Você está na página 1de 171

XII ENABED

OS ESTUDOS DE DEFESA
E O BICENTENÁRIO DA
CADERNO COMPLETO
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
DA PROGRAMAÇÃO

Universidade Federal Fluminense


Universidade Federal Fluminense
Campus do Gragoatá, Niterói,
Campus RJ
do Gragoatá, Niterói
10 a 12 de agosto de
10 a2022
12 de agosto de 2022
PROGRAMA
ABED - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DE DEFESA

APOIO:
Diretoria ABED 2020-2022
Presidência: Eduardo Munhoz Svartman (UFRGS)
Vice-Presidência: Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC)
Secretaria Executiva: Eduardo Heleno de Jesus Santos (UFF)
Secretaria Executiva Adjunta: Igor Castellano da Silva (UFSM)
Diretoria de Relações Institucionais: Marina Gisela Vitelli (UNIFESP)
Diretoria Financeira: Ana Luiza Bravo e Paiva (ECEME)
Diretoria Financeira Adjunta: Cintiene Sandes Monfredo Mendes (ESG)
Diretoria de Publicações: Augusto W M Teixeira Júnior (UFPB)
Conselho Fiscal: Fernando José Ludwig (UFT) e Maria Celina Soares D’Araújo (PUC-Rio)
4

A ABED
A Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) é uma associação de caráter científico
cuja finalidade é congregar pesquisadores que desenvolvam estudos e pesquisas sobre defesa
nacional, segurança nacional e internacional, guerra e paz, relações entre forças armadas e
sociedade, ciência e tecnologia no âmbito da defesa nacional e questões militares em geral,
assim como demais assuntos de natureza estratégica, visando promover o desenvolvimento da
área, o intercâmbio de ideias, o debate de problemas pertinentes a esse campo de conhecimento
e o resguardo de interesses comuns.

Atual Presidente: Prof. Dr.Eduardo Munhoz Svartman


Site da ABED: https://www.abedef.org
Canal da ABED no youtube: https://www.youtube.com/channel/UC3RbAFNJzqHIee5oEo­
BEC2w

O Instituto de Estudos Estratégicos


da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF)

O INEST é um cen­tro de for­mação e pesquisa voltado para a análise das questões estratég­i­cas
rel­a­ti­vas à Defesa Nacional e à Segu­rança Inter­na­cional. Tem como obje­tivo desen­volver e con­
sol­i­dar o pen­sa­mento brasileiro na área, for­mando recur­sos humanos grad­u­a­dos e pós-gradua­
dos na área dos Estu­dos Estratégi­cos e das Relações Inter­na­cionais. O mandato de seus debates
e reflexões é global. É uma insti­tu­ição, em todos os sen­ti­dos, não par­tidária e plural. Como
instru­mento de obtenção cien­tí­fica do con­hec­i­mento, visa servir à sociedade brasileira como
um todo. Em ter­mos acadêmi­cos, seu maior com­pro­misso é com a uni­ver­si­dade repub­li­cana e
demo­c­ra­ti­ca­mente organizada.

Atual Diretor: Prof. Dr. Vagner Camilo Alves


Site do Instituto: http://inest.uff.br/
Canal do INEST no youtube: https://www.youtube.com/c/InstitutodeEstudosE­
strat%C3%A9gicosUFF
5

Mensagem do presidente da ABED

Ao longo de 2020 e de 2021 as dificuldades impostas pela pandemia do COVID-19 nos obrigaram
a postergar e depois a realizar em modalidade virtual o XI ENABED. Neste período, todos nós
enfrentamos os desafios, angústias e perdas advindas da pandemia, da restrição do convívio
social e do home office. Ao mesmo tempo, mudanças importantes se acentuaram no panorama
securitário internacional e no padrão das relações civis-militares no Brasil. O que tornou ainda
mais desafiadora e necessária a nossa tarefa de produzir conhecimento, reflexão e crítica sobre
defesa nacional, segurança nacional e internacional, guerra e paz, relações entre forças armadas
e sociedade, ciência e tecnologia no âmbito da defesa nacional, estratégia e questões militares em
geral.

A melhoria das condições sanitárias permitiu que propuséssemos a realização do XII ENABED
novamente de forma presencial, ao que a comunidade respondeu positivamente com o elevado
número de inscrições nas diferentes atividades do evento. O tema central “Os estudos de defesa
e o bicentenário da independência do Brasil” toma a efeméride dos 200 anos da declaração de
independência como ponto de partida para debateremos a nossa trajetória enquanto país e os
desafios à nossa frente para avançarmos na concretização dos princípios da Constituição de 1988
de sermos um país soberano, democrático, desenvolvido, seguro e relevante internacionalmente.

Agradecemos a hospitalidade dos colegas do Instituto de Estudos Estratégicos (INEST) e da


Universidade Federal Fluminense (UFF), bem como da equipe de estudantes de Graduação
de Relações Internacionais (GRI) e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos
(PPGEST) que contribuem nas várias atividades de apoio que tornam o XII ENABED possível.
Somos particularmente agradecidos à BAE Systems, que gentilmente decidiu patrocinar o evento
contribuindo para a construção de pontes entre o campo acadêmico e o setor empresarial.
Agradecemos também à CAPES, que mesmo num cenário de severas restrições orçamentárias,
lançou o seu tradicional edital de apoio à organização de eventos científicos no país e alocou
recursos para que centenas de eventos como o nosso pudessem se tornar realidade neste ano de
retomada das atividades presenciais.

Em nome dos meus colegas da diretoria da ABED, da comissão organizadora e do comitê


científico, dou as boas-vindas às associadas, aos associados e demais participantes do XII ENABED.
Que tenhamos três dias de reencontros, trocas, reflexões, debates e críticas em torno dos complexos
e urgentes temas que compreendem a agenda de estudos da ABED.
Que tenhamos um excelente (re)encontro.

Eduardo Munhoz Svartman


Presidente
SUMÁRIO

Como chegar 07
Salas e Auditórios 09
Areas Temáticas
AT.01- Ciência, Tecnologia e Indústria 13
AT.02 - Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em Defesa 25
AT.03 - Estudos Estratégicos e Geopolítica 36
AT.05 - Forças Armadas, Estado e Sociedade 50
AT.06 - História Militar e da Guerra 36
AT.07 - Segurança Internacional e Defesa 74
AT.08 - Estudos para a Paz e Transformação de Conflitos 87
AT.09 - Filosofia e Direito da Guerra 98
AT.10 - Economia e Gestão de Defesa 102
Painéis 114
Video Conferência 144
Mesas Redondas 145
Lançamento de Livros 147
Minicursos 151
Posteres de Iniciação Científica 157
Comitês 167
7

Como chegar
3

1 - UFF, Gragoatá 2 - Barcas 3 - Terminal Rodoviário João Goulart

O Campus do Gragoatá,está localizado em uma Como chegar ao Campus do Gragoatá:


região de fácil acesso, e conta com estrutura de
auditórios e salas adequadas à realização do evento. Transporte Público
Próximo à entrada do Campus, na Praça Leoni Ramos
(Cantareira) há uma série de restaurantes, salas de Origem: Niterói ­ Terminal Rodoviário João Goulart
exibição do Centro Petrobrás de Cinema e do Cine e Estação Barcas Arariboia ­ Niteroi –Linhas 47, 47A
Reserva e uma livraria. e 47B

A entrada do Campus está a 1,3 km do terminal das Origem: Niterói, Icaraí ­ Linha 47
Barcas, a 2,5 km da rodoviária municipal, 23km do
Aeroporto Santos Dumont e a 25,5 km do Aeroporto Origem: Rio de Janeiro, Aeroporto do Galeão –
Internacional do Galeão. linhas 760D (Charitas x Galeão), 1760D (Charitas x
Galeão via Cidade Universitária/UFRJ) linhas 1900D
O acesso pode ser feito por transporte público ou (Charitas x Galeão ­ via Cidade Universitária/UFRJ e
veículo particular. Rodoviária Novo Rio) desembarcar na Estação Barcas
Arariboia ­ Niteroi
Próximas ao campus, em um raio de 1,6 km,
localizam­se quatro hotéis (Cantareira, H Niterói, Origem: Rio de Janeiro, Aeroporto Santos Dumont –
Niterói Palace). linhas 740D e 2740D (Copacabana x Charitas)

Em frente ao Campus, na Praça Leoni Ramos, há uma Origem: Rio de Janeiro, Rodoviária Novo Rio – Linha
série de restaurantes. 755D (Charitas x Gávea)

Próximo ao Campus, temos ainda o Shopping Plaza Origem: Centro do Rio – Estação das Barcas Praça
Niterói e o comércio do centro da cidade. XV
8
9

Salas e
auditórios do
XII Enabed
10 a 12 de agosto de 2022
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CAMPUS DO GRAGOATÁ
NITERÓI, RJ
10
Credenciamento Conferências Entrada Bloco P
Conferências Auditório Bloco O e P
Assembleia geral ABED /Eleição da diretoria Auditório Bloco M
Secretaria do Evento A-201
Credenciamento geral Bloco A - sala A-201

Área Temática Sala


AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria A-301
AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em Defesa A-302
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica A-303
AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade A-304
AT 06. História Militar e da Guerra A-305
AT 07. Segurança Internacional e Defesa A-503
AT 08. Estudos para a Paz e Transformação de Conflitos A-504
AT 09. Filosofia e Direito da Guerra A-305
AT 10. Economia e Gestão de Defesa A-505

Painéis
A Governança em Defesa: uma visão holística A-501
Incorporação de Tecnologias para a Defesa: impactos orga-
nizacionais, doutrinários e na autonomia estratégica A-501
Multipolaridade, Multilateralidade e Questões Hu-
manitárias A-501
O “time” brasileiro das negociações com a AIEA de ar-
rangement envolvendo a aplicação de procedimentos espe-
ciais para o material nuclear do Submarino de Propulsão. A-501
O Entorno Estratégico Brasileiro: Prioridades da Defesa
Nacional e Presença das Grandes Potências A-502
Os Impactos da Segurança Alimentar na Defesa e na Segu-
rança dos Estados A-501
Perfil e formação do oficial do Exército na AMAN A-502
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 1 A-502
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 2 A-501
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional III A-502
Transição sistêmica e os desafios à dissuasão extrarregional
de potências intermediárias A-501
Militarização sem Securitização: o caso da COVID-19 no
Brasil A-502
Video Conferência: Crime organizado, Segurança e Defesa
nas Américas A-406
11
Mesa Redondas
Os estudos de defesa e o Bicentenário da Independência do
Brasil Auditório do Bloco P
Conflitos Armados Contemporâneos e as Mudanças na
Ordem Global Auditório do Bloco O
10 anos do INEST Auditório do Bloco P
Democracia e Defesa: como ampliar o diálogo com a socie-
dade civil? Auditório do Bloco O
Novas Tecnologias e a Guerra no Século 21 Auditório do Bloco P
Relações civis-militares no Brasil contemporâneo Auditório do Bloco O

Lançamento/estande de livros A-203


A-205 E CORREDORES
Painéis de Iniciação Científica 2, 3 e 5

Minicursos
Geopolítica Aeroespacial A-301
Geopolítica da Amazônia brasileira e sul-americana no
século XXI A-302
Segurança, desenvolvimento e defesa nacionais: conceitos,
abordagens e fontes de pesquisa A-303
Guerra Financeira: O dólar contra Teerã e Moscou A-304
Offsets de Defesa: principais conceitos para sua implemen-
tação e as contribuições da Compensação Tecnológica, In-
dustrial e Comercial para a Base Industrial de Defesa (BID)
e para a Segurança Nacional A-501
Segurança e Defesa Nacional sob perspectiva da Economia
Política Internacional A-502
Segurança, desenvolvimento e defesa nacionais: conceitos,
abordagens e fontes de pesquisa A-503
Reunião de trabalho
Coordenadores do PROCAD A-306
Coordenadores de Curso A-506
12

CONFERÊNCIAS
Auditório Bloco P
Credenciamento a partir das 08h

Dia 10/08/22, 09h


Conferência de abertura: Profª. Drª. Adriana Barreto
do Souza, UFRRJ

Dia 12, 18h


Conferência de encerramento: Prof. Dr. Eugênio Diniz,
PUC-MG

ASSEMBLÉIAS
Auditório Bloco M

Dia 11/08/22, 18h


Assembleia Geral
Dia 11, 19h
Assembleia extraordinária
13

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
Áreas
Temáticas
10 a 12 de agosto
Período da tarde

Área Temática Sala


AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria A-301
AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em Defesa A-302
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica A-303
AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade A-304
AT 06. História Militar e da Guerra A-305
AT 07. Segurança Internacional e Defesa A-503
AT 08. Estudos para a Paz e Transformação de Conflitos A-504
AT 09. Filosofia e Direito da Guerra A-205
AT 10. Economia e Gestão de Defesa A-505
14
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

AT 1
Ciência, Tecnologia
e Indústria
Prof. Dr. Alcides Eduardo dos Reis Perón (USP)

Prof. Dr. Luiz Rogério Goldoni (ECEME)

Reconhecendo que a tecnociência é moldada por interesses políticos e econômicos, capazes de


reordenarem as estratégias e práticas militares, esta área temática acolhe trabalhos que discutam
as relações entre tecnociência, guerra e desdobramentos políticos, econômicos e administrativos
das atividades bélicas. São temas de interesse da área: Tecnociência e inovação; Sistemas de
inovação; Pesquisa e Desenvolvimento; Transbordamentos Tecnológicos; Tecnologias de
Uso Dual; Transferência tecnológica; Tecnopolítica, Cibersegurança; Ciberdefesa; Novas
Tecnologias e Armamentização (weaponization); Tecnologias Informacionais e Militarismo;
Tecnologia, Estratégia e impactos nos conflitos e políticas de Segurança; Cerceamento e
bloqueio de comercialização de tecnologias; mobilização nacional; engenharia de sistemas para
defesa; sistemas de comando, controle, comunicações, computação, inteligência, vigilância e
reconhecimento; jogos de guerra; simulações analíticas e didáticas
15
AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria - Sala A-301

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
Coordenadores: Prof. Dr. Alcides Eduardo dos Reis Perón (USP) e Prof. Dr. Luiz
Rogério Goldoni (ECEME)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45


A evolução tecnológica do setor de aviões de caça: Proposição de tipologia
Marcos José Barbieri Ferreira (Unicamp - Faculdade de Ciências Aplicadas)
A Sustentação de Capacidades Tecnológicas transferidas por meio de Compensações de Defesa
(offset): um estudo de caso no setor aeroespacial
Alexander de Mello Lima (Força Aérea Brasileira, Instituto de Fomento e Coordenação Industrial),
Rodrigo Antônio Silveira dos Santos (UNIFA)
Doutrina Militar Naval e seus impactos na Indústria de Defesa: uma potencial relação de de-
pendência.
Rodrigo Monteiro Lázaro (PPGEST-UFF, Marinha do Brasil)

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Os Sistemas de Aquisição (Compra e Venda) de Defesa no Brasil e na Suécia & Oportunidades
Bilaterais no Setor Naval
Carolina Ambinder de Carvalho (PPGEST-UFF)
Inteligência e “Dossierveillance” na América Latina: Os riscos do uso de Sistemas de Inteligência
em Bases de Dados Abertas (OSINTs) na produção de dossiês, e na convergência entre policiamen-
to e inteligência
Alcides Eduardo dos Reis Peron
Sistemas Missílicos como Indutores da Modernização Militar? Brasil, Índia e Israel Comparados.
Marco Túlio Delgobbo Freitas, Augusto Wagner Menezes Teixeira Júnior, Antonio Henrique Luce-
na Silva
Força Aeroespacial Brasileira: bases para a sua concepção
Alexandre Manhães

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


A Era da Cognição, os Sistemas C5IRVA e a Transformação dos Conflitos.
Nina Machado Figueira
Análise preliminar da perspectiva cognitiva da Dimensão Informacional no conflito entre Rússia e
Ucrânia através da aplicação de técnicas de aprendizagem de máquina de baixa supervisão
Cristiano Monteiro Nunes
Neurociência, tecnologia e controle: uma nova forma de agressão e legitimação da guerra
Victoria Nicolielo Reginatto Noviscki, João Pedro Braga de Carvalho

Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45


Utilização do modelo das Três Linhas de Defesa para o tratamento de riscos cibernéticos na Força
Aérea Brasileira
Osvaldo José de Jesus Silva, Newton Hirata
A proteção de dados pessoais como um direito fundamental e universal
Abian Laginestra, Nilton Lopes da silva Gomes
O papel da estratégia cibernética da China na defesa dos seus interesses estratégicos
16
Rodrigo Abreu de Barcellos Ribeiro
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-15h45


Poder Naval, BID e o cluster da região Sul
Guilherme Penha Pinto, Erika Cristina Barbosa de Almeida Ribeiro, Cássia Heloisa Ternus
A influência da intervenção estatal no desenvolvimento da indústria de defesa: um estudo sobre o
caso brasileiro
Alexandre Tadeu Ferreira da Silva
Financiamento de C,T&I e o Modelo de Negócios Canvas: o caso dos royalties de produtos es-
tratégicos de defesa no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA)
Julio Eduardo da Silva Menezes, Eduardo Quesado Filgueiras, Cristiano Coimbra de Souza
Revisão Bibliográfica sobre a Origem da Inovação em Instituições Militares
Gabriela Alves de Borba
17
AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
Sessão 1 (10/08 das 14:00 as 15:45)

Local: Sala A-301


A evolução tecnológica do setor de aviões de caça: Proposição de tipologia

Marcos José Barbieri Ferreira (UNICAMP - Faculdade de Ciências Aplicadas)

Inicialmente, o trabalho busca analisar a dinâmica da inovação no setor de aviões de caça, destacando a
crescente importância das escalas produtiva e financeira nessa dinâmica. Dada a relevância estratégica dos
aviões de caça, constata-se que esses precisam ser tecnologicamente equivalentes ou superiores aos seus reais
ou potenciais oponentes. Em razão disso, a evolução desse setor é caracterizada pela contínua incorporação de
inovações tecnológicas. No entanto, para fazer frente aos crescentes custos e incertezas inerentes a esse intenso
processo de inovação, as escalas exigidas dos fabricantes de aeronaves – tanto produtivas como financeiras –
são cada vez maiores, resultando em um processo de concentração da estrutura produtiva. A segunda parte,
apresenta a evolução do setor de aviões de caça através da elaboração de uma tipologia que delimita as gerações
de aeronaves por meio da sistematização das principais características técnicas das aeronaves, combinada com
as especificidades da estrutura produtiva que permeiam cada uma das gerações. A tipologia, parte do pós-
guerra, com os primeiros aviões de caça de propulsão a jato, como o Gloster Meteor, até os atuais modelos de
quinta geração, como o Lockheed Martin F-35 Lightning II. Dentro deste contexto, a tipologia proposta busca
compreende a evolução das trajetórias tecnológicas do setor de aviões de caça além das características técnicas
específicas das aeronaves, demonstrando que em cada geração também existem especificidades pelo lado da
estrutura produtiva.

A Sustentação de Capacidades Tecnológicas transferidas por meio de Compensações de Defesa


(offset): um estudo de caso no setor aeroespacial

Alexander de Mello Lima (Força Aérea Brasileira (Instituto de Fomento e Coordenação Industrial)), Rodrigo
Antônio Silveira dos Santos (UNIFA)

Este artigo aborda a sustentação de capacidades tecnológicas transferidas por Compensações Industriais e
Tecnológicas (offset) no Comando da Aeronáutica, com o intuito de avaliar como as empresas beneficiárias
sustentaram essas capacidades, identificando os fatores que contribuíram nessa sustentação. Assim, foi
conduzido um Estudo Multicaso, sendo selecionados 32 projetos de compensação que transferiram tecnologia
para empresas brasileiras, concluídos até o ano de 2016, avaliando a sustentação de 11 capacidades tecnológicas.
Além disso, foi realizada pesquisa documental em arquivos do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial
(IFI), consulta ao cadastro das empresas no Sistema Integrado de Fomento da Indústria Aeroespacial (SIFIAer),
entrevistas semiestruturadas com representantes das empresas e visitas técnicas com observação nas empresas
envolvidas. Todo o material foi analisado pela técnica de Análise de Conteúdo, com o auxílio do software
ATLAS.ti. Como resultado, foram identificadas as capacidades tecnológicas transferidas nos projetos de
compensação estudados, sendo possível avaliar aquelas que se sustentaram ao longo do tempo, bem como
identificar os fatores contribuintes para essa sustentação. Assim, das onze capacidades tecnológicas acumuladas
nas empresas avaliadas, apenas uma não se sustentou. Por outro lado, das dez capacidades que se sustentaram,
cinco tiveram uma trajetória de acumulação crescente de capacidades tecnológicas, três capacidades foram
mantidas em uso no nível de complexidade próximo ao recebido nos projetos de compensação, e outras duas,
embora estivessem presentes nas empresas, não estavam sendo demandadas, encontrando-se em estado latente.
18
Para que a sustentação de capacidades ocorresse satisfatoriamente, foi relevante que as empresas possuíssem
atributos de gestão da acumulação das capacidades tecnológicas, de diversificação de mercado e atuação global,
bem como de colaborações formais de desenvolvimento. Por fim, o conhecimento produzido será incorporado
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

ao módulo de análise empresarial do SIFIAer e utilizado para a elaboração de indicadores de desempenho dos
Acordos de Compensação do Comando da Aeronáutica.

Doutrina Militar Naval e seus impactos na Indústria de Defesa: uma potencial relação de
dependência

Rodrigo Monteiro Lázaro (PPGEST-UFF, Marinha do Brasil)

Anacronicamente preocupados com suas seguranças, os Estados buscam desenvolver capacidades militares,
utilizando metodologias que intencionam não somente racionalizar o gasto público, mas também fortalecer
suas Bases Industriais de Defesa (BID). O presente trabalho objetiva estudar a relação existente entre a gestão do
conhecimento de doutrinas e a BID. Para esse estudo, analisaremos como a Marinha do Brasil efetiva mudanças
organizacionais em sua governança para a produção de doutrinas, e seus possíveis impactos na Base Industrial
de Defesa brasileira. O caso é centrado nas mudanças ocorridas entre 2018 e 2021, a partir do estabelecimento de
uma gestão centralizada do conhecimento de doutrinas. Mudanças deste tipo podem promover um incremento
das capacidades navais com desdobramento estratégicos, segundo os teóricos contemporâneos do Poder Naval
Geoffrey Till e Milan Vego, bem como Colin Gray. Para entender este impacto, pesquisamos a associação de
tecnologias à promoção de capacidades, utilizando sistemáticas adotadas em países com relevante inovação
aplicada ao setor de construção naval militar. Ao associar tais sistemáticas ao incremento de capacidades
gerado pelas mudanças organizacionais para o caso da Marinha, tentamos identificar potenciais oportunidades
de fomento à BID, sem deixar de destacar a participação fundamental das Universidades e centros de pesquisa
brasileiros. As considerações preliminares dessa pesquisa dialogam com o potencial que o trinômio Forças
Armadas, BID e Academia possui em proveito da inovação, contribuindo para a modernização da indústria de
defesa nacional e sua aptidão para apresentar soluções aos desafios da segurança de um Estado.

Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)

Local: Sala A-301


Os Sistemas de Aquisição (Compra e Venda) de Defesa no Brasil e na Suécia & Oportunidades
Bilaterais no Setor Naval

Carolina Ambinder de Carvalho (PPGEST-UFF)

A compra de caças Saab Gripen E/F para a Força Aérea Brasileira (FAB), em 2014, estreitou os laços entre o
Brasil e a Suécia em defesa, fazendo com que esse tipo de relação entre esses países esteja quase sempre associado
a componente aeronáutica. Contudo, há um histórico com as outras forças armadas, tanto o Brasil quanto a
Suécia têm demonstrado interesse em novas iniciativas de cooperação e, para ambos, as Marinhas de Guerra
possuem um relevante papel. Primeiramente, a Marinha do Brasil (MB), autoridade marítima do país, possui
a responsabilidade de proteção das Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), que já apontam 5,7 milhões de km².
A Suécia, por sua vez, possui uma das mais extensas costas da Europa e forte tradição em atividades marítimas,
além de estar voltando sua atenção à Marinha, dada a invasão da Rússia à Ucrânia em 2022 e a proximidade
do conflito com o mar Báltico. Assim, o objetivo deste trabalho é comparar como o Brasil e a Suécia realizam
19
compra e venda em defesa, processos esses denominados “sistemas de aquisição”, e quais são as oportunidades
bilaterais no setor naval. As hipóteses são: (1) o sistema de aquisição brasileiro é desintegrado, tanto entre as
forças armadas, quanto entre setores da sociedade (academia, governo e indústria), enquanto a Suécia é um

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
exemplo de sucesso nisso (modelo hélice-tripla); (2) as oportunidades bilaterais no setor naval podem, além
de navios, considerar componentes, como sistemas de navegação. A revisão histórica da formação do Brasil e
Suécia em defesa, com foco naval, facilita o entendimento do estado da arte de ambos países nesse segmento,
auxiliando análises sobre futuras relações entre os mesmos.

Inteligência e “Dossierveillance” na América Latina: Os riscos do uso de Sistemas de Inteligência


em Bases de Dados Abertas (OSINTs) na produção de dossiês, e na convergência entre policia-
mento e inteligência

Alcides Eduardo dos Reis Peron (FECAP - Centro Universitário Álvares Penteado)

A produção de dossiês era prática comum entre as agências de inteligência da América Latina durante os perío­
dos ditatoriais. As salvaguardas trazidas pelo processo de democratização foram insuficientes para deter os
abusos policiais e de inteligência em toda a região e, embora eu concorde com os argumentos de que a falta de
regulamentação das agências de inteligência nesses países induz a práticas controversas, acredito que essa per­
spectiva desconsidera a influencia das tecnologias emergentes nessa controvérsia. A proliferação das redes soci­
ais transformou a internet em um pool de dados brutos, ao mesmo tempo em que as ferramentas Open-Source
Intelligence (OSINTs) surgiram como técnicas para converter dados em informações valiosas. As OSINTs têm
sido amplamente utilizadas por empresas de cibersegurança, compondo o arsenal dos departamentos de in­
vestigação de forças policiais e de agências de inteligência, possibilitando a construção de dossiês, com perfis e
mapas de interações entre indivíduos e grupos, compondo arquivos digitais auto-atualizáveis. Assim, engajan­
do com a literatura sobre as abordagens de “dossierveillance” e Estudos Críticos de Segurança, e focando nos
recentes escândalos de produção de dossiês por agências de inteligência e polícia no Brasil, Argentina e Chile,
este artigo investiga o papel das OSINTs na realização de dossiês como uma forma de constrangimento político
na América Latina. O trabalho questiona se os usos de OSINTs estão possibilitando o rompimento das linhas
entre investigações policiais e inteligência, induzindo a práticas abusivas. Ele também discute como os OSINTs
convertem o registro estático do dossiê em um perfil auto-atualizável dos alvos, reconfigurando o status on­
tológico do dossiê, que se torna um instrumento modulador voltado para coagir e restringir ativamente os alvos.

Sistemas Missílicos como Indutores da Modernização Militar? Brasil, Índia e Israel Comparados.

Marco Túlio Delgobbo Freitas (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), Augusto Wagner Menezes
Teixeira Júnior (Universidade Federal da Paraíba), Antonio Henrique Lucena Silva (UNICAP - Universidade
Católica de Pernambuco)

Como a adoção de novos sistemas de armas induzem mudança militar? Mais especificamente, como siste­
mas missílicos proporcionam incentivos para a modernização? Nos anos 1980, a evolução de munições
guiadas de precisão (precision-guided munitions) contribuiu de forma decisiva para lastrear a dissuasão
convencional focada em armamento não-nucleares. No pós-Guerra Fria o aprimoramento da missilísti­
ca e de sistemas de armas correlatos tem alterado a forma e o alcance em que países podem projetar pod­
er, mas também realizar a defesa de seu território nos domínios terrestre, marítimo ou aéreo. À luz da ver­
tente teórica do institucionalismo, o presente artigo compara as experiências de três países: Brasil, Índia
e Israel. O objetivo do texto é identificar as mudanças ocorridas nos Estados analisados a partir da intro­
dução dos mísseis. Não obstante a abrangência do debate sobre mudança militar, o nosso recorte propõe a
análise do fenômeno no nível setorial (Forças Armadas) e com ênfase na dimensão organizacional. Com
isso, o artigo neutraliza a propensão technology-centric que poderia incorrer em inferências calcadas no de­
terminismo tecnológico. Com ênfase qualitativa, a análise se apoia na metodologia de política comparada
de small-n. Através da abordagem MDSD, casos são analisados sob a perspectiva dos seguintes sistemas de
armas e seus efeitos: Míssil Tático de Cruzeiro -300 (Brasil), Míssil Brahmos (Índia) e Iron Dome (Israel).
20
Força Aeroespacial Brasileira: bases para a sua concepção
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

Alexandre Manhães (Força Aérea Brasileira)

O espaço exterior vem sendo reconhecido, por grandes potências, como belicoso, muito em razão do constante
desenvolvimento de armas cinéticas, não-cinéticas, eletrônicas e cibernéticas voltadas àquele ambiente. Diante
dessa tendência de uso estratégico-militar do espaço, busca-se compreender como o Brasil pode aperfeiçoar
suas capacidades aeroespaciais a partir desse contexto. O presente trabalho transcorre à luz da teoria neorrealista
com o objetivo de compreender como se dá o uso da força na dimensão espacial. Com isso, é possível, por
exemplo, vislumbrar o que a literatura especializada tem chamado de weaponization do espaço, isto é, uma
verdadeira corrida armamentista rumo às estrelas, para proteger interesses nacionais. Portanto, a questão
norteadora que se busca cobrir aqui é a seguinte: quais as principais condicionantes para se estruturar uma
Força Aeroespacial Brasileira (FAepcB )? Seu objetivo é estabelecer a importância de uma força aeroespacial
para o País, levando em conta a experiência doutrinária e empírica de congêneres, mundo afora, para que se
vá na direção de consolidar as bases para uma possível reestruturação da Força Aérea Brasileira. O método do
Estudo de Caso no Brasil é empregado para compreender a realidade nacional relacionada com as atividades
militares da chamada Defesa Espacial. Acessoriamente, o método da Política Internacional Comparada é usado
para comparar com outras forças estratégicas, aeroespaciais, aéreas e espaciais, isto é, aquelas que comportam
atividades militares de Defesa Espacial, a fim de gerar perspectivas para melhor compreender e discutir o
caso brasileiro. O recorte temporal da pesquisa abrange o período de 2010 até 2022, no qual reorganizações
estruturais relevantes relacionadas à dimensão espacial ocorreram, a exemplo da criação da US Space
Force. Os resultados da pesquisa apontam para determinadas condicionantes relacionadas às capacidades
de acesso ao Espaço e que dizem respeito ao grau de dependência tecnológica espacial de cada Estado.

AT01 -Ciência, Tecnologia e Indústria


Sessão 2 (11/08 das 14:00 as 15:45)
Local: Sala A-301
A Era da Cognição, os Sistemas C5IRVA e a Transformação dos Conflitos.

Nina Machado Figueira (Exército Brasileiro)

As comunicações militares aproximaram-se das comunicações civis nas últimas décadas, tornando os conflitos
atuais mais complexos e difíceis para a área de Comando, Coordenação e Controle. O mundo vivencia,
atualmente, a transição entre a Era da Informação e a Era da Cognição, onde são interligados dezenas de novos
meios de comunicação, compondo redes em tempo real, influenciando a narrativa da estrutura de defesa de
muitas nações. O trabalho em questão se propõe a analisar o advento do emprego dos sistemas de Comando,
Controle, Computação, Comunicações, Cibernética, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento, do acrônimo
em inglês C5ISR, tanto para o uso militar, quanto para as aplicações civis. Para tal será realizada uma revisão
sistemática da literatura atinente ao assunto, bem como serão entrevistados especialistas. Por derradeiro,
21
serão apresentados os impactos que esses novos sistemas podem causar na condução de possíveis conflitos
contemporâneos a serem travados pelas nações e grupos não-estatais, concluindo sobre as consequências para
a preparação do Brasil frente aos novos desafios.

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
Análise preliminar da perspectiva cognitiva da Dimensão Informacional no conflito entre Rússia
e Ucrânia através da aplicação de técnicas de aprendizagem de máquina de baixa supervisão

Cristiano Monteiro Nunes (EsAO - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais)

Este trabalho é um estudo sobre a viabilidade do emprego da Aprendizagem de Máquina como ferramen­
ta auxiliar de compreensão estratégico-militar nas operações de amplo espectro. O objetivo do estudo é a
luz da Doutrina Militar Terrestre brasileira realizar uma análise delimitada do que é apresentado em redes
socias sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia. Porém existe um fator complicador: a grande massa de infor­
mações distribuídas e descentralizadas que são compartilhadas de maneira contínua. Uma análise conven­
cional das informações por recursos humanos capacitados e com domínio da temática do contexto militar
seria o ideal, porém não existem tempo e nem pessoal suficiente para se analisar tanta informação. Uma tec­
nologia que pode auxiliar neste processo aumentando substancialmente a produtividade é a Aprendizagem
de Máquina, um método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos. Em espe­
cífico este trabalho se concentra na análise de baixa supervisão, porquê a experiência do especialista mil­
itar no assunto é de inegável importância. O trabalho se desenvolve em três frentes, a coleta da massa de
dados, desenvolvimento de ontologia e heurística de classificação orientada por conhecimento presente em
Manuais militares do Exército Brasileiro e aplicação das funções de classificação para obtenção de insights.

Neurociência, tecnologia e controle: uma nova forma de agressão e legitimação da guerra

Victoria Nicolielo Reginatto Noviscki (Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais), João Pedro
Braga de Carvalho (Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais)

Após a segunda metade do século passado, é presenciado um notável desenvolvimento da neurociência e de suas
técnicas potencializadas pelo digital, que têm sido utilizadas e aplicadas em um universo cada vez maior de dis­
ciplinas, especialmente as relacionadas ao comportamento humano, como o direito, a psicologia e a economia,
ainda que partindo de perspectivas distintas. A partir das descobertas possibilitadas pela neurociência, é sabido
que os seres humanos não correspondem a um gênero estritamente racional, como o homo economicus, viven­
ciando tomadas de decisões influenciadas por heurísticas e vieses cognitivos. Assim, é possível considerar que os
indivíduos são passíveis de intervenções externas, muitas vezes sutis, que induzem e criam uma predisposição
a determinados sentimentos e ações. Para além das áreas disciplinares usuais, no campo que abarca os estudos
de defesa, é possível avaliar a utilização de estratégias de controle e desestabilização engendradas intencional­
mente a partir dos conhecimentos neurocientíficos, que possibilitam o manejo da população, com propósitos
estipulados, calculados e ponderados. Frente a essa nova forma de controle externa, alteia-se o questionamento
acerca dessas novas estratégias serem consideradas atitudes de violência e, portanto, motivadoras de conflitos
entre Estados. Tais nações buscam a fundamentação jurídica do Jus ad Bellum, Direito à Guerra, isto é, o ato
de defesa, para exercerem seu poder legítimo. Logo, o Jus ad Bellum representa a possibilidade de uma nação
declarar ou entrar em guerra frente a outro Estado, com demanda de justificativa e reconhecimento da neces­
sidade da ação com determinada estratégia. Ora, a neurociência aplicada de maneira externa, especialmente
pelo meio tecnológico, em uma sociedade determinada, não seria então uma agressão quando responsável
por desestabilizar um poder constituído? Este trabalho pretende demonstrar de que forma a neurociência
pode ser entendida como instrumento de guerra e de legitimação de reação estratégica do Estado afligido.
22
AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

Sessão 5 (11/08 das 14:00 às 17:45)


Local: Sala A-301
Utilização do modelo das Três Linhas de Defesa para o tratamento de riscos cibernéticos na
Força Aérea Brasileira

Osvaldo José de Jesus Silva (Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo - CISCEA),
Newton Hirata (AFA/UNIFA)

O objetivo do presente artigo é analisar a aplicação do modelo das Três Linhas de Defesa demonstrado por Ko­
gan e Quaresma (2018), LAM (2017), Veltsos (2017), Culp e Thompson (2016) e Telem (2016) no tratamento
dos riscos cibernéticos dos sistemas da Força Aérea Brasileira. As Três Linhas de Defesa permitem o tratamen­
to de forma completa do incidente caso ele venha ocorrer, trazendo uma abordagem reativa voltada para a fase
seguinte ao acontecimento do incidente, além de possibilitar uma retroalimentação na melhoria dos processos
de segurança da informação. Na primeira linha encontram-se as atividades operacionais da organização, in­
cluindo a área de segurança da informação. A segunda linha está relacionada à política, diretrizes, padrões e
indicadores da segurança cibernética. Já a terceira, corresponde ao controle e monitoramento, via auditoria
interna. Combinado com outras abordagens e estratégias, aplicadas a partir de diferentes perspectivas em mo­
mentos distintos, o modelo das Três Linhas é válido para analisar e tratar os ataques cibernéticos e, em alguma
medida, proporcionar avanços no enfrentamento de incidentes. Em síntese, contribui para a gestão de riscos
e para a melhoria contínua dos processos. O presente trabalho se justifica considerando que pessoas, organi­
zações e países estão cada vez mais expostos a riscos cibernéticos dada à dependência de sistemas informatiza­
dos integrados. Especialistas em análise de risco identificam a área cibernética como de fundamental atenção,
dado o impacto que incidentes podem causar. Na área da defesa em particular, a preocupação aumenta pela
sensibilidade que envolve os recursos, instalações, instituições e símbolos que devem ser resguardados. Os
resultados preliminares indicam que na FAB, as Três Linhas de Defesa estão organizadas de forma adequada e
consistente, conforme preconiza a literatura.

A proteção de dados pessoais como um direito fundamental e universal

Abian Laginestra (Kimodshiro Cybersecurity), Nilton Lopes da Silva Gomes (ESG)

Este ensaio tem como objetivo apresentar como a privacidade de dados desponta como um direito básico
inquestionável em uma sociedade globalizada e digital, demonstrando seus instrumentos jurídicos no Bra­
sil em alinhamento a uma nova ordem mundial de respeito e inclusão digital, culminando como conclusão
que a privacidade de dados do cidadão comum configura um novo direito básico universal e que tem sido a
preocupação dos novos movimentos em prol da um mundo mais alinhando as necessidades do ser humano
digital e digitalizado.

O papel da estratégia cibernética da China na defesa dos seus interesses estratégicos

Rodrigo Abreu de Barcellos Ribeiro (PPGEST-UFF)

Por conta de um amplo processo de modernização ocorrido nas últimas décadas, as Forças Armadas da
República Popular da China saíram de um estágio de defasagem e se tornaram uma força capaz de defender
seus interesses estratégicos e projetar poder regionalmente. Entretanto, a presença militar dos Estados Unidos
na região da Ásia-Pacífico ainda se mostra um obstáculo aos objetivos hegemônicos de Pequim na região.
23
Respondendo a esse desafio e entendendo a mudança no paradigma da guerra gerada pelo uso militar do ci­
berespaço, a China concentrou seus investimentos no setor de tecnologias de informação, concretizando esses

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01
esforços na criação do Departamento de Sistemas de Rede da Força de Suporte Estratégico da China, em 2017.
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar o papel da Cibersegurança e da Ciberdefesa nas estraté­
gias militares chinesas publicadas nos últimos anos, buscando entender o crescente papel do ciberespaço na
garantia dos interesses estratégicos do país. Assim, a principal hipótese levantada é a de que Pequim utiliza-se
de operações cibernéticas com o objetivo de compensar a diferença de poderio militar ainda existente entre
China e Estados Unidos. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de método qualitativo, desenvolvida a partir
do uso de documentos oficiais e de bibliografias secundárias.

AT 01. Ciência, Tecnologia e Indústria


Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Sala A-301
Poder Naval, BID e o cluster da região Sul

Guilherme Penha Pinto (UFPEL - Universidade Federal de Pelotas), Erika Cristina Barbosa de Almeida
Ribeiro (Escola Naval), Cássia Heloisa Ternus (Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNO­
CHAPECÓ))

No contexto global, um país que alcança certo nível de desenvolvimento econômico, com relativa abertura
econômica, tende a compor cada vez mais as cadeias globais de valor. Neste movimento, a principal via para
trocas comerciais entre países é a via marítima, criando um cenário alvissareiro para o incremento de ganhos
econômicos dos setores ligados ao Poder Marítimo. Neste contexto, pode-se justificar uma série de inversões
nacionais a fim de obter uma Base Industrial de Defesa (BID) equilibrada, em especial, aquela voltada para o
Poder Naval1. A Marinha do Brasil (MB), no seu esforço de manutenção da capacidade operacional, influencia
diretamente a BID, denotando preocupação com a nacionalização dos bens e serviços focados na geração
de renda e bem-estar social, bem como fomentando a formação de aglomerados industriais, os chamados
clusters2. Clusters podem ser definidos como agrupamentos de indústrias com proximidade geográfica
que obtém ganhos de eficiência por conta desta proximidade e que contariam com a presença de indústrias
complementares, e também de seus clientes, fornecedores e instituições governamentais. Neste sentido, observa-
se o desenvolvimento de projetos estratégicos da MB com potenciais impactos na economia de determinadas
regiões (em especial, neste caso, na região Sul do país), como o Programa de Obtenção das Fragatas Classe
Tamandaré (PFCT) e o Programa de Obtenção de Meios Hidroceanográficos (PROHIDRO). Posto isto, o
presente trabalho tem como objetivo analisar a existência do cluster de indústria naval por meio do cálculo de
indícios de concentração e da construção de mapas de cluster espaciais, utilizando dados de emprego presentes
na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), disponibilizada pelo IBGE.

A influência da intervenção estatal no desenvolvimento da indústria de defesa: um estudo


sobre o caso brasileiro

Alexandre Tadeu Ferreira da Silva (UNIFA)

O presente artigo tem por objetivo analisar a influência da intervenção estatal no desenvolvimento da Indústria
de Defesa (ID) brasileira, desde meados da metade do século passado até os dias atuais. Partindo do pressuposto
que quanto maiores os gastos em Defesa, maior é o desenvolvimento da ID, formado por um emaranhado de
instituições e empresas, os dados de gastos militares são coletados a partir do banco de dados do SIPRI e
correlacionados com os referenciais teóricos. Os resultados quantitativos apontam, com grande aproximação,
24
que a intervenção estatal é primordial para o desenvolvimento e fortalecimento de uma indústria voltada para
fins bélicos. A proporção entre os gastos militares e o montante das riquezas produzidas pelo país tem relação
direta com o surgimento de empresas importantes no ramo de exportação de armamentos como a Engesa,
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 01

a Avibras e a EMBRAER. Entretanto, aquele intervencionismo em maior ou menor grau não é privilégio de
determinado governo o qual adota uma política econômica específica como o nacional-desenvolvimentismo,
o neoliberalismo ou neodesenvolvimentismo. Depende, numa breve análise, de outros fatores os quais devem
ser analisados conjuntamente.

Financiamento de C,T&I e o Modelo de Negócios Canvas: o caso dos royalties de produ-


tos estratégicos de defesa no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA)

Julio Eduardo da Silva Menezes (Escola Superior de Defesa - ESD), Eduardo Quesado Filgueiras (Comando
da Aeronáutica), Cristiano Coimbra de Souza (Controladoria-Geral da União)

A captação de recursos oriundos de royalties, por meio da comercialização de produtos estratégicos de


defesa, destinada a investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) é assunto inovador na
área de Governança Pública. Dessa forma, esta iniciativa, ao mesmo tempo, que oferece suporte financeiro
às Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) vinculadas ao Ministério da Defesa, também está alinhada à
Política Nacional de Defesa e à Estratégia Nacional de Defesa. Neste sentido, a prática deve seguir princípios
de boa governança e buscar valor público. Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar, utilizando o Modelo de
Negócios Canvas, a aplicação de receitas de royalties obtidas com a comercialização dos produtos do Projeto da
Aeronave Leve de Ataque (Projeto AL-X), para financiar atividades de PD&I no âmbito do Departamento de
Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Utilizando-se um estudo de caso exploratório, mesclando análise
documental e entrevistas, descreveu-se a capacidade distinta do DCTA em direcionar fundos provenientes de
royalties pelos direitos de propriedade intelectual governamental alusivos a vendas de aeronaves desenvolvidas
com apoio do governo federal, em parceria com a Embraer. Como resultados, caracterizaram-se os blocos
construtores do negócio e analisaram-se seus relacionamentos críticos, utilizando como referencia o Modelo
Canvas de Governança Pública. Com esta pesquisa, evidenciou-se a configuração de valor existente no
DCTA para seleção de projetos, financiamento de pesquisa e gestão da inovação em suas diversas ICT. Nas
considerações finais foram traçadas oportunidades de pesquisa complementares e de aproveitamento da
experiência inovadora em outras iniciativas, sob a égide do Ministério da Defesa e das Forças Armadas do
Brasil.

Revisão Bibliográfica sobre a Origem da Inovação em Instituições Militares

Gabriela Alves de Borba (Instituto Meira Mattos)

A inovação militar é um subcampo dos estudos estratégicos que explora as questões em torno do uso da
força e utiliza, em grande parte, a teoria de Relações Internacionais. O campo cresceu ao longo das últimas
décadas abrangendo diversas escolas de pensamento conflitantes, um debate robusto sobre casos individuais e
vem apresentando uma influência crescente nas fronteiras disciplinares da academia. A presente pesquisa tem
como objetivo explorar a literatura sobre inovação militar atualmente. O estudo é justificado pela necessidade
de compreensão, mesmo que de forma teórica, dos fatores que contribuem para que uma instituição marcada
pela hierarquização e tradicionalismo consiga desenvolver meios próprios de dissuasão e defesa, diminuindo a
dependência comercial de demais Estados em tecnologias sensíveis à segurança nacional. Metodologicamente a
pesquisa é caracterizada como qualitativa de cunho exploratório, utilizando da revisão sistemática da literatura
para atingir o objetivo. Os resultados ainda não estão finalizados, visto que a pesquisa está em andamento,
porém já apontam um debate epistemológico no campo e a presença de quatro correntes teóricas que buscam
explicar como instituições militares inovam, sendo destas, três baseadas no modelo do ator racional, e uma no
modelo cultural. Ainda necessita-se mapear as produções brasileiras sobre o tema.
25

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
AT 2
Ensino, Formação
Profissional e
Pesquisa em
Defesa
Profa. Dra. Adriana Aparecida Marques (UFRJ)

Prof Dr. Jacintho Maia Neto (ESG)

Esta área temática acolhe trabalhos voltados para o estudo das organizações militares, de seu
sistema educacional e também convida à reflexão sobre como são conduzidos os estudos sobre
as organizações militares e os Estudos de Defesa. São temas de interesse da área: o ethos militar;
ética profissional militar; psicologia militar; sociologia militar; educação e formação militar;
profissão militar; padrões de recrutamento nas forças armadas; métodos de investigação sobre
a instituição militar; ensino e pesquisa em Defesa nas universidades e centros de pesquisa;
epistemologia, métodos e técnicas de pesquisa em Defesa.
26
AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em Defesa - Sala
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02

A-302
Coordenadores: Profa. Dra. Adriana Aparecida Marques (UFRJ) e Prof. Dr. Jacintho
Maia Neto (ESG)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45


O “Projeto de Nação: o Brasil em 2035” como Projeção da Atuação Política do Exército Brasileiro
Priscilla Carvalho Corrêa Mendes
A Escola de Guerra do Peru e os desafios no ensino superior militar
Ingrid Paola Peralta Morales
O ethos no Colégio Militar
Marcio Vieira Xavier

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Ritos de passagem na construção do Ethos Militar do Cadete da Aeronáutica
Thiago Diorgilis Ribeiro Daniel

Os Estudos Estratégicos e o Poder Militar Brasileiro: os Programas Estratégicos do Exército Brasile-


iro no contexto da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa
Carlos Alberto Leite
A modernização do ensino do Exército nos anos 1990 e sua inserção no processo de reforma geren-
cial do Estado
Pollyana Labre Andrade
Inovação, Defesa e desafios para o Brasil
Gustavo Fornari Dall’Agnol

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


Ensino e Pesquisa em Defesa e Segurança Internacional na UFRJ: estudos preliminares dos Trabalhos
de Conclusão de Curso (TCCs) dos egressos do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional,
de 2014 à 2021
Larissa Rosevics
O ensino da Logística Militar e suas contribuições para o Poder Aeroespacial: uma análise entre
Instituições de Ensino no Exterior
Abel de Castro Laudares, Luiz Tirre Freire
Estudos da administração em instituições militares: interseção entre campos de estudo e análise da
produção científica

Kauana Puglia Bandeira, Luiz Gustavo de Paiva Lopes, Alexandre Mahatma Dantas de Farias
Transformações identitárias nas instituições armadas: deslocamentos, ethos e valores culturais nos
espaços de trabalho
Claudia Maria Sousa Antunes
27
Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
Geração de Mentalidade em Defesa Nacional: Aplicação do Sistema De Aprendizagem e Geração de
Rotas de Ensino com Simulação em Curso Para Assessores e Consultores do Poder Legislativo
David de Andrade Teixeira

Gerencialismo e as Guerras 4ª Geração: uma análise do pensamento militar do Exército Brasileiro


Heraldo Makrakis
Intervenção psicológica aos cidadãos e profissionais afetados em crises de natureza QBRN: a psico-
logia como aliada no processo de gerenciamento de risco
Maria de Lourdes Salles Monteiro de Paiva dos Santos, Antonio Aécio Silva Sousa
A construção da identidade do Guerreiro de Selva.
Tigernaque Pergentino de Sant’ana Junior
Metodologia de Pesquisa e Família Militar
Sabrina Celestino, Eleonora Natale, Eduarda Passarelli Hamann
28
AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em
Defesa
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02

AT 02 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-302


O “Projeto de Nação: o Brasil em 2035” como Projeção da Atuação Política do Exército
Brasileiro

Priscilla Carvalho Corrêa Mendes (PPGEST -UFF)

Este artigo insere-se na análise do papel dos think tanks (TT) na difusão e na produção de um consenso em
torno de determinado projeto político, a despeito de sua alegada imparcialidade e objetividade. Para isso,
examinam-se tanto a trajetória dos TT fundados preponderantemente por oficiais da reserva – o Instituto
General Villas Bôas, o Instituto Sagres e o Instituto Federalista –, responsáveis pelo lançamento do “Projeto
de Nação: o Brasil em 2035”, quanto o conteúdo deste. Parte-se do pressuposto de que tal documento projeta
participação política de longo prazo por parte do Exército brasileiro, defendendo valores que combinam pre­
ceitos neoliberais e conservadores. O artigo divide-se em n seções, sendo a introdução dedicada à discussão
teórica que o orienta. Já a segunda seção tratará do histórico dos institutos listados, enquanto a terceira, do
“Projeto de Nação” elaborado por eles. As considerações finais sustentam o pressuposto de desejo perene de
participação política por parte do Exército nacional, à luz da conjuntura brasileira atual.

A Escola de Guerra do Peru e os desafios no ensino superior militar

Ingrid Paola Peralta Morales (PPGEST-UFF)

A contribuição das ciências militares tem sido decisiva em diferentes ciências para a obtenção de resultados
com impacto positivo na sociedade, porém, como parte de qualquer processo, as instituições militares precisam
se adequar às necessidades enfrentadas pela população, não sendo as Forças Armadas do Peru uma exceção.
Pois, como em outros países da região a República do Peru, que em 2021 comemorou seu Bicentenário de
independência, é um pais que teve sua história ligada as Forças Armadas, pois já teve 39 presidentes que
desenvolveram atividade militar, contra 34 presidentes de diversos partidos políticos civis. As Forças Armadas
peruanas, como parte do Estado, passaram por diversas ações de reestruturação e renovação nos quadros de
mando, tudo isso com o objetivo de alcançar a consolidação democrática, assim como a colaboração com a
cidadania peruana para conseguir o desenvolvimento e prosperidade socioeconômica. Mas como observado
no caso dos países vizinhos da região, para alcançar o desenvolvimento das instituições militares, deve ser
elaborado conjuntamente desde o eixo militar e civil, inclusive no âmbito acadêmico.
Assim, entendendo a importância do desenvolvimento acadêmico das forças armadas peruanas, pretende-se
descrever e analisar as características do programa e desenho curricular do mestrado em ciências militares,
com menção em planejamento estratégico e toma de decisões, oferecido pela Escola Superior de Guerra do
Exército – Escola de Pós graduação (ESGE-EPG), para entender quais são os desafios que esta intuição deverá
enfrentar enquanto ao ensino superior militar peruano.
Através da análise realizada de documentos, programas e matriz curricular da instituição escolhida, entende-
se como o processo de redemocratização após a ditadura de Fujimori (1990-2000) ainda influenciam
nas instituições de ensino militar peruano. Por fim, identifica-se que há uma necessidade de criar laços de
aproximação entre as intuições civis e militares peruanas, sendo este um dos principais desafios para a ESGE.
29
O ethos no Colégio Militar

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
Marcio Vieira Xavier (Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias)

Este estudo apresenta uma discussão sobre o ethos dos alunos dos Colégios Militares a partir da identidade
no Exército Brasileiro. A pesquisa tem como partida a origem histórica dos Colégios Militares, através das
perspectivas assistencial e preparatória, dos valores, símbolos e ritos desses estabelecimentos. Por meio da
discussão sobre os conceitos de identidade militar, sociologia das Forças Armadas e processos de socialização
em ambientes escolares, destacou-se os processos de subjetivação e produção de identidades nessas instituições.
Partindo do conceito de socialização militar através da qual o sujeito, oriundo da sociedade civil, é apresentado
a um novo mundo com destacada interação significante no meio militar. Por meio da revisão documental
sistematiza da literatura e dos regulamentos de estabelecimentos de ensino militares, foi proposta uma análise
comparativa desses documentos em termos das descrições de direitos e deveres aplicáveis aos militares e aos
estudantes. Observamos que existe uma analogia entre as transgressões disciplinares previstas no Regulamento
Disciplinar do Exército com as faltas disciplinares descritas no Regulamento Interno dos Colégios Militares.
A pesquisa se justifica pela compreensão da subjetivação da identidade de um estudante do ensino médio
e fundamental que respeita normas, princípios e valores, e que estão sob regime da hierarquia e disciplina,
entretanto, não são profissionais militares.

AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em


Defesa
AT 02 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-302
Ritos de passagem na construção do Ethos Militar do Cadete da Aeronáutica

Thiago Diorgilis Ribeiro Daniel (Força Aérea Brasileira)

Este trabalho tem por objetivo compreender o processo de aprendizagem social do cadete, especialmente no
Estágio de Adaptação Militar, tendo como sujeitos os estagiários que ingressam no primeiro ano do curso de
formação de oficiais da Academia da Força Aérea. Entende-se que esse tipo de aprendizagem pode ser consid­
erado o momento de assimilação e interiorização de valores e de comportamentos essenciais à carreira do fu­
turo oficial da Força Aérea Brasileira. No início da Academia, os alunos vivenciam esse período de ajustamento
ao contexto militar e recebem dos instrutores a cultura e as tradições da Força. Durante aproximadamente
quarenta dias, são-lhes transmitidas a formação teórica e prática, assim como são submetidos a atividades que
exigem esforço físico e mental. A adaptação é conduzida pelos cadetes veteranos, que buscam forjar no aluno
novato atributos e valores que o ajudarão a prosseguir como parte integrante do Corpo de Cadetes da Aeronáu­
tica. A problemática da pesquisa buscou compreender os ritos de passagem da vida civil para a vida militar que,
quando presentes na aprendizagem social do aluno, favorecem a assimilação da cultura e, se possível, intervêm
para o aprimoramento desse processo de adaptação. A hipótese a ser estudada é que esse estágio pode ser con­
siderado um tipo específico de ritualização que impacta na constituição da subjetividade e da identidade desses
sujeitos, muitas vezes construindo imagens que irão reverberar em toda a sua carreira na Instituição Militar. O
referencial teórico fundamenta-se na obra do antropólogo Arnold Van Gennep e dos sociólogos Erving Goff­
man e Celso Castro. A metodologia empregada foi a pesquisa qualitativa, na modalidade de pesquisa bibliográ­
fica e análise documental. Como consequência, esse trabalho poderá auxiliar para elaboração de referenciais
que possam embasar melhorias na área de ensino militar, com a constituição de ritos que marcam a construção
do Ethos Militar na Força Aérea.
30
Os Estudos Estratégicos e o Poder Militar Brasileiro: os Programas Estratégicos do Exérci-
to Brasileiro no contexto da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02

Carlos Alberto Leite (PPGEST-UFF)

Os Estudos Estratégicos visam a descobrir as causas, condutas e consequências do bélico, como a base reflexiva
da Defesa Nacional, portanto, há uma ligação entre os estudos estratégicos e a Defesa Nacional, pois compreende
o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no campo militar, para a defesa do território, da soberania
e dos interesses nacionais, contra ameaças externas, segundo a Política Nacional de Defesa (PND). Atualmente,
o Exército Brasileiro (EB) tem nove Programas Estratégicos alinhados com a Estratégia Nacional de Defesa
(END). Portanto, o presente artigo aspira a analisar as seguintes questões, à luz dos Programas Estratégicos
em vigor: em que condições operacionais se encontra o EB no contexto da PND/END enviada em 2020 ao
Congresso Nacional? Em que medida a PND e a END se aproximam ou se afastam da realidade atual do EB?
A metodologia se ampara em um estudo qualitativo, a coleta de dados por meio de pesquisa documental e a
análise será documental. As conclusões indicam que o EB se encontra preparado no contexto da PND/END
e está alinhado com esses documentos à medida que os Programas lhes atendem, mas tais normativas não
contemplam a aviação do Exército e previsão orçamentária.

A modernização do ensino do Exército nos anos 1990 e sua inserção no processo de reforma
gerencial do Estado

Pollyana Labre Andrade (Universidade Federal Fluminense)

Entendendo o ensino como uma chave elementar na formação profissional, político e ideológica dos indivíduos
e grupos e, consequentemente, sendo uma lupa para compreender o pensamento militar e, em especial, as
movimentações políticas dos seus membros nos últimos anos, a presente proposta de artigo propõe um
resgaste do Plano de Modernização do Ensino do Exército consolidado na segunda metade dos anos de 1990
pelo Grupo de Trabalho para o Estudo da Modernização do Ensino (GTEME), subordinado ao Ministério do
Exército, através do Departamento de Ensino e Pesquisa. O objetivo é analisar de que forma esta reorientação
do ensino superior do Exército estaria inserido no processo de reforma gerencial do Estado e quais são os
impactos ideológicos e políticos dessa possível relação. Seremos orientados pelos seguintes questionamentos:
Em qual contexto político se realiza o simpósio sobre educação militar organizado pelo Estado-Maior do
Exército? Quem foram os militares e civis envolvidos no GTEME? Com quais instituições civis buscou-se o
diálogo?

