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Danilo Barbosa Granja, Janayna Braga Sousa, Paula Andrea Rolim Costa,

Victor Emmanuell Fernandes Apolonio dos Santos, Francisca Maila Medeiros de


Carvalho, Natália Vieira da Silva, Eveline Pinheiro Beserra, Maria Alzete de Lima
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REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE


DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO UNIVERSITÁRIO

REFLECTIONS ON CITIZENSHIP AND HUMAN RIGHTS PUBLIC


POLICIES IN THE UNIVERSITY SETTING

REFLEXIONES SOBRE CIUDADANÍA Y POLÍTICAS PÚBLICAS


DE DERECHOS HUMANOS EN EL ÁMBITO UNIVERSITARIO

Danilo Barbosa Granja1


Janayna Braga Sousa2
Paula Andrea Rolim Costa3
Victor Emmanuell Fernandes Apolonio dos Santos4
Francisca Maila Medeiros de Carvalho5
Natália Vieira da Silva6
Eveline Pinheiro Beserra7
Maria Alzete de Lima8

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n5-079
Recebido em: 10 de Abril de 2023
Aceito em: 16 de Maio de 2023

RESUMO
No contexto social, muitas representações são elencadas para as relações
interpessoais, dentre estes se destacam os direitos humanos. O objetivo deste artigo é
discutir conceitos, primícias, ações e estratégias de Políticas Públicas de Direitos
humanos no âmbito Universitário e refletir sobre este assunto tomando como referência
discussões e debates de estudiosos no tema. O ambiente universitário é um local de
extrema importância no debate sobre direitos humanos e cidadania, tendo em vista que
essas instituições formam profissionais e professores das mais variadas áreas. Não só
dentro das universidades, mas em todos os níveis de ensino, os direitos humanos
devem ser abordados a fim de que se tornem uma cultura e para que as pessoas tenham

1
Mestre em Planejamento e Políticas Públicas. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115,
Rodolfo Teófilo, Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: danilo.granja@gmail.com
2
Especialista em Estratégia e Gestão Empresarial. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115,
Rodolfo Teófilo, Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: janayna.braga@uece.br
3
MBA em Gestão Pública. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo,
Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: paula.rolim@uece.br
4
Mestre em Enfermagem na Promoção da Saúde. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115,
Rodolfo Teófilo, Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: victor.emmanuellbr@gmail.com
5
Mestranda em Políticas Públicas. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo,
Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: mailamedeiros02@gmail.com
6
Graduada em Química. Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo,
Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: natyvieira08@hotmail.com
7
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). R. Alexandre Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo,
Fortaleza - CE, CEP: 60430-160. E-mail: eve_pinheiro@yahoo.com.br
8
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Av. Senador Salgado Filho, 3000,
BR101 km, R. das Artes, Lagoa Nova, Natal - RN, CEP: 59078-970. E-mail: alzetelima@yahoo.com.br

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REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE
DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO UNIVERSITÁRIO
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consciência de que por meio da cidadania, podem lutar pela garantia de seus direitos.
Logo, é necessário expandir as reflexões sobre direitos humanos, tendo em vista a atual
crescente de correntes neoliberais pelo mundo.

Palavras-chave: Direitos humanos; cidadania; educação; políticas públicas;


universidade.

ABSTRACT
In the social context, many concepts are listed for interpersonal relationships, among
which human rights stand out. The objective of this article is to discuss concepts,
principles, actions and strategies of Public Policies for Human Rights in the University
environment and to reflect on this subject taking as reference discussions and debates
of scholars on the subject. The university environment is an extremely important place
in the debate about human rights and citizenship, since these institutions train
professionals and teachers from the most varied areas. Not only within universities, but
also at all levels of education, human rights must be addressed in order for them to
become a culture and for people to be aware that through citizenship they can fight for
the guarantee of their rights. Therefore, it is necessary to expand the reflections on
human rights, in view of the current growing neoliberal currents around the world.

