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NATAL
2023
MICHAEL STEFFERSON SILVA DOS SANTOS
NATAL
2023
MICHAEL STEFFERSON SILVA DOS SANTOS
NATAL
2023
Banca Examinadora
_______________________
MARCOS BRAGATO UFRN
_______________________
DOUGLAS ARAÚJO UFRN
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"É ótimo celebrar o sucesso, mas mais importante ainda é assimilar as lições
trazidas pelos erros que cometemos". - Bill Gates
RESUMO
Figura 1 - Minitrampolim 09
trad. Tradutor
LISTA DE SÍMBOLOS
% Porcentagem
© Copyright
1 INTRODUÇÃO 7
REFERÊNCIAS 17
APÊNDICE A – 21
7
1. INTRODUÇÃO
Assim, de onde pouco se espera convém pouco esperar (...) (ROCHA, 2017, p.22)
1
O slam é uma competição de poesia falada criada nos Estados Unidos por Marc Smith, mais especificamente
em Chicago nos anos 1980 e trazido ao Brasil em 2008 por Roberta Estrela D'Alva. Originário do inglês, o
termo slam quer dizer batida. Algo semelhante a uma pancada.
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universidades. Porém, um ambiente impreciso surge toda vez que se usa o termo
"danças urbanas", e especificamente, o Breaking.
As compreensões e definições estereotipadas sobre o termo e a expressão
dele, quase nunca chegam aos fatos que o movem, assim como a sua importância e
valor enquanto arte (SANTOS, 2021). As danças relacionadas ao hip hop buscam
atualmente espaço de discussão entre os programas de editais, espaços de ensino
em escolas, mas as quais ainda se demonstra incipiente no que tange sua inserção
nas universidades. Nesse sentido, se os estudos das danças relacionadas ao hip
hop no Brasil acerca da sua “academização” ainda se apresentam introdutórios,
então está facilitado o entendimento que a pesquisa sobre o breaking ainda esteja
em fase embrionária.
Tanto o Hip Hop quanto o Breaking comungam preceitos e regras
fundamentais que servem de alicerce para a continuidade de suas práticas. Tais
preceitos e regras se refletem de forma mútua nesse alicerce. No entanto, parece
que o ambiente acadêmico não as considera ao não relevar as distinções entre o
Hip Hop e o Breaking. Por isso, sugere-se a apreciação integral do ambiente
acadêmico sobre o conhecimento interno das manifestações do hip hop como uma
prática em si mesma.
Embora o Hip Hop possa ser estudado como um movimento cultural
interestético que engloba quatro elementos – Breaking, Mcing, Djaaying, Grafite - o
presente estudo não busca dedicar-se às generalidades sobre seus
componentes. Busca-se apresentar uma noção de como a abordagem teórico-
prático dos aspectos instrutivos no que concerne ao ensino e aprendizagem
do breaking funciona na prática, a se integrar em uma visão tradicionalmente
acadêmica como ponto de tensão. Assim, será explorada uma discussão onde “não
é propriamente sobre estudos dos efeitos e causas dentro do âmbito coletivo nem a
avaliação de conflitos e tensões que o hip-hop vem trazer ao contexto urbano que
este ensaio se propõe” (BELTRÃO, 2000, p. 204).
No Hip Hop é notável a presença da consciência político-sociocultural. Hip
Hop e Política são inseparáveis, porém são coisas distintas. Assim, o objetivo
político e social, neste estudo, fica parcialmente inadequado, visto que é na análise
específica da dança que centralizamos nossos esforços. Dessa forma, a perspectiva
relativa à história, preceitos técnico-estético, princípios didático-pedagógicos e das
suas experiências em contextos de atuação são evidenciados a partir do ponto de
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vista da dança, pois a dança nos anos iniciais é o produto vital da origem da cultura
hip hop.
Nesse sentido, em diversos estudos, a atração do hip hop se versa, sobretudo
a respeito sobre sua política educacional, na qual a presença do hip hop na
universidade em diversos momentos é vista a partir da sua função na socialização
dos jovens, na construção de identidades de indivíduos e na sua autenticidade
social; são muitos os pesquisadores a fazer uso do hip hop como um “caminho” para
realizar seus estudos em educação. Essa estratégia abre precedente para
discussões no campo da educação das "danças urbanas": é possível que os
educadores tenham que pensar para além da sala de aula para poder legitimar as
“danças urbanas” nas escolas do futuro? Uma questão importante para educação
em danças urbanas é como a dança breaking, e outras relacionadas com o hip hop
se arriscam para além de uma mera postura “crítica” ligada a teorias de ação social
aplicada à educação, - na maioria das vezes, atividades rebaixadas a dispositivos
instrumentais de ocasião - capazes de criar um caminho honesto com a dança? Por
conseguinte, gerar uma via visível de progressão em dança?
Este estudo se objetiva em apresentar o breaking como solução à
aprendizagem em dança, ao enfatizar o estudo da aplicabilidade de seus elementos
nos diferentes campos de atuação: educacional e artístico. Compreende-se a
dança breaking como facilitador para um corpo que quer dançar.
Para isso, o texto segue estruturado entre capítulos, nos quais o capítulo
1 será responsável por discorrer sobre os episódios históricos formadores dessa
subdivisão das danças urbanas em território estadunidense e sua presença no
Brasil. Procura-se, assim, alicerçar o leitor a partir de alguns autores na área de
estudo do início deste movimento originado no South Bronx, seu ambiente de
aprendizagem e de ação, tal como sua relação com a mídia e mercado.
O capítulo 2, por sua vez, disserta sobre os fundamentos que alicerçam e
fazem do breaking se constituir em breaking, com o qual quer oferecer alternativa
pedagógica em como expandir tais fundamentos e sua transmissão de
conhecimento por meio dele. Assim, reitera-se a importância de processos de
ensino-aprendizagem de práticas corporais com a observação e investigação, como
ocorre nas danças urbanas, por favorecerem a produção compartilhada de
conhecimento e como estratégia para propiciar a consciência corporal e autonomia
de movimento. E, também, engendrar discussões sobre a expansão de
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BREAKING DE OUTRORA
“Nos primórdios” surge como expressão comum dentro dos relatos sobre
breaking/Hip Hop, aplicada com maior frequência para descrever aspectos históricos
e assinalar momentos na evolução da cultura hip hop. A frase tem incutido certa
nostalgia, reconhecendo as comparações entre o desempenho relativo, fases de
modificações ou influentes inovações estéticas realizadas em contextos históricos
gerais. No entanto, mesmo com toda a sua potência retórica e proveito casual
permanecem como expressões inexatas, utilizadas por parte da maioria de teóricos
brasileiros que se debruçam sobre as origens do hip hop como uma forma de
interlocução “whattsappiana” que comunica informação, mas falta precisão ou
exatidão.
A grande parte das narrativas históricas acerca dos estudos do hip hop são
inundadas por mitos e conjecturas. Para Sanchez (2012), os esclarecimentos em
torno das danças relacionadas ao hip hop ainda permeiam o que o autor chama de
“mitologias da web”. Logo, a desinformação é composta por acadêmicos que dão
legitimidade à propaganda alimentada por artistas da dança, por certa necessidade
de notoriedade individual. Da mesma forma, como livros que expressam cada vez
mais a agenda pessoal baseada em opiniões de fontes secundárias, em vez de
relatos históricos primários, e dados não validados encontrados na internet e
apresentados como fatos (SANCHEZ, 2012).
A invisibilização das raízes do breaking é representada por um obstáculo
muito mais profundo que assola a historicização de uma das linguagens do hip-hop.
Diante disso, desvendar a história do bboying/bgirling nos leva a uma compreensão
de sua natureza e significado no mundo da dança do hip hop de hoje (FABEL,
1999). Embora se tenha avançado com diversas descobertas acerca de diversos
fatos históricos sobre o hip hop, ainda há muito a ser explorado em relação a sua
dança - às raízes do breaking. Portanto, decifrar teorias a partir de fatos é um
processo gradual, aparentemente interminável, com informações dispersas que
podem deixar elos perdidos nas correntes de sua história.
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muda a sua forma e seu significado. Para se tratar de breaking é preciso dividi-lo
em duas etapas: antes da mídia e pós-mídia. Por isso, busca-se dissecar a história
bboy e ergue-se uma reflexão a partir de dúvidas relacionadas ao seu
desenvolvimento técnico-estético.