Inovação, Defesa e desafios para o Brasil

Gustavo Fornari Dall’Agnol (D&D)

O presente trabalho visa a identificar as variáveis principais que promovem ou constrangem a inovação na
indústria de defesa brasileira. Para alcançar tal objetivo, recorre-se à extensa literatura e material empírico que
identifica as principais características e impactos econômicos da inovação no nível da firma, setor e indústria.
A inovação é entendida como intrinsicamente sistêmica na medida em que os diferentes elementos que a
compõem se impactam mutuamente. Ademais, a inovação é contingencial já que as especificidades de setor
e escopo geoeconômico/institucional devem ser consideradas. Parte-se de um aparato neo-shumpeteriano-
evolucionista e das condições de appropriability e possibilidades de catching-up para identificar, na reconstrução
da história econômica brasileira recente, os principais impedimentos para a indústria nacional explorar as
janelas de oportunidade de uma inserção nas cadeias produtivas de valor com ativos de maior valor agregado.
Argumenta-se que o Brasil está preso em um falso trade-off entre superávit comercial e valorização cambial
fruto da inovação, apostando na estratégia de competitividade a curto prazo pelo custo. Tal política acarreta no
aumento da taxa de juros e preços e a necessidade de controle inflacionário. Somente algumas firmas prosperam
diante deste ciclo vicioso, normalmente tendo que se aportar em contratos de longo prazo, diminuindo o
31
incentivo à inovação que já é per se uma empreitada de alto risco. Posteriormente, os principais fatores que
contribuem para o sucesso inovador são delineados e a Base Industrial de Defesa analisada. Há casos de

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
sucesso no setor da defesa, abordados pelo trabalho. No entanto, o macro setor está também refém, além das
especificidades abordadas contingentes ao mesmo, no referido ciclo vicioso. Finalmente, identificam-se os
principais impedimentos para a inovação em defesa (e.g., equacionamento dos gastos em defesa, processo
decisório, canais de financiamento) bem como apresenta-se um último tópico de caráter mais normativo com
o objetivo de enfrentar os mesmos.

AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em


Defesa
AT 02 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-302

Ensino e Pesquisa em Defesa e Segurança Internacional na UFRJ: estudos preliminares dos


Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) dos egressos do curso de Defesa e Gestão Estratégica
Internacional, de 2014 à 2021

Larissa Rosevics (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional (DGEI) da UFRJ foi criado em 2010 e, entre seus objetivos,
consta o desenvolvimento do ensino e da pesquisa nas áreas de Defesa e Segurança Internacional. O presente
trabalho visa compreender quais os interesses de pesquisa dos graduados em DGEI, a partir dos Trabalhos
de Conclusão de Curso (TCCs) defendidos entre os anos de 2014 e 2021. A partir dos dados coletados das
pesquisas dos 317 egressos de DGEI no período, foi possível identificar os interesses de pesquisa por ano e por
gênero. No período analisado podemos, por exemplo, pontuar as áreas de Economia, Segurança da Informação
e Segurança Internacional como as mais presentes nos TCCs dos graduados. A pesquisa faz parte do projeto
do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) de conservação da memória dos cursos de DGEI e
Relações Internacionais da UFRJ e que tem, entre suas ações, a publicação dos TCCs dos estudantes nas revistas
“Defesa e Gestão Estratégica Internacional em Pesquisa: cadernos de resumos” e “Relações Internacionais em
Pesquisa: cadernos de resumos”.

O ensino da Logística Militar e suas contribuições para o Poder Aeroespacial: uma análise
entre Instituições de Ensino no Exterior

Abel de Castro Laudares (Força Aérea Brasileira), Luiz Tirre Freire (Universidade da Força Aérea)

A logística é essencial para a criação e manutenção do poder de combate, tendo sua efetividade dependente
da capacidade dos recursos humanos que atuam nas atividades de suporte militar. Para garantir altos níveis de
desempenho logístico, as Forças Armadas investem no ensino e no treinamento especializado de suas tropas.
Consoante às demandas de emprego bélico, atuais e prospectivas, cada país elabora e implementa seus próprios
programas educacionais militares, detentores de utilidades e desafios particulares. A questão que surge deste
contexto é se esses programas têm oferecido subsídios para o incremento do ensino da logística na Força Aérea
Brasileira de modo a contribuir para a capacidade de sustentação logística do Poder Aéreo. Nesta perspectiva,
32 este artigo tem por objetivo verificar, por meio de uma análise comparativa, se os programas educacionais de seis
Instituições de Ensino Superior no Exterior (IESE), das quais a FAB possui acordos de cooperação acadêmica,
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02

tem contribuído para o ensino de temas afetos aos requisitos logísticos estipulados pela Concepção Estratégica
da FAB (DCA 11-45/2016). Esta é uma pesquisa qualitativa, descritiva, com métodos de pesquisa bibliográfica
e estudo de campo. A contribuição do artigo está em prover um panorama abrangente sobre diferentes esforços
educacionais conduzidos fora do Brasil sobre o ensino militar da logística. A relevância deste trabalho está na
possibilidade de orientar a escolha sobre algumas IESE quanto aos programas de intercâmbios voltados aos
temas afetos à logística militar.

Estudos da administração em instituições militares: interseção entre campos de estudo e


análise da produção científica

Kauana Puglia Bandeira (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), Luiz Gustavo de Paiva
Lopes (Exército), Alexandre Mahatma Dantas de Farias (Ministério da Defesa - Exército Brasileiro)

O presente artigo tem como objetivo investigar se os estudos de administração em instituições militares poderiam
ser considerados parte de um campo interdisciplinar autônomo no Brasil, visto que possuem características
que lhe são peculiares - como o insulamento e a ênfase na disciplina - e se localizam na interseção de, pelo
menos, cinco outros campos de conhecimento: o campo da administração em si, da administração pública,
de políticas públicas, dos estudos de defesa e das ciências militares. Para conduzir tal análise, primeiro faz-se
um debate teórico sobre os campos, ressaltando características comuns e distintivas entre eles. Em segundo
momento, é realizado o desenvolvimento metodológico, que se deu a partir da análise da presença da temática
relacionada a administração em instituições militares 1) nas áreas temáticas dos principais congressos dos
campos – o Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (EnANPAD, divisão de
Administração Pública) e o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ENABED), e 2)
nos principais periódicos nacionais dos campos supracitados. Para isso, foi realizado levantamento bibliográfico
sistemático em periódicos no sistema brasileiro Qualis Capes nas áreas de avaliação “Ciência Política e Relações
Internacionais” e “Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo”, com conceitos Qualis
A1, A2, B1 e B2 do quadriênio 2013-2016. Resultados preliminares indicam que ainda não há um corpo de
publicações coeso que leve em conta as diferenças epistemológicas as quais as organizações militares ensejam.

Transformações identitárias nas instituições armadas: deslocamentos, ethos e valores cul-


turais nos espaços de trabalho

Claudia Maria Sousa Antunes (Universidade da Força Aérea (UNIFA))

O século XXI trouxe mudanças significativas em diversos setores da sociedade. Entre elas, transformações per­
cebidas nas fontes tradicionais de referência de identidade e cultura. E essas modificações não poderiam deixar
de incidir sobre as instituições militares. Partindo dessa premissa, este trabalho investiga algumas perspectivas
de abordagem da cultura militar, destacando aspectos ligados aos seus valores, ao seu ethos e à composição do
seu efetivo.

O trabalho foca na articulação entre o Poder Aeroespacial, a Cultura, o Discurso e os princípios epistemológi­
cos que regem a relação entre esses temas. Busca-se compreender como as novas demandas manifestadas no
século XXI impactam bases profissionais específicas, como as instituições militares. Por meio da análise da
construção da identidade militar, empreende-se uma reflexão sobre as aproximações e os distanciamentos en­
tre características identitárias das forças armadas em sua relação com essas novas demandas.

Essa reflexão efetua-se a partir de enfoques múltiplos, como a perspectiva de ampliação da presença de mili­
tares temporários (sem vínculo permanente com a força armada em que servem) e a integração de mulheres
nos quartéis, já que as Forças Armadas consistem em uma instituição gendrada e a masculinidade aparece
como elemento central na identidade militar.
33
Este trabalho faz parte de pesquisa sobre as forças armadas desenvolvida no escopo de projeto do grupo de
pesquisa do CNPq “Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Aeroespaciais” – NEICA –, vinculado à

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
Universidade da Força Aérea. Com base em uma visão investigativa crítica pós-colonial, esta pesquisa trabalha
com a ideia de que os novos paradigmas da sociedade pós-moderna influenciam na conformação identitária
castrense, no que tange à influência de fatores tecnológicos, culturais e sociais.

AT 02. Ensino, Formação Profissional e Pesquisa em


Defesa
AT 02 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-302
Geração de Mentalidade em Defesa Nacional: Aplicação do Sistema De Aprendizagem e
Geração de Rotas de Ensino com Simulação em Curso Para Assessores e Consultores do
Poder Legislativo

David de Andrade Teixeira (Escola Superior de Defesa)

O Brasil tem um histórico de poucos conflitos armados, sobretudo, ao considerar as nações de tamanhos con­
tinentais. Os que existiram se fizeram presentes em um contexto considerado defensivo. Isto parece justificar
a imagem que a sociedade brasileira tem de si como pacífica. Nesse sentido, são observadas poucas discussões
acerca da Defesa Nacional na mídia, nos certames dos parlamentares e na sociedade de modo geral. Mesmo
os três principais documentos da matéria são recentes, daí pode ser depreendido o motivo pelo qual a Estraté­
gia Nacional de Defesa trouxe a proposta de geração da mentalidade de Defesa. Disso resultou que, em 2019,
tratativas para a abordagem da Defesa Nacional entre o Senado Federal e o Ministério da Defesa tivessem in­
ício quando suas Escolas de Governo firmaram uma parceria, formada pelo Instituto legislativo Brasileiro e o
Campus Brasília da Escola Superior de Guerra, desenhado para Assessores e Consultores do Poder Legislativo.
Diante desse cenário, foi criado um ambiente onde a aprendizagem ocorre por compartilhar e criar conheci­
mento. Um trabalho envolvendo os perfis decisórios, de acordo a teoria de Graves sobre as visões de mundo,
por intermédio de sucessivas simulações que modelam gabinete de crise, em processo de brainstorm, em que
os alunos são levados a lugares distintos que se baseiam em oito tipologias de discursos (Aristóteles e Lacan).
Os alunos se colocam em papéis decisórios diferenciados, fazendo com que a experimentação do aprendizado
seja realizada em função de sucessivas tomadas de decisão, a fundamentação teórica é seguida de palestras
ilustrativas, trabalhadas por Simulações e Cenários, materializando a Geração da Mentalidade, demonstrada
pela Tomada de Decisão. Este trabalho abordará o funcionamento das práticas desenvolvidas.

Gerencialismo e as Guerras 4ª Geração: uma análise do pensamento militar do Exército


Brasileiro

Heraldo Makrakis (IFRS Campus Canoas)

O pensamento militar tem servido de framework para se teorizar e estabelecer modelos as questões sobre
Relações Civis-Militares. Supõe-se que estes saberes têm implicações na forma como as forças militares são
comandadas e concebidas, o que é fundamental para a efetividade do aparato militar.
No caso brasileiro pode se atribuir uma longa tradição do pensamento militar do Exército Brasileiro (EB)
tendo como inspiração a corrente epistemológica positivista. Este pensamento passou por diversas reconfigu­
34
rações respondendo aos contextos históricos, adaptando-se e sendo reinterpretada as prioridades dadas para
sua missão. Recentemente constata-se no ideário militar do EB aspectos das Guerras de 4ª Geração e do Ger­
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02

encialismo (duas faces da mesma moeda).


Este ensaio propõe-se elucidar a permanência do pensamento militar positivista no processo de transformação
militar do EB que conduziu a adesão ao Gerencialismo e as Guerras da 4ª Geração (G4G), duas faces da mesma
moeda. A abordagem se apoiará nas evidências das transformações doutrinárias, de composição das carreiras
militares e seus processos formativos. Elege-se como roteiro argumentativo os seguintes tópicos. 1) o pensa­
mento militar e suas correntes; 2) o positivismo do Exército Brasileiro; 3) o Gerencialismo e a G4G nas trans­
formações no EB. Nestes roteiros serão apontados núcleos figurativos pelas metáforas raízes que organizam o
pensamento militar.

Intervenção psicológica aos cidadãos e profissionais afetados em crises de natureza QBRN:


a psicologia como aliada no processo de gerenciamento de risco

Maria de Lourdes Salles Monteiro de Paiva dos Santos, Antonio Aécio Silva Sousa (Oficial do Exército)

O presente trabalho analisa como a Psicologia pode atuar no gerenciamento de riscos e desastres de origem
QBRN, de modo a contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas com estratégias efetivas para min­
imizar impactos emocionais e que possam intervir de forma psicoeducacional na sociedade como um todo.
Ameaças de potencial QBRN são factíveis e permeiam um amplo espectro, que abrange desde o descontrole na
gestão de bens sensíveis até a propagação de doenças.Nesse cenário, o Brasil passou a transitar de um perío­
do histórico em que os conflitos armados tradicionais eram susceptíveis ao uso de Armas de Destruição em
Massa (ADM) para uma nova realidade, em que enfrentou desastres químicos e radiológicos em seu próprio
território. Uma nova prospecção se voltasse para a necessidade de desenhar estratégias para a prevenção, a
resposta e o gerenciamento das consequências de tais eventos, com o olhar focado nos impactos psicológicos
sobre a comunidade afetada e os profissionais que atuam nas equipes de resposta. Evidencia-se necessidade de
construção de estratégias para a redução impactual dos efeitos negativos e para a constituição e solidificação
de redes de proteção técnica e de apoio. Assim, verifica-se que a (ainda incipiente) atuação psicólogica na
área temática conhecida como (Defesa) QBRN é carregada de potencialidades que podem promover ainda
mais essa integração. O estudo foi conduzido a partir da verificação bibliográfica da atuação psicológica em
emergências e desastres – eventos catastróficos que vêm aumentando cada vez no Brasil e no mundo – possibil­
itando a reflexão sobre a importância da inserção desses profissionais na temática QBRN e suas contribuições
para a sociedade. Pretende-se, também, por meio da revisão bibliográfica, examinar a literatura disponível e de
verificar como esses profissionais são preparados para atuarem em emergências desse tipo, levantando-se os
recortes que possibilitem identificar pontos de tangência entre a Psicologia e a DQBRN

A construção da identidade do Guerreiro de Selva

Tigernaque Pergentino de Sant’ana Junior (Exército Brasileiro)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar como ocorre o processo de construção da identidade
do Guerreiro de Selva. A questão de estudo dessa pesquisa centra-se na construção da identidade do Guerreiro
de Selva a partir das atividades desenvolvidas no Curso de Operações na Selva (COS) e da inter-relação entre
o militar e a cultura amazônica. Foi utilizada a a observação participante, realizada no Centro de Instrução de
Guerra na Selva (CIGS) em outubro de 2020, onde foi possível estudar atividades como a cerimônia de entrega
do Facão do Guerreiro de Selva, a formatura de brevetação e o encontro dos Guerreiros de Selva, além da real­
ização de entrevistas com diversos militares da Divisão de Ensino do CIGS, possibilitando a criação de um con­
tato íntimo com a vida do grupo estudado, o que permitiu a realização de observações detalhadas e minucio­
sas. O procedimento de análise adotado foi o de relacionar os dados obtidos com os conceitos apresentados por
autores como Magalhães (2015), Goffman (1974), Foucault (1987), Woodward (2000), Gennep (2011) e Turner
(1974), só para citar alguns. Ao incluir elementos da cultura amazônica no COS, o CIGS os transforma em um
valioso recurso que dá liga ao sentimento de pertencimento ao grupo dos Guerreiros de Selva, modelando sua
35
identidade e evidenciando os aspectos que os diferenciam dos demais grupos de combatentes operacionais,
que é a relação dos Guerreiros de Selva com a selva Amazônica.

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 02
Metodologia de Pesquisa e Família Militar

Sabrina Celestino (IPCFEx), Eleonora Natale (King’s College London), Eduarda Passarelli Hamann
(REBRAPAZ)

A família, como um valor e como grupo de convívio, ocupa posição central nas relações sociais vigentes nas
instituições militares, sob o prisma da parentalidade e da consanguinidade, e/ou vivenciada pelos laços de con­
vívio e de pertencimento construídos neste âmbito. Elementos como a tradição e a genealogia familiar podem
ser identificados como perenes e estão presentes neste contexto, mas as famílias também são acompanhadas
pelas transformações mais amplas que as diferentes nações e sociedades vivenciam, às quais as instituições
militares não estão imunes. Considerando os elementos de permanência e as transformações que podem ser
identificados nas instituições militares, o presente trabalho busca refletir sobre a família militar, tendo como
foco as diferentes metodologias de pesquisa empregadas nos estudos com esse grupo social. Considerando o
desconhecimento que ainda paira sobre as instituições militares e as suas características, propomos a inter­
locução de saberes sobre aproximações, métodos, instrumentos e análises do tema, tendo por fundamento
os aportes das Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. Dos estudos quanti e qualitativos, da pesquisa
documental e de normativas, as abordagens individuais e grupais que possuem por fundamento os estudos
etnográficos buscamos partilhar, por meio das investigações por nós desenvolvidas, lacunas e possibilidades
de abordagem metodológica em matéria de família militar, valorizando o que essa esfera possui de particular,
e, ao mesmo tempo, relacionando-a ao contexto social mais amplo, no qual se insere.
36
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

AT 3
Estudos
Estratégicos e
Geopolítica

Prof. Dr. Érico Esteves Duarte (UFRGS)

Profa. Dr. Oscar Filho (CEEx-BSB)

Esta área temática acolhe trabalhos sobre o estudo da guerra no sentido strictu, como ciências
militares, estudos de operações militares convencionais e projeto/desenho de forças; bem
como enfoques multi e interdisciplinares, que requerem contribuições de diversas áreas de
conhecimento, como: polemologia, as operações militares em ambientes complexos, avanços
tecnológicos e seus impactos sobre as capacidades militares, equilíbrio de poder regional e
estudos de inteligência. Inclui-se ainda estudos de geopolítica, de geoeconomia, de geoestratégia
e a formulação e análise de cenários prospectivos.
37
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica - Sala A-303
Coordenadores: Prof. Dr. Érico Esteves Duarte (UFRGS) e Prof. Dr. Oscar Filho (CE-

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Ex-BSB)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45


Balanços e perspectivas para uma geopolítica brasileira soberana: revisitando os clássicos para com-
preender o presente
Bernardo Salgado Rodrigues
Reconfiguração do tabuleiro internacional e Geopolítica do Brasil: revisitando Golbery
Oscar Medeiros Filho
A Importância do Conceito da Circulação para a Geopolítica
Gregor G. A. A. de Rooy
A Relevância de Carl Schmitt para a Geopolítica Contemporânea
Rafael Regiani

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


A Geopolítica das Grandes Potências e suas Implicações para o Entorno Estratégico Brasileiro
José Maria Sydow de Barros
O declínio da capacidade de projeção de poder do Estado brasileiro no Entorno Estratégico durante
o governo Bolsonaro (2019-2022)
Miguel Patrice Philippe Dhenin

A projeção de poder brasileiro sobre o Atlântico Sul: plataforma de inserção do Brasil no cenário
geopolítico mundial.
Edwardo Coelho de Oliveira
A QUESTÃO INDÍGENA NA FRONTEIRA AMAZÔNICA: Processo de ocupação territorial e a
região do Alto Rio Negro
Nicole Grell Macias Dalmiglio
A Segurança da RD Congo e o seu papel para a Defesa do Brasil
Délcio de Deus Gulart

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


Os Possíveis Fundamentos da Doutrina Putin
José Alexandre Altahyde Hage
A Importância da Capacidade de Dissuasão Nuclear: o Caso da Ucrânia
Felipe Dalcin Silva
A Ucrânia entre a guerra e paz: análise dos atores externos e de fatores internos
Raquel dos Santos Missagia
Uma análise da resposta do ocidente à invasão russa da Ucrânia sob o prisma da trindade da guerra
de Clausewitz

Leandro Leite de Almeida, Felipe Pereira Barbosa


38
Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

Rússia e a guerra híbrida: contramedidas estatais em cenários de interferência externa


Benno Victor Warken Alves, Bruno Vieira de Macedo, Lucas Roahny Gonçalves da Silva
A invasão da ucrânia: um olhar sobre o somatório de fatores que fomentaram a campanha militar
russa iniciada em Donbass.
Vinícius Melquíades Cunha
Discussão teórica sobre o fenômeno da ciberguerra
Juliana Zaniboni de Assunção, Daniel Oppermann

Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-15h45


O Surgimento das Forças Aéreas Privadas
Vinicius Modolo Teixeira
Quick Reaction Force: o conjugado anfíbio e a projeção de poder nacional
Esley Rodrigues de Jesus Teixeira
Tomada de decisão e complexidade no ambiente interagências: um levantamento teórico-conceitual
Ana Fernanda Moreira Baptista
O papel das forças armadas na segurança nacional: experiências internacionais na definição de pri-
oridades de defesa nacional
Peterson Ferreira da Silva, Thadeu Luiz Crespo Alves Negrão

Dia 12/08/2022 - Sessão 6 -16h-17h45


Vocação Latina? (Re)Pensando A Parceria Estratégica Brasil-França Na Geopolítica Multipolar
Gabriel de Souza Oliveira e Silva, Pedro Luiz Rodrigues Barreto
A Guerra do Futuro e o entorno estratégico do Atlântico Sul: Uma Análise para o Desenvolvimento
da Base Industrial de Defesa
Laercio Eduardo de Araujo
Cultura Estratégica Brasileira: As Cabeças Pensam Onde os Pés Pisam
Guilherme Otávio Godinho de Carvalho
O desenvolvimento de uma estratégia espacial brasileira: Uma necessidade premente
Ciro Albuquerque Telles, Gills Vilar Lopes
O Submarino Nuclear Brasileiro e o cerceamento das Grandes Potências: um ensaio à luz da geogra-
fia crítica de Milton Santos e David Harvey
Alexandre Rocha Violante
39
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica
AT 03 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303
Balanços e perspectivas para uma geopolítica brasileira soberana: revisitando os clássicos para
compreender o presente

Bernardo Salgado Rodrigues (Escola Superior de Guerra)

Em meados da década de 1920, o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a realizar estudos geopolíticos,
configurando-se como uma escola no século XX influenciada pelos geopolíticos clássicos e marcada pela
hegemonia do pensamento militar e suas instituições. Dentre os principais temas, vislumbraram-se discussões
mais gerais acerca da coesão e integração do território nacional, da inserção histórica, das ameaças internas e
externas, da projeção de poder e do perímetro de segurança; até mais específicos, como a “marcha para o oeste”
no coração da Amazônia, a segurança do Atlântico Sul, África Ocidental e Antártica, o acesso à energia e aos
recursos naturais, a rivalidade com Argentina na Bacia do Prata e uma preocupação sobre o futuro do país.
Atualmente, o Brasil apresenta o potencial de se consolidar como centro polarizador e dinamizador regional e
de grande player internacional, consubstanciada na ideia de uma grande potência regional e/ou mundial. Neste
sentido, o objetivo do presente trabalho é realizar possíveis direcionamentos estratégicos para a geopolítica
brasileira contemporânea através da análise de um panorama histórico geral dos principais clássicos no
século XX. Utilizando-se de uma análise qualitativa de revisão bibliográfica primária e secundária, a hipótese
principal é que o método histórico-dedutivo fornece elementos fundamentais para análises prospectivas sob
uma perspectiva geopolítica. Desta forma, visa-se ratificar a necessidade de apropriação e proposição de um
projeto político-estratégico, realizando balanços e perspectivas para uma geopolítica brasileira soberana, ativa
e altiva.

Reconfiguração do tabuleiro internacional e Geopolítica do Brasil: revisitando Golbery

Oscar Medeiros Filho (Centro Universitário de Brasília)

O presente artigo visa a discutir elementos da Geopolítica do Brasil apresentados em meados do século
passado por Golbery do Couto e Silva buscando identificar permanências e rupturas. Parte-se de hipótese
de que o Brasil tem como elemento de permanência em sua geopolítica a ideia de autonomia estratégica e
a capacidade de barganha diante da configuração do poder entre grandes potências. Busca-se discutir se o
quadro de bipolaridade EUA x URSS e de opção por um alinhamento ocidental imaginado por Golbery pode
servir de base para se pensar o enfrentamento atual de um dilema duplo pelo Brasil: se vai se alinhar a algum
bloco (país) e, em caso positivo, com quem. O artigo está dividido em três seções. Na primeira serão abordadas
as ideias principais presentes em “Geopolítica do Brasil”, de Golbery. Na segunda seção serão apresentados
os elementos que caracterizam a atual reconfiguração do tabuleiro internacional. Na terceira, buscaremos
identificar se há a permanência de elementos da geopolítica de Golbery no atual quadro geopolítico.

A Importância do Conceito da Circulação para a Geopolítica

Gregor G. A. A. de Rooy (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

A relevância de grandes projetos de infraestrutura tem ganhado mais espaço nos estudos de geopolítica.
Johnson e Derrick, no seu estudo de caso sobre a linha de gás Nord Stream que parte da cidade de Vyborg na
Rússia, atravessa o Mar Báltico, e chega à cidade de Greifwald, na Alemanha, destacam o aspecto estratégico
40
da linha para a Rússia e Alemanha que se sobressai aos aspectos econômicos. Já Ekman, em seu estudo sobre
a construção ou implementação de elementos de infraestrutura, por parte da China, como portos, cabos
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

submarinos, parques industriais e redes de transporte em países do mediterrâneo; apontam que a parceria pode
também ser uma estratégia chinesa para a expansão de seus interesses na região de maneira não pacífica. Estes
recentes exemplos apontam para a relevância de se estudar o tema da infraestrutura sob as lentes da geopolítica,
é assim que este estudo explora o conceito da circulação a partir de geopolíticos e geógrafos políticos tais quais
Camille Valaux, Derwent Whitlesely, Halford Mackinder, Lysias Rodrigues, Mario Travassos e Golbery do
Couto e Silva.

A Relevância de Carl Schmitt para a Geopolítica Contemporânea

Rafael Regiani (USP)

Passado o período de hegemonia liberal global que se seguiu ao desmantelamento da União Soviética, a
ascensão de novas potências mundiais, como China, Índia e Rússia, desenha um cenário internacional
tendendo à multipolaridade. Se acrescente a isso, a recém operação militar especial russa na Ucrânia como
não sendo motivada apenas por razões de segurança devido ao avanço da OTAN nas fronteiras russas, mas
também abrangendo um conflito civilizacional na visão de estudiosos russos, como Aleksandr Dugin, e tem-se
uma conjuntura em que os Estados se veem não só pressionados a reformularem seus alinhamentos externos
às pressões das novas potências emergentes, mas também tendo que escolher de que lado da civilização estão.
Este trabalho tem como objetivo mostrar em que medida conceitos-chave do pensamento político de Carl
Schmitt, tais como Nomos, Grande Espaço e Império, podem ser úteis no entendimento da nova realidade
global.

AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica


AT 03 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303

A Geopolítica das Grandes Potências e suas Implicações para o Entorno Estratégico


Brasileiro

José Maria Sydow de Barros (Exército Brasileiro), Túlio Pires Barboza (Exército Brasileiro)

O atual conflito na Ucrânia vem provocando significativos efeitos na reconfiguração do tabuleiro internacional.
Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo geral analisar as implicações da geopolítica das grandes
potências, nomeadamente dos EUA, China e Rússia, para o Brasil e seu entorno estratégico. Nesse sentido,
a pergunta que norteia esse estudo é: “como o atual conflito na Ucrânia impacta a geopolítica das grandes
potências no entorno estratégico brasileiro e quais suas implicações para o Brasil?”. Desta forma, partindo-
se da premissa de que a guerra na Ucrânia ratificou a importância da geopolítica no cenário internacional
e, portanto, tendo como embasamento teórico as proposições clássicas da geopolítica – a Teoria do Poder
Terrestre, de Halford Mackinder, e a Teoria das Fímbrias, de Nicholas Spykman – o trabalho pretende analisar
os efeitos da guerra na Ucrânia para a competição geopolítica das grandes potências e, consequentemente,
para a reconfiguração do tabuleiro internacional. Nesse panorama, tendo como delimitação geográfica o
entorno estratégico brasileiro, busca-se realizar uma análise acerca dos reflexos desse jogo de poder para o
Brasil, procurando inferir as implicações e o posicionamento do País. Por fim, a partir do cenário geopolítico
analisado, pretende-se argumentar acerca da importância da região que se configura como o entorno estratégico
brasileiro para a geopolítica dos EUA, China e Rússia.
41
O declínio da capacidade de projeção de poder do Estado brasileiro no Entorno Estratégico
durante o governo Bolsonaro (2019-2022)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Miguel Patrice Philippe Dhenin (UNIFAP)

Esse artigo tem como objetivo analisar a capacidade do Estado brasileiro em projetar seu poder no entorno
estratégico nos últimos quatro anos. Desde 2017, o autor salientou a importância do conceito de entorno
estratégico regional para interpretar as estratégias de projeção de poder do Estado brasileiro, seja na América do
Sul, no Atlântico sul, na Antártida até a costa lindeira africana. O entorno estratégico brasileiro foi mencionado
em diversas ocasiões nos documentos oficiais de defesa. Primeiro, na Estratégia Nacional de Defesa, publicada
em 2008 e atualizada em 2012. Em seguida, nas Políticas Nacionais de Defesa. Desde 2016, os governos Temer e
Bolsonaro (2016-2022) não atualizaram os documentos de Estado que balizam a atuação estratégica das Forças
Armadas. Nesse sentido, o artigo propõe uma revisão da bibliografia dos estudos de defesa para refletir sobre
o declínio da capacidade de projeção de poder no entorno geopolítico imediato. A hipótese aqui apresentada
evidencia um desinteresse por parte do atual mandatário em avançar nas questões estratégicas para o Brasil,
optando por um alinhamento direto com o governo Trump (2016-2020) e rompendo com os avanços realizados
desde 2008 no âmbito da extinta UNASUL, através do seu Conselho Sul-americano de Defesa. Avaliamos que
a dimensão ideológica, seja nas Forças Armadas ou seja no Itamaraty, impossibilitou o governo Bolsonaro em
propor uma definição do papel do Estado brasileiro como potência no sistema regional nos últimos quatro
anos. Esse período marca um afastamento de parceiros estratégicos em relação ao Brasil e um isolamento do
país no sistema internacional.

A projeção de poder brasileiro sobre o Atlântico Sul: plataforma de inserção do Brasil no


cenário geopolítico mundial.

Edwardo Coelho de Oliveira (Exército Brasileiro), Júlio César Lacerda Martins (Escola de Comando e Estado
Maior do Exército)

O Brasil, país de dimensões continentais, prolonga-se mar adentro numa área denominada plataforma
continental, que é considerada internacionalmente como extensão do solo do país. Sobre esta área o Brasil
tem direito a exercer soberania. Essas regras são regidas pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar (CNUDM) e da qual o Brasil é signatário. Reconhecidamente, a Plataforma Continental Brasileira
(PCB) possui extraordinário valor econômico e geopolítico, atraindo a atenção de diversos atores, como
Estados e organizações privadas. Em 2004, o Brasil reivindicou junto à CNUDM a extensão de sua plataforma
continental, aumentando o domínio brasileiro denominado Amazônia Azul de 3,6 para 4,5 milhões de km²,
o que exigirá uma resposta brasileira em termos de exercício de soberania neste anecúmeno. Diante desta
conjuntura, esse estudo responderá ao seguinte problema: quais são as condições para o exercício da soberania
sobre a Plataforma Continental Brasileira? Neste contexto, o teórico geopolítico brasileiro Mário Travassos
justifica o exercício da soberania sobre as águas jurisdicionais brasileiras, mediante a “Projeção Continental do
Brasil”. Outro geopolítico brasileiro, o general Meira Mattos, respalda a influência brasileira em todo Atlântico
Sul através da “Projeção Mundial do Brasil”. O primeiro aponta para o instrumento da Defesa, através da
proteção aproximada do território exercida pelas Forças Armadas Brasileiras. O segundo, para a Diplomacia,
mediante a participação brasileira em mecanismos multilaterais de cooperação entre as nações presentes no
Atlântico Sul. Ainda, baseado no pensamento do teórico Barry Busan, buscar-se-á compreender o Entorno
Estratégico Brasileiro, conceito cunhado na Política e Estratégia Nacional de Defesa, como um Complexo
Regional de Segurança. Esse trabalho delineará o papel brasileiro como nação emergente em um contexto de
Atlântico Sul, bem como o reflexo desta condição no Concerto das Nações.
42
A Questão Indígena na Fronteira Amazônica: Processo de ocupação territorial e a região
do Alto Rio Negro
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

Nicole Grell Macias Dalmiglio (USP)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os fundamentos políticos que coordenaram as estratégias do
processo de ocupação e integração territorial da Amazônia. A análise buscará enfatizar os eventos ocorridos
a partir da década do golpe militar de 1964, possibilitando uma melhor compreensão das significativas
metamorfoses do espaço regional, e como esses influenciaram a vida dos povos indígenas e originários. Assim, a
pesquisa busca ressaltar como a região amazônica foi fundamentalmente abordada a partir de uma perspectiva
geopolítica e sob uma lógica de segurança nacional, ressaltando os processos de formação da fronteira norte,
onde estão situadas as Terras Indígenas que compõem a região conhecida como Cabeça de Cachorro, ou Alto
Rio Negro, foco dessa análise. Deve-se ressaltar que para compreender a problemática indígena no Brasil é
necessário inicialmente recuperar aspectos que marcaram o processo ocupacional do território brasileiro,
assim como a consolidação da fronteira amazônica. Dessa forma, este trabalho irá se concentrar nos pontos
principais da ocupação territorial no terreno amazônico, enfatizando a região do Rio Negro, e pontuando
os fatores históricos fundamentais que culminaram na atual lógica social e política. Desse modo, o trabalho
pretende apresentar uma retrospectiva histórica da região sobre o enfoque da geopolítica, com o intuito
de demonstrar como a relação território e poder esteve presente de modo intenso no decorrer do processo
ocupacional do território amazônico, sendo esse compreendido como uma área de estratégia e defesa. Assim,
o texto tem como intuito pontuar como a presença indígena na região foi retratada frente as diferentes fazes do
processo ocupacional da fronteira amazônica visando compreender como essa postura do poder público frente
aos povos indígenas culminou na situação atualmente vigente.

A Segurança da RD Congo e o seu papel para a Defesa do Brasil


Délcio de Deus Gulart (Escola de Comando e Estado Maior do Exército)

O artigo parte dos resultados preliminares de investigação em curso, desenvolvida pelo autor no âmbito do curso
de Mestrado em Ciências Militares - Linha de Pesquisa Estudos da Paz e da Guerra, da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército - Escola Marechal Castello Branco, a qual tem por objetivo analisar o papel da RD
Congo na segurança da África e suas implicações para a defesa do Brasil. Em atenção à questão norteadora da
pesquisa, a qual considera que os documentos de defesa do Brasil incluem a costa ocidental africana em seu
entorno estratégico, busca-se avaliar a importância da RD Congo para a segurança e estabilidade desta área de
interesse e para a defesa do Brasil. Delineado, metodologicamente, como uma pesquisa do tipo exploratório,
apresenta revisão da literatura, sustentada na produção de autores com produção reconhecida acerca do tema
e organizada em torno dos seguintes tópicos: a África no pensamento geopolítico brasileiro (com ênfase nas
contribuições de Golbery do Couto e Silva, de Carlos de Meira Mattos e de Terezinha de Castro); a África como
entorno estratégico brasileiro (abordada, eminentemente, a partir de documentos de defesa do Brasil e debate
teórico entre operações recentes ou em andamento e as Ações de Estratégia de Defesa (AED); e a RD Congo, a
segurança da África e a defesa do Brasil (cujo foco é a atuação da Missão de Estabilização da Organização das
Nações Unidas na República Democrática do Congo - MONUSCO) e as experiências advindas da mesma, que
podem resultar em estratégias válidas para a segurança da África e a defesa do Brasil. A título de conclusão,
reflete que tanto o Brasil quanto a República Democrática do Congo podem ser considerados como “heartlands”
regionais, o que estimula a aproximação entre os dois países, com vistas à construção de estratégias comuns de
defesa.
43
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica
AT 03 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303

Os Possíveis Fundamentos da Doutrina Putin

José Alexandre Altahyde Hage (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)

O intuito desta apresentação é analisar o documento denominado Doutrina Putin, escrito pelo acadêmico
russo Sergei Karaganov, da Universidade de Moscou. De início, faremos breve análise do conceito de doutrina
para compreender sua aplicação aos temas de relações internacionais, como Doutrina Truman, por exemplo.
Após disso, faremos um balanço dos anos 1990, período no qual o poder russo esteve em relativa baixa, em face
dos Estados Unidos e Europa Ocidental. Na terceira parte da apresentação, procuraremos observar a Doutrina
Putin como meio de reconstrução da Rússia sob o período de Vladmir Putin e, por fim, como esse documento
representa a visão atual de Moscou para reconfigurar a área de atuação da Rússia em vista d disputa de poder
com os Estados Unidos em região historicamente compreendida como de interesse russo, caso do Cáucaso e
parte da Europa Oriental. Para isso, analisar o documento Doutrina Putin é primordial, mas também serão
valorizaremos outros artigos e textos que se interessam pelas ações internacionais ou momento histórico que
possibilitam de medidas críticas do atual poder russo; Henry Kissinger, John Mersheimer, Joseph Stiglitz são
alguns dos autores trabalhos em nossa apresentação.

A Importância da Capacidade de Dissuasão Nuclear: o Caso da Ucrânia

Felipe Dalcin Silva (UFRGS)

O Objetivo deste artigo é averiguar a importância da capacidade de dissuasão nuclear, a partir do caso da
Ucrânia – tendo em vista o atual contexto de guerra com a Rússia – para evitar invasões/investidas militares.
Neste caso específico, três fatores são determinantes: 1º A ameaça da Rússia de emprego de armas nucleares
táticas contra Ucrânia na atual conflagração; 2º A herança ucraniana, da União das Repúblicas Socialista
Soviéticas (URSS), de milhares de sistemas de armas nucleares que se encontravam no território ucraniano
pós-esfacelamento soviético, em 1991; 3º A desistência da Ucrânia das capacidades militares nucleares a
partir das promessas de respaldo econômico e militar dos Estados Unidos da América (EUA) e também de
respeito a soberania ucraniana, neste caso último, proferida pela Rússia. Estes aspectos são fundamentais
para a discussão, a qual é a hipótese deste texto, que no caso ucraniano –considerando o histórico securitário
com Moscou – Kiev deveria ter conservado capacidade retaliatória nuclear, para assim ter meios de dissuadir
qualquer ataque russo. Tanto para avaliar a hipótese quanto atingir o objetivo apontado acima, este trabalho
apresenta os seguintes conteúdos: 1. O contexto e o porquê da desistência ucraniana do arsenal nuclear
soviético em seu território; 2. Aspectos teóricos e conceituais da importância de capacidade de retaliação
nuclear para evitar guerras e 3. Características dos sistemas de armas nucleares herdados pela Ucrânia como
ferramenta de dissuasão. Nesta terceira parte se pondera que se os ucranianos tivessem mantido pelo menos
os artefatos nucleares táticos já teriam instrumentos de contramedida necessários para inviabilizar qualquer
intervenção russa em seu território. Este texto é feito a partir do estudo de fontes primárias e secundárias. As
primeiras são tanto documentos de defesa dos países citados acima, quanto acordos internacionais entre estes.
Já as segundas são livros, artigos e notícias que discorrem sobre os assuntos tratados aqui.
44
A Ucrânia entre a guerra e paz: análise dos atores externos e de fatores internos
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

Raquel dos Santos Missagia (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O atual conflito militar na Ucrânia tem relação direta com a atuação de atores externos e fatores internos sobre
como a geopolítica ucraniana é pensada. A Grande Estratégia ucraniana se desenvolveu a partir da influência
recebida de atores importantes que estavam à leste e oeste, e de fatores internos. O presente trabalho busca
analisar o papel que atores externos como a OTAN (Aliança do Tratado do Atlântico Norte), a Rússia, os
Estados Unidos e a União Europeia tiveram na formulação estratégica do Estado Ucraniano, entre 2004 e 2022.
Também possui destaque nessa análise a compreensão da atuação de fatores internos como a própria busca
pelo fortalecimento da integridade territorial, da identidade ucraniana e da democracia. Para realizar essa
análise, esse trabalho utilizou bibliografia secundária e documentos disponibilizados no site da Verkhovna
Rada (o parlamento ucraniano), como discursos, decretos e resoluções.

Uma análise da resposta do ocidente à invasão russa da Ucrânia sob o prisma da trindade
da guerra de Clausewitz

Leandro Leite de Almeida (Exército Brasileiro), Felipe Pereira Barbosa (Exército Brasileiro)

A invasão da Ucrânia por tropas russas no final de fevereiro de 2022 trouxe o mundo ao perigo de uma nova
polaridade: Rússia x Países Ocidentais liderados pelo bloco da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico
Norte). Fatores históricos, a importância geográfica da Ucrânia para Rússia e o risco que as nações ocidentais
veem na expansão territorial russa rumo ao leste europeu, torna a solução do conflito cada vez mais complexa.
Diante deste quadro sombrio, o ocidente vem adotando soluções para tentar desestimular a invasão russa sem
o emprego de tropas da OTAN em apoio ao Exército Ucraniano. Este artigo busca traçar cenários de possíveis
estratégias a serem adotadas pelos países ocidentais, com enfoque nos integrantes da OTAN, por meio da
análise da trindade da guerra de Clausewitz.

AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica


AT 03 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303
Rússia e a guerra híbrida: contramedidas estatais em cenários de interferência externa

Benno Victor Warken Alves (Governo Federal), Bruno Vieira de Macedo (Governo Federal), Lucas Roahny
Gonçalves da Silva (Governo Federal)

O recente conflito deflagrado na Ucrânia tem suscitado debates quanto à capacidade da Rússia para defender
seus interesses estratégicos em cenário de confronto velado com os EUA e seus aliados europeus. Destacam-
se, nesse sentido, análises que apontam para a acelerada “desacoplagem” da Rússia perante mecanismos e
instituições internacionais que possuem elevado grau de comprometimento com os interesses de potências
ocidentais. Embora discussões sobre o assunto avaliem sobretudo a capacidade russa nas searas econômica
e militar, sustentamos que, para além dessas esferas, a manutenção da estabilidade e legitimidade do
regime político doméstico tem sido igualmente relevante para a agenda geoestratégica do Estado russo.
Argumentamos, nesta comunicação, que tal capacidade relaciona-se com um processo de adequação legal
e institucional ocorrido ao longo das últimas duas décadas. Sugerimos que esse processo foi guiado por
uma compreensão específica acerca do fenômeno da guerra híbrida, consolidada ao longo do período entre
membros proeminentes do establishment de Defesa e Segurança da Federação Russa. Por fim, elencamos e
45
buscamos interpretar nessa chave sucessivas medidas estatais, que incluem, por exemplo, a legislação voltada
para o controle das atividades de agentes estrangeiros no país e a criação de uma força militar dedicada ao

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
controle de fronteiras, armamentos e à segurança de instalações críticas. Os esforços para compreender a
resiliência russa num cenário de crescentes hostilidades com as potências ocidentais revestem-se de suma
importância para o enfrentamento dos desafios securitários antepostos à sociedade e ao Estado brasileiros nas
encruzilhadas deste Bicentenário da Independência.

A invasão da ucrânia: um olhar sobre o somatório de fatores que fomentaram a campanha


militar russa iniciada em Donbass

Vinícius Melquíades Cunha (EsAO - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais)

Este artigo examina o somatório de fatores que fomentaram a campanha militar russa iniciada em Donbass,
na Ucrânia, em 2022. O objetivo do presente trabalho é analisar o contexto geopolítico que favoreceu a
concretização das ações militares da Rússia em solo ucraniano. Foram reunidas as principais participações
de países e organizações Político-Militares que propiciaram as ações beligerantes lideradas pelo presidente
Vladmir Putin, em detrimento das vias políticas e diplomáticas, para a solução de questões entre as duas
nações em disputa. Neste trabalho, foram utilizadas as teorias das Novas Guerras, do Choque das Civilizações
e do Heartland, a fim de contextualizar os acontecimentos à uma luz teórica para melhor compreendê-los.

Discussão teórica sobre o fenômeno da ciberguerra

Juliana Zaniboni de Assunção (UFF - Universidade Federal Fluminense), Daniel Oppermann (UFF -
Universidade Federal Fluminense)

Os fenômenos relacionados à cibernética são considerados relativamente recentes, no entanto não são uma
ameaça menos perigosa. As características particulares, juntamente com sua contemporaneidade, fazem com
que esses fenômenos, ainda, não possuam definições amplamente aceitas. Por isso, ocorrem significativos
debates sobre os fenômenos, seus conceitos e suas delimitações.
Apesar dos percalços que envolvem a temática, a questão cibernética vem ganhando cada vez mais protagonismo
no Sistema Internacional, principalmente nas questões relacionadas a Defesa e Segurança. No trabalho
proposto, o tema está diretamente relacionado à Defesa, já que o foco será na ciberguerra. Dessa forma, será
apresentado um debate teórico entre os autores que analisam o fenômeno, indicando sua possibilidade de
existência, ou não.
O recorte temporal é atemporal, logo é analisado, de maneira ampla, os trabalhos dos autores que pensam a
ciberguerra. Os primeiros autores utilizados são Arquilla e Rondfeld (1993), que escreveram o artigo ‘Cyberwar
is coming’, considerado um marco para o debate da ciberguerra. Também são analisados outros autores e suas
definições, para enriquecer a discussão sobre o fenômeno.
Como a ciberguerra ainda não é um conceito amplamente aceito, são analisados os autores que defendem que
ela não é um evento possível. Autores dessa linha de pensamento afirmam, no entanto, que outros fenômenos
seriam possíveis, como por exemplo: a ciberespionagem, ataques isolados, táticas cibernéticas, anonimato,
ausência de violência ou letalidade, dissuasão.
Após apresentar os principais argumentos a favor e contra a ciberguerra, é realizado um debate com as ideias
dos autores apresentados, a fim de compreender a abrangência do fenômeno.
46
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica
AT 03 - Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303


O Surgimento das Forças Aéreas Privadas

Vinicius Modolo Teixeira (Universidade do Estado de Mato Grosso)

Este trabalho tem como objetivo analisar o surgimento de empresas fornecedoras de serviços aéreos militares e
que se habilitam como verdadeiras forças aéreas privadas, atuando como contratadas por diversos governos ao
redor do mundo. O uso de entes privados para o fornecimento de serviços para forças armadas é algo bastante
antigo, podendo tal procedimento ser tratado como serviços mercenários, antiga forma de contratação de força
militar. No período recente, novos serviços passaram a ser disponibilizados, dentre eles treinamento aéreo de
combate em suas diversas formas, oferecidas por empresas privadas dos EUA e países europeus, contando com
modernas aeronaves militares para fornecer tais serviços sob contratos governamentais, chamadas de “Red Air
contractors”. Com a evolução desses serviços, novas empresas e novos equipamentos foram adicionadas em
países do eixo do atlântico norte, transformando-as em importantes fornecedoras de serviços especializados.
Assim, a partir de novas modalidades de serviço e ampliação de contratos recentemente firmados, aventa-se
a possibilidade de que essas empresas passem a exercer outros papéis, até mesmo fornecendo defesa aérea ou
proteção para países que não consigam organizar seu aparato de defesa. Dessa maneira, a partir de leituras
oriundas da Geopolítica, Relações Internacionais e Ciência Política, o trabalho explora essas possibilidades,
elencando as principais empresas fornecedoras de serviços aéreos militares, os principais países contratantes e
uma análise de seus serviços a luz de uma visão crítica a respeito das relações entre empresas privadas e forças
armadas.

Quick Reaction Force: o conjugado anfíbio e a projeção de poder nacional

Esley Rodrigues de Jesus Teixeira (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

No início de 2022, o Brasil passou a vigorar como uma das nações que compõem o sistema de recursos para
operações de paz da Organização das Nações Unidas. Com a aprovação de uma companhia de fuzileiros navais
como força de reação rápida, o Brasil assume o compromisso de fazer-se presente sempre que suas tropas
sejam demandadas. Contando com cerca de trezentos militares, e equipamentos modernos e adequados à
sua missão, esta companhia foi criada a partir de um esforço conjunto que atualizou procedimentos, táticas,
normas, doutrinas e força de trabalho, permitindo que o Brasil apresentasse os padrões exigidos pela ONU. Esta
nova capacidade da expressão militar do poder nacional exige que haja, por parte dos demais componentes do
conjugado anfíbio da Marinha do Brasil, maiores esforços com o fito de se garantir os modais de transporte e a
logística adequados ao perfeito desdobramento das tropas arroladas neste sistema de capacidades. O presente
artigo tem por objetivo apresentar sugestões para uma nova estrutura de subordinação estratégica da Quick
Reaction Force, atualmente subordinada taticamente à Força de Fuzileiros da Esquadra. A metodologia de
pesquisa será qualitativa aplicada exploratória bibliográfica (quanto a estratégia que se pretende obter com esta
nova capacidade) e documental (uma análise da evolução de procedimentos e doutrinas da Força de Fuzileiros
da Esquadra e do Corpo de Fuzileiros Navais). Como resultados, apresentar-se-á uma subordinação da QRF
à chefia de operações conjuntas, contando com meios navais e aeronavais a ela adjudicados, comandada por
um Contra-Almirante do Corpo de Fuzileiros Navais. Conclui-se que neste estágio organizacional, a QRF
possuiria maiores facilidades logísticas e orçamentárias para sua manutenção.
47
Tomada de decisão e complexidade no ambiente interagências: um levantamento teórico-
conceitual

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Ana Fernanda Moreira Baptista (EGN), Cintiene Sandes Monfredo Mendes (Escola Superior de Defesa)

O debate central deste artigo versa sobre a complexidade do processo de tomada de decisão no ambiente
interagência. Para tanto, por meio do debate teórico-conceitual, serão apresentadas as variáveis que tornam
o ambiente decisório interagencial mais complexo. Apesar da racionalidade deste processo ser incensada,
conclui-se que ele é menos lógico e racional do que se pensa. Entende-se a racionalidade como um processo
que conduz o sujeito humanos à um resultado ótimo a partir da avaliação que ele faz dos fatores presentes em
uma situação. Esta racionalidade o permitirá buscar informações que forneçam alternativas a serem analisadas
e impactarão na decisão final. Isto é diferente da racionalidade proposta como análise completa dos fatores
presentes e então, a realização de escolhas objetivas, lógicas e consistentes. Este pensamento denota uma
perfeição que não existe e por isso, essa escolha sólida nunca ocorre. Isto porque o ser humano não é capaz
de processar todas as informações do ambiente. Soma-se a isso as emoções que têm um papel importante na
decisão. Mesmo limitada, a racionalidade é indispensável para a avaliação e compreensão dos riscos e incertezas
e conjugar esses dois recursos é vital para um bom processo decisório. Além disso, na situação interagências o
ambiente decisório tende a ser fluído, singular com cada interação ocorrendo de modo único, sem parâmetros
pré-estabelecidos. Este modo particular de tomada de decisão, na presença de múltiplos atores, introduz uma
complexidade ainda maior a este processo. Primeiro passo é entender que o processo decisório em cooperação
interagência implica na aceitação de que haja um acordo sobre o objetivo a ser atingido pelo grupo, pois sem
que isso ocorra, a racionalidade fica mais delimitada e chegar a um consenso sobre quais informações são
relevantes torna-se uma missão quase que impossível.

O papel das forças armadas na segurança nacional: experiências internacionais na definição


de prioridades de defesa nacional

Peterson Ferreira da Silva (Escola Superior de Defesa (ESD)), Thadeu Luiz Crespo Alves Negrão (Escola
Superior de Defesa)

A Guerra Russo-Georgiana (2008), a anexação da Crimeia (2014), a crescente tensão entre China e Taiwan e o
início do conflito entre Rússia e Ucrânia (2022) são exemplos de como o risco de conflitos interestatais ainda
está presente nas relações internacionais. Desse modo, o balanceamento do desenho de força para atender
tarefas militares tradicionais e, ao mesmo tempo, atividades complementares de segurança nacional representa
um grande desafio contemporâneo para muitos países. O objetivo deste estudo exploratório foi identificar
como prioridades de defesa nacional são trabalhadas e definidas nos principais documentos norteadores de
segurança e defesa nacionais, produzidos entre 2014 e 2022, em três conjuntos de países: (i) EUA e Reino
Unido, membros permanentes do CS/ONU e membros da OTAN; (ii) Finlândia e Suécia, países atualmente
considerados ameaçados pela Rússia e que pleiteiam entrar na OTAN; e (iii) Colômbia e Brasil, países
relativamente distantes dos principais focos de tensões geopolíticas. Com base nos resultados alcançados, foi
possível identificar evidências sobre a relevância de pontes conceituais claras entre (i) os objetivos das políticas
públicas de segurança e defesa nacionais e (ii) as respectivas estratégias no quadro do que é exequível, dados os
recursos limitados disponibilizados para os setores de defesa, o que sublinha a importância de ciclos regulares
de planejamento e gestão do desenvolvimento de força militar.
48
AT 03. Estudos Estratégicos e Geopolítica
AT 03 - Sessão 6 (12/08 das 16:00 às 17:45)
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-303


Vocação Latina? (Re)Pensando a Parceria Estratégica Brasil-França na Geopolítica Mul-
tipolar

Gabriel de Souza Oliveira e Silva (UFMG), Pedro Luiz Rodrigues Barreto (UFMG)

As reflexões do presente trabalho têm por objetivo (re)posicionar a parceria estratégica entre Brasil e França
na esteira das transformações da cena internacional contemporânea. Buscar-se-á compreender não apenas
a raison d’être de tal parceria, como também destacar as profundas confluências (diplomáticas, militares,
econômicas e culturais) que historicamente permearam as interações franco-brasileiras – quer em âmbito
regional, quer mundial – especialmente ao término da Guerra Fria. Ao colocar em tela os longevos e amisto­
sos vínculos destas duas nações latinas, unidas tanto pela cultura, quanto pela geografia – porquanto também
compartilham de uma vasta, embora nem sempre lembrada, fronteira terrestre – buscaremos também eluci­
dar os principais objetivos estratégicos que norteiam a moderna inserção internacional francesa e brasileira.
Embora perpassada por impasses e tensões, argumenta-se que as relações entre Brasília e Paris já se provaram
particularmente promissoras, tendo suas elites assentado um consistente entendimento político-estratégico -
formalmente expresso no lançamento da Parceria Estratégica Brasil-França, em 2006. Dessa parceria, deu-se
ensejo a iniciativas especialmente sensíveis aos interesses brasileiros, como o Programa de Desenvolvimento
de Submarinos (Prosub), o Programa de Helicópteros (HX-BR) e o Programa de Satélite Geoestacionário de
Defesa e de Comunicação (SGDC). Assim sendo, propor-se-á lançar um olhar para o futuro: apontando para
o imprescindível papel que a repactuação entre ambos os Estados latinos tende a assumir em uma ordem geo­
política cada vez mais multipolar e multicivilizacional; permitindo-lhes incrementar seu poder e influência
no jogo de poder mundial.

A Guerra do Futuro e o entorno estratégico do Atlântico Sul: Uma Análise para o Desen-
volvimento da Base Industrial de Defesa

Laercio Eduardo de Araujo (Exército Brasileiro)

Resumo: a presente obra visa analisar a Guerra do Futuro, num cenário até 2039, as relações interestatais
brasileiras, com foco no entorno estratégico do Atlântico Sul, observando os estudos clássicos da geopolíti­
ca. Considerando que a estabilidade sul-atlântica depende, fundamentalmente, de processos ocorridos na
costa ocidental africana, razão pela qual o entorno estratégico brasileiro se estende até a outra margem do
Atlântico. Esse pensamento explica por que o Brasil contribui para o desenvolvimento dos países africanos
banhados pelo Oceano Atlântico, este estudo estende sua análise para o Projeto de Elevação Rio Grande. Todo
o contexto servirá de esteio para analisar os reflexos para o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa
brasileira. Para desenvolver a pesquisa, a proposta metodológica é mista. Uma visão qualitativa, com base na
literatura acadêmica vigente e pesquisa de campo, e uma estrutura quantitativa, medindo dados referentes à
Base Industrial de Defesa (BID) e parametrizando os impactos das relações interestatais na BID. O resultado
direto pretendido no estudo é a produção de conhecimentos (científico, doutrinário e tecnológico), inéditos
no campo da defesa, por meio de pesquisa de alta qualidade, contribuindo para a política de Estado. E como
resultados indiretos, produz conhecimentos no âmbito do Estudo de Defesa e aperfeiçoa o processo decisório
associado ao uso da força, integrado à estrutura de Defesa, principalmente a BID.
49
O desenvolvimento de uma estratégia espacial brasileira: Uma necessidade premente

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 03
Ciro Albuquerque Telles (Universidade da Força Aérea (UNIFA), Gills Vilar Lopes (Universidade da Força
Aérea (UNIFA)

Os sistemas e serviços baseados no espaço exterior têm ganhado destaque na nova ordem mundial ao
revolucionarem diferentes áreas e representarem um fator multiplicador da expressão do poder militar. Não
à toa, muitas forças armadas não só incorporaram ativos espaciais em suas estratégias, como também se viu
a criação de organizações e doutrinas militares voltadas exclusivamente para esse domínio. Nesse sentido,
o objetivo do presente paper consiste em debater a importância do espaço exterior para as expressões do
poder nacional, especialmente a partir do seu uso estratégico combinado com outras dimensões da guerra,
com destaque para o campo cibernético. Ao final, a pesquisa se propõe a apresentar sugestões de iniciativas
para o fomento do setor espacial, visando à garantia do comando do espaço e ao atingimento dos objetivos
nacionais. O recorte temporal será delimitado a partir de 1991 até 2022, o que compreende a chamada Segunda
Era Espacial. A pesquisa será do tipo exploratório e documental e utiliza como fontes documentos oficiais
e literatura especializada em Estudos Estratégicos para o embasamento do debate realizado e das sugestões
apresentadas. Compreender a importância do setor espacial para as expressões do poder nacional, assim como
a necessidade de planejar sua exploração a partir da lógica estratégica poderá auxiliar o Estado brasileiro na
manutenção de sua soberania por meio do que se entende por comando do espaço. A conclusão do trabalho
aponta para a necessidade de criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, a nível ministerial da Pasta
da Defesa, com o intuito de deliberar acerca da formulação de uma estratégia espacial brasileira, bem como a
criação de um comando estratégico conjunto, que reúna assuntos afetos aos domínios espacial e cibernético,
como forma de proporcionar melhores condições de interoperabilidade àqueles que podem ser considerados
como os domínios prevalentes da guerra no futuro.