Keywords: Human rights; citizenship; education; public policies; university.

RESUMEN
En el contexto social, se enumeran muchos conceptos para las relaciones
interpersonales, entre los cuales se destacan los derechos humanos. El objetivo de este
artículo es discutir conceptos, principios, acciones y estrategias de Políticas Públicas de
Derechos Humanos en el ambiente universitario y reflexionar sobre este tema tomando
como referencia discusiones y debates de estudiosos del tema. El ambiente universitario
es un lugar de extrema importancia en el debate sobre derechos humanos y ciudadanía,
dado que estas instituciones forman profesionales y docentes de las más diversas
áreas. No sólo dentro de las universidades, sino en todos los niveles de enseñanza, los
derechos humanos deben ser abordados para que se conviertan en una cultura y para
que las personas sean conscientes de que, a través de la ciudadanía, pueden luchar
por la garantía de sus derechos. Por lo tanto, es necesario ampliar las reflexiones sobre
los derechos humanos, en vista de las crecientes corrientes neoliberales actuales en
todo el mundo.

Palabras clave: Derechos humanos; ciudadanía; educación; políticas públicas;


universidad.

1. Introdução
No âmbito social, muitos conceitos são elencados para explicar fatos
humanos que são relevantes para a vida em sociedade, dentre estes se
destacam aqueles dos direitos humanos. Segundo Gorczevski e Tauchen
(2008), tratam-se de um conjunto de normas jurídicas superiores aos demais
direitos, e assim são consideradas por terem surgido antes mesmo do próprio
Estado, ou seja, nascem com o homem, sendo parte da natureza humana e de

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sua dignidade. São condições essenciais para a existência humana e exigíveis


independente de lugar, pois são universais.
As universidades brasileiras, em especial as públicas, possuem um
importante compromisso social, levando em consideração a sua inserção dentro
de seu contexto econômico, político, social e cultural, e os debates sobre sua
pertinência envolvem diversos temas. A Educação em Direitos Humanos (EDH),
exempli gratia, é um desses tópicos importantes. As universidades públicas têm
papel de excelência nesse ponto, visto que, dispõe entre seus pilares, a
possibilidade de formar, por meio do ensino, pesquisa e extensão, em direitos
humanos, se tornando uma referência para os demais níveis de ensino
(DIBBERN; CRISTOFOLETTI; SERAFIM, 2018).
As Políticas Públicas são entendidas como ações que dependem
principalmente do Estado e são oferecidas para garantir o bem estar da
sociedade. Dessa forma, as Políticas Públicas de Direitos humanos incidem
dentro do ambiente universitário, cuja atuação envolve a formação de opinião e
profissionalização de pessoal para a sociedade.
Logo, o objetivo deste artigo é discutir conceitos, primícias, ações e
estratégias de Políticas Públicas de Direitos humanos no âmbito Universitário e
refletir sobre este assunto tomando como referência discussões e debates de
estudiosos no tema.

2. Desenvolvimento
A reflexão será guiada a partir de cinco tópicos, a saber: O Conceito de
Cidadania de Benevides e Gorczevski & Tauchen e sua relação com Direitos
Humanos; Educação em Direitos Humanos para Clovis Gorczevski & Gionara
Tauchen e sua aplicação no ambiente universitário; Premissas para a
transformação dos direitos humanos em um projeto cosmopolita e o significado
de hermenêutica diatópica segundo o pensamento de Boaventura dos Santos;
As definições de Políticas Públicas de Direitos Humanos e de Educação em
Direitos Humanos de Pedro Demo e suas estratégias para o desenvolvimento de
tais políticas.

