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20 DE AGOSTO OU 9 DE SETEMBRO?
Out. 79 - M. GOMES PGM da GR:.
Decorridos vinte e dois anos de cele-
bração da data magna da Maçonaria bra-
sileira, o Dia do Maçom, surge dúvidas
quanto a data da memorável reunião
maçônica em que Gonçalves Ledo pro-
clamou a Independência do Brasil - 20
de agosto ou 9 de setembro.
Estudiosos de história da Maçonaria,
partimos para a pesquisa em busca de
novos argumentos com o objetivo de
oferecer aos que se interessam pela ver-
dade histórica alguns esclarecimentos
mais sobre o maravilhoso trabalho que
realizaram os maçons por nossa Indepen-
dência e, principalmente, por na devida
ordem cronológica o que ocorreu no
Grande Oriente nessa época.
Teixeira Pinto, em "A Maçonaria na
Independência do Brasil", transcreve as
atas das sessões do Grande Oriente, da
fundação - 17 de junho de 1822 a 11
de outubro daquele ano, última que rea-
lizou na primeira fase de atividade, pois
teve o Grande Oriente suspensos os tra-
balhos dez dias depois, 21, por determi-
nação de D. Pedro, Imperador e Grão
Mestre, pretextanto conveniência de "se-
rem feitas certas averiguações tanto pú-
blicas como particulares na Maçonaria".
São ao todo dezenove atas. Reportamo-
nos a de número 14, a sessão, que foi
de Assembléia Geral do Povo Maçônico,
presente os obreiros das Lojas metropo-
litanas - "Comércio e Artes", "União
e Tranquilidade e Esperança de Nite -
rói", realizada no dia 20 do 6.0 mês
(Elui) do Ano da Verdadeira Luz de
58822 do calendário maçtinico então a-
dotado pela Potência para os registros,
que no grego ria no corresponde a 9 de
setembro, sessão esta em que Gonçalves
Ledo, 1.0 Grande Vigilante, na presidên-
cia, dirigindo-se à Assembléia e veemêi-
cia oratória, peculiares a seu estilo subli-
me", disse: " .. _ que as políticas circuns-
tâncias de nossa Pá tria, o rico, fértil e
poderoso Brasil, demandavam e exigi-
am que a sua categoria fosse inabalada-
velmente firmada com a proclamação
da nossa Independência da Realeza Cons-
titucional na Pessoa do Augusto Prínci-
pe Perpetuo Defensor do Brasil".
A moção foi aplaudida e aprovada.
Apesar disso, foi pelo próprio Ledo pro-
posto que sua moção deveria ser discuti-
da, para aqueles que ainda pudessem ter
receio de que fosse precipitada a medida
que se propunha, e perdessem convenci-
dos pelos debates.
Franqueada a palavra, dela fizeram
uso os imãos João José Vahia, José Cle-
mente Pereira, Antônio José Picanço, Jo-
sé Joaquim de Gouvêa, Pedro José da
Costa Barros e Cipriano Lérico, e posto
que todos aprovavam a moção, reconhe-
cendo a necessidade de ser proclamada
a Independência e aclamado Rei ou Im-
perador o Príncipe D. Pedro de Alcânta-
ra, con tudo, como alguns do s mesmos
opinantes mostrassem desejo que fossem
convidadas as outras províncias para ade-
rirem à causa, ficou reservada a discussão
para outra Assembléia Geral.
Esta reunião de 9 de setembro foi
convocada na ignorância dos aconteci-
mentos no dia 7 no Ipiranga. e por certo
sob impressão pelas graves notícias trazi-
das pelo brigue "Três Corações", chega-
A TROLHAlJUNHO/1980
LOJA DE SANTA CATARINA
do ao Rio em 28 de agosto e transmiti-
das à D. Pedro que se achava em São
Paulo.
A reunião seguinte do Grande Oriente
ocorreu a 14, e foi especialmente convo-
cada para ser repreendido o irmão frei
Francisco de Sampaio por haver propa-
gado, em seus escritos, princípios contrá-
rios à causa abraçada pela Maçonaria.
Propos o irmão José Joaquim de Gou-
vêa, e foi aprovado, a nomeação de uma
comissão para levar ao irmão Guatimo-
zim (nomes simbólicos que adotou o
Príncipe por sua iniciação na Ordem),
os cumpnmentos de felicitações pelo
seu regresso à Corte, vindo de São Pau-
lo, fazia pouco.
Nesta reunião, como se pode, ver da
respectiva ata, que tomou o número 15,
não se falou em Independência. Todo
o interesse dos congregados esteve volta-
do para o processamento do ato da acla-
mação do Príncipe, propondo Ledo, que,
tendo sido os maçons os primeiros a dar
o necessário impulso à opinião pública
para a Indepefidencia e Aclamação do
Príncipe como primeiro soberano brasi-
leiro, parecia-lhe acertado que da Maço-
naria se enviasse às provincias emissárias
encarregados de propagar a opinião a-
braçada e dispor os ânimos dos povos
em favor da causa. Não há a menor dú-
vida de que, nesse momento, eram já
conhecidos os acontecimentos do dia 7,
em São Paulo.
