COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO TEC. DE ENTREVISTA E REPORTAGEM 1 PROF. PAULA REIS
ENTREVISTA COM LIANA CIRNE
Alunas: Carolina Siqueira e Júlia Nascimento
Em 2024, o Movimento Ocupe Estelita completa 10 anos. Surgido para
concentrar esforços na defesa do Cais José Estelita, no Recife, o Movimento foi além de um manifesto pelo direito à cidade e preservação do patrimônio histórico e paisagístico do Centro, transformando-se em uma expressão social e cultural. A área que abrigava um pátio ferroviário e armazéns de açúcar passou décadas negligenciada pelo Poder Público. Diante disso, um consórcio de grandes construtoras iniciou sua jornada para demolição das edificações históricas e construção de enormes prédios residenciais e comerciais. A perspectiva de um empreendimento completamente destoante da arquitetura local, além de socialmente excludente, mobilizou uma diversidade de pessoas na luta pela preservação do espaço. Professores, advogados, arquitetos e urbanistas, jornalistas, antropólogos, estudantes e inúmeras outras pessoas passaram a ocupar o local, na intenção de impedir o avanço das obras. Liana Cirne atuou como advogada do movimento Ocupe Estelita na ação popular que suspendeu a aprovação do Projeto Novo Recife, chegando a ser agredida pelos policiais com golpes de cassetete. Professora de direito há 26 anos, Mestra em Instituições Jurídico-Políticas pela UFSC e doutora em Direito Público pela UFPE, além de colunista fixa do Brasil 247 e da Revista Fórum, Cirne entende que sua atuação no Movimento foi além. “E eu, que achava que eu era advogada, na verdade não era apenas advogada, advogada era uma parte do que eu fazia. Eu era comunicadora do Direito. Eu explicava para as pessoas quais ilegalidades [ocorriam]”. Sobre a pluralidade de pessoas envolvidas na luta, Liana destaca que quando “[...] houve a ocupação, o Ocupe Estelita, aí realmente mudou, porque aí pluralizou de fato. Aí, se diversificou, aí vieram pessoas muito importantes, Caia veio para o Movimento, tanta gente veio para o movimento [...], as pessoas criavam oficinas, não tinha coordenação. Então, ‘com quem eu falo para propor uma oficina de tecido, de circo?’. Tinha uma pessoa que ia reportar, tinha a Assembleia. Na Assembleia, as deliberações eram coletivas (...). Eu acho que foi um fenômeno de comunicação. O Ocupe Estelita foi reconhecido.” O espaço do Estelita, até então abandonado, transformou-se num fervedouro de vida, cultura e educação. Para debater sobre o empreendimento no Facebook, criou-se o Direitos Urbanos (DU). Através do grupo, foram discutidas pela população pautas que raramente são levadas à discussão, como o direito à terra e infraestrutura urbana, e à moradia. “A nossa rede na época era o Facebook e nós tínhamos uma comunidade. O Facebook que emitia grupos e comunidades, e nós criamos o Direitos Urbanos, que depois teve inúmeros outros grupos de direitos urbanos, parecidos com o Direitos Urbanos, o de João Pessoa e várias outras cidades, e inspirou lutas urbanísticas muito similares como o Ocupe Estelita, inspirou o Ocupa Cais Mauá, em Porto Alegre, inclusive eu fui pra lá, conversei com o pessoal. Muitas coisas nossas foram inovadoras, inclusive na comunicação [...] O Direitos Urbanos era um fórum de discussões urbanísticas e de direito à cidade, e o Ocupe Estelita se transformou em algo muito maior, em luta por moradia, em luta por diversidade, por inclusão”, como relata Liana Cirne. O Ocupe Estelita é, hoje, classificado como um dos movimentos pioneiros das redes sociais, no qual foi um dos primeiros que teve força para sair do virtual e ir para as ruas, como destaca a vereadora: “O movimento Ocupe Estelita foi um movimento muito importante, não só para a cidade do Recife, mas para o Brasil. Ele foi um movimento paradigmático. Ele foi uma das primeiras experiências do Brasil de um movimento que surgiu nas redes e saiu do digital para o real; num