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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS À SAÚDE DO
ADULTO

Jéssica Diniz Rodrigues Ferreira

TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DA VERSÃO


BRASILEIRA DA ESCALA THE MULTIDIMENSIONAL INDIVIDUAL AND
INTERPERSONAL RESILIENCE MEASURE

Belo Horizonte
2019
Jéssica Diniz Rodrigues Ferreira

TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DA VERSÃO


BRASILEIRA ESCALA THE MULTIDIMENSIONAL INDIVIDUAL AND
INTERPERSONAL RESILIENCE MEASURE

Versão final

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do
Adulto da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências
Aplicadas à Saúde do Adulto.

Orientadora: Prof. Dra. Maria Aparecida


Camargos Bicalho

Coorientador: Prof. Dr. Bernardo de Mattos


Viana

Belo Horizonte
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Magnífica Reitora
Sandra Regina Goulart Almeida

Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Fábio Alves da Silva Júnior

Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Mario Fernando Montenegro Campos

Diretor da Faculdade de Medicina


Prof. Humberto José Alves

Coordenador do Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina


Prof(a). Tarcizo Afonso Nunes

Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do


Adulto
Profa. Teresa Cristina de Abreu Ferrari

Membros do colegiado do Curso de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à


Saúde do Adulto
Prof. Eduardo Garcia Vilela
Profa. Teresa Cristina de Abreu Ferrari
Profa. Luciana Costa Faria
Profa. Luciana Diniz Silva
Prof. Paulo Caramelli
Profa. Suely Meireles Rezende
Profa. Letícia Lemos Jardim
Profa. Sarah Teixeira Camargos
Profa. Rosângela Teixeira
Profa. Cláudia Alves Couto
Profa. Adriana Maria Kakehasi
Profa. Maria de Lourdes de Abreu Ferrari
Profa. Maria Aparecida Camargos Bicalho
Prof. Ricardo Mesquita Camelo
A todos os eventos que nos tornam mais
resilientes.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Jussara e Luiz, por me ensinarem a valorizar o aprendizado
e a ser grata pelos desafios que a vida nos traz. Obrigada por serem exatamente como são:
exemplos de amor, carinho, perseverança e, sobretudo, resiliência. Às minhas irmãs, Bruna,
Geórgia, Luciana e Adriana, e ao meu irmão, Alessandro, por serem os melhores irmãos que
uma irmã caçula pode ter.
Ao meu amor, Daniel Augusto, por compor a trilha sonora da nossa história,
diariamente. Por ser meu companheiro, acordar ao meu lado todos os dias e sempre me
incentivar a ser uma pessoa melhor. À Nilce Maria, Douglas, Douglas Júnior, Aline, Vó Nilce
e Vô Guido, por serem, hoje, também minha família.
À Lora, por ser a minha melhor amiga-irmã, em qualquer lugar e tempo da nossa vida.
Ao professor e coorientador Bernardo Viana, por ser, além de mentor, um grande
amigo. Agradeço por fazer parte do PROEPSI, pela oportunidade de defender a flexibilidade
emocional em todas as nossas discussões e também por me proporcionar conviver com a sua
esposa, Juliana Tito.
À professora e orientadora Cidinha, pela sempre atenciosa orientação. É uma grande
honra ser sua orientanda e ter a oportunidade de aprender com sua vasta experiência e
excelência no trabalho com idosos.
Ao professor Breno Satler, pela amizade, por ser um mentor até hoje, e por ter sido o
primeiro a me incentivar a estudar resiliência em idosos.
Ao professor Maicon Albuquerque, pela atenção e ajuda ao longo do mestrado.
Aos professores Jonas Jardim de Paula, Cristina Costa Duarte Lanna e Maicon
Albuquerque, por terem aceitado participar da banca de defesa deste trabalho.
A todos os professores e professoras com os quais tive e tenho o privilégio de aprender
e que muito admiro.
Agradeço aos meus alunos de iniciação científica Lucas Marzano, João Pedro
Thimotheo, Eduardo Oliveira; e também às profissionais Ana Patrícia e Juliana - pela enorme
ajuda, dedicação e comprometimento a este trabalho
À Mariana Nicolau, minha parceira de vida, de aventuras profissionais, de risadas e
de cafezinhos acolhedores. Obrigada pelo seu apoio sempre.
À Júlia Dias, por ter me acolhido como sua “01” e ser, hoje, um exemplo de
profissional.
Ao Leandro Boson, pela confiança em meu trabalho, por ajudarmos tantos pacientes
juntos e, principalmente, pela amizade.
À Giovana Mol, pela oportunidade de fazer parte do Núcleo Allerevita, pela confiança
em meu trabalho e, principalmente, pela grande amizade e carinho sempre.
A todos os colegas e amigos do PROEPSI-UFMG, por proporcionarem um
atendimento multidisciplinar de tanta qualidade aos nossos pacientes. Agradeço,
especialmente, à Maissa Diniz, Natália Dias e Laísa Ennes, pela amizade e parceria.
Aos meus pacientes, pelas experiências e aprendizados compartilhados, pela
confiança e pela oportunidade de ajudá-los a se tornarem pessoas cada vez mais resilientes.
RESUMO

Introdução: O conceito de resiliência se insere como parte de um conjunto de fatores


ou processos protetores, os quais, a despeito do processo de declínio das funções físicas,
cognitivas e mudanças psicossociais, favorecem a caracterização de um envelhecimento
saudável ou bem-sucedido. Idosos frequentemente vivenciam uma série de mudanças não-
normativas e relacionadas a idade, que variam desde desafios cotidianos a experiências
altamente estressoras, capazes de impactar não só um indivíduo, mas todo o sistema familiar
e social que o circunda. A escala The Multidimensional Individual and Interpessoal
Resilience Measure (MIIRM), de 22 itens, avalia tanto a resiliência individual quanto
interpessoal. Objetivo: Investigar o conceito de resiliência aplicado ao contexto brasileiro e
operacionalizar o instrumento MIIRM, por meio do processo de tradução, adaptação cultural
e validação. Método: Após a tradução inicial do instrumento original do inglês para o
português brasileiro, a versão pré-final da escala passou por procedimentos de adaptação
cultural, incluindo reuniões de consenso entre especialistas e um estudo-piloto, visando
verificar resultados preliminares de aplicação da escala na população-alvo. Participaram das
entrevistas indivíduos acima de 60 anos, de ambos os sexos, com diferentes níveis de
escolaridade e perfis sociodemográficos. Após este estudo-piloto e consenso entre os
investigadores principais, foi definida a Versão Brasileira da Escala de Resiliência Individual
e Interpessoal (EMRII-BR), que foi, então, submetida ao estudo de validação. Resultados:
O processo de tradução e adaptação cultural conduziu a um instrumento em português
brasileiro, equivalente ao instrumento original em termos semântico, idiomático, experiencial
e conceitual. A versão final foi aplicada em um total de 187 idosos. A análise fatorial
exploratória (AFE) gerou um modelo de cinco fatores, com bons índices de adequação
(RMSEA = 0,030; TLI=0,959; X²=151,590 p>0,05). A escala se mostrou consistente, com
valor de α de Cronbach de 0,705 e boa confiabilidade teste-reteste (CCI=0,835). Não foi
encontrada correlação estatisticamente significativa entre resiliência e as variáveis
sociodemográficas e epidemiológicas avaliadas. Conclusão: Este estudo demonstrou que a
EMRII-BR é válida e confiável para mensuração de resiliência em idosos.

Palavras-chave: Resiliência, idosos, escala, tradução, validação, The Multidimensional


Individual and Interpersonal Resilience Measure (MIIRM).
ABSTRACT

Introduction: Older adults often experience a series of non-normative and age-related


changes ranging from everyday challenges to highly stressful experiences that can impact
not only an individual but the whole family or social system that surrounds them. The concept
of resilience is part of a set of protective factors or processes, which, despite the process of
decline in physical, cognitive functions and psychosocial changes, favors the characterization
of a healthy or successful aging. Objective: The proposal of this project is to add to the
scientific literature new studies on the concept of resilience applied to the Brazilian context,
consolidating the evidences about the processes already correlated to this construct and
contributing to the operationalization of the instrument The Multidimensional Individual and
Interpersonal Resilience Measure (MIIRM) through the process of translation, cultural
adaptation and validation. Method: After the initial translation of the original instrument
from English into Brazilian Portuguese, the pre-final version of the scale underwent cultural
adaptation procedures, including expert consensus meetings and a pilot study, to verify
preliminary results of scale application in the target population. Individuals over 60 years
old, of both sexes, with different levels of schooling and sociodemographic profiles
participated in the interviews. After this pilot study and consensus among the principal
investigators, the Brazilian Version of the Individual and Interpersonal Resilience Scale
(EMRII-BR) was defined, which was then submitted to the validation study. Results: The
process of translation and cultural adaptation led to an instrument in Brazilian Portuguese,
equivalent to the original instrument in semantic, idiomatic, experiential and conceptual
terms. The final version was applied to a total of 187 elderly people. The exploratory factorial
analysis (AFE) generated a model of five factors, with good fit indices (RMSEA = 0.030;
TLI = 0.959; X² = 151.590 p> 0.05). The scale was consistent, with Cronbach's α of 0.705
and good test-retest reliability (ICC=0.835). No statistically significant correlation was found
between resilience and the sociodemographic and epidemiological variables evaluated.
Conclusion: This study demonstrated that EMRII-BR is valid and reliable for measuring
resilience in the elderly.

Keywords: Resilience, elderly, scal, translating, validation, The Multidimensional


Individual and Interpersonal Resilience Measure (MIIRM),
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1: Fases do processo de tradução, adaptação cultural e validação 29


FIGURA 2: Diagrama do modelo de cinco fatores 53
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Escalas de resiliência validadas para a população brasileira 23


TABELA 2: Descrição das modificações e questionamentos levantados na reunião dos
especialistas conforme critérios de equivalência 39
TABELA 3: Caracterização da amostra do estudo-piloto 48
TABELA 4: Análises descritivas – variáveis contínuas 49
TABELA 5: Análises descritivas – variáveis categóricas 49
TABELA 6: KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett 50
TABELA 7: Pesos dos componentes 51
TABELA 8: Additional fit index 52
TABELA 9: Teste qui-quadrado 52
TABELA 10: Pesos dos componentes dos fatores encontrados na AFE 54
TABELA 11: Coeficiente de correlação intraclasse – confiabilidade inter avaliador 55
TABELA 12: Coeficiente de correlação intraclasse – confiabilidade teste-reteste 55
TABELA 13: Teste qui-quadrado de Pearson (X2) para análise da relação entre as variáveis
categóricas 56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFE - Análise Fatorial Exploratória


AVC - Acidente Vascular Cerebral
CCI - Coeficiente de Correlação Intraclasse
DM – Diabetes melitus
DRS-BR - Versão Brasileira da Escala de Resiliência Disposicional
EMRII-BR - Escala Multidimensional de Resiliência Individual e Interpessoal - Brasil
ERA - Escala de Resiliência para Adultos
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
HC-UFMG - Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
IAM - Infarto Agudo do Miocárdio
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ILPI’s - Instituições de Longa Permanência
KMO - Kaiser-Meyer-Olkin
MEEM - Mini Exame do Exame do Estado Mental
MIIRM - The Multidimensional Individual and Interpessoal Resilience Measure
R1 - Retrotradução 1
R2 - Retrotradução 2
RISC-BR – Versão Brasileira da Escala de Resiliência Connor-Davidson – versão de 25
itens
RMSEA - Root Mean Square Error
RS-13 - Escala de Resiliência – versão de 13 itens
RS-25 - Escala de Resiliência – versão de 25 itens
SAGE - Successful Aging Evaluation
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
T1 - Tadução 1
T1.2 – Síntese das traduções 1 e 2
T2 - Tradução 2
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TLI - Tucker-Lewis Index
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16
2 REVISÃO DE LITERATURA 17
2.1 CONCEITO DE RESILIÊNCIA 18
2.2 CORRELATOS DE RESILIÊNCIA 19
2.3 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE RESILIÊNCIA 22
2.3.1 The Multidimensional Individual and Interpersonal Resilience Measure
(MIIRM) 24
3 JUSTIFICATIVA 26
4 OBJETIVOS 28
4.1 OBJETIVO GERAL 28
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 28
5 MATERIAIS E MÉTODOS 29
5.1 TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DA ESCALA THE
MULTIDIMENSIONAL AND INTERPERSONAL RESILIENCE MEASURE 29
5.1.1 Tradução inicial da escala 30
5.1.2 Síntese das versões T1 e T2 30
5.1.3 Retrotradução da versão T1.2 para a língua inglesa 31
5.1.4 Comitê de especialistas 32
5.1.5 Estudo-piloto 33
5.1.6 Estudo de validação 33
5.2 AMOSTRA 34
5.3 ANÁLISES ESTATÍSTICAS 35
5.3.1 Análise fatorial 35
5.3.2 Confiabilidade Inter avaliador e teste-reteste 36
5.3.3 Correlações 37
6 RESULTADOS 38
6.1 ADAPTAÇÃO CULTURAL DA ESCALA 38
6.1.1 Reunião dos especialistas 38
6.1.2 Estudo-piloto 48
6.2 ESTUDO DE VALIDAÇÃO 48
6.2.1 Análises descritivas 48
6.2.2 Estrutura fatorial da EMRII-BR 49
6.2.4 Confiabilidade interavalidor 55
6.2.5 Confiabilidade teste-reteste 55
6.2.6 Correlações 55
7 DISCUSSÃO 57
7.1 PROCESSO DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO CULTURAL 57
7.2 ESTUDO DE VALIDAÇÃO 59
7.3 ANÁLISES DE CORRELAÇÃO 63
8 LIMITAÇÕES 65
9 CONCLUSÃO 66
10 REFERÊNCIAS 67
ANEXO 1 – Versão original da MIIRM 73
ANEXO 2 – Versão final da EMRII-BR 75
ANEXO 3 - Protocolo de avaliação do estudo de validação 78
ANEXO 4 – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa 83
ANEXO 5 – Aprovação do Departamento de Saúde Mental 84
16

1 INTRODUÇÃO

Idosos frequentemente vivenciam uma série de mudanças não-normativas e


relacionadas a idade, como declínio na saúde e funcionalidade, diagnóstico de doenças
crônicas ou mesmo terminais, morte de parentes e pessoas queridas, perda de status social,
desequilíbrio financeiro, aposentadoria, alteração de rotinas e estigma social. Tais
adversidades variam desde desafios cotidianos a experiências altamente estressoras que
impactam não só um indivíduo, mas em todo o sistema familiar e social que o circunda. Nesse
cenário, o conceito de resiliência se insere como parte de um conjunto de fatores ou processos
protetores, os quais, a despeito do processo de declínio das funções físicas, cognitivas e
psicossociais, favorecem a caracterização de um envelhecimento saudável ou bem-sucedido.
Em termos gerais, define-se resiliência como a capacidade individual e interpessoal
de enfrentar adversidades, amadurecer através destas e superá-las. Trata-se de constructo
complexo e multidimensional, fruto de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e
ambientais. Nesse sentido, a proposta do presente trabalho consistiu em somar à literatura
científica novas investigações sobre o conceito resiliência aplicado ao contexto brasileiro,
consolidando as evidências em torno dos processos já correlacionados ao referido constructo,
contribuir para a operacionalização do instrumento The Multidimensional Individual and
Interpessoal Resilience Measure (MIIRM), por meio do processo de validação transcultural.
17

