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A Adoração
Bases Bíblicas Para Uma Teologia de Música e
Adoração
por: Levi de Paula Tavares

Antes de começarmos a discorrer sobre o assunto propriamente dito, devemos esclarecer que é muito comum
haver uma certa confusão entre música e letra. É normal a pessoa fazer uma análise de valor de uma canção
apenas pela análise da letra, porque este é o componente mais objetivo do conjunto. Mas entendemos que letra
é uma coisa, música é outra. E por “música” estamos falando do fenômeno sonoro, composto de Melodia,
Harmonia e Ritmo. Assim, a música é o meio pelo qual a mensagem da letra alcança o ouvinte.

Portanto, para definirmos se uma canção é apropriada ou não para a adoração, não basta analisarmos se a letra
é teologicamente correta, uma vez que cremos firmemente que a música causa uma influência por si mesma
sobre o ouvinte (como bem sabem os responsáveis por trilhas sonoras de filmes) e, assim sendo, para ser
apropriada para a adoração, esta música deve ser pautada pelos princípios gerais que orientam a adoração.

Uma boa letra não santifica a música que lhe serve de veículo. Pelo contrário, sendo a canção um todo,
qualquer uma das duas que esteja em desacordo com os princípios bíblicos irá contaminar a outra e a adoração
assim ofertada será falsa. Nada que seja profano deve ser apresentado na adoração a um Deus santo. “Não
profanareis o meu santo nome, e serei santificado no meio dos filhos de Israel. Eu sou o Senhor que vos
santifico” (Levítico 22:32) Ambas, tanto a letra quanto a música devem ser “sacras”, ou ambas estarão
impróprias para a adoração.

Isto posto, devemos esclarecer que não existem textos bíblicos dizendo que não podemos usar rock, assim
como não existem textos que digam que modelo de carro devemos comprar ou quantos centímetros deve ter o
cabelo das mulheres, ou de que cor devemos pintar a igreja. Mas isto não quer dizer que somos deixados sem
uma direção neste sentido. A Bíblia apresenta princípios, que devem ser aplicados ao contexto em que vivemos,
contexto este que envolve a cultura, as tradições, a história, etc…. Assim, o princípio da modéstia cristã no
vestuário gerará resultados diferentes em culturas diferentes, mas, se estes princípios forem aplicados sob a
orientação do Espírito Santo, buscando com humildade fazer a vontade de Deus, estes resultados nunca
estarão desonrando a Deus nem causando escândalo ao Seu nome. Da mesma forma, temos princípios que
podem e devem ser aplicados à música utilizada na adoração e são estes princípios que pretendemos analisar
neste artigo.
Adorar é ofertar a quem é o legítimo doador de todas as coisas. A esse Deus benevolente deve se oferecer o
melhor sacrifício de louvor (veja Hebreus 13:15-16), sem esquivar-se ao valor (veja II Samuel 24:20-24).

Seria um engano, ingênuo ou consciente, acharmos que toda e qualquer expressão de adoração que parte do
homem é verdadeira. O homem possui um coração enganoso e uma mente limitada (Jeremias 17:9; Isaías 55:8-
9). Essas duas coisas produzem um erro que não é percebido facilmente pelo homem, especialmente quando a
maioria ao seu redor está envolvida no erro (II Timóteo 3:1-5; II Timóteo 4:3-4).

Não é sábio colocarmos a nossa base de sustentação naquilo que é enganoso e limitado. Devemos usar o que
é firme e eterno. Só a Bíblia é a base firme para estipular o que é a adoração verdadeira. Se a Bíblia é a nossa
base “mui firme” (II Pedro 1:19; Hebreus 4:12); se ela é a nossa única regra de fé e prática, então tudo o que
não concorda com ela tem que ser julgado falso (Isaías 8:20).

Conta-se a história de um homem que, durante uma campanha eleitoral, leu em um adesivo de pára-choque o
seguinte: “Já tomei minha decisão. Por favor, não me confundam com os fatos”. Esta história nos faz lembrar do
debate atual sobre o uso da música popular para adoração ou evangelismo. Muitos cristãos têm opiniões fortes
a favor ou contra o uso de tal música. Como cristãos, não podemos fechar nossas mentes na procura por
verdades bíblicas, porque somos chamados a crescer em “graça e conhecimento” (II Pedro 3:18). Às vezes
pensamos que sabemos tudo o que a Bíblia ensina sobre certa doutrina, mas quando começamos a investigar o
assunto, logo descobrimos quão pouco sabemos.

A importância da música na Bíblia é indicada pelo fato de que as atividades criadoras e redentoras de Deus
foram acompanhadas e celebradas por música. Na criação a Bíblia nos diz “quando as estrelas da alva juntas
alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus” (Jó 38:7). Na encarnação, o coro celestial cantou:
“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre homens, a quem ele quer bem!” (Lucas 2:14). Na
consumação final da redenção, a grande multidão dos remidos cantará: “Aleluia! porque já reina o Senhor nosso
Deus, o Todo-Poderoso.” (Apocalipse 19:6).

No capítulo 148 do livro de Salmos, toda a natureza é convidada a elevar louvores ao seu Criador:

1 Louvai ao Senhor! Louvai ao Senhor desde o céu, louvai-o nas alturas!


2 Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas hostes!
3 Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes!
4 Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus!
5 Louvem eles o nome do Senhor; pois ele deu ordem, e logo foram criados.
6 Também ele os estabeleceu para todo sempre; e lhes fixou um limite que nenhum deles ultrapassará.
7 Louvai ao Senhor desde a terra, vós, monstros marinhos e todos os abismos;
8 fogo e saraiva, neve e vapor; vento tempestuoso que escuta a sua palavra;
9 montes e todos os outeiros; árvores frutíferas e todos os cedros;
10 feras e todo o gado; répteis e aves voadoras;
11 reis da terra e todos os povos; príncipes e todos os juízes da terra;
12 mancebos e donzelas; velhos e crianças!
13 Louvem eles o nome do Senhor, pois só o seu nome é excelso; a sua glória é acima da terra e do
céu.
14 Ele também exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, um
povo que lhe é chegado. Louvai ao Senhor!

Mais maravilhoso que toda a natureza cantando é o convite que é estendido aos seres humanos para cantarem.
“Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação.” (Salmos 95:1). “Salmodiai
ao Senhor, vós que sois seus santos, e dai graças ao seu santo nome.” (Salmos 30:4) “Oh! que os homens
exaltem a Deus por sua bondade, e pelos trabalhos maravilhosos para os filhos dos homens.” (Salmos 107:8).
Deus e o louvor de Seu povo estão tão entrelaçados que o próprio Deus é identificado como “meu cântico”: “O
Senhor é a minha força e o meu cântico” (Êxodo 15:2).

Mas a Bíblia menciona, especificamente, que o cântico deveria ser dirigido a Deus. Seu propósito nunca é a
satisfação pessoal, mas para a glorificação de Deus.

“Então cantaram Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, dizendo: Cantarei ao Senhor,
porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” (Êxodo 15:1)

“E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo com o
seu cavaleiro.” (Êxodo 15:21)

“Louvai ao Senhor, invocai o seu nome; fazei conhecidos entre os povos os seus feitos. Cantai-lhe,
salmodiai-lhe, falai de todas as suas obras maravilhosas. Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o
coração dos que buscam ao Senhor. Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente. ”
(I Crônicas 16:8-11)
“Regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois aos retos fica bem o louvor. Louvai ao Senhor com harpa,
cantai-lhe louvores com saltério de dez cordas. Cantai-lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo. ”
(Salmos 33:1-3)

“Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todos os moradores da terra. Cantai ao Senhor,
bendizei o seu nome; anunciai de dia em dia a sua salvação.” (Salmos 96:1-2)

“Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra; dai brados de alegria, regozijai-vos, e
cantai louvores. Louvai ao Senhor com a harpa; com a harpa e a voz de canto. Com trombetas, e ao
som de buzinas, exultai diante do Rei, o Senhor.” (Salmos 98:4-6)

“Louvai ao Senhor. Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre.”
(Salmos 106:1)

“Louvai ao Senhor. Louvai, servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. Bendito seja o nome do Senhor,
desde agora e para sempre. Desde o nascimento do sol até o seu ocaso, há de ser louvado o nome do
Senhor.” (Salmos 113:1-3)

“Louvai ao Senhor todas as nações, exaltai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para
conosco, e a verdade do Senhor dura para sempre. Louvai ao Senhor.” (Salmos 117)

“Louvai ao Senhor. Louvai o nome do Senhor; louvai-o, servos do Senhor, vós que assistis na casa do
Senhor, nos átrios da casa do nosso Deus. Louvai ao Senhor, porque o Senhor é bom; cantai louvores
ao seu nome, porque ele é bondoso.” (Salmos 135:1-3)

“Louvai ao Senhor. Ó minha alma, louva ao Senhor. Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei
louvores ao meu Deus enquanto viver.” (Salmos 146:1-2)

“Louvai ao Senhor! Cantai ao Senhor um cântico novo, e o seu louvor na assembléia dos santos! ”
(Salmos 149:1)

“Cantai ao Senhor; porque fez coisas grandiosas; saiba-se isso em toda a terra. Exulta e canta de gozo,
ó habitante de Sião; porque grande é o Santo de Israel no meio de ti.” (Isaías 12:5-6)

“E ainda: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e louvem-no, todos os povos.” (Romanos 5:1)

“falando entre vós em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso
coração,” (Efésios 5:19)

Cantar, na Bíblia, não é limitado à experiência da adoração, mas se estende à totalidade da existência de uma
pessoa. Crentes que vivem em paz com Deus têm uma canção constante em seus corações, embora esse
cântico talvez nem sempre seja vocalizado. É por isso que o salmista diz: “Louvarei ao Senhor durante a minha
vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver“. (Salmos 146:2); ” Cantarei ao Senhor enquanto eu
viver; cantarei louvores ao meu Deus enquanto eu existir.” (Salmos 104:33). Em Apocalipse os que saíram da
grande tribulação são vistos em pé diante do trono de Deus, enquanto cantam um novo cântico que diz: “Ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação“. (Apocalipse 7:10). Cantar louvores a
Deus é uma experiência que começa nesta vida e continuará no mundo por vir.

É interessante notarmos que, biblicamente, a música não é apenas uma dádiva de gratidão do homem para
Deus, é também um dom de Deus. Exaltando a Deus por sua libertação, Davi disse: “E me pôs nos lábios um
novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus” (Salmos 40:3).

A música é um presente de Deus à família humana, parte de sua criação, parte de um todo ” que era muito bom”
(Gênesis 1:31) criado por Deus no principio. O grande Artista divino fez os homens à sua imagem, com gosto
pela beleza, e com suficiente criatividade e capacidade estética para expressá-la e desfrutá-la (Gênesis 1:27,
28). Deus é a grande gênese da música. Por um tempo Lúcifer foi apenas seu diretor do coro, até que pôs em
dúvida a dignidade do único objeto do louvor celestial (Isaías 14:12-14). Neste contexto o homem, como
mordomo do Criador, é responsável por usar, preservar e desenvolver o dom da criatividade, e da expressão
musical. Podemos ter diferenças de estilo ou tipos de música, mas nenhum cristão que busca agradar a Deus se
oporá à música em si, porque ela faz parte da provisão da graça de Deus para a família humana.

Isaías 6:1-8 tem um relato que é freqüentemente citado nos estudos sobre a adoração. Aqui nos defrontamos
com um completo esquema litúrgico, e não é exagero afirmar que, depois das instruções levíticas do
Pentateuco, Isaías 6 talvez seja o mais importante texto sobre adoração das Escrituras hebraicas. Observemos
e analisemos o seu conteúdo:
“1 No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas
do seu manto enchiam o templo.
2 Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria os
pés e com duas voava.
3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda
está cheia da sua glória.
4 E as bases dos limiares moveram-se à voz do que clamava, e a casa se enchia de fumaça.
5 Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio
dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!
6 Então voou para mim um dos serafins, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma
tenaz;
7 e com a brasa tocou-me a boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada,
e perdoado o teu pecado.
8 Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? Então disse eu:
Eis-me aqui, envia-me a mim.”

