhos dele se abriram lentamente.
— Milord? …
— Sim. Como se sente?
— Eram trê s de você s, mas agora sã o só dois, entã o devo
estar melhor.
— Sim, você está melhor. Peter, o que aconteceu? Sra.
McGiver o encontrou inconsciente no chã o.
— Milorde!
Era Marigold, respirando rá pido, correndo e parando na
porta da sala de estar. — Há visitantes. Eles estã o vindo
rá pido, e aqui está quase amanhecendo.
Nicholas disse: — Fique quieto, Peter. Rosalind vai lhe
dar um bom chá forte. Eu logo estarei de volta.
Ele entrou no hall de entrada para ver sua madrasta em
pé , diretamente na frente dele, vestida inteiramente de
lavanda até ao chapé u no topo da sua cabeça, com duas
penas muito roxas ondulando, queixo para cima, parecendo
um galo que veio levar a todos. Por trá s dela, estavam todos
os trê s filhos dela: Richard, Lancelot e Aubrey.
Nicholas cruzou os braços sobre o tó rax.
— Bem, é verdade que estive fora da Inglaterra por um
longo tempo, mas isto nã o é um pouco cedo para uma visita?
Miranda disse: — Você nã o está vestido. Há uma
contusã o no seu pé . Seus pé s estã o descalços.
Ele encolheu os ombros. — Porque você s quatro estã o
aqui na minha casa?
Richard se adiantou. — Queríamos chegar à noite, mas a
nossa carruagem quebrou e fomos obrigados a passar a noite
em Meckly-Hinton.
A mã e dele se moveu para ficar na frente dele. Como se
ela, de alguma forma, estivesse protegendo-o de Nicholas?
— Fomos obrigados a passar a noite na pousada
pequena e miserá vel chamada “o galo delirante”, situada no
meio de uma aldeia que nã o deveria existir, uma vez que nã o
possui nada para recomendá -la.
— E você se levantou antes do amanhecer para me fazer
uma visita. Posso perguntar por quê ?
Richard Vail, vestido de preto, com um restolho de barba
negra escura no rosto, suavemente se colocou na frente da
mã e. Ele disse, sem preâ mbulo:
— Estamos aqui para avisá -lo.
Miranda espetou a sua cabeça no ombro de seu filho.
— Eu lhe falei para que se preocupar? Você nos odeia,
quem se importa se você morrer? Ou se algué m o matar?
— Mã e, — Disse Richard.
— Avisar-me? — A voz de Nicholas estava toda lâ nguida
e arrogante, e ele sabia que isso enlouqueceria Richard. Mas
Richard nã o parecia como se quisesse matá -lo. Ele parecia
pá lido, ele parecia assustado. Nicholas franziu a testa.
— Eu sei que você s quatro nã o verteriam uma lá grima se
eu fosse assassinado, ainda assim vieram em minha casa
perto da madrugada para me alertar?
— Sim, — Lancelot disse, o seu rosto, de poeta,
mostrando raiva, sua voz quase se alquebrando com isso, —
mas eu nã o queria vir. Nã o queria lhe contar nada, isso é o
que eu queria, mas Richard insistiu esse maldito. Eu nã o sei
quanto a Aubrey.
— Cale-se, Lance, — disse Richard, nã o olhando para
ele. O irmã o dele explodiu em uma maldiçã o.
Aubrey, com seu cabelo vermelho e olhos brilhantes e
inteligentes, quase saltou à frente.
— Eu queria vir, Nicholas. Nã o conheço você , entã o por
que eu o odiaria? Você e sua noiva foram muito bons no seu
casamento. Ouça Nicholas, o fato é que estamos aqui. Mamã e
está fatigada, embora ela tenha a energia de trê s sacerdotes
druidas. Você nã o vai nos convidar a entrar? Estamos aqui
para avisá -lo, nã o é mentira.
— Milorde!
Tentando passar por seus meio irmã os estava Block,
puxando um homem muito alto, muito magro. O cabelo do
homem era quase tã o branco como seu pró prio cabelo havia
sido na visã o. — Este é o mé dico, milord.
O homem fez uma reverência curta.
— Eu sou o Dr. Knotts. Onde está meu paciente? Espero
que seja suficientemente grave para justificar ter me trazido,
nesta hora, sem café da manhã . Digo, existem muito pessoas
aqui no hall de entrada. Milady confesso que você está muito
irritada. Talvez seja devido à s quantidades vastas de lavanda
que está usando. Milord, você gostaria de me conduzir?
Nicholas olhou nos olhos de sua madrasta.
— Milady, você e seus filhotes acompanharã o Block à
biblioteca e ele lhes servirá chá . Eu devo ir em seguida.
— Mas...
Nicholas nã o olhou para ela. Ele dirigiu o Dr. Knotts até
a sala de estar. Ele os ouviu murmurando atrá s dele, mas nã o
retornou. Como ele ficou na porta, observou o Dr. Knotts
delicadamente tirar Rosalind de seu caminho, e ele falou:
— Venha comigo, Rosalind. Eu e você devemos nos
vestir. Temos convidados inesperados.
Nem doze minutos mais tarde, os dois voltaram à sala de
estar, para ver Dr. Knotts em pé , ao lado de Peter, os braços
do mé dico dobrados sobre o tó rax.
Virou-se com a entrada de Nicholas. — Milord, nã o há
nada que justifique o uso de sanguessugas. — Ele parecia
desapontado.
— Você sabe o que causou este colapso no Sr. Pritchard?
— Ele carrega a maldiçã o da juventude, que é a idiotice,
mas ele me garantiu que nã o estava bêbado. Nã o faço a
mínima ideia do que o fez desmaiar, porque isso é o que
houve, pura e simplesmente. Ele nã o teve nenhum ataque,
nenhuma dor sú bita em sua cabeça, ou membros. Entã o devo
concluir que ele teve um colapso pelo simples fato de ser
jovem e inexperiente e…
Nicholas disse, — ele é mais velho o que eu, Dr. Knotts.
— Entã o deve ser uma estenose em suas entranhas. Isto
nã o é incomum, especialmente em homens jovens, com
excesso de vigor masculino.
Peter se sentou de repente, completamente alarmado
agora.
— Uma estenose em meus intestinos?
— Sim, rapaz, mas isso vai se resolver. Agora, eu devo
sair — e o Dr. Knotts, depois de se curvar para Nicholas e
Rosalind, se foi, imediatamente, Block ao lado dele.
Nicholas disse:
— Nã o se preocupe Peter. Imagino que o doutor nã o
tenha ideia do por que você desmaiou. Coisas estranhas
acontecem quando menos se espera, mas entã o elas passam.
Como se sente?
— Eu estou bem agora, milord. Honestamente, nã o sei o
que aconteceu. Eu estava me sentindo muito bem e, de
repente, eu vi um clarã o branco e entã o você estava se
inclinando sobre mim, falando comigo.
Nicholas pensou, foi a luz que o derrubou. Mas por quê ?
Ele falou para Peter: — Desejo que hoje você nã o se esforce,
fui claro o suficiente, Peter. Nã o vamos arriscar. Agora, minha
madrasta e meus trê s meio irmã os acabaram de chegar. Eu e
a milady devemos atendê -los. Rosalind venha comigo.
Ela perguntou novamente enquanto caminhavam à
biblioteca:
— Richard queria que eles viessem aqui para avisá -lo?
Isso é um absurdo, Nicholas e você sabem disso. Eu nã o
confio em nenhum deles, exceto talvez em Aubrey. Ele parece
bastante inofensivo.
— Richard parece assustado. Nã o. Ele está assustado.
Ele nã o é um ator bom o suficiente para me enganar e isso só
me dá uma grande vantagem.
Na biblioteca, encontraram os trê s irmã os sentados,
bebendo chá e comendo bolinhos de groselha da cozinheira. A
viú va Lady Mountjoy estava ao lado da lareira, uma xícara de
chá na mã o enluvada.
— Eu nunca gostei desta sala. — Miranda disse, quando
entraram na biblioteca. — É escura e fria, e na é poca eu disse
isso à quele velho louco.
— Concordo, — disse Nicholas. — Agora, Richard, você
vai me dizer exatamente porque você veio a Wyverly Chase...
— mas Richard estava olhando para Rosalind. — Você está
aqui, — ele disse.
— Bem, sim, eu moro aqui.
Miranda disse: — Richard teve um sonho, Nicholas, um
sonho que…
— Por que nã o deixa Richard nos contar sobre o sonho,
milady, — Nicholas disse agradavelmente, seus olhos nunca
deixando o rosto do seu meio irmã o.
— Apavorado por causa de um sonho bobo, como uma
menina, — Lancelot disse e lançou a seu irmã o um grande
esgar.
— Se você nã o tem nada de ú til a dizer, entã o cale a
boca, Lancelot, — disse Nicholas. — Agora, Richard, o que é
isto tudo?
Richard ergueu-se. Ele olhou direto para Rosalind e
apontou o dedo para ela. — Ela matou você , Nicholas. Eu a vi
matá -lo.
Rosalind nã o protestou. Ela sorriu e admirou-se em voz
alta.
— Que pensamento amá vel, agradá vel eu matar meu
marido e somos recé m-casados. Hmmm. Você já olhou para
seu irmã o, Richard?
— É claro que já ! Qual é o mal? Sou quase tã o grande
quanto ele é e, provavelmente, mais perigoso! — Isso lhe
rendeu um olhar irô nico de Nicholas e outro grande sorriso de
Rosalind.
— Por favor, me diga exatamente como eu consegui
matar meu marido.
— Acha que é divertido, nã o é ? Você o esfaqueou maldita
seja. Vi você o esfaqueando.
Nicholas falou lentamente:
— Por acaso, viu a faca, Richard?
— Por que importa como se parece a faca
ensanguentada? Essa é o menor de suas preocupaçõ es. Esta
mulher — sua nova noiva preciosa — que nã o tem família,
nenhum fundo conhecido — ela o matou.
— E o que ela fez? — Nicholas perguntou.
O rosto de Richard ficou vermelho, os olhos dele
escureceram. — Você acha que isto é tudo uma brincadeira?
Você está zombando de mim?
— Diga-lhe o que ela fez, Richard, — Aubrey disse: —
Diga.
Richard lançou a Rosalind um olhar tã o maldoso que ela
queria se benzer.
— Ela tirou seu coraçã o e o levantou como se fosse uma
oferenda a um deus pagã o, seu sangue escorrendo para baixo
de seus braços, pingando nos dedos dela. Havia sangue por
todo lado. Ela estava coberta de sangue, Nicholas, espirrado
para cima, até no rosto dela.
— O que ela fez com meu coraçã o?
Lancelote deu um passo na direçã o de Nicholas, punho
para acima. — Você é um bastardo, você nã o acredita em meu
irmã o. Ele nã o mentiu maldito. Ouça-o se você deseja viver.
— Eu estou ouvindo, Lancelot, mas até agora parece um
conto que Grayson Sherbrooke escreveria, talvez, acorrido em
Stonehenge. Você disse que era um sonho, Richard?
— Nã o sei, na verdade, eu estava em uma espé cie de
estado acordado, entã o nã o foi um sonho, nã o. Mais como
uma visã o. Uma visã o de algo que vai acontecer. Eu estava
sozinho, no meu quarto de dormir, em casa, e o tempo perdeu
todo o significado para mim, e depois a visã o veio no meu
cé rebro, clara e nítida. Nem senti o cheiro do sangue quando
ela tirou o coraçã o do seu peito.
Nicholas olhou para cada um deles, por sua vez. Ele viu
o profundo ressentimento em Lancelot, um tipo de interesse
acadê mico no rosto de Aubrey, puro desprezo no rosto de
Miranda; e no rosto de Richard, puro medo. Ele disse ao seu
meio irmã o:
— Você veio para me avisar, por quê ?
Miranda adiantou-se, a expressã o dela agora era
venenosa. — Ela segurou o seu coraçã o, seu idiota, e ela
cantava com palavras estrangeiras que Richard nã o entendia.
Sua mulher o matou! E você tem a ousadia de questionar os
motivos do seu irmã o em vir para ajudá -lo?
— Rosalind perguntou. — Richard, o que eu estava
usando nesta visã o?
— Uma tú nica branca, com cinto na cintura, com uma
corda fina de algum tipo. Suas extremidades caiam para
baixo quase até aos joelhos. Seu cabelo era longo, descendo
pelas suas costas.
— Você tem certeza de que era eu?
— Sim, era o seu cabelo selvagem ruivo, olhos azuis. Era
você . — ele franziu a testa. — Mas era como se estivesse em
um tempo diferente, num lugar diferente. Nã o sei. Aquilo nã o
fazia sentido, mas eu sei que era você .
— Nicholas disse: — Entã o agora ela é uma virgem vestal
de algum tipo ou uma grande sacerdotisa?
— Nã o sei — Richard disse finalmente. — Nã o sei. Nã o
havia nenhum sacerdote lá , ningué m mais estava lá , apenas
você s dois, você deitado sobre suas costas e ela inclinada
sobre você .
— Você sabe por que eu arranquei o coraçã o do meu
marido?
Richard, pela primeira vez, parecia incerto. — Nã o sei
isso també m, — ele disse lentamente. — Tudo o que sei é que
você o fez. — Ele olhou para Nicholas. — Você me perguntou
o que ela fez com seu coraçã o. Ela jogou para longe dela,
como se fosse lixo, entã o ela se levantou e ficou olhando para
baixo, para você deitado aos pé s dela, e ela estava esfregando
as mã os ensanguentadas.
— Como Lady Macbeth?
— Nã o! — Richard gritou com ela. — Nã o, nã o havia
sangue real nas mã os de Lady Macbeth, somente a culpa dela
a fazia acreditar nisso, mas as suas mã os estavam cobertas
de sangue de Nicholas.
— Rosalind disse: — Nó s tivemos uma discussã o ontem
à noite, e eu admito que eu queria bater nele com um livro,
mas eu nã o fiz isso. Esse negó cio de rasgar fora o coraçã o
exigiria uma dedicaçã o a algo faná tico. Outra hora, outro
lugar, eu acho que você disse isso. — E ela pensou na faca
sangrenta em sua pró pria visã o, as gotas brancas deslizando
para o chã o pela ponta. De onde vinha o sangue?
— Seja em outro lugar e em outro tempo, você ainda fez
aquilo, eu vi você fazer aquilo!
— Milorde. — Nicholas se virou para ver Block na porta,
parecendo rígido e formal, embora os seus olhos estivessem
um pouco no lado selvagem.
— Que crise está chegando agora, Block?
— O fantasma do velho Conde nã o quer parar de cantar
cantigas lascivas. A Sra. McGiver solicita para que peça para
ele parar.
Nicholas virou-se para o meio irmã o. — Você gostaria de
ver o fantasma do velho Conde, Richard? — Richard ficou
boquiaberto.
— Um fantasma? Você está dizendo que o fantasma do
velho Conde é real? Isso é absurdo. Fantasmas nã o existem.
Meu avô está no inferno, lugar onde ele pertence.
Rosalind, vendo que Nicholas estava pronto para ser
violento, disse:
— Richard, por que você acha que um fantasma
cantando é mais inacreditá vel que eu vestida como uma
antiga sacerdotisa, arrancando o coraçã o de Nicholas e
oferecendo-o como um sacrifício?
— Deixe-nos ir, — disse Nicholas. — Block, diga a Sra.
McGiver que vamos cuidar do espírito.
A porta da sala de estar estava aberta. Fora, na entrada
do salã o, estavam a Sra McGiver e Marigold, ambas ouvindo
atentamente, nenhuma delas parecendo particularmente
alarmada. Nicholas fez um gesto para o grupo, colocando o
dedo sobre os lá bios para mantê -los quietos. Uma vez dentro,
Nicholas falou em direçã o à cadeira de asas: — Eu estou aqui.
Rosalind está aqui. Outros parentes estã o aqui també m. O
que é que você tem para cantar para nó s, nesta manhã ,
milord? — Passou um minuto. Dois.
Richard disse: — É como eu pensava. Servos sã o
fantasiosos, eles inventam coisas, eles… — uma voz
esganiçada velha cantou.

Estou cansado de lutas, cansei-me de problemas.


Ele mexe o pote e ferve e borbulha.
Uma vez que ele vem, o perigo está perto.
Uma vez que ele age a morte está aqui.
Vá para o Pale e mate a fonte
O futuro pode mudar o seu curso.

— Nã o tenha medo, é apenas o velho Conde, — Sra.


McGiver disse gentilmente para Miranda Vail e para os trê s
jovens cavalheiros em torno dela, todos eles brancos e prontos
para correr. — Ele adora cantar, — acrescentou ela, fofocando
agora, — e, geralmente, nã o faz muito sentido. O que ele
cantou agora, nã o foi obsceno. Um aviso foi o que me
pareceu. Será que é isto? Nã o gosto do som disso, milord.
Rosalind també m nã o. Ela se perguntava també m o que
era. Como eles deveriam chegar ao Pale para encontrar e
matar a maldita fonte para impedir o futuro, mudando o que
deveria ser?
Nicholas falou, no meio do silê ncio:
— Obrigado, milord, por sua mú sica original. Sua rima
foi inspiradora també m.
Miranda disse, em um sussurro sufocado: — Nã o há
ningué m aqui. Nó s somos os ú nicos nesta sala. Isto, — este
fantasma — ele canta assim o tempo todo?
— Isso foi um truque, — Richard anunciou para o
ambiente geral, — algum tipo de truque absurdo, feito por um
servo que se esconde por trá s de cortinas. Um de você s, sem
dú vida, inventou essas palavras ridículas para ele cantar —
ele caminhou atravé s da sala de estar, enquanto falava.
— Onde você está ? — Ele gritou, agitando o punho. —
Venha para fora de seu esconderijo agora, senã o eu vou à sua
garganta. — Ele puxou uma faca do bolso do casaco e
apontou à s cortinas. As cortinas nã o se mexeram.
Richard as levantou. Nã o havia nenhum servo medroso
lá . Ele olhou por trá s de cada peça de mobiliá rio. Ele nã o
encontrou nada.
— Onde está você , seu bastardo?
Um gemido antigo veio da profundidade da alta e velha
cadeira antes dela cair no chã o.
Miranda Vail gritou.
30

Rosalind, Nicholas e seus quatro parentes estavam


sentados à mesa de café da manhã .
Rosalind falou no silê ncio tenso, um sorriso em sua
boaca: — Deixe-me assegurar que o nosso fantasma é
inofensivo. — Nenhum deles parecia muito certo sobre aquilo;
com efeito, Rosalind també m nã o estava tã o segura que o
Capitã o Jared fosse meramente um mensageiro cantante. Ela
disse: — Já houve emoçã o suficiente para o momento.
Teremos um café da manhã agradá vel.
— Eu nã o consigo comer, — Miranda disse.
— Eu consigo — Lancelot disse. — Estou com fome.
— Você está tã o bonito, sentado, adorando espalhar
manteiga no seu bolinho, — Richard disse ao seu irmã o. —
Olhe para você , a imagem de um poeta româ ntico. Com a sua
gula, seria melhor tomar cuidado senã o você vai esticar os
botõ es de suas calças.
— Eu nã o sou bonito, raios o partam!
Rosalind chamou: — Block! Estamos prontos para mais
um prato de pequeno almoço.
Aubrey disse, — Este é um ambiente lindo. Tem certeza
de que o velho nã o é perigoso?
— Acho que nã o, — disse Nicholas. — Ele nã o ameaça.
Ele simplesmente canta e ocasionalmente envia sua cadeira
para o lado, para o chã o... — ele deu de ombros. — Uma
pessoa se acostuma com isso.
— Nã o acredita em mim — disse Richard, e ele tocou
com as pontas dos dedos a mesa de mogno.
Nicholas disse: — Richard, conte-me sobre a faca que
Rosalind estava usando.
— A faca ensanguentada? — Richard bateu o punho na
mesa. — Você está preocupado com a faca ensanguentada,
quando o que você devia estar pensando era como se livrar
desta puta viciosa antes que ela mate você !
— A cozinheira fez algumas torradas adorá veis e
omelete, sem mencionar os arenques e… — Block congelou
com a violê ncia que ele viu no rosto de seu mestre, na
realidade sentiu-a no ar. Nicholas levantou-se lentamente da
cadeira. — Vai se desculpar com minha esposa, Richard, e vai
fazê -lo agora, com graça e sinceridade.
Richard lançou um olhar para Rosalind. Sua voz era fria
quando falou: — Estou preocupado com meu meio irmã o. Ele
nã o parece preocupado, e qualquer homem inteligente estaria
muito preocupado. Todos nó s viemos aqui para avisá -lo,
mas…
— Você está estragando isto, Richard.
Richard limpou a garganta. — Peço desculpas, Rosalind.
Eu nã o conheço você , entã o nã o posso julgar seu cará cter,
mas eu tive uma visã o e isso é um fato.
— Você sabe Richard, — ela disse, sem emoçã o na voz
dela, — eu nunca fui chamada de cadela, muito menos de
puta cruel. Essa visã o sua…
— Foi um pressá gio, — Miranda anunciou, enquanto
mexia na omelete. — Visõ es nã o mentem.
Um pressá gio, Rosalind pensou e tratou de seu pró prio
pequeno almoço, surpresa por ver que estava faminta. Ela
olhou para ver Nicholas observando-a. Certamente ele nã o
estava pensando que ela poderia cortar seu coraçã o. Mas
aquela visã o de Richard
Nicholas disse: — Richard, a faca. Pergunto mais uma
vez, como era?
— Possuia uma lâ mina curvada, e havia diamantes,
rubis e até mesmo safiras incorporadas no cabo.
Nicholas assentiu com a cabeça. — Eu queria lhe
mostrar uma coisa depois do pequeno almoço.
— Depois do almoço, — disse Miranda, a voz dura como
os castiçais de latã o no meio da mesa, — partiremos. Richard
já emitiu seu aviso. Fizemos nosso dever, o que acontece com
você agora está na sua pró pria cabeça, Nicholas.
Nicholas cuidadosamente pousou a faca dele. — Eu
gostaria que todos aqui permanecessem por vá rios dias.
— Entã o, você acredita em mim? — Falou Richard, e
lançou para Rosalind um sorriso frio.
— Se eu acredito que Rosalind apunhala e corta meu
coraçã o? Nã o, mas há questõ es nã o respondidas em aberto.
Talvez todos nó s possamos descobrir o que está acontecendo
por aqui.
— Há algo mais acontecendo? — Perguntou Aubrey,
sentado em frente, seus olhos brilhantes. — Algo melhor do
que a visã o sangrenta de Richard?
— Ah, sim, — disse Nicholas, — muito melhor.
31

A voz de Richard mal estava acima de um sussurro.