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3. O Conceito de Cidadania de Benevides e Gorczevski & Tauchen e sua


relação com Direitos Humanos.
Quando se fala em cidadania, lembra-se imediatamente do Estado, como
sendo uma condição necessária para que o homem possa exercê-la. Gorczevski
& Tauchen (2008) afirmam que o cidadão é o indivíduo que possui um vínculo
legal com o Estado, pois este fornece uma estrutura legal dando ao cidadão
direitos e deveres a serem cumpridos perante a sociedade e lhe confere ainda a
nacionalidade.
O homem exerce sua cidadania quando participa ativamente da vida
política da sociedade na qual está inserido. Essa participação se dá de diversas
formas, pode-se exemplificar pelo ato de votar, de poder reclamar judicialmente
sobre algo que lhe pôs em desvantagem perante o outro, de ter o direito de
reclamar e reivindicar seus direitos garantidos pela legislação.
Gorczevski & Tauchen (2008) fazem uma reflexão importante a respeito
da diferença entre cidadania e direitos humanos quando afirmam que estes são
supranacionais, pois fazem parte da própria natureza humana e vêm antes do
Estado, enquanto a cidadania corresponde a direitos que são concedidos da
sociedade política e estão vinculados a um Estado, que garantem e limitam tais
direitos.
Essa forte vinculação ao nacionalismo provoca uma reflexão importante
sobre o que se entende por igualdade. Tendo em vista que o Estado estabelece
a estrutura legal para que o homem tenha participação ativa na vida política de
uma sociedade, tem-se o entendimento de que todos são iguais perante a lei.
No entanto, isso acaba conflitando com a proposta de Direitos Humanos, pois a
ideia de igualdade acaba por fortalecer ainda mais as diferenças entre
privilegiados e excluídos.
Se há diferenças entre cidadania e direitos humanos, a maneira de
direcionar a educação para os dois conceitos também é distinta. Educar para a
cidadania tem por objetivo que o cidadão saiba exigir e se opor às ações
autoritárias e desproporcionais do Estado, através de uma conscientização dos
seus direitos e deveres como cidadão e da participação política ativa. Educar
para direitos humanos é ensinar a respeitar os direitos dos demais, nesse

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aspecto não é o Estado quem determina o que é certo ou errado, mas sim o
próprio ser humano. É uma educação voltada para a paz, para o amor. É uma
educação religiosa. (GORCZEVSKI & TAUCHEN, 2008).
Benevides (1994) também expressa a sua discordância em relação ao
nacionalismo ser um pré-requisito para a cidadania quando questiona: Quem faz
as leis? Quem são os iguais? Não há discriminação ao distinguir “pessoa” de
“cidadão”? Como é possível ampliar a abrangência da cidadania no contexto do
capitalismo e de uma sociedade de classes? A autora critica incisivamente o fato
da cidadania ser tratada de forma parcial e defende uma participação mais ativa
da população através dos mecanismos de democracia direta que são
referendados pela Constituição Federal de 1988, ou seja, referendo, plebiscito e
iniciativa popular. Além disso, defende a educação política do povo como
elemento indispensável da democracia e da cidadania.
Encontra-se aqui uma subdivisão importante a ser destacada dentro do
conceito de cidadania de Benevides (1994). A cidadania passiva, que é
outorgada pelo Estado, com a ideia moral de favor e da tutela. A cidadania ativa,
além de instituir o cidadão como titular de direitos e deveres, o coloca como
criador de direitos, abrindo novos espaços de participação política.
Nesse sentido, há uma ideia de complementaridade entre a
representação e a participação popular. O cidadão tem em seu favor a lei que
permite sua participação na política de maneira mais direta, através dos
mecanismos previstos na Constituição Federal de 1988, no entanto, a
representação tem a sua importância.
Há uma necessidade profunda da implantação de uma educação política
para a cidadania. Não terá efeito positivo algum, modificar o sistema eleitoral se
não houver conscientização, estímulo à participação popular e fornecimento de
informações para o povo. Os meios de comunicação de massa assumem aqui
um papel crucial no contexto da educação política voltada para a cidadania. Além
disso, não se deve esperar apenas pelo Estado, pois os interessados também
devem se transformar em novos agentes políticos (BEBEVIDES, 1994).
A semelhança entre os conceitos pontuados por Benevides e Gorczevski
& Tauchen se evidencia no fato de que para ambos os autores, a cidadania é a

