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TFR

JURISPRUDENCIA
Tribunal Federal de Recursos

Ministro José Thomaz da Cunha Vasconcellos Filho - Presidente

Ministro Vasco Henrique d'Ãviía - Vice-Presidente

Ministro Tavares da Cunha Mello

Ministro América Godoy Ilha

Ministro Oscar Saraiva

Ministro Amarílio Aroldo Benjamin da Silva

Ministro Armando Leite Rollemberg

Ministro Antônio Neder

Francisco Soares de Moura Diretor-Geral da Secretaria

José Teixeira de Oliveira Diretor do Serviço de Legislação


e Jurisprudência
TFR
A

JURISPRUDENCIA

cp
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,
BRASILIA
TRIM.1 1965
TFR

Revista do Tribunal Federal de Recursos

Diretor

Ministro Annando Leite Rollemberg

Redação:
José Teixeira de Oliveira - Redator-Chefe
.l0rge Imperial Amaral Palet - Secretário
Kleber Souza, Roberto Wagner Monteiro, Selmar Riograndense de
Piratiny Machado, Sergio Pinto de Lima - Revisão

Revista Trimestral

Administração:
Esplanada dos Ministérios - Bloco 6, térreo - Brasília, DF.
suMARIO

AGRAVOS

15.831 1
17.286 5
19.986 9
22.208 11

APELAÇÕES CÍVEIS

7.036 15
13.910 22
13.992 25
14.892 27
15.531 34
15.599 38
15.783 40
16.159 41
16.245 53
16.730 55
16.750 59
17.461 61
17.889 67
18.089 70
18.327 75
18.492 79
19.411 101
19.517 106

APELAÇÕES CRIMINAIS

1.046 112
1. 051 ...................................................... 115

HABEAS CORPUS

1.266 ...................................................... 118

RECURSO DE HABEAS CORPUS

1.298 .............................................•........ 126


-VIII-

MANDADOS DE SEGURANÇA E
AGRAVOS EM MANDADOS DE SEGURANÇA *
23.574 135
27.592 139
28.609 141
29.208 157
29.869 164
29.988 175
31. 260 179
31. 328 183
31.493 189
31. 531 195
31. 581 197
31. 982 209
32.128 217
32..410 222
33.372 224
33.450 228
36.082 232
39.326 234
44.905 238

RECLAMAÇÃO

92 ...................................................... 273

RECURSOS DE REVISTA

533 (Na Apelação Cível 6.432) ................................ 280


605 (Na Apelação Cível 10.057) ................................ 284

POSSE DO EXMO. SR. MINISTRO ANTôNIO NEDER ............. 289


RELATÓRIO DA PRESIDÊNCIA (1964) .......................... 293
AGRAVO DE PETIÇÃO N,o 15.831 - MG.
Relator -- O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Agravante - Cia. Tecidos Santanense
Agravada - Fazenda Nacional

Acórdão

Impôsto de lucro extraordinário. Ainda que de


emergência, o Decreto-lei 6.224, pro,mulgado sem
prazo certo, só perde a validade quando fôr ab-
-rogado. Para ilidir dívida regularmente inscrita, a
prova há que ser inequívoca.

Vistos, relatados e discutidos mente inscrito e referente a lucro


êstes autos de Agravo de Peti- extraordinário do exercI CIO de
ção n. o 15.831, do Estado de Mi- 1946 e multa respectiva.
nas Gerais, agravante Cia. Te.ci- Opôs embargos a executada ale-
dos Santanense e agravada Fa- gando: a) prescrição do direito
zenda Nacional: de proceder ao lançamento do im-
Acorda, por unanimidade, a pôsto e à cobrança da dívida;
Segunda Turma do Tribunal Fe- b) não cabimento da cobrança
deral de Recursos, em negar pro- do tributo por se assentar êle em
vimento, conforme consta das no- lei de emergência vinculada a de-
tas taquigráficas anexas, as quais,
terminada conjuntura econômica
com o relatório, ficam fazendo
já superada;
parte integrante dêste julgado,
apurado às fls. 71 . Custas ex c) inconstitucionalidade do tri-
Iege. buto por lhe falecer finalidade ou
Tribunal Federal de Recursos, aplicação; .
Brasília, 3 de junho de 1964. - d) decorrer o lançamento da
Djalma da Cunha Mello, Presi- tributação como lucro de parce-
dente; Armando Rollemberg, Re- las e reservas que se destinaram
lator. a vários fundos específicos.
Após impugnação dos embar-
Relatório gos, no saneador, determinou o
o Sr. Min. Armando Rollem- MM. Juiz a requisição do pro-
berg: - A Fazenda Nacional pro- cesso administrativo em atenção
moveu executivo fiscal contra a a requerimento da embargante, fi-
Companhia Tecidos Santanense, cando o feito, por tal motivo, em
sediada em Itaúna, Minas Gerais, cartório, de 6 de maio a 19 de
para cobrança de débito regular- agôsto de 1959, quando foi desig-
-2 -

nado dia para realização da au- Há de se concluir assim que a


diência de instrução e julgamento. alegação tem tão-somente finali-
Após êste despacho, requereu a dade protelatória.
executada lhe fôsse aberta vista Quanto às demais preliminares,
dos autos para exame do processo foram elas bem decididas na sen-
administrativo, requerimento que tença recorrida.
foi indeferido. De referência à alegação de
Na audiência de instrução e jul- prescrição, foi afastada com os
gamento, produziram as partes fundamentos seguintes: "A dívida
alegações, tendo o procurador da fiscal que ora se cobra da execu-
executada reiterado as prelimina- tada, refere-se a uma revisão efe-
res suscitadas nos embargos, sem tuada pela repartição fazendária
ailud~r a dificuldades opostas à
do balanço da Cia. embargante,
defesa e sem qualquer referência quando verificou-se uma diferença
ao mérito. a favor da Fazenda Nacional, em
um montante de Cr$ 101.461.
Pelo MM. Juiz foi a ação
Não se conformando a executa-
julgada procedente, em bem lan-
da com a revisão procedida por
çada sentença, contra a qual re-
dados que apresentou de seus ren-
correu a executada alegando cer-
dimentos referentes ao exercício
ceamento de defesa, reiterando as
de 1945, recorreu para a Junta de
preliminares nela apreciadas e
Ajuste de Lucros, nos têrmos do
afirmando não ter sido examina-
art. 9.°, do Decreto-lei n.o 6.224,
do o mérito da questão.
de 24-1-44.
Após contraminuta, vieram os Razões a que se reporta no pre-
autos a êste Tribunal, onde a dou- sente executivo fiscal.
ta Subprocuradoria-Geral ofereceu Depois de várias diligências em
parecer pela confirmação da sen- pareceres, decidiu a Junta de
tença. Ajuste de Lucros (fls. 58 do pro-
É o relatório. cesso administrativo) não conhe-
cer da reclamação, pois que ficara
Voto demonstrado, depois de nova
apreciação dos dados, ser mais
o Sr. Min. Armando Rollem- elevado, ainda, o débito real da
berg: - Não merece acolhida a interessada. Posteriormente, em
alegação de cerceamento de de- sessão ordinária realizada em 18
fesa. de junho de 1953, atendendo
Pelo que se depreende do pro- aquela Junta ao parecer da D.I.R.,
cesso, os autos permaneceram em deu provimento em parte à recla-
cartório, face à requisição do pro- mação, reduzindo o impôsto im-
cesso administrativo, por mais de pugnado.
90 dias, sem que a agravante indi- Notificada a embargante em 12
casse quais as peças a serem tras- de janeiro de 1955 do nôvo lan-
ladadas, requerendo lhe fôsse çamento nas condições decididas
aberta vista quando já designado pela J. A . L., solicitou reconside-
dia para a audiência de instrução ração daquela decisão, ao mesmo
e julgamento. Nesta, nenhuma tempo que solicitava perante ao
referência fêz à negativa de prova. Ministro da Fazenda se dignasse
-3-

conceder-lhe fiança, ao invés de o douto Amilcar de Castro per-


depósito da quantia em litígio ad- filhou esta tese, vale dizer, os dis-
ministrativo Isto em 18 de ja- positivos sôbre a prescrição trazi-
neiro de 1955. dos no Código Civil, não se apli-
Novas diligências são requeri- cam às dívidas fiscais, conforme
das pela Fé\zenda Nacional, novos trabalho publicado na Revista Fo-
despachos são proferidos, até que, rense (voI. 94 - fls. 5).
finalmente,· entra a embargante, Isto porque, não são aplicáveis
nos autos administrativos, com aos créditos da União, Estados e
um nôvo pedido, êste já agora, de- Municípios - créditos provenien-
sistindo da reclamação interposta, tes de impostos devidos por par-
preferindo discutir a dívida em ticulares - os dispositivos do Có-
Juízo. Isto, em 4 de maio de digo Civil, por fôrça do disposto
1956. no próprio art. 1.0 da Parte Ge-
Em 5 de fevereiro de 1957, foi rai, do mencionado código, que
pelo Diretor-Gerente da executa- declara expressamente que êle re-
da, recebida a notificação, refe- gula apenas "os direitos e obriga-
rente ao débito ora questionado. ções de ordem privada" .
E, em 14 de fevereiro de 1959, No art. 178, § 10, n. o VI, fala-
foi despachada a petição inicial -se em dívida passiva da União,
citada a embargante cinco dias Estados e Municípios e, nos de-
depois, 19 de fevereiro de 1959. mais dispositivos, embora se fale
Portanto, não há que falar em em impostos, trata-se de relação
prescrição. de direito privado.
A uma, porque consoante juris- Nem tôdas as relações entre
prudência do Egrégio Tribunal particulares de um lado e a União,
Federal de Recursos: "Não se de- o Estado e o Município de outro,
creta a prescrição da dívida, so- são de origem pública.
bretudo quando o poder adminis- Trata-se no caso dos autos, de
trativo admitiu reclamos instantes um tributo que a União numa
da Parte" (in JuriSprudência Mi- fase de emergência impôs aos par-
neira - vol. V /304) . ticulares e, portanto, matéria de
A duas, porque, contràriamente direito público. Pois o crédito do
ao que supõe a embargante, não impôsto "nasce de uma manifesta-
decorreu a prescrição qüinqüenal ção unilateral de vontade da au-
pretendida, nos precisos têrmos da toridade pública e nunca pode
alínea V, do art. 172 do C. Civil emanar de um contrato".
e art. 1.0 do Dec. n. o 5.761, de "Na relação civil o débito pro-
25-6-30, onde se obedece a juris- vém de um ato do devedor; na
prudência acima citada. relação jurídica-fiscal é impâsto
A três, mesmo que, numa hipó- ao devedor pela exclusiva von-
tese, assim fôsse, não procederia tade do credor".
a prescrição face aos têrmos dos "Por conseguinte, nos têrmos da
arts. 66, n. o lII, e 67 do Código Lei n. o 3.396, de 2-6-58, a dívida
Civil as dívidas fiscais no mon- ajuizada não prescreveu".
tante da ajuizada, prescrevem 30 No que toca ao não cabimento
anos, e em obediência ao art. 19 da cobrança, por se tratar de tri-
da Lei n. o 3.396, de 2-6-58. buto conjugado a determinada
-4-

conjuntura econômica, foi a hipó- tal de uma lei, que também deno-
tese bem apre.ciada nos seguintes mina-se revogação que deve ser
têrmos: "A dívida ajuizada ba- expressa quando declarada nova
seia-se no Decreto-lei n. o 6.224, lei" ( Hermenêutica e Aplica.ção
de 24 de janeiro de 1944, que, por do Direito - Carlos Maximilia-
sinal, não foi revogado até a pre~ no, fls. 419).
sente data, é, repetimos, uma dívi- Doutrina o renomado jurista,
da líquida e certa, foi amplamente na citada obra, que "as expressões
ventilada no processo administra- de direito podem ser ab-rogadas
tivo, ficando demonstrada a sua ou derrogadas somente por outras
procedência. Não colhe a argu- da mesma natureza ou de autori-
mentação embargada que o "im- dade superior. A lei revoga à lei,
pôsto pretendido mirava, como es- o aviso ao aviso, o regulamento
tabelece o art. 1.0 do Decreto-lei ao regulamento, o costume ao cos-
n. o 6.224, a crise econômico-fi- tume".
nanceira, produzida pela guerra;
"Lei - A posterior se não tra-
cessada esta e terminados os seus
duz revogação expressa da ante-
efeitos, não mais se justifica a co-
rior, deixa-a em vigor, a menos
brança de um impôsto de caráter
que expressa ordem inteiramente
efêmero, transitório e específico",
inconciliável com a presente. A
e por isto a sua cobrança, atual-
revogação tácita, não se presume"
mente, não tem mais sua razão de
(in R. Forense, voI. 138/136):
ser.
Devemos lembrar, contudo, que As leis de vigência transitória,
o malsinado impôsto foi lançado são aquelas promulgadas com pra-
em plena fase de crise financeira, zo estabelecido, por exemplo: de-
esquivando-se a embargante de creto de estado de sítio, leis de
seu pagamento, como se patenteia orçamento - leis de meio, leis
pelos diversificados e reiterados que fixam o contingente de fôrça
pedidos de reconsideração apre- de terra e mar, lei de inquilinato,
sentados pela executada na via e outras. A própria lei de emer-
crucis do pro.cesso administrativo, gência, quando não determina em
onde se pretendia uma execução seu bojo a data certa da sua vi-
amigável, como é óbvio. O De.c.- gência, permanece válida até sua
-lei 6.224, que instituiu o impôsto ab-rogação, pelo poder competen-
sôbre lucros, não foi revogado te, é lógico.
como alega a embargante. Bem argumenta a exeqüente,
As leis mencionadas pela em- ora embargante, "que não procede
bargante, nas suas razões de em- a excepcionalidade levantada, pois
bargos, referem-se ao impôsto de ficar a executada exonerada do
renda, introduzindo modificações pagamento da dívida, apenas por-
e regulamentando a sua aplicação; que não estamos em guerra, seria
são leis interpretativas e não têm premiar os devedores faltosos, jus-
o condão de derrogar leis ante- tamente os que deixaram de con-
riores. tribuir para o bem comum".
Ensina Carlos Maximiliano que Restaria analisar tão-sOmente a
"conforme norma de direito é alegação de que a sentença não
caso de ab-rogação a extinção to- examinara o mérito.
-5-

A decisão recorrida a êle se re- to. Desacompanhadas que estão,


feriu sem, contudo, se deter no porém, de qualquer prova, não
respectivo exame. Não poderia podem ser aceitas, pois, nos têr-
ter sido outro, contudo, o procedi- mos do art. 21 do Decreto-lei 960,
mento do julgador, pois a matéria a prova para ilidir a dívida fis.cal
foi apenas .aflorada no embargo, deverá ser inequívoca.
sem fundamentação, que seria Assim, não há como dar-se aco-
apresentada através de prova a lhida ao recurso, ao qual nego pro-
ser feita. Considerando que ne- vimento.
nhuma foi apresentada e que nas
alegações orais não se referiu o Decisão
procurador da executada a qual- Como consta da ata a decisão
quer argumento do mérito, subsis- foi a seguinte: Negou-se provi-
tiu por inteiro a liquidez e cer- menta. Decisão unânime. Os Srs.
teza presumida da dívida regular- Mins. Djalma da Cunha Mello
mente inscrita. e Godoy Ilha votaram com o Sr.
No recurso, a agravante fêz de- Min. Relator. Presidiu o julga-
tida exposição das razões que, no mento o Sr. Min. Djalma da
mérito, invalidariam ° lançamen- Cunha Mello.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N.O 17.286 - RS.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Agravante - Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense
Agravada - Comissão Estadual de Energia Elétrica

Acórdão

Litisconsorte. Terceiro. Sendo figuras proces-


suais inconfundíveis, do despacho que nega a inter-
venção do litisconsorte o recurso idôneo é o agravo
no auto do processo e não o agravo de instrumento,
cabível do que indefere a intervenção do terceiro.

Vistos, relatados e discutidos e notas taquigráficas precedentes


êstes autos de Agravo de Ins- que ficam fazendo parte integran-
trumento n. o 17.286, do Rio te do presente julgado. Custas
Grande do Sul, em que é agravan- ex lege.
te a Companhia de Energia Elé- Brasília, 18 de julho de 1962.
trica Rio-Grandense, e agravada Cunha Vasconcellos, Presiden-
a Comissão Estadual de Energia te; Godoy Ilha, Relator.
Elétrica:
Acorda a Segunda Turma do Relatório
Tribunal Federal de Recursos, por
unanimidade de votos, em não co- o Sr. Min. Godoy Ilha: - Agra-
nhecer do re,curso, por incabível, va de instrumento a Companhia
tudo conforme consta do Relatório Energia Elétrica Rio-Grandense,
-6-

com assento no inciso I, do art. que foi referendado pelo então


842, do Código de Processo Civil, Ministro da Agricultura, cumprin-
do despacho do Juiz dos Feito!; do a exigência do art. 150 do Có-
da Fazenda da comarca de Pôrto digo de Águas, a União outorgou
Alegre, Rio Grande do Sul, que, a êste Estado, "ou emprêsa que
na ação expropriatória que lhe organizar", o gôzo "dos favores
move o Govêrno do Estado, por constantes do Código de Águas e
intermédio da sua Comissão Es- das leis especiais sôbre o assunto".
tadual de Energia Elétrica, inde- O vocábulo "leis", aí empregado,
feriu pedido formulado na con- tem significado amplo, tomando
testação no sentido de citar-se a seu conceito em sentido material
União para, na forma do art. 91 ou substancial, compreendendo
da lei processual, vir integrar a também "decretos" e "decretos-
lide. leis". Assim entendido, a questão
Denegado por incabível o re- da compensação pretendida pelo
curso, sobe êle ao Tribunal por Estado, através da autarquia au-
fôrça de mandado de segurança tora, não vincula o Erário Federal
que êste concedeu à agravante à causa presente, visto como aque-
(Mandado de Segurança n.o la compensação tem base no dis-
17.593), pôsto que ao Juiz da posto no n.o lI, do parágrafo 1.0,
Primeira Instância não é lícito re- do art. 93, do Decreto n.o 41.019,
cusar ou negar seguimento ao de 26-2-57, cabendo ao Estado do
agravo de instrumento, eis que à Rio Grande do Sul os seus resul-
instância ad quem é que compete tados, diante do apontado no art.
decidir da propriedade e requisi- 9.°, do Decreto 19.896. Não tem,
tos do recurso. pois, procedência o pedido de ci-
Na ação desapropriatória que tação do Dr. Procurador da Re-
o Estado promove contra a agra- pública. A lide se trava entre o
vante, para tornar efetiva a en- Estado, pela Comissão de Energia
campação dos serviços de eletri- Elétrica, e a Companhia Energia
cidade na capital rio-grandense Elétrica Rio-Grandense".
até então por ela explorados, pe- Do despacho saneador, que re-
diu a ré, ora agravante, na con- jeitou as nulidades argüidas e o
testação, fôsse citada a União, pe- pedido de citação da União, agra-
los motivos expostos no item 35 vou a ré no auto do processo (cer-
da contrariedade, concluindo "tra- tidão de fls. 106) nos têrmos do
tar-se de caso inquestionável de art. 851, inciso IV, do Código de
litisconsórcio necessário previsto Processo Civil, ao mesmo tempo
no art. 88, do Código de Proces- em que, sob a invocação do dis-
so Civil, estando a União, na for- posto no inciso I, do art. 842,
ma do art. 91 do mesmo Código, pretendeu valer-se do agravo de
obrigada a integrar a contesta- instrumento, repelido pelo Juiz,
ção". mas mandado processar e subir
O Juiz da causa, ao proferir o por efeito do mandado de segu-
despacho saneador, repeliu o invo- rança a que já me referi.
cado litisconsórcio necessário, nes- Arrazoou longamente o recurso
tes têrmos: "Item 12 - Pelo art. o provecto patrono da agravante,
9.° do aludido Decreto 19.896, de fls. 3 a 13, replicando o ilus-
7-

trado defensor da agravada com traditórias ou colidentes sôbre a


a extensa e bem fundamentada mesma questão ou, melhor ainda,
contraminuta de fls. 42/61, ins- suspender o processamento dêste
truída com farta documentação. agravo e ordenar a remessa dos
Tendo a r&, ora agravante, pos- autos ao Tribunal de Justiça do
tulado ao Tribunal de Justiça do Estado, para os me1'lmos serem
Estado mandado de segurança apensados aos do aludido man-
contra o ato da desapropriação- dado de segurança.
-encampação e que lhe foi dene- Requer se digne o Egrégio Tri-
gado por aquêle egrégio sodalício, bunal ad quem oficiar ao Tribunal
sustenta a agravada ocorrer no de Justiça do Estado para solici-
caso verdadeira litispendência, da- tar certidão do acórdão da justiça
do que, conforme expõe: "Item 9 local, de vez que o pedido da su-
- Deixou-se claro, nos itens ante- plicante, no mesmo sentido, só foi
riores, que o mandado de seguran- deferido para ser a certidão for-
ça impetrado pela Companhia necida após o registro do dito ho-
contra o ato de encampação-de- norável aresto".
sapropriação, no qual foram noti- E isso porque o Tribunal local,
ficadas, como autoridades coato- ao rejeitar unanimemente a sua
ras, o Govêrno do Estado, a Co- argüida incompetência, decidiu
missão Estadual de Energia Elé- que não havia, no caso, qualquer
trica, ora agravada, e o MM. Juiz interêsse econômico ou moral da
da 2.a Vara da Fazenda Pública, União.
rendeu ensejo a que, no julgamen- Falou às fls. 94/103 a agra-
to realizado, em sessão plenária vante sôbre os documentos ofere-
de 15-6-59, o Tribunal de Justiça cidos com a contraminuta.
do Estado proferisse decisão sô- A ilustrada Subprocuradoria-
bre a questão preliminar de saber Geral da República, oficiando,
se, no caso, existia, ou não, inte- opina pelo não provimento do
rêsse da União; tendo sido por agravo.
unanimidade proclamada a com- É o relatório.
petência do Tribunal em virtude
da inexistência do referido inte- Voto
rêsse".
Por haver a ré recorrido para o o Sr. Min. Godoy Ilha: - O
Supremo Tribunal Federal da de- agravo da Companhia de Energia
cisão denegatória do writ, pede Elétrica Rio-Grandense teve as-
ainda a agravada que o Tribunal sento no inciso I, do art. 842, do
haja por bem: "a) sustar o julga- Código de Processo Civil, que ad-
mento do presente agravo de ins- mite o agravo de instrumento das
trumento até que a questão da decisões que não admitirem a in-
existência, ou não, de interêsse tervenção de terceiro na causa.
da União na encampação-desapro~ Ora, a intervenção de terceiro
priação seja dirimida, em última na causa está disciplinada pelos
instância, pelo Supremo Tribunal arts. 95 e 105 do nosso estatuto
no mandado de segurança impe- processual civil e refere-se, a tôda
trado pela Companhia, e isto no evidência, ao chamado ou nomea-
intuito de prevenir decisões con- do à autoria e ao opoente, como
-8-

mostram os nossos mais renoma- do litígio, haja um círculo tal de


dos processualistas. comunhão ou de solidariedade que
Borges da Rosa, depois de ob- a sentença não possa ser eficaz-
servar que a intervenção de ter- mente proferida sem a interven-
ceiro vem regulada no capítulo ção dêle na ação.
do título VIII, do livro 5, do Para Lopes da Costa (Direi-
de Processo e refe- to Processual Civil, IH, pág. 269),
re-se ao chamamento e nomeação o htisconsórcio é necessário: a)
à autoria e à oposição, conclui que, quando a lei o disser (Cód. Civil,
portanto, cabe agravo de instru- arts. 814, § 2.° e 235, lI, Código
mento da decisão que não admitir de Processo Civil, arts. 400, 455);
a intervenção no processo do cha- b) nas ações constitutivas - par-
mado à autoria, do nomeado à au- tilha, divisão da coisa comum, di-
toria e do opoente (Processo Ci- visão de terras, nulidade ou anu-
vil, Comentários, vol. IV, pág. lação de casamento; pauliana, dis-
527). Do mesmo sentir é Jorge solução de sociedade; c) o caso
Americano, para quem a figura das ações propostas por um con-
processual de intervenção de ter- dômino contra terceiro ou, inver-
ceiro limita-se, pelo Código, às hi- samente, por terceiro contra um
póteses dos arts. 95 a 105, afas- só dos condôminos, é controver-
tada até a hipótese do agravo por tido, relativamente às ações de
não admissão de assistente, que servidão.
não é havido como terceiro por es- Isto pôsto, diz-se necessano o
tar considerado no art. 93, em- litisconsórcio quando determinado
bora esta exclusão lhe pareça iní- ou por expressa disposição de lei
qua. ou pela própria natureza da rela-
Certo, sem dúvida, que o agravo ção jurídica controvertida, e a
só se permite, além das hipóteses característica do litisconsórcio ne-
já mencionadas, ao próprio ter- cessário, como ensinam os comen-
ceiro que tem a sua intervenção tadores, consiste em que, não po-
na lide obstada por decisão do dendo ser dada senão uma só so-
Juiz. lução ao litígio, relativamente a
O pedido de citação da União todos os litisconsortes, êstes se
foi formulado sob invocação do reputam como constituindo uma
art. 91 da lei proeessual, pelo parte única, e os efeitos do proce-
qual o Juiz, quando necessário, or- dimento de um se estendem a
denará a citação de terceiros para todos os outros.
integrarem a contestação. E mostrou o MM. Julgador a
Para isso, mister se faz a ve- quo a inexistência do alegado litis-
rificação da existência ou não de consórcio e isso mesmo também
litisconsór.cio necessano, cuja afirmou o Egrégio Tribunal de
omissão possa acarretar a nulida- Justiça do Estado, ao rejeitar a
de da sentença. sua argüida incompetência, pôsto
Como menciona Câmara Leal, que não havia no caso qualquer
é necessário o litisconsórcio quan- interêsse econômico ou moral da
do, entre vários co-autores, ou en- União.
tre vários co-réus, que têm um in- Para deferir o pedido de cita-
terêsse comum acêrca do objeto ção da União para integrar a lide,
-9-

havia o Juiz que verificar, previa- tença seja inutiliter datur e que
mente, a existência do litisconsór- se venha a dissipar baldadamen-
cio necessário. te o tempo e o esfôrço da admi-
Observa o saudoso Carvalho nistração da justiça, como observa
Santos que o nôvo código de Pro- Pedro Batista Martins, de saudosa
cesso orientou-se no sentido do memória.
ensinamento de lVlortara, prefe- E o recurso específico contra
rindo dar ao a faculdade de o despacho que considera sanea-
ordenar a citação de terceiros, do o processo é o agravo no auto
qUândo necessária, a dizer, sempre do processo, previsto no art. 851,
que terceiro ou ter,ceiros tenham IH, do Código de Processo Civil,
interêsse na decisão da causa, po- recurso de que se utilizou oportu-
dendo os efeitos desta decisão re- namente a ora agravante, como se
percutir de qualquer modo nos vê da certidão de fls. 106.
seus interêsses. E acrescenta: Ante o exposto, tenho como in-
"Claro que o Juiz tem amplo ar- censurável a decisão do ilustrado
bítrio de apreciação quando se ve- Julgador a quo não admitindo,
rifica essa necessidade, a que alu- por incabível, o agravo de instru-
de o Código, constituindo mera fa- mento interposto pela Companhia
culdade, que êle usa se quiser, Energia Elétrica Rio-Grandense.
sem que sua deliberação possa Dêle não conheço e, se o conhe-
ser criticada pelo Tribunal Supe- cesse, negar-lhe-ia provimento.
rior" (Cód . de Processo Civil,
Interp., voI. l, pág. 376). Decisão
Mas, a matéria é regida pelo
art. 294 da lei processual, eis que, Como consta da ata, a decisão
no despacho saneador, deverá o foi a seguinte: Por unanimidade,
Juiz ordenar a citação dos litis- não se conheceu do recurso, por
consortes necessários, não para in- incabível. Os Srs. Mins. Oscar
tegrarem a contestação como er- Saraiva e Cunha Vasconcellos vo-
rôneamente se expressa o art. 91, taram com o Sr. Min. Relator.
mas para integrarem a instância Presidiu o julgamento o Sr. Min.
ou a lide, para evitar que a sen- Cunha Vasconcellos.

AGRAVO DE PETIÇÃO N.O 19.986 - PE.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juiz da Comarca de Bezerros, ex officio
Agravados - Manoel Simplício da Silva e Banco do Brasil S.A.
Acórdão
Não é de se considerar como emenda à lei a
rejeição do veto parcial e sua publicação.
Vistos, relatados e discutidos Acordam os membros da Se-
êstes autos de Agravo de Peti- gunda Turma dêste Tribunal, por
ção n. O 19.986, de Pernambuco, maioria de votos, em dar provi-
em que são partes as acima mento para conhecer do recurso
indicadas: de ofício, com relação às decisões

2 - 35883
- 10-

proferidas anteriormente ao ad- para entrar em vigor 45 dias de-


vento da Lei n.o 2.804, de 56; pois; que êsse foi o fundamento
e em dar provimento nos têrmos do voto do eminente Sr. Min.
do Parecer da Subprocuradoria, Raimundo Macedo, acolhido pellO
com exclusão dos efeitos da sen- Turma, no Agravo de Peticão n.O
tença concessiva da Lei n.o 2.282, 7.703. Em tais condições', pede
de 54, cuja sentença subsiste, tudo que se conheça do aludido recur-
conforme consta do Relatório, vo- so, para exclusão das parcelas
tos e resultado do julgamento de mencionadas no item 11 do seu
fls. 214/217, que ficam fa- parecer.
zendo parte integrante do julga- É o relatório.
do. Custas de lei.
Brasília, 30 de agôsto de 1963. Voto (Vencido em parte)
- Godoy Ilha, Presidente; Oscar
Saraiva, Relator designado p/o O Sr. Min. Godoy Ilha:
Acórdão. meu voto é no sentido de acolher
o parecer da douta Subprocurado-
Relatório ria-Geral da República, constante
de fls. 212, conhe,cendo do re-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Trata- curso de ofício de tôdas as deci-
-se de processo de reajuste pecuá- sões concessivas dos favores ao
rio que vem a êste Tribunal para devedor pecuarista, e dando-lhe
conhecimento de recurso de ofício provimento, em parte, para excluir
das decisões concessivas ao deve. as parcelas mencionadas no item
dor pecuarista dos favores da le- 11 do aludido parecer.
gislação de proteção aos criadores
e recriadores de gado bovino, sen- Voto
do que a última decisão, relativa
à Lei n.O 2.282, de 1954, foi pro- O Sr. Min. Oscar Sa'raiva: -
ferida em 3 de setembro de 1956. Data venia, divirjo. Reputo o en-
A douta Subpracuradoria-Geral tendimento invocado inteiramente
da República postula o conheci- insustentável, diante de tôda teo-
mento do recurso de ofício, inclu- ria geral do direito público e do
sive com relação à última decisão, próprio Código Civil. A rejeição
sob fundamento de que, não obs- do veto faz com que tenha vigor
tante datada de 25 de junho, a o dispositivo, que já estava incor-
Lei n.O 2.804, de 1956, o disposi- porado à lei. Desde que promul-
tivo que prescrevia o recurso de gada a rejeição do veto, a partir
ofício, tinha sido vetado, e rejei- daquele momento, na pior das hi-
tado o veto só foi publicado em póteses, vigora o texto da lei, não
22 de julho seguinte, não havendo se podendo considerar o disposi-
na publicação indicação da sua tivo vetado e publicado, pela re-
vigência, e que, de acôrdo com a jeição do veto, como emenda à
Lei de Introdução ao Código Ci- lei. Não há, portanto, fundamen-
vil, as correções a texto de lei já to para o ponto de vista exposto.
em vigor se .consideram lei nova. Daí porque, Sr . Presidente,
Logo, tratava-se de lei nova, com nesta parte não acompanhar a
publicação em 22 de julho, mas Subprocuradoria-Geral.
- 11-

Conheço, entretanto, do recurso, feridas anteriormente ao advento


no que diz respeito aos benefícios da Lei n.O 2.804, de 56; e deu-se
anteriores, porque o Supremo Tri- provimento nos têrmos do Parecer
bunal Federal tem entendido que da douta Subprocuradoria-GeraI,
cumpre conhecer de recurso de de fls. 212, com exclusão dos efei-
ofcio nesses. casos. Conhecendo, tos da sentença concessiva da Lei
dou provimento apenas para, nes- n. O 2.282, de 54, cuja sentença
se particular, acompanhar o pare- subsiste, vencido, em parte, o Sr.
cer da Subprocuradoria-Geral. Min. Relator. O Sr. Min. Arman-
do Rollemberg votou com o Sr.
Decisão Min. Oscar Saraiva. Presidiu o
Como consta da ata, a decisão julgamento o Sr. Min. Godoy
foi a seguinte: Por maioria de vo- Ilha. Não compareceu, por moti-
tos, conheceu-se do recurso de ofí- vo justificado, o Sr. Min. Djalma
cio, com relação às decisões pro- da Cunha Mello.

AGRAVO DE PETIÇÃO N,O 22.208 - SP.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Recorrente - Juízo da Comarca de Barretos, ex officio
Agravante - Fazenda Nacional
Agravado - João Parassú Borges

Acórdão
Impôsto de Renda. Invernista. Para aferir o
rendimento presumido (art. 57 do Regulamento) ,
enquanto a solução não fôr dada pelo legislador, é
de se considerar o valor do gado magro, ao ser com-
prado.

Vistos, relatados e discutidos Tribunal Federal de Recursos,


êstes autos de Agravo de Peti- Brasília, 13 de novembro de 1964.
ção n. o 22.208, do Estado de - Godoy Ilha, Presidente; Ar-
São Paulo, agravante Fazenda mando Rollemberg, Relator.
Nacional e agravado João Pa-
rassú Borges, assinalando-se tam- Relatório
bém recurso ex officio:
Acorda, por maioria de votos, a o Sr. Min. Armando Rollem-
Segunda Turma do Tribunal Fe- berg: - Trata-se de executivo fis-
deral de Recursos em negar pro- cal promovido pela Fazenda N a-
vimento aos recursos, conforme cionaI contra João Parassú Bor-
consta das notas taquigráficas ges, para cobrar impôsto de renda
anexas, as quais, com o relatório, e multa do exercício de 1960.
ficam fazendo parte dêste julgado, Nos embargos, o executado, in-
apurado às fls. 127. Custas ex vernista em Barretos, São Paulo,
lege. alegou ser improcedente a cobran-
- 12

ça, por ter decorrido o débito de e trouxe aos autos pareceres de


lançamento feito tendo em conta Aliomar Baleeiro e Joaquim Tei-
o valor pelo qual vendera o seu xeira Mendes, sôbre os quais fa-
gado de engorda no ano base, lou a agravante.
quando pela legislação que lhe fa- Nesta Instância, a Subprocura-
cultava, como fêz; optar pelo cál- daria-Geral opinou pelo provi-
culo do rendimento sõ- mento dos recursos.
mente estava obrigado a compu- É o relatório.
tar para a aferição dêste, o preço
de custo do referido gado. Voto
Na impugnação sustentou a
União que a lei, ao determinar a o Sr. Min. Armando Rol1em-
inclusão do gado de renda para es- berg: - As preliminares suscitadas
timativa do lucro, não fêz distin- pela União não merecem acolhi-
ção entre o gado magro e o gado mento. Do fato de ter o embar-
gordo, devendo ser declarado o gante trazido aos autos parecer
valor real dêle em determinado após ter a Fazenda produzido as
momento e que, portanto, quando as suas alegações não de.corre nu-
o Fisco tomou como base o preço lidade do processo, por não se
de venda respectivo, foi por ter tratar de matéria de prova. Tam-
entendido que tal preço espelha- bém não procede a alegação de
va o real valor. que a sentença recorrida não re-
Pelo MM. Juiz foi a ação jul- sumira os fundamentos de fato e
gada improcedente. de direito da impugnação aos em-
Inconformada, agravou a União, bargos, pois, na parte decisória,
alegando: nulidade da sentença, foram éles apreciados.
por ter sido admitido a juntada Passamos, por isso, ao exame
ao pro,cesso de parecer firmado do mérito.
pelo Prof . Washington de Barros O Regulamento do Impôsto de
Monteiro, após a Fazenda haver Renda, no seu art. 9, estabelece:
produzido as suas alegações, no "Na cédula G serão classificados
qual buscara o Juiz fundamentos os seguintes rendimentos:
para a sua decisão e, ainda, por c) da criação, recriação e en-
não ter, no respectivo relatório, gorda de animais de qualquer es-
resumido os fundamentos de fato pécie (Lei n.o 154, art. 1.0)".
e de direito da impugnação aos E, no art. 57, dispõe: "Para
embargos. determinar o rendimento líquido
No mérito, reiterou os argu- da exploração agrícola ou pasto-
mentos antes apresentados, ten- ril e das indústrias extrativas ve-
dentes todos a demonstrar que a getal e animal, de que trata o
legislação cogita de "valor", sem parágrafo único do art. 9.°, apli-
distinguir entre preço de compra car-se-á o coeficiente de 5 % (.cin-
e preço de venda. co por cento) sôbre o valor da
Juntou às razões de recurso có- propriedade (Dec.-lei 5.844 ar-
pia de parecer de Tito Rezende. tigo 57).
De sua vez, o agravado, ao con- § 1.° - Considera-se valor da
traminutar, aduziu argumentos em propriedade o representado pelas
favor da confirmação da sentença, terras exploradas, pastagens, cons..
- 13- I

uuções, benfeitorias, maquinismos, do respectivo valor. Depois, pela


máquinas agrícolas, culturas per- própria natureza do negócio, é di-
manentes, gado de trabalho e de fícil estabelecerem-se os critérios
renda (Dec.-Iei S. 844, art. 57, a serem adotados.
§ 1.0). Inclinam-se muitos, e entre ês-
Afastada que foi pelos disposi- tes estão Castro Viana (Conf. Ru-
tivos dúvida antes exis- bens Gomes de Souza, Revista dos
tente sôbre a inclusão do gado Tribunais n.o 273, pág. 93) e Alio-
de engorda entre os elementos a mar Baleeiro (parecer nos autos),
serem considerados para a obten- pela indicação do valor no dia 31
ção do valor da propriedade, e re- de dezembro do ano base.
conhecendo ser êle de renda, por A tal critério opõe o Fisco como
falta de legislação esclarecedora, objeção o fato da impossibilidade
surgiram divergências sôbre as do conhecimento exato do aludido
condições e o momento a serem valor, por deficiência de meios pa-
.considerados para aferição do va- ra constatá-lo e, ainda, a precarie-
lor do mesmo gado. dade do .contrôle respectivo, vez
As discordâncias são razoáveis. que, sendo variável a época da
O critério adotado pelo legisla- venda do rebanho, poderá suceder
dor, para estimar o rendimento que em tal data já o invernista
presumido das atividades agríco- haja vendido gordo, gado adquiri-
la e pecuária, está assentado no do magro no início do ano, esca-
valor patrimonial dos bens nas pando assim à tributação.
mesmas empregados. Fórmulas diversas têm sido
No que tange aos imóveis, a aventandas para por côbro às di-
aferição de tal valor não oferece ficuldades e, dentre estas, tem
dificuldades maiores. Se o tribu- prevalecido a de levar-se em con-
to incide sôbre os rendimentos do ta não o gado existente em deter-
ano base, bastará levar em conta minado momento, e sim o vendido
o valor dêles no dia 31 de dezem- durante o ano.
bro do mesmo ano. Adotado tal critério, que não
Igualmente não oferece dificul- encontra obstáculo na lei, por ser
dades a estimação do valor das essa omissa, surgiu nova dúvida.
construções, benfeitorias, maqui- Qual o valor que se há de con-
nismos e máquinas agrícolas, pois, siderar para aferição da renda
na forma estabelecida no § 2.° do presumida, o do gado gordo, ao
art. 57, na hipótese de não ser ser vendido, ou o do magro, ao
possível conhecê-lo com exatidão. ser comprado?
será arbitrado em 10% do valor Esta a dúvida debatida nos au-
venal das terras, registrado nas re- tos e que nos cabe dirimir.
partições estaduais para efeito da Não trazendo a legislação regra
cobrança do impôsto territorial. esclarecedora, temos que a solu-
Já de referência ao gado de en- ção há de ser buscada nos princí-
gorda, entretanto, há problemas a pios que regem a matéria.
serem enfrentados. Ora, ao admitir a tributação
Em primeiro lugar, a legislàção pelo lu.cro presumido, o legislador
não fixa critério para a aferição tomou como base para estimativa
- 14-

dêste o valor patrimonial dos bens Voto (Vencido em parte)


empregados na atividade, despre-
zando o lucro porventura auferido o Sr. Min. Oscar Saraiva::
e daí estar sujeito ao pagamento Data venia, tenho ponto de vista
do impôsto o agricultor ou pecua- divergente. Adotei, em executivo
rista que haJa tido prejuízo. fiscal originário da mesma zona,
Se a tributação do gado de en- ou seja de Barretos, São Paulo,
gorda fôr feita tendo em conta ponto de vista que a Fazenda sus-
o preço de venda, estar-se-á con- tentou, entendendo que o valor
siderando não somente o valor pa- era exatamente o lucro decorrente
trimonial, mas também o lucro da diferença entre a compra do
bruto obtido pelo contribuinte, gado magro e a venda do gado
pois, para o invernista, o lucro gordo. Adoto, pois êste critério,
bruto é a diferença entre o preço apenas com uma correição que o
de compra e o de venda do gado, Min. Armando Rollemberg fêz,
abatidas as despesas necessárias à na ocasião, e que tem tôda proce-
engorda, as mortes, etc. dência: deduzidas as despesas de
manutenção do gado. Há uma
Portanto, se o critério legal se
verdadeira operação mercantil em
assenta no valor do patrimônio,
sua essência. Trata-se de uma
para efeito da estimação dêste o
compra para revenda posterior
preço a considerar deve ser o do
com lucro. Mas, deve ser deduzi-
gado magro, como decidiu a sen-
da a despesa de manutenção com
tença recorrida.
o gado, nesse período. De qual-
Sabemos perfeitamente que tal quer maneira, creio que é o único
interpretação enseja dificuldades critério possível. Admito que a
ao Fisco, pois é bem mais difícil transação não seja fácil compro-
controlar o preço real de compra var mas os fatos são certos. O que
do gado, adquirido de criadores não é fácil de comprovar são as
sem escrita, do que o de venda, despesas de manutenção. Mas o
feita a frigoríficos, onde o respec- Fisco poderá fixar um critério es-
tivo preço é registrado. tirrativo que corresponda à des-
A solução há de ser dada po- pesa com a manutenção do gado.
rém, pelo legislador, através a Minha conclusão, portanto, é
elaboração de normas adequadas, para dar provimento, em parte, a
que se impõem tanto mais quanto fim de que prevaleça êsse critério.
a atividade do invernista, em re-
gra, é não somente das mais ren- Voto
dosas, mas, também, das de con-
trôle mais difícil pela fiscalização. O Sr. Min. Godoy Ilha:: - Data
Enquanto, contudo, não fôr a ma- venia de V. Ex. a, acompanho o
téria disciplinada por outra forma, Relator, atendendo a que essa tem
frente à legislação vigente a solu- sido a orientação adotada pelo
ção há de ser a adotada pela sen- Tribunal, em numerosos julgados.
tença, isto é, a aceitação do valor
de compra do gado. Aditamento ao Voto
Assim, nego provimento aos re- O Sr. Min. Armando RoI1em-
cursos. berg: - Como fêz referência o Sr.
- 15-

Min. Oscar -Saraiva, em julga- ções. E é exatamente da dificul-


mento anterior, tive oportunidade dade de ser mantida escrita pelos
de acompanhar S. Ex.a e aceitar pecuaristas e agricultores que re-
como correto o critério esposado sultou a disposição legal que ad-
em seu voto. Entretanto, melhor mite a tributação com base no
exame da matéria levou-me à con- lucro presumido.
clusão já agora adotada, ao me
manifestar sôhre o presente pro- Decisão
cesso, por considerar que, incidin- Como consta da ata, a decisão
do a tributação sôbre lucro presu- foi a seguinte: Por maioria de
mido e a lei admitindo como tal o votos, negou-se provimento aos re-
valor do patrimônio, para se apli- cursos, vencido em parte, o Sr.
car o critério defendido pelo Sr. Min. Oscar Saraiva. O Sr. Min.
Min. Oscar Saraiva, seria ne.ces- Godoy Ilha votou com o Sr. Min.
sário que houvesse escrita na qual Relator. Presidiu o julgamento o
se pudesse comprovar as dedu- Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N.O 7.036 DF.


(Embargos)
Relator -- O Ex. mo Sr. Min. Márcio Ribeiro (Cândido Lôbo)
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Godoy Ilha
Embargante - Othon dos Santos Silva
Embargada - União Federal
Acórdão
Acumulação de cargos antes de 1937. Situação
do militar.
A Constituição de 1946, art. 24, das Disposições
Transitórias, resolveu a controvérsia, não só para
civis, como para militares.

Vistos, relatados e discutidos Amarílio Benjamin, Relator (art.


êstes autos de Apelação Cível n.O 81 do RI).
7.036, do Distrito Federal, em
que são partes as acima indica- Relatório
das:
Acordam os Juízes do Tribunal o Sr. Min. Márcio Ribeiro:
Federal de Recursos, em sessão Trata-se de saber se oficial do
plena, por maioria de votos, em Exército, que passou para a reser-
receber os embargos, na forma do va, por ter assumido cátedra dG
relatório, votos e resultado do jul- magistério superior, em estabele-
gamento de fls. 69v /85, que fi- cimento oficial, continua, após a
cam integrando o presente julga- Constituição de 1946, com o direi-
do. Custas de lei. to de perceber os seus proventos,
Brasília, 26 de agôsto de 1963. bem como fazer jus às promoções
- Henrique d'Avila., Presidente; na carreira de militar.
- 16-

Baseado no voto vencido do resguardando o direito à acumu-


Min. Amarílio Benjamin, Othon lação dos que foram obrigados a
dos Santos Silva opõe ao V Acór-
ó optar em razão da proibição da
dão de fls. 58 os embargos de fls. carta de 1937.
60/62, a fim de restabele.cer a O dispositivo, referindo-se ao
sentença de Primeira Instância Dec.-Iei n.O 24, de novembro de
(fls. 54: lê). 1937, abrangeu expressamente os
Os fundamentos da decisão re- militares.
corrida são os votos do Min. Os- O dispositivo constitucional
car Saraiva. da atual constituição aplicável à
A douta Subprocuradoria-Geral espécie, é, pois, na verdade, não o
manifesta-se pela manutenção da art. 182, mas o art. 141, § 3.°.
decisão recorrida. O embargante tem assegurado
É o relatório. o seu direito adquirido à acumu-
lação.
Voto Re.cebo, pois, os embargos, nos
têrmos do voto vencido do Sr.
o Sr. Min. Márcio Ribeiro: Min. Amarílio Benjamin.
Embora o embargante não o tives-
se dito expressamente, é certo que Voto (Vencido)
a situação de acumulação vinha
da Constituição de 1934, pois êle o Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr.
entrara para o Exército em 1921, Presidente, rejeito os embargos.
e fôra nomeado professor a 6 de Quero assinalar certas anoma-
agôsto de 1934. lias do processo.
A Constituição de 1934, art. Basta, Sr. Presidente, que se
164, -combinado com o art. 172, assinale que o autor foi transferi-
§ 1.0, permitia a acumulação com do para a reserva em 25-2-1938.
cargo de magistério, mesmo para Aceitou essa situação, e só em
o militar. 1954 é que veio postular promo-
A transferência do embargante ções e ,diferenças de proventos da
para a reserva se operou em vir- inatividade. Mas, Q. certo é que o
tude da Carta de 1937. Decreto que transferiu o autor para
O art. 24 das Disposições a inatividade fundou-se no que
Constitucionais Transitórias da dispunha o art. 160 da Carta de
Constituição de 1946, realmente 1937, que, tal qual o § 3.°, do
restaurou, para êle, aquela situa- art. 182, da Constituição vigente,
ção decorrente da Constituição estabelecia o seguinte: "Art. 160
de 1934. - A lei organizará o estatuto dos
Não parece possível à primeira militares de terra e mar, obede-
vista conferir, pela disposição cendo, entre outros, aos seguintes
transitória, mais do que o funcio- preceitos desde já em vigor:
nário teria direito pelo texto da a) será transferido para a re-
Constituição. Esta veda o recebi- serva todo militar que, em serviço
mento pelos dois cargos (art. 182, ativo das fôrças armadas, aceitar
§ 4.°). investidura eletiva ou qualquer
Entretanto o art. 24, na verda- cargo público permanente, estra-
de, criou uma situação especial nho à sua carreira;
17 -

b) as patentes e postos são ga- além de só alcançar os servidores


rantidos em tôda a plenitude aos civis, veio, apenas, restabelecer°
oficiais da ativa, da reserva e aos direito à acumulação de funções
reformados do Exército e da Ma- de magistério, técnicas ou cientÍ-
rinha; ficas, nos têrmos em que o estabe-
c) os títulos? postos e unifor- le.ce o supracitado art. 185.
mes das fôrças armadas, são priva- Ora, a situação do embargante
tivos dos militares de carreira, em está disciplinada pelo art. 182 e,
atividade, da reserva, Ou refor- mesmo que se queira invocar
mados. aquêle dispositivo constitucional,
Parágrafo único - O oficial das ainda assim não o favoreceria,
fôrças armadas, salvo o disposto desde que não implerrientadas as
no art. 172, § 2.°, só perderá o seu condições nêle estabelecidas. Te-
pôsto e patente por condenação nho cemo manifestamente impro-
passada em julgado, a pena res- cedente o pedido, apesar de ter
tritiva da liberdade por tempo su- sido acolhido, na Primeira Instân-
perior a dois anos, ou quando, por cia, por sentença do Sr. Min.
tribunal militar competente, fôr, Aguiar Dias, mas repelido pelo
nos casos definidos em lei, decla- Acórdão embargado, pelo voto do
rado indigno do oficialato ou com Sr. Min. Oscar Saraiva e do Sr.
êle incompatível. Min. Henrique d' Ávila.
A Constituição de 1946 estabe- Rejeito os embargos.
leceu a mesma regra, e, no § 5.°,
do art. 182, foi explícita ao esta- Voto
belecer: "Enquanto perceber re-
muneração de cargo permanente o Sr. Min. Oscar Saraiva: - Es-
ou temporário, não terá direito o tou de acôrdo com o Min. Revisor,
militar aos proventos do seu pôs- reportando-me ao voto que proferi
to, quer esteja em atividade, na na hipótese, e que serviu de mar-
reserva eu reformado". gem aos debates. Apenas desejo
Êsse dispositivo é expresso. acentuar que, na interpretação da
Aqui, a situação do autor deve ser Constituição, é preciso que se leve
examinada face à legislação mili- em conta que o art. 24, das Dis-
tar e aos dispositivos da Constitui- posições Transitórias, veio permi-
ção que lhes regulou a atividade. tir que aquêles que foram priva-
O art. 185 da Lei Maior proíbe dos de uma situação de acumula-
a acumulação de cargos, a não ser ção, mas que a Constituição de
que ocorram aquelas hipóteses 1946 voltou a admitir pudessem
que ali estão previstas: "Ê vedada convalescer essa situação que a
a acumulação de quaisquer cargos, Carta de 1937 vedava. O que não
ex;ceto a prevista no art. 96, n.O é possível é que se dê ao art. 24
I, e a de dois cargos de magistério do ato das Disposições Transitó-
ou a de um dêstes com outro téc- rias, primeiro, um entendimento
nico ou científico, contanto que extensivo a militares, a quem êle
haja correlação de matérias e não dirige e, segundo, contrário
compatibilidade de horários". ao texto expresso de preceito
O art. 24 do Ato das Disposi- constitucional permanente, que é
ções Constitucionais .Transitórias, o § 5.°, do art. 182.
- 18-

Não é possível, portanto, reno- voto está calcado: na Constitui-


var-se uma situação vedada, e que ção de 1934, em cujo regime o in-
continua vedada. Isto, realmente, teressado iniciou-se neSSe sistema
seria fazer grave violência ao tex- de acumulação; na Constituição
to constitucional e ao intuito do de 37, que vedou, em têrmos drás-
legislador constituinte. ticos e rigorosos, a acumulação, e
E note-se, Sr. Presidente, que o obrigou a desacumular, como
Os exemplos jurisprudenciais que está ressaltado no decreto que o
eu trouxe ao debate, o próprio e transferiu para a reserva; e, por
eminente saudoso Mino Artur Ma- fim, na Constituição de 46. O que
rinho parece que se retratou por- fêz a Constituição de 46? A Cons-
que, posteriormente, seguiu o voto tituição de 46 disciplinou a ma-
do Min. Alfredo Bernardes, em téria no texto permanente, quer
decisão do plenário no Tribunal. para civis, quer para os militares.
Era o que desejava apenas aditar Mas no art. 24 do Ato das Dis-
ao voto que proferi, e a .cujos têr- posições Transitórias, estabeleceu
mos me reporto. uma exceção relativa a seus pró-
prios textos. Visou ainda a restau-
Voto rar a situação daqueles que, ante-
riormente, gozavam do direito que,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: no texto permanente dela, Consti-
- Srs. Ministros, nas questões tuição, era de modo geral proibi-
de que participo no Tribunal, do. :Êsse dispositivo, tanto excep-
principalmente naquelas em que ciona o tratamento para civis,
tenho oportunidade de ler os au- como para militares. :Êsse é um
tos, os votos que produzo, mesmo argumento sério, data venia do Sr.
com a simplicidade dos meus co- Min. Godoy Ilha. Aqui está -
nhecimentos, são, na verdade, um nem o Sr. Min. Godoy Ilha, nem
convite aos meus eminentes Cole- o Sr. Min. Oscar Saraiva, nem
gas para que, no estudo da causa, qualquer Ministro da Casa poderá
pesem .se o voto contém isto, ou contraditar, porque é letra ex-
aquilo, em matéria de direito. pressa: "Art. 24. Os funcionários
Ora, êste voto que aqui está, ape- que conforme a legislação então
sar da veemência do Min. Revi- vigente, acumulavam funções de
sor, não foi por S. Ex. a contradi- magistério, técnicas ou científicas
tado. Aqui alinho argumentos; e que, pela desacumulação orde-
então, não se pode contraditar ar- nada pela Carta de 10 de novem-
gumentos com pontos de vista,
bro de 1937 e Dec.-Iei n.o 24, de
sem dúvida respeitáveis, mas, evi-
dentemente, pessoais. 29 de novembro do mesmo ano,
Entendo que tôda a argumen- perderam cargo efetivo, são nêles
tação de S. Ex. a conduz, como considerados em disponibilidade
disse, a uma conclusão merecedo- remunerada até que sejam reapro-
ra de .consideração. Sob certa veitados, sem direito aos venci-
aparência, defendem a uniformi- mentos anteriores à data da pro-
dade do tratamento, e a chamada mulgação dêste ato".
"moralidade da Administração". Então, dissemos nós, o art. 24
Mas, de qualquer forma, o meu do Ato das Disposições Constitu-
19 -

cionais Transitórias abrange CIVIS Ora, na base dessas premissas,


e militares. Essa afirmação ... tive eu que aplicar o direito ao
O St:; Min. Godoy Ilha': - Data caso dos autos.
venia, não. Senhores: passei, realmente, na
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: vida pública, por outras situações;
- Essa afirmação é incontraditá- mas na verdade comecei minha
vel, porque aqui está: o Dec.-lei vida como Juiz, e é possível que
n.o 24, invocado, trata de milita- êsse início de vida tenha marcado
res. a maneira como peso as contro-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - A vérsias para chegar a uma conclu-
lei se refere a funcionários. Quan- são. Tenho pretensão algo vai-
do quer abranger as duas catego- dosa: se me deixarem sàzinho, jul-
rias de servidores, menciona am- gando isto ou aquilo, poderei não
bas. dar decisão brilhante, mas, com
certeza, chegarei a uma -solução
O Sr. Min. Oscar SéNaiva: -
compatível, justa, porque ...
V. Ex. a permite que eu dê uma
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Justa
contradita muito ligeira, com os
no entendimento de V. Ex. a, e
meus agradecimentos? A Consti-
V. Ex. a não pode pretender que
tuição veio restabelecer aquilo que
meu voto constitua uma injustiça.
passou a permitir e não o que con-
Dou uma solução que se me afigu-
tinuou a proibir. Nada mais.
ra lógica em face do regime insti-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: tuído pela própria Constituição
- É um argumento que sàmente de 1946.
alguém como V. Ex. a , homem in- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
teligente, seria capaz de trazer. - Dizia eu: posso não dar uma
Mas não é isso que está aqui. O decisão brilhante, mas esforço-me
que se vê é uma exceção ampla para chegar a uma decisão com-
de tratamento para civis e milita- patível com a controvérsia, justa
res, relativamente a direitos de em face do direito e lógica pelos
que alguns já estavam em gôzo argumentos que desenvolvo.
e que a Constituição proibiu. O Aqui está - esta conclusão é
Decreto-lei ... absolutamente compatível, justa e
O Sr. Min. Godoy Ilha: - En- lógica; dizia eu: "Em face do ex-
tão a Constituição permite que se posto, a solução legal e compreen-
continue a infringi-la, porque o sível, para o pleiteante, seria o seu
art. 185, mesmo que destinado retôrno à atividade militar, com
aos civis, é expresso em proibir acumulação do cargo de profes-
a,cumulação remunerada, a não sor, como estava antes de 1937,
ser nos casos que enumera. e foi autorizado pela Carta de
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: 1946. Entretanto ...
- O Dec.-Iei n.O 24, de 1937, é O Sr. Min. Godoy Ilha: - Per-
que traz os militares para essa dão. Aí é que vai a minha diver-
disciplina, porque trata dos mes- gência. É que me fixo na regra
mos. Então, não há razão para do art. 185, que restabeleceu o
dizer que o dispositivo· só abran- regime da proibição da acumula-
ge os civis. Refere-se a civis e ção remunerada. 1tsse art. 185
militares. só permite acumulação naqueles
- 20-

dois casos que prefigura, nos quais foi? Foi essa. Sua promoção será
não se enquadra o autor, que exer- atualizada. Foi o que mandei fa-
cia função estranha, inteiramente zer contando-se a reserva, com as
estranha à atividade militar. Se devidas conseqüências, como defi-
êle exercesse um cargo de magis- nitiva, a partir da mesma data.
tério conexo com a sua condição Não estou dizendo que só as
de militar, perfeito. Na hipótese, minhas palavras sejam a verdade
não. . juridica. Também procuro aten-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: der à ponderação, ou intuito o que
- Agradeço ainda uma vez as é certo. Aqui está: "Nenhum ven-
objeções com as quais está-me cimento será pago com relação a
honrando nos seus sucessivos tempo anterior ao qüinqüênio ven-
apartes o Sr. Min. Godoy Ilha. cido na propositura da ação". Te-
Embora divergente, o ponto de nho para mim que a decisão é
vista de S. Ex. a revela a atenção compatível com a controvérsia,
,com que me escuta. Sou muito justa em têrmos de direito e ló-
grato. gica de acôrdo com os argumentos
Prossigo na apreciação do voto que nela desenvolvi.
que produzi na apelação. Como Estou recebendo os embargos,
consta de fls. 25, das informações Sr. Presidente.
do Sr. Ministro da Guerra, o inte-
ressado já ultrapassou a idade li- Voto
mite para reverter. Tive, aí, como
certo, que êle continuaria na re- o Sr. Min. Armando Rollem-
serva, mas não podia deixar de, berg: - Sr. Presidente, confesso
como o direito lhe assistia, com- que fiquei um tanto perplexo fren-
por a fórmula do julgamento. E te à discussão que se vem ferindo
fiz assim. Daí não aceitei a sen- sôbre a matéria em exame. Efeti-
tença inteiramente. Está aqui: vamente entendo que, como foi
"Daí ser absolutamente jurídica a afirmado pelo eminente Relator, o
conversão do direito ao pôsto em funcionário em causa teria sido
pagamento dos vencimentos cor- levado a desacumular pelo Dec.-
respondentes, sem prejuízo do -lei n.o 24.
exercício e vantagens das funções O Sr. Min. Godoy Ilha: -
civis" . V. Ex. a permite um esc1are,ci-
Não pode ficar mais acumulan- menta? Nisso consiste todo o
do as duas. Mando pagar os ven- equívoco em que laboram os votos
cimentos a que teria direito, ao até aqui proferidos pelo Relator
mesmo tempo que a percepção das e Min. Amarílio Benjamin. O au-
vantagens dos cargos civis, asse- tor não foi obrigado a desacumu-
gurando-lhe também a promoção lar em face da proibição da acu-
que lhe cabia na atividade. Por mulação estabelecida pela Carta
que fiz assim? Porque se êle teria de 1937, e sabemos que essa Carta
que ser restaurado na forma do foi radical no tocante a proibir
art. 24, não podia sofrer lesão no todo e qualquer gênero de acu-
direito de promoção, que compu- mulação. O autor foi transferido
nha o seu status até a data em que para a reserva em face de dispo-
atingiu a idade limite. Que data sitivo do estatuto dos militares,
- 21-

e do próprio art. 160 daquela riam ser gozados integralmente,


Carta. É que o militar, que acei- no caso do militar enfrentaria obs-
tar cargo civil estranho à sua car- táculo no art. 182, § 5.°, da Cons-
reira, será transferido para a re- tituição. Entretanto, parece-me
serva. E no parágrafo subseqüen- que a solução aventada pelo Min.
te preíbe a acumulação dos pro- Amarílio Benjamin concilia efeti-
ventos do pôsto da inatividade vamente fi situação pois, passan-
com os do cargo que exer,ce. do êle a exercer o cargo de ma-
O Sr. Min. Armando Rollem- gistério, nem por isso deixa de ser
berg: -- Se não entendi mal, o Sr. militar. Ficaria sem as remune-
Min. Relator teria informado que rações durante aquêle período,
° funcionário em causa seria obri- mas teria direito a tôdas as outras
gado a desacumular em decorrên- vantagens.
cia do Dec.-lei n.o 24, de 29 de no- Acompanho o Min. Amarílio
vembro de 1937. Data venia, en- Benjamin.
tendo que o embargante está
Voto
abrangido pelo art. 24 das Dispo-
Slçoes Constitucionais Transitó- O Sr. Min. Raimundo Macedo:
rias de 1946. Considero irrelevan- - O art. 24 do Ato das Disposi-
te distinguir entre funcionário ci- ções Constitucionais Transitórias,
vil e militar, inclusive porque a por sua natureza, é uma exceção
acumulação se dará entre o cargo à regra contida no texto perma-
de militar e o de magistério. Se nente da Constituição.
ali não estiver atingido o militar, O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
estará, sem dúvida, o professor. Peço licença a V. Ex. a para ob-
Julgo que tem razão o nobre servar que não se trata de exceção
Min. Amarílio Benjamin quando contrária a um preceito da Cons-
chega à solução por êle apontada. tituição.
À primeira vista pareceu-me que Trata-se de um dispositivo que
vindo a ser abrangido pelo art. visa a restabelecer situações to-
24 referido, e, conseqüentemente, lhidas pelo regime constitucional
ficando em disponibilidade remu- anterior. Mas, restabelecer o que
nerada, nos têrmos daquele dispo- é compatível com a Constituição,
sitivo, até que fôsse reaproveita- aquilo que a Constituição veio
do, sem direito aos vencimentos permitir novamente aos funcioná-
anteriores à data da promulgação rios civis.
dêste ato, ficaria o embargante A Constituição, no dispositivo
impedido de se beneficiar do ar- transitório, permitiu que se re-
tigo, porque no mesmo ato em que constituíssem os funcionários civis
fôsse posto em disponibilidade nos direitos que perderam, mas
êle, de acôrdo com o art. 182, não veio permitir que se restabe-
§ 5.°, da Constituição, ficaria, de lecessem situações vedadas e que
seu lado, incapacitado de poder a Constituição continuava a vedar.
receber as duas remunerações. Esta é a minha hermenêutica,
De modo que, aquêles benefí- que peço licença para intercalar
cios dados no art. 24 das Disposi- na exposição de V. Ex. a .
ções Constitucionais Transitórias, O Sr. Min. Raimundo Macedo:
que para o funcionário civil pode- - Data venia de V. Ex. a, se fôsse
- 22

êsse o entendimento do legislador Aqui está o art. 24 da Cons-


constituinte, ao invés de fazer êle tituiçã,o, no dispositivo constitu-
menção aos beneficiários de legis- cional transitório.
lação então vigente faria aos que O Sr. Min. Raimundo Macooo:
tiveram os seus direitos restabele- - O art. 24 restaura a situação
cidos pela Constituição de 1946. vigente da Constituição de 34.
O Sr. Min. Oscar Sarai.va: - E Recebo os embargos.
mais, a Constituição tem dois
capítulos: um referente a funcio- Decisão
nários civis, outro referente a mi-
litares, como que a significar que Como consta da ata, a decisão
não os engloba sob a mesma gê- foi a seguinte: Por maioria de vo-
nese. tos, foram recebidos os embargos,
O Sr. Min. Raimundo Macêdo: vencidos os Srs. Mins. Revisor e
- Como bem assinalaram o Sr. Oscar Saraiva. O Sr. Min. Oscar
Min. Amarílio Benjamin e o Sr. Saraiva votou com o Sr. Min. Re-
Min. Armando Rollemberg, o art. visor; e os Srs. Mins'o Amarílio
24 faz referência ao Dec.-Iei n.o Benjamin, Armando Rollemberg
24/1937, que trata não só dos fun- e Raimundo Macêdo (Aguiar
cionários civis, como dos milita- Dias) acompanharam o Sr. Mino
res. Os militares estão compreen- Relator. Não tomou parte no jul-
didos por fôrça do Dec.-Iei n. O 24. gamento o Sr. Min. Cândido Lô-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: bo o Não compareceu, por motivo
- Aqui estamos para isso, de justificado, o Sr. Min. Djalma da
modo que é um prazer para mim, Cunha Mello. Presidiu o julga-
honrado pela permissão de V. mento o Sr. Min. Henrique
Ex. a, voltar novamente ao debate. d'Ávilao

APELAÇÃO CíVEL N.O 13.910 - SP.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Apelante - Cia. Geral de Motores do Brasil
Apelada - Fazenda Nacional

Acórdão
Impôsto do sêlo. A adoção da cláusula de} cre-
dere gera garantia que sujeita o contrato de consig-
nação ao tributo.

Vistos, relatados e discutidos Acorda, por unanimidade, a Se-


êstes autos de Apelação Cível no o gunda Turma julgadora do Tribu-
13 . 910, do Estado de São Paulo, nal Federal de Recursos, em ne-
apelante Cia o Geral de Motores gar provimento, conforme consta
do Brasil e apelada Fazenda Na- das notas taquigráficas anexas,
cional: as quais, com °
Relatório, ficam
- 23-

fazendo parte integrante dêste jul- ria", para a qual a Lei do Sêlo não
gado, apurado nos têrmos de fô- impôs o gravame do impôsto;
lhas 109. Custas ex lege. e) A obrigação nascida do deI
Tribunal Federal de Recursos, credere vinculando o comissário
Distrito Federal, 28 de outubro de ao pagamento do comitente, com
1964. - Djalma. da Cunha Mel- relação ao preço dos produtos
1o, Presidente; Armando Rollem- vendidos, e obrigação autônoma,
berg, Relator. principal e direta, ao invés da
obrigação adjeta e acessória, pe-
Relatório culiar aos casos de garantia;
f) A Lei do Sêlo, diploma fis-
o Sr. Min. Armando Rollem- cal e de ordem tributária, não
berg: - A Companhia Geral de comporta aplicação que não a
Motores do Brasil e a Companhia striti juris, com a clara e formal
Brasileira de Maquinaria propu- previsão do fato ou ato e a corres-
seram ação ordinária contra a pondente incidência no tributo
União, para anular acórdãos do em manifesta dissonância com a
Primeiro Conselho de Contribuin- condenação imposta pelas decisões
tes, que julgaram devido o impôs- anuladas, divorciadas de todos os
to do sêlo de que trata o art. 83 preceitos de direito hermenêutico;
da Tabela anexa ao Dec.-lei 4.655, g) A própria co-responsabili-
de 3 de setembro de 1942, sôbre dade solidária gerada pela cláusu-
notas de consignação das quais la de! credere, como sua própria
consta a cláusula deI credere. e única virtualidade jurídica, por
fôrça de cuja cláusula o comissá-
Sustentam ser incabível a apli-
rio responde perante o comitente
cação da referida disposição de
pelo preço do produto vendido,
lei fiscal, porque: "a) Não existe,
sàmente após a colocação desta
na Lei do Sêlo, dispositivo que
é que se faz realidade, para poder
submeta a figura da Consignação,
suportar o gravame do sêlo, dado
com ou sem cláusula deI credere,
que procedesse a incidência pre-
ao impôsto do sêlo;
tendida, circunstância essa da qual
b) Uma tal incidência seria não se cogitou neste processo, pois
mesmo impossível já que, nas que nenhuma prova se fêz da ven-
operações de consignação, a cláu- da ou colocação dos produtos da
sula deI credere é impossível e General Motors do Brasil, aos res-
inoperante; pectivos compradores".
c) As Notas de Consignação, A ação foi contestada pela
embora com a cláusula deI credere União, que alegou: a) ao Fisco
"não contêm caução" ou garantia, não interessa discutir qual a na-
para ficarem sujeitas ao paga- tureza do contrato, e sim a exis-
mento do referido impôsto; tência de garantia, indiscutível
d) Além disso, como é de ma- desde que do documento consta
nifesta evidência, o deI credere a cláusula deZ credere;
não envolve, não cria nem esta- b) ser a consignação modali-
belece garantia de qualquer or- dade de comissão, à qual se aplica
dem, "gerando apenas uma situa- em conseqüência a aludida cláu-
ção de co-responsabilidade solidá- sula.
- 24-

Instruído o feito com peças do rantias tributadas pela Lei do


prccesso administrativo, e após Sêlo.
processamento regular, foi a ação De outro ângulo, ao que tenho,
julgada improcedente, por senten- para a autuação é suficiente a
ça ,cuja parte decisória é a segu:n- apreensão de algumas e a indica-
te: "As suplicantes não exibiram ção das demais notas fiscais, ca-
os contratos fixadores dos direitos bendo às autuadas evidenciarem o
e entre elas e a firma pretendido desacêrto da Fazenda
tida como consignatária. Assim, Pública exibindo os ,comprovantes
na falta de melhores esclarecimen- em seu poder; se não o fizeram.
tos para poder-se concluir pela na- não há porque desprezar a autua-
tureza de tais contratos, e sendo ção que se presume regular ~
inegável a existência da cláusula exata" .
de! credere, inafastável se mostra
Inconformadas, apelaram as au-
a incidência do impôsto reclama-
toras, reiterando os argumentos
do pelo Fisco.
da inicial; houve contra-razões e,
É que, conforme bem demons-
nesta Instância, opinou a douta
trou a ré, servindo-se das lições de
Subprocuradoria-Gera1 pela con-
Carvalho de Mendonça, Thaller,
firmação da sentença.
Vivante, o deI credere é o proces-
É o relatório.
so clássico de garantia do crédito
comercial, é uma garantia pessoal,
Voto
"e não é somente o comissário
que o contrata" (Carvalho de
Mendonça, Tratado de Direito Co-
o Sr. Min. Armando Rollem-
berg: - O Decreto-lei 4.655, de
mercial Brasileiro, voI. VI, 2.a par-
3-9-42, no art. 83 da Tabela, su-
te, pág. 553).
jeita a sêlo proporcional papéis
Assim, pouco importa o nome
não especificados, em que houver
que se queira dar ao contrato, por-
caução ou outra garantia.
quanto, a adoção da cláusula deI
credere logo evidencia a existência Entendeu o Fisco que, tendo
de uma garantia, um verdadeiro sido emitidas notas de consigna-
pacto que garante "não somente a ção com a cláusula deI credel'e, es-
insolvência, mas também o paga- tavam as mesmas sujeitas ao tri-
mento" (Carvalho de Mendonça, buto, e o entendeu acertadamente.
oh. cit., pág. 310). Se, como estabelece o art. 179
Portanto, o mero estabele.cimen- do Código Comercial, "a comissão
to da cláusula de! credere faz ver deI credere constitui o comissário
que se cuida de negócio entre três garante solidário ao comitente da
pessoas: o dono do mercadoria, o solvabilidade e pontualidade da-
intermediário e o comprador, tor- queles com quem tratar por conta
nando o intermediário, garante da dêste", mais não seria preciso exa-
obrigação do comprador. Desva- minar para concluir que tal con-
le, assim, qualquer argumento res- venção é realmente garantia.
peitante ao nome dado ao contra- Alegam os apelantes que tal
to, vez que sobreleva a existência convenção, sendo específica do
da referida dáusula demonstran- contrato de comissão, não teria
do a fixação de uma daquelas ga- aplicação no ,caso de consignação,
- 25-

quando a responsabilidade decor- do contrato, que não foi exibido


rente é do consignatário para com pelas autoras.
o consignante, não se estabelecen- Acertadamente, portanto, andou
do qualquer relação jurídica entre o MM. Juiz a quo, quando julgou
êste e o comprador da mercadoria. improcedente a ação.
Entendemos que o argumento Nego provimento ao recurso.
há de ser invertido. Se num con-
trato de consignação foi introduzi- Decisão
da a referida convenção, decorre Como consta da ata, a decisão
de tal fato, sem dúvida, como foi a seguinte: Negou-se provi-
acentuou a sentença, a conclusão mento. Decisão unânime. Os Srs.
de que o aludido contrato fôra Mins. Djalma da Cunha Mello
desfigurado, e que o negócio efe- e Godoy Ilha votaram com o Sr.
tivamente se fizera entre três pes- Min. Relator. Presidiu o julga-
soas, conclusão que somente pode- mento o Sr. Min. Djalma da
ria ser afastada através do exame Cunha Mel1o.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 13.992 GB.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Márcio Ribeiro
Apelante - Cia. Comércio e Navegação
Apelada - União Federal

Acórdão
Decisão proferida em processo de mandado de
segurança. Produz ,coisa julgada se tiver apreciado
o mérito. Não é a eadem actio senão a eadem ques-
tio o que constitui coisa julgada.

Vistos, relatados e discutidos Relatório


êstes autos de Apelação Cível
n. o 13.992, da Guanabara, em o Sr. Min. Djalma da Cunha
que são partes as acima indi- M e11o: - A Cia. Comércio e N a-
cadas: vegação propôs uma ação de repe-
Acorda a Segunda Turma do tição de indébito contra a União
Tribunal Federal de Recursos, por Federal.
maioria de votos, em negar provi- O Juiz julgou-a carecedora de
mento, tudo .conforme consta do ação, nos têrmos seguintes e cons-
relatório, voto e resultado de jul- tantes da sentença de fls. 67/8:
gamento de fls. retro, que ficam "Confessa a autora na inicial que
fazendo parte integrante do pre- impetrou, perante o Juízo da 2.a
sente julgado. Custas de lei. Vara da Fazenda Pública, man-
Brasília, 4 de outubro de 1963. dado de segurança, objetivando a
- Djalma da Cunha Mello, Pre- exclusão do pagamento da majo-
sidente e Relator. ração da taxa, cuja sentença con-

3 - 35883
- 26-

cessiva foi reformada por decisão A Subprocuradoria-Geral opi.


do Egrégio Tribunal Federal de nou a fls. 80 no sentido do pro-
Recursos, que transitou em julga- vimento,
do. Verifica-se, destarte, que a É o relatório.
controvérsia em tôrno da legali.
dade ou ilegalidade do pagamento Voto
já foi objeto da apreciação judi-
cial, ,com trânsito em julgado. A o Sr. Min. Dja.lma. da Cunha
ação não pode prosperar. De fei- Mello: - Decidiu o Tribunal Fe-
to, são condições da ação: a legi- deral de Recursos, no Agravo de
timação para causa, a possibilida- Petição em Mandado de Segu-
de jurídica, o interêsse processual rança n. o 10. 941: ''Decisão (jul-
e a ausência de fatos impeditivos gamento do Tribunal Pleno em
ou extintivos da ação. Entre ês- 2-6-55): Como consta da ata, a
tes encontra-se a coisa julgada. decisão foi a seguinte: Por una-
Não se diga que a sentença profe- nimidade de votos, negou-se pro-
rida em mandado de segurança vimento a ambos os recursos. Os
não faz coisa julgada. Em verda- Srs . Mins. Artur Marinho, El-
de, desde que a segurança seja ne- mano Cruz, Mourão Russel,
gada após o conhecimento do mé- Aguiar Dias, Cunha Vasconcellos
rito, a sentença proferida na ação e Djalma da Cunha Mello vota-
mandamental produz eficácia de ram de acôrdo com o Sr. Min.
coisa julgada e impede, por isso Relator. Não compareceu, por
mesmo, o reexame da questão por motivo justificado, o Sr. Min.
qualquer outro tipo de ação. O João José de Queiroz. Presidiu
dispositivo contido na Lei 1. 533, o julgamento o Sr. Min. Henri-
de 1951, segundo a qual a dene- que d' Ávila" .
gação da segurança não impedirá Não obstante êsse exame e de-
o recurso na via ordinária, há de cisão de mérito, vem agora a au-
ser entendido em têrmos hábeis, tora, nas vias ordinárias, pleitear
isto é, quando a denegação fôr de- as mesmas coisas. Para mim, há
corrência do entendimento de que coisa julgada no referente. O Sr.
a via mandamental é imprópria. Min. Castro Nunes, no seu livro
Nestas condições, e considerando clássico sôbre mandado de segu-
o mais que dos autos consta, julgo rança, assevera, com invocação de
Acórdão do Supremo Tribunal,
a autora carecedora da ação, con-
que quando a decisão do mérito
denando-a ao pagamento das
se funda em razões de natureza
custas" . peremptória, adquire fôrça de
Agravo de petição da autora, coisa julgada, obsta a renova-
com a minuta de fls. 70/4. ção do pedido, acrescentando, já
A Procuradoria da República aí com base em Chiovenda, que
ofereceu a contraminuta de fls. não depende da natureza ou for-
75v. ma de processo a eficácia da coisa
O Juiz entendeu que o recurso julgada. Não é a eadem actio,
era de apelação e, estando arra- mas a eadem cuestio que constitui
zoado e contra-arrazoado, mandou coisa julgada. Nego, pelo exposto,
subir. provimento à apelação.
- 27-

Voto (Vencido) rio organizado, entendeu-se que a


mesma questão devesse ser sub-
o Sr. Mino llllárcio Ribeiro: metida já, não apenas ao mesmo
De acôrdo com o disposto no art. tribunal, mas a tribunais inferio-
15 da Lei n.o 1.533, não havia res, o que constituiria uma resci-
"coisa julgada" na espécie. sória anômala, em que o Juiz de
Dou provimento para que o Primeira Instância iria rescindir
se pronuncie sóbre o mérito. aquilo que decidiu a Instância Su-
perior.
Voto Julgo que seria, realmente, dar
O Sr. Min. Oscar Saraiva: - um entendimento extravagante ao
Sr. Presidente, já por diversas vê- sistema processual em vigor.
zes tenho manifestado ponto de Estou, assim, de acôrdo com o
vista semelhante ao de V. Ex. a . Sr. Min. Relator.
Entendo que o preceito da lei
há que ser aplicado em têrmos, e Decisão
se destina aos casos em que o des- Como consta da ata, a decisão
fêcho da segurança não dirime a foi a seguinte: Por maioria de vo-
questão, ou não a dirime de modo tos, negou-se provimento, vencido
peremptório, como disse o saudo- o Sr. Min. Márcio Ribeiro. O
so e eminente Min. Castro Nu- Sr . Min . Oscar Saraiva votou
nes. com o Sr. Min. Relator. Presi-
Porque realmente seria uma diu o julgamento o Sr. Min.
superfetação, em sistema judiciá- Djalma da Cunha Mello.

APELAÇÃO CíVEL N.O 14.892 SC.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Revisor - O Ex. mo Sr. Márcio Ribeiro
Recorrente - Juiz da Fazenda da Comarca de Florianópolis
Apelante - IAPETC
Apelado - Adil Rebelo
Acórdão
Servidor público. Afastado do cargo de caráter
permanente e de provimento em comissão, deve
continuar com os mesmos vencimentos até que o apro-
veitem em outro 'equivalente, sempre que o tiver
exercido por mais de dez anos ininterruptos. Equi-
valência entre cargo de chefia e função gratificada
de chefia, inda mais quando se vê que a investidura
restou com as mesmas atribuições e responsabilidades.

Vistos, relatados e discutidos Acorda a Segunda Turma do


êstes autos de Apelação Cível Tribunal Federal de Recursos,
n,o 14.892, de Santa Catarina, por maioria, em negar provimen-
em que são partes as acima to, tudo conforme consta do rela-
indicadas: tório, voto e resultado de julga-
- 28 --

menta de fls. retro, que ficam fa- reconhecimento, em decorrência


zendo parte integrante do presen- de decisão judicial, do direito co
te julgado. Custas de lei. Contador Salomão Ramos Soares,
Brasília, 27 de setembro de em situação correspondente à do
1963. - Djalma da Cunha Mel- autor e parecer do Sr. Consultor-
lo, Presidente e Relator. Geral da República, aprovado pe-
lo Sr. Presidente da República,
Relatório reconhecendo a aplicação aos ser-
vidores das Autarquias Federais
o Sr. Min. Djalma da Cunha do disposto no art. 1.0, da Lei
Mello: - Trata-se de ação comi- n. o 1.741, de 22 de novembro de
natória proposta por servidor do 1952.
IAPETC, requestando os favores Contestando o pedido, alega o
da Lei 1. 741, art. 1.0. Foi julga- réu, como preliminares, a incom-
da procedente nos têrmos da sen- petência do fôro, por ser da com-
tença seguinte e constante de fls. petência do seu Presidente, con-
83/5: "Vistos, etc. Adil Rebelo forme dispõe o art. 37, item IV,
propôs, contra o Instituto de Apo- do respectivo Regulamento, con-
sentadoria e Pensões dos Empre- ceder vantagens aos seus servido-
gados em Transporte e Cargas, a res, ressalvando que o Presidente,
presente ação cominatória, com o pelo art. 38, pode delegar .com-
fim de lhe serem assegurados os petência para os Chefes de Órgãos
benefícios da Lei n. 1.741, de 22 Centrais e locais, embora não para
de novembro de 1952, a partir da atos da natureza de que trata a
data em que foi dispensado do presente ação, e alega também a
cargo em comlssao de Delegado impertinência da ação, por não
Regional no Estado de Santa Ca- ter o autor direito ao que pleiteia,
tarina. uma vez que, na esfera adminis-
Instrui a inicial com diversos trativa, foi seu pedido indeferido,
documentos, entre os quais uma com base em parecer do Serviço
.certidão fornecida pelo réu pro- Administrativo do Serviço Públi-
vando o exercício, pelo autor, de co. No mérito, alega não ter o
cargos em comissão de 24 de autor o direito que pleiteia, por
junho de 1942 a 31 de dezembro t~r sido interrompido o período
de 1955, com a interrupção de 1 decenal, em setembro de 1949,
a 18 de outubro de 1954 decor- quando o cargo em comissão que
rente da dispensa e recondução no vinha exercendo foi transformado
cargo de Delegado Regional e ter em função gratificada e nela re-
sido elogiado por serviços presta- conduzido o autor.
dos, aprovado em 1.0 lugar no Es- Instrui a contestação com có-
tado, em 11.° em todo o País, no pia da Portaria n. o 16.933, de 6
concurso para ingresso na carreira de setembro de 1949, relativa à
de Oficial Administrativo, e terem recondução alegada e uma trans-
sido por merecimento tôdas as crição de A.córdão do Tribunal
promoções, a partir da classe "G" Federal de Recursos, no Agravo
de Escriturário. Juntou também de Mandado de Segurança n.o
Boletins de Serviço da Adminis- 2 . 580, do Rio Grande do Sul, no
tração Central do réu, provando o qual foi julgado que a competên-
- 29-

cia para decidir sôbre mandado de e não ter o réu destruído as ale-
segurança contra Presidente do gações do autor, como bem salien-
Instituto. é do Juiz da Fazenda tou o parecer do Dr. Procurador
Pública do Distrito Federal. Regional da República. Com a
A União, pelo Sr. Procurador palavra, o advogado do réu pediu
da República, intervindo no feito, fôsse a ação julgada improceden-
como assistente, por ser o réu uma te, de acôrdo com o alegado na
autarquia federal, opinou fôsse a contestação, e por haver provado,
ação julgada procedente, por es- com documentos, que o autor não
tar o autor em situação idêntica cumpriu o interstício legal para
à de outros "já amparados por de- obter o direito que pleiteia. O Sr.
cisão do Excelentíssimo Senhor Procurador da República reiterou
Presidente da República ou de res- o seu pronunciamento de fôlhas
peitáveis arestos do Judiciário, já 43 a 45, quando oficiou sustentan-
unanimemente consagrados pelo do o ponto de vista da adminis-
Egrégio Tribunal Federal de Re- tração.
cursos" . Isto pôsto, passo a decidir.
Completando a instrução do Tratam os autos de ação ,comi-
pedido, o autor juntou diversos natória, com fundamento no art.
documentos - portarias e boletins 302, n. o XII, do Código de Proces-
de pessoal do réu - para provar so Civil, promovida por Adil Re-
que as Delegacias do Ceará e San- belo contra o Instituto de Aposen-
ta Catarina foram reestruturadas tadoria e Pensões dos Emprega-
pelas Portarias n.O S 15.220 e dos em Transportes e Cargas, para
15.222, de 20 de abril de 1949, e o fim de lhe serem assegurados os
que o cargo exercido pelo Contador benefícios da Lei n,o 1. 741, de
Salomão Ramos Soares - Chefe 22 de novembro de 1952.
da Divisão de Benefícios da Dele- No decorrer da ação o autor
gacia do Ceará, e no qual foi pela provou o exercício de cargo em
Portaria n. O 15.267, de 28 de abril comissão por mais de dez anos, e
de 1949, corresponde ao que o au- a correspondência de sua situação
tor exercia - Chefe da Divisão com a de seu colega, o Contador
de Administração da Delegacia de Salomão Ramos Soares, cujo di-
Santa Catarina, na qual foi recon- reito ao que o autor pleiteia foi
duzido pela Portaria n. o 16.933, reconhecido pelo réu, em decor-
de 6 de setembro de 1949. rência de decisão judicial.
O despacho saneador transitou O Sr. Procurador da Repúbli-
em julgado. ca, oficiando no feito, pronunciou-
Realizada a audiência de instru- -se pela procedência da ação.
ção e julgamento, e não havendo A exceção de incompetência de
provas a produzir, foram fixados fôro não procede. A jurisprudên-
os pontos para o debate. O pro- cia invocada alude a mandado de
curador do autor pediu fôsse re- segurança, processo de natureza
jeitada a exceção de incompetên- diferente dêste. Conforme dispõe
cia oposta pelo réu e, no mérito, o art. 143, do Código do Processo
fôsse a ação julgada procedente, Civil, nas ações contra a União, o
por haver o autor provado a pro- fôro competente é o da Capital
cedência do direito que pleiteia, onde o autor tem domicílio. Para
- 30-

as autarquias federais o princípio res, ocasionando, destarte, a in-


é o mesmo. No caso especial do competência do fôro;
réu, o seu Presidente, no uso. da 2) :Matéria comum mas pouco
faculdade que lhe confere o art. versada em Direito Administrati-
38, do Regulamento, delegou com- vo é a que se refere à configura-
petência ao Delegado Regional ção jurídica das delegações de
para receber citação como atribuições pelas autoridades bu-
se vê do documento de fls. 15. rocráticas.
Igualmente improcede a preli- Hélio Fernandes Pinheiro, in
minar de impertinência da ação, Revista de Direito Administrativo,
pois precisamente porque o direito vol. 54, pág. 505, ano de 1958,
do autor não foi reconhecido na com muita probidade estuda o as-
esfera administrativa, teve êle ne- sunto e doutrina que: "O aparen-
cessidade de bater às portas da te raquitismo do tema transfor-
Justiça. ma-se e se robustece diante de
No mérito, a razão está com o questões concretas, criando, não
autor, que provou a legitimidade raramente, dúvidas e sérios emba-
do seu direito, o preenchimento raços, na prática. Êstes aponta-
dos requisitos legais e a igualdade mentos não têm o objetivo de
de condições com outro colega abraçar copiosas hipóteses, nem
cujo direito já foi judicialmente de profetizar solução para todos
reconhecido. os casos que possam surgir, mas,
Pelo exposto, julgo procedente sim, de insinuar cautelas adequa-
a ação, para condenar o Instituto das apenas para os mais encontra-
de Aposentadoria e Pensões dos diços.
Empregados em Transportes e Delegação administrativa ocor-
Cargas a pagar ao autor, Adil Re- re tôda vez que uma autoridade
belo, os benefícios da Lei n.o transfere a outra, de nível hierár-
1.741, de 22 de novembro de quico inferior, ou a um funcioná-
1952, a contar da data em que foi rio categorizado qualquer,uma ou
dispensado do cargo de Delegado algumas das atribuições que legi-
Regional no Estado de Santa Ca- timamente possui em conseqüên-
tarina" . cia do cargo ou da função que
O IAPETC apelou: "... não ocupa, para que o delegado as
conformando, data venia, com a exerça e, isto, quando não defesa
sentença prolatada nos autos da em lei tal transferência.
ação cominatória proposta por Não é com propriedade absolu-
Adil Rebelo, vem, respeitosamen- ta nem sem cuidadosas restrições
te, com base no art. 820, do Có- que se aplicam aos casos de dele-
digo de Processo Civil, apelar pa- gação as regras do Instituto do
ra o Egrégio Tribunal Federal de mandato do Direito Civil.
Recursos, pelas razões que passa Tôda delegação administrativa
a aduzir: 1) Reitera o apelante há de ser expressamente feita, me-
as preliminares argüidas em fls. diante ato espe.cial (geralmente
37, eis que, como ficou demons- Portaria), em que se consignem,
trado, é da competência do Presi- com precisão, quais os podêres
dente do Instituto apelante conce- transmitidos, e quais os limites da
der vantagens aos seus servido- sua possível utilização.
- 31-

De regra, não cabem ser admi- delegação é feita com base na con-
tidas subdelegações. Excepcional- fiança pessoal, indicará nominal-
mente, porém, quando elas hou've- mente o delegado, afora referir-se
rem de ser previstas, deverão cons- ao cargo por êle ocupado; caso não
tar do instrumento, de modo indu- tenha êsse propósito e admitir
bitável, com a ressalva esclarece- que, além do titular do cargo qual-
dora e necessária de se a subde- quer dos seus substitutos,even-
legação pode ser realizada com ou tuais .ou legais, possa exercer a de-
sem reserva de podêres. legação, grafará no instrumento,
As sub delegações só terão va- apenas, o cargo do delegado, sem
lia quando permitidas em ato es- mencionar o nome do seu titular.
crito de competente autoridade. A delegação de atribuições ad-
Subdelegações tácitas ou implíci- ministrativas nunca pode ser am-
tas não encontram agasalho no pla, indiscriminada ou total, por
Direito Administrativo, inadmiti- isso implicaria, em última análise,
da, por isso, e sempre, a prática num deslocamento de funções pe-
de atos sob a caução de rato. culiares de um cargo para outra
Quando no instrumento é men- pessoa, dêle não titular e nêle não
cionado o nome civil do Delegado, legalmente investida. Seria uma
além do cargo que ocupa, somente flagrante ilegalidade com nulida-
êle, pessoalmente, pode exercer de conseqüente de todos os atos
o mandato, e, isto é claro, enquan- praticados.
to desempenhar a função pública A delegação não é regra; é uma
paralelamente mencionada. praxe que, administrativamente, se
Afastando-se do cargo o delega- tolera e aceita quando ocorre uma
do, transitória ou permanente- necessidade premente, uma con-
mente, a delegação pode ser exer- veniência notória de serviço ou
cida, nesse caso, pelo servidor que uma impossibilidade material do
o vir a substituir. titular exercer a contento, tôdas as
Daí implicar o afastamento ou funções do cargo.
a mudança de situação funcional A viabilidade do amplo exercí-
do delegado, se nominalmente ci- cio destas últimas por uma só
tado, na revogação ou suspensão pessoa já é pressuposto dos cargos.
automática do ato de delegação. Daí a delegação deve ser conside-
Os substitutos eventuais do dele- rada, sempre, como medida extre-
gado não podem praticar atos ma, excepcional e transitória, vez
abrangidos pela delegação nomi- que importa numa transferência
nal. Se, entretanto, ao cargo ou à de atribuições presumivelmente
função, apenas, foi endereçada a bem analisadas e dosadas pelo le-
delegação, o substituto eventual gislador quando as cometeu a cer-
usará os podêres como se o pró- ta autoridade.
prio delegado fôra e, isto somente É claro que qualquer autorida-
enquanto estiver ocupando o car- de somente pode delegar as atri-
go a mesma autoridade delegante. buições que possui legitimamente.
Em decorrência, o cuidado que Se assim não fizer e, pràticamen-
se recomenda à autoridade dele- te, extravasar os podêres na de-
gante quando redigir tais instru- legação, estará ou exercitando
mentos é: se, pela sua vontade, a uma "usurpação de funções" ou
- 32-

uma "invasão de funções", na ex- Mérito:


pressão de Bonnard, ou agindo
com "usurpação de poder", ou 6) A sentença ora apelada
com "excesso de poder", no dizer abandonou inteiramente a prova
de Prates da Fonseca; apresentada pelo apelante -- doc.
3) Ora, a sentença apelada de fls. 52 - onde está compro-
desprezou por completo aspecto vada a interrupção do prazo de
da matéria, e plena certeza tem o dez anos, condição legal para o
apelante no Pretório Excelso, fiel apelado obter as vantagens da Lei
à sua alta missão, em aceitar a n.O 1.741, de 1952.
preliminar invocada, porquanto a Abandonou a doutrina, e o MM.
vantagem pleiteada pelo apelado Juiz, para sentenciar a favor do
somente o Presidente do Instituto apelado, cingiu-se simplesmente a
apelante é que tem competência mencionar que o mesmo (fls. 85):
para conceder. E esta competên- "provou a legitimidade do seu di-
cia, esta atribuição, não é outorga- reito, o preenchimento dos requisi-
gada ao Delegado Regional, nos tos legais e a igualdade de condi-
têrmos do Decreto n.o 22.367, de ções com outro colega cujo direi-
27-12-1946, arts. 37 e 38, e con- to já foi judicialmente reconhe-
seqüentemente tal situação gera cido" .
a incompetência do fôro para o Puro engano do honrado Juiz
apelado postular seus interêsses; Prolator.
4) A circunstância de ser dele- O apelado, além de não reunir
gada competência ao Delegado os requisitos legais para conseguir
Regional para receber citação ini- os benefícios da Lei n.o 1.741, de
cial, ,como se vê do documento de 1952 - interrupção do período
fls. 15, não ajuda a tese susten- caren.cial de dez anos - não pode
tada pela sentença apelada, isto valer-se de um único deliberado
é, não configura a competência do judicial que não produz efeito
fôro porque esta é indeclinável, normativo e se aplica, apenas, in
face a autoridade que denegou a specie, ao caso concreto subme-
pretensão pleiteada pelo apelado tido a julgamento.
A situação, porém, modifica-se
e mesmo pela matéria objeto da
se idênticos e iterativos forem os
ação. Não se trata de competên-
demais veredicta'. Se assim ocor_
cia em razão do lugar.
rer' consolida-se a hermenêutica
Esta, na forma doutrinária, e de do Judiciário, não pairando dúvi-
acôrdo com a jurisprudência, é de da sôbre o seu entendimento a
secundária importância; respeito.
5) Outrossim, inexistindo um Ante a uniformidade dos ares-
preceito legai transgredido, que só tos, só cabe ao Executivo curvar-
poderá ficar caracterizado por fôr- se à tese jurídica nêles consubs-
ça de sentença definitiva, impos- tanciada. Se não o fizer, se insis-
sível ao Poder Judiciário emitir tir em negar o direito que não é
um pronunciamento por intermé- mais suscetível de contradita e
dio da ação cominatória, estando contenda, pratica obra de desajus-
o Juiz impedido de determinar, tamento, contribui para a desar-
ordenar uma prestação; monia dos podêres da República,
- 33-

que é básica e, portanto, impres- emprêgo caviloso: afere-se dos au-


cindível à vida do regime. tos que o apelado exerceu mais de
Entende-se, pois, Egrégio Tri- dez anos ininterruptos cargo de
bunal, qUe uma decisão isolada chefia e "função gratificada" de
não firma uma jurisprudência, e "chefe" .
aceitá-la in casu como efeito nor- Está confessado pelo Instituto-
mativo, é uma aberração pela sua -coator a fls. 40: " ... Na verda-
prematurida:de, quando se sabe, e de, o autor vinha exercendo cargo
como foi dito, que as decisões ju- em comissão, até setembro de
diciais só obrigam nos casos .con- 1949, quando, então, a Chefia da
eretos". Divisão de Administração da De-
Contra-razões não foram ofere- legacia Regional de Santa Cata-
cidas. A Subprocuradoria-Geral rina do Instituto Contestante dei-
da República solidarizou-se com o xou de ser um Cargo em Comis-
apelante. são, para se tornar uma Função
Ê o relatório. À Revisão. Gratificada, e, nesta função, foi
reconduzido pela Portaria ..... .
Voto n.o 16.933, de 6 de setembro de
1949".
o Sr. Min. Djalma da Cunha Portanto, mudou-se um rótulo,
Mello: - Escrito na Lei n.o 1.741, nada mais. A investidura perma-
de 1952, art. 1.0: " ... Ao ocu- neceu com as mesmas atribuições,
pante de cargo de caráter perma- as mesmas responsabilidades, e en-
nente e de provimento em comis- tregue ao mesmo titular instável.
são, quando afastado dêle, depois A chefia de serviço, ao que se afe-
de mais de dez anos de exercício re do Estatuto, é cargo, jamais
ininterrupto, é assegurado o direi- função gratificada. Confirmo, por
to de continuar a perceber o ven- isso, a sentel1ça.
cimento do mesmo, até ser apro-
veitado em outro equivalente" . Voto
O apelado exerceu, ininterrup-
tamente, mais de dez anos, cargo o Sr. Min. Márcio Ribeiro: -
efetivo de provimento em comis- Alega-se que o autor interrompe:!
são e função gratificada. seu exercício em cargo de comis-
A interrupção referida a fls. 13 são durante o decênio. Mas não é
ocorreu depois de completados propriamente de interrupção que
dez anos. se trata. A mesma Chefia, em que
Tenho entendido que o fato de se encontrava, deixou de ser car-
não ter dez anos ininterruptos de go em comissão para se tornar
exercício em cargo permanente uma função gratificada.
de provimento em comissão des- Ora, consoante jurisprudência
qualifica o pretendente ao benefí- do Egrégio Supremo Tribunal,
cio, o que não se modifica onde o adotada por maioria de votos em
prazo se perfaz somado ao de sessão plenária do Tribunal Feda-
exercício em função gratificada. ral de Recursos, a função gratifi-
De função gratificada não cogitou cada equipara-se hoje ao cargo em
o legislador. Mas no concreto a comissão para efeito de aplicação
locução "função gratificada" teve da Lei, 1.741, de 1952.
- 34-

A aplicação dessa lei às autar- pecto particular, o que me leva


quias é também matéria resolvida a proferir voto divergente. ít que
em jurisprudência. há um período de exercício que
Tratando-se de ação ordinária, corresponde a uma situação que
e não de Mandado de Segurança, não é aquela prevista na lei.
a competência, no caso, não era .É que o cargo em comissão fôra
norteada de pes~ transformado em função gratifi-
soa ou de função. As ações con- cada.
tra as autarquias podem ser apu- Tenho para mim que a lei não
radas na Capital da República ou socorre quem exerce, ainda que
nas capitais dos Estados. alternadamente, cargo em comis-
Improcediam, portanto, as preli- são e função gratificada.
minares. Nesse passo, com a vênia muito
Nego, pois, provimento, confir- respeitosa, entendo que a juris-
mando a sentença pelos seus pró- prudência continua atenta contra
prios fundamentos. o texto expresso da lei e contra o
Voto (vencido) seu próprio sentido. Porque não
há como confundir cargo em co-
O Sr. Min. Oscar SaTaiva: missão com função gratificada.
Estou de acôrdo com a tese que Por essa única razão é que
V. Ex.a sustenta, porque sempre dou provimento ao recurso do
também a sustentei no sentido de IAPETC.
que a lei quando se refere a cargo
em comissão se refere generica- Decisão
mente. Como consta da ata, a decisão
E hoje a matéria já está escoi- foi a seguinte: Negou-se provi-
mada de dúvidas, porque há re- mento, vencido o Sr. Min. Oscar
cente Decreto estatuindo nesse Saraiva. O Sr. Min. Márcio
sentido. Ribeiro votou com o Sr. Min .
Mas o Sr. Min. Revisor aler- Relator. Presidiu o julgamento o
tou-me a atenção para um as- Sr. Min. Djalma da Cunha Mello.

APELAÇÃO CíVEL N.O 15.531 GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d' Ávila
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Cândido Lôbo
Apelante - União Federal
Apelado - Carlos Salviano
Acórdão
Não é lícito considerar o ·escrevente, que exerce
mera delegação do tabelião, para a prática de deter-
minÇldo ato, como verdadeiro tabelião para efeito de
aposentadoria.
Vistos, relatados e discutidos Acorda, por unanimidade, a Pri-
êstes autos de Apelação Cível meira Turma julgadora do Tribu-
n. O 15.531, do Estado da Guana- nal Federal de Recursos, em co-
bara, apelante União Federal e nhecer do recurso ex officio como
apelado Carlos Salviano: se interposto fôra; e em dar-lha
- 35-

provimento, bem como ao apêlo do pelo padrão "P.J. 1", consoan-


voluntário para julgar improce- te estabelece expressamente o
dente a ação, conforme consta das Código de Organização Judiciária
notas taquigráficas anexas, as do D.F., alterado pela Lei ..... .
quais, com o relatório, ficam fa- n.O 3.058, de 22-12-1956; no reque-
zendo parte. integrante dêste jul- rimento a que se refere, mencio-
gado, apurado nos têrmos de fô- nou o caso de N orivaI de Freitas,
lhas 72. Custas ex lege o ex-escrevente substituto do Tabe-
Tribunal Federal de Recursos, lião do 21.° Ofício de Notas, o
27 de agôsto de 1963. - Henri- qual, em situação idêntica à do
que d' Ávila, Presidente e Relator. suplicante, pleiteou administrati-
vamente os benefícios de aposen-
Relatório tadoria atribuídos aos Tabeliães
de Notas, tendo a sua petição in-
o Sr. Min. Henrique d'Ávila: deferida; recorrendo, entretanto
- A espécie foi assim expos- ao Judiciário, obteve em brilhante
ta e decidida pelo MM. Julga- acórdão, o reconhecimento pleno
dor a quo (fls. 44 a 47): "Vis- de seus direitos; c) Mencionou,
tos, etc. I - Carlos Salviano, bra- ainda, no requerimento, casos de
sileiro, casado, escrivão aposenta- escreventes que pelos simples
do, propôs contra a União Federal meios administrativos obtiveram
a presente ação ordinária, plei- suas aposentadorias de acôrdo com
teando retificação do processo de o art. 179, da Lei n.o 1.711, de
sua aposentadoria, concessão dos 1952, e não obstante lastreada em
benefícios e vantagens de aposen- dispositivos legais reguladores da
tadoria a que fazem jus os Tabe- espécie, foi indeferida a pretensão
liães de Notas, pagamento de di- do demandante; d) Ex vi do dis-
ferença de vencimentos, custas e posto no art. 365, do Código de
honorários de advogado. Organização Judiciária, a aposen-
Em abono de sua pretensão, diz tadoria dos serventuários não re-
o autor, em resumo o seguinte: munerados pelos cofres públicos,
a) Foi aposentado no cargo de fora dos casos em que seja regu-
Escrivão Criminal, padrão "O", na lada por lei especial, reger-se-á
consonância do art. 74, do Código pelo Estatuto dos Funcionários
de Organização Judiciária do DF., Públicos Civis da União (Lei n.o
por contar mais de 35 anos de 1. 711/52) e, por fôrça do art.
serviço público; b) Com arrimo 389, da mesma lei, consideram-se
no art. 18, da Lei n.o 1.711, de subsidiários da Lei de Organização
28 de outubro de 1952 (Estatuto Judiciária as disposições do Esta-
dos Funcionários Públicos Civis tuto dos Funcionários Públicos Ci-
da União), o requerente solicitou vis da União relativas a vencimen-
ao Sr. Presidente da República tos, substituições, comissões, des-
retificação do seu decreto de apo- contos, licenças e aposentadorias
sentadoria, a fim de que o referi- no que com os daquela lei não co-
do diploma legal fôsse apostilado lidirem; e) Havendo entre os es-
no cargo de Tabelião, representa- creventes juramentados alguns,
- 36-

como o requerente, que além de ver, ou não, exercido funções Ta-


suas funções específicas, e em co- bélicas; b) que o auto·r era es-
mum com estas, de acôrdo com crevente, eis um fato incontrover-
o Código de Organização Judiciá- so. Que exerceu funções de Ta-
ria e por designação do Sr. De- belião, eis um fato comprovado.
sembargador Corregedor, exercem A certidão de fls. 12 prova que o
outras de grande relevância e res- escrevente foi indicado pelo Ta-
ponsabilidade, como as de Tabe- belião do 12. 0 Ofício (em cujo
lião, é óbvio que, inexistindo, até Cartório fôra lotado) para prati-
então, lei especial a regular o caso car fora de Cartório - nas repar-
em foco, está o mesmo enquadra- tições públicas, nas autarquias -
do no art. 180, da Lei 1. 711/52, função de Tabelião: lavratura de
de conformidade com o estatuído escrituras, etc. Tal indicação, tal
nos mencionados arts. 365 e 389, delegação de podêres (por lei ex-
do Código de Organização Judi- pressamente autorizada) é indício
ciária. de confiança e competência e,
Contestando a ação, disse a ré, como se sabe, faz-se, nos Cartó-
por intermédio do Dr. 6.° Pro- rios, em caráter permanente, não
curador da República: a) que a de modo esporádico. Certo o re-
pretensão do requerente é de todo querente nunca assumiu o cargo
descabida; en.contra frontal con- de Tabelião; mas a lei se conten-
tradita nos próprios dispositivos ta com o exercício de função.
legais por êle invocados; b) que o IH - Pelo exposto, julgo pro-
autor "jamais assumiu o cargo de cedente e a ação, nos têrmos do
Tabelião", mas, apenas, exerceu pedido.
certos podêres que lhe são ine-
Custas ex lege.
rentes, podêres que lhe foram de-
legados para a prática de deter- Dessa decisão, deixou seu ilus-
minados atos; c) que as substitui- trado prolator de recorrer de ofí-
ções por delegação, definidas no do, como lhe cumpria.
Dec.-lei n.o 2.727, de 1940, são A União todavia, apelou opor-
parciais, incapazes, por isso de tunamente com as razões de fls.
atribuir ao servidor as caracterís- 50 a 54: (lê).
ticas de Tabelião. "Réplica" a O recurso foi contra-arrazoado
fls. 34. (fls. 57 a 59).
Proferido despacho saneador, E nesta Superior Instância, a
que transitou em julgado, deba- douta Subprocuradoria-Geral da
teu-se a causa em audiência, como República emitiu o seguinte pa-
se contém a fls. 43. recer (fls. 63 e 64): "1. - A res-
n - Tudo bem examinado: peitável sentença de fls. 44/47 há
a) a matéria jurídica, isto é, os que ser reformada por êsse Egré-
fundamentos de direito que o gio Tribunal. Discutiu-se, nos
autor invoca em seu prol, não so- autos, apenas matéria de fato;
freu contestação. Contestada foi a 2. - O autor, escrivão criminal
matéria de fato: Ter ou não ter aposentado, pleiteia retificação de
sido o demandante Tabelião, ha- seu processo de aposentadoria, a
- 37-

fim de obter vantagens a que fa- cartório, nem sequer a substitui-


zem jus os Tabeliães de Notas ção no impedimento daquele con-
aposentados, bem assim pagamen- forme dispõe o diploma citado.
to de diferença de vencimentos, A revés disso, o titular permane-
custas e honorários de advogados; ceu à frente do cartório, no pleno
3. - Alega, em abono de sua pre- exerClClO de sua função, sem
tensão, ter exercido função de Ta- embargo da delegação de certos e
belião por delegação do titular do determinados podêres com que
cartório, aprovada pelo Dr. Corre-
cometera o autor; 8. - Por tais
gedor; 4. - Todavia, vejamos o
razões somos de opinião que a res-
que diz a Lei n.O 2.727, de 1940,
que trata da espécie: "Os Tabe- peitável sentença de fls. há que
liães de notas, da Justiça do Dis- ser reformada por êsse Co lendo
Tribunal".
trito Federal, poderão substituir-
-se por escreventes substitutos ou É o Relatório.
juramentados, cuja indicação fôr
aprovada previamente pelo Cor- Voto
regedor, na lavratura dos atos,
contratos ou instrumentos, exceto o Sr. Min. Henrique d'Avila:
os referentes a disposição causa - Conheço do recurso ex oilí-
mortis, realizados fora dos cartó- cio como se interposto fôra e
rios, mas em repartições públicas, . dou-lhe provimento, bem como,
estabelecimentos que exerçam fun- ao apêlo voluntário, para repu-
ções de caráter público ou enti- tar improcedente a ação, nos
dades autárquicas". 5. - Temos, exatos têrmos advogados pela dou-
assim, que a norma legal atribui ta Subprocuradoria-Geral da Re-
ao escrevente função restrita e li- pública. Na realidade, não é pos-
mitada, reduzindo-lhe o campo de sível considerar o escrevente, que
atividades; 6. - Ora, sem sombra obtém mera delegação do tabe-
de dúvida, o que a Lei permitiu lião para a prática de determina-
foi uma simples delegação de po- dos atos, como tabelião para o
dêres por parte do Tabelião aos efeito de aposentadoria.
escreventes substitutos ou jura-
mentados para certas e determi- Decisão
nadas tarefas. Tanto mais se evi-
dencia êsse aspecto que, .caso con- Como consta da ata, a decisão
trário, estaria o Tabelião exorbi- foi a seguinte: Conheceu-se do
tando de suas atribuições e prati- recurso ex oilicio como se inter-
cando verdadeiro ato de nomea- posto fôra; e deu-se-Ihe provimen-
ção. E Lei nenhuma lhe defere to, bem como ao apêl0 voluntário
tal competência; 7. - Também o para julgar improcedente a ação.
art. 180, da Lei n.O 1.711, invo- Decisão unânime. Os Srs. Mins.
cado em subsídio da tese do autor, Cândido Lôbo e Amarílio Benja-
descabe inteiramente na hipóte- min votaram com o Sr. Min. Re-
se. Não houve substituição legal, lator. Presidiu o julgamento o Sr.
a substituição plena do titular do Min. Henrique d'Avila.
- 38-

APELAÇÃO CíVEL N.o 15.599 BA.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juízo dos Feitos da Fazenda Nacional, ex oHicio
Apelante - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Co-
merciários
Apelado - Fernando Antônio Fernandez Cardillo

Acórdão

Servidor autárquico. Enquadramento impugnado


por não ter levado em conta que por sôbre o cargo
efetivo havia o exercício de uma comissão. Impossi-
bilidade de atendimento da vindicação, com seus con-
sectários, por flllta dos pressupostos legais e por estar
em parte prescrita.

Vistos, relatados e discutidos tagens, com atrasados, custas, ju-


êstes autos de Apelação Cível ros e honorários de advogado.
n. o 15.599, do Estado da Ba- O Juiz da Fazenda, por senten-
hia, em que são partes as aci- ça que consta de fls. 90/5, julgou
ma indicadas: a ação procedente, menos quanto
Acorda a Segunda Turma do a honorários de advogado, recor-
Tribunal Federal de Recursos, por rendo de ofício.
unanimidade de votos, em dar O IAPC apelou com as razões
provimento às apelações, para ha- de fls. 99 até 103.
ver como improcedente a ação, Foi a apelação contra-arrazoada
tudo conforme consta do relatório a fls. 106/8.
de fls. 118, votos e resultado do A Subprocuradoria, depois de
julgamento de fls. 120/122 que fi- ter passado mais de dois anos com
cam fazendo parte integrante do o processo, emitiu a respeito o pa-
presente julgado. Custas de lei. recer de fls. 115, no sentido do
Brasília, 30 de abril de 1964. provimento da apelação.
- Djalma da Cunha Mello, Pre- É o relatório.
sidente e Relator.
Voto
Relatório
o Sr. Min. Djalma da Cunha
o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Dou provimento às ape-
Mello: - Fernando Antônio Fer- lações. Se o autor, apelado, saiu
nandez Cardillo propôs ação con- "a pedido", ou não, é isso matéria
tra o IAPC, objetivando enqua- sobrepujada, face à explicação de
dramento no símbolo MC, proven- fls. 45, à precariedade do pôsto e
tos da Lei n. o 1.741 e outras van- ausência total de prova de impug-
- 39-

nação do ato de referência. Im- pela Portaria RG 590 e sob n.o 40,
portante, aqui, é que o documento foi designado para servir na Fis-
de fls. 15 não testifica dez anos, calização e, em 30-6-1942, passou
nem cinco, de exer.cício, ininter- a perceber como fiscal em comis-
rupto, da investidura. Nem êle, são até 19-2-1944, sendo afinal,
nem outro qualquer. Se a procu- enquadrado como escriturário em
radoria do Instituto de Aposenta- 1-3-1944.
doria e Pensões dos Comerciários Tem tôda a procedência a pre-
mostrou "caolhismo" não enxer- liminar de prescrição no que tange
gando os dez anos, parabéns aos
à sua não inclusão no quadro su-
caolhos, pois que estão vendo na
plementar pelo Decreto ....... .
medida aritmética, precisa, insofis-
mável. Aliás o Dr. Juiz a quo n.o 19.760, de 9-10-1945.
parece ter querido carregar o O cargo de Fiscal não era cargo
ônus da prova ao réu, ao que ne- em comissão e o próprio apelado,
ga! Dir-se-á que outros servidores como declara na inicial, é ocupan-
de condições similares, lograram o te do cargo de Fiscal classe "L",
que pretende o recorrido. .. Será cargo, portanto, de carreira e nem
atribuição do Judiciário dar o que sequer provou que a sua investi-
está na lei, ou distender os des- dura fôsse em comissão. Ainda
vios da normalidade da Adminis- que fôsse nesse caráter, não com-
tração? A Lei Básica, neste país, provou que o houvesse exercido
tem dois textos que o impatriotis- ininterruptamente por mais de
mo vem fazendo letra morta, os dez anos, ainda que em períodos
§§ 37 e 38 do art. 141. Com descontínuos, como o exige a in-
êles se possibilita a qualquer por- vo,cada Lei n.O 1.741.
fiar pela nulificação dos atos abu- Releva salientar haver recebido
sivos, das distorções. Que se vê os vencimentos CC-5, de Delega-
porém? Vê-se, todos os dias, pele- do, cargo que exerceu, entretanto,
jar-se nos tribunais, e por vêzes apenas pelo espaço de 22 dias, de
com resultados satisfatórios impre- 2-9 a 24-9-1954 (fls. 15).
visíveis, pela transformação dos Dou provimento aos recursos,
desvios de normalidade em regras para julgar improcedente a ação.
de observância consolidada na
interpretação, que direi desfigura-
ção, dos textos, das leis. Decisão
Dou, pelo exposto, provimento Como consta da ata, a decisão
in totum às apelações. foi a seguinte: A Turma, por una-
nimidade de votos, deu provimen-
Voto to às apelações, para haver como
improcedente a ação. Os 8rs.
o Sr. Min. Godoy Ilha: - O Mins . Godoy Ilha e Armando
autor era praticante-dactilógrafo, Rollemberg votaram com o 8r.
admitido pela Portaria n.o 3.387, Min. Relator. Presidiu o julga-
de 8-1-1941, com o ordenado de mento o 8r. Min. Djalma da
Cr$ 450 mensais. Meses depois, Cunha M e110 •
-40 -

APELAÇÃO CíVEL N.o 15.783 GB.


Relator - O Ex.lUO . Sr. Min . Cunha Vasconcellos
Revisor - O Ex/no Sr. Min. Márcio Ribeiro (Djalma da Cunha
Mello)
Apelante - Maria Luzia Jarussi Franca e outra
Apelado -- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Acórdão
Extranumerário. Estabilidade. Funções de na-
tureza transitória. A lei que amparou os extranu-
merários deu-lhes estabilidade no serviço público e
não, nas funções de caráter transitório, que porven-
tura estivessem ex·ercendo.

