Você está na página 1de 8

A VINGANÇA DO FINADO JOAQUIM

Música de Abertura

Meu Senhor dono da casa


Minha Senhora também
O Teatro esta chegando
Venha pra rua meu bem
Venha ver essa estória
De uma alma do além
Que tinha deixado um ouro
Escondido muito bem
Quando uma tal de Rosinha
Roubou-lhe como ninguém

Êh, Há,há, Eh, Há, Há


Êêêê Alma penada
Vai se vingar vai te vingar

APRESENTADOR: Minhas senhoras e meus senhores, moças rapazes e crianças, a Cia de


Teatro Anjos da Alegria tem o prazer de lhes apresentar uma estória arrepiante que
aconteceu pelas bandas do sertão do Ceará. É a estória de Rosinha, uma mocinha bem
bonitinha que sonhava em ficar riquinha e ficou foi com a fininha. Rosinha acabou
descobrindo que o finado Joaquim, um homem muito rico falecido há mais de dez anos,
dono de muitas fazendas, tinha deixado uma botija cheia de ouro enterrada pelas bandas de
cá, todos sabiam que este finado era muito ciumento com seus pertences e tinha um cuidado
enorme com suas riquezas, mais isso não temia a menina Rosinha que estava disposta a
enfrentar todas as dificuldades para a botija encontrar, o que se comentava era que se
alguém mexesse na botija do finado, ele iria amaldiçoar, iria condenar a pessoa a passar o
resto da vida com desinteria, já pensou numa coisa dessa? Deixar o cabra se cagando pro
resto da vida! Mais vamos deixar de papo furado porque a estória já vai começar. E com
vocês!

TODOS: A Vingança do Finado Joaquim

ROSINHA: (Entra se reclamando) Ave Maria que eu não agüento mais essa vida de
pobreza, a cada dia que passa mais lisa eu fico que não tenho nem dinheiro pra comprar
uma barra de sabão pra lavar minhas calcinhas, não minha gente! Não dá mais pra ficar
assim não! Eu tenho mesmo é que ir atrás da botija do finado Joaquim, dizem que ele
deixou a botija enterrada por essas bandas e eu vou é procurar agora mesmo. Já pensou eu
cheia de ouro? Colares, posseiras, brincos, roupas chiquérrimas, carro do ano, ai como ia
ser uma maravilha. Por isso, vou agora mesmo pegar essa botija porque o home já morreu,
os urubu comeu, e por isso o ouro é meu. (Procurando) Onde será que ela esta? Ah! Vou
olhar pelo mapa que me deram. (Olha)
TODOS: Dois passos para frente

1
ROSINHA: Um, dois.

TODOS: Dois passos para trás

ROSINHA: Um, dois

TODOS: Dois passos para a esquerda

ROSINHA: (Indo para a direita) Um, dois

TODOS: Esquerda burra

ROSINHA: (Indo para a esquerda) Ah! Um, dois

TODOS: Direita burra

ROSINHA: (Confusa) Como assim?

TODOS: Dá uma rodadinha e vai pro olho da rua! (Chutam Rosinha por um empurrão)

ROSINHA: Aiiiiiiiiiiii! (Se levanta) Olho da rua? Eu vou é procurar minha botija. (Sai à
procura e vai passando um homem matuto) Ei moço! Faz favor! O Senhor podia me dizer
onde posso encontra a cova do finado Joaquim?

MATUTO: (Amedrontado) A cova de quem minha filha?

ROSINHA: Do finado Joaquim. É que eu estou procurando a botija de ouro que ele deixou
enterrada para mim e no mapa que me deram diz que é a dez metros da cova onde ele foi
enterrado.

MATUTO: Você esta no seu juízo perfeito minha filha? Se você tocar naquela botija o
finado Joaquim vai aparecer pra te amaldiçoar e nunca mais tu vai ter sossego porque ele
vai te condenar até o fim dos teus dias.

ROSINHA: (Nem liga) Vai nada besta, eu até sonhei outro dia com o finado, e no sonho
ele dizia que eu podia vir pegar, pois ele tinha deixado de herança pra mim, mais aí ele
tinha medo que alguém pegasse primeiro e então resolveu enterrar a botija para que depois
eu viesse desenterrar.

MATUTO: A moça ta é delirando mesmo minha gente. Olhe eu vou lhe dizer, você vai por
essa estrada aqui direto até chegar no meio de um matagal, lá você vai encontra um monte
ce alma penada todas em pé e em circulo assistindo essa besteira aqui na praça, pois bem, aí
é só procurar com qual alma pena esta segurando a botija do finado Joaquim, tomar a botija
das mãos da alma penada e sair correndo rezando duzentas Ave Maria pra poder se salvar.