Cultura Estratégica Brasileira: “As Cabeças Pensam Onde os Pés Pisam”

Guilherme Otávio Godinho de Carvalho (Centro de Estudos Estratégicos do Exército)

Este trabalho objetiva investigar o papel da cultura estratégica na concepção do modelo de defesa adotado no
Brasil, considerando, de um lado, a atribuição relevante desempenhado pelo pensamento militar brasileiro
– em especial dos profissionais do Exército – e, de outro, o contexto que caracteriza o cenário internacional,
especificamente no que se refere às questões de segurança e defesa.
Pretende-se entender a influência do pensamento militar na construção de uma cultura estratégica tipicamente
brasileira e o papel subsequente desta na concepção do modelo de defesa adotado no País, considerando os
desdobramentos para as relações internacionais do Brasil, especificamente no que tange à Segurança Inter­
nacional. Para tal, torna-se indispensável conhecer os conceitos de cultura estratégica e pensamento militar,
apresentados, a seguir, de forma sumária.
Cultura estratégica pode ser entendida, sinteticamente, como o somatório de ideias, percepções e crenças que
guiam e circunscrevem a forma de pensar questões estratégicas nacionais. Está intimamente relacionada a
fatores históricos, geográficos e antropológicos. O pensamento militar pode ser entendido como aquele que
consubstancia as reflexões acerca dos temas e assuntos inerentes às atividades tipicamente militares, tais como
a guerra (emprego da força) e a solução dos problemas críticos a ela vinculados.
No Brasil, a participação dos militares na conformação do Estado e da nação acabou por imprimir a esse grupo
social características muito próprias, que extrapolam – ou se desviam, na visão de alguns – do que se poderia
chamar de “a missão clássica do militar”. Dessa forma, pode-se inferir a existência de um pensamento militar
brasileiro, sinteticamente representado pela ideia de associação daquele grupo aos mais variados projetos,
ações e inciativas voltados para a construção e consolidação dos alicerces do Estado brasileiro.
Assim, a problematização desta pesquisa visa lançar luzes no peso da cultura estratégica brasileira na confor­
mação do modelo de defesa brasileiro.
50
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

AT 5
Forças Armadas,
Estado e Sociedade

Profa. Dra. Maria Celina D’Araujo (PUC Rio)

Prof. Dr. Vágner Camilo Alves (UFF)

Esta área temática acolhe trabalhos que discutam as relações entre as Forças Armadas, o sistema
político e a sociedade civil. São temas de interesse da área: os fundamentos políticos da guerra;
diplomacia e defesa; relações civis-militares; pensamento militar; regimes políticos e forças
armadas; Ministério da Defesa; processo decisório em defesa; políticas públicas voltadas para a
Defesa Nacional; justiça militar; a utilização das Forças Armadas em ações de segurança pública,
em desastres naturais e acidentes químicos, biológicos, radiológicos, nucleares e explosivos; as
relações entre as forças armadas e os povos indígenas.
51
AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade - Sala 304
Profa. Dra. Maria Celina D’Araujo (PUC Rio) e Prof. Dr. Vágner Camilo Alves (UFF)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45
1994 X 2018: As diferenças no processo de securitização da segurança pública no Estado do Rio de
Janeiro
Jairo Luiz Fremdling Farias Junior, Frederico Chaves Salóes do Amor
Estado de violência brasileiro: a Doutrina de Segurança Nacional e a “crise” de Segurança Pública
João Rafael Gualberto de Souza Morais
A Guerra para Dentro: Pacificação como doutrina e prática das Forças Armadas do Brasil
Thiago Rodrigues, Tadeu Morato Maciel
Forças Armadas e Política no Brasil: A Participação Política Castrense na Crise de 2013-2018
Geórgia Bernardina de Menezes Gomes
O que pensam os militares brasileiros: um estudo da visão política castrense nas revistas dos clubes
Naval, Militar e da Aeronáutica
Fabrício Jesus Teixeira Neves, Aline Prado Atassio

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Legalidades sobrepostas: direito, espaço e guerra na militarização da segurança pública na América
Latina
Victória Monteiro da Silva Santos
Estratégias e Táticas da Direita Militar: Ação Política e Projeto de Poder na Nova República
Carlos Henrique dos Santos Ruiz
Relações Civis-Militares e Violência Urbana em Megacidades: o caso do Brasil
Rafael Duarte Villa, Lucas Pereira Rezende
Democracia, Forças Armadas e imprensa no Brasil: perfil das(os) entrevistadas(os) entre 2009 e 2020
Marina Gisela Vitelli, David Paulo Succi Junior

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


Carl Schmitt e a Teoria do Poder
Arthur Nadú Rangel
Desafios Institucionais para o Brasil e a Alemanha no Espaço Cibernético
Ana Beatriz Slomski Oliveira, Breno Pauli Medeiros
Discurso da Diplomacia Nuclear Brasileira: Fatores de Continuidade no Período de 1998 a 2019
Victoria Viana Souza Guimarães, Lucas Peixoto Pinheiro da Silva
Os átomos e os quartéis: a política nuclear no pensamento militar brasileiro (1970-2000)
Eduardo Giacomin de David
O poder aeroespacial como ferramenta de influência nas relações internacionais brasileiras
Fernando Vitor da Silva Neves
52
Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

Diplomacia Política e Diplomacia Naval: Interoperabilidade no Atlântico Sul


Fernanda Carvalho Calado Coutinho
O reflexo socioeconômico da presença do Exército Brasileiro na Amazônia: o caso dos municípios
na Faixa de Fronteira do Arco Norte
Carlos Henrique Arantes de Moraes, Tássio Franchi, Dan Milli Pereira
Amazônia e Fronteiras: uma análise sobre a evolução da abordagem desses temas na Política Nacio-
nal de Defesa do Brasil.
Luiz Gustavo de Paiva Lopes, Tigernaque Pergentino de Sant’ana Junior
Cocaine, ideas, People and Mercury - Military Doctrine and the dangerous circulations of people
and substances in the “demographic emptiness” of the Amazon
Christoffer Guldberg
Os reflexos socioeconômicos da presença militar na região de fronteira sob responsabilidade da 4ª
Brigada de Cavalaria Mecanizada
Thiago de Castro Nogueira Borges e Morais

Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-15h45


Análise da Doutrina de Assuntos Civis do Exército Brasileiro
Yasmin da Cunha Paes
Colaboração, cooperação e coordenação: um diálogo entre conceitos fundamentais da relação inter-
agências
Thiago Abreu de Figueiredo, Nádia Xavier Moreira
Operações Humanitárias, Forças Armadas e Segurança Nacional: uma visão a partir da Gestão de
Desastres e Emergências Complexas
Rodrigo Antônio Silveira dos Santos, Natasha da Silva Terres, Iago Vieira de Oliveira
As atividades de ajuda humanitária do Exército Brasileiro em resposta a desastres naturais
Paulo Cordeiro Azeredo, Juvencio Antonio Vasconcelos Lobo, Marcos Vinicius Rodrigues Sant’ana
Mudanças Climáticas, desastres naturais, emergências sanitárias e forças armadas: desenvolvendo
resiliência por meio das Operações Interagências
Jose Roberto Pinho de Andrade Lima, Jose Roberto Pinho de Andrade Lima, Thiago Abreu de Figue-
iredo, Otávio Augusto Brioschi Soares

Dia 12/08/2022 - Sessão 6 -16h-17h45


A Estratégia Nacional de Defesa brasileira, o Terrorismo e a Defesa Química, Biológica, Radiológica
e Nuclear: lacunas e reflexões
Edivaldo Pires de Figueiredo
Gobernanza Migratoria Ecuatoriana ante los flujos migratorios colombianos y venezolanos.
Marco Granja, Luis Santiago Manzano
Seguridad, amenaza y actores violentos no estatales; conceptos clave para la formulación de la Es-
trategia Nacional de Seguridad y Defensa del Ecuador
Luis Santiago Manzano Terán, Marco Granja
A formação do Estado e a efetividade militar: as contribuições teóricas de Kadercan, Thies e Hui
Luana Isabelle Beal
Operação Acolhida após quatro anos: Descompassos entre as necessidades e os recursos investidos
Gustavo da Frota Simões
53
AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
AT 05 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
1994 X 2018: As diferenças no processo de securitização da segurança pública no Estado
do Rio de Janeiro

Jairo Luiz Fremdling Farias Junior (Exército Brasileiro), Frederico Chaves Salóes do Amor (Oficial Superior do
Exército Brasileiro)

A questão da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro tem sido foco de atenção por parte Instituições
públicas e governamentais de diferentes níveis. Nesse contexto, na década de 1990, a Operação Rio, decretada
em 1994, marcou a interferência direta do poder público federal nas estruturas de segurança fluminense, por
meio do emprego de Forças Armadas. Semelhantemente, em 2018, foi promulgado um decreto de Intervenção
Federal que, mais uma vez, lançou luz sobre a capacidade de interferência federal na segurança local, nomeando
um interventor militar. O trabalho a ser apresentado objetiva identificar as diferenças e similitudes do processo
de securitização da Operação Rio 94 e da Intervenção Federal de 2018. Trata-se de pesquisa exploratória,
com foco na questão: “Quais as diferenças na implementação da Operação Rio (1994) e a Intervenção Federal
(2018)?”. No intuito de responder o tema em debate, será utilizada a ferramenta de Estudo de Caso, com recorte
temporal nos eventos ocorridos nas esferas políticas e sociais, nos 6 meses que antecederam a promulgação
dessas intervenções. A revisão de literatura buscará abordar fontes primárias, particularmente na normativas
do evento, bem como serão buscados indicadores sociais e eventos políticos que possam indicar as dinâmicas
do processo de securitização em estudo. A pesquisa é relevante uma vez que permite entender como se dão
alguns processos de securitização de temas relacionados à segurança pública, no Estado do Rio de Janeiro, no
Brasil.

Legalidades sobrepostas: direito, espaço e guerra na militarização da segurança pública na


América Latina

Victória Monteiro da Silva Santos (PUC-Rio)

Os efeitos do crescente emprego de atores militares em atividades de segurança pública ao longo das últimas
décadas têm sido objeto de importantes debates nos estudos de segurança e relações internacionais. Neste
trabalho, proponho investigar uma das dimensões desses efeitos: a redefinição de superfícies e limites legais,
através das disputas e renegociações envolvidas na definição de jurisdições aplicáveis. Pretendo demonstrar
que o redesenho de legalidades é uma parte importante de disputas em torno da legitimação de diferentes
modalidades de guerra, e que no caso da militarização da segurança pública, tais disputas frequentemente
intersectam indistinções entre crime e conflito armado. Nas seções deste artigo, discuto a produção dessas
linhas e superfícies legais ao longo dos últimos anos em três países, ilustrando a renegociação e redefinição
dos limites ao uso da força por agentes estatais. Em primeiro lugar, discuto o contexto mexicano, no qual a
criação de uma Guarda Nacional sob mando militar teria sido a mais recente (e bem-sucedida) tentativa de
preencher um “vácuo jurídico” referente à atuação militar na segurança pública com a “segurança jurídica”
há muito demandada por oficiais militares. Em segundo lugar, veremos como, no contexto colombiano
contemporâneo, o redesenho da linha entre os direitos humanos e o direito humanitário foi traduzido em
diretrizes e procedimentos do direito operacional militar, tomando a forma de critérios técnicos que deslocam
as motivações (políticas ou criminais) dos atores não-estatais na decisão sobre quando e como os soldados
podem usar a força. Em terceiro lugar, analiso o redesenho da superfície da justiça criminal militar em contextos
de engajamento militar “contra o crime”, ilustrando seus efeitos em referência às discussões contemporâneas
brasileiras. Em tais casos, refletiremos sobre os entrelaçamentos entre o direito, o espaço e a guerra expressos
nesses processos, a partir da discussão sobre a proliferação de legalidades sobrepostas.
54
A Guerra para Dentro: Pacificação como doutrina e prática das Forças Armadas do Brasil
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

Thiago Rodrigues (Universidade Federal Fluminense (UFF)), Tadeu Morato Maciel (Universidade Federal
Fluminense)

Apresentamos a noção de “dispositivo pacificação” como meio para abordar e analisar a constante intervenção
das Forças Armadas brasileiras em questões domésticas. A partir da genealogia do poder proposta por Michel
Foucault, usada como método, e dos seus conceitos de “disciplina” e “biopolítica”, co- mo referenciais teóricos,
propomos uma análise de três conjuntos de práticas aparecidas historicamente em momentos subsequentes
e que se compuseram cumulativamente: a política indigenista do Marechal Rondon, a adoção das táticas de
contrainsurgência durante o regime autoritário (1964–1985) e as contemporâneas táticas de policiamento
de pacificação desenvolvidas no Haiti e no Rio de Janeiro. Argumentamos que a noção de pacificação é
um elemento chave que impulsiona, ao longo da história brasileira, a tradição intervencio- nista das Forças
Armadas, que se dá pela contínua combinação entre guerra interna e assistencialismo seletivamente aplicados
sobre parcelas específicas da população.

Forças Armadas e Política no Brasil: A Participação Política Castrense na Crise de 2013-


2018

Geórgia Bernardina de Menezes Gomes (UFRGS)

O artigo analisa o incremento da participação política das Forças Armadas brasileiras entre 2013 e 2018. Na
primeira parte, trata-se sobre quatro variáveis relevantes, tanto estruturais quanto conjunturais, que teriam
conduzido a um acirramento da atuação política de oficiais da ativa e da reserva no período: (i) a aproximação
histórica entre Forças Armadas e política no país; (ii) o desempenho de missões não convencionais pelas Forças
Armadas, que englobam operações de Garantia da Lei e da Ordem, atribuições subsidiárias e operações de paz
das Nações Unidas; (iii) a evolução da justiça de transição brasileira, que culminou na Comissão Nacional da
Verdade (2012-2014); e (iv) a crise política e econômica da época. Na segunda parte, aborda-se a evolução
das relações civis-militares brasileiras no período da crise, iniciada a partir dos grandes protestos de 2013 e
marcada por um acirramento da participação política militar, que se exacerbaria em 2018, com a Intervenção
Federal no Rio de Janeiro, a nomeação de um militar como ministro da Defesa e, especialmente, a atuação
de membros da ativa e da reserva das Forças Armadas nas eleições. A investigação embasou a dissertação
de mestrado da proponente, mediante revisão da literatura e consulta a materiais de imprensa, documentos
oficiais e manifestações públicas de oficiais da ativa e da reserva no período estudado. Com base na pesquisa,
constata-se que a crise foi uma conjuntura propícia para que os militares, possuindo amplas prerrogativas e
insatisfeitos com o poder civil, modificassem seu envolvimento na política, notadamente após o impeachment
de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer à presidência em 2016. Os militares, doravante, almejavam
novamente desempenhar um papel central na política brasileira, sem restringir-se aos campos da Defesa e da
segurança.

O que pensam os militares brasileiros: um estudo da visão política castrense nas revistas
dos clubes Naval, Militar e da Aeronáutica

Fabrício Jesus Teixeira Neves (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Aline Prado Atassio
(UFAL - Universidade Federal de Alagoas)

Nos últimos anos, os militares voltaram ao centro da arena pública, ganhando espaço nos noticiários e
reacendendo o debate acadêmico acerca do papel das forças armadas no Brasil. A participação expressiva dos
militares no atual governo – cerca de seis mil oficiais da ativa e da reserva ocupam hoje cargos comissionados
– e a crise política entre os poderes às vésperas das eleições presidenciais chamam a atenção para os riscos de
uma ruptura institucional no país envolvendo as forças armadas. Esse cenário sugere a seguinte pergunta: “o
que pensam os militares brasileiros?” Para respondê-la, debruçamo-nos neste trabalho sobre os editoriais das
55
revistas dos clubes Naval, Militar e da Aeronáutica, representativas do pensamento militar nas três forças. Tais
revistas, como observado, longe de apenas divulgar aos associados informações relacionadas às atividades

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
recreativas das suas unidades, expressam, de forma aberta e contundente, a cosmovisão política dos militares.
A partir da leitura do material indicado, selecionamos um conjunto de indicadores, cuja importância pôde ser
aferida em termos de frequência (maior ou menor número de vezes) com que eles aparecem nos editoriais.
Assim, foi possível hierarquizar e classificar os temas abordados nos editoriais como de baixa, média e alta
importância para os militares. A análise percorre o período de 2012 a 2021. Situa-se entre a Comissão da
Verdade e as manifestações de 7 de Setembro último em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Ao longo desse
tempo, outros acontecimentos chamaram a atenção dos militares. São indicativos nesse sentido a Operação
Lava-Jato da Polícia Federal e a CPI da Covid, sobre as quais se posicionaram os militares nas revistas dos
clubes. A opção por escolher os militares da reserva e não os da ativa, ou ambos, se deu por uma simples razão:
os militares da ativa são proibidos, por lei, de opinar sobre assuntos de natureza política.

AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade


AT 05 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
Estado de violência brasileiro: a Doutrina de Segurança Nacional e a “crise” de Segurança
Pública

João Rafael Gualberto de Souza Morais (Instituto de Estudos Estratégios INEST-UFF)

O quadro da violência no Brasil é marcado por uma polícia violenta enfrentando grupos organizados violentos.
Esses grupos disputam o controle de territórios nas periferias das cidades, regiões abandonadas e reprimidas
pelo poder público. Historicamente, a violência do Estado está há muito tempo apontada para as camadas mais
pobres excluídas do círculo de direitos e proteções da polis brasileira.

A assim chamada “crise” de Segurança Pública corresponde ao encontro de duas variáveis: as transformações
sistêmicas na violência organizada em direção a formas difusas e privadas, a partir do pós-guerra fria, e; a
formação autoritária do Estado brasileiro, lastreado na Doutrina de Segurança Nacional (DSN). O resultado
desse encontro é um tipo de violência, anteriormente restrito à guerra, irradiado para dentro das fronteiras.
Teríamos, assim, não uma guerra nas metrópoles brasileiras, mas uma violência de contornos militarizados
que também inviabiliza a paz em seu sentido estrito.

Portanto, tomo emprestado o conceito de Frédéric Gros (2017), segundo quem a violência está mudando em
direção a um cenário nebuloso onde os limites outrora claros entre a guerra/paz se confundem e formam
“Estados de violência”.

A configuração de uma ameaça militar pressupõe um inimigo. A constituição de um “inimigo interno” é uma
marca persistente da formação do Estado brasileiro. Com a ascensão dos militares ao protagonismo político
a partir de 1930, temos um processo de institucionalização da cultura autoritária que estará no cerne da
modernização do país e agravará a exclusão social. O Estado assume, progressivamente, a direção militarizada
que irá encontrar expressão institucional na DSN.

Logo, duas questões se fazem presentes: o que faz desse marginal um inimigo?; qual a relação da DSN com a
“crise” de segurança pública?
56
Estratégias e Táticas da Direita Militar: Ação Política e Projeto de Poder na Nova República
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

Carlos Henrique dos Santos Ruiz (UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)

Com o fim da ditadura, após 21 anos de regime militar e com o retorno da democracia, esperava-se que os
militares fossem afastados da política, o que não aconteceu. Os militares, como atores políticos, continuaram
ativos politicamente. Destes, uma Direita Militar, através de seus Grupos de Pressão, realizaram Ações Políticas
no período inicial da Nova República, intervindo na Assembleia Constituinte, nas eleições presidenciais de
1989 e nas eleições gerais de 1994, o qual não obtiveram o resultado esperado. Assim, o objetivo da presente
pesquisa, seguindo a linha metodológica Instrumental do estudo das relações entre militares, sociedade
e Estado, é investigar e analisar a Ação Política e as estratégias e táticas da Direita Militar, através de seus
principais Grupos de Pressão – Letras em Marcha, União Brasileira de Defesa da Democracia, Ombro a Ombro,
Guararapes e Inconfidência – entre 1986 e 1994, analisando as duas estratégias adotadas no período por esses
grupos: uma indireta, visando influenciar os atores políticos via Grupos de Pressão; e a segunda, direta, na
preparação de um projeto de poder para disputar as eleições de 1994.

Relações Civis-Militares e Violência Urbana em Megacidades: o caso do Brasil

Rafael Duarte Villa (Universidade de São Paulo), Lucas Pereira Rezende (Universidade Federal de Minas
Gerais)

This paper presents the classical and contemporary Civil-Military Relations (CMR) models, the difficulties
to applying these models to South Global states and how unbalanced CMR in new democracies relate to
violence in megacities, using Brazil as a case study. Brazil has sui generis domestic use of its armed forces,
assuming multiple constitutional roles such as police forces, border guards, infrastructure, special construction
contractors, and industrial military manufacturer. Our hypothesis is that the use of the military in public
security operations unbalances CMR because it transmutes and distorts the exercise of civil political authority
by decreasing the population’s trust in the civil institutions and by making extreme solutions permanent
governmental choices – something traditional CMR does not allude to. We bring three aspects that explain the
growing of the use of the Brazilian military as police forces: (1) the economic and political crisis which started
in 2014, (2) the constitutional apparatus that underlie the law-and-order guarantee operations (GLOs) and the
federal interventions, and (3) the rise of social violence in Brazilian and Latin American megacities as a whole.
We conclude Brazil goes against all assumptions of democratic control of the military, security sector reforms
and political stabilisation grounded on civilian control. Brazilian CMR fail on its most basic aspect, mirroring
a subjective control in which the civil society adopts the military values instead of the opposite. Without a
strong commitment of civilian political individuals and society, little progress can be expected in the control of
militarised solutions to political problems.

Democracia, Forças Armadas e imprensa no Brasil: perfil das(os) entrevistadas(os) entre


2009 e 2020

Marina Gisela Vitelli (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), David Paulo Succi Junior (San Tiago
Dantas (UNESP - UNICAMP - PUCSP))

A literatura acadêmica sobre relações civil-militares em democracias tem como principais objetos de análise o
comportamento das forças armadas em relação ao governo civil eleito, assim como a disposição e capacidade
das autoridades civis de exercer controle sobre os militares. Em democracias modernas, no entanto, é também
fundamental que a sociedade compreenda o papel das forças armadas como atores não-deliberativos e
politicamente neutros. Sob esta perspectiva, a imprensa desempenha um papel essencial na reprodução de
princípios do controle democrático sobre os militares. Entre as diversas formas em que a imprensa intermedia
a relação entre uma sociedade e suas forças armadas está é o espaço que concede a atores civis e militares
em coberturas jornalísticas sobre defesa e forças armadas, assim como o espaço que atribui aos militares na
57
cobertura de temas que excedem o âmbito militar. Neste sentido, o problema de pesquisa do presente trabalho
é: quais vozes são consultadas pela grande imprensa brasileira para levar à opinião pública informações sobre

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
defesa e forças armadas? O presente artigo apresenta um esforço exploratório inicial, com base na análise
sistemática dos informes Brasil do Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas (GEDES),
produzidos semanalmente. Foram considerados os informes produzidos entre 2009 e 2020, a partir dos quais
selecionamos apenas os resumos que mencionavam a realização de entrevistas, uma vez que o objetivo do
estudo é entender o perfil dos indivíduos consultados pela grande imprensa. Posteriormente, classificamos as
publicações com base em cinco critérios: 1) nome da(o) entrevistada(o); 2) o perfil profissional, com ênfase nos
militares; 3) os temas abordados na entrevista; 4) o jornal que publicou a entrevista; e 5) a data da publicação.
O presente trabalho expõe os resultados preliminares da análise e discute potenciais dificuldades da pesquisa
visando aperfeiçoar a metodologia empregada.

AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade


AT 05 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
Carl Schmitt e a Teoria do Poder

Arthur Nadú Rangel (PROMOVE - Faculdade Promove de Belo Horizonte)

A teoria da exceção é parte fundamental da teoria geral da soberania e da segurança um Estado. O exercício
do Poder é algo inerente a organização do Estado dentro de um sistema de poderes, seja democrático, seja por
meio da força que atua como garantidora da vontade geral que domina o éthos do da finalidade do Estado. O
Poder é de tal importância que guia e legitima as armas do Estado, como as forças armadas e os órgãos polici­
ais, como também legitima o exercício do soberano que vai agir como fator determinante na superação da ex­
ceção na preservação do Estado. O pensamento de Schmitt é importante no sentido de pensar a anormalidade
como o fato que ela realmente é: um momento singular, porém que deve ser enfrentado como forma de superar
as diferenças e garantir a finalidade do Estado e sua soberania.

Desafios Institucionais para o Brasil e a Alemanha no Espaço Cibernético

Ana Beatriz Slomski Oliveira (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), Breno Pauli Medeiros (Escola
de Comando e Estado Maior do Exército)

A digitalização da sociedade contemporânea, vinculada aos processos de globalização e protagonismo das


tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas relações sociais, consagram o espaço cibernético como
um novo campo de interações sociais no século XXI. Nesse novo domínio estratégico, algumas práticas das
relações internacionais são transpostas a fim de usufruírem das vantagens intrínsecas ao ciberespaço, poten­
cializadas pelo seu dinamismo e ubiquidade. Essa realidade implica em diversos desafios, dentre os quais, a
multiplicidade de atores públicos e privados, a ideação de normas e regras comportamentais para o espaço
cibernético e a necessidade de desenvolver a segurança cibernética. Entre as diversas agendas, a questão da
espionagem e monitoramento de usuários foram evidenciadas por ocorrências recentes, vislumbradas pelas
revelações de Edward Snowden em 2013 e o caso Cambridge Analytica, em 2018. O escopo e nível de monito­
ramento, incutiram, principalmente no Brasil e na Alemanha, mudanças legislativas e institucionais no âmbito
doméstico, acompanhadas pela conduta ativa dos países em fóruns internacionais referentes à Governança da
Internet. Diante deste contexto, o presente trabalho busca analisar como o Brasil e a Alemanha desenvolveram
políticas públicas para o estabelecimento de uma governança do espaço cibernético e da Internet. Metodologi­
camente, o trabalho é estruturado na análise comparada da evolução dos arcabouços administrativos do Brasil
e da Alemanha relacionados ao debate doméstico, que geraram marcos legais sobre o tema em cada país, e as
contribuições para a esfera internacional. Em termos de estrutura, o trabalho parte de uma conceitualização do
58
ciberespaço, que considera sua composição em camadas, destacando a importância da segurança cibernética
e das TIC para maior projeção no domínio. Em seguida, será contextualizado o desenvolvimento institucional
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

dos países no ciberespaço diante das revelações Snowden e do caso Cambridge Analytica. O trabalho finda
com considerações acerca da importância do papel de ambos na arena internacional.

Discurso da Diplomacia Nuclear Brasileira: Fatores de Continuidade no Período de 1998


a 2019

Victoria Viana Souza Guimarães (Universidade Estadual Paulista), Lucas Peixoto Pinheiro da Silva (UFF - Uni­
versidade Federal Fluminense)

A política externa brasileira tem sido crescentemente objeto de debate na sociedade, em um processo conhe­
cido na literatura como politização. A participação brasileira no Regime Internacional de Não Proliferação no
período de 1998 a 2019 tem sido uma exceção a essa tendência. Após a adesão ao Tratado sobre Não Prolifer­
ação de Armas Nucleares (TNP), em 1998, governos de diferentes partidos e posições ideológicas têm man­
tido o mesmo discurso político nos fóruns internacionais dessa temática, caracterizando uma continuidade
que contrasta com outras áreas da política externa, no mesmo período. Entre os princípios que se repetem
estão: universalidade do TNP; reafirmação de seus pilares (não proliferação, desarmamento e uso pacífico da
tecnologia nuclear); reiteração dos princípios da irreversibilidade, transparência e verificabilidade e apelo à
resolução sobre o Médio Oriente; necessidade de revisão do papel das armas nucleares nas doutrinas militares
dos países nuclearmente armados; e contestação de suas assimetrias pela falta de implementação de medidas
de desarmamento previamente acordadas. O objetivo principal deste artigo é investigar os principais fatores
que explicam a continuidade do posicionamento brasileiro nesse Regime ao longo de diferentes governos. O
principal argumento defendido é que três fatores explicam a continuidade na condução da diplomacia nucle­
ar brasileira: i) a influência da Marinha do Brasil; ii) a criação da Coalizão da Nova Agenda; e iii) a tradição
grociana da diplomacia brasileira. Para distinguir o potencial explicativo entre esses três fatores, aplica-se o
método de process tracing. Desse modo, as explicações alternativas para o caso estudado são verificadas por
meio de testes de inferência das evidências coletadas, que podem confirmar ou eliminar as explicações basea­
das no poder discriminatório dessas evidências. Os resultados sugerem que o fator (i) é o que apresenta maior
capacidade explicativa, enquanto os fatores (ii) e (iii) carecem de evidência robusta.

Os átomos e os quartéis: a política nuclear no pensamento militar brasileiro (1970-2000)

Eduardo Giacomin de David (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

A política nuclear brasileira passou por grandes transformações entre os anos 1970 e 2000. O início deste
período foi marcado por uma decidida busca de maior autonomia na temática nuclear, a qual se deu a partir de
acordos com os Estados Unidos e países europeus, bem como por meio do desenvolvimento do que veio a ser
conhecido como “programa nuclear paralelo”. A partir de meados da década de 1980, todavia, se observou uma
relativa reversão nesta tendência, com a conformação do Brasil às políticas internacionais de não-proliferação
nuclear. Nesse sentido, no contexto da redemocratização e do fim da Guerra Fria, o Brasil finalizou seu “pro­
grama nuclear paralelo”, estabeleceu a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais
Nucleares, a qual foi peça-chave para o fim da (fria) corrida nuclear entre os dois países, bem como assinou em
1998 o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Muito já foi discutido pela literatura acadêmica acerca da política nuclear brasileira, sendo destacado sua
ligação com as conjunturas doméstica e internacional, bem como com os avanços tecnológicos nesta temáti­
ca. Sem negar tais aspectos, consideramos que a reorientação da política nuclear brasileira entre 1970 e 2000
se explica também pelas alterações no pensamento militar brasileiro acerca desta, aspecto que até o presente
momento foi pouco investigado, muito embora o fato de os militares serem durante tal período os principais
formuladores e executores de tal política. Neste sentido, tal pesquisa, ainda em fase preliminar de desenvolvi­
mento, busca analisar o pensamento militar brasileiro acerca da temática nuclear entre os anos 1970 e 2000,
procurando entender suas mudanças e permanências no decorrer de tal período, o que será realizado por meio
de análise de conteúdo de artigos e livros publicados pela imprensa militar acerca desta temática, bem como de
59
documentos oficiais que tratem desta.

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
O poder aeroespacial como ferramenta de influência nas relações internacionais brasileiras

Fernando Vitor da Silva Neves (Universidade da Força Aérea)

O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise de como o poder aeroespacial brasileiro pode in­
fluenciar nas relações internacionais do nosso país. Sob a ótica da diplomacia de defesa, o trabalho procura
mostrar as ações desenvolvidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) e como elas impactam na execução da políti­
ca externa do país. Para isso é importante entender a dinâmica de atuação do poder na relações interestatais.
Dessa forma, o estudo aborda as bases conceituais para o entendimento do poder e a sua influência nas relações
internacionais inserindo-o dentro de uma nova conjuntura internacional da distribuição de poder, onde, os
fatores econômicos e culturais, possuem uma relevância maior nas atuais relações interestatais. Por fim, o
artigo se debruça na possibilidade de realizar uma análise diferenciada do poder aeroespacial brasileiro, em
contribuir para um melhor entendimento do uso da diplomacia de defesa como ferramenta de inclusão do
Brasil no cenário internacional, desmistificando o emprego do poderio militar apenas em prol do Hard Power.

AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade


AT 05 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
Diplomacia Política e Diplomacia Naval: Interoperabilidade no Atlântico Sul

Fernanda Carvalho Calado Coutinho (PPGEST-UFF)

O presente trabalho busca contribuir para o estreitamento de laços entre a Marinha do Brasil (MB) e o
Ministério das Relações Exteriores (MRE), especificamente em seu elo diplomático. A motivação empírica
para este artigo é o decreto de nº 10.607 assinado em 2001, pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, a
fim de atualizar a Política Marítima Nacional (PMN) de 1994. Para tanto, institui-se o Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) para a discussão de objetivos marítimos nacionais, dentre eles a condução do Brasil a
condição de ator marítimo relevante nas relações exteriores. Pontua-se como objetivo geral investigar o que é
diplomacia naval e como essa pode contribui ativo e juntamente á diplomacia política no entorno estratégico
atlântico. Constata-se como problema de pesquisa o descompasso entre diplomatas e militares. O artigo busca
mapear que a defesa dos interesses nacionais necessita de interação entre diferentes instituições. Ademais, este
trabalho respalda-se no Livro Branco de Defesa Nacional o qual aponta a política externa e a política de defesa
como complementares e indissociáveis. A fim de atribuir bom tom ao artigo, este trabalho também leva em
consideração a demarcação da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito da Década do Oceano (2021-
2030). A metodologia utilizada será de caráter qualitativo por meio de análise bibliográfica.

O reflexo socioeconômico da presença do Exército Brasileiro na Amazônia: o caso dos


municípios na Faixa de Fronteira do Arco Norte

Carlos Henrique Arantes de Moraes (Exército Brasileiro), Tássio Franchi (Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército), Dan Milli Pereira (ECEME)

O Brasil tem 588 municípios em sua Faixa de Fronteira, alguns dos quais em regiões com baixos índices
de desenvolvimento, como os localizados na Amazônia Brasileira. O Exército Brasileiro, além de possuir
secularmente uma estratégia de presença na região amazônica, recebe em suas fileiras e remunera jovens
dos municípios onde está instalado. Diante disto, se conduziu uma pesquisa que busca explicar quais as
60
contribuições das Organizações Militares (OM) do Exército Brasileiro na geração de emprego e renda nos
municípios da faixa de fronteira no Arco Norte. Selecionado como instalação 3º Batalhão de Infantaria de Selva
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

no município de Barcelos-AM, para um detalhamento, a fim de responder aos seguintes questionamentos:


Como a presença de uma OM o contribui diretamente na geração em emprego e renda de um município no
Arco Norte? O objetivo geral é entender qual é o impacto de uma instituição de Estado em uma região distante
dos grandes centros econômicos e isolados geograficamente do restante do País e como o investimento estatal
promove dialoga com um índice básico de desenvolvimento humano (IDH) que é a renda.
O recorte do trabalho foram os 124 municípios com territórios na Faixa de Fronteira dos estados da Amazônia
Legal, e dentro deles os com a presença de organizações militares. Foram levantados indicadores econômicos
primários no banco de dados do IBGE; e dados governamentais referentes ao soldo dos militares e números do
efetivo variável das organizações militares analisadas; para o município de Barcelos foram buscados dados das
inversões financeiras realizadas pelo 3º BIS no município e dados socioeconômicos locais.
O método para análise dos dados foi a estatística inferencial univariada, com o apoio do software SPSS na
realização dos testes. Os resultados foram analisados buscando confirma a hipóteses levantada a partir de
argumentos históricos da estratégia da presença, sendo a mesma confirmada.

Amazônia e Fronteiras: uma análise sobre a evolução da abordagem desses temas na Política
Nacional de Defesa do Brasil.

Luiz Gustavo de Paiva Lopes (Exército), Tigernaque Pergentino de Sant’ana Junior (Exército Brasileiro)

O presente trabalho teve por objetivo analisar as versões de 2012 (anterior) e de 2020 (atual) da Política Nacional
de Defesa (PND) do Brasil, com foco na seguinte questão de estudo: quais alterações relacionadas à Amazônia
brasileira e à faixa de fronteira ocorreram nas duas versões da PND? A análise usou como base, principalmente,
a teoria da Guerra, de Clausewitz e da Securitização, de Buzan. O método empregado foi a revisão documental,
utilizando-se, ainda, de ferramentas de Análise de Conteúdo. Com base na investigação, inferimos que no caso
da Amazônia houve uma mudança de enfoque na forma como o assunto é tratado, principalmente em relação
à securitização das questões ambientais. Já em relação ao assunto fronteiras, foi observado na PND de 2020 que
o desenvolvimento regional passou a ser uma responsabilidade do Estado como um todo, deixando de ser um
assunto apenas das Forças Armadas. A pesquisa é relevante por analisar como o Brasil estrutura sua política de
Defesa com repercussão em uma região que é foco da atenção internacional.

Cocaine, ideas, People and Mercury - Military Doctrine and the dangerous circulations of
people and substances in the “demographic emptiness” of the Amazon

Christoffer Guldberg (King’s College London)

The current paper aims at understanding how circulations of certain ideas, bodies and substances in the
“demographic emptiness” of the Amazon are the aim of repression or support according to their perceived threat
against the territorial integrity of the Brazilian state. To do this, I draw both on the concepts of hybrid warfare,
citizenship and vulnerability to take a critical approach to threat construction as defined by perceptions of a
continuum between vulnerability and threat which legitmises the control of racialised victims of “dangerous”
circulations.
Thus, analysing the national defence policy and the national defence strategy, as well as plans to expand
infrastructure in the Amazon rainforest to show how specific substances, bodies and ideas are seen as
legitimate objects of repression whereas others are either the object of indifference or deliberately encouraged.
specifically, I argue that focus on the circulation of foreign actors and NGOs as well as illicit drugs are perceived
as threatening, whereas, the circulation of soybeans causing massive deforestation is actively encouraged and
the circulation of mercury for the purpose of illegal mining which is posioning large parts of the Amazon, is
to some degree encouraged while not being actively repressed. I conclude that this is because this extremely
toxic substance does not speak to the moral distinctions between good and bad others and the duty to repress
and rescue these perceived groups, that otherwise stucture the self-perception of the Brazilian military as the
“strong arm- friendly hand”.
61
Os reflexos socioeconômicos da presença militar na região de fronteira sob responsabilidade
da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
Thiago de Castro Nogueira Borges e Morais (Instituto Meira Mattos/ECEME), Roberto Balestrim (Exército
Brasileiro)

O Estado do Mato Grosso do Sul possuí 79 (setenta e nove) municípios, sendo que 09 (nove) destes estão
localizados na faixa de fronteira na área de influência direta da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (4ª Bda C
Mec). Em geral, são regiões pouco povoadas, com uma média demográfica baixa, 14,8 hab/km², apresentam
terreno plano, firme e de fácil acesso, localizadas junto à fronteira Brasil-Paraguai. Entender quais são as
contribuições socioeconômicas das Organizações Militares (OM) da 4ª Bda C Mec para os municípios da
região é importante para o desenho e execução de políticas públicas. O presente artigo se propõe a realizar
um estudo de caso da presença e contribuição das OM do Exército Brasileiro, sob responsabilidade da 4ª Bda
C Mec, a fim de responder ao seguinte questionamento: de que forma as Organizações Militares da 4ª Bda C
Mec contribuem para desenvolvimento local, agregando renda aos municípios? Nesse contexto, a pesquisa tem
como método a análise de indicadores socioeconômicos que colaboram com a composição do PIB municipal.
O trabalho está baseado em pesquisas bibliográficas e em dados e documentos governamentais.

AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade


AT 05 - Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
Análise da Doutrina de Assuntos Civis do Exército Brasileiro

Yasmin da Cunha Paes (Centro de Estudos e Articulação da Cooperação Sul-Sul)

O Exército Brasileiro publicou em maio de 2021 o Manual de Campanha de Assuntos Civis, em substituição
ao Manual de Campanha de Cooperação Civil Militar (2017) e ao Manual de Assuntos de Governo (1981).
Baseado na recente modificação doutrinária ocorrida através da publicação do manual em questão, este estudo
tem o objetivo de analisar como se deu o processo de produção da doutrina de Assuntos Civis do Exército
Brasileiro e como ela se traduz e se desenvolve a partir de um conjunto de práticas e experiências que visa a
melhor coordenação entre civis e militares em operações militares. O estudo utiliza a revisão de bibliografia
especializada e a condução de entrevistas como métodos de análise qualitativa. Argumenta-se que o processo
de produção da doutrina de assuntos civis se baseia largamente na experiência dos militares do Exército na
condução de atividades de assuntos civis em operações de paz, operações humanitárias e operações de apoio
aos órgãos governamentais, na realização de experimentações doutrinárias e no contato de militares brasileiros
com doutrinas estrangeiras através de cursos realizados no exterior, resultando na utilização de conhecimentos
doutrinários de países parceiros e organizações internacionais. Dessa maneira, constata-se que a produção
doutrinária atravessa campos de experiências que conjugam o engajamento militar externo e interno.
Adicionalmente, conclui-se que o Manual de Assuntos Civis visa consolidar uma doutrina que informe mais
objetivamente a missão do Exército Brasileiro na sua relação com atores civis.

Colaboração, cooperação e coordenação: um diálogo entre conceitos fundamentais da


relação interagências

Thiago Abreu de Figueiredo (Escola Superior de Defesa), Nádia Xavier Moreira (Escola Superior de Defesa)

O artigo reflete, a partir de uma revisão de literatura e análise documental, sobre os tipos de arranjos que balizam
as relações interagências e suas diferenças conceituais e semânticas, com o intuito de aprimorar tais relações e a
própria prática interagências. Os resultados do estudo indicam que a colaboração estaria na estrutura de todos
62
os relacionamentos entre as agências para a solução de problemas comuns. Ela perpassaria e estaria presente
nos demais arranjos (cooperação e coordenação). Sem a colaboração, não haveria cooperação nem tampouco
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

coordenação interagências. A colaboração seria a base sobre a qual os demais arranjos poderiam acontecer.
Já a cooperação seria o nível mais básico nesse tipo de relação, dada sua informalidade e estar baseada em
relacionamentos pessoais e pouco institucionalizados. No arranjo cooperativo, a colaboração está presente
como um elo entre as agências, mas ela ocorre de maneira desestruturada, baseada em relacionamentos pessoais,
voluntarismo e participação discricionária de seus membros. Já a coordenação, seria o aprimoramento da
cooperação por meio de arranjos elaborados, quando agências considerariam nos planejamentos os objetivos,
visões, propósitos e estados finais desejados da outra agência, sendo, portanto, o arranjo interagências mais
adequado para a solução dos problemas complexos, motivo pelo qual as operações interagências tornam-se
necessárias.

As atividades de ajuda humanitária do Exército Brasileiro em resposta a desastres naturais

Paulo Cordeiro Azeredo (Exército Brasileiro), Juvencio Antonio Vasconcelos Lobo, Marcos Vinicius Rodrigues
Sant’ana (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

Após o final da Guerra Fria, uma série de demandas, que não encontravam espaço para debate na arena
acadêmica referente aos estudos de segurança, passaram a ter espaço na agenda relativa às diversas ameaças
que, de certo modo, sempre estiveram presentes. Uma dessas demandas refere-se à temática ambiental, refletida
na necessidade de resposta ao crescente processo de mudança climática e à ocorrência de desastres naturais
agravados por esse processo.
O Brasil, em virtude de suas características territoriais e climáticas, dentre outras, teve que responder a esses
desastres com o envolvimento de diversos atores estatais, dentre eles o Exército Brasileiro (EB). A participação do
EB nessas situações tem se intensificado nos últimos anos em resposta aos impactos dos diversos desequilíbrios
ambientais gerados na população onde eles ocorreram, com consequência para o preparo e emprego da tropa.
Dessa forma, este trabalho se propõe a analisar as ações do EB, respaldadas nas linhas da Constituição Federal
de 1988, Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa, e no contexto dos Estudos de Segurança
Internacional.
Para tanto, a partir de uma análise comparativa, esse trabalho busca realizar uma avaliação de como ocorreu o
envolvimento do EB nas atividades de ajuda humanitária realizadas em Santa Catariana e em Petrópolis – RJ,
a partir de 2014, e analisar o envolvimento dos atores civis nesses episódios.
Ao tecer uma análise comparativa entre esses casos, o trabalho busca compreender como o tema está sendo
absorvido dentro do escopo das funções do Exército no Estado brasileiro e discutir o papel dos demais agentes
da sociedade brasileira nessas situações.

Operações Humanitárias, Forças Armadas e Segurança Nacional: uma visão a partir da


Gestão de Desastres e Emergências Complexas

Rodrigo Antônio Silveira dos Santos (UNIFA), Natasha da Silva Terres (FAB), Iago Vieira de Oliveira (UNIFA
- Universidade da Força Aérea)

A logística humanitária emergiu internacionalmente como linha de pesquisa a partir das operações de resposta
ao tsunami do Oceano Índico em 2004. No Brasil, o tema ganhou relevância com as repostas empregadas às
enchentes de Santa Catarina (2008) e da Região Serrana do Rio de Janeiro (2011). Desde então, este tema
contribui para a prevenção e mitigação de crises decorrentes de desastres ou emergências complexas, sejam
estas de origem antropogênica ou natural, tais como a migração venezuelana para o Brasil, a partir de 2017,
oriunda de crise política naquele país; o rompimento da barragem em Brumadinho (2019) e a pandemia
desencadeada por crise epidemiológica ocasionada pela COVID-19 (2020). Nesse contexto, as Forças Armadas
- haja vista suas capacidades de prontidão, capilaridade e pronto-emprego - têm atuado ativamente em ações
subsidiárias de ajuda humanitária, com vistas a atender o povo brasileira e, por conseguinte, elevar a percepção
da Segurança Nacional junto à população. Sendo assim, este trabalho objetiva identificar as ações empregadas
pelas Forças Armadas em contribuição à logística humanitária durante a fase de resposta a desastres e
63
emergências complexas. Além disso, pretende-se compreender as relações existentes entre a ação das Forças
Armadas em operações humanitárias e a Segurança Nacional. Para tanto, realizou-se uma revisão sistemática

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
de literatura correlacionando as contribuições teóricas mais relevantes sobre o tema e os normativos político-
estratégicos de caráter nacional, quais sejam a Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de
Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Como resultado, foi possível perceber que a
mobilização das Forças Armadas para contribuir com esforços de logística humanitária tem impacto positivo
na percepção de Segurança Nacional pela população brasileira, além de servir como projeção de poder em
escala internacional, ao demonstrar, na prática, as capacidades existentes nas Forças Armadas para o público
interno e externo.

Mudanças Climáticas, desastres naturais, emergências sanitárias e forças armadas:


desenvolvendo resiliência por meio das Operações Interagências

Jose Roberto Pinho de Andrade Lima (Escola Superior de Defesa), Thiago Abreu de Figueiredo (Escola Superior
de Defesa), Otávio Augusto Brioschi Soares (Hospital Central do Exército)

Na última década, os desastres naturais e as emergências sanitárias cresceram em frequência e intensidade no


planeta, vitimando centenas de milhares de pessoas a cada ano. Diversos estudos associam o crescimento destes
eventos extremos às mudanças climáticas. Estas situações de crise têm se repetido a cada ano também no Brasil
e, somente em 2022, mais de 500 pessoas morreram em enchente e deslizamentos em diversas regiões. Em geral,
os países não apresentam uma capacidade de resiliência adequada, ou seja, não estão devidamente preparados
para responder as estas calamidades e retomar a normalidade em curto período. No Brasil, as forças armadas
têm sido convocadas a apoiar outras agências na gestão das crises relacionadas a desastres naturais e epidemias.
Experiências internacionais recentes indicam a importância de desenvolver novas capacidades nas forças
armadas, como vigilância, planejamento de resposta e enfrentamento de chuvas, furacões, incêndios florestais
e ondas de calor. Este estudo teve por objetivo mapear as capacidades militares existentes no Brasil e no seu
entorno estratégico para o enfrentamento de desastres naturais e emergências sanitárias. Vale destacar que as
emergências sanitárias de interesse no Brasil não se restringem a epidemias e pandemias com impacto na saúde
humana, mas surtos de enfermidades animais que possam atingir os rebanhos nacionais e causar grave impacto
económico e social. Estudo exploratório, descritivo e aplicado de base qualitativa, aplicou técnicas de pesquisa
bibliográfica e documental. Caracterizou-se as ameaças emergentes e as capacidades existentes e necessárias no
Brasil. Analisou-se experiências internacionais relevantes no campo da resiliência no contexto das mudanças
climáticas. Os resultados permitem indicar algumas ações estratégicas para robustecer a resiliência nacional no
enfrentamento destes tipos emergentes de crise, especialmente com o aprimoramento da relação interagências,
treinamentos conjuntos com simulados, desenvolvimento e padronização doutrinária, compartilhamento de
informações de inteligência e desenvolvimento do planejamento militar baseado em capacidades.

AT 05. Forças Armadas, Estado e Sociedade


AT 05 - Sessão 6 (12/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-304
A Estratégia Nacional de Defesa brasileira, o Terrorismo e a Defesa Química, Biológica,
Radiológica e Nuclear: lacunas e reflexões

Edivaldo Pires de Figueiredo (Força Aérea Brasileira)

O presente artigo tem o objetivo de analisar a evolução da Estratégia Nacional de Defesa (END) brasileira
e verificar a existência de lacunas sobre a abordagem dos temas terrorismo e Defesa Química, Biológica,
Radiológica e Nuclear (DQBRN). Para isso, foram realizadas pesquisas bibliográficas e documentais
concentrando-se nos Livros Brancos de Defesa Nacional (LBDN), nas Políticas Nacionais de Defesa (PND),
64
nas END e em trabalhos que abordassem os temas terrorismo e DQBRN e segurança e defesa nacional. Foi
possível verificar que, mesmo apresentando avanços em sua redação, uma vez que conseguiu prever ações que
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05

contemplassem casos atuais como os de pandemia, continuam a existir lacunas para o trato de eventos adversos
envolvendo agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares e ações terroristas, instando a necessidade
de reflexões sobre como elevar a percepção do povo e, consequentemente, do Estado brasileiro sobre esses
temas, pouco explorados na atual END. Para chegar a esta conclusão, buscou-se identificar dentro da Política
Nacional de Defesa (PND) do ano de 2020 as condições a serem alcançadas e mantidas dentro dos Objetivos
Nacionais de Defesa (OND) que tivessem relação com a DQBRN e, dentro do único objetivo identificado, as
Estratégias de Defesa (ED) e Ações Estratégicas de Defesa (AED), restando claro que precisamos refletir sobre
esse tema para que ações hostis que envolvam elementos QBRN e terrorismo possam ser mitigados com a
resposta adequada e a altura da nação brasileira.

Seguridad, amenaza y actores violentos no estatales; conceptos clave para la formulación


de la Estrategia Nacional de Seguridad y Defensa del Ecuador

Luis Santiago Manzano Terán (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), Marco Granja (Escola de
Comando e Estado Maior do Exército)

El Ecuador, un país ubicado al noroccidente de América del Sur que, desde su creación como República, su
existencia se ha visto amenazada por diferentes factores naturales y antrópicos. Tiene una extensión de 256.370
kilómetros cuadrados (puesto 75 entre 193) y en comparación con otros países es más pequeño que Italia (70)
y más grande que Reino Unido (77) (RON e DÍAZ, 2013, p. 5). Este país, desconocido para muchos, alberga
grandes riquezas naturales y mega diversidad en su ecosistema. El científico alemán Alexander Humboldt
hace más de 200 años describe a los ecuatorianos como “seres raros y únicos: duermen tranquilos en medio
de crujientes volcanes, viven pobres en medio de incomparables riquezas y se alegran con música triste”
(MINISTERIO DE CULTURA, 2019, p. 2).
El Ecuador ha modelado su historia, en gran medida, en base a una guerra persistente por su territorio, en
especial con Perú (GARCÍA, 2018, p. 2), y es que sin duda la principal riqueza está ahí. Este trabajo plasma
los conceptos de seguridad, amenaza y actores violentos no estatales de una manera general con la finalidad
de realizar un análisis minucioso de la Política de Seguridad y Defensa del Ecuador y verificar la aplicación
doctrinaria de dichos conceptos, para finalmente reflexionar sobre si la actual estrategia de seguridad y defensa
es adecuada o no y si debe ser actualizada en base a las nuevas capacidades de las amenazas, y así cumplir con
su objetivo de brindar seguridad a la ciudadanía, empleando el método de análisis descriptivo y recolección
de datos. Con el propósito de mostrar a la sociedad Académica de Defensa Brasilera otra perspectiva, en
un contexto diferente, el empleo de conceptos comunes y su aplicación en la Estrategia de Defensa y así
intercambiar ideas, vivencias y recomendaciones que puedan ser recolectadas para ambos contextos.

Gobernanza Migratoria Ecuatoriana ante los flujos migratorios colombianos y venezolanos.

Marco Granja (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), Luis Santiago Manzano Terán (Escola de
Comando e Estado Maior do Exército)

Este artículo realiza un análisis de la situación migratoria Colombo-Venezolana en Ecuador y plantea la


interrogante sobre; ¿cómo enfrentó el estado ecuatoriano la crisis migratoria, ante el incremento de los flujos
migratorios de colombianos y venezolanos desde el 2001 al 2021? Esto, con el objetivo de identificar la estructura
estatal dedicada al tema migratorio y evidenciar las acciones ejecutadas para atenuar los problemas que afronta
las personas que se encuentran en situación de movilidad humana, así también explorar la evolución de marco
jurídico y su aplicación de acuerdo con el desarrollo del fenómeno migratorio tanto en Colombia como en
Venezuela y su connotación en el campo de la seguridad e la defesa y finalmente realizamos una comparación
de perfiles migratorios de las personas que escogieron al Ecuador como lugar de destino. EL propósito de esta
investigación es exponer a la sociedad brasilera una forma diferente de Gobernanza Migratoria adoptada por
los países andinos y del cono sur en la búsqueda de alternativas que puedan mejorar la situación de las personas
que se encuentran en movilidad humana.
65
A formação do Estado e a efetividade militar: as contribuições teóricas de Kadercan, Thies

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 05
e Hui

Luana Isabelle Beal (UFRGS)

Este trabalho tem por objetivo analisar como os autores Burak Kadercan, Cameron Thies e a autora Victoria
Hui analisam a formação dos Estados – cada um estudando casos empíricos em diferentes regiões e períodos
históricos – e sua relação com a efetividade militar. Desse modo, a pergunta norteadora é: que fatores impactam
a relação entre a formação do Estado e a efetividade militar? Como objetivos específicos, têm-se: (i) entender
de que forma as características da construção do Estado impactam o desempenho das relações civis-militares
e a adoção de inovações; (ii) compreender como as forças internas e externas afetam o desenvolvimento do
Estado; e (iii) assimilar como as reformas adotadas internamente influenciam a competição internacional e o
processo de formação do Estado. A metodologia adotada foi a de revisão teórica, delimitada em três textos dos
autores citados, tendo em vista, como resultado, a construção de um quadro teórico comparativo das distintas
perspectivas. O tema da interação entre as bases fundacionais do Estado e o desempenho das Forças Armadas
importa para entender como os condicionantes estatais promovem múltiplas decorrências militares e, de
forma recíproca, como o ambiente securitário, tanto doméstico quanto internacional, altera a autoridade e as
capacidades estatais. Como conclusões preliminares, observa-se que os autores discorrem sobre a formação do
Estado como efeito da barganha e do papel das elites militares, como resultado de forças internas e externas e
também sobre como as reformas implementadas domesticamente são influenciadas pela pressão internacional.
As três perspectivas teóricas respondem a alterações no desenho institucional dos Exércitos e dos Estados, bem
como na competição internacional, combinando essas duas esferas. Desse modo, contrariam a visão de que a
formação do Estado, as relações civis-militares e as interações entre Estado e sociedade são dissonantes, mas
sim, colocam esses aspectos como complementares para entender a efetividade militar.

Operação Acolhida após quatro anos: Descompassos entre as necessidades e os recursos


investidos

Gustavo da Frota Simões (Escola de Comando e Estado-Maior do Exercito)

Desde 2016, mais de 700.000 venezuelanos chegaram ao Brasil (EBC, 2022). No total, mais de 4 milhões saíram
da Venezuela nos últimos anos. Com a chegada desse contingente de forma inédita na fronteira norte do
país, o Brasil instaurou uma Operação Humanitária sem precedentes em Roraima: A Força-Tarefa Logística e
Humanitária – Operação Acolhida, em março de 2018. Passados mais de quatro anos desde a sua implementação,
a Operação Acolhida se mantém como uma resposta ao fluxo migratório venezuelano e fornece condições
mínimas de dignidade a essas pessoas e mantém o ordenamento da fronteira.
Se em um primeiro momento, o perfil dos venezuelanos que chegavam ao território nacional era de alta
escolaridade, com alguns recursos e meios de sobrevivência (SIMÕES, 2017), hoje, o cenário é diferente (EBC,
2022). A maioria dos que ingressam em território nacional necessitam de acolhimento, alimentação e auxílio
para se deslocarem em território nacional.
Diante do exposto, a Operação Acolhida instaurada em Roraima necessita de mais recursos materiais e
humanos para atender uma demanda que não diminui, pelo contrário, só aumenta com a mudança do perfil
do imigrante venezuelano. No entanto, o que se vem notando nos últimos anos é a diminuição de recursos do
Governo Federal a essa importante Operação conduzida pelas Forças Armadas Brasileiras.
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar a relação da mudança do perfil do imigrante
venezuelano que ingressa no país com os recursos disponibilizados para esse atendimento. Procura-se responder
a seguinte pergunta: Os recursos federais destinados à Operação Acolhida são compatíveis com as necessidades
instauradas pelo ingresso de imigrantes cada vez mais necessitados e em situação de vulnerabilidade?
Para isso, serão analisados os recursos disponibilizados pelo Governo Federal à Operação Acolhida nos últimos
anos, além dos relatórios gerais da Operação Acolhida disponibilizados pela Casa Civil da Presidência da
República.
66
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06

AT 6
História Militar e
da Guerra

Prof. Dr. Braz Batista Vaz (UFT)

Profa Dra. Cintiene Sandes (ESG)

Esta área temática acolhe trabalhos que privilegiem o diálogo entre a História e os Estudos
de Defesa. A História Militar é usualmente identificada às relações entre guerra e política:
as questões da estratégia dos estados, das relações com a política interna e até mesmo com
conteúdo civilizacionais e antropológicos (a construção do outro, o inimigo). Por outro lado,
também está associada aos entornos da guerra: as doutrinas militares, estratégia, as táticas, os
armamentos, as configurações das forças militares e de suas instituições, a logística, cultura e
gênero. Assim, são temas de interesse da área: as dimensões empíricas, teóricas e historiográficas
da História Militar; análises das guerras, de batalhas, estratégias e doutrinas militares; formação,
estruturação e transformações das forças armadas ao longo do tempo; as relações entre as forças
armadas, o sistema político e a sociedade em perspectiva histórica.
67
AT 06. História Militar e da Guerra - Sala A-305
Coordenadores: Prof. Dr. Braz Batista Vaz (UFT) e Profa Dra. Cintiene Sandes (ESG)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06
Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45
A Guerra do Pacífico (1879-1883): uma análise da fricção clausewitziana e seu impacto na estratégia
Miguel Henrique Alexandre Dias Alves
O Combate Naval da Bahia (1823)
Alceu Oliveira Castro Jungstedt
Treinamento e Tecnologia Influenciando a Fricção no Combate Blindado: uma análise da Batalha de
73 Easting à luz dos conceitos de Clausewitz
Bruno Lion Gomes Heck, Thiago Britto de Albuquerque
O conceito de fricção na 1ª Guerra do Golfo (1990-91)
Amanda Neves Leal Marini

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Guerra da Tríplice Aliança (1860-1864): Diplomacia e State-building no Brasil Meridional
Daniel Rei Coronato
O longo caminho para uma nova ordem: os diplomatas imperiais brasileiros em Buenos Aires após a
Guerra do Paraguai
Gabriel Passetti
De Pindorama fez-se um Estado (de direito?): o bicentenário da Independência do Brasil e uma guer-
ra colonial sem fim.
Dante Alexandre Ribeiro das Chagas
Agincourt: vitória do arco longo inglês e a derrota do orgulho da aristocracia francesa
José Renato Ferraz da Silveira, Gideon Henrique Gonçalves Maciel

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


A influência dos escritos de Mao Tsé-Tung e Ernesto Che Guevara na obra de Carlos Marighella
Beatriz Leal
Casus Belli: Um Estudo sobre a Justiça Expedicionária Brasileira no Teatro de Guerra da Itália
(1944-1945)
William Pereira Laport
Entre o necessário e o possível: expansão da aviação militar brasileira (1921-1924)
Bruno de Melo Oliveira
Olhares históricos, perspectivas estratégicas e viveres dinâmicos: pela reflexão integrada em torno do
conceito de fronteiras
Cintiene Sandes Monfredo Mendes, Daniele Dionisio da Silva, Ana Luiza Bravo e Paiva
68
AT 06. História Militar e da Guerra
AT 06 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-305


A Guerra do Pacífico (1879-1883): uma análise da fricção clausewitziana e seu impacto na
estratégia

Miguel Henrique Alexandre Dias Alves (Marinha do Brasil)

A fricção, termo desenvolvido como parte da teoria de Carl Von Clausewitz (1780-1831) sobre a guerra,
possui como causa adversidades enfrentadas pelos militares no combate real e nas suas movimentações. O
objetivo deste artigo é explicar tal conceito, investigando indícios de sua ocorrência nas dificuldades surgidas
durante a Guerra do Pacífico (1879-1883), conflito entre Chile, Peru e Bolívia, que originou disputas políticas
que permanecem até os dias atuais. O propósito é averiguar se a fricção ocorreu conforme descrito pelo estrat­
ego prussiano. Procurou-se, ainda, avaliar o grau de interferência do conceito na execução do planejamento
estratégico dos contendores. Adicionalmente, é importante, no momento em que comemoramos os 200 anos
de nossa independência, conhecermos melhor o entorno estratégico brasileiro, revestindo de grande relevân­
cia o estudo desse conflito. Examinamos amostras de eventos da guerra que foram identificadas como fricções
e avaliamos seus impactos no nível estratégico. Ao final, concluímos que a fricção influenciou na dimensão
estratégica da guerra, contribuindo para a liberdade de ação no mar para o Chile, além de proporcionar supe­
rioridade relativa de poder combatente ao país. Com isso, acreditamos ter colaborado com o conhecimento
sobre a teoria clausewitziana associada a um confronto armado sul-americano, culminando na proposição de
possíveis pesquisas sobre o assunto.

