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Apresentação
tomei uma decisão errada, ao passar a utilizar o editor de textos Word, da Microsoft,
basicamente por causa da aparente facilidade de uso que o caracteriza. Daquela época
até meados de 2001, sofri bastante com o tratamento das figuras e, principalmente, com
a edição e apresentação das equações, até o ponto de me sentir pouco incentivado a
introduzir modificações extensas no texto.
Foi então que a Petrobrás adquiriu o software MathType, o qual me possibilitou con-
verter todas as equações para o formato LATEX e iniciar uma nova fase na evolução da
apostila. Ao executar o trabalho de reformatação, percebi que os programas convencio-
nais de edição de texto, como o Word, não podem ser caracterizados como processadores
de texto. São apenas integradores de ferramentas que permitem a elaboração de do-
cumentos perfeitamente aceitáveis se o número de equações e figuras for relativamente
pequeno. A sensação que senti, ao penetrar no mundo LATEX, foi a de liberdade, uma
vez que passei a ter controle quase absoluto sobre o processo. Apesar de o LATEX não
se enquadrar no modelo what you see is what you get 1 (“o que você vê é o que você
obtém”), ele possibilita introdução e modificação estruturada de praticamente todos os
elementos do texto, caracterı́stica esta que, combinada com uma apresentação final de
melhor qualidade, tornam-o altamente indicado para um trabalho profissional.
Inúmeras pessoas contribuı́ram para a geração desta apostila. Eu gostaria de destacar
José Tassini, que foi o responsável pela primeira versão de vários trechos do texto. A
revisão passou por diversos colegas de trabalho, entre os quais estão Carlos Cunha Filho,
Carlos Lopo Varela, Eduardo Lopes de Faria e Vandemir de Oliveira, além das dezenas
de profissionais que, ao fazer os cursos baseados na apostila, descobriram uma grande
quantidade de pequenos erros, além de terem levado o autor a introduzir importantes
modificações. Devo mencionar também a contı́nua troca de idéias com Carlos Cunha Fi-
lho, Carlos Lopo Varela e o coordenador de várias versões desses cursos, Osvaldo Duarte,
que ajudaram a direcionar melhor meus esforços. As figuras foram, em grande parte,
geradas pelo pessoal da área de programação visual da Petrobrás, com destaque para
Cesar Fraga, Haroldo Ramos e Orlando Aquino. Sou muito grato a todas essas pessoas,
além daquelas que, mesmo não contribuindo diretamente para a elaboração da apostila,
me induziram a fazer descobertas que melhoraram a apresentação dos conceitos.
André
1
Há quem prefira a seguinte frase, citada por Leslie Lamport e atribuı́da por ele a Brian Reid e/ou
Brian Kernighan: what you see is all you’ve got (“o que você vê é tudo o que você tem”).
Índice
1 TRATAMENTO DE SINAIS 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Transformada Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Sistemas lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.4 Convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.5 Correlação cruzada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2 Transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2.2 Teoremas da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2.3 Funções especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2.4 Transformada bidimensional de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.2.5 A prática da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.3 Propriedades das Séries de Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.3.1 Caracterı́sticas de fase dos sinais amostrados . . . . . . . . . . . 31
1.3.2 As séries aleatórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4 O Filtro Wiener-Hopf-Levinson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.4.1 O filtro Wiener-Hopf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.4.2 Aplicando o filtro Wiener-Hopf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.4.3 A recursão Levinson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.5 Fatoração Espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.5.1 O método das raı́zes de polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.5.2 O cepstrum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.5.3 O método Kolmogoroff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
1.5.4 O método Toeplitz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
1.6 Fontes de Consulta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
1.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
iii
iv ÍNDICE
4 INTERPRETAÇÃO 461
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 461
4.1.1 Calibração dos dados sı́smicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 461
4.1.2 A representação sı́smica da geologia . . . . . . . . . . . . . . . . . 465
4.2 Noções de Petrogeofı́sica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473
4.2.1 A elasticidade e os meios porosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 474
4.2.2 A equação Biot-Gassmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 478
4.2.3 O controle da velocidade e da razão de Poisson . . . . . . . . . . 480
4.2.4 A substituição de fluido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 487
4.2.5 Fontes de dados para a modelagem petrofı́sica . . . . . . . . . . . 488
4.3 Indicadores Sı́smicos de Petróleo e Litologia . . . . . . . . . . . . . . . . 493
4.3.1 Bright-spots, flat-spots, dim-spots e AVO . . . . . . . . . . . . . . 494
4.3.2 Análise de AVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 498
4.3.3 Aspectos práticos da análise de AVO . . . . . . . . . . . . . . . . 514
4.4 Quantificação Sı́smica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
4.4.1 Resolução vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
4.4.2 Deconvolução transversa de mapas sı́smicos . . . . . . . . . . . . 527
4.4.3 Resolução horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 531
4.4.4 Previsão de profundidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 533
4.4.5 Previsão de porosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 538
4.5 Fontes de Consulta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 539
4.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 539
BIBLIOGRAFIA 542
APÊNDICE 556
A.1 Empilhamento Oblı́quo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 556
A.2 Versão Alternativa da Compensação Q . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 560
A.3 Melhorando o Algoritmo Implı́cito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 561
A.4 Obtenção dos Parâmetros de AVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 567
A.5 Estimativas do Ângulo de Incidência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 569
A.6 Modelos de Pulso Sı́smico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 571
TRATAMENTO DE SINAIS
1.1 Introdução
Discutem-se neste item conceitos considerados fundamentais para uma boa leitura desta
apostila. Um leitor já familiarizado com a teoria do método sı́smico deverá considerar
trivial o tratamento adotado. Entretanto, para quem passou muito tempo sem ler textos
teóricos, ou para quem quer começar a fazê-lo agora, a matéria discutida deverá ser útil,
no mı́nimo como uma referência rápida, que dispensa consulta a outros textos.
1.1.1 Amostragem
No método sı́smico digital, o traço sı́smico não é registrado continuamente em função do
tempo, t, mas amostrado segundo o intervalo constante ∆t. A este respeito, a pergunta
óbvia que se poderia fazer é: perde-se alguma informação com a amostragem digital?
A resposta é: depende do valor do intervalo de amostragem ∆t e da informação que se
deseja obter.
Para analisar o que representa a escolha do valor de ∆t, observe-se a Figura 1.1, onde
está representada uma senóide com freqüência de 50Hz, amostrada inicialmente a cada
4 milissegundos, ou 4ms (os cı́rculos menores representam as amplitudes amostradas).
Posteriormente, amostrou-se o mesmo dado a cada 16ms (nesse caso, as amostras estão
representadas pelos cı́rculos maiores). Observe-se que o sinal resultante da amostragem de
16ms, representado pela linha tracejada, corresponde a uma freqüência de 12.5Hz, quatro
vezes menor do que a correta. Este resultado permite concluir que o intervalo de amos-
tragem escolhido, 16ms, não é suficientemente pequeno para representar corretamente o
sinal original de 50Hz, resultando em uma freqüência errada.
O fenômeno exemplificado pela Figura 1.1 é denominado efeito de álias e consiste na
caracterização de um evento de alta freqüência na forma de um evento falso, de mais baixa
freqüência. No caso da amostragem ao longo do tempo, uma importante conseqüência do
fenômeno é o fato de que, se os dados tiverem sido inadequadamente amostrados, torna-se
quase impossı́vel identificar com segurança quais são os eventos falsos. Desta forma, é
fundamental estabelecer a faixa de freqüências que se deseja amostrar e, antes do registro
digital, atenuar os sinais com freqüência superior à máxima desejada. Caracteriza-se
assim o filtro anti-álias, aplicado com a finalidade explı́cita de evitar o fenômeno.
O limite entre as freqüências amostradas corretamente e aquelas que se apresentam
1
2 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
1
fN = (1.1.1)
2∆t
fA = |2nfN − f | (1.1.4)
onde n é o número inteiro mais próximo da razão f /2fN . Considere-se, por exemplo, o
intervalo de amostragem de 4ms. No caso, os componentes de freqüência 240Hz, 260Hz,
490Hz e 510Hz levariam a um mesmo valor de fA , igual a 10Hz, para n igual a 1, 1, 2 e
2, respectivamente.
Nas situações tı́picas, a amostragem de dados sı́smicos envolve não somente o tempo
mas também a distância. Nestes termos, uma seção sı́smica pode ser vista como uma
coleção de registros dependentes do tempo, cada um deles obtido em uma posição espacial
diferente, na qual se situa hipoteticamente a fonte e a estação de geofones. Desta forma,
1.1. INTRODUÇÃO 3
Figura 1.2: Amostragem espacial de uma senóide de 40Hz por receptores espaçados
de 100m entre si. Em cada receptor, o atraso no registro é estático, ou seja, não
se altera com o tempo. A velocidade usada para se construir a variação lateral do
atraso foi de 2000m/s. As coordenadas horizontais são dadas em metros.
1.1.2 Transformada Z
Uma forma conveniente de se representar dados sı́smicos regularmente amostrados envolve
a utilização da chamada transformada Z, a qual é representada pelo par
st ⇔ S(Z)
1.1.4 Convolução
Convolução é a operação de filtragem linear, normalmente simbolizada por ∗ e definida,
na aplicação a duas funções hipotéticas, r(t) e w(t), por
Z ∞
s(t) = r(t) ∗ w(t) = r(τ )w(t − τ )dτ (1.1.12)
−∞
1.1. INTRODUÇÃO 7
onde s(t) e st correspondem aos resultados das duas operações e τ é o tempo usado como
variável de integração. Na forma discreta, t e τ correspondem a ı́ndices que identificam as
amostras. Nesta mesma forma, o número total de pontos da série resultante é m + n − 1,
onde m e n são os números de coeficientes das séries convolvidas.
Para facilitar a compreensão das equações 1.1.12 e 1.1.13, escreve-se a última da
seguinte forma:
onde, para uma posição hipotética k, wt−k representa a série wt completa, mas deslocada,
no sentido dos tempos positivos, de acordo com o intervalo k∆t, sendo ∆t o intervalo
de amostragem. Nestas condições, cada coeficiente k da série rt é multiplicado por todos
os coeficientes da série wt−k . Em conseqüência, st corresponde a uma soma de séries
8 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
distintas, cada uma delas computada com base no atraso relativo de um coeficiente da
série rt .
Duas lições podem ser extraı́das da equação 1.1.14. Em primeiro lugar, ela representa
uma aplicação explı́cita do princı́pio da superposição de sistemas lineares, o que pode ser
percebido de forma ainda mais evidente através do exemplo da Figura 1.4. Em segundo
lugar, cada termo da soma, no lado direito da equação, pode ser descrito, em termos de
transformada Z, por rk W (Z)Z k , onde W (Z) é a transformada Z de st e Z k é o fator
correspondente ao atraso k∆t. Esta caracterı́stica permite definir a transformada Z da
equação 1.1.14 através da seguinte igualdade:
∞
X
S(Z) = rn Z n W (Z) = R(Z)W (Z) (1.1.15)
n=−∞
Ou seja,
rt ∗ wt ⇔ R(Z)W (Z)
Em palavras: uma convolução, no domı́nio do tempo, corresponde a uma multiplicação,
no domı́nio da transformada Z.
Considere-se agora que, na aplicação da equação 1.1.13, cada um dos coeficientes da
série st seja representado através de uma soma envolvendo coeficientes isolados das séries
rt e wt . Aplicada a todos os coeficientes, esta representação permite a conclusão de que
a equação 1.1.13 equivale a uma multiplicação entre duas matrizes. A tı́tulo de exemplo,
pode-se utilizar duas séries curtas, como as da Figura 1.4. O resultado é a seguinte
1.1. INTRODUÇÃO 9
operação matricial:
w0 w−1 s0
w1 w0 r0 = s1 (1.1.16)
r1
w2 w1 s2
Uma vez que a série wt não é definida para tempos menores do que zero, ou maiores do
que 2, tais amostras são tomadas como iguais a zero.
A forma de montar a operação matricial descrita pela expressão 1.1.16 é simples. O
vetor correspondente à série rt tem como primeira linha o primeiro valor da série, enquanto
a segunda linha é constituı́da do segundo coeficiente de rt , e assim sucessivamente. Na
matriz correspondente à série wt , a primeira amostra ocupa a primeira linha da primeira
coluna. A segunda linha da mesma coluna é ocupada pela segunda amostra, e assim
sucessivamente. Para atender à definição da convolução, dada anteriormente, o número
de linhas dessa matriz deve ser igual a m + n − 1. As outras colunas são ocupadas com
as mesmas amostras da primeira, deslocando-se uma posição para baixo, em relação à
anterior. Para ser possı́vel a operação matricial, o número de colunas da matriz da série
wt deve ser igual ao número de linhas da matriz da série rt .
Uma vez que a convolução é uma operação linear, aplicam-se a ela — além do princı́pio
da superposição — as seguintes propriedades especı́ficas, todas dedutı́veis a partir das
propriedades básicas dos sistemas lineares:
1. COMUTATIVIDADE
rt ∗ w t = w t ∗ r t
ou
R(Z)W (Z) = W (Z)R(Z)
2. ASSOCIATIVIDADE
rt ∗ (wt ∗ ft ) = (rt ∗ wt ) ∗ ft
ou
R(Z) [W (Z)F (Z)] = [R(Z)W (Z)] F (Z)
3. DISTRIBUTIVIDADE
rt ∗ (wt + ft ) = rt ∗ wt + rt ∗ ft
ou
R(Z) [W (Z) + F (Z)] = R(Z)W (Z) + R(Z)F (Z)
st ∗ f t = a t (1.1.19)
onde ft é o filtro linear, ou operador, que transforma o sinal st no sinal at . Filtros com essa
forma são, por exemplo, voltados para a atenuação seletiva de determinados componentes
de freqüência, ou, na deconvolução, para remover do traço sı́smico eventos indesejados
que foram, durante a aquisição, convolvidos com o sinal sı́smico.
Os mesmos conceitos são aplicados também a dados sı́smicos amostrados em função
da distância horizontal, para um tempo (ou uma freqüência) fixo. Neste caso, tem-se um
filtro espacial, como é o caso de um arranjo de campo, cuja ação pode ser simbolizada
por
sx ∗ f x = a x (1.1.20)
O objetivo de filtros desse tipo é normalmente o de atenuar ruı́dos, que amostrados em
função do eixo x, apresentam comprimento de onda menor — ou número de onda maior
— do que o do sinal.
Na forma bi ou tridimensional, os filtros são aplicados, por exemplo, na atenuação de
ruı́dos com faixa de velocidades aparentes bem definida, quando então são denominados
filtros de velocidade. São aplicados também, de forma nem sempre explı́cita, na migração
dos dados sı́smicos. Um exemplo representativo de convolução bidimensional é o da
seguinte expressão:
st,x = wt,x ∗ ∗rt,x (1.1.21)
onde o sı́mbolo ∗∗ denota convolução bidimensional envolvendo os eixos t e x.
2
O leitor deve estar atento para o fato de que, na literatura, a correlação cruzada é muitas vezes
representada por expressões diferentes. Em uma dessas representações, o núcleo da equação 1.1.22 é
substituı́do por r(t + τ )w(t). A importância desse tema está relacionada com o fato de que — como
se verá adiante — a correlação cruzada não é uma operação comutativa. Em conseqüência, o modelo
adotado para a correlação cruzada, qualquer que seja ele, deve ser usado de forma consistente.
1.1. INTRODUÇÃO 11
onde Φ representa o resultado da correlação cruzada entre duas funções hipotéticas r(t)
e w(t), ou duas séries rt e wt . Observe-se que a expressão 1.1.22 tem forma semelhante à
da equação 1.1.12, mas as variáveis de integração são diferentes: na correlação cruzada é
t, na convolução é τ .
Nas duas expressões que definem a correlação cruzada, o sı́mbolo τ indica um deslo-
camento de tempo. Assim, no caso discreto, quando τ = 0, as amostras das séries r t e wt
são multiplicadas sem qualquer deslocamento de tempo. A soma dos produtos obtidos,
nesse caso, corresponde ao coeficiente do deslocamento — em inglês, lag — igual a zero.
Por outro lado, um valor negativo de τ significa que as amostras das duas séries são
multiplicadas entre si depois que a série wt é deslocada na direção dos tempos menores.
No caso em que a segunda série correlacionada é invertida, com relação ao tempo, a
operação de correlação cruzada transforma-se em uma convolução. Para comprovar esta
caracterı́stica, basta, na equação 1.1.23, trocar o sinal do argumento do operador wt−τ ,
de forma a transformá-lo no operador wτ −t . O resultado é uma operação de convolução
já que, neste caso, a expressão 1.1.23 se transforma na 1.1.13. Portanto, aplica-se ao caso
a seguinte igualdade:
Φrw (τ ) = rt ∗ w−t = rt ⊗ wt (1.1.24)
Deve-se ressaltar que a troca de sinal do tempo, na segunda série correlacionada, faz com
que a operação de correlação cruzada não seja comutativa (obviamente, excetua-se o caso
em que as duas séries são simétricas). Por outro lado, quando as duas séries envolvidas
são complexas, a série w−t é substituı́da pelo conjugado complexo da série wt (ver o item
1.2).
Com base nas expressões 1.1.15 e 1.1.24 demonstra-se que, no domı́nio da transfor-
mada Z, a correlação cruzada, na forma da equação 1.1.23, é dada por
onde o exponencial negativo de Z significa troca dos sinais dos expoentes do polinômio
W (Z). No domı́nio do tempo, a amostra de um determinado tempo t passa para o tempo
−t, mantendo o mesmo valor.
A forma da equação 1.1.25 torna óbvia uma importante propriedade da autocorrelação
de uma série qualquer (a correlação cruzada de uma série com ela mesma): a simetria,
em relação a τ = 0. Em outras palavras, quando uma série é correlacionada com ela
mesma, observa-se, na transformada Z obtida, a seguinte caracterı́stica: o coeficiente que
multiplica Z n , onde n é um ı́ndice qualquer, é igual ao coeficiente que multiplica Z −n .
Ver-se-á, neste e no Capı́tulo 3, que as funções de autocorrelação são muito aplicadas no
método sı́smico, em particular no caso da deconvolução.
Embora relativamente pouco usada nas aplicações sı́smicas, a forma mais geral da cor-
relação cruzada implica a inclusão de um fator de normalização igual à média geométrica
do deslocamento nulo das autocorrelações das duas funções, ou séries, envolvidas. O
resultado é:
R∞
−∞
r(t)w(t − τ )dt
Φrw (τ ) = hR R∞ i1/2 (1.1.26)
∞ 2 2
−∞
r (t)dt −∞ w (t)dt
12 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
e
∞
P
rt wt−τ
t=−∞
Φrw (τ ) = 1/2 (1.1.27)
∞
P ∞
P
rt2 wt2
t=−∞ t=−∞
O leitor familiarizado com as técnicas estatı́sticas deverá ter notado que estas duas ex-
pressões podem ser usadas para se calcular a covariância entre duas funções, ou séries,
desde que as médias de ambas já tenham sido previamente removidas. Ou seja, a co-
variância pode ser vista como uma correlação cruzada entre funções, ou séries, cujas
médias são iguais a zero.
1.2.1 Definições
Um traço sı́smico amostrado ao longo do tempo pode ser representado pela média de
um número finito de componentes senoidais e cossenoidais, cada um deles definido pela
freqüência, pela amplitude e pela fase, ou atraso de tempo, em relação à origem (tempo
igual a zero), como no exemplo da Figura 1.5, na qual este atraso é nulo. Para definir
a contribuição de cada componente, os dados, amostrados em função do tempo, são
convertidos para uma nova representação, com amostragem em função da freqüência.
Caracteriza-se assim a mudança do domı́nio do tempo para o domı́nio da freqüência,
o que é feito através da transformada de Fourier. Esta mudança de domı́nio pode ser
representada pelo par
st ⇔ S(ω)
ou pela igualdade
S(ω) = F{st }
onde F simboliza transformada de Fourier, st é a série de tempo e S(ω) é a função que,
no domı́nio da freqüência, equivale a st .
A transformada de Fourier é fundamentada no conceito de séries de Fourier, de acordo
com o qual pode-se representar cada valor de uma função através da soma dos termos de
séries trigonométricas convergentes. No caso de funções discretas, a expressão que define
1.2. TRANSFORMADA DE FOURIER 13
Z = exp(iω∆t) (1.2.1)
√
onde i é a unidade de números imaginários, definido por i = −1. Aplicando-se, a esta
relação, a fórmula de Euler, obtém-se:
Uma vez que o número Z pode ser representado no plano complexo como um vetor, a
transformada de Fourier, nos termos da equação 1.2.3, pode ser representada, no mesmo
plano, e para cada freqüência, como uma soma vetorial. Nesta forma, cada termo do
polinômio em Z seria um vetor com amplitude |sn |, a ser adicionado aos anteriores, de
acordo com um ângulo, entre o vetor e o eixo real, dado por
sn π
θ = ωn∆t + 1 −
|sn | 2
onde θ é medido no sentido anti-horário. Observe-se que, se sn é negativo, acrescenta-se
o ângulo π a ωn∆t.
Na Figura 1.7, vê-se o exemplo da série dada por (3, 4, 5, 4, −6), a qual tem a primeira
amostra no tempo igual a zero. A transformada de Fourier da série, para o componente
de freqüência hipotético usado na figura, é representada pelo vetor resultante da soma.
Observe-se que o vetor correspondente ao coeficiente negativo, −6, é representado com
um deslocamento adicional de 1800 em relação aos demais.
Como em qualquer soma de vetores, a transformada de Fourier, para um determinado
componente de freqüência, pode ser estimada através da soma das projeções dos vetores
14 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
−400
−200
Tempo (ms)
200
400
0 10 20 30 40 S
nos dois eixos cartesianos. Essa operação equivale à aplicação da fórmula de Euler à
equação 1.2.3, no que resulta:
∞
X
S(ω) = sn [ cos (ωn∆t) + i sen (ωn∆t)] (1.2.4)
n=−∞
Separando-se os termos reais e imaginários, que correspondem às projeções nos dois eixos,
obtém-se: ∞
X
R(ω) = sn cos (ωn∆t) (1.2.6)
n=−∞
e ∞
X
I(ω) = sn sen (ωn∆t) (1.2.7)
n=−∞
1.2. TRANSFORMADA DE FOURIER 15
Com estas expressões, a função S(ω) pode ser escrita da seguinte forma:
Com o par de valores (R, I) obtido, pode-se agora calcular a amplitude A(ω) e a fase
φ(ω) do vetor correspondente à freqüência considerada, através da seguinte expressão:
p
A(ω) = |S(ω)| = R2 (ω) + I 2 (ω) (1.2.8)
e
−1 I(ω)
φ(ω) = tan (1.2.9)
R(ω)
Na forma polar, tem-se:
S(ω) = A(ω) exp [iφ(ω)] (1.2.10)
ou seja,
S(ω) = A(ω) [ cos φ(ω) + i sen φ(ω)]
Se a amplitude e a fase forem computados para diversos valores de freqüência3 , pode-
se compor o que se convencionou chamar os espectros de amplitude e fase do sinal. Na
Figura 1.8, vê-se um exemplo desses espectros, juntamente com os componentes real,
R(ω), e imaginário, I(ω), em função da freqüência normalizada, f /2fN , ou ω/2ωN . A
figura representa também um exemplo do fato de que a transformada de Fourier de dados
3
Tipicamente, a transformada de Fourier de séries reais é computada apenas no intervalo de
freqüências 0 ≤ ω ≤ ωN .
16 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
2.0
1.0
Amplitude
R
0
I
−1.0
−0.5
−1 0 0.5
1 1.0
2 1.5
3 2.0
4
Freqüência normalizada (número de ciclos)
2.0
Amplitude
1.0
0
−0.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0
Freqüência normalizada (número de ciclos)
90
45
Fase (graus)
1.00
−45
−90
−0.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0
Freqüência normalizada (número de ciclos)
Deve-se destacar a convenção de sinal usada nestas duas expressões. Muitos autores
utilizam o expoente −iωt, em vez de iωt, na transformada direta (ver, por exemplo,
Sheriff e Geldart, 1985). Em termos práticos, entretanto, esta diferença reflete-se tão
somente em associar atraso a fase positiva (equações 1.2.12 e 1.2.13), ou atraso a fase
negativa (convenção de Sheriff e Geldart). O que realmente importa é utilizar de forma
consistente a convenção escolhida.
s(t) ⇔ S(ω)
1. Simetria
S(t) ⇔ 2π s(−ω) (1.2.14)
onde s representa a função anteriormente relacionada ao tempo, enquanto S re-
presenta a função anteriormente relacionada à freqüência. Este teorema pode ser
demonstrado com base em duas operações. Inicialmente, estima-se s(−t), a partir
de S(ω), com a equação 1.2.13:
Z ∞
2π s(−t) = S(ω) exp(iωt)dω
−∞
2. Constante
as(t) ⇔ aS(ω) (1.2.15)
ou seja, multiplicar uma função de tempo por uma constante a e calcular a trans-
formada de Fourier do resultado equivale a calcular a transformada de Fourier da
mesma função e multiplicar o resultado pela mesma constante.
3. Soma
r(t) + w(t) ⇔ R(ω) + W (ω) (1.2.16)
ou seja, a transformada de Fourier é igual à soma das transformadas de Fourier das
duas funções.
4. Deslocamento (a)
s(t − a) ⇔ S(ω) exp(iωa) (1.2.17)
ou
s(t − a) ⇔ AS (f ) exp [φ(f ) + 2πf a]
20 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
ou seja, para t0 = t − a,
S1 (ω) = S(ω) exp(iωa)
Assim, demonstra-se que a transformada de Fourier de uma função atrasada no
tempo é igual à transformada de Fourier da função original, multiplicada por um
operador que tem amplitude igual a 1 e fase linear em relação à freqüência, com
declividade proporcional ao atraso. Tratando-se de funções amostradas, se o atraso
é de uma amostra (a = ∆t), o operador correspondente é exatamente Z, o operador
de atraso unitário. Perceba-se também que, na convenção usada nesta apostila, um
atraso introduz fase linear com declividade positiva.
Deslocamento (b)
s(t) exp(iat) ⇔ S(ω + a) (1.2.18)
5. Escala (a)
1
s(at) ⇔ S( ω ) (1.2.19)
|a| a
Para se demonstrar este teorema, considere-se a igualdade
s1 (t) = s(at), a>0
ou seja, multiplicar o tempo de uma função por −1, que corresponde a inverter a
mesma função no tempo, equivale, no domı́nio da freqüência, a trocar o sinal de
sua fase, ou, ainda, à obtenção do conjugado complexo da transformada de Fourier
da mesma função (define-se conjugado complexo de um número complexo como o
resultado da troca do sinal do componente imaginário do mesmo número).
Escala (b)
1 t
s( ) ⇔ S (aω) (1.2.20)
|a| a
6. Convolução (a)
r(t) ∗ w(t) ⇔ R(ω)W (ω) (1.2.21)
Para se demonstrar este teorema, toma-se s(t) = r(t) ∗ w(t), aplica-se a equação
1.1.12 e calcula-se a transformada de Fourier do resultado, o que leva a:
Z ∞Z ∞
S(ω) = r(τ )w(t − τ )dτ exp(iωt)dt
−∞ −∞
ou Z ∞ Z ∞
S(ω) = r(τ ) exp(iωτ )dτ w(t − τ ) exp [iω(t − τ )] dt
−∞ −∞
ou ainda
Z ∞ Z ∞
S(ω) = r(τ ) exp(iωτ )dτ w(t − τ ) exp [iω(t − τ )] dt
−∞ −∞
Logo,
S(ω) = R(ω)W (ω)
Assim, como no caso da transformada Z, uma convolução no domı́nio do tempo
equivale a uma multiplicação no domı́nio da freqüência. A expressão 1.2.21 pode
também ser escrita da seguinte forma:
7. Correlação
r(t) ⊗ w(t) ⇔ R(ω)W ∗ (ω) (1.2.23)
onde ∗ denota conjugado complexo. A mesma expressão equivale a
dS
it s(t) ⇔ (1.2.30)
dω
1.2. TRANSFORMADA DE FOURIER 23
1. Sinal
t 2
sgn(t) = ⇔ (1.2.33)
|t| −iω
onde sgn(t) é igual a 1 para t > 0, é igual a −1 para t < 0 e não é definida para t = 0
(embora possa ser considerada igual a 0). Em uma multiplicação, aplicando-se o
teorema da convolução e a expressão 1.2.33, tem-se:
onde t e a são tratados como ı́ndices. Observe-se que ambas as versões da função
delta são iguais a zero quando t 6= a mas, quando t = a, a função delta discreta é
definida e tem valor igual a 1, enquanto a sua versão contı́nua, na mesma situação,
é indefinida. Aplica-se à função delta discreta a versão discreta da propriedade
expressa pela equação 1.2.40.
A função delta de Dirac é fundamental para a dedução do teorema da modulação,
que é representado pela expressão 1.2.25. Para isto, faz-se uso do teorema da
convolução e da seguinte aplicação da transformada inversa de Fourier, obtida com
base na fórmula de Euler:
Z ∞
1
cos (ω0 t) = 2π π [δ(ω − ω0 ) + δ(ω + ω0 )] exp(−iωt)dω (1.2.43)
−∞
4. Degrau (Heaviside)
1
u(t) ⇔ πδ(ω) + = U (ω) (1.2.44)
−iω
onde u(t) é a função degrau (step, ou Heaviside), definida por
1 1
u(t) = + sgn(t) (1.2.45)
2 2
Ou seja, u(t) é igual a zero para t < 0, é igual a 1/2 para t = 0 e é igual a 1 para
t > 0. Em uma forma mais geral, a função degrau é definida por
1, t > a
1
u(t − a) = , t=a
2
0, t < a
5. Pente ∞ ∞
X X
p(t) = δ(t − n∆t) ⇔ ωR δ(ω − mωR ) (1.2.47)
n=−∞ m=−∞
26 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
onde
2π
ωR =
∆t
A função pente, multiplicada por uma função contı́nua, resulta na versão discreta
da mesma função. Ou seja,
st = p(t)s(t)
6. Caixa (Box )
sen (πf τ )
bτ (t) ⇔ τ sinc(πf τ ) = τ (1.2.48)
πf τ
onde b é a função caixa (box ), a qual é igual a 1 para tempos entre −τ /2 e τ /2,
sendo τ um tempo qualquer, e é igual a zero para as demais posições. Por sua
vez, a função sinc apresenta zeros nas freqüências iguais a n/τ , sendo n um número
inteiro, e é igual a 1 para a freqüência zero. A autoconvolução da função caixa dá
origem à função triângulo, cuja transformada de Fourier é dada por τ 2 sinc2 (πf τ ).
onde Kx é a freqüência angular espacial associada ao eixo horizontal e definida com base
na equação 1.1.5.
A transformada de Fourier espacial tem diversas aplicações no processamento de dados
sı́smicos, em especial no cálculo da transformada bidimensional de Fourier (ω-Kx). Na
forma contı́nua e direta, esta transformada é definida por
Z ∞Z ∞
S̃(Kx , ω) = s(x, t) exp(iωt) exp(−iKx x)dtdx (1.2.50)
−∞ −∞
O leitor pode estar se questionando a respeito do sinal diferente nos dois expoentes dentro
da integral. Na verdade, trata-se apenas de uma convenção, igual à de Claerbout (1985),
a qual, se usada consistentemente, em nada afeta os resultados.
A operação inversa à da equação 1.2.50 é a transformada bidimensional inversa de
Fourier, dada por
Z ∞Z ∞
1
s(x, t) = (2π)2 S̃(Kx , ω) exp(−iωt) exp(iKx x)dωdKx (1.2.51)
−∞ −∞
(Kx /ω > 0), situado na posição do espectro definida por ω < ωN . No caso em que
Kx = KxN + ∆Kx , onde ∆Kx < KxN , tem-se:
que o número de onda real não ultrapasse duas a três vezes o valor de KxN . Nas mesmas
circunstâncias, é também possı́vel atenuar ruı́dos em álias espacial.
onde n é um número inteiro tal que 1 ≤ n ≤ L/2. As mesmas expressões são válidas
também para um número L ı́mpar, desde que se considere apenas a parte inteira da razão
L/2 e se tome o número n no intervalo 1 ≤ n ≤ L/2 + 1.
Um aspecto importante a discutir é a influência das operações, conduzidas no do-
mı́nio da freqüência, sobre os correspondentes resultados, no domı́nio do tempo. Neste
particular, é fundamental respeitar as propriedades de simetria da transformada de Fou-
rier. Assim, para se ter certeza de que o resultado das operações entre funções reais (não
complexas) é também real, é necessário garantir que, no domı́nio da freqüência, os com-
ponentes reais sejam simétricos e que os componentes imaginários sejam anti-simétricos,
nos dois casos em relação a ω = 0. Cuidados especiais devem ser tomados no que diz
respeito às freqüências ω = 0 e ω = ωN , cujos componentes imaginários, no mesmo caso,
devem ser anulados.
Uma distorção associada às operações no domı́nio da freqüência é o wraparound.
Trata-se do fenômeno gerado quando, no mesmo domı́nio, aumenta-se implicitamente
o comprimento dos dados originais, além do máximo previsto durante a transformada
direta de Fourier. Neste caso, a posterior transformada inversa de Fourier faz com que os
sinais adicionais apareçam em posições aparentemente inesperadas, dependendo de seu
comprimento. Assim, se o acréscimo for pequeno e introduzido artificialmente no final
do traço original, o número insuficiente de coeficientes da transformada de Fourier faz
com que os sinais correspondentes sejam superpostos às amostras situadas no inı́cio do
traço. Esta é uma distorção também associada à ciclicidade envolvida na versão discreta
da transformada de Fourier.
Outra distorção é observada quando se tenta representar uma descontinuidade através
das séries de Fourier. O normalmente reduzido número de termos faz com que a mesma
30 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
descontinuidade não seja corretamente representada, o que dá origem ao fenômeno Gibbs.
Este é um fenômeno bem definido no caso da função u(t), que é transformada em uma
nova função, na qual o degrau original é mantido, mas deformado por uma oscilação
cuja amplitude cai com a distância da descontinuidade. O leitor poderá associar esta
caracterı́stica à relação entre a função caixa, definida no domı́nio da freqüência, e sua
transformada inversa de Fourier, que é uma função sinc. Para ilustrar a idéia, considere-
se que a versão discreta da função δ(t − t0 ) seja numericamente integrada com relação
ao tempo e que esta operação seja conduzida no domı́nio da freqüência. No domı́nio do
tempo, o resultado desejado deveria ser a versão discreta da função u(t−t 0 ). Entretanto, o
truncamento implı́cito na escolha de um número finito de coeficientes para a transformada
de Fourier faz com que o resultado envolva a convolução com uma função sinc definida
com base na freqüência de Nyquist, a qual representa o limite das harmônicas usadas no
processo. Na Figura 2.23 (página 105), apresenta-se um exemplo do fenômeno.
As caracterı́sticas das funções sinc e caixa são muito utilizadas na interpolação de
séries de tempo ou espaço. Um exemplo: quando se deseja reamostrar uma série para
um intervalo de amostragem igual à metade do original, estende-se o correspondente
espectro de freqüências até o dobro da freqüência de Nyquist, garante-se que o intervalo
estendido seja igual a zero e retorna-se ao domı́nio do tempo com o dobro do número de
pontos original. Respeitadas as propriedades de simetria da transformada de Fourier, o
resultado é o sinal reamostrado5 . No domı́nio do tempo, a mesma reamostragem pode
ser feita através da convolução entre a série original, intercalada com zeros, e a função
sinc cuja transformada de Fourier é a função caixa responsável por anular a região acima
da freqüência de Nyquist original.
A mesma lógica pode ser utilizada para se ilustrar o teorema da amostragem, de
Shannon, apresentado no subitem 1.1.1. No caso, considerando-se uma harmônica iso-
lada, f0 , é claro que, no domı́nio do tempo, ela só pode ser integralmente reconstituı́da
através de interpolação se o intervalo de amostragem original for menor do que 1/2f 0 . Se
esta condição não fosse satisfeita, a mesma harmônica estaria situada na região anulada
pela técnica descrita no parágrafo anterior e, portanto, não poderia ser adequadamente
reconstituı́da.
5
Para demonstrar a validade do processo, basta observar que, no domı́nio da freqüência, o mesmo
resultado seria obtido se a transformada de Fourier da série original, amostrada com o intervalo desejado,
fosse multiplicada por uma função caixa que anulasse a região acima da metade da freqüência de Nyquist.
1.3. PROPRIEDADES DAS SÉRIES DE TEMPO 31
No primeiro caso, ilustrado na Figura 1.10, assume-se que β = 1/2. Para alguns
componentes de freqüência, obtêm-se os seguintes valores de fase: ω∆t = 0, φ = 0;
ω∆t = π, φ = π; ω∆t = 2π, φ = 2π. Assim, para β real e |β| < 1, pode-se afirmar,
quanto à fase do binômio:
φ(ωN ) = φ(0) + π
ou seja, a fase na freqüência de Nyquist (ω∆t = π) é igual à fase na freqüência zero mais
1.3. PROPRIEDADES DAS SÉRIES DE TEMPO 33
π. No caso mais genérico, para β qualquer, inclusive complexo, o modelo geral para a
fase desse tipo de binômio é:
φ(2ωN ) = φ(0) + 2π
O binômio analisado, que tem raiz dentro do cı́rculo unitário (Z = −1/2), apresenta
caracterı́sticas de fase máxima. Ou seja, a fase atinge a máxima variação possı́vel no
intervalo 0 ≤ ω∆t ≤ 2π. Observe-se que, quando β é real, a equação 1.3.3 garante esta
caracterı́stica, já que: (1) se β tender a zero, a fase tenderá a ω∆t; (2) nos pontos em
que ω∆t é múltiplo de π, a fase é igualmente múltipla de π, para qualquer valor de β
com módulo menor do que 1.
No segundo caso, ilustrado na Figura 1.11, assume-se que β = 2. Para alguns com-
ponentes de freqüência, obtêm-se os seguintes valores de fase: ω∆t = 0, φ = 0; ω∆t = π,
φ = 0; ω∆t = 2π, φ = 0. Assim, para β real e |β| > 1 , pode-se afirmar, quanto à fase do
binômio:
φ(ωN ) = φ(0)
ou seja, a fase na freqüência de Nyquist (ω∆t = π) é igual à fase na freqüência zero. No
caso mais genérico, para β qualquer, inclusive complexo, o modelo geral para a fase desse
tipo de binômio é:
φ(2ωN ) = φ(0)
O segundo binômio analisado, que tem raiz fora do cı́rculo unitário (Z = −2), apre-
senta caracterı́sticas de fase mı́nima. Ou seja, a fase atinge a mı́nima variação possı́vel
no intervalo 0 ≤ ω∆t ≤ 2π. Observe-se que, quando β é real, a equação 1.3.3 garante
esta caracterı́stica, já que: (1) o denominador correspondente tem sempre o mesmo si-
nal e é sempre diferente de zero, fazendo com que a fase se restrinja a dois quadrantes
(900 > φ > −900 , para β positivo e 2700 > φ > 900 , para β negativo); (2) tanto para
ω = 0 quanto para ω = ωN e ω = 2ωN , o numerador é igual a zero.
A fase está intimamente associada ao atraso, de acordo com o que estabelece o teorema
do atraso da energia, de E. Robinson. De acordo com o mesmo teorema, para dois sinais
com a mesma energia total, um de fase mı́nima, outro de fase máxima, a energia do
sinal de fase mı́nima concentra-se nos tempos iniciais, enquanto a energia do sinal de fase
máxima concentra-se nos tempos finais. No caso dos dois binômios analisados, constata-
se esta caracterı́stica através de simples inspeção dos valores dos coeficientes envolvidos.
Assim, fase mı́nima pode ser considerada sinônimo de atraso mı́nimo, o que, por sua vez,
conduz à idéia de maior concentração de energia no inı́cio do sinal.
Com base nas expressões 1.3.1 e 1.3.2, pode-se generalizar esses conceitos para um
sinal com qualquer número de pontos. Assim, se um sinal qualquer for constituı́do apenas
por binômios de fase mı́nima, ele terá fase também mı́nima. No caso oposto, o de um
sinal constituı́do apenas por binômios de fase máxima, ele terá fase também máxima. A
mistura de binômios de fase mı́nima e máxima em um sinal dá origem à fase misturada.
Na Figura 1.12, vêem-se exemplos dos três tipos de sinal, todos com o mesmo espectro
de amplitude. Percebe-se, na figura, a maior concentração de energia no inı́cio do sinal
de fase mı́nima, em comparação com os outros dois.
Na geração da Figura 1.12, todos os binômios usados apresentam raı́zes reais, o
que resultou em uma série de tempo também real. Em uma situação mais realista,
podem ocorrer binômios com raı́zes imaginárias. Neste caso, para que a série resultante
seja real é necessário que a cada binômio com raiz imaginária, eventualmente existente,
34 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
corresponda outro, cuja raiz seja o conjugado complexo da raiz do primeiro. Nestas
condições, o produto dado pela equação 1.3.1 não daria origem a coeficientes complexos
na transformada Z resultante. Como resultado, um sinal real de fase mı́nima teria fase na
freqüência de Nyquist igual à fase na freqüência zero, como no segundo binômio analisado
acima.
Até agora, analisou-se a fase de sinais causais, ou seja, as funções que não apresentam
informação em tempos negativos. Além da aplicação a diversos temas discutidos nos
próximos itens, o conceito de causalidade pode ser muito útil na caracterização da fase
das séries de tempo, especialmente quando se analisam as correspondentes inversas. No
caso do binômio de fase máxima, 0.5 + Z, a inversa pode ser dada por
1
= 2 − 4Z + 8Z 2 − · · ·
0.5 + Z
1.3. PROPRIEDADES DAS SÉRIES DE TEMPO 35
Amplitude
É interessante observar que, nesta última forma, um binômio de fase máxima é visto
como o conjugado complexo de um binômio de fase mı́nima, deslocado no tempo em
uma amostra. Por outro lado, uma análise das duas diferentes inversas permite induzir
que a primeira delas não converge e, por isto, não tem qualquer valor prático, enquanto a
segunda, que é anti-causal, é uma série convergente. Caracteriza-se assim uma importante
propriedade dos sinais de fase máxima: apresentam inversas causais instáveis e inversas
anti-causais estáveis.
No caso do binômio de fase mı́nima 2 + Z, a inversa pode ser dada por
1
= 0.5 − 0.25Z + 0.125Z 2 − · · ·
2+Z
ou, alternativamente, por
1 1
= = Z −1 − 2Z −2 + 8Z −3 − · · ·
2+Z Z (1 + 2Z −1 )
Uma análise das duas diferentes inversas permite induzir que a primeira delas, cau-
sal, é convergente, enquanto a segunda, anti-causal, não converge, ou seja, é instável.
Caracteriza-se assim uma importante propriedade dos sinais de fase mı́nima: apresentam
inversas causais estáveis e inversas anti-causais instáveis.
Portanto, os binômios de fase máxima e mı́nima podem ser separados também com
base em suas inversas: os binômios de fase mı́nima, causais, apresentam inversas conver-
gentes também causais, ao contrário dos binômios de fase máxima, causais, cujas inversas
36 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
Tabela 1.4: Conceitos empregados na análise de séries aleatórias, com ou sem amos-
tragem. Legenda: p(x) é a função de densidade probabilı́stica, N é o número de pontos
da amostragem e x̄RM S é a média RM S, ou Root Mean Square.
Operação Resultado TF
1 xt ⊗ xt Px δ τ Px
2 xt ⊗ (−xt ) −Px δτ −Px
3 xt ⊗ y t 0 0
4 (xt + st ) ⊗ (xt + st ) Px δτ + Φss (τ ) Px + S(ω)S ∗ (ω) = Px + |S(ω)|2
5 (xt + st ) ⊗ (yt + st ) Φss (τ ) S(ω)S ∗ (ω) = |S(ω)|2
6 (xt ∗ wt ) ⊗ (xt ∗ wt ) Px Φww (τ ) Px W (ω)W ∗ (ω) = Px |W (ω)|2
Os conceitos resumidos pelas tabelas 1.5 e 1.6 são extremamente importantes para o
entendimento de três assuntos em particular: a deconvolução de dados sı́smicos, a razão
sinal/ruı́do e a atenuação dos ruı́dos aleatórios. O primeiro desses temas será discutido
com algum detalhe no item 1.4 e no Capı́tulo 3. Os outros dois assuntos merecem uma
análise especı́fica neste item já que, nos demais, serão tratados de forma superficial.
Considere-se que se deseja estimar a razão sinal/ruı́do, ou seja, a razão entre a potência
do sinal, Ps , e a do ruı́do aleatório, Pn , de um determinado traço sı́smico a, tomando-se
o vizinho, b, como referência. Para isto, assume-se que: (1) cada traço é o resultado da
soma do sinal, s, e do ruı́do respectivo, na , ou nb ; (2) o sinal é o mesmo nos dois traços e
a média correspondente é igual a zero; (3) as médias das duas séries de ruı́do são iguais
a zero e; (4) as duas séries de ruı́do apresentam a mesma variância ou, em função da
premissa anterior, a mesma potência, Pn .
Levando em conta que a média de cada um dos traços sı́smicos a e b é igual a zero,
o coeficiente de correlação entre os dois traços — a razão entre a covariância e a raiz
quadrada do produto das duas variâncias — pode ser escrito da seguinte forma:
P
(s + na )k (s + nb )k
Φab (0) k
r= = 1/2 1/2 (1.3.9)
[Φaa (0)Φbb (0)]1/2 P 2 P 2
(s + na )k (s + nb )k
k k
onde Φ(0) denota o deslocamento nulo da correlação cruzada entre as funções identificadas
pelos subscritos. Aplicando-se a esta expressão os resultados de número 4 e 5 da Tabela
1.6 e levando em conta as premissas adotadas, o coeficiente de correlação passa a ser
dado por
Ps
r=
Ps + P n
40 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
Uma vez que a razão sinal/ruı́do é dada por R = Ps /Pn , segue-se que r = R/(R + 1).
Tem-se assim a seguinte expressão para a razão sinal/ruı́do:
r
R= (1.3.10)
1−r
O último tema a discutir neste item é a atenuação dos ruı́dos aleatórios. A este
respeito, pode-se perguntar como um ruı́do aleatório de média igual a zero, que contamina
um conjunto de N traços sı́smicos, é afetado pela aplicação da média, amostra a amostra,
ao mesmo conjunto de traços. A resposta a esta pergunta fundamenta-se na propriedade
da média, apresentada na Tabela 1.5, de acordo com a qual o valor esperado para a
variância correspondente é dado por σ 2 /N , onde σ 2 é a variância do ruı́do. Este resultado
permite a seguinte e importante conclusão: se um conjunto de N traços, contaminados por
ruı́do
√ aleatório, for submetido a uma média aritmética, a média RMS do ruı́do resultante
é N vezes menor do que a original. Este é um conceito fundamental para o sucesso da
técnica CDP.
st ∗ f t = d t
et = d t − a t (1.4.1)
onde
at = f t ∗ s t
Pode-se agora apresentar o problema fundamental do filtro Wiener-Hopf: como esti-
mar o filtro ft que, aplicado à série st , gera uma série de erro, et , com a menor potência
1.4. O FILTRO WIENER-HOPF-LEVINSON 41
Uma equação equivalente à 1.4.2 é obtida tantas vezes quantos coeficientes o filtro
tiver. No caso de um filtro com n + 1 coeficientes, define-se um sistema de n + 1 equações
lineares com n + 1 incógnitas, cuja solução dá origem aos coeficientes desejados. As
equações correspondentes, denominadas equações normais, podem ser representadas da
seguinte forma:
∂I ∂ P
= (dt − at )2 = 0
∂f0 ∂f0 t
∂I ∂ P
= (dt − at )2 = 0
∂f1 ∂f1 t (1.4.4)
..
.
∂I ∂ P
= (dt − at )2 = 0
∂fn ∂fn t
Para se obter a solução das equações normais, substitui-se at , na equação 1.4.4, pela
operação de convolução ft ∗ st , na forma definida através da expressão 1.1.13. No caso
de um coeficiente arbitrário, j, tem-se a seguinte expressão:
!2
m+n n
∂I ∂ X X
= dt − fk st−k = 0 (1.4.5)
∂fj ∂fj t=0 k=0
ou !
m+n
X m+n
X n
X
− dt st−j + fk st−k (st−j ) = 0 (1.4.7)
t=0 t=0 k=0
Este resultado pode ser escrito e, com base na equação 1.1.23, interpretado da seguinte
forma:
X n m+n
X m+n
X
fk st−k st−j = dt st−j (1.4.8)
k=0
|t=0 {z } |t=0 {z }
Φss (j−k) gds (j)
onde Φss é a autocorrelação da série dada e gds é a correlação cruzada entre a série
desejada e a série dada. Uma vez que j ≥ 0, pode-se ainda dizer, com base na equação
42 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
1.1.13, que o lado esquerdo desta equação corresponde a uma versão parcial da convolução
entre a autocorrelação de st e o filtro ft .
A interpretação da expressão 1.4.8, aliada à troca do ı́ndice j pelo deslocamento (ou
lag) τ e do ı́ndice k pelo tempo t, permite obter a seguinte equação:
n∆t
X
Φss (τ − t)ft = gds (τ ), para τ ≥ 0 (1.4.9)
t=0
ou
c0 c1 · · · cn−1 cn f0 g0
c1 c0 · · · cn−2 cn−1
f1
g1
.. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . = . (1.4.12)
cn−1 cn−2 · · · c0 c1 fn−1 gn−1
cn cn−1 · · · c1 c0 fn gn
Observe-se que o filtro obtido é anti-causal e tende rapidamente a zero. Observe-se ainda
que o numerador corresponde a um coeficiente isolado no tempo t = ∆t, em vez do
tempo t = 0. Neste caso, é óbvio que o deslocamento adequado é igual a uma amostra,
que corresponde ao tempo final do binômio. Isto significa que a convolução do filtro
obtido com a série dada levará a um coeficiente isolado no tempo equivalente a uma
amostra.
O mesmo conceito pode ser generalizado, para o caso de uma série qualquer, o que
leva à seguinte conclusão: o deslocamento ótimo depende do número de binômios de
fase máxima e de fase mı́nima que a série contém. Entretanto, nas aplicações práticas,
a mesma informação não está diretamente disponı́vel. Para contornar esta dificuldade,
emprega-se freqüentemente uma técnica em que se procura determinar simultaneamente
o filtro e o deslocamento que levam ao menor erro encontrado na comparação entre a série
desejada e a obtida com o filtro escolhido (ver Robinson e Treitel, 1980). Na Figura 1.13,
apresenta-se um exemplo tı́pico do resultado obtido através da aplicação de um filtro
inverso a um filtro passa-banda. Observe-se que o resultado, obtido com um operador de
comprimento igual ao dobro do comprimento do pulso, foi deslocado de forma a que o
deslocamento ótimo coincida com a origem.
A noção de causalidade é também importante na aplicação de um caso particular de
filtro de forma: o que altera o espectro de fase de uma série mas mantém intocado o
seu espectro de amplitude. Nas aplicações tı́picas, o operador correspondente inclui a
presença de componentes de antecipação, ou seja, coeficientes que possibilitam deslocar
energia para tempos inferiores ao do inı́cio da série a filtrar. Na Figura 1.14, apresenta-se
um exemplo de aplicação desta idéia a um filtro passa-banda. Como no caso da Figura
1.13, o número de pontos do filtro foi de aproximadamente o dobro do comprimento da
série filtrada.
Até agora, discutiram-se aplicações do filtro Wiener-Hopf voltadas para a deter-
minação de filtros inversos e de forma. A mesma técnica pode também ser empregada
na previsão de eventos futuros, com base na ciclicidade de eventos passados e presentes.
Para isto, usa-se o conceito de filtro de predição, o qual é baseado na idéia de que a
autocorrelação de uma função estacionária — ou seja, uma função cujas propriedades
1.4. O FILTRO WIENER-HOPF-LEVINSON 45
estatı́sticas não se alteram com o tempo — pode ser utilizada para se estimar o valor da
função em um tempo futuro.
Considere-se, por exemplo, que se deseja estimar como uma série estacionária se com-
portará no futuro, a partir do tempo t0 + m∆t, onde t0 é o tempo presente, usando-se
apenas o conhecimento atual da série. Neste caso, a versão discreta da equação Wiener-
Hopf, dada pela expressão 1.4.9, assume a seguinte forma:
n∆t
X
Φss (τ − t)ft = Φss (τ + m∆t), para τ ≥ 0 (1.4.13)
t=0
O filtro obtido com base na expressão 1.4.13, se aplicado à série st , leva a uma nova
série que inclui informações sobre a parte previsı́vel do futuro, informações estas baseadas
nas caracterı́sticas de ciclicidade presentes na série st . Este enfoque é aplicado em diversas
situações. Um exemplo é o da previsão do comportamento das ações na bolsa de valores.
Outro é o da geração de malhas espaciais regulares a partir de medidas esparsas de uma
grandeza qualquer como, por exemplo, a profundidade do topo de uma camada. Na
literatura geológica, esta última idéia recebe o nome genérico de krigging.
No método sı́smico, além da deconvolução rotineira (ver o Capı́tulo 3), o filtro Wiener-
Hopf vem sendo utilizado também em problemas que envolvem o espaço, os quais são
normalmente resolvidos no domı́nio f -x, ou freqüência-distância (ver Treitel, 1974). Entre
estas aplicações, inclui-se a interpolação de traços sı́smicos (Spitz, 1991) e a atenuação
de ruı́dos aleatórios, ambas baseadas na capacidade de predição do filtro Wiener-Hopf ou
suas extensões (ver Canales, 1984). Neste último caso, para cada freqüência individual,
estimam-se eventos previsı́veis ao longo do eixo x, os quais são considerados sinais, o que
possibilita atenuar os eventos que não se pode prever, considerados ruı́dos. No Capı́tulo
3, será discutida um pouco mais a aplicação de filtros preditivos, particularmente na
1.4. O FILTRO WIENER-HOPF-LEVINSON 47
deconvolução rotineira.
onde o subscrito n + 1 do vetor [a] indica uma nova série de tempo, correspondente à
etapa n + 1 da recursão. Para eliminar o erro βn na equação 1.4.17, basta que se leve em
consideração a seguinte igualdade:
βn + k n α n = 0
1.4. O FILTRO WIENER-HOPF-LEVINSON 49
ou
βn
kn = − (1.4.19)
αn
Em conseqüência, pode-se agora determinar o novo vetor [a]n+1 a partir do vetor [a]n ,
com
1 1 0
a1 a1 an
.. .. ..
. = . + kn . (1.4.20)
an an a1
an+1 n+1 0 1
ou, em termos de transformada Z,
αn+1 = αn + kn βn (1.4.22)
e
1
a1
βn+1 = [cn+2 cn+1 · · · c1 ] .. (1.4.24)
.
an+1 n+1
Com base na equação 1.4.18, conclui-se que ainda não se obteve o filtro desejado, já
que o lado direito da mesma equação não corresponde ao vetor de correlação cruzada
[g]. Entretanto, a série at obtida pode ser utilizada na determinação do filtro ft desejado,
seguindo-se a mesma lógica usada na dedução da equação 1.4.17. O resultado é a seguinte
expressão:
c0 c1 · · · cn cn+1 f 0 a n+1
c1
c0 · · · cn−1 cn
f1
an
.. .. . .. .
.. . .
.. .. + qn .. .
. . =
cn cn−1 · · · c0 c1 fn a1
cn+1 cn · · · c1 c0 0 1 n+1
g 0 0
g 1
0
.. ..
. + qn . (1.4.25)
gn
0
γ αn+1
n
3. αn+1 = αn + kn βn
n+1
P
4. βn+1 = an+1,i cn+2−i
i=0
5. qn = (gn+1 − γn ) /αn+1
6. Fn+1 (Z) = Fn (Z) + qn Z n+1 An+1 (Z −1 )
fn+1,0 = fn,0 + qn an+1,n+1
n+1,1 = fn,1 + qn an+1,n
f
ou, no domı́nio do tempo, ..
.
fn+1,n = fn,n + qn an+1,1
f
n+1,n+1 = qn an+1,0
n+1
P
7. γn+1 = fn+1,i cn+2−i
i=0
Rs (Z) = 2Z −1 + 5 + 2Z
1.5.2 O cepstrum
O cepstrum (anagrama de spectrum, a palavra inglesa para espectro) de uma função
qualquer é definido como a transformada inversa de Fourier do logaritmo da transformada
de Fourier direta da função. Assim, no caso da transformada de Fourier do cepstrum da
função contı́nua s(t), tem-se (ver Oppenheim e Schafer, 1989):
A partir da equação 1.5.4, o cepstrum da função s(t), simbolizado por ŝ(t), pode ser
definido por n o
ŝ(t) = F −1 Â(ω) + iφ(ω) (1.5.5)
Â(ω) = ln A(ω)
Por sua vez, a função s(t) pode ser computada, a partir da transformada inversa de
Fourier do cepstrum, através da seguinte expressão:
n h io
s(t) = F −1 cexp Ŝ(ω) (1.5.6)
À primeira vista, as equações 1.5.4 e 1.5.5 pouco dizem a respeito da função estudada.
Entretanto, é possı́vel estimar o cepstrum correspondente de forma a se obter uma ex-
pressão mais informativa. Adotando-se a condição inicial φ(ω) = 0, para ω = 0, pode-se
apresentar a equação 1.5.3 da seguinte forma (ver Tribolet, 1977; Oppenheim e Schafer,
1989): Z ω
d ln S
Ŝ(ω) = dω
−∞ dω
onde S = S(ω). A expressão obtida pode ser reescrita da seguinte forma:
Z ω
1 dS
Ŝ(ω) = dω
−∞ S dω
à função original. Embora esta idéia possa parecer aceitável, sua aplicação não garante a
conservação da energia. Isto pode ser demonstrado a partir da separação da contribuição
dos espectros de amplitude e de fase da função original, para a formação do cepstrum, o
que leva à seguinte igualdade (ver as equações 1.5.4 e 1.5.5):
ou, alternativamente,
ŝ(−t) = â(−t) + p̂(−t) (1.5.10)
onde
â(t) ⇔ ln A(ω)
e
p̂(t) ⇔ iφ (ω)
Vê-se que o cepstrum de s(t) corresponde a uma soma de duas funções, a primeira
delas correspondente ao cepstrum da função de fase nula equivalente a s(t) e a segunda
à transformada inversa de Fourier do espectro de fase de s(t).
Sabe-se que â(t) é uma função par, já que A(ω) também o é. Por sua vez, p̂(t) é uma
função ı́mpar, já que φ(ω) também o é. Ou seja:
â(t) = â(−t)
e
p̂(t) = −p̂(−t)
Substituindo-se estas duas igualdades na equação 1.5.10, obtém-se:
Com as equações 1.5.9 e 1.5.11, pode-se obter as seguintes formas para as funções â(t)
e p̂(t):
ŝ(t) + ŝ(−t)
â(t) = (1.5.12)
2
e
ŝ(t) − ŝ(−t)
p̂(t) = (1.5.13)
2
Viu-se anteriormente que o cepstrum de uma função de fase mı́nima é causal. Além
disso, uma função qualquer e a função de fase mı́nima equivalente devem ter, ambas, o
mesmo espectro de amplitude. Assim, para se estimar o cepstrum desejado, m̂(t), deve-se
simultaneamente garantir que: (1) a função m̂(t) seja causal e; (2) uma única função â(t)
seja comum a ŝ(t) e a m̂(t). Estas condições levam a:
ou
m̂(t) = 2â(t) u(t) (1.5.18)
onde sgn(t) é a função sinal, e u(t) é a função degrau (Heaviside). Nas duas expressões,
percebe-se que m̂(t) é igual a 2â(t) nos tempos positivos, é igual a â(t) no tempo igual
a zero e é igual a zero, nos tempos negativos. Ou seja, m̂(t) é causal e depende somente
do espectro de amplitude de s(t).
Aplicando-se o teorema da convolução juntamente com a transformada de Fourier
de u(t), pode-se obter a expressão correspondente à equação 1.5.18, no domı́nio da
freqüência:
1 1
M̂ (ω) = Â(ω) ∗ πδ(ω) + (1.5.19)
π −iω
ou
i
M̂ (ω) = Â(ω) ∗ δ(ω) + (1.5.20)
πω
Isolando-se o filtro de quadratura 1/πω e levando-se em conta que δ(ω) é um impulso
unitário na origem (ω = 0), a equação 1.5.20 pode ser reescrita da seguinte forma:
1
M̂ (ω) = Â(ω) + i Â(ω) ∗ (1.5.21)
πω
ou
M̂ (ω) = ln A(ω) + iφM (ω) (1.5.22)
onde φM (ω) é o espectro de fase mı́nima desejado e A(ω) é o espectro de amplitude da
função original. Pode-se, portanto, estimar o espectro da função de fase mı́nima m(t)
através da seguinte equação: h i
M (ω) = cexp M̂ (ω) (1.5.23)
ou seja,
M (ω) = A(ω) exp [iφM (ω)] (1.5.24)
Em resumo, o método Kolmogoroff é aplicado através das seguintes operações: (1)
calcula-se o logaritmo do espectro de amplitude da função dada e retorna-se ao domı́nio
do tempo; (2) aplica-se ao resultado a equação 1.5.18, ou seja, anulam-se as amostras nos
tempos negativos, dobram-se as amostras nos tempos positivos e mantém-se inalterada a
amostra situada no tempo igual a zero; (3) calcula-se a transformada direta de Fourier do
resultado e aplica-se a equação 1.5.23, o que leva ao espectro da função de fase mı́nima
desejada.
1.5. FATORAÇÃO ESPECTRAL 57
O método Kolmogoroff confunde-se com a chamada técnica Hilbert, a qual pode ser
sintetizada pela equação 1.5.21. Ou seja, o espectro de fase mı́nima desejado é obtido
através da convolução do logaritmo do espectro de amplitude com o filtro de quadratura.
Esta operação equivale também a uma aplicação da transformada Hilbert direta, a qual
é muito usada na análise do traço sı́smico complexo.
A2 (ω)E(ω) = 1 (1.5.27)
onde 2â(t) e ê(t) são os cepstra correspondentes à autocorrelação da função s(t) e ao filtro
inverso e(t).
58 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
Neste ponto, pode-se perguntar qual é o resultado do produto entre a equação 1.5.28
e a função degrau, ou Heaviside, u(t). De acordo com a discussão apresentada no su-
bitem 1.5.3, sabe-se que o produto 2â(t) u(t) corresponde ao cepstrum de uma função
que apresenta as seguintes caracterı́sticas: (1) é causal; (2) tem o mesmo espectro de
amplitude de s(t) e; (3) tem espectro de fase mı́nima independente da fase de s(t). Em
conseqüência, o produto ê(t) u(t), que é igual a −2â(t) u(t), equivale ao cepstrum de um
filtro inverso de fase mı́nima cujo espectro de amplitude é igual ao inverso do espectro de
amplitude de s(t).
O leitor atento deve ter percebido que o produto entre a equação 1.5.28 e a função
degrau corresponde ao cepstrum da equação 1.5.25 e, conseqüentemente, que o filtro f (t),
cujo cepstrum é igual a ê(t) u(t), tem espectro de fase mı́nima. Com base nesta conclusão
e na teoria apresentada no subitem 1.5.3, pode-se obter, no domı́nio da freqüência, a
seguinte igualdade:
1
F (ω) = (1.5.29)
M (ω)
onde M (ω) corresponde à transformada de Fourier da função de fase mı́nima equivalente
a s(t), enquanto F (ω) é o filtro inverso correspondente. No caso discreto, a mesma
expressão transforma-se na seguinte transformada Z:
1
F (Z) = (1.5.30)
M (Z)
Em resumo, pode-se dizer que o filtro inverso f (t), estimado com base na equação
1.5.25, apresenta espectro de fase mı́nima e que este é um resultado propiciado pela
causalidade implı́cita na mesma equação. Conclui-se ainda que f (t) corresponde ao filtro
inverso da função de fase mı́nima equivalente à função que se procura inverter, s(t).
Estes conceitos representam os fundamentos do método Toeplitz. Para ilustrar sua
aplicação, considere-se que se deseja estimar uma série de fase mı́nima, mt , cujo espectro
de amplitude seja igual ao de uma série conhecida, st . Para isto, executam-se as seguintes
operações:
Uma análise rápida das expressões 1.5.31 e 1.5.32 permitiria dizer que, no domı́nio da
freqüência, as operações correspondentes equivalem grosseiramente a:
1
F (ω) ∼
=
S(ω)
e
1
M (ω) ∼
=
F (ω)
Ou seja,
M (ω) ∼ −1
= 1/ [S(ω)] = S(ω) (1.5.33)
De acordo com este resultado, o filtro mt deveria ser equivalente a st . Isto pode não ser
verdade porque, como se demonstrou acima, um filtro inverso, estimado com a técnica
Wiener-Hopf, tem sempre fase mı́nima e, na aplicação das equações 1.5.31 e 1.5.32, ne-
nhuma informação a priori sobre a fase é fornecida, exceto a de que ela é mı́nima. Assim,
pode-se dizer que mt é a função de fase mı́nima equivalente à função dada, st , inde-
pendentemente de suas caracterı́sticas de fase. Ou seja, st pode ser uma função de fase
máxima, misturada ou mı́nima, mas mt é uma função de fase mı́nima.
1.7 Exercı́cios
1. Se uma senóide sen (ωt + φ) é amostrada, a partir de t = 0, de acordo com o intervalo
∆t = 4ms, mostre como a freqüência de 125Hz é representada se a fase φ for: (a) 0;
(b)π/4; (c) π/2. O que se pode concluir?
2. Convolva e correlacione os sinais (2, 3, 1) e (2, −3, 1), considerando que o tempo inicial é
igual a zero, no primeiro, e ∆t no segundo.
3. Suponha que as transformadas de Fourier de duas funções sejam R(ω) e S(ω). Mostre
que
|R(ω)| + |S(ω)| 6= R(ω) + S(ω)
Em que circunstâncias esta desigualdade é falsa?
60 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
5. Calcule os espectros de amplitude e fase do sinal a t dado por (1, 1), o qual apresenta tempo
igual a zero em sua primeira amostra. Aumente o tempo de a t em uma amostra e estime
os espectros correspondentes. (Sugestão: tente representar a transformada de Fourier na
forma polar, usando a igualdade Z 1/2 = exp(iω∆t/2) e a fórmula de Euler. No processo,
procure descrever o espectro de amplitude através de uma função trigonométrica).
9. Demonstre que
dn s(t)
⇔ (−iω)n S(ω)
dtn
10. Viu-se, no item 1.2, como uma operação de derivada pode ser apresentada na forma
de uma convolução. Faça o mesmo com a operação de integração e discuta o papel do
componente de freqüência igual a zero. (Sugestão: use a equação 1.2.44 e considere o
caso discreto).
12. Obtenha o resultado das seguintes operações, usando tanto as definições da convolução e
da correlação cruzada quanto a transformada Z: (a) s(t)∗δ(t); (b) δ(t)∗s(t); (c) s(t)⊗δ(t)
e; (d) δ(t) ⊗ s(t).
14. Represente, em termos matemáticos, a propriedade ilustrada pela Figura 1.9 (página 28).
e que
Kx dt
p= = (1.7.1)
ω dx
16. Demonstre que, a menos de um fator de escala, a transformada de Fourier de s(z, t) =
δ(t − qz), onde q é constante, é dada por
e que
Kz dt
q= = (1.7.2)
ω dz
e que
Kx dz
tan θ = = (1.7.3)
Kz dx
19. Demonstre que a transformada inversa de Fourier de exp(iφ 0 ), onde φ0 é uma fase cons-
tante, é um filtro passa-tudo dado por
1 − cos πt
ft = δt cos φ0 + sen φ0 (1.7.4)
πt
onde t é o ı́ndice da amostra. Perguntas: (a) o que ocorre quando t = 0? (b) quais são
as formas de ft quando φ0 é igual a 0, π/2 e π? (Sugestão: a transformada inversa de
Fourier pode ser obtida através da decomposição do processo em duas partes, a primeira
entre ω = −π e ω = 0, a segunda entre ω = 0 e ω = π, levando em conta a anti-simetria
da fase).
20. Represente, nos quatro quadrantes do plano ω-K x , um evento real (não complexo), regis-
trado em álias espacial, cuja declividade é dada por
K xN
p0 = 2.5
ωN
21. Qual a fase, na freqüência de Nyquist, de uma série real que tem fase igual a zero na
freqüência f = 0 e que pode ser decomposta em 10 binômios de fase máxima e cinco
binômios de fase mı́nima?
22. Analise a Figura 1.12 e responda: como seria a distribuição relativa de energia nos três
pulsos se, nos binômios usados, o número 0.95 fosse substituı́do por 0.5?
62 CAPÍTULO 1. TRATAMENTO DE SINAIS
23. Ache as funções de fase nula e de fase máxima que têm o mesmo espectro de amplitude
de ft = (4, 4, 1). Com base no resultado, generalize a relação entre uma função de
fase mı́nima e outra de fase máxima, no caso em que ambas têm o mesmo espectro de
amplitude.
24. Reescreva a equação 1.3.3 para o caso em que β é um número complexo e, com base no
resultado, estabeleça o comportamento geral do espectro de fase de uma função de fase
mı́nima e o de uma função de fase máxima.
25. Analise o binômio B(Z) = 1 − Z. Ele tem fase mı́nima ou máxima? Calcule sua inversa
usando divisão de polinômios. O que se pode concluir?
27. Use a equação 1.5.30 para obter o filtro inverso, com dois coeficientes, do sinal s t = (1, 0.5)
e calcule o erro médio quadrático correspondente. Compare os resultados com os do filtro
apresentado na página 43 e explique as diferenças encontradas.
28. Calcule o filtro inverso do sinal s t = (1, 0.5) usando a recursão Levinson. Compare
o resultado com o apresentado na página 43. Compare também, entre si, as versões
normalizadas das séries at e ft . O resultado desta última comparação seria o mesmo se a
série desejada, dt , fosse, por exemplo, igual a (1, 1), em vez de (1, 0)? O que significa a
série at , em qualquer caso?
29. Calcule o filtro inverso de st = (0.5, 1): (a) usando a recursão Levinson; (b) com divisão
polinomial. Em ambos os casos, calcule apenas dois coeficientes e estime os erros. Com-
pare o resultado do primeiro caso com o filtro obtido quando s t = (1, 0.5). O que você
conclui?
30. Compare as equações 1.3.9 e 1.4.11 e diga qual pode ser, nos termos do filtro Wiener-Hopf,
o significado da primeira.
31. Demonstre que uma convolução, no domı́nio do tempo, corresponde a uma soma, no
domı́nio do cepstrum.
32. Analise a convolução incluı́da na equação 1.5.21 e diga quais são os valores de φM (ω)
quando ω = 0 e ω = ωN , no caso em que A(ω) é o espectro de amplitude de uma função
real. (Sugestão: use as propriedades de simetria de A(ω) e de 1/πω).
33. Quais devem ser as propriedades de simetria de um traço sı́smico complexo (não real),
amostrado em função do tempo, para que sua transformada de Fourier seja puramente
real?
tal que sua transformada de Fourier, H(ω), seja igual a zero para ω menor do que zero.
Demonstre que h(t), conhecido como o sinal analı́tico pertencente a s(t), pode ser obtido
com base na transformada Hilbert, ou seja:
35. Com base no exercı́cio anterior, diga como obter a amplitude e a fase instantâneas cor-
respondentes a um traço sı́smico e qual o significado dessas duas funções.
Capı́tulo 2
2.1 Introdução
Neste item, apresentam-se de forma resumida conceitos básicos associados à geração e à
propagação do sinal sı́smico. O enfoque adotado foi o de fornecer ao leitor um estoque
mı́nimo de informações que favoreçam um entendimento mais intuitivo de alguns dos itens
subseqüentes. Com este objetivo, parte-se, no subitem 2.1.1, da análise da interação entre
as ondas sı́smicas e as partı́culas das rochas, até atingir o ponto, no subitem 2.1.6, em
que se apresenta a técnica CDP. Entre um extremo e outro, discutem-se temas como a
geração das reflexões, princı́pios de ótica geométrica e as deformações a que está sujeito
o sinal sı́smico registrado.
64
2.1. INTRODUÇÃO 65
Esforço e deformação
Como se verá adiante, a geração e a propagação de uma onda sı́smica, seja ela do tipo
P ou S, depende fundamentalmente da relação entre o esforço introduzido pela onda
e a conseqüente deformação. Na teoria da elasticidade, deformação corresponde a uma
variação relativa de volume ou comprimento, ou seja, trata-se de uma razão adimensional.
Já o esforço tem dimensão de força por unidade de área e é equivalente, no caso de um
fluido, à pressão. Neste subitem, o esforço é normalmente considerado compressivo.
Este é o contexto em que se aplicam as diversas formas da lei de Hooke, de acordo
com a qual o esforço é diretamente proporcional à deformação gerada por ele. No que
diz respeito à propagação de ondas, o aspecto mais importante da lei de Hooke é a
premissa de que o meio é perfeitamente elástico, o que implica considerar temporárias
as deformações. Ou seja, passado o efeito do esforço sobre uma partı́cula qualquer, ela
retorna às condições originais.
Para analisar o tema, pode-se fazer uso de um corpo infinitesimal, submetido a esforços
similares aos introduzidos por uma onda sı́smica. Imagine-se, inicialmente, que o corpo
infinitesimal hipotético tenha forma descrita por um paralelepı́pedo de comprimento l e
dimensões laterais iguais a s. Considere-se agora que o mesmo corpo seja submetido a
quatro diferentes situações ou estados, criados em função da propagação de uma onda
sı́smica:
a. Esforço hidrostático, exercido uniformemente sobre toda a superfı́cie do corpo.
b. Deformação uniaxial, distribuı́da uniformemente ao longo do eixo longitudinal l.
c. Esforço uniaxial, exercido uniformemente ao longo do eixo longitudinal l.
d. Esforço transversal, exercido sobre um dos limites do corpo, transversalmente ao
eixo longitudinal l.
66 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
Figura 2.2: Um corpo submetido a diferentes esforços e deformações: (a) esforço hi-
drostático; (b) deformação uniaxial e; (c) esforço uniaxial. Para facilitar a visualização,
as deformações foram representadas de forma exagerada.
∆V 1 ∆V
∆p = −Kb =− (2.1.1)
V C V
onde V e p são, respectivamente, o volume infinitesimal e a pressão a que o corpo está
submetido.
No estado de deformação uniaxial, ilustrado na Figura 2.2b, apenas o comprimento l
do corpo é alterado. A proporção com que a deformação longitudinal ocorre depende da
compressibilidade uniaxial Cm ou, alternativamente, do módulo da onda P, identificado
por M . A expressão matemática correspondente é:
∆l 1 ∆l
∆p = −M =− , ∆s = 0 (2.1.2)
l Cm l
A situação assim descrita corresponde à deformação introduzida por uma onda compres-
sional plana, que altera as dimensões do corpo infinitesimal apenas ao longo do eixo em
que ocorre a propagação.
No estado de esforço uniaxial, ilustrado na Figura 2.2c, a deformação do corpo infi-
nitesimal ocorre sem restrições laterais, já que os esforços em outras direções são nulos.
Estas são as condições em que se definem o módulo de Young e a razão de Poisson.
O primeiro corresponde à razão entre o esforço e a correspondente deformação, ambos
medidos na mesma direção. Ou seja,
∆l
∆pl = −E , ∆ps = 0 (2.1.3)
l
2.1. INTRODUÇÃO 67
onde E é o módulo de Young, enquanto ∆pl e ∆ps são esforços unidirecionais compressivos
— forças por unidade de área — aplicados independentemente ao longo dos eixos l e s.
Ressalte-se que, por definição, existem dois eixos s.
Para definir a razão de Poisson, considere-se que o corpo infinitesimal hipotético seja
constituı́do de puro gás e envolvido por um material perfeitamente flexı́vel. Considere-se
ainda que o volume do corpo seja inicialmente igual a ls2 . Como não existe restrição
lateral, a deformação introduzida pelo esforço uniaxial não deve alterar o volume total
de gás. Isto ocorre desde que a seguinte igualdade seja satisfeita:
∂V ∂V
∆V = ∆l + ∆s =0
∂l ∂s
Resolvendo, obtém-se a seguinte igualdade:
s2 ∆l + 2sl∆s = 0
ou
l ∆s 1
− = (2.1.4)
s ∆l 2
A expressão algébrica, no lado esquerdo da equação 2.1.4, corresponde à razão de Pois-
son, σ, a qual é definida pelo negativo da razão entre a deformação lateral e a deformação
longitudinal sofridas por um corpo submetido a um esforço na direção longitudinal. Ma-
tematicamente, portanto, tem-se:
∆s/s
σ=− (2.1.5)
∆l/l
Percebe-se, assim, que o resultado numérico da equação 2.1.4 corresponde à razão de
Poisson do gás, a qual, como no caso de qualquer fluido, é igual a 0.5.
Considere-se agora que o esforço uniaxial seja aplicado a um corpo sólido homogêneo.
Neste caso, a expressão 2.1.5 leva a valores de razão de Poisson tı́picos entre 0 e 1/2,
dependendo das caracterı́sticas do material (ressalte-se que o limite inferior teórico é
igual a −1, e não 0). Ou seja, em um corpo sólido, um esforço compressivo leva quase
certamente a uma redução no volume total. Isto se explica pelo fato de que, em um sólido,
as partı́culas não apresentam a mesma independência de movimentos que se observa em
um fluido, fazendo com que os esforços não se distribuam de forma homogênea.
A relação entre a rigidez de um sólido e a lei de Hooke exige a análise de como um corpo
é deformado em função da aplicação de um esforço transversal. Este é o caso ilustrado
na Figura 2.3a, na qual uma força, ∆fs , é aplicada na direção transversal ao eixo l, ao
longo de uma das faces do corpo, enquanto a face oposta é mantida artificialmente fixa.
A deformação resultante, dada pela razão ∆s/l, corresponde também ao ângulo α, em
função de a diferença ∆s ser proporcionalmente pequena. Além disso, não implica alterar
o volume do corpo.
A intensidade da deformação transversal, ou tangencial, é controlada pelo módulo
de rigidez do material, µ, o qual é definido, com base na lei de Hooke, pela seguinte
expressão:
∆fs ∆s
= −µ = µα (2.1.6)
Al l
onde Al é a área envolvida, medida transversalmente à direção em que a força é aplicada.
68 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
A propagação de ondas P
Pode-se agora analisar como a propagação das ondas depende da elasticidade dos mate-
riais em que elas viajam. Considere-se inicialmente a propagação em um fluido. Neste
caso, os módulos M e Kb são idênticos e identificados adiante pelo sı́mbolo B. Esta
igualdade se deve ao fato de que, nesse tipo de material, a independência de movimento
das partı́culas faz com que, sob uma mesma variação de pressão, a alteração relativa de
volume seja idêntica nos estados envolvidos na definição dos dois módulos.
O primeiro passo na análise proposta consiste em determinar como o módulo Kb , ou
B, influencia a velocidade com que a onda avança. A relação algébrica entre as duas
grandezas pode ser obtida a partir da aplicação da segunda lei de Newton à propagação
2.1. INTRODUÇÃO 69
da onda. Para isto, imagine-se que uma onda plana, propagando-se com velocidade vP ,
atinja um corpo infinitesimal de volume V definido por
V = Al = AvP t (2.1.7)
ou
∆lAvP ∆V
a∆t = − =− v (2.1.9)
AvP t V P
∆u
p = −vP2 ρ (2.1.14)
∆z
onde ∆u é a variação no deslocamento de partı́culas ao longo do eixo das profundidades
e ∆z é a dimensão vertical do volume infinitesimal afetado pela onda. Observe-se que a
área não é alterada no processo porque se trata de uma onda plana.