Vistos, relatados. e discutidos ção na função da qual foi dispen-


êstes autos de Apelação Cível sada quando do encerramento dos
n. O 15.783, do Estado da Gua- trabalhos do VI Recenseamento
nabara, apelante Maria Luzia Ja- Geral do Brasil, com pagamento
russi Franca e outra e apelado das diferenças salariais, acrescidas
Instituto Brasileiro de Geogra- de juros de mora, custas e hono-
fia e Estatística: rários profissionais.
Acorda, por unanimidade, a Se- Como litisconsorte, foi admitida
gunda Turma julgadora do Tribu- Helena Botelho de Matos, por
nal Federal de Recursos, em ne- despacho de fls. 42, visando o
gar provimento, conforme consta mesmo objetivo. Diz a autora ter
das notas taquigráficas anexas, as sido admitida em 1942 para o ser-
quais, com o relatório, ficam fa- viço do réu, até que em 1950 foi
zendo parte integrante dêste jul- colocada à disposição do Serviço
gado, apurado nos têrmos de fô- de Recenseamento, passando a in-
lhas 71. Custas ex lege. tegrar a Tabela de Mensalista
Tribunal Federal de Recursos, dêsse órgão. Com a extinção da-
Distrito Federal, 7 de novembro quele serviço todos os servidores
de 1962. - Cunha Vasconcellos foram dispensados e retornaram
Filho, Presidente e Relator. às suas repartições. Pelo fato de
alguns colegas das suplicantes te-
Relatório rem se insurgido contra o retôrno
aos cargos efetivos de que eram
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: ocupantes, no Quadro Permanente
- Maria Luiza J arussi Franca, do Conselho Nacional de Estatís-
ex-ocupante da função de Assis- tica, e havendo recorrido ao judi-
tente Técnico, referência "500", ciário, terem ganho a demanda,
da Tabela de Mensalistas do Ser- reconhecendo-se-Ihes a estabilida-
viço Nacional de Recenseamento, de nas funções censitárias, nos
propôs esta ação .contra o Insti- têrmos do art. 1.0, da Lei n.o
tuto Brasileiro de Geografia e Es- 2 . 284/54, as suplicantes postulam
tatística, com solidariedade da pelos mesmos direitos reconheci-
União, pleiteando a sua reintegra- dos aos seus colegas, Ou seja a
- 41

reintegração das funções de que se mente. O Juiz destacou muito


viram dispensadas quando já go- bem: foram êles postos à disposi-
zavam de estabilidade e vanta- ção do Serviço Nacional de Re-
gens. censeamento, continuando vincu-
O Juiz, Dr. Wellington Morei- lados ao que eram até então.
ra Pimentel, da 4.a Vara da Fa- Chamo a atenção da Turma pa-
zenda Pública, decidindo a hipó- ra a sentença, em sentido contrá-
tese, deu como improcedente a rio, certificada às fls. 13/15v.,
ação. Vieram as autoras com a confirmada segundo os autores,
apelação de fls. 49 e seguintes, e por êste Tribunal (fls. 30).
a União contraminutou o recurso
às fls. 56 e 58. Voto
Subindo os autos a êste Tribu-
nal, dêles se deu vista a Subpro- o Sr. Min. Godoy Ilha: - De
curadoria-Geral da República, acôrdo. Sem embargo da decisão
cujo titular opinou a fls. 64, soli- em sentido contrário, estou em que
darizando-se com a defesa da Au- a tese sustentada pela sentença
tarquia (fls. 26). apelada é a que mais se aplica.
É o relatório.
Decisão
Voto
Como consta da ata, a decisão
o Sr. Min. Cunha Vasconcel1os: foi a seguinte: Por unanimidade,
- Confirmo a sentença, por sua negou-se provimento. Os Srs.
própria motivação. As apelantes Mins. Márcio Ribeiro e Godoy
terão, no serviço público, as van- Ilha votaram com o Sr. Min.
tagens da Lei 2.284, mas nas con- Relator. Presidiu o julgamento o
dições em que serviam, anterior- Sr. Min. Cunha Vasconcel1os.

APELAÇÃO CíVEL N.O 16.159 - GB.


(Embargos)
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Embargante - União Federal
Embargado - Ariosto Semiraro

Acórdão
Nulidade de executivo. Fiscalização cabível.
A ação própria para anular a sentença final ou o
despacho que decide logo o mérito, dada à revelia
do réu, é ação rescisória. Tal procedimento, porém,
pertence à· Segunda Instância.

Vistos, relatados e discutidos n. o 16.159, do Estado da Gua-


êstes autos de Apelação Cível nabara, em grau de embargos

4-35883
-- 42-

de nulidade e infringentes do "Os atos judiciais que não depen-


julgado, em que são partes as derem de sentença, ou em que
acima indicadas: esta fôr simplesmente homologa-
Acordam os Juízes do Tribu- tória, poderão ser rescindidos
nal Federal de Recursos, em como os atos jurídicos em geral,
sessão plena, por maioria de nos têrmos da lei civil".
votos, em rejeitar os Cinge-se, pois, a questão de sa-
tudo .conforme consta do relató- ber se a decisão rescindente, que
rio e notas taquigráficas retro, é a que julgou subsistente a pe-
que ficam integrando o presente nhora, no executivo fiscal originá-
julgado. Custas de lei. rio de tôda a querela, deve ou não
Brasília, 3 de dezembro de ser .considerada entre aquelas refe-
1962. - Sampaio Costa, Presi- ridas no texto transcrito, e se, por
dente; Amarílio Benjamin, Rela- isso mesmo, pode ser rescindida
tor designado p/o Acórdão. pela via ordinária, em sentença
de Primeira Instância, como deci-
Relatório dido pelo v. Acórdão, ou se, ao
contrário, pela sua natureza, deve
o Sr. Min. Oscar SédaÍva: seguir o rito do art. 801, do Có-
Trata-se de embargos opostos pela digo de Processo Civil, conforme
União ao v. Acórdão da Egrégia sustentou o voto vencido.
Primeira Turma dêste Tribunal, A decisão questionada acha-se
a fls. 162, cuja ementa é a se- a fls . 9 dos autos apensos e
guinte: é do teor seguinte: "Julgo, nos
"Ação rescisória - art. 800, têrmos do art. 19, n.o IV, do Dec.-
parágrafo único, do Cód. de Proc. lei n.o 960, de' 17 de dezembro de
Civil - Procedência do pedido". 1938, subsistente a penhora de
Prevaleceu o voto do Relator, fls. 8, para que se prossiga na
o Ex.mo Min. Raimundo Macedo, execução".
assim redigido (fls. 159): (lê). Como se evidencia, não se tra-
Ficou vencido o Revisor, Ex.mo ta de sentença, mas de despacho,
Min. Amarílio Benjamin, que as- desde que proferido nos têrmos
sim se pronunciou (fls. 160): (lê). do art. 19, IV do Dec.-lei n.o
Os embargos da União, opostos 960/38. Êsse artigo aí preceitua
a fls. 164/165, restringem-se à que: "Conhecer do mérito da cau-
questão da incompetência do Juí- sa se o réu fôr revelou a defesa
zo de Primeira Instância e pedem tiver sido apresentada fora do
a prevalência do voto vencido. prazo legal". Trata-se, pois, e
A fls. 169 foram êsses embar- inequivocamente, de despacho, e
gos contrariados. não de sentença, motivo pelo qual
É o Relatório. entendo oportuna e acertada a in-
Ao Ex.mo Sr. Min. Revisor. vocação do voto vencedor à re-
gra do parágrafo único do art. 800,
Voto do Código de Processo Civil, e
bem reconhecida a validade da
O Sr. Min. Oscar Saraiva: - ação rescisória, tal como proces-
Dispõe o parágrafo único, do art. sada pelo rito ordinário em Pri-
800, do Código de Processo Civil: meira Instância, e a competência
- 43-

do Juiz sentenciante para de- zer críticas, e críticas fundadas.


cidi-Ia. Mas a realidade é que o legislador
Daí porque rejeito os embargos. quis, certamente, atender a uma
circunstância comum nos executi-
Voto (Vencido) vos fiscais, separando as sentenças
proferidas após o processamento
o Sr. Min. Amarilio Benjamin: regular, em oposição de embargos
-- Srs. IVIinistros, na Turma de daquelas sentenças de menor al-
apelações, sem conhecer os autos, cance, proferidas nos .casos de re-
fiquei surpreendido que os emi- velia . Sem dúvida alguma, êste
nentes membros da Turma, diante despacho tem tôda fôrça de sen-
de uma ação rescisória, achassem, tença. Materialmente é uma sen-
após os debates havidos nos Tri- tença. Aí, estaria com V. Ex. a .
bunais, inclusive no nosso, que Agora, a lei os qualifica como des-
uma ação rescisória pudesse ser pacho, porque são proferidas sem
proposta perante o Juiz de Pri- maior exame, em face de uma re-
meira Instância, quando o Código velia, portanto são sentenças de
de Processo Civil foi claro e ter- menor profundidade e atendeu a
minante no sentido de dizer que essas circunstâncias. E possível
as ações rescisórias seriam julga- que isso é que o justifique, o le-
das pelos Tribunais, como Instân- gislador, em distinguir entre as
cia Única. O voto do Relator de sentenças proferidas no executivo,
apelação é em si, como foi visto, após Os embargos, e as decisões
contraditório, porque reconhece proferidas à revelia, que as classi-
êle que não se trata de ato fica de despacho, porque não en-
homologatório, que pudesse ser volve maior indagação. Elas têm
submetido à ação de nulidade, fôrça de sentença, certamente,
como os atos jurídicos em geral. mas a lei dá nome e forma de
Mais surpreendido, entretanto, fi- despacho.
quei com o voto do Sr. Min. Re- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
lator Oscar Saraiva, que se mos- - Agradeço as observações. As
tra sempre tão ciente das regras palavras de V. Ex.a são sempre
fundamentais que informam o nos- muito oportunas, principalmente
so Direito, quer o Direito Mate- num caso dêsse,em que esclare-
rial, quer o Processual, porque, cem perfeitamente o seu pensa-
S. Ex. a, desprezando a argumen- mento. E êsse esclarecimento põe
tação do Acórdão embargado, V. Ex. a de acôrdo comigo, salvo
classificou, para chegar à mesma na conclusão. Animo-me a dizer
conclusão, que a sentença que que, não obstante o valor de
está nos autos, porque a lei clas- V. Ex. a, a conclusão mais adequa-
sifica de "despacho", é um simples da ao sistema que nos rege é aque-
despacho; só podia ser, assim, ho- la que defendo. Sempre ouvi, as-
mologatória. Tenho, para mim, sim aprendi e assim tenho visto
que o voto ... praticar, que, em matéria de ação
O Sr. Min. Oscar Saraiva - executiva, tanto é sentença a sen-
V. Ex. a permite? Estou dentro do tença ou despacho que decide des-
texto literal; é possível que, ao de logo, porque não houve defesa,
texto literal, também se possa fa- como o despacho que decide, afi-
~ 44-

nal, após o contraditório. Pelo o Sr. Min. Henrique d'Ávila:-


fato de decidir desde logo a causa, Chamo a atenção de V. Ex. a para
o Juiz não deixa de proferir uma o parágrafo único do art. 800, do
sentença em sentido definitivo, Código de Processo Civil: (lê).
que julga a ação procedente ou O Sr. M in Amarílio Benjamin:
improcedente. - Tenho dois apartes a respon-
Teria razão o Sr. Mio, der. O primeiro é o do Min.
tor se a lei ficasse tão-só naquelas Cunha Vasconcellos, relativo ao
palavras do caput do art. 19; mas art. 45, inciso I, letra b. O apar-
a lei não fica nisso; se examinar- te de S. Ex. a se harmoniza com o
mos a lei no seu exato sentido e que venho sustentando, isto é, na
na sua extensão, veremos que o hipótese o despacho é sentença
pensamento do legislador é, fora definitiva, desde que resolve a
de qualquer dúvida, no sentido de controvérsia.
proclamar que a decisão no exe-
Devo resposta, agora, ao emi-
cutivo, pela forma sumária, é,
nente Min. Henrique d'Ávila:
também, uma sentença definitiva,
sei dos méritos de S. Ex.a e sou
que aprecia, resolve em definitivo
o primeiro a ressaltá-los e, aqui,
o conteúdo da questão.
a lhe pedir lições. Neste caso, en-
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
tretanto, S. Ex. a me releve, a cita-
- V. Ex.a veja o art. 45, inciso I,
ção é de tôdo desapropriada; o
letra b. art. 800 do Código de Processo
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: se refere a atos homologatórios
- Verei. Mas, ouçamos a lingua- que podem ser anulados pelo sis-
gem da lei na sua palavra sonan- tema dos atos jurídicos em geral.
te: art. 19, item IV: "Conhecer
do mérito da causa se o réu foi A decisão que está sendo con-
revelou a defesa tiver sido apre- siderada, no caso dos autos, não é
sentada fora do prazo legal". homologatória porque não pode
Ora, o art. 19, de modo geral, ser. O art. 19, item 4.°, e o art.
vale como a regra do despacho sa- 45, item 1.0, letra b, fazem da-
neador do processo civil comum. queles despachos, exceções ao sis-
No executivo, o art. 19 prevê, tema de ordenamento do executi-
precisamente, essa fase de sanea- vo fiscal, uma sentença definitiva,
mento, mas o mesmo art. 19, abre por haver apreciado o mérito da
uma exceção, isto é, quando o réu questão. Logo o artigo invocado
fôr revel, ou a sua defesa tiver sido pelos meus eminentes Colegas, ao
apresentada fora do prazo legal, o caso dos autos, não se prende à
juiz aprecia o mérito, isto é, julga, matéria e está repelido pela boa
desde logo, a causa em definitivo. interpretação e pela lição de todos
O despacho que aPt:ecia a causa os autores, sem discrepância.
sob êsse aspecto é sentença e só Seria homologação, por exem-
pode ser anulado mediante ação plo, a questão da arrematação, que
rescisória. Cada qual vota como tem provocado tantas e tantas di-
entende e lhe parece melhor. O vergências . Mas não é de arre-
meu voto é êste: aqui, a ação é matação que aqui se está a tratar.
rescisória. Em tais condições, re- Aqui se trata do despacho que de-
cebo os embargos. cidiu do executivo fiscal.
-45 -

Quando se propõe a anulação Ela foi ao mérito e, tão profun-


de arrematação, se está a visar, damente, que retira ao proprietá-
tão-somente, o ato da arremata- rio dos bens penhorados o seu do-
ção, com a subsistência da ação mínio e o expropria em favor do
fiscal. Estou absolutamente tran- Estado. Sendo assim, trata-se de
qüilo, em que na hipótese, a ação uma sentença. Só pode ser rescin-
proposta, ou que devia ser propos- dível realmente pela ação rescisó-
ta, é a ação rescisória. ria e a competência para isso é
Recebo os embargos. dêste Tribunal.
Recebo os embargos para efeito
Voto de, nulificando o decisório profe-
rido pelo Juiz de Primeira Instân-
o Sr. Min. Aguiar Dias: - Sr. cia, declarar a competência dêste
Presidente, existe no caso penho- Tribunal para julgar a ação como
ra, julgado, pelo que se chama, na de direito.
Lei n.o 960, um despacho. E diz
o art. 800, parágrafo único, do Voto
Código de Processo Civil, que são
rescindíveis, como os atos jurídi- o Sr. Min. Márcio Ribeiro:
cos, em geral, aquêles proferidos Estou de acôrdo com o voto do
em processos que não dependem Sr. Min. Revisor e do Min. Aguiar
de sentença, ou em que esta seja Dias. Recebo Os embargos.
simplesmente homologatória.
Êste dispositivo é apenas uma Voto
extensão do art. 1. 805, do Código
Civil. Êste considerava rescindí- o Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
vel, pelos meios jurídicos em ge- - Já está dito tudo quanto Se po-
ral, a sentença que homologa a deria dizer. Simplesmente, eu
partilha. E o Código de Processo quero esclarecer que só compreen-
Civil, art. 800, parágrafo único, do o Sr. Min. Oscar Saraiva, na
veio estender essa regra àqueles interpretação do disposto no art.
atos que, semelhantemente à par- 19, como lapso de atenção de S.
tilha, têm sentença simplesmente Ex.a. A lei diz que o. Juiz proferi-
homologatória ou não dependem rá despacho, dentro de dez dias,
de sentença. No caso, porém, com para conhecer do mérito da causa,
a devida vênia dos que pensam não diz "proferirá despacho, co-
em contrário, o chamado despa- nhecendo do mérito da causa".
cho é uma sentença, no sentido O Sr. Min. Oscar Saraiva: - V.
material. Basta que se atente Ex.a me perdoe, mas creio que es-
para o fato de que ela retira ao tou inclinado a interpretações cla-
devedor o bem que êle possui e ras. Creio que o português está
que ficou penhorado. ltle expro- claro; sôbre o fundo e a forma, pa-
pria o bem para vender, em bene- ra mim são inteiramente proce-
fício da dívida fiscal. Basta êsse dentes - "o juiz proferirá despa-
fato para se chegar à conclusão de cho" - V. Ex. a me permite mas
que não é simplesmente um des- não posso entender, dentro do sig-
pacho. nificado da construção portuguê-
- 46-

sa, outra coisa senão que o pro- rável no processo, que entrassem
duto é despacho. com ação rescisória. Assim, com
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: a devida vênia, recebo os embar-
- V. Ex. a sabe, perfeitamente, gos.
que, na processualística em geral,
há uma série de despachos até que Voto
o possa conhecer da causa.
Ademais, essa é a interpretação O Sr. Min. Henrique d' Ávila: -
literalista; mas V. Ex. a também Data venia, Sr. Presidente, re-
sabe que, ao lado dessa interpreta- jeito os embargos, nos têrmos do
ção há aquela construtiva. voto do Relator. O executivo fis-
O Sr. Min. Oscar Saraiva: - cal, inicia-se propriamente pela
V. Ex. a foi Juiz ilustre da Fazen- penhora, e, desde que não seja
da, e creio que, em matéria de esta embargada, o juiz limita-se a
prática, ninguém lhe poderia levar proferir despacho de homologa-
a palma, mas o que o Código cha- ção. Trata-se de despacho mera-
ma de despacho são sentenças im- mente homologatório, sendo de
pressas, sentenças de carimbo, aplicar ao caso o disposto no art.
sem o menor relêvo, porque são 800, do Código de Processo. Ade-
assuntos de rotina, são sentenças mais, Sr. Presidente, é preciso le-
até mimeografadas, típicas de ca- var em conta a singularidade do
rimbo. caso. Procedeu-se a penhora de
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: um prédio, avaliado em ...... .
- Mas é sentença, não passa de Cr$ 900. 000 para o pagamento
sentença. Não se pode negar os de uma dívida de Cr$ 100, citan-
efeitos de uma sentença, porque do-se o pai do aludido interessa-
não me consta que, por fôrça de do que havia falecido dez anos
um despacho, se possa tirar a pro- antes.
priedade de alguém. Acompanho o voto do Relator,
O Sr. Min. Aguiar Dias: - A rejeitando os embargos.
sentença que homologa penhora,
julga procedente a ação executiva. Voto
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
- Perfeito. É sentença de carim- O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
bo, e temos aqui, aos milhares, Sr. Presidente, examino a hipóte-
porque temos julgado agravos em se por outro lado. O que se dis-
mandados de segurança também, cute, segundo ouvi, é o fato de
por assim dizer, por carimbo. saber se cabe ação ordinária ou
Data venia, entendo e sempre rescisória. Em considerando esta
entendi, com Os meus respeitos e última, o voto vencido do Acór-
as minhas homenagens, que a alte- dão embargado, do Sr. Min.
ração do que houvesse fixado por Amarílio Benjamin, anula o pro-
decisão judiciária, em executivo cesso, porque acha que a compe-
fiscal, só se alcançaria por via de tência é do Tribunal Pleno, e não
ação rescisória, e, muitas vêzes, do Juiz de Primeira Instância, que
aconselhei, em minhas varas, aos proferiu a sentença. Examinei os
interessados, quando encontravam autos e verifiquei que nenhuma
defeitos ou qualquer ponto vulne- foi a alegação da parte a respeito
-47 -

da incompetência, absolutamente poderá ser alegada em qualquer


nenhuma, nem na contestação, tempo ou instância; quando, po-
nem depois de proferido ° despa- rém, o interessado não a alegar
cho saneador, nem nas razões fi- antes do despacho saneador, pa-
nais, nem na sentença; surgiu, pela gará em dôbro as custas acresci-
primeira vez, nas razões de apela- das". O argumento prova justa-
ção. Assim,· antes de entrar no mente a favor; prova que, em
deslinde da questão, desejava sa- qualquer instância, mesmo na Se-
ber e vou demonstrar, com o es- gunda, podia ser alegado, como foi,
tudo que fiz nos autos, que essa na apelação. De modo que o art.
alegação, processada ou não, po- 800, junto com o art. 180, § 1.0,
deria ser conhecida ou não, pelos a meu ver, como que esclarecem
Ministros que julgaram a apela- e solidificam e confirmam o en-
ção: Aqui estão os autos, em que tendimento de que a Turma po-
se verifica que o despacho sanea- dia tomar conhecimento da ape-
dor do Sr. Vivaldo Brandão Cou- lação.
to diz o seguinte: (lê fls. 76). Não obstante não haver exce-
De modo que, para situar meu ção de incompetência, não obs··
voto, tenho que focalizar a pre- tante o Juiz nada ter que dizer na
missa: podia êste assunto ser co- sentença - e naturalmente tinha
nhecido pela Turma? que dizer, por que não tinha sido
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: ventilado, - surgiu somente na
- V. Ex. a pode responder? apelação. A Turma podia tomar
O Sr. Min. Cândido Lóbo: - conhecimento, porque se tratava
Naturalmente. O dispositivo que de incompetência ratione mate-
autorizou o Sr. Min. Amarílio riae. A única coisa é resolver se
Benjamin a conhecer é aquêle que é rescisória ou ação ordinária. Fi-
determina que os fatos, constantes lio-me, data venia dos que vota-
do processo, subirão ao conheci- ram, no sentido de que se trata de
mento pleno da .câmara de apela- ação rescisória. Recebo os embar-
ção; mas não é só êste, Sr. Presi- gos.
dente. Peço licença para aduzir A prova está em que êsses des-
ao voto de S. Ex.a a seguinte pachos que julgam procedentes
complementação - é que se trata a penhora, passam ou não em jul-
de incompetência ratione mate- gado; não é um despacho ordena-
ri8e. Está ela prevista no Código. tório, é um despacho que julga.
Diz o art. 798, inciso I, letra a: Pouco importa que seja um pro-
"Será nula a sentença quando pro- cesso de executivo fiscal.
ferida por juiz peitado, impedido, Recebo os embargos, na forma
ou incompetente ratione ma te- do voto do Sr. Min. Aguiar Dias.
ria a".
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Cha- Voto
mo a atenção de V. Ex.a para o O Sr. Min. Godoy Ilha: - Data
art. 182, § 1.0. venia, acompanho o Sr. Min. Re-
O Sr. Min. Cândido Lóbo: - lator, rejeitando os embargos, pela
Já contava com a objeção de V. simples consideração de que os
Ex. a neste sentido. Diz êle: "A autores não foram partes na
incompetência ratione materiae causa.
- 48-

Decisão os Srs. Mins. Aguiar Dias, Már-


cio Ribeiro, Cunha Vasconcellos e
Como consta da ata, a dedsão Cândido Lôbo acompanharam o
foi a seguinte: Por maioria de vo- Sr. Mio. Revisor. O Sr. Min.
tos, receberam os embargos, n03 Márcio Ribeiro encontra-se em
têrmos do voto do Sr. Min. Re- substituição ao Sr. Min. Djalma
visor. Os Srs. Mins. Henrique da Cunha Mello. Presidiu o jul-
e Ilha acompa- garnento o Sr. Min. Sampaio
nharam o Sr. Min . Relator; e Costa.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 16.159 GB.


(Embargos de declaração)
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Embargante - Adelino Martins
Embargado - V. Acórdão de fls. 192

Acórdão

Embargos de declaração. Quando cabem e pro-


cedem.
Os embargos declarat6rios cabem quando o jul-
gado é omisso, obscuro ou contradit6rio. Dessa for-
ma, não se verifica o requisito legal quando o acór-
dão, que anulou ação de Primeira Instância, proclama
que a ação rescis6ria é processada e julgada no se-
gundo grau. Ao contrário, os embargos procedem
quando o resultado do julgamento foi no sentido de
se receber os embargos infringentes, e não como foi
registrado.

Vistos, relatados e discutidos Filho, Presidente; Amarílio Ben-


êstes autos de Apelação Cível jamin, Relator.
n. O 16.159, da Guanabara, em
grau de embargos de declara- Relatório
ção, em que é embargante Adelino
Martins e embargado o v. Acór- o Sr. Min. Amarílio Benjamin:
dão de fls. 192: - Em dezembro de 1962, o Tri-
Acorda o Tribunal Federal de bunal julgou os embargos infrin-
Recursos, em sessão plena, por gentes, que foram apresentados na
unanimidade, em rejeitar os em- Apelação Cível n.o 16. 159. Foi
bargos de Adelino Martins e re- Relator do processo, em virtude
ceber os da União Federal, na for- de distribuição, o Sr. Min. Oscar
ma do relatório e notas taquigrá- Saraiva. O voto de S. Ex.a foi
ficas precedentes, que ficam inte- no sentido da rejeição dos embar-
grando o presente. Custas de lei. gos. Falando, em segundo lugar,
Distrito Federal, 21 de outubro como Revisor, divergi de S. Ex. a ,
de 1963. - Cunha Vasconcellos porque entendi que o caso era de
- 49-

uma sentença que se pretendia Adelino Martins desenvolve di-


anular, mesmo em executivo fis- versas considerações, mas a sua
cal, que correra sem contestação, pretensão é a seguinte: Os em-
sustentei eu, e já aí com apoio da bargos devem ser processados e
maioria do Tribunal, que a maté- julgados pela Segunda Instância,
ria teria que ser apreciada em e o Tribunal, como órgão julgador
ação rescisória. E a ementa do da ação rescisória, deve aprovei-
julgado é a seguinte: tar os atos processuais que estão
"Nulidade de executivo fiscal. efetuados, segundo a fórmula ju-
Ação cabível. rídica do processo, para quando se
A ação própria para anular a reconheça a incompetência. É
sentença final ou o despacho que essa a matéria dos embargos de
decide logo o mérito, dada à Adelino Martins que conclui as-
revelia do réu, é ação rescisória. sim: (lê).
Tal procedimento, porém, per- A União nos seus embargos, a
tence à Segunda Instância". fls. 204, pretende através dêles,
Entrou, a fôlhas 194, Adelino que os embargos infringentes fo-
Martins, que fôra um dos interes- ram recebidos e não rejeitados
sados no processo, com embargos como, realmente, .consta do acór-
de declaração. dão - aliás em divergência com
A União também apresentou a ementa e com a cota.
embargos. Examinei os dois embargos e
Êsses processos foram à Presi- os trago a julgamento. Escrevi os
dência da Casa que, tomando co- votos, embora as matérias sejam
nhecimento da situação, encami- simples, para ser o mais fiel possí-
nhou ao Relator primitivo, mas vel ao meu próprio ponto de vista
S. Ex. a, conforme .cota constante e à matéria trazida ao nosso co-
dos autos, assinalou que ficara nhecimento pelos interessados.
vencido e que havia, no processo,
um Relator designado. Vieram, Voto
portanto, os autos para meu exa-
me, como Relator, em tal situação. O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
Os embargos de Adelino Mar- - 1.0 - Embargos de fls. 194
tins estão instruídos com uma cer- - Antes de tudo, a certidão de
tidão sôbre o julgamento, forneci- fls. não está de acôrdo com os
da pela Casa. Diz esta certidão autos. Depois, o julgado há de ser
o seguinte: "Decisão: Por unani- interpretado na conformidade dos
midade de votos, receberam os votos produzidos, sobretudo o
embargos para o fim de, anulada voto vencedor; em dois votos que
a decisão embargada e redistri- proferimos e que venceram, deixa-
buído o feito, julgá-lo como res- mos claro que, sendo a ação res-
cisória" . cisória a ação própria para anu-
Apreciarei a certidão, oportuna- lar-se sentença de julgamento de
mente, mas desde logo adianto executivo fiscal, a ação ordinária
que não é essa a cota que está proposta perante o Juiz de Pri-
consignada no processo. meira Instância era absolutamente
Mas vou resumir o que preten- nula, por incompetência, desde
de Adelino Martins. que somente cabe aos Tribunais
- 50-

rescindir os julgados. O recebi- que d'Ávila, quanto à fundamen-


mento dos embargos traduziu êsse tação desenvolvida no julgamento.
ponto de vista, bem assim a emen- Farei isso ràpidamente.
ta que redigimos. Ora, os embar- O Sr. Min. Oscar Saraiva, em-
gos declaratórios versam uma tese bora seja um voto sempre impor-
que, normalmente, deveria ser tante, foi o voto vencido.
aventada na renovação do plei- Amarilio Benjamin foi o voto
to. No entanto, ditos embárgos vencedor. Dizia eu: (lê).
provocam uma hipótese irrealizá-
Houve apartes diversos, inclu-
vel, desde que, como é sabido e
sive do Sr. Min. Cunha Vascon-
ressabido, tocando à Segunda Ins-
cellos que se dignou, além de fi-
tância o processo e julgamento da
car comigo, a trazer também cola-
ação rescisória, a que foi mandado
boração na justificação do ponto
propor terá que sê-lo, com a ob-
de vista que estava a desenvol-
servância de tôdas as formalida-
ver: (lê).
des e têrmos, a começar pela ini-
cial. Não há aproveitamento de Segue o Sr. Min. Aguiar Dias,
atos já praticados na ação comum, desenvolvendo suas considerações
que foi anulada, vez que a decla- e termina assim: (lê).
ração de nulidade enfrentou in- Agora, o Sr. Min. Márcio Ri-
competência total e absoluta. A beiro: (lê).
nosso ver, portanto, não há dúvi- O Sr. Min. Cunha Vasconcel-
da a esclarecer ou omissão a cor- los: (lê).
rigir. E, por fim, o voto do Sr. Min.
Por fim, deve ser dito que o Cândido Lôbo é: (lê).
assunto, a rigor, no aspecto que os
Li os votos.
embargos focalizam, não foi consi-
derado. Rejeito, pois, os embar- O meu voto foi o que abordou
gos de Adelino Martins da Silva. os diversos aspectos, mais demo-
2.° - Embargos da União, fls. radamente, da controvérsia.
204 - De fato v:erifica-se um A matéria está encerrada, mas
engano patente entre o acórdão e faço questão de, figurando no pro-
o que foi decidido, segundo os vo- cesso, não deixar nenhuma dúvida
tos, e conforme as notas taquigrá- não só quanto à matéria que está
ficas respectivas, bem como a mi- sendo relacionada, nem tampou-
nuta do julgamento - fls. 176/ co sôbre a minha orientação: Fui
/191. Recebo, assim, os embar- absolutamente fiel ao que acon-
gos, para determinar a correção teceu no julgamento dos embar-
do acórdão: dir-se-á "receber" e gos infringentes do julgado.
não "rejeitar" os embargos - fls. Agora recordo o que disse no
192. meu voto, que aqui está para ser
lido. A matéria, possivelmente é
Voto-mérito a matéria para ser considerada
reSClsona . Independentemente
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: disso, o embargante Adelino Mar-
- Não quero, Sr. Presidente, en- tins não tem nenhuma razão, por-
cerrar meu voto sem atender à que tudo isso é tranqüilo em ma-
observação do Sr. Min . Henri- téria de direito.
- 51-

Por fim, proclamei, ou acentuei, um prédio na zona norte do Esta-


ou atestei: os embargos não des- do da Guanabara, avaliado em
ceram a essas minúcias, isto é, o Cr$ 300 . 000, e veio afinal a
julgamento não abordou êsses ser vendido em hasta pública, tu-
detalhes. do à revelia do réu, o pai do em-
Parece que o assunto está per- bargado, que havia falecido dez
feitamente esclarecido . Voltei a anos antes.
êle para atender às observações O Dr. Juiz, em decisão de ro-
do Sr. Min. Henrique d' Ávila. tina, julgou procedente o execu-
tivo fiscal. O imóvel foi à praça
Voto sem conhecimento dos herdeiros;
e foi vendido por quantia insigni-
o Sr. Min. Colombo de Souza: ficante, muito inferior à da ava-
- O mundo vive sempre em osci- liação.
lação: ora passa por um forma- Sabedores mais tarde do fato,
lismo ex.cessivo, ora por um libera- os herdeiros, capitaneados por
lismo anárquico. Houve um 'tem- Ariosto Semeraro, moveram ação
po em que todo petitório judiciá- rescisória perante o Dr. Juiz de
rio estava sujeito ao formalismo Primeira Instância. :Êste a julgou
excessivo; qualquer palavra a mais procedente anulando o executivo
ou a menos, qualquer contrarie- fiscal por defeito de citação inicial.
dade no rito fazia prejudicar os Houve apelação para êste Tri-
direitos mais sagrados. Passamos, bunal da qual foi Relator o Sr.
agora, para um liberalismo anár- Min. Raimundo Macedo e S. Ex. a,
quico, a ponto de dar acolhida a impressionado pelo ineditismo do
um cliente que opõe embargos e, fato, e pela violência cometida
depois de terem sido julgados os contra os executados, considerou
mesmos, pretende que êsses em- o despacho de chancela do Juiz
bargos sejam processados como como mera decisão homologató-
rescisória, aproveitando os atos ria, susceptível de rescisão na for-
processuais. Sr. Presidente e Srs. ma do art. 800, do Código de
Ministros, isto é uma verdadeira Processo Civil.
aberração do processo jurídico. Discordou o Sr. Min. Amarí-
De acôrdo com o Relator. lio Benjamin, entendendo que o
caso só poderia ser resolvido por
Voto rescisória. Em todo o caso o Tri-
bunal entendeu que se deveria
o Sr. Min. Henrique d'Ãvila:- aproveitar os atos ordinatórios
,Tenho bem presente as peculiari- praticados pelo Dr. Juiz a quo,
dades do caso porque tomei parte e proferir, desde logo, sua decisão.
no seu julgamento. Parece que esta foi a decisão do
Se a memória me ajudar, pre- Tribunal sôbre os embargos: apro-
tendo esclarecer os fatos. A União veitar todos os atos ordinatórios,
moveu contra o pai do embargado julgando-se, desde logo, a espécie
executivo fiscal para cobrar-lhe a como rescisória.
quantia lrnsona de Cr$ 167. O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
Para tanto veio a ser penhorado - O meu voto foi o vencedor. De
- 52

forma alguma, em matéria de res- estou de acôrdo com o Relator,


cisória, chegaria a esta conclusão. recebendo os embargos, para de-
O Sr. Min. Henrique d'Ávila:- clarar que os embargos foram re-
Embora houvesse prestado a cebidos.
maior atenção, não me inteirei
bem da finalidade dos embargos. Explicação de voto

Voto O Sr. Min. Hen~ique d'Ávila:-


Recebo os embargos. Há diver-
O Sr. Min Oscar Saraiva: - gência manifesta entre a conclu-
Sr. Presidente, tanto quanto a são e o constante das notas.
memória me ajuda, neste caso, que Acrescento, a meu voto, dian_
foi muito debatido, discutiu-se se te das próprias considerações fei-
devia ou não haver aproveitamen- tas pelo Sr. Min. Relator, que
to dos atos processuais, embora os embargos foram recebidos, não
essa discussão não tenha ficado para que se renove a ação resci-
consignada nas notas e nos votos sana, mas para que se a julgue,
formais. De minha parte, data ve- como acentuou o Sr. Min. Aguiar
nia do ilustre Relator, tenho uma Dias.
posição diversa e nesse ponto en-
tendo que realmente os atos pro- Retificação de Voto
cessuais podem e devem ser apro-
veitados. Mas, como se evidencia, O Sr. Min. Oscar Saraiva:
êsses debates não chegaram a se Recebo os embargos, nos têrmos
incorporar na decisão. expostos pelo Sr. Min. Henrique
Não obstante, a matéria pode- d'Ávila.
rá ser debatida pela parte que vier
com a nova ação rescisória. Decisão
E poderá, sem dúvida, em sua
petição inicial, pedir o aproveita- Corno consta da ata, a decisão
mento dos atos processuais já pra- foi a seguinte: Quanto aos embar-
ticados. gos de Adelino Martins, foram re-
Rejeito os embargos. jeitados, unanimemente e, quanto
aos embargos da União Federal,
Voto foram recebidos, por igual vota-
ção. Os Srs. Mins. Armando Rol-
O Sr. Min. Raimundo Macedo: lemberg, Raimundo Macedo
- O Regimento Interno do Tri- (Aguiar Dias), Colombo de Sou-
bunal de Recursos diz que quan- za (Cândido Lôbo ), Henrique
do houver divergência entre o d'Ávila e Oscar Saraiva votaram
acórdão e as notas taquigráficas, com o Sr. Min . Relator. Não
devem prevalecer as notas. E o tomou parte no julgamento o Sr.
caso dos autos. O Min. Relator Min. Márcio Ribeiro (Godoy
demonstrou que os votos vencidos Ilha). Não compareceu, por mo-
recebiam os embargos. Há uma tivo justificado, o Sr. Min. Djal-
divergência entre o acórdão e as ma da Cunha Mello. Presidiu o
notas taquigráficas. julgamento o Sr. Min. Cunha
De acôrdo com o Regimento, Vasconcellos.
- 53-

APELAÇÃO CíVEL N.o 16.245 - GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Filho
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Djalma da Cunha Meno
Apelante - Ângelo Benedicto e outros
'r'-'~~'~ --- CaLxa Econômica Federal do Rio de Janeiro

Acórdão

Regime de 43 horas de trabalho semanal; aos


°
tesoureiros e tesoureiros-auxiliares não se aplica
art. 5.° da ,Lei 2.188.

Vistos, relatados e discutidos ga a gratifi.cação por serviço ex-


êstes autos de Apelação Cível traordinário, tomando-se por base
n.o 16.245, do Estado da Gua- a importância previamente arbi-
nabara, apelante Ângelo Bene- trada pela administração, na Por-
dicto e outros e apelada Caixa taria n.o 34, de 30 de janeiro de
Econômica Federal do Rio de 1958, aos demais funcionários.
Janeiro: Pedem, ainda, a condenação da
Acorda, por unanimidade, a Se- ré, nas custas, juros e honorários
gunda Turma julgadora do Tribu- de advogado à base de 20% do
nal Federal de Re.cursos, em dar principal. Alegam que pela refe-
provimento, nos têrmos do voto rida portaria foi ordenado o au-
do Relator, conforme consta das mento do horário de trabalho a
notas taquigráficas anexas, as todos os funcionários e nela arbi-
quais, com o relatório, ficam fa- trada a gratificação de ...... .
zendo parte integrante dêste jul- Cr$ 4.000, face ao que deter-
gado, apurado nos têrmos de fô- mina o art. 150, da Lei n.o 1.711,
lhas 147. Custas ex lege. de 28 de outubro de 1952, item
Tribunal Federal de Recursos, I; que nessa situação permanece-
Distrito Federal, 3 de julho de ram durante quinze meses sem
1963. - Djalma da Cunha Mel- que lhes fôsse reconhecido o direi-
1o, Presidente; Cunha Vasconcel- to à percepção da referida grati-
los Filho, Relator. ficação.
O Juiz, Dr. Polinício Buarque
Relatório de Amorim, em exercício na 2.a
Vara da Fazenda Pública, julgou
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: improcedente a ação, por entender
- Ângelo Benedicto e outros ti- estarem os autores sujeitos ao re-
tulares do cargo de Tesoureiro e gime de 43 horas semanais, de
Tesoureiro-Auxiliar da Caixa Eco- acôrdo .com o art. 5.° da Lei n,o
nômica Federal do Rio de Janei- 2. 188, de 1954.
ro, propuseram ação ordinária con- Inconformados, os suplicantes
tra a referida autarquia, no sen- apelaram com as razões de fls.
tido de lhes ser reconhecida e pa- 111/3, esclarecendo ter êste Tri-
- 54-

bunal, no julgamento da Apelação comlssao, pois êstes cargos é que


Cível n.o 9.343, se pronunciado dão direito à gratificação, o que
de forma diferente da sentença não sucede com os cargos de pro-
ora apelada e bem assim nos res- vimento efetivo.
pectivos embargos (fls. 120v a ítste Tribunal teve, por várias
124v). Contestação às fls. 127 vêzes, oportunidade de fazer essa
134 e a distinção, negando a interessados
da República, em defesa da au- como os apelantes o tratamento re-
tarquia opinou a fls. 140, pelo servado a ocupantes de cargos
desprovimento da apelação. em comissão e por êles pleiteado.
É o relatório. Aliás, difícíl seria negar o acrés-
cimo por horas extraordinárias,
Voto reclamado pelos apelantes, uma
vez que foi, pela apelada, conce-
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: dido a todos os demais servidores
- O ilustre Dr. Juiz a' quo deixou- que a Portaria n.o 34 sujeitou a
se seduzir por uma audaciosa in- regime especial de horas de tra-
formação da apelada e, nessa su- balho. Se não é exata a classifica-
posição, baseou a sua conclusão. ção, que se lhes atribui, de ocu-
Com efeito, tendo a ré sustenta- pantes de cargos em comissão,
do que os cargos dos apelanteSl pois são ocupantes de cargos isola-
sujeitam seus ocupantes a 43 ho- dos de provimento efetivo e dêsse
ras de trabalho semanais, citou, modo, o seu tratamento não podia
como confirmador da assertiva, o ser diverso do dispensado aos de-
art. 5.° da Lei n.o 2.188 de 1954, mais servidores, aos quais foram
cujos têrmos exatos são êstes: pagas as horas extraordinárias,
"Os ocupantes dos cargos e das evidente se torna que a sentença
funções gratificadas ficam sujeitos se baseou em equívoco, pelo que
ao regime de 43 (quarenta e três) não pode subsistir.
horas de trabalho semanal", Dou provimento para julgar
A ré e o Dr. Juiz leram a ex- procedente a ação e conceder a
pressão cargos, tout court, como gratificação por horas excedentes,
se ali estivesse escrito cargos efe- pleiteada pelos apelantes, como as
tivos de provimento efetivo, pois custas e juros de mora, na forma
é esta a situação dos apelantes. legal específica.
Mas o que se fêz foi invocar a ex-
pressão da lei, que jamais quis Decisão
referir-se aos ocupantes de cargos
isolados de provimento efetivo, Como consta da ata, a decisão
como são os apelantes, mas aos foi a seguinte: Por unanimidade
ocupantes dos cargos e das fun- de votos, deu-se provimento à
ções gratificadas, como expresso apelação, nos têrmos do voto do
no referido art. 5.°. ítsses ,cargos, Sr. Min. Relator. Os Srs. Mins.
conjugados que estão, na expres- Djalma da Cunha Mello e Godoy
são legal, às funções gratificadas, Ilha votaram com o Sr. Min. Re-
para receberem o mesmo trata- lator. Presidiu o julgamento o Sr.
mento, só podem ser os cargos em Min. Djalma da Cunha Mello.
- 55

APELAÇÃO CíVEL N.o 16.730 RJ.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Aguiar Dias
Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex officio
Apelante - Caixa de Construção de Casas para o Pessoal do
Ministério da Marinha
Apelada -- Margarida Marconi Peixoto

Acórdão

Promessa de compra e v,enda. Escritura defini-


tiva ou adjudicação compulsória. Legitimidade.
A promessa de compra e venda, que não foi
levada ao Registro de Imóveis, não dispõe de execu-
toriedade. Somente pode executá-la o titular na po-
sição de promitente comprador, ninguém podendo ser
investido nessa situação sem a vontade ou convoca-
ção regular do vendedo.r.

Vistos, relatados e discutidos de Construção de Casas para o


êstes de Apelação Cível n.o Pessoal do Ministério da Marinha,
16.730, do Rio de Janeiro, apelan- pedindo a outorga de escritura de-
te Caixa de Construção de Casas finitiva de compra e venda de imó-
para o Pessoal do Ministério da vel situado em Niterói, sob pena
Marinha e apelada Margarida de a sentença valer como título de
Marconi Peixoto, assinalando-se transmissão.
também recurso ex ofiicio: Diz a Caixa que não prometeu
Acorda, por unanimidade, a Pri- vender o imóvel à autora, mas a
meira Turma julgadora do Tribu- um Oficial de Marinha, que, entre-
nal Federal de Recursos, em dar tanto, depois de pagar a totalidade
provimento para julgar a ação im- do preço, transferiu seus direitos
procedente, conforme consta das à autora, contrariando o que diz a
notas taquigráficas anexas, as cláusula 9.a da "promessa", que diz
quais, .com o relatório de fls., ficam o seguinte: "O presente contrato
fazendo parte integrante dêste jul- poderá ser transferido pelo outor-
gado, apurado n.os têrmos do resu- gado mediante consentimento pré-
mo de fôlhas 108. Custas ex lege. vio e expresso da Caixa, desde que
Tribunal Federal de Recursos, o cessionário seja contribuinte e
21 de março de 1963. - Henri- preencha os requisitos exigidos,
que d'Ãvila, Presidente; Amarílio assumindo tôdas as obrigações con-
Benjamin, Relator. tratuais, nas quais ficará sub-ro-
gado, com todos os direitos e van-
Relatório tagens assegurados por êste ,con-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: trato" .
- Tratam os autos de ação comi- Também levanta a Caixa a pre-
natória ajuizada por Margarida liminar de incompetência do fôro
Marconi Peixoto contra a Caixa de Niterói, sob o fundamento de
- 56-

que as partes, no contrato, elege- primeiro lugar, nenhum contrato


ram o da cidade do Rio de J anei.- existe entre a Caixa e a autora.
ro. A exceção foi rejeitada no des- Esta propôs a ação baseada em es-
pacho saneador de fls. 59, por critura que obteve da pessoa que
considerar o Dr. Juiz que o fôro contratou com a Caixa. De sorte
da situação do imóvel se sobrepõe que o Dl'. Juiz, de algum modo,
ao de eleiçã.o. A ré, inconfof:mada, decidiu bem pelo fôro da situação
agravou no auto do processo, a fls. da coisa, uma vez que se trata de
63, têrmo a fls. 65, questão de imóvel.
Realizada a audiência de instru- Há outro aspecto, também, que
ção e julgamento, lavrou o Dr. deve ser considerado: a indicação
Juiz a sentença de fls. 71, con- do fôro do Rio de Janeiro, fôro da
cluindo pela procedência da ação, sede da Caixa, tem uma finalida-
nos têrmos da inicial. de: é a defesa em melhores condi-
Sobem os autos com o recurso ções. O ajuizamento da causa em
de ofício, e apelação da Caixa de Niterói, entretanto, em nada alte-
Construção de Casas para o Pes- rou essa defesa. Além disso, obe-
soal do Ministério da Marinha, a deceu-se ao princípio fundamental,
fls. 76. A autora contra-arrazoou qual seja o do fôro da Fazenda PÚ-
a fls. 83, alegando estar preclusa blica. A Caixa é autarquia. A par-
a sentença, pois, no seu entender, te propôs a ação em Niterói, mas
o recurso cabível. é o de agravo no fôro da Fazenda Pública.
de instrumento, na conformidade Parece-me, assim, que o agravo
do art. 842, XI, do Código de no auto do processo não merece
Processo Civil. provimento.
Neste Tribunal, a Subprocura- É meu voto.
doria-Geral da República, a fls.
93, reportou-se ao argumentos da Voto-preliminar
Autarquia, a que presta assistên- O Sr. Min. Aguiar Dias: - Data
cia. venia, não conheço do recurso.
É o relatório. Das decisões que decidem a exce-
ção de incompetência cabe agravo
Voto-1. a Preliminar (Vencido)
de instrumento. ltsse agravo não
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: foi interposto, e êle consta, expres-
- Srs. Ministros, existe um agra- samente, do Código de Processo,
vo no auto do processo, que en- como o indicado para o caso. Ora,
frenta a divergência preliminar constitui êrro grosseiro, capaz de
que se estabeleceu entre as par- levar ao não conhecimento do re-
tes, sôbre qual seria o Juiz compe- curso, a interposição de um agravo
tente. A ação foi ajuizada em Ni- por outro, quandJ êste consta ex-
terói. Mas alegou a Caixa de pressamente da lei. Não conheço.
Construção que o fôro deveria ser
o do contrato. O Dr. Juiz repe- Voto-preliminar
liu essa alegação e deu-se como O Sr. Min. Cândido Lôbo:
competente. Data. venia do Relator, voto com o
O meu voto é no sentido de ne- Min. Aguiar Dias, não conhecen-
gar provimento ao agravo. Em do do agravo no auto do processo.
- 57-

Vofo-prelíminar as duas partes, antes dessa ques-


tão, um litígio em tôrno do recebi-
o Sr.Min. Amarílio Benjamin: mento de documentos. Êsse lití-
- Existe ainda preliminar de que gio se concluiu por sentença em
o recurso não é o recurso idôneo. que o juiz determinou a adjudica-
Rejeito a preliminar, porque se tra- ção compulsória. Abstenho-me de
ta de decisã.o relativa à sentença entrar na apreciação de tal proces-
final, terminativa do feito. O re- so, ou questão, embora não me cus-
curso próprio é, na verdade, o re- te dizer que o processo de adju-
curso de apelação. Realmente, o dicação compulsória do imóvel
autor invoca dispositivo do Código existe para o cumprimento de
de Processo, mas êste dispositivo compromisso. Existe, realmente.
tem em vista decisões que estão O Código a êle se refere, mas é
ligadas a processo principal. En- fora de qualquer dúvida que êsse
tão, aquelas decisões que no pro- processo finaliza a questão, ques-
cesso principal, concedem ou não, tão esta que deve ferir-se entre
a adjudicação de bens, essas deci- partes idôneas. No caso dos autos,
sões na verdade dão lugar ao agra- causa espécie que, apesar do pro-
vo de instrumento. Não é a hipó- cesso contencioso de adjudicação
tese dos autos, em que se propõe compulsória, já findo, ainda vem
uma ação seja cominatória, seja a beneficiária dêle propor outra
de adjudicação compulsória de ação. Êste é um dos primeiros re-
imóveis, seja ordinária. A ação foi paros.
proposta para obter a escritura de~ A Caixa alegou que não tinha
finitiva do imóvel e, conseqüente- nenhum contrato com a autora,
mente, adjudicação do imóvel ao que contratara com o Capitão An-
outorgante. Ê tipicamente uma tônio Fernandes, e a êle dera qui-
ação ordinária. tação; que se recusava a aceitar
Conheço, portanto, do recurso. a transferência, a cessão, porque
não fôra ouvida previamente, e
Voto-mérito que estava defendendo o seu Re-
gulamento, que exige que o bene-
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: ficiário dêsses contratos de finan-
Repelida a preliminar vamos exa-
ciamento só possa transferi-lo, ou
minar o caso dos autos. Voltarei
cedê-lo, mediante autorização pré-
a com pulsar os autos se houver
via, e examinada, também, a pes-
necessidade. Vou rememorar uns
soa do cessionário.
tantos detalhes, porque através
dêsses detalhes é que fixo minha O Sr. MÍ!n~ Cândido Lôbo: -
conclusão. Em verdade, D. Mar- Julgamos há poucos dias caso
garida Marcondes Peixoto obteve idêntico.
do Capitão Antônio Fernandes Lo- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
pes a cessão do contrato de pro- - Caso parecido, mas que é com-
messa de compra e venda do imó- pletamente diferente. O caso que
vel que o referido capitão, como julgamos foi entre um bancário e
outorgante comprador, houvera o IAPB. O bancário pagou todo o
feito com a Caixa. Houve, entre seu compromisso e pediu a escri-

5 - 35883
- 58-

tura, com domínio pleno, e o IAPB cumprir o contrato. Então, pro-


disse que não, que só daria com a põe-se ação, e se o promitente
cláusula. Votei, nesse caso, a fa- vendedor não cúmprir o contrato,
vor do bancário, porque sustentei a sentença vale a escritura sonega-
que, embora o contrato de finan- da. Tenho para mim, porém, que
ciamento fôsse de 20 anos, não ha- só se possa exigir essa adjudicação,
via nos regulamentos nenhuma ou se possa impor essa cominação
proibição para, antes dos 20 anos, quando, fora de dúvida, os contra-
a parte quitar-se mteiramente. E tos forem registrados. Não encon-
uma vez que se deu a quitação do trei essa declaração nos autos, e a
imóvel, deveria transferir-se êste falta dessa declaração ou da inscri-
na plenitude do domínio, não ca- ção foi argüida pela Caixa.
bendo restrição alguma. Essa a A minha conclusão é de que não
razão porque digo que, aqui, o caso tenha sido feita oportunamente,
é completamente diferente, e di- porque não admito que, repli-
ferente porque quem está pleitean- cando a parte, não trouxesse uma
do é o cessionário do primitivo certidão, o que é, aliás, permitido
promitente comprador, como tam- pelo Código.
bém porque a questão da escritu- Em segundo lugar porque a
ra definitiva entre a Caixa e o ação, em verdade, improcede. Em-
primitivo comprador não está em bora aquêle meu pensamento, em-
jôgo. bora sustente que as cláusulas dos
Fixado, portanto, êsse detalhe, contratos vigem, tão-sàmente, en-
creio que posso dar o meu voto. quanto o financiamento está em
Meu voto é no sentido de dar vigor, embora sustente tudo isso,
provimento ao recurso e julgar a no caso presente a mim parece
ação improcedente. Em primeiro que D. Margarida não tenha ação
lugar, tenho como duvidosa a ins- contra a Caixa. O que é D. Mar-
crição da promessa e cessão no garida perante a Caixa?
Registro de Imóveis. V. Ex.as , em- O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
bora especializados num outro se- Ela não tem a sentença?
tor da vida profissional, são juízes O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
esclarecidos que dominam os de- - Sim, tem. Mas entre ela e o
mais departamentos do direito. capitão. A Caixa não foi convoca-
Em relação à promessa de compra da ao pleito.
de imóvel, firmou-se uma espécie Julgo, pois, a ação improce-
de nôvo direito real no nosso Di- dente.
reito Civil, uma vez que a lei per-
mite, hoje, que a promessa de com- Voto-mérito
pra e venda, irrevogável e quitada,
desde que inscrita no Registro de O Sr. Min. Aguiar Dias: - Tam-
imóveis, garanta o promitente bém julgo a ação improcedente.
comprador e o invista no direito Entendo que, para a Caixa, a es-
de, posteriormente, pedir adjudica- critura celebrada entre a autora,
ção compulsória do imóvel, se o ora apelada, é terceiro, é res inter
promitente vendedor não quiser alias, uma vez que não participou
- 59-

a Caixa dessa escritura, nem da que se obteve; mormente do que


ação que se seguiu, para sua execu- ouvi do Sr. Min. Relator e do
ção compulsória. voto do Sr. Min. Aguiar Dias. A
,Também, já agora, em diver- Caixa quis entrar no processo e
gência com o Sr. Min. Relator, te- não obteve do Dr. Juiz a sua de-
nho como válida, regular e legíti- fesa, achando que ela era terceira
ma, a cláusula pela qual o Institu- na situação jurídica que estava em
to de Previdência e Caixas, que causa.
transacíonam em negócios imobi-
liários, resguardam os interêsses Decisão
coletivos, proibindo a alienação,
sem o seu consentimento. Não se Como consta da ata, a decisão
trata, como parece, de uma proi- foi a seguinte: Preliminarmente,
bição total ou absoluta. Trata-se foi desconhecido o agravo no auto
de um condicionamento, median- do processo, vencido o Sr. Min.
te o qual a alienação é permiti- Relator; ainda preliminarmente foi
~ da, desde que satisfeitos os inte- conhecido o recurso de apelação,
rêsses coletivos resguardados pela unanimemente; de meritis, foi da-
cláusula. do provimento para ser julgada
improcedente a ação. Na prelimi-
Voto-mérito nar, o Sr. Min. Cândido Lôbo vo-
tou com o Sr. Min. Revisor; no
o Sr. Min. Cândido Lôbo: - De mérito, os Srs. Mins. Aguiar Dias
acôrdo com a Turma. Também e Cândido Lôbo acompanharam o
julgo improcedente a ação. Sr. Min. Relator. Presidiu o jul-
D. Margarida tem os meios le- gamento o Sr. Min. Henrique
gais para fazer valer a sentença d'Avila.

APELAÇÃO CíVEL N.O 16.750 GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Apelantes - Carlos Eduardo de Farias Carvalho e outros
Apelada - União Federal

Acórdão
Servidor Público. Abono. A garantia de venci-
mentos não inferiores ao salário mínimo compreende
a totalidade da remuneração, nela incluído o abono
de que trata a Lei n.o 3.531, de 19-1-59.

Vistos, relatados e discutidos Acordam os membros da Segun-


êstes autos de Apelação Cível da Turma dêste Tribunal, por
n. O 16.750, do Estado da Gua- maioria de votos, em dar provi-
nabara, em que são partes as mento, vencido o Sr. Min. Godoy
acima indicadas: Ilha, tudo conforme consta do re-
- 60-

latório, voto e resultado do julga- da Turma, várias vêzes afirmado,


mento de fls. 60, que ficam fazen- dou provimento ao recurso para
do parte integrante do presente haver a ação como procedente,
julgado. Custas de lei. menos quanto a honorários de ad-
Brasília, 5 de julho de 1963. - vogado.
Djalma da Cunha Mello, Presi~
Cunha Rela-
tor. Voto (Vencido)

Relatório o Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr.


Presidente, data venia de V. Ex. a,
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: nego provimento ao recurso, para
- Carlos Eduardo de Farias Car- manter a decisão de Primeira Ins-
valho e outros servidores do Insti- tância, pelos seus lúcidos funda-
tuto Fernandes Figueira, do De- mentos.
partamento Nacional da Criança, Releva assinalar que o parágra-
Ministério da Saúde, propuseram fo único do art. 5.° da Lei n.o
a presente ação ordinária contra a 3.531, de 1959, é expresso ao es-
União, visando a sua condenação a tabelecer: "Na hipótese de ser o
pagar, aos autores, a diferença de salário mínimo da região superior
salário acrescida do abono provi- à retribuição atual acrescida do
sório de 30% instituído na Lei abono provisório, proceder-se-á ao
n.O 3.531, de 19 de janeiro de ajustamento dos níveis nas regiões
1959, além de juros de mora, cus- em que se verificar diferença, me-
tas e honorários de advogado. diante gratificação complementar".
O Juiz, Dr. José Joaquim da
Face a êsse dispositivo, não há
Fonseca Passos, da 2.a Vara da
como deixar de acolher a interpre-
Fazenda Pública, decidindo a hi-
tação dada pelo Dr. Juiz a quo,
pótese às fls. 39 e 40, julgou im-
de que o abono incide sôbre a re-
procedente a ação. Os autores muneração percebida pelo servi-
impugnaram a sentença às fls.
dor.
42/3 e a União contestou o recur-
so às fls. 46/8. Nego provimento.
Subindo os autos, dêles se deu
vista à Subprocuradoria-Geral da Decisão
República, que opinou a fls. 54
pela confirmação da decisão ape- Como consta da ata, a decisão
lada. foi a seguinte: Por maioria de vo-
É o relatório. tos, deu-se provimento, vencido o
Sr. Min. Godoy Ilha. O Sr. Min.
Voto Djalma da Cunha Mello votou
com o Sr. Min. Relator. Presidiu
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: o julgamento o Sr. Min. Djalma
-De acôrdo com o entendimento da Cunha Mello.
- 61-

APELAÇÃO CíVEL N.o 17.461 GB.


R~lator - o Ex.mo Sr. Min. Cândido Lôbo
Revisor - O Ex.mo Sr. Min . Amarílio Benjamin
Recorrente - Juízo da Fazenda Pública, ex oflicio
Apelantes - Ari de Souza Heine, s/ mulher e IAPB
Os Il1eSmOS
_ _o

Acórdão
Previdência sodal. Operações imobiliárias.
Cláusula da inalienabilidade.
A Cláusula de inalienaqi1idade, estatuída na Lei
de Previdência Social, deve ser entendida como mera
garantia a favor dos institutos, e não como restrição
permanente ao direito de propriedade dos segurados;

Vistos, relatados e discutidospropuseram a presente ação comi-


êstes autos de Apelação Cível natória contra o Instituto de Apo-
n.O 17.461, do Estado da Gua- sentadoria e Pensões dos Bancá-
nabara, em que são partes as rios para que êste, em dia e hora
acima indicadas: apontados, compareça a Cartó-
Acorda a Primeira Turma do rio, a fim de assinar a escritura
Tribunal Federal de Recursos, porpública de quitação de preço de
maioria de votos, preliminarmen- imóvel comprado ao réu pelos au-
te, em reputar desnecessário sub-tores, cujo preço se encontra inte-
meter o caso ao Tribunal Pleno gralmente pago.
por envolver o mesmo matéria de Ação contestada às fls. 15/1,
natureza constitucional; e ainda tendo a União se manifestado às
em recusar a proposta do Sr. Min.fls. 17.
Aguiar Dias de devolver o feito ao Réplica às fls. 23/31.
Dr. Juiz a quo para que êste se Saneador irre.corrido às fls. 52.
pronuncie novamente, pondo de Sentença julgando procedente
lado a pretendida argüição de in-a ação para o fim de cominar ao
constitucionalidade, não formula-réu que lavre a escritura definiti-
da em têrmos; e, de meritis, em va 20 dias após o trânsito em jul-
gado, sem a inscrição do ônus de
negar provimento aos recursos, por
maioria de votos, na forma do Re-inalienabilidade que pretendeu im-
por, sob pena do pagamento de
latório de fls. 106, votos e resul-
tado de julgamento de fls. 110/ multa diária no valor de ..... .
123, que ficam integrando o pre- Cr$ 1.000, até o efetivo cum-
sente julgado. Custas de lei. primento da mencionada obriga-
Brasília, 12 de Março de 1963.ção (fls. 62;'67).
- Henrique d'Ãvila, Presidente; Embargos de declaração (fls.
Cândido Lôbo, Relator. 69) recebidos e declarados (fls.
70) .
Relatório Inconformados, apelaram os au-
tores (fls. 72), pretendendo a re-
o Sr. Min. Cândido Lôbo: - forma da sentença, em parte para
Ari de Souza Heine e sua espôsa cominar a pena a partir da cita-
- 62-

ção, no valor de Cr$ 10.000 Min. Relator deverá ser examina-


diários, e condenar o réu, além da com a devida atenção. Real-
das custas processuais, em hono- mente, se a matéria implica em
rários de advogado a serem arbi- decretação de inconstitucionalida-
trados. de, ou está pôsto o debate de ser
Apelou, também, o Instituto constitucional ou não, a norma é
(fls. 74/77), o qual contra-arra- que o Plenário se manifeste,
zoou o re.curso de fls. 72. porque, de acôrdo com as regras
Contra-razões (fls. 85/89). do nosso sistema, somente o Tri-
Nesta Instância a douta Sub· bunal, no seu plenário, pode esta-
procuradoria-Geral da República tuir sôbre a inconstitucionalidade.
opinou pelo provimento do recur- Todavia, tenho para mim que
so de seus assistidos (fls. 104). tôda a argumentação do Dr. Juiz
É o relatório. sôbre a in.constitucionalidade e
constitucionalidade foi uma dema-
Voto-preliminar (Vencido) sia, no modo de ver de S. Ex.a.
Na hipótese sub judice, data ve-
O Sr. Min. Cândido Lôbo: - SÔ- nia, não há necessidade de invo-
bre a preliminar, Sr. Presidente, car-se o texto constitucional para
o Dr . Juiz a quo, examinando a dizer-se se a escritura deverá ser
questão, disse o seguinte: (lê fls. lavrada com a cláusula, ou não.
63) . Por outro lado, discutindo como
Sr. Presidente, a minha pri- discuto, Juiz do segundo grau, a
meira impressão era de desprezar mim, também, assiste o direito de,
o pedido de consulta ao Tribunal embora posta a questão constitu-
Pleno. Estou vendo, pela redação cional, decidir a controvérsia sô-
da sentença, que o Juiz, em regra bre outra consideração. Esta é
cuidadoso, neste caso limitou-se a uma das regras fundamentais do
discutir, simplesmente, a questão exame da Constituição, das leis.
da ilegitimidade da exigência da Na base, portanto, dêsses funda-
cláusula, tanto que, depois de de- mentos, dispenso consulta ao Ple-
cretar sua inconstitucionalidade, nário, porque, a meu ver, não exis-
. passou à conclusão da sentença te a questão constitucional a ser
julgando-a procedente, e mandan- examinada ou considerada.
do que fôsse excluída essa cláusu-
la de inalienabilidade. Voto
Parece-me de boa ponderação,
mormente com o acréscimo do O Sr. Min. A~uia1' Dias: - A
pedido feito no Tribunal, ouvir- questão da inconstitucionalidade
mos o Pleno sob a constitucionali- foi apresentada como verdadeira
dade ou não da cláusula, porque inovação à lide. O Dr. Juiz ar-
ela foi, em verdade repelida na gumenta, com muita propriedade,
sentença. Se vencido, daria o meu a respeito da questão, para permi-
voto sôbre o mérito. tir essa inovação, mas não posso
transigir com ela. Na realidade,
Voto-preliminar na inicial não foi alegada a ques-
tão da inconstitucionalidade. Tra-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: ta-se de pretensão de inconstitu-
- A prejudicial posta pelo Sr. cionalidade ao preceito legal e,
- 63-

portanto, um presumido conheci- liminar levantada pelo Sr. Min.


mento do autor que tinha que sus- Aguiar Dias, é em sentido contrá-
tentá-lo. desde a inicial. Para íno- rio ao ponto de vista que S. Ex. a
var a lide êle tinha que obter con- manifesta. Concordo que a ação
sentimento dos réus, na forma da não é um modêlo que se reco-
exigência do Código de Processo mende.
Civil. Portanto, a questão de in- O autor entrou com uma série
constitucionalidade foi, a meu ver, de petições, durante todo o curso
data venia, indêbitamente aprecia- do processo, isto é, petições estas,
da. ítsses fundamentos tinham às vêzes, sem maiores justificati-
que ser postos de parte para que vas ou oportunidade. Mas, de
a ação fôsse considerada de acôr- qualquer modo, a questão da in-
do com a inicial: a sentença deve cbnstitucionalidade foi posta de
ser conforme o libelo. A autori- maneira a permitir a manifestação
dade, no caso, é inócua, não pro- do Instituto, tanto que na audiên-
duz efeito. cia de instrução e julgamento o
A meu ver, portanto, o processo procurador do Instituto se repor-
deve voltar ao Juiz para apreciar ta às alegações anteriores, e fere
o pedido, inclusive tendo em vista a tecla da inconstitucionalidade.
a inicial. Então digo eu: bem ou mal as
É o meu voto. partes consideram o assunto ...
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: O Sr. Min. Aguiar Dias: -
- Pela ordem. O Sr. Min. Mesmo depois de integrada a lide
Aguiar Dias pôs a questão numa é possível inovar a inicial?
preliminar. Com a preliminar de O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
S. Ex. a acho que, para não per- - Já respondo a V. Ex. a . Mas,
dermos tempo, o Sr. Min. Rela- de qualquer sorte, as partes se ma-
tor, no seu voto, deveria conside- nifestaram sôbre a matéria, de
rar, imediatamente, a preliminar modo que o Juiz, na sentença, não
que foi posta pelo eminente Cole- ofendeu as regras da lei proces-
ga, para em seguida também eu sual.
votar. Se prevalecer o ponto de
O Min. Aguiar Dias ateve-se
vista, não precisamos, então, en-
aos preceitos ortodoxos ...
trar no debate dos outros aspec-
tos da questão. O Sr. Min. Aguiar Dias: -
O Sr. Min. Henrique d' Ávila': - Não são ortodoxos, são literais
O ponto de vista de V. Ex. a coin- disposições de lei.
cide com o do Sr. Min. Aguiar O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
Dias. - Digo preceitos ortodoxos sem
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Data nenhum efeito ofensivo; digo as-
venia, mando devolveu os autos sim porque são, na boa tradução
ao Dl'. Juiz. ítle apreciou a coisa da linguagem, aquêles preceitos
sob um fundamento que não po- que decorrem da lei, no seu rigor.
deria apreciar. O Sr. M in. AguiaT Dias:
Vou ler o art. 181: (lê).
Voto-2. a preliminar Se obedecer êsse artigo é ser
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: ortodoxo, recebo com muita satis-
- O meu voto, a respeito da pre- fação a qualificação ...
- 64-

o Sr. Min. Amarílio Benjamin: o Instituto estava de acôrdo. A


- Mas, dizia eu: o nosso eminen- cláusula constava da promessa, e
te Colega se atém aos rigores or- foi ratificada pelo advogado. O
todoxos da lei. Não o censuro por Juiz examinou, e até dentro dês-
isso, e até acho que a sua orien- ses próprios detalhes.
tação é a melhor, é a mais certa. Não obstante isso, êle achava
Não o sigo no caso dos autos, pri- inconstitucional.
meiro porque, como disse, o pro- O Sr. Min. Aguiar Dias: -- A
cesso todo, nessa hipótese, não se- petição, data venia, é nula em re-
guiu rigorosamente as recomenda- lação à questão de inconstitucio-
ções da lei. Em segundo lugar, de nalidade, é inepta se teve a inten-
qualquer forma, o princípio que ção de alegar o que alega.
o Código recomenda ficou obser- O Sr. Min. Cândido Lóbo: -
vado, porque o réu não foi surpre- Nem podia deixar de alegar, por-
endido, tanto que falou posterior- que quem propôs a ação foi o
mente nos autos e na audiência de comprador.
instrução e julgamento se referiu O Sr. Min. Aguiar Dias: - A
ao aspecto que o autor pôs fora da ação cominatória é imprópria pa-
inicial. Tranqüilamente, portanto, ra a discussão dessa matéria.
peço licença para manifestar mi- O Sr. Min. Cândido Lóbo: -
nha opinião contrária à de S. Ex.a , Intimar o réu a assinar o proces-
dispensando - a meu ver, sem so da escritura porque estava pa-
ofender a lei - a remessa dos au- go? Apenas a questão da consti-
tos para que o Juiz sentencie no- tucionalidade da venda, isto é, se
vamente. podia ou não ser considerada obri-
gatória na venda a questão da
Voto-2.a preliminar cláusula da inalienabilidade, fa-
zendo prevalecer o dispositivo da
o Sr. Min. Cândido Lóbo: previdência social que determina
Sigo a sugestão do Min. Revisor, que as aquisições feitas de imó-
Sr. Min. Amarílio Benjamin. veis de sua propriedade o sejam
Assim vou dar o meu voto sôbre com esta cláusula.
a preliminar levantada pelo Sr. O Juiz não tinha mais nada a
Min. Aguiar Dias. resolver senão isso: se a cláusula
Eu a repilo. Entendo que o Dr. prevalece ou não. Certo ou erra-
Juiz, mal ou bem, apreciou a hi- do êle, na sentença, diz que não
pótese dentro da alegação feita prevalece porque é inconstitucio-
nos autos, de inconstitucionalida- nal. De modo que, Sr. Presiden-
de do julgamento, e passou ao te, data venia, repilo essa prelimi-
mérito, seguindo a procedência da nar para entrar no âmago da ques-
ação, sem a cláusula. Quer dizer, tão e resolver o mérito.
êle não tinha outro assunto a exa-
minar nem a julgar, porque a de- Voto-mérito
fesa constitucional, por parte do
Instituto, constitui um êrro, e nem O Sr. Min. Cândido Lóbo: -
podia deixar de constituir, senão Sr. Presidente, os autores prome-
numa única coisa, a vigência da teram comprar do réu o aparta-
cláusula, porque, quanto ao resto, mento 608 da rua Senador Ver-
- 65-

gueiro n. 200, na cidade do Rio declaração de inconstitucionalida-


de Janeiro, com a respectiva fra- de, a meu ver segue-se que ela ti-
ção do terreno, e para efetivar a nha que ser aplicada. Ou é in-
quitação do preço propuseram constitucional e não se aplica, ou
ação de consignação em paga- é constitucional e se aplica. Por-
mento em cujo têrmo de recebi- tanto, 8r. Presidente, uma vez
mento foi clausulado que "a pre- não declarada a inconstitucionali-
sente quitação não exclui o dever dade da exigência, tinha ela que
do autor em obter a quitação por ser aplicada e reconhecida, mes-
escritura pública necessária à bai- mo porque é perfeitamente cons-
xa da hipoteca do Registro Imo- titucional; ela está amparada pelo
biliário" . art. 147 da Constituição Federal,
Integralmente pago o preço que estabelece que o uso da pro-
ajustado, não pode o vendedor se priedade está condicionado ao
negar ao dever de firmar a com- bem estar social. O que é, nada
petente escritura de quitação. mais, nada menos, o que está exi-
Foi o que os autores pretende- gindo o Instituto: que se condi-
ram. cione o uso da propriedade ao bem
A cominação da pena estabele- estar sodal; bem estar social dos
cida na sentença apelada, no va- segurados do Instituto. A finali-
lor de Cr$ 1.000 diários, é ra- dade do Instituto, como se sabe,
zoável. é assegurar, no âmbito maior pos-
Nego provimento para manter sível, a casa própria aos segura-
a sentença, por seus próprios fun- dos. Ora, se houver o risco, atra-
damentos. vés da antiga concepção, então
"ortodoxa", da propriedade sem as
Voto-mérito (Vencido) restrições que a Constituição Fe-
deral admite e estabelece, estará
o Sr. Min. Aguiar Dias: burlada a finalidade do Instituto.
Mais uma vez divirjo dos eminen- O segurado terá liberdade para
tes Colegas. Se uma exigência, fazer especulações imobiliárias,
por parte do Instituto, réu e ape- fraudando o fim social da institui-
lante, baseia"se num dispositivo ção. Tenho como perfeitamente
de lei, para mim é evidente que legítima a exigência do Instituto,
existe contradição em afastar a e só a repeliria sob a declaração
questão de inconstitucionalidade de insconstitucionalidade que o
e, ao mesmo tempo, considerar in- Tribunal se recusou a enfrentar.
válida a cláusula que se apóia em Dou provimento.
lei, e cujo único motivo de ex.c1u-
são seria o vício de inconstitucio- Voto-mérito
nalidade. Ora, como o vício de
inconstitucionalidade não foi en- o Sr. Min. Amarílio Benjamin:
frentado e, portanto, como se cin- - Srs. Ministros, ninguém mais
giu a douta maioria a discutir ex- do que eu deseja o bom resguardo
clusivamente a exigência do Ins- dos interêsses e objetivos da pre-
tituto em têrmos de ilegalidade; vidência social, tanto que não me
se a legalidade afirmada pelo Ins- cansarei de deplorar a má orien-
tituto não foi afastada por uma tação que te'm marcado a adminis-
- 66-

tração dos Institutos assistenciais, quitação do recebimento da im-


hoje transformados em reparti- portância. Então o Instituto não
ções públicas, cheias de servidores se poderia furtar a outorgar a es-
altamente remunerados e muitos critura definitiva. A escritura de-
com suas rendas utilizadas nou- finitiva só poderia ser outorgada
tros setores ou desviados até para na plenitude do domínio do com-
especulações. Lamento tudo isso prador. Não só porque o contra-
e se dependesse de mim poria to- to preliminar não consignou a
dos os Institutos, de repente, nos obrigação desta cláusula persistir
seus exatos objetivos. Daí, porém, indefinidamente, como esta cláu-
não chego a adotar a interpreta- sula briga - salvo disposição ex-
ção do Instituto quanto ao dispo- pressa de lei - com o sentido co-
sitivo da Lei Orgânica da Previ- mum do contrato de compra e
dência Social, relativamente a venda do imóvel. O contrato de
operações imobiliári.as. Ê verda- compra e venda do imóvel, satis-
de que também não louvo os ex- feitas as condições legais, transmi-
pedientes usados por alguns segu- te o imóvel, na sua plenitude, na
rados que, na omissão da lei, na- integridade do seu domínio, ao
vegam nas suas entrelinhas ou nas comprador. E tanto isso é certo
suas omissões para tirar proveito que a própria Lei Orgânica, no art.
dos benefícios que a lei estabelece 150, de algum modo corrobora a
justamente para ajudar os que interpretação que estou a desen-
precisam. Neste caso tenho para volver para os eminentes Colegas.
mim que o art. 149 visa aos con- Diz a Lei Orgânica no art. 150:
tratos imobiliários, aos contratos "A autorização de que trata o art.
de financiamento que não estão 149, só poderá ser concedida, no
liquidados, isto é, ao contrato de caso de imóvel componente de
financiamento por cinco e 20 anos. conjunto residencial adquirido ou
Seja sob a modalidade de promes- construído pela instituição, se o
sa de compra e venda, seja sob adquirente ou o cessionário fôr
a modalidade de hipoteca, não segurado ou dependente".
pode ser transferido, sem audiên- Tenho para mim que o art. 150,
cia do Instituto ou exame seu de combinado com o art. 149, deixa
quem seja o beneficiário. Essa ver que a cláusula, comumente
interpretação põe o assunto abso- existente em tais contratos de fi-
lutamente em têrmos de legali- nanciamento, somente vige quan-
dade e interpretação do contrato. do o financiamento persiste.
O contrato primitivo, com muita Nego provimento.
justiça, consignou a cláusula. Êste
contrato foi de promessa de ven- Decisão
da, segundo está registrado, e se-
gundo foi dito ainda há pouco. Como consta da ata, a decisão
Ora, natural, portanto, que a cláu- foi a seguinte: Preliminarmente,
sula existisse. Ocorreu, porém, a Turma, contra o voto do Sr.
que o segurado, que dispunha de Min. Relator, reputou desneces-
15 ou 20 anos, em um ano liqui- sário submeter o caso ao Tribunal
dou a obrigação. O Instituto acei- Pleno por envolver o mesmo ma-
tou a liquidação e forneceu-lhe téria de natureza constitucional;
- 67-

e ainda recusou a proposta do Sr. vencido o Sr. Min. Aguiar Dias


Min. Aguiar Dias de devo!ver o que provia o recurso ex officio
feito ao Dl'. Juiz a. quo para que e o apêlo voluntário do réu para
êste se pronuncie novamente, pon- julgar improcedente a ação. O Sr.
do de lado a pretendida argüição Min . Amarílio Benjamin votou
de inconstitucionalidade não for- com o Sr. Min. Relator. Presi-
mulada em têrmos; e, de meritis, diu o julgamento o Sr. Min. Hen-
negou-se provimento aos recursos, riqued' Ávila.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 17.889 GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Cândido Lôbo
Recorrente .- Juízo da Fazenda Pública, ex officio
Apelante - Renovadora de Tambores Tanoeiro Ltda.
Apelado - Henrique, Irmão & Cia. Ltda.

Acórdão
Ação ordinária visando a obter a nulidade do re-
gistro do nome comercial, sob o pretexto de que a
mesma gera propositada confusão com registros an-
teriores de terceiros. Sua improcedência. Os nomes
comerciais que se revestem de índole profissional
e não assumem caráter de fantasia podem ser usados
por terceiros sem qualquer impecílio legal.

Vistos, relatados e discutidos rique d' Ávila, Presidente e Rela-


êstes autos de Apelação Cível tor.
n.O 17.889, do Estado da Gua-
nabara, apelante Renovadora de Relatório
Tambores Tanoeira Ltda. e ape-
lado Henrique, Irmão & Cia. o Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
Ltda., assinalando-se também re- A espécie foi assim exposta e de-
curso ex officio: cidida pelo MM. julgador a quo:
Acorda, por unanimidade, a Pri- "Henrique, Irmão & Cia. Ltda.
meira Turma julgadora do Tribu- propôs a presente ação ordinária
nal Federal de Recursos em dar contra a Renovadora de Tambo-
provimento aos recursos, confor- res Tanoeiro Ltda. para ser de-
me consta das notas taquigráficas clarada judicialmente a nulidade
anexas, as quais, com o relatório do registro do nome comercial da
de fls., ficam fazendo parte inte- ré ou para obrigá-la a modificar
grante dêste julgado, apurado nos a sua denominação social, por for-
têrmos do resumo de fôlhas 241. ma a tornar impossível êrro ou
Custas ex Iege. .confusão com marcas e títulos de
Tribunal Federal de Recursos, estabelecimentos registrados pela
11 de dezembro de 1963. - Hen- autora, cumulada com indeniza-
- 68-

ção pelos prejuízos acarretados. 115 e 119/121 e autora os de fls.


Pediu, ainda, a condenação da ré 147/151 e 158/173.
nas custas e honorários advoca- Na audiência, conforme os têr-
tícios. mos de fIs. 177, foi deferida a
Alega a autora na inicial, ins- juntada do memorial da autora
truída com os documentos de fls. de fls. 178/189 sôbre o qual se
11/44, que a razão social da ré pronunciaram a ré (fls. 191/192)
gera confusão COln as suas marcas e a União (fls. 193/193v).
registradas (Tanoeiro e Adega Tudo visto e examinado.
Tanoeiro) e seu título de estabe- A autora possui as marcas "Ta-
lecimento (Adega Tanoeiro), noeiro" e "Adega Tanoeiro" e os
acarretando, assim, prejuízos con- títulos de estabelecimento "Adega
substanciados em concorrência Tanoeiro" e "Tanoaria Macedo",
desleal e desvio de clientela, pois devidamente registrados no De-
ambas as sociedades se destinam partamento Nacional de Proprie-
ao mesmo ramo de negócio (fa- dade Industrial, como se vê dos
bricação de tambores e vasilha- documentos anexados aos autos,
mes) . há vários anos.
Contestou a ré a fls. 53/61, Muito tempo após os referidos
com os documentos de fls. 62/66, registros, o antigo sócio da autora,
sustentando, em síntese, que a au- Manoel Joaquim Rodrigues da
tora pretende fazer deliberada e Silva, por ter sido excluído da-
injustificada confusão entre nome quela sociedade (fls. 32/37) fun-
comercial, devidamente registrado dou, em 6-5-1958, a sociedade ré,
no Departamento Nacional de In- registrando-Ihe o nome de "Reno-
dústria e Comércio, com marcas e vadora de Tambores Tanoeiro
título de estabelecimento registra- Ltda.", tendo também por finali-
do no Departamento Nacional da dade a fabricação de comércio de
Propriedade Industrial. Assim, tambores e vasilhames (fls. 31/
além de carecer de amparo legal 33). Assim, além de coincidir o
a pretensão da autora, o vo.cábulo mesmo ramo de negócio a ré ain-
",Tanoeiro" não é nome de fanta- da utilizou-se do vocábulo "Ta-
sia, mas tão-somente nome gené- noeiro" em seu nome comercial, o
rico indicativo de profissão, razão qual já se encontrava registrado
por que devia ser julgada impro- como marca e título de estabele-
cedente a ação. cimento da autora. É evidente,
A União Federal opinou, a fls. assim, que a inclusão do vocábulo
68/69, pela improcedência da "Tanoeiro" no nome .comercial da
ação. ré objetivou gerar confusão entre
Replicou a autora, a fls. 71/78. os fregueses das duas sociedades,
O Ministério do Trabalho pres- tentando, destarte, desviar a clien-
tou as informações de fls. 82/86, tela da autora, que já existia an-
103/104 e 125/132, sôbre as teriormente, e fazer-lhe concorrên-
quais falaram as partes. cia desleal.
Saneador, irrecorrido, de fls. Apega-se a ré, em sua defesa,
98v. ao fato de o vocábulo "Tanoeiro"
Posteriormente a ré juntou aos constar apenas de seu nome co-
autos os documentos de fls. 113/ mercial e não de qualquer marca
- 69-

ou título de estabelecimento a ela Houve, destarte, infringência


pertencente, pelo que não haveria do art. 110, parágrafo único e
colidência com os da autora, Tal 111, 2. 0 , do Código da Proprie-
fato, por si só, não é suficiente dade Industrial, sendo nula por-
para eximi-la de responsabilidade, tanto a denominação da ré quanto
pois para os leigos - Os clientes à inclusão do vocábulo "Ta-
em geral, - nome .comercial, tí- noeiro".
tulo de estabelecimento e marca Pelo exposto e o mais que dos
se confundem, caracterizando, em autos consta, julgo procedente a
muitos casos, determinados produ- ação para declarar nulo o registro
tos, como é o caso dos vasilhames do nome comercial da ré na par-
produzidos pela autora e pela ré. te referente à palavra "Tanoeiro"
Sem maior relêvo, ainda, o ar- e condená-la a pagar à autora
gumento da ré de que a palavra quantia a ser apurada em exe-
"Tanoeiro" não é nome de fanta- cução, por perdas e danos. Conde-
sia, mas simples nome indicativo no, ainda, a ré ao pagamento das
de profissão de quem "faz ou con- custas e honorários advocatícios
serta pipas, cubos, barris, dornas,
na base de 20% sôbre o valor da-
tinas, etc.", pois na hipótese dos
do à ,causa. Transitado em julga-
autos aquêle vocábulo transmu-
dou-se em nome de fantasia carac- do esta, oficie-se ao Departamen-
terizando e identificando o seu to Nacional de Indústria e Comér-
nome comercial. cio para os devidos fins.
Aliás, o nome .comercial da ré Dessa decisão, irresignada, ape-
sàmente foi aceito pela divisão de lou a ré com as razões de fls. 208
registro de c~mércio do Departa- a 221: (lê).
mento Nacional de Indústria e A autora contra-arrazoou de
Comércio, como se vê das infor- fls. 214 a 225: (lê).
mações de fls. 84/85, ao ensejo do E nesta Superior Instância a
arquivamento do seu ato constitu- douta Subprocuradoria-Geral emi-
tivo, em virtude dos esclareci- tiu o seguinte Parecer: "1. Deci-
mentos por ela prestados de que diu o MM. Juiz a quo que a
havia previamente feito depósito firma apelante não pode usar na
da marca "Tanoeiro", como repre- sua denominação comercial o no-
sentativa da expressão de fanta- me ''Tanoeiro'', pôsto que o mes-
sia no Departamento Nacional da mo está registrado no Departa-
Propriedade Industrial. No en- mento Nacional de Propriedade
Industrial (D.N.P.I.), como pro-
tanto, o pedido de registro da cita-
priedade da apelada. 2. Entre-
da marca foi arquivado, por não
tanto houve por bem, aquêle dig-
ter a ré cumprido, no prazo legal,
no Magistrado, de ressalvar a res-
exigência formulada por êste últi- ponsabilidade da União Federal,
mo órgão. Assim, por não possuir pelos motivos aduzidos na respei-
a citada marca, jamais poderia a tável decisão apelada. 3. Assim
ré registrar nome .comercial in- sendo, espera a União Federal,
cluindo a palavra "Tanoeiro", mor- preliminarmente, que seja manti-
mente porque ela já pertencia à da tal ressalva, de meritis, aguar~
sociedade autora. damos uma vez mais, a costumei-
-- 70-

ra Justiça. 4. É o nosso parecer, siderada como procedente; razão


salvo melhor juízo. por que, como disse de início, dou
É o relatório. provimento a ambos os recursos
para julgar improcedente a ação.
Voto
O Sr. Min. Henrique d'Ávila: -
Voto
Dou provimento a ambos os re- o Sr. Min. Cândido Lôbo: -
cursos para reputar improcedente Quando a propriedade industrial
a ação. O ilustre advogado colo- resguarda o nome, o faz no pres-
cou a questão em têrmos claros, suposto de que a mercadoria ex-
singelos e precisos. Na realidade, posta à venda seja a mesma e,
o que se pretende é anular o nome por isso, a confusão com a igual-
comercial de Renovadora de dade de nome usado por duas fir-
Tambores Tanoeiro, se dedica ao mas diferentes em relação ao mes-
fundamento de que tal nome se mo produto, traz a concorrência
confunde com o de Adega Ta- desleal.
noeiro, adota.do para fabricação No caso não existe isso, porque
de vinho. A ré, Renovadora de uma vende vinho e a outra cons-
Tambores Tanoeiro, se dedica ao trói e renova tonéis.
fabrico de tonéis, dornas, para o Portanto, estou de acôrdo com
acondicionamento de bebidas. É V. Ex.a .
evidente que o nome "Tanoeiro",
que se reveste de caráter profis- Decisão
sional, podia ser aproveitado pela
ré sem qualquer empecilho legal Como consta da ata, a decisão
ou de qualquer outra natureza. E foi a seguinte: Deu-se provimento
nem pode ser tido como nome de aos recursos, unânimemente. Os
fantasia que, pelo fato de ser ado- Srs. Mins. Cândido Lôbo e Ama-
tado por uma emprêsa, impede o rílio Benjamin votaram com o Sr.
uso por qualquer outra. Min. Relator. Presidiu o julga-
Não havia mesmo razão alguma mento o Sr. Min. Henrique
para que a ação houvesse sido con- d'Ávila.

APELAÇÃO CíVEL N.O 18.089 - GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Aguiar Dias
Recorrente - Juízo da Fazenda Pública, ex officio
Apelante - Estado da Guanabara
Apelado - Francisco de Oliveira Passos e outros
Acórdão
Retrocessão. Não é possível retrocessão quando
ocorre modificação parcial no destino do imóvel de-
sapropriado, pois a persistência do sentido público da
utilização do mesmo impede sua devolução.
Vistos, relatados e discutidos n. o 18.089, da Guanabara, ape-
êstes autos de Apelação Cível lante Estado da Guanabara e ape-
-71-

lado Francisco de Oliveira Passos lhe, assim, destinação diversa da-


e outros, assinalando-se também quela para a qual foram desapro-
recurso ex officio: priados; que pretendem 'os autores
Acorda, por maioria, a Primeira que a ré lhes devolva os imóveis,
Turma julgadora do Tribunal Fe- ou, se não o fizer, seja condenada
deral de Recursos, em rejeitar a ao pagamento das perdas e danos.
incompetência da Turma, por co- Contestando o feito, disse a ré:
nhecer dos apeIos; de meritis, por que os autores carecem do direito
igual votação, foram os mesmos de ação, face ao não atendimento
providos, para o efeito de ser ha- de uma das suas condições, no
vida como improcedente a ação, caso a possibilidade jurídica; no
conforme consta das notas taqui- mérito, a improcedência do pedi-
gráficas anexas, as quais, .com o do, eis que não teria havido modi-
relatório de fls., ficam fazendo ficação na destinação dos imóveis.
parte integrante dêste julgado, Foi determinada a intervenção da
apurado nos têrmos do resumo de Fundação Getúlio Vargas e da
fls. 227. Custas ex lege. União, que contestaram o feito a
Tribunal Federal de Recursos, fls. 73 e 87. Saneador a fls. 104.
27 de junho de 1963. - Henrique Realizada a audiência de instru-
d' Ávila, Presidente e Relator (art. ção e julgamento, o Dr. Juiz pro-
81 do R.I.). latou a sentença de fls. 186, di-
zendo que labora em equívoco a
Relatório ré, quando sustenta a inexistência
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: do direito de retrocessão no siste-
- Francisco de Oliveira Passos, ma legal vigente; que a doutrina
por si e como inventariante do Es- admite, sem discrepância, o direi-
pólio de D. Olímpia Passos, D. to de retrocessão, tal como regu-
Maria Passos de Castro e D. Er- lado no Código Civil; que só há
nestina Bulhões de Carvalho mo- impossibilidade jurídica, quando o
veram a presente ação ordinária sistema legal veda expressamente
contra a antiga Prefeitura do Dis- a concessão da medida; que a au-
trito Federal, alegando o seguinte: sência de texto legal permissivo
que por fôrça do Decreto Munici~ da concessão da medida não en-
paI n.o 6.489, de 1943, foram de- gendra a carência da ação, sendo,
sapropriados os imóveis da rua ao contrário, até vedado ao juiz
Santa Luzia n.OS 610, 604 e 590, negar a prestação jurisdicional
tendo, em conseqüência, os autores sob a alegação de lacuna legal.
assinado com a ré as escrituras de Quanto ao mérito, diz o Dl'. Juiz
transferência por desapropriação; que a solução da controvérsia está
que, de acôrdo com o plano de em se saber se ocorreu, como sus-
urbanização da área da Esplanada tentam os autores, modificação na
do Castelo, foram os imóveis refe- destinação para a qual foram os
ridos desapropriados por utilidade imóveis desapropriados; que a
pública, sendo esta, na hipótese, simples leitura do Decreto 6.489,
consubstan.ciada na construção de de 1939, que desapropriou os
um jardim; que, todavia, a ré fêz imóveis em referência, torna certa
doação da área correspondente, à a modificação apontada pelos au-
Fundação Getúlio Vargas, dando- tores e contra a qual ora se insur-
-72-

gem; que a área desapropriada se pela inicial e acolhida pela sen-


destinava a jardim, mas que, pos- tença. Segundo o nosso ponto de
teriormente à assinatura das escri- vista o direito de retrocessão pode
turas de transferência, procedeu ser exercido quando o poder pú-
a ré à modificação do projeto, re- blico desapropriante altera o des-
loteando a área, para, afinal, doar tino da desapropriação. Verifica-
a parte designada por lote "1" à se essa alteração sempre que ao
Fundação Getúlio Vargas; que é, imóvel, objeto do ato desapropria-
pois, flagrante a modificação; que tório, é dado um fim particular
a ré, quando alterou o projeto, de- ou privado. Não basta, portanto,
via oferecer aos autores a área que haja variação do projeto ou
correspondente aos imóveis desa- plano oficial em que se baseou a
propriados; que o fato de ser a desapropriação. A utilidade ou
donatária uma entidade colabora- interêsse público é gênero ou te-
dora da Administração em nada ma geral que comporta diversas
altera a solução da controvérsia; manifestações, sem que haja des-
que um imóvel pode ser desapro- naturamento, embora sob o as-
priado para ser doado a uma ins- pecto puramente material possa
tituição particular de utilidade pú- ocorrer mesmo alguma modifica-
blica, mas que é necessário ter sido ção dos serviços visualizados, de
a desapropriação feita para aquêle princípio.
fim. Diante dêsses fundamentos, Também não é possível retro-
o Juiz considerou procedente a cessão quando se dá modificação
ação, que deverá ser liquidada em parcial, pois a persistência do sen-
execução, para a apuração das per- tido público da utilização havida
das e danos, se a ré não oferecer impede a devolução do imóvel, e
aos autores os imóveis, pelo preço a alternativa das perdas e danos
da desapropriação. A ré foi con- em proporção é discutível diante
denada em honorários de advo- do Código que somente as dá, de
gado de 10% e nas custas. modo expresso, na compra e ven-
Sobem os autos com recurso de da (art. 1.156). Por fim, cabe
ofício e apelação do Estado da lembrar que na disciplina do Có-
Guanabara, a fls. 192. Contra- digo Civil, o direito de retrocessão
razões a fls. 202. Nesta Instân- é pessoal do expropriado, não se
cia, falou a Subprocuradoria-Ge- transferindo a seus herdeiros -
ral da República a fls. 213. art. 1. 150 combinado com o art.
É o relatório. 1.157.
Olhando-se o caso dos autos à
Voto luz das regras expostas, emerge de
tudo a improcedência da ação,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: para o que, diretamente, concor-
- Reconhecemos a existência do rem os seguintes dados: a) houve
instituto da retrocessão no atual apenas modificação parcial do pri-
direito brasileiro, nos têrmos em mitivo plano de aproveitamento
que o põe o Código Civil, quando das áreas desapropriadas; b) mes-
trata da perempção ou preferência. mo assim, além de o poder desa-
Todavia, não o concebemos nas propriante haver mantido parte
linhas rígidas e absolutas traçadas do imóvel na destinação inicial,
-73

não ocorreu desvirtuamento da Por tais fundamentos, damos


utilidade pública declarada, desde provimento ao recurso e julgamos
que a donatária do restante foi a ação improcedente. Custas pe-
a Fundação Getúlio Vargas, fun- los autores.
dação de direito público e que de-
sempenha atividades de interêsse Voto
público, além de gozar, por fôrça
de lei, de poder desapropriatório o Sr. Min. Aguiar Dias: -
em seu favor, o que, por si só, tor- Data venia, entendo que o simples
naria sem efeito prático qualquer fato de a União ter falado no fei-
anulação que, porventura, se le- to não altera a competência. A
vasse avante; e c) duas condômi- União pode, inclusive, ter falado
nas de um dos prédios em causa inadvertidamente. Não sei.
faleceram antes da propositura da O Sr. Min. Amal1'ilio Benjamin:
ação. - Acho que a Fundação seria
Acrescente-se como remate ao Fundação de direito público. En-
indeferimento da pretensão dos tão, tranqüilamente, acho que o
apelados que a desapropriação se nosso Tribunal é o competente.
efetivou, na hipótese, por escritu- O Sr. Min. Aguiar Dias: -
ras públicas, das quais consta ab- Data venia, tenho como indébita a
soluta conformidade com o preço intervenção da União no feito.
estabelecido e a determinação dos Por isso, dou provimento para
expropriados, por todo o sempre, que o processo corra no Juízo per-
garantirem o negócio, sem ressal- tinente aos feitos da Fazenda N a-
va ou reserva de qualquer direito, cionaI.
inclusive a retrocessão; e que das
mesmas escrituras, pelo menos de Aditamento ao Voto
duas delas, se verifica ainda que
os terrenos, em que os prédios fo- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
ram construídos, eram aforados à - Das informações, aduzo ao meu
Prefeitura desapropriante. Quan- voto que o Dr. Juiz, a fls. 70v.,
to a êsse aspecto, já decidimos determinou que a União tivesse
noutra questão que, sendo o poder vista do processo, bem assim a
desapropriante o senhorio do imó- Fundação Getúlio Vargas. Como
vel, o foreiro, como titular do do- já informou ao votar, o Sr. Min.
mínio útil, não pode pleitear re- Aguiar Dias, reitero o esclareci-
trocessão, que é específica do do- mento de que a União e a Fun-
mínio direto, em defesa do qual dação contestaram o pedido e, no
não dispõe de ação; e que, de qual- mais, sem pretender modificar o
quer modo, ficou extinto, com a ponto de vista que S. Ex. a já ex-
desapropriação, a relação enfitêu- pôs, acho que S. Ex.a, a meu ver,
tica, não cabendo nada mais ao põe uma preliminar de incompe-
foreiro (Embargos na Apelação tência, porque, se acha que o fato
Cível n. 9.586, de 27-11-1961). de a União e a Fundação Getúlio
Na espécie sub judice, as benfei- Vargas terem participado do feito
torias seguiriam a sorte da terra, não determina a nossa competên-
cujo uso não se poderia restabe- cia recursal, é evidente que a pre-
lecer. liminar é de incompetência e, as-

6-35883
-74 -

sim, do ponto de vista de S. Ex.a, contestando o direito dos autores,


a meu ver, a fórmula de oposição embora sem maior ,convicção, re-
ao meu voto é de conhecer ou nã.o pottando-se apenas às razões da
conhecer. Fundação Getúlio Vargas. Em
verdade, ela tomou parte no feito,
Ratificação de Voto evidentemente, como assistente
O Sr. Min. A.guiar Dias: da Fundação, valendo-se da facul-
Sr. Presidente, pela ordem. Não dade de assistir qualquer entidade
tem razão o Sr. Min. Amarílio de direito público ou privado, e
Benjamin, quando põe a alterna- até particulares. E embora não
tiva no conhecimento ou não co- tenha explicitamente declarado o
nhecimento. }j:ste Tribunal é ins- seu interêsse, parece-me que im-
tância recursal dos Juízes federa- plicitamente ela o reconheceu in-
lizados, isto é, o antigo 1.0 Ofício gressando no processo. Não pode:-
da Vara da Fazenda no antigo mos nos recusar, por isso, a apre-
Distrito Federal. Se êste é o Juí- ciar o caso em segundo grau.
zo recursal, a nós é que .cabe anu- Reputo, portanto, o Tribunal com-
lar as decisões relativas a processo petente. Dou a palavra ao Sr.
indêbitamente em curso naquele Min. Revisor para pronunciar-se
ofício. Não seria caso de declara- sôbre o mérito.
ção de incompetência dêste Tribu-
nal, porque o Juízo de Primeira Voto-mérito (Vencido)
Instância tem como instância re- O Sr. Min. Aguiar Dias:
cursal êste Tribunal. Sr. Presidente, no mérito, tenho
Se o feito tivesse corrido pelo para mim que a retrocessão não
2.° Ofício, hoje desdobrado em existe no direito brasileiro com o
outra Vara, então sim, era caso caráter que lhe deu o Código de
de declaração de incompetência, Processo Civil.
porque não a tínhamos para jul- Divergindo, data venia do emi-
gamento de feitos corridos no Ofí- nente Relator, porque a retroces-
cio pertinente, exclusivamente, ao são, hoje em dia, de acôrdo com
Estado. Mas o feito correu indê- o sistema da lei de desapropria-
bitamente no 1.0 Ofício, e êste é ção, tem caráter pessoal. Não
federalizado. Ora, se assim ocorre, mais tem caráter real como ela
a meu ver o que cumpre fazer é se reveste no Código de Processo
declarar nulo, para que o feito se Civil. Tendo caráter pessoal, con-
processe em Juízo pertinente às verte-se a obrigação respe.ctiva
causas em que seja interessado o em perdas e danos, e é isso que
Estado como substituto do antigo cabe. Neste ponto aparto-me do
Distrito Federal. eminente Relator, para considerar
que não tendo sido dado ao imó-
Voto-preliminar vel um destino, pelo menos, gene-
O Sr. Min. Henrique d'Ávila:- ricamente de utilidade pública -
Reputo, preliminarmente, compe- caso em que concordaria com
tente o Tribunal para apreciar e S. Ex. a, porque entendo que não
julgar o feito em segundo grau. é necessário que se dê destinação
Tenho para mim que a União, específica àquilo decLarado, mas
cham-ada ao processo, a êle aderiu, qualquer destinação compreendi-
- 75-

da no gênero "utilidade pública", lator in totum, reconhecendo a


repito, não tendo sido dada des- improcedência da ação e, por is~'o,
tinaçãoespecífica nem genérica, como S. Ex. a , dou provimento a
mas destinação à venda a parti- ambos os recursos.
culares, para .construção de um
edifício nitidamente particular, Decisão
tendo em vista que não existe se-
quer a participação da Fundação Como consta da ata, a decisão
Getúlio Vargas, para coonestar foi a seguinte: Rejeitada a in-
disposição absoluta e definitiva do competência da Turma, por co-
bem, entendo que a Prefeitura do nhecer dos apelos, por maioria de
Distrito Federal, que permitiu votos; de meritis, por igual vota-
essa alienação, está obrigada a ção foram os mesmos providos,
compor perdas e danos. para o efeito de ser havida como
Portanto, neste ponto, confirmo improcedente a ação. Na prelimi-
a sentença. nar, o Sr. Min. Henrique d'Ávila
votou com o Sr. Min. Revisor;
Voto-mérito no mérito, o Sr. Min. Henrique
O Sr. Min. Henrique d'Ávila: - d' Ávila acompanhou o Sr. Min.
Data venia do eminente Min. Re- Relator. Presidiu o julgamento o
visor, acompanho o Sr. Min. Re- Sr . Min. Henrique d' Ávila.

APELAÇÃO CíVEL N.O 18.327 BA.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Oscar Saraiva
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Apelantes - Francisco Prisco Paraíso e Petróleo Brasileiro
S . A. - Petrobrás
Apelados - Os mesmos
Acórdão
Competência recursal do Tribunal Federal de
Recursos em acão movida contra Petróleo Brasileiro
S . A. Voto preliminar v,encido. Desapropriação indi-
reta. Fixação do valor do bem que dela foi objeto
e do período de sua ocupação.

Vistos, relatados e discutidos ré, nos têrmos do voto do Sr. Min.


êstes autos de Apelação Cível Relator, prejudicado o apêlo do
n. o 18.327, do Estado da Ba- autor, conforme consta das notas
hia, apelantes Francisco Prisco taquigráficas anexas, as quais,
Paraísq e Petróleo Brasileiro SA., com o relatório, ficam fazendo
Petrobrás e apelados os mesmos: parte integrante dêste julgado,
Acorda, por maioria, a Segunda apurado nos têrmos de fôlhas 209.
Turma julgadora do Tribunal Fe- Custas de lei.
deral de Recursos, em' dar provi- Tribunal Federal de Recursos,
mento, em parte, ao recurso da 3 de abril de 1964. - Godoy
- 76-

Ilha, Presidente; Oscar Saraiva, ção, e custas do processo", tudo


Relator. nos têrmos seguintes: (lê).
Não houve recurso de oficio.
Relatório Apelou o autor, a fls. 171, pos-
tulando maior quantia para os da-
o Sr. Mino Oscar Saraiva: nos ocasionados, e para os hono-
Bel. Francisco Prisco Paraíso, rários advocatícios, com as razões
proprietário da fazenda "Buril", de fls. 171/174.
situada no Município de Mata de Também apelou a Petrobrás,
São João, na Bahia, moveu ação com as razões de fls. 176/181v.
contra a Petróleo Brasileiro S. A. Contra-arrazoaram os litigan-
- Petrobrás, para que esta seja tes.
compelida a lhe pagar o valor "de Falou a Procuradoria da Repú-
uma área de pouco mais de 20 blica.
tarefas de terra" dessa fazenda, Nesta Instância a Subprocura-
que vem ocupando, irregularmen- doria-Geral da República subscre-
te, desde abril de 1955, pagamen- veu as razões da Petrobrás.
to êsse que deverá ser acrescido É o relatório.
das importâncias correspondentes
a perdas e danos, honorários ad- Voto-preliminar (Vencido)
vocatícios, à razão de 20% sôbre O Sr. Min. Oscar Saraiva:
o total da condenação. A primeira dúvida que convém de-
A emprêsa ré, regularmente ci- cidir, no julgamento do caso pre-
tada, não contestou a ação. sente, é a da competência recur-
O Dr. Juiz mandou ouvir a sal desta Côrte, indagando-se se
Procuradoria-Regional da Repú- configura a hipótese do art. 104,
blica, que se pronunciou a fls. n, a, da Constituição. Trata-se
37/38v., pedindo justiça à falta de ação movida contra sociedade
de elementos para qualquer outro de economia mista, a Petróleo
pronunciamento. Brasileiro S. A . (Petrobrás), e o
Antes da prova pericial, acor- Egrégio Supremo Tribunal Fede-
reu, porém, a Petrobrás e louvou- ral tem entendimento, hoje pací-
se em perito. fico, no sentido de que não parti-
A perícia se fêz, mas, com o fa- cipam, tais sociedades, dos privi-
lecimento posterior do perito do légios de fôro da União. É certo
Juízo, outro foi designado e seu que, no caso dos autos, funcionou
laudo consta de fls. 108/110. o Dr. Procurador-Regional da·
Sentenciou o Dr. Juiz, a fls. República, mas isso ocorreu por
156/160, julgando a ação proce- iniciativa do Juízo, que houve por
dente "para condenar a ré, a pa- bem ouvir essa digna autoridade,
gar ao autor, a título de indeniza- e sem que disso resultasse outra
ção a importância correspondente iniciativa do representante da
a 87.120 m 2 da área de terra em União a não ser a de oficiar, como
causa à razão de Cr$ 80 por determinado pelo Juízo, e sem
unidade, e mais Cr$ 408.000 que se afirmasse interêsse parti-
por danos ocasionados, além de cular da União, justificativo de
honorários advocatícios, na base seu ingresso como assistente, ao
de 5% sôbre o total da condena- contrário do que tem ocorrido em
-77-

outros processos exprOipCiatórios, Voto-preliminar


em que são assistentes emprêsas
O Sr. Min. Godoy llha: - Data
de economia mista.
Pelo exposto, meu voto preli- venia do Sr. Min. Relator, acom-
minar é para declinar da compe- panho também o Sr. Min. Arman-
tência recursal do Tribunal, en- do Rollemberg, atendendo à cir-
tendendo competente, o Egrégio cunstância de que a União figura
Tribunal de Justiça da Bahia. no pleito na relação processual de
assistente, cabendo à Justiça es-
Decisão pecial o conhecimento do recurso.
Como consta da ata, a decisão Voto-mérito
foi a seguinte: Depois do voto do
Sr. Min. Relator dando pela in- O Sr. Min. Oscar Saraiva:
competência dêste Tribunal, Como vimos no Relatório, não se
adiou-se o julgamento a pedido trata de ação de desapropriação,
do Revisor. Presidiu· o julgamen- mas da chamada "desapropriação
to o Sr. Min. Godoy Ilha. indireta", visando a obrigar a en-
tidade que tinha o direito de de-
Voto-preliminar sapropriar, a ressarcir, ao proprie-
O Sr. Min. Armando Rollem- tário, não só do preço do imóvel
berg: - Data venia do eminente que, sem atender a essa formali-
Sr. Min. Relator, não acôlho a dade, indevidamente ocupou, co-
incompetência do Tribunal para mo da renda que dêle deixou de
decidir o presente feito. Entendo auferir no período dessa ocupa-
que, na hipótese, não cabe o exa- ção. Daí a procedência do pedido
me da competência desta Côrte do autor, bem reconhecida pela
para decidir os casos de que par- decisão de Primeira Instância.
ticipa a Petrobrás, porque dos au- Não nos parece, contudo, que
tos se verifica ter a União funcio- devam prevalecer as estimativas
nado no feito de forma a dever ser que a respeitável sentença adotou
considerada como assistente. para tais ressarcimentos, embora
Verifica-se que não tendo ha- baseada nos pronunciamentos dos
vido contestação da ação por par- peritos que a respeito oficiaram.
te de Petróleo Brasileiro S. A., o O preço do metro quadrado de
Dr. Juiz a quo determinou fôsse terra ocupada que, para o perito
aberta vista à Procuradoria da da Petrobrás, baseado em valôres
República, a qual oficiou às fô- de transações contemporâneas, foi
lhas 37/40 e, mais tarde, após avaliado em Cr$ 3,40 (fls. 77),
prolatada a sentença a fôlhas 192, para os demais peritos, e como
pronunciou-se, subscrevendo o re- adotado pela respeitável senten-
curso de apelação interposto pela ça, valeria Cr$ 80. Como se
Petrobrás. evidencia, é tamanha a diferença
Assim sendo, tenho em que, em- das estimativas que não seria pos-
bora não tivesse requerido, ado- sível chegar-se a uma média ra-
tou a União a posição de assisten- zoável. Por outro lado, há que
te no processo, o que torna dara atender, a que a o.cupação atingiu
a competência dêste Tribunal apenas uma área de 87,120 m 2 ,
para julgá-lo. quando tôda a Fazenda "Buril"
-78 -

foi adquirida, em Junho de 1955, veículos e animais, pela estrada


pelo preço de Cr$ 1 .000.000, de rodagem construída para seus
enquando que o preço fixado, para serviços, por essa Companhia".
a área desmembrada, atinge a Adoto os valôres aí indicados
Cr$ 6.969.00.0. Ora, a área (letra b), com a correção da ma-
total compreende, nos têrmos das joração correspondente aos índi-
medidas locais, 900 tarefas, en- ces de depreciação monetária,
quanto a área desapropriada, re- como indicada pela Fundação Ge-
presenta 20 tarefas. Por aí se vê túlio Vargas, no período que vai
que não é de prevalecer o cálculo de 28-12-59, data da notificação,
que a respeitável sentença adotou, a 3-12-61, data da avaliação que,
não obstante apoiada nas louva- pela lei, é a que deve prevalecer.
ções dos peritos em maioria. Quanto à compensação do pe-
Prefiro, por isso, ater-me a crité- ríodo de ocupação, o cálculo far-
rio diverso daquele que prevale- se-á também como indicado na lé-
ceu nesses laudos, e que nos é for- tra b até a propositura da ação.
necido pelo próprio autor, e que Caberá, outrossim, reconhecer ao
se lê a fls. 23, na proposta que autor e a seus sucessores, a servi-
em março de 1959, dirigiu à Pe- dão de passagem aí estipulada.
trobrás, oferecendo-lhe o arren- Os juros serão compensatórios,
damento ou a aquisição da área contados da data da ação. Os ho-
ocupada, assim dispondo: "Tudo norários são devidos, como reco-
isso considerado, submete à esco- nhecidos pela respeitável sentença
lha dessa Companhia, uma das de Primeira Instância, com as al-
duas formas seguintes de regula- terações dos quantitativos como
rização da situação; reconhecidas.
a) arrendamento das terras Assim, pois, meu voto é para
ocupadas, inclusive com a estrada prover parcialmente os recursos,
de rodagem, à razão de ..... . determinando a apuração dos va-
Cr$ 2.000 por tarefa e por ano lôres fixados em execução.
para o período compreendido en-
tre janeiro de 1955 inclusive e Decisão
dezembro do corrente ano. Fin- Como consta da ata, a decisão
do êsse prazo a renda anual será foi a seguinte: Prosseguindo-se no
acrescida de 25%, para cada pe- julgamento, rejeitada, por maio-
ríodo de dois anos; ria de votos, a preliminar de in-
b) venda das ditas terras competência, a Turma deu pro-
ocupadas por preço que, aos juros vimento, em parte, ao recurso da
bancários oficiais, produza renda ré, nos têrmos do voto do Sr. Min.
de Cr$ 2 . 000 por ano e por ta- Relator, prejudicado o apêlo do
refa, compensado nesta mesma autor. Na preliminar, o Sr. Min.
base o período já transcorrido da Godoy Ilha votou com o Sr. Min.
ocupação. Em qualquer hipótese Armando Rollemberg; no mérito,
deverá ser assegurada a mim e os Srs. Mins. Armando Rollem-
aos meus sucessores na proprie- berg e Godoy Ilha acompanharam
dade da Fazenda do Buril, servi- o Sr. Min. Relator. Presidiu o
dão de passagem, inclusive para julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.
-79 -

APELAÇÃO CíVEL N.o 18.492 GB.


Relator - O Ex,mo Sr, Min, Cândido Lôbo
Revisor - O EX,mo Sr, Min, Amarílio Benjamin
Apelante - Construtora L. Quattroni S. A.
Apelado - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

Acórdão

Empreitada de obras. públicas. Cláusula rebus


sic stantibus.
Normalmente, ninguém contrata com a Admi-
nistração Pública no Brasil, na quadra presente, sem
levar em conta a variação salarial e a demora de
pagamento, pelo Tesouro. Fora disso, a invocação
da cláusula exige, ao lado da boa-fé, prova de que
o cumprimento do contrato arruina o estipulante ou
lhe deu prejuízo, se o cumpriu.