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propriedade que o cidadão tem de participar na vida política do seu Estado e que
a educação política do povo é o principal, senão, o único caminho para que o
cidadão alcance espaço na vida política do seu Estado.
Os conceitos diferem na medida em que Gorczevski & Tauchen acreditam
que o Estado deve estabelecer e limitar até que ponto o cidadão tem direitos e
pode participar da vida política do seu Estado, enquanto Benevides defende que
haja uma maior participação da população na política, através de uma cidadania
participativa, o que leva a uma democracia semidireta, aumentando a
participação popular sem deixar de dar importância à representação,
trabalhando os dois sistemas com uma ideia de complementaridade.
Por fim, entende-se que nenhum dos conceitos estudados tem eficácia
sem que haja uma educação política eficiente e que forme cidadãos aptos a
participar da vida política do Estado em que estão inseridos.

4. Educação em Direitos Humanos para Clovis Gorczevski & Gionara


Tauchen e sua aplicação no ambiente universitário
Para que se possa ter uma ideia do que significa Educação em Direitos
Humanos, é necessário ter conhecimento a respeito dos graves problemas que
atingem a sociedade, tais como a fome, o desemprego, o trabalho infantil, a
degradação ambiental, a exploração sexual e outros direitos que ao serem
violados degradam a dignidade humana.
Comportamentos que degradam a humanidade e desrespeitam a sua
dignidade são históricos e culturais, são resultado de um contexto, de uma ordem
social injusta e que tem a miséria, exploração e ausência de valores em favor da
vida como alimento (GORCZEVSKI & TAUCHEN, 2008).
Quando se fala em cultura, refere-se aos costumes, ao dia a dia, àquilo
que é comum e usual na rotina de uma sociedade. A educação em direitos
humanos tem como foco disseminar uma cultura de amor, paz, de respeito aos
direitos humanos, de valorização da dignidade do homem e tolerância.
Em concordância com os autores, Benevides (2003) diz que a educação
em direitos humanos parte de três pontos principais, o primeiro deles é de que
trata-se de uma educação continua e universal, o segundo indica seu foco na

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mudança, e o terceiro é de que ela ensina valores e não apenas conhecimentos


técnicos de determinado assunto. Além disso, aqueles que estão envolvidos no
processo de ensino também devem aprender, caso contrário, não será
educação, muito menos, educação em direitos humanos.
A educação em direitos humanos e para a paz é uma utopia possível. Se
a violência se mostra com várias vertentes, as iniciativas de paz também devem
ter múltiplas formas de combate, de maneira a transformar uma realidade que
outrora rejeita os direitos do homem e a sua dignidade (GORCZEVSKI &
TAUCHEN, 2008).
Há uma relação muito clara entre a educação em direitos humanos e a
universidade, especialmente se for uma instituição pública, pois trata-se,
basicamente, da sua essência. Pensar o sentido da universidade nos leva a
discutir sobre o sentido da ciência no século XXI. Nos séculos XVI e XVII
acreditava-se que a ciência tinha como finalidade a felicidade do homem, no
entanto, essa promessa moderna de felicidade excluía a maior parte da
humanidade. Os agraciados eram apenas alguns poucos grupos considerados
o padrão humano, que vivia as custas do sofrimento da classe trabalhadora, que
eram vistos como inferiores (CARDOSO, 2018).
Com a globalização e uma maior disseminação de informações, fica
evidente o enorme abismo existente entre as classes mais favorecidas e a
grande massa de trabalhadores. Isso ajuda para que as pessoas passem a tomar
consciência do quanto são exploradas e de quais são os seus direitos.
Nesse contexto, a Universidade Pública, lugar onde reside a ciência
moderna, está contaminada por esta crise. Assim, essas instituições precisam
fundamentar seus princípios éticos na democracia participativa, além disso, é
necessário que a ciência esteja em sintonia com os outros saberes e com a
inclusão profunda que torna os excluídos a própria universidade. Trata-se de
uma resistência à grande onda neoliberal que é uma realidade nas instituições
públicas e na sociedade como um todo, tornando igual o que é diverso
(CARDOSO, 2018).
Observa-se nesse momento que cada instituição tem o seu modo de
incorporar os direitos humanos como pauta institucional, levando em