A partir de então, foi intenso o traba-
lho desenvolvido pelos maçons no senti-
do de apressar o ato da Aclamação do
Príncipe. Oliveira Lima, na sua obra
"O Movimento da Independência", pá-
ginas 268, faz o registro. : "A Maçonaria
entretanto, não descansava. Antes de par-
tirem os emissários para as províncias com
o objetivo de assegurarem a aclamação u-
nânime de D. Pedro como Soberano do
Brasil, cuidou-se da fórmula de juramen-
to a remeter às Câmaras Municipais, que
até então constituiam o único órgão de
vontade popular, portanto, da soberania
popular...
Lucas Boiteux - História de Santa 01-
tarina, páginas 313: "A nobre idéia da
Independencia dominava todos os cora-
ções. Para todos os pontos partiram emís-
sários. A Santa Catarina veio, mandado
pela Maçonaria, Alexandre José Tinoco,
que se havia oferecido para levantar o
nosso povo a favor de tão alevantada
causa".
Vernhagen - Jistória da Independên-
cia 5.a ed., páginas 136 - "A verdade
é que, antes de poderem chegar ao Rio
as resoluções do Príncipe tomadas em
São Paulo, já a proclamação da nossa In-
dependência se resolvia, no Rio de Janei-
ro, no Grande Oriente, "em sessão de 9
de setembro" (grifamos).
Aníbal Gama. em "D. Pedro na Re-
gência .. , edição da Biblioteca Militar, pá-
ginas 261 "Tornava-se inevitável a sepa-
ração completa do Brasil cuja regência
desapareceria automaticamente. Então
D. Pedro seria o monarca brasileiro, co-
mo um corolário lógico da nossa Inde -
pendência, Segundo esta ordem de idei-
as, a Maçonaria estabeleceu, no dia "(9
de setembro de 1822" (grifamos) o pro-
grama fatal que nos conduziria à ernan-
cipação desejada, fazendo de D. Pedro
nosso primeiro soberano".
Melo Morais, Pereira da Silva, Varnha-
gen e Mário Behring, para a conversão
dos calendários, levaram em conta que
o ano maçônico começava em 21 de mar-
ço, que é o primeiro mês do seu .calendá-
rio. Assim, o dia 20 do 6.0 mês maçôni-
• co (da ata n_14), no calendário comum
seria ( de setembro. O Barão do Rio Bran-
co, ao anotar a obra de Vernhagen - Hs-
tória da Independência, fundado numa
citação de Manoela Joaquim de Mene-
zes - Exposição Histórica da Maçonaria
Brasileira, aceitou que o ano maçônico
tivesse começo em l.o de março, o que
o levou a afirmar que 20 do 6_0 mês ma-
çônico correspondia a 20 de agosto.
Anibal Gama, em "D_ Pedra na Re-
gência", páginas 268, diz que para eluci-
dar a controvertida questão,ainda foi pro-
curar na seção de manuscritos da Biblio-
teca Nacional indicação sobre o calendá-
rio maçônico, lã encontrando um traba-
lho intiulado "Guia dos Maçons Escoce-
ses Antigos e Aceitos do Círculo do Sa-
pientíssimo Grande Oriente do Brasil",
coordenado pelo dr. Alexandre José de
Morais, grau 33, onde se vê que o calen-
dário para os maçons frances começa no
dia 1.0 dê e março e para todos os ou-
tros povos, sem nenhuma outra exceção,
no dia 12 do mesmo mes, corresponden-
do ao equinócio de outono, neste hemis-
fério, e foi este último uso o adotado pe-
lo Grande Oriente ao mesmo tempo da
Independência, de forma que no Brasil
o ano maçônico tinha sobre o gregoria-
no é de e dois meses e 21 dias; o 6.0
mês maçônico teria começado no dia 21
de agosto, caindo o dia 20 em 9 de setem-
bro.
Este, o calendário maçônico em uso
no Grande Oriente em 1822:
1_0 mês - Nisan - corresponde de 21
de março a 20 a de abril:
q 2.0 mês - Yar - de 21 de maio a 20
de junho:
3.0 mês - Sivan - de 21 de julho a 20
de julho:
4.0 mês - Tamuz - de 21 de junho a
20 de julho:
5_0 mês - AB - de 21 de julho a 20
de agosto:
6_0 mês - Elui - de 21 de setembro
a 20 de outubro:
7.0 mês - Thisri - de 21 de setembro
a 20 de outubro:
8.0 mês - Kislev - de 21 de novem-
bro a 20 de zembro:
9.0 mes - Marshevan - de 21 de outu-
bro a 20 de novembro:
10.0 mês - Thebet - de 21 de dezem-
bro a 20 de janeiro:
11.0 mês - Schebet - de 21 de janei-
ro a 20 de fevereiro.
12. o mês - Adar -. de 21 de feverei-
ro a 20 de março.
Vimos, o ano maçônico, segundo o
calendário adotado pelo Grande Oriente na
época da Independência, principiava em
21 de março, que corresponde ao equinó-
cio de outuno, ajuntando à Era Vulgar
mais 4.000 anos, para significar; -ía fun-
dação da Ordem. Assim, 20 do 6.L mês do
Ano da Verdadeira Luz de 5822, que é
a data da 14.a sessão, corresponde a 9 de
setembro de 1822.
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