Você está na página 1de 2

Kyatami, a princesa de sangue

Nas vastas terras congeladas da Tribo da Água do Norte, onde o gelo se funde ao horizonte,
existe uma lenda tecida nas sombras de um oásis e nas luzes das noites enluaradas. Dentro
desta terra de serenidade reluzente reside Kyatami, conhecida carinhosamente como prin-
cesa Kya, uma filha tocada pelos espíritos, portadora de profundezas tão abissais quanto o
oceano em si.

Desde as suas primeiras memórias, Kya dançou entre os sussurros dos ventos congelados,
com seu espírito assemelhando-se às correntes rodopiantes que esculpem os glaciares. Era
uma criança muito curiosa, que ansiava por conhecimento tão fervorosamente quanto eram
as marés que batem contra os muros gélidos da tribo durante uma tempestade. No entanto,
o seu caminho divergiu das correntes tranquilas da tradição, pois ela ousava buscar a sabe-
doria onde outros temiam pisar, e desafiava os limites e práticas que ninguém ousaria em
quebrar.

Nascida sob o olhar vigilante da vida do Norte e sobre as águas do Oasis Espiritual, Kyatami
carregava o peso das expectativas, e com o seu sangue entrelaçado com o legado da maestria
na dobra da água e com o dever monárquico, ela deveria honrar a sua linhagem e respeitar
as tradições do seu lar. E como se não bastasse, o destino lhe entregou os fardos de decisões
imprudentes, já que ela era o fruto do relacionamento extraconjugal da mãe com um rapaz
da nação do fogo.

Em meio às estruturas rígidas das tradições e aos descasos como uma bastarda, Kya encon-
trou consolo nos ensinamentos de seu tio, o mestre de dobra de água da tribo, cujo o poder
desafiava o tempo, enquanto a necessidade de proteger a sobrinha desfiava as regras e leis
da tribo. Sob sua tutela clandestina que havia começado desde a tenra infância, ela dominou
a arte da dobra de água, assim, para ampliar ainda mais seus conhecimentos, agora ela se
mergulhava em águas ainda mais profundas...

Instigada sobre os funcionamentos da dobra de cura em um corpo, Kyatami descobriu com


reflexões e treinos, que talvez ela poderia usar o fluxo dos corpos como parte de sua dobra,
assim, descobrindo o que ela iria conhecer como dobra de sangue. Questionando o tio em
uma de suas sessões de treinos, Kya foi respondida com um tsunami de informações, todas
intrinsecamente ligadas. Uma dobra. Uma irmandade. Um espírito. Um culto.

A garota, que não se contentava com leis veladas e sem fundamentos, foi introduzida a essa
arte ilegal em seus treinos sobre a lua cheia, se forçando e se comprometendo fielmente a
tirar o máximo que podia dessa nova técnica, estudando-a com sussurros sombrios que lhe
guiavam. Passando a integrar o Círculo do Saber Escarlate, como discípula de seu tio, Kya
participava de rituais velados e juramentos silenciosos, que giravam em torno de Akai, um
espírito serpentino que aos poucos parecia se ligar a ela de alguma forma.

Comprometida com a dobra de sangue com a irmandade e com a nova figura espiritual que
lhe fora apresentada, a guardiã da dobra de sangue, de escamas de marfim, olhos carmesim
e asas plumadas, Kyatami se aprofundava em águas ainda mais turvas e misteriosas.
As noites congeladas testemunharam a sua ascensão, cada ondulação nas águas geladas era
um testemunho de sua resolução inabalável e cada sinal da dobra de sangue fora da grande
lua cheia era mais um sinal de seu esplendor. No entanto, a mão do destino nem sempre é
inefável, e sob o brilho da lua gelo e de sangue, os sussurros serpenteantes cresceram mais
altos, convocando uma alma dos abismos profundos do mundo espiritual.

Durante um momento de comunhão e fragilidade da barreira entre os mundos, o grandioso


espirito de Akai atravessou o véu azul translúcido, assim, espírito e carne se entrelaçaram,
forjando um vínculo que transcendia as formas mortais.

Com o abraço da lua, a essência de Kya agora carrega as marcas do espírito do sangue, que
anda consigo e a guiava pelos dilemas e caminhos do mundo espiritual. Em meio às marés
volúveis do destino, Kyatami agora navega por caminhos envolto em incertezas e mistério,
seguindo e permeando por entre os desejos de Akai, que agora parece ainda mais conectado
a dobradora de sangue.

Nos salões da Tribo da Água do Norte, Kyatami, a filha do destino, teceu o seu novo rumo,
e agora, vista não só como uma bastarda, mas como figura aberrante, ainda que desconhe-
cessem sua dobra proibida, foi ainda mais subestimada e menosprezada. Como alguém de
espírito insubordinado, ela decidiu sair de sua própria tribo, e os com conselhos e ajuda da
mãe, que além do tio era uma das únicas figuras de apoio, decidiu explorar o vasto mundo,
tentando aprender mais sobre si e procurando seu pai perdido, determinada a retornar para
que um dia ela possa quebrar as tradições ultrapassadas e mostrar o seu verdadeiro poder.

Você também pode gostar