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consideração as suas particularidades. Não há um movimento uniforme nas


diversas regiões do Brasil. Geralmente as iniciativas partem de professores
comprometidos com os direitos humanos, ao invés das instituições em si. Há
dificuldade em estabelecer espaços institucionais para compartilhar experiências
e projetos. Com isso, percebe-se a existência de experiências nesse sentido que
podem ser divididas em quatro grupos: 1) a inclusão da disciplina específica de
direitos humanos como obrigatória ou facultativa na grade curricular da
graduação ou pós-graduação; 2) inclusão de disciplinas correlatas a área de
Direitos Humanos nos cursos de Ciências Sociais, Relações Internacionais e
Direito; 3) a incorporação da perspectiva de direitos humanos em disciplinas
tradicionais dos cursos jurídicos e; 4) a criação de cursos de especialização ou
extensão universitária em Direitos Humanos, com enfoque interdisciplinar e para
diversas áreas (PIOVESAN, 2005).
Logo, a educação em Direitos Humanos é um desafio para as instituições
de ensino superior, no entanto, é evidente a importância dessas instituições na
implementação de uma cultura de direitos humanos na sociedade e na formação
de profissionais conscientes da necessidade de evidenciar e priorizar a
dignidade humana.

5. Premissas para a transformação dos direitos humanos em um projeto


cosmopolita e o significado de hermenêutica diatópica segundo o
pensamento de Boaventura dos Santos.
O grande fato que motiva uma discussão sobre a transformação dos
direitos humanos em um projeto cosmopolita é a globalização. Costuma-se
associar este fenômeno apenas à questão econômica, no entanto, os direitos
humanos independem de lugar e devem ser disseminados por todo o planeta.
Para Santos (1997) não existe um conceito único de globalização, na
realidade, acredita-se que ela existe de várias formas e estas variam de acordo
com as relações sociais praticadas em cada local. É um fenômeno, que para ser
conceituado de uma forma mais ampla, deve ser feito de maneira processual e
não isolada.
Santos (1997) complementa citando o seu conceito de globalização, ou

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seja, é um processo pelo qual determinada condição ou entidade local consegue


romper as suas fronteiras e disseminar a sua influência a todo o mundo e, ao
ultrapassar os seus limites territoriais, consegue determinar como local outra
condição social ou entidade adversária.
O Cosmopolitismo consiste na possibilidade que as classes ou grupos
sociais subordinados têm de se organizarem transnacionalmente em defesa de
interesses comuns e de utilizarem a seu favor as diversas maneiras de
interações transnacionais que foram desenvolvidas pelo sistema mundial
(SANTOS, 1997). Trata-se de um modelo de globalização contra-hegemônica.
Nos últimos anos, a ideia de disseminar os direitos humanos sob um
pensamento cosmopolita tem sido bastante valorizada. Tendo em vista a
iniciativa de milhares de pessoas, mesmo sabendo dos riscos que podem correr,
lutam pelos direitos de grupos subordinados e oprimidos por países
hegemônicos. É nesse contexto que surge, como tarefa central desses
movimentos de políticas emancipatórias, a necessidade de transformar a
conceitualização e prática dos direitos humanos em um projeto cosmopolita.
Para que essa transformação ocorra, segundo Santos (1997), é preciso
considerar as seguintes premissas: 1) a superação do debate sobre
universalismo e relativismo, pois os dois conceitos são prejudiciais para uma
concepção emancipatória de direitos humanos; 2) todas as culturas possuem
concepções de dignidade humana, no entanto, nem todas aplicam em termos
de direitos humanos, por isso, é importante identificar preocupações
semelhantes entre diferentes culturas; 3) todas as culturas são incompletas e
problemáticas nas suas concepções de dignidade humana e isso ocorre devido
a existência de diversos tipos de cultura, pois se as culturas fossem completas,
existiria apenas uma.
Dessa forma, é necessário disseminar ao máximo a consciência de
incompletude das culturas para que se tenha sucesso na concepção da cultura
de direitos humanos; 4) todas as culturas têm versões diferentes de dignidade
humana; 5) toas as culturas tendem a distribuir as pessoas e os grupos sociais
entre dois princípios competitivos de pertença hierárquica: O princípio da
igualdade, que opera através de hierarquias entre unidades homogêneas. O