Versos 1-4 – Visão da Majestade Divina – A verdadeira adoração envolve essa percepção da transcendência
de Deus. Sua glória e seus atributos são exaltados. É o aspecto contemplativo do culto, em que nossa mente e
coração são conduzidos pela leitura da Palavra, cânticos e orações a uma visualização espiritual da pessoa de
nosso Criador, Redentor e Juiz. Trata-se sempre de uma experiência de santo deslumbramento diante da
beleza e perfeição do Senhor. Reuniões “cristãs” que não produzem esse senso de contato com o Grande e
Soberano Deus podem ser chamadas por vários nomes, menos de “cultos”. Cultuar envolve sempre calar-se
quebrantado diante daquele que nos elegeu e salvou, de forma incompreensível.

Verso 5 – Visão de nossa própria finitude e pecaminosidade – Cultuar implica em reconhecer o quanto
somos pequenos e impuros, carentes do Deus Santo. A Igreja Antiga denomina esse momento do culto de
Sanctus. É quando nos dobramos em lamentação porque somos pecadores, porque somos inerentemente
poluídos com a corrupção, e entristecemos diariamente ao Espírito Santo que habita em nós. É então que
gememos suplicando por misericórdia, anelando pelo dia de nossa redenção, quando seremos plenamente
libertos do pecado.

Versos 6-7 – Confissão e recebimento de perdão – No culto Deus age em nosso favor, e ministra a nós
conforme a nossa necessidade. Sempre recebemos algo de Deus, ao nos prostrarmos diante dele em adoração
autêntica. Assim sendo, apesar de enfatizarmos o culto teocêntrico, temos de reconhecer que as necessidade
humanas são atendidas, dentro do princípio de Salmos 37:4 e Mateus 6:33: buscando primeiro a Deus, somos
abençoados naquilo que precisamos, segundo a sua soberania.

Verso 8 – Consagração – Pode-se dividir este verso em duas partes: A exortação divina e a aceitação por parte
do adorador. A consagração sempre envolverá ação. Quem cultua de verdade, está disposto a ouvir o chamado
divino, dispondo-se para obedecê-lo com amor e alegria.

Caberia aqui um pequeno intervalo nas nossas considerações para fazermos uma sinopse do que foi dito até
agora e meditarmos: Qual tipo de música é apropriado para esta seqüência litúrgica? Parece ser evidente que
nestas quatro áreas que acabamos de analisar caberiam quatro tipos diversos de música, porque os momentos
pessoais do adorador são completamente diferentes em cada etapa. Existem momentos mais recolhidos e
momentos mais expansivos, e a música deve acompanhar e enriquecer estas diferentes experiências
espirituais. Mas, como vimos nos textos bíblicos anteriores, estas música diversas sempre estariam voltadas
para Deus, nunca para o homem. Também já vimos que a adoração pode ser falsificada, adulterada pelos
nossos gostos não santificados e nossa natureza carnal (I Coríntios 2:14-15). Cabe, portanto nos colocarmos
humildemente nas mãos do Espírito Santo para que Ele nos guie na verdadeira adoração.

O “Novo Cântico” da Bíblia

Nove vezes a Bíblia fala em cantar “um novo cântico”. Sete vezes essa frase ocorre no Velho Testamento
(Salmos 33:3; 40:3; 96:1; 98:1; 144:9; 149:1; Isaías 42:10) e duas vezes no Novo Testamento (Apocalipse
5:9; 14:2-3). Muitos crentes sinceros defendem a ideia que a música religiosa popular contemporânea é o
cumprimento profético do “novo cântico” bíblico, porque as canções populares têm letras e melodias “novas”.

Porém, um estudo do “novo cântico” na Bíblia, revela que essa frase não se refere a uma composição nova,
mas a uma nova experiência, que possível louvar a Deus com um novo significado. O “novo cântico” na Bíblia
não está associado a letras mais simples ou música mais rítmica, mas com a uma experiência sem igual de
libertação divina. A palavra grega traduzida por “novo” é kainos, que significa novo em qualidade e não em
tempo. O significado cronológico da expressão é dado pela palavra grega neos.

Somente a pessoa que experimentou o poder transformador da graça de Deus pode cantar um cântico novo. É
digno de nota que a famosa exortação de Paulo em Colossenses 3:16 “louvando a Deus, com salmos, e hinos,
e cânticos espirituais” é precedida pelo seu apelo: “uma vez que vos despistes do velho homem com os seus
feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele
que o criou” (Colossenses 3:9-10). O “novo cântico” celebra a vitória sobre a velha vida e as velhas canções; ao
mesmo tempo, expressa gratidão pela vida nova em Cristo experimentada pelos crentes.

A Música no Templo

Muitos dos envolvidos no ministério da música contemporânea apelam para os diferentes estilos de música do
Velho Testamento para “fazerem do jeito deles”. Eles acreditam que a música produzida por instrumentos de
percussão e acompanhados por dança eram comuns nos serviços religiosos. Por conseguinte, defendem que
alguns estilos de música rock e danças são apropriados para os cultos na igreja hoje.

Um estudo cuidadoso da função da música do Velho Testamento revela o contrário. Por exemplo, no Templo os
músicos pertenciam a um clero profissional, só tocando em ocasiões restritas e especiais, e usavam alguns
poucos instrumentos musicais específicos. A transição de uma vida insegura, nômade no deserto para um estilo
de vida permanente na Palestina sob a monarquia, proveu a oportunidade para se desenvolver um ministério de
música que satisfizesse as necessidades da congregação adoradora no Templo. Antes desta época as
referências sobre música estavam principalmente com as mulheres que cantavam e dançavam ao celebrarem
eventos especiais. Com o estabelecimento por Davi de um ministério de música profissional pelos Levitas, a
produção musical ficou restrita aos homens.

Os livros de Crônicas descrevem com detalhes consideráveis como Davi organizou o ministério musical dos
Levitas. De acordo com o primeiro livro de Crônicas, Davi organizou esse ministério em três estágios. Primeiro,
ele ordenou aos chefes das famílias levíticas que designassem uma orquestra e um coro para acompanharem o
transporte da arca até a tenda em Jerusalém (I Crônicas 15:16-24).

O segundo estágio aconteceria depois que a arca tivesse sido colocada em segurança na tenda em seu palácio
(I Crônicas 15:1-3). Davi organizou a apresentação regular de música coral na hora das ofertas queimadas com
os corais posicionados em dois locais diferentes (I Crônicas 16:4-6, 37-42). Um coro se apresentava sob a
liderança de Asafe diante da arca em Jerusalém (I Crônicas 16:37), e o outro sob a liderança de Hemã e
Jedutun diante do altar em Gibeão (I Crônicas 16:39-42).

O terceiro estágio da organização do ministério de música por Davi, aconteceu no final de seu reinado quando
ele planejou o serviço musical elaborado que seria realizado no templo que Salomão construiria (I Crônicas 23:2
a 26:32). Davi fundou um conjunto com 4.000 Levitas como artistas em potencial (I Crônicas 15:16; 23:5). Deste
grupo ele formou um coro levítico profissional com 288 componentes. O próprio Davi se envolveu juntamente
com seus oficiais na escolha de vinte e quatro líderes das turmas, cada uma tendo doze músicos num total de
288 (I Crônicas 25:1-7). Estes, por sua vez, seriam os responsáveis pela seleção do restante dos músicos.

O ministério de música no templo foi próspero por várias razões, as quais são pertinentes para a música da
igreja hoje. Primeiro, os músicos levitas eram maduros e musicalmente treinados. Lemos em I Crônicas 15:22
que “Quenanias, o chefe dos levitas, ficou encarregado dos cânticos; essa era sua responsabilidade, pois ele
tinha competência para isso.” (NVI). Ele se tornou o líder da música porque era um músico hábil e capaz de
instruir a outros. O conceito de habilidade musical é mencionado várias vezes na Bíblia (I Samuel 16:18; I
Crônicas 25:7; II Crônicas 34:12; Salmos 137:5). Paulo também faz menção a isto quando disse: “cantarei com
o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (I Coríntios 14:15, NVI).

Segundo, o ministério da música no templo teve êxito porque seus músicos eram espiritualmente preparados.
Eles foram separados e ordenados para esse ministério como o foram os outros sacerdotes. Falando aos líderes
dos músicos levitas, Davi disse: “santificai-vos, vós e vossos irmãos. . . Santificaram-se, pois, os sacerdotes e
levitas” (I Crônicas 15:12, 14). Foi entregue aos músicos levitas o sagrado encargo de ministrarem,
continuamente, diante do Senhor (I Crônicas 16:37).

Terceiro, os músicos levitas eram trabalhadores em tempo integral. I Crônicas 9:33 declara: “Quanto aos
cantores, chefes das famílias entre os levitas, estavam alojados nas câmaras do templo e eram isentos de
outros serviços; porque, de dia e de noite, estavam ocupados no seu mister“. Aparentemente o ministério
musical dos levitas requeria uma preparação considerável, porque lemos que “Davi deixou ali diante da arca da
Aliança do Senhor a Asafe e a seus irmãos, para ministrarem continuamente perante ela, segundo se ordenara
para cada dia; ” (I Crônicas 16:37). A lição bíblica é que os ministros da música deviam estar dispostos a
trabalhar diligentemente no preparo da música necessária para o culto de adoração.

Finalmente, os músicos levitas não eram artistas cantores convidados para entreter as pessoas no templo. Eles
eram os ministros da música. “São estes os que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do Senhor, depois
que a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com cânticos“. (I Crônicas
6:31-32). Através de seu serviço musical os levitas “ministravam” ao povo. Outros cinco trechos no Velho
Testamento nos dizem que os levitas ministravam ao povo por sua música (I Crônicas 16:4, 37; II Crônicas
8:14; 23:6; 31:2).
O ministério dos músicos levitas está bem definido em I Crônicas 16:4: “Designou dentre os levitas os que
haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar, e louvar, e exaltar o Senhor, Deus de Israel “. Os três
verbos usados neste texto – “celebrar”, “louvar”, e “exaltar” – sugerem que o ministério da música era uma parte
vital na experiência de adoração do povo de Deus.

Uma indicação da importância do ministério da música pode ser vista no fato de que os músicos levitas eram
pagos com os mesmo dízimos que eram dados para o sustento do sacerdócio (Números 18:24-26; Neemias
12:44-47; 13:5, 10-12). O princípio bíblico é que o trabalho do ministro da música não deveria ser “uma obra por
amor”, mas sim um ministério apoiado pela renda do dízimo da igreja. É razoável supor, porém, que, se uma
pessoa leiga se oferece para ajudar no programa musical de uma igreja, tal serviço não precisa ser remunerado,
uma vez que tal serviço é voluntário e não é em tempo integral.

Davi não instituiu apenas o tempo, o lugar, e as palavras para a apresentação do coro levítico, mas ele também
“fez” os instrumentos musicais para serem usados no seu ministério (I Crônicas 23:5; II Crônicas 7:6). É por isso
que eles são chamados “os instrumentos de Davi” (II Crônicas 29:26-27).

Além das trombetas que o Senhor tinha ordenado por Moisés, Davi acrescentou címbalos, alaúdes, e harpas (I
Crônicas 15:16; 16:5-6). A importância desta combinação de instrumentos como sendo uma ordem divina é
indicada pelo fato de que esta combinação foi respeitada por muitos séculos, até a destruição do Templo. Por
exemplo, em 715 A.C., o rei Ezequias “estabeleceu os levitas na Casa do Senhor com címbalos, alaúdes e
harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do
Senhor, por intermédio de seus profetas” (II Crônicas 29:25).

Os címbalos eram constituídos por dois pratos de metal com suas beiras dobradas, medindo, aproximadamente,
27 a 42 centímetros de largura. Quando golpeados verticalmente em conjunto, eles produziam um toque, como
um tinido. Alguns apelam para o uso dos címbalos para argumentar que a música do templo tinha uma batida
rítmica como a música rock de hoje, e, por conseguinte, a Bíblia não proíbe instrumentos de percussão e música
rock na igreja hoje. Tal argumento ignora o fato de que, como explica Kleinig (John W. Kleining, The Lord’s
Song: The Basis, Function and Significance of Choral Music in Chronicles (Sheffield, England, 1993)p. 82-83),
“os címbalos não eram usados pelo cantor-mor na condução do cântico, batendo o ritmo da música, mas sim
para anunciar o começo de uma estrofe ou de um cântico. Uma vez que eles eram usados para introduzir o
cântico, eram brandidos pelo líder do coro em ocasiões ordinárias (I Crônicas 16:5) ou pelos três líderes dos
grupos em ocasiões extraordinárias (I Crônicas 15:19)”.