— Sim, sim, é a faca, que eu vi mergulhar em seu
coraçã o.
Rosalind segurava a faca enquanto escorria o sangue, -
sangue branco.
E se foi realmente um pressá gio? Se algo aconteceu,
algo, absolutamente, catastró fico; e ela matou Nicholas? Nã o,
nã o era possível, simplesmente nã o era. Mas, o que era
possível, o que era real, e ela e Nicholas deviam aceitar, era
que havia magia atuando ali, e magia antiga. Ela pensou em
todos os nomes celtas dos feiticeiros e bruxas de Pale. Ela
pensou em Taranis, o dragã o da lagoa Sallas, que havia sido
confidente de Sarimund. Era o nome de um deus celta
també m, e ele alegara ser imortal.
E se fossem os mesmos seres, mas eles, de alguma
forma, acabaram em um tempo diferente, um lugar diferente?
E, de alguma forma, eles haviam escorregado para este
mundo? Eles estavam tentando voltar, apenas algo terrível
teria acontecido, e estavam presos na fortaleza pedra de
sangue?
E se quisessem que ela matasse Nicholas porque ele era
descendente do Capitã o Jared, que nã o pagou a dívida com
ela? Como poderia uma coisa dessas ser de ajuda para eles?
Nã o fazia sentido. Ela havia nascido quase trezentos
anos depois, bem alé m do tempo do Capitã o Jared,
certamente um deus saberia disso. Mas, novamente, talvez
houvesse limites em antigos magos e deuses, restringindo-os
a certas habilidades em um determinado momento, um
determinado local. Talvez nã o fossem onipotentes, ou
oniscientes. Era hora de agir, ela pensou, tempo para
descobrir do que se tratava aquela dívida, tempo para
aprender quem ela realmente era, talvez o que, ela realmente
era. Essa possibilidade a assustou até seus pé s.
Ela ouviu Richard Vail perguntar para Nicholas:
— Por que a faca está aqui?
— Esta faca parece ter passado por muitas encarnaçõ es,
— disse Nicholas, e admirava a sua ambiguidade.
— Nossa. — Aubrey disse, esfregando as mã os juntas. —
Espere até eu contar a meus amigos em Oxford, o que está
acontecendo na minha família, — fantasmas e facas em uma
visã o que realmente existiu. Mas, espere Richard, tem certeza
de que nunca viu essa faca antes? Pertencia ao vovô ; estava
neste quarto quando você era um garoto, nã o estava?
Richard ainda olhou para a faca, como hipnotizado.
— Acho que nã o, mas isso foi há muito tempo e era
jovem… — ele deu de ombros e tentou nã o parecer assustado.
— Nicholas nã o é da nossa família, — Lancelot disse
para Aubrey, — nã o realmente. Nosso pai o detestava, alegou
que ele era um bastardo, mas já que ele era igual ao nosso
pai, isso ficou difícil de provar, nã o é ?
Richard disse, parecendo sem paciê ncia, — Cale-se,
Lance.
Lancelot se agitou e parecia pronto para gritar, quando
sua mã e disse:
— É terrivelmente injusto, mas, neste momento no
tempo, Nicholas é a cabeça da família Vail.
— Injusto para quem? — Perguntou Rosalind. — Richard
é quem tem sido desleal para com seu irmã o. Quer dizer,
tentar me raptar certamente nã o foi uma atitude muito
louvá vel.
Miranda disse: — E por que ele deveria ser fiel a este
estranho indesejado? Partiu quando era um garoto e retorna
apenas para coletar o título do seu falecido pai. Que tipo de
filho faz isso?
Nicholas falou com a sobrancelha arqueada:
— Um que foi deserdado, talvez, milady?
Miranda gritou: — Ainda nã o é justo, entendeu?
— Acho que nã o foi particularmente justo algué m tentar
me matar quando eu era uma garotinha, — disse Rosalind. —
O que você tem a dizer sobre isso?
— Eu tenho a dizer que você , provavelmente, seja a filha
mimada de uma meretriz e seu amante bê bado que deu uma
bengalada em você , merecidamente entã o, é o que eu digo.
Em um flash, Nicholas ficou a uma polegada do nariz da
sua madrasta. Ele parecia intimidante, perigoso e cruel. Com
uma voz tã o suave que ningué m conseguia ouvir o que ele
disse, exceto Miranda e Rosalind, ele disse:
— Escute velha carcaça viciosa, você nunca mais vai
insultar Rosalind novamente ou eu vou arruinar você .
Entende milady? Nã o haverá mais vestidos novos, já que nã o
vai haver mais nenhum dinheiro, a entrada na sociedade vai
desaparecer. Em breve, você será ignorada e condenada ao
ostracismo.
— Arruinar-me? Ora!
Nicholas sorriu para ela, e aquele sorriso certamente
congelaria Miranda até aos ossos. A mulher era louca? Ela
perdera todo o sentido, para afrontar um homem como
Nicholas?
— Ouça-me, milady, pois eu sou muito sé rio. Nã o só vou
arruiná -la, vou arruinar seus trê s filhos. — Miranda abriu a
boca para explodir quando Aubrey disse em voz alta:
— Eu digo mã e que eu nã o desejo ser arruinado. Nã o
quero ser expulso de Oxford. Quanto ao Lance, ele ama seus
novos coletes e seus cavalos. Hmm, e nosso mordomo Davy,
bem, eu acho. Por favor, refreie a língua.
— Rezo para que esse bastardo encontre um fim horrível,
— disse Lancelot, apertando as mã os, o rosto bonito pá lido.
Rosalind bateu as mã os.
— Todos você s me ouvirã o agora. Aqui temos uma
situaçã o incomum e nos cabe descobrir a soluçã o para ela,
nã o brigar e insultar um ao outro. Nicholas é o Conde de
Mountjoy. Superem seu desapontamento porque é muito
tedioso ouvir você s se lamentando, se queixando e
amaldiçoando o destino. Agora, Nicholas e eu precisamos
resolver alguns assuntos que nã o envolvem qualquer um de
você s.
Para seu alívio, a Sra. McGiver chegou ao momento
seguinte para mostrar o caminho das camas aos convidados.
Rosalind atribuíu Marigold para atender a milady viú va de
Mountjoy. — Fique perto dela, Marigold, — Rosalind disse
perto da orelha dela. — Ela vai reclamar sem parar, mas você
continue a sorrir e dizer-lhe que você vai observar tudo,
certo? — Ela deixou cair à voz dela mais baixo. — Ela nã o é
de confiança.
Quando Nicholas fechou a porta da biblioteca, poucos
minutos depois, ele virou a grande chave de bronze na
fechadura, e depois gritou:
— Milord, você está aqui?
Nenhuma resposta.
— Capitã o Jared, precisamos com você , — disse
Rosalind. Nenhuma resposta. Ela se virou para Nicholas. —
Por que os convidou a permanecer? —
— A visã o de Richard e a identificaçã o da faca me fez
querer mantê -los por perto. Eu tenho uma sensaçã o
inescapá vel que todos eles sã o parte disso, seja o que for. Eu
aprendi ao longo dos anos que ter o inimigo dentro do alcance
dá uma melhor chance de sobreviver, do que ter um, invisível,
à espreita nas sombras.
Ela se aproximou dele, subiu na ponta do seu pé , e
sussurrou contra a orelha dele.
— Nicholas, eu sei como chegar em Pale.
Ele olhou para ela, perplexo.
— Por que está sussurrando?
— Nã o sei, simplesmente parecia a coisa certa a fazer.
Minha pró pria visã o de Sarimund ontem à noite, antes que a
brancura me acordasse — lembra que eu lhe disse que ele
estava cantando alguma coisa? Nã o ouvi as palavras
distintamente, mas de alguma forma, elas permaneceram em
minha mente. As palavras que ele estava cantando, agora sã o
cristalinas para mim.
Nicholas nã o estava surpreso, nã o depois que ela havia
lido as Leis de Pale quando ningué m mais conseguia. — Por
que agora, eu me pergunto?
— Porque o tempo está acabando, — disse Rosalind. —
Tudo está acontecendo muito rapidamente. Ouça. — Olhe no
meu livro, as pá ginas estarã o livres, siga minhas instruçõ es,
venha para mim.
— Pá ginas, livres?
— Sim. Você nã o vê ? Eu nã o podia ler as ú ltimas
pá ginas do livro de Sarimund que Grayson encontrou no
Hyde Park, e eu era incapaz de ler as pá ginas finais do livro
pequeno da biblioteca do seu avô , porque as pá ginas
simplesmente nã o se separam. Sarimund me disse que agora
eu possa abri-las, assim, as tornarei livres.
Ela colocou a mã o no antebraço dele.
— Nicholas, você e eu somos evidentemente os dois
artistas principais em uma peça estranha. Eu nã o quero
cortar seu coraçã o. Nã o mesmo. Eu gosto muito de você . —
Ele a beijou.
— Nó s somos artistas, você está certa sobre isso.
— Vamos trabalhar. Vamos começar liberando as
pá ginas no livro do seu avô , — disse Rosalind. Os dedos de
Rosalind pairavam sobre as pá ginas, entã o, facilmente, ela
virou a pá gina. Os dois congelaram por um instante, cientes
de um fim desconhecido que estava perto — ou seria, de
alguma forma, Sarimund em espírito que flutuava acima
deles? Talvez Sarimund lhe tivesse dado um tapa na cara,
mas ela nã o podia senti-lo, porque aqueles tapas foram antes,
no passado, perdidos no vé u do tempo, demasiado grosso
para qualquer coisa passar. Ela estava com medo de ler a
pá gina, com medo de que ela iria fazer. Ela olhou para o
marido. — E se…
— Leia em voz alta as pá ginas, Rosalind.
— Sim, você tem razã o. Nã o posso perder minha coragem
agora... — ela leu: “Eu queria desesperadamente saber se
Epona deu à luz a meu filho, mas Taranis não me diria. Ele
começou a cantar uma canção de amor para sua companheira,
que na verdade achei muito doce, mas mesmo assim queria
chutá-lo. Agora não era o momento de um louvor a um
compromisso eterno. Taranis me disse, antes dele me deixar na
minha entrada de caverna: — Vá para casa, Sarimund. Aqui o
seu tempo chegou ao fim, mas não se esqueça do que
aconteceu aqui, porque o que você viu deve ser contado à
garota. Você deve se assegurar que ela saiba isto
especificamente… — e Taranis disse: — repita as palavras em
sua mente. Agora, — E assim eu fiz:
Vire a última página, e pense no meu poder de ler as
palavras lentamente e espere pela noite. Veem de mim ou do
dragão da lagoa Sallas, as palavras? Eu não sei. Estou
novamente em casa — tantos seres humanos, empurrões uns
aos outros, todos falando ao mesmo tempo — como vim parar
aqui? Eu não sei isso, tal como não sei como eu cheguei em
Pale. Lembro-me de estar no Bulgar, mas então ele se foi, e
nada há na minha memória. Anotei os passos para você, assim
como o meu propósito de ir ao Pale era você. Você é a coroa em
meu reino, o mensageiro da paz e da destruição, aquele que
precisa corrigir o pecado grave. É uma coisa muito estranha,
mas enquanto eu escrevo isto, eu sei que eu sou um, com
Taranis. Vire a página agora, e pense no meu poder. Sim, é a
minha força, Taranis reconhecido, e poderoso eu sou, o
feiticeiro mais poderoso que já existiu no aqui e agora, no
futuro e no passado e todos os outros lugares não vistos pelos
mortais. Você é uma mulher agora, não é a menina que cantou
tão bem. Adeus. Meu coração está com você.
Sarimund.”

Rosalind, muito lentamente, virou a ú ltima pá gina e


olhou para baixo para uma pá gina perfeitamente em branco.
Mas, ela sabia, nos seus ossos, que por baixo era o branco
austero que os atingira ontem à noite, e dentro daquela
brancura gritante estava — o quê ? Ela queria gritar, mas
sabia que nã o adiantaria. Ela precisava descobrir. Ela fechou
os olhos e pensou no poder de Sarimund. O que poderia ser?
Que ele era forte? Que ele podia moldar e formar eventos para
satisfazer a sua vontade? Que talvez ele fosse uma extensã o
de Taranis? O que ele quis dizer que ela era o portador da paz
e da destruiçã o? Agora que parecia importante de fato,
assustador demais, uma vez que parecia que ela era vital,
mas para quê?
— Rosalind! Vamos, acorde. Ouça, sua idiota, acorde! —
Uma mã o bateu na face dela, nã o com força. Aquela mesma
mã o bateu no rosto dela, novamente e, desta vez, doeu porque
ela despertou, o suficiente para senti-la.
— Nã o, nã o me bata mais uma vez, isso é o bastante.
Estou de volta agora, certo?
— Excelente, isso mesmo. Abra seus olhos... — Ele deu
outra batida na bochecha dela. — Abra os olhos.
Ela fez e olhou para o rosto do marido. Ela piscou.
— O que aconteceu? —
— Você olhou para baixo na pá gina maldita em branco e
apenas — foi-se embora, como se você tivesse caído no sono.
Você deve me dizer o que aconteceu.
— Nada, — ela disse. — Nada de mais, — mas ela sabia
que nã o era verdade. Mas o que havia acontecido estava fora
do seu alcance. — Quanto tempo estive — fora? —
— Vinte minutos. Como se sente?
— Maravilhosa, realmente. — Ela deu um sorriso muito
grande. — Agora, Nicholas, temos que esperar pela noite.
Olhe a ú ltima pá gina — está perfeitamente em branco e, no
entanto, o canto de Sarimund diz para pensar em seu poder e
esperar pela noite.
— Ele nã o era muito humilde ele, nã o é ? — Ambos
estudaram a ú ltima pá gina em branco. Nenhuma magia
ocorreu, nã o apareceram palavras, Rosalind nã o estava
preocupada, estranho, mas ela simplesmente nã o estava. —
Vamos esperar como Sarimund disse.
32

Nicholas desejou que tivesse colocado os seus parentes


para fora. Certamente nã o havia nenhuma necessidade de tê -
los aqui, agora. Mas a visã o de Richard — por que o diabo
teria seu meio irmã o uma visã o que era terrivelmente
violenta e mostrava claramente Rosalind com aquela faca,
cortando seu coraçã o? Ele nã o estava com medo,
simplesmente porque sabia que ela nunca faria uma coisa
daquelas, mesmo com um inimigo. Mas, e se ela estivesse
debaixo de algum feitiço? Nã o, isso era um absurdo. Quem
mandou aquela visã o para Richard? E por quê ? O que
significava?
Ele disse para Rosalind:
— Pergunto-me se eu poderei ir com você esta noite, se
isso for realmente o que vai acontecer.
— Oh!, sim, eu sei que você vai estar comigo. Enquanto
eu estava fora, Nicholas, eu estava aqui, mas minha mente
estava em outro lugar — eu vi você e você parecia feroz e
astuto, e porque acho que estava em outro lugar, olhando
para você com olhos diferentes, eu vi a aura vermelha rica de
magia ao seu redor, e eu sabia, Nicholas, eu sabia. Você é
poderoso.
— Como sabe que, vermelho, é a aura da magia? — Ela
inclinou a cabeça para o lado. — Eu nã o acredito que eu
sabia disso, mas é . A sua é uma magia muito potente, eu sei
que é .
— Nó s falamos disso antes, Rosalind. Por que você acha
que sou algum tipo de feiticeiro?
— Duvida por um momento que o Capitã o Jared era um
feiticeiro?
Ele passou os dedos pelo cabelo e amaldiçoou.
—Você está em linhagen direta. Seu avô era má gico,
provavelmente outros no passado també m, talvez, todo o
caminho de volta ao começo quando os primeiros feiticeiros
surgiram a partir da terra. Mas simplesmente fique ciente que
há mais magia em você do que em qualquer um dos seus
antecessores. Eu sei disso.
— Entã o você acredita que o ser que tirou o Capitã o
Jared para fora de seu navio, o afundando, fez isso por uma
razã o específica — porque Capitã o Jared era um mago, e isso
é o que o ser precisava ter. Você acredita que é por isso que
todos os primeiros filhos de cada geraçã o sonharam?
Ela colocou a mã o no antebraço dele. — Nã o, coisas
aconteceram em sua vida, que você nã o pode explicar? Você
pode começar com seus sonhos sobre mim.
Ele nã o gostava daquilo e ela viu que ele nã o o fez, mas
ela permaneceu calada, olhando para ele. Ele lutava com toda
a sua vontade, e sua vontade era formidá vel.
— O sonho sobre você , — ele disse finalmente, seus
olhos pretos e sombrios. — Eu era apenas um menino. Uma
noite você estava simplesmente lá e, como você continuou a
vir toda noite e cantar aquela cançã o para mim, você — o
sonho — tornou-se simplesmente uma parte de mim,
penetrou em meus ossos, estabeleceu-se em meu cé rebro.
— A menina que você era, foi uma parte de mim, por
tanto tempo, que eu deixei de questionar. Eu estava
acostumado a você , você me confortou quando eu acreditava
que eu nã o sobreviveria.
— Mas, entenda, o sonho nã o era nada de especial, nã o
era mesmo, mesmo depois que eu falei para meu avô sobre
isso e ele me contou sobre a lenda.
— Nã o é uma lenda, Nicholas. Eu sou bem real. Eu
estava sem tempo para o Capitã o Jared, mas nã o para você .
Ele olhou para o rosto dela.
— Sem tempo — isso soa muito estranho, ainda — você
está aqui comigo e você é a minha dívida, só minha. Eu ficaria
feliz em pagar essa dívida se eu apenas soubesse o que é .
— Nã o se lembra de alguma coisa muito estranha que já
tenha acontecido com você ? Nã o é tã o fá cil esquecer que você
sabia quem eu era, na primeira vez que me viu, Nicholas, no
baile, e é por isso que você veio, para me encontrar, para me
ver, para assegurar-se que eu era real? Lembre-se, você me
disse que me reconheceu quando você me viu?
— Sim, eu sabia que era você . Sim, eu sabia que você
estaria lá . Nã o sei como eu sabia, o conhecimento estava
simplesmente lá , dormente, acho que você poderia dizer, até
eu viajar à Inglaterra, depois de saber da morte do meu pai. E
entã o, o momento em que pisei os pé s aqui em Wyverly
Chase, tudo mudou. Mas a magia? Como eu possoser um
maldito mago, se nã o existe tal coisa? — ele amaldiçoou
novamente. — Tudo bem, tudo bem. Aqui é o resto. Um dos
ú ltimos sonhos que eu tive de você , você já nã o era uma
menina. Você era uma mulher como você está agora. Lembro-
me de saltar da cama, suando, odiando que a menina se fora,
porque ela era minha, ela e a sua cançã o. Ela era magra, com
tranças, as sardas dela, a força que eu vi nela, e eu vi o
cabelo de vermelho vibrante e sabia que era você , que você
havia crescido.
— Eu lembro que eu me deitei, outra vez, na minha
cama e adormeci de novo, imediatamente, e lá estava você ,
uma mulher e você cantou aquela mú sica para mim.
Caramba, assim é como eu a reconheci quando eu a vi. Nã o
lhe contei antes — simplesmente me pareceu inacreditá vel.
—Você nã o acha que foi má gico? Ela disse. — Parecia
que era hora de voltar à Inglaterra. Eu estou pensando que
estava escrito que você me veria quando eu tivesse dezoito
anos, deveria se casar comigo, e nó s dois fomos feitos para
acabar com isso — seja lá o que isto for — e que é por isso
que você sonhou comigo como sou agora.
— Quando eu estava longe de você naqueles momentos
depois que eu li as Leis de Pale, Sarimund disse que eu era a
coroa do reino dele, o mensageiro da paz e da destruiçã o, que
precisava corrigir o pecado grave.
Ela se afastou dele e puxou o cabelo, na verdade, o
empurrou com as mã os. — O que é este maldito pecado
grave? — Ela bateu uma mã o no cabelo dela novamente. —
Para compreender a magia, eu suponho que você deve
simplesmente aceitar todas as voltas e reviravoltas, as
perguntas que enlouquecem um mortal.
Nicholas disse:
— Quase trezentos anos é muito tempo para este ser que
salvou o Capitã o Jared, esperar. Esperar o quê ? Como você
disse, Sarimund chamou de um pecado grave, e sã o as
mesmas palavras em sua mú sica. “Eu sei de sua morte e seu
pecado grave”. Talvez seja um pecado cometido há muito
tempo por um deus, ou um mago, ou uma bruxa, algo forte o
bastante, algo ruim o suficiente, para continuar existindo
durante todos estes, anos — até que os dois se unissem.
— Sim, — ela disse, — sim, nó s somos um. — O coraçã o
dela estava viajando. — Você acredita que nossa uniã o nos
traga mais conhecimento, mais poder?
Ele caminhou para longe dela, andando no comprimento
da biblioteca, olhando para fora das janelas, por um longo
instante antes de dizer, por cima do ombro:
— Eu sou um simples homem, droga, um homem de
negó cios. Sou dono de navios, eu possuo propriedades em
Macau, em Portugal, e aqui na Inglaterra. Apesar de minha
riqueza, sou simples. Droga, eu quero ser simples, nã o quero
me afastar do que é normal, do que é esperado, do que eu
estou acostumado. — Ele se virou e bateu um punho contra a
parede. Um retrato de um cavalo de corrida estremeceu, o
quadro se inclinou à esquerda. — Aqui estou eu falando, e
você nem nã o sabes quem você é . Eu sou um tolo — mas um
tolo simples. Perdoe-me, Rosalind.
— O que aconteceu comigo quando eu era criança nã o
foi sua culpa.
Ele caminhou de volta para ela, agarrou-lhe as mã os e
prendeu-as contra o tó rax. — Se ser má gico significa resolver
tudo isso, entã o darei a minha simplicidade. Vamos esperar
pela noite e ver o que acontece.
— Abra a porta neste momento, está ouvindo? Eu quero
falar com aquele fantasma miserá vel! Ele nã o está na sala,
entã o ele deve estar se escondendo de mim aqui na biblioteca.
Abra a porta agora.
Ele beijou-a rapidamente, afastando-a.
— Vamos deixar a minha querida madrasta entrar e
tentar encontrar o Capitã o Jared?
— Posso dizer-lhe que ele é o primeiro Vail e nã o o sogro
dela?
— Nã o, deixe o Capitã o Jared se divertir à s custas dela,
se ele desejar.
Nicholas abriu a porta, fez uma ligeira reverê ncia para
Miranda.
— Minha esposa e eu precisamos visitar um inquilino
doente. Divirtam-se com o nosso fantasma.
Miranda lançou a ambos um olhar malé volo, deu as
costas a ambos e disse em voz alta:
— Bem, monstro velho morto, você está aqui? Nã o vejo
você . Está se escondendo de mim?
Havia apenas o som do reló gio de bronze dourado, sobre
a lareira, seu tique-taque constante como a chuva caindo no
silê ncio.
— Entã o está com medo de me encarar, é ? Bem, você
sempre foi um covarde quando estava vivo e… — Uma voz
velha estridente cantou:

Uma raiz torta é o que eu vejo.