Como ∆z equivale ao trajeto infinitesimal percorrido pela onda, pode-se dizer que
∆z = vP ∆t. Esta igualdade permite escrever a equação 2.1.14 da seguinte forma:
∆u
p = −vP ρ (2.1.15)
∆t
ou, fazendo com que ∆t tenda a zero,
∂u
p = −vP ρ (2.1.16)
∂t
onde ∂u/∂t é a velocidade com que as partı́culas são deslocadas.
Com base na equação 2.1.16, percebe-se que a variação de pressão, p, é proporcional
ao produto entre a velocidade de partı́culas, ∂u/∂t, e a impedância acústica local do meio,
definida pelo produto vP ρ. A este respeito, deve-se destacar que, na aquisição sı́smica,
a variação de pressão e a velocidade de partı́culas são medidas, respectivamente, através
do hidrofone e do geofone. Este tema será explorado com maior profundidade nos itens
2.4 e 2.9.
Para ilustrar a relação entre a teoria apresentada e a propagação das ondas, consi-
dere-se o caso de um pulso sı́smico gerado por uma fonte compressional que, viajando
em um fluido, atinge uma determinada partı́cula a. De acordo com a equação 2.1.16,
o esforço exercido pela parte frontal da onda sobre a partı́cula faz com que ela sofra
um deslocamento com velocidade proporcional à variação na pressão. Nesse processo, o
esforço é transmitido para uma partı́cula adjacente b, situada mais adiante, na direção
em que se processa a propagação. Na posição de máximo deslocamento da partı́cula a,
ela pára e começa a recuar, em função da instalação de uma fase de distensão. Este
processo de avanço e recuo da partı́cula se repete até que ela entre em repouso, o que se
dá quando o pulso sı́smico atravessa completamente a posição em que ela se encontra.
A Figura 2.4 pode ser usada como exemplo de um conjunto de medidas de variação de
pressão, geradas por um pulso sı́smico real e obtidas através de um hidrofone fixo.
2.1. INTRODUÇÃO 71
O papel da rigidez
Intuitivamente, percebe-se que, da mesma forma com que o módulo bulk, ou de onda P,
afeta a velocidade de propagação de uma onda compressional em um fluido, o módulo de
rigidez afeta a velocidade de propagação da onda cisalhante em um sólido. Ou seja, em
um meio menos rı́gido, a transmissão dos esforços transversais deve se dar de forma mais
lenta. Também com base na segunda lei de Newton, pode-se obter a seguinte igualdade:
∆fs ∆s
= −vS2 ρ (2.1.17)
Al l
isotrópico, esta tarefa permite obter o seguinte resultado (ver o item 2.4 e Kolsky, 1963):
s
Kb + 43 µ
vP = (2.1.20)
ρ
(Um exercı́cio para o leitor: analise essas três equações no caso particular de um fluido.)
As interfaces e as ondas P e S
O conjunto de conceitos já apresentados permite caracterizar razoavelmente bem impor-
tantes diferenças entre a propagação de ondas S e a de ondas P. No caso, duas observações
são fundamentais: (1) ao contrário das ondas P, uma onda S não afeta o volume do corpo
em que ela se propaga, apenas o deforma localmente (comparem-se as figuras 2.2b e
2.2d) e; (2) a ausência de contato direto entre as partı́culas sólidas de um corpo impede
a propagação de ondas S. A segunda observação é fundamental para que se entendam os
fenômenos que ocorrem na interface entre um sólido e um lı́quido.
Imagine-se uma onda S que se propaga verticalmente em um sólido, ou seja, as
partı́culas vibram na direção horizontal. Imagine-se agora que a onda atinja uma in-
terface, também horizontal, entre o sólido e um fluido qualquer. Em função da ausência
de acoplamento entre os dois materiais, as vibrações que ocorrem no sólido, junto à inter-
face, não são transmitidas para o fluido, fazendo com que a onda seja apenas refletida 1 .
Em contrapartida, se a direção de propagação fosse oblı́qua à interface, a projeção ver-
tical dos deslocamentos de partı́cula do sólido introduziria variação de pressão no fluido
e, conseqüentemente, levaria à geração de ondas denominadas convertidas (no caso, de S
para P).
A situação oposta à descrita também merece alguns comentários. No caso, tem-se
uma onda compressional viajando para baixo no fluido até atingir a interface horizontal
com o sólido. Como a direção em que a onda se propaga é perpendicular à interface,
não se criam deformações tangenciais. Isto significa que a energia da onda compressional
incidente é repartida na forma de uma onda refletida compressional e uma onda trans-
mitida, também compressional, ambas com amplitude afetada pela interface. Ou seja,
nenhuma onda cisalhante é criada. Por outro lado, se a onda compressional incidente
for oblı́qua à interface, os esforços passam a ter uma projeção horizontal e, desta forma,
1
Na verdade, esta é uma afirmação apenas parcialmente válida, uma vez que, em um meio realista,
não homogêneo, a alteração na forma das partı́culas na interface transmite para o fluido uma pequena
fração da energia.
2.1. INTRODUÇÃO 73
criam-se condições para que parte da energia se propague no sólido na forma de uma
onda cisalhante. A influência da interface, sobre as amplitudes das ondas geradas por
ela, é um tema analisado com relativa profundidade no item 2.6 e, no caso particular da
incidência normal, no subitem 2.1.2.
onde s é uma amplitude constante para cada valor de ω. Nestes termos, a variação no
deslocamento de partı́culas é concentrada no fator que envolve o cosseno.
O leitor poderá estar se perguntando como uma função de comprimento teoricamente
infinito, como a 2.1.23, pode ser considerada representativa da variação no deslocamento
de partı́culas, um fenômeno de curta duração. Esta dúvida desaparece quando se leva em
conta o fato de o sinal sı́smico ser constituı́do por uma soma de diversas funções u, uma
para cada valor de ω. Desta forma, pode-se obter qualquer distribuição de amplitudes
em função do tempo e, em conseqüência, um sinal transiente, como é o caso de um pulso
sı́smico (ver o item 1.2).
Com base na igualdade 2.1.23, pode-se analisar como as ondas transmitem energia.
Inicialmente, define-se a energia cinética de uma onda, K, como a energia associada à
74 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
onde ∂u/∂t é a velocidade de partı́culas. Por sua vez, a energia potencial da onda,
U , é definida em função do produto entre a força exercida pela onda e a variação no
deslocamento de partı́culas. Considerando o deslocamento no intervalo entre u = 0 e um
valor arbitrário u, tem-se a seguinte integral:
Z u 2
∂ u
U =− m du (2.1.25)
0 ∂t2
onde a força é definida pelo produto entre a massa e a aceleração, a qual é negativa. Com
base na equação 2.1.23, sabe-se que ∂ 2 u/∂t2 = −ω 2 u. Neste caso, a energia potencial
pode ser descrita por Z u
U= mω 2 udu = 12 mω 2 u2 (2.1.26)
0
As equações 2.1.24 e 2.1.26 representam a base para se avaliar como flui a energia
das ondas. Para isto, deve-se levar em conta que, nas duas equações, a massa é dada
pela igualdade m = vρ∆tA, onde A e ∆t são a área e o intervalo de tempo envolvidos
na propagação da onda em uma distância infinitesimal e ρ é a densidade do meio. Desta
forma, conclui-se que a razão (K + U )/(∆tA) — energia por unidade de tempo e unidade
de área — corresponde a uma medida do fluxo da energia. Em termos algébricos, tem-se
a seguinte expressão: " #
2
∂u
F = 21 vρ + ω 2 u2 (2.1.27)
∂t
F = 12 vρω 2 s2 (2.1.28)
aR = raI (2.1.29)
e
aT = T a I (2.1.30)
onde a denota amplitude e os subscritos I, R e T identificam as ondas incidente, refletida
e transmitida. Por sua vez, r e T são os coeficientes de reflexão e de transmissão.
A interface descrita, apesar de ser caracterizada por uma descontinuidade acústica do
meio, não envolve descontinuidades no deslocamento das partı́culas e nos esforços envol-
vidos. Existem duas razões para isto. Em primeiro lugar, se houvessem descontinuidades
no deslocamento e, conseqüentemente, na velocidade de partı́culas, criar-se-iam condições
para a formação de cavidades, o que implicaria violar a lei de Hooke. Em segundo lugar,
a ausência de continuidade nos esforços implica dizer que novas forças passariam a atuar
e, desta forma, a conservação da energia não seria garantida.
Estabelecem-se assim as seguintes condições de contorno: (a) a variação no desloca-
mento de partı́culas no meio 1 deve igualar o deslocamento de partı́culas no meio 2, o
que garante a continuidade dos deslocamentos; (b) a variação de pressão no meio 1 deve
igualar a variação de pressão no meio 2, o que garante a continuidade dos esforços. Ou
seja, aplicam-se ao caso as seguintes igualdades:
uI − u R = u T (2.1.31)
e
pI + p R = p T (2.1.32)
onde u é o deslocamento de partı́culas, medido em relação ao sentido da propagação, e p
é a variação de pressão, medida em relação à pressão ambiente, ambos introduzidos pela
onda incidente.
A respeito das equações 2.1.31 e 2.1.32, o leitor pode estar se perguntando porque
a primeira dessas equações envolve uma diferença e não uma soma, como ocorre com a
segunda. Para explicar porque isto ocorre, suponha-se que tanto a onda refletida quanto
a incidente sejam de compressão. Neste caso, a variação de pressão, na parte frontal
da onda, é sempre positiva, tanto para a onda incidente quanto para a refletida. Nas
mesmas condições, uma partı́cula é deslocada para baixo, no caso de uma onda incidente,
e deslocada para cima, no caso de uma onda refletida. Uma vez que o deslocamento de
partı́culas é referenciado ao sentido da propagação, cria-se a necessidade do sinal negativo
na equação 2.1.31. Por outro lado, como p já é uma variação de pressão (em relação à
pressão ambiente), justifica-se o sinal positivo da equação 2.1.32.
Com a equação 2.1.23, na qual se considera s = 1, pode-se definir os deslocamentos
de partı́culas das expressões 2.1.31 e 2.1.32 através das seguintes equações:
e
uT = T cos (ωz/v2 − ωt) (2.1.35)
Combinando-se estas expressões com a 2.1.16, obtém-se a seguinte forma para as pressões
pI , pR e p T :
pI = −v1 ρ1 ω sen (ωz/v1 − ωt) , (2.1.36)
cos (ωz/v1 − ωt) − r cos (−ωz/v1 − ωt) = T cos (ωz/v2 − ωt) (2.1.39)
v1 ρ1 ω sen (ωz/v1 − ωt) + rv1 ρ1 ω sen (−ωz/v1 − ωt) = T v2 ρ2 ω sen (ωz/v2 − ωt) (2.1.40)
1−r =T (2.1.41)
e
v2 ρ2
1+r = T (2.1.42)
v1 ρ1
A partir deste resultado, obtêm-se as seguintes fórmulas para os coeficientes de reflexão
e transmissão:
v2 ρ2 − v 1 ρ1
r= (2.1.43)
v2 ρ2 + v 1 ρ1
e
2v1 ρ1
T = (2.1.44)
v2 ρ2 + v 1 ρ1
Pode-se agora estabelecer a relação entre o fluxo de energia através de uma interface
e os correspondentes coeficientes de reflexão e transmissão. Para isto, leva-se em conta
que a energia da onda incidente deve ser igual à soma das energias das ondas refletida
e transmitida. Combinando-se este conceito com a equação 2.1.28, obtém-se a seguinte
igualdade:
1
v ρ ω 2 s2 = 12 v1 ρ1 r 2 ω 2 s2 + 12 v2 ρ2 T 2 ω 2 s2
2 1 1
2.1. INTRODUÇÃO 77
Este resultado, que corresponde ao produto entre as equações 2.1.41 e 2.1.42, fornece uma
medida relativa da energia que atravessa a interface. (Um exercı́cio para o leitor: o que
representa o resultado da divisão da equação 2.1.42 pela 2.1.41?)
sen θ
∆t = ∆x
v
onde v é a velocidade com que a onda se propaga no meio e θ é o ângulo entre a direção
do raio e a direção vertical, ou entre a frente de onda e a direção horizontal. No limite,
para ∆x tendendo para zero, pode-se dizer:
dt sen θ
p= = (2.1.46)
dx v
5
Registre-se que o princı́pio proposto por Pierre de Fermat (1601-1665) foi apresentado alguns anos
antes do princı́pio de Huygens.
6
Atenção: a onda plana da figura, com inclinação de aproximadamente 45 graus, representa um caso
particular que pode induzir relações geométricas não generalizáveis.
80 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
1 dt Kx
= = (2.1.47)
vA dx ω
onde ω é a freqüência angular temporal e vA é a velocidade aparente. Assim, pode-se
também dizer:
dt sen θ Kx
p= = = (2.1.48)
dx v ω
ou ainda,
dt vKx
sen θ = vp = v = (2.1.49)
dx ω
A mesma seqüência de raciocı́nio, aplicada ao eixo z, leva à dedução da vagarosidade
vertical, q (ver a equação 1.7.2), a qual é definida da seguinte forma:
dt cos θ Kz
q= = = (2.1.50)
dz v ω
ou
dt vKz
cos θ = vq = v = (2.1.51)
dz ω
Com base na relação entre a variação no tempo e a variação nas coordenadas espaciais,
onde a primeira é sempre positiva, induz-se facilmente que o sentido da propagação afeta
2.1. INTRODUÇÃO 81
o sinal do resultado obtido através da aplicação das equações 2.1.48 a 2.1.51. Assim,
no caso particular do eixo z, se a onda estiver subindo, segue-se que dt/dz < 0, o que
equivale a substituir θ por π − θ, já que cos (π − θ) = − cos θ. O oposto ocorre no caso
de uma onda descendente, ou seja, dt/dz > 0.
A Figura 2.6 permite estabelecer uma relação entre as vagarosidades horizontal e
vertical e a velocidade de propagação. Para isto, aplica-se inicialmente o teorema de
Pitágoras, que relaciona da seguinte forma as distâncias envolvidas na figura:
O termo “relação de dispersão” vem do fato de este resultado descrever a relação entre
a velocidade de propagação e a freqüência do sinal, relação esta que está no âmago da
definição de dispersão: um sinal apresenta dispersão quando componentes de freqüência
diferentes apresentam velocidades de propagação diferentes (ver o item 2.8).
Imagine-se agora uma interface horizontal que separa dois meios homogêneos e iso-
trópicos, mas diferentes entre si. Considere-se também que os dois meios, 1 e 2, são
caracterizados pelas correspondentes velocidades de propagação, v1 e v2 . A interface hi-
potética assim descrita representa um conjunto de descontinuidades pontuais nas propri-
edades acústicas do meio, as quais são separadas por uma distância infinitesimal. Nestas
condições, se uma onda plana, viajando no meio 1, atingir a interface, cada uma das
descontinuidades pontuais fará com que parte da energia retorne para o meio 1, enquanto
o restante da energia passa a se propagar no meio 2.
O princı́pio de Huygens permite demonstrar que, em função do fato de a onda incidente
ser plana, tanto o sinal que retorna para o meio 1 quanto o que é transmitido para o meio
2 são caracterizados por ondas também planas, sendo a primeira delas definida como uma
reflexão. Como se viu anteriormente — e se discutirá com maior profundidade no item
2.6 —, as amplitudes das ondas refletidas e transmitidas na interface são modificadas
pelos correspondentes coeficientes de reflexão e transmissão.
No que diz respeito à energia refletida, é possı́vel demonstrar, com o princı́pio de
Huygens, que o ângulo de incidência (o ângulo entre o raio incidente e a direção normal
7
Com agradecimentos a Adelson Oliveira, que chamou a atenção do autor para o fato de que existe,
em português, uma palavra equivalente a eikonal.
82 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
à interface) é igual ao ângulo de reflexão (o ângulo entre o raio refletido e a direção nor-
mal à interface). Assim, se uma onda plana, horizontal, atingir uma interface também
horizontal, a onda refletida tem a mesma direção e sentido oposto, em relação à onda
incidente. Por outro lado, se uma onda plana inclinada para leste atinge a mesma in-
terface horizontal, a reflexão gerada é uma onda plana inclinada para oeste, mas ambas
apresentam mergulho de módulo igual. Com base nesta descrição, conclui-se que, se o
raio for tratado como um vetor, a seguinte relação é válida:
θR = π − θ I (2.1.54)
onde θI e θR são, respectivamente, os ângulos que o raio incidente e o raio refletido fazem
com o eixo das profundidades. Este é um resultado que deve ser levado em conta nas
aplicações da equação 2.1.51.
Considere-se agora a parte da energia incidente que é transmitida através da interface.
Se os dois meios apresentarem velocidades diferentes, ocorre o fenômeno da refração, de
acordo com o qual a onda que atravessa a interface mantém o sentido mas tem direção
alterada, em relação à onda incidente. A Figura 2.7 pode ser usada para ilustrar o
conceito. Na figura, o ângulo de incidência é identificado por θ1 , enquanto o ângulo de
refração (o ângulo entre o raio refratado e a direção normal à interface) é identificado por
θ2 .
Na Figura 2.7, as frentes de onda foram traçadas com base no princı́pio de Huygens,
levando em conta as velocidades de propagação nos dois meios. Percebe-se na figura que,
no intervalo de tempo ∆t, a onda se deslocou do ponto D até o ponto E, ainda no meio
1. No mesmo intervalo de tempo, a onda se deslocou do ponto B até o ponto C, já no
meio 2. Configuram-se assim dois triângulos, um no meio 1, outro no meio 2. Como o
segmento de reta BE é comum aos dois triângulos, pode-se dizer:
1 sen θ1 sen θ2
= =
BE v1 ∆t v2 ∆t
Eliminando-se o termo comum, ∆t, obtém-se a lei de Snell:
sen θ1 sen θ2
= (2.1.55)
v1 v2
razões obtidas em funções trigonométricas, obtém-se a lei de Snell, já que o resultado
dessas operações é:
dt sen θ1 sen θ2
= − =0
dxB v1 v2
Um caso particular da lei de Snell ocorre quando o ângulo de incidência é igual ao
chamado ângulo crı́tico, θc , cujo seno é definido por
v1
sen θc = sen θ1 = (2.1.57)
v2
Neste caso, a onda refratada viaja no meio 2, junto à interface entre os dois meios, já que
θ2 = 900 . Estas são também as condições em que é gerada a chamada onda frontal (head
wave), que viaja no meio 1, a partir da interface, de acordo com o mesmo ângulo θ c .
A lei de Snell é fundamental para se rastrear o raio em um meio heterogêneo, com
múltiplas camadas. Supondo-se que todas as interfaces sejam horizontais e que as cama-
das sejam homogêneas e isotrópicas, a lei de Snell assume a seguinte forma:
sen θ1 sen θn
p= = ··· = (2.1.58)
v1 vn
onde p é o parâmetro de raio e θ é o ângulo de incidência na base da camada identificada
pelo subscrito. Com base nesta expressão, percebe-se que, em toda a trajetória de um
raio que percorre um meio como o descrito, pode-se associar os ângulos de incidência em
todas as interfaces a um único valor de p.
Considerando um meio em que as camadas assumem qualquer atitude, como no exem-
plo da Figura 2.8, a lei de Snell deve ser aplicada, em cada interface, de acordo com a
84 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
equação 2.1.55, em vez da equação 2.1.58. A mesma figura pode também ser usada para
ilustrar o princı́pio da reciprocidade. De acordo com este princı́pio, um sinal emitido no
ponto A e registrado no ponto B é igual a um sinal emitido no ponto B e registrado no
ponto A. A aplicação mais imediata do princı́pio da reciprocidade ao método sı́smico é
a possibilidade de intercambiar, sem prejuı́zo, as posições de um ponto de tiro e de uma
estação de geofones. Obviamente, neste caso, devem-se desconsiderar fenômenos proxi-
mais, associados às condições de acoplamento, ao sistema de aquisição dos dados sı́smicos
e à superfı́cie livre (interface terra-ar).
It rt 1 2 3 4 5 st
0.00
+ + + + =
0.25
Tempo (s)
0.50
e
φS (f ) = φP (f ) + φR (f ) (2.1.63)
tamente como na Figura 2.9. Com esta concepção, o modelo convolucional transforma-se
no modelo do refletor explosivo, idealizado por J. Sherwood (Loewenthal et al., 1976), o
qual permite incorporar fenômenos associados à propagação da onda em duas ou em três
dimensões, parte dos quais são discutidos neste item.
o que torna difı́cil isolar as distorções causadas pela absorção daquelas devidas às des-
continuidades elásticas. Este tema é discutido com maior profundidade no item 2.8.
Diversas distorções inerentes ao método sı́smico concentram-se na relação entre a
banda espectral disponı́vel e as espessuras das camadas. A Figura 2.9 pode ser usada para
ilustrar o conceito: observe-se que o pulso sı́smico usado tem fase igual a zero e espectro
de amplitude controlado, o que pode ser percebido analisando-se as reflexões isoladas dos
traços 1 a 5. Mesmo nestas condições favoráveis, pode-se observar, no resultado final,
que a clara distinção entre interfaces verticalmente vizinhas, como a quarta e a quinta da
figura, é relativamente difı́cil, em função da interferência das reflexões correspondentes.
Em condições reais, os fatores que influenciam a análise desse tema são, principalmente,
a absorção, as múltiplas internas das camadas finas — ambos já mencionados — e os
pulsos sı́smicos reais, que são relativamente mais complexos do que o usado na Figura
2.9, à semelhança do exemplo apresentado na Figura 2.11.
Nem sempre é fácil distinguir distorções associadas à propagação em subsuperfı́cie
das deficiências espectrais da assinatura da fonte sı́smica. Entretanto, sabe-se que, se
forem desconsiderados os fenômenos cuja origem se situa abaixo da fonte e dos recepto-
res, apenas os seguintes fatores devem afetar a forma do pulso sı́smico registrado: (a)
a assinatura da fonte sı́smica propriamente dita; (b) o acoplamento entre a fonte, ou o
receptor, e o terreno; (c) os fantasmas e; (d) os próprios equipamentos de recepção e
registro, responsáveis pela transformação do sinal elástico em impulsos elétricos digitali-
zados. Com base na comparação entre as figuras 2.11 e 2.4, percebe-se que os fantasmas
90 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
merecem um lugar destacado nesta análise já que um deles, o do receptor, foi o único
responsável pelas diferenças entre as duas figuras. No item 2.9, esse tema será explorado
com maior profundidade.
(x − x0 )2
t2 = t20 + 2
(2.2.4)
vH
0.6 t1
Tempo (s)
0.8
1.0 t2
1.2
0
Profundidade (km)
0.2 t2
0.4 t1
0.6
DIFRATOR
0.8
0 0.5 1.0 1.5 2.0
Coordenada horizontal (km)
Figura 2.12: A relação geométrica entre a propagação da onda gerada
por um difrator (embaixo) e a correspondente difração, registrada na su-
perfı́cie (no alto). Os sı́mbolos t 1 e t2 representam tempos de propagação
iguais a 0.6s e 1s. A velocidade do meio é 2000m/s (v H = 1000m/s).
0
ψ
θ
0.5
Tempo (s)
m
1.0
r
1.5
R
M
2.0
0 1 2 3
Coordenada horizontal (km)
dt 2 cos θ cos θ z − z0
q= = = = 2 (2.2.7)
dz v vH vH t
Observe-se que, de acordo com o que foi discutido no item 2.1, as duas vagarosidades
podem ser negativas, dependendo do sentido em que a onda avança. Assim, por exemplo,
uma onda ascendente leva a um valor negativo para dt/dz. Esta idéia torna-se mais clara
quando se estima o valor de dt/dz com base na equação 2.2.1, levando-se em conta que
R = vH t e que, no caso, z < z0 .
Considerando-se um refletor plano e um meio homogêneo e isotrópico, observa-se, com
base no modelo do refletor explosivo, que a onda plana correspondente é paralela ao refle-
tor, ainda que o registro em tempo apresente resultado diferente. Nestas circunstâncias,
o ângulo θ, nas equações 2.2.6 e 2.2.7, é também o ângulo de mergulho real do refletor.
Assim, combinando-se as expressões 2.2.5 e 2.2.6, obtém-se um importante resultado, que
será explorado mais profundamente no item 3.4:
0.5
1.0
Tempo (s)
1.5
2.0
2.5
0 1 2 3 4 5 6 7
Distância (km)
Figura 2.14: Geometrias de um modelo geológico (linha pontilhada) e
da resposta sı́smica correspondente (linha cheia). O meio é homogêneo
e isotrópico, com velocidade de 2000m/s (v H = 1000m/s).
1.5
2.0
Tempo (s)
2.5
3.0
0
0.5
Profundidade (km)
1500m/s
1.0 3500m/s
1.5
2.0
DIFRATOR
1 2 3 4
Coordenada horizontal (km)
Figura 2.15: Modelo geológico com velocidade variável e um difrator
(embaixo) e a geometria da correspondente difração, registrada na su-
perfı́cie (no alto). No modelo, a linha pontilhada representa o chamado
raio imagem, ou seja, o raio que atinge a superfı́cie na direção vertical.
Na resposta sı́smica, o registro do mesmo raio é identificado pelo sı́mbolo
⊕.
A x
SUPERFÍCIE
λ
−
4 lambda/4 porque é metade da
crista da onda
O
z0 REFLETOR
z
Figura 2.16: Representação esquemática dos elementos envolvi-
dos na aplicação do princı́pio de Huygens à obtenção da reflexão
correspondente a um refletor horizontal.
10
Ver-se-á adiante que o mesmo atraso corresponde à metade do perı́odo da difração hipoteticamente
gerada em cada ponto do refletor.
98 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
50
Tempo (ms)
100
igualdade: s 2
λ
d= z0 + − z02
4
onde λ é o comprimento de onda e z0 é a profundidade do refletor. Considerando-se
z0 λ λ2
>> ,
2 16
pode-se obter um valor aproximado para o raio da primeira zona de Fresnel, o qual é
dado por
r
1
d∼= λz0 (2.2.9)
2
Na dedução da equação 2.2.9, assumiu-se um atraso de valor especı́fico, T /4, ava-
liado em relação ao trajeto vertical entre os pontos O e A. Para que os fenômenos
de interferência que afetam a amplitude e a fase do sinal registrado possam ser melhor
compreendidos, é conveniente analisar o caso de um atraso infinitesimal arbitrário, ∆t,
independentemente da direção do trajeto de referência. Uma boa forma de investigar o
assunto consiste em se estabelecer qual é a área infinitesimal, ∆S, avaliada em um refletor
horizontal, que contribui para o registro do sinal sı́smico dentro do intervalo de tempo
∆t. Para isto, considere-se, inicialmente, a seguinte versão tridimensional da equação
2.2.1, aplicada a uma famı́lia de pontos situados a uma distância constante, R, do par
fonte-receptor:
x2 + y 2 + z 2 = R 2 (2.2.10)
2.2. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E O MÉTODO SÍSMICO 99
onde (x, y, z) correspondem às coordenadas dos pontos escolhidos. Como no caso da
Figura 2.16, assume-se que o par fonte-receptor se situa no ponto A, cujas coordenadas
coincidem com as da origem (xA = 0, yA = 0, zA = 0).
A equação 2.2.10 descreve a geometria da superfı́cie de uma semi-esfera de raio R. No
caso de um meio homogêneo e isotrópico, o mesmo raio corresponde a um tempo duplo
de propagação, t, o qual é constante e dado por
R
t=
v
onde v é igual à metade da velocidade de propagação correta (v = v H ).
Considere-se agora que a superfı́cie definida pela equação 2.2.10 seja seccionada por
um refletor horizontal, como o da Figura 2.18. Uma vez que a correspondente profun-
didade é constante, a equação 2.2.10 é transformada na seguinte equação de um cı́rculo:
x2 + y 2 = R2 − z02 (2.2.11)
onde z0 é a profundidade constante. A área correspondente é dada por
S = π R2 − z02 (2.2.12)
Derivando-se este resultado com relação ao tempo t e levando em conta que R = vt,
obtém-se o seguinte resultado:
∂S ∂S ∂R
= = 2πvR (2.2.13)
∂t ∂R ∂t
Discretizando-se a equação 2.2.13, obtém-se a seguinte fórmula para a área infinite-
simal cujos pontos contribuem para uma reflexão em um dado intervalo de tempo ∆t:
∆S = 2πvR∆t (2.2.14)
ou
∆S = 2πv 2 t∆t (2.2.15)
Em termos da distância R, estes resultados equivalem a
∆S = 2πR∆R (2.2.16)
particularmente indicada para estudos de resolução espacial (ver o Capı́tulo 4), já que,
através dela, pode-se caracterizar a capacidade de se isolar duas feições lateralmente
adjacentes.
Na análise dos fenômenos de interferência conduzida até agora, adotou-se implicita-
mente a alteração do princı́pio de Huygens proposta por Fresnel, de acordo com a qual a
combinação de diversas difrações, dispostas no mesmo tempo e em posições lateralmente
adjacentes, levaria à geração de uma reflexão horizontal. O exemplo sintético da Figura
2.19, inspirada em uma figura do livro Claerbout (1985), ilustra o conceito: observe-se
que, à medida que diminui a separação lateral entre as difrações, forma-se uma reflexão.
No caso em que, em vez de um refletor, existe em subsuperfı́cie apenas um difrator, o
evento correspondente é uma difração isolada, como a da Figura 2.20.
No contexto da primeira zona de Fresnel, a Figura 2.19 permite duas importantes
observações, ambas relacionadas com a construção das figuras 2.16 e 2.17. Em primeiro
lugar, observa-se que o perı́odo da freqüência dominante da reflexão é, aproximadamente,
o dobro daquele que caracteriza a difração, de tal forma que o limite de λ/4, válido para
a reflexão, corresponde, no caso da difração, a λ/2. Em segundo lugar, induz-se que, se
o refletor, ao invés de horizontal, fosse curvo, o atraso diferencial, que leva à definição da
primeira zona de Fresnel, passaria a depender da curvatura do refletor.
Analisando-se os fenômenos de interferência envolvidos nas diferentes geometrias pos-
sı́veis para o refletor, pode-se concluir que, considerando-se estruturas tı́picas, o raio
da primeira zona de Fresnel é maior no caso de um sinclinal, em comparação com um
anticlinal, ou uma interface plana. Este conceito explica porque as reflexões geradas
em sinclinais tendem a ser mais fortes do que aquelas geradas em anticlinais ou em
interfaces planas. Na Figura 2.21, pode-se ver um exemplo da importância desta idéia.
Observe-se, na figura, que o sinal obtido verticalmente acima do eixo do sinclinal apresenta
amplitude substancialmente maior do que a do sinal correspondente ao trecho horizontal
e, principalmente, do que as das reflexões geradas nos flancos do sinclinal, os quais são
convexos para cima. É também digna de menção a distorção de fase nos traços que
concentram a maior parte da energia.
2.2. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E O MÉTODO SÍSMICO 101
Figura 2.20: Uma difração obtida com modelagem sı́smica 2-D, se-
guida de filtragem temporal de fase nula (8-40Hz). Parâmetros: v =
2000m/s (vH = 1000m/s), z = 512m, ∆x = 25m.
Pode-se concluir portanto que, no caso da Figura 2.22, se o pulso sı́smico utilizado
for um impulso unitário, o traço sı́smico registrado no ponto A deve ser uma reflexão
isolada, no tempo t = t0 = zB /v, descrita com base na seguinte igualdade:
p(xA , yA , zA = 0, t = t0 ) = m(xA , yA , zB )
Ou seja, o processo de geração de um traço sı́smico sintético na posição (x A , yA ), no caso
de um refletor horizontal e coeficiente de reflexão constante, deve cancelar o efeito dos
coeficientes situados em posições diferentes de (xA , yA ).
A aplicação da equação 2.2.19 ao problema do refletor horizontal não leva ao resultado
esperado, mas sim ao sinal da Figura 2.23a, o qual é caracterizado por uma forma de onda
cuja amplitude cresce linearmente com o tempo e que é limitada por uma descontinuidade
situada no tempo t = t0 , a qual corresponde ao inı́cio do sinal oriundo do refletor. Percebe-
se assim que o resultado da aplicação da equação 2.2.19 está longe do esperado.
Com a Figura 2.18, pode-se compreender melhor o resultado da aplicação da equação
2.2.19. Observe-se, na figura, que o sinal registrado no ponto A, em um mesmo tempo de
trajeto, dado por R/v, corresponde à contribuição dos pontos do refletor situados em uma
área infinitesimal e de forma anelar, ∆S, a qual é dada pela equação 2.2.16. Aplicando-se
o princı́pio da reciprocidade, pode-se considerar uma frente de onda plana atingindo o
refletor, a partir do ponto A, de tal forma que, definindo-se ∆S em termos do produto
∆x∆y, ao longo do anel da Figura 2.18, tem-se:
XX
∆S = ∆x∆y = 2πvR∆R (2.2.20)
y x
a
t0
Tempo
Para compensar o crescimento de amplitude com o tempo, leva-se em conta que cada
amostra do sinal sı́smico — obtida no ponto A e oriunda de um anel como o representado
na Figura 2.18 — se concentra em um intervalo de tempo constante ∆t. Nestas condições,
a mesma amostra pode ser obtida através da seguinte média ponderada pela área:
X X m(x, y, zB , t − τ )∆x∆y
p(xA , yA , zA = 0, t) = (2.2.23)
y x
∆S
p(xA , yA , zA = 0, t) = m0 u(t − t0 )
Na equação 2.2.25, está implı́cita a idéia de que m é tratado como um campo de ondas
que flui através da superfı́cie S (definida pela profundidade constante zB ), de acordo com
a taxa ∂m/∂t, e não como um conjunto estático de coeficientes de reflexão. Com base
nesta idéia e no fato de que o refletor que vem sendo utilizado é horizontal, pode-se
facilmente induzir que uma amostra isolada, obtida através da mesma equação, depende
do fluxo vertical do sinal através da superfı́cie S.
O resultado da aplicação da equação 2.2.25 a um sinal plano e horizontal, apresentado
na Figura 2.23c, é claramente aceitável. Entretanto, se o sinal m correspondesse a uma
onda mergulhante, fluindo através da superfı́cie horizontal S, a taxa ∂m/∂t seria maior
do que a correta na posição em que o tempo de trajeto até o ponto A é mı́nimo. Tendo em
vista que o sinal correspondente à mesma posição tende a predominar sobre os demais,
conclui-se que a amplitude prevista no ponto A, com base na equação 2.2.25, seria também
maior do que a correta.
Justifica-se, assim, a aplicação de uma correção que elimine a influência do mergulho
sobre a estimativa de amplitude do sinal. Com base em uma análise da Figura 2.18,
é fácil concluir que esta correção consiste simplesmente em projetar a derivada ∂m/∂t
sobre a normal à frente de onda hipotética definida no trajeto entre a superfı́cie S e o
ponto A ou, alternativamente, em projetar a área medida na mesma superfı́cie, ∆x∆y,
sobre a mesma frente de onda. Neste caso, os sinais mergulhantes seriam tratados de
forma equivalente aos horizontais.
2.2. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E O MÉTODO SÍSMICO 107
Assumindo-se, por enquanto, que o ângulo α não varia no intervalo de tempo ∆t,
deduz-se que o fator de correção desejado, denominado fator de obliqüidade, é dado por
cos α. Com este resultado, pode-se transformar a equação 2.2.25 na seguinte expressão:
XX
1 ∂
1
p(xA , yA , zA = 0, t) = 2π cos α m(x, y, zB , t − τ ) ∆x∆y (2.2.26)
y x
vR ∂t
ele se torna menos importante quando o mesmo produto é muito maior do que 1. Isto
significa que, para as freqüências vizinhas a zero, o mesmo termo pode ser importante
em distâncias não tão próximas quanto sugere o termo “campo próximo”.
A partir das equações 2.2.26 e 2.2.27, pode-se obter outras duas equações que permi-
tem uma correlação mais clara com o princı́pio de Huygens. Inicialmente, deve-se levar
em conta que o traço sı́smico obtido no ponto A depende do fluxo do sinal através do
plano horizontal definido pela profundidade zB . Deve-se também levar em conta que este
sinal poderia incluir não somente os coeficientes de reflexão ali situados mas também o
campo de ondas oriundo de profundidades maiores. Isto significa que os coeficientes de
reflexão, descritos pela função m, podem ser substituı́dos por um campo de pressões p,
avaliado na mesma profundidade zB , o qual representa uma combinação dos coeficientes
de reflexão com o sinal vindo de baixo. Assim, a equação 2.2.27 pode ser reescrita da
seguinte forma:
XX
1 1 ∂
1
p(xA , yA , zA , t) = 2π
cos α 2
+ p(x, y, zB , t − τ ) ∆x∆y (2.2.28)
y x
R vR ∂t
A mesma alteração pode ser feita na equação 2.2.26. Por outro lado, sabe-se que, com
base na regra da cadeia,
∂p ∂p ∂t
=
∂z ∂t ∂z
e que, de acordo com a equação 2.2.7, aplicada a um campo de ondas ascendente,
∂t cos α
=−
∂z v
Desta forma, pode-se transformar a equação 2.2.26 na seguinte expressão:
X X 1 ∂
1
p(xA , yA , zA , t) = − 2π p(x, y, zB , t − τ ) ∆x∆y (2.2.29)
y x
R ∂z
Ressalte-se que a equação 2.2.29 poderia ser deduzida de forma independente, com
base na Figura 2.18, na qual é possı́vel observar que a distância v∆τ é igual a ∆z cos α.
Segue-se daı́ que, para se eliminar o crescimento de amplitude com o tempo e introduzir
o fator de obliquidade, seria necessário aplicar a seguinte igualdade:
1 ∆p 1 ∆p 1 ∆p
cos α = − cos α = −
2πR v∆τ 2πR ∆z cos α 2πR ∆z
onde o sinal negativo foi incluı́do em função da propagação ascendente, a qual implica
aumento no tempo e redução na profundidade. Observe-se que, no limite em que ∆z
tende a zero, o resultado obtido corresponde a uma medida da taxa de variação da pressão
através da superfı́cie S. Observe-se ainda que o fator cos α é totalmente eliminado e,
portanto, não influencia diretamente a mesma taxa.
Desta forma, conclui-se que, ao contrário do que ocorreu com a equação 2.2.26, ne-
nhuma distorção adicional existe na expressão 2.2.29. Isto significa que, aplicadas ao
problema do refletor horizontal, as equações 2.2.28 e 2.2.29 levam ao mesmo sinal sı́smico
2.2. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E O MÉTODO SÍSMICO 109
obtido com a expressão 2.2.27. Ver-se-á no item 2.7 que este resultado somente é possı́vel
no caso de superfı́cies planas, como a empregada na presente discussão, ainda que o si-
nal que as atravessa possa assumir qualquer geometria. Ou seja, a superfı́cie plana diz
respeito apenas à forma com que o fluxo do sinal é avaliado e não ao sinal em si.
Assim, pode-se dizer que, no caso em estudo, as equações 2.2.28 e 2.2.29 são duas
diferentes representações matemáticas do princı́pio de Huygens, já que ambas podem
ser interpretadas na forma de uma única operação que interage um campo de ondas
ascendentes com a resposta, ao impulso, do meio, permitindo a obtenção do campo de
ondas em uma posição mais avançada.
No caso da equação 2.2.29, percebe-se que a resposta, ao impulso, do meio implica a
presença do operador ∂/∂z, além do espalhamento da energia de acordo com amplitude
proporcional a 1/R e atraso de tempo τ . Nestas condições, se o campo de pressões,
correspondente à profundidade zB , fosse um impulso unitário, o resultado da aplicação
da mesma equação seria uma difração com forma de onda controlada pelo operador e pelo
espalhamento descritos. Por extensão, se vários desses impulsos fossem combinados na
forma de uma reflexão horizontal, o resultado, avaliado na profundidade zA , seria outra
reflexão também horizontal. Aliás, isto é exatamente o que sugere a generalização da
Figura 2.23e para o caso de múltiplos pontos A, todos na profundidade zA .
4. Cada uma das amplitudes obtidas na etapa 3 é somada aos valores já existentes na
matriz do modelo sı́smico, na posição correspondente, (x, y, τ ).
7. Convolve-se cada traço do modelo sı́smico resultante com um pulso sı́smico qualquer
(por exemplo, um filtro passa-banda).
no domı́nio x-t, ou x-y-t, normalmente a uma profundidade constante. Isto significa que,
para uma boa análise do sinal sı́smico registrado, é conveniente interpretar o conceito de
recursão de outra forma, simulando-se a situação em que as fontes e geofones, situadas
inicialmente em uma dada profundidade constante, são progressivamente deslocadas para
cima.
O conceito descrito é fundamental para se entender a chamada extrapolação direta de
campos de onda. Na Figura 2.24, procura-se mostrar, sob o ponto de vista geométrico, o
que ocorre durante a extrapolação de uma difração, da profundidade de “registro” z 1 até
a profundidade z2 . Na figura, podem ser vistas as geometrias das difrações que seriam
obtidas nas duas profundidades citadas, mas com um deslocamento de tempo relativo que
leve ambas as difrações a apresentarem os ápices no mesmo ponto. Ou seja, na mesma
figura, as duas difrações apresentam origens diferentes, no que diz respeito ao eixo dos
tempos.
Também na Figura 2.24, pode-se ver a geometria dos operadores de extrapolação,
aplicados a alguns pontos. Cada um dos operadores é calculado de forma a descrever
a propagação do sinal entre o difrator secundário situado na posição (x, z 1 ) e a nova
superfı́cie de “registro”, situada na profundidade z2 (na figura, podem ser vistos alguns
dos raios envolvidos, no caso do difrator secundário identificado por D1 ). Ou seja, cada
ponto da difração, obtida na profundidade z1 , é tomado como uma fonte secundária para
a geração de uma nova difração, correspondente ao trajeto do sinal até profundidade z 2 ,
exatamente como prescreve o princı́pio de Huygens. Assim, se a velocidade é constante,
o operador apresenta a mesma geometria em qualquer posição horizontal e em qualquer
tempo. Também como prescreve o princı́pio de Huygens, a combinação das diversas
difrações secundárias leva a uma nova difração principal, com flancos menos ı́ngremes e
abrangendo uma área maior do que a difração principal anterior.
O processo descrito pode ser representado na forma de duas expressões algébricas
muito simples. Para isto, basta estabelecer, na Figura 2.24, o deslocamento em distância
e tempo, ∆X e ∆T , que sofrem todas as amostras, por exemplo, no trajeto entre os
pontos D1 e D2 . O resultado, que pode ser generalizado para todos os demais pontos e
trajetos, é:
∆X = ∆z tan θ (2.2.30)
e
∆z
∆T = (2.2.31)
v cos θ
ou, aplicando-se o teorema de Pitágoras,
s 2 2
∆z ∆X
∆T = + (2.2.32)
v v
D2 x
z2
θ
z1
D1
t 1 2
o que leva a
ou
∆z
P̃ (Kx , z − ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp (−iKx ∆z tan θ) exp iω
v cos θ
Sabendo-se que Kx = (ω/v) sen θ, pode-se alterar este resultado para
ω
P̃ (Kx , z − ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp i ∆z cos θ (2.2.33)
v
Percebe-se, assim, que o deslocamento total sofrido pelo sinal pode ser descrito, no
domı́nio ω-Kx, através de um único deslocamento de fase, controlado pela distância ∆z.
Este tema será aprofundado no subitem 2.7.1.
Considere-se agora que se queira aplicar o conceito descrito à modelagem sı́smica de
uma difração. Para iniciar o processo, estima-se o campo de ondas que seria obtido,
por exemplo, em uma dada profundidade, z, pouco acima do difrator. Tomando-se o
resultado obtido como fonte secundária, estima-se o campo de ondas que seria obtido em
uma nova profundidade, acima da anterior e dada por z − ∆z, onde ∆z é um intervalo
de profundidade fixo, de forma similar à ilustrada na Figura 2.24. Repete-se várias
vezes o mesmo processo, até que a profundidade de “registro” seja igual a zero, sempre
tomando como dado de entrada o resultado da etapa anterior. Obter-se-ia assim a difração
“registrada” na superfı́cie.
A correlação entre a recursão descrita e o princı́pio de Huygens exige a ressalva de que,
em cada etapa da recursão, as fontes secundárias estejam situadas em uma superfı́cie em
que a profundidade é constante mas o tempo é variável. Assim, cada amplitude registrada
na mesma superfı́cie, em um dado tempo, atua como uma fonte secundária de energia
para a geração de uma onda registrada no nı́vel seguinte. Em conseqüência, pode-se
dizer: (a) um traço sı́smico “registrado” em uma dada coordenada horizontal e uma dada
profundidade apresenta múltiplas fontes secundárias de energia, cada uma delas em seu
respectivo tempo; (b) as múltiplas fontes assim definidas estão associadas a um único
operador de extrapolação para o nı́vel superior, uma vez que a posição espacial de todas
elas é uma só. Adicionalmente, se existe um difrator exatamente na profundidade em que
se obteve o traço, este difrator deve ser considerado como uma fonte primária de energia
que “explode” no tempo igual a zero.
xs = constante
xg = constante
xm = 21 (xg + xs ) (2.3.1)
xm = constante
h = 21 (xg − xs ) (2.3.2)
h = constante
Considere-se agora que se deseja descrever como seriam as curvas tempo-distância cor-
respondentes ao difrator da Figura 2.25, não somente no agrupamento de fonte comum,
mas também nas outras configurações possı́veis. Em um meio com qualquer distribuição
de velocidades, o tempo de trajeto entre a fonte, o difrator e o receptor é dado por
t = ts + tg (2.3.3)
Assuma-se, por enquanto, que o meio é homogêneo e isotrópico. Isto significa que, no
caso, os tempos de reflexão podem ser obtidos através da seguinte expressão analı́tica:
Rs Rg
t = ts + tg = + (2.3.4)
v v
onde v é a velocidade de propagação correta (ou seja, não se trata de meia velocidade,
como no caso do modelo do refletor explosivo). Por sua vez, Rs e Rg são, respectivamente,
as distâncias envolvidas no trajeto entre a fonte e o difrator e entre este e o receptor.
Matematicamente, as mesmas distâncias são definidas por
q
Rs = (z0 − zs )2 + (x0 − xs )2 (2.3.5)
e q
Rg = (zg − z0 )2 + (xg − x0 )2 (2.3.6)
onde o par de coordenadas (x0 , z0 ) representa a posição espacial do difrator, enquanto zs
e zg representam as profundidades da fonte e do receptor, respectivamente.
Substituindo-se as expressões 2.3.5 e 2.3.6 na equação 2.3.4, obtém-se a seguinte des-
crição algébrica do tempo de trânsito entre a fonte, um difrator e o receptor, no caso de
um meio homogêneo e isotrópico:
s 2 2 s 2 2
z0 − z s x0 − x s zg − z 0 xg − x 0
t = ts + tg = + + + (2.3.7)
v v v v
ou, com base nas equações 2.3.2 e 2.3.3, sabendo-se que xs = xm − h e que xg = xm + h,
s 2 2 s 2 2
z0 − z s x0 − (xm − h) zg − z 0 (xm + h) − x0
t= + + + (2.3.8)
v v v v
Por causa de sua forma, esta equação representa a base para a definição da chamada
equação DSR, ou “raiz quadrada dupla” (em inglês, Double Square Root). Este tema
será discutido no item 2.7, no contexto da extrapolação de campos de ondas.
Com as equações 2.3.7 e 2.3.8, criam-se condições para calcular os tempos de reflexão
associados aos diversos tipos de agrupamento. Para uma visão mais abrangente do tema,
pode-se representar os resultados na forma de um mapa como o da Figura 2.26, no
qual cada curva representa um valor especı́fico de tempo de reflexão. Observe-se que
a geometria dos contornos obtidos é a de uma pirâmide arredondada, forma esta que
justifica a denominação “pirâmide de Queops” (Claerbout, 1985). De acordo com a
lógica empregada na geração da figura, cada ponto da reta identificada pela sigla CO
representa a posição de uma fonte isolada, coincidente com a de um receptor isolado.
Ao longo da linha horizontal que passa pela mesma posição, situam-se os receptores do
agrupamento de fonte comum correspondente. De acordo com a mesma lógica, os tempos
de reflexão associados a cada agrupamento de elemento comum situam-se ao longo de
retas paralelas às indicadas pelas siglas CS, CO, CG e CMP.
As figuras 2.25 e 2.26 e a equação 2.3.7 permitem entender melhor como uma difração
isolada influencia diferentes agrupamentos de dados sı́smicos. No caso mais simples, o do
2.3. A INFLUÊNCIA DO AFASTAMENTO FONTE-RECEPTOR 117
fonte-receptor, 2h.
Em um agrupamento CMP, a geometria de uma difração assume formas similares, até
certo ponto, às observadas em um agrupamento de afastamento fonte-receptor comum, o
que pode ser depreendido a partir de uma análise da Figura 2.26, levando-se em conta que
ambos os tempos ts e tg variam. Por causa de sua influência sobre a técnica CDP, um caso
em particular merece discussão à parte: um difrator situado junto à superfı́cie, em uma
posição qualquer ao longo da linha sı́smica. A curva tempo-distância correspondente
obedece a três padrões diferentes, em função da coordenada do difrator (x0 , z0 = 0),
da coordenada do ponto médio (xm0 ) e do máximo valor do afastamento fonte-receptor
2hmax , padrões estes descritos da seguinte forma:
1. |x0 − xm0 | > hmax : o difrator situa-se em uma posição fora do intervalo entre as
fontes e os receptores. Neste caso, o tempo de registro, nos diversos traços sı́smicos
incluı́dos no intervalo, é o mesmo, já que cada acréscimo no tempo t s é compensado
por um decréscimo de mesmo valor no tempo tg , e vice-versa.
3. |x0 − xm0 | < hmax 6= 0: o difrator situa-se em uma posição qualquer diferente
do ponto médio. Neste caso, a geometria da difração é uma combinação dos dois
padrões anteriores.
Para avaliar como a técnica CDP é influenciada por esse tipo de evento, basta ob-
servar que, na primeira situação descrita, as difrações, em um agrupamento CMP, não
apresentam variação de NMO (Normal MoveOut), o que as leva a serem tratadas de
120 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
forma semelhante à de uma reflexão com alta velocidade de empilhamento. Este assunto
foi discutido em um interessante trabalho de Larner et al. (1983).
Embora as equações de tempo de trânsito apresentadas neste item tenham sido de-
duzidas para o caso de um meio homogêneo e isotrópico, elas podem ser aplicadas a um
meio em que a velocidade varia apenas na direção vertical, ou seja, um meio classificado
como v(z). Neste caso, emprega-se uma velocidade média que satisfaça, com base no
conceito de mı́nimo erro médio quadrático, os diversos trajetos envolvidos, o que leva a
uma velocidade equivalente à de empilhamento, discutida no item 3.1.
No caso em que a velocidade varia também na direção lateral, não é fácil estabele-
cer expressões analı́ticas para o tempo de trânsito, sendo necessário recorrer a técnicas
de traçamento do raio, ou a soluções da equação iconal (ver o item 2.5). Os efeitos
do fenômeno tornam-se mais drásticos quando a velocidade varia substancialmente na
distância lateral abrangida pela difração, distância esta que, em termos de modelagem
e migração, caracterizam a chamada abertura do operador. A Figura 2.15 (página 96),
mesmo tendo sido elaborada no contexto do refletor explosivo, pode ser usada como um
exemplo, aplicável a um agrupamento de fonte comum. Para isto, de acordo com o que se
discutiu anteriormente, basta levar em conta que o tempo de reflexão deveria ser dividido
por dois e, em seguida, sofrer um acréscimo constante, associado ao trajeto entre a fonte e
o difrator. Desta forma, a deformação na geometria da difração não seria muito diferente
da que se observa na Figura 2.15.
ou q
Rs = (z0 − zs )2 + [x0 − (xm − h)]2 + (y0 − ys )2 (2.3.10)
e q
Rg = (zg − z0 )2 + (xg − x0 )2 + (yg − y0 )2 (2.3.11)
ou q
Rg = (zg − z0 )2 + [(xm + h) − x0 ]2 + (yg − y0 )2 (2.3.12)
Considere-se agora que se deseja estabelecer qual seria a região, em subsuperfı́cie, cujos
sinais atingem o receptor em um mesmo tempo de reflexão t, nas mesmas condições em
que se obtiveram as equações 2.3.9 e 2.3.11. No caso de um meio homogêneo e isotrópico,
esta região pode ser também caracterizada em função de uma distância constante a, a
qual pode ser definida da seguinte forma:
Rs + R g
a= (2.3.13)
2
ou
vt
a= (2.3.14)
2
2.3. A INFLUÊNCIA DO AFASTAMENTO FONTE-RECEPTOR 121
ou
" #
2 2 2 2
(x − x 0 ) + (y − y 0 ) h (x − x 0 )
t2 = t20 + 2
+ 2 1− 2 2
(2.3.20)
vH vH vH t
uma “hipérbole achatada” (ver a Figura 2.28). Pode-se ainda observar que, no caso em
que h é igual a zero e y = y0 , a equação 2.3.20 passa a descrever uma hipérbole simples,
equivalente à da equação 2.2.3. Percebe-se também que, com o aumento do tempo, o
termo entre colchetes tende a 1, fazendo com que a curva tempo-distância correspondente
tenda à forma de um hiperbolóide com ápice deslocado de forma dependente da razão
h/vH .
A análise desse tema pode ser aprofundada com base nas equações que definem as
vagarosidades horizontais e vertical, as quais são obtidas com base na derivada da equação
2.3.19 com relação a x, y, h e z. O resultado é:
h2
1− 2 2
∂t x − x0 vH t
= 2 2 , (2.3.21)
∂x vH t 2
h (x − x0 )
1− 4 4
vH t
∂t y − y0 1
= 2 2 , (2.3.22)
∂y vH t 2
h (x − x0 )
1− 4 4
vH t
(x − x0 )2
1− 2 2
∂t h vH t
= 2 2 , (2.3.23)
∂h vH t 2
h (x − x0 )
1− 4 4
vH t
e
∂t z − z0 1
= 2 2 (2.3.24)
∂z vH t 2
h (x − x0 )
1− 4 4
vH t
O leitor poderá observar que, se o afastamento entre a fonte e o receptor for igual a zero,
as equações 2.3.21 e 2.3.24 tornam-se equivalentes às expressões 2.2.6 e 2.2.7.
Com base na equação 2.3.24, demonstra-se que a vagarosidade vertical — uma medida
de quão lentamente o campo de ondas se propaga na direção vertical — é reduzida pelo
afastamento fonte-receptor. Ou seja, a propagação vertical de uma difração, avaliada
em um afastamento fonte-receptor acentuado, é mais rápida do que no caso em que
h = 0. Este comportamento tende a ser invertido junto à posição em que x − x0 = h,
especialmente quando o valor de h é proporcionalmente alto, como se pode ver no exemplo
da Figura 2.30. Observe-se ainda que, em torno da mesma posição, o módulo de ∂ 2 t/∂x2
apresenta o valor máximo.
1.27
1.0
1
0.5
0.
0
0 500 1000 1238
Afastamento entre o difrator e o ponto médio (m)
15
10
5
h=0 h=312.5 h=625.0
0
0 250 500 750 1000 1250 1500
Tempo (ms)
sı́smico seja um impulso unitário, de tal forma que, de acordo com o princı́pio de Huygens-
Fresnel, a reflexão correspondente seja também um impulso unitário.
A Figura 2.31 pode ser usada para ilustrar o problema proposto, tomando-se como
referência o ponto O, situado verticalmente abaixo do ponto médio entre a fonte s e o
receptor g, o qual é identificado pela letra B. De acordo com o princı́pio de Huygens-
Fresnel, sabe-se que a resposta sı́smica esperada no receptor g é o resultado da soma das
contribuições de todos os pontos do refletor, encabeçada pela contribuição do ponto O,
já que o trajeto sO + Og é o menor possı́vel. Por outro lado, sabe-se que, no mesmo
trajeto, a seguinte igualdade é aplicável:
a2 = z02 + h2 (2.3.30)
ou
∆SF = 2πvH ∆tz0 (2.3.33)
onde vH é igual à metade da velocidade correta.
2.3. A INFLUÊNCIA DO AFASTAMENTO FONTE-RECEPTOR 127
horizontal. Imagine-se agora que, para um meio com as mesmas propriedades, o refletor
da Figura 2.31 seja curvo. É fácil concluir que, no caso, a variação da amplitude em
130 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
δV
p = −B (2.4.1)
∆V
onde p é a pressão exercida pela onda e δV é a conseqüente variação de volume, enquanto
∆V é o volume original de fluido. Ressalte-se que a pressão p corresponde, na verdade, a
uma variação de pressão, a qual, ao contrário da pressão ambiente, pode ser medida por
um hidrofone. Por sua vez, B é o módulo de elasticidade do meio acústico, dado por (ver
a equação 2.1.11)
B = v2ρ (2.4.2)
2.4. A EQUAÇÃO DA ONDA 131
δV ∼
= δux ∆y∆z + δuy ∆x∆z + δuz ∆x∆y
Dividindo este resultado pelo volume ∆V , tem-se:
∂u
p = −B (2.4.7)
∂z
onde u é o deslocamento das partı́culas ao longo do eixo z, ou seja, u = uz .
A variação de pressão introduzida pela onda está relacionada ao deslocamento de
partı́culas também através da segunda lei de Newton, ∆F = ∆ma. Ou seja, a força
exercida pela propagação da onda é dada por
∂2 u
∆pA = −ρA∆z
∂t2
132 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
p(x, y, z, t) ⇔ P (x, y, z, ω)
e
∂2p
⇔ −ω 2 P (x, y, z, ω)
∂t2
Substituindo-se ambos os resultados na equação 2.4.24, obtém-se a equação da onda
acústica 3-D, no domı́nio da freqüência, ou seja,
ω2
∇2 P = − P (2.4.28)
v2
∂ 2 P̃ ω2
−Kx2 P̃ − Ky2 P̃ + = − 2 P̃ (2.4.29)
∂z 2 v
onde P̃ = P̃ (Kx , Ky , z, ω).
Demonstrar-se-á no item 2.7 que, no domı́nio ω-Kx -Ky , o campo de pressões permite
a seguinte igualdade:
∂ 2 P̃
= −Kz2 P̃
∂z 2
Com esta alteração, a pressão passa a multiplicar os quatro termos da equação 2.4.29,
o que possibilita obter, de uma forma alternativa, a versão tridimensional da relação de
dispersão da equação da onda, a qual é dada pela expressão 2.4.27.
As expressões 2.4.31 e 2.4.32 podem ser usadas de duas formas: (1) conhecendo-se
a pressão em duas profundidades vizinhas, pode-se obter uma estimativa da velocidade
de partı́culas na profundidade intermediária (a partir da transformação da derivada em
uma razão entre diferenças); (2) ou, se a medida disponı́vel for a velocidade de partı́culas,
pode-se convertê-la na derivada da pressão com relação à profundidade.
Para se estabelecer uma relação mais direta entre a pressão e a velocidade de partı́culas,
deve-se fazer uso da seguinte versão da lei de Hooke, aplicada ao caso bidimensional (ver
a equação 2.4.16):
2 ∂ux ∂t ∂uz ∂t
p = −v ρ + (2.4.34)
∂t ∂x ∂t ∂z
onde ux = u sen θ e uz = u cos θ, sendo u a solução da equação da onda dada por
Observe-se que este resultado é válido também para uma onda ascendente já que, neste
caso, ∂t/∂z < 0 e uz = u cos (π − θ). Por outro lado, como iωu = −∂u/∂t, pode-se
transformar o mesmo resultado na seguinte relação entre a pressão e o deslocamento de
partı́culas:
∂u
p = −vρ (2.4.37)
∂t
Deve-se ressaltar que, na forma como foi definido, o deslocamento de partı́culas é avaliado
ao longo da direção em que a onda se propaga.
∂p ∂ 2 uy ∂φ
= −ρ 2 − (2.4.40)
∂y ∂t ∂y
e
∂p ∂ 2 uz ∂φ
= −ρ 2 − (2.4.41)
∂z ∂t ∂z
Para se deduzir a equação da onda para a pressão, na presença de uma fonte, segue-se
procedimento semelhante ao usado na dedução da equação 2.4.19. Inicialmente, derivam-
se as equações 2.4.39 a 2.4.41 com relação aos respectivos eixos espaciais, assumindo-se
que a densidade é constante. Os resultados podem ser combinados e apresentados na
forma vetorial, no que resulta:
∂ 2 ~u
∇2 p = −ρ∇ • − ∇ • ∇φ (2.4.42)
∂t2
onde • denota produto escalar.
O passo seguinte, na dedução da equação da onda, consiste em derivar duas vezes a
lei de Hooke (equação 2.4.6), com relação ao tempo, no que resulta:
∂2p ∂ 2 ~u
= −B∇ • 2 (2.4.43)
∂t2 ∂t
onde B é definido pela equação 2.4.2.
Combinando-se as equações 2.4.42, 2.4.43 e 2.4.2, tem-se:
2 1 ∂2p
∇ p − 2 2 = −∇ • ∇φ (2.4.44)
v ∂t
ou, no domı́nio da freqüência,
ω2
∇2 P + P = −∇ • ∇Φ (2.4.45)
v2
onde P e Φ são funções das coordenadas espaciais e da freqüência.
Integrando-se a equação 2.4.45, em um dado volume infinitesimal V , obtém-se:
Z Z
2 ω2
∇ P + 2 P dV = − ∇ • ∇ΦdV (2.4.46)
v
V V
138 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
O integrando do lado esquerdo da equação 2.4.51 pode ser estimado com base na
propriedade de enquadramento da função delta de Dirac, δ, discutida no item 1.2. O
resultado é a equação da onda na presença de uma fonte, ou seja,
ω2
∇2 P + P = 4πF (ω)δ(x − xA )δ(y − yA )δ(z − zA ) (2.4.52)
v2
Também com base nas propriedades da função delta, conclui-se que a equação da onda
dada pela expressão 2.4.28 somente é válida na região do espaço que não inclui a fonte.
Na posição em que se situa a fonte, a equação da onda não é definida.
A fonte sı́smica incluı́da na equação 2.4.52 apresenta um espectro de freqüências ar-
bitrário. Para se isolar a resposta, ao impulso, do meio, ou seja, para excluir a influência
da forma de onda da fonte, deve-se substituir esta última por um impulso unitário e o
escalar P pela função de Green G = G(x − xA , y − yA , z − zA , ω), o que leva à equação
de Helmoltz, ou seja,
2 ω2
∇ G + 2 G = 4πδ(x − xA )δ(y − yA )δ(z − zA ) (2.4.53)
v
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 139
A solução desta equação é muito simples, se o meio for homogêneo e isotrópico. Nestas
condições, a função de Green é dada por13
1
G(x − xA , y − yA , z − zA , ω) = exp(iωτ ) (2.4.54)
R
1
g(x − xA , y − yA , z − zA , t) = δ(t − τ ) (2.4.55)
R
onde τ = R/v e R é dado pela equação 2.4.48.
Observe-se que as equações 2.4.54 e 2.4.55 descrevem uma forma de onda com ampli-
tude proporcional a 1/R, nos pontos em que R = vτ , o que inclui a perda de amplitude
causada pelo espalhamento esférico da energia (ver o item 2.5). Nas demais posições do
espaço, a amplitude é igual a zero. A geometria correspondente é a de uma forma esferoi-
dal, de raio igual a vτ , expandindo-se no espaço, com o aumento no tempo. Ressalte-se
ainda que, com base na equação 2.4.52, a forma de onda gerada por uma fonte sı́smica
pontual e isotrópica, viajando em um meio homogêneo, sem absorção e também isotrópico,
poderia ser descrita, no domı́nio da freqüência, pelo produto entre a função G e o espectro
de freqüências do pulso sı́smico correspondente.
P = A exp(iωτ ) (2.5.3)
Observe-se que, para ω 2 A >> ρ, esta equação se reduz à equação iconal tradicional:
1
(∇τ )2 = (2.5.7)
v2
Este resultado, cuja versão 2-D foi apresentada no item 2.1 (expressão 2.1.52), pode ser
reescrito como:
1
|∇τ | = (2.5.8)
v
Por sua vez, a equação 2.5.5 pode ser reduzida à seguinte versão da chamada equação
de transporte:
2
A
∇• ∇τ = 0 (2.5.9)
ρ
Uma análise da equação iconal permite perceber que é possı́vel obter, isoladamente, o
tempo de trajeto, τ , da onda, desde que a freqüência considerada seja substancialmente
alta, condição esta em que a equação 2.5.7 é válida. Nas aplicações das equações 2.5.7 e
2.5.9, as soluções correspondentes são normalmente obtidas através de técnicas numéricas,
como a das diferenças finitas, mas também através do traçamento do raio, o qual, na sua
forma dinâmica, possibilita computar tempo e amplitude ao longo do percurso.
p~ = ∇τ (2.5.10)
onde p~ é o vetor vagarosidade. Isto significa que o vetor unitário, normal à frente de
onda, é dado por
p~ ∇τ
~n = =
|~
p| |∇τ |
ou, com base na equação 2.5.8,
~n = v~p (2.5.11)
142 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
~r = (x − x1 )~i + (y − y1 ) ~j + (z − z1 ) ~k
~r = s~n
Para traçar os raios, são também usadas as equações caracterı́sticas da equação iconal,
que são também chamadas de equações do raio. A primeira delas pode ser obtida a partir
da seguinte igualdade, válida para um pequeno trecho do trajeto do raio:
d~r = ds ~n = ds v~p
A função J
Considere-se um raio em um meio homogêneo e isotrópico, emitido de acordo com os
ângulos γ1 e γ2 . Com base no mesmo raio, pode-se definir um tubo infinitesimal hi-
potético, o qual corta a frente de onda de forma a gerar uma interseção dada pela seguinte
área (ver a Figura 2.38):
∆S1 = (s∆γ1 )(s sen γ1 ∆γ2 )
ou
∆S1 = s2 sen γ1 ∆γ1 ∆γ2
onde o subscrito 1 se refere à posição da fonte e sen γ1 tem o papel de projetar a distância
s sobre a direção horizontal. A expressão obtida, no caso em que as distâncias e ângulos
envolvidos tendem a zero, pode ser escrita da seguinte forma:
onde J é uma função, ainda a determinar, que representa uma espécie de taxa de variação
da área com relação aos ângulos que definem, na origem, o raio.
144 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
Para se obter uma expressão mais geral para dS e J, considere-se uma fonte de energia
em profundidade e os receptores na superfı́cie (ver Cerveny et al., 1977). Com um par
de ângulos γ1 e γ2 , medidos na posição da fonte, traça-se um raio que atinge a superfı́cie
em uma posição definida com base no vetor ~r. Em seguida, mantendo-se γ2 constante,
muda-se γ1 para γ1 + ∆γ1 e traça-se outro raio, o qual atinge a superfı́cie de acordo com
um deslocamento puramente horizontal, ∆~r1 , em relação ao primeiro raio. Ainda a partir
deste último, obtém-se um terceiro raio, neste caso mantendo γ1 constante e alterando
γ2 para γ2 + ∆γ2 , o que resulta em outro vetor diferença, também na direção horizontal,
∆~r2 . Pode-se assim definir um vetor infinitesimal de área, na superfı́cie, aproximado por
∆~a ∼
= ∆~r1 × ∆~r2 (2.5.18)
Considere-se a Figura 2.39, na qual se representa o trajeto de uma onda que atravessa
a interface entre dois meios distintos, um denominado incidente, I, caracterizado pela
velocidade vI e o segundo denominado refratado, T , caracterizado pela velocidade vT .
Na interface entre os dois meios, o desvio do raio pode ser descrito com base na seguinte
versão da lei de Snell:
sen α sen β
=
vI vT
onde α e β são os ângulos de incidência e de refração, respectivamente. Na figura,
aplicam-se as seguintes igualdades: O1 A = RI , O2 A = RT e AB = ∆r, sendo RI e RT
os raios de curvatura da onda incidente e refratada, respectivamente.
Derivando-se a lei de Snell com relação a r e transformando o resultado em diferenças
discretas infinitesimais, tem-se:
cos α ∆α cos β ∆β
= (2.5.22)
vI ∆r vT ∆r
Como ∆α e ∆β são grandezas infinitesimais, pode-se dizer que
RI ∆α = ∆r cos α
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 147
ou
∆α cos α
= (2.5.23)
∆r RI
e que
RT ∆β = ∆r cos β
ou
∆β cos β
= (2.5.24)
∆r RT
As equações 2.5.23 e 2.5.24 permitem transformar a equação 2.5.22 na expressão
algébrica que define a lei da refração:
RT cos 2 β vI
= (2.5.25)
RI cos 2 α vT
As leis de curvatura da frente de onda assim definidas são suficientes para estimar
o raio de curvatura em um meio constituı́do de camadas com velocidade constante e
separadas por interfaces planas e mergulhantes. Considere-se, nesse tipo de meio, um
raio normal associado a uma determinada interface, ou seja, o raio que, saindo da fonte
na superfı́cie, atinge perpendicularmente a mesma interface e retorna para a mesma
posição em que se situa a fonte. No caso de três camadas, ou duas interfaces, o raio de
curvatura pode ser estimado através dos seguintes procedimentos:
N k−1
1 X 2 Y cos 2 αj
R0 = v k tk (2.5.26)
v1 j=1
cos 2 βj
k=1
No caso em que as camadas são horizontais, os dois ângulos envolvidos tornam-se iguais
a zero e a expressão obtida se reduz a
N
1 X 2
R0 = v tk (2.5.27)
v1 k=1 k
avaliam-se as três integrais no intervalo entre pv0 e pv. Com estas operações, obtêm-se
os seguintes resultados16 :
h p i
1 + 1 − p 2v2 v
1 (1 + cos β0 ) v 1 0
τ = ln = ln h p i , (2.5.32)
a (1 + cos β) v0 a 1 + 1 − p2 v 2 v 0
q
1 1 2 2
p
2 2
h= ( cos β0 − cos β) = 1 − p v0 − 1 − p v (2.5.33)
ap ap
e
1 vβ v 0 β0 1
s= − = cos −1 (pv0 ) − cos −1 (pv) (2.5.34)
a sen β sen β0 ap
onde β0 é o ângulo que o raio faz com a direção vertical na superfı́cie. Ou seja, no contexto
das equações fundamentais do raio, β0 equivale a γ1 (ver a Figura 2.37, na página 142).
A equação 2.5.32 pode ser escrita de uma forma interessante, proposta por Carlos
Cunha Filho, de acordo com a qual se separam os tempos correspondentes ao trajeto
vertical, τ0 , e ao acréscimo introduzido pelo afastamento lateral. Para isto, aplicam-se
propriedades do logaritmo neperiano, o que permite transformar a mesma equação no
seguinte resultado:
p
1 1 + cos β0 1 1 + 1 − p2 v02
τ = τ0 + ln = τ0 + ln p (2.5.35)
a 1 + cos β a 1 + 1 − p2 v 2
1 √
τ= 2
ln R + R − 1 (2.5.37)
|a|
ou
1
τ= cosh −1 (R) (2.5.38)
|a|
onde
a2 (h2 + z 2 )
R=1+
2v0 v
16
Estas três equações são válidas para o trajeto entre a superfı́cie e o ponto em que o raio se torna
horizontal. Além deste ponto, as mesmas equações podem ser utilizadas, mas com suas variáveis alteradas
de forma a simular um trajeto no sentido oposto.
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 151
Slotnick (1959) demonstrou também que a geometria do trajeto percorrido pelo raio
em um meio como o descrito é equivalente à de um cı́rculo com raio igual a 1/ap e centro
nas coordenadas h = cos β0 /ap e z = −v0 /a. Isto pode ser verificado através da elevação,
ao quadrado, da equação 2.5.33, o que leva à seguinte expressão:
2
cos β0 v0 2 1
h− + z+ = 2 2 (2.5.39)
ap a a p
Profundidade (km) 0
1
0.5s
3 1.0s
−2 −1 0 1 2
Distância da fonte (km)
(em inglês, diving waves), ou seja, os sinais que, em função do crescimento vertical da
velocidade, apresentam penetração limitada. Percebe-se, assim, que um ângulo de pro-
pagação maior, ou um afastamento fonte-receptor maior, não implica necessariamente
alcance lateral maior, o que pode ser explicado com base nas equações 2.5.40 e 2.5.41.
Ver-se-á adiante que a chamada velocidade RMS (Root Mean Square) é utilizada
em inúmeras circunstâncias. No caso particular em que a velocidade intervalar varia
linearmente com a profundidade, o trabalho de Slotnick (1959) possibilita obter expressões
compactas para a velocidade RMS, incluindo ainda a variação do parâmetro de raio. Para
isto, considere-se, inicialmente, a seguinte generalização do conceito:
Z
2 1 τ 2
vRM S (p) ≡ v dτ (2.5.44)
τ 0
Levando em conta que τ é dado pela expressão 2.5.28 e que, com base na equação 2.5.30,
dτ = ds/v, pode-se facilmente resolver esta integral. O resultado é:
q
2 1 1 p
vRM S (p) = 2 ( cos β0 − cos β) = 2 1 − p2 v02 − 1 − p2 v 2 (2.5.45)
ap τ ap τ
RMS convencional:
2 1
vRM S = v0 z + 12 az 2 (2.5.46)
τ0
ou
2 v02
vRM S = [exp (2aτ0 ) − 1] (2.5.47)
2aτ0
onde τ0 é o tempo vertical simples, calculado com a expressão τ0 = ln(v/v0 )/a.
e
1 d dt2 1 d t
A2 = = p
2 dx2 dx2 4x dx x
ou
2
t + p − pt
1
A2 = (2.5.52)
4x dx x x2
x
dp
onde ∆ti é o tempo duplo de trajeto na camada i e p é o parâmetro de raio correspondente,
ou seja, p = dt/dx. Por sua vez, t, x e dx/dp são definidos pelas seguintes expressões,
obtidas a partir das versões discretas das equações 2.5.28 e 2.5.29, com base nas igualdades
t = 2τ e x = 2h:
X ∆z X
t= p i = ∆ti , (2.5.53)
i vi 1 − p2 vi2 i
X 2pvi ∆zi X
x= p
2
= pvi2 ∆ti (2.5.54)
2
1 − p vi
i i
e
dx X 2 X p2 v 4 ∆ti X dvi2
i
= vi ∆ti + + p∆ti (2.5.55)
dp i i
1 − p2 vi2 i
dp
A0 = t20 , (2.5.56)
t0
A1 = P (2.5.57)
vi2 ∆t0,i
i
e !
A4 1 1 X 4 1X
A2 = 12 − v i ∆t 0,i − Hi ∆t0,i (2.5.58)
4t0 A21 t0 i t0 i
Com as expressões 2.5.48 e 2.5.56 a 2.5.58, pode-se obter a equação que aproxima o
tempo de reflexão em um meio acamadado, na presença de afastamento entre a fonte e
o receptor. Desprezando-se a variação da velocidade com o parâmetro de raio — a qual
possibilita incorporar a anisotropia (ver Hake et al., 1984) —, o resultado é:
2 x2 x4 µ4
t = t20 + + 22 1− 2 (2.5.59)
µ2 4µ2 t0 µ2
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 155
e
1X 4
µ4 = v ∆t0,i (2.5.61)
t0 i i
Observe-se que µ2 é igual ao quadrado da velocidade RMS (Root Mean Square) e que a
razão µ4 /µ22 pode ser usada como um indicador da qualidade da conhecida aproximação
hiperbólica, usada na técnica CDP convencional. No caso, os melhores resultados são
obtidos quando a mesma razão se aproxima de 1.
Mesmo sendo a equação 2.5.59 uma versão truncada da série dada pela expressão
2.5.48, é possı́vel melhorar sua qualidade sem acrescentar mais termos17 . Para isto, ela é
inicialmente reescrita da seguinte forma:
2 2 x2 x2 µ4
t = t0 + 1+ 1− 2 +··· (2.5.62)
µ2 4µ2 t20 µ2
Na equação 2.5.63, o termo que divide x2 atua como o quadrado de uma velocidade
dependente do valor de x. Para explicitar melhor esta caracterı́stica, parte-se da seguinte
expressão:
dµ2 (p) 1 dµ2 (p) dp
2
= (2.5.64)
dx 2x dp dx
2
Levando em conta que µ2 (p) = vRM S (p), pode-se aplicar a versão discreta da expressão
2.5.44 e, desprezando-se dv 2 /dp, obter
Combinando-se esta igualdade com a expressão 2.5.63, obtém-se a relação desejada, que
é
x2
t2 = t20 + (2.5.66)
µ2 + αx2
onde
1 dµ2 (p)
α= lim (2.5.67)
2 x→0 dx2
Percebe-se agora, de forma mais clara, a relação entre a velocidade e o afastamento fonte-
2
receptor, x, já que µ2 = vRM S e α é igual à metade da derivada de µ2 (p) com relação a
2
x , no limite em que x tende a zero.
Uma versão alternativa para as equações 2.5.59, 2.5.63 e 2.5.66, também baseada na
expansão em séries do tempo de reflexão, foi obtida por A. Malovichko (1978 e 1979, in
Castle, 1994) e aplicada por de Bazelaire (1988) e Castle (1994). Neste caso, assume-se
que, em um agrupamento CMP qualquer, a geometria de uma reflexão pode ser descrita
por uma hipérbole deslocada no tempo, cuja descrição algébrica, na forma proposta por
de Bazelaire, é a seguinte expressão:
x2
(t + tp − t0 )2 = t2p + (2.5.68)
vs2
2 A B
1
Erro (ms)
−1
−2 C D
−3
−4
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de incidência (graus)
t(0) ∂t h2 ∂ 2 t h3 ∂ 3 t h4 ∂ 4 t
t(h) = −h + − + − ···
2 ∂h 2! ∂h2 3! ∂h3 4! ∂h4
(2.5.69)
2 2 3 3 4 4
t(0) ∂t h ∂ t h ∂ t h ∂ t
+ +h + 2
+ 3
+ +···
2 ∂h 2! ∂h 3! ∂h 4! ∂h4
∂2t h4 ∂ 4 t
t(h) = t(0) + h2 + +··· (2.5.70)
∂h2 12 ∂h4
Elevando este resultado ao quadrado, obtém-se:
" 2 #
∂2t ∂2t t(0) ∂ 4 t
t2 (h) = t2 (0) + 2t(0)h2 2 + h4 + +··· (2.5.71)
∂h ∂h2 6 ∂h4
158 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
As derivadas parciais presentes na expressão 2.5.71 podem ser estimadas com base na
Figura 2.43 e nas seguintes relações (ver também o item 2.1):
∆t ∂t sen β0
lim = = (2.5.72)
∆h→0 ∆h ∂h v1
e
∆β0 ∂β0 cos β0
lim = = (2.5.73)
∆h→0 ∆h ∂h Rh
onde Rh é o raio de curvatura referente ao trajeto simples entre o refletor e a superfı́cie,
enquanto β0 é o ângulo de emergência, ou seja, o ângulo entre o raio e a direção vertical,
na superfı́cie. Com estas derivadas, pode-se obter a derivada segunda do tempo com
relação a h, a qual é dada por
onde vk e tk são a velocidade intervalar e o tempo de trajeto na camada k. Por sua vez, as
grandezas αk e βk são o ângulo de incidência e o de refração em cada interface, enquanto
160 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
N
2 1 X 2
vRM S = v tk (2.5.78)
t(0) k=1 k
onde vRM S é a velocidade RMS. Por outro lado, se as interfaces forem mergulhantes e
paralelas, observa-se a seguinte igualdade:
vRM S
vN M O = (2.5.79)
cos β0
ou seja,
Z 2 Z Z Z
A A2 A2 A2
∇• ∇τ dV = ∇τ • ~ndS1 + ∇τ • ~ndS2 + ∇τ • ~ndS3 = 0
ρ ρ ρ ρ
δV δS1 δS2 δS3
Observe-se que, com base na Figura 2.45, a contribuição da superfı́cie δS3 é igual
a zero, pelo fato de, na mesma superfı́cie, aplicar-se a seguinte igualdade, baseada nas
propriedades do produto escalar entre vetores:
∇τ • ~n = 0 (2.5.82)
162 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
1
∇τ • ~n = − (2.5.83)
v1
e
1
∇τ • ~n = (2.5.84)
v2
O sinal diferente, nas duas equações, se explica pelo fato de o vetor ~n apresentar sentidos
opostos, nas superfı́cies δS1 e δS2 .