Indagações como: o Breaking se inicia quando os dançarinos de Rocking
caem pela primeira vez no chão ou quando ficam por lá? Uma nova dança acontece
quando o estilo muda, ou quando uma palavra é inventada para descrever uma
mudança que foi estabelecida? (SCHLOSS, 2009). São perguntas que permanecem
e custam caro ao breaking, embora certas questões não tenham respostas
definitivas, porém servem de haste de sustentação e valência para o avanço de uma
proeminente discussão sobre o Breaking na academia.
Este capítulo é dividido em quatro gerações separadas para se ter uma
compreensão ampla sobre a história dessa dança. Início dos anos 1970 e seus
meados caracterizam-se pela era das ruas, “crua” e “real”. Nos anos 1980, os
dançarinos passam a criar e incorporar movimentos ginásticos para a dança ser
comercializada, e na década de 1990 a dança se formata com adesão de outros
conceitos, assim há aumento no grau de complexidade e avanço técnico com os
europeus quando se adiciona um vocabulário mais amplo e diverso. Dessa forma,
mais jovens começam a dançar, no entanto não como os breakers predecessores
(MR.WINGGLES, s.d).
gravada, a "música bboy”, pode ser disposta pela forma como seus ritmos interagem
com os dançarinos, a ponto de se tornar uma performance de improvisação e
composição em tempo real.
Circunstâncias como essas dão início a uma compreensão um tanto
distinta. A síncope dos ritmos que contorna o Breaking evidencia um aspecto
fundamental da relação entre movimento e elementos “suprimidos” de uma
composição sonora. À vista disso, o break - é uma ruptura na forma criada pela
supressão de batidas particulares, e, por extensão, as suas contribuições melódicas
e rítmicas em ambos os casos.
A supressão serve para acentuar as ausências musicais e criam a
sensação de que é necessária a contribuição dos ouvintes para que a música volte
ao seu estado natural. Essa “supressão” deixa o corpo com “apetência”, que
somente pode ser satisfeita ao preencher o silêncio com movimentos de
rupturas entre as estruturas rítmicas. Assim, o “break" transforma-se no convite ao
dançarino integrar o silêncio com raciocínio cinético. Em ambos os casos, essa
contribuição assume a forma de dança. Os cânones musicais do breaking impelem
os bboys a dançar de maneira visceral.
Outro aspecto significativo é que se desenvolve frequentemente a partir
da união entre dois momentos: a batalha e a cypher (roda). A cypher forma-se em
torno ou em antecipação de batalhas entre dançarinos de modo individual ou entre
grupos distintos. Não necessita de palco ou área designada para se realizar.
Segundo o bboy Trixie (2017), uma batalha normalmente é iniciada a partir de um
desafio: “um cara vinha até mim e dizia: ‘ei trixie, eu quero lutar com você’! (...)”
(TRIXIE, 2017, on-line, tradução nossa). Logo, bastava-se que os breakers
formassem um círculo, e um após o outro entrassem no meio dele para dançar.
A despeito disso, bboy Clark Kent relata que as batalhas e sua relação
com as cyphers na aurora das festas do hip hop, davam-se do seguinte modo:
... dança livre com uma garota, mas você também faria pequenos
movimentos para se destacar. Muito diferente da próxima pessoa a
mostrar que você tem um pouco mais de habilidade e também tentar
impressionar a garota. Acho que Burning começou com muito disso:
Deixe-me impressionar aquela garota e mostrar a ela que sei fazer
algo diferente do que todo mundo está fazendo. E então se torna
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breakers a usam como componente para a formatação dos seus primeiros códigos
gestuais.
Rock, Kimmy, Aileen, Dancing Doug, A1 Bboy Sasa, The Mad Hatter, James Bond e
outros. O bboy Trixie ganha fama e explode na cena club ao se levar em conta as
suas acrobacias em competições em conjunto, nas quais Nicholas Brothers salta
sobre a cabeça de seu primo.
Logo, Deeajay Kool Herc começa a tocar em casas noturnas como na
Twilight Zone, Tunnel e Hevalow. e Trixie acompanha Herc em todas as festas nas
quais batalha e ganha reputação quanto bboy. Por esse motivo, Trixie tem
inúmeras batalhas famosas no princípio da cultura bboying. Entre essas notáveis
batalhas está uma famosa batalha contra Dancing Doug na Executive Playhouse,
conhecida como uma das maiores batalhas até hoje sob os toques de Kool Herc.
Porém, tanto na Hevelo, Twin-Lite Zone, Executive Playhouse quanto na
Avenida Sedgwick, nº 1520, os breakers pioneiros não dançam da mesma forma que
os bboys dos anos seguintes 1975 – 1979. Para alguns precursores, os breakers da
mais nova geração que surge em meados da década de 1970 dançam qualquer
coisa, menos breaking. Wallace Dee (2017) afirma que a dança inicialmente é “feita
principalmente em cima”, (WALLACE DEE, 2017, on-line, tradução nossa),
acrescenta-se:
uma vez que você vê uma abertura, você desce ao chão e faz
as suas jogadas, seus giros, tudo isso, mas você vê que com
um tempo você para com isso, muitas pessoas do jeito que
estão dançando breaking agora, tudo o que fazem são
movimentos de chão, eles realmente não estão dançando.
Não, nós não fizemos assim. Você dançava primeiro, então
você quebrava (breaking)” (WALLACE DEE, 2017, on-line,
tradução nossa).
Cholly Rock (2019) expõe, "nós levamos isso para o chão, Clark Kent, os
Gêmeos Lendários, mais um, você sabe James Bond (...)” (CHOLLY ROCK, 2019,
on-line, tradução nossa). “Eles o levaram para o chão, e essa é a evolução da
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versão moderna do b-boy" (CHOLLY ROCK, 2019, on-line, tradução nossa). Melle
Mel (2002) também conta: "foi um dos irmãos que costumava ficar com Kool Herc, e
ele tinha um pequeno movimento giratório, e essa foi realmente à primeira vez que
eu vi alguém, você sabe descer no chão” (MELLE MEL, 2002, n.p tradução nossa).
James Bond (2017) lembra:
Os gêmeos iam ao chão e giravam. Eles eram famosos por isso, mas
eu não fiz isso. Eu tinha outros movimentos igualmente poderosos,
mas não isso. Porque eles os [gêmeos] eram pequenos para fazer
melhor, entendeu? Quando você é baixinho... (...) é fácil para eles
irem ao piso e girarem ao chão”. (JAMES BOND, 2017, on-line,
tradução nossa).
2
Embaralhamento de pernas feito na posição horizontal sobre apoio dos braços
25
batalhavam entre si. Como resultado, gestos e formas curvilíneas são adicionados
ao estilo bboy estabelecido, tais como mais movimentos de rocking é combinado
com o estilo de toprock dos breakers.
Esse período definido pela mescla entre ambas etnias é responsável pela
criação de novos grupos: The Bronx Boys (TBB) a primeira equipe de bboy porto-
riquenha. Além disso, grupos como Salt Soul Crew, The Fantastic Four, Constant
Rock, TDK, 7ds, Masta Plans, 154, Crazy Commanders, e especificamente os The
Zulu Kings são relevantes para a cena do breaking. Com estas circunstâncias
dadas, o aperfeiçoamento e criação de outros passos são inevitáveis: The baby
freeze, chair freeze, Swipes, One shot, head spins/drills ,Tracks ,CC long, six step,
four step ,baby bridges.
Logo, os Zulus Kings surge com cinco amigos denominados como os
“founding 5”, que ajudam a Afrika Bambaataa iniciar um pequeno movimento nos
conjuntos habitacionais chamado “The Bronx River Organization”; é renomeado para
“The Organization” e se torna mundialmente conhecida como “Zulu Nation” – onde
todos são bboys. Os Might Zulu Kings é fundado em 1973, e seus membros
fundadores resultam na equipe oficial de breaking da Zulu Nation que são Amad
Henderson, Aziz Jackson, Shaka Reed, Kusa Stokes e Zambu Laner.
Assim, os MZK são populares no Bronx quanto por seus movimentos de
giros de glúteo, footwork e mímica semelhante ao boogie elétrico. Paralelamente, os
Zulus Kings aumentam e instituem os seus dançarinos de elite, no qual constituem
os “Firts 11” que são Robbie Rob, Cholly Rock, Swane, Pow Wow, Marcus, Jazzy Ja,
Sundance, Little Keith, Afrika Islam, Globe.e Beaver. Os Zulus Kings contribuem
para a primeira explosão da dança no Bronx por volta de 1975-1976 e se tornam
uma força a ter em conta em festas sociais e block parties; considera-se que as ruas
efervesciam sobre a nova forma de dança que os Might Zulu Kings estavam a
realizar.