Não é a rosa que você finge ser.
Uma bruxa malvada, com um nariz feio
Conjunto grande e irregular em uma rosa
podre.

— Eu nã o sou uma raiz torta ou uma rosa podre, seu


idiota morto! Eu sou uma rosa! Irregular? Eu tenho um nariz
lindo! O que você sabe? Você é só um maldito fantasma com
uma boca grande. Você nem está aqui, só a sua voz está , e
deixe-me dizer, que seus poemas nã o sã o nada inteligentes.
Nariz feio de fato! Mostre-se, eu vou lhe mostrar um nariz
irregular!
— O Capitã o Jared, fantasma esperto que era, manteve o
silê ncio.
— Você nunca gostou de mim, nunca me aceitou. Nã o foi
minha culpa que aquela puta morreu. Ela era uma fraca, uma
ferida no seu filho, um estorvo. Eu nã o a matei, seu filho nã o
a matou. Ela simplesmente morreu por causa de toda a
maldade dentro dela. Seu filho me amava, ele se casou
comigo, e eu lhe dei um herdeiro — dei trê s herdeiros —
apesar de meus herdeiros ainda esperarem nos bastidores
para que o miserá vel de Nicholas caia morto. Você sempre
virou seu nariz para cima desde quando cheguei aqui e sem
motivo. Odeio você , ouviu?
Um suave som ritmado veio de canto, como uma bota
batendo levemente sua ponteira contra o chã o. Nicholas
pegou a mã o de Rosalind e deixaram a biblioteca para um
fantasma silencioso e sua madrasta furiosa.
Eles a ouviram gritar atravé s da porta fechada:
— Eu nã o sou corrupta! É você quem estava torto por
toda sua vida deteriorada, fingindo ser um feiticeiro. Diga-me
o que está acontecendo aqui, velho pecador, diga agora, ou
nunca vou partir! Por que meu precioso Richard teve aquela
visã o miserá vel?
Silê ncio, em seguida, um suspiro profundamente
lamentá vel e uma voz cantou deprimida:

Ela vai partir se eu falar


Ela vai ficar se eu não falar
Ela vai me assombrar para sempre
A menos que eu seja mais inteligente.
Por favorzinho, apenas olhe para mim agora
Ouvindo gritos infinitamente, de uma vaca de nariz
irregular.

— Mais inteligente do que eu? Você é um tolo, tê -lo como


sogro me queimou até o nú cleo, mas sobrevivi. Uma vaca. Eu
sou uma vaca? Você deveria me agradecer, pois fui eu quem
mandou embora aquele pirralho que me amaldiçoava com
aqueles olhos negros, quando se escondia atrá s de mó veis, e
entã o eu nã o podia vê -lo, mas eu o ouvia cantando maldiçõ es,
maldiçõ es de morte. Disse ao seu pai como ele expelia ó dio
para mim e para ele, que temia pela vida do meu filho recé m
nascido; como ele disse que o mataria, mataria todos nó s.
Nicholas foi sempre uma semente do diabo, eu disse ao pai
dele que ele possuia sangue ruim, grosso nas veias, e ele
acreditou em mim. Um homem deve acreditar em sua esposa,
seu idiota.
Pelo menos agora você está morto, exceto por algo
maligno que fez com que você conseguisse enfiar o focinho
fora do é ter. E o que é isso de “por favorzinho?” Outra das
suas afetaçõ es, sem dú vida. Ningué m falou essa palavra por
centenas de anos. Ah, mas você deve sempre ser presunçoso,
mesmo morto. Eu acredito que preciso ter você fora de sua
cova e queimar seu miserá vel esqueleto. Vamos ver se parte
de vez, nã o é ?
Nicholas e Rosalind tiveram de se inclinar contra a porta
da biblioteca, quando Capitã o Jared cantou suavemente,
aquela antiga voz, ecoando estranhamente;

A faca sobe alto e traz o fim próximo.


A faca começa a cair e você engasga com o medo.
O príncipe deve ganhar o mal precisa morrer
Preste atenção, milady, para o fim que a noite puxa.

O Príncipe vai ganhar? Que Príncipe? O fim estava


pró ximo. O capitã o Jared parecia muito sé rio sobre aquilo.
Rosalind pensava que noite queria dizer hoje. Eles ouviram
Miranda guinchar e jogar um objeto em direçã o à lareira.
Nicholas sussurrou contra a tê mpora dela: — Você acha que
ele está se escondendo na lareira?
Rosalind estremeceu. — Se ela estiver pensando bem, ela
vai saber que nã o é o velho Conde, que é outra pessoa. E
todas aquelas coisas que ela disse para seu pai... E o mal que
ela fez, Nicholas — alegando que um garotinho entoava
maldiçõ es, fazia ameaças.
Nicholas deu de ombros.
— O que ela disse ou fez, era passado. Quando eu penso
sobre o passado, estou muito aliviado, que tenha sido forçado
a deixar a Inglaterra, forçado a enfrentar o que estava no meu
nú cleo, forçado a fazer o meu pró prio caminho. Se eu tivesse
permanecido, seria criado como o filho do Conde, um
mimado, eu seria como o Richard talvez? Ou como Lancelot?
— Você teria se tornado exatamente o que você é ; só que
você nã o falaria chinê s e nã o teria Lee Po prestes a corrigir o
inglê s de Marigold. Começo a acreditar que ela comete erros
de propó sito para ganhar a atençã o dele. — Ele nã o se
conteve, riu, beijou-a, e disse contra a tê mpora dela: —
Capitã o Jared deixa a velha garota nervosa, nã o é ?
O dia parecia interminá vel, tantas horas até que o sol se
deitou e que poderia ser considerado: noite. Nicholas e
Rosalind realmente visitaram inquilinos, contentes em dar as
boas-vindas à nova Condessa, felizes de ver Nicholas agora
que seus telhados nã o pingavam, que havia feno, nas
cabanas, para os seus animais e o grã o crescia nos campos.
Eles falaram com mais trê s mulheres que estavam
dispostas a cantar com um fantasma e trabalhar em Wyverly
Chase, e eles conseguiram passar por um tenso jantar com os
trê s meio irmã os de Nicholas e a madrasta com um machado
de batalha.
Nicholas perguntou para Richard, enquanto bebia um
adorá vel Bordeaux.
— Você teve aquela visã o uma só vez?
— Isso é verdade. Foi real. Era a verdade. Mas vejo que
ela ainda está com você . Você é um tolo, Nicholas, um tolo
mesmo. — Richard encolheu os ombros. — Por que eu deveria
me importar? Depois que ela arremessar seu coraçã o para os
arbustos, serei o Conde de Mountjoy. — Miranda assobiou.
Richard virou-se para ela. — O que faz você nã o gostar
dessa imagem, mã e? Miranda acenou o garfo para seu filho.
— Uma visã o simplesmente nã o deveria acontecer a um
homem normal, perversamente bonito jovem como você . Isso
acontece apenas com velhos loucos como o seu avô , cujo
maldito fantasma cantou um “por favorzinho” para mim.
— Gosto muito das cançõ es dele, — Aubrey disse,
enquanto mastigava o presunto da cozinheira. — Eu me
pergunto se ele me permitiria cantar com ele. — Miranda
assobiou de novo.
— Todos você s sã o malucos. — Lancelot disse e atirou
uma fatia de pã o pela sala de jantar. — Eu quero ir embora.
Nã o há nenhuma razã o para ficar na mesma casa com uma
assassina. E Nicholas se diverte à s nossas custas. Ele, sem
dú vida, vai tentar nos matar, ou dizer a sua esposa para fazê -
lo.
Rosalind estava começando a achar que despachar
muitos deles nã o era uma má ideia.
— Nã o se a sua preciosa esposa o apunhalar primeiro, —
Aubrey disse, e Rosalind o viu sorrindo por trá s de uma
colher de sopa de vegetais. — Com todo este selvagem cabelo
vermelho, eu imagino que ela tenha um temperamento
formidá vel, nã o é verdade Nicholas?
— Ele nã o teria coragem de bater nela, — disse Lancelot
com a boca cheia, — agora que ele sabe que ela vai arrancar o
coraçã o dele. Quanto a esse servo pagã o dele, juro que o
sujeito fala mal de mim sempre que me vê . Ele é estrangeiro.
Eu nã o gosto dele.
Nicholas disse:
— É verdade, Lancelot, que Lee Po sabe muitas
maldiçõ es carnudas, algumas delas concebidas para enrolar
suas entranhas, assim você se engasgaria com o seu interior.
Eu manteria distâ ncia dele. — Nicholas pausou um momento,
olhando em volta da mesa. — Você sabe, talvez Lancelot
esteja certo, todos você s devem voltar para Londres. Talvez,
depois do jantar. Ou depois de um pequeno almoço, cedo pela
manhã . Obrigado, Richard, por compartilhar a mensagem da
sua visã o.
Richard saiu de sua cadeira. — Nã o!
Nicholas se inclinou na cadeira de Conde, arqueou uma
sobrancelha.
— Nã o? Por que nã o?
— Nã o posso. — Disse Richard, sua voz, sua postura
muito intensa. As mã os dele estavam espalhadas sobre a
mesa, os dedos brancos. Havia algo desesperador com ele,
Nicholas percebeu, mas o que seria?
33

O jantar arrastou-se sem uma explicaçã o de Richard.


Nicholas e Rosalind finalmente deixaram a família para o chá
e um jogo. Lancelot era de humor vil, jogando baixo com suas
cartas, como se cada uma fosse uma arma. Aubrey se meteu
com ele, disse que ele era bonito como qualquer garota que
ele já havia visto, o que Nicholas pensou que nã o estava longe
da verdade. O sorriso de Aubrey nunca desvaneceu, seu bom
humor parecia inesgotá vel. Por outro lado, Aubrey passava a
maior parte de seu tempo em Oxford. Nã o precisava viver com
aquele bando. Quanto a Richard, ele estava tenso,
preocupado, uma perna balançando sobre o braço da cadeira.
Nicholas nã o achou que ele estava remoendo sua sorte nas
cartas. — Por quê ?, ele se perguntou novamente, estava o
Richard tã o ansioso? Se Rosalind fosse esfaqueá -lo, como
Richard alegou que ele vira na visã o, entã o por que ele nã o
levantou um copo de conhaque para aquilo, festejando?
Foi um alívio deixar os quatro, atrá s da porta da sala
fechada.
— Onde estará o Capitã o Jared nesta bela noite? —
Rosalind disse, quando eles entraram nos aposentos do
Conde.
— Ele se calou e eu nã o posso culpá -lo, — disse
Nicholas. Colocaram mantos sobre as roupas.
— Pode ser bastante frio em Pale, — Rosalind disse.
Rosalind se certificou que havia sempre um bom espaço entre
eles, mesmo quando deram as mã os. Ela nã o queria cair em
Pale com os dois nus.
Nicholas disse: — Eu me sinto ridículo, deitado na cama,
à espera. Esperando o quê ? Como diabo, vamos conseguir ir
até o Pale? Eu nã o tenho nenhum tapete voador.
Ela balançou a cabeça. — Precisamos ser pacientes e
esperar, nã o temos escolha. Você gostaria que eu cantasse
para você ? — Ele se sentou.
— Nã o, o que eu quero é ver se você pode agora ler as
pá ginas finais das Leis de Pale.
Ela se sentou ao lado dele. — Nã o acredito que me
esqueci disso. Você acredita que Sarimund tenha retirado o
véu, bem como liberou as pá ginas do livro mais curto?
— Em breve veremos, nã o é ? — Ele pegou o livro da
gaveta de cima, no seu armá rio.
Ela se sentou na grande cadeira confortá vel, em frente à
lareira, e Nicholas ficou ao lado dela, suas mã os estendidas
para a chama lenta. Seus dedos tremiam enquanto ela
passava as pá ginas até o final do livro. Ela olhou para baixo,
para a escrita, e depois para Nicholas.
Ele disse: — Você pode lê -lo agora. Isto nã o faria sentido
se ainda nã o conseguisse ler. — Ela olhou para baixo
novamente, limpou sua garganta e leu:
“Este é o fim. Não posso oferecer mais ajuda, uma vez que
eu prometi não me intrometer.
Você é um presente, Isabella, nunca duvide de que é. Você
é corajosa e verdadeira, sua honra é profunda. Eu descobri que
um presente é uma dívida para outro.
Eu preciso avisá-la para não confiar em alguém ou
alguma coisa, seja um deus ou uma deusa, um mago, ou uma
bruxa. Não aceite o que você vê porque isso pode não ser
verdadeiro. Aqueles em Pale formam pródigas ilusões e
fantasmas violentos para conduzir os incautos loucos. Seja
descrente. Seja cautelosa.
Mas sei que o mal não pode tocar em você. Adeus, minha
doce menina. Você deve cantar, nunca se esqueça de cantar.
Sarimund”

Rosalind olhou para baixo, para a ú ltima pá gina, por um


bom tempo, antes de levantar o rosto para o marido dela. —
Meu nome é Isabella.
Ele olhou para ela pensativo, acariciando seus longos
dedos sobre o queixo.
— É um nome lindo. Gostaria de saber como Sarimund
sabia que o seu nome seria Isabella uns trezentos anos antes
de você nascer.
— Se esse realmente for o meu nome nos dias atuais.
Porque ele nã o me disse o meu sobrenome també m?
— Já que estamos falando de magia, entã o estamos
naturalmente a falar de obscurecimento. Agora acredito que
para fazer um pronunciamento má gico adequado, devemos
ser, irritantemente, obscuros. Devemos recitar metá foras
ambíguas sobre a paisagem; devemos temperar
pronunciamentos com palavras do outro mundo que nã o se
adequem em qualquer quadro compreensível. Devemos
desvendar pistas apenas pela metade, um pouco de
incompreensíveis besteiras aqui e pouco de diversã o lá . E
alé m disso, devemos simplesmente aceitar isso.
— E quanto à s terríveis rimas do Capitã o Jared — se o
fantasma dele se mostrasse somente uma vez, eu torceria o
pescoço dele. Hmm, eu me pergunto se minhas mã os
atravessariam o pescoço dele. Gostaria de saber se existem
mais Leis — leis vitais — que Sarimund ainda esteja
escondendo de nó s. — Rosalind inclinou a cabeça para um
lado. — Sendo um mago, você sabe agora, nã o é ?
— Se eu sou um mago, entã o você , milady, é uma
bruxa... — e ele começou andando, sua capa ondulando sobre
os tornozelos. Ele disse, — eu sou um homem simples. Eu
sou, sou mesmo. E eu gosto do nome Isabella.
— Isso deve significar que eu sou italiana. Maldito
Sarimund, porque o idiota nã o escreve meu nome completo?
Ah, sim, isso significaria quebrar uma lei má gica. Nicholas,
eu estou pensando que devemos estudar textos obscuros para
pensar magicamente.
— Deixe-me fora disso. Tudo o que eu quero fazer é
passear sobre meus acres, observar as minhas terras
florescerem, dar ré dea solta a Clyde e pular a cerca na parte
de trá s da fronteira norte, assistir a cevada e centeio
crescerem, fazer amor com a minha mulher até que eu seja
incapaz de me mover. Ah, e se nó s formos abençoados, encher
a sala de crianças, em Wyverly Chase... — ele soltou um
suspiro. — Nã o fique alarmada e tensa comigo. Nã o tenho
intençã o de atacar sua linda pessoa... — ele passou os dedos
pelo cabelo, colocando-o em pé . — Bem, eu certamente vou
pensar como você se sente quando estou dentro de você , mas
nã o agora. Agora, eu quero que isso acabe. Eis, milady, um
homem paciente. Deite-se comigo.
E, entã o, eles se colocaram lado a lado, novamente
deram as mã os, um cobertor encostado, em seus corpos, e
sobre seus pé s, calçados. A conversa diminuiu. Rosalind
estava à beira do sono quando ela ouviu Nicholas dizer, sua
voz baixa e profunda:
— Se nã o sobrevivermos, Rosalind, saiba que eu a amo.
Como o dragã o da lagoa Sallas, você é minha companheira
para a vida. Rezo que sobrevivamos a esta viagem, e que
possamos desfrutar de uma bela e longa vida.
— Eu també m o amo, Nicholas. Parece que eu o amei
toda a minha vida — nã o importa em que vida. É incrível
como você me faz sentir, como você me faz querer pular,
saltar e cantar e talvez tocar uma valsa empolgante no piano.
Ele se deliciava. Aquela mulher incrível que ele havia
sonhado por tantos anos realmente o amava, apesar de —
apesar do quê ? Ele quis saber e franziu a testa. Mas ele nã o
perguntou, porque de repente, todas as palavras, todos os
pensamentos, desvaneceram-se no cérebro e ele adormeceu.
De repente, os dois se ergueram na cama.
— O quê ?
— Nã o sei — Rosalind disse e apertou a mã o dele.
Viram como as cinzas ardentes na lareira se acenderam
de repente, como se espalharam, como se uma mã o invisível
estivesse sobre elas. As chamas rugiram para cima, fazendo
um barulho alto, como se todo o ar da sala estivesse sendo
sugado. As chamas chicotearam para cima e para fora, e o
som do vento forte preencheu a sala.
Nicholas amaldiçoou e agarrou-a contra ele. Ele gritou:
— Nã o me solte, o que quer que aconteça nã o me deixe.
Ouviu?
Ela assentiu com a cabeça, incapaz de falar, só olhando
as chamas rugindo. O som de sucçã o tornou-se ainda mais
alto. As chamas viraram azul brilhante e, em seguida, o azul
aprofundou-se em um rico azul royal. Eles assistiram a
grande cadeira girar, e girar, até que desapareceu dentro do
vó rtice rodopiante. A gigantesca chama parecia engolir a
cadeira. Mas como poderia ser? Eles observaram o vó rtice
realmente sugar a cadeira para dentro da lareira, mas era
muito grande para caber, certamente era. Mas nã o importava,
a cadeira se foi. As chamas azuis rugiram, pularam para
cima, como se tentando alcançar o cé u, e o som era como a
gargalhada de cem bruxas loucas.
Em seguida, o funil enorme se virou na direçã o deles.
Eles sentiram a força incrível, e pelos pé s, puxou-os em
direçã o à s chamas que rugiam, e que agora, thaviam saltado
da lareira e formado um enorme funil que se retorcia
descontroladamente, atingindo até o teto, preenchendo o
quarto de dormir, torcendo-se e rá pido, circulando com um
ruído inacreditá vel. Mas nã o havia nenhuma fumaça,
nenhum calor específico.
Foi uma loucura. Nicholas instintivamente agarrou-se na
cabeceira da cama contra a incrível força do vó rtice.
Rosalind disse em uma voz calma:
— Nã o, Nicholas, está certo. Deixe ir.
Ele largou a cabeceira da cama e o vó rtice acima os
girou, tã o rá pido que nã o podiam ver, nem ouvir nada, exceto
o rugido ensurdecedor. Ela sentiu a mã o dele espremer a dela
enquanto eles estavam ambos girando na coluna enorme de
chama azul que rugia e gritava em torno deles. O cabelo dela
foi chicoteado em seus rostos, cegando-os. E Rosalind
pensava, é a luz Cretense. Houve um tremendo som.
Entã o eles pararam de ouvir.
34

Rosalind lentamente levantou a cabeça. O cé rebro dela


estava limpo, a boca seca, o cabelo dela enroscava-se no rosto
dela, e ela nã o sentia medo. Ela estava deitada em cima de
Nicholas, que agora estava piscando os olhos, e se sentiu
muito bem mesmo.
A mã o dele estava na bochecha dela. — O que
aconteceu?
— Acho que aquele vó rtice da chama, de alguma forma,
nos depositou em Pale. Era a luz Cretense, do livro de Jared
Capitã o. Lembra-se?
Ele nã o disse nada, apenas a levantou e a colocou ao
lado dele. — Parece que estamos numa espé cie de caverna.
Olhe para o chã o de areia e a abertura, logo ali. Nã o consigo
ver a parte de trá s da caverna — é negro como um poço lá
atrá s. Gostaria de saber quã o grande é . — Rosalind nã o se
importava se a caverna era grande. Ela precisaria ser
ameaçada com uma faca, para entrar e explorar. Levantaram-
se lentamente e caminharam para a abertura e olharam para
fora. Trê s luas sangrentas se mostravam brilhantes.
— Oh!, meu Deus, é lindo.
Alienígena e antinatural, foi o que foi, Nicholas pensou,
mas a estranheza absoluta daquilo nã o o preocupava, no
momento. Ele amaldiçoou, bateu a palma da mã o contra a
testa.
— Maldiçã o, eu sou um tolo. Aqui estamos de capas e
botas, prontos para o tempo frio, ou uma caminhada nas
montanhas, mas eu me esqueci de trazer uma arma.
— Sarimund nã o disse nada sobre a necessidade de
uma. — Ela disse e se aproximou dele, pensando se, de
alguma forma, Nicholas havia sido bloqueado de pensar em
uma arma.
— Ele nã o disse nada sobre vestir capas també m, — ele
disse e amaldiçoou novamente. — Bem, nã o há esperança
agora. Tudo bem, eu sei que nã o devemos fazer uma fogueira,
porque isso vai trazer as criaturas de fogo para devorá -la. É
isso mesmo?
— Sim.
— Entã o eu estou querendo saber como algué m
consegue cozinhar se estas criaturas de fogo sempre voam
para apagar as chamas.
— Perguntaremos ao ser vermelho quando o
encontrarmos. Nó s temos que fazer amizade com ele, entã o
ele vai nos proteger do Tibre. Espero que Sarimund venha ter
connosco em breve. Lembre-se, ele disse que estava
esperando por mim. —
Ele disse: — Nã o consigo imaginar conhecer algué m
morto há trezentos anos. Bem, sim, eu posso — Capitã o
Jared. Você acha que Sarimund vai ser só espírito e cançã o?
— Eu o vi em frente a um pote, enorme, que ele estava
sempre mexendo. Ele parecia muito real.
Nicholas quando olhou para fora sobre a terra e disse:
— Espero que estejamos no Vale de Augur e que lá seja o
Monte Olyvan, na extremidade da planície alé m daquela curva
magrela do rio. Se Sarimund nã o vier, se nã o encontrarmos
um dragã o da lagoa Sallas para voarmos sobre ele, entã o
precisaremos atravessá -lo. Se me lembro corretamente, nã o
poderemos atravessar o rio até as trê s luas estarem cheias e
se elevarem juntas sobre o Monte Olyvan. Pergunto-me por
que essa restriçã o? O rio nã o parece profundo, a superfície
parece calma, e ali, nã o parecem ser mais de quinze metros
de largura.
Rosalind disse:
— Se você colocar mesmo um só dedo naquele rio antes
das trê s luas andarem juntas e estarem cheias, vou lhe
chutar. — Ele nã o sabia de onde veio, mas ele sorriu para ela.
— As luas estã o bastante cheias, nã o é ? — Nã o. Amanhã à
noite.
Uma sobrancelha preta disparou. — Você parece muito
segura disso.
Ela parecia momentaneamente surpresa.
— Sim, estou nã o é ?
Ele a olhou um momento, entã o disse: — Talvez haja
outra maneira de chegar à pedra de sangue, alé m de
atravessar o rio ou encontrar um dragã o da lagoa Sallas para
nos levar até lá .
Ela se afastou dele, de repente, e começou a andar em
direçã o a uma ú nica á rvore que ficava em um pequeno monte,
uns vinte metros, afastada. Nicholas gritou:
— Rosalind, nã o. Devemos permanecer juntos. Volte
aqui.
Ela continuou andando em linha reta na direçã o daquela
á rvore, pelo menos, ele achou que era uma á rvore. De todas
as coisas, era de um amarelo brilhante e possuia muitos
ramos nus saindo do tronco, movendo-se preguiçosamente
como se agitando os braços. A ú nica coisa era que nã o havia
qualquer vento, nem mesmo uma ligeira brisa, que pudesse
agitar aqueles galhos. Ele gritou o nome dela novamente, mas
ainda assim, ela nã o retornou. Entã o ele gritou:
— Isabella! Volte aqui. — Ela se virou e, em seguida,
sorriu para ele, um sorriso misterioso.
Ele disse: — Eu quero que você cante para mim.
Ele viu que o cabelo dela brilhou com um vermelho
intenso como as trê s luas que estavam acima da cabeça deles,
enquanto o rosto estava sem cor, nã o branca como a
brancura que os havia envolvido e suas camas na noite
anterior, mas a palidez dela era marcante. Havia sido apenas
ontem à noite? Pareceu-lhe há muito, muito tempo atrá s. Ele
olhou para ela, enquanto ela caminhava em direçã o a ele. A
coisa era Rosalind, ainda, mas de alguma forma, nã o era ela.
Ele poderia jurar que faíscas vermelhas voaram para fora da
cabeça dela, formando um halo carmesim — ou um halo de
sangue. O manto e o vestido haviam desaparecido e em seu
lugar, uma tú nica branca, uma estreita corda dourada na
cintura dela. Sentiu um surto de medo e o extinguiu.
— Por favor, Isabella, cante comigo. — Ela deu mais
alguns passos em direçã o a ele, a bainha do seu vestido
roçando alguns arbustos finos que pareceram nã o ter
qualquer cor. Ela cantou:

Eu sonho com beleza e noites cegas


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que eu não estou sozinha outra vez
Mas eu sei de sua morte e seu pecado grave.