2 REVISÃO DE LITERATURA

A população mundial está envelhecendo, primariamente em função do declínio das


taxas de fertilidade, associado ao aumento da expectativa de vida. Tal fenômeno de
abrangência mundial é marcado, contudo, por características e implicações particulares em
diferentes países. Países de alta renda per capita, por exemplo, vivenciaram a transição
demográfica ao longo de um lento e contínuo processo, que possibilitou a tomada de
iniciativas governamentais em prol da adaptação e constante aprimoramento de seus sistemas
assistenciais e de saúde. Consequentemente, nesses países, tanto a população quanto os
governos têm se preparado para o envelhecimento de seus cidadãos, por meio de
planejamento e investimentos para lidar com as crescentes demandas desse processo (PESCE
et al., 2005).
No Brasil, conforme projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), espera-se que a proporção de indivíduos acima de 65 anos em 2030 seja de 13,44%,
aproximadamente o dobro da proporção em 2015 (WHO, 2011; IBGE, 2013). Assim, o país
caminha rapidamente para um perfil demográfico mais envelhecido, o que traz muitos
desafios na área da saúde. O aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas e de
incapacidades funcionais, por exemplo, repercutirá em importantes mudanças
epidemiológicas, caracterizadas por novas demandas de saúde, como maior uso dos serviços
de assistência, provavelmente mais prolongado. Dessa forma, serão necessárias adequações
das políticas sociais, sobretudo aquelas voltadas para a previdência e assistência sociais
(MORAIS, 2012).
Entretanto, o envelhecimento pode ser considerado como um processo plástico. Cada
vez mais, os modelos emergentes refletem uma dialética entre o acúmulo de recursos
biopsicossociais e vulnerabilidades ao longo do ciclo de vida, mediados pela ideia de uma
plasticidade ou flexibilidade que permite aos indivíduos traçarem diferentes trajetórias,
mesmo expostos a desafios semelhantes. (ALDWIN e GILMER, 2013) Portanto, a
investigação de fatores relacionados à plasticidade do envelhecimento, que permite
indivíduos com baixos recursos biopsicossociais e vulnerabilidades desenvolverem um
envelhecimento bem-sucedido, é de grande importância para as sociedades, especialmente
de países de baixa e média renda per capita. Dentre estes fatores, a resiliência tem sido
amplamente investigada, mas a quantidade de estudos com a população de idosos de países
de baixa e média renda ainda é relativamente pequena.
18

2.1 CONCEITO DE RESILIÊNCIA

Nesse cenário, o conceito de resiliência se insere como parte de um conjunto de


fatores ou processos protetores, os quais, a despeito do processo de declínio das funções
físicas, cognitivas e adversidades psicossociais, favorecem a caracterização de um
envelhecimento saudável ou bem-sucedido. Define-se resiliência como a capacidade
individual e interpessoal de enfrentar adversidades, amadurecer através destas e superá-las.
Trata-se de um constructo complexo e multidimensional, fruto de fatores genéticos,
biológicos, psicológicos e ambientais (CONNOR e DAVIDSON, 2003; CAMPBELL-SILLS
e STEIN, 2007; FORTES, 2009; HERRMAN et al., 2011).
Os principais fatores protetores correlacionados à resiliência individual incluem
otimismo realista; capacidade de enfrentar medos; direcionamento moral; religião e
espiritualidade; modelos referenciais de conduta; prática de atividade física; flexibilidades
cognitiva e emocional; percepção de sentido e propósito para as experiências vividas;
autoeficácia (CHARNEY, 2012; MARTIN et al., 2015).
Para além da perspectiva individual, novas pesquisas têm investigado o conceito de
resiliência familiar, fundamentada na percepção da família como um sistema, um todo que
se adapta, ajusta, recupera e se fortalece frente a situações desafiadoras ou adversidades com
potencial de prejudicar a unidade funcional. Sob esse ponto de vista, mais coerente com a
natureza multidimensional do constructo, a compreensão do conceito passa a incluir fatores
multigeracionais. Os fatores de resiliência passam a ser entendidos como processos,
incluindo, além das qualidades individuais já mencionadas, comunicação familiar, sistemas
de crenças – espiritualidade, flexibilidade, concordância familiar, tempo familiar, rotinas – e
suporte social (MARTIN et al., 2015).
Assim, embora a literatura científica ainda esteja em processo de operacionalização
do conceito e dos instrumentos de mensuração da resiliência, há concordância em torno de
sua natureza multidimensional, variando em função do contexto, do tempo, da idade, do
sistema de suporte social, do ambiente familiar, da origem cultural, assim como das
capacidades individuais em interação com fatores interpessoais (DAMASIO et al., 2011;
MARTIN et al., 2015).
A literatura científica tem corroborado cada vez mais a concepção de envelhecimento
bem-sucedido como resultado de variáveis tanto objetivas quanto subjetivas. Essas variáveis
incluem aspectos da cognição, da saúde mental, do status clínico-funcional geral, assim como
fatores psicossociais protetores e traços psicológicos positivos, por exemplo, a resiliência. A
19

proposta de uma abordagem dimensional para o envelhecimento bem-sucedido é favorável à


aplicação desse conceito a uma ampla gama de populações (PRUCHNO et al., 2010; VAHIA
et al., 2012).
Além dos fatores ambientais relacionados aos processos de resiliência, a literatura
tem se engajado cada vez mais na investigação de mecanismos genéticos, epigenéticos e
neurais subjacentes ao referido constructo. Evidencia-se de formas cada vez mais
contundentes que alguns indivíduos inseridos em contextos estressores ou expostos a
situações altamente estressoras apresentam um considerável nível de adaptação em diversos
circuitos neurais envolvendo neurotransmissores e conjuntos de reações moleculares. Sabe-
se que eventos estressores eliciam uma cascata de respostas neuronais, endócrinas e
comportamentais que promovem adaptação homeostática à mudança ou a ambientes
aversivos (ENMAN et al., 2015).
Contudo, uma vez mantidos por longos períodos de tempo ou percebidos como
extremos, fatores estressores podem levar a respostas mal adaptativas dentro do circuito
estresse-integrativo. Nesses casos, mecanismos patológicos neuroquímicos e
comportamentais podem se manifestar na forma de transtornos mentais relacionados ao
estresse, incluindo Transtornos de Ansiedade, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e
Depressão (ENMAN et al., 2015). Sabe-se que a combinação de fatores como predisposição
genética, fatores socioambientais, histórico familiar, eventos estressores na infância, bem
como a presença de doenças crônicas contribuem para uma maior vulnerabilidade para
transtornos mentais, incluindo transtornos ansiosos e de humor. Apesar disso, os indivíduos
percebem eventos estressores de formas diferentes, sendo o potencial para enfrentamento
dependente de habilidades individuais (FAYE et al., 2018).
Pesquisas evidenciam que, frente a situações ou contextos estressores, indivíduos
resilientes apresentam respostas adaptativas altamente favoráveis, resistindo ao
desenvolvimento de transtornos mentais, como os acima referidos. Em torno deste foco,
diferentes estudos se engajam ora na investigação de marcadores neuroendócrinos
correlacionados, ora na investigação de bases comportamentais, neurais e moleculares do
processo de resiliência, tanto por meio de modelos animais quanto de estudos com humanos.
(SOUTHWICK et al., 2005; FEDER et al., 2009; RUSSO et al., 2012).

2.2 CORRELATOS DE RESILIÊNCIA


20

É de extrema importância enfatizar o caráter multifatorial do processo de


envelhecimento em si, e, consequentemente das variáveis que o influenciam. A resiliência é
uma dessas variáveis, cujas características estão potencialmente relacionadas a diversos
âmbitos – biológico, psicológico, social, cultural, econômico.
Atualmente, diversas áreas buscam investigar os fatores envolvidos no processo de
envelhecimento. Algumas pesquisas têm como foco os processos moleculares, celulares e
sistêmicos, por vezes, levantando hipóteses sobre a influência quantitativa de certas variáveis
nas taxas de envelhecimento orgânico. Paralelamente, os campos da psicologia da saúde e da
medicina comportamental já demonstram evidências de que certos fatores psicossociais
podem afetar a saúde física, com foco inicial em fatores de risco. Ao longo do ciclo de vida,
existe relevância também de fatores protetores. (ALDWIN e GILMER, 2013)
Alguns estudos correlacionam resiliência e envelhecimento bem-sucedido. Desde o
modelo proposto por Rowe e Kahn (1997), segundo o qual o envelhecimento bem-sucedido
é caracterizado por baixo risco de doenças e alta funcionalidade, tomou-se como foco
pesquisas e intervenções mais efetivas e eficientes na promoção do “envelhecer bem”. Logo,
esse modelo, assim como outros que emergiram posteriormente, contribuíram de forma
significativa para impulsionar pesquisas, políticas públicas internacionais e iniciativas da
mídia para compreender e estimular o envelhecimento ativo, o engajamento social no
envelhecimento e a prevenção de doenças e da perda de funcionalidade. (BREHENY e
GRIFFITHS, 2017)
É tentador definir envelhecimento bem-sucedido em termos de boa saúde física,
habilidades cognitivas preservadas e saúde mental. Mas essa definição também
implica que há apenas uma única forma de envelhecer bem e ignora o fato de que
a grande maioria dos idosos desenvolverá doenças e limitações. (...) Dessa forma,
nós preferimos usar o termo “envelhecimento ótimo” (optimal aging), que permite
o reconhecimento de que pode haver diferentes formas de envelhecer bem, que
pessoas começam com diferentes configurações de vulnerabilidades e recursos que
afetam a forma como envelhecem, e que esse é um processo que continuamente se
desdobra. (ALDWIN e GILMER, 2013, p. 6, tradução minha).

Apesar das contribuições positivas desses modelos, é difícil avaliar até que ponto
essas representações acerca do envelhecimento bem-sucedido vão ao encontro das visões
subjetivas dos próprios indivíduos idosos. A despeito de variáveis de risco, a presença de
doenças e de fatores estressores ao longo da vida, alguns idosos consideram estar
envelhecendo bem. (STRAWBRIDGE et al., 2002) Breheny & Griffiths (2017) analisaram
o relato de 11 idosos, entre 79 e 92 anos, sobre aspectos que consideram importantes e
necessários para envelhecer bem. Através do método de Análise Fenomenológica
21

Interpretativa, constataram que os idosos deste estudo apresentaram expectativas de


manutenção de padrões de comportamentos adaptativos, desenvolvidos ao longo da vida, ao
mesmo tempo em que há uma disposição para a mudança, conforme as expectativas sociais
para os comportamentos relacionados à idade.
Tem sido observado uma correlação positiva entre sabedoria, bem-estar subjetivo e
habilidades de enfrentamento frente a adversidades (coping). Alguns idosos podem ter a
capacidade e equanimidade para lidar com a adversidade sem afetar significativamente sua
sensação de bem-estar, especialmente se eles ganharam sabedoria através do processo de
superação de adversidades anteriores. Segundo modelo tridimensional de sabedoria, este
constructo pode ser definido mediante as dimensões cognitiva, reflexiva e compassiva. E o
conceito de bem-estar subjetivo pode ser compreendido como uma combinação de felicidade,
saúde mental e satisfação com a vida. (BANGEN et al., 2013; ARDELT e JESTE, 2016)
No que diz respeito à relação entre resiliência, religiosidade e espiritualidade, alguns
estudos demonstram que a presença de crenças religiosas pode ser um suporte ao
enfrentamento de situações difíceis. (BÖELL et al., 2016)
A capacidade de autorregular o comportamento é um dos fatores mais importantes
em relação à resiliência. Em um estudo com jovens estudantes, entre 15 e 21 anos, Artuch-
Garde e colaboradores (2017) encontraram correlações significativas e fortes entre escores
nos testes de resiliência (CD-RISC) e de autorregulação, sugerindo que o indicadores de
autorregulação podem ser bons preditores de coping e confiança, tenacidade, adaptação e
tolerância a situações negativas. Em um estudo com jovens estudantes, Brock (2016)
demonstrou que melhores índices de autorregulação estão correlacionados a menor estresse
percebido.
Gooding e colaboradores (2012) realizaram um estudo comparativo de resiliência
entre idosos e adultos jovens. Eles demonstraram que a resiliência geral, bem como as
subescalas de regulação emocional e resolução de problemas foram significativamente mais
altas em idosos, quando comparados ao grupo de jovens adultos. Entretanto, o segundo grupo
apresentou maiores níveis de resiliência na análise da subescala de suporte social. Além
disso, independentemente da idade, pior percepção da saúde geral e menores níveis de
energia predisseram menores níveis de resiliência, menores níveis de desesperança
predisseram maiores níveis de resiliência. A presença de doenças mentais e disfunções físicas
associou-se positivamente com maiores níveis de resiliência, especialmente a resiliência
interpessoal em idosos.
22

Também têm sido investigados os mecanismos biológicos da resiliência e da resposta


ao estresse. Em uma revisão, Dennis Charney (2004) identificou 11 neuropeptídeos e
mediadores hormonais de resposta psicobiológica ao estresse extremo, possivelmente
relacionados à resiliência ou vulnerabilidade. Além disso, os mecanismos neurais de
recompensa e motivação, medo e comportamento social adaptativo foram considerados
relevantes na caracterização do comportamento resiliente. Em um estudo com idosos
sobreviventes de câncer, Duan-Porter e colaboradores (2016) demonstraram que maioria dos
participantes apresentaram resiliência física (recuperação ≥ 50% de funções perdidas,
subsequente ao declínio), associado a melhores índices de saúde, função física, auto-eficácia
e suporte social no baseline. Logo, concluíram que a investigação de fatores psicossociais
relacionados à resiliência e resposta ao estresse podem ser importantes estratégias de
promoção da resiliência física.
Em um estudo descritivo, com pacientes do Ambulatório de Geriatria/HC-Unicamp,
com idades entre 69 e 91 anos, Arlete Fontes e colaboradores (2015) demonstraram uma
correlação negativa entre resiliência, dependência funcional e sintomatologia depressiva,
sugerindo que a resiliência poderia constituir um fator de proteção para idosos ambulatoriais
com relativo grau de dependência e evidência de sintomas depressivos.
O conceito de autorregulação, assim como o de resiliência, abrange diversas
competências e/ou fatores, como auto-direcionamento, adaptabilidade, auto-direcionamento,
resolução de problemas, habilidades sociais e comunicativas. O processo de autorregulação
inclui três importantes etapas básicas: definição dos objetivos e planejamento; monitorização
do desempenho; e avaliação do processo, que envolve também regulação das emoções
ativadas pelos resultados. Alguns estudos indicam que a autorregulação é um fator preditor
de resiliência, sendo considerado um dos fatores protetores correlacionados a este constructo
(ARTUCH-GARDE et al., 2017).