De modo semelhante, Curt Sachs (Curt Sachs, Rhythm and Tempo (Nova York, 1953), p. 79) explica que “A
música no templo incluía címbalos, e o leitor moderno poderia concluir que a presença de instrumentos de
percussão indicaria ritmos precisos. Mas há pouca dúvida de que os címbalos, como em qualquer outro lugar,
marcavam o fim de uma linha e não o ritmo dentro de um verso… Não parece existir uma palavra para ritmo no
idioma hebraico”.

O terceiro grupo de instrumentos musicais era composto por dois instrumentos de corda, os alaúdes e as harpas
que eram chamados “instrumentos de música” (II Crônicas 5:13) ou “os instrumentos para os cânticos de Deus”
(I Crônicas 16:42). Como indicado por seu nome descritivo, sua função era acompanhar os cânticos de louvor e
ação de graças ao Senhor (I Crônicas 23:5; II Crônicas 5:13). Os músicos que tocavam as harpas e os alaúdes,
eles próprios cantavam os cânticos, acompanhando a si mesmos (I Crônicas 9:33; 15:16, 19, 27; II Crônicas
5:12-13; 20:21). Grande cuidado era tomado para se assegurar que o louvor vocal do coro levítico não fosse
eclipsado pelo som dos instrumentos.

Alguns estudiosos argumentam que instrumentos como tambores, tamboril (que era um pandeiro), flautas, e o
dúlcimer, foram banidos do Templo, porque estavam associados à adoração e à cultura pagãs, ou porque eles
eram tocados, costumeiramente, por mulheres, para o entretenimento. Este bem poderia ser o caso, mas isso
apenas mostra que havia uma distinção entre a música sacra, tocada dentro do Templo e a música secular
tocada do lado de fora.

Uma restrição foi colocada aos instrumentos musicais e às expressões artísticas usadas na Casa de Deus.
Deus proibiu vários instrumentos, os quais eram permitidos fora do templo nas festividades nacionais e no
prazer social. A razão não é que certos instrumentos de percussão fossem maus em si mesmos. Os sons
produzidos por quaisquer instrumentos musicais são neutros, como uma letra do alfabeto. Em vez disso, a razão
é que estes instrumentos eram comumente usados para produzir música de entretenimento, a qual era
imprópria para a adoração na Casa de Deus. Através da proibição desses instrumentos e de estilos de música,
como a dança, associados ao entretenimento secular, o Senhor ensinou ao Seu povo uma distinção clara entre
a música sacra, tocada no templo, e a música secular, de entretenimento, usada na vida social.

A restrição no uso desses instrumentos deveria ser uma regra válida para as futuras gerações. Quando o Rei
Ezequias reavivou a adoração do Templo em 715 A.C., ele seguiu meticulosamente as instruções dadas por
Davi. Nós lemos que o rei “estabeleceu os levitas na Casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas, segundo
mandado de Davi. . . porque este mandado veio do Senhor, por intermédio de seus profetas “. (II Crônicas
29:25).

Dois séculos e meio mais tarde quando o Templo foi reconstruído sob a liderança de Esdras e Neemias, a
mesma restrição foi aplicada novamente. Nenhum instrumento de percussão foi permitido para acompanhar o
coro levítico ou tocar como uma orquestra no Templo (Esdras 3:10; Neemias 12:27, 36). Isto confirma que a
regra era clara e válida por muitos séculos. O canto e a música instrumental no templo deveriam diferir daquela
usada na vida social do povo.

A lição para nós hoje é evidente. A música na igreja deveria diferir da música secular, porque a igreja, como o
antigo Templo, é a Casa de Deus na qual nos reunimos para adorar ao Senhor e não para sermos entretidos.
Percussão instrumental, que estimula fisicamente as pessoas com uma batida alta e constante, é tão imprópria
para a música na igreja de hoje quanto foi para a música do Templo no antigo Israel.

A Música no Novo Testamento

Ao tentarmos analisar a música no Novo Testamento, deparamos com uma absoluta falta de informações a
respeito do tema. O Novo Testamento faz silêncio sobre qualquer cargo “musical” na igreja. Com exceção do
livro do Apocalipse, no qual a música faz parte de um rico drama escatológico, apenas uma dúzia de passagens
se refere à música.

Das doze referências à música no Novo Testamento, cinco se referem a ela metaforicamente (Mateus
6:2; 11:17; Lucas 7:32; I Coríntios 13:1; 14:7-8) e, por conseguinte, não são relevantes ao nosso estudo. As sete
restantes derramam luz importante, especialmente quando são vistas dentro do contexto mais abrangente da
adoração na sinagoga, a qual era conhecida e praticada pelos cristãos.

São encontradas quatro referências à música nos Evangelhos. Duas mencionam música instrumental e dança
em conjunção com o luto pela morte de uma menina (Mateus 9:23) e com a celebração no retorno do Filho
Pródigo (Lucas 15:25). Duas passagens são paralelas e mencionam Cristo cantando um hino com os Seus
discípulos no final da Última Ceia (Mateus 26:30; Marcos 14:26). Muito provavelmente esta era a segunda
porção do Aleluia judaico, cantado na conclusão da Páscoa. Consistia dos Salmos 113 a 118.

Um texto se refere a Paulo e Silas que cantavam enquanto estavam em prisão (Atos 16:25). Não temos como
saber se eles cantaram salmos ou hinos cristãos compostos recentemente. Os exemplos acima nos falam que a
música acompanhava várias atividades na vida social e religiosa do povo, mas não nos informam sobre o papel
da música na igreja.

São encontradas poucas instruções relativas à música para a igreja nas Epístolas. Tiago afirma que, se uma
pessoa está alegre, “Cante louvores”. (Tiago 5:13). A implicação é que o canto deveria brotar de em um coração
alegre. Presumivelmente os cânticos de louvores não aconteceriam apenas reservadamente em casa, mas
também publicamente na igreja. Outros textos sugerem que cantar hinos de louvor fosse uma característica do
serviço da igreja.

Informação mais específica nos vem através de Paulo, proporcionando uma maior percepção no papel da
música no serviço de adoração do Novo Testamento. No contexto de suas advertências com respeito às
manifestações arrebatadoras na igreja de Corinto, Paulo pede equilíbrio na elaboração da música,
aconselhando que o canto seja feito com a mente e também com o espírito: “cantarei com o espírito, mas
também cantarei com o entendimento“. (I Coríntios 14:15). Aparentemente alguns cantaram em êxtase, sem que
a mente tomasse parte. O cântico sem sentido é como o discurso sem sentido. Ambos desonram a Deus. Como
diz Paulo: “porque Deus não é de confusão, e sim de paz“. (I Coríntios 14:33). O perigo se encontra em reduzir a
emoção a sua expressão superficial: o sentimentalismo. Isto resulta em desconectar a música do conjunto da
realidade cultual, de seu contexto teológico e experimental, e impor com insistência as preferências individuais.

Cantar deveria ser para a edificação espiritual e não para excitação física. Paulo diz: “Quando vos reunis, um
tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito
para edificação“. (I Coríntios 14:26). Este texto sugere que o culto na igreja era bastante informal, assim como
na sinagoga. Cada um contribuía de alguma forma na experiência da adoração.

Os dois textos paulinos restantes (Efésios 5:19; Colossenses 3:16) são os mais informativos acerca da música
no Novo Testamento. Paulo encoraja os efésios, “enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos,
entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais “. (Efésios 5:18-19). De modo
semelhante, o apóstolo aconselha os Colossenses: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,
com gratidão, em vosso coração” (Colossenses 3:16).

Ambas as passagens provêem a indicação mais antiga de como a igreja apostólica fazia diferença entre salmos,
hinos e cânticos espirituais. É difícil fazer distinções firmes e rápidas entre estes termos. A maioria dos
estudiosos concorda que os três termos se referem, livremente, às várias formas de composições musicais
usadas no culto de adoração.

A frase “aconselhai-vos mutuamente … com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,” sugere que o canto fosse
interativo. Presumivelmente uma parte do cântico era responsiva, com a congregação respondendo ao líder do
cântico. O canto devia ser feito com “gratidão” e “de todo o coração”. Através de seus cânticos, os cristãos
expressavam sua gratidão incondicional “ao Senhor” por Sua maravilhosa provisão em salvá-los.

Nenhuma das referências sobre música no Novo Testamento examinadas acima faz qualquer alusão a
instrumentos musicais usados pelos cristãos do Novo Testamento para acompanhar o canto. Aparentemente os
cristãos seguiam a tradição da sinagoga proibindo o uso de instrumentos musicais nos cultos da igreja por
causa de sua associação pagã.

Paulo entendia, indubitavelmente, que a música poderia ser um recurso efetivo para ajudar a igreja a cumprir as
tremendas tarefas da evangelização dos Gentios. Ele sabia o que funcionaria para atrair as pessoas. Ele diz:
“Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; ” (I Coríntios 1:22). Mas ele escolheu
não usar a linguagem dos gentios ou dos judeus para proclamar o Evangelho. Por que? Porque ele queria
alcançar as pessoas, não lhes dando o que elas queriam, mas pregando-lhes aquilo que elas necessitavam.
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que
foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus“. (I
Coríntios 1:23-24).

A igreja primitiva entendia a verdade fundamental de que a adoção da música pagã, e dos instrumentos usados
para produzi-la, poderiam, eventualmente, corromper a mensagem cristã, sua identidade, e seu testemunho,
além de tentar as pessoas a voltar aos seus estilos de vida pagãos. Eventualmente isto foi o que aconteceu. A
partir do quarto século, quando o cristianismo se tornou a religião do império, a igreja tentou alcançar os pagãos
adotando algumas de suas práticas, incluindo sua música. O resultado tem sido a secularização gradual do
cristianismo, num processo que continua ainda hoje. A lição da história é clara. Evangelizar as pessoas com sua
linguagem secular, no final das contas resultará na secularização da própria igreja.

Separação do Mundo

A base bíblica para não misturarmos o sagrado com o profano é extensa. Deus nunca aceitou uma adoração
dividida. Deus sempre se mostrou muito zeloso, não apenas na afirmação da Sua própria santidade, mas
também de que Seu povo seja Santo. Estão listados abaixo alguns textos a este respeito, deixando
perfeitamente claro o nosso dever de nos separarmos de tudo o que é mundano, inclusive da música de estilo
mundano:

“não somente para fazer separação entre o santo e o profano, e entre o imundo e o limpo, mas também
para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem dado por intermédio de
Moisés.“(Levítico 10:10-11)

“E sereis para mim santos; porque eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos povos, para serdes meus.”
(Levítico 20:26)

“Não profanareis o meu santo nome, e serei santificado no meio dos filhos de Israel. Eu sou o Senhor
que vos santifico” (Levítico 22:32)

“Porque és povo santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe seres o seu próprio povo,
acima de todos os povos que há sobre a face da terra.” (Deuteronômio 14:2)

“Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; (…) e servi ao Senhor. Mas, se
vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; (…) Porém eu e a minha
casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:14-15)

“(…) Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal, segui-
o. (…)” (I Reis 18:21)

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se
a um e desprezar o outro. (…)” (Mateus 6:24)

“Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não
pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é
cortada e lançada no fogo.” (Mateus 7:16-19)
“Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a
injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? ou que
parte tem o crente com o incrédulo? E que consenso tem o santuário de Deus com ídolos? Pois nós
somos santuário de Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não
toqueis coisa imunda, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas,
diz o Senhor Todo-Poderoso. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita
em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por
preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.” (II Coríntios 6:14-20)

“ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente


mundo sóbria, e justa, e piamente” (Tito 2:12)

“Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento


da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,” (Hebreus 10:26)

“A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: (…) guardar-se isento da corrupção do
mundo.” (Tiago 1:27)

“Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode acaso
uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Nem tampouco pode uma fonte de água salgada
dar água doce.” (Tiago 3:11-12)

“Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser
amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)

“Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância;
mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento;
porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.” (I Pedro 1:14-16)

“Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do que
aquele que está no mundo. Eles são do mundo, por isso falam como quem é do mundo, e o mundo os
ouve. Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim
é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.” (I João 4:4-6)

“Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida, não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que
faz a vontade de Deus, permanece para sempre.” (I João 2:15-17)

Princípios Gerais

A Bíblia, como dissemos a princípio, fornece princípios gerais, que devem ser aplicados ao contexto em que
vivemos. Esta aplicação não pode ser feita com base no nosso gosto pessoal, porque, como vimos, o homem
possui um coração enganoso e uma mente limitada (Jeremias 17:9; Isaías 55:8-9). A este respeito, disse Jesus:
” Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus.” (Mateus 7:21). Apenas o coração transformado, guiado pelo Espírito, pode tomar decisões e
fazer escolhas que agradem verdadeiramente a Deus (I Coríntios 2:14; Romanos 8:7-8). Por esta razão, este
assunto não pode ser considerado um assunto técnico, do ponto de vista musical, mas uma questão teológica,
pois o que buscamos é fazer a vontade de Deus também neste ponto. O que é necessário é que nossa mente
esteja alinhada com a mente divina, ou o nosso louvor será profano e a nossa adoração, falsa. ” Este povo
honra-me com os lábios; e o seu coração, porém, está longe de mim” (Mateus 15:8), disse Jesus, referindo-se
aos líderes espirituais de Seu tempo.