Ela baixou a cabeça e ele a ouviu suspirar, profundo e


sonoro, como se arrancado de sua pró pria alma.
— Ela quer matá -lo, muito. Ele é só um pequeno garoto,
nã o tem ruindade nele, nenhuma, mas ela tem medo dele,
medo de que quando ele atingir a maturidade vá afastá -la e
exilar todos os outros bruxos e bruxas para um lugar alé m da
morte.
Ele caminhou lentamente para ela. Ela nã o se mexeu.
Ele chegou a ela, mas nã o a tocou. — Que garotinho? — Seu
coraçã o começou a bater duro, lentas pulsaçõ es.
— O nome dele é príncipe Egan. Ele é filho de Epona,
dela e de Sarimund. Devo protegê -lo. Eu devo salvá -lo.
— Como você sabe o nome dele?
Depois de um segundo, ela o olhou, mas nã o eram os
olhos azuis claros de Rosalind, nem de Isabella. — A ú ltima
pá gina do livro de Sarimund — nem você nem eu vimos mais
do que uma pá gina branca e austera, mas você sabe, havia
algo escrito lá . Vejo muito claramente o nome agora. Devo me
apressar. Epona vai saber que estou aqui, e ela vai matá -lo.
— O que quer dizer?
— O feitiço de Sarimund, permanece na mã o dela. Ela
nã o pode matá -lo e agora eu cheguei aqui.
— Mas como?
— Nã o sei. Ele deve vir em breve para me dizer o que
preciso fazer para salvar Egan.
Ele perguntou.
— Se você nã o salvar o príncipe Egan, vai morrer
també m? Ou, eu nunca existirei? — Ali estava, foi dito.
De repente, os cabelos vermelhos dela se moveram como
se um raio tivesse os atravessado. — Se eu nã o a impedir,
entã o ela vai matar Egan. Entã o nã o importará , será que vai?
Um rugido assustador atravessou o silê ncio diretamente
atrá s de Nicholas. Ele girou, vendo a face de um monstro que
parecia um cruzamento entre um leã o e aquelas estranhas
bestas que percorriam as planícies ocidentais na Amé rica. A
fera rugiu novamente, uma enorme boca aberta amplamente,
apresentando as presas como uma faca afiada. Aquela
criatura devia ser o Tibre. Ele mal teve tempo de levantar o
braço antes que o Tibre pulasse sobre ele, indo à garganta, os
dentes brilhando sob a luz da lua vermelha. Ele gritou:
— Isabella, corra!
Ela pegou as saias e correu até a á rvore amarela,
solitá ria. Ela pegou um dos ramos amarelos, longo e nu, e
correu para o homem e a fera em cima dele, levantando o
ramo alto sobre a cabeça. De repente, Nicholas ficou em cima
da fera, as mã os em torno da garganta. Ela bateria em
Nicholas se baixasse o ramo agora. O Tibre resmungou com
raiva, bolhas de líquido branco voaram da sua boca grande,
seus cascos e pernas fletindo, descontroladamente. O Tibre
urrou e Rosalind viu que as presas dela eram amarelas como
a á rvore, e aqueles afiados caninos esticados para cima, em
direçã o à garganta de Nicholas.
— Nicholas, puxe-o para cima de você !
Ele arqueou as costas, ganhou vantagem com as pernas
e chutou seus pé s com toda sua força na barriga do Tibre. Ele
uivou, virou-se, colocou as suas pernas no pescoço da fera e
puxou para baixo sobre ele. Ela balançou com toda sua força
o ramo na cabeça do Tibre, um golpe tã o poderoso que o ramo
estremeceu em suas mã os e braços, ela tremeu com a força
dele. O Tibre torceu a cabeça para olhar para ela e ela bateu
na cabeça dele, novamente, ainda mais duro desta vez. O
ramo se quebrou nas mã os dela e uma areia amarela se
derramou sobre ela.
O Tibre disse:
— Nã o, ama, nã o me mate. Eu vi o homem chegar até
você e acreditava que ele a machucaria. Nã o me mate, ama.
Um ramo da á rvore Sillow amarela é uma poderosa arma,
nenhum humano a usou antes.
Agora, aquilo era um choque, Nicholas pensou e retirou
as pernas de sobre o pescoço do Tibre. O Tibre lentamente
rolou e ficou sobre seus quatro pé s, balançando seu pelo
marrom. Nã o, nã o era inteiramente marrom, havia listras
azuis escuras nas costas. Entã o ele ficou lá , cabeça baixa,
ofegante. Rosalind deixou cair o bastã o, viu mais areia
amarela derramar-se para de dentro dele. — Sinto muito, —
ela falou ao ramo. — Desculpe.
Nicholas se levantou. Ele olhou dela para o Tibre, que
agora roçava a cabeça sobre algumas pedras dos penhascos.
— Olhe para mim, Tibre. Sarimund nã o escreveu que
você poderia falar. Ele escreveu apenas que você seria nosso
inimigo. Como pode falar? Como podemos entender você ? —
A fera levantou sua cabeça feia. — O Tibre é o inimigo de
todos, do homem inclusive, mas nã o seu inimigo, milord.
Milord?
— Eu nã o entendo isso, — disse Nicholas. — Sarimund
escreveu que deveríamos fazer amizade com o ser vermelho,
entã o nó s estariamos protegidos de você . Por que você a
chama de ama? Por que me chama de milord? Por que você
nã o é nosso inimigo? Nó s somos humanos. Sou um homem.
— Você vai descobrir que todas as coisas sã o possíveis
aqui em Pale, milord, — disse o Tibre, e Nicholas teve certeza
de que ele ouviu um urro na voz da fera. Diante de seus
olhos, o Tibre começou a mudar. Lentamente, ela se
transformou em um dragã o, e ambos sabiam que se tratava
de um dragã o da lagoa Sallas sobre o qual Sarimund havia
descrito. O focinho era de ouro, seus olhos de esmeraldas
brilhantes, e nas costas dele havia enormes formas
triangulares, cravejadas com diamantes. O dragã o rolou seus
olhos de esmeralda neles.
— Eis que, eu nã o sou um Tibre. Esta é a primeira vez
que eu assumi a forma dele. Uma criatura desagradá vel, o
Tibre, só existe raiva lá dentro, só comer e matar na sua
cabecinha. Eu nã o fazia ideia. Nã o farei isso novamente, nã o
importa o quanto seja preciso.
O dragã o girou a cabeça poderosa em direçã o a Rosalind
e sua cauda bateu, causando um tremor de terra.
— Tem grande força no braço, ama. Perdoe-me, milord,
sinceramente, pensei que você era um invasor. Agora vejo
claramente que nã o é . E a ama, ela sabia que devia me atacar
com um ramo da á rvore Sillow amarela. É uma coisa
incrível... — o dragã o curvou-se para ela, dobrando suas
enormes asas brevemente sobre sua cabeça. Entã o ele olhou
para cima e observou as trê s luas.
— Você nã o é um deus, — Nicholas disse, e olhou para
os olhos do dragã o em seu redemoinho esmeralda. O dragã o
virou a cabeça em direçã o a Nicholas.
— É claro que sou.
— Nã o, nã o pode ser, caso contrá rio teria percebido
exatamente quem eu era, imediatamente. Você saberia que eu
nã o a machucaria. Você nã o teria me atacado — ele encolheu
os ombros, — ou, se você for um deus, entã o você deve ter
pouca experiê ncia ainda.
Rosalind disse, — Taranis apenas canta, pelo menos é
isso que tenho lido. Mas você fala conosco.
— Nã o, eu estou pensando para você s. Eu nã o canto
bem.
O dragã o estendeu suas asas formidá veis e se ergueu até
uma dú zia de metros no ar e pairou, asas mal se movendo, a
silhueta dramá tica contra as trê s luas vermelhas, uma visã o
temível, mas Nicholas nã o estava impressionado. Ele estava
irritado. Ele acenou com a mã o para cima.
— Pare com seus jogos, dragã o, eu nã o tenho medo de
você . Você se chama Taranis? Pare com sua pose e seus
esforços paté ticos de intimidaçã o. Se desejar aulas nessa arte,
peça para que eu lhe ensine. Agora, ordeno que venha aqui e
diga-nos o que está acontecendo.
— Eu sei quem você é , — o dragã o disse, bateu suas
asas poderosas e esubiu mais alto, chicoteando a areia
amarela que havia caído do ramo Sillow. Uma lambida de
chama serpenteava pela boca, e ele rapidamente engoliu, o
pescoço grande ondulando com o esforço.
— Sim, eu sei bem quem você é , milord. Eu estava com
manchas de areia do deserto em meus olhos e nã o vi você
corretamente. — Entã o ele se tornou mais alto, e mais e mais
alto, até que ele era tã o grande quanto a lua mé dia. Ele
pausou um momento, de propó sito, claro, posando
novamente e eles viram sua silhueta negra contra a lua e ele
parecia uma louca pintura em um livro de histó rias.
Eles ouviram uma voz tã o perto que soava bem atrá s
deles:
— Cuidado com o Tibre. Ele é mais cruel do que um
daqueles bruxos da pedra de sangue. Procure o ser vermelho.
Quanto a Sarimund, quem sabe o que vai fazer aquele mago
humano?
Tanto Nicholas quanto Rosalind se viraram, mas nã o
havia nada lá . Nicholas sacudiu a cabeça.
— Imagine, aquele maldito dragã o só deu esse conselho
para nó s. — Ele fez uma pausa e tocou levemente com os
dedos o cabelo de Rosalind.
Rosalind disse:
— O dragã o, o chamou de milord e eu de ama. Pergunto-
me por quê . Se ele é um dragã o da lagoa Sallas, entã o por que
todos estes jogos? Oh!, sim, esqueci, — uma lei da magia.
— Na pró xima vez que ele voar perto de nó s, desejo
saber se ser “milord” me concede favores especiais em Pale.
Ele puxou-a para perto, contra ele, sentiu o bater do
coraçã o dela contra o dele. Ele disse contra a bochecha dela:
— Como sabia quebrar um galho da á rvore Sillow
amarela e atacar a cabeça do Tibre?
Ela disse. — Nã o sei, eu simplesmente fiz. Oh!, Deus, eu
acredito que a á rvore gemeu.
Nicholas começou a esfregar as mã os para cima e para
baixo nas suas costas. Parecia que ela nã o estava usando um
vestido que usaria uma dama medieval, mas uma dama de
antes disso, uma milady que cuidava dos altares em
Stonehenge.
— Está tudo bem. Você me salvou e eu agradeço. Espero
que você tenha dado à quele maldito dragã o uma forte dor de
cabeça, ele merece. — Ele olhou para baixo, para ela, um
momento, passou a mã o pelo cabelo dela, torceu uma mecha
vermelha em volta do seu dedo. — Rosalind, antes de atacar o
Tibre, você se tornou outra pessoa, ou melhor, talvez você se
deslocou na direçã o de outra pessoa. Você percebe isso, nã o
é?
Lentamente, ela assentiu com a cabeça contra o ombro
dele. — Eu só sei que eu sou diferente aqui em Pale, olhe
minhas roupas. Cadê Sarimund?
Ela recuou nos braços dele. Ela olhou para longe dele,
sobre a vasta planície esté ril entre o Vale de Augur e o Monte
Olyvan.
— Rosalind? — Ele apertou o seu domínio sobre ela e
sussurrou contra a orelha dela: — Isabella?
— Eu preciso impedi-la, Nicholas. Já lhe disse, agora
que eu estou aqui, a mã o dela já nã o pode ser detida. Ela é
má , ela vai matá -lo.
Ele perguntou:
— Epona també m é uma vidente? Ela olha para o futuro
e prevê a sua pró pria morte se ela permitir que seu filho, este
príncipe Egan, cresça até à a maturidade?
Rosalind falou, mas a voz dela era mais profunda, com
uma melodia estranha para ele.
— Creio que foi Latobius, o deus das montanhas e do
cé u, que viu a devastaçã o de pedra de sangue acontecendo.
Ele é um deus e um má gico, você sabe. Ele sente tanto. Ele
muitas vezes sofre por causa das açõ es dos outros. Se Egan
morrer, ele sofreria indescritivelmente. — Ela olhou para
baixo. — Meu cinto é de ouro, todos os finos fios torcidos
juntos. E meu cabelo está mais longo.
— Você parece uma princesa, ou talvez uma sacerdotisa.
Ele parecia calmo e recetivo, mas ele nã o sabia o que
estava acontecendo com Rosalind, ele sabia apenas que ele
nã o podia deixar que isso importasse agora. Ele ouviu o ruído
de um sopro suave e olhou para baixo. Ele pegou a mã o dela
e juntos, eles assistiram a areia amarela se colocar sobre as
duas metades do ramo Sillow, embora nã o houvesse o menor
vento para agitar a areia. Ele viu como as duas metades se
uniram novamente, em um ajuste perfeito. Eles assistiram a
areia amarela sobre o ramo lentamente desaparecer nele.
Lacrá -lo? Sem pensar, Nicholas pegou o ramo. Ele caminhou
de volta à á rvore de Sillow amarela e colocou o ramo,
cuidadosamente, contra o buraco irregular na á rvore.
Estabeleceu-se instantaneamente. Ele recuou, ouviu um
suspiro de prazer e sabia que deveria estar surpreso, mas ele
nã o estava.
— Eu sou um poderoso reparador de á rvores. — Ele
disse para Rosalind. — Nem precisei de uma agulha ou fio.
— É porque você é um feiticeiro, — ela disse com
naturalidade e apareceu ao lado dele. Ela tocou o ramo,
dobrou-o um pouco e assentiu com a cabeça. Estava
novamente firmemente preso. Nicholas ouviu um som de
estalo alto à sua esquerda, como o de uma arma e puxou-a
para trá s dele, enquanto girava. Houve outro som de estalo, e
outro, mais alto e mais alto. Nicholas jogou a cabeça para trá s
e gritou:
— Pare com esse barulho infernal, está me ouvindo? Nã o
é assustador, simplesmente é irritante. Pare com isso, eu
ordeno! — Os estalos selvagens pararam.
Silê ncio mortal em torno deles.
— Será que era o dragã o? — Disse Nicholas. — Eu nã o
vou suportar tal disparate... — sua voz parecia fria e
impaciente. E agora, como ela, ele parecia diferente — seu
cabelo mais longo, emoldurando seu rosto em um
emaranhado negro e selvagem, fazia-o parecer bá rbaro, um
antigo guerreiro preparado para a violê ncia. Ele já nã o estava
usando sua capa preta. Agora, ele estava vestido de calça
preta, camisa branca tremulante e botas pretas, até os
joelhos. Ele parecia perigoso e violento. Ela estendeu a mã o
para tocar o antebraço dele.
— Você está bem?
Ele balançou a cabeça impacientemente.
— É claro. Eu estou simplesmente como deveria estar
aqui em Pale. Assim como você está .
Seu homó logo em Pale, assim como Isabella era o dela.
Bem, fazia sentido. Ou uma ilusã o, assim como Sarimund os
avisara.
Ela disse: — Você se parece com um guerreiro.
— Sobre as diferenças em nó s, perguntaremos a
Sarimund, se aquele escritor fé tido aparecer — ele só se
sentia um pouco curioso com as mudanças em si mesmo,
mas nã o alarmado. — Nã o se preocupe. Lidaremos com isso.
Temos que encontrar um ser vermelho.
Quando eles se viraram, viram uma bela criatura
vermelha como as luas na entrada da caverna. Parecia
elegante, como se seu casaco fosse escovado todos os dias, os
mú sculos das suas pernas grossas, as costas largas, pescoço
longo e gracioso. Parecia um cruzamento entre um pô nei
Shetland e um á rabe. Seus olhos eram enormes em seu rosto
longo e estreito, um cinza escuro e vívido e preenchido com
uma espé cie de brilhante luz. O ser vermelho nã o disse nada,
apenas olhou para eles. Possuia absurdos e longos cílios.
Nicholas soube naquele instante que o ser vermelho era muito
vaidoso com seus cílios longos, e ele pensou, que era outra
pequena curiosidade.
Ele perguntou, ficando perfeitamente parado, mantendo
Rosalind apertada contra o lado dele:
— Você é Bifrost? — O ser vermelho curvou sua cabeça.
— Você é o mais antigo ser vermelho de Pale?
Bifrost cantou em uma bela e doce voz:

Sim, eu sou ele.


Sim, eu sou velho.
Eu vim antes do tempo.
Assim foi dito.

Nã o mais poesia e com rimas. Bifrost disse:


— Nã o é uma pé ssima rima. Sim, sim, posso ouvir seus
pensamentos. Você é duro. Rimas sã o difíceis. Vamos falar
entã o em linguagem humana.
Nicholas disse: — Sarimund escreveu que você nos
protegeria do Tibre. Mas você nã o estava aqui quando viemos
para Pale.
Bifrost assentiu lentamente.
— Eu sou o ú nico ser vermelho restante em Pale. Meu
companheiro foi morto por uma tempestade lunar…
Nicholas levantou a sobrancelha e Bifrost disse:
— A tempestade vem ocasionalmente quando as trê s
luas estã o cheias. Talvez a cada mil anos ou algo assim, há
uma tempestade lunar, e as luas sã o empurradas juntas. Há
um barulho horrível que traz todos para fora para ver.
Enormes lanças flamejantes, vermelho brilhante, vindas das
luas, caem no chã o. Naquela é poca, infelizmente, as lanças
flamejantes mataram o meu companheiro, que estava ao lado
de uma á rvore com dentes afiados. Eu estou sozinho. No
entanto, o Tibre nã o sabe disso.
Uma vez em mil anos?
— Quando isso aconteceu? — Perguntou Rosalind.
— Talvez na ú ltima lua cheia, mas eu duvido que possa
ser verdade sempre que penso com cuidado. Meus primos sã o
pretos e marrons, um bando sem graça, sem nenhuma
imaginaçã o, sempre reclamando, todos eles. Até mesmo o
Tibre nã o gosta de comê -los, muito, muito salgado, ele disse.
Mas os dragõ es da lagoa Sallas dizem que a carne deles é
mais doce. No entanto, os dragõ es nã o comem carne, entã o eu
me pergunto como eles poderiam saber.
— O Tibre ainda nã o percebeu que eu sou o ú nico ser
vermelho de Pale. Sã o tã o estupidos.
— Eu vim ver se estava tudo bem, se haviam sobrevivido
à briga com o filho deTaranis, Clandus, um pequeno buttel
mimado, aquele. Ambos fizeram muito bem.
— O que é um buttel? — Perguntou Rosalind.
O ser vermelho bateu seus cílios longos para ela.
— Um buttel é uma criatura particularmente nociva que
está sempre tentando se tornar mais importante do que é . Eu
mataria todos os miserá veis buttels se eu nã o estivesse tã o
deprimido. — Bifrost mergulhou de cabeça para baixo e
suspirou. Apó s alguns momentos de silê ncio, que nem
Nicholas nem Rosalind quiseram quebrar, ele levantou a
cabeça novamente e falou com um pouco mais de vigor. —
Talvez fosse uma coisa tola o que você fez, milord, dizendo a
Clandus que ele nã o é um deus, mas é verdade. Um dragã o
da lagoa Sallas deve fazer grandes feitos para obter o estado
de deus.
Nicholas disse:
— Quem decide se deve ou nã o tornar um Dragã o da
lagoa Sallas um deus? O que pode ser maior que um deus?
Bifrost piscou seus cílios muito longos, a cabeça baixa
novamente, entã o os dois podiam ver melhor o incrível
comprimento e espessura dos cílios.
— Em ocasiõ es preciosas, uma concha dourada fica
aberta e um dragã o rola para fora, tudo minú sculo e
molhado, suas asas coladas contra seu corpo. Cresce
rapidamente, esperemos que ambos: seu cé rebro e seu corpo,
e entã o, lhe sã o oferecidas tarefas a serem executadas.
— Um pouco como Hé rcules na mitologia da Terra? —
Perguntou Rosalind.
Bifrost disse: — Nã o sei sobre nenhum Hé rcules, tudo o
que sei é que, se o dragã o da lagoa Sallas for bem-sucedido,
ele muda seu status, — em ambos, em Pale e em suas
habilidades. Ele é capaz de presionar sua vontade e desejos,
fortemente, em cima de todos os feiticeiros e bruxas que
habitam na fortaleza da pedra de sangue, para impedi-los de
massacrar toda criatura aqui em Pale. Contarei isto: antes
facilmente eram controlados, mas agora sua depravaçã o os
torna mais fortes, mais coniventes. Agora eles ocasionalmente
tentam fazer mal, embora eles finjam adorá -lo, admirá -lo.
Devem ser jogados no rio e sugados para baixo pelos
demô nios que dominam o submundo. Meu amigo, uma vez,
ficou preso com um demô nio do submundo e sobreviveu.
Bifrost pausou um momento e, em seguida, olhou para
Nicholas.
— Você quer saber qual criatura ou ser é acima de um
deus. Deve haver alguma coisa, eu suponho, senã o como os
dragõ es da lagoa Sallas sabem que tarefas devem realizar?
Quem os julga? Eu deveria contemplar este misté rio depois
dos momentos em que nã o estiver de luto pela perda do meu
companheiro.
— Agora Clandus está ofendido e, sem dú vida, regressou
de volta para o penhasco para ficar ao lado de uma fogueira
na caverna da sua mã e, suas asas se espalhando,
naturalmente, para proteger a fogueira das criaturas
voadoras. Será interessante ver o que Taranis fará apó s
Clandus deitar lamentaçõ es no ouvido dele, sobre como você e
sua amante sã o repugnantes. Taranis odeia seres mal
humorados, e é como Clandus está neste momento.
— Espero que um pai dragã o discipline o filho,
machucando-o forte com sua cauda, — disse Nicholas. O ser
vermelho curvou sua cabeça concordando, seus cílios grossos
esvoaçantes. Eles ouviram a sua voz grave, divertida agora.
— Parece-me que foi ontem que Taranis e eu apostamos
sobre sua vinda e o que aconteceria. Mas, a morte do meu
companheiro també m parece há tã o pouco tempo atrá s.
— Eu esperei por você , milord, e por você , ama. É uma
coisa estranha vê -la como ama, como uma mulher e nã o
como a pequena garota cujo rosto Sarimund colocou em
minha mente. Quanto a você , milord, você é você mesmo, e
ainda, també m, o rapaz.
— E há Epona, uma bruxa que é cruel até à alma,
embora eu nã o saiba se ela tem uma alma; provavelmente
nã o. Ela mata com limpeza, nenhuma loucura nela. Nã o há
um mago no rochedo sangrento que nã o tenha medo dela, ou,
ao mesmo tempo, quem nã o a admire imensamente. Ela é
muito perigosa, milord.
Eu rezo para que você nã o esqueça disso. — Rosalind
disse: — Mas ela queria ver Sarimund.
— Verdade.
— Porque ele é tã o lindo? — Perguntou Rosalind.
— Por que é assim també m.
— E qual é a sua aposta com Taranis? — Perguntou
Rosalind.
—Taranis apostou que nã o você viria, ama, que a
passagem do tempo havia distorcido o que deve acontecer,
mas você está aqui. Você é muito poderosa, você s dois.
Apostei que você viria, que você salvaria o príncipe Egan, que
o milord, certamente pagaria sua dívida para com você , pois
ambas as suas linhagens sã o poderosas.
Rosalind perguntou:
— E qual é o seu prê mio se você ganhar a aposta de
Taranis?
— Taranis jurou interceder por mim junto o mago
Belenus. Ele é mais poderoso do que deveria ser, Belenus com
seus grandes dentes brancos. O demô nio me amaldiçoou. Ele
riu, disse que já que meu amigo estava morto teria tempo
mais que suficiente para ver que os poucos humanos que
vagueiam em Pale nã o acabem como alimentos paraTibre. É
essa a minha funçã o, proteger eles do Tibre.
— O que você fez para puxar maldiçã o do Belenus para
você ? Nicholas perguntou.
— Ele nã o veio para o enterro do meu companheiro.
Minha dor era grande, e entã o a minha raiva também. Mandei
um exé rcito de caracó is negros para invadir seus aposentos
na pedra sangrenta. Naturalmente, eles acharam o caminho
até a cama, para dormir com ele à noite. Belenus me
amaldiçoou por isso. E desde entã o, tenho que proteger os
paté ticos má gicos que vierem aqui por um bom tempo, agora,
certamente um milê nio. Talvez.
— Finalmente vieram, você s dois. Ama, eu a vi salvar o
milord por causa da ruptura de um ramo de Sillow amarelo, e
impressionar Clandus com isso. As minhas pestanas
adorá veis engrossaram pela emoçã o de testemunhar o que
você fez entã o, naturalmente, sem questionamento infernal de
um ser humano ou dú vidas. Estava convencido, naquele
momento, que os dois estavam previstos para vir ao Pale,
ainda mais quando milord recolocou o ramo na á rvore de
Sillow amarela. Vi isso ser feito somente uma vez na minha
vida. Por Epona. Ah!, mas alé m disso, devo ter a certeza de
que você s sã o realmente o que você s dizem que sã o... — Ele
parou e, de repente, abriu a boca e cantou para as trê s luas
de sangue em um belo barítono:

Eu sonho com beleza e cegos à noite


Eu sonho com força e poder febril
Eu sonho que eu não estou sozinha outra vez
Mas eu sei de sua morte e seu pecado grave.

Sem hesitaçã o, Rosalind cantou para ele, alegremente,


sua linda voz enchendo a noite silenciosa:

Eu era pequena e fui fraca


Ele me deixou quebrada, sem um nome
Mas eu vivi e agora procuro
O que fazer para acabar com o jogo.

— Ah!, — disse Bifrost, — está na hora de você montar


Taranis, o dragã o da lagoa Sallas, para a fortaleza na pedra
sangrenta.
Ele vibrou seus cílios para eles novamente e, em seguida,
simplesmente desvaneceu-se na parede da caverna. Rosalind
gritou:
— Nã o! Espere, volte aqui. Cadê Sarimund?
Havia apenas silê ncio. O ser vermelho fora embora.
Eles ficaram dentro da caverna, olhando para fora, alé m
do rio à distâ ncia, no final de uma vasta planície de Mount
Olyvan e no auge a fortaleza escura do rochedo sangrento,
lanceada acima em direçã o à s luas.
Eles ouviram uma briga ofegante, grunhidos. De repente,
em pé diante deles estava Sarimund, e parecia brilhar, seu
cabelo dourado resplandescente sob as luas. Ele murmurou:
— Ah, você está aqui — e ele lhes deu um lindo sorriso.
Rosalind aproximou-se do homem bonito que parecia um
anjo.
— Eu o vi numa visã o. Você mexia um pote. Você me
disse que eu estaria com você em breve.
— E aqui está você , minha beleza. Aqui está . Ah!, ver
você como uma mulher crescida.
— Você é meu pai?
— Eu? Certamente nã o, mas vou dizer que a tive perto
de mim por um tempo muito longo, seu espírito, sua
promessa. Agora eu estou aqui, deixe-me dizer... foi difícil.
Embora Bifrost acreditasse que você viria, Taranis nã o o fez.
Ele acreditava que eu havia falhado, que havia passado muito
tempo de terra, mas você s estã o aqui e isso prova que eu nã o
falhei. — Ele colocou as suas mã os graciosas em concha ao
lado de sua boca e gritou:
— Você está me ouvindo, Taranis? Consegui. Eu sou o
mensageiro da paz …
— E da destruiçã o, — disse Nicholas. — Isso é o que você
disse para ela.
— Sim, tanto eu quanto ela somos os portadores da paz
e da destruiçã o.
— Você está falando conosco, em inglê s, ou está
pensando tudo isso por nó s?
— Eu falo inglê s, linda.
— Mas é o inglê s moderno que você está falando, — disse
Rosalind.
— Conheceu Bifrost, ele é conhecido como o estudioso.
Ele ficou vazio quando seu companheiro foi morto em uma
tempestade lunar tanto tempo atrá s. Tudo dura por muito
tempo em Pale, afetos inclusive.
— Onde está o Pale? — Perguntou Nicholas.
Sarimund estudou o rosto de Nicholas.
— O Pale está tã o perto quanto essas trê s luas muito
acima de nossas cabeças, ainda é distante, um estudo em
contrastes. Mas é tã o real quanto um sonho eterno. Eu nã o
sou real? Eu nã o estou aqui em frente de você s? Nã o me vê ?
Eu nã o estou falando com você ?
— Você poderia ser outro espectro como o capitã o Jared,
— disse Nicholas.
— Ele nã o tem nenhuma curiosidade, Sarimund, — disse
Rosalind, levemente tocando o braço, um braço muito real, os
mú sculos ondulando sob seus dedos. Tudo o que ele era, ele
nã o era nenhum espectro. — Estamos aqui porque você nos
trouxe aqui. Você colocou tudo isto em movimento quase
trezentos anos atrá s, quando convenceu o Capitã o Jared que
ele possuia uma dívida para com a menina, nã o é ?
— Sim.
— Você realmente criou uma tempestade para destruir o
navio do Capitã o Jared, ou foi tudo uma ilusã o elaborada?
Houve um barulho sufocado na garganta dele e seu
cabelo dourado ficou levantado, quase em pé no final.
— A menina nã o questionava, era doce, nenhuma
pergunta impertinente para um mago, mas a mulher tem —
ele disse, agora visivelmente acalmando-se. — Eu sou mais
poderoso do que você pode imaginar, posso bater os cé us em
uma espuma de loucura, eu posso…
— Sim, — ela disse. — Entã o você escreveu as Leis de
Pale e orou para que eu viesse encontrá -lo, de alguma forma,
entã o tudo estaria em movimento.
— Nã o, eu nã o rezei; um mago projeta seus feitiços e
espera para vê -los se desdobrar. E espera. E vê . E guia. Claro
que você me encontraria.
— Sim, suponho que você fez isso bem, apesar de ter
sido muito demorado. E você finalmente lançou as pá ginas
finais para eu ler, mas ainda estava naquela ú ltima pá gina
branca e perfeitamente em branco. Só percebi há pouco
tempo que você escreveu o nome do Príncipe Egan naquela
pá gina.
Nicholas disse:
— Você planejou para a menina vir para Pale, mas ela
nã o veio porque nã o era ainda o tempo dela. Quase trezentos
anos se passaram antes dela vir, nã o uma menina, mas uma
mulher.
Sarimund disse: — eu sei. Isso me deixou bastante louco
saber que eu estava muito errado em meus cá lculos.
Nicholas disse: — Como pode ser isso? Por que queria
ela?
— Depois que deixei Pale, querendo saber se Epona
realmente havia dado à luz meu filho, Taranis visitou-me em
meus sonhos, uma noite. Para mim, ele sonhou que Epona
mataria nosso filho — o Príncipe Egan — porque ela, de
alguma forma, havia adivinhado o homem que ele se tornaria.
Taranis disse que eu precisava detê -la ou o Pale seria lançado
no caos incrível, e ele nã o sabia se seria capaz de corrigir. Ele
disse que nã o havia nenhum mago, nem bruxa, nenhuma
criatura aqui em Pale para me ajudar. Entã o eu devia confiar
em alguns humanos. O que poderia fazer um ser humano?,
eu perguntei no meu sonho para ele. Ele estufou uma
baforada de fogo... e juro que senti uma picada de calor. Ele
me disse você é um mago e um ser humano, nã o é , e eu
acordei. Ele estava certo, e entã o me acomodei no meu
cé rebro de mago e lancei um feitiço sobre outros bruxos e
bruxas da terra, tã o fortes quanto eu. Encontrei duas
linhagens separadas, muito poderosas, que se estendiam pelo
tempo, encontrando-se em um ponto nos tempos das
cruzadas. Uma foi a linhagem de Vail. No meu tempo, sua
linhagem poderosa foi representada por Jared Vail, um
capitã o de navio, mas nã o é simples. Ele foi, muitas vezes,
muito corajoso. Ah, ele estava cheio de força, mas um ser
humano, vivendo em seu mundo civilizado constrangido, ele
nã o sabia o que ele realmente era. Soube entã o que Jared Vail
era o escolhido. E você estava lá na minha mente, Isabella, ao
mesmo tempo, representando sua linhagem poderosa, e você
era tã o clara, tã o forte, tã o má gica. Eu sabia que você seria
bem sucedida.
— Ela disse: — Você viu a garota. Por que acreditaria
que uma garota teria uma melhor chance de salvar o príncipe
Egan do que uma mulher adulta, ou seja, eu?
— A menina era uma luz tã o brilhante que eu mal podia
tocá -la. Ela via tudo claramente, tã o claro que nã o podia ser
enganada pela magia ou pelo mal. Mas agora? Sua luz é ainda
mais brilhante, seus olhos mais claros? A menina ainda está
queimando brilhante dentro de você ? Vamos ver.
— O que isso significa, vamos ver! — Nicholas
perguntou. — Você está nos dizendo que você nã o sabe?
— Agora é agora, mesmo aqui em Pale, o presente pode
sangrar no futuro ou encolher-se para o passado, embora o
tempo em si nã o é sejarealmente um fator, e assim, eu nã o sei
o que vai acontecer.
Nicholas parecia zangado o suficiente para atacar
Sarimund.
Rosalind disse: — Quando a criança nã o veio, por que
Epona nã o matou seu filho?
— O ponto do feitiço era segurar a mã o dela até que você
chegasse, Isabella, até que pudesse vir para o Pale para salvá -
lo.
Nicholas perguntou lentamente: — Você congelou o
tempo?
— Essa é uma maneira rude de dizer isso, mas sim,
Egan se manteve um garotinho. Quando você o salvar,
Isabella, ele se tornará o homem, o grande mago soberano
que ele estava destinado a ser.
Rosalind rapidamente, disse: — Há um problema, no
entanto. Nã o sei quem eu sou, entã o eu nã o sei o que a
menina sabe e quais sã o os seus seus pontos fortes…— ela
parou de andar. Ela olhou Sarimund e Nicholas. Sarimund
sorriu e assentiu lentamente. Ela engoliu. Entã o, ela deu um
sorriso brilhante.
— Meu nome é Isabella Contadini. Eu nasci em San
Savaro, Itá lia, em 18I7.
— E seu nome é o mesmo que foi, entã o, no tempo do
Capitã o Jared Vail, — Sarimund disse e, em seguida, inclinou-
se e beijou a testa dela.
35

Sarimund fez uma reverê ncia graciosa.


