Lá no fundo do bosque, lá onde crescem as urzes e as rosas bravas, fica a
Coelhândia, uma movimentadíssima cidadezinha de coelhos. E bem no centro da cidade está uma cabana – uma graça de cabana, toda feita de raminhos, com telhado de sapé – conhecida por todos como a casa do Bisavô Coelhão. O Bisavô Coelhão, como todo coelhinho sabe, foi o fundador da cidade. E que coisa bonita, que coisa importante ser fundador de uma cidade! Ele gostava de contar aos coelhinhos, que estavam sempre em volta dele, como ele e sua mulher, Dona Coelhão, quando ainda eram muito jovens, tinham encontrado exatamente aquele lugar – todo coberto de urzes – e lá tinham construído, eles mesmos, aquela cabana. Foi uma vida muito, muito feliz a deles, bem lá no fundo do bosque, criando os filhinhos na cabana toda feita de raminhos. E, é claro, Papai Coelhão, como era chamado naqueles tempos, estava sempre ocupado, muito ocupado, decorando ovos de Páscoa. Quando as crianças cresceram, elas começaram a ajudar o Papai Coelhão a pintar ovos de Páscoa. Logo, logo, estavam grandes e já tinham suas próprias famílias. Foi então que começaram a construir uma fileira de casas em torno da primeira cabana. Com o tempo, uma cidade se formou e ela recebeu o nome de Coelhândia. Então, o Vovô Coelhão passou a procurar outras coisas para fazer. Ele ensinou a criançada a pintar flores no bosque. E todos foram experimentar novos tons de verde nos musgos e samambaias. Eles deixaram o bosque tão lindo que o Povo dizia: - O solo, aqui, deve ser muito, muito rico! Mas os coelhinhos sabiam que tudo aquilo era obra do Vovô Coelhão. Passaram-se anos. Nesse tempo, havia ainda mais famílias em Coelhândia. E o Vovô Coelhão se tornou o Bisavô Coelhão. Mas agora ele tinha tanta ajuda, que saiu à procura de mais coisas para fazer. Foi daí que ele ensinou aos coelhinhos como pintar as folhas do outono. Através dos bosques, eles saltavam com seus pincéis, broxas e baldes. E o Povo comentava espantado: - Nunca houve tanta cor neste bosque! As noites deviam ser bem frias por estas bandas! Mas os coelhinhos sabiam que tudo aquilo era um plano do Bisavô. E assim foi. As estações se sucediam e o tempo passava. Havia sempre cada vez mais coelhinhos naquela movimentada Coelhândia. E o Bisavô estava sempre ocupado em encontrar novas coisas, coisas diferentes para todos fazerem. No inverno, ele ensinou a pintar sombras na neve... e quadros nas vidraças recobertas de geada. No meio tempo, ele contava histórias a cada nova safra de coelhinhos, em torno da gostosa lareira, na sua casa de raminhos. A criançada gostava muito dele e de suas histórias de coelhos, histórias tão divertidas! E como gostavam das coisas diferentes que ele descobria para fazer! Parecia que ele já tinha pensado em tudo! Ele tinha turmas de coelhinhos treinados em pintar os primeiros brotinhos da primavera... Outros ficavam à espreita, junto aos casulos, para dar um toque de cor nas asas das borboletas... Havia bandos de coelhinhos especializados em besouros, outros em lagartas e taturanas. Uns pintavam bichinhos do ar, outros pintavam bichinhos da terra. Os coelhinhos tinham pintado o bosque todinho, e de tal forma que tudo cintilava e reluzia. Tudo era cor e matiz! E agora, se perguntavam os coelhinhos, o que será que ele pode inventar? Isso foi quando o Bisavô ficou em casa um tempão, pensando. Finalmente, ele contou um segredo para os coelhinhos, meninos e meninas daquela época. - Crianças! – disse o Bisavô Coelhão. – Já está na hora de ir embora. E eu vou dizer para vocês qual vai ser meu próximo serviço, se todos prometerem não dizer nada a ninguém. Então os coelhinhos prometeram. E o Bisavô foi-se embora. Os mais velhos tinham muita saudade dele e muitas vezes pareciam tristes. Mas as crianças apenas sorriam, quietinhas e tranquilas. Pois conheciam um segredo, um segredo que prometeram não contar. Até que um dia um temporal se abateu sobre a Coelhândia. Todo mundo correu apressado para casa, e lá dentro ficaram sequinhos e protegidos. Pouco depois a chuva foi diminuindo, diminuindo, até que só alguns pingos caíam. Então todas as portas se abriram e os coelhinhos saíram correndo. - Oh! Então era verdade mesmo! – gritavam os coelhinhos, dançando uma dança de coelhos. – O Bisavô voltou a trabalhar! Venham ver o que ele fez! E o Povo, que saiu de casa naquele dia, olhava encantado para o céu. - Nunca, nunca mesmo – exclamavam todos – houve um pôr-do-sol tão esplêndido, tão radiante! Só os coelhinhos sabiam: tudo era o plano do Bisavô Coelhão.