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AULA 9 – REVISÃO 1

Nestas aulas, revisaremos os conteúdos de Sintaxe da aula 8 e complementaremos os


nossos estudos os seguintes temas:
 Tipos de sujeito;
 Tipos de objeto: objeto direto e objeto indireto.

Funções sintáticas dos termos da oração: tipos de sujeito


SUJEITO
 Definição sintática: termo da oração com o qual o verbo concorda em pessoa (1ª, 2ª
ou 3ª) e em número (singular ou plural).
 Definição semântica: Termo sobre o qual recai a informação do predicado.

PREDICADO
 É o trecho da oração que apresenta uma declaração a respeito do sujeito. O predicado
sempre contém verbo.

Posição do sujeito

 O sujeito pode aparecer no início, no meio, ou no fim da oração.

1. 1ª vítima de coronavírus morre em São Paulo. (Ordem direta dos termos)

2. Em São Paulo, homem de 62 anos morre por conta do coronavírus. (Ordem indireta
dos termos)

3. Morre, em São Paulo, 1ª vítima de coronavírus. (Ordem indireta dos termos)

Funções sintáticas dos termos da oração: termos ligados ao verbo

1. Complementos verbais – os tipos de objetos


Os complementos verbais, como o nome indica, completam ou integram o sentido dos
verbos transitivos. Esses complementos podem ou não vir evidenciados nos enunciados, mas é
importante lembrar: mesmo que não estejam evidentes, os complementos estão sempre
pressupostos no enunciado.
◦ Exemplo:

1) Alguns jovens bebem cervejas em festas.


2) Alguns jovens bebem muito em festas.

No exemplo 1, o complemento do verbo "beber" é "cervejas" e ele vem explicitado no


enunciado. Os termos "em festas" atuam como adjunto adverbial de lugar.
No exemplo 2, o complemento do verbo "beber" não vem explicitado, mas pressupõe-se
que os jovens bebem algo. O termo "muito" atua como adjunto adverbial de intensidade.

 Tipos de complementos verbais

a). Objeto Direto: é o termo sintático que, sem ser iniciado por preposição, associa-se a um
verbo transitivo, completando-lhe o sentido.

Repare que, no exemplo acima os termos "Olimpíadas de Tóquio" se ligam ao verbo adiar para
completar o seu sentido.

b). Objeto Indireto: é o termo sintático que, por meio de uma preposição, associa-se a um
verbo transitivo, completando-lhe o sentido.

Repare que, no exemplo acima os termos “com isolamento total" se ligam ao verbo concordar
para completar o seu sentido.

LEITURA COMPLEMENTAR

Classificação dos tipos de sujeito

1. Sujeito Determinado: é aquele que, na oração, aparece materialmente representado por


palavra(s) ou que, no contexto do ato de comunicação, pode ser identificado pelo
ouvinte/leitor.

Há três tipos de classificações para o sujeito determinado:

SUJEITO DETERMINADO

SIMPLES COMPOSTO ELÍPTICO/DESINENCIAL/OCULTO


Não aparece explícito, mas pode ser
Apresenta apenas um
Apresenta dois identificado pelo ouvinte/leitor por meio do
núcleo, isto é, uma
ou mais núcleos contexto ou da flexão de número/pessoa do
única palavra principal
verbo.
2. Sujeito Indeterminado: a indeterminação do sujeito é um recurso linguístico de que o
enunciador dispõe quando não pode ou, por algum motivo, não quer identificar o sujeito da
oração. Existem duas estruturas sintáticas por meio das quais é possível indeterminar um
sujeito:

SUJEITO INDETERMINADO

Oração com verbo na 3ª pessoa Oração com verbo na 3ª pessoa do singular +


do plural SE
Usar o verbo na 3ª pessoa do plural sem Usar o verbo na 3ª pessoa do singular,
associá-lo a um elemento que funcione associado à palavra SE atuando como índice de
como sujeito. indeterminação do sujeito.

3. Oração sem sujeito (sujeito inexistente): uma oração é sem sujeito quando não apresenta
nenhum elemento ao qual o predicado possa ser atribuído. O que importa, nesse tipo de
oração, é o fato verbal em si.

Verbo
Emprego Exemplos de oração sem sujeito
Impessoal
• Não havia erros no documento.
• como sinônimo de "existir"
• Já houve muitas guerras no
• como sinônimo de
HAVER Brasil.
"acontecer"
• Há alguns dias o fiscal esteve
• Indicando tempo passado
aqui.

Quando usado na indicação de • Faz seis meses que o conheci.


FAZER
tempo e fenômenos da natureza • Faz noites muito frias aqui.