Substituindo-se as equações 2.5.82, 2.5.83 e 2.5.84 na equação 2.5.81, e considerando-
se superfı́cies infinitesimais, obtém-se a seguinte expressão:
A22 A2
dS2 = 1 dS1
v2 ρ2 v1 ρ1
A2 A2
dS = 1 dS1 (2.5.85)
vρ v1 ρ1
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 163
Com a equação 2.5.17, pode-se transformar este resultado em uma forma dependente da
função J, ou seja,
A2 J A 2 J1
= 1 (2.5.86)
vρ v1 ρ1
onde J, v e ρ são válidos em uma posição arbitrária do raio. Conclui-se de imediato que
a amplitude A é inversamente proporcional à função J.
As equações 2.5.85 e 2.5.86 representam a base para uma boa análise da conservação
da energia. Se for levada em conta toda a área S abrangida pela propagação em um dado
instante, a expressão 2.5.85 pode ser transformada na seguinte igualdade:
Z 2
A
dS = CONSTANTE (2.5.87)
vρ
S
Observe-se que este resultado é válido para medidas de pressão. No caso em que se deseja
representá-lo em função da velocidade de partı́culas, aplica-se a equação 2.4.37, o que leva
à seguinte igualdade: Z
A2v vρdS = CONSTANTE (2.5.88)
S
onde Av é a velocidade de partı́culas medida na direção da propagação.
De acordo com as equações 2.5.87 e 2.5.88, a energia do sinal é mantida em todo
o trajeto. Análise similar pode ser feita com base na expressão 2.5.86, a qual permite
a dedução de uma versão adicional da equação de transporte. Para obter esta versão,
deriva-se a mesma expressão com relação a s. Como, na posição definida pelo subscrito
1, os parâmetros envolvidos são constantes, o resultado da operação é:
s !
∂ J
A =0 (2.5.89)
∂s vρ
O significado da expressão obtida deve ser ressaltado: o fator A2 J/vρ deve se manter
constante ao longo do raio, o que equivale a garantir a conservação da energia.
Aplicando-se os conceitos apresentados até aqui, é possı́vel deduzir a expressão corres-
pondente à amplitude gerada por uma fonte pontual, após um dado tempo de propagação
τ . Neste caso, uma aplicação direta da equação 2.5.86 não é possı́vel, já que, na posição
da fonte, J1 = 0. Desta forma, torna-se necessário estimar uma constante c0 , válida nas
vizinhanças da fonte e definida com base na seguinte versão da equação 2.5.86:
r
v1 ρ1
A1 = c 0 (2.5.90)
J1
Ressalte-se que c0 pode ter um valor finito e diferente de zero, dependendo de como se
comportem A1 e J1 .
Em um meio heterogêneo, a determinação da constante c0 é uma tarefa muito difı́cil.
Entretanto, pode-se considerar que o meio é homogêneo e isotrópico em uma região
infinitesimalmente próxima da fonte. Nestas condições, aplicando-se a equação 2.5.16,
pode-se transformar a equação 2.5.90 na seguinte igualdade:
r
c0 v1 ρ1
A1 = (2.5.91)
s sen γ1
164 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
A equação 2.5.91 representa a amplitude do sinal gerado por uma fonte pontual, em
um meio homogêneo e isotrópico. Estas também são as condições em que se obteve a
equação 2.4.54, que corresponde à solução da equação da onda na presença de uma fonte.
Na mesma solução, vê-se que a amplitude é representada por A = 1/R, ou, na convenção
usada aqui, A = 1/s. Assim, igualando-se os valores de amplitude dados pelas equações
2.4.54 e 2.5.91, tem-se: r
1 c0 v1 ρ1
=
s s sen γ1
e, portanto, r
sen γ1
c0 = (2.5.92)
v1 ρ1
Pode-se agora obter a expressão geral para a amplitude do sinal gerado por uma fonte
pontual, o que é feito através da substituição das equações 2.5.91 e 2.5.92 na expressão
2.5.86. O resultado é: r r
sen γ1 vρ
A= (2.5.93)
J v1 ρ1
Na forma da equação 2.5.93, o valor da amplitude A é composto pela multiplicação
de dois fatores, um deles associado à impedância acústica do meio e o outro devido ao
espalhamento geométrico da energia. Assim, a mesma expressão pode ser escrita da
seguinte forma: r
1 vρ
A= (2.5.94)
D v1 ρ1
onde D é o fator de espalhamento geométrico, ou seja,
s
J
D= (2.5.95)
sen γ1
(Um exercı́cio para o leitor: a expressão 2.5.94 é válida para medidas de pressão. Use a
equação 2.4.37 para obter a forma equivalente para medidas de velocidade de partı́cula,
no caso da propagação vertical).
É interessante observar que, geralmente, o valor da função J aumenta com o tempo
de reflexão. Entretanto, em meios heterogêneos, o valor de J pode também diminuir,
podendo até mesmo se tornar negativo, em função do modelo de velocidades e da cur-
vatura das interfaces elásticas. Esta eventualidade leva à obtenção de valores complexos
(não reais) para a função D, o que pode ocorrer quando a frente de onda ultrapassa as
chamadas cáusticas, para as quais J = 0, e que correspondem a pontos de cruzamento
dos raios que caracterizam uma frente de onda. Um exemplo de cáustica ocorre no foco
enterrado, discutido parcialmente no item 2.2.
lateral, os quais são genericamente denominados “meios v(z)”. Nestas condições, pode-se
obter expressões analı́ticas relativamente simples para se estimar o fator de espalhamento
geométrico.
Com o fim de ilustrar como isto é possı́vel, considere-se inicialmente que, em um meio
lateralmente homogêneo e isotrópico, a fonte está situada em uma profundidade arbitrária
z1 e o receptor plantado na superfı́cie (z = 0). Suponha-se agora que, nas condições
propostas, um raio tenha sido emitido de acordo com os ângulos γ1 e γ2 , estabelecidos
na posição da fonte, e que atinja o receptor a uma distância horizontal, rH , da fonte,
como se pode ver na Figura 2.46. Nas condições estabelecidas, as seguintes expressões,
baseadas na aproximação hiperbólica, são aplicáveis:
2
rH
t2 = t20 + , (2.5.96)
v2
∂t r sen γ1
p= = H = (2.5.97)
∂rH v2t v1
e
∂p ∂2t t2
= 2 = 20 3 (2.5.98)
∂rH ∂rH v t
onde t é o tempo de trajeto entre a fonte e o receptor, t0 é o tempo vertical, v é a velocidade
média que permite reproduzir a curva tempo-distância medida, v1 é a velocidade intervalar
na fonte e p é o parâmetro de raio (ver o subitem 2.5.2).
Suponha-se agora que se introduza uma pequena variação isolada no ângulo γ 1 . O
resultado é um novo raio que atinge a superfı́cie de acordo com um deslocamento, em
relação ao raio anterior, dado pelo vetor horizontal ∆~r1 . Já que o meio é lateralmente
constante, conclui-se que este deslocamento apresenta o mesmo sentido e direção da
projeção horizontal do vetor ~r, o qual liga a fonte ao receptor. Isto significa que o módulo
do vetor ∆~r1 é igual a |∆rH |, o que permite obter a seguinte igualdade:
∆~r1 ∆rH ∆rH ∆p
= =
∆γ1 ∆γ1 ∆p ∆γ1
Fazendo ∆γ1 tender a zero, tem-se, após as substituições apropriadas, feitas com base
nas expressões 2.5.97 e 2.5.98:
2 −1
∂~r ∂rH ∂ t cos γ1
= = 2
(2.5.99)
∂γ1 ∂γ1 ∂rH v1
Por outro lado, uma pequena variação isolada do ângulo γ2 leva a um deslocamento
horizontal ∆~r2 o qual, no caso em que ∆γ2 tende a zero, é ortogonal a ∆~r1 . Isto se deve à
homogeneidade lateral do meio, que leva rH , para um mesmo valor de γ1 e qualquer valor
de γ2 , a se manter constante e se comportar como o raio de um cı́rculo. Conseqüentemente,
a seguinte aproximação é válida:
|∆~r2 | ∼
= rH |∆γ2 |
Portanto, no limite em que ∆γ2 tende a zero, tem-se:
∂~r
= rH (2.5.100)
∂γ2
166 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
onde α é o ângulo que a frente de onda faz com a superfı́cie ao atingir o receptor (ou o
ângulo que o raio faz com a direção vertical na mesma posição).
A aproximação hiperbólica da equação 2.5.96 permite definir rH em função da vagaro-
sidade ∂t/∂rH (equação 2.5.97), assim como implica a existência de uma forma analı́tica
para ∂ 2 t/∂rH
2
(equação 2.5.98). A substituição dos resultados correspondentes na equação
2.5.101 leva à seguinte forma para J, aplicável a um meio lateralmente homogêneo e
isotrópico:
2 2 2
v t
J= cos γ1 cos α sen γ1 (2.5.102)
v 1 t0
Assume-se agora que a fonte e o receptor estejam ambos na superfı́cie e que o tempo
obtido inclua o trajeto entre a fonte, o refletor e o receptor. Nestas condições, já que o
meio é lateralmente homogêneo e isotrópico, segue-se que
cos γ1 = cos α
2.5. O TEMPO E A AMPLITUDE AO LONGO DO RAIO 167
e que, portanto,
2
v 2 t2
J= cos 2 α sen γ1 (2.5.103)
v 1 t0
Com a função J obtida, pode-se agora determinar o fator de espalhamento geométrico,
D, no caso em que a fonte e o receptor se situam na superfı́cie. Para isto, combinam-se
as equações 2.5.103 e 2.5.95, o que leva à seguinte expressão:
v 2 t2
D(rH , t) = cos α (2.5.104)
v 1 t0
v 2 t0
D(t0 ) = (2.5.105)
v1
Conforme se afirmou anteriormente, v é, nas duas equações, a velocidade que melhor
reproduz a curva tempo-distância. Na segunda delas, corresponde à velocidade NMO, ou
RMS (ver o subitem 2.5.2).
Existem, na literatura, outras formas para o fator de espalhamento geométrico, D(t),
baseadas nas mesmas premissas adotadas na dedução da equação 2.5.104. Duas delas,
menos compactas embora matematicamente equivalentes a ela, são as de Newman (1973)
e a de Ursin (1990). Uma versão mais abrangente, obtida por Tygel et al. (1992), depende
da disponibilidade de uma matriz de tempos de trajeto, e permite estimar o espalhamento
geométrico em um meio qualquer, sem a necessidade de se calcular a função J, de forma
aplicável a dados com qualquer afastamento fonte-receptor.
No caso do fator D(t0 ), uma expressão igual à 2.5.105 foi obtida por Newman (1973)
e por Shah (1973), neste caso definindo o raio de curvatura da frente de onda no mesmo
tipo de meio. Ou seja, com base no trabalho de Shah, aplica-se a seguinte igualdade:
D(t0 ) = R0 (2.5.106)
4
Fator D (normalizado)
0
200 500 1000 1500 2000
Tempo vertical (ms)
pode perceber com base na Figura 2.47. Na construção da figura, usou-se um modelo
geológico de camadas horizontais, no qual a velocidade de empilhamento cresce linear-
mente com a profundidade, e se estimaram tempos de reflexão no afastamento fonte-
receptor constante de 2000 metros, até o tempo vertical máximo de 2200ms. O cálculo
do fator de espalhamento geométrico foi feito com as equações 2.5.104 e 2.5.105, neste
último caso substituindo-se o tempo vertical da fórmula pelo tempo de reflexão total,
o que foi feito com o fim de permitir uma comparação isenta. Observe-se no resultado
obtido que, para um mesmo afastamento fonte-receptor, a diferença entre as equações
2.5.104 e 2.5.105 tende a ser reduzida com o aumento do tempo de reflexão. Entretanto,
nos tempos menores, a diferença é significativa.
das aplicações diretas e inversas da aproximação Kirchhoff (ver o item 2.7). Justifica-se
assim a necessidade de aprofundar a discussão sobre os mesmos fenômenos.
e
pI + p R = p T (2.6.2)
onde u é o deslocamento de partı́culas, p é a pressão e os subscritos I, R e T indicam
incidência, reflexão e transmissão, respectivamente. Os sı́mbolos θ1 e θ2 identificam os
ângulos de propagação da onda descendente, com relação à direção vertical, no meio em
que a onda incide, 1, e no meio em que a onda refrata, 2, respectivamente19 . Os mesmos
ângulos se relacionam, de acordo com a lei de Snell, na forma da seguinte igualdade (ver
o item 2.1):
sen θ1 sen θP1 v1
= = (2.6.3)
sen θ2 sen θP2 v2
ou seja, s 2
v2
cos θ2 = 1− sen 2 θ1
v1
Na aplicação das equações 2.6.1 e 2.6.2, os deslocamentos de partı́culas podem ser
definidos com base na solução da equação bidimensional da onda. Adotando-se uma de
suas possı́veis soluções, na forma discutida no item 2.4, tem-se20 :
v2 ρ2 / cos θ2 − v1 ρ1 / cos θ1
r= (2.6.12)
v2 ρ2 / cos θ2 + v1 ρ1 / cos θ1
ou
γη cos θ1 / cos θ2 − 1
r= (2.6.13)
γη cos θ1 / cos θ2 + 1
e
2v1 ρ1 / cos θ2
T = (2.6.14)
v2 ρ2 / cos θ2 + v1 ρ1 / cos θ1
ou
2 cos θ1 / cos θ2
T = (2.6.15)
γη cos θ1 / cos θ2 + 1
Na forma da equação 2.6.12, a impedância acústica, definida no item 2.1 pelo produto
vρ, passa a ser generalizada pela expressão vρ/ cos θ, onde θ corresponde ao ângulo entre
a normal à interface e o raio que define a onda plana incidente. Em contrapartida, o leitor
poderá observar que, no caso em que o ângulo de incidência é igual a zero, as equações
2.6.12 e 2.6.14 reduzem-se às expressões 2.1.43 e 2.1.44. Ou seja, elas se transformam nas
seguintes igualdades, válidas também para uma interface entre sólidos:
v2 ρ2 − v 1 ρ1
r= , para θ1 = 0 (2.6.16)
v2 ρ2 + v 1 ρ1
e
2v1 ρ1
T = , para θ1 = 0 (2.6.17)
v2 ρ2 + v 1 ρ1
2.6. PARTIÇÃO DE ENERGIA NAS INTERFACES 171
ou
2 cos θ2 v2 ρ2 2 cos θ2
1−r = T = γη T2 (2.6.18)
cos θ1 v1 ρ1 cos θ1
Este resultado, que equivale ao produto entre as equações 2.6.10 e 2.6.11, representa uma
medida relativa da energia que flui, na direção vertical, através da interface.
Devem ser acrescentados ainda os dois ângulos crı́ticos, obtidos a partir dos ângulos
definidos acima:
vP
sen θCP = 1
v P2
e
vP
sen θCS = 1
v S2
Os dois ângulos crı́ticos definem as situações em que uma onda incidente P dá origem
a ondas que viajam no meio 2, junto à interface, as quais, por sua vez, geram as corres-
pondentes ondas frontais (head waves). Em dados sı́smicos convencionais, o ângulo crı́tico
associado à conversão de modo para ondas SV somente é observado em situações parti-
culares, tais como áreas em que ocorrem camadas de alta velocidade junto à superfı́cie
(por exemplo, a Bacia do Paraná, na qual afloram basaltos).
Se o ângulo de incidência em uma interface for inferior ao crı́tico, uma única onda
compressional gera quatro diferentes ondas: as refletidas, dos tipos P e SV e as refratadas,
também dos tipos P e SV. Cada uma dessas ondas é gerada com amplitude proporcional
à amplitude da onda incidente e ao respectivo coeficiente de reflexão ou transmissão. Ou
seja, nestas condições, existem quatro diferentes coeficientes, que dependem não só das
propriedades elásticas dos dois meios envolvidos, mas também do ângulo de incidência.
Como no caso acústico, as expressões que definem os quatro coeficientes são baseadas nas
condições de contorno, neste caso mais abrangentes: (1) continuidade do deslocamento
vertical; (2) continuidade do esforço vertical; (3) continuidade do deslocamento tangencial
e (4) continuidade do esforço tangencial.
2.6. PARTIÇÃO DE ENERGIA NAS INTERFACES 173
Ao contrário do caso acústico, o modelo elástico de uma interface, que inclui on-
das P e SV, não leva a expressões simples para os coeficientes envolvidos. A aplicação
das condições de contorno descritas à solução da equação da onda resulta nas chamadas
equações de Zoeppritz, que contêm os diversos coeficientes na forma implı́cita. Expressões
explı́citas para esses coeficientes, em função do ângulo de incidência, podem ser encon-
tradas em Cerveny e Ravindra (1971) e Aki e Richards (1980). No caso de uma onda
incidente compressional, os quatro coeficientes de reflexão e transmissão correspondentes
são dados pela seguinte versão das equações obtidas por Cerveny e Ravindra:
A−B
r= , (2.6.21)
A+B
2C
T = , (2.6.22)
A+B
2D
rS = (2.6.23)
A+B
e
2E
TS = (2.6.24)
A+B
onde o subscrito S indica presença de conversão de modo para onda cisalhante. As
variáveis A, B, C, D e E são dadas por
A = 4Q2 P1 P2 P3 P4 sen 2 θ + γηP1 P4 + γ 2 X 2 P1 P2 ,
B = γ 2 Z 2 sen 2 θ + Y 2 P3 P4 + γηP2 P3 ,
C = P1 (γXP2 + Y P4 ),
D = −P1 sen θ (2QY P3 P4 + γ 2 XZ/q2 )
e
E = −P1 sen θ (2QP2 P3 − γZ/q1 )
onde θ é o ângulo de incidência da onda compressional, ou seja, na Figura 2.48, θ = θP1 .
Os demais elementos destas equações são definidos da seguinte forma:
γ = v2 /v1 ,
η = ρ2 /ρ1 , √
P1 = cos θP1 = p cos θ = 1 − sen 2 θ,
P2 = cos θS1 = p1 − sen 2 θ/q12 ,
P3 = cos θP2 = p1 − γ 2 sen 2 θ,
P4 = cos θS2 = 1 − γ 2 sen 2 θ/q22 ,
Q = γ 2 η/q22 − 1/q12 ,
X = η − 2Q sen 2 θ,
Y = 1 + 2Q sen 2 θ
e
Z = η − 1 − 2Q sen 2 θ
onde v é a velocidade21 correspondente à onda P e q é a razão entre as velocidades P
e S do meio identificado pelo subscrito, na forma da equação 2.6.19. Observe-se que os
21
Em diversos trechos desta apostila, a ausência de um subscrito associado à variável v significa que
ela se refere à propagação de ondas compressionais.
174 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
coeficientes de reflexão e transmissão não dependem dos valores isolados das velocidades
P e das densidades dos dois meios mas sim das razões γ e η.
Independentemente do tipo de onda, sua intensidade pode ser definida pela equação
2.1.28. Combinando-se esta propriedade com os coeficientes de reflexão e transmissão,
é possı́vel avaliar o fluxo vertical de energia através de cada unidade de área de uma
interface elástica. Para isto, deve-se respeitar o princı́pio da conservação da energia, ou
seja, a energia da onda incidente deve igualar a soma das energias de todas as ondas
refletidas e transmitidas. Levando em conta a projeção dos diversos fluxos envolvidos
sobre a direção vertical, obtém-se a seguinte igualdade:
v1 ρ1 v2 ρ2
v1 ρ1 cos θP1 = v1 ρ1 cos θP1 r 2 + cos θS1 rS2 + cos θS2 TS2 + v2 ρ2 cos θP2 T 2
q1 q2
onde as velocidades S foram substituı́das com base na razão vP /vS , ou seja, q. O resultado
obtido pode ser escrito da seguinte forma:
2 1 cos θS1 2 γη cos θS2 2 cos θP2
1−r − rS − TS = γη T2 (2.6.25)
q1 cos θP1 q2 cos θP1 cos θP1
o ângulo de incidência for maior do que o ângulo crı́tico, o pulso sı́smico tem sua fase
modificada.
Como ilustração da conversão de modo em uma interface, a Figura 2.50 representa
a curva de coeficientes de reflexão, correspondente à conversão de ondas do tipo P para
SV, em um modelo simples. Vê-se que, para ângulos de incidência próximos de zero, a
amplitude refletida é insignificante, crescendo com o afastamento até nı́veis relativamente
importantes. No caso, o valor absoluto da amplitude refletida, no ângulo de 28 graus, é
cerca de 86% do valor do coeficiente de reflexão P-P, para incidência vertical. Observe-se
também a mudança de fase, que ocorre a partir do ângulo crı́tico (41.8 graus).
É fácil induzir que as implicações desse fenômeno são mais importantes nas camadas
mais rasas, para as quais é facilmente possı́vel atingir-se grandes ângulos de incidência.
Por outro lado, o acréscimo da velocidade com a profundidade, que é relativamente
comum, faz com que os ângulos de incidência, para um mesmo raio, tendam a se tornar
proporcionalmente maiores em grandes profundidades, por causa da lei de Snell22 . Desta
forma, o fenômeno não deve ser desconsiderado a priori, mesmo quando se interpretam
refletores profundos.
Com base nos exemplos das figuras 2.49 e 2.50, o leitor pode perceber que é vir-
tualmente impossı́vel prever o comportamento dos coeficientes r e rS através da simples
inspeção visual das equações 2.6.21 e 2.6.23. Esta é uma conseqüência natural da comple-
xidade das duas equações, a qual dificulta a percepção de como cada uma das propriedades
elásticas influencia a distribuição dos coeficientes em função do ângulo de incidência. Por
outro lado, Rosa (1976) constatou, no caso particular das equações 2.6.21 e 2.6.22, que
a análise desse tema torna-se substancialmente mais simples se for baseada na derivada
22
A Figura 2.40, na página 152, pode ser usada como ilustração desta caracterı́stica.
176 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
não aparece. Por outro lado, na Figura 2.51, vê-se que as derivadas parciais com relação
a três das propriedades elásticas são definidas por retas, em função do quadrado do seno
do ângulo de incidência. Além disso, no caso de γ, a derivada parcial é definida aproxi-
madamente por uma reta, no caso em que o ângulo de incidência tende a zero. Ou seja,
nas condições da Figura 2.51, pode-se obter, usando-se expansão Taylor, as seguintes
expressões para as derivadas parciais em função do ângulo de incidência:
∂r ∼ 1 5
= − sen 2 θ,
∂γ 2 6
∂r ∼ 1 2
= − sen 2 θ,
∂η 2 3
∂r ∼ 16
= − sen 2 θ
∂σ1 9
e
∂r ∼ 16
= sen 2 θ
∂σ2 9
onde θ é o ângulo de incidência. Substituindo-se estas expressões na equação 2.6.26,
obtém-se a seguinte aproximação para o coeficiente de reflexão P-P, em função do ângulo
de incidência:
1 16 5 2 3
r∼= (γ + η) − 1 + (σ2 − σ1 ) − γ − η + sen 2 θ
2 9 6 3 2
ou
1 ∆v ∆ρ 16 5 ∆v 2 ∆ρ
r∼
= + + ∆σ − − sen 2 θ (2.6.27)
2 v ρ 9 6 v 3 ρ
onde ∆ indica a variação, na interface, do parâmetro elástico respectivo. Assim, por
exemplo, ∆v = v2 − v1 .
A expressão 2.6.27 foi obtida com o valor da razão de Poisson da camada 1 igual a
1/4, o que limita sua aplicação. Existem na literatura aproximações de melhor qualidade
para as equações de Zoeppritz, todas elas de uma forma ou de outra similares à expressão
2.6.27. A mais bem-sucedida dessas aproximações, inspirada no trabalho pioneiro de
Bortfeld (1961), foi proposta por Richards e Frasier (1976) e se tornou mais conhecida
através do livro de Aki e Richards (1980). Ressalte-se que, como no caso da expressão
2.6.27, essas aproximações são válidas para ângulos de incidência relativamente pequenos,
em geral menores do que 40 graus, e para pequenas variações nas propriedades elásticas.
Fortuitamente, ambas as circunstâncias tendem a ser encontradas na prática.
A aproximação de Richards, Frasier e Aki leva, na maioria dos casos, a resultados mais
próximos do correto do que a equação 2.6.27. Uma das possı́veis formas de apresentação
da expressão obtida por eles é:
∼ 1 ∆ρ ∆ρ v̄S2 ∆vS v̄S2 1 ∆vP 1
r= − 2 2
+4 2
sen 2 θ̄ + (2.6.28)
2 ρ̄ ρ̄ v̄P v̄S v̄P 2 v̄P cos 2 θ̄
acima e abaixo da interface. Assim, por exemplo, ρ̄ = (ρ1 + ρ2 )/2. O mesmo se aplica às
velocidades P e S. No caso do ângulo θ̄, adota-se a seguinte igualdade:
r∼
= A + B sen 2 θ̄ + C sen 2 θ̄ tan 2 θ̄ (2.6.33)
onde
1 ∆vP ∆ρ ∼
A= + = r(0), (2.6.34)
2 v̄P ρ̄
1 ∆vP
C= (2.6.35)
2 v̄P
e
∆vS 1 + k ∆ρ
B =A−k + (2.6.36)
v̄S 2k ρ̄
ou, após alguma manipulação,
∆vP ∆vS
B = −kA + (1 − k)C + k − , (2.6.37)
v̄P v̄S
v̄S2
k=4 (2.6.38)
v̄P2
180 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
Na linha do trabalho de Shuey (1985), a expressão 2.6.37 pode ser alterada de forma
a incluir o efeito da razão de Poisson, em vez da velocidade S. Para isto, considere-se a
seguinte aproximação:
v̄S2 ∼ 12 − σ̄
=
v̄P2 1 − σ̄
Estimando-se diferenças nesta expressão, obtém-se:
v̄S v̄S2 ∼ 1 ∆σ
2∆vS − 2∆v P 3 = −
v̄P2 v̄P 2 (1 − σ̄)2
Com base neste resultado, a expressão 2.6.37 pode ser reescrita da seguinte forma:
∆σ
B = −kA + (1 − k) C + (2.6.40)
(1 − σ̄)2
B D
∆vS 1 + k ∆ρ ∆vS 1 + k ∆ρ
A−k + −k +
v̄S 2k ρ̄ v̄S 2k ρ̄
∆vP ∆vS k − 1 ∆ρ ∆vP ∆vS
−kA + (1 − k)C + k − −2kA + +k −
v̄P v̄S 2 ρ̄ v̄P v̄S
∆σ k − 1 ∆ρ ∆σ
−kA + (1 − k) C + −2kA + +
(1 − σ̄)2 2 ρ̄ (1 − σ̄)2
1. Mesmo que não haja mudança de impedância acústica em uma interface (γη = 1),
é possı́vel a existência de uma reflexão. Para isto, basta que σ1 6= σ2 , ou que, para
γ 6= 1, γ = 1/η. Em ambos os casos, o coeficiente de reflexão seria igual a zero,
na incidência vertical, e cresceria em valor absoluto, com o aumento no ângulo de
incidência.
∂r(0)
=0
∂θ
ou seja, a declividade da curva de r(θ) é zero, para θ = 0. Esta propriedade favorece
182 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
a aplicabilidade da técnica CDP, já que, nas condições operacionais mais usuais, os
ângulos de incidência são relativamente pequenos.
Uma seqüência de raciocı́nio semelhante à seguida acima pode levar também a uma
aproximação para o coeficiente de transmissão P-P, em função do ângulo de incidência.
Na forma obtida por por Aki e Richards, tem-se a seguinte expressão:
∼ 1 ∆vP ∆ρ 1 ∆v
T =1− + + tan 2 θ̄ (2.6.46)
2 v̄P ρ̄ 2 v̄
Levando-se em conta que, para pequenos valores de x, ln(1 − x) ∼ = −x, este resultado
pode ser alterado para a seguinte forma:
" N #
X 2
TN (θ̄) ∼
= exp − Ak − Ck tan 2 θ̄k (2.6.50)
k=1
N
Y
TN = 1 − rk2 (2.6.51)
k=1
onde r é o valor exato do coeficiente de reflexão. Usando os mesmos artifı́cios que per-
mitiram a obtenção da equação 2.6.50, pode-se obter a seguinte função exponencial:
" N #
X
TN = exp ln 1 − rk2 (2.6.52)
k=1
A expansão em séries do termo que envolve o logaritmo neperiano permite substituir este
resultado por
" N #
X 1 1
TN = exp −rk2 + rk4 − rk6 + · · · (2.6.53)
2 3
k=1
Viu-se anteriormente que a descrição correta para a perda por transmissão é relativa-
mente complexa, exigindo a aplicação recursiva da expressão 2.6.22, a qual não admite
uma descrição compacta como a da 2.6.48. Entretanto, nas condições em que a equação
2.6.48 é aplicável, ou seja, quando a mudança das propriedades elásticas através das diver-
sas interfaces não é muito acentuada, a influência do coeficiente de transmissão torna-se
relativamente pequena.
Como exemplo de perda por transmissão na direção vertical, pode-se usar o poço
1-RJS-316, perfurado na Bacia de Campos: no intervalo entre 1186m e 3504m, a perda
total, ida-e-volta, estimada com base nos perfis sônico e de densidade, foi de 8.9dB.
Obviamente, a perda nas camadas finas, não amostradas pelos perfis, não está incluı́da.
O logaritmo neperiano dentro do somatório pode ser expandido por séries, resultando em
1 + rn 2 2
ln = 2rn + rn3 + rn5 + · · · (2.6.59)
1 − rn 3 5
Nos casos em que a série de coeficientes de reflexão apresenta valores reduzidos em
módulo23 , ou seja, menores do que 0.2 ou 0.3, a expressão 2.6.59 pode ser simplificada,
desprezando-se os termos com expoente maior do que 1. Substituindo-se o resultado na
expressão 2.6.58 e aplicando-se o exponencial na base neperiana, obtém-se:
τ −1
!
X
Iτ ∼
= I1 exp 2 rn (2.6.60)
n=1
A simples inspeção das equações 2.6.57 e 2.6.60 não permite induzir como o espectro de
freqüências da função refletividade se relaciona com o da série das impedâncias acústicas.
Isto se torna possı́vel através de uma aproximação adicional da equação 2.6.60, dada por
τ −1
!
X
Iτ ∼
= I1 1 + 2 rn (2.6.61)
n=1
Pode-se dizer, portanto, que, para uma série de coeficientes de reflexão caracterizada
por uma baixa média de valores absolutos, os espectros de freqüências de rτ e de lτ se
relacionam de forma proporcional ao espectro de aτ . Ou seja, no domı́nio da freqüência,
tem-se:
R(f ) ∼
= A(f )L(f ) (2.6.66)
onde h π i
A(f ) = |2 sen (πf ∆τ )| exp i πf ∆τ − (2.6.67)
2
23
Com efeito, uma análise dos dados de alguns poços na plataforma continental brasileira permitiu
concluir que a média RMS dos coeficientes de reflexão, no caso em que a incidência é vertical, tende a
ser realmente baixa, em torno de 0.03, enquanto a sua média aritmética se aproxima de zero (Rosa e
Ulrych, 1991).
186 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
ou
ω∆τ ω∆τ π
A(ω) = 2 sen exp i − (2.6.68)
2 2 2
É possı́vel perceber que, no limite em que o intervalo de amostragem tende a zero,
a razão aτ /∆τ se transforma em um operador de derivada com relação ao tempo. Ob-
servação similar já foi feita na literatura geofı́sica em diversas oportunidades (ver, por
exemplo, Walden e Hosken, 1985). Por outro lado, comparando-se a equação 2.6.67 com
as expressões 2.9.15 e 2.9.16 (item 2.9), percebe-se que aτ equivale ao operador de um
fantasma com atraso igual a uma amostra. O espectro de amplitude correspondente não
apresenta um notch 24 , já que a amplitude sobe sempre, até a freqüência de Nyquist, onde
atinge o valor máximo, dado por
π
2 sen (πfN ∆τ ) = 2 sen =2
2
Com base nesses resultados, uma análise da expressão 2.6.66 permite concluir que, se
o espectro de amplitude de lτ fosse plano, o espectro de rτ teria a forma geral do espectro
de aτ , a menos das oscilações que ocorrem em pequenos intervalos de freqüência. Por
outro lado, se a série de coeficientes de reflexão tivesse espectro de luz branca, o espectro
das impedâncias acústicas teria a forma geral do inverso do espectro dado pela equação
2.6.67, também a menos das oscilações que ocorrem em pequenos intervalos de freqüência.
Esta é a premissa normalmente adotada na deconvolução de fase mı́nima, discutida no
item 3.2.
Esta linha de raciocı́nio leva às seguintes perguntas: (1) a série de coeficientes de
reflexão tem realmente espectro de luz branca? (2) qual é o efeito do aumento no valor
do parâmetro de raio, p? (3) o que ocorre no caso elástico? Para que se obtenham
respostas aceitáveis para estas perguntas, é essencial a utilização de algum tipo de modelo
descritivo para a cor da função refletividade, como o de Rosa e Ulrych (1991). Este
modelo, elaborado com base em dados de poços da plataforma brasileira, fundamenta-se
na seguinte forma da chamada decomposição de Wold25 :
rτ ∼
= cτ ∗ f τ (2.6.69)
onde cτ é uma série aleatória, ou branca. Por sua vez, fτ é um filtro de cor, cuja
transformada de Fourier é:
F (f ) = [A(f )]α (2.6.70)
onde α é uma constante e A(f ) é dado pela equação 2.6.67. Em termos de transformada
Z, fτ corresponde a
1 1
F (Z) = 1 − αZ + α(α − 1)Z 2 − α(α − 1)(α − 2)Z 3 + · · · (2.6.71)
2! 3!
Com base na equação 2.6.69 e no espectro de aτ , dado pela equação 2.6.67, o valor de
α pode ser usado como um indicador da cor de rτ , de acordo com três casos: (1) se α > 0,
24
Define-se notch como uma cavidade no espectro de amplitude.
25
De acordo esta decomposição, um sinal qualquer pode ser descrito através da convolução entre uma
série aleatória e uma forma de onda de pequeno comprimento — um pulso (Robinson, 1967b; Kanasewich,
1975).
2.6. PARTIÇÃO DE ENERGIA NAS INTERFACES 187
Observe-se que a escolha do sinal de Kz , na equação 2.4.22, implica a opção por ondas
somente ascendentes (sinal negativo) ou somente descendentes (sinal positivo). Isto sig-
nifica que a equação 2.7.6 não permite a geração e a adequada extrapolação de eventos
múltiplos.
A expressão 2.7.6 descreve o algoritmo de extrapolação por deslocamento de fase
(Gazdag, 1978) e corresponde também à transformada de Fourier do algoritmo de extra-
polação Kirchhoff (ver Schneider, 1978). A relação entre os dois algoritmos e a geome-
tria das difrações pode ficar mais clara quanto se comparam as equações 2.7.7 e 2.2.33.
Percebe-se que a última expressão, deduzida no subitem 2.2.5 com base na geometria de
uma hipérbole, é idêntica à primeira. Esta constatação permite concluir que, no domı́nio
tempo-distância, o operador exp (−iKz ∆z) apresenta forma hiperbólica. No caso de um
meio homogêneo e isotrópico, esta é também a geometria do operador de extrapolação
Kirchhoff, discutido adiante.
Por causa de sua precisão na aplicação a meios lateralmente homogêneos, o algoritmo
de deslocamento de fase é muito usado na modelagem sı́smica, na forma denominada de-
migração, como uma ferramenta de suporte a testes de outros algoritmos de extrapolação
de campos de ondas. Nas aplicações bidimensionais, no contexto do refletor explosivo, o
processo é conduzido no domı́nio ω-Kx, através da seguinte seqüência de operações:
1. Calculam-se os coeficientes de reflexão em todas as amostras do modelo geológico,
em função de distância e profundidade, obtendo-se a matriz r(x, z).
2. Como a propagação é feita de baixo para cima, seleciona-se a máxima profundidade,
para iniciar o processo. Adicionalmente, assume-se que a transformada do campo
de pressões, na profundidade z = zmax , é inicialmente igual a zero, ou seja,
P̃ (Kx , z = zmax , ω) = 0
8. Para se obter a forma final do modelo sı́smico desejado, convolve-se cada traço da
seção obtida com um pulso sı́smico qualquer (por exemplo, um filtro passa-banda).
É interessante observar que o valor de Kz , dado pela equação 2.4.22, pode ser com-
plexo, desde que vKx /ω > 1. Esta eventualidade significa, com base na equação 2.1.48,
que dt/dx > 1/v, ou seja, trata-se de energia que viaja com velocidade inferior à veloci-
dade de corpo do meio. Os eventos correspondentes, denominados ondas evanescentes,
são atenuados de forma exponencial, durante a propagação, já que, na equação 2.7.6, o
expoente complexo torna-se real e negativo. Na Figura 2.53, pode-se ver a relação entre
a região de ondas evanescentes e o ângulo correspondente à tangente à frente de onda.
Observe-se que a mesma região corresponde a ângulos de propagação maiores do que 90
graus.
A aplicação da equação 2.7.6 à extrapolação de campos de ondas apresenta uma grande
vantagem e um grande defeito, ambos expressos em uma única caracterı́stica: a de não
permitir a geração e a adequada propagação de eventos múltiplos. Ao mesmo tempo em
que esta propriedade é uma desvantagem, ela permite, por outro lado, extrapolar campos
de onda sem criar múltiplas indesejadas. Uma limitação importante da técnica é sua
incapacidade de tratar meios com velocidade lateralmente variável.
onde xs e xg são as coordenadas das fontes e dos receptores, Kxs e Kxg são os correspon-
dentes números de onda e z é a profundidade de registro. Por sua vez, p e P̃ representam
os dados sı́smicos registrados e sua transformada de Fourier.
Suponha-se agora que se deseja estimar como seria o registro do mesmo evento em uma
profundidade hipotética, z − ∆z. Para se obter a expressão que possibilita esta operação,
segue-se uma seqüência de raciocı́nio similar à adotada na dedução da equação 2.2.33. Ou
seja, a extrapolação do evento obtido é baseada na aplicação, no domı́nio da freqüência,
das operações equivalentes aos deslocamentos de distância e tempo envolvendo as fontes
(∆Xs e ∆Ts ) e os receptores (∆Xg e ∆Tg ). Com base nas propriedades da transformada
de Fourier (ver o item 1.2), sabe-se que estas operações podem ser descritas através da
seguinte igualdade:
P̃ (Kxs , Kxg , z − ∆z, ω) = P̃ (Kxs , Kxg , z, ω) [exp (−iKxs ∆Xs ) exp (iω∆Ts )
(2.7.8)
exp −iKxg ∆Xg exp (iω∆Tg )
Aplicando-se a este resultado o exponencial neperiano, pode-se obter a forma que permite
a propagação do sinal entre as profundidades z e z−∆z. No caso de uma onda ascendente,
o resultado, equivalente à equação 2.7.9, é:
P̃z−∆z = P̃z exp (−iKzs ∆z) exp −iKzg ∆z (2.7.13)
Observe-se que, para garantir a propagação causal de uma onda ascendente, é necessária
a opção pelo sinal negativo para Kzs e Kzg .
A equação 2.7.13, ou 2.7.9, não é uma boa opção para a modelagem sı́smica, por
que, entre outras razões, não permite a variação lateral de velocidades. Entretanto,
pode ser usada com finalidades didáticas, particularmente nos casos da demigração e
da extrapolação de campos de onda entre nı́veis horizontais. Para isto, segue-se uma
série de procedimentos similares aos descritos no subitem 2.7.1, bastando levar em conta
o acréscimo de uma dimensão. Na versão tridimensional, ter-se-ia, na verdade, duas
dimensões a mais, uma vez que cada agrupamento de fonte comum, ou de receptor comum,
seria representado por um volume em que as coordenadas horizontais seriam pares (x g , yg ),
ou (xs , ys ). Ressalte-se, entretanto, que levantamentos sı́smicos com estas caracterı́sticas
são relativamente raros.
ondas ao longo do eixo das profundidades, z. Para isto, faz-se uso da derivada da mesma
equação com relação à profundidade, a qual é dada por
∂P
= iKz P
∂z
onde P = P (Kx , z, ω). A derivada com relação a z pode ser substituı́da por uma razão
entre diferenças, correspondente a uma aproximação de primeira ordem da derivada. O
resultado é:
Pz − Pz−∆z ∼
= iKz Pz
∆z
onde P representa, no caso 1-D, a transformada de Fourier de um traço sı́smico obtido
na profundidade indicada pelo subscrito. Ou seja, a derivada é estimada a partir da
diferença entre amostras dos traços obtidos em duas profundidades sucessivas, para cada
freqüência. Rearranjando-se os termos, obtém-se:
Pz−∆z ∼
= (1 − iKz ∆z)Pz (2.7.14)
P̃ (Kx , Ky , z − ∆z, ω) ∼
= (1 − iKz ∆z)P̃ (Kx , Ky , z, ω) (2.7.17)
onde Kz é definido com base na equação 2.4.27, que representa a versão tridimensional
da relação de dispersão da equação da onda. Observe-se que, neste caso, a transformação
para o domı́nio do tempo já não é tão simples, já que Kz envolve uma raiz quadrada.
Este é um tema relativamente bem explorado no item 3.5.
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 195
P̃z−∆z ∼
= (2 − Kz2 ∆z 2 )P̃z − P̃z+∆z (2.7.19)
pt (x = xs , y = ys , z = zs ) + f (xs , ys , zs , t) ⇒ pt (x = xs , y = ys , z = zs ) (2.7.24)
26
Neste caso, a relação de dispersão correspondente à equação 2.7.21 é estimada com base no teorema
da derivada da transformada de Fourier e na aproximação de primeira ordem para ∂ 2 p/∂t2 . Se o meio
for considerado homogêneo e isotrópico, o resultado obtido é:
2 2 2 4 2 ω∆t
Kx + Ky + Kz = 2 2 sen (2.7.22)
v ∆t 2
Para se obter este resultado, levou-se em conta que o módulo da transformada de Fourier do ope-
rador de primeira ordem da derivada segunda com relação ao tempo, (1, −2, 1)/∆t 2, é dado por
4 sen 2 (ω∆t/2)/∆t2 .
A expressão 2.7.22 pode ser usada com o fim de se avaliar a dispersão e a estabilidade nas aplicações
numéricas da equação 2.7.21. No primeiro caso, deve-se ressaltar que, no limite em que o produto ω∆t
tende a zero, a mesma expressão torna-se equivalente à forma correta da relação de dispersão da equação
da onda. Induz-se assim que, para reduzir a dispersão numérica em casos representativos, é recomendável
diminuir, tanto quanto possı́vel, o valor de ∆t. A este respeito, é comum a referência a pelo menos 10
amostras por perı́odo da máxima freqüência a extrapolar.
Resta discutir a estabilidade numérica, a qual é garantida se, na expressão 2.7.22, o valor numérico de
sen 2 (ω∆t/2) não ultrapassar 1. Desta forma, para os valores máximos de v, K x , Ky e Kz , a seguinte
inequação deve ser respeitada:
ω∆t v 2 ∆t2
sen 2 = Kx2N + Ky2N + Kz2N max ≤1 (2.7.23)
2 4
onde KxN = π/∆x, KyN = π/∆y, KzN = π/∆z e vmax é a máxima velocidade intervalar do modelo
usado. Assim, com a escolha adequada dos valores de ∆x, ∆y, ∆z e ∆t, pode-se garantir que a recursão
implı́cita na equação 2.7.21 não leve ao crescimento indevido das amplitudes.
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 197
2. Constrói-se o termo da fonte, f (xs , ys , zs , t), para todos os valores de tempo, t, que
a caracterizam. No caso de um arranjo de tiro, a tarefa é repetida nas diferentes
posições espaciais envolvidas.
9. Repetem-se os passos 4 a 8 até que o máximo valor de tempo desejado seja atingido.
Profundidade (m)
500
fase nula, todas as variações de amplitude e forma observadas na figura foram geradas
pela própria modelagem. A este respeito, deve-se ressaltar que, se a mesma modelagem
fosse conduzida com a versão bidimensional da equação da onda, o pulso sı́smico efe-
tivo resultaria da convolução entre o filtro passa-banda escolhido e a função de Green
bidimensional, a qual, em um meio homogêneo e isotrópico, tem fase igual a −450 (ver
discussão a respeito da integral de Rayleigh II, na página 208).
Observe-se, na Figura 2.54, que o tempo de propagação foi suficiente para que a
reflexão, gerada na interface entre as duas camadas do modelo, atingisse a superfı́cie na
região central e desse origem a uma múltipla, a qual é caracterizada com base na troca
de polaridade e no sentido descendente da propagação. Além disso, merecem destaque:
(1) a atuação do coeficiente de reflexão, responsável pela menor amplitude da reflexão,
em relação à da onda transmitida; (2) a variação do coeficiente de reflexão com o ângulo
de incidência, que modificou lateralmente a amplitude da reflexão; (3) a influência do
fantasma da fonte, o qual é responsável pela deformação do pulso sı́smico e pelas menores
amplitudes da onda direta nos ângulos de propagação próximos de 90 graus (ver o item
2.9) e; (4) a mudança no comprimento efetivo do pulso sı́smico depois que ele atravessa
a interface, o que se deve à diferença entre as duas velocidades envolvidas.
Com base na teoria apresentada até aqui, assim como no exemplo da Figura 2.54,
percebe-se que, na modelagem sı́smica baseada na expressão 2.7.21, incluem-se automa-
ticamente as reflexões e diversos dos fatores de propagação, os quais não são tratados de
forma adequada no caso em que se aplica o modelo do refletor explosivo. Assim, reflexões
e múltiplas surgem como um subproduto natural, a cada vez em que a onda incide sobre
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 199
um meio em que as propriedades elásticas são diferentes das anteriores. De forma simi-
lar, as perdas por transmissão e espalhamento geométrico também são automaticamente
incluı́das. Adicionalmente, se a equação acústica da onda for substituı́da por sua similar
elástica, a propagação passa a incluir também a conversão de modo e a influência da
razão de Poisson na variação dos coeficientes de reflexão e transmissão com o ângulo de
incidência.
onde o sı́mbolo • denota produto escalar, N é o fluxo do vetor ~a, enquanto ~n é o vetor
unitário normal à superfı́cie S, a qual envolve o volume V (ver a Figura 2.55).
Como uma versão 3-D do TFCI, o teorema de Gauss permite integrar uma função
em um volume V , usando-se informações contidas exclusivamente na superfı́cie S, que
200 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
~a ≡ P ∇G − G∇P (2.7.26)
∇ • ~a = P ∇2 G + ∇P • ∇G − G∇2 P − ∇G • ∇P
ou
∇ • ~a = P ∇2 G − G∇2 P
onde ∇2 é o operador laplaciano. Combinando-se este resultado com a definição do vetor
~a, pode-se transformar o teorema de Gauss na seguinte versão do teorema de Green:
Z I
2 2
(P ∇ G − G∇ P )dV = (P ∇G − G∇P ) • ~ndS (2.7.27)
V S
Ressalte-se que a expressão obtida é válida no caso em que não existem (ou são des-
consideradas) outras fontes de energia dentro do volume V , além das fontes secundárias
situadas na superfı́cie S. São desconsiderados também, pelo menos por enquanto, even-
tuais refletores situados na mesma superfı́cie.
Na Figura 2.56, vê-se um corte vertical do modelo em que se baseia a aplicação da
integral de Kirchhoff à propagação de ondas ascendentes. Trata-se de um volume V ,
limitado pela superfı́cie S a qual, por sua vez, é fragmentada em quatro partes: S1 , S2 ,
S3 e S4 . Com base nesse modelo, procura-se avaliar o sinal sı́smico, dentro do volume V ,
no ponto de registro identificado pela letra A, a partir de medidas efetuadas na superfı́cie
S1 , na qual incide um campo de ondas ascendente. Para isto, dois enfoques têm sido
adotados na literatura, o segundo dos quais pode ser considerado mais correto (Weglein
e Stolt, 1990):
Nos dois enfoques, considera-se que não existe qualquer descontinuidade elástica den-
tro do volume V , incluindo a superfı́cie de registro. Ou seja, não existem fontes primárias
de energia associadas à mesma superfı́cie. Nestas condições, independentemente do enfo-
que escolhido, a resposta sı́smica no ponto A pode ser obtida a partir de medidas feitas
exclusivamente na superfı́cie S1 , o que permite transformar a integral de Kirchhoff em:
Z
1
P (xA , yA , zA , ω) = 4π (P ∇G − G∇P ) • ~ndS1 (2.7.32)
S1
A expressão 2.7.32 pode ser simplificada de forma a permitir aplicação prática mais
fácil. Para isto, assume-se que a superfı́cie S1 é horizontal, ou seja, o vetor unitário ~n faz
um ângulo de 00 com o eixo z. Nestas condições, o produto escalar ~n • ~k, onde ~k é o vetor
202 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
onde zB > zA e o sı́mbolo L denota integral de linha. Ou seja, o integrando é uma função
que deve ser avaliada ao longo dos eixos x e y.
Na forma da equação 2.7.33, a integral de Kirchhoff se aplica a ondas ascendentes,
em função da relação entre o sentido do vetor unitário que caracteriza a superfı́cie de
integração, ~n, e o eixo vertical, z. No caso de uma onda descendente, o mesmo vetor
apresenta sentido ascendente, portanto oposto ao do vetor unitário ~k. Uma vez que,
nestas condições, o produto escalar ~n • ~k é igual a −1, o sinal da equação 2.7.33 deve
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 203
ser trocado. Conclui-se assim que o sentido da propagação ao longo do eixo z controla o
sinal da integral de Kirchhoff.
A integral de Kirchhoff é uma ferramenta de extrapolação de campos de onda, exata-
mente como os demais algoritmos discutidos anteriormente. Assim, a partir do campo de
ondas medido em uma profundidade qualquer, é possı́vel estimar, com a equação 2.7.33,
como seria o campo de pressões em uma profundidade menor. A técnica de modela-
gem sı́smica apresentada no item 2.2 corresponde a uma aplicação do mesmo conceito.
Discutir-se-á adiante como a equação 2.2.26, usada naquela oportunidade, pode ser obtida
a partir da integral de Kirchhoff.
∂P
= iωρVz (2.7.34)
∂z
sendo ρ a densidade original do meio e Vz a transformada de Fourier da velocidade de
partı́culas. Nas aplicações práticas, a densidade do meio é normalmente tomada como
constante.
Ao atingir a superfı́cie S1 , o campo de ondas incidente, que vem de baixo, é filtrado
pelas funções G e ∂G/∂z, que representam a resposta, ao impulso, do meio situado entre
cada ponto situado na superfı́cie S1 e o ponto A. Essa filtragem, ou convolução, que é
representada matematicamente pela integral de Kirchhoff, gera como resultado o campo
de pressões no ponto A.
É possı́vel tornar ainda mais claro estes conceitos se a integral de Kirchhoff for reescrita
de forma a explicitar a convolução mencionada. Para isto, deve-se analisar a relação entre
o princı́pio da reciprocidade e a derivada ∂G/∂z, a qual pode, com base na equação 2.4.54,
ser apresentada da seguinte forma:
∂G ∂ 1 1 iω ∂τ
= exp(iωτ ) = − 2 + exp(iωτ ) (2.7.35)
∂z ∂z vτ vτ vτ ∂z
aumento no tempo τ . Chega-se, assim, a um aparente impasse, já que a derivada ∂G/∂z
deveria, pelo menos em tese, ser avaliada na profundidade zB .
Para resolver este impasse, deve-se lembrar que a dedução da integral de Kirchhoff
baseou-se na interação de dois campos de ondas: o campo ascendente P e a função de
Green descendente, G, correspondente a uma fonte no ponto A. A utilização desta função
de Green decorre da dificuldade de se associar o sinal gerado por múltiplas fontes na
superfı́cie S ao observado em um único ponto A. Viu-se que esta dificuldade é contornada
com base no princı́pio da reciprocidade, o qual permite substituı́-las por múltiplos pontos
de observação do sinal gerado no ponto A.
Nos termos da equação 2.7.35, a substituição da função de Green ascendente por uma
descendente leva à necessidade de, nas aplicações da integral de Kirchhoff, trocar o sinal
de ∂τ /∂z, como se ∂G/∂z fosse igual a ∂G/∂zA . Garante-se desta forma a condição de
onda secundária ascendente no ponto A, assim como a de onda secundária descendente
no ponto A0 (ver a Figura 2.56). Torna-se também possı́vel a transformação de ∂G/∂z
em uma medida de como varia a função de Green, em um ponto de observação fixo, com
relação à variação na profundidade da fonte secundária de energia, z B . Tem-se, no caso
do ponto A, a seguinte igualdade:
∂G ∂G(xA − x, yA − y, zA − zB , ω)
=− (2.7.37)
∂z ∂zB
Com a relação 2.7.37, pode-se apresentar a integral de Kirchhof de uma forma alter-
nativa, substituindo-se a equação 2.7.33 por
1
R R ∂G(xA − x, yA − y, zA − zB , ω)
P (xA , yA , zA , ω) = − 4π P (x, y, zB , ω) dxdy
Ly Lx ∂zB
1
R R ∂P (x, y, zB , ω)
− 4π G(xA − x, yA − y, zA − zB , ω) dxdy
Ly Lx ∂zB
(2.7.38)
onde zB > zA .
Uma rápida inspeção permite concluir que a expressão 2.7.38 corresponde a uma
convolução bidimensional, ao longo dos eixos x e y (a coordenada z não varia), para cada
harmônica individual, ω. Ou seja, os campos de pressão e da derivada da pressão com
relação à profundidade são realmente convolvidos com a função de Green e com a sua
derivada com relação à profundidade. Se for considerada uma coleção de pontos situados
na profundidade constante zA , em vez de um único ponto A, pode-se escrever:
1 ∂G ∂P
P (x, y, zA , ω) = − 4π P ∗∗ +G∗∗ (2.7.39)
∂zB ∂zB
Este resultado, apesar de válido apenas para meios homogêneos, é bastante útil para uma
melhor compreensão da propagação de ondas, além de permitir, como se verá abaixo, a
dedução das integrais de Rayleigh. Ressalte-se que, dependendo da forma como a equação
2.4.53 é deduzida, o fator 4π pode ser incorporado à função de Green e, neste caso, não
seria explicitado na equação 2.7.43.
Neste ponto, o leitor poderia perguntar: se a função de Green pode ser descendente
a partir da superfı́cie S1 , não haveria a geração de um campo de ondas adicional, a ser
obtido no ponto A0 da Figura 2.56? Esta pergunta caracteriza um problema clássico do
princı́pio de Huygens, segundo o qual cada ponto da frente de onda poderia gerar ondas
secundárias que se propagam não somente no sentido em que a onda avança, mas também
no sentido oposto.
É possı́vel demonstrar que o problema descrito é resolvido pela equação 2.7.43. Para
isto, deve-se lembrar que, quando a função de Green é descendente, Kz é maior do
que zero. Em conseqüência, o lado direito da equação 2.7.43 é cancelado, o que leva à
impossibilidade de se obter um campo de ondas no ponto A0 . Em contrapartida, quando
206 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
a função de Green é ascendente, Kz é menor do que zero. Neste caso, a equação 2.7.43
transforma-se em:
1
P̃ (zA ) = 2π i|Kz |P̃ G̃ (2.7.44)
zB
Comprova-se assim que cada ponto da frente da onda primária atua efetivamente como
fonte secundária apenas no sentido em que a onda avança (no caso, o ascendente), já que
a propagação no sentido oposto é cancelada. Ressalte-se que este resultado somente é
possı́vel por causa da atuação combinada dos dois termos da integral de Kirchhoff e porque
não existem coeficientes de reflexão no intervalo de profundidades envolvido. O resultado
obtido pode ser generalizado na forma do chamado teorema da extinção. Aplicado ao caso,
este teorema estabelece que, na ausência de fontes primárias de energia, ou difratores, as
ondas secundárias que se propagam no sentido oposto ao da onda primária são canceladas.
As integrais de Rayleigh são deduzidas a partir da equação 2.7.44, a qual permite
duas transformadas de Fourier inversas, uma vez que o operador i |Kz | pode ser aplicado
indistintamente a G̃ ou a P̃ , sem que se altere o resultado numérico. A primeira opção
equivale à adoção da condição de contorno de Dirichlet, a qual implica considerar G = 0
e ∂G/∂z 6= 0 na superfı́cie S1 . Já a segunda equivale à adoção da condição de contorno
de Neumann, a qual implica considerar G 6= 0 e ∂G/∂z = 0 na mesma superfı́cie. As
duas condições, ao contrário da dedução seguida aqui, exigem a escolha de funções de
Green particulares27 (ver Berkhout, 1980).
Quando se aplica o operador i |Kz | a P̃ , a transformada inversa de Fourier da equação
2.7.44 para o domı́nio ω-x-y, no caso de um ponto isolado A, corresponde à integral de
Rayleigh I, ou seja,
Z Z
1 ∂P
P (xA , yA , zA , ω) = − 2π G dxdy (2.7.45)
∂zB
Ly Lx
onde zB > zA .
Por sua vez, quando se aplica o operador i |Kz | a G̃, obtém-se, nas mesmas condições,
a integral de Rayleigh II, ou seja,
Z Z
1 ∂G
P (xA , yA , zA , ω) = − 2π P dxdy (2.7.46)
∂zB
Ly Lx
onde zB > zA .
27
De acordo com a condição de contorno de Dirichlet, a função de Green corresponde a um dipolo e é
dada por
1 1
G = exp(iωR/v) − 0 exp(iωR0 /v)
R R
0 ~
onde R e R são os módulos dos vetores ~r e r (ver a Figura 2.56). Este resultado, substituı́do na
0
expressão 2.7.33, dá origem à integral de Rayleigh II, uma vez que, no caso, G = 0 e ∂G/∂z B 6= 0
(observe-se que R = R0 , mas ∂R/∂zB = −∂R0 /∂zB ). Se a condição de contorno for a de Neumann, a
função de Green é
1 1
G = exp(iωR/v) + 0 exp(iωR0 /v)
R R
função esta que, substituı́da na expressão 2.7.33, dá origem à integral de Rayleigh I.
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 207
onde τ = R/v. A derivada ∂τ /∂zB é obtida com base na equação 2.7.36, levando em
conta que zB > zA . O resultado é a seguinte igualdade28 :
∂τ cos α
=
∂zB v
onde cos α é dado por
|zA − zB |
cos α = (2.7.47)
R
Pode-se, assim, obter a seguinte versão da derivada da função de Green com relação à
profundidade zB :
∂G 1 iω
= − cos α − exp(iωτ ) (2.7.48)
∂zB R2 vR
Com a equação 2.7.48, a integral de Rayleigh II, na forma da equação 2.7.46, trans-
forma-se na seguinte igualdade:
Z Z
1 1 iω
P (xA , yA , zA , ω) = 2π cos α − exp(iωτ )P (x, y, zB , ω) dxdy (2.7.49)
R2 vR
Ly Lx
aplica-se a transformada inversa de Fourier à equação 2.7.49, com base nos teoremas da
derivada e do deslocamento (ver a Tabela 1.1, na página 19), ou seja,
∂
⇔ −iω
∂t
e
p(x, y, z, t − τ ) ⇔ P (x, y, z, ω) exp(iωτ )
As substituições apropriadas levam à seguinte versão da integral de Rayleigh II (com-
parar com a equação 2.2.28):
Z Z
1 1 1 ∂
p(xA , yA , zA , t) = 2π cos α + p(x, y, zB , t − τ ) dxdy (2.7.50)
R2 vR ∂t
Ly Lx
XX
1 ∂
1
p(xA , yA , zA , t) = 2π
cos α p(x, y, zB , t − τ ) ∆x∆y (2.7.52)
y x
vR ∂t
contorno de Dirichlet, leva à seguinte versão 2-D da integral de Rayleigh II, aplicável a
ondas ascendentes: Z
1 ∂G
P (xA , zA , ω) = − 2π P dx (2.7.53)
∂zB
Lx
para zB > zA .
O campo de pressões P satisfaz a versão 2-D da equação da onda dada pela equação
2.7.28, enquanto a função de Green é a solução da seguinte equação da onda:
∂2G ∂2G ω2
+ + 2 G = 4πδ(x − xA )δ(z − zA ) (2.7.54)
∂x2 ∂z 2 v
A solução desta equação, razoavelmente mais complicada do que a do caso 3-D, é
(1)
G(x, z, ω) = iπH0 (ωτ ) (2.7.55)
ou
G(x, z, ω) = iπ [J0 (ωτ ) + iY0 (ωτ )] (2.7.56)
(1)
onde H0 é a função de Hankel do primeiro tipo e ordem zero, enquanto J0 e Y0 são
funções de Bessel, caracterizadas por polinômios envolvendo a função Gama (ver Wylie,
1975). Por sua vez τ = R/v, sendo R dado por
p
R = |~r| = (xA − x)2 + (zA − zB )2 (2.7.57)
∂ h (1) i
(1)
H0 (ωτ ) = −ωH1 (ωτ )
∂τ
(1)
onde H1 é a função de Hankel de primeiro tipo e primeira ordem, ou seja,
(1)
H1 (ωτ ) = J1 (ωτ ) + iY1 (ωτ ) (2.7.58)
∂G iωπ h i
(1)
=− cos α H1 (ωτ )
∂zB v
(1)
É interessante observar que, para ωτ >> 1, a função de Hankel H1 pode se tornar
substancialmente mais simples (ver Press et al., 1986; Wylie, 1975), já que assume a
seguinte forma: r
2v 3π
H1 (ωτ ) ∼
(1)
= exp iωτ − i
πωR 4
Aplicando-se este resultado à equação 2.7.59, obtém-se a seguinte versão da integral de
Rayleigh II:
Z r
ω π
P (xA , zA , ω) = cos α exp iωτ − i P (x, zB , ω) dx (2.7.60)
2πvR 4
Lx
Observe-se que este resultado é possı́vel porque a derivada com relação a z, no ponto A,
não depende do campo de velocidade de partı́culas estimado na profundidade zB . Por
outro lado, levando em conta que R é definido pela expressão 2.7.36, pode-se transformar
a equação 2.7.66 em
Z Z
∂P iωρ 1 iω
= cos α − exp(iωτ )Vz (x, y, zB , ω) dxdy (2.7.67)
∂ zA 2π R2 vR
Ly Lx
Observe-se que este resultado corresponde à própria integral de Rayleigh II, aplicada a
campos de velocidade de partı́culas. Isto significa que se pode usar a integral de Rayleigh
II também para se extrapolar dados sı́smicos terrestres.
ω2
∇2 P = − P + 4πF (ω)δ(x − xs )δ(y − ys )δ(z − zs ) (2.7.69)
v2
e
ω2
∇2 G = − G + 4πδ(x − xA )δ(y − yA )δ(z − zA ) (2.7.70)
v2
onde s é o subscrito que identifica a fonte de energia e F (ω) é o espectro de freqüências do
pulso correspondente. Observe-se que a primeira equação governa a propagação completa
do campo de pressões gerado pela fonte primária de energia, o que inclui a onda direta e os
demais eventos registrados na profundidade zB . Por sua vez, a segunda equação governa
a propagação das ondas geradas nas fontes secundárias, situadas na profundidade z B .
A substituição dessas equações da onda na expressão 2.7.27 leva à necessidade de se
avaliar duas integrais volumétricas, uma envolvendo a fonte primária, situada na profun-
didade zs , e a outra as fontes secundárias, situadas na superfı́cie de registro zB . Com
base nas propriedades da função delta de Dirac, obtém-se:
Z
4πP (xA , yA , zA , ω) = 4πδ(x − xA )δ(y − yA )δ(z − zA )P dV (2.7.71)
V
e
Z
4πF (ω)Gs (xA − xs , yA − ys , zA − zs , ω) = 4πF (ω)δ(x − xs )δ(y − ys )δ(z − zs )GdV
V
(2.7.72)
onde Gs é a função de Green associada ao trajeto entre a fonte primária e o ponto A.
Observe-se que o resultado da segunda equação corresponde à onda direta gerada pela
fonte e “registrada” no ponto A.
As expressões 2.7.69 a 2.7.72 permitem transformar a equação 2.7.27 na seguinte
expressão: I
1
P (xA , yA , zA , ω) = F (ω)Gs + 4π (P ∇G − G∇P ) • ~ndS (2.7.73)
S
Deduz-se assim que o campo de pressões no ponto A pode ser descrito pela soma de
dois componentes: (1) a onda direta gerada pela fonte e; (2) o resultado da extrapolação
do sinal registrado na profundidade zB . Isto significa que, na ausência de uma fonte de
energia no volume de integração, as equações 2.7.33 e 2.7.74 tornam-se iguais, ou seja, a
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 213
primeira é um caso particular da segunda. Esta caracterı́stica leva a uma pergunta óbvia:
o campo de ondas avaliado na profundidade zB não inclui a onda direta? E, se este for o
caso, não haveria uma distorção na resposta obtida?
Esta aparente contradição pode ser resolvida com base na mesma linha de raciocı́nio
empregada na dedução da equação 2.7.44. Uma vez que a fonte primária de energia
está situada acima dos receptores, pode-se dizer que a onda direta é exclusivamente
descendente na superfı́cie S1 , ao longo da qual é feita a integração. Por outro lado,
sabe-se também que a função de Green G, empregada na mesma integração, é causal.
Combinadas com o fato de que o ponto A se situa acima da superfı́cie S1 , estas duas
propriedades fazem com que a integração cancele a onda direta obtida na profundidade
zB , o que representa uma aplicação do teorema da extinção. Assim, no ponto A, a
contribuição direta da fonte passa a depender exclusivamente do termo que envolve a
função de Green Gs .
Pode ser instrutivo analisar o que ocorreria se a fonte primária de energia se situasse
abaixo da superfı́cie S1 . Neste caso, a fonte não estaria contida no volume de integração
e, em conseqüência, a onda direta faria parte do campo ascendente na mesma superfı́cie.
Isto significa simplesmente que a equação 2.7.73, ou 2.7.74, não mais seria aplicável, sendo
necessário recorrer à expressão 2.7.32, ou 2.7.33.
Até agora nada foi dito a respeito da superfı́cie livre, situada acima da fonte. Em
condições realistas, a mesma superfı́cie faz com que se introduza, no interior do volume
de integração V , novas fontes de energia, levando à introdução de outros fenômenos, como
é o caso dos fantasmas. Nestas condições, deve-se alterar as funções de Green G e G s , o
que, para a inclusão dos fantasmas, implica transformá-las em formas de onda dipolares.
Além disso, a mesma superfı́cie é responsável também pelas múltiplas da superfı́cie livre,
a serem discutidas no item 2.8.
s g SUPERFÍCIE
zA
rs rg
θ
θ
B
zB S
n
GD
s (x − xs , y − ys , zB − zA , ω) = As Cs (ω) exp [iωτs + iφs (ω)] (2.7.76)
onde D denota sentido descendente e o subscrito s identifica a fonte. Por sua vez, As e
τs são, respectivamente, a amplitude e o tempo envolvidos no trajeto, enquanto Cs (ω) e
φs (ω) representam as demais distorções de amplitude e fase sofridas pelo sinal.
Da mesma forma, os fenômenos envolvidos no trajeto entre o ponto B e o receptor
podem ser descritos com base na seguinte na seguinte aproximação de alta freqüência
2.7. EXTRAPOLAÇÃO DE CAMPOS DE ONDAS 215
Nesta equação, o coeficiente de reflexão é tratado como constante, ou seja, para cada
ponto difrator ele não varia durante a integração, embora possa variar com o ângulo de
incidência. Observe-se ainda que o sinal negativo da integral aparece porque, apesar de
o campo P ser descendente na profundidade zB , procura-se obter o sinal ascendente na
profundidade zA , a qual é menor do que zB . Desta forma, garante-se a correta polaridade
do sinal obtido (ver discussão sobre a integral de Kirchhoff).
A equação 2.7.79 pode ser simplificada se, com base no princı́pio da reciprocidade, a
função de Green associada à fonte for considerada também ascendente. Desconsideran-
do-se o caso em que a superfı́cie S assume formas muito complexas, o mesmo princı́pio
permite afirmar que a única implicação dessa mudança é a troca do sinal do gradiente da
mesma função de Green, o que permite obter a seguinte versão da equação 2.7.79:
I
1
P (xs , ys , xg , yg , zA , ω) = − 4π (rGs ∇Gg + rGg ∇Gs ) • ~n dS (2.7.80)
S
29
No caso das múltiplas da superfı́cie livre, adota-se um tratamento à parte, discutido no item 2.8.
216 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
onde as duas funções de Green são consideradas ascendentes. Ou seja, ainda de acordo
com a aproximação de alta freqüência,
e
Gg = Gg (xg − x, yg − y, zA − zB , ω) = Ag Cg (ω) exp [iωτg + iφg (ω)] (2.7.82)
A equação 2.7.80 corresponde à seguinte forma da aproximação Kirchhoff:
I
1
P (xs , ys , xg , yg , zA , ω) = − 2π r∇G • ~n dS (2.7.83)
S
G = 21 Gs Gg (2.7.84)
onde Gs e Gg podem ser definidas pelas equações 2.7.81 e 2.7.82, ou alternativamente, es-
timadas de forma a considerar uma faixa de freqüências representativa dos dados sı́smicos.
Como, na forma apresentada aqui, a propagação de ondas é um processo linear, o
modelo da equação 2.7.83 pode ser generalizado de forma a incluir múltiplos pontos
difratores. Neste caso, pode-se aplicar isoladamente a mesma equação a cada difrator
e acumular a sua contribuição no volume final, ou, alternativamente, pode-se aplicar a
equação 2.7.83 a múltiplos difratores, representados na forma de uma soma de produtos
entre coeficientes de reflexão e funções de Green. Ou seja, como se trata de um processo
convolutivo, a ordem da operação não afeta o resultado. Esta idéia é explorada na
discussão sobre as múltiplas da superfı́cie livre (item 2.8).
P (xs , ys , xg , yg , z = 0, ω) = 0
s(xs , ys , xg , yg , z = 0, t) ⇔ P (xs , ys , xg , yg , z = 0, ω)
Deve-se observar que, no processo descrito, as duas funções de Green foram tratadas na
forma da aproximação de alta freqüência e, além disso, desprezaram-se os correspondentes
termos de campo próximo. Como alternativa de melhor qualidade, pode-se utilizar o
218 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
A flexibilidade da aproximação Kirchhoff é ampla o suficiente para, com uma simples troca
da função de Green empregada no processo, possibilitar a modelagem sı́smica baseada
no modelo do refletor explosivo. Neste caso, as equações 2.7.52 e 2.7.61 poderiam ser
vistas como casos particulares da equação 2.7.83 e, desta forma, ser utilizadas para uma
descrição das caracterı́sticas de uma difração em seções empilhadas, caracterı́sticas estas
que não são evidentes quando se analisa a expressão 2.7.83.
Com base na equação 2.7.52, pode-se dizer que uma difração em um meio tridimensi-
onal homogêneo, observada longe do difrator, apresenta as seguintes caracterı́sticas: (1)
a amplitude é inversamente proporcional à distância percorrida, o que inclui a perda pelo
espalhamento da energia; (2) a amplitude é diretamente proporcional ao cosseno de α, o
que introduz o fator de obliqüidade; (3) no domı́nio da freqüência, a amplitude é propor-
cional à freqüência e a fase é deslocada em −900 , ambas estas caracterı́sticas associadas
à presença da operação de derivada.
No caso 2-D, a integral de Rayleigh, na forma da equação 2.7.61, implica uma difração
com as seguintes caracterı́sticas: (1) a amplitude é inversamente proporcional à raiz
quadrada da distância percorrida, o que inclui a perda pelo espalhamento da energia; (2)
a amplitude é diretamente proporcional ao cosseno de α, ou ao fator de obliqüidade; (3)
no domı́nio da freqüência, a amplitude é multiplicada pela raiz quadrada da freqüência
e a fase é deslocada em −450 . Estas caracterı́sticas permitem compreender melhor a
amplitude e a fase das formas de onda incluı́das nas figuras 2.20 e 2.19 (página 101), que
foram geradas através da versão 2-D da integral de Rayleigh II. Percebe-se, na Figura
2.20, que a amplitude cai com o aumento do tempo e, neste caso de forma menos evidente,
a fase do sinal é de −450 , ao invés de zero, que foi a fase do pulso empregado na geração
da figura.
30
Este resultado pode ser demonstrado matematicamente com base na aplicação, à equação 2.7.83, do
conceito de fase estacionária (Bleistein, 1984).
220 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
2.8.1 Absorção
Define-se absorção como a perda de amplitude e a deformação na fase do sinal, associadas
ao comportamento apenas parcialmente elástico das rochas, que oferecem resistência à
vibração das partı́culas e, consequentemente, à propagação da onda. A absorção pode,
portanto, ser analisada como dois fenômenos diferentes, atuando sobre o espectro do pulso
sı́smico: a atenuação, que deforma o espectro de amplitude, e a dispersão, que deforma
o espectro de fase. Ver-se-á adiante como esses dois fenômenos se relacionam.
A absorção é um fenômeno contı́nuo, ou seja, a cada trecho infinitesimal de percurso
de um pulso qualquer, a forma de onda é alterada. É fácil induzir que, para uma boa
análise do tema, é conveniente o recurso à equação da onda. Para isto, considere-se a
solução da equação da onda unidimensional, dada pela equação 2.7.4, aplicada ao caso
2.8. FONTES DE DISTORÇÃO DO SINAL SÍSMICO 221
Figura 2.58: Difração (no alto) e reflexão (embaixo) obtidas com a apro-
ximação Kirchhoff (2-D), no caso de um agrupamento de afastamento fonte-
receptor comum, após filtragem temporal (8-40Hz). O refletor correspon-
dente à reflexão apresenta dois trechos planos, um horizontal e outro inclinado
(mergulho de 310 graus), com vértice na coordenada horizontal indicada pelo
sı́mbolo •. Observe-se a forte distorção de fase e amplitude na região do ápice
da difração, a qual se deve ao fato de o coeficiente de reflexão ser complexo
na mesma região. Parâmetros: v1 = 2000m/s, v2 = 2200m/s, z = 250m,
h = 625m, ∆xm = 25m.
lógico que, por ser pelo menos aproximadamente constante, o fator Q é mais conveniente
do que α, para se representar o efeito da absorção sobre o pulso sı́smico.
O segundo fenômeno associado à absorção é a dispersão. Caracteriza este fenômeno
o fato de cada componente de freqüência viajar com velocidade própria, denominada
velocidade de fase. Nestas condições, o tempo de percurso, dado na equação 2.8.3 por
z/c, depende da freqüência, fazendo com que a forma de onda mude com o passar do
tempo. Em conseqüência, se um observador fixar o olho em um pico da forma de onda
que se propaga, ele verá que a posição do pico, em relação ao inı́cio da forma de onda,
muda com o tempo.
Para se descrever conjuntamente a atenuação e a dispersão, é necessário selecionar
uma freqüência de referência, cuja velocidade c0 represente a velocidade de propagação
do meio. Segundo o modelo de Futterman (1962), esta freqüência é próxima de zero, de tal
forma que praticamente todos os componentes de freqüência propagam-se com velocidades
maiores do que a do componente de referência. O mesmo fenômeno pode ser descrito de
forma alternativa, aceitando-se que a freqüência de referência seja arbitrária, podendo-se
utilizar, por exemplo, a freqüência de pico do sinal, ou a freqüência de Nyquist. Nesses
termos, a velocidade de fase c, com que cada componente de freqüência se propaga, pode
ser definida em função da freqüência de referência e do fator de qualidade Q, através da
seguinte equação (ver Kolsky, 1956; Futterman, 1962; Robinson, 1979):
c0
c∼= (2.8.7)
1 ω
1− ln
πQ ω0
onde ω0 é a freqüência angular de referência.
É possı́vel, agora, tratar a absorção como um todo, agrupando-se a atenuação e a
dispersão do sinal em uma única expressão. Assim, combinando-se as equações 2.8.3, 2.8.6
e 2.8.7, e substituindo-se a profundidade percorrida z por seu equivalente τ c0 , obtém-se
a expressão que descreve a propagação em um meio cujas propriedades dissipativas são
descritas pelo fator Q:
P (τ, ω) = B(τ, ω) exp(iωτ ) (2.8.8)
onde B(τ, ω), o operador de absorção, é dado por
ωτ ωτ ω
B(τ, ω) = exp − exp −i ln (2.8.9)
2Q πQ ω0
Ressalte-se que, na dedução desta equação, foi feita uma aproximação, no caso especı́fico
da amplitude, com base na premissa segundo a qual as freqüências sı́smicas satisfazem à
seguinte inequação:
2 ω
Q >> ln
ω ω0
a qual implica, na equação 2.8.6, a aproximação
ω
α∼ =
2c0 Q
Outra versão do operador de absorção B(τ, ω) pode ser obtida através da substituição
de ω por 2πf na equação 2.8.9. O resultado é
πf τ 2f τ f
B(τ, f ) = exp − exp −i ln (2.8.10)
Q Q f0
224 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
100
75
Amplitude (%)
Q=200
50
Q=100
25 Q=50
0
0 25 50 75 100 125 150
Freqüência (Hz)
100
75 Q=50
50 Q=100
Fase (graus)
Q=200
25
−25
−50
−75
0 25 50 75 100 125 150
Freqüência (Hz)
1.0
Amplitude normalizada
1s
0.5 2s
3s
0.0
0 50 100 150
Tempo (ms)
ft = δ t − p t + p t ∗ p t − p t ∗ p t ∗ p t + · · · (2.8.14)
F = 1 − P + P2 − P3 + ··· (2.8.15)
P = P (Z) = rZ 2m (2.8.16)
S = PF = P − P2 + P3 − P4 + ··· (2.8.17)
onde S é a transformada Z de st , ou seja, S = S(Z).
Deve-se observar que, embora a expressão 2.8.17 tenha sido deduzida a partir de um
coeficiente de reflexão isolado, o sinal P pode ser constituı́do por toda uma sucessão de
eventos primários, o que decorre da simples aplicação do modelo convolucional. Nestas
31
Ver-se-á adiante que a superfı́cie livre funciona como uma fonte secundária de energia, ativada a
cada vez em que um evento ascendente a atinge.
228 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
P
S= (2.8.19)
1+P
Com base neste resultado, conclui-se que, no caso 1-D, as múltiplas geradas na superfı́cie
livre podem ser obtidas através do filtro inverso correspondente ao termo 1 + P .
A simplicidade do caso de uma interface isolada é fundamental para avaliar a influência
das diversas ordens das múltiplas da superfı́cie livre. No mesmo sentido, justifica-se anali-
sar, no domı́nio da freqüência, o operador descrito pela expressão 2.8.14. A transformada
de Fourier correspondente pode ser facilmente obtida com base na seguinte forma da
expressão 2.8.15, obtida com base na expansão binomial já mencionada:
1
F (Z) = (2.8.20)
1 + rZ 2m
Generalizando-se a expressão 2.8.20 para o caso em que o coeficiente de reflexão da
interface superior pode assumir qualquer valor, o que inclui as múltiplas internas entre
duas interfaces quaisquer, tem-se:
1
Fij (Z) = (2.8.21)
1 + ri rj Z 2m
1.0
0.5
Amplitude
−0.5
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (ms)
Figura 2.62: Forma de onda da reverberação gerada na camada de
água, no caso em que o piso oceânico se encontra a uma profundidade
de 75m. O correspondente coeficiente de reflexão é igual a 0.5. O espa-
lhamento geométrico da energia foi desprezado.