Vistos, relatados e discutidos das de Rodagem, um contrato de


êstes autos de Apelação Cível empreitada de diversas obras ro-
n. O 18.492, do Estado da Guanaba- doviárias, porém, dada a elevação
ra, apelante Construtora L. Quat- do custo da mão-de-obra e dos
troni S.A. e apelado Departamento materiais, quer a firma autora
Nacional de Estradas de Roda- reajustar os preços contratados,
gem: aplicando-se a regra contida na
cláusula de rebus sic stantibus.
Acorda, por maioria de votos, a
:l!:sse, em síntese, o pedido e sua
Primeira Turma julgadora do Tri-
razão de ser.
bunal Federal de Recursos, em
O Departamento réu pede a ci-
negar provimento, vencido o Sr.
tação da União, porque será ela
Min. Relator, conforme cons--
que vai suportar o ônus da de-
ta das notas taquigráficas anexas,
manda, e sustenta que o contrato
as quais, com relatório, ficam fa- adveio de uma concorrência, e,
zendo parte integrante dêste jul- assim, pagar mais ao autor, seria
gado, apurado nos têrmos de fô- burlar os efeitos dessa concor-
lhas 369. Custas de lei. rência em favor de quem, afinal,
Tribunal Federal de Recursos, vai receber mais de que o pre-
23 de junho de 1964. - Henri- visto na preferência admitida pelo
que d' Ávila, Presidente; Amarílio melhor preço oferecido, em re-
Benjamin, Relator (art. 77 do lação aos demais concorrentes.
RI) . Apreciando o assunto, a sen-
tença examinou a argumentação
Relatório de ambas as partes e concluiu di-
O Sr. Min. Cândido Lôbo: - zendo que: "Duas preliminares
Sr. Presidente. Trata-se de ação foram opostas pelo réu e devem
para obter reajuste de preços. A ser examinadas: a primeira, con-
firma autora celebrou com o réu, cernente à ilegitimidade de ad
Departamento Nacional de Estra- causam, foi superada pelo sanea-
- 80-

dor irrecorrido e a outra referente álea administrativa, inconfun-


à prescrição de algumas parcelas dível com a álea econômica, ori-
reclamadas pela autora . Entre~ unda da imprevisão.
tanto, o réu não apresentou ele- Pode a parte invocá-la para re-
mentos convenientes para que se querer o reajustamento dos con-
apurasse o fim da empreitada, in- tratos.
clusive o recebimento de preço, Alega a autora que o aumento
para que pudesse auferir da au- do salário mínimo deriva de con-
tenticidade da alegação. Por outro dições alheias à vontade das par-
lado, afirma-se que a ré pedira, tes. Examinando-se o assunto com
administrativamente, o reajusta- isenção, à luz da Sociologia, a
mento, de sorte que dúvidas exis- afirmação não pode ser aceita in-
tem a respeito da matéria. tegralmente. Torna-se difícil, na
A jurisprudência tem admitido conjuntura econômica nacional,
a teoria da imprevisão, que não destacar as responsabilidades do
consta de nenhum dispositivo príncipe e das emprêsas e aniquila-
legal, para temperar a rigidez do tar o seu grau. Entretanto, o
art. 1. 246 do Código Civil, se- bom senso indica que nenhum go-
guindo as lições da doutrina, que vêrno pode aceitar insensivel-
devolveu, ao direito, o velho prin- mente, que o assalariado continui
cípio consagrado pelos canonis- percebendo aquilo que não repre-
tas: "contractus qui habent tractum senta o mínimo previsto na lei.
sucoessivum et dependentiam de Não se pode repetir a conhecida
futuro r.ebus sic stantibus intel- e macabra anedota do cavalo in-
liguntur", após o império do con- glês, para verificar a resistência
tratualismo, expresso no pacta do assalariado mínimo.
sunt servanda." A concessão de salário mínimo
No pedido em tela, observa-se é uma decorrência dessa sombria
que a autora assinala, como cons- inflação, tão bem apresentada
tante, para justificar a revisão, os pela autora.
aumentos de salário mínimo, tanto A pergunta, portanto, que deve
que, no segundo quesito, apresen- ser respondida, e os doutos pe-
tado aos peritos, o seu ilustre as- ritos da autora e do Juízo ne-
sistente-técnico, dando ênfase à nhuma contribuição trouxeram,
pergunta, responde: "Constitui foi se alteração do salário mínimo
matéria pacífica que em obras de provocou bouleversement, na eco-
natureza das vistoriadas a causa nomia da autora.
da variação do custo da mão-de- Não nos devemos impressionar
-obra e dos materiais reside nas com a cifra encontrada, cêrca de
revisões salariais decretadas pelo 345 milhões de cruzeiros, segun-
Govêrno, ou melhor, no estabele- do o laudo do perito da autora e
cimento de novos níveis de salá- cêrca do Juízo, porque significa,
rio mínimo" . apenas, que se trata de uma po-
Cumpre, aqui, estabelecer outra derosa emprêsa, que executou
distinção que a autora não cuidou obras de vulto em todo o territó-
fazer: a revisão do salário mí- rio nacional.
nimo é um ato de autoridade, fa- A tese central da teoria, na con-
ctum principis, constituindo a formidade do pensamento dos au-
-81-

tores, depende da verificação da tende através do montante de ci-


tríplice condição apontada por fras, aparentar impressão de fato
Duez e Dabeyre. inexistente,
Seria previsível o salário míni- A autora, em março de 1958,
mo? A sua aplicação trouxe con- alegando a realização das obras
seqüências decisivas na vida da reajustadas, solicita ao D.N.E.R.
emprêsa? a adjudicação de outros serviços
Como lembra Themístocles, os de pavimentação: "de acôrdo com
contratos longos são os únicos as normas vigentes e pelos preços
suscetíveis de reVlsao. Entre- e condições da proposta da firma
tanto, como se observa da lista vencedora na licitação de que foi
das obras realizadas pela autora, objeto o Edital n,O 24/57, sendo
as mesmas, normalmente, não ex- que os serviços não especificados
cederam de um ano. no mesmo, serão pagos pelos
Ora, dentro de períodos tão preços constantes das tabelas em
curtos são fàcilmente previsíveis vigor" (fls. 170).
os aumentos de salário mínimo. Ora, é evidente que se os preços
Não só são anunciados com gran- não fôssem compensadores, a au-
de antecedência, precedidos de de- tora não se arriscaria a propor a
morados estudos, como êsses ín- realização de serviços, na base de
dices são trazidos ao conheci- um elemento, que procura apre-
mento público por órgãos espe- sentar, nesses autos, como ruino-
cializados como a "Fundação Ge- sos aos seuS interêsses ou lhe cau-
túlio Vargas", que oferecem os sando os prejuízos que alega.
dados necessário~ a uma previsão. Cai por terra, assim, tôda a ar-
Diante dêsses dados, aquilo que gumentação da autora, em face de
não escapa ao senso comum não um documento de sua iniciativa,
pode permanecer obscuro à em- já que inadimissível, por inju-
prêsa na magnitude da autora, riosa, a,hípotese da autora afastar
como técnico e experts capazes, as concorrentes, com propostas
que sabem manipular os resulta- mais baixas, para reclamar, poste-
dos obtidos pelos índices em riormente, o reajustamento.
aprêço. Em todo caso, nenhuma dúvida.
Por outro lado, como assinalou subsiste que, se homologada a re-
o perito do réu, mais de 70% dos visão pleiteada, constituiria uma
serviços reajustados foram recebi- injustiça, relativamente aos con-
dos antes da vigência do Decreto correntes que, por prudência, dei-
35.450 que alterou os níveis do xaram de oferecer os mesmos
salário mínimo, motivo suficiente preços da· autora. A cláusula da
para afastá-los das presentes co- imprevisibilidade deve ser aplica-
gitações. da com critério em relação ao re-
Portanto, deduz-se que era fà- clamante e equanimidade aos
cilmente previsível aquilo que é concorrentes.
hoje apresentado como o impre- A autora não apresentou ele-
visível. mentos convincentes a favor da
Depreende-se, entretanto, de tese que depende, sem embargos,
um documento dos autos, que não do costumeiro brilho de seu pa-
houve o alegado prejuízo e se pre- trono. Conceder o reajustamento
- 82

seria fazer generosidade com o di- que aconteceu ainda no curso da


nheiro público. presente ação ao ser expedido o
Ante o exposto, julgo a ação Decreto n.0309 de 6-12-61, que
improcedente, condenando a au- veio regular, justamente o que
tora nas custas do processo. nesta ação se eolima, isto é, o rea-
No recurso de fls. 299, procura justamento d~ contratos cuja one-
a firma autora combater a argu- rosidade ocorreu por fatos intei-
da sentença, item por ramentes alheios à vontade dos
item, e em resumo sustenta que contratantes, com alteração apre-
tem a seu lado a norma jurispru- ciável das condições econômicas
dencial e a doutrina, ambas, con- existentes no tempo da concor-
vergentes na aplicação da clásula rência. Dentre êsses, destaca o
de rebus sic stantibus ao caso dos referido Decreto, no parágrafo
autos, terminando suas conside- único do seu art. 3.°, a alteração
rações dizendo: "A apelante, com sensível da situação cambial e al-
a inicial e no curso da presente fandegária, os níveis salariais, e os
ação, trouxe aos autos um grande encargos sociais e trabalhistas."
número de manifestações, doutri- Insistem as razões de apelação:
nárias e jurisprudenciais, abrigan- " . .. Data venia do ilustrado pro-
do tôdas as teorias da imprevisão, lator da sentença apelada, a ma-
derrogatória do princípio de que téria é, hoje, incontroversa. E a
pacta sunt servanda. Assim, na própria Administração Pública,
réplica de fls. 37, 38 e 39, inu- ainda no curso desta ação, o re-
meras decisões administrativas ali conhece. Com efeito, por fôrça do
citadas, pareceres do Min. Oscar Decreto n.o 309, de 6-12-1961,
Saraiva, então Consultor Jurídico publicado no Diário Oficial da
do Ministério do Trabalho, de J. mesma data, seção I, parte I, o
Guimarães Menegále, Alcino Sa- Govêrno da União estabeleceu
lazar, Lúcio Bittencourt, Themís- normas para a revisão de preços
tocles Cavalcanti e Carlos Medei- de contratos de obras e outros ser-
ros Silva. Voto do Min. Luiz viços a cargo do Govêrno Federa1.
Gallotti, sentença do então Juiz Em seu art. 3.° admite o referido
Nelson Hungria (Arq. lud., voI. Decreto a revisão nos casos for-
16, pág. 415), todos considerando tuitos e de fôrça maior, ou quando
que a regra Tebus sic stantibus não ocorrer qualquer das seguintes
é contrária a texto expresso da lei circunstâncias: a) ............ .
brasileira . b) ônus superveniente excessivo,
Mas, Ex.mos Srs. Ministros, se decorrente de ato do Estado; pa-
essas manifestações não tinham rágrafo único: Na verificação das
isoladamente, o amparo da Admi- circunstâncias enumeradas no
nistração Pública, o que se dirá item b, dêste artigo, serão levados
agora, quando o próprio Govêrno em conta os atos do Poder Publi-
Federal, cedendo ao impulso ir- co que alterou sensivelmente a si-
resistív:.el dessa orientação, reco- tuação cambial e alfandegária, os
nhece êle próprio, o caráter impe- níveis salariais e os encargos so-
rativo da revisão dos contratos de ciais e trabalhistas. Não parece à
empreitada que não contenham apelante que os contratos que as-
cláusula de reajustamento. Foi o sinou não possam ser considera-
- 83-

dos a longo prazo, como tais, os fome para lhe aumentar o salá-
superiores a seis meses. E com rio? Não vê a apelante, à luz da
êsse pensamento se afina, ple- doutrina e da jurisprudência do-
namente, o apelado, cujo Conse- minante à época do ajuizamento
lho Regional, ao disciplinar a con- da ação e, no curso desta, nos têr-
cessão de reajustamentos de mos claros do Decreto n.o 309,
preços autorizados pelo Decreto citado, que outra prova se possa
0.° 309, no item 11.° das Instru- exigir para a revisão de preços,
ções que expediu, aceita o rea- além da que, fartamente, produ-
justamento após seis meses da zia. Conclue, por final, a sentença
data da concorrência. Sendo os apelada, que não houve o alegado
contratos da apelante superiores, prejuízo, face a uma proposta da
todos, a um ano, e sabido que, en- apelante, de 1958, em realizar
tre a data da realização da con- obras, sob adjudicação, aos preços
corrência e o efetivo início das constantes da tabela em vigor. O
obras contratadas medeia um es- argumento, à primeira vista, im-
paço de, no mínimo 90 dias, con- pressiona, mas não é válido. Fá-
clue-se, fàcilmente, que todos os cil é comprová-lo. A apelante,
contratos da apelante podem ser como tôda emprêsa construtora
considerados a longo prazo. Em de obras rodoviárias, é obrigada a
processo examinado pelo dr. pe- deslocar, da sede principal de sua
rito desempatador, por êle citado atividade para o local das obras
a fls. 223, atendendo a determi- que vai realizar, tôda uma série
nação do Diretor-Geral do Depar- de máquinas, equipamento, pes-
tamento apelado, em requerimento soal, serviço médico, etc. Lá é
da apelante, assim se pronunciou instalado o que se chama o can-
o ilustre Procurador-Geral da- teiro de obras, com acampamento,
quela autarquia: "O encareci- estradas de acesso, instalações de
mento dos salários, no caso, de- eletricidade, britadores e tudo o
correu de ato expresso e direto do mais de que se constitui o com-
Govêrno. Este é, a rigor, o dono plexo e custoso equipamento ne-
da obra. Se determinou, por ato cessário a uma obra rodoviária.
legal, o encarecimento da obra, Constitui o chamado canteiro de
não há como apelar para a intan- obras um pesado ônus inicial do
gibilidade dos preços contratuais" empreiteiro. Terminada a "obra
(fls. 223 dos autos). Além da contratada, se outra nas proximi-
prova pericial, consubstanciada no dades não lhe é entregue, por con-
longo e minudente laudo do seu corrência ou adjudicação, é o em-
perito (fls. 62 a 124), do perito preiteiro obrigado a remover tô-
do Juízo (fls. 221 la 214), em das as pesadas máquinas para ou-
que as divergências se relacionam tros locais distantes, de obras que
tão-somente ao quantum devido à vai realizar, do canteiro, porém,
apelante, nada mais lhe cumpria muito pouco aproveitando. Mas,
provar. Será exigível do preten- se obtém o empreiteiro uma ad-
dente a sua ruína, com a apresen- judicação de serviços próxima ao
tação da prova de sua falência ou canteiro que instalou, ou que não
do pedido de concordata? Espe- exija movimentação de máquinas
ra-se que o assalariado morra de a grandes distâncias, então terá
-84 -

êle, nos preços fixados, um per- leis para os que as celebram -


centual de lucro muitíssimo mais "et aucune considération d' équité
elevado do que se a outro emprei- n' autorise 1e juge, 101's que ces
teiro, que não tivesse um canteiro convertions sont c1aires at préci-
próximo, fôsse adjudicada a obra. ses, a modifier, sous prétexte de
Daí porque, em alguns casos, se les interpréter, les stipulations
dispensa a concorrência, do que qu'el1es renfermenf' (Les grands
se beneficiam ambos os contra- arl'éts de la jurisprudence civile).
tantes. " É o relatório.
A Subprocuradoria-Geral opi-
nou dizendo que o assunto estava Voto
devidamente tratado nos autos e O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
que por isso esperava a confirma- O encarecimento da vida, que as-
ção do julgado recorrido, passan- soberba a realidade contempo-
do, então, a demonstrar a asser- rânea do Brasil, gira em tôrno de
tiva com vários argumentos em um único fator: o nível do salário
apoio da conclusão a que havia mínimo, mais uma vez e recente-
°
chegado Dr. Juiz a quo, ponde- mente aumentado na razão do dô-
rando que: " ... 7. A Jurispru- bro (21 para 42 mil cruzeiros) .
dência dos nossos Tribunais, mor- Se êsse nível permanecesse es-
mente a do Supremo Tribunal Fe- tacionário, o custo de tôdas as uti-
deral, tem se orientado no sentido lidades não encontraria razão de
refratário à pura e simples acei- alta. Esta, segundo os princípios
tação da teoria da imprevisão, já da ciência econômica, está condi-
que em nosso direito positivo não cionada às oscilações da oferta· e
se pode indicar um dispositivo que da procura. Se a oferta míngua
reconheça validade à cláusula e a procura cresce, a alta dos
1'ebus sic stantibus. - 8. Ao que preços é fatal.
nos consta, na grande maioria dos Entretanto, o que se passa, mo-
países sempre indicados como dernamente, entre nós, é que o
exemplo de adiantamento jurídico, encarecimento da vida não é um
de um modo geral, o poder judi- fenômeno entrosado com a oferta
ciário tem apresentado certa re- e a procura. As duas podem per-
sistência, para intervir na livre manecer equilibradas, o que não
autonomia da vontade, como rea- impede que a carestia se acentue.
lização prática do conteúdo e da Qual é, então, a causa do fenô-
execução dos contratos. - 9. No meno?
caso específico da aplicação da A causa única, como já foi afir-
cláusula rebus sic stantibus, veri- mado, é a imposição do salário mí-
ficou-se êste fenômeno na França nimo. Se o Poder Público res-
e na Bélgica. Exemplo disso cita tringe a liberdade de ajuste, entre
Hemi Capitant a Civ. Casa. 6 de empregadores e empregados, para
junho de 1921 que conforme impor aos primeiros um índice mí-
Eduardo Espínola - "condenou nimo de pagamento ao segundo,
desenganadamente qualquer ate- é claro que os mesmos emprega-
nuação da responsabilidade con- dores, ainda que nenhuma razão
tratual por imprevisão, declaran- quebre a harmonia da oferta e da
do que as convenções valem como procura, com relação às mercado-
- 85 ~

rias do seu comércio, são obriga- mais, qualquer que seja a sua ca-
dos a aumentar os preços das ven- tegoria e qualquer que seja o seu
das, para que possam superar os nível salarial, e os empregadores,
novos compromissos, oriundos da que, por fôrça dessa conjuntura,
elevação salarial compulsória. se defendem dos prejuízos imi-
Por seu turno, dentro da classe nentes, fixando preços mais caros
dos empregados, aquêles que não para tudo aquilo que vendem. É
estão sujeitos ao salário mínimo, uma crise insolúvel, que vai ao in-
sentem também os reflexos da si- finito, porquanto, se não cessa a
tuação, porque ficam na contin- causa, que é o aumento salarial,
gência de adquirir por preço maior não cessa logicamente o efeito, que
tudo aquilo que é indispensável é o encarecimentO' da vida.
à sua subsistência, ao confôrto Pelo art. 116, § 1.0, da Conso-
compatível com a sua posição no lidação das Leis do Trabalho, cada
meio em que vivem. Então, êsses salário mínimo, uma vez fixado,
outros, que não ganham apenas o vigorará pelo prazo de 3 anos, só
salário mínimo, vêm, outrossim, podendo ser alterado, antes dêsse
pleitear aumento. Tangidos pelos prazo, excepciO'nalmente, quando
efeitos do salário mínimo, cujo ocorrer a hipótese do § 2.°, dO'
advento acarretou majoração dos mesmo dispositivo.
preços de tôdas as utilidades, êles Ora, o que estamos observando
também querem melhoria de sa- é que o próprio Govêrno é o pri-
lário. Os dissídios e as greves se meiro a nãO' poder prever as pro-
sucedem e a conseqüência é o au- fundas alterações advindas da si-
mento insobrestável de tudo. tuação econômica de cada região
Como se vê, o fator originário, do país, tanto que se tem valido
causa comum de tôda a carestia, consecutivamente da faculdade
é um só: o salário mínimo, por- que lhe dá o § 2.°, do art. 116,
que êste, saindo do campo da livre da CLT, modificando o salário
convenção, representa uma fôrça mlmmo, antes de decorrido o
que os empregadores não podem triênio normal de sua vigência.
superar, já que emana da sobera- Não é tudo. O próprio Govêr-
nia do Estado. no, também, numa positiva de-
Sendo assim, se o salário míni- monstração de que a quadra atual
mo se reflete em todos os demais não permite previsões, no tocante
salários, gerando perturbações eco- a preços, baixou o Decreto n.o 309,
nômicas absolutamente imprevi- de 6 de dezembro de 1961, publi-
síveis, pois os índices de aumento cado no Diário Oficial da mesma
dêsses últimos são infinitamente data, expedindo normas para a re-
variáveis, de acôrdo com os pe- visão de preços, quanto aos con-
culiares interêsses de cada classe, tratos de obras públicas. Não se
não vemos como negar aplicação poderia desejar melhor reconheci-
à cláusula rebus sic stantibus, re- mento de que êsse diploma admi-
lativamente aos contratos a prazo, nistrativo, permitindo reajusta-
celebrados com o Poder Público. mentos, nos contratos, celebrados
Os preços disparam, porque há com o Poder Público, através de
uma disputa incessante entre os todos os seus órgãos, inclusive os
empregados, que querem ganhar autárquicos.
- 86-

Não é tudo, ainda. A Associa- versa seria outorgar ao Govêrno o


ção Brasileira de Normas Técni- direito de, por ato seu, unilateral,
cas, como se vê a fls. 8, elaborou alterar a estrutura econômica de
uma tabela de reajustamento des- um contrato por êle assinado,
tinada aos contratos de emprei- através da imposição do salário
tada de natureza pública, e as mínimo, sem responder pelos da-
conclusões dessa entidade foram nos que isso pudesse acarretar ao
acatadas pelo próprio réu, que, no outro contratante, que definiu a
documento de fls. 7, emanado do sua proposta, em função das con-
seu mais alto órgão diretivo, que dições da época o que, ulterior-
é o Conselho Rodoviário N acio- mente, o próprio Govêrnol alterou,
naI, recomenda a adoção das fór- sponte sua, por ato de soberania.
mulas preconizadas pela referida É êste, em derradeira análise,
Associação Brasileira de Normas o aspecto legítimo do caso e que,
Técnicas. Por essa forma, reco- por isso mesmo, deve merecer a
nhece o réu, de modo explícito, a nossa maior consideração.
legitimidade dos reajustamentos Não percamos de vista, como
nos contratos do tipo de que os já foi pôsto de manifesto, que não
autos cogitam. é só o salário mínimo o que deve
Não importa, como se alega em ser pesado. O que importa apre-
contrário, que, nos contratos da ciar, preponderantemente, não é o
autora, não exista cláusula de rea- salário mínimo isolado, mas os
justamento, o que seria possível, demais salários, pois êstes são afe-
depois das instruções noticiadas tados por aquela e em proporções
pelo já mencionado documento de não uniformes, dando isso em re-
fls. 7. A inserção de semelhante sultado, situações sem qualquer
cláusula apenas simplificaria a previsão, tanto mais quanto, a di-
questão, tornando positiva, por ficultar ou quiçá impossibilitar
convencional, a obrigação do réu; qualquer prognóstico, ainda deve
entretanto, a sua omissão não ser levada em conta a especula-
barrai os passos da autora, no sen- ção dos empregadores, já que
tido de demandar o reajustamen- muitos dêstes, somando maioria,
to, como ora o faz, pois ao Judi- se prevalecem da confusão sala-
ciário é que compete enfrentar o rial, para encarecer os preços com
problema, decidindo se cabe ou desmedida sobrecarga de lucro.
não êsse reajustamento, dadas as Explode, a cada passo, uma rei-
circunstâncias trazidas a debate. vindicação. Bancários, metalúr-
Raciocinando ponderadamente, gicos, gráficos, motoristas, tece-
à luz da exposição aqui feita, não lões, estivadores, mecânicos, ra-
vemos como confirmar a sentença dialistas, todos, em suma, pleiteiam
apelada, porque, se o salário mí- aumentos, variando o respectivo
nimo é a geratriz de tôdas as per- percentual, de acôrdo com inte-
turbações econômicas que convul- rêsses particulares de cada grupo.
sionam a nação, e se êsse fator Nesse pandemônio de mutações
emana do próprio Govêrno, seria, efêmeras, pois as reivindicações
como é, iniqüidade odiosa negar à não cessam, adquirindo as carac-
apelante o reajustamento pleitea- terísticas de um autêntico delírio,
do. Chegar a uma conclusão di- qual o profeta capaz de emitir va-
- 87-

ticínios certos sôbre preços? Como Na verdade, diz ela, qualquer


firmar previsões, se os subsídios que fôsse a proposta vitoriosa, seu
se transformam velozmente, se os titular, ao fim do contrato, esta-
elementos são fugazes, se os da- ria em situação fatal de prejuízo,
dos mudam aceleradamente, tra- face à galopante majoração do
gados na voragem das altas sala- custo de tudo (aliás, diga-se de
riais, cuja causa, em rebuscamento passagem, a perícia positivou essa
último, é o salário mínimo, o que iniludível situação de prejuízo,
equivale a apontar a culpa do pró- qualquer que fôsse a proposta, co-
prio Govêrno? mo se vê principalmente no laudo
Dou como positivo que a ape- do perito desempatador, que é in-
lante, ao firmar seus contratos com suspeito, pela sua neutralidade,
o réu, não poderia acautelar-se como representante do juízo).
contra o que iria ocorrer, no curso Prossigamos na argumentação da
do prazo contratual. Se, prevendo autora. Dessa forma, aduz ela, se
flutuações indeterminadas, quanto o proponente não se resignasse ao
ao preço dos materiais e da mão- prejuízo - o que seria natural,
-de-obra, fôsse a apelante fixar, como a apelante também não se
em seus contratos, qualquer verba resignou - estaria obrigado a
extra, para acudir a tal contin- pleitear o reajustamento, como
gência, só poderia fazer a esmo, apelante está pleiteando. No de-
aditando cifras fantasiosas, sem senlace do pleito, o resultado seria
base em qualquer fator real, o que mesmo, porque, no caso, a única
não seria honesto. Honesto seria verba variável é a referente à in-
ater-se àquilo que era do seu co- denização, isto é, aquela que se
nhecimento, por ocasião da cele- faz necessária para compor o jus-
bração, e foi assim que ela proce- to valor das obras realizadas. O
deu, como não poderia ser de ou- proponente de preço menor rece-
tra forma, a não ser que descam- beria diferença maior e o propo-
basse para o terreno da aventura, nente de preço maior receberia di-
fazendo cálculos arbitrários, com ferença menor. O que interessa
base em prognósticos fictícios. considerar é o total e êste seria
Argumenta o réu que a autora sempre o mesmo, como soma da
obteve a preferência para as quantia contratada com a parcela
obras, através de concorrência de reajustamento.
pública, e que, destarte, a ser-lhe Também responde, com êxito,
reconhecido o reajustamento tal a apelante a uma outra argüição
solução se converteria num esbu- do apelado, quando invoca o fato
lho, relativamente às demais em- de haver a autora proposto um
prêsas concorrentes, que tiveram
serviço adicional, nas mesmas
suas ofertas preteridas, por serem
mais favoráveis os preços da mes- bases de preço, depois de iniciada
ma, autora, que agora busca revê- a execução dos contratos. Se as
-los, por via desta ação. obras estavam dando prejuízo -
Realmente, a alegação impres- diz o apelado - não se compre-
siona, à primeira vista. No en- ende que a apelante ainda ofere-
tanto, a apelante responde vito- cesse outros e novos serviços, sob
riosamente à argüição. a mesma tabela de preços.
- 88

Esclarece, todavia, o apelante, contratual, com o que virtual-


que êsses serviços adicionais, por mente proclamou que o pacta
ela propostos, deveriam ser reali- sl.mt servand.a não é uma regra
zados na mesma área dos demais impermeável, mas que, ao contrá-
serviços já contratados, o que lhe rio, por ela deve infiltrar-se a rea-
poupava a despesa, sempre consi- lidade de cada época, pois só as-
derável, de deslocamento de suas sim os contratos terão um. sentido
máquinas, com o respectivo equi- perfeito de equanimidade.
pamento, bem como de materiais O Decreto n.O 24.150, de 1934,
e de pessoal, para zona diversa. Os disciplinador da renovação dos
encargos que isso acarreta são de contratos de locação, para fins co-
grande vulto e, no caso, como êles merciais, autorizou, no seu art. 31,
seriam economizados, isso lhe a revisão do aluguel, ao cabo de
propiciaria a realização da tarefa, um triênio, quando as oscilações
sem acréscimo de preço. econômicas acusassem uma subi-
Enfrentemos, por último, o ar- da de mais de 20%, sôbre as es-
gumento de que o art. 1.246, do timativas do locador. Naquela épo-
Cód. Civil, veda qualquer revisão ca, quase dois decênios após o apa-
contratual, nos casos de emprei- recimento do Código Civil, e sem
tada, com fundamento na alta dos embargo de estar o país emergindo
preços, quer dos materiais, quer de uma revolução fato sempre
da mão-de-obra. propiciador de perturbações eco-
Ora, a elaboração do Cód. Civil nômicas, a percentagem mencio-
situa-se em época de sólÍda esta- nada era tida como extraordiná-
bilidade econômica, de modo que ria, tanto foi o índice que o legis-
as eventuais alterações de preços, lador fixou, exatamente para res-
sobrevindas, porventura, no curso tringir a possibilidade das revi-
de um contrato, só seriam presu- sões. Entendeu-se que êsse índice
mivelmente modestas, contendo- dificilmente seria alcançado ou
-se, destarte, na margem comum superado e, daí, a sua adoção,
dos lucros do negócio, sem acar- para dar à iniciativa revisionista
retar prejuízo. O que normal- um caráter de exceção, o que não
mente poderia ocorrer seria ape- ocorreria, se aquela percentagem
nas diminuição de lucro, mas, não fôsse comumente atingida ou ul-
prejuízo, como se verifica hodier- trapassada, como acontece na qua-
namente, sem exceção possível, dra atual, em que aquêle limite
conforme elucida a perícia a que entrou para o rol das coisas ridí-
se procedeu nesta causa. Hoje, o culas.
prejuízo é certo e inafastável, Ora, se, em época alvoro-
numa empreitada a prazo superior çada por uma revolução recente,
a um semestre, o que não acon- ainda era difícil uma alteração
tecia quando o Cód. Civil estava que alcançasse 20%, que dizer de
em gestação, ou seja em período uma quadra distante, recuada de
anterior a 1916. Justifica-se, as- duas décadas, quando tudo se pro-
sim, o conteúdo do art. 1. 246 . cessava debaixo da mais serena
Aos poucos, entretanto, com o normalidade e o fenômeno da in-
fluir do tempo, a nossa legislação flação só poderia ser concebido
foi abrindo franquias a êsse rigor como pura abstração mitológica?
- 89-

o elemento histórico justifica, pela sentença apelada; finalmen-


pois, o mandamento do Código, te, o perito do Dr. Juiz, desem-
que, entretanto, não se casa com patou, fixando o valor do reajus-
a realidade contemporânea. E é tamento em 202.447.799,00 (fls.
por isso que doutrinadores dos 253). :Êsse laudo é minucioso,
mais eminentes sustentam o pre- muito detalhado, por isso mesmo
valecimento .da cláusula rebus sie que sendo o desempatador, estava
stantibus, mesmo nos contratos de na obrigação de assim proceder e
empreitada, pois o art. 1.245 do o perito o fêz com ponderação e
Código é apenas um ruído, aba- acêrto, demonstrando com evi-
fado pela vibração da vida mo- dência e matemática argumenta-
derna, que se estrutura sôbre ba- ção a nenhuma procedência da
ses profundamente diversas. Den- tese sustentada pelo perito da au-
tro da nossa atualidade, êle não tarquia ré, quanto ao não cabi-
tem sentido, porque, colidindo mento de qualquer reajuste de
com as ocorrências triviais dos preços. São 52' fôlhas de papel
nossos dias, agride o princípio de cuja leitura convence o julgador.
equanimidade, que é a inspiração A sentença fixou-se no factum
de tôdas as leis. Fossilizou-se, principis (fls. 292), data venia,
através do seu quase meio século sem base convincente.
de existência. O salário mínimo influi sôbre
Recapitulando, quero assinalar todos os demais salários e êstes,
que o ilustre prolator da sentença, conforme as reivindicações de
seguindo, aliás o que sustentou o classe, acarretam resultados, ab-
eminente patrono do réu, bem co- solutamente imprevisíveis, haven-
mo o douto opinante, que funcio- do ainda no problema, a ganân-
nou, nessa Segunda Instância, cia dos empregadores, a qual, con-
pela Subprocuradoria da Repú- corre para a agravação dos preços.
blica, encarou a influência do sa- Não é possível que um contra-
lário mínimo, sem levar em conta tante, num contrato a prazo, por
a implicação dêste em todos os penetrante que seja a sua capa-
demais salários. Que se possa es- cidade de desvendar o futuro,
perar a decretação de um salário possa advinhar o que vai surgir
mínimo é coisa admissível. O nesse ciclone de reivindicações
que, porém, não se pode prever salariais que vem convulsionando
são as múltiplas, extensas e com- a Nação, de longa data. A trama
plexas conseqüências dêsse salá- que advém dessa balbúrdia sala-
rio mínimo, nas condições econô- rial com o cortejo comum das es-
micas gerais de cada região. Par- peculações que ela enseja, é por
ticularizando, cumpre esclarecer demais desordenada e caótica e
que três laudos existem nos au- por isso mesmo, torna frustrada
tos: o de fls. 64 usque 124 arbi- qualquer preVlsao, mesmo aos
trando o reajustamento em ..... mais avisados.
345.381.691,50 (fls. 1'16); o Por isso mesmo, obrigados so-
de fls. 131 até fls. 166 que res- mos a abordar no final dêsse nosso
pondeu (fls. 160) "não cabe o pronunciamento, a questão da in-
reajustamento intentado na pre- terferência do salário mínimo na
sente ação", tese que foi aceita hipótese sub judice, interferência

7 - 35883
- 90-

essa que nos leva, obviamente, à de preços só será admitida: a)


necessidade imperiosa e justa da quando houver alteração apreciá-
aplicação do reajustamento de vel das condições econômicas exis-
preços, mesmo quando contra- tentes no tempo da concorrência
tados. em razão de fatos supervenientes
O reajustamento em questão excessivos, decorrentes do ato do
não é, atualmente, criação da nor- Estado; b) na verificação da cir-
ma jurisprudencial, eis que existe cunstância enumerada no item a,
lei pertinente que veio socorrer o serão levados em conta, os atos do
estado de necessidade de sua exis- Poder Público que alterem sensi-
tência, face às inúmeras reclama- velmente a situação cambial e al-
ções em nome da justiça e da fandegária, os níveis salariais e
eqüidade, principalmente entre encargos sociais e trabalhistas".
nós brasileiros, onde a deprecia- Conseqüentemente, legem ha-
ção da moeda é diária e vertigi- bemus regulando espedficamente
nosa, impondo aquela necessidade a hipótese sub judice, aliás, como
imediata. Na Guanabara, no cor- anteriormente acentuamos, lei que
rente ano, o salário mínimo, mais nada mais fêz do que confirmar a
uma vez, foi aumentado, e desta norma jurisprudencial existente,
vez passou para o dôbro: de 21 criada precisamente para compor
para 42 mil cruzeiros. o desiquilíbrio de valôres ajusta-
ltste Egrégio Tribunal Federal dos contratualmente, levando em
de Recursos já tem assentado pa- conta a referida jurisprudência,
cificamente, como jurisprudência justamente êsse desiquilíbrio re-
tranqüila, que cabe o reajusta- sultante dos contínuos aumentos
mento porque foge a qualquer im- dos "níveis salariais e encargos so-
previsibilidade o galopante au- ciais e trabalhistas".
mento de preços e da mão de Isto pâsto: Dou provimento à
obra, a fim de que não haja apelação para por-me de acôrdo
locuplemento ilícito. com o laudo do perito desempata-
Foi assim que o Dec. Execu- dor, fixando a condenação da ré
tivo n.o 309 de 6 de dezembro de em Cr$ 202.447.799, mais as
1961 veio (verbis): "estabelecer custas e honorários advocatícios
normas para revisão de preços de na base de 5%.
contratos de obras ou serviços a
cargo do Govêrno Federal". Voto
E em seu art. 3.°, ficou ex- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
pressa a condição da existência da - Srs. Ministros, o problema é
fôrça maior para que aquela re- de alta importância e deverá pro-
visão de preços tenha cabimento. duzir repercussão da maior mon-
Completando e ratificando os ta, seja qual fôr a decisão. Por-
objetivos que ditaram o Dec. em que, em verdade, o voto do Sr.
questão, n.o 309, o seu Regula- Min. Cândido Lôbo apresenta,
mento, que é de 5 de abril de por assim dizer, um nôvo aspecto
1962, através das instruções ho~ na aplicação do Direito em face
mologadas pelo Ministro da Via- das obrigações contratuais.
ção de então, estabeleceu, sem Ao contrário do que sempre
equívoco que (verbis): "A revisão procedo, neste case, embora hou-
- 91-

vesse estudado a matéria detida- temente. Por fim, não se dispensa


mente, como procuro fazer nas a boa-fé daquele que pleiteia a in-
minhas intervenções, não reduzi a denidade. Não me irei· demorar
escrito o meu voto. Acho, mesmo, na análise dêsses elementos e na
que foi melhor assim, porque, im- enumeração de outros que se cor-
provisando a palavra, correndo os relacionem com a matéria. Por
riscos naturais dessa improvisa- igual não invocarei a via crucis da
ção, seja na concisão, seja pelo aplicação da cláusula, desde os:
sacrifício de algum detalhe, pois seus primórdios nos tribunais, in-
que a memória não guarda tudo, clusive, por assim dizer, na sua
de algum modo, creio que fiz bem, Pátria, isto é, na jurisprudência e
porque recebi ao vivo, para minha na doutrina francesas, de que o re-
própria meditação, as observações ferido e nunca esquecido Georges
que foram desenvolvidas dentro Ripert é um legítimo líder e re-
do ponto de vista em que se en- presentante. Quero, todavia, des-
quadraram o nobre advogado da de logo, assentar que no Brasil -
autora e o eminente Min. Rela- là bas, como dizem os europeus
tor. - a matéria não é tão desconhe-
Discute-se, no caso dos autos, a cida e tem tido sua oportunidade.
aplicação da cláusula rebus sic Há porém que acentuar um de-
stantibus. talhe, para mim importante, no
Trouxe, para consulta, um dos caso dos autos. Em regra, a cláu-
primeiros livros que na minha sula rebus sic stantibus é um item
modesta biblioteca entraram ver- da defesa do réu para escusar-se.
sando a matéria. Aqui está à mão senão legitimamente, pelo menos
para alguma consulta que se faça de modo justificado, ao cumpri-
necessária. Trata-se do famoso li- mento da obrigação. Na espécie
vro de Georges Ripert A Regra sub judice, o interessado está na
Moral nas Obrigações Sociais. In- posição de autor, invocando a
dependentemente disso, porém, aplicação da cláusula rebus sic
falando para entendidos como es- stantibus. O devedor aqui propõe
tou, quero resumir os requisitos a ação, para reajustamento dos
para a aplicação da famosa cláu- preços da concorrência, após ter
sula da imprevisão. Faz-se neces- cumprido o contrato. Tenho para
sário que, em face de um contrato, mim que sàmente êsse detalhe
se apure realmente, a modifica- afasta a aplicação da teoria. A
ção de condições relativamente ao cláusula serve como uma escusa
momento, à data em que o pacto e, ao mesmo tempo, na realidade,
foi assentado. Ao lado disso, exi- é levada a juízo como demonstra-
ge-se que essa modificação não ção inequívoca de que se o deve-
tenha sido prevista no momento dor cumprir o contrato estará ar-
de contratar. Compondo êsse qua- ruinado. Mas, Juiz de muito tem-
dro, alinha-se, igualmente, a im- po, Juiz da Constituição de 1946,
prescindível condição de que o não posso tirar de minha banca
cumprimento do contrato empo- as questões como as partes apre-
breça, arruíne, sacrifique o deve- sentam, e não deixo de examinar
dor, de tal maneira que essa si- o caso dos autos nos aspectos que
tuação seja uma injustiça, eviden- realmente, a meu ver, podem ser
- 92-

considerados. Julgo a ação im- Não participo da opmlao de


procedente, como o Dr. Juiz e, certos juízes, respeitáveis juízes
por isso, nego provimento ao re- que, ao decidirem aplicam a lei
curso. Não me esqueço nunca, como a sentem, dura lex sed lex,
examinando o caso dos autos, não despreocupados com o que possa
sendo exclusivamente um homem. acontecer, mesmo que venha um
de gabinete, que todos os emprei- dilúvio ou uma avalancha que leve
de há rrluito no Brasil, para a todos de roldão.
a feitura de obras públicas, levam O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
sempre em consideração dois fatos Data venia, sou um escravo da lei
importantes: primeiro, a variação como V. Ex. a também o é.
salarial; segundo, a demora com O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
que, normalmente, o Govêrno sa- - Não sou escravo da lei para a
tisfaz os seus compromissos. destruição.
É nesse terreno da concorrência O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
para obras públicas, de estradas, Não há destruição quando ela é
em que mais se opera a vigilân- legal.
cia dos contratantes. Não há ne- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
nhum empreiteiro que vá, por as- - Não sou escravo da lei para,
sim dizer, contratar serviço dessa através do cumprimento da sua
monta sem cuidar dos dois percal- letra fria, ao invés de construir,
ços. Não obstante, pondo de lado concorrer para o equilíbrio da so-
essas duas circunstâncias, saliento ciedade, para a manutenção das
que a ação põe aos nossos olhos instituições, concorrer com a sen-
particularidades terrivelmente in- tença, para abrir flancos contun-
teressantes da vida financeira do dentes a êsse equilíbrio, em que
País. Se julgássemos a ação na a vida social deve estar baseada.
base do voto que acaba de pro- Tanto mais quanto, no caso pre-
ferir o Sr. Min. Cândido Lôbo, sente, como já acentuei, não seria
estaríamos inaugurando um cami- a aplicação da lei, porque a lei não
nho inteiramente nôvo na vida ad- não chegou a essas disposições. O
a se referiu,
ministrativa do País, isto é, todo Decreto a que V. Ex.
a meu ver, baseou-se numa revisão
o contrato com o poder público,
em têrmos voluntários.
obrigatoriamente, estaria sujeito
O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
ao reajuste salarial, como também Pelo menos existe o princípio fi-
os pagamentos deveriam ser sem- xado nesse Decreto, o princípio
pre reajustados na base do de- dado pelo próprio govêrno nas
créscimo da moeda em virtude da obras por êle contratadas.
inflação, que é o reverso do prin- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
cípio contido no voto de S. Ex. a - Ora, na construção da juris-
Ora, somente essas considera- prudência, levar a lança tão longe,
ções nos levariam a agir com não. Não farei isso.
cautela, porque estaríamos dando O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
aplicação a determinadas regras e V. Ex.a permite? Tenho um sabor
princípios na base de simples especial neste Tribunal, desde o
construção, arcando por completo dia em que V. Ex. a tomou posse,
com responsabilidades tão graves. ao terçar armas com V. Ex. a, por-
- 93-

que V. Ex. 2 é um espírito privile- pectos que, a meu ver, devam ser
giado, um Juiz de cultura e talen- examinados ...
to. No C:;lSO concreto, por exem- O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
plo, peço permissão para ponde- Gostaria, apenas para ilustrar o
rar, apenas, uma coisa: pelo voto seu voto - se assim posso me
de V . Ex.a compreendo que manifestar - de dizer que se re-
V. Ex. a neg13 a aplicação da cláu- sume numa matéria interessantís-
sula de rebus sic stantibus. Se sima, que é o direito civil, inclu-
V. Ex. a nega a aplicação dessa sive aos nossos Colegas do Tribu-
cláusula, V. Ex. 2 há de convir que nal da Guanabara que se acham
minhas ponderações são proce- presentes por coincidência, nesta
dentes. E já o eram, antes do De- sessão: os desembargadores Tená-
creto Federal que citei, pela ju- rio e Estelita.
risprudência maciça dos Tribu- V. Ex. 2 chega à conclusão de
nais. que a cláusula rebus sic stantibus
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: não é de ser observada porque o
- Muito obrigado pelo aparte de réu a invocou na inicial. O as-
V. Ex. 2 • Não deixo de, neste meu sunto é de plena doutrina e o sau-
agradecimento, duplicar o meu re- doso Professor Amoldo Medeiros,
conhecimento às generosas mani- um dos grandes ases: do nosso Di-
festações que V. Ex. 2 endereçou reito Civil, tem livros sôbre os
ao esfôrço que faço para desem- contratos concluídos. Não é pos-
penhar, embora modestamente, as sível arredarmo-nos à aplicação da
minhas funções nesta Casa. En- cláusula, porque o contrato estava
tretanto, não deixo de replicar - concluído. Então, isto é um ele-
e disse no meu voto desde o início mento que prova a favor da ho-
- que reconheço a boa substân- norabilidade do autor, porque se
cia da cláusula de rebus sic stan- êle esperasse que se resolvesse
tibus. essa situação preliminar, só tinha
Acresci que no nossQ País, ape- uma coisa a fazer: parar as obras
sar de ser o là bas dos europeus, ou requerer concordata ou ainda
no nosso País, a matéria era co- ir à falência, o que era pior para
nhecida e aplicada. Mas, disse, o Govêrno Federal. Pela terceira
também no meu voto, ressaltando vez repito: o reajustamento dos
uma feição peculiar da cláusula, contratos é, hoje, unânime, juris-
que a cláusula rebus sic stantibus, prudência maciça dos nossos Tri-
normalmente, se impunha como bunais. Pouco importa a existên-
defesa do réu, como devedor cha- cia, então, da cláusula, fixando a
mado ao cumprimento do contra- cifra. O reajustamento SG! impõe.
to. Foi por isso que eu, de logo, O Sr. Dr. Advogado: --: Permi-
disse que, no caso dos autos, in- ta-me V. Ex.a, Min. Amarílio
dependentemente de apuração da- Benjamin, informar um detalhe
queles requisitos essenciais ou bá- que no relatório final poderia pas-
sicos, a cláusula rebus sic stantibus sar despercebido. Um detalhe im-
estava afastada. portantíssimo para o deslinde des-
Juiz da Constituição de 1946, sa controvérsia. Está fixado no
porém, estou repetindo, não deixo processo, documentalmente, que a
de apreciar a causa nos seus as- autora, ora apelante, tinha justo
- 94-

motivo, justa segurança de que o incontornável, isto é, não poderia


reajustamento seria concedido, pleitear mais o reajustamento em
porque dentro dos autos V. Ex.a nome da cláusula rebus sic stan-
encontrará Parecer do Procura- tibl1s, tão-só em nome de um prin-
dor-Geral da autarquia, ao final cípio geral. O reajustamento só
do contrato, onde ela pleiteou o poderia vir com a demonstração
O engenheiro- inequívoca, irretorquivel de que,
-chefe da obra afirmou que as con- cumprindo a obra, teve prejuízo.
dições da obra davam ensejo a Essa demonstração está posta em
um reajustamento. Foi à Pro- dúvida, no caso dos autos. Aliás,
curadoria, e esta, em minucioso o caso dos autos, todo êle, tôda a
e longo Parecer, opinou da mes- sua discussão se desdobra em tôr-
ma maneira. Muito obrigado a no da tese. Devo acrescentar, em
V. Ex.a . relação a isso, provocado pelos
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: apartes dos eminentes Colegas,
- Srs. Ministros, é verdade que uma outra consideração, à qual
sou dos poucos Juízes que, no Bra- dou todo o valor. Confesso que a
sil, ao se votar a lei concedendo o observação não é minha, originà-
direito de o advogado falar após riamente, está nos autores. Acre-
o relatório e o voto do Juiz Re- dito mesmo que o famoso Georges
lator, deram pela regularidade da Ripert, nos longos estudos em que
lei, de vez que, ao contrário da iniciou consideração de tão im-
orientação dos outros Tribunais, portante problema, chegou a abor-
inclusive do Excelso Pretório, sus- dá-la. Na análise de determinados
tento, nos limites do meu conhe- contratos, não se pode perder de
cimento, que o poder regimental vista se a alegação ou argüição da
é complementar, não é poder le- cláusula está ligada a um contra-
gislativo ongmano. De modo tante que apenas fêz ou tem um
que, em face da lei, cessa a dis- contrato. Quando se tratar de um
posição do Regimento, mas isso é contratante que seja uma emprêsa
questão velha e vencida. Em cer- de muitos contratos, por exemplo,
tos setores da vida judiciária, os há modificação fundamental de
juízes, cada vez mais, reivindicam tratamento. Para ser exato, diria:
o seu "poderzinho" de legislar ... a aplicação da cláusula rebl1s sic
Vou prosseguir, respondendo stantibl1s, nessa espécie a que me
aos apartes que recebi, do Sr. Min. estou referindo como uma réplica
Cândido Lôbo e do Sr. Advogado. às observações dos Colegas, tam-
Realmente, posta a questão nos bém torna necessário trazer aos
têrmos em que os eminentes Co- autos todos os contratos da em-
legas focalizaram, o autor estava prêsa poderosa, para apurar, re-
justificado da posição que tomou almente, as conseqüências finan-
e, de algum modo, flanqueado o ceiras em todos êles. Isto porque,
meu voto nas considerações que está na vista, é o povo quem o diz,
estou desenvolvendo. Todavia, não sou eu. Como jurista, que não
peço desculpas aos meus nobres fica trancado no gabinete, ouço e
interlocutores para redargüir. O registro. U'a mão lava a outra,
autor, que preferiu tomar êsse ca- diz a sabedoria das ruas. Senho-
minho, ficou com uma obrigação res, o que disse até agora jus-
- 95-

tifica perfeitamente o poslçao em quid futuri, ou seja, os que habent


que me coloco, com pesar, e com dependentiam de futuro, têm sua
a devid.a licença do voto proferido razão de ser na fôrça obrigatória
pelo Sr. Min. Relator, da minha do contrato (pacia sunt servanda),
parte, de negar provimento ao re- resultante do acôrdo de vontades
curso. Sinto mesmo não acompa- cuja manifestação está vinculada
nhar S. Ex;a nesse passo que tão à previsibilidade de determinados
corajosamente dá, abrindo hori- acontecimentos. Se tais aconteci-
zonte nôvo, por completo, na ju- mentos ultrapassam o limite que
risprudência brasileira. separa a previsibilidade da im-
É o meu voto. previsibilidade, desaparece a fôrça
obrigatória contratual e a relação
Decisão jurídica passa a ser de natureza
extra contratual. Como bem o diz
Como consta da ata, a decisão o clássico André Bruzin, enquanto
foi a seguinte: se permanece no domínio do pre-
Depois dos votos do Sr. Min. visível, as circunstâncias têm um
Relator, dando provimento, e do caráter contratual, e a fôrça obri-
Sr. Min. Revisor, negando pro- gacional do contrato subsiste, por-
vimento, pediu vista o Sr. Min. que não ultrapassou' o seu limite,
Hugo Auler (Aguiar Dias). Pre- tal qual resulta do consentimento.
sidiu o julgamento o Sr. Min. Quando os acontecimentos impre-
Cândido Lôbo. Não compareceu, visíveis sobrevêm, o contrato não
por motivo justificado, o Sr. Min. pode mais se aplicar porque ex-
Henrique d' Ávila. cedeu os limites da sua fôrça obri-
gacional; as circunstâncias apre-
Voto sentam, desde logo, um caráter ex-
tracontratual: Tant que l'on de-
o Sr. Min. Hugo Auler: - meure dans le domaine du prévi-
Sub specie juris, o apelante pre- sible, les circonstances ont un ca-
tende a revisão judicial dos preços ractere contractuel, et la force
de obras públicas, cuja execução obligatoire du contrat subsiste,
lhe foi dada, mediante concorrên- parce qu'on da point depassé son
cia pública, por adjudicação, ale- étendue, telle qu'elle resulte du
gando a favor de sua pretensão consentement. Que les evene-
jurídica unilateral a velha cláu- ments imprévisibles surviennent,
sula rebus sic stantibus, dada a la contrat ne peut plus s'appliquer
vertigem anormal das alterações parca qu'on a excédé les limites
do mercado, mormente causadas de sa force obligatoire; les circons-
pelos aumentos salariais, e que, tances présentent désormais un
por sua natureza, estariam autori- caractere extracontractuel. (Essai
zando o reajustamento dos con- sur la Notion d'Imprévision, Pa-
tratos com fundamento 'na teoria ris, Ed. Polly, 1922, pág. 335) .
da imprevisão. Dêsse modo, logo se está a ver
Em verdade, como se não ig- que, em matéria de e.kecução de
nora porque seja de sabença por contratos de obras públicas, cele-
demais trivial, a teoria da impre- brado!" entre terceiros e a pública
visão, restrita aos contratos ali- administração, a revisão judicial
- 96-

se impõe, em verdade, na ocorrên- têrmo, as flutuações econômicas,


cia de acontecimentos que impor- a desvalorização da moeda, as al-
tem em iactam principis ou na terações dos mercados, os aumen-
aplicação da cláusula rebus sic tos salariais, não podem constituir
stantibus, para o efeito de resta- razão bastante para que sejam
belecer a equivalência das obriga- reajustados os preços dos contra-
ções e, portanto, a economia dos tos de obras públicas em geral.
contratos, desde que a manifes- Em épocas de processo de infla-
tação de vontade foi atingida pela ção em espiral, em que se deve
imprevisibilidade. Em sua ampla prever tais alterações, a verifica-
acepção, o fato do príncipe é repre- ção de um fato do príncipe a de-
sentado por qualquer medida terminar: o aumento salarial ou de
unilateral dos podêres públicos, um fato estranho às partes con-
que tenha por efeito a impossibi- tratantes de molde a produzir flu-
lidade ou o prejuízo na execução tuações econômicas, não podem
dos contratos. A superveniência ser cobertas pela imprevisão. O
de tais acontecimentos (modifi- fato do príncipe somente cogita da
cação imprevisível da legislação do "álea administrativa" quando a
trabalho, dos salários e das leis sua verificação não possa ser ob-
fiscais) introduz nas convenções jeto de previsibilidade normal. A
de trato sucessivo uma "álea ad- teoria da imprevisão se refere à
ministrativa" a autorizar a inde- "álea econômica" extraordinária
nização integral. Já, ao contrário, que venha a causar danos tão
a imprevisão se define pela ocor- graves ao que contrata com o po-
rência de acontecimentos estra- der público, que obriga a pública
nhos às partes contratantes (guer- administração a recompor propor-
ra, calamidade pública, desvalori- cionalmente a economia do con-
zação monetária e extraordinárias trato.
flutuações econômicas), os quais,
Portanto, o acontecimento invo-
se não tornam impossíveis a
execução, vêm causar graves pre- cado para dar aplicação à teoria
juízos a quem contrata com a pú- da imprevisão deve ser imprevisí-
blica administração. No iactum vel e anormal. Não basta que se
principis, a lesão decorre de um o não possa prever porque tam-
ato unilateral da própria adminis- bém é necessário que se revista
tração ou de outro órgão do Esta- de anormalidade, tendo em vista
do. Na imprevisão, a lesão de- o período em que se formalizou a
corre de fato estranho às partes adjudicação. Com efeito, na for-
contratantes, que, por sua natu- mação de qualquer contrato a
reza, escapa à previsibilidade nor- breve têrmo ou de longa duração
mal. existem "áleas", mas é preciso dis-
Na hipótese, a pretensão jurí- tinguir .as "áleas ordinárias" que
dica unilateral visa o reajusta- participam dos próprios riscos que
mento dos preços das empreitadas qualquer contratante aceita correr
que, por meio de concorrência e as "áleas extraordinárias" que,
pública, foram objeto de adjudi- constituindo acontecimento fora
cação. Mas a verdade é que, em do alcance da percepção do con-
se tratando de contratos a breve tratante e de todos os cálculos de
-- 97 --

probabilidade, escapam da mani- présentent une triple caracteristi-


festação da vontade e, dessarte, que: 1.0) faits exceptionnels: ils
autorizam a aplicação de teoria sortent par leur nature et par leur
da imprevisãD. Por sua vez, os amplitude, de la normaIe; 2.°) faits
eventos devem ser estranhos ?s imprevisibles: i1 n'était pas rassem-
partes pôsto que somente as flu- blement possible de Ies prévoir
tuações econômicas extraordiná- 10rs de Ia pas8ation du contrat;
das devidas a leis e regulamentos 3. 0 ) faits déierminant un boule-
autoritários de fixação de preços versement de la situation finan-
e salários não constituam medidas czere du concessionaire, telle
estatais imprevisíveis e fatos devi- qu'elle résulte du contrat: ils vont
dos à administração que celebre o placer 1e concessionaire dans un
contrato. Finalmente, tais acon- état de déficit caracterisé ( Traité
tecimentos deverão provocar um de Droit Administratif, Paris,
verdadeiro bouleversement eco- Dalloz, 1952, n.o 803, pág. 572).
nômico do contrato, por isso que Na espécie, os aumentos sala-
a imprevisão supõe um deficit riais e a alta dos preços das ma-
cansado ao contratante particular térias-primas, constituíram, cada
(damnum emergens) pois a sim- um de per si - factum principis
ples redução ou desaparecimento - que atualmente justificam a
de lucro (lucrum cessanl~) não é aplicação da teoria de imprevi-
suficiente para justificar a teoria são, pois como bem o diz André
da imprevisão. Neste sentido é a de Laubadere, modernamente, há
lição de Paul Duez-Guy Debeyre, um glissement para a teoria de
segundo a qual de u'a maneira imprevisão de todo um setor que
mais precisa, a teoria da imprevi- anteriormente era relegado ao
são, para entrar em jôgo, supõe fato do príncipe o que ocorreu
acontecimentos econômicos inde- com as recentes regulamentações
pendentes da vontade das partes da economia dirigida que assim
e que apresentam uma tríplice ca- dilataram, a noção da imprevisão
racterística: 1.0) fatos excepcio- (Traité Élementaire de Droit Ad-
nais: êles escapam, por sua natu- ministratif, Paris, L . G . D . J .,
reza e por sua amplitude, do nor- 1953, n.o 832, pág. 456). Todavia
mal; 2.0) fatos imprevisíveis: não há a ponderar que os contratos
é possível verdadeiramente pre- em questão foram celebrados em
vê~los no momento da celebração um período em que se processa-
do contrato; 3.°) fatos determi- vam as alterações dos salários mí-
nando uma subversão da situação nimos e dos mercados, razão por-
financeira do concessionário, tal que tais fatos deveriam estar ao
como resulta do contrato: êles co- alcance de previsão da apelante,
locam o concessionário. em um o que não permite que se reco-
estado de deficit caracterizado: nheça em tais acontecimentos
D'une maniere plus précise, la aquêles caractElres de imprevisi-
théorie de l'imprevision, pour bilidade e, muito menos, de anor-
entrer en jeu, suppose des évéments malidade. Tais fatos estavam pois
économiques indépendents de nas "áleas ordinárias" que parti-
la voIonté des parties et qui cipam dos próprios riscos assumi-
- 98-

dos por quem contrata com a 737). Por outro lado, a situação
pública administração. Por outro extracontratual supõe a ultrapas-
lado, para que se pudesse aplicar sagem do que se chama o preço
a teoria da imprevisão seria ne- limite. Segundo André de Lau-
cessário que tais fatos houvessem badere, o preço limite é a mar-
causado uma verdadeira subversão gem da alta eventual que pode ser
econômica do contrato, não bas- prevista pelas partes na formação
tando a existência de um deficit do contrato. No momento da
ou o desaparecimento dos lucros. conclusão do contrato, o contra-
Como bem o diz Jean Rivero, êles tante levou em consideração, para
devem provocar um bouleverse- aceitar as condições do negócio,
ment das condições do contrato; os preços líquidos da época, mas
o desaparecimento do benefício é razoável admitir que êle não
do contratante e a existência de deixou igualmente de considerar
deficit não são suficientes: I1s a possibilidade de certas majora-
doivent provoquer un bouleverse- ções ulteriores, tendo-as em conta
ment dans Ies conditions d' exé- nos seus cálculos; e aí cabe inda-
cution dl1 contrfllt; la disparition gar até onde êle pôde normal-
du bénéfice du contractant, l' exis- mente ter em vista as futuras va-
tence d'un déficit, ne soni nas riações de preço; dêsse modo sà-
suifisantes (Droit Administratif, mente quando as majorações tam-
Paris, Dalloz, 1960, n.o 116, pág. bém previsíveis forem ultrapassa-
105). De um modo geral, a sub- das é que poderá funcionar a im-
versão do contrato implica em previsão; e então pode-se aí trans-
uma perturbação profunda e anor- por o que se chama o "limiar da
mal, razão por que a sua noção se imprevisão": Le prix-limite est
define em cada caso concreto atra- la marge de hausse éventuelle
vés do exame dos seus reflexos na qui a pu être envisagée par Ies
situação econômica da emprêsa. parties au moment dl1 contrat.
Esta é, aliás, a opinião de Roger Lors de la conc1usion du contrat,
Bornard, segundo a qual a situa- le contractant a pris en considera-
ção de emprêsa pode ser agravada tion, pour accepter Ies conditions
de modo a colocar-se em estado du marché, Ies prix de revient de
de deficit permanente. Dessarte, l'époque, mais il est raisonnable
passa-se então da simples rutura d'admetre qu'iI a dú également
do equilíbrio financeiro para se fi- envisager la possibilité de certai-
car na presença de uma subversão nes bausses l11térieuses et en tenir
econômica da própria emprêsa: compte dans ses calculs; il y a
La situation de I'entreprise peut dono Zieu de se demander jusqu'oiJ.
être aggravée au point d'être pla- il a pu normalement envisager des
cée en état de déficit permanente. variations fuiures de prix; c'est
On dépasse alors la sim pIe ruptu- seulement lorsque les hausses
re de l'équilibre financier, pour se ainsi prévisibles seront dépassées
trouver en présence d'un boulever- que l'imprévision pourra jouer;
sément économique de l' enterprise on aura alors franchi ce que l'on
(précis de Droit Administratif, appelle le "seuil de l'imprévision"
Paris, L.G.D.J., 1943, pág. (Traité Théorique et Pratique des
- 99-

Contrais Administratifs, Paris, tar se houve prejuízo, por isso que


L.G.D.J., 1956, Tomo lU, n.o essa perícia serviria, apenas, para
980, pág; 107). Mas a determina- determinar o seu valor adiantan-
ção do preço limite constitui em do que "o prejuízo em cada con-
cada caso concreto uma estimação trato será maior ou menor, con-
técnica, que o juiz confia natural- forme a incidência do aumento
mente a peritos, consistente em salarial" (doc. de fls. 255). Mas,
uma investigação retrospectiva do justamente, a teoria da imprevi-
que as partes puderam, no mo- são não cogita de um prejuízo
mento do contrato, ter em conta qualquer, pois o desaparecimento
como possível no futuro, como do benefício e a existência do
ainda acentua André de Laubade- deficit não são suficientes para que
re: La détermination du prix-1i- se lhe dê aplicação. É necessário
mite consitue dans chaque cas que, ocorrendo essas conseqüên-
d' espece une estimation técnique, cias devidas ao aumento salarial
que 1e juge confie naturellement que, aliás, está dentro do alcance
à des experts, consistant dans une de previsão normal de quem con-
recherche rétrospective de ce que trata com a pública administra-
Ies parties pouvaient, au moment ção, se verifique a sua repercussão
du contrat, envisager comme pos- econômica sôbre a situação da
sible dans l' avenir (Obr . Cit. , emprêsa de modo a colocá-la em
Tomo In, n.o 980, pág. 107). estado deficitário permanente.
Ora, justamente esta investi- Aliás, o que se não me afigura
gação retrospectiva pericial, ou plausível é que, havendo realizado
seja, essa profecia a posteriori, não obras em breve têrmo, por fôrça
foi realizada por nenhum dos de concorrências públicas, que fo-
peritos que funcionaram na pre- ram adjudicadas por ......... .
sente ação. Não há em nenhum Cr$ 724. 144 .070, pretenda agora
dos laudos periciais qualquer ava- a apelante haver um reajusta-
liação do preço-limite e, muito me- mento na razão de 28%, ou seja
nos, a prova de que a incidência de Cr$ 202.447.799, mormente
dos aumentos salariais durante a quando não se ignora que se
execução de todos os contratos ha- trata de uma sucessão de con-
jam causado o bouleversement tratos, celebrados periodicamen-
econômico da emprêsa como re- te, e, portanto, no curso das
per,cussão da subversão econômica alterações dos salários mínimos e
dos contratos celebrados entre a dos mercados que, dessarte, en-
apelante e a pública administra- travam na álea da previsibilidade
ção . Pelo contrário, ° laudo do normal. Com efeito, os contratos
perito sôbre o qual o Dr. Juiz foram celebrados em 9 de novem-
a quo fêz recair pela segunda vez bro de 1953; em 4 de maio de
a sua louvação, eis que o primeiro 1954; em 10 de maio de 1954; em
expert negou qualquer dano (doc. 9 de junho de 1954; em 23 de
de fls. 193/197), afirmou estra- abril de 1955; em 30 de novem-
nhamente que se não lhe afigurou bro de 1955; em 6 de março de
indispensável o exame da escri- 1956; em 15 de março de 1956;
turação da apelante para consta- em 3 de julho de 1956; em 29 de
- 100-

setembro de 1956; em 29 de de- qua a licitação, em prejuízo da_


zembro de 1956; em 2 de julho queles que, prudente e honesta-
de 1957 e em 22 de março de mente, prevendo as causas que po-
1958 (do.c. de fls. 214/215). deriam normalmente determinar
E como se não ignora, os au- qualquer majoração, tiveram re-
mentos dos salários mínimos co- cusadas as suas ofertas. Aliás,
meçam a suceder a do Dec, essa conclusão tanto mais se im-
n.O 30.342, de 24 de dezembro põe quanto menos se ignora que o
de 1951, prosseguindo com os De- legislador houve por bem permitir
cretos 35.450, de 1.° de maio a revisão dos contratos de obras
de 1954, e 39.604 de 14 de julho ou serviços por empreitadas, tão-
de 1956, e, portanto, durante o
-somente, quando houver cláusula
período em que foram sendo ce-
lebrados todos aquêles convênios, de reajustamento de preços, desde
o que retira de tais atos do Poder que ocorram casos fortuito ou de
Público o caráter da imprevisibi- fôrça maior, ou de imprevisão, nos
lidade. arts. 1.0, 2.° e 3.° do Decreto
Em conseqüência, não se tra- n.O 309, de 6 de dezembro de 1961.
tando de fatos imprevisíveis e ex- Essa não é a hipótese sub judice
cepcionais e não havendo tais pois em todos os .contratos em
acontecimentos determinado um questão não foi inserta qualquer
bouleversement econômico dos cláusula permissiva de revisão ad-
contratos com capacidade para ministrativa ou judicial.
causar um estado deficitário da
Por todos êsses fundamentos
emprêsa, é óbvio que, na espécie,
não cabe a aplicação da teoria da hei por bem negar provimento à
imprevisão. Como bem o diz Ra- presente apelação.
fael Bielsa, la teoria de la imprevi-
sion es justa cuando un concesio- Decisão
nário o contra tis ta sufre pérdidas
extraordinarias, por un hecho que Como consta da ata, a decisão
tiene eI carácter de infortunio eco- foi a seguinte: Prosseguindo a
nômico general, y absolutamente votação, o Sr. Min. Hugo Auler
imprevisto (Derecho Administra- votou desempatando de acôrdo
tivo, Buenos Aires, Ed. El Ateneo, com o voto do Sr. Min. Revi-
1947, 4. a ed. Tomo I, pág. 408).
sor. Isto pâsto: Foi negado pro-
Por derradeiro, cabe acentuar vimento, vencido o Sr. Min.
que, em se tratando de obras pú-
Relator. O Sr. Min. Hugo
blicas adjudicadas pela adminis-
tração governamental, pôsto que Auler foi convocado. para a vaga
descentralizada em uma autarquia decorrente da aposentadoria do
federal, cabe defender a eficácia Sr. Min. Aguiar Dias. Não com-
da concorrência pública, eis que, pareceu, por motivo justificado, o
admitido o reajustamento dos Sr. Min. Henrique d' Ávila.
preços, após a respectiva conclu- Presidiu o julgamento o Sr. Min.
são, estaria fraudada por via oblí- Cândido Lôbo.
- 101-

APELAÇÃO CÍVEL N,o 19.411 - MT.


Relator - O Ex.mo Sr, Min. Armando Rollemberg
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Recorrente-- Juízo da l.a Vara da Comarca de Cuiabá,
ex officio
~N.Ueld,llLe - IAPI
Apelados - Fernando de Mesquita, sua mulher e outros
Acórdão
A falta de citação sõmente é suprida pelo compa-
reCimento do réu quando êste se dá de forma regular.
Processo nulo.

Vistos, relatados e discutidos da de direito dêste sôbre área de


êstes autos de Apelação Cível terreno que lhe fôra doada, na
n.O 19.411, de Mato Grosso, ape- qual não construíra, e que, por
lante Instituto de Aposentadoria isso, foi objeto de nova doação
e Pensões dos Indústriários e aos autores.
apelados Fernando de Mesquita, Requereram fôsse a autarquia
sua mulher e outros, assinalando- citada na pessoa do respectivo
-se também recurso ex oflicio: Delegado Regional, o qual com-
Acorda, por unanimidade, a pareceu a Juízo através de ad-
Segunda Turma julgadora do vogado por êle constituído, e ar-
Tribunal Federal de Recursos, em güiu a nulidade da citação por
dar provimento ao recurso do lhe faltar autorização legal para
ofício; quanto à apelação do recebê-la, tendo a seguir contes-
IAPI, por maioria, em julgá-la tado, no mérito, a ação.
prejudicada, conforme consta das Após réplica, requereu o réu
notas taquigráficas anexas, as a juntada de documentos impug-
quais, com o relatório de fls., fi- nada pelo autor e, ao proferir o
cam fazendo parte integrante despacho saneador, determinou o
dêste julgado, apurado nos têr- MM. Juiz o desentranhamento
mos do resumo de fôlhas 118. dos mesmos, ensejando agravo
Custas ex lege. no auto do processo interposto
Tribunal Federal de Recur- pela autarquia.
sos, 21 de outubro de 1964. - Ingressou neste passo, no pro-
Djalma da Cunha Mello, Presi- cesso, como litisconsorte, a Asso-
dente; Armando Rollemberg, Re- ciação Médica de Mato Grosso.
lator. Realizada a audiência de ins-
trução e julgamento, foi profe-
Relatório rida sentença, julgando a ação
O Sr. Min. Armando Rol1em- procedente, com os seguintes
berg: - Fernando de Mesquita fundamentos: "A Prefeitura Mu-
e sua mulher propuseram açãiO nicipal de Cuiabá doou ao autor,
ordinária contra o IAPI para ob- Fernando de Mesquita, um lote
terem a declaração de inexistên- de terreno urbano, situado na
- 102

Avenida Presidente Vargas, 1.0 ria, dentro do prazo de cinco


Distrito desta Capital, medindo anos, um prédio destinado a sua
13,00 metros de frente, ao norte, sede, neste Estado. O donatário
com a Avenida Presidente Var- recebeu, por aquêle instrumento
gas; 13,00 metros de fundos, ao público, uma área medindo 1.451
sul, com a propriedade de Bene- metros quadrados, no entanto
dito Nunes de Figueiredo; 20,20 utilizothse apenas, parcialmente,
metros de lado, ao nascente, com da liberalidade estadual, cons-
o prédio do Instituto de Aposen- truindo a sua sede sem o apro-
tadoria e Pensões dos Industriá- veitamento integral do terreno
rios, e 20,70 metros de lado, ao doado, deixando mesmo de amu-
poente, com quem de direito. A rar a parte restante, como se po-
doação em referência foi outor- de constatar in loco.
gada por Escritura Pública, con- Ao que se infere do estudo do
soante a Lei Municipal n. o 142, Decreto Estac\ual n. o 680, refe-
de 23 de abril de 1952, em har- rido, era intenção do legislador
monia com o art. 134, combi- promover o embelezamento ur-
nado com os arts. 1.165, 1.168 banístico desta Capital. Assim,
e 1. 180, tudo do Código Civil não se concebe que o Estado de
Brasileiro. A suptramen'cionada Mato Grosso tivesse doado ao
Lei Municipal n. o 142 autorizou réu uma área tão grande, a fim
o Prefeito a doar as sobras dos de que êle a aproveitasse apenas
lotes e demais terrenos da Ave- parcialmente, deixando no centro
nida Presidente Vargas, terrenos da cidade um terreno baldio, e
êsses desapropriados por fôrça até hoje não amurado.
do Decreto Estadual n. o 680, de Constata-se, na espécie, que o
25 de julho de 1945. réu, embora tenha construído a
O terreno que o autor, Fer- sua sede, não cumpriu a condi-
nando de Mesquita, recebeu em ção estabelecida na Escritura
doação, foi uma sobra do lote Pública, reputando-se, portanto,
anteriormente doado ao réu, sô- verificada a condição resolutiva,
bre o qual pendia condição reso- nos expressos têrmos do art. 120,
lutiva expressa, que verificada combinado com o art. 647, tudo
pelo seu inadimplemento ocasio~ do Código Civil Brasileiro.
nou a reversão da parte do ter- Clóvis Beviláqua define a pro-
reno ora em litígio ao patrimônio priedade resolúvel como aquela
municipal, sucessor do Estado de "que no próprio título de sua
Mato Grosso, conforme o Decre- constituição encerra o princípio,
to Estadual n. o 1.224, de 22 de que a tem de extinguir, realizada
janeiro de 1952. A primitiva a condição resolutória, ou vindo
doação feita no ano de 1950, o têrmo extintivo, seja por fôrça
pelo Estado de Mato Grosso ao de declaração de vontade, seja
réu, estabeleceu, com fundamen- por determinação de lei. E ain-
to no Decreto Estadual n. O 680, da: quando o princípio resolutó-
acima citado, regulador das doa- rio se encontra no próprio título,
ções, que o donatário construi- resolvido o domínio, resolvem-se
103 -

os direitos reais concedidos na Quanto à contestação de fls.


pendência do têrmo Ou da con- infere-se que, desprezadas pelo
dição" (Clóvis Beviláqua, Direi- saneador as duas preliminares
to das Coisas, VoI. lI, pág. 320). nela argüidas, no mérito admitiu
Carvalho Santos, após citar o réu a não utilização integral da
Clóvis Beviláqua, exemplifica re- área que lhe fôra doada, situan-
ferindo-se à venda com pacto de do-se sua argumentação apenas
melhor ,comprador, à venda com no terreno das alegações, inclu-
cláusula retro, etc. , declarando sive no que se relaciona a pre-
mais adiante, em comentário ao tendida posse, porquanto tinha o
art. 647 do Código Civil, "que o réu sôbre a área doada tão-so-
Código aqui nada mais fêz que mente posse pre.cária, sujeita co-
reproduzir a regra enunciada em mo estava a uma condição reso-
o art. 119, quanto à condição re- lutória, a qual, em se verifican-
solutiva, agora especialmente no do, determinou o desaparecimen-
que tange ao direito de proprie- to da relação jurídica, de onde
dade" (Carvalho Santos, Código derivava dita posse, passando a
Civil Brasileiro Interpretado, VoI. Prefeitura Municipal de Cuiabá
VIII, pág. 394 e segs.). a ter, sôbre a parte não construí-
Na jurisprudência voga de- da do terreno, a condição de se-
simpedido o mesmo entendimen- nhor e possuidor, eis que a posse
to, como se vê de julgado inserto do réu sôbre a parte da área ora
na Revista dos Tribunais 259/ em questão tornou-se, conse-
/223. Trata-se, em suma, de ve- qüentemente, injusta e viciosa,
rificar se a condição se realizou uma vez que face à lei não é jus-
integralmente ou está suspensa ta a posse que incide nas comi-
parcialmente, não podendo, se- nações do art. 497 do Código Ci-
quer, as partes, ainda que o de- vil Brasileiro.
sejassem, renunciar à resoluçãio, Nestas condições a procedên-
vale dizer, seria ilícito, em caso cia da ação se impõe, porquanto,
afirmativo, considerar em vigor o consubstanciados todos os itens
contrato, que em princípio é .con- que implicam no implemento da
sidierado como se nunca tivesse .condição resolutória. Impõe-se,
existido, no que concerne à parte também, via de conseqüência, a
não construída. No caso em tela procedência do pedido de 61 no
seria impossível, de qualquer verso, formulado pela Associa-
forma, alteração na primitiva ção Médica de Mato Grosso, a
doação, porque com a emancipa- qual ingressou em Juízo na qua-
ção política do Município de lidade de assistente, equiparada
Cuiabá tornou-se êle sucessor do ao litisconsorte, nos têrmos do
Estado de Mato Grosso (Decreto art. 93 do Código de Processo
Estadual n.o 1. 124, de 22 de ja- Civil, eis que a Prefeitura Muni-
neiro de 1952), pelo qual pas- cipal de Cuiabá, aos 9 dias do
sou a pertencer à sua Prefeitura mês de janeiro de 1963, doou,
os lotes de terrenos da Avenida igualmente, a essa entidade, o
Presidente Vargas. terreno descrito em o documento
- 104-

de fls., o qual integrava antes rente do despacho que mandara


dêsse ato a área primitivamente desentranhar documentos e que
doada ao réu, Por outro lado ensejara o agravo no auto do pro-
determinou êste Juízo o desen- cesso; 2 - nulidade da sentença,
tranhamento dos documentos de por ter admitido litisconsorte vo-
fls. 42/44, o que até agora não luntário sem audiência das par-
foi tes; 3 --- improcedência da ação
Por êsses fundamentos, que no mérito, por ter acolhido, como
constituem razões de decidir, jul- perfeita, doação para a qual fal-
go procedente a presente ação e tava ao doador, Prefeitura Muni-
dedaro inexistente, parcialmente, cipal de Corumbá, a condição es-
a relação jurídica oriunda da Es- sencial de detentora do domínio
critura Pública de Doação outor- respectivo, pois pelo Estado a
gada ao réu, aos 9 dias do mês de ela haviam sido doadas as sobras
setembro de 1950, transcrita no de terrenos e, em conseqüência,
Registro Geral de Imóveis desta não abrangia a doação os que já
Comarca sob n.O 3.851, livro pertenciam a outros.
3-D, fls. 342, e autorizo aos au- A apelação foi contra-arrazoa-
tores, bem como ao assistente, da e, nesta Instância, a Subpro-
equiparado ao litisconsorte, As- curadoria-Geral reportou-se às
sociação Médica de Mato Grosso, razões da autarquia.
a procederem no Registro-Geral É o relatório.
de Imóveis desta Comarca, a
competente transcrição das Es- Voto
crituras Públicas de Doação, la-
vradas, respectivamente, aos 24 o Sr. Min. Armando Rollem-
dias do mês de dezembro de 1962 berg: - O recurso de ofício de-
e aos 9 dias do mês de janeiro de volve a êste Tribunal o inteiro
1963, nas Notas do Tabelião do
conhecimento da lide, e há de ser
2.° Ofício desta Capital. Outros-
acolhido de logo para que se de-
sim mando sejam desentranha-
dos, pelo Es.crivão do feito, os do- crete a nulidade do processo.
cumentos de fls. 42/44, supra- O art. 410, do Regulamento
mencionados. Custas ex lege. Re- Geral da Previdência Social, dis-
tardada devido ao acúmulo de ser_ põe: "As instituições de previ-
viço, inclusive convocação com ju- dência social serão representadas
risdição plena no Egrégio Tribu- pelo Presidente do Conselho Ad-
nal de Justiça do Estado de Mato ministrativo, exceto o SAMDU,
Grosso. Publique-se. Registre- que o será pelo Diretor-Geral.
-se. Intime-se. Recorro ex officio Parágrafo único - A repre-
para o Egrégio Tribunal Federal sentação em Juizo caberá tam-
de Recursos". bém cumulativamente ao Pro-
Inconformada, apelou a autar- curador-Geral, que poderá receber
quia, argüindo: 1 - preliminar a citação inicial, em nome da ins-
de cerceamento de defesa decor- tituição, e aos demais Procurado-
- 105-

res, nas questões de sua competên- lidade proclamada no voto do Sr.


cia. " Min. Relator é evidente.
Temos assim que somente as Todavia, pela própria exposi-
autoridades mencionadas no dis- ção e considerações da sentença,
positivo podem receber citação e pela sustentação feita pelo Pro-
pela autarquia, não sendo lícito ci- curador da Autarquia, o que se
tar a esta na pessoa do Delegado afirma é que a ação é de manifes-
Regional respectivo, como aconte- ta improcedência.
ceu. Entretanto, atendo à regra con-
De outro lado não se pode ad- tida no art. 275, do Código de
mitir, no caso, a aplicação do dis- Processo Civil, que estabelece:
posto no art. 165, § 1.0, do Cód. "Quando o juiz puder decidir do
de Proc. Civil, onde se estabelece mérito a favor da parte a quem
que o comparecimento do réu em aproveite a declaração da nulida-
Juízo suprirá a falta de citação, de, não a pronunciará, nem man-
pois tal comparecimento não se dará repetir o ato, ou suprir-lhe a
deu de forma regular, isto é, atra- falta" .
vés de qualquer das autoridades
Nestas condições, Sr. Presiden_
competentes e, portanto, não con-
te, data venia de V. Exa., prefiro
valesceu a falta.
julgar o mérito, não obstante ser
O comparecimento a que alude
manifestamente nulo o processo
a lei processual é o que se dá de
forma regular, não sendo possível por falta de citação.
aceitar-se que citação nula deixe
de o ser por comparecer ao pro- Decisão
cesso a mesma pessoa que não ti-
nha competência para recebê-la. Como consta da ata, a decisão
A decisão pela nulidade se im- foi a seguinte: Por unanimidade
põe tanto mais quanto se trata de de votos a Turma deu provimen-
questão na qual se pretende seja to ao recurso de ofício. Quanto à
declarada a perda de imóvel pela apelação do IAPI, por maioria de
autarquia, em favor do autor va- votos, julgou-se prejudicada, ven-
rão que, sendo Procurador da cido o Sr. Min. Godoy Ilha, que
Prefeitura de Cuiabá, obteve des-
a provia. Quanto ao recurso de
ta, por doação, o terreno aludido.
ofício os Srs. Mins. Djalma da
Dou provimento ao recurso de
Cunha Mello e Godoy Ilha vota-
ofício para anular o processo, fi-
cando prejudicado em conseqüên- ram com o Sr. Min. Relator;
cia o recurso do IAPI. quanto à apelação do IAPI, o Sr.
Min. Djalma da Cunha Mello
Voto (vencido em parte) acompanhou a conclusão do voto
do Sr. Min. Relator. Presidiu o
o Sr. Min. Godoy Ilha: julgamento o Sr. Min. Djalma
Sr. Presidente, realmente, a nu- da Cunha Mello.

8 - 35883
- 106-

APELAÇÃO CíVEL N.o 19.517 GB.


Relator - O Ex.moSr. Min. Godoy Ilha
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva
Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex officio
Apelantes - Fundação Visconde de Pôrto Seguro, Banco do
Brasil S. A. e União
Apelados - Os mesmos
Acórdão
Propriedade dos desdobramentos acionanos. As
ações novas, quer resultem de bonificações, quer se-
jam oriundas de subscrição, são acessórios dos títulos
originários e em ambas as hipóteses pertencem ao
respectivo proprietário.
Exercício do direito de preferência pelo usufru-
tuário. O usufrutuário só pode exercer o direito de
preferência à subscrição dos aumentos de capital,
quando o proprietário haja expressamente renunciado
ao privilégio.
Efeitos meramente declaratórios da sentença que
reconhece a extinçãO' do usufruto. Tem efeitos de-
claratórios e não constitutivos a sentença que reco-
nhece a extinção de usufruto pela ocorrência de qual-
quer dos motivos arrolados em lei.
Arrecadacão de bens de nacionalidade desconhe-
cida. Os bens' de nacionalidade desconhecida não po-
diam vàlidamente ser arrecadados para atendimento
de reparações de guerra.
Satisfação dos danos de guerra. Com o advento
do Dec. 51.993, de 1963, que considerou satisfeitos
os danos causados aos brasileiros por atos de guerra,
perdeu qualquer sentido discutir-se sôbre a incorpo-
ração ao Patrimônio Nacional dos bens sujeitos à le-
gislação de guerra.
Vistos, relatados e discutidos Relatório
êstes autos de Apelação Cível
n. O 19.517, da Guanabara, em que o Sr. Min. Godoy Ilha: -
são partes as acima indicadas: Trata-se de uma ação ordináTia
Acorda a Segunda Turma do promovida pela Fundação Vis-
Tribunal Federal de Recursos, por conde de Pôrto Seguro, mantene-
unanimidade, em dar provimen- dora do Colégio Visconde de Pôr-
to, em parte, ao apêlo da Funda- to Seguro, com sede em São Paulo,
ção Visconde de Pôrto Seguro e proposta contra a União e o Banco
em ter os demais recursos por do Brasil.
prejudicados, na forma do relató- Alega a Fundação autora que,
rio e notas taquigráficas preceden- em 1931, Clementine Brenne
tes, que ficam integrando o pre- doou à Associação Escola Alemã
sente. Custas de lei. de São Paulo, atual Fundação Vis-
Brasília, 20 de novembro de conde de Pôrto Seguro, vanas
1964. - Dja.lma da Cunha Mello, ações de várias Sociedades Anô-
Presidente; Godoy Ilha, Relator. nimas, reservando, porém, para si
107 -

o respectivo usufruto, enquanto haviam sido subscritas em nome


vivesse. de Clementine Brenne, o que deu
Dez anos depois, em 1941, a lugar a que a Fundação autora
referida Fundação era proprietá- alegasse que essa informação
ria de 500 ações nominativas e de constituía um êrro de direito,
500 ações preferenciais da Cia. porque, em virtude da doação fei-
Brahma que foram depositadas no ta em 1931, as referidas ações já
Banco do Brasil com o seguinte eram propriedade da Fundação
título: "Tesouro NacionaL Banco autora, desde a data da escritura
Alemão Transatlântico. Deposi- de doação, sendo a doadora, Cle-
tantes de nacionalidades desco- mentine Brenne, simples usufru-
nhecidas. " tuária.
Em 1947, aos 10 de julho, fa- Alega mais a autora que dêsse
leceu na Suíça a doadora Clemen- êrro e da indevida incorporação
tine Brenne, tendo a autora, a dessas ações ao Fundo de Indeni-
Fundação, ajuizado uma ação de- zação de Bens de pessoa de "na-
claratória para extinguir o usufru- cionalidade desconhecida", resul-
to, ação essa que foi julgada pro- tou uma reclamação, por ela feita
cedente, cessando o mesmo usu- contra o Banco do Brasil, confor-
fruto nos têrmos da escritura de me se verifica da carta de 1.0 de
doação, na forma do art. 739, 1.0, abril de 1955, por isso, que, lhe
do Código Civil. foram entregues apenas 8.676
Em 1951, a Fundação, autora ações preferenciais da referida
requereu ao Ministro da Fazenda Cia. Brahma, quando, em verda-
a devolução das ações, tendo en- de, conforme prova o documento
tão o saudoso Procurador-Geral n.O 6 que está a fls. 11, o levan-
da Fazenda, Haroldo As.coli, se tamento feito pela autora em 11
pronunciado da seguinte maneira: de junho de 1954 comprova que
"Por não haverem os donatários ela tinha direito a 2.085 ações
sido atingidos pelos efeitos do es- nominativas e 10 .416 preferen-
tado de beligerância e continua- ciais. A aludida reclamação, po-
rem a subsistir, não se lhes pode rém, não foi atendida pelo Banco
negar o direito aos valôres doados do Brasil e assim a autora veio
e figurantes em ofício da ..... . com a presente ação ordinária
(AGEDE) (Agente Especial da para o fim de reclamar o rema-
Defesa Econômica)". nescente dessas ações, as quais, na
À vista dêste parecer, o Minis- data da inicial, 24 de junho de
tro da Fazenda autorizou o levan- 1959, já se elevavam a 6.255 no-
tamento dos bens depositados no minativas e 11.727 preferenciais,
Banco do Brasil. bem como, todos os dividendos
Aconteceu, porém, que o Banco recebidos pelo Banco do Brasil
do Brasil, em carta de 1.0 de abril desde a data em que faleceu a
de 1955 informou que por ocasião doadora e se extinguiu o usufruto
do aumento de capital da Compa- ou seja, desde 10 de julho de
nhia Brahma, ocorrido em julho 1947.
de 1942, março de 1945 e dezem- Êsse o pedido e sua razão de
bro de 1946, as ações nominativas ser constante da inicial.
- 108-

Saneador irrecorrido e as par~ a mesma rubrica "Depositantes


tes requereram perícia que, di- de N acionahdades Desconheci-
vergente, forçou a ação do desem~ das", acórdão êste que tem os vo-
patador. tos dos Srs. Mins . Amarílio
Ultimada a instrução, proferiu Benjamin, Relator, Aguiar Dias,
o Dr. Juiz a quo a sentença de Revisor, e Hemique d'Ávila, vo-
. A ementa do referido julga-
Rejeitadas as preliminares de do é a seguinte: "Os bens que fo-
nulidade da citação do Banco do ram apropriados pelo Brasil eram
Brasil, como Agente Especial da pertencentes aos súditos do Eixo.
Defesa Econômica (AGEDE) e Não entram nessa arrecadação os
a de prescrição de meritis, a sen~ bens de nacionalidade desconhe-
tença entendeu que tudo está em cida . Não se pode reconhecer
resolver a questão da proprieda~ existência de incorporação se os
de dos desdobramentos das refe~ bens continuarem relacionados
ridas ações, por isso que a Fun~ pela sua origem" (fls. 207 v.).
dação autora estava reivindican~ Apelou também o Banco do
do a plena propriedade dos no~ Brasil a fls. 212, pedindo a total
vos títulos, quer oriundas de bo~ improcedência da ação.
nificações, quer resultantes de Apelou ainda a União no mes-
subscrição. mo sentido do Banco do Brasil.
Concluiu pela procedência da Subindo os autos à Subpro-
ação, porém, sem condenação em curadoria-Geral da República, opi-
honorários fixando juros de mora nou a fls. 230, reportando-se às
a partir da data da decretação da razões do referido Banco e da
extinção do usufruto, isto é, 9 de União e pedindo a total improce-
agôsto de 1949, tudo conforme se dência da ação.
apurar na execução. É o relatório.
Apelou a Fundação autora pe~
dindo que os rendimentos das re~ Voto
feridas ações lhes fôssem dadas O Sr. Min. Godoy Ilha: - As
desde a da ta do falecimento da questões preliminares, repelidas
usufrutuária Clementine Brenne, na sentença de Primeira Instân-
bem como juros e mora e isso cia, estão afastadas do debate, eis
desde 10 de julho de 1947, con~ que sôbre elas já não insistem os
forme prova a respectiva certidão réus apelantes.
de óbito e não da data da extin~ Quanto ao mérito, estou em que
ção do usufruto, como fêz a sen~ o ilustrado Julgador a quo o apre-
tença (9 de agôsto de 1949), bem ciou com irrepreensível acêrto.
como fôsse decretada a inclusão Salientou, com razão, a sen-
de honorários advocatícios. tença que o fulcro da questão es-
Juntou a autora ao seu apêlo tá na determinação da proprie-
a certidão do acórdão lavrado dade dos desdobramentos das
pelo Sr. Min. Amarílio Benja~ ações da Companhia Cervejaria
min (fls. 205), no qual o espó~ Brahma originàriamente doadas à
lio de Katarina Bloch postulou a autora.
mesma hipótese contra bens de~ Êsses desdobramentos resulta-
positados no Banco do Brasil sob ram de bonificações e de aumen-
- 109-

tos de capital com utilização de ciaI é direito exclusivo do acionis-


reservas, e o próprio e eminente ta, de que pode renunciar, mas por
Consultor-Jurídico do Banco do ato expresso, inequívoco. E no
Brasil, no parecer de fls. 52/54, usufruto e no fideicomisso, a teor
sustentou, com irreprochável ar- do que prescreve o § 4.° do art.
gumentação jurídica, que as ações 111 da mencionada Lei das So-
distribuídas á título de bonifica- ciedades Anônimas, o direito de
e provenientes de fundo de preferência podia ser exercido
reservas acumuladas, pertencem à pelo usufrutuário ou fideicomis-
donatária, à sua proprietária, pôs- sário quando não o tenha feito o
to. que não podem elas ser havidas acionista, isto é, quando a êle te-
como frutos a serem adjudicados nha expressamente renunciado, o
à doadora, pois frutos só se con- que não ocorreu na espécie. Es-
sideram os lucros distribuídos a tava a donatária impossibilitada
título de dividendo. Segundo de exercer o seu direito de prefe-
prescreve o art. 113 da Lei das rência, eis que os títulos não se
Sociedades por Ações, "o aumen- encontravam em seu poder, mas
to de capital pela incorporação de a êle não renunciou de modo ex-
reservas facultativas ou de fun- presso . Saliente-se que, como
dos disponíveis da sociedade, ou constatou a perícia contábil, a
pela valorização ou por outra con- subscrição feita em vida do de
dição do seu ativo móvel ou imó- cujus, falecido em 10-7-47, ocor-
vel, determinará a distribuição reu em 1945, dado que os aumen-
das ações novas, correspondentes tos verificados nesse período de-
ao aumento, entre os acionistas na rivaram de bonificações, convin-
proporção do número de ações do acentuar que a doadora sem-
que possuirem". São desdobra- pre viveu no estrangeiro.
mentos, acréscimos que acedem ao Não seria lícito, sem dúvida, fi-
titular das velhas ações, e que se casse a donatária, titular da doa-
integraram no patrimônio da do- ção desde data remota (1931),
natária. O que se poderia susten- desfalcada no seu patrimônio, com
tar, com assento no disposto no a exclusão dos acréscimos e des-
parágrafo único do precitado dis- dobramentos das ações originá-
positivo legal, é que às novas ações rias, desatendendo-se ao alto sen-
estender-se-ia o usufruto, o fidei- tido da liberalidade, como se de-
comisso ou a cláusula de inalie- clara na respeitosa escritura ( fls.
nabilidade a que estivessem su- 18).
jeitas as de que elas forem deri- As ações doadas estavam aver-
vadas, pela extensão do vínculo badas em nome do Banco Alemão
às ações novas. Transatlântico e foram transferi-
O mesmo poder-se-á dizer com das, por ocasião da liquidação
relação às novas ações que se di- dêsse estabelecimento de crédito,
zem subscritas pelo Banco do para o Banco do Brasil, onde os
Brasil, decorrentes de novos au- respectivos valôres foram escritu-
mentos de capital e com a utili- rados à conta "Tesouro Nacional
zação de dividendos da usufru- Banco Alemão Transatlântico -
tuária. A preferência à subscri- Depositantes de Nacionalidade
ção dos aumentos do capital so- Desconhecida" .
- 110-

Em tais condições, bem consi- que, liberando os bens e direitos


derou o ilustrado Julgador a quo, pertencentes a pessoas físicas e
desacertada e manifestamente jurídicas alemãs, dispõe que "os
ilegal a determinação da incorpo- bens e direitos pertencentes a
ração das questionadas ações ao pGssoas físicas e jurídicas alemãs,
patrimônio da União, sob a invo- residentes no Exterior, e a pessoas
cação de pertencerem à doadora e físicas e jurídicas incluídas nos
à legislação de guerra en- efeitos do Dec. -lei 4.166, de 11
tão vigente. de março de 1942, e da legisla-
Ora, como decidiu, em acórdão ção posterior de guerra, por fôr-
unânime, a Egrégia Primeira Tur- ça do art. 1.0 do Dec. 5.777,
ma, em julgamento recente, "os de 26 de agôsto de 1953, serão
bens que foram apropriados pelo excluídos da mencionada legisla-
Brasil (na Segunda Guerra Mun- ção e entregues a seus respectivos
dial) eram pertencentes aos sú- titulares, ou a seus representantes
ditos do Eixo, não se compreen- legais devidamente credenciados
dendo nessa arrecadação os bens na forma estabelecida neste de-
de cidadãos de nacionalidade des- creto".
conhecida e não se podendo re- Dispôs, ainda, o art. 2.0 da-
conhecer existência de incorpora- quele ato regulamentar que "a li-
ção se os bens continuavam sele- beração e a entrega dos referidos
cionados pela sua origem. Apesar bens e direitos aos seus proprie-
de se ter procurado sustentar a tários far-se-á segundo indicação
nacionalidade alemã da doadora, do "Consórcio Alemão" que nego-
o próprio documento junto' pelo ciou com o Govêrno Brasileiro,
Banco do Brasil à sua contesta- mediante a assinatura, na Agên-
ção, menciona a informação do cia Especial de Defesa Econômica
Ministério das Relações Exterio- do Banco do Brasil S. A., de têr-
res de não ter sido possível apu- mo através do qual será dada ple-
rar a sua cidadania, in verbis: na e geral quitação ao Govêrno
''Em resposta, devo comunicar a Brasileiro e seus agentes, pela ad-
V. Exa. que o Ministério dos ministração dos mesmos bens e
Negócios Estrangeiros da Iugos- direitos, durante o tempo em que
lávia, por nota recentemente en- estiveram sujeitos à legislação de
caminhada à Legação do Brasil guerra" .
em Belgrado, informou não ser Por último, o Dec. 51.993, de
possível, apesar das pesquisas rea- 7 de maio de 1963, considerou sa-
lizadas, apurar a cidadania da tisfeitos os danos causados aos
brasileiros por atos de guerra, com
aludida senhora, por falta de
o recolhimento efetuado pelo
maiores esclarecimentos a respei-
"Consórcio Alemão" ao Banco do
to da data da sua partida daquele Brasil dos saldos ainda devidos,
país, da celebração do seu casa- nos têrmos do mencionado Dec.
mento e da nacionalidade de seu 39.869, de 1956.
espôso" . Isto pôsto, falece qualquer le-
O debate a respeito perdeu to- gitimidade aos réus para se opo-
do o relêvo em face do Dec. n.o rem à entrega das ações postula-
39.869, de 30 de agôsto de 1956, das pela autora, mesmo que pro-
- 111-

vada estivesse a nacionalidade se tratava de súdito alemão. Mas,


alemã da doadora e a sujeição dos ainda que se tratasse de súdito
seus bens ao confisco determina- alemão, proprietário, os bens es-
do pelá .chamada legislação de tavam apenas no seu usufruto
guerra. desde que a sua propriedade ti-
Incensurável, neste passo, a de- nha sido transferida por doação
cisão recorrida, pelo que nego há longos anos atrás, com a cláu-
ao recurso de ofício e sula de usufruto. Também enten-
ao apêlo dos réus. do como o Relator que, no caso
Merece, todavia, ser considera- de usufruto, os frutos respectivos
do o recurso da autora, quanto se transferem imediatamente, pa-
aos efeitos dados pela sentença a ra o patrimônio do proprietário,
partir da data da extinção do usu- sendo a sentença de adjudicação,
fruto, em 9 de agôsto de 1949. ato meramente declaratório, e não
Em verdade, o usufruto extinguiu- constitutivo. Não acolho o apêlo
-se com a morte da usufrutuária, da autora, no que concerne a ho-
ocorrida em 10 de julho de 1947, norários de advogado, porque não
(Códigq Civil, art. 739, inciso I), se enquadra o caso no art. 64 do
e a sentença proferida em 9 de Código Civil e, ainda mais, por-
agôsto de 1949 foi meramente de- que não foram êles pedidos ab
claratória de extinção de usufru- initio, nada constando a respeito
to, devendo remontar à data do da inicial.
óbito. Assim, meu voto é, de acôrdo
Nestes têrmos, dou provimento com o Sr. Min. Relator, para
em parte ao apêlo da autora, prover, em parte, o recurso da
mantendo, todavia, a exclusão dos Fundação Visconde de Pôrto Se-
honorários advocatícios que tenho guro e julgar, em conseqüência,
também por indevidos. prejudicados o recurso do Ban-
co do Brasil S . A. e recurso
Voto de ofício.

o Sr. Min. Oscar Saraiva: - Decisão


Meu voto, Sr. Presidente, coin-
cide em tudo com o do Sr. Min. Como consta da ata, a decisão
Relator, quer quanto aos funda- foi a seguinte: A TurmC' por de-
mentos, quer, relativamente, ao
cisão unânime, deu provimento,
provimento. Acentuo que a União
não tinha qualquer título para se em parte, ao apêlo da Fundação
apropriar dêsses bens e incorpo- Visconde de Pôrto Seguro, e, por
rá-los ao seu patrimônio. Não se decisão idêntica, teve os demais
tratava de bens do inimigo, e a recursos por prejudicados. Os Srs.
arrecadação se fêz, como foi vis- Mins. Oscar Saraiva e Armando
to, com a declaração de que eram Rollemberg. votaram com o Sr.
bens de pessoa de nacionqlidade Min. Relator. Presidiu o julga-
desconhecida. E o processo, pos- mento o Sr. Djalma da Cunha
teriormente, não comprovou que Mello.
- 112-

APELAÇÃO CRIMINAL N.o 1.046 SP.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Raimundo Macedo (Aguiar Dias)
Apelante - Justiça Pública
Apelados - Antenor Müller e Ricardo Pliger

Acórdão
As declarações feitas na Polícia, embora retrata-
das em Juízo, fazem prova plena de autoria do cri-
me, desde que corroboradas por outros elementos do
processo.

Vistos, relatados e discutidos selos de maior valor e reaprovei-


êstes autos de Apelação Criminal tando-os nos novos manifestos.
n. o 1.046 de São Paulo, em que Com esta manobra, Antenor rea-
são partes as acima indicadas: proveitou selos no valor de ....
Acorda a Primeira Turma do Cr$ 2.251.640,60, e com as guias
Tribunal Federal de Recursos, por para aquisições das novas estam-
unanimidade, em dar provimento pilhas, requisitava importância na
ao recurso para condenar os réus caixa da firma empregadora. De
nos têrmos do voto do Sr. Min. posse das estampilhas novas, ven-
Relator, tudo conforme consta do dia-as, diàriamente, a Ricardo
relatório, votos e resultado de jul- Pliger, com um desconto de 20%.
gamento de fls. 240 até 246, que Pede a denúncia a condenação de
ficam fazendo parte integrante do Antenor Müller nas penas dos
presente julgado. Custas de lei. arts. 293, 1 e 171, combinados
Brasília, 26 de setembro de com o art. 51, e de Ricardo
1963. - Henâque d'Ãvila, Pre- Pliger nas do art. 171, combinado
sidente e Relator (art. 81, RI) . com o art. 25, todos do Código
Penal.
Relatório Finda a instrução criminal, o
Dr. Juiz proferiu a sentença de
O. Sr. Min. Amarílio Benjamin: fls. 175, julgando improcedente a
- Diz o Ministério Público de denúncia para o fim de absolver
São Paulo que Antenor Müller, os denunciados, por falta de pro-
desempenhando as funções de au- vas suficientes para a condenação.
xiliar de escritório da firma Car- Inconformado com a sentença,
los Mendes & Filhos Ltda., agen- apelou o Ministério Público, a
tes da Real S. A. - Transportes fls. 182, e os apelados ofereceram
Aéreos - tinha a seu cargo a se- suas razões a fls. 188 e 189. Su-
lagem dos manifestos. A partir biram os autos ao Tribunal de
de dezembro de 1957, Antenor Justiça do Estado de São Paulo,
Müller, aproveitando-se dos ma- que, pelo Acórdão de fls. 227,
nifestos relativos aos exercícios de declinou de sua competência para
1956, 1957 e janeiro de 1958, le- o Tribunal Federal de Recursos.
vava para sua casa fôlhas dos ma- Nesta Instância, falou a Subpro-
nifestos já selados, retirando os curadoria-Geral da República, a
- 113 --

fls. 231. Atendendo a meu des- ressavam a êle e terceiros. De sua


pacho, voltou a douta Subpro- vez, Ricardo Pliger, que já infrin-
curadoria a m.anifestar-se concor- gira a lei penal - art. 312 - e
dando com a competência dêste fôra condenado a 2 anos de pri-
Tribunal Federal de Recursos, por são, fls. 97, confirmou o recebi-
tratar a denúncia de reaproveita- mento e venda das estampilhas
mento de estampilhas federais. boas, que Antenor desviava da
Quanto à capitulação do delito, firma de que era empregado, fls.
opinou que a melhor capitulação 17 e 18. Os réus, portanto, são
seria como estelionato (art. 171 culpados, não havendo ninguém
do Código Penal), pois não houve admitido fôssem inocentes. Os
falsificação alguma, mas, sim sim- crimes a punir compreendem:
ples reaproveitamento da estam- 1) Uso de estampilhas servi-
pilha, por meio ardiloso. das - Trata-se de crime autôno-
Ê o relatório. mo que o Código, porém, inclui no
capítulo sôbre "falsidade de títu-
Voto los". As palavras da lei são as
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: mais adequadas à qualificação
- Dou provimento para cassar a exata do delito:
sentença recorrida, que se baseou Artigo 293: "§ 2.° - Suprimir
tão-só na invalidade das declara- em qualquer dêsses papéis, quan-
ções dos réus, perante a autori- do legítimos, com o fim de torná-
dade policial, por se haverem re- -los novamente utilizáveis, carim-
tratado em Juízo. Fôsse assim o bo ou sinal indicativo de sua inu-
direito, os Códigos deveriam ser tilização. § 3.° - Incorre na mes-
abolidos e as prisões fechadas. ma pena quem usa, depois de al-
No caso dos autos, há prova sufi- terado, qualquer dos papéis a que
ciente do fato e da autoria. Não se refere o parágrafo anterior."
existe nenhuma dúvida de que es- Responde por êsse crime o seu
tampilhas inutilizadas foram pos- autor, o acusado Antenor Müller.
tas em circulação, depois de apa- 2) Apropriação indébita
gados carimbos e sinais de uso; e Código Penal, art. 168, § 1.0, n.o
que estampilhas novas, recebidas 111.
para o serviço da casa querelante, Antenor recebia as estampilhas
eram vendidas, com aproveita- boas, para emprêgo nos documen-
mento da vantagem obtida. An- tos de negócios da casa onde tra-
tenor Müller confessou a prática balhava. Fazia-as suas e as ven-
de todos êsses atos, com tantos dia, por intermédio de Ricardo,
detalhes, que, depois, qualquer mediante vantagem especial. Am-
reconsideração, como arma de de- bos usavam o dinheiro obtido com
fesa, ficou inoperante, sobretudo as vendas, em interêsses e coisas
considerando-se que não houve pessoais. Ricardo, conhecedor de
prova de que a Polícia, para obter negócio de estampilhas, não po-
as declarações, o tivesse subme- dia ter a menor dúvida sôbre a
tido a violências, fôsse no primeiro origem criminosa dos selos, que
depoimento, ou no segundo, em . Antenor lhe entregava. Só a co-
que compareceu, por ato próprio, missão concedida denunciava a
para esclarecer aspectos que inte- má procedência. Ricàrdo, portan.
114 -

to, na conformidade da lei penal, Ricardo Pliger, com observân-


arts. 11 e 25, é co-autor dês se cia dos arts. 42, 44 I, e 46, I
crime, para cujas sanções leva a (reincidência genérica).
agravação da reincidência gené.- Art. 168 - 2 anos e 6 meses
rica. de reclusão, multa de ...... .
Vê-se, pelo exposto, que aban- Cr$ 2 . 000 e sêlo penitenciário
donou-se a classificação da denún. de Cr$ 100.
e a manifestada
pelo Dr. Subprocurador, retor- Conclusão
nando-se à sugestão contida no
relatório polícial. Em verdade, Dou provimento à apelação do
na espécie, não se pode cuidar de Ministério Público para, cassan-
estelionato. Pode-se concordar do a sentença recorrida, declarar
em que as manobras ou ardis que a procedência da denúncia e, em
configuram o estelionato estão vista disso, julgar Antenor Müller
projetadas na ação criminosa de incurso nas sanções dos arts. 293
utilizar-se novamente dos selos §§ 2.° e 3.° e 168, § 1.0 n.o IH,
servidos. Acontece, porém, que o do Código Penal, e impor-lhes as
Código adotou qualificação parti- penas de 2 anos e 6 meses de re-
cular, e para o fato, art. 293, §§ clusão, multa de Cr$ 3 . 000 e
2.0 e 3.°. sêlo penitenciário de Cr$ 100.,
Não houve necessidade de rea- com relação ao primeiro disposi-
brir-se nôvo prazo de defesa pela tivo; e de 2 anos e 8 meses de re-
mudança na qualificação dos cri- clusão, multa de Cr$ 1. 530 e
mes, porque os fatos continuaram sêlo penitenciário de Cr$ 100,
os mesmos, sem que qualquer ele- à conta do segundo preceito; e,
mento diferente viesse à tona, não ao mesmo tempo, considerar Ri-
se dará agravação das penas pr& cardo Pliger incurso no art. 168
vistas. do referido Código, para conde-
ná-lo a 2 anos e 6 meses de re-
Penas clusão, multa de Cr$ 2 .000 e
sêlo penitenciário de Cr$ 100.
Antenor Müller, com observân. Os réus cumprirão a pena em
cia dos arts. 42 e 51 do Código: estabelecimento penitenciário do
Art. 293, §§ 2.° e 3.° - Pena Estado. Deverão ter seus nomes
base, adotada como definitiva - inscritos no rol dos culpados. Con-
2 anos e 6 meses de reclusão, mul- tra êles, seja expedido mandado
ta de Cr$ 3 . 000 e sêlo peniten- regular de prisão. Mando que ao
ciário de Cr$ 1.000. réu Antenor Müller seja devolvi-
Art. 168, n.o IH: Pena base- da a quantia de Cr$ 20.000
art. 168 - 2 anos de reclusão, em depósito, cuja origem não es-
multa de Cr$ 1 .000 e sêlo de tá apurada. Remeto as partes
Cr$ 100. para as vias ordinárias, com refe-
Pena definitiva - art. 168, § rência ao automóvel e à casa que
1.°, n.o IH, pena aumentada de o réu Antenor adquiriu e depois
um têrço, 2 anos e 8 meses de re- vendeu e determino que os obje-
clusão, multa de Cr$ 1.330 e sêlo tos de uso doméstico, que foram
de Cr$ 100. apreendidos na residência do réu
- 115

Antenor, sejam submetidos a lei- A autoria está indicada e não


lão, após o devido processo, e re· pode ser outra.
colhido o apurado aos cofres pú. O réu prestou minucioso depoi-
blicos, embora também atendido, mento na polícia, veio a Juízo e
em proporção, o prejuízo da firma o negou. Fê-lo naturalmente, por
Carlos Mendes & Filhos - (Có- insinuação de algum experto ad·
digo Processo Penal, arts. 120, vogado.
121, 122 e 133) Custas pelos
>
A classificação feita por V. Ex. a
réus. está rigorosamente dentro da lei
penal. Estou de acôrdo com
Voto V. Ex.a Sr. Min. Relator.

o Sr. M in. Colombo de Souza: Decisão


- Estou de acôrdo com o minu-
cioso voto do Min. Relator. Como consta da ata, a decisão
A asseverativa do Juiz de que foi a seguinte: Deu-se provimento
não havia prova para a condena- ao recurso, para condenar os réus
ção, de vez que o réu não confes- nos têrmos do voto do Sr. Min.
sara, em Juízo, o crime cometido, Relator, unânimemente. Os Srs.
só o fazendo na polícia é um ar- Min. Raimundo Macedo, Henri-
gumento que se procedente, de- que d'Ávila e Colombo de Souza
ver-se-ia abolir com a investiga- (Cândido Lôbo) votaram com o
ção criminal. Sr. Min. Relator. Presidiu o jul-
Está provada a materialidade gamento o Sr. Min. Henrique
do crime. d'Avila.

APELAÇÃO CRIMINAL N.O 1.051 PIo


Relator -- O Ex. mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Hugo Auler
Apelante - Justiça Pública
Apelado - Jorge Batista da Silva

Acórdão

Estampilhas falsificadas. Ação criminosa. Con-


denação.
Constitui crime o uso de estampilha falsificada.
Pena a ser aplicada.

Vistos, relatados e discutidos Recursos, por unanimidade de


êstes autos de Apelação Crimi- votos, em dar provimento ao re-
nal n. o 1.051, do Estado do Piauí, curso para condenar o réu nos
em que são partes as acima in- têrmos do voto do Relator, tudo
dicadas: conforme consta do relatório de
Acorda a Primeira Turma jul- fls. 127, votos e resultado do jul-
gadora do Tribunal Federal de gamento de fls. 138/142, que fi-
- 116-

cam fazendo parte integrante do cusa do Dr. Juiz, interpôs re-


presente julgado. Custas de lei. curso stricto senro para êste Tri-
Brasília, 18 de junho de 1964. bunal, nos têrmos do art 581, TI.O
- Henrique d'Ãvila, Presidente; XV, do Código de Processo Penal.
Amarílio Benjamin, Relator. Êste recurso foi processado devi-
damente e chegou a êste Tribunal,
Relatório que, pelo acórdão de fls. 122, con-
siderou tempestiva, a apelação,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: mandando o feito a nova autua-
- O promotor público da comar- ção. Autuado como apelação cri-
ca de Floriano ofereceu denúncia minal, foi-me distribuído. A Sub·
contra Jorge Batista da Silva pelo procuradoria-Geral da República
fato de haver Genésio de Souza voltou a ser ouvida a fls. 124.
Brandão comprado ao acusado É o relatório.
seis estampilhas federais, uma no
valor de Cr$ 500 e as outras Voto
no valor, cada uma, de Cr$ 50
destinada à selagem de uma nota o Sr. Min. Amarílio Benjamin:
promissória e mais um recibo re- - O crime está provado. O réu
lativo à operação a ser feita na vendeu estampilhas falsas. Tô-
agência do Banco do Brasil. O das as circunstâncias o inculpam.
promotor atribuiu ao acusado o Comprovado o fato, na agência do
crime previsto no art. 293, § 4.°, Banco do Brasil, à apresentação
do Código Penal. de documento selado com a es-
Procedida a formação de culpa, tampilha que o portador lhe ad-
o Dr. Juiz proferiu a sentença quirira, conferida a falsidade logo
que se vê de fls. 80/86 dos autos, a seguir pelo coletor local, o acu-
absolvendo o acusado. O argu- sado, ao tomar conhecimento des-
mento que o Dr. Juiz adotou para sas ,:revelações, mesmo que não
chegar à sentença absolutória foi se aceite a versão do empregado
o de que, embora fôssem falsas as fiscal, de que teria pretendido
estampilhas vendidas pelo acusa- contornar a dificuldade, por meio
do, o mesmo não conhecia a falsi- de solução amigável, situou-se
dade, estava de boa-fé, não ha- pessimamente, desde que foi
vendo provas em contrário a essa estoque de estampilhas, com o
compreensão. apreendido em seu poder grande
O promotor público, proferida a valor de quase duzentos mil cru-
sentença, recorreu, utilizando-se, zeiros, igualmente falsas, como fi-
como declarou na petição, da fa- cou reconhecido pelo laudo da
culdade de apelar (fls. 88). O Casa da Moeda.
Dr. Juiz, em face dêsse recurso, Não cabe no senso comum que
mandou que os autos lhe fôssem tantos selos tenham sido compra.
conclusos e, afinal, provocado pelo dos a outrem, sem qualquer iden-
patrono do acusado, deixou de re- tificação. Também não se pode
ceber o recurso de apelação sob conceber que, admitindo-se o ato
o fundamento de que entrara o de compra como verdadeiro, em-
mesmo fora do prazo legal. O bora isso, o acusado, homem de
promotor público, diante dessa re- largo comércio e habituado à
-117 -

compra de selos, para atender às o Sr. Min. Hugo Auler: - Meu


suas atividades, segundo a sua de- voto é no sentido de dar provi-
fesa, deixasse de perceber a inau- mento à apelação para o efeito de
tenticidade das estampilhas, ou condenar o apelado nas comina-
delas duvidar. ções estabelecidas pelo eminente
O crime bem classificado esta- Sr. Min. Relator, com funda-
ria no art o § 1.0 , do Código mento no art. 293, § 4.°, do Có-
Penal, pois a modalidade envolve digo Penal.
todos os "usos" que o delinqüente E assim decido porque, de acôr-
dê ao sêlo falsificado e se equipa- do, de acôrdo com as conclusões
ra à própria falsificação. O Mi. do laudo pericial, o acusado não
nistério Público, porém, somente podia ignorar a falsificação das es-
na promoção final, solicitara tal tampilhas para uso próprio e res-
qualificação. Para evitar, porém, tituição à .circulação. O laudo pe-
que a defesa se considere prejudi- ricial revela a forma por demais
cada nas suas garantias, sem o grosseira da falsificação a escapar
cumprimento exato das formalida- do padrão oficial: "A natureza da
des que o Código, de modo geral, gravura destas fórmulas em foto-
estabelece no caso de agravação química, identificadas pela im-
da pena; e ainda para não retar- pressão dos traços de bordo irre-
dar a decisão do processo, mais gulares, descontínuos e arredon-
vale a aceitação da denúncia, art. dados; o processo de impressão é
293, § 4.°, como está, não obstan- tipográfico e nos selos de ....
te seja o réu muito beneficiado, Cr$ 50 não é oficialmente em-
dadas as sanções mais brandas pregado pela Casa da Moeda, pois
dêsse dispositivo. é sôbre clichés fotoquímicos, o
Pelo que, julgo procedente a papel não possui filigrana oficial
denúncia, para, considerando Jor- ou fibras de garantia, a composi-
ge Batista da Silva incurso no ção da pasta do papel não apre-
art. 293, § 4.°, do Código Penal, senta fibras fortes; não reprodu-
condená-lo a um ano e três meses zem fielmente os desenhos de ori-
de detenção, multa de três mil gem, quer em conjunto, quer em
cruzeiros, e ao pagamento de tre- detalhes, seja nos motivos orna-
zentos cruzeiros de sêlo peniten- mentais, seja nos caracteres dos
ciário e das custas. Tive em conta dísti.cos e da indicação da taxa;
os arts. 42 e 43 do Código Penal. a disposição e o número dos pico-
Não encontrei agravante e ate- tes não são os oficialmente adota-
nuantes, nem causas especiais de dos" (laudo de fls. 31). Ora, o
aumento ou diminuição. A pena é
apelado confessou ser abastado
definitiva e deverá ser cumprida
comerciante e ter adquirido de co-
no estabelecimento carcerário do
Estado. Inscreva-se o nome do letores federais, sem, no entanto,
réu no rol dos culpados. Contra identificá-los, as estampilhas em
êle espeça-se mandado de prisão. comento, pois delas necessitava
Indefiro a suspensão da pena, pois para as suas inúmeras operações
o que dos autos consta não me comerciais, (fls. 38). Portanto,
garante que o réu não venha a de- homem afeito a lidar com estam-
linqüir. pilhas, não poderia de modo al-
- 118-

gum alegar o desconhecimento da diligência feita pelo coletor fede-


falsificação, dada a forma por de- ral, quando êste foi informado por
mais grosseira da confecção. Não uma das testemunhas que possuía
se trata, na espécie, de ser falsida- Q réu um pacote de tais selos, em
de re,conhecível com tal ou qual seu poder, no respectivo estabele-
facilidade; mas de falsidade que cimento comercial.
não escapar a um corner~
dante que lida com estampilhas. Decisão
E porque grosseira a fal&ificação
é que se há de deduzir o dolo, o Como consta da ata, a decisão
dolus antecedens à restituição à foi a seguinte: Por unanimidade,
circulação. Ademais, se trata, na deu-se provimento ao recurso pa-
hipótese, de 335 selos adesivos ra condenar o réu nos têrmos do
de Cr$ 500., no total de ....... . voto do Relator. Os Srs. Mins.
Cr$ 167.500 (doc. de fls. 14), Hugo Auler, Henrique d'Ávila e
devendo ser acentuada a circuns- Cândido Lôbo votaram com o
tância de somente haver o apela- Relator. Presidiu o julgamento
do entregue o material na segunda o Sr. Min. Henrique d'Avila.

HABEAS CORPUS N.O 1.266 - DF.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio Neder
Paciente - Alvimar Martins de Brito e Silva
Impetrante - Mário Rodrigues de Vasconcellos Filho

Acórdão

Habeas Corpus. Condenado ° paciente como


autor do crime de peculato (C. P., art. 312), e
prêso por causa da condenação, não há como argüir
de ilegal essa prisão, ainda que não configure tipica-
mente o peculato, desde que, no caso, seja indicada
e justa a desclassificação para outro crime que neces-
sàriamente importe na sua prisão. Denegação unâni-
me do pedido.