2.3 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE RESILIÊNCIA

Em uma revisão dos instrumentos utilizados para avaliação da resiliência em adultos


e idosos, Gurgel e colaboradores (2013) apontaram a existência de 13 instrumentos
validados, sendo poucos aqueles disponíveis para avaliação da resiliência em adultos e
idosos, sobretudo para o uso em estudos nacionais.
Entre os instrumentos adaptados e validados para a população brasileira, incluem-se
a Escala de Resiliência – versão de 25 itens (PESCE et al., 2005), originalmente desenvolvida
23

por Wagnild e Young (1993); a Escala de Resiliência Connor-Davidson – versão de 25 itens


(CD-RISC-25) (SOLANO, 2016), desenvolvida por Connor e Davidson (2003); a Escala de
Resiliência de Connor-Davidson – versão de 10 itens (CD-RISC-10) (LOPES e MARTINS,
2011), apresentada em uma estrutura de 10 itens no trabalho de Campbell-Sills e Stein
(2007); a Escala de Resiliência Disposicional (DRS-Br) (SOLANO, 2016), desenvolvida por
Bartone (BARTONE, 2016); a Escala de Resiliência – versão de 14 itens (DAMASIO et al.,
2011); e a Escala de Resiliência para Adultos (CARVALHO et al., 2011; CARVALHO et
al., 2014), originalmente desenvolvida por Hjemdal e colaboradores (HJEMDAL et al.,
2001). A tabela 1 descreve as principais características dos referidos instrumentos e de seus
respectivos estudos de validação.
TABELA 1: Escalas de resiliência validadas para a população brasileira
INSTRUMENTO CARACTERÍSTICAS DA ESTUDO DE VALIDAÇÃO
ESCALA
ESCALA DE RESILIÊNCIA – 25 itens. Amostra: jovens entre 12 e 19
VERSÃO DE 25 ITENS (RS-25) Constructos latentes: (1) anos, alunos de escolas públicas
Resolução de ações e valores; (2) no Município de São Gonçalo.
Independência e determinação; (3) Métodos: tradução, adaptação
autoconfiança e capacidade de cultural e validação, incluindo
adaptação a situações. Análise Fatorial Exploratória
(AFE). (PESCE et al., 2005)

ESCALA DE RESILIÊNCIA 25 itens. Amostra: adultos, entre 18 e 81


CONNOR-DAVIDSON – Constructos latentes: (1) anos, 74% do sexo feminino; 63%
VERSÃO DE 25 ITENS (RISC- Tenacidade; (2) Adaptabilidade- com mais de 10 anos de
BR) tolerância; (3) Confiança no escolaridade.
suporte social; (4) Intuição. Métodos: tradução, adaptação
cultural e validação, incluindo
AFE. (SOLANO, 2016)

ESCALA DE RESILIÊNCIA DE 10 itens. Amostra: adultos, entre 18 e 68


CONNOR-DAVIDSON – Unifatorial. anos, 66,1% do sexo masculino;
VERSÃO DE 10 ITENS 55,5% om ensino médio, em curso
ou completo.
Métodos: tradução, adaptação e
validação, incluindo AFE.
(LOPES e MARTINS, 2011)

ESCALA DE RESILIÊNCIA 15 itens. Amostra: adultos, entre 18 e 81


DISPOSICIONAL (DRS-BR) Constructos latentes: (1) controle; anos, 74,4% do sexo feminino;
(2) comprometimento; (3) desafio. 63,5% com mais de 10 anos de
escolaridade.
Método: tradução, adaptação e
validação, incluindo AFE.
(SOLANO, 2016)
24

(continuação) TABELA 1: Escalas de resiliência validadas para a população brasileira


INSTRUMENTO CARACTERÍSTICAS DA ESTUDO DE VALIDAÇÃO
ESCALA

ESCALA DE RESILIÊNCIA – 13 itens. Amostra: indivíduos entre 14 e 59


VERSÃO DE 13 ITENS (RS-13) Unifatorial. anos.
Método: tradução e adaptação
cultural do estudo de Pesce e
colaboradores (2005); validação
incluindo análise fatorial
exploratória e confirmatória.
(DAMASIO et al., 2011)

ESCALA DE RESILIÊNCIA 33 itens. Amostra: adultos com média de


PARA ADULTOS (ERA) Constructos latentes: (1) idade de 41,4 anos (DP=8,8);
Percepção de si mesmo; (2) 60,1% do sexo feminino; todos
Futuro planejado; (3) com mais de 10 anos de
Competência social; (4) estilo escolaridade.
estruturado; (5) coesão familiar; Métodos: tradução, adaptação
(6) recursos sociais. cultural e validação, incluindo
análise fatorial confirmatória.
(CARVALHO et al., 2011;
CARVALHO et al., 2014)

Conforme descrito na tabela 1, apenas a RISC-25 e a ERA incluem fatores latentes


sugestivos de resiliência interpessoal. Além disso, embora alguns dos estudos apresentados
tenham incluídos idosos em sua amostra, nenhum foi direcionado, especificamente, para este
público-alvo.

2.3.1 The Multidimensional Individual and Interpersonal Resilience Measure


(MIIRM)

O desenvolvimento da escala original, validada no presente estudo, teve como


objetivo produzir um instrumento empiricamente validado, capaz de avaliar a resiliência
individual e familiar em uma população de idosos.
Este trabalho foi realizado como parte do estudo Successful Aging Evaluation
(SAGE), desenvolvido no Stein Institute of Research on Aging, em San Diego, Califórnia,
Estados Unidos da América. Trata-se de um estudo de coorte, prospectivo, que pretende
avaliar os aspectos cognitivos e emocionais do envelhecimento bem-sucedido ao longo do
ciclo da vida.
Os participantes foram indivíduos falantes da língua inglesa, residentes de San Diego,
com idades entre 50 e 99 anos, capazes de conceder consentimento informado, física e
mentalmente, capazes de participar da pesquisa. Os critérios de exclusão incluíram:
25

diagnóstico de demência; residência em instituições para idosos; necessidade de assistência


diária de profissionais de saúde; diagnóstico de doença terminal; e/ou em cuidados
hospitalares atuais. As investigações para o estudo de desenvolvimento da escala The
Multidimensional and Interpersonal Resilience Measure (MIIRM) utilizaram dados do ano
de início do estudo SAGE.
Preencheram os critérios de inclusão 1006 indivíduos, que responderam ao protocolo
de avaliação enviado pelo correio. O protocolo incluiu a coleta de dados sociodemográficos,
e os seguintes instrumentos: The brief multidimensional measure of religiousness/spirituality
(BODLING et al., 2013); The 10-item version of the CD-RISC (CAMPBELL-SILLS e STEIN,
2007); The Emotional Support Scale (ESS) ; The Life Orientation Test – Revised
(GLAESMER et al., 2012); The MacArthur Ladder Scale (ADLER et al., 2000), de percepção
subjetiva do status socioeconômico; The Perceived Stress Scale (COHEN et al., 1994); e The
Three-Dimensional Wisdom Scale (ARDELT, 2016).
A análise fatorial exploratória (AFE) da MIIRM encontrou um total de oito fatores,
nomeados como: (1) autoeficácia; (2) acesso à rede de suporte; (3) otimismo; (4) recursos
econômicos e sociais percebidos; (5) espiritualidade e religiosidade; (6) acordo relacional;
(7) expressão emocional e comunicação; (8) regulação emocional. A estrutura final da escala,
após AFE, apresentou um total de 22 itens, com consistência interna suficiente, indicada por
um valor de α de Cronbach de 0,72.
26

3 JUSTIFICATIVA

A investigação do conceito de resiliência, bem como a operacionalização de


instrumentos/escalas de mensuração, tem o potencial de ampliar o conhecimento acerca dos
fatores e/ou processos protetores envolvidos na caracterização do comportamento resiliente.
Especificamente no contexto clínico-assistencial, o acesso a variáveis relacionadas aos níveis
de resiliência pode expandir as possibilidades de intervenção e elucidar estratégias de
prevenção contra o desenvolvimento de condições de saúde relacionadas ao estresse. Trata-
se, pois, de uma investigação com potencial de beneficiar tanto futuras pesquisas científicas
quanto a prática clínica (CAMPBELL-SILLS e STEIN, 2007; MARTIN et al., 2015).
Sobretudo no que diz respeito ao contexto da assistência geriátrica, o reconhecimento
dos níveis de resiliência interpessoal, conforme proposto pela escala MIIRM, pode oferecer
substrato para que a rede de profissionais envolvidos com a saúde do idoso possa dar suporte
às famílias e/ou cuidadores, ajudando-as a enfrentar de forma bem-sucedida os desafios não-
normativos e aqueles relacionados ao processo de envelhecimento, como perdas traumáticas,
diagnósticos de doenças terminais, bem como declínios normativos do funcionamento físico
e cognitivo em familiares idosos. (FONTES et al., 2015) Nesse sentido, a incorporação de
variáveis familiares não só transformaria a nossa compreensão do processo de
envelhecimento, como também provocaria novas discussões e estudos sobre essa questão
(MARTIN et al., 2015).
Além disso, ao considerar o papel do cuidador de idosos, tanto familiar quanto
profissional, há uma tendência na investigação dos efeitos negativos relacionados à essa
função, sobretudo doenças físicas e mentais, tais como ansiedade e depressão. No entanto,
nem todos os cuidadores apresentam esses efeitos negativos ou se tornam insatisfeitos. Isso
pode estar relacionado ao emprego de diferentes estratégias individuais para lidar com o
contexto de cuidado, considerado como desgastante em muitas situações (GAIOLI et al.,
2012)
Gradativamente, observa-se um crescente interesse de pesquisadores em todo o
mundo por projetos de pesquisa multicêntricos e multiculturais. Esse fato implica na
crescente demanda por instrumentos de avaliação adequados para as diferentes culturas e/ou
línguas, de preferência cuidadosamente adaptados e validados a partir da versão original.
(BEATON et al., 2000)
27

No processo adaptação transcultural de um instrumento, os itens não só devem ser


linguisticamente bem traduzidos, como também culturalmente adaptados. Uma vez
rigorosamente conduzido, este processo contribui para a validade de conteúdo do instrumento
em um nível conceitual através das diferentes culturas, permitindo a comparação de
resultados e a identificação de possíveis vieses culturais na expressão de determinados
constructos. Além disso, espera-se que a adaptação transcultural de instrumentos de
avaliação possa beneficiar a prática clínica de profissionais em diferentes regiões do mundo.
(BEATON et al., 2000)
No atual contexto de transição demográfica, associado ainda ao crescente corpo de
evidências acerca da correlação entre transtornos mentais e aceleração do declínio clínico-
funcional em idosos, emerge a necessidade de nos dedicarmos à investigação de alvos
alternativos de intervenção, como cognição, resiliência e funcionalidade (VAHIA et al.,
2012). Neste sentido, delineamos o presente estudo com objetivo de traduzir para o português
do Brasil, adaptar culturalmente e validar um instrumento de avaliação de Resiliência em
Idosos, o escala The Multidimensional Individual and Interpersonal Resilience Measure,
bem como avaliar as propriedades psicométricas do Instrumento.
28

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

● Traduzir para o português do Brasil, adaptar transculturalmente e validar a escala


The Multidimensional Individual and Interpersoal Resilience Measure para a
população idosa brasileira.
● Avaliar os aspectos psicométricos do instrumento resultante.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Levantar características sociodemográficas e epidemiológicas da população estudada.


● Realizar o rastreio do perfil cognitivo da população estudada.
● Correlacionar as variáveis sociodemográficas, epidemiológicas e cognitivas com os
resultados da avaliação de resiliência, obtidos a partir do instrumento, na população
estudada.
29

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DA ESCALA


THE MULTIDIMENSIONAL AND INTERPERSONAL RESILIENCE MEASURE

Realizamos o processo de tradução e adaptação transcultural da escala THE


MULTIDIMENSIONAL INDIVIDUAL AND INTERPERSONAL RESILIENCE MEASURE,
no período de dezembro de 2016 a janeiro de 2018. Utilizamos as diretrizes
metodológicas descritas por Beaton e colaboradores (2000) e Clarice Gorenstein e
colaboradores (2016).
Desta forma, seguimos as etapas descritas na figura 1, conforme sugerido por estes
autores:

FASE 1:
Definições
conceituais

FASE 2:
Tradução

FASE 3:
Retrotradução

FASE 4:
Revisão por
especialistas

FASE 5:
Estudo-piloto

FASE 6:
Estudo de
validação

Figura 1: Fases do processo de tradução, adaptação cultural e validação – adaptado de


GORENSTEIN et al. (2016)
30

5.1.1 Tradução inicial da escala

O objetivo da elaboração de duas ou mais versões traduzidas é viabilizar a


comparação e identificação de possíveis discrepâncias no processo de tradução, que podem
ser reflexos ora de ambiguidades na língua do instrumento original, ora no método de
tradução adotado por cada tradutor. (BEATON et al., 2000)
Os dois tradutores envolvidos nesta primeira etapa eram bilíngues, fluentes em inglês
e português e apresentavam diferentes perfis ocupacionais. Um dos tradutores apresentava
domínio na área da psicologia. O segundo tradutor, por sua vez, não apresentava
conhecimento detalhado sobre o constructo e nem era especialista na área envolvida, de
forma a proporcionar uma tradução mais focada nos aspectos linguísticos envolvidos.
(BEATON et al., 2000)
Participaram da tradução inicial da MIIRM dois tradutores bilíngues, ambos falantes
nativos da língua inglesa, que viveram por mais de 5 anos nos Estados Unidos da América
(EUA) e se mudaram para o Brasil com a família também há mais de 5 anos. Tanto o tradutor
1 quanto o tradutor 2 têm experiência como professores de inglês por mais de 5 anos. O
tradutor 1, diferente do tradutor 2, tem formação em Psicologia e maior contato em sua
prática profissional com os conceitos abarcados pela MIIRM.
O produto desta primeira etapa consistiu em duas versões traduzidas do inglês para o
português brasileiro – T1 e T2 e dois relatórios escritos, elaborados por cada tradutor inicial,
contendo comentários acerca de dificuldades encontradas no processo de tradução. A
tradução abrangeu o instrumento completo, incluindo conteúdo dos itens, opções de resposta
e instruções, conforme sugerido na literatura. (BEATON et al., 2000)
Nos relatórios escritos, apenas o tradutor 1 relatou dificuldade na tradução de algumas
expressões pontuais, com características idiomáticas como “Whatever comes my way”,
“Bounce back”, “When I am confused by a problem”, “Piece of information”.

5.1.2 Síntese das versões T1 e T2

Os dois tradutores 1 e 2 se reuniram com os pesquisadores envolvidos para sintetizar


os resultados das traduções iniciais, visando a elaboração da versão T1.2. Essa reunião foi
gravada, mediante autorização dos participantes acima citados e, posteriormente, um
relatório escrito foi elaborado, documentando o processo de síntese. Cada questão foi
discutida e resolvida. (BEATON et al., 2000)
31

5.1.3 Retrotradução da versão T1.2 para a língua inglesa

Nessa etapa, a versão T1.2 em português brasileiro foi traduzida para o inglês por
dois outros tradutores independentes, diferentes dos tradutores iniciais, e “cegos” para a
versão original, isto é, não tiveram contato com o instrumento original em inglês.
Participaram dessa primeira retrotradução dois tradutores bilíngues, falantes nativos
da língua inglesa, que viveram nos EUA por mais de 20 anos, vivem no Brasil há mais de 5
anos e, desde então, têm experiência como professores de inglês, sendo que um deles também
faz mestrado em Linguística Aplicada. Ambos não possuíam conhecimento do constructo
investigado e tinham formação em áreas distintas da área do constructo, conforme sugerido
por Beaton e colaboradores (2000). Esta etapa é uma das formas de verificação da validade
da versão síntese das traduções iniciais e visa garantir que a versão T1.2 manteve o mesmo
conteúdo dos itens da versão original. (BEATON et al., 2000)
No relatório escrito, o retrotradutor 1 relatou dúvidas na tradução de alguns termos,
como “pontuação reversa” e “acordo relacional” e, em alguns momentos, achou alguns itens
“estranhos” por conterem uma palavra ou uma estruturação diferente das perguntas anteriores
– de acordo com a descrição do colaborador: Por exemplo, o item 7 usa o passado quando
todos os outros itens estão no presente. Além disso, no item 20, depois de usar a palavra
cônjuge 5 vezes, usa minha esposa (meu marido). Não sei se isso foi algo proposital, mas foi
algo que observei. Além disso, na percepção do retrotradutor 1, o questionário apresenta uma
linguagem mais formal em alguns momentos e mais informal em outros. Logo, relatou ficar
em dúvida sobre qual estilo priorizar, optando por utilizar a linguagem mais coloquial.
Finalmente, este colaborador fez uma colocação a respeito dos termos de gênero presentes
no instrumento:

Finalmente, porque estou terminando o meu mestrado em linguística


aplicada e minha pesquisa se baseia no letramento crítico, eu estou muito
consciente de como as relações de poder estão presentes na linguagem
escrita e falada. Um exemplo é que eu sempre tento usar palavras e
construções em inglês que são neutras em termos de gênero. Por isso eu
prefiro usar spouse em vez de wife/husband e até partner para incorporar
todos os casais que não são casados ou que tem outro tipo de
relacionamento como união estável.