Há, também, equipes de Breaking feminino na Zulu Nation, chamadas de
Zulu Queen ou Queen Shaka. Lisa Lee do grupo de rap “Us Girls” é uma das
Rainhas Zulu (JONES, 2010, p.38). Porém, as bgirls daquela época, segundo
Michael Holman (2004) não realizavam movimentos do chão como os homens
fazem. Contudo, as bgirls concentraram mais em rotinas e movimentos de grupo
sincronizados. São as pioneiras na ideia de rotinas complexas para os breakers
27
anos depois; vide os Jackson 5 e outros grupos de Soul faz a inspiração principal as
rotinas que as bgirls executam (HOLMAN, 2004)
2.5.1 A decadência
Muitos deles diziam: 'você ainda está sujando suas roupas? muitos
negros costumavam dizer isso para as crianças espanholas quando
começamos a assumir, você ainda está na pista? Não dançamos
mais assim” (JOJO, 2002).
Melle Mel era muito físico, então ele fazia muitos movimentos que
exigiam força, sabe? E ele também era muito suave com suas
coisas. Mr. Ness era muito rápido, muito elegante e ele gostava de
Freezer. Ele foi a primeira pessoa que eu vi fazendo o Freeze”.
(FUJI, ANO)
Trac 2 também compartilha que Batch (TBB) faça sua própria variação do
Quick 3 Step de Vinnie, que se onde adiciona um kick-out e assim cria o 3 Step. Aby
(TBB) se influencia na dança de Fonzie do programa de TV de 1976 “Happy Days”
para criar o Russian Step, e, também, cria o Helicóptero (também conhecido como
Coffee Grinder). Observar o Batch descendo, incorpora-se kicks, shuffles e
movimentos esporádicos. (SKEE, ANO). Os Crazy Commandos (CC) constróem
acerca do que o Salsoul e TBB criam e ajudam a desenvolver o estilo New York. Por
30
fim, bboys como Crazy Legs (Rock Steady Crew) e Ken Swift (VII Gems) são
fortemente influenciados pelo “estilo CC”, e por Spy em particular.
Logo, inúmeros movimentos essenciais originam-se dos Crazy
Commandos como por exemplo o Shorty Rock que concebe o six step, então
conhecido como “CC Long Footwork”, que é executado de forma alongada para abrir
o círculo; Spy estabelece o 4 Step e o Swipe ; Lil Julio cria o 2 Step (então
conhecido como Salsoul Float) e o Knee Rock ; Karate Manny desenvolve o CC
(alguns chamam Switches); e Jojo cria o Hop Skippy. (SKEE, 2020,)
2.5.3 O retorno
entre 10 (dez) contra 10(dez) cujos membros dos Rock Steady Crew são: Jimmy
Dee, Crazy Legs, Ken Swift, Frosty Freeze, Lenny Len, Take One, Kippy Dee, Lil
Crazy Legs, Jojo e Mr Freeze, com os Dynamic Rockers: Glyde, Wavy Legs,
Spinner, Kid Freeze, Nelly Nell, Eddie Ed, Flip, Little Freeze, Quick E e Spider.
A batalha no Lincon Center transcorre de forma respeitosa, apesar da
energia virulenta da multidão. De acordo com Banks (2020) no momento em que o
Deejay pergunta à multidão quem tinha ganhado, tudo o que se ouvia era o
constante refrão: “Rock Steady, Rock Steady, Rock Steady!”. O que torna esse
confronto tão histórico é que nenhuma das equipes teve a vantagem da cidade natal,
na qual a batalha é responsável por catalisar a dança para o mainstream e ressurgir
com a dança do Hip Hop. A batalha no Lincon Center é a primeira batalha a ser
transmitida pela televisão, talvez pela rápida na expansão mundial. Isso acontece
por meio da primeira documentação sobre o desempenho das equipes de breaking
na ABC-News.
Para além de uma batalha extremamente competitiva e memorável, tanto
Chalfant quanto Michael Holman filmam a contenda e seus trechos que mais tarde
são usados em filmes como Style Wars e Beat Street, bem como todo o filme de
Charlie Ahean, no Wild Style no qual documenta a fusão dos estilos de dança de
Costa Leste e Oeste em Nova Yorque de 1981/1982 e introduz novas gerações de
jovens dos Estados Unidos quanto em países europeus, asiáticos e sul-
americanos.
2.6.1 Mainstream
referindo-se a esta dança como BreakDance. Isto ocorre porque muitos deles têm o
35
seu primeiro contato com por meio das grandes mídias que, desde o início, tratam o
ao mundo do Breaking/Hip Hop, eles são instruídos à forma correta. Admite-se que o
hip hop adquire,ao longo de seu alastramento global, diversos sentidos, mas uma
Quando a dança se transforma em moda nos anos 1980, o termo breakdance é mais
atraente do que bboying por oferecer um apelo mais amplo. Logo, após a percepção
históricas da dança na cultura hip hop - em modos gerais o termo breaking não tem
essa conotação e é considerado aceitável pela maioria dos bboys e bgirls. Segundo
momento em que a mídia tem uma parte dele em como ‘81, ‘82, tornou-se
refere a uma forma de dança específica que se desenvolve na cidade de Nova York
que inclui não apenas bboying, mas também popping, lock, boogalooing e outras
um novo estilo baseado no footwork são: Asa (Second To None), Evo, também
conhecido como Demon Smurf (Rock Steady Crew), Tuff Tim Twist (Rock Steady
Crew) e Hanifa Queen, também conhecida como Bubbles (a primeira bgirl do Reino
Unido).
Nesse sentido, Mad Nico é influente no mundo todo e desenvolve um
estilo excepcional de bboying numa época no qual os movimentos de powermove
estavam na moda. Em pouco tempo torna-se conhecido por passos e padrões
únicos de footworks. Alguns diriam um pouco heterodoxo, pois exibe um caráter
“áspero”, porém bastante divertido, o que se fazia no chão costuma ser simples, mas
inovador. Colabora para moldar o “fluxo nórdico” com seu estilo como uma prova
viva de que nunca é sobre “o que "você faz, mas sim “como” faz.
Coligado a isso, cabe mencionar outras influências responsáveis por
elaborar uma forma excepcional de dançar com por exemplo: Freeze (Ghost Crew,
Suécia); ATA (Ghost Crew, Finlândia);, Dark Marc (Ghost Crew, Noruega);, PAY2
(Atomic Bboys, Noruega);, Focus (Flow Mo, Finlândia), Taya aka T-Flow ( Flow Mo,
Finlândia), Lisa também conhecida como Lee Lee (Flow Mo, Finlândia), AT (Flow
Mo, Finlândia), Torb (Noruega) e Elvis também conhecido como Jam One (Moves
Per Minute, Suécia).
Outra fração de breakers eslavos por volta dos anos 1990, colabora
também a fortalecer um estilo comum (EuroStyle), o foco dos dançarinos/as se
deslocam dos powermoves para o footwork. Tendo isso em vista, bboys/bgirls
eslavos se inspiram pela ideia de criar movimentos e adquirem seu estilo a partir de
fitas de VHS da Rock Steady Crew e Style Elements. Outra fonte de estímulo está
nas filmagens do Jam Style e Da Boogie, nas quais adotam conceitos e passos do
hip hop freestyle. A fração do estilo europeu oriental dispõe ênfase no
caráter/personagem. Ainda assim, em busca de se diferenciar dos bboys/bgirls de
Nova York, os breakers eslavos incorporam elementos de danças regionais em seu
footwork.
Os primeiros a adotar essa abordagem são Yan, Boch Rock e Mark
Beard. Após isso, outros bboys da Rússia começam a seguir o mesmo procedimento
em que se torna cada vez mais popular em todo território. Por fim, os bboys/bgirls
nórdicos usam o espaço de forma múltipla e concebem um fluxo tridimensional e
prezam pela criatividade de explorar as diversas possibilidades dos seu próprio
repertório de danças regionais.
40
França e Coreia do Sul (JONES, p.58). A garotada europeia e japonesa deseja ter a
aparência, dançar, falar e andar como os afroestadunidense do centro da cidade e
latinos do gueto de Nova York, e dessa forma podem se sentir mais conectados
com a cultura estrangeira do que com as suas localidades.
Convém ressaltar que o número de b girls estadunidenses cai em
comparação com as europeias; em contrapartida b girls asiáticas crescem em
número e se tornam maioria. Segundo Ansley J. Jones (2010), que apesar do
número total de mulheres em todo o mundo no hip hop exceda o de gerações
anteriores, e as bgirls dos anos 1990 são mais velhas quando começam a dançar.