Vistos, relatados e discutidos te do presente julgado. Custas de


êstes autos de Habeas Corpus n.o lei.
1.266, do Distrito Federal, em Brasília, 16 de novembro de
que são partes as acima indica. 1964. Cunha Vasconcellos,
das: Presidente; Antônio N eder, Re-
Acorda o Tribunal Federal de lator.
Recursos, em sessão plena, por
unanimidade, em denegar a or- Relatório
dem, tudo conforme consta das
notas taquigráficas precedentes, o Sr. Mio. Antônio Neder: -
que ficam fazendo parte integran- Sr. Presidente, o Df. Mário Ro-
- 119

drigues de Vasconcellos Filho mo a entrega da importância do


requer habeas corpus em favor de executivo, em parcelas, até a li-
Alvimar Martins de Brito e Silva, quidação total da dívida prove-
o qual, segundo entendimento de niente daquele executivo fisca~
S. Ex. a , está sofrendo constrangi- quando, então, exigiria o compe-
mento ilegal' advindo de sentença tente recibo de quitação e a baixa
do Dl'. Juiz de Direito da 24.a na distribuição.
Vara Criminal da Justiça do Es- Em razão disso, o paciente re-
tado da Guanabara. cebeu pagamentos parcelados que
O Fato e o Direito são invoca- totalizaram Cr$ 500.000, me-
dos na petição inicial, que tem o nos da metade da dívida - e a
teor seguinte: "O advogado Má- cada pagamento fornecia o pa-
rio Rodrigues de Vasconcellos Fi- ciente, ao representante da firma
lho, inscrito na respectiva Ordem, devedora, um simples comprovan-
Seção da Guanabara, sob o n.o te do recebimento.
3.876, vem impetrar ordem de Em outubro de 1963, o pacien-
habeas corpus em favor de Alvi- te exo.nerou-se de suas funções na-
mar de Brito e Silva, brasileiro, quele cartório, tendo mais tarde,
desquitado, residente à Av. Co- e porque não pretendesse receber
pacabana n.o 6, na cidade do Rio ditos pagamentos parcelados, mes-
de Janeiro, que se acha sofrendo mo porque não se encontrava vin-
constrangimento ilegal em virtude culado àquela Vara, procurado o
de decisão proferida pelo MM. representante da mencionada fir-
Juiz da 24.a Vara Criminal, pelos ma, e, então, devolveu todo. o di-
fatos e fundamentos seguintes: nheiro recebido, conforme se ve-
"I - O Fato: O ora paciente, rifica pela certidão a fls. 7 verso,
Alvimar Martins de Brito e Silva, quando o próprio responsável de-
era escrevente da 4.a Vara da Fa- clara que foi reembolsado da im-
zenda Pública, no Estado da Gua- portância de Cr$ 550.000.
nabara. No entanto, entre a data de sua
A seu cargo, entre outros, es- exo.neração e o encontro com o
tava um processo de executivo fis- representante da firma transcor-
cal movido pela União Federal à reram alguns' dias, e êste, indo ao
firma ,Tortora Importação e Ex- cartório à procura do paciente, e
portação Ltda. no valor de .... não mais o encontrando, procu-
Cr$ 1.258.301,60, segundo o rou informar-se de como poderia
cálculo procedido em 30 de no- prosseguir nos pagamentos parce-
vembro de 1959, mas sujeito à lado.s, que vinha efetuando, resul.
atualização. tando daí tôda a celeuma.
Embora distribuído àquela Va- Em razão disso foi o paciente
ra da Fazenda Pública, o devedor denunciado como incurso nas pe-
ainda não fôra citado. nas do art. 312 do Cód. Penal,
Um dos interessados da firma processado, e finalmente condena-
devedora, sabendo da existência do à pena de dois anos de reclu-
do aludido executivo fiscal, pro- são e multa de Cr$ 5.000., bem
curou o paciente no cartório da- como. ao pagamento das taxas ju-
quele ofício e assentou com o mes- diciária e penitenciária, nos valô-
120 -

res respectivos de Cr$ 1.000 e mas, seja como fôr, o Estado con-
Cr$ 100, além das custas pro- tinua existindo como sujeito pas-
cessuais. sivo, porque, se assim não fôsse,
Está o paciente, atualmente, re- não seria isso um crime praticado
colhido, prêso, ao Presídio do Es- contra a administração pública.
tado da Guanabara. Assim, em qualquer das hipóte-
H -- O Direito - Foi () pa- ses, ou peculato-malver-
ciente denunciado, processado e sação, há a obrigatoriedade de o
julgado como tendo incorrido nas Estado estar presente como sujei-
penas do art. 312 do Código Pe- to passivo, sem o que, como é ób-
nal, que trata de crime de pecu- vio, não haveria delito de pecu-
lato. lato previsto no art. 312 do Có-
No entanto, no processo a que digo Penal.
responde nada há que se possa di- Ora, nenhum crime foi pratica-
zer ter havido o delito de pecu- do contra a administração públi-
lato. ca, ou melhor, não houve qual-
Na verdade, diz o art. 312 do quer dano à Fazenda Nacional.
Código Penal: "Apropriar-se o Outro tanto, a definição clássi-
funcionário público de d,nheiro, ca de peculato, na palavra au-
valor ou qualquer outro bem mó- torizada de Nelson Hungria, for-
vel, público ou particular, de que talece ainda mais a tese aqui
tem a posse em razão do cargo, defendida: "O fato do funcio-
ou desviá-lo em proveito próprio nano público que, tendo, em
ou alheio". razão do cargo, a posse de coi-
Como é sabido, êsse artigo da sa móvel pertencente à adminis-
legislação penal está enquadrado tração pública ou sob a guarda
no Título XI, que esclarece: "Dos desta (a qualquer título), dela
Crimes Contra a Administraçã:o se apropria, ou a distrai do seu
Pública" e, particularmente, no destino, em proveito próprio ou
Capítulo I, que abrange: "Dos de outrem" (Comentários ao Có-
Crimes Praticados por Funcioná- digo Penal, vol. IX, pág. 332).
rio Público contra a Administra- Então, como mais um elemento
ção em Geral". caracterizador do crime de pecu-
Dessa maneira, para que haja lato, há a imperiosidade de que
a configuração do crime de pecu- o funcionário público tenha a pos-
lato, há a necessidade imperiosa se da coisa móvel (dinheiro, no
de a administração pública ter fi- caso) pertencente à administra-
gurado como lesada, o que, evi- ção pública!
dentemente, implica na existência Mas o paciente não estava de
de dois agentes - o ativo e o posse de qualquer bem ou coisa
passivo - que, na espécie, são o pertencente ao Estado e, conse-
funcionário público, de um lado, qüentemente, não há como se
e o Estado, do outro. possa qualificar de peculato a
Já no peculato-malversação, ação do mesmo pacientel
além de sujeito passivo, Estado, Por falta, portanto, de todos os
há, também, o particular a quem elementos essenciais à existência
pertence a coisa ou o dinheiro, do crime de peculato, não poderia
- 121-

o paciente ser denunciado, proces_ blica ao MM. Juiz da 24. a Vara


sado e julgado por um crime que Criminal.
não cometeu! Por outro lado, por se tratar
Inexiste, pois, a justa causa pa- de um executivo fiscal, seu paga-
ra o pro,cessamento e julgamento mento só poderia ser realizado de
do paciente!. uma só vez, não se admitindo, pa-
In . diz o Df. Promotor ra a liquidação, qualquer modali-
Público junto àquela Vara Crimi- dade outra, mesmo a da amorti-
nal: " ... vem, perante Vossa Ex- zação parcelada.
celência, dar denúncia contra Al- E quem afirma que tal modali-
vimar Martins de Brito e Silva, dade de pagamento parcelado não
fls. 16, porque em 19-8-60 rece- era permtido é o MM. Juiz da 4.a
beu Cr$ 50.000; em 20-1-60 Vara da Fazenda Pública.
recebeu Cr$ 50.000; em 23-10 Assim é que tendo a autoridade
de 1960 recebeu Cr$ 50.0.00; policial da Delegacia de Crimes
em 5-5-63 recebeu Cr$ 50.000; contra a Fazenda Nacional inda-
em 18-5-63 recebeu Cr$ 50.000; gado no item 3 "se a referida dí-
em 10-5-63 recebeu ......... . vida poderia ser amortizada par-
Cr$ 200.000; em 29-4-63 re- celadamente", respondeu-lhe o
cebeu Cr$ 100.. 000, conforme MM. Juiz da 4.a Vara da Fazen-
se vê dos recibos existentes a fls. da Pública, com base na informa-
6 a 12, como escrevente da 4.a ção do próprio escrivão: Em res-
Vara da Fazenda Pública, 1.0 posta ao item 3: Não!
Ofício, de cuja importância se Ê a afirmação clara: o pacien-
apoderou, não a recolhendo aos te não poderia recolher a impor-
cofres públicos". tância recebida - Cr$ 550.000
Ora, descrito o fato como o fêz - aos cofres públicos, porque o
o ilustrado representante do Mi- que recebera fôra parcela da dívi-
nistério Público, dá ao Julgador da e a dívida não poderia ser
a idéia de que, na verdade, houve amortizada parceladamente!
o crime de peculato. O dinheiro então recebido -
Mas a história é bem diversa, apenas Cr$ 550.000 era
ou melhor, é diametralmente opos- uma parte do todo, e dado que
ta à relatada pelo Dr. Promotor não poderia haver amortizações
Público, e isso por uma razão mui- parceladas, a conclusão lógica é
que a importância recebida não
to simples: o paciente não reco-
pertencia ao Estado ou à Fazen-
lheu as importâncias recebidas
da Nacional!
aos cofres públicos porque não po-
deria fazê-lo! Não era o paciente, no caso,
nem ao menos depositário da Fa-
O débito da devedora para .com zenda N acionaI!
a Fazenda Nacional era e é na Onde, pois, a figura do crime
importância de Cr$ 1.258.301,60, de peculato?
segundo cálculos feitos em 30 de Eis a demonstração evidente
novembro de 1959 e sujeito à da inexistência de justa causa
atualização, como esclareceu a para o processamento e posterior
própria 4.a Vara da Fazenda PÚ- julgamento!

9 - 35883
122 -

Observa-se por aí, que dada a pertenciam à União e, portanto,


impossibilidade do recebimento se das m~smaf:l se tivesse apro-
parcelado da dívida, e não, po- priado, mesmo sendo funcionário
dendo o paciente em conseqüên- público, ainda assim não estaria
cia, fazer seu recolhimento aos co- cometendo o crime previsto no
fres públicos, não tinha êle, ainda, art. 312 do Código Penal.
a posse do bem, ou melhor, aqui- Bem se aplica ao caso a lição
lo que temporàriamente estivera do mestre Nelson Hungria: "As-
sob a sua guarda, não perten.cia sim, se confio particularmente di-
ao Estado ou à Fazenda Nacional! nheiro ao meu vizinho e amigo
Outro tanto, nem ao menos se Tício, que é fiel de tesoureiro na
pode alegar estar o paciente auto- repartição do Impôsto de Renda,
rizado a fazer tais recebimentos para que pague aí o meu débito
parcelados, como escrevente au- fiscal, e êle se apropria da quan-
xiliar que era da 4. a Vara da Fa- tia, há apropriação indébita e não
zenda Pública. peculato" (Ob. cit., pág. 338).
Na verdade, no mesmo pedido Tivesse, porém, o paciente re-
de informações dirigido àquele cebido o total do débito e forneci-
Juízo pela autoridade policial - do o competente recibo de quita-
Delegado de Crimes Contra a ção ou certificado, nos autos do
Fazenda Nacional - foi pergun- processo, do pagamento, deixando
tado, no item 4: "se o ex-escreven- de recolher o total da dívida aos
te Alvimar, em 19-8-60; 20-7-60; cofres públicos dentro do prazo
10-5-62; 23-10-63; 5-5-63; 18-5 que a lei lhe assegura, aí sim, es-
de 1963; e 29-4-63, estava auto taria perfeitamente caracterizado
rizado a fazer qualquer recebi- o delito de peculato.
mento parcial daquele executivo Nem se pode dizer, por outro
fiscal, dando recibos em nome do lado, que o paciente se encontrava
cartório; mereceu daquele Juízo a na posse de bem pertencente à ad-
seguinte resposta: Em resposta ministração pública, eis que, rece-
ao item 4: Não! bendo particularmente parte da
Portanto, se a dívida não pode- dívida, e dada a total impossibili-
ria ser amortizada parceladamen- dade de fazer êste recolhimento
te, e se o paciente não estava au- aos c()ffles públicos, essa impor-
torizado a fazer qualquer recebi- tância que mantinha em seu po-
mento parcial daquele executivo der não pertencia à administração
fiscal, e se, por outro lado, o mes- pública e sim a um particular.
mo paciente ainda não estava de E isso mais se consubstancia ao
posse de qualquer bem perten- sabermos, através do documento
cente à administração pública, não anexo, que êste instruiu: que o pa-
poderia, evidentemente, ter come- ciente fêz a devolução do total re-
tido qualquer crime contra a Fa- cebido à mesma firma de quem
zenda Nacional. recebera as parcelas!
Inexiste, obviamente, o delito Sim! A firma Tortora Importa-
de peculato! ção e Exportação Ltda. declarou
As importâncias parceladas de ter sido reembolsada da impor-
que tinha a posse provisória não tância de Cr$ 550.000 pelo
- 123-

próprio paciente. O paciente de- - como também efetivamente


volveu a importância a quem lhe aconteceu - e se as autoridades
entregou! policiais e judiciárias não a pro-
Ora, se o dinheiro tivesse de ser cessaram por essa apropriação in-
recolhido aos cofres públicos ou se débita, é a manifestação meridia-
o dinheiro pertencesse à Fazenda na de que, na verdade, o dinheiro
Nacional, .como se justifica que o não pertencia ao Estado ou à Fa-
paciente fôsse fazer o reembôlso zenda Nacional e, sim, ao próprio
àquele que lhe entregou o mesmo representante da firma o que evi-
dinheiro? dencia a inexistência de crime de
Então, o dinheiro não era da Fa- peculato!
zenda Nacional? Isto é a demons- E ainda mais uma vez somos
tração meridiana de que a impor- forçados à citação do Min. N el-
tância não pertencia à Fazenda son Hungria: "Conceitualmente, a
Nacional e, conseqüentemente, o preexistente posse deve ter-se ope-
paciente não se apoderou ou apro- rado em razão do cargo, isto é,
priou de qualquer bem perten- faz-se mister uma Íntima relação
cente ao Estado! de causa e efeito entre o cargo
Como se justificar êsse reem- e a posse. Não basta que a Ré
bôlso por parte do particular? tenha sido confiada contempla-
Mais uma vez .cabem as pala- tione oficii: é predso que sua en-
vras do insigne Nelson Hungria: trega ao funcionário resulte de
"Não tenho dúvida, portanto, em mandamento legal (ex vi lege)
repetir o que já disse de outra ou, pelo menos, de inveterada
feita: peculato .consumado sem praxe, não proibida por lei" (ob.
dano efetivo é tão absurdo quanto cit., pág. 338).
dizer-se que pode haver fumaça Não havia, como não há, qual-
sem fogo, ou sombra sem corpo quer mandamento legal que per-
que a projete, ou telhado sem pa- mitisse o pagamento parcelado da
redes ou esteios de sustentação" dívida resultante de executivo
(obra cit., pág. 346/347). fiscal: 3) se a referida dívida
Não houve qualquer dano à poderia Seir amortizada parcela-
Fazenda Nacional, eis que a dívi- damente? Em resposta ao item
da proveniente do executivo fiscal 3: Não!
permanece a mesma, a ela estan- Nem tão pouco era praxe in-
do obrigado ao pagamento a firma veterada o recebimento de parce-
Tortora Importação e Exportação las do executivo fiscal, e isso fica
Ltda., mormente se considerarmos bem claro com o depoimento pres-
que a importância entregue ao pa- tado pelo próprio escrivão-substi-
ciente foi à mesma firma devol- tuto daquela vara, Maurício Mara-
vida, na íntegra! nhão Aguiar: "que pode o depoen-
E mais: se a importância rece- te afirmar que nem oficiosamente
bida pelo paciente foi devolvida nem extra-oficiosamente havia
à própria firma - como efetiva- qualquer autorização do cartório
mente foi - e se esta a recebeu para que fôsse recebidO parcela-
de VOltá e reteve em seu poder damente qualquer débito", e mais
124 -

tarde, em Juízo, a mesma teste- detrimento da Fazenda Nacional"


munha Mauricio Maranhão Aguiar (Revista Forense, voI. 150, pág.
ratifica: "que após ouvir a leitura 382) .
de suas declarações constantes de IV - Conclusão - Vê-se, en-
fôlhas 34/35, as confirma, plena- . tão, que não existiu o sujeito pas-
mente, por serem a expressão da sivo, isto é, o Estado não apareceu
verdade" . como sujeito passivo, elemento in-
Acresce, ainda, que essa teste- dispensável à caracterização do
munha arroJada pela promotoria peculato.
pública, também confirmou o que Observa-se, por outro lado, que
dissemos linhas atrás, isto é, que o paciente não estava autorizado
a firma em questão nem sequer a proceder a qualquer recebimen.
havia sido citada para o paga- to parcelado, mesmo porque essa
mento do débito fiscal, como acen- amortização não poderia ser posta
tuou em seu depoimento: "que a em prática por ser contrária à lei
referida ação ainda se encontrava e não ser praxe inveterada.
em sua fase inicial, julgando mes- Nota-se que a firma devedora
mo o declarante que ainda não não fôra sequer citada para a pro-
havia sido citado o devedor". positura da ação.
IH - A Jurisprudência - A Constata-se que, tendo recebido
jurisprudência mansa e pacífica particularmente, apenas, uma par-
de nossos Tribunais vem em so- te do débito, não poderia o pacien-
corro da tese aqui defendida, qual te, por expressa determinação le-
a da inexistência de crime do art. gal, recolhê-la aos cofres públicos.
312 do Código Penal. Verifica-se, por fim, não tinha
Entre tantos arestos, basta ci- a posse do bem ou dinheiro per-
tarmos os seguintes: "... o pe- tencente à Fazenda Nacional, tan-
culato exige que se trate de bens to que devolveu ao particular, que
pertencentes ao patrimônio do o aceitou. E considerando tudo
Estado e que o sujeito passivo isso, chega-se à conclusão de que
seja repartição pública". (Voto o paciente foi denunciado, pro-
do Min. Ari Franco no H. C . cessado e julgado por um delito
34.504 - Rev. Trim. ]urisp. que não praticou - o peculato
do S. T .F. - Voi. I, abril/junho - , consubstanciando-se o cons-
57, pág. 756). "O fato do funcio- trangimento ilegal que urge seja
nário não ressarcir o prejuízo sanado, uma vez que não houve
quando intimado, emprestando as- justa causa para êsse processa-
sim o caráter de retenção indevi- mento e julgamento, fator que nos
da da coisa, é o que caracteriza leva à certeza de concessão do
o dolo do mesmo funcionário, habeas corpus ora impetrado.
que passou a ser peculatário" Destarte, espera o impetrante
(S.T.F., ac. de 24-4-29 - Dic. a concessão da ordem para que
]urisp. Penal Bra.sil - 1.0 volume, seja anulado todo o processado,
pág. 665). "O peculato nada por evidente inexistência de justa
mais é do que a apropriação indé- causa, determinando-se a imedia-
bita praticada por funcionário em ta soltura do paciente, como me-
- 125

di da consentânea com o direito seus elementos típicos ao padrão


e a justiça!" referido, dar-se-á a falta ou au-
Essa petição inicial está acom- sência de justa causa para a con-
panhada de certidões de algumas denação e prisão. Entretanto,
das peças que formam o processo consubstanciando-se do processo
em que foi condenado o pa.ciente. cada um dos elementos estruturais
telegrama à autori- dêsse padrão, ou doutro, presente
dade apontada como coatora para estará a causa justa.
lhe pedir informações. Essas in- No caso, o impetrante entende
formações, contudo, não me che- que não se configura o crime de
garam às mãos até êste momento. peculato porque a administração
Ante a demora, submeto o pro- pública não foi lesada pelo pa-
cesso a julgamento. ciente, embora o dinheiro lhe te-
Ê o relatório. nha sido entregue para, na quali-
dade de funcionário, dar-lhe o
Voto destino previsto na lei. Insiste o
impetrante que, não havendo pre-
o Sr. Min. Antônio Neder: - juízo para a administração públi-
A Constituição de 1946, no seu ca, deixa de configurar-se o crime
art. 141, § 23, expressa que se de peculato.
dará habeas corpus sempre que Admito, para argumentar, que,
alguém sofrer ou se achar amea- no caso, não se tenha configurado
çado de sofrer violência ou coação prejuízo para a administração
ilegal em sua liberdade de loco- pública.
moção, por ilegalidade ou abuso Disso, contudo, não se pode in-
de poder. E no art. 648, I, do ferir que o paciente não tenha
C. P . P., expressa que se conside- praticado crime.
ra ilegal a coação quando não hou- Porque, ainda que se não con-
ver justa causa. figure o crime do art. 312 do
No caso agora apreciado, o Dr. C. P. (peculato), tudo nos autos
Advogado impetrante defende a indica a configuração do crime
tese segundo a qual o paciente não definido no art. 313 dêsse Código
cometeu o crime de peculato a que (peculato mediante êrro de ou-
se refere a sentença condenatória, trem), ou o do art. 168 da mes-
isso por se não haver configurado ma lei (apropriação indébita) .
no processo um dos elementos tí- Como quer que seja, a prisão
picos do padrão definido no art. imposta ao paciente não é arbitrá-
312 do C. P., e que, assim sendo, ria. Não lhe falta justa causa.
falta à coação imposta ao pacien- Ê possível que em exame detido
te a justa causa que a tornaria do processo da ação penal a que
legal. êle responde conduza o julgador
Para decidir, então, do habeas a outra classificação do crime.
corpus, terá o Tribunal que apre- Isso, contudo, não importa em
ciar o fato definido por criminoso ausência de justa causa, visto
e imputado ao paciente. Se êsse como, no caso especial agora apre-
fato não se ajustar, em todos os ciado, qualquer que seja o crime
- 126

que emane da desclassificação, Essa doutrina, contudo, não se


necessàriamente há de ser crime concilia com a norma do art. 648,
que à prisão conduzirá o paciente. do C. P. P., que é exaustiva.
Se, no caso, não houvesse a Indicada e justa que seja a des-
quase certeza de se configurar ou- classificação do crime imputado
tro crime de pena de reclusão, tal- ao paciente, subsiste a justa cau-
vez fôsse de conceder-se sa se a sentença desc1assificadora
o habeas corpus. IVIas, o certo é necessàriamente houver de conde-
que, se desfigurado o crime de pe- ná-lo por crime outro que importe
culato, outro há de emanar con- na sua prisão.
figurado no fato atribuído ao pa- Assim sendo, pelas razões ex_
ciente. pendidas, denego a ordem de ha-
Dir-se-á que a sentença conde- bea.s corpus.
natória do paciente não deu ao
fato a definição jurídica acertada, Decisão
e que, por isso, a prisão constitui
coação ilegal por ser injusta a cau- Como consta da ata, a decisão
sa. Em outras palavras: dir-se-á foi a seguinte: Denegou-se a or-
que a sentença condenatória me- dem, unânimemente. Os Sr. Mins.
rece ser reformada para o efeito Henrique d' Ávila, Cândido Lôbo,
de desclassificar o crime, e que, Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Ama-
demonstrada a justiça dessa des- rílio Benjamin e Armando Rol-
classificação, daí emana a coação lemberg, votaram com o Sr. Min.
ilegal, importando isso na ausên- Relator. Não compareceu, por
cia de justa causa para a prisão. motivo justificado, o Sr. Min.
Uma doutrina mais liberal sô- Djalma da Cunha Mello. Presidiu
bre o conteúdo da justa causa tal- o julgamento o Sr. Min. Cunha
vez assim o entenda. Vasconcellos.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O 1.298-PA.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio N eder
Impetrante - José Ribamar Darwich
Recorrente - MM. Juiz da 9.a Vara Criminal
Recorrido - José Coelho de Andrade

Acórdão

Habeas corpus. Em processo de habeas corpus


não se pode presumir a existência de coação tão-
somente pelo fato de ao Juiz não hav'er sido presta-
da informação pela autoridade coatora, salvo quando
se prova que essa autoridade recebeu o pedido de
informação e não a prestou ou a retardou s·em justo
motivo. Provado, entretanto, que a autoridade coa-
tora não recebeu o pedido de informações, não tem
- 127-

como o Juiz presumir a coação tão-somente porque


essas informações não lhe chegaram às mãos. Recur-
so necessário a que se dá provimento.

Vistos, rehltados e discutidos Fundou-se essa decisão em que,


êstes autos de recurso de Ha- no caso, se trata de prisão de in-
beas Corpus n. o 1.298, do Es- diciado em IPM instaurado para
tado do Pará, em que são par- apurar irregularidades ou crimes
tes as acima indicadas: praticados na Superintendên.cia
Acordam, por maioria de votos, do Plano de Valorização Econô-
os Ministros que compõem o Tri- mica da Amazônia, e que, no to-
bunal Federal de Recursos, em cante ao paciente, se trata de co-
sessão plena, em dar provimento brança de quantia a êle empresta-
ao recurso, na forma do relatório da por aquela Superintendência,
e notas taquigráficas de fls. 20/ donde emana a competência do
36, que ficam fazendo parte inte- Tribunal Federal de Recursos, co-
grante do presente julgado. mo expressa o art. 104, b, da
Custas como de lei. . Constituição Federal.
Brasília, 22 de março de 1965. O fato que constitui a· coação
- Cunha Vasconcellos Filho, Pre- ilegal é des.crito na petição de ha-
sidente; Antônio Neder, Relator. beas corpus (fls. 2/4) nos têrmos
seguintes: "José Ribamar Dar_
Relatório wich, brasileiro, casado, advogado,
devidamente inserito na Ordem
o Sr. Min. Antônio Neder: dos Advogados, Seção do Pará,
José Coelho de Andrade, residente com escritório nesta cidade, den-
e domiciliado emÓbidos, Pará, foi tro, e rigorosamente, dos impera-
prêso na s.a Companhia de Guar- tivos da Constituição da Repúbli-
das do Exército por ordem do Te- ca, art. 141, § 23, combinados
nente-Coronel José Lopes de Oli- com os arts. 647 e 648, incisos I
veira, encarregado de Inquérito e III, do Código de Processo Pe-
Policial Militar a que êle respon- nal, vem requerer urgente ordem
de como indiciado. de habeas corpus em favor do ci-
Requereu habeas corpus ao dadão José Coelho de Andrade,
MM. Dr. Juiz de Direito da 9.a brasileiro, casado, comerciante,
Vara Criminal da Comarca de domiciliado e residente na cidade
Belém do Pará. de Óbidos, dêste Estado do Pará,
:Êsse Magistrado concedeu-lhe prêso incomunicável desde o dia
a ordem impetrada e, de oficio, 29 do mês passado, no xadrez da
recorreu para o Egrégio Tribunal s.a Companhia de Guardas do
de Justiça do mencionado Estado. Exérdto, de ordem e mando do
Nessa Côrte, a Segunda Câma- Sr. Tenente-Coronel José Lopes
ra Penal, como se lê no venerando de Oliveira, encarregado de um
Acórdão de fl. 16, não conheceu IPM, oficial do Exército, residen-
do recurso, e proclamou a compe- te e domiciliado nesta capital à
tência do Tribunal Federal de Re- Avenida 16 de Novembro n.o 200,
cursos para dêle conhecer. sem que, ao menos, se tenha de-
- 128-

clarado ao paciente a forma, ori- o paciente, que não é militar e


gem e qualidade da arbitrária pri- nem cometeu qualquer crime, seja
são, como tudo passa abaixo a militar ou mesmo civil".
expor: Incompetência: "De conformi-
Histórico: "Conforme edital dade com reiterada e pacífica juris-
subscrito pelo referido oficial, en- prudência do Superior Tribunal
carregado do funcionando Militar, os pedidos de habeas cor-
na SPVEA, o paciente foi notifi- pus requeridos em favor de civis,
cado a comparecer a presença dêle detidos por ordem de oficiais dos
para regularização de um finan- chamados IPM, são considerados
ciamento que obtivera naquele prejudicados, por incompetência
órgão, destinado à aquisição de da Justiça Militar, dêles não to-
um frigorífico para ser instalado mando conhecimento. Realmente,
naquela cidade do Baixo Amazo- de acôrdo com o Acórdão do Su-
nas, cujo pedido fôra já feito a perior Tribunal Militar, de 2 de
uma indústria especializada pau- setembro de 1964, chega-se à cer-
lista, segundo nota fiscal existente teza do que decidiu aquela alta
em processo na mesma SPVEA. Côrte de Justiça Militar no to-
"Obedecido o edital, o paciente cante à espécie. Diz o Acórdão:
transportou-se de Óbidos, a sua "Vistos e relatados os autos de
custa, para esta cidade, recebendo habeas corpus, em que Azulino
ordem no IPM. que deveria pagar Ferreira do Amaral, civil, requer
a prestação vencida e juros cons- habeas corpus preventivo contra
tantes do contrato, o que pronta- ato do Tenente-Coronel José
mente atendeu, conforme docu- Lopes Oliveira, encarregado de
mentos ora anexos. "Depois de um inquérito policial-militar na
liberado, regressou ao lugar da sua Rodobrás, sôbre atos de natureza
residência e atividades, recebendo, comum, que determinou sua pri-
dias após, nôvo chamamento pelo são, a fim de ser expedido salvo
mesmo oficial. Aqui chegado, pro- conduto para prestar declarações
curou, no dia seguinte, apresen- sem ser prêso como pretende o
tar-se ao seu interlocutor, ocasião coator. A autoridade apontada
em que soube que êle havia via- como coatora, Tenente-Coronel
jado, sendo surpreendido com José Lopes Oliveira, informa:
uma ordem de prisão que êle ha- Azulino Ferreira do Amaral, téc-
via deixado e transmitida pelo nico-Rodobrás indiciado por liga-
seu substituto, vendo-se então en- ções políticas João. Goulart, desvio
carcerado no xadrez da referida verbas e máquinas Rodobrás no
5.a Companhia de Guardas, onde valor centenas milhões cruzeiros,
permanece há sete dias seguidos, dificultou diligências em Uruaçu,
sem poder, ao menos, receber no- terceiro distrito Rodobrás, não.
tícias de seus familiares que se atendendo solicitação encarregado
encontram em Óbidos, lugar de IPM para depor naquela cidade,
seu domicílio e residência. dela ausentando-se motivo por que
"Eis aí o histórico do feito e de foi ordenada sua prisão acôrdo ar-
que resulta a violência que sofre tigo 156 eJM, que permite orde-
- 129-

nar pnsao indiciado para averi- 156 do Código de Justiça Militar,


guações até 30 dias. Até momen- é mais do que violência, é malda-
to continua encarregado IPM im- de e horror aos princípios demo-
possibilitado ouvii-lo depoimento cráticos traduzidos pela atual
fundamental, por negar-se a apre- Constituição da República.
sentar-se. Tenente-Coronel José O violentador da liberdade do
Oliveira, encarregado IPM paciente, que é um civil e não co-
SPVEA". meteu qualquer crime, como en-
"Isto pôsto, considerando que ser carregado do IPM, não tem com-
o paciente a,cusado de prática de petência para ordenar a prisão
crime comum, acordam em não que decretou arbitràriamente.
tomar conhecimento do pedido No caso in judicio, verifica-se
por incompetência do fôro militar, que o encarregado do citado IPM
comunicando-se ao encarregado é o mesmo que foi desautorizado
do inquérito policial-militar a ina- pelo acórdão ora junto.
plicabilidade do Código de Justiça Destarte, a detenção do pacien-
Militar por não se tratar de crime te constitui uma ilegalidade gri-
capitulado no Código Penal Mili- tante, um absurdo jurídico, cujo
tar, tudo de acôrdo com a deci- remédio está traduzido no lumi-
são de 27 de agôsto próximo pas- noso acórdão do Superior Tribu-
sado, por maioria de votos" (do- nal Militar.
cumento anexo). Por isso, evidentemente, por
Verifica-se do exposto, da ma- falecer competência ao coator
gistral lição dada pelo Superior apontado para encarcerar, inúme-
Tribunal Militar ao atual carce- ros dias, o paciente num quartel
reiro do paciente, que não lhe ca- do Exército, como se êle fôsse mi-
bia mais violentar a liberdade de litar, é óbvio que tal prisão sui
civis, por atos que escapam às generis é aberração e violência sa-
sanções da Justiça Militar. nável pelo democrático e humano
Efetivamente, sem grande esfôr- instituto do habeas corpus, con-
ço de interpretação jurídica, sabe- quista da civilização contra o des-
se, como preliminar, que a Justiça potismo e maldição da fôrça bru-
Militar é justiça de exceção, cujo ta e inconsdente.
funcionamento e competência dis- V. Ex.a, em face da jurispru-
ciplinam-se pelos artigos 6.° e 7.° dência, da lei, da doutrina e dos
do Código Penal Militar. Daí a sagrados cânones da Constituição
incompetência, como acordou o da República, é a única autorida-
Superior Tribunal Militar, dos en- de, em Primeira Instância, para
carregados dos IPM para deter- decidir o feito.
minar as prisões de elementos ci- Ex positis, jurando ser verdade
vis, cujos crimes, se porventura o alegado, o impetrante dirige-se
existirem, serem da alçada da jus- ao poder civil de V. Ex.a para
tiça comum. libertar o paciente da violenta
Prender indeterminadamente prisão em que se encontra.
civis, aplicando-se, como justifica_ Outrossim, na forma do art. 656
tiva maliciosa, o disposto no art. do diploma processual em tela,
130 -

requer que o paciente seja apre- hipótese, e b, da Constituição Fe-


sentado a V. Ex. a para prestar as deral.
informações necessárias, devendo Quanto ao mérito, é de se dis-
ser o coator responsabilizado, na tinguir, no fato descrito pelo im-
forma da lei, se houver desobe- petrante, dois aspectos: o primei-
diência de sua parte, segundo o ro é o que diz respeito com o cha-
no parágrafo único. do 111amento do paciente, por edital,
art. 656 enumerado. para regularizar o seu débito na
Assim, D. e A, com as forma- SPVEA. Nessa oportunidade ne-
lidades legais, pede deferimento". nhuma coação foi praticada con-
Na fI. 12 certificou o Sr. es- tra êle. O segundo é o que diz
crivão que o ofício pelo qual o respeito com o chamamento do
MM. Dr. Juiz solicitou informa- paciente à presença do Tenente
ções à autoridade coatora foi ex- Coronel José Lopes de Oliveira,
pedida e entregue a 6-10-64, às que não foi encontrado, donde ha-
9 horas e 40 minutos. ver-se êle apresentado ao seu subs-
Na mesma fI. 12, o Sr. escri- tituto, que não é nomeado nos au-
vão certificou que, até às 12 horas tos. Êsse substituto foi quem lhe
e 15 minutos do dia 7-10-64, não transmitiu a ordem de prisão dei-
havia recebido as informações, xada pelo mencionado Tenente-
pelo que fêz conclusão dos autos Coronel, então em viagem.
ao MM. Dr. Juiz, que ordenou fôs- Vê-se que o impetrante relata
sem ao M. P., que oficiou nas fls. os fatos de maneira a imputar,
13/14 opinando pela concessão do sempre, ao Tenente-Coronel José
habeas corpus, isso por considerar Lopes de Oliveira, a autoria de
não haver-se provado sequer que coação ilegal e, d'outro lado, que
o paciente houvera praticado cri- êsse oficial viajava quando seu
me, donde a ilegalidade da prisão. substituto, em seu nome, efetivou
Ao final, nas fls. 14/15, o MM. a prisão do padente.
Dr. Juiz escreveu a sua sentença Entretanto, o MM. Dr. Juiz,
concedendo a ordem impetrada, e que por certo tomou conhecimen-
expediu o alvará de soltura, re- to dêsses dois aspectos do fato,
correndo de ofício para o Tribu- visto que nêles se estribou para
nal de Justiça do Estado do Pará, conceder o habeas corpus, só
que houve por bem remeter o pro_ aguardou as informações da auto-
cesso para esta Côrte Federal, por ridade coatora pelo tempo de pou-
ser de sua competência conhecer co mais de 24 horas, para, em se-
do recurso, como acima foi rela. guida, passar os autos ao M. P. e
tado. ao julgamento, concedendo a or-
É o relatório. dem sem as informações necessá-
rias à instrução do processo.
Voto Estou em que o MM. Dr. Juiz,
que sabia que a autoridade coato-
o Sr. Min. Antônio Neder: - ra estava em viagem quando lhe
Conheço do recurso por fôrça do pediu as informações, deveria:
que expressa o art. 104, lI, a 2.a a) ou aguardar o seu regresso por
- 131-

24 horas, ao menos; b) ou pedir precisamente, o prazo de 27 horas,


informações ao seu substituto e, mesmo informado pelo paciente
eventual; o executor da prisão. que a autoridade coatora se en-
Assim, o MM. Dr. Juiz teria contrava em viagem, não teve dú-
processado o habeas corpus de vidas em prosseguir e passar de
maneira regular. logo ao julgamento, quando o cer-
a verdade é que S. Ex. a to é que S. Ex. a deveria dirigir-
julgou o pedido ,como se as infor- -se ao substituto eventual da au-
mações não lhe tivessem sido toridade coatora, e lhe pedir
prestadas, quando o certo é que, informações que o habilitassem a
no caso, o que se deu foi que a julgar o pedido com um juízo cer-
autoridade coatora estava em via- to sôbre os fatos, depois de tudo
gem, e que por isso não prestou formalizado. Tanto mais justo
ao Magistrado as informações, seria isso, quanto é certo que, no
cuja requisição talvez nem tives- caso, o paciente foi chamado à
se chegado às mãos. presença da autoridade coatora
Quando a autoridade coatora por duas vêzes, só se efetivando a
não presta as informações, ou as prisão ao ensejo da segunda. Por
retarda sem justo motivo, deve o que a prisão ao ensejo do segundo
Juiz julgar o habeas corpus de chamamento?
plano, baseado no que alegou o Não se sabe. Os autos não o
paciente, aplicando, por analogia, dizem. Como, então, pôde o MM.
o disposto no art. 209 do c.P.c., Dr. Juiz formar o seu juízo libe-
que merece ser invocado no caso, ratório? Mediante aplicação do
formando o seu convencimento princípio jurisprudencial que afir-
com o que se contiver no processo, ma que o não prestar de informa-
concedendo a ordem ou denegando ções vale por aceitar como verídi-
o writ. co o fato alegado pelo impetrante.
Quando, porém, a autoridade No caso, entretanto, não se deu
coatora estiver em viagem, isto é, isso. O que se deu foi que a auto-
ausente do seu domicílio, e o Juiz ridade ,coatora não foi encontra-
souber disso, como ocorreu no da para prestar as informações.
caso dêstes autos, clara é a con- Isso é diferente, e muito. Conve-
clusão de que não ocorre a hipó- nhamos em que o Direito é Ciên-
tese anteriormente abordada, se- cia de minúcia e detalhe. E o Juiz
gundo a qual as informações não deve arrimar-se da vontade de
teriam sido prestadas pelo coator. conhecer o fato em seus detalhes
Há diferença entre o não pres- quando houver de aplicar o di-
tar as informações, ou retardá-las reito. E o direito deve ser apli-
sem motivo justo, e o não poder cado de maneira exaustiva, isto
prestá-las, no prazo, por ausência é, de maneira que tôdas as suas
temporária do informante. normas sejam mobilizadas para,
No caso ora apreciado, o MM. no seu conjunto, e de modo pre-
Dr. Juiz, algo incauto sem fazer ciso, dirigir o Juiz no seu julga-
as distinções necessárias, deixou mento. Só assim a Justiça ema-
fluir o prazo de 24 horas, ou, mais nará sobranceira.
- 132-

Ressalte-se, pois, que, no caso Ora, a rigor, o paciente deve-


aqui apreciado, os fatos aborda- ria mencionar, não só a qualifica-
dos e provados são Os que dizem ção daquele que deu a ordem,
respeito com o chamamento do como daquele que a teria cumpri-
paciente, pela primeira vez, para do, que foi o executor da prisão;
regularizar seu débito na SPVEA. se tivesse feito a qualificação de
Quanto, porém, à prisão, nada ambos por certo que o Df. Juiz
há nos autos que a diga legal ou a quo teria solicitado informações
ilegal. não só àquele que se aponta como
Estou em que o MM. Dr. Juiz tendo determinado a ordem de
decidiu o pedido sem instruí-lo prisão, que se encontra ausente,
convenientemente. como, também, àquele que é apon-
Meu voto é no sentido de dar tado, sem qualquer qualificação,
provimento ao recurso para o efei- como tendo sido o executor da
to de determinar ao MM. Dr. Juiz prisão. E êsse não foi ouvido,
a quo que se informe, convenien- de forma alguma, em nenhum
temente, .com a autoridade coatora momento, nesté processo de ha-
ou quem a substitua eventualmen- beas corpus.
te, sôbre as causas da prisão do Por êsses fundamentos, Sr.
paciente, e, em seguida, vencido o Presidente, é que acompanho °
prazo razoável para que sejam ilustre Min. Relator, anulando a
prestadas as informações, com elas sentença concessiva do habeas
nos autos, ou sem elas, passe ao corpus para que o Dr. Juiz a quo
julgamento. Só assim, S. Ex.a solicite informações, não só da au-
pronunciará decisão legítima e toridade superior apontada como
válida. tendo sido quem determinou a or-
dem de prisão, como também do
Voto executor da prisão. Prestadas es-
O Sr. Min. Hugo Auler: - Sr. tas informações, o Juiz a quo
Presidente. A conclusão do voto então julgará como bem entender
do Sr. Min. Relator importa na o presente pedido de habeas cor-
anulação da sentença .concessiva pus.
do habeas corpus, para que o Dr.
Juiz a quo solicite novas informa· Voto (Vencido)
ções da autoridade coatora, a fim O Sr. Min. Djalma da Cunha.
de que ela as preste no prazo le- Mello: - Nego pro.vimento. O
gal, e julgue novamente o writ. Juiz não mandou trancar o pro-
Estou com o voto de S. Ex.a, cesso. Mandou, só, que o pacien-
por isso que verifico da petição te se livrasse sôlto. Para isso en-
inicial que o paciente fêz questão tendo que tinha base jurídica. A
de esconder quem realmente ha. autoridade coatora não informou
via sido o executor da prisão, ale. os motivos da prisão. Explica o
gando simplesmente que êste últi- eminente Relator que o coator se
mo estaria cumprindo ordem de havia ausentado. Nesse caso de-
seu superior que se encontrava veria ter quem no local lhe fizes-
em viagem. se as vêzes, pena de ficar subesti-
- 133-

mada, periclitante, a liberdade o segundo reparo consiste em


humana. Num regime de repre- que, na minha maneira de pensar,
sentação e justiça, de primado da o Tribunal faria melhor seguindo,
ordem jurídica, êsse desapreço à possIvelmente, a orientação tantas
dignidade humana não é admissí. vêzes proclamada nesta Casa, de
velo Data venia do eminente Re- que, em dando provimento ao re-
êsse é o lneu voto o curso de habeas corpus, deixa o
Voto caso entregue, completamente, à
Primeira Instância ou ao interes-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
- Srs. Ministros, inicialmente, sado.
sem que, no entanto, nada propo- Se o Tribunal, como em outras
nha ao plenário, tenho duas res- oportunidades tem acontecido, en-
trições, data venia, a fazer à orien- tende que o habeas corpus não foi
tação tomada pelo Ex. mo Sr. Min. bem processado ou que o mesmo
Relator. Primeira: a meu ver, o não deve ser concedido, o Tribu-
habeas corpus não é da nossa nal cassa a ordem, e o Juiz de
competência. Trata-se de um primeira Instância toma a orien-
IPM, sob a presidência de um ofi- tação que melhor lhe convenha, ou
cial do exército, sem que se saiba o paciente requererá outro habeas
em que consiste a acusação, so- corpus, em melhores têrmos.
bretudo estando claro como está, Feitos êsses dois reparos, para
por fôrça do relatório, que o pos- os quais pedi, antecipadamente vê-
sível motivo relacionado com o nias ao Sr. Min. Relator, con·
débito à SPVEA ficou absoluta- cluo o meu voto, dizendo que es-
mente ultrapassado com o paga- tou de acôrdo com S. Ex.a , uma
mento que o interessado ofereceu vez que a matéria, de qualquer
após a primeira intimação. Le- forma, será considerada e apre-
vado o assunto ao Tribunal de ciada pela Instância Inferior, pos-
Justiça, êste se declarou incompe- sibilitando o recurso em têrmos
tente. Sobem os autos a êste Tri- concretos, para o Tribunal com-
bunal, e êste, sem que ao menos petente. li o meu modo de ver.
saiba de que se trata, conhe,ce do
pedido, quando o fato da existên- Voto (Vencido)
cia do IPM, sob a presidência de
um oficial do exército, levaria, or- O Sr. Min. Armando Rollem-
dinàriamente, a matéria à juris- berg: - Sr. Presidente, data venia
dição do Superior Tribunal Mili- do eminente Min. Amarílio Ben-
tar. A mim, como Juiz, pouco jamin, entendo que o Tribunal é
importa que, em casos semelhan- competente para conhecer da ma-
tes, o Superior Tribunal Militar téria. E o é porque a ,coação apon-
chegou à conclusão de que, além tada decorreria de inquérito po-
de se tratar de civil, também se licial militar, instaurado para
cuidava, na hipótese, de crime ab- apurar irregularidades existentes
solutamente imune à idéia de cri- na SPVEA.
me militar ou mesmo de subver- Ora, qualquer crime porventu-
são. Êste é o primeiro reparo. ra praticado na SPVEA do inte-
134 -

rêsse da Fazenda Pública, não na todo o processo, tanto na for-


será militar e sim comum, sendo ma, quanto no mérito. Em se tra-
competente, então, a Justiça Ci- tando de apelação, o mesmo não
vil, e nesta, para apreciação de ocorre. Aqui se trata de recur-
habeas corpus, êste Tribunal. so ex officio, e, assim, estou em
Quanto ao recurso em si, la- que o Tribunal poderá cassar a
mento discordar do nobre Colega sentença se entender que o pro-
Min. Antônio Neder, Relator do cesso não se acha instruído con-
processo, pois nego provimento venientemente.
ao recurso de ofício e confirmo a
O Sr. Min. Armando Rollem-
ordem. De fato tem razão S. Ex. a
berg: - Estamos vendo o mesmo,
quando chama a atenção para o
problema sob ângulos diferentes:
fato de que o Juiz deveria ter in-
sistido no pedido de informações, concordo com V. Ex. a a propósito
para melhor esclarecer o proble- do recursso de ofício. Apenas en-
ma e verificar qual o .crime de tendo que a nós não caberia mo-
que é realmente acusado o pa- dificar a decisão, para colocar na
ciente. prisão alguém, sem que nos vies-
Não o tendo feito porém, pare- se qualquer elemento que levasse
ce-me que a êste Tribunal, por ao convencimento de que essa
isso, não cabe reexaminar a deci- prisão era justificável.
são. O argumento seria válido se O Sr. Min. Antônio Neder: -
a matéria houvesse sido trazida à Não determino a prisão; desfaço
nossa consideração, através recur- tão-somente a sentença.
so voluntário e não através re- O Sr. Min. Armando Rollem-
curso de ofício, por não ter a au- berg: - Se V. Ex. a desfaz a sen-
toridade indicada como coatora
tença do Juiz, pela qual se deu
se conformado com a decisão e
liberdade ao paciente, implkita-
demonstrado haver fundamento
mente dá margem a que o encar-
para a prisão. De outro lado, en-
tendo que o Juiz não exorbitou regado do IPM coloque na prisão,
quanto à falta de informações, de nôvo, o paciente.
falta esta decorrente da viagem O Sr. Min. Antônio Neder: -
do informante. O Juiz não está Por isso tive cuidado. Deixei es-
adstrito, para conceder a ordem sa parte ao Dr. Juiz, porque pode
de habeas corpus, ao recebimento acontecer que os fatos, hoje, não
de informações. Em conseqüên- estejam na mesma situação em
cia, o fato de ter concedido a or- que se encontravam ao tempo
dem sem aguardar a volta do coa- em que impetrou o habeas corpus.
tor, seria uma razão ponderável Meu objetivo é que se processe,
para reformarmos a decisão em de acôrdo com a lei, o habeas
julgamento de recurso voluntário corpus. Por isto, estou em que
e não de recurso de ofício. se deve cassar a sentença e devol-
O Sr. Min. Antônio Neder: - ver os autos ao Dr. Juiz para
Em se tratando de recurso ex ofti- processar a ação regularmente,
cio, a Segunda Instância reexami- mas não falo na prisão.
- 135-

o Sr. Min. Armando Rollem- da Cunha Mello e Armando Rol-


berg: - Estou convencido, embora lemberg. Os Srs. Mins. Hugo
já em minoria no Tribun!óll, de Auler e Amarílio Benjamin vota-
que a orientação .correta no caso ram com o Sr. Min . Relator.
presente é negar provimento ao Não compareceram, por motivo
recurso. justificado, os 8rs. Mins. Henri-
Êste é o meu voto. que d'Ãvila, Godoy Ilha e Oscar
Saraiva. O Sr. Min. Hugo Auler
Decisão
encontra-se como ocupante tempo-
Como consta da ata, a decisão rário da vaga ocorrida com a apo-
foi a seguinte: Por maioria de vo- sentadoria do Sr. Min. Cândido
tos, deu-se provimento ao recurso, Lôbo . Presidiu o julgamento o
vencidos os Srs. Mins. Djalma Sr. Min. Cunha Vasconcellos.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N.O 23.574 - SP.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juiz da Fazenda Nacional, ex oflicio
Agravante - Banco do Brasil S. A .
Agravado - Sociedade Marítima Eurobrás Ltda.
Acórdão
SUMOC. Instrução 202/60. Não compete à
SUMOC estabelecer, por meio de resoluções, privilé-
gios e exclusividades no que toca ao transporte de
mercadorias para o exterior.
Vistos; relatados e discutidos 1963. - Cunha Vasconcellos Fi-
êstes autos de Agravo n.O 23.574, lho, Presidente; Godoy Ilha, Re-
do Estado de São Paulo, em lator.
Mandado de Segurança, agravan-
te Banco do Brasil S. A. e agra- Relatório
vado Sociedade Marítima Euro-
brás Ltda., assinalando-se também o Sr. Min. Godoy Ilha: - A
recurso ex oflicio: Sociedade Marítima Eurobrás
Acorda, por maioria de votos, a Ltda., agente no Brasil do Vapor
Segunda Turma do Tribunal Fe- "Itig Gorthon", impetrou, na 1.a
deral de Recursos, em negar pro- Vara da Fazenda Nacional da Co-
vimento, conforme consta das no- marca de São Paulo, segurança
tas taquigráficas anexas, as quais, preventiva contra o encarregado
com o relatório, ficam fazendo de Fiscalização Bancária do Ban-
parte integrante dêste julgado, co do Brasil em Santos, naquele
apurado às fls. 65. Custas ex lege. Estado, para que, a pretexto de
Tribunal Federal de Recursos, cumprir a Instrução n. O 202 da
Distrito Federal, 17 de maio de Superintendência da Moeda e do
- 136-

Crédito (Sumoc), não venha a re- têrmos do art. 141, § 1.0, da Lei
cusar-se a emitir Guia de Embar- Maior.
que de mercadoriass para trans- A autoridade impetrada prestou
porte em navio da impetrante. longas informações que se vêem
Alega, na inicial, que a referida de fIs. 28 usque 36, e no sentido
Instrução n.O 202, determinou que da denegação da segurança falou
a Fiscalização Bancária do Ban- o ilustrado representante local da
co do Brasil S. A, só permitisse União.
o embarque de mercadorias bra- Sentenciando de fls. 40 a 41,
sileiras remetidas aos Estados Uni- o ilustre Julgador a quo, depois
dos da América do Norte e ao de repelir a preliminar de ilegiti-
Canadá em navios de emprêsas midade de parte, concedeu a segu-
que façam parte da chamada rança, com êstes fundamentos:
"Conferência de Fretes Brasil-Es- "Quanto ao mérito, tenho como
tados Unidos-Canadá", pôsto que ilegal o ato praticado pelo Sr. En-
o item 1.0 da aludida instrução dis- carregado da Fiscalização Bancá-
põe que "os produtos de exporta- ria do Banco do Brasil na cidade
ção brasileiros destinados aos Es- de Santos.
tados Unidos da América ou Ca- Não há dúvida de que compete
nadá, serão transportados com ex- à União legislar sôbre "comércio
clusividade pelas emprêsas de na- exterior e interestadual, institui-
vegação filiadas à Conferência de ções de crédito, câmbio e transfe-
Fretes Brasil-Estados Unidos-Ca- rência de valôres para fora do
nadá", condições a ser observadas país", pois isso está expresso na
para a emissão de Guias de Em- Constituição Federal (art. 5.°,
barque pela Fiscalização Bancá- n.o XV, k). E expresso também
ria. está em lei que ainda compete à
Argüi a incompetência da Su- Superintendência da Moeda e do
moc para estabelecer a providên- Crédito "orientar a política de
.da impugnada, face ao que dispõe câmbio e operações bancárias em
o Dec.-Iei n. 7.293, de 2-2-1941, geral" (art. 3.°, h do Dec.-Iei n.o
que circunscreve as suas atribui- 7.293, de 2-2-45). Contudo, se-
ções a requerer emissão de papel- gundo se me afigura fora de dúvi-
moeda, receber depósitos de ban- das, não pode a SUMOC, por
cos, delimitar taxas de juros, auto- meio de resoluções, estabelecer,
rizar empréstimos, comprar e ven- como no caso, privilégios, exclusi-
der títulos, orientando a política vidades, verdadeiros monopólios,
de câmbio e operações bancárias no que toca ao transporte de mer-
em geral, pôsto que nessa compe- cadorias para o exterior, em favor
tência não se inclui a drástica e de certas emprêsas de navegação,
restritiva determinação contida na determinando que os transportes
mencionada Instrução 202, que se de cargas destinadas ao Estados
ressente de flagrante ilegalidade, Unidos da América sejam feitos
já que "ninguém pode ser obrigado apenas por navios pertencentes às
a fazer ou deixar de fazer alguma emprêsas que fizerem parte da
coisa senão em virtude de lei", nos referida "Conferência de Fretes
- 137-

Brasil-Estados Unidos-Canadá". Se recursos, para manter a decisão


a União desejar intervir no que recorrida. Com acêrto, repeliu o
diz respeito a tal particular, pode- ilustrado Juiz a quo a preliminar
rá, sem dúvida, fazê-lo; mas por de incompetência do Juízo, que se
meio de lei, nos têrmos do art. fundava na circunstância de que
146 da Constituição Federal. O o ato impugnado havia emanado
que não se admitir - da Sumoc. Mas, como acentuou
ta-se, é que um departamento ad- o ilustre prolator da sentença de
ministrativo pretenda legislar a Primeira Instância, a segurança
respeito de assunto tão relevante, havia sido impetrada contra o ór-
estabelecendo verdadeiro monopó-
gão da Fiscalização Bancária, que
lio, no que diz respeito a transpor-
é quem executa as instruções, as
tes marítimos para certos países,
resoluções e determinações da
em favor de determinadas emprê-
sas de navegação. Se o art. 155 Sumoc. Tratava-se. além disso, de
da nossa Carta Magna estabeleceu um mandado de segurança premu-
apenas tal privilégio, em favor de nitório, atendendo a que a impe-
navios nacionais (e ainda o fêz trante estava no justificado receio
com uma ressalva), no que diz de que lhe fôsse imposta a exi-
respeito à "navegação de cabota- gência por ela considerada desca-
gem" fôrça será concluir, a con- bida. E tal suposição confirmou-
trario sensu, que a navegação para se pelas informações prestadas pe-
portos exteriores é livre e não la Fiscalização Bancária, que sus-
poderá ser impedida a não ser tentou a legitimidade daquela exi-
em virtude de lei, mesmo porque gência.
"ninguém pode ser obrigado a fa- No mérito, não vejo o que cen-
zer ou deixar de fazer alguma coi-
surar na douta decisão recorrida,
sa senão em virtude de lei" (art.
de vez que o seu ilustrado prolator
141, § 2. 0 , da Constituição Fede-
não fêz senão observar os precei-
ral) .
tos estabelecidos na Lei Maior.
Concedo, assim, a segurança im-
Não podia, nem tinha a Sumoc
petrada, tornando definitiva a li-
competência para, por simples
minar deferida".
instrução, determinar o privilégio
Recorreu de ofício e, inconfor-
dos transportes marítimos, contra-
mado, agravou o Banco do Brasil
com as razões de fls. 44 a 48, a riando dispositivos expressos da
que replicou minuciosamente a Carta de 46. É certo, como acen-
agravada às fls. 51, e nesta Ins- tuou o Dr. Juiz a quo, que o Po-
tância a douta Subprocuradoria- der Executivo poderia, usando da
Geral da República limitou-se a faculdade que lhe confere o pró-
subscrever as razões do apêlo. prio texto constitucional, intervir,
É o relatório. regulando a questão do transporte
marítimo, mas· devia fazê-lo atra-
Voto vés de lei, desde que não havia ne-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr. nhuma disposição a respeito. Nin-
Presidente, nego provimento aos guém pode ser obrigado a fazer al~

10 - 35883
- 138-

guma coisa senão em virtude de sil-Estados Unidos-Canadá" a que


lei, como imperativamente estabe- se faz referência, abrange também
lece o § 2. 0 , do art. 141, da Cons- os exportadores estrangeiros.
tituição de 46. O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
Em tais condições, mantenho a Um trecho da minuta do Banco do
sentença negando provimento aos Brasil corresponde ao que penso,
recursos. realmente, sôbre a matéria.
Estou de acôrdo com as razões
Voto (Vencido)
do Banco do Brasil e, acolhen-
o Sr. Min. Oscar Saraiva: - O do-as, dou provimento ao recurso
Sr. Min. Relator leu a sentença para cassar a segurança.
do ilustre Juiz paulista Dr. Boli-
var Ferraz Navarro, e S. Ex. a, o Voto
Relator, insistiu com brilho nos
mesmos argumentos. Entretanto, O Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
a
peço vênia a S. Ex. para opor - Notei que o Relator fundou seu
meu ponto de vista divergente, voto em argumentos de direito
embora reconheça que, prima fa- positivo, direito legislado, presti-
de, a tese constitucional defendida giando a conclusão do Juiz de
na sentença - e que o Relator es- Primeira Instância.
posou - é a que se oferece .como Notei que o eminente Ministro
de acolhida mais recomendável. .• divergente, Oscar Saraiva, fundou
Porém, na verdade, é preciso que seu voto em aspectos de fato; ba-
nos detenhamos no fato de que o seados nos interêsses da economia
Banco do Brasil, agravante, salien- do país.
tou, que a questão do transporte Entendo que, como Juiz, não
marítimo está ligada, intimamen- devo nunca sobrepor o fato ao di-
te, à questão da exportação, que reito; não é da minha função.
por sua vez prende-se à própria Aplico a lei e a lei é aquela que
política cambial do país, porque o Sr. Min. Relator invocou. Por
entre uma das fontes .de evasão de isso, estou com S. Ex. a .
divisas está a do pagamento de
fretes de mercadorias mandadas Decisão
para o exterior. Se o Brasil ex-
porta mercadorias, mas o faz san- Como consta da ata, a decisão
grando-se em fretes pagos a em- foi a seguinte: Por maioria de vo-
prêsas estrangeiras, não sujeitas tos, negou-se provimento, vencido
a certo contrôle, nós chegariamos o Sr. Min. Oscar Saraiva. O Sr.
quase ... Min. Cunha Vasconcellos votou
O Sr. Mini. Godoy Ilha: - Per- com o Sr. Min. Relator. Presi-
mite-me V. Ex. a? Mas essa cha- diu o julgamento o Sr. Min.
mada "Conferência de Fretes Bra- Cunha Vasconcellos.
- 139-

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N,o 27.592 SP.
Relatc.r - o Ex. mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Recorrente - Juízo da Fazenda Nacional
Agravante - União Federal
Agravada - Cia. Distribuidora de Valôres, Financiamentos
e Investimentos - Codival
Acórdão
Taxa de fiscalização bancária; a ela estão sujei-
tas as sociedades de investimento e financiamento.

Vistos, relatados e discutidos processos n.OS 16.559/59 e 34.519,


êstes autos de Agravo em Man- de 1959, daquela Delegacia, a
dado de Segurança, n.O 27.592, pretexto de infração do art. 4.°,
de São Paulo, em que são partes parágrafo único, do Dec.-Iei n.o
as acima indicadas: 1.880, de 14 de dezembro de
Acorda a Segunda Turma do 1939, por não ter recolhido "cotas
Tribunal Federal de Recursos, por de fiscalização bancária" (também
unanimidade, em dar provimento, chamadas "contribuições bancá-
na forma do relatório, votos e re- rias"), relativamente aos anos de
sultado do julgamento de fI". re- 1958 e 1959; e que, todavia, tais
tro que ficam fazendo parte inte- cotas só podem ser exigidas de
grante do presente. Custas de lei. "bancos e casas bancárias", nun-
Brasília, 18 de novembro de ca de sociedades de crédito, finan-
1964. - Godoy Ilha, Presidente; ciamento ou investimento (tal
Armando Rollemberg, Relator. como a impetrante), disciplina-
das por legislação especial, que ni-
Relatório tidamente as distingue dos bancos
ou casa bancárias pr,õpriamente
o Sr. Min. Armando Rollem- ditas, e como aliás reconhecido
berg: - A espécie foi perfeita- tem sido nas próprias esferas ad-
mente relatada na sentença re- ministrativas. Daí a presente im-
corrida, até o momento em que petração, instruída com os docu-
foi prolatada pela forma seguin- mentos de fls.
te: "A Companhia Distribuidora Concedida a liminar (para o
de Valôres, Financiamento e In- efeito de sustação de sanções ad-
vestimentos - Codival, qualifi- ministrativas), sustentou a autori-
cada na inicial, impetra o pre- dade impetrada, em informações,
sente pedido de mandado de se- a legalidade de seu ato, funda-
gurança contra ato do Sr. Dele- mentando-o na Portaria Ministe-
gado Fiscal do Tesouro Nacional rial n.o 88, de 8 de junho 'de
em São Paulo. 1945, pelas quais "as sociedades
Alega, em síntese, ter sido au- de crédito, financiamento ou in-
tuada e ,condenada através dos vestimento, ficam sujeitas a uma
- 140-

taxa de fiscalização igual à dos Êste o entendimento que resul-


bancos" . ta de um exame mais detido do
rv.ranifestou-se no feito, pela de- assunto.
negação, o Sr. Dr. Procurador As sociedades de investimento
da República". e financiamento somente foram
Concedida que foi a segurança, reguladas, de forma específica, no
sob o fundamento de que a Por- direito brasileiro, através dos
taria 88, do Sr. Ministro da Fa- Decs.-leis 7.583, de 25 de maio
zenda, era ilegal, recorreu o MM. de 1945, e 9.603, de 16 de agôsto
Juiz de ofício, e a União interpôs de 1946, legislação pouco extensa
agravo, com razões genéricas, o onde se deixou a cargo de regula-
qual foi contraminutado. mento a ser baixado pelo l\tlinistro
Nesta Instância, a Subprocura- da Fazenda, por proposta da Cai-
doria-Geral opinou pelo provi- xa de Mobilização e Fiscalização
mento dos recursos. Bancária, a fixação das normas
É o relatório. especiais a serem observadas na
constituição e funcionamento das
Voto mesmas so.ciedades (art. 2.° do
O Sr. Min. Armando Rollem- Dec.lei 7.583, de 25-5-45).
berg: - Assentou-se a impetração Em atenção a tal autorização o
na afirmativa de que, não sendo Ministro da Fazenda baixou a
as sociedades de investimento e Portaria 88, de 6-6-45, na qual,
financiamento bancos ou casas entre as regras que fixou para
bancárias, não poderiam estar su- constituição e funcionamento das
jeitas ao pagamento de tributo sociedades aludidas, estabeleceu,
próprio de tal gênero de comércio, no item X, ficarem elas "sujeitas
como fôra determinado pela Por- a uma taxa de fiscalização igual
taria 88, de 8 de julho de 1945, à dos bancos de depósitos".
do Sr. Ministro da Fazenda. Não considerou, portanto, o
Tal argüição foi acolhida pela autor da Portaria, que as socieda-
sentença recorrida. des de investimento e fianancia-
A nosso ver a hipótese, data mento fôssem bancos ou casas
venia, não foi bem colocada. bancárias, e sim sujeitou-as ao
A Portaria 88, impugnada, ao pagamento de igual taxa à pre-
estabelecer que as sociedades de vista para aquêles tipos de esta-
investimento e financiamento es- belecimento. Usou a referência
tavam sujeitas ao pagamento da como poderia determinar uma im-
taxa, contra a qual se insurge a portância qualquer ou percentual
impetrante, não o fêz porque con- que escolhesse.
siderasse tais sociedades como Poderia legalmente fazê-lo?
bancos ou casas bancárias, e sim Pare,ce-nos que sim, pois a isto
tomando a estas, ou melhor, aos fôra expressamente autorizado pe-
bancos de depósito, como para- lo art. 2.° do Dec.-Iei 7.585, de
digmas para o efeito de fixar con- 25-5-45.
dições especiais do funcionamen- Vale acentuar, aliás, que a im-
to respectivo. petrante, para funcionar, atendeu
141 -

a tôdas as demais instruções con- petrante, razão porque dou provi-


tidas na Portaria impugnada, so- mento aos recursos, de ofício e
mente vislumbrando ilegalidade na voluntário, para reformar a sen-
fixação da taxa de fisc)31ização, tença e cassar a segurança conce-
embora não se insurgisse contra o dida.
fato de seresta fiscalização e o
conírôle de sua come- Decisão
tidos à Caixa de Mobilização Ban-
cária e, posteriormente, à Superin- Como consta da ata, a decisão
tendência da Moeda e do Crédito, foi a seguinte: Deu-se provimen-
entidades às quais estavam afetas to . Decisão unânime. Os Srs.
idênticas atribuições em relação a Mins. Godoy Ilha e Oscar Sarai-
bancos e casas bancárias. va votaram com o Sr. Min. Re-
Não há, assim, ilegalidade no lator. Presidiu o julgamento o Sr.
ato contra o qual se insurge o im- Min. Godoy Ilha.

MANDADO DE SEGURANCA N.O 28.609 - DF - ~

Relator - O Ex. mo Sr. Min. Godoy Ilha


Requerente - Silvio Heck
Requerido - O Sr. Ministro da Marinha

Acórdão
Militar da reserva. Pena disciplinar. Os mili-
tares da reserva remunerada estão subordinados às
normas de que trata o Regulamento Disciplinar do'
Exército e da Marinha.

Vistos, relatados e discutidos 1962. - Sampaio Costa, Presi-


êstes autos de Mandado de Segu- dente; Godoy Ilha, Relator.
rança n. o 28.609, do Distrito Fe-
deral, impetrante Silvio Heck e Relatório
impetrado o Sr. Ministro da Ma- O Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr.
rinha: Presidente, o Almirante Silvio
Acorda, por maioria de votos, Heck, ex-Ministro da Marinha,
o Tribunal Federal de Recursos, impetrou, por intermédio de seus
em sessão plena, prosseguindo-se eminentes patronos, êste mandado
o julgamento, em indeferir o pedi- de segurança, para o fim de fur-
do .conforme consta das notas ta- tar-se aos efeitos de pena disci-
quigráficas anexas, as quais, com plinar que lhe foi imposta pelo
o relatório, ficam fazendo parte titular da pasta da Marinha, por
integrante dêste julgado, apurado infração de dispositivo regulamen-
nos têrmos de fôlhas 131. Custas tar, eis que, em entrevista conce-
de lei. didida à revista "O Cruzeiro", ma-
Tribunal Federal de Recursos, nifestou-se sôbre assuntos de or-
Distrito Federal, 3 de setembro de dem política, de maneira impró-
- 142

pria e inconveniente, violando dis- ção de pena disciplinar. No en-


posição expressa do Regulamento tanto, por fôrça da compreensão,
Disciplinar da Marinha, razão têm entendido muitos comentado-
pela qual lhe foi imposta a pena res que por êsse princípio se rege
de três dias de prisão domiciliar. também o mandado de segurança,
Os ilustres patronos do impe- tanto assim que a Lei Espe.cial
trante sustentam a ilegalidade da n,o 1,533 dispõe, no inciso 3.° do
penalidade imposta, eis que não art, 6.0, que não se dará mandado
existe qualquer dispositivo legal de segurança contra ato discipli-
que a autorize e que simples dis- nar, salvo quando praticado por
posição de natureza regulamentar autoridade incompetente.
não poderia dar legitimidade ao Invoca-se o voto lapidar profe-
ato impugnado. Sustentam ainda rido por Castro Nunes em 1935
,que, encontrando-se o impetrante no Supremo Tribunal Federal em
na reserva remunerada, não está que, alicerçando-se na lição de
sujeito aos regulamentos discipli- José Higino e do Conselheiro Ara-
nares da sua corporação . Nesse ripe, mostrou a absoluta impro-
sentido, a petição inicial, longa- priedade e incompatibilidade da
mente fundamentada, estende-se via excepcional do mandado de
em várias considerações tendentes segurança para ilidir a imposição
a ,comprovar a ilegalidade da pena de pena disciplinar e, neste sen-
imposta ao impetrante. tido, é a jurisprudência dêste Tri-
Solicitadas informações, pres- bunal e a do Colendo Supremo
tou-as o Sr. Ministro da Marinha Tribunal Federal.
enviando cópia do parecer a res- Poderíamos ficar nesta prelimi-
peito emitido pelo Consultor Ju- nar mas, em homenagem ao emi-
rídico do Ministério e que mere- nente patrono do impetrante, exa-
ceu o apoio do titular da pasta, no minarei os dois fundamentos pre-
qual se sustenta, preliminarmente, cípuos da impetração, já que não
o descabimento do mandado de se argüi a incompetência da au-
segurança, por se tratar de pena toridade que impôs a pena, nem
disciplinar e, no mérito, disserta que houvesse excesso ou inobser-
longamente sôbre a legalidade e vância de formalidades essenciais,
a legitimidade do ato impugnado. ou irregularidades na sua imposi-
No mesmo sentido foi o parecer ção. As duas teses sustentadas pe-
da ilustrada Subprocuradoria-Ge- lo impetrante e que não são no-
ral da República, que consta de vas, foram trazidas reiteradas vê-
fls. 91a92. zes a êste Tribunal e assentam no
É o relatório. pressuposto de que não existe lei
que autorize a imposição de pena
Voto-preliminar e mérito disciplinar e invoca, então, o con-
tido no § 20, do art. 141, da nossa
o Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr. Carta Magna pelo qual "ni1'!.guém
Presidente, o § 23, do art. 141 da será prêso senão em flagrante de-
nossa Carta Magna exclui o ha- lito, ou por ordem escrita da auto-
beas corpus no tocante à imposi- ridade competente, nos casos ex-
- 143-

pressas em lei". É que regula- vogado da Tribuna, de que o im-


mento não é lei. petrante não está sujeito, na con-
Sr. Presidente, em primei.ro lu- dição de oficial da reserva, à dis-
gar cumpre acentuar que o Esta- ciplina militar.
tuto dos Militares, que baixou com Invoca voto proferido no Supe-
o Dec.-lei 9.698/46, como bem rior Tribunal Militar pelo ilustre
salientou o ilustrado Subprocura- Min. Rezende. Entretanto, tal
dor-Geral dá. República, depois de voto não foi acolhido pela Juris-
dar o conceito da transgressão prudência e o que se tem enten-
disciplinar, inseriu nos seus regu- dido é que os militares da reserva
lamentos as especificações dessas remunerada se subordinam às
penas. normas hierárquicas e disciplina-
E assim acentuou, muito. bem, res de que trata o Regulamento
S. Ex. a que, quando a Lei se refere Disciplinar do Exército e o da
à prisão, "nos casos previstos em Marinha. Essa é a tese vitoriosa
lei" se repo.rta às normas jurídi- na jurisprudência, decorrente de
cas gerais que tanto compreendem que estabelece o art. 13 do Esta-
a lei como. o. regulamento, desde tuto dos Militares, in verbis: "A
que êste tenha autorização legal disciplina e o respeito à hierarquia
e, no caso evidentemente, o regu- devem ser mantidos em tôdas as
lamento disciplinar das fôrças ar- circunstâncias da vida, entre os
madas, no. qual se funda a ilustre militares da ativa ou da reserva,
auto.ridade impetrada, para a pena reformados ou asilados".
imposta ao impetrante, pena con- O militar na reserva não se des-
tra a qual se insurge, tem foros liga inteiramente, não se afasta
de incontestável legitimidade, des- de todo da sua condição de mili-
de que decorre do próprio Es- tar. Está sempre sujeito à convo-
tatuto dos Militares. cação para prestar serviço, a não
Se não fôsse assim, Sr. Presi- ser quando atinge a idade limite
dente, como manter a disciplina para permanência no Exército,
nas corporações militares, se tô- ocasião em que é reformado.
das as transgressões militares não A matéria, Sr. Presidente, já
só têm a sua definição, como são foi examinada por êste Tribunal,
estabelecidas nos regulamentos além de outras, no Mandado de
militares? Segurança n.o 13.975, impetrado
"'Tenho como improcedente o pelo General Hugo Silva, e no
primeiro fundamento da impetra- Mandado de Segurança n.o
ção. 10.577, requerido pelo General
O segundo é o de que, estando Juarez Távora e invocado da Tri-
o impetrante na inatividade, na buna pelo ilustre advogado impe-
reserva remunerada da Marinha, trante. Na decisão dêsse manda-
não o atingem as disposições dos do de segurança, de que foi impe-
regulamentos militares. trante o General Juarez Távora,
Nesse sentido, disserta longa- as teses aceitas foram as já con-
mente a inicial, como a,cabou de sagradas na jurisprudência. Mas,
fazer brilhantemente o ilustre ad- concedeu-se o writ ao militar sob
- 144-

o fundamento de que a transgres- titucional invocada, a do § 5.°,


são que se lhe imputava ocorrera não cobre as conseqüências da li-
quando S. Ex. a era candidato à vre manifestação do pensamento.
Presidência da República e esta- Antes, pelo .contrário, a Constitui-
va, então, no exercício do direito ção é expressa em esclarecer que
de disputar a chefia da Nação, cada um, nos casos e na forma que
não sofrer restrição na a lei preceituar, responde pelos
sua propaganda política. Foi o abusos que cometer. Acaso que-
fundamento que predominou para rerá o impetrante considerar-se
a concessão da ordem, respeitadas ainda a coberto pela imunidade
aquelas teses hoje tranqüilas e parlamentar? Evidentemente, não.
pacíficas na jurisprudência. Tendo deixado o exercício do seu
Não poderia, Sr. Presidente, ar- mandato de Senador em Janeiro
rimar-me a subsídio mais valioso dêste ano, não mais o beneficia
do que o pronunciamento do Sr. a inviolabilidade por opiniões e
Min João José de Queiroz no palavras.
Mandado de Segurança n.o 16.996, Resta, pois, a examinar o últi-
impetrado pelo Coronel Napoleão mo fundamento da impetração, o
Alencastro Guimarães, em que o que se estriba no § 2.° do citado
Tribunal, contra o único voto do art. 141 da Constituição. Se real-
Sr .. Min. Batista de Oliveira, de- mente, como se alega, o impugna-
negou o writ, decisão que mereceu do enquadramento na disciplina
sufrágio do Egrégio Supremo Tri- militar não encontra apoio em lei,
bunal Federal. Vou permitir-me há que considerar o processo dis-
ler êsse voto do Sr. Min. João ciplinar como ilegal, e abusivo o
José de Queiroz que, a meu ver, ato ministerial que visa a promo-
esgota a matéria; é o seguinte: vê-lo. Mas, se, ao contrário, o
"Quanto à parte do pedido de se- impugnado enquadramento é de-
gurança que leva em considera- terminado pelo ordenamento ju-
ção, no meu voto, restam as duas rídico vigente, às suas conseqüên-
referidas garantias constitu.cio- cias não se poderá furtar o im-
nais . No que tange à liberdade petrante. Desde logo se diga que,
de pensamento e sua manifesta- quanto ao mérito da transgressão
ção, nenhuma ameaça pesa sôbre disciplinar, o assento escaparia ao
o impetrante. O processo discipli- contrôle judicial.
nar contra cuja instauração se in- Ainda - como consideração
surgiu não o impedirá de mani- pertinente - anote-se que o sen-
festar livremente seu pensamento tido da palavra "lei", na expressão
em tôdas as oportunidades que se "senão em virtude de lei" que
lhe apresentarem: na televisão, condiciona a garantia consubs-
pelo rádio, pela imprensa e nos tanciada no invocado § 2.° do
comícios. O processo disciplinar art. 141, não é outro senão o de
tem por fim, apenas, acarretar norma jurídica válida. Na expres-
para o impetrante as conseqüên- são "lei" aí se compreendem todos
cias de sua livre manifestação de os dispositivos vigentes, desde os
pensamento. Ora, a garantia cons- constitucionais até os regulamen-
- 145-

tares e regimentais, desde que com base na hierarquia e na dis-


emanados regularmente de um ciplina, absolutamente não quer
poder competente. A todo o mo- dizer que suas reservas não este-
mento somos compelidos a obede- jam inte,gradas na hierarquia e
cer a simples determinações baixa- na disciplina. A valer o entendi-
das pela autoridade com compe- mento preconizado na impetração
tência para tanto, sem que - só fora as Fôrças Armadas - Mili-
por isso e pi:tra desobedecê-la - tares na ativa - tudo o mais
possamos invocar a examinada neste país seria constitucional-
garantia do § 2.° do art. 145. mente organizado com base na
Assim, o impugnado enquadra- disciplina. Argumenta-se mais
mento disciplinar, do militar da com o art. 54, § 2.°, do Estatuto
Reserva Remunerada, não.' seria dos Militares (Decreto-lei 9.698,
abusivo mesmo que fôsse deter- de 1946). Nesse dispositivo se
minado com regulamento baixado determina que o pedido de trans-
pelo Poder Executivo uma vez, é ferência para a reserva não sus-
claro, que não contraria a lei pende nem exonera o militar dos
em sentido estrito - ou a Cons- seus deveres, enquanto, na forma
tituição. da lei, não são publicados o ato
que a conceder e o desligamento
O Regulamento Disciplinar do do órgão onde serve. Disso se in-
Exército (Decreto n.o 8.835, de fere - a favor do impetrante -
23-1-1942, alterado pelo Decreto que, uma vez publicados os atos
n,o 23.203, de 18-6-1947) esta- de sua passagem para a reserva,
belece, em seus arts. 1.0 e 10, que, ficará exonerado de "todos" os
para fins disciplinares o Exérci- seus deveres. Aí o engano. :Êle
to ativo abrange suas reservas ficará - é óbvio - exonerado
e que estão sujeitos ao menciona- de todos os seus deveres da ativi-
do regulamento os oficiais e pra- dade. Mas o dever da disciplina
ças da reserva remunerada. - vinculação que acompanha o
Alega-se que os citados disposi- militar na reserva remunerada,
tivos regulamentares são contrá- até que seja atingido pela refor-
rios à lei, eis que, consoante o dis- ma - não é apenas um dever do
posto no art. 1.0 do Decreto-lei militar na ativa. Numerosas de-
n,o 9. 107, de 1-4-1946, só consti- terminações legais e regulamenta-
tuem as Fôrças Armadas o Exér- res vinculam mesmo, exclusiva-
cito, a Marinha e a Aeronáutica mente, os militares da reserva.
e as respectivas reservas quando Não estão êles, pois, exonerados
convocadas. Ora, não integrando de tôdas as obrigações resultantes
as Fôrças Armadas as reservas de sua situação pessoal.
não convocadas, não estariam es- O art. 13 do Dec.-lei n.o 9.698,
tas incluídas na disciplina referi- do Estatuto dos Militares, expres-
da no art. 176 da Constituição. samente determina que: "A disci-
Ora, o fato de a Constituição plina e o respeito à hierarquia de-
determinar que as Fôrças Arma- vem ser mantidos em tôdas as cir-
das sejam instituições organizadas cunstâncias da vida, entre os mi-
146 -

litares da ativa ou da reserva, re- rido, por entender o Tribunal, con-


formados ou asilados". Aí está a soante a ementa do julgado, que o
reclamada base legal para o que militar da Reserva Remunerada
dispõe o Regulamento Disciplinar está sujeito às normas hierárqui-
do Exército (Decreto n.o 8.835, cas e disciplinares de que trata o
de 23-2-1942) . Regulamento Disciplinar do Exér-
por fôrça de expressão, o dto.
Regulamento Disciplinar da Ma- Ora, Sr. Presidente, com a vê-
rinha: "Sujeitando ao menciona- nia devida aos dois citados e ilus-
do diploma os oficiais e praças das tres pronunciamentos, no manda-
reservas remuneradas". Nem é ou- do de segurança concedido ao Ge-
tro, Sr. Presidente, o entendi- neral Juarez Távora, não é pos-
mento dominante neste ,Tribunal. sível entrar-se no exame dos fa-
O impetrante invoca decisão tos para apreciá-los em seu méri-
anterior dêste Tribunal, no Man- to. Isto é da estrita atribuição
dado de Segurança n.O 10.577, das autoridades militares, pois
concedido a favor do General Jua- que, tratando-se de medida disci-
rez Távora. Êste Tribunal, entre- plinar, há que .considerar, para
tanto, contra os votos apenas, do efeitos do mandado de segurança,
eminente e saudoso Sr. Min. Ar- apenas o aspecto da legalidade da
tur Marinho e do ilustre Juiz Rai- medida e competência da autori-
mundo Macedo, reconheceu que dade que a determina. Para aí o
o militar da reserva remunerada exame a cargo do Poder Judi-
do Exército está sujeito ao respec- ciário. Se justa ou injusta a me-
tivo Regulamento Disciplinar, dida disciplinar aplicada, o assun-
bem como às normas de hierar- to é da esfera exClusiva do Exe-
quia e disciplina que vinculam os cutivo.
militares da ativa. Êste foi o en- Não pode o Judiciário, sob pena
tendimento dominante. Conce- de imiscuir-se indebitamente em
deu-se a segurança, todavia, por- seara que não é sua, dizer se os
que alguns dos que assim enten- militares mereciam ou não a pena
diam consideraram que no caso disciplinar que lhes foi imposta.
concreto então em exame, os atos No caso, porém, nem essa consi-
atribuídos ao impetrante, General deração é possível, pois nenhuma
Juarez Távora, não se enquadra- pena foi imposta ao impetrante".
vam entre os que incidem no Re- No caso, tratava-se de seguran-
gulamento Disciplinar do Exérci- ça preventiva.
to. Tão-só por isso se lhe conce- Sr. Presidente, não poderia ar-
deu a segurança. O pensamento rimar-me a melhor e mais autori-
dominante, porém, foi o de que zado subsídio do que o voto que
os militares da Reserva Remune- acabo de ler, para concluir dene-
rada estão sujeitos ao Regulamen- gando a segurança impetrada.
to Disciplinar do Exército.
Posteriormente, um outro man- Voto (Vencido, no Mérito)
dado de segurança, impetrado pe- O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
lo General Hugo Silva, foi indefe- Sr. Presidente, acompanhei com a
- 147-

maior atenção o voto do eminente hierarquia militar. As Fôrças Ar-


Sr. Min. Relator, como já o fi- madas constituem a guarda e a
zera com a sustentação do Sr. Ad- segurança do regime legal do País.
vogado. Devo dizer, Sr. Presi- De sorte que, no exercício desta
dente, que a matéria, para mim, sua alta mlssao constitucional,
comportaria· esclarecimentos ain- não podem descer a opinar, a
da mais detidos sóbre um ponto: debater, a criticar, ou mesmo lou-
o da aplicabilidade dos regula- var o Govêrno, porque qualquer
mentos disciplinares militares aos dessas manifestações de crítica, ou
oficiais da reserva. de aplauso, importa num julga-
Não tenho dúvida de que, se mento que não lhes é dado fazer.
se tratasse de um oficial da ativa, Com a passagem do oficial para
caberia aquela preliminar tão bem a reserva, êle se desvincula dessas
trazida à baila pelo Dr. Subpro- obrigações estritas; não se des-
curador-Geral, do descabimento vincula de uma maneira geral das
da medida de segurança, em se Fôrças Armadas, porque é ,convo-
tratando de ato disciplinar, porque cável para o serviço da ativa e
no caso os regulamentos militares mantém as prerrogativas e os pri-
teriam plena incidência e somente vilégios que a lei lhe assegura,
a incompetência da autoridade, ou mas não há, realmente, razão para
a violação na forma, justificariam que o militar reformado emudeça,
o exame da matéria. Mas, no ca- e se quede silencioso por motivos
disciplinares aos oficiais da reser- disciplinares, porque não detém
va e a questão se põe, exatamen- mais o poder que resulta da de-
te, nestes têrmos: estendem-se, ou tenção das armas e do exercício
não se estendem os regulamentos dos comandos militares. Não se
disciplinares aos oficiais da reser- trata mais de alguém no exercício
va? O Relator trouxe argumentos de um poder capaz de intervir útil
valiosos no sentido de uma res- e eficazmente na gestão da coisa
posta afirmativa, e eu o acompa- pública, mas de alguém já pôsto
nharia até certo limite. Mas não à margem, pela inatividade, que
creio que terei o prazer de acom- não terá mais capacidade de inter-
panhá-lo ao longo de tôda a es- vir, a não ser como cidadão e, aí,
trada, no que tange à manifesta- exatamente, deve prevalecer a re-
ção política, que é o de que se gra geral. A meu ver, a Constitui-
trata no caso, porque não encon- ção estabelece a norma geral da
tro, realmente, textos claros e ex- liberdade de manifestação de pen-
pressos que determinem a obriga- samento - e essa norma sofre
ção do oficial da reserva ficar jun- restrições no que toca ao militar,
gido, em sua manifestação pública mas as restrições devem ser ex-
de pensamento, aos regulamentos pressas, devem resultar do exercí-
militares. E não encontro, Sr. cio das funções militares; e desde
Presidente, não só texto mas, mais que êle passa à inatividade, deixa
ainda, não encontro razão, porque êsse exercício, deixa de participar
todos nós sabemos a razão da dis- da segurança e. de garantir as ins-
ciplina militar e a observância da· tituições, para só o fazer eventual-
- 148

mente, se convocado. Nessas con- trata de aplicação dêsse regula-


dições deve voltar, também, a mento, mas de uma manifestação
participar dequeles benefkios da de idéias políticas, que podem ser
regra geral de liberdade de pensa- atribuídas ao Almirante Silvio
mento. Portanto, eu, Sr. Presi- Heck, mas também podem ser
dente, salvo texto expresso, dire- atribuídas, mutatis mutandis, a
to, manifesto e indiscutível, en- qualquer cidadão civil, não vejo
tendo que a regra geral constitu- em que ° reformado esteja sujei-
cional prevalece e só não deve to a essa disciplina. Também o
prevalecer em face de textos ex- funcionário público está sujeito a
pressos de lei em contrário. uma disciplina pelo Estatuto e
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Mas não tem, na sua amplitude, o di-
o art. 13 do Estatuto dos Milita- reito de crítica, a não ser - diz o
res é expresso em sujeitar à dis- Estatuto - crítica construtiva no
ciplina os oficiais tanto os da sentido do aperfeiçoamento dos
ativa, como os da reserva. métodos do regime. O civil, como
O Sr. Min. Oscar Saraiva: se vê, também está sujeito a êsse
Aliás, ponderei sôbre êsse artigo impedimento. Entretanto, desvin-
que V. Ex. a tão bem invocou, mas culado pela administração pela
entendi que não se trata, aí, de aposentadoria deixa êle de ter
questão de disciplina militar; é o êsse impedimento como, aliás, dei-
exercício de um direito de cidada- xa ° militar, que pode advogar
nia, o da manifestação política. sem nenhuma restrição, como
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Per- também pode o civil. Confesso
mite-me V. Ex. a ? Essa é uma que, talvez, não tenha esta maté-
questão que foge à competência ria bem sedimentada em meu
do Tribunal: examinar o mereci- juízo, e na dúvida prefiro incli-
mento da imposição da penalida- nar-me pela regra da generalidade
de, matéria que se contém no âm- do preceito constitucional. É pos-
bito discricionário do poder pú- sível que com o correr do tempo,
blico. volte a tomar outra posição, me-
O Sr. Min. Oscar Saraiva: - ll:.or esclarecido, mas, chamado a
Entendi que não se tratava de intervir neste debate, ainda estou
questão militar, mas de questão apegado à generalidade da regra
políti~a, tanto quanto posso supor da Constituição, porque não en-
pelos debates, desde que o artigo contro, mesmo naquele preceito
não foi lido em suas minúcias, foi que V. Ex.a invocou, do art. 13
apenas aludido. Mas, digamos do Estatuto dos Militares, um
que se tratasse de questão militar, fundamento legal para justificar
de uma questão de fardamento, minha exceção.
da possibilidade, ou não, de uso da Acompanho o Sr. Min. Relator
farda em determinada cerimônia. em tudo que foi dito, relativamen-
Então, estaria com V. Ex.a, enten- te à aplicabilidade das penas dis-
dendo que era uma questão de ciplinares, por essas manifesta-
aplicação do regulamento dos mi- ções, aos oficiais da ativa. E digo
litares, mas, desde que não se isso, desde logo, porque podem
- 149-

vir casos a êste Tribunal, e enten- terpretar a lei. E que, porém vi-
do prejudicial à ordem constitu- vendo, como vivemos, num regime
cional a manifestação de militar de podêres limitados - nisso in-
de qualquer arma, mas da ativa, cluindo o Poder Judiciário -
e no exercício de posição de co- Juiz, não posso atuar senão den-
mando, ou não. Mas, uma vez tro dêsses limites. Não tenho a
desvinculados os militares do seu liberdade de ação para, na base
exercício ativo entendo que recu- de simples intuição ou de me pa-
peram sua plena liberdade e abri- re.cer certo e justo, decidir. De-
gam-se na regra geral do pre.ceito cido sempre, porque êste é o meu
da liberdade ampla de manifesta- principal dever adiante da lei, em
ção do pensamento que a Consti- face dos princípios normativos vi-
tuição garante. Por isso, data ve- gentes. Ora, assim pensando, e si-
nia do Sr. Min. Relator, con- tuado dentro de tais limites, é fora
cedo a segurança. de qualquer dúvida que o man-
dado de segurança também não
Voto-preliminar (Vencido) tem cabimento. E não tem cabi.,
menta, porque se trata, antes de
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: tudo, de medida disciplinar, em-
- Sr. Presidente, ouvi atenta- bora existam outros motivos de
mente a exposição do Sr. Min. contra-indicação.
Relator, a oração do ilustre advo- A essa altura da vida da Repú-
gado, o voto do Relator e o voto blica, quando, após tantos anos
divergente de S. Ex. a o Sr. Min. de porfia e de esfôrço dos juristas
Oscar Saraiva. Enquanto isso se e dos tribunais, chegou-se à exata
desenrolava, também de minha discriminação das medidas com-
parte ia reunindo as idéias para patíveis com os direitos pessoais,
formar orientação a respeito, e do direito de ir e vir e com o di-
cheguei a uma conclusão que reito de posse, como simples fato
pode não ser a melhor, a certa, ou emanação da propriedade, não
mas, como sempre, resulta de mi- há razão para se retornar ao ve-
nha boa-fé, do esfôrço que sem- lho tempo em que, conforme a
pre faço para alcançar as melho- emergência, ou segundo a prefe-
res soluções das controvérsias que rência do jurista, usava-se o ha-
são postas no nosso julgamento. beas corpus para defesa de outros
Lamento, inicialmente, nesta direitos que não o de liberdade,
oportunidade, quando vou opinar ou se usava dos interditos posses-
conclusivamente, que, muitas vê- sórios para defender direitos pes-
zes, nós, Juízes, não possamos soais, sem qualquer ligação com a
apreciar as questões, no seu mé- posse como exteriorização da pro-
rito, em tôda a sua profundidade. priedade.
Lamento, porque, perante o pú- Nos dias atuais, o mandado de
blico, muitas vêzes, igualmente, segurança tem o seu campo pró-
isso pode parecer como uma omis- prio, isto é, o mandado de segu-
são ou uma fuga dos tribunais em rança tutela os direitos subjetivos
exercer a função precípua de in- não protegidos pelo habeas cor-
- 150-

pus, segundo a linguagem consti- to. Entendo que, quando se apre-


tucional. O habeas corpus está, sente em alternativa para conces-
rigorosamente, límitadoao direito são, o caso é de conhecimento.
de ir e vir, enquanto os interditos Desde que a Lei admite a con-
possessórios relacionam-se com a cessão em determinados casos, só
posse. No caso dos autos - disse mediante estudo, no mérito, é que
eu - mandado de segurança não se pode verificar se êsses casos
cabe, porque se trata de medida ocorrem.
disciplinar; mas, avancei, por ou-
tros aspectos ainda - não cabe Voto-preliminar
mandado. E, de fato, assim acon-
tece, porque, na espécie, cuida- o Sr. Min. Márcio Ribeiro:
se, precipuamente, a meu ver, da Sr. Presidente, também conheço
liberdade de ir e vir. Para êste do mandado de segurança, por-
caso, o remédio seria o habeas que acho que, no plano em que
corpus. Também não cabe o se vai discutir o mesmo, que é a
mandado de segurança, uma vez legalidade, não se trata de pena
que a ofensa já se consumou. disciplinar, trata-se de saber se
Não possui justificativa pretender- todo regime disciplinar é aplicá-
se efeito preventivo. Se, não obs- vel aos militares que passaram
tante, de acôrdo com o sistema para a reserva. Preliminarmente,
de nosso Direito, o Juiz não pode conheço do mandado de seguran-
recusar a apreciação de qualquer ça.
lesão se, na base dêsse princípio,
o interessado tem o direito de re- Voto-preliminar
examinar a ofensa que sofreu,
deve fazê-lo pelas vias ordinárias, o Sr. Min. Sousa Neto:
através das quais, por certo, sob Sr. Presidente, pelo art. 176 da
patrocínio de seu advogado, pro- Constituição, as Fôrças Armadas
curará demonstrar que a pena so- (Exército, Marinha e Aeronáuti-
frida não teve apoio em lei, não ca) são instituições nacionais per-
teve fomento de justiça ou de manentes, organizadas à base da
direito para, afinal, obter a sen- hierarquia e da disciplina. Não se
tença de cancelamento nos assen- concebem essas instituições sem
tos militares. hierarquia e sem disciplina. Não
Por essas razões, aduzidas as- se criam, nem se mantêm essas
sim, nesta assentada, sem maior instituições sem hierarquia e sem
meditação, porque o tempo não disciplina. Isso é regra imperati-
permitiu ao correr do debate, não va consignada no art. 176 da
conheço do mandado de seguran- Constituição. Todos aquêles que
ça. integram as Fôrças Armadas es-
tão sujeitos à disciplina. A disci-
Voto-preliminar plina é a essência principal, por
assim dizer, filosoficamente falan-
o Sr. Min. Aguiar Dias: - Sr. do, da instituição militar. Os re-
Presidente, sou pelo conhecimen- formados e os da reserva não es-
- 151-

tão excluídos das Fôrças Arma- vo, e faz da disciplina condição


das, e se não o estão, ficam sujei- básica da formação de nossas Fôr-
tos ao princípio fundamental do ças Armadas. Originàriamente, a
art. 176 da Constituição Federal. disciplina faz parte delas. Todos
Diz-se que só o regulamento é pertencem a elas e todos hão de
que exige a disciplina. Não é ser disciplinados.
exato. exige a disciplina é Assim, Sr. Presidente, é impos-
a Lei Maior, é a Constituição. Há sível, data venia, conhecer do pe-
uma norma de direito em branco dido, porque êle atenta, não só
na Constituição (art. 176). Atos contra a lei da segurança, mas
legislativos secundários comple- também contra a Constituição e
tam essa norma de direito em tudo o mais quanto se possa con-
branco, dizendo quais os casos de ceber.
indisciplina e quais as comina-
ções pela sua violação. Isso é Voto-preliminar
máxima, é axioma em direito posi- O Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
tivo. Quem exige a disciplina e Data venia, conheço da impetra-
quem pune a indisciplina não é o ção e reputo mesmo o único remé-
regulamento; é a norma do art. dio expedito de que se poderia
176 da Constituição Federal. valer o impetrante. O habeas cor-
Admitindo que os da reserva pus assegura hoje, exclusivamente,
não estão sujeitos à disciplina, re- a liberdade de locomoção, e foi
conheceríamos, conseqüentemente, excluído nos casos de transgres-
em favor dêles, o direito à indisci- são disciplinar. .Êle não teria por-
plina, o que seria uma anarquia, tanto, cabimento, ainda que per-
o que seria um absurdo. Se êles, durasse a prisão; e muito menos,
como integrantes das Fôrças Ar- depois de ter sido ela cumprida.
madas - os da Reserva e os re- Cogitando-se de transgressão
formados - não estivessem sujei- disciplinar não é lícito ao Judiciá-
tos à disciplina, não tivessem o rio apreciar a justiça ou a injusti-
dever de ser dis.ciplinados, então ça da decisão; a conveniência ou
reconheceríamos em favor dêles o não da pena aplicada; mas está
direito à indisciplina. Seria iludir êle obrigado a perquirir da com-
a ordem social. Portanto todos es- petência de autoridade que impôs
tão sujeitos à disciplina, nas Fôr- a pena ou se ela obedeceu aos
ças Armadas. Ê dever estrutural preceitos legais. Nestes tênuos é
de concepção e de manutenção que deve ser posta a questão. Por
da entidade. Não é possível con- isso é que disse, de início, que o
ceber o exército contra o exército, remédio específico é o mandado
marinha contra marinha e aero- de segurança. Não resta a menor
náutica contra aeronáutica, como dúvida sôbre o cabimento do writ.
não é possível conceber exército
da reserva e da reforma, contra Voto-preliminar
exército da ativa. O Sr. Min. Cândido Lôbo:
Data venia dos que pensam em Sr. Presidente, a Lei 1.533 quando
contrário, o art. 176 é imperati- trata de impetração de mandado
- 152-

de segurança contra ato discipli- rios do cidadão comum, em detri-


nar apresenta duas exceções: a mento da ordem particular a que
exceção referente à incompetência deve respeito. Assim pensando,
da autoridade e a com referência não posso deixar de concluir pelo
à inobservância de formaiidade indeferimento do presente man-
essencial, quer dizer, quando o ato dado. Em primeiro lugar, pela
é praticado por autoridade incom- justa aplicação da lei. O militar
petente ou quando a autoridade tem nos regulamentos disciplina-
fôr competente, porém, inobserva- res e nos Estatutos a restrição de
da alguma formalidade essencial, não se pronunciar sôbre os atos
cabe o mandado de segurança. e conduta do Govêrno, no exercí-
Em princípio, tenho que conhe- cio de suas atribuições, seja o
cer para saber se houve uma hi- Executivo, o Legislativo ou o Ju-
pótese ou outra, ou ambas, para diciário . O Estatuto contém a
conceder ou denegar a segurança. norma geral da proibição. Os Re-
Assim, conheço do recurso. gulamentos relacionam as restri-
ções em espécies, com as respecti-
Voto-mérito vas penalidades. Todos os diplo-
mas, porém, vão buscar seu apoio
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: na Carta Magna, que expressa-
- Compreendo que certa classe mente, fundamenta a organização
de cidadãos, subordinados a certos militar na hierarquia e disciplina,
deveres, em determinados mo- bases que as normas comuns, des-
mentos da vida nacional e diante sa forma, só fazem traduzir. Por
de fatos de maior repercussão, se último ou finalmente, de referên-
julgue lograda e use, então, da cia aos militares, cabe sempre
faculdade de opinar, mesmo ar- lembrar que as suas palavras, má-
rostando tôdas as consequencias. xime em assuntos políticos, estão
Compreendo e tenho experiência sublinhadas pelas armas, pelo
própria dessa inquietação, uma menos virtualmente, que a Nação
vez que, juiz, sou proibido pela lhes concede, não para que refor-
Constituição de atividades políti- cem os seus atos, mas para que
co-partidárias, não podendo pra- dêem cumprimento às ordens dos
ticar, nem opinar em matéria de Podêres Constituídos, inclusive as
tal natureza, muito embora, mui- sentenças dos Magistrados, e asse-
tas vêzes, sinta também, como gurem a paz interna e a lntangibi-
impulso incontrolável, a necessi- lidade de nossas fronteiras. Como
dade patriótica de uma manifes- a meu ver, o militar da reserva
tação. não se distingue do militar da ati-
N o entanto, assim como me va, sujeitos ambos ao mesmo có-
controlo, decidindo com isenção digo de disciplina, porque inte-
e calando no que não está na mi- grantes da vida militar, o da ativa
nha alçada <?u apreciação, não apenas mais ostensivamente, não
justifico que alguém, igualmente concebo que o imperante, militar
submetido a deveres especIaIs, da reserva, se esquive às sanções
queira usar dos direitos originá- compatíveis com a infração que
- 153-

praticou, e possa argüir de ilegal taxativamente, todos os casos de


o ato da autoridade superior que transgressão disciplinar. Seria to-
o puniu. lher o poder de punir para defesa
Renovo, pois, em conclusão, o da Constituição se se enumeras-
ponto de vista que externei, de in- sem os casos de transgressão dis-
deferir a segurança, por falta de ciplinar. Ficaria de fora os ca-
ou sos de transgressor malicioso, ou
mais inteligente, e ficaria burlada
Voto-mérito a exigência da disciplina.
O que sustentei, no caso do
o Sr. Min. Aguiar Dias: - Sr. Marechal Juarez Távora - nes-
Presidente, devia limitar-me a te caso o meu desacôrdo com o
acompanhar o eminente Relator, Sr. Min. Oscar Saraiva é com-
por estar de pleno acôrdo com as pleto - é que o militar não podia
considerações de S. Ex.a sôbre o ser punido quando estivesse na
mérito. Entretanto, foi citado defesa de sua atividade partidá-
um acórdão de que fui Relator ria. Desde que - errôneamente,
e poderia parecer, não bem ana- a meu ver - se permitiu aos mi-
lisado meu voto naquela questão, litares, da reserva ou da ativa, a
que teria sido incoerente e quero atividade partidária, tem êle di-
varrer a minha testada naquele reito de ficar em igualdade de
voto proferido no mandado de se- condições com os demais candida-
gurança impetrado pelo Marechal tos - e para o meu raciocínio
Távora. Entendia eu que o mili- tanto faz que seja da ativa ou da
tar da reserva está sujeito à dis- reserva - tem que ficar em igual-
ciplina, não só porque a Constitui- dade de condições com os demais
ção estrutura as fôrças armadas candidatos para fazer, à maneira
nessa base, não só porque o art. sul-americana, a defesa da sua
13 do Estatuto dos Militares as- atividade, defendendo e insultan-
sim estabelece, mesmo em rela- do os demais, porque na realidade
ção aos militares reformados, mas é o que sucede. Se se permite
também porque a matéria de ao militar essa atividade partidá-
transgressão disciplinar é eminen- ria, deve êle ter, também, essa
temente regulamentar. Fica sem liberdade.
sentido a argüição de que não há Foi êsse o fundamento do meu
lei para enquadrar a falta em que voto e parece que estavam pre-
teria incidido o militar impetran- sentes os Srs. Mins . Henrique
te, porque esta matéria é rigoro- d'Ãvila, Cândido Lôbo e Sampaio
samente regulamentar. Costa, quando o proferi. Pode
~A Constituição e o Estatuto for- estar errado, mas não entra em
necem ao regulamento uma norma choque com êste que estou profe-
penal em branco e essa norma é rindo, em que reafirmo que o mi-
preenchida pelo elaborador do re- litar na reserva está sujeito à dis-
gulamento, mesmo pela conside- ciplina e que o militar impetran-
ração prática de que não é possí- te estava sujeito a essa mesma dis-
vel prever exemplificativamente, ciplina porque não se encontrava

11 - 35883
154 -

em atividade partidária, à seme- quadro especial, ficar agregado,


lhança do que ocorria com o Ma- sair pràticamente da atividade e
re.chal Távora. Fêz críticas à au- ficar na mesma posição do mili-
toridade constituída, numa verda- tar da reserva. A meu ver, a dis-
deira insubordinação. Isto, sem tinção foi feita pela própria Cons-
nenhuma irreverência, sem ne- tituição. Em matéria de liberdade
nhum intuito de menosprezar .0 política, uma coisa é ser militar
impetrante, mas o fato é que da ativa, outra ser da reserva.
houve insubordinação verdadeira. Para êste não existem as restrições
Nada poderia autorizar o manda- a que se refere o regulamento e
do de segurança. como êsses regulamentos, por ou-
Denego. tro lado, são absolutamente obs-
curos, não mencionam expressa-
Voto-mérito mente o militar da reserva, a meu
ver está êle excluído da disci-
o Sr. Min. Márcio Ribeiro: plina militar.
Sr. Presidente, os votos salienta- Concordando com o voto do Sr.
ram muito bem, que existe ao Min. Oscar Saraiva, concedo o
mesmo tempo uma questão cons- mandado.
titucional e uma questão de re-
gulamentos militares. Ora, Se ês-
Voto-mérito
ses regulamentos contrariassem a
Constituição, não poderiam preva-
lecer. A questão, entretanto, é li-
o Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
Sr. Presidente, o assunto foi
gada à liberdade de pensamento,
exaustivamente debatido. Peço,
que por sua vez é separada da li-
por isso, vênia ao Eminente Sr.
berdade política. A meu ver, a
Min. Sousa Neto para pronunciar-
Constintuição distingue o militar
me desde logo.
da ativa e o da reserva, em se tra-
tando de liberdade política. Na Faço-o, lendo o voto que profe-
realidade o art. 176 citado pelo ri no caso do Coronel Alencastro
eminente Sr. Min. Sousa Neto, Guimarães. Trata-se de pronun-
diz: "As Fôrças Armadas, cons- ciamento curto, mas elucidativo.
tituídas essencialmente pelo Exér- Permito-me tomar a atenção da
cito, Marinha e Aeronáutica, são Turma, caceteando-a ...
instituições nacionais permanen- O Sr. Min. Oscar Saraiva:
tes, organizadas com base na hie- Não nos caceteará e até irá nos
rarquia e na disciplina, sob a au- esclarecer. . .
toridade suprema djO Presidente O Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
da República e dentro dos limites O meu voto é o seguinte e vou
da lei". lê-lo: "Sr. Presidente, congratulo-
Mas no art. 182 permiteHo me, de início, com o eminente Sr.
militar, na atividade ou na inati- Min. Cunha Vasconcellos, pelo
vidade, aceitar cargo público ou brilhante e erudito histórico que
eletivo. Agora, o militar em ati- acaba de fazer a propósito do
vidade terá que passar para um mandado de segurança. S. Ex. a,
- 155-

com muita preCIsa0 e fidelidade, finalidade do mandado de segu-


acentuou que o mandado de segu- rança.
rança surgiu como imperativo O Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
inadiável para a proteção dos di- Quer se persiga, por via do man-
reitos pessoais em geral, que se dado de segurança uma prestação
encontravam entre nós ao desa- positiva, quer se busque prestação
da lei. Só dêstes di- negativa (injuction) , não há lu-
reitos, ou sejam, os vinculados à gar para distinção.
locomoção é que se beneficiaram Quando assumir êle o verdadei-
do remédio heróico do habea.s ro caráter de mandamus, e fôr
corpus. deferido, o Poder Público terá
O mandado de segurança, por- que submeter-se à decisão e cum-
tanto, surgiu em boa hora, e já pri-la imediatamente, desfazendo
com bastante atraso. E tamanha o ato.
era a falta de writ dessa natureza, Se o writ fôr concedido como
que o Egrégio Supremo Tribunal injunction, por igual a Adminis-
Federal viu-se na contingência tração ficará desde logo impedi-
de desnaturar, pela ação de Pe- da de praticar o ato. Volto a
dro Lessa e de outros de seus perguntar, porque em caso de de-
grandes juízes de antanho, o ha- negação, e baseado em que lei ou
beas corpus, para afeiçoá-lo a si- princípio, deve o Poder Público
tuações estranhas ao direito de ir aguardar, para a prática de ato
e vir. O Sr. Min. Cunha Vascon- reputado legítimo, o pronuncia-
cellos expôs com clareza e exação mento final da instância ad quem?
tôdas essas particularidades. Es- Estranho sobremaneira que o Sr.
tranho, todavia, que sendo S. Ex.a Min. Cunha Vasconcellos - de-
um defensor acérrimo e extrema- fensor extremo do mandado de
do do mandado de segurança pre- segurança - adote semelhante
tenda, vamos dizer assim, inutili- entendimento de dois pesos e duas
zar-lhe os efeitos. A sua grande medidas.
virtude de.corre precisamente de O Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
sua executoriedade imediata. Se - V. Ex. a também é.
quando concedida, a regra é o O Sr. Min. Henrique d' Ávila: -
pronto desfazimento ou a interdi- Para mim, Sr. Presidente, o emi-
ção de ato por parte da autori- nente Sr. Min. João José de Quei-
dade coatora - pergunto, por que roz procedeu acertadamente. O
impedir ou tolher a mesma auto- pedido assumia caráter relevante,
ridade de praticar o ato impugna- e a medida liminar, uma vez con-
do, quando êste venha a ser con- cedida, como o foi, impediu a pu-
siderado escorreito e legítimo nição ante.cipada do impetrante.
afinal por via da denegação do Ela, todavia, vigorou - e só de-
writ? veria vigorar - até o pronuncia-
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: mento em definitivo dêste Tribu-
- Permite-me V. Ex.a? Tenho nal. Mas, uma vez indeferido o
uma indagação; tudo isso se des- writ a quase unanimidade, a au-
tina a integrar, precisamente, a toridade coatora recuperou a fa-
156 -

culdade de praticar ou não o ato, Assim, e levando em conta que


exaurida que ficou em seus efei- em jurisprudência mansa e pací-
tos a liminar. E V. Ex.'''", Sr. Pre- fica tem-se entendido que o mili-
sidente, não podia, nem tinha po- tar, mesmo na reserva presta obe-
dêres para restaurá-la, dando diência aos Regulamentos Milíta-
efeito suspensivo ao recurso a ser res Disciplinares, estou jungido
para o Supre- :ao texto daro e positivo da lei es-
mo Tribunal Federal. Faltava-lhe pedfica, que é a .de n.o 1.533,
competência, Sr. Presidente, para já citada.
suspender a execução do julgado. E note-se que, para dizer, como
Data venia, dou provimento ao disse acima, que o ato impugnado
agravo para anular o despacho não foi praticado "por autoridade
agravado. incompetente", nem "com inobser-
Reporto-me a êste pronuncia- vância de formalidade essencial",
mento para indeferir a segurança. tive que entrar no mérito: pois
não tenho competência para o
Voto-mérito habeas corpus desde que de Mi-
nistro de Estado é o ato impugna-
o Sr. Min. Cândido Lôbo: - do, logicamente tenho que conhe-
Queixa-se o impetrante no pre- cer da segurança. Conhecendo do
sente mandado de segurança con- pedido, porém, o indefiro, porque
tra o "ato disciplinar" que deter-
nenhuma foi a ofensa a direito
minou sua prisão, por publicação
líquido e certo do impetrante, con-
feita na imprensa.
Diz o art. 5.°, n.O lU, da Lei tra o qual foi aplicada uma lei
n.o 1. 533, de 31-12-51 (lei do em vigor, sem abuso do poder ou
mandado de segurança), que: ilegalidade manifesta, mormente
''Não se dará mandado de segu- em se tratando de publicação feita
rança quando se tratar - lU) na imprensa, violando a discipli-
de ato disciplinar, salvo quando na que deve imperar entre as Fôr-
praticado por autoridade incom- ças Armadas.
petente ou com inobservância de A única ressalva feita pela ju-
formalidade essencial". risprudência é a que se refere ao
No caso, houve "incompetên- oficial que, candidato a cargo ele-
cia"? tivo, faz manifestações políticas.
Não, pois foi o Ministro da Ma-
Êste, porém, não é o caso do
rinha que ordenou a prisão do im-
petrante, que é Almirante e dos ilustre e digno impetrante, que ao
mais dignos da nossa Marinha de manifestar-se atacando ofensiva-
Guerra. mente o Govêrno, pela imprensa,
Houve "inobservância de for- não estava agindo em nome de
malidade essencial"? sua candidatura a qualquer cargo
Também não, eis que tôdas elas eletivo e sim, tipicamente, como
foram observadas, em nome do militar que está sujeito às exigên-
Regulamento Disciplinar da Ma- cias regulamentares quanto à dis-
rinha. ciplina. Indefiro o pedido.
157 -

Decisão raiva e Márcio Ribeiro (Djalma


Como consta da ata a decisão da Cunha Mello) concedendo-o,
foi a seguinte: Preliminarmente, adiou-se o julgamento por ter pe-
por maioria de votos, conheceram dido vista dos autos o Sr. Min.
do pedido; no mérito, após o voto Sousa Neto (Cunha Vasconcel-
dos Srs. Mins. Godoy Ilha, Ama- los) .
rmo Benjamin, Aguiar Dias, Hen· Prosseguindo-se no julgamento,
rique d'Ávila e Cândido Lôbo de- por maioria de votos, indeferiu-se
negando o mandado e Oscar Sa- o pedido.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N.O 29.208 - RS.
Acórdão
Relator - O Ex. mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Agravantes - Sylvio Tavares Allemand e outros
Agravada - União Federal

Acórdão
Servidores públicos federais integrantes do qua-
dro do Ministério da Fazenda nos Estados-membros.
Participação na arrecadação por meio de percenta-
gens. Limites a essa co-participação.

