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CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE


FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE DIREITO

LIBERDADE RELIGIOSA E HATE SPEECH:


EXPLORANDO LIMITES E TENSÕES EM RELAÇÃO À
HOMOSSEXUALIDADE

Layane Dos Santos Silva 2020101304

Volta Redonda, 2023


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Layane Dos Santos Silva 2020101304

LIBERDADE RELIGIOSA E HATE SPEECH: EXPLORANDO LIMITES


E TENSÕES EM RELAÇÃO À HOMOSSEXUALIDADE

Trabalho apresentado como requisito inicial da


disciplina Elaboração de Projeto de Pesquisa do
8º período do Curso de Direito do Centro
Universitário Geraldo Di Biase.

Professora-orientadora: Lúcia Studart

Volta Redonda, 2023


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Sumário

1 Introdução ........................................................................................................... 3
2 Justificativa ......................................................................................................... 4
3 Objetivos ............................................................................................................. 6
3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 6
3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 6
4 Referencial Teórico ............................................................................................. 6
5 Metodologia ...........................................................................................................10
6 Cronograma............................................................................................................11
Referências...............................................................................................................12
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1 Introdução

Ao contrário do que se imagina, a questão da homossexualidade não é um


cenário recente da história. Na Grécia Antiga, relações entre pessoas do mesmo sexo
era algo comum e rotineiro até para grandes nomes daquela época, enquanto que em
Roma, a diferença estava na mulher, a quem não cabia a possibilidade de escapar de
seu papel como mãe e esposa. Com a ascensão do Cristianismo, a homossexualidade
passou a ser vista com maus olhos e desde então, constantes são as tensões entre
religiosos e o que hoje se tornou a comunidade LGBTQIAPN+.
Nesse contexto, as tensões se dão, pois, de um lado, encontra-se a
comunidade religiosa fazendo jus a seu direito constitucional de liberdade de crença,
pensamento e expressão previstos na Carta Magna de 1988, enquanto de outro, está
a comunidade LGBT protestando seu direito a não ser discriminado por suas
orientações sexuais, visto que "omnes homines aequales sunt" (todos os homens são
iguais).
Dentro dessa perspectiva, neste trabalho será investigado a intersecção entre
liberdade religiosa e o discurso de ódio, especialmente no que tange ao discurso
contrário a indivíduos e grupos não héteros. A análise dessas tensões se mostra
evidente e lança luz sobre as complexidades intrínsecas à convivência de diversas
identidades e crenças em sociedades pluralistas como a brasileira.
Para a melhor abordagem do tema no presente projeto, foram levantadas as
seguintes problemáticas:
a) Como a liberdade religiosa está prevista na Constituição Federal?
b) O que seria o chamado Hate Speech?
c) Qual a correlação da liberdade religiosa e Hate Speech com a
homossexualidade e os indivíduos homossexuais?
Por conseguinte, a hipótese levantada para o presente projeto consiste em
entender os limites e tensões da homossexualidade frente aos preceitos religiosos e
o Hate Speech.
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2 Justificativa