Já o retrotradutor 2 relatou dúvida se deveria traduzir “palavra por palavra” ou “o


32

mais naturalmente possível”, como no seguinte exemplo: "Eu sou capaz de adaptar" para "I
am capable of adapting" ou "I am able to deal with". Com exceção dessas dúvidas pontuais,
em sua opinião a versão retrotraduzida oferece fácil compreensão e tradução.
Os resultados dessa etapa foram a produção de duas versões retrotraduzidas – R1 e
R2.
5.1.4 Comitê de especialistas

A composição do comitê de especialistas é fundamental para o alcance da


equivalência transcultural. O ideal é que este grupo de trabalho inclua, além dos
pesquisadores, a participação de outros profissionais de saúde, preferencialmente
especialistas na área do constructo, psicometristas e os tradutores envolvidos nas etapas
anteriores. Uma vez reunidos, estes especialistas deverão discutir todas as versões do
instrumento, visando a elaboração da versão pré-final para o estudo-piloto. (BEATON et al.,
2000; SPERBER, 2004)
Neste estudo, oito especialistas participaram do comitê, incluindo uma terapeuta
ocupacional experiente no atendimento de idosos, duas psiquiatras com formação em
psicogeriatria, uma psicóloga experiente em psicoterapia com idosos que também participou
como uma das tradutoras iniciais, um educador físico com experiência em psicometria, e os
três investigadores principais – uma psicóloga, uma geriatra e um psicogeriatra.
O material à disposição de cada especialista do comitê incluiu: o instrumento original,
cada uma das versões traduzidas (T1, T2, T1.2, R1 e R2) acompanhadas pelos respectivos
relatórios escritos. Esse material foi enviado por e-mail, com antecedência de uma semana,
para cada um dos participantes. Na ocasião da reunião, as versões foram revisadas e os
especialistas chegaram a um consenso em relação aos seguintes aspectos:
● Equivalência semântica: as palavras têm o mesmo significado? Há mais de um
significado em um mesmo item? Há dificuldades gramaticais na tradução?
● Equivalência idiomática: coloquialismos, expressões idiomáticas são difíceis de
traduzir e devem ser reformuladas conforme a cultura-alvo.
● Equivalência experimental: embora os itens da escala original sejam pertinentes a
atividades de vida diária, frequentemente em uma cultura diferente, uma dada
experiência pode não ser compatível com a original, ainda que seja passível de
tradução; nesse caso, este item deve ser substituído por um item similar que de fato
seja parte do contexto da cultura-alvo.
33

● Equivalência conceitual: algumas palavras frequentemente carregam diferentes


significados conceituais entre culturas e o comitê de especialistas deve ponderar se
há equivalência entre as palavras e/ou expressões nas versões analisadas.

Neste estudo foram realizadas duas reuniões de consenso: a primeira foi realizada
antes do início do estudo-piloto e a segunda, no meio do estudo-piloto.

5.1.5 Estudo-piloto

Consiste na última etapa da adaptação cultural do instrumento traduzido antes do


estudo de validação. O objetivo desta etapa é testar em campo o questionário adaptado em
sua versão pré-final, provendo uma medida de qualidade da validade de conteúdo. Esse
procedimento garante que a versão adaptada mantém a equivalência também em uma
situação aplicada, fornecendo informações de como cada item é interpretado pelos
entrevistados. (BEATON et al., 2000)
O estudo-piloto do presente trabalho foi dividido em dois momentos de coleta de
dados, entre os quais foi realizada a segunda reunião de consenso para discussão dos últimos
detalhes relativos à adaptação cultural do instrumento. Na primeira fase, realizada de maio a
agosto de 2017, foram entrevistados 15 participantes; e na segunda, realizada entre agosto e
novembro de 2017, foram entrevistados 11 participantes. Todas as avaliações do estudo-
piloto foram conduzidas pela investigadora principal do trabalho.
O resultado do estudo-piloto foi a definição da versão final1 da escala, que faz parte
do protocolo do estudo de validação. A versão final da Escala Multidimensional de
Resiliência Individual e Interpessoal - Brasil (EMRII-BR) passou por uma única
retrotradução final para compartilhamento com a autora original do estudo, que autorizou a
divulgação desta versão.

5.1.6 Estudo de validação

Após os processos de tradução e adaptação cultural do instrumento, é fundamental


verificar se o instrumento apresenta propriedades psicométricas suficientemente consistentes
para a aplicação na população-alvo. Na etapa de validação do instrumento, a versão traduzida

1
Versões original e final da escala em anexo.
34

e adaptada fez parte de um protocolo de avaliação aplicado pela entrevistadora principal e


colaboradores minuciosamente treinados para tal função. Além do treinamento inicial, o
grupo de colaboradores passou por revisões periódicas dos procedimentos padrões para
aplicação, através de encontros semanais.
Como verificação adicional da concordância das aplicações entre os avaliadores, cada
avaliador colaborador realizou duas avaliações em dupla com a pesquisadora principal
(padrão-ouro). Na primeira avaliação em dupla, a pesquisadora entrevistava o participante e
o colaborador apenas observava e registrava os resultados em protocolo. Posteriormente, na
segunda aplicação, pesquisador e colaborador trocavam de papéis. O intuito desse método
foi verificar o grau de concordância entre os resultados de cada entrevista.
O protocolo de avaliação incluiu a coleta das seguintes informações: dados
sociodemográficos (nome completo, sexo masculino ou feminino, data de nascimento, idade,
escolaridade, estado civil e ocupacional); se está em tratamento para alguma doença (diabetes
melitus, hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, dores articulares, transtornos de
humor em episódio atual e/ou histórico de Acidente Vascular Cerebral ou Infarto Agudo do
Miocárdio); rastreio cognitivo breve através do Mini Exame do Estado Mental (MEEM); e a
versão final da EMRII-BR. O protocolo do estudo encontra-se no ANEXO 3.
Conforme descrito no termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), no
primeiro contato com os participantes, eles foram informados a respeito do trabalho e de sua
relevância, assim como dos procedimentos de avaliação envolvidos na participação e seus
direitos. Todos os participantes assinaram o TCLE.

5.2 AMOSTRA

A seleção da amostra foi realizada por conveniência, constituída por idosos abordados
no momento de espera pela sua consulta, no complexo do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), em praças e igrejas. Foram incluídos
indivíduos dos sexos masculino e feminino, falantes do português brasileiro, com diferentes
níveis de escolaridade, residentes na cidade de Belo Horizonte e região metropolitana, acima
de 60 anos, com capacidade física e mental para informar seu consentimento, bem como de
responder ao questionário proposto. Os critérios de exclusão compreenderam: presença de
diagnóstico de síndrome demencial ou doença terminal; residentes de Instituições de Longa
Permanência (ILPI’s); e necessidade de internação hospitalar frequente. Os critérios de
inclusão e exclusão mencionados têm como referência central o estudo original do
35

instrumento The Multidimensional Individual and Interpessoal Resilience Measure.


(MARTIN et al., 2015)

5.3 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Para a descrição da amostra foram calculadas medidas adequadas específicas para


variáveis contínuas e categóricas. Para as variáveis contínuas obteve-se a média, o desvio-
padrão, a mediana, o intervalo interquartil e o mínimo/máximo. A normalidade dos dados foi
verificada através teste Kolmogorov-Smirnov. E para as variáveis categóricas obteve-se a
frequência.
A Análise Fatorial Exploratória (AFE) foi escolhida para a análise do presente
conjunto de dados, tendo em vista que a escala do presente estudo é relativamente recente na
literatura. O único estudo a investigar as características psicométricas foi o estudo de
desenvolvimento da escala, em sua versão original. Logo, uma vez que a EMRII-BR, versão
devidamente traduzida e adaptada, passou por modificações, a AFE tem como objetivo
investigar um novo modelo fatorial, possivelmente mais simples e, portanto, melhor.
Na EMRII-BR a maior parte dos itens apresentam pontuação positiva, não reversa.
Os cinco itens de pontuação reversa, para realização da análise, foram devidamente
transformados no banco de dados, por exemplo: o item 6 da EMRII-BR, sendo de pontuação
reversa, ao receber uma pontuação 2 (escala likert 1-5) por um dado indivíduo, foi substituído
pela pontuação 4.
A análise psicométrica da escala foi dividida em três etapas: análise fatorial e análise
de confiabilidade e de correlação.

5.3.1 Análise fatorial

Decidiu-se realizar a Análise Fatorial Exploratória (AFE) neste estudo. O objetivo


geral da AFE é explicar a quantidade máxima de variância comum em uma matriz de
correlação, utilizando o menor número de constructos explicativos, também chamados de
variáveis latentes, que, na análise fatorial, são representados pelos fatores. Em outras
palavras, são objetivos da AFE: compreender a estrutura de um conjunto de variáveis (itens);
construir uma escala para medir as variáveis latentes; e reduzir a escala de forma que ela
mantenha seu propósito original.
Em relação ao número de fatores extraídos, os critérios para extração dos fatores são:
36

● Teoria: têm-se uma ideia do número de constructos latentes, a partir de


estudos prévios, no caso, o estudo da escala original (Multidimensional
Individual and Interpersonal Resilience Measure).
● Critério de Kaiser: extração do número de eigenvalues superiores a 1.
Eigenvalues consistem em representações matemáticas da variância dada pelo
agrupamento dos itens.
● Análise paralela: teste estatístico que sugere quantos eigenvalues são maiores
que a chance. Em síntese, este teste realiza o cálculo eigenvalues para o
conjunto de dados; randomiza os dados e recalcula os eigenvalues; e compara
os eigenvalues encontrados para determinar se são iguais.
Em relação a estrutura simples, consistência interna e coerência, os critérios para
garantir que o modelo encontrado representa uma estrutura simples foi selecionada a
estimativa de ajuste (fitting estimation), que consiste no tipo de análise estatística utilizada
para determinar os pesos dos fatores. No caso, a estimativa por máxima verossimilhança
(Maximum-Likelihood Estimation) foi utilizado.
No presente estudo, portanto, foi definida a rotação oblíqua, do tipo Promax.
Em relação à adequação do modelo, os critérios elecados para verificá-lo foram os
índices de ajuste (fit index), a confiabilidade e a teoria.
Os índices de adequação se dividem entre aqueles que pretendem verificar a qualidade
do modelo e, portanto, visa o alcance de valores elevados; e aqueles índices de estatística
residual, que representam a variância indesejada entre a matriz reproduzida e a real, e,
portanto, visa alcançar valores pequenos. Para avaliar a qualidade do modelo foi utilizado o
teste qui-quadrado com valor de significância superior a 0,05; o Tucker-Lewis Index (TLI)
maior que 0,95; e o Root Mean Square Error (RMSEA) entre 0,05 e 0,10. Para avaliar a
confiabilidade do modelo será utilizado o alfa de Cronbach. Uma vez definida a adequação
do modelo foram nomeados os fatores. (HOOPER et al., 2018)

5.3.2 Confiabilidade Inter avaliador e teste-reteste


As confiabilidades inter avaliador e teste-reteste foram calculadas por meio do
coeficiente de correlação intraclasse, que geralmente é indicado para contextos envolvendo
2 ou mais avaliadores e quando as variáveis analisadas são contínuas, seguem uma
distribuição normal e são independentes. (PORTNEY e WATKINS, 2000) No caso do
presente estudo, foram comparados os escores totais da EMRII-BR obtidos para cada
avaliador (equivalência entre os avaliadores) e em diferentes momentos (teste-reteste).
37

A confiabilidade inter avaliador pretende medir o grau de concordância entre os


avaliadores ao avaliarem um mesmo indivíduo. Para as análises deste trabalho, foram
incluídos os quatro avaliadores que participaram de todo o processo de coleta de dados do
estudo de validação, sendo o avaliador 1 considerado o padrão-ouro, por ter participado de
todo o processo de adaptação transcultural e por ter conduzido o treinamento dos demais
colaboradores.
Para a avaliação da estabilidade temporal, o reteste foi realizado em um total de 15
participantes, sendo 11 deles entrevistados após um mês e 4 entrevistados após 10 meses.
Para a análise estatística, foram comparados os escores totais obtidos em cada um os
momentos de avaliação. Tanto no teste quanto no reteste as variáveis seguiram uma
distribuição normal, o que cumpre um dos critérios para o cálculo do coeficiente de
correlação intraclasse.

5.3.3 Correlações
Por fim, para investigar a relação entre o escore total da EMRII-BR e as variáveis
demográficas e epidemiológicas como escolaridade, número total de doenças relatadas e
escore total do Mini-Exame do Estado Mental, foi selecionada as correlações de Pearson e
Spearman de acordo com a distribuição da variável.
Para as análises estatísticas descritivas e de confiabilidade utilizamos o pacote
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). E para a Análise Fatorial
Exploratória, incluindo a descrição gráfica do número de fatores realizamos a análise por
meio do software JASP.
38

6 RESULTADOS
6.1 ADAPTAÇÃO CULTURAL DA ESCALA

O processo de adaptação cultural da escala resultou não só de sua tradução do inglês


para o português brasileiro, mas também de algumas modificações estruturais, visando
atender às características do público-alvo e favorecer a compreensão. No estudo original, a
MIIRM é aplicada no contexto de um estudo mais amplo, fazendo parte de um protocolo de
avaliação enviado por e-mail. No referido estudo, a escala original é, portanto, autoaplicada.
No presente estudo, diferentemente do original, decidiu-se adaptar a escala para o modelo de
entrevista, visando incluir participantes analfabetos e/ou com possíveis deficiências visuais.

6.1.1 Reunião dos especialistas


Os resultados da discussão do comitê de especialistas são apresentados na tabela 2, a
seguir. As modificações sugeridas foram acatadas apenas em condições de unanimidade entre
os especialistas.

Tabela 2: Descrição das modificações e questionamentos levantados na reunião dos especialistas


conforme critérios de equivalência
39

Tabela 2: Descrição das modificações e questionamentos levantados na reunião dos especialistas conforme critérios de equivalência
CRITÉRIOS DE EQUIVALÊNCIA
Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso
(as palavras (expressões coloquiais (às vezes, itens (muitas vezes, palavras ou
significam a mesma ou idiomáticas são descrevem seu significado conceitual
coisa? Existem difíceis de traduzir; o experiências da vida variam entre culturas; pode
múltiplos significados comitê de especialistas diária, muitas vezes, ser necessário modificar os
para um determinado deve formular uma particulares para itens, excluir alguns e incluir
item? Existem expressão aproximada determinado país ou outros em seu lugar)
inconsistências para a versão traduzida cultura da escala
gramaticais na do instrumento) original; nesses casos,
tradução?) o item deve ser
substituído por uma
experiência
semelhante e
conhecida na cultura-
alvo)
Título: A Escala Retirar o artigo "A". Inclusão, no início do título Versão Brasileira da Escala
Multidimensional de de "Versão Brasileira da" e, Multidimensional de
Resiliência Individual e na sigla, inclusão de "BR" no Resiliência Individual e
Interpessoal (EMRII) final, após traço. Interpessoal (EMRII-BR)

Instrução: Para cada Substituição de Instrução: Para cada uma


pergunta abaixo, por favor, "caixas" por das perguntas abaixo, por
marque uma das caixas "opções"; "assinale" favor, marque uma das
com a sua resposta. por "marque"; incluir opções.
"uma das opções
abaixo" para maior
clareza.
40

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso

Opções de resposta (para Alteração dos termos Pontuação da tradutora: A escala permite dizer que a Opções de resposta (para
os itens 1 a 8) - Nem um de gradação para "sometimes", afirmação nunca é os itens 1 a 8) - Nunca
pouco verdadeiro, melhor definição dos inicialmente traduzido verdadeira, ou seja, admite o verdadeiro, Raramente
Raramente verdadeiro, Às extremos. como "às vezes" não extremo negativo, mas não o verdadeiro, Às vezes
vezes verdadeiro, corresponde à extremo positivo. É desejável verdadeiro,
Frequentemente neutralidade, mas sim a que os extremos estejam Frequentemente
verdadeiro, Quase sempre uma porcentagem bem definidos para conferir verdadeiro, Muito
verdadeiro. próxima a 30% no inglês, variabilidade aos dados frequentemente
apesar de, no português coletados. Potencial desafio verdadeiro.
brasileiro, o termo "às psicométrico: diferentes
vezes" ser extensões das opções de
correspondente à resposta (1-5/1-10/1-4).
neutralidade.