Porém, as mulheres ainda permanecem marginalizadas na cultura do breaking
(JONES, 2010, p. 56).
Ressalta-se que bboys e bgirls estrangeiros inundam a cidade de Nova York
para se aproximarem da fonte original e para se aprofundarem sobre as práticas do
hip hop. Esses jovens, hipnotizados pela ousadia, glamour e poder da cultura hip
hop e sua dança, percebe seus praticantes como o “outro” exótico que vive e
dançam numa espécie de arte "espontânea" que representa o espírito dos jovens do
período, no qual está presente a defesa de uma espécie de liberdade e revolta
juvenil. Dessa forma, a cultura da dança hip hop internacional serve para unir os
jovens em uma configuração mundial estilisticamente reconhecível.
Logo, a codificação das batalhas segue a padronização da codificação dos
fundamentos da dança. Consequentemente, com o internacionalismo
e disseminação dos fundamentos surgem diversas atividades e colaborações no
campo dos campeonatos competitivos, Com o aumento da elaboração de circuitos
regionais, nacionais e internacionais das batalhas, que rapidamente crescem em
popularidade, logo são transformadas em altamente competitivas, internacionais e
parcialmente regulamentadas e julgadas.
Com o advento das competições julgadas, o interesse é restaurado em
dançar breaking e recuperado nas áreas urbanas, e os breakers que iniciaram a
competir na geração de 1990 cresceram participando de campeonatos organizados
em batalhas em todo o mundo. Assim, no ano de 1990, é criada a Battle of the Year
- Batalha Internacional do Ano, na qual um grupo internacional de juízes seleciona
as melhores performances da equipe que realizam apresentações e batalhas
representando seus países. A Batalha do Ano é o primeiro evento de breaking a
estabelecer competições formalmente julgadas em grande escala. Hoje, a batalha
43
todos falassem a verdade nem caberia no local. Assim, reza a lenda que até quem
não é de dançar, dançou.
O acontecimento é apontado como o nascimento de uma cultural global
baseada na música e dança com quase meio século de idade, porém os desejos
que os nutre são modestos. O panfleto, desenhado a mão, em fichas de arquivo,"A
DJ Kool Herc Party", diz, em uma rápida aproximação a lápis dos elaborados
slogans de latas de spray que então aparecem por todo o Bronx: "De volta à jam da
escola". A festa das 21H00 às 4H00 não intenta “quebrar” o banco de quem adere:
as taxas de entrada são de 50c US$ para "companheiros", 25c US$ para senhoras.
O pai de Clive e Cindy comprava as bebidas em um cash-and-carry local; sua mãe
cozinha algo (BATEY, 2011). Ninguém tinha ouvido falar do DJ Kool Herc antes
daquela noite: no dia seguinte, ele se torna famoso em todo o Bronx. Em breve, é
saudado como o arquiteto de uma música inteiramente nova.
O Clive Campbell, ou melhor, Dj Kool Herc, se utiliza de uma prática
recorrente à cultura urbana jamaicana, os Sound System – sistemas sonoros
comandados por Deejays instalados nas ruas de Kingston, que tocavam blues e
músicas vindas dos Estados Unidos. De maneira geral, na cultura sound system, os
participantes ganham status e se classificam ao vencer os sound clashes – batalhas
entre sistemas de sons rivais, em que na Jamaica está enraizada na competição,
(até então informais), entre dois sistemas de som instalados perto um do outro,
fenômeno no país liderado por Duke Reid e Sir Coxsone. Simultaneamente, nos
anos 1970, Tony Screw criou um dos primeiros sistemas de som de reggae de Nova
York, o Downbeat International. Porém, tão importante quanto a presença deste
sound system, é a presença do Kool Herc.
De acordo com o escritor e crítico de música Nelson George (2014), é a
partir da sensibilidade da procura entranhável e batidas das trilhas sonoras da
blaxploitation com hits de dança caribenha que emerge uma das sonoridades que
concebe a montagem sônica do Hip Hop. Seu sistema de sons chamados de
Herculords – referência a um desenho animado –, é implementado em parques e
pátios das escolas, nos quais se formavam aglomerações que se reúnem para ouvir,
tocar e dançar. Dessa maneira, Kool Herc proporciona um ambiente sonoramente
informado, no qual influencia artistas importantes para construção do movimento do
Hip Hop, como Grandmaster Flahs And The Furious Five, Grand Wizard Theodore e
Afrika Bambaataa's Zulu Nation.
49
Pode-se afirmar que as block parties (festas nas ruas) e os eventos que
surgem nas ruas são ações de contracultura e resgate da identidade cultural de
jovens afro-americanos, junto a porto-riquenhos e jamaicanos que vivem na pobreza
e marginalidade. As reuniões de grupos/gangues se avolumam, e abrem lugares
para rodas e, sobretudo, lugar para o surgimento e aprendizado de uma dança que
comporta diferentes etnias. É a partir desses encontros que se pode gerar um
caldeirão cultural responsável por desenhar uma heterogeneidade musical povoada
pelo funk, reggae e rap, que se misturam às danças sociais jamaicanas, norte-
americanas e latinas, presentes na periferia de Nova Iorque (NEGRAXA, 2015).
A importância do Kool Herc para o surgimento do Hip Hop, tal como para
a dança breaking, não só apenas se resume a sua função de "promotor" de festas
por meio das suas enormes caixas de som. Todavia, os métodos de Herc pré-datam
e introduzem parcialmente o sampling ao adaptar e reproduzir discos de Soul, Jazz,
e funk, e outras músicas no caldeirão, como por exemplo, Just Begun – Incredible
Bongo Band e Give it Up Turn Loose –, sons que se tornam famosos em suas
festas. Clive “Herc” Campbell é capaz de manter a festa agitada e contribuir para a
cultura das gangues violentas no Bronx, assim como para a popularidade emergente
da music-disco durante a década de 1970, pela qual sua playlist se apresenta
diversificada e pouca atenção às tendências da época. Toca James Brown, mas
somente os seus singles – ao contrário, cortes brutos de álbuns ao vivo.
Merry Go Arround
Angus Batey (2011), torna-se “uma das principais decisões criativas da música do
século 20''.
Herc subverte reiteradamente a função do aparelho de que utiliza, em vez
de meramente se submeter às diligências comuns do aparato técnico. Pode-se,
então, operá-lo no sentido avesso a sua produtividade programada e reinventar a
maneira de se apropriar de uma tecnologia. Assim, cria o conceito musical de
breakbeats; O início do que torna possível o desenvolvimento da dança breaking,
bem como estabelece a provável origem da terminologia de desígnio dos seus
participantes. e estilos para combinar com a duração e intensidade dos intervalos
mistos. De acordo com o relato do Clive Herc Campbell (1997) “quando eu estendi o
intervalo, as pessoas ficaram em êxtase, porque essa era a melhor parte do álbum
para dançar, e eles estavam viajando". Segundo Michael Holman (2004), DeeJays
como Herc, no Bronx, reconhecem as frustrações dos dançarinos e prolongaram as
quebras no disco. Certamente, os dançarinos que adotam mais pausa e tempo
desenvolvem novos movimentos.
anos antes do surgimento do hip-hop pode ser culpa do Hip Hop?” (WHITE, p11,
2009).
E se o rap e a cultura hip hop, com efeito, representarem uma condição
de revolta sem precedentes por parte de um grupo oprimido, historicamente
ignorado às margens do discurso social e político? E se o rap representar mais do
que apenas as loucuras e a visão de mundo distorcida da juventude das periferias?
E se as controvérsias em torno do rap – e, mais especificamente, do rap “comercial”
ou “Gangsta” – encobrem regularmente o caráter político e a visão social da cultura
hip hop e do mundo mais amplo do Movimento Hip Hop? Ainda assim, há diversos
autores acadêmicos, que buscam transmitir os aspectos positivos que a cultura hip
hop promove, tal como a consciência política da sua realidade e comunidade, bem
como a denúncia de todo preconceito tanto, étnico-racial, quanto de classe social
(SIQUEIRA, 2004). Por certo, esse cenário delituoso difere muito da ampla gama de
referenciais centrais, atitudes e ícones que definiram o hip hop durante seus
primeiros anos de visibilidade pública. Diante disso, perguntamos: por que o hip hop
experimentado é tão diferente do que é apresentado nas letras, vídeos e mídia?