Seguem abaixo alguns textos bíblicos, sendo que muitos deles não são usados normalmente no contexto da
Música Sacra e Adoração. Uma vez que apenas o Espírito pode nos guiar na verdade (João 16:13), gostaria de
convida-lo a, antes de ler estes textos, pedir humildemente a orientação divina, para que a compreensão das
verdades divinas seja perfeita. Como o nosso assunto é Teologia da Música e Adoração, estes textos devem ser
lidos aplicando-se a verdade neles contida a este contexto. Devemos tentar responder, sob orientação divina, a
seguinte questão: Quais estilos musicais estariam de acordo com estes princípios? Esta não é uma tarefa
simples; mas se colocarmos de lado nossos gostos pessoais, nossas tendências adquiridas e permitirmos que
Deus nos guie, teremos uma compreensão clara da vontade de Deus nesta área.

“E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam
sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe
glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as
fontes das águas.” (Apocalipse 14:6-7)
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (I
Coríntios 10:31)

“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que do
Senhor recebereis como recompensa a herança; servi a Cristo, o Senhor.” (Colossenses 3:23-24)

“Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o
que não provém da fé é pecado.” (Romanos 14:23)

“mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto
sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.” (I João 2:5-
6)

“Mas o que sai da boca procede do coração; e é isso o que contamina o homem. Porque do coração
procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, isso não o
contamina.” (Mateus 15:18-20)

“Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4:23)

“Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da
parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a
Deus no vosso corpo.” (I Coríntios 6:19-20)

“Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém
destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; ” (I Coríntios 3:16-17)

“Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.” (Filipenses 4:5)

“Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando
a quem possa tragar; ” (I Pedro 5:8)

“Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do
mundo. Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo,
assim como eu não sou do mundo. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (João 17:14-17)

“Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno. Sabemos também que já veio o
Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos aquele que é verdadeiro; e nós estamos
naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. ” (I
João 5:19-20)

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é
puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, seja
isto que ocupe o vosso pensamento.” (Filipenses 4:8)

“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo
está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;
porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3:1-3)

“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e
perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:1-2)

Depois de termos lido estes textos em oração, temos uma dura advertência da parte do próprio Cristo: ” E por
que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?” (Lucas 6:46)

Conclusão

Infelizmente, o debate corrente sobre o uso de música popular contemporânea na adoração ignora grandemente
os pressupostos teológicos que devem guiar a experiência da adoração. Uma vez que a nossa adoração deve
ser voltada somente a Deus, a teologia desta adoração não pode ser esquecida e nem mesmo diluída pelos
valores culturais esposados pela sociedade mundana em que vivemos inseridos (João 17:11). Alguns líderes de
música estão insistindo na adoção de rock religioso contemporâneo e outros estilos híbridos nos cultos de
adoração com base no gosto pessoal e considerações culturais. Mas a música e o estilo de adoração não
podem ser baseados somente em gostos subjetivos ou tendências populares. A missão profética e a mensagem
da igreja deveriam ser refletidas em sua música e estilo de adoração. A resposta para a renovação da nossa
adoração será encontrada, não na adoção de música popular religiosa, mas em um reexame de como nossa
teologia deveria ser refletida nas várias partes do culto na igreja, inclusive na música.

Ao se aproximar o glorioso acontecimento pelo qual tanto aguardamos, a volta de nosso Senhor Jesus, temos
diante der nós, como igreja, um desafio e uma urgência sem precedentes para reexaminar a base teológica para
a escolha e execução de nossa música. Esperamos e oramos para que a igreja responda a este desafio, não
pela aceitação sem questionamentos da música popular contemporânea, que é estranha à missão e mensagem
da igreja, mas pela promoção da composição e cântico de músicas que expressem adequadamente a
esperança que arde em nossos corações (I Pedro 3:15).

Bibliografia

Artigo “Base Bíblica do Culto“, sem especificação de autor.

Bacchiocchi, Samuele – “O Cristão e a Música Rock”, capítulos 6 e 7.

Faustini, João Wilson – “Música e Adoração” – Publicação Coral Religiosa “Evelina Harper” (1973) – Distribuído
pela Imprensa Metodista, capítulos 2 e 3

Gardner, Calvin G. – Artigo “A Adoração Verdadeira”

Hustad, Donald P. – “JUBILATE! – A Música na Igreja” – Edições Vida Nova – 1986, capítulos 1 e 2

Plenc, Daniel O. – Artigo “A Adoração e a Música na Igreja“


 Música e Adoração »

 Efeitos da Música »

 Hinologia »

 Livros »

 Artigos Técnicos »

 Outros Artigos »
A Adoração

A Adoração e a Música na Igreja


por: Daniel Oscar Plenc

Sendo que a música desempenha um papel fundamental na expressão humana, convém cultivá-la bem.

A passagem de Isaías 55:10 e 11 expressa, adequadamente, a dinâmica da adoração. “Porque, assim como a
chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para
que dê semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará
para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.”

Na adoração existe uma palavra de Deus que desce do alto e uma resposta que ascende do homem. A
mensagem divina retorna em frutos de harmonia com a vontade de Deus. Assim a adoração é ação: uma auto-
revelação de Deus e uma resposta positiva do homem. Robert E. Webber mostra que como adorar é um verbo,
é algo que fazemos para a glória de Deus.

Consideraremos quatro aspectos importantes que criam o lugar da música na adoração da igreja.

1. A música como criação e doação divina

A música é um presente de Deus, parte de sua criação, de tudo “que era muito bom” (Gênesis 1:31) o que o
Senhor fez no principio. O grande Artista divino fez os homens a sua imagem, com gosto pela beleza, e com
suficiente criatividade e capacidade estética para expressá-la e desfrutá-la (Gênesis 1:27, 28). Deus é a grande
gênese da música. Por um tempo Lúcifer foi apenas seu diretor do coro, até que pôs em dúvida a dignidade do
único objeto do louvor celestial (Isaías 14:12-14). Neste contexto o homem, como mordomo do Criador, é
responsável por usar, preservar e desenvolver o dom da criatividade, e da expressão musical.

2. A música da igreja como arte e missão

Donald P. Hustad afirma que “a música na igreja não é uma arte livre, nem um fim em si mesma. É arte trazida
aos pés da cruz: arte dedicada ao serviço de Deus e a edificação da igreja.” Prefere pensar na música cristã
como uma arte funcional, uma criação humana, mas destinada ao cumprimento dos propósitos divinos.
Diferentemente da arte “pura,” a música cristã supera o prazer estético e é avaliada pelo cumprimento de seu
propósito. Esse propósito não pode diferir da missão divina da igreja.

Uma ideia da missão da igreja pode se extrair dos termos que o Novo Testamento utiliza para expressar as
facetas do ministério eclesiástico: adoração (leitourgía), ensino (didajé), comunhão (koinonía), proclamação
(kerygma), testemunho (marturía), serviço (diakonía). Estes vocábulos sugerem um equilíbrio na clássica tensão
entre o ser e o fazer do ministério eclesiástico.

2.1. Adoração (leitourgía): Cabe notarmos que a adoração é “a primeira responsabilidade da Igreja”. A
adoração é também o grande objetivo da igreja e de seu culto. A música cristã participa deste objetivo, sendo
um instrumento de comunicação entre Deus e os homens. Um meio pelo qual Deus pode expressar-se, e ao
mesmo tempo permitir ao homem expressar uma resposta positiva à iniciativa da divindade. De modo que,
acima de qualquer outro objetivo, a música eclesiástica deve orientar-se à adoração a Deus.

2.2. Proclamação (kerygma): A música da igreja apregoa os feitos redentores de Deus em favor dos homens, e
estende a eles um convite à fé e ao compromisso cristão. As religiões pagãs baseavam sua adoração nos ciclos
da natureza; a religiosidade bíblica se baseia nas intervenções históricas de Deus em favor de seu povo. Os
grandes atos da criação, preservação, redenção e providência devem proclamar-se na adoração cristã e na sua
música. Eles provêem os motivos essenciais para a resposta do homem. Ellen White o expressou desta
maneira: “A voz humana tem muito poder efetivo e musicalidade, e que aquele que aprende a cantar realiza
esforços decididos adquirirá o habito de falar e cantar que será para ele um poder para ganhar conversos para
Cristo”.

2.3. Testemunho (marturía): A música cristã prove a oportunidade para compartilhar a fé e a experiência cristã
com os outros. É um veículo adequado para contar o que o Senhor tem feito na vida de cada testemunha. Os
que não crêem podem receber esse testemunho, e os crentes serão edificados.

2.4. Educação (didajé): A música sacra constitui um ministério docente porque, como a música é educativa,
pode transmitir com eficácia importantes aspectos do caráter e das ações do Criador. A serva do Senhor
expressou assim: “É um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais.
Quantas vezes à alma oprimida e pronta a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus – as de
um estribilho, há muito esquecido, de um hino da infância – e as tentações perdem o seu poder, a vida assume
nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras almas!

Nunca se deve perder de vista o valor do canto como meio de educação. Que haja cântico no lar, de hinos que
sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de animação, esperança e alegria. Haja
canto na escola, e os alunos serão levados para mais perto de Deus, dos professores e uns dos outros.”

2.5. Serviço (diakonía): A música cristã é muitas vezes um remédio para o espírito humano. Outorga ânimo,
consolo e fortaleza. Por meio dos cantos sagrados em Israel “elevavam-se seus pensamentos acima das
provações e dificuldades do caminho; abrandava-se, acalmava-se aquele espírito inquieto e turbulento;
implantavam-se os princípios da verdade na memória; e fortalecia-se a fé.” Por esta razão os músicos cristãos
devem ver a si mesmos como autênticos ministros de Deus em favor dos conversos.

2.6. Comunhão (koinonía): A música cristã enfatiza a unidade da igreja e fortalece os laços de amor entre seus
membros. Além de unir, o canto freqüentemente provê uma das poucas oportunidades de genuína participação
conjunta. A oração e o canto unem os pensamentos dos adoradores e os orienta na direção do divino. Por isso,
“O canto não deve ser feito apenas por uns poucos. Todos os presentes devem ser estimulados a tomar parte
no serviço de canto.”

Todo este fundamento teológico e eclesiológico da atividade musical indica que as palavras dos cânticos são
mais significativas que a música que os acompanha. É verdade que a música pode dar força, e servir de realce
e complemento à letra, mas também é certo que pode limitar e até bloquear a compreensão das palavras.

3. A música como expressão

Ensina-se que a música é uma arte, e que a arte é basicamente expressão. Mas não se deve esquecer que a
música cristã é um meio de expressão religiosa. Uma expressão humana, dentro de um indubitável marco
teológico.
Neste contexto a música sacra primeiramente deve ser expressão de Deus. É criada e executada por seres
humanos, mas leva à sublime intenção de expressar a Deus. Por isso, “a música cristã deve incluir a melhor
expressão humana possível daquilo que a cultura percebe ser a auto-revelação de Deus à humanidade”.

Junto com a pregação bíblica, o canto cristão pode ser um canal de comunicação entre Deus e os homens. A
adoração levará em conta a transcendência e a imanência de Deus (Isaías 57:15). Deus é anterior e está além
da criação, mas veio a nós em Cristo e no Espírito Santo. A transcendência de Deus promove a reverência, e a
imanência torna possível a comunhão. A música da igreja deve apresentar a Deus tal como a Escritura o revela:
um Deus que desperta o temor reverente tanto quanto o gozo cristão.

Também é certo que a música é uma expressão de prazer, e que a música cristã não tem porque renunciar a
ele. Porque, “a menos que os adoradores encontrem algo de prazer… numa determinada linguagem de música
cristã, provavelmente não serão edificados nem pela música nem pela letra”. “Sem dúvida, há perigos potenciais
relacionados com a experiência de prazer gerado pela música cristã”. Existe o risco de fazer do prazer da
música um fim em si mesmo, de limitá-la a uma experiência puramente estética, transformando-a num
“entretenimento religioso”.