Quando usado em expressões de


SER • É outono.
tempo

CHOVER,
VENTAR,
Quando usado na indicação de • Choveu muito ontem.
NEVAR,
AMANHECER, fenômenos da natureza. • Amanhece mais cedo no verão.
etc.
Orações sem sujeito só ocorrem com um pequeno grupo de verbos que têm uma
particularidade sintática: não admitem sujeito, por isso, não estabelecem concordância verbal
e, dessa forma, apresentam-se sempre na 3ª pessoa do singular. Esses verbos, denominados
impessoais, são principalmente os seguintes:

EXERCÍCIOS DE REVISÃO
Leia o poema de Alberto de Oliveira para responder às questões 01 e 02.
O MURO
É um velho paredão, todo gretado1,
Roto2 e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E num pouco de musgo em cada fenda.

Serve há muito de encerro a uma vivenda3;


Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata,


E em cheio brilha; a solidão se estrela
Toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua,


Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
(Parnasianismo, 2006.)
1
gretado: rachado.
2
roto: danificado.
3
vivenda: pequena casa de campo.

1. (SANTA CASA 2018) O muro, personificado no poema,


a) distrai-se de sua missão com atividades alheias a ela.
b) declara ter consciência do trabalho que incessantemente executa.
c) questiona o sentido de permanecer sempre no mesmo lugar.
d) cumpre com altivez, durante muito tempo, a função a ele atribuída.
e) dissimula, com sua aparência, sua essência imutável.

2. (SANTA CASA 2018) Quanto aos tipos de complementos requeridos, o verbo “deixou” (1ª
estrofe) é semelhante ao verbo da oração:
a) O filho daquele casal fica feliz em qualquer lugar.
b) Maria Cristina chutou com força a parede e o medo.
c) Quarta-feira da semana passada não choveu muito.
d) Emprestei por dois dias minha namorada a um inimigo.
e) Antonio Carlos leu milhares de livros ruins e inúteis.

Para responder à questão 3, leia a “Lira XVIII” da obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio
Gonzaga.

Não vês aquele velho respeitável,


Que, à muleta encostado,
Apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
O tempo arrebatado,
Que o mesmo bronze gasta!

Enrugaram-se as faces e perderam


Seus olhos a viveza;
Voltou-se o seu cabelo em branca neve;
Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
Nem tem uma beleza
Das belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,


Daqui a poucos anos,
Que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão, e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
Que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice


Muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada:
Descansarei o já vergado corpo
Na tua mão piedosa,
Na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvem


Os chuveiros não lance,
Irei contigo ao prado florescente:
Aqui me buscarás um sítio ameno,
Onde os membros descanse,
E ao branco Sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo


Os olhos por aquela
Vistosa parte, que ficar fronteira,
Apontando direi: Ali falamos,
Ali, ó minha bela,
Te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,


Nascidas de alegria;
Farão teus olhos ternos outro tanto;
Então darei, Marília, frios beijos
Na mão formosa e pia,
Que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente


Meu corpo suportando
Do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
Quem, sentida, chorando,
Meus baços olhos cerra.

(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 2002.)

3. (FMJ 2020) O verso em que o objeto direto e o objeto indireto estão antepostos ao verbo é:
a) “Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,” (2ª estrofe)
b) “Apenas mal se move e mal se arrasta?” (1ª estrofe)
c) “Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,” (1ª estrofe)
d) “Mas sempre passarei uma velhice” (4ª estrofe)
e) “Aqui me buscarás um sítio ameno,” (5ª estrofe)

Leia o trecho de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, para responder à questão 4.
Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e
regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos
do aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo
sua predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os
povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume
relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os
processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.
Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa
amplitude e, onde quer que se erija¹ um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe
transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos,
dos horizontes distantes.
O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não
o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, que, no entanto,
mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante,
tem sentido bem nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte maior do
que o todo.
Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do
tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar, e,
inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro — audácia,
imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem. Por outro lado, as energias e
esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as
energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de
rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes
parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador. (Raízes do Brasil, 2014.
Adaptado.)

¹ erigir: erguer.

4. (SANTA CASA 2021) Verifica-se o emprego de voz passiva no seguinte trecho do primeiro
parágrafo:
a) “Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador.”
b) “Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam
diversamente as atividades dos homens.”
c) “Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua predominância, na
distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores.”
d) “Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão
capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos
intermediários.”
e) “Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.”