Vistos, relatados e discutidos consta de fls. 655/675 e sua par-


êstes autos de Agravo em Man- te precípua está assim redigida:
dado de Segurança n.O 29.208, do "Os impetrantes arrimam-se no
Rio Grande do Sul, em que são art. 8.°, da Lei n.o 3.756, de
partes as acima indicadas: 20-4-60, o qual assim dispõe: "Se-
Acordam os Juízes da Segunda rá atribuída aos servidores lota-
Turma do Tribunal Federal de dos nas Recebedorias e Coletorias
Recursos, por maioria, em dar Federais e nas repartições de con-
provimento ao agravo para con.ce- tabilização junto a êsses órgãos,
der a segurança, na forma do Re- além dos vencimentos ou salários
latório, votos e resultado do jul- mensais, e em quotas proporcio-
gamento de fls. 755/768, que fi- nais a êstes, uma percentagem cal-
cam integrando o presente julga- culada sôbre a arrecadação das
do. Custas de lei. rendas tributárias efetuadas, no
Brasília, 24 de julho de 1963. mês anterior, pelas aludidas repar-
- Djalma da Cunha Mello, Pre- tições, no Distrito Federal, e em
sidente e Relator. cada Estado". Os parágrafos do
artigo em questão passam a disci-
Relatório plinar o cálculo para o pagamen-
O Sr. Min. Djalma da Cunha to da per.centagem, que será fixa-
lVIello: - A sentença recorrida da anualmente por ato do Mini~-
- 158-

tro da Fazenda. Portanto, a lei atinge os funcionários do setor


fixou desde logo quais as reparti- aduaneiro, está a mostrar que os
ções que deviam auferir .essas mesmos estão incluídos na Lei n.o
vantagens: são as Recebedorias e 3.756, de 1960, muito embora o
Coletorias Federais, além das re- decreto, afastando-se da lei, nesse
partições de contabilização junto particular, tenha estendido os seus
a êsses órgãos. Posteriormente, o efeitos, a todos os funcionários
Decreto n.O 48.656, de 3··8-60, "dos demais órgãos que integram
regulamentando a referida lei, as- o Ministério da Fazenda", ex.ce-
sim dispôs: "Art. 1.0 - A per- tuados aquêles que já percebam
centagem de que cogita o art. 8.°, percentagens que lhes são ofere-
da Lei n.o 3.756, de 20-4-60, é de- cidas pelas leis especiais que men-
vida aos servidores lotados nas ciona.
Recebedorias Federais, nas Cole- O outro caso, é o da Lei n.o
torias Federais e nas Contadorias 3.470, de 28-11-58 a qual conce-
e Subcontadorias Secionais junto deu benefício idêntico aos servi-
a êsses órgãos. Art. 2.° - Fica es- dores do Impôsto de Renda, (art.
tendida essa percentagem a todos 53, parágrafo único) estando O!;
os servidores dos demais órgãos mesmos excluídos expressamente
que integram o Ministério da Fa- da Lei n.o 3.756. A Lei n.O
zenda, exceto àqueles que perce- 3.520, de 1958, faz menção espe-
bem salário, vencimento, remune- cial aos Agentes Fiscais do Impôs-
ração ou vantagens atribuídas pe- to de Consumo. A Lei n.o 3.756,
las seguintes leis lespeciais: Lei de 1960, atribuiu uma percenta-
n.o 3.244, de 14-8-57; Lei n.o gem especial sôbre a arrecadação
3.414, de 20-6-58; Lei n.O 3.470, aos funcionários das Recebedorias
de 28-11-58; Lei n.o 3.520, de Federais, que, no caso serão os
30-12-58, e Lei n.o 3.756, de funcionários das Delegacias Fis-
20-4-60 (art. 8.°, § 6.°)". cais, onde houver Recebedorias, e
Como se vê, o decreto, comple- das Coletorias Federais, além de
mentando a lei, restringiu o seu Contadorias, para que os mesmos
alcance, não se podendo escoimar não ficassem em inferioridade de
de inconstitucional nesse parti- situação com os seus colegas mais
cular, eis que a lei matriz, já fala- bem aquinhoados.
va apenas dos funcionários das Embora os impetrantes se tives-
Recebedorias Federais, Coletorias sem arrimado em uma sentença
Federais e repartições de contabi- do Juízo de Direito da Fazenda
lização, como as Contadorias e Pública do Estado da Guanabara,
Sub contadorias junto a êsses ór- para pleitear as vantagens que
gãos. Por outro lado, a menção pleitearam, a verdade é que, nem
expressa que se faz aos servidores a Lei n.o 3.756, nem o seu de-
contemplados com as percenta- creto regulamentador, estenderam
gens previstas na Lei n.o 3.244, essas vantagens a todo o funcio-
de 14-8-57 (art. 64), percenta- nalismo público federal, lotado no
gem essa sôbre a arrecadação do setor fiscal da União. Já a Lei n.o
impôsto de importação, e que 3.756, restringia o seu alcance,
- 159-

apenas ao pessoal das Recebedo- nanas das Recebedorias, e en-


rias e Coletorias Federais, bem quanto não existir Recebedoria no
como Contadorias enquanto que Estado, deve-se entender como a
o decreto, pôsto ampliasse os seus Delegacia Fiscal do Xesouro N a-
benefícios a todos os servidores cionaI, órgão que centraliza no
do Ministério da Fazenda, contu- Estado, tôdas as atribuições do
guardando as mesmas propor- Ministério da Fazenda, bem como
ções da lei, fazia expressa exclu- as Coletorias Federais do Estado,
são daqueles servidores contem- e repartições contabilizadoras, que
plados com gratificações ou per- são as Contadorias e Subcontado-
centagens especiais atribuídas pe- rias Secionais. Mas a percenta-
las Leis n. OS 3.244, 3.414, 3.520 gem só poderá recair sôbre as ren-
e Lei n.o 3.756, a que abrangiam das tributárias efetuadas, no mês
as classes funcionais que já cita- anterior, pelas aludidas reparti-
mos. ções, no Distrito Federal, e em
Vê-se, assim, em primeiro lu- cada Estado" (art. 1.0, do Decreto
gar, que os funcionários aduanei- n.o 48.656), mesmo porque, a ert'-
ros já contemplados com a per- tender-se de modo contrário, fica-
centagem que lhe é atribuída pela riam os servidores das Delegacias
Lei n.o 3.244, não estão abrangi- Fiscais com percentagem maior do
dos no sistema da Lei n.o 3.756. que os seus colegas aduaneiros
Mesmo porque, como afirma o Dl'. que têm percentagem apenas sô-
Procurador da República em seu bre a arrecadação de sua própria
Parecer, determinando, em tôdas repartição. A interpretação a
as leis especiais, que nenhuma que se chega, é, de fato, a mais
percentagem vá além de 100% racional, eis que tendo os funcio-
dos vencimentos do servidor, a nários aduaneiros e do Impôsto
percepção de vantagens por duas de Renda, percentagem própria
leis, iria ultrapassar aquêle máxi- sôbre a arrecadação dos tributos
mo . E a solução teria que ser que cobram, ficariam em situação
reduzida até encontrar aquêle teto de superioridade sôbre os seus co-
máximo de 100%, com o que en- legas, se nessa percentagem en-
tretanto se infringiria o sentido trassem também os outros tribu-
da lei. O que se diz para os fun- tos. Aliás, a matéria foi perfeita-
cionários das Aduanas tem intei- mente bem esclarecida pelo ilus-
ra aplicação para os funcionários trado Dl'. Procurador da Repú-
do Impâsto de Renda, já tam- blica, em seu lúcido Parecer de
bém contemplados em lei própria, fls. 637/39. As informações das
(Lei n.o 3.470), com percenta- diversas autoridades requeridas
gem sôbre a arrecadação do refe- também não destoam dêsse ponto
rido impôsto, argumentação que de vista. Informam os Srs. Ins-
também se estende aos fiscais do petores da Alfândega que não de-
Impôsto de Consumo, beneficia- terminaram o pagamento da per-
dos pela lei respectiva (Lei n.o centagem da Lei n.o 3.756, pelo
3.520). A Lei n.O 3.756, aplica- fato de estarem os seus servidores,
-se, portanto, apenas aos funcio- lotados em Alfândegas, perceben-
- 160-

do desde 14-8-57, as vantagens de exorbitado dos têrmos da lei, o


que trata o art. 64, da Lei n.o provimento executivo apenas pro-
3.244, de 1957 (3% sôbre os di- curou tornar mais claro o campo
reitos de importação). A senten- da incidência da lei em causa, com
ça de fls. 15, datai venia, esquece o excluir dos seus benefícios, fun-
as palavras da lei, para investir cionários já contemplados por ou-
apenas, contra o Decreto n.o tros diplomas legais, mesmo por-
48.656, concluindo pela afirma- que se os mesmos fôssem nova-
ção de que um simples decreto mente contemplados, ir-se-ia que-
executivo não podia restringir o brar novamente a igualdade que
sentido da lei que se dirigia a se procurou atingir. A Lei n.O
todos os servidores do Ministério 3.756 apenas veio corrigir uma
da Fazenda .. Já a informação do anomalia "concedendo vantagens
Ministério da Fazenda, de que a a todos os servidores ainda não
Lei n.o 3.756, veio preencher uma beneficiados e que influíssem di-
lacuna, provocada pelas Leis n.OS reta ou indiretamente na arreca-
3.244 e 3.470, as quais haviam dação", palavras do Sr. Diretor
criado "dentro do próprio Minis- do Pessoal do Ministério da Fa-
tério da Fazenda um clima de zenda, citado no Mandado de Se-
descontentamento entre os servi- gurança, cuja sentença se encon-
dores não atingidos por êles, os tra por certidão a fls. 14 a 16
quais não mais desejando servir dos autos.
em repartições outras que não as Portanto, se os servidores das
beneficiadas, solicitavam remoção Alfândegas e das Delegacias do
para tais órgãos, acarretando, as- Impôsto de Renda, já haviam sido
sim, a redução do número de ser- beneficiados por leis anteriores,
vidores lotados em repartições a boa interpretação manda que se
importantes como a Diretoria da Os excluam dos benefícios da
D~spesa Pública, Serviço do Pes- nova lei, sem o que teremos uma
soal e outras", vem apenas escla- redundância. Há, é verdade, o
recer, que para obviar a êsse in- art. 9.0, da Lei n.o 3.756, que
conveniente, foi que se propôs o dispõe: "Art. 9.° - O Poder Exe-
sistema da Lei n.o 3.756, endere- cutivo regulamentará dentro do
çada apenas aos servidores que prazo de 90 dias a extensão das
ali menciona quais sejam os das medidas consubstanciadas no ar·
Re.cebedorias Federais e Coleto- tigo anterior, aos servidores dos
rias, bem como os órgãos de con- demais órgãos que integram o
tabilização da receita e despesa sistema fazendário". Há, nesse
pública. É de se esclarecer que artigo, apenas uma recomendação
a lei em causa visou a criação de ao Poder Executivo de estender
uma Recebedoria Federal em os benefícios do art. 8.°, aos ser-
Belo Horizonte, e só no seu art. vidores dos demais órgãos fazen-
8.0 é que se referiu à percenta- dários, e o artigo poderia ter com-
gem em causa, mas para os fun- pletado a expressão - no que fôr
cionários a que se refere. Não aplicável. Foi portanto dentro do
vejo assim como tenha o decreto espírito da recomendação, que o
161 -

Poder Executivo baixou o Decre- sendo de computar-se nessa arre-


to n.o 48.656" que estendeu os di~ cadação a renda das Alfândegas,
reitos conferidos pela Lei n.o eis que a assim proceder-se não
3.756, mas apenas aos servidores se estaria cumprindo o espírito
que ainda não estivessem perce- da lei.
bendo vantagens por leis especiais. Nessas condições, verifica-se
Como únicos servidores que não que é líquido e certo o direito dos
percebiam essas vantagens, eram impetrantes, servidores da Dele-
exatamente os funcionários pre- gacia Fiscal e das Coletorias Se-
vistos no art. 8.°, da Lei, não se cionais, de percentagens atribuí-
compreende que se generalizassem das pelo art. 8.°, da Lei n.o
a todos Os demais funcionários, 3.756, de 20-4-60, regulamentada
com o que êsses seriam aquinhoa- pelo Decreto n.O 48.656, de 3 de
dos duas vêzes, enquanto que os Agôsto de 1960, o mesmo entre-
servidores das Delegacias e Cole- tanto não ocorrendo com os de-
torias ficariam em inferioridade mais servidores, aos quais falece
de condições. Já a lei não teria êsse direito, vez que já estão per-
vindo preencher a lacuna notada cebendo outras percentagens, das
pelo próprio órgão do Pessoal do Leis n.O S 3.244, de 1957; 3.414,
Ministério da Fazenda, o de dar de 1958; 3.470, de 1958; 3.520,
tratamento igual aos servidores de de 1958, e 3.756, de 1960. Isto
repartições fazendárias, que ainda pôsto concedo a segurança apenas
não haviam sido gratificados com àqueles servidores, exduídos os
recompensas financeiras especiais. demais. Comunique-se à autori-
Dentro do espírito da Lei n.o dade requerida. (Delegado Fis-
3.756, e do seu decreto regula- cal). Custas em proporção".
mentador, não há assim qualquer Recebeu o aditamento de fls.
possibilidade de estender os seus 683: "A segurança foi concedida
princípios aos servidores já aqui- aos funcionários da DF. no pres-
nhoados com gratificações espe-
suposto de que os mesmos não
CIaIS. Há entre os impetrantes
estavam percebendo qualquer
grande número de servidores da
percentagem sôbre a arrecadação.
Delegacia Fiscal, desta Capital,
Mas como se provou que já es-
bem como de quase tôdas as Co-
tão percebendo uma percentagem
letorias Federais do interior bem
como das Contadorias Secionadas, sôbre a arrecadação dos órgãos
aos quais se endereça a Lei n.o subordinados (DF. e Coletorias)
3.756, sendo até de estranhar evidentemente, que a mesma não
que os mesmos não estivessem tem razão de ser. Nessas condi-
percebendo os seus benefícios. ções a razão está com o ilustrado
Mas é de se esclarecer que para Dl'. Procurador da República
o cálculo da percentagem, só po- Substituto".
derá entrar em linha de conta a Veio, então, o agravo de fls.
arrecadação da própria Reparti- 688, firmado por patrono de im-
ção (Delegacia Fiscal) e das Co- petrantes e litis,consortes e na mi-
letorias Federais do Interior, não nuta respectiva se alega: (lê).
- 162-

Eodefls. 700/7: (lê). com os cobradores. Mas está


O Procurador da República na lei e não o está fazendo a au~
contraminutou a fls. 709. toridade coatora.Já era tempo
O Juiz manteve sua decisão. de se por um dique a essa socie-
A Subprocuradoria-Geral deu dade de certos servidores com o
Parecer pela sentença. Tesouro N aciona!. Mas, enquanto
É o relatório. não se acaba, quanto mais se dis.
tribuir o quinhão fixado pelo pró-
Voto prio Ministro da Fazenda, melhor.
O Sr. Min. Djalma da Cunha Dou provimento para que assim
Mello: - Há um teto para venci- se faça, entendido: a) que a par.
mentos, mesmo de cobradores de ticipação é computada cada mês
impostos. Não pode o servidor sôbre o que é arrecadado de trio
receber vencimentos fixos ou ven- butos federais no Estado-membro
cimentos com parte fixa e percen- durante o mês anterior; b) que
tagens com inobservância do dito não inclui quem já perfaça, com
teto. Tudo quanto perceber, de outros percentuais, o teto limite
vencimentos e percentagens, das Leis n.O S 4.069 e 4.242; c)
quaisquer que sejam as percenta- que não pode o servidor ter per-
gens, tem que ficar dentro do teto. centagens além dos vencimentos;
Não o pode, de nenhum modo, e d) que servidor algum poderá
exceder. receber dos cofres públicos, a tí.
Esclarecido êsse ponto impor- tulo de vencimentos e de percen-
tante, básico, resta ver a extensão tagens, quaisquer que sejam,
da Lei n.o 3.756, arts. 8.0 e 9.°. quantia excedente do limite in-
Para mim, veio dar, aos servido- transponível fixado pelo legisla.
res da Fazenda Nacional, com in- dor.
fluência direta, ou indireta, na ar-
recadação, uma percentagem fixa- Voto (Vencido)
da, pelo Ministro das Finanças O Sr. Min .. Oscar Saraiva:
sôbre o montante dessa arrecada- Sr. Presidente, coincidentemente,
ção no Estado-membro onde ser- hoje corrigi notas taquigráficas de
vem e que será paga, cada mês, um julgamento de mandado de
com base no recolhimento do mês segurança em que fui Relator,
precedente, excluídos, naturalmen- nesta Turma, no qual se negou
te, e só, os que, pelo montante de a ordem a servidores da Alfânde-
vencimentos, ou de vencimentos e ga do Rio de Janeiro para perce-
outras percentagens, já tivessem berem a percentagem de que ora
atingido o teto, o limite intrans- se cogita, de 1 %, sob fundamento
ponível. Dir-se-á que o Decreto de que já os funcionários integra-
n.o 48.656 restringiu. Onde um dos nas Alfândegas tinham especi-
decreto do Executivo pode valer ficamente uma participação de
contra uma lei, ato do Legislati- 3% na arrecadação.
vo? não no Brasil da Constituição O Sr. Min. Djalma da Cunha
de 1946. Acho insólito que as Mello: - Aquêles que têm essa
rendas públicas sejam partilhadas participação são ex.cluídos.
- 163-

o Sr. Min. Oscar Saraiva: - proporcionais a êstes, uma per-


Mandei buscar as notas taquigrá. centagem calculada sôbre a arre-
ficas a que me refiro, porque que. cadação das rendas tributárias
ria reportar-me a elas e, sobretu. efetuadas, no mês anterior, pelas
do, ser coerente. Trata-se do aludidas repartições, no Distrito
Agravo em Mandado de Seguran. Federal e cada Estado".
ça fi.O 25. da Guanabara, jul. E o art. 9.° da mesma lei con-
gado por esta Turma no dia 23 signa: "O Poder Executivo regu-
de agôsto de 1962. Então eu re- lamentará dentro do prazo de 90
latava da forma seguinte: "Trata- dias, a extensão das medidas con-
se de mandado de segurança in- substanciadas no artigo anterior,
terposto por Abelardo da Silva aos servidores dos demais órgãos
Millis e outros, servidores lotados que integram o sistema fazendá-
em Alfândegas, contra ato do Di. rio".
retor do Pessoal do Ministério da Pergunta-se, Sr. Presidente, se,
Fazenda, para o fim de lhes ser em face dessa lei, se o preceito
pago, juntamente com os venci- geral tem incidência a par do pre-
mentos, a participação de 1 % na ceito especial, ou se é de se enten-
arrecadação das rendas tributá- der, como a fêz o Dr. Juiz a quo,
rias, com base na Lei n.o 3.756, que a vantagem geral se destinou
de 1960. precisamente a favorecer aquêles
O Dr. Juiz, sentenciando, diz que não gozavam de vantagens
o seguinte: (lê fls. 45). especiais. Os impetrantes querem,
além do que já têm, mais 1 % .
Inconformados, os impetrantes
Por lei especial, já têm 3% sôbre
agravaram, sustentando que a gra-
as receitas arrecadadas pelos ór-
tificação especial de que trata a
gãos em que trabalham. É verda-
Lei n.o 3.244, no valor de 3%,
de que a lei geral não fêz discri-
não prejudica aquela que deve re-
minação, mas deve-se entender
sultar de rateio de 1 % a todos os
sua aplicação em consonância
integrantes do sistema fazendário.
com a lei especial, porque ambas
Contraminutou a Fazenda e integram o regime da participa-
nesta Instância a douta Subpro- ção dos funcionários fazendários
curadoria-Geral da República pe- nos resultados da arrecadação, e
de que se mantenha a respeitável não vejo que será de melhor polí-
decisão agravada. tica até de justiça fazer participar
É o relatório. por duas vêzes os mesmos funcio-
Meu voto foi êste: "Sr. Presi- nários nos benefícios da arrecada-
dente, a Lei n.O 3.756, de abril ção. Além disso, hoje essa parti-
de 1960, estabeleceu, em seu art. cipação está limitada em seu
8.: "Será atribuída aos servidores máximo.
lotados nas Recebedorias e Cole- Mantenho a sentença, por seus
torias Federais e nas repartições fundamentos, e com êstes acrés-
de contabilizações junto a êstes cimos".
órgãos, além dos vencimentos ou Aliás, nesse voto, eu faria uma
salários mensais, e em quotas correção, porque a lei geral fêz
- 164-

discriminação: referiu-se a fun- Nego provimento ao recurso.


cionários de coletorias e recebe-
dorias federais, uma vez que os Decisão
da Alfândega já tinham 3%.
°
Ora, portanto, que pretendem Como consta da ata, a decisão
é participar de 1 % além dos 3%. foi a seguinte: Por maioria de vo-
Entendo, Sr. que tos, deram provimento ao agravo
o Estado foi generoso, participar.n. para conceder a segurança, venci-
amplamente da arrecadação e não do o Sr. Min. Oscar Saraiva. O
vejo porque devam participar de Sr. Min. Godoy Ilha votou com
nôvo, em que pese até o limite o Sr. Min. Relator. Presidiu o
que V. Ex. a muito cautelosamente julgamento o Sr. Min. Djalma
fêz constar do seu voto. da Cunha lI/I e1lo.

MANDADO DE SEGURANÇA N.O 29.869 - DF.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Godoy Ilha
Requerentes - Amauri Van Opstal Nas.cimento e outros
Requerido - Ex. mo Sr. Ministro do Trabalho e da Previdência
Social

Acórdão
Conferentes de carga e descarga. Competindo
aos Conselhos das Delegacias do Trabalho Marítimo
o preenchimento .de cargos de conferente de carga
e descarga, não pode o Ministro do Trabalho sustar
ou suspender concurso realizado com essa finalidade.

Vistos, relatados e discutidos 1962. - Sampaio Costa', Presi-


êstes autos de Mandado de Segu- dente; Godoy Ilha, Relator.
rança n. o 29.869, do Distrito Fe-
deral, impetrante Amauri Van Relatório
Opstal N ascÍmento e outros e im- O Sr. Min. Godoy Ilha: - Os
petrado o Ex.mo Sr. Ministro do impetrantes alegam na inicial
Trabalho e da Previdência So- que: "inscreveram-se, legalmente,
cial: no último concurso aberto na De-
Acorda, por unanimidade, o legacia do Trabalho Marítimo de
Tribunal Federal de Recursos, em Santos, Estado de São Paulo,
sessão plena, em conceder o man- para o ingresso na categoria de
dado, conforme consta das notas conferente de carga e descargà,
taquigráficas anexas, as quais, com docs. n.OS 1 a 4, cujas provas se
o relatório, ficam fazendo parte realizaram em 11 de março últí-
integrante dêste julgado, apurado mo, tendo sido todos habilitados,
nos têrmos de fôlhas 60. Custas com notas plenas; b) Na quali-
ex lege. dade de filhos de conferentes de
Tribunal Federal de Recursos, carga e descarga têm preferência
Distrito Federal, 29 de outubro de no preenchimento de 50%· das
165 -

vagas que se verificaram no res- Assim, tendo em vista a exis-


pectivo quadro sindical de confe- tência de um ato ilegal e violador
rentes de carga e descarga, ex vi do direito líquido e certo, cuja
do art. 2.° do Dec. n.o 30.078, cessação deve ser viabilizada me-
de 19 de outubro de 1951; diante mandado de segurança que
c) Estava a Delegacia do Tra- visa a proteger e garantir tôda e
balho procedendo à qualquer situação jurídica que se
convocação dos habilitados no apresente com os característicos
concurso, para a entrega das de liquidez e certeza, e que deve
matrículas, quando, em dias do ser amparado contra a ilegalidade
mês em curso, foi sobrestada e o abuso de poder, seja qual fôr
a autoridade de que emane o ato
a referida entrega, por determi-
abusivo, conf. Acs. dêsse Egré-
nação do Ex.mo Sr . Ministro
gio Tribunal, in Revista Forense,
do Trabalho e da Previdência vaIs. n.08 154/193 e 155/198.
Social, em atenção ao recurso Pedem a V. Ex.a se digne, tendo
(sic) interposto contra a realiza- em vista o disposto no art. 7.°,
ção do dito concurso pela Fede- inciso I, da citada Lei n.o 1.533,
ração N acionaI dos Portuários; mandar notificar o Ex.mo Sr. Mi-
d) Ora, não só a representação nistro do Trabalho e da Previdên-
em aprêço da Federação N acio- cia Social, para, dentro de cinco
na! dos Portuários não é, tecni- dias, prestar as informações que
camente, um recurso, interposto julgar necessárias, em ordem a
tempestiva e hàbilmente, contra o que, ouvido, em seguida, o Minis-
concurso legalmente aberto, pro- tério Público, venha a ser, afinal,
cessado e realizado pela Delega- como de mister, por sentença,
cia do Trabalho Marítimo do pôr- concedida a segurança impetrada,
to de Santos, como, por outro la- consistente na suspensão da sus-
do tal concurso obedeceu a todos tacão ordenada da entrega das
os' cânones da lei, estando aquêle m;trículas aos candidatos habili-
órgão do Ministério do Trabalho tados no concurso para a catego-
e da Previdência Social, no caso, ria de conferente de carga e des-
inteiramente adstrito às determi- carga procedido pela Delegacia do
nações das leis reitoras da espé- Trabalho Marítimo do pôrto de
cie, a saber: Dec . lei n.o 3.346, Santos, e no prosseguimento des-
de 12 de junho de 1941; Lei n.o sa operação, até final."
1 .561, de 21 de fevereiro de O Ministro do Trabalho, a tí-
1952; e Decreto n.o 34.453, de tulo de informações, enviou o pa-
4 de novembro de 1953; e) Além recer em'itido pelo assistente-téc-
disso, em face da lei, falece ao nico da Consultoria Jurídica da-
Ex.mo Sr. Ministro do Trabalho e quele Ministério, e nesse parecer
da Previdência Social competên- alega: "Preliminarmente, parece-
cia para suspender ou sustar, ou, -nos inconveniente examinar aqui
de qualquer forma, anular os efei- o mérito do recurso interposto
tos do concurso realizado, razão pela Federação Nacional dos Por-
por que a sustação, telegràfica- tuários, contra a realização da
mente determinada, constitui um prova de seleção para conferen-
ato ilegal e abusivo de poder. tes de carga no pôrto de Santos,
- 166 _.

uma vez que tal procedimento Voto


não foi, ainda, ultimado na esfera
administrativa. Limitar-nos-emos, o Sr. Min. G-odoy Ilha: - Sr.
por conseguinte, à análise do pró- Presidente, a classe dos portuá-
prio ato impugnado, pois, em es- rios dêste país constitui hoje qua-
sência, é contra êle que se voltam se que uma casta privilegiada, tal
os requerentes em seu pedido de a soma de regalias, de virtualida-
segurança. " . des, de benefícios que se lhe ou-
E sustenta, como base para re- torgam diuturnamente. E, a par
pelir o pedido de segurança, que dessas concessões, Sr. Presidente,
tem o Ministro do Trabalho como crescem desmedidamente os ape-
competente para o ato impugna- tites dessa classe de trabalhado-
do, de vez que o art. 12 do Dec. res . l!:ste mandado é uma de-
lei n.o 3.346, de 1941, defere ao monstração expressiva e eloqüen-
titular daquela pasta o direito de te do que estou afirmando, para
avocar e conhecer de ofício as de- coibir o monopólio de que esti-
cisões proferidas pelos Conselhos vadores, conferentes e consertado-
das Delegacias do Trabalho Ma- res de cargas dos portos organi-
rítimo, e que foi, no uso dessa fa- zados pretenderam muitas vêzes
culdade, que o Ministro havia de- irrogar-se.
terminado a sustação da entrega Já o Decreto n.o 3.346/41 es-
das matrículas. Encaminhou, con- tabeleceu, no seu art. 6.°, que
forme foram solicitadas, cópias da competia aos Conselhos das Dele-
representação da Federação Na- gacias do Trabalho Marítimo "fi-
cional dos Portuários, assim como xar o número de estivadores ...
das informações prestadas pela (lê art.). .. ou por serviço mili-
Delegacia do Trabalho Marítimo, tar". A Lei 1. 561/52 foi mais
que passo a ler: "A Federação precisa quando dispôs sôbre o pro-
Nacional dos Portuários... (lê vimento de Conferentes de Car-
fls. 29). gas e Descargas no país, estabe-
As informações prestadas pela lecendo, no art. 1.°, que "a con-
Delegacia do Trabalho Marítimo ferência de mercadorias exporta-
são as seguintes: (lê fls. 30 e das, importadas ou em trânsito,
31). será feita nos portos organiza-
A ilustrada Subprocuradoria- dos. .. (lê art.). .. marítimo" e,
-Geral da República, oficiando no pelo art. 2.°, "confere às Delega-
feito, emitiu o longo Parecer de cias do Trabalho Marítimo expe-
fls. 33/37, em que expõe várias dir instruções, estabelecendo ho-
considerações de ordem jurídica, rano de trabalho, os salários
para sustentar a improcedência respectivos, etc. Regulamentando
essa lei, o Decreto 34.453/4-11-53
do pedido. O fundamento nuclear
baixou instruções para a sua exe-
dêsse Parecer é de que a simples cução, e dispôs, no seu art. 4.°:
agravação em concurso, a que se "o número de Conferentes será fi-
submeteram, não conferia aos im- xado anualmente. ~. (lê art. ) ...
petrantes o direito de receber ás de salário normal por mês".
respectivas matrículas. Foi atendendo a essa imposi-
É o relatório. ção legal, e no estrito cumprimen-
- 167-

to do seu dever profissional, que sentante da Subprocuradoria-Ge-


o Conselho da Delegacia do Tra- ral da República, a objeção de
balho Marítimo, em São Paulo, a que a expedição de matrícula não
princípio fêz revisão no mês de é ato do Ministro do Trabalho; a
janeiro, mas, atendendo rec1ama- lei conferiu isso ao Conselho das
cão da própria Federação Nacio- Delegacias Regionais do Traba-
~al dos Pori:uários, essa revisão lho Marítimo, regularizando e fis-
foi procedida, como determina o calizando o exercício dessas ativi-
regulamento, no mês de maio. dades . A êsse Conselho é que
Feita a revisão, fixado ° número compete aprovar o concurso, ex-
°
de vagas para seu preenchimen- pedir as matrículas aos que tive-
to, abriu-se o concurso respectivo. rem logrado aprovação. Não é
A êsse concurso acorreram os im- ato que dependa de aprovação
petrantes, que lograram aprova- posterior do Ministro do Traba-
ção plena, conforme se vê dos do- lho, como S. Ex.a, o Dr. Subpro-
cumentos que instruem a inicial. curador-Geral da República, hou-
Feito o concurso, e aprovados os ve por afirmar, argüindo que, para
candidatos, reuniu-se o Conselho, legitimidade do direito pleiteado
e determinou a expedição das ma- pelos impetrantes, para legitimi-
trículas para efeito de assegurar dade da expedição das matrículas,
aos concursados o direito de exer- era preciso que houvesse mani-
cerem suas atividades no pôrto de festação ministerial expressa. En-
Santos. Nesse ínterim, chega a tão, aí, o Ministro do Trabalho
representação da Federação Na- exerceria aquela faculdade discri-
cional dos Portuários, que deixou cionária de denegar a entrega
de ser recebida, não só po1" se tra- das matrículas, desde que houves-
tar de matéria já superada, como se interêsse de ordem pública.
também, como ponderaram as in- Mas a lei não lhe atribuiu essa
formações prestadas pela Delega- faculdade discricionária; a facul-
cia do Trabalho Marítimo, se tra- dade é do Conselho das Delegacias
tava de recurso interposto a des- do Trabalho Marítimo; êsse é
tempo. E essa decisão, por dis- que tem autoridade legal para
posição expressa de lei, não tem fixar o número de vagas, realizar
efeito suspensivo. Ora, em con- os concursos e provê-las, de acôr-
seqüência de reclamação da Fe- do com o resultado dos mesmos.
deração foi que ° Ministro do O disposto no art. 12 e seu pará-
Trabalho determinou à Delegacia grafo único, do Dec . lei n.o 3.346,
do Trabalho Marítimo que sus- como se invoca nas informações,
tasse a entrega das matrículas até não socorre o ponto de vista ali
decisão do recurso, recurso que sustentado.
não foi de resto formalizado, nem Ora, Sr. Presidente, das infor-
pelo menos há, nos autos, ciência mações prestadas pelo Ministro, o
de que o recurso tenha sido in- que concluo é que S. Ex.a não se
terposto. utilizou dessa prerrogativa legal;
Ora, Sr. Presidente, neste pas- limitou-se, apenas, face ao recurso
so permito-me opor, data venia, irüerposto pela Federação N acio-
às magníficas e jurídicas conside- naI dos Portuários, a determinar
rações feitas pelo eminente repre- a suspensão da entrega e, data
- 168-

venia, contrariando a disposição anômalo de terceiro, o Ministro


expressa do citado art. 12, do mandou sobreestar o preenchi-
Dec .lei n. a 3.346, que ao recurso mento das vagas. E o que ocorre
interposto das decisões do Conse- é o exercício do seu poder de
lho não dá efeito suspensivo. De avocar.
modo que o recurso, mesmo que Julgo de mais prudência aguar-
fôsse interposto oportuna e tem- dar que o Ministro decida. Se o
pestivamente, não teria efeito sus- Sr. Ministro usou dessa faculda-
pensivo. Em tais condições, Sr. de avocatória, é cabível, curial,
Presidente, se me afigura um ex- que se aguarde o exercício pleno
cesso de poder da parte do Sr. da faculdade, com o despacho,
Ministro do Trabalho determinar, que pode ser favorável ou desfa-
sem nenhuma forma nem figura vorável. Portanto, não está con-
de juízo, por simples telegrama, figurada uma situação de viola-
que o Conselho da Delegacia do ção de direito. Nesse ponto, o Dr.
Trabalho Marítimo de São Paulo Subprocurador-Geral da Repúbli-
sustasse a entrega das matrículas. ca acentuou êsse aspecto, que po-
Concedo a segurança. de vir e pode não vir a se con-
cretizar.
Voto (Vencido em parte) Portanto, entendo que a segu-
O Sr. Min. Oscar Saraiva: rança pode ser dada no sentido
Acompanhei, com muita atenção, de que o Sr. Ministro do Traba-
a exposição do Sr. Min. Relator, lho despache. Do despacho do
com a qual, em linhas gerais, es- Sr. Ministro do Trabalho, então
tou de acôrdo. Mas tenho, con- haverá ensejo para a segurança:
tudo, uma ressalva a fazer, por- se fôr denegatória, contrária a
que entendo, divergindo em parte essa pretensão do impetrante, ar-
de S. Ex. a , que o Ministro do Tra- bitrária, poderá o Tribunal, em
balho tem essa faculdade expres- seguida, cassá-la. Se fôr contrá-
sa, de avocar ao seu exame a ma- ria, mas baseada em texto de lei,
téria debatida e deliberada nas naturalmente, o ato há de ser
Delegacias do Trabalho Marí- mantido.
timo. Entendo, como medida de pru-
Sabemos que existe a faculdade dência, não conceder, desde logo,
que dá ao Ministro aquilo que es- a segurança, porque isto viria, de
taria implícito em suas atribui- certa maneira, prejudicar a deci-
ções, de corregedor de tôda ma- são do recurso. De sorte que pre-
téria trabalhista, no âmbito admi- firo votar assim.
nistrativo, de poder avocar ao seu O Sr. Min. Godoy Ilha: - En-
exame êstes assuntos. No caso, o tendo que o Sr. Ministro do Tra-
princípio seria o da competência balho não tem competência dis-
da Delegacia do Trabalho Marí- cricionária parai anular ato da De-
timo, com o qual estou de acôrdo. legacia Regional, a não ser que
A Delegacia tem competência êle estivesse eivado de ilegalidade.
para fixar número de vagas, seu O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
preenchimento dentro da lei, e Estou de acôrdo com V. Ex.a,
tomar as providências cabíveis. mas tudo isso pode o despacho
Mas, sobrevindo recurso, recurso ministerial resolver.
- 169-

o Sr. Min. Godoy Ilha: - São para compreender os diversos as-


pedidos políticos, muito comuns pectos e questões do nosso tempo.
~essa esfera de atividades gover- Ora, no caso dos trabalhadores
namentais. É que os portuários do pôrto, em verdade não parti-
se constituem numa classe muito cipo dos reparos do eminente
poderosa neste país, e o que me Min. Relator, porque, além de
caUsa estranheza é que o Sr. Mi- considerar que essa atividade do
nistro não houvesse decidido o re- pôrto, de algum modo antecede à
curso. Era lícito decidi-lo. De Consolidação, também entendo
mais, acato a autoridade de que o Govêrno somente faz bem
V. Ex.a, que é incontestável na em disciplinar tais atividades,
matéria. criar novas funções, regular o
O Sr. Min . .oscar Saraiva: trabalho e o respectivo paga-
Não sei se a circunstância parti- mento.
cular de eu haver exercido, du- O que deve haver da parte do
rante 14 anos seguidos, a Consul- Govêrno, ou da compreensão de
toria Jurídica do Ministério do todos nós, é que essas atividades,
Trabalho, e aconselhado, muitas em resumo, não se tornem um
vêzes, ao Sr. Ministro o uso dês- gravame, uma razão a mais para
se mesmo artigo que V. Ex.R aumentar o custo de vida e difi-
está questionando agora, leva-me cultar os transportes, ou impedir,
a receber, com certo resguardo, realmente, que as companhias
essas deliberações de Primeira possam preencher, com a presteza
Instância, que sentem, mais de devida, os objetivos a que se pro-
põem. Além disso, está na vista
perto, aquelas explanações que
que, dentro da fórmula para a
V. Ex.a tão bem salientou em re- qual marchamos, admitindo a in-
lação à política portuária. tervenção generalizada do Estado
O Ministro está mais afastado - nas diversas atividades - ao
dêstes centros de luta, de interês- Estado, cada vez mais toca a mis-
ses, e, em tese, tem mais equani- são de dar trabalho a todos.
midade para decidir. Por isso, O Sr. Min. Godoy Ilha': - E é
prefiro aguardar despacho minis- ao que querem se opor. Quando
terial exarado, favorável ou des- se faz revisão, há uma resistência
favorável, e aí, então, decidirmos dos portuários para que se au-
se há ilegalidade na resolução. mente, quando se sabe que as ati-
Minha conclusão, portanto, com vidades do nosso intercâmbio está
a vênia do Sr. Min. Relator, é visando a crescer o movimento
para conceder a segurança, a fim portuário, determinando, portan-
de que o Sr. Ministro do Traba- to, uma nova necessidade no au-
lho despache o pedido. mento da respectiva categoria
profissional.
Voto O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
- Há poucos dias aqu~ não sei
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: se fui voto isolado, votei contra
- Na minha posição de cidadão, a pretensão de emprêsas parti-
ou de Juiz, faço todo o possível culares que, alegando determina-

12 - 35883
- 170-

do direito, retiravam tôda e qual- número seja fixado em atenção ao


quer prerrogativa da classe dos maior ou menor volume de expor-
estivadores de minério· do pôrto tação e importação pelos portos
do Espírito Santo. Não pude organizados, o aumento dos qua-
aceitar o pedido, porque achei dros respectivos não traz nenhum
que nós, através da exceção que prejuízo para as classes conserva-
a lei autorizava, estávamos, em doras. Não traz, inclusive, pre-
verdade, retirando tôda e qual- juízo para a própria categoria pro-
quer atribuição da classe dos tra- fissional, porque há legislação as-
balhadores portuários. segurando a cada trabalhador um
Temos, também, e todos os dias número exato de extraordinários,
nesta Casa, deplorado que, cada aliás excessivo, de 400 horas de
vez mais, o Tesouro Público fique salário, o que nenhum trabalha-
onerado com as extraordinárias dor perfaz.
despesas que faz para atender ao O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
crescente número de funcionários. - A honra é minha em ser apar-
Mas não adianta somente deplo- teado por V. Ex.a. As observações
rar. Ê verdade que não somos que V. Ex.a acaba de fazer não
Poder Executivo, mas exercendo deixam de ser uma antecipação
nossas funções poderemos fazer do pronunciamento que iria ter no
algumas observações que possam desdobramento para o qual me
servir até de ponto de partida encaminhava.
para novas posições em diversos Realmente, entendo que o caso
problemas. Por exemplo: se limi- dos autos, em têrmos concretos,
tarmos as nomeações do Serviço foge às regras do Serviço Público.
Público, e, ao mesmo tempo, para Ê por isso que acho que a razão
ocorrer às necessidades de traba- ainda está comigo, e acentuo: se
lho ou demanda de emprêgo, pas- admitirmos a disciplina governa-
sarmos a exigir que cada emprêsa, mental esta deve ser bem acolhi-
realmente, só passe a funcionar da, desde que o propósito oficial
depois de admitir número exato é precisamente dar trabalho, ga-
de trabalhadores, conforme fixa- rantias, e aumentar, tanto quanto
ção oportuna de órgão público possível, as possibilidades de to-
competente? Se estancarmos as dos os operários.
vantagens excessivas do funciona- No caso, tenho para mim que
lismo? Se estimularmos os inves- as ponderações do Sr. Min. Os-
timentos? Tais providências po- car Saraiva são relevantes, aliás,
dem e devem ser examinadas. como sempre, na forma dos pro-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Os nunciamentos de S. Ex.a • Entre-
argumentos opostos por V. Ex. a tanto, não o acompanharei por-
não concorrem em favor de sua que, do que ouvi, embora admi-
tese. Aqui não se trata de servi- tindo que o Sr. Ministro do Tra-
dores públicos, mas de atividade balho possa avocar qualquer pro-
de ordem particular. São estiva- cesso dentro da disciplina traba-
dores, conferentes, etc., que são lhista, no caso em espécie exami-
pagos pelos usuários do serviço. nou a matéria fora de oportunida-
Agora, dando agasalho a que êsse de legal. Qual é a oportunidade
- 171-

legal? A oportunidade legal é .o Sr. Min. Amarílio Benjamin:


aquela que advém de prazo pre- - Portanto, ao govêrno não ca-
viamente fixado, porque, se proce- beria interferir mais na matéria.
dêssemos de modo contrário, fi- O último reparo que faço, a pro-
car-se-ia ao arbítrio do Executivo. pósito de tudo isto, é que, na es-
A oportunidáde, portanto, é a que pécie, não se pode aceitar como
resulta de recurso utilizado tem- paradigma para o deslinde da di-
pestivamente, e da própria deter- vergência o rigor que preside à
minação do Ministro de Estado, solução de concurso, para cargos
no prazo que os regulamentos públicos, a direito de nomeação
também em caráter geral estabe- ou preenchimento de cargos. Tra-
lecem. ta-se de um setor todo especial.
O Sr. Min. Relator acentuou, O que na hipótese se tem como
no seu voto, que o recurso, a seu matrícula é apenas o exame das
ver, entrara fora de prazo. Ora, condições e a concessão de auto-
se a reclamação entrou fora de rização de trabalho; reálizado
prazo, evidentemente não cabia exame pelo órgão competente,
providência a ser tomada, sustan- parece-me que a matrícula seja
do o resultado do concurso, ou a conseqüência inarredável.
conseqüência última do concurso. O Sr. Min. Godoy Ilha: - Se-
Por outro lado, a própria situa- ria o mesmo que V. Ex.a , muni-
ção indica que o Ministro não do de seu diploma de bacharel,
usou da sua prerrogativa no prazo fôsse impedido de exercer a pro-
razoável. Tenho lembrança que, fissão.
no sistema de previdência, o pra-
zo de avocar, salvo engano, é de O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
30 dias. A determinação do Mi- - Parece-me, portanto, que a
nistro, portanto, estava fora de conseqüência do concurso é o ato
qualquer permissão legal. O Sr. formal da matrícula, como resul-
Min . Relator fixou sem contes- tante que não pode ser suspensa,
tação que o concurso se realizara impedida, retardada ou indefi-
com observância de tôdas as exi- rida.
gências legais. Fôra presidido e Por êsses fundamentos acom-
determinado por autoridade com- panho o voto do Sr. Min. Rela-
petente. As provas se realizaram tor concedendo a segurança.
e o remate que seria a matrícula ...
O Sr. Min. Godoy Ilha: - E Voto
esclarece mais, como salientam
as informações da Delegacia do O Sr. Min. Henrique d'Ávila:-
Trabalho Marítimo de São Paulo, - Também acompanho o Rela-
que não foram ouvidos o Instituto tor. Houve concurso, e dêste ca-
de Aposentadoria de Empregados beria recurso voluntário para o
de Transporte de Cargas e o Sin- Ex. mo Sr. Ministro do Trabalho.
dicato da respectiva categoria Êsse não foi interposto em tempo
profissional, que nada argulU hábil. Não nego que ao Sr. Mi-
quando do julgamento do con- nistro do Trabalho caiba a facul-
curso. dade de superintender e avocar
172 -

todo e qualquer processai mas se- podia suspender a entrega das


melhante atribuição deve ser matrículas, porque não tem efeito
exercida dentro do prazo prede- suspensivo. Mas aqui está o do-
terminado, que é o de 30 dia~, sob cumento de fls. 30, referente ao
pena de quedar em aberto, sem concurso realizado: ''Em resposta
se consolidar tôda e qualquer de- ao seu Telex GM3BR-I079/62,
cisão tomada pelas autoridades transcrevo a seguir informação
hieràrquicamente inferiores ao prestada DTM: "Ex.mo Sr. Mi-
referido Ministro. nistro, atendendo à solicitação do
Nem o recurso voluntário, nem Sr. Diretor do DOAS, referente
a avocatória ministerial foram ao Presente, cumpre-me informar
exercitados no prazo legal. Por- o seguinte: 2 - o Despacho exa-
tanto, só resta ao Tribunal senão rado, conforme certidão número
reconhecer a validade do concur- 2/61, anexo ao presente processo,
so, e, conseqüentemente, a indec1i- foi integralmente cumprido por
nabilidade da matrícula postu- esta Delegacia, em obediência à
determinações do então Ex.mo Sr.
lada.
Ministro Castro Neves, assim sen-
do, a prova -de habilitação não foi
Voto
realizada, apesar das inscrições
de candidatos se terem processa-
o Sr. Min. Cândido Lôbo: - das a partir de 18-1-62, com um
Ouvi com tôda atenção os deba-
total de 1.088 candidatos, não
tes, e prestei-a ainda mais ao voto tendo, mesmo, sido fixada data
divergente do ilustre Colega, Min. para a realização da aludida pro-
Oscar Saraiva, porque S. Ex. a va; 3 - Posteriormente, atenden-
sustentou, realmente, uma tese ir- do ao próprio Despacho do então
repreensível, a meu ver, e data Ex.mo Sr. Ministro, que mandou
venia, que é a competência do Mi- proceder a nôvo levantamento, e
nistro para avocar os processos. de acôrdo com as instruções rece-
Lamento, no caso concreto, não bidas do também então Sr. Pre-
poder acompanhar S. Ex.a, por- sidente da República, conforme
que encontrei no processo o do- memorando e telegrama de ane-
cumento de fls. 30 - veja bem xos 1, 2 e 3, procedeu esta DTM
o Tribunal - em que êsse assun- a nôvo levantamento, anexo 4, de
to ficou esclarecido. O Sr. Mi- acôrdo com o Decreto n.o 34.453,
nistro Castro Neves mandou fa- art. 4, de 4-11-53, tudo em obe-
zer a mesma coisa, suspendeu o diência às normas e instruções
concurso para que fôssem apura- constantes do processo MTPS
das tais e tais exigências. O que 193.199/62, cujas cópias de fô-
não aconteceu no ato impugnado. lhas 5 e 6 vão juntas ao presente
Nada disse, apenas suspendeu o' (anexos 5, 6, 7); 4 - Informo
concurso, no que não tem razão, ainda a V. Ex.a que os dados do
porque o artigo da lei que lhe dá levantamento merecem a irrestri-
êsse direito determina também ta confiança do Instituto de Apo-
que o recurso não tem efeito sus- sentadoria e Pensões dos Empre-
pensivo. Qualquer dos modos não gados em Transportes e Cargas,
- 173-

conforme cópias constantes do cer a V. Ex. a que a aludida peti-


anexo 8; 5 - O resultado do nôvo ção da Federação Nacional dos
levantamento foi homologado pelo Portuários, ainda que pudesse ser
Conselho desta Delegacia, em considerada como recurso contra
sessão realizada dia 6-9-61, tendo a homologação do quadro men-
sido fixado quadro, conforme có- cionado nos itens 5 e 6 do pre-
do anexo 9; 6 - Da referida sente despacho, se apresentava
homologação, foi dada ciência ao intempestiva e sem efeito suspen-
Sindicato dos Conferentes de Car- sivo, conforme arts. 12 do Dec.
ga e Descarga do pôrto de Santos, lei n.o 3.346, de 12-6-41 e 29 das
em 13-9-61, pelo ofício 578, da instruções reguladoras do exercí-
mesma data (anexo 10), não ten- cio da profissão de Conferentes de
do havido de parte do referido carga e descarga do pôrto de San-
Sindicato, e dentro do prazo le- tos, elaboradas por esta Delega-
gal, recurso contra a resolução do cia, de acôrdo com o Decreto
citado Conselho; 7 - Isto pôsto, 34.453, de 4 de npvep1bro de
foram então reabertas as inscri- 1953. Santos, 20-8-1962. Ass:
ções em 3-1-62 e encerradas em Aureo Dantas Tôrres - Capitão-
18-1-62, inscrevendo-se, assim, -de-Mar-e-Guerra - Delegacia de
1 . 817 candidatos; 8 - A prova, Trabalho Marítimo."
que para a sua realização exigiu Quanto ao processo, encontra-
um sem número de procedências, -se em fase de instrução DTM,
a par de outros trabalhos também não havendo ainda despacho mi-
urgentes, a que esta Delegacia nisterial. "
tem, permanentemente, de cum- Em face dêsse documento, não
prir, a despeito da grande falta de há dúvida de que o assunto agora
funcionários, somente pôde ser é uma repetição do anterior, e sem
realizada em 11-3-62. O resulta- alegação nenhuma de nulidade ou,
do da referida prova foi homolo- enfim, o uso daqUlele poder de
gado pelo Conselho desta DTM suspender, sem justificar a razão
em sessão de 6-6-62; 9 - Nas pela qual suspendia um ato que
vésperas da realização do concur- estava produzindo todos os seus
so, deu entrada nesta DTM o pro- efeitos. Além disso, foi feito edi-
cesso em pauta, trazido em mãos tal de convocação do concurso, as
pelo associado Orlando dos San- eXlgencias foram cumpridas, o
tós. Por tratar de assunto já de- concurso foi homologado. A que
vida e definitivamente soluciona- vem esta intromissão agora pela
do, conforme razões expostas nos segunda vez para a mesma coisa?
itens 2 e 6 do presente despacho, O Sr. Min. .oscar Saraiva: -
a petição inicial da Federação N a- Verificamos dessas informações;
cionaI dos Portuários foi julgada tão bem dadas e claras, que as ob-
sem urgência, em relação a inúme- jeções do Ministro Castro Neves
ros processos que esta Delegacia tinham sido atendidas, e não era
tem que estudar e que vêm re- um ato de arbítrio que o Ministro
querendo maior prioridade; 10 - praticava. Informa o nôvo Minis-
Finalmente, cumpre-me esc1are- tro que as condições foram cum-
- 174-

pridas. Não acho que devamos ficação das condições de legali-


prejulgar. dade do ato que se deseja consu-
O Sr. Min. Oodoy Ilha: - mar.
Achei que constituía um evidente O Sr. Mio. Cândido Lôbo: -
abuso de poder o fato dêsse recur- Concluindo meu voto, quero dizer
so estar presente ao Ministro do apenas que, para mim, e data ve-
Trabalho há vários meses, sem nia, negar o mandado de segu-
que S. Ex. a o tenha decídido, e rança, ou por outra, concedê-lo,
agora tenha alegado que o achava como propôs o Min. Oscar Sarai-
inoportuno. va, é infringir, data venia, o
O Sr. Nlin. Oscar Saraiva: -- art. 12, do Dec.-Iei n.o 3.346,
- Permito-me observar que o de 12-6-41, e o art. 29 das
acúmulo das repartições públicas instruções reguladoras do exer-
dos casos a decidir é quase tão cício da profissão de conferen-
grande quanto o dêste Tribunal. te de carga e descarga, dispo-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Hou- sitivo êste que dá ao recurso in-
ve muita presteza do Ministro em terposto para o Ministro, efeito
atender em época pré-eleitoral não suspensivo. De modo que, se
um pedido, sem fundamentação, negássemos. a segurança ou a con-
da Federação dos Portuários ... cedêssemos para êsse fim, esta-
ríamos dando efeito suspensivo a
O Sr. Min. Osca.r Saraiva: -
êste recurso interposto pelo Mi-
O pedido de suspensão é seme- nistro, quando êle expressamente
lhante ao pedido que se dirige ao
não tem efeito suspensivo.
Tribunal para que o Ministro
suspenda certa medida. Sabemos Concedo o mandado.
que, muitas vêzes, é de prudência
suspender um ato para que êle Decisão
não se transforme em ato consu-
mado. Estou de acôrdo, a maté- Como consta da ata, a decisão
ria poderia ter sido decidida mais foi a seguinte: Concederam o
prontamente. Por isso defiro a mandado, por unanimidade, sen-
segurança para ser decidida. Não do que o Sr. Min. Oscar Saraiva
vejo realmente como se tenha concedia tão-só para mandar que
configurado senão um ato de pru- o Sr. Ministro do Trabalho des-
dência diante dessas situações que pachasse o recurso, como lhe pa-
ocorrem na esfera administrativa, recesse de direito. Os Srs. Mins.
em que o processo não corre com Amarílio Benjamin, Márcio Ri-
o rigor das normas processuais ju- beiro (Djalma da Cunha Mello),
diciárias. Há um certo tumulto, Henrique d'Ávila e Cândido Lôbo
não quero dizer uma certa inob- acompanharam o Sr. Min. Re-
servância dessas cautelas que os la.tor. Os Srs. Mins. Cunha Vas-
Tribunais são mais zelosos em concellos e Aguiar Dias não com-
observar, mas não vejo aí um de- pareceram, por motivo justifica-
sejo de protelação, da parte do do. Presidiu o Julgamento o Sr.
Ministro, mas um desejo de veri- Min. Sampaio Costa.
- 175-

AGRAVO EM !vlANDADO DE SEGURANÇA


N.o 29.988 - GB,
Relator - O Ex. mo Sr o Min o Henrique d' Ávila
Recorrente - Juízo da Fazenda Pública, ex oificio
Agravante - União
Josephina Brandão Leite

Acórdão
Servidor público o Enquadramento prOVIS0rlO.
Não há direito líquido e certo a tutelar, tratando-se
de classificação de efeito provisório, podendo vir a
ser corrigidoo

Vistos, relatados e discutidos por seu bastante procurador in-


êstes autos de Agravo noO 29 0988, fra-assinado, ut instrumento de
do Estado da Guanabara, em mandato junto ( doc. 1), vem
Mandado de Segurança, agravan- respeitosamente, com fundamen-
te União e agravada Josephina to nos §§ 3.° e 24, art. 141, da
Brandão Leite, assinalando-se tam- Constituição Federal, e arts. 1.0
e seguintes da Lei n.o 1.533, de
bém recurso ex oificio.
31 de dezembro de 1951, impe-
Acorda por unanimidade a Pri- trar mandado de segurança con-
meira Turma do Tribunal Fede- tra o Sr. Diretor da Divisão do
ral de Recursos, em dar provimen- Pessoal do Ministério da Educa-
to aos recursos para cassar a segu- ção e Cultura, para os fins e pelos
rança, conforme consta das notas motivos que, a seguir, são deduzi-
taquigráficas anexas, as quais, com dos:
o relatório, ficam fazendo parte in- 1 . A impetrante, farmacêuti-
tegrante dêste julgado, apurado. às
co diplomado pela Escola de Far-
tIs o 59. Custas ex lege. mácia do Ginásio Leopoldinense,
Tribunal Federal de Recursos, foi admitida, no ano de 1943, na
Distrito Federal, 6 de junho de referida função ( doc. 2) criada
1963. - Henrique d'Ávila, Pre- pelo Dec. n.o 12.499, de 31 de
sidente e Relator. maio de 1943, face Exposição de
Motivos do Departamento Admi-
Relatório nistrativo do Serviço Público, na
qual se visava a atender às neces-
o Sr. Min. Henrique d'Ávila: - sidades do Serviço de Farmácia
- Trata-se de mandado de segu- do Instituto de Puericultura da
rança impetrado por Josephina Universidade do Brasil.
Brandão Leite, contra o Diretor 2 . Assim, e em razão de seu
da Divisão do Pessoal do Minis- cargo de farmacêutico, ali exerce
tério da Educação e Saúde: "Jo- a função gratificada de Chefe de
'sephina Brandão Leite, brasileira, Farmácia, consoante doc. 3, sen-
solteira, funcionária pública, do- do-lhe confiadas as tarefas de su-
miciliada e residente nesta cidade, pervisionar e coordenar os servi-
l1a Travessa Dr. Araújo n.o 149, ços farma,cêuticos do Instituto,
- 176-

bem como assessorar seus chefes, dram-se os cargos, de cima para


além da responsabilidade por todo baixo, obedecendo~se à disciplina
o movimento de medicamentos própria, criada pelo Plano.
das enfermarias e ambulatórios 7 . Tal, porém, como se de-
(doc. 4). monstrou e provou, não ocorreu
3. Dado que a Lei n. o 3.780, com a impetrante, também única
de 12 de julho de 1960, que dis~ ocupante da função de farmacêu-
sôbre a Classificação de Car- tico da Universidade do Brasil,
gos do Poder Executivo, estabele- vez que foi, impropriamente, e em
ceu para os servidores que exe- desacôrdo com a Lei 3.780/60,
cutam os serviços acima, o nível classificada no nível 17-A, en-
18-B, esperava a impetrante que quanto que outros servidores mais
o mesmo lhe fôsse atribuído. novos o foram no nível 18-B.
4 . Entretanto, tal não ocor- 8. E, muito embora a impe-
reu, pôsto que se lhe reservou, pa- trante, através de pedidos admi-
radoxalmente, o nível 17-A (docs. nistrativos, tentasse impedir que
S e 6), em contraste com o atri- se consumasse a arbitrariedade de
buído a outros colegas seus, va~ que foi vítima, não logrou, até a
lendo citar o Dr. Sócrates Gui~ presente data, ver prevalecer o
marães Ataíde, anteriormente con- princípio legal que a ampara e
tratado como técnico especializa- que foi postergado pela autoridade
do do Quadro Extraordinário da coatora.
Universidade do Brasil, que foi 9 . Essa desigualdade de tra-
classificado no nível 18-B (doc. tamento entre funcionários que
7), embora com pouco mais de têm idênticas atribuições e res-
cinco anos de serviço público, ao ponsabilidades acha-se condenada
passo que a impetrante conta, pela lei, pela doutrina e pelos jul-
atualmente, mais de 30 anos de gados.
serviço. 10 . Efetivamente, consultan-
S . Não se pode, no caso, se- do-se o art. 141, § 1.0, da Cons-
quer, argüir que tal enquadra- tituição Federal, dêle se eviden-
mento constitui exceção, dado que cia que o princípio da igualdade
no Ministério da Fazenda, o Dr. perante a lei, cuja significação po-
Aresmar Campos Ururahy, único lítica levou os legisladores a in-
ocupante da carreira de farma- cluí-lo na Lei Básica de todos os
cêutico, foi classificado no nível povos, e que comporta conceitua-
18-B (doc. 8). ção das mais concretas às mais
6 . É evidente que os dois abstratas, foi flagrantemente vio-
exemplos citados obedeceram, lado pela não apreciação dos pe-
precisamente, os têrmos do art. didos administrativos formulados
20 do Plano de Classificação, do pela impetrante.
qual se infere que o enquadra- 11 . Desdobrando o sentido
mento obedece a duas fases dis- constitucional do artigo invocado,
tintas, ou seja: primeiramente, ensina Paulino Jacques que o pre-
enquadram-se os cargos e funções, ceito se aplica a todos que se en-
ficando de fora os seus respectivos contram em igualdade ou simi-
ocupantes; em seguida, enqua- litude de situações, na expressão
177 -
.
de Blutschli. Em seguida, pon- bunal em dezenas de casos tem
dera que tôdas as pessoas nas admitido que a melhoria de ven-
mesmas condições e idênticas ci.r- cimentos aproveita aos que se en-
cunstâncias hão que ser tratadas contram nestas condições"; c) Do
igualmente, terão os mesmos di- Tribunal de Justiça de São Paulo:
reitos civis e políticos, poderão "Todo funcionário público que se
invocar os mesmos preceitos le- encontrar nas mesmas condições
gais. E, descendo a detalhe prá- e em idênticas circunstâncias
tico, expõe ainda: para aplicação àqueles que foram abrangidos por
do princípio da igualdade perante um dispositivo legal, igualmente
a lei, deve-se atender à exigência terá os mesmos direitos civis e
das condições sociais. Criada uma políticos e poderá invocar o prin-
lei que concede certas garantias cípio constitucional para ser tra-
ou benefícios, a igualdade tem de tado na mesma paridade pela
ser compreendida como abran- qual os demais, nas mesmas con-
gendo a todos que lhe preencham dições, foram tratados" (Revistas
as condições. O princIpIo da dos Tribunais, vol. 248, pág.
igualdade perante a lei há de ser 209).
tomado dentro da mesma classe 13. Face, portanto, aos moti-
de titulares de idêntica situação vos expostos, e dado que até o
jurídica e não com a amplitude presente momento a autoridade
de um preceito de aplicação ge- impetrada, por sua vontade, mas
nérica (A Igualdade de Todos Pe- sem qualquer razão, não aplicou,
rante a Lei, págs. 141/177). em sua integridade, os dispositivos
12 . Não menos incisiva e da Lei 3.780, de 12 de julho de
remançosa a jurisprudência dos 1960, os quais visaram, precipua-
tribunais, valendo citar: a) mente, a extinguir injustiças e
Do Supremo Tribunal Federal: corrigir as aberrações existentes
"Equiparação de vencimentos. entre os que ocupavam funções
Impõe-se a equiparação para eli- análogas às da impetrante, está a
minar a diferença entre padrões mesma certa de que jamais o fa-
de vencimentos, dada a igualda- rá, sponte propria.
de de cargos e funções" (Diário da 14. Isso pôsto, e achando-se
Justiça de 9 de dezembro de perfeitamente configurada a vio-
1957, pág. 3.201, do apenso ao lação de direito líquido e certo da
n.O 282). Relator, Sr. Min. Bar- impetrante, por parte da autori-
ros Barreto; b) Do Tribunal Fe- dade coatora, requer que se digne
deral de Recursos, no Mandado V. Exa. de conceder-lhe manda-
de Segurança n.o 1.170, publicado_ do de segurança, compelindo-a a
no volume 36, pág. 110, da Re~ atribuir-lhe o nível 18-B da Sé-
vista do Direito Administrativo, rie de Classes de Farmacêutico, a
com o seguinte voto vencedor da partir da vigência da Lei n.o
lavra do eminente Min. Alfredo 3.780, de 12 de julho de 1960,
Bernardes: "... os impetrantes concedendo-lhe, liminarmente, a
exercem essas funções de caráter segurança impetrada, face à rele-
exclusivamente médico, e o Tri- vância da matéria e ao lapso de
- 178-

tempo decorrido desde a vigência Ementa: "Inidoneidade do


daquele diploma legal. Mandado de Segurança para re-
Têrmos em que, solicitadas in- classificação funcional que exige
formações da autoridade coatora, exame de provas" (M. Seg. n.o
ouvido o Sr. Dr. Procurador da 10.639, ReI. Min. Victor Nunes
República e devidamente proces- Leal, in Tribunal Pleno, Diário da
sado êste, Justiça de 25-4-63, pág. 1.067).
5 . Assim, a União Federal
P. deferimento." pede e espera que o Egrégio Tri-
bunal dê provimento aos recursos
o Dr. Juiz a quo, sentenciando para reformar a r. sentença de
de fls. 32/35, concedeu a segu- Primeira Instância, cassando, em
rança, recorrendo de ofício. Hou~ conseqüência, a segurança deferi-
ve apêlo da União, devidamente
da."
minutado e contraminutado. Nes-
ta Superior Instância a douta Sub- É o relatório.
procuradoria-Geral da República,
assim se pronuncia: Voto
1 . A impetrante, ora agrava-
da, ocupante do cargo de Farma-
o Sr. Min. Henrique d' Ávila: -
Dou provimento a ambos os re-
cêutico, do Ministério da Educa-
ção e Cultura, inconformada com cursos para cassar a segurança
ato da Comissão de Classificação nos têrmos do Parecer da Subpro-
de Cargos que enquadrou a sua curadoria-Geral da República.
função, provisoriamente, no nível Trata-se de matéria de prova
17-A, requereu e obteve, em Pri- e de enquadramento funcional,
meira Instância, mandado de se- contra a qual se rebela a impe-
gurança para ser classificada no trante. :Êle, contudo, é ainda pro-
nível 18-B. visório, propondo-se a Adminis-
tração a reexaminar o assunto
2 . Data venia, não assiste à
posteriormente.
agravada direito líquido e certo a
Não há, portanto, como vislum-
merecer amparo pelo mandamus,
brar direito líquido e certo a tu-
pois o enquadramento de sua fun-
telar.
ção no nível 17-A foi apenas pro-
visório e poderá vir a ser corri-
Decisão
gido.
3 . Sendo a classificação de Como consta da ata, a decisão
efeito provisório, assiste à agrava- foi a seguinte: À unanimidade
da mera expectativa de direito. deu-se provimento aos recursos
4 . A respeito da matéria em para cassar a segurança. Os Srs.
debate, cabe transcrever aqui um Mins. Márcio Ribeiro (Cândido
dos mais recentes julgados do Ex- Lôbo) e Amarílio Benjamin vo-
celso Pretório, versando sôbre hi- taram com o Sr. Min. Relator.
pótese idêntica a dos autos e que Presidiu o julgamento o Sr. Min.
está assim concebida: Henrique d'Ávila.
- 179-

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N,o 31,260 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Recorrente - Juiz da Fazenda Pública
Evaristo ::iVladeira e outros

Acórdão
Empréstimo bancário.
Da promessa de mútuo não decorre direito à
outorga do contrato.

Vistos, relatados e discutidos Voto


êstes autos de Agravo em Man-
dado de Segurança n.o 31.260, da o Sr. Min. Armando Rollem-
Guanabara, em que são partes as berg: - O que se há de decidir,
acima indicadas: afinal, é se da aprovação pela di-
Acorda a Segunda Turma do reção da Caixa Econômica Fede-
Tribunal Federal de Recursos, ral, de proposta de empréstimo,
por maioria, em dar provimento resulta, para o proponente, o
para cassar o writ, na forma das direito à obtenção da celebração
notas taquigráficas precedentes, compulsória do referido contrato.
que ficam integrando o presente Temos que a hipótese vem per-
julgado. Custas de lei. feitamente elucidada por M. I.
Brasília, 10 de junho de 1964. Carvalho de Mendonça, quando
- Djalma da Cunha Mello, Pre- escreve: "Já vimos que, em direito
sidente; Armando Rollemberg, francês, como também no suíço,
Relator. e parece que no da Áustria, a pro-
messa não cumprida de contratar
Relatório o mútuo dá ao futuro mutuário
uma ação de reclamação de pre-
o Sr. Min. Armando Rollem- juízo contra quem se recusou a
berg: - Trata-se de recurso inter- entregar o objeto.
posto de decisão que concedeu Essa solução. é recebível em di-
mandado de segurança requerido reito pátrio?
contra o Conselho Administrativo A questão é controvertida. Há
da Caixa Econômica, para obter quem veja aí uma solução repug-
leitura e assinatura de escritura nante ao nosso direito. Entende-
de empréstimo hipotecário que, mos o contrário.
após autorizada, veio a ser sus- O Direito Romano repelia essa
tada. solução pela distinção que fazia
A douta Subprocuradoria-Ge- entre pacto e contrato, hoje in-
ral opinou pelo provimento do sustentável.
apêlo. No direito moderno, o pacto de
É o relatório. contrahendo produz obrigações
180 -

positivas e exigíveis, e em nosso Assim, dou provimento ao re~


direito jamais foi isso recusado no curso para cassar a segurança"
caso da promessa do mútuo pelos
mais aferrados romanistas, sem Voto (Vencido)
confusão dos contratos.
Tais promessas, diz o mais i1us~ o Sr. Min. Djalma da Cunha
tre dos 110SSOS mestres, são con- Mello: - Data venia do eminente
tratos ,consensuais; mas os contra· Relator, confirmo a decisão recor~
tos prometidos são diversos, são rida. No julgamento do Agravo
contratos reais. :Êstes, como tais, de Petição em Mandado de Se-
só começam a produzir efeitos de~ gurança n.O 31.551, disse eu: "Já
pois da entrega da coisa, e os con~ tive ensejo de dizer, a propósito
sensuais, como tais, começam a dessas suspensões de emprésti~
produzir seus efeitos desde a mos: dou provimento aos recursos
união de vontade entre as partes para cassar a segurança concedi~
contratantes. Há Códigos que da, onde tudo, data venia, contra~
adotam uma solução intermediá~ indicava a concessão. O impe-
ria, concedendo ação unicamente trante pediu à Caixa um financia-
pela promessa não realizada do
mento, e estava sendo processado
mútuo oneroso e não gratuito.
seu pedido quando uma circular
Tal modo de ver é excepcional da Presidência da República
e de todo o ponto insustentável, mandou suspender si et in quan-
pois não há distinguir nos efeitos tum o processamento dos emprés-
da promessa aceita. Esta produz timos da mesma situação-tipo.
tais efeitos pelo acôrdo das von~ Restava à Caixa, que depende
tades sem atinência ao objeto de hieràrquicamente do Ministério
que se trata" (Contratos no Di~ da Fazenda e do Presidente da
reito Civil Brasileiro, 1.a ed. vol. República, cumprir a circular. O
I, pág. 123). processamento de um empréstimo
Da lição do mestre, com a qual não implica na obrigatoriedade da
se pôs de acôrdo Clóvis Bevila~ sua concessão, evidentemente.
qua, na nota 2, do § 99, do seu Mesmo, tudo ficara a depender de
Direito das Obrigações, depreen~ disponibilidades financeiras, de
de-se que da promessa de mútuo dotação, de motivos que ficam sô-
não decorre para o promissário o bre normas elásticas. A autorida-
direito à outorga do contrato, e; de administrativa é livre para
sim, à reparação por perdas e ajuizar sôbre a conveniência e sô-
danos. bre a oportunidade da concessão
No caso dos autos, a aprovação de ditos empréstimos. São, todos,
do empréstimo pela direção da admitidos condicionalmente para
Caixa Econômica, e a autorização estudo, e nem há prazo certo para
para lavratura da escritura, pos~ a solução, como se vê do próprio
teriormente sustada, configura regulamento da Caixa, aprovado
promessa de mútuo e, portanto, pelo Decreto n.o 24.427. Disse
não decorre dela o direito à escri~ bem a autoridade coatora a fls.
tura, como entendeu a sentença. 14/5: "O impetrante não admite
181 -

como legítima a intervenção do já deferira o empréstimo. O dire-


Presidente da República nas Cai- tor da Carteira Hipotecária dessa
xas Econômicas, traçando normas entidade já permitira que se fixas-
ou dispondo sôbre os seus negó- se data para a escritura pública
cios, considerando essa interven- referente. O seu serviço jurídico
ção como atentatória do que está já fornecera minuta da escritura.
disposto no Regulamento manda- E o tabelião, em conseqüência, já
do observar pelo Decreto n.o expedira guias para pagamento do
24.427, de 19-6-1934. A ampli- impôsto de transmissão ...
tude da autonomia funcional das Tomou-se a providência de sus-
Caixas Econômicas pode ser, as- tar êsse empréstimo, sem que ti-
sim, sintetizada: ação coordena- vesse incorrido em qualquer culpa
dora e fiscalizadora do Conselho ° pleiteante, que havia preenchido
Superior; diretriz dos Conselhos tôdas as condições de fato e de
Administrativos e imediatas cons- direito para obtê-lo, e o havia ob-
tantes cooperação e assistênciá do tido.
Govêrno Federal. Como seria A resolução concessiva cassada,
possível o Govêrno Federal coo- ou suspensa com êsse único obje-
perar na Administração das Cai- tivo, corporifica um ato de juris-
xas Econômicas senão baixando dição, dêsses que são como atos
instruções, expedindo recomenda- judiciais, pois que atos criadores
ções ou fazendo sugestões? Em de um direito subjetivo, de uma
voto proferido no Tribunal de Re- situação jurídica.
cursos (Apelação n.o 1.583), o
Nosso direito positivo, em têr-
Min. Henrique d'Á vila assinalou
mos de Justiça Social (quer dizer
não ser possível, ante as prescri-
abrangente de todo texto de lei
ções regulamentares vigentes nas
em que se objetiva um problema
Caixas Econômicas, admitir como ligado à previdência social, à jus-
ilegal e arbitrária a intervenção tiça dos hipossuficientes), consi-
do Presidente da República pra- dera atribuição relevante do Es-
ticando ato de administração con- tado favorecer aos econômicamen-
cernente a estas Caixas: "O ato te fracos no setor aquisição de re-
de que se queixa o apelante, em- sidência, de apartamento, de teto.
bora haja sido praticado pelo Pre- É para atender a êsse desígnio que
sidente da República, não pode as caixas econômicas e os institu-
deixar de acarretar a responsabi- tos de previdência emprestam di-
lidade solidária da autarquia em nheiro em casos como êste. Aliás
causa; uma vez que o praticando a juros altos, e submetendo os ne-
o Presidente da República exerci- cessitados a delongas e apresenta-
tou podêres explícitos de admi- ções de "autorizos" que deman-
nistração que lhe foram conferi- dam, sabida e indeclinàvelmente,
dos por lei no que concerne às compadrio e pistolão. Ora, de-
Caixas Econômicas." pois dêsse tipo de processamento
A situação-tipo dêstes autos, de empréstimo, que tanto e tanto
parece, é diversa. A suspensão desmerece a probidade adminis-
ocorreu quando o Conselho Admi- trativa, depois que o postulante
nistrativo da Caixa, em resolução, satisfez os requisitos e condições
- 182

para atendimento, a resolução que Aqui, no caso do Agravo de Pe-


o atende não é uma falácia, um tição em Mandado de Segurança
ato faceto, erga omnes, embora a n.O 31. 260, ocorre algo especial,
Caixa aspire que o seja no seu diverso: o pedido de empréstimo
trato com os agravados. , . foi processado e atendido por uma
O recuo depois de tudo feito, e deliberação do Conselho da Caixa,
de tudo consumado que falta cujo departamento legal forneceu
é formalização da garantia de uma ao agravado minuta da escritura
escritura pública e entrega do di- respectiva. Firmou-se, a meu ver,
nheiro, que é menos, muito me- na época, um direito subjetivo em
nos, em têrmos de Administração favor do recorrido.
Pública, digna, escrupulosa, do
que a palavra, a resolução, "o con- Voto
cedo" da autoridade pública),
constitui lesão de um direito que o Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr.
se incorpora ao patrimônio do to- Presidente, data venia de V. Ex. a,
mador de empréstimo, e que o acompanho o voto do Sr. Min.
arma para propositura de uma Relator. Acho que não se pode
ação indenizatória contra o finan- compelir a Caixa a tornar efetivo
ciador inadimplente, faltoso, tra- o empréstimo, tanto mais que ela
tejador. alegou e comprovou que a opera-
Dir-se-á que um motivo rele- ção não foi ultimada, porque a sua
vante serve de escusa, alta, à mar- execução ficou procrastinada em
cha-ré. .. O público não crê virtude de determinação presi-
numa economia de dois pesos e dencial, face a Decreto expedido
duas medidas, que nega emprés- pelo Sr. Presidente da República.
timo sob hipoteca e juros altos, Nestas condições o que resta
para que o pobre consiga uma ca- aos impetrantes é promover, pelas
sa e derrama, malbarata, dissipa, vias ordinárias, a indenização de-
a mancheias, noutros setores, que corrente da inexecução do ato, já
não aponto porque só os cegos ig- agora não da responsabilidade da
noram, e eu perderia tempo em Caixa, mas, sim, da Presidência
apontar para cegos, se a economia da República. A inexecução das
não tivesse duas faces. obrigações resolvem-se em perdas
O Juiz não é um homem de e danos.
olhos arregalados para o proces-
so, para os autos, e de olhos sob Decisão
cortina espêssa para o que se pas-
sa à volta. A concepção estúpida, Como consta da ata, a decisão
que isso propagara, anda hoje em foi a seguinte: Deu-se provimen-
repúdio, depois de ter causado tre- to para cassar o writ, vencido o
mendos desacertos e de ter sacri- Sr. Min. Djalma da Cunha Mel-
ficado ao máximo a parte jurídi- 10. O Sr. Min. Godoy Ilha votou
ca. Confirmo a sentença que fêz com o Sr. Min. Relator. Presi-
valer, vingar, o empréstimo. Nego diu o julgamento o Sr. Min. Djal-
provimento aos recursos." ma da Cunha Mello.
- 183-

MANDADO DE SEGURANÇA N.o 31.328 - DF.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Oscar Saraiva
Requerentes - Roberval Osório e outro
Requerido - O Ex. mo Sr. Presidente do Conselho de Ministros

Acórdão
Segurança que se concede, a fim que siga o
processo à apreciação do Presidente da República,
única autoridade competente para decretar promo-
ção de militar.

Vistos, relatados e discutidos O expediente foi encaminhado


êstes autos de Mandado de Segu- pelo Sr. Ministro da Guerra, mas
rança n. o 31.328, do Distrito Fe- foi ter ao Presidente do Conselho
deral, impetrante Roberval Osório de Ministros, ao tempo ainda do
e outro e impetrado Ex.mo Sr. exercício dessas atribuições, por-
Presidente do Conselho de Mi- que vigente o regime parlamenta-
nistros: rista, e S. Ex.a houve por bem
Acorda, por maioria, o Tribu- indeferir o pedido.
nal Federal de Recursos, em ses- Voltaram então os impetrantes,
são plena, em conhecer do pedido pedindo que se lhes conceda a se-
e em deferir, sendo que o Sr. Min. gurança contra êsse ato, e que se
Godoy Ilha dêle conhecia como encaminhe o expediente ao Pre-
reclamação, conforme consta das sidente da República.
notas taquigráficas anexas, as Foram pedidas informações ao
quais, com o relatório, ficam fa- Presidente do Conselho de Minis-
zendo parte integrante dêste jul- tros, então o ilustre Professor Her-
gado nos têrmos de fôlhas 44. mes Lima, e S. Ex.a encaminhou
Custas de lei. ao Ministro da Guerra, de onde
T:ribunal Federal de Recursos, voltaram com o seguinte parecer
Distrito Federal, 10 de junho de do Dr. Consultor Jurídico do Mi-
1963. - Sampaio Costa, Presi- nistério da Guerra: (lê).
dente; Oscar Saraiva, Relator. A Subprocuradoria-Geral da
República oficiou a fls. 24/25,
Relatório esperando que o Egrégio Tribunal
negue a segurança.
O Sr. Mino Oscar Saraiva: É o relatório.
Sr. Presidente, os impetrantes ob-
tiveram dêste Tribunal segurança Voto-preliminar
para que seu pedido de promoção
ao generalato fôsse encaminhado O Sr. Min. Oscar Saraiva:
pelo Sr. Ministro da Guerra ao Creio que no meu voto, já por an-
Sr. Presidente da República, para tecipação, respondi a essa dúvida.
que esta alta autoridade decidis- Eu, como o Sr. Min. Amarílio
se, como entendesse de direito. Benjamin, entendo que não cabe
Foi essa decisão proferida por segurança para cumprir seguran-
êste Tribunal, da qual fui Relator. ça. Isso é uma tese simples. Mas
- 184-

as teses são simples e a vida é um efeito impeditivo de seguran-


complexa. Nem sempre os fatos ça e lesivo ao pretendido direito
sociais e jurídicos se adaptam à dos impetrantes. Contra êsse ato
prática das teses. Não teria dú- é que defiro a segurança, para que
vida nenhuma, se os fatos fôssem o processo, que se encontra no Mi-
simples e se ajustassem à tese, eu nistério da Guerra, mas que já
a teria seguido. tem um despacho de indeferi-
Deixei evidenciado que, neste mento do Presidente do Conse-
caso, ocorreram duas circunstân- lho, siga para o Sr. Presidente da
cias diferentes e justificativas de República. Portanto, entendo que
uma providência diversa: o Sr. é caso de mandado de segurança,
Ministro da Guerra cumpriu a se- e a defiro.
gurança e encaminhou os autos à
autoridade executiva que lhe era Voto-preliminar
superior, no caso o Presidente do
Conselho de Ministros. Sim, pois o Sr. Min. Amarílio Benjamin:
o Ministro da Guerra cumpriu a - Srs. Ministros, há dias assim.
decisão e encaminhou o processo, Hoje, parece que estou num mar
e o Presidente do Conselho de Mi- de divergências; para onde ando,
nistros, a seu turno, praticou nôvo divirjo. Divirjo do Sr. Min. Re-
ato, indeferindo o pedido. Por- lator no presente feito. S. Ex.8
tanto, não caberia, a meu ver, re- nos informou que o presente man-
clamar contra o Ministro da Guer- dado de segurança visa, antes de
ra. Caberia impetrar nova segu- mais nada, ao cumprimento exato
rança, porque é uma situação no- de um mandado de segurança que
va, com aspectos característicos, e o Tribunal concedera anterior-
que estava pedindo um remédio mente.
imediato. Entre reclamar o cum- Na hipótese, a mim, que tenho
primento de uma segurança que, posição definida quanto à compe-
ao ver dos impetrantes, e a meu tência do Tribunal para· examinar
ver, fôra exaurida e reclamar no- os diversos casos em que a auto-
va segurança, entendo que anda- ridade coatora é o Primeiro-Mi-
ram bem os impetrantes ao re- nistro, embora o regime parlamen-
clamá-la sob forma nova, já pelo tar não mais subsista a mim não
fato de o Ministro da Guerra ha- interessa abordar êste aspecto no
ver encaminhado o pedido, já pelo presente mandado, porque de-
fato de o Presidente do Conselho fronto-me com uma preliminar de
ter indeferido o pedido. Acentuo maior profundidade, que é a de
que não concedo a segurança cabimento do próprio mandado.
contra o Minisrto da Guerra para Temos decidido, reiteradamen-
que mande os autos, mas contra te, que mandado de segurança
ato de uma autoridade que, em- não cabe para fazer mandar cum-
bora já não exista, êsse ato sub- prir segurança. Concedida a se-
siste. Aqui não corrigimos auto- gurança, esta deve ser cumprida,
ridades, corrigimos atos de auto- devendo a autoridade judiciária
ridades. É o ato que produz efei- empregar tôdas as providências, e
to. Nesse caso, há ato do Presi- até sanções, para que a decisão
dente do Conselho, produzindo seja cumprida pela autoridade ad-
- 185-

ministrativa, mesmo que haja A princípio, tive a impressão de


mudança de autoridade sob o pon- que seria caso de uma reclamação,
to de vista pessoa! ou funcional. para a execução de julgado dêste
A decisão não se altera por qual- Tribunal. Mas a autoridade já se
quer transformação posterior. havia deslocado, do Ministro da
Ora, mandado de segurança Guerra, contra o qual fôra defe-
para o caso existe, foi examinado rida a segurança, para o Presiden-
e deferido. Se o impetrante, ou te do Conselho de Ministros, e já
os impetrantes, acham que o Go- sobreviera ato diverso, que foi ato
vêrno não atendeu à segurança, de indeferimento do pedido. En-
teriam que se dirigir ao Relator tretanto, há êstes dois fatos novos,
da segurança anterior, ou, no nos- justificativos da segurança. O ca-
so caso, ao Sr. Min. Presidente, so realmente é de competência
que é o executor natural das de- dêste Tribunal, porque não se tra-
cisões desta Casa. ta do exercício de podêres que ca-
Assim, peço licença ao eminen- beria, no regime parlamentar, ao
te Colega para divergir e não to- Presidente do Conselho.
mar conhecimento da segurança. Trata-se de ato privativo do
Como esta preliminar tem mais Presidente da República, mesmo
extenção do que aquela outra, que no regime parlamentar, qual seja
certamente há de ser posta no cor- o da promoção de oficiais-ge-
rer dos debates, uma vez que a nerais do Exército. Não havia,
figura do Primeiro-Ministro aí es- portanto, fundamento jurídico
tá, não tenho outro caminho se- para o exercício da autoridade, a
não votar não tomando conheci- meu ver inadvertidamente usado,
mento e, ao mesmo tempo, pedin- nos têrmos por que o fêz o Presi-
do a. opinião dos meus pares para dente do Conselho de Ministros.
esta preliminar. Daí o meu voto, para deferir se-
gurança, e determinar que se en-
Voto caminhe o pedido ao Sr. Presi-
dente da República, reiterando,
o Sr. Min. Oscar Saraiva: - neste particular, a decisão ante-
Sr. Presidente, no caso, a meu rior do Tribunal.
ver, a concessão da segurança se
impõe, como reconhece, aliás, o Voto-preliminar (Vencido)
ilustre Consultor Jurídico do Mi-
nistério da Guerra. o Sr. Min. Aguiar Dias:
Trata-se de ato que envolve Data venia do Sr. Min. Relator,
competência privativa do Presi- estou com o Sr. Min. Amarílio
dente da República, deferindo o Benjamin não conhecendo do
pedido de promoção ao generala- mandado. Realmente nós aqui
to, ou indeferindo, como entender corrigimos atos, mas a nossa com-
de mais acêrto. A verdade é que petência é estabelecida em razão
não deveria ter sido o processo in- de autoridade. A competência,
terrompido em seu curso normal, que é o índice para o conheci-
já ordenado por medida de segu- mento do mandado de segurança,
rança dêste Tribunal. afere-se em função da autoridade,

13 - 35883
- 186-

e não em função do ato. Assim, A autoridade competente é o


se persiste o ato, mas a autoridade Presidente da República, mas
está desaparecida, cumpre verifi- neste caso não foi o exercício de
car se essa autoridade foi substi- um poder devolvido, foi o de um
tuída, se tem um substituto na or- exercício errôneo de um poder
dem legal, processual ou objetiva. que não cabia ao Presidente do
Ora, verifica-se que os podêres to- Conselho, e que temos competên-
dos do Primeiro-Ministro foram cia para decidi-lo porque o ato
devolvidos ao Sr. Presidente da subsiste.
República. °
Estou certo que espírito sutil
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Êsse de V. Ex. a discernirá, com melhor
ato não era dêle, era da com- precisão, o caso. Êste caso não
petência do Presidente da Repú- parece tão simples como se apre-
blica. senta.
O Sr. Min, .oscar Saraiva: - O Sr. Min. Aguiar Dias: -
Sr. Min. Godoy Ilha antecipou- Realmente êsses casos suscitam
-me dando um aparte oportuno. perplexidade, mas o que caracte-
Eu disse que os fatos da vida são riza a sucessão processual é pre-
complexos e os erros geram dú- cisamente a ausência de ato do
vidas porque êles não se apresen- substituto. :ttste responde por ato
tam com essa característica de do substituído. Não assume re-
atos padrões que são fáceis de de- lêvo dizer que o Presidente da Re-
cidir. O Primeiro Ministro ou o pública não praticou ato algum.
Presidente do Conselho exerceu, O Sr. Min. Oscar Saraiva -
ou a destempo, ou por engano, No regime parlamentar, a soma
uma competência que não lhe era de podêres atribuída ao Presiden-
própria. Quem deveria despachar te do Conselho não correspondia
o ato era o Presidente da Repú- inteiramente à soma de podêres
blica . Agora, vej a V. Ex. a: se que cabia ao Presidente da Repú-
não conhecermos do ato e enten- blica. Houve podêres integrados
dermos que êsses podêres estão no Conselho de Ministros, não de
devolvidos ao Presidente da Re- Presidente do Conselho de Mi-
pública, iremos declinar de nossa nistros, que eram podêres tipi-
competência, quando o Presiden- camente ministeriais. Ao passo
te da República não praticou ato que certos podêres eram podêres
algum. Estaremos novamente - presidenciais. Em relação a po-
e a expressão é correntia, mas é dêres presidenciais, não há a me-
clara - num beco sem saída, e nor dúvida que êles se devolve-
estamos no mais fechado dos be- ram. Os podêres ministeriais vol-
cos, sem nenhum êxito, porque taram à unidade dos Ministros
não conhecemos do mandado quando êles no regime parlamen-
contra o Primeiro-Ministro, por- tar pertenciam à coletividade mi-
que não existe, e o Supremo não nisterial.
conheceria da segurança contra o O Sr. Min. Aguiar Dias: - A
Presidente da República que nem quem vamos expedir a ordem
sequer provocado a nenhum ato para a remessa dos autos? Ao Pre-
foi. sidente da República?
187 -

o Sr. Min. Oscar Saraiva: - meiro. aquela autoridade o.riginá-


ao Ministro da Guerra. ria do primeiro mandado que
O Sr.M in. Aguiar Dias: - cumpriu a determinação do Tri-
Não. pode ser. bunal. A autoridade, como o. Min.
Amarílio Benjamin pensa, a auto-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Su-
ridade sucessora que recebeu
geriria duas soluções: o.u aguar-
aquêles autos de volta e que está
ou remetermos o processa
aguardando uma saluçãa nassa.
diretamente ao. Presidente da Re-
pública. O Sr. Min. Aguiar Dias: -
Não está aguardando. solução. ne-
O Sr. Min. Aguiar Dias: - O
nhuma. Não. há ato nenhum do
mandado de segurança importa
Ministro da Guerra. Não é de
numa ordem contra a autoridade
sucessor do Primeiro-Ministro,
coatora o.u contra quem a substi-
porque não tem capacidade para
tua. O Ministro da Guerra não é
tanto. Não há coação por parte
mais coator.
do Ministro da Guerra. Como va-
O Sr. Min. Oscar Saraiva: - mos expedir um mandado a quem
Mas êle ainda detém o processo. não é coator?
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Se O Sr. Min. Amarílio B.enjamin:
o mandado de segurança estivesse - V. Ex.a dá licença para um
numa repartição subordinada de aparte?
Primeira Instância, iríamos man-
No meu modo de ver, a segu-
dar ordem a essa autoridade?
rança não fai errada porque o Sr.
O Sr. MinL .oscar Saraiva: -
Ministro da Guerra recebeu a or-
Ela não é autoridade coatora mas
dem de encaminhar o processo ao
sucessora da autoridade coatora e,
inclusive, os autos estão lá. Sr. Presidente da República. En-
tão S. Ex. a , par equívaco, como
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Isto dois eminentes Colegas já se ma-
é que falta demonstrar. nifestaram, encaminhou ao Pri-
O Sr. Min. .oscar Saraiva: - meiro-Ministro . Então nossa or-
O Consultor Jurídico já disse, dem não foi errada. É por isso
com aquela simplicidade de que que diga: reclame a quem de di-
nos falaria Anatole France, na dú- reito.
vida se o batismo dos pingüins
O Sr. Min. Aguiar Dias: - De-
era ou não válido, o santo, que
veria ser requerida contra o Mi-
era simples e não pertencia à
nistro da Guerra, não contra o
classe dos escolásticos, disse: é
uma coisa simples; vamos trans- Primeiro-Ministra.
formar o pingüim em gente, e com Não conheço.
isto cessava tôda a discordância.
O Consultor Jurídico fêz um Voto-preliminar
pouco como aquêle santo, êle não
discutiu se o Ministro era ou não O Sr. Min. Márcio Ribeiro:
sucessor, êle sugeriu que se man- Não conheço por entender que o
dasse os autos ao Presidente da assunto deveria ser resolvido no
República. Estou sendo mais fa- primeiro mandado, e não por meia
tal, distingo duas qualidades, pri- de nova impetração.
188 -

Voto Tribunal para determinar a essa


autorid~de que submetesse à con-
o Sr. Min. CunnaVasconcel1os: sideração do Sr. Presidente da
- Peço desculpas ao Min. Aguiar República a postulação dos im-
Dias, mas acho que, neste caso, pretrantes. O Ministro da Guer-
nos encontramos diante de. uma ra, por equívoco, ou por má com-
daquelas encruzilhadas em que ° preensão do nôvo regime, enca-
Juiz faz uma adaptação do que lhe minhou o processo à consideração
parecer mais certo na solução a do Primeiro-Ministro que, por
encontrar. inadvertência, resolveu conhecer
Com o Min. Relator. da matéria e indeferir o pedido,
sendo o processo devolvido ao Mi-
Voto nistro da Guerra.
Conheço dêste mandado de se-
o Sr. Min. Henrique d' Avila: - gurança, como reclamação por-
- Acompanho o Relator. que, em verdade, é uma reclama-
Trata-se de caso especialíssimo ção contra o fato de não ter sido
em que o mandado de segurança cumprida estritamente a seguran-
visa a anular ato do PrimeircrMi- ça concedida originàriamente pelo
nistro, praticado do arrepio de Tribunal e, recebendo-a como tal,
sua competência legal. a defiro para determinar ao Sr.
Ministro da Guerra que faça su-
Ainda que haja desaparecido
no momento a figura do Primei- bir à consideração do Sr. Presi-
ro-Ministro, parece que êste Tri:- dente da República a postulação
dos impetrantes, tal como lhes
bunal está obrigado a apreciar o
garantia a segurança concedida o
ato. E se o mesmo é ilegal, deve
anulá-lo e determinar a remessa
do processo a quem de direito Decisão
toca praticá-lo, que é o Sr .Pre-
Como consta da ata, a decisão
sidente da República.
foi a seguinte: Por maioria de vo-
Em certos casos, o mandado de tos, conheceram do pedido e o de-
segurança substitui a reclamação, feriram sendo que o Sr o Min o
mormente para nós que não ad- Godoy Ilha dêle conhecia como
mitimos. reclamação o Os Srso Minso Cunha
Tendo em vista as peculiarida- Vasconcellos, Henrique d' Ávila e
des do caso, acompanho o Relator. Godoy Ilha votaram com o Sr o
Min. Relator: os Srs o Mins.
Voto Aguiar Dias e Márcio Ribeiro
(Cândido Lôbo) concluíram de
o Sr. Min. Godoy Ilha: - acôrdo com o Sr. Min. Amarílio
Acho que não devemo-nos perder Benjamin. Não compareceu, por
em filigranas. motivo justificado, o Sr. Min .
A matéria foi exposta com Djalma da Cunha Mello. Presi-
muita clareza. Trata-se de man- diu o julgamento o Sr o Min o
dado de segurança concedido pelo Sampaio Costa o
- 189-

MANDADO DE SEGURANÇA N.o 31.493 - DF.


Relator -- O Ex. mo Sr. IVIin. Oscar Saraiva
Requerentes - José Carlos T. Leal e outros
Requetido - O Ex. mo Sr. Juiz de Direito da l.a Vara dos
Feitos da Fazenda Pública da Comarca de Pôrto Alegre

Acórdão
A medida liminar, no mandado de segurança,
é, por sua natureza, provisória, e segue a sorte da
sentença final. Subsistirá se fôr concedida afinal a
segurança e perderá a eficácia se denegado o wt:ít.

Vistos, relatados e discutidos por bem indeferir a impetração e


êstes autos de Mandado de Segu- cassar, em conseqüência, a limi-
rança n.0 31.493, do Distrito Fe- nar que concedera de início.
deral, impetrante José Carlos T. Recebendo o agravo, o Dr. Juiz
Leal e outros e impetrado o Ex.mo mandou que seguisse sem efeito
Sr. Juiz de Direito da 1.a Vara suspensivo, contrariando os empe-
dos Feitos da Fazenda Pública da trantes, que pretendiam que o
Comarca de Pôrto Alegre: agravo importasse na suspensão
Acorda, por maioria de votos, o da cassação da liminar.
Tribunal Federal de Recursos,em O Dr. Juiz prestou informa-
sessão plena, em denegar o man- ções, sustentando a jurisdicidade
dado, conforme consta das notas do seu ato, fazendo-o com profi-
taquigráficas anexas, as quais, ciência.
com o relatório, ficam fazendo A douta Subprocuradoria-Ger:al
parte integrante dêste julgado, da República pronunciou-se a fls.
nos têrmos de fôlhas 47. Custas 2 pela denegação da medida, ofi-
de lei. ciando o Dr. Mário de Oliveira.
Tribunal Federal de Recursos, Ainda como circunstância me-
Distrito Federal, 29 de abril de recedora de referência no relató-
1963. - Sampaio Costa, Presi- rio, esclareço que a Egrégia Se-
dente; Oscar Saraiva, Relator. gunda Turma, dêste Tribunal, co-
nhecendo do próprio Agravo em
Relatório Mandado de Segurança, já assim
decidiu.
O Sr. Mim Oscar Saraiva: Quer dizer, foi proferida deci-
Trata-se de segurança impetrada são denegatória, em relação aos
por José Carlos Leal e outros impetrantes, em grande número,
contra atos do Dr. Juiz de Direi- com exceção de um, que obteve a
to da l.a Vara dos Feitos da Fa- segurança pretendida.
zenda da Comarca de Pôrto Ale- É o relatório, Sr. Presidente.
gre.
O Dr. Juiz, decidindo manda- Voto
do de segurança em que foi im-
petrado o não pagamento de im- oSr. Mim Oscar Saraiva: -
pâsto de lucro imobiliário, houve Denego a segurança. A medida
- 190-

liminar, no mandado de seguran- curso de ofício não suspende a


ça é, por sua natureza, provisória, decisão.
e segue a sorte da sentença final. Não é possível, todavia, gene-
Subsistirá se fôr concedida afinal ralizar-se essa disposição, para
a segurança e perderá a eficácia submeter-se a ela, a própria deci-
se denegado o writ. É pacífic() o são sôbre o indeferimento. Ao
entendimento de que a decisão de contrário. O destaque especial da
Primeira Instância, concedendo o lei a essa particularidade é a meu
mandado de segurança, é desde ver demonstração de que o agra-
logo exeqüível, independentemen- vo em mandado de segurança não
te do agravo que dela possa ser foi desfigurado do seu entendi-
interposto. E a suspensão da se- mento clássico.
gurança só se dará no caso ex- N este Tribunal o assunto ga-
presso do art. 13, da Lei 1.533/51. nha maior relêvo no sentido da
Se denegatória a decisão não há, pretensão do requerente porque,
obviamente, o que suspender, pa- êste Tribunal, contra o meu voto
recendo-me de todo descabido, aliás, entendido que, não obstante
data venia de eminentes opiniões denegatória de Primeira Instân-
em contrário, que se pretenda cia, pode o Tribunal, visando
considerar subsistente a liminar, acautelamento dos bens, determi-
concedida si et in quantum, como nar-lhes a indiSponibilidade até
medida tipicamente provisória, no que o Tribunal decida, em defini-
caso em que a decisão final venha tivo.
a denegar a segurança. Estou em Tenho votado contra os meus
que bem decidiu o Dr. Juiz, cujos Colegas, embora reconheça a con-
fundamentos constantes de sua veniência e alguma inspiração ló-
informação adoto, e para denegar gica e jurídica no critério adota-
a segurança. do, porque a construção é, na ver-
dade, neste caso, um provimento
Voto (Vencido) que escapa ao Poder Judiciário,
por ser tipicamente criação legis-
o Sr. Min. Amarílio B.enjamin: lativa. Mas o Tribunal assim tem
- Estamos nós na presente con- decidido e, pelo menos, entre nós
trovérsia a considerar um aspecto isso é lei.
interessante do agravo em man- Ora, se o Tribunal assim tem
dado de segurança. A tese é es- decidido noutros casos, em que
sa: denegado o mandado de segu- não existe nem liminar, é eviden-
rança e havendo recurso do impe- te que o Tribunal estaria forçado,
trante, a liminar perde o efeito? na hipótese sub judiee, a conce-
Ora, na conformidade da com- der o mandado de segurança plei-
preensão em geral do agravo, teado, a fim de que, enquanto o
sendo êste recurso de caráter sus- Tribunal não decida o agravo in-
pensivo, parece, fora de dúvida, terposto da sentença denegatória
que a liminar persiste. Ê verdade a liminar que foi concedida, per-
que, a lei do mandado de segu- sista.
rança, ao tratar da sentença con- Ê verdade que, dentro da com-
cessiva, manifesta-se expressa- preensão rigorosa do recurso, ou
mente, no sentido de que o re- do andamento do recurso, a ma-
- 191-

téria poderia ficar, desde logo, su- c1usiva discrição do Juiz que po-
bordinada à manifestação da Tur- de dá-la e retirá-la no curso da
ma, uma vez que, com a subida causa. Se o Juiz pode retirá-la
dos autos, tôda a matéria lhe foi no curso da causa, pode retirá-la
submetida. na sentença e, então, no caráter
Não me recuso, todavia, a co- que dou à medida liminar ela é
nhecer do mandado, porque, em- indiferente ao recurso. Os efeitos
bora se tratando de decisão judi- do recurso não atingem à medida
cial, embora exista recurso, em- liminar desde que o Juiz, usando
bora normalmente o assunto de- da discrição que lhe é reconheci-
vesse ficar com a Turma, é possí- da na política judiciária, a tenha
vel, em tese, a demora de consi- revogado. Se o Juiz revoga a li-
deração da matéria, com algum minar o recurso da decisão dene-
prejuízo aos impetrantes. gatória não restabelece a liminar.
Meu voto seria concessivo da Exatamente como nas possessó-
segurança, entretanto, deixo de rias, revogada a liminar dada, se-
fazê-lo porque o agravo já foi jul- ja no curso da causa, seja na sen-
gado. A decisão da Turma, em tença, o recurso não a convalida,
tese, uma vez que confirmou a não a restabelece, não a galvani-
sentença denegatória, prejudica o za . Mas, Sr. Presidente, para
mandado. Lembrei-me, porém, mim, o mandado presente está
que no mandado de segurança, o prejudicado porque não é possível
recurso é ordinário para o Supre- a êste Tribunal decidir em con-
mo Tribunal Federal, da decisão trário ao que já decidiu a Turma,
denegatória. Então a parte ainda senão por via de recurso do jul-
tem a possibilidade de ordinària- gado da Turma. Nós não nos su-
mente recorrer. perpomos à Turma em hipótese
Pôsto o caso assim, concedo a alguma senão em recurso inter-
segurança para que a liminar per- posto de sua decisão. Não pode-
sista, isto é, a dívida do impôsto mos criar contradições entre o de-
não seja recolhida até que a ques- cidido pela Turma e o que fôr
tão seja definitivamente resolvi- por nós decidido. Se a Turma de-
da. Naturalmente que ressalvo a cidiu manter a denegação do man-
não subid~ dos autos, a não inter- dado de segurança não podemos,
posição do recurso ou a deserção através de outro mandado, conva-
do mesmo. lidar, ao menos em parte, a sen-
tença, para modificá-la.
Voto (Vencido) O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
Permite-me V. Ex. a ? A matéria
o Sr. Min. Aguiar Dias: - Te- é muito interessante. Pensei nes-
nho um; ponto de vista talvez sin- sa hipótese, mas não a adotei
gular em relação à índole da me- porque o processo de mandado de
dida liminar. Não a identifico co- segurança não se exaure na Se-
mo medida cautelar, identifico-a gunda Instância. Denegada a me-
como as liminares nos interditos. dida, ainda tem acesso ordinário
Êste para mim é o verdadeiro ca- ao Supremo Tribunal Federal.
ráter da liminar, medida de polí- Ainda subsistiria a finalidade dês-
tica judiciária, de cautela, de ex- se mandado de segurança, que
- 192-

não se choca com a decisão da o Sr. Min. Amarílio Benjamin:


Turma porque esta nega a segu- - Permite-me V. Ex. a um apar-
rança, acha que não é caso de pa- te? Gostaria de ouvi-lo justificar
gar lucro imobiliário, mas neste a conduta do Tribunal quando,
caso não se quer deixar. de pagar em agravo em mandado de segu-
lucro imobiliário, pretende-se fi- rança em que não houve deferi-
car imune à cobrança enquanto mento de liminar, concede a in-
perdurar o litígio. De modo que, disponibilidade.
se fôsse dada a segurança não ha- O Sr. Min. Aguiar Dias:
veria contradição no caso. Mi- Parece-me que justifiquei anteci-
nha opinião se conforma com a padamente . Respondi ao aparte
decisão da Turma porque não de V. Ex. a quando disse, para
acho que seja caso de segurança. mim evidentemente, não para
Se achasse não estaria contradi- obrigar o Tribunal, que se trata
zendo a decisão da Turma porque de medida de política judiciária,
diria: a cobrança não se fará en- que se dá à discrição do Juiz ou
quanto não seguir seu curso o pro- dos Juízes, e, portanto, nenhuma
cesso da segurança. Agradeço a correspondência tem com o re-
V. Ex. a em me permitir o aparte. curso.
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Eu O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
é que agradeço, porque V. Ex.a - V. Ex. a está bem. Deixa mal
vem trazer maior contribuição ao os nossos Colegas ...
meu voto indicando um aspecto O Sr. Min. Aguiar Dias: - A
da controvérsia que não tinha eu meu ver, o agravo tem efeito sus-
apreciado. Continuo, todavia, a pensivo. Mas sustento que em
julgá-lo prejudicado, isto porque o relação à liminar não há cogitar
julgamento de prejudicial se res- dêsse efeito suspensivo, porque é
tringe a êste Tribunal. Não esta- medida de política judiciária. Se
mos impedidos pelo uso do recur- o Juiz a tirou, o Tribunal não
so ordinário interposto da decisão pode restabelecê-la por via de re-
que denegou o mandado anterior. curso. Só lhe será possível fazê-
Se estabelecermos, por via da con- -10 mediante decisão originária,
cessão dêste mandado de segu- entendendo de prudência o seu
rança, que a liminar está de pé restabelecimento mas isso
estamos contrariando a decisão usando da sua competência origi-
que denegou totalmente o pedi- nária e não por lhe parecer ilegal
do, e aí tem valor o princípio de o ato do Dr. Juiz, porque a revo-
que quem estabelece o mais, esta- gação de liminar é ato de política
belece o menos. A decisão da judiciária e, portanto, discricioná-
Turma considerando que não tem rio.
o impetrante direito à isenção do É meu voto. Tenho como pre-
lucro imobiliário, abrange a deci- judicado o pedido.
são que por ventura lhe conceda
a liminar porque estamos em Se- Voto
gunda Instância. A decisão foi O Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
reformada totalmente, portanto, é - Sr. Presidente, em tôrno de
evidente que também se nega a uma questão que reputo simples,
liminar. está-se desenvolvendo, neste Tri-
- 193-

bunal, debate brilhante. Em tôr- presso e é da natureza do man-


no de uma questão já vencida dado de segurança o efeito sus-
nesta Casà,renovam-se pontos de pensivo. Por isso é que se plei-
vista e convicções. Não é a pTÍ- teia, aqui, o mandado de seguran-
meira vez que ocorre a objeção ça . Disse eu, então: os que as-
de que, por fôrça da índole do re- sim sustentam vão abeberar-se
curso de mandado de segurança nas disposições do Código, esque.
que se estabelece para uma sen- cidos de que a lei do mandado de
tença denegatória de mandado de segurança atual tem um artigo fi-
segurança, os despachos anteTÍo- nal que determina: "Art. 20. Re-
res dos Juízes, notadamente o vogam-se os dispositivos do Códi.
despacho pelo qual se concede a go de Processo Civil sôbre assun-
liminar, ficam suspensos. Essa é to e mais disposições em contrá-
tôda a questão. Sustenta-se que é rio" .
da natureza do recurso previsto Do Código de Processo Civil,
pela lei do mandado de segurança portanto, nada há que se aplicar
o efeito suspensivo - então o em relação ao mandado de segu-
efeito suspensivo de quanto se rança. Tudo se rege pela Lei n.O
passou no processo, inclusive da 1.533, de 1951. Ora, essa lei, efe-
liminar. Argumentando puramen- tivamente, no art. 12, estabelece
te por êsse lado, convenhamos que que o recurso é o de agravo de pe-
assistiria razão aos que assim pre- tição, mas acrescenta, logo a se-
tendem. Mas êsses se atêm ao guir, uma providência que não é
Código de Processo. Embora o da índole dêsse agravo no siste-
Código de Processo não diga, ex- ma do processo ordinário vigente:
pressamente, que o recurso de reconhece o direito de sustenta-
agravo de petição tenha efeito ção oral nos agravos de petição
suspensivo, por indução se chega em mandado de segurança . Já
a tal conclusão, em virtude do que vai dando umas tintas diferentes
dispõe com relação ao agravo de à índole do agravo de petição.
instrumento, que, via de regra, A solução da controvérsia há
salvo três casos definidos na lei, que se encontrar - e estou de
não tem efeito suspensivo. Já no pleno acôrdo, nessa parte, com o
Dec.1ei n.O 960, de 1938, por dis- Sr. Min. Aguiar Dias, que o dis-
posição expressa, o agravo de pe- se muito bem - é na índole da
tição, que é o recurso que a parte medida liminar. Aí, sim. Veja-se
tem da sentença de Primeira Ins- o que dispõe o código (vamos di-
tância, tem efeito suspensivo. No zer assim) do mandado de segu-
Código, admite-se o efeito suspen- rança: "Art. 7.° - Ao despachar
sivo por fôrça de conclusão: por- a inicial, o Juiz. . ."
que êle estabelece efeito suspensi- Note-se uma diferença: pela
vo em determinados casos do primeira lei do mandado de segu-
agravo de instrumento, é expresso rança, e creio que pelo Código Ci-
quanto ao efeito suspensivo nas vil, quando o mandado de segu-
apelações e silencia a respeito no rança ainda se regia por êsse Có-
concernente ao agravo de petição. digo, a liminar só era de se con-
A construção, conseqüentemente, ceder depois de fornecidas as in·
o efeito negativo há que ser ex- formações, o que constituía uma
- 194-

extravagância, não só porque re- por um êrro de entendimento, de


tirava à liminar aquêle sentido de uma má inspiração, o legislador
providência de pronto, de efeito permitiu a coexistência de litis-
imediato, como porque, ja então, consortes com o pedido do autor
não teria finalidade, porque de- principal. Veja-se, inicialmente,
das informações viria a sen- que isso contraria a índole do
tença final, proÍerida pelo Juiz de mandado de segurança, porque o
Primeira Instância. litisconsorte vem retardar a solu-
A lei atual modilicou a situa- ção final e o mandado é, em es-
ção. Diz: "Art. 7.° - Ao despa- sência, medida de pronto efeito.
char a inicia!, o juiz ordenará: 11 Mas há que se conciliar. Eu, por
- que se suspenda o ato que deu exemplo, não entendo que o litis-
motivo ao pedido quando fôr re- consórcio no mandado de segu-
levante o fundamento e do ato rança se deva processar na con-
impugnado puder resultar a ine- formidade da lei do processo civil,
ficácia da medida, caso seja defe- porque êle contraria dispositivo
rida." expresso da lei do mandado de
Ora, o Sr. Min. Aguiar Dias segurança, contraria, inicialmente,
afirmou que a medida liminar não a índole da medida; segundo, por
é uma medida acautelatória. Sus- fôrça do Código de Processo Ci-
tento que o é, evidentemente. vil, o litisconsórcio em certas hi-
O Sr. Min. Aguiar Dias: - póteses só se admitirá se houver
Tem o sentido de cautela, mas, acôrdo das partes. Mas, como se
paralelamente a êsse, tem o de conciliar êsses dispositivos com o
medida discricionária. outro que acabei de ler? E se o
O Sr. Mim Cunha Vasconcellos: Juiz entender que os litisconsor-
- Perfeito. Há que ficar ao cri- tes têm o mesmo direito vai man-
tério do Juiz. Que fica ao crité- dar ouvir as outras partes se es-
rio do Juiz - e tem que ser ao tão de acôrdo? Entendo que não,
bom critério do varão? Verificar que não se enquadra na índole do
se a continuação do ato ou a sua mandado de segurança. Desde
não continuação poderá compro- que foi pedido o litisconsórcio, há
meter o êxito da medida, caso se- que se processar êsse pedido, ten-
ja concedida. Só pode ser ao cri- do em vista a índole dêsse insti-
tério do Juiz. Não está subordi- tuto, e não invocando o Código de
nada a um molde, a uma fôrma. Processo Civil para retardamento
A nossa legislação, às vêzes, é decorrente de providências que o
muito desarmoniosa e incongru- Código manda realizar-se em si-
ente. O dispositivo citado (art. tuações ordinárias - porque o
324, § 2.0, do Código do Proces- mandado de segurança cogita de
so), por exemplo (isto agora é ad situações extraordinárias. Por tu-
la tere, eu passant). ltsse disposi- do isso, Sr. Presidente, e tendo
tivo do § 2.° do Código vem mos- em vista o que já disse, que o
trar que, em se tratando de man- efeito do agravo em mandado de
dado de segurança, há que se afas. segurança não há que ser defini-
tar o Juiz, por fôrça de compre- do pela índole do recurso, mas,
ensão, de dispositivos expressos sim pela índole do instituto de di-
de outras leis. Então, ilusÚando: reito processual a que êle serve,
195 -

não pode ser, necessàriamente, acautelatória que a lei deu ao Juiz


suspensivo. E não pode ser, ne- de Primeira Instância. Isso, por
cessàriamente suspensivo - tatu- fôrça de compreensão da Cons-
bém já o disse o Min. Aguiar tituição.
Dias - por quê? Porque sendo Assim sendo, data venia, tam-
um ato de política judiciária, sen- bém nego o mandado, porque en-
do um ato 8j .critério do Juiz, com tendo que, para efeito de julga-
que se procura aCliutelar os efei- mento, a discussão e o debate hão
tos do mandado de segurança, ca- que ficar adstritos a êsse aspecto.
so venha a ser concedido, é evi-
dente, então, que, se não fôr con- Voto
cedido, aquela cautela não se jus- O Sr. Min. Godoy Ilha: - Não
tifica mais. conheceria, Sr. Presidente, do
O Sr. Min. A~uiar Dias: - E mandado, mas conhecido, o inde-
se o Juiz não mantiver? firo, nos têrmos do voto do Rela-
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: tor.
- Acho que não. Acho que se
exauriu a competência do Juiz, e Decisão
não se prolonga sua autoridade Como consta da ata, a decisão
judicante depois de esgotada a foi a seguinte: Por maioria de vo-
sua competência, que vai até o tos, denegaram o mandado. Os
momento de deferir, ou não. Não Srs. Mins. Cunha Vasconcellos,
encontro, por construção nem por Henrique d'Ávila e Godoy Ilha
dispositivo da lei, podêres para votaram com o Sr. Min. Relator.
tanto; agora, admito que um Juiz Presidiu o julgamento o Sr. Min.
de Segunda Instância, no julga- Sampaio Costa. Não comparece-
mento de um recurso, pode res- ram, por motivo justificado, os
tabelecer, porque encontro na sua Srs. Mins. Djalma da Cunha
competência a mesma função Mello e Cândido Lôbo.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N.O 31.531 - DF.
Relator -- O Ex. mo Sr. Min. Henrique d'Ávila
Agravantes - lVlário Cataluna Neves e outros
Agravado - IAPM
Acórdão
Gratificação de nível universitário. Abono de
20% da Lei n.o 3.826/60, art. 7.°. Sua incorpora-
ção aos vencimentos de funcionário. Ilegal preten-
são de funcionário de incorporar aos seus vencimen-
tos a gratificação de nível universitário e o abono
estabelecido pelo art. 7.°, da Lei n.o 3.826/60.
Vistos, relatados e discutidos Cataluna Neves e outros e agra-
êstes autos de Agravo n.o 31.531, vado IAPM:
do Distrito Federal, em Mandado Acorda, por unanimidade, a
de Segurança, agravante Mário Primeira Turma do Tribunal Fe-
196 -

dera] de Recursos, em negar pro- cuida o art. 74, da Lei de Clas-


vimento ao recurso, conforme sificação de Cargos (Lei n.o 3.780,
consta das notas taquigráficas de 12-7-1960), e de que são des-
anexas, as quais, com o Relatório, tinatários os funcionários de "ní-
ficam fazendo parte integrante vel universitário", difere, de todo
dêste julgado., apurado às fls. 49. em todo, das gratificações previs-
Custas ex lege. tas no art. 145 e seguintes, do Es-
Tribunal Federal de Recursos, tatuto dos Funcionários Públicos:
Brasília, 17 de setembro de 1963. a primeira, é vantagem outorgada
- Henrique d'Avila, Presidente sôbre os vencimentos de servido-
e Relator. res públicos, de nível universitá-
rio, ocupantes de cargos para cujo
Relatório ingresso, ou desempenho, seja exi-
gido diploma de curso superior;
o Sr. Min. Henrique d'Avila: - a segunda, é compensação excep-
Mário Cataluna Neves e ou- cional, independente do venci-
tros, requereram mandado de se- mento, ou remuneração por ser-
gurança contra o Presidente do viço prestado, quer o servidor
IAPM, que lhes negou o direito pertença aos quadros da adminis-
de terem incorporada, para todos tração, quer exerça em caráter
os efeitos, a gratificação de nível transitório; acrescenta-se ao ven-
universitário e o abono de que cimento, não se lhe incorpora, por-
tratam as Leis n.O S 3.780 e 3.826, que somente devida enquanto
de modo que, calculados os 20% dura o exercício da função tran-
do abono, sejam êsses somados seunte ou a prestação do serviço
aos vencimentos e sôbre a soma que a justifica.
alcançada sejam calculados então A meu ver, a gratificação de ní-
os 25 % da gratificação de nível vel universitário não se incorpora
universitário, ou vice-versa. ao vencimento, para o efeito de
O Juiz a quo, sentenciando de sôbre a soma de ambos, vencimen-
fls. 27 a 31, denegou a segurança. to e gratificação, proceder-se ao
Irresignados, agravaram os im- acréscimo do percentual de 20%
petrantes. do abono de que trata o art. 7.°,
Houve recurso devidamente da Lei de Paridade (n. ° 3.826) ."
minutado, contraminutado, e nes- E prossegue S. Ex.a desenvol-
ta Superior Instância a Subpro- vendo longa argumentação sôbre
curadoria-Geral, oficiando a fls. a espécie - que me parece de to-
44, limitou-se a pedir a confirma- do procedente - no sentido de
ção da lapidar sentença agravada. denegar a segurança. Portanto,
É o relatório.
por estar de acôrdo com os fun-
damentos da sentença, mantenho-a
Voto por seus próprios fundamentos.
o Sr. Min. Henrique d'Ávila: -
O MM. Juiz a quo arrolou entre Voto
os fundamentos de sua ilustrada
sentença o seguinte: "Na verdade, oSr. Min. Colombo de Souza:
a gratificação especial de que - Estou de acôrdo com V. Ex.a
197 -

de vez que as gratificações, que A não ser aquelas que se incor-


são várias hoje, compondo os ven- poram aos vencimentos, as grati-
cimentos dos funcionários públi- ficações devem ser computadas
cos, só podem ser computadas sô- sôbre os vencimentos básicos, que
bre as gratificações anteriores, constituem a remuneração do ser-
quando a lei especificamente os vidor público.
manda incorporar aos vencimen-
tos; quando não manda, não po- Decisão
dem ficar, digamos assim, for- Como consta da ata, a decisão
mando cadeia, de modo a consti- foi a seguinte: Por unanimidade,
tuir um verdadeiro juro composto. negou-se provimento ao recurso.
Criar-se-ia uma questão maior Os Srs. Mins. Colombo de Souza
para saber quais seriam as comis- (Cândido Lôbo) e Amarílio Ben-
sões que seriam primeiramente jamin votaram com o Relator.
computadas para depois, sôbre Presidiu o Julgamento o Sr. Min.
elas, computar-se as seguintes: Henrique! d'Ávila.

MANDADO DE SEGURANÇA N.O 31.581 - DF.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Requerente - Mineração Serra do Curral S. A.
Requerido - Sr. Ministro das Minas e Energia

Acórdão
Emprêsas de mineração. Sócios estrangeiros.
O cidadão estrangeiro não pode participar de
sociedades brasileiras, de exploração de minérios.
Se é verdade que a Constituição não encampa a
proibição incisiva do direito anterior, também é cer-
to que se impõe lei ordinária que estabeleça a pro-
porção de capital e de pessoas alienígenas que pos-
sam compor uma sociedade mineradora nacional.