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princípio d diferença, que opera através da hierarquia entre identidades e


diferenças consideradas únicas, como é o caso de etnias, sexos, religiões,
orientações sexuais e assim por diante (SANTOS, 1997)
Essa discussão nos faz refletir a respeito da incompletude das culturas.
Cada cultura correspondem aos lugares comuns retóricos mais abrangentes de
cada cultura e, nesse contexto, surge a Hermenêutica Diatópica de Boaventura
dos Santos, que parte do princípio de que, por mais fortes que sejam de cada
cultura, estes são tão incompletos quanto a cultura a qual pertence.
O objetivo da Hermenêutica Diatópica é ampliar ao máximo a consciência
dessa incompletude, através de um diálogo que se desenvolve analisando outra
cultura simultaneamente. É nesse contexto que se justifica o seu caráter
diatópico. Além de um conhecimento diferente, requer que esse conhecimento
seja criado através de um processo de criação diferente. Exige uma produção
de conhecimento coletiva, interativa, intersubjetiva e reticular.
É importante destacar que a condição mais importante para o conceito de
Hermenêutica Diatópica é o reconhecimento das incompletudes das culturas, no
entanto, em seu caráter emancipatório, o multiculturalismo representa um risco.
Para prevenir este desvio é necessário considerar que das diferentes versões de
cada cultura deve ser escolhida aquela apresenta uma característica mais
voltada para a reciprocidade, ou seja, a que dá mais prioridade ao
reconhecimento do outro.
Assim, a proposta de Boaventura dos Santos ao sugerir uma
Hermenêutica Diatópica em relação aos direitos humanos tem como objetivo
fundamental transformar os direitos humanos em uma política cosmopolita, que
favoreça a disseminação mundial dos direitos humanos, de forma que estes
possam ser traduzidas nas mais diversas linguagens culturais a fim de garantir
e valorizar a dignidade humana.
As universidades têm papel fundamental nesse sentido, tendo em vista o
seu papel de disseminar o conhecimento e formar profissionais das mais
diversas áreas e culturas, tornando-se assim, multiplicadores de conhecimentos
e, porque não dizer, dos direitos humanos.

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6. As definições de Políticas Públicas de Direitos Humanos e de Educação