Para responder às questões 5 e 6, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei
D. João IV em 4 de abril de 1654.
No fim da carta de que V. M. 1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a
conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.
Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por
obedecer direi toscamente o que me parece.
Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar
dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o
provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada
tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este
governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual
é maior tentação, se a (1)_______________, se a (2)________________. Tudo quanto há na
capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-
de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando
bem as indústrias.
Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos
seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a
outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas
necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei
uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos
nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e,
consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que
eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus
todos os dias que me os leve também.”
São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não
têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos;
e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir.
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se
foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no
dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião
deste serviço se cometem.
(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

1
V. M.: Vossa Majestade.

5. (UNESP 2020) Considerando o contexto, as lacunas numeradas no terceiro parágrafo do


texto devem ser preenchidas, respectivamente, por
a) humildade e vaidade.
b) necessidade e cobiça.
c) miséria e inveja.
d) preguiça e ganância.
e) avareza e luxúria.

6. (UNESP 2020) Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto
direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.
(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)

Antônio Vieira recorre a esse recurso expressivo em:


a) “Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças,
respondeu que ambos lhe descontentavam” (3.° parágrafo)
b) “e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me” (4.° parágrafo)
c) “e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se
lhe vão logrando bem as indústrias” (3.° parágrafo)
d) “São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas” (5.° parágrafo)
e) “Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos” (2.° parágrafo)
Leia o trecho inicial do ensaio “É possível esquecer o futuro?”, de Frédéric Gros, para
responder às questões 7 e 8.
“O futuro”, escreve Valéry, “não é mais o que era.” A beleza enigmática dessa frase
provém, acredito, de um movimento de superposição e mesmo de confusão entre as
dimensões
do tempo. Classicamente, poderíamos dizer: o passado era, o presente é e o futuro será. Na
frase de Valéry, as dimensões se misturam: o futuro, o que será amanhã, diz ele, não é mais,
hoje, o que era outrora. O futuro de hoje não se assemelha mais ao futuro de ontem. Assim,
quando Valéry escrevia essa frase, era para testemunhar o sentimento de uma mudança geral
e profunda do mundo no qual ele vivia. A frase completa, recordo, é: “Tudo muda, mesmo o
futuro não é mais o que era.” A ideia, portanto, é que às vezes há transformações tão
consideráveis que até o rosto do futuro é alterado. Hoje também se poderia dizer que
mudamos de mundo e de referências. Hoje também mudamos de futuro. Mutação do futuro,
portanto.
O futuro sempre foi vivido e pensado como o lugar das incertezas. Aristóteles, por
exemplo, falava dos futuros contingentes. Evidentemente, muitos colocaram a questão de
saber se essa incerteza estava inscrita nas coisas ou se era apenas o fruto da nossa ignorância.
Estará o futuro escrito em alguma parte como uma fatalidade escondida aos olhos dos
homens? Ou será que, de fato, nada está previsto de antemão? Seja como for, é essa incerteza
que produz, na alma humana, uma oscilação incessante entre a esperança e o temor, uma
agitação perpétua entre a confiança e o medo.
(Adauto Novaes (org.). Mutações: o futuro não é mais o que era, 2013.)

7. (FMJ 2019) Para o autor do ensaio, ao escrever que “o futuro não é mais o que era”, Valéry
busca chamar a atenção para
a) a arrogância humana em prever o futuro.
b) as transformações sofridas pelo mundo.
c) a fugacidade do tempo no mundo.
d) o estado de decadência do mundo.
e) as incertezas que assolam o passado.

8. (FMJ 2019) Na frase “Tudo muda, mesmo o futuro não é mais o que era.” (1º parágrafo), o
trecho sublinhado pode ser reescrito, sem
prejuízo para o seu sentido original, do seguinte modo:
a) todavia o futuro não é mais o que era.
b) porque o futuro não é mais o que era.
c) para que o futuro não seja mais o que era.
d) inclusive o futuro não é mais o que era.
e) caso o futuro não seja mais o que era.

Leia o poema de Fernando Pessoa para responder à questão 9.

Cruz na porta da tabacaria!


Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.


Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.


Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,


E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,


Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.
(Obra poética, 1997.)

9. (UNIFESP 2021) Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o
objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.
(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)

O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso


a) “Todos os dias o via. Estou” (2ª estrofe)
b) “E isto diz que é morte aquilo onde estou.” (4ª estrofe)
c) “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5ª estrofe)
d) “Mas ao menos a ele alguém o via,” (5ª estrofe)
e) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1ª estrofe)

Para responder às questões 10 e 11, leia o trecho do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto
Freyre.

Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina, santa
casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante na
economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos
ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores. Às vezes
guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à
baiana de teteias, balangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro.
Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e
roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; mas
sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro não devia ter luxo”. Com efeito,
chegou a proibir-se, nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos negros.
Por segurança e precaução contra os corsários, contra os excessos demagógicos,
contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos
seus zelos exagerados de privativismo, enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo
modo que os mortos queridos. Os dois fortes motivos das casas-grandes acabarem sempre
mal-assombradas com cadeiras de balanço se balançando sozinhas sobre tijolos soltos que de
manhã ninguém encontra; com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores;
com almas de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo
padres-nossos, ave-marias, gemendo lamentações, indicando lugares com botijas de dinheiro.
Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro
que com padres, viúvas e até escravos lhes tinham entregue para guardar. Sucedeu muita
dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita
do depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-
se depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu-me lá alguma cousa para
guardar?”
Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua
madrinha na casa-grande de Maçangana, morreu sem saber que destino tomara a ourama
para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em algum desvão de parede.
[…] Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontrado, em
demolições ou escavações, botijas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de
Carvalho, na Bahia, achou-se, num recanto de parede, “verdadeira fortuna em moedas de
ouro”. Noutras casas grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, justiçados
pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades.
Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar no
jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua justiça patriarcal. Não é de admirar.
Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos. Um desses
patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o filho mantinha relações com a mucama de
sua predileção, mandou matá-lo pelo irmão mais velho.
(In: Silviano Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.)

10. (UNIFESP 2019) “Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas
capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Bene -
dito; mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que ‘negro não devia ter luxo’.” (1º
parágrafo)

Em relação à frase anterior, a frase sublinhada constitui uma


a) condição.
b) ratificação.
c) conclusão.
d) redundância.
e) ressalva.

11. (UNIFESP 2019) Ao se transpor a frase “Às vezes guardavam-se joias nas capelas,
enfeitando os santos.” (1º parágrafo) para a voz passiva, o termo sublinhado assume a
seguinte forma:
a) seriam guardadas.
b) fossem guardadas.
c) foram guardadas.
d) eram guardadas.
e) são guardadas.
Examine a tira do cartunista argentino Quino e responda à questão 12.

(Cada um no seu lugar, 2005.)

12. (SANTA CASA 2021) a) O que a reação dos personagens ao texto do folheto publicitário
indica?
b) Considerando o contexto, reescreva o texto do folheto publicitário na voz ativa.
Leia o ensaio de Eduardo Giannetti para responder à questão 13.
Ardil1 da desrazão
Imagine uma pessoa afivelada a uma cama com eletrodos colados em suas têmporas.
Ao se girar um botão situado em local distante, a corrente elétrica nos eletrodos aumenta em
grau infinitesimal, de modo que o paciente não chegue a sentir. Um hambúrguer gratuito é
então ofertado a quem girar o botão. Ocorre, porém, que, quando milhares de pessoas fazem
isso — sem que cada uma saiba das ações das demais —, a descarga elétrica gerada é
suficiente para eletrocutar a vítima. Quem é responsável pelo quê? Algo tenebroso foi feito,
mas de quem é a culpa? O efeito isolado de cada giro do botão é, por definição, imperceptível
— são todos “torturadores inofensivos”. Mas o efeito conjunto é ofensivo ao extremo. Até que
ponto a somatória de ínfimas partículas de culpa se acumula numa gigantesca dívida moral
coletiva? — O experimento mental concebido pelo filósofo britânico Derek Parfit dá o que
pensar. A mudança climática em curso equivale a uma espécie de eletrocussão da biosfera.
Quem a deseja? A quem interessa? O ardil da desrazão vira do avesso a “mão invisível” da
economia clássica. O aquecimento global é fruto da alquimia perversa de incontáveis ações
humanas, mas não resulta de nenhuma intenção humana. E quem assume — ou deveria
assumir — a culpa por ele? Os 7 bilhões de habitantes da Terra pertencem a três grupos: o
primeiro bilhão, no cobiçado topo da escala de consumo, responde por 50% das emissões de
gases-estufa; os 3 bilhões seguintes por 45%; e os 3 bilhões na base da pirâmide (metade sem
acesso a eletricidade) por 5%. Por seu modo de vida, situação geográfica e vulnerabilidade
material, este último grupo – o único inocente – é o mais tragicamente afetado pelo “giro de
botão” dos demais.
(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)
1
ardil: cilada.