Itens 1 a 8 Itens 1 a 8
1. Eu consigo lidar com Fonética do verbo Considerada uma 1. Eu consigo lidar com
qualquer coisa que vier. "vier" foi questão relevante qualquer coisa que
questionada; para avaliar resiliência acontecer.
sugerida mudança em idosos.
para "acontecer".
2. Eu sou capaz de me Sem alterações. 2. Eu sou capaz de me
adaptar a mudanças. adaptar a mudanças.

3. Eu tendo a me recuperar Sugestão de 3. Eu costumo me


rapidamente após doenças substituição de "eu recuperar rapidamente
e dificuldades. tendo a" por "eu após doenças ou
costumo". dificuldades.
Substituição da
conjunção "e" por
"ou".
41

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso

4. Quando um problema Substituir a palavra 4. Quando um problema


me perturba, uma das "relevante" por me perturba, uma das
primeiras coisas que faço é "importante". Do primeiras coisas que faço
analisar a situação e singular para o plural é analisar a situação e
considerar toda em "todas as considerar todas as
informação relevante. informações informações importantes.
importantes".

5. Antes de criticar uma Troca de ordem "eu Considerada uma 5. Antes de criticar uma
pessoa, eu tento imaginar tento me colocar no questão de difícil pessoa, eu tento me
como ela se sentiria se eu lugar dela e imaginar compreensão. colocar no lugar dela e
estivesse no lugar dela . como ela se sentiria". imaginar como ela se
sentiria.

6. Às vezes acho difícil A presença do 6. Eu acho difícil enxergar


enxergar as coisas do advérbio de as coisas do ponto de
ponto de vista de outra frequência "às vezes" vista de outra pessoa.
pessoa. foi questionada.
Acordada a retirada.

7. Muitas vezes, eu não Eu não consolo as Considerada uma 7. Eu não consolo as


consolei uma pessoa que pessoas quando elas questão de difícil pessoas quando elas
precisava. precisam. compreensão. precisam.
42

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso

8. Às vezes, quando Retirada do termo "às 8. Quando pessoas estão


pessoas estão conversando vezes". falando comigo, eu me
comigo, eu me vejo vejo desejando que elas
desejando que elas fossem fossem embora.
embora.

Opções de resposta (para Manter as opções de Opções de resposta (para


os itens 9 a 11) - Discordo resposta anteriores os itens 1 a 11) - Nunca
fortemente, Discordo, dos itens 1 a 8, como verdadeiro, Raramente
Neutro, Concordo, forma de facilitar a verdadeiro, Às vezes
Concordo Fortemente. compreensão dos verdadeiro,
participantes. Frequentemente
verdadeiro, Muito
frequentemente
verdadeiro.

Itens 9 a 11 Itens 9 a 11

9. Em geral tenho Acréscimo do 9. Em geral, eu tenho


expectativas de que mais pronome "eu". expectativas de que mais
coisas boas aconteçam coisas boas aconteçam
comigo do que coisas ruins. comigo do que coisas
ruins.

10. Eu estou sempre Sem alterações. 10. Eu estou sempre


esperançoso(a) em relação esperançoso(a) em
ao meu futuro. relação ao meu futuro.
43

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso


11. Em tempos de dúvidas
eu geralmente espero o Substituição de "em 11. Em momentos de
melhor. tempos de dúvida" incerteza, eu geralmente
para "em momentos espero o melhor.
de incerteza".

12. Onde você acredita que Questionamento em relação 12. Onde você acredita
você se posiciona nesse a essa questão: no Brasil, as que você se posiciona
momento da sua vida em pessoas que pontuam 10, de nesse momento da sua
relação às outras pessoas fato, apresentam mais vida em relação às outras
no Brasil? (As pessoas que recursos? A pergunta remete pessoas? (As pessoas que
marcaram 10 têm mais a como a pessoa se sente em marcaram 10 têm mais
dinheiro, maior relação a isso dinheiro, maior
escolaridade e os (posicionamento financeiro). escolaridade e os
empregos mais Esse é um valor social? empregos mais
respeitados. Quanto mais Pontuação de 1 a 10, respeitados. Quanto mais
alto na escala, mais perto enquanto os demais itens alto na escala, mais perto
você está do topo). variam de 1 a 5 sugere que você está do topo).
este item é um dos que mais
influenciam o nível de
resiliência avaliado, hipótese
esta que foi fortemente
questionada por todos os
especialistas. Pela
experiência dos especialistas,
muito provavelmente essa
especificação não é
pertinente à população
brasileira.
44

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso

13. Em geral, quão Sem alterações. 13. Em geral, quão


satisfeito(a) você está com satisfeito(a) você está
a sua situação financeira? com a sua situação
financeira?

Opção de resposta do item Sem alterações. Opção de resposta do


13: 1 (Nem um Pouco item 13: 1 (Nem um
Satisfeito(a)) a 10 (Muito Pouco Satisfeito(a)) a 10
Satisfeito(a)) (Muito Satisfeito(a))

Opções de resposta (para Novos questionamentos Opções de resposta (para


os itens 14 a 18) - Nunca, acerca dos problemas os itens 14 a 18) - Nunca,
Poucas vezes, Às vezes, psicométricos da escala. Poucas vezes, Às vezes,
Frequentemente. Acréscimo da opção Frequentemente, Sempre.
"sempre", para equiparar a
extensão de 1 a 5.
Itens 14 a 18 Itens 14 a 18
14. Com que frequência Sem alterações. 14. Com que frequência
você se sente solitário(a)? você se sente solitário(a)?

15. Com que frequência Substituição dos 15. Com que frequência
seu cônjuge, filhos, amigos termos "cônjuge" por seu parceiro, filhos,
próximos e/ou parentes te "parceiro", "finanças" amigos próximos e/ou
dão conselhos ou por "financeiros" e parentes te dão conselhos
informações sobre "família" por ou informações sobre
problemas de saúde, "familiar". problemas de saúde,
finanças ou família? financeiro ou familiar?
45

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso

16. Com que frequência Substituição dos 16. Com que frequência
seu parceiro, filhos, amigos termos "cônjuge" por seu parceiro, filhos,
próximos e/ou parentes te "parceiro", "caronas" amigos próximos e/ou
ajudam com tarefas diárias por "transportes", e parentes te ajudam com
tais como compras, retirada da descrição tarefas diárias tais como
caronas, ou te ajudando "te ajudando com". compras, transportes, ou
com tarefas de casa? tarefas de casa?

17. Com que frequência Substituição dos 17. Com que frequência
seu parceiro, filhos, amigos termos "cônjuge" por seu parceiro, filhos,
próximos e/ou parentes "parceiro". amigos próximos e/ou
estão dispostos a te parentes estão dispostos
escutar quando necessita a te escutar quando você
falar sobre suas necessita falar sobre suas
preocupações ou preocupações ou
problemas? problemas?

18. Com que frequência Sem alterações. 18. Com que frequência
seu parceiro, filhos, amigos seu parceiro, filhos,
próximos e/ou parentes te amigos próximos e/ou
fazem sentir amado(a) e parentes te fazem sentir
cuidado(a)? amado(a) e cuidado(a)?

Opções de resposta (para Acréscimo de mais um termo Opções de resposta (para


os itens 19 e 20) - Nunca, na gradação "sempre". os itens 19 e 20) - Nunca,
Poucas vezes, Às vezes, Poucas vezes, Às vezes,
Frequentemente. Frequentemente, Sempre.
46

Versão T1.2 Semântica Idiomática Experencial Conceitual Versão de Consenso


Itens 19 a 20 Itens 19 a 20
19. Com que frequência Substituir Questionamento: não 19. Com que frequência
seu cônjuge, filhos e "demandar" por necessariamente ser pouco seu parceiro, filhos,
amigos próximos "cobrar". demandado pela família amigos próximos e/ou
demandam demais de significa mais ou menos parentes cobram demais
você? resiliência. de você?
20. Com que frequência Sem alterações. 20. Com que frequência
sua esposa (seu marido), seu parceiro, filhos,
filhos, amigos próximos amigos próximos e/ou
e/ou parentes criticam o parentes criticam o que
que você faz? você faz?

Opções de resposta (para Sem alterações. Opções de resposta (para


os itens 21 e 22) - Nem um os itens 21 e 22) - Nem um
pouco, Um pouco, pouco, Um pouco,
Moderadamente, Muito. Moderadamente, Muito.

Itens 21 a 22 Itens 21 a 22
21. O quanto você se Sugestão: "O quanto Espiritualidade e 21. O quanto você se
considera uma pessoa você acredita que é religiosidade são conceitos considera uma pessoa
religiosa? uma pessoa que diferentes, o que praticante da sua religião?
pratica sua religião?" provavelmente demandaria
uma explicação para o
entrevistado.

22. O quanto você se Substituir "espiritual" 22. O quanto você se


considera uma pessoa por "espiritualizada". considera uma pessoa
espiritual? espiritualizada?

Instruções de pontuação: Ajustes gráficos e Instruções de pontuações


(...) gramaticais foram da EMRII-BR
realizados.
47
48

6.1.2 Estudo-piloto

Durante o estudo piloto, foram entrevistados, no total, 26 indivíduos, acima de 60


anos. As estatísticas descritivas são apresentadas abaixo, na tabela 3.

TABELA 3: Caracterização da amostra do estudo-piloto


n = 26

SEXO:
MASCULINO 17 (65,4%)
FEMININO 9 (34,6%)
IDADE 73,35 (1,374) Mín.-Máx. 62-88

ESCOLARIDADE (ANOS) 8,15 (1,003) 0-17

MEEM 26,23 (0,564 20-30

Legenda: MEEM – Mini Exame do Estado Mental.


*Análises realizadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

No meio do estudo-piloto realizamos uma reunião com a presença dos investigadores


principais para definição das últimas modificações na escala antes do estudo de validação.
As modificações realizadas permitiram a definição da versão final da EMRII-BR, traduzida
e adaptada.

6.2 ESTUDO DE VALIDAÇÃO

6.2.1 Análises descritivas


Nas análises descritivas, as variáveis foram classificadas entre contínuas ou
categóricas, para definição dos testes mais adequados. As seguintes variáveis contínuas
analisadas foram analisadas a partir da média, desvio-padrão, mediana e intervalo
interquartil: idade, escolaridade, número de condições clínicas relatadas, escore total do
Exame do Estado Mental. De acordo com o teste Kolmogorov-Smirnov, as variáveis
contínuas não seguiram um padrão de normalidade.
49

TABELA 4: Análises descritivas – variáveis contínuas


N = 187
MÉDIA (DP) MÍN. – MÁX. INTERVALO VARIÂNCIA
INTERQUARTIL
IDADE 69,23 (6,912) 60 - 91 9 47,780
ESCOLARIDADE 7,16 (4,996) 0 – 25 7 24,960
CONDIÇÕES 1,87 (1,453) 0-6 2 2,112
CLÍNICAS (N)
MEEM 25,30 (3,165) 14 - 30 4 10,017
EMRII-BR (TOTAL) 90,38 (11,067) 59 - 117 15 122,484
Legenda: MEEM – Mini Exame do Estado Mental; EMRII-BR: Escala Multidimensional de Resiliência
Individual e Interpessoal.
Análises realizadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
Já as variáveis categóricas analisadas seguem descritas, em suas respectivas
frequências na tabela 5.
TABELA 5: Análises descritivas – variáveis categóricas
N = 187
N (%)
Sexo
Feminino 122 (65,2)
Masculino 65 (34,8)
Estado civil
Casado 99 (52,9)
Viúvo 45 (24,1)
Solteiro 22 (11.8)
Divorciado 21 (11.2)
Aposentado(a) 138 (73,8)
Possui trabalho atual 57 (30,5)
Possui uma religião 180 (96,3)
Condições clínicas relatadas
DM 40 (21,4)
HAS 108 (57,8)
Hipercolesterolemia 50 (26,7)
Dor articular 33 (17,6)
AVC 7 (3,7)
IAM 12 (6,4)
Transtornos de humor 28 (15,0)

Legenda: DM – Diabetes melitus; HAS – Hipertensão


Arterial Sistêmica; AVC - Acidente vascular cerebral;
IAM - Infarto Agudo do Miocárdio
Análises realizadas no Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS)

6.2.2 Estrutura fatorial da EMRII-BR

A amostra foi considerada adequada para a análise fatorial, de acordo com os testes
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), cujo resultado maior que 0,5 e o teste de esfericidade de
50

Bartlett, com valor de significância menor que 0,05. (HAIR et al., 2006) Os resultados são
apresentados na tabela 6.

TABELA 6: KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett


Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra 0,661
Teste de esfericidade de Bartlett
Chi-quadrado aprox.. 655,75
df 7
Sig. 231
< 0,001

*Análises realizadas no Statistical Package for the Social


Sciences (SPSS)

Para o conjunto de variáveis analisadas neste estudo, a análise paralela sugeriu um


modelo de 5 fatores, enquanto os resultados no gráfico de declividade (scree plot) sugeriu
um modelo de 3 fatores, conforme descrito no gráfico 1. Os pontos interligados por um
declive significativo nos eigenvalues representaram o número de fatores extraídos.

Gráfico 1: Scree Plot para descrição gráfica do número de fatores. Análise realizada no software JASP.

O critério de Kaiser sugere a extração de um único fator para eigenvalues acima de 1.


No estudo da escala em sua versão original, foram encontrados 8 fatores. Logo, o modelo
apresentado pela análise paralela é o mais próximo do estudo original.
51

Para alcance de uma estrutura mais simples, conforme resultados da análise paralela,
foram retirados os itens 3 (“Eu costumo me recuperar rapidamente após doenças ou outras
dificuldades da vida”), 5 (“Antes de criticar uma pessoa, eu tento me colocar no lugar dela
e imaginar como ela se sentiria”), 7 (“Eu deixo de consolar as pessoas quando elas
precisam”), 8 (“Quando as pessoas estão falando comigo, eu me pego desejando que elas
fossem embora”) e 14 (“Com que frequência você se sente solitário?), que na tabela de pesos
dos componentes não apresentaram pesos superiores a 0,3 (r=0.3 corresponde a um tamanho
de efeito médio; aproximadamente 10% da variância do item é explicada pelo fator
correspondente). É esperado que cada item apresente um peso para um único fator. Casos em
que um mesmo item apresenta pesos para mais de um fator, ou para nenhum fator, sugere-se
remover o item da análise. No caso, os itens retirados (descritos acima) apresentaram pesos
para nenhum dos fatores.