Por sua vez, a equação 2.8.24 apresenta o seguinte comportamento: (1) o denominador
é sempre maior do que zero, já que o módulo de ri rj é sempre menor do que 1, portanto
restringindo a fase ao intervalo −900 < φ < 900 ; (2) nas freqüências iguais a 1/2qd e a
zero, a fase é igual a zero. De acordo com o que se viu no item 1.3, estas são caracterı́sticas
de um binômio com raiz fora do cı́rculo unitário, o que permite caracterizar as múltiplas
como um fenômeno de fase mı́nima.
Na Figura 2.62, vê-se um exemplo de operador que representa o efeito de filtragem
das reverberações, ou das múltiplas, no caso em que o coeficiente de reflexão do piso
marinho é igual a 1/2, a lâmina d’água tem 75m e o afastamento fonte-receptor é igual a
zero. Os correspondentes espectros de amplitude e de fase, matematicamente estimados,
podem ser vistos na Figura 2.63. Observe-se o caráter limitado da fase e a ressonância
nas freqüências de 5Hz, 15Hz, 25Hz, etc, as quais são identificadas com base na seguinte
forma da expressão 2.8.26:
(2n − 1)v
fn = (2.8.27)
4d
onde a velocidade v equivale a 1/q, uma vez que, no caso, a incidência é vertical (p = 0).
2.0
1.5
Amplitude
1.0
0.5
0
0 10 20 30 40 50
Freqüência (Hz)
30
15
Fase (graus)
−15
−30
0 10 20 30 40 50
Freqüência (Hz)
Figura 2.63: Espectros de amplitude e de fase correspondentes à forma de
onda da Figura 2.62.
Figura 2.64: Perfil de ruı́dos obtido na Bacia do Paraná. A escala vertical é dada em
segundos e as letras P e S identificam, respectivamente, eventos puramente compressio-
nais e eventos gerados por conversão de modo. (Figura extraı́da do relatório de Tassini
e Rosa, 1982).
de acordo com o padrão P-S-P, ou seja, são ondas compressionais nos sedimentos e cisa-
lhantes nos basaltos. Neste caso, o ângulo de emergência se aproxima do ângulo crı́tico
correspondente ao contraste entre a velocidade P dos sedimentos e a máxima velocidade
S das camadas de basalto.
Uma modelagem simples, baseada na teoria do raio, permite demonstrar que os sinais
oriundos de uma interface entre duas camadas de basalto apresentam concentração de
energia nas vizinhanças inferiores dos dois ângulos crı́ticos citados (Tassini e Rosa, 1982).
Nos dois casos, os coeficientes de transmissão no topo dos basaltos são expressivos e, como
as reflexões internas envolvem altos ângulos de incidência, os correspondentes coeficientes
também o são. Levando-se ainda em conta que um grande número de eventos — primários
e múltiplos — é assim gerado, entende-se porque as velocidades aparentes observadas na
Figura 2.64 tendem a se aproximar das máximas velocidades P e S do basalto, as quais
controlam os ângulos crı́ticos mencionados.
Esta linha de raciocı́nio permite entender apenas em parte as caracterı́sticas dos even-
tos vistos na Figura 2.64, uma vez que somente as intercalações das camadas de basalto
não são suficientes para explicar o forte padrão reverberante observado. A este respeito,
papel fundamental é exercido pelas caracterı́sticas da camada de sedimentos, em primeiro
lugar pelo fato de que as duas séries de eventos, P e S, apresentam ressonância evidente
234 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
angular temporal, ω, o resultado é descrito pela função Ps0 (x, ω), onde x representa as
coordenadas da linha de receptores, no centro da qual se situa a fonte, na coordenada
x = x s0 .
Nestas condições, os eventos presentes no sismograma teoricamente obtido são todos
gerados em subsuperfı́cie, sem qualquer outra restrição. Ou seja, incluem não somente re-
flexões, mas também múltiplas internas como, por exemplo, aquelas geradas em situações
como a da Figura 2.66. Adicionalmente, cada um desses eventos pode, também sem qual-
quer restrição, ter sido afetado por todos os fatores de propagação atuantes abaixo da
superfı́cie36 .
Levando em conta que a fonte é um impulso unitário e se situa na superfı́cie, pode-se
assumir que a função Ps0 corresponde, simultaneamente, à transformada de Fourier de
dois diferentes campos: (1) o campo de ondas que, gerado pela fonte s0 , interage com o
meio subjacente e retorna à superfı́cie livre e; (2) a função de Green associada ao trajeto
entre a fonte s0 , os espalhadores elásticos existentes em subsuperfı́cie e os receptores. Para
ilustrar o conceito, tome-se o exemplo de uma difração isolada: ela é, simultaneamente,
o campo de ondas ascendentes e a resposta, ao impulso, do meio. O mesmo se aplica a
uma soma de difrações.
Aprofundando-se a idéia, imagine-se ainda que um conjunto de sismogramas como o
descrito tenha sido adquirido ao longo de uma linha sı́smica e que na posição de cada
receptor exista também uma fonte. Neste caso, é possı́vel dizer que, em cada uma das
posições superficiais envolvidas no levantamento, existe um campo de ondas ascendentes
e uma função de Green a ela associados, ambos hipoteticamente isentos de qualquer
fenômeno devido à superfı́cie livre.
Considere-se agora que se deseja estimar as múltiplas da superfı́cie livre corresponden-
tes a um sismograma em particular. Levando em conta que se conhece o campo de eventos
primários e todas as funções de Green necessárias, conclui-se que a versão geométrica do
problema proposto poderia ser resolvida com base no princı́pio de Huygens. Aplicado
ao caso, este princı́pio implica tratar as funções de Green como “ondas secundárias”, as
quais são geometricamente idênticas às “ondas primárias”. No processo, a superfı́cie livre
corresponde a um refletor que, interagindo com o campo de ondas incidentes, dá origem
ao sinal refletido, sinal este que, no caso, é “registrado” na própria superfı́cie livre.
Para ilustrar a discussão, parte-se de um meio 1.5-D, ou seja, um meio em que os
diferentes sismogramas obtidos ao longo de uma linha sı́smica são todos iguais. Esta
foi a condição em que se construiu a Figura 2.67, na qual se percebe que a tangente
às ondas secundárias — geradas com a geometria da reflexão primária — corresponde
à múltipla de primeira ordem produzida pela superfı́cie livre. Conclui-se portanto que,
em um sismograma registrado em um meio 1.5-D, a geometria de uma múltipla pode ser
reproduzida exclusivamente com base na geometria da reflexão primária responsável por
ela.
A Figura 2.67, ainda que geometricamente correta, obviamente nada diz sobre as
amplitudes e as formas de onda. Para que estas caracterı́sticas sejam levadas em conta,
faz-se uso da aproximação Kirchhoff (subitem 2.7.5), a qual possibilita, através da integral
36
Obviamente, o sismograma descrito é hipotético, uma vez que a Natureza não permite isolar
fenômenos até este nı́vel. Entretanto, sabe-se que é conceitualmente possı́vel gerar um sismograma
sintético que inclua todos os fatores de propagação e, ao mesmo tempo, exclua os efeitos da superfı́cie
livre. Trata-se de um artifı́cio teórico fundamental para a dedução que se segue.
236 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
1
M1
RP
Tempo (s)
4
−10 −5 0 5 10
Afastamento da fonte (km)
Figura 2.67: Representação esquemática da aplicação do princı́pio de Huygens
à geração, em um sismograma, de uma múltipla de primeira ordem (M1 ), a
partir da reflexão primária correspondente (RP) e de suas equivalentes obtidas em
outros sismogramas. Cada sı́mbolo • indica um ponto do sismograma usado para
a geração de uma onda secundária (linha fina), a qual tem a geometria da reflexão
primária obtida com a fonte na mesma coordenada horizontal e é representada
verticalmente abaixo do ponto escolhido, de acordo com um deslocamento dado
pelo tempo do mesmo ponto. O meio é do tipo 1.5D, ou seja, o refletor é horizontal
e a velocidade é constante (3000m/s).
na seguinte expressão37 :
Z
∂Pg (x0 − x, ω)
Ms(1) (x0 − xs0 , ω) = rPs0 (x − xs0 , ω) dx (2.8.28)
0
∂z z=0
(1)
onde Ms0 representa, no domı́nio da freqüência, as múltiplas de primeira ordem corres-
pondentes a Ps0 , r representa o coeficiente de reflexão da superfı́cie livre e x0 indica a
posição do receptor escolhido. Por sua vez, Pg representa a transformada de Fourier do
registro correspondente a um agrupamento de fonte (ou receptor) comum, obtido com a
fonte (ou receptor) situada na coordenada x, de tal forma que, para x = xs0 , observa-se
a igualdade Pg = Ps0 .
A equação 2.8.28 é a representação matemática, no domı́nio da freqüência, das o-
perações descritas geometricamente através da Figura 2.67. Esta idéia torna-se mais
clara quando, na aplicação da mesma equação, admite-se um valor variável para x 0 e um
fixo para x (na figura, uma das posições identificadas pelo sı́mbolo •). Neste caso, um
único coeficiente de Ps0 , no afastamento fonte-receptor x − xs0 , é multiplicado por toda a
função ∂Pg (x0 − x, ω)/∂z, a qual é caracterizada pela fonte na posição x e os receptores
distribuı́dos de acordo com os afastamentos fonte-receptor x0 − x. Repetindo-se esta
operação para os diversos valores de x e acumulando os resultados, obtêm-se as múltiplas
de primeira ordem desejadas. Aliando-se estas idéias à própria forma da equação 2.8.28,
assumindo que r = −1 e negligenciando xs0 (que exerce um papel neutro), pode-se
transformá-la na seguinte expressão:
∂Pg (x, ω)
Ms(1) (x, ω) = −Ps0 (x, ω) ∗ (2.8.29)
0
∂z
∂Pg
Ms(k) = −Ms(k−1) ∗ (2.8.30)
0 0
∂z
(k−1)
onde, para k = 1, Ms0 = Ps0 e, para simplificar a notação, removeram-se as coordena-
das presentes na equação 2.8.29.
A equação 2.8.30, que representa uma ordem especı́fica das múltiplas geradas na su-
perfı́cie livre, é fundamental para a sintetização matemática do campo total de ondas,
incluindo todos os eventos possı́veis, primários e múltiplos. O resultado — sem a in-
37
Observe-se que, nesta equação, não aparece o fator 1/2π, presente na integral de Rayleigh II. Isto se
deve ao fato de que ele foi incorporado à função de Green, uma vez que o impulso unitário que caracteriza
a fonte não foi multiplicado por 4π, ao contrário do que estabelece a equação 2.4.53. Observe-se ainda
que, para facilitar a análise subseqüente, subtraiu-se xs0 de x e x0 , de tal forma que d(x − xs0 ) = dx e
x0 − xs0 − (x − xs0 ) = x0 − x.
238 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
onde k é a ordem da múltipla. (Um exercı́cio para o leitor: se todo o campo Ps0 fosse
substituı́do pela transformada de Fourier de uma reflexão isolada — como a do fundo do
mar — e Sg fosse mantido intocado, qual seria o resultado da aplicação desta equação?)
Aplicado à expressão 2.8.31, o conceito de meio 1.5-D implica aceitar que os diversos
campos, Pg , cada um deles caracterizado por uma função com centro na posição de
uma fonte ou receptor comum, são iguais. Entretanto, sabe-se que Pg não é lateralmente
38
Este é um resultado compatı́vel com a série de espalhamento de Born, aplicada ao caso em que o
meio de referência é um meio-espaço homogêneo e isotrópico, tipicamente constituı́do de pura água (ver
Ikelle et al., 2003).
2.8. FONTES DE DISTORÇÃO DO SINAL SÍSMICO 239
de reflexão multiplicada por −1. Ou seja, no domı́nio do tempo, a função m1 é dada por
N
X
m1 (l) = − rk rk−l , l>0 (2.8.35)
k=1
Observe-se que para N suficientemente grande, como no caso, o somatório de k/N 2 tende
a 1/2. Isto significa que a última expressão pode ser reescrita da seguinte forma:
l−1
X
1
m2 (l) = 2
m1 (j)m1 (l − j), l>0 (2.8.37)
j=1
Na dedução da equação 2.8.39, considerou-se que o sinal se propaga em uma só direção.
O equivalente ida-e-volta (two-way) pode ser obtido se for levado em conta que o filtro de
múltiplas, gerado na direção descendente e refletido abaixo da sucessão de N interfaces,
deve ser convolvido com o filtro gerado na direção ascendente. Adicionalmente, pode-se
242 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
demonstrar, com base na dedução da equação 2.8.35, que os dois filtros são idênticos.
Isto significa que, no domı́nio da transformada Z, o filtro de múltiplas ida-e-volta pode
ser obtido através da multiplicação do operador M (Z) por ele mesmo, o que equivale, na
equação 2.8.39, a multiplicar B(Z) por 2. Ou seja:
Até agora, nada foi dito a respeito do papel do coeficiente de transmissão. Consi-
derando que o sinal atravessa, nas duas direções, a sucessão de N interfaces, a perda
total de amplitude do filtro, devida ao coeficiente de transmissão, pode ser dada pela
equação 2.6.53. Observe-se, na mesma equação, que os termos do somatório envolvem
o quadrado dos coeficientes de reflexão, o que permite associar o resultado ao desloca-
mento nulo da autocorrelação correspondente. Desta forma, assumindo-se novamente que
a função refletividade é estacionária, pode-se transformar a equação 2.6.53 na seguinte
aproximação:
1 1
TN ∼
= exp −C(0) + 2
C (0) − 3
C (0) + · · ·
2N 3N 2
onde C(0) é o valor, no deslocamento igual a zero, da autocorrelação da série de coefici-
entes de reflexão, cuja transformada Z é C(Z). Para valores suficientemente grandes de
N , obtém-se a seguinte aproximação, equivalente à equação 2.6.54:
TN ∼
= exp [−C(0)] (2.8.41)
ou, já que, para τ > 0, a função B(τ ) é igual à função C(τ ),
onde C(ω) é o espectro de potência da função refletividade. Com base neste resultado e
na teoria apresentada no item 1.5, pode-se concluir que o filtro estratigráfico tem espectro
de fase mı́nima. O leitor poderá comprovar esta caracterı́stica analisando as semelhanças
e diferenças entre o resultado obtido e as expressões 1.5.21 a 1.5.24 .
Para estabelecer a forma final do filtro estratigráfico, O’Doherty e Anstey introduzi-
ram, no espectro de potência da série de coeficientes de reflexão, C(ω), a normalização
pelo tempo duplo de trajeto τr = N ∆τ , o que resulta na função D(ω) = C(ω)/τr . Com
esta providência, a equação 2.8.46 pode ser representada da seguinte forma (ver, por
exemplo, Frazer, 1994):
F (ω) = exp(iω2zSst ) (2.8.47)
Nesta expressão, z é a distância vertical percorrida pela onda e Sst é uma função complexa
com dimensão de vagarosidade, ou inverso da velocidade, dada por
1
Sst = [DH (ω) + iD(ω)] (2.8.48)
ωv
onde v é a velocidade de propagação do meio (ou seja, v = 2z/τr ) e DH é o resultado
da convolução entre o filtro de quadratura, 1/πω, e o espectro de potência normalizado,
D(ω).
Analisando-se a expressão 2.8.47, percebe-se que o filtro estratigráfico pode ser des-
crito como um fenômeno de fase mı́nima que atua de forma recursiva. Esta caracterı́stica
é melhor explicitada através da seguinte equação39 :
onde S(τ − ∆τ, ω) é a transformada de Fourier do traço sı́smico que seria obtido na
pseudo-profundidade indicada, τ − ∆τ , a partir da atuação do filtro estratigráfico sobre
a transformada de Fourier do traço correspondente à pseudo-profundidade τ . Ou seja,
a cada intervalo de pseudo-profundidade, o filtro e, conseqüentemente, o traço sı́smico
obtido são modificados.
Uma caracterı́stica importante do filtro estratigráfico é sua dependência com relação
ao comportamento espectral da série de coeficientes de reflexão. Como se viu no item
2.6, a autocorrelação da série de coeficientes de reflexão é, normalmente, azul, ou seja,
os componentes de alta freqüência apresentam maiores amplitudes do que os de baixa
freqüência. Esta tendência, observada por diversos autores (ver, por exemplo, Rosa e
Ulrych, 1991), faz com que o filtro estratigráfico, na forma da equação 2.8.46, atenue
mais fortemente os componentes de alta freqüência, atuando como um filtro corta-altas.
Nos casos estudados por Schoenberger e Levin (1974), a atuação do filtro estratigráfico
poderia ser responsável por uma fração entre um terço e metade da atenuação depen-
dente da freqüência. Ressalte-se, entretanto, que conclusões deste tipo são normalmente
39
Sugere-se ao leitor comparar esta equação com a expressão 2.8.13.
244 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
1 1 1
= + (2.8.50)
QT OT AL Qst Q
ω
D(ω) = (2.8.51)
2Qst
Ou seja, D(ω) deveria ser proporcional à freqüência, o que está parcialmente de acordo
com os trabalhos já publicados sobre o tema (ver o item 2.6).
Na forma proposta por O’Doherty e Anstey (1971), a teoria do filtro estratigráfico
pode ser facilmente estendida ao caso em que a propagação é oblı́qua, bastando, para
isto, analisar o tema no domı́nio τ -p. Neste caso, induz-se, com base na discussão apre-
sentada no item 2.6, que o fator de qualidade estratigráfico, Qst , deve ser inversamente
proporcional ao parâmetro de raio, p. Este é um resultado, obtido também por Shapiro
et al. (1994), que certamente deve ser levado em conta quando se analisa a anisotropia
atribuı́da a folhelhos finamente laminados.
Deve-se ressaltar que a denominação “filtro estratigráfico” pode levar à indução de
que o microacamamento é o único fator responsável pela atenuação elástica dos com-
ponentes de alta freqüência do sinal sı́smico. Na verdade, esta é uma aproximação de
primeira ordem, induzida pela simplicidade de um meio acamadado. Uma denominação
mais adequada, capaz de incorporar outros aspectos do problema, é: “filtro de microes-
palhamento”. A razão para esta idéia é simples: a heterogeneidade do meio geológico,
responsável pelo filtro em discussão, não é unicamente associada ao microacamamento,
mas também a outras descontinuidades de pequena escala, as quais incluem até mesmo a
granulação das rochas e, conseqüentemente, introduzem um importante componente la-
teral no processo, semelhante ao ilustrado pela Figura 2.66. Observe-se que as dimensões
desse tipo de heterogeneidade impedem que ela seja adequadamente tratada através de
técnicas convencionais de imageamento. Esta caracterı́stica explica o recurso à estatı́stica,
adotado por O’Doherty e Anstey e por diversos outros pesquisadores que os sucederam
(ver, por exemplo, Banik et al., 1985; Frazer, 1994; Shapiro et al., 1994).
2.8. FONTES DE DISTORÇÃO DO SINAL SÍSMICO 245
O P
0
φ
Profundidade (km)
θ
1
A
−3 −2 −1 0 1 2 3
Distância da fonte (km)
mente menor do que o comprimento de onda dominante do pulso sı́smico (ver Backus,
1962; Berryman, 1979). Assim, muitos folhelhos, por serem finamente laminados, podem
ser caracterizados como anisotrópicos, mesmo que cada uma de suas lâminas não seja
constituı́da de substâncias intrinsecamente anisotrópicas. Ressalte-se que, para que o
fenômeno seja efetivo, é também necessário que as propriedades elásticas das camadas
que se intercalam sejam razoavelmente diferentes.
Os folhelhos com as caracterı́sticas descritas têm sido usados como bons exemplos da
forma de anisotropia mais simples — a anisotropia de meios transversalmente isotrópicos,
ou TI —, nos quais as propriedades elásticas dependem apenas da profundidade mas não
da posição horizontal (mais especificamente, não variam na direção paralela às camadas).
No que diz respeito à influência do fenômeno sobre as velocidades sı́smicas, um artigo
clássico é o de Banik (1984). Na mesma linha, um exemplo particularmente importante é
o dos folhelhos geradores de petróleo, que correspondem, na direção vertical, a uma pilha
de intercalações entre minerais argilosos e matéria orgânica.
Percebe-se facilmente que, nesta discussão, está envolvido um problema de escala. Afi-
nal de contas, pode-se sempre imaginar um pulso sı́smico com tal conteúdo de freqüências
que as laminações de um folhelho qualquer poderiam ser tratadas como camadas rela-
tivamente espessas. Por outro lado, sabe-se que, no trajeto entre o topo e a base do
mesmo folhelho, a distância percorrida nas camadas de maior velocidade é proporcional
ao parâmetro de raio, p, o que se dá de forma independente da escala (ver as equações
2.5.28, 2.5.29 e 2.5.30). Assumindo-se que o folhelho seja constituı́do por intercalações de
materiais de alta e baixa velocidade, a conseqüência prática desta tendência é a seguinte:
quanto mais horizontal é o trajeto, maior é a velocidade média medida ao longo do raio.
Considere-se agora a condição necessária para a ocorrência de anisotropia em meios
TI, ou seja, cada camada do folhelho tem espessura muito menor do que o comprimento
de onda representativo do pulso sı́smico. No caso, a interferência dos eventos gerados
nas múltiplas interfaces leva a pelo menos três importantes conseqüências: (1) torna-se
muito difı́cil estabelecer como as velocidades P das camadas internas do folhelho afetam
a cinemática da propagação; (2) mesmo em trajetos curtos, as velocidades medidas nas
direções vertical e horizontal tendem a ser substancialmente diferentes; (3) o raio, caracte-
rizado pela linha reta que conecta os picos de máxima energia, deixa de ser perpendicular
à frente de onda quando o parâmetro de raio torna-se maior do que zero.
A caracterização de um meio como o descrito não é um problema trivial, apesar de
suas propriedades não variarem lateralmente. No que diz respeito à velocidade P, pode-se
adotar o conceito de meio efetivo, na forma proposta por Backus (1962). Com base no
mesmo trabalho, a velocidade P efetiva da rocha, vP E , medida na direção vertical, pode
ser dada por
s
ME
vP E = (2.8.52)
ρ̄
onde ρ̄ é a média aritmética das densidades. Por sua vez, ME é o módulo efetivo da onda
P, dado pela seguinte média harmônica:
!−1/2
1 X dn
ME = (2.8.53)
D n vP2 n ρn
2.8. FONTES DE DISTORÇÃO DO SINAL SÍSMICO 247
O P
φ
∆θ ∆θ
A
Profundidade
C
φ−θ
τ θ
B D
∆τ
τ+
Distância
ou seja, a velocidade com que avança a frente de onda ao longo da direção normal a ela,
definida pelo ângulo de fase, θ.
Observe-se entretanto que, no mesmo tempo τ + ∆τ , a onda atingiu também o ponto
C, o qual se alinha com a fonte O e o ponto A. Considerando as dimensões envolvidas,
isto significa que a velocidade correspondente ao trajeto AC, denominada vg , é neces-
sariamente maior do que a velocidade correspondente ao trajeto AB. Por extensão, a
energia que abandona a fonte não está viajando de fato com a velocidade v f mas sim com
a velocidade vg , a qual é a velocidade efetivamente medida no ponto C. Percebe-se assim
a analogia entre as velocidades envolvidas e as velocidades de fase e de grupo.
Analisando-se a Figura 2.70, pode-se agora perguntar: (1) qual é a relação entre o
ângulo de fase, que caracteriza a frente de onda, θ, e o ângulo que define o trajeto do
raio, φ? (2) qual é a relação entre a velocidade de fase, vf , e a velocidade de propagação
ao longo do raio, vg , ou seja, entre os pontos A e C? Para responder a estas perguntas,
considere-se que as retas identificadas por τ e τ + ∆τ são tangentes a duas frentes de
onda nos pontos A e B, ambas centradas no ponto P . Aplicam-se ao caso as seguintes
igualdades:
2 2 2
AC = AB + BC = (vg ∆τ )2 (2.8.54)
e
BC = AB tan (φ − θ) = vf ∆τ tan (φ − θ) (2.8.55)
Observe-se que, para um ponto fixo P , a distância BC pode também ser relacionada à
variação do ângulo de fase, ∆θ, e, em conseqüência, à variação da velocidade de fase,
∆vf . Se ∆θ for considerado um ângulo infinitesimalmente pequeno, a relação obtida é
2.8. FONTES DE DISTORÇÃO DO SINAL SÍSMICO 249
dada por
BD ∆vf
BC = = ∆τ (2.8.56)
∆θ ∆θ
No limite em que ∆τ tende a zero, as expressões 2.8.54, 2.8.55 e 2.8.56 permitem a
obtenção das seguintes igualdades:
1 dvf
tan (φ − θ) = (2.8.57)
vf dθ
ou, com base em relações trigonométricas,
dvf
vf tan θ +
tan (φ) = dθ (2.8.58)
dvf
vf − tan θ
dθ
e, escrevendo o teorema de Pitágoras em termos de produtos entre velocidade e tempo,
2 2
dvf 2
vg = v f + (2.8.59)
dθ
Conforme demonstrou Berryman (1979), o último resultado pode também ser obtido com
base na definição da velocidade de grupo, ou seja,
2 2
2 dω dθ dω dθ 2
dvf 2
vg = + = vf + (2.8.60)
dθ dKx dθ dKz dθ
Com as expressões 2.8.58 e 2.8.59, criam-se condições para obter a velocidade com a
qual se estima o tempo de trajeto em um meio TI. No caso de uma camada homogênea
como a da Figura 2.70, aplica-se a seguinte expressão:
z
t= (2.8.61)
vg cos φ
onde α = (vP2 − vS2 )/vP2 , sendo vP e vS as velocidades efetivas, P e S, do meio. Por sua
vez, ε e δ são constantes introduzidas por Thomsen (1986) e definidas, em termos da
velocidade de fase, por
v2 − v2
ε= h 2 P (2.8.63)
2vP
250 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
e 2
2 vq2 − vP2 α−ε α 2 + ε2
δ= 2
+ − (2.8.64)
α vP 2 2α
onde vh e vq são as velocidades de fase vf (π/2) e vf (π/4), ou seja, medidas nas direções
θ = 900 e θ = 450 .
A equação 2.8.62 não é linear e, além disso, exige o conhecimento da razão vP /vS .
Uma versão mais simples da mesma equação, obtida por Thomsen (1986), e que se baseia
na idéia de anisotropia fraca — válida para módulos de ε e δ próximos de zero —, é a
seguinte aproximação:
v̂f (θ) ∼
= vP 1 + 2δ sen 2 θ + 2(ε − δ) sen 4 θ (2.8.65)
Com as expressões obtidas até agora, pode-se entender melhor a Figura 2.69, a qual
representa um exemplo simples de anisotropia em um meio TI. A mesma teoria foi usada
para ilustrar, através da Figura 2.71, a relação entre o ângulo de fase, θ, e as razões
vg /vP , vf /vP e φ/θ. Percebe-se, na figura, que as velocidades de fase e de grupo são
iguais quando os ângulos de fase são 00 e 900 . O mesmo ocorre com a relação entre os
ângulos de fase e de grupo quando θ = 900 mas não quando θ = 00 , o que se deve ao fato
de que, no limite em que θ tende a zero, φ tende a θ(1 + 2δ).
As equações 2.8.57 a 2.8.64, que não incluem qualquer aproximação, são de aplicação
prática relativamente difı́cil, particularmente no contexto da técnica CDP, para a qual
é necessário estabelecer relações simples entre as propriedades do meio e os tempos de
reflexão. Estas foram as razões que motivaram Alkhalifah e Tsvankin (1995) a, com
base nos trabalhos de Hake et al. (1984) e Tsvankin e Thomsen (1994), obter a seguinte
expressão42 (ver as equações 2.5.56 a 2.5.59):
2 x2 2ηx4
t = t20 + 2
− 2 (2.8.67)
vN MO vN M O [t20 vN
2 2
M O + (1 + 2η)x ]
160
150
C
140
Percentagem
130
A
120
110
100
0 30 60 90
Ângulo de fase (graus)
Figura 2.71: Razões, em percentagem: (A) vg /vP ; (B) vf /vP ; (C) φ/θ. A
linha tracejada representa, também em percentagem, a razão v̂ f /vP (equação
2.8.65). Parâmetros: ε = 0.5; δ = 0.1; vP = 2000m/s e; vP /vS = 2.
Uma vez que, no limite em que x tende a zero, vg = vf = vP e sen φ/ sen θ = 1 + 2δ,
pode-se obter o seguinte resultado, aplicável a uma camada isolada (ver Thomsen, 1986):
2 sen φ
vN M O = lim vg vf = vP2 (1 + 2δ) (2.8.69)
x→0 sen θ
No caso de múltiplas camadas, a velocidade NMO é computada de forma similar à da
velocidade RMS (equação 2.5.60). O resultado é:
2 1X 2
vN MO = v (1 + 2δi )∆t0,i (2.8.70)
t0 i Pi
50
40
30
A
20 B
Erro (ms)
10
−10 A B
−20
−30
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
Figura 2.72: Erro nos tempos de reflexão, estimados em um meio TI, no caso
de um refletor situado a uma profundidade de 2500m, para uma velocidade P
de 2500m/s. As diferenças de tempo positivas correspondem aos erros obtidos
com a aproximação hiperbólica e velocidade também igual a 2500m/s. As
negativas correspondem ao erro obtido com a equação 2.8.67. Parâmetros:
(A) ε = 0.3, δ = 0.02; (B) ε = 0.1, δ = 0.02; nos dois casos, v P /vS = 2.
onde w(t) é a assinatura da fonte, propriamente dita. Os demais termos são as respostas,
ao impulso, dos seguintes processos: i(t), o instrumento, ou sismógrafo, com seus filtros;
h(t), o geofone, ou hidrofone; g(t), a combinação dos fantasmas da fonte e dos receptores;
a(t), a combinação dos arranjos de tiro e receptores e; e(t), o filtro da terra.
Com exceção do filtro da terra, todos esses componentes são discutidos em seguida,
com ênfase na influência de cada um deles sobre a forma do pulso sı́smico. Ressalte-
se que se poderia especificar mais algumas fontes de distorção do pulso sı́smico, como
o acoplamento da fonte e dos receptores, cujos efeitos são desprezados aqui, por dois
motivos: (1) a variação lateral desse tipo de fenômeno, nas operações terrestres, é muito
grande, tornando-se difı́cil modelá-lo; (2) no mar, por outro lado, ele se torna pouco
importante.
air-gun, parcialmente isento dos efeitos dos fantasmas e do instrumento, restando ainda
os do receptor e do arranjo de tiro, juntamente com a assinatura da fonte. Na Figura
2.4 (página 71), pode-se ver o mesmo pulso antes da deconvolução que levou ao pulso da
Figura 2.74.
Em função da rápida liberação de energia propiciada pelas fontes explosivas, as for-
mas de onda resultantes apresentam caracterı́sticas muito próximas de um pulso de fase
mı́nima, como se pode inferir com base na Figura 2.74. Assim, esse tipo de fonte torna-
se especialmente adequado para a aplicação de filtros inversos causais, ou seja, para a
deconvolução de fase mı́nima, conforme se verá no Capitulo 3. Ressalte-se que a forma
de onda da Figura 2.74, obtida no mar, pode, como primeira aproximação, representar
também a assinatura da fonte correspondente à dinamite, em terra.
Entre as fontes com forma de onda não controlada que exigem a gravação do pulso
correspondente, as mais conhecidas são o Vaporchoc e o water-gun, ou canhão de água.
A primeira delas foi muito usada na década de 1970. Ambas as fontes produzem pulsos
com caracterı́sticas de fase misturada, tornando-se, por isso, pouco adequadas para a
aplicação de deconvolução de fase mı́nima. Visando compensar essa deficiência, a forma
2.9. O PULSO SÍSMICO E SEUS COMPONENTES 255
de onda gerada pela fonte é gravada simultaneamente aos dados sı́smicos, facilitando,
portanto, a aplicação de filtros de forma, durante o processamento.
1.00
0.75
Amplitude
0.50
0.25
−0.25
−50 0 50 100 150
Tempo (ms)
se possı́vel usar filtros digitais, da famı́lia FIR (Finite-duration Impulse Response), que
admitem espectro linear de fase e a possibilidade de posicionar a máxima amplitude no
tempo t = 0. Na Figura 2.76, pode-se ver a resposta, ao impulso, de um exemplo desta
geração de instrumentos.
Considere-se agora a resposta, ao impulso, dos receptores, h(t). Neste caso, a corres-
pondente distorção de fase pode, dependendo das circunstâncias e do tipo de receptor,
ser bastante significativa. Na aquisição de dados sı́smicos, três tipos de receptor, ou sen-
sor, têm sido usados: geofone, hidrofone e acelerômetro. Dos três, o que exige análise
mais profunda é o geofone, uma vez que os outros dois apresentam resposta, ao impulso,
aproximadamente igual a um impulso unitário, conseqüentemente afetando muito pouco
a forma do sinal sı́smico. No caso particular do acelerômetro, isto se deve ao uso de sen-
sores sofisticados, da famı́la MEMS (sigla em inglês para sistema micro-eletro-mecânico),
que não apresenta as deficiências dos equipamentos antigos. Quanto ao hidrofone, um
sensor piezoelétrico, deve-se fazer uma ressalva: a eventual conexão com um transforma-
dor faz com ele se comporte de forma similar a um geofone e, portanto, possa ser tratado
da mesma forma.
h(t) são descritos pelas seguintes expressões (ver Aki e Richards, 1980, páginas 478-482)44 :
1
A(ω) = q (2.9.3)
(1 − R2 )2 + (2aR)2
e
−1 2aR
φ(ω) = − tan (2.9.4)
(1 − R2 )
onde a é o fator de amortecimento e R é a razão entre a freqüência angular de ressonância
ω0 e a freqüência angular ω, ou seja,
ω0
R=
ω
A tı́tulo de exemplo, os espectros de amplitude e fase correspondentes a um geofone
— com freqüência de ressonância de 10Hz e fator de amortecimento igual a 0.7 — são
apresentados na Figura 2.77. Como em todos os geofones do mesmo tipo, a fase, na
freqüência de ressonância, é igual a −90 graus, de acordo com a convenção adotada aqui.
Não se percebe, na figura, a importância do fator de amortecimento. A este respeito, deve-
se dizer que, se a se aproximasse de zero, a amplitude, na freqüência de ressonância, seria
muito alta. Para evitar este problema e tornar o espectro de amplitude de h(t) similar
ao de um filtro corta-baixas,√os fatores de amortecimento devem ser relativamente altos.
Um valor representativo é √ 2/2, o qual redunda em uma amplitude, na freqüência de
ressonância, também igual a 2/2.
Na Figura 2.78, vê-se a forma da função h(t) correspondente aos parâmetros usados
na construção da Figura 2.77. Vê-se também o efeito da filtragem da mesma resposta com
três faixas de freqüência distintas, filtragem esta aplicada através de produtos no domı́nio
da freqüência. É digno de destaque, nas duas figuras, o fato de que um geofone trata
com pequena distorção de fase e amplitude os componentes de freqüência mais alta, ao
mesmo tempo em que altera significativamente os componentes situados nas vizinhanças
e abaixo da freqüência de ressonância, na qual ele se comporta praticamente como um
acelerômetro.
Geofones, hidrofones e acelerômetros transformam em eletricidade grandezas fı́sicas
diferentes, conforme resumido na Tabela 2.2, a qual foi construı́da com base em conceitos
apresentados no item 2.4. No caso de um geofone tı́pico, cuja grandeza fı́sica envolvida —
a velocidade de partı́culas — é vetorial, existe a possibilidade de se determinar o sentido
da onda e, na aquisição com três componentes (3C), também a direção. O mesmo ocorre
44
Também com base no livro de Aki e Richards (1980), particularmente no texto das páginas 480 a
482, é possı́vel obter uma descrição direta da função h(t). É ela:
ω0 ∆t exp(−aω0 t) 2
2a − 1 sen (ω0 At) − 2aA cos (ω0 At) , para a < 1, t > 0
A
h(t) = ω0 ∆t (ω0 t − 2) exp(−ω0 t), para a = 1, t > 0
n o
ω0 ∆t (a − B)2 exp [−ω0 t (a − B)] − (a + B)2 exp [−ω0 t (a + B)] , para a > 1, t > 0
2B
√ √ (2.9.2)
onde ∆t é o intervalo de amostragem, A = 1 − a2 e B = a2 − 1. Nos três casos, a função h(t) é igual
a zero para t < 0 e é estimada numericamente quando t = 0.
258 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
100
Amplitude (%)
50
0
0 20 40 60 80 100
Freqüência (Hz)
0
Fase (graus)
−90
−180
0 20 40 60 80 100
Freqüência (Hz)
Figura 2.77: Espectros teóricos de amplitude e de fase corresponden-
tes a um geofone com fator de amortecimento de 0.7 e freqüência de
ressonância de 10Hz.
com o acelerômetro, o qual pode ser “reduzido” a um geofone através de uma integração,
ao longo do eixo dos tempos, do sinal obtido. Quanto ao hidrofone, que é sensı́vel à
variação de pressão, não há condições de se definir direção e sentido da onda.
Para reforçar a diferença entre um geofone e um hidrofone, considere-se o caso em
que o primeiro é um equipamento convencional, voltado para o registro do componente
vertical da velocidade de partı́culas. Neste caso, levando em conta a incidência oblı́qua,
a correspondente medida é dada por
∂uz ∂u
= cos θ (2.9.5)
∂t ∂t
onde u é o deslocamento de partı́culas medido na direção em que a onda se propaga
(não é um vetor) e θ é o ângulo que o raio faz com a direção vertical. Por outro lado,
demonstrou-se no item 2.4 que a variação de pressão, p, e a velocidade de partı́culas,
∂u/∂t, se relacionam através da seguinte expressão:
∂u
p = −vρ (2.9.6)
∂t
2.9. O PULSO SÍSMICO E SEUS COMPONENTES 259
0−20Hz
0
Amplitude
0−40Hz
0
0−60Hz
0
−20 0 20 40 60 80
Tempo (ms)
100
75
Amplitude (%)
50
25
−20 0 20 40 60 80
Tempo (ms)
∂uz p
= ∓ cos θ (2.9.7)
∂t vρ
sinais obtidos com os dois diferentes sensores devem ser proporcionais entre si e ambos
devem apresentar o mesmo espectro de fase, se uma só convenção de polaridade tiver sido
usada. Esta ressalva é importante por que, enquanto o hidrofone não distingue a direção
da onda, o geofone “vê” uma onda ascendente com polaridade diferente da de uma onda
descendente. Este tema tem uma interessante aplicação no caso do fantasma.
2.9.3 Os fantasmas
Dentre os fatores que afetam a forma do pulso, um dos mais importantes é o fantasma.
Para discutir o fenômeno, preparou-se a Figura 2.79, na qual se destaca o fato de que o
fantasma é simplesmente uma reflexão múltipla gerada na superfı́cie livre, nas vizinhanças
da fonte, ou dos receptores. A mesma figura representa também um caso particular da
geometria envolvida na geração de um fantasma.
Matematicamente, o efeito final da atuação do fantasma corresponde ao resultado da
operação de filtragem com o operador g(t), cuja versão discreta é dada por
gt = (1, 0, 0, 0, · · · , a)
ou
gt = δt + aδt−τ (2.9.8)
Neste operador, a é a amplitude da amostra, definida por
a = rD (2.9.9)
onde r é o coeficiente de reflexão, para uma onda ascendente, entre o solo (ou a água) e o
ar, e D é o fator de perda devido ao espalhamento geométrico (ver o item 2.5). Por sua
vez, o tempo τ , que corresponde ao atraso do fantasma, é definido, com base na Figura
2.79, por
2d
τ= cos θ (2.9.10)
v
2.9. O PULSO SÍSMICO E SEUS COMPONENTES 261
θ
d
Superfície
θ θ
Fan
d
θ
tasm
Receptora
terrestre, a situação tı́pica em que a incidência na superfı́cie livre não é vertical. Neste
caso, de acordo com a equação 2.6.21, os valores representativos de r variam entre −0.6 e
−0.999, assumindo-se que a velocidade do som no ar seja 340m/s e a densidade do mesmo
meio seja 0.0012 gramas por centı́metro cúbico. Para o meio em que se situa a fonte ou
os receptores, assumem-se velocidades entre 500 e 2000 metros por segundo, densidades
entre 1 e 2 gramas por centı́metro cúbico e razão de Poisson de 0.4 a 0.5.
No caso das operações marı́timas (ou em diversos casos da propagação vertical nas
operações terrestres), os valores representativos de r, estimados com a equação 2.6.12,
se aproximam de −1. Valores absolutos menores são observados nas situações em que a
superfı́cie do mar mostra-se muito irregular, ou quando a impedância acústica da água,
junto à superfı́cie, está afetada por uma mistura mais acentuada com o ar. Ressalte-se
entretanto que, nas situações práticas, o módulo de r nunca atinge o valor 1.
Quanto ao espalhamento geométrico, D, a expressão que permite calculá-lo, no caso
de um meio homogêneo e isotrópico, tridimensional, é (ver o item 2.5):
t
D= (2.9.11)
t+τ
onde t é o tempo duplo da reflexão que estiver sendo analisada. Valores tı́picos de D
oscilam entre 0.8 e 1.0. Ressalte-se que D varia com o afastamento, embora, para tempos
de reflexão superiores a 0.5-1.0s, esta variação seja relativamente pequena.
Caracterizados os elementos que definem a equação 2.9.8, o próximo passo consiste
em analisar a influência dos fantasmas sobre a forma do pulso sı́smico. Esta é uma tarefa
que pode ser bem conduzida através de uma análise dos espectros de amplitude e fase
do operador do fantasma. Para obtê-los, parte-se da transformada Z da equação 2.9.8, a
qual é dada por
G(Z) = 1 + rDZ n (2.9.12)
2.9. O PULSO SÍSMICO E SEUS COMPONENTES 263
2.0
1.5
Amplitude
20ms
1.0
10ms
0.5
2ms
0
0 20 40 60 80 100
Freqüência (Hz)
180
90
Fase (graus)
20ms
10ms
0
2ms
−90
0 20 40 60 80 100
Freqüência (Hz)
A influência dos fantasmas sobre a forma do pulso sı́smico fica bem caracterizada
através da comparação entre quatro pulsos diferentes, obtidos com a mesma assinatura
da fonte: (1) pulso sem os fantasmas da fonte e do cabo e sem o efeito do instrumento,
apresentado na Figura 2.74 (página 254); (2) pulso com o fantasma da fonte (hidrofone
profundo), apresentado na Figura 2.4 (página 71); (3) pulso com ambos os fantasmas da
fonte e do cabo, apresentado na Figura 2.11 (página 90); (4) pulso também com ambos
2.9. O PULSO SÍSMICO E SEUS COMPONENTES 265
60Hz
0
Amplitude
120Hz
0
Sem filtro
0
os fantasmas da fonte e do cabo, mas com este na profundidade de 15m, em vez de 10m,
apresentado na Figura 2.83. Nas quatro situações, apenas o pulso da Figura 2.4 foi
realmente registrado; os demais foram sintetizados a partir dele.
Até agora, os efeitos do fantasma foram analisados de forma unidimensional, embora
a forma do operador correspondente varie com o tempo e a distância, em função do
afastamento fonte-receptor (ver a equação 2.9.10). Para se analisar como um sismograma
é afetado pelo fantasma, em duas ou três dimensões, pode-se recorrer à representação nos
domı́nios ω-Kx ou ω-Kx-Ky , nos quais o sinal é tratado na forma de ondas planas. No
266 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
caso 2-D, um sismograma afetado por um fantasma pode ser representado por
2.11 Exercı́cios
1. Represente geometricamente a frente de onda da Figura 2.6 (página 80) no domı́nio Kz -
Kx , considerando Kz o eixo vertical. O que representa, neste domı́nio, a razão K x /Kz ?
Converta o mesmo evento de profundidade para tempo e o represente algebricamente, no
domı́nio ωτ -Kx , onde ωτ é a freqüência angular associada ao tempo vertical. Qual é a
relação entre Kz e ωτ ? (Sugestão: use os exercı́cios 15 e 17 do Capı́tulo 1).
obtido com o do exercı́cio anterior e, considerando um mesmo valor de K x nos dois casos,
determine a relação entre ω e ωτ .
4. No caso 2-D, define-se raio imagem como aquele que atinge a superfı́cie de acordo com a
vagarosidade dt/dx = 0 (ver a Figura 2.15, na página 96). Represente, no domı́nio z-x,
um raio imagem hipotético, em um meio com três camadas mergulhantes para a direita,
cada uma delas com uma velocidade diferente, sendo a maior correspondente à camada
mais profunda e a menor à mais rasa.
7. Considere que o pulso sı́smico é igual a um impulso unitário e que a equação 2.2.26 é
aplicada ao caso de um refletor horizontal, com coeficiente de reflexão constante, nas
seguintes condições: ∆t = 2ms, vH = 2000m/s e zB = 200m. Com base nesses dados,
resolva: (a) qual é o raio da área circular do modelo que efetivamente contribui para
a obtenção do sinal registrado na superfı́cie, com a mesma amplitude do coeficiente de
reflexão, no tempo t = zB /vH ? (b) na mesma situação, analise a importância relativa
do termo envolvendo 1/R 2 , presente na equação 2.2.27. (Sugestão: represente a equação
2.2.26 na forma de uma série de tempo, na qual, em cada termo i, a derivada de m com
relação ao tempo é dada por (mi − mi−1 )/∆t, considere que a mesma derivada
P pode
ser aplicada depois da execução do somatório, e determine a área ∆S = ∆x∆y que
permite obter um sinal com a mesma amplitude do coeficiente de reflexão).
10. Reconstrua esquematicamente a Figura 2.24, supondo que, no intervalo entre as profun-
didades z1 e z2 , a velocidade varia linearmente na direção lateral.
270 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
13. Use a equação 2.3.28 para deduzir uma expressão equivalente à equação 2.2.25, aplicável
ao caso em que existe afastamento entre a fonte e o receptor. Como a equação resultante
trata o espalhamento geométrico da energia?
14. Demonstre a equação da onda acústica 2-D, no caso em que a densidade varia com a
distância e a profundidade.
15. Mostre o que ocorre com o coeficiente de reflexão, na forma da equação 2.6.12, nos se-
guintes casos: (a) θ = 00 (incidência normal); (b) θ = θc (ângulo crı́tico) e; (c) θ > θc .
Qual é o módulo do coeficiente de reflexão no caso c?
∂ uR ∂ uR
uR B1
ru = , rυ = ∂ t , rp = ∂z
uI ∂ uI ∂ uI
B1
∂t ∂z
e
∂ uT ∂ uT
uT B2
Tu = ,Tυ = ∂ t , Tp = ∂z
uI ∂ uI ∂ uI
B1
∂t ∂z
Compare o resultado obtido com as equações 2.6.16 e 2.6.17 e explique a diferença.
17. Por que o coeficiente de transmissão pode ser maior do que 1? (Sugestão: analise a
conservação da energia em uma interface).
18. Calcule o coeficiente de reflexão aproximado com a equação 2.6.27, variando o ângulo de
incidência entre 0 e 30 graus, para γ = 1.02, η = 1, σ 1 = 0.3, σ2 = 0.1. Compare o
resultado com o da equação 2.6.16, para θ = 00 . Qual seria o resultado aproximado do
empilhamento dos traços sı́smicos que envolvessem esses ângulos de incidência?
19. Faça uma analogia entre a equação 2.7.4 e o teorema do deslocamento da transformada
de Fourier.
21. Compare a amplitude dos operadores exp(−iK z ∆z) e (1−iKz ∆z), presentes nas equações
2.7.4 e 2.7.14. Com base nesta comparação e supondo que ambas as equações sejam
aplicadas de forma recursiva sobre um dado campo de pressões, o que se pode esperar da
estabilidade numérica dos dois algoritmos, após um grande número de etapas da recursão?
2.11. EXERCÍCIOS 271
23. Escreva a equação 2.7.19 no domı́nio tempo-distância e compare o resultado com a equação
2.4.19.
e
exp [iKz (zA − zB )]
G̃ = 2π (2.11.2)
−iKz
onde z0 é a profundidade em que foi gerado o campo P̃ , zB é a profundidade em que foi
gerado o campo G̃, e z0 > zB . A equação 2.11.1 é a transformada de Fourier da solução
da equação 2.7.28, enquanto a equação 2.11.2 é a transformada de Fourier da solução da
equação 2.7.29 (ver Schneider, 1978). Aplique as duas expressões fornecidas para deduzir
a equação 2.7.6, partindo da equação 2.7.46.
25. Analise as equações 2.11.1 e 2.11.2 no que diz respeito à relação entre o sentido da pro-
pagação e o aumento no tempo. Em seguida, obtenha as derivadas parciais das duas
equações com relação a zB , zA e z0 e analise o significado fı́sico do resultado. (Sugestão:
para simplificar, considere o caso de um evento horizontal).
26. Analise as possı́veis correlações entre as equações 2.2.28, 2.2.29, 2.7.45 e 2.7.46. O que se
pode concluir?
27. Imagine uma onda ascendente que atinge uma superfı́cie horizontal desprovida de qualquer
descontinuidade. Use a equivalência entre as equações 2.2.28 e 2.2.29 para mostrar, no
domı́nio do tempo, como a integral de Kirchhoff cancela a onda secundária descendente
gerada na mesma superfı́cie. (Sugestão: leve em conta o sinal de dt/dz e o fato de a onda
que atinge a superfı́cie ser puramente ascendente).
29. A função de Green 2-D, dada pela equação 2.7.55, pode ser aproximada por
r
2π π
G(x, z, ω) = A exp iωτ + i (2.11.3)
ω 4
onde, no caso de um meio homogêneo,√A é dado pela raiz quadrada do inverso da distância
percorrida pela onda, ou seja, A = 1/ R. Use esta aproximação como uma analogia para
deduzir a aplicação da equação 2.7.53 a meios com qualquer comportamento de velocidade.
(Sugestão: use a teoria do espalhamento geométrico da energia para estabelecer a forma
de A).
272 CAPÍTULO 2. MÉTODO SÍSMICO DIRETO
30. A Figura 2.20 (página 101) representa uma difração em um meio 2-D. Em que seria
diferente a mesma figura se o meio fosse 3-D? Para responder, leve em conta não somente
a amplitude, mas também a fase, com base na seguinte aproximação:
1
(1 − Z) /2 ∼
= 1 − 21 Z
31. Imagine um refletor horizontal interrompido por uma falha vertical, em um meio 3-D.
Como se comportaria a fase da difração resultante, aquém e além do plano da falha?
Justifique, com base na interferência de difrações adjacentes e na aproximação do operador
de derivada citada no exercı́cio anterior.
33. Suponha que os tempos necessários para dois sinais com freqüências distintas, f 1 = 10kHz
e f2 = 25Hz, percorrerem uma mesma distância sejam, respectivamente, 1.00s e 1.02s.
Calcule o fator Q correspondente. (Sugestão: use a equação 2.8.7).
34. Calcule a primeira harmônica da reverberação, no caso das operações marı́timas, quando
a lâmina de água tem 7.5m, 75m, e 750m. Esquematize os espectros correspondentes e
diga o que esperar da qualidade dos dados nos três casos.
35. De acordo com o modelo do refletor explosivo, todos os pontos do refletor “explodem”
simultaneamente no tempo t = 0. Neste caso, considerando um refletor horizontal em um
meio homogêneo, qual seria a relação entre os tempos da reflexão primária e das múltiplas
de primeira e segunda ordens?
36. Use o princı́pio de Huygens para, na Figura 2.67 (página 236), construir a geometria de
uma múltipla de segunda ordem da reflexão RP .
37. A equação 2.8.31 representa o conjunto de eventos — primários e múltiplos — que carac-
teriza um sismograma bidimensional. Por quê a influência do pulso sı́smico não é incluı́da
na mesma equação?
38. Na geração da forma de onda apresentada na Figura 2.76 (página 256), o filtro digital,
aplicado pelo instrumento Aran, apresenta espectro linear de fase. Considerando que a
máxima amplitude situa-se no tempo t = 0, qual poderia ser a origem da distorção de
fase observada na mesma figura?
39. Deduza as equações 2.9.15 e 2.9.16. (Sugestão: a mesma do exercı́cio 5, no item 1.7).
40. O que você esperaria do registro feito com um hidrofone situado exatamente na superfı́cie
livre? E se o receptor fosse um geofone?
42. Imagine uma aquisição com cabo de fundo, na qual foram registrados sinais com hidrofones
e geofones posicionados em uma mesma profundidade. Imagine ainda que as respostas,
ao impulso, dos dois sensores tenham sido adequadamente uniformizadas. Neste caso,
como a soma dos dois tipos de registro trataria os fantasmas associados ao geofone e ao
hidrofone? Na análise, leve em conta que os geofones são sensı́veis ao sinal que afeta o
substrato marinho.
3.1 Introdução
Pode-se definir “processamento de dados sı́smicos” como o conjunto de processos empre-
gados na obtenção das propriedades elásticas responsáveis pelos dados registrados. Esta
definição pode ser complementada através da classificação desses processos em três gran-
des famı́lias de técnicas: (1) as preparatórias, empregadas no condicionamento dos dados
sı́smicos; (2) as nucleares, que envolvem diretamente a inversão dos fenômenos geofı́sicos
discutidos no Capı́tulo 2; (3) as complementares, empregadas na geração dos insumos
necessários para a aplicação das técnicas nucleares.
Embora, em muitas circunstâncias, a distinção entre essas famı́lias de técnicas não
seja fácil, julgou-se conveniente discuti-las separadamente. Assim, as técnicas nucleares,
desmembradas na forma de deconvolução da assinatura, correção dos fatores de pro-
pagação, migração e inversão, são analisadas nos itens 3.2 a 3.7. As outras duas famı́lias
de técnicas são discutidas neste item, as preparatórias com ênfase no condicionamento dos
dados sı́smicos para a aplicação dos processos nucleares e as complementares concentradas
na técnica CDP, no empilhamento e na obtenção de velocidades sı́smicas.
274
3.1. INTRODUÇÃO 275
Correções estáticas
No que diz respeito às distorções no tempo de trajeto, associadas às camadas superficiais,
o procedimento mais corriqueiro consiste em aplicar as chamadas correções estáticas, ou
seja, deslocamentos verticais de tempo nos traços sı́smicos de um agrupamento CMP,
feitos de forma a simular a aquisição em uma elevação constante, a qual define o da-
tum final, ou de processamento. Este datum é normalmente, mas não obrigatoriamente,
posicionado logo abaixo da base das camadas superficiais, de forma a envolver a menor
distância possı́vel até a superfı́cie de registro. Após a aplicação das correções estáticas, o
tempo de reflexão do datum escolhido passa a ser, tipicamente, igual a zero, fazendo com
que, no caso, se admita a existência de sinais em tempos negativos.
Usualmente, as correções estáticas são determinadas através de técnicas de refração
rasa, seja através de levantamentos especı́ficos, seja através das primeiras quebras dos
registros sı́smicos convencionais. Como resultado da aplicação desses dois processos,
obtém-se um modelo, definido em termos de velocidade e espessura, para as camadas
superficiais e as imediatamente subjacentes, através do qual se determinam as correções
estáticas correspondentes. Neste cálculo, assume-se que, acima do datum escolhido, as
ondas viajam na direção vertical o que, considerando as baixas velocidades tı́picas das
camadas superficiais, é uma aproximação freqüentemente aceitável (ver a equação 2.1.58).
O leitor poderá aprofundar a análise do tema através da consulta aos livros de Musgrave
(1967) e de Slotnick (1959).
Fortuitamente, a alta redundância, inerente à aquisição sı́smica fundamentada na
técnica CDP, favorece sobremaneira o processo de determinação das correções estáticas.
Ou seja, trata-se de um problema em que, normalmente, dispõe-se de um número subs-
tancialmente maior de equações do que de incógnitas e que, por isto, permite a aplicação
de algoritmos sofisticados. Em uma das técnicas desta famı́lia, desenvolvida por Amorim
et al. (1987), o processo de obtenção das correções estáticas é tratado como um problema
tomográfico não linear, linearizado no processo. Solução explicitamente não linear, de
uso mais restrito, é a de Rothman (1986).
Em muitos casos, é conveniente a aplicação das chamadas correções estáticas residu-
1
ais . Para determiná-las, uma técnica muito usada baseia-se no conceito de consistência
superficial, desenvolvido ainda na década de 1970 (Taner et al., 1974; Wiggins et al.,
1976; Taner e Koehler, 1981). De acordo com este conceito, “uma mesma correção estática
aplica-se a um ponto de tiro em uma determinada posição superficial, independentemente
da posição dos vários receptores. Similarmente, a correção estática do receptor em uma
dada posição deve ser a mesma para o sinal vindo de vários pontos de tiro” (Wiggins
et al., 1976). Esta idéia, combinada com o desmembramento do tempo de trajeto em
seus diversos componentes (deslocamento estático de tiro e receptor, tempo “geológico”
1
Dependendo do relevo estrutural esperado, é conveniente fazer correções independentes, como as que
se baseiam nos levantamentos verticais de velocidade, os quais consistem em se determinar as velocidades
das camadas superficiais em poços rasos. Os tempos correspondentes são usados para calibrar as correções
estáticas estimadas previamente.
276 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Correções de amplitude
O condicionamento da amplitude dos dados sı́smicos é fundamental para a aplicação dos
processos baseados na equação da onda, assim como para a aplicação de qualquer técnica
convolucional, como as discutidas nos itens 3.2 e 3.3 e para as demais correções discutidas
neste item. Ou seja, a correção criteriosa de importantes fatores de propagação pode se
revelar inútil, se, por exemplo, a amplitude do sinal registrado não se mostrar consistente.
Assim, algum tipo de condicionamento dos dados é essencial.
Entre os processos convencionais dedicados a correções semi-estatı́sticas das ampli-
tudes, estão: (1) normalização da amplitude dos dados sı́smicos com base na amplitude
média RMS, ou na média aritmética dos valores absolutos das amplitudes, ou, ainda, na
maior amplitude absoluta de cada traço; (2) processos equivalentes ao anterior, aplicados
a conjuntos de traços; (3) correção da amplitude com base na consistência geológico-
superficial, garantindo, por exemplo, que um agrupamento de tiro comum e um de geo-
fone comum, na mesma posição espacial, representem de forma similar a resposta sı́smica
da terra. Nos três processos citados, tem crescido a importância de técnicas baseadas em
medianas, em vez de médias.
Idealmente, o condicionamento das amplitudes deveria ser tão determinı́stico quanto
possı́vel. Particularmente no caso de dados sı́smicos adquiridos em águas profundas, uma
técnica com esta caracterı́stica consiste em utilizar a amplitude da onda direta para homo-
geneizar a influência direta da fonte sı́smica. Na óbvia ausência de uma aquisição sı́smica
perfeita, capaz de tornar desnecessárias as técnicas estatı́sticas, não é difı́cil concluir que
a melhor solução do problema passa pela combinação entre essas técnicas e as correções
fundamentadas na geologia. Ou seja, a consistência geológica deve constituir o cerne das
preocupações de quem analisa o assunto. A maior conseqüência desta recomendação é a
necessidade de reavaliar técnicas convencionais, baseadas em pura consistência superfi-
cial, técnicas estas que, além de não serem adequadamente aplicáveis aos levantamentos
3-D marinhos convencionais2 , podem introduzir distorções na distribuição das amplitudes
2
Na aquisição marinha convencional, não existem receptores fixos. Além disso, alguns fenômenos
superficiais podem variar de forma rápida com o tempo. Estas caracterı́sticas violam as premissas de
consistência superficial, resumidas na discussão sobre correções estáticas.
278 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Regularização
A regularização dos dados sı́smicos, mais crı́tica no caso da aquisição marinha, é um tema
muito importante, particularmente para a migração. Os objetivos fundamentais desse
processo são, entre outros: (1) garantir a aplicabilidade do princı́pio da reciprocidade, de
tal forma que os agrupamentos de fonte comum e de receptor comum sejam tão similares
quanto possı́vel; (2) evitar o efeito de álias de CDP, o que consiste em garantir que as
famı́lias CMP sejam homogêneas, no que diz respeito à distribuição de afastamentos e
dos azimutes, ou seja, dos ângulos entre as linhas de fontes e de receptores (ver discussão
sobre a técnica CDP) e; (3) favorecer a migração de dados sı́smicos, garantindo, tanto
quanto possı́vel, maior homogeneidade espacial e menores espaçamentos entre elementos
dos diversos agrupamentos.
As técnicas aplicadas com essas finalidades vão desde uma simples interpolação linear
entre traços sı́smicos vizinhos em diferentes agrupamentos, por sinal inadequada, até a
aplicação de processos baseados na equação da onda. Entre as técnicas de interpolação,
uma das mais bem-sucedidas é conduzida no domı́nio freqüência-distância, através da
aplicação de filtros lineares de predição de erro (ver Spitz, 1991). Na forma convencional,
esta técnica exige amostragem espacial em intervalos regulares, restringindo sua aplicação
à simples reamostragem. Entretanto, como o demonstra a aplicação conhecida como
krigging (item 1.4), a técnica pode ser generalizada.
No caso dos algoritmos de regularização baseados na equação da onda, há uma tendên-
cia natural de aplicá-los durante a própria migração, particularmente no caso da famı́lia
Kirchhoff, que admite esta possibilidade. Para isto, leva-se em conta o fato de que a mi-
gração Kirchhoff envolve uma integral de superfı́cie. Desta forma, a regularização consiste
simplesmente em atribuir a cada traço sı́smico a área superficial que ele representa, desde
3.1. INTRODUÇÃO 279
que se respeitem limites aceitáveis de amostragem espacial (ver o item 3.6). Aplica-se a
este tipo de regularização o termo “condicionamento geométrico”.
Processos de regularização baseados em continuação lateral de campos de onda estão
crescendo em importância, como preparação dos dados sı́smicos para algoritmos de mi-
gração pré-empilhamento que exigem amostragem espacial regular. Um exemplo dessa
famı́lia de processos — a correção de AMO (Azimuth MoveOut) —, que objetiva corrigir o
azimute da aquisição sı́smica, é muito importante no caso da migração pré-empilhamento
em tempo em duas passagens (ver o item 3.6 e Biondi et al., 1998).
Atenuação de ruı́dos
Excluı́das da análise as múltiplas, a atenuação dos ruı́dos é favorecida se eles forem se-
parados em dois grupos: (1) ruı́dos que podem ser atenuados pela migração dos dados
sı́smicos e; (2) ruı́dos que exigem um tratamento à parte. Com base na teoria da pro-
pagação de ondas discutida no item 2.7, sabe-se que os eventos que apresentam velocidade
de propagação menor do que a velocidade de corpo do meio são tratados como se fossem
ondas evanescentes. Isto significa que, se esses ruı́dos forem adequadamente amostrados,
eles podem ser fortemente atenuados durante a migração, particularmente no caso da
migração pré-empilhamento3 .
O melhor exemplo de sucesso da aplicação dessa idéia ocorre no caso das ondas conver-
tidas (de compressionais para cisalhantes e de cisalhantes para compressionais), geradas
junto à superfı́cie, as quais são normalmente bem amostradas e podem ser atenuadas
durante a migração. Entretanto, de acordo com a condição estabelecida no parágrafo
anterior, a velocidade S, que caracteriza os ruı́dos, deve ser menor do que a menor ve-
locidade P dos sedimentos. Esta condição ocorre, por exemplo, na Bacia do Paraná, a
qual é recoberta por basaltos cuja velocidade S é pelo menos 1000m/s menor do que a
velocidade de migração (ver a Figura 2.64, na página 232).
Entre os ruı́dos que, em muitos casos, não podem ser adequadamente atenuados du-
rante a migração e que, mais do que isto, podem prejudicá-la, estão: (1) ruı́dos aleatórios;
(2) ruı́dos espacial e temporalmente localizados, com freqüência agrupados sob a deno-
minação noise bursts e; (3) ruı́dos coerentes parcialmente localizados. Os três tipos de
ruı́do exigem tratamentos especı́ficos.
A atenuação dos ruı́dos aleatórios ganhou um poderoso aliado, quando se descobriu
a possibilidade de aplicar, ao problema, o filtro Wiener-Hopf. Como se viu no Capı́tulo
1, este tipo de filtro pode ser usado para caracterizar eventos previsı́veis. Ou seja, dada
uma função de autocorrelação, pode-se estimar em tempos futuros, ou em posições late-
ralmente adjacentes, eventos que apresentem as propriedades estatı́sticas definidas pela
mesma função. Com base nesta idéia, pode-se atenuar, em um traço sı́smico, os eventos
que não possam ser previstos com base nos traços vizinhos. Este conceito, oposto ao
da deconvolução tradicional, vem recebendo a denominação deconvolução f -x, por ser
conduzido no domı́nio freqüência-distância (Treitel, 1974; Canales, 1984; Gulunay, 1986).
O problema fundamental dos ruı́dos espacial e temporalmente localizados é a grande
diferença de amplitude e fase, em relação às amostras vizinhas. Uma das formas de
tratar tais ruı́dos baseia-se em inspeção visual, seguida de remoção de todo ou parte do
3
A correção de DMO introduz efeito similar, com efetividade decrescente na direção dos tempos
maiores e do afastamento fonte-receptor igual a zero.
280 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
traço sı́smico afetado. Outras técnicas consistem em tratá-los de forma estatı́stica, tanto
na caracterização quanto na atenuação. Um grupo de técnicas dessa famı́lia baseia-se
na generalização do conceito de consistência superficial (Taner e Koehler, 1981). Outra
técnica, simples mas muito eficaz, consiste na aplicação de filtros de mediana, filtros
estes, que por não serem lineares, são insensı́veis a valores extremos, sem representação
estatı́stica4 (ver Bednar, 1983). Desta forma, um ruı́do localizado pode ser removido sem
contaminar amostras de traços vizinhos. O mesmo não ocorre com os filtros que, direta
ou indiretamente, envolvam médias dos dados.
Um ruı́do coerente que tende a apresentar concentração espacial — no caso, em torno
da fonte — é o chamado ground-roll, ou seja, as ondas superficiais Rayleigh ou Love,
caracterizadas pelo deslocamento elı́ptico ou horizontal das partı́culas, de acordo com ve-
locidade de propagação mais baixa do que a das ondas S do mesmo meio. Fortuitamente,
o ground-roll tende a apresentar conteúdo de freqüências caracterı́stico, de tal forma que
processos como o balanceamento espectral atenuam-nos relativamente bem (ver o item
3.2). Os resı́duos remanescentes podem ser tratados através de técnicas como as que
envolvem filtros de velocidade ou filtros de número de onda ou, ainda, filtros lineares de
predição de erro, aplicados no domı́nio freqüência-distância. Ressalte-se que, de acordo
com a teoria discutida no item 3.2, a aplicação de balanceamento espectral antes da de-
convolução de fase mı́nima pode levar à introdução de significativas distorções de fase,
as quais podem ser corrigidas posteriormente através de processos como o descrito por
Gibson e Larner (1984).
4
A filtragem de mediana consiste simplesmente em selecionar, em um grupo de amostras, o valor da
mediana das amplitudes correspondentes. Na aplicação dessa técnica, dois temas merecem ser comenta-
dos. Em primeiro lugar, o filtro de mediana pode ser ponderado, o que equivale a alterar a representação
estatı́stica de cada amostra, respeitando-se sua posição relativa. Assim, a aplicação do filtro de mediana
1 : 2 : 1 a três amostras sucessivas implica repetir a amostra central antes de se determinar a mediana
das amplitudes envolvidas. Em segundo lugar, deve-se ressaltar que, em muitos casos, a aplicação do
filtro de mediana pode ser enriquecida se ele for aplicado, no domı́nio ω-x, a cada harmônica ω.
3.1. INTRODUÇÃO 281
A técnica CDP
Na técnica CDP, assume-se que o ponto intermediário entre a fonte e o receptor apresenta
coordenadas horizontais iguais às do CDP, ou seja, ao ponto comum em profundidade.
Em conseqüência, a curva tempo-distância correspondente a uma reflexão, em um agru-
pamento CMP, pode ser descrita pela seguinte equação:
x2
t2 = t20 + (3.1.1)
vE2
RN 0 = M D e, conseqüentemente, que
2 2 2
S 0 R + RG0 = 2M D + AB
Uma vez que AB = SG cos θ = x cos θ, S 0 R + RG0 = vE t e 2M D = vE t0 , pode-se obter a
seguinte expressão:
cos 2 θ
t2 = t20 + x2 2 (3.1.2)
vE
onde vE é a velocidade de empilhamento na ausência de mergulho e θ indica o ângulo
de mergulho. Observe-se que o mergulho introduz o efeito de aumentar a velocidade de
empilhamento, ou seja,
v
vM = E (3.1.3)
cos θ
onde o subscrito M identifica a velocidade de empilhamento na presença de mergulho.
Com base em uma comparação com a equação 2.5.79, induz-se que este resultado aplica-
se também a um meio de múltiplas camadas mergulhantes, desde que elas sejam plano-
paralelas, e, além disso, os afastamentos fonte-receptor não sejam muito acentuados.
De acordo com as equações 3.1.2 e 3.1.3, se dois eventos distintos apresentarem o
mesmo tempo vertical de reflexão, sendo um deles associado a um refletor horizontal e o
outro a um refletor mergulhante, o empilhamento bem-sucedido de um deles é feito em
detrimento do outro, por causa da diferença nas velocidades de empilhamento, diferença
esta introduzida pelo mergulho. Como exemplo, considere-se, na Figura 3.1, o ponto de
um hipotético refletor horizontal situado verticalmente abaixo do ponto M , na profundi-
dade vE t0 /2 e identificado pela letra P . A reflexão correspondente deveria ser empilhada
na mesma posição horizontal e no mesmo tempo que a reflexão oriunda do ponto R, mas
com a velocidade correta, sem influência do mergulho. Isto significa que uma das das
duas deveria ser sacrificada para que a outra fosse bem empilhada.
Como preparação para a discussão a ser apresentada no item 3.6, é conveniente apro-
fundar a análise da relação entre o mergulho das interfaces e a correção de NMO. Para
isto, o primeiro passo consiste em reapresentar, da seguinte forma, a equação 3.1.2:
2
2 2 4h2 2 sen θ
t = t0 + 2 − 4h (3.1.4)
vE vE
onde h é igual à metade do afastamento fonte-receptor, ou seja, h = x/2.
Imagine-se agora que, ao sinal registrado no tempo dado pela equação 3.1.4, seja
aplicada uma correção de NMO que não leve em conta a contribuição do mergulho. O
resultado é:
4h2
t2N = t2 − 2 (3.1.5)
vE
onde tN é o tempo resultante da correção de NMO. Com base na equação 3.1.4, o mesmo
tempo pode ser redefinido da seguinte forma:
t2N = t20 − h2 p2E (3.1.6)
onde pE , que equivale ao parâmetro de raio da seção de afastamento nulo, é definido por
2 sen θ
pE = (3.1.7)
vE
3.1. INTRODUÇÃO 283
N G : SG = N R : SO
ou
1
h + |yN − y0 | v t0 − |yN − y0 | sen θ
= 2 E 1 (3.1.8)
2h 2 2 vE t0 − h sen θ
onde yN e y0 correspondem às coordenadas horizontais5 dos pontos N e M , sendo este o
ponto médio comum correspondente a t0 . Após alguma manipulação algébrica, obtém-se:
2h2 sen θ
|yN − y0 | = (3.1.9)
v E t0
ou seja,
t0 |yN − y0 |
pE = (3.1.10)
h2
Levando-se em conta que o ângulo de mergulho pode ser negativo ou positivo, tem-se:
t0 (yN − y0 )
pE = (3.1.11)
h2
5
A opção pelo sı́mbolo y foi feita apenas para estabelecer uma diferença em relação ao afastamento
fonte-receptor x, que é igual a 2h. Não se trata de uma coordenada medida na direção transversal àquela
em que os dados sı́smicos são adquiridos.
284 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
t2N (yN − y0 )2
1= 2 + (3.1.12)
t0 h2
v = v0 + az (3.1.13)
0.120
0.12
Diferença de tempo quadrático
0.100
0.10
0.080
0.08
0.060
0.06
0.040
0.04 C B
0.050
0.02 A
−0.020
−0.02
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
Uma avaliação rápida da Figura 3.2 permite que se façam as seguintes observações:
(a) a curva tempo-distância obtida com a velocidade de empilhamento corresponde a
uma aproximação da curva tempo-distância correta; (b) a velocidade de empilhamento
é maior do que as velocidades RMS e média (no caso, 2018m/s, 1992m/s e 1985m/s,
respectivamente); (c) na posição em que x = 0, o tempo de reflexão obtido com a velo-
cidade de empilhamento, ou seja, t0 , é maior do que o correto; (d) na mesma posição, a
curva tempo-distância definida pela velocidade RMS é tangente à curva tempo-distância
correta. Além disso, pode-se dizer que o aumento no gradiente linear de velocidade, a,
leva a um aumento no valor residual da correção de NMO.
Considere-se agora o caso de outra camada horizontal, na qual a velocidade varia
exclusivamente na direção horizontal. Nesta circunstância, os trajetos e os tempos de
reflexão até a base da camada podem ser calculados também com base na expressão
2.5.35, ou 2.5.37, bastando, para isto, trocar os papéis da profundidade e da distância
horizontal. Esta foi a técnica adotada na construção da Figura 3.3, na qual podem ser
vistos os trajetos de três raios, gerados no contexto de um agrupamento CMP.
Na Figura 3.3, destacam-se os seguintes detalhes: (a) em cada afastamento fonte-
receptor, a reflexão é oriunda de um ponto diferente do refletor; (b) a região iluminada se
distribui, a partir do ponto médio, na direção em que a velocidade intervalar é maior; (c)
existe um limite mı́nimo na distância entre o ponto médio e a região do refletor iluminada
286 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
200 C
B A
Profundidade (m)
400
600
800
Refletor
1000
Figura 3.3: Três trajetos percorridos pela onda entre a fonte e o re-
ceptor, em um agrupamento CMP, no caso de um meio em que a veloci-
dade intervalar varia, na direção lateral, entre 1500m/s, na coordenada
−800m, e 2460m/s, na coordenada 800m, o que equivale a um gradi-
ente horizontal igual a 0.6s−1 . As letras indicam: (A) trajeto do raio
normal (perpendicular ao refletor); (B) trajeto do raio perpendicular
à superfı́cie (ressalte-se que, nesta posição de um agrupamento CMP,
dt/dx 6= 0) e; (C) trajeto de um raio qualquer.
por um agrupamento CMP7 . A última observação permite induzir que a posição do refletor
situada na coordenada horizontal do ponto médio seria iluminada por outro agrupamento
CMP. Apenas na presença de mergulho seria teoricamente possı́vel a obtenção de uma
reflexão oriunda da mesma coordenada.
A influência da variação lateral da velocidade intervalar sobre a correção de NMO
pode ser analisada com base na Figura 3.4, a qual foi construı́da de forma similar à
da Figura 3.2. Observa-se, na figura, que a diferença entre os tempos estimados com a
velocidade de empilhamento e os tempos corretos apresenta as seguintes diferenças, em
relação à Figura 3.2: (a) a velocidade de empilhamento é menor do que as velocidades
RMS e média (no caso, 1953.4m/s, 1986.7m/s e 1983.4m/s, respectivamente 8 ); (b) na
posição em que x = 0, o tempo de reflexão obtido com a velocidade de empilhamento,
ou seja, t0 , é menor do que o correto; (c) na mesma posição, a curva tempo-distância
definida pela velocidade RMS não é tangente à curva tempo-distância correta, em função
do fato de que não existe um ponto comum em profundidade e, portanto, vRM S 6= vN M O
7
Ver o subitem 2.5.2 e, em particular, as expressões 2.5.40 e 2.5.41, lembrando que os papéis de hmax
e zmax devem ser trocados.
8
A velocidade RMS, que é diferente da velocidade NMO, foi calculada, de forma não convencional,
com base na equação 2.5.45. Por sua vez, a velocidade média foi computada através da divisão entre a
profundidade do refletor e a metade do tempo de reflexão, calculado no afastamento fonte-receptor igual
a zero, o que a torna maior do que a velocidade vertical, a qual é 1980m/s (ver a Figura 3.3). Ressalte-se
entretanto que, se a velocidade média fosse calculada pela razão entre o comprimento do raio e o tempo
correspondente, ela seria, neste caso, apenas ligeiramente menor do que a RMS.
3.1. INTRODUÇÃO 287
0.02
Diferença de tempo quadrático
0
A
−0.02
−0.04
C
−0.06 B
−0.08
−0.10
−0.12
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
(ver a Figura 3.3). Por outro lado, pode-se dizer que o aumento no gradiente linear de
velocidade também leva a um aumento no valor residual da correção de NMO.
Sabe-se que a variação lateral de velocidade pode gerar efeitos muito mais severos do
que os ilustrados através da Figura 3.4. Este é o caso em que o mesmo fenômeno ocorre de
acordo com um comprimento de onda menor do que o máximo afastamento fonte-receptor
de um agrupamento CMP. Neste caso, observa-se o que se convencionou denominar “des-
locamento estático enterrado”, por causa da alteração no tempo de trajeto, introduzida,
em traços sı́smicos diferentes, pela variação lateral na velocidade.
As curvas tempo-distância em um agrupamento CMP são também afetadas pela ani-
sotropia nas velocidades intervalares. De acordo com a teoria apresentada no subitem
2.8.5, sabe-se que, em um meio transversalmente isotrópico, ou TI, esta caracterı́stica
faz com que, na correção de NMO com a velocidade de empilhamento isenta do efeito
da anisotropia, ocorra uma supercorreção nos maiores afastamentos fonte-receptor. Nos
casos mais tı́picos, particularmente quando o parâmetro de anisotropia δ é próximo de
zero e o eixo de simetria é vertical (VTI), o padrão geral é semelhante ao observado na
Figura 3.2.
Embora as diferenças de tempo presentes nas figuras 3.2 e 3.4 tenham caracterı́sticas
caricaturais — ou seja, em função do máximo afastamento fonte-receptor escolhido, são
288 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
−75
75
−75
75
0 1 2 3 4 S
Razão afastamento/Profundidade
A presença dos fatores t0 /t e dvE /dt0 , aliada ao fato de que t > t0 , permite entender
porque o efeito de estiramento é proporcional ao aumento do afastamento fonte-receptor
e ao crescimento da velocidade de empilhamento com o tempo vertical. Ressalte-se que
apenas o primeiro fator influenciou a construção da Figura 3.5, ou seja, a variação vertical
da velocidade de empilhamento não foi considerada.
Para completar o entendimento do efeito de estiramento, resta estabelecer a relação
entre a correção de NMO e o conteúdo de freqüências do sinal. No caso, a expressão
3.1.14 permite a aplicação local da seguinte forma do teorema da escala da transformada
de Fourier (ver o item 1.2):
1
SN (f ) = S fa (3.1.15)
a
onde S e SN são as transformadas de Fourier de uma janela do traço sı́smico envolvendo
uma reflexão qualquer, antes e depois da correção de NMO, enquanto a = dt/dt 0 e f é a
freqüência. Observa-se, assim, que a correção de NMO desloca o espectro de freqüências
do traço original na direção de f = 0, já que, em termos práticos, a < 1.
Com base na discussão apresentada no item 2.6, sabe-se que, na forma da equação
3.1.15, o chamado “efeito de estiramento” deveria representar, na verdade, a correção
de um fenômeno associado à aquisição dos dados sı́smicos: a redução no comprimento
da função refletividade, observada quando o ângulo de incidência é maior do que zero.
O efeito negativo, constatado em condições práticas, como a da Figura 3.5, é devido
exclusivamente ao conteúdo de freqüências do pulso sı́smico efetivo, que é limitado. Nes-
tas condições, é fácil concluir que nenhum problema existiria se o pulso sı́smico fosse
um impulso unitário e se, além disso, o intervalo de amostragem fosse suficientemente
pequeno.