O Combate Naval da Bahia (1823)

Alceu Oliveira Castro Jungstedt (EGN)

O Combate Naval da Bahia (1823) e o bloqueio naval de Salvador foram determinantes para quebrar o âni­
mo dos portugueses contrários à independência do Brasil. No ano em que comemoramos o bicentenário da
Independência do Brasil, este trabalho se propõe a descrever esta batalha e o bloqueio naval realizado pela
força naval brasileira a fim de identificar a sua contribuição para a Independência. Logo após a proclamação
da Independência, o novo governo contava com apoio apenas das províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais. Era necessário convencer, pelas palavras ou pela força, as demais províncias a aderirem à In­
dependência. Também será realizada uma contextualização espacial, pois a Bahia se constituía em um caso
especial, devido à sua posição geográfica estratégica entre o Norte e o Sul do Brasil, representando um perigo
real para a consolidação da independência. As dimensões continentais do Brasil, bem como as dificuldades
das comunicações terrestres, aumentaram a importância do controle do mar, o que contribuiu para que o
governo brasileiro percebesse a necessidade da formação de uma Marinha de Guerra. A situação era críti­
ca com relação aos meios, pois quase todos necessitavam de reparos. As tripulações eram constituídas por
marinheiros portugueses. Foi necessário confiar na lealdade destes e na contratação de oficiais e marinheiros
estrangeiros, principalmente britânicos. Por fim, após a análise das ações empreendidas, concluiu-se que a
fama e as ações do Almirante Lorde Cochrane impediram que Portugal pudesse levar adiante a Guerra da
Independência na Bahia.

Treinamento e Tecnologia Influenciando a Fricção no Combate Blindado: uma análise da


Batalha de 73 Easting à luz dos conceitos de Clausewitz

Bruno Lion Gomes Heck (Exército Brasileiro), Thiago Britto de Albuquerque (Exército Brasileiro)
69
Este artigo tem por objetivo determinar se o treinamento e ou a tecnologia podem ser relacionados, de forma
direta ou inversa, à fricção observada durante o combate blindado, utilizando a Batalha de 73 Easting, ocorrida

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06
no transcurso da Guerra do Golfo (1991), como caso de estudo. Para tanto, foi realizada pesquisa histórica para
descrever a batalha e utilizada a proposta de categorização da fricção proposta por Ferreira, De Franciscis Ra­
mos e Franchi (2018). A metodologia empregada foi o estudo de caso único analítico, com análise qualitativa
e quantitativa. Foi possível concluir que o treinamento e a tecnologia influenciaram diretamente na fricção,
desequilibrando o combate em favor dos norte-americanos, e que a tecnologia foi mais ligada à categoria in­
formações da fricção, enquanto o treinamento teve mais consequências sobre a categoria indivíduo.

O conceito de fricção na 1ª Guerra do Golfo (1990/91)

Amanda Neves Leal Marini (Instituto Meira Mattos - ECEME)

O propósito deste texto consiste em analisar o conceito de fricção, aplicado por Clausewitz, a partir de uma
revisão conceitual. Em seguida, aplica-se e examina-se a 1ª Guerra do Golfo, como um estudo de caso para
exemplificar o conceito discutido, sendo um trabalho de pesquisa exploratória. Para isto, inicialmente, uti­
lizou-se como referencial teórico, a obra Da Guerra, de Clausewitz. A hipótese empregada é que apesar do
sucesso das operações Tempestade no Deserto e Escudo no Deserto, ocorreram momentos de fricção, como
dificuldades no acesso a informações em tempo hábil. Assim, como procedimento de pesquisa empregou-se a
revisão bibliográfica e a aplicação de um estudo de caso. O levantamento bibliográfico foi realizado por meio
da leitura e análise de artigos e livros sobre a teoria de Guerra de Clausewitz e a 1ª Guerra do Golfo, disponíveis
nas principais bases de dados acadêmicos, como Scopus, Web of Science e Google Scholar. O texto se divide,
em introdução, análise do conceito de fricção, a Guerra do Golfo (1990-91) e conclusão. Os resultados revelam
que apesar do êxito, ocorrem dificuldades na condução do confronto.

AT 06. História Militar e da Guerra


AT 06 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-305
O longo caminho para uma nova ordem: os diplomatas imperiais brasileiros em Buenos
Aires após a Guerra do Paraguai

Gabriel Passetti (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O fim oficial da Guerra do Paraguai com a morte de Solano López, em 1870, é o marco de início de uma nova
fase das relações internacionais no Prata. A historiografia brasileira geralmente apresenta este como um período
em que sua diplomacia estava satisfeita com os ganhos da guerra e as preocupações do governo imperial se
voltavam para sua longa crise doméstica que resultaria no fim da escravidão e da própria monarquia.
A partir da análise dos ofícios dos diplomatas lotados em Buenos Aires naquela década e do diálogo com a
nova historiografia dos países envolvidos no conflito, essa apresentação explorará as tensões de um período
pós-guerra. Serão explorados os múltiplos interesses dos países envolvidos, a permanência das forças armadas
de ocupação, a criação e dissipação de tensões entre os antigos aliados e a atuação de diplomatas e militares na
construção de uma nova ordem regional.
A análise documental entende aqueles diplomatas a partir de um olhar de alteridade e estranhamento no
estrangeiro, monarquistas vivendo em uma república, hostis a aquele regime de governo e muitas vezes
hostilizados pelos argentinos. A partir deste recorte, procura-se entender suas análises sobre a política
doméstica local e suas propostas para a nova ordem regional.
70
Guerra da Tríplice Aliança (1860-1864): Diplomacia e State-building no Brasil Meridional
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06

Daniel Rei Coronato (UNISANTOS - Universidade Católica de Santos)

A Guerra da Tríplice Aliança (ou do Paraguai, Guerra Grande ou Guerra Guaçu) foi um dos episódios
definidores da história da América do Sul. O conflito exigiu dos Estados participantes um esforço concentrado,
imposto pelos desafios hercúleos do conflito, produziu-se um efeito catalizador,
Para o Brasil foi um conflito decisivo. Além de desafios logísticos, políticos e militares, a guerra envolvia
diretamente as suas províncias meridionais, em especial o Rio Grande do Sul. O espaço provincial foi um dos
mais importantes atores durante todo o processo de formação nacional brasileiro, fundamental tanto por sua
posição geográfica e fronteiriça, quanto pelas interconexões com os vizinhos, com quem dividia um sistema
econômico, político e social de muitas proximidades e conflitos.
Sua classe dominante era composta, entre outros grupos, de uma elite guerreira de estancieiros, que controlavam
mecanismos de coerção e capital desafiando o governo central. Essa divisão culminou em um dos momentos
mais críticos da política brasileira XIX, com a Guerra Civil Rio-grandense (1835-1845), que mobilizou a
província e o governo central em uma feroz disputa, colocando em risco a unidade territorial e a segurança
externa do Império.
A defesa dos interesses das elites provinciais e o medo de uma nova ‘Farroupilha’ são usualmente mencionados
como fatores decisivos para a intervenção brasileira e para o encadeamento de eventos que levariam ao conflito
geral platino. Deve-se destacar, todavia, que a apresentação desses interesses é feita de maneira generalista, pouco
centrada nas especificidades das disputas e debates que ali ocorreram, em uma visão que parte unicamente de
uma observação do centro para a província, e não o contrário.
O trabalho buscará assim debater a formação da política externa brasileira para a região do Prata durante o
prelúdio da Guerra da Tríplice Aliança, destacando o papel que o espaço provincial rio-grandense desempenhou
naquele contexto.

Agincourt: vitória do arco longo inglês e a derrota do orgulho da aristocracia francesa

José Renato Ferraz da Silveira (UFSM - Universidade Federal de Santa Maria), Gideon Henrique Gonçalves
Maciel

“De hoje até o fim dos tempos nós seremos lembrados. Nós, os afortunados, nós os irmãos. Pois aquele que
hoje sangra comigo será o meu irmão” (Shakespeare na peça Henrique V). A inesperada vitória inglesa em
Agincourt transformou o rei Henrique V em herói nacional. O presente paper analisa - as questões operacionais,
estratégicas, táticas de ingleses e franceses - na famosa batalha de Agincourt ocorrida em 25 de outubro de
1415. Quais as razões do êxito inglês? Quais as razões do fracasso francês? Por que o os arqueiros ingleses foram
responsáveis pela vitória? Por que o terreno de batalha teve peso decisivo e pendeu a favor dos ingleses? Por
que Henrique V decidiu confrontar os franceses tendo apenas 5 mil arqueiros e 900 soldados a sua disposição?
Por que o orgulho da aristocracia francesa - aspecto psicológico - foi uma chave vital para a vitória inglesa?
Apresentaremos mapas, os pontos fortes e fracos das tropas envolvidas, as decisões tomadas no plano tático,
estratégico e operacional, as hesitações, os componentes motivacionais, o terreno de batalha, entre outros
elementos. O paper constitui parte dos estudos da História Militar e da Guerra (AT 06) e perfaz uma contínua
produção intelectual nos últimos dez anos acerca de análises de erros táticos, estratégicos e operacionais nas
maiores batalhas da História.

De Pindorama fez-se um Estado (de direito?): o bicentenário da Independência do Brasil e


uma guerra colonial sem fim.

Dante Alexandre Ribeiro das Chagas (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais)

A Conquista da América e a alvorada da modernidade dá-se numa relação de encontro/desencontro que


edifica um sistema de dominação e exploração fundado numa nova categoria social: a raça. Nesse contexto a
71
destruição de mundos não-europeus ganha forma e o contato entre Europa, América e África se trava numa
guerra colonial que significou a dizimação e escravidão de indígenas e o tráfico e escravização de pessoas

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06
africanas, ambos negados em suas diversidades e particularidades, reduzidos a uma identidade étnico-racial,
a dizer, o índio e o negro. A invenção do assim chamado Brasil, enquanto colônia portuguesa, exsurge nesse
cenário de Guerras da Conquista sobre a exploração, açoite e sangue de nativos e africanos. A cor, então, passa
a ser um definidor social caro que distinguia os nobres de não-nobres, senhores e escravizados.
Na realidade colonial, as populações negras e indígenas estão longe de corresponder às famílias que integram
o que era considerado sociedade ou nação, estavam, na verdade submetidas ao que Fanon chama de uma zona
do não ser, onde a humanidade destes é negada e toda sorte de atrocidade é possível, onde cria-se um outro que
deve ora se curvar ora desaparecer.
Em termos hegelianos, o Estado é uma realidade histórico-cultural e, dessa forma, a Independência, embora
negue sua condição colonial e rompa com a metrópole, conserva sua realidade de dominação e exploração
interna com o sistema escravocrata e o domínio senhorial. Assim, entre a Independência e a formação de um
Império Constitucional, edifica-se um Estado que, longe de cindir com as tensões e brutalizações de seu tempo,
as conserva num verdadeiro paradoxo de ser simultaneamente um Estado de Direito e de Exceção, garantindo
a manutenção de uma Guerra infraestrutural, colonial e permanente contra os historicamente excluídos,
deixando um legado desumano que ainda hoje não conseguimos superar.

AT 06. História Militar e da Guerra


AT 06 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-305
A influência dos escritos de Mao Tsé-Tung e Ernesto Che Guevara na obra de Carlos
Marighella

Beatriz Leal (UFF)

Tendo em vista o conceito de guerra revolucionária de John Shy e Thomas Collier (2003, p. 817), o presente
trabalho tem como objetivo analisar a influência dos escritos de Mao Tsé-Tung e Ernesto Che Guevara na obra
Minimanual do Guerrilheiro Urbano do líder revolucionário brasileiro Carlos Marighella. Isso, porque, para
alguns autores, Cuba foi responsável por incitar as demais revoluções armadas ao longo da América Latina.
A partir dessa perspectiva, a inciativa brasileira Ação Libertadora Nacional (ALN) poderia ser, portanto,
interpretada como um braço foquista no Brasil. O foquismo corresponde a uma teoria inspirada por Che
Guevara, mas desenvolvida pelo sociólogo francês Régis Debray. No entanto, para outros teóricos, a maior
influência da estratégia político-militar concebida por Marighella foi a chamada Guerra Popular Prolongada
(GPP), de autoria maoísta e que possui como relevante seguidor o Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Casus Belli: Um Estudo sobre a Justiça Expedicionária Brasileira no Teatro de Guerra da


Itália (1944-1945)

William Pereira Laport (Assembleia Legislativa do Estado de Goiás - ALEGO)

Quando a FEB foi organizada, a questão da Justiça em tempo de guerra exigiu alterações no sistema vigente, para
adequar a legislação específica às contingências do envio de uma Força Expedicionária ao Teatro de Operações
no além-mar. Assim, através do Decreto-lei nº 6.678/44, foi criada a Justiça Militar da FEB, composta de um
Conselho Supremo de Justiça Militar, um Conselho Militar e duas Auditorias. A partir da análise de seus
julgados, constata-se que a maioria dos delitos foi praticada por pessoal do contingente da tropa em serviço
de retaguarda ou depósito. Em um desses casos, duas sentenças da Justiça Militar foram proferidas atribuindo
a pena máxima aos autores: morte por fuzilamento. Acontece, porém, que a sentença tinha obrigatoriamente
72
de ser comunicada ao Chefe do Executivo que, valendo-se de sua prerrogativa, houve por bem comutar a
pena máxima para 30 anos de prisão, posteriormente reduzida, proporcionando aos condenados cumprir uma
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06

pena de 06 anos antes de serem postos em liberdade. Em verdade, a maioria das sentenças proferidas pela
Justiça Militar não foram executadas, pois o Governo, por meio do Decreto nº 20.082/45, resolveu indultar
a todos os oficiais e praças que, como integrantes da FEB, houvessem cometido crimes ou infrações que não
de homicídio doloso ou deserção perante o inimigo. Os que ficaram de fora desse indulto, tiveram suas penas
comutadas, o que causou um esvaziamento das funções desempenhadas por aquela Justiça especializada e um
questionamento acerca de sua importância. Relações entre as forças armadas, o sistema político e a sociedade
em perspectiva histórica dialogam no presente artigo.

Entre o necessário o possivel: expansão da aviação militar brasileira (1921-1924)

Bruno de Melo Oliveira (Universidade da Força Aérea)

A presente comunicação visa analisar o esforço do Exército Brasileiro em estabelecer e consolidar sua própria
aviação entre os anos de 1921 e 1924. Tendo foco inicial no Rio de Janeiro, que contava com turmas de formação
pilotos e observadores aéreos, e esquadrilhas operacionais, a aviação da Força Terrestre precisava se expandir
a fim cumprir devidamente sua missão na defesa territorial do Brasil. A tentativa de estabelecer unidades
operacionais no Rio Grande do Sul e no antigo estado Mato do Mato Grosso explicitava as necessidades em
termos geoestratégicos diante de antigos dilemas fronteiriços com a Argentina e da pouca acessibilidade de
regiões do extremo oeste brasileiro ao transporte de tropas e ao deslocamento fluvial. Tais ações, contudo,
também se confrontaram com impactantes limites, como restrições orçamentárias, Revoltas Tenentistas e jogo
de forças nas Relações Internacionais Sulamericanas, que contribuíaramm para condicionar a implementação
do tão almejado projeto. O corpus documental desta análise é composto pelos Relatórios do Ministério da
Guerra e do Estado-Maior do Exército, bem como de notícias de periódicos da Capital Federal e do Rio Grande
do Sul.

Olhares históricos, perspectivas estratégicas e viveres dinâmicos: pela reflexão integrada


em torno do conceito de fronteiras

Cintiene Sandes Monfredo Mendes (Escola Superior de Defesa), Daniele Dionisio da Silva (UFRJ), Ana Luiza
Bravo e Paiva (ECEME)

De modo usual, as ciências e os conhecimentos científicos são segmentadas em áreas temáticas visando
estabelecer recortes mais bem definidos. Assim, temas mais complexos ou dinâmicos são mapeados ou
analisados ao mesmo tempo por diversas áreas do conhecimento, como a geografia, a economia, a defesa,
de modo fragmentado e raramente se estabelecem conexões analíticas. Considerando essa conjuntura, esse
trabalho propõe fazer uma revisão do conceito macro de fronteiras (focado mais em elementos internacionais
ou regionais) apresentado durante o século XX contrapondo com dinâmicas mais micro de lugares fronteiriços
(cidades e viveres). Os olhares históricos serão um primeiro viés analítico a ser resgatado no trabalho,
ressaltando suas contribuições para estudos de caso de dinâmicas mais micro de lugares fronteiriços nesse
século XXI. Uma segunda perspectiva de análise a ser resgatada no trabalho serão as abordagens estratégicas
delineadas nas últimas décadas por unidades organizadas como Estados ou organizações regionais, ressaltando
como elementos de segurança e defesa e políticas públicas de ocupação pontual contribuíram também para
as dinâmicas mais micro de lugares fronteiriços nesse século XXI. Por fim, o trabalho propõe contrapor esses
aspectos aos viveres dinâmicos e interligados dos lugares, o que na percepção das autoras requer a necessidade
de se repensar as fronteiras de modo integrado, seja pelas unidades organizadas, seja pelos analistas.
73

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 06
AT 7
Segurança
Internacional e
Defesa

Profa. Dra. Marilia Pimenta (FECAP)

Profa. Dra. Bárbara Motta (UFS)

Esta área temática acolhe trabalhos que abordem questões relativas à segurança internacional
e aos Estudos de Defesa a partir de uma perspectiva ampla e interdisciplinar. São temas de
interesse da área: teorias para os Estudos de Defesa; Estudos de Defesa em perspectiva
comparada; a dimensão regional da defesa; concepções de segurança e defesa; cultura estratégica;
cooperação e integração em segurança internacional e defesa; organizações internacionais
e regionais de segurança e defesa; mecanismos de prevenção, gerenciamento e resolução de
conflitos; operações de paz, direito internacional humanitário, direito internacional dos
conflitos armados; ampliação do conceito de segurança; segurança humana, padrões de
migração; questões ambientais; ilícitos transnacionais; crime e guerra cibernética; novos tipos
de insurgência, terrorismo, novas conflitualidades; mercenários e empresas militares privadas
e políticas de defesa e segurança nas fronteiras internacionais.
74
AT 07. Segurança Internacional e Defesa - Sala A-503
Coordenadoras: Profa. Dra. Marilia Pimenta (FECAP) e Profa. Dra. Bárbara Motta
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

(UFS)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45


A assimetria existente entre Brasil-Paraguai como fator indispensável nos impactos das ações de
segurança e combate ao crime organizado transnacional nessa faixa de fronteira
Luísa Guimarães Vaz, Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
Cooperação Cibernética Brasileira: O que os Acordos Internacionais Nos Contam?
Lucas Marques Feitosa
Guerra russo-ucraniana (2022): uma tragédia anunciada?
Fernando Henrique Casalunga
Uma avaliação do conceito de soberania incorporado aos documentos de defesa do Brasil (1996-
2020)
Alice Castelani de Oliveira

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Food Defense: A Construção do Setor Alimentar como um Problema de Segurança
Gilberto Carvalho de Oliveira, Elaine Leão Inácio de Melo Andrade, Otniel Freitas Silva
O Governo Trump e o conceito de Securitização: uma análise da política migratória sob a ótica da
Análise do Discurso
Laryssa Lopes de Oliveira Barbosa, Yasmim Abril Monteiro Res
Pensando Políticas de Defesa e Externa no Brasil: um Balanço de Teses e Dissertações
Érico Esteves Duarte

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


A Importância da Ciência Antártica para a Geopolítica e Defesa do Brasil
Nathaly Xavier Schutz, Kamilla Raquel Rizzi, Gabriel Pessoa Coelho Mangueira, Bruno Andrade
Teixeira
A migração africana para o Oriente Médio: O caso da Arábia Saudita
Cecília Maieron Pereira
Cannabis e Políticas de Segurança no Uruguai: modulações na política de drogas nas Américas
Allana Facchini da Silva, Thiago Rodrigues
Estudos Críticos de Segurança e Estudos Críticos de Terrorismo: alternativas teórico-metodológicas
para os estudos de Oriente Médio
Karime Ahmad Borraschi Cheaito

Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45


A arquitetura de biodefesa brasileira e os novos desafios sanitários
Otávio Augusto Brioschi Soares, Jose Roberto Pinho de Andrade Lima
Perspectivas da segurança nos Estados Unidos e a construção de uma interface externa-interna de
militarização do espaço urbano ao longo das últimas décadas
Daniele Dionisio da Silva
Segurança Marítima no Atlântico Sul: O Brasil e A Formação de Consensos no Âmbito da ZO-
PACAS
75
Mário Augusto dos Santos
A defesa como elemento integrador nas relações entre Brasil e Argentina

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Erick Andrade Santos Couto

Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-15h45


A Sea of Troubles? Assessing the Security Dynamics in the Indo Pacific
Ana Carolina de Oliveira Assis
Competição interestatal na contemporaneidade: uma análise introdutória das estratégias de segu-
rança de Estados Unidos, China e Rússia
Ana Karolina Morais da Silva
Migrações e Crime Organizado na África Austral: Revisão Sistemática de Literatura
Angelo Campos Gabriel Quimbine

Dia 12/08/2022 - Sessão 6 -16h-17h45


Tráfico de mulheres e Direitos Humanos
Lara Denise Góes da Costa
Dark Web : a nova rota da seda
João Batista de Aguiar Filho, Fabiola de Jesus Barros
Migrações como ativo político de e para democracias “autoritárias” no século XXI
Denise Marini Pereira
Tríplice Fronteira e o panorama da entrada de ilícitos transfronteiriços
Júlio César Lacerda Martins, Edwardo Coelho de Oliveira
76
AT 07. Segurança Internacional e Defesa
AT 07 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503

A assimetria existente entre Brasil-Paraguai como fator indispensável nos impactos das
ações de segurança e combate ao crime organizado transnacional nessa faixa de fronteira

Luísa Guimarães Vaz (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), Carlos Eduardo De Franciscis
Ramos (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a assimetria legal, institucional, econômica e de
desenvolvimento existente entre Brasil e Paraguai e como essa questão afeta as ações de segurança e combate
ao crime organizado transnacional, principalmente, na fronteira entre esses dois países. No primeiro
momento, visualiza-se que essa assimetria dificulta a cooperação regional nesse combate, abrindo, cada vez
mais, espaço para a atuação desses grupos criminosos, tornando a região um terreno fértil para as atividades
ilícitas como o tráfico de armas, drogas e contrabando. Para isto, será realizado um clipping sobre as ações
ocorridas na faixa de fronteira, sobretudo, nas regiões de Pedro Juan Caballero (Amambay - Paraguai),
Lago de Itaipu (Foz do Iguaçu - Paraná) e Corumbá (Mato Grosso do Sul), alvos recorrentes de operações
conjuntas entre a Polícia Federal brasileira e as forças policiais paraguaias, além de ações conjuntas entre
as Forças Armadas do Brasil e os órgãos municipais, estaduais e federais de Segurança Pública, como por
exemplo, as Operações Ágata, que integram o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF). Dessa
forma, demonstra a capacidade/disposição do Estado brasileiro em trabalhar em ambiente interagências.
Além disso, será realizado um mapeamento dos documentos oficiais que tratam de segurança na fronteira de
ambos países. Por fim, espera-se analisar os impactos dessa assimetria na defesa e na segurança regional e,
consequentemente, na internacional, dessa forma, contribuindo para os Estudos de Segurança.

Cooperação Cibernética Brasileira: O que os Acordos Internacionais Nos Contam?

Lucas Marques Feitosa

Este trabalho discute a cooperação internacional realizada pelo Brasil durante os anos de 2000-2020 em
matéria de segurança cibernética, com especial atenção aos acordos internacionais assinados nesse período.
Esta pesquisa se estrutura em torno de dois eixos principais: entender quais as características da cooperação
internacional brasileira nessa matéria e identificar os interesses brasileiros para o setor de cibersegurança
ao assinar acordos internacionais. A metodologia utilizada envolveu a construção de um banco de dados
original, bem como a aplicação de técnicas de estatística descritiva e análise de conteúdo. Os achados
indicam que o Brasil utilizou esse tipo de cooperação para combater e reprimir a realização de diversos
crimes internacionais, sem uma maior preocupação em abordar a temática da cibersegurança dentro de um
contexto de planejamento militar.

Guerra russo-ucraniana (2022): uma tragédia anunciada?

Fernando Henrique Casalunga

O artigo analisa o processo histórico recente que circunscreve as relações conflituosas entre Rússia e Ucrânia
desde a anexação do território da península da Crimea (2014) e eclosão dos movimentos separatistas na região
ucraniana do leste que resultaram nas declarações de independencia das Repúblicas de Donetsk e Lughansk
(2013-2015) para tentar compreender as razões que se encontram por detrás da invasão russa ao território
77
ucraniano deflagrada pela operação das tropas do Kremlin em 22 de fevereiro de 2022. A partir da análise
da reformulação de documentos oficiais produzidos pela Rússia tais como a Doutrina Militar e a Estratégia
de Segurança Nacional da Federação Russa identificamos que o processo de alargamento da Organização do

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Atlântico Norte capitaneada pelos Estados Unidos para incorporação de novos membros que outrora fizeram
parte das antigas repúblicas soviéticas, bem como a instalação de sistemas operacionais de Defesa nas regiões
fronteiriças com a Rússia foi abordado pelas instituições coercitivas militares da Federação como ameaças
aos interesses da nação russa fator que comprometeu, em larga medida, as relações entre russos e ocidentais
culminando em uma zona de atrito que resultou no prolongamento de um conflito regional do qual a resolução
nos parece estava anunciada a tempos. A análise deste trabalho utiliza metodologia qualitativa empregando o
conceito de dependência da trajetória para demonstrar que os cursos de ação tomados pelos Estados em termos
de disputas com a vistas à expansão de poder nacional ou proteção de direitos fundamentais como a soberania
e territorialidade constituem evidências que contribuem, sobremaneira, para a explicação de conflitos como a
guerra russo-ucraniana deflagrada neste ano.

Uma avaliação do conceito de soberania incorporado aos documentos de defesa do Brasil


(1996-2020)

Alice Castelani de Oliveira (Secretária de Saúde/PBH)

No presente texto buscamos apresentar os resultados da análise do trio de documentos que compõe
fundamentalmente a Política de Defesa do Brasil desde o lançamento da primeira Política Nacional de Defesa
(PND), em 1996, até a última atualização do trio de documentos, realizada em 2020. Essa política é composta
pela Política Nacional de Defesa (PND), que possui cinco versões, pela Estratégia Nacional de Defesa (END),
com quatro versões, e pelo Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), que possui três versões. Nosso objetivo
com esta pesquisa é avaliar a operacionalização da categoria de soberania nesses documentos, visando identificar
com quais elementos esse conceito se relaciona. Para estabelecer um parâmetro de analise para o conceito de
soberania, recorremos ao debate de Stephen Krasner, que será analisado, nos termos de Edward Said, em
contraponto a avaliação da categoria de soberania nos documentos brasileiros. Por fim, explicamos que, para
executar este estudo, o trio de documentos é analisado quantitativamente e qualitativamente, isto é, avaliamos
o número de vezes que a categoria de soberania aparece nos documentos e em seguida com quais elementos
ela se articula a partir de uma análise de conteúdo que se sustenta na leitura contrapontual de Edward Said.

AT 07. Segurança Internacional e Defesa


AT 07 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503
Food Defense: A Construção do Setor Alimentar como um Problema de Segurança

Gilberto Carvalho de Oliveira (IRID-UFRJ), Elaine Leão Inácio de Melo Andrade (Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil), Otniel Freitas Silva (EMPRAPA)

A noção de food defense emergiu nos EUA, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, para
designar a ideia de que o setor alimentar constitui uma infraestrutura crítica para a segurança nacional e que as
cadeias de produção e distribuição de alimentos devem ser defendidas contra atos intencionais, motivados por
razões políticas ou ideológicas, que possam causar danos em larga escala à saúde pública ou à economia. Este
estudo recorre a fontes documentais primárias sobre food defense, incluindo diretrizes governamentais, leis,
normas e regulamentações emitidas principalmente nos EUA, bem como a fontes bibliográficas secundárias
relacionadas ao tema, e recorre aos insights da teoria da securitização, a fim de mostrar que a noção de food
defense não se esgota na sua dimensão técnica e operacional, mas encontra a sua maior particularidade na
forma como esse conceito e as práticas implementadas em seu nome constroem o setor de alimentos como
78
um problema de segurança. Por outros termos, o estudo vê na dimensão securitária da noção de food defense
a sua grande novidade e especificidade dentro do campo da proteção alimentar. Nesse sentido, argumenta-se
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

que essa categoria conceitual e seus desenvolvimentos práticos se inserem dentro de um quadro de referência
mais abrangente que precisa ser examinado para se compreender, com maior rigor e profundidade, como os
discursos, as normas, as diretrizes e as práticas de food defense se conectam a um processo de construção
social de ameaças e riscos, ligado aos quadros mais abrangentes do bioterrorismo e da biodefesa, submetendo
a gestão do setor alimentar a uma linguagem militarizada e à lógica dos problemas de segurança.

O Governo Trump e o conceito de Securitização: uma análise da política migratória sob a


ótica da Análise do Discurso

Laryssa Lopes de Oliveira Barbosa (ESG) , Yasmim Abril Monteiro Res (ESG)

A concepção da imigração como ameaça à segurança nacional não é uma ocorrência recente. O processo
migratório ocasionado em decorrência de conflitos e a busca por melhores condições de vida tem originado
um fluxo, sobretudo para os Estados Unidos. O processo de securitização de um tema na agenda internacional
tem seu fundamento na perspectiva desenvolvida pela Escola de Copenhague. Isto significa que questões
relacionadas à segurança são constituídas a partir das práticas sociais moldadas por meio de discursos
proferidos por atores interessados em alterar as agendas de segurança. Frente a isso, nos Estados Unidos o
fenômeno da securitização norteia o cronograma da política de segurança a partir dos discursos enunciados
por seus respectivos presidentes à época. Visto isso, no caso estadunidense é observável que esse processo
não data recentemente, posto que historicamente o Chinese Exclusion Act de 1882 foi o marco inicial para a
securitização da agenda migratória, a qual foi intensificada após os atentados terroristas de 11 de setembro de
2001. Dessa forma, o presente trabalho buscará analisar a securitização da migração nos Estados Unidos, no
período do Governo Trump (2017 - 2021), por meio dos discursos presidenciais e sua atuação nas redes sociais.
Para tal, será utilizada a análise de sentimentos por meio do software R buscando quantificar e visualizar a
frequência com que o Trump se utilizou dos termos relacionados a imigração a fim de polarizar a agenda, para
além a análise crítica será feita pela ótica da Análise do Discurso e com fundamentação teórica na Escola de
Copenhague. Infere-se que no âmbito eleitoral o processo se mostrou eficaz para o presidente estadunidense.
Dessarte, propõe-se examinar como o processo de securitização tornou o imigrante em uma ameaça, o
distanciando do debate para questões mais urgentes pertinente à imigração.

Pensando Políticas de Defesa e Externa no Brasil: um Balanço de Teses e Dissertações

Érico Esteves Duarte (UFRGS)

O presente estudo apresenta um balanço de dissertações de mestrado e teses de doutorado desenvolvidas no


Brasil que tratam direta ou indiretamente da relação entre defesa e política externa brasileira. Foi analisada
uma amostra de 30 monografias - sendo 22 dissertações e oito teses - defendidas entre 2005 e 2018. A busca
desses trabalhos foi através da Plataforma Sucupira e nos repositórios digitais das instituições de origem ou
na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Para sua análise, foi utilizado o software
Atlas.ti para a codificação dos termos correspondentes identificados e a partir dos parâmetros indicados pelo
organizador desta coletânea. Como resultado, tem-se a seguinte grade de análise, bem como a estrutura do
presente estudo:
a. Abordagens teóricas: realismo, liberalismo, marxismo, construtivismo, Escola Inglesa, estudos de paz;
b. Abordagens metodológicas: qualitativas, quantitativas; process-tracing, análise de discurso, análise
comparativa, estudo de caso;
c. Fontes de pesquisa: entrevistas, literatura secundária, teses e dissertações, jornais e revistas;
d. Inovações temáticas e interpretativas: os principais temas recorrentes encontrados e temas identificados
como inovações que merecem aprofundamento em novas pesquisas.
A principal conclusão que se chegou com este balanço é que a pesquisa sobre essa temática se encontra em estágio
de demarcação e requer ainda uma nova leva de estudos em nível de pós-graduação para sua consolidação.
79
AT 07. Segurança Internacional e Defesa
AT 07 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503

A Importância da Ciência Antártica para a Geopolítica e Defesa do Brasil

Nathaly Xavier Schutz (UNIPAMPA - Fundação Universidade Federal do Pampa), Kamilla Raquel Rizzi
(Universidade Federal do Pampa), Gabriel Pessoa Coelho Mangueira (UFSM - Universidade Federal de Santa
Maria), Bruno Andrade Teixeira (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

O Brasil aderiu ao Tratado Antártico em 1975 e passou a implementar pesquisas antárticas a partir da
institucionalização de seu Programa Antártico (PROANTAR), em 1982, passando a direcionar as ações do
país conforme as diretrizes do Tratado da Antártida, o qual requisita uma participação ativamente científica
no continente. Logo, historicamente, é possível perceber uma interlocução das pesquisas civis antárticas com o
avanço da política de defesa brasileira. A conjuntura da região torna esse diálogo necessário para aprofundar a
proeminência brasileira em defesa no seu entorno estratégico.

Nestes termos, o problema de pesquisa visa analisar qual a conexão entre a ciência antártica brasileira
e a geopolítica e política de defesa do Brasil. Desde 1958, o Brasil tem paulatinamente inserido a temática
antártica em sua agenda de Defesa, identificando que as rotas até a Antártica são importantes para o comércio
internacional do país, tornando-se pauta de segurança nacional. Logo, a hipótese versa sobre o entendimento
de que a introdução da Antártida no entorno estratégico brasileiro, em 2012, impactou diretamente na relação
entre a ciência antártica brasileira, a geopolítica e a política de defesa.

Metodologicamente, segue-se o método hipotético-dedutivo, apresentando uma abordagem qualitativa


e descritivo-explicativa. Os procedimentos metodológicos adotados são a pesquisa bibliográfica e a análise
documental.

Por fim, é possível identificar os vetores científico e ambiental como principais pontos de difusão da posição
atual brasileira para a Antártica, sendo este o principal vetor de caráter civil. Ademais, percebe-se a preocupação
estratégica brasileira em relação ao Atlântico Sul, porém sem estarem inteiramente interligadas com os vetores
civis, da ciência e cooperação.

A migração africana para o Oriente Médio: O caso da Arábia Saudita

Cecília Maieron Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Os países do Oriente Médio, em especial a região do Golfo Pérsico, tem sido destino de muitos migrantes
africanos, principalmente da África Oriental. Esta migração entre as duas regiões é, na verdade, histórica, visto
os laços culturais, religiosos, políticos e econômicos que compartilham. Em termos mais recentes, no entanto,
muitos desses africanos migram para a região em busca de trabalho e para melhorar suas condições de vida,
mas acabam deparando-se com condições precárias ou são vítimas de violência em muitos casos. Um dos
principais destinos destes migrantes no Golfo é a Arábia Saudita. O país, uma das maiores economias da região,
tem na população migrante parte da sua força de trabalho. A partir disso, pretende-se, nesta pesquisa, analisar
e compreender a migração dos africanos para a Arábia Saudita, suas condições gerais no país e se há políticas
migratórias que os encobrem. Já os objetivos específicos do trabalho são: em primeiro lugar, compreender o
processo de migração africana para os países do Golfo; em segundo lugar, analisar como é a migração africana
para a Arábia Saudita e, por fim, verificar quais as condições atuais destes migrantes e quais são as políticas
sauditas adotadas para a migração, sobretudo africana. Dessa forma, por meio de estudo de caso e adotando-se
80
uma abordagem qualitativa e técnicas de pesquisa bibliográficas, esta pesquisa de caráter inicial visa auxiliar
na compreensão da migração africana para o Oriente Médio, uma das principais rotas de migração no mundo.
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

Cannabis e Políticas de Segurança no Uruguai: modulações na política de drogas nas


Américas

Allana Facchini da Silva, Thiago Rodrigues (Universidade Federal Fluminense )

O proibicionismo, tema multi e interdisciplinar, pode ser definido como um paradigma que condena a alteração
do estado de consciência e postula a proibição, pelos aparelhos do Estado, do comércio, fabricação, exportação
ou importação e o uso de determinadas substâncias psicoativas. Nesta investigação, a proposta é direcionar
atenção ao proibicionismo da Cannabis no Uruguai – o país que chamou a atenção do mundo ao legalizar
a planta em 2013 – e suas relações com a agenda de segurança. Assim sendo, têm-se como objetivo central
compreender como se conformam as mudanças no tratamento legal e de segurança a respeito da Cannabis
no Uruguai entre os anos de 1974 e 2013. Para tal, nos valendo do marco teórico da Narcoanálise, a presente
pesquisa – que possui um caráter qualitativo; histórico-documental e exploratório – conta com o levantamento
de fontes secundárias (isto é, a bibliografia especializada na temática contida nos principais gerenciadores
de periódicos como o Periódicos CAPES, SciELO e Scopus), e se debruça sob a análise de fontes primárias
que incluem documentos que versam sobre as políticas de drogas no Uruguai, isto é, marcos legais como
Leis, Decretos, Resoluções. Diante disso, por fim, testamos a hipótese de que os esforços em enfrentar os
resultados do proibicionismo por meio da legalização da Cannabis no Uruguai não refletem uma flexibilização
da agenda de segurança no que tange às práticas de combate ao narcotráfico no país, que se veem ancoradas na
intensificação do controle penal.

Estudos Críticos de Segurança e Estudos Críticos de Terrorismo: alternativas teórico-


metodológicas para os estudos de Oriente Médio

Karime Ahmad Borraschi Cheaito (Universidade Federal Fluminense )

A partir da exposição e debate acerca dos Estudos Críticos de Terrorismo (ECT), e seu diálogo com as
premissas dos Estudos Críticos de Segurança (ECS), objetiva-se apresentar os ECS e os ECT como uma
proposta teórico-metodológica para fundamentar as pesquisas que se disponham a analisar grupos atuantes e
considerados terroristas no Oriente Médio. Visa-se incorporar nestes estudos uma abordagem que considere
as complexidades e multiplicidades locais onde essas organizações estão inseridas, considerando as próprias
facetas e interesses políticos que envolvem a instrumentalização do conceito de terrorismo. Traz-se a necessidade
de repensar e reexaminar a forma como as diferentes concepções de segurança e terrorismo podem influenciar
na compreensão de determinados grupos, como o caso do Hezbollah – grupo armado e partido político
atuante no Líbano. Expõe-se, inicialmente, como as teorias tradicionais, ou ortodoxas, apresentam lacunas
e fragilidades analíticas ao serem aplicadas na análise de grupos atuantes no Oriente Médio, que, por vezes,
não seguem as mesmas lógicas estruturais dos pressupostos predominantes nos Estudos Estratégicos. Nota-se
que essas bases tradicionais corroboram para um discurso que garante a manutenção de um status quo que
visa a dominação, bem como a criação de estigmas e estereótipos que dificultam a compreensão destes grupos
como atores inseridos em contextos locais, regionais, culturais, religiosos, econômicos, históricos e políticos.
Para realizar esse estudo de caráter qualitativo e bibliográfico, utilizou-se de fontes secundárias, com foco nos
trabalhos de Franks (2009), Bilgin (1999; 2004; 2008), Browning e McDonald (2013), Booth (2007) e Jackson,
Smyth e Gunning (2009).
81
AT 07. Segurança Internacional e Defesa
AT 07 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503

A arquitetura de biodefesa brasileira e os novos desafios sanitários

Otávio Augusto Brioschi Soares (Hospital Central do Exército), Jose Roberto Pinho de Andrade Lima (Escola
Superior de Defesa)

A biodefesa, definida como as ações de defesa a eventos de origem natural, acidental ou proposital causados
por agentes biológicos, é uma das áreas críticas para o estado brasileiro. Alguns aspectos da área ganharam
notoriedade com a pandemia do Covid-19, entretanto, poucos estudos se debruçaram sobre a estrutura
organizacional, também chamada de arquitetura, da área no Brasil. O presente estudo teve por objetivo analisar
a arquitetura de biodefesa brasileira, dando ênfase as capacidades presentes e sua adequação ao enfrentamento
dos novos desafios sanitários, colocados no trabalho como a globalização, a emergência e re-emergência de
novos patógenos e a ideologização das políticas de saúde. Foram listadas as capacidades brasileiras instaladas
no que tange ao monitoramento em saúde humana, animal e ambiental; a capacidade de detecção de patógenos,
com um breve levantamento dos laboratórios brasileiros de alta e máxima biocontenção; e a capacidade de
resposta e mitigação deste tipo de evento, incluído aí as capacidades militares. Em seguida uma análise desta
arquitetura foi realizada em cinco níveis : 1 – Conceito operacional; 2 – Fluxo de recursos e demandas; 3 –
Relações organizacionais; 4 – Modelo de atividade operacional e 5 – Descrição do rastreamento de eventos.
A análise teve por base a existência ou não de capacidades e suas relações, e a comparação das mesmas com
alguns outros países. Após a referida análise pode-se constatar pontos que podem ser considerados fortes e
atuais, que passaram por grandes avanços nos últimos anos, como por exemplo as relações organizacionais
em redes e as operações conjuntas e interagências; e outros pontos que carecem de maior atenção, como a
falta de legislação completa relativa à biossegurança, bioproteção e biodefesa, a inexistência de um laboratório
de máxima contenção para lidar com patógenos humanos e a falta de um possível órgão de coordenação da
biodefesa brasileira.

Perspectivas da segurança nos Estados Unidos e a construção de uma interface externa-


interna de militarização do espaço urbano ao longo das últimas décadas

Daniele Dionisio da Silva (UFRJ)

Esse trabalho propõe delinear uma análise crítica que avalie a perspectiva de transferência dos elementos
militarizados norte-americanos direcionados para o exterior para a amplitude de segurança interna dos
Estados Unidos moldando uma interface externa-interna de militarização do espaço urbano ao longo das
últimas décadas. Uma parte introdutória descreve autores que analisaram esse processo para em seguida serem
pontuadas as perspectivas de segurança como um processo político, sendo esse um processo que também tem
uma vertente discursiva e identitária que perpassa disputas de poder. O trabalho apresenta ainda como foram
sendo moldados ao longo do tempo atores, estruturas, discursos e práticas por meio de programas e projetos
no ambiente doméstico norte-americano visando alcançar uma segurança moldada para o mundo ocidental
pré-determinada pelos EUA que perpassa a Guerra Fria, a Guerra as Drogas e a Guerra ao Terror, e que irá
sustentar o que se define como uma militarização do espaço urbano norte-americano.
82
Segurança Marítima no Atlântico Sul: O Brasil e A Formação de Consensos no Âmbito da
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

ZOPACAS

Mário Augusto dos Santos (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

O século XXI vem tornando cada vez mais acentuada a importância dos oceanos no cenário geopolítico
mundial, tendo em vista fatores de ordem econômica, militar, política, ambiental e social que se mostram
associados aos espaços oceânicos e permeiam as estratégias de política externa e de segurança dos Estados.
Esta dinâmica implica um crescimento dos imperativos de segurança marítima, os quais, sob a ótica dos
Estudos de Segurança embasados na abordagem teórica da Escola de Copenhague, passam a merecer aqui
uma maior análise, centrada no Atlântico Sul, o qual, além de ser uma relevante via de comunicação marítima
e de intercâmbio comercial, é rico em recursos energéticos que são de suma importância para inúmeros
Estados. Neste sentido, cumpre ressaltar os interesses brasileiros no espaço sulatlântico e o discurso acerca
da necessidade de se aprimorar os mecanismos de dissuasão de potências extrarregionais na região, o que, no
âmbito da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), vem engendrando esforços no intuito de
melhor equacionar os desafios e complexidades existentes no espaço sulatlântico no que tange à segurança
marítima. Isto posto, analisar o conceito de segurança marítima e como este se faz presente no Atlântico Sul
tendo em vista os interesses brasileiros e a tentativa de formação de consensos no âmbito da ZOPACAS é o que
guia este artigo.

A defesa como elemento integrador nas relações entre Brasil e Argentina

Erick Andrade Santos Couto (ECEME)

O presente estudo foi construído a partir de uma análise de natureza histórica e abordagem qualitativa na qual
empregou-se a técnica de análise documental utilizando documentos estratégicos brasileiros e argentinos. O
objetivo da pesquisa é apresentar a defesa como um elemento integrador nas relações entre Brasil e Argentina
e, por conseguinte, no âmbito do Mercosul. As relações entre esses países foram marcadas por um histórico de
conflitos e disputas, todavia a reaproximação destes Estados nos anos 1970 marcou uma importante mudança
no Cone Sul. A cooperação entre essas nações foi um importante eixo estabilizador na região e a cooperação
em defesa teve um importante papel nesse processo. Entende-se cooperação em defesa como sendo uma
ação conjunta e abrangente a todo o sistema de defesa entre dois ou mais Estados na qual fazem parte tanto
componentes civis, como indústrias e Ministério de Defesa quanto componentes militares como as Forças
Armadas. A cooperação em defesa, nesse caso iniciada pelos exercícios combinados entre a Armada Argentina
e a Marinha do Brasil, representou o início do processo de aproximação e fortalecimento das relações entre os
países ao longo dos anos. Além disso, sedimentou os laços da confiança mútua entre Brasília e Buenos Aires.
83
AT 07. Segurança Internacional e Defesa
AT 07 - Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503

A importância da Ciência Antártica para a defesa e proeminência brasileira no Atlântico


Sul

Gabriel Pessoa Coelho Mangueira (UFSM - Universidade Federal de Santa Maria)

O Brasil aderiu ao Tratado Antártico em 1975 e passou a implementar pesquisas antárticas a partir da
institucionalização de seu Programa Antártico (PROANTAR), em 1982, passando a direcionar as ações do
país conforme as diretrizes do Tratado da Antártida, o qual requisita uma participação ativamente científica
no continente. Logo, historicamente, é possível perceber uma interlocução das pesquisas civis antárticas com o
avanço da política de defesa brasileira. A conjuntura da região torna esse diálogo necessário para aprofundar a
proeminência brasileira em defesa no seu entorno estratégico.
Nestes termos, o problema de pesquisa visa analisar qual a conexão entre a ciência antártica brasileira
e a geopolítica e política de defesa do Brasil. Desde 1958, o Brasil tem paulatinamente inserido a temática
antártica em sua agenda de Defesa, identificando que as rotas até a Antártica são importantes para o comércio
internacional do país, tornando-se pauta de segurança nacional. Logo, a hipótese versa sobre o entendimento
de que a introdução da Antártida no entorno estratégico brasileiro, em 2012, impactou diretamente na relação
entre a ciência antártica brasileira, a geopolítica e a política de defesa.
Metodologicamente, segue-se o método hipotético-dedutivo, apresentando uma abordagem qualitativa
e descritivo-explicativa. Os procedimentos metodológicos adotados são a pesquisa bibliográfica e a análise
documental.
Por fim, é possível identificar os vetores científico e ambiental como principais pontos de difusão da posição
atual brasileira para a Antártica, sendo este o principal vetor de caráter civil. Ademais, percebe-se a preocupação
estratégica brasileira em relação ao Atlântico Sul, porém sem estarem inteiramente interligadas com os vetores
civis, da ciência e cooperação.

A Sea of Troubles? Assessing the Security Dynamics in the Indo Pacific

Ana Carolina de Oliveira Assis (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)

Which are the main traditional and non-traditional threats identified by Indo-Pacific countries? Besides being
considered a region of growing relevance in the economic sector, the Indo-Pacific is gathering increasing
attention in international relations due to its security and national defence dynamics. The Indo-Pacific is
a region permeated by distinct political, social and economic characteristics, as well as by distinct threats.
Therefore, this article aims to shed light on what would be the main maritime security challenges for Indo-
Pacific countries. Moreover, it also aims to point out which are the actions adopted by the states individually
and collectively to access these challenges. For this purpose, a descriptive qualitative observational study will
be conducted with the review of domestic reports and researches at international institutes to identify the main
actors and sources of threat in the region. The relevance of the research derives from two orders: one theoretical
and one practical. Theoretically, the study aims to advance defence and international security studies by
demonstrating the current state of strategic challenges of Indo-Pacific countries, as well as pointing out which
are the responses employed for these obstacles. In practical terms, it is of interest to academics, professionals,
governments and the military to understand the security dynamics in the region as a way to identify not only
sources of threat, but also sources of cooperation and possible arms markets. Preliminary results shows that
84
the Indo-Pacific, in addition to being permeated by two distinct general types of threats (traditional and non-
tractional), is also characterized by two main sub-areas with distinct dynamics, but with responses to threats
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

that converge at different times.

Competição interestatal na contemporaneidade: uma análise introdutória das estratégias


de segurança de Estados Unidos, China e Rússia

Ana Karolina Morais da Silva (USP - Universidade de São Paulo)

Perante a intensificação da competição interestatal entre Estados Unidos, China e Rússia, os três países
vêm buscando ampliar continuamente suas zonas de influência geopolítica, a fim de reduzirem a influência
de potências competidoras – especialmente em seus respectivos entornos geográficos. Desta forma, este
artigo propõe uma análise qualitativa das estratégias de segurança de Estados Unidos, China e Rússia na
contemporaneidade, visando identificar, de maneira preliminar, os principais objetivos estratégicos de cada
uma das potências dentro do atual contexto sistêmico de aprofundamento das rivalidades interestatais. Nossa
análise se baseia na revisão dos documentos que norteiam a estratégia de segurança de Washington, Pequim e
Moscou, publicados desde 2014: a National Security Strategy (2015 e 2017), National Defense Strategy (2018)
e Interim National Security Strategic Guidance (2021), dos EUA; China’s Military Strategy (2015) e China’s
National Defense in the New Era (2019), da China; Military Doctrine (2014) e National Security Strategy
(2021), da Rússia. Observamos que os três países têm reforçado suas percepções de ameaça mútua, sendo a
concorrência estratégica com Rússia e China indicada como a principal preocupação de segurança dos Estados
Unidos, enquanto Rússia e China percebem os EUA e seus aliados (como a União Europeia e o Japão) como
seus principais concorrentes. Do mesmo modo, os três países consideram o acirramento da disputa interestatal
como a principal tendência do sistema internacional na contemporaneidade, o que, consequentemente, leva
à ameaça constante de guerras, conflitos e crises interestatais. Destarte, as três potências vêm empreendendo
a modernização de suas forças militares e de suas principais capacidades, desde seus princípios normativos
até seus conceitos operacionais. Conclui-se que os principais objetivos estratégicos das potências nos ajudam
a vislumbrar a conformação de um cenário de instabilidade sistêmica que torna mais palpável a ameaça de
conflitos e guerras (tanto indiretos como diretos) a curto e médio prazos.

Migrações e Crime Organizado na África Austral: Revisão Sistemática de Literatura

Angelo Campos Gabriel Quimbine (PPGEST-UFF)

O presente artigo procura discutir sobre a questão das Migrações e Crime Organizado na Região da África
Austral, através de uma Revisão Sistemática de Literatura, uma técnica de pesquisa que consiste na busca,
análise e descrição de um corpo do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica, cobrindo
todo o material relevante que é escrito sobre um tema – livros, artigos periódicos, artigos de jornais, registros
históricos, relatórios governamentais, teses e dissertações e outros tipos (Paulo e Mattos, 2015, p. 2). Neste artigo,
a discussão das Migrações é feita em três subtemas chaves, Crime Organizado-Migrção -Conceitualização;
Revisão Sistemática de Literatura e a problemática das Migrações e Crime Organizado na África Austral,
estão patentes as variáveis de fatores geopolíticos que influenciam as migrações na África Austral e que afetam
diretamente a dinâmica do Crime Organizado na Região, tal como os processos da globalização e e as políticas
estratégicas no contexto da regionalização, levantando um conjunto de ameaças militares, não militares e
híbridas relacionadas com movimentos migratórios, vulnerabilidades das fronteiras dos países da Região, o
aumento do crime organizado transnacional, o tráfico de drogas, o branqueamento de capitais e o tráfico de
seres humanos, na África Austral.
85
AT 07. Segurança Internacional e Defesa
AT 07 - Sessão 6 (12/08 das 16:00 às 17:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-503

Tríplice Fronteira e o panorama da entrada de ilícitos transfronteiriços

Júlio César Lacerda Martins (Escola de Comando e Estado Maior do Exército), Edwardo Coelho de Oliveira
(Exército Brasileiro)

As fronteiras são regiões singulares devido as suas particularidades e comportamentos, que requerem atenção
permanente dos Estados. Atualmente, o debate sobre as fronteiras admite dois prismas: bordier e frontier.
O primeiro relativo às questões geopolíticas e o segundo relacionado às questões de segurança. O Brasil
apresenta uma das maiores extensões territorial do mundo, sendo o quinto país em extensão e ocupando
cerca de 47% da área territorial da América do Sul. Nesse sentido, o país, apresenta uma característica muito
marcante com as chamadas cidades gêmeas em Tríplices Fronteiras. Neste estudo, a delimitação foi a Tríplice
Fronteira formada pelo Brasil, Paraguai e Argentina com o objetivo de apresentar o panorama da entrada de
ilícitos transfronteiriços na referida faixa territorial. Desta forma, definiu-se a problemática de pesquisa deste
artigo: qual o panorama da entrada de ilícitos na Tríplice Fronteira na última década (2011-2021)? Trata-se
de uma pesquisa qualitativa, exploratória, literária por meio de uma revisão bibliográfica narrativa, em que se
utilizou como critério de inclusão os estudos versando sobre a apreensão de ilícitos transfronteiriços na Tríplice
Fronteira e como critério de exclusão as publicações da referida temática anteriores a 2011. A partir dos dados
encontrados, concluiu-se que houve uma mudança no panorama de apreensões de ilícitos transfronteiriços
nos últimos 10 anos, com maior destaque, para o contrabando do cigarro, que alcançou cifras próximas ou até
maiores do que do tráfico de drogas.

Migrações como ativo político de e para democracias “autoritárias” no século XXI

Denise Marini Pereira (Universidade Federal Fluminense)

Este trabalho se propõe a investigar como o fenômeno migratório tem sido instrumentalizado como um ativo
político de e para democracias “autoritárias” no século XXI. Inicialmente analisam-se os aspectos estruturantes
na construção de discursos e racionalidades envolvidos nas atuais representações das migrações internacionais
pela mídia e respostas estatais aos fluxos migratórios. Observou-se como o neoliberalismo naturaliza e
institucionaliza a prevalência da soberania do Estado sobre os Direitos Humanos através do debilitamento da
democracia. Posteriormente, examinou-se o debate teórico acerca de como as ações humanitárias se vinculam
ao fenômeno em questão como forma de gestão governamental e instrumento de isenção de responsabilidades
estatais. Constatou-se que a valorização dos princípios democráticos e dos direitos humanos no Pós-Guerra
Fria, impulsionou o crescimento de intervenções militares supostamente humanitárias em defesa desses
valores. Tais ações adquiriram complexidade e têm sido empregadas como “solução” para fluxos migratórios,
quando de fato, se constituem em medidas de controle discriminatório e excludente. Em seguida, demonstrou-
se como esse tipo de controle se manifesta em alguns Estados democráticos da contemporaneidade, sendo
identificadas medidas de intervenção direta, material e simbólica como a construção de muros fronteiriços,
centros de detenção para migrantes e estratégias multifacetadas como investimentos de países centrais ao
sistema econômico internacional em projetos socioeconômicos e de assistência militar nos países da periferia
desse sistema. Conclui-se ser premente uma nova racionalidade que inclua a migração, tal qual a economia
transnacional, no cotidiano da vida nacional. A metodologia utilizada foi a dedutiva, sendo realizadas análises
86
documentais qualitativas e quantitativas de fontes primárias (instrumentos jurídicos, relatórios, comunicados
e notas oficiais de organismos internacionais) e secundárias (publicações da literatura consolidada sobre a
temática das migrações articulada à política internacional).
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 07

Dark Web : a nova rota da seda

João Batista de Aguiar Filho (ECEME), Fabiola de Jesus Barros (Universidade Federal
Fluminense)

A Dark Web é como uma camada oculta não rastreável da Internet, comumente usada para armazenar e acessar
informações confidenciais. Seus sítios não são indexados pelo Google e não possuem endereço comum. Para
o estabelecimento de uma conexão a estes é necessário uma rede especial, cuja ferramenta mais conhecida
é o Tor, que através do roteamento cebola permite a criação de “serviço ocultos”, sítios eletrônicos que estão
disponíveis apenas dentro do mundo onion de Tor. Enquanto navegador, o Tor abre espaço para um novo nível
de privacidade na internet, o anonimato real. Dentro deste universo, o sítio oculto denominado Silk Road é
tido como o primeiro mercado de comércio livre deste domínio. Sua utilização possibilita a comercialização
de produtos legais e ilegais, sendo conhecido por viabilizar a venda e compra de drogas online e fomentar
as práticas de narcotráfico. Neste ínterim, o trabalho tem como objetivo geral averiguar a forma de uso dos
sítios desta camada, tomando como exemplo a ferramenta Tor e o acesso ao Silk Road. Tem-se como objetivos
específicos: (1) discutir o que caracteriza a Dark Web, realizando uma prospecção conceitual do termo, (2)
apresentar as ferramentas que possibilitam seu acesso, aqui exemplificado pelo Tor, e por fim, utilizando como
exemplo o Silk Road, (3) detalhar as operações de compra e venda de drogas ilícitas nesta página. A pesquisa
foi realizada através de revisão bibliográfica e tem como prerrogativa que a Dark Web é uma web ímpar, com
suas peculiaridades e acessos subjacentes, está nos centros de debates por proporcionar condições de liberdade
na esfera cibernética. Assim, o trabalho justifica-se ao perceber a necessidade que decisões políticas venham
de uma maior compreensão sobre a consistência da Dark Web, para então, engajarem-se de forma inteligente
no debate, no intuito de promulgar políticas eficazes para esta camada oculta.