O impacto da religião na sociedade como um todo é inegável. Ao refletirem


sobre o que chamam de "lições da história", Will e Ariel Durant concluíram que, antes
de nossa época, nenhuma sociedade bem-sucedida na história havia sido capaz de
manter a moralidade sem a ajuda da religião.
Essa linha de pensamento pode ser explicada por Durkheim, quando este
afirma que a religião é um fato social, capaz de definir, modelar e influenciar a
existência dos seres integrantes da sociedade.
Dados coletados pelo “Global Religions 2023”, realizado pelo Instituto Ipsos,
mostram que 76% dos entrevistados brasileiros afirmaram ter uma crença religiosa,
sendo 70% deles cristãos. Sendo assim, cabe ao Estado, como promotor dos direitos
e garantias fundamentais, zelar por um ambiente em que o cidadão possa exercer sua
plena liberdade de convicção.
E justamente, objetivando garantir essas liberdades que, em 1988, a Carta
Magna consagrou em seu texto a liberdade de expressão e religião, elevando a
natureza desses direitos a uma norma constitucional.
Assim, a Constituição assegura a inviolabilidade da liberdade de consciência
e de crença, bem como o livre exercício dos cultos religiosos, garantindo-se ainda, a
proteção aos locais de culto e suas liturgias.
Ocorre que, à medida que as sociedades evoluem e se tornam mais diversas
e pluralistas, os desafios surgem quando as crenças religiosas entram em conflito com
os direitos humanos. Isso se torna especialmente evidente em situações em que a
manifestação religiosa inclui discursos de ódio ou discriminatórios em relação à
homossexualidade.
O hate speech, ou discurso de ódio, representa uma ameaça direta aos
direitos humanos e à dignidade das pessoas, princípio fundamental da Constituição
Federal de 1988. Este estudo justifica-se, portanto, pela necessidade urgente de
compreender e abordar a tensão entre a proteção da liberdade de expressão, que
inclui discursos religiosos, e a necessidade de combater a disseminação do ódio e do
preconceito.
Ao analisar as limitações desses direitos fundamentais, esta investigação
contribuirá para o debate sobre como a sociedade pode encontrar um equilíbrio entre
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a proteção da liberdade religiosa e o combate ao discurso de ódio e à discriminação,


promovendo assim uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
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3 Objetivos

3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral do presente projeto científico é analisar, portanto, qual a


influência dos preceitos religiosos e do discurso de ódio em relação aos indivíduos
homossexuais, bem como as tensões advindas de assuntos tão delicados na
sociedade atual.
Em linhas gerais, o objetivo geral passa pela análise das bases conceituais da
liberdade religiosa e do discurso de ódio, delineando seus principais elementos e
definições.

3.2 Objetivos Específicos

Foram escolhidos os seguintes objetivos específicos para a presente pesquisa:


a) Identificar e examinar casos e situações concretas em que ocorreram entre a
liberdade religiosa e os direitos da comunidade LGBTQ+, destacando os contextos e
as narrativas envolvidas.
b) Analisar os impactos psicossociais das tensões entre liberdade religiosa
e discurso de ódio na comunidade LGBTQ+, considerando as implicações para a
saúde mental e bem-estar dos indivíduos afetados.
c) Propor reflexões e recomendações que promovam a coexistência entre
liberdade religiosa e respeito aos direitos LGBTQ+, contribuem para um debate mais
informado e construtivo sobre esse tema complexo e sensível

4 Referencial Teórico

O direito à liberdade é uma prerrogativa fundamental do ser humano desde


tempos imemoriais. Sua essência repousa na capacidade da mente humana de
pensar, característica intrínseca à espécie Homo sapiens, assim como em sua
autonomia.
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Partindo desse entendimento, a liberdade religiosa emerge como um meio de


expressar a capacidade de consciência, conferindo a cada indivíduo o livre arbítrio de
escolher participar ou não de um grupo religioso, pautando-se em suas convicções e
crenças.
O artigo 5º da Constituição Federal de 1988, assim prevê, em seu inciso VI:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
prosperidade, nos termos seguintes: (...)

VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o


livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;

(BRASIL, Constituição Federal, Art. 5º, VI, 1988)

Dessa forma, é possível ressaltar que a liberdade de crença, assim como a


liberdade de consciência, são direitos pessoais inerentes ao indivíduo brasileiro, não
demandando expressão explícita.
Assim, torna-se evidente que o direito à religião engloba outros direitos
correlatos, como o direito ao culto, à crença e à consciência, bem como a liberdade
de organização religiosa e de pensamento. A amplitude da liberdade religiosa reflete
a maturidade de um Estado Democrático, orientado pelos anseios do povo que busca
incessantemente a garantia constitucional de seus direitos.
Entretanto, é importante salientar que, como diretriz para o exercício da religião,
é imperativo que este respeite as leis, especialmente as de natureza civil e criminal.
Destaca-se, portanto, que a prerrogativa constitucional não pode ser utilizada para
justificar manifestações que envolvam atos ilícitos ou que vão de encontro à
tranquilidade pública, uma vez que a liberdade religiosa não é absoluta frente aos
demais direitos e garantias fundamentais.
Como bem expõe Bobbio (2004, p. 86), “o conceito de tolerância é generalizado
para o problema da convivência das minorias étnicas, linguísticas, raciais, para os que
são chamados geralmente de “diferentes”, como, por exemplo, os homossexuais, os
loucos ou os deficientes”.
Os problemas a que se referem esses dois modos de entender, de praticar e
de justificar a tolerância não são os mesmos. Uma coisa é o problema da tolerância
de crenças e opiniões diversas, que implica um discurso sobre a verdade e a
compatibilidade teórica ou prática de verdades até mesmo contrapostas; outra é o
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problema da tolerância em face de quem é diverso por motivos físicos ou sociais, um


