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A REVOLUÇÃO É INDIVIDUAL

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ATUALIZAÇÃO:
Acabou de sair o episódio do podcast
Rebobinando
(https://www.naosalvo.com.br/podcasts/como-
fritar-e-sobreviver-em-uma-rave-
rebobinando-s02e06/) com a minha
participação falando sobre raves,
festivais e baladas de música
eletrônica (ouça aqui
(https://www.naosalvo.com.br/podcasts/como-
fritar-e-sobreviver-em-uma-rave-
rebobinando-s02e06/)), e eu acabei
topando com este texto que escrevi
em 2009 sobre a minha percepção
desse universo, quando foi lançado o
primeiro livro sobre as festas
brasileiras, três anos antes do
lançamento do lme Paraísos Arti ciais
– que colocou a psicodelia e o
consumo de drogas em destaque
para apreciação do senso comum.

Aproveitando o ensejo, tem um texto


meu sobre o tema que gosto muito,
publicado no Papo de Homem
(https://papodehomem.com.br/rave-o-
aumentativo-de-festa-parte-1/) em
duas partes nessa mesma época. Pra
quem quiser se aprofundar no debate
sobre a cultura dos eventos de música
eletrônica: “Rave, o aumentativo de
festa” (parte 1
(https://papodehomem.com.br/rave-o-
aumentativo-de-festa-parte-1/) | parte
2 (https://papodehomem.com.br/rave-
o-aumentativo-de-festa-parte-2/)).

Quando recebi a notícia de que en m


alguém havia tido a perspicácia de
escrever um livro inteiro dedicado ao
fenômeno popular da música
eletrônica no Brasil, senti os pelos da
perna roçarem na calça, numa
sensação que possivelmente se
reproduziu inúmeras vezes diante do
jornalista Thomás Chiaverini
(https://antesdaestante.wordpress.com/)
nos últimos meses.

Durante as pesquisas e investigações


que se transformaram no livro “Festa
In nita”
(https://www.treta.com.br/festa-
in nita/) (2009, Ediouro, 304 páginas), o
jovem autor mergulhou de cabeça
num universo que até então lhe
parecia absolutamente tosco,
provavelmente irrelevante e
fatalmente carnavalizado pelo
entusiasmo de seus adeptos – jovens
elitizados cuja principal fonte de
entretenimento é o consumo de
substâncias entorpecentes. Partindo
desse prisma relativamente alheio ao
universo que envolve as festas rave
por todo o mundo, Chiaverini começa
a desvendar o comportamento de boa
parcela dos jovens contemporâneos,
tratando de registrar em seu intrépido
bloquinho de anotações as
impressões instantaneamente trazidas
a cada passo adiante em sua jornada
psicodélica.

Ao contrário do que poderia esperar a


ala conservadora do “movimento”
retratado no livro, os fatos e histórias
narradas entre dados relevantes sobre
a cena trance permitem ao leitor
compreender a mais importante
questão sobre o assunto: assim como
ocorre em qualquer segmento
cultural, comportamental, religioso ou
losó co, não é possível pretender
generalizar a conduta e o estilo de
vida de todos os seus membros sem
se incorrer na mais pura distorção da
realidade. Cada pessoa é única em sua
essência e ainda que reproduza
comportamentos de seus pares e
opiniões apregoadas no senso
comum, segue sendo exclusivamente
singular em sua história, sentimentos
e proposta existencial.

Mesmo o consumo deliberado e


desenfreado de todos os tipos de
drogas, lícitas e ilícitas, que me parece
ser o ponto mais polêmico de todo o
debate, não pode ser encarado como
uma simples estatística temerária à
Saúde Pública. Conforme o próprio
autor pôde descobrir no contato com
as raves e seus frequentadores, a
postura contrária às proibições e
regras que regem o convívio social
exige de seus participantes que
mantenham uma virtuosa conduta de
respeito e solidariedade para com os
demais humanos e seu meio
ambiente. Seria uma espécie de
rebeldia transversa compensacional,
digamos assim.
Obviamente, nem todos os
evangélicos do culto rogam a deus
com o mesmo ardor. Alguns estão ali
só para aliviar as tensões de uma vida
medíocre, e além disto sempre tem
um pastor de sacolinha em riste para
recolher a contrapartida pecuniária do
pedacinho do Reino oferecido aos éis.
E nem por isso, a mão divina deixa de
operar milagres.

Entre meus amigos e conhecidos, o


contato com as substâncias
psicotrópicas coincidiu
cronologicamente com a fase de
amadurecimento que vem na segunda
metade da adolescência – e que para
alguns pode durar a vida inteira.
Graças às circunstâncias globais e às
suas particulares condições sociais,
essa galera pôde e pode usufruir de
eventos cada vez mais destinados a
promover a plena comunhão de toda
forma de prazer ilícita e promíscua, na
mais completa ignorância das leis
físicas, biológicas e jurídicas.

Para alguém que se viu retratado em


cada página do “Festa In nita”, a rmo
desinibidamente que estar na
vanguarda do hedonismo
contemporâneo é uma condição
restrita somente àqueles que
conseguem ver algum sentido em
tamanho egoísmo. A química, assim
como a música e os demais elementos
exógenos são meros acessórios
dedicados a nos fazer penetrar no
próprio umbigo e extrair dali as
respostas mais esclarecedoras
àqueles profundos receios existenciais
que invariavelmente nos angustiam ao
nos depararmos com uma sociedade
repleta de ganância, ódio e frustração.

O mundo está do jeito que está graças


à partícula única e indissolúvel que
compõe cada peça e grupamento da
coletividade: o indivíduo. Estamos
errados a maior parte do tempo, e
ocupados demais para percebermos e
corrigirmos nosso próprio
comportamento. Ao contrário, por
puro re exo condicionado, nos
dedicamos a nos incomodar e a
denunciar (em vão) os atos alheios a
que nos opomos. Só falta
percebermos en m que, tanto agora
quanto ao longo de toda a história da
civilização, a única revolução que se
mostra plenamente viável é a
individual.

E por mais que você não queira, todos


somos um.

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