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Memória

mente a melhor capitania do Brasil. do da Parahyba do


fico do estado culdades múltip
múltiplas de arma-
CENTENÁRIO DE LIVRO ÉPICO (Senado Federal, 2010, p. 27). tificado como um
Norte, identificado zenamento e inexistência
O território, seja como capitania, dos obstáculoslos às realizações infraestrutu estradas,
de infraestrutura:

OBRA DE JOSÉ AMÉRICO província ou estado, nunca foi bem


administrado por séculos seguidos.
José Américo de Almeida, jovem
pretendidas pelo presidente

Atualmente,
ssoa.
Epitácio Pessoa.
te, a Paraíba pos-
facili
portos e facilidades
coamento da produção, e
de es-

financei creditício,
apoio financeiro,

TRATANDO DA advogado nomeado, em 1908, pro-


motor da comarca de Sousa, relata
que de Areia, sua cidade de origem,
sui 56 mil km², e o problema
do meio físicoico do semiárido
xtensão ter-
relativo à extensão
dito ou consum
c
cooperativas, caixas
consumo. O desam-
de cré-

paro total ee, mais grave,

PARAÍBA E SEUS ao destino do novo emprego levou


sete dias em cavalo pela inexistência
de transportes e estradas (ferrovias
limitação do
saber com
tra a
ritorial ilustra a comercialização
com
do
dos exceden-
ttes por preço

PROBLEMAS LEMBRA ou rodovias) em plena República e


limiar do quinto século do Brasil. Em
sua primeira passagem pelo Ministé-
prejuízo ex--
plícito naa
história.
determina-
do no local,
sem acesso

CELSO FURTADO
rio da Viação, construiu uma estrada Duvidava- a potenciais
reduzindo o trajeto a sete horas. -se, à épo- mercados
José Américo faz uma incursão so- ca de Epi- consumi-
bre as teorias econômicas em vigor, tácio Pes- José Américo de Almeida: autor de dores, nem
obra inaugurando o Regionalismo na
Pensador brasileiro faz reeleitura de Obra histórica no início do século 20. Distingue a
orientação do capitalismo vigente e do
soa, a real
extensão
Literatura brasileira linhas de
p ro d u ç ã o,
de escritor paraibano inovador na literatura centralismo do Estado, práticas usuais
desde o Império, e que a República
do território: documentos registra- resultavam em benefícios apenas ao
vam área de 74.371 km², e José Amé- atravessador ou açambarcador, e pre-
não conseguiu mudar. Daí o autor, rico não admitia menos de 60.000 juízo ao produtor no vão esforço de
Por MARCOS FORMIGA Brasil, em um mandato presidencial (europeus), negros (africanos), abo- expõe as mazelas e limitações sem se km². Na Paraíba há uma faixa estreita venderseus produtos por preços jus-
reduzido a um triênio, priorizou obras rígenes (da grande família tupi com render ao determinismo, ou se aco- de 50 quilômetros próxima a Patos, tos.