Sabe-se que as deficiências da técnica CDP abrangem outros temas, ou seja, não se
restringem à curva tempo-distância. Entre as deficiências adicionais, incluem-se as que
dependem da relação entre a amplitude e a geometria das camadas. Este é o caso da fo-
calização e do espalhamento diferenciais do sinal registrado, os quais são controlados pela
curvatura dos refletores e das interfaces eventualmente atravessadas no trajeto. Assim,
dependendo da geometria de um refletor em um meio homogêneo, a amplitude registrada
pode ser maior em uma determinada faixa de afastamentos fonte-receptor, em relação
290 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
aos demais, ainda que o coeficiente de reflexão não varie. Um exemplo desta situação foi
apresentado na Figura 2.36 (página 129).
Um tema importante é o da relação entre a técnica CDP e a correção dos fatores de
propagação. Ver-se-á, no item 3.6, que, no contexto da técnica CDP, a correção do efeito
do espalhamento geométrico da energia não trata a amplitude das difrações de forma
adequada, já que as versões convencionais das técnicas empregadas com essa finalidade
assumem que todos os eventos são reflexões horizontais. A principal conseqüência desta
distorção é a deterioração no tratamento das amplitudes pela migração, afetando de
forma particularmente mais importante os eventos mergulhantes. A mesma idéia aplica-
se, ainda que em menor escala, ao caso da absorção.
Outra deficiência da técnica CDP consiste no tratamento inadequado da variação da
amplitude com o afastamento fonte-receptor. A este respeito, sabe-se que o empilha-
mento convencional leva a um valor médio das amplitudes, em vez do correspondente ao
afastamento igual a zero. Nestas condições, a opção pelo uso da técnica CDP implica
desprezar a variação do coeficiente de reflexão com o ângulo de incidência e admitir a
possibilidade de se interpretar erroneamente as caracterı́sticas elásticas do meio. Este
problema pode se tornar ainda mais importante quando o ângulo crı́tico é atingido na
faixa de afastamentos fonte-receptor abrangida pelo agrupamento CMP, o que introduz
uma importante variação na fase do sinal. Exemplos deste fenômeno foram ilustrados
através da Figura 2.58, na págins 221.
Por outro lado, deve-se mencionar o fato de a derivada do coeficiente de reflexão,
com relação ao ângulo de incidência, tender a zero, quando o mesmo ângulo tende a
zero. Esta é uma propriedade que beneficia a técnica CDP, na medida em que está
associada a uma variação suave da curva de coeficientes de reflexão em função do ângulo
de incidência, particularmente quando este é menor do que 30 ou 40 graus. Para uma
melhor compreensão do tema, sugere-se ao leitor consultar os itens 2.6 e 3.7.
Até agora, discutiram-se fenômenos diretamente associados à propagação de ondas
elásticas. Diversos fenômenos que não se enquadram neste padrão prejudicam não so-
mente a técnica CDP mas também a migração pré-empilhamento em tempo ou profun-
didade. Um deles é o chamado álias de CDP (conceito trazido para o Brasil por Milo
Backus, no inı́cio dos anos 80). Este é um efeito observado quando, em uma linha sı́smica,
ou em um volume de dados sı́smicos, a geometria de aquisição leva à geração de agru-
pamentos CMP com diferentes composições de afastamento fonte-receptor. Assim, no
caso 2-D, quando a distância entre pontos de tiro, D, é maior ou igual à distância entre
estações de geofones, d, o número de diferentes agrupamentos CMP possı́veis é dado pelo
fator 2D/d. Em conseqüência, reforçam-se, na seção empilhada, os eventos espúrios com
comprimento de onda definidos pelo produto entre o mesmo fator e a distância entre
traços sı́smicos empilhados. A forma mais simples de atenuar os ruı́dos em álias envolve
a aplicação, à seção empilhada, da mistura linear de 2D/d traços. Ressalte-se que, no
caso 3-D, os padrões de álias de CDP e, conseqüentemente, a atenuação de seus efeitos,
podem ser bem mais complexos.
Nos sistemas de aquisição mais modernos, a técnica CDP vem sendo ajustada, em
maior ou menor grau, a uma filosofia alinhada com as idéias discutidas neste capı́tulo.
Em particular, destaca-se a amostragem dos eventos, seja ruı́do ou sinal útil, que, ide-
almente, deve ser feita de acordo com as seguintes práticas: (1) os arranjos de campo,
tradicionalmente utilizados no cancelamento de uma ampla gama de diferentes ruı́dos,
3.1. INTRODUÇÃO 291
devem ser tratados apenas como filtros anti-álias espacial; (2) a amostragem espacial
deve ser densa, propiciando o uso de arranjos de campo mais curtos e, consequentemente,
otimizando a aplicação de correções estáticas e de filtros espaciais, no processamento; (3)
a geometria de aquisição deve ser planejada de forma a minimizar a amostragem de ruı́do
em álias espacial nos agrupamentos CMP; (4) deve-se favorecer, sempre que possı́vel, a
aplicabilidade do princı́pio da reciprocidade, com vistas à otimização de técnicas como
a migração pré-empilhamento, a atenuação de múltiplas e as correções estáticas; (5) a
faixa dinâmica dos instrumentos deve ser a maior possı́vel (neste caso, pode-se chegar ao
ponto em que a cada geofone corresponda um canal de registro, sem preocupações quanto
à razão sinal/ruı́do, durante a fase de aquisição).
Ver-se-á, nos itens 3.6 e 3.7, que a melhor forma de tratar a maior parte das deficiências
da técnica CDP passa pela migração tridimensional pré-empilhamento em profundidade,
seguida da inversão elástica dos dados sı́smicos. Com freqüência, entretanto, adota-se um
dos seguintes procedimentos alternativos: (1) correção de DMO, seguida de empilhamento
e migração e; (2) migração em tempo de agrupamentos fonte-receptor comum, seguida
de empilhamento.
A correção de DMO — voltada para as distorções causadas pelo mergulho e par-
cialmente discutida no item 3.6 — reduz a interdependência entre o mergulho dos re-
fletores e o afastamento entre a fonte e o receptor. Nesta circunstância, a velocidade
de empilhamento passa também a independer do mergulho, ao mesmo tempo em que a
correspondente velocidade NMO tende a se aproximar da velocidade RMS.
Ver-se-á, no item 3.6, que a segunda alternativa, baseada na migração pré-empi-
lhamento em tempo, possibilita a correção de fatores adicionais. Entretanto, como a
técnica CDP, também depende de uma boa descrição analı́tica da curva tempo-distância,
principalmente ao se levar em conta a abertura do operador de migração, que pode ser
bem maior do que o máximo afastamento fonte-receptor disponı́vel.
Nestas condições, fatores como as distorções causadas pela variação lateral e vertical
da velocidade de empilhamento, assim como pela anisotropia, devem ser levados em conta,
o que exige descrições mais detalhadas da curva tempo-distância do que a da equação
3.1.1. Diversas dessas descrições mais sofisticadas são baseadas na seguinte série Taylor
(ver o subitem 2.5.2):
t2 = t20 + A1 x2 + A2 x4 + A3 x6 + · · · (3.1.16)
onde, como antes, t e x são o tempo de reflexão e o afastamento fonte-receptor. Por sua
vez, Ak é o coeficiente k da expansão.
Na aplicação da equação 3.1.16, uma das alternativas, baseada no truncamento da
série no segundo termo, consiste em definir melhor o parâmetro A1 , adaptando-o a cada
afastamento fonte-receptor. Esta idéia está no núcleo da técnica CRS (Common Reflec-
tion Surface), proposta pelo grupo de Peter Hubral (ver Hubral et al., 1998; Müller, 1998),
a qual, no caso 2-D, é baseada na equação 2.5.75. Em termos práticos, os parâmetros
envolvidos são obtidos de forma automatizada, sem interferência direta do geofı́sico.
9
Com agradecimentos a Carlos Cunha Filho, Gerson Ritter e Antônio Buginga Ramos.
292 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
x2 αx4
t2 = t20 + − (3.1.17)
vE2 vE4
x2
t2 = t20 + (3.1.19)
vE2 + αx2
onde α é dado pela expressão 3.1.18. Observe-se que, neste caso, torna-se clara a variação,
com o afastamento fonte-receptor, da velocidade de empilhamento efetiva, já que v E é
válida apenas nas posições em que x tende a zero.
As equações 3.1.17 e 3.1.19 são adequadas à correção de NMO na presença de variação
espacial de velocidade em um meio isotrópico. No caso em que se leva em conta a
anisotropia de meios TI, aplica-se a seguinte expressão (Alkhalifah e Tsvankin, 1995):
x2 2ηx4
t2 = t20 + − (3.1.20)
vE2 vE2 [t20 vE2 + (1 + 2η)x2 ]
onde vPi e ∆ti são a velocidade P e o tempo de trajeto na direção vertical, na camada de
ı́ndice i.
Nas figuras 3.6, 3.7 e 3.8, apresentam-se os erros no tempo de reflexão, obtidos através
da aplicação numérica das equações 3.1.1, 3.1.19 e 3.1.20 a três diferentes modelos10 . Na
primeira (3.6), a velocidade varia linearmente com a profundidade e é constante na
direção horizontal. Na segunda (3.7), a velocidade varia lateralmente e é constante na
10
Um aspecto importante das figuras 3.6, 3.7 e 3.8 deve ser mencionado: como elas descrevem erros
antes da correção de NMO, elas não refletem os resı́duos desta correção.
3.1. INTRODUÇÃO 293
10
A
5
Erro (ms)
C
0
−5
−10
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
direção vertical. Na terceira (3.8), incluiu-se o efeito da anisotropia. Nos três casos,
os valores corretos de tempo, assim como a velocidade NMO (ou RMS), foram obtidos
analiticamente, com base na teoria apresentada nos subitens 2.5.2 e 2.8.5. Os parâmetros
que caracterizam as três equações citadas foram estimados numericamente, com base na
minimização dos respectivos erros quadráticos.
Combinadas com os resultados numéricos, apresentados na Tabela 3.1, as figuras 3.6,
3.7 e 3.8 permitem as seguintes observações: (a) como já se sabia, a equação 3.1.1 é uma
representação pobre da realidade e; (b) não é fácil isolar a influência dos parâmetros que
caracterizam as expressões 3.1.19 e 3.1.20, já que ambas geram resultados de qualidade
similar; (c) nas estimativas baseadas na aproximação hiperbólica, os erros apresentam
formas diferentes na presença de anisotropia ou de crescimento da velocidade com a
profundidade (no primeiro caso, a curva é um pouco mais simétrica).
Mesmo levando em conta as diferenças constatadas nas figuras 3.6 a 3.8, percebe-se
que a anisotropia pode ser confundida com variação espacial na velocidade e vice-versa.
De acordo com a discussão apresentada na página 289 e ilustrada através da Figura
3.5, sabe-se que esta dubiedade pode ser ainda maior no caso em que se determinam
velocidades de empilhamento em pequenos afastamentos fonte-receptor e se aplicam as
mesmas velocidades na correção de NMO dos eventos situados em todo o lanço. Se, além
disso, a anisotropia for associada aos efeitos do filtro estratigráfico, pode-se afirmar que
os valores dos parâmetros vE e η, estimados no processo, dependem do processamento
294 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
10
5 A
0
Erro (ms)
B
−5
−10
−15
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
15
10
A
C
5
Erro (ms)
B
0
−5
−10
−15
0 1 2 3 4
Razão afastamento/profundidade
anterior, uma vez que a aplicação de filtros temporal e espacialmente variáveis, como a
compensação Q, tende a corrigir a dispersão. O mesmo ocorreria com o valor de α, já
que a posição relativa dos picos e cavidades do pulso seria alterada.
Em muitos casos, pode ser conveniente estimar a velocidade de empilhamento e o
parâmetro α, ou η, em duas etapas. Na primeira, aplica-se a equação 3.1.1 e se utiliza
uma faixa de afastamentos fonte-receptor relativamente próxima da fonte, o que permite
a obtenção de velocidades, vE , e tempos de reflexão, t0 , mais adequados ao conceito de
velocidade NMO, ou RMS (ver a parte inferior da Figura 3.5). Na segunda etapa, já
com a faixa de afastamentos completa, determina-se o valor de α, ou de η, fixando-se
vE e t0 . Uma versão simplificada da segunda etapa, aplicável à equação 3.1.17, consiste
em se estimar algebricamente o valor de α, usando-se a expressão 2.5.67 e a aproximação
vE2 ∼
= µ2 . No processo, as velocidades intervalares são obtidas com a equação 3.1.22.
Uma interessante técnica — independente da expansão 3.1.16 — fundamenta-se na se-
guinte idéia, proposta por Al-Chalabi (1974): é possı́vel remover o chamado bias, presente
na velocidade de empilhamento, de forma a convertê-la na velocidade NMO, ou RMS.
Neste processo, é necessário estimar a curva tempo-distância teórica — normalmente,
através de traçamento de raios — que melhor se ajusta à obtida com base na velocidade
de empilhamento. A curva assim estimada, que tende a se aproximar da real, é usada no
empilhamento, em substituição à calculada com a velocidade de empilhamento. No texto
que se segue, discute-se uma versão mais abrangente desta técnica.
296 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
dˆt = ft ∗ pt
onde dˆt é a forma de onda obtida e ft é o filtro calculado, tomando-se como desejado o
pulso dt que, preferencialmente, deve ter fase igual a zero.
Como a convolução é um processo linear, pode-se afirmar que a expressão que se segue
é válida:
st ∗ f t = r t ∗ p t ∗ f t
ou
st ∗ ft = rt ∗ dˆt
3.2. A DECONVOLUÇÃO DA ASSINATURA SÍSMICA 299
Portanto, a convolução do filtro de forma com o traço sı́smico altera o pulso sı́smico
na direção desejada, sem modificar a série de coeficientes de reflexão. As informações
geológicas permanecem e a interpretação torna-se mais fácil.
Se a forma de onda desejada, dt , for um impulso unitário, a deconvolução da assina-
tura pode ser representada, no domı́nio da freqüência, pelas operações contrárias às das
equações 2.1.62 e 2.1.63, como no exemplo da Figura 3.9. Assim, a divisão do espectro
de amplitude do traço sı́smico pelo espectro de amplitude do pulso resulta no espectro
de amplitude dos coeficientes de reflexão. Similarmente, a subtração do espectro de fase
do traço pelo espectro de fase do pulso resulta no espectro de fase dos coeficientes de
reflexão. Analiticamente, têm-se as seguintes expressões:
AS (f )
AR (f ) = (3.2.1)
AP (f )
e
φR (f ) = φS (f ) − φP (f ) (3.2.2)
De acordo com Ziolkowski et al. (1982), o arranjo de canhões de ar, que atuam de forma
interativa, é aproximadamente equivalente a um arranjo teórico (notional ) de canhões
não interativos, cujo padrão de radiação combinado é idêntico ao do arranjo original.
Os mesmos autores demonstram que as assinaturas desses canhões equivalentes podem
ser determinadas com base em medidas feitas em campo próximo, ou seja, através de
receptores situados a uma distância da fonte pequena o suficiente para reduzir a influência
recı́proca dos canhões (mas grande o suficiente para reduzir a importância de efeitos não
lineares associados à geração das bolhas de ar). Em cada um desses receptores, registra-
se um sinal que pode ser descrito, no domı́nio da freqüência angular, ω, pela seguinte
expressão:
M
X 1 r
Sn (ω) = Wm (ω) exp(iωτnm ) − exp(iωτgnm ) (3.2.4)
m=1
Rnm Rgnm
e −1
G̃−1
g (Kxg , ω) = 1 + r exp(−iKzg 2dg ) (3.2.11)
onde r é o coeficiente de reflexão da superfı́cie livre, d é a profundidade da fonte ou
do receptor, enquanto Kzs e Kzg são os números de onda verticais correspondentes aos
agrupamentos de receptor comum e fonte comum, respectivamente (ver o item 2.3).
Na aplicação das equações 3.2.10 e 3.2.11, deve-se levar em conta que o espalhamento
geométrico, implı́cito no operador do fantasma, é tratado de forma bidimensional, o que
afeta a qualidade do processo no caso de reflexões muito rasas. Neste caso, pode ser
conveniente aplicar uma correção adicional. Outro importante aspecto da aplicação das
duas equações diz respeito à possibilidade de superelevação de ruı́dos, associada à remoção
dos notches que estão presentes no espectro de amplitude do operador do fantasma.
Para evitar os ruı́dos associados aos notches, basta introduzir, no processo de cálculo
do operador de deconvolução do fantasma, o erro da profundidade da fonte, ou do recep-
tor. A forma mais indicada para isto consiste em empregar uma distribuição gaussiana
para representar o coeficiente de reflexão da superfı́cie (sugestão feita ao autor por técnicos
da empresa Western Geophysical Company, através de Ken Larner, em 1981). Neste par-
ticular, uma importante caracterı́stica do processo descrito é o papel do empilhamento e
da deconvolução de fase mı́nima, a serem aplicadas posteriormente: as duas técnicas se
encarregam de atenuar, ou dispersar, eventuais distorções introduzidas pelo filtro inverso
do fantasma.
A equação 3.2.9 permite tratar de forma adequada os diversos fenômenos associados
ao pulso sı́smico. Nas aplicações práticas, é comum a adoção de algumas simplificações.
Uma delas consiste em desprezar o papel dos arranjos de tiro e receptor. No caso dos
306 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Φrr (τ ) ∼
= R0 δτ (3.2.12)
que isto não é exatamente verdade. É necessário, portanto, adaptar a equação 3.2.15, o
que é feito através da seguinte expressão:
Φpp (τ ) ∼
= T (τ )Φss (τ ) (3.2.16)
onde ÂP (f ) e φ̂P (f ) são os espectros de amplitude e de fase mı́nima estimados durante a
deconvolução. Em conseqüência, pode-se representar o espectro de freqüências do filtro
de deconvolução da seguinte forma:
1 h i
D(f ) = exp −iφ̂P (f ) (3.2.20)
ÂP (f )
Para que se compreenda melhor como a estimativa de fase mı́nima, φ̂P (f ), é obtida
durante a deconvolução, o primeiro passo consiste em calcular o logaritmo neperiano da
expressão 3.2.19, o que leva à seguinte equação:
h i
ln P̂ (f ) = ln ÂP (f ) + iφ̂P (f ) (3.2.21)
2k 1 d h i
φ̂P (f ) ∼
=− ÂP (f ) (3.2.24)
π ÂP (f ) df
12
Comparar os três termos centrais das equações 1.2.29 e 1.2.38.
3.2. A DECONVOLUÇÃO DA ASSINATURA SÍSMICA 309
A equação 3.2.24, que não pode ser usada de forma absoluta, é muito útil no caso em
que se deseja avaliar qualitativamente a influência do ruı́do aleatório sobre a deconvolução
de fase mı́nima. Para isto, o primeiro passo consiste em representar da seguinte forma a
contaminação do sinal pelo ruı́do:
Com base nas expressões 3.2.23 e 3.2.24, pode-se transformar este resultado na seguinte
aproximação para a fase mı́nima estimada na presença de ruı́do aleatório:
" #
 P (f )
φ̂P N (f ) ∼
= φ̂P (f ) (3.2.28)
ÂP (f ) + β
onde φ̂P (f ) é o espectro de fase mı́nima do pulso sı́smico, estimado sem influência do
ruı́do.
A expressão 3.2.28, apesar de ser apenas uma aproximação, permite perceber que,
à semelhança do que ocorre com o espectro de amplitude, o ruı́do branco amortece a
correção de fase aplicada pelo filtro de deconvolução. Assim, se β >> ÂP (f ), a fase
estimada se aproxima de zero. Também como no caso do espectro de amplitude, a
correção de fase feita pelo operador de deconvolução é mais efetiva nas freqüências com
melhor razão sinal-ruı́do.
Na Figura 3.10, vê-se como o ruı́do branco afeta a estimativa de fase feita com a
deconvolução de fase mı́nima, no caso de um pulso de absorção truncado. Percebe-se, na
figura, o favorecimento das amplitudes mais altas (no caso, localizadas nas freqüências
próximas de zero), o que está de acordo com o que se poderia prever com base na equação
3.2.28.
310 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Em resumo, conclui-se que, na presença de ruı́do branco forte, os dados sı́smicos não
são significativamente alterados pela deconvolução de fase mı́nima; em vez de produzir
instabilidade, como se poderia esperar, o ruı́do aleatório amortece a ação da deconvolução.
Por outro lado, mesmo agindo parcialmente, a deconvolução favorece a homogeneização
lateral do pulso, em um conjunto de traços sı́smicos qualquer13 . Ou seja, nas freqüências
com melhor razão sinal-ruı́do, a deconvolução tende a compensar diferenças nos espectros
de traços vizinhos, ao mesmo tempo em que pouco altera as freqüências mais contami-
nadas.
No caso de um agrupamento CMP, por exemplo, a ação da deconvolução de fase
mı́nima é muito positiva já que, ao homogeneizar lateralmente o pulso sı́smico, favorece
a qualidade do empilhamento e de processos como correções estáticas residuais e análise
de velocidade. O espectro de amplitude plano, resultante do processo, é obviamente
contaminado pelo ruı́do branco, particularmente nas altas freqüências. Entretanto, o
ruı́do branco tende a ser fortemente atenuado pelo empilhamento e outros processos
multicanais, porque apresenta espectro de fase aleatório. Em conseqüência, os traços
sı́smicos empilhados são apenas um pouco mais brancos do que os traços originais, em
função da deconvolução parcial e da atenuação de eventos fora de fase, mas o pulso
sı́smico resultante é certamente mais estável lateralmente do que nos mesmos dados sem
deconvolução.
Sabe-se que não são somente os ruı́dos a alterar o espectro de amplitude dos dados
sı́smicos e, conseqüentemente, a fase resultante do processo. A própria forma com que se
estima o espectro de amplitude do pulso sı́smico pode afetar sensivelmente os resultados
obtidos. Este é o caso da deconvolução de fase mı́nima baseada no conceito de consistência
superficial, a qual envolve a combinação dos espectros de amplitude de traços sı́smicos
13
A tese de Sixta (1982) é uma excelente fonte para uma boa avaliação dessa afirmação.
3.2. A DECONVOLUÇÃO DA ASSINATURA SÍSMICA 311
O resultado é:
φ̂P F (f ) = φ̂P (f ) + φ̂F (f ) (3.2.31)
onde φ̂P F (f ) é o espectro de fase mı́nima estimado no processo, φ̂P (f ) é o espectro de
fase mı́nima estimado sem a influência do filtro e φ̂F (f ) é o espectro de fase mı́nima
correspondente ao filtro passa-banda aplicado previamente aos dados sı́smicos.
Com base no resultado representado pela equação 3.2.31, não é difı́cil concluir que os
filtros passa-banda tı́picos podem alterar significativamente a fase resultante da decon-
volução de fase mı́nima. Ressalte-se que o efeito dos filtros corta-baixas é mais danoso
do que, por exemplo, o dos filtros anti-álias, por causa da boa razão sinal-ruı́do e da alta
declividade do espectro de amplitude que, normalmente, se observam nas freqüências
baixas, caracterı́sticas estas que não estão presentes nas altas freqüências.
A influência negativa dos filtros passa-banda pode ser facilmente evitada já que, na
maioria das vezes, eles não melhoram o resultado da deconvolução de fase mı́nima e,
conseqüentemente, são dispensáveis. Processos que reduzem a incoerência lateral dos
traços sı́smicos podem ser muito mais úteis, já que atuam somente sobre eventos aleatórios
e, portanto, não influenciam negativamente a deconvolução. Deve-se destacar que, se
estas recomendações forem seguidas e se o conhecimento da fase do pulso sı́smico não for
muito importante, a deconvolução de fase mı́nima pode se tornar um processo satisfatório.
Entretanto, no caso de objetivos mais refinados, para os quais torna-se desejável um pulso
curto e de fase nula, a deconvolução de fase mı́nima isolada não é satisfatória.
qt = i t ∗ h t ∗ g t ∗ a t
ft ∗ q t = δ t
Em função das caracterı́sticas de fase de qt , o filtro a ser computado pode ter compo-
nentes de antecipação, ou seja, coeficientes diferentes de zero para tempos menores
do que zero. Nesse caso, o pulso desejado é ainda um impulso unitário, mas esti-
mado de forma a considerar deslocamento de tempo condicionado às caracterı́sticas
de fase de qt (ver o item 1.4).
Deve-se ressaltar que a fase determinı́stica da técnica descrita pode ser conduzida na
forma apresentada no subitem 3.2.2, em particular no que diz respeito à deconvolução
do operador dos fantasmas, que deve levar em conta o erro nas profundidades da fonte
e do receptor. Mencione-se ainda que uma estimativa independente de boa qualidade
para a assinatura da fonte, wt , a qual substituiria o pulso qt , tende a favorecer o processo
descrito, já que a deconvolução de fase mı́nima poderia ser concentrada em fenômenos
relacionados com a propagação. Para se estimar wt , pode-se usar uma das técnicas
descritas no subitem 3.2.1, como a gravação da assinatura sı́smica em campo remoto e
a técnica de Oliveira (2000), a qual é sintetizada pelas equações 3.2.5 e 3.2.7. Nas duas
técnicas, é necessário apenas levar em conta o efeito dos fantasmas o qual, na primeira
delas, envolve apenas o receptor.
Outra alternativa à seqüência proposta consiste em, na etapa 2, estimar um filtro
ótimo que anule o espectro de fase e ajuste, para uma forma desejada qualquer, o espectro
de amplitude de qt . Ou seja, neste caso, o filtro inverso é substituı́do por um filtro
de forma, filtro este aplicado na etapa 3. Para garantir a integridade do resultado, a
deconvolução de fase mı́nima, aplicada na etapa 4, seria substituı́da por uma deconvolução
preditiva com distância de predição maior do que o comprimento efetivo de qt . Observe-se
que esta alternativa equivale a aplicar deconvolução puramente determinı́stica ao pulso
sı́smico, deixando para outras etapas do processamento eventuais correções residuais de
fase e amplitude.
Um procedimento usado com freqüência, muitas vezes de forma errônea, consiste em
transformar qt em seu equivalente de fase mı́nima, durante os passos 2 e 3 da seqüência
proposta. Em tese, a deconvolução de fase mı́nima subseqüente deveria transformar a
forma de onda obtida em um impulso unitário. Na verdade, isto não ocorre nas situações
práticas, em parte por que o nı́vel de ruı́do, naturalmente presente nos dados sı́smicos, é
alto o suficiente para inibir a atuação da deconvolução de fase mı́nima, mesmo em áreas
de boa razão sinal-ruı́do (ver discussão sobre o papel do ruı́do sobre a deconvolução de
fase mı́nima, no subitem 3.2.3).
A eficiência da deconvolução estatı́stico-determinı́stica foi testada exaustivamente em
um trabalho de Rosa e Schinelli (1985), usando dados experimentais de água profunda
(800m) da Bacia de Campos. Nesta experiência, o pulso sı́smico foi gravado diretamente,
através de um hidrofone colocado a 180m de profundidade, em vários afastamentos. Um
dos pulsos diretos obtidos foi apresentado na Figura 2.4 (página 71). O instrumento usado
foi o LRS-888, o filtro foi 0-176Hz (72dB/oitava) e a profundidade da fonte (air-gun) foi
de 5m. Os pulsos resultantes não incluem, obviamente, o fantasma do hidrofone.
Nas figuras 3.11 e 3.12, pode-se ver, respectivamente, o pulso qt associado ao experi-
mental e o correspondente filtro inverso, ft . Neste último, são evidentes os componentes
de antecipação, indicando que, no caso, o pulso qt realmente não tem caracterı́sticas de
fase mı́nima.
O passo seguinte do teste consistiu em aplicar, aos pulsos registrados em 11 afasta-
mentos fonte-receptor distintos, quatro seqüências de processamento14 : (1) empilhamento
simples; (2) aplicação do filtro inverso e empilhamento; (3) aplicação do filtro inverso,
deconvolução de fase mı́nima e empilhamento e; (4) deconvolução de fase mı́nima simples
e empilhamento. A luz branca usada em todas as diferentes deconvoluções foi de 0.01%.
14
No empilhamento, cada um dos traços foi submetido a um deslocamento puramente estático.
314 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
4. Faz-se com que o traço resultante da soma apresente decaimento de amplitude com
o tempo equivalente ao do traço original.
∂g
= −(st − rt ∗ wt ) = 0 (3.2.33)
∂rt
onde st e wt são o traço sı́smico e o pulso conhecido, enquanto rt é a série de coeficientes
de reflexão que se deseja estimar. Observe-se que a minimização do funcional g equivale
a determinar a série rt .
É possı́vel demonstrar (ver Ortega e Rheinboldt, 1970, páginas 93-96) que o funcional
g é dado por
T 1 T
g(r) = − [r̂t ] [st ] − 2 [r̂t ] [ŝt ] (3.2.34)
onde T denota transposição, enquanto [r̂t ] e [ŝt ] são vetores correspondentes, respectiva-
mente, às estimativas da série de coeficientes de reflexão e do traço sı́smico a ela associado.
Ou seja, ŝt é a série resultante da convolução da série estimada r̂t com o pulso sı́smico
conhecido.
Uma inspeção da equação 3.2.34 permite observar que g envolve a diferença entre os
valores, no deslocamento igual a zero, de duas correlações cruzadas: (1) a da estimativa
dos coeficientes de reflexão com a estimativa do traço sı́smico correspondente e; (2) a da
estimativa dos coeficientes de reflexão com o traço sı́smico original. Conclui-se assim que
minimizar g corresponde também a aumentar a correlação entre a série de coeficientes
de reflexão a estimar e o traço sı́smico original. Esta idéia torna-se mais clara quando se
estabelece a condição em que g atinge o menor valor possı́vel, a qual permite transformar
a equação 3.2.34 na seguinte igualdade:
onde Φ denota correlação cruzada entre as funções indicadas como subscritos. Com base
neste resultado, não é difı́cil concluir que a deconvolução iterativa exige, para ser bem-
sucedida, que a fase do pulso sı́smico seja nula (ou anulada no processo).
A aplicação, à equação 3.2.33, do método dos gradientes, leva ao seguinte processo
iterativo (Ortega e Rheinboldt, 1970, páginas 250 a 252):
onde, em cada etapa k da iteração, [r̂t ]k é um vetor com a estimativa dos coeficientes de
reflexão e [ŝt ]k é o modelo de traço sı́smico correspondente. O vetor diferença [st ] − [ŝt ]k
15
O projeto mencionado visava mapear, com dados sı́smicos, reservatórios da Bacia de Campos
3.2. A DECONVOLUÇÃO DA ASSINATURA SÍSMICA 319
Neste caso, pode-se desprezar o termo que envolve αk na equação 3.2.38, fazendo com
que o fator βk assuma a seguinte forma:
Observe-se que este resultado corresponde à razão entre os valores, no deslocamento igual
a zero, de duas correlações cruzadas: a do traço sı́smico dado com o modelo correspon-
dente e a do modelo com ele mesmo. Ou seja, o fator βk fornece uma medida de quão
semelhantes são o traço sı́smico original e o modelo correspondente (ver a equação 1.3.9).
A condição de proximidade da solução, necessária para validar a expressão 3.2.39, pode
ser satisfeita com base no fato de que um traço sı́smico de boa qualidade, adequadamente
processado, corresponde a uma versão filtrada da série de coeficientes de reflexão. Assim,
se o mesmo traço for utilizado como estimativa inicial da série de coeficientes de reflexão,
a deconvolução iterativa é iniciada em uma região já próxima da solução almejada. Neste
caso, a equação 3.2.36 é substituı́da por
onde M é um operador que seleciona máximos e mı́nimos locais de uma série, deixando
valores iguais a zero entre seleções sucessivas. Em outras palavras, M é um operador que
seleciona picos e cavidades.
Duas observações devem ser feitas a respeito das expressões 3.2.40 e 3.2.41. Em
primeiro lugar, deve-se ressaltar que a primeira delas pode ser considerada um caso
particular da segunda. Para isto, basta levar em conta que o operador M deve selecionar
todas as amplitudes do sinal envolvido e não apenas os picos e as cavidades. Em segundo
lugar, observa-se que, em cada iteração k, o fator βk exerce o papel de corrigir a influência
do pulso sı́smico sobre a energia das estimativas dos coeficientes de reflexão obtidas na
iteração k − 1. Assim, se esta correção não for explicitamente aplicada em cada iteração,
deve-se, ao final do processo, corrigir os coeficientes de reflexão obtidos, multiplicando-os
por β.
Em termos algorı́tmicos, as duas versões da deconvolução iterativa podem ser descritas
da seguinte forma:
1. Estima-se o pulso sı́smico recorrendo-se, por exemplo, a uma das técnicas descritas
no subitem anterior.
5. Aplica-se a equação 3.2.41, para se determinar [r̂t ]k+1 . Ou seja, aplica-se o operador
M sobre o erro [st ] − βk [ŝt ]k e soma-se o resultado a [r̂t ]k .
ou
R̂k+1 = R̂k + W (R − βk R̂k ) (3.2.42)
3.2. A DECONVOLUÇÃO DA ASSINATURA SÍSMICA 321
100
75
Amplitude (%)
50
25
0
0 25 50 75 100 125
Freqüência (Hz)
−100
Tempo (ms)
100
S E C D P 1 C D P 2 C S
Figura 3.16: Séries envolvidas em duas iterações da versão não linear
da deconvolução iterativa aplicada a um pulso sı́smico, representado
pelos dois traços S. Os demais traços são: E, 1 e 2 – estimativas sucessivas
dos coeficientes de reflexão; C – os modelos sı́smicos correspondentes,
ponderados por β; D – diferenças entre o traço S e os traços C ; P –
picos e cavidades dos traços D adjacentes.
100
75
Amplitude (%)
50
2
1
25 E
S
0
0 25 50 75 100 125
Freqüência (Hz)
de um ciclo. Por outro lado, é óbvio que esta representação é tão melhor quanto mais
plano for, na mesma faixa de freqüências, o espectro de amplitude do pulso sı́smico.
Nesta linha de raciocı́nio, pode-se estabelecer um processo recursivo que consiste em
aplicar aos dados sı́smicos a técnica linear e, sobre o resultado obtido, a técnica não
linear. Em termos práticos, a primeira etapa exerce o papel de reduzir a interferência
de reflexões adjacentes, de forma a deslocar os correspondentes picos e cavidades para
posições mais próximas dos coeficientes de reflexão corretos. Ressalte-se que melhores
resultados são obtidos se, na segunda etapa, o pulso sı́smico corresponder ao resultado
da aplicação da técnica linear sobre o pulso sı́smico usado na primeira etapa.
onde o ı́ndice v refere-se ao VSP, vt , e ft é um filtro de forma que converte o pulso sı́smico
dos dados de reflexão no pulso incluı́do no processamento do VSP, que idealmente, deve
ter fase nula. Obviamente, a série vt poderia também ser um traço sı́smico sintético,
equivalente a uma versão filtrada da série de coeficientes de reflexão.
rt ∼
= ct ∗ f t (3.2.48)
Figura 3.18: Seção sı́smica processada de três formas, juntamente com sismograma
sintético gerado com pulso de fase igual a zero (8-60Hz):(a) à esquerda, deconvolução
estatı́stico-determinı́stica; (b) ao centro, o mesmo processamento, seguido de decon-
volução de fase nula e; (c) o processamento anterior, seguido de correção da cor da
função refletividade.
a pequena melhoria introduzida pelo processo pode se revelar muito importante no caso
em que se deseja obter estimativas sı́smicas das impedâncias acústicas (ver o item 3.7).
com a velocidade de propagação do evento primário, faz com que as múltiplas sejam mi-
gradas em excesso, gerando os chamados “sorrisos” da migração, o que tende a enfatizar
os efeitos nocivos do fenômeno.
Na forma convencional, as técnicas de atenuação de eventos múltiplos são aplicadas
em dados sı́smicos distribuı́dos na forma de agrupamentos de ponto médio comum (CMP).
Neste domı́nio, a diferença de NMO entre eventos primários e múltiplos possibilita, em
muitos casos, a necessária discriminação que possibilita a atenuação dos primeiros. Esta
condição ocorre em duas circunstâncias: (1) quando a velocidade dos eventos primários
é substancialmente maior do que a dos múltiplos e; (2) quando existe variação suficien-
temente ampla, no afastamento entre fonte e receptores.
Na aquisição convencional, estas condições ocorrem, por exemplo, em seções sedimen-
tares onde a aceleração — definida como a derivada da velocidade de propagação com
relação do tempo, ou, ainda, a medida da rapidez com que cresce a mesma velocidade
— atinge valores significativos. Neste caso, pode-se obter discriminação razoável entre
eventos primários e múltiplos, mesmo nos traços sı́smicos registrados relativamente junto
à fonte. Desta forma, pode-se aplicar com sucesso todos os algoritmos que fazem uso de
diferenças de NMO entre os eventos primários e os múltiplos. Em particular, cita-se o
empilhamento dos traços das famı́lias CMP (ver o subitem 3.1.2).
Considere-se agora o caso em que a velocidade de propagação varia lentamente. Neste
caso, o empilhamento dos traços sı́smicos de um agrupamento CMP pode não ser sufici-
ente para atenuar os eventos múltiplos. Recorre-se então a técnicas de filtragem que per-
mitem ganhos adicionais em relação ao empilhamento convencional. Uma dessas técnicas
consiste em aplicar, no domı́nio f -K, filtros de velocidade voltados para atenuar os even-
tos múltiplos de uma famı́lia CMP, o que é feito após correção de NMO dedicada a
posicionar, em quadrantes diferentes do plano f -K, eventos primários e múltiplos, o que
favorece a atenuação dos últimos. Ou seja, a velocidade usada na correção de NMO deve
ser um valor intermediário entre o da primária e o da múltipla que seria registrada no
mesmo tempo.
Outra técnica, mais bem-sucedida, é baseada na transformada Radon parabólica, ou
hiperbólica, conduzida após a correção de NMO convencional (ver o Apêndice A.1 e
Hampson, 1986; Foster e Mosher, 1992). Na versão parabólica, assume-se que o moveout
residual das múltiplas obedece ao modelo ax2 , onde x é o afastamento fonte-receptor e a
é um parâmetro que controla a declividade dos eventos resultantes da correção de NMO.
Com base nesse modelo, as múltiplas são isoladas no domı́nio Radon e, após obtenção da
transformada inversa correspondente, subtraı́das dos dados sı́smicos.
Alternativas adicionais, aplicadas a dados sı́smicos já submetidos à correção de NMO,
são: (1) aplicação de filtros de número de onda às amostras situadas em um mesmo tempo
de reflexão; (2) nas mesmas condições, empilhamento das amostras estatisticamente mais
representativas (situadas junto à mediana das amplitudes, seja no domı́nio do tempo, seja
da freqüência); (3) empilhamento seletivo de autoimagens (Freire, 1986).
É fácil induzir que a maior dificuldade para a atenuação de múltiplas se concentra
nos afastamentos próximos de zero, onde a diferença de NMO entre eventos primários
e múltiplos é muito pequena. Para contornar esta dificuldade, a seguinte técnica, ainda
pouco explorada, foi proposta por Rodolfo do Val, em meados da década de 1990: (1)
os traços sı́smicos de um agrupamento CMP, após correção de NMO, têm as amostras,
em cada tempo de reflexão vertical, reordenadas de forma aleatória, com o fim de se
3.3. CORREÇÃO DOS FATORES DE PROPAGAÇÃO 329
gerar uma série em que a posição relativa original não é respeitada; (2) em seguida, esta
série é submetida à atenuação, ou filtragem, dos eventos que não apresentam coerência;
(3) subseqüentemente, cada um dos elementos filtrados é recolocado na posição original.
Este esquema favorece a atenuação das múltiplas, já que a redistribuição das amplitudes,
antes da filtragem, pode posicionar, lado a lado, amostras obtidas em afastamentos fonte-
receptor muito diferentes, condição esta que afeta mais os eventos múltiplos do que os
eventos primários. Ressalte-se que, em alguns casos, as anomalias de AVO podem ser
afetadas.
Reportam-se casos de sucesso de todas as técnicas citadas, assim como das que serão
discutidas em seguida. Entretanto, em algumas circunstâncias, em particular na faixa de
lâmina d’água entre 40 e 100 metros e piso oceânico mais rı́gido, desenvolve-se um padrão
reverberante ainda não bem resolvido pelos algoritmos disponı́veis. A teoria discutida no
item 2.8 abrange parcialmente as razões deste problema e permite induzir a aplicação de
duas famı́lias de técnicas: (a) deconvolução preditiva, preferencialmente no domı́nio τ -p;
(2) algoritmos baseados no registro simultâneo dos campos de velocidade de partı́culas
e pressão. A primeira famı́lia de técnicas é discutida adiante e a segunda, que não
será analisada, baseia-se na idéia de que o campo de velocidades de partı́culas permite
identificar o sentido da propagação das ondas.
onde a operação (A + rB)C substitui o termo entre colchetes da equação 3.3.5. Observe-se que o produto
S̃s0 A é responsável pela geração de um campo de pressões hipoteticamente adquirido no fundo do mar,
enquanto o produto S̃s0 rB se encarrega de gerar as múltiplas que seriam descendentes na mesma posição.
Como, nos dois campos de onda, os eventos múltiplos apresentam polaridades opostas e os mesmos tempos
de reflexão, o resultado da soma dá origem ao campo de eventos primários que se obteria no fundo do
mar. Na seqüência, o produto pelo termo C se encarrega de extrapolar o resultado da operação de volta
para a superfı́cie.
22
Para isto, parte-se da premissa de que o tempo de reflexão correspondente ao fundo do mar é correto
e que as deformações associadas ao pulso sı́smico já foram atenuadas. É também necessário levar em
conta que a reflexão do fundo do mar nunca é um evento isolado (ver Wiggins, 1999).
332 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
FM
RP
Tempo (s)
M1
P−L
3
M2
−2 −1 0 1 2
Afastamento da fonte (km)
Figura 3.19: Representação esquemática da aplicação do princı́pio de Huy-
gens à geração, em um sismograma, das múltiplas de primeira e segunda ordem
associadas ao fundo do mar (M1 e M2 ) e de uma múltipla peg leg associada
a um refletor (P-L). As reflexões primárias correspondentes são identificadas
por FM e RP. Cada sı́mbolo • indica um ponto usado para a geração de
uma onda secundária (linha fina), a qual tem a geometria da reflexão primária
do fundo do mar obtida com a fonte na mesma coordenada horizontal e é
representada verticalmente abaixo do ponto escolhido, de acordo com um des-
locamento dado pelo tempo do mesmo ponto. As camadas são horizontais e
as velocidades da água e dos sedimentos são lateralmente constantes (1500 e
2000m/s).
necessário transformar a equação 3.3.5 para o domı́nio ω-x, no qual a mesma equação
transforma-se na seguinte convolução, obtida com base na expressão 2.8.34:
∂Rg
Ps0 = Ss0 ∗ δ(x − xs0 ) + (3.3.7)
∂z
onde ∗ denota convolução ao longo do eixo x e xs0 é a coordenada horizontal da fonte
s0 , enquanto Ps0 , Ss0 e Rg são funções de ω e x, sendo que Rg corresponde à reflexão
primária do fundo do mar estimada com a fonte situada em qualquer posição superficial.
Na forma da equação 3.3.7, a função Rg pode variar lateralmente. Adicionalmente, a
mesma equação admite a idéia de que Rg poderia ser obtida a partir do próprio sismo-
grama registrado com a fonte situada na posição identificada pelo subscrito g. Admitindo-
se esta possibilidade, não haveria a necessidade de se estimar os coeficientes de reflexão
r, uma vez que Rg corresponderia à transformada de Fourier de uma pequena janela do
sismograma, suficiente para incluir a própria reflexão do fundo do mar23 . Esta é uma
idéia implı́cita na proposta de Filpo e Tygel (1999), a qual se aplica a dados sı́smicos
registrados na ausência de afastamento entre a fonte e o receptor.
A possibilidade de se obter a função Rg a partir dos próprios sismogramas registrados
permite uma importante indução. Sabendo-se que todas as reflexões primárias, presentes
nos sismogramas registrados, geram múltiplas da superfı́cie livre, pode-se perguntar: seria
possı́vel utilizar todo o sismograma, obtido na posição g, como uma estimativa abran-
gente da função Rg ? Para analisar o tema, deve-se considerar que, na expressão 3.3.7, a
operação Ss0 ∗ ∂Rg /∂z é responsável pela geração das múltiplas com sinal trocado. Desta
forma, a substituição da função Rg pela correspondente ao sismograma, Sg , resulta, com
base na equação 2.8.32, na seguinte igualdade:
∂Sg ∂Sg ∂Sg ∂Sg
Ss 0 ∗ = P s0 ∗ − Ps 0 ∗ ∗
∂z ∂z ∂z ∂z
ou, levando em conta a expressão 2.8.33,
∞
"∞ #
∂Sg X X ∂Sg
Ss 0 ∗ =− Ms(k) + Ms(k) ∗ (3.3.8)
∂z k=1
0
k=1
0
∂z
(k)
onde Ms0 representa as múltiplas de ordem k. Nas aplicações práticas, Sg pode cor-
responder, em cada posição, à transformada de Fourier de um agrupamento de receptor
comum.
Percebe-se que a expressão 3.3.8 permite prever, com o sinal trocado, todas as múltiplas
cujo atraso é controlado pelas reflexões primárias. Entretanto, nos termos do princı́pio de
Huygens, as múltiplas já existentes no sismograma também atuam como fontes primárias
e geram um resı́duo, o qual envolve as múltiplas de ordem maior do que 1. Por outro lado,
não é difı́cil induzir que a operação Ss0 ∗ ∂Sg /∂z ∗ ∂Sg /∂z geraria uma versão, também
com o sinal trocado, do mesmo resı́duo. Tem-se no caso, a seguinte igualdade:
"∞ # "∞ # "∞ #
∂Sg ∂Sg X
(k) ∂Sg X
(k)
X
(k) ∂Sg
Ss 0 ∗ ∗ =− Ms0 ∗ + Ms0 ∗ Ms0 ∗ (3.3.9)
∂z ∂z k=1
∂z k=1 k=1
∂z
23
Neste caso, a derivada com relação à profundidade pode ser estimada no domı́nio ω-K x , através do
produto entre a transformada de Fourier de Rg e o fator iKz .
334 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Analisando-se as equações 3.3.8 e 3.3.9, conclui-se que a soma de ambas faz com que
o resı́duo criado pela primeira seja cancelado pela segunda a qual, por sua vez, cria um
novo resı́duo, neste caso envolvendo múltiplas de ordem maior do que 2. O mesmo resı́duo
aparece com o sinal trocado no resultado de uma nova convolução, entre a equação 3.3.9
e a derivada ∂Sg /∂z. Por extensão, admite-se, para um número infinito de convoluções,
a igualdade definida por
∞
X
(k) ∂Sg ∂Sg ∂Sg ∂Sg ∂Sg ∂Sg
Ms0 = −Ss0 ∗ + ∗ + ∗ ∗ +··· (3.3.10)
k=1
∂z ∂z ∂z ∂z ∂z ∂z
Deduziu-se, assim, uma expressão equivalente às obtidas pelos grupos de Weglein e de
Berkhout (Weglein et al., 1997; Carvalho, 1992; Verschuur et al., 1988; Berkhout e Vers-
chuur, 1997a,b).
Observe-se que, de acordo com a equação 3.3.11, é possı́vel obter os eventos primá-
rios correspondentes a um sismograma a partir, única e exclusivamente, de um conjunto
de sismogramas registrados com múltiplas. Ou seja, à parte o coeficiente de reflexão da
superfı́cie livre, nenhum conhecimento, a respeito das propriedades elásticas do meio,
é necessário. Não é difı́cil perceber, na mesma equação, que o número de termos ade-
quado depende da profundidade do piso oceânico, uma vez que o último termo apresenta
múltiplas ainda não canceladas. Levando em conta que as sucessivas convoluções deslo-
cam as múltiplas residuais para tempos cada vez maiores, é fácil concluir que, em regiões
de águas profundas, mesmo que se utilize um número restrito de termos, nenhuma dis-
torção residual afeta os sinais primários.
Deve-se destacar três condições fundamentais para o sucesso da técnica descrita, as
quais se aplicam, pelo menos em parte, também aos algoritmos de Wiggins (1988) e Filpo
e Tygel (1999): (1) os dados devem estar em amplitude verdadeira, condição esta que pode
ser facilmente detectada na dedução da equação 2.8.31; (2) a forma da assinatura da fonte
e as distorções do pulso sı́smico geradas pelo sistema de aquisição devem ser reduzidas a
um impulso unitário, para que não ocorram alterações de tempo e amplitude capazes de
reduzir a eficiência da técnica e; (3) é necessária a existência de traços sı́smicos registrados
de acordo com uma faixa de afastamentos fonte-receptor que inclua a superposição com
a fonte, para que as múltiplas sejam adequadamente previstas25 .
24
A série obtida corresponde também à forma inversa da equação 2.8.32, a qual, para uma posição
isolada da função Ps0 , pode ser descrita como uma série simples. A demonstração correspondente não é
muito diferente da que se aplica ao caso 1-D, para o qual a série de eventos primários é obtida a partir
da equação 3.3.2, ou seja,
S
P =
1−S
ou, na forma de uma expansão binomial, P = S + S 2 + S 3 + · · ·
25
Rigorosamente, esta condição deveria ser generalizada para o caso 3-D, o que implicaria a utilização
de um sistema de aquisição em que os receptores se distribuı́ssem ao longo de uma área em torno da
fonte.
3.3. CORREÇÃO DOS FATORES DE PROPAGAÇÃO 335
Das três condições citadas, talvez a mais severa delas seja a necessidade de se registrar
dados com afastamentos fonte-receptor iguais ou próximos de zero, já que as técnicas de
extrapolação, ou interpolação, de traços sı́smicos, que visam contornar esta necessidade,
tendem a somente ser bem-sucedidas em circunstâncias especiais como, por exemplo, nas
regiões de águas profundas. Em termos práticos, o conhecimento do pulso sı́smico não
representa uma limitação real, tendo em vista as opções de deconvolução de assinatura
disponı́veis. Além disso, como se afirmou no subitem dedicado ao mesmo tema, o próprio
processo de atenuação de múltiplas cria condições para se estimar o pulso sı́smico, com
base na idéia, já citada, de que o traço sı́smico sem múltiplas apresenta menor energia
do que o mesmo traço com múltiplas (ver Ikelle et al., 1997).
n∆t
X
Φss (τ − t)ht = Φss (τ + m∆t), para τ ≥ 0 (3.3.12)
t=0
Percebe-se facilmente que a aplicação deste filtro ao traço sı́smico não afeta as informações
no intervalo de tempo entre τ = 0 e τ = (m − 1)∆t, ao mesmo tempo em que atenua
os eventos cuja periodicidade envolve o intervalo entre m e n + m amostras. Esta é uma
caracterı́stica garantida pelo impulso unitário na origem, aliado aos m − 1 zeros e ao sinal
negativo que multiplica ht .
De acordo com que se afirmou anteriormente, sabe-se que, quando a distância de
predição é igual a uma amostra, ou seja, m = 1, o filtro ft obtido é igual ao filtro que se
calcula com a equação 3.2.17. Neste caso, a deconvolução preditiva atenua reverberações
com perı́odos que variam entre o equivalente a uma amostra e o comprimento do operador
(tipicamente, 80ms a 120-140ms), o que inclui os efeitos do filtro estratigráfico. Quando
se aplica a deconvolução preditiva com distâncias de predição maiores (por exemplo, 30ms
ou 40ms), o objetivo é o de não alterar a forma do pulso: as amostras nos tempos iniciais
da autocorrelação, correspondentes à parte mais importante do pulso, não são afetadas,
assim como grande parte dos efeitos do filtro estratigráfico.
A deconvolução preditiva, como aliás sugere o nome, exige periodicidade dos eventos a
atenuar. Viu-se no item 2.8 que, na presença de afastamento entre a fonte e o receptor, os
eventos múltiplos — gerados em um meio constituı́do de camadas horizontais e velocidade
lateralmente constante — se repetem não somente no dobro do tempo mas também no
dobro do afastamento em que ocorrem as reflexões primárias. Isto significa que, mesmo
no caso de um meio tão simples quanto o descrito, uma múltipla pode não apresentar
padrão periódico em um traço sı́smico isolado. Esta é a razão pela qual se justifica a
adoção de técnicas de deconvolução no domı́nio tempo-parâmetro de raio (o chamado
τ -p), domı́nio este em que as múltiplas apresentam padrão aproximadamente periódico.
No domı́nio τ -p, a deconvolução preditiva poderia, em princı́pio, atenuar também as
múltiplas de perı́odo longo (ver o subitem 2.8.2 e o Apêndice A.1). Entretanto, para que
isto fosse possı́vel, seria necessário que os dados registrados incluı́ssem uma adequada
representação estatı́stica das múltiplas, o que depende de um bom tratamento de am-
plitude, da ausência de ruı́dos, de um registro suficientemente longo e da presença de
componentes de baixas freqüências. As três últimas condições não se verificam no caso
de um sismograma tı́pico. Assim, o sistema de múltiplas de longo perı́odo apresenta-se
pobremente representado, truncado e afetado pelo ruı́do, o que diminui sua influência na
autocorrelação e, conseqüentemente, prejudica a eficácia do operador de deconvolução.
3.3.4 Compensação Q
No item 2.8, a absorção foi discutida com base no algoritmo de extrapolação de campos
de onda por deslocamento de fase (phase shift). O mesmo algoritmo pode ser aplicado
na correção do fenômeno, a qual é denominada por muitos autores “compensação Q”.
3.3. CORREÇÃO DOS FATORES DE PROPAGAÇÃO 337
Para isto, a equação 2.8.13 é adaptada à extrapolação inversa, no que resulta a seguinte
expressão:
πf ∆τ 2f ∆τ f
S(τ + ∆τ, f ) = S(τ, f ) exp exp i ln exp(−iω∆τ ) (3.3.13)
Q Q f0
0.9
a
1.0
1.1
0.9
b
1.0
Tempo (s)
1.1
0.9
c
1.0
1.1
0.9
d
1.0
1.1
0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Afastamento fonte−receptor (km)
Figura 3.20: Agrupamento CMP sintético, correspondente a uma re-
flexão gerada no tempo vertical igual a 1 segundo: (a) traços com absorção
(Q = 100, f0 = 500Hz); (b) após correção da dispersão, usando f 0 = 40Hz
e o valor correto de Q; (c) após correção da dispersão, usando Q = 50 e o
valor correto de f0 ; (d) após correção da dispersão, usando os valores cor-
retos de Q e f0 . Os traços sı́smicos foram submetidos à correção de NMO,
assumindo-se um meio sem absorção e sem levar em conta o estiramento.
Parâmetros: v = 2000m/s, filtro passa-banda de 8-60Hz e fase nula.
para se deduzir o filtro recursivo de dois pontos proposto por O. Duarte, na segunda
metade dos anos 1990 (ver o exercı́cio 16, no item 3.9).
As técnicas dedicadas à compensação Q podem ser combinadas com a deconvolução
da assinatura, através de uma seqüência que representa uma boa alternativa para a
deconvolução estatı́stico-determinı́stica discutida anteriormente. Neste caso, a fase de-
terminı́stica do processo consiste na aplicação de um filtro de forma, em vez de um filtro
inverso. Ou seja, o pulso sı́smico residual tem espectro de fase igual a zero e espectro de
amplitude com uma forma desejada qualquer. Em seguida, aplica-se a compensação Q
com o objetivo de corrigir apenas a dispersão, iniciando-se o processo abaixo da eventual
camada de água.
O procedimento alternativo proposto deve ser complementado com as técnicas de
atenuação de múltiplas já discutidas e, adicionalmente, com a deconvolução de fase nula,
analisada no item 3.2. É possı́vel ainda, na linha proposta por Varela et al. (1993), aplicar
compensação Q residual após a deconvolução estatı́stico-determinı́stica, com o cuidado
3.3. CORREÇÃO DOS FATORES DE PROPAGAÇÃO 341
z 2 = v 2 t20 − (x − x0 )2 (3.4.1)
0.5
Tempo (s)
1.0
1.5
2.0
1 2 3 4
Coordenada horizontal (km)
avaliada nos dados registrados, enquanto o segundo é a profundidade real, referente aos
dados migrados.
Aplicada ao exemplo de uma difração isolada, ainda nas condições de um meio ho-
mogêneo e isotrópico, a versão geométrica da migração pode ser descrita da seguinte
forma: a partir de cada uma das posições de registro, traça-se um semicı́rculo construı́do
com base na equação 3.4.1, ou na 3.4.2, usando o valor de tempo obtido na mesma
posição; o difrator é localizado no ponto em que os diversos semicı́rculos se interceptam.
Na Figura 3.21, vê-se uma ilustração do conceito, aplicado com base na equação 3.4.2,
ou seja, as profundidades dos semicı́rculos, z, foram substituı́das pelos seus equivalentes
em tempo, τ .
Considere-se agora a Figura 3.22, na qual se representa a relação geométrica entre
uma difração, uma frente de onda gerada na posição original de registro e uma reflexão
qualquer, no caso de um meio homogêneo e isotrópico. Percebe-se na figura que: (1)
a difração, gerada no refletor, tangencia a reflexão em um determinado ponto; (2) a
frente de onda, gerada no mesmo ponto, tangencia o refletor na posição do difrator, após
percorrer o tempo correspondente ao da reflexão obtida; (3) a mesma frente de onda
corta a difração em seu ápice, o qual, em função das caracterı́sticas do meio, situa-se
na posição do difrator. Desta forma, pode-se dizer que a migração geométrica de uma
reflexão consiste em localizar os diversos difratores que a caracterizam.
Com base nos conceitos ilustrados através das figuras 3.21 e 3.22, a migração geométrica
de uma reflexão pode ser conduzida como no exemplo da Figura 3.23. Ou seja, traçam-se
semicı́rculos, centrados nas posições de registro, tomando-se como raio a profundidade
aparente do refletor. Através de uma inspeção dos semicı́rculos traçados, confirma-se a
expectativa: o envelope tangente às frentes de onda circulares corresponde à interface
usada para a geração da reflexão, corrigindo o falseamento de mergulho, existente na
seção não migrada. A técnica descrita é a versão geométrica da chamada migração por
frentes de onda.
A migração por frentes de onda tem uma interessante interpretação, baseada na in-
versão das posições do difrator e do registro na superfı́cie. Para isto, considera-se cada
344 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
0.5 FO
Tempo (s)
1.0
D
1.5
R
M
2.0
0 1 2 3
Coordenada horizontal (km)
uma das posições originais de registro como uma fonte de energia, com amplitude igual
à do sinal registrado na mesma posição. A energia é propagada terra a dentro e o novo
registro é agora uma fotografia da frente de onda, obtida quando a onda viajou o tempo
equivalente à da reflexão registrada. Somando-se as fotografias das diversas frentes de
onda possı́veis, obtém-se, como resultado, a seção migrada.
Em meios homogêneos e isotrópicos, a versão geométrica da migração de dados sı́smicos
pode ser reproduzida algebricamente com base em um conjunto de relações relativamente
simples, baseadas em conceitos já apresentados nos itens 2.1 e 2.2. O primeiro e mais
fundamental desses conceitos é resumido pela seguinte expressão:
dt sen θ
p= = (3.4.4)
dx v
Este resultado merece ser destacado: a vagarosidade de uma reflexão contém informações
que permitem calcular o mergulho do refletor correspondente, sendo que, no caso de um
meio homogêneo e isotrópico, este cálculo é trivial.
Com as equações 3.4.3 e 3.4.4, pode-se estimar não somente a mudança no ângulo
de mergulho mas também o deslocamento horizontal introduzidos pela migração de um
3.4. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E A MIGRAÇÃO 345
0
α
0.5
Tempo (s)
1.0
1.5
R
M
2.0
0 1 2 3
Coordenada horizontal (km)
evento qualquer. Para se estimar também o deslocamento vertical e, desta forma, comple-
tar o processo de migração do mesmo evento, é necessário definir também a vagarosidade
vertical, a qual é dada por r
dt cos θ 1
= = − p2 (3.4.5)
dz v v2
onde z é a profundidade. Este resultado permite definir o cosseno do ângulo de mergulho
real através da seguinte expressão:
p
cos θ = 1 − v 2 p2 (3.4.6)
Com base na Figura 3.24 e nas expressões 3.4.3 a 3.4.6, pode-se facilmente estimar
os deslocamentos horizontal e vertical aplicados pela migração. Para apresentar as ex-
pressões correspondentes, suponha-se que uma determinada amostra de um evento, cuja
declividade aparente é dt/dx, tenha sido registrada na coordenada horizontal x A e na
profundidade aparente zA = vt, onde t é o tempo de reflexão e v é metade da velocidade
de propagação correta. Aplicada à mesma amostra, a migração a reposiciona na coorde-
nada horizontal xM e na profundidade zM , as quais são dadas pelas seguintes expressões:
dt
xM = x A − v 2 t = xA − zA sen θ (3.4.7)
dx
ou
xM = xA − vt sen θ = xA − zM tan θ (3.4.8)
346 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
e
dt
zM = v 2 t = zA cos θ (3.4.9)
dz
ou, em termos do tempo migrado τM ,
τM = t cos θ (3.4.10)
Com base nas equações 3.4.3 a 3.4.10, percebe-se que a migração de uma amostra
qualquer implica o seguinte percurso: partindo-se da superfı́cie, onde a amostra foi re-
gistrada, caminha-se ao longo do raio descrito pelo parâmetro p, até que a distância
percorrida seja igual à profundidade aparente da reflexão registrada, a qual é dada por
zA = vt. As coordenadas do ponto atingido correspondem às da amostra migrada.
A declividade de um refletor migrado pode ser obtida com base na declividade da
reflexão não migrada, sem a necessidade de computar coordenadas. Para isto, aplica-se
a seguinte definição da tangente do ângulo real, θ:
dτM
tan θ = v (3.4.11)
dx
onde τM é o tempo duplo na seção migrada. Sabendo-se que tan θ é igual a sen θ/ cos θ,
pode-se, com as expressões 3.4.4 e 3.4.6, obter a equação que define a declividade do
refletor após a migração, com base na declividade da reflexão registrada. O resultado é:
dτM p
=p (3.4.12)
dx 1 − v 2 p2
3.4. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E A MIGRAÇÃO 347
Uma análise das expressões 3.4.7 a 3.4.12 pode levar à conclusão de que velocidades
maiores do que a correta implicam migração excessiva. O oposto é válido para velocidades
mais baixas do que a correta. Um caso extremo é bem ilustrativo: o da velocidade igual
a zero. Neste caso, observa-se, na equação 3.4.12, que a declividade da reflexão migrada
é igual à da registrada, em função do fato de que o produto vp é igual a zero. Observa-se
ainda que a reflexão migrada é mantida na posição da reflexão original, já que o ângulo
θ, estimado com base na equação 3.4.3, é igual a zero e, em conseqüência, xM = xA e
zM = zA (ver as equações 3.4.7 e 3.4.9).
Nas aplicações práticas da migração, dois conceitos interrelacionados são fundamen-
tais: o ângulo de migração e a abertura do operador de migração o qual, em um meio
homogêneo e isotrópico, tem a geometria de um semi-cı́rculo, ou de uma frente de onda.
Ambos são parâmetros que estabelecem até que declividade uma dada difração será co-
lapsada pela migração. Conforme já foi dito no item 3.1, sinais com declividades maiores
do que o limite estabelecido são atenuados no processo.
Em termos práticos, o ângulo de migração, identificado esquematicamente na Figura
3.23, define até que ângulo de mergulho um refletor poderá ser corretamente migrado.
Por sua vez, a abertura do operador de migração corresponde à distância horizontal entre
os extremos da geometria que caracteriza o mesmo operador, extremos estes associados ao
máximo ângulo de mergulho a ser corretamente migrado. Percebe-se assim que, para uma
mesma abertura de operador, o ângulo de migração tende a decrescer com a profundidade.
Por outro lado, se o parâmetro fixado for o ângulo de migração, a abertura do operador
tende a crescer com a profundidade.
Esses dois exemplos podem ser usados para ilustrar como a migração corrige as dis-
torções de amplitude geradas pela geometria dos refletores. Viu-se no item 2.2 que, na
propagação direta, um sinclinal leva a uma concentração de energia em torno do traço
sı́smico cuja coordenada superficial coincide com o centro do raio de curvatura da inter-
face. Uma boa ilustração desse fenômeno foi apresentada na Figura 2.21 (página 102).
Por outro lado, sabe-se que a migração de um impulso unitário dá origem a formas se-
micirculares como a da Figura 3.25. Não é difı́cil induzir que, neste caso, a migração se
encarrega de redistribuir a energia concentrada pelo processo direto. O oposto ocorre no
caso de um anticlinal.
350 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
ou
R = vτ (3.4.14)
onde τ é o tempo duplo correspondente à distância R e, como está sendo aplicado o
modelo do refletor explosivo, a velocidade é metade da correta (v = vH ).
A aplicação do princı́pio de Huygens-Fresnel ao problema proposto consiste em se
estimar a resposta sı́smica desejada, no ponto B, através de uma soma ao longo da
superfı́cie de registro (z = 0), nos moldes do que foi feito, no item 2.2, para a geração de
uma reflexão. Aplica-se ao caso a seguinte expressão:
XX
p(xB , yB , zB , t) = p(x, y, z = 0, t + τ ) (3.4.15)
y x
a
t t=
=0
Tempo
Observe-se, na equação 3.4.18, que o valor da pressão no ponto B pode ser interpretado
como o resultado do fluxo do sinal, através da superfı́cie de registro, de acordo com a taxa
−∂p/∂t. Ou seja, trata-se de um fluxo reverso no tempo, como se a onda se propagasse
no sentido do ponto onde foi gerada.
Ainda de acordo com a mesma linha de raciocı́nio empregada no item 2.2, deve-se
incluir o fator de obliqüidade, cos α, onde α é o ângulo que o raio faz com o eixo vertical.
Com base no princı́pio da reciprocidade, esta operação equivale a projetar o produto
3.4. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E A MIGRAÇÃO 353
Por fim, ainda mantendo a seqüência de raciocı́nio empregada no item 2.2, pode-se
obter a forma final desejada, a qual inclui uma compensação para a derivada de cos α
com relação ao tempo, aplicada de forma implı́cita na equação 3.4.19. O resultado é:
XX
1 1 ∂
1
p(xB , yB , zB , t) = 2π cos α 2
− p(x, y, z = 0, t + τ ) ∆x∆y
y x
R vR ∂t
(3.4.20)
Nas figuras 3.27c, 3.27d e 3.27e, vêem-se os resultados da aplicação das equações
3.4.18, 3.4.19 e 3.4.20 ao problema da reflexão horizontal. É possı́vel observar o efeito da
introdução do fator de obliqüidade na Figura 3.27d, o qual gerou uma pequena distorção
nas amplitudes situadas nos tempos imediatamente inferiores a t = 0, distorção esta que
a equação 3.4.20 remove. O resultado final do processo é um evento isolado, no tempo
t = 0, de acordo com o que foi dito anteriormente. Observe-se que, ainda por analogia
com a discussão conduzida no item 2.2, pode-se também obter uma equação equivalente
à expressão 2.2.29, aplicável à propagação inversa.
1. Todos os traços sı́smicos dos dados a migrar são derivados com relação ao tempo.
4. Em cada uma das posições definidas pela curva tempo-distância obtida, ou seja, nos
tempos τ dos diversos traços sı́smicos do volume de dados originais, a amplitude é
extraı́da e multiplicada pelo fator W3D , o qual é dado por
cos α
W3D = − ∆x∆y
2πvR
onde cos α = z/R e R = vτ .
de um modelo geológico relativamente simples, mas caracterizado por uma grande mu-
dança de velocidade na interface inclinada, mudança esta que torna complexa a resposta
sı́smica correspondente. Na parte central da figura, o ângulo de mergulho da interface
superior é de 15 graus, enquanto a falha, na base da segunda camada, apresenta plano
com ângulo de mergulho de 45 graus.
Na Figura 3.29, pode-se ver a resposta sı́smica bidimensional não migrada, corres-
pondente ao modelo da Figura 3.28. Observe-se, na figura, que a geometria da interface
inferior é bastante deformada e que as feições geradas em função da falha aparecem clara-
mente deslocadas para a esquerda, na direção em que a velocidade média de propagação
é maior. Este efeito, associado à lei de Snell, é também responsável pela geometria do
raio imagem representado na Figura 3.28, o qual, por definição, atinge a superfı́cie na
direção vertical e que, por esta razão, pode ser usado para caracterizar o trajeto entre
um difrator e a posição em que se observa o ápice da correspondente difração. Conclui-se
portanto, com base no mesmo raio imagem, que a difração gerada no limite esquerdo do
bloco alto da falha teria seu ápice observado, na superfı́cie, a cerca de um quilômetro à
esquerda da posição do difrator. Esta previsão pode ser constatada através da Figura
3.30, na qual se pode ver o resultado da sintetização da difração citada.
Conclui-se, assim, que, em um meio complexo, as coordenadas do ápice da curva
tempo-distância correspondente a uma difração podem não representar a posição do di-
frator correspondente. No que diz respeito à focalização do sinal, sabe-se que, se o meio
fosse homogêneo e isotrópico, as curvas tempo-distância real e estimada com base na
equação 3.4.13 seriam coincidentes, o que permitiria, à migração em tempo, focalizar
3.4. O PRINCÍPIO DE HUYGENS E A MIGRAÇÃO 357
V
0.5
I
Tempo (s)
1.0 V
I
1.5
2.0
2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
Figura 3.32: Representação geométrica esperada para a migração em tempo, I,
e para a migração em profundidade seguida de conversão para tempo com base no
raio vertical, V , ambas referentes ao modelo da Figura 3.28.
da geometria correta de uma difração, não seria necessário conhecer a posição real do
difrator? No caso afirmativo, poder-se-ia ainda perguntar por que não modificar a mi-
gração de tal forma que o resultado da focalização seja posicionado não nas coordenadas
do ápice da difração mas nas próprias coordenadas do difrator. Esta linha de raciocı́nio
leva à definição da atuação ideal da migração em profundidade: resultado da focalização
perfeito, posicionado nas coordenadas reais do difrator, em vez das coordenadas do ápice
da difração. No caso dos dados da Figura 3.29, o resultado ideal desse processo seria
similar ao modelo da Figura 3.28, a menos da diferença no conteúdo de freqüências espa-
ciais entre os dois refletores — maior no caso do refletor raso —, o que se deve à diferença
nas velocidades intervalares envolvidas.
Uma análise um pouco mais cuidadosa de todos os aspectos desta discussão pode levar
a uma importante conclusão: na migração, a geometria da difração deve ser obtida com
base na distribuição das velocidades do próprio resultado desejado e não na dos dados
originais. Ou seja, para se obter a curva tempo-distância correta, é necessário saber,
ainda que de forma aproximada, como as camadas e suas velocidades intervalares estão
distribuı́das no espaço. Esta condição é a razão principal pela qual as velocidades de
migração são normalmente estimadas com base em processos do tipo tentativa-e-erro,
através das chamadas análises de velocidade de migração. No caso de dados sı́smicos
não empilhados, é possı́vel algum nı́vel de automação do processo, particularmente nas
regiões onde a qualidade é satisfatória (ver o item 3.6).
360 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
onde dt/dx e v são a vagarosidade e a velocidade locais. Observe-se que estas grandezas
devem ser compatı́veis, ou seja, se o tempo t for duplo, a velocidade v deve ser metade
da correta.
As expressões 3.4.24 e 3.4.25 apresentam algumas particularidades importantes. Em
primeiro lugar, observa-se que o módulo do deslocamento de tempo ∆T é igual ao tempo
de registro, o que caracteriza a chamada condição de imagem, ou seja, o refletor “explode”
no tempo t = 0. Além disso, como o valor de θ deve ser recalculado em cada etapa n, com
a velocidade v local, criam-se condições para o raio se defletir, sempre que a velocidade
mudar. Por fim, deve-se ressaltar que o sinal negativo na expressão 3.4.24 é incluı́do
362 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
para que, se a tangente de θ for positiva, o deslocamento horizontal tenha sinal negativo.
Esta condição é necessária porque a migração encolhe as difrações, o que leva a uma
redução da coordenada horizontal quando o ângulo θ é positivo e a um aumento na
mesma coordenada quando θ é negativo (ver a Figura 2.24, na página 112).
Com base na discussão apresentada no subitem 2.2.5, sabe-se que as expressões 3.4.24
e 3.4.25 podem ser facilmente aplicadas no domı́nio ω-Kx . Para apresentar o conceito,
suponha-se que se conheça a transformada bidimensional de Fourier, P̃ (x, z, ω), corres-
pondente a uma seção sı́smica obtida em uma profundidade hipotética, z. Neste caso, a
aplicação dos deslocamentos de tempo e distância — associados ao aprofundamento da
superfı́cie de “registro” para a profundidade z + ∆z — corresponde à seguinte igualdade:
∆z
P̃ (Kx , z + ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp (iKx ∆z tan θ) exp −iω
v cos θ
Sabendo-se que Kx = (ω/v) sen θ, pode-se alterar este resultado para
ω
P̃ (Kx , z + ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp −i ∆z cos θ (3.4.26)
v
Deve-se ressaltar que este algoritmo, embora facilite o entendimento da migração recur-
siva, apresenta uma importante deficiência: não admite variação lateral na velocidade.
Inicia-se a migração tridimensional recursiva em profundidade com os dados regis-
trados na superfı́cie (z = 0), como na migração sem recursão. Os dados são então
inversamente extrapolados até um nı́vel situado na profundidade ∆z. Como resultado,
obtêm-se dados sı́smicos corretamente migrados no tempo t = 0 do novo volume de dados
(“registrado” na profundidade ∆z), enquanto o restante do volume corresponde a dados
ainda não migrados. Armazenam-se os dados migrados (imageamento) e extrapolam-se
os dados “registrados” na profundidade ∆z até um novo nı́vel, situado a uma distância
∆z abaixo do primeiro, ou seja, até a profundidade igual a 2∆z (extrapolação inversa).
Como antes, os dados situados no tempo t = 0 do novo volume obtido estão correta-
mente migrados e podem ser armazenados na matriz de dados migrados (imageamento),
enquanto os demais dados devem ser extrapolados outra vez, até um nı́vel inferior (ex-
trapolação inversa). A continuação desse processo até o final do volume original gera os
dados migrados.
O entendimento global do processo descrito pode ser melhorado com o recurso a
modelos bidimensionais relativamente simples, como o da Figura 3.34, a qual inclui duas
difrações sintéticas, submetidas à migração e à extrapolação inversa. Na parte superior
da Figura 3.34, podem ser vistas as duas difrações, com ápices nos tempos t = t1 e
t = t2 , sendo t2 > t1 . No centro, pode-se ver o resultado ideal da migração das duas
difrações. Observe-se que ambas as formas hiperbólicas originais reduziram-se a formas
de onda aproximadamente pontuais, tı́picas de difratores filtrados. Na parte inferior da
figura, vê-se o resultado da extrapolação inversa, dos dados registrados na superfı́cie, até
a profundidade do difrator superior, ou seja, z = vt1 , onde v é a metade da velocidade
correta. Neste caso, a difração superior foi colapsada no tempo t = 0, enquanto a difração
inferior teve sua forma alterada para uma hipérbole menor e com flancos mais ı́ngremes.
0.1
0.2
0.3
0.4
0.1
Tempo (s)
0.2
0.3
0.4
0.1
0.2
0.3
0.4
−400 −200 0 200 400
Distância (m)
Figura 3.34: Migração versus extrapolação inversa em duas di-
mensões: (a) duas difrações isoladas, no alto; (b) migração em tempo
das duas difrações, no centro, e; (c) extrapolação inversa até a profun-
didade do difrator superior, embaixo. A velocidade do meio é 2000m/s
e os resultados foram filtrados (8-40Hz).
Induz-se facilmente que, para migrar a difração mais profunda, é necessário extrapolar o
campo de ondas para a profundidade z = vt2 . Nos dois casos, a extração das amplitudes
no tempo t = 0 caracteriza o imageamento. A mesma linha de raciocı́nio pode ser
generalizada para diversos difratores e diversas profundidades diferentes, seguindo-se uma
364 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
1
G∗ (x − xB , y − yB , z − zB , ω) = exp(−iωτ ) (3.5.1)
R
Uma vez que a superfı́cie de registro é considerada horizontal, pode-se reduzir a in-
tegral de Kirchhoff, na forma da equação 2.7.33, à integral de Rayleigh II aplicada à
extrapolação inversa. O resultado é equivalente ao negativo31 da expressão 2.7.46, ou
seja,
Z Z
1 ∂G∗
P (xB , yB , zB , ω) = 2π P dxdy (3.5.3)
∂z
Ly Lx
onde, no caso da Figura 3.36, ∂G∗ /∂z é avaliada na superfı́cie (z = 0), a função de Green
G∗ é dada pela equação 3.5.1 e, no núcleo da integral, P = P (x, y, z = 0, ω).
A equação 3.5.3, aplicada às condições da Figura 3.36, pode ser modificada de forma
a facilitar o entendimento da extrapolação inversa. Para isto, parte-se da seguinte ex-
pressão:
∂G∗ ∂G∗ ∂τ
=
∂z ∂τ ∂z
onde τ = R/v. No caso de ∂G∗ /∂τ , o resultado é:
∂G∗ v iω
=− 2
+ exp(−iωτ )
∂τ R R
Por outro lado, sabe-se que ∂τ /∂z = − cos α/v, ou seja, um aumento na profundidade de
registro (no caso, z = 0) leva a uma redução no tempo de propagação correspondente, τ .
Pode-se, assim, obter a seguinte forma para a derivada da função de Green com relação
à profundidade:
∂G∗ 1 iω
= cos α + exp(−iωτ ) (3.5.4)
∂z R2 vR
onde cos α é dado por
|zB − z|
cos α = (3.5.5)
R
31
A este respeito, o leitor deve estar atento para o sentido do vetor ~n, na Figura 3.36.
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 367
n SUPERFÍCIE x
S2
r
S3 B S4
S1
z
Figura 3.36: Modelo para aplicação da integral de Kir-
chhoff à extrapolação inversa.
Como na equação 3.4.20, o termo t + τ indica que a amostra deve ter seu tempo reduzido
de acordo com o intervalo τ = R/v, para a avaliação numérica da integral.
Nas situações em que ωτ >> 1, é comum desprezar-se o termo de campo próximo da
equação 3.5.7, o que leva à seguinte versão da integral de Rayleigh II:
Z Z
1 1 ∂
p(xB , yB , zB , t) = − 2π cos α p(x, y, z = 0, t + τ ) dxdy (3.5.8)
vR ∂t
Ly Lx
368 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
Observe-se que, ainda de acordo com a premissa segundo a qual ωτ >> 1 , o operador
∂/∂t poderia ser transferido para fora da integral, ou para fora do somatório. Isto é
possı́vel porque os dados resultantes da extrapolação inversa ainda são definidos em função
do tempo. Por outro lado, deve-se ressaltar que, onde esta aproximação não se aplica,
deve-se utilizar a versão discreta da expressão 3.5.7.
3. O fator W2D , pelo qual as amplitudes são multiplicadas antes da soma, é dado por
cos α
W2D = √ ∆x
2πvR
Com base nas equações 3.4.21 e 3.5.19, conclui-se que as formas mais simples da
migração baseada na equação da onda devem incluir, implı́cita ou explicitamente: (1)
correção de amplitude associada ao espalhamento geométrico da energia, no caso 3-D, ou
sua raiz quadrada, no caso 2-D; (2) correção de amplitude proporcional à freqüência, no
caso 3-D, e à raiz quadrada da freqüência, no caso 2-D; (3) deslocamento de fase em 90
graus, no caso 3-D, e 45 graus, no caso 2-D; (4) ponderação pelo fator de obliquidade,
representado por cos α. Isto significa que as primeiras versões da migração por soma
de difrações, que nem sempre incluı́am os pesos apropriados, apresentavam significativas
distorções de amplitude e fase, em comparação com a migração baseada na equação da
onda.