2
ROSINHA: (Contente) Pode deixar seu menino, que eu vou me pegar é com meu padim
Padre Cícero Romão Batista pra ele me livrar desse batalhão de alma penada.

MATUTO: Seja o que Deus quiser minha filha e boa sorte!

ROSINHA: Se preocupe com Deus não seu moço que Deus quer, muito obrigado, eu agora
vou atrás de meus dólares. Daqui por diante eu serei a mais nova ricona do Crato e ninguém
me segura.

Música para a Rosinha procurar a botija (Paródia da música da mulher rendeira)

Olé olha a Rosinha, olé ô Rosinha


A Rosinha ta de olho é na botija do finado
A Rosinha ta de olho é na botija do finado (Bis)

ROSINHA: (Achando a botija) Acheiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!! A minha botija, finalmente encontrei


a minha botija, finalmente vou conhecer.. . (Rosinha sente um toque de uma mão em suas
costas, olha e não é ninguém) Vou cochecer vários lugares, e aí eu vou ficar bem rica com
um carro do ano passeando aqui pelas ruas da cidade e . . . (Outro toque) Ai meu Deus, o
que será que esta acontecendo que eu estou toda arrepiada achando que tem alguém me
seguindo? Ah deixa pra lá, não é nada não, bom como eu ia dizendo, depois que eu ficar
rica eu vou. . . (Novo toque e desta vez Rosinha ver o espírito do finado e dá um enorme
grito) Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii (Pula nos braços de alguém da platéia)

ROSINHA: (Se aproxima do finado com muito medo) Quem é você?

JOAQUIM: Eu sou Joaquim

ROSINHA: (Sem acreditar) Joaquim? Mas que Joaquim?

JOAQUIM: Aquele que pegou no seu furiquim (Pegando). Eu sou o Joaquim dono da
botija que você roubou.

ROSINHA: (Assustada) O Finado?

JOAQUIM: Finado o quê? Finado é seu futuro. E quem é você sua enxerida que veio
pegar na minha botija?

ROSINHA: Eu? Bom eu, é . . . eu sou Rosinha, e eu vim pegar a sua botija foi pra mim
guardar mocinho, foi.

JOAQUIM: Eu vou lhe amaldiçoar, você vai ver, vou lhe condenar pro resto da sua vida.
Mais antes eu preciso da ajuda de todos da platéia, vamos todos repitam comigo. Rosinha,
Rosinha

TODOS: Rosinha, Rosinha

3
JOAQUIM: Rosinha, Rosinha, você vai ficar toda cagadinha

TODAS: Rosinha, Rosinha, você vai ficar toda cagadinha (Todos cantam) A Rosinha se
cagou todinha, a Rosinha se cagou todinha, há Rosinha, há Rosinha, a Rosinha se cagou
todinha. (Rosinha sente uma forte dor de barriga e sai a procura de um banheiro)

ROSINHA: (Agoniada) Minha gente eu estou já me obrando, por favor me digam, onde é
que tem um banheiro aqui? Pode ser um cagadouro público, onde tem? Ai meu Deus eu não
vou agüentar. (Aparece um vendedor de pinicos).

VENDEDOR: Olha o pinico é cinco real, cinco real o pinico. Quem vai querer? É o último
saindo, o último, um pinico é um real.

ROSINHA: (Chamando) Ei moço!

VENDEDOR: Diga moça!

ROSINHA: Quanto é o pinico moço?

VENDEDOR: É cinco real.

ROSINHA: Eita que pinico caro

VENDEDOR: É o preço da sua cagada

ROSINHA: Ave Maria minha gente, eu tô lisa, me ajudem aí? (Sai pedindo dinheiro ao
público, quando consegue uma certa quantia compra o pinico e se prepara para fazer suas
necessidades quando o pinico é puxado por uma linha fazendo a Rosinha cair ao chão, este
jogo é repetido por mais duas vezes até que a Rosinha corre e consegue agarrar o pinico, no
auge do seu alívio ao conseguir fazer o que queria, desmaia, quando em seguida entra a sua
irmã Zefinha)

IRMÃO DE ROSINHA: Eita que praça podre da mulestia, que carniça é essa caída aqui
no chão (Surpresa) Meu Deus, é a minha irmã Rosinha desmaiada e toda cagada. Rosinha
muié que diabo foi que aconteceu neguinha? Tu ta é beba é? (Ver a Dona Maricota
entrando rezando com um pedaço de galho de planta nas pessoas da platéia) Eita, olha só
quem tá aí, é a dona Maricota, a rezadeira mais poderosa da redondeza, vou falar com ela
pra rezar em Rosinha.