Vistos, relatados e discutidos ês- nos têrmos de fôlhas 70. Custas


tes autos de Mandado de Segu- ex lege.
rança n. o 31.581 do Distrito Fe- Tribunal Federal de Recursos,
deral, impetrante Mineração Ser- Distrito Federal, 17 de junho de
ra do Curral S. A. e impetrado 1963. - Sampaio Costa, Presi-
Sr. Ministro das Minas e Energia: dente; Amarílio Benjamin, Rela-
tor.
Acorda, por maioria de votos, o
Tribunal Federal de Recursos, em Relatório
sessão plena, em indeferir o man-
dado, conforme consta das notas o Sr. Min. Amarílio Benjamin:
taquigráficas anexas, as quais, com - Mineração Serra do Curral
o relatório, ficam fazendo parte in- S.A. requereu em 14 de novem-
tegrante dêste julgado, apurado bro de 1962 mandado de segu-
- 198-

rança contra o ato do Sr. Minis- plina da aplicação do capital. Tudo


tro das Minas e Energia, que, na sem perder de vista que, ainda
conformidade do despacho plJ.bli- hoje, as relações internacionais, in-
cado a 19 de julho de 1962, in- felizmente, se orientam pelo mais
deferiu o pedido de aprovação das frio interêsse. Cada Potência de-
alterações levadas a efeito na sua seja a sua pax romana...
sob o fundamento de Pensando assim, não considera-
que as transformações aludidas, mos demasia a política de justa
com a entrada de elementos es- defesa da nossa riqueza mineral.
trangeiros na sociedade, infringiam Dir-se-á que o problema, em têr-
a legislação em vigor, nos têrmos mos práticos, há de ser resolvido
do parecer do Serviço Jurídico do diante das normas legais. Perfei-
Ministério. Indeferimos o requeri- tamente. A Constituição, no arti-
mento de suspensão liminar, por go 153, § 1.0, pelo fato de não re-
não ocorrerem os pressupostos le- editar a incisiva linguagem da
gais. Tomamos as informações e Carta de 1937, não liberou, a nos-
e o Parecer do Dr. Subprocurador so ver, de exigências de caráter
da República. nacionalista a organização de so-
É o relatória.. ciedades mineradoras. Pela reda-
ção do dispositivo, segundo a tra-
Voto dição legislativa existente e consi-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: derando-se a necessidade de salva-
- Reconhecemos, antes de tudo, guardar o interêse brasileiro, é
que o assunto se presta aos exa- justificável que se interprete o Es-
geros do exaltado jacobinismo que tatuto de 1946 como impondo à
pretende extremar o País, do es- pessoa jurídica, na composição
trangeiro, com uma nova mura- respectiva, a mesma regra da pes-
lha chinesa, mesmo que frontei- soa física, exclusivamente brasilei-
ras a dentro não haj a desenvolvi- ra. Do contrário, poder-se-á con-
mento, nem ninguém possa liber- seguir, através da organização so-
tar-se da servidão econômica e in- cial, o que se proibiu ao estran-
telectual a que tenha sido con- geiro, como indivíduo. É certo, no
denado pelas origens e falta de entanto, que a expressão constitu-
oportunidades. É verdade, porém, cional permite adotar-se critério
que aplausos não merece a cor- menos rígido na formação das so-
rente "entreguista", nela incluídos ciedades referidas. Para isso, po-
os homens de boa-fé, sempre a ba- rém, faz-se preciso lei complemen-
ter palmas ao alienígena e à sua tar que estabeleça, ao menos, a
fortuna. Não obstante, o problema proporção de sócios estrangeiros
exige de todos uma definição. Pa- nas emprêsas e as cotas de capi-
rece-nos que a atitude mais cer- tal. Sem essas cautelas e compre-
ta e nacionalística seja a de que endida a Constituição, na simples
o estrangeiro participe, se quiser, literalidade do preceito, chega-se
da vida brasileira, obtenha lucros à ilimitação de organizações, com
razoáveis de sua atividade, mas elementos e capital estrangeiros,
fique submetido à prioridade do in- exclusivamente. O absurdo de-
'terêsse nacional, desde o selecio- monstra a inviabilidade ou impro-
namento do trabalho até à disci- cedência de tal compreensão.
- 199-

Por fim, não se diga que o Códi- nossa Constituição, em relação aos
go de Minas, no detalhe, ficou re- estrangeiros. Isso não é dependen-
vogado ou impede a expansão da te de prova. Ou êle tem direito,
indústria mineral. Provada como ou não tem, por ser estrangeiro.
foi a compatibilidade da atual Não há mais nada que provar se-
Carta Magna, com o antigo pensa- não a sua nacionalidade. A meu
mento, a idéia perde qualquer va- ver, portanto, cabe o mandado de
ao revés, o que prepondera é segurança. Neste particular, acom-
o Cód. de Minas, até que a nova panho o Min. Relator, conhecen-
legislação comum venha dizer do da segurança, por ser o caso.
exatamente o alcance das pala- Se houvessem outras situações ju-
vras que o constituinte preferiu rídicas a serem provadas, acom-
utilizar. Vale acentuar também panharia de bom grado o Sr.
que o Código nunca foi tido como Min. Cunha Mello. Focalizou
impecilho ao desenvolvimento da S. Exa. um ponto que precisava
produção mineral do País. Apesar ser esclarecido; S. Exa. veio ao
do rigor do art. 6.°, o art. 76 deu Tribunal para trazer à discusão
chance, nos casos especificados, ao um ponto preliminar. Não vejo
homem e capital estrangeiros. No em que haja mais o que provar
mesmo rumo, por intermédio de frente ao texto. O texto é muito
ações ao portador, corresponden- claro. Deixa dúvida, isso sim, não
tes à metade do capital social, se- pela sua redação, mas sim em fun-
guiu o Dec-Iei n.o 6.230, de 29 ção das Constituições anteriores
de janeiro de 1944. Tudo não pas- de 1934 e 1937, as quais proibiam
sa, portanto, de reivindicação do terminantemente, quer à pessoa
mundo dos negócios, que, como é física, quer à jurídica, às socie-
natural, pretende menos contrôle dades que explorassem minas, ti-
e mais vantagens. vessem capital estrangeiro. De
Indeferimos assim a segurança modo que o que se procura dis-
pleiteada, salientando ainda que a tinguir, em face do nôvo texto da
requerente, além de sócios estran- Constituição de 1946, é se, usan-
geiros, pessoas físicas, propriamen- do ela da expressão "brasileiros"
te, possui na sua liderança, como as autorizações ou concessões se-
titular de mais de 99 % das ações, rão conferidas, exclusivamente, a
uma poderosa companhia minera- brasileiro, e aí começa a dificul-
dora, cuja composição, porém, não dade, ou às sociedades organiza-
foi apresentada a exame ou sim- das no País. Não repete: "às so-
ples conferência. ciedades brasileiras organizadas
no País." Deixou em suspenso. O
Voto (Vencido)
impetrante sustenta que, por isso,
O Sr. Min. Cândido Lôbo; a proibição é de pessoa física tão-
Sr. Presidente, peço vênia ao -somente. Um estrangeiro não po-
Sr. Min. Djalma da Cunha Mello de explorar minas no país. Agora,
para dêle discordar, porque a úni- estrangeiros e brasileiros podem
ca coisa a ser provada no manda- fazer uma sociedade para explo-
do de segurança que ora está em rar as minas brasileiras. ltste é
discl.lsã<r. é a possibilidade, ou não, o ponto de vista do impetrante.
da vi~ncia do art. 153, § 1.0, da De modo que a matéria a discutir
- 200-

é essa tão-somente; não se pede Constituição ficou autorizado que


mais nada senão isso. Saber se uma sociedade, pelo fato de ser
pode, ou não, o estrangeiro, fazer organizada no Brasil, possa ser
parte de uma firma para explora- composta exclusivamente de es-
ção de Minas. Consultei, agora trangeiros? O Sr. Min. Orozimbo
mesmo, o Min. Oscar Saraiva, se Nonato, com o seu brilhantismo,
não era o caso em que recebi, no não enfrentou isto. Acho que é
Rio de Janeiro, um longo parecer fundamental, não só para inter-
do Min. Orozimbo Nonato, e êle pretar a Constituição, como para
respondeu pela afirmativa. Li êsse nos colocarmos a cavaleiro em
parecer, Sr. Presidente ... defesa dos nossos interêsses.
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Um O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
parecer que foi sufragado pelo Sr. Presidente, tem procedência o
Consultor-Geral da República, Sr. argumento do Min. Amarílio Ben-
Antônio Balbino. jamin e côlho dêle justamente uma
O Sr. Min. Cândido Lôbo: - conclusão oposta à que S. Ex.a
Li êste parecer, Sr. Presidente, e manifestou, porque, evidentemen-
confesso a V. Exa. que fiquei na te, se a pessoa física não pode ser
dúvida. Não foi uma matéria que estrangeira - por isso que a iten-
pudesse-me convencer, desde logo, ção do constituinte foi a da plu-
no sentido do indeferimento da ralidade e não a da unidade - é
pretensão. O parecer é notável que a pessoa jurídica, exclusiva-
como todos os proferidos por mente composta de estrangeiros,
aquêle Mestre. também não pode, porque incidi-
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: ria, forçosamente, no art. 153. Mas
- V. Ex.a me permite? V. Ex. a o mandado de segurança não foi
sabe, Relator do processo, li a pe- requerido para isso. Não se tra-
tição com a sua justificação, as ta de uma sociedade exclusiva-
informações da autoridade e, tam- mente composta de capital estran-
bém, as peças que a petição invo- geiro ou de estrangeiros. O que o
cou, inclusive o brilhante parecer impetrante pede é justamente
do Sr. Min. Orozimbo Nonato. Ao isso: se êle, como estrangeiro,
final, porém, uma pergunta se pode, ou não, fazer parte de uma
apresentou ao meu espírito e que sociedade - claro que de uma
ainda agora, de algum modo, cons- sociedade brasileira.
titui uma das razões pelas quais O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
indeferi o mandato de segurança. -V. Ex. a permite outro aparte?
Não está no parecer do Sr. Min. Creia V. Ex.a que, no estudo que
Orozimbo Nonato que a Consti- fiz do processo, desci, também, ao
tuição, no art. 153, § 1.0, autori- exame dessa situação da socieda-
zasse amplamente a participação de. Deparei-me com o seguinte:
de estrangeiros numa sociedade or- inicialmente, uma sociedade por
ganizada, segundo a lei brasileira. quotas foi constituída por dois só-
Isto é, em que proporção o es- cios brasileiros. Depois, a trans-
trangeiro pode participar da so- formação deu uma constituição
ciedade brasileira? Segundo a completamente diferente: os dois
Constituição, essa liberdade de or- sócios brasileiros se afastaram e
ganização é total? Será que pela passaram as suas quotas aos no-
- 201-

vos componentes. Os novos com- de que as sociedades sejam orga-


ponentes são, entre outros, dois nizadas por brasileiros e estran-
estrangeiros -- alemães, salvo en- geiros, têm direito à exploração
gano, dois brasileiros e uma so- das Minas. Se por acaso vier a
ciedade. Ficou-me, de logo, um fraude de transferência dessas so-
reparo: além dêsses dois sócios es- ciedades, organizadas a princípio,
será que a sociedade, também, com estrangeiros, para
que entrou na composição da so- que elas passem, depois de orga-
ciedade impetrante, é de brasilei- nizadas e obtida autorização para
ros somente, ou é de brasileiros explorar o minério no Brasil, às
e estrangeiros que, porventura, te- mãos exolusivamente de eSltran-
nha se' registrado anteriormente geiros, aí nada, absolutamente
na base de orientação do Minis- nada poderão êles obter, porque
tro que eventualmente estava na surge então a violação da Cons-
Pasta? Não tive informação dos tituição que foi feita justamente
autos. Porque, se tivesse informa- nesse detalhe para impedir que
ções, evidentemente eu poderia essas minerações fiquem nas mãos
chegar até a outras conclusões a exclusivas dos estrangeiros. Mas,
respeito até da própria participa- desde que tenha a participação dos
ção do estrangeiro na sociedade brasileiros, a intenção do consti-
brasileira. Mas o processo não res- tuinte é até patriótica, porque se
ponde a essas indagações. socorreu como bem disse o Sr.
O Sr. Min. Cândido Lôbo: - Min. Djalma da Cunha Mello,
Concluindo, Sr. Presidente, o meu em seu voto, na necessidade do
ponto de vista também foi como capital estrangeiro para nos aju-
que aguçado pelo fato de a Comi. dar, nos auxiliar. Infelizmente,
tituinte de 1946 não ter querido nós não temos outros meios se-
se manifestar expressamente. Não não fazer êsse chamamento. Pre-
se manifestou sôbre a proibição sentemente, é o que' estamos fa-
das Constituições anteriores a zendo, por intermédio do Sr. Mi-
1934 e 1937, porque nada o im- nistro da Fazenda, nos Estados
pediu que êle dissesse: as auto- Unidos, chamando para nos so-
rizações ou concessões, conforme correr o capital estrangeiro.
diz no § 1.0, 153: "As autorizações
De modo que, Sr. Presidente,
ou concessões serão conferidas
defiro a segurança, e me aguardo,
exclusivamente a brasileiros ou a
porque é bem possível que tudo
sociedades organizadas no país".
isto que esteja dizendo não cor-
No entanto, êle usou da expres-
são "ou a sociedades organizadas responda à verdade jurídica. E
no país". Não repetiu a expressão por quê? Porque o Sr. Min. Go-
"brasileiros". De modo que deixou doy Ilha já declarou que vai pe-
a questão em aberto. dir vista dos autos. E S. Ex. a,
Em princípio, Sr. Presidente, o com o brilhantismo de sempre, é
meu voto é manifestado dentro absolutamente capaz de demover-
dessa dupla razão de ser: a pes- -me, dado o profundo conhecimen-
soa física não pode, quer pelas to que tem dos fatos que vêm à
Constituições de 1934, 1937 e nossa decisão. Como voto antes
1946. E, por esta, a meu ver, des- dêle, defiro a segurança, porém

14 - 35883
- 202-

aguardando o pronunciamento de Êsse o regime vigorante, de


S. Ex. a. 1937.
Para melhor esclarecer e funda-o Na Constituinte de 1946, hou-
mentar o meu entendimento, ve forte reação contra êsse nacio-
transcrevo em parte o Parecer do nalismo, reputado exagerado.
Consultor-Geral da República, O principio da nacionalização
Dl'. Antônio Gonçalves de Olivei- não conseguiu alçar-se à catego-
ra, com o qual estou de pleno ria de ordem constitucional, em-
acôrdo: a Constituição de 1937 bora, a propósito, esclarecesse o
orientou-se por uma política de Deputado Prado Kelly: "Se hou-
nacionalização das minas, segun- ver interêsse em fazer a naciona-
do a disposição expressa do seu lização progressiva, a lei ordiná-
art. 144. ria a determinará".
Nesse escopo, determinou a O Deputado Hermes Lima ex-
Carta Constitucional que o apro- plicava a nova orientação de ad-
veitamento industrial das minas e mitir o capital estrangeiro nas em-
das jazidas dependeria de auto- prêsas de mineração. Veja-se, a
rização federal, a qual somente propósito, a informação de José
poderia ser concedida "a brasilei- Duarte, na exegese, dos textos
ros, ou emprêsas constituídas por constitucionais, através dos tra-
acionistas brasileiros". (art. 143, balhos da Assembléia Constituin-
§ 1.0). te: "Hermes Lima explica que a
O Código de Minas, Dec . lei Subcomissão teve em mira esta-
n.o 1.985, de 29 de janeiro de tuir que as autorizações ou con-
1940, no art. 6.°, reproduziu êsse cessões pudessem ser conferidas a
preceito, e determinou no § 2.°: brasileiros ou a emprêsas organi-
"No caso, porém, de transmissão zadas no Brasil e que pudessem
inter vivos ou causa mortis, so- participar capitais estrangeiros. Se
mente a brasileiros natos é permi- a comissão entende que a expres-
tida a sucessão." são "emprêsas organizadas no Bra-
É certo, porém, que a regra foi sil" não é suficiente a êsse esco-
atenuada. O Dec-1ei n.o 6.230, de po, o dispositivo, naturalmente,
29 de janeiro de 1944, contrarian- deve ser modificado" (A Consti-
do o § 1.0, do art. 143, da Cons- tuição Brasileira de 1946, vaI. 3.0 ,
tituição (êste § 1.0, sem dúvida, pág. 164-5).
exigia fôsse o capital social cons- Ficou, então, esclarecido que as
tituído por ações nominativas, emprêsas, mesmo com acionistas
cujos titulares fôssem brasileiros) estrangeiros, desde que organiza-
das no Brasil, "passam a ser pes-
facultou às sociedades de minera-
soas jurídicas de nacionalidade
ção, mediante prévia autorização brasileira". O que cumpria evitar
do Presidente da República, ti- - está nos anais - é que socie-
vessem metade do seu capital for- dades com sede no estrangeiro,
mado por ações ao portador, des- cuja direção não pudesse ser fis-
de que a outra metade o fôsse por calizada pelas autoridades brasi-
ações nominativas, cuja proprieda- leiras e th/1essem, também, fôro
de só poderia caber a pessoas fí- em outro país, viessem a obter au-
sicas brasileiras. torização ou concessão para ex-
- 203-

ploração da propriedade prevista 1946 (Comentários à Constiteição


no artigo" (José Duarte, ob. cito de 1946, 2.a ed., vaI. IV, pág. 520).
loco cit.). Neste particular, como assina-
De acôrdo com êsse pensamen- lava Themístocles Cavalcanti, não
to dos legisladores constituintes, assiste razão ao autorizado trata-
optou-se, então, por critério opos- dista, pois, como se viu, a Cons-
to ao da de 1937. tituição vigente optou, delibera-
"Não se exigiu que as emprêsas damente, por nova diretriz.
fôssem constituídas" "por acionis- É certo, porém, que a Consti-
tas brasileiros". Eis como ficou re- tuição fala em concessão a bra-
digido o § 1.0 do art. 153, na parte sileiros e "sociedades organizadas
que interessa: "§ 1.0 - As auto- no país", o que não impede pos-
rizações ou concessões serão con- sa a legislação ordinária, com am-
feridas exclusivamente a brasilei- pla liberdade, estabelecer normas
ros ou a sociedades organizadas que reputar convenientes na or-
no país, assegurada ao proprietá- ganização dessas emprêsas, no es-
rio do solo preferência para a ex· copo de defender o patrimônio
ploração". nacional, as nossas riquezas de
Desta sorte, ficaram revogados subsolo, contra grupos econômico.
o art. 143, § 1.0, da Carta de 1937, financeiros organizados em seu in-
o art. 6.° do Código de Minas que terêsse, contrários, porém, aos in-
reproduzira o preceito daquela terêsses nacionais. Em tal escopo,
Carta e vedava, no § 2.0, a suces- poderá a legislação ordinária de-
são de estrangeiros nas ações das terminaI'\ normas jurídicas sôbre a
emprêsas de mineração. direção da sociedade e diminuir
Veja-se neste sentido a con- e nulificar mesmo, se necessário,
clusão de Themístocles Cavalcan- a participação de acionistas es-
ti; "Parece-nos de tôda a evidên- trangeiros, em tais sociedades. Re-
cia que a Constituição vigente mo- pitamos, aqui, a observação de
dificou o sistema anterior (Cons- Prado Kelly na Assembléia Cons-
tituição de 1937, art. 143), que tituinte; "Se houver interêsse em
exigia a nacionalidade brasileira se fazer a nacionalização progres-
dos acionistas, voltando ao regi- siva, a lei ordinária a determi-
me da Constituição de 1934 (ar- nará."
tigo 119)". (A Constituição Fe- No Parecer da Consultoria-Ge-
deral Comentada, voI. In, pági- ral da República, o que ficou as-
na 397. No mesmo sentido, Lauro sentado foi a permissão, até que
Lacerda Rocha, Código de Minas, a lei ordinária disponha em con-
1954, pág. 59). trário, de que nas "sociedades or-
A propósito, entende Pontes de ganizadas no país" figurem acio-
Miranda que a regra jurídica do nistas estrangeiros, pois tais socie-
art. 143, § 1.0, da Constituição de dades, nos têrmos do preceito de
1937 (exigência de acionistas bra- ordem legal, do art. 60 da Lei de
sileiros, exclusivamente) continua Sociedade por Ações, Dec-lei
em vigor até que a legislação or- n.o 2.627, de 1940, são as "or-
dinária regule a organização das ganizadas na conformidade da lei
sociedades a que se refere o ar- brasileira e que tenham no país
tigo 153, § 1.0, da Constituição de a sede de sua administração". A
- 204-

futura legislação ordinária pode. da a funcionar como emprêsa de


rá alterar êsse conceito para as nlineração pelo Dec. n.o 37.782,
emprêsas de mineração. Mas, en- de 22 de agôsto de 1955, e rea-
quanto não o fizer, é o conceito Hzada integralmen,te por uma
que deve prevalecer, admitindo- área de 40 ha. sita na Fazenda do
c-se, a de Rodrigo, na Serra do Curral, na-
acionistas estrangeiros. quele município; por outra gleba
de 22,7 ha. de terras não minera-
Decisão
lizadas, na mesma Serra do
Como consta da ata, a decisão Curral; por 770 quotas adquiri-
foi a seguinte: Após os votos dos das ao primitivo quotista Otávio
Srs. Mins. Amarílio Benjamin, Lima e 230 cedidas pelo quotis-
Aguiar Dias, Henrique d'Avila e ta José Magalhães Lima, que se
Djalma da Cunha Mello indefe- retiraram da sociedade, e pelos di-
rindo o mandado, e do voto do reitos de lavra outorgados pelo
Sr. Min. Cândido Lôbo deferin- Dec. 7.235, de 28 de abril de
do-o, pediu vista dos autos o. 1942, cedidos pelo seu titular, o
Sr. Min. Godoy Ilha. Presidiu dito José Magalhães Lima. As res-
o julgamento o Sr. Min. Sam- tantes 100 quotas foram subscri-
paio Costa.
c tas pela Indústria e Comércio Ma-
nex do Brasil S . A. , Sigmund
Voto (Vencido) Weiss, Othon Henry Leonardos,
O Sr. Min. Godoy Ilha: - A Cristiano Effenberger, Edwin May
impetrante, Mineração Serra do e Alfredo Precht, todos brasileiros
Curral S. A ., constituída originà- com exceção dos dois últimos, de
riamente sob a forma de socie- nacionalidade alemã.
dade por quotas e sob a razão so- Por último, por instrumento ar-
cial de Mineração Serra do Curral quivado na Junta Comercial em
Ltda., com sede em Belo Horizon- 2 de agôsto de 1960, transforma-
te, Minas Gerais, foi autorizada a ram os quotistas, a emprêsa em
funcionar como emprêsa de mi- sociedade por ações, sob a mes-
neração pelo Dec. n.o 48.005, de ma denominação e com o mesmo
5 de abril de 1960. capital, representada por ações no-
O capital da sociedade, segun- minativas ou ao portador, e elei-
do o contrato social original, era tos diretores os acionistas Sig-
de Cr$ 1. 000 . 000 dividido em mund Weiss, Othon Henry Leo-
mil quotas do valor nominal de nardos e Edwin May.
Cr$ 1. 000 . Posterio.rmente, em Feita esta alteração, requereu a
18 de julho daquele mesmo ano, impetrante, através do Departa-
o contrato institucional foi altera~ mento Nacional de Produção Mi-
do, transferida a sede social para neral, ao Sr. Ministro das Minas
Nova Lima, no mesmo Estado, e e Energia a sua aprovação e a
elevado o capital para ........ . expedição do respectivo decreto
Cr$ 54. 000 . 000, em quotas do permISSIVO da continuação das
mesmo valor, sendo 53.900 quo- suas atividades.
tas subscritas pela Mannesmann O pedido, não obstante os pro-
Mineração S.A., com sede tam- nunciamentos favoráveis dos ór-
bém em Nova Lima e autoriza- gãos daquêle Departamento, foi
- 205-

indeferido pelo então titular da- nhias destinadas à exploração da


quela pasta, o saudoso e emien- mineração tenham seu capital
te brasileiro Gabriel Passos, aco- constituído em metade por ações
lhendo as conclusões de um pare- ao portador, desde que a outra
cer de sua assessoria jurídica, con- metade o seja por ações nomina-
tra a pretensão da requerente, tivas, cuja propriedade só poderá
considerada em conflito com o caber a pessoas físicas brasilei-
art. 6.° do Código de Minas e se- ras.
quer ajustada às disposições do Mas, à evidência, que tais dis-
Dec . lei 6.230, de 1944. disposições legais, tanto a do Có-
As mesmas razões são agora in- digo de Minas como a suso trans-
vocadas no Parecer do ilustre Con- crita, tornaram-se incompatíveis
sultor Jurídico daquele Ministé- com o regime estabelecido pela
rio, Dr. João Crisóstomo de Aze- Constituição vigente, que tornou
vedo Guedes, constante de fls. 34 ao sistema do Estatuto de 1934.
usque 38, arrimando-se, ainda, na Com efeito, estabelece o art. 153
decisão proferida por êste Tribu- da Constituição de 1946 que o
nal no Mandado de Segurança aproveitamento dos recursos mi-
n.o 29.039, impetrado por Gra- nerais e de energia hidráulica de-
nimar S . A ., Mármores e Gra- pende de autorização ou conces-
nitos, que acolheu a tese susten- são federal e que "as autorizações
tada pela autoridade administra- ou concessões serão conferidas ex-
tiva. clusivamente a brasileiros ou a so-
Com efeito, dispõe o art. 6.° do ciedades organizadas no país, asse-
Código de Minas: "O direito de gurada ao proprietário do solo
pesquisar ou lavrar só poderá ser preferência para a exploração (ar-
outorgado a brasileiros, pessoas tigo 153, § 1.0). Voltou-se ao prin-
naturais ou jurídicas, constituídas cípio estatuído na Constituição de
estas de sócios ou acionistas bra- 1934, em cujo art. 119, § 1.0 se
sileiros." dispunha: "As autorizações ou
Atendia o Código ao que esti- concessões serão conferidas exclu-
pulara a Carta de 1937 que, dis- sivamente a brasileiros ou a em-
pondo sôbre as minas e demais prêsas organizadas no Brasil". Ao
riquezas do subsolo, estabeleceu passo que a Carta de 1937, sob
que a autorização. para a sua ex- cujo império foram expedidos os
ploração do aproveitamento de- dois diplomas legais invocados
penderia de autorização, que só pela digna autoridade impetrada,
seria concedida a brasileiros ou restringiq a autorização ou conces-
emprêsas constituídas por acionis- são às pessoas físicas brasileiras
tas brasileiros, reservada ao pro- ou às emprêsas constituídas por
prietário preferência na explora- acionistas brasileiros.
ção, ou participação nos lucros Mostra José Duarte, na exege-
(art. 143 e § 1.0). se dos textos do estatuto vigente
Mais tarde, mitigando o rigor do à luz dos trabalhos da Assembléia
Código de Minas, baixou o Govêr- Constituinte, que a norma consti-
no o Dec.lei n.06.230, estabele- tucional, qual a de 1934, foi a de
cendo: "O Presidente da Repúbli- possibilitar a participação do capi-
ca poderá permitir que compa- tal estrangeiro na exploração das
- 206-

nossas riquezas minerais, mas "o mos vivendo. A exigência não


que cumpria evitar é que socie- proporcionaria nenhuma reforma
dades com sed€1 no estrangeiro, social."
cuja direção não pudesse ser fisca- Ora, a impetrante é uma socie-
lizada pelas autoridades brasilei- dade organizada e quase a totali-
ras e tivessem também fôro. em dade . do seu capital foi subscri-
outro país, viessem a obter auto- ta pela Mannesman..11 Minera-
rização ou concessão para a explo- ção S. A ., autorizada a funcionar
ração da propriedade prevista no como emprêsa mineradora. Pelo
artigo" (volume 3.°, pág. 164). art. 60 da Lei das Sociedades Anô-
E isso acentuou, com novas pa- nimas, "são nacionais as socieda-
lavras, o então Deputado Hermes des organizadas na conformidade
Lima, relator da Subcomissão da lei brasileira e que têm no
Constitucional, ao rejeitar tôdas país a sede da sua administra-
as emendas oferecidas ao atual ção".
dispositivo: "... a Subcomissão, Os mais autorizados comenta-
ao redigir o dispositivo teve em dores da atual Constituição não
mira estatuir que as autorizações dissentem do entendimento sus-
ou concessões pudessem ser confe- tentado pela impetrante.
ridas a brasileiros ou emprêsas or- Carlos Maximiliano sustenta
ganizadas no Brasil, de que pudes- que podem participar da emprê-
sem participar capitais estrangei- sa, estrangeiros, porém somente
ros. Se a comissão entende que a na qualidadé de componentes de
expressão "emprêsas organizadas sociedades organizadas no Brasil.
no Brasil" não é suficiente para Observa Themístocles Cavalcanti,
assegurar a participação de es- que, "embora a Constituição não
trangeiros, o dispositivo, natural- tratasse de nacionalizar as minas,
mente, deve ser modificado, por- integrando-as e a sua exploração
que o intuito da Subcomissão no sistema estatal, cuidou, entre-
foi, por essa forma, assegurar tal tanto, de submeter a sua explora-
participação". ção a um proceso de nacionaliza-
Um exacerbado nacionalismo, ção, pela subordinação dos (;On-
tão em voga nos tempos corren- cessionários à nacionalidade bra-
tes, inspira essa fobia pelo capi- sileira, embora considere que hou-
tal estrangeiro, imprescindível ao ve um recuo lamentável em rela-
desenvolvimento do país dada a ção à legislação anterior, redu-
nossa notória carência de recursos, zindo exigências constitucionais
o que levou o ilustre Professor que protegiam as nossas riquezas
Hermes Lima, insuspeito pelas contra eventuais prodigalidades le-
suas convicções ideológicas, a afir- gislativas" (Coment. IH, pág. 396
mar no seio daquela Subcomissão: e 397).
"Não é paradoxal, Sr. Presidente, O Professor Darcy Azambuja,
que um socialista confesso esteja catedrático do Direito Constitucio-
a defender a entrada de capitais nal da Faculdade de Direito de
estrangeiros no país? Ê que não Pôrto Alegre, em estudo inserto
quero estorvar, com medidas no- na Revista Forense, acentua que
civas, o nosso desenvolvimento "bastaria, por 'certo, êste ligeiro
dentro do sistema em que esta- retrospecto, para demonstrar que
- 207-

o legislador constituinte de 1946 físicas brasileiras. Era o sentimen-


quis deliberadamente alterar a re- to das irremediáveis conseqüên-
gra escrita na Carta de 1937, re- cias do dispositivo vigente.
tomando à ostentação tradicional Argumenta-se, por outro lado,
esposada pela Constituição de com a decisão proferida por êste
1946". Tribunal no Mandado de Segu-
A postulante ofereceu às fls. 20 rança n. O 29.039, impetrado por
o netável . Parecer do insigne Granimar S. A ., Mármores e Gra-
Min. Orozimbo Nonato, que es- nitos, e no qual foi sufragada a
gota o assth~to e conclui que "ju- tese da autoridade impetrada.
ridicamente não pode subsistir o Revela notar, todavia, que essa
despacho do eminente Ministro decisão vem de ser reformada re~
das Minas e Energia, pois êle, centemente pelo Co lendo Supremo
com a devida vênia, entra em cho- Tribunal Federal, repelido o en-
que com o § 1.0, do art. 153, da tendimento administrativo por ser
Constituição Federal e se apóia patente o dissídio entre o art. 6.°
.em dispositivo caduco, substituído do Código de Minas e o § 1.0,
que foi certamente, pela norma do art. 153, da Constituição
constitucional citada". (Recurso de Mandado de Segu-
Outros autÜ'rizados pronuncia- rança n.o 11.189).
mentos são invocados pela impe- Peço venia ao eminente Rela-
trante, destacando-se os Pareceres tor e aos que o acompanharem
do então Consultor-Geral da Re- para, pelas razões expostas, aco-
pública e atual Ministro Gonçal- lher o pedido e conceder a segu-
ves de Oliveira e do ex-Consultor- rança.
Geral, Antônio Balbino.
Pontes de Miranda é o único a Voto
sustentar que a regra jurídica do
art. 145, § 1.0, da Carta de 1937 o Sr. Min. Oscar Saraiva: - A
(exigência de acionistas brasilei- rigor, a discussão pràticamente
TOS, exclusivamente) continua em está preclusa, em face do pronun-
vigor até que a legislação ordiná- ciamento do Egrégio Supremo Tri-
ria regule a organização da socie- bunal Federal, que se pronunciou
dade a que se refere o art. 153, especificamente sôbre a matéria
S 1.0 , da Constituição de 1946, em debate, em decisão contrária
mas, como assinala Themístocles à dêste Tribunal. Não obstante,
Cavalcanti, não assiste razão ao peço vênia para pronunciar-me se
autorizado tratadista, pois, como não de modo diametralmente con-
~e viu, a Constituição vigente trário, mas parcialmente em diver-
optou, deliberadamente, por nova gência. Assim diz o art. 153 da
diretriz. Constituição: "O aproveitamento
E tanto é assim que· o fervoro- dos recursos minerais e de ener-
·so nacionalista que foi Gabriel gia hidráulica depende de autori-
Passos apresentou, em 1961, um zação ou concessão federal na for-
Projeto de Emenda Constitucio- ma da lei.
nal, a fim de impor que 70% das § 1.0 - As autorizações ou con-
a~ões das sociedades anônimas de cessões serão conferidas exclusiva-
mineração pertencessem a pessoas mente a brasileiros ou a emprê-
- 208-

sas organizadas no país, assegu- êle atende precisamente ao res-


rada ao proprietário do solo pre- guardo constitucional. A Consti-
ferência, para a exploração.':' tuição. permitiu que se concedesse
Não nos esqueçamos porém, da autorização a pessoas físicas bra-
advertência constante do corpo do sileiras. Não fêz distinção quanto
preceito, quando diz "na forma da a pessoas físicas integrantes das
Lei". terno.s lei ordinária sociedades constituídas no pais.
vigente e que é posterior ao Mas poder-se-á argüir - e creio
Código de Minas: O Dec . lei que foi êsse o argumento do ilus-
n.o 6.230/44. Êsse Dec. iei esta- tre Relator da matéria neste Tri-
tui no seu art. 1.0: "O Presi- bunal - se a constituição permi-
dente da República poderá per- te, somente a pessoas físicas bra-
mitir que companhias destinadas sileiras, a obtenção de concessões,
à exploração da mineração tenham como permitir, a pessoas físicas
seu capital constituído em meta- estrangeiras, o contrôle absoluto
de por ações ao portador, desde da sociedade jurídica nacional, ou
que a outra metade seja por ações seja, precisamente aquilo que a
nominativas, cuja propriedade só Constituição veda às pessoas físi-
poderá caber a pessoas físicas bra- cas estrangeiras. Assim, por exem-
sileiras." plo, se dez indivíduos estrangeiros,
Verifica-se, portanto, de um la- vindos ao Brasil, não poderiam,
do, que a Constituição cuidou de sem forma societária, e apenas em
resguardar os interêsses nacionais, uma comunhão material de inte-
permitindo que somente a pessoas rêsses, obter uma concessão; êsses
físicas brasileiras fôssem outorga- mesmos dez indivíduos, se se des-
das concessões. sem ao trabalho de se organizar
O Sr. Min. Godoy Ilha: -Aliás, em sociedade, anônima ou em so-
êsse decreto infringia abertamen- ciedade por cotas, poderiam obter
te o que estava disposto na Car- a concessão. Iríamos, pois, chegar
ta de 1937, que estabelecia que à inocuidade do preceito consti-
só podiam participar, exclusiva- tucional. Quanto a isso, não há a
mente, acionistas brasileiros. menor dúvida.
O Sr. Min. Oscar Saradva: - Entendo, assim, que a ressalva
Devemos aferir da validade do de- "na forma da lei" autorizava que
creto-lei, não em face da Consti- os cautelosos e justificados propó-
tuição de 1937, mas em face da sitos da política econômica, que
de 1946, que é a vigente. inspirou o decreto-lei referido, e
Mas dizia eu, Sr. Presidente, que que ainda subsistem, continuam a
a Constituição cuidou da autoriza- atuar, permitindo que a política
ção a pessoas físicas brasileiras, de atração de capitais estrangeiros
ou a sociedades organizadas no possa ser seguida sem a perda do
Brasil, bem entendido, na forma contrôle da emprêsa como estatuÍ-
da lei. Pergunto pois: êsse decre- do naquele decreto-lei de 1944.
to-lei será contrário ou incompa- Não vejo oportunidade em inda-
)tível com a Constituição? Data gar da questionável constituciona-
venia, entendo que não, porque lidade do decreto-lei, em face da.
- 209-

Carta de 1937. A questão seria trangeiros, e de outro reservar


puramente formal, porque a fon- sempre o contrôle da emprêsa aos
te legislativa era a mesma e a nacionais.
Carta de 1937 não mais vigora. Assim o entendo, rendendo ho-
O Sr. Min. Godoy Ilha: - Há menagem ao brilho da exposição
outro detalhe que me impressio- do Sr. Min. Godoy Ilha, que se
nou. Foi o é que qua- colocou nu ponto de vista já se-
se 99% do capit'3.1 brasileiro foi guido pelo Egrégio Supremo Tri-
subscrito pela Mannesmann, Mi- bunal Federal, ao qual incumbe,
neração S. A ., emprêsa nacional, sem dúvida, a prerrogativa de dar
autorizada a funcionar como em- a última palavra.
prêsa de mineração. Decisão
O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
Como consta da ata, a decisão
Aliás, nacional por fôrça de fic- foi a seguinte: Prosseguindo-se no
ção jurídica. Mas sabemos que a julgamento, por maioria de votos,
sua direção efetiva e o seu con- indeferiram o mandado. Os Se-
trôle não são nacionais. Nem na nhores Mins .. Aguiar Dias, Henri-
Mannesmann nem em outras que d'Avila, Djalma da Cunha
como é notório. Mello e Oscar Saraiva votaram
Por êsse decreto-lei, rendo ho- com o Sr. Min. Relator; e o
menagem à sabedoria política do Sr. Min. Godoy Ilha votou com
Presidente Getúlio Vargas, que o Sr. Min. Cândido Lôbo. Presi-
soube conciliar, de um lado, a ne- diu o julgamento o Sr. Min.
cessidade de atrair os capitais es- Sampaio Costa.

MANDADO DE SEGURANÇA N.O 31.982 - DF.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Aguiar Dias
Requerentes - Manoel Leal de Abreu e outros
Requerido - O Sr. Ministro do Trabalho e da Previdêncill
Social

Acórdão
Eleição sindical. Anulação. Eleição sindical re-
gular não é passível de anulação.

Vistos, relatados e discutidos cursos, em sessão plena, em defe-


êstes autos de Mandado de Segu- rir o pedido, conforme consta das
rança n. o 31.982, do Distrito Fe- notas taquigráficas anexas, as
deral, impetrante Manoel Leal de quais, com o relatório, ficam fa-
Abreu e outros e impetrado Sr. zendo parte integrante dêste jul-
Ministro do Trabalho e Previ- gado, apurado nos têrmos de fô.
dência Social: lhas 60. Custas ex lege.
Acorda, por unanimidade de vo- Tribunal Federal de Recursos,
tos, o Tribunal Federal de Re- Distrito Federal, 27 de maio de
- 210-

1963. - Sampaio Costa, Presi- go 7. 0 , da mencionada Portaria


del1te; Herique d'Ãvil,a, ;Relator 146, de 18 de outubro de 1957.
(art. 81 do R.I.)
Não houve, por parte de qual-
quer associado, nenhuma impug-
Relatório
nação das candidaturas dos inte-
grantes de ambas as chapas, pros-
o Sr. M in. Aguiar Dias: - seguindo-se normalmente nas de-
Sr. Presidente, IvIanoel de Abreu
mais fases do processo eleitoral,
e outros pediram êste mandado de
sendo constituídas nove Mesas
segurança contra o Sr. Ministro
Coletoras para a realização do
do Trabalho e da Previdência So-
pleito. Dadas as pecu1ia~idades
cial alegando o seguinte em rela-
singulares do Sindicato, abrangen-
ção aos fatos: "O então Presidente
do a representação profissional de
do Sindicato, Sr. Inaldo de Lima
empregados vinculados a várias
Rocha, dando cumprimento ao
categqrias econômicas, que inte-
disposto no art. 3. 0 da Portaria
gram cêrca de 1. 300 padarias, 80
Ministerial n. o 146, de 18 de outu..
.confeitarias e 200 fábricas de ba-
bro de 1957, publicada no Diário
las e de torrefação e moagem de
Oficial de 23 de outubro de 1957,
café, e sendo absolutamente im-
e que hoje regula o processo elei-
praticável a instalação de Mesas
toral nas entidades sindicais, con-
Coletoras fixas, em cada um ou
vocou, por edital publicado na Ga-
mesmo em grupos de estabeleci.
zeta de Notícias de 30 de maio
mentos para atender aos vários
de 1962, as eleições a serem reali.
núcleos de associados-eleitores,
zadas nos dias 27, 28 e 29 de ju,
organizou a direção da entidade,
nho de 1962, no Sindicato dos
de acôrdo com o disposto no
Trabalhadores nas Indústrias de
§ 1.0, do art. 10.0, da mesma Por-
Panificação, Confeitaria, de Pro-
taria Ministerial n. 146, sete me-
dutos de Cacau e Balas e de Tor-
sas coletoras itinerantes ou volan-
refação e Moagem de Café, do
tes, destinadas a percorrer os lo-
Estado da Guanabara, marcando
cais de trabalho nas Zonas Centro,
o prazo de 10 dias para o registro Sul e Norte, e duas Mesas Cole-
de chapas dos candidatos (doc. toras fixas instaladas na sede do
junto n. o 4) . Sindicato e num dos maiores nú-
Os impetrantes organizaram e cleos de associados da entidade,
registraram na Secretaria da enti- a Fábrica Bhering, sita em zona
dade, a chapa que tomou o n. o 1, industrial de maior densidade de
sendo igualmente inscrita a outra trabalhadores. Assim sempre se
chapa de candidatos, que recebeu procedeu no Sindicato, em tôdas
o n. O 2, conforme edital inserto em as eleições anteriores, estando o
10 de junho de 1962, no mesmo funcionamento das Mesas itine-
jornal, a Gazeta de Notícias (doc. rantes previsto no § 1.0, do art.
junto n. O 5), dando a relação das 10. 0 da .citada Portaria Ministe-
duas únicas .chapas de candidatos rial n. o 146, e sendo medida in-
registrados, e marcando o prazo dispensável para atingir o quo-
de cinco dias para sua impugna- rum legal mínimo para a validade
ção, nos têrmos do § 1.0, do arti- do pleito, sem prejuízo das provi-
- 211-

ciências acauteladoras que a lei mente elevada considerando-se


expressamente prescreve como a que a arrecadação do impôsto sino
designação dos membros dessas dical da entidade no ano anterior
Mesas Eleitorais pelo Sr. Diretor- não alcançara Cr$ 2.000.000,00.
Geral do Departamento Nacional
Face à situação de iminente e
do Trabalho, de conformidade irreparável prejuízo para a enti.
com a norma inserta no § 1.0, do
dade, acordaram, por escrito, amo
art. 524, da Consolidação das bas as chapas concorrentes, em
Leis do Trabalho, na redação da- requerer ao Departamento N acio.
da pelo Dec . lei 9.502, de 23 de nal do Trabalho a prorrogação do
julho de 1946. Cumpri~do o re-
prazo para a votação, o que en·
ferido preceito, o Sr. DIretor-Ge-
contrava amparo na disposição eS-
ral do Departamento Nacional tatuída no art. 531, § 1.0, da Con-
do Trabalho baixou a Portaria
solidação das Leis do Trabalho,
n.o 77, de 25 de junho de 1962, evitando-se, assim, a perda de to.
( doc. junto n.o 6) nomeando os do o trabalho e das avultadas des-
Presidentes e Mesários das nove pesas feitas. A medida sempre foi
seções eleitorais, escolhidos den- utilizada nos Sindicatos, cujos as-
tre pessoas de absoluta idoneida, sociados se encontram €3palhados
de e isenção, bastando referir que, em locais de trabalho distanciados
na sua maioria, eram presidentes
uns dos outros, dificultando a ob.
e dirigentes sindicais de outras ca-
tencão do quorum, difícil de ser
tegorias profissionais.
con~eguido, sem o recurso da prop
Após a nomeação dos Mesários rogação que se assenta no dispo.
pela mais alta autoridade do De· sistivo legal acima citado. O De.
partamento Nacional do ~raba­ partamento Nacional do Trabalho
lho, foi, pela direção da entIdade; autoriza repetidamente a prorro-
publicado o edital previsto .no
gação com tal propósito, sendo,
art. 6.0 , alínea f, das Instruçoes
aliás, de se notar, que até é permi-
constantes da Port. 146, dando
tido o voto por correspondência,
conhecimento dos locais e horá-
remetido por intermédio dos Cor-
rio de funcionamento das Mesas
reios prolongando-se a votação
Coletoras fixas e volantes, como
por , 60 dias (art. 13, § 3.°,
consta da publicação feita na Ga'-
Port. 146) em determinadas ca-
zeta d.e Notícias (doc. junto sob
tegorias de atividades e profissões
n. o 7). No curso da votação,
cujo exercício obrigue o afasta-
que corria normalmente, verifica,
mento habitual dos associados do
ram as duas chapas concorrentes
local da sua sede, Ou nos Sindica-
que o quorum possIvelmente não
tos de âmbito estadual ou nacio-
seria atingido, perdendo-se todo o
nal (art. 17 da Portaria Minis.
estafante trabalho, e o que era
de mais, ficaria o Sindicato gra. terial n. o 146, de 18-10-1957).
vemente sacrificado em suas já Nessas condições, apreciando o
precárias finanças, com a realiza· Departamento Nacional do Tra.
ção de nôvo pleito, cujo custeio se balho o requerimento de prorro-
elevaria a montante superior a gação do pleito, assinado pelos
Cr$ 600.000,00, quantia certa. candidatos que encabeçavam as
- 212-

chapas, consoante o art. 5.° da empossados na Diretoria do Sin-


Portaria 146, deferiu o pedido, nos dicato, para cumprir o mandato
têrmos do parecer e despacho da que livremente a maioria dos asso-
Divisão de Organização e Assis. ciados lhes conferiu.
tência Sindical, constantes do do- Entretanto, decorridos meses de
cumento n. 8, prosseguindo,assim, exercício de administração sindi-
normalmente, ° pleito, sem ne- cal, o Sr. Ministro do Trabalho e
nhuma alteração das l'ilesas Elei- Prevídência Social, em despa.cho
torais, nomeadas pelo Sr. Diretor. publicado no Diário Oficial de
Geral do Departamento Nadonal 6 de novembro de 1962 (doc.
do Trabalho. n.o 2), anulou as eleições pelo
Terminada a votação foi inicia. seguinte e único fundamento: "A
da a apuração pela respectiva Me. utilização de urnas itinerantes sem
sa, presidida pelo representante do o prévio assentimento do candida-
rvlinistério Público do Trabalho to que encabeçava a chapa oposi-
(art. 524, § 3.° da Consolidação tora, e por isso mesmo percorreu
das Leis do Trabalho), constando os locais de trabalho sem se fazer
expressamente da respectiva ata acompanhar da aludida chapa,
haver sido "a prorrogação devida· constitui falha insanável. Assim
mente autorizada pelo Ministério sendo, usando das atribuições que
do Trabalho e Previdência Social me foram conferidas através da
no Processo 166.695/62" (doc. Portaria Ministerial n.o 117-A, de
n.o 9), ficando consignado o pro. 11 de abril de 1962, resolvo anu-
testo da cabeça da Chapa n.o 2, lar as eleições realizadas no Sin-
contra a votação nas Mesas Itine· dicato dos Trabalhadores na In.
rantes 4, 6 e 8, não tendo sido imo dústria de Panificação, de Produ-
tos de Cacau e Balas e Torrefação
pugnadas as de n.08 3, 5, 7 e 9,
e Moagem de Café, do Estado da
também itinerantes, como a 2.a Guanabara, adotadas as providên-
Mesa Coletora. cias cabíveis para a promoção de
O inopinado protesto, após a nôvo pleito, de conformidade com
concordância expressa do opositor o disposto no art. 36, § 2.°, da
na prorrogação do pleito, era cer- Portaria Ministerial n.o 146, de
tamente mali.ciosd, pois se diri- 1957. Em 12 de outubro de 1962.
giu, apenas, contra as seções nas Benjamin Eurico Cruz. Diretor-
quais presumivelmente o impug- Geral do Departamento Nacional
nante previa escassa votação para do Trabalho."
sua chapa, abstendo-se de contes- Cumprindo o despacho ministe-
tar a validade da votação naque- rial que indubitàvelmente violou o
las Mesas Eleitorais onde a vitó- direito dos impetrantes, a Divisão
ria poderia ser-lhe favorável. O de Organização e Assistência Sin-
resultado, todavia, foi-lhe de todo dical fêz realizar uma assembléia
contrário, proclamando o ilustre no Sindicato para escolha de uma
representante do Ministério Públi- Junta Governativa que o dirija,
co, da Justiça do Trabalho, eleita até a realização de nôvo pleito,
a chapa n.o 1, integrada pelos ora afastando os requerentes do exer-
impetrantes que foram a seguir cício da Diretoria sindical, com
- 213

absoluto menoscabo de seus direi- seus membros ( doc. n. ° 6), não


tos, intimando-os a empossar mes- subordina a prática dêsse ato pri-
ma Junta, em dia e hora fixados vativo, de sua exclusiva compe-
no ofício junto (doc. n. 10). Êsses tência, à anuência de qualquer das
os fatos relatados, com simplici, chapas concorrentes. Poderia fa-
dade, e que apresentam sem fi,c- zê-lo por simples prudência, ,co-
ção ou sofisma a verdade, a pura mo o fêz, acolhendo o pedido fei-
verdade, fazendo saltar aos olhos to por ambas as partes para a
do eminente julgador ter sido o prorrogação do prazo para o tér-
ato ministerial um abuso de auto- mino das eleições, visando atingir
ridade. sendo como tal reprimível o quorum legal dos votantes, mas
pelo remédio heróico do mandado a lei não o obriga a assim proce-
de segurança, passando-se a de- der, pois é prerrogativa sua cons-
monstrar à luz da lei. tituir e designar as Mesas Eleito-
O direito dos impetrantes - o rais, sem qualquer limitação.
Sr. Ministro do Trabalho baseou Conforme ensina com a maior
o despacho que anulou as elei. clareza o Prof. Orlando Gomes
ções (doc. n.O 2), no fato de que (Introdução ao Direito Civil, pá-
foram utilizadas no pleito urnas gina 347 - ed. 1957), "ato nu-
itinerantes sem o prévio assenti- lo é aquêle praticado em desobe-
mento do candidato que encabe- diência ao que prescreve a lei, ou
çava a chapa opositora. no qual é imperfeita a manifes-
~ manifesto o engano de S. tação da vontade. É o ato que se
Ex. a , bastando para evidenciá-lo pratica com infração de preceito
a leitura do d.ocumento n.o 8, legal de ordem pública,· podendo
no qual se encontra a prova ser, ou totalmente, nulo, quando
de que houve o prévio assenti- contamina o negócio jurídico in-
mento do candidato - denomina- teiramente, ou parcialmente nulo,
do cabeça de chapa. O assenti- quando se limita a uma das par-
mento foi dado por escrito, ao tes das cláusulas".
subscrever o mesmo .candidato o A Portaria n.o 77, baixada pelo
requerimento para a prorrogação Sr. Diretor-Geral do Departa-
do pleito. Tal assentimento, aliás, mento Nadonal do Trabalho de-
era desnecessário, pois a designa- signando as Mesas itinerantes
ção de tôdas as Mesas Eleitorais é (doc. n.o 6), nada tem de ilegal
atribuição expressa do Sr. Dire- ou de nulidade. Ao contrário. As-
tor-Geral do Departamento Na- senta-se na Lei (art. 524, § 1.0,
cional do Trabalho, ad instar do da Consolidação das Leis do Tra-
disposto no § 1.0, do art. 524 da balho), e foi expedida no exercí-
Consolidação das Leis do Traba- cio de sua atribuiçã;o indecliná-
lho, com a nova redação dada pe- vel.
lo Dec . lei 9.502, de 23 de julho Conseqüentemente, o Sr. Mi-
de 1946. O inciso legal a que o nistro do Trabalho e Previdência
ilustrado Sr. Diretor-Geral do Social, apontando no seu despa-
D . N . T. deu cumprimento, expe- cho uma falha inexistente no pro-
dindo a Portaria n.O 77, de 25 de cesso, pois já fôra antes satisfei-
junho de 1962, criando .as Mesas ta (aliás sem obrigação legal), e
itinerantes e nomeando-lhes os sustentando, sem nenhum funda-
- 214-

mento, constituir ela uma "falha no art. 36, § n, da Portaria Mi-


insanável", exorbitou de sua auto- nisterial 146, que fixa o prazo de
ridade e violou o direito dos im- 60 dias para o nôvo pleito.
petrantes para o exercício do man- Em tais condições, o eminente
dato sindical, para o qual foram Ministro a que fôr distribuído o
legitimamente eleitos, após .um presente pedido, concedendo a
um processo eleitoral no qual fo- medida liminar que ora pedem os
ram cumpridas, com absoluto ri- impetrantes, evitará sofram dano
gor, tôdas as formalidades regu- irreparável no seu direito líquido
lamentares. O ato abusivo da au- e certo, lhes assegurará, desta for~
toridade ministerial violou, além ma, completa e salutar distribui-
disso, os arts. 522 e 531 da Con- ção da Justiça."
solidação das Leis do Trabalho,
E acentuam que havia sido
sendo ilegalmente despojados os
.cumprida aquela formalidade que
impetrantes da administração da
o Ministro dá como indispensável,
associação sindical em .cujo exer-
e cuja ausência teria determinado
cício já se encontravam. Não ne-
a nulidade decantada.
cessitam os impetrantes de de-
monstração mais ampla de seu di- Foram solicitadas informações
reito, tão clara e inconteste é a à autoridade coatora e para sur-
sua liquidez, da simples exposi- prêsa minha veio como tal, à gui-
ção dos fatos e dos preceitos da sa de esclarecimentos, um ofício
legislação trabalhista que o am- assinado pelo Dr. Modesto J us-
param. tino de Oliveira Júnior, Subchefe
Prejudicando-os, pois, em direi- do Gabinete. Diz êle: (lê fls. 31).
A Subprocuradoria-Geral a fls. 37
to certo e incontestável, legitima-
afirma o seguinte: (lê).
mente adquirido, o Sr. Ministro
do Trabalho e Previdência Social É o relatório.
praticou ato ilegal, indubitàvel-
mente sanável por via do Manda- Voto-preliminar
do de Segurança, de conformida-
de com a Lei 1.533, de 31 de de- o Sr. M in. Aguiar Dias: - A
zembro de 1961. preliminar a apreciar é a propos-
Pelo exposto esperam os supli- ta pela douta Subprocuradoria.
cantes que, pro.cessado na forma Geral da República, no sentido de
do referido diploma legal e dis- saber se se reitera o pedido de
positivos regimentais aplicáveis à informações, visto que o que está
espécie, notificado o coator e ou- nos autos não é de autoridade
vido o douto representante do competente, ou se trata como não
Ministério Público, seja julgado prestadas as informações, e se jul-
procedente ° pedido, requerendo ga o mandado de segurança sem
a medida liminar, face ao interês- elas.
se imediato, nos têrmos do art. 7.°; O meu voto é no sentido de
lI, da Lei regulamentadora, pois prescindir das informações, uma
a Junta Governativa do Sindicato vez que a autoridade tem obriga-
se apresta a realizar novas elei- ção de saber que o Ministro do
ções, de conformidade com o des~ Tribunal Federal de Recursos só
pacho ministerial, que se apoiou se pode dirigir a Ministro do Es-
- 215-

tado, ou à autoridade interpelada É verdade que, nos pronuncia-


como coatora. mentos que tive até agora, tam-
bém tenho salientado que certa-
Voto-mérito mente essa prática resulta da si-
tuação especial em que vive o
o SE'. M in. Aguiar Dias: - No Brasil com duas capitais: BrasÍ-
mérito concedo o mandado de se·, lia, Capital oficial, e Rio de Ja-
gurança. neiro, no Estado da Guanabara,
Argúi-se, contra as eleições, que onde os Srs. Ministros têm seus
não houve assentimento expresso gabinetes para atender às partes,
comparecer a programas de tele-
para utilização de urnas itineran-
visão e dar entrevistas aos jor-
tes, entretanto, os documentos de
nais. De algum modo compreen-
fls. 8 e 9 atestam que houve
di que a prática reflete até uma
pedido para prorrogação das elei-
atenção especial aos Tribunais,
ções e utilização das urnas itine- isto é, não deixar, nunca, sem res-
rantes; assinadas, a primeira cha- posta, os pedidos de informações.
pa, pelo Sr. Manoel, e, a segun-
No caso concreto, todavia, fico
da, por Francisco Araújo.
sem poder acolher as informações
Acontece, que quem emitia au- dadas, também me sinto sem con-
torização para que assim se pro- dições para delas prescindir.
cedesse, foi possivelmente o Dr.
O Sr. Min. Relator nos disse,
Eurico Cruz, a mesma autoridade
em alto e bom som, que as in-
quEOl, depois~ 'anulou as eleições. formações remetidas, como Se fôs-
Concedo o mandado de segu- sem as informações do mandado
rança à vista dos documentos que de segurança, confessam o ato
instruem o pedido. impugnado. A ponderação do
Sr . Subprocurador é relevante.
Voto Então me parece que, possivel-
mente, o Sr. Ministro de Estado
o Sr. Min. Cunha Vasconcellos: não foi ouvido, o que, de certa
- De acôrdo. A lei do man- forma, corresponde à realidade,
dado de segurança estabelece uma pois é público e notório que o
sanção para a não prestação de Sr. Minastrb de Estado estiava
informações no prazo. fora do País, não me constando
que houvesse Ministro interino.
Voto Assim, data venia dos eminen-
tes Colegas, converto o julgamen-
o Sr. Mim Amarílio Benjamin: to em diligência para que as in-
- Eminentes Colegas, tenho, já formações sejam prestadas no,
em alguns casos, também feito re- prazo da lei.
paros sôbre a prática que vem
sendo utilizada na administração, Voto
pelos Srs. Ministros de Estado de
responder a pedidos de informa- o Sr. Min. Oscar Saraiva: -
ções dos Tribunais, através de Sr. Presidente, peço vênia ao
seus gabinetes. Sr. Min. Márcio Ribeiro para
- 216-

acompanhar, desde logo, o Sr. Se, na prorrogação, ambas as


Min. Relator, uma vez que a cabeças de chapa se manifesta-
matéria, no meu entender, e para ram sôbre as urnas, realmente não
minha convicção, já está exposta se pode deixar de concordar com
com suficiência, e me permite o voto do Min. Relator, que deu
proferir voto.. Estou com o Sr. provimento para validar ou con-
Min, Relator, validar a eleição feita.
Pedi adiamento, por ter-me pa-
Decisão recido que as informações presta-
das pela suboficial, do Gabinete,
Como consta da ata, a decisão seriam contra a impetração. Mas
foi a seguinte: Por maioria de vo- não são. Ao contrário. Essas in-
tos, o Tribunal decidiu dispensar formações que não foram presta-
as informações da autoridade coa- das pelo Ministro, mas sim por
tora; no mérito, após os votos dos um sub oficial de Gabinete (o
Srs. Mins. Aguiar Dias, Djalma Dr. Modesto Justino de Olivei-
da Cunha Mello e Oscar Saraiva ra Júnior, a fIs. 31 dos autos)
deferindo o mandado, adiou-se o no sentido de que o ato do
julgamento por haver pedido vis-
Ministro não podia, realmente,
ta dos autos o Sr. Min. Márcio
prevalecer.
Ribeiro (Cândido Lôbo). Presi-
diu o julgamento o Sr. Ministro Dentro dos autos não existe,
Sampaio Costa. pois, qualquer elemento em con-
trário à opinião do Min. Relator,
Voto de que as eleições devam preva-
lecer, porque foram, legalmente,
o Sr. M in. Márcio Ribeiro: - e regulamentarmente, realizadas,
Trata-se de mandado de seguran- com tôdas as garantias possíveis.
ça contra o despacho do Ministro Acompanho, como disse, o voto
que teria anulado uma eleição do Min. Relator.
sindical.
O ato não era, realmente, do Decisão
Ministro, mas foi endossado por
S. Ex. a, como se vê do documen- Como consta da ata, a decisão
to de fls. 23 dos autos. foi a seguinte: Por unanimidade
O único fundamento do despa- de votos, deferiram o pedido. Os
cho anulatório foi que uma das
Srs. Mins. Márcio Ribeiro (Cân-
chapas (a de n.O 2), encabeçada
dido Lôbo), Henrique d'Avila,
por uma das correntes em disputa,
não teria aprovado o uso das ur- Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Ama-
nas itinerantes, que são permiti- rítio Benjamin acompanharam o
das por lei. Sr. Min. Relator. Não compa-
Entretanto, êsse fundamento r'eceram, por motivo justificado,
não é verdadeiro. Verifica-se do os Srs. Mins. Cunha Vasconcel-
processo ter havido concordância los e Djalma da Cunha Mello.
expressa das duas cabeças de Presidiu o julgamento o Sr. Min.
chapa. Sampaio Costa.
- 211-

~1ANDADO DE SEGURANÇA N.o 32.128 - DF.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Requerente - Lafayette Silveira Martins Rodrigues Pereira
Requerido - Juízo da Fazenda Pública
Acórdão
Mandado de segurança. Concessão na Primeira
Instância de "liminar". Indeferimento do pedido.
Recurso. Conseqüências.
A concessão da liminar na Primeira Instância,
não obstante sentença denegatória, prepondera até
decisão final, em havendo recurso, salvo se tiver
ocorrido suspensão na oportunidade própria. Por
outro lado, o Juiz não pode, a título de interpretar
a sentença, impedir ato nôvo e independente da
Administração, que. fav'oreça ·ao impetrante, nem tão
pouco deve intervir no feito outra autoridade, além
da coatora, exceto quando ocorra substituição ou
sucessão regulares.

Vistos, relatados e discutidos Conselho Universitário da Uni-


êstes autos de Mandado de Se- versidade do Brasil, para manter-
gurança n,o 32. 128, do Distrito -se na cátedra de Terapêutica Clí-
Federal, em que são partes as aci- nica da Faculdade de Medicina,
ma indicadas: como regente provisório, assentou,
Acorda o Tribunal Federal de provocado pelo Diretor da Facul-
Recursos, em sessão plena, por vo- dade, que a sentença mencionada
to de desempate, em conceder a impedia a nomeação de interino,
ordem, tudo conforme consta do que o Executivo levara a efeito,
relatório, voto e resultado do jul- posteriormente, ou a sua entrada
gamento de fls. retro, que ficam em exercício após a tomada de
integrando o presente julgado. posse que se realizara na Reitoria
Custas de lei. da Universidade. Ao tomar essa
Brasília, 29 de julho de 1963. decisão, o Juiz já havia determi-
- Cunha Vasconcellos Filho, Pre- nado a remessa dos autos em que
sidente; Amarílio Benjamin, Re- sentenciara a esta Instância, em
lator. virtude de agravo interposto pelo
Relatório requerente.
Relator designado, e achando
O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
- Requer o Dr. Lafayete Silvei- que havia conexidade entre o pre-
ra Martins Rodrigues Pereira o sente mandado e o que fôra re-
presente mandado de segurança querido na Primeira Instân.cia, e
contra o Dr. Juiz da 2.a Vara da se encontrava no Tribunal, em
Fazenda Pública da Guanabara, grau de recurso, trouxe o caso ao
que, interpretando a decisão que Plenário, e êste, na sua alta sa-
proferira, de denegação do man- bedoria, decidiu que o processo
dado de segurança, solicitado pe- devia permanecer comigo, e que
lo mesmo impetrante contra o o podia despachar como julgasse

15 - 35883
- 218-

de direito. Tal se verificou na ses- 2 - Proferida a sua decisão, e


são de 25 de março. Depois, sustentado o despacho agravado,
tomei conhecimento de que o não pode o Juiz, a qualquer títu-
Sr. Min. Relator do Agravo em lo, diminuir ou acrescer a senten-
Mandado de Segurança n. o 31.60.7, ça, já afeta à Segunda Instância;
indicação do recurso da sentença 3 - O mandado de segurança,
que vem sendo alu- embora causa especial, guarda e
dida, já repelira o impetrante, observa as regras fundamentais do
quando fôra à sua porta, pedir processo. A autoridade coutora é
remédio contra os atos do Juiz a que foi citada, somente poden-
a que, em acréscimo à sentença, do verificar-se a sua sucessão ou
sob o fundamento de que, como substituição com o atendimento
Relator, nada cabia fazer antes aos princípios legais.
do julgamento, e de que se tra- Diante disso,· conclui pela con-
tava de fato nôvo. cessão da segurança. Concordo
Entendendo que não mais me que o impetrante continuou pro-
cabia provocar qualquer discus- tegido pela liminar que obteve;
são sôbre a competência e enca- que o Dr. Juiz excedeu-se nas de-
minhamento do assunto, tomei a terminações que tomou, após o ci-
deliberação de processá-lo. clo processual de sua atuação; e
que o Diretor da Faculdade, seno
O Dr. Juiz prestou as infor- do um estranho ao feito, nada po-
mações da lei, com a transcrição dia requerer ou obtemperar; toca-
do despacho impugnado. va-lhe, apenas, na esfera adminis-
A Subprocuradoria-Geral da trativa, se tanto, ponderar. Não
República oficiou a fls. 36, no podia, sob pena de indisciplina,
sentido da denegação da segu- deixar de cumprir o ato de nomea-
rança. ção, .completado pela posse, de
O Agravo em Mandado de Se-. mais hierarquia.
gurança n.o 31. 607 ainda está Observo, finalmente,. que mes-
com a- Subprocuradoria. mo o decreto presidencial fôsse o
Ê~:J relatório. remate de medidas anteriores, que
a sentença considerou ou até de-
Voto clarou sem efeito, não caberia
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: nunca ao Juiz de Primeira Ins-
- No caso em foco cabe salientar, tância obstar o seu cumprimen-
inicialmente, o seguinte: to. O Tribunal, com o agravo já
1 - O agravo de petição, mes- interposto e remetido, é que fir-
mo em mandado de segurança, mará a orientação a tomar. Ou,
pois a lei não dispõe em contrá. então, quem fôsse prejudicado,
rio, tem efeito suspensivo, segun- promoveria a intervenção judicial
do a índole do recurso. O impe- compatível.
trante, que obteve o liminar de
suspensão do ato impugnado, com Voto
a interposição do agravo, fica as-
segurado ainda na liminar conce- O Sr. Min. Cândido Lôbo: -
dida, até que o Juízo ad quem se Sr. Presidente, pelo que percebi
manifeste; do relatório, em meu entendi-
- 219-

mento faço uma distinção, uma di. é uma nomeação efetiva, é inte.
ferenciação nítida, entre o que se rina, si et in quantum, até quan-
diz "posse" e o que se diz "exer- do se faça o concurso no qual êle
cício", por isso que o impetrante entrará como livre-docente, com
tomou posse perante a Reitoria as prerrogativas que êsse cargo
e quando foi ter exercício na Fa~ lhe dá. De forma que, Sr. Presi-
cuIda de, o Diretor, ao invés de dente, sem alterar, de forma al-
dar execução a ,essa posse, ne- guma, o que êste Tribunal decidir
gou-a. no julgamento do A. M . S., voto
De modo que vemos, no âmbi- com o Relator, pedindo vênia ao
to administrativo um diretor de Min. Djalma da Cunha Mello pa.
uma Faculdade contra seu pró- ra proferir o meu voto.
prio reitor. Ora, o que influiu no
problema para que o reitor desse Decisão
a posse ao impetrante? Foi a no-
meação de S. Exa., o Sr. Presi- Como consta da ata, a decisão
dente da República. Então o rei- foi a seguinte: Após os votos dos
tor cumpre o decreto presidencial Srs. Mins. Relator, Márcio Ri-
e o Diretor da Faculdade não? beiro, Henrique d' Á vila e Cândido
O Sr. Mino Godoy Ilha: -- A Lôbo concedendo a ordem, sus-
situação é inversa: o Diretor da pendeu-se o julgamento por ha-
Faculdade invocou o decreto pre- ver pedido vista o Sr. Min. Djal-
sidencial para não dar a posse. ma da Cunha Mello; aguardando
o Sr. Min. Godoy Ilha. Presidiu
O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
o julgamento o Sr. Min. Cunha
-- ~ão. Invocou a sentença. Vasconcellos .
O Sr. Min. Godoy Ilha: -- Mas
a sentença denegou a segurança, Voto
e aí não havia o decreto ainda
que foi expedido só depois da sen- O Sr. Min. Djalma da Cunhà
tença. Então o Diretor levantou Mello: -- Parece-me, data venia,
a dúvida. que o Tribunal está incorrendo
O Sr. Min. Cândido Lôbo: em equívoco no julgamento do
Mas o decreto faz lei entre as presente mandado de segurança.
partes. Administrativamente a Na verdade, o que se quer com
situação ficou resolvida e, além
a impetração é subverter a lei do
disso, o exercício, que é o que foi
ensino, em matéria essencial, bá·
negado, é uma conseqüência da
sica: a rotatividade dos docentes-
posse. Se estivéssemos diante de
uma situação limitada, da negati- livres, ou seja, se a cátedra pos-.
va da Reitoria em dar a posse, sui um docente-livre, incumbirá ao
outro seria o meu entendimento, mesmo ocupá-la em substituição
mas o Relator salientou que a ou em caso de vaga, até que seja
posse foi deferida, tanto que o in- provida em definitivo pelos meios
teressado tomou posse; nãp lhe regulares de direito. Se existe
querem dar é o exercício, não mais de um docente com substi.
00stante o decreto presidencial tuição, não passará de um ano, a
nomeando-o interinamente. ~ão fim de que se verifique um reve-
- 220-

zamento, e todos os docentes no~ tedra em antagonismo com a in-


vos sejam chamados a adquirir, dicação procedente dessa mesma
no exercício da .cátedra, a expe- escola. Tenho a esclarecer: o de-
riência que êsse exercício pode creto de nomeação do impetrante
conferir. para uma cátedra interina condi-
No caso dos autos, estando au- zia com o ano de 1960 e com a
sente o catedrático de terapêutica da Escola Superior.
clínica, foi o impetrante chamado Publicado êsse decreto dois anos
a exercer a cátedra, em substitui~ mais tarde, não podia ter o pri-
ção. Foi chamado a exercer, e vilégio, o condão de fazer tábula
exerceu, per.cebendo os proventos rasa de autonomia da escola e da
respectivos. O decreto da sua Lei do Ensino. O fato dêsse pro.
nomeação ficou porém nos gabi~ fessor que quer-se perpetuar na
netes presidenciais, à espera de cátedra, como se não existisse ou~
despacho. Terminado o ano, a tro docente-livre, aparecer na es·
Escola Superior designou outro cola sobraçando um decreto do
docente para a cátedra. Incon- Presidente da República, deve ser
formado, o impetrante pediu um interpretado à luz da Lei do En-
writ. O Juiz da Fazenda Pública sino, que determina a rotativida~
desatendeu-o. Ocorre aí que o de dos docente-livres, e à luz do
Govêrno deu publicidade ao de- texto de lei que atribuiu às esco-
creto da nomeação do impetrante las superiores autonomia nas in~
para livre-docente, correspondente dicações de substituto.
ao ano de 1960, decreto que não Por todo o exposto, denego o
havia sido publicado no tempo writ, cancelada a liminar.
próprio, servindo isso de base a
que êsse impetrante voltasse a Voto
Juízo. vindicando o exercício da
cátedra, pois que o Executivo o o Sr. Min. Godoy Ilha: -
havia nomeado para tanto. O de~ Sr. Presidente, as informações
creto do Executivo tinha que ver prestadas pelo Juiz esclarecem,
com o período anterior, com o pe- perfeitamente, o que ocorreu.
ríodo em que o impetrante subs~
tituiu regularmente o catedrático. As informações estão a fôlhas
Não poderia implicar em prorro- 30/34, dos autos:
gá-lo na cátedra: primeiro, porque Quer dizer: o Juiz limitou-se a
a lei a que sujeito o próprio Che- receber uma consulta do Diretor
fe. do Govêrno determinava a ro- da Fa.culdade e respondeu: "Não
tatividade dos docentes. Os tex- me consta que essa decisão tenha
tos dispunham que existindo mais sido reformada."
de um docente a substituiçso de Esta foi a decisão proferida pe-
cada um não poderia passar além lo Juiz, da qual foi interposto re~
de um ano; segundo, porque a Es- curso. Portanto. não conheço do
cola Superior gozava, e goza, de mandado de segurança, porque
autonon:ia, não podendo o Presi- êste é impetrado, originàriamente,
dente da República nomear do. contra ato do Diretor da Facul-
cente-livre para exercício de cá- dade de Medicina.
- 221-

Retificação de voto (Vencido) Retifico-me, destarte, bendizen-


do a benéfica influência do deba-
o Sr.Min Henrique d' Ávila: - te, que é sempre elucidativo.
Pela ordem, Sr. Presidente.
Os debates, embora tomem maior Voto-desempate
tempo do Tribunal, são sempre
d e s e j á v e i s e esclarecedores. o Sr. Min. Cunha Vasconcellos:
Quando se iniciou o julgamento - A questão da incompetên-
dêste processo pus-me de acôrdo cia está vencida; somente dois
com o eminente Sr. Min. Rela- Juízes a acolhem: os Srs. Go-
tor. Mas, do que ouvi, no decor- doy Ilha e Henrique d' Ávila. O
rer da discussão. .convenci-me de próprio Sr. Min. Djalma da
que incorrera em equívoco, dada Cunha Mello entende que o Tri-
a ausência de qualquer ato capaz bunal é competente: conseqüen-
de ser apreciado originàriamente temente, houve empate quanto ao
pelo Tribunal. Em verdade, não mérito.
há, evidentemente, fato nôvo. O
Assim, na conformidade do meu
Dr. Juiz a quo, executando a sua
entendimento, após ter ouvido,
decisão, apenas ilustrativam:ente,
minuciosamente, os debates a res-
aludiu à existência de um decreto,
peito, data venia, voto com o
tardiamente editado, sem qual-
Sr. Min. Relator, concedendo a
quer r e I a ç ã o com o caso.
ordem.
Na realidade, o ato que impede
o exercício do impetrante é do
Diretor da Escola. Ora, o dire- Decisão
tor SÓ poderia afastá-lo do exer-
cício por fôrça do mandado de se- Como consta da ata, a de-
gurança requerido ao Dr. Juiz da Clsao foi a seguinte: Prosse-
Primeira Instância. Não preva- guindo-se no julgamento, por voto
lecia, por outro. lado, a liminar, de desempate, concederam a or-
ao .contrário do que sustenta o dem. Os Srs. Mins. Márcio Ri-
Sr. Min. Relator. Estou, neste beiro, Cândido Lôbo, e Presidente
ponto, de inteiro acôrdo com o desempatando, acompanharam o
Sr. Min. Djalma da Cunha Mel. Sr. Min. Relator; os Srs. Mins.
lo. Godoy Ilha e Henrique d' A vila
Uma vez denegado o writ, a li~ votaram com o Sr. Min. Djalma
minar, automàticamente desapa- da Cunha Melo. O Sr. Min.
receu, é cancelada, não mais sub- Márcio Ribeiro encontra-se pre-
siste. enchendo vaga aberta .com a apo-
Não havendo ato, portanto, que sentadoria do Sr. Min. Sampaio
autorize a intervenção originária Costa. Não compareceu, por mo-
do Tribunal, não nos cabe apre- tivo justificado, o Sr. Min.
ciar o writ. Aguiar Dias. Presidiu o julga-
Vencido, denegQ.. a impetração mento o Sr. Min. Cunha Vascon-
nos têrmos do voto do Sr. Min. ce11os. Impedido o Sr. Min. Oscar
Djalma da Cunha Mello. Saraiva.
- 222-

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N,o 32.410 - RS.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila
Agravantes - Germano Duckhorn S. A. e outros
Agravada .- União Federal

Acórdão
Cota de previdência social. Exportação. É de-
vida pelo exportador a cota de previdência social
de 6%.

Vistos, relatados e discutidos "que pelo art. 71 da Lei n.o


êstes autos de Agravo n. O 32.410, 3.807, foi criada a "quota de pre-
do Est. do Rio Grande do Sul, vidência", a qual, nos têrmos do
em Mandado de Segurança, agra. art. 227 do Decreto n. o 48. 959-A,
vantes Germano Duckhorn S. A. de 19 de setembro de 1960, foi
e outros e agravada União Fe. fixada em 6% sôbre o preço dos
deral: transportes. .. de mercadorias;
Acorda, por unanimidade, a que no teor dêsse dispositivo ve-
Primeira ,Turma do Tribunal Fe- rifica-se que a referida taxa inci.
deral de Recursos, em negar pro- de sôbre o preço dos transportes,
vimento aos recursos, conforme e deve ser cobrada de quem paga
consta das notas taquigráficas aquêle preço; que nos despachos
anexas, as quais, com o relatório, de mercadorias sob as cláusulas
ficam fazendo parte integrante "FOB" e "FAS", a obrigação do
dêste julgado, apurado a fls. 146. pagamento do preço do transpor-
Custas ex lege. te recai sôbre o comprador como
Tribunal Federal de Recursos, é da essência daquelas cláusulas;
Brasília, 30 de julho de 1963. que nestas condições, ao vende-
Henrique d'Ávila, Presidente e dor, no caso as impetrantes, não
Relator. incumbindo o ônus do transporte,
não incumbe, também, o do paga-
mento da taxa de previdência re·
Relatório ferida no regulamento citado; que,
entretanto, a autoridade aponta-
o Sr. Min. Henrique d'Ávila: - da como coatora vem exigindo o
Germano Duckhorn S. A. es- pagamento daquela taxa, com o
tabelecida em Pôrto Alegre, e que está lesando direito líquido e
outras emprêsas como litisconsor- certo das impetrantes, amparável
tes, impetraram a presente segu- por mandado de segurança, que
rança contra o Departamento Na- requerem seja concedido para que
cional de Previdência Social, Di- embarques presentes e futuros,
retoria do Rio Grande do Sul e com aquelas dáusulas, sejam fei-
Delegacia Fiscal do Tesouro Na- tos independentemente do paga.
cional naquele Estado, alegando: mento da taxa mencionada."
- 223-

o Dr. Juiz a quo, sentencian- renda bruta de armazéns, trapi.


do de fls. 122/124 denegou a se- ches e outros serviços remunera-
gurança. Irresignadas, agravaram dos das emprêsas nacionais ou es-
as impetrantes. O recurso foi mio trangeiras que explorem ou exe-
nutado, contraminutado, e nesta cutem os serviços de navegação
Superior Instância a Subprocura- marítima, fluvial ou lacustre".
doria-Geral emitiu o Pa- 3 - Ainda mais, êsse Egrégio
recer a fls. 139/140: Tribunal Federal de Recursos,
"1 - Não merece censura a julgando o Agravo em Mandado
Respeitável Sentenca do MM. de Segurança n. o 21.260, decidiu
Juiz a quo. • unânimemente que a Quota de
2 - A lei expressamente esta- Previdência é devida pelo expor-
tui que as Emprêsas de Navega- tador, conforme Acórdão publica-
ção, nacionais ou estrangeiras, de- do no Diário de Justiça de 4 de
verão sempre cobrar dos usuários dezembro de 1962, com a seguin-
de seus serviços de transporte de te ementa: "Quota de Previdên-
mercadorias, uma taxa de 6% sô- cia (Lei n. o 159, Dec . lei n. O
bre os preços dêsses serviços, a 7.833 e Decreto n. o 40.079).
título de "Quota de Previdência" .. É taxação indireta, a ser arreca-
É o que determina o art. 12 do dada pelas emprêsas que operem
Decreto 22.872, de 29-6-33, in- ou executem serviços de navega-
corporado pela Lei n. o 3.807, de ção e in.cide sôbre o preço de
28-8-60, em seu art. 71 e repro- transporte de mercadorias ou pes-
duzido pelo Decreto n. o 48. 959-A, soas. Nas exportações com frete
de 19-9-60, que regulamentou a e seguro pagos no estrangeiro, há
Lei Orgânica de Previdência So, que ser pago aqui, pelo exporta-
daI, que em seu art. 227 dispõe: dor.
"Art. 227 - A contribuição da Dêste modo, é de ser negado
União, será constituída: provimento ao recurso ex offício
e ao agravo dos agravantes."
I - pelo produto das seguintes
taxas cobradas diretamente do É o relatório.
público sob a denominação gené-
rica de "Quota de Previdência" na Voto
forma da legislação específica,
com as majorações determinadas o Sr. Min. Henrique d'Avila:-
no art. 3. 0 , letra c, da Lei N ego provimento ao recurso nos
n,o 2.250, de 20 de junho de 1954 exatos têrmos do Parecer da Sub-
e no art. 4. 0 da Lei n. o 3.593, de procuradoria-Geral. Afigura-se-me
27 de julho de 1952; legal a taxa exigida das impe-
trantes.

Voto
c) 6% (seis por cento) sôbre
os preços dos transportes de pas- o Sr. Min. Cândido Lôbo: -
sageiros, mercadorias, animais, estou de pleno acôrdo com V.
encomendas, valôres e demais re- Ex.a . Tenho um processo idêntico,
ceitas que constituem parcelas de O que percebi, em resumo -
- 224-

porque é a primeira vez que vou Decisão


manifestar-me sôbre a espécie -
é que o conhecimento na ocasião Como consta da ata, a decisão
em que é extraído tem que ser foi a seguinte; Negou-se provi-
entregue à parte; o usuário tem mento ao recurso, unânimente.
que pagar. Não se discute mais Os Srs. Mins Cândido Lôbo e
nada. De modo que, Amarílio Benjamin votaram com
é questão alheatória com o com- o Sr. Min. Relator. Presidiu o
prador da mercadoria, e não com julgamento o Sr. Min. Henrique
o fisco. d'Ávila.

AGHAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N.O 33.372 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha
Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex oflido
Agravante - IAPFESP
Agravados -- I ves Nina Guterres Soares e outros

Acórdão

Não fazem jus ao enquadramento no cargo de


Procurador os servidores incumbidos de, a título
precário, desempenhar aquelas funções.

Vistos, relatados e discutidos legas, todos servidores do atual


êstes autos de Agravo em Manda- Instituto de Aposentadoria e Peno
do de Segurança n.o 33.372, da sões dos Ferroviários e Emprega-
Guanabara, em que são partes as dos em Serviços Públicos ..... .
acima indicadas: (IAPFESP), com assento na Lei
Acorda a Segunda Turma do n. o 2.123/53, revogada pela de
Tribunal Federal de Recursos, por n.o 3.414/58, e alegando haverem
unanimidade, em dar provimento, exercido funções equiparáveis às
na forma do relatório e notas ta- de Procurador do Instituto, corno
quigráficas precedentes, que ficam o reconhecera, em longo Parecer,
integrando o presente. Custas de a Procuradoria-Geral da autar-
lei. quia, pediram a sua admissão, co-
Brasília, 9 de setembro de 1964. mo litisconsortes, nos autos do
- Godoy Ilha, Presidente e Re- mandado de segurança impetrado
lator. por Júlio Pinto Ribeiro e outros,
o que lhes foi sumàriamente inde-
Relatório ferido pelo Juiz da 1.a Vara da
Fazenda Póblica do antigo Dis-
o Sr. Min. Godoy Ilha: - O trito Federal, sob o fundamento
Dr. Isaac Israel e mais 15 co- de que "não havia identidade".
- 225-

Irresignados, agravaram de ins- mundo Pastor e Carlos Pessoa


trumento para êste Tribunal, de Guerra Filho, que exerciam de fa-
que fui Relator e que foi provido to as funções de procuradores in.
por esta Segunda Turma, para ad· terinos, haviam sido já atendidos,
miti. o pleiteado litisconsórcio, o mesmo não acontecendo com os
sob a consideração de que o fun. sete restantes litisconsortes, aos
damento em que assentava quais foram atribuídas incumbên-
a pretensão postulada pelos agra- cias de ordem jurídica que não
vantes também assentava na lei conceituam o exercício de qual.
n.o 2. 123, que pretendem ter sido quer das funções previstas na in·
revigorada pela de n.O 3.414/58, vocada Lei n.o 2. 123-53 .
ocorrendo a circunstância de que No mesmo sentido opinou o
os impetrantes haviam instruído o ilustrado Procurador Regional da
seu pedido com o texto do Pare- República, Dr. Carlos Waldemar
cer dado pela Procuradoria-Geral Rollemberg, sendo, após, juntas
do Instituto, em que também fôra aos autos pelos interessados, có-
examinada a situação dos agra- pias de pareceres e decisões admi-
vantes (Agravo de Instrumento nistrativas relativas à matéria em
n.o 17.718). debate.
Antes de lavrado o acórdão, su- Por fim, sentenciou o Juiz de
biram ao Tribunal os autos origi. fls. 128/129, considerand'O pre-
nais do mandado de segurança re- judicado o pedido com relação
querido pelos impetrantes Júlio aos impetrantes já atendidos pelo
Pinto Ribeiro e outros, com o re- impetrado, e concedeu a seguran·
curso de ofício e o agravo do Ins· ça aos restantes, invocàndo, como
tituto da decisão concessiva do razão de decidir, o julgado por
writ, mantida por esta mesma êste Tribunal no mencionado
Turma, que converteu em diligên- Agravo do Instrumento 17.718,
cia os autos do agravo de instru- em que se reconheceu identidade
mento, para que o Juiz de Pri- de situação com a dos impetran.
meira Instância julgasse a situa- tes originais e do mesmo funda-
ção dos referidos litisconsortes, mento jurídico da pretensão de
como se tratasse de mandado ori- uns e de outros litigantes.
ginário, e lhe enviou cópia do in- Com o recurso de ofício, veio o
teiro teor do acórdão proferido agravo do Instituto, com as ra-
naquele recurso (Agravo em Man- zões de fls. 132 (lê), a que repli-
dado de Segurança n.o 18.348, caram os agravados com as de
fls. 81/90). fls. 135/137 (lê), arrazoando
Processou-se, então, o pedido, também a União a fls. 139, limi-
sendo ouvida a autoridade impe. tando-se a Subprocuradoria-Geral
trada, que prestou as informações da República a solidarizar-se com
constantes de fls. 94/98, em que o agravante.
esclarece que os litisconsortes É o relatório.
Isaac Rubens Israel, Antônio
Bruzzi de Mendonça, Aldício Voto
Marcial de Carvalho, Aldo Wilott,
Leon Naves Barcelos, Célia Me- o Sr. Min. Godoy Ilha: - Co-
deiros, Rubem de Castro L. Ray- mo se viu, nove dos impetrantes
- 226-

tiveram a sua situação regulariza- çalves de Oliveira, ~m Parecer pu_


da pelo Instituto, porque, segundo blicado no Diário Oficial de 26 de
as informações por êste prestadas outubro de 1954, pág. 1.738. E
ao Juízo, eram Procuradores inte- o Egrégio Supremo Tribunal Fe-
rinos e, por isso, foram efetivados deral, confirmando decisão dêste
nas respectivas funções. Ficou, Tribunal, no julgamento do Re-
sem objeto, {) mandado com curso em Mandado de Segurança
relação a êles e, neste passo, é de n. 3.506, assentou: "Inteligência
confirmar-se a decisão ora recor- do art. 2.°, da Lei n.o 2. 123, de
rida. 1.0 de dezembro de 1953. O le-
Quanto aos sete restantes, ora gislador empregou os têrmos "car-
agravados, esclareceram as infor· gos e funções" no seu sentido téc-
mações que, sendo êles servidores nico, referindo-se a cargos e fun-
do Instituto, "foram-lhes cometi· ções existentes na forma da lei".
das, esporàdicamente, incumbên· Essa a interpretação hoje vito-
cias próprias e específicas dos riosa na jurisprudência, em que
procuradores, mas, todavia, jamais pesem numerosas decisões em sen-
exerceram qualquer das funções tido oposto.
de Procurador, a que se refere a Segundo os documentos que
invocada Lei n.O 2.123/53, que instruem a inicial, era a seguinte a
só favoreceu os que, à data, esti- situação dêsses litisconsortes: 1.0
vessem ocupando "funções de Pro- - Ives Nina Guterres Soares -
curador", e não os que estavam Secretário do Procurador-Geral,
incumbidos, supletivamente, de foi designado, em 7 de abril de
executar tarefas ou serviços pró- 1959, para servir também no con-
prios de Procurador". tencioso daquela Procuradoria-Ge-
A Lei n.o 2. 123, de 1.0 de de- ral fls. 16); 2.° - José Romano
zembro de 1953, dispôs, no seu Alvim - Lotado na Procuradoria
art. 2.°, verbis: "Os atuais cargos Regional de São Paulo, desde 1.0
ou funções de procurador, consul- de dezembro de 1955, prestando
tor jurídico, advogado, assistente serviços valiosos no contencioso,
jurídico, adjunto de consultor ju- como responsável pela parte ad-
rídico e assistente de procurador, ministrativa, ao mesmo tempo em
serão transformados em cargos de que auxiliava os Procuradores na
Procurador e absorvidos na res- parte judicial (fls. 17); 3.° -
pectiva carreira, feito o enquadra. Edgar Barreira - Oficial Admi-
mento de seus ocupantes nas ca· nistrativo classe "K", nomeado em
tegorias correspondentes aos pa- 11 de janeiro de 1956, para exer-
drões em que se encontram". cer a função de Encarregado do
Induvidoso que essa disposição Serviço de Secretaria da Procura-
legal só favorecia a quantos, na doria-Geral (fls. 18); 4.° - Ro-
data do advento do referido di. berval Rodrigues - Tesoureiro-
ploma, fôssem ocupantes dos car- -Auxiliar, nomeado, em 24-7-1958,
gos e funções ali referidos, e não para responder pelo expediente do
compreende o exercício de fato Departamento de Aplicação de
dessas funções, como o demonstrou Capitais (fls. 19); 5.° - Juve
o então Consultor-Geral da Repú- Leme da Silveira - Procurador
blica, o atual eminente lVIin. Gon- contratado pela antiga Caixa de
- 227-

Aposentadoria e Pensões de Ser- Edgard Barreira e Roberval Ro-


viços Públicos para, a título pre- drigues -- foram designados para
cário, prestar serviços à institui- funções meramente administrati-
ção, com a remuneração atual de vas. Os demais, embora lotados
Cr$ 10.000,00, equivalente ao pa. no Contencioso da Procuradoria-
drão "J", encontrando-se em exer- -Geral, não provaram exercer, ao
cido desde 6 de outubro de 1951 tempo de um ou outro daqueles
(fls. 21); 6.° - Canova de Ara- diplomas legais, qualquer das fun-
gão Soares - Servidor do Insti- ções previstas na Lei 2.123.
tuto na Procuradoria-Geral, estan- O ilustrado Julgador de Pri-
do autorizado a receber e retirar meira Instância, para conceder-
de cartório e ~ecretaria de tribu- lhes a segurança, louvou-se na de-
nais autos em que seja parte a cisão proferida por êste Tribunal
autarquia, conforme carta assina- no julgamento do Agravo de Ins-
da, em 30-9-58, pelo Pro.curador- trumento n.O 17.718, que teria re-
-Geral e, segunda carta não auten- conhecido identidade de situações
ticada, datada de 30-6-1954, do . com a dos impetrantes originários
antigo Procurador-Chefe da anti- do mandado, e por ter sido o
ga Caixa de Aposentadoria e Pen- mesmo o fundamento jurídico do
sões dos Ferroviários da Central pedido, para deferir o postulado
do Brasil, ter-Ihe-ia sido cometido, litisconsórcio.
sem prejuízo das funções normais Todavia, como assinalou o ilus-
do seu cargo, o encargo de asses- tre Procurador da República,
sor dos Procuradores, acompa- Dr. Carlos Waldemar Rollem-
nhando no fôro a marcha das berg, no seu pronunciamento de
ações ajuizadas contra a Caixa di- fls. 100/101, não se tratava de
ligenciando no cumprimento de estender os efeitos do julgado,
tôdas as determinações dos Pro- sem fôrça de res judicata, mas de
curadores, prestando-lhes as infor- que fôsse apurada, pelo Juiz de
mações solicitadas; 7.° - Júlio primeiro grau, a existência, em re-
César de Vasconcelos - Tesou- lação a cada um dos litisconsortes,
reiro-Auxiliar, lotado na Procura- da existência ou não do invocado
doria-Geral em 17-3-1959. direito, atendendo-se a que a si-
Como se vê, nenhum dêles exer- tuação de fato era a mesma como
cia, ao advento da Lei n.o 2.123, idêntico o fundamento invocado,
qualquer dos cargos ou funções o que se veio a verificar com a
nela previstos, nem mesmo na da- maioria dos litisconsortes, atendi-
ta da Lei n.o 3.414, de 20 de ju- dos administrativamente.
nho de 1958, que se pretende ter Tenho, assim, como sem apoio
revigorado aquela, quando é cer- legal a decisão recorrid~, n~ par-
to que o art. 22 desta última, te em que concedeu a segurança
vetado mas mantido pelo Con- aos agravados.
gresso, limitou-se a prescrever que É certo que existem nos autos
a citada Lei n.O 2. 123 aplicar-se- manifestações de 'reconhecimento
-ia igualmente às autarquias cria- dos bons serviços por êles presta,
das depois da sua vigência, reve- dos à instituição, e antigos servi,
lando salientar que dois dos litis- dores têm sido preteridos nas va-
consortes acima mencionados - gas decorrentes do Decreto n.o
- 228-

48.867/60, com o aumento nu- nistração, como se colhe da do-


mérico da carreira de Procurador, cumentação de fls. 116 e seguin,
pelo aproveitamento de pessoas teso
estranhas ao Instituto, mercê do Nestes têrmos é que dou provi,
protecionismo político que impe- menta aos recursos para tornar
rava na Previdência Sacial. insubsistente a segurança conce,
como funcionários da autar- dida a êstes litisconsortes.
quia, estivessem exercendo fun-
ções equivalentes às de Procura- Decisão
dor ou a êstes assemelhadas pela
mencionada Lei n. o 2. 123, a so- Como consta da ata, a decisão
lução será a readaptação autori- foi a seguinte: Por unanimidade,
zada pelo art. 43 da Lei n. O 3.780, deu-se provimento, para cassar a
de Classificação de Cargos, aten- segurança. Os Srs. Mins. Oscar
didos os requisitos do art. 44 do Saraiva e Armando Rollemberg
mesmo diploma. votaram de acôrdo com o Sr.
Ou, então, que o Instituto os Min. Relator. Não compareceu o
aproveite nas vagas que ocorre- Sr. Min. Djalma da Cunha Mel-
rem, ou assegure a sua preferên, lo, por motivo justificado. Presi-
cia no provimento delas, propósi, diu o julgamento o Sr. Min. Go-
to já manifestado pela sua admi, doy Ilha.

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N. O 33.450 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Recorrente - Juízo da Fazenda Pública, ex officio
Agravante - IAPI
Agravada - Marisa Külblinger Pereira e outros

Acórdão

Enquadramento provisório. Mandado de segu-


rança. Funções gratificadas. Símbolos doe vencimentos.
O enquadramento provisório, quando não obedece a
dispositivo expresso de lei, fere direito suscetível
de amparo pela via do mandado de segurança. Os
ocupantes de funções gratificadas têm direito aos sím-
bolos ,de vencimentos fixados na Lei n.o 3. 780 de
1960.

Vistos, relatados e discutidos assinalando-se também recurso


êstes autos de Agravo de Petição ex officio:
n. O 33.450 do Estado da Guana- Acorda a Primeira Turma do
bara, em Mandado de Segurança, Tribunal Federal de Recursos, em
agravante IAPI e agravado Ma- negar provimento, conforme cons-
risa Külblinger Pereira e outros, ta das notas taquigráficas anexas,
- 229-

,as quais, com o relatório, ficam ções gratificadas, e por fim, que,
fazendo parte integrante dêste estando em jôgo um decreto do
julgado, apurado às fls. 272. Executivo, o tribunal competente
Custas ex lege. seria o Supremo Tribunal Federal.
Tribunal Federal de Recursos, Ainda em têrmos de preliminar,
Distrito Federal, 17 de março de o Instituto argumentou que a
1964. - Cândido Lóbo, Presi- classificação das funções gratifi-
dente e Relator (art. 81, do R.I.). cadas, na conformidade da orien-
tação vitoriosa na prática admi-
Relatório nistrativa, era provisória e, assim
sendo, somente poderia sofrer re-
clamação, depois que se desse
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: cumprimento às disposições do
- Marisa K61blinger Pereira e ordenamento legal a respeito.
outros impetraram mandado de
segurança contra a direção do De meritis, o Instituto se opôs
IAPI, :alegando que, segundo a à pretensão, contraditando que
Resolução n.o 3.886, estão na houvesse correspondência de sÍm-
bolo, como também argüindo que
mesma progressão ou correlação
das funções gratificadas existen- a correspondência de símbolos
pleiteada quebraria o princípio da
tes anteriormente. De modo que,
passando a vigorar as novas fun- hierarquia. O Instituto também
ções gratificadas, o que deveria invoca, em defesa dêsse ponto de
haver era um simples ajustamen- vista, dois dispositivos da Lei
, to na base da correspondência dos n.o 3.780. Os dispositivos são
símbolos. Vieram ao processo de- os seguintes: Arts. 12 e 82:
zenas de servidores, alegando es- "Art. 12 - O Poder Executivo
tarem também na mesma relação regulamentará a classificação das
de direito. Foram êles admitidos funções gratificadas com base,
como litisconsortes. A autoridade entre outros, nos princípios de hie-
administrativa prestou as devidas rarquia funcional, analogia das
informações e contestou a inter- funções, importância, vulto e com-
venção no feito de alguns dos re- plexidade das respectivas atribui-
querentes, uns por não estarem ções.
mais exercendo função gratifica- Parágrafo úmco - Nesta re-
da alguma, e outros por estarem gulamentação, deverá ser previs-
no exercício de função gratifica- ta também a correlação funda-
da diferente das que indicaram. mental entre as atribuições do
Além disso, o Instituto também cargo efetivo de funcionário e da
argüiu preliminares que resumi- função gratificada para que for
damente foram as seguintes: ine- designado exercer.
xistência de ato lesivo ao direi- Art. 82 - Até que sejam ajus-
to dos impetrantes por parte da tadas ao sistema previsto nesta
Administração; incompetência do lei, ficam mantidas as atuais fun-
Juízo, porque o Instituto apenas ções gratificadas."
deu cumprimento a um decreto O Dr. Juiz, após a tramitação
do Poder Executivo, versando a regular do processo e exclusão de
aplicação prática das novas fun- alguns dos requerentes, concedeu
- 230-

a segurança para a maioria dê- salvo engano de minha parte, nós


les, recorrendo de ofício. O Ins- temos, independentemente disso,
tituto também recorreu. Nessa considerado esta argumentação no
Superior Instânóa, manifestou-se próprio conjunto com o mérito,
a douta Sub procuradoria-Geral da porque, se a classificação provisó-
República. ria, mesmo sendo provisória, con-
É o relatório. tém ilegalidade, o Judiciário, :não
obstante a sua qualificação pre-
Voto (Vencido) cária, pode intervir. De maneira
que, pelo menos no meu ponto de
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: vista, acho mais adequado consi-
- Realmente o Instituto pondo derarmos êste aspecto em con-
as preliminares, como pôs, obri- junto com o mérito para, a meu
ga o Tribunal a considerá-las, por- ver, aplicarmos a lei, como ela
que se as preliminares forem acei~ deve ser.
tas realmente não se chegará ao Passando ao mérito, o meu voto
mérito. é no sentido de dar provimento
Tenho para mim que, pelo me- e cassar a segurança. Em primei-
nos. duas das preliminares não ro lugar, não encontrei nenhuma
merecem maior aprêço, isto é: a ilegalidade na classificação leva-
inexistência de ato ofensivo e a da a efeito. De maneira que os
incompetência do Dr. Juiz de Pri- interessados, mesmo perdendo a
meira Instância, por estar em jôgo segurança - se os meus Colegas
decreto sob a assinatura do Se- me acompanharem - terão, no
nhor Presidente da República, próprio sistema em que a admi-
porque tem prevalecido no Tri- nistração está cumprindo a deter-
bunal o entendimento de que a minação da Lei 3.780, os remé-
autoridade coatora é aquela que dios adequados para pedirem re-
cumpre o mandamento geral. Ora, consideração ou revisão, no sis-
eE1sa situação está definida noS! tema que hoje vigora no Brasil.
autos. Embora exista decreto a Se o Poder Executivo, para cum-
respeito e o Instituto diga que só prir exatamente a Lei 3.780, tem
fêz transcrever o decreto, o Ins- que fazer todos êsses levantamen-
tituto assume a posição de auto- tos e, em seguida, propor a exa-
ridade coatora, porque ao apli- ta classificação ao Congresso, está
car o dito decreto no seu quadro, fora de dúvida que até na trami-
o Instituto baixou uma resolução. tação da mensagem, no Congres-
Essa resolução é incontradoíoria- so, os interessados comparecerão
mente o ato ofensivo contra o qual para pleitear seus direitos, atra~
o interessado invoca o poder ju- vés de emendas. Nós não temos
risdicional. O Instituto, ainda no organizado, como nos Estados
terreno das preliminares, invocou Unidos, o sistema do lobby. Mas,
a proibição de examinar-se o pe- no Brasil, de qualquer modo, a
dido. Por isso que a dassifica- pressão dos interessados hoje é
ção é provisória. É verdade que processo legítimo. Quanto à tese
se podia anotar esta considera- central do mérito, não estou com
ção como uma preliminar, mas, os interessados. Não pode haver
231 -

correspondência de símbolos en- rejeito as preliminares. No méri-


tre a Lei 3.780 e as leis que a to, porém, não estou de acôrdo
precederam. Não pode haver cor~ com S. Ex. a Em primeiro lugar,
respondência de símbolo entre coi- porque no Agravo em Mandado
sas que são, não só na estrutura de Segurança n.o 33.507, julga-
material, como na justificação, do na sessão de 5 de dezembro
como nos objetivos, por essas cir-
de 1963, a turma, constituída do
cunstâncias tôdas, diametralmen-
IVIin. Henrique d'Ávila, de S. Ex. a
te opostas ou completamente des-
e eu, julgou no sentido da conces-
semelhantes.
são do mandado de segurança ri-
Por outro lado, as disposições gorosamente idêntico ao atual. Em
da Lei 3.780, que o Instituto in~ segundo lugar, porque o fato de
vocou, têm pertinência com o caso haver possibilidade de decisão na
e põem em manifesto a desrazão
instância administrativa, não ex-
da impetração. Um dispositivo é
clui a decisão na instância judiciá-
aquêle do art. 12. No art. 12, a
Lei 3.780 manda que o executi- ria, como o próprio Relator reco-
vo regulamente as funções grati- nhece.
ficadas, com base nos pontos da No mais, pelos argumentos da
hierarquia funcional, analogia das douta sentença de Primeira Ins-
funções, importância, vulto e com- tância, o ilustre Juiz Jônatas Mi-
plexidade das respectivas atribui-
lhomen, diz: (lê fls. 255).
ções. Só êste dispositivo mostra
que não se pudem equiparar as A nossa decisão no Agravo
funções gratificadas antes e levá- em Mandado de Segurança n.O
-las à confrontação, para daí di- 395.507, alterou ligeiramente essas
zer: símbolo tal é igual ao sím- considerações, essas conclusões da
bolo qual. O art. 12 resolve em sentença, mas confirmou a con-
contrário à pretensão, qualquer cessão de segurança.
dúvida que puder surgir. Reporto-me ao voto que profe-
Também o art. 82 não deixa de ri naquela oportunidade e nego
dar uma boa contribuição ao in- provimento.
deferimento do desejo dos reque-
rentes. Ê que o art. 82 manda que Decisão
continuem as funções gratificadas
anteriores até que o poder exe· Como consta da ata, a decisão
cutivo cumpra o art. 12. Por essas foi a seguinte: Negou-se provi-
razões, dou provimento e casso
mento, vencido o Sr. Min. Relator.
a segurança.
O Sr. Min. Aguiar Dias votou com
Ê o meu voto.
o Sr. Min. Cândido Lôbo. Presi-
Voto diu o julgamento o Sr. Min. Cân-
dido Lôbo. Não compare.ceu, por
o Sr. Min. Aguiar Dias: - Con- motivo justificado, o Sr. Min.
cordo com o Sr. Min. Relator e Henrique d'Ávila.
- 232-

AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA


N.o 36.082 - GB.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva
Agravante - Hildo Ro.::ha Cirne de Azevedo
Agravada - União Federal
Acórdão
SASSE. Si5.0 necessàriamente seus segurados os
funcionários das Caixas Econômi ias Federais. Preva-
lecem em matéria de limites de idade, pam o reco-
nhecimento dessa condição, as normas gerais da Pre-
vidência Social.
Vistos, relatados e discutidos Agravou o impetrante com a
êstes autos de Agravo n. o 36.082, minuta de fls. 39.
do Estado da Guanabara, em Não houve contraminuta do
Mandado de Segurança, agravante SASSE, e nesta Instância assim
Hildo Rocha Cirne de Azevedo e se pronunciou a Subprocuradoria-
agravada União Federal: Geral da República: (lê).
Acorda, por unanimidade, a Se- É o relatório.
gunda Turma do Tribunal Fe- Voto
deral de Recursos, em dar provi-
mento, conforme consta das notas O Sr. Min. Oscar Saraiva: -
taquigráficas anexas, as quais, com Para situarmos devidamente a hi-
o relatório, ficam fazendo parte pótese jurídica em exame, deve-
integrante dêste julgado, apura- mos, de início, observar que os
do à fls. 55 Custas ex lege. servidores das Caixas Econômicas
Tribunal Federal de Recursos, eram originàriamente segurados do
10 de dezembro de 1963. - IAPB, em cujo Instituto o limi-
Djalma da Cunha Mello, Presi- te para ingresso era o de 50 anos,
dente; Oscar Saraivél, Relator. na conformidade do disposto no
art. 5.°, do Regulamento aprova-
Relatório do pelo Decreto 54, de 12-9-1934.
Buscando regime de privilégio,
O Sr. Min. Oscar Saraiva:
desaconselhado a um só tempo
Hildo Rocha Cirne de Azevedo
pela técnica atuarial e pelo prin-
impetrou segurança contra o Pre-
cípio de igualdade perante a lei,
sidente do SASSE para obter a
obtiveram os servidores dessas
anulação do ato dessa autorida-
Caixas lei que lhes assegurou ins-
de, que tornou sem efeito a ins- tituição própria de previdência, a
crição do impetrante como segu-
de n.o 3.149, de 21-5-1957, e por
rado dessa instituição. esta passaram a ser amparados.
Informações à fls. 13, susten- É forçoso considerar, porém, que
tando a legitimidade do ato. o regime de previdência do país
Falou a Procuradoria da Repú- tende, como em tôdas as nações
blica a fls. 21v. civilizadas, para o princípio da
O Dr. Juiz denegou a seguran- sua universalidade, isto é, ampa-
ça, nos têrmos de sua decisão, a ro previdenciário para todos. Por
fls. 34. isso, a nova lei geral, a Lei Or-
- 233-

gamca da Previdência Social, Lei Estaduais, independentemente dos


D.O 3.807 de 26-8-1960, esten- requisitos de idade e de inspeção
deu seu alcance aos próprios em- de saúde, desde que fiquem sujei-
pregadores, e somente para êstes tos a um período de carência de
é que pôs limite de idade para cinco anos, para efeitos de bene-
seu ingresso, de 50 anos, deixan- fícios de aposentadoria e pensão."
do ilimitado o dos empregados, ou Essas incertezas se refletiram
melhor, fixando-lhe apenas o li- na regulamentação da lei, como se-
mite mínimo de 14 anos, como ria de esperar. Assim é que o pri-
estatuído no seu art. 5.°. meiro Regulamento, o Decreto
A Lei do SASSE, contudo, não 43.913, de 19-6-58, vedou a ins-
fixou limite máximo de idade para crição, na entidade, de maiores de
a associação obrigatória, de modo 36 anos. O Decreto 49.299, de
direto, e sOmente pela via indire- 19-11-60, ampliou o limite para
ta da limitação do ingresso no ser- 50 anos, com o que agiu acerta-
viço é que o fêz, aos 36 anos. damente, pondo q regime especial
Mas para os segurados facultati-
do SASSE na conformidade do
vos enfrentou a questão de modo
direto, fixando-o aos 50 anos. regime geral da L.O.P.S. Mas o
Decreto 50.309, de 2 de Março
Dizem os arts. 2.° e 3.° dessa de 1961, tornou sem efeito o an-
Lei: "Art. 2.° - São associados terior, revigorando o regulamento
obrigatórios do Serviço de Assis-
como aprovado pelo Decreto n.o
tência e Seguro Social dos Eco-
nomiários, todos os que, sob qual- 43.913-58.
quer forma, exerçam atividade A meu ver, mal-avisadamente
no Conselho Superior e nas Cai- andou o último texto, que não se
xas Econômicas Federais, indepen- mantém à luz da regra geral que
dente da idade e de inspeção de deve prevalecer, que é a Lei Or-
saúde. gânica da Previdência Social.
Parágrafo umco - Nenhum Mas o que se 'iquestiona nos
servidor, a partir desta data, po-
autos é sôbre a situação do im-
derá ser admitido em caráter efe-
petrante que, admitido como se-
tivo nas Caixas Econômicas Fe-
gurado por haver ingressado no
derais, e no Conselho Superior,
serviço da Caixa Econômica Fe-
sem que prove ter menos de 36
anos de idade e haja sido julga- deral do Estado de Pernambuco,
do apto em inspeção de saúde efe- sob o regime do Decreto 49.299,
tuada por. uma junta constituída contando na ocasião mais de 36
de médicos da instituição a que anos, teve essa condição cassada
vai servir. em razão de medida geral toma-
Art. 3.° - Poderão ser admi- da pelo SASSE em atenção aos
tidos como associados facultativos têrmos do último' Decreto 50. 309
do SASSE os diretores do Conse- de 1961.
lho Superior e das Caixas Eco- Já vimos que a Lei do SASSE,
nômicas Federais, bem como fun- Lei 3.149-57, dispõe que todos os
cionários das Caixas Econômicas servidores das Caixas Econômicas

16 - 35883
- 234-

Federais são obrigatoriamente se- rência de cinco anos para os fins


gurados dêsse Instituto, qualquer da aposentadoria e da pensãoo
que seja sua atividade,.e que o Face ao exposto, concluo jul-
limite pôsto em matéria de ida- gando atentatória ao regime de
de diz respeito à admissão ao previdência social brasileiro, como
serviço dessas Caixas Econômicas, generalizado pela L.OoP.S., a re-
e só por via indireta se constitui gra da limitação do ingresso do
em limitação ao ingresso, como re- segurado obrigatório à idade de
ferido. 36 anos, e que, quando muito, po-
Ora, se qualquer Caixa Eco- derá êsse ingresso condicionar-se
nômica Federal admite servidores às cautelas do art. 3.°, da Lei
n.03.149.
contando mais de 36 anos, isso se
terá dado, ou pelo fato de algum Daí, a meu ver, a inconvemen-
cia e a ilegalidade do restabele-
ato legislativo posterior o permi- cimento da limitação pura e sim-
tir, e então o limite de idade para ples, como feita pelo Decreto .. o
o ingresso no SASSE não opera, 50.309-61, flagrantemente contrá-
ou foi ilegal, e o que cabe atacar rio ao princípio geral da univer-
é a própria admissão do servidor, salidade da L. O . P . S., como re-
e não o seu ingresso no SASSE, ferida.
que é obrigatório em razão da Por isso, dou provimento ao
condição de funcionário da Caixa recurso, para deferir a segurança,
em questão. E o máximo que po- como pedida.
derá fazer o SASSE, ante tal even-
tualidade, será aplicar ao nôvo ser- Decisão
vidor, maior de 36 anos, o regi- Como consta da ata, a decisão
me que o art. 3.°, de sua Lei, esta- foi a seguinte: Deu-se provimen-
tui para os segurados facultativos, to. Decisão unânime. Os Srso
empregados de Caixas Econômicas Mins. Djalma da Cunha Mello
Estaduais, "que não tem limite de e Armando Rollemberg votaram
idade", mas ficam os empregados com o Sr. Min. Relator. Presidiu
sújeitos a exame médico para seu o julgamento o Sr. Min. Djalma
ingresso, e a um período de ca- da Cunha Mello.

MANDADO DE SEGURANÇA N.O 39.326 - SP.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Requerentes _o Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga
do Pôrto de Santos e Orlando dos Santos
Requerido - Juiz da 2. a Vara da Fazenda Nacional

Acórdão
Mandado de segurança contra execução de Acór-
dão do Tribunal. Denega-se, porque verificado que°
Juiz-executor não incorreu em qualquer excesso.
- 235-

Vi~tos, relatados e discutidos transcrito no documento de fô-


êstes autos de Mandado de Se- lhas 12 teve um só desígnio, fazer
gurança n.o 39.326, de São Pau- cumprir Acórdão dêste Tribunal,
lo, em que são partes as acima no caso dos "bagrinhos", o que
indicadas: não convinha ao C.G.T., aos inte-
Acorda o· Tribunal Federal de ressados em implantar no Brasil
em sessão por uma república sindicalista ou coi-
unanimidade, em denegar a segu- sa pior, se possível, os quais todo
rança, cancelada a liminar, na esfôrço têm envidado para que a
forma do relatório, voto e resulta- decisão referida resulte inoperan-
do do julgamento de fls. 37-42, te. Disse bem o honrado Juiz a
que ficam integrando o presente quo às fls. 27-30: "Em 16 de ou-
julgado. Custas de Lei. . tubro de 1963 foi comunicado, por
Brasília, 14 de maio de 1964.- telegrama e por ofício, a êste Juí-
Henrique d'Ávila, Presidente; zo, pela Presidência do Egrégio
Djalma da Cunha Mello, Rela- Tribunal Federal de Recursos,
tor. para a devida execução, que essa
Relatório alta Côrte Judiciária houvera
confirmado, através do v. Acór-
O Sr. Min. Djalma da Cunha dão, exarado nos autos de agravo
Mello: - Sr. Presidente, o Sindi-
em Mandado de Segurança n. o
cato dos Conferentes de Carga e
Descarga do Pôrto de Santos e 32 . 138, de São Paulo, a senten-
Orlando dos Santos vieram pedir- ça que assegurara aos impetran-
-nos um mandado de segurança tes, Eduardo Ferrer Negrão e ou-
contra despacho do eminente Sr. tros, a possibilidade de trabalho,
Dr. Francis Selwyn Davis, Juiz em igualdade de condições, com
de Direito da Vara dos Feitos da os demais conferentes habilitados
Fazenda Nacional em São Paulo, pela Delegacia do Trabalho Ma-
transcrito no documento de fls. 12. rítimo, em Santos, e que a tanto
Fundamentaram o pedido e vinham sendo obstados por atos
juntaram documentos. Informan- do Sindicato respectivo e por
do a respeito, disse o ilustre Juiz, omissão no cumprimento do de-
referido a fls. 27-30 dos autos: ver, daquele órgão do Ministério
(lê). do Trabalho. Em 4 de novembro
Dada vista dos autos à Subpro- de 1963, as duas autoridades im-
curadoria da República, falou pela
petradas, o Presidente do Sindica-
mesma o Sr. Laerte de Paiva,
to, Sr. Orlando dos Santos, e o
apoiado pelo Subprocurador Mário
de Oliveira, sempre dócil a seus Delegado do Trabalho Marítimo,
reclamos. Pediu, na mesma, que Capitão Oyama de Mattos, foram
o writ fôsse concedido. cientificados por mandado, cum-
É o relatório. prido por dois oficiais de Justiça,
da decisão do Eg. Tribunal Fe-
Voto deral de Recursos. De início, o
O Sr. Min. Djalma da Cunha Sr. Delegado do Trabalho Marí-
Mello: - O ato impugnado e timo e o Sr. Orlando Santos, ofi-
- 236-

cialmente, propuseram-se ao cum- na medida de que S. s.a enten-


primento do julgado. Entregaram desse necessário. Em 16 de janei-
"cartões de contrôle" aos impe- ro de 1964, por determinação dês-
trantes; mas não cumpriram o de- te Juízo, dois oficiais de Justiça
cisório, pois os impetrantes só se- comprovaram a inexecução do jul-
riam chamados na falta de qual- gado. No mesmo sentido foram
quer conferente sindicalizado" A colhidos depoimentos. Em 16 de
rigor, assim, nunca teriam direito janeiro, por despacho dêste Juí-
ao trabalho, como na verdade não zo, foi solicitado à D.T.M. que
o tiveram. Daí, em 11 de novem- cumprisse diretamente as funções
bro, apresentarem os prejudicados, que havia delegado aos fiscais do
reclamação a êste Juízo. Solicita- Sindicato, procedendo aquêle ór-
das novas informações das autori- gão do Ministério do Trabalho à
dades impetradas, o Sr. Orlando chamada para o trabalho de to-
dos Santos informa, em 13 de no- dos os conferentes, sindicalizados,
vembro, que o trabalho estava ou não, dentro do sistema tradi-
sendo distribuído, preferencial- cional. Em 20 de janeiro, a D.T.M,.
mente, aos sindicalizados, nos têr- mais uma vez, afirmou-se incapa-
mos do art. 1.0, do Decreto n.o citada de cumprir as determina-
34.453, de 4 de novembro de ções do Poder Judiciário. Em 21
1953; já o Sr. Delegado do Tra- de janeiro êste Juízo exarava o
balho Marítimo confessa sua inér- despacho, objeto do presente man-
cia e incapacidade, afirmando es- dado de segurança, e pelo qual,
tar impossibilitado de cumprir o em síntese, foi determinado : a)
v. Acôrdo por falta de subordi- requisição de inquérito policial,
nados e que, na hipótese de che- por crimes previstos nos arts.
gar ao conhecimento do Juízo, por 203 e 330 do Código Penal, e 31,
terceiros (já que a D.T.M. inclu- da Lei n.o 1.802, de 1953, con-
sive para fiscalização era comple- tra o Sr. Orlando dos Santos, Pre-
tamente omissal), o desrespeito à sidente do Sindicato; b) ofício ao
decisão, fôsse pelo Judiciário re- Ex.mo Sr. Ministro do Trabalho,
querida fôrça policial. Em 18 solicitando-lhe intervenção no sin-
de dezembro de 1963, em aparta- dicato insurreto e apuração de
do, os mesmos impetrantes reque- responsabilidade, por omissão no
reram nôvo mandado de seguran- cumprimento de suas obrigações
ça, no sentido de lhes ser garan- dos impetrantes da D.T.M.; c)
tida a sindicalização. A medida ofícios aos estabelecimentos ban-
foi concedida liminarmente e no cários, no sentido de não serem
dia seguinte comunicada à auto- movimentados, sem prévia auto-
ridade impetrada. Em 14 de ja- rização judicial, os saldos em con-
neiro foi a segurança concedida, ta corrente, do Sindicato ou de
definitivamente. Não obstante, até seus Diretores; d) ofício às enti-
o presente, não foi cumprida. Em dades pagadoras, no sentido dos
9 de janeiro de 1964, dada a re- pagamentos devidos aos Sindica-
quisição dêste Juízo, foi posta fôr- tos ou seus conferentes serem de-
ça policial à disposição do Sr. positados no Banco do Brasil, à
Delegado do Trabalho Marítimo) ordem dêste Juízo; e) ofício. a êsse
- 237-

Eg. T.F.R., dando-lhe notícia do direito do salário, pelo trabalha-


deliberado por êste Juízo, para dor, prestação que, inegàvelmen-
cumprimento do v. Acórdão. Em te, tem caráter alimentício. De-
31 de janeiro os impetrantes mais, no caso, trata-se de defesa
Eduardo Ferrer Negrão e outros da própria soberania do Poder Ju-
pediram que lhes fôsse pago pelo diciário. A ação judiciária civil não
Sindicato salário médio percebi- se exaure com a violeta provi-
do pelos conferentes sindicaliza- dência de ordem policial, com es-
dos, a partir da data que lhes fôra cândalo público, de instauração de
concedida liminar para a sindica- processo criminal contra as auto-
lização, em 20 de dezembro, e ridades administrativas, que se
isso por lhes ter sido impedido obstinam em não cumprir a sen-
o acesso ao trabalho.. Em 3 tença judicial. É preciso que tam-
de fevereiro êste Juízo deferiu bém no âmbito civil seja comple-
êsse pedido, com fundamento no tada a execução, com integral re-
art. 922, do Código de Processo paração do direito lesionado, atra-
Civil, autorizando, outrossim, o vés da adjudicação a cada um do
Banco do Brasil a efetuar os pa- que é seu. Evidentemente, não po-
gamentos do mês de janeiro, dos dem ficar os Magistrados, da mais
conferentes sindicalizados e que humilde categoria, dependentes do
não integram a diretoria do Sin- arbítrio das autoridades adminis-
dicato. Nessas condições, nenhum trativas, de qualquer escalão, para
direito e muito menos líquido e o cumprimento de suas decisões.
certo, foi ferido por êste Juízo. Uma sentença judicial só poderá
Apenas foi dado cumprimento ao ter sua execução obstada através
v. Acôrdão dêste Eg. Tribunal, de da via recursal, por manifestação
forma pacífica e de maneira a da Instância Superior; nunca pe-
evitar a verdadeira burla ao jul- la prepotência dos eventuais de-
gado, pela ousadia de uns e a cri- tentores do mando administrativo.
minosa complacência das autori- Valem aqui, com a devida vênia,
dades administrativas. Não tem as palavras imortais de Von Ihe-
direito líquido e certo o Sindicato ring:"A espada sem a balança
impetrante pela simples razão de é a fôrça brutal, a balança sem
que não pode invocar a tutela da a espada é o direito impotente".
lei, aquêle que, acintosamente, Se os Juízes, além da fôrça moral
contra ela se opõe. Aliás, a me- de suas decisões, não tiverem o
dida determinada por êsse Juízo poder de coação para vê-las cum-
está expressamente prevista em pridas, mesmo através de seus ofi-
lei, no art. 922, do Cé:!igo de Pro- ciais, em breve tempo estará o Po-
cesso Civil, e que dispõe "que o der Judiciário relegado a uma po-
pagamento das prestações venci- sição secundária, dentro da divi-
das poderá a requerimento ou são dos Podêres. E terão perdido
ex officio, ser ordenado pelo Juiz, os cidadãos seu derradeiro alen-
mediante seqüestro judicial de to, pois como dizia Rui, "a espe-
bens ou rendimentos do devedor". rança nos Juízes é a última espe-
A aplicação do art. 922, da lei
rança."
processual, tem perfeita aplicação
na espécie, em que se discute o Denego. o writ.
- 238-

Decisão raiva, Amarílio Benjamin e Ar-


Como consta da ata, a decisão mando Rollemberg votaram com o
foi a seguinte: Por unanimidade, Relator. Não compareceu por mo-
denegou-se a segurança, cancela- tivo justificado o Sr. Min. Henri-
da a liminar. Os Srs. Mins. Cân- que d' Ávila. Presidiu o julgamen-
dido Godoy Ilha, Oscar Sa- to o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.

MANDADO DE SEGURANÇA N.O 44.905 - DF.


Relator - O Ex. mo Sr. Min. Antônio Neder
Requerente - Mário de Oliveira
Requerido - Tribunal Federal de Recursos

Acórdão

Tribunal Federal de Recursos. Para a regulari-


dade do quorum de suas deliberações administrativas,
basta a presença de cinco de seus Juízes, inclusive
o presidente, que tem direito a voto, e que formam
a maioria de seus membros.
Desrespeito ao Tribunal. Os tribunais têm como
de sua competência regimental, no regimento escrito
ou. nas soluções do que no texto é omisso, e como
uma de suas prerrogativas essenciais, a do resguardo
do seu decôro e do seu bom funcionamento, o poder
de excluir de seu seio, representante do Ministério
Público que venha a perturbá-los e trazer-lhes desar-
monia .
. Art. 36 da Constituiçãú. A harmonia dos Püdê-
res de que trata essa norma, refere-se ao Poder Exe-
cutivo, no que concerne às suas relações com os de-
mais podêres, não apenas em seu cume, ao Presi-
dente da República; mas, diz respeito a todos os
órgãos e membros da Administração Pública, espe-
cialmente aos exercentes de cargos de chefia ou co-
missão, nestes incluído o Subprocurador-Geral da
República.