13. (SANTA CASA 2021) a) O autor emprega uma expressão entre aspas que pode ser
considerada um exemplo de paradoxo. Que expressão é essa? Justifique sua resposta.
b) Identifique os respectivos sujeitos das frases “de quem é a culpa?” e “A quem interessa?”.
Considere o trecho inicial de uma crônica de Carlos Drummond de Andrade e responda à
questão 14.
Você me pede notícias do Rio e dos acontecimentos, mas eu só posso contar-lhe de
minha praia. Não pense que comprei uma: a que eu habito é de todos, e cada um a possui a
seu modo. Questões de limites, não as temos; vinte centímetros de separação entre as
barracas dá para que os vizinhos se ignorem oficialmente, como se fossem antípodas. Com o
evolver do sol, os círculos de sombra se vão convertendo em elipses, o proprietário vê fugir-lhe
a propriedade, vai afinando, afinando, mas ele não faz um gesto para detê-la. Nosso bem
maior é o ar, e sua disponibilidade; e em conexão com o ar, a massa líquida em que abrimos
apenas um sulco de homem, logo fechado. Ar, água e areia: eis nosso reino, que dá para
milhões.
A bolsa e a vida, 2008.

14. (SANTA CASA 2020) a) Em “o proprietário vê fugir-lhe a propriedade”, a que elementos do


contexto o autor se refere, respectivamente, com proprietário e propriedade? Como eles se
articulam nessa pequena cena?
b) “Não pense que comprei uma: a que eu habito é de todos, e cada um a possui a seu modo.”
No segmento sublinhado há duas orações. Qual é o sujeito de cada uma delas?
Leia o texto de Marilena Chaui para responder à questão 15.
Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer
a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que
ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e as
opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de
modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar
delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber.
A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos
ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas
naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para
pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas
situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de
perplexidade e somos tomados pela insegurança.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma
coisa que nos enche de espanto e de admiração, não sabemos o que pensar ou o que fazer
com a novidade que vimos ou ouvimos porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos
não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade,
nos fazem querer saber o que não sabíamos, nos fazem querer sair do estado de insegurança
ou de encantamento, nos fazem perceber nossa ignorância e criam o desejo de superar a
incerteza. Quando isso acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da
verdade.
(Convite à Filosofia, 2004. Adaptado.)

15. (SANTA CASA 2018) a) “Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados
pela insegurança.”

Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período


resultante, a última oração expresse uma consequência. Faça ajustes, se necessário.

b) “O espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não sabemos e criam o desejo de
superar a incerteza.”
Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período
resultante, a oração centrada no verbo “criar” expresse uma finalidade. Faça ajustes, se
necessário.

GABARITO

EXERCÍCIOS DE REVISÃO
1. D
2. D
3. C
4. B
5. B
6. E
7. B
8. D
9. D
10. E
11. D
12. a) Segundo o folheto publicitário exposto por uma das personagens, os produtos
oferecidos pela firma seriam produzidos com material de primeira qualidade. A reação jocosa
das personagens revela o descrédito da informação.
b) Transpondo o texto do folheto publicitário para a voz ativa, tem-se: Fabricamos nossos
produtos com materiais selecionados de primeira qualidade.
Obs: Vale ressaltar que, no texto original, não há agente da passiva expresso, porém o
pronome possessivo “nossos” indica o sujeito agente.
13. a) “Torturadores inofensivos” configura paradoxo, na medida em que projeta um sentido
incongruente, desalinhado com a lógica habitualmente aceita. Isso porque se espera que um
torturador produza, necessariamente, uma ação ofensiva.
b) O sujeito de “De quem é a culpa?” é simples, “a culpa”. Já em “A quem interessa?”, o sujeito
é desinencial (oculto / elíptico), em 3ª pessoa do singular, fazendo referência à expressão
anteriormente mencionada “a mudança climática em curso”.
14. a) O termo proprietário refere-se a todos, aos frequentadores da praia, vizinhos uns dos
outros. O termo propriedade refere-se aos círculos de sombra, formados pelas barracas de
cada um, ou seja, ao espaço que cada pessoa possui. Nessa pequena cena, as propriedades são
fluidas, pois conforme avança o dia o movimento do sol diminui aos poucos o espaço na
sombra de cada proprietário.
b) Na oração “que eu habito”, o pronome eu é sujeito do verbo habito. Na outra oração “a... é
de todos”, o pronome a é o sujeito do verbo é e refere-se à praia.
15. a) Pode-se reescrever o trecho, explicitando um valor consecutivo, da seguinte maneira:
“temos tantas dúvidas, ficamos tão cheios de perplexidade que somos tomados pela
insegurança”.
b) Estabelecendo-se uma relação de finalidade na última oração, teremos a seguinte
construção: “o espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não sabemos para que
criem o desejo de superar a incerteza”.

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