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UFES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


Nome: Eduardo da Silva Hermenegildo Pereira

1° AVALIAÇÃO – INTRODUÇÃO A FILOSOFIA

A partir da leitura de A alegoria da caverna, faça uma interpretação da passagem


abaixo:
“A experiência que lhe garante de fato a liberdade é a experiência da perda, a experiência
do incumprimento. Continuamente, o prisioneiro, no exercício de sua liberdade, se
encontra no processo de perda das certezas e verdades que lhe se são dadas: sejam aquelas
que se encontram no interior da caverna (A certeza das sombras), seja aquelas que lhe são
dadas no exterior da caverna (a verdade para luminosidade solar). O exercício da perda e
do retorno; o exercício da radical solidão parece ser o elemento primeiro da educação, da
formação da alma do filósofo. Esse é o exercício da morte como morte, isto é, a dimensão
desde a qual o homem conquista para si a dimensão mais própria da sua finitude – que é
a de sempre encontrar-se em débito, em falta em relação ao seu próprio ser. É essa falta
que impulsiona o homem, que o obriga a continuamente buscar o ser, a realizá-lo para,
novamente perdê-lo” (Glória Ferreira, p. 120)
Interpretação:

Para Glória Ferreira, o que garante a liberdade de pensamento da pessoa


aprisionada no mundo das opiniões representado pela alegoria da caverna de
Platão é justamente aquilo que ele irá perder ao ignorar as convenções de sua
cultura ou de ter um olhar mais inteligente sobre a realidade da qual ele faz parte;
O aniquilamento das confortáveis ilusões de verdades pré-estabelecidas, o que
por consequência irá lhe proporcionar uma angústia existencial. A liberdade só
pode ser adquirida renunciando às únicas verdades que possuía.

Durante o processo permanente de educação e emancipação, o


prisioneiro fica preso entre duas perspectivas: perde por um lado as verdades
pré-estabelecidas que construiu desde o nascimento e que para ele constituem
a Verdade e a Realidade; E por outro lado sente a ausência de verdades mais
verdadeiras do que as que ele possuía, por ser ainda incapaz de interpretar as
novas flexões filosóficas por vir e entender a realidade cientifica e intelectual que
subjaz a sua visão intuitiva e comum; O ser humano representado pelo
prisioneiro não é apenas ignorante de sua condição ilusória por não ter aprendido
nada, pois, na realidade sua visão turva lhe foi ensinada e sistematizada por
aqueles que manipulam as estatuas e projetam as sombras na parede. Aqueles
que fazem seus sons ecoarem no fundo da caverna.

A ação de perder o pouco que se tinha e tentar retornar para o consolo da


realidade ilusória é a incapacidade para contemplar a luz. Afim de se livrar de
tais amarras, o prisioneiro deve se afastar intelectualmente de seus
companheiros da caverna, o que significa se distanciar do senso comum da
sociedade como um todo e realizar essa ascensão sozinho. A solidão se torna
o primeiro passo para a educação do filósofo, pois, tomar distância para
contemplar de fora é a primeira atitude filosófica. O filósofo deve agir como um
forasteiro em um país estrangeiro: permanecendo separado, não de forma
ocasional, apenas julgando, mas de maneira sistemática, examinando,
reconhecendo, criticando e entendendo a nova verdade que se abre para seus
olhos do lado de fora da caverna. Fazendo uso do seu pensamento, o ser
humano tem o dever de volver a Alma para trás a fim de evitar olhar as sombras.
Essas sombras só podem ser ignoradas forçando toda a Alma a se voltar para
trás, num esforço de educação e compreensão. A Alma Tripartite para Platão que
é constituída de Razão, Coragem e Instinto, tem por dever não apenas querer a
verdade, mas buscá-la com desejo. Ao buscar sair do mundo sensível por meio
do intelecto, o ser humano sentirá dor, pois é forçoso raciocinar; Exigirão anos
de prática para, por fim, superado o trauma inicial, contemplar as formas reais e
matemáticas e os conceitos filosóficos de maneira minimamente ordenada. A
solidão é importante para ter autonomia, mas quanto mais autonomia, mais
instabilidade, pois maior é a dificuldade de não parecer louco para os outros
habitantes da caverna.

A constatação da eminência da morte, faz com que o ser humano busque


ser ele mesmo e despertar para a vida. Ele deve seguir a sua consciência que
lhe diz para que se conheça a si mesmo, pois ele não é só isso que está posto,
nem aquilo que ele pensa e deseja nesse momento. A morte é a única certeza e
noção que a humanidade tem em conjunto e seria contraditório se após essa
tomada de consciência não lutasse para impedir uma dupla fatalidade: A morte
do corpo físico, inevitável, e a morte de seu espírito criativo, intelecto e sua
racionalidade, útil para contemplar a realidade e se manter desperto enquanto
perdura a vida.

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