tempo em que as redes não haviam ainda sido tomadas pela extrema-direita e nem pelas fake news. Então foi um momento muito importante porque nós éramos um fórum nas redes sociais, que era o fórum do Direitos Urbanos, e era um fórum muito qualificado, exatamente o oposto do que as redes sociais são hoje […] porque no início de 2012, 2011, o papel das redes sociais era radicalmente diferente. Vejam que a gente está falando de uma mudança brutal num período de uma década. É uma mudança muito grande num período muito curto.” Liana ainda ressalta que, na época, os envolvidos no movimento não tinham consciência da dimensão do que estava sendo construído ali, com o auxílio das redes sociais. “Hoje, olhamos para trás e vemos que naquele momento nós tínhamos um fórum de discussão altamente qualificado, com discussões técnicas extremamente avançadas. A gente discutia a legislação urbanística da cidade do Recife num grupo de Facebook e os vereadores iam comentar, responder críticas. Professores da UFPE, de outras universidades, comentavam, faziam posts, faziam provocações. Então, dentro de um post, às vezes, a gente tinha 50, 60, 70 respostas. Respostas que não eram xingamento, não eram respostas de emoji, nem se usava emoji. Respostas que eram textos, eram construções textuais excelentes e com muita divergência.” O Movimento começou como resistência a um empreendimento imobiliário excludente, esteticamente incoerente com o local que se encontra e ambientalmente perigoso, mas foi evoluindo e o acampamento acabou se tornando palco para manifestações culturais, educativas, com participação de diferentes atores. “Eu acho que o Ocupe Estelita foi grandioso e [teve] a presença de muitos cineastas, fotógrafos, artistas e teve, claro, o Som na Rural, o Rogê de Reno, o Niltinho, que foram determinantes, porque, aí, Rogê convidava Crioulo, convidava todo mundo, não só o Rogê, muita gente”. A luta pelo Cais José Estelita foi para os tribunais, embora hoje tenham sido construídos edifícios comerciais e residenciais. Houve muitas vitórias para a população na época, que desafiaram todas as expectativas. Liana Cirne conta que “(...) teve uma coisa que foi incrível, que chamou a atenção de todo mundo, que nós travamos uma guerra judicial com o Novo Recife e ganhamos. Tivemos inúmeras vitórias. Eles trabalhavam com os escritórios de advocacia mais caros da nossa cidade e nós trabalhávamos com uma advogada aqui, outra advogada ali, sem estagiário, sem impressora, sem nada, e a gente conseguia liminares impressionantes, como a de 2012. Em 2012, a gente teve uma liminar que impediu que o Novo Recife fosse construído naquela época, e que eles não esperavam. Eles nunca imaginavam. [...] Então, quando a gente conseguiu a liminar, a gente impediu que o projeto fosse aprovado numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Recife, chegamos lá com um Oficial de Justiça para impedir a reunião, naquele momento ninguém acreditou. A mídia não acreditou. Os jornais não acreditavam, porque todo mundo achava que a gente era um bando de maconheiros que só queria fazer graça e não um grupo de profissionais muito dedicados.” Liana Cirne ressalta a dedicação dos envolvidos no grupo: “Então, nunca que eles iam imaginar que nós entendíamos Direito à Cidade, Direito Urbanístico, conhecíamos a legislação em vigor, compreendíamos as ilegalidades da tramitação, que nós iríamos passar madrugadas estudando, como nós passávamos, Leonardo Cisneiros, Cristina, Edinélia e eu, a gente ia pra minha casa e ficávamos estudando, até 3h da madrugada, com a legislação aberta e procurando vícios formais, que a gente sabia que ia ser mais fácil de conseguir a liminar com vício formal do que com um argumento, por exemplo, de inconstitucionalidade. Não, a gente queria dizer que tinha sido violado o “inciso 2, alínea ‘a’, do artigo tal, do decreto”, sabe? [...] Eu não tinha estagiários, então, quem ia me ajudar era o pessoal