A música também é expressão de emoção. As emoções parecem revalorizar-se na adoração atual, e não há
dúvida de que “a música fala ao coração”. Alfred Küen expressa que todo o ser: “espírito, alma e corpo, os
sentimentos e a vontade, assim como a inteligência, deveriam estar envolvidos no culto”.

Fala-se muito da utilização litúrgica dos dois hemisférios cerebrais; o esquerdo, verbal, lógico, cognitivo,
racional; e o direito, não verbal, intuitivo, estético, emocional. Paulo insta aos cristãos de Corinto a cantarem
“com o espirito” e “com o entendimento” (I Coríntios 14:15). O perigo se encontra em reduzir a emoção a sua
expressão superficial: o sentimentalismo. Isto resulta em desconectar a música do conjunto da realidade cultual,
de seu contexto teológico e experimental, e impor com insistência as preferências individuais.

A música sacra deve ser a expressão de autêntica religiosidade. Há de ser julgada em relação com o
cumprimento de sua missão espiritual. A música cristã deve servir como um meio eficaz de revelação divina e
resposta humana. “Além disso, todas as reuniões e atividades da igreja (com sua música) devem ser avaliadas
por quão plena e verdadeiramente Deus é revelado e quão completa e madura é resposta positiva humana.”

A música cristã há de ser a expressão dos princípios fundamentais da fé. Na situação da religiosidade
protestante, a música religiosa deve manifestar o sustentáculo de seu pensamento teológico.

3.1. Primazia das Escrituras. O princípio da Sola Scriptura (Somente a Bíblia) tem implicações na adoração e
na música da igreja. A adoração tende a ser mais racional que mística, por submeter-se às pautas escriturais. A
pregação bíblica passa a ser central na adoração congregacional. A leitura e a pregação da Escritura não é
substituída nem ofuscada pela música, apenas realçada por ela.

3.2 A Salvação pela Fé O principio fundamental da Sola fide (Somente a fé) determina que o culto dê ênfase na
salvação, e em tudo relativo à justificação, santificação e a glorificação. Nesta atitude o culto não acrescenta
mérito à redenção em Cristo, mas é um fruto precioso da salvação. Na realidade só o crente, o homem
convertido adora verdadeiramente a Deus.

3.3 O Sacerdócio dos Crentes O princípio do sacerdócio universal dos crentes promove a participação de cada
membro da congregação. Por isso, os sermão e o canto devem ser simples e compreensíveis para a grande
maioria. Não se prega para teólogos, nem se canta para músicos, apenas para o Senhor e para a igreja.

4. A música sacra como adoração a Deus

Ainda que pareça correto promover a adoração como a atividade mais importante da igreja, este tempo de
inovações e mudanças exige reexaminar as bases bíblicas e teológicas da adoração eclesial em busca de
adequação e autenticidade.

As palavras originais da Escritura para significar “adoração” oferece chaves importantes acerca da natureza
deste encontro entre o humano e o divino. A palavra hebraica mais freqüente, shâjâh, denota a ação de inclinar-
se ou render homenagem. A palavra grega equivalente, e a mais importante do Novo Testamento, proskuneô,
encerra a conotação primária de “beijar para”. O hebraico ‘abad, ou o grego latréuô significam serviço a Deus.
Nesse sentido a adoração é a homenagem, a submissão, a obra e o serviço de todo o povo a Deus.

Em seu livro I and Thou, Martín Buber sustém que a essência da religião é a relação, o diálogo do homem com
Deus. Com efeito, a adoração é a expressão da relação do cristão com Deus. A definição mais comum de
adoração, descreve-a como resposta afirmativa, transformadora dos seres humanos à auto-revelação de Deus.
Evelyn Underhill fez uma afirmação considerada clássica: “A adoração, em todos os seus graus e formas, é a
resposta da criatura ao Eterno…”. Martinho Lutero reduziu a ação litúrgica dialogal às atividades concretas do
serviço religioso (Gottesdienst): “reunir-se com o fim de escutar e dialogar sobre a Palavra de Deus, e em
seguida louvar a Deus, cantar e orar”.

Podemos notar pelo menos duas implicações básicas da adoração corporativa com influência na música: A
adoração como uma conversação com Deus, e a adoração como oferta e entrega a Deus.

4.1. Adoração como diálogo. Em Isaías 6:1-8, Deus se aproxima do profeta em revelação de seus atributos e
como portador de uma vocação divina, e o profeta responde em confissão, submissão e rogo. O mesmo ocorre
no verdadeiro culto. “Deus nos fala através da leitura bíblica, do sermão e dos hinos que cantamos. Também
respondemos por intermédio de hinos e de outras palavras que nos tem sido designadas, em louvor, gratidão,
confissão, dedicação, petição e intercessão.”

Søren Kierkegaard se refere à adoração como um drama no qual os membros da congregação são os atores e
Deus é o ouvinte. Pregadores e coros são o “ponto” ainda que pareçam “dominar a cena”. João Calvino dizia
que a congregação é o primeiro coro da igreja.

A ideia de adoração como conversação com Deus deve conduzir a uma cuidadosa seleção da música
eclesiástica. “O diálogo da adoração deve ser completo: deve dar um panorama completo da auto-revelação de
Deus e prover a oportunidade de gerar uma resposta completa por parte do ser humano tanto em símbolos
cognitivos (palavras) como em formas criativas (música e outras artes).”

4.2 Adoração como oferta Adorar é ofertar a quem é o legítimo doador de todas as coisas. A esse Deus
benevolente deve se oferecer o melhor sacrifício de louvor (veja Hebreus 13:15-16), sem esquivar-se ao valor
(veja II Samuel 24:20-24). Porque a adoração é um doar e um doar-se a Deus. Haverá bênçãos e satisfações,
mas serão frutos benéficos dessa piedosa e transformadora doação humana. “Adoração é, no final das
contas, submissão a Deus.”

Todo este sentido da música como parte da adoração da igreja pode, todavia, apreciar-se melhor à luz da
notável sentença de William Temple: “Adoração é a submissão de todo nosso ser a Deus. É tomar consciência
de sua santidade; é o sustento da mente com sua verdade; é a purificação da imaginação por sua beleza; é a
abertura do coração a seu amor; é a rendição da vontade a seus propósitos. E tudo isto se traduz em louvor, a
mais íntima emoção, o melhor remédio para o egoísmo que é o pecado original.”

Dr. DANIEL O. PLENC é professor na Universidade Adventista del Plata e diretor do Centro de Investigação
White
A Adoração Verdadeira
por: Calvin Gardner

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade;
porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em
espírito e em verdade.” – João 4:23,24

Quando pensamos em adoração a Deus, geralmente imaginamos algo que emana de nós a fim de
expressarmos louvor às qualidades de Deus. Seja na música, serviço, oração ou outra forma de expressarmos
adoração, pensamos que louvor é próprio de nós. A pergunta é: A adoração verdadeira é produzida pelo homem
e dada, com os devidos merecimentos, ao único Deus vivo e verdadeiro? Será essa a verdadeira adoração que
Deus deseja receber do homem?

O Que Significa a Palavra “Adoração”?


O dicionário Aurélio define adoração como culto a uma divindade; culto, reverência e veneração. O mesmo
dicionário define o verbo adorar como render culto a (divindade); reverenciar, venerar (Dicionário Aurélio
Eletrónico). As palavras que definem adoração, no Velho Testamento, significam ajoelhar-se, prostrar-se
(#7812, Strongs), como em Êxodo 20:5. As palavras que definem adoração, no Novo Testamento, significam
beijar a mão de alguém, para mostrar reverência; ajoelhar ou prostrar-se para mostrar culto ou submissão,
respeito ou súplica (#4352, Strongs), como em Mateus 4:10 e João 4:24. Adoração então é uma atitude de
extremo respeito, inclusive ao divino, que se expressa com ações singulares de reverência e culto.

Qual é a Base da Definição da Adoração Verdadeira?


Seria um engano severo achar que toda e qualquer expressão verdadeira de adoração é oriunda do homem. Do
homem não pode emanar a verdade pura. O homem possui um coração enganoso e uma mente limitada
(Jeremias 17:9; Isaías 55:8,9). Essas duas coisas geram um erro que não é percebido facilmente pelo homem,
especialmente quando a maioria ao seu redor está envolvida no erro (II Timóteo 4:3,4). Não é sabedoria colocar
base de sustentação naquilo que é enganoso e limitado. Devemos usar o que é firme e eterno. Se essa
sustentação não vem do homem, tem que vir do que não é contaminado pelo homem. Somente a Bíblia, por ser
dada pela inspiração do Espírito Santo, é a base firme para estipular o que é a adoração verdadeira . Se a Bíblia
por escrito for a base; ela será a base “mui firme” (II Pedro 1:19; Hebreus 4:12). Se as Escrituras Sagradas
forem a nossa única regra de fé e prática, então tudo o que não concorda com elas será julgado como falso
(Isaías 8:20). Não é válido estipular uma parte exclusiva da Palavra de Deus para a nossa sustentação do que é
adoração verdadeira, pois “Toda a Escritura é inspirada e proveitosa” (II Timóteo 3:16; Romanos 15:4). Por ser a
Bíblia completamente dada por Deus, é ela que define para nós o que é a adoração verdadeira.

As Naturezas Distintas da Verdade e do Amor


Existe verdade e a natureza dela é única, exclusiva e eliminatória. A verdade proclama: “À lei e ao testemunho!
Se estes não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” (Isaías 8:20). A doutrina repreende,
exorta, corrije, instrui, reprova com o intuito de que haja aperfeiçoamento e obediência “boa” (II Timóteo
3:16,17; 4:2-6). O ensinamento pela Palavra de Deus pode dividir (Hebreus 4:12, “mais penetrante que espada
alguma de dois gumes”; Mateus 10:34; Atos 14:1-4). Por ser a Bíblia entendimento verdadeiro, aquele que retém
as Suas palavras odiará todo falso caminho (Salmos 119:104,128). Se pretendemos agradar a Deus, temos que
separar-nos dos que não andam segundo a verdade (ou na igreja – Romanos 16:17; I Coríntios 5:11; II
Tessalonicenses 3:6,14 ou no mundo – II Coríntios 6:14-18; I Timóteo 6:3-5). Deus pergunta ao Seu povo:
“Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3:3). O apóstolo Paulo indaga à igreja de
Deus em Corinto, com todos os santos que estão em toda a Acaia, “que sociedade tem a justiça com a
injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem
o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?” (II Coríntios 6:14-16). As respostas
são claras, pois a verdade é única, exclusiva e eliminatória.

Todavia, o amor, por natureza, é inclusivo. O amor (#26, ágape: afeição e benevolência, Strong?s) é sofredor,
não se irrita, nem suspeita mal. Este amor bíblico sofre e suporta tudo (I Coríntios 13:4-7) e cobre uma multidão
de pecados (I Pedro 4:8). A natureza desse amor “ágape” dá valor àquele que não o merece. Quando esse
amor for ativo (#25, agapão, amor num senso moral e social, Strong?s) a misericórdia reinará (Romanos
9:25; Efésios 2:4). Podemos observar esse amor (#25) em ação: Deus amou a Cristo (João 17:24) e o mundo
(João 3:16), Jesus amou os Seus discípulos (João 13:1; 15:9; Gálatas 2:20; Apocalipse 1:5), os discípulos
devem amar os outros discípulos (João 13:34; I João 3:11-14; 4:7), os esposos devem amar as suas esposas
(Efésios 5:25,28; Colossenses 3:19) e nós devemos amar o nosso próximo e inimigo (Mateus 5:43,44; Romanos
13:8,9).