Não muito além da exaustão, crítica viciosa limitada e unilateral, há pouca
visão honesta e reflexiva acerca dos aspectos da cultura hip hop e sua
heterogeneidade. É quase inegável que frequentemente o rap e outras formas de
música hip hop revelem algo sobre a natureza da história, da arte, e a sociedade
americana de respectivos cenários de ação. No entanto, é negligenciado em favor
de condenações gerais acríticas a respeito de aspectos da música e diversas
expressões juvenis das periferias. Ironicamente, há por parte de alguns entusiastas
do hip hop, uma espécie de “desorientação de memória”, uma espécie de
esquecimento da formação do Hip Hop.
Esse termo, o da “desorientação de memória”, é empregado pelo
professor Reiland Rabaka (2012) para caracterizar a ignorância total em torno do
mundo histórico, social e artístico em que se molda e se desenvolve o hip hop.
Assim, essa cultura é normalmente julgada, tanto prestigiada ou odiada, por usar
critérios que não dizem respeito com seu ambiente de ascensão (RABAKA, 2012).
É como se o Hip Hop retratado na mídia mainstream não existisse, mas o
hip hop como comunidade e expressão artística é mais heterogêneo do que
comumente se acredita; conforme Schloss (2009) pergunta: “isso deveria tornar
seus aspectos mais problemáticos e imunes a críticas?” No mínimo, a diversidade
53
conceitual do hip hop incentiva as críticas. Ainda segundo o autor, o crítico mais
sincero e mais eficaz e mais apaixonado do hip hop sempre é o próprio hip hop
(Schloss, 2009). Todavia, para assimilar a influente reflexão, demanda compreender
o Hip Hop em seus próprios termos, não só porque tem efeitos simbólicos, políticos
e sociais, mas simplesmente porque a maneira como o hip hop enxerga o mundo é
em si um sistema intelectual legítimo, consistente e fascinante. E a dança é uma
parte crucial desse sistema (Schloss, 2009).
Porem, como é possível observar, a cultura hip hop se espalha e se
desenvolve no final da década de 1970, e gera um produto comercializável – o disco
de rap. A música hip hop se desenvolve de modo independente das outras
manifestações artísticas. Assim, os indivíduos praticantes não precisam ir a uma
roda para se envolver no hip hop, e se pode comprar o produto musical em uma loja
de discos e apreciá-lo na privacidade da sua própria casa. Este é um momento
crucial para o hip hop, pois a cultura se torna mais centrada na música graças às
alterações tecnológicas de difusão e a adesão da indústria musical. Eventualmente,
os aspectos sociais da cultura e as interações, face a face que foram criadas pela
dança, caíram no esquecimento.
No entanto, nesse período, início da década de 1980, a popularidade e o
reconhecimento que a dança hip hop ganha, em parte devido à cobertura
mainstream em filmes como Beat Street, Breakin, e Breakin II: Electric Boogaloo
começa a diminuir. Em meados dos anos 1980, as danças associadas à cultura hip
hop inicial, particularmente rocking, breaking, popping e locking, quase
desaparecem. Mas elas não morrem; elas apenas são underground por um período.
A cultura não é mais sobre a dança e a interação que a acompanhava. O Hip Hop se
torna uma cultura baseada em mercadorias e modismos. A dança é tratada como
uma moda da cultura pop, e como toda tendência de moda, em algum tempo essas
danças fica “fora de moda”.
ainda assim na época a ideia do Hip Hop como produto é literalmente inconcebível.
Logo, achava-se impensável que tal produto pudesse surgir (Schloss, 2009) sob o
guarda-chuva Hip Hop, e que poderia se tornar um fenômeno global.
Um ambiente infanto juvenil, no qual seus primeiros praticantes
reinterpretam o cenário decadente urbano como um espaço de diversão, encontram-
se diferentes problemas de ordem social, política e econômica. Os jovens da região
buscavam nas gangues a oportunidade de lazer e autoproteção. Diante disso, não
havia tempo para o ócio reflexivo. No meio desse cenário, era inviável pensar em
parâmetros de delimitação conceitual sobre as definições do termo hip hop, e seus
significados. Na década de 1970, provavelmente o lema dos jovens é “você tem que
sobreviver”. À vista disso, no decorrer de toda metade da década de 1970, quando
se dá a ebulição artística cultural não há uma abstração coletiva do que é
reconhecido hoje como cultura hip hop. Em outras palavras, não há uma
terminologia e o que se tem é o uso jocoso do termo Hip Hop – como uma
expressão verbalizada de maneira esporádica que traduzia de forma concisa suas
sensibilidades estéticas dentro de um ambiente festivo.
Vale ressaltar que “hip” é usado no inglês vernáculo afro-americano,
desde 1898, e significa algo atual, que acontece no momento, e “hop” refere-se ao
movimento de dança. Conforme o historiador e professor E. Moncell Durden ( ANO)
relata, nas etapas iniciais do hip-hop, as pessoas se referem ao “movimento” como
“Going off”, “Boyoing”, “Rockin” ou “B-boying” – nomeações que descrevem danças
ou passos. Ainda que muitos tenham Afrika Bambaataa como o único divulgador do
termo hip-hop, não é tão difícil encontrar relatos díspares sobre o surgimento da
terminologia. No website oficial da The Universal Zulu Nation, o Deejay Dynamite J,
apresenta um breve histórico da terminologia. De acordo com o descrito, três
pioneiros do hip hop de Nova York são responsáveis por conceber os termos “hip-
hop”, a música, e Hip Hop, a cultura.
Segundo Dynamite J (s.d), Robert Keith Wiggins, conhecido como
"Cowboy" do grupo lendário de rap The Furious Five, é creditado com a primeira
aplicação do termo hip-hop, em 1978, como parte de um estilo de rima inspirado no
scatting – técnica de canto criada por Louis Armstrong que consiste em cantar
vocalizando tanto sem palavras, quanto com palavras sem sentido e sílabas.
Igualmente, Cowboy e Grandmaster Flash dj do grupo The furious Five, utilizam a
palavra onomatopéia para descrever o som dos pés marchando para provocar seu
55
amigo, Kokomo, depois dele ingressar ao Exército dos Estados Unidos, proferindo
as palavras "hip/hop/hip/hop", imitando a cadência rítmica dos soldados. Mais tarde,
Cowboy classifica a cadência como uma das atividades para um MC fazer no palco.
Como os grupos frequentemente são compostos por um DJ e um rapper, os artistas
eram chamados de "hip-hoppers". O nome originalmente é concebido como um sinal
de desrespeito, mas logo vem a identificar-se com essa nova forma de música e
cultura.
As canções "Rapper's Delight", do grupo SugarHills Gang e
“Superrappin”, de Grandmaster Flash são lançadas em 1979 e fazem sucesso. Isso
porque o êxito mainstream do grupo SugarHill Gang ajuda ao grupo do The Furious
Five a perceber que eles também podem ter sucesso comercial em potencial, já que
o seu estilo scatting/rap é fortemente imitado por Wonder Milky - Mc do grupo Sugar
Hills Gang, no primeiro verso da música Rappers Delight. Dois anos depois,
Lovebug Starski (aka Kevin Smith) um dos primeiros artistas do rap e dj do Bronx,
lança um single intitulado The Positive Life, com referências a rappers. Ele e seu
amigo DJ Hollywood utilizam o termo para se referir a um novo estilo de música,
chamado rap.
Assim, Lovebug Starski se torna o dj da casa no Disco Fever Club em
1978 e, também, DJ no Rennaisance e no Harlem World, um clube conhecido por
ser um famoso campo de batalha de MC. Sua popularidade cresce além dos bairros
de Nova York quando é destaque em Beat Street de 1984, um filme sobre grafite, B-
boying e DJing que se transforma num clássico cult no mundo do Hip Hop. Lovebug
Starski e seu amigo DJ Hollywood também ficam conhecidos como um dos primeiros
pioneiros a usar a palavra “Hip Hop” para descrever a nova cultura. Da necessidade
de se conceituar as festas do Bambaataa que acontece, ele fala coisas como “bem-
vindo ao hip hop beeny bop! está bem, hip hop até você não parar” (Dynamite J,
s.d).
De acordo com Dynamite J (s.d), em The Hip Hop Benny Bop foi uma das
primeiras frases a dar nome às festas do Bambaata. Enquanto Bambaata organiza
suas festas, mas é Starski quem elaboram as rodas e declama a expressão “Hip
Hop”, que em seguida se populariza como um bordão entre os Mc 's da época. A
palavra se torna um tema das festas do Bambaataa, provavelmente decidido a
deixar suas festas melhores e mais emocionantes. Ainda assim, apenas no início
dos anos 1980, o “eminente” grandfather – avô - do Hip Hop, Afrika Bambaataa, de
56
forma inadvertida apresenta o termo Hip Hop quando solicitado por um repórter,
para descrever expressões artísticas do centro da cidade (DURDEN, 2010).