— Sim, seu nascimento foi recebido com uma grande
festa, Isabella. Você já teve um irmã o mais velho, você sabe,
entã o o herdeiro do Ducado estava seguro.
— Ducado? — perguntou Nicholas, uma sobrancelha
levantada.
Rosalind sorriu para o marido. — Oh!, Deus, Nicholas,
temo que você nã o tenha pedigree suficiente para ter casado
comigo.
— Diga quem você é , minha querida, — Sarimund disse.
— Eu nasci do Duque Gabriel e da Duquesa Elizabeth
Contadini. Minha mã e é inglesa, filha do Duque de
Wrothbridge, e casou com meu pai quando tinha dezessete
anos de idade, meu pai estava visitando Londres quando
jovem, e a viu montando um cavalo no Hyde Park e quis casar
com ela, e entã o se casaram dois meses mais tarde. Adorava
ouvir essa histó ria, quase todas as noites eu pedia à minha
mã e para me contar, depois que ela enxotava para fora a
minha babá para me dar um beijo de boa noite. Ela parou um
momento e um espasmo de dor atravessou o rosto dela. —
Minha mã e — ela disse, outra vez, e visalizou o cabelo
vermelho brilhante, a maneira como sentia o coraçã o dela
quando ela a segurava perto, bem contra ela, como ela
cheirava a violetas, lembrava-se agora. — A minha mã e. Nos
ú ltimos dez anos, ela quis saber, geralmente nas profundezas
da noite, se ela teve uma mã e, se ela estava viva e pensando
nela, se perguntando onde ela estava, e Rosalind chorava a
dor de ambas.
Ela perguntou, num sussurro, com medo da resposta:
— Meus pais ainda estã o vivos?
Sarimund assentiu com a cabeça. — Sim, ambos estã o
bem de saú de.
— E o meu irmã o?
— Raffaello també m.
Ela queria gritar, queria saltar. Ela teve uma mã e que a
amava, acariciava ela, que nã o sentia medo dela porque ela
era má gica. Magia? Mas era verdade, que ela se lembrava
bem. E o pai dela, em pé ao lado de sua mã e, alto, seu grosso
cabelo preto escovado em volta do rosto, um homem perfeito
que teria uma vez deixado-a sentar debaixo de sua cadeira
enquanto ele estava em conferência com um embaixador da
Á ustria. Ela estava tã o excitada que ela havia vomitado nas
botas do embaixador. Seu pai, lembrava-se, agora, havia rido
— depois que o embaixador havia partido.
Ela franziu a testa. Os olhos do pai, ela os havia visto em
algum lugar? Ela disse lentamente:
— Meu avô morreu enquanto meu pai estava visitando a
Inglaterra e assim ele se tornou o Duque de San Savaro apó s
seu retorno à Itá lia. — Ela agarrou os braços de Nicholas, o
sacudiu. — Eu tenho pais, Nicholas, e eu me lembro deles!
Eles me amavam, muito. Eu tenho uma família! — Ela
começou a dançar em sua excitaçã o. Nicholas a agarrou e
segurou-a firmemente. Ele beijou-a levemente na boca, beijou
a ponta do nariz, alisou as pontas dos dedos sobre as
sobrancelhas. Ele perguntou: — Onde fica San Savaro?
Rosalind sorriu para ele, tã o animada que os pé s dela
ainda dançavam. — É no aguilhã o da bota da Itá lia. San
Savaro també m é a capital do Ducado. Fica perto de Nardo,
mais ou menos, cinco quilô metros do mar Jô nico. Tivemos
um palá cio de verã o com vista para o mar. Nadei lá com meu
irmã o. Uma noite, eu fui até a praia para nadar sob a lua
cheia, nã o é algo deveria ter feito, naturalmente. Ouvi meus
pais rindo. Eles foram nadar no mar, assim como eu e o meu
irmã o fizemos. — Ela fez uma pausa, um momento, bateu o
pé . — Você sabe, eu estou querendo saber agora se eles foram
simplesmente nadar. — Nicholas riu.
— Uma mulher está casada há menos de uma semana e
ela quer saber de tudo.
Sarimund disse:
— Isabella, está na hora de dizer ao milord o que
aconteceu.
Nicholas franziu a testa.
— Como é que sabe que ela consegue se lembrar do que
aconteceu com ela?
Sarimund deu de ombros. — Nã o poderia ter sido
permitido a ela se lembrar antes, teria sido muito perigoso.
Sr. Sherbrooke teria se sentido compelido a entrar em contato
com a família dela em San Savaro, apesar das suas pró prias
dú vidas. Mas agora o tempo é certo. Diga-lhe, Isabella, o que
aconteceu com você .
De repente, o conhecimento estava lá , vivo e terrível, na
mente dela, e ela tremia.
— Ele era primo do meu pai — o nome dele era Vittorio.
Ele sabia que eu havia visto o que ele fez, porque ele era
má gico, você vê , e ele sabia que eu era má gica també m.
Sentiu-me, pressentiu, ele sabia que eu o vi sufocar o bebê
pequeno e, em seguida, colocá -lo nos braços da mã e morta.
— Nicholas perguntou: — Havia mais ningué m lá para
ver isso?
Rosalind nã o queria, mas ela imaginou aquela cena
horrível em sua mente. O bebê morto e sua mã e morta e
Vittorio lá parado, olhando para eles, um sorriso amargo na
boca. Ela nunca se esqueceu disso, nunca.
— Nã o, só eu o vi matá -los.
Nicholas estava apreensivo.
— Você era uma criança. Poucos acreditariam em uma
criança. Por que Vittorio agiu contra você ?
— Se eu tivesse dito a meu pai, ele teria os corpos de
Ilaria e do bê be examinados. Eles teria visto as marcas dos
dedos de Vittorio no pescoço dela. Talvez o médico també m
descobrisse que o bebê havia sido sufocado. — Sarimund
perguntou:
— Isabella, você sabe por que Vittorio assassinou a
mulher e o bebê ?
Ela balançou a cabeça.
Sarimund disse: — O casamento deles era um
casamento arranjado, naturalmente, mas Vittorio era cruel e
anti natural em suas exigê ncias sexuais. Misturado com a
magia era uma loucura, só que o pai dele, Ignazio nã o queria
enfrentá -lo, ele nunca quis.
— Houve um momento, no entanto, quando Ilaria odiou
o marido, mais do que tinha medo dele. Ela pegou um
amante, um jovem que cantava lindamente, um jovem errante
que saiu logo depois que fez amor com ela. Ele nunca soube
que ela lhe deu um filho e Vittorio matou os dois.
Nicholas perguntou-lhe:
— O que Vittorio fez com você ?
— Diga-lhe, Isabella. Lembre-se.
— Vittorio apanhou-me antes de eu chegar ao meu pai...
— Ela caiu em silê ncio um momento, olhado a planície á rida,
depois deu de ombros.
— Desculpe, mas nã o me lembro de nada.
Sarimund continuou. — Vittorio nã o queria matá -la.
Mesmo em sua loucura, em seu medo de que ele seria
descoberto, ele ainda a amava, e ele amava seu pai como um
irmã o. Mas ele sabia que você nã o poderia permanecer na
Itá lia ou você contaria para seus pais, e ele sabia que seu pai
acreditaria em você . Vittorio sabia que seu pai era um
feiticeiro muito poderoso de uma longa linhagem de poderosos
magos. Tanto quanto qualquer um poderia se lembrar,
existiam má gicos em toda a linhagem familiar. Em ambas as
suas linhagens, sempre houve uma magia poderosa.
— Vittorio sabia que, se ele nã o fizesse algo rapidamente,
ele seria executado por seu crime, ou jogado em um hospício.
Ele imediatamente pegou você e a entregou para um dos seus
homens de confiança para levá -la à Inglaterra. Eu achei este
destino curioso já que a família da sua mã e é inglesa, mas
nã o importa, ele deve ter tido um plano, embora eu nunca
soube qual era.
— Parece que Erasmo — o homem que Vittorio
encarregou de tratar de você — viu você entrar em transe. Ele
era muito supersticioso e assustou-se muito. Ele acreditava
que você era uma bruxa e do mal. — Sarimund deu de
ombros. — Entã o ele tentou lhe bater até a morte. Na
verdade, ele a deixou para morrer naquele beco.
— Sherbrooke Ryder a encontrou e cuidou de você até
você recuperar a saú de. Ah!, querida Isabella, me desculpe,
sua memó ria foi fechada atrá s da porta mais resistente, mas
foi o melhor para todos. Erasmo disse a Vittorio que você
havia morrido de uma doença que pegou na viagem. Ele disse
que nã o havia nada a ser feito para salvá -la, e Vittorio
acreditou nele.
— Sherbrooke Ryder decidiu, justamente por isso, que
nenhuma pesquisa devia ser feita por sua família. Ele nã o
estava disposto a arriscar que algué m fosse tentar raptá -la
outra vez. — Sarimund levemente tocou com as pontas dos
dedos a testa dela, tocou com seus polegares as tê mporas
dela. — Você se lembra agora?
Ela assentiu com a cabeça lentamente, nunca olhando
para longe dele. Ela disse em uma voz de criança, alquebrada
e triste:
— Eu estou sentada, de pernas cruzadas, em uma
pequena cabana em um dos navios comerciais de Vittorio, o
Zacarria, e minhas mã os estã o amarradas, assim como as
minhas pernas. Estou me concentrando no meu pai. Eu sei
que ele e minha mã e estã o estressados, porque eu sumi de
repente, desapareci. Mesmo sabendo que estou no mar, longe
da Itá lia, ainda acredito que ele possa me salvar. Meu pai é
tã o forte, tã o bom, e ele me conhece, sabe o que penso e como
penso. Ele me diz que sou sua princesa má gica e ele fará com
que meu futuro marido seja um mago poderoso, entã o eu
sempre estarei segura. Ele me diz isso quase todas as noites,
antes de dormir, depois a mã e beija-me e me dá boa noite. Ele
sempre suaviza minhas sobrancelhas com o dedo, como ele
faz com a mamã e.
— Rosalind baixou a cabeça, e as lá grimas vieram,
quentes e grossas. Lá grimas de uma criança, ela percebia,
nã o realmente suas lá grimas, nã o era uma mulher a chorar,
mas lá grimas lembradas e, talvez, fossem as mais dolorosas.
Sarimund tocou a bochecha dela.
— Diga-lhe, Isabella.
Depois de um momento, ela disse na voz daquela mesma
triste criança:
— Estou focando meu pai com toda minha força, e eu o
vejo. Ele está andando para frente e para trá s, na frente da
mã e, e ele está muito bravo e com medo. Ela está tentando
nã o chorar. Meu irmã o, Raffaello, está lá , també m, e ele
parece muito zangado. Ele é impressionante, coloca um
punho contra a palma da mã o aberta, espraguejando. Eu
chamo meu pai, uma vez, duas vezes, entã o eu grito para ele
em minha mente. Vejo-o girar rapidamente para me
encontrar.
— Mas naquele momento, Erasmo entrou na cabine para
me dizer que finalmente tínhamos chegado à Inglaterra, que
aportamos em Eastbourne, e ele estava me levando à terra.
Acho que quando ele me viu, no início acreditava que eu
estivesse dormindo, mas eu nã o estava. Eu olhava para ele,
atravé s dele mesmo, e amaldiçoei com outra voz, e em outro
idioma, mas ele entendeu. Assustou-o muito mesmo. Ele
gritou comigo, que ele ouviu que eu era uma bruxa e,
portanto, vil e maligna, e entã o ele me arrastou do bergantim
até um beco e bateu em mim quase até à morte. Um rapaz
tentou detê -lo. Erasmo bateu nele e atirou-o ao porto.
Nenhum dos outros marinheiros tentou detê -lo.
— Eu acordei na casa de Brandon e nã o me lembrava de
nada do que havia acontecido. Depois de seis meses, eu
cantei minha mú sica e falei. Depois que eu estive na casa de
Brandon durante vá rios anos, tio Ryder me disse por que nã o
tentaram procurar minha família — temia que algué m
tentasseme matar de novo. Seu filho, Grayson, era meu
melhor amigo. Eu acho que ele sentia medo por mim e assim,
ele ficou muito pró ximo durante muitos anos, embora ele
nunca dissesse nada sobre isso. — ela deu de ombros. —
Quando Nicholas voltou à Inglaterra, suponho que ele colocou
tudo em movimento. E aqui estamos agora, em Pale. Eu sou
realmente má gica, Sarimund?
Ele sorriu para ela.
— Ah, sim. Sua linhagem é longa e poderosa, como eu
disse, assim com a linhagem de Vail. No entanto, ao contrá rio
da linhagem de Vail, que esqueceu sua magia... — ele sorriu
agora para Nicholas... — isso nã o é exatamente verdade.
Galardi Vail, seu avô , gostava de brincar com a magia, mas
ele nunca imaginou que, a magia estava, na verdade, dentro
dele, esperando para ser libertada. Sua linhagem, Isabella, a
linhagem toda, nunca esqueceu, é por isso que você é tã o
forte. Foi só quando você perdeu a memó ria que você perdeu
sua magia.
— Ela assentiu lentamente. E disse, — Erasmo estava
certo. Eu era uma bruxa, uma bruxa poderosa e eu sabia,
mas...
— Você ainda é . Você está aqui e isso a faz ainda mais
forte. Nã o se esqueça disso.
Ela disse, sentindo-se maravilhada:
— Lembro-me quando eu era uma criança em San
Savaro, eu sabia que meu pai falava com admiraçã o e
orgulho, principalmente, quando a chuva caia e nã o se
esperava, ou quando uma mulher tivesse dado à luz a gê meos
inesperadamente, ou quando uma doença atingia os campos e
ainda assim, a cevada e o trigo cresciam altos. Todos
acreditavam que era o meu pai que fazia aquilo. Ele era
má gico e todos sabiam. Ele també m era profundamente bom.
Ele disse que eu era igualzinha a ele. Eu era a princesa
má gica dele.
Ela se virou para Sarimund.
— Meus pais — eles ainda se lembram de mim?
Ele assentiu. — Ah!, sim. Todos os dias eles pensam em
você , lamentam sua perda. Quanto a Vittorio, ele é casado
com outra mulher e abusa dela sem parar. Ela nã o tem filhos.
A semente dele é sem vida. Quando seu pai percebeu isso, ele
sabia que Ilaria nã o poderia ter um filho de Vittorio no ventre.
E ele se pergunta quem foi o verdadeiro pai e interroga-se
sobre aquelas mortes e como você , Isabella, desapareceu tã o
rapidamente depois disso. Ele se lembra talvez de vê -la na
cabine do navio, mas ele nã o pode ter certeza, uma vez que
ele nunca conseguiu vê -la atravé s da magia, porque o contato
foi quebrado. Você nã o se lembrava mais dele. Nem de seu
irmã o mais velho, Raffaello, já que o encontraria e ele carrega
o forte sangue má gico do seu pai. Sua mã e chora, Isabella, ela
ainda chora. Você tem quatro irmã os, o mais jovem com
apenas quatro anos de idade. Parece que vai haver ainda um
quinto irmã o nascido muito em breve.
— Eu tenho quatro irmã os? Quase cinco? — Ela nã o
conseguia compreendê -lo, simplesmente nã o conseguia
aceitar tudo assim rapidamente. Mas ela compreendia uma
coisa muito bem: Vittorio nunca havia sido punido.
Nicholas disse: — Sarimund, você disse que era melhor
ela nã o se lembrar porque Ryder Sherbrooke teria avisado a
família dela, ela teria ido para casa para San Savaro, e ainda
estaria em perigo. Minha pergunta é , por que em nome de
Deus, você simplesmente nã o abateu Vittorio? Em seguida,
ela poderia ter ido para casa, sem risco.
Sarimund disse lentamente: — Eu sei muitas coisas, vejo
muitas coisas, mas nã o sou do mundo físico agora, milord.
Nã o podia colocar uma praga na cabeça do Vittorio, tal como
um Tibre nã o poderia prender um ser vermelho. Você
entende?
— Quer dizer que você nã o pode sair daqui e ir à
Inglaterra?
Ele sorriu e balançou a cabeça. — Nã o, nã o posso sequer
cruzar a Inglaterra. Em nenhum lugar da terra, na verdade...
— mas ...
Sarimund fechou a mã o em volta do pulso de Nicholas.
— Se eu tivesse conseguido isso, eu teria mandado aquele
monstro maligno para o poço do inferno. Ah!, existe muita
maldade em todos os lugares. Aqui, em Pale, o mal floresce
loucamente.
Rosalind olhou diretamente para Sarimund.
— Depois de salvar o Príncipe Egan, depois que Nicholas
pagar a sua dívida comigo, vou voltar para casa e fazer com
que Vittorio seja punido. Agora, Sarimund, o que Nicholas e
eu precisamos fazer agora que estamos aqui em Pale?
Sarimund tocou levemente com os seus dedos brancos a
bochecha dela. — Uma vez que você salvar o menino, o
feiticeiro terreno que ficou ao nosso lado, vai pagar sua dívida
com você .
Nicholas disse: — Muito bem. Eu vou aceitar isso aqui
nesta terra estranha, eu sou um menino pequeno, que
també m é um príncipe. Ela vai salvar o garoto e assim me
salvar. Entã o, diga, Sarimund, isso significa que você é meu
pai, bem quando tudo isto começou? Você é um Vail?
Sarimund riu.
— Minha linha é longa e nobre, talvez mais poderosa do
que qualquer uma de você s, mas minha linhagem nã o é da
sua linhagem, milord. Seu pai é seu pai, Conde de Mountjoy,
descendente do Capitã o Jared Vail. Você é inglê s, atravé s
dele, um verdadeiro inglê s.
— Você veio para Pale como deveria fazer. Você se
tornou o que era suposto que seria. O tempo agora está
acabando e é hora de agir.
— Nicholas vai sobreviver quando ele pagar sua dívida
para mim?
Sarimund ficou em silê ncio por um tempo muito longo.
Ele se virou para olhar para as trê s luas sangrentas.
— Quando Taranis aprovou meu feitiço, ele viu pra mim
que se eu interferisse de qualquer forma, entã o o feitiço
cessaria e tudo estaria perdido. Entã o exigi saber por que ele
nã o podia interferir; Afinal, ele era um deus, ele viveu em
Pale. Ele cantou para mim: Eu não me intrometo nos assuntos
dos bruxos e bruxas, e eles não se intrometem nos assuntos
dos dragões. — Portanto, desde que eu prometi nã o me meter,
nã o lancei meus olhos para o que aconteceu, e, portanto, nã o
posso saber.
Rosalind agarrou o colarinho muito bem costurado de
Sarimund e o sacudiu. — Droga, mago, esse bocado de
raciocínio sem sentido nã o é bom o suficiente.
Sarimund olhou nos olhos dela, um brilho de orgulho em
seus belos olhos. — É o melhor que posso fazer. Se, ao
menos, você tivesse vindo para Pale quando eu a escolhi,
Isabella, a criança brilhante tã o cheia de luz má gica — entã o
tudo viria a se passar como eu previ. Jared Vail estaria aqui
para protegê -la.
— Mas o tempo estava ainda no futuro. Na verdade, eu
quis saber se o Taranis se envolveu e marcou o tempo errado.
Ele fica ocasionalmente entediado, você sabe, e ele se
animaria se criasse algum caos. — Rosalind começou a
sacudir Sarimund, tã o frustrada que queria bater nele.
— Escute Sarimund. Eu nã o me importo se o má gico
Merlin batesse o tempo errado, nã o quero Nicholas em perigo,
entendeu?
— Já que você está gritando, — disse Nicholas, sorrindo
para ela, levando a mã o até a dela, — ele certamente a ouve.
— Ele se virou para Sarimund. Sua voz era sem emoçã o
quando ele disse:
— Você acredita que vou morrer, nã o é ?
Sarimund disse:
— Nã o posso saber, eu avisei. Mas agora que eu o vi,
milord, percebo que você é formidá vel, que você nã o vai ser
facilmente derrotado, mas seus poderes estã o ainda brutos,
porque você nã o quer aceitar sua magia. Você deve esquecer
as leis da terra, com todas as suas restriçõ es. Você deve
permitir-se acreditar e aceitar que você está e vai crescer
mais forte, mais forte do que as trê s luas sangrentas. Você
será invencível.
— Aqui em Pale, a magia é nítida, clara e incorporada no
ar. Aqui, nã o há nada para impedir sua capacidade — se
você , ao menos, deixar sua magia levar o curso completo, soltá -
la. Aqui, você verá que ela obedece a você , porventura com
alguma elegâ ncia. Elegâ ncia e graça de açã o é uma coisa muito
boa em um mago treinado.
Rosalind disse: — As linhas que eu cantava quando eu
comecei a falar novamente: eu sei de sua morte e seu pecado
grave. Quem sã o? O que significa?
— Ele é o príncipe Egan, você sabe que sua morte é , de
fato, muito possível. Naturalmente, Epona é o pecado grave, o
que poderia acontecer se você falhar. Eu plantei as linhas
profundas em sua mente, para ficarem sempre com você , uma
lembrança, um gatilho, como você diria nos seus tempos
modernos, para fazê -la ver, fazê -la entender.
— Mas eu nã o entendi.
— Talvez minhas linhas elegantes fossem um pouco
sutis, mas nã o importa, você está aqui. Ah! Olhe Taranis. Ele
é o líder dos dragõ es da lagoa Sallas. Ouçam-me você s dois. O
equilíbrio de Pale é sempre precá rio. Taranis sabe isso muito
bem. Ele quis ter a certeza que eu sabia quando ele sonhava
com o perigo para mim há muito tempo.
Taranis. Rosalind pensou quando ela e Nicholas se
viraram para olhar para o magnífico dragã o que estava
voando pelo cé u noturno, silhueta contra as luas de sangue,
chegando mais perto e mais perto. O ar em torno dele parecia
se separar com a sua passagem. Ele bateu as asas enormes
ociosamente, permanecendo talvez uma dú zia de metros
acima deles. Seus olhos esmeralda giraram na cabeça grande,
quando ele estudou-os. Ele era muito maior do que o filho
dele, e ele era elegante, todos os seus movimentos, á gil e
flexíveis, como se tivesse praticado por um tempo muito
longo.
Taranis sorriu, o prazer fluiu atravé s dele, embora
ningué m pudesse dizer aquilo. Ele abriu a boca grande e
cantou:
— Sou Taranis, dragã o da lagoa Sallas. Estou feliz por
que você está aqui. O tempo está acabando. Venham, milord,
Isabella, está na hora de acabar com isso. A pedra sangrenta
os aguarda. — Ele virou a cabeça grande em direçã o a
Sarimund e cantou:
— Você tem mantido a fé comigo. Um feiticeiro com a
honestidade de um dragã o.
Rosalind disse:
— Nenhum de você s simplesmente fala aqui em Pale?
Taranis cantou:
— A cadê ncia das simples palavras é chata. As linhas do
ar ficam planas quando palavras simples saem pela boca.
Cantar as palavras dá -lhes vida e interesse e alivia o té dio.
Esperei por você por um tempo muito longo, assim como
Sarimund. Vamos ver quã o bem ele lança os feitiços do seu
mago, embora ele seja mais velho e talvez se enrole. Bem-
vinda, Isabella... — E entã o, risos, risos rolando profundos,
que pareciam ter vindo da barriga daquela criatura enorme.
— Vã o com ele, — Sarimund disse. — Taranis é
satisfeito, ele sabe que está prestes a chegar ao fim. O Pale
tem estado oscilando como faria um homem em uma corda
esticada. O que aconteceria se você s nã o viessem agora? Eu
nã o sei, mas as possibilidades estremecem as minhas
entranhas... — ele sorriu. — Sim, eu tenho entranhas. — Ele
deu de ombros e acariciou sua barriga. — Vã o com ele, — ele
disse novamente, — seja cautelosa, nã o confie em ningué m e
nunca se esqueça, Isabella, nenhum mal pode tocar em você .
E, entã o, ele simplesmente já nã o estava lá .
Nicholas descobriu que era apenas um pouco curioso.
Ele sabia que Sarimund simplesmente desaparecera,
impossível, no entanto, mas assim foi. Posso fazer a mesma
coisa, ele pensou. Aqui, em Pale, faço a mesma coisa. Aqui em
Pale posso fazer tudo.
Ele falou para o local onde Sarimund estivera apenas um
momento antes.
— O capitã o Jared está em Wyverly Chase. — Eles
ouviram a voz de Sarimund como um suspiro no ar parado.
— Que grande homem ele era. Ele estava tã o
arrependido, tã o triste, que ele nã o podia pagar a dívida, mas
nã o era para ser; o tempo mudou em si mesmo. E entã o os
sonhos apareceram para muitos filhos primogê nitos e as
geraçõ es passaram, todos esperando pelo momento certo.
Quando você s dois foram finalmente unidos, o Capitã o Jared
queria vê -los, aprender sobre você s. Ele me disse que você
terá sucesso. Mas a magia dele agora é fraca, como uma
chama em um vento forte. Infelizmente, ele nã o pode nem
cantar como ele costumava.
O grande dragã o curvou sua cabeça para eles e cantou
com uma voz alta doce: — Meu filho gostaria de queimá -lo até
os dedos dos pé s, milord, mas ele engoliu sua chama, uma
vez que lhe é proibido expelir fogo até que ele atinga a sua
maturidade. A pena é grave o suficiente para fazer até mesmo
um dragã o imaturo considerar cuidadosamente. Fiquei
satisfeito, que ele foi capaz de mostrar alguma contençã o.
Infelizmente, a mã e dele també m acreditava que seria um
grande esporte. É difícil para mim, castigá -la, pois ela é muito
rá pida e violenta. No entanto, sou um deus. Tenho
conhecimento que nenhum outro é , dragã o ou homem. Eu
tenho visõ es que poderiam cegar os outros. Eu sei o que é e o
que poderia ser. Eu sou uma extensã o do grande mago. Estou
aqui, estou agora e sempre estarei aqui. Eu os deixarei ir.
Sarcasmo saiu da boca de Nicholas quando revirou os
olhos. — Você sabe o que é e o que poderia ser. Ah!, eu
gostaria de ter aulas em fala de magia.
Os olhos do Taranis giraram loucamente. A terra tremeu.
— Talvez em primeiro lugar, você devesse aprender a
cantar corretamente.
— Rosalind disse, — ele tem razã o, Taranis. Talvez
quando isto terminar, você possa nos dar instruçã o. Mas
agora, o que devemos fazer?
Taranis pousou ao lado deles e a terra tremeu sob o peso
dele. Ele abaixou a cabeça grande e cantou:
— Acomodem-se entre as minha escamas magníficas e
segurem firme.
Depois que Nicholas e Rosalind conseguiram subir em
cima de suas costas, ele cantou:
— Está certo, segurem-se firme... — ele elevou-se sem
esforço no cé u da noite.
Eu estou montando nas costas de um dragã o, Rosalind
pensava. Estou apavorada , e eu gostaria de cantar com a
alegria disto. Suas saias de lã brancas macias tremulavam, ao
vento, atrá s dela. Ela e Nicholas agarraram-se firmemente à s
escamas brilhantes do Taranis. As asas moviam-se
ritmicamente, e seu cabelo era emaranhado sobre a cabeça
pelo vento. Rosalind apertou as mã os em torno da cintura de
Nicholas.
— Olhe para todos os rios serpenteando e lagos. Eles
parecem, pelo menos daqui, uma protuberâ ncia dentro de
seus limites, como as veias de um homem subindo em suas
mã os. Nã o é estranho?
A terra esté ril abaixo deles era uma vasta planície que
levava ao Monte Olyvan, seus picos irregulares dentados,
sombrios e desolados. No seu cume mais alto estava a enorme
fortaleza de pedra sangrenta. Era como uma pintura de Bosch
— Nicholas facilmente podia imaginar o pecado abundante e a
turbulê ncia moral que residiam dentro daquela fortaleza, o
sofrimento interminá vel e as infinitas dores e lamentos.
Taranis subiu mais alto e eles sentiram a umidade em
seus rostos quando passaram por nuvens cor de berinjela e
tã o finas quanto os sonhos antes do amanhecer.
Nicholas disse:
— Sarimund escreveu que você , Taranis, eras o deus
celta do trovã o. Os romanos escreveram que Taranis era o
deus a quem foram feitos sacrifícios humanos. Seu nome é
Taranis. Você é realmente ele?
— Sã o todos ao mesmo tempo — Taranis cantou. —
Tudo está unido neste reino e na maioria dos outros reinos
també m. Há pecado, há adoraçã o, há algo de bom e ruim, e
há unidade e devastaçã o. Os antigos celtas conheciam ambos,
assim como você nos seus dias modernos. Assim como nó s
em Pale. Ah, mas os romanos, eles eram outra coisa
inteiramente diferente.
Rosalind revirou os olhos com aquilo e disse a Nicholas,
apontando: — Existe tantos animais correndo na planície.
Ah!, há Tibres lá embaixo correndo em um bando, pelo menos
duas dú zias deles.