O servo que anda na verdade não precisa desistir de amar de jeito nenhum. Mas há diferença entre o amor e a
participação do erro. O amor equilibrado andará junto da verdade, nunca em oposição a ela (João 14:15). O
amor verdadeiro leva-nos a cuidar de todos os que estão no erro para que eles odeiem o seu erro (Judas
1:22,23;I Coríntios 5:5; II Coríntios 6:14-18; Hebreus 1:9; 12:5). O Apóstolo Paulo tinha amor pelo povo de Israel
e este íntimo amor desejou que eles andassem segundo a verdade (Romanos 10:1; 11:14). Deus, o Amor
verdadeiro, levou nos à Verdade (Cristo) para nossa salvação do pecado (Efésios 2:4-7). Para podermos entrar
no Amor (Cristo), nosso erro tem que ser deixado de lado (arrependimento). Agora, para andarmos em
santidade, por amor a Deus, somos constrangidos à obediência (II Coríntios 5:14), a suportar um ao outro
(Efésios 4:2) e a deixar o erro (II Coríntios 5:14; 6:14-18). O andar em obediência tornou-se o nosso culto
racional em amor (Romanos 12:1). O amor (#26, ágape), mesmo inclusivo, é equilibrado pela verdade que é
exclusiva. Somente existe crescimento quando o amor é acoplado com a verdade (Filipenses 1:9; Efésios
4:15,16; II Pedro 1:5-7) pois o amor é o “vinculo da perfeição” (Colossenses 3:14) e leva às boas obras (Hebreus
10:24). O amor verdadeiro não se isenta da fé, da justiça, da perseverança, da piedade, da santificação, da
obediência ou do poder espiritual, mas é aperfeiçoado neles (I Timóteo 1:5;2:15;4:12;6:11;II Timóteo
1:7;2:22;3:10;Tito 2:2;I João 2:5; 4:18; III João 1:6). Pelo amor aceitamos todas as pessoas como elas são, e,
pelo mesmo amor, encorajamo-las a andarem na luz pela verdade. Nisso entendemos que o amor não é inimigo
da verdade nem a verdade do amor.

A Adoração Falsa Existe


1. Existe adoração sem santidade, mas não é adoração verdadeira. Nos últimos dias, como nos dias
passados, falsos profetas virão (Mateus 24:24;II Timóteo 3:1-8). Os falsos adoradores têm somente uma
aparência de piedade (II Timóteo 3:5), mas, na realidade, negam a eficácia dela. Olhando além da aparência, as
vidas públicas e íntimas dos falsos adoradores revelam uma atração maior e dominante para os deleites do
mundo do que para agradar ao Santo Deus (II Timóteo 3:4). Eles carregam a Bíblia junto com eles, estudam-na
(II Timóteo 3:7), mas eles não conhecem a obra do Espírito Santo nas suas vidas (João 14:26; 15:26), que
leva ao conhecimento e à verdade (II Timóteo 3:7) a ponto de seguir a verdade dos apóstolos (II Timóteo 3:10).
Estes falsos adoradores querem somente as coisas aprazíveis (Isaías 30:10), as fábulas (II Timóteo 4:3,4) e
freqüentemente apregoam tradições de homens como se fossem mandamentos de Deus (Marcos 7:7-9). São
réprobos quanto àquela fé uma vez dada aos santos (II Timóteo 3:8; Judas 1:3,4). Resumindo, se o seu
conhecimento da Palavra de Deus não o leva a ter uma vida nova, que zela pela santidade, e uma santidade
que influi tanto a vida pública, quanto íntima, você ainda não está adorando a Deus em espírito e em verdade.
Se o fruto do Espírito Santo não está evidente na sua obediência à doutrina (II Timóteo 3:10), você está
exercitando-se em adoração falsa. A adoração na forma correta leva à substância da verdade e ao
aperfeiçoamento real (II Timóteo 3:16,17). Os que querem adorar em espírito e em verdade devem afastar-se
daqueles que não têm a eficácia da piedade (II Timóteo 3:5).

2. Existe adoração com os lábios, mas não com o coração. Tal adoração é falsa. Essa adoração pode ter uma
aparência impecável, como se o povo estivesse chegando a Deus e assentando-se diante dele, como sendo o
povo verdadeiro de Deus, ouvindo as palavras de Deus, mas por fim, seus corações seguem o pecado (Isaías
29:13; Ezequiel 33:31; Mateus 6:7; 7:21-23; 15:8; Atos 8:21). Isso é nada mais ou nada menos que uma
adoração falsa. Em Isaías 1:2-18, o povo de Israel tinha holocaustos abundantes (v.11-13), com uma aparente
aproximação de Deus (v. 12). Eles praticavam oblações e reuniões solenes (v.13), orações constantes e o
levantar das mãos (v.15), mas, em tudo disso, não tinha um reconhecimento da grandeza de Deus nos seus
corações, nem uma obediência em amor (v.15, “porque as vossas mãos estão cheias de sangue”). Toda essa
adoração, que o povo aceitou largamente, era vista por Deus como iniqüidade, vaidade, abominação, cansaço e
maldade (v. 13-16). Para revelar que aquela adoração não era adoração aceitável diante de Deus, Ele escondeu
os Seus olhos deles (v.15). A adoração ocupou todos os lábios do povo mas o coração deles estava longe de
Deus. Não há adoração verdadeira se não tiver obediência de um coração singular e temente a Deus (Jeremias
9:23,24). Tudo isso é uma lição para nós (Romanos 15:4). Verifique a sua adoração. Está mais nos lábios para
com os homens do que no coração para com Deus? Pode ser que os falsos adoradores andem religiosamente
com uma multidão bonita, mas tal adoração, para com Deus, é uma iniqüidade, cansaço, vaidade e uma
maldade. Quem é que você quer agradar? Se quiser andar entre os adoradores verdadeiros, peça que Deus
sonde o seu coração e o instrua no caminho eterno, Cristo no coração (Salmos 139:1,23,24; Provérbios
23:26; Isaías 1:16-18). Somente aquela adoração que vem de um coração sincero, preparado pelo Espírito e
estabelecido na verdade, é a adoração aceitável ao Senhor Deus e praticada no céu (Josué 24:14; João
4:24; Apocalipse 4:9-11).

3. Existe adoração com a letra da lei, mas não com o espírito da lei. Zelar pelas regras, mesmo as mais
rígidas e absurdas, em vez de inteirar-se com um espírito da adoração, parece ser fácil. Isso acontece entre os
religiosos, com uma adoração falsa, e, até entre os que têm a forma correta de doutrina. A igreja em Éfeso, que
era uma igreja com doutrina verdadeira, não foi corrigida por zelar pela doutrina, mas por não incluir o espírito
da adoração na sua doutrina. Deixaram o seu primeiro amor (Apocalipse 2:1-7). Se aconteceu com aquela igreja
naquela época, pode acontecer entre nós hoje. Os Fariseus eram religiosos que faziam tudo pela lei com a
esperança sincera de deixar Deus o mais alegre possível. Socialmente eram bem aceitos. Religiosamente
também. A cerimônia da sua adoração era exatamente conforme a lei que Deus estipulava, mas, mesmo assim,
era uma adoração falsa. Por quê? Porque deixavam o espírito da lei desfeito (Mateus 23:23). Na cerimônia
(Mateus 23:1-12), pela letra da lei, muitas vezes em adoração, faziam “prolongadas orações” (v.14),
evangelismo fervoroso (v.15), um dízimo sério (v.23) e vidas corretíssimas (v.25). Todavia, com todo o esforço
expedido na sua adoração, o espírito da lei foi contrariado. Deus, a Quem deviam praticar essas ações, julgou-
os hipócritas (v.14), condutores cegos (v.16), insensatos (v.17), serpentes, raça de víboras (v.34), condenadores
(v.35) e enganadores que invertiam valores (v.19-22). Tais palavras de descrição, revelam o grau de falsidade:
quanto ao zelo e à letra da lei, esta não era adoração verdadeira. A maior evidência da sua falsidade foi quando
a própria pessoa da Verdade presenciou os que adoravam por meio da letra da lei, vindo a zangar-se. No fim da
história, crucificaram a Verdade, que cumpriu toda parte da lei (João 8:46), para que pudessem continuar em
adoração pela letra da lei (Mateus 26:57-68; 27:1). Não podemos classificar como adoração verdadeira aquela
que dê primazia à letra da lei, ao abandono do espírito da lei. Que tenhamos a adoração verdadeira que é
correta tanto em espírito quanto em verdade (João 4:24)!

4.Existe adoração com ignorância da verdade de Cristo e é tida como adoração falsa. Jesus, na sua
conversa com a mulher Samaritana, chegou a dizer-lhe que os Samaritanos adoram o que não sabem (João
4:1-24, v.22). A instrução de Cristo é: se não esteja adorando, em espírito e em verdade, a pessoa de Cristo,
não está adorando ao agrado do Pai (João 4:24). Os Samaritanos eram Judeus também, mas uns Judeus que
tinham linhagem e doutrina consideradas poluídas pelos Judeus de Jerusalém (João 4:9, Zondervan Bible
Dictionary, p. 747). Sendo Judeus, não eram sem conhecimento intelectual do Messias, mas eram ignorantes de
Cristo por não O aceitarem como o Messias, igual aos Judeus em geral. A sua adoração abrangia fatos e
cerimônias, mas não tinha o alvo correto: a pessoa de Cristo. Era sem a verdade de Cristo e, portanto, a sua
atividade religiosa era uma adoração ignorante (João 4:22,23). Jesus disse que os Fariseus erraram na mesma
maneira, pois os seus ensinamentos exteriorizavam uma ignorância tremenda da verdade de Cristo como o
Filho de Deus (Mateus 22:29, “Errais, não conhecendo as Escrituras”). Por não ser uma adoração baseada
somente na verdade de Cristo, todo o aparato religioso dos Fariseus era classificado por Jesus Cristo
como errado. O Apóstolo Paulo notou também a existência de adoração com ignorância entre outros povos. Em
Atenas, capital da mitologia, não faltava adoração. A adoração dos Atenienses tinha forma, deidades, sacrifícios,
tradição, lógica e antigüidade. Todavia, pela inspiração do Espírito Santo, tudo isso não era uma adoração mas
uma superstição (Atos 17:22,23) por ser dirigida “AO Deus DESCONHECIDO”. Foi uma adoração falsa e
supersticiosa por ser falha com a verdade da pessoa e obra de Cristo. Destes exemplos podemos aprender: Se
a adoração não está correta tocante à verdade de Cristo, é adoração falsa. O eunuco de Etiópia atravessou
países em busca da adoração (Atos 8:27). Não obstante toda sua sinceridade e esforço, ele não entendeu o
tema das Escrituras: o Cristo Jesus (Atos 8:30,31). Portanto, enquanto ignorante de Cristo, não pode adorar a
Deus verdadeiramente. Cristo é a Verdade Única (João 14:6, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém
vem ao Pai senão por Mim.”). Foi Ele, por Deus, que foi estabelecido como “sabedoria, e justiça, e santificação,
e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (I Coríntios
1:30,31). Qualquer adoração que não é centrada somente em Cristo, como Ele é apresentado pelas Escrituras,
é uma adoração falsa. O Apóstolo João confirmou que a Sua pregação, e toda a sua adoração resultante, era
verdadeira por ser exclusivamente centrada na pessoa e obra de Cristo (I João 1:1-4). O Apóstolo Paulo apelou
para a autenticidade da Sua pregação e, conseqüentemente, a sua adoração, mostrando que ela era somente
de Cristo, “segundo as Escrituras” (I Coríntios 2:1-5; 15:3,4). O Apóstolo Pedro substanciou a sua pregação, e a
sua adoração juntamente, como sendo verdadeira por ser aquela que foi exclusivamente de Cristo. A sua
mensagem foi testemunhada por Cristo, pelo Pai e pelas Escrituras (II Pedro 1:16-21). Se conhecemos Cristo
pela obra de Deus, pelas Escrituras, e obedecemos à Palavra de Deus para o agrado do Pai, estamos adorando
o Pai como convém, “em espírito e em verdade”. De qualquer outra maneira a nossa atividade de adoração é
vista por Deus, como ignorância, e portanto, falsa. Como vai a sua adoração? É centrada somente na pessoa e
obra de Cristo? Deus não dá um prêmio pela adoração que é oferecida com ignorância. Jesus ensinou que
devemos ser humildes como uma criança para entrarmos no reino dos céus (Mateus 18:1-4). Não deve ser
interpretado que humildade é ser sem conhecimento da pessoa e obra de Cristo. O oposto é a verdade. A
humildade que Cristo ensinou significa não confiar mais em outra coisa do que em Cristo, mesmo que a
sociedade, tradição, ou a lógica assim diga. Ser humilde como uma criança é confiar somente em Cristo como o
Salvador. Já O conhece pela fé, uma fé que se revela arrependimento dos pecados e confiança unicamente na
pessoa e obra de Cristo? Somente assim a sua adoração seria verdadeira.