do Direitos Urbanos, que tinha formação em arquitetura. Cada um pegava uma lei, um decreto, um regulamento e a gente ficava estudando até de madrugada, até identificar”. A vereadora, na época do Ocupe Estelita, era professora do Departamento de Direito Público Geral e Processual da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas viu suas perspectivas profissionais serem ampliadas a partir de sua participação no Movimento. “Na parte da comunicação do Direito, quem chamou atenção foi a Mídia Ninja. A Mídia Ninja me chamou para ser colunista, porque eles entenderam a importância de você ter alguém amplificando o “juridiquês”, numa linguagem que todo mundo entendesse. Porque aquilo deu legitimidade para o Movimento numa perspectiva diferente, porque são várias formas de legitimar um movimento. O Direito é uma forma potente de legitimar um discurso, um movimento, uma luta. Isso é inegável. E a gente dava isso para o Movimento. Então, eu fui convidada pra dar oficina para muita gente, para grupos feministas em Minas Gerais, para trabalhar com essa perspectiva de comunicar o Direito. E eu mesma, na época, ainda não entendia. Eu ia dar oficina de Processo Civil e eu dava oficina de advocacia na perspectiva de lutas emancipatórias, que é uma coisa super difícil, mas sempre foi, olhando hoje para trás, sempre foi também falando sobre a importância da comunicação do Direito.” Sobre o cenário atual de ocupação do Centro do Recife, Liana Cirne destaca a dificuldade na construção de novos movimentos sobre moradia e Direito Urbanístico. Apesar de toda luta pela preservação, o Cais foi demolido e os prédios foram levantados. Surge a pergunta: por que os debates atuais não englobam o Direito à Cidade e as questões levantadas no Ocupe Estelita? A resposta para essa pergunta está no retrocesso que o povo brasileiro vivenciou nos últimos quatro anos. “É importante dizer o seguinte, nós tivemos um retrocesso de décadas em poucos anos. Todas as pessoas que estavam no Ocupe Estelita, lutando por uma cidade democrática, de uma hora para outra, tivemos que passar a lutar para as pessoas poderem comer, para as pessoas poderem tomar vacina. A gente retrocedeu décadas. A gente estava discutindo o zoneamento urbano e, de repente, a gente estava discutindo se eu não ia ter vacina para a Covid. De repente, a gente estava com pessoas na fila do osso. De repente, as redes sociais viraram um câncer na comunicação. Aquilo que a gente usava para aprofundar ideias democráticas, passou a ser instrumento de disseminação de fake news e fake news muito violentas. Fake news que fazem com que as pessoas não queiram se vacinar, que fazem que as pessoas achem que quem tá na fila do osso é porque merece. A gente retrocedeu, não só na economia, a gente retrocedeu do ponto de vista dos nossos marcos civilizatórios e, daí, nossa comunicação retrocedeu muito também. Quando você tá lutando pelo direito de ter vacina, SUS, pelo direito a ter comida, auxílio, abrigo, discutir zoneamento urbano não dá [...]. E é isso mesmo, porque nós não somos octopus, né? A gente não tem inúmeros braços e pernas para lutar várias lutas ao mesmo tempo.” Porém, apesar das dificuldades, a vereadora também exalta os reflexos positivos da ocupação, seja na popularização de conceitos anteriormente restritos a ambientes acadêmicos, seja no reconhecimento da força que os movimentos sociais têm. Liana afirma que “[...] a nossa compreensão de cidade se tornou muito mais complexa depois do Ocupe Estelita. A noção de que democracia é um conceito que se materializa no transporte público. Num transporte público que chega na periferia e que chega nos bairros ricos ou aquele transporte público que chega numa pontinha da periferia, mas não entra e só vai até o Centro para dificultar o acesso aos lugares onde tem cultura, onde tem lazer? Quantas linhas de ônibus temos das áreas pobres para a praia de Boa Viagem? Linhas diretas? Isso é