Taranis cantou: — Os Tibres acreditam que a carne dos
seres vermelhos, de alguma forma, os elevará acima de outras
criaturas... — houve um ronco e, em seguida, sua voz
cantando mais alto, mais nítida: — Mas o ser vermelho é
demasiado esperto. Você deve ter visto Bifrost jogar as lanças
de fogo nas covas que ele constró i. É uma das poucas coisas
que lhe dá prazer desde a morte de seu companheiro. —
Mas Bifrost tem cascos, nã o tem mã os, Rosalind pensou.
Como poderia ele construir um poço ou arremessar uma
lança de fogo?
— Existir no seu mundo tedioso, de entorpecimento
mental, lhe deu tal imaginaçã o limitada, — Taranis cantou
para o vento que só havia surgido pró ximo do monte Olyvan.
Ele deslizou para cima, bem na fortaleza da pedra
sangrenta. — Consegui, eu distrai você , fiz você se esquecer
do que está por vir. A preocupaçã o interminá vel pode limitar
os poderes de um feiticeiro, fazer sua má gica congelar. Agora,
no entanto, é hora de se concentrar, pensar e lembrar. Como
Sarimund disse, seja cautelosa, nã o acredite em nada do que
vê .
— Ah, existe muito desespero por tudo isso, mas
Sarimund é tã o confiante. Mesmo que eu seja um deus, tudo
está escondido atrá s de um vé u espesso. Eventos estã o presos
nas dobras do tempo, e já que o tempo é limitado pelo lugar,
minha visã o é obscurecida.
No momento seguinte, Taranis preparou um pouso suave
em uma extensã o larga, plana, no topo da fortaleza de pedra
preta que havia congelado o sangue do Sarimund quando ele
a vira, antes e agora congelou os deles, també m. Eles viram
as estrias de sangue, serpenteando na pedra preta, finas,
como os rios na terra abaixo. Fresco, parecia de um vermelho
vívido. Parecia grosso e pesado, as gotas rolavam lentamente,
inexoravelmente.
Nicholas lembrou que Sarimund havia escrito que a
visã o mantinha todas as criaturas de Pale longe da fortaleza
porque ela os apavorava. Nicholas suspeitava que eles
estavam certos de ficar aterrorizados com aquele monte
medonha de rocha negra, com sangue. A fortaleza erguia-se
bem acima deles, com impossíveis arcos, altos, com pontas
afiadas, vindo para baixo alguns bons seis metros, torres que
lanceavam as nuvens cor de berinjela ou passavam por elas,
amplas entradas com grades de ferro enormes, prontas até a
metade e muita pedra preta, feia, cobrindo tudo. Uma
maravilhosa ilusã o, Nicholas pensou e imaginava que ele
alteraria aquela maldita ilusã o, uma vez que ele tivesse tempo
para fazê -lo. Ele sorriu. Ele se virou quando cantou Taranis,
sua voz profunda e suave:
— Vã o, meus filhos. Voltarei quando for a hora certa.
Nã o se esqueçam que aqui, em Pale, você é muito poderoso, é
má gica antiga... — entã o ele ergueu a cabeça e levantou voo.
Parecia que a fortaleza tremiam e as estrias de sangue nas
pedras pretas aumentaram, criando novos riachos, uma visã o
aterradora.
Nicholas e Rosalind cuidadosamente sairam das costas
do Taranis. De repente Rosalind gritou: — Oh!, Deus, eu
cortei meu dedo em uma das escamas.
— Deixe-me ver. — Nicholas disse e tpuxou o dedo dela.
Ele nã o pensou, simplesmente espremeu e mais sangue veio à
superfície. Entã o ele levou o dedo à boca e sugou a ferida. Ele
estudou a picada por um momento e, em seguida, olhou
atentamente a gota de sangue na ponta da escama do
Taranis. Taranis subiu direto para o ar. Ele pairou, seus
grandes olhos em Rosalind. Ele cantou tã o alto que Nicholas
juraria que todos os animais sobre a planície podiam ouvi-lo:
— Eu me misturei com o sangue dela. Um dragã o da
lagoa Sallas misturado com uma bruxa. Agora, o que virá
disso? Eu me questiono... — e deslizou para cima, virou à
direita e foi embora. Eles o observaram voar para o outro lado
da á rida planície, onde do ponto de vista no topo do Monte
Olyvan, as manadas de criaturas abaixo pareciam muito
pequenas na verdade.
— O que ele quer dizer misturar seu sangue com... —
Rosalind nã o continuou.
Um jovem estava diretamente na frente deles, sem lhes
prestar atençã o, sombreando seus olhos com a mã o enquanto
via o Taranis voar para longe.
— Ele nã o falou comigo. — O jovem disse, quando se
virou para Nicholas e Rosalind. — Com certeza ele nã o me
viu, senã o teria falado comigo. Milord, milady, meu nome é
Belenus. Eu sou muito importante na histó ria de você s, um
deus — da agricultura, o doador da força da vida.
Rosalind olhou o cabelo vermelho mais brilhante que ela
já havia visto. Apenas seus olhos azuis incríveis, eram mais
brilhantes. Ela se sentiu como uma có pia desbotada de pé ao
lado dele. Ele possuia dentes quadrados grandes, muito
brancos. Ela disse:
— Os romanos o chamaram de Apolo Belenus e
nomearam o dia primeiro de maio para o grande festival,
Beltane. Nesta era moderna, ainda celebramos Beltane. Você
sabia?
— Idade moderna? Uma era é uma era, nada mais.
Belenus falou para Nicholas, profundo e gracioso.
— Estou aliviado que você esteja aqui, finalmente. Há
apenas uma lasca de tempo, sinto isso; vai chegar. Devemos
abrir a porta e ir até a costura que divide o que Epona
desejava que acontecesse, do que realmente vai acontecer.
Você quer saber como eu sei disso. Taranis nã o possuia
escolha a nã o ser para pensar por mim, entã o eu nã o ficaria
aqui como um tolo, a questioná -los, mas sem compreender.
Nã o tenho tempo para oferecer uma boa xícara de chá
witmas. — Ele sorriu, mostrando cada um daqueles dentes
grandes quadrados.
— É a bebida preferida de Epona. Ela tenta esconder das
outras bruxas. Witmas altera o gosto, você sabe. Eu prefiro o
gosto do suco do Tibre recé m morto. Agora, sigam-me.
Nicholas e Rosalind seguiram o homem jovem com pele
branca pá lida e seus olhos azuis brilhantes e aquele cabelo
vermelho vivo. Agora parecia ainda mais vermelho. Nicholas
sentiu o poder nele, sentiu-o puxá -lo, embora ele andasse na
frente deles sem dizer nada, simplesmente andava. Passaram
por impossíveis e amplos corredores, parecendo realmente
quartos, alguns forrados com espadas romanas e capacetes,
outros com esqueletos, todos de pé , eretos contra as paredes
do corredor, como se fossem soldados em pé .
Eles caminharam atravé s de câ maras, todas pintadas em
cores vivas, desde o mais profundo roxo até um pá lido
amarelo claro, repleto de preciosas está tuas gregas
imediatamente ao lado de brutas está tuas de madeira,
esculpidas pelas mã os de antigos.
— Tudo isso é muito grande, muito grande, — Nicholas
sussurrou para ela. — É uma ilusã o para nos impressionar.
— É claro que é uma ilusã o, — ela disse com
naturalidade, — e é bem feita. Rosalind gritou:
— Belenus, talvez você tenha criado muitas salas e
corredores para nos impressionar com seu poder. No entanto,
disse que precisamos nos apressar. Por que você nos está
atrasando?
Belenus parou na pró xima câ mara, uma cujas paredes
foram pintadas de vívido azul brilhante, a cor dos seus olhos,
pensou Rosalind. Bancos cobertos de veludo contra todas as
paredes, almofadas com joias grandes de um sultã o,
empilhadas em todos os lugares e nas paredes existiam
nichos onde ficavam está tuas dos deuses celtas. Como ele
sabia disso, Nicholas nã o sabia, mas ele tinha certeza.
Rosalind olhou para Nicholas, seu cabelo preto longo grosso,
agora roçando a pele do pescoço dele, e aquela dureza sobre a
boca dele, a promessa de infinita violê ncia e crueldade. Ela
també m sentia a promessa de plenitude, talvez da longa falta
de uma justiça tã o desejada. Ele agora estava em Pale, agora
estava na pedra sangrenta. Aquele mago era indestrutível. Ele
estava em casa.
Ela disse para Belenus, sua voz imperiosa, o ar cintilante
ao redor dela, quente e vivo, seu cabelo vermelho um nimbus
ardente em volta da cabeça:
— Você me levará a Epona, agora. Eu sei que devo
continuar sozinha e o milord deve permanecer aqui. Nã o há
muito tempo. O que deve ser feito deve acontecer agora, ou o
tempo pode se sobrepor e haveria confusã o, uma que mesmo
eu nã o conseguiria consertar.
Rosalind sentiu um incrível poder fluir atravé s dela. Ela
abraçou-o, sentiu-se crescer mais forte, sentiu-se um, com
ele. Ela disse a Nicholas, sua voz calma, remota:
— Eu sou mais poderosa que o sangue das trê s luas.
Podia pegá -las do cé u negro e brincar com elas. Talvez eu até
possa cantar para você enquanto brinco com as luas.
No momento seguinte, Rosalind ficou no centro de uma
vasta e austera câ mara branca. Aquele branco causava uma
cegueira igual à quela que ela e Nicholas experimentaram em
Wyverly Chase, — experiê ncia que acontecera apenas na noite
anterior? Ou a uma centena de é ons atrá s? Havia muitas
janelas com cortinas brancas e leves, soprando na câ mara. As
janelas nã o estavam abertas.
Do outro lado da sala estava uma cama estreita, envolta
em cortinas de gaze branca. Os tecidos envolviam a cama. Ela
gritou, sua voz afiada, impaciente:
— Epona! Venha aqui imediatamente. Eu quero o
príncipe Egan! — Passou um tempo.
— Epona! —
Havia apenas o branco morto e silê ncio.
Rosalind nã o estava sozinha. Ela estava de pé alta,
sorridente, no topo de uma plataforma plana grande. Ao lado
dela, havia uma pedra plana lisa, um altar. Por cima dela
estava deitado um homem, seus braços e pernas
acorrentados. Ele estava nu, inconsciente, e era Nicholas.
Os olhos dele voaram abertos, escuros, quase pretos. Ele
sorriu.
— Eu mato você , — disse ele. — Eu mato você .
— Não, você nã o vai... — Ela levantou a faca que estava
em suas mã o e a baixou numa linha firme e limpa, e
apunhalou-o profundamente em seu coraçã o. Ela empurrou a
faca e, em seguida, cortou a carne. Ela enfiou a mã o no tó rax
dele e agarrou o coraçã o, ainda batendo. Ela levantou a
cabeça para os cé us e cantou algumas palavras que nã o
apresentavam significado para ela, e entã o ela jogou o coraçã o
para longe. Um vento veio e atirou o cabelo para longe do
rosto dela, colando o vestido branco esvoaçante contra ela.
Ela olhou para o homem morto pela sua mã o. E ela viu
que, de fato, era Nicholas. Ela o matara como Richard havia
visto ela fazer em seu sonho. Afundou-se de joelhos, cega com
uma dor cegante. Ela sentiu a pró pria vida escoando dela e
congratulou-se com isso.
Silê ncio mortal ao redor dela, dentro dela, a cabeça rugiu
de dor. Entã o ela sentiu algo se mover dentro dela, e era
consciê ncia, e era conhecimento.
E ela soube.
Ela se levantou e gritou:
— Uma mentira, foi tudo uma mentira! Você nã o vai me
enganar novamente, Epona! Mostre-se, sua maldita bruxa!
Epona parecia flutuar atravé s de uma das janelas
grandes, apesar delas parecerem estar fechadas, e as cortinas
brancas fluíam sobre ela até que ela ficou diretamente na
frente de Rosalind. Ela estava vestida toda de branco. O
material brotava e se movia, e ficou parado ao seu redor,
deixando um ombro muito branco nu. Seu cabelo era preto
como um cé u sem lua. Ela era muito jovem e muito bonita, a
boca era vermelha como o sangue que rastreava as pedras da
Fortaleza.
Epona olhou-a de cima abaixo e zombou dela.
— Você está muito atrasada, bruxa. Eu havia dito para
Belenus os atrasar, e entã o ele fez isso, porque ele, como
todos os outros, tem medo de mim. Sim, é tarde demais e
você falhou. Sarimund falhou.
— Claro que nã o estou muito atrasada, sua criatura
insensata, — disse Rosalind. — Essa ilusã o — você arrancou
da minha cabeça, nã o é ? Você també m a mostrou para
Richard Vail em um sonho para assustá -lo.
Epona riu.
Rosalind disse: — Bem, nã o importa agora. Finalmente
percebi a verdade e você nã o vai me enganar novamente. Eu
ouvi dizer que você representa beleza, velocidade e vigor
sexual.
— E bravura!
— Como quiser. Talvez alguma coisa possa ser verdade.
No entanto, você se parece fortemente com sua mã e. Você se
parece com um cavalo, embora um belo cavalo, talvez á rabe.
Epona voou para ela, as unhas afiadas como punhais.
— Sua vagabunda! Sou uma mulher bonita, todos dizem.
Rosalind riu quando levantou a mã o. O nariz de Epona
ficou esmagado contra a palma da mã o dela. Epona tentou se
afastar, mas a palma da mã o de Rosalind permaneceu presa
ao nariz dela. Ela riu novamente.
— Nã o só se parece com um cavalo, seu poder
é lamentá vel. Onde está o príncipe Egan?
— Deixe-me ir ou nã o direi nada!
— Ah, isso é um relincho que eu ouvi? Por todos os
deuses, rezo que Egan nã o se pareça com você , Epona. —
Rosalind tirou a mã o do nariz de Epona e limpou a palma da
mã o em sua capa.
— Traga-me ele agora.
Epona espreguejou sob sua respiraçã o, uma estranha
mistura de palavras celtas e em latim antigo, todas elas
brutais e grá ficas. Rosalind lançou-lhe um sorriso muito frio.
Ela sentiu a maldade cantar atravé s do seu sangue.
— Eu nã o vou pedir a você de novo, Epona. Se nã o me
obedecer, reverterei o feitiço do chá witmas. Ah, eu me
pergunto qual será a sua aparê ncia real?
Epona desapareceu. Rosalind permaneceu em pé no
meio da sala. O ar estava silencioso e parado. As cortinas já
nã o estavam soprando para dentro das janelas fechadas. Ela
ouviu uma voz de criança, cada vez mais perto. Um menino e
ele estava falando:
— Quem eu vou conhecer? Já conheço todos aqui.
Rosalind ouviu e esperou. De repente, ele estava na
frente dela, braços cruzados sobre o tó rax, e ele a olhou de
cima abaixo. Ele tinha, talvez, oito anos, uma criança
finamente esculpida, olhos escuros, bonito.
— Quem é você , mulher? O que quer comigo? Ela só
disse que você era outra estú pida bruxa, que nem é de Pale, e
que ela escavaria seus olhos feios com as unhas. Ela disse
que a afogaria para a eternidade. Ela é muito poderosa. Eu
acreditaria nela.
— Eu sou Isabella. Você é o príncipe Egan, filho de
Sarimund?
— Sim, quem mais seria?
Ela sorriu para o menino bonito. — Nã o, você é você
mesmo, claro. — Rosalind estudou o menino. Nicholas era
parecido com ele quando era um menino? Eles nã o eram
muito parecidos, mas havia semelhanças, o tom verde-oliva
da sua pele escura, cabelos e olhos escuros.
— Eu nã o reconheço você . Por que deseja me ver?
Estou a tempo de salvá -lo, de salvar Nicholas, e ela
queria gritar com o alívio daquilo. Ela sussurrou:
— Nicholas.
— Nã o, nã o sou esse Nicholas. Eu sou Egan. Por que
está aqui, Isabella?
— Eu estou aqui para salvá -lo de Epona.
— Como você possivelmente poderá me salvar quando eu
posso correr mais que você , eu posso transformar você em um
inseto branco?
Ah!, a arrogâ ncia naquela voz jovem. Mas era Nicholas,
ela sabia na alma dela que era, pelo menos aqui em Pale, era.
Ela sorriu. — Epona nã o lhe disse? — ela nã o conseguia
chamar aquela bruxa de mã e dele, e sabendo que a bruxa
queria matá -lo.
Egan disse:
— Nã o, ela nunca me diz nada ú til. Gostaria de me
tornar um homem. À s vezes, acho que eu fui deste tamanho
pequeno por um tempo muito longo. Mas quem pode ter a
certeza de alguma coisa?
— Você vai se tornar um homem, eu juro que vai — e em
breve, ela pensou, logo.
De repente, Epona estava de pé ao lado dele, agitando a
mã o para ele.
— Eu sou Epona. Eu sou sua mã e. —
— Que pena, — disse o menino.
— Você nunca será um homem, você nunca me deixará !
No instante seguinte, Epona pegou numa faca e se atirou
em direçã o a ele.
— Nã o! — nã o há tempo, nã o há tempo. Rosalind atirou-
se na frente da criança e sentiu a faca entrar rá pida e
suavemente em seu tó rax. Ela a sentiu afundar-se no coraçã o
dela, rasgá -lo em dois bocados, e entrar profundamente
dentro dela. Ela sentiu uma grande lassidã o, sentiu que, de
alguma forma, o tempo havia parado, e que ela estava presa
dentro dele. Ela se deixou cair lentamente no chã o. Ela olhou
para o príncipe Egan, que havia caído de joelhos ao lado dela,
seus dedos pequenos pairando sobre a faca, mas ele nã o
tocou nela. Um sorriso saiu de dentro dela.
— Consegui. Você será um homem.
Ele disse vá rias vezes, suas mã os tremulando sobre a
faca, com medo de tocá -la: — Nã o, você nã o pode morrer. — A
voz dele foi invadida por um soluço. Ele olhou para sua mã e.
— Você queria me matar. Mas ela me salvou. Ela deu a vida
para me salvar. Você é mais maldosa do que eu pensava, você
é o mal puro.
— Agora é sua vez, pequeno, — disse Epona, e de
repente outra faca apareceu em sua mã o. — Sua vez e, em
seguida, eu governarei e tudo será como era suposto para ser.
Eu sempre disse a Sarimund que os feitiços dele nã o valiam
nada.
Ela levantou a faca, mas Egan nã o correu. Ele saltou em
seus pé s e a enfrentou. Ele disse:
— Você nã o pode me matar, você nã o pode. Eu sou um
feiticeiro. Nã o vou deixar você me matar, — apontou o dedo
para ela e começou a cantar.
— Você nã o é nada! — Ela levantou a faca para
mergulhá -la no coraçã o dele , mas o som de pé s correndo a
fez se endireitar.
Nicholas correu para o quarto branco, uma antiga
espada na mã o. Ele viu Rosalind deitada de costas, parada,
tã o sem vida, uma faca enfiada no coraçã o. Um pequeno
garoto estava inclinado sobre ela, a mã o pressionada contra o
ombro dela.
— Nã o! — Ele jogou a cabeça para trá s e uivou.
— Saia daqui! Ela falhou e você nã o tem que estar aqui.
Ele morre agora, e nã o há nada que você possa fazer sobre
isso, nada!
Nicholas sentiu uma dor tã o grande preenchê -lo, sufocá -
lo, ele pensava que morreria com ela. Mas ele se forçou a
olhar para longe de Rosalind, a olhar para a bruxa louca,
para Epona, segurando a faca pronta, sabendo que ela
matara Rosalind, sabendo que ela mataria Egan també m, se
ele nã o a parasse. Aquilo fez a dor congelar. Agora tudo o que
ele conhecia era fú ria selvagem. Ele queria o sangue dela em
suas mã os, o cheiro em suas narinas. Nicholas viu a ascensã o
da bruxa do chã o, e seu vestido branco ondulando ao redor
dela. Ela voou diretamente para ele, rosnando, os dentes
brancos e brilhantes. Mas agora nã o havia uma faca na mã o.
Em vez dela, na sua mã o branca fina, havia uma lança curta
de cor preta, a ponta tã o afiada que parecia dividir o ar.
Nicholas gritou: — Bruxa negra, seu amante demô nio lhe
deu a espada, nã o foi? Enviou para você do inferno. O que ele
esperava que você fizesse com ela— a comesse junto com seu
feno? — Epona hesitou um momento, gritava maldiçõ es e
apontou a espada do demô nio para ele. Da extremidade saiam
raios brilhantes cor de laranja, iluminando o ar parado,
formando terríveis formas. Ele olhou para sua pró pria espada,
uma espada muito antiga, talvez mais velha que o Capitã o
Jared Vail, o cabo gasto e muito usado.
Ele entã o encarou a criatura que matou a sua esposa, a
esposa que voluntariamente havia dado a sua vida pela do
menino.
— Você é um mal monstruoso, — ele disse com a voz tã o
suave como o ar da noite. — Termina aqui, e estou a terminá -
lo — e ele pulou para cima, cortando com sua espada.
Mas Epona saltou no ar, fora do alcance.
Ele estava em Pale. Ele podia fazer qualquer coisa. Ele
subiu, sua espada apontada para ela. — Venha lutar comigo,
bruxa, ou talvez você deseje galopar para longe de mim?
Ela arremessou maldiçõ es na cabeça dele e Nicholas
voou para mais perto dela, ficando a apenas cerca de seis
passos longe dela, e zombou dela, riu dela…— seu rosto é da
cor da neve fresca e todas essas saias brancas ondulando —
você é ridícula, bruxa.
Epona uivou para ele. — Você nã o é nada mais do que
um mortal perdido aqui que se acha poderoso, mas você é tã o
novo que eu posso ver o xixi em suas calças! — Ela congelou,
mudou-se para mais longe dele, pairou, e entã o caiu
graciosamente no chã o branco. Ele olhou para ela, entediado
como um homem de quase dois metros de altura podia
parecer.
Ela gritou: — eu nã o quis dizer calças! Um calçã o de
criança, nã o de um homem. — Nicholas lhe deu um olhar de
desprezo.
Epona, de repente, usava vermelho brilhante, as saias
ainda ondulando, nã o se sentia vento. Ela endireitou-se, de
novo, e apontou a lança do demô nio pra ele, murmurou algo
muito, muito velho e atirou-a para ele.
Ele desviou-se da lança, usando a espada. Confrontaram-
se duramente, ambos batendo com as suas armas. Entã o como
um, explodiram, enchendo a sala com um arco-íris de luz.
Entã o, Nicholas mergulhou para ela, suas mã os estendidas.
Ela gritou: — Nã o! — E na mã o dela havia uma faca. —
Você é um feiticeiro lamentá vel! Você está morto!
Nicholas simplesmente pensou e a antiga espada, mais
uma vez, estava na mã o dele. Ele bateu na faca dela de lado e
espetou a espada atravé s dela, a ponta saindo das costas
dela. Ela ficou lá pendurada no ar, encarando a espada
cravada no seu peito. Sua surpresa era evidente em seu rosto.
Ela olhou para ele. — Isso nã o pode acontecer, nã o pode. Meu
demô nio, ningué m pode superá -lo, mas você me matou.
— Sim, — ele disse. — É uma espada muito poderosa,
muito velha.
— Mas minha lança de demô nio…
— Nada mal, mas fraca e lamentá vel, — Nicholas disse e
estendeu a mã o. Ele puxou a espada do corpo dela. Ela estava
suspensa, como se estivesse segura por cordas invisíveis, até
que finalmente caiu no chã o, de costas. Ele pairava sobre ela
e viu os olhos dela lentamente escurecerem com a morte. Ele
viu gotas de sangue branco saindo do corpo dela, infiltrando
seu vestido, nã o mais vermelho, mas branco novamente. E o
branco misturado agora. O rosto dela começou a perder a
beleza, a juventude. Ela começou a mudar, a carne dela
ficando frouxa, com rugas nas bochechas e na testa. Ela
continuou a definhar, até que nã o havia nada alé m de um
esqueleto deitado no chã o, envolto em branco. Entã o, nã o
havia nada exceto uma pequena poça de sangue branco onde
ela estivera deitada.
Nicholas caiu no chã o e correu para Rosalind. O rapaz
havia desaparecido. A faca ainda estava no peito dela.
— Nã o, — ele sussurrou e pressionou o rosto contra o
dela. — Nã o, isto nã o era para acontecer. Você nã o pode
morrer. Dar sua vida pela do rapaz? Nã o, certamente nã o era
para acontecer isto!
— Nicholas, poderia por favor puxar a faca? Está muito
frio dentro de mim. —
Ele se endireitou, olhou-a. Ele estava balançando a
cabeça, de repente.
— Sim, você se lembra do que o Sarimund me disse.
Nenhum mal pode me tocar. E entã o, nã o me tocou, só
apagou o mundo por um momento e mandou-me à escuridã o.
Mas, estou aqui novamente, e eu estou bem. Por favor, retire
a faca. Eu tentei tirá -la para fora de mim, mas eu nã o
consegui, e minhas mã os nã o querem se mover. Nã o acho que
eu tenha força para isso.
Ele nã o podia, nã o podia — ele agarrou o cabo e puxou a
faca para fora dela. Ele olhou para baixo. Nã o havia sangue,
somente uma marca no vestido de lã branca.
— Ah, — ela disse, ainda nã o se movendo, — sinto-me
muito melhor.
Ele voltou sobre seus joelhos. — Eu acreditava que
aquele monstro haviaa matado você .
— Nã o, nã o. Você a matou, tal como era suposto, como
eu sabia que você faria. Eu estava consciente, simplesmente
nã o conseguia me mexer, nã o podia falar. Onde está Egan?
— Eu vi o garoto inclinando-se sobre você , quando eu
entrei, mas entã o ele se foi.
— Bem, agora, faz sentido, nã o é ?
— Nada faz sentido neste maldito lugar.
Rosalind tocou levemente com os dedos o peito dela. O
vestido estava bem de novo. — Ah, eu vou ficar bem. —
Lentamente, ela se sentou ereta, sorriu para a mã o dele
colocada no seu cotovelo.
— Jura que você está bem?
— Ah, sim. Egan partiu Nicholas, porque você nã o pode
se encontrar com você pró prio, mesmo aqui em Pale. Você
sabe disso.
De repente, eles ouviram a trombeta de Taranis.
Nicholas e Rosalind saíram da sala branca totalmente
estranha. Mas nã o havia nenhum corredor infinito com
está tuas de guerreiros e salas cheias com almofadas
coloridas. Nã o, mais uma vez estavam nas muralhas de pedra
sangrenta.
Eles levantaram seus rostos para ver Taranis pairando
sobre eles, suas asas chicoteando os riachos de sangue sobre
as rochas negras, espalhando-os pela pedras da muralha.
Taranis levantou sua cabeça enorme e, mais uma vez,
alardeou o som ecoando nas rochas, tornando o cé u de uma
cor cinza pá lida. O vento morreu. Tudo estava silencioso,
exceto o eco de Taranis. Ela sabia que todos podiam ouvi-la —
cada Tibre, cada ser, até a á rvore de Sillow amarela. E os
feiticeiros e bruxas.
Ele cantou para eles:
— Está tudo bem. Está tudo bem. Você salvou o príncipe
Egan, ama, como era suposto. Ah!, Sarimund, finalmente,
conseguiu realizar seu feitiço.
— Saber que um homem moderno pode matar um
monstro, é gratificante. Está tudo acabado. A milady salvou o
Príncipe, e você , o homem, pagou sua dívida com ela. Acabou-
se e o Príncipe Egan governará como ele estava destinado a
governar.
Nicholas sorriu para ela. — Eu me pergunto o quã o alto
se pode saltar aqui em Pale? —
— Tã o elevado quanto as nuvens beringela. Afinal, você
pode voar... — ela nã o conseguiu evitar, jogou a cabeça para
trá s e riu.
— Ah, Nicholas, — ela gritou e atirou-se contra ele, seus
braços trancados em torno das costas dele.
Ele a beijou... uma vez, duas vezes, incapaz de parar, até
Taranis pigarrear com a sua poderosa garganta no que
parecia ser um rugido silenciado. Nicholas a soltou, recuou e
levantou a cabeça para o cé u. Ele falou numa voz que abalou
as pedras da fortaleza.
— Sarimund! Ela salvou o menino que é seu filho. Paguei
minha dívida. Epona está morta. Você ouviu o Taranis, agora
Egan dominará o Pale como era suposto acontecer.
— Tudo será diferente agora, tudo seguirá agora no Pale
em um caminho muito bom, na verdade.
Ele assentiu com a cabeça, como se ouvisse uma
resposta. Ele olhou a mulher dele e sorriu.
— Ouviu o barulho? É hora de ir embora. O menino
agora é um homem. É hora para a alteraçã o que vem... — ele
fez um sorriso torto. — Tanto quanto eu gostaria de vê -lo, eu
nã o posso encontrá -lo. O que aconteceria se nos víssemos
cara a cara? Eu nã o sei e nã o quero saber.
Nicholas colocou-a nas costas do Taranis. O dragã o
elevou-se para o cé u acima de pedra sangrenta e pairou. E
cantou para eles.