5. Existe adoração com sacrifício aceitável ao homem, que não é em obediência à Palavra de Deus, e,
portanto, não é adoração verdadeira. O Rei Saul foi instruído detalhadamente para destruir completamente os
Amalequitas. Todos os homens, as mulheres, as crianças e os animais deviam ser destruídos. Nada deveria ser
perdoado. O Rei Saul foi à cidade e feriu-a mas tomou o Rei Agague, rei dos Amalequitas, vivo, como também o
melhor das ovelhas e das vacas, e também as da segunda ordem. Quando Samuel encontrou-se com o Rei
Saul, terminada a guerra, Samuel perguntou-lhe se a palavra do Senhor foi obedecida. O Rei Saul disse que
sim. Mas o balido de ovelhas e o mugido das vacas veio aos ouvidos de Samuel. Saul explicou que estas foram
poupadas para serem oferecidas ao SENHOR, em Gilgal. Samuel explicou que essa é uma adoração falsa, pois
obedecer ao que Deus diz é melhor que qualquer sacrifício que o homem possa pensar. O atender a voz do
SENHOR é melhor que a gordura dos carneiros ou qualquer outra oferta que o homem possa dar (I Samuel
15:3,8-9,14,21-22). É interessante notar que as ações do Rei Saul tinham o aval do grande público. Todo o povo
estava contente por ter o estômago cheio, e, também por ter agora as riquezas dos Amalequitas. O fato de
humilhar ao rei pagão foi muito gratificante. Todavia, apesar do grau de aceitação humana da ação do Saul pelo
povo, não foi em nada uma adoração aceitável ao SENHOR. Apenas a obediência restrita à Palavra de Deus é
adoração verdadeira. Seria melhor se o Rei Saul obedecesse exatamente à Palavra de Deus. Pela obediência
explícita à Palavra de Deus, manifestamos a nossa confiança em Deus. Tal confiança é tida por Deus como
adoração aceitável, pois, pela fé que é vista em obediência, Deus é santificado diante do povo. Por Moisés não
subjugar a sua carne diante do povo de Deus no deserto e por não reter a sua reação de ira ao bater a rocha,
que foi uma manifestação de falta de fé, Deus não foi santificado diante do povo (Números 20:7-13). Em vez de
ser uma adoração, para Deus foi uma indignação (Deuteronômio 1:37). Por essa falta de obediência explícita,
Moisés foi proibido de introduzir o povo de Israel na terra prometida (Deuteronômio 32:51). Seria bem melhor
obedecer e fazer o que era correto a seus olhos. O povo de Deus, em outra ocasião, movido pelo temor de
Deus, obedeceu com rigor à Palavra de Deus ao ficar silencioso quando marchou ao redor de Jericó (Josué 6:8-
11). O obedecer, sem dúvida, parecia estranho, tanto para povo de Deus que marchava, quanto para o povo de
Jericó, que observava a marcha silencioso. Mesmo que essa marcha não fosse um culto de louvor, Deus
aceitou a obediência como uma manifestação de confiança Nele foi mostrado o Seu Poder com uma grande
vitória. Foi melhor obedecer a Deus, que inventar astúcias que agradariam ao homem por pouco tempo.
Em Isaías 58:2-5, o povo inventou sacrifícios que pareciam retos diante dos seus olhos, mas não eram aceitos
por Deus. A igreja de Sardes (Apocalipse 3:1) também tinha atividades que lhe agradaram, mas, para Deus, era
uma igreja morta. Há muitos que chamam o SENHOR de Senhor e fazem muita coisa boa, mas, para Deus, não
vale nada (Mateus 7:21-23). Estes casos de Rei Saul diante dos Amalequitas, de Moisés às águas de Meribá,
do jejum falso de Israel, dos religiosos reprovados por Jesus e da igreja em Sardes nos ensinam o que é
adoração aceitável. Esse ensino é: Quando obedecemos a Ele, em vez de fazer o que nós pensamos, é melhor
estarmos dando a Deus o sacrifício que Lhe agrada. É a obediência que exalta Cristo na qual o Pai é glorificado.
(Mateus 5:16). Este é o sacrifício vivo (Romanos 12:1) que a Deus é devido (I Pedro 2:5). Fazer justiça e juízo é
melhor do que sacrifício (Provérbios 21:3; Salmos 69:31), mesmo que não seja o mais fácil. Vamos então
perseverar explicitamente na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão, e nas orações (Atos
2/41,42). A Deus é dada toda a glória. Ele recebe toda a glória pela obediência correta da Palavra de Deus
(João 4:24).

6. Existe adoração com intenção pura mas não vale como adoração verdadeira. Jesus explicou que viria um
tempo em “que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus” (João 16:2). Este tempo veio
acontecer não muitos anos depois. Encontramos Saulo de Tarso, zelosamente perseguindo a igreja (Atos
9:1,2; 22:1-5). Em toda essa perseguição à igreja, ele se julgava irrepreensível segundo a sua religião, a Lei de
Moisés (Filipenses 3:4-6). Sem dúvida nenhuma ele tinha as melhores intenções para com Deus quando
procurava a destruição do ajuntamento dos crentes. Todavia, não obstante a sua intenção pura e a sua devoção
a Deus, era uma adoração falsa. Depois da sua conversão ele entendeu as coisas bem melhor. Essa intenção
pura que antes julgava “ganho”, depois do seu encontro com a Verdade, ele julgou “perda” (Filipenses 3:7). Com
o seu entendimento entendendo a Verdade, ele julgou vãos os que têm “zelo de Deus, mas não com
entendimento” (Romanos 10:1-3). Nisso entendemos que existe adoração que é movida somente pela intenção
pura. Tal adoração não é necessariamente uma adoração verdadeira. Tal adoração não é com entendimento
(Romanos 10:2). Tais adoradores não conhecem nem o Pai, nem Jesus Cristo (João 16:3) e, portanto, não é
adoração, segundo a verdade. O homem pode honestamente desprezar Deus e o Seu Cristo e ainda perder a
sua alma. Convém adorar o Senhor Deus por Jesus Cristo. Isso é adorar “em espírito e em verdade” (João
4:24). Os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera (I Reis 18:19) eram
sinceros na sua adoração aos seus deuses. Eles achavam que serviam um deus pessoal, que podia ouvir e
responder-lhes. Isso poderia ser dito de todos os que vivem nas tradições vãs que recebem de seus pais (I
Pedro 1:18). Estes profetas de Baal entraram de corpo e alma na sua adoração (I Reis 18:26-29). Todavia, com
todo os seus sacrifícios, e sinceridade, intenção e boa fé, a sua adoração era completamente falsa, sem
nenhum vestígio de adoração verdadeira. Eles pagaram caro pelo seu erro (I Reis 18:40). Não depende da sua
intenção a indicação da veracidade da sua adoração. A intenção pura do homem, mesmo quando é dirigida a
Deus, não faz que o seu coração enganoso não seja perverso (Jeremias 17:9; Mateus 15:19). Quando o Rei
Davi quis trazer de volta a arca da promessa, ele tinha intenções puras. Ele e todo o povo de Deus estavam
empenhados em fazer o que achavam correto segundo Deus. Tinham a intenção de levar a arca da terra dos
inimigos sujos e pagãos à terra de Deus. Eram empolgados com intenções que eles consideravam santas e
puras, mas não fizeram de maneira correta. Eles não acharam errado misturarem a sabedoria humana no meio
da adoração à Deus. Eles pensavam que tudo isso seria aceitável e agradável a Deus. Porém, mesmo com
intenções puras na sua adoração, Deus ministrou morte entre eles (II Samuel 6:1-8). Isso não foi um caso
isolado, pois vemos que com os religiosos citados em Mateus 7:15-23 aconteceu a mesma maneira. Na
adoração verdadeira, a intenção do homem não é o que vale mais. É a obediência da Palavra de Deus em
amor. Não deixe a sua boa intenção enganar você. Deus quer que o adoremos pela obediência de Jesus Cristo
para a nossa redenção e, pelo Espírito Santo obedecer à Palavra de Deus. Não precisamos ser ignorantes
nesse assunto, pois Deus já nos revelou como Ele quer ser adorado: “em espírito e em verdade” (João 4:24).
Nenhum destes seis exemplos, apesar da sua aceitação por parte do povo, foram aceitos por Deus. Eram
abomináveis e desobedientes. A adoração falsa é repreendida por Deus, e, às vezes, até à morte. Agora
estamos informados de que aquilo que nós queremos naturalmente dar ao Senhor pode ser uma abominação
para Ele.

Em verdade, a adoração verdadeira não é aquilo produzido pelo homem, é dado, com os devidos merecimentos,
ao único Deus vivo e verdadeiro. O que é produzido pelo homem é contaminado pela natureza do homem, pelo
pecado, e pela mente limitada do homem.

A Adoração Verdadeira Existe – João 4:23,24


Parte I – “Em Espírito”
É muito claro que Deus o procura no assunto de adoração. Deseja Deus ser adorado por aquilo produzido por
Ele. Isso seria uma adoração em “espírito e em verdade”. O que cria confusão entre os que querem adorar O
SENHOR é tanto a teoria quanto a prática, de adorar em espírito. Podemos entender melhor este assunto, se
entendêssemos o próprio espírito do homem.

O Espírito do Homem Natural e a Adoração Verdadeira


O homem natural (I Coríntios 2:14; 15:46), o primeiro Adão (I Coríntios 15:45); ou seja, o pecador não salvo, não
pode adorar o Senhor verdadeiramente. Ele é morto espiritualmente. Quando Deus falou a Adão e a Eva, no
Jardim do Éden, “certamente morrereis” (Gênesis 2:17), se comerem do fruto proibido, eles morreram para com
Deus, que é uma morte espiritual (Gênesis 3:6; Efésios 2:1; I Coríntios 2:14). Agora o filho natural de Adão é
morto para com as coisas de Deus. Portanto, diante de Deus, o pecador é filho da desobediência (Efésios 2:2),
inimigo de Deus (Romanos 8:7) e separado de Deus (Isaías 59:1,2). Por causa do seu estado espiritual, o
pecador não tem entendimento espiritual (I Coríntios 2:14). Não há nada que vem naturalmente do espírito do
pecador que pode agradar a Deus (Jeremias 13:23; Romanos 8:8; João 3:3-6; 15:5). O primeiro Adão é apenas
um ser terreno, uma alma vivente, mas sem um espírito vivificado para com Deus (I Coríntios 15:45-47). Ele vive
segundo a sua natureza pecaminosa, o que a Bíblia determina “o homem velho” que se corrompe pelas
concupiscências, ou os desejos carnais (Efésios 4:22; I João 2:16; Romanos 6:6). Isso quer dizer que aquilo que
o homem natural faz segundo o seu coração enganoso (Jeremias 17:9) é para satisfazer suas concupiscências,
e por elas, é corrompido. Mesmo na esfera de religião o homem natural não agrada a Deus, pois não habita bem
algum na carne (Romanos 7:18).

O homem natural, que é um descrente, pode vestir-se com religião e moralizar suas ações diante dos homens,
mas, mesmo assim, não ser vivo para com Deus, ou não ser espiritual, não agrada Deus de nenhuma maneira
(Mateus 7:21-23; Lucas 6:46; 11:39-44; João 4:22; Atos 17:22-24).

O Espírito do Homem Novo e a Adoração Verdadeira


O homem espiritual (I Coríntios 2:15) é feito espírito vivificado através da obra do último Adão (I Coríntios 15:45).
O último Adão é do céu e é espírito vivificante (I Coríntios 15:45-47). O pecador arrependido e crente em Cristo
pela fé, é feito um homem novo e espiritual. Este homem novo pode adorar o Senhor em espírito
verdadeiramente. Por ser uma nova criatura, este homem novo é adotado na família de Deus, feito filho de Deus
(Gálatas 4:5; I João 3:1,2) amigo (João 15:15) e deixa de estar separado de Deus (Efésios 2:14). Este novo
homem está com entendimento espiritual (I Coríntios 2:15), é espiritualmente vivo (João 3:6; 10:28; Efésios 2:1)
e não peca (I João 5:18). Todas essas bênçãos espirituais nos lugares celestiais estão confirmadas por Jesus
Cristo (Efésios 1:3; João 3:16). O Espírito de Deus habita no corpo desse homem que foi feito novo (I Coríntios
6:19; II Coríntios 6:17) e faz com que ele seja agradável a Deus por Jesus Cristo (Efésios 1:6). O cristão, que é
vivificado espiritualmente, é chamado um novo homem (Efésios 4:24) e tem um homem interior (Romanos 7:22).
Esse novo homem é criado por Deus em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24; Colossenses 3:10). É
assim que os cristãos podem adorar a Deus corretamente “em espírito”.