Com estes conceitos, pode-se entender a amplitude e a fase da forma de onda da
Figura 3.25 (página 348), a qual foi gerada com base na versão 2-D da integral de
Rayleigh II. Percebe-se que a fase do pulso usado na geração da figura, que era igual a
zero, foi alterada, tornando-o assimétrico, o que se deve ao deslocamento de fase igual
a 450 , introduzido pela integral de Kirchhoff. Percebe-se também que a amplitude da
forma de onda cai com o aumento do mergulho.
G∗ (x − xB , y − yB , z − zB , ω) = A exp(−iωτ ) (3.5.22)
devem ser obtidos através de técnicas especiais, como o traçamento dos raios (ver o item
2.5).
Em situações desse tipo, as equações 3.5.7 e 3.5.8 não mais se aplicam. Ou seja,
uma nova versão da integral de Rayleigh II, ainda baseada na expressão 3.5.3, deve ser
obtida. Para isto, a primeira providência consiste em se determinar a derivada da função
de Green com relação à profundidade, através da regra da cadeia, ou seja,
∂G∗ ∂A ∂τ
= exp(−iωτ ) − iωA exp(−iωτ )
∂z ∂z ∂z
Por outro lado, já que um aumento na profundidade z leva a uma redução no tempo de
trajeto τ , pode-se escrever:
∂τ cos α
=−
∂z v
onde v é a metade da velocidade intervalar local e cos α é o ângulo que o raio faz com a
vertical, ambos avaliados nas coordenadas (x, y, z = 0). Desta forma, obtém-se a seguinte
igualdade:
∂G∗ ∂A iωA
= + cos α exp(−iωτ ) (3.5.23)
∂z ∂z v
Com a equação 3.5.23, a integral de Rayleigh II, na forma da expressão 3.5.3, pode
ser alterada para a seguinte forma:
Z Z
1 ∂A iωA
P (xB , yB , zB , ω) = 2π + cos α exp(−iωτ )P (x, y, z = 0, ω) dxdy
∂z v
Ly Lx
(3.5.24)
Se a derivada da amplitude da função de Green for desprezada, a equação 3.5.24 passa a
ser dada, no domı́nio do tempo, por
Z Z
1 A∂
p(xB , yB , zB , t) = − 2π cos α p(x, y, z = 0, t + τ ) dxdy (3.5.25)
v ∂t
Ly Lx
for muito complexo, podem surgir problemas, entre os quais listam-se: (1) o tempo de
trajeto pode ser menor do que o adequado, se a rotina usada for baseada na premissa de
a freqüência é infinita (ver o item 2.5); (2) os algoritmos de traçamento de raios podem
levar à geração de zonas de sombra, para as quais nenhum tempo é computado. Em
situações desse tipo, a solução mais simples consiste em suavizar o campo de velocidades
usado no processo. Melhores resultados são obtidos combinando-se esta técnica com o
cálculo recursivo da função de Green e sua derivada com relação a z (ver a discussão
sobre a migração RTM e, em particular, as expressões 3.5.69 e 3.5.70).
No caso 2-D, a migração Kirchhoff, feita no domı́nio ω-x, é baseada na seguinte versão
da integral de Rayleigh II:
Z
1 n cos α h (2)
i o
P (xB , z + ∆z, ω) = − iωH1 (ωτ ) P (x, z, ω) dx (3.5.30)
2 v
Lx
1 X n cos α h (2)
i o
P (xB , z + ∆z, ω) = − iωH1 (ωτ ) P (x, z, ω) ∆x (3.5.31)
2 x v
(2)
Por sua vez, a função de Hankel H1 foi definida pela equação 3.5.13.
O leitor deve ter observado que, para a migração recursiva, substituı́ram-se as aproxi-
mações das equações 3.5.8 e 3.5.15 pelas expressões exatas correspondentes. Isto se deve
ao fato de o pequeno intervalo de profundidade envolvido no processo, ∆z, tornar também
pequeno o produto ωτ . Nestas condições, o termo de campo próximo, bem caracterizado
no caso da migração tridimensional, assume proporções que impedem negligenciá-lo.
De acordo com o esquema discutido na seção dedicada à migração recursiva, no item
3.4, as equações 3.5.28 e 3.5.31 são aplicadas em cascata, desde a profundidade z = 0 até
a profundidade máxima desejada. Em cada uma das profundidades alcançadas, o image-
amento é feito através da obtenção das amostras obtidas no tempo igual a zero do volume
obtido e armazenado, no volume ou seção migrada, na profundidade correspondente.
Ressalte-se que a migração bidimensional, feita no domı́nio ω-x, implica alterar, no
esquema descrito, a forma como a etapa de imageamento é conduzida. Uma vez que
a extrapolação inversa é conduzida no domı́nio da freqüência e o imageamento implica
obter dados no tempo t = 0 da seção estimada na profundidade z + ∆z, seria necessário,
pelo menos em princı́pio, calcular uma transformada inversa de Fourier em cada etapa
da recursão. Para evitar esta tarefa, utiliza-se um conceito básico da transformada de
Fourier, o qual consiste em fazer t = 0 na equação 1.2.13, de forma a se obter a amostra
correspondente a cada valor de x, unicamente para o tempo igual a zero. O resultado é
expresso através da seguinte igualdade:
Z ∞
1
p(x, z + ∆z, t = 0) = 2π
P (x, z + ∆z, ω)dω (3.5.33)
−∞
No caso discreto, a integral é substituı́da por uma simples média dos componentes reais
de P (x, z + ∆z, ω) (ver a equação 3.3.14).
A migração recursiva também pode ser feita em intervalos constantes de tempo mi-
grado, substituindo-se, nas equações 3.5.28 e 3.5.31, o valor de ∆z pelo produto entre o
intervalo de tempo ∆τ e a velocidade. Neste caso, o intervalo efetivo de profundidade
depende localmente da velocidade, já que o intervalo de tempo ∆τ é constante, em cada
uma das etapas do processo. Para que a migração em tempo, conduzida desta forma,
leve a uma boa imagem, é necessário que a velocidade intervalar usada seja corretamente
obtida e, como nas demais alternativas de migração em tempo, definida em função do
tempo migrado e não do tempo de reflexão.
Deve-se destacar que a teoria da migração recursiva Kirchhoff, representada pelas
equações 3.5.28 e 3.5.31, esbarra em problemas de estabilidade, dependendo dos valores
de ∆z, ∆x e ∆y. Em particular, intervalos tı́picos entre traços sı́smicos, da ordem de
25m, não são adequados aos valores de ∆z que se poderia desejar, dificultando a aplicação
da técnica. Entretanto, pode-se aplicá-la de forma semi-recursiva, ou seja, migrando-se
camadas espessas, uma a uma. De acordo com esta idéia, migram-se os diversos eventos
dentro de cada camada e, adicionalmente, gera-se um volume equivalente ao que se obteria
se fontes e geofones estivessem na base da mesma camada. Este volume é usado para a
migração da próxima camada e, também, para o reposicionamento do datum na base da
mesma camada.
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 375
No caso discreto, a integral é substituı́da por uma simples soma de todos os com-
ponentes de freqüência ω, para cada valor de Kx .
4. Calcula-se a transformada inversa de Fourier de P (Kx , z + ∆z, t = 0), ao longo
do eixo Kx . O resultado é uma linha de amostras na profundidade z + ∆z, que é
armazenada na matriz de dados migrados.
5. Atualiza-se o valor de z, substituindo-o por z + ∆z. Isto equivale a deslocar para
baixo a superfı́cie de “registro”, de acordo com o intervalo ∆z.
6. Usando o resultado do próprio passo 2 como entrada, repetem-se os passos 2 a 5
para todos os valores de z. O resultado é a seção migrada.
Como se viu no item 2.7, o valor de Kz pode se tornar complexo, desde que vKx /ω > 1,
ou que ω/v > Kx . Na região do espectro assim definida, viajam as ondas evanescentes,
que, na migração, tendem a ser enfatizadas, já que o expoente da equação 3.5.34 torna-
se real e positivo. Para se evitar problemas com os ruı́dos, as ondas evanescentes são
normalmente removidas durante a migração. Em termos práticos, isto significa que qual-
quer evento com velocidade aparente inferior à menor velocidade usada na migração é
removida, ou atenuada.
Nas aplicações práticas da migração por deslocamento de fase, pode-se incluir o efeito
da anisotropia, já que o ângulo de propagação aparece explicitamente. O grande problema
com o algoritmo descrito, que a migração Kirchhoff com traçamento de raios contorna,
é a impossibilidade de variar lateralmente a velocidade, assim como os parâmetros que
definem a anisotropia; ou seja, em cada passo descrito pela equação 3.5.34, a velocidade e
os parâmetros de anisotropia são constantes. Propostas para contornar o primeiro desses
problemas foram apresentadas por Gazdag e Sguazzero (1984), Kosloff e Kessler (1987)
e Stoffa et al. (1990).
Como no caso da migração Kirchhoff recursiva, a migração por deslocamento de fase
também pode ser feita em tempo, substituindo-se ∆z por v∆τ . Entretanto, neste caso, o
efeito da troca aparece apenas na coordenada vertical, já que, no domı́nio ω-K x , a velo-
cidade não pode variar lateralmente. Isto significa dizer que, nas aplicações do algoritmo
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 377
Migração Stolt
O algoritmo de migração por deslocamento de fase é naturalmente recursivo, ou seja,
o campo de pressões em cada profundidade é calculado a partir do campo obtido na
profundidade anterior. Como resultado, o tempo de processamento é elevado, em com-
paração com a migração Kirchhoff convencional. Entretanto, se o meio for homogêneo,
pode-se, como na migração Kirchhoff, executar a migração de uma só vez, no domı́nio da
freqüência.
Suponha-se que seja possı́vel dispor dos dados amostrados no domı́nio Kz -Kx , onde
Kz é a freqüência espacial ao longo do eixo das profundidades. Neste caso, uma simples
transformada inversa de Fourier, para o domı́nio profundidade-distância, resultaria na
seção migrada em profundidade. Conclui-se, portanto, que a migração em profundidade
inclui, implicitamente, a conversão dos dados do domı́nio ω-Kx para o domı́nio Kz -Kx .
Antes da migração, a freqüência espacial Kz não é conhecida mas, como se percebe na
equação 3.5.35, ela pode ser determinada através das freqüências Kx e ω. Induz-se, assim,
que é possı́vel migrar os dados sı́smicos através de uma seqüência de operações relativa-
mente simples: (1) transformam-se os dados para o domı́nio ω-Kx ; (2) reamostram-se os
dados no domı́nio Kz -Kx , determinando-se Kz com base na equação 3.5.35 e posicionando-
se cada amostra na nova posição, com o recurso de técnicas de interpolação; (3) a trans-
formada bidimensional inversa do resultado é a seção migrada em profundidade.
A técnica descrita, que corresponde a uma versão simplificada da migração Stolt
(1978), pode ser melhor compreendida com base na Figura 3.37. Vê-se, na figura, que
a amostra situada na freqüência ω0 /v é deslocada para a freqüência espacial dada por
(ω0 /v) cos θ, onde θ é o mergulho da frente de onda e v é a velocidade do meio. Na mesma
figura, vê-se também que o seno do ângulo de mergulho real é igual à tangente do ângulo
de mergulho aparente, ou seja, sen θ = tan ψ (equação 3.4.3). Observe-se que a técnica
descrita difere de uma simples conversão de tempo para profundidade, a qual é baseada
na divisão de ω por v.
Para que a migração Stolt trate corretamente as amplitudes, é necessário substituir
a variável de integração na transformada inversa de Fourier, o que é feito com base na
derivada de ω com relação a Kz , na equação 3.5.17, ou seja,
dω v |Kz |
= −p (3.5.39)
dKz Kz2 + Kx2
onde o sinal negativo aparece por que está sendo usado o modelo do refletor explosivo.
Por outro lado, como as convenções de sinal das transformadas de Fourier espacial e
temporal são opostas (ver o Capı́tulo 1), o sinal negativo é desconsiderado. Assim, a
transformada inversa de Fourier, cujo resultado corresponde à seção migrada, passa a ser
dada por
Z Z
1
p(x, z) = 4π 2
A exp(iKx x) exp(iKz z)P̃ (Kx , z = 0, Kz )dKz dKx (3.5.40)
378 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
v |Kz |
A= p
Kz2 + Kx2
Com as expressões 3.5.35 e 3.5.37, pode-se demonstrar que A = v cos θ. Ou seja, também
na migração Stolt, cos θ é utilizado para corrigir a amplitude dos dados.
O método Stolt é a mais rápida técnica de migração, mas apresenta uma importante
limitação: exige meios homogêneos, tanto vertical quanto lateralmente. Na literatura,
existem técnicas que buscam minimizar essa deficiência (Stolt, 1978; Beasley et al., 1988).
A primeira delas, que foi proposta pelo próprio Stolt em seu trabalho clássico, procura
simular a situação de velocidade constante através do que veio a ser chamado “Stolt
stretch”. Neste processo, os dados não migrados são reamostrados ao longo de uma
nova escala de tempo (uma pseudo-profundidade), através da qual procura-se manter a
curvatura correta das difrações, nas posições dos ápices correspondentes (ver Claerbout,
1985; Yilmaz, 1987). Esta modificação leva a uma nova relação de dispersão da equação
da onda, na qual aparece um fator W , o qual deve estar, normalmente, entre 0.5 e 1,
sendo que W igual a 1 indica um meio homogêneo.
diversos outros que representam, de uma forma ou de outra, evoluções do trabalho de Cla-
erbout (1970). Entre os primeiros, o algoritmo mais bem sucedido é a migração de tempo
reverso, ou RTM, discutida no final deste subitem. No que diz respeito à segunda famı́lia
de algoritmos, as versões mais utilizadas são baseadas na técnica implı́cita, parcialmente
analisada em seguida.
O algoritmo implı́cito
Viu-se anteriormente que a migração por deslocamento de fase apresenta uma importante
limitação, que é a impossibilidade de variar lateralmente a velocidade. Por outro lado, a
transformada inversa de Fourier do algoritmo de deslocamento de fase, que corresponde
à integral de Rayleigh II, implica a necessidade de se utilizar rotinas de traçamento dos
raios, as quais podem, em diversas circunstâncias, apresentar importantes deficiências.
Uma alternativa para estas dificuldades baseia-se na aproximação por diferenças finitas
da expressão 3.5.18, definida no domı́nio ω-x (ver Claerbout, 1985).
Para a obtenção do algoritmo correspondente, parte-se da seguinte versão da equação
3.5.34:
∆z ∆z
P̃ (Kx , z + ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp −iω exp iω (1 − cos θ) (3.5.41)
v v
O resultado obtido seria o mesmo se se adotasse, com base nas equações 3.5.36 e
3.5.37, a seguinte aproximação:
s 2 2
vKx ∼ 1 vKx
cos θ = 1 − = 1− (3.5.45)
ω 2 ω
ou
1
cos θ ∼
= 1 − sen 2 θ (3.5.46)
2
Observe-se que a combinação das equações 3.5.37 e 3.5.45 leva à seguinte relação de
dispersão: " 2 #
ω 1 vKx
Kz ∼
=− 1− (3.5.47)
v 2 ω
Apesar de não envolver o termo cos θ, a equação 3.5.44 ainda não pode ser facilmente
transformada para o domı́nio ω-x, basicamente por causa do expoente envolvendo Kx .
Para que isto seja possı́vel, pode-se fazer uso da seguinte expansão Taylor:
2
v∆zKx2 v∆zKx2 1 v∆zKx2
exp − =1− + − ... (3.5.48)
2iω 2iω 2! 2iω
Se apenas os dois primeiros termos deste resultado forem aproveitados, pode-se transfor-
mar a equação 3.5.44 na seguinte aproximação:
∆z v∆zKx2
P̃ (Kx , z + ∆z, ω) = P̃ (Kx , z, ω) exp −iω 1− (3.5.49)
v 2iω
O leitor atento já deve ter observado que nenhum acoplamento existe entre o termo
das lentes finas e o termo das difrações. Isto significa que o processo pode ser dividido em
duas partes. Para isto, define-se o chamado “campo atrasado”, Q, com base na seguinte
igualdade:
∆z
Q(x, z + ∆z, ω) = P (x, z + ∆z, ω) exp iω (3.5.51)
v
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 381
A aplicação das equações 3.5.52 e 3.5.53 à extrapolação inversa pode ser exemplificada,
geometricamente, com base na Figura 2.24 (página 112). Imagine-se que se deseja obter
a difração 1 da figura, a partir da difração 2. A aplicação da equação 3.5.52 a esta
última levaria a uma forma idêntica à da difração 1, mas o ápice correspondente estaria
na mesma posição do ápice da difração 2. Por sua vez, a aplicação da equação 3.5.53,
à difração assim obtida, a deslocaria para cima de acordo com um tempo puramente
vertical, correspondente à diferença (z1 − z2 )/v. O resultado final seria a difração 1.
É interessante ressaltar que a equação 3.5.52 corresponde à versão discretizada da
equação parabólica da onda, obtida por Claerbout em 1970, já que, com um simples
rearranjo dos termos, ela se transforma em:
∂Q v ∂2Q
= (3.5.54)
∂z 2iω ∂x2
Multiplicando-se ambos os lados deste resultado por −iω, e aplicando-se o teorema da
derivada da transformada de Fourier (ver o item 1.2), obtém-se a expressão equivalente,
no domı́nio tempo-distância, também em termos do campo de pressões atrasado, dada
por
∂2q v ∂2q
=−
∂t∂z 2 ∂x2
onde q = q(x, z, t). Ressalte-se que a equação obtida não inclui múltiplas e descreve
ondas ascendentes, de acordo com o modelo do refletor explosivo, uma vez que a dedução
partiu do conceito de deslocamento de fase, que permite esse tipo de restrição.
Para se aplicar o algoritmo de extrapolação, seja no domı́nio tempo-distância, seja
no domı́nio freqüência-distância, é necessário estimar o valor da derivada segunda com
relação ao espaço. Isto é normalmente feito através de aproximações por diferenças
382 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
finitas. Assim, em uma aproximação de primeira ordem, a derivada pode ser estimada
numericamente por
∂2Q ∼ δ2Q Qx+∆x − 2Qx + Qx−∆x
2
= 2
= (3.5.55)
∂x δx ∆x2
onde δ significa operador de diferença e ∆x é a distância entre traços sı́smicos. A mesma
operação pode também ser vista como a convolução entre Q e o operador (1, −2, 1)/∆x 2 ,
ao longo do eixo x, para cada freqüência.
Discretizando-se a derivada segunda com relação a x, na forma da equação 3.5.55,
pode-se transformar a equação 3.5.52 no algoritmo que possibilita a extrapolação inversa
de campos de onda atrasados, por diferenças finitas, no domı́nio ω-x. O resultado é:
1
Q(x, z + ∆z, ω) = Q(x, z, ω) + [Q(x + ∆x, z, ω) − 2Q(x, z, ω) + Q(x − ∆x, z, ω)]
a
(3.5.56)
onde
2iω∆x2
a=
v∆z
Na forma do algoritmo descrito, a extrapolação de campos de onda deve ser conduzida
através da aplicação alternada das expressões 3.5.56 e 3.5.53. Uma análise rigorosa da
técnica, que corresponde à versão explı́cita da chamada aproximação de 15 graus, permite
caracterizar os seguintes problemas:
1. Percebe-se, na equação 3.5.52, que o termo entre colchetes, que é complexo, tem
módulo maior do que 1. Isto significa que o processo de extrapolação descrito tende
a aumentar a energia presente nos dados. O mesmo não ocorre com o algoritmo de
deslocamento de fase, cujo operador tem amplitude sempre igual a 1, com exceção
da região de ondas evanescentes (ver a equação 1.2.8).
da freqüência mas apenas do ângulo de propagação (ver a Figura 3.39). Isto significa
que o algoritmo descrito não altera de forma significativa a fase e a amplitude de eventos
de baixo mergulho. O mesmo não ocorre com outros algoritmos da famı́lia das diferenças
finitas, como é o caso de algumas implementações da migração de tempo reverso, ou RTM
(Whitmore, 1983; McMechan, 1983).
Parte das deficiências do algoritmo de 15 graus pode ser atenuada através da extra-
polação do campo de pressões em uma forma implı́cita. No caso, ao invés de se aplicar
diretamente a equação 3.5.56, determina-se o campo extrapolado com base em um sistema
de equações. O método implı́cito está fundamentado na forma como se estima a derivada
do campo de pressões com relação à profundidade. Observe-se, na equação 3.5.55, que
o operador de primeira derivada é (1, −1)/∆z, embora o operador mais indicado seja
(1, 0, −1)/∆z. Ou seja, a derivada resultante deveria estar centrada na profundidade
média entre z e z + ∆z. Uma forma de aproximar a operação correta consiste em alterar
a equação 3.5.52, de forma a incluir a média das derivadas segundas, com relação a x,
estimadas nas profundidades z e z + ∆z. Este é o conceito básico da técnica conhecida
como Crank-Nicolson (ver Claerbout, 1985).
Resultado idêntico ao da técnica Crank-Nicolson pode ser obtido através de uma
aproximação mais direta, baseada no primeiro termo da expansão do logaritmo neperiano
de (1 + x)/(1 − x), o qual é igual a 2x (ver Selby, 1973, página 472). Aplicada em
substituição à expansão Taylor da expressão 3.5.48, esta idéia permite a obtenção do
seguinte resultado:
∆z vKx2
1−
v∆zKx2 ∼ 2 2iω
exp − = (3.5.58)
2iω ∆z vKx2
1+
2 2iω
Na seqüência, pode-se obter a seguinte expressão:
∆z vKx2
1 − 2 2iω
Q̃(Kx , z + ∆z, ω) = Q̃(Kx , z, ω) (3.5.59)
∆z vKx2
1+
2 2iω
onde Q é a matriz coluna que descreve o campo de pressões atrasado, ao longo do eixo
x, para cada freqüência. A matriz A é quadrada e tem todos os seus elementos iguais
a zero, exceto nas três diagonais principais, que têm valores definidos por −1/2, a + 1 e
−1/2, ou seja,
a + 1 −1/2 0 ··· 0 0 0
−1/2 a + 1 −1/2 · · · 0 0 0
0 −1/2 a + 1 · · · 0 0 0
.. .
. . . . . . . .
. .
.
A= . . . . . . . (3.5.62)
0 0 0 · · · a + 1 −1/2 0
0 0 0 · · · −1/2 a + 1 −1/2
0 0 0 ··· 0 −1/2 a + 1
A equação 3.5.66 — válida para o algoritmo de 150 (ou 500 , dependendo dos recursos
empregados) — apresenta uma importante caracterı́stica: as duas derivadas espaciais,
∂ 2 Q/∂x2 e ∂ 2 Q/∂y 2 , podem ser aplicadas de forma desacoplada uma da outra. O mesmo
não ocorre com os algoritmos de mais alta ordem, o que pode ser percebido com base
na versão tridimensional da equação A.3.7 (página 562): o termo Ŝ 2 , que deve incluir
a soma das transformadas de Fourier dos dois operadores de derivada, está presente
tanto no numerador quanto no denominador. A conseqüência desta caracterı́stica é a
impossibilidade de isolar a aplicação das duas derivadas, o que leva à necessidade de se
adotar o seguinte artifı́cio: aplica-se o termo das difrações em dois passos, o primeiro
ao longo de um dos eixos superficiais e o segundo ao longo do outro eixo, neste caso
utilizando como entrada o resultado obtido no primeiro passo.
Para perceber o impacto da aproximação mencionada, faz-se uso de um corte hori-
zontal no volume correspondente ao operador tridimensional de migração obtido em um
meio homogêneo e isotrópico (ver exemplos na página 405 de Yilmaz, 1987). Neste tipo
de corte, o operador gerado com o algoritmo de 15 graus apresenta a forma — correta
— de um cı́rculo. Já no caso dos algoritmos de mais alta ordem, a forma — errada —
é a de um losango. Como demonstrou Li (1991), esta deficiência dos operadores de alta
ordem pode ser corrigida através de um ajuste de fase aplicado no domı́nio ω-Kx-Ky , de
forma intercalada com a extrapolação inversa.
torna possı́vel aplicar a migração sem limitações no ângulo de mergulho das camadas,
mesmo no caso de meios em que a velocidade varia livremente. Entre os trabalhos pio-
neiros dedicados ao tema, incluem-se os de Whitmore (1983), McMechan (1983) e Baysal
et al. (1983), no segundo dos quais o autor atribuiu o nome “boundary value migration”
ao algoritmo proposto34 .
No contexto do modelo do refletor explosivo, aplicado a duas dimensões, define-se
migração RTM como o processo que, a partir da seção sı́smica registrada, s(x, z = 0, t),
permite obter uma estimativa da seção de coeficientes de reflexão responsável por ela,
p(x, z, t = 0), através de uma propagação em que a origem das coordenadas espaciais é
mantida e o tempo é reduzido. Neste caso, as amplitudes sı́smicas medidas na superfı́cie
são tratadas como fontes de energia que “explodem” no tempo registrado e geram sinal
que avança no espaço e recua no tempo até que a posição dos refletores seja atingida, o
que se dá quando t = 0. De acordo com a discussão apresentada no item 3.4, trata-se de
uma migração por frentes de onda (ver as figuras 3.23 e 3.26, nas páginas 345 e 349).
Com base nesses conceitos, a extrapolação anti-causal, ou de tempo reverso, aplicada
a um meio bidimensional, pode ser resumida, a partir da expressão 2.7.21, pela seguinte
equação:
2 2 ∂ 1 ∂pt ∂ 1 ∂pt
pt−∆t = 2pt − pt+∆t + v ρ∆t + (3.5.67)
∂x ρ ∂x ∂z ρ ∂z
onde pt , pt−∆t e pt+∆t denotam seções dos campos de ondas sı́smicas estimados nos tempos
constantes t, t − ∆t e t + ∆t, ao longo das coordenadas x e z. Por sua vez, ρ e v repre-
sentam, respectivamente, as seções de densidade e metade da velocidade de propagação
(ou seja, v = vH ).
Na aplicação da equação 3.5.67, a seção sı́smica a migrar é tratada como uma condição
de contorno35 , de acordo com a qual cada conjunto de amostras registradas na superfı́cie,
no tempo t, é incorporado ao processo através da seguinte atualização da seção p t :
um impulso unitário é descrito pela seguinte igualdade, válida para uma superfı́cie de
registro horizontal:
∗
1 ∂g
pt=0 (x, z) = 2π ∆x (3.5.69)
∂z
onde pt=0 é a seção resultante da migração e g ∗ é a versão anti-causal da função de Green,
a qual é também definida em função das coordenadas x e z.
Em uma aplicação tı́pica, a migração RTM corresponde a uma soma implı́cita de seções
como a representada pela equação 3.5.69, cada uma delas multiplicada pela correspon-
dente amplitude dos dados sı́smicos registrados. Tem-se, no caso, a seguinte expressão,
também válida para uma superfı́cie de registro horizontal:
t=0
( )
X X ∂g ∗
1
pt=0 (x, z) = 2π
s(x, z = 0, t) ∆x (3.5.70)
t=t x
∂z
max
onde pt=0 representa a seção final migrada e tmax é o máximo valor de tempo dos dados
sı́smicos registrados.
Percebe-se facilmente que a expressão 3.5.70 descreve, também, a migração baseada na
integral de Rayleigh II, uma vez que o termo entre chaves corresponde à versão discreta
da mesma integral, cuja forma tridimensional é dada, no domı́nio da freqüência, pela
equação 3.5.3. Aprofundando a analogia, pode-se levar em conta que, no contexto em
que são válidas, as duas integrais de Rayleigh, I e II, geram resultados idênticos. Este
fato torna possı́vel alterar a aplicação da expressão 3.5.67 de tal forma que a migração
RTM equivalha à migração baseada na integral de Rayleigh I. Para isto, adotam-se as
seguintes medidas: (1) substitui-se o sinal registrado, s, pela derivada ∂s/∂z, estimada
na superfı́cie de registro37 e; (2) aplica-se a migração RTM com a condição de contorno
de Neumann, o que equivale a substituir a expressão 3.5.68 por
∂s(x, z = 0, t)
pt (x, z = 0) + ⇒ pt (x, z = 0) (3.5.71)
∂z
De acordo com a equação 3.5.71, os sinais que, extrapolados a partir de outras pro-
fundidades, atingem a superfı́cie de registro, são preservados. Nos termos da condição de
contorno de Neumann, observa-se, na mesma superfı́cie, que a função de Green é diferente
de zero e sua derivada com relação à profundidade é igual a zero. Assim, se ∂s/∂z —
em vez de s — fosse um impulso unitário, o resultado da migração, com a condição de
contorno de Neumann, seria descrito pela seguinte igualdade, também aplicável a uma
superfı́cie de registro horizontal:
1 ∗
pt=0 (x, z) = 2π
g ∆x (3.5.72)
Prof. (m) 0
500
densidade é constante. O resultado pode ser considerado uma versão filtrada do sinal
descrito pela equação 3.5.69. Gerou-se também a Figura 3.42, através da extrapolação
de tempo reverso com a condição de contorno de Neumann, aplicada ao mesmo impulso
unitário filtrado, mas tratando-o como equivalente à derivada ∂s/∂z (em vez de s). Neste
caso, o resultado pode ser considerado uma versão filtrada do sinal descrito pela equação
3.5.72.
Uma comparação entre as figuras 3.41 e 3.42 permite a extração de algumas lições.
Em primeiro lugar, deve-se mencionar que, como o processo foi conduzido em duas di-
mensões, a fase da função de Green anti-causal, presente nos dois casos, é igual a 45
graus. Além disso, as diferenças de amplitude e fase, observadas quando se comparam
os sinais das duas figuras, devem-se ao fato de que a forma de onda presente na primeira
corresponde a uma derivada, com relação à profundidade, da forma de onda da segunda,
derivada esta avaliada na posição de registro. Entre as diferenças observadas, merece
destaque, na Figura 3.42, a ausência do efeito da obliqüidade o qual, na Figura 3.41, é
controlado pela variação do mergulho.
Nas aplicações práticas, o maior empecilho enfrentado pela migração RTM é a ne-
cessidade de evitar três problemas: (1) instabilidade numérica; (2) dispersão numérica
e; (3) geração indesejada de reflexões e suas múltiplas. No subitem 2.7.3, discutiram-se
soluções para os dois primeiros problemas, com destaque, no segundo deles, para a técnica
Fourier, a qual consiste em aplicar as duas derivadas espaciais no domı́nio dos respectivos
números de onda, Kx e Kz .
No que diz respeito a evitar a geração de reflexões e suas múltiplas, pode-se adotar
uma das seguintes técnicas:
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 391
Prof. (m) 0
500
Das três técnicas descritas, a mais bem-sucedida é a primeira, o que se deve a: (1)
é a mais rápida das três; (2) tem aplicabilidade mais geral do que a segunda, a qual é
inadequada para a migração de dados sı́smicos não empilhados e; (3) é numericamente
mais robusta do que a terceira. Sua aplicação à migração de uma seção sı́smica pode ser
descrita, em termos algorı́tmicos, através da seguinte seqüência de tarefas:
8. Repetem-se as etapas 4 a 7, até que o valor de t atinja zero. A seção obtida, pt=0 ,
representa os dados sı́smicos migrados em profundidade.
A técnica descrita pode ser diretamente estendida para três dimensões, em função da
linearidade do processo. Além disso, é também facilmente adaptável para a migração em
tempo. No caso, basta substituir o intervalo de profundidades da seção migrada, ∆z,
pelo produto v∆τ , onde ∆τ é constante e τ é o equivalente em tempo da profundidade.
Em conseqüência, a derivada ∂ 2 pt /∂z 2 é convertida na expressão (∂ 2 pt /∂τ 2 )/v 2 .
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 393
Migração residual
Suponha-se que uma seção sı́smica, registrada em um meio homogêneo e isotrópico, seja
migrada em tempo. Neste caso, a freqüência temporal resultante, denominada ωτ , é
definida por
ωτ = vKz (3.5.76)
onde Kz é a freqüência espacial na direção do eixo z. Com base na expressão 3.5.35,
pode-se dizer, portanto:
ωτ2 = ω 2 − v 2 Kx2 (3.5.77)
onde ω é a freqüência temporal da seção sı́smica não migrada.
Suponha-se agora que se migre a mesma seção sı́smica com uma velocidade v1 , a qual
é mais baixa do que a correta. Aplicando-se a expressão 3.5.77, obtém-se:
ou
ω22 = ω 2 − (v12 + v22 )Kx2 (3.5.78)
Supondo-se que o resultado obtido com a segunda migração esteja correto, pode-se
igualar as equações 3.5.77 e 3.5.78, o que leva a:
v 2 = v12 + v22
N
X
2
v = vn2 (3.5.79)
n
velocidades satisfaçam à equação 3.5.79 e a migração seja feita em tempo. Este impor-
tante resultado, registrado na literatura sob diversas formas (ver Rothman et al., 1985), já
havia sido obtido por Geraldo de Oliveira em 1977 (informação verbal, obtida na mesma
época).
Entre as aplicações da equação 3.5.79, está o conceito de migração em cascatas, que
é voltado para melhorar a qualidade da migração por diferenças finitas (Larner e Be-
asley, 1987), ou a da migração Stolt (Beasley et al., 1988). A mesma idéia é aplicada
na combinação de diferentes técnicas de migração. Por exemplo, pode-se migrar uma
seção com o algoritmo de Stolt (1978), assumindo-se velocidade constante e, em seguida,
migrar o resultado com a técnica de diferenças finitas, usando-se as velocidades residuais,
estimadas com base na equação 3.5.79. Com esta seqüência, aproveitam-se as qualidades
intrı́nsecas das duas técnicas.
Na aplicação do conceito de migração em cascatas, deve-se ressaltar que, em meios
de velocidade lateralmente variável, a velocidade deve ser constante em cada etapa da
migração, com exceção da última, quando a velocidade pode variar. Isto se explica pelo
fato de a equação 3.5.79 ser deduzida com base na relação de dispersão da equação da
onda, no domı́nio ω-Kx , o qual implica velocidade constante. Desta forma, na migração
em cascatas, o tratamento da velocidade de migração, em um meio complexo, pode
adquirir um grau de sofisticação elevado.
Também com base no conceito de migração residual, é possı́vel demonstrar que, na
ausência de variação lateral na velocidade, a migração em tempo de um volume tridimen-
sional de dados sı́smicos pode ser dividida em duas etapas de migração bidimensional,
sendo a primeira na direção x, seguida de outra etapa, desta vez na direção y (Geraldo
de Oliveira, informação verbal na década de 1970 e Jakubowski e Levin, 1983). Para
demonstrar a idéia, suponha-se que um dado volume tridimensional de dados sı́smicos
tenha sido migrado somente na direção x, utilizando-se um algoritmo bidimensional. A
seguinte expressão é aplicável ao caso:
ω12 = ω 2 − v 2 Kx2
onde ω é a freqüência temporal dos dados sı́smicos não migrados e ω1 é a freqüência tem-
poral dos dados resultantes da migração bidimensional. Na segunda etapa, ou passagem,
obtém-se:
ω22 = ω12 − v 2 Ky2
ou
ω22 = ω 2 − v 2 Kx2 − v 2 Ky2
Observe-se que o lado direito da equação obtida equivale a v 2 Kz2 , ou seja,
isto, faz-se uso da equivalência entre o tempo migrado e o tempo duplo de trajeto
medido ao longo do raio imagem.
O resultado do processo descrito é uma seção sı́smica caracterizada por traços sı́smicos
que, fundamentalmente, apresentam a geometria dos raios imagem correspondentes. Ou
seja, cada traço sı́smico que, migrado em tempo, é representado na direção vertical,
é apresentado, em função da profundidade, ao longo do trajeto do raio imagem. O
resultado obtido depende bastante da qualidade e do tratamento espacial do modelo
de velocidades utilizado (ver discussão sobre a migração Kirchhoff em profundidade),
assim como depende também dos algoritmos de interpolação empregados no processo de
regularização da distribuição das amplitudes.
A migração dos dados sı́smicos a partir do datum flutuante envolve artifı́cios que
dependem do algoritmo escolhido. Considere-se, inicialmente, a migração Kirchhoff, apli-
cada com base na equação 3.5.3. No caso, é necessário trocar a superfı́cie horizontal de
integração pela superfı́cie do datum flutuante, o que implica alterar a forma com que os
tempos de trajeto são calculados. Haveria também a necessidade de trocar a derivada
da função de Green com relação à profundidade, ∂G∗ /∂z, pelo produto escalar ∇G∗ • ~n,
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 397
assim como a troca de ∆x∆y por ∆S, onde S é a área medida ao longo do datum flutu-
ante e ~n é o correspondente vetor unitário. Entretanto, como a forma dos data flutuantes
mais tı́picos é suave, pode-se utilizar ∂G∗ /∂z, principalmente se o ângulo entre o raio e
a superfı́cie de integração for adequadamente estimado.
Um caso interessante é o da migração em tempo com o algoritmo implı́cito. Na
forma proposta por Beasley e Lynn (1992), aplica-se ao caso o conceito de camada de
velocidade nula (em inglês, zero velocity layer ). De acordo com esta idéia, assume-se
que o meio situado acima do datum flutuante apresenta velocidade igual a zero e se
leva em conta, com base na equação 3.5.64, que a extrapolação do sinal em meios com
esta caracterı́stica envolve um deslocamento puramente vertical, dado por ∆τ . Nestas
condições, a migração recursiva de traços sı́smicos, fundamentada na mesma equação, não
colapsa difrações enquanto o tempo migrado τ estiver acima do datum flutuante. Assim,
no caso dos traços sı́smicos obtidos em cotas topográficas relativamente mais baixas,
as etapas iniciais de extrapolação correspondem a simples correções estáticas, já que a
aplicação do termo das difrações somente é iniciada quando o tempo migrado ultrapassa
o nı́vel do datum flutuante.
Na migração RTM, o tratamento do datum flutuante pode representar uma parte
implı́cita do processo de extrapolação inversa (ver McMechan e Chen, 1990). Na medida
em que cada amostra registrada atua como uma fonte de energia no tempo e na posição
de registro, a propagação inversa é naturalmente feita a partir da superfı́cie, não importa
qual seja sua cota. Esta é uma observação que possibilita uma analogia imediata com a
versão não recursiva da migração Kirchhoff: em ambos os algoritmos, os dados registrados
na superfı́cie atuam como condição de contorno, o que torna desnecessária a utilização
de artifı́cios adicionais para tratar adequadamente o datum flutuante.
Kx N π sen θ
= = (3.5.82)
ω ω∆x v
Com base na equação 3.5.82, é possı́vel dizer que, para se evitar a amostragem de dados
em álias espacial e, consequentemente, para se migrar bem os dados, deve-se obedecer à
seguinte condição:
πv v
∆x ≤ = (3.5.83)
ωmax sen θ 2fmax sen θ
ou, alternativamente,
v
fmax ≤ (3.5.84)
2∆x sen θ
ou ainda,
1
fmax ≤ (3.5.85)
2p∆x
onde fmax corresponde à freqüência que limita a migração correta dos dados, para o
intervalo entre traços sı́smicos ∆x, enquanto p é o parâmetro de raio, ou seja, p = dt/dx.
Um importante ponto a destacar é que, para a correta migração dos dados sı́smicos,
são fundamentais o colapso das difrações e o imageamento de planos de falha. Nas
aplicações práticas, isto significa que o ângulo θ a utilizar nas equações 3.5.80 a 3.5.85
não deve ser o mergulho dos refletores, já que estes são normalmente muito menores do
que os de outros eventos, como os planos de falha. Assim, o ângulo θ mais indicado deve
ser pelo menos da ordem de 600 , valor este que é representativo de planos de falha tı́picos,
e suficiente para colapsar parte substancial das difrações.
No caso particular da migração em profundidade, um parâmetro fundamental é o
intervalo ∆z, que separa as amostras da seção migrada ao longo do eixo das profundidades.
O conceito básico, neste caso, é o efeito de álias, o qual deve ser evitado com a correta
escolha do intervalo ∆z. Para isto, pode ser usado um dos seguintes critérios: (1) ∆z
deve ser igual a v∆τ , sendo v igual à metade da menor velocidade intervalar presente
na seção; (2) ∆z deve ser igual ou menor do que 1/4 do menor comprimento de onda
presente nos dados.
3.5. ALGORITMOS DE MIGRAÇÃO 399
XX
A
1
m(x0 , y0 , z0 ) = − 2π cos α pf (x, y, z = 0, t = τ ) ∆x∆y (3.5.86)
y x
v
Nesta expressão, pf representa uma versão filtrada dos dados sı́smicos originais, definida
por
pf (x, y, z = 0, t) = f (α, x, y, t) ∗ p(x, y, z = 0, t)
onde ∗ denota convolução temporal e f (α, x, y, t) é o resultado da convolução do operador
400 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
de derivada com um filtro corta-altas cuja freqüência de corte é definida pela equação
3.5.85, tomando-se α = θ.
Percebe-se que a correta aplicação da expressão 3.5.86 implica filtrar um único traço
sı́smico com inúmeras freqüências de corte, já que diferentes amostras migradas são obti-
das a partir de uma mesma amostra dos dados não migrados. No subitem 3.6.3, discute-se
a aplicação prática desta idéia à migração de dados sı́smicos não empilhados.
estas deficiências, listam-se os seguintes, alguns dos quais devem ser considerados soluções
paliativas:
500
Tempo (ms)
1000 D
N
1500
2000
1000 2000 3000 4000
Coordenada horizontal do ponto médio (m)
coincide com a base da superfı́cie aplanática correspondente. Observa-se neste caso uma
clara analogia entre as figuras 3.21 (página 343) e 3.43: a única diferença resume-se à
geometria das superfı́cies migradas, um cı́rculo no caso da Figura 3.21, uma elipse no
caso da Figura 3.43.
O leitor distraı́do poderá ter pensado que a correção de NMO representa uma etapa
explı́cita da migração de agrupamentos CO. Na verdade, isto não ocorre, embora a
correção de NMO seja uma parte intrı́nseca do processo. A mesma idéia torna-se mais
clara quando se analisa a equação 3.6.2: observe-se que uma dada superfı́cie aplanática
tem sua base situada verticalmente acima do ponto que a ela deu origem, de acordo com
2 2
um deslocamento controlado pelo termo vH t0 − h2 . Destaca-se, no caso, a subtração por
2
h , sem a qual a superfı́cie aplanática se tornaria um cı́rculo de raio igual a vH t0 (ver a
equação 3.4.1).
A correção de NMO, aliada à correção das distorções associadas ao mergulho dos
refletores — ambas adequadamente tratadas pela migração pré-empilhamento — são
bem ilustradas no exemplo da Figura 3.44. Vêem-se, na figura, os diversos elementos
que permitem relacionar a reflexão registrada, R, à reflexão migrada em tempo, M :
a reflexão após a correção de NMO, N , uma superfı́cie aplanática, B, gerada com a
coordenada horizontal e o tempo do ponto b, e uma difração, D, tangente à reflexão R
no mesmo ponto (o difrator correspondente situa-se no ponto a).
Analisada com base na relação entre a reflexão migrada e a reflexão sujeita à correção
de NMO, a Figura 3.44 apresenta uma forte analogia com a Figura 3.22 (página 344).
Em particular, destaca-se o fato de que a difração DN tangencia a reflexão N na base da
superfı́cie aplanática B. Como seria de se esperar, as diferenças entre as duas figuras estão
relacionadas à correção de NMO e à geometria das superfı́cies aplanáticas e das difrações:
404 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
M B
a
DN
500
R
Tempo (ms)
D
1000 b
N
1500
hipérbole versus “hipérbole achatada” no caso da difração, cı́rculo versus elipse no caso
da superfı́cie aplanática.
O leitor deve observar que “superfı́cie aplanática” é um conceito a ser analisado no
domı́nio da profundidade ou do tempo migrado. Neste domı́nio, a mesma superfı́cie pode
ser vista como uma frente de onda hipotética, construı́da com base nas posições da fonte
e do receptor e no tempo de cada amostra registrada. Aliando-se esta idéia à forma
inversa do princı́pio de Huygens, induz-se que a migração de um agrupamento CO pode
ser descrita como um processo de construção e acumulação de ondas hipoteticamente
geradas na superfı́cie, cada uma delas centrada na posição do ponto médio entre a fonte e
o receptor. As frentes de onda correspondentes apresentam, no caso 2-D, a geometria de
uma elipse e, no caso 3-D, a geometria de um elipsóide de revolução (ver a Figura 2.29,
na página 122).
Aumentando a abrangência da análise, pode-se abandonar o enfoque puramente geo-
métrico e levar em consideração os fenômenos de interferência envolvidos na migração dos
agrupamentos CO. Para isto, faz-se uso das figuras 3.45 e 3.46, ambas correspondentes
a um meio homogêneo e isotrópico. A primeira delas é um exemplo da forma de onda
filtrada correspondente ao operador de migração bidimensional de agrupamentos CO. Na
segunda, que foi construı́da nos mesmos moldes da Figura 3.26 (página 349), vê-se como
os fenômenos de interferência atuam na migração e, além disso, como a correção de NMO,
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 405
s 2
z 2 xg − x B
B
t = t s0 + + (3.6.3)
v v
s 2
z 2 xB − x s 0
B
ts 0 = + (3.6.4)
v v
0
C
A
B
Tempo (ms)
N
500 b
a
D
1000 c
Observe-se, na Figura 3.47, que o difrator é localizado no cruzamento das três su-
perfı́cies aplanáticas, no tempo vertical 2zB /v = 0.25s, ou τB = 0.25s, e na coordenada
39
Este posicionamento explica porque, nos afastamentos fonte-receptor menores do que zero incluı́dos
na figura, os tempos da curva N são maiores do que os da curva D.
408 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
40
No caso de um refletor horizontal, em um meio também isotrópico, esta posição coincide com a
coordenada horizontal da fonte.
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 409
M
100 d A
B
Tempo (ms)
DN
a
200 b
D
R
300
N
400
−400 −300 −200 −100 0 100 200 300
Afastamento fonte−receptor (m)
500
750
Tempo (ms)
1
1000 2
700
800
1
Tempo (ms)
900 a
b
1000
2
1100
1200
400 800 1200 1600
Coordenada do receptor (m)
Figura 3.51: Relação entre as duas difrações da Figura 3.50 e a geometria dos
operadores de extrapolação direta e inversa. A difração 2 foi toda deslocada para
baixo de acordo com o tempo 0.0625s, de forma a fazer com que seu ápice coincidisse
com o ápice da difração 1.
cada difração seja calculada com base no traçamento de raios. Neste caso, se a migração
em tempo fosse a opção escolhida e o campo de velocidades fosse o correto, as duas
difrações seriam bem colapsadas nas coordenadas horizontais dos ápices correspondentes.
Entretanto, como se percebe na Figura 3.52, os dois ápices ocorrem em coordenadas
horizontais diferentes entre si e da coordenada horizontal do difrator. Induz-se assim
que, no empilhamento subseqüente dos traços resultantes, a multiplicidade não implicaria
qualquer ganho de qualidade. É até mesmo possı́vel que, em situações como esta, o
empilhamento leve à deterioração das imagens individuais obtidas.
A situação ilustrada através da Figura 3.52 pode, obviamente, ser resolvida através
da migração em profundidade. Neste caso, se o campo de velocidades fosse o correto, as
duas difrações seriam colapsadas de forma adequada e, além disso, os correspondentes
resultados seriam posicionados — em ambos os casos — nas coordenadas do próprio di-
frator (xB = 5400m e zB = 2000m, ou τB = 1270ms). Induz-se assim que o empilhamento
subseqüente seria muito mais bem sucedido do que no caso em que se opta pela migração
em tempo.
Na Figura 3.53, vê-se um exemplo simples de como o operador de migração de agru-
pamentos CO depende da variação lateral de velocidade. Para tornar a análise mais
consistente, assumiu-se um modelo em que a velocidade é constante na direção verti-
cal e varia, de forma linear, ao longo da direção horizontal, o que possibilitou o cálculo
analı́tico dos tempos de trânsito (ver os subitens 2.5.2 e 3.1.2). Percebe-se, na figura, que
as posições horizontais do impulso unitário original e da parte mais profunda do operador
não são coincidentes, o que é uma caracterı́stica de meios em que a velocidade varia na
direção horizontal. Uma inspeção da Figura 3.3, na página 286, facilita a compreensão
do tema.
Com base nesta discussão, pode-se afirmar que o sucesso da migração de agrupamen-
tos CO depende da seguinte e importante caracterı́stica: se for desprezada a influência da
variação do coeficiente de reflexão em função do ângulo de incidência, um determinado
416 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
400m
500m
600m
400m
500m
600m
0 1000 S
400m
500m
600m
0 500 1000 S
Figura 3.54: Três versões de um agrupamento CI, cada um deles obtido com uma
diferente velocidade de migração em profundidade (1900m/s, no alto, 2000m/s, no
centro, e 2100m/s, embaixo). Os dados usados foram agrupamentos CO, corres-
pondentes a um único refletor horizontal e obtidos sinteticamente com a velocidade
de 2000m/s. A letra S identifica o resultado do empilhamento dos traços sı́smicos
migrados. A coordenada horizontal é a metade do afastamento fonte-receptor, h,
em metros.
conjuntos de traços sı́smicos da Figura 3.54, indicado pela letra S. Percebe-se, no caso,
que: (1) o resultado do empilhamento correspondente à migração com a velocidade correta
apresenta máxima amplitude absoluta igual à de todos os traços sı́smicos migrados, mas
conteúdo de freqüências intermediário; (2) em termos de amplitude, o empilhamento do
resultado da migração com as velocidades erradas é caracterizado pelo espalhamento do
sinal, gerando um “borrão” tênue; (3) no caso da velocidade mais baixa do que a correta,
este espalhamento é distribuı́do acima da profundidade correta, enquanto o oposto se dá
com a velocidade mais alta e; (4) se o resultado fosse representado em função do tempo
migrado, o sinal empilhado estaria, nos dois casos, mais próximo do tempo esperado. A
Figura 3.5 (página 288) pode ser utilizada para ilustrar a última afirmação, uma vez
que, nas condições em que ela foi construı́da, a migração pré-empilhamento levaria a um
resultado equivalente.
Ainda que associada a um meio homogêneo, a Figura 3.54 pode ser utilizada para se
induzir o que ocorre no caso de um meio em que a velocidade varia lateralmente. Em pri-
meiro lugar, se a variação na velocidade envolvesse comprimentos de onda muito maiores
do que o máximo afastamento fonte-receptor do agrupamento CI, o resultado não seria
significativamente alterado. Entretanto, se a velocidade de migração variasse em inter-
418 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
valos de distância menores do que o mencionado e a migração não levasse este fenômeno
em consideração, os refletores não somente não se alinhariam na profundidade correta
mas, além disso, incluiriam uma sinuosidade que não se vê na Figura 3.54. O resultado
da migração seria um sinal de má qualidade, situado em uma posição inadequada, neste
caso tanto vertical quanto horizontalmente, o que pode ser depreendido de uma análise
da Figura 3.52.
A Figura 3.54 pode também ser usada para ilustrar um problema importante da
migração pré-empilhamento: o efeito de estiramento. Trata-se, como sugere o nome, do
aumento no comprimento do pulso sı́smico associado a cada refletor, gerado em função
da seguinte caracterı́stica da correção de NMO, a qual representa uma operação implı́cita
na migração pré-empilhamento: o intervalo de tempo entre duas amostras de um traço
sı́smico não migrado, dada por ∆t, é aumentado, após a migração, para ∆τM , onde τM
é o tempo vertical medido nos dados sı́smicos migrados43 . A intensidade do fenômeno,
que é similar ao observado na aplicação convencional da técnica CDP, é inversamente
proporcional à banda espectral disponı́vel e à relação ∂t/∂z, onde z é a profundidade
do sinal imageado e t é o tempo original (ver a equação 3.1.14 e Tygel et al., 1994).
Em conseqüência, o efeito de estiramento é tão mais importante quanto maior for o
afastamento fonte-receptor, 2h, assim como pode se tornar tão mais intenso quanto maior
for a variação vertical de velocidade.
Outro aspecto a analisar diz respeito à abertura do operador de migração, conceito
este explı́cito na forma de um parâmetro da migração Kirchhoff e definido pelo dobro
da máxima distância lateral entre o ponto médio onde se situa a amostra a espalhar e o
ponto médio até onde ela é espalhada. Comparando-se as figuras 3.25 e 3.45 (páginas
348 e 405), poder-se-ia induzir que, para se migrar corretamente a reflexão associada
a um refletor de alto ângulo de mergulho, a abertura do operador de migração deveria
ser controlada pelo valor do afastamento fonte-receptor. Na verdade, a associação entre
abertura do operador de migração e afastamento fonte-receptor é indireta, na medida em
que apenas a coordenada do ponto médio está envolvido no processo. No caso em que o
parâmetro que controla a abertura do operador de migração é o ângulo de mergulho, não
existe confusão, uma vez que as distâncias não estão diretamente envolvidas, mas apenas
a máxima declividade do operador, em relação à direção vertical, na posição do refletor.
Os principais conceitos apresentados até aqui, embora concentrados na migração em
profundidade, se aplicam, com pequenos ajustes, à migração em tempo. Um tema em
particular merece comentários adicionais: o da velocidade de migração. Para isto, pode-
se fazer uso da análise das deficiências da técnica CDP, conduzida no item 3.1, com
destaque para a Figura 3.5 (página 288), na qual os dois agrupamentos CMP apresentados
poderiam ser vistos como agrupamentos CI correspondentes a um refletor horizontal.
Com base nesta analogia, poder-se-ia dizer que, em cada afastamento fonte-receptor do
resultado apresentado na parte de baixo da figura, o sinal foi bem focalizado. Entretanto,
a posição relativa não foi adequada.
Nestas condições, não é difı́cil concluir que a velocidade de migração em tempo deve
ser estimada com muito cuidado, levando em conta não somente a focalização do sinal
43
A correspondente deformação no espectro de freqüências foi discutida no item 3.1, com destaque
para o fato de que, na presença de um pulso sı́smico de espectro de amplitude plano e uma amostragem
espacial e temporal suficientemente densa, o efeito de estiramento não representaria um problema mas,
sim, uma solução.
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 419
como uma convolução bidimensional entre uma seção de afastamento fonte-receptor co-
mum já submetida à correção de NMO e uma coleção de operadores similares ao obtido na
construção da Figura 3.55. Em termos práticos, esta convolução representa um processo
semelhante ao da migração por frentes de onda, caracterı́stica esta que pode se tornar
evidente com base em uma análise dos aspectos cinemáticos do conceito.
A cinemática da correção de DMO é baseada na relação entre o tempo de reflexão
obtido em uma seção ZO e o tempo de reflexão obtido em uma seção CO, após a correção
isolada de NMO. Esta relação, que foi deduzida no item 3.1, permite apresentar da
seguinte forma a curva tempo-distância correspondente ao operador de DMO:
t2N (x − x0 )2
1= 2 + (3.6.9)
t0 h2
100
Tempo (ms)
200
N
300
400 M
Z
500
0 400 800 1200 1600
Coordenada horizontal do ponto médio (m)
Figura 3.56: Geometria de uma mesma reflexão nas seções de afastamento fonte-
receptor comum após correção de NMO (N ), de afastamento nulo (Z) e migrada em
tempo (M ), juntamente com a geometria do operador de DMO em três posições.
Parâmetros: v = 2000m/s, h = 625m e mergulho do refletor igual a 30 0 .
comum (CMP). Já na aplicação da equação 3.6.9, leva-se em conta tanto o deslocamento
vertical quanto o lateral, de forma a admitir que um único par (t0 , x0 ), observado em uma
seção CO após correção de NMO, pode ser associado a uma famı́lia de pontos (t N , x) na
seção ZO, definida na forma da equação 3.6.9.
Com base nestas idéias, induz-se que a correção de DMO implica espalhar a amostra
obtida na posição (t0 , x0 ) ao longo da curva tempo-distância definida pela equação 3.6.9,
na qual tN varia em função de x. Usando-se a analogia com a migração por frentes de
onda, pode-se dizer que, na posição em que a referida curva tempo-distância tangencia a
reflexão obtida na seção ZO, a amostra deslocada é somada em fase com amostras oriundas
de outros pontos da reflexão, enquanto que, nas demais posições da seção resultante, o
sinal obtido tende a zero. Assim, na ausência de mergulho, a correção de DMO não
desloca a reflexão observada. O mesmo não ocorre com um evento mergulhante, que é
reposicionado nas coordenadas (tN , x).
Para ilustrar o conceito, é conveniente o recurso a um exemplo, como o da Figura
3.56, na qual se vê a geometria correspondente a uma mesma reflexão em três tipos de
seção sı́smica: (1) seção de afastamento fonte-receptor comum, após a correção isolada de
NMO (N ); (2) seção de afastamento fonte-receptor igual a zero (Z) e; (3) seção migrada
em tempo (M ). Vê-se também a geometria do operador de DMO, calculada com a
equação 3.6.9, em três diferentes posições. Na mesma figura, pode-se perceber também
uma caracterı́stica da correção de DMO: a redução na declividade da reflexão (após a
correção de NMO), ao contrário do que ocorre com a subseqüente migração em tempo.
422 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
500 N
FO
Tempo (ms)
a b
SD
1000 Z
1500
Figura 3.57: Geometria de uma mesma difração nas seções de afastamento fonte-
receptor comum após correção de NMO (N ) e de afastamento nulo (Z), juntamente
com as geometrias envolvidas em duas formas de aplicação do operador de DMO
(F O e SD). Parâmetros: v = 2000m/s e h = 625m. A profundidade do difrator é
250m.
O caso de uma difração pode ser ainda mais instrutivo. Na Figura 3.57, vêem-se as
geometrias de duas difrações associadas a um mesmo difrator: (1) a difração em uma
seção CO, após a correção isolada de NMO e; (2) a difração em uma seção ZO. Vê-
se também um exemplo da geometria de duas alternativas de aplicação do operador de
DMO, uma delas similar à migração por frentes de onda, FO, e a segunda similar à
migração por soma de difrações, SD (neste caso, usa-se também a equação 3.6.9, mas
fixando o tempo tN e variando o tempo t0 ). Aplicada à Figura 3.57, esta analogia tem as
seguintes interpretações: (1) a amplitude do ponto a da difração N representa o fator de
ponderação do operador F O, o qual é acumulado na seção resultante; (2) as amplitudes
coletadas na seção original, ao longo da superfı́cie SD, são ponderadas e acumuladas, na
seção resultante, no ponto b.
Os exemplos das Figuras 3.55, 3.56 e 3.57, aliados às equações 3.6.9 e 3.1.10, per-
mitem algumas interessantes observações. Em primeiro lugar, percebe-se que o operador
de DMO apresenta abertura máxima relativamente pequena e não depende diretamente
da velocidade. Além disso, o aumento no tempo e a diminuição do afastamento fonte-
receptor fazem com que o operador de DMO tenda a se tornar um impulso unitário.
Esta última caracterı́stica torna-se evidente quando se leva em conta que o máximo valor
efetivo da distância |xN − x0 |, correspondente a um evento com ângulo de mergulho igual
a 900 , é dado, de acordo com a equação 3.1.10, por 2h2 /vE t0 . Neste particular, o leitor
deve observar que, para a construção das figuras 3.56 e 3.57, escolheram-se exemplos
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 423
sı́smicos não empilhados, torna-se relativamente fácil corrigir de forma adequada o es-
palhamento da energia. Em alguns algoritmos, esta correção é até mesmo uma parte
intrı́nseca da migração, não sendo necessário explicitá-la.
Apesar de a teoria apresentada neste subitem ser fundamentada na integral de Ray-
leigh II, pode-se facilmente estendê-la para a aplicação das técnicas de diferenças finitas, o
que será objetivo de uma pequena parte do texto. Ao final, discutem-se alguns conceitos
complementares, entre os quais se incluem algoritmos alternativos, a migração tridimensi-
onal em duas passagens e as correções estáticas. Para um bom entendimento da discussão,
é essencial que o leitor conheça, com relativa profundidade, os temas apresentados nos
itens 2.7 e 3.5.
posição original, ou seja, na superfı́cie. Sabe-se que, para se obter os dados sı́smicos mi-
grados na profundidade zB , tanto as fontes quanto os receptores deveriam estar situados
na mesma profundidade. Caracteriza-se assim o segundo passo do processo: a extra-
polação inversa de todos os agrupamentos CG resultantes de um rearranjo dos dados
sı́smicos obtidos no primeiro passo. Aplica-se ao caso a seguinte versão da integral de
Rayleigh II, válida para uma superfı́cie de registro horizontal:
Z Z
1 ∂G∗s
Pg0 (xs0 , ys0 , zs0 = zg0 = zB , ω) = 2π Pg0 (xs , ys , zs = 0, zg0 = zB , ω) dxs dys
∂zs
Ly Lx
(3.6.15)
onde Pg0 é a transformada temporal de Fourier de um agrupamento CG cujo receptor é
identificado pelo subscrito g0 e G∗s é a versão anti-causal da função de Green correspon-
dente ao trajeto entre o difrator e as diversas fontes, cujas coordenadas são identificadas
pelo subscrito s. De acordo com a aproximação de altas freqüências, a função de Green
G∗s , cuja derivada com relação a z é também estimada na superfı́cie, pode ser definida,
no caso de um meio relativamente simples (que não gera cáusticas), por
s g
0
Profundidade (m)
500
1000
e
Gs0 = As0 exp(iωτs0 ) (3.6.20)
onde τ é o tempo de trajeto entre o difrator e o elemento indicado pelo subscrito, enquanto
A é a amplitude correspondente. Se meio for homogêneo e isotrópico, A pode ser reduzida,
como nos casos anteriores, ao inverso da distância percorrida em cada trajeto.
A condição de imagem empregada na equação 3.6.18 pode ser bem entendida com
base na Figura 3.58, a qual foi construı́da através da superposição dos seguintes campos
de onda, ambos normalizados individualmente e representados, ao longo do eixo x, em
função das coordenadas espaciais x e z: (1) a transformada inversa de Fourier da função
de Green, Gs0 , gerada na posição da fonte (s) e propagada, no sentido causal, até o
tempo τs0 = 296ms e; (2) a transformada inversa de Fourier da derivada da função
de Green com relação à profundidade, ∂G∗g /∂z, gerada na posição do receptor (g), no
tempo t = 808ms, e propagada, no sentido anti-causal, até o tempo τs0 , o que significa
a igualdade τg = 512ms. Foi também representada, na figura, a geometria da superfı́cie
aplanática correspondente ao tempo de registro e ao sistema de aquisição usado.
Na Figura 3.58, a posição em que as duas frentes de onda e a superfı́cie aplanática
se encontram satisfaz à condição de imagem de tempo de excitação. Ou seja, a mesma
posição coincide com a de um difrator que é excitado no tempo τs0 = 296ms e gera o sinal
que demora outros 512ms para atingir o receptor, 808ms depois que a fonte é acionada.
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 429
onde ms0 representa uma amostra migrada do agrupamento CS escolhido. Nas aplica-
ções práticas, esta integral é substituı́da por uma média dos componentes reais entre as
freqüências zero e de Nyquist.
A repetição de todo o processo descrito, com diferentes profundidades e agrupamentos
CS, leva ao volume final desejado. Obviamente, a computação correspondente também
ser conduzida no domı́nio do tempo, o que leva a uma substancial redução no tempo de
computação.
Na forma da equação 3.6.18, a correção da perda de amplitude pelo espalhamento
geométrico é dividida em duas operações. A segunda delas — a divisão pela função
de Green Gs0 — corrige explicitamente a perda associada ao trajeto entre a fonte e
cada ponto difrator. A primeira — a soma das amplitudes ao longo da curva tempo-
distância associada ao trajeto entre o difrator e os receptores — se encarrega de corrigir
implicitamente a perda restante. Neste caso, isto se dá em função da concentração, em
torno de um único ponto, da energia espalhada entre o difrator e os receptores.
1984). A mesma idéia pode ser generalizada de forma a envolver explicitamente uma
função de Green, para o quê se faz uso da aproximação Kirchhoff, discutida no subitem
2.7.5.
Em sua forma inversa, aplicada à migração, a aproximação Kirchhoff envolve as se-
guintes alterações na equação 2.7.83: (1) a superfı́cie do refletor é substituı́da pela su-
perfı́cie de registro; (2) os coeficientes de reflexão são substituı́dos pelas amplitudes me-
didas e; (3) a função de Green G, definida pela equação 2.7.84, é substituı́da pela sua
equivalente anti-causal, G∗ , a qual deve incluir um fator que corrija a perda de ampli-
tude pelo espalhamento geométrico da energia. No caso em que a superfı́cie de registro é
horizontal, tem-se a seguinte forma da integral de Rayleigh II:
Z Z
1 ∂G∗
Ph0 (xB , yB , zB , ω) = 2π Ph0 (x, y, z = 0, ω) dxdy (3.6.22)
∂z
Ly Lx
47
A mesma lógica pode ser usada para se obter uma função de Green que não corrija o espalhamento
geométrico e mantenha constantes as amplitudes de ondas planas. Para isto, basta substituir A 2sg por
Asg .
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 431
onde τ é o tempo de trajeto entre a fonte, o difrator e o receptor. Por sua vez, o fator A
é definido, com base nas expressões 3.6.23, 3.6.14 e 3.6.16, por
As Ag
A= , (3.6.26)
2A2sg
∂τ cos αs cos αg
= + (3.6.27)
∂z vs vg
onde cos α e v são o ângulo de emergência e a velocidade nas posições da fonte (subscrito
s) e do receptor (subscrito g).
Sabe-se que não é aplicável, a um agrupamento de fonte-receptor comum, a versão
recursiva do princı́pio de Huygens e, por extensão, a forma rigorosa da teoria da pro-
pagação de ondas. Isto significa que a equação 3.6.25 corresponde na verdade ao que
se denominaria um algoritmo de pseudo-extrapolação, cujo resultado é válido apenas no
tempo t = 0. Entretanto, do ponto de vista cinemático, este resultado é exatamente o
que se deseja com a migração, já que caracteriza a condição de imagem adequada ao caso.
Nestas condições, para se obter uma amostra migrada no ponto B, bastaria aplicar
a condição de imagem descrita, o que implica extrair, do volume inversamente pseudo-
extrapolado, ph0 , a amostra obtida no tempo t = 0, nas coordenadas do mesmo ponto.
Se o termo de campo próximo — representado pela derivada de A com relação à profun-
didade — for desprezado, a combinação das etapas de extrapolação inversa e aplicação
da condição de imagem resulta na seguinte expressão, válida para qualquer azimute de
aquisição:
X X ∂τ
1 0
mh0 (x0 , y0 , z0 ) = − 2π A ph0 (xs , ys , xg , yg , z = 0, t = τ ) ∆x∆y (3.6.28)
y x
∂z
3. Escolhe-se um traço sı́smico do volume obtido e aplica-se a ele uma derivada com
relação ao tempo.
4. O traço sı́smico resultante da etapa anterior é convolvido com diferentes filtros anti-
álias, no que resulta um pequeno conjunto de traços filtrados. O número de filtros
— e de traços desse conjunto — depende do mı́nimo valor possı́vel para a freqüência
de álias e dos intervalos de amostragem temporal e espacial dos dados sı́smicos (ver
a equação 3.5.85).
8. Estima-se, com uma equação similar à 3.5.85, qual é a freqüência de álias associada
ao trajeto determinado na etapa anterior, para o quê se faz uso das vagarosidades
∂τ /∂x e ∂τ /∂y.
τ = τ s + τg (3.6.29)
onde s
τ 2 2 2
0 x0 − x s y0 − y s
τs = + + (3.6.30)
2 v v
e s
τ 2 2 2
0 xg − x 0 yg − y 0
τg = + + (3.6.31)
2 v v
Com base nestas aproximações, percebe-se que, no limite em que o afastamento fonte-
receptor tende a zero, o fator A, dado pela equação 3.6.26, torna-se igual a 2 e, portanto,
passa a não depender dos valores isolados de As e Ag (ver também Schleicher et al., 1993).
Esta independência representa um dos suportes lógicos para uma importante inferência:
se a distribuição de velocidades for relativamente suave, pode-se estender para a migração
em profundidade a aproximação do fator A aplicada na migração em tempo.
Os eventuais erros de uma aproximação como a descrita tendem a ser aceitáveis,
principalmente porque a correção da perda de amplitude pelo espalhamento geométrico
da energia é uma função que, normalmente, varia lentamente no tempo e no espaço. Deve-
se ainda ressaltar que, em áreas geologicamente complexas, o tratamento das amplitudes
pode se tornar menos importante do que o cálculo dos tempos de trajeto, em particular
se estes forem estimados com base na teoria do raio.
10. Adicionam-se as amplitudes corrigidas às que se encontram, nas mesmas coordena-
das, no volume de dados sı́smicos migrados, m(x, y, z).
12. Repetem-se as etapas 5 a 11, até que o valor de t atinja o menor valor presente no
volume Ts . Encerra-se assim a contribuição do agrupamento CS para o volume de
dados sı́smicos migrados em profundidade, m(x, y, z).
respeito ao primeiro tema, o foco dos esforços tem sido as áreas complexas, particular-
mente no que diz respeito à distribuição das velocidades. No segundo tema, o tratamento
das amplitudes assume um lugar particularmente importante. Já o terceiro tema pode ser
considerado o maior responsável pela proliferação de diferentes algoritmos de migração,
facilmente constatada na literatura geofı́sica.
No que diz respeito à qualidade da imagem, observa-se um conflito interessante: Kir-
chhoff versus diferenças finitas, particularmente nos casos em que a primeira técnica é
fundamentada na teoria do raio. Com base na discussão apresentada no subitem 3.5.3,
conclui-se facilmente que os resultados obtidos com as duas técnicas se tornariam equi-
valentes se48 : (1) na extrapolação com diferenças finitas, fossem utilizadas aproximações
numéricas de alta qualidade; (2) na extrapolação Kirchhoff, as funções de Green envol-
vidas fossem estimadas através de técnicas de diferenças finitas49 . Em resumo, os dois
algoritmos podem ser vistos como variações em torno de um mesmo tema, separados
basicamente por aspectos relativos ao desempenho computacional.
Na migração de agrupamentos CS, não se observam diferenças entre as técnicas Kir-
chhoff e diferenças finitas se a análise se restringir à etapa de aplicação da condição de
imagem. Considere-se, como exemplo, o caso de uma área estruturalmente complexa,
afetada por fortes variações de velocidade. Em situações deste tipo, os tempos de trajeto
entre a fonte e cada ponto a imagear devem ser estimados com redobrado cuidado, inde-
pendentemente do tipo de algoritmo usado na etapa anterior — a extrapolação inversa.
Para isto, um procedimento comum consiste em se medir tempos de trajeto na posição
de máxima amplitude do sinal estimado com base no traçamento dinâmico de raios, ou
na solução das equações iconal e de transporte. Um procedimento mais elegante, embora
muito mais demorado, já foi mencionado: a aplicação da técnica das diferenças finitas ao
processo de estimação da função de Green envolvida no processo.
No que diz respeito à obtenção de informações de amplitude em função do ângulo de
incidência, as técnicas de aplicação mais imediata são as da famı́lia Kirchhoff. Com elas,
pode-se facilmente migrar dados sı́smicos de forma a preservar a relação entre amplitude
e afastamento fonte-receptor, através da qual se estabelece a relação com o ângulo de
incidência (ver o Apêndice A.5 e Bleistein, 1987). Por outro lado, se for levada um pouco
mais adiante a analogia entre os algoritmos Kirchhoff e RTM, induz-se que os dois pode-
riam ser aplicados em conjunto, na forma da equação 3.6.22, à migração de agrupamentos
CO. No caso, as funções de Green e suas derivadas com relação à profundidade seriam
calculadas com a técnica das diferenças finitas, enquanto a integração seria conduzida
com base na aproximação Kirchhoff. Nesta combinação de técnicas, computacionalmente
pesada, é possı́vel introduzir o tratamento de amplitude adequado à análise de AVO.
O aspecto computacional, aliado à conveniência de representar os dados sı́smicos
em função do ângulo de incidência comum, CA (Common Angle), foram dois fatores
que catalisaram o desenvolvimento da migração conduzida no domı́nio τ -p. No que diz
respeito ao algoritmo Kirchhoff, duas boas referências sobre o tema são os trabalhos
de Hildebrand e Carroll (1993) e Akbar et al. (1996). Na aplicação à migração RTM,
a mesma idéia representa um passo ainda mais importante, uma vez que, através da
48
Ver, a partir da página 387, a discussão sobre a migração RTM e, em particular, a equação 3.5.70.
49
As figuras 3.42 e 3.41 (página 391) podem ser consideradas bons exemplos de uma função de Green
filtrada e de sua derivada com relação à profundidade, ambas estimadas com o algoritmo RTM em um
meio bidimensional.
3.6. MIGRAÇÃO PRÉ-EMPILHAMENTO 437
200
Tempo (ms)
400
600
800
0 0
nas amplitudes sı́smicas. Esta é a idéia que fundamenta a utilização dos campos de velo-
cidade de migração, ou de empilhamento, com o fim de complementar a inversão. Neste
processo, é muito importante garantir que as informações adicionais sejam compatı́veis
com os dados de poços53 .
Em resumo, pode-se dizer que, ao final da primeira etapa da inversão, dispõe-se de uma
descrição razoável do comportamento dos coeficientes de reflexão em função do ângulo de
incidência. Por sua vez, os resultados obtidos na segunda etapa correspondem a — tão
somente — estimativas da diferença entre as propriedades elásticas e os correspondentes
valores médios locais (background ). Trata-se, portanto, de estimativas de banda espectral
limitada. Atingindo-se a terceira etapa, o resultado corresponde, na melhor hipótese, a
valores absolutos grosseiros das propriedades elásticas. O caráter impreciso, inerente a
esta etapa, é uma das razões pela qual se acrescenta o prefixo “pseudo” à denominação das
correspondentes estimativas sı́smicas das propriedades elásticas54 . Um exemplo: pseudo-
impedâncias acústicas.
Que esta descrição aparentemente negativa não iluda o leitor: as estimativas sı́smicas
de propriedades elásticas, ainda que de caráter relativo, são muito úteis, particularmente
na caracterização de anomalias associadas às litologias e à presença de petróleo. Neste
sentido, é importante ressaltar que um traço sı́smico invertido, com todas as suas de-
ficiências, é mais representativo da geologia do que um traço sı́smico convencional. Esta
afirmativa se justifica pelo fato de que, enquanto um traço sı́smico convencional corres-
ponde a uma estimativa dos contrastes entre propriedades elásticas de camadas distintas,
um traço sı́smico invertido corresponde a uma versão filtrada das próprias propriedades
elásticas do meio. Em outras palavras, a influência das rochas encaixantes sobre a esti-
mativa sı́smica das propriedades elásticas de uma determinada camada é menor do que
a exercida sobre a estimativa dos coeficientes de reflexão a ela associados.
onde r(θ̄) é o coeficiente de reflexão associado ao ângulo médio θ̄, enquanto A, B e C são
descritos pelas equações 2.6.34, 2.6.40 e 2.6.35.
A partir da década de 1990, passou a fazer parte da rotina dos geofı́sicos a utilização
dos parâmetros interseção (em inglês, intercept) e gradiente, os quais são obtidos com
base em uma simplificação da expressão 3.7.1. Nesta simplificação, leva-se em conta que,
se os ângulos de incidência forem relativamente pequenos (por exemplo, menores do que
30 graus), pode-se desprezar o termo envolvendo o parâmetro C, já que, nestas condições,
o valor do produto sen 2 θ̄ tan 2 θ̄ é bem menor do que o de sen 2 θ̄. A mesma simplificação
é válida na presença de ângulos de incidência maiores, desde que o parâmetro C seja
próximo de zero. Nos dois casos, a equação 3.7.1 é reduzida à seguinte expressão:
r(θ̄) ∼
= Ā + B̄ sen 2 θ̄ (3.7.2)
r(θ̄) ∼
= Ā(1 + tan 2 θ̄) + D̄ sen 2 θ̄ (3.7.3)
= r(0) e D̄ ∼
= A ∼
Neste caso, as seguintes aproximações são aplicáveis: Ā ∼ = D, onde
A é definido pela expressão 2.6.34 e D pode assumir uma das formas apresentadas na
Tabela 2.1 (página 181). Uma delas, D = B − A, permite a seguinte e útil aproximação:
B∼= D̄ + Ā.
onde ât (θ̄) corresponde à amplitude sı́smica antes da correção da perda por transmissão.
Observe-se que os parâmetros A e C se referem às interfaces de ı́ndices inferiores a t, o
que caracteriza um processo do tipo “despimento de camadas”.
Nas aplicações práticas da expressão 3.7.4, esbarra-se em uma importante dificul-
dade. Ver-se-á adiante que, entre as estimativas dos parâmetros de AVO estimados com
a técnica ABC, a que normalmente apresenta pior qualidade é a do parâmetro C. Esta
deficiência pode levar à opção por não corrigir a perda por transmissão, ou alternativa-
mente, introduzir correções de caráter paliativo. De acordo com uma dessas correções,
utiliza-se uma versão suavizada da série de velocidades intervalares, avaliada ao longo do
eixo das profundidades, com o fim de determinar uma seqüência de valores aceitáveis —
ainda que subdimensionados — para o parâmetro C.
Uma idéia mais simples, embora menos precisa, consiste em normalizar as amplitudes
dos traços A, B e C (ou Ā e B̄, ou Ā e D̄), com base em uma média RMS do traço A (ou
Ā), média esta estimada em janelas longas (1 a 2s). Esta operação mantém a relação entre
os valores dos parâmetros de AVO, obtidos em cada tempo de reflexão vertical, ao mesmo
tempo em que reduz um pouco a importância de eventuais imprecisões nas correções de
amplitude. Ressalte-se entretanto que a presença de anomalias de amplitude muito fortes
tende a fazer com que feições verticalmente adjacentes se tornem proporcionalmente mais
fracas, depois da correção.
444 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
0
vP vS ρ A B C D/2 1 2 3 4 5 6 7
200
Tempo (ms)
400
600
800
Uma vez que, na construção da Figura 3.60, os ângulos de incidência são exatos, os
erros nela observados podem ser atribuı́dos ao fato de que as equações 3.7.1, 3.7.2 e 3.7.3
são simples aproximações. Para aprofundar a discussão, convém analisar como as três
expressões se comportam no caso especı́fico de uma reflexão isolada. Um bom exemplo
3.7. TÉCNICAS APROXIMADAS DE INVERSÃO 445
.18
Coeficiente de reflexão
.17
.16
a
.15
.14
b
0 10 20 30 40
Ângulo de incidência (graus)
Ou seja, a estimativa do parâmetro D, dada por D̄, é contaminada pela variação relativa
da densidade. Este resultado significa que, se a faixa de ângulos de incidência variasse
entre 00 e 560 , o parâmetro D̄ seria aproximadamente igual a D − ∆ρ/2ρ̄.
Com base na Figura 3.61, induz-se que os problemas relacionados à estimação do
parâmetro B poderiam ser parcialmente resolvidos ou, no mı́nimo, bem caracterizados,
através da aplicação da técnica ABC ou, até mesmo, da técnica ĀD̄. Com esta indução,
a avaliação da qualidade dos parâmetros de AVO poderia ser encerrada, não fora o fato
de que a validade da própria expressão 3.7.1 merece ser questionada, particularmente em
situações de altos contrastes elásticos, a exemplo da que se observa na Figura 3.60. A
este respeito, deve-se destacar que se o máximo ângulo de incidência usado na Figura
3.60 fosse 20 graus, em vez de 40, os erros das três técnicas seriam reduzidos, embora
em maior grau no caso da técnica ĀB̄. Além disso, como se verá adiante, os processos
de inversão envolvem a aplicação de algoritmos recursivos e, desta forma, favorecem a
propagação de erros pontuais, ainda que pequenos.
t−1
Y 1 + r̂n
It = I 1 (3.7.7)
n=1
1 − r̂n
onde o somatório envolvendo os coeficientes de reflexão pode ser visto como uma inte-
gração numérica adimensional — uma soma corrida — com relação ao tempo.