Contudo, e de acordo com o escritor Steven Hager, a primeira vez que o
termo hip hop é utilizado na mídia impressa em seu artigo, na edição de 21 de
setembro de 1982, em um perfil do Afrika Bambaata escrito no The Village Voice,
publicação que apresenta a primeira história abrangente da cultura Hip-Hop.
Bambaataa na matéria se refere à letra do hit de 1979 “Rapper's Delight” do grupo
de rap The Sugar Hill Gang, ao dizer: “I said a hip, hop, the hippie, the hippie to the
hip hip hoppa ya don't stop the rockin”. O artigo no The Village Voice de Steven
Hager é intitulado "Afrika Bambaataa's Hip-Hop".
Para o dj e produtor Afrika Bambaata, “(…) conseguimos nomear o hip
hop como cultura, ninguém disse que o movimento que iniciamos se chamava hip
hop, ninguém o reconheceu como um movimento mundial” (BAMBAATA,2016). Em
geral, o crédito por ter originado e divulgado o termo hip hop, de acordo com
Bambaata, é do Mc e dj Lovebug Starski. No entanto, é inegável a importante
contribuição de Bambaata ao emprego do termo a uma cultura e sua divulgação
midiática na década de 1980.
Por certo, muito antes do hip hop ser entendido como um movimento
político-social, ou até mesmo como um gênero musical, o hip hop é antes de tudo,
uma prática artística, especificamente durante o período de 1974 –1979, em que sua
apreciação está ligada a relacionamentos face a face. É provável que os princípios
conceituais da arte sejam articulados em algum momento, em que seus estudos
estejam debruçados muito mais como uma questão prática do que ideológica. A
seguir as informações dispostas são uma tentativa de debulhar certas suposições e
contextualizar os conceitos para extrapolar o significado dos termos.
contraste com a “cultura Hip Hop”, está profundamente entrelaçado com a mídia de
massa e suas necessidades (SCHLOSS, 2009). Por consequência, analogamente,
as diferentes danças que lidam com essas músicas, seguem sendo classificadas
também como Hip Hop (BIANCHINI, s.d).
Portanto, as danças ao longo do tempo sobrevivem a diversas atividades
simultâneas em todos Estados Unidas, onde se afirma coletivamente como uma
cultura compartilhada após o surgimento do hip hop. Uma das qualidades
compartilhadas dessas danças reside na adaptação dos imperativos estéticos
diaspóricos tradicionais e de novas maneiras para contextos contemporâneos, o uso
da polirritmia, a improvisação, chamadas e respostas e uma série de outros
elementos. Logo, a dança que se forma ao passar do tempo através da influência
desse estilo musical, passa a anexar o termo “hip hop” – dance.
O hip hop dance é uma dança que se ambienta e desenvolve em
diferentes bairros nova-iorquinos como o Harlem, Brooklyn, Bronx, Manhattan e
Queens, a partir das danças sociais realizadas nas club’s, bailes da época e,
também, pela utilização das técnicas de danças vinculadas às músicas funky, como
robot, wave, boogaloo e popping. A prática se propaga pelo mundo por coreógrafos
e dançarinos como Buddha Stretch, Henry Link, Caleaf Sellers, Ejoe Wilson e Loose
Joint, a partir dos anos 1985-1986 quando o breaking e o popping se tornam menos
populares, em resposta à nova música. Ganha também a cena dos videoclipes em
shows dos rappers na década seguinte como Eric B, Big Daddy Kane, Salt –N-
Pepa, DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince, entre outros (NEGRAXA, 2015)
Em entrevista para o documentário The Father of Hip Hop Dance, Buda Strecth
lembra:
59
que se refere a outra – termo este que carrega até hoje diversos questionamentos.
Portanto, “Hip Hop” é um termo que se refere a uma cultura, a um estilo musical e,
emergente dos estudos do hip hop, a dança é o menos escrito dos quatro
elementos.
nomenclaturas referentes aos termos hip hop e seus significados continuam a vigorar. Os
termos guarda-chuvas nos aparentam frágeis, indefinidos e tendenciosos, e talvez, sob uma
primeira análise sejam em razão do seu caráter abrangente. Mesmo assim, há uma faixa um
tanto visível e consistente que pode auxiliar de referência enquanto enfrentamos a evolução
natural das definições que buscam carregar tudo isso numa configuração de maneira
compreensível.
Parece que a vivacidade da dança hip hop como forma de arte converge sobre três macro
características definidoras elementares das danças relacionadas ao hip hop - Street Dance - e
como essas características delineiam a forma de arte em uma dança universal. O que se pode
identificar é que não importa que tipo de dança, seja uma batalha de breaking, um grupo de
performance de hip hop freestyle, ou dançarinos em clubes, todas têm essas mesmas
60
uma (1) performance, (3) e há em grande parte uma (3) vantagem competitiva.
vocabulário para estudos futuros da dança hip hop. Os atributos positivos que a dança hip hop
traz para a cultura hip hop estão embutidos nessas características. Devido ao amplo escopo do
hip hop, é preciso haver um alicerce de ideias que ajudem a esboçar a dança em termos
descritivos e definitivos. À proporção que a dança hip hop evolui, o conhecimento dessas
constituição dessa forma de dança e como trabalhar dentro desta cultura vernacular.
sempre são celebrados na cultura hip hop, especialmente no elemento dança. “Como nas rodas
das festas do Herc, havia raramente rotinas de grupo, em vez disso, o foco estava no estilo de
cada dançarino” (CHANG, 2005). Ao contrário do que muitos acreditam, o hip hop está
sempre desenvolvendo novos estilos de dança como parte de sua definição. Este percurso
ininterrupto de novo vigor e inovação mantém o hip hop na vanguarda por anos a fio. Existem
alguns pioneiros que dançam de maneiras particularmente criativas e expressivas. Pela mesma
Esses dançarinos desenvolvem seus próprios estilos e técnicas e começam a ensinar uns aos
outros e a passar seu estilo por meio da própria dança(ando). (1) Estilo pessoal no contexto
das danças relativas ao hip hop significa adaptar qualquer movimento dentro do vocabulário
da dança hip hop para torná-lo único. Enquanto improvisa, há um elemento de criatividade
que acontece à medida que o dançarino executa seus movimentos e tece sua própria assinatura
61
pessoal na dança. Pode ser um passo ou movimento executados, mas adicionar um toque
“pessoal” aos movimentos confere certa uma profundidade. “Você se esforça para levar seu
movimento para o próximo nível… mantendo-o sabor e estilizado e tornando-o seu” (Chang
2005).
Adicionalmente, em segundo lugar as danças associadas ao hip hop são realizadas de diversas
geralmente improvisado em que o(s) artista(s) se apresentam por conta própria”. O Hip hop,
como muitas outras formas de dança, é apresentado como uma performance, geralmente em
um local público, como um parque, centro comunitário ou até mesmo um teatro. O termo arte
Logo, artistas performáticos viram (e veem) o movimento como um meio de levar sua arte
diretamente para uma visibilidade pública mais ampla. A cultura do hip hop é baseada em
nela e dela vive em sua transmissão de dançarino para dançarino através da observação. Essa
experiência vivida situa a dança hip hop no vernáculo, como as tradições orais, na forma de
comunicação não verbal por meio da ação de dançar, repassar a história e o legado da dança.
competitivo também faz parte da dança hip hop desde o início. A história da dança hip hop
pode ser vislumbrada até a cultura das gangues. Originalmente, as gangues “resolvem” suas
disputas com violência, mas as danças de batalha são refinadas como uma alternativa para
violência. Desse jeito, as danças que eles executam, no caso do rocking, emulam movimentos
diversas definições no contexto da dança hip hop. As primeiras competições ou batalhas são
geralmente um dançarino contra outro dançarino, mas nas rodas, um dançarino convidaria, de
maneira hostil ou não, outro dançarino para testar suas habilidades na batalha. (3) O formato é
é aquele que consegue empreender lances que não testemunhado antes; que pode fazer algo
Embora muitas batalhas fossem espontâneas, às vezes também são planejadas e organizadas.