O pecador regenerado no seu espírito tem prazer na lei de Deus (Romanos 7:22) e anseia ser obediente a
Deus, pois é feito conforme a imagem de Cristo que foi obediente em tudo (Romanos 8:29; João 17:4; Filipenses
2:8). Esta nova criatura é evidenciada pelos desejos santos e ações de obediência. Pela nova natureza feita por
Deus, através de Jesus Cristo pelo Espírito Santo, os frutos da santidade serão vistos (Gálatas 5:22,23; Efésios
4:24). Os frutos desta santidade são separação de tudo o que é imundo (Salmos 97:10; 119:104; Provérbios
8:13) para viver em obediência à Palavra de Deus (Efésios 2:8-10). A adoração verdadeira consiste em uma
vida separada do mundo e uma crescente obediência à Palavra de Deus.

Resumo: A adoração “em espírito” é muito mais que um cântico bem cantado, ou uma aparência de santidade,
uma concordância de observar uma lista de regras para a vida, ou um sentimento de bem estar. A adoração “em
espírito” é um estilo de vida para com Deus, que deseja ser conforme o Seu Filho. Esse estilo de vida espiritual
resulta em uma apresentação dos nossos corpos em sacrifício vivo para expressar pública e continuamente uma
vida santa e agradável a Deus (Romanos 12:1,2; Gálatas 2:20).

Estás com o principal de uma vida espiritual, o Cristo? Somente com Ele seremos agradáveis a Deus. Somente
por Ele temos o espírito vivificado pelo qual Deus deseja ser adorado.

Como o Cristão Adora “Em Espírito”


Por ter o cristão um espírito vivificado e ainda ter o pecado nos seus membros da carne, há conflitos. Uma
natureza deseja os prazeres da carne e batalha contra a outra que vive segundo a justiça e santidade (Romanos
7:23,24; Gálatas 5:17). Tentações vêm ao crente através da sua carne (I Coríntios 10:13; Tiago 1:13-15). A
vitória sobre essas tentações é por Jesus Cristo pelo espírito vivificado (Romanos 7:25; I João 4:4). O crente
é justificado eternamente por Jesus Cristo (João 3:16; 10:28,29; Hebreus 9:12, “eterna redenção”), mas vive
confessando seus pecados para ser purificado no seu viver no mundo (I João 1:9; Provérbios 4:18).

Só o que é produzido do alto é aceito por Deus, pois o que o homem natural produz é sujo. Para podermos
adorar a Deus verdadeiramente, tem que ser “em espírito”, pois é este que é movido e feito por Deus no
crente. Só aquele que é separado do mundo, é obediente à Palavra de Deus. A adoração, que é baseada nas
emoções da carne, e movida pelas maneiras e métodos extra-bíblicos (os métodos inventados pelos homens
que não são apoiados pela Bíblia, mas não se opõem aos princípios da Bíblia) ou anti-bíblicos (os métodos
inventados pelo homem que são contrários aos princípios da Bíblia), mesmo que sejam dirigidos a Deus, é uma
adoração vã e não aceita por Deus, pois não foi produzida por Ele. O que Deus aceita é feito por Ele e é
evidenciado pela santidade, silêncio, temor e por uma obediência crescente (Salmos 97:10; Habacuque
2:20; Mateus 7:21; Romanos 8:27; Filipenses 1:6; 2:13).

O homem que cultiva uma sensibilidade ao temor de Deus nos seus pensamentos, na fala, na vestimenta, no
estudar, no trabalhar e no adorar e é levado a obedecer a Palavra de Deus onde quer que seja, no lar, na
sociedade ou na igreja, esse é o homem que adora Deus “em espírito”.

A adoração que agrada a Deus não é produto dos esforços do homem natural mas é fruto do Seu Espírito que
está no homem novo. Isso é o que significa “adorar em espírito”.

Parte II – “Em Verdade”


O que é a Adoração “Em Verdade”?
Mesmo que este estudo sobre a adoração verdadeira seja dividido em dois pontos (“em espírito” e “em
verdade”) devemos entender que não existe um sem o outro. Importa a Deus que os que O adoram O adorem
tanto “em espírito” quanto “em verdade” (João 4:24). Se procuramos adorar o Senhor em só um ponto, estamos
adorando incorretamente. Mas estes dois pontos podem, para maior clareza, ser estudados separadamente.

Não Existe Adoração Verdadeira sem a Verdade


O homem sempre precisa de um equilíbrio. Por ter o homem cristão as duas naturezas, (uma pecaminosa e
uma santa, Gálatas 5:17), a influência que a natureza pecaminosa pode exercer no crente precisa ser sempre
lembrada. Por esta razão existem tantos versículos na Bíblia sobre a necessidade do cristão ser vigilante e
sóbrio (I Tessalonicenses 5:6; I Pedro 5:8) despertado do sono (Romanos 13:11-14) e ser espiritual (Mateus
26:41; Gálatas 5:16,17,24-26; Efésios 5:14-21). Também, por ter um inimigo astuto, cheio de ardis ( Gênesis
3:1; II Coríntios 2:10,11; Apocalipse 12:9) incansável ( I Pedro 5:8) que arma lutas espirituais contra nós (Efésios
6:11) precisamos de um alicerce forte, o qual possa nos restabelecer nos conflitos espirituais.

A Palavra de Deus é o equilíbrio em que o cristão precisa. Ela é a verdade que santifica (João 17:17), é mui
firme, e, portanto, devemos ser atentos a ela (II Pedro 1:19). As Escrituras Sagradas foram dadas pela
inspiração do Espírito Santo e não produzidas por vontade de homem algum (II Pedro 1:20,21) e, por isso, nos
preparam perfeitamente para toda a boa obra, inclusive a adoração (II Timóteo 3:17). A Palavra de Deus é viva
e, portanto, eficaz em todas as épocas e para todos os povos a fim de dirigi-los ao que agrada à Deus (Hebreus
4:12). O equilíbrio de que o cristão precisa no meio da mentira e engano sagaz que opera ao redor dele
(Hebreus 12:1; Efésios 6:12) é a Palavra de Deus (Salmos 119:105). Ela é o que nos aperfeiçoa para a defesa
(Efésios 6:13-17), a resistência (I Pedro 5:9) contra todas as astutas ciladas do diabo e de todo o engano dos
nossos próprios corações (Salmos 119:130; II Timóteo 3:16,17). É pela verdade que os espíritos são provados (I
João 4:3; I Timóteo 4:1) e não pelos pensamentos manipuláveis ou emoções enganadoras da natureza humana.
De fato, a Bíblia é a única regra de fé e ordem para o crente e isso vale também para o assunto de adoração.
Não há adoração verdadeira quando a Palavra de Deus não é cuidadosamente obedecida, tanto na sua letra
quanto no seu espírito.
A Palavra de Deus leva o cristão à imagem de Cristo para poder adorar “em verdade”. O cristão que adora “em
verdade” conforma-se com Cristo, pois Cristo é a própria Verdade (João 14:6). O que Deus produz por Seu
Espírito traz a lembrança, tudo o que Cristo ensinou (João 14:26) e que verdadeiramente testifica Cristo (João
15:26). O Espírito do Senhor, pela Palavra de Deus, transforma-nos, de pouco em pouco, EM imagem de Cristo
(II Coríntios 3:18). A adoração verdadeira nunca pode agir contrária aos ensinamentos de Cristo ou exemplificar
outra vida se não a de Cristo. A adoração verdadeira deve ser “em verdade”, e Cristo é a verdade. Tudo que
agrada a Deus deve ser em conformidade com Seu Filho, pois pelo Filho o Pai é comprazido (Mateus
3:17; 17:5). Quando mais em conformidade à imagem de Cristo, mais perfeita é a nossa adoração. Deus não
procura invenções sinceras ou espertas com que o homem qualquer possa se empolgar em manifestar, mas Ele
se compraz em Cristo (Mateus 17:4,5). Deus não se contenta nem um pouco com aquela adoração que é
movida pelo raciocínio de homens bem intencionados, mas isentos da verdade (João 18:10,11). Deus somente
se contenta com aquela adoração que bebe fundo em obediência ao cálice que Ele dá. Deus não é agradado
em nenhuma maneira pela compaixão humana que não é dirigida pela verdade da Palavra de Deus. Deus se
agrada naquilo que nos torna iguais a Cristo, naquilo que entenda as coisas que são de Deus (Mateus 16:21-
23; I Coríntios 2:16). Cristo é o alvo e o meio de toda a adoração verdadeira. Você está se tornando mais e mais
a imagem de Cristo? Somente assim se pode prestar adoração verdadeira.

Não há Espiritualidade sem Obediência


Excluir a obediência à Palavra de Deus ou não ser conforme a imagem de Cristo seria uma abominação para
Deus a Quem queremos adorar (Lucas 6:46). Substituir as Escrituras Sagradas por algo diferente também é
abominação (Marcos 7:7; Tito 1:14). Há uma multiplicidade de atrativos para afastar o cristão de uma adoração
verdadeira. Há fábulas ou genealogias intermináveis (I Timóteo 1:4; 4:7) ofertas vãs, incenso, observação de
luas novas e sábados (Isaías 1:13,14). Mas tudo isso tende a adicionar algo à Palavra de Deus, em vez de
seguir a sua pureza (Provérbios 30:5). Não devemos procurar melhorar a verdade (Deuteronômio
12:32; Apocalipse 22:18,19) mas devemos apenas observá-la.Uma atenção sensível, um estudo constante,
a meditação contínua em conjunto com uma obediência temente à verdade, a Palavra de Deus é essencial para
adoração verdadeira. Não podemos separar a adoração espiritual da adoração prática (obediência). O próprio
Espírito Santo é chamado o Espírito da verdade (João 14:17; 15:26; 16:13) que nos aponta a Cristo que perfeito
e espiritual mostrou a Sua espiritualidade pela Sua obediência (Filipenses 2:8; João 14:11). É certo que
podemos ser menos espirituais que o próprio Cristo, mas de nenhum modo podemos ser tão espirituais a ponto
de tornarmos a minuciosa obediência à verdade uma desnecessidade.

A Obediência Verdadeira é Espiritual


Deve ser enfatizado que podemos ter obediência sem espiritualidade. Os que crucificaram Cristo cumpriram a
Palavra de Deus completamente, mas, mesmo sendo obedientes, não operam com desejo de adorar o Senhor
por amor (Atos 2:21-23; 4:27,28). Demônios crêem na verdade, mas não adoram o Senhor segundo a operação
do Espírito Santo (Tiago 2:19). Os Fariseus obedeceram à lei a risco, mas não entraram no reino de Deus
(Mateus 5:20). Se vamos servir ao Senhor, a obediência deve ser segundo o Espírito em amor (Oséias
6:6; Miquéias 6:8; Apocalipse 2:4,5).

Deve ser lembrado que podemos ter intenção sem uma obediência completa. Pedro tinha intenção pura, tanto
quando cortou a orelha direita do Malco (João 18:10) como quando repreendeu o Senhor Jesus Cristo quando
Este predisse Sua morte (Mateus 16:21-23). A igreja em Tiratira tinha muito amor, mas era displicente com a
obediência e isso trouxe uma dura repreensão do Senhor (Apocalipse 2:18-23). Se vamos servir o Senhor, o
nosso amor deve ser com obediência. Não caia no que parece gostoso à carne, mesmo à carne religiosa. Seja
ativo no que agrada Deus e será aceito pelo Mesmo (João 15:1-11).

Pelo estudo feito podemos entender bem melhor que o que Deus deseja é a adoração “em espírito e em
verdade”, é algo que nunca é produzido pelo homem, mas que vem somente de Deus. É produzida pelo Espírito
de Deus e é segundo a Sua Palavra, para trazer os seus à imagem de Cristo (II Coríntios 3:18).

Bibliografia

 Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica Trinitariana da Bíblia, São Paulo, 1994.

 Concordância Fiel do Novo Testamento, Editora Fiel, S. José dos Campos, 1994

 Dicionário Eletrônico Aurélio, v. 2.0, Junho 1996


 STRONG, James LL.D., S.T.D., Exhaustive Concordance of the Whole Bible, Online Bible, Canada, v.
7.0, (http://www.onlinebible.org).

 TENNY, Merrill C. The Zondervan Pictorial Bible Dictionary, Zondervan, Grand Rapids, 1975.

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