Vistos, relatados e discutidos integrando o presente julgado.


êstes autos de Mandado de Se- Custas de lei.
gurança n. o 44.905, do Distrito ,Tribunal Federal de Recursos,
Federal, em que são partes as aci- Distrito Federal, 24 de novembro
ma indicadas: de 1964. - Cunha Vasconcel-
Acorda o Tribunal Federal de los Filho, Presidente; Henrique
Recursos, em sessão plena, por d'Ãvila, Relator designado para o
maioria de votos, em denegar a Acórdão.
ordem, na forma das notas ta qui- O Sr. Min. Antônio Neder: - O
gráficas precedentes, que ficam Sr. Dr. Mário de Oliveira, brasilei-
- 239-

1'0,casado, 1.0 Subprocurador-Ge- atingidos seus direitos pessoais de-


Ia1 da República, residente e do-- correntes do decreto de nomea-
miciliadonesta Capital, fundado ção;
no art. 141, § 24, da Constituição 3. Portanto, contra a respeitá.
Federal, requer mandado de segu- vel decisão pode insurgir-se, iso-
rança contra o Egrégio Tribunal ladamente, nos limites em que
Federal de Recursos. cada um foi atingido, mandante e
O pedido e seus fundamentos mandatário. A União para o fim
estão escritos na petição inicial, de compelir o Egrégio Tribunal
que é do teor seguinte: "Egrégio a respeitar a nomeação feita no
Tribunal Federal de Recursos: uso de prerrogativa constitucio-
Dr. Mário de Oliveira, brasi- nal. O Dr. Mário de Oliveira,
leiro, casado, 1.0 Subprocurador- como qualquer particular sujeito
-Geral da República, residente e de direitos, com o objetivo de re-
domiciliado nesta Capital à Su- querer ao Egrégio Tribunal o res-
perquadra 206, Bloco 3, apto. 106; peito a seus direitos pessoais den-
vem, por seu advogado infra-as- tre os quais se inclui, se não a
sinado, com fundamento no artigo posse, o pleno exercício de suas
141, § 24 da Constituição Fe- funções junto ao mesmo;
deral, combinado ,com o art. 1.0 4. Por conseguinte, cada um
da Lei 1. 533, de 1957, impetrar dêles, separadamente, tem legíti-
mandado de segurança contra êste mo interêsse econômico e moral
Egrégio Tribunal Federal de Re- para pleitear o que julgar a bem
cursos, que em decisão adminis- de seus respectivos direitos;
trativa impediu-o de exercer, jun. 5. Assim, embora o Egrégio
to ao mesmo, suas altas funções Tribunal não receba as petições
pelos motivos a seguir expostos: da União assinadas pelo represen-
tante, não pode, porém, por aquê.
Legitimidade de parte le fundamento, deixar de conhe.
cer das ações por êle intentadas,
1. O Egrégio Tribunal acaba em seu próprio nome, reivindican-
de proibir, ou para usar da expres- do direito que é todo seu.
são do Sr. Min. Cunha Mello,
acaba de "expulsar" o Dr. 1.0 De meritis
Subprocurador-Geral da Repúbli- 6. O representante, como é pú.
ca do Egrégio Tribunal, impedin- blico e notório, é o 1.0 Subpro-
do-o de exercer junto ao mesmo curador-Geral da República, caro
suas funções, proibindo, em conse- go para o qual foi nomeado pelo
qüência, o Protocolo de receber Excelentíssimo Senhor Presidente
as petições da União por êle assi- da República por Decreto. de
nadas; 4-5-962, decreto êste até esta data
2. Tal decisão atinge, de for- não revogado. Assim, tem direito
mas diferentes, a União e seu re- de continuar no pleno exercício de
presentante. A União por ter sido suas funções sujeito sàmente às
atingida em seu poder de nomear restrições que a lei lhe impõe;
e de ver respeitada sua nomeação. 7. Neste sentido, há mais de 2
O Dr. Mário de Oliveira, por ver anos, vem representando a União
- 240-

perante êste Egrégio Tribunal 12. Finalmente, o eminente


junto ao qual funciona, tomando Sr. Min. Henrique d'Ãvila en-
em benefício do Estado tôdas as viou duas cartas para serem lidas
I71edidas judiciais e administrati· na Câmara e no Senado repetin.
vas que a lei lhe assegura ou do ataques à Subprocuradoria-Ge-
obriga; ral da República;
8. Sucede que, como sempre 13 . Não. se pode. dizer, diante
faz, ao dirigir-se à sessão ordiná- de tais fatos, seja a Subprocura-
ria de 20-7-64, viu-se proibido de daria a interessada em armar es-
tomar parte na mesma porque o cândalos.
Egrégio Tribunal comunicou-lhe
que, em reunião administrativa, Desnecessária demonstração
resolvera declará-lo impedido de de fôrça
exercer suas funções junto ao
mesmo, porque o Egrégio Tribunal 14. Não passou despercebida a
com êle se incompatibilizou. Neste desnecessária manifestação de fôr-
sentido não mais o recebe em suas ça que o Egrégio Tribunal fêz ao
sessões, não ouve sua palavra, não Govêrno ao expulsar o seu repre-
admite as petições da União por sentante do Tribunal. Tais mani-
êle assinadas; festações parecem não se coadu-
nar com a austeridade a que se
9. Da aludida decisão o Egré- devem impor os Tribunais. Pelo
gio Tribunal Federal de Recursos respeito que o Govêrno tem ao
deu a mais ampla publicidade. Judiciário, de que deu provas ine-
Chegou mesmo, um de seus mais quívocas, bastava o Tribunal de-
ilustres representantes, a convo- monstrar o seu desagrado ao Pro-
car a seu gabinete, o que chamou curador para que o órgão compe-
de "imprensa escrita e falada" pa- tente examinasse, com isenção, o
ra encarecer a necessidade da di. incidente;
vulgação; 15. Tão pouco importa exami-
10. Não bastante, permitiu ou nar os motivos que levaram o
determinou, que sua secretária Egrégio Tribunal a assim proce-
enviasse nota ao O Globo dando der, embora seja público e notó-
o que entendia ser a exata versão rio ter-se agastado com o fato de
dos fatos, renovando ataques e haverem os Procuradores da Re-
injúrias ao Ministério Público; pública denunciado os Srs. Mins.
Cunha Mello e Cândido Lôbo, de
11. A seguir, na sessão de 24 improbidade, ao primeiro dos
de julho o Sr. Min. Djalma da quais, aliás, emprestou expressiva
Cunha Mello disse, com a apro- solidariedade, no n.o 9 da sua de-
vação do Sr. Min. Godoy Ilha, cisão.
que a sessão se faria sem a pre-
sença do representante do PodeI Invasão de podêres
Público porque ... os Procura- 16. A respeitável decisão é ma-
dores da União que aqui havia, nifestamente ilegal, arbitrária, to-
foram expulsos por nós" (Jornal mada com evidente abuso de po-
do Brasil de 26-7-1964); der pois lei alguma reconhece ao
- 241-

Egrégio Tribunal o direito de êle, harmonia não é a igualdade,


proibir a qualquer advogado de a paridade, o nivelamento dos Po-
nêle funcionar. Muito menos lhe dêres. Mas sim a suprema.cia, a
é dado impor tal proibição ao ad- preeminência, de um sôbre os de-
vogado da União, representante mais. Em última análise a hege-
do Ministério Público; monia do Egrégio Tribunal sôbre
17. Tal é só, e o Chefe do Executivo. Faz lem-
exclusivamente, do Excelentíssimo brar a "igualdade", em relação a
Senhor Presidente da República. Roma, dos povos compreendidos
Só a S. Ex. a a Constituição outor- na pax romana, que significava no
gou o poder de nomear, afastar ou
entanto a própria submissão de
demitir o advogado da União, bem
todos ao Poder Central ...
como os demais funcionários pú-
blicos; 21. Data venia, o dispositivo
constitucional foi muito mal in-
18. Portanto, tendo o Egrégio
vocado: é uma construção força-
Tribunal decretado seu afasta-
mento, por fôrça do impedimento da. Não só porque do prisma ju-
estabelecido, com tal ato, eviden- rídico constitucional não tem a
temente invadiu terreno próprio conceituação que lhe empresta o
do Executivo, tornando-se, assim, Egrégio Tribunal, como também
nulo. por ser inteiramente inapli.cável
aos fatos em questão.
Harmonia não é submissão
Harmonia : conceito
19. Tanto o Egrégio Tribunal constitucional
reconhece, data venia, o êrro em
que incorreu que mudou inteira- 22. Está claro que para chegar
mente de orientação, procurando à conclusão a que chegou, o Egré-
nôvo suporte jurídico para co- gio Tribunal entendeu a "harmo-
onestar a decisão. Já não fala nia" na sua acepção corriqueira de
mais na figura jurídica do impe- relações de camaradagem, de ami-
dimento. Refere-se, agorª" à pos- zade, entre pessoas, esquecendo-se
sibilidade de afastar o represen- de que a Lei Magna não empre-
tante da União, do Egrégio Tribu- gou-a naquele sentido vulgar. Ao
nal, porque seria persona non gra- contrário, deu-lhe conceituação
ta por não manter com êle boas jurídica própria ligando-a ao pro-
relações. Quem o autorizaria a blema da independência entre os
assim proceder seria o princípio Podêres;
da "harmonia" que deve reinar 23. A harmonia entre os podê-
entre os Podêres nos têrmos do res prevista na Constituição não
art. 36 da Constituição. A "har- depende da amizade ou das boas
monia" permitiria ao Egrégio Tri- relações, que possam manter os
bunal recusar o Procurador no- representantes dos mesmos. Não
meado pelo Executivo; está sujeita, por isso mesmo, ao
20. O conceito que o Egrégio entendimento pessoal às idiossin-
Tribunal tem do que seja "har- crasias, aos humores, de cada um.
monia" é bastante curioso. Para É preceito de natureza adjetiva
- 242

ligado às relações entre os podê- A Constituição não


res, consubstanciado nos "freios e prevê pena
contrapesos" estabelecidos pela
Constituição. São concessões fi- 26. Além de não ter o signifi-
xadas objetivamente na Carta, cado pretendido pelo Egrégio Tri_
que um Poder faz a outro, de atri. bunal não podia êle punir o ad-
que normalmente seriam vogado da União, pois o princí-
suas. Isto, a fim de que reunidos pio da harmonia não re.conhece a
possam chegar ao fim comum, o nenhum dos podêres o direito de
que não seria possível se cada um impor pena aos outros, quando
dêles quisesse levar a extremos a um dêles violasse a referida dis-
competência que aquela lhe ou- posição;
torgou. Como se vê, a harmonia 27. A Constituição, no art. 36,
diz respeito, está ligada, à própria não prevê pena alguma. Portan-
matéria da competência dos Po- to, não pode ser aplicada;
dêres, para que uns não vivam a
28. O máximo que o Egrégio
disputar a dos outros nas zonas Tribunal poderia fazer era levar
em que pudessem ocorrer dúvi- o fato ao conhecimento do Egré-
das; gio Supremo Tribunal Federal,
24 . Estas concessões são os cúpula do Poder Judiciário, para
cheks and balances, ou seja, den- que julgasse se o Poder Executi-
tre outros, através do judicial con- vo está sendo desarmonioso com
traI - dos atos do Executivo e do aquêle órgão do Judiciário.
Legislativo. Através das :t4estri-
ções que o último impõe ao~ dois Os Podêres é que devem
primeiros. Através do julgamen- ser harmônicos
tõ dos Juízes da Suprema Côrte,
por órgão do Legislativo; 29. Mas não pararam aí os
equívocos, aliás gritantes, do Egré-
25. Ê o que ensina o ilustre
gio Tribunal. Não lhe era dado
Barbalho: "em vez, pois, de po-
também apegar-se ao preceito,
dêres rivais e vivendo em conflito,
para decidir a disputa pessoal de
a Constituição os estatui harmô-
seus Juízes com o Dr. Mário de
nicos, devendo cada um respeitar Oliveira;
a esfera de atribuições dos outros
e exercer as próprias, de modo que 30. A Lei Suprema, pelos mo-
tivos assinalados, só se interessa
nunca dê embaraços, mas dê fa-
pela independência ou harmonia
cilidade e coadjuvação sirvam às dos "podêre.s". Os podêres é que
dos demais, colaborando todos, constituem o seu objeto. Portan-
assim, a bem da comunhão. Pa- to, os podêres, não as pessoas fí-
ra obter isso, usou a Constituição sicas de seus ocasionais represen-
de alguns expedientes e combina- tantes, é que hão de ser harmôni-
ções, interessando, fazendo pene- cos;
trar de certo modo, a ação de uns 31. Ora, no .caso, não há ne-
no movimento funcional dos ou- nhuma desarmonia entre os Podê-
tros podêres" . res Executivo e Judiciário. Nem
- 243

mesmo suas cúpulas foram envol· Decisãp administrativa com


vidas. No máximo, haveria uma efeito judicial
secundaríssima questão de anti-
patia de funcionários de um Po- 35 . Analisemos, agora, as ra-
der em relação a funcionário de zões anteriores do Egrégio Tribu-
outro Poder. Resumir-se-ia, assim nal que afastaram o representan-
as de boas ma- te do exercício de suas funções;
neiras, de bom convívio entre as 36. Como se viu, o Egrégio
pessoas em causa. A elas, por Tribunal, de ofício, em sessão ad-
conseguinte, caberia resolvê-las ministrativa secreta, sem dar di-
com os meios que a lei prevê; reito de defesa, declarou impedi-
32. Quanto ao aspecto funcio- do de funcionar junto àquele Tri-
nal não tem a menor importân- bunal, em todos os processos ju-
cia a antipatia do Juiz pelo advo- diciais, o representante da União.
gado pois o exercício das funções Determinou, ainda, a paralisação
não depende da ,simpatia do Ma- dos feitos judiciais, em que devia
gistrado mas tão-sômente da sua intervir;
dignidade no julgar. A despeito 37. Em última análise: o
dela, o advogado continuará a re- Egrégio Tribunal aplicou aos pro-
querer. E o Juiz com a obrigação cessos judiciais a decisão adminis-
de re.conhecer-Ihe o direito se o trativa. O que seria mera sanção
tiver; disciplinar transformou em sessão
33. A menos que se cometes- judicial-processual. Terminou por
se a injúria de alegar, o que só punir com a paralisação dos fei-
para argumentar se afigura, de tos, não só o Procurador da União,
que por não simpatizar com o ad- mas as próprias partes e seus ad-
vogado, passasse o Juiz a preju- vogados;
dicar a parte por aquêle represen· 38. Não é preciso demonstrar
tada. Neste caso, porém, apenas, pois se herlent de trouver ensem·
salientaria o mau Juiz para o qual ble o verdadeiro despautério de
o direito é secundário. Importan- mandar aplicar a processos judi-
tes eram as suas simpatias pes- CIaIS, decisões administrativas.
soais. Assim do mesmo modo que, Não é também necessário apon-
condenava por inimizades, deveria tar o despropósito de impedir o
favorecer por amizade; prosseguimento dos feitos, não
34. Finalmente, para demons- por motivos processuais, mas por
trar a total in aplicabilidade do questões que seriam de falta de
dispositivo, basta dizer que, se em boas maneiras, ou até de desres-
nome da harmonia entre os Podê- peito, para as quais há remédio es-
res pudesse o Egrégio Tribunal pecífico, indo até ao processo cri-
impugnar o representante do Exe. minal.
cutivo, forçoso seria admitir tam-
bém que com o mesmo fundamen- Decisões juridicamente
to pudesse êste recusar Juízes da- inexistentes
quele quando não o agradasse. O
absurdo de tal solução dispensa 39. Abone-se, porém, tudo isto,
comentários. e já era mais do que suficiente
- 244-

para acarretar a mais absoluta sença dos procuradores das par-


ineficácia da decisão. Analise-se tes, estabelecido o contraditório,
apenas, em seu aspecto formal. E apreciando sOmente o feito que
isto bastará para demonstrar não lhe fôr submetido. É isto que ín-
ter ela existência jurídica por es~ tegra a "figura" de Juízo;
tar eivada de irremovíveis vícios 44. Como adverte o Mestre:
rle forma e de fundo. aOS a portas fechadas, just!-
vÍCios de forma, por desrespeitar l,-a obscura. Justiça como todos
os prin.cípios informativos do pro- os atos da vida pública, pois que
cesso, decidindo: a) sem figura a todos interessa, supõe liberda-
de juízo; b) sem provocação da de, reflexão, crítica, decisão livre.
parte; c) sem haver caso judicial A publicidade, como a liberda-
específico; de, nasceu da experiência huma·
40. No que respeita aos vícios na de que a revolução do homem
de fundo, por decretar: a) impe- se fêz nas assembléias primitivas,
dimento sem observar processo quando e onde nasceram a dis-
determinado em lei; b) impedi- cussão e, depois, a reflexão; e
mento às avessas; c) nova figura da crítica que aponta a decadên-
processual de impedimento por cia de todos os povos em que o
incompatibilidade. elemento inquisitorial dominou"
(VoI. 11, fls. 274/5);
Faltou a "figura de Juízo" 45. Portanto, a decisão admi~
nistrativa, tomada de forma se-
41. Conforme o próprio Tribu~ creta, fora do recinto apropriado,
nal confessa, sua deliberação foi sem a presença dos interessados,
tomada em reunião, meramente sem contraditório, e ainda sem
administrativa, secreta. E não quorum pode representar uma
através de ato Judicial, público; de.cisão doutrinária, filosófica, so-
42. É elementar que o processo cial do Tribunal, jamais, porém,
se desenvolve através de atos ju- poderá ser considerada decisão
diciais (art. 5.° do C.P.C.). Só judicial capaz de obrigar aos pro-
os assim proferidos compõem a cessos judiciais, pois tomada sem
"figura de Juízo" capaz de obrigar "figura de Juízo" por inexistir ato
às partes. Como assinala Pontes judicial;
de Miranda: ''Todos os atos que 46. Processualmente, inexiste
tenham de ser praticados em juí- tal decisão;
zo, isto é, sob jurisdição do fun- 47. Nem se diga ser o impedi-
cionário do Estado a que se cha- mento de natureza administrativa,
ma juíz, ainda que êle não tome pelo que poderia ser tomado em
parte na feitura ou prática, estão sessão administrativa. Não só
sujeitos às regras do Livro I, Tí- porque não tem êle tal natureza,
tulo 11" (Coment. voI. 1, fls. 154); pois está sujeito à contenciosida-
43 . Quanto às decisões dos de, como prescreve, aliás, o Regi-
Tribunais, o ato judicial compre- mento do próprio Tribunal, por~
ende a sua reunião em sessão pú. que ainda que a tivesse, êste só
blica, com o quorum exigido em poderia ser decretado em ato ju.
lei, na sala de audiência, na pre~ dicial. É o que ocorre, por exem-
- 245-

pIo, com os inventários e parti- mada a iniciativa da parte, evi-


lhas que a despeito de terem ,ca· dentemente não podia o Tribunal
ráter administrativo são processa- decret4-1a de ofício.
dos com forma e figura de JuízO;
ou seja, em ato judicial. Inexistência do caso .concreto

Falta 52. Neste diapasão, foi a pon-


to de decidir sem que E'xistisse um
48. Ainda que se admitisse, processo judicial, uns autos se-
para argumentar, pudesse tal de- quer onde pudesse decretar o im-
cisão ser assim tomada, ainda ai pedimento. Foi ainda mais longe
não poderia produzir efeito por clecretando-o na forma g~nérica
ter sido adotado com falta de para todo e qualquer caso em que
quorum; a União devesse intervir, quando
49. O Regimento Interno es- é sabido serem os impedimentos
tabelece, no art. 56, que o Tri- diferentes da suspeição, de natu-
bunal Pleno funcionará com a reza estrita, se obrigando em ca-
presença de, pelo menos, seis Mi· da caso no qual fôr suscitado;
nistros desimpedidos. No entan· 53. Com todos êstes vícios,
to, para atingir aquêle número, fo- data venia, com todos êstes erros,
ram computados os votos de dois está claro que a decisão não tem
Juízes impedidos, os Mins. Cân- existência Jurídica. Não pode al-
dido Lôbo e Cunha Mello, ou se- cançar os processos judiciais.
ja, exatamente os pivots da cri-
se, aquêles contra os quais foi ofe· Inexistência de processo
recida denúncia por improbidade. determinado em lei
Decisão sem provocação 54. Admite-se, para debater,
da parte fôsse uma decisão judicial tomada
em ato judicial público, etc. Nes-
50. Não bastasse decidir sem te caso, seria nula por não ter
ato judicial, o seu quorum, deci- respeitado o processo determina-
diu também o Egrégio Tribunal, do em lei para decretação do im-
de ofício, sem que houvesse sido pedimento: a prévia defesa do in-
provocado por parte interessada. diciado.
Isto ao reunir-se, sem que nin-
guém o pedisse, para decretar (j Impedimento às avessas
impedimento do eminente Pro-
curador. Dêste modo, desrespei- 55. De tudo o que fêz o Egré-
tou o princípio informativo, cons- gio Tribunal, o mais curioso tal-
tante do art. 4.° do C.P.C. de vez tenha sido decretar impedi-
que "o pronunciar-se sôbre o que mento às avessas;
não constitua objeto do pedido, 56. A lei, ao estabelecer os im-
nem considerar exceções não pro- pedimentos, nestes compreendidos
postas para as quais seja por lei a suspeição, procurou, em última
reclamada a iniciativa das partes;" análise, evitar a parcialidade da
51. Sendo o impedimento uma decisão, no que respeita ao objeto
exceção para a qual aliás é recla- do litígio. E a pardalidade da de-
- 246-

Clsao, evidentemente, só pode ser a.) por não ter a parte legítima
imputada a quem fôr proferi-la: interêsse na disputa direta entre
isto é, ao Juiz; o Procurador e o Tribunal; b) por
57. Excepcionalmente, porém, inexistir em nosso direito proces-
em relação às partes, o represen- sual a figura do impedimento pOI'
tante do Ministério Público po- questão de boas maneiras, dis.ci-
derá ser por elas acoimado de plinar, ml criminal; c) por ine-
suspeito, por poder ajudá-las 011 xistir, igualmente, o impedimento
prejudicá-las ao alcance do ob- genérico para exercer sua profis-
jeto do litígio; são ao Tribunal;
58. Portanto, na relação entre 62. Ainda não há acôrdo na
o Procurador e Q. Juiz, o primeiro doutrina no sentido de saber se,
pode alegar a suspeição do segun- em relação aos Juízes, a suspeição
do, pois êste é quem poderá pre- tratada no art. 185 do C.P .C.
judicá-lo com a decisão, não lhe compreende também os impedi-
entregando o objeto do litígio. mentos, por serem êsses normal.
Mas não tem nexo o Juiz, por mente dados pelas leis de organi-
conta própria, afirmar o impedi- zação judiciária. Quanto aos
mento de Procurador, pois que membros do Ministério Público,
êste nada irá decidir contra êle, não ocorre dúvida só poderem
pela simples razão de não pre- estar sujeitos, e isto em relação
tender o Juiz o recebimento do às partes, aos princípios que re-
objeto do litígio. Falta-lhe, incon- gem as suspeições, conforme, aliás,
testàvelmente, qualicj.ade e legíti- dispõe o mesmo Código no art.
mo interêsse para tanto; 189;
59. Ora, decretando o Tribu- 63. Dito artigo estabelece se-
nal o impedimento do Procura- rem os membros do Ministério
dor porque com êle estaria o Tri- Público suspeitos de parcialidade
bunal agastado, evidentemente em relação às partes por: a) pa-
inverteu a situação. Estabeleceu rentescos; b) amizade íntima ou
na verdade um impedimento às inimizade capital; c) interêsse
avessas. Inexistente, portanto. dêle ou de seus parentes em tran-
sação em que intervenha alguma
Nova figura processual das partes;
60. Ficou demonstrado que os 64. Como se vê, nenhum prevê
Tribunais podem decretar a sus- o "impedimento por incompatibi-
peição do Procurador em relação lidade" por não manter o Pro-
à parte. Mas não tem qualidade curador o "necessário respeito" ao
para tomar iniciativa, nem para Tribunal e a cada um de seus
decretá-la em relação ao próprio Membros. E não prevê, porque
Tribunal; tal fato não constitui matéria de
61. Conceda-se, porém, que o impedimento que está ligado, co-
Tribunal houvesse decretado o mo se demonstrou, à suspeita de
impedimento genérico, por incom- parcialidade. É matéria tipica-
patibilidade, em vista da provoca- mente de boas maneiras, discipli.
ção da parte. Ainda assim desca- nar ou criminal, sujeita a sanções
bida a decisão, por três motivos: complementares diversas;
247 -

65. Se o Egrégio Tribunal en- contrávamos. :É o que dizem seus


tende que o Procurador agiu de próprios: "Considerando as difi-
forma desatenciosa, desrespeitosa, culdades relativas à aquisição de
injuriosa ou caluniosa, proceda papel de imprensa, em virtude da
contra êle na forma da lei. Use situação internacional; Conside-
dos remédios que a lei concede. rando que se impõe uniformizar
Isto é, casse-lhe a palavra quan- as publicações oficiais,
do falar em têrmos impróprios. De,creta:"
Represente ao Procurador-Geral 71. O Egrégio Tribunal porém
para que êste aplique sanções dis- transformou a exceção em regra.
ciplinares, nos caso.s de desrespei- E a simples norma, em proibição;
tos. Processe-o criminalmente,
72. Insinuou também, embora
quando o injuriar ou caluniar;
de forma tímida, o que curiosa-
66. O que o Egrégio Tribunal,
mente foi depois repelido na Or-
data venia, não pode, é decretar o
dem dos Advogados: que os mem-
seu impedimento por aquêles mo-
bros do Ministério Público esta-
tivos, pois a lei não o permite.
riam sujeitos também às reco-
mendações e proibições daquele
Livre exercício da profissão órgão de classe;
67. Igualmente não era dado. 73. A melhor resposta que se
estabelecer proibição genérica pa- poderia oferecer já foi dada pela
ra funcionar junto ao Tribunal, própria Ordem ao reconhecer, na
pois como tal ato estava criando sessão de 24 do corrente, não es-
restrição ao livre exerClClO da tarem os membros do Ministério
profissão, vedada pelo art. 141; Público sujeitos às suas sanções
§ 14 da Constituição, sobretudo ou às disposições que o regem.
sem que lhe fôsse assegurado o
direito de defesa. Norma adjetiva transforma-
da em substantiva
Os fundamentos invocados
74. Data venia, de tôdas as
68. Finalmente, não foi mais leis aplicadas, talvez a que tenha
feliz o Egrégio Tribunal nos fun- sido mais impr.opriamente foi
damentos encontrados para de- aquela em que procurou apoio pa-
cretar o impedimento "por in- ra decretar impedimento. O Tri-
compatibilidade". As leis invoca- bunal não se baseou no art. 185
das nada têm a ver com o caso; do C.P.C., ou, por analogia, co-
69. Alega que a União não po- mo determina êste, no art. 213
deria ter publicado na íntegra a do Regimento Interno. Mas, sim,
petição de recurso extraordinário, no art 23 dêste último;
pois o Dec.Iei 1.705, de 1959, só 75. Ora, dito dispositivo jamais
permitiria a publicação dos resu- poderia ser invocado como funda-
mos de pareceres; mento para a decretação do im-
70. Ora, a lei invocada foi pu- pedimento, pela simples razão de
blicada durante a guerra em vista não contituir norma substantiva.
da dificuldade na obtenção de pa- É simples regra adjetiva para
pel de imprensa em que nos en- atingi-la;
- 248-

76. Por isso mesmo, não diz em cessários ao esclarecimento do as-


que casos ocorre o impedimento sunto.
do Procurador. Pela mesma ra· Outrossim, anexo ao presente
zão não prevê a incompatibilida- ofício às págs. 2.320 e 2.322 do
de como forma de impedimento. Diário da Justiça de 14 de julho
Logo, não podia servir de supor- do corrente ano, onde se encon-
te para a decisão; tram as razões de recurso extra-
77. Face ao exposto, estando ordinário interposto pela Subpro-
suficientemente demonstrado ha- cw-adoria-Geral da República nos
ver o Egrégio Tribunal, sem lei autos do Mandado de Segurança
que o autorizasse, arbitràriamente, n.O 27.224, razões essas que pro-
portanto, com evidente abuso de vocaram a resolução tomada por
poder, violado o direito líquido e êste Tribunal na sessão acima alu-
certo do suplicante de continuar dida.
representando a União junto ao Expresso a V. Ex. a, na oportu-
Egrégio Tribunal Federal de Re- nidade, a segurança de minha ele-
cursos, em todos os atos decor·· vada estima e distinta considera-
rentes da sua nomeação para o ção.
cargo de 1.0 Subprocurador-Geral
Cópia da Ata (fls. 27/29):
da República, espera o Dr. Má-
rio ele Oliveira seja concedido o Cópia Autêntica da 19.a Sessão
writ para o fim de declarar a ine- Ordinária, em 20 de julho de 1964
xistência, ou ter como inválida a Poder Judiciário - Tribuni8-1
decisão aludida, restabelecido, Federal de Re.cursos - Tribunal
assim, em todos os seus efeitos o Pleno
stato quo ante. Ata da 19.a Sessão Ordinária, em
20 de julho de 1964.
A informação do Sr. Presidente
do Tribunal Federal de Recursos, Presidência do E~mo Sr. Mi-
o eminente Min. Vasco Henrique nistro Henrique d'Ávila
d' Ávila, que na oportunidade Subprocurador-Geral da Repú-
substituía o eminente Sr. Min. blica, o Ex.mo Sr. Dr. Mário de
Cunha Vasconcellos, então licen- Oliveira
ciado, encontra-se nas peças das Secretário: o Sr. Bel. Fernan-
fls. 26/29, que vão a seguir trans- do da Silva Almeida. Às treze
critos: horas, presentes os Ex.mos Srs.
Mins. Djalma da Cunha Mello,
"Ofício de fls. 26:
Cândido Lôbo, Godoy Ilha, Os-
Em atenção ao solicitado no car Saraiva, Armando Rollem-
Ofício n.o 460, de 26 de agôsto berg e Hugo Auler, êste último
último, passo às mãos de V. Ex. a , ocupante temporário da vaga
a fim de instruir o julgamento do ocorrida com a aposentadoria do
Mandado de Segurança 44. 905, Sr. Min. Aguiar Dias, foi aberta
cópia autêntica extraída da Ata a Sessão. Foi lida e aprovada a
da 19.a Sessão de Julgamento rea- Ata da Sessão anterior.
lizada pelo Tribunal Pleno, em 20 O Sr. Min. Henrique d' Ávila
de julho do corrente ano, na qual (Em exercício da Presidência): -
V. Ex. a encontrará elementos ne- O Tribunal acabou de decidir, em
- 249-

Sessão Administrativa, que o Dr. missão referida se pronunciasse,


Subprocurador-Geral da Repúbli- sem outras manifestações, em
ca está impedido de funcionar pe- atenção ao resguardo do decôro
rante esta Côrte, nos têrmos do do Tribunal junto ao qual ser-
ofício que vai ser lido pelo Sr. Se- vem.
cretário, par;:!. constar da ata dos 4. Assim, não sucedeu, contu-
trabalhos: (O Sr. Secretário pro- do, e já por outras vêzes poste-
cede à leitura da Ata) . riores, buscaram os acusadores a
Em face da deliberação do Imprensa, para a reafirmação de
Tribunal, lamento informar ao suas denúncia.
Dr. 1.0 Subprocurador-Geral da 5. Mas essa atitude de acinto-
República que o Tribunal passa- so desrespeito culminou com a
rá a decidir apenas os casos de inserção no Diário da Justiça. de
suspensão de segurança, que são 14 do corrente (páginas ..... .
urgentes, e os casos em que a 2320/2322), das razões de inter;.
Sub procuradoria-Geral da Repú- posição do recurso extraordinário,
blica não devia intervir. nos autos do Mandado de Segu-
Ofício n. o 80-GP rança n. O 27.224, em que se con-
Brasília, D. F. Em, '" de ju- tém, ao invés de argumentos ju-
lho de 1964. rídicos próprios ao apoio do re-
Sr. Procurador-Geral da Re- curso, a repetição por traslado
pública: literal, dos motivos que entende-
1. Como é do conhecimento ram constituir fundamentos para
de V. Ex. a , e de notoriedade pú- a denúncia atrás referida, no que
blica, pelo alarde e pela escanda- respeita ao Ex.mo Sr. Min. Djalma
losa divulgação com que foi o fato Tavares da Cunha Mello, prolator
precedido, o Sr. 1.0 Subprocura- do Acórdão recorrido, P. que en-
dor-Geral da República, e outros cerram o maIS injurioso con-
Procuradores seus subordinados, teúdo.
com exercício neste Tribunal, di- 6. Observe-se que a decisão re-
rigiram denúncia à Comissão Ge- corrida foi unânime, e é originá-
ral de Investigações, contra os ria do Tribunal, em sua plenitu-
Ex.mos Srs. Mins. Djalma Ta- de.
vares da Cunha Mello e Cândido O Decreto-lei D.o 1. 705/1939,
Mesquita da Cunha Lôbo. art. 1.0, lII, "veda" a inserção no
2. Êste fato foi objeto, por par- órgão oficial, da íntegra de razões
te do Tribunal, dos reparos, e do ou pareceres, e dos quais será pu-
pedido de providências, presente blicado apenas o resumo. E o
o Excelentíssimo Senhor Presi- Estatuto dos Funcionários Públi-
dente da República, nos têrmos cos Civis da União proíbe, de
de oficio da Presidência do Tri- modo expresso, ao funcionário:
bunal, do qual foi dado conheci- (art. 195): I -Referir-se de mo-
mento a Vossa Excelência. do depreciativo em informação,
3. Cumpria, assim, aos acusa- parecer ou despacho, às autorida-
dores, e por sua própria condição des e a atos da administração pú-
de membros do Ministério Públi- blica, podendo, porém, em traba-
co Federal, aguardar que a Co- lho assinado, criticá-lo do ponto

17 - 35883
- 250-

de vista doutrinário ou da organi- perante êle, as funções de repre-


zação do serviço; sentantes da União, por não man-
8. Também a Lei que rege a ter, em seu exercício, o necessá·
advocacia, o Estatuto da Ordem rio respeito que deve ter para com
dos Advogados do Brasil, pres- êsse órgão colegiado, e para cada
creve entre os deveres do advoga- um de seus Membros, individual,
do (art. 87): IX - Velar pela mente, .como já foi comunicado
dignidade da Magistratura, .tra- verbalmente a Vossa Excelência
tando as autoridades e funcioná- e ao Ex.mo Sr. Ministro da J us-
rios com respeito e independên- tiça.
cia. Os membros do Ministério 12. Nessa conformidade, o Tri-
Público não se acham imunes a bunal, apoiado nos têrmos do
tais proibições e re,comendações, e art. 23 do seu Regimento, consi-
antes, devem observá-las mais ri- derou impedido de nêle continuar
gorosamente, em sua condição de a funcionar, o 1.0 Subprocurador-
advogados da União, e por lhes .Geral da República, e de prefe-
ser aplicável o Estatuto dos Fun- rência à designação aí autorizada,
cionários Públicos Civis (art. 19 vem solicitar a indicação de outro
da Lei Orgânica do Ministério PÚ- membro do Ministério Público
blico da União). Federal capacitado, e que possa,
9. Mas a remessa do texto a desimpedidamente, desobrigar-se
publicar se fêz à Imprensa Na~ dos encargos da La Subprocura-
cional, necessàriamente, a n t e s doria-Geral da República. Para
mesmo da apresentação do recur- que não fique a União privada de
so a despacho do Presidente do representante é defensor nos fei-
Tribunal, somente ocorrido na tos que correm perante o Tribu-
tarde do mesmo dia 14 de julho. nal, resolveu êste, ainda, fazer so-
10. O que se verifica, portanto, breestar o respe.ctivo andamento,
é que transviados da linha de res- inclusive deixando de realizar os
peito ao Tribunal e aos seus Mem- julgamentos em que deva neces-
bros, os mencionados representan- sàriamente intervir dito represen.
tes do Ministério Público Fe-
tante. Encarecendo, pois, a urgên-
deral, chefiados pelo Dr. 1.0
cia da providência, valho-me da
Subprocurador-Geral da Repúbli.
oportunidade para reiterar a Vos-
ca, dedicam-se antes a uma cam·
panha de denegrimento da repu- sa Excelência os protestos da mi-
tação de alguns dêsses Membros, nha mais alta estima e considera.
sem atender sequer, à necessida, ção. Yasco Henrique d' Avila
de imperativa de aguardar o pro~ Vice-Presidente no exercício da
nunciamento do órgão investiga- Presidência".
dor a que se dirigiram, trazendo Nas fls. 33/35 encontra-se ó
para autos em curso nesta Ins- pedido de concessão liminar da
tância, os próprios têrmos da de. medida plejteada, pedido êsse que
núncia ainda não considerada. não foi objeto de consideração do
11. Pelos motivos argüidos, o Sr. Min. Hugo Auler, que en-
Tribunal tem o Dr. 1.0 Subpro- tão fun.cionava de Relator dêste
curador-Geral como incompatibi- processo na qualidade de Juiz
lizado para continuar a exercer, convocado.
- 251-

Êsse pedido tem a seguinte re- e incalculáveis preJUlZOS, para as


dação: partes, litigantes, inclusive os par.
Excelentís~imo Senhor Minis- ticulares, e todos forçados a aguar-
tro Hugo Auler dar solução ao impasse decorren.
Digníssimo Relator do Manda- te daquele esdrúxulo "impedi-
do de Segurança n.o 44.905. mento", extra legis, decretado pe-
Mário de Oliveira, 10° Subpro- lo Egrégio Tribunal;
curador-·GeraI da República, por IH - Assinale-se, por oportu-
seu mandatário judicial constituí- no, que a decretação de tão suÍ
do, infra-assinado, vem, respeito- generis "impedimento.", sem qual-
samente, expor e, afinal, requerer quer razão de ser, data venia, te-
a Vossa Excelência o seguinte: ria tido como causa um suposto
I - Em conseqüência do "im- desrespeito ao Egrégio Tribunal
pedimento" decretado em sessão ou uma difamação contra o mes-
administrativa e, data venia, sem mo Colegiado, SUpOSlçoes essas
quorum legal, pelo Egrégio Tri- que não encontram apoio nem
bunal Federal de Recursos, con· comprovação na fundamentação
tra o funcionário titular da refe- do Recurso Extraordinário mani-
rida 1.a Subprocuradoria-Geral, festado no Mandado de Seguran-
bacharel Mário de Oliveira, fi- ça n.O 27.224, cujas razões proto-
cou êste, desde o dia 20 de julho coladas na Seção con.lpetente, do
último, impqssibilitado de exer- mesmo Tribunal, em data de 13
cer as funções precípuas de seu de julho (carimbo do Protocolo),
cargo, notadamente a defesa ju- só tiveram publicidade no Diário
dicial dos altos interêsses da União da Justiça do dia seguinte, 14 do
Federal e da Fazenda Nacional, mesmo mês;
nos múltiplos e variados proces- IV - Data venia, a falta de ba-
sos levados ao conhecimento do se para tal suposição está paten-
mesmo Egrégio Tribunal, seja di- te dos próprios têrmos de vários
retamente, ou como instância ad itens daquela interposição recur-
quem, em que a União e sua Fa- sal, como seja, entre outros, os da
zenda são partes ou interessadas, ns. 7, 8, 9, 10, 25, 30-A, 35, 49,
funcionando como autora, ré, as- 52, 67, nos quais se ressalva e ex-
sistente ou opoente; clui, a cada passo, a responsabili-
II - Por fôrça daquele ato, dade do Egrégio Tribunal, na
sem nenhum apoio em lei, como concessão do writ de que se recor-
dp.monstrado, à evidência, na ini- ria, visto que o mesmo Colegia-
cial da impetração do Mandado do fôra induzido em êrro, pelo
de Segurança em causa, permane- Sr. Min. Relator respectivo;
cem paralisados, sem qualquer V - Em nenhum item daque-
andamento processual, todos os la interposição recursal foi usada
efeitos em que dita União e sua qualquer expressão menos respei-
Fazenda são direta ou indireta- tosa e acatadora ao Egrégio Tri-
mente interessadas ex vi legis, bunal, nem em qualquer passa-
inclusive, portanto, e também, as gem foi feita qualquer crítica ao
causas das ou contra as Autar- mesmo Colegiado. Ao contrário.
quias Federais, tudo com gerais O que sempre foi tido em vist~
- 252-

e que sempre objetivou a 1.9. Sub- ciso lI, da Lei n.o 1.533, de 31
procuradoria-Geral da República, de dezembro de 1951, não altera-
em quaisquer casos, quando for- da ou atingida, in. casu, pelo dis-
çada no cumprimento de seu de. posto no art. 5. 0 , da recente Lei
ver funcional de advogada da lei n. o 4.348, de 26 de junho do cor-
e fiscal de sua execução, a assi·· rente ano."
nalar ou a verberar O Ministério Público, na pes-
menos ortodoxos de Juízes, foi o soa do 1.0 Subprocurador-Geral da
elevado conceito público, que de· República, o ilustre Dr. Oscar
ve merecer e em que deve ser ti- Corrêa Pina, oficiou nas fls. 37/38.
do o Egrégio Tribunal de Recur-
Seu parecer é o seguinte:
sos, pela sua elevada expressão na
ordem judiciária da República. "1. A segurança foi impetrada
E por assim agir, não merece e contra decisão do Egrégio Tribu-
não pode ser acusada de desres- nal Federal de Recursos, ui
peito; antes, muito ao invés; does. de fls. 19 e 27/9, que, na
sessão ordinária de 20 de julho,
VI - Ressalte-se, por fim, que
considerou o impetrante impedi-
aquela própria publicação, do Re-
do por incompatibilidade, de nêle
curso Extraordinário em causa,
continuaI' a funcionar como 1.0
resultou da necessidade de levar
Subprocurador-Geral da Repúbli-
ao conhecimento público a ex-
ca, cargo para o qual fôra nomea-
pressão exata da verdade, retifi-
do por decreto de 4 de maio de
cando-se, assim, a notícia dos fa-
1962;
tos, uma vez que, em anterior pu-
blicação, inserta no Diário da 2. Se o impetrante adotou ati-
Justiça de 29 de junho de 1964, tude de acintoso desrespeito ao
pags. 2.078, os mesmos tinham Tribunal Federal de Recursos,
sido adulterados, induzindo em incompatibilizando-se com os seus
êrro a opinião pública. Apenas ilustres membros, segundo se ale-
isso; gou, nem por isso, data venia, po-
VII - Em face, pois, do ex- dia o Egrégio Tribunal considerá-
posto, impõe-se, evidentemente, 10 impedido, de, perante êle, con-
no interêsse público, a adoção de tinuar a exercer o cargo para o
imediata medida legal, contorna~ qual nomeara o Senhor Presiden-
dora daquele impasse, de modo a te da República, único juiz da
possibilitar, a um tempo, o fun- conveniência do seu afastamento;
cionamento regular do Egrégio 3. Os casos de impedimento
Tribunal Federal de Recursos e o estão expressos em lei, não se in-
exercício funcional do Dr. Má- cluindo entre êles a hipótese de
rio de Oliveira, como titular da que se cogita nestes autos;
1.9. Subprocuradoria-Geral da Re- 4. Assiste, pois, ao impetrante,
pública, cessando, assim, o impe- o direit(l incontestável, líquido e
dimento decretado, medida essa certo, de exercer, sem restrições,
que é, necessàriamente, a urgente perante o Egrégio Tribunal Fe-
e imediata concessão da medida deral de Recursos, o cargo de 1.0
liminar da segurança pleiteada, Subprocurador-Geral da Repú-
como facultada pelo art. 7. 0 , in- blica;
- 253

5. Por outro lado, a decisão ça de, pelo menos, seis Ministros


impugnada foi tomada sem ob- desimpedidos, inclusive o Presi-
servância do quorum regimental, dente.
em face do impedimento dos No caso agora apreciado, como
ilustres Mim. Cândido Lôbo e se vê da ata copiada nas fls. ., ..
Djalma da Cunha J\l[ell0, contra 27/59, compuseram o Tribunal os
os quais o impetrante oferecera Srs. Mins . Henrique d' Á vila,
denúncia por Cunha Mello, Cândido Lôbo, Go~
6. Opino, pois, pela concessão doy Ilha, Oscar Saraiva, Armando
da segurança, nos têrmos do pe- Rollemberg e Hugo Auler, ao todo
dido", sete, visto que o Presidente, Sr.
É o relatório, Sr. Presidente. Min. Cunha Vasconcellos, e o
Sr. Min. Amarílio Benjamin se
Voto encontravam licenciados.
O Sr. Min. Antônio Neder: -
Dado, porém que se achavam
impedidos os Srs. Mins. Cunha
A matéria que constitui objeto da
controvérsia é a que diz respeito Mello e Cândido Lôbo, isso por
fôrça do que expressa o art. 185,
com a resolução dêste Tribunal
IH, do C.P.C., combinado com
que deu por impedido de funci().,
nar no seu cargo o Sr. Dr. Mário o art. 26, I, letra a, do Regimen-
de Oliveira, 1.0 Subprocurador- to Interno, ficou o Tribunal com-
Geral da República, representante posto de cinco Juízes, os Srs.
da União neste Pretória, Mins. Henrique d' Ávila, Godoy
A resolução se acha copiada nos Ilha, Oscar Saraiva, Armando Rol-
autos. lemberg e Hugo Auler, ou seja,
um número inferior ao exigido no
Nesse ato, o Tribunal, então
composto dos Srs. Mins. Henri- Regimento para formar o quorum
que d' Ávila, Cunha Mello, Cândi- necessário ao seu funcionamento.
do Lôbo, Godoy Ilha, Oscar Sa- Por outro lado, é de se reco·
raiva, Armando Rollemberg e Hu- nhecer que o art. 32 do Regimen.
go Auler, êste como Juiz convo- to Interno expressa que o Juiz
cado p a r a, temporàriamente, convocado não terá voto quando
ocupar a vaga decorrente da apo- se proceder à deliberação sôbre
sentadoria do Sr. Min. Aguiar questões de ordem administrativa
Dias, presente o impetrante, ou de economia interna do Tri-
Dr. Mário de Oliveira, 1.0 Sub- bunal. E no caso aqui apreciado,
procurador-Geral da República, que diz respeito com uma ques-
nesse ato, o Tribunal, fundado em tão de ordem administrativa, o
que o impetrante o desrespeitou Sr. Dr. Hugo Auler, Desembar-
acintosamente, decidiu considerá· gador convocado do Tribunal de
-10 impedido de continuar funcio- Justiça do Distrito Federal, para
nando no seu cargo. ocupar temporàriamente a vaga
Antes do mais, é de se dizer do Sr. Min. Aguiar Dias, tomou
que o art. 56 do Regimento In- parte e votou na sessão em que se
terno do Tribunal Federal de Re- praticou o ato impugnado, tal co-
cursos expressa que o Tribuna] mo se verifica na ata acima refe·
Pleno funcionará com a presen- rida.
- 254-

Por um fundamento e outro, d res da República no Distrito Fe-


Egrégio Tribunal Federal de Re- deral para substituí-lo no processo.
cursos, na sessão em que tomou Vê-se que, nessa norma, não se
a resolução mencionada, não ti· define o impedimento.
nha o quorum regimental para de. Refere-se ela à hipótese de se
liberar, isto é, não se achava com· verificar o impedimento do Sub-
posto para deliberar ou julgar de procurador-Geral, para funcionar
maneira juridicamente válida, em determinado processo e diz
visto que não contava com a pre- como se faz a substitutição dêle
sença de, pelo menos, seis Minis- nêsse caso.
tros desimpedidos. Vale dizer que,
Entretanto, que impedimento é
no momento, não tinha como
êsse? Qual a sua natureza jurí-
exer.citar a sua jurisdição. Seu
ato não podia, .como não pode, dica?
produzir efeitos. Pontes de Miranda ensina, a
propósito do Juiz, que o impedi-
Tanto assim é, que o consagra- mento é conceito de lei de orga-
do Pontes de Miranda oferece, a nização judiciária, isto é, de di-
propósito, a seguinte lição: "Se reito judiciário material, e não de
na composição do tribunal não processo, e acrescenta que os im-
entrarem tantos juízes quantos pedimentos são os fixados pela lei
eram por lei exigidos, ou no jul- do juiz (Comentários, 2.a edição,
gamento tomou parte quem era 1960, voI. X, pág. 178, nota 6).
impedido, há rescindibilidade da Ora, se o impedimento é con-
sentença, ali por infração de lei ceito de direito judiciário mate-
e, aqui, com fundamento no arti- rial, a conclusão que se impõe é
go 798, I, a" (Comentários, 2.a a de que, no tocante a qualquer
edição, 1960, vol. X, nota 6, pág. autoridade do Ministério Público,
178). os impedimentos são os definidos
Aliás, um Acórdão do Tribunal pela lei dessa autoridade, isto é,
de Apelação de S. Paulo, de 30 a lei de organização do Ministério
de abril de 1946, contém o mes- Público.
mo p-ntendimento (Revista dos Aliás, um autor hoje muito ci-
Tribunais, 165/240). tado, José Frederico Marques, en-
Prosseguindo, contudo, para sina essa mesma lição ao expres-
aprp.ciar o mérito da resolução, sar que os casos de impedimento
deve o julgador, no caso, fixar a do Ministério Público devem ser
natureza jurídica do impedimento definidos nas leis de organização
previsto no art. 23 do Regimento judiciária (Instituições, 2.a edi-
Interno do Tribunal, por ser êsse ção, voI. lI, n.o 372).
o dispositivo com que se fundou o Prosseguindo, então, nessa or-
ato impugnado pelo impetrante. dem de considerações, cabe per-
Essa norma expressa que, nos guntar-se: a norma do art. 23,
casos de impedimento ou suspei- do Regimento Interno do Tribu-
ção do. Subprocurador-Geral da nal Federal de Recursos, que dis-
República, o Presidente do Tribu~ põe sôbre o procedimento da
nal designará um dos Procurado- substituição do Subprocurador-
- 255-

Geral da República nos casos de E esclarece: "Tudo o que pode,


impedimento ou suspeição, é nor- de qualquer modo, concernir às
ma de direito judiciário material? disposições que determinam os
Noutras palavras, é norma de or- princípios aplicáveis a cada rela-
ganização judiciária? Evidente- ção jurídica (direito substantivo),
mente, não! Primeiro, porque nes- ou modo por que devemos recla-
sa norma não Se define o impedi, mar a aplicação dessas mesmas
mento. Ela· apenas se refere ao disposições (direito adjetivo), já
impedimento para dispor sôbre é da alçada privativa de outro po-
como proceder à substituição do der, o Legislativo, e, conseqüente-
Subprocurador-Geral impedido; mente, não podem constituir ob·
segundo, ela não contém, nem po- jeto de regimento interno, mesmo
dia conter, qualquer parcela de porque seu efeito se não restringe
direito judiciário material, e, se ao interior do Tribunal, mas se
contivesse, evidentemente seria amplia a todo o exterior da na-
inconstitucional, porque a matéria ção" (Revista do Supremo Tri-
de organização judiciária é maté. bunal Federal, vol. 32, págs. 223/
ria que só pode ser objeto de lei 224) .
votada pelo Poder Legislativo, É de se afirmar, pois, que, no
mediante iniciativa do órgão com- caso, o art. 23 do Regimento In-
petente, segundo a Constituição, terno do Tribunal de Recursos
como, por exemplo, no caso pre- não dispõe sôbre o impedimento
visto no seu art. 98, quanto ao do Subprocurador-Geral da Re-
número dos Ministros do Supre. pública, nem podia dispor sôbre
mo Tribunal Federal; no seu êsse impedimento, senão que se
art. 10.5, quanto à criação de ou- refere apenas ao impedimento pa-
tros Tribunais Federais de Re- ra regular a substituição da men-
cursos; no seu art. 113, quanto ao cionada autoridade.
número dos Juízes dos tribunais Sem dúvida, assim é, assim de-
eleitorais, etc; terceiro, porque ve ser.
constitui matéria pacífica na dou- Porque o impedimento, quer do
trina e jurisprudência que as nor_ Juiz, quer do Procurador, diz
mas regimentais não podem pre- respeito com a proibição "parcial"
valecer contra a lei. salvo nos ca- para dizer o direito, isto é, para
sos expressamente fixados nos exercer a jurisdição ou atribui-
arts. 97, n, e 124, caput, da Cons- ção.
tituição Federal. É causa excludente da jurisdi-
Vale, a propósito, relembrar a ção ou atribuição.
lição de Edmundo Lins na Côrte Dado que a jurisdição ou atri-
Suprema: "O Regimento Interno buição advém necessàriamente da
de um Tribunal é um conjunto de lei, certo é que a sua exclusão, to-
normas concernentes ao seu fun- tal ou parcial, há de emanar tam-
cionamento, polícia e ordem dos bém da lei.
trabalhos, bem como à organiza- Porque só a lei pode conferir
ção de sua Secretaria, com a de- jurisdição ou atribuição; só a lei
finição das atribuições, direitos e pode determinar a sua proibição
deveres dos empregados." total ou parcial.
256 -

o princípio básico é o de que Ao demais, o Subprocurador.-


ao funcionário se confere tôda a -Geral da República não se acha
atribuição que fôr compatível com no campo da jurisdição adminis-
o seu cargo. Só por exceção se trativa do Tribunal Federal de
derroga o princípio. Recursos. Não é funcionário do
O impedimento, que é uma das Tribunal. Não é subordinado ao
causas ou excludentes Tribunal.
da jurisdição ou atribuição, cons- Se ofendeu o Tribunal, ou dois
titui matéria derrogadora do di- ilustres Juízes do Tribunal, e se
reito comum, e, portanto, merece a ofensa constitui crime, o caso
ser nefinida como sendo de exce- é de ser levado à Justiça Crimi-
ção ou direito e'ltrito. nal. Se a ofensa constitui ilícito
Tanto assim é que o C. P . C. administrativo, só a autoridade ad-
só aponta os casos de impedimen- ministrativa competente poderá
to de maneira expressa e casuísta. aplicar-lhe pena.
Também o C.P.P. adota o O caso dos autos é que, na ver-
mesmo critério. dade, o Tribunal, exercitando ju-
E o Regimento Interno do Tri- risdição que a lei não lhe outor-
bunal só se refere ao impedi- ga, exorbitou, data venia, de suas
atribuições ou jurisdição.
mento do Subprocurador-Geral no
art. 23, e assim mesmo· para o E declarando o impedimento
efeito de dispor a respeito da subs- do impetrante, na verdade o pu-
tituição dêsse funcionário, como niu com a pena de "suspensão" do
exercício do seu cargo.
acima ficou dito. Refere-se ao
impedimento, mas não o define, o Essa pena, contudo, só poderia
que importa em concluir que, no ser aplicada por outra autorida-
caso, o impedimento é o comum de, que não o Tribunal.
de direito, definido nas normas de Ê que o Subprocurador-Geral
direito judiciário material. da República é membro do Mi-
nistério Público da União.
Assim sendo, é de se afirmar
que o impedimento não se cria O Ministério Público não é ór-
por meio de interpretação analó- gão do Poder Judiciário. A Cons-
gica. tituição não o menciona no art 94.
No caso concreto não se indica Embora funcione ao lado do
qualquer disposição legal que de- Tribunal, a êle não se acha su-
clare impedido o Subprocurador- bordinado.
-Geral da República que ofenda Assim sendo, o Subprocurador
o Tribunal ou qualquer dos seus está sujeito à polícia judiciária
Juízes. enquanto se encontrar no recin-
Em não havendo essa norma, to do Tribunal ou nas suas de-
estou em que não se pode, data pendências. Está sujeito ao po-
venia, considerar impedido o Sub- liciamento do Tribunal se ofender
procurador, como se o impedi- as normas que lhe impõem con-
mento fôsse o comum de direito, tinência de conduta e palavras.
previsto e definido nas leis de or- Se, entretanto, fora do Tribunal,
ganização judiciária. em escrito que publicou leviana-
- 257-

mente, ofendeu a austeridade ou mente, o Subprocurador-Geral da


respeito do Tribunal, ou de seus República, agente do Ministério
Juízes, ou algum dos seus Juízes, Público, não se acha subordinado
de duas uma: a) ou a conduta do ao Tribunal Federal de Recursos,
SubprocuradoT configura crime, e evidente é a conclusão de que o
nesse caso o ofendido que o de- Tribunal Federal de Recursos
nuncie ao Juízo competente; b) não tem como aplicar ao Subpro-
ou a sua conduta constitui íHcito curador a pena do "impedimento"
administrativo, e nesse caso o para significar a de "suspensão",
Presidente do Tribunal deve co- visto que essa só lhe pode ser
municar o fato à autoridade com- aplicada por seu superior, que é o
petente para lhe aplicar a pena Procurador-Geral da República.
merecida. Dir-se-á que, no caso, terá ocor-
Só não pode o Tribunal, a meu rido ofensa ao princípio da har-
ver, é ultrapassar os limites da monia dos Podêres, expresso no
sua jurisdição, e aplicar ao Sub- art. 36 da Constituição Federal.
procurador, sob a rubrica de im- Talvez uma hermenêutica de
pedimento, a pena disciplinar de sentido amplo vislumbre no ato
suspensão, que é prevista no ar- do Subprocurador, que é o agen-
tigo 201, UI, do Estatuto dos te do Estado, algo de ofensivo à
Funcionários Públicos da União, harmonia que a Constituição im-
e que s.ó pode ser cominada por põe como clima de convivência e
quem de direito, segundo as nor- respeito dos três Podêres do Es-
mas do art. 210 dessa lei. tado.
Porque o Ministério Público O Subprocurador, agente de um
não integra o Poder Judiciário, dos órgãos autônomos do Estado,
não se acha na esfera dos seus teria ofendido ou desrespeitado o
órgãos, mesmo administrativa- Tribunal, que é órgão do Judi-
mente.
ciário, quebrando, -assim, a har-
É que o Ministério Público, na monia que antes reinava; teria,
sugestiva expressão de Giuseppe enfim, procedido de modo incom-
Sabatini, é um órgão do Estado, patível com a dignidade do cargo.
com êle se confunde e, como ou-
Tendo para mim, contudo, que
tros órgãos estatais, "vive e se essa hermenêutica não tem .cabi-
movimenta na pessoa jurídica do mento no caso aqui apreciado,
Estado, com autonomia de von- porque a norma do art. 36 refe-
tade, de objetivo e de podêres". rido, no tocante à harmonia, só
Ou, como se expressa o feste- será desrespeitada mediante ação
jado Pontes de Miranda: "Órgão, criminosa, e esta só poderá ser
por si, do interêsse público de que uma das previstas na Lei n.O
as leis e mais normas se .cumpram" 1. 079, de 10 de abril de 1950,
(Com. à Consto de 1946, vaI. IlI, que define os crimes de responsa-
pág. 351). bilidade, e essa lei não prevê co-
Portanto, visto que o Ministé- mo agente dêsse tipo de crime o
rio Público não integra o Poder Subprocurador-Geral da Repú-
Judiciário, que a êle não se acha blica, e sim o Procurador-Geral
subordinado, e que, conseqüente- da República, como Se vê do seu
- 258-

art. 40, em nenhuma de cujas duas legislaturas, secretário de


disposições, aliás, se menciona a Estado, professor de Escola Su-
ofensa à mencionada norma. perior e Desembargador, por cin-
Portanto, dado que o Subpro- co anos, do Tribunal de Justiça
curador não se acha mencionado da Bahia, onde na adolescência,
no rol dos que a lei define como ao mesmo tempo em que colhía-
agentes do crime de responsabili- mos as notas dos jornais do nos-
dade, não há como considerá-lo so trabalho, aprendemos a crer no
um dos que sejam capazes de Direito, na majestade da Justiça
ofender o princípio da harmonia e no respeito ao Juiz maior ain-
dos Podêres. Nem mesmo o Pro- da quando, além de justo e incor-
curador-Geral. ruptível é bom como o foi Filinto
Porque o princípio da harmonia Bastos, nosso mestre e amigo.
dos Podêres só poderá ser ofendi- Trouxemos conosco também o
do ou desrespeitado por quem se entusiasmo e o espírito de luta
encontre a chefiar ou comandar que nos têm conservado a alma
qualquer dos Podêres, tanto que jovem e os ideais superiores da
a lei acima referida só se refere vida, como se, às portas da velhi-
às ações criminosas dêsse tipo, ce, tivéssemos ainda algum fu-
praticadas pelo Presidente da Re- turo. Com a ajuda de Deus e dos
pública e Ministros de Estado, nossQS esforços, felizmente cada
Governadores e Secretários, isto é, vez mais nos identificamos com
as autoridades de ,comando do Po- o Tribunal Federal de Recursos.
der Executivo na União e nos Es- Fizemos amigos entre os Srs. Mi-
tados, posteriormente incluídos os nistros e funcionários, gozamos de
Prefeitos, como se vê da Lei bom conceito perante as partes.
n.O 3.528, de 3-1-59. TiVf~mos a satisfação de vencer o
Estou, pois, em que o Tribunal atraso de processos acumulados,
praticou ato que não podia pra- mais de mil, que estavam sôbre
ticar. Exorbitou de sua jurisdi- nosga banca, e julgamos mais de
ção. O ato é abusivo, data venia. três ou quatro mil, acima dêles;
Concedo a segurança. despachamos todos os processos
É o meu voto. de revisão. Nessa vivência foi
que sentimos melhor as necessi-
Voto dades do Tribunal, e nos torna-
mos paladinos de uma reforma,
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: para melhor servir. No plano na-
- Quatro anos já se passaram que cional temos pensado como pode-
chegamos ao Tribunal Federal de remos justificar noutra oportuni-
Recursos. Do primeiro dia até dade, em modificação total do sis-
hoje, pusemos ao seu serviço a ex- tema, para atender às novas con-
periência que colhemos nas prin- dições da vida brasileira, onde as
cipais atividades da nossa vida, maiores crises são o crescimento
desde a juventude, a partir de populacional, o progresso e a
1927, reporter forense, solicitador avalancha das questões forenses.
acadêmico, pretor, advogado, pro- Parece-nos que o nôvo esquema
fessor secundário, deputado em ficaria bem assim: Conselho
- 259

Superior da Magistratura, sob ponto menor a alteração, e en-


a presidência do Presidente do quanto a grande mudança não
Supremo Tribunal, como órgão vier. No nosso Tribunal sentimos
de disciplina e coordenação; logo que o volume de trabalho é
Supremo Tribunal Federal, com tão grande que ultrapassa a ca-
jurisdiçãp especial e exclusiva pacidade de qualquer Juiz e im-
sôbre questões em tôrno da pede, em muitos casos, o julr;a-
Constituição Federal, inclusive o mento esclarecido. Só com esfôr-
poder da avocação ou do cer- ço se pode fazer um voto mais es-
tiorari americano; conflitos de ju- tudado, refletido ou trabalhado.
risdição e de podêres e causas cí- É inevitável a tendência de uni-
veis, se criminais especificadas, formizar as questões ou levar-se
como nas hipóteses atuais do ar. tudo à "pauta", sem demora, e
tigo 10 1 - I, letras a a k; quatro votar-se pela confirmação da sen-
Tribunais Federais de Recursos: tença, "por seus próprios funda-
1 - Guanabara, Estado do Rio mentos", ou, ao revés, com apoio
e Espírito Santo, 2 - São Paulo, na "jurisprudência reiterada" .
Paraná, Santa Catarina e Rio Não deixa de ser normal que isso
Grande do Sul, 3 - Brasília, Mi. aconteça. Se, humanamente, o
nas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Juiz pode atender, por ano, a 200
Maranhão, Pará, Amazonas e Ter- processos variados, mais 300 de
ritório e 4 - Bahia até Ceará, assuntos repetidos, e 150 revisões,
com jurisdição em grau de recur- num total de 650 mais, não obs-
so sôbre o interêsse e o direito tante, enfrenta o duplo, o triplo, o
acima disso, como nos aconte.ceu
federal, através de recursos ordi.
em 1962, a de se ver que é neces-
nários e extraordinários, na forma sário espírito de sacrifício inco-
da lei; Tribunal Federal de Re. mum para se dar conta das tare-
cursos para manter a uniformi- fas indispensáveis; ao menos, pa·
dade do direito federal; Juízes fe· ra que, de nós, não se diga, como
derais nos Estados ou regiões; e se diz das repartições públicas e
caráter normativo às decisões unâ· da tramitação legislativa, que os
nimes ou reiteradas dos tribunais processos à espera de remate po·
superiores, que passarem em jul. dem cobrir, e a ainda sobrar, o
gado ou não tiverem sofrido ação território nacional, malgrado a
rescisória. Dentro dessas linhas preciosa colaboração de assisten.
é possível um século de boa dis. tes, assessôres e outros auxiliares
tribuição de justiça na esfera fe. que fazem quase tudo, ao contrá-
deral. Não pensamos em despe- rio do que ocorre no trabalho
sas porque os serviços são essen- forense em que o Juiz bem ou
ciais, e não concebemos mesmo mal tem que construir sua sen-
restrições, vez que a Nação, ape- tença ou voto, anulando inteira-
sar das dificuldades, dá vida larga mente tempo útil para as manifes-
aos Podêres Executivo e Legisla- tações representativas e sociais
tivo, inclusive aos seus membros. que hoje dominam a vida pública.
Nos limites precisos do Tribu- Reparamos mais que as grandes
nal Federal de Recursos é um dificuldades ou talvez deficiências
- 260-

desta Côrte, devido a tanto pro- 10 menos em nome de uma tré-


cesso e tanto julgamento, um gua, ou pausa, para reexame de
atrás do outro, repousam na fal· posições, dado a interêsse sobre-
ta de comando, pelo Juiz, dos re- tudo dos nobres patronos das que-
cursos que lhe sãp distribuídos, relas em ter restituída à sua nor-
principalmente nas diligências ou malidade a Casa que sempre in-
de ordens e na feitura vocam, que tudo faz para lhes
e publicação de acórdãos; e no facilitar as atribuições e manter a
excessivo retardamento nos pa- confiança. Na Bahia, a Ordem
receres da Subprocuradoria. Pro- que, além de orientar a classe,
pusemos, então, como remédio a exerce verdadeira liderança espio
êsses males, uma nova organiza- ritual, no seio da comunidade, te-
ção dos serviços da secretaria do ria sem qualquer transigência com
infrações, tomado a iniciativa de
Tribunal, com o intento de elimi-
uma fórmula que desse justa pro-
nar as dispersões, criar centros au-
porção aos acontecimentos e não
tônomos de propulsão, dar respon-
prejudicasse o fôro. Outra ausên-
sabilidade e sentido de vigilância cia Ou afastamento de nós, que se
a todo o setor que lidar com os nota, é o da imprensa. Quase na-
autos e proporcionar um sistema da informa, e às vêzes informa er_
de pronta verificação do estado rado ou de acôrdo com a versão
Ou destino do processo; e, quanto maldosa de um interêsse contra-
à Subprocuradoria, apresentamos riado, que surpreende a boa-fé do
uma disciplina racional e realísti- jornalista. O grande público não
ca da formalidade da vista. Nõ sabe que êste Tribunal é o que
momento, o Tribunal concedeu mais trabalha pelos interêsse ge-
prioridade ao estudo de nossa~ rais. Ninguém pode-se vangloriar
propostas, independentemente de de que aqui, por ser poderoso e
pretensiosas sugestões de quem rico ou dispensar cortesias, vem
não conhece as contingências de buscar facilidades. Asseguramos o
trabalho, ou serve a algum despei- direito legítimo dos particulares e
to, ou vive, por estar na moda, a estamos escorraçando dos aero-
fútil pressão das novidades. portos, das alfândegas, de tôdas as
Constatamos com pesar que os estradas, a rêde das importações
grandes advogados pouco fre- ilegais, entre tantas e tantas me-
qüentam o nosso Pretório, nem didas de grande alcance. Temos
nos dispensam maior aprêço. É exercido, através da suspensão das
verdade que Brasília, pelo silêncio liminares e sentenças mandamen-
e pela configuração de limbo que tais, a polícia dos pagamentos in-
baixa sôbre todos nós, sem cons- continenti, de tal volume e tal
ciência de ,coletividade, é a maior ponto, que não fôra o contrôle se-
responsável pelo distanciamento. letivo do Tribunal, o Tesouro e
Todavia, caUSa espécie que na os Institutos já teriam ido à ban-
crise que nos envolve, um só ad- carrota. A falta de noticiário re-
vogado tenha levantado a voz, pe- gular é tão palpitante que já al-
- 261-

vitramos aos nossos pares siste- Em nossa ausência os fatos se


ma próprios de divulgação. Sem precipitaram e nos trouxeram até
publi.cidade não há vida. O gran. a presente assentada. Quando em
de Ruy escreveu certa feita: a Salvador tomamos conhecimento
imprensa é a vista da nação. de que os Procuradores da Repú-
Por fôrça das circunstâncias, blica haviam apresentado denún.
entramos em relação com a Sub- cia à C. G . T. contra os Srs. Mi.
procuradoria e os seus auxiliares, nistros Cândido Lôbo e Cunha
muitos dos quais, a maioria, tal. Mello, nosso primeiro pensamento
vez, homens novos, em fase de foi desejar-lhes bom êxito, não só
evidente adestramento profissio- por êles, pela consideração que
nal, embora alguns com indicações sempre nos mereceram, como
estacadas de vitorioso futuro. Tu- também pela instituição a que
do corria no tom cordial e respei~ pertencemos, e cujo bom conceito
toso. Eis, porém, que certas im· tanto depende dos nossos pró-
portações irregulares e dois ou prios valôres morais e intelectuais.
três casos mesclados de naciona. Não lhes emprestamos, nem nos
1ismo que tudo abalava neste foi pedida a nossa solidariedade,
País, há um ou dois anos, nubla. ou defendemos a que o Tribuna]
ram o céu sereno, com sinais de lhas desse em nome da nossa co-
tempestade próxima, à vista do letividade, ou, liminarmente, pro-
mais simples gajeiro. Alguns Juí. videnciasse o trancamento dos in.
zes acudiram logo às reticências quéritos partindo do princípio da
e acusações, malgrado a .falta de inviolabilidade do Poder Judiciá-
enderêço pessoal, para restabele- rio ou da pessoa do Juiz. A isso
cer, com serenidade, no front a nos poupamos, por compreender-
seu cargo, as linhas reais da con- mos e pensarmos que a nossa fôr-
trovérsia. De nossa parte, ao se- ça reside na isenção, e é incompa·
guirmos em junho, para Salvador, tível com qualquer temor ou res-
em gôzo de licença da qual desis- guardo que diga respeito à ordem
timos, aliás, com um mês e dez moral. Com o evoluir do episódio
dias ainda por desfrutar, escreve- ficamos ainda bem impressionados
mos uma carta ao Sr. Min. Pre- tom a firmeza dos ilustres Minis-
sidente, com a nossa opinião sô- tros argüidos que acorreram pron_
bre os acontecimentos em marcha, ta e corajosamente à defesa, aon·
inclusive concordando com a apu- de foram chamados, aceitando,
ração legal de qualquer impu- sem discutir, o fôro extraordinário,
tação ;3.0 Tribunal, Ministros ou quando, em verdade, sem ofensa
funcionário, convictos que sempre à revolução, que, a 31 de março,
estivemos de que a nossa função como o dilúvio das alvoradas, nos
não permite a menor dúvida em estremeceu de esperanças, pode-
qualquer aspecto, até na vida par, riam invocar o fôro especial que
ticular, como decorre do requisi. a Constituição de 46, mantida nes-
to de reputação ilibada que nos sa parte, lhes assegurava, mesmo
consagrou a as,censão. para aplicação das sanções extre-
- 262

mas do não conseguirmos atinar Nos apontamentos sôbre o pro-


a razão de os doutôres Procurado~ cesso criminal brasileiro, o Mar-
res haverem saltado todos os quês de São Vicente, o célebre
graus da hierarquia e se exposto Pimenta Bueno, escreveu em
à censura das autoridades supe- 1849: "É por isso que as soci~
riores, para com a denúncia re. dades modernas tem organizado
ferida criarem um para o ministério público como uma
o Govêrno. instituição indispensável para a
A visão comum da administra- boa administração da justiça, e
ção pública e da política, bem mormente criminal; instituição
assim o bom senso, não podem que de um lado evita a impunida-
deixar de admitir que, surgida a de, e de outro expele dos tribu-
negra hipótese de prevaricação de nais as paixões a vingança pessoal,
componentes de um tribunal su- o rancor e substitui êsses maús
perior, preci3amente o árbitro ju- princípios pela imparcialidade e
risdicional dos interêsses da pela justiça pública" (obra citada,
União, o homem de govêrno teria págs. 107 e 108, 4.a edição. Li-
que refletir demoradamente sôbre vraria Clássica Editôra Lis-
a atitude a tomar, perguntando a boa) .
si mesmo ou a seus conselheiros, Não ficaram os Srs. Procura-
os que fôssem mais lúcidos e pon- dores na violação de sua estrutu-
derados: a acusação se justifica? ra hierárquica, nem na violenta
Repousa em indícios, conjecturas, paixão imprimiram à inicial, que
Ou existe prova concreta? Mesmo nada desculpa. Foi-lhe fácil che-
sendo verdadeira é possível afas- gar, .como desdobramento conse-
tar-se o elemento pernicioso, sem qüente, à virulência do recurso
sacrificar-se ou expor-se a institui- extraordinário que constitui um
ção e os outros titulares. Que verdadeiro corpo de delito e a pu-
assim não se fêz está provada pe- blicação do razoado, antes de des-
la queixa e pessoas dos queixo- pacho, com infração das normas
sos. Embora o direito de repre- regulamentares e da deontologia
sentação seja amplo e livre, o ci- profissional. Foi em face disso
dadão que pertence a um sistema que, apoderado de profunda emo-
funcional não pode usá-lo a seu ção, o Tribunal Federal, sentindo-
talante. Tem que fazê-lo pelos se injustamente lesado no seu
canais competentes. Como se pro- pundonor e respeitabilidade, rea-
cedeu, feriu-se a sensibilidade de giu com a decretação do impedi-
todos Os Juízes, pôs-se em risco mento do Sr. Dr. Subprocurador,
o Tribunal Federal, tão profunda- e da suspensão de relações com
mente que a própria secretaria a Subprocuradoria, atos que cons-
sofre o rebôjo da ingrata borras- tituem o objeto da impugnação do
ca, e distinguiu os querelantes Mandado de Segurança. Positiva-
com a intrepidez de haverem fe- da abertamente uma situação de
rido as origens do Ministério PÚ- incompatibllidade pessoal e en-
blico. trevisto, sem rebuços, um ambien-
- 263-

te que podia descambar para vias os impedimentos, sob o ponto de


de fato e desordens no próprio re- vista processual, estão ligados a
cinto da Côrte, o Govêrno. ainda relações de determinado tipo en-
assim, não interveio, quando, na tre as partes, Juiz, Procurador, ad-
defesa das instituições, tinha de vogado e servidores, ou a situa-
interpor a fôrça da autoridade pa- ções em que o titular a ser impe-
ra, não obstante o inquérito con- dido tenha estado, antes, relativa-
tra dois Juízes, a Cárte de Justi. mente· à causa judicanda. Quan-
ça funcionasse tranqüilamente e do acontece um embargo dessa
os indiciados recebessem dos natureza, o Código de Processo
acusadores o tratamento a que os Civil recomenda o seguimento da
réus comuns têm direito. Bastava ação, com a suspensão do argüi-
que um Procurador estranho aos do durante a instrução e julga-
incidentes passasse a acompanhar mento do incidente - arts. 189 e
o inquérito e assumisse a Subpro- 128. O Código de Processo Penal,
curadoria ou substituísse, provi- sem destoar dêsses critérios, é
soriamente, o Dl'. Subprocurador; mais explícito nos pormenores da
as águas encapeladas do desen- ocorrência - arts. 112 e 258. O
tendimento iriam baixando, pela Regimento Interno trata do assun-
ordem natural das coisas, e as in- to, mas sem detalhes, e também
dagações se teriam concluído com condicionado ao caso concreto -
regularidade, sem guerra de ner- arts. 23 e 19, n.O 30. Não há,
vos, atoardam, doestos. Nada se portanto, um impedimento, que
tendo feito para remediar choque implique na suspensão geral, das
tão profundo, nem obtido resul- atividades ou do funcionário. De
tado as tentativas de solução alta cabeça fria, o Tribunal, ao certo,
que foram recentemente encami- teria mandado riscar as expres-
nhadas e das quais tivemos a hon· sões ofensivas no arrazoado ou re-
ra de participar, sem intransigên- cusá-lo por não estar em têrmos;
cias e na compreensão de que le. poderia ainda submeter a proces-
vávamos o Tribunal, não à Ca- so de injúria ° autor da publica-
nossa ou às fôrças caudinas, mas ção; representar ao Ministro da
à retomada de seu mister de jul- Justiça para as providências a
gar e à iregularização dos inte- seu alcance; requisitar fôrça pa-
rêsses alheios que esperam há me- ra policiar os corredores, seções e
ses a oportunidade de parecer do o recinto, prevenindo qualquer
representante da União e do Mi- perturbação da ordem; autorizar
nistério Público nesta Instância, a a fiscalização pessoal contra o
questão há de ser olhada, tão-só, porte de armas nas dependências
pelo lado jurídico. Não é preciso da Casa; e se preparar até para
maior estudo para se entender o um flagrante de desacato, se a
gesto do Tribunal. tanto chegasse o intuito ofensivo,
O Tribunal é quem sabe que bem como para o enquadramento,
não lhe assiste o direito de re- do agressor, na mesma oportuni-
cusar qualquer Procurador e que dade, na lei de segurança, que
- 264-

protege a pessoa do Juiz e a rea- que o Dr. Subprocurador possa


lização das audiências das Côrtes retornar ao desempenho de suas
de Justiça. atribuições, livre de qualquer im-
Na ocasião, o Tribunal agiu pe- pecilho. Invocamos, porém, a
la forma reclamada em legítimo compreensão e a responsabilidade
assomo de seus brios. Foi um mal dos Drs. Procuradores. Fazemos,
necessário no momento e de tan- igualmente, um apêlo aos Ex.mos
ta conveniência que evitou, com Srs. Drs. Oswaldo Trigueiros, Pro-
as paixões acesas como estavam, curador-Geral da República; Dr.
dramas imprevisíveis. Mílton Campos, Ministro da Jus-
Agora, tudo vai assegurando, tiça, e Marechal Castelo. Branco,
mesmo lentamente. Os dados ofe- Presidente da República, para
recidos contra os Srs. Mins. Cân- que não se ausentem da nova
dido Lôbo e Cunha Mello não de- fase que o Tribunal Federal de
ram lugar a que os severos juízes Recursos, cujos serviços à Na-
da resolução pudessem condená- ção:são bem expreSsivos, vai
-los, o que se traduziu, claramen- partilhar com os Srs. Procurado-
te, em absolvição. Mesmo, po- res; fiquem S. Ex.as com a sen-
rém, que a Procuradoria-Geral sibilidade e espírito público que
encampe, ainda agora, qualquer Os distinguem, atentos a que o
propósito de nova investigação e equilíbrio não se rompa outra vez,
levantamento de provas, o Supre- & prestigiem a nossa autoridade e
mo Tribunal, fôro adequado, com consideração como instrumentos
a sinceridade e proficiência de do Poder Judiciário, pois, de cons-
seus Juízes, é garantia bastante ciência, estamos certos pelo esfôr-
contra qualquer· precipitação, des_ ço diuturno que empregamos, de
conhecimento de causa ou injus- merecê-las. Valha-nos por fim, o
tiça. A Constituição de 1964 foi que Calamandrei esculpiu: "Para
restaurada na amplitude dos di-
achar a pureza do Tribunal é pre-
reitos fundamentais e garantias
ciso que lá se entre com a alma
específicas. E os próprios Drs.
pura" (Êles os Juízes, nossos Ad-
Procuradores hão de haver re-
fletido que bem poderiam ter le- vogados - Tradução portuguêsa
vado avante o cumprimento de de Ary dos Santos - 1940).
todos Os seus deveres, sem sacri-
fício tão grande da vida forense Decisão
em que se integram. A bem dizer,
desaparecida como está a razão Como consta da ata, a decisão
do impedimento, na forma em foi a seguinte:
que se revela o Mandado de Se- Depois dos votos dos Srs. Mi-
gurança, está prejudicado. Sa- nistros Relator e Amarílio Benja-
bendo, porém, que os Drs. Pro- min concedendo a ordem, pediu
curadores querem um julgamento, vista o Sr. Min. Henrique d'Ávi-
não nos furtamos a sentenciar. la, aguardando os Srs. Mins. Go-
De nossa parte, votamos para que doy Ilha, Oscar Saraiva e Arman-
se conceda a segurança, a fim de do Rollemberg. Não compareceu,
- 265-

por motivo justificado, o Sr. Min. fazia necessário, em assunto de


Djalma da Cunha Mello. Presi- tamanha gravidade. Cônscios de
diu o julgamento o Sr. Min. que, em princípio, exerciam os de-
Cunha Vasconcellos. nunciantes direito que não lhes
poderia recusar, e de promover a
Voto responsabilidade de Juízes que,
em seu entender, desserviam o
o Sr. Min. d'Ávila:- cargo.e os altos interêsses da Jus-
Preliminarmente, e para melhor tiça - continuamos a dispensar
elucidação da matéria sub judi- ao impetrante e a seus auxiliares
ce, torna-se necessário recapitular, o mesmo trato urbano e .cordial
com fidelidade, a exação, os fatos costumeiro, característico de nos-
que determinaram a prática do ato sas relações com a Subprocurado-
malsinado. ria.
Em meados de junho do cor- :Êsse clima de bom entendi-
rente ano, o impetrante, na quali- mento, contudo, veio a ser com-
dade de Subprocurador-Geral da prometido, decorrido quase um
República, e mais seis de seus au- mês, ou seja, precisamente a 14
xiliares, houveram por bem de- de julho do corrente ano, com ofe-
nunciar ao Excelentíssimo Senhor recimento por parte do impetran-
Presidente da República, incur-
te, com a assinatura de quase to-
sos no art. 7.° do Ato Institucio-
dos Os seus auxiliares, das razões
nal, como réus de improbidade
administrativa, os Srs. Mins . do recurso extraordinário inter-
Djalma da Cunha Mello e Cândi- posto no Mandado de Segurança
do Lôbo. E o fizeram com prévia n.O 27.224, publicado na íntegra,
e ampla divulgação pela impren- e por antecipação no Diário da
sa e pelo rádio, sem os resguar- Justiça. :Êste arrazoado é do .co-
dos e precauções indispensáveis à nhecimento geral, e caracteriza-se
garantia do bom nome do Tribu- por virulência de linguagem inu-
nal e da reputação dos próprios sitada e desconhecida dos anais
Magistrados incriminados, caso forenses. Escalpela e esvurma a
viessem êles a ser havidos como vida pública e particular do
isentos de .culpa e pena, como afi- Sr. Min. Cunha Mello, repro-
nal aconteceu. duzindo tópicos da denúncia ofe-
Embora profundamente sensi- recida, e desborda em invectivas
bilizados com essa insólita e desa- e objurgatórias contra o próprio
brida atitude, limitamo-nos a pe- Tribunal. Essa grave infração às
dir, abrindo mão da jurisdição de normas da ética forense não se
que desfrutavam os denunciados, mostrava acessível ao corretivo
por ofício de 25 de junho, ao Ex- normal, que seria o cancelamento
celentíssimo Senhor Presidente da pela Presidênoia das expressões
República, a apuração completa e violentas e menos respeitosas. E
cabal dos fatos referidos, por Co- não se mostrava, porque ditas ra-
missão Investigadora de alto ní- zões, antes mesmo de apresenta-
vel moral e profissional, como se das ao Tribunal, e oferecidas ao

18 - 35883
- 266-

despacho de seu Presidente, já ha- E, em tais reuntoes, por fôrça de


viam sido previamente divulga- disposição regimental, o Presiden-
das. Não nos restava, ante a ex- te, além de tomar parte na vota-
travagante e inédita feição. assu- ção, é o primeiro a fazê-lo, por
mida pelo caso, senão a providên- motivos óbvios, entre os quais
cia que adotamos, em salvaguar- avulta a responsabilidade que lhe
da da dignidade e decôro do Tri- cabe na manutenção da ordem e
bunal. Se se tratasse de simples disciplina de nossos trabalhos.
advogados, apelaríamos para a Por outro lado, convém recor-
disciplina da Ordem, que por cer- dar que o verdadeiro libelo que
to providenciaria, de imediato, se contém nas razões que acon-
suspensão dos faltosos do exercí- selharam o advento do ato incri-
cio profissional. Mas, tratando-se minado visou o Tribunal, e, in-
de Procuradores, agentes do Po- dividualmente, apenas o Sr. Min.
der Executivo, se pedíssemos, pu- Cunha Mello. Nêle não se faz
ra e simplesmente, o seu afasta- referência à conduta do Sr. Min.
mento, a quem de direito, quan- Cândido Lôbo. Conseqüentemen-
do, na expectativa, correríamos o te, não há porque invocar a sus-
risco de ver a indispensável pro- peição dêsse último Magistrado.
vidência protelada, com despres- Só o primeiro estava em causa;
tígio e amesquinhamento de nos- só êste, portanto, pode ser havido
sas altas prerrogativas, com pre- como suspeito.
juízo para a boa ordem de nos- Assim sendo, o Tribunal, ao
sos serviços, e perigo para a har- contrário do que afirma, delibe-
monia que deve permanentemen- rou, à unanimidade, com o quo-
te reinar entre os Podêres da Re- rum regulamentar. Releva, por
pública. outro lado, salientar que o emi-
Expostos singelamente os fatos, nente Sr. Desembargador Hugo
passemos ao deslinde da contro- Auler, então convocado, não inte-
vérsia. grou o quorum, nem participou
Argúi-se, preliminarmente, que da votação.
o Tribunal, ao decretar o impedi- É irrelevante, por isso, a preju-
mento do impetrante, deliberou dicial de nulidade do ato, porque
sem o quorum necessário, porque adotado por número insuficiente
suspeitos seriam dois de seus Juí- de Juízes.
zes que participariam da votação, O regime democrático ianque,
e indevida se entremostra a inter- que adotamos como paradigma,
venção do Presidente com voto em regra, naquilo que êle encer-
quantitativo. ra de menos recomendável, aga-
Em primeiro lugar cumpre salhou desde suas remotas origens,
acentuar que a referida delibera- instrumento pronto e adequado à
ção foi tomada, como convinha em garantia do exercício e decôro do
sessão administrativa, dada a na- Poder Judiciário, o do Contempt
tureza da matéria, de índole emi- Oi Court, que assegura sua inte-
nentemente interna e disciplinar. gridade, mediante a punição cri-
- 267-

minaI e imediata de seus possíveis maiores e mais inconvenientes


agressores. N ossos irmãos da franquias, do que as asseguradas
grande República Americana do normalmente aos advogados em
Norte foram buscar subsídios pa- geral e até mesmo a faculdade in-
ra assim agir nas origens do di- compreensível de tumultuar e, de
reito consuetudinário nos postula- agredir sem revide imediato nos-
dos da Common Law que invarià- sos Juízes, estaríamos descobrin-
velmente conspiram no sentido de do o flanco aos inimigos confessa-
atribuir ao Judiciário, indepen- dos do regime e cooperação pa-
dentemente de lei escrita, o poder ra o amesquinhamento e subver-
inato e inerente, de assegurar, pe- são de nossas instituições demo-
los meios que lhe parecem ade- cráticas, das quais é o Judiciário
quados, o respeito e a considera- o guardião indormido e o susten-
ção que lhe são devidos no exer- táculo inegável.
cício de suas relevantes prerroga- Aluído em suas próprias bases,
tivas. O police of power é pró- inerme e desarmado, êste proemi-
prio e exercitável, aliás, por qual- nente Poder e suporte do regime
quer órgão da administração pú- desabaria como um castelo de
blica em geral. E as leis não po- cartas, e com êle todo o esquema
dem e nem devem baixar a minú- constitucional destinado a assegu-
cias para regular suas últimas rar as garantias dos cidadãos e a
conseqüências. Se as providências incolumidade de nossas institui-
adotadas, em defesa da ordem e ções. Nem se diga que a êste Tri-
da disciplina internas, não se des- bunal caberia defender-se da in-
convizinharem abertamente da vestida, lançando mão dos meios
lei, devem ser havidas como legí- clássicos e tradicionais assegura-
timas e ne~essárias. dos pela lei penal aos particulares
Não vale, por outro lado, dizer em geral e às autoridades públi-
que sendo os Procuradores da cas, o procedimento criminal por
República agentes de confiança calúnia, injúria, ou desacato. Tal
do Executivo, e colaboradores providência, sem dúvida admissí-
imediatos do Judiciário, não po- vel, em princípio, só operaria a
dem nem devem sofrer o pêso de longo prazo. Além de não solu-
nossa ação disciplinar quando se ciopar de pronto o conflito, talvez,
revelem infensos à boa convivên- o agravasse. Essa contra-indicada
cia profissional e recalcitrantes e terapêutica, pela lentidão e tar-
reincidentes no que toca ao res- dança ;de seus efeitos, conduzir-
peito que nos é devido. Se assim -nos-ia à ataraxia profunda. ou à
não acontecesse, o que seria do caquexia irreparável.
sábio e avisado princípio da har- Operaria sem resultados provei-
monia e independência dos Podê- tosos; acudiria com atraso, tal co-
res, assegurados pelo art. 36 da mo os decantados cavalLeiros de
Constituição Federal. Offenbach.
Se ao advogado oficial da Ê de. perguntar-se, por último,
União Federal se permitissem qual a lei escrita que desautoriza
- 268-

a medida por nós adotada, no Henrique d'Ávila já reduziu a


exercício legítimo de nossas prer- seus exatos têrmos, e já as re·
rogativas, na defesa da boa ordem futou ql1antl1m satis, as obje-
dos serviços a nosso cargo. Não ções concernentes aos aspectos re-
a enxerguei referida no arrazoa- gimentais, sôbre a pretendida in-
do do impetrante. suficiência do quorum do Tribu-
O Tribunal no nal, na sua deliberação adminis-
uso de atribuição que lhe é i.ne- trativa declaratória do impedi-
rente e indeclinável, apenas, a mento que ora se dis.cute. Tam-
consignar a impossibilidade de bém aS. Ex. a peço vênia par1;l
conviver em harmonia com o im- integrar em meu voto o seu, e
petrante; e, conseqüentemente, no para servir de tema e de funda-
afã de assegurar segurança e a mento a exata e segura exposi-
continuidade da defesa dos altos ção, e a conceituação da matéria
interêsses públicos confiados ao sub judiee, tal como constante da
seu estudo e decisão, pediu a carta dirigida por S. Ex.a ao emi-
quem de direito a indicação de nente Senador Eurico Rezende, e
um nôvo patrono da União, capaz por êsse ilustre parlamentar lida
de restabelecer o .clima de urba- no Senado da República, em con-
nidade e entendimento, indispen- testação ao que no Congresso fôra
sável ao eficaz e proveitoso exer- comentado ao propósito do Sr.
cício de suas atividades. Subprocurador-Geral.
Sem apoio em lei ou suporte São os seguintes os têrmos des-
regulamentar, não há como cogi- sa exposição: "Tendo em atenção
tar de direito líquido e certo, am- comentários feitos na Câmara dos
parável por mandado de segu- Deputados, a propósito do afasta-
rança. mento do 1.° Subprocurador-Ge-
Por isso, e data venia do emi- ral da República, dos trabalhos do
nente Relator, indefiro o pedido, Tribunal, cumpre esclarecer que,
Sr. Presidente. . ao contrário do afirmado, não há
intervenção indébita do Judi.ciá-
Voto rio, em matéria da competência
do Executivo, mas, ao contrário,
o Sr. Min. Godoy Ilha: - Sr. inteira observância da norma
Presidente, data venia do Sr. Min. contida no art. 38 da Constitui-
Relator, também subscrevo intei- ção, e do estatuído no regimento
ramente o magnífico voto que interno do Tribunal. Assim é que
acaba de proferir o Sr. Mio.. nos autos de Mandado de Segu-
Henrique d'Ávila, cujos funda- rança n.O 27.224, em que houve
mentos aáoto para S. Ex. a inde- decisão unânime do Tribunal Ple-
ferir a segurança.
no, contrária à Fazenda, ofereceu
Voto a Subprocuradoria-Geral da Re-
pública recurso extraordinário
o Sr. Min. Oscar Saraiva: - subscrito pelo mencionado 1.°
Sr. Presidente. O Ex.mo Sr. Min. Subprocurador e, em demasia, por
- 269-

vários outros Procuradores em atitude de respeito condizente


exercício nesse órgão. Em tal re- com a boa ordem de serviço pú-
curso, porém) ao invés de se ater blico. E tanto ou mais do que
o advogado da União à argumen- quaisquer outros ;'lrgãos adminis-
tação jurídica, conducente a sua trativos, os do Poder Judiciário
cachola e provimento, resvalou são credores do mesmo respeito,
para o terreno das e por parte daqueles que com êles
agressões pessoais ao Min. Rela- tratam. Não é possível, dêsse mo-
tor do processo. Mas não se li. do, que em contravenção ao man-
mitou a interpor o apêlo extremo damento constitucional da har-
fora dos têrmos admissíveis. Sem monia dos podêres, permita-se a
necessidade, e contrariando reco- representante da União, perante o
mendação de lei, foi o inteiro teor Tribunal Federal de Recursos,
do recurso publicado no Diário da atitudes ofensivas ao decôro do
Justiça de 14 do corrente, antes Tribunal. E se é certo que êsse
de sua necessária apresentação ao funcionário é da confiança do Po-
Presidente do Tribunal. E a úni- der. Executivo, não é menos cer-
ca explicação possível para essa to que, considerando persona non
prática, aberrante do processo ju- grata pelo Tribunal, possa conti-
diciário, está em que visava a nuar a ter assento entre seus
mesma frustrar a função corre_ membros.
gedora do Tribunal, ao expurgo Aí estão, em suas linhas mes-
de injúrias aos Juízes ou a ter- tras, e em seus exatos fundamen-
ceiros . A prévia publicação do tos, as razões e os arrimos cons-
teor do recurso tornou, portanto, titucionais que levaram êste Tri-
impossível o exercício útil dessa bunal a declarar persona non gra-
atribuição à essência do poder de ta em seus trabalhos, e a excluí-
polícia do Tribunal. -10 de seu Colégio, o Sr. 1.0 Sub-
procurador-Geral da República,
Semelhante procedimento, se
que se permitira aos atos de
originário de advogado, em defe-
afrontosa indisciplina e de intole-
sa de interêsse particular - con-
rável desrespeito mencionados,
tinua o Ministro - teria enseja-
forçando o Tribunal, a bem do
do o cancelamento das expressões
resguardo da sua própria dignida-
injuriosas, que seriam riscadas dos
de, e para a preservação de sua
autos, e ainda a aplicação de san-
responsabilidade, a essa atitude
ções disciplinares ao infrator, pe- extrema sem precedentes nos
la Ordem dos Advogados, até
anais judiciários do país.
mesmo a de suspensão de seus
exercícios profissionais. Os Pro- E acentuamos essa ausência de
curadores da República não se precedentes, e o imprevisto da si-
acham imunes à observância das tuação, de que não cuidam espe-
regras do código de ética profis- cificamente os autores que em
sional, e também lhes é aplicável nossas letras jurídicas versaram
o Estatuto dos Funcionários PÚ- sôbre o Poder Judiciário, pelo fa-
blicos Civis da União, que, de mo- to mesmo da discrepância dêsses
do expresso, impõe ao servidor atos, com a atitude costumeira e
- 270-

tradicional do respeito e cordial- não as tolera as outras três. E de


lidade dos representantes do Mi- tal modo essencial é êsse requi-
nistério Público, em exercidos nos sito, inerente à própria função de
Tribunais Superiores do país. declarar a lei, que dela não fêz
Barbalho, contudo, na profundeza menção o nosso legislador, nem
de seus Comentários Clássicos, à cuidaram expressamente até ago-
;o~lsiJ;tuiçã;o de 1891, ao tratar da ra os regimentos no que COl1cerne
designação do Procurador-Geral aos membros do Ministério PÚ-
da República junto ao Supremo blico, porque faz parte da própria
Tribunal Federal, e justificando existência dos tribunais. Falando
o texto do § 2.° do art. 58, dêsse da aplicação do contempt of
Diploma, ponderou: "Aí se é li- court a pena do desrespeito aos
mitado o círculo da escolha, tribunais, que tão justificadamen-
acham-se as maiores competên- te vigora ao Direito anglo-saxôni-
cias, afeitas ao conhecimento dos co, na Grã-Bretanha e nos Esta-
assuntos que aquêle funcionário dos Unidos, países dos mais de-
tem de tratar e promover, e o mocráticos do mundo, e referin-
fato de fazer êle parte da mesma do-se a sua existência como po-
corporação, embora em caráter di- der inerente aos tribunais superio_
verso, não deixa de ser vantajoso, res, diz Oswald (On contempt,
dominando nela todos boa inteli- 3): "Nas côrtes superiores o po-
gência e harmonia, o mesmo es- der de punir por desrespeito, é
pírito e firmando-se entre quanto inerente a sua constituição, e con-
aos fins que têm em vista, como temporâneo da origem dessas ins-
partes de uma mesma coletivi- tituições que sempre existiu".
dade." É nota a verbete da Enciclo-
Eis aí, acentuada, a boa harmo- pédia. Britânica, onde êsse autor é
nia que entre Juízes e Procura- referido, que "the object of the
dores deve reinar, como mem- discipline enforced by the court
bros da mesma coletividade, em- by proceedings for contempt of
bora situados em planos diversos. court, is not now, if it ever wa\S', to
E como a manif~stação mais óbvia vindica te the personal dignity of
dessa harmonia, deve, necessària- the judiges or to protect them
mente, reinar com inteira recipro- {rom inroIt, as individuaIs, but to
cidade o respeito, como elemen- vindica te the personaI dignity of
to fundamental a boa ordem da vindica te the dignity and autho-
Justiça. Podemos, sem exagêro, rity of the court itseIf" (V01. VI,
acrescentar as três prerrogativas pág. 334, edição de 1959): "A fi-
com que a Constituição assegura nalidade dessa disciplina importa
o livre e pleno exercício do Poder pela Côrte, com o processo por
Judiciário. A vitaliciedade, a ina- desrespeito, não é agora, se anteg
movibilidade e a irredutibilidade pudesse ter sido, vindicar a dig-
de seus membros, uma outra que nidade pessoal dos juízes e res-
nelas se acha implícita, a da res- guardá-los de insultos como indi-
peitabilidade dos Juízes, que não víduos, mas vindicar a dignidade
tolera ofensa ou restrições, como e a autoridade da própria côrte".
- 271-

Contudo, e tal como nessa sá- E é de data recente a repulsa


bia lição se proclama, é ,certo que do Egrégio Supremo Tribunal Fe.
os tribunais têm como de sua deral, e a dêsse Tribunal, às leis
competência regimental, no regi- reguladoras do exercício de advo~
mento escrito ou nas soluções do cacia autorizativas da fala de ad.
que no texto escrito é omissão, e vogados após o relatório da causa
como uma de suas prerrogativas e o voto do Relator.
essenciais, a do rt;sguardo ao seu Também não se diga que o Tri-
decôro e ao seu bom funciona- bunal praticou ato ao arbítrio,
mento, e o poder de rejeitar o seu passivo de correição pela medida
convívio, de expelir de seu meio, de segurança. No exercício de fa-
advogado ou representante do Po_ culdade regimental, na disciplina
der Executivo, que, investido das dos seus trabalhos e na preserva-
altas funções de participar de
ção do próprio decôro, o Tribunal
seus trabalhos, venha perturbá-
não in.cidiu na prática de ato ar-
los e trazer-lhes a desarmonia. E,
bitrário, mas no exercício de prer-
para que se não diga que êsse ato
viria infringir a lei do Ministério rogativa discricionária, inerente ao
Público, que não o prevê, vale- seu poder de auto-regulação e au-
mo-nos da lição do eminente e todefesa. Discricionariedade não
saudoso Min. Costa Manso, quan- significa, de modo algum "ativida-
do, cogitando da possível invasão de arbitrária" acentua Cino Vitta
das prerrogativas regimentais dos (Diriito Amnistrativo, 1949, voI.
tribunais, adverte-nos de que "o I, págs. 303/304), e Bartolomé
Supremo Tribunal, entretanto, ja- A. Fiorini, escreve, a propósito,
mais deixou de reconsiderar in- essa exata lição: "A discriciona-
vestido da função de regular os riedade não pode ser uma mani-
seus próprios trabalhos, pondo festação caprichosa da vontade do
mesmo de parte, resolutamente, administrador; deve ser a reali-
disposições de leis que foram além zação de um processo jurídico
da competência do Congresso. com função definida. Isto afasta
Entre nós, nun.ca se duvidou, na a discricionariedade do reino do
República, de que o Tribunal ti- acaso e do capricho do adminis-
vesse tal competência." trador, localizando-a nos quadros
(M. Costa Manso, o Processo do Direito. A arbitrariedade e o
na Segunda Instância, vol. I, interêsse pessoal são substituídos
pág. 69). por uma atividade jurídica ten~
Também outro eminente antigo dente a ditar atos eficazes que
:Ministro da Suprema Côrte, Má- correspondem a valôres perma-
rio Guimarães, no mesmo sentido nentes da Justiça (Primeira Dis-
observou que os Tribunais "no cricionalidad en la Administracion
gôzo de sua autonomia, podem le- Pública, 1952, pág. 29).
gislar sôbre a organização de seus O ato do impedimento ao Sub-
trabalhos, pois que essa é matéria procurador desrespeitoso, corres-
tegimental" (Mário Guimarães, O ponde a uma ação em tudo re-
Juiz, pág. 176). vestida de valor permanente e es-
- 272-

sencial ao bom funcionamento possível, por isso mesmo. Note-se


dêste ou de qualquer outro Tri. que a Constituição arts. 103 e
bunal. Não foi, pois, ato de 105 e art. 125 e seguintes - não
excusado ou censurável arbítrio, cuida dêsse funcionário na repre·
mas ato discricionário de imperio. sentação da União junto ao Tri-
sa necessidade. bunal, de sorte que não pode e
Também não se diga que a har- não deve o exercício de uma fun·
monia dos Podêres de que cogita ção oriunda de lei ordinária, criar
óbices e levantar obstáculos ao
o art. 36, da Constituição, reÍere-
funcionamento normal de órgão
-se apenas ao cumes dêsses Podê-
constitucional da República.
res. Se o Poder Executivo tem
seu representante máximo no Pre. Impunha-se, pois, como ainda
sidente da República, seu exercí- se impõe, que o Poder Executivo
cio se desenvolve de alto a baixo, dê substituto ao delegado de sua
em tôda a esfera da Administra- confiança, e ao seu representante
ção Pública, e os cargos e funções incompatível, pois, até agora, está
exercidos em comissão guardam privado o Tribunal de uma re-
mais que quaisquer outros, o heg- presentação que a lei ordinária
num especificum da delegação prevê e corre a falha à conta do
imediata, tanto que sua investi· próprio Executivo, e sob sua res-
dura se faz em confiança, vale di.. ponsabilidade, desde que solicita-
zer ao nuto do Presidente da Re- da como o foi, de imediato, pelo
pública. De sorte que aquilo que Tribunal, a substituição devida.
a Constituição exige do titular Finalmente, não se queira en·
máxima, é exigível, a fortiori, dos tender como quebra da harmonia,
exercentes menores, dos Minis- apenas a prática de atos crimino-
tros de Estado, e de todos os ti- sos, previstos na Lei n.O 1.079, de
tulares de cargos de chefia ou de 10 de abril de 1950. Como bem
comissão, os quais pressupõem, acentuou o Ex.mo Sr. Min. Neder,
como ocorre com o exercício da esta se refere ao Sr. Procurador-
Subprocuradoria-Geral da Repú- Geral da República, e o Subpro..l
blica neste Tribunal, a confiança curador-Geral, funcionário de me·
direta do Presidente da Repúbli. nor escala e que como já vimos,
ca. Daí, porque, declarando-o não figura nos quadros constitu-
persona non grata ao seu convívio, cionais, não poderia por isso, fi-
o Tribunal pediu ao Ex.mo Pro- gurar nesse texto legislativo, que
curador-Geral da República, alta somente cuida dos agentes do Po-
autoridade a quem o funcionário der Executivo cogitados nominal·
em questão está subordinado, sua mente pela Constituição. Seus
pronta substituição. Não o demi~ crimes são aquêles previstos na le-
tiu, não o puniu, não o suspendeu. gislação ordinária, eis que nessa
Declarou apenas, como implícito legislação ordinária é que estão
em seus podêres regimentais, sua previstas suas funções. Mas para
presença e seu exercício no Tribu- que se perturbe a boa ordem do
nal incompatíveis com o decôro II'ribunal e para que se atente
dêste órgão e de continuação im- contra o seu decôro, não é neces-
- 273-

sário que se pratiquem crimes o órgão judicial que os tolere e


funcionais ou. outros; não há neq passivamente admita. Nessa con-
cessidade que se configure agres- formidade, meu voto é para de-
são física ou desacato. Estamos, negar a segurança.
aí, na distinção clássica entre o i1í~
cito penal e as infrações de natu- Voto
reza administrativa, sendo que
elas, se não podem conduzir o o Sr. Mio. Armando Rollem-
faltoso à prisão, podem, contudo, berg: - Denego a segurança, com
e devem, afastá-lo de suas fun- arrimo nos brilhantes votos pro-
ções. E, como vimos, se estas são feridos pelos Srs. Mins. Henri~
exercidas no Tribunal, e em con- que d'Á vila e Oscar Saraiva, aos
junto com as suas próprias, tem quais entendo que não há o que
o Tribunal, não só o direito, a acrescentar.
prerrogativa de afastá~lo, como o
dever de o fazer. Daí porque seu Decisão
ato, contra o qual se dirige a pre-
sente segurança, não foi ato de ar~ Como consta da ata, a decisão
bítrio, passível de correição, mas foi a seguinte: Prosseguindo-se no
ato de justa e necessária discri· julgamento a decisão foi a seguin~
ção regimental, destinado ao res- te: denegou~se a ordem, vencidos
guardo de sua respeitabiíidade, de os Srs. Mins. Relator e Amarí~
seu decôro, e da boa ordem de lio Benjamin. Os Srs. Mins.
seus serviços. Se de atos seme- Cândido Lôbo e Djalma da Cunha
lhantes não se puderem resguar~ Mello não votaram por não terem
dar os Tribunais, melhor será que assistido ao relatório. Presidiu o
se lhes cerrem as portas, pois não julgamento o Sr. Min. Cunha
será digno de suas altas funções, Vasconcellos.

RECLAMAÇÃO N.O 92 - GB.


Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Reclamante - Ministério Público
Reclamado - Dr. Juiz da 9.a Vara Criminal

Acórdão
Carta rogatória: não possibilitando a legislação
estrangeira o seu cumprimento, nos casos em que
a Justiça Pública é a única interessada, é de se apli~
car o art. 363 do Código de Processo Penal.

Vistos, relatados e discutidos ês~ Acorda o Tribunal Federal de


tes autos de Reclamação n.O 92, do Recursos, em sessão plena, por
Estado da Guanabara, em que são unanimidade, em julgar proceden~
partes as acima indicadas: te a reclamação, nos têrmos do
- 274-

voto do Sr. Min. Relator, tudo prejuízo do Estado, com cêl'ca de


conforme consta das notas taqui$ Cr$ 300.000.000. Para atingir
gráficas precedentes, que ficam fa- êsse objetivo, praticaram tôda uma
zendo parte integrante do presen- série de falsificações, subornaram
te julgado. Custas de lei. funcionários do Instituto Brasilei-
Brasília, 28 de setembro de ro do Café, e não hesitaram ante
1964. - d' Ávila, Presi~ qualquer obstáculo.
dente; Armando Rollemberé" Re- Após o oferecimento da denún-
lator. cia, surgiu, desde logo, o proble·,
ma da citação de um dos réus.
Relatório do cidadão americano Zoltan Jus-
covic Justin. Estava êle denuncia-
o Sr. Min. Armando Rollem- do por crime inafiançável, e resi-
berg: - O Promotor Raul de dia em Nova Iorque, com enderê-
Araújo Jorge encaminhou ao ço certo. Para êstes casos a lei
Ex.mo Sr. Desembargador Vice- é clara, taxativa e ordenatória:
Presidente do Tribunal de Jus- art. 367 do Código de Processo
tiça do Estado da Guanabara, Penal - a citação de réu denun-
reclamação contra despacho exa- ciado por crime inafiançável, em
rado pelo Juiz da 9.a Vara Cri- lugar sabido, será feita por carta
minal daquele Estado, no proces- rogatória.
so crime a que respondem Antô- Não havia outra alternativa.
nio Caldeira Vitral e outros, re- Por outro lado, sabia o Minis-
latando e sustentando o seguinte: tério Público, como por todos é
"Em 12 de maio de 1961, perante sabido, que a Justiça americana
o Juízo de Direito da 9.a Vara não cumpre rogatórias citatórias,
Criminal, foi oferecida denúncia isto é, não reconhece o direito d@
contra os seguintes réus: Antônio prevenir jurisdição. Para usar ex-
Caldeira Vitral, Antônio Augusto pressão processualística america-
Andrada Coelho, Francis Sinclair na, não admitem que uma Justi-
de Souza Dantas Forbes, Rômulo ça estrangeira possa serve with
Barroso Feito, Manoel Jansen Fer- process a um dos seus nacionais.
reira Sobrinho, José Mendes de Quando muito, admitem a toma-
Souza, Airton José Severo Bon- da de depoimento. o que passa a
fim, Jorge dos Santos Filho, Zol- ser um afidavit.
tan J uscovic J ustin, Hélio Cardo- Assim, começou o Ministério
so Gomes e Almir Lo Giudice. Público por requerer que se ofi-
Todos por estelionato (fraude ciasse ao Ministério das Relações
cambial), falsificação e corrupção Exteriores, indagando da viabili-
ativa e passiva. dade do cumprimento de cartas
Trata-se de processo oriundo de rogatórias por parte da Justiça
rumoroso inquérito do chamado americana (certidões anexas),
"contrabando do café", ou melhor, Surpreendentemente foi remetido
de embarques de café sem cober- o parecer de fls. 1.195, onde aquê-
tura cambial. Fraude gigantesca le Ministério, entre outras coisas,
em que os réus, uns mais, e ou- disse o seguinte: "êste Ministério
tros menos, se locupletaram, em tem encaminhado àquele país di-
- 275-

versas cartas rogatórias, civis e 34.496-61 n.o 17.775, de 13 de no-


criminais, expedidas pelas Justiças vembro de 1961, relativo à carta
dos estados e do D.P., e tem sido, rogatória expedida pela Justiça
em geral (?), cumpridas". do Brasil à dos E. U . A ., para
Ante a clareza do ordenamen- citação de Zoltan Justin, tenho a
to legal (art. 367 do C. Proces~ honra de informar-lhe que, segun-
80 Pena}), ante a inforrnação do
do comunicação do Consulado-
Ministério do Exterior, não res- Geral do Brasil em Nova Iorque,
tava ao M.P. outra alternativa se- e de acôrdo com o sistema jurí-
não requerer a citação do réu Zol- dico vigente naquele Estado, os
tan Juscovic Justin por carta ro w Consulados não podem encami-
gatória. Fazia-o, porém, com a cer- nhar cartas rogatórias" (fls. 1.257).
teza de que não seria cumprida, Diga-se de passagem da estra-
mas obrigado a fazê-lo para pre- nheza do M.P. de que um ofício
venir vício de citação, que redun- de novembro de 1961 só tenha
daria em futura anulação de todo sido respondido pelo nosso Con-
o processado. sulado em julho de 1962, e isto
Pelo despacho de fls. 1.202, de pertinente a assunto da mais alta
8 de setembro de 1961, foi de· relevância. Oito meses para in-
terminado o envio da carta roga- formar que o Consulado não pode
tória. Atente-se para a data: há encaminhar rogatórias.
quase um ano. Passavam-se os Diante dessa informação do
meses, e ante sucessivos ofícios consulado, não restando qualquer
solicitando informações sôbre o outra medida a ser tomada para
destino da rogatória pingavam o cumprimento efetivo da rogató-
vagas informações de que tinha ria, havendo nos autos a confir w

sido encaminhada à nossa repre- mação oficial daquilo que é do cO w

sentação diplomática nos E. U . A. nhecimento de todos, fato notório,


Finalmente, chegou, por ofício tendo se esgotados todos os re-
de 4 de julho de 1962, fls. 1.257, cursos possíveis para citar-se o réu
informação direta do Consulado- Zoltan Justin por rogatória, a fô-
Geral do Brasil em Nova Iorque, lhas 1.259, o M.P. requereu fôs-
informação oficial da impossibili- se o mesmo réu citado por edi-
dade do cumprimento da rogatória. tais, ante a impossibilidade de fa-
Salienta-se que não se trata de um zê-lo de outra maneira. Funda-
parecer, como o de fls. 1.195, mentou seu pedido baseado no
muito erudito, muito verboso, mas art. 363, n.O I, in, do Código do
totalmente afastado. da realidade. Processo Penal. Por ter ficado de-
Trata-se, como já foi dito, de in- monstrada a inacessibilidade, por
formação oficial da única reparti- fôrça maior, do local em que se
ção brasileira sediada em Nova encontra o réu. Inacessibilidade
Iorque que poderia encaminhar e decorrente da impossibilidade con-
fazer cumprir a rogatória. E fessada pelo nosso Consulado de
qual é a informação de nosso encaminhar cartas rogatórias. Ina-
'consulado? É a seguinte: "Com cessibilidade decorrente do não
referência ao ofício DI] /SC/P. cumprimento pela Justiça ameri-
- 276-

cana de cartas rogatórias citató- subornar, falsificar documentos,


rias. Esta interpretação do cri.té- tudo com o objetivo, que foi al-
rio de inacessibilidade não é nos- cançado, de se locupletarem com
sa. Comentando o art. 363 do Có- Cr$ 300.000.000, que deveriam,
digo de Processo Penal diz Edu- por lei, ser entregues ao Esta-
ardo EspíndoIa, a fls. 561, volu- do . Pois bem, continuam impu-
me UI: "São as nes, o processo paralisado, em fase
das no n.o I do art. 363, em exa·· de interrogatório, e tudo porque
me, referindo ser inacessível, em uma rogatória não é cumprida.
virtude de epidemia, de guerra ou Discute-se em tôrno de um fato
por outro motivo de fôrça maior, que era notório e sabido por to-
o lugar em que estiver o réu. A dos, e que agora teve confirma-
essa situação se equipara a em ção oficiaL Sabia-se que a justi-
que o Juiz estrangeiro recusa o ça americana não cumpre rogató-
cumprimento da rogatória, alegan- rias citatórias. Sabia-se mas não
do que a sua lei não o autoriza havia, nos autos, notícia oficial
a tanto; o lugar torna-se, destar- disto. Pois bem: o Consulado Bra-
te, inacessível". sileiro em Nova Iorque admite
No caso em tela, duplamente sua impotência. Pergunta-se: que
inacessível: não cumprimento por mais se espera se nada mais há a
parte da Justiça Americana, e im- esperar?
possibilidade de encaminhamento Assim sendo, espera o M.P. a
da mesma, confessada pelo nosso reforma do despacho reclamado,
Consulado em Nova Iorque.
devendo o réu Zoltan Juscovic
Pelo despacho de fls. 1.262 foi Justin ser citado por editais, na
indeferido o pedido do M.P. forma da lei, dado a inacessibili-
Desejando reclamar do despa- dade do local em que se encon-
cho de fls. 1.262, o M.P. reque- tra, prosseguindo-se no processo
reu, tempestivamente, sua recon- como de direito, com o que se
sideração a fls. 1.264, tendo o fará Justiça".
MM. Dr. Juiz, a fls. 1.267 v., man- A inicial foi instruída com vá-
tido a sua decisão (certidões ane-
rias certidões de peças do proces-
xas).
so crime, e uma vez recebido e
É êste, pois, o objetivo da }Jre-
distribuída foram solicitadas in-
sente reclamação. Pleitear a re- formações a respeito à autorida-
forma do despacho de fls. 1.262,
de reclamada, que as prestou nos
mantido a fls. 1.267 v., devendo
seguintes têrmos: "Realmente, em
ser deferida a promoção de fô-
lhas 1. 259 e 1. 264. processo ajuizado nesta 9.a Vara,
indeferi, como alega o ilustrado
Além dos motivos longamente
Dr. Promotor ora reclamante, a
expostos pelo M.P., é de se salien-
tar a situação anômala e intole- citação edital de réu domiciliado
rável em que se encontra êste pro- nos Estados Unidos da América
cesso, paralisado há quase um ano. do Norte, onde seu enderêço é co-
Delito dos mais graves foi come- nhecido.
tido por um grupo de exportado~ Para o caso de haver por bem
res de café, não hesitando em a Egrégia Câmara conhecer do pe-
- 277-

dido (lesados pelo crime denun- Com vista do processo, a Pro-


ciado são o Instituto Brasileiro do curadoria-Geral da Justiça no Es-
Café e a :Fazenda Federal) te- tado da Guanabara ofereceu lon-
nho para mim que não foi desa- go parecer, onde se lê: "Há real-
certado o indeferimento de que se mente um impasse em detrimen-
reclama. Consoante o parecer, a to dos altos fins e do próprio pres-
que alude, aliás, o ilustre recla- tígio da Justiça Criminal, que não
mante, firmado pelo eminente pode nem deve deixar de ser exer-
Consultor Jurídico do Ministério citada em caso algum. Máxime
das Relações Exteriores, Profes- num crime de tanta repercussão
sor Haroldo VaUadão (transcrito e alarme nacional.
a fls. 7/9), a citação pessoal é A lição de Espínola Filho, em
perfeitamente viável, sendo neces- que. se arrima fundamentalmente
sário apenas haver quem, no lu- o reclamante, não se ajusta per-
gar do cumprimento da rogató- feitamente à hipótese. A solução
ria, tome as providências neces- alvitrada pelo ilustre comentador
sárias, inclusive as de ordem fi- do nosso Código Processual Penal
nanceira (fls. 7v). E o bilhete ver- está dada em favor da citação-
bal, transcrito a fôlhas 10 v., em edital com base no art. 363, nú-
que se esteia o reclamante, in- mero I, isto é, inacessibilidade do
formativo de não poderem os Con- local onde o réu se encontra,
sulados, no Estado de Nova Ior- quando "o país deprecado negar
que, "encaminhar rogatórias, dire-
cumprimento à rogatória regular-
tamente, às autoridades judiciá-
mente expedida, sob o fundamen-
rias, tornando-se indispensável a
indicação da parte responsável to de que as suas leis não se fa-
pelas providências necessárias", çam citações ou notificações, or-
não atesta a impossibilidade ale- denadas por autoridades estran-
gada pelo M.P., mas bem ao in- geiras" (Cód. Proc. Penal Brasi-
vés, a viabilidade do cumprimen- leiro, voI. 30, pág. 443, ed. 1942).
to da rogatória, providenciada por In casu, porém, quaestio tem
qualquer pessoa estranha ao Con- feição um pouco diferente. Não há
sulado Brasileiro. recusa de cumprimento, pela Jus-
E absurdo me pareceu, data tiça Norte-Americana, do cumpri-
venia, que, para dispensar o M.P. mento da rogatória já expedida.
de resolver a dificuldade, mas não O que ali se exige é o cumprimen-
impossibilidade, da indicação de to de uma formalidade própria do
alguém que acompanhe o cumpri- sistema judiciário dêsse país. E
mento da rogatória (e que não se
neste ponto estão acordes o pare-
percebe porque haverá de ser, ex-
clusivamente, o Consulado), se cer do eminente Consultor Jurí~
passasse a considerar inacessível dica do Ministério das Relações
um lugar que não o é. Exteriores, Prof. Haroldo Vala-
A Egrégia Câmara, não obstante, dão (fls. 7 v.), e a comunicação
dirá o direito. Aproveito a oportu- do Consulado-Geral do Brasil em
nidade para reiterar a V. Ex. a os Nova Iorque (fls. 10 v.).
meus protestos de elevada consi. Refere o parecer que o cum-
deração" . primento é e tem sido possível:
- 278-

"exige, porém, que a carta pre- Afigura-se-nos que, entrementes,


catória indique a pessoa que no para não retardar mais a ação pe-
lugar do respectivo cumprimento nal contra os réus residentes no
tome as providências necessárias, Brasil, deve o Dr. Promotor re-
inclusive ;as de ordem financei- querer e o Df. Juiz deferir o des-
ra" (sic fls. 7 v. cit.). membramento do processo, a fim
Do me81110 rnodo, informa o de que, com a separação da ação
Consulado-Geral do Brasil em contra o réu residente nos Esta-
Nova Iorque que "de acôrdo com dos Unidos, possa o processo ter
o sistema jurídico vigente naque- seguimento independente quan-
le Estado os Consulados não po- to aos residentes no Brasil, em
dem encaminhar rogatórias, dire- número de dez, aliás.
tamente, às autoridades judiciá-
rias, tornando-se indispensável a Com essa providência, adotada
indicação da parte responsável pe- em vários outros casos, ter-se-á
las providências necessárias" (in satisfeito o Dr. Promotor recla-
expressis verbis, fls. 10 v.). mante e o Dr. Juiz reclamante. E
A precatória é exeqüível. Para a Justiça, sobrepairando a ques-
ser cumprida, porém, há que ser tiúnculas formais, estará exerci-
atendida uma condição formal: a tando-se presente, ativa e dinâmi-
indicação de uma pessoa respon- ca como convém aos seus fins exis-
sável. Afigura-<se-nos que em se tenciais e ao seu próprio prestí-
tratando de interêsse público e na- gio.
cional relevante, em que está em Finalmente, com nôvo ofício, em
jôgo a própria ação da Justiça têrmos, aos Ministros da Justiça
Brasileira, incumbe ao Ministério e das Relações Exteriores, se há
da Justiça, por via do Ministério de, certamente, encontrar algum
das Relações Exteriores, indicar funcionário brasileiro em função
qual essa pessoa responsável, em pública em Nova Iorque apto
Nova Iorque, pelo processamento para a prestação de tão relevan-
dessa rogatória. Se temos, nos Es- te serviço público. Até mesmo,
tados Unidos, representação diplo- pessoal e nominalmente, algum
mática para tratar dos interêsses funcionário da Embaixada ou do
superiores do Brasil, e entre ês- Consulado do Brasil poderá ser
tes sobreleva o da sua Justiça, en- indicado para êsse serviço de in-
quadrada num dos três podêres terêsse relevante do Brasil, por-
da nossa ainda Democracia, não que da sua Justiça".
será difícil nem impossível indi- Presentes os autos à 3.a Câmara
car alguém ali residente ex officio Criminal do Tribunal de Justiça,
para atender a essa exigência, aliás decidiu esta, por unanimidade, não
de somenos importância. Por si-
conhecer da reclamação, por se-
nal, há nos Estados Unidos mui-
tos e muitos funcionários com pol- rem lesados pelo crime o I.B.C. e
pudos vencimentos e vantagens em a Fazenda Federal, determinando
áureos dólares, que poderiam ser a remessa do processo a esta
designados para êsse serviço pú- Côrte.
blico. É o relatório.
- 279-

Voto Pública, não vemos como se pos-


sa extravasar da simples via di-
o Sr. Mino Armando Rollem- plomática, para, como entende o
berg: - Quer do parecer do ilus- MM. Juiz no despacho reclama-
tre Prof. Haroldo Vala dão, Con- do indicar-se pessoa que possa
sultor Jurídico do Ministério das
acompanhar o cumprimento da
Relações Exteriores, quer da in-
fonnação prestada pelo Consula- rogatória e assumir, particular-
do-Geral do Brasil em Nova Ior- mente, a responsabilidade corres-
que, resultou esclarecido não ser pondente.
possível o encaminhamento dire- Tenho assim em que, do con-
to da rogatória pelo Consulado fronto da nossa legislação com o
do Brasil, sendo indispensável a sistema adotado nos Estados Uni-
indicação, nos Estados Unidos, de dos, que não ratificaram a con-
pessoa que assuma a responsabi- venção do Direito Internacional
lidade pelo respectivo cumprimen- Privado de Havana (Código Bus-
to, e adote as providências ne- tamante), resulta impossível o
cessárias, inclusive as de ordem cumprimento de rogatória nos ca-
financeira.
sos em que a única interessada
O que cumpre examinar, por- seja a Justiça Pública Brasileira,
tanto, é a viabilidade de tal pro- impossibilidade esta que torna
cedimento, no caso concreto,
inacessível, por motivo de fôrça
quando o interêsse é da Justiça
maior, o lugar em que se encon-
Pública, frente à legislação bra-
sileira que regula a espécie. tra o réu, embora conhecido o res-
O art. 783 do Cód. de Proc. Pe- pectivo enderêço.
nal estabelece que "as cartas ro- A solução está, portanto, na
gatórias serão, pelo respectivo aplicação da regra do art. 363 do
Juiz, remetidas ao Ministério da Cód. de Proc. Penal, isto é, a ci-
Justiça, a fim de ser pedido o seu tação por edital, como pretende
cumprimento, por via diplomáti- o reclamante.
ca, às autoridades estrangeiras Por assim entender, defiro a re-
competentes". clamação, para que se promova
Somente se prevê, portanto, a a citação por edital do denuncia-
hipótese do processamento atra- do Zoltan Juscovic Justin.
vés da via diplomática, isto é, de
Govêrno para Govêrno. Para Decisão
acudir situações como a do caso
sob apreciação, quando se tratar Como consta da ata, a decisão
de rogatória em cujo cumprimen- foi a seguinte: À unanimidade,
to tenha interêsse qualquer par- julgou-se procedente a reclama-
ticular, será possível admitir-se ção, nos têrmos do voto do Sr.
indique êste pessoa residente no Min. Relator. Os Srs. Mins.
país onde deverá ser cumprida, e Hugo Auler, Cândido Lôbo, Oscar
que se responsabilizará pelas pro- Saraiva e Amarílio Benjamin vo-
vidências necessárias. Quando, po- taram com o Sr. Min. Relator.
rém, o interessado fôr a Justiça O Sr. Min. Hugo Auler encon-
- 280-

tra-se como ocupante temporário concellos, e os Srs. Mins. Djalma


da vaga ocorrida com a aposenta- da Cunha Mello e Godoy Ilha,
doria do Sr. Min. Aguiar Dias. por motivo justificado. Presidiu o
Não ccmpareceu, por se encontrar julgamento o Sr. Min. Henrique
licenciado, o Sr. Min. Cunha Vas- d'Ávila.