Aplicando-se o logaritmo neperiano ao resultado expresso pela equação 3.7.8, pode-se
isolar o termo que envolve a integração numérica adimensional dos coeficientes de reflexão,
a qual corresponde a uma aproximação de primeira ordem para a inversão acústica. O
resultado é a seguinte aproximação:
t−1
1 It ∼ X
ln = r̂n (3.7.9)
2 I1 n=1
onde lt é uma versão normalizada das impedâncias acústicas (ver o item 2.6).
Uma seção de pseudo-impedâncias acústicas, obtida através da equação 3.7.8, ou
3.7.9, reflete de forma clara as deficiências na parte inferior da banda espectral do traço
sı́smico, mencionadas na introdução deste item. Esta caracterı́stica é particularmente
evidente onde a velocidade varia substancialmente, como se pode observar no exemplo da
Figura 3.62. Percebe-se na figura que, apesar da boa correlação entre o perfil sônico e os
dados sı́smicos, as estimativas de impedância acústica não reproduzem o crescimento da
velocidade com a profundidade, visı́vel no perfil. Percebe-se ainda que algumas feições
localizadas, caracterizadas pelos componentes de freqüência mais alta, não puderam ser
reproduzidas na seção de pseudo-impedâncias acústicas.
Considerando-se que, após a deconvolução dos dados sı́smicos, a ausência de compo-
nentes de alta freqüência é, na maioria dos casos, inexorável, resta tentar enriquecer a
parte baixa da banda espectral dos traços sı́smicos. Para isso, é necessário recorrer a ou-
tras fontes de dados, capazes de levar à obtenção de informações na faixa de freqüências
próximas de zero e que não sejam diretamente dependentes das amplitudes sı́smicas.
Este é o caso dos perfis de poços, das técnicas de inversão cinemáticas, representadas,
por exemplo, pelas equações 3.1.22 e 3.1.23, e das análises de velocidade de empilhamento
ou de migração. A melhor alternativa consiste em combinar todas estas fontes de dados,
já que a mais segura delas, correspondente aos perfis de poços, é muito esparsa, portanto
insuficiente para resolver o problema.
A combinação entre as técnicas citadas e a interpretação dos dados sı́smicos leva
normalmente à geração de modelos caracterizados por pacotes de velocidade intervalar
caracterı́stica, separados por contrastes acentuados. Para transformar esta informação
em estimativas válidas dos componentes de baixa freqüência dos coeficientes de reflexão,
executa-se a seguinte seqüência de operações:
1. Obtém-se a série de velocidades intervalares em função do tempo, preferencialmente
com ajuste aos poços porventura existentes.
448 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
ρ = av b (3.7.11)
Com a série de coeficientes de reflexão assim obtida, pode-se aplicar a expressão 3.7.8,
para se estimar as pseudo-impedâncias acústicas e, através delas, com o apoio da equação
3.7.11, obter uma seção de pseudo-velocidades intervalares. No exemplo da Figura 3.63,
vê-se que a utilização de informações de baixa freqüência garantiu a introdução de va-
riações mais lentas nas pseudo-velocidades intervalares. Desta forma, criam-se condições
para estimar, ainda que grosseiramente, os valores absolutos das velocidades intervalares.
O resultado final obtido apresenta ainda limitações importantes, que reforçam a con-
veniência de se adotar o nome de pseudo-velocidades intervalares, em função das seguintes
razões: (1) a influência das densidades é apenas atenuada, através de um modelo empı́rico
que não pode ser aplicado indiscriminadamente; (2) se a inversão tiver sido aplicada a
traços sı́smicos empilhados, o resultado pode apresentar influências indesejáveis da razão
de Poisson. Além disso, deve-se enfatizar que a combinação dos componentes de altas
e baixas freqüências dos coeficientes de reflexão, na forma descrita acima, é, na melhor
hipótese, apenas aceitável.
O processo inverso descrito pode ter diversas aplicações práticas, uma das quais con-
siste na obtenção de estimativas de porosidade, usando-se os dados de pseudo-velocidades
intervalares. Nesta técnica, utiliza-se normalmente a equação 3.7.11, conforme se discute
no Capı́tulo 4. Pode-se ainda acrescentar, ao processo, a conversão de tempo para pro-
fundidade, ou a utilização de dados sı́smicos migrados em profundidade.
onde ∆ ln x é uma diferença centrada entre dois valores sucessivos de qualquer uma das
propriedades elásticas identificadas, no caso, por x. Por outro lado, o termo envolvendo
a razão de Poisson pode ser tratado na forma da seguinte expressão:
t−1 t−1
X ∆σn ∼ X
2 = ∆ (1 − σn )−1 (3.7.17)
n=1
(1 − σ̄n ) n=1
Com as relações 3.7.16 e 3.7.17, as equações 3.7.12 a 3.7.14 podem ser transformadas
em expressões algebricamente mais simples, além de mais facilmente interpretáveis. O
resultado é:
1 It
AI = ln (3.7.18)
2 I1
onde I é a impedância acústica,
σt − σ 1
BI = −k̄AI + (1 − k̄)CI + (3.7.19)
(1 − σt ) (1 − σ1 )
3.7. TÉCNICAS APROXIMADAS DE INVERSÃO 451
et (θ̄) ∼
= AI + BI sen 2 θ̄ + CI tan 2 θ̄ sen 2 θ̄ (3.7.26)
55
Observe-se que, com base nas equações 3.7.12 a 3.7.14, a expressão 3.7.26 pode ser transformada no
que alguns autores denominam uma “impedância elástica” (Connolly, 1999). O resultado é:
It
exp 2et (θ̄) ∼
= exp 2BI sen 2 θ̄ + 2CI tan 2 θ̄ sen 2 θ̄ (3.7.25)
I1
Ressalte-se entretanto que, com mais propriedade do que no caso acústico, deve-se anexar o prefixo
“pseudo” ao termo “impedância elástica”.
452 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
vP σ ρ
Tempo (ms)
100
200
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
0
vP σ ρ
Tempo (ms)
100
200
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
onde et (θ̄) representa uma integração numérica adimensional (uma soma corrida), com
relação ao tempo, aplicada às estimativas dos coeficientes de reflexão para cada ângulo
de incidência, ou seja,
t−1
X
et (θ̄) = r̂n (θ̄) (3.7.27)
n=1
Na forma da equação 3.7.26, a inversão elástica é fundamentada nos chamados traços-
ângulo, ou seja, traços sı́smicos representados em função do ângulo de incidência, em
vez do afastamento fonte-receptor. Na Figura 3.64, apresenta-se um exemplo de como
os traços-ângulos de coeficiente de reflexão, r(θ̄), se relacionam com os traços-ângulos
resultantes da aplicação da equação 3.7.27. O exemplo foi construı́do de forma proposi-
talmente dirigida para o caso, relativamente comum, em que o topo de um reservatório
é gradacional. Observe-se que, ao contrário dos coeficientes de reflexão, que são função
de simples contrastes elásticos, os traços-ângulo invertidos, et (θ̄), são proporcionais às
próprias propriedades elásticas do meio.
Calculados os traços-ângulo, et (θ̄), como no exemplo da Figura 3.64, pode-se obter
as estimativas de AI , BI e CI , usando-se a técnica ABC, descrita no subitem 3.7.1 e no
Apêndice A.4. Um tratamento alternativo, mais simples, é baseado na técnica ĀB̄. No
caso, substitui-se a expressão 3.7.26 pela seguinte aproximação:
et (θ̄) ∼
= ĀI + B̄I sen 2 θ̄ (3.7.28)
3.7. TÉCNICAS APROXIMADAS DE INVERSÃO 453
onde o parâmetro ĀI já foi definido e D̄I é dado, a partir da Tabela 2.1 (página 181),
por
∼ v St 1 + k̄ ρt
D̄I = −k̄ ln + ln (3.7.30)
v S1 2k̄ ρ1
ou
k̄ − 1 ρt σt − σ 1
D̄I ∼
= −2k̄AI + ln + (3.7.31)
2 ρ1 (1 − σt ) (1 − σ1 )
Observe-se na primeira expressão que o valor de D̄I é proporcional à aproximação de um
parâmetro elástico que se poderia denominar “impedância S”.
Em resumo, viu-se que a inversão elástica baseada nos parâmetros de AVO pode ser
aplicada de acordo com os seguintes modelos: (1) estimam-se os parâmetros A, B e C (ou
Ā e B̄, ou Ā e D̄) e, com os resultados obtidos, estimam-se AI , BI e CI (ou ĀI e B̄I , ou
ĀI e D̄I ); (2) estimam-se diretamente AI , BI e CI (ou ĀI e B̄I , ou ĀI e D̄I ), aplicando-se
a técnica ABC (ou ĀB̄, ou ĀD̄) aos traços-ângulo que, anteriormente, devem ter sido
submetidos a uma soma corrida ao longo do tempo (equação 3.7.27). Em tese, as duas
alternativas levam ao mesmo resultado, desde que a aproximação da equação 3.7.1 seja
aplicável.
Neste ponto, o leitor, lembrando-se da discussão apresentada no subitem 3.7.1, deve
estar se perguntando o que se poderia esperar dos resultados de qualquer uma dessas
opções de inversão elástica. Para ilustrar a análise do tema, utilizaram-se os mesmos
perfis apresentados na Figura 3.60 (página 444), com os quais foram calculados, através
da equação 2.6.21, os coeficientes de reflexão correspondentes a cada tempo de reflexão,
variando-se o ângulo de incidência entre 0 e 40 graus. Em seguida, os traços-ângulo
obtidos foram numericamente integrados, na forma da equação 3.7.27, o que levou às
estimativas de et (θ̄), uma para cada ângulo de incidência. Cada traço resultante dessa
operação foi submetido à remoção da média móvel correspondente a uma janela de 100ms.
Na seqüência, estimaram-se, em cada tempo de reflexão, os valores de AI , BI , CI e DI ,
usando-se as técnicas ABC, ĀB̄ e ĀD̄.
Na Figura 3.65, podem ser vistos os valores teóricos de AI , BI , CI e DI /2, calculados
através das equações 3.7.12 a 3.7.14 e 3.7.31, juntamente com os erros obtidos na aplicação
das três técnicas mencionadas. O leitor poderá observar que, com a remoção da média
móvel, os quatro parâmetros elásticos são melhor definidos como variações em relação
às correspondentes médias locais. Por outro lado, ao contrário dos parâmetros A, B,
C e D/2, que descrevem simples contrastes elásticos, eles são proporcionais às próprias
propriedades elásticas do meio.
Também em função da remoção da média móvel, as diferenças entre os resultados
teóricos e os estimados, apresentados nos traços 1 a 7 da Figura 3.65, são relativamente
454 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
0
vP vS ρ AI BI CI DI /2 1 2 3 4 5 6 7
200
Tempo (ms)
400
600
800
3.9 Exercı́cios
1. O que se pode esperar da qualidade dos resultados da equação 3.1.22 se: (a) o afastamento
fonte-receptor mı́nimo é 2000m e o máximo é 4000m? (b) o afastamento mı́nimo é 0m
456 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
2. Diga como a técnica de Ziolkowski et al. (1982), apresentada no subitem 3.2.1, poderia
ser modificada para se obter, no domı́nio do tempo, uma assinatura média de todos os
canhões, em vez de uma
P assinatura para cada canhão. (Sugestão: altere a equação 3.2.4
introduzindo a soma n Sn (ω) e estime a média C̄(ω)).
1
3. Suponha que se deseja deconvolver o binômio A(Z) = 3 /2 (1 + Z). Calcule o valor de sua
autocorrelação no deslocamento igual a zero e adicione o equivalente a 2/3 do resultado
na forma de luz branca. Em seguida, estime qual seria o binômio de fase mı́nima que
teria a autocorrelação resultante. Compare as caracterı́sticas de fase do binômio obtido
com as do binômio original e avalie como a luz branca afeta a deconvolução.
4. Analise, intuitivamente, o efeito do ruı́do branco, presente nos dados sı́smicos, sobre três
técnicas de deconvolução distintas, aplicadas a um pulso sı́smico tı́pico, como o da Fi-
gura 2.11 (página 90): (a) deconvolução de fase mı́nima convencional; (b) deconvolução
estatı́stico-determinı́stica e; (c) correção de fase baseada na modelagem do efeito da de-
convolução convencional sobre o pulso sı́smico (página 314).
6. Suponha que o coeficiente de reflexão da superfı́cie livre seja −0.9, o atraso do fantasma
seja de 3 amostras (τ = 3∆t) e a divergência esférica seja desprezada. Usando transfor-
mada Z, analise o efeito da deconvolução sobre o operador do fantasma correspondente
supondo que o valor estimado de τ tenha sido de 4 amostras, em vez do valor correto.
8. Suponha que uma seção sı́smica tenha sido processada de acordo com a seguinte seqüência:
(a) calculou-se o filtro que transforma o pulso sı́smico registrado, sem o fantasma do
receptor, em seu equivalente de fase mı́nima; (b) convolveu-se o filtro obtido com os
dados registrados e; (c) o resultado foi submetido à deconvolução de fase mı́nima. No que
diz respeito à fase do resultado final, esta seqüência apresenta uma importante deficiência.
Qual é ela e o que pode ser feito para corrigir a fase dos dados obtidos, sem usar perfis
de poços?
11. A deconvolução iterativa depende de uma estimativa razoável do pulso sı́smico de fase
nula presente nos dados. Sabe-se que o correspondente espectro de amplitude muda com
3.9. EXERCÍCIOS 457
o tempo, em função da absorção. Nestas condições, qual seria o melhor estratagema para
aplicar a mesma deconvolução?
13. Qual seria a principal limitação da técnica de deconvolução descrita pela equação 3.2.46?
(Sugestão: leve em conta as dimensões relativas da região abrangida pelos perfis de poços
e a resolução lateral dos dados sı́smicos).
15. Avalie como diferentes valores de f 0 afetariam a forma e o sinal do espectro de fase do
operador descrito pela equação 3.3.13. No mesmo caso, analise o que ocorreria com o
pulso, no domı́nio do tempo se o valor de f 0 fosse: (a) maior do que o correto e; (b)
menor do que o correto.
16. Use as equações A.2.1 e A.2.7 (Apêndice A.2), ambas truncadas no segundo termo, para
obter um filtro recursivo de dois pontos para a compensação Q, como proposto por O.
Duarte. (Sugestão: na primeira equação, substitua τ por ∆τ ).
17. Na Figura 3.23 (página 345), o ângulo de mergulho da interface e o de migração foram
iguais, respectivamente, a 400 e 600 . Avalie como seria a geometria da reflexão migrada
se o ângulo de migração fosse igual a 30 0 .
18. Calcule as coordenadas, após a migração, de uma reflexão registrada em um tempo de 1s,
com inclinação de 1ms/m, em um meio homogêneo e isotrópico, para o qual a velocidade
de propagação é de 2000 m/s (ou seja, de acordo com o modelo do refletor explosivo,
v = 1000m/s, na equação 3.4.3). Qual é o mergulho aparente? E o real?
20. Por que a migração de um impulso unitário, em uma seção empilhada, dá origem a um
evento com forma semi-circular?
21. Considerando que a Figura 3.25 (página 348) corresponde à migração bidimensional de
um impulso unitário isolado, explique, usando argumentos intuitivos, por que a amplitude
do resultado obtido decresce na direção da superfı́cie, onde é igual a zero. Se a migração
fosse feita em três dimensões, em que a amplitude e a fase seriam diferentes? (Sugestão:
tente prever, no caso, qual seria o sinal registrado se não existisse o fator de obliqüidade).
22. Analise as equações 2.2.26 e 3.4.19 e discuta as diferenças entre os processos de extra-
polação direta e inversa.
458 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
23. A propagação de ondas sı́smicas é um processo elástico, ou seja, não gera deformações
permanentes. Assim, o que se deve esperar do resultado da soma de todas as amplitudes
do pulso sı́smico? Como este conceito se reflete na extrapolação de campos de onda?
24. Idealize um esquema, para a migração Kirchhoff em tempo, que respeite a curva tempo-
distância correta, mesmo no caso de meios que apresentem forte variação lateral na veloci-
dade. Em que a técnica de migração resultante é diferente da migração em profundidade
seguida da conversão de profundidade para tempo?
25. Altere as equações 3.4.24 e 3.4.25 para contemplar o caso da migração em tempo. Com
base no resultado obtido, diga qual seria o resultado da migração recursiva se a velocidade
utilizada fosse igual a zero.
26. Explique por que, na equação 3.4.25, o deslocamento de tempo está associado à razão
∆z/ cos θ, enquanto, nas equações 3.5.34 e 3.5.37, aparece o termo ∆z cos θ. (Sugestão:
na Figura 3.24, na página 346, considere zM igual a ∆z, deduza a expressão que define h
em função de θ e ∆z e raciocine a respeito do papel da igualdade t = 0 na extrapolação
inversa).
28. Suponha que a equação 3.5.34 seja aplicada a uma reflexão cuja geometria é definida por
δ(t − px), onde p é constante. Mostre que o resultado é outro evento com geometria dada
por δ(t − px + ∆τ cos θ), onde ∆τ = ∆z/v. Como o mergulho aparente é alterado no
processo? (Sugestão: use a Figura 2.6, na página 80, e analise o papel das distâncias ∆z
e ∆t).
30. Qual seria o resultado da migração do sinal representado na Figura 3.30 (página 358),
se a velocidade usada fosse constante? Na migração Kirchhoff dos mesmos dados, o que
deveria ser feito para a obtenção do resultado correto? E na migração por deslocamento
de fase?
32. Por que, na migração de seções empilhadas, há necessidade de se utilizar a metade da
velocidade de migração, em vez de simplesmente se considerar o tempo duplo? Como o
mesmo conceito se reflete nos diversos algoritmos discutidos?
33. Qual é o resultado da migração de eventos cuja vagarosidade horizontal é maior do que a
maior vagarosidade do operador de migração? Para responder, analise separadamente o
caso da migração Kirchhoff e o da migração por deslocamento de fase.
3.9. EXERCÍCIOS 459
34. Assumindo que a mı́nima espessura de camada que se consegue resolver na direção vertical
é dada por λ/4, utilize a Figura 2.16 (página 97) para deduzir qual é a menor distância
horizontal entre duas feições geológicas que a migração consegue resolver, em função do
ângulo de migração α e da resolução vertical. (Sugestão: leve em conta uma camada com
mergulho α e espessura, medida na direção perpendicular ao acamamento, dada por λ/4,
cruzando a linha identificada como refletor na mesma figura).
35. Usando a equação 3.5.54, avalie qual é, no domı́nio tempo-distância, o efeito da divisão
por iω e da aplicação da derivada segunda com relação à distância horizontal. Para isto,
considere as etapas sucessivas de extrapolação inversa durante a migração de um impulso
unitário situado em um tempo arbitrário. (Sugestão: use os teoremas da transformada
de Fourier).
39. Responda às seguintes questões, todas aplicadas à migração pré-empilhamento com o
algoritmo Kirchhoff: (a) na migração de agrupamentos CO, é possı́vel obter uma seção
em que a distância entre traços sı́smicos migrados é menor do que a registrada? (b) na
migração de agrupamentos CS, é possı́vel, com os dados de um único sismograma, obter
informações em uma posição espacial não abrangida pelo lanço? (c) nos dois casos, quais
são as limitações dos resultados obtidos?
41. Analise a relação entre o efeito de estiramento e a resolução de dados sı́smicos migrados
comparando as figuras 3.26, 3.46 e 3.54 (páginas 349, 405 e 417).
42. Imagine uma seqüência de impedâncias acústicas relativas dadas por (1, 1.01, 1, 0.75).
Estime os coeficientes de reflexão com a equação 2.6.16 e calcule de volta as impedâncias
acústicas com as expressões 3.7.7 e 3.7.9. Avalie os resultados obtidos nas diversas cama-
das.
43. Na equação 3.7.2, quais seriam as condições para que o produto Ā × B̄ seja positivo? De
que forma o tratamento inadequado do espalhamento geométrico pode mudar o resultado?
E o da atenuação? (Sugestão: analise as equações 2.5.104, 2.5.105 e 3.3.13).
44. Gere dois gráficos cruzados de interseção, Ā, e gradiente, B̄, usando os sismogramas
sintéticos da parte superior da Figura 3.64 (página 452), representando a interseção no
eixo horizontal. Interprete os resultados obtidos. (Sugestão: uma vez que os valores de
amplitude não estão disponı́veis, gere os gráficos de forma relativa).
460 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO INVERSO
45. Analise de que forma o desconhecimento da fase do pulso sı́smico pode afetar a análise
das seções Ā e B̄ (equação 3.7.2), sob o ponto de vista de um reservatório de alta im-
pedância acústica e outro de baixa. No caso particular do produto Ā × B̄, quais seriam
as conseqüências?
46. A equação 3.7.2 pode ser vista como uma aproximação da equação 2.6.33, desprezando-
se nesta a influência do termo envolvendo a tangente. Que tipo de erro pode-se estar
cometendo quando o ângulo de incidência passa de 30 graus?
47. Analise a Figura 3.64 e procure induzir a influência dos lobos laterais do pulso sı́smico
residual sobre o processo de inversão nos seguintes casos: (a) uma camada de pequena
espessura; (b) duas camadas de alta velocidade separadas por uma camada de espessura
variável.
Capı́tulo 4
INTERPRETAÇÃO
4.1 Introdução
Na forma tratada neste capı́tulo, interpretação sı́smica é um termo abrangente que en-
volve desde a interpretação propriamente dita até os conceitos que permitem relacionar
atributos sı́smicos às propriedades das rochas e dos fluidos, passando por uma análise
crı́tica da capacidade de resolução do método. A tı́tulo de introdução, discutem-se em
seguida dois temas básicos: a calibração dos dados sı́smicos e a representação sı́smica da
geologia.
461
462 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
sı́smicos convencionais, são utilizados para medir o tempo de propagação entre a superfı́cie
e a posição dos geofones. Os valores de tempo assim obtidos permitem corrigir os perfis
sônicos, o que é feito através da transformação de velocidades sônicas em velocidades
sı́smicas.
Ainda que o perfil sônico seja devidamente corrigido ou, alternativamente, que se uti-
lizem apenas os tempos medidos nos registros de tiros de controle, a amarração entre os
perfis de poços e os dados sı́smicos pode estar errada. Para isto, basta, por exemplo,
que a seção sı́smica não tenha processamento de assinatura, ou que não tenha sido ade-
quadamente migrada. Nestas circunstâncias, o tempo estimado com os dados de poços
pode não corresponder, na seção sı́smica, ao da reflexão correta. No caso, a providência
mais indicada consiste em compatibilizar as duas fontes de informação, o que pode ser
concretizado através da obtenção de um sismograma sintético, sem múltiplas, e de um
traço sı́smico registrado no mesmo local, ambos com qualidade tal que a correlação entre
eles seja a melhor possı́vel.
Na computação do sismograma sintético, é obviamente necessária a existência de um
perfil sônico, preferencialmente corrigido com base nos tiros de controle, e de um perfil
de densidades, através dos quais se estimam as impedâncias acústicas e, a partir delas,
os coeficientes de reflexão. Na ausência do perfil de densidades, é comum a utilização
da fórmula empı́rica de Gardner et al. (1974), a qual possibilita a sintetização das den-
sidades a partir das velocidades de onda compressionais. Entretanto, esta alternativa
pode ser pouco indicada em muitos casos como, por exemplo, nas regiões em que a ve-
locidade dos reservatórios é maior do que a da rocha encaixante e a densidade apresenta
comportamento oposto.
Um sismograma sintético sem múltiplas é gerado através da convolução entre a série
de coeficientes de reflexão e um pulso sı́smico, nos moldes do modelo convolucional (ver
o item 2.1). A forma de onda usada deve apresentar conteúdo de freqüências compatı́vel
com o dos dados sı́smicos usados na interpretação, nos quais deve estar presente um pulso
sı́smico residual de fase preferencialmente igual a zero. Para isto, um procedimento muito
usado consiste em se estimar o espectro de amplitude do pulso a partir do espectro de
amplitude do traço sı́smico e, em seguida, obter, já no domı́nio do tempo, a forma de
onda de fase nula correspondente. Este tema é discutido no Apêndice A.6.
Em muitas circunstâncias, é conveniente complementar a geração dos sismogramas
sintéticos com os chamados perfis sı́smicos verticais, ou VSP’s (Vertical Seismic Profiles),
os quais exigem configuração semelhante à dos levantamentos dos tiros de controle (check-
shots). Do ponto de vista puramente operacional, a principal diferença entre ambos está
no tempo de registro (normalmente maior no VSP) e, principalmente, no intervalo de
profundidade entre registros (bem menor no VSP). Na aquisição dos dados de um VSP,
o geofone é, tipicamente, posicionado em profundidades espaçadas de acordo com um
intervalo regular ∆z, o qual é definido com base na seguinte expressão:
∆z = 21 vmin Tmin
onde vmin é a menor velocidade do meio e Tmin é o perı́odo da máxima freqüência desejada.
Estas condições levam normalmente a valores de ∆z inferiores a 20m.
Nos levantamentos dos tiros de controle, o objetivo imediato é o de obter tempos
de trajeto entre a superfı́cie e as profundidades desejadas. No caso do VSP, procura-se
4.1. INTRODUÇÃO 463
não somente obter esses tempos, mas também registrar as reflexões das interfaces situ-
adas abaixo de cada posição do geofone e também os eventos múltiplos, em particular
os oriundos das interfaces superiores. Esta caracterı́stica, aliada à densa amostragem
vertical, possibilita um tratamento capaz de transformar os registros de VSP em dados
sı́smicos de reflexão com fase próxima de zero e isentos do efeito dos eventos múltiplos ge-
rados acima da máxima profundidade de registro. Neste processo, empregam-se técnicas
similares às descritas no Capı́tulo 3, com destaque para o processo de separação de ondas
ascendentes e descendentes.
O VSP pode ainda ser usado como uma ferramenta de mapeamento sı́smico, em par-
ticular no caso da técnica de registro conhecida como “VSP walkaway”. Nesta técnica,
utilizam-se múltiplas fontes na superfı́cie para cada posição do geofone no poço (VSP con-
vencional), ou múltiplos geofones na superfı́cie para cada posição de fonte no poço (VSP
reverso). Desta forma, pode-se iluminar uma área em subsuperfı́cie, cujas dimensões,
no caso do VSP convencional, dependem da distribuição das fontes na superfı́cie e das
profundidades dos geofones. O adequado tratamento dos dados resultantes, com desta-
que para a migração, pode levar à obtenção de informações úteis, por exemplo, para a
definição de feições geológicas não detectáveis através dos dados sı́smicos de superfı́cie.
Os dados finais de um VSP, ou um sismograma sintético, podem ser poderosas ferra-
mentas de calibração dos dados sı́smicos de superfı́cie. Assim, por exemplo, uma simples
correlação visual entre um sismograma sintético e o traço sı́smico obtido no mesmo local
possibilita não somente a identificação segura de eventos sı́smicos mas também uma ava-
liação da qualidade dos dados sı́smicos de superfı́cie. No primeiro caso, uma seqüência
tı́pica de tarefas consiste em: (1) localizar, no sismograma sintético, o nı́vel geológico de-
sejado e; (2) com base na correlação visual, identificar o horizonte sı́smico correspondente.
A Figura 3.18 (página 326) é um exemplo do tipo de apresentação usado na correlação
visual entre dados sı́smicos e sismogramas sintéticos, no caso usada para avaliar a eficácia
de um algoritmo especı́fico.
Em geral, o resultado do processamento de um VSP, na forma de dados de reflexão
empilhados, é mais indicado para a calibração dos dados sı́smicos de superfı́cie do que
os sismogramas sintéticos, particularmente se as camadas apresentam pequeno mergulho.
Esta afirmação é baseada no papel exercido pela resolução lateral dos dados sı́smicos (ver
o item 4.4): enquanto um sismograma sintético depende apenas da área abrangida pelos
perfis de poços, a qual é inferior a um metro quadrado, os registros de um VSP, mesmo
depois de migrados, são influenciados por uma área dezenas de vezes maior, portanto mais
compatı́vel com a área que afeta uma seção sı́smica corretamente migrada. Assim, uma
descontinuidade localizada pode afetar muito mais um sismograma sintético do que os
registros obtidos sı́smicos na mesma posição, sejam eles obtidos na superfı́cie ou através
de um VSP. Em conseqüência, pode-se esperar melhor correlação entre uma seção sı́smica
e os dados de um VSP, em comparação com um sismograma sintético. Outra importante
aplicação dos VSP’s consiste na identificação mais segura de eventos múltiplos.
Quando se leva em conta a influência do ângulo de incidência sobre a resposta sı́smica,
um sismograma sintético baseado no modelo do refletor explosivo pode não ser satis-
fatório. No caso, há necessidade de se estimar a resposta sı́smica em função não apenas
da impedância acústica mas também da velocidade S, a qual é normalmente obtida através
do registro de perfis sônicos dipolares (Harrison et al., 1990). Assim, com os perfis de
velocidades P e S e de densidade, podem ser computados sismogramas sintéticos mais re-
464 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
levantamento sı́smico.
6. Estimativas sı́smicas das propriedades elásticas das rochas, com ou sem baixas
freqüências: tipicamente, são obtidas a partir dos parâmetros de AVO (ver os itens
3.7 e 4.3).
−1 yt
ϕt = tan (4.1.2)
st
e
∆ϕt
ft = (4.1.3)
∆t
onde st é o traço sı́smico convencional, yt é o traço quadratura correspondente,
enquanto At , ϕt e ft são a amplitude, a fase e a freqüência instantâneas, respecti-
vamente.
Conforme será discutido adiante, alguns desses atributos são utilizados com a fina-
lidade especı́fica de identificar feições geométricas sutis, enquanto outros correspondem
a estimativas das propriedades elásticas das rochas ou dos contrastes correspondentes.
Criam-se assim condições para que a interpretação conjunta de todos eles leve a uma boa
descrição dos objetos investigados, o que normalmente é feito na forma de mapas, seções
e volumes.
Os mapas sı́smicos
A partir do momento em que os principais horizontes já tenham sido identificados nos
dados sı́smicos, bem como as principais feições geológicas que os afetam, o intérprete passa
a ter condições de construir um modelo geológico da área investigada. Nesta tarefa, os
mapas exercem papel fundamental, em particular os mapas de tempo de reflexão, que
correspondem a uma simples descrição geométrica do horizonte. Estes são mapas que
normalmente incorporam componentes estruturais e estratigráficos do nı́vel de interesse
e são básicos para a geração dos modelos geológicos.
A qualidade dos mapas sı́smicos pode ser acentuada se, em cada traço, os horizon-
tes interpretados corresponderem a picos ou cavidades e não a posições arbitrárias da
forma de onda mapeada. Este procedimento, que pode ser conduzido com o recurso a
técnicas de rastreamento automático, ou semi-automático, dos horizontes, garante que os
atributos sı́smicos correspondentes representem anomalias locais, na forma de contras-
tes entre propriedades elásticas, ou desvios em relação às propriedades elásticas em si.
Desta forma, os mapas correspondentes podem ter maior significado econômico, além de
favorecerem processamentos posteriores. Obviamente, há que se levar em conta o fato de
que, em alguns tipos de dado, o topo e a base das camadas não correspondem a picos ou
cavidades. Este é o caso das pseudo-impedâncias.
Normalmente, é recomendável que os mapas sejam espacialmente filtrados com o fim
de remover ruı́dos, sejam aqueles que o processamento sı́smico não tenha eliminado, sejam
aqueles gerados pela própria técnica de rastreamento. Entre as técnicas de filtragem
espacial, as mais comuns são lineares, como é o caso da média móvel, a qual, como sugere
o nome, leva à substituição de um valor pontual pela média de um conjunto de valores
vizinhos. Deve-se destacar que, com freqüência, a média móvel é aplicada implicitamente
pelos processos de geração de malha regular (gridagem), os quais se baseiam em técnicas
de interpolação espacial de valores medidos em pontos esparsos.
Uma caracterı́stica importante dos filtros lineares, como é o caso da média móvel,
deve ser destacada: eles tendem a misturar os ruı́dos com os sinais, em vez de eliminá-
los. Por esta razão, os procedimentos mais indicados, para a geração e tratamento de
mapas sı́smicos, são: (1) aplicar filtragem não linear, as quais consistem em remover
dos mapas as medidas estatisticamente pouco representativas, através de técnicas como,
por exemplo, a seleção da mediana de um conjunto de medidas locais; (2) na geração
de malhas com o resultado da interpretação de dados sı́smicos tridimensionais, evitar a
mistura lateral, já que os mesmos dados já constituem malhas regulares e; (3) no caso
de dados sı́smicos bidimensionais, aplicar a primeira técnica ao longo das linhas sı́smicas.
Ressalte-se que a geração de malhas regulares também pode ser baseada no conceito de
mediana.
Os mapas de tempo de reflexão são básicos para a geração de outros mapas, igualmente
importantes: (a) mapas estruturais em profundidade (item 4.4); (b) mapas isópacos (item
4.4); (c) mapas de atributos de superfı́cie, ou seja, estimados com base na geometria que
caracteriza o horizonte mapeado, o que inclui, por exemplo, coerência lateral, gradiente
e azimute (como sugerem os nomes, os dois últimos atributos correspondem a estimati-
vas locais da atitude do horizonte interpretado); (d) mapas de fatias de horizontes, que
permitem avaliar a distribuição espacial de um atributo sı́smico qualquer ao longo de
um horizonte e; (e) mapas de atributos intervalares, ou seja, estimados entre dois nı́veis
470 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
Em função dos contrastes elásticos envolvidos, a caracterização dos reservatórios pode ser
dividida em duas grandes famı́lias. A primeira delas inclui as situações nas quais é possı́vel
individualizar o reservatório, tanto nas seções sı́smicas quanto nos perfis de poços. Na
segunda famı́lia, os reservatórios não podem ser isolados com segurança, seja por causa da
complexidade de sua distribuição, seja pelo comportamento elástico lateralmente variável.
Considere-se inicialmente a situação em que o reservatório não pode ser individua-
lizado com segurança. Neste caso, é conveniente o recurso ao mapeamento de valores
intervalares dos atributos sı́smicos, os quais são obtidos a partir do mapeamento das
reflexões que caracterizam topo e base da seqüência estratigráfica que inclui os reser-
vatórios a caracterizar. Diversos atributos estatı́sticos, estimados no intervalo entre as
duas reflexões mapeadas, podem ser calculados, entre os quais estão os valores máximo
e mı́nimo, o desvio padrão, a variância e a curtose. Talvez o mais representativo deles
seja a variância e sua raiz quadrada, ou seja, o desvio padrão das amplitudes, o qual é
definido por
v
u tB
u 1 X
σ= t (st − s̄)2 (4.1.4)
(tB − tT + 1) t=t
T
empilhado de forma convencional, corresponde a uma média das contribuições das am-
plitudes obtidas em diferentes afastamentos fonte-receptor. Com base na teoria discutida
nos mesmos capı́tulos, pode-se dizer que o empilhamento convencional não permite ex-
trair dos dados sı́smicos todas as informações disponı́veis. Para que isto seja possı́vel, é
conveniente o recurso aos chamados atributos de AVO, os quais são fundamentais para
a caracterização dos reservatórios e dos fluidos que os saturam. Deve-se ainda ressaltar
a conveniência de tratar esses atributos na forma de mapas e não somente de seções
ou volumes, o que favorece a distinção entre anomalias associadas à litologia e aquelas
causadas pela presença de petróleo. Este tema será aprofundado do item 4.3.
Os dados sı́smicos podem também ser usados no mapeamento das porosidades dos
reservatórios. Neste caso, são também muito úteis os volumes, ou seções, de pseudo-
impedâncias acústicas e de pseudo-velocidades intervalares. Por outro lado, ainda que
as pseudo-impedâncias acústicas tenham sido geradas a partir de dados adequadamente
tratados, os valores absolutos obtidos nunca são exatos, o que decorre do caráter ine-
rentemente indireto do método sı́smico. Esta dificuldade prática leva a duas linhas de
inversão: (1) incluem-se as informações de alta e baixa freqüência dos perfis de poços
durante o processamento sı́smico, o que permite a obtenção de velocidades intervalares
já corrigidas ou; (2) somente as informações de baixa freqüência dos perfis são utilizadas
durante o processamento, levando à necessidade posterior de ajustar os dados sı́smicos
aos dados de poços.
onde f denota o fluido, ou uma mistura de fluidos. Na faixa de porosidades de 0.47 até
1.0, os autores citados adotaram a média de Reuss, discutida abaixo. Nas porosidades
474 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
ρ = av b (4.2.4)
onde a e b são constantes estimadas por Gardner et al. (1974) em 0.23 e 0.25, para a
densidade em gramas por centı́metro cúbico e a velocidade em pés por segundo3 . Ressalte-
se que a mesma expressão deve ser adaptada para a bacia e os sedimentos em que ela
é aplicada. Isto significa dizer que as constantes a e b devem ser recalculadas (a este
respeito, ver Castagna et al., 1993).
Com o valor da densidade computado dessa forma, estima-se a porosidade com base
na equação 4.2.1, rearranjada da seguinte forma:
ρm − ρ
φ= (4.2.5)
ρm − Sh ρh − (1 − Sh )ρa
ou, considerando o fluido que satura os poros como uma mistura,
ρm − ρ
φ= (4.2.6)
ρm − ρ f
Por sua vez, o módulo de elasticidade relaciona-se à velocidade de propagação das ondas
e à densidade da seguinte forma:
MÓDULO de ELASTICIDADE = (VELOCIDADE AO QUADRADO × DENSIDADE)
Aplicada ao caso das ondas compressionais, P, viu-se, no item 2.1, que esta expressão
pode ser escrita da seguinte forma:
s
Kb + 43 µ
vP = (4.2.7)
ρ
3
No caso da velocidade em metros por segundo, a = 0.3095.
4.2. NOÇÕES DE PETROGEOFÍSICA 475
No item 2.1, as equações 4.2.7 e 4.2.8 foram apresentadas sem se fazer qualquer
referência à complexidade do material envolvido. Considere-se agora o caso de uma rocha
porosa, como um arenito, saturada de um fluido qualquer. Em função da diferença entre
as propriedades elásticas dos diversos constituintes da rocha, uma onda de compressão
deve fazer com que o fluido, a matriz e o esqueleto poroso sejam submetidos a diferentes
graus de deformação4 . Apenas como exemplo, citam-se alguns módulos bulk tı́picos, em
unidades de pressão: (1) água, de 2.25 a 3GPa; (2) óleo, de menos de 0.1 a 2GPa; (3)
matriz (grãos de rocha), de 25 a 80GPa e; (4) esqueleto poroso (rocha seca), de 4 a
20GPa.
Nestas circunstâncias, os módulos de elasticidade exigem uma análise mais sofisticada.
Partindo-se do modelo mais simples, suponha-se que a estimativa da composição dos
diversos módulos de elasticidade envolvidos em um meio qualquer possa ser feita com
base em valores médios. A este respeito, pode-se imaginar inúmeras formas para o cálculo
da média a ser aplicada. Entretanto, o universo de possibilidades pode ser reduzido, se
forem levadas em conta a distribuição de esforços e deformações e sua relação com a lei
de Hooke. Neste caso, aplicam-se três diferentes médias dos módulos de elasticidade: a
de Voigt, a de Reuss e a de Voigt-Reuss-Hill (ver, por exemplo, Mavko et al., 1996).
Considere-se um meio que, submetido a um esforço qualquer, sofre deformações dis-
tribuı́das de maneira uniforme entre os seus diversos componentes. Levando em conta
a lei de Hooke, esta condição leva à sugestão de que uma simples média aritmética dos
módulos elásticos seria adequada. Ou seja, aplicar-se-ia ao caso a média de Voigt, que é
definida da seguinte forma: X
MV = f i Mi (4.2.9)
i
onde fi é a fração do componente cujo módulo é dado por Mi , sendo que M pode ser
tanto o módulo bulk quanto o de rigidez.
Considere-se agora o caso em que, ao invés das deformações, os esforços é que são dis-
tribuı́dos uniformemente entre os constituintes do meio. Esta situação ocorre, por exem-
plo, em um fluido, o qual se caracteriza pela independência de movimento das partı́culas
correspondentes (ver o item 2.1). Nestas condições, a média mais indicada é a harmônica.
Ou seja, aplica-se ao caso a média de Reuss, que é definida da seguinte forma:
!−1
X fi
MR = (4.2.10)
i
Mi
4
No caso em que a onda é constituı́da por componentes de altas freqüências, maiores ou equivalentes
às vigentes no registro de perfis sônicos (1 a 20kHz), o mesmo fenômeno pode até mesmo fazer com
que barreiras de permeabilidade criem reflexões mensuráveis, ainda que de pequena amplitude. Isto
ocorre quando o deslocamento do fluido na rocha, introduzido pela onda, sofre interrupções causadas
pela variação espacial na permeabilidade.
476 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
30
Módulo "bulk" (kbar)
20 Voigt
V−R−H
10
Reuss
0
0 20 40 60 80 100
Percentagem de água
As médias de Voigt e Reuss levam a valores extremos dos módulos elásticos, o superior
no primeiro caso e o inferior no segundo. Valores intermediários dos módulos elásticos
podem ser obtidos através, por exemplo, da média de Voigt-Reuss-Hill (V-R-H), a qual
é definida, em função das outras duas, por
1
MV RH = (MV + MR ) (4.2.11)
2
Na Figura 4.2, vê-se um exemplo de aplicação das três médias ao cálculo do valor
do módulo bulk da mistura de gás e água. Com base nas condições em que as médias
de Reuss e Voigt são definidas, pode-se induzir que os melhores resultados são obtidos
no caso em que se busca estimar o módulo de elasticidade da mistura de materiais do
mesmo tipo. A maior complexidade envolvida na mistura de sólidos faz com que, no caso,
a melhor média seja a de Voigt-Reuss-Hill. Nas aplicações práticas, as misturas de fluido
e de sólidos são tratadas individualmente, tanto no cálculo dos respectivos módulos de
elasticidade médios quanto na aplicação de conceitos mais sofisticados, como a equação
de Biot-Gassmann (ver discussão no subitem 4.2.2).
Outra aplicação das médias das propriedades elásticas relaciona-se ao conceito de
porosidade crı́tica. Considere-se uma rocha qualquer cuja porosidade pode variar entre
0 e 100%. Na faixa de porosidades próximas de zero, o arcabouço poroso é capaz de
sustentar a rocha. Acima de um certo valor de porosidade, os grãos minerais tendem a
perder contato entre si e a rocha passa a ser sustentada pelo fluido, em um regime de
suspensão. A porosidade que separa esses dois estados, chamada de porosidade crı́tica,
4.2. NOÇÕES DE PETROGEOFÍSICA 477
onde σR é a razão de Poisson da rocha seca e a densidade foi definida pela equação 4.2.1.
Uma observação interessante: no caso de reservatórios de boa qualidade, o termo que
envolve a multiplicação pela razão Kf /Km tende a ser bem menos importante do que a
porosidade, uma vez que Km é normalmente muito maior do que Kf .
No caso de uma rocha saturada de petróleo e água, pode-se calcular o módulo bulk
da mistura através da seguinte forma da média de Reuss:
−1
1 − Sh Sh Kh
Kf = + = (4.2.19)
Ka Kh Kh
(1 − Sh ) + Sh
Ka
onde os subscritos h e a representam petróleo e água, respectivamente, enquanto S se
refere à saturação. Observe-se que, no caso do gás, o termo que envolve a água pode se
tornar relativamente desprezı́vel, principalmente se o valor de Sh for alto.
Quanto ao módulo bulk da rocha seca, tem-se (ver Mavko et al., 1996):
−1
1 φ
KR = + (4.2.20)
Km Kp
Observe-se que a velocidade de onda cisalhante é afetada pelo fluido apenas através de
sua densidade.
As velocidades de onda compressional e cisalhante da rocha relacionam-se com a razão
de Poisson do conjunto rocha-fluido através da seguinte expressão:
s
vP 1−σ
q= = 1 (4.2.23)
vS 2
−σ
6
A compressibilidade de poros — o inverso de Kp — é definida, no meio geofı́sico, pela razão
−(dVp /dph )/Vp , onde Vp é o volume de poros e ph é a pressão hidrostática externa. A medida cor-
respondente, em uma rocha saturada de um fluido qualquer, é feita de tal forma que a pressão de poros
não varie durante o experimento, garantindo-se assim que nem os grãos nem o fluido sejam comprimidos.
Para isto, um acréscimo no valor de ph deve ser acompanhado da expulsão de parte do fluido que ocupa
os poros.
480 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
Para analisar o tema, imagine-se uma areia quartzosa limpa, saturada de água. Ima-
gine-se agora que a água seja progressivamente substituı́da por argila. Na fase inicial
desse processo, observa-se redução na compressibilidade e aumento na rigidez da rocha,
em função da troca de fluido por sólido. O resultado prático é um aumento na velocidade
da mistura7 . Quando a argilosidade ultrapassa a porosidade crı́tica da areia original, os
próprios grãos de quartzo passam a ser substituı́dos por argila e a perderem o contato
entre si. Em conseqüência, a compressibilidade total da rocha aumenta e a velocidade P
é reduzida, até o valor mı́nimo que ocorre no caso de uma argila pura. Explica-se assim
a semelhança numérica entre o teor crı́tico de argila e a porosidade crı́tica.
A influência dos fluidos sobre o comportamento da velocidade P das rochas porosas
pode ser melhor compreendida com base na equação Biot-Gassmann, particularmente na
forma das expressões 4.2.16 e 4.2.18. É fácil perceber, na primeira delas, que a redução
no módulo bulk dos fluidos saturantes reduz o módulo bulk da rocha e não altera sua
rigidez. Como o módulo bulk do petróleo é normalmente menor do que o da água, pode-
se induzir, combinando-se as expressões 4.2.19 e 4.2.18, que a velocidade P é diretamente
proporcional à saturação de água.
A Figura 4.4, construı́da com dados do arenito eocênico do campo de Bicudo, na
Bacia de Campos (ver a Tabela 4.1), representa um bom exemplo de como a saturação
de petróleo influencia a velocidade P, nos casos da presença de óleo e de gás. Observe-
se que a aplicação da média de Reuss, ao cálculo do módulo bulk da mistura gás-água,
7
Neste caso, há ainda que se levar em conta o efeito da alteração na arquitetura da rocha e, con-
seqüentemente, em sua compressibilidade de poros.
4.2. NOÇÕES DE PETROGEOFÍSICA 483
Material K ρ σ vP φ
Matriz (quartzo) 40. 2.65 − − −
Água 2.37 1.04 − − −
Óleo 0.944 0.8 − − −
Gás 0.131 0.36 − − −
Rocha seca 5.50 − 0.15 − 28.
Rocha c/água − 2.2 0.30 2845. 28.
100
Velocidade (%)
95
Óleo
90
Gás
85
0 25 50 75 100
Saturação de água (%)
faz com que cerca de 5% a 10% de gás sejam suficientes para provocar uma redução
significativa na velocidade P, a qual cresce de forma lenta com o aumento na saturação
de gás, a partir de um mı́nimo situado nas saturações de água em torno de 50%. No
caso do óleo, observa-se uma relação aproximadamente linear entre a velocidade P e a
saturação de água.
Como notaram Han e Batzle (2001), a drástica redução na velocidade, causada pela
introdução, no reservatório, de uma pequena quantidade de gás8 , é particularmente mais
8
Este fenômeno — associado ao termo fizz-water — é conhecido desde o inı́cio da década de 1970, prin-
cipalmente depois da publicação do trabalho de Domenico (1974). Relacionada com o mesmo tema está
484 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
100
Impedância acústica (%)
95
Óleo
90
85 Gás
80
0 25 50 75 100
Saturação de água (%)
100
90
Razão de Poisson (%)
Óleo
80
70
60
Gás
50
0 25 50 75 100
Saturação de água (%)
teor de feldspato deve aumentar a razão de Poisson de arenitos saturados de água, a qual
oscila entre 0.1 e 0.4, dependendo do grau de compactação. No caso dos carbonatos, cuja
razão de Poisson oscila em torno de 0.3, espera-se que a dolomitização a reduza, já que
a dolomita tende a ter razão de Poisson menor do que a da calcita.
AX 2 + BX + C = 0 (4.2.29)
onde
KR
X= 1− ,
Km
∆M φ φ
A= 2
− + ,
Km Kf 1 Kf 2
∆M φ φ 2φ
B= + − ,
Km Kf 1 Kf 2 Km
φ φ φ φ
C = ∆M − −
Kf 1 Km Kf 2 Km
e
∆M = vP2 2 ρ2 − vP2 1 ρ1
Nestas equações, os subscritos 1 e 2 se referem às duas situações em que se conhece
a rocha e os demais sı́mbolos já foram identificados anteriormente. Com o valor de
X, determinado a partir da solução da equação 4.2.29 e, conseqüentemente, o de KR ,
determina-se em seguida o módulo de rigidez, o que pode ser feito através da equação
4.2.17.
A técnica Gregory-Pickett pode ser útil para: (a) obter valores de compressibilidade
para aplicação em processos de simulação de produção; (b) fornecer dados para a subs-
tituição de fluido com uma mistura diferente das duas conhecidas e; (c) avaliar a aplica-
bilidade da substituição de fluidos a uma determinada rocha. Considere-se por exemplo,
neste último caso, que os valores de módulo bulk e razão de Poisson da rocha seca, esti-
mados com a técnica, sejam absurdos. Neste caso, conclui-se que, ou os dois conjuntos
de dados não correspondem a uma mesma rocha saturada de dois fluidos distintos, ou a
equação Biot-Gassmann não se aplica.
30
Módulo bulk (kbar)
25
50 100 150
Temperatura (graus centígrados)
usam-se dados de temperatura, pressão de poros e salinidade para, nas condições de reser-
vatório, obter-se o valor do correspondente módulo bulk, como no exemplo da Figura 4.8.
Nas aplicações práticas, o módulo bulk e a densidade da água, determinados dessa forma,
oscilam em torno de 22.5 a 35GPa e 0.98 a 1.1g/cm3 , respectivamente. Combinados com
a equação 4.2.7, esses dados podem ser usados também para se determinar a velocidade
da água. Um exemplo prático, fora da área da petrogeofı́sica, pode ser visto na Figura
4.9, na qual se vê como varia a velocidade média da água em função da batimetria e de
variações isoladas na temperatura da água junto à superfı́cie e da salinidade da água.
Quanto ao óleo e ao gás, as estimativas de módulo bulk e densidade são obtidas com
base em dados facilmente disponı́veis, como a densidade relativa (no caso do óleo, grau
490 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
T1
1
N
Batimetria (km)
T2
2 S1 S2
4
1480 1500 1520 1540
Velocidade média da água (m/s)
API) e a razão gás/óleo, além da pressão e da temperatura, já mencionadas (ver Batzle
e Wang, 1992). A densidade relativa do óleo, avaliada a 15.60 centı́grados, é definida por
141.5
gAP I = − 131.5 (4.2.30)
ρo
onde ρo é a densidade absoluta do óleo. Valores extremos de densidade relativa oscilam
entre menos de 10, para óleos muitos densos, e 70, com as correspondentes densidades
variando entre 1.0 e 0.7g/cm3 , respectivamente. No caso da razão gás-óleo, a unidade
tı́pica é m3 /m3 e os valores mais representativos oscilam entre 30 e 150m3 /m3 . A densi-
4.2. NOÇÕES DE PETROGEOFÍSICA 491
dade relativa do gás é definida como a razão entre as densidades do gás e do ar a 15.6 0
centı́grados, na pressão atmosférica. Valores extremos oscilam entre 0.56 (metano) e 1.8
(gás denso), segundo Mavko et al. (1996), sendo que a faixa mais representativa está entre
0.7 e 1.0.
O módulo bulk e a densidade dos minerais que constituem a matriz são normalmente
estimados com base em medidas de laboratório publicadas na literatura especializada.
Uma vez que a influência de ambos, nas equações 4.2.17 e 4.2.22, não é muito acentuada,
este tipo de fonte de informações torna-se bastante aceitável. Neste particular, um erro na
estimativa do material que constitui a matriz pode ser mais importante do que eventuais
diferenças nos valores das propriedades do material correto. Intervalos representativos dos
valores do módulo bulk, em GPa, são 36-40, para um grão de quartzo, 15-25 para a argila e
65-77, para um grão de calcita. Para os mesmos materiais, as densidades representativas,
em gramas por centı́metro cúbico, são 2.65, 2.55-2.6 e 2.70-2.71, respectivamente.
Na discussão sobre a substituição de fluido, ficou evidente que a obtenção das proprie-
dades da rocha seca representa a maior dificuldade enfrentada nas aplicações mais comuns
da modelagem petrofı́sica. Viu-se também que, no caso, a situação mais confortável ocorre
quando existem perfis de velocidade S das rochas saturadas, já que, através da aplicação
das equações 4.2.25 a 4.2.27, pode-se estimar os módulos bulk e de rigidez da rocha seca.
Entretanto, na maioria dos poços perfurados, em todo o mundo, não existem perfis de
velocidade S, os quais só passaram a ser adquiridos de forma sistemática já nos anos 90,
em função do desenvolvimento das ferramentas dipolares (ver Harrison et al., 1990). Este
fato, aliado à má qualidade de muitos perfis de velocidade S, tem levado com freqüência
ao uso de técnicas empı́ricas, as quais, muitas vezes parcialmente suportadas pela teoria,
tentam compensar a ausência desse tipo de dado.
Uma das mais conhecidas das técnicas empı́ricas é baseada na aproximação obtida
por Castagna et al. (1985), a qual permite estimar a velocidade S a partir da velocidade
P de um folhelho e é dada por
1
vS = (vP − c) (4.2.31)
m
ou, usando os valores m e c originalmente obtidos pelos mesmos autores,
vS = ai + bi vP + ci vP2 (4.2.33)
Litologia-mineral a b c
Arenito-Quartzo −0.85588 0.80416 0.000002
Argila-Ilita −0.86735 0.76969 0.000000
Dolomita −0.07775 0.58321 0.000004
Calcário-Calcita −1.03049 1.01677 −0.055080
11
Há quem critique o termo DHI e prefira alternativas como SHI (Seismic Hydrocarbon Indicators).
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 495
Figura 4.10: Perfis de raios gama, resistividade, sônico e densidade do poço BI-1D,
no campo de Bicudo.
na página 483): (a) módulo bulk, em GPa, de 0.944 para o óleo, 2.37 para a água12 e
40, para os grãos da rocha; (b) velocidade, em metros por segundo, de 2820-2870, para
a rocha com água, e 2610-2650, para a rocha com óleo; (c) densidades, em gramas por
centı́metro cúbico, de 2.12 a 2.15, para a rocha com óleo, 2.17 a 2.22, para a rocha com
água, 2.65 para os grãos, 0.80 para o óleo e 1.04, para a água; (d) porosidade de 28%; (e)
saturação de óleo de 90%.
Como o módulo bulk e a razão de Poisson da rocha seca não eram conhecidos, fez-se
uso da técnica Gregory-Pickett, discutida no item 4.2. Sabe-se que, para a aplicação
bem-sucedida desta técnica, é necessário que as caracterı́sticas do reservatório sejam as
mesmas, acima e abaixo do contato entre os fluidos. Com efeito, no caso do campo de
Bicudo, as descrições de amostras de calha e estudos de perfis parecem confirmar relativa
homogeneidade no reservatório.
No caso do campo de Bicudo, a técnica Gregory-Picket conduziu a valores de 0.15,
para a razão de Poisson da rocha seca e 5.5GPa, para o módulo bulk da rocha seca.
Ambos os resultados estão perfeitamente de acordo com o que a literatura especializada
registra, no caso de arenitos do mesmo tipo. Pôde-se confirmar, portanto, que o fenômeno
observado nos perfis sônico e de densidade é devido à presença de óleo (Rosa et al., 1985).
Em resumo, a anomalia de amplitude da Figura 4.11 corresponde a um exemplo do
mais antigo dos DHI’s: o bright-spot (em português, mancha brilhante), ou seja, uma
amplitude anômala resultante da presença de petróleo, explicada com base na teoria
discutida no item 4.2. Na mesma figura, observa-se, ainda que de forma pouco óbvia,
uma feição normalmente associada ao bright-spot: o flat-spot. Trata-se de uma reflexão
gerada no contato entre o petróleo (gás ou óleo) e a água e que, por isto mesmo, tende a
12
Percebeu-se, mais tarde, que o valor correto do módulo bulk da água é maior do que o usado. Entre-
tanto, a utilização do valor correto não alterou significativamente os resultados originalmente obtidos.
496 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
ser aproximadamente plana, justificando o termo flat (em português, plano). No caso do
campo de Bicudo, os fenômenos de interferência e variação lateral na velocidade média
deformaram a reflexão do contato, o que dificulta a caracterização da feição.
Também da mesma famı́lia que o bright-spot é o dim-spot (em português, mancha
esmaecida), gerado quando a presença de petróleo provoca uma redução no módulo da
amplitude. Isto ocorre quando a rocha saturada de água apresenta impedância acústica
maior do que a da rocha encaixante. Assim, quando a água é substituı́da por petróleo,
a correspondente redução na impedância acústica provoca uma redução no módulo da
amplitude. Ressalte-se que, como sugere a intuição, não é muito fácil identificar, nos
dados sı́smicos, anomalias deste tipo.
Um aspecto importante a destacar é que, nas seções empilhadas com base na técnica
CDP, os bright-spots, como qualquer reflexão, são anomalias resultantes da média de
amplitudes obtidas em diferentes ângulos de incidência. O impacto desse fenômeno sobre
os bright-spots pode ser avaliado com base em um exemplo sintético, como o da Figura
4.12, a qual foi construı́da tomando-se como modelo as seguintes rochas, encaixadas em
um folhelho representativo: (a) um arenito saturado de petróleo; (b) o mesmo arenito,
saturado de água e; (c) um folhelho de baixa impedância acústica e razão de Poisson
compatı́vel com a fórmula de Castagna et al. (1985). Nos três casos, foram usados como
referência — mas não exatamente – os dados do campo de Bicudo.
Observe-se, na Figura 4.12, que: (1) na incidência normal, o topo da rocha saturada
de água dá origem a um coeficiente de reflexão (ou a uma amplitude) de módulo mais
baixo do que o correspondente ao arenito saturado de petróleo, o que representa um
resultado compatı́vel com o conceito de bright-spot; (2) a influência do petróleo é mais
clara no traço empilhado do que no traço de incidência normal, ou seja, nas condições da
figura, o empilhamento reforça a importância relativa do bright-spot; (3) a distribuição
das amplitudes nos traços não empilhados pode ser usada como um DHI ainda mais
poderoso do que o bright-spot, na medida em que incorpora também a influência da razão
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 497
b
Coeficiente de reflexão −0.025
−0.050 c
−0.075
a
−0.100
0 10 20 30 40
Ângulo de incidência (graus)
2.00
vP σ ρ
a
100
2.1
Tempo (s)
b
200
2.2
c
300
2.3
400
2.4
0 10 20 30 40 S
Figura 4.12: Coeficientes de reflexão (no alto), perfis elásticos
e sismograma sintético (embaixo), correspondentes ao modelo de-
finido pelas seguintes rochas, encaixadas em um folhelho: (a) um
arenito saturado de petróleo; (b) o mesmo arenito saturado de
água; (c) um folhelho de baixa impedância acústica. No gráfico
superior, a escala horizontal é linear com o quadrado do seno do
ângulo de incidência. No inferior, os números no eixo horizontal
são os ângulos de incidência em graus, enquanto a letra S iden-
tifica o resultado do empilhamento dos traços. Os sı́mbolos v P ,
σ e ρ identificam velocidade de ondas compressionais, razão de
Poisson e densidade. Pulso sı́smico: filtro passa-banda de 8-40Hz.
13
A Figura 4.12 poderia levar a uma correlação direta entre presença de petróleo e aumento do módulo
da amplitude com o ângulo de incidência. Ver-se-á adiante que a realidade pode ser mais complexa.
498 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
0.45
0.40
W
Razão de Poisson
0.35
O
0.30 G
0.25
0.20
3000
2500
Velocidade S (m/s)
2000
1500
G
W
1000
O
500
1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade P (m/s)
localizadas. Por outro lado, de acordo com a discussão apresentada no item 3.7, sabe-se
que é substancialmente simples a obtenção de estimativas dos parâmetros de AVO, os
quais representam combinações dos parâmetros elásticos básicos e, portanto, possibilitam
a obtenção dos indicadores desejados.
500 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
r̂t (θ̄) ∼
= Ā + B̄ sen 2 θ̄ (4.3.1)
entre as duas funções, evitando parte das aproximações que permitiram a obtenção da
expressão 4.3.6, é necessário aprofundar o enfoque estatı́stico, para o quê se faz uso das
expressões 4.2.4 e 4.2.31, obtidas por Gardner et al. (1974) e Castagna et al. (1985).
Levando em conta que, com base na primeira delas, ∆ρ/ρ̄ ∼ = b∆vP /v̄P e, com base na
∼
segunda, ∆vP /∆vS = m, obtêm-se as seguintes relações:
∆vP ∼ 2A ∆ρ ∼ 2Ab ∆vS ∼ 1 v̄P 2A
= , = e = (4.3.7)
v̄P 1+b ρ̄ 1+b v̄S m v̄S 1 + b
onde, nas versões originais, b e m são iguais, respectivamente, a 0.25 e 1.16. Estas relações
possibilitam, a partir da equação 4.3.3, obter a seguinte aproximação (ver Castagna et al.,
1998):
∼ A 2 v̄P
B= 1−k +b (4.3.8)
1+b m v̄S
Em alguns casos, pode-se considerar aproximadamente constante a razão v̄ P /v̄S . Esta
caracterı́stica implica dizer que, na expressão 4.2.31, o parâmetro c é igual a zero e,
portanto, m é igual a v̄P /v̄S . Criam-se, assim, condições para estabelecer a seguinte
relação:
A
B∼= [1 − k(2 + b)] (4.3.9)
1+b
ou, para b = 0.25,
4A 4.5 − 9σ̄
B∼= 1− (4.3.10)
5 1 − σ̄
Observe-se, na primeira expressão, que, se k = 1, B = −A.
Com base nas expressões 4.3.8 a 4.3.10, conclui-se que as reflexões correspondentes ao
topo e à base das litologias Gardner-Castagna apresentam, no que diz respeito à relação
entre A e B, um padrão linear bem definido, o qual recebe, na literatura especializada,
a denominação “tendência de fundo” (em inglês, background trend ). Matematicamente
este conceito é resumido por
B = gA (4.3.11)
De acordo com este resultado, induz-se que, em um gráfico em que se representam os
valores de B em função de A, as reflexões devem aparecer distribuı́das na forma de uma
nuvem de pontos alinhada de acordo com a declividade g.
Analisando-se a expressão 4.3.8, conclui-se que, para b = 0.25, m = 1.16 e v̄P /v̄S ≤ 7,
o termo entre colchetes é negativo. Considerando que estas são condições realistas, pode-
se afirmar que a declividade g tende a ser uma grandeza negativa. Para avaliar a validade
desta afirmação em outro contexto, considere-se a equação 4.3.10. Neste caso, percebe-se
que valores positivos de g ocorrem apenas quando a razão de Poisson σ̄ suplanta 0.44.
Observe-se que esta condição — ou a de que v̄P /v̄S ≥ 7 — tende a se restringir, em bacias
sedimentares tı́picas, às camadas próximas do fundo do mar.
Sabe-se que a tendência de fundo é um conceito definido na ausência de petróleo,
uma vez que esta foi a condição em que as expressões 4.2.4 e 4.2.31 foram obtidas. A
pergunta que se faz agora é: o que acontece com os valores de A e B, correspondentes aos
coeficientes de reflexão que caracterizam o topo e a base de um reservatório, se a água
que o reservatório contém for substituı́da por petróleo? De acordo com a Figura 4.13 e
a teoria discutida no item 4.2, sabe-se que esta substituição leva às seguintes alterações:
502 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
(1) a impedância acústica do reservatório torna-se menor do que a original; (2) a razão
de Poisson da rocha também se torna menor do que a original e; (3) a redução no valor
da razão de Poisson tende a ser proporcionalmente maior, particularmente no caso do
gás. Uma vez que as propriedades da rocha encaixante não são alteradas, a equação 4.3.6
permite prever as seguintes tendências:
AHC − AW < 0
TOPO (4.3.12)
BHC − BW ≤ 0
e
AHC − AW > 0
BASE (4.3.13)
BHC − BW ≥ 0
onde os subscritos HC e W indicam a presença de petróleo e de água, respectivamente.
Na Figura 4.14, pode-se ver um exemplo dos deslocamentos descritos pelas expressões
4.3.12 e 4.3.13, no caso em que se substitui água por óleo em um conjunto de arenitos
representativos. Observe-se que o resultado desses deslocamentos pode ser caracterizado
como um conjunto de anomalias, uma vez que os novos pares (A, B) situam-se afastados
da reta que caracteriza a tendência de fundo. É fácil induzir que a dimensão de cada
um desses afastamentos e, portanto, da correspondente anomalia, depende, entre outros
fatores, das caracterı́sticas do tipo de petróleo que satura a rocha. Em particular, uma
anomalia mais expressiva seria observada na Figura 4.14 se o petróleo fosse gás.
É evidente, na Figura 4.14, o fato de que as anomalias obtidas poderiam ser separadas
em diferentes categorias, em função da relação entre os correspondentes valores de A e B.
Esta é a base da proposta de Rutherford e Williams (1989), que criaram as três primeiras
classes de anomalia de AVO. Castagna e Swan (1997) introduziram uma quarta classe e,
na Petrobrás, diagnosticou-se em 1998 a conveniência de se acrescentar uma quinta classe,
denominada 3.5. As cinco classes de anomalia, válidas para reflexões correspondentes
ao topo dos reservatórios, são representadas graficamente na Figura 4.15 e podem ser
descritas da seguinte forma:
1. Classe 1 – A positivo e B negativo, impedância acústica mais alta do que a da
rocha encaixante. São tı́picas de regiões onde ocorrem folhelhos com impedância
acústica anomalamente baixa. Normalmente, aparecem como números positivos em
seções sı́smicas empilhadas. Podem fazer com que se criem dim-spots nas mesmas
seções, se o valor de B for negativo o suficiente para levar à troca de polaridade ao
longo do lanço e, no empilhamento, a uma soma próxima de zero.
2. Classe 2 – Módulo de A próximo de zero e B negativo, impedância acústica re-
lativamente igual à da rocha encaixante. Nas seções empilhadas, correspondem a
anomalias negativas e podem ser confundidas com as da classe 3. São geradas em
reservatórios que, saturados de água, tendem a apresentar impedância acústica mais
alta do que a das rochas encaixantes.
3. Classe 3 – Valores negativos de A e B, impedância acústica mais baixa do que a da
rocha encaixante. Correspondem a feições que, em geral, aparecem bem nas seções
empilhadas, onde se mostram mais anômalas do que nas seções A. São geradas
em reservatórios que, saturados de água, tendem a apresentar impedância acústica
similar à das rochas encaixantes. Na Figura 4.12, pode-se ver um exemplo deste
tipo de anomalia.
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 503
0.20
0.2
0.10
0.1
B
−0.10
−0.1
−0.20
−0.2
−0.15 −0.10
−0.1 −0.05 0 0.05 0.10
0.1 0.15
A
Figura 4.14: Comportamento dos parâmetros A e B antes e depois da
substituição de água por óleo em um conjunto de arenitos encaixados em
folhelhos. O sı́mbolo • corresponde ao topo ou base do arenito saturado
de água, enquanto o quadrado e o losango identificam, respectivamente,
as posições do topo e da base, após a substituição por óleo. Como
referência, o quadrado e o losango preenchidos correspondem ao topo e à
base de uma mesma camada de arenito, saturada de óleo. Os parâmetros
básicos do meio são: v̄P = 2845m/s, ρ̄ = 2.26g/cm 3 e v̄S = 1280m/s. As
propriedades dos fluidos são as mesmas listadas na Tabela 4.1 (página
483).
A aplicação prática desses conceitos é baseada nas aproximações descritas pelas ex-
pressões 4.3.2 e 4.3.4, o que implica substituir A pela interseção, Ā, e B pelo gradiente,
B̄. No processo, é comum a construção de gráficos similares ao da Figura 4.14, para o
quê as estimativas sı́smicas de Ā e B̄, em uma mesma posição espacial, são transforma-
das em coordenadas de um gráfico cartesiano, o que caracteriza um gráfico cruzado (em
inglês, um crossplot). De acordo com esta técnica de representação dos dados sı́smicos,
desenvolvida no final dos anos 80, pode-se estabelecer a distribuição estatisticamente re-
presentativa dos parâmetros Ā e B̄ e, a partir daı́, a caracterização das anomalias de
504 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
0.20
II I
0.10
Te
Classe 4
nd
0.02
ên
ci
Classe 3.5
B
a
de
−0.02
fu
nd
o
−0.10 Classe 3 Classe 2
III Classe 1 IV
−0.20
−0.20 −0.10 −0.02 0.02 0.10 0.20
A
Figura 4.15: Classes de anomalias de AVO no plano AB (modifi-
cado de Castagna et al., 1998). Os algarismos romanos identificam
os quadrantes. Observação: em dados reais, a orientação e a lar-
gura da região que define a tendência de fundo são estatisticamente
estimadas com base na equação 4.3.11.
0.06
.06
0.04
.04
0.02
.02
B
−0.02
−.02
−0.04
−.04
−0.06
−.06
−0.06
−.06 −0.04
−.04 −0.02
−.02 0 0.02
.02 0.04
.04 0.06
.06
A
0.06
.06
0.04
.04
0.02
.02
Gradiente
−0.02
−.02
−0.04
−.04
−0.06
−.06
−0.06
−.06 −0.04
−.04 −0.02
−.02 0 0.02
.02 0.04
.04 0.06
.06
Interseção
melhor qualidade das técnicas ABC e ĀD̄, discutidas no item 3.7 e no Apêndice A.4.
A aplicação da primeira técnica é imediata, uma vez que uma boa estimativa de B faz
parte do processo. Já no caso da segunda técnica, recorre-se à igualdade B = A + D e à
506 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
r(θ̄) ∼
= Ā(1 + tan 2 θ̄) + D̄ sen 2 θ̄ (4.3.14)
Atributos de AVO
O leitor deve ter observado na Figura 4.16 que, entre os pontos associados à presença
de petróleo, alguns são caracterizados por uma grande distância até a nuvem de pontos
estatisticamente representativa, ou seja, até a reta que define a tendência de fundo. À
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 507
parte fenômenos de interferência, os mais afastados, nos quadrantes III (ou IV) e I, cor-
respondem, respectivamente, ao topo e à base do reservatório. Para fazer uso exploratório
desta caracterı́stica, é conveniente o recurso aos chamados atributos de AVO, os quais
são normalmente apresentados na forma de uma seção (ou volume), computada a partir
de dados sı́smicos adequadamente processados.
Historicamente, o primeiro atributo de AVO foi o fator de fluido (Smith e Gidlow,
1987). Para defini-lo, leva-se em conta que os eventos situados ao longo da tendência
de fundo apresentam comportamento compatı́vel com a igualdade ∂vP /∂vS = m, obtida
a partir da expressão 4.2.31. Discretizando-se essa igualdade e multiplicando ambos os
lados pela razão v̄S /v̄P , criam-se condições para definir da seguinte forma o fator de fluido:
∆vP v̄ ∆vS
FF = −m S (4.3.20)
v̄P v̄P v̄S
Observe-se que, no uso do fator de fluido como um DHI, o termo R torna-se pouco
importante, uma vez que a velocidade S não é muito influenciada pelo petróleo e, além
disso, os termos entre parênteses tendem a apresentar módulos pequenos. Esta observação
leva à definição do seguinte atributo de AVO:
FAD = A + B = 2A + D (4.3.22)
Nesta forma, tem-se um atributo similar ao fator de fluido, mas que não exige o uso de
parâmetros adicionais.
Um atributo da mesma famı́lia do fator de fluido é o “desvio ortogonal”, FDO , o
qual é definido, no plano AB, pela distância mais curta entre cada amostra e a reta que
caracteriza a tendência de fundo. Neste caso, o primeiro passo do processo envolvido
em sua computação consiste em estimar os parâmetros que definem a mesma reta, como
se fez na geração da Figura 4.16. Em seguida, calcula-se a distância que caracteriza o
atributo e se aplica a ele uma convenção de sinal equivalente à do fator de fluido.
A expressão algébrica que define o desvio ortogonal, FDO , pode ser deduzida através
da Figura 4.17, na qual se observa a seguinte relação: |FDO | = DO = |(B1 − gA1 ) cos β|,
508 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
gA1
O
B=
β gA
B1
D
α
B=0
0
A1
A=0
0
Figura 4.17: Geometria envolvida na dedução da ex-
pressão que define o desvio ortogonal, no caso particular
de uma anomalia de classe 4. A reta tracejada, que define a
tendência de fundo, obedece à equação B = gA.
D
Fh = A − (4.3.25)
h
D
rP − r S ∼
=A+ (4.3.26)
2k
0
vP σ ρ
−
A −
D/2 −
A −
B FAD FDO P
200
Tempo (ms)
400
600
800
onde ĀI é a interseção e B̄I é o gradiente, ambos estimados com base em regressão linear
aplicada à curva dos valores de et (θ̄), representada em função do quadrado do seno do
ângulo de incidência para cada ı́ndice de tempo t.
De acordo com a expressão 3.7.28, a interseção e o gradiente, ĀI e B̄I , podem ser
considerados aproximações de AI e BI , os quais são definidos pelas equações 3.7.18 e
3.7.19, ou 3.7.20. De acordo com a discussão apresentada no item 3.7, sabe-se que essas
aproximações são válidas nas mesmas condições em que se adotam as aproximações das
equações 4.3.2 e 4.3.3, ou 4.3.4. Nas mesmas circunstâncias, aplicam-se as seguintes
512 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
equações:
1 v ρt
ĀI ∼
= AI = ln Pt + ln (4.3.30)
2 v P1 ρ1
e
vS 1 + k̄ ρt
B̄I ∼
= BI = AI − k̄ ln t + ln (4.3.31)
v S1 2k̄ ρ1
ou
1 − k̄ v Pt σt − σ 1
B̄I ∼
= BI = −k̄AI + ln + (4.3.32)
2 vP1 (1 − σt ) (1 − σ1 )
onde t é o ı́ndice da amostra e k̄ é o valor médio de k, o qual é definido pela equação
4.3.5.
Os parâmetros de AVO obtidos com dados sı́smicos invertidos apresentam uma im-
portante caracterı́stica: eles são grandezas proporcionais a combinações dos próprios
parâmetros elásticos. Segue-se daı́ a idéia de que o valor de um parâmetro em um dado
tempo, ou profundidade, é teoricamente independente das propriedades das rochas ver-
ticalmente vizinhas. Entretanto, se for levado em conta o limite inferior da faixa de
freqüências sı́smicas — tipicamente, 5 ou 6Hz —, conclui-se que os parâmetros de AVO
correspondem na verdade a uma variação, em relação a médias locais, dos parâmetros
absolutos. Ou seja, neste caso não existe um contraste elástico mas sim uma “variação
elástica”.
A ausência dos componentes de baixas freqüências tem outra importante implicação:
a possibilidade de, com base na linearidade envolvida nos processos de inversão, aplicar
a dados invertidos quase toda a lógica empregada na análise convencional de AVO, a
começar pelo conceito de tendência de fundo. Neste caso, assumindo-se que o meio seja
do tipo Gardner-Castagna, observa-se uma relação linear entre AI e BI , descrita pela
expressão BI = gI AI , onde gI é uma declividade que tende a ser igual a g e, por isto, a
ser negativa.
Outro aspecto a destacar é o fato de que, de acordo com a equação 4.3.31, o valor de
BI pode ser obtido a partir da estimativa de DI e da relação BI = AI + DI . No processo,
utilizam-se as seguintes expressões:
et (θ̄) ∼
= ĀI (1 + tan 2 θ̄) + D̄I sen 2 θ̄ (4.3.33)
e
vS 1 + k̄ ρt
D̄I ∼
= DI = −k̄ ln t + ln (4.3.34)
v S1 2k̄ ρ1
onde ĀI + D̄I ∼
= BI .
Resta discutir os atributos de AVO estimados a partir de dados sı́smicos invertidos.
Do ponto de vista matemático, sua descrição pode ser obtida com base na Tabela 4.3,
bastando, para isto, substituir cada parâmetro de AVO convencional pelo correspondente
aos dados invertidos e levar em conta a relação DI = hI AI , onde hI é uma declividade
negativa. A tı́tulo de exemplo, o atributo FAD , aplicado a dados sı́smicos invertidos,
passa a ser definido por
v Pt 1 ρt σt − σ 1
FAD = 2AI + DI = (1 − k̄) ln + ln + (4.3.35)
v P1 2 ρ 1 (1 − σt )(1 − σ1 )
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 513
0.4
.4
0.3
.3
0.2
.2
0.1
.1
I
B
−0.1
−.1
−0.2
−.2
−0.3
−.3
−.5 −0.4
−.4 −.3 −0.2
−.2 −.1 0 .1 0.2
.2 .3 0.4
.4
AI
Figura 4.19: Gráfico cruzado dos parâmetros AI e BI , gerados com
os mesmos perfis usados na construção da Figura 3.60 (página 444).
Os pontos destacados correspondem aos tempos 382 a 399ms, ou seja,
entre o topo e a base de um arenito saturado de óleo. A reta tracejada
representa a tendência de fundo. Máximo ângulo de incidência: 40 graus.
Pulso sı́smico: filtro passa-banda de 8-40Hz.
Para ilustrar esta discussão, prepararam-se as figuras 4.19 e 4.20. Através de uma
comparação entre a primeira delas e a Figura 4.16, percebe-se uma importante carac-
terı́stica da análise de AVO aplicada a dados sı́smicos invertidos: uma vez que esse tipo
de dado é proporcional às próprias propriedades elásticas do meio, as correspondentes
anomalias de AVO associadas ao petróleo se restringem à região abaixo da reta que de-
fine a tendência de fundo. Ou seja, não existe mais um topo e uma base caracterizados
por eventos anômalos, mas sim a própria camada. Esta caracterı́stica torna-se mais clara
a partir de uma comparação entre as figuras 4.18 e 4.20. Observe-se, na segunda delas,
que a anomalia associada ao petróleo corresponde a valores exclusivamente negativos dos
atributos FAD e FDO .
Analisando-se a Figura 4.20, percebe-se uma boa correlação entre o perfil de razões
de Poisson e os atributos FAD e FDO , com exceção das posições onde existem importantes
anomalias acústicas, como é o caso do intervalo portador de óleo. Uma das razões para
este comportamento pode ser extraı́da da equação 4.3.35, na qual o termo (1 − k̄) tende
a reduzir a importância relativa da impedância acústica, de forma tão mais pronunciada
quanto mais próximo de 1 for o parâmetro k̄. Outra razão é o fato de que, na média, as
variações locais da razão de Poisson tendem a ser maiores do que a dos outros perfis 18 .
18
A este respeito, deve-se ressaltar que os três perfis foram apresentados de forma proporcional à
sua importância no cálculo dos parâmetros e atributos de AVO. Para isto, substituı́ram-se os valores
absolutos de vPt , ρt e σt pelas seguintes expressões, baseadas nas equações 4.3.30 e 4.3.32: .5 ln vPt /vP1 ,
(σt − σ1 )/[(1 − σt )(1 − σ1 )] e .5 ln ρt /ρ1 . A normalização final para a apresentação dos três perfis foi feita
514 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
0
vP σ ρ
−
AI −
DI /2 −
AI −
BI FAD FDO P
200
Tempo (ms)
400
600
800
Até agora, assumiu-se que a análise de AVO, aplicada a dados sı́smicos invertidos, en-
volve freqüências superiores a 5 ou 6Hz, o que significa a impossibilidade lógica de se obter
valores absolutos dos parâmetros elásticos. Admitindo-se que os processos de inversão
tenham incluı́do uma estimativa dos componentes de baixa freqüência, a análise de AVO
pode se tornar muito semelhante à análise de perfis. Entretanto, os parâmetros elásticos
resultantes da inversão somente são representativos quando submetidos a correções e ca-
libração com base em dados de poços. Este é o caso do atributo IP − IS (impedância P
menos a pseudo-impedância S), gerado a partir da versão de banda ampliada do atributo
rP − rS . É também o caso do atributo λρ, ou IP2 − 2IS2 , gerado de forma similar19 .
esses dois temas, juntamente com a relação entre AVO e bright-spots em dados sı́smicos
empilhados.