Tráfico de mulheres e Direitos Humanos

Lara Denise Góes da Costa (Escola Superior de Guerra)

Este trabalho visa apresentar o panorama atual do crime transnacional de tráfico de meninas e mulheres e
suas atuais medidas de prevenção no que diz respeito ao crime organizado, que por sua vez fica de “fora”
da normativa internacional visto a relação peculiar do tráfico que se coloca como regional, internacional ou
transnacional, já que perpetrado por grupos criminosos que se utilizam de “lacunas” estatais de controle.
Relatórios de agências nacionais e internacionais e documentos de cooperação interagências possibilitam
apenas parcialmente a troca de inteligência para acesso às redes criminosas, visto que o impacto dos fluxos
migratórios mistos, irregulares ou complexos se dá por uma diversidade de fatores, contudo, os estados
nacionais não consideram os elementos específicos individuais que motivaram os solicitantes de refúgio e no
geral a recepção de migrantes ou deslocados ou refugiados se dá pela justificativa política que lhe conferem um
status de refúgio. Sul
87

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
AT 8
Estudos para a Paz
e Transformação
de Conflitos

Profa. Dra. Vanessa Braga Matijascic (FAAP/USP)

Profa. Dra. Camila de Macedo Braga (USP)

Esta área temática acolhe trabalhos que tenham como perspectiva a análise dos caminhos para
a paz e da mitigação da violência em termos empíricos, metodológicos e teóricos. A paz é
examinada nas suas vertentes negativa (ausência de violência) e, principalmente, a positiva
(construção da paz). Adicionalmente, almeja-se analisar as abordagens de interferência em
conflitos, sejam elas conhecidas e praticadas na cultura ocidental - como mediação, negociação,
resolução e transformação de conflitos -, ou outras abordagens que tenham diferentes vínculos
culturais, com perspectivas pós-coloniais e decoloniais. Salienta-se que são igualmente
importantes as perspectivas que lidam com conflitos a partir da localidade, não institucionais,
iniciativas subnacionais ou nacionais, ou lideradas por organismos regionais ou internacionais
88
AT 08. Estudos para a Paz e Transformação de Conflitos-Sala A-504
Coordenadoras: Profa. Dra. Vanessa Braga Matijascic (FAAP/USP) e Profa. Dra.
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08

Camila de Macedo Braga (USP)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45

Peacebuilding na República Centro-Africana: novos desafios para as Forças Armadas Brasileiras


Rafael Farias
Operações de Paz das Nações Unidas: o uso da força e a proteção de civis por meio de adaptação
Sérgio Luiz Cruz Aguilar
O Equívoco da Guerra Cibernética
Ricardo Antonio Cazumba

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


A atuação brasileira em missões de paz e os possíveis desdobramentos nas relações civis-militares em
âmbito doméstico
Tadeu Morato Maciel
A inclusão de mulheres nas forças de segurança no processo de peabuilding: um estudo de caso so-
bre a Libéria.
Beatriz Azevedo Coutinho
O movimento feminista pela paz: uma análise da atuação prática das mulheres nos processos de
construção da paz.
Stela da Rocha de Medeiros Dantas

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


A Operação Acolhida sob a ótica da segurança humana
Túlio Pires Barboza, José Maria Sydow de Barros

UNTAET E UNMIK: semelhanças e diferenças entre a administração transitória da ONU no


Timor-Leste e no Kosovo
Thiago Britto de Albuquerque, Roney Magno de Sousa, Júlia Gomes Lopes Gonçalves
Pacifistas com armas pesadas: o impacto da guerra na Ucrânia sobre os atores políticos na Alemanha
Daniel Oppermann, Juliana Zaniboni de Assunção

Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45


Mapeamento da Política Sul-Africana de Defesa e os legados da transição da SADF-SANDF para o
Entorno Regional da África do Sul no pós-Apartheid
Murilo Gomes da Costa
Por uma soberania para o século XXI: entre o digital e o cultural
João Pedro Braga de Carvalho
Corsários Cibernéticos: análise jurídica crítica a propostas norte-americanas para a segurança in-
formática
89
Lucas Rodrigues Marangão
Reflexões sobre o futuro da cooperação em Defesa na CPLP

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
Kamilla Raquel Rizzi, Isabella Cruzichi, Luis Manuel Brás Bernardino

Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-15h45


Governança da Segurança Cibernética e os Desafios do Século XXI: A Relação Civis-Militares no
Sector Cibernético do Brasil.
Nilton Lopes da silva Gomes, Abian Laginestra

O Ciberespaço como Instrumento de Poder: Do Acordo Obama-Xi à Deterioração das Relações


Sino-Estadunidenses
Bárbara Campos Diniz
Violência Humanitária: a constituição dos hutus ruandeses como vítimas ou risco
Marcelle Christine Bessa de Macedo
Colombian-Ecuadorian Borderland Security Dynamics: past, present and future
Mila Pereira Campbell
90
AT 08. Estudos para a Paz e
Transformação de Conflitos
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08

AT 08 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)


Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-504

Peacebuilding na República Centro-Africana: novos desafios para as Forças Armadas


Brasileiras

Rafael Farias (EsAO - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais)

O Brasil tem uma longa tradição de participação em operações de paz que remontam ainda à Liga das Nações. Já
sob a égide da ONU, de Suez ao Haiti, são mais de 70 anos de capacetes azuis brasileiros operando em proveito
da manutenção da paz. A Missão de Treinamento da União Europeia na República Centro-Africana (EUTM-
RCA), contudo, marca uma nova fase para as Forças Armadas Brasileiras: atuar em proveito da reforma do
setor de segurança e defesa do país, no âmbito do peacebuilding (construção da paz). Mediante cooperação
bilateral com Portugal, a partir de 2019, militares do Brasil, lado a lado com nações europeias, começaram a
contribuir para a reestruturação das Forças Armadas Centro-Africanas, profundamente abaladas com a guerra
civil que assolou o país a partir de 2013. O presente trabalho destina-se a analisar a participação de militares
brasileiros em prol da construção da paz na República Centro-Africana e seus reflexos para a política externa
brasileira

Operações de Paz das Nações Unidas: o uso da força e a proteção de civis por meio de
adaptação

Sérgio Luiz Cruz Aguilar (UNESP)

Por mais de vinte anos, as operações de paz multidimensionais das Nações Unidas (ONU) foram autorizadas
a usar a força para proteger civis. O Secretariado trabalha, desde então, para fornecer diretrizes para missões
de campo as quais operam sob demandas políticas, inputs estratégicos e realidades no terreno para cumprir os
mandatos. Apesar da evolução normativa, entendemos que as operações de paz continuam ocorrendo em um
processo contínuo de adaptação, improvisando, priorizando e criando alternativas aos desafios que surgem dos
contextos em que operam. Baseando-se em insights da teoria da complexidade, análise sistêmica de conflitos e
gestão de crises, este artigo discute a frequente adaptação no que diz respeito ao uso da força e proteção de civis
pelas operações de paz da ONU. O artigo apresenta estudos de caso da República Centro-Africana (MINUSCA),
República Democrática do Congo (MONUC e MONUSCO) e Sudão do Sul (UNMISS), construídos por meio
de fontes primárias e secundárias, para demonstrar a interação entre as operações e o Secretariado da ONU e as
diversas e diferentes fases da constante adaptação do uso da força e da proteção de civis em cada um dos casos
como forma de reação às mudanças e desafios impostos pelo contexto em que cada operação se desenrola.

O Equívoco da Guerra Cibernética

Ricardo Antonio Cazumba (Escola superior de Guerra)

Criado para ser sem barreiras e sem controle, ao menos em conceito, o ciberespaço, em função de sua natureza
e importância contemporânea, teria se convertido para alguns no novo campo de batalha, um espaço de
enfrentamento de atores estatais e não estatais. Segundo Krepenevich (2012), o fato das infraestruturas críticas
estarem conectadas à rede mundial as tornam um alvo a ser considerado por Estados opositores e atores não
91
estatais inimigos. Obras como Cyber War, de Richard Clark (2010), contribuíram para a difusão da ideia de
que a integração ao ciberespaço de atividades estratégica e críticas exporia os EUA à iminência de um Pear

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
Harbor digital.
Por outro lado, as ideias de uma Guerra Cibernética, de um Armagedon digital, e do ciberespaço como um
novo domínio das operações militares sofrem diversas críticas. Segundo Carreiro (2012), essas narrativas são
sustentadas pela imprensa não especializada e até pelo cinema, impactando profundamente a opinião pública
mundial. Esses discursos compreenderiam manifestações do processo de securitização, em andamento, do
ciberespaço.
No âmbito do debate apresentado, conceitos como Guerra, armas e domínios tem centralidade e marcam
presença em documentos científicos e militares. Revisando os casos da Estônia (2007), da Geórgia (2008), do
Irã (2010) e da Ucrânia (2013-15), pretende-se formular algumas respostas às seguintes perguntas: Pode-se
falar em Guerra Cibernética? Em que medida os casos supracitados corroboram a ideia de que um novo espaço
de batalha já se tornou uma realidade?
A pesquisa, ainda em andamento, analisou a literatura acadêmica sobre os três casos, consultou fontes primárias
sobre os episódios, como os relatórios da Symantec/Karpensky, sobre o Stutnex, e conclui pela fragilidade e
inadequação da ideia de uma Guerra Cibernética em andamento ou a se tornar uma realidade.

AT 08. Estudos para a Paz e


Transformação de Conflitos
AT 08 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-504
A atuação brasileira em missões de paz e os possíveis desdobramentos nas relações civis-
militares em âmbito doméstico

Tadeu Morato Maciel (Universidade Federal Fluminense)

Desde o final da Guerra Fria, as operações de paz da ONU foram bastante dinamizadas, adquirindo, inclusive,
um perfil multidimensional, no qual o componente militar expandiu suas funções para além dos combates
diretos, ao oferecer assistência mais ampla às diversas causas ambientais, políticas, econômicas e socioculturais
dos conflitos. Na perspectiva de Desch (1999), a experiência dos componentes militares nessas missões de
prevenção e resolução pós-conflito traria efeitos positivos para as relações civis-militares dos países participantes
que tiveram que lidar recentemente com processos de redemocratização, após traumáticas experiências de
regimes autoritários. Em contrapartida, Kenkel (2021) questiona os efetivos benefícios dessas experiências
em missões de paz no que tange ao controle civil em relação aos militares nos países contribuintes de tropas.
Especificamente sobre o Brasil, autores como Rodrigues, Maciel e Mendonça (2022) explicitam que a atuação
das Forças Armadas na missão de paz no Haiti (MINUSTAH) e nas pacificações no Rio de Janeiro reafirmaria
o seu modus operandi de intervenção na ordem pública, o que resultaria em importantes entraves para a
dinâmica democrática do país. Na gestão Bolsonaro essa conjuntura recebeu novos delineamentos, tendo em
vista a atuação de militares da ativa e da reserva em diversas instâncias dos poderes Executivo e Legislativo,
com destaque para os cargos centrais assumidos por representantes do chamado “Grupo do Haiti”, formado por
ex-force commanders do componente militar da MINUSTAH. Diante desse cenário, o objetivo central desse
artigo é verificar alguns pontos de ressonância da participação brasileira em missões de paz (com enfoque na
MINUSTAH) em relação às relações civis-militares. A hipótese mobilizada é a de que a participação das Forças
Armadas Brasileiras no Haiti serviu mais como uma experiência sintomática para ações de segurança pública
92
do que para o intercâmbio e fortalecimento de valores afeitos ao Estado de Direito que deve caracterizar os
regimes democráticos.
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08

A inclusão de mulheres nas forças de segurança no processo de peabuilding: um estudo de


caso sobre a Libéria.

Beatriz Azevedo Coutinho (UNESP)

A ONU tem advogado à favor da inclusão de mulheres no processo de peacebuilding. Após a criação da
resolução 1325 (2000) diversos países em situação de conflito buscaram, em alguma medida, incorporar as
mulheres nos processos de paz. No caso da Libéria, as liberianas lideraram diversas ações em prol da paz, como
pressionar os acordos de paz, auxiliar no processo de DDR e eleger uma presidenta, cuja a plataforma era a
inclusão das mulheres nas políticas públicas. Com o auxílio da UNMIL (Missão das Nações Unidas na Libéria),
a presidenta Sirleaf instaurou um programa para a inclusão das mulheres na polícia nacional liberiana (PNL),
estabelecendo cotas, criando cursos e incentivos para que elas se unissem a força. O objetivo era promover uma
maior igualdade de gênero na PNL e modificar a percepção social sobre esta. Pois durante os quatorze anos de
guerra civil, a força que deveria proteger a população perpetrou diversos crimes como corrupção e violência
sexual e de gênero. Neste artigo, avaliarei como se deu essa incorporação dessas mulheres na PNL, se as políticas
criadas para este fim promoveram uma maior igualdade de gênero e se elas melhoraram a percepção da
população sobre a PNL, mitigando a violência estrutural e fomentando o processo de peacebuilding. Para isso,
analisarei documentos do governo da Libéria e da UNMIL, assim como surveys e relatórios que demonstrem a
percepção da população sobre a PNL e a atuação das mulheres nela. Dados preliminares apontam que as cotas
não foram atingidas e que a falta de um plano de carreira fez com muitas delas mudassem de emprego. Com
essa pesquisa, espero contribuir para os estudos sobre a incorporação de mulheres em forças de segurança,
como isso pode contribuir para os processos de peacebuilding e com a agenda de gênero, paz e segurança.

O movimento feminista pela paz: uma análise da atuação prática das mulheres nos processos
de construção da paz.

Stela da Rocha de Medeiros Dantas (Centro Universitário Uniamérica Descomplica)

Na análise do sistema internacional, perspectivas e narrativas mainstreams sobre a segurança internacional


e a paz dominam o campo de estudo. Dentre as diferentes narrativas que compõem esse cenário, uma delas
é a da ausência feminina. Contudo, a partir de um estudo mais detalhado, percebe-se que é histórica a
presença feminina em ambos os cenários. Todavia, em decorrência da estrutura social que privilegia a figura e
representação do masculino, a presença das mulheres acabou sendo estereotipada e invisibilizada. Assim, com
base nesse entendimento, torna-se essencial evidenciar as mulheres e as suas diferentes experiências ao longo
dos diferentes processos históricos das relações internacionais, com o objetivo de romper os estereotipados que
circundam a sua imagem e as falsas dicotomias criadas socialmente, como, por exemplo, a relação da mulher
com os movimentos e processos de paz. Assim, com o objetivo de romper com os estereótipos que circundam
esse tema, a fim de tornar clara a relação da mulher com a paz, o presente trabalho tem como finalidade
analisar a atuação das mulheres nos processos de construção da paz. Para isso, a pergunta de pesquisa que guia
o desenvolvimento da pesquisa é: “a presença de mulheres muda a forma de condução dos processos de paz?”.
Para isso, será feito um estudo qualitativo, com base em uma revisão bibliográfica a partir de estudos teóricos
e empíricos sobre o tema, desenvolvida por autoras e teóricas especialistas da área. Assim, a partir do que for
apresentado, percebe-se que as mulheres apresentam diferentes formas na condução dos processos de paz, na
tentativa de atingir a paz e a justiça social por meio de uma visão ampla e multidimensional.
93
AT 08. Estudos para a Paz e

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
Transformação de Conflitos
AT 08 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-504

A Operação Acolhida sob a ótica da segurança humana

Túlio Pires Barboza (Exército Brasileiro), José Maria Sydow de Barros (Exército Brasileiro)

O presente trabalho tem por objetivo geral avaliar se a Operação Acolhida provê segurança humana aos
imigrantes venezuelanos. Dessa forma, a pergunta que norteia esse trabalho é: “como a Operação Acolhida vem
oferecendo segurança humana aos imigrantes venezuelanos?” Diante desse problema, o trabalho se propõe a
categorizar as ações da Operação Acolhida ocorridas no estado de Roraima, nos anos de 2020 e 2021, dentro dos
sete aspectos da segurança humana apresentados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) em seu Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 1994. O embasamento teórico do trabalho,
constitui-se na apresentação da origem do conceito de segurança humana, buscando entender o porquê de ser
tão caro às Nações Unidas. Ademais, buscou-se apresentar a importância do conceito para o Brasil. De acordo
com o RDH, os sete aspectos da segurança humana são: econômica, ambiental, alimentar, de saúde, política,
pessoal e comunitária. No prosseguimento, foi feita uma análise documental dos relatórios publicados pelo
Comitê Federal de Assistência Emergencial (CFAE), o que permitiu a coleta dos dados referentes à operação.
Ademais, foram buscados os principais indicadores utilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) na
aferição de segurança humana. Dessa forma, foi possível realizar o cruzamento das ações da Acolhida obtidas
da análise dos relatórios com alguns dos indicadores utilizados para medir o nível de segurança humana
de um grupo de pessoas, o que permitiu indexar aquelas ações ao conceito em tela. Por fim, a classificação
dos dados segundo os indicadores selecionados permitiu avaliar quais aspectos da segurança humana são
melhor atendidos no escopo da Acolhida, bem como identificar quais aspectos merecem receber mais atenção,
permitindo realizar uma crítica sobre a operação como um todo. Indo além, os dados dos relatórios foram
categorizados de uma forma diferente da original, facilitando a sua utilização em estudos futuros.

UNTAET E UNMIK: semelhanças e diferenças entre a administração transitória da ONU


no Timor-Leste e no Kosovo

Thiago Britto de Albuquerque (Exército Brasileiro), Roney Magno de Sousa (Exército Brasileiro (EB)), Júlia
Gomes Lopes Gonçalves (ECEME)

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem em seu escopo fundamental o princípio da autodeterminação
dos povos como um pilar essencial. As missões das Nações Unidas no Timor-Leste e no Kosovo tiveram
como tônica a manutenção da ordem, a formação e a capacitação de recursos humanos para trabalharem na
construção das Instituições de Estado e na estrutura física desses países, de forma a garantir a sobernia deles
no concerto das nações. Nesse ínterim, em 10 de junho de 1999, por meio da Resolução 1.244, o Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CS ONU) estabeleceu a Missão de Administração Interina das Nações Unidas
no Kosovo (UNMIK). Um dia após, a Resolução 1.246 foi assinada, resultando na criação da Missão das Nações
Unidas em Timor-Leste (UNAMET), que atuaria até outubro do mesmo ano. Ainda em 1999, o Conselho de
Segurança estabelece a Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET) por meio
da Resolução 1.272. As Nações Unidas foram responsáveis pelo estabelecimento de um processo transitório
do poder nessas nações recém-independentes cujas estrutura estatal necessitava ser criadas ou reformuladas
para se evitar o surgimento de um Estado falido. Kosovo, à época, estava envolto em um conflito separatista
94
e buscava o reconhecimento de sua independência junto à Iugoslávia. O Timor-Leste havia passado por um
período de 25 anos de dominação junto à Indonésia. Nesse escopo, o objetivo deste trabalho é comparar o
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08

modo de administração transitória implementado em ambos os países pela ONU, de modo a identificar as
semelhanças e as diferenças na criação e na formação das instituições de Estado.

Pacifistas com armas pesadas: o impacto da guerra na Ucrânia sobre os atores políticos na
Alemanha

Daniel Oppermann (UFF - Universidade Federal Fluminense), Juliana Zaniboni de Assunção (UFF -
Universidade Federal Fluminense)

Quando, em fevereiro de 2022, o exército russo invadiu o país da Ucrânia, os formuladores de políticas e o
público assistiram a um cenário que não esperavam. Embora as atividades do exército russo em países como
Chechênia, Geórgia, Síria e Ucrânia oriental tivessem mostrado que o discurso oficial do presidente russo
Vladimir Putin desde a década de 1990 sobre uma futura relação com as democracias européias tinha que ser
tratada com cuidado, muito poucos tinham antecipado uma escalada como vista em 2022. Desde o início da
segunda invasão da Ucrânia, os governos europeus responderam de maneiras diferentes. Com o objetivo de
enfraquecer Moscou e convencer Putin a retirar as tropas russas do território ucraniano, a União Européia
decidiu uma série de sanções. Uma questão adicional que surgiu e se tornou mais forte ao longo das semanas
foi a entrega de bens militares e civis à Ucrânia para apoiar o país na luta contra as tropas invasoras. Desde
então, diferentes estratégias têm sido aplicadas para entregar tais bens em território ucraniano. A questão mais
complicada neste contexto é o fornecimento de armas que é considerado por alguns como um meio de acabar
com o conflito e por outros como um risco de escalada que poderia levar a uma extensão da guerra em direção
ao Ocidente. Dentro da União Européia, os governos e o público têm pontos de vista diferentes em relação à
decisão de fornecer ou não fornecer armas. Esta proposta foca no debate na Alemanha como um dos países
que, por razões históricas e também contemporâneas, reluta em entregar armas à Ucrânia. O objetivo desta
proposta é uma análise qualitativa e uma discussão de posicionamentos dos atores políticos e decisores na
Alemanha em relação ao armamento e às atividades militares do país e como eles mudaram desde fevereiro de
2022.

AT 08. Estudos para a Paz e


Transformação de Conflitos
AT 08 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-504

Reflexões sobre o futuro da cooperação em Defesa na CPLP

Kamilla Raquel Rizzi (Universidade Federal do Pampa), Isabella Cruzichi, Luis Manuel Brás Bernardino (IUM)

O trabalho analisa criticamente o futuro da cooperação em Defesa desenvolvida na Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP). Como problema de pesquisa, questiona-se quais os principais aspectos de (a)
potencialidades e (b) desafios inerentes ao processo de construção da Arquitetura de Defesa da CPLP nos
primeiros vinte e cinco anos de ações, uma vez que esses estão diretamente relacionados tanto à consolidação
da cooperação no domínio da Defesa, mas também, às motivações dos Estados-membros a promoverem
(ou não) esta, no futuro próximo. A hipótese levantada preliminarmente sugere que reside no próprio perfil
da organização o elemento promotor da consolidação da cooperação entre seus membros, nos moldes da
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID), por meio das demandas das partes. Portanto, assume-
95
se que, como a) potencialidades: a CPLP tem atuado como uma estrutura de fortalecimento de resoluções
conjuntas para problemáticas regionais – cujo exemplo mais recente foi a criação da célula de cooperação civil

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
militar (CIMIC) da CPLP –, contribuindo para a preservação da soberania e desenvolvimento destes contra
ingerências extrarregionais, legitimando a construção de visões coletivas sobre o Atlântico Sul, além de ser
reflexo, em alguma medida, de um conjunto de iniciativas políticas na criação de novas instâncias de cooperação;
e como b) desafios principais, presumem-se: as contínuas restrições orçamentárias e a infraestrutura deficitária
de alguns membros na área, a consequente descontinuidade de alguns programas em médio e longo prazo,
além da falta de normativas estratégicas mais detalhadas da área avançando no Conceito Estratégico de Defesa
da CPLP, bem como a dificuldade na atuação concreta em contextos nacionais, nomeadamente na África.

Mapeamento da Política Sul-Africana de Defesa e os legados da transição da SADF-SANDF


para o Entorno Regional da África do Sul no pós-Apartheid

Murilo Gomes da Costa (IESP-UERJ)

O objetivo deste trabalho é a realização de um mapeamento das iniciativas da política de defesa sul-africana,
partindo de uma análise do processo de transição da Força de Defesa da África do Sul (SADF), para a Força
Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF). Esta análise busca entender quais foram as principais mudanças
de ordem externa e interna nas forças armadas, bem como nos reflexos que estas mudanças na estrutura e no
emprego das forças armadas tiveram na implementação de uma política de defesa mais conjugada com as ações
do Departamento de Relações Internacionais e Cooperação (DIRCO). O fio condutor desta transição parte do
pressuposto de que foi necessário promover uma ruptura da África do Sul com a herança intervencionista do
Apartheid no seu entorno regional. Para além das análises descritivas detalhando cada iniciativa, a metodologia
do trabalho passa também pelo levantamento e análise de documentos e relatórios anuais do Departamento
de Relações Internacionais e Cooperação (DIRCO), que foram publicados a partir de 2002, bem como dos
relatórios anuais e os relatórios anuais de performance do Departamento de Defesa (DoD) da África do Sul,
extraindo alguns dados que complementem a análise descritiva e possibilitem demonstrar a nova postura da
África do Sul. Como resultados preliminares, entende-se que a África do Sul orientou a sua política de defesa
e instrumentalizou a cooperação em defesa com o objetivo de consolidar a sua reinserção em seu entorno
regional e de romper com a lógica intervencionista do período do Apartheid (1948-1993).

Por uma soberania para o século XXI: entre o digital e o cultural

João Pedro Braga de Carvalho (Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais)

Após duzentos de Independência do Estado do Brasil, a temática da soberania continua axial para o entorno da
garantia e efetividade da defesa nacional. Tal categoria acompanha os estudos de Filosofia e Teoria do Estado
desde muito antes da brasilidade se autoproclamar independente, mas ganha a centralidade nesse momento,
pois a autonomia e o autogoverno, isto é, a conquista do poder necessário para tomar as decisões políticas
nacionais não é outra coisa senão o reflexo objetivo da afirmação soberana de uma cultura suficientemente
forte para tanto. Todavia, a soberania não se trata de uma atitude conclusiva, ao contrário, essa conquista está
em constante reafirmação diante dos outros Estados, também soberanos, que se relacionam entre si a partir
de seus diferentes interesses particulares. Ora, se a soberania não apresenta um desfecho, mas acompanha o
desenrolar histórico de um Estado — que se quer independente —, ela necessariamente altera seu conceito na
medida em que as condições históricas se transformam. Em consequência, pode-se questionar: as características
que definiam um Estado como soberano duzentos anos atrás são as mesmas determinações presentes no
século XXI? Para responder a esta pergunta, este trabalho pretende evidenciar que o conceito de soberania
na contemporaneidade enfrenta desafios distintos aos confrontados em sua definição hodierna — ainda que
certas circunstâncias permaneçam intensamente presentes —, e somente com a consciência dessa mudança de
paradigma o Estado do Brasil poderá exercer a manutenção de sua defesa nacional, bem como a efetividade de
sua independência. Para isso, buscar-se-á situar a soberania entre os novos instrumentos de guerra construídos
a partir da dimensão cultural das disputas travadas pelas diferentes civilizações e da realidade digital imposta
cada vez mais na vida humana, especialmente, como ferramenta do controle social e político.
96
AT 08. Estudos para a Paz e
Transformação de Conflitos
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08

AT 08 - Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)


Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-504

O Ciberespaço como Instrumento de Poder: Do Acordo Obama-Xi à Deterioração das


Relações Sino-Estadunidenses

Bárbara Campos Diniz (UNESP)

Em setembro de 2015, o então presidente estadunidense Barack Obama e o presidente chinês Xi Jinping
anunciaram um acordo cibernético bilateral. Um marco significativo para as relações sino-estadunidenses,
o acordo também representou um passo importante na tentativa de estabelecer normas internacionais para
o ciberespaço e espionagem cibernética. Desde então, a relação bilateral vem se degenerando, tendo seu pico
em 2018 com a acusação do então presidente Donald Trump da China ter violado o acordo e o subsequente
conflito comercial. No entanto, é importante salientar que dois anos antes de tais acusações, as operações de
espionagem realizadas pelo governo estadunidense foram vazadas por Edward Snowden. O ciberespaço alterou
consideravelmente a natureza de estratégias de espionagem tradicionais, concomitantemente facilitando
e ‘mascarando’ o monitoramento de ameaças percebidas e na coleta e comercialização de informações. O
desenvolvimento de tecnologias de informação vem afetando cada vez mais a maneira como se faz guerra e de
como a mesma é percebida. Com isso, este artigo propõe compreender como o poder exercido no ciberespaço
pelos Estados Unidos e pela China no rescaldo do acordo influenciou na deterioração de sua relação bilateral.
Para tal, a discussão será dividida em três momentos: i) será analisado comparativamente os índices de ataques
cibernéticos anteriores e posteriores ao acordo e ao longo da deterioração das relações sino-estadunidenses
até o início de 2022; ii) será analisado o acordo e se e como a China, de fato, violou aram seus postulados e;
iii) a percepção estadunidense sobre as implicações da capacidade de ameaça chinesa a partir dos relatórios
publicados anualmente pela U.S.-China Economic and Review Commission entre 2015 e 2022. Os dados
quantitativos necessários para a análise serão coletados das plataformas FireEye e Hackmageddon, e os dados
qualitativos serão coletados a partir de discursos presidenciais e de documentos oficiais pertinentes.

Governança da Segurança Cibernética e os Desafios do Século XXI: A Relação Civis-


Militares no Sector Cibernético do Brasil.

Nilton Lopes da silva Gomes, Abian Laginestra (Kimodshiro Cybersecurity)

A implementação da governança demanda vários aspectos a serem considerados, quando se trata da segurança
cibernética torna-se questionável a elaboração das políticas estratégicas, tendo em vista as mutações das ameaças
cibernéticas existentes. Atualmente, está temática encontra-se muito discutido nos órgãos governamentais,
fóruns acadêmicos, empresarial e, essencialmente, no contexto militar a nível global, inclusive no Brasil,
onde verifica-se nos documentos oficiais a preocupação em garantir a segurança e defesa. Nesse sentido, as
publicações da Política Nacional de Defesa (PND), Estratégia Nacional de Defesa (END), Livro Branco de
Defesa Nacional (LBDN) e, em especial a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética (E-Ciber), destaca
interesse nacional em desenvolver capacidades para sanar eventuais incidentes no espaço extraterritorial, ou
seja, espaço cibernético. No entanto, este trabalho tem por finalidade apresentar a compreensão da relação
civis-militares no sector cibernético do Brasil e as contribuições dadas para uma boa governança. Desta feita,
nesse estudos foi aplicado procedimento metodológico de caráter qualitativo, tratando-se de estudo de caso e
análise documental de fonte primária e secundária. Como resultado da pesquisa, confirma que civis e militares
97
no sector cibernético possuem uma relação contínua por meio da integração promovida pelo Ministério da
Defesa (MD) que resulta no desenvolvimento das pesquisas, debates que contribui com estratégia de segurança

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 08
e defesa cibernética. Assim, verifica avanço brasileiro na estrutura da governança da segurança cibernética
envolvendo as instituições públicas e privadas para desdobramento da referida governança. Portanto, o
entendimento íntegro da sociedade civil no geral sobre o assunto, ainda se apresenta como imenso desafio.

Colombian-Ecuadorian Borderland Security Dynamics: past, present and future

Mila Pereira Campbell (Centro Soberania e Clima)

Inspired by Idler’s book “Borderland Battles: Violence, Crime, and Governance at the Edges of Colombia’s War”
(2019), in this paper I will draw on her argument that borderlands operate as magnifying glasses that intensify
citizen insecurity, especially in turbulent contexts such as the one in Colombia. I will primarily present the
main discussions and possible conceptual approximations, relying on studies about ungoverned areas and
borderlands. Then, oriented on this discussion, I will conduct a thorough assessment of the security dynamics
of the Colombian-Ecuadorian borderland, looking back at past events but mainly analysing the current scenario
and trying to identify possible transformations triggered by the 2016 Peace Deal. Data collection will happen
through literature review and the analysis of official documents and reports. In the end, I expect to achieve a
general assessment of the security dynamics in the area. This research is part of my masters’ dissertation.

Violência Humanitária: a constituição dos hutus ruandeses como vítimas ou risco

Marcelle Christine Bessa de Macedo (PPGRI-UERJ)

Este trabalho investigará a(s) violência(s) que constituem os processos de intervenção(ões) nos Estados que
passaram por regimes coloniais. Essa(s) intervenção(ões) ocorrem em diversos âmbitos, político, econômico e
militar, que são impactados, sobretudo, pelas questões de subjetivação e construção de representações. Dessa
forma, buscaremos entender de que forma as subjetivações de caráter humanitário são violentas e destituem
os indivíduos, que a recebem, de agência política. Nessa esteira, o refugiado torna-se um dos principais focos
de caridade, ou seja, da piedade humanitária. Através da construção de uma determinada representação
desse refugiado – salienta-se, uma representação constituída como única e universal, mediante pressupostos
eurocêntricos – e o controle de seus corpos, o refugiado passa a ser entendido como um grupo, uma vítima
– um inverso do indivíduo com agência política. Para abordar tais questões, que entendemos como violência
humanitária, jogaremos luz no caso dos hutus ruandeses que buscaram refúgio na República Democrática do
Congo (RDC) após o genocídio ruandês, em 1994. Este grupo foi protagonista de diversas narrativas humanitária
e de segurança que culminaram na invasão do território congolês, em 1996, com apoio do governo de Ruanda.
Para tal, nossa pergunta de pesquisa será: De que forma os hutus ruandeses, no leste da RDC, transitaram entre
as narrativas humanitária e de segurança, sendo construídos como vítima ou risco? Para análise desta pergunta
serão utilizados a abordagem pós-estruturalista e a metodologia de análise de discurso.
98
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 09

AT 9
Filosofia e Direito
da Guerra

Prof. Dr. André Panno Beirão (EGN)

Prof. Dr. Evaldo Becker (UFS)

A área temática Filosofia e Direito da Guerra reflete sobre tema que acompanha a humanidade
desde seus primórdios e que parece, por vezes, fazer parte da própria natureza humana: a guerra.
A AT abarca trabalhos sobre a filosofia da guerra ao longo da história, a partir do exame de
textos que constituíram a reflexão sobre o assunto desde autores como Tucídides, Clausewitz
e outros mais contemporâneos. Ao lado de temas “clássicos” como estratégia, arte da guerra,
guerra justa, doutrinas da razão de Estado e o direito da e na guerra, a AT pretende também
examinar assuntos atuais, como as guerras e conflitos por recursos naturais, o uso de tropas
mercenárias, os ataques cibernéticos e o uso de novas tecnologias de destruição.
99
AT 09. Filosofia e Direito da Guerra - Sala A-205

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 09
Coordenador: Prof. Dr. André Panno Beirão (EGN)
Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45

Do Estado à horda: A influência do pensamento de Freud sobre a guerra e a morte e sua influência
na teoria do Estado kelseniano.
Osvaldo Lucas Andrade
A Atividade de Inteligência brasileira sob o enfoque da Teoria Construtivista
Marcus Castro Nunes Maia
Para onde, Europa?: reflexões sobre a consciência-de-si europeia
Hugo Rezende Henriques
Os impasses do regionalismo sul-americano: a identidade regional e o modelo de sedução
Bruno Lotério

AT 09. Filosofia e Direito da Guerra


AT 09 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-205

Do Estado à horda: A influência do pensamento de Freud sobre a guerra e a morte e sua


influência na teoria do Estado kelseniano.

Osvaldo Lucas Andrade (UGMF)

As cartas trocadas entre Einstein e Freud em 1932 se constituem em uma das mais famosas correspondências
do século XX, quer pela genialidade de seus autores, quer pela importância do assunto: a guerra. Essa epístola
não foi a única oportunidade em que Freud se debruçou sobre o tema. Em 1915, o autor escreve considerações
atuais sobre a guerra e sobre a morte. Essa obra, embora pouca extensa, cumpre um importante papel no
campo das chamadas obras sociais de Freud, dialogando principalmente com totem e tabu, o mal-estar na
civilização e psicologia das massas. Forma-se, núcleo de obras, uma correlação entre a função do Estado a
guerra, expondo o papel que os institutos e sentimentos desempenham nessa relação. Freud utiliza a guerra
quase como um campo de estudo prático em que suas teorias sobre instintos, paixões e repressões são levados
a graus de extremos.
A relação entre esses sentimentos, sempre cruamente expostas tempos sombrios, foi bem percebida pelo jurista
Hans Kelsen, que ainda na década de 20, inicia uma série de estudos cuja variante temática se envolve com
pesquisas levadas a efeito por Sigmund Freud nos ensaios: “o conceito de Estado e a psicologia social”, de 1922,
“Deus e o Estado”, de 1922-1923 e “O conceito de Estado e a psicanálise”. A partir dessas obras Kelsen constrói
uma teoria do Estado assentada na concepção de uma natureza humana belicosa com uma camada psicológica
irracional e agressiva, tal como a desenhada por Freud nas obras supracitadas.
A partir desses diálogos, pretendemos analisar como, o homem e a guerra em Freud são palco das razões
antagonizadas, e dos instintos egoístas e agressivos e como essa concepção contribuiu para a construção
da teoria do Estado kelseniano pensado instrumento de transformação da liberdade natural na liberdade
metamorfoseada em liberdade controlada e tutelada .
100
A Atividade de Inteligência brasileira sob o enfoque da Teoria Construtivista
ÁREAS TEMÁTICAS - AT 09

Marcus Castro Nunes Maia (PPGEST-UFF)


As pesquisas sobre os Estudos Estratégicos e Segurança Internacional têm suscitado discussões epistemológicas,
uma vez que, a partir da análise contratualista-realista, essas questões seriam restritas a áreas afetas à diplomacia
e às forças armadas, assim como a visão do poder político centrado no Estado. Contudo, teorias mais recentes
têm questionado essa visão. A partir desses debates buscaremos enfrentar essas limitações sob a ótica da
Atividade de Inteligência estratégica no Brasil.
Para enfrentar a problemática exposta, partimos da hipótese que a atividade de inteligência, enquanto de
natureza típica de Estado, sob um olhar construtivista, transcende a perspectiva contratualista-realista.
Na trilha das propostas traçamos como objetivo central abordar as teorias epistemológicas para suscitar o
debate e permitir comparar com a Política Pública brasileira sobre a Atividade de Inteligência. Sendo assim,
dividiremos a proposta em 3 partes: a discussões teóricas dos campos de estudos e a dualidade contratualista e
construtivista, a análise da Política Pública sobre a Atividade de Inteligência no Brasil, estampada no Decreto
nº 8.793/2016, e, ao final, confrontar tais premissas para melhor compreender e situar o sistema de inteligência
nacional.
Justifica-se, o estudo em questão, visto a papel do Estado, tanto no âmbito doméstico quanto internacional,
como um grande ator no jogo político e tomador de decisões. A Atividade de Inteligência, em sua essência, lhe
cabe a análise das conjunturas, identificar ameaças, apontar os riscos e prospectar oportunidades, no intuito
de melhor assessorar os agentes decisores. Logo, a atividade de inteligência torna-se um valioso coadjuvante
nas relações de poder do Estado. Além do que fomentar esse debate, especialmente no mundo acadêmico,
permitirá trazer luz às discussões sobre o seu efetivo e legítimo papel nas relações estatais dentro dos Estudos
Estratégicos e da Segurança Internacional.

Para onde, Europa?: reflexões sobre a consciência-de-si europeia

Hugo Rezende Henriques (UFU - Universidade Federal de Uberlândia)

Compreender a História imersos na realidade dos fatos pode ser sempre um exercício temerário. Ainda assim,
a invasão do território ucraniano pela Rússia potencialmente sinaliza um ponto de inflexão para muitas das
construções políticas, militares e econômicas, tanto em níveis nacionais, quanto em níveis comunitários e
internacionais que marcaram o mundo, mas muito especialmente a Europa, desde a queda do Muro de Berlim.
De um ponto de vista político, impõe-se uma sensação de urgência para que as instituições comunitárias
da União Europeia se alteiem e se coloquem no mundo como efetivamente aquilo que querem ser, seja um
projeto de confederação civilizacional que sabe de suas próprias intenções e que se expõe ao mundo a partir
de uma possível Constituição Europeia, e de Forças Armadas Europeias capazes de afirmarem na efetividade
esta vontade, ou um projeto simples de união econômica e monetária que não garantirá os interesses próprios
como tais, deixando aos Estados europeus os seus próprios caminhos. Sob um ponto de vista da construção
de uma pax americana presente e atuante em território europeu (e mundialmente), a emergência de Forças
Armadas Europeias se coloca por vezes como necessidade ante a busca por redução de gastos de defesa por
aquela potência, mas simultaneamente como risco de perda de sua influência direta nos desígnios do velho
continente. Economicamente, a construção de relações comerciais não mais adstritas ao padrão estadunidense
de trocas em dólar se torna um vislumbre de um novo momento do mundo em que China e Rússia emergem
conformando zonas de influência cada vez mais próximas. Nesse contexto, o presente trabalho se propõe a
refletir, em termos de cenários prospectivos, o momento singular em que se encontra a Europa (e o mundo),
para buscar lançar luz sobre os caminhos possíveis dos desenvolvimentos futuros.

Os impasses do regionalismo sul-americano: a identidade regional e o modelo de sedução


101
Bruno Lotério (Centro Universitário Moura Lacerda)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT 09
Nos últimos anos, o regionalismo sul-americano tem passado por um período de crise, marcado pelo
desmantelamento da Unasul e pelo extremo desalinhamento político dentro do Mercosul, além do perfil
desvanecido da Prosul. Esse cenário funesto contrasta com o dinamismo observado em décadas anteriores, pelo
menos no que diz respeito à criação de instituições multilaterais e ao espaço que a cooperação regional ocupava
no discurso das lideranças sul-americanas como uma ferramenta para se ampliar a autonomia. Considerando-
se esse contexto por meio do marco teórico da Teoria da Estruturação, o artigo tem como objetivo explicar
a atual crise do regionalismo sul-americano não como resultado da ruptura das rotinas de interação entre
os Estados, mas como parte delas. O artigo está dividido em duas partes. Na primeira, através da revisão
bibliográfica, discorro sobre o histórico da cooperação sul-americana no pós-Guerra Fria, especialmente no
período marcado pelo regionalismo pós-hegemônico (2003-2013), também discorro sobre as tendências da
região ao intergovernamentalismo e à sobreposição de regionalismos (spaghetti bowl). Na segunda parte,
apresento o “modelo de sedução” de Bill McSweeney, e o conceito de “segurança ontológica”, como alternativas
para a análise das deficiências da cooperação regional e, através da análise e comparação de dados publicados
por instituições internacionais como o Banco Mundial e CEPAL, pesquisas de opinião pública como o The
Americas and the World (TAW) e da análise das narrativas das lideranças regionais, aponto que mesmo durante
o “auge” do regionalismo pós-hegemônico os projetos regionais foram incapazes de seduzir os atores da região
e alterar suas identidades. Por fim, concluo que o regionalismo sul-americano, independentemente do período
sempre foi marcado por um intergovernamentalismo de ocasião, no qual a cooperação depende dos eventos e
das ideologias dos governos, pois os países não consideram a região um traço fundamental de sua identidade.
102
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

AT 10
Economia e Gestão
de Defesa

Prof. Dr. Marcos José Barbieri Ferreira (Unicamp)

Profa. Dra. Patricia Matos (UNIFA)

Esta área temática abrange os estudos econômicos e de gestão relacionados com as atividades
de defesa nacional, como segue: relações entre defesa e desenvolvimento econômico nacional;
relação da defesa com a macroeconomia, incluindo as políticas monetária e fiscal; relação
da defesa com a economia internacional, englobando as esferas comercial, produtiva e
financeira; impactos econômicos dos conflitos, do terrorismo e das missões de paz; gastos em
defesa, incorporando os aspectos institucionais, orçamentários e administrativos; mercados
dos produtos de defesa; aspectos econômicos e administrativos dos programas estratégicos
de defesa; base industrial de defesa, incluindo as esferas empresarial, setoriais e sistêmicos;
relação entre defesa e política industrial e de inovação; estratégias competitivas das empresas
de defesa (expansão, capacitação tecnológica, concentração e internacionalização); governança
empresarial, finanças corporativas e políticas de produtividade adotadas pelas empresas de
defesa; logística relacionada com a defesa.
103
AT10. Economia e Gestão de Defesa - Sala A-505
Coordenadores: Prof. Dr. Marcos José Barbieri Ferreira (Unicamp) e Profa. Dra. Patri-

ÁREAS TEMÁTICAS - AT10


cia Matos (UNIFA)

Dia 10/08/2022 - Sessão 1 -14h-15h45


A Logística Operacional da Ucrânia na guerra russo-ucraniana: Algumas considerações
Antonio Aécio Silva Sousa, Maria de Lourdes Salles Monteiro de Paiva dos Santos
Lições aprendidas das tropas de Defesa Biológica do Exército Brasileiro no combate à COVID-19
Roney Magno de Sousa, Bruno Lion Gomes Heck, Paulo Cordeiro Azeredo
A Economia de Defesa Brasileira: uma análise das políticas públicas para o desenvolvimento da Base
Industrial de Defesa (BID).
André Luis Faria Teixeira de Oliveira, Diego da Silva Agostini

Dia 10/08/2022 - Sessão 4 -16h-17h45


Impactos da Estratégia Nacional de Defesa para a Indústria do setor
Matheus Dalbosco Pereira, Juliano da Silva Cortinhas
O Estado como agente inovador nas revoluções dos assuntos militares (RAMs)
Dienifer Regina Fortes Storti, Marcos José Barbieri Ferreira
Políticas Públicas, Economia de Defesa e Programas Estratégicos de Defesa: a Convergência
necessária.
Marcio Rocha

Dia 11/08/2022 - Sessão 2 -14h-15h45


A possiblidade de impacto de tecnologias militares e duais no contexto brasileiro
Gilberto Mohr Correa, Thiago Caliari, Ligia Maria Soto Urbina
Base Industrial de Defesa Brasileira: uma análise de concentração espacial
Erika Cristina Barbosa de Almeida Ribeiro, Ana Carolina de Oliveira Assis
Cadeias globais de valor e a Base Industrial de Defesa brasileira: evidências para uma agenda de
produtividade e competitividade internacional
Guilherme Ramon Garcia Marques

Dia 11/08/2022 - Sessão 5 -16h-17h45


Desindustrialização como risco estratégico: um estudo de caso sobre a indústria de semicondutores
no Brasil
Lucas Peixoto Pinheiro da Silva
Ciclo de vida de custos: a simulação como uma ferramenta de controle dos gastos
Marco Aurélio Vasques Silva, Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon
Entendendo a abordagem de Planejamento Baseado em Capacidades realizada pela defesa do Brasil:
modelo adotado e óbices institucionais.
Maria Eduarda Laryssa Silva Freire
104
Dia 12/08/2022 - Sessão 3 -14h-16h45
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

O Papel da Cultura Organizacional Militar no Compartilhamento dos Conhecimentos


Felipe Araújo Barros, Carlos Eduardo Azevedo
Regimes especiais tributários e a Base Industrial de Defesa: uma abordagem crítica sobre a efetivi-
dade do RETID.
Clovis Belbute Peres, Julio Eduardo da Silva Menezes
As Compensações de Defesa e sua relação com o Poder Nacional: uma reflexão sobre limites e pos-
sibilidades
Fernando de Almeida Silva, Elany Almeida de Souza
105
AT 10. Economia e Gestão de Defesa
AT 10 - Sessão 1 (10/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT10


Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-505

A Logística Operacional da Ucrânia na guerra russo-ucraniana: Algumas considerações

Antonio Aécio Silva Sousa (Oficial do Exército), Maria de Lourdes Salles Monteiro de Paiva dos Santos

Em uma guerra, a logística é fundamental para ditar o ritmo do combate, assim como dar sustentabilidade à
resistência de um país, como o caso da Ucrânia. Em um mundo pós-guerra fria, em que vários atores eram
adeptos a uma nova ordem mundial, ao fim da guerra convencional, ao combate o terror, a novos desafios de
segurança individual e coletiva, eclodem conflitos como proxy war, como a Guerra do Iêmen e a recente Guerra
da Ucrânia. No entanto, o mundo é surpreendido com a volta de um conflito convencional na Europa. Nesse
contexto, este artigo tem a finalidade de levantar algumas considerações acerca da aquisição da capacidade
logística operacional do exército ucraniano e como essa capacidade está possibilitando uma surpreendente
resistência da Ucrânia frente a Rússia no conflito em questão. Para isso, serão analisados os conceitos de
logística de defesa, de logística operacional e sua aplicabilidade no caso do conflito russo-ucraniano. De um
lado, para ver o impacto da aquisição dessa capacidade logística por meio de apoio de países da OTAN, como
os Estados Unidos para que a Ucrânia possa ter êxito no conflito, causando desgaste no Exército Russo. No
contexto de um mundo que presencia uma guerra convencional no leste europeu, a Logística de Defesa ganha
um papel relevante, pois os países começam a sentir a necessidade de reestruturar a sua defesa para dissuadir
ou conter uma ameaça. Desse modo, as considerações sobre a aquisição da logística operacional da Ucrânia
no conflito em questão ganha destaque, tanto para viabilizar a resistência ucraniana quanto para testar novos
materiais de emprego militar que aquecem a indústria de defesa mundial, aquecida pelo conflito em vigor,
com perspectiva de grande investimento nesse setor, como a Alemanha que irá investir cerca de 100 bilhões de
dólares no incremento de sua defesa.

Lições aprendidas das tropas de Defesa Biológica do Exército Brasileiro no combate à


COVID-19

Roney Magno de Sousa (Exército Brasileiro (EB)), Bruno Lion Gomes Heck (Exército Brasileiro), Paulo
Cordeiro Azeredo (Exército Brasileiro)

Este artigo visa analisar as lições aprendidas das tropas de Defesa Biológica do Exército Brasileiro no combate
à COVID-19, descrevendo táticas, técnicas e procedimentos sobre detecção do vírus, proteção individual/
coletiva e descontaminação de pontos, vias e áreas. A posteriori, objetiva-se verificar como as lições aprendidas
podem ser incorporadas em políticas públicas referentes a
Emergências de Saúde Pública de Importância Nacional ou Internacional (ESPII). O recorte temporal inicia
em março de 2020 e termina em abril de 2022. Metodologicamente, o artigo está apoiado pela literatura de
Lições Aprendidas que considera que vários procedimentos podem ajudar a conter a disseminação do vírus.
Trata-se de pesquisa bibliográfica com análise de fontes primárias oriundas
do Exército Brasileiro, Ministério da Saúde e Organizações Internacionais, sobretudo OMS, além de tratados
internacionais, leis e decretos nacionais. Argumenta-se que coordenações internacionais são necessárias para
conter a COVID-19 e que uma visão sob o prisma da Defesa Biológica pode transbordar conhecimento para
outros episódios de gestão de epidemias, que sempre ocorrerão
em um ambiente internacional interagências, além de fornecer material para elaboração de políticas públicas
106
A Economia de Defesa Brasileira: uma análise das políticas públicas para o desenvolvimento
da Base Industrial de Defesa (BID).
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

André Luis Faria Teixeira de Oliveira (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), Diego da
Silva Agostini (Exército Brasileiro)

No bojo da reformulação da Política Nacional de Defesa (PND) e a criação da Estratégia Nacional de Defesa
(END), o incentivo à Base Industrial de Defesa (BID) constitui uma das ações prioritárias para o Brasil. Além
do fomento à produção interna dos produtos de Defesa para atender ao reaparelhamento das Forças Armadas,
envolvendo a transferência e o domínio de tecnologias estratégicas para o país, a promoção da exportação
por parte das empresas da BID também é ponto de interesse da política de Defesa. O objetivo deste trabalho é
analisar o papel do Estado brasileiro nas ações de incentivo à BID, avaliando o desempenho dessas empresas,
o nível de participação nos programas estratégicos e seus índices de exportação no cenário global. Para isso,
será realizada uma análise qualitativa sobre os principais aspectos das políticas públicas para a BID, sobre o
balanço da produção e comercialização das empresas e seus impactos para a economia brasileira. Observa-
se que a atividade de exportação teve resultado positivo para o setor, alcançando mais de US$ 1,5 bilhão em
2021, representando um aumento de 8% nos últimos quatro anos e aproximadamente 4,8% do PIB nacional.
Para a promoção da atuação interna da BID foram criadas legislações específicas, como o Regime Especial de
Tributação para a Indústria de Defesa (RETID), voltado para isenções tributárias. No entanto, os requisitos
para adesão ao regime impuseram limitações de beneficiários, que por vezes optam por outro enquadramento
fiscal mais favorável economicamente. Nesse contexto, o artigo pretende encontrar as respostas sobre como
tais políticas públicas para o setor de Defesa podem influenciar no desenvolvimento da indústria nacional e
na produção interna de sistemas e materiais de emprego militar, estratégicos para o país, consoante com sua
estatura geopolítica no âmbito regional e mundial.

AT 10. Economia e Gestão de Defesa


AT 10 - Sessão 4 (10/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-505
Impactos da Estratégia Nacional de Defesa para a Indústria do setor

Matheus Dalbosco Pereira, Juliano da Silva Cortinhas (Universidade de Brasília)

Em 18 de dezembro de 2008, o Decreto n. 67/03 aprovava a Estratégia Nacional de Defesa, considerada até hoje
documento paradigmático para o setor. O documento estava organizado a partir de três eixos estruturantes,
sendo que o segundo visava: organizar a “indústria nacional de material de defesa, para assegurar que o
atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio
nacional”. Transcorrida mais de uma década desde que foi publicada a END2008, o artigo objetiva analisar seus
impactos para a indústria bélica nacional a partir de quatro indicadores: 1) alterações na estrutura do Ministério
da Defesa que promovam a indústria nacional a partir de iniciativas de fomento; 2) alterações na política
externa para ampliar a exportação de produtos de defesa, fundamental para o equilíbrio financeiro da indústria
nacional; 3) investimentos públicos nas empresas bélicas brasileiras; e 4) investimentos públicos em ciência e
tecnologia. A hipótese do artigo é que a END gerou alguns estímulos positivos nos primeiros anos após sua
publicação, mas que não houve avanços institucionais no longo prazo, o que acabou por prejudicar a indústria
pela falta de previsibilidade. O teste da hipótese se dará a partir da análise de dados de 2008 a 2019. Além
disso, os argumentos serão ilustrados a partir do caso da Avibras, uma das maiores empresas de capital privado
do setor de defesa e que se destacou por desenvolver o sistema ASTROS-II, sendo também de fundamental
importância para o programa espacial brasileiro. Trata-se de um estudo que integra o Projeto “MÍSSEIS E
107
FOGUETES NA DEFESA NACIONAL: O SISTEMA ASTROS COMO ELEMENTO DE TRANSFORMAÇÃO
MILITAR”, financiado pelo Edital PROCAD-Defesa.

ÁREAS TEMÁTICAS - AT10


O Estado como agente inovador nas revoluções dos assuntos militares (RAMs)

Dienifer Regina Fortes Storti, Marcos José Barbieri Ferreira (UNICAMP - Faculdade de Ciências Aplicadas)

O presente estudo teve como objetivo identificar o papel do Estado na criação e difusão de inovações nas
Revoluções nos Assuntos Militares (RAMs), para tanto foram utilizados referenciais teóricos bem como estudos
de caso ilustrativos dos Estados Unidos, Reino Unido, China e Israel. O estudo identificou que a influência do
Estado nas RAMs é ampla, indo desde a posição geopolítica desse, até as políticas industriais e tecnológicas
voltadas à área, incluindo a participação ativa de órgãos estatais no processo inovativo. O papel protagonista do
Estado nas RAMs, bem como na própria comercialização de produtos e serviços de defesa, garantido inclusive
por tratados internacionais, faz com que a área de defesa seja estratégica não apenas do ponto de vista militar,
mas também do ponto de vista econômico, oferecendo possibilidades para o desenvolvimento de uma base
industrial tecnológica. Esse maior controle do Estado em uma área que tem tendência a se encaminhar em
direção à fronteira tecnológica pode ser um caminho interessante para o desenvolvimento industrial de países
emergentes em setores de alta intensidade tecnológica. Mas para isso é preciso que as políticas de defesa estejam
alinhadas às políticas industriais, fato que ficou claro ao comparar as experiências de diferentes países, como
os casos bem-sucedidos dos Estados Unidos, China e Israel, e as dificuldades enfrentadas pelo Reino Unido ao
diminuir o papel do Estado na base industrial de defesa doméstica.

Políticas Públicas, Economia de Defesa e Programas Estratégicos de Defesa: a Convergência


necessária.

Marcio Rocha (Universidade Federal Fluminense)

Este estudo tem como objetivo geral analisar a dinâmica presente na relação entre a lógica que orienta as
Políticas Públicas, a Economia de Defesa e os Programas Estratégicos de Defesa. O foco central da análise será
o de identificar e compreender os pontos convergentes, assim como os divergentes, presentes nas metodologias
que orientam essas duas áreas do conhecimento e os resultados práticos obtidos no desenvolvimento de
Programas Estratégicos na área da Defesa. Destaca-se que, atualmente, os esforços dos Estados na atualização
e no fortalecimento dos sistemas de Defesa são cada vez mais complexos e intensos, principalmente em função
das incertezas e imprevisibilidades que caracterizam o atual cenário internacional. Esta é uma área que envolve
ações complexas, com longo tempo de maturação e com altos custos, o que demanda elevada racionalidade
na alocação dos recursos possíveis e necessários, tendo em vista os resultados pretendidos na capacitação em
Defesa e o alcance do objetivo político de projeção de poder almejado. Sendo a Defesa uma responsabilidade do
Estado e, portanto, um bem público de interesse da sociedade, e considerando os elevados custos envolvidos e
a respectiva competição por recursos com outras áreas também relevantes para a sociedade, a compreensão do
processo para o atendimento da demandas de Defesa implica em domínio e controle do processo de elaboração
e condução de políticas públicas, dos princípios e da dinâmica presentes na organização da Economia de
Defesa, bem como na complexidade, traduzido em organização, financiamento, integração e implementação,
de um Programa Estratégico de Defesa. Assim, a justificativa deste estudo reside em contribuir com a literatura
atual que abrange essas áreas, bem como auxiliar na compreensão da relação entre Políticas Públicas, Economia
de Defesa e Programas Estratégicos de Defesa no Brasil.
108
AT 10. Economia e Gestão de Defesa
AT 10 - Sessão 2 (11/08 das 14:00 às 15:45)
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-505

A possiblidade de impacto de tecnologias militares e duais no contexto brasileiro

Gilberto Mohr Correa, Thiago Caliari (ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Ligia Maria Soto Urbina
(ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica)

A importância do investimento na defesa é por vezes legitimada a partir da premissa da existência de impacto
tecnoeconômico positivo da indústria de defesa sobre o desenvolvimento nacional. Essa premissa, que apoia a
tomada de decisão em políticas de defesa, tem relação com a expectativa, mesmo que implícita, da ocorrência
da transferência de tecnologias de aplicações militares e do impacto das tecnologias de uso dual para aplicações
civis. Muito dessa expectativa se baseia no conceito de spin-off, que emerge após a Segunda Guerra Mundial,
para o qual a tecnologia produzida no âmbito da defesa, por ser mais avançada, fluiria de maneira praticamente
automática para aplicações civis. Atualmente muito criticada até nos países avançados, a ideia de spin-off
é considerada pela maioria da academia brasileira como um fenômeno historicamente situado e de pouca
utilidade para o contexto econômico, político e social do país. Recentemente, a discussão relativa aos spin-offs
ganha um novo elemento a partir da aplicação do constructo de transbordamentos de conhecimento (spillover)
proposto por Eliasson (2010, 2017) para analisar o caso sueco de desenvolvimento de caças Gripen. O autor
realiza ainda uma projeção otimista de impactos para o Brasil da aquisição de caças suecos (Projeto F-X2) que
é seguida por estudo específico encomendado pela agência sueca New Growth (2017) sobre a parceria entre
Brasil e Suécia. Na medida em que esses estudos ainda não foram adequadamente discutidos pela literatura
brasileira e que a ideia da ocorrência de transbordamentos permanece difundida no Brasil, considera-se que a
questão em torno da possibilidade do impacto das tecnologias militares e duais ainda permanece controversa.
Este artigo se propõe a apresentar as posições em torno dos conceitos de spin-off e spillover e a explorar
alternativas conceituais, sob a perspectiva das teorias evolucionárias e neoschumpeterianas, à observação e
medição do fenômeno no contexto brasileiro.