preparação. Muitas vezes um prêmio em dinheiro é anunciado para os vencedores, junto com
Hoje, as equipes de hip hop competem ao executar peças de coreografia e são julgados contra
a coreografia de outra equipe, uma versão mais recente da batalha. Nesse formato, os
dançarinos não se encaram enquanto dançam como fariam em uma batalha numa roda. Cada
dançarino ou equipe, uma de cada vez, realiza sua rotina e são julgadas com base em critérios
performance, estilo e competição são os ingredientes que compõem as diversas danças ligadas
ao hip hop, e cada uma dessas características preenche a lacuna entre o indivíduo e os valores
aprendidos na cultura hip hop. Então, como essas características desenvolvem partes da dança
hip hop e como elas contribuem para a imagem do corpo hip hop? É interessante considerar o
que qualifica um estilo de dança para ser hip hop. Em que ponto se torna hip hop? Todas as
Acima de tudo, as Street Dances, conhecidas no Brasil pelo termo “Dança de Rua”, e,
posteriormente, cunhadas como Danças Urbanas, são linguagens que aparecem em meio a
Angeles e Nova Iorque. O termo é utilizado, primeiramente, para designar os dançarinos que
desenvolvem uma técnica percussiva sonora com os pés, somada à estrutura e movimentação
corporal das danças africanas; isso deságua como sapateado estadunidense, e pode ser
No entanto, apenas em 1969 esse termo reaparece com Don Campbellock, criador da dança
Locking. Em seguida, nos anos 1970, como produto da organização social de comunidades
periféricas surgem o Popping, Breaking, House Dance, Hip Hop Dance como subdivisões do
que hoje está cunhado como danças urbanas. Com efeito, segundo Bianchini (2018) todas as
vertentes que fazem parte do conceito de Street Dance compartilham propriedades comuns:
● o surgimento em espaços não formais de dança (mesmo que após alguns anos tenham
Em virtude sobre o aspecto da influência da cultura musical funk, um dado que segundo
Bianchini (s.d) acredita acrescentar na organização, a esta que poderia ajudar na delimitação
do termo, indicando um possível limite cronológico, ao menos no que diz respeito ao início.
“Em minha avaliação, as linguagens que preenchem todos os cinco elementos são aquelas que
leitura literal do termo original, traduzindo-o para “a dança da rua”. Isso porque todas elas são
dançadas na rua? Toda dança feita na rua é uma Street Dance? As danças realizadas em outro
ambiente, se não a rua, deixa de ser uma Street Dance? As linguagens criadas por qualquer
sociedade urbana são Street Dances? Em qualquer lugar? Em qualquer época? Assim, para o
professor Thiago Negraxa (2015), a terminologia “dança de rua” generaliza inúmeras práticas
dançantes. Utilizado de modo genérico para designar as street dances torna vil o
entendimento do que fazemos delas, sobretudo, visto que todas elas não são realizadas na rua.
Elas estão inseridas em um contexto urbano com diversos outros aspectos (NEGRAXA, 2015,
p 32).
definição a partir da utilização de uma das regras da gramática de que nome próprio não se
traduz. Em vista disso as Street Dances possuem intersecções diretas com o movimento Hip
Hop. Tendo em consideração que todas essas danças elas surgiram em algum momento em
relação direta ou indireta com a cultura hip hop. A cultura hip hop se correlaciona com essas
danças pós funk. Porém, são ideias díspares, e de certa forma, quase independentes uma da
65
aprofundado de ambas as ideias para que as intersecções não sejam entendidas como a regra.
valorizadas. Na prática, esse tipo de proposta pode ser escavada num nível que
pode ser sistematizada, programada e hermenêutica. Em vista disso, é laborioso
manter a pratica só, pois parte do seu valor em grupo é que permite que os
breakers combinem a socialização com a prática, tomando a repetição necessária
mais interessante. Portanto, qualquer método que passe ao largo dos aspectos
composicionais e performativos para se aprender breaking está destinado ao
fracasso.
Aspectos Composicionais
TopRock
principais passos do top rock, a saber: Bronx Step, Charlie Rock, Indian Step, Front Step,
Kick Step, Salsa Step.
Freeze
A partir de meados da década de 1970, os freezes se tornam movimentos
complexos e abstratos. Alguns dos primeiros freezes em solo é desenvolvido por Clark Kent -
um movimento no qual ele caia na posição fetal e dormia (WILLIE WILL, 2019). Ao longo
da década de 1980 e início da década de 1990, é comum um round conter apenas um único
freeze no final da entrada. Por este motivo é comum se referirem ao freeze como um
movimento utilizado para finalizar sequências (STORM, 2019). Porém, o que pode ser
ambíguo é o fato de que as posições dos freezes também podem ser usadas como “transições”.
O baby freeze, por exemplo, pode facilmente se tornar uma parte do footwork de um
dançarino. Logo, um freeze tem como aptidão ser realizado em contração isométrica, quando
o corpo permanece em uma posição de forma totalmente parada; a pausa é feita abruptamente
em resposta ao tempo proposto da música, sendo exigido equilíbrio intensivo dos breakers.
REFAZER
Se caso o freeze final não fosse instável ou um dançarino balançasse em seu freeze
mesmo que desequilibrasse no seu lugar, não seria considerado um bom freeze.
Mesmo que alguém pudesse parar e prosseguir durante o footwork, um freeze deve
se manter sólido por alguns segundos. Assim, os freezes são uma maneira de se
trabalhar a cypher durante os movimentos de entrada e saída do chão, e a
versatilidade de poder usar os braços e as pernas fornece opções de escolha. Além
disso, a criatividade é um elemento fundamental nos freezes, onde muitos
dançarinos elaboram pelo menos um freeze de assinatura. Banes (1981) afirma que
“é em grande parte no freeze que a originalidade de cada dançarino brilha, em
configurações que são intricadas, espirituosas, obscenas ou ofensivas quanto
possível" (BANES,1981, p. ). O freeze não evidencia apenas a atitude do
dançarino, mas também o desafio físico e a natureza surpreendente da pose Desse
modo, qualquer posição pode ser utilizada como um freeze. As implicações de um
75
freeze dependem não apenas do movimento em si, mas de sua relação com a
música, as transições que o cercam e a direção que apontam. Logo, um freezer
pode funcionar como um ponto de exclamação, um gesto como se dissesse “lide
com isso, é um desafio”. (KEN SWIFT; OSOFLY, 2022). Principais Freezes, a saber:
Air Baby, Air Chair, Baby Freeze, Chair, Elbow Freeze, Halo Freeze, Handstand,
Invert, Shoulder Freeze, Turtle.
Footwork
Hip Hop
Certamente, quatro anos de licenciatura em dança e amor pelo hip hop não
preparam para o envolvimento no breaking bem como as outras danças urbanas.
Historicamente, o breaking é reconhecido por ser uma atividade
estritamente “da rua”, pela qual o dançarino tem a oportunidade de expor aquilo que
domina. Esse cenário, constituído ao longo de seu desenvolvimento como
alternativa de encontros de camadas mais jovens da população, talvez tenha se
tornado obstáculo ao avanço de novos procedimentos, inclusive da utilização como
ferramenta à criação cênica. Sem dúvida é uma estratégia vigente o uso desses
vocábulos por outros bailarinos de outras áreas, tal como se torna comum a
discussão e o uso acerca do hibridismo entre essas técnicas à luz de outros
procedimentos artísticos tratados naquilo que se denomina como dança
contemporânea.
Os países como Estados Unidos, França, Brasil têm emergido com
regularidade novos intérpretes, coreógrafos e diretores artísticos com uma
genealogia corporal e uma materialidade de códigos ligados às danças urbanas.
Além disso, artistas que mesmo não tendo nenhuma relação com o ambiente da
cultura Hip Hop tem se utilizado da corporeidade de indivíduos ligados às técnicas e
questões dramatúrgicas referentes às “danças urbanas”.
Desta maneira, percebe-se a presença das mais diversas vertentes de
dança na apreensão de técnicas próprias das danças urbanas; raramente é para
praticá-las como categoria ou movimento cultural. Entretanto, a intenção é o uso
dessas danças como treinamento técnico, no qual se pode incrementar determinado
vocabulário em seu trabalho corporal. Em suma, busca-se não somente uma
melhora no condicionamento físico, mas também a ampliação de aspectos criativos
e o desenvolvimento de composições coreográficas para gerarem novas
possibilidades na movimentação em dança. Por isso, quer se discutir como a partir
dos fundamentos do breaking se pode avançar, não apenas na aprendizagem de um
tipo de dança, mas na adesão à materialidade corporal quando se introjeta e supera
tais fundamentos. Deste modo, constitui-se em uma alternativa aos outros modos de
dançar, e não apenas aos das danças urbanas.