Uma nova temporada para o Pale,


Uma força de vida nova vai correr pelas planícies,
Uma calma escuridão para abençoar as noites.
E sabedoria para iluminar o espírito.

Quando eles subiram mais alto, observaram quando a


fortaleza começou a rolar sobre si mesma. Pedras negras
começaram a cair ao lado do Monte Olyvan, o som como um
louco trovã o, ensurdecedor. As torres caíram, os arcos
focaram em pedaços, o ar era grosso de entulho e sujeira.
Eles observaram até pedra sangrenta desaparecer, até o topo
do Monte Olyvan ficar completamente nu. Lentamente, eles
viram o Monte Olyvan começam a ficar verde, flores silvestres
da primavera apareceram, arbustos com incrível cor
começarem a cobrir a montanha. Havia á rvores de Sillow
amarelas jorrando da rocha radiante, brilhante.
— Ah!, o novo reino, — Taranis cantou, — e um novo
líder para nossa terra... — e eles assistiram uma fortaleza
branca se construir sozinha, as pedras se ajeitando,
levantando-se para o ar a grandes alturas, torreõ es brancos
brilhantes saltando para cima, brilhando debaixo de um sol
novo que brilhava sobre toda a terra.
Bandeiras voaram das muralhas. Elas eram brancas com
trê s luas amarelo claro, cobrindo-as. Elas tremulavam em um
vento suave.
O ar cheirava diferente. Cheirava a plenitude.
Eles viram Belenus e Sarimund saírem do vasto palá cio
branco, sobre as muralhas. Eles falavam um com o outro.
Apareceu outro homem, um homem bonito, jovem, e eles
ficaram ali, até que Sarimund estendeu os braços para ele.
Egan, o Príncipe caminhou rapidamente até ele e eles se
abraçaram. Sarimund levantou a cabeça para olhar para eles.
Ele sorriu.
Rosalind ouviu-o dizer claramente em sua mente:
— Obrigado por salvar meu filho, Isabella. Egan governa
agora. Ele é bom. Se você precisar de mim, você só precisa
chamar. Milord, sua dívida está paga. Tudo graças a você .
Obrigado, Capitã o Jared Vail. Vá para casa, Isabella, vá para
casa.
Taranis pairou, mais uma vez, e subiu.
— Segurem firmemente. — Ele cantou para eles e voou
para cima diretamente para um sol da cor do limã o maduro.
Eles olharam para baixo para ver a terra abaixo se tornar
menor e menor, em seguida, desaparecer. O ar estava quente,
como a seda deslizando em suas carnes. Tudo era brilhante e
calmo, o ar tã o claro que eles podiam ver atravé s das gemas
que estavam cravejadas em volta do Taranis.
Rosalind ouviu um canto — suave, atraente, uma voz de
mulher e parecia familiar. Era a voz da mã e dela. Ela viu o
rosto de um homem, seu pai e ele estava acenando para ela,
sorrindo, seus braços abertos.
Ela sentiu braços de Nicholas apertar em volta da
cintura dela, senti o há lito quente dele em seu pescoço. Ela se
inclinou contra o tó rax dele, sentiu-se calma, em paz.
O Taranis estava cantando para eles?
Em seguida, nem Nicholas nem Rosalind sabiam mais
nada.
Epílogo

San Savaro, Itália.

Eles ouviram aplausos.


A carruagem rolava sobre as ruas de paralelepípedos na
escaldante capital, na cidade de San Savaro. Multidõ es
estavam alinhadas pelas ruas, gritando e batendo palmas,
acenando para eles. Por trá s das multidõ es, estavam lojas e
café s, pequenos parques, cavalos amarrados aos postes,
carruagens ao lado de carroças. E flores por toda parte, em
vasos enormes, nas pequenas floreiras das janela, crescendo
em cada mancha de verde. As cores e os perfumes eram
embriagantes
— O que é isto? — Disse Nicholas, olhando para as
pessoas, obviamente a acolhê -los. — Com certeza devem
acreditar que nó s somos algué m.
Eles haviam partido de Inglaterra, um mê s depois que
haviam despertado em sua cama, em Wyverly Chase, para
encontrar Richard andando pela sala de visitas, a mã e no
encalço dele, gritando que queria deixar aquela casa, porque
aquele fantasma miserá vel a ignorou. – Para ela – nem
cantava insultos, nem inclinava a cadeira para reconhecer a
presença dela, e ela estava cansada de seu maldito enteado e
daquela esposa vadia, os dominando.
— Mas ele é o Conde, — disse Richard. — É o direito,
dele, mandar em nó s. Ele é o milord Mountjoy. A vadia é a
esposa dele. Aceite isso mã e.
Rosalind falara da entrada:
— Milady, eu imagino que o nosso fantasma finalmente
continuou o seu curso. Você vê , já nã o há uma razã o para ele
ficar. Richard, tudo vai dar certo agora. Todos nó s vamos ficar
bem agora. Pode acreditar nisso.
Richard Vail olhou para ela e, em seguida, sorriu,
realmente sorriu. Em seguida, ele sorriu para seu meio irmã o,
um sorriso tã o parecido com Nicholas que quase a fez chorar,
e ele disse:
— Bom. Isso é bom.
Uma mudança radical? Ela se perguntava. Ela ouviu a
voz de zombaria de Lancelot vindo do corredor. Talvez seja
demais esperar uma mudança radical em Lancelot.
— Nã o consigo superar isso. — Nicholas disse agora,
olhando à multidã o de pessoas. — Devem acreditar que nó s
estamos visitando dignitá rios.
— Ou talvez eles estejam esperando o Papa. — Rosalind
disse e sorriu para ele. Ela nã o contou para Nicholas que
havia visto o pai, em Pale, que o pai dela havia se virado para
olhar para ela e a viu. Ela soube que ele a havia visto e que
ela estava bem.
Ela olhou para o sol brilhante e pensou no sol amarelo
brilhante em Pale, e como Taranis voara em direçã o a ele e
entã o, — simplesmente nada. Como eles retornaram para
Wyverly Chase, para acordar na sua pró pria cama, ainda
vestindo suas capas, ainda de mã os dadas?
Mas eles tinham. Eles també m tiveram alguns
solavancos e contusõ es e dores musculares. O peito de
Rosalind estava um pouco sensível ao toque. Onde a faca de
Epona havia mergulhado nela.
As multidõ es estavam atentas à carruagem puxada por
Graçe e Leopold, quase empinada com toda a atençã o que
eles estavam recebendo. A carruagem rolou para fora do
centro, de San Savaro. A estrada de paralelepípedos ficou
mais larga e começou a se elevar em direçã o a uma crista
sobre a qual estava um palacio imenso de tijolos amarelos, o
amarelo de Pale, como um sol aquoso. Quando eles se
aproximavam, eles viram que o comprimento inteiro do
palá cio possuia uma longa fila de magníficas colunas dó ricas,
cercada por fontes de pulverizaçã o de á gua elevada no ar,
pela boca de ninfas e sá tiros sorridentes. Está tuas antigas
estavam em grupos ou sozinhas no jardim, e mais enormes
potes de flores caindo do que Nicholas havia visto, desde que
deixaram seus pró prios jardins em Wyverly Chase
pontilhavam o gramado verde bem cuidado. Era elegante e
gracioso.
Nicholas perguntou:
— Você se lembra?
— Sim. Nã o parece tã o grande agora, se você sabe o que
quero dizer.
— Nã o, nã o é grande em tudo, — disse ele e beijou a
orelha dela.
Seu transporte parou com um floreio, executado com
grande brio por seu motorista, Lee Po, que poderia fazer
qualquer coisa, ele havia assegurado a Rosalind. Ele permitiu
que tanto Grace quanto Leopold batessem com os patas e
bufassem.
Para espanto de Nicholas, em pé no topo da escadaria de
má rmore infinitamente ampla com duas dú zias de degraus,
estava uma fila de pessoas — dois homens, uma mulher e
trê s filhos, jovens, todos eles. Nicholas suspeitou que els
vestiam as suas melhores roupas. Eles estavam todos
acenando loucamente.
Ele reconheceu a mã e de Rosalind, imediatamente, e
sabia que Rosalind ficaria assim com o tempo. Uma mulher
bonita, arredondada e macia, com uma pele brilhante e
aquele cabelo vermelho glorioso brilhando sob o sol quente
italiano. Ela estava usando um vestido verde do mesmo estilo
e cor que Rosalind usara no dia anterior. Ela estava
segurando um bebê em seus braços.
Lá estava o irmã o mais velho de Rosalind, Raffaello, um
homem alto, bonito, jovem, que era muito familiar a Nicholas,
e certamente isso era estranho. Entã o ele olhou para o pai da
esposa e ficou congelado. Nã o, ele pensou, nã o podia ser
possível.
— Nã o, — ele disse em voz alta. — Nã o.
— Eles nã o queriam deixá -la fora de sua vista. Eu me
pergunto se eles vã o me deixar levar você quando for hora de
regressar a casa para assistir ao casamento de Grayson em
setembro... — ele fez uma pausa e olhou ao redor.
— Este era seu quarto? — Ele tirou suas botas e
começou a desabotoar a camisa dele. Ele estava quente.
— Sim. Nã o trocaram nada nele.
Nicholas abriu todas as janelas e inclinou-se para fora
para respirar o perfume original da Itá lia. Seus aposentos
ficavam em frente aos jardins do leste e o ar estava quente e
cheirava a jasmim. E o quê ? Excitaçã o, ele pensou. Havia
tanta excitaçã o no ar desde que chegaram esta tarde.
Nicholas disse: — Eu gosto de seus irmã os. E Raffaello é
um bom homem, — disse ele, voltando-se para olhar para sua
esposa quando ela pegou um adorá vel roupã o de seda
pê ssego. Que bom que a camisola por baixo era tã o
transparente.
— Sim, eu també m gosto. Os jovens nã o sabem o que
pensar de nó s — de mim — mas eles virã o a me aceitar como
a irmã deles e você como um irmã o. Eu trouxe uma dú zia de
caixas de doces ingleses. Estas amê ndoas cristalizadas, em
particular, deve ajudá -los a nos aceitar mais rapidamente. —
Ela parou um momento, franziu a testa. — Que estranho,
Raffaello é um homem crescido agora. Vejo-o tã o claramente
como um garoto.
— Seu pai, Rosalind, ele…
— Sim, eu sei. Nã o perceberia isso, no entanto, se nã o
tivesse visto o retrato.
— Seu pai é a maldita imagem do Capitã o Jared Vail. —
Ele disse, em voz alta.
— Sarimund disse que nossas linhagens se cruzaram,
em algum lugar, em tempos medievais, muito tempo atrá s.
Ainda assim, Nicholas, nã o é como se o meu pai fosse a exata
có pia do Capitã o Jared. Existem diferenças, assim como
existem diferenças entre você e Richard.
— Sim, mas Richard é meu meio irmã o, vivemos agora,
ao mesmo tempo, apenas cinco anos entre nó s, nã o trezentos
anos.
Feitiçaria, ele pensou, ele odiava como nã o fazia sentido
para um cé rebro humano. Ele disse: — Deixe-me ver seu
dedo, o que você picou na escama do Taranis.
Ele pegou a mã o dela e examinou o dedo dela. Ele se
calaram. — Você está pensando nisso, nã o é ?
— Ah, sim. Cada dia fica mais claro. Você acha que é a
marca do Taranis?
Ele disse, — deve ser, mas por que um raio de luz, eu me
pergunto? —
— Nã o sei.
Nicholas beijou o dedo. — Eu me pergunto. Pergunto-me,
— ele repetiu e sabia, simplesmente sabia, que no futuro, de
alguma forma, aquela marca vermelha, pá lida significaria algo
em suas vidas.
Ela disse: — Vittorio escapou.
— Sim, eu sei. Seu pai é poderoso o suficiente para
encontrá -lo.
— Sim, ele é . Ele se culpa por Vittorio dizendo que sabia
que eu estava viva e que eu estava vindo para casa. É uma
pena que aquele homem, Erasmo, morreu. Eu gostaria de
levá -lo para Pale e jogá -lo em um poço de fogo.
— Estou pensando que Vittorio o matou.
— Você provavelmente está certo. Ouso dizer que meu
pai vai matar o Vittorio pelo que ele fez. Ele vai encontrá -lo,
Nicholas... — e ambos sabiam que ela estava falando da
magia do pai dela.
— Pelo menos, a segunda esposa do Vittorio está livre
dele. — Ele andou com ela e a apertou em seus braços. —
Imagine. Minha esposa, minha simples esposa ruiva simples,
é uma princesa.
— Bem, eu sou chamada somente de milady, nenhum
conto de fadas nesse título.
— Você é real, uma princesa. Minha pobre madrasta
ficou sem palavras quando eu contei para ela, — eu acho que
eu, realmente, nunca ouvi uma pessoa explodir antes. Pensei
por um momento, uma vez que ela acreditou em mim, que ela
faria uma reverê ncia para você .
Rosalind deu uma risadinha.
— Bem, você anunciou-me como uma princesa italiana.
Antes de partirem, ela sussurrou para mim que eu ainda era
uma meretriz, uma meretriz estrangeira, e descobriríamos
que meu pai me renegou. Uma princesa, há !
Ele beijou a orelha dela. — Eu aprecio que ela se
manteve maligna, nenhuma mudança em tudo. Caso
contrá rio, eu precisaria gostar dela. Richard poré m, começo a
acreditar que eu e ele vamos nos dar bem, juntos. Isso me faz
pensar se ele influenciará Aubrey em meu favor.
— Enquanto Lancelote e Miranda continuarem
desagradá veis, eu vou ficar contente. — Ela riu e o apertou.
— Tudo bem, eu sou uma princesa, uma princesa
estrangeira. O que acha disso?
Ele a segurou um pouco longe dele e olhou nos olhos. —
Acho que minha princesa estrangeira gostaria de visitar
Macau. Na verdade, Lee Po sugeriu isso. Ele disse que você
seria adorada por lá .
Ela caiu em silê ncio. — Você acha que você poderia me
ensinar o portuguê s quando chegarmos?
— Ah, sim e Lee Po já se ofereceu para lhe ensinar o
mandarim Chinê s... — ele começou a beijá -la e, em seguida,
parou de repente, e se afastou. — Você deveria ter me dito
que seu pai sabia que você estava viva e voltando.
— Você acreditaria?
— Nã o. Sim. — Ele amaldiçoou, passando os dedos pelo
seu cabelo. Provavelmente, droga.
— Beije-me, Nicholas. Somos má gicos, aceite. — Ele
murmurou sob sua respiraçã o, mas nã o baixo o suficiente. —
Uma bruxa, minha esposa estrangeira é uma bruxa maldita.
Ela riu, ficou na ponta dos pé s e sussurrou contra o
pescoço dele: — Milord, você é um maldito feiticeiro.
Quando ele acariciou o pescoço dela, Nicholas pensou
numa das está tuas que havia visto, quase coberta com uma
Bouganville descontroladamente vermelha. Nã o era muito
grande, mas era extraordinariamente real, — uma está tua de
má rmore, de um dragã o com brilhantes olhos e escamas que
pareciam afiadas o suficiente para cortar um dedo.
O focinho do dragã o lembrou-lhe de Clandus.
Notas

[←1]
Bergantim é uma embarcaçã o do tipo da galé , de um a dois mastros e velas
redondas ou vela latinas. Levava trinta remos e era utilizado como elemento
de ligaçã o, exploraçã o, como auxiliar de armadas ou em outros serviços do
gé nero.
[←2]
Festa de Haloween - Dia das bruxas.
[←3]
Um prato de coleta é frequentemente usado perto do fim de alguns cultos de
adoraçã o protestante, ao invé s de no ofertó rio no rito cató lico, para reunir as
oertas dos fié is para o apoio da igreja e à caridade.
[←4]
Pale = Pálido - deriva da palavra latina pālus, que significa "estaca",
especificamente uma estaca usada para apoiar uma cerca. Uma cerca feita
de palas agrupadas lado a lado, uma paliçada , é derivada da mesma
raiz. Daí veio o significado figurativo de "limite" e, finalmente, a frase além do
pálido , como algo fora do limite - isto é , nã o civilizado. També m derivada do
conceito de "limite" era a idé ia de um pá lido como uma á rea dentro da qual
as leis locais eram vá lidas. O termo foi usado nã o apenas para o Pale na
Irlanda, mas també m para vá rios outros assentamentos coloniais ingleses,
notavelmente o inglê s Calais.
[←5]
Bulgar- Os bú lgaros (também Bulghars, Bulgari, Bolgars, Bolghars, Bolgari,
protobú lgaros) eram tribos guerreiras semi-nô mades de extraçã o turca que
floresceram nas estepes pô ntico-cá spio e na regiã o do Volga durante o sé culo
VII. Emergindo como equestres nô mades na regiã o do Volga-Ural, de acordo
com alguns pesquisadores, suas raízes podem ser rastreadas até a Á sia
Central.
[←6]
Danelaw, como registrado no Chronicle anglo-saxã o, é um nome histó rico
dado à parte da Inglaterra em que as leis dos dinamarqueses dominavam e
dominavam as dos anglo-saxõ es. Danelaw contrasta com a lei saxã ocidental
e a lei da Mé rcia. O termo é registrado pela primeira vez no início do século
11 como Dena lage.
[←7]
Na mitologia grega, Caronte (em grego: Χά ρων , transl.: Chá rō n) é o
barqueiro de Hades, que carrega as almas dos recé m-mortos sobre as á guas
do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos
mortos.
[←8]
O siroco ou xaroco (em italiano scirocco [ʃiˈrɔkko] e em á rabe ghibli) é um
vento quente, muito seco, que sopra do deserto do Saara em direçã o ao litoral
Norte da Á frica, comumente na regiã o da Líbia.
[←9]
Suleiman - Dé cimo sultã o do Impé rio Otomano.
[←10]
Tibre- Espé cie de tigre da sibé ria
[←11]
Sable é uma espécie de marta, um pequeno mamífero carnívoro que habita
principalmente os ambientes florestais da Rú ssia, dos Montes Urais ao longo
da Sibé ria e do norte da Mongó lia.
[←12]
Coupe de foudre- expressã o francesa para amor a primeira vista.

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