em Direitos Humanos de Pedro Demo e suas estratégias para o
desenvolvimento de tais políticas.
Os direitos humanos são um resultado da cidadania, esta que nada mais
é do que o direito a ter direitos. Para que haja algum debate a respeito de direitos
humanos é necessário avançar em cidadania. Para isso, é necessário
desenvolver um processo histórico de conquistas, pois tais direitos não são
decretados, mas sim, conquistados ao longo do tempo.
Um conceito importante a ser destacado é o que Pedro Demo chama de
“competência humana”. Nesse ponto Demo (2001) afirma que essa competência
é de teor político, ou seja, não somente a pobreza material é obstáculo para a
garantia de direitos humanos, mas também a pobreza política. O autor entende
que essa pobreza diz respeito a utilização do homem como massa de manobra,
onde encontra o seu extremo de indignidade na ignorância, ou seja, é a situação
em que o pobre é tão pobre que sequer consegue compreender que é pobre.
Assim, a base da pobreza está mais no contexto político de exclusão do que na
carência material, porque ser excluído está mais ligado a não ser do que não ter.
Pedro Demo destaca a importância de compreender que os direitos
humanos, mesmo tendo como preceito o fato de serem direitos universais, são
naturalmente diversos ou culturalmente contextualizados. Como exemplo,
verifica-se o caso da China e dos países árabes, que possuem as suas
particularidades culturais.
Para que se tenha Políticas Públicas de Direitos Humanos é necessário
entender que o ser humano não pode ter o mercado como referência principal,
mas sim o direito ao desenvolvimento pleno. O papel do mercado não deve ser
subestimado, no entanto, ele é meio. A concentração de renda não é uma
consequência inevitável da dinâmica do mercado, ela é sim uma manipulação
grosseira do mercado.
Entende-se que a educação em direitos humanos está muito voltada a
uma educação para a cidadania. Desde a base é necessário a compreensão de
que sem a cidadania os direitos humanos caem por terra. De modo geral, há
concordância no entendimento de que o papel da educação básica pública e

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gratuita é fundamental, devido à experiência histórica da maioria das nações,


sobretudo as desenvolvidas. O direito de ter direito é introduzido mais facilmente
em populações detentoras de níveis mínimos de educação e consciência crítica.
As universidades têm papel fundamental nesse sentido, pois formam
profissionais e professores que serão a base intelectual de uma sociedade e
terão a capacidade de disseminar seus conhecimentos em prol de uma maior
conscientização da cidadania e dos direitos que cada pessoa tem perante o
Estado.
Assim, Demo (2001) indaga que para que se tenha direitos humanos
como política pública integrada e estratégica acolhendo as seguintes práticas: 1.
A constituição de um Conselho de Direitos Humanos que não seja vinculado a
nenhum ministério, nem mesmo da área social, e que comprometa diretamente
a figura do Presidente da República, a Secretaria Executiva ou figura
equivalente; 2. Substituir a ideia de conselhos separados (da Mulher, da Criança
e do Adolescente, Penitenciário) para a ideia de câmaras do Conselho de
Direitos Humanos (CDH), tendo este a força de decisão e implementação; 3. A
constituição do CDH precisa envolver a autoridade principal do Estado, além
disso é preciso ser composta por uma maioria significativa da sociedade civil. A
direção maior precisa estar no espaço público; 4. A base legal do CDH precisa
ser revista. É urgente estabelecer uma legislação moderna sobre direitos
humanos e seus crimes, além de definir um estilo de atuação que traga mais
eficácia, incluindo crimes contra o próprio CDH.
Pedro Demo também reforça a necessidade de garantir uma educação
básica de qualidade, pois acredita que a política educacional básica é a
instrumentação pública mais eficaz para implantação e funcionamento dos
direitos humanos.
Assim, a cidadania é o ponto principal para que se possa ter direitos
humanos. O direito a ter direito é fundamental para que as pessoas entendam o
contexto em que vivem e aquilo que de maneira nenhuma lhe pode ser furtado
pelo Estado ou por quem detenha o poder, seja ele político ou econômico. Essa
cidadania é introduzida na sociedade, principalmente, por meio de uma
educação básica de qualidade. A educação é fundamental no contexto da

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cidadania em todos os seus níveis, pois sempre estará presente como aspecto
fundamental da vida humana em todas as suas fases.

7. Considerações Finais
Diante do exposto, conclui-se que o ambiente universitário é um local de
extrema importância no debate sobre direitos humanos e cidadania, tendo em
vista que essas instituições formam profissionais e professores das mais
variadas áreas. Não só dentro das universidades, mas em todos os níveis de
ensino, os direitos humanos devem ser abordados a fim de que se tornem uma
cultura e para que as pessoas tenham consciência de que através da cidadania,
podem lutar pela garantia de seus direitos.

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