Base Industrial de Defesa Brasileira: uma análise de concentração espacial

Erika Cristina Barbosa de Almeida Ribeiro (Escola Naval), Ana Carolina de Oliveira Assis (UFPE - Universidade
Federal de Pernambuco)

Diversos autores incluem o espaço nas análises econômicas e buscam investigar quais seriam os determinantes
da concentração espacial. Entende-se que a proximidade geográfica poderia gerar ganhos de eficiência e
retornos crescentes de escala, justificando o surgimento de clusters industriais. Segundo Porter (1998), clusters
são concentrações geográficas de empresas e instituições que atuam no mesmo setor e que também incluem
desde fornecedores especializados a clientes, fabricantes de produtos complementares e empresas participantes
de setores relacionados. Não obstante, análises semelhantes são feitas para o setor de defesa. Malecki (1984),
em sua análise para indústria da defesa e gastos militares do Estados Unidos, argumenta que a concentração da
produção de defesa em poucas empresas impulsionaria ainda mais esta aglomeração espacial e quanto mais alto
o grau de tecnologia, mais concentrada econômica e espacialmente seria esta indústria. Sabe-se que a indústria
de defesa possui diversas peculiaridades como mercado consumidor restrito (geralmente um monopsônio
formado pelo governo), necessidade de capital humano especializado e insumos específicos, o que ampliaria as
vantagens da proximidade espacial. Posto isto, este trabalho tem como objetivo principal identificar a existência
de concentração industrial e de correlação espacial na BID brasileira por meio da mensuração de índices de
concentração do tipo Herfindahl-Hirschman (HH) e quociente locacional (QL), como também realizar uma
109
análise exploratória de dados espaciais (AEDE). Na AEDE, para a construção de mapas de clusters espaciais,
serão calculadas as estatísticas de I de Moran local. Os dados utilizados serão coletados na RAIS (Relatório
Anual de Informações Sociais) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e utilizam como base a

ÁREAS TEMÁTICAS - AT10


CNAE 2.0 (Classificação Nacional das Atividades Econômicas).

Cadeias globais de valor e a Base Industrial de Defesa brasileira: evidências para uma
agenda de produtividade e competitividade internacional

Guilherme Ramon Garcia Marques (Fundação Getulio Vargas)

Com a aprovação da Estratégia Nacional de Defesa (END), em 2008, o debate referente à modernização das
Forças Armadas alcançou novo ares no Brasil, despontando como um elemento indissociável de uma estratégia
nacional de desenvolvimento a partir da significativa expressão dada à reorganização e promoção da Base
Industrial de Defesa brasileira. Ao reconhecer a importância estratégica deste setor para o provimento da
capacidade e autonomia necessárias à proteção dos interesses nacionais, tornou imperativa a necessidade do
Brasil de estabelecer uma estratégia que, convergente com as particularidades políticas e econômicas inerentes
ao setor, viabilize a concretização dos importantes objetivos assumidos, sobretudo no que tange a ampliação da
capacidade tecnológica e operacional da produção militar nacional e a promoção de sua competitividade externa.
Nesse sentido, com base na literatura econômica sobre comércio internacional e em um modelo matemático-
estatístico denominado Vetor de Correção de Erros (VEC) e testes de não-causalidade de Granger, este artigo
visa explorar como tais objetivos constituem-se como resultados de um robusto esforço de implementação
de uma agenda voltada para ganhos de produtividade, eficiência e qualidade, para a qual a integração com as
cadeias globais de valor desponta como sólido alicerce. Os resultados obtidos sugerem que maiores níveis de
integração comercial, com acréscimos nos níveis das importações, de fato, desempenham papel significativo
sobre a capacidade de exportação militar brasileira. Para além de avançar em um tema de pesquisa e em uma
abordagem metodológica ainda restrita na literatura nacional, mas com importantes implicações teóricas e
empíricas para a evolução do estudo da Economia de Defesa, pretende-se que as evidências encontradas sirvam
de subsídios para o norteamento de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da Base Industrial de
Defesa nacional.

AT 10. Economia e Gestão de Defesa


AT 10 - Sessão 5 (11/08 das 16:00 às 17:45)
Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-505

Desindustrialização como risco estratégico: um estudo de caso sobre a indústria de


semicondutores no Brasil

Lucas Peixoto Pinheiro da Silva (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Em dezembro de 2020, o governo federal, por meio do decreto nº 10.578, dissolveu a estatal Centro Nacional
de Tecnologia Eletrônica Avançada S. A. (Ceitec). A Ceitec era a única fabricante de microchips da América
Latina e a sua liquidação deu-se durante significativas interrupções de cadeias globais de valor, durante a crise
da pandemia de covid-19, na qual os semicondutores foram um dos principais componentes de escassez. A
decisão foi motivada por parecer do Programa de Parcerias de Investimentos, do Ministério da Economia,
o qual argumentou que, entre 2010 e 2018, o Tesouro Nacional investiu cerca de R$ 600 milhões e que a
empresa registrou um prejuízo acumulado de R$ 160 milhões para o mesmo período. O problema abordado
por esta pesquisa é o impacto da desindustrialização para a defesa nacional. O argumento deste trabalho é
que a desindustrialização do Brasil apresenta riscos estratégicos extensos, podendo atingir a cadeia produtiva
110
de importantes projetos de defesa, além de comprometer o desenvolvimento e a autonomia nacionais, em
um contexto internacional de crescente tendência neoprotecionista, marcado por desglobalização e global
decoupling. O método empregado é o estudo do caso da liquidação da Ceitec, o que, embora aparente ser uma
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

decisão economicamente racional, representou um desperdício do estoque de capital e de recursos humanos


adquiridos desde 2008, de um setor de longa maturação e que recebe incentivos estatais em importantes países
produtores e desenvolvedores de microchips, como China, Coreia do Sul, EUA e Taiwan. O fim da Ceitec
expõe ainda mais o Brasil ao risco estratégico de escassez de semicondutores, o que pode gerar prejuízos muito
superiores aos que a Ceitec poderia trazer ao longo de seu período de maturação e pode atingir diferentes
cadeias produtivas, incluindo a base industrial de defesa (BID).

Ciclo de vida de custos: a simulação como uma ferramenta de controle dos gastos

Marco Aurélio Vasques Silva (Exército Brasileiro), Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon (Exército Brasileiro)

Trata-se de reflexão acerca da gestão do ciclo de vida de custos, particularmente, na Aviação do Exército,
abordando a colaboração da simulação para a controle de gastos. Debate-se a pertinência dessa ferramenta para
a redução do gasto de horas de voo real, com reflexos na instrução de voo na Aviação do Exército Brasileiro.
Inicia-se com estudo de caso, comparando, em países de referência, a gestão do ciclo de vida de custos, em
seguida, exemplifica-se a aplicação da simulação de voo na experimentação de novas doutrinas e seus benefícios.
Com um viés qualitativo, o método de pesquisa utilizado foi o dedutivo, por pesquisa bibliográfica, tendo como
suporte a análise de conteúdo do assunto, propondo, inicialmente, uma reflexão acerca da gestão estratégica de
custos, ciclo de vida, ciclo de vida de custos e simulação, ligados à gestão de recursos financeiros. Sugere- se o
potencial de inovação organizacional junto às Forças Armadas, influenciando na reestruturação e do modelo
de negócio na Aviação do Exército Brasileiro. Por fim, o presente estudo permitir sugerir que a aplicação da
simulação de voo na instrução possibilita uma redução no consumo de horas de voo real, contribuindo para
um controle no ciclo de vida de custos, por meio da proposta de integração da utilização da simulação de voo
e da instrução na aeronave, possibilitando um maior número de repetições das manobras, além de reforçar a
segurança de voo, visto que o instrutor está voltado apenas a atividade de ensino, potencializando, assim, o
tempo de aprendizado do aluno na atividade de instrução de voo.

Entendendo a abordagem de Planejamento Baseado em Capacidades realizada pela defesa


do Brasil: modelo adotado e óbices institucionais.

Maria Eduarda Laryssa Silva Freire (UFRGS)

Sob o argumento da evolução dos conflitos no pós-Guerra Fria, foi impulsionada nos setores de defesa dos
países a adoção de uma sistemática de planejamento de defesa com base nas capacidades, se distanciando de
uma abordagem que tinha como foco principal as ameaças. No Brasil, esse ímpeto encontrou fundamento
principalmente na Estratégia Nacional de Defesa de 2008. No entanto, discussões mais aprofundadas sobre a
temática dentro do aparato de defesa brasileiro só foram percebidas a partir de 2016, e com a instauração da
Assessoria de Planejamento Baseado em Capacidades (APBC) ocorrendo apenas no ano de 2018. Levando em
consideração a fase, ainda prematura, de implementação do Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) em
que o Brasil se encontra, a seguinte pergunta de pesquisa norteia o texto: como o setor de defesa brasileiro vem
preconizando a sistemática de planejamento de defesa conhecida como Planejamento Baseado em Capacidades?
O objetivo geral visa entender como a implementação do PBC vem sendo abordada e conduzida dentro do
Ministério da Defesa (MD) do País, bem como dentro das suas Forças Armadas, chamando atenção também
para o aspecto tecnológico brasileiro, ao realizar um breve panorama deste cenário e da sua relação com a
metodologia em questão. De caráter qualitativo, a pesquisa exploratória lançou mão do estudo de caso como
estratégia metodológica para realizar a investigação, e concluiu que a adoção do PBC no Brasil parte de uma
abordagem bottom-up e que cada uma das forças vem implementando já há algum tempo uma metodologia
de planejamento própria, ocorrendo de maneira independente em relação às outras. Dentre as conclusões
está o fato de que o Brasil ainda possui um longo caminho a percorrer neste sentido, e é lançada luz para a
importância da construção de uma mentalidade de defesa menos resistente a reformas.
111
AT 10. Economia e Gestão de Defesa
AT 10 - Sessão 3 (12/08 das 14:00 às 15:45)

ÁREAS TEMÁTICAS - AT10


Local: Bloco A, Gragoatá - Sala A-505
O Papel da Cultura Organizacional Militar no Compartilhamento dos Conhecimentos

Felipe Araújo Barros (Exército Brasileiro), Carlos Eduardo Azevedo (Instituto Meira Mattos - ECEME)

Os conhecimentos tácitos presentes no capital humano das organizações possuem um papel relevante na
produção de inovações que lhe confiram vantagens frente aos seus concorrentes. No setor de defesa, essas
vantagens se traduzem em uma superioridade do poder militar, essencial para a proteção de uma nação. Nas
Forças Armadas brasileiras, os Sistemas de Lições Aprendidas fazem o papel de canal de transmissão e repositórios
das experiências profissionais dos militares, permitindo sua análise, combinação e incorporação à doutrina
militar vigente. Entretanto, para que estes sistemas atinjam seus objetivos, é necessário que, anteriormente, os
militares explicitem e ofereçam esses conhecimentos, compartilhando suas experiências com suas organizações.
Dentro dessa perspectiva, este trabalho busca verificar o papel da cultura organizacional na disposição dos
membros de uma organização em compartilhar seus conhecimentos, no intuito de desenvolver mecanismos
de diagnóstico, interpretação e desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam o compartilhamento.
Inicialmente, pretende-se abordar a estrutura de fatores que influenciam o compartilhamento do conhecimento
e a forma com que estes se relacionam mutuamente, de forma a criar um ambiente mais ou menos propício a
este fenômeno. Em seguida, pretende-se discutir como a cultura organizacional impacta o compartilhamento
do conhecimento nas instituições. Por fim,
será apresentado um modelo de análise da cultura da inovação no setor de defesa, de forma a permitir o debate
dos fatores associados a esse tipo de cultura e seu impacto no compartilhamento do conhecimento. Com isso,
objetiva-se colher subsídios para o desenvolvimento de um instrumento de análise da cultura organizacional
das instituições militares que permita medir o seu grau de abertura cultural para a inovação por intermédio da
aquisição dos conhecimentos tácitos de seus membros.

Regimes especiais tributários e a Base Industrial de Defesa: uma abordagem crítica sobre a
efetividade do RETID.

Clovis Belbute Peres (Receita Federal), Julio Eduardo da Silva Menezes (Escola Superior de Defesa - ESD)

Esse trabalho analisou os procedimentos de habilitação e conformidades tributárias para a utilização do


Regime Especial de Tributação para a Indústria de Defesa (RETID). O estudo centrou-se nas Empresas de
Defesa (ED) e nas Empresas Estratégicas de Defesa (EED), componentes da Base Industrial de Defesa (BID). A
pesquisa contextualiza a Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, no âmbito da Política Nacional de Defesa
(PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (END), além de caracterizar o Regime Especial Tributário para a
Indústria de Defesa (RETID) como incentivo fiscal criado para apoiar a BID. Metodologicamente, realizaram-se
entrevistas em profundidade com um pequeno grupo de colaboradores das empresas pesquisadas, utilizando-
se análise de conteúdo para o tratamento dos dados. Informações colhidas foram complementadas por meio de
levantamento (survey), via formulário on-line, aplicado junto aos colaboradores de 137 empresas e por análise
documental, realizada em banco de dados da Receita Federal do Brasil (RFB). A partir dos dados coletados e
da comparação com outros regimes tributários em vigor, pôde-se reavaliar os graus de adesão e de utilização
do RETID, notando-se que, diferentemente do que fora reportado em pesquisas anteriores, não são baixos.
Identificaram-se ainda, dificuldades para a habilitação e utilização do RETID, bem como foram identificadas
estratégias utilizadas pelas empresas beneficiadas pelo regime para enfrentá-las. Conclusões apontaram que a
desoneração recaiu somente sobre os últimos elos da cadeia, em especial nas EED. Recomendações incluem
sugestões de melhoria nos processos de habilitação das empresas da BID, sugerindo uma reformatação no
112
RETID para torná-lo mais atrativo, a exemplo de outros regimes especiais.

As Compensações de Defesa e sua relação com o Poder Nacional: uma reflexão sobre limites
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10

e possibilidades

Fernando de Almeida Silva (Força Aérea Brasileira), Elany Almeida de Souza (ECEME)

As Relações Internacionais e a temática relativa às Compensações Tecnológicas, Industriais e Comerciais


(offsets) de Defesa são assuntos indissociáveis, não apenas por envolverem nações estrangeiras e o comércio de
produtos de defesa, mas por possibilitar o fortalecimento de aspectos relativos ao Poder Nacional. A ferramenta
do offset, utilizada da maneira correta, auxilia na busca de objetivos muito maiores que o simples equilíbrio
econômico, merecendo estudos mais aprofundados.
O estudo em tela pretende analisar as possibilidades de fortalecimento do Poder Nacional brasileiro através do
acréscimo de capacidades proporcionado pelas aquisições de defesa. A edição de 2020 da Política Nacional de
Defesa prioriza iniciativas mais amplas na área de defesa, estabelecendo Objetivos Nacionais de Defesa (OND),
Estratégias (ED) e Ações Estratégicas de Defesa (AED). Entretanto, deve-se refletir sobre as possibilidades
associadas aos offsets de defesa. Portanto, o objetivo geral para o presente trabalho visa analisar o impacto da
Política de Compensação Tecnológica, Industrial e Comercial de Defesa sobre o Poder Nacional Brasileiro,
principalmente a partir de suas expressões industrial, militar e científico-tecnológica.
O equilíbrio de poder no cenário internacional é pautado pela percepção que as nações possuem entre si a
respeito de capacidades incorporadas e da autossuficiência tecnológica em assuntos de defesa. Desta forma,
a partir da Teoria do Poder Perceptível, o presente trabalho demonstrará que a Política de Compensação
Tecnológica, Industrial e Comercial de Defesa tem relação direta com o acréscimo de Poder Nacional.
Para tanto, a pesquisa pode ser classificada como explicativa, tendo em vista que pretende explicar a relação
direta entre a prática de compensações de defesa e o Poder Nacional.
ÁREAS TEMÁTICAS - AT10
113
114
PAINÉIS

Painéis
10 a 12 de agosto
Período da tarde

Painéis Sala
A Governança em Defesa: uma visão holística A-501
Incorporação de Tecnologias para a Defesa: impactos orga-
nizacionais, doutrinários e na autonomia estratégica A-501
Multipolaridade, Multilateralidade e Questões Hu-
manitárias A-501
O “time” brasileiro das negociações com a AIEA de ar-
rangement envolvendo a aplicação de procedimentos espe-
ciais para o material nuclear do Submarino de Propulsão. A-501
O Entorno Estratégico Brasileiro: Prioridades da Defesa
Nacional e Presença das Grandes Potências A-502
Os Impactos da Segurança Alimentar na Defesa e na Segu-
rança dos Estados A-501
Perfil e formação do oficial do Exército na AMAN A-502
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 1 A-502
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 2 A-501
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional III A-502
Transição sistêmica e os desafios à dissuasão extrarregional
de potências intermediárias A-501
Militarização sem Securitização: o caso da COVID-19 no
Brasil A-502
Video Conferência: A Geopolítica contra-ataca: segurança
e defesa nas Américas no pós-Covid A-406
115
Painel Completo Sessão A - sala A- 501 - De 14h às 15h45 - 10/08/2022
A Governança em Defesa: uma visão holística
Proponentes: Jacintho Maia Neto (MD), Karina Furtado Rodrigues (ECEME - Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército), Luis Bitencourt (NDU)
O painel pretende apresentar os principais conceitos de Governança, a sua contextualização na área

PAINÉIS
de Defesa e fazer uma análise comparada das visões brasileira e norte-americana sobre essa temáti-
ca. A área de Governança ao ser contextualizada no ambiente da Defesa, passa a englobar desafios
complexos oriundos das demandas que surgem do mundo mais interconectado, das novas dimensões
dos conflitos e, em especial, da sociedade, sugerindo instituições cada vez mais fortes, bem governa-
das e transparentes. Assim, produzir boa governança em instituições de defesa e segurança - tarefa
complexa por si só - deve ser prioridade do Estado. Em outras palavras, cabe aos gestores buscar
respostas adequadas que possam levar a uma melhor segurança e defesa de seus países e, consequen-
temente, do seu entorno estratégico.
A dinâmica dos documentos de Defesa e a Governança
Jacintho Maia Neto (MD)
A Governanca de Defesa como Imperativo da Democracia: uma Perspectiva Norte-Americana
Luis Bitencourt (NDU)
Governança em Defesa: desafios conceituais
Karina Furtado Rodrigues (ECEME)
Governança: Estudos de Defesa
Scott David Tollefson

A dinâmica dos documentos de Defesa e a Governança

Jacintho Maia Neto (MD)

A trajetória dos documentos de Defesa brasileiros se inicia em 1996, no governo do Presiden-


te Fernando Henrique Cardoso, quando foi criada a Câmara de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional (CREDEN), um órgão de Estado para tratar diretamente desses assuntos junto ao Presi-
dente da República. Em novembro daquele ano, foi concebida a Política de Defesa Nacional (PDN).
Em 2005, foi realizada a primeira atualização. Posteriormente, em 2008, a Estratégia Nacional de
Defesa (END) estabelece uma relação indissociável com a estratégia nacional de desenvolvimen-
to, que permanecerá vigente nos próximos documentos de Defesa. Em 2010, uma nova legislação
estabelece a atualização sistemática a cada quatro anos da Política Nacional de Defesa (PND), da
Estratégia Nacional de Defesa, assim como do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Entender
a dinâmica dos documentos de Defesa e sua relação com o contexto da Governança é a proposta
desse artigo.

A Governanca de Defesa como Imperativo da Democracia: uma Perspectiva


Norte-Americana

Luis Bitencourt (NDU)

“Governanca de Defesa” e uma expressao relativamente nova no lexico dos temas relacionados
com Seguranca e Defesa. E tambem uma expressao que vem sendo utilizada segundo diferentes
interpretacoes tanto por academicos como profissionais de governo. Sua origem esta nas aproxi-
macoes desenvolvidas pelo Banco Mundial, no inicio dos anos 90, a partir das preocupacoes com
a capacidade de gestao de recursos, em particular por paises da Africa sub-Sahariana. Entretanto, a
aplicacao do conceito expandiu-se rapidamente para diferentes paises e areas de governo--incluindo
116
o setor Defesa. Em larga medida, essa aproximacao produziu formulas e organizacoes dedicadas a
coibir a corrupcao e aumentar o controle fiscal sobre o estado.
Nos Estados Unidos, essas aplicacoes genericas do conceito de “governanca” ganharam particular
interesse durante o governo Clinton, no ambito de iniciativas voltadas para a modernizacao e ca-
pacitacao da burocracia governamental nos seus varios niveis. No setor Defesa todavia, as nocoes
hoje incorporadas no conceito de “governanca de defesa” sao mais antigas e concentram-se sobre as
formulas do estado democratico para gerir as instituicoes de defesa em consonancia com os funda-
PAINÉIS

mentos da democracia, e sem reduzir as capacidades da Defesa. Nossa apresentacao objetiva oferecer
reflexao analitica sobre tais diferencas de interpretacao.

Governança em Defesa: desafios conceituais

Karina Furtado Rodrigues (ECEME)


Governança é um conceito em disputa: pode significar desde estruturas de tomada de decisão dentro
de corporações privadas, até esquemas de participação social na solução de problemas públicos lo-
cais. É usado como sinônimo de boa gestão, de controle, de integridade, de atuação em rede. Afinal,
quando falamos de governança em Defesa, do que estamos falando? Quando um conceito é disputa-
do da maneira que o de governança o é, o principal desafio é debater o que na literatura de for-
mação de conceitos se chama diferenciação. Para Gerring (1999), a diferenciação é um dos principais
elementos de um conceito forte, que envolve a capacidade de distinção deste conceito com outros
correlatos. Ainda, na linha de Goertz (2006), quais seriam os elementos constitutivos do que quere-
mos denominar governança em (ou de) defesa? O presente artigo pretende responder a tal pergunta:
1) mobilizando a literatura de formação de conceitos, tendo em vista a identificação de dimensões
conceituais e seus respectivos indicadores; 2) compreendendo as origens do termo, retomando a
trajetória histórica de seus usos; 3) explorando os limites e aplicações de cada uma das conceitu-
ações no subsistema de política pública de Defesa Nacional; e 4) oferecendo uma conceituação que
abarque a essência da missão das instituições que compõem o setor.

Governança: Estudos de Defesa

Scott David Tollefson (William J. Perry Center for Hemispheric Defense Studies)

Governança: Estudos de Defesa.


Este trabalho tem como foco os desafios da educação em defesa. Conceitualmente, começa com o
que é chamado (nos Estados Unidos) de Educação Política Militar Internacional (IPME) - suas ori-
gens, seu status atual e seu futuro. Amplia a discussão para os setores público e privado no ensino de
defesa e propõe diversos modelos.
117
Painel Completo Sessão B - sala A- 501 - De 16h às 17h45 - 10/08/2022
Incorporação de Tecnologias para a Defesa: impactos organizacionais,
doutrinários e na autonomia estratégica
Proponentes: Claudia Maria Sousa Antunes (UNIFA), Samuel Alves Soares (UNESP), Jessika Kelly

PAINÉIS
Jeremias da Silva, Roberta Carneiro de Melo(PPGEST-UFF), Patrícia de Oliveira Matos (UNIFA)
A tecnologia pode ser considerada uma dimensão medular nas análises sobre dinâmicas interna-
cionais, pela forma como entrelaça, molda e reflete o sistema e suas unidades em densos sistemas
sociotécnicos. O domínio dos avanços tecnológicos costuma ser carregado de simbolismo estratégi-
co, além de aparecer como parte fundamental de diversos modelos de desenvolvimento. Vinculado
ao projeto de pesquisa sobre Autonomia Estratégica, Tecnologia e Defesa (REDE PAET&D), este
painel busca discutir alguns aspectos da vinculação entre independência e dependência no desen-
volvimento tecnológico, e como o domínio das tecnologias figura entre as possibilidades de conser-
var ou ampliar a autonomia estratégica. No bicentenário da proclamação de nossa independência,
procura-se discutir aspectos que entram na equação sobre a incorporação de novas tecnologias e as
condições efetivas para a ampliação da autonomia decisória. Considera-se, ainda, a possibilidade do
desenvolvimento e da produção colaborativa internacional em face da opção pelo desenvolvimento
autônomo de tecnologia avançada. Para isso, propõe-se a apresentação de trabalhos relacionados
à atuação do Estado em relação ao poder estrutural monetário e aos investimentos espaciais; à
autonomia estratégica e à colaboração internacional na produção de armamentos; à discussão das
implicações do uso de dispositivos de vigilância aérea (VANT) como meio de projeção de força e
sua influência na percepção de tempo espaço, assim como às condições da dependência estratégica
a partir das dinâmicas de centro e periferia que reforçam relações assimétricas e condições de de-
pendência estratégica.

Autonomia estratégica e colaboração internacional na produção de armamentos: a perspectiva bra-


sileira
José Augusto Zague (GEDES-UNESP)
Da autonomia estratégica à autonomia da decisão? A incorporação de Veículos Aéreos não Tripula-
dos pela Força Aérea Brasileira
Mariana da Gama Janot (UNESP), Jonathan de Araujo de Assis (UNESP)
Estratégia de Aquisição Evolutiva e Desenvolvimentista: estudo de caso do Brasil e Suécia para a
aquisição dos produtos estratégicos de defesa
Jessika Kelly Jeremias da Silva (UFSM), Roberta Carneiro de Melo (PPGEST-UFF)
Poder estrutural monetário e investimentos espaciais: a atuação do Estado no New Space
Patrícia de Oliveira Matos (UNIFA)
“Brasil visto de cima”: os Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT) da Força Aérea Brasileira
Murilo Motta (UNICAMP)

Autonomia estratégica e colaboração internacional na produção de armamentos: a per-


spectiva brasileira

José Augusto Zague (Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES - Unesp))

O objetivo é discutir o desenvolvimento e produção colaborativa internacional de armamentos, como alternativa


as limitações no desenvolvimento autônomo de tecnologia militar avançada, com foco no projeto Gripen NG
(Brasil e Suécia). O desenvolvimento de gerações de armamentos mais sofisticados tecnologicamente, com
consequente aumento dos custos em P&D, estimula as iniciativas colaborativas entre os países para a produção
de modernos sistemas de armas. As dificuldades impostas pelo aumento dos custos e a necessidade de ampliar
118
a autonomia frente as ameaças externas, possibilitou o desenvolvimento de projetos colaborativos como o do
avião de combate Eurofighter Typhoon.
A necessidade de fazer frente as ameaças à soberania, notadamente em países da periferia do capitalismo,
conduzem a um dilema: avançar na autonomia tecnológica comprometendo parte vultosa do orçamento
nacional ou produzir colaborativamente negociando parte da autonomia para ter maior segurança.
Considerando as limitações dos países periféricos no acesso a tecnologia militar avançada, coloca-se a
seguinte questão: produzir armamentos tecnologicamente avançados colaborativamente pode proporcionar
PAINÉIS

maior autonomia do que seria possível obter de maneira endógena? É plausível que se a colaboração entre os
países conduz a economia nos custos de desenvolvimento e produção, o mesmo pode ocorrer com relação aos
ganhos em autonomia para fazer frente as vulnerabilidades e ameaças. A estratégia metodológica consiste na
comparação dos resultados dos projetos colaborativos com os processos endógenos, verificável pelos ganhos
em autonomia na Base Industrial de Defesa brasileira.

Da autonomia estratégica à autonomia da decisão? A incorporação de Veículos Aéreos não


Tripulados pela Força Aérea Brasileira

Mariana da Gama Janot (UNESP), Jonathan de Araujo de Assis (UNESP)

Neste trabalho, entendemos que a tecnologia deve ser considerada como dimensão fulcral nas análises sobre
dinâmicas internacionais, pela forma como entrelaça, além de ser moldada e moldar, o sistema e suas unidades
em densos sistemas sociotécnicos. Partindo desta compreensão, buscamos investigar a demanda da Força
Aérea Brasileira por Veículos Aéreos não Tripulados (VANTs) e suas implicações estratégicas para o Brasil,
especialmente no que diz respeito à liberdade de ação estratégica. Nossa hipótese é de que esta demanda,
orientada pela atribuição de competência eficiente aos armamentos, mistifica valores e relações sociais imbuídas
no desenho tecnológico desses artefatos e reforça as condições da dependência estratégica. Assim, iniciamos o
trabalho com o debate sobre tecnologia e sistemas sociotécnicos. Em seguida, abordaremos, dentro da literatura
sobre segurança internacional, a discussão específica sobre a concepção e emprego destes artefatos, destacando
sua finalidade interventora pensada sob dinâmicas de centro e periferia que reforçam relações assimétricas e,
também, seus supostos benefícios organizacionais. Por fim, nos debruçamos sobre a demanda militar brasileira
a partir da análise de conteúdo dos trabalhos de conclusão de curso produzidos no âmbito das instituições
superiores de ensino militar

Estratégia de Aquisição Evolutiva e Desenvolvimentista: estudo de caso do Brasil e Suécia


para a aquisição dos produtos estratégicos de defesa

Jessika Kelly Jeremias da Silva (UFSM), Roberta Carneiro de Melo (PPGEST-UFF)

O Sistema de Aquisição de produtos estratégicos de defesa requer análise minuciosa de cada projeto devido a
complexidade exigida para sua construção, manutenção e emprego. No caso binacional entre Brasil e Suécia
podemos analisar dois projetos estratégicos de defesa que é o desenvolvimento de um SARP (Sistema Aéreo
Remotamente Pilotado), incorporando o projeto ARP-REC e o projeto F-X2 mais especificamente para a
compra do Gripen-NG. É percebido nacionalmente que os projetos indicados são de fato uma estratégia de
aquisição desenvolvimentista, mas ao aplicar as teorias e análises da Defense Acquisition University- (DAU) que
constam no Defense Acquisition Guide Book (2010) percemos que não é bem assim. Uma vez que a estratégia
de aquisição evolutiva se baseia em: novas adaptações e modernizações, tem o trade-off como característica
e são aquisições mais rápidas que as desenvolvimentistas. A metodologia deste trabalho é realizada de forma
qualitativa, usamos como base as políticas declaratórias da DAU e das empresas de defesa envolvidas nos
projetos, assim como o Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER) de 2018 onde constam os projetos
indicados para a análise. A pergunta que rege este trabalho é: Qual a estratégia de aquisição adotada nos
projetos F-X2 e no SARP realizado em cooperação com a Suécia? Os resultados mesmo que encontrados não
são conclusivos devido a falta de transparência pública de cada umas das etapas dos projetos.
119
Poder estrutural monetário e investimentos espaciais: a atuação do Estado no New Space

Patrícia de Oliveira Matos (UNIFA)


A expressão New Space vem sendo utilizada para denominar as transformações do setor espacial global
relacionadas, principalmente, à atração de empresas privadas para as diversas cadeias de valor dessa indústria.
Essas mudanças envolveriam uma troca de paradigma, dado que, tradicionalmente, o espaço foi dominado pelos

PAINÉIS
Estados. Na Guerra Fria, estar à frente da corrida espacial representava o domínio dos avanços tecnológicos
de fronteira, o que não apenas era carregado de simbolismo estratégico como também parte fundamental do
modelo de desenvolvimento. Atualmente, estaríamos diante da perda de protagonismo do Estado no setor
espacial, a partir da crescente presença de atores privados emergidos do Vale do Silício. Entretanto, neste
trabalho, considera-se a hipótese de que a centralidade do Estado no setor espacial permanece ativa e que
o próprio surgimento do New Space está relacionado à essa atuação. Além de uma pesquisa bibliográfica e
documental, focada em conceitos como o de poder monetário estrutural (Helleiner, Strange) e instabilidade
monetária (Minsky, Torres), foram consultadas bases de dados relacionadas ao mercado de venture capital,
à startups espaciais, a taxa de crescimento da economia espacial global e o orçamento da NASA. Os dados
apontam para dois elementos que contribuíram para a ascensão do New Space: a atuação do governo dos EUA
no período pós-crise de 2008, levando à drástica redução das taxas de juros e influenciando no direcionamento
de investimentos do setor bancário para o de venture capital e, sobretudo, o uso do poder monetário dos EUA
para a realização de contratações bilionárias no setor espacial privado.

“Brasil visto de cima”: os Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT) da Força Aérea Brasileira

Murilo Motta (PPGRI San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp, Pucsp))

Os veículos aéreos não-tripulados (VANT) são dispositivos de vigilância aérea que permitem a projeção
de força enquanto preservam a integridade física de seus operadores. Essas máquinas de visão indireta têm
transformado a percepção do espaço e do tempo nas últimas décadas. Desde 2011 a Força Aérea Brasileira
(FAB) emprega VANT desenvolvidas por empresas israelenses. O objetivo desta pesquisa exploratória é discutir
as implicações de seu emprego no Brasil. Para tanto, analiso o conteúdo das notícias veiculadas no site oficial
da FAB sobre os VANT Hermes 450 (RQ-450), Hermes 900 (RQ-900) e Heron I (RQ-1150). Os resultados
apontam que a normalização de seu uso visando ao controle e à vigilância, bem como a possibilidade de seu
armamento, permeiam o imaginário sociotécnico da FAB.
120
Painel Completo Sessão C - sala A- 502 - De 14h às 15h45 - 10/08/2022
Perfil e formação do oficial do Exército na AMAN
Proponentes: Celso Castro, Ana Amélia, Rafael Roesler, Jimmy Medeiros
O painel reúne apresentações que tratam, em diferentes perspectivas, do perfil e da formação do
oficial do Exército, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). São utilizados dados quanti-
PAINÉIS

tativos e qualitativos e revisitadas e atualizadas discussões clássicas sobre o tema.

Militarismo gerencial e a crítica à militarização: uma agenda de pesquisa


Maíra Siman Gomes (PUC-RIO), Victória Monteiro da Silva Santos (PUC-RIO)
O Espírito Militar e a formação na AMAN no século XXI: algumas reflexões
Rafael Roesler (AMAN)
O perfil social dos cadetes da AMAN: atualizando os dados
Celso Castro (FGV-CPDOC), Jimmy Medeiros (FGV-CPDOC)
“Cadete! Ides comandar, aprendei a obedecer”
Ana Amélia Penido (GEDES-TRICONTINENTAL)

Militarismo gerencial e a crítica à militarização: uma agenda de pesquisa

Maíra Siman Gomes (PUC-Rio), Victória Monteiro da Silva Santos (PUC-Rio)

A crescente presença de militares em cargos de autoridade civil no Brasil e a gama ampliada de domínios em
que as Forças Armadas foram autorizadas a atuar ao lado, ou no lugar, de atores civis, têm sido justificadas
com base em aspectos que enfatizam a capacidade logística, a eficiência de gestão e o rigor técnico da cor­
poração militar brasileira. Evitando compreender a expansão das “missões” das Forças Armadas brasileiras
como mais um fenômeno de “militarização da administração pública”, propõem-se uma agenda de pesqui­
sa focada nas condições de rearticulação do regime de justificativa que autoriza tal expansão de papeis dos
atores militares. Deseja-se investigar a ideia de uma expertise logística e gerencial do Exército Brasileiro a
partir de elementos da formação de seus profissionais. Tal agenda de pesquisa é um convite para explorar
algumas questões. Como reformular nossa crítica à militarização levando em conta a rearticulação desse
regime de justificativa? Como essa rearticulação discursiva transforma a separação entre o civil e o militar em
nossos imaginários de democracia? Ou, em outras palavras: como dar sentido ao problema da “militarização”
– aqui entendida como uma expansão dos domínios governamentais de atividades em que a expertise militar
é considerada valiosa ou mesmo indispensável – diante de argumentos que deslocam pressupostos familiares
sobre a distinção “adequada” entre os domínios civil e militar? E qual a relação entre tal regime de justificati­
va e transformações e tendências da formação militar contemporânea?

O Espírito Militar e a formação na AMAN no século XXI: algumas reflexões.

Rafael Roesler (Academia Militar das Agulhas Negras)

A partir da obra de Celso Castro, cuja primeira edição é do ano de 1990, pretende-se realizar algumas re­
flexões a respeito da formação do oficial da linha combatente do Exército Brasileiro, formado na AMAN, no
presente século. A proposta do painelista é verificar se o “espírito militar”, tal qual descrito por Castro, assim
como os valores castrenses e o processo de socialização profissional pelo qual passam os cadetes do Século
121
XXI são os mesmos apresentados pelo autor.

O perfil social dos cadetes da AMAN: atualizando os dados

Celso Castro (Fundação Getulio Vargas/CPDOC), Jimmy Medeiros (FGV CPDOC)

O objetivo da apresentação é atualizar os dados referentes ao perfil socioeconômico dos cadetes ingressantes

PAINÉIS
na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

“Cadete! Ides comandar, aprendei a obedecer”

Ana Amélia Penido (GEDES-Tricontinental)

Na Academia Militar das Agulhas Negras, ocorre a formação dos oficiais do Exército brasileiro em seus as­
pectos profissionais, políticos, sociais e culturais. A apresentação tratará de características formais do ensino,
tais como currículos e horários (2002-2012), e informais, notadamente a ressocialização do aluno através da
exposição permanente a situações com forte carga simbólica.
122
Painel Completo Sessão D - sala A- 502 - De 16h às 17h45 - 10/08/2022
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 1
Proponentes: Marcos Aurelio Guedes de Oliveira (UFPE), Fernando Henrique Casalunga, Jéssica
Maria Grassi, Danielle Jacon Ayres Pinto
PAINÉIS

O painel cobre trabalhos sobre os impactos do uso da tecnologia cibernética nos conflitos atuais e
na defesa nacional e internacional.

A abordagem Sino-russa na mobilização de atores não-estatais no ciberespaço


Lucas Chrystello Pederneiras (ECEME)
A utilização da tecnologia nas guerras contemporâneas: Como as teorias de relações internacionais
entendem essa relação?
José Francelino Galdino Neto (UFPE)
Ciber Pandemonium: a utilização do Ciberespaço para consecução de objetivos estratégicos da Chi-
na (2010; 2020-2021).
Marcos Aurelio Guedes de Oliveira (UFPE), Fernando Henrique Casalunga, Eduardo Munhoz
Svartman (UFRGS)
O Sistema de Defesa Cibernética do Brasil: Dinâmica Civil-Militar e Maturidade Democrática
Jéssica Maria Grassi (UFSC), Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC)
Title: (Dis)information in the Czech society and the use of (de-)centralized strategic responses to-
wards a more resilient State
Graciela De Conti Pagliari (UFSC), Gabriel Olegario (MIF)

A abordagem Sino-russa na mobilização de atores não-estatais no ciberespaço

Lucas Chrystello Pederneiras (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

O processo da globalização é acompanhado pela consolidação e a constante transformação do domínio ciber­


nético. Atualmente este ambiente virtual possui um papel fundamental no desenvolvimento econômico e so­
cial, dada a ubiquidade e dependência crescente por parte da população, das empresas e dos Estados em todo
mundo, que interagem entre si a todo momento na troca massiva de informações e dados de forma instantânea.
O ciberespaço, apesar de ser positivamente revolucionário, moderniza as relações de poder entre os atores que
a operam, permitindo aplicar novas formas de sabotagem, espionagem e a manipulação informacional, sem
desencadear uma escalada do conflito. Neste sentido, a natureza anárquica, anônima e desterritorializadora do
domínio cibernético, permite que incontáveis atores Estatais e não-estatais tirem vantagem das propriedades
deste espaço para benefício próprio, criando uma assimetria de poder. Levando em consideração estes con­
ceitos, países como a Rússia e China, articulam, coordenam e mobilizam seus respectivos “netcitizens”, com o
propósito de perpetrar ciberataques, além de fortalecer e complementar sua segurança cibernética. Em síntese,
este trabalho tem como finalidade, a partir da conceitualização e fundamentação do domínio cibernético,
averiguar como os Estados podem utilizar atores não estatais, para fins securitários e na execução de ataques
cibernéticos, tomando como referência a China e a Rússia, baseando-se respectivamente no Livro de Defesa da
China (2019) e na Estratégia de Segurança Nacional da Federação da Rússia (2021).
123
A utilização da tecnologia nas guerras contemporâneas – Como as teorias de relações in-
ternacionais entendem essa relação?

José Francelino Galdino Neto (Universidade Federal de Pernambuco (UFPE))

PAINÉIS
O objetivo do artigo é discutir a utilização da tecnologia nas guerras contemporâneas nas suas diferentes fac­
etas através da literatura acadêmica das teorias de Relações Internacionais. As guerras constituem um dos
principais temas discutidos nas teorias da disciplina, logo, a evolução tecnológica provocou novas interpre­
tações e desafios sobre como analisar as guerras contemporâneas. Com isso em mente, o artigo utiliza a revisão
sistemática de literatura como metodologia principal para coleta de artigos científicos e sistematização dos
dados. A partir de critérios transparentes de seleção dos artigos analisados, propomos apresentar as pesquisas
recentes sobre o tema, presentes nos periódicos com maior fator de impacto. A revisão sistemática nos fornece
as ferramentas para identificar três elementos fundamentais para a categorização da literatura: a) as principais
teorias utilizadas; b) as principais metodologias empregadas; c) os principais temas e casos analisados. Por
fim, esperamos contribuir na discussão teórica sobre o tema e servir como guia introdutório para aqueles que
buscam referências atuais dentro das teorias de Relações Internacionais.

Ciber Pandemonium: a utilização do Ciberespaço para consecução de objetivos estratégi-


cos da China (2010; 2020-2021).

Marcos Aurelio Guedes de Oliveira (UFPE), Fernando Henrique Casalunga, Eduardo Munhoz Svartman
(UFRGS), Marcos Aurelio Guedes de Oliveira (UFPE)

O artigo analisa as vantagens estratégicas que a utilização do ciberespaço oferece aos Estados contemporâneos
para projeção de poder no cenário internacional. Com intuito de demonstrar como este novo domínio de
guerra é capaz de ampliar a assimetria de poder entre adversários regionais, verifica seu emprego durante os
conflitos desencadeados entre a República Popular da China e da Índia (2010-2021). Nosso estudo do caso si­
no-indiano, intenta correlacionar a mudança institucional pela qual passaram as instituições responsáveis pela
Defesa e Segurança da China à complexidade das operações e sofisticação tática do uso de armas cibernéticas
por forças convencionais e não-convencionais a serviço deste Estado.
Nesse ensejo, buscamos identificar se as condições que sustentam a projeção do poder cibernético da China
frente à Índia, resultam do funcionamento do mecanismo de ação tática coordenada entre as agências estatais
e não-estatais, fator que reflete o processo de mudança na estratégia de defesa e segurança dos Estados con­
temporâneos em disputas regionais. Para tanto, utilizamos a abordagem qualitativa, aplicando as técnicas de
análise documental e rastreamento de processos, para responder ao seguinte questionamento: Como a China
utiliza o ciberespaço para conquistar seus objetivos estratégicos?

O Sistema de Defesa Cibernética do Brasil: Dinâmica Civil-Militar e Maturidade Democráti-


ca

Jéssica Maria Grassi (UFSC), Danielle Jacon Ayres Pinto (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC)

As relações civis-militares no Brasil possuem uma história de desequilíbrio, principalmente se comparado


com democracias ocidentais consolidadas. No entanto, com o desenvolvimento das novas tecnologias, os atu­
ais desafios para a segurança e defesa nacional e as particularidades do ciberespaço (que o tornam uma esfera
diferenciada de atuação), torna-se basilar repensar as dinâmicas tradicionais de defesa dos Estados e avançar
para uma atuação coordenada entre setor público, privado e academia na área. Isso posto, o objetivo geral da
pesquisa é analisar as políticas e estratégias de defesa cibernética do Brasil e a dinâmica civil-militar imple­
mentada no setor, refletindo sobre as implicações em termos de maturidade democrática e efetividade no setor.
Diante disso, a pergunta central que norteia o desenvolvimento deste artigo é: como caracterizar a dinâmica
civil-militar no sistema de defesa cibernética brasileiro? Partimos da hipótese de que apesar do discurso acerca
124
da necessidade em estabelecer um diálogo mais estreito entre civis e militares, isso não se evidencia significa­
tivamente na prática. Assim, com a securitização do ciberespaço em curso no Brasil, a dinâmica civil-militar
ainda se assemelha à tradicional no país, com o baixo controle civil das Forças Armadas. Isso tudo traz im­
plicações em termos democráticos para o país, assim como para a efetividade da defesa nacional. Esta é uma
pesquisa qualitativa, que se utiliza do método hipotético dedutivo e que parte da revisão de bibliografia espe­
cializada, bem como da análise dos documentos de defesa do Brasil para investigar o tema proposto.
PAINÉIS

(Dis)information in the Czech society and the use of (de-)centralized strategic responses
towards a more resilient State

Graciela De Conti Pagliari (Universidade Federal de Santa Catarina), Gabriel Olegario (Migration Institute of
Finland)

The “Hybrid Warfare” definition has been undergoing a process of sophistication since the concept was brought
to light by Hoffman in 2009. Therefore, this article aims to explore the development of disinformation as a hy­
brid threat in Czechia. In recent years, the government of the Czech Republic has been coordinating defense
capabilities in an attempt to develop resilience against disinformation, demonstrating commitment. However,
these coordinated defense capabilities might not be efficient. The first part of the article analyzes the current
definition of disinformation in the Czech society and the second part focuses on (de-)centralized responses
against this type of hybrid interference. The authors will use a qualitative approach to analyze the Czech Re­
public’s strategic responses, from the legal framework of official documents and legislation to strategic plans
built to achieve the so-called “Czech resilient society 4.0” objective. The results indicate that democracies have
a problem regarding the securitization of disinformation, demonstrating that the unavailability of authoritari­
an censorship in democratic countries creates a gap that non-governmental organizations and think tanks have
been filling in to securitize information warfare.
125
Painel Completo Sessão E - sala A- 501 - De 14h às 15h45 - 11/08/2022
O “time” brasileiro das negociações com a AIEA de arrangement envolven-
do a aplicação de procedimentos especiais para o material nuclear do Sub-
marino de Propulsão
Proponentes: Renato Petrocchi (PPGEST-UFF), Vágner Camilo Alves (PPGEST-UFF), José Augusto

PAINÉIS
Abreu de Moura (PPGEST-UFF)
Este painel reúne pesquisadores do projeto, “O Submarino Convencional de Propulsão Nuclear
(SCPN) ante as Salvaguardas Adicionais da AIEA” aprovado no Edital da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Nível Superior, número 15/2019, do Programa de Cooperação Acadêmica em Defesa
Nacional. O projeto tem como objetivo produzir subsídios analíticos, teóricos e de simulações que
respaldem eventuais negociações do Brasil com a AIEA de modo a compatibilizar os compromissos
assumidos pelo país com o regime de não proliferação nuclear e a implementação do programa do
SCPN. No mês de maio do presente ano de 2022, o Brasil deu início as discussões com a AIEA sobre a
proposta de arranjo (arrangement) envolvendo a aplicação de procedimentos especiais para o material
nuclear a ser utilizado na propulsão do SCPN. Esta decisão brasileira no contexto atual (no presente
time) pode estar relacionada a um determinado efeito do acordo entre a Austrália, o Reino Unido e os
Estados Unidos (AUKUS) anunciado em 15 de setembro de 2021 pois, nos 18 meses subsequentes à
assinatura desta parceria, os três Estados Partes deverão ter concluído as fases principais do programa
para dotar a Austrália de submarinos convencionais de propulsão nuclear. Durante este período de 18
meses os Estados Parte da AUKUS podem se antecipar na negociação de um acordo de arrangement
para a Austrália com a AIEA de modo a alcançarem a um modelo padrão para os países não nucle-
armente armados (NNWS) disporem eventualmente no futuro do seu programa de SCPN. Portanto,
o fator tempo que antes do acordo AUKUS era favorável ao Brasil como pioneiro entre os países não
nuclearmente armados para desenvolver o programa do SCPN por conta da originalidade de um
acordo de arrangement com a AIEA, tornou-se contemporaneamente uma oportunidade especial a ser
explorada, sempre de modo coordenado com a Argentina e com a ABACC.

Análise comparada das variações dos acordos do Protocolo Adicional de salvaguardas face do Re-
gime Internacional de Não-Proliferação Nuclear (RINPN)
Marcelo José Anghinoni Nava (PPGEST-UFF)
O Processo P5
José Augusto Abreu de Moura (PPGEST-UFF)
Salvaguardas nucleares: cenários possíveis para o Brasil
André Luiz de Mello Braga (CEPE-MB)

Análise comparada das variações dos acordos do Protocolo Adicional de salvaguardas


face do Regime Internacional de Não-Proliferação Nuclear (RINPN)

Marcelo José Anghinoni Nava

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem promovido entre os Estados signatários do Tratado
Internacional de Não-Proliferação Nuclear (TNP), desde 1997, a adesão a Protocolos Adicionais (PAs), com
o objetivo de obter garantias sobre possíveis materiais e atividades não declaradas pelos Estados membros.
Estes PAs concedem à AIEA direitos ampliados de acesso a locais e informações em relação ao regime de
salvaguardas implementados até então. O INFCIRC/540 é o documento responsável por expressar este
reforço de garantias para o Regime Internacional de Não-Proliferação Nuclear (RINPN) indicando, também,
a ambição da AIEA em torná-lo universal. O controle sobre a proliferação de armas nucleares fundamenta os
126
princípios e normas do RINPN, enquanto os acordos subsidiários, arrangements e procedimentos especiais
previstos nos PAs são reservados para as negociações de regras e procedimentos específicos e conjunturais
em função das diferenças entre os programas nucleares dos Estados membros do TNP. Este trabalho visa:
caracterizar as demandas particulares dos programas; avaliar o impacto para a autonomia estratégica dos
Estados mediante às demandas e; correlacionar as argumentações científicas com as do âmbito político, de
modo a comparar os diferentes acordos firmados pelos Estados membros com a AIEA, permitindo avaliar
os limites e as extensões das variações das regras estabelecidas pelo RINPN. A partir dos dados coletados, foi
PAINÉIS

organizado um mapeamento global, correlacionando os Estados aos seus respectivos documentos. Para isso, foi
desenvolvida uma plataforma computacional com interface gráfica para fácil acesso aos dados. Espera-se que
os detalhes encontrados em cada acordo corroborem a Teoria dos Regimes Internacionais e do RINPN. Apesar
do volume de dados estar ainda em processamento, conclusões preliminares indicam uma ampla abertura nas
negociações por parte da AIEA para o uso pacífico da energia nuclear, desde que não afetem as garantias dos
Estados de não empregarem a tecnologia nuclear para fins bélicos.

O Processo P5

José Augusto Abreu de Moura

Os Estados nuclearmente armados (P5) são criticados pela falta de interesse em perseguir as obrigações de
encerrar a corrida armamentista e chegar ao desarmamento nuclear, mas têm reagido a essas críticas após
o fracasso na conferência de revisão de 2005 do Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares, que não
chegou a um documento final de consenso. Nessa reação, um passo importante foi a constituição, em 2008,
do “Processo P5”, uma plataforma de consulta comum e um grupo formado por seus representantes, cuja
avaliação constitui o objetivo do presente artigo e que, alegadamente, busca dar respostas unificadas às críticas
e, seriamente, chegar a formas de cumprir as obrigações dos Estados nos três pilares do Tratado. Esse propósito
é prejudicado pelos problemas de entendimento recíproco e tensas relações geopolíticas, que paralisam
o progresso em questões substantivas. Desta forma, os resultados obtidos parecem básicos demais, como a
elaboração de um glossário de termos nucleares-chave, a fim de aumentar a eficiência das consultas, o que
foi criticado como uma distração da tarefa do real desarmamento. Em outra crítica, o Processo P5 teria sido
contraproducente por facilitar a ação dos Estados Nuclearmente Armados como um cartel. Embora não conste
qualquer relação com as ações do grupo, a conferência de 2010 foi bem-sucedida, mas a de 2015 foi outro
fracasso, ensejando estudos que produziram recomendações com o propósito de chegar a um consenso na
X conferência de Revisão, adiada para agosto de 2022. Tais recomendações têm caráter basicamente formal,
como focar as áreas onde foram conseguidos resultados significativos; envolver a sociedade civil; e melhorar
a comunicação. Como resultado, o Processo P5 emitiu um comunicado conjunto para essa conferência, em
que os Estados reconhecem suas responsabilidades, reafirmam o compromisso com artigo VI do Tratado,
apresentam os trabalhos realizados e declaram sua postura construtiva para o evento.

Salvaguardas nucleares: cenários possíveis para o Brasil

André Luiz de Mello Braga (CEPE-MB)

Este trabalho discute cenários possíveis sobre a questão de salvaguardas nucleares e a posição brasileira no
Sistema Internacional para os horizontes temporais de curto, médio e longo prazos. O Brasil possui um
programa de construção de Submarino Convencional de Propulsão Nuclear (SCPN) o que põe o País em
condições únicas no Sistema Internacional relacionado ao tema salvaguardas nucleares, a qual possui dois
pontos significativos: o desenvolvimento autóctone dessa tecnologia e, principalmente ter assumido diversos
compromissos diretamente ligados ao Regime Internacional de Não Proliferação de Armas Nucleares
(RINPAN). Um estudo sobre cenários possíveis para o Brasil e as salvaguardas nucleares vem sendo realizado
pelo subgrupo de Energia Nuclear e Futuro do Laboratório de Simulação e Cenários da Escola de Guerra
Naval (LSC-EGN), fruto de uma demanda do PROCAD - “O Programa do Submarino Convencional de
127
Propulsão Nuclear ante as salvaguardas adicionais da AIEA” (PROCAD-SCPN) ao LSC-EGN, a ideia foi
utilizar os cenários levantados para alimentar as situações a serem testadas nas simulações programadas pelo
PROCAD-SCPN. Até o momento a pesquisa realizou uma simulação em 2021, utilizando um cenário de
curto prazo proposto. O estudo de cenários ainda não está concluído, sendo o propósito do presente trabalho
apresentar uma síntese da metodologia empregada e os resultados obtidos até o momento e como interagem
com o PROCAD-SCPN. Pretende-se mostrar que estudos de futuro não pretendem acertar eventos, sendo o
mais importante o levantamento de possibilidades e seus impactos no sistema cliente, contribuindo para seu

PAINÉIS
processo decisório e, também, aprimorando os processos do próprio estudo de futuro. As narrativas que serão
elaboradas ao final desse estudo são apenas ferramentas.
128
Painel Completo Sessão F - sala A- 501 - De 16h às 17h45 - 11/08/2022
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional 2
Proponentes: Graciela De Conti Pagliari (UFSC), Marcos Aurelio Guedes de Oliveira (UFPE)
O painel é composto por trabalhos que analisam os impactos do uso da tecnologia cibernética nos
conflitos atuais e na defesa nacional e internacional
PAINÉIS

Ciberespaço: Redistribuição ou Concentração de Poder?


Mariana Grilli Belinotte (ECEME)
Cibernetica, Guerra Eletronica e Guerra Aeroespacial
Ricardo Borges (UFPE)
Os Desafios do Poder Cibernético para o Poder Militar
Breno Pauli Medeiros (ECEME)
Inteligência de Segurança Nacional e Política Externa: uma perspectiva do modelo dos EUA
Bruno Do Val (UFRJ)

Ciberespaço: Redistribuição ou Concentração de Poder?

Mariana Grilli Belinotte

Estudiosos da área de segurança e defesa cibernética propõem que o ciberespaço democratiza o poder. Nye
ressalta que democratização não é sinônimo de equalização e sustenta que mediante a operacionalização do ci­
berespaço pequenas e médias potências diminuem seu gap de poder. Tem-se como hipótese que essa afirmação
é parcialmente verdadeira. De fato, por intermédio do ciberespaço, países como Coreia do Norte e Irã podem
atacar Estados tradicionalmente mais “poderosos”; organizações criminosas e terroristas podem influenciar,
obter recursos e realizar ataques; e, mesmo hackers solitários se tornam perigosos. O presente trabalho ques­
tiona se o poder cibernético realmente reduz a diferença de poder entre atores, ou, se em alguns aspectos, con­
tribui para sua ampliação. Afinal, devido às características de operacionalização do ciberespaço, sua inerente
incerteza dificulta, ou mesmo impossibilita, a identificação do autor de um ataque, ou mesmo a ocorrência de
um incidente. Tem-se que apenas as grandes potências são capazes de atribuir um ataque a um agente, sendo,
portanto, os únicos que podem empregar uma cyber deterrance. Além disso, há dúvidas se players cibernéticos
como os dois países supracitados teriam as mesmas capacidades cyber ofensivas que Estados Unidos, Reino
Unido, China e Rússia. Somado a isso, há a concentração de prestadores de serviços e empresas com sede e
obedecendo a legislação dos tradicionais países detentores de poder, que, portanto, impõem sutilmente suas
normas ao resto do mundo. Os pontos levantados reforçam, inclusive, a necessidade de se debater o conceito
de poder cibernético.

Cibernetica, Guerra Eletronica e Guerra Aeroespacial

Ricardo Borges (UFPE)

O trabalho tem como objetivo analisar como a guerra eletrônica e a cibernética podem ser utilizadas como
instrumento para o controle e a inviabilização dos satélites como meios de comunicação, controle, busca de
informações, gerenciamento de sistemas e armas inteligentes pelas forcas militares dos países mais avançados
tecnologicamente na área de defesa. Armas cinéticas como mísseis anti-satélite de ascensão direta (ASAT) são
armas que destroem satélites em orbita, mas possuem vários inconvenientes que vão desde expor ao atacante
até produzir nuvens de detritos que podem destruir seus próprios satélites. A forma mais inteligente de negar
o acesso ao espaço sideral como dimensão de disputa num conflito interestatal é controlar os satélites do ad­
versário usando instrumentos de alta tecnologia como cibernética e sistemas de Janming. Desta forma além de
129
negar ao adversário o uso do espaço, pode-se implantar informações falsas inutilizando as ações coordenadas
em terra baseadas na Guerra Centrada em Rede (Network-centric warfare).

Os Desafios do Poder Cibernético para o Poder Militar

Breno Pauli Medeiros

PAINÉIS
Oriundo do contexto competitivo da Guerra Fria, o advento do ciberespaço fundamenta as relações e interações
no mundo globalizado. Em sua ubiquidade, o ciberespaço perpassa as esferas civil e militar, permeando desde
a infraestrutura crítica a capacidade e efetividade das Forças Armadas. Como domínio para o exercício do
poder, o ciberespaço converge com os domínios tradicionais, em um novo domínio operacional, distinguido
por características endêmicas. A operacionalização dessas características para fins estratégicos consagra uma
nova vertente das relações de poder na atualidade, o poder cibernético. Como não está constrito pelas mesmas
limitações físicas e operacionais que os demais domínios, o poder cibernético potencializa capacidades militares
tradicionais e, concomitantemente, engendra novas vias operacionais para atores não necessariamente estatais.
Essa realidade é traduzida no presente trabalho mediante a hipótese de que o advento do poder cibernético
suscita capacidades disruptivas ao exercício do poder, que repercutem sobre diferentes instâncias do Poder
Militar. O trabalho objetiva, portanto, investigar as implicações do advento do poder cibernético para o Poder
Militar. Metodologicamente, é realizada uma análise comparada das principais ocorrências de emprego do poder
cibernético, tidas como marcos contextuais. Seus efeitos no Poder Militar são averiguados na análise comparada
da documentação de defesa dos Estados envolvidos em tais ocorrências, tidos como marcos estratégicos. A
relação causal dos marcos contextuais e estratégicos é então analisada em conformidade com a metodologia
de Process-Tracing. As conclusões desta análise causal são aplicadas ao caso brasileiro e complementadas por
entrevistas a oficiais das Forças Armadas. Estruturalmente, o trabalho parte de uma revisão bibliográfica e
epistemológica acerca das dinâmicas de desenvolvimento e descontinuidades paradigmáticas, procedendo
para o aferimento do conceito de poder cibernético mediante os marcos contextuais, com a análise posterior
dos seus efeitos sobre o Poder Militar. O trabalho finda com uma contextualização do caso brasileiro acerca do
poder cibernético.