Porém, são raros os autores a se deter na problemática de um campo que
ainda pouca atenção recebe no espaço acadêmico. É possível afirmar que o
escasso número dos estudos sobre o breaking esteja relacionado à pequena
quantidade de praticantes de breaking atuantes nos espaços acadêmicos. Segundo
78
tanto como uma chave de portas quanto como uma armadilha, como um tema não
produtivo à criação em dança.
No entanto, possa ser frutífero para a pesquisa do ensino de dança
explorar o breaking como um gênero de dança recentemente desenvolvido, e como
o breaking, se desdobra nas universidades. Em especial, como os estudiosos das
danças podem observar a “academização” das danças relacionadas ao hip hop e
como podem fornecer insights à criação e estudo na área. (autor)
Porém, há quem não concorde com a “academização” do breaking. Deve-
se ressaltar que as danças associadas ao hip hop advêm de praticantes refratários a
essa “academização”. Há uma noção corrente que ao se deslocar para o ensino
superior, o breaking “perderia seu status de rua”, e, como consequência, deixaria de
ser considerado “verdadeiro”. Talvez, a premissa básica para essa crítica, esteja em
respeito à qualidade ou a condição da autenticidade da cultura hip hop. Isso porque
quem é considerado autêntico e quem é “vendido” é uma discussão polêmica que se
estende desde o início do Hip Hop em 1970, e vigora atualmente entre os
praticantes.
Embora no mundo universitário se tenha avançado com dissertações,
conferências acadêmicas, cursos, programas universitários, e diversos outras
atividades, a generalidade aponta o descaso e ausência de vínculo com as práticas
artísticas associadas ao Hip Hop. Para aqueles familiarizados com as origens da
cultura hip hop e seu processo de midiatização, talvez não se surpreendam com o
aparecimento de pesquisadores oportunistas e seus discursos grandiloquentes
interessados pela cultura Hip Hop. Parece que o rótulo hip hop vende, sejam
oficinas, livros, cursos universitários, conferências ou livros acadêmicos em clima
educacional. Muitas vezes o conteúdo não corresponde ao título, o que colabora
com a crítica em direção aos atuais “intelectuais” do hip hop.
Neste momento, é possível perceber guerras epistemológicas sobre o hip
hop ser percebido como uma ferramenta pedagógica ou como uma forma de arte
com valor intrínseco. Essa extensão pode causar algumas tensões, como, por
exemplo, o entendimento que a pedagogia do hip hop não parece ser considerada
como “estudos reais do hip hop”, conforme alguns teóricos (SODERMAN, 2013
p378).
Embora a concepção divergente afirme que a pedagogia hip hop é
principalmente sobre políticas educacionais e, também, uma motivação política,
80
ainda assim isso não tem haver com o que é hip hop. Logo, é importante se
perguntar e levantar a discussão sobre o que deveria ser a pesquisa pedagógica do
hip hop e suas danças, para que não torne e reduza o hip hop em apenas a uma
busca por melhores ferramentas de ensino. É importante destacar a estética
específica a qualquer atividade prática, e afirmar que o hip hop tem princípios,
regras e existem estilos de ensino e maneiras de debater questões intelectuais
sobre o Hip Hop.
Purgação Etimológica
Embora cientes das restrições deste estudo em não analisar as danças associadas
ao hip hop, aos significados e origem dos termos Breaking, Bboy, bboying/bgirling e
que se tornam termos habituais para os praticantes de hip hop. O termo “dançarino’’
Durante o período em que se ajusta em uma forma padronizada, no início dos anos
1970, a palavra de bboying (Scholls, 2019) cola à dança. Pelo grande número de
relatos, o verbo é derivado do substantivo “bboy” usado por Kool Herc para
praticantes dessa dança, e também a mais conhecida, como bem assegura Mr.
Seguindo este raciocínio, é viável deduzir que o termo tenha sido gerado, em
“break” sofre uma abreviação da sua letra inicial “b” em união com o substantivo
sentido, bboy e bgirl é a abreviação para “Break boy”, “Beat boy”, “Boogie boy”, “Bad
boy”, “Battle boy” ou até mesmo pode indicar a região de seu surgimento, “Bronx
Boy”.
Porém não demora para que a primazia do break boy, entre outras nomenclaturas,
tenha sido contestada. É importante destacar que, para uma parcela dos
por denominar essa dança. Segundo, o célebre bboy Richard “Crazy Legs” Colón “a
da palavra por meio do documentário The Freshest Kids: A History of the B-Boy.
Nele, relata “bboy, meninos que quebram/break, não veio dos breaks no disco”. Vem
de “este cara quebrou”, ele foi até um ponto de quebrar. Entendeu? Então só
usávamos o exagero desse termo com a dança. Os b boys, os break boys “(HERC,
estou pronto para breaking - quebrar em alguém, então nós apenas dizemos bboys,
você sabe, breakers- quebramos” (HERC, 1993). Assim, Herc chama seus
dançarinos de The B-Boys. O fato de que parece não ter havido uma única palavra
para descrever toda a dança sugere que ela não era vista como um estilo de dança
aconteceu mais tarde, eu mesmo acho que eles começaram a chamá-lo de B-Boy
depois que chegamos ao Executive Playhouse e ao Hevalo até certo ponto.", por
volta de 1974/1975.
82
utilizada no sudoeste dos Estados Unidos, “Breakin”, ou “Breaking Bad” que denota
violento, ou de ruptura. Outros nomes para o breaking (ou aspectos dele) incluíam
going off, burning, rocking ou até boyoiyoing, uma outra possível versão de origem
que está numa associação que Herc fez da movimentação dos jovens dançarinos
nível alto, com saltito e pulos, em virtude disso, Herc começa a chamar inicialmente
(COSTA, 2020). Logo, segundo Michael Holman (2004, p. 36) movimentos de cair
Bboy.
O relato escrito mais antigo sobre o breaking, em 1981, usa os termos breaking,
início dos anos 1970, em que passa a ser uma designação a um grupo de elite de
praticantes que participavam nas festas organizadas pelo DJ Kool Herc. Por fim
Breaking, e não breakdancing. Dessa forma, a intenção desse estudo não está em
posicionar sobre como a dança deve ser chamada, porém o que é relevante,
aqueles que se destinam tornar b boy ou b girls, aprender o uso adequado do termo
referindo-se a esta dança como BreakDance. Isto ocorre porque muitos deles têm o
seu primeiro contato com por meio das grandes mídias que, desde o início, tratam o
ao mundo do Breaking/Hip Hop, eles são instruídos à forma correta. Admite-se que o
hip hop adquire,ao longo de seu alastramento global, diversos sentidos, mas uma
Quando a dança se transforma em moda nos anos 1980, o termo breakdance é mais
atraente do que bboying por oferecer um apelo mais amplo. Logo, após a percepção
históricas da dança na cultura hip hop - em modos gerais o termo breaking não tem
essa conotação e é considerado aceitável pela maioria dos bboys e bgirls. Segundo
momento em que a mídia tem uma parte dele em como ‘81, ‘82, tornou-se
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refere a uma forma de dança específica que se desenvolve na cidade de Nova York
que inclui não apenas bboying, mas também popping, lock, boogalooing e outras
improvável que vejam o breakdance como uma parte significativa de suas vidas o
diferentes épocas, sobre diferentes circunstâncias, e sugere que aqueles que usam
danças nem – por extensão – com as tradições culturais que elas representam. Uma
vez que a forma como alguém se torna um b-boy ou b-girl em primeiro lugar é se
envolver com a cultura em um nível prático, seria improvável que um b-boy adotasse
força política que a conjunção das duas esteja indeterminada. Pelo contrário, é um
núcleo de pensamento muito definido que dirige o propósito dessa produção: assim
bgirling.
maneira de ocupar o sensível e dar sentido a essa ocupação, pois sua conduta
alegorizar essa conduta. Pelo termo, conduta estética deve-se entender aqui a
partilha do sensível que dá forma a uma cultura por meio do modo de agir, de se
grupo se comporta perante a sociedade, tendo como base as crenças do hip hop,
valores morais e éticos que seguem. Nelson George (1992) define o bboy como um
tipo de personagem que foi moldado pela estética hip hop e as tragédias da vida de
camadas sociais menos abastadas. B boy tem isso, justamente o mais celebrado e
conhecimento das ruas e raiva política. O estilo bboy flui para longe de sua base do
Um b boy ou b girls está representando uma relação entre dança e forma musical -
CORREÇÕES
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