TABELA 7: Pesos dos componentes


Itens RC 1 RC 2 RC 3 RC 4 RC 5 Uniqueness
EMRII_BR_1 0,127 -0,058 0,499 -0,167 0,192 0,725
EMRII_BR_10 0,027 -,018 -0,108 0,715 0,068 0,505
EMRII_BR_11 0,038 0,158 0,036 0,466 0,006 0,721
EMRII_BR_12 0,027 0,129 -0,080 0,095 0,413 0,770
EMRII_BR_13 -0,034 -0,038 0,293 -0,064 0,783 0,349
EMRII_BR_15 0,348 -0,216 0,105 0,206 -0,122 0,745
EMRII_BR_16 0,507 -0,109 -0,024 0,025 0,005 0,746
EMRII_BR_17 0,574 0,175 -0,092 0,091 0,115 0,515
EMRII_BR_18 0,785 0,086 0,024 -0,001 -0,021 0,352
EMRII_BR_19 -0,211 0,973 -0,039 0,164 0,072 0,076
EMRII_BR_2 -0,053 -0,011 0,320 0,056 0,069 0,883
EMRII_BR_20 0,215 0,351 0,032 -0,046 0,010 0,798
EMRII_BR_21 0,139 0,111 0,385 -0,034 0,031 0,788
EMRII_BR_22 0,017 -0,030 0,532 0,000 -0,140 0,699
EMRII_BR_4 -0,178 -0,088 0,384 0,195 0,100 0,768
EMRII_BR_6 -0,098 0,177 0,351 -0,005 -0,269 0,769
EMRII_BR_9 0,092 0,021 0,126 0,510 -0,028 0,628
*Análise Fatorial Exploratória realizada no software JASP

Neste estudo, tanto a qualidade do modelo apresentado quanto a estatística residual


se mostraram ótimas, com o Tucker-Lewis Index (TLI) maior que 0,95 e o Root Mean Square
Error (RMSEA) menor que 0,06. A tabela 8 apresenta os índices em seus valores exatos.
Além disso, o valor qui-quadrado (X2) é a medida mais tradicional para avaliar a adequação
geral do modelo. Uma boa adequação do modelo é indicada pelo valor estatisticamente não
significativo (p > 0,05). No presente estudo, portanto, o valor qui-quadrado indica um bom
modelo, conforme descrito na tabela 9.
52

TABELA 8: Additional fit index


RMSEA RMSEA 90% TLI BIC
confidence
MODELO 0,030 0 – 0,052 0,959 -251,415
*Análise realizada no software JASP

TABELA 9: Teste qui-quadrado


VALOR DF p
MODELO 151,590 131 0,105
*Análise realizada no software JASP

Em relação à confiabilidade, o modelo de cinco fatores apresentou um alfa de


Cronbach aceitável (α = 0,705). Quando analisados separadamente, os fatores não
apresentaram confiabilidade satisfatória, com valores de α < 0,7.
53

Figura 2: Diagrama do modelo de cinco fatores. AFE realizada no software JASP.

Ao comparar os fatores encontrados com aqueles do estudo original da escala,


podemos verificar que há sentido na estrutura de cinco fatores apresentada. No estudo
original, os oito fatores encontrados foram nomeados como (1) auto-eficácia, (2) acesso a
rede de suporte, (3) otimismo, (4) recursos sociais e econômicos percebidos, (5)
espiritualidade e religiosidade, (6) acordo relacional, (7) expressão emocional e
comunicação, e (8) regulação emocional. Neste estudo, os cinco fatores extraídos se agrupam
de forma semelhante. A nomeação dos fatores é apresentada na tabela 10, em conjunto com
54

os valores de α para cada um dos fatores e seus respectivos itens, média, desvio padrão e
pesos correspondentes.

TABELA 10: Pesos dos componentes dos fatores encontrados na AFE


Pesos dos componentes (itens)
M
Itens α 1 2 3 4 5
(DP)
FATOR 1: Acesso à rede de suporte 0,645 3,878
15: ...te dão conselhos... 0,658 (0,291) 0,348
16: ...ajudam com tarefas diárias... 0,604 3,813 0,507
17: ...estão dispostas a te escutar... 0,548 (1,312) 0,574
18: te fazem sentir amado(a) e cuidado(a)? 0,477 3,513 0,785
(1,479)
3,984
(1,272)
4,203
(1,083)
0,536 3,246
0,366 (0,159) 0,973
FATOR 2: Relacionamento interpessoal
0,366 3,134 0,351
19: ...cobram demais de você?
(1,473)
20: ...criticam o que você faz? 3,358
(1,305)
0,539 3,569
0,490 (0,355) 0,499
0,504 3,904 0,320
0,494 (1,058) 0,384
FATOR 3: Auto-eficácia
0,518 3,947 0,351
1: ... consigo lidar...
(1,046)
2: ...capaz de me adaptar...
0,489 3,749 0,385
4: ...problema me perturba...
0,464 (1,216) 0,532
6: ...dificuldade de enxergar as coisas do
3,433
ponto de vista...
(1,196)
21: ... praticante de sua religião?
22: ... espiritualizada? 3,053
(0,828)
3,326
(0,901)
0,607 4,442
0,494 (0,075) 0,510
FATOR 4: Otimismo 0,477 4,369 0,715
9: ...mais coisas boas aconteçam... 0,550 (0,982) 0,466
10: ...esperançoso(a)... 4,439
11: ...espero o melhor... (0,978)
4,519
(0,912)
0,500 6,882
(0,083)
FATOR 5: Recursos sociais e econômicos
0,333 0,413
percebidos
0,333 6,824 0,783
12: ...acredita que se posiciona...
(2,273)
13: ...situação financeira? 6,941
(2,500)
70,56
TOTAL DE ITENS 0,705 (9,236)
Nota: Pesos dos componentes > 0,30 foram incluídos, destacados em negrito
α=confiabilidade dos fatores analisados separadamente e dos itens dentro das subscalas
55

6.2.4 Confiabilidade interavalidor

As estimativas do coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e os intervalos de


confiança de 95% foram calculados por meio do pacote estatístico Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), baseado no modelo misto de dois fatores e concordância absoluta.
Os valores encontrados para cada uma das três duplas de avaliadores indicaram uma
confiabilidade praticamente absoluta, conforme indicado na tabela 11.

TABELA 11: Coeficiente de correlação intraclasse – confiabilidade inter avaliador


Avaliadores Correlação intraclasse Intervalo de confiança de 95%
1e2 0,996 0,271 – 1
1e3 1 -
1e4 1 -
*Análises realizadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

6.2.5 Confiabilidade teste-reteste

Os escores totais da EMRII-BR, tanto no teste quanto no reteste, seguiram uma


distribuição normal, conforme o teste de Shapiro-Wilk (p > 0,05), logo, preencheram os
critérios para o cálculo do coeficiente de correlação intraclasse. Os resultados do coeficiente
de correlação intraclasse (CCI) mostraram uma boa confiabilidade (CCI > 0,75 e < 0,90),
conforme descrito na tabela 12.

TABELA 12: Coeficiente de correlação intraclasse – confiabilidade teste-reteste


Correlação intraclasse Intervalo de confiança de
95%
Single Measures 0,835 0,573 – 0,941
*Análises realizadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

6.2.6 Correlações
Conforme a análise de correlação de Pearson, a única relação estatisticamente
significativa apontada foi entre o escore total da EMRII-BR e o número de doenças relatadas
(p<0,05; r= -0,179). Essas duas variáveis apresentaram uma relação negativa, porém fraca.
Embora a correlação de Spearman seja o teste mais apropriado para os presentes dados,
devido à natureza não normal destes, não houve qualquer evidência estatística de relação
significativa entre as variáveis mencionadas.
56

Apesar da maioria das relações apresentadas não serem estatisticamente


significativas, algumas tendências chamaram atenção. Por exemplo, a correlação positiva
entre o escore total da EMRII-BR e idade (p = 0,658; rho = 0,033); e a correlação negativa
entre o escore total da EMRII-BR e escolaridade (p = 0,134; rho = -0,110) e escore total do
Mini-Mental (p = 0,422; rho = -0,059).
Para correlacionar as variáveis categóricas, os escores totais da EMRII-BR divididos
em três categorias: (1) 45 a 60; (2) 61 a 75; e (3) 76 a 90. Essa variável foi, então,
correlacionada separadamente com as variáveis sexo, estado civil, estado da aposentadoria,
presença de trabalho atual, presença de religião, presença de condições clínicas específicas
(hipertensão, diabetes mellitus, hipercolesterolemia, dor articular, acidente vascular cerebral
(AVC), infarto agudo do miocárdio (IAM) e transtornos de humor). Os resultados do teste
qui-quadrado de Pearson para cada uma das relações são apresentados na tabela 13.

TABELA 13: Teste qui-quadrado de Pearson (X2) para análise da relação entre as variáveis
categóricas
EMRII-BR x Valor df p
Sexo 2,177 2 0,337
Estado civil 9,648 6 0,140
Aposentado(a) 2,019 2 0,364
Trabalho atual 4,329 2 0,115
Religião 3,551 2 0,169
Hipertensão 0,331 2 0,847
Diabetes mellitus 0,386 2 0,824
Hipercolesterolemia 5,218 2 0,074
Dor articular 1,550 2 0,461
AVC 3,551 2 0,169
IAM 3,710 2 0,156
Transtornos de humor 3,005 2 0,223
*Análises realizadas no Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS)

Conforme descrito na tabela, não houve associação estatisticamente significativa com


qualquer uma das variáveis relacionadas ao escore total da EMRII-BR (p > 0,05), sugerindo
que a hipótese de independência entre as referidas variáveis não pode ser descartada.
57

7 DISCUSSÃO

O processo de tradução, adaptação transcultural e validação de um instrumento de


avaliação é uma metodologia que requer um equilíbrio entre a busca de um instrumento com
máxima equivalência ao original e, ao mesmo tempo, um instrumento otimizado, conforme
a população a que se destinará. Uma vez que há pouco consenso na literatura acerca das
diretrizes para esse processo, é muito importante que os estudos descrevam claramente o
passo-a-passo empregado, bem como discutam os resultados de cada etapa. No presente
estudo, foram seguidas as recomendações de Beaton e colaboradores (2000) e de Gorenstein
e colaboradores (2016).

7.1 PROCESSO DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO CULTURAL

No processo de tradução da escala original do inglês para o português brasileiro houve


pouca discordância entre os tradutores para definição da versão síntese das traduções.
Atribuiu-se esse resultado ao fato de que a escala original apresenta, relativamente, poucas
expressões idiomáticas e/ou conceituais radicalmente diferentes no português brasileiro.
Na reunião dos especialistas, o principal foco de discussões foi relativo às escalas de
pontuação originais. Mediante consenso, manteve-se a escala likert de 5 pontos para os itens
1 a 11 e 14 a 20. Os itens 12 e 13 apresentam pontuação em escala de 1 a 10; e os itens 21 e
22 mantiveram escala likert de 4 pontos, conforme proposta da versão original.
Ainda não há um consenso na literatura sobre qual metodologia de adaptação
transcultural se apresenta mais eficaz. E, por isso, recomenda-se o uso de múltiplas técnicas,
conforme a viabilidade, características da população-alvo e do instrumento, com especial
atenção ao processo inicial de tradução e adaptação cultural. (GEISINGER, 1994;
MANEESRIWONGUL e DIXON, 2004; GORENSTEIN et al., 2016)
Pesquisas transculturais apresentam desafios metodológicos específicos que, em sua
maioria, remetem à qualidade dos processos de tradução e comparabilidade de resultados em
diferentes grupos culturais e étnicos. Os processos de tradução e adaptação cultural de um
instrumento, embora sejam independentes, são fundamentais quando se deseja aplicar um
instrumento numa cultura-alvo diferente daquela em que o instrumento original foi validado.
E estas etapas devem ser rigorosamente planejadas e executadas a fim de adaptar o
questionário de maneira culturalmente relevante e abrangente e, paralelamente, manter o
significado e o propósito dos itens originais. (SPERBER, 2004)
58

O processo de tradução inicial do instrumento original do inglês para o português do


Brasil realizado por falantes nativos da língua inglesa, fluentes também em português do
Brasil. Os mesmos requisitos foram atendidos para o processo de retrotradução. O amplo
conhecimento de ambas as línguas facilitou, principalmente, o alcance da equivalência
semântica e a mais correta adaptação de eventuais expressões idiomáticas. Logo, desde a
tradução inicial, já houve um cuidado na correta adaptação das expressões linguísticas
presentes, o que ficou evidente nas reuniões de síntese das traduções.
Durante a adaptação cultural, para além da tradução do inglês para o português do
Brasil, houve um enfoque na adaptação da linguagem para a população-alvo, em termos de
escolaridade e expressões mais utilizadas por idosos. Segundo Gorenstein e colaboradores
(2016), o desafio na pesquisa transcultural é desenvolver uma metodologia que integre a
perspectiva global além de ser culturalmente válida. Isto é, pretende-se alcançar a máxima
equivalência entre o instrumento original e o instrumento adaptado, por meio de um
minucioso processo de adaptação. No presente trabalho, as estratégias metodológicas
utilizadas para alcançar este propósito consistiram, principalmente, num criterioso processo
de tradução, posterior discussão entre especialistas e verificação do instrumento adaptado na
população alvo durante o estudo piloto.
Durante a reunião de especialistas, foram levantados questionamentos a respeito dos
itens de pontuação reversa. Alguns dos participantes consideraram esses itens de difícil
compreensão, fato que foi confirmado pelos aplicadores envolvidos, tanto no estudo-piloto,
quando no estudo de validação. Esses itens parecem ter um efeito negativo na aplicação da
escala, ao “interromperem” a linha raciocínio da pessoa entrevistada quando este parece já
ter compreendido o padrão das questões e respostas. Consequentemente, também por parte
do entrevistador, esses itens geram uma apreensão no momento da aplicação e uma leve
tendência a explicá-lo, para além da descrição. Por fim, estatisticamente, os itens de
pontuação reversa também pareceram contribuir para um modelo fatorial menos simples,
uma vez que para alcance da estrutura final proposta, três dos cinco itens retirados era de
pontuação reversa.
Os itens de um instrumento de avaliação, quando pontuados através de uma escala
likert, em geral, são ordenados do “mais baixo” para o “mais alto”, sendo o polo positivo à
direita e o polo negativo à esquerda. Quando essa ordenação é invertida, os itens são
considerados de pontuação reversa, isto é, o entrevistado precisa inverter seu pensamento ao
escolher a sua opção de resposta. Alguns autores mostram que, quando falantes da língua
inglesa respondem a itens de pontuação reversa, há uma leve tendência para pontuações mais
59

altas, sugerindo um viés desse tipo de questão. (YORKE, 2009; ROZIN et al., 2010;
HARTLEY, 2013; HARTLEY e BETTS, 2013)