Inteligência de Segurança Nacional e Política Externa: uma perspectiva do modelo dos EUA

Bruno Do Val (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O presente estudo teve como objetivo principal situar o papel da Inteligência de Estado na lógica de disputa
de poder interestatal, principalmente sua fração que se convencionou denominar de Inteligência de Segurança
Nacional, a mais relacionada à inteligência externa (foreign intelligence), em relação às demais entidades
que compõe a Comunidade de Inteligência (CI) dos EUA. Visando estabelecer a conexão entre inteligência e
poder estatal, utilizamos a lógica acúmulo de poder proposta por José Luís Fiori, a partir da qual a dinâmica
é dada a partir da competição entre potências, nas mais diversas dimensões. Em âmbito mais estratégico, nos
aproveitaremos das abordagens que visualizam a rivalidade interestatal a partir de dimensões para ressaltar
o papel fundamental da Inteligência de Segurança Nacional na disputa de poder, Já que, nesse sentido, ela se
situaria como uma alternativa à diplomacia e à guerra, uma espécie de “caminho do meio”. Apresentando-se,
assim como órgãos que operam além da concepção de inteligência como consciência situacional, ou seja, como
“os olhos do Presidente”. A conclusão do estudo é que a Comunidade de Inteligência dos EUA foi estruturada,
desde sua institucionalização no pós-Segunda Guerra Mundial com meio de projeção de poder. Visando aos
objetivos estratégicos do Estado e como um dos principais meios de política externa.
130
Painel Completo Sessão G - sala A- 502 - De 14h às 15h45 - 11/08/2022
Os Impactos da Segurança Alimentar na Defesa e na Segurança dos Estados
Proponentes: Daniel Vidal Pérez (Embrapa), Samira Scoton (EGN), Bernardo Salgado Rodrigues
(ESG)
PAINÉIS

Esse painel objetiva trazer à discussão o alimento como um dos componentes centrais de conflitos. O
primeiro trabalho versa sobre os impactos advindos da invasão da Ucrânia pela Rússia e os possíveis
conflitos que devem advir dessa dinâmica. O segundo, apresenta os riscos à segurança alimentar
que podem advir de disrupções nas rotas marítimas de transporte de alimento. Por fim, o terceiro
apresenta a discussão relacionada aos conceitos interligados de segurança humana e segurança
alimentar. Embora tratem de recortes geográficos diferentes, todas as pesquisas a serem apresentadas
nesse painel apontam para uma mesma direção: a garantia da segurança alimentar é condição sine
qua non para a garantia da paz.

Ameaças a segurança alimentar: os chokepoints


Samira Scoton (EGN)
O Conceito de Segurança Humana e Segurança Alimentar: uma análise à luz das Operações de Paz
Yasmim Abril Monteiro Res (ESG), Laryssa Lopes de Oliveira Barbosa (ESG)
O prenúncio de futuros conflitos alimentares no século XXI: a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Daniel Vidal Pérez (Embrapa)

Ameaças a segurança alimentar: os chokepoints

Samira Scoton

A FAO (1996) define que “segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todo o tempo, têm acesso físico
e econômico a uma alimentação suficiente, segura e nutritiva, para atender as suas necessidades e preferências
para uma vida ativa e saudável”, apontando para as quatro dimensões, disponibilidade, acesso e consumo/
utilização e estabilidade. Aproximadamente 80% do comércio é escoado por via oceânica, demonstrando a
importância global das rotas marítimas. Assim, intenciona-se com esse trabalho, apresentar a problemática
de que uma possível a disrupção em um chokepoint pode gerar situação de insegurança alimentar. Observou-
se que, devido a eventos climáticos mais extremos, esses pontos de estrangulamento podem sofrer danos,
impactando o comércio de alimentos. Tal efeito gera consequências nas quatro dimensões da segurança
alimentar, conforme mostrado no decorrer dessa pesquisa.

O Conceito de Segurança Humana e Segurança Alimentar: uma análise à luz das Operações
de Paz

Yasmim Abril Monteiro Res, Laryssa Lopes de Oliveira Barbosa

Com o advento do fim da Guerra Fria notou-se a necessidade de reexaminar a noção de segurança. Isso porque
se tornou evidente que o conflito militar entre os Estados não era mais a única forma de intranquilidade
para a ordem internacional. Nessa conjuntura, as discussões a respeito dos conflitos intraestatais, subestatais
e regionais ganharam maior amplitude nesse campo de estudo. À luz desse momento, questões concatenadas
ao indivíduo passaram a ser observadas como central. De outro modo, o que a literatura denomina como
segurança humana possui como preocupação a dignidade humana, colocando o indivíduo no centro do debate.
Face a isso, em 1994, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) elaborou um relatório
131
expondo o conceito de segurança humana, em contraponto à percepção anterior que tinha como foco mais
restrito a questão da segurança territorial nacional e global. Desse modo, a Segurança Alimentar emerge como
um dos aspectos centrais da segurança humana, o qual foi organizado em torno de sete categorias básicas, a
saber: alimentar, econômica, ambiental, pessoal, de saúde, comunitária e política (PNUD, 1994). Em vista
disso, percebe-se também que a segurança humana é conceito fundamental presente nas Operações de Paz
das Nações Unidas. É observável que desde o início das operações de paz, os países alvos das missões são
devastados pela insegurança alimentar aguda. Face ao exposto, o presente trabalho propõe-se analisar os

PAINÉIS
impactos das missões de paz na segurança alimentar local dos países receptores da ajuda, assim como examinar
se a segurança alimentar possui um papel básico e central nas operações de paz à luz das suas gerações. Busca-
se, portanto, examinar se nas missões há uma visão ainda muito estadocêntrica na elaboração de suas políticas,
bem como a temática da segurança alimentar, que não está associada a uma política de longo prazo.

O prenúncio de futuros conflitos alimentares no século XXI: a invasão da Ucrânia pela


Rússia.

Daniel Vidal Pérez (Embrapa)

A comida, em tempos de conflito, pode ser uma arma tão potente quanto as armas, bombas e explosivos.
Nos tempos modernos, os cercos evoluíram na forma de embargos de materiais críticos, como alimentos. E
quando este não é embargado por razões humanitárias, as sanções econômicas permanecem, aumentando o
preço dos alimentos. A pandemia já havia gerado interrupções na cadeia de suprimentos de alimentos. Porém,
as exportações da Ucrânia, normalmente entre os maiores fornecedores de grãos do mundo, despencaram
por causa da guerra. Os preços do gás natural, trigo e fertilizantes aumentaram desde a invasão da Ucrânia
pela Rússia e as sanções que se seguiram interromperam a produção e os fluxos de commodities agrícolas. A
Rússia apreendeu alguns portos da Ucrânia no Mar Negro, impedindo o trafego de navios cargueiros. A falta
de grãos ucranianos nos mercados mundiais tem aumentado os preços dos alimentos em todo o mundo. Além
disso, a Rússia: vem destruindo a infraestrutura ucraniana que é vital para a produção e transporte de grãos;
tem minado campos agrícolas ucranianos; e, agora, está segurando suas próprias exportações de alimentos
como uma forma de chantagem, tentando trocar trigo por apoio político. Outra ameaça é que países, como
a Índia, também estão acumulando seus próprios estoques de alimentos para cuidar de sua própria oferta
doméstica. E a seca está ameaçando o rendimento futuro do trigo em vários países produtores/exportadores.
Além disso, espera-se que ocorra uma elevação de migrações em função do aumento da fome na África em
direção à Europa. E isso fortalecerá movimentos nacionalistas xenófobos europeus. A comida tem se mostrado
uma arma poderosa na guerra atual, o que abre as portas para seu uso futuro em novos conflitos intra e
interestaduais. A “tempestade perfeita” está sendo produzida, o que irá ameaçar a paz mundial.
132
Painel Completo Sessão H - sala A- 502 - De 16h às 17h45 - 11/08/2022
O Entorno Estratégico Brasileiro: Prioridades da Defesa Nacional e Pre-
sença das Grandes Potências
Proponentes: Alcides Costa Vaz (UnB), Oscar Medeiros Filho (CEE)
A concepção do entorno estratégico brasileiro surgiu, de forma inédita, na Política de Defesa Nacional
PAINÉIS

(PDN) de 2005 e continuou a ser adotada nas versões revistas e atualizadas desse documento em 2012,
2016 e 2020. Em todas essas versões, o entorno é concebido como a região de interesse prioritário para
a defesa nacional e, atualmente, abrange a América do Sul, o Atlântico Sul, os países da costa ocidental
da África e a Antártica. Pouco mais de quinze anos após o surgimento e a consolidação do termo, ainda
há um descompasso entre, de um lado, o enunciado conceitual e político e, de outro, a a responsividade
do Brasil à projeção de interesses e à crescente presença militar das grandes potencias em seu entorno
estratégico. A título de ilustração, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tem atuado no
combate à pirataria no Golfo da Guiné e realizado exercícios militares no Atlântico Sul, e a China está
planejando a instalação da primeira base militar no Atlântico, possivelmente na Guiné Equatorial.
Dessa forma, a proposta deste painel é debater os desafios e as implicações da presença militar de
grandes potências no entorno estratégico brasileiro para o Brasil. Há três questões para orientar o
debate: 1) Qual o panorama do ponto de vista estratégico militar decorrente da presença das grandes
potências no Entorno Estratégico Brasileiro? e quais seus reflexos sobre a estabilidade neste espaço?
grandes potências?; 2) Que postura estratégica o Brasil deverá considerar face à presença militar de
grandes potências no planejamento estratégico e na política de defesa? 3)Quais os reflexos da projeção
de interesses e da presença militar das grandes potências no Entorno Estratégico Brasileiro?

A competição geopolítica entre a China e os EUA no Atlântico Sul


Antonio Ruy de Almeida Silva (CEPE-EGN)
Armas e influência no entorno estratégico brasileiro: revitalização da capacidade militar ou disputa
hegemônica?
Giovanni Hideki Chinaglia Okado (PUC-GO)
Dissuasão Convencional como Estratégia Militar: uma análise da postura estratégica do Brasil
Augusto Wagner Menezes Teixeira Júnior (UFPB), Marco Túlio Delgobbo Freitas (ECEME)

A competição geopolítica entre a China e os EUA no Atlântico Sul

Antonio Ruy de Almeida Silva (CEPE-EGN)

A conjuntura internacional relacionada com os espaços marítimos apresenta, ao final desta segunda década
do século XXI, três tendências: a crescente importância econômica e militar dos oceanos, o incremento das
tensões derivadas do processo de demarcação das fronteiras marítimas e o incremento da competição entre
as grandes potências, anunciada oficialmente, em 2017, na Estratégia de Segurança Nacional dos Estados
Unidos da América. O retorno da política de poder e da competição entre as grandes potências incrementam
a importância dos oceanos nas concepções estratégicas no sentido clássico, reduzindo a importância que vinha
sendo dada na política internacional às ameaças neotradicionais, particularmente, ao terrorismo.
Este artigo inicialmente apresenta algumas definições relacionadas com os espaços marítimos, tais como “o
poder capacitador dos oceanos”, “poder marítimo” e “poder naval”. Em seguida, mostra como os documentos
de segurança de alto-nível dos EUA concebem a mudança da estratégia de segurança nacional dos EUA
em relação à China e à Rússia, incrementando a competição entre as grandes potências. Dessa forma, são
analisadas as dinâmicas da atuação dos EUA e da China em relação à América do Sul e à África. Para melhor
entendimento das diferenças dessas dinâmicas, o Atlântico Sul é dividido e analisado em relação à Área
Marítima Sul-Atlântica Sul-Americana e a Área Marítima Sul-Atlântica Africana, que possuem características
distintas. Finalmente, o artigo conclui apresentando alguns desafios e possibilidades para o posicionamento
do Brasil na competição entre a China e os EUA no Atlântico Sul, inclusive como o principal país membro da
Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul ( ZOPACAS).
133
Armas e influência no entorno estratégico brasileiro: revitalização da capacidade militar
ou disputa hegemônica?

Giovanni Hideki Chinaglia Okado (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)

PAINÉIS
As transferências de armamentos podem ser explicadas por diferentes fatores, entre eles, pela intenção de
países supridores em assegurar uma influência política sobre países receptores. Não se trata, neste caso, de
uma simples relação comercial entre esses países, e sim da busca por interesses estratégicos e militares dos
supridores que, em última instância, comprometem a segurança nacional dos receptores. Por um lado, desde
o final da Segunda Guerra Mundial, há poucos países, à exceção da China, que têm se mantido como os
principais supridores globais de armamentos. Por outro, os principais receptores variaram ao longo do período,
mas países do Oriente Médio, do Sul da Ásia, entre outros, sempre estiveram em posição de destaque. Até o
momento, a produção científica tem priorizado a análise das transferências de armamentos para os maiores
receptores, ou para países terceiro-mundistas no geral, e negligenciado o estudo do entorno estratégico
brasileiro. Os países dessa região, incluindo o Brasil, estão passando por um processo de revitalização da
capacidade militar desde o início do século XXI e realizaram elevadas compras de armamentos, sobretudo,
nos anos 2000. Dessa forma, o propósito central deste trabalho é analisar se as transferências de armamentos
dos principais supridores para o entorno estratégico brasileiro constituem uma forma de influência política.
Se a resposta for afirmativa para essa influência, procura-se verificar se as transferências de armamentos
configuram uma disputa hegemônica no entorno. Metodologicamente, recorre-se à pesquisa qualitativa,
baseada na revisão bibliográfica e no levantamento de informações estatísticas. Espera-se, por fim, contribuir
com a construção de um panorama geral das transferências de armamentos na região prioritária para a defesa
brasileira e identificar interesses dos principais supridores no fornecimento de armas a essa região.

Dissuasão Convencional como Estratégia Militar: uma análise da postura estratégica do


Brasil

Augusto Wagner Menezes Teixeira Júnior (Universidade Federal da Paraíba), Marco Túlio Delgobbo Freitas
(Escola de Comando e Estado Maior do Exército)

Desde a publicação da Estratégia Nacional de Defesa, documentos declaratórios de política afirmam a


Dissuasão, ao lado da Presença, como uma das posturas estratégicas do Brasil. Entretanto, em que medida
a postura estratégica do Brasil é produto de uma estratégia de dissuasão convencional? Com o objetivo
de analisar o papel da dissuasão na estratégia de defesa no Brasil, o artigo se baseia nas teorias da coerção
(Schelling, 1966) e da dissuasão convencional (Mearsheimer, 1983). Em adição, lança mão da teoria da
estratégia de Beaufre (1998) com fins de estabelecer Capacidades e Credibilidade como parâmetros analíticos.
Metodologicamente, o artigo adota uma ênfase qualitativa, tendo no Estudo de Caso o desenho de pesquisa.
De forma a confrontar o conteúdo sobre dissuasão nos documentos declaratórios com aquilo que professa
a literatura especializada, adotaremos o método da congruência (George & Barnett, 2005). Nossa hipótese
consiste na afirmação de que existe uma incompreensão acerca da dissuasão como estratégia, sendo a postura
estratégica no Brasil essencialmente do tipo defensivo. Não obstante a análise de congruência confronte teoria
e política pública de defesa, entendemos que os resultados da investigação poderão contribuir para lançar
luz sobre a necessidade de estruturação de uma real estratégia de dissuasão convencional, na qual o efeito
dissuasório não seja percebido como mero efeito das capacidades de defesa.
134
Painel Completo Sessão I - sala A- 501 - De 14h às 15h45 - 12/08/2022
Multipolaridade, Multilateralidade e Questões Humanitárias
Proponente: Guilherme Sandoval Góes (UNIFA e ESG)
O presente painel tem o objetivo de investigar as relações entre a multipolaridade, a multilateralidade e
as questões humanitárias, procurando desvelar ações que posssam aperfeiçoar o sistema internacional
de direitos universais cosmopolitas de inspiração kantiana. Neste sentido, o presente painel pretende
PAINÉIS

examinar o alcance das questões humanitárias no que tange à evolução do sistema global de governança
em direção a um paradigma inspirado na perspectiva kantiana da paz perpétua. Portanto, o trinônimo
multipolaridade/multilateralidade/questões humanitárias não pode ser epistemologicamente separado,
daí a relevância do presente painel. Em essência, sua base epistemológica é a investigação dos desafios
e das oportunidades para a implantação de uma nova governança global cosmopolita de inspiração
kantiana. A respeito dessa problematização, o painel discutirá a relevância de um ordenamento
multipolar, a presença de organismos que valorizam uma postura multilateral, considerando o conflito
da Libéria e seus desdobramentos entre 2004 e 2010. O foco de interesse do presente painel também é
marcado pelo encaminhamento da reflexão científica para os problemas resultantes da globalização e
da universalização dos direitos que desafiam o Direito Internacional Humanitário. Considerando este
último aspecto, o painel pretende examinar as questões envolvendo a proteção do meio ambiente no
contexto do direito internacional humanitário, com especial ênfase nas discussões contemporâneas.

A Proteção do Meio Ambiente e Direito Internacional Humanitário: Novas Tendências


Luciano Vaz Ferreira (FURG)
Multipolaridade, Governança Global e Questões Humanitárias
Guilherme Sandoval Góes (UNIFA e ESG)
Multipolaridade, Metaconstitucionalismo e a Perspectiva Kantiana
Érika Rigotti Furtado (AFA)
Multipolaridade, Multilateralismo e Humanitarismo na África no século XXI.
Carlos Alberto Leite da Silva (UNIFA)

A Proteção do Meio Ambiente e Direito Internacional Humanitário: Novas Tendências

Luciano Vaz Ferreira (Universidade Federal do Rio Grande (FURG))

O presente trabalho possui como objetivo analisar as novas tendências referentes à proteção do meio ambiente
pelo Direito Internacional Humanitário, no contexto de conflitos armados. Neste contexto, propõe-se uma
revisão das principais normas jurídicas internacionais sobre o tema, com especial enfoque nos possíveis
desdobramentos da recente apresentação em 2022 do “Draft Principles on Protection of the Environment
in Relation to Armed Conflicts”, elaborado pela International Law Commission. Em relação aos aspectos
metodológicos, trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória, que visa identificar os processos e dinâmicas
que levaram a aprovação destas normas internacionais. Os recursos utilizados envolvem material bibliográfico
e análise documental. Os resultados preliminares apontam para um processo contínuo de intensificação da
inclusão da temática do meio ambiente no Direito Internacional Humanitário.

Multipolaridade, Governança Global e Questões Humanitárias

Guilherme Sandoval Góes (UNIFA e ESG)

O presente trabalho tem por objetivo examinar a intersecção epistemológica envolvendo a transição para uma
ordem geopolítica multipolar, a governança global e as questões humanitárias como elemento propulsor da
135
eficácia do Direito Internacional Humanitário (DIH). Assim, a linha dominante do presente trabalho será a
análise do regime jurídico de proteção dos direitos humanos, notadamente nas questões humanitárias, que
caminha entre duas grandes perspectivas contrapostas, quais sejam, de um lado, o resgate da governança global
liberal sob a égide de uma ordem mundial unipolar, e, do outro, a governança global cosmopolita sob os
influxos da multipolaridade. Com isso, intensifica-se a necessidade de identificar os impactos da geopolítica
mundial sobre a proteção universal dos direitos humanos e, em especial, das questões humanitárias.

PAINÉIS
Multipolaridade, Metaconstitucionalismo e a Perspectiva Kantiana

Érika Rigotti Furtado (Academia da Força Aérea)

O projeto de paz perpétua de Immanuel Kant, uma vez fundado na racionalidade, apresenta o Direito como
ferramenta primordial à obtenção da pacificação mundial. Na atualidade, as ideias de multipolaridade e
metaconstitucionalismo trazem implícita a proposta da paz kantiana, máxime quanto à universalização de
valores centrados no resguardo da dignidade humana. Neste sentido, o presente trabalho discute o alcance das
questões humanitárias no âmbito da dinâmica de poder presente na disputa entre a governança global liberal e
a governança global cosmopolita, traçando uma abordagem a partir da perspectiva kantiana da paz perpétua.
Para tanto, o estudo considera que quanto maior a proximidade entre os valores ético-normativos observados
nas constituições estatais, maiores as oportunidades para a expansão da proteção da dignidade humana, por
meio do processo de interação normativa inerente ao metaconstitucionalismo.

Multipolaridade, Multilateralismo e Humanitarismo na África no século XXI

Carlos Alberto Leite da Silva (Universidade da Força Aérea)

O artigo discute a relevância de um ordenamento multipolar e a presença de organismos que valorizam uma
postura multilateral, considerando o conflito da Libéria e seus desdobramentos entre 2004 e 2010. Trata das
implicações humanitárias presentes em um conflito onde 2/3 da população se tornou refugiada ou deslocada,
considerando as ações de proteção às vítimas de conflitos armados após o fim do conflito na Libéria. Apresenta
a atuação de organismos multilaterais e em especial a ECOWAS, União Europeia e ACNHUR. Analisa o papel
do EUA e a mudança de perspectiva de uma atuação unipolar para a multipolaridade. Discute a relevância de
uma perspectiva liberal nas Relações Internacionais e seus efeitos dentro da amostra selecionada, no tocante
ao tratamento de vítimas para um conflito armado relevante no século XXI
136
Painel Completo Sessão J - sala A- 501 - De 16h às 17h45 - 12/08/2022
Transição sistêmica e os desafios à dissuasão extrarregional de potências
intermediárias
Proponentes: Ana Luiza Bravo e Paiva (ECEME), Ricardo Zortea Vieira (UFRJ), Helio Caetano
Farias (ECEME), Júlio César Cossio Rodriguez (UFSM), Igor Castellano da Silva (UFSM)
PAINÉIS

O atual contexto internacional é marcado por transições sistêmicas de escala macro-histórica e


estrutural. Este cenário, de acordo com a literatura especializada, em que pesem as incertezas observadas,
poderia ser caracterizado como uma oportunidade para as potências regionais assumirem papéis mais
relevantes na correlação de forças internacionais. Contudo, a despeito das potencialidades destacadas,
a nova ordem apresenta desafios complexos no que tange à capacidade de dissuasão extrarregional
de potências intermediárias, suscitando tanto a necessidade de redefinição de objetivos políticos-
estratégicos que balizam o processo de transformação das Forças Armadas quanto a sustentação de
investimentos necessários à modernização de seus equipamentos.
No Brasil, a noção de dissuasão extrarregional foi incorporada na agenda pública desde a publicação
da Estratégia Nacional de Defesa (END), em 2008, e alcançou seu ápice durante a revisão do referido
documento em 2012 e 2016. Desde então, observa-se o retraimento da pauta no debate político-
acadêmico. Considera-se oportuno o aprofundamento desta discussão, especialmente a partir de
abordagens que tratam defesa e desenvolvimento como dimensões indissociáveis de um processo de
ampliação das capacidades estatais. Nesse sentido, o painel proposto visa salientar as articulações que
envolvem competição geopolítica, estratégias de defesa e políticas industriais.
A fim de pôr em relevo os diversos aspectos que incidem sobre os desafios geopolíticos de potências
regionais e a aquisição em defesa, a proposta em tela terá três grandes enfoques que se intercruzam:
um que visa diagnosticar as estruturas e os fundamentos da transição sistêmica em curso, com suas
tendências de novos pólos de poder; um sobre as percepções de ameaça geopolítica e a formulação de
políticas e estratégias de defesa; e um sobre a governança e os processos domésticos que impactam na
aquisição de sistemas de armas modernos e complexos.

Competição Geopolítica, Indústria de Defesa e os desafios do Brasil à dissuasão extrarregional


Helio Caetano Farias (ECEME)
Geoestratégia de Dissuasão Extrarregional no Contexto Sul-americano
Ricardo Zortea Vieira (UFRJ)
O que veio primeiro: guerra ou mudança sistêmica? Os mecanismos que faltam na relação entre a
guerra e o sistema internacional
Júlio César Cossio Rodriguez, Igor Castellano da Silva
O sonho do Brasil grande potência e a modernização da Defesa: entre a governança e a desgover-
nança
Ana Luiza Bravo e Paiva, Karina Furtado Rodrigues

Competição Geopolítica, Indústria de Defesa e os desafios do Brasil à dissuasão extrarre-


gional

Helio Caetano Farias (ECEME)

O presente trabalho examina alguns aspectos da competição geopolítica entre potências, notadamente EUA,
Rússia e China, e seus impactos à estratégia de dissuasão extrarregional do Brasil. Partindo do pressuposto que
a guerra, ou a preparação para a guerra, demarca o centro de gravidade da política internacional, bem como
ordena os padrões de cooperação e competição entre os Estados nacionais, analisa-se a conjuntura contem­
porânea com base nos marcos teóricos da geopolítica e do realismo, buscando compreender as hierarquias que
se estabelecem a partir da política, da economia e das capacidades militares.
137
A pesquisa em curso investiga como os documentos oficiais de Segurança e Defesa de Estados selecionados
– EUA, Rússia, China e Brasil – apresentam as suas principais ameaças geopolíticas e, a partir daí, traçam
suas diretrizes político-estratégicas. Em seguida, investiga-se como as prioridades estabelecidas em termos
de defesa se relacionam com as políticas industriais para setores estratégicos, impactando na indústria de
defesa.
Reconhecendo que a defesa nacional abarca um conjunto de medidas e ações do Estado, com destaque para
o campo militar, que visam garantir a integridade do território frente às ameaças externas, considera-se que

PAINÉIS
a implementação de uma estratégia de defesa está crescentemente dependente, sobretudo para países de
grandes dimensões territoriais, da existência de um sistema produtivo nacional moderno, robusto e diversifi­
cado. Constatou-se, com base na literatura e em documentos oficiais, que os aumentos sucessivos nos gastos
globais em defesa dos últimos anos, desde 2014, vem sinalizando rearranjos não só na indústria de defesa,
mas também nas políticas que incidem sobre a estrutura produtiva nacional. Assim, do ponto de vista teórico,
sugere-se que o acirramento da competição no sistema internacional tem reforçado a dimensão geopolítica
da base industrial de defesa, o que implica em desafios adicionais às potências regionais, como o Brasil, e seus
objetivos de dissuasão.

Geoestratégia de Dissuasão Extrarregional no Contexto Sul-americano

Ricardo Zortea Vieira (UFRJ)

A hipótese deste artigo é a de que a geoestratégia melhor capaz de garantir a soberania integral do Estado
brasileiro simultaneamente reduzindo o risco de conflito interno e regional na América do Sul é aquela baseada
na dissuasão de Grandes Potências com capacidade de projeção econômica e militar sobre o continente.
Para tanto inicialmente se apresentará a perspectiva teórica baseada no conceito de Sistema Interestatal
Capitalista, definido como sendo pautado pelo conflito permanente e multidimensional entre as Grandes
Potências. Em seguida argumentaremos que as Grandes Potências, e os Estados viáveis dentro desse sistema,
possuem geoestratégias que integram as várias dimensões do poder nacional em torno de definições precisas
de adversários estatais. Posterioremente, apresentaremos as formas de projeção de poder das principais
Grandes Potências sobre a América do Sul na presente conjuntura caracterizada pela competição bipolar sino-
americana, e as dificuldades das geoestratégias brasileiras implementadas nos últimos 15 anos em bloquear
tais projeções e seus efeitos nocivos. Finalmente, apresentaremos os elementos que tornam a geoestratégia de
dissuasão estrarregional, definida como a integração das expressões do poder nacional em prol da dissuasão
de Grandes Potências com capacidade de projeção de poder militar e econômico na América do Sul, a melhor
alternativa de garantia da soberania brasileira na presente conjuntura sistêmica.

O que veio primeiro: guerra ou mudança sistêmica? Os mecanismos que faltam na relação
entre a guerra e o sistema internacional

Júlio César Cossio Rodriguez (Universidade Federal de Santa Maria), Igor Castellano da Silva (Universidade
Federal de Santa Maria)

A teoria mainstream das Relações Internacionais surgiu no início do século XX com o objetivo de pensar
o problema da guerra de forma a evitá-la. Essa centralidade não veio acompanhada da investigação das
causas e consequências de conflitos armados centrais e periféricos e sua conexão com transformações
sistêmicas. Contudo, correntes teóricas particulares, geralmente fora do mainstream dos chamados grandes
debates da disciplina, procuraram romper tais limites e empreender esforços analíticos sobre o fenômeno da
violência organizada, suas formas de ocorrência e suas relações com mudanças sistêmicas. Paralelamente a
tal empreendimento, tais perspectivas teóricas viram-se constrangidas a (re)conceber o que chamamos de
sistema internacional e suas potenciais transformações. Neste artigo mapeamos as contribuições sobre a as
relações de causalidade entre mudanças sistêmicas internacionais e o fenômeno da guerra. Nele organizamos
a literatura em duas abordagens centrais: a das (i) mudanças sistêmicas internacionais como causas da guerra
138
e a das (ii) mudanças sistêmicas internacionais como consequência da guerra. Realizamos um estudo teórico
de revisão bibliográfica, com foco na produção científica das áreas de Relações Internacionais, Segurança
Internacional e Estudos Estratégicos. Como conclusões, apontamos as eventuais lacunas na literatura, os
caminhos de pesquisa e as possíveis aplicações para a avaliação da relevância de guerras centrais e periféricas
na transição sistêmica contemporânea.
PAINÉIS

O sonho do Brasil grande potência e a modernização da Defesa: entre a governança e a


desgovernança

Ana Luiza Bravo e Paiva (ECEME), Karina Furtado Rodrigues (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército)

e o Brasil cultiva o sonho de ser uma grande potência mundial, como se estruturou uma governança de Defesa
em torno desse objetivo a partir da criação do Ministério da Defesa? As grandes potências, a despeito da
variação conceitual existente na literatura, geralmente são caracterizadas pela disponibilidade de recursos
bélicos e econômicos. Contudo, como potência emergente, o Brasil tem recursos limitados. Frente a esse
contexto, esse artigo visa responder à pergunta posta analisando como organizou-se uma governança de
Defesa para a modernização das Forças Armadas brasileiras, recurso este fundamental para a consolidação da
dissuasão extrarregional. Para isso, lastreia-se em análise documental e bibliográfica. A análise se dá a partir
da criação do Ministério da Defesa, em 1999, tendo em vista que é a partir deste marco temporal que se tem
uma instituição voltada para o planejamento conjunto de ações das três forças. Nossos resultados preliminares
mostram que, uma vez que o Ministério da Defesa seria a instituição vocacionada para liderar esse processo de
governança, mas tem pouca incidência sobre a definição dos processos de modernização das forças singulares,
o período analisado apresenta mais desgovernança e desconexão entre ações do que governança - a despeito
dos documentos que delineiam a política pública de Defesa brasileira, que pouco versam sobre priorização de
projetos em meio a recursos escassos. Por conseguinte, a análise não encontra vestígios de que o sonho grande
potência possa se realizar se o de facto das ações de defesa seguir o curso atual.
139
Painel Completo Sessão K - sala A- 502 - De 14h às 15h45 - 12/08/2022
Tecnologia Cibernética, Cooperação e Defesa Nacional III
Proponentes: Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC), Ricardo Borges (UFPE)
O painel cobre trabalhos sobre os impactos do uso da tecnologia cibernética nos conflitos atuais e

PAINÉIS
na defesa nacional e internacional.

A LGPD e o impacto da segurança da informação no Brasil


Pedro Arthur Linhares Lima (UNIFA), Constança Maria Maia Arruda (COMAER)
A operacionalização do ciberespaço na guerra russa-ucraniana: dos conflitos “cinzentos”à guerra
convencional
Henrique Ribeiro da Rocha (ECEME)
Ataque e Exploração Cibernética sob a ótica do jus ad bellum
Benito Augusto de Laia Silva (FAB), Pedro Arthur Linhares Lima (UNIFA)
Medidas de Resiliência da Rede Logística Reversa no Apoio a Operações Militares Reais
Osmar Rosales Junior (FAB), Fabio Ayres Cardoso (UNIFA)

A LGPD e o impacto da segurança da informação no Brasil

Pedro Arthur Linhares Lima (UNIFA), Constança Maria Maia Arruda (COMAER)

“A LGPD e o impacto da segurança da informação no Brasil”

No Brasil, a Política Nacional de Segurança da Informação – PNSI (Decreto 9637/2018), preceitua que a
segurança da informação abrange: a segurança cibernética; a defesa cibernética; a segurança física e a proteção
de dados organizacionais; e as ações destinadas a assegurar a disponibilidade, a integridade, a confidencialidade
e a autenticidade da informação.
Neste aspecto, a nova Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, Lei nº 13.709/2018, editada em agosto de 2018
e alterada pela LEI Nº 13.853/2019, que dispõe sobre a proteção de dados pessoais no país, trará ao país uma
nova realidade em termos da segurança da informação. A LGPD entrou em vigor em 18 de setembro de 2020,
excetuando as sanções administrativas, que passaram a ser exigíveis a partir de 1º de agosto de 2021, conforme
Lei nº 14.010/2020.
Em resumo, a LGPD regulamenta o uso, a proteção e a transferência de dados pessoais no Brasil. É válida para
esferas privadas e públicas, e define os atores do cenário digital, bem como suas responsabilidades, direitos e
as penalidades previstas.
Ao adotar a LGPD o Brasil é inserido no grupo de países considerados adequados na proteção de dados dos
cidadãos e em relação ao uso da internet.
A nova Lei obriga no país a abordagem de aspectos anteriormente não tratados, tais como: controles de
compliance; análise dos casos da aplicação extraterritorial da Lei; mudança na relação com mercados
internacionais; criação no país de um novo profissional em TI, o DPO – Data Protection Officer, conhecido
também como encarregado de dados, entre outros.

A operacionalização do ciberespaço na guerra russa-ucraniana: dos conflitos “cinzentos” à


guerra convencional

Henrique Ribeiro da Rocha (ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

Entre as possibilidades existentes na chamada zona cinzenta está o alcance de objetivos estratégicos sem a
necessidade de conflitos declarados e/ou convencionais. O ciberespaço, quando observadas suas características
140
intrínsecas como a incerteza, multiplicidade de atores e dificuldade em atribuição de responsabilidade,
representa um domínio fértil para conflitos da zona cinzenta. Esse domínio facilita a atuação de atores abaixo
do nível agressivo de forças militares e permite que objetivos estratégicos sejam alcançados sem grandes alardes
no Sistema Internacional. O artigo pretende analisar como russos e ucranianos tem utilizado o ciberespaço
para atingir seus objetivos estratégicos no atual conflito, iniciado em 2014, que envolve os dois países. Objetiva-
se averiguar porque os russos, após a invasão do território ucraniano, pouco utilizaram ataques cibernéticos
em sua ofensiva. Tem-se como hipótese que enquanto o conflito se situava na zona cinzenta, o ciberespaço era
PAINÉIS

uma das principais arenas de confronto entre as duas nações. Com o advento da guerra convencional, iniciada
em fevereiro de 2022, o princípio da incerteza e atribuição não mais justificariam ações cibernéticas, cujos
resultados são igualmente incertos. A metodologia utilizada para viabilizar a pesquisa consiste em perspectiva
qualitativa com base na coleta e análise de fontes primárias (documentos e declarações oficiais de Estado),
fontes secundárias e fontes jornalísticas.

Ataque e Exploração Cibernética sob a ótica do jus ad bellum

Benito Augusto de Laia Silva (Força Aérea Brasileira), Pedro Arthur Linhares Lima (UNIFA)

Este trabalho analisa as diferenças entre o ataque e a exploração cibernética sob a ótica do jus ad bellum. Tal
abordagem se justifica devido às similaridades dos procedimentos realizados durante a exploração cibernética
e a preparação para o ataque cibernético. Caso a atuação seja em sistemas computacionais de outro Estado, o
tipo de ação pode ser classificado como ataque cibernético e considerado uma ameaça ou uso da força contra
a integridade territorial daquele, conforme a interpretação da Carta das Nações Unidas de 1945.Essa situação,
em alguns casos, pode ser utilizada como justificativa para um conflito armado. O propósito deste trabalho é
analisar as semelhanças e diferenças entre exploração e ataque cibernéticos de forma a delimitar o primeiro
ao ponto de não caracterizar o segundo e evitar uma possível reação bélica, sob a ótica do jus ad bellum. Essa
distinção visa proporcionar um arcabouço teórico para subsidiar as regras de engajamento dos tomadores
de decisão. É apresentada uma revisão bibliográfica de manuais internacionais e tratados dos quais o Brasil é
signatário, além de legislações brasileiras que tratam sobre guerra cibernética e outros artigos relacionados. É
esclarecido que a exploração cibernética pode ser utilizada tanto como forma de obter dados de inteligência
pelo meio cibernético como em apoio às atividades de proteção, exploração e ataque cibernéticos. Por outro
lado, um ataque cibernético pode ser caracterizado como uma ação que causa danos ou efeitos prejudiciais
nos sistemas de informação e redes de um adversário. Portanto, quando a primeira é devidamente limitada e
suas ações não causam alterações ao funcionamento normal dos sistemas alheios, pode ser classificado apenas
como espionagem, não justificando o uso da força como resposta inimiga, em oposição ao segundo que é
claramente uma violação soberana de outro Estado.

Medidas de Resiliência da Rede Logística Reversa no Apoio a Operações Militares Reais

Osmar Rosales Junior (Força Aérea Brasileira), Fabio Ayres Cardoso (Universidade da Força Aérea)

Um dos atributos essenciais da logística militar é a resiliência, sendo esta a capacidade de preparo para eventos
adversos inesperados, reação e recuperação rápida sem impactos significativos nas operações militares. Este
atributo deve constar tanto da rede logística direta, responsável por desdobrar e ressuprir tropas, quanto da
logística reversa, responsável por retirar do campo de batalha recursos excedentes, avariados, ou passíveis de
emprego em outros locais. O problema de pesquisa concentra-se nas maneiras pelas quais se pode mensurar
a resiliência de redes logísticas reversas em situações de combate. O objetivo deste artigo é analisar e discutir
medidas de resiliência da rede logística reversa para suportar operações militares reais. Este artigo é dividido
seis partes. A primeira contextualiza o problema. As segunda e terceira resumem os principais aspectos da
Teoria da Resiliência e da Teoria da Logística, no que concerne aos componentes da preparação, mitigação,
resposta e recuperação. A quarta apresenta formas de medição da resiliência da logística reversa em operações
militares, considerando os componentes supracitados. A quinta discute tais medidas, e sugere métricas para a
resiliência da logística reversa. Por fim, a sexta revisita os pontos relevantes do trabalho. A principal contribuição
141
deste artigo está no mapeamento das medidas de resiliência da logística reversa nas operações de combate. A
relevância do artigo está na influência que as redes logísticas reversas têm na vitalidade do suporte a forças
militares, e na importância de se conhecer sua grandeza para desenhar soluções logísticas operacionais.
Este trabalho limita-se pelas individualidades da maneira como o Brasil suporta as suas operações militares,
especialmente no tocante ao espaço geográfico. A conclusão do trabalho define a capacidade de comunicação,
efetividade dos modais de transporte, e existência de planos de contingência, como as medidas prioritárias de
investimento para a otimização da resiliência da logística reversa em situações de combate.

PAINÉIS
Painel Completo Sessão L - sala A- 502 - De 16h às 17h45 - 12/08/2022
Militarização sem Securitização: o caso da COVID-19 no Brasil
Proponente: Mariana Kalil

A gestão militar da crise da COVID-19 no governo federal do Brasil representa ação fora dos
parâmetros de normalidade da política sem que haja a concomitante construção de uma ameaça
existencial ao Estado em torno da crise da COVID-19. A gestão militar da crise da COVID-19 no
Brasil decorre da erosão da democracia no país. A securitização pode preceder e transcender a crise
da COVID-19 no Brasil, sendo concomitante ou causa da erosão da democracia. A militarização da
política tende a gerar a erosão da democracia por insubordinação, por competição e por deferência
(Beliakova, 2021). Securitização é a construção de uma ameaça existencial a partir de atos discur-
sivos emanados de autoridades públicas, o que, então, passa a requerer medidas de emergência e
justifica ações fora da normalidade da política (Buzan, Waever, De Wilde, 1998). Isolada, a mili-
tarização da política tende a representar uma ação fora do padrão da
política. Há um processo de militarização do governo federal do Brasil, desde 2018, e um processo
de militarização da gestão da crise da COVID-19 em particular a partir de Junho de 2020. Discursos
e comportamentos do Comandante-em-Chefe durante a militarização do combate à
COVID-19 versus discursos e comportamentos do Ministério da Defesa na Operação COVID-19.
Discursos e comportamentos do Ministério da Saúde versus discursos e comportamentos do
Ministério da Defesa durante a militarização da gestão da COVID-19. Embora predomine a
politização da crise da COVID-19 no Brasil, não há, em nenhum momento da crise da COVID-19,
transformação sistemática da crise em ameaça existencial pela maior parte dos tomadores de decisão
na Presidência da República e no Ministério da Saúde. Há securitização nas ações do Ministério da
Defesa estritamente no âmbito da Operação COVID-19. A gestão militar da crise da COVID-19 pelo
governo federal no Brasil decorre da erosão da democracia no país.

A instrumentalização das Forças Armadas brasileiras na gestão da COVID-19 e as consequências


nas funções militares
Gustavo Glodes Blum (UNICAMP)
Bioética e Defesa na Pandemia da Covid-19
Sandra Maria Becker Tavares (UFRJ)
O Instagram da Força Aérea Brasileira: representação de atores sociais durante a pandemia
COVID-19
Karina Coelho Pires (UNIFA)
Análise da gestão estratégica pública frente às novas ameaças: o combate à Covid-19
Bruna Soares de Carvalho (ESG)
COVID-19: uma análise da gestão de desastre biológico brasileira
Carolina Gomes Raffagnato
Governança Criminal Híbrida e o Comando Vermelho no Complexo do Salgueiro: exercício do pod-
er e legitimidade de grupos armados ilegais (GAI) durante a Pandemia de COVID-19
Marilia C. Souza Pimenta, Júlia Quirino Pereira, Walter Maurício Costa de Miranda
142
A instrumentalização das Forças Armadas brasileiras na gestão da COVID-19 e as
consequências nas funções militares

Gustavo Glodes Blum (UNICAMP)

Ao longo do século XXI, mas com maior ênfase a partir de 2016, observa-se papel cada vez mais relevante dos
PAINÉIS

militares na definição da vida pública no país. Diferentes formas de engajamento vêm levantando investigações
relativas às funções constitucionais das Forças Armadas no Brasil, como também a respeito dos interesses do
seu oficialato em se tornar um tipo de Poder estatal não-submetido a controles constitucionais. Durante a
crise sanitária causada pela pandemia de COVID-19, a partir de 2020, esta situação se colocou no centro das
discussões, em razão tanto da responsabilidade de gestores militares em cargos civis diretamente ligados à
gestão da pandemia, como no caso do Ministério da Saúde, mas também por meio da mobilização de estruturas
institucionais para atender a demandas do Governo Federal de comprovada ineficácia para administrar a saúde
pública. Além da mobilização de capacidades de produção de remédios, especialmente cloroquina, houve debates
sobre a não-disponibilização de leitos em hospitais militares para a população civil. Diante deste cenário, o que
se propõe aqui é verificar se é possível compreender o quê significa ser militar na atualidade, sobretudo a partir
da análise das decisões realizadas internamente às Forças Armadas, na produção de medicamentos ineficazes.
A hipótese é que tal medida buscava atender não necessariamente à missão constitucional das FFAA, mas sim
a intenções particulares da gestão de Jair Messias Bolsonaro à frente da Presidência da República, uma vez
que mobilizava discursiva e institucionalmente negacionismos e defesa de substâncias inócuas ao tratamento.
Para tal, realizamos o levantamento de dados secundários relativos à fabricação de remédios específicos e
da disponibilização de leitos em hospitais militares que permitam analisar estas ações internas por parte das
FFAA. Assim, pretende-se contribuir no debate sobre as FFAA enquanto agentes de Estado ou de governo.

Bioética e Defesa na Pandemia da Covid-19

Sandra Maria Becker Tavares (UFRJ)

O presente texto visa destacar terminologias de impacto correlatas à COVID-19 que reforçam o inexorável
nexo entre as áreas de Saúde Coletiva e de Segurança e Defesa, como Ética Aplicada, emergência, quarentena,
biossegurança e tecnologia disruptiva.
Como fio condutor foram analisados os cenários previstos, prospectivos e apocalíticos da pandemia da
COVID-19 nas regiões Norte e Sudeste do Brasil entre março de 2020 a março de 2022, comparando com a
pandemia da Gripe Espanhola.
A análise crítica revelou que em tempos de excepcionalidade como épocas de pandemias, à Segurança cabe
debater a diferença entre os conceitos de prevenção e precaução relativos ao uso político dos aparatos e equi­
pamentos de saúde estatais. Com relação à Defesa, analisar e avaliar a logística que subsidia/subsidiou as ações
interagências emergenciais.

O Instagram da Força Aérea Brasileira: representação de atores sociais durante a pan-


demia COVID-19
Karina Coelho Pires (UNIFA)

A pandemia da COVID-19 trouxe consigo a possibilidade de um momento para se questionar o funcionamen­


to e a estrutura da sociedade como um todo. As instituições, públicas e privadas, assim como suas práticas já
estabelecidas, encontram-se sob novas formas de coordenação e de governança para poder responder aos in­
úmeros desafios impostos pela pandemia. A análise das respostas das várias áreas da sociedade frente às neces­
sidades do enfrentamento da COVID-19 pode ajudar a compreender melhor as características dessa atuação
sobre os problemas públicos, assim como sua contribuição, seus limites, e as funções chamadas a desempenhar.
Pelo exposto, o presente trabalho apresenta uma análise das representações de atores sociais em postagens no
Instagram da Força Aérea Brasileira. Seu objetivo é investigar como se posiciona a Força Aérea Brasileira frente
ao combate ao COVID-19 e quais são as atividades que a Força Aérea se propõe a desempenhar. Para a análise
143
textual das postagens, utilizamos a teoria da representação dos atores sociais de Van Leeuwen (2008). Tal
abordagem tem como base a Linguística Sistêmico-Funcional e pode ser vista como um aparato teórico-met­
odológico complementar para a investigação do modo como se constroem e/ou representam significados
sociais. Foram registradas 36 publicações na página da Força Aérea Brasileira no Instagram em 2020, que se
referiam, de alguma maneira, à operação COVID-19. Identificamos três formas da Força Aérea se posicionar
frente ao combate ao COVID-19: Busca e salvamento, Transporte Aéreo Logístico e Saúde. Consideramos
nossos resultados de fundamental importância no caminho de uma profissionalização da Aeronáutica, no

PAINÉIS
sentido de que traz a luz o quanto e como a FAB pode ofertar sua capacidade.
144
VÍDEO CONFERÊNCIA

12/08 - 14h

Video Conferência 01 - Sala A-406

Video Conferência: Crime organizado, Segurança e Defesa nas


Américas
Thiago Rodrigues (PPGEST-UFF), Jonathan D. Rosen (New Jersey City University), Carolina
Sampó (Universidad de la Plata)
145

MESAS-REDONDAS
Mesas
redondas
10 a 12 de agosto
Período da manhã

Mesas Redondas Auditório


Os estudos de defesa e o Bicentenário da Independência do
Brasil P
Conflitos Armados Contemporâneos e as Mudanças na
Ordem Global O
10 anos do INEST P
Democracia e Defesa: como ampliar o diálogo com a socie-
dade civil? O
Novas Tecnologias e a Guerra no Século 21 P
Relações civis-militares no Brasil contemporâneo O
146
MESAS-REDONDAS

Tema Coordenador e convidados Dia e hora


Ana Luiza Paiva (Coord) Dia 10
1. Os estudos de defesa e o Bicen­
Alcides Costa Vaz (UnB) 11:00-12:45
tenário da
Celso Castro (CPDOC-FGV) Auditório P
Independência do Brasil
Samuel Alves Soares (Unesp)
Augusto Teixeira (Coord) (UFPB) Dia 10
2. Conflitos Armados Contemporâ­
neos e as Luís Bernardino (IUL) 11:00-12:45
Sabrina Medeiros (ULHT) Auditório O
Mudanças na Ordem Global
Sandro Teixeira (IMM)
Vagner Camilo Alves (Coord) (UFF) Dia 11
Monica Lessa (UERJ) 9:00-11:45
3. 10 anos do INEST
Eduardo Svartman (UFRGS) Auditório P
Eurico de Lima Figueiredo (UFF)
Marina Vitelli (Coord) (UFRR) Dia 11
4. Democracia e Defesa: como am­ Adriana Marques (UFRJ) 9:00-11:45
pliar o Ana Penido (GEDES/Tricontinental) Auditório O
diálogo com a sociedade civil? Marcelo Godoy (Estado de São Paulo)
Juliana Bigatão (Unifesp)
Danielle Jacon Aires Pinto (Coord)
Dia 12
(UFSC)
5. Novas Tecnologias e a Guerra no Érico Esteves Duarte (UFRGS) 9:00-11:45
Século 21 Marcos Guedes de Oliveira (UFPE) Auditório P
Marcos Caffe (BAE Systems)
Oscar Medeiros (CEE)
Maria Celina D’Araújo (Coord)
Dia 12
(PUC-Rio)
Erica Winand (UFS) 9:00-11:45
6. Relações civis-militares no Brasil Alexandre Fuccille (Unesp) Auditório O
contemporâneo Antônio Jorge Ramalho (UnB)
Conrado Hübner (USP)
Piero Leiner (UFSCAR)
147

Lançamento

LIVROS
de livros
10 a 12 de agosto
Período da tarde
Sala A-203

As relações entre a nascente Alemanha Imperial e o decadente Império Otomano: a


Ferrovia Berlim-Bagdá e os interesses comerciais e geopolíticos que deflagraram a
Primeira Guerra Mundial
Dominique Marques de Souza
Cães de guerra: os cães de emprego militar e policial no Brasil
Otávio Augusto Brioschi Soares
Defesa Cibernética e Mobilização Nacional
Fernando Henrique Casalunga
Em defesa do Eldorado: competição internacional pela Amazônia Brasileira e
Sul-Americana
Bernardo Salgado Rodrigues
Exército Nacional Libanês: Reflexos do Confessionalismo na Instituição Militar
Karime Ahmad Borraschi Cheaito
Geopolítica Aeroespacial: conhecimento geográfico e abordagem estratégica
Carlos Eduardo Valle Rosa
Resolução de Conflitos: Estudos de Caso
Gilberto Carvalho de Oliveira
148
As relações entre a nascente Alemanha Imperial e o decadente Império Otomano:
a Ferrovia Berlim-Bagdá e os interesses comerciais e geopolíticos que deflagraram a
Primeira Guerra Mundial

Dominique Marques de Souza


LIVROS

Um dos temas pouco abordados quando se trata da Primeira Guerra Mundial é o plano mirabolante do Kaiser
Guilherme II, em construir uma ferrovia conectando a Alemanha até o território que hoje é o Iraque. Com
a formação tardia de seu Estado Nacional, apenas em 1870, a Alemanha buscava estabelecer seus mercados,
porém, pouco do mundo havia restado após a dominação de França e Inglaterra em partes das Américas e
África. À Alemanha, apenas restava colonizar seu próprio quintal. A grande jogada de Guilherme II era abraçar
o Islã, e assim o fez, se tornando amigo pessoal do Sultão Otomano, Abdulhamid II. A esta altura, o tão temível
Império Otomano, que havia conquistado desde a Europa até a Ásia, por cerca de 500 anos, não passava de
um “grande doente” da Europa, em alusão a algo que já estava velho e precisando de bengalas para se apoiar.
Os otomanos já não conseguiam se manter como potência, estavam em processo de decadência, enquanto
a Alemanha buscava crescer e se tornar a principal potência europeia. As relações de troca entre alemães
e otomanos seriam formalizadas pela construção da Ferrovia Berlim-Bagdá, que poderia selar o destino de
ambos, em um caso de extremo potencial de benefício mútuo. Contudo, esse plano romântico viria a iniciar
a contagem regressiva de uma bomba-relógio. As alianças europeias começaram a se formar em busca de
reequilibrar aquilo que a Alemanha vinha desestabilizando: a balança de poder europeia.

Cães de guerra: os cães de emprego militar e policial no Brasil

Otávio Augusto Brioschi Soares (Hospital Central do Exército)

A obra busca compilar fatos históricos e atuais sobre o emprego de cães pelas instituições militares e policias
no Brasil e, assim, preencher uma lacuna existente no conhecimento do público em geral. Através de uma
pesquisa de fontes históricas, documentais e científicas, o autor procurou cumprir o objetivo de trazer luz ao
trabalho destas equipes cinotécnicas, que contam com inúmeras particularidades institucionais e que, realizam
um trabalho importante de defesa e segurança pública em nosso país.

Defesa Cibernética e Mobilização Nacional

Fernando Henrique Casalunga

Não obstante o seu valor estratégico, mobilização nacional é um tema desconhecido e pouco debatido no
Brasil. Mobilização nacional refere-se a um o conjunto de atividades conduzidas pelo Estado visando capacitá-
lo diante da necessidade de enfrentar uma crise (conflito,agressão, desastre etc) que possa colocar em risco a
segurança nacional. Envolve transferir, de forma planejada, meios (recursos públicos e privados) necessários
à realização das ações de defesa a fim de superar a situação de crise que justificou esse esforço nacional. Para
além da guerra clássica, os novos contextos exigirão das políticas de mobilização nacional uma qualificação
mais específica da natureza das ameaças a serem enfrentadas por um esforço nacional: desastres ambientais,
terrorismo, pandemias, ataques cibernéticos etc, o que sugere um modelo multidimensional de mobilização
envolvendo diferentes setores (político, social, científico-tecnológico, econômico, de Inteligência, dentre
outros).

Os artigos que compõem a presente obra tratam exatamente desses temas. Sob perspectivas diversas de
pesquisadores civis e militares, busca-se jogar luzes sobre um tema tão estratégico mas pouco debatido. O
presente livro representa, portanto, um esforço conjunto de iniciar um debate amplo sobre a necessidade e o
caráter estratégico desse tema para o Brasil.

Em defesa do Eldorado: competição internacional pela Amazônia Brasileira e Sul-


149
Americana

Bernardo Salgado Rodrigues (Escola Superior de Guerra)

A Amazônia se apresenta como uma das últimas fronteiras de expansão do capitalismo mundial. Como uma
área geopoliticamente estratégica para o crescimento da economia mundial, constitui um espaço vital do
século XXI. Assim sendo, inúmeros são os desafios dos países amazônicos: no plano doméstico, se apresenta

LIVROS
a questão da sua “ocupação e integração” com a efetiva presença do Estado; no regional, a integração com os
países vizinhos sob a máxima de “integrar para não entregar”; no internacional, a problemática da histórica
disputa pelos seus territórios com o binômio “soberania ou internacionalização”.
Os fatos citados denotam a importância de uma estratégia para a Amazônia Brasileira, haja vista que novas
modalidades de guerra e disputa se encontram cada vez mais presentes. Esta preocupação, tão recorrente nos
países centrais do sistema internacional, carece de uma fundamentação teórica e científica mais assertiva no
contexto específico e estritamente particular das condições amazônicas.
O presente livro busca delinear uma narrativa das disputas internacionais na Amazônia desde a colonização até
os dias atuais. Desta forma, verifica-se a presença crescente das potências estrangeiras, e como essa expansão
é diretamente proporcional à carência de um projeto autônomo de defesa. Logo, uma pauta propositiva é
necessária a fim de qualificar o debate contemporâneo acerca de um projeto estratégico baseado na ciência,
tecnologia e inovação para a Amazônia Brasileira e Sul-Americana.

Exército Nacional Libanês: Reflexos do Confessionalismo na Instituição Militar

Karime Ahmad Borraschi Cheaito (PPGEST-UFF)

A presente obra visa analisar como o Confessionalismo, sistema político libanês, refletiu no Exército Nacional
do Líbano e influenciou suas ações durante os anos 60 e 70 no país. Em 1943, o Líbano conquistou sua
independência e elaborou o Pacto Nacional Libanês, o qual consolidou o Confessionalismo como sistema
politico. Este sistema consiste na divisão dos poderes políticos e dos cargos institucionais de forma equitativa
entre as religiões oficiais do país, que se dividem basicamente entre o cristianismo e o islamismo. No entanto,
essa divisão atribuiu privilégios e favoreceu os cristãos – especificamente os cristãos maronitas - que passaram
a ocupar obrigatoriamente os cargos políticos e militares mais elevados, como a Presidência e o comando do
Exército. Desde sua elaboração, o Pacto Nacional e o Confessionalismo foram questionados pelos muçulmanos,
que apontaram suas fragilidades e os culpabilizavam pelas desigualdades sociais e pelas injustiças políticas e
econômicas do Líbano. Em oposição, os cristãos defendiam que o motivo dos problemas sociais e econômicos
do país era a presença dos refugiados palestinos no território. Analisa-se, a partir deste debate, como o Exército
Nacional agiu diante os conflitos internos que se estenderam no Líbano entre os anos 60 e 70, pois a instituição
se apresentava como representante dos interesses nacionais, mas realizou ataques aos campos de refugiados
palestinos, iniciando violentos confrontos com os mesmos. A partir deste acontecimento, os muçulmanos
passaram a denominar o Exército Nacional de Exército Cristão, já que o mesmo atuava no país representando
os interesses dos maronitas, grupo político hegemônico. Deste modo, busca-se compreender como a instituição
militar foi utilizada como um instrumento para garantir a manutenção do status quo e dos privilégios de uma
parcela especifica da sociedade libanesa, cujos interesses não correspondiam com o restante da população.
150
Geopolítica Aeroespacial: conhecimento geográfico e abordagem estratégica

Carlos Eduardo Valle Rosa (UNIFA)

A obra define ambiente aeroespacial como o espaço geográfico formado pela conjugação entre espaço aéreo e
espaço exterior. Analisa a relevância geopolítica desse ambiente aeroespacial, a ponto de formular o conceito
de Geopolítica Aeroespacial. Contextualiza geopoliticamente o ambiente aeroespacial por meio da coleta
LIVROS

de evidências nos campos da epistemologia da geografia, e de variáveis políticas, econômicas, tecnológicas


e ideológicas. Nesse particular, constata que há uma interdependência dessas variáveis no ambiente
aeroespacial. A compreensão integrada desse ambiente permite, inclusive, o reforço da ideia de uma teoria de
poder aeroespacial. Essa teoria, que surge nos primórdios da aviação, evolui na era espacial, proporcionando
fenômenos que têm se tornado decisivos para a humanidade. A obra demonstra, na geopolítica aeroespacial,
configurações nas relações de poder, a definição de territórios, a criação de arcabouços jurídicos, os reclamos
de soberania e os contenciosos que extrapolam as abordagens clássicas da geopolítica voltadas à superfície. A
obra elabora cenários prospectivos para a geopolítica aeroespacial no Brasil, sob os pontos de vista realista,
idealista e uma conjunção de ambos, que indicam alternativas para políticas públicas do setor aeroespacial. A
demanda por uma Geopolítica Aeroespacial consiste em novo campo investigativo da geografia humana, das
relações internacionais, dos estudos estratégicos e dos estudos de defesa.