problema que põe em primeiro plano o tema do preconceito e da consequente
discriminação.
Nesse sentido, a inviolabilidade da liberdade de consciência, de crença e de
culto, conforme Novelino (2021, p. 401), constitui a resposta política adequada aos
desafios do pluralismo religioso, permitindo desarmar o potencial conflituoso existente
entre as várias concepções.
O artigo 5º, VI, da Constituição Federal protege a liberdade de consciência ou
crença e a liberdade no exercício dos cultos religiosos, bem como suas liturgias,
protegendo-os de toda e qualquer agressão.
Em vista disso, por ser norma de eficácia limitada, necessitando, portanto, de
regulamentação, foi a Lei n° 10.825/2003, a responsável por definir as organizações
religiosas e os partidos políticos como pessoas jurídicas de direito privado,
estabelecendo ser livre sua criação, organização, estruturação interna e
funcionamento (SALEME, 2021).
Todavia, não podemos o considerar como um direito absoluto. Em consonância
a isso, tem-se o julgamento proferido pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, que
analisou situação concreta de líder de determinada religião que publicou na internet
vídeos e postagens de conteúdo discriminatório contra autoridades públicas e
seguidores de crenças diversas. Do referido julgado, podemos extrair o seguinte:

A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas


e seus seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que
assegura a liberdade de expressão. [...] O exercício da liberdade
religiosa e de expressão não é absoluto, pois deve respeitar restrições
previstas na própria Constituição. Nessa medida, os postulados da
igualdade e da dignidade pessoal dos seres humanos constituem
limitações externas à liberdade de expressão, que não pode e não
deve ser exercida com o propósito subalterno de veicular práticas
criminosas tendentes a fomentar e a estimular situações de
intolerância e de ódio público (RHC 146.303, STF, 2ª T., j. 06.03.2018,
Inf. 893/STF)

O Ministro Dias Toffoli, por sua vez, observou que em virtude de o Brasil ter
adotado um modelo de laicidade, o Estado fica impedido de favorecer corporações
religiosas, prejudicar indivíduos em decorrência de suas convicções e impedir a
liberdade de expressão religiosa. Por outro lado, por expressa previsão constitucional,
também determina que o Poder Público tome condutas positivas para assegurar a
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liberdade religiosa (fls. 5 do seu voto) e, no caso, um exemplo dessas condutas