DONA MARICOTA: (Cantando e rezando) A treze de maio na casa da Iria, do céu


aparece a Virgem Maria, Ave, Ave, Ave Maria. . .

TODOS: (Cantam paródia) A treze de maio na praça caidinha, com dor de barriga aparece
Rosinha, amaldiçoada no corpo todinha, coitada ela estava toda cagadinha, aí ela, aí ela,
toda cagadinha, aí ela, aí ela, toda cagadinha.

4
IRMÃO DE ROSINHA: Ô dona Maricota, veja aqui a minha irmã Rosinha, a bixinha esta
toda cagadinha caidinha no meio da praça muié, olha!

DONA MARICOTA: Vixe? É tu que ta fedendo a carniça é?

IRMÃO DE ROSINHA: É não dona Maricota, é a minha irmã Rosinha que esta toda
obrada caída no chão muié. Veja aí o que é que ela tem dona menina.

DONA MARICOTA: (Examinando) Vixe minha nossa senhora, o negócio aqui ta feio
viu?

IRMÃO DE ROSINHA: O que foi dona Maricota, fala logo, o que aconteceu a minha
irmã Rosinha?

DONA MARICOTA: Ela está amaldiçoada por um esprito obsessor que quer se vingar de
algum mal que ela lhe fez.

IRMÃO DE ROSINHA: Ai meu Deus, acho que a Rosinha foi bem atrás de mexer na
botija do finado Joaquim, e bem que eu disse a ela que não fosse porque todo mundo diz
que este finado ia amaldiçoar a bixinha.

DONA MARICOTA: E Quem era esse finado Joaquim?

IRMÃO DE ROSINHA: O finado Joaquim era um senhor muito rico que já morreu a mais
de dez anos e deixou uma botija cheia de ouro enterrada, pois o cabra era tão sovino que
não queria deixar sua riqueza para ninguém.

DONA MARICOTA: (Examinando Rosinha) É, e esse finado esta furioso com ela
mesmo, e fez um catimbó pra se vingar, temos que tratar da menina, mais para isso você
terá que deixa ela aqui e vir depois.

IRMÃO DE ROSINHA: Está bem Dona Maricota, mais por favor salve a minha irmã
Rosinha (SAI)

DONA MARICOTA: (Colocando um vidro de ervas para Rosinha cheirar) Eu vou botar
aqui pra ela cheirar uma erva chamada desperta defunto, é uma mistura de mijo de sapo
com casca de laranja podre e um pouquinho de cocô de morcego.

ROSINHA: (Despertando) Cadê a alma? Cadê?

DONA MARICOTA: Mas que alma que nada Rosinha, foi só uma fininha, que por causa
de uma botija você começou a se derreter em merda, e cuide logo de me contar como foi
que isso aconteceu.

ROSINHA: Ah, dona Maricota, tudo isso começou quando pedi pra alma do finado
Joaquim me da a sua botija pro mode quando eu tivesse cheia do ouro poder ficar ricona. A
dispois de rica pensava em viajar, umas compras fazer pro mode ficar bonita, e quem sabe

5
mais pra lá, até um namorado poder arranjar!? Mais o quê Dona Maricota! Quando ia
passando com a botija na mão me deu um frivião e um calafrio dentro de mim, quando
percebi um vulto, quando olhei pra traz vi o finado Joaquim que começou a me dizer. . .

JOAQUIM: Rosinha, Rosinha, você ainda quer uma botija minha? Botija minhya não é
dada pra gente medrosa não, é dada pra gente com coragem e sem ambição, por isso fique
no seu lugar e trate de trabalhar pra um dia ocê inricar.

ROSINHA: Dona Maricota, nessa hora arrepiou sem demora, arregalei meus olhos e
comecei a tremer e foi nessa hora que eu dei um treco e só vim tornar quando cheirei aquela
gororoba dada pela senhora, por isso eu imploro dona Maricota, a senhora tem que me
curar porque eu não agüento mais de tanto cagar.

DONA MARICOTA: Eu lhe curar? Logo eu, uma pobre veia que não consegue mais nem
andar direito? Mas não se preocupe que eu vou lhe ajudar. (Começa um ritual de Reza) Que
tudo que há de negativo nessa criatura, que do tutano passe pro osso, do osso passe pra
carne, da carne passe pro sangue, do sangue passe pra pele e da pele vá pro lugar que não
faça mal a ninguém, por que todo mundo sabe que na minha casa não existe satanás. E que
todas as forças do mal que existem em Rosinha venham até a mim agora.