Processamento
No processamento voltado para a análise de AVO, um tema crı́tico é o tratamento da
assinatura, uma vez que toda a teoria envolvida assume que a fase dos traços sı́smicos
é exclusivamente devida aos coeficientes de reflexão. Ou seja, se a fase do pulso sı́smico
residual, presente nos dados a analisar, não for virtualmente nula, os resultados podem
ser desastrosos. Dentre os processos que visam evitar este problema, um dos que exigem
preocupação especial é a compensação Q, em parte porque a correção da dispersão varia
com o tempo, em parte porque esta correção ainda não representa um tema teoricamente
consolidado. Reforça-se neste caso a necessidade de calibração com os dados de poços.
Outro aspecto fundamental é a correção dos fatores de caráter geométrico que inter-
ferem na distribuição das amplitudes em função do ângulo de incidência. Em particular,
não se admite que estejam presentes nos dados sı́smicos efeitos como o ilustrado através
da Figura 2.25, na página 115. Para corrigi-los, o processo mais efetivo é a migração pré-
empilhamento, preferencialmente em três dimernsões, a qual é particularmente essencial
no caso em que as feições geométricas são localizadas, tanto no tempo quanto no espaço.
Relacionada também à migração pré-empilhamento está a correção de NMO, a qual
representa uma etapa implı́cita do processo. Neste caso, dois temas se destacam: (1)
o NMO residual e; (2) o efeito de estiramento. O segundo tema pode não representar
um fator crı́tico para a forma convencional da análise de AVO, embora há quem procure
corrigi-lo sistematicamente. Já o primeiro é fundamental, uma vez que os resı́duos de
NMO podem introduzir significativas distorções de fase e gerar, destruir ou modificar
anomalias de AVO. É esta uma das caracterı́sticas que favorecem a análise de AVO base-
ada em empilhamentos parciais, em especial na forma de mapas (ver discussão adiante).
No que diz respeito à amplitude, os algoritmos de processamento afetam a análise
de AVO de forma controlada pela dimensão das anomalias. Em particular, os proces-
sos que não corrijam adequadamente — ou até mesmo deformem — a distribuição das
amplitudes tornam-se crı́ticos apenas quando envolvem perı́odos relativamente curtos, da
mesma ordem ou pouco maiores do que os das anomalias de AVO. Isto significa, por
exemplo, que uma correção inadequada do espalhamento geométrico — um processo que,
normalmente, envolve longos perı́odos — pode não destruir nem criar anomalias de AVO
mas, tão somente, introduzir um fator de escala e afetar sua classe no plano AB. Uma
abordagem estatı́stica para a análise de AVO poderia facilmente contornar este problema.
Ressalte-se entretanto que a mesma idéia não se aplica a qualquer processo de tratamento
de fase, ainda que este também envolva longos perı́odos.
Na obtenção dos parâmetros de AVO, é conveniente a utilização de empilhamentos
parciais, os quais são muito úteis na interpretação. Em sua geração, pode-se optar por
dividir os dados sı́smicos por faixa de afastamentos fonte-receptor ou por faixa de ângulos
de incidência. Embora a segunda opção seja teoricamente mais indicada, ela esbarra em
uma dificuldade importante: nem sempre a faixa nominal de ângulos de incidência coin-
cide com a efetivamente disponı́vel, o que ocorre com freqüência nos ângulos maiores 20 .
20
Deve-se ainda ter em mente a situação em que os afastamentos fonte-receptor são acentuados o
suficiente para, pontualmente, se atingir ou ultrapassar o ângulo crı́tico. A menos que uma técnica
516 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
Esta dificuldade não existe na segunda opção, a qual apresenta outra vantagem: fazendo
com que o número de traços de todas as faixas escolhidas seja igual, garante-se que a
correspondente razão sinal-ruı́do seja pelo menos semelhante (ver o Apêndice A.4).
Considere-se agora a computação do desvio ortogonal, para o qual uma etapa crı́tica
é a determinação da declividade g da reta que define a tendência de fundo. Para isto,
aplica-se regressão linear sobre um conjunto representativo de valores de interseção e
gradiente21 , buscando minimizar a distância entre cada ponto e a reta que se deseja
estimar. A opção por esta técnica, que é diferente da regressão linear convencional, é
justificada pelo fato de que o desvio ortogonal, como sugere o nome, envolve a menor
distância de cada par (A, B) e a reta que define a tendência de fundo.
Os ruı́dos aleatórios influenciam a computação da declividade g de uma forma peculiar,
digna de registro. Para apresentar a idéia, considere-se que exista nos dados sı́smicos
apenas ruı́do aleatório com média igual a zero. Neste caso, os correspondentes traços
Ā e B̄ apresentariam correlação negativa, o que se pode deduzir através de uma análise
baseada no resultado 2 da Tabela 1.6 (página 39) e nas equações A.4.10 e A.4.11. Em
conseqüência, a declividade da reta que define a tendência de fundo, computada com
base nos mesmos traços, seria também negativa. Isto significa que, na presença de ruı́do
aleatório, uma declividade negativa pode não ser exclusivamente devida à anti-correlação
teórica entre os parâmetros A e B.
Toda esta argumentação é também válida para a análise de AVO aplicada a dados
sı́smicos invertidos, desde que a banda de freqüências disponı́veis tenha um limite inferior
acima de zero. Quando a inversão objetiva a obtenção de valores absolutos dos parâmetros
elásticos, o nı́vel de exigência quanto à qualidade do resultado é naturalmente mais alto,
até porque envolve informações não contidas nas amplitudes (ver o item 3.7).
Interpretação e análise
Admitindo-se que os dados sı́smicos apresentem as caracterı́sticas de amplitude e fase
adequadas para a análise de AVO, pode-se perguntar se a banda de freqüências resultante
do processamento permite a identificação segura das anomalias. A este respeito, deve-se
considerar que, nem sempre, a presença de um espectro de amplitude amplo favorece
esta tarefa. Um exemplo pode ser extraı́do de uma comparação entre as figuras 4.21
e 4.16. Observe-se que, no plano AB, o topo do reservatório saturado de óleo é mais
visı́vel no gráfico cruzado gerado com dados de mais baixa freqüência, enquanto o oposto
ocorre com a base. Estas são caracterı́sticas explicadas pelos fenômenos de interferência
inerentes ao método sı́smico e que certamente não podem ser generalizadas, tornando
obrigatória uma análise caso-a-caso.
A mesma idéia pode ser melhor avaliada através da Figura 4.22, na qual se vêem
diferentes versões do atributo FAD . Nos traços 1 a 3, obtidos sem inversão, percebe-se
que a base do reservatório é bem definida e que, ao nı́vel do topo, não se repetem, nas
freqüências mais altas, a anomalia presente na Figura 4.18. No que diz respeito aos
de inversão mais sofisticada seja utilizada, os dados sı́smicos obtidos nesta condição podem se tornar
imprestáveis para a análise de AVO.
21
Neste processo, deve-se garantir que a janela usada corresponda a uma representação adequada da
tendência de fundo. Na mesma linha, deve-se evitar que a estimativa do valor de g seja contaminada
pelo reservatório estudado, particularmente no caso em que a ele se associa uma forte anomalia.
4.3. INDICADORES SÍSMICOS DE PETRÓLEO E LITOLOGIA 517
0.06
0.04
0.02
B
−0.02
−0.04
−0.06
−0.06 −0.04 −0.02 0 0.02 0.04 0.06
A
Figura 4.21: Repetição do gráfico superior da Figura 4.16,
substituindo-se o filtro 8-40Hz por 8-60Hz e mantendo-se inalterados
os demais parâmetros.
traços que incluı́ram inversão, percebe-se que o reservatório se destaca nas três faixas de
freqüência usadas. Esta é uma conseqüência natural do fato de que ele já se destaca nos
perfis acústicos, em especial no perfil de velocidades P.
Comparando-se, na Figura 4.22, os resultados sem e com inversão, poder-se-ia advogar
a idéia de que a análise de AVO deveria sempre ser feita a partir de dados sı́smicos
invertidos. Entretanto, existem inúmeras circunstâncias a favor da utilização de dados
sı́smicos convencionais, ou seja, sem inversão. Uma delas merece ser destacada: o contato
entre petróleo e água, que representa um contraste de propriedades elásticas e, portanto,
tende a ser mais facilmente percebido em dados convencionais, principalmente no caso
de reservatórios espessos.
Os exemplos de atributos de AVO apresentados até agora foram todos gerados com
dados sı́smicos sintéticos. Situações mais ilustrativas da realidade podem ser vistas nas
figuras 4.23 e 4.24, as quais correspondem a seções de desvio ortogonal de dados sı́smicos
invertidos. O leitor poderá perceber que, nas duas anomalias mencionadas na descrição
das figuras, os lobos laterais têm dimensões semelhantes e ambos apresentam módulo
menor do que o pico ou a cavidade a eles associados. Este é o tipo de situação que, na
ausência de intercalações, favorece a identificação da polaridade das anomalias.
As figuras 4.23 e 4.24 representam exemplos em que a identificação das anomalias
de desvio ortogonal é relativamente fácil. Em muitas circunstâncias, isto não ocorre, em
particular se o fluido saturante é petróleo lı́quido e a camada analisada ocorre em uma
seqüência em que se empilham materiais separados por altos contrastes elásticos. Nestas
circunstâncias, os fenômenos de interferência podem gerar distorções importantes, entre
as quais se inclui o efeito de sintonia (em inglês, tuning), na forma variável com o ângulo
de incidência (ver o item 4.4).
518 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
0
vP σ ρ
200
Tempo (ms)
400
600
800
1 2 3 4 5 6
Figura 4.22: Atributo FAD , obtido com três diferentes pulsos sı́smicos
de fase nula, juntamente com os correspondentes perfis elásticos (os mes-
mos da Figura 4.20). Traços 1, 2 e 3: resultado sem inversão e pulsos
definidos pelos filtros 8-30, 8-60 e 8-90Hz. Traços 4, 5 e 6: resultado com
inversão e pulsos definidos pelos filtros 8-30, 8-60 e 8-90Hz. Os dois gru-
pos de traços foram normalizados separadamente. Para a apresentação
dos perfis, adotou-se o mesmo procedimento usado na Figura 4.20, além
da aplicação de um filtro corta-baixas de 8Hz.
Um exemplo simples pode ser usado para ilustrar a idéia. Imagine-se um meio cons-
tituı́do de duas camadas caracterizadas por anomalias positivas de desvio ortogonal, se-
paradas por uma litologia Gardner-Castagna. Imagine-se agora que os correspondentes
traços sı́smicos invertidos sejam submetidos a um simples filtro passa-banda. Depen-
dendo das caracterı́sticas do filtro e do espaçamento vertical entre as duas camadas, o
resultado pode ser a superposição dos lobos laterais associados às duas camadas e, em
conseqüência, a transformação do desvio ortogonal da litologia Gardner-Castagna em
uma feição falsamente negativa. Uma forma de atenuar este fenômeno consiste em in-
cluir, na seqüência de processamento, técnicas de deconvolução mais sofisticadas, como a
deconvolução iterativa, descrita no subitem 3.2.6.
Outro procedimento, útil em qualquer situação, consiste na análise diferencial dos atri-
butos de AVO. De acordo com esta idéia, procura-se avaliar como a saturação de petróleo
afeta o comportamento da reflexão do topo (ou da base) do reservatório, em comparação
com o do mesmo reservatório saturado de água, de forma parcialmente independente das
demais litologias. Para que este tipo de trabalho seja bem-sucedido, é conveniente a
adoção das seguintes medidas: (1) geração dos atributos de AVO na forma de mapas de
dados sı́smicos parcialmente empilhados22 e; (2) avaliação da correlação entre as seções ou
mapas dos atributos de AVO e a presença de armadilhas (trapas). As variações laterais
no comportamento sı́smico do reservatório tendem a ser mais facilmente identificadas nos
dados obtidos com essas medidas, desta forma facilitando a caracterização da presença
de petróleo23 .
Sabe-se que a presença de petróleo é, em si, uma anomalia. Sabe-se também, com base
na discussão apresentada no item 3.7, que a forma mais robusta da inversão elástica tende
a se restringir à obtenção de estimativas relativas das propriedades elásticas. Aplicadas
22
Uma das vantagens desse procedimento é a possibilidade de redução, pelo menos parcial, do efeito
de eventuais resı́duos de NMO.
23
Ressalte-se que esta é uma tarefa facilitada se o procedimento descrito for aplicado duas vezes, uma
com atributos de AVO convencionais e outra com atributos baseados em dados invertidos.
520 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
pela própria presença de petróleo, que pode reduzir o conteúdo de freqüências da reflexão
da base do reservatório24 e; (2) o espessamento da coluna de petróleo nos ápices das
acumulações, que pode levar a uma sugestão de redução do conteúdo de freqüências.
−50
−25
0
Tempo (ms)
25
50
75
100
120
0ms 20 40 60 80 100ms
140
120
Amplitude (%)
100
80
60
Espessura aparente (ms)
40
20
0
0 20 40 60 80 100
Espessura real (ms)
máximo enriquecimento, que permite definir a espessura de sintonia, τtun , ocorre quando
a espessura, em unidades de tempo, é dada por
τtun = 12 bw (4.4.3)
onde bw é igual ao tempo entre os dois lobos laterais do pulso sı́smico. Adotando-se a
definição de bw do pulso Ricker, na forma da equação A.6.2, a espessura de sintonia passa
a ser dada pela seguinte expressão:
√
6 1
τtun = (4.4.4)
2π fm
w(0) − w(τtun )
Ftun = (4.4.5)
w(0)
onde w(0) é a amplitude correspondente ao pico central do pulso sı́smico. No caso das
figuras 4.25 e 4.26, o fator de sintonia é aproximadamente igual a 1.37.
524 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
Com base nos resultados apresentados nas figuras 4.25 e 4.26, pode-se induzir que
o problema da resolução vertical deve ser dividido em dois: capacidade de detecção e
resolução vertical propriamente dita. Vê-se que camadas tão finas quanto 4ms podem ser
detectadas sem problemas, já que a amplitude correspondente é significativa. Em traba-
lhos práticos conduzidos com dados sı́smicos da plataforma continental brasileira, já se
observaram expressivas anomalias de amplitude comprovadamente associadas a camadas
com espessuras inferiores a 8-10m e situadas a profundidades superiores a 2500m. Na
verdade, pode-se constatar que, para a detecção de camadas finas, o limite de resolução
horizontal é mais importante.
No que diz respeito à resolução vertical, um tema recorrente é a busca por uma
expressão analı́tica que defina o correspondente limite. Uma alternativa bem conhecida
é a seguinte:
1 1 vI
emin = λm ∼ = (4.4.6)
4 8 fm
ou, com base na expressão 4.4.4,
π
emin = √ vI τtun (4.4.7)
4 6
onde e é a espessura da camada, em unidades de distância, vI é a velocidade intervalar
da camada e λm é o comprimento de onda associado à freqüência de pico, fm . Aplicada
ao caso da Figura 4.25, a expressão 4.4.7 levaria a um limite, em unidades de tempo,
aproximadamente igual a 14ms, o que representa um resultado menor do que a espessura
aparente mı́nima medida.
Uma melhor compreensão desse tema envolve uma análise do papel da deconvolução,
que reconhecidamente aumenta a resolução vertical dos dados sı́smicos. Este efeito pode
ser observado nas figuras 4.27 e 4.28, a primeira das quais resultou da aplicação da
deconvolução iterativa linear aos dados da Figura 4.25. Comparando-se a Figura 4.27
com a 4.25 e a Figura 4.28 com a 4.26, percebe-se claramente o ganho no conteúdo de
freqüências introduzido pela deconvolução, ganho este refletido na atenuação do efeito
de sintonia e no melhor ajuste entre as espessuras real e aparente. Em particular, a
espessura aparente mı́nima foi reduzida para 10-11ms.
Para aprofundar a discussão, é conveniente analisar, no domı́nio da freqüência, o efeito
da deconvolução iterativa linear. Para isto, leva-se em conta que, no caso da Figura 4.27,
o espectro de amplitude de cada traço deconvolvido é definido pelo produto entre o
espectro de amplitude do correspondente traço de coeficientes de reflexão e o espectro de
amplitude do pulso sı́smico deconvolvido. Com base na equação 4.4.1, sabe-se que, para
um valor fixo de τ , a transformada de Fourier do traço de coeficientes de reflexão é dada
por ωτ π ωτ
R(τ, ω) = 2 r0 sen exp i + i , r0 < 0 (4.4.8)
2 2 2
onde ω é a freqüência angular. Observe-se que, no limite em que τ tende a zero, R(τ, ω)
tende ao conjugado complexo da transformada de Fourier do operador de derivada, o que
explica o comportamento observado nas menores espessuras das figuras 4.25 e 4.27 (ver
a equação 1.2.28).
Com a equação 4.4.8, pode-se analisar melhor a Figura 4.29, na qual se vêem os
espectros de amplitude correspondentes aos resultados da aplicação da deconvolução ite-
4.4. QUANTIFICAÇÃO SÍSMICA 525
−50
−25
0
Tempo (ms)
25
50
75
100
120
0ms 20 40 60 80 100ms
rativa linear ao pulso sı́smico isolado e a alguns traços selecionados, alguns dos quais não
incluı́dos nas figuras 4.25 e 4.27. No caso do espectro de amplitude do pulso sı́smico
deconvolvido, observa-se uma região plana, limitada por uma freqüência mı́nima, f min , e
uma freqüência máxima, fmax . A forma obtida difere bastante do espectro de amplitude
do pulso sı́smico original, como se pode observar na Figura 3.15 (página 321), a qual foi
gerada com as duas formas de onda envolvidas.
Ainda na Figura 4.29, é possı́vel perceber que, acima da freqüência fmax , a forma
dos espectros de amplitude dos traços sı́smicos deconvolvidos afasta-se da desejada, a
qual é definida por uma versão truncada da função 2|r0 sen (ωτ /2) |. Admitindo-se que
pelo menos o primeiro meio ciclo dessa função deva ser bem amostrado e que fmax seja a
freqüência correspondente à máxima amplitude desse meio ciclo, conclui-se que o limite de
resolução vertical pode ser aproximado pela razão 1/2fmax . Ressalte-se que a qualidade
desta aproximação depende da forma com que se comporta o espectro de amplitude do
pulso sı́smico deconvolvido nas freqüências superiores a fmax .
Um perfil de pseudo-impedâncias acústicas, sem baixas freqüências, representa uma
boa forma de se caracterizar, com base no conceito apresentado no parágrafo anterior, o
limite de resolução vertical. Como se vê na Figura 4.30, uma camada, nesse tipo de dado,
pode ser representada pela metade do perı́odo de um dado componente de freqüência.
Desta forma, a menor espessura que se poderia corretamente estimar corresponde à me-
tade do perı́odo da máxima freqüência adequadamente amostrada, fmax . Na mesma
figura, incluiu-se um limite não convencional, o da espessura correspondente à metade
do perı́odo da mı́nima freqüência adequadamente amostrada, fmin . Os dois limites são
dados por
1 1 vI
emin = λmin = (4.4.9)
2 4 fmax
526 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
140
120
Amplitude (%)
100
80
60
Espessura aparente (ms)
40
20
0
0 20 40 60 80 100
Espessura real (ms)
100
22
75
Amplitude (%)
50
25 4
0
0 25 50 75 100 125
Freqüência (Hz)
e
1 1 vI
emax = λmax = (4.4.10)
2 4 fmin
onde λmin é o comprimento de onda correspondente à freqüência fmax e λmax é o com-
primento de onda correspondente à freqüência fmin . Aplicadas ao caso da Figura 4.27,
estas expressões levariam a limites, em unidades de tempo, aproximadamente iguais a
12.5ms e 100ms, para fmax ∼ = 40Hz e fmin ∼= 5Hz, respectivamente.
O limite emax , associado à metade do perı́odo da mı́nima freqüência adequadamente
amostrada, exige uma análise não convencional. Uma vez que, normalmente, o espectro
de freqüência dos dados sı́smicos não contém componentes úteis abaixo de 5-6Hz, pode-
se dizer que não é possı́vel estimar corretamente, nesse tipo de dado, as propriedades de
camadas com espessuras superiores a, aproximadamente, 85-200m, admitindo-se veloci-
dades no intervalo 2000-4000m/s. Ou seja, uma camada com espessura superior a esse
limite aparecerá fragmentada em várias outras mais finas. No caso em que o processo
de inversão introduziu componentes de baixa freqüência obtidos a partir das velocidades
sı́smicas, este problema tende a desaparecer, embora o resultado ainda seja, na maioria
dos casos, pouco satisfatório. Analisando-se as figuras 3.59, 3.62 e 3.63 (páginas 440,
448 e 449), pode-se perceber bem a importância do tema.
As (τ ) ∼
= r0 Aw (τ ) (4.4.11)
As (τ̂s ) ∼
= r0 Aw (τ̂s ) (4.4.14)
onde τ̂s é a espessura aparente medida, a qual equivale a uma estimativa, sujeita a erro,
da espessura aparente teórica τ̂ .
A Figura 4.31 é um exemplo teórico do comportamento das curvas de amplitude de-
finidas pelas equações 4.4.11 e 4.4.14. Observe-se na figura que, abaixo da mı́nima espes-
sura aparente, não existem informações que possam ser extraı́das diretamente dos dados.
Reside neste ponto o problema básico da deconvolução transversa de mapas sı́smicos, cujo
objetivo é o de estimar valores corretos de amplitude e espessura a partir de medidas de
amplitude e espessura aparente. Para resolver o problema proposto, é necessário obter
estimativas das funções teóricas Aw (τ̂ ) e Aw (τ ), correspondentes à função observada,
As (τ̂s ), o que somente é possı́vel com o conhecimento do pulso sı́smico envolvido.
A solução para o problema proposto depende de dois tratamentos alternativos para o
pulso sı́smico: (1) ele é estimado a priori ou; (2) ele é estimado durante a aplicação da
4.4. QUANTIFICAÇÃO SÍSMICA 529
140
120
100
Amplitude (%)
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Espessura (ms)
onde Ac (τc ) é a função final obtida, após as correções de espessura e amplitude. Isto
significa que a correção de amplitude depende também da relação entre espessura e am-
plitude26 usada na aplicação da expressão 4.4.15.
Dentre as limitações da deconvolução transversa de mapas sı́smicos, há que se desta-
car a variação espacial do coeficiente de reflexão que define o topo ou a base da camada.
Onde esta limitação está presente, podem ser adotadas as seguintes medidas: (1) deter-
minar, através de gráficos cruzados envolvendo os mapas de amplitude do topo e da base
do reservatório, qual dos dois é mais representativo; (2) aplicar correções aos mapas de
amplitude, de forma a reduzir a eventual influência de reflexões verticalmente adjacen-
tes; (3) aplicar a técnica de forma setorizada, ou seja, evitar agrupar regiões em que o
coeficiente de reflexão apresente comportamentos distintos. Ressalte-se que os resultados
da técnica podem ser melhorados através da determinação de um valor mı́nimo, para o
módulo da amplitude, correspondente ao limite do reservatório.
26
A mesma relação pode ser usada também para a correção do relevo estrutural da camada, na região
de espessuras inferiores à de sintonia, a qual é caracterizada, no caso do topo, por tempos menores do
que os corretos, como se pode ver no exemplo da Figura 4.25 (página 522).
4.4. QUANTIFICAÇÃO SÍSMICA 531
Percebe-se, nesta equação, que d é igual ao raio da primeira zona de Fresnel, aplicado ao
comprimento de onda associado à freqüência de pico.
Neste ponto, pode-se perguntar se a expressão 4.4.18, aplicável a dados sı́smicos não
migrados, é válida após a migração. Como se mostrou no Capı́tulo 3, sabe-se que a
migração leva ao colapso das difrações e corrige o mergulho das camadas. Estas pro-
priedades, aplicadas a eventos lateralmente adjacentes, resultam em menor interferência
entre eles. Em conseqüência, pode-se dizer que a migração melhora a resolução horizon-
tal. Ou seja, mesmo que se assumam valores baixos para a freqüência de pico, espera-se
que, em dados sı́smicos migrados, o limite de resolução horizontal seja bem menor do que
o estimado com base na expressão 4.4.18.
Através da Figura 4.32, pode-se obter uma estimativa do limite de resolução ho-
rizontal de linhas migradas. Uma vez que o ângulo de migração α define também o
máximo ângulo de mergulho corretamente migrado, a distância horizontal entre dois
refletores paralelos, com ângulo de mergulho igual ao de migração, pode ser usada para
se estabelecer o limite de resolução procurado. Assim, ainda com base na Figura 4.32,
obtém-se:
emin
dM IG ∼
= (4.4.19)
sen α
ou, utilizando-se como limite de resolução vertical o valor dado pela equação 4.4.6,
λm
dM IG ∼
= 1
4
(4.4.20)
sen α
532 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
600
500 4000m
3000m
Distância (m)
400
2000m
300
1000m
200
100
d MIG
0
0 50 100 150 200
Comprimento de onda (m)
cional do raio da primeira zona de Fresnel não pode ser considerada representativa de um
hipotético raio da área que influencia uma reflexão empilhada. Adicionalmente, o efeito
de estiramento, associado à correção de NMO, ou à migração de seções de afastamento
fonte-receptor comum, afeta também de forma negativa a resolução vertical e, conseqüen-
temente, a resolução horizontal de dados sı́smicos empilhados. Desta forma, se nenhuma
correção for aplicada, pode-se dizer que, quanto maior for o afastamento fonte-receptor
envolvido no empilhamento, menor será a resolução horizontal dos dados sı́smicos.
z = 12 vm t (4.4.21)
velocidades sı́smicas tenham sido obtidas de forma adequada e tenham sofrido correções
de forma a aproximá-las das velocidades médias. No primeiro caso, as velocidades sı́smicas
a usar devem preferencialmente corresponder a velocidades de migração em tempo ou a
velocidades de empilhamento com correção de DMO, o que evita ou reduz a influência
do mergulho das camadas.
No que diz respeito à correção das velocidades obtidas, talvez o fator mais importante
seja a remoção de ruı́dos associados a problemas de interpretação ou de amostragem. É
comum, particularmente no caso de mapas de velocidade de empilhamento, a presença
de variações locais falsas, caracterizadas por feições arredondadas, as quais podem levar
à criação ou à deformação de estruturas. Uma das formas de correção desses mapas
é baseada em gráficos cruzados entre as velocidades sı́smicas e os tempos de reflexão.
Normalmente, as feições correspondentes aos ruı́dos aparecem destacadas nos gráficos
cruzados, o que facilita sua substituição por médias espaciais das velocidades vizinhas.
Neste caso, as velocidades situadas nas feições ruidosas não são usadas na computação
dos valores que as substituem.
Outra correção das velocidades sı́smicas consiste na remoção do chamado bias, o qual
corresponde a um desvio na velocidade de empilhamento, em relação à velocidade NMO,
ou RMS, causado pela associação entre o afastamento fonte-receptor e a lei de Snell,
ou pela anisotropia. Aplicando-se técnicas como as descritas no item 3.1, a remoção
do bias permite a obtenção de velocidades médias verticais a partir de velocidades de
empilhamento. O mesmo conceito se aplica às velocidades de migração em tempo.
Com ou sem remoção do bias, dados de poços podem ser usados para corrigir as
velocidades de empilhamento, ou de migração em tempo. Para isto, elas podem ser mul-
tiplicadas por um fator de correção que deve, preferencialmente, ser tratado na forma de
mapas. No caso das velocidades de empilhamento sem correção de bias, valores tı́picos
deste fator oscilam em torno de 95%. Há que se destacar que as velocidades de empilha-
mento ou de migração em tempo atuam no sentido de fornecer tendências, necessárias
para que se obtenham valores de velocidade nas posições distantes dos poços.
A previsão de profundidade pode também ser baseada em relações empı́ricas entre
velocidade e profundidade. As expressões desse tipo mais usadas são lineares e obedecem
ao seguinte padrão, discutido no subitem 2.5.2 (Slotnick, 1959):
v = v0 + az (4.4.22)
onde t é o tempo de reflexão. Este resultado permite a obtenção das seguintes expressões:
v = v0 exp 12 at (4.4.24)
e, com base na relação entre velocidade e tempo,
v − v0
vm = (4.4.25)
ln v − ln v0
ou
1
v0 exp 2
at −1
vm = 1 (4.4.26)
2
at
As velocidades médias assim obtidas são então usadas para se converter tempo de reflexão
em profundidade.
Em suas primeiras versões, os parâmetros v0 e a, na equação 4.4.22, eram obtidos
exclusivamente com base em dados de poços. Mais recentemente, tornou-se comum a
obtenção de relações empı́ricas entre velocidade intervalar e espessura (ou profundidade)
através de gráficos cruzados entre dados interpretados. Um exemplo tı́pico de aplicação
desta idéia é o da previsão de profundidade em regiões de águas profundas. No caso,
o primeiro passo consiste em se obter valores de espessura entre o fundo do mar e o
horizonte de interesse, espessuras estas comumente determinadas com velocidades inter-
valares extraı́das das velocidades de migração ou de empilhamento, preferencialmente
após a remoção do bias. Com base em gráficos cruzados entre as espessuras obtidas e as
velocidades intervalares usadas, estimam-se, através de técnicas de mı́nimos quadrados,
os valores de v0 e a adequados, na forma da equação 4.4.22. Outra técnica da mesma
famı́lia consiste em se obter, em cada coordenada horizontal, um par de valores de v0 e
a, com base no resultado da análise de velocidade feita na mesma posição.
Com as constantes v0 e a obtidas e os tempos do fundo do mar e da reflexão de
interesse, calculam-se as profundidades desejadas com a seguinte equação:
z = zM + 21 vI (t − tM ) (4.4.27)
onde zM e tM são a profundidade e o tempo de reflexão correspondentes ao fundo do
mar, enquanto z e t correspondem à profundidade e ao tempo de reflexão do horizonte de
interesse. Por sua vez, vI corresponde à velocidade intervalar média entre o fundo do mar
e a camada de interesse calculada, por exemplo, com a equação 4.4.25. Observe-se que
resultados similares podem ser obtidos através de relações empı́ricas entre a velocidade
intervalar e os tempos de reflexão, em vez da profundidade. Nos dois casos, é essencial
ajustar o mapa final aos dados de poços disponı́veis.
A equação 4.4.27 representa um caso particular de uma das mais conhecidas técnicas
de previsão de profundidade: a do empilhamento de camadas. Esta é uma técnica que
consiste em somar as espessuras das camadas situadas acima do horizonte de interesse,
cada uma delas estimada de forma parcialmente independente. Nesta técnica, o intérprete
deve dispor de mapas de espessura em tempo e de mapas de velocidade intervalar das
diversas camadas situadas acima do horizonte de interesse. A soma das isópacas corres-
pondentes equivale à profundidade procurada. De uma forma sintética, tem-se:
n−1
X
1
zn = 2
(ti+1 − ti ) vi (4.4.28)
i=1
4.4. QUANTIFICAÇÃO SÍSMICA 537
5. Um processo semelhante aos das etapas 2 a 4 é repetido tantas vezes quantas ca-
madas existirem abaixo da segunda interface.
das porosidades reais. Ressalte-se que esta restrição inclui também as estimativas base-
adas em técnicas determinı́sticas suportadas por dados de poços, uma vez que a região
abrangida por um perfil de poço é bem mais limitada do que a que influencia a resposta
sı́smica no mesmo local. Com base nestas restrições, pode-se dizer que o tratamento mais
indicado para a determinação das porosidades implica o ajuste estatı́stico entre os dados
confiáveis (hard ), obtidos nos poços, e os dados de tendência (soft), estimados através
dos volumes sı́smicos.
Quando as impedâncias acústicas da rocha encaixante e do reservatório se aproximam,
os coeficientes de reflexão se reduzem em valor absoluto, prejudicando indiretamente a
identificação do topo e da base de uma camada. Por outro lado, a capacidade de se
identificar corretamente um coeficiente de reflexão de pequeno valor absoluto é controlada
pela faixa dinâmica disponı́vel, ao final do processamento. Pode-se perfeitamente aceitar,
em áreas de boa qualidade, uma faixa dinâmica superior a 40dB, o que significa uma razão,
entre os maiores e os menores coeficientes de reflexão, acima de 100. Nestas condições,
coeficientes de reflexão com valores absolutos menores do que .005 ou .001 misturam-se
com os ruı́dos. Valores desta ordem correspondem a contrastes de impedância acústica
menores do que 1% e a contrastes de porosidade ainda menores. Conseqüentemente,
poder-se-iam esperar estimativas de porosidade relativa, com base em dados sı́smicos,
com resolução próxima de 1%.
4.6 Exercı́cios
1. Imagine que, em um teste de formação (experimento voltado para avaliar a capacidade de
produção de petróleo em um poço), tenha ocorrido uma acentuada redução de pressão em
um tempo curto, indicando que o reservatório apresenta dimensões reduzidas. O que você
esperaria da amarração, no mesmo nı́vel, entre o sismograma sintético correspondente e
um traço sı́smico no mesmo local?
3. Analise as figuras 4.2, 4.4 e 4.7 (páginas 476, 483 e 486) e diga o que se pode induzir a
partir da comparação entre elas.
540 CAPÍTULO 4. INTERPRETAÇ ÃO
4. De que forma os parâmetros petrofı́sicos, incluı́dos na equação 4.2.17, devem mudar para
satisfazer a equação 4.2.4?
5. Como seriam as expressões 4.2.17 e 4.2.22 se a rocha não tivesse porosidade? E se esta
mesma rocha fosse constituı́da de puro quartzo alfa, quais seriam as velocidades P e S?
6. Na equação 4.2.18, o que ocorre se o corpo for água? Assumindo-se que, nesse caso, a
velocidade seja 1500m/s e a densidade seja 1 grama por centı́metro cúbico, qual seria o
módulo bulk ? E se a mesma pergunta fosse aplicada à equação 4.2.22?
10. Explique, também intuitivamente, por que uma areia argilosa apresenta normalmente
velocidade sônica maior do que uma areia limpa.
11. Suponha que, na aplicação da equação 4.2.4, a rocha seja porosa (φ > 0.3), o fluido original
seja gás e a profundidade seja pequena. Neste caso, qual seria a relação (aproximada)
entre os módulos KR e Kb ?
13. Como se comportam as anomalias de AVO das classes 1, 2, 3.5 e 4 em seções de produto
entre a interseção, Ā, e o gradiente, B̄? Quais são os atributos de AVO mais indicados
para identificá-las?
14. Imagine uma combinação, entre uma seção do atributo desvio ortogonal e outra de em-
pilhamento parcial, capaz de enfatizar a presença de anomalias de AVO.
15. Imagine um material que apresente acréscimo de impedância acústica e de razão de Pois-
son, em relação à rocha encaixante. Imagine também que a reflexão ao nı́vel do topo do
mesmo material gere um produto positivo entre a interseção, Ā, e o gradiente, B̄. Res-
ponda às perguntas: (a) quão comum é este material nas bacias sedimentares puramente
clásticas? (b) como distingui-lo de uma areia saturada de petróleo que também apresente
produto A × B positivo?
16. Sabendo que, em função do aumento na idade dos sedimentos, a impedância acústica tende
a crescer e a razão de Poisson tende a decrescer, o que se pode esperar do comportamento
do traço resultante da soma corrida e t (equação 3.7.27), nas mesmas circunstâncias?
17. No exercı́cio anterior, diga o que se poderia esperar do gráfico cruzado entre a interseção,
ĀI , e o gradiente, B̄I , nos casos em que o espectro de freqüências do pulso sı́smico
apresenta as seguintes caracterı́sticas: (a) o espectro é plano e; (b) faltam os componentes
de baixas freqüências.
18. Compare a resposta sı́smica ao nı́vel do topo de um reservatório em duas situações: (a)
uma areia que, saturada de água, tem impedância acústica maior do que a rocha encai-
xante; (b) a mesma areia saturada de óleo. Avalie os atributos de AVO nos dois casos.
4.6. EXERCÍCIOS 541
20. Assuma que o componente de freqüência igual a 2.5Hz não está presente nos dados
sı́smicos. Quais seriam, na correspondente seção de pseudo-impedâncias acústicas, as
espessuras de camada afetadas por esta ausência? Apresente o resultado em função da
faixa de velocidade intervalares entre 2500 e 3500m/s.
21. Assumindo que a máxima freqüência potencial de um pulso sı́smico seja de 60Hz, calcule
a resolução vertical correspondente aos seguintes casos: (a) v = 2000m/s e; (b) v =
6000m/s. O que você conclui?
22. Com os mesmos dados do exercı́cio anterior, calcule a resolução horizontal de dados
migrados (α = 600 ) e não migrados (profundidade de 2000m). O que você conclui?
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APÊNDICE
t = τ + px (A.1.1)
onde S(x, ω) é a transformada de Fourier temporal dos dados sı́smicos em cada posição x. Este
resultado pode ser reescrito da seguinte forma:
Z ∞ Z ∞
1
s̄(p, τ ) = S(x, ω) exp(−iωpx)dx exp(−iωτ )dω (A.1.4)
2π −∞ −∞
Nas equações A.1.3 e A.1.4, dois aspectos devem ser destacados. Na primeira delas, a integral
em ω é uma operação que corresponde a obter o valor da transformada inversa de Fourier no
1
“Empilhamento oblı́quo” é uma tradução do termo slant stack (Duarte, 2003), atribuı́do a J. Claer-
bout. Como destaca o próprio Claerbout (1985), a idéia é antiga e envolve, já nos anos 1930, os nomes
dos professores Rieber e Riabinkin. Matematicamente, é um caso particular da transformada proposta
por J. Radon em 1917 e que, mais tarde, recebeu seu nome.
556
A.1. EMPILHAMENTO OBLÍQUO 557
tempo t = 0, após o deslocamento associado ao termo −τ − px. Já na segunda, percebe-se que
o termo entre colchetes corresponde a uma transformada de Fourier de S(x, ω) ao longo do eixo
x, uma vez que o produto ωp equivale ao número de onda K x (ver a equação 1.2.50).
Sabe-se que a função desejada, s̄(p, τ ), deve ser obtida para valores especı́ficos de p e τ .
Combinando-se estas idéias, pode-se transformar a expressão A.1.4 na seguinte igualdade:
Z ∞
1
s̄(p, τ ) = S̃(ωp, ω) exp(−iωτ )dω (A.1.5)
2π −∞
onde S̃(ωp, ω) corresponde a uma função unidimensional de ω para cada valor especı́fico de p.
Nesta forma, a obtenção de s̄(p, τ ) envolve uma simples transformada inversa de Fourier, ao
longo do eixo ω, de dados sı́smicos representados, no domı́nio ω-K x , em função de p.
Nas aplicações do empilhamento oblı́quo, é conveniente ter em mente a forma como alguns
eventos particulares são tratados no processo. A representação matemática da geometria de
três deles, juntamente com as correspondentes transformadas para os domı́nios ω-ωp e τ -p,
podem ser vistas na Tabela .4. Os resultados apresentados, que foram obtidos com base nas
propriedades da função delta de Dirac e da transformada de Fourier, são resumidos da seguinte
forma: (1) uma reta, no domı́nio t-x, corresponde, no domı́nio τ -p, a um ponto; (2) um ponto,
no domı́nio t-x, corresponde, no domı́nio τ -p, a uma reta; (3) uma hipérbole, no domı́nio t-x,
corresponde, no domı́nio τ -p, a uma elipse.
Na Tabela .4, o caso mais interessante é certamente o da hipérbole, a qual representa a
geometria de uma reflexão horizontal em um meio homogêneo e isotrópico, registrada em um
agrupamento de fonte comum. Trata-se de uma geometria que, para a construção da tabela, foi
parametrizada com base nas equações 2.2.30 e 2.2.31. Nesta forma, o afastamento fonte-receptor
x é dado pelo produto entre a profundidade, vt 0 , e a tangente do ângulo de propagação, θ, cujo
seno é igual ao produto entre o parâmetro de raio e a velocidade, ou seja, pv. Similarmente,
o tempo de reflexão é dado pela razão entre o tempo vertical, 2t 0 , e o cosseno do ângulo de
propagação. Na transformação para o domı́nio ω-ωp, obedeceu-se a uma seqüência de passos
similar à adotada na dedução da equação 2.2.33. Para tornar mais claro o fato de que, no
domı́nio τ -p, o mesmo evento tem geometria de uma elipse, basta elevar ao quadrado o termo
entre parênteses e transformá-lo na seguinte expressão:
2
τ
+ p2 v 2 = 1 (A.1.6)
2t0
558 APÊNDICE
A
2
3
B
4
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Parâmetro de raio (s/km)
Este resultado pode também ser convertido em uma versão ida-e-volta da equação iconal, bas-
tando, para isto, dividir os três termos por v 2 e levar em conta que dt/dz = τ /2vt0 .
O caso 3 da Tabela .4 é fundamental para a compreensão de como se distribuem, no domı́nio
τ -p, as reflexões obtidas em um meio no qual a velocidade não varia na direção horizontal.
Para analisar o tema, deve-se observar que, no domı́nio τ -p, o tempo de interseção intervalar,
correspondente a uma camada e a um valor de p, é dado pelo produto entre o intervalo de
tempo de reflexão vertical, 2∆z/v, e o fator cos θ. Aplicando-se esta idéia a uma pilha de N
camadas horizontais, cada uma delas com uma velocidade distinta, pode-se calcular o tempo de
interseção, τN , correspondente à base da camada mais profunda, através da seguinte expressão:
N
X 2∆zn p
τN = τn−1 + 1 − p2 vn2 (A.1.7)
vn
n=1
Kx = ωp, deve-se substituir dKx por ωdp. Considerando ainda a diferença na convenção de
sinal usada nas transformadas de Fourier temporal e espacial, o resultado, obtido com base na
expressão A.1.5, é a seguinte igualdade (ver Claerbout, 1985):
Z ∞ Z ∞
1
s(x, t) = S̃(ωp, ω) exp(iωpx)|ω|dp exp(−iωt)dω (A.1.8)
2π −∞ −∞
ou, adotando-se forma similar à da equação A.1.3,
Z ∞Z ∞
1
s(x, t) = S̃(ωp, ω) exp[−iω(t − px)]|ω|dωdp (A.1.9)
2π −∞ −∞
Percebe-se assim que, para se retornar ao domı́nio x-t, deve-se deslocar as amostras s̄(p, τ )
na direção da origem, de acordo com o intervalo de tempo t − px e, em seguida, integrar o
resultado ao longo do eixo dos parâmetros de raio, p. Percebe-se ainda que, no processo de
ida-e-volta entre os domı́nios t-x e τ -p, há necessidade de se aplicar um fator, dado por |ω|,
que atenua os componentes de baixas freqüências enriquecidos pela integração ao longo do eixo
do parâmetro de raio. No domı́nio do tempo de interseção τ , a multiplicação por este fator
equivale à convolução com o chamado filtro “rho”, ou seja, ρ(τ ).
Nas aplicações práticas, o empilhamento oblı́quo e sua transformada inversa são afetados pe-
los seguintes problemas, o primeiro dos quais caracterı́stico das técnicas de migração da famı́lia
Kirchhoff: (1) o chamado “álias do operador” e; (2) o limite lateral dos dados sı́smicos subme-
tidos ao processo. Ambos os problemas podem ser resolvidos com base na minimização do erro
médio quadrático definido em função da diferença entre os dados originais e o correspondente
empilhamento oblı́quo inverso. Esta é a base dos trabalhos de Thorson e Claerbout (1985),
Beylkin (1987) e Yilmaz e Taner (1994).
Levando em conta apenas o efeito de álias, a forma discreta mais simples dos empilhamentos
oblı́quos direto e inverso é descrita, com base nas equações A.1.4 e A.1.8, por
" x #
X max
−1
s̄(p, τ ) = F S(x, ω) exp(−iωpx)∆x (A.1.10)
x=xmin ω≤ωc
e " #
pX
max
−1
s(x, t) = F S̃(ωp, ω) exp(iωpx)|ω|∆p (A.1.11)
p=pmin ω≤ω̄c
onde F −1 denota transformada inversa de Fourier ao longo do eixo ω, ∆x é a distância entre
traços e ∆p é o intervalo entre valores sucessivos de p. Por sua vez, as freqüências angulares ω c
e ω̄c , que representam limites até os quais a operação não envolve o efeito de álias, são dadas
por (ver o Capı́tulo 1 e, em particular, a equação 1.1.9):
π
ωc = (A.1.12)
|p∆x|
e
π
ω̄c = (A.1.13)
|x∆p|
A transformada Radon, apresentada até aqui em sua versão linear — o empilhamento oblı́quo
—, pode ser facilmente generalizada através da substituição da reta τ +px por uma função qual-
quer de tempo de interseção e distância, f (x, τ ). Este é o caso, por exemplo, da transformada
Radon parabólica, de acordo com a qual f (x, τ ) = τ + ax 2 , onde a é uma variável que exerce
papel equivalente ao quadrado da vagarosidade horizontal. É também o caso da transformada
Radon hiperbólica. A primeira delas é normalmente aplicada à atenuação de reflexões múltiplas
(ver Hampson, 1986), enquanto a segunda é aplicável tanto à atenuação de reflexões múltiplas
(Foster e Mosher, 1992), quanto à interpolação de traços sı́smicos (Trad et al., 2002).
560 APÊNDICE
gt = 2at ut (A.2.5)
onde ut é a versão discreta da função degrau e t é o ı́ndice da amostra. Por sua vez, a t
corresponde à transformada inversa de Fourier da função f , obtida no intervalo de freqüências
entre −1/2∆t e 1/2∆t, para ∆t igual a 1. O resultado é:
−1 1 sen πt cos πt − 1
at = F (f ) = + (A.2.6)
2 πt π 2 t2
A.3. MELHORANDO O ALGORITMO IMPLÍCITO 561
No caso do trabalho de Varela et al. (1993), a forma original da função G, dada pela expressão
A.2.2, é integralmente respeitada. A correspondente transformada inversa de Fourier é uma
expressão analı́tica relativamente mais complicada do que a equação A.2.5, embora também
baseada na função discreta at . Dificuldades de ordem numérica na sua manipulação fazem com
que a opção mais indicada consista em obtê-la através de algoritmos de janelamento aplicados
em conjunto com a transformada de Fourier (ver, por exemplo, Oppenheim e Schafer, 1989).
Do ponto de vista teórico, a principal vantagem da opção adotada por Varela et al. (1993),
em relação à proposta por Hale (1982), é a possibilidade de se aplicar uma compensação Q mais
rigorosa, uma vez que a dispersão passa a ser estimada com base no modelo de Robinson (1979)
e não mais na “camisa de força” digital. Por outro lado, seria possı́vel dizer que, se f 0 fosse
igual à freqüência de Nyquist, as funções g t obtidas nos dois casos seriam iguais. Na verdade,
esta é apenas uma aproximação que, como mostraram Varela et al. (1993), se aplica melhor nas
freqüências intermediárias a baixas, incluindo as vizinhanças das freqüências de pico tı́picas.
Independentemente da forma da função discreta g t , a expressão A.2.3 permite tratar a com-
pensação Q como um processo virtualmente contı́nuo, uma vez que a função Q̄t pode ser definida
em qualquer ı́ndice de tempo. Permite ainda tratar isoladamente as distorções introduzidas pela
atenuação e pela dispersão, bastando, para isto, escolher a forma apropriada para a função g t .
Assim, quando se deseja corrigir apenas a atenuação, g t é igual a at . No caso em que se deseja
corrigir apenas a dispersão, gt é dada pela transformada inversa de Fourier de i2f ln(f /f 0 )/π.
Nas aplicações práticas da técnica descrita, há necessidade de se estimar qual é o número de
termos da equação A.2.3 que possibilita a melhor razão custo/benefı́cio. Este é um parâmetro
que pode ser obtido com base na convergência da série descrita pela equação A.2.1 e que,
tipicamente, é menor do que 50. Outro problema diz respeito à estabilidade numérica da
equação A.2.3, particularmente nos altos valores da razão t/Q (da ordem de 0.05 para cima).
Neste caso, a solução consiste em aplicar a compensação Q em cascatas, cada uma delas com
um valor de Q intervalar dado por Qc = N Q, onde N é o número de cascatas e Q c é o valor
de Q em cada cascata. Um exemplo: para N = 2 e Q = 100, o processo é aplicado duas vezes,
sendo que na segunda vez, a compensação Q é aplicada sobre o resultado da primeira e, em
ambas, o valor original de Q é substituı́do por Q c = 200.
Sabe-se que, no domı́nio ω-Kx , a velocidade não pode variar lateralmente, o que leva à
necessidade de se transformar a expressão A.3.1 para o domı́nio ω-x, onde esta dificuldade não
existe. Na tarefa correspondente, esbarra-se na presença do fator cos θ, o qual envolve uma
raiz quadrada (ver a equação 3.5.45). Uma solução elegante para este problema, proposta por
Francis Muir (in Claerbout, 1985), consiste em expandir o fator cos θ através da técnica das
frações contı́nuas3 . Aplicada ao caso, esta expansão é definida pela seguinte expressão:
S2
Cn+1 = 1 − (A.3.2)
1 + Cn
onde C é a aproximação de cos θ e
vKx
S = sen θ = (A.3.3)
ω
A expressão A.3.2 corresponde a uma recorrência, ou seja, cada aproximação é determinada
em função da anterior. Assim, a aproximação de 15 graus, dada pela equação 3.5.45 e represen-
tada por C1 , é obtida tomando-se C0 = 1. O segundo termo da recorrência, que corresponde
a C2 , é estimado através da substituição, na equação A.3.2, da expressão correspondente a C1 .
O resultado é:
S2
cos θ ∼= C2 = 1 − (A.3.4)
2 − 1/2S 2
A aplicação da aproximação A.3.4 à equação A.3.1 leva ao chamado algoritmo de 45 graus.
No caso, tem-se a seguinte expressão:
" !#
∆z ∆z Ŝ 2
exp iω (1 − cos θ) ∼= exp iω (A.3.5)
v v 2 − 1/2Ŝ 2
v K̂x
Ŝ = (A.3.6)
ω
onde K̂x é definido com base na expressão 3.5.57.
Conforme demonstraram Lee e Suh (1985), a equação A.3.5 pode ser escrita de uma forma
mais geral, que inclui tanto a aproximação de 45 graus, quanto outras de mais alta, ou mais
baixa, ordem. O resultado é dado por
Y N
" !#
∆z ∆z α Ŝ 2
n
exp iω (1 − cos θ) ∼= exp iω
v n=1
v 1 − βn Ŝ 2
ou !
N 2
∆z ∆z X α n Ŝ
exp iω (1 − cos θ) ∼= exp iω (A.3.7)
v v 1 − βn Ŝ 2
n=1
onde α e β são constantes que dependem da ordem da aproximação N . Assim, para N igual
a 1, se α for igual a 1/2 e β a 0, tem-se o algoritmo de 15 graus. Se, por outro lado, para N
também igual a 1, α for igual a 1/2 e β a 1/4, tem-se o algoritmo de 45 graus.
Observe-se que a expressão A.3.7 pode ser analisada na forma de um problema numérico,
de acordo com o qual se procura estimar diferentes valores, para α k e βk , que permitam reduzir
3
Outra solução, baseada em expansão Taylor, faz parte da técnica explı́cita desenvolvida por Hale
(1991b).
A.3. MELHORANDO O ALGORITMO IMPLÍCITO 563
Algoritmo α1 β1 α2 β2
150 0.500000000 0.000000000 - -
450 0.500000000 0.250000000 - -
650 0.478242060 0.376369527 - -
800 0.040315157 0.873981642 0.457289566 0.222691983
o erro da estimativa do ângulo θ, estimativa esta implı́cita na migração. Neste caso, o objetivo
é o de determinar os N valores dos dois parâmetros de tal forma que, no intervalo entre zero e
noventa graus, a diferença entre o ângulo real e o estimado no processo seja a menor possı́vel.
No mesmo intervalo, a posição em que o erro, ou a diferença entre os dois ângulos, é igual a zero,
para uma freqüência temporal também igual a zero, define a ordem da aproximação. Assim,
por exemplo, no caso do algoritmo de 45 graus, o ângulo estimado torna-se igual ao real quando
este atinge 45 graus. Observe-se que, neste caso, o erro estimado também leva em conta todas
as aproximações das derivadas espaciais, diferentemente da equação 3.5.45, a qual considera
apenas o erro associado ao ângulo θ.
Tratada na forma de um problema numérico, a equação A.3.7 torna possı́vel, ainda fixando-
se o valor de N em 1, obter o algoritmo de 65 graus. Para a obtenção de resultados de mais
alta ordem, deve-se empregar um valor de N superior a 1, o que leva a diferentes valores de α
e β. Na Tabela .5, pode-se ver os resultados obtidos por Lee e Suh (1985) até o caso em que N
é igual a 2.
Na migração de dados sı́smicos feita com base nas equações A.3.7 e 3.5.61, ordens N maiores
do que 1 significam que o campo atrasado Q é extrapolado mais de uma vez em cada intervalo
de profundidade ∆z, cada uma delas com um par diferente de valores para α e β. Assim, no
caso em que N é igual a 2, o que corresponde ao algoritmo de 80 graus, aplica-se duas vezes a
equação 3.5.61, sem o termo das lentes finas entre elas. Ou seja, os dados de saı́da da primeira
aplicação correspondem aos dados de entrada da segunda aplicação, cujo resultado deve ser
submetido ao efeito do termo das lentes finas.
Observe-se que, até agora, nada foi feito para melhorar a qualidade da derivada segunda
com relação à coordenada espacial, x, cuja transformada de Fourier é baseada na equação
3.5.57. Para aprimorá-la, a alternativa aparentemente mais lógica consistiria na substituição
do operador definido pela expressão 3.5.55 por uma versão de melhor qualidade, que inclua
maior número de coeficientes. Para se obter a forma desejada, faz-se uso da fórmula Gregory-
Newton para interpolação (ver Wylie, 1975, página 124), a qual, aplicada ao caso, leva à seguinte
expansão:
∂2 δ2 ∆x2 δ 4
= − + ··· (A.3.8)
∂x2 δx2 12 δx4
onde δ 4 /δx4 é a autoconvolução do operador δ 2 /δx2 , o qual é dado por (1, −2, 1) / ∆x2 .
A utilização de um operador de derivada com maior número de pontos do que 3, obtido
ou não com base na expressão A.3.8, apresenta um grande inconveniente: a matriz A, na
equação 3.5.61, deixa de ser tridiagonal, o que faz com que se reduza bastante a velocidade
de computação da migração implı́cita. Para contornar esta dificuldade, pode-se fazer uso da
564 APÊNDICE
δ2
∂2 ∼ δx2
= (A.3.9)
∂x2 δ2
1+ b∆x2
δx2
onde b é uma variável que, na forma original, é dada pela razão 1/12. O efeito prático de b é o
de compensar a ausência de termos de mais alta ordem, na expansão do operador de derivada
segunda.
Para se obter, no domı́nio ω-Kx , a expressão equivalente à equação A.3.9, aplica-se o teorema
da derivada (ver o item 1.2) à série A.3.8 e, em seguida, adota-se a aproximação A.3.9, o que
leva à seguinte expressão:
2 Kx ∆x
sen
ˆ2 4 2
K̂x = (A.3.10)
∆x2 K x ∆x
1 − 4b sen 2
2
ˆ
onde K̂x2 é a aproximação de segunda ordem para K x .
Com as equações A.3.10 e A.3.7, criam-se condições para melhorar a qualidade do termo
das difrações. No caso do algoritmo implı́cito, a combinação das duas equações com a expressão
3.5.58 leva ao seguinte resultado:
∆z
∆z
1 + iK̂z
exp iω (1 − cos θ) ∼
=
2 (A.3.11)
v ∆z
1 − iK̂z
2
onde
N ˆ
ω X αn Ŝ 2
K̂z =
v n=1 1 − β Ŝˆ2
n
ˆ
Nesta expressão, o termo Ŝ 2 é dado por
ˆ
ˆ v 2 K̂x2
Ŝ 2 =
ω2
ˆ
onde K̂x2 é definido pela expressão A.3.10.
De acordo com Claerbout (1985), a escolha de um valor apropriado para b, como 1/6, pode
melhorar substancialmente a aproximação descrita pela equação A.3.11. A mesma idéia foi
aprofundada por André R. Rosa e Jairo Panetta, em 1990, através de um trabalho não publicado.
Neste trabalho, pôde ser demonstrado que, no domı́nio da freqüência, se for usado um valor de
b para cada razão ω/v, é possı́vel um ajuste ainda melhor entre K x e sua aproximação. Foi
também possı́vel demonstrar que, para cada ângulo θ e cada razão ω/v, existe um valor de b que
torna a equação A.3.11 virtualmente exata. Isto significa que, no caso de um meio homogêneo
e isotrópico, uma reflexão plana pode ser corretamente migrada com qualquer uma das versões
do algoritmo implı́cito (mesmo a de 15 graus). Para isto, basta usar o valor adequado para b.
Na forma geral da equação A.3.11, o parâmetro b é estimado através da aplicação de métodos
numéricos iterativos. Entretanto, no caso particular do algoritmo de “15 graus”, para o qual
A.3. MELHORANDO O ALGORITMO IMPLÍCITO 565
α = 1/2 e β = 0, é possı́vel obter uma forma explı́cita para a definição do valor de b, para cada
ângulo de mergulho, θ e cada razão ω/v. O resultado é:
r !
1 K̂x2 ∆z 1 + R
b(θ, k) = 1− (A.3.12)
K̂x2 ∆x2 4k 1−R
onde k = ω/v,
R = cos [k∆z(1 − cos θ)]
e
4 ∆x
K̂x2 = sen 2 k sen θ
∆x2 2
Ressalte-se que, nas vizinhanças de θ = 0, o valor de b não afeta a extrapolação, já que na
mesma situação, Kx tende a zero.
Sabe-se bem que, em uma seção sı́smica, existem múltiplos eventos com diferentes ângulos
de mergulho, o que leva à necessidade de se estimar diferentes valores de b para cada razão
ω/v e, em conseqüência, a uma impossibilidade prática de aplicar todo o potencial da expressão
A.3.12. Esta dificuldade é contornada utilizando-se um único valor de b para cada razão ω/v
e toda a faixa de possı́veis ângulos de mergulho (entre 0 e o máximo valor sem a influência do
efeito de álias espacial). Neste caso, o valor de b é estimado através de técnicas fundamentadas
na minimização do erro dos ângulos de mergulho. Pode-se ainda aplicar ponderação que reforce
a importância dos ângulos estatisticamente representativos.
A eficiência da técnica descrita pode ser bem demonstrada no caso do algoritmo de “15
graus”, o qual é transformado por ela em um algoritmo de 50 graus. Observa-se, além disso,
que o erro médio, na estimativa implı́cita dos ângulos de mergulho, é substancialmente menor do
que o observado na técnica convencional, levando a resultados práticos muito superiores. Deve-
se ainda mencionar que a forma elı́ptica, caracterı́stica do operador de 15 graus, é substituı́da,
na versão de 50 graus, por uma geometria cardióide, semelhante à observada no algoritmo de
65 graus. No caso dos demais algoritmos, a técnica descrita leva a resultados também melhores
do que as versões convencionais, embora os ângulos de mergulho com erro igual a zero se
mantenham iguais. Ou seja, no caso, as denominações dos algoritmos devem ser mantidas.
Mesmo com todas as alterações descritas, a migração com o algoritmo implı́cito é aplicada,
no domı́nio ω-x, através de uma expressão similar à 3.5.61, dada por
Nesta expressão, as matrizes A e B são também tridiagonais mas, em relação à equação 3.5.61,
os correspondentes elementos são diferentes. A diagonal principal da nova versão da matriz A
é definida por a − 2ab − 2c + 1 e as diagonais superior e inferior são dadas por ab + c − 1/2. O
parâmetro b foi definido com base na expressão A.3.10, ou A.3.12, e a e c são dados por
iω∆x2
a= (A.3.14)
αv∆z
e
ivβ
c= (A.3.15)
αω∆z
Por sua vez, a nova versão da matriz B tem sua diagonal principal dada por a − 2ab − 2c − 1,
enquanto as diagonais superior e inferior são dadas por ab + c + 1/2.
Até agora, analisaram-se temas exclusivamente relacionados com a dispersão numérica do
algoritmo implı́cito. Um aspecto adicional a discutir é a geração de eventos falsos associados
566 APÊNDICE
aos limites dos dados sı́smicos. No caso do limite temporal, o principal problema é a geração
do chamado wraparound, fenômeno este causado por qualquer processo que, no domı́nio da
freqüência, aumente artificialmente o comprimento dos dados sı́smicos, além do máximo previsto
durante o cálculo da transformada de Fourier (ver o item 1.2). Assim, no caso da migração feita
no domı́nio ω-x, eventos de amplitude anômala, situados junto a t = 0, podem, quando mal
resolvidos, gerar artefatos que, na seção resultante, aparecem nas maiores profundidades. A
solução mais simples para este problema consiste em acrescentar zeros após o final dos dados
sı́smicos, o que equivale à criação de uma região de acomodação dos artefatos.
Um problema um pouco mais sério é o das bordas laterais. A este respeito, sabe-se que, para
qualquer algoritmo de migração de dados sı́smicos, as descontinuidades podem levar à geração
de eventos falsos que se misturam aos refletores reais (um exemplo: os “sorrisos”). No caso das
bordas das seções sı́smicas, existem diversas técnicas para controlar o fenômeno, a mais simples
das quais envolve a expansão lateral do campo de velocidades de migração e a repetição dos
traços sı́smicos situados nas bordas, acompanhada de redução gradual nos valores de ambos.
Uma vez que esta solução aumenta o tempo de computação e nem sempre é eficaz, opta-se pela
alteração local da própria equação da onda. Isto é feito através da modificação dos valores
situados nos dois extremos das diagonais principais das matrizes A e B da equação A.3.13.
Para ilustrar a técnica de uma forma mais simples, recorre-se à expressão 3.5.61, através da
qual se obtém a seguinte igualdade, neste caso aplicável à extremidade direita do eixo x (ver
Claerbout, 1985):
1 1−γ
− 2 Q(x, z + ∆z, ω) + a + Q(x + ∆x, z + ∆z, ω) =
2
1 1−γ
2 Q(x, z, ω) + a − 2
Q(x + ∆x, z, ω)
onde a é dado pela expressão 3.5.63 e γ é a variável responsável pela absorção dos eventos
gerados nas bordas, na medida em que possibilita combinar o último traço sı́smico com ele
mesmo (observe-se que, se γ = −1, nenhuma atenuação é aplicada na borda). Transformando
este resultado em derivadas com relação aos eixos espaciais e substituindo-se a pela expressão
correspondente, obtém-se a seguinte equação da onda:
∂Q γvQ v ∂Q
= 2
− (A.3.16)
∂z 2iω∆x 2iω∆x ∂x
Ressalte-se que, na dedução desta equação, desconsiderou-se a influência da técnica Crank-
Nicolson. A relação de dispersão correspondente é uma função complexa dada por
γv vKx
iKz = 2
−
2iω∆x 2ω∆x
Considere-se agora que γ seja igual ao fator 1−exp(iω∆x/2v), o qual equivale à transformada
de Fourier da função associada a uma espécie de fantasma, gerado com atraso controlado por
∆x. No caso em que γ é aproximado por iω∆x/2v, a relação de dispersão obtida corresponde
ao seguinte operador:
∆z ∆z sen θ
exp(iKz ∆z) = exp − −
4∆x 2∆x
Observe-se que este resultado equivale a um operador de absorção, que atenua a geração artificial
de reflexões nas bordas laterais dos dados sı́smicos. Esta é uma afirmação baseada no fato de
que o módulo de sua amplitude é sempre menor do que 1. Observe-se ainda que a atenuação é
proporcional ao ângulo de propagação e à razão ∆z/∆x.
A.4. OBTENÇÃO DOS PARÂMETROS DE AVO 567
onde xmin e xmax correspondem aos afastamentos fonte-receptor mı́nimo e máximo para
cada amostra, o segundo dos quais é normalmente controlado pelo silenciamento (mute)
externo.
2. Os três conjuntos de traços sı́smicos obtidos na etapa anterior são empilhados separada-
mente, o que leva à geração de três traços médios, denominados N , M e F e definidos,
para cada valor do tempo de propagação vertical, ou de profundidade, por
1 X
N= A + B sen 2 θ̄N + C sen 2 θ̄N tan 2 θ̄N = A + BSN + CQN , (A.4.2)
J
θ̄N
1 X
M= A + B sen 2 θ̄M + C sen 2 θ̄M tan 2 θ̄M = A + BSM + CQM (A.4.3)
K
θ̄M
e
1 X
F = A + B sen 2 θ̄F + C sen 2 θ̄F tan 2 θ̄F = A + BSF + CQF (A.4.4)
L
θ̄F
(F − M ) − RQ (M − N )
B= (A.4.6)
(SF − SM ) − RQ (SM − SN )
e
(F − M ) − RS (M − N )
C= (A.4.7)
(QF − QM ) − RS (QM − QN )
onde
SF − S M QF − Q M QF SM − Q M SF
RS = , RQ = e RSQ =
SM − S N QM − Q N QM SN − Q N SM
Considere-se agora a técnica ĀB̄, através da qual se procura, com base na equação 3.7.2,
obter os parâmetros Ā e B̄, ou interseção e gradiente. Neste caso, o problema se reduz ao de uma
regressão linear simples, já que apenas duas incógnitas estão envolvidas e as amplitudes sı́smicas
podem ser descritas exclusivamente em função do quadrado do seno do ângulo de incidência.
As duas incógnitas podem também ser estimadas através do recurso a dois empilhamentos
parciais dos dados sı́smicos, adotando-se seqüência de processamento similar à da técnica ABC.
Seguem-se, no caso, os seguintes passos:
1. Os traços sı́smicos de cada agrupamento CI, ou CMP, são separados em duas partes, de
acordo com o seguinte critério:
1
(a) os traços próximos, do afastamento x min até xN = 2 (xmax + xmin );
(b) os traços afastados, do afastamento x N até xF = xmax .
onde, como no caso da técnica ABC, x min e xmax correspondem aos afastamentos fonte-
receptor mı́nimo e máximo para cada amostra, o segundo dos quais é normalmente con-
trolado pelo silenciamento (mute) externo.
e
1 X
F = Ā + B̄ sen 2 θ̄F = Ā + B̄SF (A.4.9)
K
θ̄F
e
F −N
B̄ = (A.4.11)
(SF − SN )
Resta discutir a técnica ĀD̄, através da qual se procura, com base na equação 3.7.3, estimar
os parâmetros Ā e D̄. Neste caso, a função que define o erro a minimizar é dada por
n
X 2
I= ak − Ā(1 + tan 2 θ̄) − D̄ sen 2 θ̄k (A.4.12)
k=1
Na solução desta equação, pode-se adotar o mesmo esquema empregado na obtenção dos parâ-
metros Ā e B̄, o que significa a possibilidade se trabalhar com o resultado de dois empilhamentos
parciais. Neste caso, Ā e D̄ são dados por
N SF − F S N
Ā = (A.4.13)
SF (1 + TN ) − SN (1 + TF )
e
F (1 + TN ) − N (1 + TF )
D̄ = (A.4.14)
SF (1 + TN ) − SN (1 + TF )
onde S já foi definido e T representa a média do quadrado da tangente de θ̄ nos intervalos de
afastamento fonte-receptor indicados pelos subscritos.
N
!
Y vn
senθN +1 = sen θ0 (A.5.4)
vn−1
n=1
570 APÊNDICE
não amostrados nas análises de velocidade, para o quê é necessário obter um conjunto sucessivo
de sinais inversamente extrapolados, ou migrados. Em qualquer caso, o aspecto importante a
destacar é que a mesma expressão pode ser vista como uma aplicação adicional dos princı́pios
de Huygens e Fermat.
onde √
2 6
u= t = 2πfm t
b
sendo b a distância em tempo entre os dois lobos laterais do pulso.
Em um nı́vel de sofisticação um pouco mais alto situa-se o modelo de espectro de amplitude
descrito pela distribuição lognormal 6 . Trata-se de uma alternativa baseada no fato de que o
espectro de amplitude tı́pico de um traço sı́smico tende, com freqüência, a se aproximar de
uma distribuição desse tipo, particularmente se o mesmo traço ainda não foi submetido a uma
deconvolução sofisticada. A correspondente descrição matemática é dada por
" #
1 (ln f − η)2
P (f ) = √ exp − (A.6.3)
f γ 2π 2γ 2
η = ln fm + γ 2
e 2
2
2
fm
exp 3γ exp γ −1 =
σ
6
Corresponde a uma distribuição normal das amplitudes quando estas são representadas em função
do logaritmo da freqüência.
572 APÊNDICE
Observe-se que o desvio padrão, σ, é responsável pelo controle da largura da banda espectral.
A expressão A.6.3, ainda que seja representativa da realidade, corresponde a uma descrição
meramente estatı́stica do espectro de amplitude do pulso sı́smico. Em muitos casos, é conveni-
ente dispor de descrições — ainda que parcialmente — fundamentadas nos processos fı́sicos, na
linha seguida por Ricker (1977). Este é o caso do modelo definido pelo produto entre o espectro
de amplitude de um filtro corta-baixas e o da atenuação. O resultado é a seguinte expressão 7 :
" β #−1/2
fb πf τ0
P (f ) = 1 + exp − (A.6.4)
f Q
pt = f t ∗ a t
7
O pulso sı́smico correspondente foi proposto no âmbito interno da Petrobrás e, por isto, recebeu seu
nome.
ÍNDICE REMISSIVO
573
574 ÍNDICE REMISSIVO
deslocamento de fase, algoritmo de, 188–191 conservação da, 55, 75, 87, 161, 163,
deslocamento, teorema do, 19 169, 174, 270
desvio fluxo de, 74, 76, 171, 174, 200
ortogonal, 465, 507, 516, 517 potencial, 74
vertical, 509 ensemble, 37
desvio padrão, 37 equação acústica da onda, 130–139
detuning, veja deconvolução transversa de na presença de uma fonte, 136–139
mapas sı́smicos versão 1-D, 132
devilish, 419 versão 2-D, 133
DHI, 494, 495 versão 3-D, 134
DHIP, 509 versão unidirecional 1-D, 133
difração, 78, 92, 100, 109–120, 122, 123, 127, equação da onda
219–220, 272, 343, 347, 348, 353– solução assintótica da, 140
357, 359, 362, 372, 381, 397, 402, solução da, 136, 139, 164, 169, 173, 188,
403, 406–413, 415, 419, 422, 459 189, 193, 210
difrações, termo das, 379 equação elástica da onda, 139
dilatação, 131 equações normais, 41, 47, 567
dim-spot, 494, 496, 502 ergódico, processo, 37
dinamite, 253, 300 escala, teorema da, 20
Dirichlet, condição de contorno de, 206, 209, espalhamento geométrico, 87, 88, 109, 130,
388 139, 145, 160–168, 199, 215, 218,
disco unitário, veja circulo unitário 219, 260, 262, 266, 268, 270, 290,
dispersão, 81, 133, 134, 220, 223, 224, 247, 305, 326, 327, 350, 370, 423, 457,
295, 339–341, 461, 480, 561, 572 459
relação de, 81, 134, 195, 378, 380, 382, estabilidade, 374, 561
394, 566 estabilidade numérica, 194, 196, 270, 382,
dispersão numérica, 196, 383, 386, 390, 561– 384, 390
566 estacionária, série, 38, 44, 45, 241, 242, 335,
divergência 341, 528
de um vetor, 161, 200 estiramento, efeito de, 289, 418, 459, 520,
teorema da, 138 533
divergência esférica, 87, 88, 103, 160 estocástico, processo, 37
diving waves, veja ondas mergulhantes evanescentes, ondas, 191
Dix, 153 extinção, teorema da, 206, 213, 214, 302
fórmula de, 296 extrapolação
velocidade intervalar de, 296 abertura do operador de, 397
DMO, 419–424 operador de, 111, 397, 411, 412
abertura do operador de, 422, 423
correção de, 91, 279, 291, 327, 401, 419– F
421, 423, 424, 455, 535 faixa dinâmica, 225, 230, 272, 291, 539
operador de, 419–423 fantasma, 260–266
DSR, equação, 116, 191–193 fase
convenção de, 18, 20
E correções de, 406
eikonal, veja iconal da função refletividade, 303
emergência, ângulo de, 158 estacionária, 218, 219, 408, 570
empilhamento oblı́quo, 556–559 instantânea, 63, 466
energia máxima, 31, 33, 35, 36, 43, 44, 52, 54,
cinética, 73 59, 61, 62
576 ÍNDICE REMISSIVO
mı́nima, 31, 33, 35, 36, 43, 44, 52–59, 61, teorema de, 138, 161, 199, 200
62, 230, 239, 243, 254, 304, 307–309, gaussiana, distribuição, veja normal, distri-
311–314, 335, 341, 342, 456 buição
misturada, 31, 33, 44, 59, 254 geoestatı́stica, 441, 472, 538
nula, 36, 52 geofone, resposta ao impulso do, 256
residual, 313 Gibbs, fenômeno, 30, 105
fator de fluido, 507 gradiente, 442, 500, 511
fator de qualidade, 222, 223, 337, 341, 560, Green
572 função de, 138, 139, 201, 204–210, 212–
fatoração espectral, 52–59 217, 219, 271, 301, 365, 366, 368,
Fatti, fórmula de, 179 370, 371, 373
Fermat teorema de, 199, 200
princı́pio de, 79, 82, 218, 570, 571 Greenberg-Castagna, técnica, 491, 492
FFT, 29 Gregory-Pickett, técnica, 488, 495
filtro
de predição, 44–46, 278, 280, 335, 336
H
Hamming, função, 26
estratigráfico, 182, 220, 239–244, 247,
Hankel, função de, 209, 210, 368, 369, 374
293, 303, 307, 312, 317, 327, 336,
Hanning, função, 26
338, 341, 342, 477
head waves, veja ondas frontais
passa-banda, 40, 44, 110, 191, 311, 316,
Heaviside, veja degrau, função
519, 572
Helmholtz, equação de, 138
fizz-water, 483
hidrofone, resposta ao impulso do, 256
flat-spot, 494, 495
Hilbert, técnica, 57, 308
fluido, substituição de, 464, 487, 488, 491,
Hilbert, transformada, 24, 57, 62, 342, 466
492
hipérbole achatada, 123, 127, 404
focalização, 289, 355–359, 395, 413, 414, 416
Hooke, lei de, 65–68, 71, 73, 75, 78, 131–133,
foco enterrado, 95
136, 137, 139–475
Fourier
Huygens
técnica, 196, 390, 392
Christiaan, 78
transformada bidimensional de, 26–29
forma recursiva do princı́pio de, 110, 113,
transformada de, 12–30
360, 409, 431
freqüência
princı́pio de, 77–79, 81, 82, 92, 97, 100,
de referência, 223, 224, 337, 338, 342,
102, 108–111, 113, 123, 126, 127,
560
136, 199, 200, 205, 218, 348–350,
de ressonância, 257
360, 361, 401, 404, 570, 571
instantânea, 466
Fresnel I
Augustin, 78 iconal, equação, 81, 120, 141, 143, 148, 149,
primeira zona de, 97 151, 372, 406, 558
iluminação, 285, 400, 463, 468
G imageamento, 244, 361–363, 374, 398, 400,
Gardner, fórmula de, 448, 474, 480 416, 439
Gardner-Castagna imagem, condição de, 361, 385, 413, 427,
evento, 520 428, 431, 434, 436
litologia, 501, 519 imaging, veja imageamento
Gassmann, 493 impedância
equação de, 478, 492 acústica, 70, 164, 170, 181, 184, 446,
Gauss 447, 450, 460, 463, 484, 494, 496,
equação de, 37 502, 503, 539, 540
ÍNDICE REMISSIVO 577
instabilidade numérica, veja estabilidade nu- abertura do operador de, 120, 347, 354,
mérica 397, 418
instantâneo, 197, 198 algoritmo explı́cito de, 382, 385, 562
instrumento, resposta, ao impulso, do, 255 algoritmo implı́cito de, 379–387, 561–
integral, teorema da, 23 566
intercept, veja interseção com base no raio imagem, 395–396
interpolação, 28, 30, 46, 274, 278, 377, 396, com o conceito de aquisição submergente,
441, 474, 563 409–413, 425–427
interseção, 442 de agrupamentos CO, 402–406, 433
IP − IS , 514 de agrupamentos CS, 406–408, 427–429,
isotermal, condição, 484 434
de tempo reverso, 365, 379, 384, 387–
K 392, 434, 435
Kirchhoff em cascatas, 393, 394
aproximação, 169, 213–220, 234, 235, em duas passagens, 394, 437, 438
326, 430 em profundidade, 355–359, 370–373
integral de, 12, 130, 135, 199–203, 206, em tempo, 353–359, 369–370
207, 211, 215, 219, 271, 302, 365, geométrica, 342–347
366, 369, 458, 570 Kirchhoff, 365–374
Kolmogoroff, método, 52, 54–57 por deslocamento de fase, 375–377
krigging, 46, 278 por diferenças finitas, 378–392
por frentes de onda, 343, 348, 406, 420–
L 422
λρ, 514
por soma de difrações, 348, 353–355, 369,
layer stripping, veja camadas, despimento
370, 406, 422
de
pré-empilhamento Kirchhoff, 425–433
lentes finas, termo das, 379
pré-empilhamento por diferenças finitas,
Levinson
433–435
algoritmo de, 48
PSPI, 438
Norman, 40, 47
recursiva, 360–364, 373–374
recursão, 42, 47–51, 62
residual, 393–395
lognormal
Stolt, 375, 377–378, 394
distribuição, 571
espectro de amplitude, 571 velocidade de, 279, 297, 355, 357, 359,
luz branca, 43, 186, 306, 313, 315, 325, 456, 383, 393, 394, 413–419, 441, 458,
534
467
modelagem espectral, 316, 571, 572
M modelagem sı́smica
média de uma série, 38 abertura do operador de, 120
mediana, filtro de, 280, 316, 571 com a aproximação Kirchhoff, 216–220
meio efetivo, 246, 477 com a equação DSR, 193
memória, componentes de, veja antecipação, com o princı́pio de Huygens, 109–110
componentes de por deslocamento de fase, 190
MEMS, acelerômetro, 256 por diferenças finitas, 195–199
microespalhamento da energia, 88, 244, 341 modelo convolucional, 84–87, 109, 227, 253,
migração 269, 306, 318, 462, 463
álias do operador de, 399 modulação, teorema da, 22, 25
ângulo de, 347, 354, 397, 459, 531 módulo bulk, 66, 68, 71, 475–480, 482, 484,
a partir do datum flutuante, 393, 396– 485, 487–489, 491, 492, 495, 540
397 módulo de elasticidade, 130, 474–478, 480,
578 ÍNDICE REMISSIVO
W
Wiener-Hopf
equação, 42, 45, 57, 58, 307, 324, 335
filtro, 40, 42–44, 46, 59, 62, 279, 316
técnica, 59
Wiener-Hopf-Levinson
deconvolução, 184
filtro, 40–51, 307, 335
wiggle, apresentação em, 467
WKBJ, aproximação, 140
Wold, decomposição de, 186
wraparound, 29, 566
Wyllie, fórmula de, 473, 477
Z
Z, transformada, 5
zero velocity layer, veja velocidade nula, ca-
mada de
Zoeppritz, equações de, 173, 178