RECURSO DE REVISTA N.O 533


(Na Apelação Cível n. o 6.432 - SP.)
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello
Revisor - O Ex. mo Sr. Min. Cândido Lôbo
Recorrente - Indústrias Químicas Brasileiras Duperial S. A.,
atualmente Dupont do Brasil S. A., Indústrias Químicas
Recorrida - Fazenda N acionai

Acórdão
Impôsto do sêlo. Não incide slôbre fiança admi-
nistrativa para interposição de recurso.

Vistos, relatados e discutidos ês- cidiu na Apelação Cível n.O 4.205,


tes autos de Recurso de Revista do antigo Distrito Federal.
n.o 533, em que são partes as aci- Na Apelação Cível n.o 6.432,
ma indicadas: a Primeira Turma, por unanimi-
Acorda o Tribunal Federal de dade, entendeu que a fiança pres·
Recursos, em sessão plena, por tada administrativamente para in-
unanimidade, preliminarmente, em terposição de recurso estava sujei..
conhecer da revista; de meritis, em ta a impôsto do sêlo, e a Segun-
dar-lhe provimento, por maioria, da Turma, na Apelação Cível
na forma do relatório, votos e re- n.O 4.205, achou que dito con-
sultado do julgamento de fôlhas trato, desde que celebrado com
28/37, que ficam integrando o a União, não tinha que pagar imo
presente julgado. Custas de lei. pôsto do sêlo.
Brasília, 12 de agôsto de 1963. Na petição de interposição da
- Henrique d'Ávila, Presidente; revista se alega: (lê) .
Djalma da Cunha Mello, Relator.
A Subprocuradoria opinou con-
Relatório tra a revista.
É o relatório.
o Sr. Min. Djalma da Cunha
Mello: - Quer-se a reforma do Voto
Acórdão proferido pela Primeira
Turma, na Apelação Cível n.O o Sr. Min. Djalma da Cunha
6.432, de São Paulo, nos têr- Mello: - Nego pro.vimento aos re-
mos do que a Segunda Turma de- cursos. A entidade paraestatal re·
- 281-

presenta o resultado de uma des- o Acórdão divergente é da la-


centralização administrativa por vra do eminente Min, Henrique
serviço. O órgão descentralizado d' Ávila, que disse em sua susten-
conserva a relevância do órgão de tação, aos 10 de julho de 1953:
que desmembrado; conserva os "O têrmo de fiança de fls. que o
privilégios, as isenções, continua apelado foi. compelido a promover
no de estatal para que pudesse vàlidamente re-
precípua, e permanece sob con- correr na órbita administrativa,
trôle da Presidência da Repúbli- constitui, sem dúvida algunla, o
ca e de uma das Secretarias de Es- contrato de fiança previsto no
tado. Quando o § 5.°, do art. 15, art. 1.481, do Cód. Civil, no qual
da Lei Maior, fala em União, Es- uma pessoa se obriga por outra,
tados-membros e Municípios, cla- para com seus credores, a satis-
ro, seguro, insofismável, abrange fazer a obrigação, caso o devedor
os serviços públicos federais, esta- não a cumpra. Ê certo que êsse
duais e municipais descentraliza- contrato se reveste de caráter uni-
dos, as autarquias. lateral, porque nêle só ao fiador
é que se atribuem obrigações.
Êste Tribunal tem tido enten- Mas, como todo contrato, exige
dimento contrário ao exposto, mas êle, também, o concurso de von-
o Supremo Tribunal, ao que pen- tades entre credor e fiador. Por-
so, vem reformando os Acórdãos tanto, não é lícito afirmar, como
correlatos, e com tôda razão. se pretende, que a União é res
Face a êsse ponto de vista co- inter alias, porque nada tenha com
nheço do recurso, e para provê-lo. o referido pacto, cujas partes in-
tervenientes deveriam ser apenas,
Voto fiador e devedor. Nada disso. O
credor, no caso a União, é pars
o Sr. Min. Cândido Lôbo: - magna na convenção. E o sendo,
Sr. Presidente. Diz o Acórdão re- como necessàriamente o é, não
corrido em sua ementa: "Repeti- pode subtrair-se ao imperativo de-
ção do indébito. O sêlo de fiança corrente do art. 15, § 5.°, da Cons-
prestada administrativamente para tituição Federal, que isenta do
interpor recurso ao Conselho de impôsto de sêlo os atos jurídicos,
Contribuintes não está incluído na ou seus instrumentos, quando nê-
isenção do art. 15, § 5.°, da Cons- les ela intervier como parte in-
tituição Federal". teressada. Ê bem de ver, portan-
to, que com o advento dêsse man-
Diz a ementa do Acórdão di- damento constitucional, quedou
vergente (Ap. Cív. n.o 4.205): fora de curso o malsinado art.
"Impâsto de sêlo. Fiança. Sendo 51, do Dec.lei n.o 4.655, de 1942,
embora a fiança um contrato uni- que autorizava a arrecadação do
lateral, há que se admitir a isen- tributo reclamado."
ção de sêlo, sempre que um dos Foi nesses têrmos que o Min.
contratantes fôr a União, os Es- Ávila colocou a questão, e a meu
tados ou os Municípios, ex vi do ver colocou bem, por isso que
disposto no art. 15, n.o VI, da não se trata de autarquia, e sim
Constituição Federal". de contrato feito com a União,

19 - 35883
- 282

vale dizer, um têrmo de fiança como foi no citado Acórdão


prestada admini::;trativamente para do Min. Ávila, classificada de
que a parte possa recorrer para ma,gna pars na convenção em
o Conselho de Contribuintes, sa- causa.
tisfazendo, assim, a condição im- A questão, portanto, se deslo-
posta pela lei, sem a qual não tem ca, a meu ver, para situar a con-
seguimento o recurso. O objetivo trovérsia apenas no sentido de
da fiança é assegurar a solvência saber se na fiança em causa à
do devedor, mas êste não figura União compete somente verificar
no ato senão para indicação do a idoneidade do fiador e a fisca-
objeto da fiança. Essa a interpre- lizar os atos constitutivos da ga-
tação verdadeira que deve ser rantia, e nada mais do que isso.
dada ao art. 1.484, combinado Data venia, não pensamos assim,
com o que dispõe o art. 1.481, eis que a função da União não
do Código Civil. é somente essa que a tornaria ex-
Não está em causa propriamen- clusivamente burocrática e inex-
te ser ou não unilateral o contra- pressiva. A União entra também
to de fiança, desde que ela só com a sua parte volitiva, isto é,
obriga o fiador, que é o garante o concurso da sua vontade acei-
da transação em suas conseqüên- tando o fiador e a fiança presta-
cias, mas sim o fiador conjunta- da por êle, o que torna aquela
mente com o credor, cuja figura discutida unilateralidade um tan-
não pode ser arredada do proble- to duvidosa, eis que uma coisa
ma, deixando isolada a posição nesse contrato de fiança está per-
do fiador, a fim de caracterizar feitamente nítida, qual a de que
o contrato como unilateral. Não. é preciso considerar que sem a
Também a tanto não chega o meu vontade da União aceitando o
entendimento, data venia dos que fiador, o contrato não se consu-
pensam de modo contrário. Por maria.
isso mesmo o ilustre Min. Ávila, E no conflito das duas leis dú-
no Acórdão a que já fiz referên- vida não pode haver de que a
cia expressa neste voto, diss~ e Constituição Federal é a suprema
ao meu ver disse com tôda pro- lex, e por isso absorve e domina
priedade e adequação jurídica, e qualquer outra, que na espécie é
até jurisprudencial, que (verbis): a lei do sêlo, Dec. n.o 4.655, de
"É certo que êsse contrato se re- 3 de setembro de 1942.
veste de caráter unilateral, por- Obrigar o fiador a pagar sê 10
que nêle só ao fiador é que se no contrato de fiança com a pró-
atribuem obrigações. Mas, como pria União, é, além disso que aca-
todo contrato, exige êle, também, bamos de sustentar, ferir o que
o concurso de vontades entre cre- está expressamente determinado
dor e fiador. Portanto, não é lícito no art. 15, § 5.° da Constituição,
afirmar, como se pretende, que a quando ressalva: "Não se compre-
a União é res inter alios." endem nas disposições do n.o VI,
Ao contrário, a União., credora os atos jurídicos ou os seus ins-
que é no contrato, exerce uma trumentos, quando forem partes a
função que pode ser classificada, União, os Estados ou os Municí-
- 283-

pios, ou quando incluídos n9. com- talvez mais freqüente neste Tri-
petência tributária estabelecida bunal.
nos arts. 19 e 29". É que sempre admiti a imuni-
É óbvio que ninguém se arris- dade das autarquias por fôrça do
caria a dizer que a fiança não é art. 31, n.o V, letra a, da Consti-
um ato jurídico perfeito, não é um tuição, e apenas por não me pa-
contrato, Dizer-se que é um ato recerclaro o intuito do legislador
puramente administrativo é ir ao estabelecer no art. 15, § 5.°,
além da marca, como pondera o uma imunidade cujo âmbito pa-
douto Orozimbo Nonato. rece compreendido dentro daque-
Eis as razões, Sr. Presidente, la, entendia que essa imunidade
que me levam a ficar com o Acór- do art. 15, § 5.°, fôsse restrita às
dão divergente da lavra do emi- três entidades de direito público
nente Min. Ávila, aceitando a maiores.
tese da isenção na fiança presta-
da, cujo contrato reconheço não Relendo doutrina e jurispru-
estar sujeito a sêlo federal. dência sôbre o assunto, conven-
Conheço e dou provimento. ci-me de que o motivo único que
deu origem às duas imunidades
Voto (Vencido) foi garantir o princípio. da imu-
O Sr. Min. Márcio Ribeiro: nidade recíproca. Por isto mesmo
Sr. Presidente, data venia, nego não haveria motivo de estender
provimento ao recurso. Entendo uma às autarquias e a outra não.
que o art. 15, n.o VI, da Constitui- Mas, na verdade, em tal maté-
ção, não veda a imposição. à mes- ria não há que distinguir entre
ma entidade de direito público. O administração direta ou indireta
que êsse dispositivo pretende é do Estado. As duas imunidades
evitar a tributação em relação a abrangem, evidentemente, as au-
outras entidades. O princípio que tarquias, e os que com ela contra-
informa o artigo é o mesmo do tem.
art. 31, referente à imunidade re- Por outro lado, entretanto, se
cíproca das três entidades de di-
o que está em jôgo é, apenas, a
reito público. O sêlo federal po-
derá ser cobrado sempre que es- garantia da imunidade recíproca,
tiver presente a União. Não ca- a Constituição não proíbe a União
berá, entretanto, no mesmo caso, de tributar a si mesma as suas au-
a cobrança de sêlo estadual ou tarquias ou as partes que com elas
municipal. contratarem.
Voto em sentido oposto, pelos E, na complexidade da organi-
fundamentos que expedi várias vê- zação estatal de hoje, pode haver
zes em julgamentos sôbre o as- conveniência e sabedoria nessa ta-
sunto, notadamente no Agravo xação.
em Mandado de Segurança n.° O árbitro dessa conveniência é
24.256, nestes têrmos: ''Dou pro-
o legislador ordinário.
vimento aos recursos para cas-
sar a segurança. Não havia, no caso, pois, moti-
Quero, porém, definir novamen- vo para a isenção" .
te a minha posição na matéria, É o meu voto.
- 284-

Decisão cedo (Aguiar Dias) acompanha-


ram o Sr. Min. Relator; no méri-
Como consta da ata, a decisão to os Srs. Mins. Cândido Lôbo,
foi a seguinte: Preliminarmente Godoy Ilha, Armando Rollemberg
conheceu-se da revista, à unanimi-
e Raimundo Macedo votaram com
dade; de meritis deu-se-lhe provi-
mento, por maioria de votos, ven~ o Sr. Min. Relator. Presidiu o
cido o Sr. Min. Márcio Ribeiro julgamento o Sr. Min. Henrique
(Henrique d'Ávila). Na prelimi- d' Avila. Não compareceram, por
nar os Srs. Mins. Cândido Lôbo, motivo justificado, os Ex.mos Srs.
Godoy Ilha, Armando Rollemberg, Mins. Oscar Saraiva e Amarílio
Márcio Ribeiro e Raimundo Ma- Benjamin.

RECURSO DE REVISTA N.O 605 - SP.


(Na Apelação Cível N,o 10.057)
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin
Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg
Recorrente - Linhas Corrente S. A. (Cia. Brasileira de Li-
nhas para Coser)
Recorrida - União Federal
Acórdão
Recurso de Revista. Tempestividade. Deferi-
mento . Caso de irregularidade sanada espontânea-
mente pelo contribuinte.
Ao examinar o recurso de revista o Tribunal
pode apurar sua tempestiwdade através da Secre-
taria.
Conhecido o recurso, dada a realidade da diver-
gência, deve-se deferir a pretensão do devedor, em
matéria tributária, que, cometendo embora a irregu-
laridade, fêz saná-la, de motu proprio, antes da ação
fiscal.

Vistos, relatados e discutidos Relatório


êstes autos de Recurso de Revis-
ta n.o 605, de São Paulo, em que o Sr. Min. Amarilio Benjamin:
são partes as acima indicadas: - Linhas Corrente S. A., não
Acorda o Tribunal Federal de se conformando com o Acórdão
Recursos, em sessão plena, por proferido pela Primeira Turma
unanimidade, em dar provimento, nos autos da Apelação Cível
conforme consta do relatório, vo- n. o 10.057, que julgou improce-
tos e resultado do julgamento de dente ação da recorrente relativa
fls. retro, que ficam integrando o à infração da lei do impôsto de
presente julgado. Custas de lei. consumo, interpôs recurso de re-
Brasília, 10 de maio de 1965.- vista, apresentando como Acórdão
Cunha Vasconcellos Filho, Presi- divergente o prolatado na Apela-
dente; Amarílio Benjamin, Relator. ção Cível n. o 4.551.
- 285-

Recorrente e recorrida indica- submetido a julgamento, deu en-


ram as peças a trasladar e apre- trada neste Tribunal em 18 de no-
sentaram razões. vembro de 1960, há quase cinco
É o relatório. anos portanto, parece-me justo
que, ao invés de não se conhecer
VotO-preliminar da Revista, se baixe o processo
em diligência para que a Secreta-
o Sr. l\llin. Amarilio Benjamin: ria certifique a data da publica-
- Louvo, em primeiro lugar, o ção do Acórdão a fim de se cons-
alto propósito e espírito de libe- tatar a tempestividade, ou não, da
ralidade que preside a proposta do interposição do recurso.
Sr. Min. Revisor. No entanto, não Voto-preliminar (Vencido)
acompanho S. Ex. a , para o que lhe
peço as devidas vênias. Tenho O Sr. Min. Antônio Neder:
para mim que o art. 854, do Có- Data venia do Sr. Min. Rollem-
digo de Processo Civil, não per- berg, entendo que oprocessamen-
mite senão a orientação que pri- to da Revista não admite essa di-
meiramente foi adotada por êste ligência, porque o· art. 854, do
Tribunal: "Art. 854 - O recurso C.P.C., expressa que a petição do
de revista será interposto perante recurso deve ser instruída com
o presidente do Tribunal, nos dez certidão da decisão divergente.
dias seguintes ao da publicação Essa instrução deve ser feita pelo
do acórdão, em petição fundamen- recorrente. A Justiça é que, data
tada e instruída com certidão da venia, não pode promovê-la.
decisão divergente ou com a indi-
cação do número e página do re- Voto-preliminar
pertório de jurisprudência que a
O Sr. Min. Hugo AuJer: - Te-
houver publicado.
nho para mini que o recurso de
O recorrente indicará logo as
revista foi interposto tempestiva-
peças do processo que considerar
mente, porque, se não fôra, o
necessárias, a fim de serem tras-
ladadas no prazo de 15 dias." Sr. Min. Presidente dêste Tribu-
nal não o teria admitido liminar-
Oponho-me à conversão do jul- mente. Segundo pude depreender
gamento em diligência. do relatório, houve uma omissão
da Secretaria ao deixar de certi-
Voto-preliminar ficar a data da publicação do
Acórdão.
o Sr. Min. Armando Rollem-
berg: - Sr. Presidente, como Nestas condições, acompanho o
acentuou o Min. Relator, na as- Sr. Min. Revisor, para que o jul-
sentada anterior tive oportunida- gamento seja convertido em dili-
de de acompanhar S. Ex. a em voto gência a fim de que a Secretaria
através do qual não se conheceu certifique a data da publicação do
do recurso de revista por não es- aresto.
tar documentada no processo a
tempestividade do mesmo. Voto (Vencido)
Entretanto, atendendo à cir- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
cunstância de que o processo ora - Na Apelação Cível n.O 10.057
- 286-

foi prolatado o Acórdão recorri- Secretaria certifique em que data


do, com apoio no voto do Relator, foi publicado o Acórdão na Ape-
Min. Henrique. d'Avila, o qual lação Cível n.o 10.057, de São
subscreveu a sentença de Primei- Paulo, vencidos os Srs. Mins .
ra Instância julgando improceden- Relator e Antônio N eder . Os
te a ação de repetição de in- Srs. Mins. Hugo Auler e Djalma
débito proposta peÍa autora con- da Cunha Meno votaram com o
tra a União para obter devolução Sr. Min. Revisor. O Sr. Min. Hugo
de quantia que pagara, incluindo Auler encontra-se como ocupante
a multa, sem indagação do dolo temporário da vaga ocorrida com
ou culpa. a aposentadoria do Sr. Min. Cân-
Já o Acórdão indicado como dido Lôbo. Não compareceram,
padrão sustenta precisamente o por motivo justificado, os Srs .
contrário (Acórdão na Apelação Mins. Henrique d'Ávila, Godoy
Cível n.o 4.551, da lavra do Ilha e Oscar Saraiva Presidiu o
Sr. Min. Abner Vasconcellos, julgamento o Sr. Min. Cunha Vas-
acompanhado pelo Sr. Min. Revi- conce11os.
sor e Min. Cândido Lôbo). Pos-
ta assim a matéria, em verdade Voto-preliminar
seria de se conhecer do recurso;
não obstante proponho que o Ple- O Sr. Min. Amarílio Benjamin:
nário não conheça da revista, por - Sr. Ministros, realmente, em
isso que, sendo encargo, segundo 22 de março do corrente ano,
o Código de Processo, do recor- trouxe a julgamento ° presente
rente, comprovar a tempestivida- Recurso de Revista de n.O 605.
dade do recurso, essa, na hipótese Fiz ° relatório e, salvo engano,
vertente, não se acha esclarecida. cheguei à enunciação de meu voto,
O recurso foi interposto a 18 de em virtude do qual propus à Casa
novembro de 1960, e o Acórdão que não conhecesse do recurso por
documentado no traslado se refere não estar comprovada a tem-
a julgamento proferido a 3 de de- pestividade. Em seguida o Sr.
zembro de 1959, sem que se te- Min. Armando Rollemberg, repor-
nha feito prova de sua publica- tando-se a manifestações do Tri-
ção. bunal em casos mais ou menos se-
Fiel a êste entendimento, já rei- melhantes, revelou tendência de
terado pelo Tribunal em· várias retificar-se, e dentro disso propôs
oportunidades, inclusive nas ses- a diligência de que dá notícia a
sões anteriores, com a atual com- minuta. O Tribunal, então, por
posição, entendo que a revista não proposta de S. Ex.a, determinou
merece ser conhecida. que de ofício se verificasse a data
de publicação do Acórdão recorri-
Decisão do. A Secretaria cumpriu esta de-
terminação, conforme certidão que
Como consta da ata, a decisão passo a ler: "Certifico, em cumpri-
foi a seguinte: Por maioria de vo- mento ao decidido pelo Tribunal
tos, o Tribunal converteu o julga- Pleno, em sessão de 22 do cor-
mento em diligência,. para que a rente mês, que o Acórdão da Ape-
- 287-

lação Cível n.o 10.057, de São tido de deferir a revista, acolhen-


Paulo, foi publicado no "Diário da do as razões da recorrente no sen-
Justiça" do dia 7 de novembro de tido de que a multa não deve ser
1960". cobrada, uma vez que não ocor-
Pôsto ° assunto, em face dessa reu, na hipótese, dolo ou culpa.
certidão, verifica-se que o recurso Segundo apurei nos autos, êsse pe-
de revista foi interposto dentro do queno atraso resultou de ato invo-
prazo legal,· pelo que meu voto é luntário consistente na falta de
para que se conheça, passando-se, compra oportuna de selos para a
portanto, ao julgamento do mé- quantidade de mercadorias no seu
rito. total, nem sempre previsível ime-
Voto-mérito diatamente. Admito que qualquer
contribuinte, por imprevisão co-
o Sr. Min. Amarílio Benjamin: mum ou êrro de cálculo, deixe de
- Manifestando-me sôbre o mé- adquirir a selagem completa, que,
rito não posso deixar de recapitu- a meu ver, foi o que aconteceu na
lar a matéria que está em causa, hipótese.
para fixar com segurança a tese Cabe ressaltar, finalmente, que
sob a consideração do Tribunal. partiu da recorrente a providên-
O Acórdão recorrido na Apelação cia de antecipar-se a qualquer ini-
Cível n.o 10.057 negou provimen- ciativa do Fisco, pois que, na se-
to ao recurso, confirmando a sen- gunda-feira imediata, compareceu
tença do Dl'. Juiz, que atendeu à repartição e pagou o tributo, sem
pela procedência da ação, à co- que houvesse impugnação.
brança de multa de impôsto do
consumo recolhido pela Compa- Voto
nhia Bmsileira de Linhas para Co- o Sr. Min. Armando Rollem-
ser, com atraso de 48 horas. O
berg: - Entendo que, uma vez
tributo deveria ser recolhido sá-
configurado o ilícito fiscal, está o
bado, e somente o foi na segun-
da-feira seguinte, havendo a re- contribuinte sujeito à aplicação de
partição recebido a importância multa, dado o caráter reparatório
sem qualquer impugnação, isto é, desta, mesmo que, antes de inicia-
quando a interessada pagou ainda da ação fiscal, regularize a si-
não havia nenhuma previdência tuação.
fiscal. Esta é a decisão recorrida. Tal princípio, entretanto, sofre
O Acórdão proferido. na Apelação temperamentos ditados pela le-
Cível n.O 4.551 firmou a tese con- gislação relativa aos diversos tri-
trária. A lei fiscal deve ser inter- butos.
pretada com lógica, compreensão Assim, no que toca ao impôsto
e espírito de justiça. E' a própria de consumo, se o contribuinte, fora
lei, a do impôsto de consumo, apli- das hipóteses a que alude o pa-
cada no caso, que assim dispõe. rágmfo único do art. 200, procura
Há dispositivo expresso. espontâneamente a repartição ar-
Com êsses esclarecimentos es- recadadora para sanar a irregula-
tamos todos em condições de vo- ridade, poderá ser atendido den-
tar o mérito. O meu voto é no sen- tro de dez dias.
- 288-

À época em que o recorrente regularidade ainda na vigência da


praticou a infração, que deu mar- aludida fzgra.
gem à penalidade contra· a qual Dou provimento ao recurso.
se insurge, a legislação admitia,
Decisão
entretanto, a faculdade de, sem
prazo ou prévia audiência da auto- Como consta da ata, a decisão
ridade sanar o I;on- foi a seguinte: Prosseguindo-se no
tribuinte a irregularidade, quando, julgamento, preliminarmente, e
no parágrafo único do art. 195, da por unanimidade de votos, conhe-
C.L.C. dispunha: "Também não ceu-se do recurso e, de meritis,
haverá procedimento fiscal por deu-se-lhe provimento, pela mes-
ma votação. Os Srs. Mins. Arman-
motivo de contravenção sanada
do Rollemberg, Antônio Neder,
por ocasião da visita fiscal." Hugo Auler, Godoy Ilha e Oscar
Assim, não posso deixar de aten- Saraiva votaram com o Sr. Min.
der ao recorrente, pois, embora Relator. O Sr. Min. Hugo Au-
não aceite o acêrto da tese espo- ler encontra-se como ocupante
sada pelo Acórdão padrão, onde temporário da vaga ocorrida com
se entendeu aplicável o favor da a aposentadoria do Sr. Min. Cân-
disposição do art. 195, após revo- dido Lôbo. Não compareceram,
por motivo justificado, os Srs.
gado, tenho que não há como re-
Mins. Henrique d'Ávila e Djalma
jeitá-la em relação ao recorrente da Cunha Mello. Presidiu o julga-
que nêle se apoiou, desde o pri- mento o Sr. Min. Cunha Vascon-
meiro momento, e que sanou a ir- cellos.
- 289-

POSSE
DO EXl\fO. .SR. MINISTRO ANTÔNIO NEDER
ATA DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA
REALIZADA NO DIA 27 DE OUTUBRO DE 1964
PRESIDÊNCIA DO EX.'"o SR. MINISTRO JOSÉ THOMAZ Dk CUNHA
VASCONCELLOS FILHO
SECRETÁRIO: SR. JOÃO PEREIRA DE AGUIAR JÚNIOR

Às quatorze horas, com a pre- da Sessão, convidou os presentes


sença dos Ex.mos Srs. Mins. Hen- a se dirigirem ao Salão Nobre,
rique d'Ãvila, Djalma da Cunha onde seria prestada uma homena-
Mello, Cândido Lôbo, Godoy Ilha, gem ao Ex. mo Sr. Ministro Antô-
Oscar Saraiva, Amarílio Benjamin nio Neder.
e Armando Rollemberg, foi aber- Na ocasião, usou da palavra, em
ta a Sessão. nome do Tribunal, o Ex. mo Sr.
O Ex.IDO Sr. Ministro Presidente Ministro Presidente José Thomaz
convidou os Ex.mos Srs. Milton da Cunha Vasconcellos Filho, dan-
Campos, Ministro da Justiça e Ne- do as boas vindas ao homena-
gócios Interiores, General José geado.
Nogueira Paes, Comandante da A seguir falou, representando a
l1.a Região Militar, Osvaldo Tri- Ordem dos Advogados do Brasil,
gueiro, Procurador-Geral da Re- Seção do Distrito Federal, o Dou-
pública e Desembargador Márcio tor José Hercílio Curado FleurY1
Ribeiro, Presidente do Tribunal de ex-colega de turma do nôvo Mi-
Justiça do Distrito Federal, para nistro, que ressaltou as qualida-
participarem da Mesa. A seguir, des de S. Ex.a e recordou o con-
o Ex.mo Sr. Ministro Presidente, vívio dos bancos acadêmicos.
após agradecer a presençl:j de al- Representando seus Colegas do
tas autoridades civis e militares, Tribunal de Justiça do Rio de Ja-
dos Podêres Executivo, Legisla- neiro, ao oferecer ao Ex.mo Sr.
tivo e Judiciário, declarou que Ministro Antônio Neder as vestes
a primeira parte da Sessão ti- talares, assim se pronunciou o
nha por finalidade dar posse ao Ex.mo Sr. Desembargador Cum-
nôvo Ministro do Tribunal, o plido Sant' Ana:
Ex.mo Sr. Desembargador Antô- "Senhor Ministro Antônio Ne-
nic:> Neder. Designou, então, os der:
Ex.mos Srs. Ministros Henrique Pretor, Juiz de Direito, Desem-
d'A vila, Vice-Presidente do Tribu- bargador, Magistrado de carreira,
nal e Armando Rollemberg para enfim, tendes, Sr. Min. Antônio
conduzirem ao recinto da Sessão Neder, o hábito da toga, e sabeis
o Ex.mo Sr. Ministro Antônio Ne- perfeitamente o que ela significa.
der, o qual assinou o respectivo Não é ela apenas a túnica envol-
têrmo de posse e prestou o com- tória do corpo de quem exerce as
promisso legal. O Ex.mo Sr. Minis- funções judicantes, tanto no juízo
tro Presidente, em seguida, decla- singular como nos tribunais, senão
rando encerrada a primeira parte ainda neste indicativo de alta no-
- 290-

breza, qual a de distribuir justiça pretenda exercitar o concurso de


a quantos pleiteam o reconheci- predicados que se não conseguem
mento de um direito. Sua côr não só porque se alcançou a função
sei porque não continuou sendo julgadora. A sabedoria nem sem-
a purpúrea, que dizia da dignida- pre se recolhe dos livros. Mais fà-
de dos cônsules romanos e de ou- cilmente se a encontra na prudên-
tros magistrados. Se me :não es- cia, no viver discreto e na medi-
capa a perspicácia, foi o orgulho tação. Pelo silêncio falam os san-
dos soberanos que a fêz privati- tos e Deus. Para ser Juiz é pre-
va dêles, porque de púrpura eram ciso saber unir êste e aquêles.
antigamente as vestimentas régias. Coisas são que se contradizem
Mas que maior realeza há sôbre a prudência e o heroísmo, a reco-
a terra que a dos juízes, quando, lhida meditação e o arroubo, o
no desempenho de suas atribui- propósito de bem julgar e a von-
ções, relegam a segundo plano o tade de conseguir a fama fácil, o
teor da própria personalidade para proceder humilde e o querer in-
se apresentarem apenas como a timidar com a ameaça de violên-
encarnação da lei, da norma es- cia.
crita, que a todos iguala para, Sempre fôstes o juiz ideal, por-
assim, dignificar a todos? que humilde, prudente, discreto,
Ao manifestar-vos as despedi- inimigo das glórias fáceis e dos
das do Tribunal de Justiça do Es- arroubos perturbadores e farfa-
tado do Rio de Janeiro, na última lhantes. Por isso, representais o
sessão das Câmaras Reunidas a tipo. ideal do Juiz ideal. Sois se-
que compareceis como desembar- reno e sábio.
gador, tive oportunidade de dizer Estamos certos de que conti-
que a Magistratura era o vosso nuareis a ser o que sempre fôstes,
destino. Realmente, nascestes com Sr. Ministro Antônio Neder. E
os sinais indicativos dela, quais para que exerçais as vossas fun-
sejam o equilíbrio, o gôsto pelo ções, emprestando-lhes a dignida-
justo, o exato conhecimento âo de e a majestade que sempre lhes
Direito, a indissimu1ada obediên- emprestastes, aqui estão as vestes
cia à Lei. Por isso, como magis- que usareis e que os vossos ami-
trado (e, aqui, presto meu solene gos se alegram de vos ofertar.
depoimento) nunca vos afastas- Conservai-a com a mesma a1ta-
tes um só milímetro da estrada naria com que conservastes quan-
que traçastes para o curso da vos- tas soubestes vestir, digna e hon-
sa vida. Vida exemplar. A com- radamente, e sêde feliz."
postura, tão necessária ao homem Finalmente; agradecendo as ho-
menagens que lhe foram tributa-
público, sempre vos foi apanágio
das, discursou o empossado, o
e, devido a isso, vos tornastes mo-
Ex. mo Sr. Ministro Antônio Neder:
dêlo a ser copiado por quantos "Minhas Senhoras e meus Se-
queiram fazer-se respeitados pelos nhores:
que devam ser julgados. A investidura no cargo de Mi-
A verdade é que juízes não se nistro do Tribunal Federal de Re-
improvisam. A arte de julgar é das cursos é, por si só, das mais hon-
mais difíceis e exige de quem a rosas e dignificantes.
-- 291

Quando, porém, ela decorre de soa e às vêzes o domina: há de


indicação e nomeação de dois ho- ser, como diria o nosso Mathias
mens eminen tes, austeros e avisa- Ayres, "prudente e severo, infle-
dos, o notável Presidente Castelo xível sem arrogância, reto sem as·
Branco e o emérito Ministro Míl- pereza, modesto sem desprêzo,
ton Campos, que são amigos da constante sem obstinação".
Justiça, inda mais avulta a sua im- Há de ser austero. e humilde.
portância. .
Austero diante dos jurisdiciona-
Ê grave, pois, a situação em que dos, austero diante dos postulan-
me encontro nesta hora, quando tes, austero diante dos subordina-
me vejo submetido ao exame dos dos, e, sobretudo, austero diante
circunstantes, que por certo pre- de si mesmo. Humilde no coração
tendem vislumbrar neste humilde e pela desambição.
juiz aquêles atributos que noutros
magistrados justificariam a esco- Porque, em sendo austero e hu-
milde, ao juiz sobrará a única au-
lha.
Tanto mais grave é esta situa- toridade que o dignifica: a autori-
dade moral do homem intrlnseca-
ção quanto é certo que a tarefa
de julgar, por ser das mais difí- mente superior e respeitável.
ceis, só deveria ser cometida aos Tais atributos devem comandar
doutos. o comportamento do magistrado
Porque o ju1gar, antes do mais, em qualquer tempo, mas nos dias
impõe ao juiz o dever de revelar que correm devem constituir a tô-
o direito numa norma concebida nica da sua atuação.
para regular casos que ao legisla- Sem dúvida, é em tempo como
dor ocorreram no momento da sua êste nosso que o juiz é chamado
formulação, casos êsses que, na a mobilizar todos os seus atribu-
crua realidade, são diferentes na tos pessoais.
forma e substância, porque nasci- Com efeito, em nossos dias,
dos na vida, que é móvel e pro- quando o fenômeno da <1scensão
gressiva. das massas complica a vida social,
E também porque, ao interpre- impondo ao Estado deveres novos
tar a norma para no seu texto re- de intervenção na vida privada,
velar o direito, a maior virtude cometimento êsse que só se pode
do julgador é a de sobrepor-se a executar com clarividência e cau·
si mesmo, às suas próprias defi- tela nem sempre encontradas no
ciências, aos seus humores e pre- homem de massa, o papel do juiz
conceitos, às suas naturais e por inda mais se agrava, avultando-
vêzes imperceptíveis resistências -se no cotidiano da vida forense,
a uma idéia, a fim de que, na in- porque é a êle que se defere, na
teligência que houver de empres- emergência, a missão, a nobre mis-
tar à lei, não a transforme em ins- são de restabelecer o equilíbrio
trumento de parar a sociedade, ou eventualmente rompido pela atua-
a vida, como se a lei fôsse um gol- ção quase sempre abusiva do ho-
pe de freio no movimento. mem de massa, que, dominado de
Assim, o juiz há de reunir atri- emulação contra as elites, preten-
butos os mais raros para a natu- de comandar o Estado, não como
reza humana que jaz na sua pes~ instrumento do progresso social,
- 292-

mas .de dominação vingativa, que presentando o papel de juiz no


ao fmal destruirá os valôres tão teatro da vida? Cada vez que tive
penosamente incorporados :na ci- de condenar um homem à morte,
vilização. pedia secretamente a sua alma que
Só então cresce o juiz para me perdoass"!: era o meu papel e
transformar-se num quase super- não a minha vontade que profe-
homem. ria a sentença. Sentia-me como Pi-
Só então terá êle como viver a latos e desejaria lavar minhas
sentença que expressa que "tudo mãos pelo sangue derramado, ain-
que é jurídico aspira a ser político, da que fôsse o sangue de um cri-
bem como tudo que é político minoso. Só o homem perfeito pode
pressupõe e reclama o que é ju- jogar a pedra no pecador. E êsse
rídico". homem não existe."
É quando lhe é dado meditar Eis a substância da mensagem
na advertência de um dos grandes que trago nesta hora grave e so-
espírit~s do nosso tempo, que
lene da minha vida de humilde
assim a formulou: "Quando eu era juiz que ascende a um dos mais
magistrado, levava muito a sério altos tribunais do Brasil, por fôr'-
meu cargo, como aliás os cargos ça tão-somente do seu amor à
que tenho assumido. Mas de al- Justiça: ser juiz e não apenas fa-
gum recanto do meu espírito sur- zer o papel de juiz no teatro dá
gla por vezes uma estranha im-
• A ' vida.
pressão: não estaria eu apenas re- Tenho dito."
RELATÓRIO

Apresentado pelo Presidente, Ministro José Thomaz


da Cunha Vasconcellos Filho, referente às atividades
do Tribunal durante o ano de 1964
Senhores Ministros, Antes de iniciar a parte expo-
sitiva dêste relatório, é de meu de-
Por imposição regimental, cum- ver registrar os fatos que mais se
pro o dever de apresentar a destacaram por sua íntima relação
V. Ex. as relatório de nossas ativida- com a própria natureza do Tribu-
des no decorrer do ano de 1964. nal e imediata repercussão em nos-
Esta Presidência, como de seu sa vida funcional. Refiro-me, em
feitio e nos moldes de entendimen- primeiro lugar, ao afastamento de
to manifestado em relatórios ante- dois de nossos mais ilustres e des-
teriores, se restringirá a uma ex- tacados Colegas - os Ex.mos Srs.
posição dos fatos ocorridos, de Mins. José de Aguiar Dias e
maneira racional e objetiva, fican- Cândido Mesquita da Cunha Lô-
do a apreciação dos mesmos cir- bo. Perdeu esta Casa de Justiça,
cunscrita, como de praxe, ao âmbi- com o afastamento do Ex.mo Sr.
to meramente jurídico e funcional. Ministro Aguiar Dias, uma cola-
boração ímpar de valor inestimá-
Instruído que se encontra com vel; e a lembrança de sua pre-
todos os dados estatísticos impres- sença entre nós tornou-se defini-
cindíveis à sua complementação,
tiva, por imposição das qualida-
evidencia um resultado que en-
des do Juiz e do valor do jurista
tusiasma e edifica pela revelação
por êsse nobre Colega sempre re-
da existência de um esfôrço sem-
velados.
pre crescente e que nunca esmo-
rece - nem mesmo diante dos No relatório do ano de 1963,
imponderáveis e dos obstáculos quando focalizei as providências
mais sérios, por vêzes quase in- para que se concretizasse a publi-
transponíveis. cação da Revista do Tribunal Fe-
deral de Recursos, deixei expres-
Ressalto nesta oportunidade, sa uma referência especial àquele
com o merecido destaque e a de- ilustre Magistrado, a cuja direção
vida gratidão, a atuação de quan- fôra a Revista então confiada. E
tos conosco colaboraram, direta ou ainda hoje, ao me referir ao seu
indiretamente, contribuindo, com afastamento, como fato ligado à
dedicação e solidariedade, para própria vida do 'Thibunal, permi-
que esta Casa pudesse realizar, to-me evocar, com emoção, aque-
ainda uma vez, seu destino alto las palavras, que numa homena-
e grandioso, qual seja o de inter- gem respeitosa, quero relembrar
pretar e fazer cumprir as leis, de- e transcrever: "O nome de S. Ex.a
finir o direito, restabelecer a Jus- é o penhor e a garantia de empre-
tiça e defender o império das ga- endimento de tão alta envergadu-
rantias constitucionais relativas ao ra. Basta pronunciá-lo, com a de-
exercício pleno da liberdade e à vida reverência. Desnecessário se
intangibilidade das prerrogativas torna enumerar suas altas quali-
asseguradas pela Lei Maior. dades, pois que já se fizeram há
- 295-

muito conhecidas e solidificadas Tribunal, tomando conhecimento,


no conceito de quantos o admi- através de noticiário veiculado
ram e respeitam como jurista de pela imprensa, de denúncia fei-
raros méritos e cultura realmen- ta ao Excelentíssimo Senhor Pre-
te invulgar." Em conseqüência do sidente Castello Branco, contra
afastamento de S. Ex.a, passou a dois de seus membros, encaminhou
integrar o corpo de Juizes desta ao Chefe do Govêrno, em 25 de
Casa o Ex. mo Sr. Ministro Antô- junho de 1964, um pedido de pro-
nio Neder, cuja projeção como ju- vidências, em representação aSSIm
rista de reconhecidos méritos redigida:
constitui sua melhor bagagem e
mais valiosa credencial. "Senhor Presidente.
A aposentadoria do Ex.mo Sr.
Ministro Cândido Lôbo, que atin- Em data de hoje, a imprensa
giu a idade limite fixada pela falada e escrita noticiou denún-
Constituição para o exercício da cia que teria sido presente a Vos-
Magistratura, feriu fundo a sensi- sa Excelência, por membros inte-
bilidade de quantos com êle con- grantes da Subprocuradoria-Geral
viviam nesta Casa. Ao encerrar a da República, que funciona junto
solenidade de sua despedida, na a êste Tribunal, contra dois de
sessão plenária especialmente con- seus Juízes, os Ex.mos Srs. Minis-
vocada para êsse fim, tive opor- tros Djalma Tavares da Cunha
tunidade de pronunciar algumas Mello e Cândido Mesquita da
palavras que sintetizavam o sen- Cunha Lôbo, sob argüição de fa-
timento que a todos dominava. E tos que se teriam passado no Tri-
aqui as repito, com real e sincera bunal, e que, pela sua gravidade,
saudade: "Senhores Ministros, esta torná-los-iam incursos nas comi-
sala está pejada de emoção. Um nações do § 1.0 do Art. 7.° do
ambiente de infinita tristeza nos Ato Institucional, por se caracte-
penetra n'alma. Em nossos cora- rizarem como atos ofensivos à pro-
ções pairam sensações de angús- bidade da administração.
tia. Esta perturbação tôda surge Estranham os membros do Tri-
de um pensamento: Cândido bunal que, sem o resguardo que
Lôbo, que se vai da nossa convi- seria necessário em circunstância
vência. Esta perturbação nos trou- semelhante, tal· denúncia tenha
xe a alegria de fazer com que o vindo a público, pela via de im-
Egrégio Tribunal, neste momento, prensa escrita e falada, quando, se
se reencontre a si próprio. Aqui exata, somente depois de apurada
estamos experimentando, através
sua veracidade, é que o assunto
de um sentimento, tôda a solida-
riedade que nos momentos supre- deveria ser objeto de noticiário, a
mos não falha e manifesta-se em fim de que se poupasse escândalo
tôda a sua veemência." desnecessário e sempre prejudi-
Ê de meu dever salientar ain- cial à Justiça. Também estranha
da, eis que se trata de aconteci- o Tribunal que servidores subor-
mento que repercutiu diretamen- dinados à alta autoridade do Pro-
te em nossas atividades adminis- curador-Geral da República, não
trativas e judicantes - que êste se tenham dirigido ao mesmo,
- 296-

como autoridade competente para Como é do conhecimento de


semelhante denúncia. V. Ex.a, e de notoriedade pública,
De qualquer forma, o que cum- pelv alarde e pela escandalosa di.
pre agora é a apuração urgente vulgação com que foi o fato pre-
e rigorosa dos fatos denunciados, cedido, o Sr. L° Subprocurador-
para que a responsabilização de Geral da República, e outros Pro-
quem incorrido em ou curadores, seus subordinados, com
de quem haja, infundadamente, exercício neste Tribunal, dirigiram
pretendido lançar descrédito sôbre denúncia à Comissão-Geral de In-
os membros do Poder Judiciário. vestigações, contra os Ex.mos Srs.
Solicita, por isso, o Tribunal, a Ministros Djalma Tavares da
Vossa Excelência, que se sirva de Cunha Mello e Cândido Mesquita
instituir comissão integrada por da Cunha Lôbo;
pessoas do mais alto nível de 2. - ltsse fato foi objeto, por
reputação nos meios jurídicos do parte do Tribunal, dos reparos e
país, para a devida apuração da do pedido de providências presen-
denúncia referida, pôsto que, com te ao Excelentíssimo Senhor Pre-
essa prov~dência, atender-se-á, a sidente da República, nos têrmos
um só tempo, à necessidade urgen- do ofício da Presidência do Tri-
bunal, do qual foi dado conheci-
tee imperiosa da indagação serena
mento a Vossa Excelência.
e imparcial dos fatos denunciados,
como ainda ficarão resguardados 3. Cumpria, assim, aos
o prestígio e o nome do Poder Ju- acusadores, e por sua própria con-
diciário, imperativos indeclináveis dição de membros do Ministério
da ordem democrática." Público Federal, aguardar que a
Posteriormente, na sessão ple- Comissão referida se pronuncias-
nária de 20 de julho de 1964, ten- se, sem outras manifestações, em
do-se agravado a campanha ini- atenção ao resguardo do decôro
ciada pela Subprocuradoria-Geral do Tribunal junto ao qual ser-
da República, e em virtude de vem;
fato superveniente - irregulari- 4. - Assim não sucedeu, con-
dade processual ~ com infrigência tudo, e já por outras vêzes pos-
de dispositivos legais expressos - teriores, buscaram os acusadores
houve por bem o Tribunal tornar a Imprensa, para a reafirmação de
público que, em sessão adminis- suas denúncias;
trativa que acabava de realizar 5. - Mas essa atitude de acin-
naquela mesma data, decidira de- toso desrespeito culminou com a
clarar impedido de funcionar, pe- inserção, no "Diário da Justiça" de
rante esta Côrte, o Ex.mo Sr. Dr. 14 do corrente (páginas 2.320;
1.0 Subprocurador-Geral da Repú- 2.322), das razões de interposi-
blica, pelas razões constantes do ção do recurso extraordinário, nos
ofício mandado inserir em ata e autos do Mandado de Seguran-
cuja transcrição se segue: "Ofício ça n.O 27.224, em que se contém,
n.° 80~GP - Brasília, DF. - Em ao invés de argumentos jurídicos
20 de julho de 1964. próprios ao apoio do recurso, a re-
Senhor Procurador-Geral da Re- petição, por traslado literal, dos
pública. motivos que entenderam consti-
- 297-

tuir fundamentos para a denúncia so a despacho do Presidente do


atrás referida, no que respeita ao Tribunal, somente ocorrido na
Ex.IDO Sr. l'lIhnistro Djalma Tava- tarde do mesmo dia 14 de julho;
res da Cunha Mello, prolator do 10. - O que se verifica, por-
Acórdão reco~Tido, e que encerram tanto, é que, transviados da linha
o mais injurioso conteúdo. de respeito ao Tribunal e aos
6. - Observe-se que a decisão seus Membros, os mencionados re-
recorrida foi unânime e é originá- presentantes do Mi.nistério Públi-
ria do Tribunal, em sua pleni- co Federal, chefiados pelo Dr.
tude; 1. 0 Subprocurador-Geral da Repú-
7. - O Decreto-lei n. O 1.705/ blica, dedicam-se antes a uma
1939, art. 1.0 , lU, veda a in- campanha de denegrimento da
serção no órgão oficial, da Ínte- reputação de alguns dêsses Mem-
gra de razões ou pareceres, e dos bros, sem atender sequer à neces-
quais será publicado apenas o re- sidade imperativa de aguardar o
sumo. E o Estatuto dos Funcioná- pronunciamento do órgão investi-
rios Públicos Civis da União proí- gador, a que já se dirigiram, tra-
be, de modo expresso, ao funcio- zendo para autos em curso nesta
nário (art. 195): I - Referir- Instância os próprios têrmos da
-se de modo depreciativo em in- denúncia ainda não considerada;
formações, parecer ou despacho, 11. - Pelos motivos argüidos,
às autoridades e a atos da admi- o Tribunal tem o Dr. 1.° Subpro-
nistração pública, podendo, porém, curador-Geral da República como
em trabalho assinado, criticá-los incompatibilizado para continuar
do ponto de vista doutrinário ou a exercer, perante êle, as funções
da organização do serviço; de representante da União, por
8. - Também a Lei que rege não manter, em seu exercício, o
a advocacia, o Estatuto da Or- necessário respeito que deve ter
dem dos Advogados do Brasil, para com êsse órgão colegiado, e
prescreve entre os deveres do ad- para cada 'um de seus membros,
vogado (art. 87): IX - Velar individualmente, como já foi co-
pela dignidade da Magistratura, municado verbalmente a V. Ex.a
tratando as autoridades e funcio- e ao Ex.mo Sr. Min. da Justiça;
nários com respeito e independên- 12. - Nessa conformidade, o
cia... - Os membros do Minis- Tribunal, apoiado nos têrmos do
tério Público não se acham imu- art. 23 do seu Regimento, consi.,.
nes a tais proibições e recomen- derou impedido de nêle continuar
dações, e antes, devem observá- a funcionar o 1.0 Subprocurador-
-las mais rigorosamente, em sua Geral da República, e de referên-
condição de advogados da União, cia à designação aí autorizada,
e por lhes ser aplicável o Estatu- vem solicitar a indicação de ou-
to dos Funcionários Públicos Ci- tro membro do Ministério Públi-
vis (art. 19 da Lei Orgânica do co Federal capacitado, e que pos-
Ministério Público da União); sa, desimpedidamente, desobri-
9. - Mas a remessa do texto gar-se dos encargos da La Sub-
a publicar se fêz à Imprensa procuradoria-Geral da República.
Nacional, necessà:riamente, antes Para que não fique, a União pri-
mesmo da apresentação do recur- vada de representante e defensor

20 - 35883
- 298-

nos feitos que correm perante o tuamos que tais papéis vieram re-
Tribunal, resolveu êste, ainda, fa- metidos em caráter sigiloso, e por
zer sobrestar o respectivo anda- isso mesmo, assim se devem con-
mento, inclusive deixando de rea- servar, com os resguardos neces-
lizar os julgamentos em que deva sários em seu arquivamento. Ob-
necessàriamente intervir dito re- servamos também, que os papéis
presentante. Encarecendo, pois, a se compõem de 9 (nove) pastas,
urgência da providência, valho-me das quais a 8.a tem suas fôlhas fi-
nais soltas, numeradas até 436
da oportunidade para reiterar a
(quatrocentos e trinta e seis), e
Vossa Excelência os protestos da seguidas de um têrmo de conclu-
minha mais alta estima e consi- são sem numeração, ao qual
deração. acrescentamos um ofício remetido
a) Vasco Henrique d'Avila por Vossa Excelência.
Vice-Presidente no exercício da Brasília, 13 de novembro de
Presidência". 1964.
Em data de 10 de outubro de a) Ministro Vasco Henrique
1964, por não haver como pro- d J Avila, Ministro Américo Godoy
vados os fatos objetos da referi- Ilha; Ministro Oscar Saraiva.
da denúncia, exarou o Excelentís- Ofício n.O ... Brasília - Em
simo Senhor Presidente Castello ... de novembro de 1964.
Branco, nos autos do inquérito res- Senhor Presidente:
pectivo, despacho com o qual en- Houve V. Ex.a por bem designar
caminhou ditos autos a êste Tri- os abaixo assinados, Juízes dêste
bunal. Cumprindo a determinação Tribunal, para, em comissão, su-
ali contida, designei uma Comis- gerirem o que lhes parecesse mais
são especial constituída dos Ex.mos acertado no concernente aos pa-
Srs. Mins. Henrique d' Ávila, Go- péis remetidos em caráter sigi-
doy Ilha e Oscar Saraiva, à qual loso a V. Ex. a pelo Ex.mo Sr.
foram os aludidos autos presentes Almirante R. Rm. Paulo. Bo-
para as providências de direito. SlS10, Presidente da Comissão-
Na sessão administrativa de 17 de Geral de Investigações, e que
novembro de 1964, foi lido, na constituem os autos do processo
íntegra, o relatório. elaborado pela de investigação sumária levada a
douta Comissão, nos seguintes têr- efeito contra dois Juízes dêste Tri-
mos; bunal;
2. Cumpre recordar que, divul-
"Senhor Presidente: l2:ada com largo escândalo públi-
Em anexo segue o relatório da co, pela imprensa escrita e fala-
Comissão de Ministros do Tribu- da, a notícia de denúncia contra
nal, que Vossa Excelência de- dois de seus Membros pelos Pro-
signou, para se pronunciar sô- curadores da República Mário d~
bre os papéis que constituem Oliveira, êste no exercício da
os autos de processo. de inves- 1.a Subprocuradoria-Geral, Sílvio
tigação sumária, levada a efei- Fiorêncio, Gildo Corrêa Ferraz,
to na Comissão-Geral de Inves- Sérgio Ribeiro da Costa, Geral-
tigações (C. G . I .) contra dois do Fontelles e Laert de Paiva,
Membros dêste Tribunal. Acen- reuniu-se êste Tribunal e resolveu
- 299-

encaminhar ao Excelentíssimo Se- haja incorrido em faltas, ou de


nhor Presidente. da República. ofí· quem haja infundadamente, pre-
cio nos tênnos seguintes: tendido lançar descrédito sôbre os
"Ofício n.o 62-GP - Brasília, membros do Poder Judiciário.
DF. - Em 25 de junho de 1964. Solicita, por isso, o Tribunal,
Senhor Presidente: a Vossa Excelência, que se sirva
de instituir Comissão integrada
Em data de hoje, a itTlpren-
por pessoas do mais alto nível de
sa falada e escrita, noticiou de- reputação, nos meios jurídicos do
núncia que teria sido presente a
país, para a devida apuração da
Vossa Excelência, por membros denúncia referida, pâsto que, com
integrantes da Sub procuradoria- essa providência, atender-se-á, a
Geral da República, que funciona um só tempo, à necessidade ur-
junto a êste Tribunal, contra dois gente e imperiosa da indagação
de seus Juízes, os Ex.mos Srs.
serena e imparcial dos fatos de-
Ministros Djalma Tavares da nunciados, como ainda ficarão res-
Cunha Mello e Cândido Mesquita guardados o prestígio e o bom
da Cunha Lôbo, sob argüição de nome do Poder Judiciário, impe-
fatos que se teriam passado no rativos indeclináveis da ordem de-
Tribunal, o que, pela sua gravida- mocrática.
de, torná-los-iam incursos nas co·
minações do § 1.0 do art. 7.° do Em nome do Tribunal, renovo
Ato Institucional, por se caracte. a Vossa Excelência, os protestos
rizarem como atos ofensivos à de minha mais alta estima e pro-
probidade da Administração. funda consideração".
Estranham os Membros do Tn- a). Vasco Henrique d'Avila -
bunal que, sem o resguardo que Vice-Presidente, no impedimento
seria necessário em circunstâncias ocasional do Presidente;
semelhantes, tal denúncia tenha 3. - Já agora, com desfêcho
vindo a público, pela via de im- das providências sugeridas, vie-
prensa escrita e falada, quando, ram remetidos ao Tribunal os pa-
se exata, sàmente depois de rigo- péis integrantes dos autos de in-
rosamente apurada sua veracida- vestigações sumárias, em cuja con-
de, é que o assunto deveria ser clusão declararam os seus mem-
objeto de noticiário, a fim de que bros componentes, sem embargos
se poupasse escândalo desneces- das advertências que entenderam
sário e sempre prejudicial à Jus- de fazer, que diante do alegado
tiça. Também estranha o Tribu- ep)rovado não se sentiam êles
nal que servidores subordinados em condições de sugerir fôsse apli-
à alta autoridade do Procurador- cada .aos denunciados quaisquer
Geral da República, não se te- das penas previstas no art. 7.°
nham dirigido ao mesmo, como do Ato Institucional;
competente para semelhante de- 4. - Desde logo, e como acen-
núncia. tuado por V. Ex. a no ato de re-
De qualquer forma, o que cum- messa, não veio em anexo o des-
pre agora é a apuração urgente pacho presidencial a que se refe-
e rigorosa dos fatos denunciados, re o ofício da autoridade em ques-
para a responsabilização de quem tão, e da pesquisa levada a efei-
- 300-

to não encontramos a êssepropó- cos de nível superior, que os cre-


sito qualquer texto de publicação denciasse aos pronunciamentos
oficial, não obstante a ampla di- que se permitiram, à margem das
vulgação dada pela imprensa, a denúncias formuladas e fora da
despacho que teria sido proferido; competência determinada pelos
5. - É de se inferir; porém, encargos investigatórios que lhes
que, as foram cometidos;
inquisitoriais levadas a efeito, e 7 - Somente a indicação con-
sem que nelas fôssem incrimina- creta de fato irregular verificado,
dos os Juízes acusados, se preten- ou a incriminação nominal de ser-
desse o Poder Executivo prosse- vidores de sua Secretaria, justifi-
guir nas acusações dos Procurado- caria a atenção do Tribunal para
res referidos, já então na via cons- as medidas corregedoras que ain-
titucional normal, ter-se-ia por da devesse tomar, além das que
certo dirigido ao Egrégio Supre- já adotou, ao propósito dos fatos
mo Tribunal ~ederal, único ór- de que dão notícia os papéis em
gão competente, nos têrmos do exame. Não lhe cumpre, portanto,
art. 101, I, b, da Constituição, para descer de sua posição de órgão
proceder contra Juízes de um Tri- superior do Poder Judiciário da
bunal Federal Superior; União, sujeito, unicamente, em
6. - Por outro lado, não po- seus atos, ao Juízo do Egrégio Su-
dem merecer qualquer considera- premo Tribunal Federal, para re-
ção por parte dêste Tribunal as pelir os impertinentes conceitos e
referências desprimorosas, e as juízos dos bacharéis signatários do
opiniões que constam do relatório relatório, riem adotar, em sua
da Comissão investigatória, inclu- atenção, providências que de sua
sive no concernente aos serviços iniciativa o Tribunal já ordenou;
de sua Secretaria. O encargo da 8. - E: a conclusão necessária
Comissão, nos precisos têrmos do a que chegaram os abaixo-assi-
art. 7.° do Ato Institucional, n:addS, é a de que os assuntos
achava-se circunscrito à investiga- versados nos papéis examinados
ção das acusações argüidas con- não devem ser objeto de conhe-
tra os dois Ministros denunciados, cimento do Tribunal porque: 1)
sem que estivesse investida de au- no que respeita às denúncias ir-
toridade constitucional, ou legal, rogadas aos dois de seus Juízes,
para atribuir-se condição de ór- caberia ao Egrégio Supremo Tri-
gão corregedor do Tribunal, e até bunal Federal apreciá-las na es-
mesmo de simples autoridade cí- fera da normalidade constitucio-
vica, eis que tirante o seu ilustre nal; mas, levada a denúncia ao
presidente respeitável Oficial-Ge- órgão de exceção prevista no
neral do Exército, reformado, mas art. 7.° do Ato Institucional, en-
leigo em assuntos judiciários, os tendeu êste, sem embargo das pró-
dois bacharéis que a integraram, prias tergiversações, que em face
são cidadãos totalmente desconhe- do alegado e provado não se sen-
cidos na vida jurídica do país, e tir em condições de sugerir fôs-
sem o exercício presente, ou pas- sem aplicadas quaisquer das pe-
sado, no âmbito nacional, de fun- nas previstas no art. 7.° do Ato
ções, atribuições ou cargos públi. Institucional; 2) porque, no que
- 301-

toca aos seus serviços, e à com- zo que nos foi dado e sem que os
posição do Tribunal, era o órgão autos saíssem do Tribunal, con-
inquisitorial ora extinto carente de forme o critério adotado, tivemos
competência ou autoridade para oportunidade, apenas, de lê-los sal-
emitir os juízos a que se permi- teadamente".
tiu; Do exame que fizemos, pareceu-
9, e -nos que a remessa ao Tribunal,
como já esteja extinto e se tenha do processo em causa, objetivou,
dissolvido, por fôrça mesmo do antes de mais nada, comunicação
transcurso do período de seu fun- formal e solene dos acontecimen-
cionamento, o órgão de exceção tos, para que, dêles inteirado, pro-
remetente, resta a solução do ar- videnciasse como melhor enten-
quivamento dos papéis, neste Tri- desse. Em verdade, os fatos que
bunal, cabendo apenas, como pro- constituiram o motivo determi-
vidência necessária ao resguardo nante do inquérito, que a C.G.I.
do Poder Judiciário, dar conheci- procedeu, não podem deixar de in-
mento da conclusão da Comissão teressar ao Tribunal, como se de-
investigatória, bem como desta preende da mais simples enume-
providência do Tribunal e dos mo- ração: acusação de crimes, faltas
tivos que a fundamentaram, ao funcionais e conduta irregular de
Egrégio Supremo Tribunal Fe- titulares da Casa, de envolta, na
deral e ao Ex.mo Sr. Dr. Procura- versão do relatório, com deficiên-
dor-Geral da República. cias ou defeitos no funcionamen-
Com o presente, restituímos a to da Secretaria. Não resta dúvi-
V. Ex. a os papéis que constituem da, pois, que se trata de matéria
os autos de investigação a que aci- relevante, pouco importando o ins-
ma fizemos referência, e que fo- trumento de sua apresentação.
ram encaminhados por V. Ex.a ao De certo, ao Tribunal Federal
nosso exame. de Recursos não cabe julgar os
seus Juízes. Mas o exato é que
a) Ministro Vasco Henrique
não se possa ausentar das argüi-
d' Ávila; Ministro Américo Godoy
ções que se levantem contra os
Ilha; Ministro Oscar Saraiva".
mesmos, para determinar o que
Por unanimidade de votos, na esteja ao seu alcance, estabele-
sessão administrativa de 23 de no- cendo medidas que evitem ou cor-
vembro de 1964, foi aprovado o rijam omissões ou intervenções in-
citado relatório, alterando-se sua débitas nos processos, e alteração
conclusão, para o efeito de deixar da rotina da Secretaria, ou che-
de determinar o arquivamento, gando até à apuração de dados
porque em relação aos Ministros necesssários à prova de crimes e
falecia competência ao Tribunal subseqüente remessa dos resulta-
para conhecer e deliberar a res- dos, ao órgão competente, para
peito e não haver indicação de nos processar e julgar. Sob o as-
procedimento contra funcionário" pecto criminal, os Juízes desta
(pág. 572 do Diário da Justiça Côrte, que foram acusados, devem
de 30-3-1965). " ser considerados absolvidos, des-
"O Ex.mo Sr. Ministro Amarílio de que a severa, C.G.I. não encon-
Benjamin: - Nos limites do pra- trou provas bastantes para propor
- 302-

as sanções do Ato Institucional. tia das verbas orçamentárias, que


Quanto ao mais, se, no sentido pu- nos são concedidas, a construção
ramente formal, poder·-se~ia dizer do nosso edifício, nas condições
nada existir, para providenciar, a que as nossas tarefas reclamam.
verdade é que a nós Juízes não Sem, porém, esperar consecução
assiste o direito de fechar os olhos tão vultosa, o Tribunal, por obser-
ou os ouvidos a algo, por mais vação e cuidados próprios, vem,
simples, que nos diga respeito, 8. de algum tempo, encaminhando
nós ou ao nosso juízo, diretamen- ou selecionando várias fórmulas
te ou não. À Magistratura toca o regimentais e orgânicas que per-
supremo sacrifício: o Juiz deve ser mitam, logo, mais rapidez, maior
justo, bom e honesto; não pode responsabilidade e melhor verifi-
descuidar-se das aparências, para cação do statu quo, no que se re-
não dar o menor apoio à malda- fere à tramitação e contrôle dos
de humana e tem que possuir ain- processos. É bem de ver, contudo,
da coragem para, sejam quais fo- que muita sugestão de real mere-
ram as circunstâncias, externar a cimento está ligada à reforma do
sua opinião ou mudar de pensa- Poder Judiciário, que, sendo o Po-
mento, absolutamente convicto do der que menos tem falhado na Re-
direito de, a serviço da justiça, não pública, precisa, não obstante, de
responder penalmente pela inter- remodelação e de novos instru-
pretação que dê aos textos e aos mentos, para a vida atual, uma
fatos. Teremos, portanto, que fixar época terrível de crise, como to-
algum rumo. dos os pensadores acentuam.
Apresentam-se também à nos- Outro elemento a se considerar
sa objetiva os conceitos desprimo- na apreciação dos serviços do Tri-
rosos, dos nossos serviços, atribuí- bunal é que, no fôro, tem que ha-
veis aos ilustres bacharéis que in- ver boa-fé de todos que partici-
tegraram a investigação especial. pam de suas atividades - J uÍ-
Tais increpações carecem de fun- zes ou Ministros, procuradores-
damento e partem de fonte de- oficiais e advogados, servidores e
sautorizada, pois a Comissão não estranhos. Não há, nem nunca
foi incumbida de cogitar do rea- houve, fiscalização que baste,
parelhamento judiciário. Demons- quando alguém se decide ao ex-
tram, igualmente, total desconhe- travio de autos, à supressa, adul-
cimento das contingências que nos teração ou inutilização de peças,
cercam. Quando ao tempo da ins- ou até ao incêndio dos cartórios
talação da nova capital, na febril e palácios judiciais. N essas mal-
azáfama do que se chamou a "ar- versações, como as crônicas de-
rancada para o planalto" o Tribu- põem, o juiz, que perde o contato
nal foi alojado em quatro anda- com o processo, mal o despacha,
res de um prédio, dêsses de vidro, é o menos responsável pelos cla-
da Esplanada dos Ministérios, sem morosos atentados. Fora isso, sà-
quaisquer funcionalidade e segu- mente, o processo deveria morrer
rança. Tudo é improviso ou apro- aqui. No entanto, como já acen-
veitamento. Uma pequena caixa tuamos, o interêsse de qualquer
forte, não se possui. Por isso é que juiz é que nenhuma dúvida paire
estamos diligenciando, na modés- sôbre sua pessoa e conduta fun-
- 303-

donaI. Ora, não sendo o Tribunal zadas, com vigor e entusiasmo, em


Federal de Recursos o órgão com- calorosos e ardentes debates -
petente para processar e julgar nunca lhe quebraram a unidade
os seus Ministros, qualquer deter- ou feriram a inteireza, pois que
minação sua que finalize a inves- sempre foram recebidas com ma-
tigação, será mal interpretada, tan- nifestações positivas de um esfôr-
to mais as paixões subli- ço comum, incansável e ininter-
nham o tema em exame, como em rupto, na pesquisa dos elementos
nenhum outro caso. Os eminentes indispensáveis à formação das
Colegas que a Presidência desig- convicções necessárias à definição
nou para estudar o assunto senti- do direito, à defesa da liberdade
ram o problema. Ao certo, des- e à asseguração plena da Justiça.
sa ponderação é que proveio a Devo declarar, finalmente, que,
idéia de oficiar-se ao Supremo e tendo permanecido afastado do
ao Procurador-Geral, informando exercício da Presidência desta
o que se decidira. Porque tam- Casa, por imposição médica, no
bém atentos a essa particularida- período de 14 de julho a 2
de é que divergimos da propos- de outubro de 1964, comuniquei
ta de arquivamento e de nossa a V. Ex. as , no momento em
vez sugerimos a remessa dos au- que retornei ao vosso convívio,
tos ao Supremo Tribunal Federal, minha disposição inabalável de
para que a última palavra seja renunciar a tão alta dignidade,
sua ou, então, que nos ofícios pro- pelo receio de não poder aten-
postos, excluída qualquer delibe- der às exigências da investidura,
ração nossa, se declare à Côrte em razão da precariedade de meu
Suprema e ao Dr. Procurador-Ge- estado de saúde.
ral, que o processo, malgrado aqui Entretanto, a reação da unani-
os autos, aguardam a manifesta- midade de meus pares, na sessão
-ção conclusiva, dentro das respec- administrativa realizada na tarde
tivas atribuições, que julgarem do mesmo dia da sessão plenária
,conveniente. em que tornei público aquela de-
É o que pensamos, data venia". terminação impediu o êxito de
O Ex.mo Sr. Ministro Presidente: minha iniciativa. E a medida de
- É oportuno ressaltar que êste caráter meramenteadministrati.
Tribunal, por sua própria nature- vo - que eu julgava prudente e
za de órgão colegiado superior in- necessária - não chegou, assim, a
tegrante de um dos três Podêres ser efetivada. Reitero, nesta opor-
da República, foi, é e será, sem- tunidade, os agradecimentos então
pre, uno, indivisível e soberano manifestados pelo apoio que rece-
em seus pronunciamentos, mani- bi de todos os meus eminentes Co-
festando-se, em tôdas as oportu- legas.
nidades, com desassombro, impar- A esta altura, prevaleço-me do
cialidade e equilíbrio, sem quais- ensejo para reafirmar aos meus
quer limitações ou restrições à sua Colegas, ilustres componentes dês-
atividade precípua de julgar e de- te Sodalício, que, não obstante es-
cidir. tar de consciência absolutamente
As divergências doutrinárias tranqüila quanto ao exato e inte-
,entre seus membros - exteriori- gral, intransigente e tanto quanto
- 304-

possível completo cumprimento Pleno; 2.807, da Primeira Turma


dos meus deveres - não só fun- e 4.109, da Segunda Turma.
cionais, estritamente entendidos, Analisando-se, com rigor e obje-
como os de estima, respeito e aprê- tividade, a produção do ano de
ço que devo a um por um de meus 1964, comparada com a de 1963,
ilustres pares - não obstante, re- verifica-se que o decréscimo foi
trazer consciência de insignificante, considerada a re-
tudo isso e sentir palpitar no co- percussão da medidá de caráter
ração um grande amor por esta administrativo, já mencionada, que
Casa e pela função que há 33 anos sustou o recebimento, pelo Proto-
absorve tôda a minha atividade, colo-Geral da Secretaria, de quais-
não terei dúvida em repetir a ati- quer processos vindos da Subpro-
tude anteriormente referida, caso curadoria-Geral da República.
se renovem as razões de então. Levando-se em consideração
ATIVIDADE JUDICIÁRIA êsse esclarecimento necessário à
exata compreensão dos dados aci-
Durante o ano de 1964 deram ma referidos, conclui-se que a pro-
entrada no Protocolo-Geral da Se- dução se realizou em escala as-
cretaria 12.940 processos, incluí- cendente, podendo o Tribunal de-
dos neste total 2.346 pedidos de la se orgulhar, dando-lhe o mere-
suspensão de medidas liminares cido destaque.
ou sentenças, proferidas em man-
dados de segurança. Quero decla- No que concerne à publicação
rar - chamando a atenção de de acórdãos, conseguimos atingir
V. Ex.as para o detalhe bastante a um total nunca superado ou se-
expressivo - que estas cifras re- quer aproximado: as estatísticas
presentam o maior número até revelam 15.457 acórdãos publi-
cados.
hoje registrado, desde a data da
instalação do Tribunal. Ressalto, aqui, os esclarecimen-
Devidamente respeitadas e cum- tos constantes do relatório do ano
pridas as formalidades legais ade- de 1963, que deixaram claro ha-
quadas, ou seja, em audiências pú- ver esta mesma Presidência ado-
blicas ordinárias e extraordinárias, tado medidas de pronta execução,
foram distribuídos 11. 812 feitos, e longo alcance, as quais, tão logo
de diversas naturezas. postas em prática, revelaram o
Apesar da providência de cará- acêrto das providências e possibi-
ter excepcional adotada, pelo Tri- litaram um alto índice de produ-
bunal, relativamente ao impedi- tividade. Relembro assim, com
mento do Dr. 1.0 Subprocurador- justa e natural satisfação, que esta
Geral da República - providên- Presidência, fazendo convergir,
cia que teve como conseqüência para o gabinete de V. Ex. as , o
lógica a paralisação do recebimen- contrôle direto e a responsabili-
to de autos vindos da Subprocura- dade imediata no referente a rela-
doria com os pareceres e recur- tórios, revisão das notas taquigrá-
sos respectivos - o total de jul- ficas e à elaboração do trabalho
gamentos atingiu ao número con- dactilográfico respectivo, ensejou
siderável de 9.311 decisões, assim ao Tribunal, oportunidade de con-
distribuídas: 2.395, do Tribunal seguir no ano de 1964, comparad<>
- 305-

com o de 1963, uma diferença crutamento dos mesmos servido-


para mais de 2.642 acórdãos, e res, recorri, como invariàvelmen-
presteza nunca atingida, na publi- te sempre o fiz, à colaboração de
cação das decisões e dos acórdãos. meus Colegas, concretizada em in-
É ilustrativo, a êsse propósito, dicações pessoais com o melhor
lembrar o que se conseguiu no resultado, sempre adstrito, rigoro-
de Dactilografia. Anterior· samente, às disponibilidades orça-
mente à providência referida, mi- mentárias - o que, indiscrepan-
lhares de votos e notas taquigrá- temente, se verificou em todos os
ficas aguardavam, nas respectivas setores do Tribunal. E é com pra-
prateleiras, o ensejo de adquirir zer que ressalto que dentre tais
forma definitiva para inclusão nos servidores encontra, hoje, o Tribu-
autos, com posterior lavratura e nal alguns dos melhores elemen-
publicação dos acórdãos. Em al- tos de sua Secretaria e entre
guns casos - não poucos - ve-, êstes, afirmou-o, contam-se, em
rificava-se uma delonga de mui- maioria, vários dos indicados por
tos meses e mesmo mais de ano. V. Ex. as
Hoje, com gáudio, para nós, se Por outro lado, devo registrar,
apura que aquêle Serviço, segun- como acontecimento de realce em
do informação oficial de seu Di- nossas atividades judicantes, que,
retor, está rigorosamente em dia, enquanto foram proferidos julga-
já agora entregue à extração de mentos num total de 9.311, os
traslados para a formação de agra- acórdãos publicados atingiram à
vos de instrumento, recursos de cifra, considerável, de 15.457. A
revista e outros. Entretanto, nada diferença para mais de 6.146, ex-
de extraordinário se realizou. Ali- traída dêsses dados comparativos,
viando o Serviço de Dactilogra- é digna de especial: menção e me-
fia dos processos julgados desde recido destaque em favor dos
setembro de 1963, ensejou-se- acórdãos publicados. Todos êsses
-lhe se entregasse, exclusivamen- elementos revelam, incontestàvel-
te, ao acervo do ano antedor. E mente, o clima de harmonia, com-
o serviço de extração de trasla- preensão e trabalho reinante no
dos, também enormemente atra- Tribunal Federal de Recursos,
sado, pois que estava afeto às Se- bem como o ritmo sempre cres-
ções respectivas, Apelações e Re- cente e o alto nível de sua produ-
cursos - que, dada a grande so- ção.
ma de outros processos em curso A Presidência recebeu para des-
dêles não conseguia desvencilhar- pacho sete recursos ordinários,
-se a tempo - foi deslocado para tendo sido admitidos seis e dene-
o Serviço de Dactilografia, onde gado um. Foram, também, sub-
se desenvolve com presteza e exa- metidos à apreciação da Presidên-
cia 1.043 recursos extraordiná-
tidão.
rios, dos quais 468 foram admiti-
A fim de atender às exigências dos e 575 denegados. Em cumpri-
dessa reorganização, fui, é verda- mento a dispositivo regimental ex-
de, levado a admitir um pequeno presso, foram proferidos despachos
número de servidores contratados, que puseram têrmo a 597 proces-
notadamente datilógrafos. No re- sos, em virtude de deserções de-
- 306-

ereta das por falta de preparo no maioria, elementos indicados por


prazo legal. meus eminentes Colegas - rigoro-
À conta da verba orçamentária, samente dentro de nossas possibi-
foram expedidas 75 ordens de pa- lidades e respeitadas as disponibi-
gamento, num total de ........ . lidades orçamentárias, como já fi-
Cr$284.816.689 e 66, precató- cou acentuado.
rias tramitaram por esta Restabeleceu-se o sistema de
durante o ano de 1964. ponto, observadas normas especí-
ficas relativamente ao seu funcio-
ATIVIDADE namento, sob contrôle direto de
ADMINISTRATIVA cada Diretor de Serviço e subor-
dinação imediata do Diretor-Geral
Reporto-me, com natural satis- da Secretaria. Passou êste, igual-
fação, às afirmativas feitas em mente, a responder pela extração
tôrno do ambiente de disciplina, de certidões, as quais, sem exce-
união e cordialidade que propi- ção, só serão fornecidas mediante
ciou ao Tribunal mais uma de- requerimento escrito dos interes-
monstração de sua eficiência no sados, pelo mesmo Diretor-Geral
tocante aos trabalhos executados prévia e devidamente assinado e
pelos diferentes setores da Secre- despachado.
taria.
De referência aos problemas di-
Os dados estatísticos, que ilus-
retamente ligados à movimentação
tram e completam êste relatório,
de pessoal, adotou o Tribunal pro-
confirmam o grande volume de
vidências oportunas e necessárias,
autos que tramitou pelos diversos
através do deferimento de várias
Serviços, pois que os trabalhos da
pleiteações. Assim, a pedido dos
Secretaria se desenvolvem na pro-
interessados e instruídos os pro-
porção direta do próprio Tribu-
cessos respectivos com os docu-
nal, que depende da colaboração
de seus servidores para tornar efe- mentos indispensáveis e essen-
tiva a sua produção. dais, foram concedidas e efetivas
Como medida de justiça, devo duas permutas definitivas de fun-
consignar, louvando o esfôrço dos cionários do Quadro da Secreta-
servidores, em geral, que essa co- ria com dois outros de órgãos se-
laboração constitui elemento cha- diados no Estado da Guanaba-
ve do êxito de tôdas as nossas rea- ra: um do Tribunal Regional
lizações; e, no ano de 1964, foi ela do Trabalho e outro da Corre-
expressiva, relevante e digna das gedoria do ,Tribunal de Justiça
mais elogiosas referências. daquele Estado. A fim de pos-
Para enfrentar as dificuldades sibilitar uma das aludidas per-
decorrentes da sobrecarga de tra- mutas, o Tribunal, fundado em
balho, ocasionada pela produção parecer específico elaborado pelo
record de V. Ex.as , procurei do- DASP em oportunidade semelhan-
tar a Secretaria de mais al- te, deliberou conceder, a pedido,
guns elementos em número que transformação, por decesso, de um
se revelou como ~ecessário e im- cargo de Diretor de Serviço, de
prescindível, mas o fiz de manei- provimento efetivo de acôrdo com
ra restrita - admitindo, em sua a organização do Tribunal, em
- 307-

outro da classe final da carreira tro lado, na sessão administrati-


de Oficial. Em decorrência, foi va de 29 de setembro de 1964,
possível a efetivação, como Dire- foi constituída uma Comissão in-
tor de Serviço, de funcionário que tegrada por todos os Diretores da
vinha desempenhando, interina- Secretaria para, no prazo de 45
mente, essas funções. Foi também dias, formular projeto de reorgani-
deferida a readmissão de um ex- zação dos diferentes Serviços, ten-
funcionário concursado do Quadro do em vista o roteiro de trabalho
da Secretaria, subordinando-se a e os princípios diretores da refor-
execução da providência à verifi- ma a se efetuar.
cação da vaga a ser preenchida, Objetivando dar melhor aten-
na forma do art. 63, do Estatuto dimento às pretensões do Setor
dos Funcionários Públicos Civis de Enfermagem, diretamente li-
da União. Na conformidade do gado à saúde e bem-estar dos fun-
cionários, bem como dos Ex.mos
art. 178, item 3.°, do mesmo Es-
Srs. Ministros, conseguiu esta
tatuto, foram aposentados me-
Presidência autorização. do Tri-
diante prova de incapacidade fí-
bunal para aquisição de uma ca-
sica, quatro funcionários, sendo 1
Ajudante de Porteiro, 2 Auxilia- mioneta a fim de atender à res-
pectiva assistência domiciliar.
res de Portaria e 1 Eletricista. Fo-
Não poderia encerrar estas con-
ram ainda aposentados, por tem-
siderações sôbre nossas atividades
po de serviço, 1 Taquígrafo e o
administrativas no decorrer do
Diretor-Geral da Secretaria.
ano de 1964, sem fazer uma re-
O Tribunal, pela unanimidade ferência especial à "TFR-Jurispru-
de seus Juízes, na sessão adminis- dência", Revista do Tribunal Fe-
trativa realizada em 17 de novem- deral de Recursos. Na sessão ad-
bro de 1964, lastimou o afasta- ministrativa realizada em 21 de
mento do Sr. João Pereira de maio, V. Ex.as aprovaram, com
Aguiar Júnior, Diretor-Geral da aplausos e por unanimidade, a in-
Secretaria, pelos relevantes, no- dicação feita, por esta Presidência,
bres e leais serviços que lhe pres- do nome do Ex.mo Sr. Ministro
tou durante sua permanência nos Armando Rollemberg para o car-
cargos que desempenhou. Ainda go de Direto.r da Revista do Tri-
no tocante a pessoal, na sessão bunal, lugar considerado vago com
Administrativa de 11 de setem- o afastamento de nosso nobre e
bro de 1964, determinou o Tribu- eminente Colega, o Ex.mo Sr. Mi-
nal o levantamento geral dos fun- nistro Aguiar Dias. A realidade
cionários da Secretaria, para orga- que é hoje a Revista do Tribunal
nização de projeto a ser enviado Federal de Recursos, interessando
ao Congtresso Naci:onal, discipli- a todos os setores de atividade ju-
nando o assunto, tendo sido de- diciária e cultura jurídica dOi Bra-
signados os Ex.mos Srs. Ministros sil, que a procuram com insistên-
Oscar Saraiva, Amarílio Benjamin cia e o máximo interêsse está a
e Armando Rollemberg para, jun- demonstrar a segurança das mãos
tamente com o Presidente da e o superior critério daqueles a
Casa, providenciar o cumprimen- quem sua feitura foi em boa hora
to daquela determinação. Por ou- entregue.
- 308-

É com prazer que deixo consig- sentido de apresentar, a V. Ex."'


nada, neste relatório, referência um resumo, tanto quanto possí-
expressa aos visitantes ilustres vel circunstanciado mas objeti-
que, com sua presença, honraram vo, de nossas atividades no de-
o Tribunal Federal de Recursos correr do ano de 1964. Para
durante o ano de 1964: Ex.mo Sr. fins de consulta, cotejo e escla-
Doutor Mílton Campos, DD. Mi- vai instruído. de to-
nistro da Justiça e Negócios Inte- dos os dados estatísticos que com-
riores; General Riograndino Kruel, provam as afirmativas feitas. Ten-
Chefe do Departamento Federal do procurado demonstrar, de ma-
de Segurança Pública; Dr. Plínio neira incontestável, que a produ-
Cantanhede, Prefeito do Distrito ção dêste Tribunal, durante o ano
Federal; Dr. Adroaldo Mesquita de 1964, merece especial destaque
da Costa, Consultor-Geral da Re- por se haver verificado em esca-
pública; Desembargador Oscar la ascendente comparada com a
Tenório, Presidente do Tribunal dos anos anteriores, sinto a tran~
Regional Eleitoral do Estado da qüilidade de consciência que só
Guanabara e Dr. José Luiz Pinto nos pode vir do cumprimento exa-
Coelho de Oliveira, Presidente da to de todos os nossos deveres.
NOVACAP. Apresento aos ilustres Colegas,
Quero assinalar, ainda, a reelei- a cuja colaboração foram possí-
ção de S. Ex.a o Sr. Ministro veis os notáveis resultados acen-
Henrique d' Ávila, nosso prezado tuados, os agradecimentos muito
Colega e Vice-Presidente desta sinceros e as saudações mais cor-
Casa, para completar, como Juiz diais da Presidência.
efetivo, a composição do Tribunal
Superior Eleitoral. Brasília, 15 de março de 1965.
Êste relatório resultou de um a) José Thomaz da Cunha Vas-
trabalho meticuloso e honesto no concellos Filho - Presidente.
o
PROCED:Il:NCIA DOS FEITOS EM NÚMERO DE 12 940 ENTRADOS NO TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
EM 1964

Ape- Con- Exce- Mando Re- Re- Re- Sus-


Ape- I I Ações Ilações Cartas Cartas flitos ções Habeas Sego visões cursos cursos Reela- pensões
ORIGEM lapõ~s Agravos ~esci- Cr.i- Testem. Precato de de Corpus Agravo Cri- Cri- de Repres. de I Total
mações
CIVeIS BOrlaS ml" Ju- Sus- em mi~ nU- Re- Segu-
uais risdo peil'ão Mand. nais nais vista rança
, - - - , - - - , - - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , .___ ,____ ,___ •___ ._.--.·_--j----I----!-·~._-

Amazonas ....... , ...... 1 42 156 199


Alagoas ................ 7 15 9 7 38
Bahia ..... o........... 14 16 10 42 8 91
Ceará ........ .... ..... 8 12 90 11 121
Distrito Federal.. ...... 86 17 158 21 301
Espírito Santo ........ o 13 11 36 7 67
Goiás .................. 8 12 12 32
Guanabara ....... ". ". 702 157 26 38 8 2.198 485 3.619
Maranhão............. 10 1 2 76 15 104
M ato Grosso ........... 9 17 27 54 107
Minas Gerais..... ... , . 248 194 496 82 1.029
Pará .................. 7 7 31 683 730 CN
Paraná ................ 15 19 348 37 421 O
\O
Paraíba ................ 10 13 4 12 30 69
P~rn~mbuco ............ 37 31 8 39 116
Plaul ........... , ... ". 1 3 25 43 75
Rio de Janeiro ......... 33 38 4 180 15 271
Rio Grande do Norte .. 11 17 5 33 39 105
Rio Grande do Sul. ... 140 67 12 4 285 6 522
Santa Catarina ......... 63 10 87 9 169
Sergipe ................ 5 16 21
São Paulo ............. 194 528 17 15 2 14 3.361 599 4.733
Acre ..................
Territ6rio do Amapá.. o
Território do Guaporé ..
Território do Rio Branco
Territ6rio Federal de
FerI\aI\do de No.ronha
•_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •____ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ •_ _ _ . - - - . - _ - . -_ _ 0 - - - -

TOTAL .......... . 1. 617 I 1.190 57 66 5 6 55 I 7.572 15 2.346 I 12.940

Tribunal Federal de Recursos, em 15 de março de 1965


a) Fíancisco Soares de Maura
Diretor-Geral da Secretaria
PROCESSOS JULGADOS PELO TRIBUNAL PLENO DURANTE O ANO DE 1964

Ag.
do Mat.
ESTATÍSTICA Ag. art. 4.° Emb. Mat. Const./
TRIBUNAL PLENO Rec. Ex- do Sus- da Man- Emb. Emb. Emb. Ag. Re- Const./ Agravo Re- I Con- Re-
SESSÕES REALIZADAS Ra- de tensão art. 45 pensão Lei dado na no Ação Man- curso Man- de pre- Re- flito visão
beas Ra- Ra- do de 4.348 de Ape- Agravo Res- dado de dado Man- sen-I oh· de Cri-
~~?~~i~~N ÁR:ls = 18 Cor- beas beas Reg. Segn- 64- em Segu- lação de cisó~ de Re- de dado ta- ma- Jur\s- mi- Total
TOTAL = 2.395 pus Cor- Cor- In- rança Sus- rança Cível Pe- ria Segu- vista Segu- de ção ~ãG dição nal
ANO = 1964 pus pus terno pensão tição rança rança Segn-
de rança
Segu-
rança
1 - - I - - I_ _ I _ _ I _ _ I _ _ I _ _ I _ _ I _ _ I _ _ I _ _ ' _ _ ' _ _ ' _ _ I _ _ l _ _ ~I. _ _ 1_ _ • _ _ __

Ministro Cunha Vasconcellos............... 1.207 1.215


Ministro Renrique d' Ávila .... , ............ 4 9 496 4 12 28 569
Ministro Djalma da Cunha Mello .......... 8 2 4 10 69 2 13 1 I 5 125

Ministro Cândido M. C. Lôbo ............. 10 2 16 42 13 86

Ministro Godoy. Ilha ...................... 4 12 56 2 21 110

Ministro Oscar Saraiva .................... 11 6 13 50 13 100


....f.i.>O
Ministro Amarilio Benjamin ................ 3 10 8 2 2 35

Ministro Armando Rollemberg ............. 3 15 51 - I 14 96


Ministro Antônio Neder ................... 2

Ministro Aguiar Dias ...................... - I 2

Ministro Hugo Auler ...................... 7 16

Ministro Márcio Ribeiro ................... 2 5


Ministro Raimundo Macedo ................ 12 16
Ministro Colombo Cerqueira ...............

Ministro Colombo de Sousa ........... , ... , I - I- I - I - I - I - I - I 7 7


1 - - 1 - - 1 - - - - 1 - - 1 - - 1 - - 1 - - 1 - - 1 - - 1 - - 1 - - ' - - ' - - , · _ - , - - , - - , - - - ,_ _ • _ _ _ _

TOTAL ............................. . 77 31 12 11.703 97 I 327 11 3 2 89 2 12 4 I 2.395

a) Francisco Soare8 de Moura


Diretor-Geral da Secretaria
PROCESSOS JULGADOS PELA 1.8 TURMA DURANTE O ANO DE 1964

ESTATíSTICA Revo.
_ 1.. TURMA Ape- Re- Ag. Emb. Emb. Emb. Emb. Ag. gação
SESSOES, REALIZADAS: lação cursp Mand. Agravo Agravo Ape- DeeIa- DeeIa- DeeIa- DeeIa- Instru- Carta Desis-
I de
ORDINARIAS: ;- 59 Cri- Cri- de de de lação ração! raçãol raçãof raÇão! mento! Testem tências Medida I Total
EXTRAORDINARIAS: - 4 mi- mi- Segu- Petição Instru- Cível Ag. Ag. Ag. Ag. Ag. mUnhá-1 Romo- de
TOTAL JULGADO: - 2.807 nal nal rança menta Cível Petição Man- Instru- Man- vel logadas Segu-
ANO - 1964 dado mento dado rança
Ministro Henrique d'Ávila ... " ..... ,., ... ) - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - - - , - - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - - , - - -
529 50 4 69 665
Ministro Cândido Lôbo .................. . :I 615 116 4 89 2 4 837
Ministro Amarilio Benjamin .............. . 608 46 3 53 2 1
I 721

Ministro Aguiar Di................. , ., .. . 76 13 90


w
Ministro Hugo Auler ............•...... , . 365 2 2 373 ....
.....
Ministro Raimundo Macedo .............. . 31 25 56
Ministro Colombo de Sousa .............. . 5 11
Ministro Colombo Cerqueira ...... , " .... . 49 50
Ministro Márcio Ribeiro ...... " ......... .
Ministro Sousa Neto .................... . 2

----------------}---,---,---,---,---,---,---,---,---,---,---,---,---,---,---
TOTAL ............................ . 10 2.282 227 12 244 13 2 2.807

Brasília, D.F. 15 de março de 1965


Ca) Francisco Soares de Moura
Diretor-Geral d. Secretaria
PROCESSOS JULGADOS PELA 2. a TURMA DURANTE O ANO DE 1964

ESTATíSTICA
2." TURMA Agravo Ag. Emb. Emb. Emb.
SESSÕES, REALIZADAS: em Agravo Agravo Carta Instru- Decia- Decla- Decla-
ORDINARIAS:,73 Apelação Recurso Mandado de de Apelação Testemu- mentof raçãof raçãof raçãof Total
EXTRAORDINARIAS: 6 Criminal Criminal de Petição Instru- Cível nhóvel Ag. Ag. Ag. AP.
TOTAL J'ULGADO: 4.109 Segu- mento Man- de Man- Cível
ANO - 1964 rança dado Petição dado
---- ---- ---- - - - ---- ---- ---- - - - ---- - - - - - - - - ----
Ministro J. T. Cunha Vasconcellos Filho .. " . - - - - - - - - - 1 - 1

Ministro Dialma Tavares da Cunha Mello ... 5 - 572 57 2 120 - 1 - 1 1 759

4 785 178 3 303 1 1 1 1. 280 ,)


Ministro Americo Godoy Ilha" .. " " .. " " . 1 - w
Ministro Oscar Saraiva ... " " " ....... " ... 6 2 569 119 2 169 - - 3 4 874
....
- ""
Ministro Armando Rollemberg ............ , .. 5 1 676 165 6 203 2 - - 3 1 1.062

Ministro Márcio Ribeiro" ... " " " " ....... 1 1 18 1 - 108 - - - - - 129

Ministro Sooos Neto ............ " ......... - - - - - 4 - - - - - 4

---- ---- ---- ---- ---- - - - - - - - - - - - ---- - - - - - - - - - -


TOTAL ... " ................. " .. " ... 21 5 2 620 520 13 907 3 1 1 11 7 4.109

-~-- ~---
- _ .. _ - - --- - --

Brasília, D.F. 15 de março de 1965


Ca) ~ Francisco Soares de Moura
Diretor-Geral da Secretaria
íNDICE ANALÍTICO
-Á-
ABONO
Páginas
Abono de 20% da Lei 3826/60, Artigo 7.°. Ilegal sua incor-
poração aos vencimentos. Ag. Mand. S·eg. 31. 531-DF . 195

ABONO
Concedido pela Lei 3531, de 19-1-59 se inclui para efeito do
cálculo da totalidade percebida, tendo em vista a garantia de
remuneração não inferior ao salário mínimo. Ap. CíVBl 16.750-GB. 59

AÇÕES
Propriedade dos desdobramentos acionanos. Constituem aces-
sórios dos títulos principais, pertencendo pois ao mesmo pro-
priBtário. Ap. Cível 19. 517-GB. ........................ 106

ACUMULAÇÕES DE CARGOS
Antes de 1937. Situação do militar. Aplicação do art. 24 da
Constituição de 1946. Ap. Cível 7.036 (Embargos) - DF ... 15

-B-
BENS DE NACIONALIDADE DESCONHECIDA
Arrecadação. Não podiam vàlidamente ser arrecadados para re-
parações de guerra'. Ap. Cível 19. 517-GB. . ............ . 106

-c-
CARGO DE CHEFIA
Equivalência com função gratificada de chefia, principalmente
se as atribuições e responsabilidade se equivalem. Apelação
CÍvBl 14. 892/SC. . ...................................... . 27

CARGO EM COMISSÃO
Quando de caráter permanente, deve ser assegurada a percepção
dos vencimentos ao servidor afastado, até seu aproveitamento
em cargo equivalente, se contar mais de dez anos ininterruptos
no cargo. Ap. Cível 14.892-SC....................... .. 27

CARTA ROGATÓRIA
Aplica-se o art. 363, do C. P . C. nos casos em que a legislação
estrangeira não possibilita o seu cumprimento. Reclamação 92-GB. 273

CITAÇÃO
A falta de citação somente é suprida pelo comparecimento do réu
quando êste se dá de f.orma regular. Ap. Cível n.o 19.41l-MT. 101
- 316 --

CLÁUSULA DEL CREDERE o

Páginas

Impôsto do Sêloo Apelação CíveL 13 o910-SP. 22

CLÁUSULA REBUS SIC ST ANTIBUS


Empreitada de obras públicas. Quando se configura a aplicação.
Apelação Cível 18, 492-GB. ., .. o o ...•. o . o o o o . o o o . o o o o .. o o . o 79

COISA JULGADA
Não é a aeden adio senão o aeden questio o que constitui coisa
julgada o Ap. Cível 13. 992-GB. o o........... o... o o o o o o . o o o . 25

COMPETÊNCIA
Ação movida pela Petrobrás o Competência recursal do Tribunal
Federação de Recursos o Desapropriação indireta o Ap o Cível
18.327·BAo o o o o. o o. o o. o o o o . o o o.. o o.. o' o .. o o o o .... o . o. o o. 75

CONCURSO
Sustação ou suspensão pelo Ministro do Trabalho de concurso
para cargo de conferente de carga e descarga o Impossibilidade.
Mand o Seg. 29. 869-DFo o o o o o o o o o o . o o o . o o o o . o o o o o . o o o o.... 164

CONFERENTES DE CARGA E DESCARGA


Competindo aos Conselhos das Delegacias do Trabalho Marítimo
o preenchimento de cargos de conferentes de cargas e descargas,
não pode o Ministro do Trabalho sustar o concurso realizado.
Mand o Segurança 29 o869-DFo o o o o o o. o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o.. o 164

-D-
DANOS DE GUERRA
Satisfação declarada pelo Decreto 51. 993 de 1963 o Apelação
Cível 19. 517-GBo o' o o o o o o o o o o o o o oo o o o o o. o o o o o o o o o o o o o o o o o. 106

DECISÕES ADMINISTRATIVAS

Exigência do quorum de cinco Ministros titulares, inclusive o


Presidente, que tem direito a voto. Mando de Segurança 440905-DF. 238

DECLARAÇÕES PRESTADAS NA POLÍCIA


Embora retratada em juízo, fazem prova de autoria, desde que
corroborados por outros elementos do processo o Apelação Cri-
minal 1 o046-SP. o. o o o o o o o o o o o o o oo o o o o o o . o ...... o ......... . 112

DESAPROPRIAÇÃO
Indireta o Fixação do valor do bem que dela foi objeto e do
período de sua ocupação. Apo Cível 18.327-BA. . o o o o o o o o o o. 75

DIREITO DE PREFERÊNCIA
Usufrutuário. Só pode exercer o direito à subscrição dos aumen-
tos de capital quando o proprietário haja renunciado expressa-
mente ao privilégio o Ap. Cível 19 o517 -GBo . o o o.. o o o o o o o o o . 106
- 317-

-E-
ELEIÇÃO SINDICAL
Páginas
Anulação. Quando regular não é passível de anulação. Mand.
Segurança 31. 982-DF ........................... , ........ . 209

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Cabimento. Quando procedem. Ação rescisória. Procedência
quando o resultado do julgado foi no sentido de receber os
embargos infringentes. Apelação Cível 16.159-GB. (Embargo
de Declaração) .......................................... . 48

EMPREITADA
Obras públicas. Cláusula rebus sic stantibus. Condições em que
se configura. Ap. Cível 18.492-GB. . ...................... . 79

EMPRÊSAS DE MINERAÇÃO

Sócios estrangeiros. A Constituição não encampa a proibição in-


cisiva do direito anterior mas, é certo que se impõe lei regula-
mentadora da proporcionalidade de capital estrangeiro. Mand.
Segurança 31. 58 l-DF..................................... . 197

EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
Da promessa de mútuo não decorre dir·eito à outorga de con-
trato. Ag. Mand. Segurança 31. 260-GB .................... . 179

ENQUADRAMENTO
Cargo de procurador. Servidores incumbidos de, a título pre-
cário, desempenhar aquelas funções, não fazem jus ao enquadra-
mento. Ag. Mand. Segurança 33.372-GB.................. . 224

ENQUADRAMENTO PROVISÓRIO
Mandado de Segurança. Funções gratificadas. Símbolos de venci-
mentos. Ag. Mand. Segurança 33. 450-GB ................. . 228

ENQUADRAMENTO' PROVISÓRIO

Não há direito líquido e certo a tutelar, tratando-se de classifi-


cação provisória. Ag. Mand. Seg. 29. 988-GB. . ............ . 175

ESCREVENTE

Aposentadoria com os benefícios e as vantagens a que fazem jus


os tabeliães de notas. Improcedência. Ap. Cível 15.531-GB. . . 34

ESTAMPILHAS FALSIFICADAS

Acão criminosa. Condenacão. Constitui crime o uso de estam-


pÜhas falsificadas. Ap. Criminal 1. 051-PI. ............... . 115

ESTATíSTICA

Procedência dos feitos entrados no Tribunal no ano de 1964 .. 307


- 318-

ESTATÍSTICA
Páginas

Processos julgados pela l.a Turma durante o ano de 1964 ..... . 309

ESTATÍSTICA

Processos julgados pela 2.a Turma durante o ano de 1964 ..... . 310

ESTATÍSTICA
Processos julgados pelo Tribunal Pleno durante o ano de 1964 .. 308

ESTRANGEIROS

Emprêsas de Mineração. Sócios. A Constituição não encam-


pou a proibição do direito anterior mas, se impõe a lei regula-
mentadora da proporcionalidade do capital. Mandado de Segu-
rança 31. 581-DF ........................................ . 197

EMPRÉSTIMO DE ACÓRDÃO DO TRIBUNAL

Mandado de Segurança. Denegação por inexistência de excesso


do juiz-executor. Mand. Seg. 39. 326-SP. . ................ . 234

EXECUTIVO FISCAL

Nulidade. Fiscalização cabível. A ação própria para anulação de


sentença final ou despacho que decide logo o mérito dada reve-
lia do réu, é ação rescisória. Ap. Cível 16.159-GB (Embargos) 41

EXPORTAÇÃO

Cota de previdência social. É devida pelo exportador na base


de 6%. Ag. Mand. Segurança 32.41O-RS. . .............. . 222

EXTRANUMERÁRIO

Estabilidade. Funções de natureza transitória. Não foram abran-


gidas pela lei de estabilidade. Ap. Cível n.O 15. 783-GB. .... 40

-F-
FIANÇA ADMINISTRATIVA

Impôsto do sêlo. Não incide sôbre fiança administrativa para inter-


posição de recurso. Rec. Revista 533 (Na Ap. Cível 6.432-SP.) 280

FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Abono. A garantia de vencimentos não inferiores ao salário


mínimo compreende a totalidade da remuneração percebida.
Ap. Cível 16. 750-GB. . ................................ . 59

FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Enquadramento provisório. Não há direito líquido e certo a tu-


telar, tratando-s·e de enquadramento prov,isório. Ag. Mand.
Segurança 29. 988-GB. . ................................. . 175
- 319-

FUNÇÕES GRATIFICADAS
Páginas
Enquadramento provisório. Malldado de Segurança. Símbolos
de vencimentos. Ag. Mand. Segurança 33. 450-GB. 228

-G-
DE NÍVEL UNIVERSITÁRIO
Abono de 20% da Lei 3826/60, art. 7.0. Sua incorporação aos
vencimentos. Ilegal a incorporação da gratificação de nível uni-
versitário e do abono. Ag. Mand. Sego 31. 531-DF. . . . . . . . . 195

-H-
HABEAS CORPUS
Condenado o paciente e prêso em vhtude da mesma condenação,
inexiste ilegalidade a coibir. H. Corpus 1.266-DF. . ........ . 118

HARMONIA DOS PODÊRES


Art. 36 da Constituição. Diz respeito não só ao aplce dos po-
dêres, mas a todos os órgãos e membros da administração pú-
blica. Mand. Segurança 44. 905-DF. . ...................... . 238

HORÁRIO DE TRABALHO
Regime de 43 horas semanais. Aos Tesoureiros e Tesour,eiros-
Auxiliares não se aplica art. 5.° da Lei 2.188. Apelação Cí-
vel 16. 245-GB. . ....................................... . 53

-1-
IMPÔSTO DE LUCRO EXTRAORDINÁRIO
Ainda que de emergência o Dacreto-Lei 6224, promulgada sem
prazo certo, só perde a validade quando ab-rogado. Ag. Peti-
ção 15. 831-MG. . ....................................... . 1

IMPÔSTO DE RENDA
Invernista . Ê de se considerar o valor do gado magro ao ser
comprado. Ag. Petição 22. 208-SP. . ..................... . 11

IMPÔSTO DO SÊLO
Cláusula deZ credere gera garantia que sujeita o contrato de
consignação ao tributo. Ap. Cível 13.910-SP.............. . 22

IMPÔSTO DO SÊLO
Não incide sôbre fiança administrativ,a para interposição de
recurso. Rec. Revista 533 (Na Ap. Cível n.O 6.432-SP.) . . . . . 280
INALIENABILIDADE
Operações imobiliárias com os institutos. Deve ser entendida
como mera garantia a favor dos institutos, e na permanente
restrição à propriedade. Ap. Cível 17.461-GB.............. . 61
- 320-

INCORPORAÇÃO DE VANTAGENS
Páginas
Ilegal a incorporação aos vencimentos de funcionários da gra-
tificação de nível universitário e do abono da Lei 3826/60,
art. 7.°, Ag. Mand. Sego 31. 531-DF. ....... . ......... . 195

INFORMAÇÕES
Em Habeas Corpus a inexistênda das informações não faz pre.
sunção :!e coação, salvo quando se prova que a autoridade
agiu deliberadamente. Rec. H. Corpus 1. 298-PA. ............ 126

INVERNISTA
Impôsto de Renda. É de se considerar o valor do gado magro,
ao ser comprado. Ag. Petição 22. 208-SP. . ................. . 11

-L-
LITISCONSORTE
Terceiro. São figuras distintas. O Recurso do despacho que
nega intervenção do litisconsorte e o Agravo no auto do pro-
cesso. Ag. Instrumento 17. 286-RS. . ..................... . 5

-M-
MANDADO DE SEGURANÇA

Coisa julgada. Se a decisão apreci9i o mérito, produz coisa jul-


gada. Ap. Cível 13. 992-GB. . ........................... . 25

MANDADO DE SEGURANÇA
Concessão na Primeira Instância de "liminar". Indeferimento
do pedido. Recurso. Conseqüências. Mand. Seg. 32. 128-DF. 217

MANDADO DE SEGURANÇA
Recurso. Ineficácia da liminar concedida após a denegação do
mandado a qual não se mantém na fase do recurso. Mand.
Segurança 31.493-DF. . ................................. . 189

MEDIDA LIMINAR
Mandado de Segurança. Concessão na Primeira Instância.
Indeferimento do pedido. Recurso. Conseqüências. Mandado
de Segurança 32. 128-DF. 217

MEDIDA LIMINAR

Segue a sorte da sentença final. Subsistirá se fôr concedida afi-


nal a segurança, sendo cassada se denegado o writ. Mand.
Segurança 31. 493-DF. . ................................. . 189

MILITAR DA RESERVA
Pena disciplinar. Está subordinado às normas de que trata o Re-
gulamento Disciplinar do Exército e da Marinha. Mand. Se-
gurança 28. 609-DF. . ................................... . 141
- 321-

-0-
OPERAÇÕES IMOBILIÁRIAS COM INSTITUTOS
Páginas
A cláusula de inalienabilidade é mera garantia a favor dos ins-
titutos, e não uma restrição permanente ao direito de proprie-
dade. Ap. Cível 17.461-GB............................. . 61

-p-
PENA DISCIPLINAR

Militar da reserva. Está sujeito ao Regulamento Disciplinar


das respectivas corporações. Mand. Seg. 28. 609-DF. . ..... 141

PETROBRÁS

Competência recursal do T. F . R . em ação movida pela Petro-


brás. Desapropriação indireta. Ap. Cível 18.327-BA....... . 75
POSSE DO EXMO. SR. MINISTRO ANTÔNIO NEDER ....... . 289

PRERROGATIVAS DOS TRIBUNAIS

Poder de excluir representante do Ministério Público do seu


seio, harmonia dos Podêres. Desrespeito ao Tribunal. Mand.
Segurança 44. 90S-DF. ................................... 238

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Exportação. A cota de previdência é devida pelo exportador


na base de 6%. Ag. Mand. Segurança 32.410-RS . . . . . . . . . 222

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Operações imobiliárias. CláUlsula de inalienabilidade. Ap.


Cível 17.461-GB. ., ..................................... . 61

PREVIDÊNCIA SOCIAL

SASSE. Funcionários das Cxs. Econômicas Federais. Limites


de idade para o seguro obrigatório. Inexistência. Ag. Mand.
Segurança 36. 082-GB. . ................................. . 232

PROCURADOR
Enquadramento. Não fazem jus ao enquadramento no cargo de
procurador os servidores incumbidos de, a título precário, de-
sempenhar aquelas funções. Ag. Mand. Sego 33.372-GB. .... 224

PROMESSA DE MÚTUO
Empréstimo bancário. Da promessa de mútuo não decorre direito
à outorga de contrato. Ag. Mand. Sego 31. 260-GB .......... . 179

PROMESSA DE COMPRA E VENDA


Escritura definithna ou adjudicação compulsória. Legitimidade.
Ap. Cível 16. 730-R] ................................... . 55
- 322-

PROMOÇÃO DE MILITAR
Páginas
A única autoridade competente para decretar pl'Omoção de mi-
litar. Mand. Segurança 31. 328-DF. . ..................... . 183

PROPRIEDADE

Desdobramentos ,acionários. As ações novas, resultantes de desdo-


bramentos, são acessórios dos títulos. Ap. Cível n.o 19.517-GB. 106

-Q-
QUORUM
Deliberações administrativas. Exigência da presença de cinco
dos Membros, inclusive o presidente, com direito a voto. Mand.
Segurança 44. 905-DF. . ............ ,.,., .... ,............ 238

-R-
RECURSO

O recurso cabível do despacho que nega intervenção do litiscon-


sorte no agravo no auto do processo. Ag. Instrumento 17.286-RS. 5

RECURSO DE REVISTA

Tempestividade. Deferimento. Caso de irregularidade sanada


espontâneamente pelo contribuinte. Recurso Revista 605. (Na
Ap. Cível n.O 10.057-SP.) .......................... , .. , .. . 284

RELATÓRIO DA PRESIDÊNCIA

Apresentado pelo Presidente Ministro José Thomaz da Cunha


Vasconcellos Filho, referente às atividades do Tribunal durante
o ano de 1964 ............. ,........................... 293

REGISTRO DE NOME COMERCIAL

Ação de nulidade de registro. Os nomes comercIaIs que se re-


vestem de índole profissional podem ser usados por terceiros
sem empecilho legal. Ap. Cível 17. 889-GB. . .............. . 67

RETRO CES SÁO

Impossível retrocessão quando ocorre modificação parcial no


destino do imóvel desapropriado. Ap. Cível 18. 089-GB. 70

-8-
SASSE

Funcionários das Cxs. Econômicas Federais. São segurados obri-


gatórios do SASSE. Ag. Mand. Sego 36.082-GB. .......... 232
- 323-

SERVIDOR AUTÁRQUICO
Páginas
Enquadram.ento. Exercício de comlssao além do cargo efetivo.
Inexistência de pressupostos legais e ocorrência de parte pres-
crita. Ap. Cível 15. 599-BA. . ........................... . 38

SERVIDORES DA FAZENDA

Integrantes do quadro do Ministério da Fàzenda nos Estados-


Membros. Limites da co-participação na arrecadação POi" meio
de percentagem. Ag. Mand. Seg. 29. 208-RS. . .......... . 157

SÍMBOLOS DE VENCIMENTOS

Ocupantes de funções gratificadas têm direito aos símbolos de ven-


cimentos fixados na Lei 3780/60. Ag. Mand. de Sego 33.450-GB. 228

SOCIEDADES DE FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

Estão sujeitas ao pagamento da taxa de fiscalização bancária.


Ag. Mand. Segurança 27. 592-SP. . ...................... . 139

SUMOC

Instrução 202/60. Não compete à Sumoc estabelecer, por resolu-


ções, privilégios e exclusividades no que toca ao transporte de merca-
dorias para o exterior. Ag. Mandado de S·egurança 23. 574-SP. 135

-T-
TAXA DE FISCALIZAÇÃO BANCÁRIA

Sociedades de inv·estimento e financiamento estão sujeitas ao paga-


mento de taxa. Ag. Mand. Sego 27.592-SP ................ . 139

TEMPESTIVIDADE

Recurso de Revista. Deferimento. Caso de irregularidade sanada


espontâneamente pelo contribuinte. Roecurso Revista 605. (Na
Ap. Cível n.o 10.057-SP.). .............................. 284

-u-
USUFRUTO

Sentença que reconhece a extinção do usufruto tem efeitos de-


claratórios e não constitutivos. Ap. Cível 19. 517-GB. . . . . . . 106

-v-
VETO

Não é de se considerar como ·emenda à lei a reJelçao do veto


parcial e sua publicação. Ag. Petição 19. 986-PE. . ........ . 9

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