7.2 ESTUDO DE VALIDAÇÃO

No estudo que validou a escala original, a coleta de dados foi realizada através de
correio, enquanto no presente trabalho, a coleta foi por meio de entrevista presencial.
Optamos por esta metodologia, visando incluir indivíduos analfabetos e de baixa
escolaridade.
Até o momento das análises realizadas para o presente trabalho, foi possível alcançar
um total de 195 entrevistas, sendo que 8 foram excluídas das análises, por não preencherem
todos os critérios de inclusão. Uma das recomendações mais recentes para o tamanho da
amostra em estudos de validação é de 10 vezes o número de itens da escala. (HAIR et al.,
2009) A EMRII-BR, durante o estudo de validação, apresentava 22 itens, logo, pretendia-se
alcançar uma amostra de 220 entrevistados. Embora a meta inicial não tenha sido alcançada,
consideramos suficientes para a análise dos dados, por ser superior a recomendações
anteriores de Hair e colaboradores (HAIR et al., 2006) – 5 vezes o número de itens da escala.
A média de idade dos idosos incluídos no presente estudo foi de 69,23 anos
(DP=6,912), considerada relativamente baixa. No estudo original, a média de idade dos
participantes foi de 77,35 anos (DP = 12,2 anos), sendo 48,6% da amostra do sexo feminino,
e a maioria de alta escolaridade (50,3% dos entrevistados com títulos de pós-graduação).
(MARTIN et al., 2015) A predominância de “idosos jovens” na amostra pode influenciar
níveis mais altos de resiliência, moderados por uma funcionalidade mais preservada, quando
comparados a “idosos muito idosos”. Seria interessante que estudos posteriores comparassem
os níveis de resiliência em idosos, divididos por idade em grupos de “idosos-jovens”,
“idosos-idosos”, e “idosos muito idosos”.
Realizamos a análise fatorial exploratória para avaliação psicométrica da versão
brasileira da escala. Os índices de adequação da amostra do presente estudo foram adequados.
O valor do teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi de 0,661. O estudo original encontrou 0,68,
sendo que resultados maiores que 0,5 são adequados. (HAIR et al., 2006) O teste de
esfericidade de Bartlett apresentou significância estatística < 0,001, bem como o do estudo
original (p < 0,01). (MARTIN et al., 2015)
No que diz respeito à verificação de adequação do modelo, existem diversos índices
de adequação disponíveis atualmente na literatura, o que, segundo alguns autores, contribui
60

para dúvidas sobre quais índices devem ser reportados e, ainda, quais pontos de referências
devem ser considerados. (HOOPER et al., 2018) Para avaliar a qualidade do modelo
apresentado neste estudo foi utilizado o Tucker-Lewis Index (TLI) maior que 0,95; o Root
Mean Square Error (RMSEA) menor que 0,06; e o teste qui-quadrado, com valor
estatisticamente não significativo (p > 0,05).
Neste trabalho o tipo de rotação utilizada foi a oblíqua, do subtipo promax. O objetivo
da rotação é simplificar e clarificar a estrutura dos dados. Há diversos tipos de métodos de
rotação, organizados em duas grandes classificações: rotação oblíqua e rotação ortogonal. Os
métodos de rotação oblíqua permitem que os fatores se correlacionem; enquanto os métodos
de rotação ortogonal pressupõem que não há relação entre os fatores. Nas Ciências Sociais,
geralmente, espera-se que haja uma correlação entre os fatores; logo, o tipo de rotação mais
utilizada em estudos dessa área tende a ser a oblíqua, por oferecer um uma solução mais
acurada. Além disso, se, de fato, não houver relação entre os fatores, a rotação oblíqua
oferecerá resultados muito semelhantes àqueles obtidos por meio da rotação ortogonal.
(COSTELLO e OSBORNE, 2005)
No estudo original da escala, foi utilizada a rotação ortogonal, do tipo Varimax, uma
vez que as intercorrelações entre os oito fatores, por meio da rotação oblíqua, foram baixas.
(MARTIN et al., 2015) No presente estudo, entretanto, optou-se pela rotação oblíqua, pois
acredita-se que, uma vez agrupados em uma mesma escala, pode-se pressupor que os
constructos latentes apresentam uma correlação.
A estrutura fatorial encontrada neste trabalho foi composta por um total de cinco
fatores: (1) acesso à rede de suporte; (2) relacionamento interpessoal; (3) autoeficácia; (4)
otimismo; (5) recursos sociais e econômicos percebidos. Essa estrutura apresentada é mais
simples, em comparação ao estudo original da escala, em que foram encontrados oito fatores.
No entanto, os fatores 2 e 5 agrupam apenas dois itens cada, o que torna estes fatores fracos
ou instáveis, segundo alguns autores. (COSTELLO e OSBORNE, 2005) Apesar disso, a
decisão de manter a estrutura dessa forma teve como intuito preservar a coerência teórica
entre os itens e os respectivos fatores.
No que diz respeito à consistência interna da escala, o modelo de cinco fatores
proposto apresentou um alfa de Cronbach aceitável (α = 0,705), semelhante ao valor
encontrado no estudo da versão original da escala (α = 0,720). (MARTIN et al., 2015)
Embora o valor de α obtido neste trabalho tenha sido, relativamente, um pouco inferior, a
estrutura fatorial apresentada se mostra mais simples e mais adequada. Para alcance da
referida estrutura, foram retirados cinco itens, totalizando 17 itens, agrupados em cinco
61

fatores. Apesar disso, essas mudanças não pareceram afetar drasticamente os constructos
latentes incialmente propostos.
Por exemplo, no momento de nomeação dos cinco fatores encontrados, decidiu-se
manter os nomes dos fatores sugeridos no estudo original da escala, devido à semelhança
identificada no agrupamento dos itens e evidências na literatura de que os respectivos
constructos latentes estão correlacionados com resiliência.
As confiabilidades inter avaliador e teste-reteste foram calculadas através do
coeficiente de correlação intraclasse. Foram comparados os escores totais da EMRII-BR
obtidos para cada avaliador (equivalência entre os avaliadores) e em diferentes momentos
(teste-reteste).
A confiabilidade inter avaliador teve como objetivo verificar a equivalência na
pontuação da escala, por diferentes observadores; ou seja, mostrar que uma vez aplicada por
diferentes avaliadores, as pontuações obtidas concordam significativamente. As estimativas
do coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e os intervalos de confiança de 95% foram
calculados por meio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
baseado no modelo misto de dois fatores e concordância absoluta. Os valores encontrados
para cada uma das três duplas de avaliadores indicaram uma confiabilidade praticamente
absoluta ou muito próxima de 1.
O método utilizado neste estudo para mensurar a concordância inter avaliadores
permitiu apenas verificar a equivalência de pontuação. Não foram avaliados os vieses de
aplicação. No entanto, esses vieses tendem a ser minimizados pelo treinamento e pelo fato
da aplicação se basear na leitura das perguntas, e não na interpretação do aplicador.
Já a confiabilidade teste-reteste teve como objetivo verificar a estabilidade temporal
ds dados, isto é, o quanto os resultados se mantêm consistentes após um determinado espaço
de tempo. Os escores totais da EMRII-BR, tanto no teste quanto no reteste, seguiram uma
distribuição normal, conforme o teste de Shapiro-Wilk (p > 0,05). Logo, preencheram os
critérios para o cálculo do coeficiente de correlação intraclasse. Os resultados do coeficiente
de correlação intraclasse (CCI) mostraram uma boa confiabilidade (CCI > 0,75 e < 0,90).
No presente trabalho, optou-se por verificar a confiabilidade inter avaliador e teste-
reteste através do Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI). Alguns dos indicadores
utilizados para verificar o grau de concordância incluem o Kappa de Cohen, o Kappa de
Fleiss e O Coeficiente de Correlação Intraclasse (Intra-class correlation coeficiente – ICC).
O Kappa de Cohen e o Kappa de Fleiss são indicados para casos em que há apenas dois
avaliadores ou apenas um avaliador, respectivamente. Para ambos, as variáveis analisadas
62

devem ser categóricas. Já o CCI é indicado para contextos em que há mais de dois avaliadores
e as variáveis analisadas são contínuas. Portanto, este indicador se mostrou mais adequado
para este trabalho.
Embora alguns autores optem por verificar a concordância através de métodos de
correlação, apenas a análise de confiabilidade leva em conta o grau de concordância que
poderia ocorrer devido à chance. (PORTNEY e WATKINS, 2000) Koo e Li (2016) afirmam
que, tradicionalmente, o teste t pareado, e o Bland-Altman plot costumam ser utilizados para
avaliação da confiabilidade. Entretanto, nenhum deles constitui uma medida de análise de
concordância, sendo o coeficiente de Pearson apenas uma medida de correlação, não ideal
para medidas de confiabilidade. É desejável que uma medida de confiabilidade inclua tanto
a medida de correlação quanto a concordância entre as medidas, o que é alcançado através
do coeficiente de correlação intraclasse. Atualmente, esta medida vem sendo amplamente
utilizada para calcular as confiabilidades inter avaliador, intra avaliador e teste-reteste. Tais
avaliações são consideradas fundamentais para avaliar o quanto as medidas oferecidas por
um dado instrumento de avaliação são replicáveis e, portanto, confiáveis.
O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) é uma medida descritiva utilizada
quando as variáveis são contínuas e organizadas em grupos – exemplo: teste e reteste;
avaliador 1 e avaliador 2. O objetivo dessa medida é avaliar a consistência, ou conformidade,
das medidas realizadas por múltiplos observadores ou pelo mesmo observador em diferentes
momentos. Os valores do CCI variam de 0 a 1, sendo os valores mais próximos de 1
representativos de uma confiabilidade mais forte. Sugere-se que valores de CCI menores que
0,5 indicam uma confiabilidade baixa; valores entre 0,5 e 0,75 indicam uma confiabilidade
moderada; valores entre 0,75 e 0,90 indicam uma boa confiabilidade; e valores acima de 0,90
indicam uma excelente confiabilidade.
Há diversas formas de calcular o CCI, envolvendo diferentes tipos de pressupostos, o
que aponta para a importância de reportar a sua forma para cada contexto de análise. No
presente trabalho, o cálculo da confiabilidade teste-reteste utilizou o modelo misto de dois
fatores (Two-Way Mixed-Effects Model), com a definição de concordância absoluta.
A seleção da forma do CCI para cada estudo deve partir das seguintes perguntas: (1)
o grupo de avaliadores é o mesmo para todos os participantes entrevistados?; (2) trata-se de
uma amostra de avaliadores selecionados de forma randomizada ou uma amostra específica
de avaliadores?; (3) o interesse principal consiste em verificar a confiabilidade de um único
avaliador ou a média de múltiplos avaliadores?; e (4) o objetivo principal é verificar a
consistência ou a concordância? As três primeiras perguntas servem como guias para definir
63

o “tipo” de CCI, enquanto a última pergunta sugere a “definição”. Os modelos de CCI podem
ser “aleatório de uma via” (one-way random-effects model), “aleatório de dois fatores” (two-
way random-effects model) e “misto de dois fatores” (two-way mixed-effects model). (KOO
e LI, 2016)

7.3 ANÁLISES DE CORRELAÇÃO

Neste estudo, não encontramos correlação entre o escore total de resiliência e


características sociodemográficas e epidemiológicas.
Alguns estudos na literatura analisam a correlação entre resiliência e diversos
aspectos sociais, econômicos, culturais, biológicos e psicológicos. (O'HARA et al., 2012)
Em nosso estudo, não foi encontrada uma relação estatisticamente significativa entre
o resiliência e desempenho cognitivo. Entretanto, no que diz respeito à relação entre
resiliência e funcionamento cognitivo, estudos sugerem que o uso de estratégias adaptativas
está associado a maiores níveis de funcionalidade entre idosos. Tomaszeuski e colaboradores
mostraram que o uso de estratégias compensatórias pode contribuir para maior resiliência
entre idosos, mesmo no contexto de um declínio cognitivo. (TOMASZEWSKI FARIAS et
al., 2018)
Em estudo para avaliar a relação entre resiliência em idosos, variáveis
sociodemográficas e funções cognitivas, Fortes e colaboradoras (2009) demonstrou uma
correlação positiva e significativa entre os escores de resiliência e desempenho cognitivo,
medidos pela Escala de Resiliência (PESCE et al., 2005) e pelo Miniexame do Estado Mental
(BERTOLUCCI et al., 1994).
O protocolo de avaliação do presente estudo não incluiu todas as variáveis
potencialmente correlacionadas ao comportamento resiliente. Por exemplo, há uma discussão
se a resiliência é um estado ou um traço. Chen e colaboradores (CHEN et al., 2017)
investigaram se os traços de personalidade – neuroticismo e conscienciosidade são fatores
moderadores na relação entre estresse percebido e sintomas depressivos, em idosos chineses
residentes nos Estados Unidos. Os resultados encontrados apontaram para um efeito
moderador da conscienciosidade, na medida em que a relação positiva entre estresse
percebido e sintomas depressivos foi mais fraca nos indivíduos com maiores níveis de
conscienciosidade.
Estudos longitudinais, com diversas mensurações, podem auxiliar nessa discussão.
Em um recente estudo, Sheerin e colaboradores (2018) avaliaram longitudinalmente o efeito
64

atenuador da resiliência no desenvolvimento de depressão maior e ansiedade generalizada.


Conforme os dados apresentados nesse estudo, a relação entre resiliência e o impacto de
eventos estressores ao longo da vida foi significativa. Mesmo no contexto de um grande
número de eventos estressores, a resiliência apresentou um efeito protetor contra o
desenvolvimento de psicopatologias como a depressão a ansiedade generalizada.
Embora a comunidade científica tenha prestado considerável atenção ao
envelhecimento populacional, a maior parte das iniciativas e investigações relacionadas
mantém o foco em países de alta renda per capita, ainda que estudos demográficos
evidenciem o fato de que a maior parte da população mundial acima de 60 anos viva em
países menos desenvolvidos (HE, 2012).
65

8 LIMITAÇÕES

Algumas limitações do estudo merecem ser discutidas. Por exemplo, o número da


amostra pretendido para o estudo de validação não foi alcançado. Da mesma forma, pode-se
considerar que o número de indivíduos avaliados no reteste, para a análise de confiabilidade,
também foi abaixo da média, quando comparado a outros estudos de validação de escala.
Embora o treinamento dos avaliadores tenha sido rigoroso, o número de idosos reavaliados
poderia ter sido maior.
A metodologia de avaliação de confiabilidade inter avaliador, além de ter incluído
poucos participantes, foi realizada através da aplicação em duplas. Apesar de ser um método
válido, essa metodologia aumenta a chance de que o coeficiente de correlação seja próximo
de 1.
Além disso, o viés de seleção da amostra pode ter enfraquecido a correlação entre
resiliência e as variáveis sociodemográficas e epidemiológicas, bem como a possibilidade de
generalização dos resultados psicométricos da escala para toda a população de idosos
brasileiros.
Entre as duas fases do estudo de validação, embora tenha sido realizada uma reunião
entre os pesquisadores principais para definição da versão final adaptada, poderiam ter sido
incluídos os demais especialistas envolvidos no primeiro comitê.
66

9 CONCLUSÃO

A escala The Multidimensional Individual and Interpersonal Resilience Measure


(MIIRM), proposta por Martin e colaboradores (2015), passou por um processo minucioso
de tradução e adaptação cultural, resultando na versão final Escala Multidimensional de
Resiliência Individual e Interpessoal (EMRII-BR).
Especificamente no que diz respeito à metodologia de adaptação transcultural e
validação de instrumentos de avaliação, percebe-se na literatura uma carência de guidelines
precisos. A variabilidade de estratégias ora pode contribuir para facilitar a viabilidade do
estudo, ora pode dificultar a produção de versões com características psicométricas pouco
consistentes. Por isso, é fundamental que os estudos que envolvam metodologias semelhantes
descrevam, em detalhes, as etapas conduzidas, bem como seus respectivos resultados.
O estudo de validação da EMRII-BR demonstrou que este instrumento é válido para
avaliação da resiliência em idosos, com consistência interna adequada (α = 0,705). A escolha
do método de análise fatorial exploratória (AFE) se baseou na suposição de que as
modificações realizadas no processo de tradução e validação cultural, bem como os
resultados da aplicação na população-alvo justificam a necessidade de verificar uma nova
estrutura fatorial, potencialmente mais simples que a proposta no estudo original. Apesar
disso, seria interessante, posteriormente, conduzir uma análise fatorial confirmatória, tanto
para a estrutura apresentada no estudo original, quanto a estrutura proposta no presente
trabalho.
Por fim, considera-se que este trabalho oferece mais um meio de compreender o
envelhecimento, sendo este um dos desafios mais complexos da ciência contemporânea. A
investigação da resiliência em idosos pode oferecer um novo olhar sobre como e por que os
indivíduos envelhecem da forma como entendemos esse processo hoje. Logo, o acesso a
instrumentos devidamente adaptados e validados, para cada cultura e população, possibilita
uma avaliação mais acurada do envelhecimento em suas particularidades. É fundamental que,
a partir de tais instrumentos, novas pesquisas possam investigar a resiliência em populações
específicas, como, por exemplo, idosos com comprometimento cognitivo leve; idosos com
diagnóstico de transtornos de humor; idosos com transtornos de personalidade; entre outros.
67

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73

ANEXO 1 – Versão original da MIIRM

The Multidimensional Individual and Interpersonal Resilience Measure (MIIRM)


For each question below, please mark one box with your answer .