O
mês de março de 2024 ce- no Nordeste como plataforma de go- predominância de tabajaras, potigua- modar à falta de esperança. Em meio menor distância entre os vizinhos – Américo defende a economia mista,
lebra o Centenário do livro verno. Apresenta uma hierarquia de ras e cariris) e mestiços (cafuzos, ma- às dramáticas constatações, buscava Rio Grande do Norte e Pernambuco coerente com seu liberalismo político
histórico “A Paraíba e Seus temas definida pelo escritor com des- melucos, caboclos). explicar estratégias e mostrar exem- – que alcança até 180 quilômetros em diferente do liberalismo econômico
Problemas”, de autoria do taque ao território geográfico, anti- O presidente Epitácio Pessoa, preo- plos práticos de sua convicção de que outros trechos e na transição da Bor- clássico. Constata crises de abasteci-
renomado escritor José Américo de ga capitania da Parahyba do Norte, cupado em mudar essa realidade, apre- havia solução. Portanto, a Parahyba borema para o Vale do rio Piranhas mento de víveres: na antigaexpressão
Almeida com solenidade a envolver as tornada província que,atravessando o senta seu pensamento síntese de polí- tinha como superar seus problemas. o território atinge seu ponto mais popular “carestia de vida”, referindo a
principais entidades e instituições de Império, permanecerá estado com a tica presidencial: “[...] para reconhecer Ele defendia o keynesianismo antes estreito. Antes da independência, em inflação recorrente na segunda meta-
Cultura, agora trazendo uma releitura mesma designação por 45 anos, após que da parte dos poderes federais não do próprio Maynard Keynes. 1822, questionou-se a região do Se- de do século 20.
do professor doutor Marcos Formiga proclamar-se a República. tem havido aquele espírito de equi- Registra e confirma evidências de ridó nos Estados da Paraíba e Rio A “Terra ignota” em Os Sertões, rea-
na qual ele traça paralelos de como Reafirmando a hierarquia temática, dade e de justiça, a que se julgam no quatro séculos de abandono, e as ra- Grande do Norte, que julgada pela parece em A Paraíba e Seus Problemas.
há valores comuns no pensamento José Américo destaca no prefácio da igual direito as unidades componentes zões do precário cenário socioeco- corte imperial beneficiou o Rio Gran- Às persistentes interrogações, o autor
inovador do economista Celso Fur- 1ª edição: “O senhor Epitácio Pessoa de uma mesma federação”. nômico da província/estado: falta de de do Norte. Talvez, mesmo tarde, afirma ser sua obra excessivamente
tado neste caso mais envolvido com a gostará de ver que me impressionei Na obra rara História da Conquista educação e instrução pública primá- caberia a explicação do IBGE sobre compreensiva no título, e por limitação
temática do Nordeste. mais com sua obra, do que com o da Paraíba, considerada “a certidão de ria, população analfabeta e sem pers- a possível redução de até 18 mil km² de tempo, limitada “às soluções funda-
No texto a seguir, por solicitação da seu nome, e menos com sua obra, do nascimento da Parahyba”, compilada pectiva de organização mínima, sem do território. mentais”. Em 2023/2024, no centená-
Revista NORDESTE, Marcos For- que com a sua terra” (Almeida, 1923, por José Feliciano de Castilho Barreto coesão, sem cidadania, nem diretrizes Os capítulos sobre as Consequên- rio de seu lançamento, há espaço para
miga aponta as urgências do tempo p. 40). e Noronha, em 1848, consta: a trilhar. cias Sociais e Econômicasdesenvol- identificarmos problemas não solucio-
presente. Naquele mandato, o Nordeste é re- [...] por onde esta capitania de Pa- O setor público era apenas uma re- vem possíveis alternativas ao difícil nados e um progresso vagaroso, porém
gião-problema, e não apenas parte raíba, possuindo mais várzeas (que, ferência distante – encastelado na ca- quadro da Parahyba, cuja dependência insuficiente, para uma maior integra-
Epitácio Pessoa, seu plano do Grande Norte, como o vasto país como já provamos, é o melhor do pital – impermeável às necessidades total de recursos naturais restringe o ção econômica interna dos municípios
presidencial e sua terra identificava seu território em apenas Brasil), que todas as outras capitanias; do povo e ausente como padrão de perfil socioeconômico à agricultura paraibanos, pois não mais dependem
O livro A Paraíba e Seus Problemas duas macrorregiões: Norte e Sul. José e com isso conter mais pau-brasil que conduta. e à pecuária, mesmo nas sub-regiões dos estados vizinhos. A despeito dessa
é uma homenagem e reconhecimen- Américo registra de forma mais com- Pernambuco, é muito melhor; […] Entre a segunda e terceira décadas litoral, serra e brejo (não atreladas à realidade, a Região Nordeste e o esta-
to ao trabalho de Epitácio Pessoa, pleta a composição racial e o caldea- fica também a Paraíba mais perto do do século 20, ainda era grande o des- escassez de água, ou às crises climá- do da Paraíba se integram na segunda
que, pela primeira vez na história do mento de nossa população: brancos reino, sem dobrar cabos; é resolutiva- conhecimento do meio físico-geográ- ticas intermitentes). Reinavam difi- metade do século 20.

50 Março de 2024 Foto: Divulgação RNE Março de 2024 revistanordeste.com.br 51


a exaustiva repetição dos diagnósticos
A Indefectível “Solução Hidráulica” inócuos. Neste cenário cria-se a SU-
DENE, em 1959.