JOAQUIM: (Aparece para dona Maricota) Chamou Mancherry, eu estava lá embaixo e


ouvi um barulho aqui em cima me chamando e então resolvi subir pra ver que bagunça era
essa e por que diabo é que estão me chamando. E então, quem me chama?

DONA MARICOTA: Quem é você?

JOAQUIM: Eu sou Joaquim

DONA MARICOTA: Mas que Joaquim?

JOAQUIM: Aquele que te pegou pelo furiquim. E quem é você?

DONA MARICOTA: Eu sou a Dona Maricota

JOAQUIM: Mas que Maricota?

DONA MARICOTA: Aquela que torceu a sua piroca. Eu sou a dona Maricota a poderosa
curandeira que afasta todos os encostos das pessoas e vou te dizer mais seu cabra, minha
reza serve e eu vou te afundar coisa feia. Olhe seu cabra, deixe Rosinha em paz, a
pobrezinha já pagou por tudo que fez.

JOAQUIM: Ah,é? Se fosse pra eu deixá-la em paz ela não teria ido mexer na minha botija.
Mas eu ainda não posso lhe enfrentar assim não, sua velha rabugenta, é preciso eu entrar
em Rosinha e vai ser agora. ( A alma do finado encarna em Rosinha). Eu não vou parar só
porque uma véa curandeira em mim quer mandar não.

6
DONA MARICOTA: Pois se ocê não parar, uma coisa eu vou lhe dar, muita reza no seu
rabo que é pro mode ocê parar, vou rezar a Ave Maria, o Pai nosso e o Crê – Deus – Pai.
(Começa a rezar)

JOAQUIM: Avestruz! Pode rezar que não vai adiantar, porque Rosinha eu vou pertubar, e
aí véa vai me enfrentar?

DONA MARICOTA: Enfrentar ocê, é como enfrentar uma galinha preta. Mas quando eu
ganhar a Rosinha ocê vai abandonar

JOAQUIM: E aí Véa, Vai me enfrentar? Eu te amaldiçoou!!!!

DONA MARICOTA: E eu te desterro. Peço ajuda a todos os santos para recorrer junto
comigo a Deus pai todo poderoso, e o seu filho Jesus Cristo filho da virgem Maria, e ao
meu Padim Ciço Romão Batista (Cantam o bendito do Padre Cícero).
BENDITO: O que caminho tão longo e tão cheio de pedra e areia (Bis)
Valei-me meu padrinho Ciço e a mãe de Deus das Candeias

JOAQUIM: Paraaaaaaaaa!!!!! Pensando bem, eu vou deixar isso pra lá, mas diga pra ela
na minha botija não querer pegar e não eu volto para lhe perturbar. (Pega a botija e sai).

DONA MARICOTA: Meu Deus, nunca tinha visto nada dessa espécie, Crê – Deus – Pá.
Mas agora vamos receber a benção de Deus pai todo poderoso que é pai, filho e espírito
santo.

ROSINHA: Cadê a alma penada? Ela quer me levar, cadê? Cadê? Eu já estou curada?

DONA MARICOTA: Curada você já está sim. Mas farta prometer pra mim que nunca
mais vai querer mexer na botija do finado Joaquim.

ROSINHA: Prometo sim dona Maricota, nunca mais vou querer mexer na botija do finado
Joaquim. Graças a Deus você me curou dona Maricota, muito obrigada! Prometo que não
vou trazer de volta a vingança do finado Joaquim.

IRMÃO DE ROSINHA: (Entrando) Dona Maricota e aí curou a minha irmãzinha?

DONA MARICOTA: Está curada sim, só não pode mais é ir pegar na botija do finado

IRMÃO DE ROSINHA: Ai Rosinha, muié, porque tu fez isso? Eu pensei que tu ia se


derreter em merda neguinha, não, passa pra casa, vamos tomar um banho porque tu ainda
esta podre, podre. Passa vamos logo se não eu chamo mãe, vai, vai (Saem)

APRERSENTADOR: Isso foi o que aconteceu com a Rosinha por ter ido mexer na botija
do finado. Ficou com a fininha, e isso pode acontecer aqui com qualquer um de vocês se
mexer na botija ele vem lhe amaldiçoar. E era só, entrou por uma porta e saiu por outra . . .

TODOS: E quem quiser que conte outra ( MÚSICA DE DESPEDIDA)

7
8

Você também pode gostar