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A CANÇÃO DE CÂMARA
BRASILEIRA E SEUS
INTÉRPRETES
Mi nas de Som
Mauro Chantal
Luciana Monteiro de Castro
(Organizadores)
ANAIS DO
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VI SEMINÁRIO DA CANÇÃO BRASILEIRA DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFMG
COMISSÃO ORGANIZADORA: Mauro Camilo de Chantal Santos (UFMG)
Luciana Monteiro de Castro (UFMG)
Mônica Pedrosa de Pádua (UFMG)
Patrícia Valadão (UFMG)
Fábio Janhan (UFMG)
Andréa Peliccioni (Doutoranda-UFMG)
Melina Peixoto (Doutoranda-UFMG)
Elias Magalhães (Graduando-UFMG)
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VI Seminário da Canção Brasileira – Escola de Música da UFMG
Últimas palavras
Patricia!Caicedo,!M.D.,!Ph.D.!
! patricia@patriciacaicedo.com!
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modelo não é questionado, já que nossas mentes parecem continuar colonizadas. Há mais
importância sendo dada à música da Europa central, o cânone.
Apesar de tal constatação, levei adiante meus estudos de canto lírico. Foi somente
quando minha professora de canto, acreditando ser saudável a jovens cantores cantar em sua
língua materna no início de sua formação, me apresentou as Cinco Canções Populares
Argentinas de Alberto Ginastera (1916-1983). O contato com essas canções mudou o rumo de
minha vida. Naquele momento eu descobria a canção de câmara, um gênero que unia meus
dois amores, a música folclórica e a clássica. As canções do compositor argentino foram o
ponto de encontro de duas tradições, um lugar em que eu me sentia confortável, identificada
e, principalmente, segura. Por meio dessa música que falava sobre o que sou, me permitia
expressar, encarnar e sentir de maneira autêntica, expressando o que o meu “eu” latino-
americano. Descobri, pois, a minha missão vital: trazer à luz e promover internacionalmente o
repertório de canções de câmara latino-americanas.
Naquela época, eu não tinha consciência das dificuldades que enfrentaria, nem
tampouco entendia o círculo vicioso que mantém esse repertório nas trevas. O problema se
inicia na falta de valorização da produção local nos países de origem que se encontra imersa
em estruturas de ensino colonialistas. Se a música não é valorizada, não é publicada. Se não é
publicada, não é nem executada nem ensinada e, consequentemente, se perde.
Desde o início de minha pesquisa, e ainda hoje, o processo de encontrar partituras
é árduo e desafiador. Essa dificuldade se deve, também, ao modesto desenvolvimento da
indústria editorial latino-americana e à falta de conscientização a respeito da necessidade de
se proteger os direitos autorais. Se a música não tem valor, pode ser compartilhada e doada
sem o devido respeito aos direitos de seus donos? Por que criar uma empresa que
supostamente não dará lucro? Por que criar uma editora de música?
No princípio de minha trajetória, logo que conheci as canções mencionadas de A.
Ginastera, me dediquei ao estudo do repertório de canções de câmara latino-americanas em
língua espanhola, devido à proximidade cultural e pelo fato de conhecer a língua. Pouco
depois, descobri a canção brasileira e, naturalmente, o primeiro compositor ao qual tive
acesso foi Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Com muita dificuldade, encontrei algumas de
suas partituras em um centro cultural brasileiro em Bogotá. Eram fotocópias de partituras
antigas. Destaco o fato de que as encontrei porque ele teve a sorte de ser publicado e
distribuído por editoras internacionais. Do contrário, eu certamente não o teria conhecido
naquele momento.
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repertório brasileiro vem acrescendo ainda mais e, aos poucos, tenho aprendido maiores
detalhes da língua, aprimorando minha dicção do Português Brasileiro, mergulhando cada vez
mais nesse universo musical. Quanto mais conheço o país, sua música, sua poesia, seu povo,
mais brasileira me sinto e encontro conexões entre a música da América hispânica e a da
América lusófona.
Por meio de Stela Brandão, outra pessoa muito importante veio para o festival, a
inesquecível Martha Herr. Martha esteve duas vezes no festival e, pelo fato de ser uma norte-
americana vivendo e atuando artística e pedagogicamente por muitos anos no Brasil,
demonstrou sua preocupação com a importância do reconhecimento internacional do
repertório brasileiro. Seu olhar mais panorâmico, de alguém que era “de fora”, revelou uma
perspectiva muito importante. Parece que o olhar estrangeiro enxerga mais facilmente o valor
das produções. Martha incutiu em muitos cantores e pesquisadores no Brasil um rigor, um
amor e um respeito pela música brasileira à qual todos devemos.
Da mesma maneira que Stela Brandão trouxe ao festival a Profa. Dra. Martha
Herr, Martha foi a responsável por trazer, não somente ao festival, mas a minha vida, um dos
meus melhores amigos, professor de dicção do Português Brasileiro cantado, cantor e
pesquisador que tanto admiro e que há sete anos tem sido fundamental para o ensino e
divulgação da canção brasileira em nosso festival, o Prof. Dr. Lenine Santos.
Além dos três citados, ainda foram professores do festival: o mezzosoprano Josani
Pimenta, o tenor Adriano Pinheiro, o soprano Elisabeth Almeida e o pianista Achille Picchi.
Em apresentações artísticas também recebemos os mezzosopranos Luciana Monteiro e
Poliana Alves, o tenor Flávio Carvalho e as pianistas Guida Borghoff e Nancy Bueno, entre
outros.
No intuito de fomentar a criação de novas canções, o Barcelona!Festival!of!Song!
encomenda, a cada ano, a composição de novos ciclos de canções de câmara que são
estreados ao longo do evento. Desta forma, obras de Villani-Cortes e Achille Picchi foram
estreadas, além das inúmeras obras de compositores brasileiras que foram executadas nos
recitais realizados. Quero crer que o festival, por meio de tais iniciativas, teve impacto
positivo na internacionalização da canção brasileira e de seus compositores.
Não posso, ainda, me furtar de falar dos alunos do festival. Os participantes do
Barcelona! Festival! of! Song são todos cantores líricos profissionais, sendo muitos deles
professores universitários. Meses antes do início do festival, cada aluno prepara quatro
canções em português, quatro em catalão, quatro em espanhol que lhes atribuímos. A escolha
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Patricia Caicedo.
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