True
Not True Rarely Sometimes
Often True Nearly All
At All True True
The Time

1. I can deal with whatever comes my way.

2. I am able to adapt to change.

3. I tend to bounce back after illness or hardship.

4. When I am confused by a problem, one of the first


things I do is survey the situation and consider all the
relevant pieces of information.

5. Before criticizing somebody, I try to imagine how they


would feel if I were in their place.

6. I sometimes find it difficult to see things from another


person’s point of view.

7. I often have not comforted another when he or she


needed it.

8. Sometimes when people are talking to me, I find myself


wishing that they would leave.

Strongly Strongly
Disagree Neutral Agree
Disagree Agree

9. Overall, I expect more good things to happen to me than


bad.

10. I’m always hopeful about my future.

11. In unclear times, I usually expect the best.

12. Where do you think you stand at this time in your life, relative to other people in the United States? (People who score 10 have the
most money, the most education and the most respected jobs. The higher you are, the closer you are to the people at the top).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Lowest Highest

13. In general, how satisfied are you with your finances?

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Not at all Satisfied Very Satisfied


A Little
Never of Sometimes Frequently
the Time
14. How often do you feel lonely?
15. How often do your spouse, children, close friends and/or relatives give
you advice or information about medical, financial, or family
problems?
74

16. How often do your spouse, children, close friends and/or relatives help
with daily tasks like shopping giving you a ride, or helping you with
household tasks?
17. How often are your spouse, children, close friends and/or relatives
willing to listen when you need to talk about your worries or
problems?
18. How often do your spouse, children, close friends and/or relatives
make you feel loved and cared for?
A Little
Never Sometimes Frequently
of the Time
19. How often do your spouse, children, close friends make too many
demands on you?
20. How often are your spouse, children, close friends and/or relatives
critical of what you do?
Not at
Slightly Moderately Very
All
21. To what extent do you consider yourself a religious person?
22. To what extent do you consider yourself a spiritual person?

MIIRM Scoring Instructions - A total score can be calculated by adding up all of the items. Higher scores indicate higher levels of resilience
and lower scores indicate lower levels of resilience (Items 6, 7, 8, 14, 19, and 20 are reversed scored). Self-Efficacy (Items 1, 2, and 3),
Emotional Regulation (Items 4 and 5), Optimism (Items 9, 10, 11) Emotional expression and communication (Items 6, 7, and 8 – all
reversed scored), Perceived economic and social resources, (Items 12, 13, and 14 (reversed scored)), Access to support network (Items 15,
16, 17, 18), Relational Accord (Items 19 and 20 – both reversed scored), and Spirituality and Religiosity (Items 21 and 22); higher scores
indicate higher levels of resilience and lower scores indicate lower levels of resilience.

Reference:
Martin, A.S., Distelberg, B., Palmer, B. W., & Jeste, D. V. (2015). Development of a new multidimensional
individual and interpersonal resilience measure for older adults. Aging & Mental Health, 19, 32-45.
75

ANEXO 2 – Versão final da EMRII-BR

(Versão Brasileira) Escala Multidimensional de Resiliência Individual e Interpessoal (EMRII-BR)

Para cada uma das perguntas abaixo, por favor, marque uma das opções. "Cada item é como uma afirmativa sobre
o(a) senhor(a). Quando eu apresentar as opções de resposta o(a) senhor(a) escolherá uma delas."

Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre


verdadeir verdadeiro verdadeiro verdadeiro verdadeiro
o
1. Eu consigo lidar
com qualquer coisa que
acontecer.
2. Eu sou capaz de me
adaptar a mudanças

3. Eu costumo me
recuperar rapidamente após
doenças ou outras dificuldades
da vida.
4. Quando um
problema me perturba, primeiro
eu analiso a situação e levo em
conta todos os detalhes
importantes.
5. Antes de criticar
uma pessoa, eu tento me colocar
no lugar dela e imaginar como
ela se sentiria.
6. Eu tenho
dificuldade para enxergar as
coisas do ponto de vista de outra
pessoa.
7. Eu deixo de
consolar as pessoas quando elas
precisam.
8. Quando as pessoas
estão falando comigo, eu me
"pego" desejando que elas
fossem embora.

9. Em geral, eu tenho
expectativas de que mais coisas
boas aconteçam comigo do que
coisas ruins.
10. Eu estou sempre
esperançoso(a) em relação ao
meu futuro.
76

11. Em momentos de
incerteza, eu espero o melhor.

12. Onde você


acredita que você se posiciona
nesse momento da sua vida em 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
relação às outras pessoas? (As
pessoas que marcaram 10 têm
mais dinheiro, maior Mais baixo Mais alto
escolaridade e os empregos
mais respeitados. Quanto mais
alto na escala, mais perto você
está do topo).
13. Em geral, quão
satisfeito(a) você está com a sua 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
situação financeira?

Nem um pouco satisfeito(a) Muito satisfeito(a)

Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre


14. Com que
frequência você se sente
solitário(a)?
15. Com que
frequência seu parceiro, filhos,
amigos próximos e/ou parentes
te dão conselhos ou
informações sobre problemas
de saúde, financeiro ou
familiar?
16. Com que
frequência seu parceiro, filhos,
amigos próximos e/ou parentes
te ajudam com tarefas diárias
tais como compras, transportes,
ou tarefas de casa?
17. Com que
frequência essas pessoas
(parceiro, filhos, amigos
próximos e/ou parentes) estão
dispostas a te escutar quando
você necessita falar sobre suas
preocupações ou problemas?
18. Com que
frequência essas pessoas
(parceiro, filhos, amigos
próximos e/ou parentes) te
fazem sentir amado(a) e
cuidado(a)?
19. Com que
frequência essas pessoas
(parceiro, filhos, amigos
próximos e/ou parentes) cobram
demais de você?
20. Com que
frequência essas pessoas
(parceiro, filhos, amigos
próximos e/ou parentes)
criticam o que você faz?
Nem um Um pouco Moderadamente Muito
pouco
77

21. O quanto você se


considera uma pessoa praticante
da sua religião?

22. O quanto você se


considera uma pessoa
espiritualizada? (Explicar que
espiritualidade é sentido de
conexão com algo maior que si
próprio. Tendência a buscar
sentido para a vida. Pode ou não
estar ligada a uma vivência
religiosa)
TOTAL

Instruções de pontuações da EMRII - A pontuação total pode ser calculada


através da soma de todos os itens. As subescalas são compostas por: Auto-eficácia (Itens
1, 2 e 3), Regulação Emocional (Itens 4 e 5), Otimismo (Itens 9, 10, 11) Comunicação e
expressão emocional (Itens 6*, 7* e 8*), Recursos sociais e econômicos percebidos
(Itens 12, 13 e 14*), Acesso à rede de suporte (Itens 15, 16, 17, 18), Acordo Relacional
(Itens 19* e 20*) e Espiritualidade e Religiosidade (Itens 21 e 22). Pontuações totais
mais altas indicam níveis maiores de resiliência e pontuações mais baixas indicam níveis
menores de resiliência. (* pontuação reversa)
78

ANEXO 3 - Protocolo de avaliação do estudo de validação

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
PROJETO
“RESILIÊNCIA NA POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA:
Uma perspectiva multidimensional”

Nome:

ID (PROJETO):
Gênero: (0) Homem (1) Mulher
Data de nascimento: / /
Idade:
Escolaridade (anos):
Acompanhante:

Avaliador:

Data da avaliação: / /
Telefones:

Estado civil: (0) solteiro (1) casado (2) divorciado(3) viúvo


Aposentado: (0) não (1) sim
Trabalha: (0) não (1) sim – Ocupação:

Religião:

Observações: Está em tratamento de alguma doença? Diabetes, HAS, Colesterol alto,


Artrite, AVC, IAM? Transtornos de humor? (Depressão/TAB?)
RG ou
CPF:
Cor de pele autodeclarada – Qual é a cor da sua pele? (Referência: IBGE)
Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena ( )
79

Renda mensal domiciliar – Qual o valor aproximado da renda mensal em sua casa,
considerando todos os residentes? (Referência: IBGE)
( ) Menos de um salário mínimo (>R$954,00 em 2018)
( ) Entre um e dois salários mínimos ( ≥ R$954,00 < R$1908,00)
( ) Entre dois e três salários mínimos ( ≥ R$1908 < R$2862,00)
( ) Entre três e cinco salários mínimos ( ≥ R$2862,00 < R$4770,00)
( ) Mais de cinco salários mínimos ( ≥ R$4770,00)
Checklist: Protocolo de avaliação
Avaliação clínica: ( ) sim ( ) não - Data: / /
Assinatura do TCLE: ( ) sim ( ) não
Dados inseridos no banco de dados: () sim ( ) não - Data: / /
MINI EXAME DO ESTADO MENTAL (Brucki, 2003)
Escolaridade:

Orientação Temporal (05 pontos) Ano


Dê um ponto para cada Item Mês
Dia do mês
Dia da semana
Semestre/Hora aproximada
Orientação Espacial (05 pontos) Estado
Dê um ponto para cada Item Cidade
Bairro ou nome de rua próxima
Local geral: que local é este aqui (apontando
ao redor num sentido mais amplo: hospital, casa de
repouso, própria casa)

Andar ou local específico: em que local nós


estamos (consultório, dormitório, sala, apontando
para o chão)
Registro Repetir as 3 palavras:
(3 pontos) GELO, LEÃO e PLANTA
CARRO, VASO e TIJOLO
PENTE RUA e AZUL
Atenção e Cálculo Subtrair 100 – 7 = 93 – 7 = 86 – 7 = 79 – 7 =
(5 pontos) 72 – 7 = 65
Memória de Evocação Quais os três objetos perguntados
(3 pontos) anteriormente?
Nomear dois objetos CHAVE E CANETA
(2 pontos)
Repetir “NEM AQUI, NEM ALI, NEM LÁ”
(1 ponto)
80

Comando de estágios “Apanhe esta folha de papel com a mão


(3 pontos) direita, dobre-a ao
meio e coloque-a no chão”

Escrever uma frase completa “Escreva alguma frase que tenha começo,
(1 ponto ) meio e fim”
Ler e executar FECHE SEUS OLHOS
(1 ponto )
Em caso de analfabetos, ler a frase.

Copiar diagrama Copiar dois pentágonos com interseção.


(1 ponto )
PONTUAÇÃO FINAL (escore = 0 a 30
pontos)

Pontos de corte:
Analfabeto: 13
Até 8 anos: 18
Alta escolaridade (acima de 8 anos): 26
81

(Versão Brasileira) Escala Multidimensional de Resiliência Individual e Interpessoal (EMRII-BR)

Para cada uma das perguntas abaixo, por favor, marque uma das opções. "Cada item é como uma afirmativa sobre o(a) senhor(a). Quando
eu apresentar as opções de resposta o(a) senhor(a) escolherá uma delas."

Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre


verdadeir verdadeiro verdadeiro verdadeiro verdadeiro
o
1. Eu consigo lidar com qualquer coisa que
acontecer.
2. Eu sou capaz de me adaptar a mudanças

3. Eu costumo me recuperar rapidamente


após doenças ou outras dificuldades da vida.

4. Quando um problema me perturba,


primeiro eu analiso a situação e levo em conta
todos os detalhes importantes.

5. Antes de criticar uma pessoa, eu tento me


colocar no lugar dela e imaginar como ela se
sentiria.

6. Eu tenho dificuldade para enxergar as


coisas do ponto de vista de outra pessoa.

7. Eu deixo de consolar as pessoas quando


elas precisam.
8. Quando as pessoas estão falando comigo,
eu me "pego" desejando que elas fossem
embora.

9. Em geral, eu tenho expectativas de que


mais coisas boas aconteçam comigo do que
coisas ruins.

10. Eu estou sempre esperançoso(a) em


relação ao meu futuro.

11. Em momentos de incerteza, eu espero o


melhor.
12. Onde você acredita que você se posiciona
nesse momento da sua vida em relação às
outras pessoas? (As pessoas que marcaram 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
10 têm mais dinheiro, maior escolaridade e os
empregos mais respeitados. Quanto mais alto
na escala, mais perto você está do topo). Mais baixo Mais alto

13. Em geral, quão satisfeito(a) você está com


a sua situação financeira? 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nem um pouco satisfeito(a) Muito satisfeito(a)

Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre


82

14. Com que frequência você se sente


solitário(a)?

15. Com que frequência seu parceiro, filhos,


amigos próximos e/ou parentes te dão
conselhos ou informações sobre problemas
de saúde, financeiro ou familiar?

16. Com que frequência seu parceiro, filhos,


amigos próximos e/ou parentes te ajudam
com tarefas diárias tais como compras,
transportes, ou tarefas de casa?

17. Com que frequência essas pessoas


(parceiro, filhos, amigos próximos e/ou
parentes) estão dispostas a te escutar quando
você necessita falar sobre suas preocupações
ou problemas?

18. Com que frequência essas pessoas


(parceiro, filhos, amigos próximos e/ou
parentes) te fazem sentir amado(a) e
cuidado(a)?

19. Com que frequência essas pessoas


(parceiro, filhos, amigos próximos e/ou
parentes) cobram demais de você?

20. Com que frequência essas pessoas


(parceiro, filhos, amigos próximos e/ou
parentes) criticam o que você faz?

Nem um Um pouco Moderadament Muito


pouco e

21. O quanto você se considera uma pessoa


praticante da sua religião?

22. O quanto você se considera uma pessoa


espiritualizada? (Explicar que espiritualidade
é sentido de conexão com algo maior que si
próprio. Tendência a buscar sentido para a
vida. Pode ou não estar ligada a uma vivência
religiosa)

TOTAL

Instruções de pontuações da EMRII - A pontuação total pode ser calculada através da


soma de todos os itens. As subescalas são compostas por: Auto-eficácia (Itens 1, 2 e 3),
Regulação Emocional (Itens 4 e 5), Otimismo (Itens 9, 10, 11) Comunicação e expressão
emocional (Itens 6*, 7* e 8*), Recursos sociais e econômicos percebidos (Itens 12, 13 e
14*), Acesso à rede de suporte (Itens 15, 16, 17, 18), Acordo Relacional (Itens 19* e 20*)
e Espiritualidade e Religiosidade (Itens 21 e 22). Pontuações totais mais altas indicam
níveis maiores de resiliência e pontuações mais baixas indicam níveis menores de
resiliência. (* pontuação reversa)
83

ANEXO 4 – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa


84

ANEXO 5 – Aprovação do Departamento de Saúde Mental


85

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