acidental? Não, nós aprendemos isso no Ocupe Estelita. A gente aprendeu que a noção de serviços públicos nos bairros ricos e ausência de serviços públicos nos bairros pobres, além de ser racismo ambiental - que é um conceito que data de 1970, na verdade, desde a década de 70 que a gente fala, talvez antes que a gente fala de racismo ambiental, mas essa noção se populariza com o Ocupe Estelita, a compreensão dessas desigualdades - não é que essas desigualdades não eram compreendidas antes, sempre foram, mas muito dentro de um ambiente acadêmico. Então, o Ocupe Estelita popularizou essas noções críticas, ajudou a ter essa compreensão de racismo ambiental, de elitização de serviços públicos [...]. Então, eu acho que muita coisa a gente aprendeu e ficou do Ocupe Estelita.” Vereadora desde 2021, Liana Cirne ressalta as dificuldades para o enfrentamento de questões como as levantadas no Ocupe Estelita no âmbito do Legislativo Municipal. “Do ponto de vista legal, nós teríamos como fazer. O problema é que para alterar leis, eu não alteraria nenhuma lei agora, porque se for pra alterar, eu sei que vai ser para pior. Nós somos minoria, do jeito como a gente é minoria na Câmara Federal, a gente também é minoria na Câmara Municipal. Então, as pessoas ainda não levam a sério… As pessoas não entendem o que faz um legislador.” Cirne também destaca o desconhecimento da sociedade sobre o sistema de tripartição de poderes e as funções de cada um deles. “[...] E é muito interessante, porque quem mais se beneficia desse desconhecimento são os corruptos. O ideal era que todo mundo soubesse o que nós fazemos, qual a importância do nosso trabalho, o quão importante é nós fiscalizarmos. Aqui no Recife, há muitas legislaturas que o Legislativo Municipal é quase subserviente ao Executivo. Então, o Executivo manda e o Legislativo obedece. Isso é uma descaracterização da nossa função. Nossa função aqui é fiscalizar o Executivo, é denunciar iniciativas que sejam dissonantes com aquilo que defendemos.” Sobre a pluralidade de mandatários públicos, Liana exalta o caráter democrático, mas ressalta que o desconhecimento das funções legislativas pela grande maioria das pessoas dificulta a compreensão da relevância das funções e consequente aprovação de pautas que visem à preservação do patrimônio histórico e paisagístico da cidade. “E aí tem uma coisa muito interessante: a pluralidade da Casa reflete a pluralidade da sociedade. Então, vai ter vereadores e deputados federais de extrema direita, porque há esses eleitores. Vai ter de esquerda, porque há esses eleitores. O problema não é isso. Você ter parlamentares que representam seus eleitores, exatamente isso que o regime democrático quer. O problema é ter um bloco gigantesco de pessoas que ninguém nem sabe quem é nem como se elegeu, porque simplesmente nós temos um sistema eleitoral em que não há real fiscalização no dia da votação, em que há uma circulação de dinheiro, de poder, de favores etc., que faz com que muitas pessoas se elejam sem que ninguém saiba quem são. [...] Então, como que a gente vai aprovar uma legislação que preserve mais o nosso patrimônio histórico, arquitetônico, paisagístico, quando do outro lado, quem tem interesse em destruir esse patrimônio são as empreiteiras, é quem tá com dinheiro? Como é que a gente vence um lobby desses, se as pessoas nem sabem o que a gente discute aqui dentro? Muito díficil.” Apesar de tudo, Liana Cirne é otimista e enxerga na propagação de informações o caminho para a superação dos obstáculos sociais e econômicos, encontrando nas fake news seu maior oponente. “A gente só vence com mais informação. Eu sou otimista em relação a isso, mas hoje o maior entrave que a gente tem é a circulação de fake news, é a polarização, é a redução de complexidade. A gente tá reduzindo, radicalmente, a complexidade do debate e isso é péssimo.