A
Parece necessário e apropriado res-
seca como fenômeno-proble- Vargas e colaboração direta de José saltar o Nordeste em dois momentos
ma regional despertou no go- Américo, até 1934. Vargas perma- José Américo de Almeida e sua históricos: em 1923, José Américo
IN˛U̖NCIA¨NA¨%RA¨6ARGAS
verno imperial, que em 1884 necerá 15 anos na presidência (1930 escreve sobre a Paraíba, mas, analisa
iniciou o açude Quixadá-CE, con- a 1945) como líder revolucionário, profundamente toda a Região Nor-
cluído em 1906. A estratégia era acu- presidente constitucional eleito indi- deste. Quase quatro décadas depois,
mular água em grandes açudes públi- retamente, e ditador do Estado Novo. Celso Furtado, em “Formação Eco-
cos e incentivar pequenas barragens Como primeiro presidente brasileiro nômica do Brasil” (1959), interpreta
em propriedades rurais particulares. com perfil de estadista, se preocupou o Nordeste e alcançatodas as regiões
A solução hidráulica fortalecida no com a integração política do territó- do País, vitais ao funcionamento in-
início da República levou à criação rio nacional, e o Nordeste retomou tegral da nação. Furtado defende que
por Nilo Peçanha (1909-1910), da a importância iniciada por Epitácio em vez de orientar-se contra a seca,
Inspetoria Nacional de Obras contra Pessoa. O Art. 177da Constituição de por fim, deve-se, aprender a conviver
as Secas, convertida, a partir de 1945, 1934, destinava 4% da receita tributá- com ela.
em Departamento Nacional de Obras ria à defesa “contra” os efeitos da seca. A Paraíba e o Nordeste apresen-
contra as Secas (DNOCS). Em 1936, estabelece-se o Polígono tam problemas conhecidos próprios do
De forma repetitiva, a gestão públi- das Secas, ampliado em 1947 e 1951, atraso histórico e longo subdesenvolvi-
ca demonstrou descompromisso com a quase um milhão de km². Em 1945, mento, sobretudo, social, educacional,
a urgência. Postergar, adiar decisões,- Vargas, apósdécadas, cria a Compa- de saúde, emprego e habitação, todos,
caracterizava o poder público e a cen- nhia Hidrelétrica do São Francisco passíveis de soluções técnicas, finan-
tralização administrativa republicana (CHESF). Em 1948, cria-se a Co- ceiras e humanas.Acresce-se o grave
replica a prática monárquica malsu- missão do Vale do Rio São Francisco distanciamento do setor privado.
cedida. Muda-se o regime político, (CVSF), convertida, em 1967, na Su- José Américo e Celso Furtado, os
mas, permanecem as práticas danosas perintendência do Vale do São Fran- dois principais autores e intérpretes
ao progresso nacional com o distan- cisco (SUVALE) e, em 1974, a atual da Paraíba e do Nordeste, se diferen-
ciamento dos governos oligárquicos CODEVASF. ciam em suas contribuições inéditas
dos interesses de uma população sem Em 1953, uma nova tentativa do pelo estilo próprio e autoridade indi-
instrução quenão participava das de- governo federal se inicia com o Banco vidual crítica e propositiva. Todavia,
cisões nacionais. do Nordeste do Brasil (BNB), pela têm em comum a certeza da viabili-
A incompletude dessa política não carência de instituição financeira e dade socioeconômica da região, não
se inicia, nem termina, com Epitácio apenas comoproblema, mas, indis-
Pessoa. Abandonado por dez anos pensável a um Brasil desenvolvido,
consecutivos, só retorna, parcialmen- creditícia desde o governo de Epi- mico (BNDE), atuante na implemen- ainda débeis como indústria, minera- íntegro, único.
te, com Getúlio Vargas na Revolu- tácio Pessoa, denunciada e analisa- tação da Comissão Econômica para a ção, comércio e serviços. Nas duas primeiras décadas deste
ção de 1930. Caberá ao ministro José da por José Américo. América Latina e o Caribe (CEPAL) Cada nova iniciativa do governo século, o Nordeste, com a transpo-
Américo, responsável pelas obras pú- A região será estudada de for- em Santiago no Chile, como agência federal gera nova instituição, pela difi- sição do rio São Francisco, recebeu
blicas, retomar tudo deixado ao léu. ma diferenciada, com economistas da Organização das Nações Unidas culdade de coordenação de uma polí- significativo investimento. Todavia,
Interessante: o autor que registrou a nordestinos assessores de Vargas (ONU). tica caracterizada por disputas estéreis repete-se, ad nauseam, na prática, a
tentativa e o desempenho de Epitácio (1951-1954): Rômulo Almeida, A tradicional e insuficiente ênfase entre grupos de interesse e defesa de“- prorrogação de prazos não cumpridos
Pessoa em modificar esta realidade se Cleantho de Paiva Leite, Ignácio hidráulica de Vargas e Kubitschek, feudos” administrativos, econômicos e e sucessivos aportes financeiros que
tornará, ministro da área. Rangel. gradativamente, cede para uma “solu- burocráticos. atravessam cinco mandatos presiden-
A mudança de enfoque será ção econômica”, diminuindo a mag- Em 1950, ocorrerá novo marco ana- ciais. A solução centrada na técnica re-
Um Novo Divisor de Águas? fortalecida por Juscelino Kubits- nitude do tratamento do fenômeno lítico sobre o planejamento do de- comendável (disponibilidade hídrica)
O Nordeste, depois da inadequada chek (1956-1961), que solicita um climático e diversificando a ação eco- senvolvimento do nordeste, quando excluiu, ou não considerou de forma
e incompleta solução hidráulica, para plano de desenvolvimento para nômica, além da atividade agrícola. a prodigiosa mente de Celso Fur- adequada, como sempre, o desenvol-
Fac símile das capas das edições “A
alguns um verdadeiro fracasso, terá Paraíba e Seus Problemas” de José o Nordeste ao economista Celso Nesse modelo, defendido por Celso tado elabora documentos que fun- vimento social ao longo dos eixos nos
outras tentativas de desenvolvimento Américo de Almeida e reeleitura de Furtado então diretor do Banco Na- Furtado, tenta-se ampliar a resiliência damentam uma nova concepção de cinco estados beneficiários. Retorno
regional a partir de 1930 com Getúlio Marcos Formiga cional de Desenvolvimento Econô- econômica à seca junto aos setores desenvolvimento regional, agora, sem ao passado conhecido?

