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Resenha: O Jardim Secreto – Frances Hodgson Burnett

Sinopse Zahar: Ao perder os pais numa epidemia de cólera na Índia, onde nasceu
e foi criada, a pequena e mimada Mary Lennox é enviada para viver na lúgubre
mansão de seu tio, no coração da Inglaterra rural. Deprimido pela morte da
esposa, o tio está sempre viajando, enquanto seu filho Colin, primo de Mary, passa
a vida na cama como inválido. Solitária, Mary tenta se divertir vasculhando a
propriedade, até que descobre um segredo incrível: o deslumbrante jardim de sua
falecida tia, trancado e abandonado. A descoberta do jardim faz com que Mary
conheça Dickon, menino que conversa com os animais e as plantas, e se aproxime
do primo, que volta a sair da casa numa cadeira de rodas improvisada. Assim, a
amizade das três crianças e o encantamento causado pelo jardim começam a
transformar a vida de todos na casa. (Resenha: O Jardim Secreto – Frances
Hodgson Burnett)

Opinião: O Jardim Secreto é uma daquelas histórias que dispensa apresentações


pois já faz parte (ou deveria fazer) do imaginário das pessoas. É atemporal e
recheada de metáforas abertas a interpretações que vão desde o lado religioso –
bem destacado no texto de abertura da edição Clássicos Zahar, até a mais simples
lição que podemos tirar para nossa rotina diária. Em um brevíssimo resumo, o
livro traz uma garotinha super mimada que, ao se ver órfã, passa a ser criada por
um tio melancólico e distante. Ali, em um ambiente aparentemente hostil, ela vai
conhecer um primo inválido e também mimado ao seu estilo e um garoto que
cresceu em meio à natureza, animais e plantas. Ali, eles vão descobrir um jardim
abandonado e amadurecerem aprendendo com a simplicidade do dia a dia.

O Jardim Secreto é uma história sobre crescimento pessoal a partir das experiências
da vida e do entendimento de que a beleza de viver está presente nas menores
ações ou nos mínimos detalhes. A pequena Mary, mimada e arrogante, passa por
um processo de transformação ao longo da trama. Ela entende a cada novo
capítulo que ninguém é superior a ninguém, que é possível aprender com os
outros, mesmo que eles estejam num posto de “serviçais”, e que olhar ao redor é
muito mais prazeroso do que viver em torno do próprio umbigo. O mesmo se
aplica ao seu primo Colin, com a diferença de que ele sofreu uma criação em que
foi levado a acreditar que poderia morrer a qualquer momento. A depressão que
atinge o garoto poderia ser facilmente curada se janelas fossem abertas e ele
pudesse respirar o ar puro ao invés de ficar 24h trancado em um quarto.

Amarrando as duas histórias de crescimento pessoal do livro, surge a figura de


Dickon, o garoto “da natureza” que vive em contato com plantas e animais. Na
história, mesmo sendo um personagem humano, em diversos momentos ele é
apontado como alguém místico, mágico, com dons e poderes. Tanto pode ser uma
referência a Pã quanto a Francisco de Assis. O que importa de verdade é
percebermos que Dickon encontra a felicidade, e tem um amadurecimento muito
grande, justamente ao viver uma vida voltada para tudo que o mundo oferece de
mais belo. Ele se entrega ao prazer de sentir o cheiro da chuva, contemplar o pôr-
do-sol, ou se deitar numa grama e observar o céu. Ele respeita os animais e até
conversa com eles. E essas lições são apresentadas e servem de remédio para
Mary e Colin.

“UMA DAS COISAS ESTRANHAS DE VIVER NESTE MUNDO É QUE SÓ DE VEZ EM QUANDO SOMOS CAPAZES DE
SENTIR, COM TODA A CERTEZA, QUE VIVEREMOS PARA TODO O SEMPRE.”
Existem dois pontos que pessoalmente trouxe de interpretação e reflexão a partir
da leitura de O Jardim Secreto. Em primeiro lugar, o jardim em si, abandonado e
escondido. Há o momento em que uma chave é descoberta e serve para abri-lo.
Aqui é possível divagar sobre a metáfora da chave que permite a entrada em um
novo mundo, um recomeço, um aprendizado. A chave abre os corações, os olhos e
as mentes. Tanto que praticamente todos os personagens são impactados pelo
resultado do crescimento dos garotos e mudam um pouco o seu jeito de ser. Em
segundo, o jardim visto a partir do contato com a natureza. Em um momento
ambiental delicado em que nós vivemos, com tanto desmatamento e tanto
desrespeito, a transformação que a natureza faz em cada personagem é
libertadora. É o contato com o mais simples broto que vai florescer ou com o
pássaro na construção de um ninho. É olhar para o que nos cerca e enxergar ali a
beleza, e a riqueza, do mundo.

O Jardim Secreto fala de uma mágica que paira no ar. Uma mágica transformadora
que cada um de nós leva consigo e é capaz reproduzir. Essa magia, que anda
perdida no mundo de hoje, pode ser percebida de várias formas… No sorriso, no
cumprimento, na empatia, na solidariedade, na simplicidade, no amor, em ser, de
fato, humano.
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A Autora: Frances Hodgson Burnett nasceu em Manchester, Inglaterra, em 1849.


Em 1865, depois da morte de seu pai, mudou-se com a mãe e os irmãos para a
região rural do Tennessee, Estados Unidos, onde a família enfrentou dificuldades
para ganhar seu sustento. Aos dezessete anos, Burnett vendeu seu primeiro conto
para uma revista, e aos 22 já havia ganhado o suficiente para voltar à Inglaterra.
De 1887 até sua morte, manteve casas tanto na Inglaterra quanto nos Estados
Unidos. Seus dois casamentos terminaram em divórcio – o primeiro, com o dr.
Swan Burnett, com quem teve dois filhos, durou de 1874 a 1898; e o segundo, com
o ator Stephen Townsend, de 1900 a 1902. Burnett escreveu diversos romances
populares para adultos, entre eles That Lass o’ Lowrie’s (1877), Through One
Administration (1883) e The Shuttle (1907), bem como várias peças e um livro de
memórias da infância: The One I Knew Best of All (1893). No entanto, é lembrada
principalmente pelos romances que escreveu para crianças: O pequeno lorde
(1886), A princesinha (1905; uma versão expandida da novela Sara Crewe, de 1888,
e da peça The Little Princess) e O jardim secreto (1911). Morreu em 1924, em sua
casa em Long Island.

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