positivas é a previsão de ensino religioso nas escolas públicas, claro, conforme vimos,
de matrícula facultativa.
Atualmente, além da questão da intolerância religiosa, instaura-se, em diversos
segmentos da sociedade e do próprio judiciário, profunda discussão sobre os limites
da liberdade de expressão e sua compatibilidade, ou não, com o discurso de ódio
(MARTINS, 2019)
Para CARVALHO (2020), frequentemente, esse discurso é dirigido às minorias
da sociedade, visando atacar as características que as definem, por meio de
discriminação, hostilidade e violência, resultando na aniquilação da liberdade de
expressão e dos direitos humanos inerentes ao cidadão. Observam-se, assim,
diversas abordagens conceituais respaldadas pela doutrina.
Uma dessas abordagens é apresentada por Winfried Brugger (2007), que
afirma que o discurso de ódio se caracteriza pela utilização de expressões "que
buscam insultar, intimidar ou assediar pessoas em virtude de sua raça, cor, etnia,
nacionalidade, sexo ou religião, ou que têm a capacidade de incitar violência, ódio
ou discriminação contra tais indivíduos".
Nesse contexto, é relevante destacar que a liberdade ao ateísmo também é
respaldada nas legislações relacionadas ao tema, como no art. 5º, VI, da Constituição
Federal de 1988. Dessa forma, a liberdade religiosa torna-se um tema em discussão
quando os crentes compartilham suas convicções e crenças. Por outro lado, é
reconhecido que o exercício de uma religião não deve sobrepor-se ao bem coletivo.
Em outras palavras, a autonomia de culto é permitida até o ponto em que não cause
perturbações à ordem pública (CARVALHO, 2020).
Conforme Lima (2020), em uma sociedade, a tolerância é uma característica
essencial e inescusável, com todos aceitando e sendo aceitos em suas diferenças.
Portanto, o Estado tem o dever de coibir e punir os intolerantes, garantindo assim o
direito à não discriminação. Os limites impostos às liberdades religiosas, portanto, não
são considerados abusivos ou inadequados. Algumas crenças, cultos e religiões
adotam práticas reprováveis no contexto coletivo com o intuito de satisfazer interesses
pessoais ou obter benefícios financeiros.
Exemplificando esse cenário, destaca-se o caso do pastor evangélico Tiago,
que veiculou vídeos e conteúdos nos quais difamou fiéis e líderes religiosos que
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mantinham posicionamentos e doutrinas distintas das suas, como as católicas,


judaicas, espíritas, islâmicas, umbandistas, entre outras. Esse exemplo ilustra como
devotos de crenças diversas podem ser alvos de injúrias, sendo descritos como
"violentados" e "estuprados" por seguirem o "caminho da podridão".

5 Metodologia

Para melhor desenvolvimento e apresentação deste projeto, cumpre informar


que, na Fase de Investigação será utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento
de Dados o Método Cartesiano, e, o os resultados expressos no presente projeto são
compostos na base lógica indutiva.
Já o método de procedimento a ser utilizado será a exposição dos
entendimentos legais, doutrinários e jurisprudenciais atinentes ao tema central do
projeto.
Já nas fases da Pesquisa, serão utilizadas as Técnicas do Referente, da
Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.
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6 Cronograma

ATIVIDADES
ANO LETIVO 2024
Fever. Março Abril Maio Junho
Escolha do orientador e
entrega do Projeto de
Pesquisa X
Continuação da pesquisa
bibliográfica
X X

Desenvolvimento do
Artigo
X X X X
Conclusão do
artigo/correção final X X

Entrega do artigo em 3
X
vias
X
Apresentação do artigo
diante da banca X X
examinadora
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Referências

BOBBIO, Norberto, 1909- A era dos direitos; tradução Carlos Nelson Coutinho;
apresentação de Celso Lafer. — Nova ed. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

BRUGGER, Winfried. Proibição ou proteção do discurso do ódio? Algumas


observações sobre o direito alemão e o americano. Revista Direito Público, Porto
Alegre, ano 4, n.15, jan./mar. 2007. Disponível em:
https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/1418. Acesso em
30 nov. 2023.

CARVALHO, Isabella Scalon de; MATOS, Givaldo Mauro de. Liberdade de


Expressão e Religião como Discurso de Ódio. VirtuaJus, Belo Horizonte, v. 5, n. 9,
p. 129-145, 2º sem. 2020.

LENZA, Pedro. Direito constitucional. – 25. ed. – São Paulo: Saraiva Educação,
2021.

MARTINS, Guilherme Magalhães; LONGHI, João Victor Rozatti. Direito Digital:


direito privado e internet. 2ª Ed. Indaiatuba/SP: Editora Foco, 2019.

NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. - 16. ed. rev., ampl. e atual. -
Salvador: Ed. JusPodivm, 2021.

SALEME, Edson Ricardo. Direito constitucional. – 4. ed. – Santana de Parnaíba


[SP]: Manole, 2021.

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