52 Março de 2024 Foto: Divulgação RNE Março de 2024 revistanordeste.com.br 53


CUMBUCO | CE TOUROS | RN ECO RESORT DO CABO | PE

A Paraíba, o Nordeste e o
Brasil: Uma Possível
Prospectiva de Longo Prazo
N
o último século o País se in- Atlântica reacendem grande produtor de re-
tegrou, desenvolveu seu setor a responsabilidade de cursos e matérias primas
industrial e chegou a constituir todos os brasileiros. naturais (commodities)
uma grande economia, mas, no século Até quando? O desa- reprimariza uma econo-
corrente, permanece em descompasso fio alcança proporções mia dependente deflu-
com uma situação social incompatível nunca imaginadas, daí tuações de preços deter-
com seu imenso potencial econômico o surgimento dacons- minados fora do País. No
de geração de riqueza, prosperidade, cientização ambien- comércio global, persiste
bem estar. A maioria da população tal e a declaração, em a inexpressiva partici-
não tem acesso a bens e serviços bá- outubro de 2021, da pação do Brasil (apenas
sicos de qualidade, seguindo presa a ONU do direito hu- 1,2% do valor do fluxo
uma armadilha da renda média, para- mano ao meio am- Marcos Formiga: global de comércio - 26ª
doxal com uma das maiores concen- biente saudável. A principal articulador posição).
trações mundiais de renda pessoal, crise climática, fenô- para edição do livro Especialistas recomen-
e limitada qualidade de sua juvenil meno secular no Nor-
histórico dam uma maior integra-
democracia(1985-2024...). deste, agora, em época de extremos, ção, abertura comercial e diminuição
As queimadas, desmatamentos ultrapassa fronteiras e ganha dimen- do protecionismo para um crescimen- PARA OS SEUS SONHOS, OS MELHORES
e destruição da biodiversidade na
Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata
são mundial. to econômico real, depende do au-
Na transição do século 20 ao 21, mento da produtividade, cominves-
destinos.
cunhou-se a expressão timento inteligente de alto retorno e PARA VOCÊ, A MAIOR REDE DE RESORTS DO BRASIL.
“Custo Brasil” como um longo prazo em Ciência, Tecnologia e
conjunto de gargalos e Inovação, para a superação do atraso Nos resorts all inclusive da Vila Galé a alegria dura o ano inteiro.
mazelas persistentes que tecnológico e agregação de valor além Viva momentos inesquecíveis com muito conforto e diversão.
diminuem a produtivi- do agronegócio e extração mineral.
dade e competitividade Reformas estruturais são urgen-
RESERVE
nacional. tíssimas e para implementá-lascom
AGORA
Constata-se a desin- coesão social, a sociedade e os setores
dustrialização precoce público e privado não pode mais adiar
do Brasil (9º lugar, em o futuro. Em 1925, José Américo já
2005, e 15º, em 2022, no proclamava, e continua atual como
ranking global da indús- sempre: “Estamos em tempo de passar
triade transformação da do sonho à ação”.
Organização das Nações Em busca do tempo perdido, o País
Unidas para o Desen- deve retomar a construção de longo
volvimento Industrial - prazo da nação inclusiva para todos
UNIDO), enquanto paí- os brasileiros.
ses mais avançados ex-
pandem a Indústria 4.0,
a Inteligência Artificial,
Marcos Formiga é graduado e pós-gra-
Automação, Transição duado em Economia (UFPe) e em Políti-
ALAGOAS | AL MARÉS | BA ECO RESORT DE ANGRA | RJ
Energética e Sustenta- cas de Ciência e Tecnologia (Universidade
bilidade. A vocação de de Londres)

54 Março de 2024 Fotos: Divulgação RNE


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