“ Em celebração aos dez anos do Movimento, ao ser perguntada sobre a lembrança mais marcante daquele período, a vereadora Liana Cirne teve dificuldade em escolher uma só. Mencionou, sorrindo, os encontros, abraços e as mudanças provocadas em sua vida. “O Ocupe Estelita mudou radicalmente minha vida. Eu era uma professora com uma vida muito organizada, e que tinha alcançado meus sonhos. Meu sonho sempre foi ser professora de universidade federal, fazer mestrado, doutorado, passar num concurso e ser professora de universidade federal e eu alcancei meus sonhos. Aí, o Estelita virou minha vida de cabeça pra baixo, desorganizou tudo [...]”. Emocionada, Cirne relembrou de um personagem que conheceu na ocupação, o Batoré - criança, usuária de cola, que morava naquela região e sonhava em ser jogador de futebol, como tantas outras. A vereadora relembra suas tentativas de retirá-lo das drogas e que não o encontrou novamente. “Eu ficava o tempo inteiro brigando, pedindo pra eles - eles eram usuários de cola e eu ficava pedindo pra eles pra eles me deixarem jogar fora a cola, eu ficava conversando com eles”. Por fim, ela consegue selecionar uma lembrança dentre tantas felizes, aquela que representa seu sonho de cidade para todos; “eu acho que a lembrança mais linda é eu e meu filho, que na época devia ter 7, 8 anos, caminhando nos trilhos do trem e aquilo ali era o sonho de cidade que eu queria pra o meu filho, era o sonho de cidade que eu queria pro Batoré, eu queria uma cidade em que Batoré tivesse o direito de morar num espaço digno, o direito de ter uma escola perto dele e que tivesse uma oferta de futuro em que ele pudesse ter uma ambição, de ter um futuro, que ele pudesse sonhar sem precisar de droga, sem precisar de cola, e que naquele mesmo espaço tivesse meu filho, que eles eram de idades parecidas.” Embora não tenham vencido na Justiça e os prédios estejam sendo construídos, pode-se considerar que o Movimento repercutiu bem na cidade do Recife. O Ocupe Estelita proporcionou o conhecimento sobre a cidade para a população da cidade. Conceitos como democracia, urbanização e crime ambiental foram popularizados pelo Movimento e persistem na consciência e luta da população até hoje. Além disso, o Ocupe Estelita é um exemplo de como a internet e os meios de comunicação que ela contém podem, quando usados corretamente, tornar-se uma arma política que é usada para o bem. Com a ajuda da informação, instruções importantes podem e devem ser distribuídas para que forneçam mais conhecimento sobre todos os tipos de assuntos.
A batalha pelo Cais José Estelita impactou, tornou-se memorável, trouxe às
pessoas sonhos de uma cidade perfeita, expectativas de mudança. Antes de terminar a entrevista, Liana Cirne projeta seu sonho de cidade, uma cidade democrática e igualitária em “que Pedro e Batoré pudessem jogar bola juntos, pudessem ter uma escola de qualidade juntos, porque isso é democracia. Democracia não é no playground. Como é que eu vou ensinar democracia pro meu filho num playground? Democracia é na praça, democracia é no parque, democracia é quando crianças de diferentes origens sociais, culturais, econômicas se juntam num mesmo espaço para brincar juntas, em que elas vão e brincam de gangorra juntas, em que elas vão e brincam de escorregador juntas. Então, era aquela cidade que eu queria pro meu filho. Eu queria uma cidade em que o Batoré não fosse usuário de cola e que ele pudesse estar ali brincando com outras crianças da idade dele. E era um sonho que eu tinha muito forte. Eu queria realmente uma cidade democrática pro meu filho.” Cirne finaliza convidando à reflexão. “Eu não consigo nem imaginar como é desejar pro seu filho, que seu filho cresça dentro de grades, de um condomínio. Se você deseja isso pro seu filho, o que você está desejando para ele? Você quer que seu filho cresça dentro de um condomínio ou você quer que seu filho cresça do lado de fora, nas praças, com várias crianças diferentes, em que ele aprende a democracia vivendo a democracia?”.