Resolução de Conflitos: Estudos de Caso

Gilberto Carvalho de Oliveira (IRID-UFRJ)

Num período em que o conflito violento continua a ser uma ameaça para as pessoas e um desafio para a
governação em diversas regiões do mundo, este livro analisa um conjunto de abordagens e conceitos da
Resolução de Conflitos com o objetivo de melhor compreender as suas vantagens e desvantagens e, com base
nessa compreensão, informar uma melhor política pública para a prevenção e resolução de conflitos.
Partindo de uma análise dos níveis de intensidade do ciclo de conflito, no que se refere às suas dinâmicas
políticas típicas, e das abordagens de gestão e resolução de conflito empregues pela comunidade internacional,
o livro apresenta um conjunto de estudos de caso sobre as especificidades que são encontradas na ligação entre
a teoria e prática no binômio marcado pelos níveis de intensidade do ciclo de conflito e as abordagens de gestão
e resolução de conflitos.
Desta forma os estudos de caso analisam de uma forma aprofundada e crítica a Prevenção de Conflitos na
Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO); as Missões de Paz das Nações Unidas
em Timor-Leste; a Consolidação da Paz em Timor-Leste, Bósnia-Herzegovina, Kosovo e Afeganistão; a
Reforma do Sector da Segurança no Brasil no contexto da realidade da América Latina; o processo de paz em
Moçambique entre 2015 e 2018; a influência das alterações climáticas nos conflitos comunitários entre pastores
e agricultores na Nigéria; a decisão por consenso e o papel do Conselho de Segurança das Nações Unidas na
Gestão e Resolução de Conflitos; e o conceito de “Estado falhado”.
151

Mini Cursos

MINI CURSOS
11 e 12 de agosto
08h - 09h

Geopolítica Aeroespacial - Sala A-301


Proponente: Carlos Eduardo Valle Rosa (UNIFA)

Geopolítica da Amazônia brasileira e sul-americana no século XXI - Sala A- 302


Proponente: Bernardo Salgado Rodrigues (ESG)

Guerra Financeira: O dólar contra Teerã e Moscou -Sala A-303


Proponente: Fernando Silva Azevedo (UFRJ)

Métodos e Técnicas de Pesquisa em Estudos de Defesa e Relações Internacionais Sala


A-304
Proponente: Ana Carolina de Oliveira Assis (UFPE)

Offsets de Defesa: principais conceitos para sua implementação e as contribuições da


Compensação Tecnológica, Industrial e Comercial para a Base Industrial de Defesa
(BID) e para a Segurança Nacional - Sala A- 501
Proponente: Rodrigo Antônio Silveira dos Santos (UNIFA)

Segurança e Defesa Nacional sob perspectiva da Economia Política Internacional


-Sala A-502
Proponente: Bruno do Val (UFRJ)

Segurança, desenvolvimento e defesa nacionais: conceitos, abordagens e fontes de


pesquisa - Sala A-503
Peterson Ferreira da Silva (ESD)
152
Geopolítica Aeroespacial

Carlos Eduardo Valle Rosa (UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA)

O ambiente aeroespacial é o espaço geográfico formado pela conjugação entre o espaço aéreo e o espaço exterior,
MINI CURSOS

no qual se estabelecem relações geopolíticas. O minicurso analisará a relevância geopolítica desse ambiente
aeroespacial, sob a perspectiva de uma Geopolítica Aeroespacial. Metodologicamente, se desenvolverá a partir
de uma contextualização geopolítica, investigando evidências nos campos da epistemologia da geografia, e de
variáveis políticas, econômicas, tecnológicas e ideológicas identificadas no ambiente aeroespacial. O minicurso
se propõem a ampliar competências acadêmicas dos discentes por meio da constatação da interdependência
de fenômenos geopolíticos no ambiente aeroespacial. Além disso, como atividade final do minicurso, serão
discutidos cenários da geopolítica aeroespacial para o Brasil. O minicurso trata de um campo investigativo
pouco explorado nos estudos estratégicos, constituindo-se como oportunidade de inserção das questões
relativas à aeronáutica e do espaço exterior na formação acadêmica do discente, cujos reflexos poderão ser
observados na temática associada à defesa nacional e ao próprio desenvolvimento da sociedade, em função da
relevância dessa Geopolítica Aeroespacial.

Geopolítica da Amazônia brasileira e sul-americana no século XXI

Bernardo Salgado Rodrigues (Escola Superior de Guerra)

A Amazônia se apresenta como uma das últimas fronteiras de expansão do capitalismo mundial. Como uma
área geopoliticamente estratégica para o crescimento da economia mundial, constitui um espaço vital do
século XXI. Assim sendo, inúmeros são os desafios dos países amazônicos: no plano doméstico, se apresenta
a questão da sua “ocupação e integração” com a efetiva presença do Estado; no regional, a integração com os
países vizinhos sob a máxima de “integrar para não entregar”; no internacional, a problemática da histórica
disputa pelos seus territórios com o binômio “soberania ou internacionalização”.
Os fatos citados denotam a importância de uma estratégia para a Amazônia Brasileira. Esta preocupação, tão
recorrente nos países centrais do sistema internacional, carece de uma fundamentação teórica e científica mais
assertiva no contexto específico e estritamente particular das condições amazônicas.
Consequentemente, o Minicurso busca delinear uma narrativa das disputas internacionais na Amazônia desde
a colonização até os dias atuais. Ele se encontra estruturado em quatro unidades:
Na Unidade I, “História da presença estrangeira no Brasil: conquista, ocupação e disputa”, aborda-se a presença
histórica das grandes potências na região, perpassando períodos anteriores ao Tratado de Madrid (1750),
com a consolidação das fronteiras e as estratégias de ocupação. Desta forma, a disputa internacional da longa
duração (1750-2000) ratifica sua importância geopolítica e geoeconômica.
Na Unidade II, “A geopolítica da Amazônia Brasileira na atualidade”, delineia-se a região no contexto regional
e mundial contemporâneo, ressaltando temas como a dicotomia entre soberania e internacionalização,
a mundialização do ambientalismo, a biopirataria contemporânea, a questão indígena e a problemática do
narcotráfico. Adicionalmente, são analisados os principais acontecimentos da Amazônia Brasileira no século
XXI, avaliando-se os documentos de defesa brasileiros e ressaltando-se a necessidade da materialidade da
defesa e do planejamento estratégico.
Na Unidade III, “Ampliando os horizontes de defesa: da Amazônia brasileira à Amazônia Sul-Americana”,
visa-se expandir o horizonte geográfico de análise, avaliando a Amazônia Sul-Americana em sua totalidade.
Com isso, estipulam-se seus parâmetros, realizando-se um mapeamento e inventário de seus recursos naturais
estratégicos. Além disso, conjeturam-se as disputas de poder referentes aos projetos dos Estados Unidos e da
China na região, assim como serão realizadas algumas considerações acerca dos impactos da pandemia da
Covid-19.
Na Unidade IV, “Por um projeto de autonomia estratégica da Amazônia Sul-Americana”, tenciona-se a
elaboração de um pensamento estratégico no que se refere às relações internacionais das forças políticas
internas amazônicas, projetando uma concepção propositiva de autonomia estratégica da Amazônia Sul-
Americana baseada no trinômio geopolítica, desenvolvimento e integração, destacando tópicos como Defesa
e Soberania; Ciência, Tecnologia e Inovação; Política e Infraestrutura.
153
Em suma, o Minicurso possui o objetivo de verificar a presença crescente das potências estrangeiras, e como
essa expansão é diretamente proporcional à carência de um projeto autônomo de defesa. Logo, uma pauta
propositiva é necessária a fim de qualificar o debate contemporâneo acerca de um projeto estratégico para a
Amazônia Brasileira (e Sul-Americana).

MINI CURSOS
Guerra Financeira: O dólar contra Teerã e Moscou

Fernando Silva Azevedo

O campo financeiro é uma dimensão essencial para o capitalismo moderno globalizado. As nações e os agentes
provados estão inseridos em uma economia monetária global onde o dinheiro é essencial para a construção
de estruturas, tanto produtivas quanto comerciais, primordiais para a vida hodierna. A despeito disso, a visão
neoclássica/neoliberal, dominante no campo das ciências econômicas, e forte influenciadora nas demais
ciências sociais, estabelece apenas a propriedade da neutralidade para a moeda. Diferentemente do defende
esse mainstream, a moeda é um elemento político dotado de capacidade coercitiva tanto no âmbito nacional
quanto na dimensão internacional.
As primeiras décadas do século XXI foram intensas no uso de elementos financeiros como ferramentas
de coerção nas relações internacionais. O país mais rico e poderoso do sistema internacional, os Estados
Unidos, tem usado o poder de sua moeda nacional, o dólar, para atingir objetivos geopolíticos. O processo
de instrumentalizar o dólar como ferramenta de segurança nacional conferiu à Washington um novo artefato
bélico para seu arsenal.
A guerra financeira perpetrada pelos Estados Unidos fez com que diferentes Estados soberanos sofressem uma
poderosa coerção não-militar, isto foi possível devido à construção de uma arma monetária poderosa e de
uso exclusivo de Washington, a bomba-dólar. Essa ação dos Estados Unidos possui o potencial de afetar toda
a estrutura financeira internacional, uma vez que a complexa rede econômica de escala mundial, que conecta
atores privados e estatais em transações comerciais e financeiras diariamente, está ancorada no dólar. O uso
dessa arma monetária é capaz de gerar ondas de choques que abalam o todo o Sistema Internacional e atinge
diferentes atores públicos e privados ao redor do mundo.
Este minicurso pretende abordar o processo de construção da arma monetária e seus diferentes usos recentes
contra a República Islâmica do Irã e contra a Federação da Rússia, como resposta ao conflito armado na Ucrânia.
Para alcançar seus objetivos, o minicurso deverá conceitualizar, de forma adequada, o objeto da coerção, ou
seja, a moeda. Assim como explorar as potencialidades e limites desse tipo de ferramenta de coerção. Para isso,
a primeira aula deste minicurso terá como objetivo apresentar a moeda como uma ferramenta de comando e
controle no âmbito internacional. Ademais, ainda na primeira aula, será apresentado alguns exemplos de uso
desse elemento como ferramenta de coerção no tabuleiro das nações durante o século XX. De mesmo modo,
a segunda aula tem como objetivo conceitualizar a bomba-dólar como artefato bélico-monetário através do
estudo de quatro pilares fundamentais, a saber: a não-neutralidade da moeda nos processos econômicos e
sociais; a dinâmica da interdependência armada; o exercício do poder estrutural e a utilização do conceito de
restrição de sobrevivência. Demais, serão apresentados dois casos extremos do uso da moeda como arma de
guerra, a bomba-dólar contra Teerã e contra Moscou. Por fim, a metodologia de ensino será feita através de
duas aulas expositiva e da discussão dos dois estudos de casos em questão.

Métodos e Técnicas de Pesquisa em Estudos de Defesa e Relações Internacionais

Ana Carolina de Oliveira Assis (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)

O minicurso “Métodos e Técnicas de Pesquisa em Estudos de Defesa e Relações Internacionais” objetiva


apresentar aspectos fundamentais para elaboração de estudos e projetos de pesquisas nas respectivas áreas
do conhecimento. As aulas abordarão: Requisitos formais em uma pesquisa, como elaborar uma pergunta de
pesquisa, métodos de investigação qualitativos e quantitativos, quais são os tipos de variáveis, aspectos relativos à
população e amostragem, nível de mensuração e operacionalização de variáveis, estatística descritiva, o que são
e como testar hipóteses, e por fim, demonstrar como é feita a produção de uma pesquisa com os participantes.
154
Para aproximar o participante do conteúdo exposto, serão utilizados exemplos de pesquisas e estudos em
Relações Internacionais e Defesa Nacional e, assim, os alunos estarão aptos a: (i) formular perguntas de
pesquisa; (ii) descrever o tipo de estudo adequado ao seu objeto de pesquisa; (iii) levantar hipóteses falseáveis;
(iv) descrever suas variáveis dependente e independente(s); (v) usar ferramentas para estatística descritiva; (vi)
reportar os resultados de maneira clara e objetiva; (vii) identificar o que é um estudo de caso, os tipos de estudos
MINI CURSOS

e etapas no processo de delimitação dos casos; (ix) elaborar críticas construtivas das pesquisas e observar se
cumprem os critérios básicos para uma boa estudo. Como técnica de ensino, serão utilizadas no minicurso
aulas expositivas com o apoio de recursos visuais e a técnica de problem based learning, na qual são expostas
situações e/ou problemas para que os alunos reflitam e formulem críticas com a finalidade de incorporarem os
aprendizados nas próprias pesquisas. Ao final do minicurso também será replicado um estudo publicado como
forma de demonstrar na prática as etapas da pesquisa.

Offsets de Defesa: principais conceitos para sua implementação e as contribuições da


Compensação Tecnológica, Industrial e Comercial para a Base Industrial de Defesa (BID)
e para a Segurança Nacional

Rodrigo Antônio Silveira dos Santos (UNIFA)

Considerando o mercado internacional de produtos de defesa, Acordos de Compensação (offsets) são arranjos
comerciais em que o país importador exige investimentos do fornecedor estrangeiro como forma de contrapartida
às despesas realizadas na aquisição de produtos e sistemas de defesa. Diversas nações adquirem sistemas de
armas e capacidades estratégicas no exterior para conquistar e manter níveis desejados de segurança em seus
países. Como as práticas de offset permitem e legitimam a transferência de tecnologia, países emergentes e em
desenvolvimento têm usado esta ferramenta para reduzir sua defasagem tecnológica e conquistar autonomia
em tecnologias sensíveis, fortalecendo diferentes expressões do Poder Nacional e aumentando a sensação de
Segurança da população.
Entretanto, esta ferramenta do comércio internacional de produtos de defesa é frequentemente mal
compreendida, o que prejudica a sua implementação e a posterior pesquisa sobre compensações tecnológicas,
industriais e comerciais. Por esta razão, este mini-curso pretende apresentar os principais conceitos para a
implementação de Offsets de Defesa no Brasil, estudando também quais as contribuições em potencial que os
Acordos de Compensação podem trazer para a Base Industrial de Defesa (BID) e para a Segurança Nacional,
quando utilizados com sabedoria.
O mini-curso se inicia com a apresentação das principais correntes teóricas sobre offset no mundo, explorando
a realidade de diferentes países ao aplicar este conceito. Pretende-se demonstrar os pontos positivos e negativos
da prática de offsets e apresentar a sua complexidade, representada pelo conflito de interesses entre os
diferentes stakeholders que participam da sua implementação. Em seguida, o mini-curso abordará as Teorias
Clássicas de Relações Internacionais, apresentando como estes conceitos se relacionam com a prática da
compensação. Neste ponto, será realizada uma reflexão sobre a Escola Realista e de que forma a prática de offset
impacta as diferentes expressões do Poder Nacional, avaliando também como a sustentação de capacidades
tecnológicas incorporadas pela Base Industrial de Defesa influencia a Defesa Nacional e se relaciona com
a Segurança Internacional, impactando o equilíbrio de poder no concerto das nações. Em continuidade, o
mini-curso apresentará a prática de offset como uma política pública, estimulando reflexões sobre formas de
acompanhamento e avaliação dos benefícios alcançados por meio das compensações. Ademais, pretende-se
realizar uma dinâmica de grupo para simular o processo de negociação de Projetos de Compensação entre
empresas multinacionais e órgãos contratantes de um país, demonstrando suas dificuldades de implementação
e refletindo sobre as reais contribuições alcançadas.
Por fim, cabe esclarecer que o Proponente é Oficial Superior da Força Aérea Brasileira, trabalhando na
COPAC, e é Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aeroespaciais da UNIFA, com
experiência profissional em Acordos de Compensação e vivência acadêmica em pesquisas sobre o tema. Além
disso, o Proponente é Bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão para Inovação
do CNPq e trabalhou por mais de 2 anos no Grupo de Acompanhamento e Controle junto à empresa SAAB,
na Suécia, onde acompanhou na prática a fabricação dos caças Gripen adquiridos pelo Brasil e verificou in loco
155
os processos de transferência de tecnologia associados ao projeto.

Segurança e Defesa Nacional sob perspectiva da Economia Política Internacional

Bruno Do Val (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

MINI CURSOS
Em diálogo com o tema do XII Encontro Nacional da Associação de Estudos de Defesa este minicurso convida
os discentes de Graduação para refletir sobre o tema central “Os Estudos de Defesa e o Bicentenário da
Independência do Brasil” a partir de uma perspectiva não convencional de Economia Política Internacional.

O objetivo do minicurso é propor uma leitura crítica de alguns trabalhos e ideias de autores que estão na origem
do campo de pesquisa da Economia Política Internacional (EPI), visando enfocar em aspectos relacionados
a geopolítica, ao desenvolvimento, ao poder e a riqueza, assim como as bases econômicas do poder militar.
Assim, além alguns dos autores do debate tradicional da EPI, serão objeto de reflexão autores de diferentes
Campos Disciplinares da Ciências Sociais, mais especificamente: da Ciência Política, Economia, Geografia,
História e Relações Internacionais. A relevância e atualidade de tal leitura está diretamente associada ao
ambiente de disputa de poder sobre o qual os debates e problemas, teóricos e práticos, foram propostos e
cujo enfoque associa-se ao binômio segurança-desenvolvimento. Encontrando-se, dessa forma, diretamente
associado a necessidade de desenvolver capacidade necessárias à autonomia e a soberania nacional diante do
cenário competitivo e conflituoso de disputa de poder global.

Segurança, desenvolvimento e defesa nacionais: conceitos, abordagens e fontes de pesquisa

Peterson Ferreira da Silva (Escola Superior de Defesa (ESD))

O debate contemporâneo sobre segurança e defesa nacionais abrange diversos conceitos e abordagens. No que
se refere ao tema defesa nacional, verifica-se na literatura internacional dos Estudos Estratégicos e dos Estudos
de Defesa as mais variadas discussões, não somente no que tange a seus vínculos com a Ciência, Tecnologia
e Inovação (CT&I) ou com a defesa civil no contexto de grandes desastres, mas também análises envolvendo
a relação entre o perfil de gastos com defesa nacional (ex. Pessoal, Equipamento e Manutenção & Operações/
Custeio) e seus reflexos para capacidades militares de fato. Este minicurso busca, portanto, oferecer uma breve
introdução a esse debate e está organizado em duas partes. Na primeira, o objetivo é identificar, em linhas
gerais, alguns dos principais conceitos e abordagens, conforme literatura internacional recente do âmbito dos
Estudos de Segurança Internacional (ESI). Mais especificamente, são apresentadas noções, fundamentadas na
literatura, sobre treze conceitos: ameaça, segurança humana, nexo segurança e desenvolvimento, segurança
nacional, setor de segurança nacional, defesa nacional, capacidade militar (capability), setor de defesa nacional,
inteligência, segurança interna, segurança pública, defesa civil e defesa social. Na segunda parte, são apresentadas
algumas fontes básicas de pesquisa com foco em Estudos Estratégicos e Estudos de Defesa: as publicações do
Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), do International Institute for Strategic Studies (IISS)
e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), bem como políticas e estratégias de segurança e
defesa nacionais.
156
MINI CURSOS
157

POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Painéis de
Iniciação
Científica
SALA A-205 E CORREDORES DO 2º, 3º e 5º ANDAR

A formação do Pensamento Militar da Força Aérea Brasileira entre 1985 e 2000


Esther Krüger Silveira

A Geopolítica e a Autonomia do Brasil no Setor Aeroespacial


Amanda Cristina Santos de Jesus

A logística do tráfico de cocaína na bacia do rio Amazonas: o impacto na securitização da tríplice


fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
Larissa Agostinho Ribeiro

A tecnologia hipersônica em uma perspectiva militar operacional: os casos de Estados Unidos, Rús-
sia e China.
João Marcos Poyer Melo

Baixa participação feminina na diplomacia: a construção histórica da imagem do diplomata no Bra-


sil
Larissa Henriques Alves, Mariana Saliba Coelho

Banalidade do mal: reflexão sobre o mal totalitário


Hellen Luiza Balbino Oliveira, Larissa Almeida de Castro

Base Industrial de Defesa e Comunicação Estratégica: Desafios e Oportunidades


Victoria Caroline Souza Santos
158
POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Comunicação e Dependência Estratégica


Mayara Zorzo

Cooperação em segurança marítima no Chifre da África pela OTAN


Luísa Barbosa Azevedo, Maria Manuela de Sá Bittencourt

Dados: Instrumento valioso de guerra na atualidade.


Milena Sampaio de Oliveira Silva, Theo Augusto Apolinário Moreira Fonseca

Entre a cooperação multilateral e a rivalidade bilateral: uma análise das rivalidades entre Colômbia
e Venezuela (2008-2018)
Luiza Lopes Rosa, Pedro Henrique Paulette Favero

Lawfare: o uso do Direito como instrumento de guerra


Izabella Girundi Alves, Ana Luiza de Souza Braga

O amanhecer do poder cibernético brasileiro? Uma análise documental sobre defesa e segurança
cibernética no Brasil de 2018 a 2020
Pedro Henrique Paulette Favero

Os excessos das operações de paz: a relação entre os “capacetes azuis”, o tráfico humano e o abuso
sexual na Bósnia-Herzegovina pós-guerra
Júlia Rodrigues Fernandes, Clara Siqueira Alvarenga

Os Grupos Armados na Pandemia da COVID-19: O caso das Operações de Paz Multidimensionais


da ONU
Julia Mori Aparecido

Para onde a maré levou a Teoria do Poder Marítimo de Mahan? Perspectivas para o século XXI
Fernanda Teixeira Dias Lopes

Uma análise das disputas dos poderes do euroatlantismo vs eurasianismo, à luz de Mackinder, Spyk-
man e Mahan
Ana Carolina Araújo Grossi, Caroline Mariete Pimentel
159
A formação do Pensamento Militar da Força Aérea Brasileira entre 1985 e 2000

POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Esther Krüger Silveira (UFRGS)

O Pensamento Militar caracteriza-se como o conjunto de concepções do que sejam a guerra, estratégia,
doutrina e teoria militar (AZAR, 2001). Ou seja, consiste em um corpo discursivo produzido pelos próprios
militares a fim de conceder sentido e explicação sobre as suas convicções tanto para com a classe castrense
quanto para a classe civil. Este pensamento pode ser encontrado em diversos materiais escritos publicados
pelos militares como: artigos, livros, intervenções na imprensa e em documentos oficiais de cunho estratégico.
São nesses últimos que é determinada a Doutrina Militar, a qual é uma espécie de guia para as práticas
militares estabelecendo os protocolos de ação, assim como serve de referência para a mesma refletindo a
visão das concepções militares (ROSA, 2020, p.197 apud MEILINGER, 2003, p.37). Dito isso, a presente
pesquisa apresenta um estudo preliminar acerca do pensamento militar da força aérea brasileira ao longo do
recorte temporal de 1985 à 2000 a partir dos artigos presentes na Revista da Universidade da Força Aérea
Brasileira (REUNIFA) desses mesmos anos, de modo a identificar os pontos de consenso e disputa entre os
temas catalogados de doutrina, tática, tecnologia geopolítica, estratégia, teoria, indústria de defesa e logística
fim de compreender o alto grau de impacto de tal evolução nas políticas comunicadas e implementadas.
Os resultados preliminares da pesquisa desenvolvida, de forma geral, demonstram a escassez de material
publicado pela Força Aérea Brasileira, assim como a falta de uniformidade entre os atores que ocupam esse
espaço. No entanto, é possível perceber a relação direta entre as ideias que constituem o debate dentro da
organização militar com os acontecimentos recorrentes no plano internacional no século XX.

A Geopolítica e a Autonomia do Brasil no Setor Aeroespacial

Amanda Cristina Santos de Jesus (UFMG)

Neste trabalho, apresentam-se as três fases vividas pelo Brasil no setor aeroespacial, sendo elas: as primeiras
iniciativas (anos 60), a redemocratização do país (anos 90) e a ausência de autonomia estratégica (atual).
A primeira fase ocorre durante o desenvolvimento industrial pós Guerra Fria. Nesse momento há forte
investimento na capacitação tecnológica do país, desenvolvendo satélites e equipamentos nacionais. Na
segunda, a sociedade civil limitou o protagonismo político das Forças Armadas, retirando investimentos e
aumentando restrições, para posicionar o Brasil em uma vertente pacífica no quadro geopolítico internacional.
A terceira foi marcada pelo aparecimento do New Space, que atrai novos participantes nesta seção, tendo
como o apoio governamental, forte aliado dos países emergentes. Entretanto, o país optou pela produção de
menor intensidade tecnológica, o aumento da participação do setor privado e diminuição do protagonismo
do Estado, sendo uma inserção periférica que aumenta ainda mais a distância entre países emergentes e
desenvolvidos. Um exemplo dessa desvantagem é a assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com
os Estados Unidos, sendo ele prejudicial para a autonomia estratégica brasileira, ao impedir o ingresso de
tecnologias ou recursos financeiros de países que não participem do MTCR. Além das fases, são estudados os
benefícios dados pelo investimento no setor espacial, mostrando como os satélites podem ser empregados na
concretização dos objetivos fixados pela política, nos campos das comunicações, lançamentos, sensoriamento
remoto e navegação. O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas é considerado
o primeiro passo em direção a autonomia e soberania nacional, tendo como objetivos a inclusão digital,
a atuação de sistemas como o Sistema de Comunicações Militares por Satélite e o Sistema Integrado de
Monitoramento de Fronteiras. Assim, este trabalho propõe uma reflexão sobre o posicionamento do Brasil
acerca da ampliação do setor aeroespacial, a fim de incrementar a estratégia de dissuasão e presença nacional.
160
A logística do tráfico de cocaína na bacia do rio Amazonas: o impacto na securitização da
POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru

Larissa Agostinho Ribeiro (UFSC)

O narcotráfico é um problema presente em todo o mundo, em especial na América Latina. A produção de


cocaína, escoada mundialmente, é concentrada especialmente na América Andina: Colômbia e Peru - países
os quais dividem fronteira com o território brasileiro na Amazônia. Há muitas rotas de distribuição que usam
o Brasil como país intermediário, e, em especial, rotas fluviais as quais se valem da bacia Amazônica e sua
população para criar caminhos de escoamento do alcaloide. Destarte, o pôster dedicar-se-á a identificar e
analisar essa estratégia logística do narcotráfico, quais são os principais caminhos e atores envolvidos, além
dos impactos na crescente securitização da tríplice fronteira pelos países citados e suas políticas de combate ao
tráfico de drogas no âmbito da segurança nacional. Para isso, o trabalho basear-se-á em pesquisa bibliográfica
e análise de documentos e dados oficiais, de órgãos internacionais e Estados, sobre as rotas de tráfico na região.
Em seguida, será possível responder como a cadeia da cocaína impacta na segurança desses Estados nos
âmbitos político, militar e econômico.

A tecnologia hipersônica em uma perspectiva militar operacional: os casos de Estados


Unidos, Rússia e China

João Marcos Poyer Melo (UFU - Universidade Federal de Uberlândia)

INTRODUÇÃO Velocidade aplicada às plataformas militares é fator decisivo para o desenvolvimento e no


emprego de armamentos, sejam eles convencionais ou mesmo nucleares. Nesse sentido, o desenvolvimento
da Tecnologia Hipersônica tem absoluta relevância de estudo, visto que pode revolucionar a maneira de fazer
guerra. A implementação da tecnologia pode alterar de forma terminal a maneira com a qual os exércitos
se organizam, principalmente pelo efeito-surpresa advindo não somente da velocidade, mas também pela
manobrabilidade desenvolvida pela arma. PERGUNTA DE PESQUISA Portanto, a pergunta de pesquisa
proposta é: “Como o desenvolvimento da tecnologia missilística hipersônica altera as capacidades operacionais
militares, convencionais e nucleares, das grandes potências e influencia na sua manutenção na posição no
sistema internacional? METODOLOGIA Indica-se que se trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa de
natureza exploratória, cujos objetivo relacionam-se a exploração das possibilidades de emprego da tecnologia
hipersônica no campo militar, convencional e nuclear, assim como possibilidades de transbordamento. Em
relação aos procedimentos, trata-se de um estudo de caso comparado da implementação da tecnologia e os
efeitos que o seu comissionamento implicam para a posição de poder nacional no sistema internacional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Por fim, vale destacar que a tecnologia hipersônica desestabiliza os termos
de dissuasão atuais, isso porque que sua capacidade furtiva consegue furar as mais modernas contramedidas.
Dessa maneira, cabe investigar quais países estão desenvolvendo a tecnologia e qual é o estado da arte do
desenvolvimento. A compreensão do estado da arte, justifica-se em vista de elencar os estados vanguarda e
quais as vantagens estabelecidas pelos que primeiro desenvolvem a tecnologia, além de compreender como os
estados que ainda não estão procedendo para fazer frente ao país vanguardista.

Baixa participação feminina na diplomacia: a construção histórica da imagem do diplomata


no Brasil

Larissa Henriques Alves (UFMG), Mariana Saliba Coelho (UFMG)

Quando Simone de Beauvoir afirmou que “não se nasce mulher, torna-se”, ela definiu a construção do gênero
– os indivíduos nascem e são regulados por normas sociais e culturais, criadas na vida em sociedade. De
acordo com teóricas feministas, como Enloe, o mundo é caracterizado por hierarquias de gênero prejudiciais
às mulheres. O sexo feminino foi, por muito tempo, privado de atividades no âmbito público - não eram vistas
como esfera de atuação dos Estados, nem consideradas importantes para as relações internacionais. Dessa
161
maneira, o exercício da diplomacia brasileira foi exclusivamente masculino durante grande parte da história do

POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Brasil. Foi apenas em 1918 que esse cenário começou a mudar: Maria José de Castro Rebello Mendes tornou-se
a primeira mulher a entrar no Ministério de Relações Exteriores. Com ela, iniciou-se discussões sobre a posição
das mulheres não apenas no setor diplomático, mas dentro do funcionalismo público. Apesar disso, no século
XXI, a representatividade feminina nesse âmbito permanece muito menor quando comparada à masculina.
Nesse trabalho, pretendemos relacionar a baixa participação das mulheres nos cargos de diplomacia à visão
histórica da imagem de um diplomata, que, segundo Enloe “consiste em um mar de ternos pretos, gravatas
e cabelo curto”. Em outras palavras, pretendemos trazer os valores e costumes presentes no Itamaraty e no
cenário diplomático brasileiro como historicamente masculinos – o que impacta a participação feminina nesse
setor. Definindo a diplomacia como uma forma de resolução de conflitos pacífica entre Estados, tem-se que
a inclusão feminina nesse cenário é relevante em uma perspectiva não apenas nacional, mas global. Afinal,
as mulheres são parte do cenário internacional tanto quanto os homens, sendo impactadas pelas medidas
diplomáticas tomadas em mesma proporção. Explicita-se, portanto, a importância de discutir o tema.

Banalidade do mal: reflexão sobre o mal totalitário

Hellen Luiza Balbino Oliveira (UFMG), Larissa Almeida de Castro (UFMG)

Hannah Arendt foi uma pensadora alemã, muito destacada por suas análises políticas acerca do homem
contemporâneo, hoje, a autora é considerada um grande nome da filósofa política do século XX. De origem
judia, ela vivenciou a segunda guerra mundial e a ascensão do nazismo e antissemitismo, que levaram a sua
perseguição.
A pensadora foi chamada para estudar o julgamento de Adolf Eichmann, um criminoso de guerra capturado na
Argentina. Um cidadão banal, que se vangloriava das inúmeras mortes do período nazista. Eichmann fez parte
do Partido Nazista e com o tempo foi promovido para diferentes cargos e postos até tornar-se o responsável
máximo pela organização da “Solução Final”. Com o fim do regime Nazista, Eichmann foi preso algumas vezes
e passou o resto da sua vida fugindo.
No julgamento, Arendt escreve sobre “A Banalidade do Mal” e conclui que o réu não se considerou culpado
por seus crimes, visto que na sua percepção, ele só seguiu ordens, o que era correto segundo o seu Estado. Ou
seja, a banalidade do mal ocorre quando existe uma alienação da sociedade e prevalecem os valores ideológicos
de um único poder, e assim, cria-se uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, que aceita e cumpre
ordens sem questionar.
Portanto, Eichmann não é considerado um monstro, mas sim um trabalhador zeloso que apenas cumpriu as
ordens que recebeu sem questionar, o que torna o mal praticado por ele banal, pois trata-se apenas da execução
de ordens.
É inegável que o holocausto foi um dos momentos mais bárbaros e cruéis já vistos na história, os estimados 5
milhões de mortos são um terrível marco constantemente estudado. Nesse contexto, esse trabalho visa entender,
através de uma teoria reconhecida, como se deu a consciência de todos aqueles que participaram e/ou foram
coniventes com algo tão desumano.

Base Industrial de Defesa e Comunicação Estratégica: Desafios e Oportunidades

Victoria Caroline Souza Santos (LLK Engenharia para Inovação)

Os objetivos traçados na PND, END, PAED e na Lei de Fomento à Base Industrial de Defesa permitem notar
a consolidação e importância crescente de políticas públicas para desenvolvimento e fortalecimento à Base
Industrial de Defesa (BID) no Brasil. Contudo, ressalta-se a necessidade de entender os desafios operacionais
diários enfrentados pelas empresas componentes da BID. Por isso, ao analisar o Estudo de Caso de empresa
pertencente à BID, à luz de revisão bibliográfica de práticas nacionais e internacionais, almejou-se elencar os
desafios tais quais percebidos na indústria, com foco particular no setor espacial e empresas cujas tecnologias
desenvolvidas e empregadas se assimilam, em complexidade e aplicação, àquelas provenientes desse setor
estratégico. Uma vez apontados e classificados os desafios em três eixos, identificou-se uma série de oportunidades
para superação destes desafios através da Comunicação Estratégica. A adoção dessa ferramenta por empresas
162
pertencentes à BID prevê fomento da cultura organizacional para condução de estratégias de comunicação
POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

externas e internas, promoção de programas e cultura de inovação e desenvolvimento tecnológico, além de


dualização das atividades e tecnologias para sustentabilidade econômica e aproximação com a comunidade
externa. Em interface com o Estado, prevê a coordenação de ações de incentivo ao fortalecimento da indústria
mediante políticas públicas sólidas e planos de ação estruturados para alcance dos objetivos dispostos na
PND e END. A coordenação destes agentes trabalha a favor do pleno desenvolvimento tecnológico do país
e traz à tona o enfrentamento de gargalos como comunicação entre instituições, o orçamento do setor, a
exequibilidade dos projetos previstos, as políticas de incentivo à dualização de soluções e a internacionalização
das empresas.

Comunicação e Dependência Estratégica

Mayara Zorzo (UNESP)

Após a Guerra Fria, muitas dinâmicas internacionais foram modificadas. As armas nucleares, por exemplo,
remodelaram o pensamento estratégico e o desenvolvimento cada vez mais acelerado de novas tecnologias
trouxe novas abordagens para os estudos de Segurança. Assim, compreender o impacto das tecnologias, e
neste caso as comunicacionais, tornou-se imprescindível. Cabe ressaltar que por tecnologias compreendemos
o sistema sociotécnico que as compõem, para além meramente dos artefatos. Nessa perspectiva, destacamos
também a relevância do conceito de ameaça. Sendo a ameaça um fenômeno perceptivo, sua concepção e a
forma com a qual é enfrentada constitui uma parte importante de muitas dinâmicas das RI. É exatamente neste
processo que acreditamos haver uma importante influência das tecnologias comunicacionais, compreendidas
como um complexo político dotado de valores e interesses que influenciam e são influenciados por disputas
de poder e, na mesma medida, impactam as percepções das ameaças. Por isso, consideramos como objetivo
primordial do trabalho desenvolvido aprofundar o estudo sobre as influências das tecnologias comunicacionais
na percepção das ameaças nas Relações Internacionais, partindo de uma discussão conceitual baseada na análise
de bibliografias especializadas que discutem os processos que envolvem as tecnologias na área de Segurança
Internacional. Como um dos resultados iniciais observados até então, apontamos a questão da dependência e
subordinação dos países periféricos. Tendo em vista as origens e implicações políticas, econômicas, militares
e sociais do desenvolvimento tecnológico, a dicotomia centro/periferia se apresenta como uma das origens
e também das consequências das desigualdades existentes na concepção e na aplicação das tecnologias
realizadas por países, entes privados ou outros grupos políticos. Compreendemos que, portanto, devido a
melhores condições (não inerentes), os países centrais encontram uma maior facilidade nesse processo e
utilizam as tecnologias a seu favor, produzindo um conhecimento que assegura suas vantagens e fazendo com
que se ocultem os interesses envolvidos.

Cooperação em segurança marítima no Chifre da África pela OTAN

Luísa Barbosa Azevedo (EGN), Maria Manuela de Sá Bittencourt (INCT)

A atividade marítima, desde os primórdios da civilização, é fundamental ao desenvolvimento social e


econômico dos Estados. Entretanto, sua viabilização é ameaçada por atividades criminosas como pesca ilegal,
não declarada e não regulamentada (INN), pirataria marítima, tráfico internacional de drogas e contrabando
de armamentos. No que se refere ao Chifre da África, banhado pelo Mar Vermelho, é estrategicamente
disputada por potências extrarregionais pela importante via marítima, onde os ilícitos marítimos são de
grande preocupação e inspiram a cooperação entre atores regionais e extrarregionais. A exemplo da reentrada
da presença militar limitada dos Estados Unidos na Somália, um dos principais atores da região, intensificando
o debate sobre segurança operacional no que concerne ao meio marítimo.
Em foco, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), atuou nessa área no período entre 2008 e
2016, com três operações, dentre elas, a Ocean Shield. Considerada uma das ações mais bem sucedidas da
Aliança, foram prevenidas ou interrompidas centenas de ataques piratas que custavam bilhões de euros à
economia. Mesmo finalizada, a OTAN continua engajada na luta contra a pirataria através do monitoramento
163
marítimo situacional e o estreitamento de laços com atores internacionais, como a INTERPOL.

POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Parte-se da hipótese que a cooperação em segurança desempenhada externamente pela Interpol e OTAN no
Chifre da África representa uma ação de desenvolvimento importante no combate às atividades ilícitas no
mar. A pesquisa então, tem por objetivo a análise da cooperação em segurança desempenhada externamente
pela Interpol e OTAN em países como a Somália. Por fim, a pesquisa bibliográfica foi feita através do
acompanhamento de relatórios, press releases, notícias, documentos e discursos oficiais produzidos pelas
organizações e análises de Organizações Internacionais.

Dados: Instrumento valioso de guerra na atualidade

Milena Sampaio de Oliveira Silva (UFMG), Theo Augusto Apolinário Moreira Fonseca (UFMG)

Em decorrência dos avanços tecnológicos e informacionais, da vultosa utilização das Tecnologias da Informação
e Comunicação, bem como pelos tradicionais interesses políticos e econômicos em questões estratégicas, dados
e algoritmos, sejam eles de entes públicos ou privados, passaram a ocupar um espaço de poder informacional
não percebido até então. Em virtude disso, seu controle se mostra, atualmente, como uma forma cada vez
mais estabelecida e reconhecida de exercer o poder, com ímpeto e capacidade danosa reconhecidos, tendo em
vista a velocidade de repercussão que sua utilização pode alcançar, e os impactos que liberações, divulgações e
utilizações podem causar. Assim, ao pensar o poderio informacional, compreendido seu manejo estratégico,
no contexto geopolítico e, mais especificamente, nos confrontos que ocorrem entre Estados, seria possível
pensar nos dados e algoritmos sendo utilizados como um instrumento de guerra? As guerras contemporâneas
estariam sujeitas a serem guiadas por sistemas de big data e algoritmos de inteligência artificial? Partindo
destas indagações, este trabalho tem como objetivo discutir como os dados podem ser utilizados como um
instrumento de guerra, capazes de intensificar conflitos, desestabilizar potenciais adversários em contexto de
conflagração militar, bem como de servir de motivação para se iniciarem combates. Nesse sentido, pretende-
se discutir, inclusive, a influência externa em Estados-alvo a partir tanto da exposição quanto do sequestro de
dados estratégicos, capazes de influenciar decisões e ações bélicas.

Entre a cooperação multilateral e a rivalidade bilateral: uma análise das rivalidades entre Colômbia e
Venezuela (2008-2018)

Luiza Lopes Rosa (Intelbras), Pedro Henrique Paulette Favero (UFSC - Universidade Federal de Santa
Catarina)

Colômbia e Venezuela colecionam desentendimentos recorrentes, principalmente entre 2008 e 2018. Mesmo
que nenhum dos conflitos tenha envolvido confronto militar direto, caracterizam-se 14 conflitos de baixa
intensidade no período. Desta forma, a escolha desta díade como objeto de estudo deve-se ao fato de sua
relação ser a que apresenta mais conflitos fronteiriços na América do Sul e, ao mesmo tempo, também se
compõe de instabilidades internas decorrentes da presença de atores não-estatais.
Além de ter mapeado os conflitos no período citado, esta pesquisa procurou entender o motivo dos conflitos
de baixa intensidade e não-tradicionais ocorrerem tão frequentemente. Tal período foi escolhido justamente
por caracterizar-se por intensa cooperação regional, materializada via atuação do Conselho de Defesa Sul-
Americano - CDS/UNASUL. Este estudo fundamenta-se em Mares (2012) sobre os níveis de hostilidade, em
Buzan e Waever (2003) no que tange a análise das esferas de atuação e em fontes jornalísticas para mapear as
ocorrências de situações conflitivas.
Como resultados parciais, é possível inferir que, embora os níveis de securitização decorrentes de conflitos inter-
estatais tenham permanecido baixos durante o período na América do Sul, a relação colombo-venezuelana,
onde problemas decorrentes da presença de atores não-estatais interferem em questões intraestatais,
caracterizou-se pela manutenção de certa hostilidade. Essa predominância de conflitos na esfera doméstica
não tem produzido respostas excessivamente militarizadas, mas sim, relacionadas aos três primeiros níveis de
hostilidade de Mares: nenhum tipo de uso da força, ameaça e exibição, respectivamente. Embora a UNASUL
incluísse a possibilidade de resolução de conflitos não tradicionais, a instituição não previu mecanismos para
164
a sua resolução e tampouco conseguiu efetivamente avançar na solução dos mesmos.
POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Lawfare: o uso do Direito como instrumento de guerra

Izabella Girundi Alves (UFMG), Ana Luiza de Souza Braga (UFMG)

A ONU (Organização das Nações Unidas) ao estabelecer um sistema institucional vigoroso de proteção
aos Direitos Humanos, passou a receber a partir dos anos 2000 diversas denúncias acerca dos usos de
mecanismos jurídicos-institucionais dados como uma estratégia geopolítica que objetiva o alcance de certos
fins sem o uso do recurso armado. Posto isso, o termo Lawfare foi cunhado no ano de 1970 como o emprego
da lei como mecanismo de guerra, sendo tradicionalmente o contrário de ‘Warfare’, se caracterizando como
uma guerra não convencional na qual um tipo de força não habitual é usada parar atingir fins tradicionais.
O conceito assumiu caráter militar em 2001 por intermédio do general Charles Dunlap Jr., o redefinindo
como a utilização de manobras jurídicas ( incluindo o mal uso) para a obtenção de um objetivo militar
operacional. No contexto político-jurídico brasileiro atual, é defendido que, para se caracterizar uma guerra
jurídica é necessária a aplicação de acusações sem materialidade e o uso da grande mídia para uma falsa
fundamentação de provas e a utilização irregular do Direito, planejada e respaldada por membros do sistema
judiciário, em que razões políticas influenciam na tomada de decisões judiciais resultando na condenação,
perda de credibilidade e de direitos políticos do acusado. Ademais, a guerra não convencional tem como
fito a coerção, perseguição e a derrubada de um governo ou de movimentos políticos por meio de forças
ilegítimas transcorrendo da escolha do local e jurisdição para o julgamento, criminalização de condutas
específicas e a utilização de justiça negocial (delação premiada). Sob esse viés, este trabalho pretende analisar
criticamente a origem e as formas de combate à essa nova instrumentação de guerra que compreende uma
ameaça político-internacional.

O amanhecer do poder cibernético brasileiro? Uma análise documental sobre defesa e


segurança cibernética no Brasil de 2018 a 2020

Pedro Henrique Paulette Favero (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

Principalmente a partir da década de 90, a sociedade viveu uma revolução informacional nunca antes vista
com o advento da internet. Logo se percebeu que a internet seria um meio muito eficaz na troca informacional,
diminuindo drasticamente o tempo necessário para a troca de informações. Mesmo assim, notou-se que a
internet não traria apenas benefícios para a sociedade, mas também desafios como: crime cibernéticos e
ameaças à defesa nacional. Percebendo que o espaço cibernético poderia ser um novo fronte de defesa
nacional, os Estados começaram a se apropriar de tal espaço e criar suas próprias estratégias defensivas e
ofensivas. Uma das novas possibilidades surgidas neste período foi a oportunidade de utilizar o chamado
poder cibernético para fins securitários. A partir do mapeamento de documentos oficiais sobre segurança e
defesa cibernéticas no Brasil, percebeu-se um incremento na sua produção entre 2018 e 2020. Tal poster busca
entender se o aumento dessa produção documental seria uma estratégia do governo brasileiro para aumentar
seu poder cibernético e influência no espaço cibernético em esfera global. Após a leitura dos documentos
em questão, constata-se que tal hipótese não seria verdadeira. O país em nenhum momento define uma
estratégia clara de atuação no espaço cibernético e os documentos não necessariamente conversam entre si.
Os documentos são excessivamente genéricos e padecem de um planejamento claro e pragmático sobre a
atuação brasileira no espaço cibernético. A falta de investimento nas diversas áreas necessárias, como: defesa
cibernética e formação de pessoal capacitados dificulta severamente a capacidade do país de se aproximar do
estado da arte mundial em matéria de poder cibernético.
165
Os excessos das operações de paz: a relação entre os “capacetes azuis”, o tráfico humano e o

POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


abuso sexual na Bósnia-Herzegovina pós-guerra

Júlia Rodrigues Fernandes (UFMG), Clara Siqueira Alvarenga (UFMG)

Este trabalho visa analisar o caso ocorrido na Bósnia-Herzegovina na década de 1990, no qual foram relatados
diversos episódios de tráfico internacional de mulheres para fins de abuso sexual, envolvendo os “capacetes
azuis” ou também chamados de peacekeepers da Organização das Nações Unidas, que estavam em serviço no
país entre 1995 e 2002 para a manutenção da paz no território em um cenário pós-guerra. O tráfico de mulheres
se tornou um dos negócios mais lucrativos da Bósnia no final da década de 1990 e início dos anos 2000;
nesse período, o país se tornou um dos maiores epicentros dessa prática. Paradoxalmente, a ONU objetiva a
manutenção da paz e da segurança internacional, portanto, as ações praticadas pelos soldados da Organização
contrariam intensamente esses princípios, uma vez que tais atitudes se caracterizam como graves crimes de
guerra. Com papel importante na denúncia desse comércio ilícito, pode-se citar Kathryn Bolkovac, que, ao ser
convidada para trabalhar com casos de violência contra mulheres, teve acesso a informações que possibilitaram
a identificação de práticas referentes ao tráfico de mulheres e meninas no Leste Europeu para exploração sexual.
Bolkovac reuniu provas e contatou a Organização, entretanto, sua denúncia não surtiu efeitos concretos e o
caso foi dado por encerrado. Sua história foi relatada em uma biografia, intitulada The Whistleblower, em
português, A informante, que serviu de inspiração futura para o filme com o mesmo título, e, por conseguinte,
Bolkovac, graças aos seus serviços, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2015. O trabalho, feito por meio da
metodologia de análise de artigos científicos e dissertações, busca reunir informações e levantar uma reflexão
relativa ao episódio e à negligência das Nações Unidas quanto à punição efetiva dos envolvidos nos casos de
abusos sexuais e tráfico internacional de mulheres durante a operação de paz na Bósnia.

Os Grupos Armados na Pandemia da COVID-19: O caso das Operações de Paz


Multidimensionais da ONU

Julia Mori Aparecido (UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)

A crise da COVID-19 colocou desafios sem precedentes em todo o mundo. Isso afetou particularmente as
Operações de Paz, que são frequentemente difíceis e, atualmente, navegam em contextos incertos e complexos.
Além da ameaça representada pelo vírus aos países anfitriões, a pandemia também impactou as operações no
terreno. Ademais, no início da pandemia, o Secretário-Geral da ONU apelou por um cessar-fogo. Entretanto,
enquanto alguns grupos armados cessaram suas atividades momentaneamente, outros continuaram seus
ataques nas áreas em que atuam. Assim, a análise abarcará como as operações de campo em curso na República
Centro-Africana, República Democrática do Congo, Mali, Sudão/Darfur e Sudão do Sul foram impactadas
pela pandemia; a variação nas atividades dos principais grupos armados; e as consequências iniciais para o
conflito e os processos de paz nos quais as operações foram implementadas. Pelo Process Tracing, propõe-
se a compreensão de causa e efeito pela construção de uma cadeia causal entre as alterações das operações
provocadas pela pandemia com as atividades dos principais grupos armados. Serão utilizados documentos,
fontes secundárias e entrevistas. A presente pesquisa de Iniciação Científica está em andamento e recebe apoio
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo nº: 2021/13113-4.

Para onde a maré levou a Teoria do Poder Marítimo de Mahan? Perspectivas para o século
XXI

Fernanda Teixeira Dias Lopes (UFMG)

Mahan (1890) elaborou, de forma visionária, as bases da Teoria do Poder Marítimo. Segundo ele, o país que
não pensasse para além de suas fronteiras terrestres se desenvolvia de forma fraca. Oficial naval e um dos
grandes pesquisadores dos estudos estratégicos nos Estados Unidos, Mahan antecipava, a partir do poder
166
marítimo, perspectivas do encontro Oriente - Ocidente para o século XX. Sua relevância até os dias atuais,
POSTERES DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

já no século XXI, se mostra evidente. Entretanto, muitos contextos mudaram, principalmente no que diz
respeito às tecnologias. Além disso, crises se instalam de formas cada vez mais diversas. Qual seria, então, a
contribuição do poder marítimo para os estudos estratégicos no século XXI? Quais questões da geopolítica e
da geoestratégia abraçariam o poder marítimo nas décadas de mudanças de paradigmas que estamos vivendo?
Quais as utilidades desses estudos para o posicionamento estratégico brasileiro no século XXI?
São com essas questões que o presente pôster pretende aquecer essa discussão, a partir da revisão bibliográfica
de trabalhos, como: Carmona (2012), “Geopolítica clássica e geopolítica brasileira contemporânea: Mahan,
Mackinder e a “grande estratégia” do Brasil para o século XXI”; Bracuchy (2021), “Os fundamentos da
geopolítica clássica: Mahan, Mackinder, Spykman”; e Caroli (2020), “A Importância Estratégica do Mar para
o Brasil no Século XXI”.
Pretende-se, portanto, a partir da apresentação de argumentos dessas bibliografias, levantar observações
críticas sobre a teoria do poder marítimo para o século XXI e trazer conclusões dessas observações ao
posicionamento estratégico brasileiro e para questões gerais da geopolítica e geoestratégia, como a relação
Oriente - Ocidente.

Uma análise das disputas dos poderes do euroatlantismo vs eurasianismo, à luz de


Mackinder, Spykman e Mahan

Ana Carolina Araújo Grossi (UFMG), Caroline Mariete Pimentel (UFMG)

A história sempre foi demarcada por diversos conflitos para garantir a hegemonia de um império sobre as
demais nações. Ao fazê-lo, os impérios se estabelecem economicamente e ampliam sua esfera de poder através
de forças expansionistas. Nesse sentido, desde a criação dos Estados, a história registra disputas imperialistas
para determinar os destinos e rumos de todo o globo.
Com os Estados Imperialistas em disputas, ascensão e queda, foram se estabelecendo equilíbrios de uns para
com os outros, já que o poder de um limitava a expansão de influência do outro. O equilíbrio de poder regional
pode ser visto em vários continentes, principalmente na região da Eurásia, onde tensões entre o Império do
Meio, China, e o Império Russo, com as pretensões imperiais do Japão, marcam décadas de história. Para
Mackinder, conquistar o Heartland significaria a conquista do mundo e esta se dá, primeiramente, pela
conquista do espaço europeu, percebendo-se a intensificação dos conflitos entre Europa e Rússia, e todos os
agentes envolvidos nestes.
Spykman se baseia na Teoria do Heartland e propõe uma nova doutrina que inspira a Estratégia da Contenção,
ou Teoria do Rimland, que abarca a região periférica do Heartland. Essa região é foco da investigação, uma
vez que a Contenção foi uma estratégia utilizada, a fim de conter o expansionismo dos impérios eurasiáticos
pelas potências ocidentais. Paradoxalmente, tais potências, lideradas pelos EUA, por conseguinte, tinham a
pretensão de expandir sua esfera de poder.
Considerando o que foi exposto, os objetivos desta pesquisa são expor o cenário geopolítico na Eurásia,
sobretudo em decorrência dos conflitos do Século XX; avaliar se novas tecnologias modificam e/ou influenciam
na estratégia utilizada nos conflitos, fazendo um estudo da Guerra da Crimeia e Guerra Russa na Ucrânia, que
serão os focos desta pesquisa, à luz das Teorias de Mackinder, Spykman e Mahan.
167

COMITÊS
Comissões Responsáveis

Diretoria ABED 2020-2022


Presidência: Eduardo Munhoz Svartman (UFRGS) - presidente.abed@abedef.org

Vice-Presidência: Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC) - vicepresidente.abed@abedef.


org

Secretaria Executiva: Eduardo Heleno de Jesus Santos (UFF) - secretariaexecutiva.


abed@abedef.org

Diretoria de Relações Institucionais: Marina Gisela Vitelli (UNIFESP)

Diretoria Financeira: Ana Luiza Bravo e Paiva (ECEME) - diretoriafinanceira.


abed@abedef.org

Diretoria Financeira Adjunta: Cintiene Sandes Monfredo Mendes (ESG) -


diretoriafinanceira.abed@abedef.org

Diretoria de Publicações: Augusto W M Teixeira Júnior (UFPB)

Conselheiros Fiscais: Fernando José Ludwig (UFT) e Maria Celina Soares


D’Araújo (PUC-Rio)
168
Comissão Científica
Profª. Dr ª. Adriana Aparecida Marques (UFRJ)
Prof. Dr. Alcides Eduardo dos Reis Perón (USP)
Prof. Dr. Alcides Costa Vaz (UnB)
Prof. Dr. André Panno Beirão (EGN)
COMITÊS

Prof. Dr. Aureo Toledo (UFU)


Profª.Drª Bárbara Mota (UFS)
Prof. Dr. Braz Batista Vaz (UFT)
Prof. Dr. Carlos Eduardo Valle Rosa (UNIFA)
Prof. Dr. Cláudio de Carvalho Silveira (UERJ)
Profª. Drª. Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC)
Prof. Dr. Eliezer Rizzo de Oliveira (Unicamp)
Profª. Drª. Érica Winand (UFS)
Prof. Dr. Érico Esteves Duarte (UFRGS)
Prof. Dr. Eurico de Lima Figueiredo (UFF)

Prof. Dr. Gills Vilar Lopes (UNIFA)


Prof. Dr. José Miguel Arias Neto (UEL)
Prof. Dr. Luis Alexandre Fuccille (UNESP)
Prof. Dr. Luiz Rogério Goldoni (ECEME)
Prof. Dr. Joao Roberto Martins Filho (UFSCAR)
Prof. Dr. Marcos José Barbieri Ferreira (Unicamp)
Profª. Drª. Maria Cecília de Oliveira Adão (Inst. Claretiano)
Profª. Drª. Maria Celina D’Araujo (PUC Rio)
Profª. Drª. Patricia Matos (UNIFA)
Prof. Dr. Ricardo Borges Gama Neto (UFPE)
Prof. Dr. Samuel Alves Soares (UNESP)
Profª. Drª. Selma Gonzales (ESG-BSB)
Prof. Dr. Vágner Camilo Alves (UFF)
Prof. Dr. Vinicius Mariano de Carvalho (King’s College)

Comissão Organizadora do XII ENABED


Prof. Dr. Eduardo Heleno de J. Santos (UFF)
Ptofª.Drª. Danielle Jacon Ayres Pinto (UFSC)
Prof. Dr. Eduardo Munhoz Svartman (UFRGS)
Prof. Dr. Eurico de Lima Figueiredo (UFF)
Prof. Dr. Marcio Rocha (UFF)
Prof. Dr. Thomas Heye (UFF)
Prof. Dr. Vagner Camilo Alves (UFF)
169
Comissão Organizadora Discente

Doutorandos do PPGEST-UFF/INEST
Angelo Campos Gabriel Quimbine

COMITÊS
Denise Marini Pereira
Gabriele Marina Molina Hernandez
Hiago André Duarte de Albuquerque
Matheus Moraes Alves Marreiro
Paulo Roberto da Silva Vieira
Raquel dos Santos Missagia
Roberta Carneiro de Melo

Mestrandos do PPGEST-UFF/INEST
Allana Fachini da Silva
Enzo Mello Barroso Menucci
Fabiola de Jesus Barros
Fernanda Carvalho Calado Coutinho
Grayce Kelly Ferreira Caldas
José Guilherme Reis Valadão
Ingrid Paola Peralta Morales
Juliana Zaniboni de Assunção
Karime Ahmad Borraschi Cheaito
Miguel Henrique Alexandre Dias Alves
Ramon Simoes Visentin Schettino

Graduandos do Curso de Relações Internacionais do INEST UFF


Amanda Rockert
Danilo Cruz de Souza
Dayara Kathleen Barreto de Oliveira Silva
Ellen Conceicao Barbosa Fortunato de Souza
Evelyn de Souza Ferreira
Luiz Filipe Pereira de Oliveira
Luisa Almeida do Valle Brito
Marianna do Nascimento Oliveira Cavalcante
Mathias Ezequiel Breder do Nascimento
Nathan Hofmann Dos Santos
Séfora de Carvalho Pereira
Thalita Pires Giron Pereira
Thaíssa de Albuquerque Novaes
Victoria Maria Silva Dos Santos
Vitoria Mello Ferreira de Sousa
170

Apoio Institucional
Reitoria da UFF
Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD)
COMITÊS

Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Inovação (PROPPI)


Instituto de Estudos Estratégicos (INEST/UFF)
Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos (PPGEST)
Curso de Graduação em Relações Internacionais (RI/INEST-UFF)

CAPES

BAE Systems

Arte-final, fotos e diagramação:


Eduardo Heleno
Amanda Rockert
XII ENABED

OS ESTUDOS DE DEFESA
E O BICENTENÁRIO DA
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Universidade Federal Fluminense


Campus do Gragoatá, Niterói
10 a 12 de agosto de 2022
PROGRAMA

APOIO:

Você também pode gostar